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MBA FINANÇAS UFSCAR SOROCABA

Jorge Luis Faria Meirelles


Nara Rossetti
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Sobre os professores/autores

Prof. Dr. Jorge Luís Faria Meirelles


Possui graduação em Ciências Econômicas - UNESP - Universidade Estadual
Paulista. É mestre e doutor em Engenharia de Produção, pela Universidade de
São Paulo - Escola de Engenharia de São Carlos. Professor da área de finanças,
do Departamento de Engenharia de Produção de Sorocaba, da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar). Na área de pesquisa e de extensão (consultoria
e treinamento), atua principalmente em Avaliação de Investimentos, Gestão de
Valor e de Custos. É Coordenador do Curso de Especialização (pós-graduação lato
sensu) MBA Finanças, da UFSCar/Sorocaba

Prof. Dra. Nara Rossetti


Professora Adjunta da Universidade Federal de São Carlos, Campus de Sorocaba,
doutora em Engenharia de Produção pela EESC-USP, mestre em Contabilidade e
graduada em Economia pela Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP-USP). Na área de pesquisa e de extensão
(consultoria e treinamento), atua principalmente em Análise Financeira de
Empresas, Gestão de Valor e de Custos. É Coordenadora do Curso de
Especialização EaD (pós-graduação lato sensu) MBA Finanças, da
UFSCar/Sorocaba.

Sobre os professores/autores
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Prof. Dr. Jorge Luís Faria Meirelles


Possui graduação em Ciências Econômicas - UNESP - Universidade Estadual
Sumário

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 4
UNIDADE 1 ......................................................................................................................5
ESTRUTURA CONCEITUAL DA CONTABILIDADE E BALANÇO PATRIMONIAL ............. 5
Características Qualitativas da Informação Contábil ................................................. 7
Balanço Patrimonial................................................................................................... 11
Bens, Direitos e Obrigações ...................................................................................11
Estrutura do Balanço Patrimonial .......................................................................... 13
Origens e Aplicações .............................................................................................. 19
UNIDADE 2 ....................................................................................................................21
DEMAIS RELATÓRIOS CONTÁBEIS ............................................................................. 21
Demonstração do Resultado do Exercício ............................................................. 21
Demonstração do Resultado Abrangente ............................................................. 25
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) ou dos Lucros e
Prejuízos Acumulados (DLPA) ................................................................................ 26
Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) ............................ 27
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) ............................................................. 27
Demonstração do Valor Adicionado (DVA) ........................................................... 28
UNIDADE 3 ....................................................................................................................30
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS ........................................................ 30
Análise Vertical e Horizontal .................................................................................. 30
Indicadores de Lucratividade ................................................................................. 32
Indicadores de Liquidez E Atividade ...................................................................... 39
UNIDADE 4 ....................................................................................................................47
Indicadores De Rentabilidade ................................................................................ 47
Indicadores de Endividamento .............................................................................. 54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................... 58

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ANÁLISE FINANCEIRA DE
EMPRESAS

INTRODUÇÃO

Esta primeira disciplina do curso, Análise Financeira de Empresas, é fundamental


para a compreensão das demais disciplinas a seguir e está dividida em duas partes:
Parte 1 – Contabilidade e Relatórios Financeiros (Unidades 1 e 2) e Parte 2 – Análise
dos Demonstrações Financeiras (Unidades 3 e 4).
Não é possível entender de finanças corporativas sem antes ter o conhecimento,
mesmo que básico, de contabilidade.
É por meio da leitura e compreensão dos relatórios contábeis que extraímos
informações importantes a respeito da saúde financeira, patrimonial e operacional
das empresas. Portanto, o conhecimento prévio de contabilidade e seus relatórios
torna-se fundamental para a extração de indicadores que permitam analisar
financeira e economicamente as empresas.
Esperamos que este material os auxilie na compreensão dos conceitos aqui
apresentados, e se necessário, não deixem de consultar a bibliografia sugerida.

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UNIDADE 1

ESTRUTURA CONCEITUAL DA CONTABILIDADE E BALANÇO


PATRIMONIAL

A contabilidade é uma ciência social aplicada que visa estudar as transformações


patrimoniais, econômicas e financeiras de uma entidade. Sua metodologia consiste
em captar, registrar, acumular, resumir e interpretar os fenômenos que afetem
essas transformações (IUDÍCIBUS, 2010).
Esta ciência nasceu da necessidade do homem em controlar seu patrimônio. O
homem há dezenas de séculos atrás, quando morava em feudos e a economia da
época era basicamente de subsistência, já tinha necessidade de quantificar seus
bens e controlar seu patrimônio, como por exemplo quantas ovelhas havia em seu
rebanho, quantos gados possuía em seu pasto, o quanto sua horta produziria de
acordo com o tamanho da terra arada.
Anos mais tarde, após as grandes revoluções do século dezoito, quando o homem
inicia seu conceito de lucro, ou de acúmulo de capital, essa necessidade de controle
se faz ainda mais necessária e segundo Marion (2015b) com o passar do tempo, as
formas de registro dos fatos contábeis foram aprimoradas por meio de estudos, de
forma que atendessem aos usuários das informações contábeis.
No Brasil, a primeira lei que regulamentou e normatizou a forma de divulgação das
demonstrações contábeis foi a lei 6404/76, denominada de Lei das Sociedades por
ações, modificada pela lei 11.638/07 pela lei 11.941/09. Com a criação do Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC) e seus pronunciamentos, as normas brasileiras de
divulgação convergiram quase que totalmente às Normas Internacionais de
Contabilidade emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB).

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Assim, esse conjunto de leis e pronunciamentos tem como objetivo além de ajustar
as normas contábeis brasileiras às internacionais, tornar o processo de “leitura” dos
relatórios contábeis mais compreensível junto aos seus usuários, sendo este o
principal objetivo da contabilidade, “fornecer informações sobre a posição
patrimonial e financeira, o desempenho e as mudanças na posição financeira de uma
entidade” (FIPECAFI, 2017, p. 36).
A Contabilidade deve estar ligada intimamente ao processo de tomada de decisões
de uma empresa. E para se tomar decisões é necessário que o gestor de uma
empresa possua informação, para que ele tenha informação, é necessário que
existam relatórios, para que existam relatórios, deve-se existir dados, e para que
existam dados confiáveis é necessário que exista controle.
Mas para quem interessa a contabilidade de uma entidade? Quem são os usuários
da informação?
Os usuários da informação contábil são todos os indivíduos interessados em
conhecer a posição patrimonial, financeira e econômica de uma entidade. Podemos
citar como exemplo os bancos, que atuam como credores junto as instituições. É
estritamente necessário que esses credores conheçam a real capacidade de uma
empresa em conseguir honrar seus compromissos, bem como avaliar a capacidade
desta mesma empresa em gerar fluxos de caixa positivos no futuro.
Os fornecedores de matéria prima também podem ser considerados usuários da
informação contábil, principalmente se seu cliente costuma comprar a prazo,
passando de fornecedor a também credor de determinada entidade. O governo é
um dos principais usuários da informação contábil, pois é por meio dela que que ele
quantifica os impostos e contribuições a serem pagas. Os funcionários podem ser
usuários também, a fim de verificar a situação patrimonial da entidade do qual ele
faz parte.
Os investidores das sociedades de capital aberto também são usuários da
informação contábil. Os relatórios e demonstrações divulgadas periodicamente

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permitem que os mesmos além de conhecer a situação financeira atual da empresa,
ainda façam inferências futuras por meio de uma série de análises desses relatórios.
Ou seja, qualquer pessoa interessada na situação financeira, patrimonial e
econômica de uma entidade é um usuário da informação contábil, que extrairá
informações a respeito da situação financeira e patrimonial da entidade por meio da
leitura e análise dos Relatórios Contábeis/Financeiros, os quais expõe todos os
dados coletados da contabilidade de forma ordenada e resumida.

