e coordenador do Grupo de Pesquisa Modernidade e Cultura
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SEQUÊNCIA NO CENA CENA VIRTUAL SEQUÊNCIA NO CENA CENA VIRTUAL TIME CODE INÍCIO / FIM PRESENCIAL (PROJETADA) TIME CODE INÍCIO / FIM PRESENCIAL (PROJETADA) DESCRIÇÃO AMBIENTE DESCRIÇÃO AMBIENTE SEQUÊNCIA I IMAGEM: IMAGEM: Câmera em ângulo em 00:00 / 00:05 Personagem apresentador Tela preta. relação ao rosto. Ela não Sala tipo auditório. Ambiente “recebe a palavra” do SOM: encara a câmera. Olha para de evento acadêmico. Público coordenador da mesa. Em Sem som. o chão, feições serenas, de estudantes, professores, silêncio, constrito, mas sem constrita. pesquisadores e alguns aparentar tensão, volta-se SOM: militantes de organizações para a tela. Figurino discreto, Voz em off destacada sobre populares. Mesa à frente com informal. a trilha Corporeme (lenta, expositores sentados. Tela SOM: cadenciada por breves de projeção colocada atrás Ruídos do ambiente. silêncios): ou lateralmente à mesa, de _ Por isso eu queria oferecer modo que a Personagem a ela (pausa) esse momento Apresentador, de seu lugar, de leveza (pausa) de uma possa virar-se e ver a tela. sensação sem peso ... IMAGEM: CORTE SECO IMAGEM: CORTE SECO IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO SOM: CORTE SECO SOM: CORTE SECO SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE SEQUÊNCIA II IMAGEM: IMAGEM: SEQUÊNCIA IV IMAGEM: IMAGEM 00:06 / 00:53 Personagem Apresentador Ambiente de galpão de 01:15 / 01:33 Idem, sequência anterior. Ensaio de dança moderna. Mesmo ambiente permanece com a mesma fábrica fechado, estrutura Mesmo ambiente SOM: Grupo de dançarinas, Pina atitude silenciosa, olhando metálicas à vista. Tons Idem, sequência anterior. Bausch à frente. Coreografia com naturalidade ora para pastéis. Homem sentado coletiva. Figurino de ensaio a tela, ora para o público. no chão, dobra e desdobra de dança. Malhas coloridas. Atento mais à projeção. continuamente com as mãos Planos gerais. Close de Pina. SOM: suas pernas, como se estas SOM: Ruídos do ambiente estivem sem movimento Trilha Corporeme. Volta nível próprio. Ao mesmo tempo de volume da sequência II vai girado o corpo em seu IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO próprio eixo e acelerando o SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE movimento. Atrás do homem SEQUÊNCIA V IMAGEM: IMAGEM há esteira movendo-se, de 01:34 / 01:39 Idem, sequência anterior. Clown maquiando o rosto vez em quando passam Mesmo ambiente SOM: com pasta branca. Close, vagonetas. Depois de dois Idem, sequência anterior. tomada lateral, altura dos ou três giros, o homem deita olhos. A personagem olha apoiando-se nos braços. fixo à frente, sugerindo um O último movimento é a espelho que não se vê. manipulação da cabeça SOM para encostá-la, no chão. O Trilha Corporeme plano termina com o homem deitado, imóvel, de barriga IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO para cima. SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE SOM: SEQUÊNCIA VI IMAGEM: IMAGEM: Trilha Corporeme: música 01:40 / 02:23 Idem, sequência anterior. Dança coletiva em palco com instrumental densa. Mesmo ambiente SOM: chão de terra. Coreografia e 41 Dramaticidade do tango. Idem, sequência anterior. figurino modernos. Grupo de Piazzolla rasurado. homens / grupo de mulheres. IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO Não aparece público. SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE Iluminação sóbria. Palheta SEQUÊNCIA III IMAGEM: IMAGEM: de cores quentes. Sombras. 01:04 / 01:14 Idem, sequência anterior. Plano médio de mulher Tensão entre os dois grupos Mesmo ambiente SOM: negra, fundo escuro, com expressa pelo gestual. Idem. sequência anterior. malha de dança preta. SOM: Trilha Corporeme.
