Epidemiologia

Prevalência de bruxismo e problemas emocionais

estresse e a associação entre eles em policiais

brasileiros

Andréa Lúcia de Almeida
Carvalhôle)
Altair Antoninha Del Bel Curylb)
Renata Cunha Matheus Rodrigues Garcig(
b)
(o) Aluno de Pós-Graduação; b) Doutor, Professor
Departamento de Prótese e Periodontia da
Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP), Piracicaba, SP,
Brasil.
Resumo: Este estudo teve como objetivo avaliar a prevalência de bruxismo e estresse
emocional em policiais brasileiros, devido à exposição a situações estressantes, e
avaliar a relação entre o tipo de trabalho realizado por um policial e a presença de
bruxismo e estresse emocional. Foi realizado um estudo transversal na Polícia Militar
do Estado de São Paulo, Campinas, SP, Brasil. A amostra final incluiu 394 policiais do
sexo masculino (idade média = 35,5 anos). O bruxismo foi diagnosticado pela
presença de facetas de desgaste dentário alinhadas associadas à presença de um
dos seguintes sinais ou sintomas: autorrelato de ranger de dentes, sensibilidade
dolorosa dos músculos masseter e temporal, desconforto na musculatura mandibular
ao acordar. O Inventário de Sintomas de Estresse (SSI) foi aplicado para avaliar o
estresse emocional. O tipo de trabalho realizado pelos policiais foi classificado como
organizacional ou operacional, sendo este último considerado o mais estressante, pois
expõe o policial a risco de vida.

Os resultados mostraram uma prevalência de bruxismo de 50,2% e uma prevalência de

estresse emocional de 45,7%. O teste Qui-quadrado indicou associação entre estresse e
bruxismo (P < 0,05). Nenhuma associação significativa foi encontrada entre estresse
emocional e tipo de trabalho (P = 0,382) ou entre bruxismo e atividade laboral (P = 0,611).
Pôde-se concluir que o estresse emocional esteve associado ao bruxismo,
independentemente do tipo de trabalho realizado pelos policiais.

Descritores: Bruxismo; Estresse psicológico; Polícia.

Autor correspondente:
Renata Cunha Matheus Rodrigues Garcia
Departamento de Prótese e Periodontia
Faculdade de Odontologia de Piracicaba,
Universidade de Campinas (UNICAMP) Av.
Limeira, 901
Piracicaba - SP- Brasil
CEP: 13414-903