Características Qualitativas da Informação Contábil

De acordo com o Pronunciamento Contábil Básico – Estrutura Conceitual para


Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis do CPC, há uma premissa
básica que compõe a estrutura conceitual da contabilidade, a da Continuidade.
A premissa da Continuidade se refere ao fato de que as demonstrações contábeis
são elaboradas a partir do princípio de que as entidades irão permanecer em
funcionamento no futuro, não estando em fase de extinção do seu processo
operacional, a não ser que essa intenção de finalização esteja explicitamente
publicada em seus relatórios.
Já as demais características qualitativas são, segundo o pronunciamento citado
anteriormente, “os atributos que tornam as demonstrações contábeis úteis para o
usuário”. Essas características são divididas em dois grupos: características
qualitativas fundamentais e de melhoria.
As características qualitativas fundamentais são
• Relevância/Materialidade
• Representação Fidedigna.
E as características qualitativas que melhoram a informação contábil são:

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• Verificabilidade;
• Compreensibilidade;
• Comparabilidade;
• Tempestividade
Se as informações divulgadas atendem as necessidades do usuário, então são
relevantes para o processo de tomada de decisão dos mesmos, e precisam
necessariamente ser confiáveis e representar fidedignamente as transações e
eventos que a informação se propõe, sendo, portanto, verificáveis para diferentes
tipos de usuários.
As informações contábeis devem ser compreensíveis para quem as lê, presumindo-
se que o usuário tenha o mínimo de conhecimento sobre o negócio da entidade em
questão, e a informação será mais útil se puder ser comparada com informação
similar. Além disso, os usuários para o processo de tomada de decisão precisam ter
a informação a tempo para que esta possa influenciá-los.
Se o processo de tomada de decisão for alterado pela omissão ou distorção da
informação, então esta é material, sendo necessário que as informações sejam
representadas pela sua real natureza e não apenas para cumprimento de sua forma
legal. Além disso, a informação deve ser neutra, não induzindo o usuário em seu
processo de tomada de decisão.
O Regime de Competência (antes um pressuposto da contabilidade) rege a forma de
preparação das demonstrações contábeis. Este regime versa sobre o fato gerador
de entradas e saídas de recurso e não necessariamente sobre a data efetiva das
entradas e saídas de recurso. Por exemplo, uma empresa realizou uma venda e este
cliente pagará pela sua compra durante os próximos 6 meses.
Mesmo que o recurso só entre em caixa na empresa toda data “x” dos próximos seis
meses, o fato que gerou a venda ocorreu em um único mês, e é neste mês que a
empresa tem que realizar a receita por esta venda. O mesmo acontecerá com as
despesas, para realização da confrontação das Receitas com as Despesas, ou seja, a

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entidade só terá despesa se tiver realização de receita (as definições de receita e
despesas serão apresentadas na Unidade 2).
As informações contábeis possuem dois tipos de finalidade, pode ser usada para
controle (para atingir metas e analisar a situação da empresa) e como meio de
planejamento, para traçar orçamentos. Os relatórios contábeis (também chamados
de demonstrações financeiras ou demonstrações contábeis) são informações
resumidas sobre a situação financeira e patrimonial das empresas.
Os Relatórios Contábeis são o documento que permitem ao usuário “ler” e analisar
a situação financeira e patrimonial de uma entidade. Os dois relatórios elaborados
para realização da contabilidade são: o Balanço Patrimonial (BP) e Demonstração
do Resultado do Exercício (DRE).
As demais demonstrações decorrentes destas duas primeiras e são:
• Demonstração do Resultado Abrangente (DRA);
• Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL);
• Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados (DLPA);
• Demonstrações das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR);
• Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC);
• Demonstração do Valor Adicionado (DVA);
Além dessas demonstrações obrigatórias, há as notas explicativas, que são parte
integrante dos relatórios, pois permitem esclarecer os dados expostos. Com exceção
da DOAR, o qual deixou de ser obrigatória após o advento da Lei nº 11.638/07, todas
as demais demonstrações contábeis têm obrigatoriedade de divulgação, sendo o
DVA obrigatório apenas para empresas de capital aberto. No caso do DMPL e do
DLPA, a lei aceita uma ou outra, sendo a DMPL mais comum de ser divulgada já que
comtempla em suas informações a DLPA.
As empresas devem fazer as divulgações ao fim de cada período de 12 meses,
denominado de Exercício Social. O Imposto de Renda sugere o encerramento das
demonstrações sempre ao fim de cada ano, 31/12, porém há casos em que o

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exercício social não coincide com o ano civil (de 01/01 a 31/12), como é o caso das
usinas do setor sucroalcooleiro. As usinas do Estado de São Paulo, por exemplo,
divulgam suas demonstrações com exercício social de maio de um ano a abril do
outro, para coincidir com seu período de safra.
As empresas S.A. de capital aberto costumam divulgar suas demonstrações
contábeis trimestralmente para melhor informarem seus acionistas. Nos sites destas
empresas há, normalmente, um link denominado de Investidores, onde estão
alocados os relatórios financeiros. As demonstrações são assinadas pelo parecer de
empresas de auditorias independentes, o que concede maior credibilidade aos
relatórios divulgados.
Para divulgação de suas informações, as empresas devem apresentar logo acima de
cada demonstração, o nome completo da empresa, o período a que se referem, o
nome do relatório contábil e a moeda a que estão expressos os números. É muito
comum que os valores nos relatórios apareçam divididos por mil ou milhão, para
facilitar a leitura dos dados, neste caso, aparece esta informação também acima do
relatório, por exemplo: em milhares de R$ ou em milhões de R$.

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE ESTRUTURA CONCEITUAL DA


CONTABILIDADE.

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Balanço Patrimonial
Pode-se dizer que o BP é a mais importante demonstração financeira. Sua finalidade
é apresentar a situação financeira e patrimonial da entidade. Porém, é apresentado
de forma estática, ou seja, não é possível verificar por meio do BP todas as
movimentações que estão por trás dos saldos apresentados nas contas do BP, uma
vez que ele apresenta apenas o saldo. É como se ao final de um exercício social (doze
meses) fosse tirada uma foto de todos os saldos a pagar e a receber, além de todos
os bens de posse da entidade.

Bens, Direitos e Obrigações


Afinal o que são bens? Marion [2015a] define bens como “as coisas úteis capazes
de satisfazer às necessidades das pessoas e das empresas”. Por exemplo: o prédio
da empresa é um bem, os veículos que a empresa possui são bens, as máquinas, as
mercadorias em estoque etc. Estes bens citados são denominados de bens tangíveis,
pois são bens corpóreos, tem materialidade.
Existem outros tipos de bens que não são corpóreos, são imateriais como é o caso
da marca da empresa. Pensem em um refrigerante de cor negra que é escrito com
letras brancas em um fundo vermelho.
É claro que pensaremos na Coca-Cola®, pois é um refrigerante que possui uma marca
muito forte no mercado. A marca é algo que demora anos para ser consolidada, e
sempre está atrelada a credibilidade e qualidade do produto.
Pensem agora em uma lanchonete fast food que possui um “m” gigante em formas
de arcos dourados. Tenho certeza de que todos pensaram no McDonald’s®, pelos
mesmos motivos que a Coca-Cola®. Se a marca é tão importante assim para uma
empresa, então ela também pode ser considerada um bem, porém, é um bem que
não possui materialidade, não é um bem corpóreo, por isso é chamada de bem
intangível.
Outro exemplo de bem intangível são as patentes. Quando uma empresa apresenta
uma nova tecnologia, por meio de Pesquisa e Desenvolvimento, que pode mudar
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consideravelmente o mercado de um produto, esta empresa registra a patente
desta nova tecnologia e pelas leis de patente, ela ganha exclusividade na exploração
e produção. Isto acontece muito na indústria farmacêutica, quando novos
medicamentos são descobertos. Desta forma, patente também é um bem para a
empresa, um bem intangível.
Os bens ainda podem ser classificados como móveis e imóveis. Bens móveis são os
que podem se locomover, e imóveis que estão em lugares fixos, não se locomovem.
Por exemplo: veículos e móveis de escritório são considerados bens móveis, prédios
e edifícios, bens imóveis.
Em contabilidade, direito é tudo o que se pode RECEBER. Por exemplo, uma empresa
vendeu mercadorias a seu cliente para que ele lhe pague em 30 dias. A empresa
então possui um direito: que é receber pela mercadoria no prazo estipulado.
Para este recebimento, normalmente a empresa emite um documento denominado
de duplicatas a receber ou nota promissória. Outro exemplo de direito é o dinheiro.
Se o dinheiro está no caixa da empresa, é um bem, mas se ele se encontrasse
depositado no banco, é direito. Isto porque o dinheiro está custodiado no banco, e
a empresa tem direito a saque, direito a receber. As aplicações financeiras que a
empresa faz para aumentar seu capital também são exemplos de direitos.
As obrigações são as dívidas que a empresa possui com terceiros, ou seja, tudo o
que a empresa tem que pagar. Um empréstimo ou financiamento feito pela
empresa, seja para obter mais dinheiro em caixa, seja pela compra de um carro,
constitui-se em uma dívida bancária, portanto é uma obrigação. As mercadorias
compradas a prazo de fornecedores terão que ser pagas em seus vencimentos, logo,
são obrigações. As obrigações possuem o nome de exigíveis, pois em algum
momento (na data de seus vencimentos) será exigido o pagamento destas.
A riqueza líquida de uma empresa está na diferença de seus bens e direitos por suas
obrigações, representada pela seguinte equação:
Riqueza Líquida/ Patrimônio Líquido = Bens + Direitos – Obrigações

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ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE A APRESENTAÇÃO DO BALANÇO
PATRIMONIAL