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IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE SEQUÊNCIA VII IMAGEM: IMAGEM SEQUÊNCIA XI IMAGEM: IMAGEM: 02:24 / 02:52 Idem, sequência anterior. Plano médio frontal de 03:07 / 03:10 Idem, sequência anterior. Continuação da sequência Mesmo ambiente SOM: homem jovem, fundo Mesmo ambiente SOM: IX. Mulher amarra sapatilha Idem, sequência anterior. grafitado, não figurativo, em Idem, sequência anterior. de balé em um dos pés tons frios. Camiseta preta. Ele apoiados na cadeira que inicialmente olha para o chão, trouxera. feições serenas. Lentamente SOM: levanta o olhar e fala olhando Trilha Corporeme à câmera. Pode-se identificá- IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO lo como o ator que faz a SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE personagem Clown. SEQUÊNCIA XII IMAGEM: IMAGEM SOM: 03:11 / 03:21 Idem, sequência anterior. Clown ainda maquiando o Fala em off destacada sobre Mesmo ambiente SOM: rosto, agora pintando os a trilha Corporeme: Idem, sequência anterior. lábios com batom vermelho. _ Que caminhos inventei, que Close, tomada lateral, altura não me fiz Pina Bausch. dos olhos. A personagem (Pausa) olha fixo à frente, sugerindo _ Forma, movimento, palavra. um espelho que não se vê. Fúria, orvalho, uma linha reta. Sua expressão começa a IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO indicar estranhamento ou SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE certa tensão com sua própria SEQUÊNCIA VIII IMAGEM: IMAGEM: face que (supostamente) vê 02:53 / 02:54 Idem, sequência anterior. Tela preta refletida. Mesmo ambiente SOM: SOM: SOM Idem, sequência anterior. Trilha Corporeme Trilha Corporeme IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE SEQUÊNCIA IX IMAGEM: IMAGEM: SEQUÊNCIA XIII IMAGEM: IMAGEM: 02:55 / 02:57 Idem, sequência anterior. Mulher caminha 03:22 / 03:24 Idem, sequência anterior. Tela preta Mesmo ambiente SOM: aceleradamente ao longo do Mesmo ambiente SOM: SOM: Idem, sequência anterior. eixo horizontal da câmera, Idem, sequência anterior. Trilha Corporeme carregando cadeira e depois IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO a colocando no chão. SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE Figurino: vestido curto, de SEQUÊNCIA XIV IMAGEM: IMAGEM: pano leve e colorido. Plano 03:25 / 05:23 Idem, sequência anterior. Continuidade das sequências geral. O cenário é um pátio Mesmo ambiente SOM: IX e XI. Agora a mulher dança de fábrica com galpões e Idem, sequência anterior. balé, os pés em ponta, no estruturas altas, deserto. pátio árido. Céu azul pálido. Linhas retas e duras. Sol SOM: fraco, tons pastéis. Trilha Corporeme SOM: Trilha Corporeme IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO 42 SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE SEQUÊNCIA XV IMAGEM: IMAGEM: 05:24 / 05:27 Idem, sequência anterior. Pina Bausch em close. No SEQUÊNCIA X IMAGEM: IMAGEM Mesmo ambiente SOM: início em tomada lateral. 02:58 / 03:06 Idem, sequência anterior. Clown maquiando o rosto, Idem, sequência anterior. Lentamente ela vira-se e Mesmo ambiente SOM: agora delineando os olhos encara a câmera. Expressão Idem, sequência anterior. com lápis preto. Close, serena. Densa. Cores frias. tomada lateral, altura dos Cinza predominante. olhos. A personagem olha SOM: fixo à frente, sugerindo um Trilha Corporeme espelho que não se vê. SOM Trilha Corporeme
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IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO – O que é a honestidade? SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE – Qual é a nossa SEQUÊNCIA XVI IMAGEM: IMAGEM: responsabilidade mesmo 05:28 / 06:19 Idem, sequência anterior. Mulher só, em pé, imóvel, quando dançamos? Mesmo ambiente SOM: em palco quase vazio – Pina nos ensinou a Idem, sequência anterior. com poucas cadeiras ao defender aquilo que fazemos, fundo. Vestido rosa pálido, em cada gesto, cada passo e transparente. Homens de cada movimento. terno preto entram aos Ao final da fala a trilha entra poucos e manipulam