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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA INFECTOLOGIA

(Prof. Luiz Alberto)

1) CONCEITOS :

1.1) Doença infecciosa = doença causada diretamente por seres vivos (vírus, bactérias,
protozoários, fungos e helmintos) ou indiretamente por seus produtos (toxinas); em ambas
situações, eventualmente, a resposta inflamatória do indivíduo infectado pode contribuir
ainda mais para a agressão (citocinas, interleucinas, etc...). Quando os agentes causadores
(etiologia) forem os vírus, teremos as “viroses”, quando bactérias = “bacterioses”, protozoários
= “protozooses”, fungos = “micoses” e, finalmente, quando helmintos = “helmintoses”. Ex:
dengue, zika, varicela, gripe, resfriado comum, AIDS, dentre outras, são VIROSES. Difteria,
tétano, furunculose, escarlatina, tuberculose, etc... são BACTERIOSES. Amebíase, giardíase,
calazar, tricomoníase, doença de Chagas, etc... são PROTOZOOSES. Criptococose, candidíase,
ptiríase versicolor, blastomicose sul-americana, tineas, etc.. são MICOSES. Ascaridíase,
tricocefalíase, oxiuríase, esquistossomose, estrongiloidíase, etc... são HELMINTOSES.

1.2) Infecção = causada por qualquer dos agentes infecciosos (vírus, bactérias, protozoários,
fungos ou helmintos) na intimidade dos nossos tecidos ou líquidos orgânicos. Sem causar
danos e manifestações clínicas são apenas “infecções”; com sinais e/ou sintomas,
caracterizam a “doença infecciosa”. Ex: são infecções/doenças infecciosas: esquistossomose,
ascaridíase, amebíase, candidíase, AIDS, gripe, criptococose, tuberculose, tétano, giardíase.

1.3) Infestação = processo causado por macrorganismo na superfície corpórea. São infestações
: por piolhos, por carrapatos, por pulgas, por ácaros.

1.4) Infecção assintomática = embora o agente infeccioso tenha adentrado no organismo, não
há qualquer manifestação clínica de doença. Sabe-se que dos infectados pelo Zika vírus,
apenas 20% irão adoecer; os 80% restantes foram invadidos (infectados), mas não
exteriorizam sinais ou sintomas de doença. Comprova-se a infecção através de sorologias. Do
mesmo modo, os infectados pelo vírus Dengue, aproximadamente 60% vão adoecer, 40%
permanecem assintomáticos (sem sinais ou sintomas).

1.5) Doença infecciosa oligossintomática = exteriorização clínica de uma infecção com


discretas e efêmeras manifestações clínicas; muitas crianças, ao se infectarem com o vírus
dengue, vão apresentar uma doença curta e pouco incomodativa : febre baixa por um a dois
dias, discretas e rápidas dores musculares e/ou articulares, exantema efêmero, recuperando-
se por completo em dois a quatro dias. Ao passo que aquelas com a doença clássica, vão ter
manifestações mais intensas e duradouras (entre 7 a 14 dias); um percentual pequeno de
infectados pode, inclusive, ter formas graves/complicadas, com risco de vida.

1.6) Período de incubação = é o espaço de tempo entre o momento da infecção (aquisição do


agente etiológico) e o aparecimento da primeira manifestação clínica (sintoma ou sinal). Por
exemplo: Há doenças com curto (às vezes, curtíssimo) período de incubação, como a gripe
(influenza), em torno de 24 horas, embora este período possa se estender até 7 dias. Por outro
lado, há aquelas com longo (às vezes, longuíssimo) período de incubação, como na AIDS, vários
meses até alguns anos.
1.7) Prôdromos = sinais e sintomas inicias inespecíficos que costumam preceder o quadro
típico e esperado para aquela doença. Por exemplo, em crianças (principalmente), a hepatite A
pode iniciar com a síndrome infecciosa (febre, algias variadas, anorexia, astenia) durando
poucos dias; a seguir, há tendência de regressão desta síndrome ao mesmo tempo que surgem
sinais e sintomas típicos (esperados) da hepatite A, colúria, icterícia e manifestações
digestivas.

1.8) Período de estado = quando o quadro clínico apresentado pelo paciente corresponde ao
esperado e sugestivo para aquela doença. Como exemplo, a colúria, icterícia e acolia fecal e
manifestações digestórias na hepatite A, referida no exemplo anterior.

1.9) Convalescença = após o período de estado, alguns pacientes podem continuar com
queixas por período variável, em geral sem gravidade; a astenia e depressão relatadas em
adultos pós dengue. Tosse seca, irritativa, por alguns dias em pacientes recuperados de gripe.

1.10) Virulência = propriedade inerente ao agente infeccioso (vírus, bactéria, fungo, etc..) que
tem relação com o maior ou menor poder de ser agressivo, de causar lesão; pode variar em
relação à espécie, à cepa, dentre outros. O sorotipo DEN 2 do vírus dengue é considerado o
mais virulento dentre os quatro sorotipos existentes.