Estrutura do Balanço Patrimonial

Ao lado esquerdo do Balanço Patrimonial são apresentados todos os bens e direitos,


que representam os Ativos da empresa. Ao direito do BP são demonstradas todas
as obrigações, que representam os Passivos da empresa e o Patrimônio Líquido, que
representa a riqueza líquida.
De acordo com a Estrutura Conceitual do CPC, item 4.8, “o benefício econômico
incorporado a um ativo é o seu potencial em contribuir direta ou indiretamente,
para o fluxo de caixa ou equivalentes de caixa de uma entidade”, ou seja, muito além
da ideia simplificada de que os Ativos são o conjunto de bens e direitos de uma
entidade, os mesmos tem como natureza a geração de benefícios futuros de caixa,
seja os que serão usados na produção de bens e serviços bem como os
disponibilizados para venda, ou para liquidação de um passivo.
A lei 6404/76, em seus artigos 178 e 182, define que os Ativos devem ser
apresentados no Balanço Patrimonial por ordem decrescente de liquidez, ou seja,
apresentam-se primeiro as contas mais rapidamente conversíveis em dinheiro para
as menos conversíveis, e os Passivos devem se apresentar em grau decrescente de
exigibilidade, se apresentando antes as contas que possuem exigibilidade anterior
as outras.

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Assim, a estrutura do Balanço Patrimonial deve ser apresentada da seguinte forma
(figura 1):

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante

Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante


Realizável a LP
Investimentos
Imobilizado PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Intangível

ATIVO TOTAL PASSIVO TOTAL


Figura 1: Estrutura do Balanço Patrimonial

O Ativo é formado por dois grupos de contas: Ativo Circulante e Ativo Não Circulante.
Os ativos não circulantes englobam ainda quatro subgrupos de contas: Ativo
Realizável a Longo Prazo, Investimento, Imobilizado e Intangível.
Para explicar o conceito de Circulante e Não Circulante precisamos, primeiro,
entender o conceito de Ciclo Operacional, que é o período que engloba desde o
momento da compra da matéria prima pela empresa até o momento em que a
empresa recebe pela venda do produto acabado. O ciclo operacional passa
basicamente por quatro estágios: a empresa compra a matéria prima, transforma
esta matéria prima em produto acabado, vende o produto e recebe pela venda do
produto.

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Quando o período do ciclo operacional é de até um ano, então o ciclo operacional
da empresa está dentro do Exercício Social, portanto o conceito de curto prazo é de
até um ano, e longo prazo o que ultrapassa um ano.
Isto é válido para a grande maioria das empresas, pois possuem ciclos operacionais
inferiores ou iguais ao exercício social. Mas há o caso de empresas que possuem o
ciclo operacional muito longo, superior a um ano, como é o caso da indústria naval.
Para construir um navio e vendê-lo leva-se muito mais tempo que um ano, neste
caso, o ciclo operacional é maior que o exercício social e o curto prazo passa a ter o
mesmo período que o ciclo operacional, e longo prazo, o período que ultrapasse o
ciclo operacional.
Os ativos e passivos circulantes correspondem aos de curto prazo, enquanto os
ativos e passivos não circulantes correspondem aos de longo prazo, dados os
conceitos de curto e longo prazo apresentados.
Quando a empresa encerra seu exercício social, geralmente em 31 de dezembro de
determinado ano, tudo o que ela tem em saldo do que já foi recebido; as vendas que
ela realizou, mas que serão recebidas no prazo de até um ano (geralmente); e o que
ela possui de mercadorias para vender compõe o grupo de contas do Ativo
Circulante.
Por serem ativos de curto prazo, as contas que representam o Ativo Circulante são
as atividades do ciclo operacional da empresa, por exemplo, o dinheiro recebido
pelas vendas (DISPONIBILIDADES), as vendas já efetuadas e ainda não recebidas
(DUPLICATAS A RECEBER), os produtos em estoque que ainda não foram vendidos
(ESTOQUES) e demais contas que se transformarão em dinheiro em um prazo
inferior a um exercício social, na maioria dos casos. O ativo circulante é também
conhecido como o Capital de Giro da empresa.
Os Ativos Não Circulantes englobam ainda quatro subgrupos de contas: Ativo
Realizável a Longo Prazo, Investimento, Imobilizado e Intangível.

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No subgrupo Ativo Realizável a Longo Prazo serão alocadas as contas do ativo que
possuem vencimentos a receber após um exercício social, podendo ser resultados
de vendas, adiantamentos ou empréstimos a coligadas e controladas (lembrando
sempre os conceitos de curto e longo prazo dado o ciclo operacional da empresa).
Já no subgrupo Investimento figuram aqueles ativos como participação permanente
da empresa em outras sociedades, ou ativos incorporados a essa que não se
destinem a manutenção da atividade da empresa, mas que podem ter sido
adquiridos com a intenção de valoração, como por exemplo, obras de arte ou
terrenos para valorização.
Os ativos Imobilizados correspondem ao subgrupo de ativos corpóreos, ou seja,
materiais, que tenham por finalidade manter as atividades operacionais da empresa
em funcionamento, participando ou não do processo produtivo da mesma, como
por exemplo, máquinas, veículos, prédios, móveis, computadores, etc. Os ativos
imobilizados devem ser registrados pelo seu custo de aquisição, e sobre eles será
deduzido os correspondentes valores de depreciação, amortização ou exaustão.
A depreciação dos bens imobilizados refere-se ao período de vida útil econômica dos
bens. De acordo com o artigo 183 da Lei 6404/76, a depreciação refere-se ao
desgaste dos bens físicos, seja por sua utilidade ou obsolescência. A amortização
corresponde “a perda do valor do capital aplicado na aquisição de direitos de
propriedade industrial ou comercial e quaisquer outros com existência ou exercício
de duração limitada”. A exaustão refere-se a perda de valor decorrente da
exploração seja de um recurso mineral ou florestal.
E no subgrupo dos ativos Intangíveis figuram os ativos que não possuem
materialidade, são incorpóreos como marcas e patentes, pesquisa e
desenvolvimento e goodwill (o qual será detalhado melhor em outras disciplinas do
curso).
Com relação ao grupo dos Passivos, que representam as obrigações exigíveis de uma
entidade, há dois subgrupos: o Circulante e o Não Circulante. No subgrupo dos

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Passivos Circulantes serão alocadas as obrigações vencíveis em até um exercício
social como fornecedores, empréstimos e financiamentos, impostos, salários e
demais obrigações e no grupo do Não Circulante as obrigações que ultrapassam um
exercício social (para empresas com ciclo operacional inferior a doze meses). Os
passivos também são denominados de Capital de Terceiros, por serem justamente
exigidos por terceiros credores à companhia.
O Patrimônio Líquido representa a riqueza líquida da empresa, sendo resultado da
subtração de todos os ativos por todos os passivos. É no Patrimônio Líquido que se
configura o investimento inicial feito na empresa, ou seja, o Capital Social, assim
como o resultado desse investimento que correspondem as reservas de lucros, ou
prejuízos acumulados. Se acordo com a lei 6404/76 modificada pela lei 11.941/09, o
Patrimônio Líquido deve ser dividido em (FIPECAFI, 2017):
• Capital Social: valores recebidos dos sócios e aqueles que por meio jurídico
foram incorporados ao Capital;
• Ajustes de Avaliação Patrimonial: contrapartidas de aumentos ou diminuições
de ativos ou passivos, em decorrência de sua avaliação a valor justo.
• Reservas de Lucros: lucros obtidos pela empresa ao final de seus exercícios
social.
• Ações em Tesouraria: ações da companhia que são adquiridas pela própria
sociedade.
• Prejuízos Acumulados: prejuízos obtidos pela empresa ao final de seus
exercícios social.
Como o Patrimônio Líquido representa o capital dos sócios, é também denominado
de Capital Próprio. Assim, a Figura 2 apresenta um exemplo simplificado de um
Balanço Patrimonial:

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ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Disponibilidades Fornecedores
Contas a Receber Impostos a Pagar
Estoques Empéstimos e Financiamentos
Outras Contas a pagar

Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante


Realizável a LP Empréstimos e Financiamentos
Empéstimos a Coligadas Obrigações Fiscais
Investimentos
Obras de Arte PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Ações de Outra Cia Capital Social
Imobilizado Reservas de Capital
Terrenos Ajustes de Avaliação Patrimonial
Prédios Reservas de Lucros
Máquinas e Equipamentos Ações em Tesouraria
Veículos Prejuízos Acumulados
Intangível
Marcas

ATIVO TOTAL PASSIVO TOTAL


Figura 2: Balanço Patrimonial

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE A ESTRUTURA DO BALANÇO


PATRIMONIAL.