o corpo num crescendo. da mulher de várias maneiras, IMAGEM: CORTE SECO IMAGEM: CONTINUIDADE por todos os lados. São SOM (TRILHA): SOM: CONTINUIDADE muitos. Ela permanece inerte, CONTINUIDADE olhos fechados. SEQUÊNCIA XV IMAGEM: IMAGEM: SOM: 07:45 / 08:30 Idem, sequência anterior. Espaço interno de construção Trilha Corporeme Mesmo ambiente SOM: de cimento aparente, amplo, IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO Idem, sequência anterior. claro, janelas de vidro SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE permitindo ver um exterior SEQUÊNCIA XVII IMAGEM: IMAGEM: indefinido e pálido. O teto 06:20 / 06:34 Idem sequência anterior Close lateral da Personagem é vazado. Não há móveis Mesmo ambiente SOM: Clown, já com o rosto todo ou qualquer objeto. Aridez. Idem sequência anterior maquiado: faces brancas, Linhas retas e ângulos. olhos negros, boca vermelha. Casal caminha em direção à Segue olhando na mesma câmera, que lentamente se direção do suposto espelho, afasta abrindo o quadro. Esse feições expressando tensão caminhar é marcado pelo com o que vê. Borra a tombar constante da mulher, maquiagem em movimento ora para um lado, ora para nervoso e angustiado. o outro, sempre amparada SOM: e reequilibrada pelo par Trilha Corporeme masculino. Ela de vestido comprido, leve, amarelo. Ele IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO de calça e camisa pretas. SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE SOM: SEQUÊNCIA XVIII IMAGEM: IMAGEM: Trilha Corporeme 06:35 / 07:30 Idem, sequência anterior. Continuação sequência IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO Mesmo ambiente SOM: XVI (manipulação mulher). SOM: CONTINUIDADE SOM: CONTINUIDADE Idem, sequência anterior. A câmera agora está distante, atrás da platéia SEQUÊNCIA XVI IMAGEM: IMAGEM: que aparece em perfil no 08:31 / 08:42 Idem sequência, anterior. Plano médio. Mulher velha, primeiro plano. Ao final, Mesmo ambiente SOM: cabelos negros, longos, plano médio permitindo a Idem sequência, anterior. soltos. Figurino preto, fundo visão de detalhes das feições preto. contraídas da mulher. Inicialmente com expressão SOM: circunspecta, olha para Trilha Corporeme baixo. Lentamente levanta o olhar e encara a câmera. IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO Ao fim esboça um leve e 43 SOM: CONTINUIDADE SOM: CORTE SECO sutil sorriso. SEQUÊNCIA XIV IMAGEM: IMAGEM: SOM: 07:31 / 07:44 Idem, sequência anterior. Plano médio de homem Trilha Corporeme Mesmo ambiente SOM: jovem, camiseta preta. Fundo Idem, sequência anterior. preto. Olha para a câmera sereno. SOM: Voz em off:
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IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE EM FUSÃO SOM: CONTINUIDADE SOM: CORTE SECO SOM: CONTINUIDADE SOM: CORTE SECO SEQUÊNCIA XVII IMAGEM: IMAGEM: SEQUÊNCIA XIX IMAGEM: IMAGEM: 08:43 / 10:17 Idem, sequência anterior. Close da Personagem 10:32 / 19:00 Personagem Apresentador, Personagem Clown parado Mesmo ambiente SOM: Clown, agora encarando Mesmo ambiente voltando-se lentamente ao e olhando a câmera em Idem, sequência anterior. a câmera, a maquiagem público, dá continuidade à silêncio, funde-se lentamente totalmente borrada, como fala já iniciada. em tela preta (que assim que explodindo sua anterior SOM: permanecerá até o fim angústia. Começa a discursar Essa fala, ainda que a da fala do Personagem afastando-se lentamente da partir de agora traga Apresentador). câmera que, por sua vez, vai argumentações reflexivas SOM: abrindo o quadro. O cenário mais explícitas, não deve Sem som é um espaço de pilotis deixar o tom emotivo. grafitados, pé direito alto, ao Apresentador diz: fundo parede envidraçada. – Não sei, talvez ... A personagem está sem – O que digo quando digo camisa, descalça, vestindo ‘sou’ ou enuncio a expressão calça clara de algodão cru. ‘meu corpo’? SOM: – Trago, através desses Personagem deslizando termos, uma experiência. Falo ao longo da fala da então como um testemunho explosão angustiada ao de uma experiência. questionamento reflexivo, diz: – O que estaria