1.11) Patogenicidade = conjunto de propriedades, incluindo virulência, que vai determinar a


intensidade da lesão de um agente infeccioso no homem, no momento de uma infecção. A
patogenicidade do vírus influenza tende a ser maior em grávidas. É de grande patogenicidade
para o concepto, a infecção pelo vírus Zika em grávidas no primeiro trimestre.

1.12) Portador crônico (ou portador são) = alguns indivíduos conseguem albergar um agente
potencialmente patogênico, sem apresentar manifestação clínica; pode ser por tempo
indeterminado ou limitado. Não é raro, indivíduos sãos albergarem helmintos no seu intestino
sem apresentar sinais e sintomas. Às vezes, no entanto, quando ocorre alteração no sistema
imunológico, aquilo que era são, pode tornar-se patológico.

1.13) Microbiota (flora) normal = microrganismos usualmente encontrados em sítios ou locais


específicos de indivíduos sadios. A relação entre esses microrganismos e o hospedeiro
(homem) é simbiótica ou comensal. A origem da microbiota se dá a partir do nascimento; o
número e o tipo constituintes variam com o local, estado imune e idade do indivíduo. Dessa
relação ambos levam vantagem : perpetuação dos germes que compõem a microbiota,
utilizando nutrientes do hospedeiro e, este, beneficiando-se da competição biológica contra
germes patogênicos. Ex: microbiota intestinal, microbiota vaginal.

2) DINÂMICA DA RELAÇÃO PARASITO X HOSPEDEIRO :

O parasito(a) é qualquer agente infeccioso (virus, bactéria, protozoário, fungo ou helminto)


com capacidade de determinar lesão/doença no hospedeiro (homem).

2.1) Atributos dos parasitos = a) produção de lesão pela presença do agente na intimidade
do tecido, como exemplo, a presença do vírus influenza multiplicando-se nos alvéolos e
causando hipóxia, consequente ao bloqueio da troca gasosa em razão da obstrução dos
espaços alveolares, como resultado, pneumonia viral. É bem verdade que a resposta
inflamatória do hospedeiro, no alvéolo, contribui decisivamente para a lesão. Ou então, a
necrose das fibras musculares causada pela presença do Tripanossoma cruzi, na forma aguda
da Doença de Chagas.

Os agentes patogênicos penetram no hospedeiro, dirigem-se para seu habitat específico


(tropismo), aproveitam reservas metabólicas, multiplicam-se e buscam perpetuar-se,
podendo, muitas vezes, buscar novos hospedeiros (contágio ou transmissão). b) produção de
toxina, como as exotoxinas tetânica e diftérica, produzidas por bacilos gram positivos. Ou, a
produção de endotoxinas por bacilos gram negativos, nada mais do que os lipopolissacarídeos
da parede desses gram negativos. c) indução de hipersensibilidade, mecanismo de lesão
observada em praticamente qualquer doença infecciosa, em algum momento de sua evolução.
São exemplos, as alterações (lesões) hepáticas existente nas hepatites a vírus (A, B, C, D e E),
cujos agentes têm pouca ou nenhuma citotoxicidade, sendo a lesão do hepatócito
determinada pela resposta imune do hospedeiro infectado, contribuindo também para o
processo inflamatório.

2.2) Atributos do hospedeiro = a) defesas naturas (imunidade inata), como a barreira


anatômica da pele; as enzimas líticas presente nas mucosas, a acidez normal do estômago, o
epitélio ciliado da mucosa respiratória, enzimas salivares como a lisozima, lactoferrina e
lactoperoxidase, todas agindo com atividade microbicida. b) inflamação, processo complexo
que responde às agressões infecciosas e começa com dilatação e aumento da permeabilidade
dos vasos da microcirculação, permitindo a saída de células fagocitárias da circulação para o
local da agressão. Citocinas, interleucinas são produzidas no processo inflamatório, com o
objetivo de defender o hospedeiro. Em situações, essa resposta inflamatória pode ser grande o
suficiente para contribuir com a agressão. c) sistema imune adaptativo, através dos setores
humoral (linfócitos B, plasmócitos e formação de anticorpos) e celular (linfócitos T e
subpopulações, CD4, CD8 e células natural killer); representa a principal função de defesa do
ser humano. Desempenha também papel na destruição de células infectadas por vírus ou que
sofram transformação maligna.

3) PRINCIPAIS SÍNDROMES INFECCIOSAS :

3.1) Síndrome febril ou síndrome infecciosa = caracteriza-se por aumento da temperatura


corpórea—febre--, em geral acima de 37,8º C, acompanhadas por dores variadas (mialgia,
cefaleia, artralgia, etc..), astenia e anorexia. Algumas enfermidades infecciosas apresentam
somente esta síndrome em toda sua evolução. Outras vezes, a síndrome infecciosa traduz o
início da doença nos primeiros dias (prôdromos) para, em seguida, aparecerem manifestações
do período de estado.