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Origens e Aplicações
Uma das frases mais comuns em contabilidade é “para cada origem há uma ou mais
aplicações”. Esta frase se refere a origem e a aplicação do recurso, ou seja, da forma
como o recurso “entra” na empresa e “o que é feito dele”.
Neste sentido, os Passivos e Patrimônio Líquido representam as Origens enquanto
que os Ativos representam as Obrigações. Por meio da técnica de construção de
balanços sucessivos, é mais fácil visualizar estes conceitos.
Por exemplo, supomos que está sendo aberta uma nova empresa e que os sócios
integralizaram o capital social, em dinheiro (R$ 100.000), exposto na figura 3:

ATIVO PASSIVO e PATR. LÍQ.

Caixa 100.000

Aplicação
Capital Social 100.000

Total do Ativo 100.000 Total do Pass + PL 100.000 Origem


Figura 3: Integralização do capital social

De acordo com a figura 3, a Origem do recurso foi a integralização do capital social


em R$ 100.000,00 e este recurso teve uma Aplicação no ativo como caixa, já que era
dinheiro.
Em um segundo momento esta mesma empresa resolve comprar equipamentos
para o processo produtivo no valor de R$ 40.000,00, sendo que pagarão R$
10.000,00 a vista e o restante em 6 vezes iguais. A contabilização ficaria da seguinte
forma:

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ATIVO PASSIVO e PATR. LÍQ.

Caixa 90.000

Financiamento 30.000

Saiu
10.000 do Origem
caixa
Equipamentos 40.000 Capital Social 100.000

Total do Ativo 130.000 Total do Pass + PL 130.000


Aplicação

Figura 4: Compra de Equipamentos

A figura 4 demonstra uma reaplicação de um recurso originado anteriormente (os


R$10.000,00 usados de entrada), e uma nova origem que foi o financiamento dos
equipamentos que proporcionou a compra total dos equipamentos, gerando,
portanto, uma nova aplicação.

Para ver a continuação dos balanços sucessivos deste exemplo:

ASSISTA A VIDEOAULA SOBRE BALANÇOS SUCESSIVOS.

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UNIDADE 2

DEMAIS RELATÓRIOS CONTÁBEIS

Demonstração do Resultado do Exercício


A Demonstração do Resultado do Exercício, DRE, é a demonstração contábil
que informa o resultado de determinado exercício social, se positivo Lucro, se
negativo Prejuízo. A DRE é uma demonstração dedutiva, em que de todos os ganhos
obtidos com as vendas serão deduzidos todos os custos e despesas necessárias para
gerar tal venda (Receita). Se a DRE é do 1° trimestre, nela serão contabilizadas todas
as receitas e despesas cujo fato gerador ocorreu no 1° trimestre, mesmo que o
efetivo pagamento (saída do caixa) ocorra em abril, de acordo com o já citado
Regime de Competência.
Uma forma mais resumida de DRE é apresentada na figura 5.
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO

RECEITAS

- DESPESAS

=RESULTADO

Figura 5: DRE resumida

De acordo o pronunciamento do CPC, extraído de FIPECAFI (2017, pag. 49) a


definição de Receita “abrange tanto receitas propriamente ditas quanto ganhos (...)
surge no caso das atividades usuais da entidade e é designada por uma variedade de
nomes, tais como vendas, honorários, juros, dividendos, royalties, aluguéis.” E ainda
segundo o pronunciamento do CPC, extraído também de FIPECAFI (2017, pag. 50)

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“a definição de despesas abrange tanto as perdas quanto as despesas propriamente
ditas que surgem no curso das atividades usuais da entidade (...) incluem, por
exemplo, o custo das vendas, salários e depreciação (...) tomam a forma de
desembolso e redução de ativos.”
O resultado auferido em determinado exercício é constantemente usado
como medida de desempenho da empresa, por meio de indicadores os quais serão
melhor discutidos posteriormente, mas dado que o lucro representa o principal fator
de continuidade de uma entidade, a acurácia na construção da DRE é de suma
importância para os gestores e sócios. É sobre o Lucro que incide também a
Contribuição Social e o Imposto de Renda a ser pago em determinado exercício.
Além disso, é por meio do lucro apurado na DRE que incidirão os dividendos a pagar
aos sócios no próximo exercício.
É muito importante diferenciar o conceito de despesas do conceito de custos. Os
custos são os gastos que a empresa gerou e estão diretamente ligados ao processo
produtivo, e as despesas são os gastos gerados mas que não estão ligados
diretamente ao processo produtivo. Por exemplo, em uma indústria, todo o salário
do pessoal que trabalha na produção é custo, mas o salário dos funcionários da parte
administrativa é considerado uma despesa.
A primeira conta que aparece na DRE é a conta Receita Operacional Bruta. Esta conta
demonstra todo o montante de receita operacional gerado pela empresa durante
um exercício social, ou seja, todas as vendas de produtos ou serviços prestados pela
empresa.
Da Receita Operacional Bruta, devem-se deduzir todos os descontos concedidos nas
vendas e todas as devoluções de produtos, além disso, também se devem deduzir
todos os impostos gerados nas vendas das mercadorias ou dos serviços prestados.
Os impostos que incidem sobre as vendas de mercadorias são IPI (Imposto sobre
Produto Industrializado), ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços), ISS (Imposto sobre Serviços de qualquer natureza), PIS (Programa de

22
Interação Social) e COFINS (Contribuição para Seguridade Social). A receita
operacional bruta menos as deduções da receita geram a Receita Operacional
Líquida, conforme figura 6.

Receita Bruta de Vendas


(-) Tributos sobre as vendas, devoluções e abatimentos
Receita Líquida de Vendas
Figura 6: DRE (construção)

Da receita operacional líquida são deduzidos todos os custos gerados no processo


produtivo ou no serviço prestado de uma empresa. O resultado da subtração da
receita operacional líquida com os custos do produto vendido dá origem ao primeiro
lucro demonstrado na DRE, o qual é o Lucro Bruto.

Receita Bruta de Vendas


(-) Tributos sobre as vendas, devoluções e abatimentos
Receita Líquida de Vendas
(-) Custo dos Produtos Vendidos
= Lucro Bruto
Figura 7: DRE (construção)

Do Lucro Bruto serão deduzidas todas as despesas operacionais, como Despesas


com Vendas e Despesas Administrativas, e pode haver o acréscimo de Resultado de
Equivalência Patrimonial (que é a receita adquirida por meio da atualização do valor
contábil do investimento feito pela sociedade investidora no patrimônio líquido da
sociedade investida) e ainda outras receitas e/ou despesas operacionais oriundas de
vendas de ativos imobilizados da companhia, para então ser gerado o Lucro Antes
das Despesas e Receitas Financeiras.

23
Receita Bruta de Vendas
(-) Tributos sobre as vendas, devoluções e abatimentos
Receita Líquida de Vendas
(-) Custo dos Produtos Vendidos
= Lucro Bruto
(-) Despesas com Vendas
(-) Despesas Administrativas
(+) Receita de Equivalência Patrimonial
= Lucro Antes das Receitas e Despesas Financeiras
Figura 8: DRE (construção)

Deste Lucro serão subtraídas as Despesas Financeiras (que são os juros pagos por
movimentações creditícias, descontos concedidos a cliente por antecipação de
pagamento, tarifas bancárias e correção monetária de aplicações) e somadas as
Receitas Financeiras (resultado de juros ganhos pela empresa em aplicações
financeiras).
O resultado será o Lucro Antes do Imposto de Renda, o qual haverá a incidência do
Imposto de Renda e Contribuição Social já calculados no Livro de Apuração do Luro
Real, para por fim se apurar o lucro ou prejuízo do exercício.

24
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO
Receita Bruta de Vendas
(-) Tributos sobre as vendas, devoluções e abatimentos
Receita Líquida de Vendas
(-) Custo dos Produtos Vendidos
= Lucro Bruto
(-) Despesas com Vendas
(-) Despesas Administrativas
(+) Receita de Equivalência Patrimonial
= Lucro Antes das Receitas e Despesas Financeiras
(+) Receitas Financeiras
(-) Despesas Financeiras
= Lucro Antes dos Tributos sobre o Lucro
(-) Tributos sobre o Lucro
= Lucro Líquido do Período
Figura 9: DRE

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE A DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DE


EXERCÍCIO E O EXEMPLO 2 DE BALANÇOS SUCESSIVOS.

ASSISTA TAMBÉM A VIDEOAULA SOBRE CONTAS REDUTORAS DO BALANÇO


PATRIMONIAL.

Demonstração do Resultado Abrangente


As demonstrações construídas por meio dos dados gerados na contabilidade
são o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultado do Exercício. Todas as
demais demonstrações/relatórios contábeis/financeiros são oriundas do BP e da
DRE.