implicado – Corpo. nesse singular ato de – Palavra corpo, imagem testemunhar? O que estaria corpo. sendo suposto nesse – Digo ‘meu corpo’, imagino testemunho enquanto ‘meu corpo’. experiência? – A expressão ‘meu corpo’. – Testemunhar – a mim, A imagem ‘meu corpo’. aos outros – o que digo – Eu. A palavra ‘eu’. como ‘eu’ ou ‘meu corpo’ IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CONTINUIDADE é, antes de tudo, estranhar SOM: CORTE SECO SOM: CONTINUIDADE esses dizeres, estranhá-los, primeiro, pela ontologia de SEQUÊNCIA XVIII IMAGEM: IMAGEM: que se travestem essas falas, 10:18 / 10:31 Mesmo ambiente. Personagem Clown, mas também pela alteridade Mesmo ambiente Personagem Apresentador, terminado seu deslocamento implícita entre um suposto eu voltado à tela. para trás, está em pé, tomado e a externalidade nomeada SOM: em plano geral, de frente ‘meu corpo’, alteridade Em tom indagativo, para a câmera. marcada como relação de Apresentador sobrepõe SOM: posse. Posse unilateral: eu sua fala à fala idêntica da Questionando-se, fala: possuo meu corpo. Personagem Clown. – Eu sou ‘meu corpo’? – Essa posse seria de Diz: – A oração auto-evidente que caráter? Capitalista? – Eu sou ‘meu corpo’? ‘meu corpo’. Aquilo que digo ‘meu corpo’ – A oração auto-evidente – A imagem especular ‘meu estaria sendo dito como 44 ‘meu corpo’. corpo’. mercadoria? Como algo – A imagem especular ‘meu – Sou? sem corpopalavra, detentor de valores de uso corpo’. sem corpoimagem, sem e troca? – Sou? sem corpopalavra, órgãos, sem dor, sem – E o que estaria sendo sem corpoimagem, sem inventados outros eus dito como ‘eu’ em minha órgãos, sem dor, sem de mim, sem outros fala? Além de coisa capaz inventados outros eus de corposimagens de mim? de possuir. mim, sem – Sou? – Quando digo ‘eu’, denoto outros corposimagens a distinção com outros eus e de mim? também com o dito ‘meu – Sou?
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corpo’ (e com outros corpos). constituição por interpelação Mas, essa última distinção de diferenças tensas, não se evidencia nitidamente pacíficas, de espaço e tempo estratégica. Lembro que em com outros eus e outros certos entardeceres, me digo corpos. Esse é o modo como eu enquanto meu corpo. E, me constituo (self e corpo) e assim, me invento como dor ao meu mundo formado de e prazer, indivíduo, cidade, outros eus e outros corpos cosmos, finitude. O uso da distintos do meu. palavra corpo desse modo, – Mas isso permite o dizer é o que decide naquilo que ‘sou’? é dito pela palavra eu, a – Positivando uma visão finitude. A expressão meu sobre todas essas questões corpo institui o relógio de imbricadas: entendo que a mim. Ou seja, invento essa possibilidade do dizer eu e expressão pra me jogar meu corpo, só se dá através naquilo que instituo como da constituição por interpela- mundo e como estratégia a ção de diferenças tensas, não me constituir finito e escapar pacíficas, de espaço e tempo da insuportável perversidade com outros eus e outros de me supor eterno. corpos. Esse é o modo como – Todas essas coisas me constituo (self e corpo) e implicam tipos de questões ao meu mundo formado de e suposições relativas a: outros eus e outros corpos individuação (eu não sou distintos do meu. outro, meu corpo é único); – Mas isso permite o dizer tempo (eu e meu corpo ‘sou’? somos duráveis, ainda que – Enquanto corpo e mente, finitos); espaço (eu sou algo finitos e limitados, é possível diferido [espaçado] de todo e apenas dizer que estou, na qualquer outro); composição ligeireza desse dizer, enquan- (eu e meu corpo somos to esse próprio dizer. Qualifico totalidades orgânicas ou o dito por esse dizer ‘estou’ não-organismos objetivados como agenciamento, como enquanto sínteses disjuntivas, trama inextricável de conte- corpos sem órgãos?); intensi- údo e expressão, de corpo e dade (eu e meu corpo acon- outros corpos e palavra, de tecemos a mim apenas como materialidades e significados. intensidades desconexas, de Não enquanto duas ordens modo a constituir conjuntos de estar apartadas que se enquanto corpo sem órgãos, relacionam como externa- como