3.2) Síndrome exantemática = doenças como rubéola, roséola infantum, eritema infeccioso,
sarampo, dengue, zika, chikungunya, mononucleose infecciosa, escarlatina, sífilis secundária,
geralmente cursam com rash cutâneo em alguma fase da evolução; é necessário fazer o
diagnóstico diferencial entre elas, através de dados epidemiológicos, quadro clínico e exames
complementares.

3.3) Síndrome de angina = comprometimento inflamatório da orofaringe por vírus


(influenza, coronavirus, Epstein-Barr) ou por bactérias (estreptococos, bacilo diftérico,
associação fuso-espiralar).

3.4) Síndrome de hepatosplenomegalia = caracterizado pelo aumento das duas vísceras,


pode estar presente em algumas doenças infecciosas, como calazar, esquistossomose,
enterobatceriose septicêmica prolongada; mas, também, patologias não infecciosas, como
linfomas e leucemias, não raro, cursam com semelhante achado ao exame físico.

3.5) Síndrome ictérica = agressão ao fígado e, como consequência ao metabolismo das


bilirrubinas, é observada nas hepatites a vírus, leptospirose, dentre outras.

3.6) Síndromes diarreicas = inúmeros agentes infecciosos como rotavirus, norovirus,


enterovirus, bactérias como Escherichia coli, Salmonellas, Shiguellas, protozoários como
giárdia, ameba e helmintos, são causadores de quadros diarreicos.

3.7) Síndrome hemorrágica = hemorragia por mecanismos diferentes, são observados em


doenças infecciosas, como dengue, calazar, sepse grave ou choque séptico.

--Faz-se necessário enfatizar que uma doença infecciosa pode ter mais de uma síndrome,
quando considerado todo seu período evolutivo. O dengue, por exemplo, inicia com síndrome
infecciosa e, passados alguns dias, costuma exibir requisitos para as síndromes exantemática e
hemorrágica. Lembrar que o diagnóstico sindrômico é importante, principalmente no início da
abordagem com o paciente, consistindo numa ferramenta coadjuvante para a posterior
identificação etiológica da enfermidade. É salutar iniciar com abrangência de possibilidades
diagnósticas e, passo a passo, analisando dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais,
afunilar o raciocínio até a chegada do diagnóstico definitivo.

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AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

1) Adulto jovem apresenta-se no consultório afirmando estar doente há mais ou menos uma
semana. Tudo começou com febre de média intensidade (38,6º C), cefaleia, mialgias e astenia.
Passados 3 dias com tais manifestações, houve progressiva melhora, inclusive com regressão
total da febre e das dores (de cabeça e muscular), sem o uso de sintomáticos; no entanto,
surgiram náuseas, alguns episódios vomitivos, dor abdominal, urina escura (cor de guaraná) e
amarelidão no branco dos olhos e pele. O médico assistente perguntou sobre sua atividade
sexual nos últimos seis meses. Segundo o paciente, há três meses manteve várias relações
sexuais (hetero) desprotegidas, com profissionais do sexo. Alguns exames laboratoriais foram
solicitados: TGP = 1050 U , TGO= 870 U, Anti-HIV não reagente, HBsAg reagente. Segundo o
médico, trata-se de hepatite B e orientou repouso físico domiciliar, alimentação balanceada,
sem gorduras e frituras, abstinência de álcool, sem medicação específica. Dois meses depois o
paciente retornou afirmando que estava muito bem há 7 dias. Apenas referia inaptidão para
exercícios físicos e o apetite algo diminuído. As transaminases estavam normais, HBsAg
negativo e Anti-HBsAg reagente.

Sublinhe o que pode ser aferido conceitualmente de toda a descrição do caso.

a) Convalescença. b) Período de estado. c) Período de incubação. d) Prôdromos.

e) Virulência. f) Patogenicidade. g) Portador crônico(são).


2) Numa equipe de 10 estudantes de medicina, foram identificados 4 com cultura de
orofaringe positiva para Streptococcus pneumoniae, a despeito de todos assintomáticos. O
que é isso? Res.
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3) Na mesma equipe, 3 estudantes apresentaram cistos de Entamoeba histolytica nas fezes,


visualizados pelo parasitológico das fezes(técnica de Faust). Ninguém relatava qualquer
queixa, pelo menos nas últimas 2 semanas. O que é isso? Res.
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4) Como justificar tétano(doença infecciosa causada por um bacilo anaeróbio, gram positivo)
sem a presença do agente bacteriano na ferida por onde houve a contaminação?
Res.________________________________________________________________________.

5) Se for colocado uma gota de sangue obtido de paciente com dengue no braço de um
indivíduo sadio, considera-se como certo que o mesmo não adoecerá de dengue. Como
explicar? Res.
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6) Qual é o setor do nosso organismo que confere o estado de imune (resistente) a uma
determinada doença infecciosa? Res.
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7) Cite pelo menos três síndromes em infectologia.

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