25
De acordo com FIPEAFI (2017, pag. 4), o resultado abrangente “é a mutação
que ocorre no patrimônio líquido durante um período que resulta de transações e
outros eventos que não derivados de transações com os sócios na sua qualidade de
proprietário” sendo desta forma, as mutações que ocorrem no lucro ou prejuízo da
companhia que eram reconhecidos temporariamente na Demonstração das
Mutações do Patrimônio Líquido.

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE


Lucro Líquido do Período
(+-) Ganhos/Perdas de conversão das Demonstrações
Contábeis
(+ -) Ganhos ou Perdas Atuariais (benefícios a
empregados)
(+ -) Mudanças nos valores justos de instrumentos de
Hedge
(+-) Parcela de outros resultados abrangentes
(coligadas, controladas e controladas em conjunto,
contabilizadas pelo MEP)
(=) Resultado Abrangente Total
Participação no Resultado Abrangente
Controladores
Não Controladores
Figura 10: DRA

Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) ou dos Lucros e


Prejuízos Acumulados (DLPA)
A Lei das Sociedades por ações aceita a publicação de uma ou outra, mas a
DMPL é mais abrangente que a DLPA, como já citado anteriormente. A DMPL
demonstra todas as mudanças ocorridas nas diversas contas do Patrimônio Líquido,
complementando assim as informações já fornecidas pelo BP e pela DRE.
As contas que formam o Patrimônio Líquido podem sofrer variações por vários
motivos, sendo os mais comuns: acréscimo pelo lucro ou redução pelo prejuízo
líquido do exercício; redução por dividendos; acréscimo por reavaliação de ativos

26
(quando o resultado for credor); acréscimo por subscrição e integralização de
capital; acréscimo pelo recebimento de valor que exceda o valor nominal das ações
integralizadas ou o preço de emissão das ações sem valor nominal; acréscimo pelo
valor da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição; acréscimo por
prêmio recebido na emissão de debêntures; redução por ações próprias adquiridas
ou acréscimo por sua venda; acréscimo ou redução por ajuste de exercícios
anteriores, evidenciando assim as mutações da DMPL em termos globais (FIPECAFI,
2017).

Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR)


A DOAR não é mais uma demonstração obrigatória, mas muitas empresas a
divulgam a título e transparência, evidenciando as mudanças ocorridas no Capital
Circulante Líquido da empresa, sendo este os ativos de curto prazo subtraídos dos
passivos de curto prazo, demonstrando desta forma, se há ou não folga financeira
nos recursos de curto prazo.
As origens de recursos são divididas em: geradas pela própria empresa,
geradas pelo sócio e obtidas de credores. As aplicações incluem os investimentos e
as aquisições de longo prazo (ativos imobilizados e intangíveis) bem como aplicações
financeiras de longo prazo.
Com a lei 11.638/07 a DOAR acabou sendo substituída pela Demonstração dos
Fluxos de Caixa (DFC), em relação a sua obrigatoriedade.

Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)


A DFC evidencia as movimentações das disponibilidades de uma entidade
durante certo período de tempo. Esta demonstração também é obrigatória e está
divida em três grandes grupos de saídas e entradas de caixa: as derivadas das
atividades operacionais, das atividades de investimento e das atividades de
financiamento.
27
Existem dois métodos pelo qual pode se apresentar o DFC, o Método Direto,
e o Método Indireto. No Brasil, o Método Indireto é o mais comum das empresas
divulgarem. Neste método, as movimentações de caixa geradas pelas atividades
operacionais começam pelo ajuste do lucro de acordo com o que impactou
positivamente ou negativamente o caixa no período, depois são demonstradas as
movimentações de caixa geradas pelos ativos e passivos circulantes.
As atividades de investimento demonstram as aquisições de investimentos,
imobilizados e intangíveis e receitas dos investimentos realizados pela empresa. Já
nas atividades de financiamento são demonstradas as mudanças ocorridas nos
passivos de longo prazo que impactaram o caixa da empresa no período, como
aumento de capital social e captação de novos empréstimos.

Demonstração do Valor Adicionado (DVA)


Esta demonstração é obrigatória apenas para empresa de capital aberto. A
DVA expressa a riqueza obtida pela empresa e sua forma de distribuição. Essa
riqueza, no entanto, não significa o Lucro da entidade, o qual já é evidenciado na
DRE, mas sim a riqueza econômica geradas pelas diversas atividades da empresa e
sua distribuição aos itens que contribuíram para sua formação.
De acordo com o CPC – 09, “demonstra a riqueza criada pela empresa, medida
pela diferença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros. Inclui
também o valor adicionado recebido em transferência, ou seja, produzidos por
terceiros e transferido pela entidade.

28
ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE A DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA.

ASSISTA TAMBÉM A VIDEOAULA SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS DA


NATURA S.A, ONDE SERÃO APRESENTADAS AS DEMAIS DEMONSTRAÇÕES
FINANCEIRAS CITADAS NESTE MATERIAL.

29
UNIDADE 3

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Com a Análise Financeira de Empresas podemos verificar o desempenho econômico-


financeiro de uma empresa. Em Análise Financeira são utilizados indicadores para analisar
Liquidez, Atividade, Endividamento, Rentabilidade e Gestão de Valor nas empresas. Esses
indicadores, calculados a partir de informações obtidas nas demonstrações contábeis, são
importantes para gestores embasarem suas decisões, para investidores analisarem o
desempenho de empresas em que são acionistas (ou que pretendem comprar ações), para
análise de crédito, dentre outras aplicações.
Na parte II desta disciplina abordaremos os principais indicadores de desempenho
econômico-financeiro.

Análise Vertical e Horizontal

Abaixo, na figura 11, é apresentada a Análise Vertical (AV) e Análise Horizontal (AH) da
nossa DRE exemplo. Na Análise Vertical (AV) dividimos todos os itens da DRE pelo valor da
Receita. Com isso, vamos além dos três números apresentados no tópico anterior, que são
a Margem Bruta, Operacional e Líquida. Assim, fica mais fácil visualizar, por exemplo, que
o CPV que correspondia a 40% da Receita, no Ano 1, passou para 42% da Receita, no Ano
2. Podemos ver, também, que a Despesa com Vendas saltou de 10% da Receita, no Ano 1,
para 12% da Receita, no Ano 2.

30
Figura 11: Análise Vertical e Horizontal

Na Análise Horizontal (AH) dividimos cada item do Ano 2, pelo valor correspondente no
Ano 1. Assim, ao dividir a Receita do Ano 2 pela Receita do Ano 1, temos um número índice
de 1,20, que significa um aumento de 20% da Receita, do Ano 1 para o Ano 2. Com a Análise
Horizontal podemos visualizar um aumento de 25% no CPV, do Ano 1 para o Ano 2. É
justamente esse aumento de 25% no CPV, maior que o aumento de 20% na Receita, que
derrubou a Margem Bruta.
Na Análise Horizontal ficam destacados, também, o aumento de 40% nas Despesas com
Vendas e o aumento de 200% nas Receitas Financeiras.
Com as Análises Vertical e Horizontal ficou mais fácil de visualizar, na nossa DRE exemplo,
quais itens mais impactaram no resultado da empresa. Chamo atenção para três itens
(CPV, Despesas com Vendas e Receitas Financeiras). Uma vez destacados estes itens que
mais impactaram no desempenho da empresa, é preciso que os gestores verifiquem o que
ocorreu na empresa, que levou a essa alteração mais acentuada de CPV, Despesas com
Vendas e Receitas Financeiras. E que analisem se tais fatores são recorrentes, bem como
o que pode ser melhorado ou amenizado, visando impactar positivamente no desempenho
futuro da empresa.

31
ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE ANÁLISE HORIZONTAL E ANÁLISE
VERTICAL.

Indicadores de Lucratividade

Os primeiros indicadores de desempenho econômico-financeiro apresentados são os


indicadores de lucratividade (margens de lucro), que serão calculados a partir de dados da
Demonstração do Resultado do Exercício. Em seguida será apresentado como realizar
Análise Vertical e Horizontal de uma DRE e, ao final desta unidade 3, os Indicadores de
Liquidez e Atividade, que analisam aspectos relacionados com o curto prazo do Balanço
Patrimonial (Ativo Circulante e Passivo Circulante).

MARGENS DE LUCRO

Com as margens de lucro veremos quanto a empresa conseguiu gerar de lucro a partir de
suas vendas. Analisaremos, então, a lucratividade da empresa.
Primeiramente, veremos a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) da nossa
empresa exemplo. Na DRE apresentada abaixo, pela figura 12, já estão destacados os
valores do Lucro Bruto, Lucro Operacional e Lucro Líquido, com os quais calcularemos as
margens de lucro, sempre dividindo cada tipo de lucro pela receita líquida de venda
(destacada em amarelo).