E-mail: regarcia@fop.unicamp.br

Recebido para publicação em 28 de setembro de 2006

Aceito para publicação em 20 de abril de 2007

Braz Oral Res 2008;22(1 ):31-5 31

 I Prevalência de bruxismo e estresse emocional e a associação entre eles em policiais brasileiros
Introdução
A etiologia do bruxismo é controversa e ainda não foi
possível estabelecer uma relação direta de causa e efeito
para o desencadeamento desta atividade parafuncional.!
Três principais fatores etiológicos estão envolvidos no
bruxismo: fatores morfológicos, fisiopatológicos e
psicológicos.² Os fatores morfológicos estão relacionados à
oclusão e desarmonia articular; fatores fisiopatológicos
incluem tabagismo, álcool e drogas.
O fator psicológico está relacionado à depressão, ansiedade
e estresse emocional, que desempenham papel importante no
início e perpetuação do bruxismo, bem como na sua frequência e
gravidade,3-5 Manfredini et al. (2004) encontraram associação
com ansiedade e com sintomas depressivos e maníacos em
bruxistas. Acredita-se também que indivíduos deprimidos,
ansiosos e estressados ​emocionalmente apresentam maior
predisposição para desenvolver bruxismo, principalmente durante
o sono, como resposta à liberação do estresse emocional diário.?
Por outro lado, outros estudos sugerem que não há relação entre
bruxismo do sono e estresse, conforme relatado por Watanabe
et al. (2003) e Pierce et al. (1995).
O papel do estresse relacionado ao trabalho na saúde física dos
policiais tem sido motivo de preocupação há muito tempo.
Foi relatado que os policiais apresentam taxas mais altas de
distúrbios cardiovasculares e gastrointestinais, taxas de divórcio duas
vezes maiores que a média nacional e taxas de suicídio três vezes
maiores que a média nacional.10-12 Eles estão expostos a muitos
tipos diferentes de estresse que podem afetar a qualidade do sono. e
saúde física, como lesões físicas, ferimentos em outras pessoas no
cumprimento do dever e testemunho de morte ou ferimentos em
outros oficiais e civis. O impacto desta elevada taxa de exposição na
saúde emocional tem sido há muito tempo uma preocupação
significativa de saúde pública.!3
Além disso, os policiais estão expostos a estresse crônico
não traumático decorrente das demandas do seu ambiente de
trabalho. Portanto, pode-se levantar a hipótese de que os
policiais que exercem atividades operacionais, que incluem
exposição ao perigo e risco de vida, estariam mais estressados ​
e apresentariam mais bruxismo generalizado do que os policiais
que atuam em atividades organizacionais ou burocráticas. , que
supostamente estão expostos a um menor nível de estresse.
Este estudo teve como objetivo (1) investigar a prevalência
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de bruxismo e estresse emocional e a associação entre eles
em policiais do sexo masculino; (2) avaliar a associação
entre o tipo de trabalho realizado pelos policiais e o bruxismo
e o estresse emocional.
Material e métodos
Foi realizado um estudo transversal. Foram
examinados 700 policiais da Polícia Militar do Estado de
São Paulo, na cidade de Campinas, SP, Brasil, e de
acordo com os critérios de inclusão, apenas 394 foram
selecionados (idade média = 35,5).
Eles assinaram um termo de consentimento, aprovado pelo comitê de
ética local.
Os critérios de seleção foram: ser dentado com presença
mínima de 26 dentes, incluindo terceiros molares, não ter
feito uso de aparelhos interoclusais nos últimos 12 meses e
apresentar bom estado geral de saúde. Os critérios de
exclusão incluíram policiais que apresentassem 1) disfunção
da articulação temporomandibular (ATM) ou problemas
orofaciais, 2) ausência de suporte dentário posterior, 3)
periodontite grave, 4) dentes decíduos, próteses removíveis
completas ou parciais, 5) tratamento irreversível da ATM, 6)
história de abuso de álcool, drogas ou medicamentos, com
possíveis repercussões no sono ou no comportamento motor,
e 7) distúrbios psiquiátricos ou neurológicos indicados nos
prontuários de cada policial. Após seleção, os voluntários
foram submetidos a avaliação psicológica e exame clínico.
Avaliacao psicologica
A presença ou ausência real de estresse foi identificada por
meio de um questionário validado, o Inventário de Sintomas de
Estresse (SSI).14
O SSI é composto por três sessões de perguntas.
A primeira sessão está relacionada ao estágio de alerta do
estresse e é composta por 12 questões relacionadas ao
estresse físico e 3 questões relacionadas ao estresse
psicológico que o voluntário vivenciou nas últimas 24 horas
de vida. A segunda sessão, que diz respeito à fase de
resistência ao estresse, é composta por 10 questões sobre
sintomas físicos e questões S sobre sintomas psicológicos,
vivenciados pelo voluntário na última semana. A sessão final
do SSI trata do estágio de exaustão do estresse e consiste
em 12 questões sobre aspectos físicos e 11 questões sobre