modo estratégico de lidades. Mas sim enquanto presença a mim e aos outros dois regimes de signos: um de mim?); linguagem (qual que diz matéria, outro que a condição de possibilidade significa esse regime que de dizer eu e meu corpo? Só diz matéria. posso dizer essas expressões – O que digo que estou, 45 ontologicamente, indicando assim, seres, ou assumo a palavra na ligeireza desse dizer ago- que me diz, como proble- ra, pura invenção estratégica mática significação de efeito à vida e ao procurar me fazer presente?). aqui presente, constitui-se – Positivando uma visão sobre num agenciar que assim todas essas questões imbrica- enuncio: imbricação de dese das: entendo que a possibili- jo (o desejo de me expressar dade do dizer eu e meu sobre o tema da mesa, aqui, corpo, só se dá através da agora) e limitações da possi
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bilidade de experimentação – Não obstante, esse desse desejo (esse ‘aqui’ testemunho, ato presente, é um evento acadêmico somente se positiva enquanto no qual suponho certas diferença / relação com expectativas às possibilidades outros corpos-agenciamento dessa fala). testemunhados. – Enfim, pra – Assumindo a mim como ficar dentro do tempo: o que essa estidade aqui e agora, digo que estou é relação de deslizo por um campo que mim. O que digo meu corpo, me é confortável e nele sou nesse estar, é trama de afetos tentado, como que por um dessa relação. Essa trama, canto de sereia, a teste- em certos dias chuvosos, munhar o que digo como chamo cidade. Nos dias ím- meu corpo enquanto um pares de sol a pino, nomeio organismo. fúria. Em dias santos, em – Mas será que, nesta estida- segredo chamo amor. de em que me faço aqui, ou IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE SECO mesmo em alguma estidade SOM: CONTINUIDADE SOM: CORTE SECO que me faço memória, ex- SEQUÊNCIA XX IMAGEM: IMAGEM: periencio efetivamente o que 19:00 / 19:45 O Personagem Apresentador Cartelas de créditos: digo como meu corpo como Mesmo ambiente volta-se à tela e permanece CORPOREME um organismo presente? assim até o final da projeção Realização – O que posso testemunhar / final da apresentação. GPMC sobre isso? Confesso que SOM: Flávia Araújo as funções desse suposto Apresentador, lendo as Frederico Araujo organismo me são obscuras, cartelas: Giovani Barros ainda que as tenha precisa- – CORPOREME Marianna Teixeira das por estranhas ciências – Realização Ricardo Paris que professam saber sobre GPMC Ator convidado o que dizem ser meu corpo, Flávia Araújo Miguel Araujo supostos saberes que, assim, Frederico Araujo Trilha sonora Rasuras de incidem nesse testemunhar Giovani Barros Soledad e La Camorra I como heteronomias. Marianna Teixeira (Astor Piazolla) – Mas, para além dessa obs- Ricardo Paris Pedro Albuquerque curidade, o que se evidencia – Ator convidado Trechos do filme “Pina” como memória do que digo Miguel Araujo (Wim Wenders – 2011) meu corpo, em mim, pra – Trilha sonora Rasuras de libertariamente apropriados mim, como memória da Soledad e La Camorra I pelos realizadores. palavra memória tomada (Astor Piazolla) FIM como enredamento de Pedro Albuquerque Som: dizeres agenciamento, é um – Trechos do filme “Pina” Trilha Corporeme (num inventário intrincado de afetos (Wim Wenders , 2011) crescendo) em intensidades distintas, libertariamente apropriados vibrações, reverberações, do- pelos realizadores. res, desvios de olhar, clarões, – Fim dois ou três entardeceres em 46 que me fiz a tarde e o olhar IMAGEM: CONTINUIDADE IMAGEM: CORTE EM FUSÃO a tarde, a textura de certas SOM: CONTINUIDADE SOM: CORTE EM FUSÃO mãos que farei minhas, a po- SEQUÊNCIA XXI IMAGEM: IMAGEM: tência agonística que imputei 19:46 / 19:49 Personagem Apresentador Tela preta aos lábios de uma mulher, e... Mesmo ambiente volta-se ao Coordenador SOM: – Digo, desse modo, meu da mesa e “devolve-lhe” Trilha Corporeme (diminuindo corpo como memória de a palavra. até cessar) meu corpo enquanto caos SOM: movente de intensidades Personagem Apresentador passadas, vibrações presen- diz: tes e cores imaginadas. – Obrigado.