32
Figura 12: DRE
Margem de Lucro Bruto

A Margem Bruta é calculada dividindo o Lucro Bruto pela Receita Líquida, como mostra a
equação abaixo:

Com as informações da nossa DRE exemplo, calculamos uma Margem Bruta de 60%. Esse
número indica que, no Ano 1, para cada $100 vendidos pela empresa, ela conseguiu gerar
$60 de Lucro Bruto. Como a diferença entre a Receita Líquida e o Lucro Bruto é o Custo do
Produto Vendido (CPV), essa margem indica também que, no Ano 1, de cada $100
vendidos, $40 foram necessários para cobrir os custos. Assim, a Margem Bruta mostra o
desempenho da empresa em termos de custos.

Margem de Lucro Operacional

A Margem Operacional é calculada dividindo o Lucro Operacional pela Receita Líquida,


como mostra a equação abaixo:

33
Com as informações da nossa DRE exemplo, calculamos uma Margem Operacional de 22%.
Esse número indica que, no Ano 1, para cada $100 vendidos pela empresa, ela conseguiu
gerar $22 de Lucro Operacional. Como a diferença entre a Receita Líquida e o Lucro
Operacional corresponde principalmente ao Custo do Produto Vendido (CPV) e às
Despesas Operacionais, essa margem indica também que, no Ano 1, de cada $100
vendidos, $78 foram necessários para cobrir os custos e despesas operacionais. Assim, a
Margem Operacional mostra o desempenho da empresa em termos operacionais (custos
e despesas operacionais).
Para isso, é importante identificar o “verdadeiro” Lucro Operacional, que é o Lucro Antes
do Resultado Financeiro. Esse Lucro Operacional é, na sigla em Inglês, o chamado EBIT
(Earning Before Interest and Taxes). É o Lucro antes de que seja subtraído o valor dos juros
(que estão nas despesas financeiras) e o imposto de renda (IR).

Margem de Lucro Líquido

A Margem Líquida é calculada dividindo o Lucro Líquido pela Receita Líquida, como mostra
a equação abaixo:

Com as informações da nossa DRE exemplo, calculamos uma Margem Líquida de 9,90%.
Esse número indica que, no Ano 1, para cada $100 vendidos pela empresa, ela conseguiu
gerar $9,90 de Lucro Líquido. O Lucro Líquido é o resultado da empresa após subtrair da

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Receita todos os gastos incorridos no período. Assim, a Margem Líquida mostra o
desempenho da empresa após subtrair todos os gastos dela.
Um único indicador de desempenho econômico-financeiro, calculado para um único ano,
não nos indica muita coisa. É importante calcular diferentes indicadores (como vimos, cada
margem de lucro mostra o desempenho da empresa de um ponto de vista diferente). Além
disso, é preciso comparar os indicadores. Dessa forma, é importante comparar os
indicadores dos últimos anos, para a mesma empresa, e comparar com indicadores de
empresas concorrentes, se as informações contábeis dos concorrentes estiverem
disponíveis.
A figura 13 demonstra as margens de lucro para a nossa empresa exemplo, para os anos 1
e 2:

Figura 13: Margens de Lucro

Nessa análise comparativa é possível visualizar o que está ocorrendo com a lucratividade
da empresa e quais fatores estão impactando nesse resultado. Podemos ver que a margem
bruta e a margem operacional caíram, do ano 1 para o ano 2, denotando um desempenho
inferior para a empresa, no ano 2, em termos de custos e despesas operacionais.
A queda da margem bruta, na DRE acima, ocorreu porque os custos aumentaram mais do
que a receita (por exemplo, por ter ocorrido um aumento no custo de matéria-prima que
a empresa não conseguiu repassar integralmente para o preço de venda). Então note que
a empresa está vendendo mais no ano 2, mas com um desempenho inferior. Mas a queda

35
da margem bruta pode significar também uma estratégia da empresa, por exemplo, de
reduzir preços (e derrubar a margem) para conquistar um determinado mercado.
A margem operacional reduziu, do ano 1 para o ano 2, por conta da própria queda na
margem bruta (o aumento do CPV também afeta a margem operacional) e, também, por
conta do aumento das despesas operacionais.
Embora tenha ocorrido queda na margem bruta e na margem operacional, a margem
líquida aumentou. Analisando nossa DRE exemplo, vemos que a margem líquida aumentou
não por conta de um melhor desempenho da empresa em termos de custos e de despesas
operacionais, mas por conta de um grande aumento em receitas financeiras.
Mas como visualizar de uma forma mais fácil quanto aumentou a receita, o custo e a
despesa operacional e demais itens da DRE, de um ano para o outro, e poder verificar o
que mais afetou o desempenho da empresa? Podemos realizar a Análise Vertical e Análise
Horizontal da nossa DRE exemplo, como apresentado no tópico seguinte.

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE MARGENS DE LUCRO

EBITDA E MARGEM EBITDA

O EBITDA (Earning Before Interest, Taxes, Depreciation/Depletion and Amortization) é uma


sigla em Inglês para Lucro Antes dos Juros, do IR e Depreciação/Amortização/Exaustão. O
EBITDA é bastante utilizado pelas empresas em suas apresentações de resultados e,
também, amplamente utilizado no Mercado Financeiro.
Para calcular o EBITDA primeiramente precisamos identificar o EBIT, que é o Lucro
Operacional.

36
A diferença entre o Lucro Operacional (EBIT) e o EBITDA é a depreciação. O EBITDA é um
resultado antes de ser subtraído o valor da depreciação, enquanto que, para chegar ao
valor do Lucro Operacional, a depreciação já foi subtraída.
Veja na DRE abaixo (figura 14) que o Lucro Operacional é de $22.000. No entanto, observe
que não há uma linha específica na DRE mostrando qual o valor da depreciação. A
depreciação, na DRE, é um dos itens do CPV (quando a depreciação é classificada como
custo) e, também, é um dos itens de Despesas Gerais e Administrativas (quando a
depreciação é classificada como despesa operacional).

]
Figura 14: EBITDA

Veja que, dentre os $40.000 de CPV, temos $3.000 de depreciação e, dentre os $28.000 de
Despesas Administrativas, temos $2.000 de depreciação. Quando chegamos nos $22.000
de Lucro Operacional, esses $5.000 de depreciação já foram subtraídos do resultado.
Então, para calcular o EBITDA, que é um resultado antes de subtrair a depreciação, temos
que devolver o valor da depreciação, já subtraído para chegar ao Lucro Operacional. Assim,
o EBITDA pode ser calculado usando a seguinte fórmula:

Também podemos calcular a Margem EBITDA, como mostra a equação abaixo:

37
Com as informações da nossa DRE exemplo, calculamos uma Margem EBITDA de 27%. Esse
número indica que, no Ano 1, para cada $100 vendidos pela empresa, ela conseguiu gerar
$27 de EBITDA.
O EBITDA tem ganhado espaço entre os analistas de demonstrações contábeis nos últimos
anos. Na verdade ele virou um Deus no mundo das avaliações, ou melhor, num certo
mundo das avaliações (MARTINS; DINIZ; MIRANDA, 2012). O EBITDA muitas vezes é
considerado como o “caixa bruto” da empresa. Então, a Margem EBITDA indica a
capacidade de geração desse “caixa bruto”.
É preciso ter cuidado com o EBITDA calculado e divulgado pela própria empresa,
principalmente no caso do EBITDA ajustado. Isso porque o ajuste feito por uma empresa A
pode ser bem diferente do ajuste feito por uma empresa B e, com isso, os números
tornam-se incomparáveis. Assim, é preciso usar o mesmo critério para calcular o EBITDA.
Dessa forma, é importante que o próprio analista o calcule.

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE EBITDA E MARGEM EBITDA.

38
Indicadores de Liquidez E Atividade

Liquidez, em Contabilidade e em Finanças, significa o tempo que leva para transformar um


determinado ativo em caixa, que é a liquidez imediata da empresa. Analisar a Liquidez de
uma empresa significa analisar os ativos de maior liquidez, ou seja, os ativos de curto prazo
(Ativo Circulante), e a forma como são financiados, com foco em dívidas também de curto
prazo (Passivo Circulante). Assim, a Análise de Liquidez aborda o topo do Balanço
Patrimonial, como destacado na figura 15:

Figura 15: BP – Liquidez

Liquidez Corrente (LC)

A Liquidez Corrente (LC) é calculada dividindo o Ativo Circulante (Recursos que a empresa
possui, de curto prazo), pelo Passivo Circulante (dívidas que a empresa possui, de curto
prazo), como mostra a fórmula abaixo:

39
No nosso exemplo, a LC é de 1,40, o que mostra que a empresa possui $1,40 para cada
$1,00 de dívida, denotando uma “folga financeira de curto prazo”, já que ela possui mais
Ativo Circulante (AC) do que dívida de curto prazo (Passivo Circulante) e, com isso,
teoricamente, quanto maior a LC, melhor a situação financeira de longo prazo da empresa.
É preciso ter muito cuidado ao afirmar isso, pois observar apenas a LC de uma empresa é
algo muito limitado. Veremos as limitações da LC mais adiante e como devemos
complementar nossa análise.