sintomas psicológicos, vivenciados pelos voluntários
teer no último mês.
Os policiais tiveram que participar de todas as três sessões
do SSI e responder a todas as perguntas. A pontuação foi
calculada somando-se um ponto para cada resposta positiva de
cada sessão. Foram considerados estressados ​os policiais que
apresentaram pontuação acima de 6 para a etapa de alerta, ou
até 3 para resistência, ou até 8 para a etapa de exaustão.14
Anamnese e exame clínico
Os sujeitos preencheram uma ficha clínica composta
por dados de identificação e tipo de trabalho realizado
atualmente na sede geral, seja organizacional ou
operacional. Considerou-se trabalho de organização
aquele de natureza burocrática realizado dentro da
sede;
e funções operacionais como sendo as atividades
realizadas fora da sede, como policiamento rodoviário e
florestal e patrulhamento de estradas e prisões. Essas
atividades expõem os policiais a agressões pessoais que
seriam supostamente mais estressantes do que o trabalho
burocrático, pois poderiam colocar em risco a própria vida
dos policiais.
Também foram registradas a presença de desconforto na
musculatura mastigatória ao acordar e qualquer autorrelato de
ranger de dentes nas últimas quatro semanas.
O exame clínico foi realizado por um único pesquisador, que
não teve acesso às respostas dos policiais durante as avaliações
psicológicas e fichas clínicas. O bruxismo foi diagnosticado pela
presença de facetas desgastadas alinhadas nos dentes anteriores e/
ou posteriores durante a protrusão e movimentos laterais da
mandíbula. As facetas de desgaste deveriam apresentar pontuação
1, 2 ou 3 de acordo com a escala ordinal de gravidade do desgaste.
15 Além disso, para serem considerados bruxistas, os sujeitos
deveriam apresentar pelo menos um dos seguintes critérios: sons
de rangido de bruxismo durante o sono e /ou enquanto esteve
acordado durante um período recente de quatro semanas, conforme
observado pelo seu companheiro de cama ou colega de quarto;
sensibilidade dolorosa ao toque nos músculos masseteres
mastigatórios e/ou temporais, desconforto na musculatura
mandibular ao acordar.!
Análise estatística
Os dados sobre bruxismo e estresse, bem como um
Carvalbo ALA, Del Bel Cury AA, Garcia RCMR
Os comparativos feitos da prevalência de estresse em indivíduos
com e sem bruxismo foram analisados ​por meio do teste Qui-
quadrado com nível de significância de 5%.
Resultados
A prevalência de bruxismo nos 394 policiais
selecionados foi de 50,25% (n = 198), dos quais apenas 64,
6% tinham conhecimento da presença dessa parafunção. A
presença de estresse emocional foi registrada em 45,69% (n
= 180) deles, e entre os policiais estressados ​quase metade (
48,3%) relatou ranger os dentes enquanto dormiam e/ou
acordados.
Foi encontrada associação significativa (P = 0,0004)
entre a presença de estresse emocional e bruxismo entre
policiais (Tabela 1).
Não foi encontrada diferença significativa (P = 0,382)
para a associação entre estresse e tipo de trabalho (Tabela
2). Também não houve diferença significativa (P=0,611) na
associação entre bruxismo e tipo de trabalho (Tabela 3).
Discussão
Este estudo tentou avaliar a relação entre o
comportamento geral do bruxismo e o estresse emocional,
avaliando uma população específica composta
Tabela 1 -Presença de bruxismo e estresse emocional e
associação entre eles entre policiais (n = 394).
Ausência de Estresse Presença de Estresse
Bruxismo
n
Ausência
Presença
Total
Qui-quadrado = 12,592; *PValor = 0,0004.
Estresse
Ausência
Presença
Total
 I Prevalência de bruxismo e estresse emocional e a associação entre eles em policiais brasileiros
Tabela 3 - Associação entre bruxismo e tipo de trabalho dos
policiais.
Tipo de trabalho
Bruxismo Organizacional Operacional
n
Ausência 59 137
Presença 55 143
Total 114 280
Qui-quadrado = 0,259; Valor P = 0,611.
de policiais que desempenham funções organizacionais ou
operacionais.
Alguns autores enfatizam a importância de discriminar
entre bruxismo relacionado ao sono e bruxismo durante a
vigília, pois ambos os tipos podem ter etiologia diferente;16,
17 e podem influenciar estudos de correlação.16 Segundo
Manfredini et al.18,19 ( 2005), o bruxismo do sono e da
vigília parecem ter patogêneses diferentes e são difíceis de
serem discriminados clinicamente. A polissonografia
representa o padrão de referência para o diagnóstico do
bruxismo do sono, mas seu uso é limitado pelo seu alto
custo.$,19 O presente estudo considerou o bruxismo em
geral, pois a população estudada poderia ser considerada
mais estressada do que o público em geral, e a maioria dos
artigos relacionados19, não distinguem adequadamente
entre os dois fenômenos.
A prevalência de bruxismo (50,2%) neste estudo foi
inferior à encontrada por Wigdorowicz-Makowerowa et al.
20 (1979), que observaram uma prevalência de 58,7% em
militares de 20 a 45 anos.
No entanto, o cálculo da frequência de bruxismo levou em
consideração o bruxismo associado à ATM. Este estudo
excluiu policiais que apresentavam ATM, o que pode explicar
os resultados encontrados.
Independentemente do seu trabalho, a prevalência de
estresse entre os policiais foi de 45,7% (Tabela 1), o que está
de acordo com os resultados de Collins, Gibbs21 (2003) que
encontraram 41% dos policiais com estresse - problemas de
saúde mental relacionados. Contudo, estes dados divergem
dos obtidos por Bültmann et al.2 (2002) que estudaram uma
população trabalhadora e encontraram sofrimento psíquico
em 25,42% da amostra. Assim, parece que ao comparar os
dois, a proporção de policiais que apresentam
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o estresse é o dobro do da população em geral, apoiando a
ideia de que sua ocupação é geralmente percebida como
altamente estressante.3
Total A associação de prevalência entre estresse emocional
em policiais e bruxismo foi estatisticamente significativa (P =
196
0,0004). Verificou-se também que 36,7% dos policiais não
bruxistas (n = 196) apresentaram estresse emocional,
198
enquanto no grupo bruxista (198) o percentual subiu para
394
54,5%. Embora a frequência de estresse emocional em
policiais com bruxismo tenha sido maior do que naqueles
sem bruxismo, esses resultados não indicaram uma relação
de causa e efeito entre estresse emocional e bruxismo (
Tabela 1).
Resultado semelhante foi observado por Pingitore et al.7 (1991),
que constatou que o estresse está significativamente relacionado
ao bruxismo geral. Em contraste, Pierce et al. (1995) não
encontraram nenhuma relação geral entre medidas
cletromiográficas de bruxismo do sono e estresse auto-relatado.
Watanabe et al. (2003) demonstraram que os comportamentos de
bruxismo do sono não são altamente influenciados pelo estresse do
dia a dia. Porém, os sujeitos selecionados para seus estudos
incluíram civis, o que poderia ser considerado uma população
menos estressante quando comparada aos policiais.
A associação entre bruxismo e estresse emocional ainda
está presente independentemente do tipo de trabalho
realizado pelo policial. Isso era de se esperar, uma vez que a
população estudada é considerada mais estressante do que
a população trabalhadora em geral, 21,22
Embora tenha havido maior prevalência de estresse
emocional observada em policiais com bruxismo, alguns deles
desempenham funções organizacionais, como estrutura
gerencial, que se supõe serem menos estressantes. Assim, de
acordo com a hipótese, os policiais que exercem funções
operacionais, estando mais expostos ao confronto, à violência
e ao envolvimento cotidiano em diversos incidentes traumáticos,
apresentariam maior prevalência de estresse emocional - e
consequentemente de bruxismo - do que aqueles que fazem
trabalho organizacional, que estão menos sujeitos a riscos.
Contudo, não foi encontrada associação significativa (P >
0,05) entre o estresse emocional e o trabalho dos policiais,
ou entre o bruxismo e o trabalho dos policiais (Tabelas 2 e 3).
Uma possível explicação

refere-se às fontes de estresse emocional nos policiais, que
estão relacionadas a dois grandes grupos: natureza do
trabalho e natureza da organização policial.23 Assim, deve-se
considerar que embora o policial que realiza atividades
organizacionais No trabalho não está tão exposto a riscos
pessoais, ele enfrenta constantemente pressões internas como
a hierarquia da sede e a disciplina rígida, o que pode
desencadear a ocorrência de estresse emocional. Nesse
sentido, segundo alguns autores²1:24-27, não são os aspectos
operacionais, como risco de violência ou exposição a eventos
traumáticos, que são percebidos como mais estressantes,
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Gravidade, distribuição e correlatos do desgaste dentário oclusal
Carvalho ALA, Del Bel Cury AA, Garcia RCMR
mas sim, aspectos organizacionais como a estrutura
gerencial e o ambiente de trabalho.
Além disso, ao estudarem a população policial em
diferentes países, estes autores chegaram a conclusões
semelhantes, o que poderia levar a supor que a questão
mais associada ao stress policial é a mesma.
Conclusões
Dentro das limitações deste estudo, o estresse emocional
esteve associado ao bruxismo, independentemente do tipo de
trabalho realizado pelo policial.
em uma amostra de adultos mexicano-americanos e europeus-
americanos. Int J Prótese. 2001;14(1):65-70.
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