Liquidez Seca (LS)

Dentre os itens do AC, o que apresenta menor liquidez e o que pode apresentar maiores
problemas, como obsolescência e dificuldade para que sejam vendidos, é o estoque.
Assim, para calcular a Liquidez Seca (SC), retiramos do AC o valor do Estoque, como mostra
a fórmula abaixo:

No nosso exemplo, a LS foi de 1,10, o que significa que, mesmo excluindo o valor do
Estoque do valor do AC, a empresa possui $1,10 para cada $1,00 de dívida de curto prazo
(Passivo Circulante). Esse é outro indicador que mostra a liquidez da empresa, mas, no
caso, excluído o valor do estoque.

Limitações dos Indicadores de Liquidez

Com os Indicadores de Liquidez fazemos uma análise estática da empresa, com dados de
Balanço Patrimonial de apenas uma data (por exemplo, Ativo Circulante e Passivo

40
Circulante de 31 de dezembro). Com os Indicadores de Liquidez não conseguimos visualizar
a falta de sincronização entre vendas e recebimentos da empresa, com as compras e
pagamentos por ela realizados. Assim, é importante complementar a análise de liquidez
com os Indicadores de Atividade, e observar a dinâmica de geração de caixa da empresa
no seu Ciclo Operacional, como veremos nos tópicos seguintes.

Ciclo Operacional e Ciclo de Caixa

A geração de caixa da empresa ocorre no seu ciclo operacional. O Ciclo Operacional da


empresa inicia com a compra da mercadoria (ou da matéria-prima) e termina com o
recebimento das vendas, como mostra a figura 16:

Figura 16: Ciclo Operacional

Como podemos observar na figura 16, entre a compra da mercadoria e a sua venda, há um
período de tempo em que o produto fica estocado, que é o Prazo Médio de Estoque (PME).
Entre a venda da mercadoria e seu recebimento, há um Prazo Médio de Recebimento
(PMR). Então, o ciclo operacional é composto pelo PME e pelo PMR.
41
O Ciclo Financeiro (também chamado de Ciclo de Caixa) não inicia quando a empresa
compra a mercadoria, mas sim quando há saída de caixa, para o pagamento dessa
mercadoria. E o Ciclo Financeiro finaliza quando ocorre a entrada de caixa, pelo
recebimento das vendas. Entre a compra da mercadoria e o pagamento da mesma há o
Prazo Médio de Pagamento (PMP). Assim, para calcular o Ciclo Financeiro temos que
subtrair do Ciclo Operacional esse PMP.
Então vejamos como calcular cada um dos prazos médios citados.

Prazo Médio de Estoque (PME)

O Prazo Médio de Estoque (PME) é calculado dividindo o valor de Estoques (obtido no


Balanço Patrimonial da empresa), pelo valor que corresponde ao que saiu do estoque no
período analisado, que é o CPV (obtido na DRE da empresa), como mostra a fórmula
abaixo:

O CPV apresentado na DRE anual é o CPV do ano todo. Se queremos a resposta do PME
em dias, devemos calcular o CPV ao dia, dividindo por 365 (ou por 360, que é o chamado
ano comercial).
No nosso exemplo, a empresa possui um estoque de $200.000 e saem deste estoque, em
média, $5.000 por dia. Então as mercadorias ficam, em média, 40 dias no estoque.
Cabe aqui observar, também, que o Estoque, por ser obtido a partir do Balanço
Patrimonial, corresponde ao valor do estoque da empresa em uma data específica (por
exemplo, em 31 de dezembro). É importante que o analista observe se a empresa a ser
analisada apresenta variação relevante no valor dos estoques ao longo do ano, se há, por
exemplo, sazonalidade neste estoque (sendo elevado no meio do ano e baixo no final do
42
ano, pelas vendas do Natal). Assim, sempre que utilizamos um dado que é obtido do
Balanço Patrimonial (como é o caso do Estoque de uma data específica), é importante
observar se é necessário realizar uma média entre o valor de início e de final de ano, ou
ainda, uma média dos valores dos quatro trimestres (março, junho, setembro e dezembro)
para o valor do Estoque. Nos nossos exemplos, apresentados ao longo desta unidade,
serão utilizados somente valores de fim de ano.

Prazo Médio de Recebimento (PMR)

O Prazo Médio de Recebimento (PMR) é calculado dividindo o valor do Contas a Receber


de Clientes, pelo valor da Receita de Vendas ao dia, como mostra a fórmula abaixo:

O valor do Contas a Receber de Clientes é obtido no Balanço Patrimonial (Ativo Circulante)


e o valor das Receitas de Vendas é obtido na DRE. Se temos uma DRE anual, o valor da
Receita de Vendas corresponde ao período de um ano, assim, devemos dividir por 365
dias, para calcularmos uma média diária de vendas da empresa.
No nosso exemplo, a empresa possui $300.000 de Contas a Receber e vende, em média,
$10.000 por dia. Então, o PMR é de 30 dias.
Muitas vezes o PMR é calculado utilizando a Receita Líquida de Vendas. No entanto, a
Receita Líquida como denominador é incoerente com o Contas da Receber, no numerador.
Isso ocorre porque no Contas a Receber temos o valor da nota “cheia”, incluindo os
impostos incidentes sobre venda, referente ao que a empresa vendeu a prazo. Já na
Receita Líquida, o valor dos impostos sobre venda foi deduzido. Assim, o correto é utilizar
o valor da Receita Bruta de Venda.

43
A DRE é publicada iniciando pela Receita Líquida. Para encontrarmos o valor da Receita
Bruta de Venda é preciso observar a nota explicativa da DRE. No caso de não conseguir
obter o valor da Receita Bruta, resta ao analista realizar o cálculo do PMR utilizando a
Receita Líquida mesmo. O importante é o analista saber que, nesse caso, o PMR estará
sobrevalorizado (pois o valor da Receita Líquida é menor do que a Receita Bruta).
O que não pode ocorrer é a comparação entre o PMR calculado para uma empresa “A”,
em que foi utilizada a Receita Líquida no denominador, com um PMR calculado para uma
empresa “B”, em que foi utilizada a Receita Bruta no denominador. A análise comparativa
deve ser realizada tendo os indicadores calculados na “mesma base” (todos os indicadores
calculados com Receita Bruta ou, na impossibilidade de utilizar esta, todos os indicadores
calculados com Receita Líquida).

Prazo Médio de Pagamento (PMP)

O Prazo Médio de Pagamento (PMP) é calculado dividindo o valor de Fornecedores pelo


valor médio diário das compras realizadas pela empresa, como mostra a fórmula abaixo:

O valor de Fornecedores é obtido no Balanço Patrimonial (Passivo Circulante). O quanto a


empresa comprou no ano é obtido verificando o quanto variou o estoque no ano, mais o
que saiu do estoque durante o ano: Compras = (Estoque Final – Estoque Inicial) + CPV
No nosso exemplo, a empresa possui $80.000 de Fornecedores e compra, em média ao
dia, $4.000. Então, o PMP é de 20 dias.
Calculados os três prazos médios, podemos agora calcular o Ciclo Operacional e o Ciclo
Financeiro, como apresentado na figura 17:

44
Figura 17: Ciclo Financeiro

Como o PME é de 40 dias e o PMR é de 30 dias, o Ciclo Operacional do nosso exemplo é de


70 dias (Ciclo Operacional = PME + PMR). E como o PMP é de 20 dias, o Ciclo Financeiro é
de 50 dias (Ciclo Financeiro = Ciclo Operacional – PMP).
Se a empresa do nosso exemplo fosse inaugurada hoje, e também fosse feita a primeira
compra de mercadorias hoje, o recebimento das vendas ocorreria, em média, somente
depois de 70 dias, ao final do Ciclo Operacional. A empresa necessita, então, de recursos
para sustentar (financiar) esse Ciclo Operacional por 70 dias, até que comece a receber
pelas vendas. O Capital de Giro é o montante de recursos necessário para financiar o Ciclo
Operacional. O Capital de Giro não envolve apenas o Caixa, mas corresponde a todo o Ativo
Circulante (Caixa, Contas a Receber e Estoques). A disciplina Gestão do Capital de Giro
abordará com maior profundidade este tema.
Se o Capital de Giro é o montante de recursos necessário para financiar o Ciclo
Operacional, quanto maior for esse ciclo, maior deverá ser o Capital de Giro da empresa.
Se o Ciclo Operacional do nosso exemplo aumentar de 70 para 100 dias, isso significa 30
dias a mais para serem financiados, até que a empresa comece a receber pelas vendas.
Digamos que, para um mesmo nível de venda, tenha ocorrido um aumento no Ciclo

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Operacional para 100 dias, porque o PME aumentou para 60 dias (ou seja, houve
ampliação do volume de estoques, que agora duram, em média, 60 dias), e porque o PMR
aumentou para 40 dias (ou seja, a empresa está financiamento seus clientes por um prazo
maior, então, houve uma ampliação do volume de contas a receber de clientes). Além de
aumento no valor do Estoque e de Contas a Receber de Clientes, para sustentar 30 dias a
mais de Ciclo Operacional, a empresa precisa de mais Caixa, para pagar seus compromissos
durante 100 dias, até que comece a receber pelas vendas, ao final do Ciclo Operacional.
Com isso, maior deverá ser o volume de Capital de Giro (que é o Ativo Circulante da
empresa).
Assim, para reduzir o quanto a empresa necessita ter de Capital de Giro, é preciso reduzir
o Ciclo Operacional e o Ciclo Financeiro (ou Ciclo de Caixa), reduzindo o PME e o PMR e
negociando com Fornecedores um prazo maior para pagar, ampliando o PMP, como
mostra a figura 18:

Figura 18: Como Diminuir o CC

Reduzir o Ciclo Operacional e o Ciclo Financeiro isso significa uma maior agilidade da
empresa em gerar caixa e um menor volume de recursos aplicado em capital de giro.
A disciplina Gestão do Capital de Giro abordará de forma mais detalhada as alterações nos
prazos médios e seu efeito para a gestão do capital de giro.

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE INDICADORES DE LIQUIDEZ E ATIVIDADE

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UNIDADE 4

Indicadores De Rentabilidade

Retorno sobre o Capital Próprio (ROE)

O Retorno sobre o Capital Próprio (ROE, da sigla em Inglês para Return on Equity) mensura
o retorno dos recursos próprios, aplicados pelos proprietários, na empresa. O ROE é
calculado dividindo o Lucro Líquido pelo Patrimônio Líquido (que representa o capital
próprio da empresa), como mostra a fórmula abaixo:

O valor do Lucro Líquido é obtido na DRE e o valor do Patrimônio Líquido (PL) é obtido no
Balanço Patrimonial. Na fórmula acima, está descrito Patrimônio Líquido Médio. Mas por
que Patrimônio Líquido Médio?
No numerador da fórmula do ROE, temos o Lucro Líquido, que é obtido na DRE e
corresponde ao resultado de um período (de todo o ano, no caso da DRE anual), enquanto
que, no denominador, temos o PL de uma data (por exemplo, de 31 de dezembro), que é
obtido no Balanço Patrimonial. Pode ocorrer alteração relevante no valor do PL ao longo
do ano, fazendo com que o valor do PL de final de ano não seja condizente com o PL que
gerou o Lucro Líquido que está no numerador da fórmula do ROE. Além disso, no PL de

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final de ano já está, inclusive, parte do próprio Lucro Líquido gerado pela empresa, o qual
foi adicionado ao valor da Reserva de Lucro, ampliando o PL.
Assim como foi feita a observação para o caso do cálculo do Prazo Médio de Estoque,
sempre que utilizamos um dado que é obtido a partir do Balanço Patrimonial (como é o
caso do PL de uma data específica), é importante observar se é necessário realizar uma
média entre o valor de início e de final de ano, ou ainda, uma média dos valores dos quatro
trimestres (março, junho, setembro e dezembro) para o valor do PL. Nos nossos exemplos,
apresentados ao longo desta unidade, serão utilizados somente valores de fim de ano.
Na figura 19 é apresentada a DRE, juntamente com valores do Balanço Patrimonial, para
nossa empresa exemplo:

Figura 19: BP e DRE

A partir das informações da nossa empresa exemplo, foi calculado o ROE de 14,30%, como
mostra a fórmula abaixo:

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O ROE de 14,30% mostra que, para cada $100 de Capital Próprio (PL) aplicados pelos
sócios, a empresa gerou $14,30 de Lucro Líquido, no período.

Retorno sobre o Ativo (ROA)

O Retorno sobre o Ativo (ROA, da sigla em Inglês para Return on Asset) mensura o retorno
gerado pelo total de aplicações realizada por uma empresa, em seus ativos. O ROA é
calculado dividindo o Lucro Operacional (Líquido do IR) pelo Ativo Total, como mostra a
fórmula abaixo:

Abaixo, novamente é apresentada a DRE (figura 19), juntamente com valores do Balanço
Patrimonial, para nossa empresa exemplo, com destaque para o valor do Ativo Total e o
valor do Lucro Operacional Líquido do I.R. (NOPAT – da sigla em Inglês para Net Operating
Profit After Tax):

Figura 19: BP e DRE


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Mas por que utilizamos o Lucro Operacional Líquido do IR como numerador do ROA, ao
invés de utilizar o Lucro Líquido, como foi feito para calcular o ROE?
Repare na figura 19 acima, no Balanço Patrimonial da nossa empresa, que o Ativo Total de
$105.000 é financiado por recursos de terceiros (Passivo Total de $45.000) e recursos
próprios (PL de $60.000). Dessa forma, para calcular a rentabilidade gerada pelo Ativo
(denominador da fórmula), temos que utilizar, como numerador, um lucro condizente, que
remunere o capital próprio e o capital de terceiros (dívidas com credores). O Lucro Líquido
é o lucro que remunera do acionista (capital próprio). Mas, para chegar ao valor do Lucro
Líquido, já foi subtraído o valor dos juros (despesas financeiras), que remuneram os
credores. Assim, o resultado que é obtido antes de subtrair o valor dos juros (ou seja, que
inclui a remuneração dos credores) é o Lucro Operacional. No entanto, para termos
somente o valor que remunera o credor e o acionista, temos que subtrair do Lucro
Operacional o valor do imposto de renda (I.R.). Dessa forma, utilizamos no numerador do
ROA o Lucro Operacional após subtrair o I.R. (que é o Lucro Operaiconal Líquido do I.R.).
Na DRE da nossa empresa exemplo, o Lucro Operacional é de $23.000. Ao retirar desse
valor 34% de I.R. (foi utilizada a alíquota de I.R. para grandes empresas), temos um NOPAT
de $ 15.180.
Com isso, o ROA da nossa empresa exemplo é de 14,46%, como apresentado na fórmula
abaixo:

O ROA de 14,46% mostra que, para cada $100 de Ativo Total que a empresa possui, ela
conseguiu gerar $14,46 de NOPAT.

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Retorno sobre o Investimento (ROI)

O Retorno sobre o Investimento (ROI, da sigla em Inglês para Return on Investment) mostra
o retorno produzido pelos recursos deliberadamente levantados pela empresa (com
acionistas e no mercado financeiro) e investidos na organização. O ROI é calculado
dividindo o Lucro Operacional Líquido do I.R. pelo valor do Investimento, como mostra a
fórmula abaixo:

Mas o que é Investimento?


O Investimento aqui referido corresponde aos recursos que foram levantados pela
empresa junto aos seus acionistas (capital próprio), para investir na empresa, mais os
recursos que a empresa obteve no mercado financeiro (empréstimos e financiamentos),
para poder realizar os investimentos na empresa. Aos empréstimos e financiamentos
damos o nome de Passivo Oneroso. Assim, vemos uma outra forma de dividir o Passivo da
empresa, entre Passivo Oneroso, que são passivos pelos quais a empresa explicitamente
paga juros (ou seja, oneram a organização), e Passivo Não Oneroso, formado por recursos
de terceiros (dívidas), pelos quais a empresa não paga juros, como, por exemplo,
Fornecedores, Salários a Pagar, Impostos a Recolher.
Dessa forma, o Investimento corresponde ao valor do Patrimônio Líquido, mais o valor do
Passivo Oneroso, como apresentado na figura 20:

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Figura 20: Investimento

Com isso, o Ativo Total, na figura acima, é de $105.000, mas o Investimento é de $100.000,
que corresponde ao Patrimônio Líquido (PL) de $60.000 e ao Passivo Oneroso de $40.000
($5.000 de Financiamento no Passivo Circulante e $35.000 de Financiamento no Passivo
Não Circulante).
Então, para calcular o valor do Investimento, temos que identificar quais contas do Passivo
Circulante e do Passivo Não Circulante correspondem ao Passivo Oneroso. Em geral, o
Passivo Oneroso é formado por Empréstimos, Financiamentos e por emissão de títulos de
dívida, como as Debêntures (que é um título de dívida que pode ser emitido apenas por
sociedades anônimas).
Abaixo, é apresentada a DRE (figura 21), juntamente com valores do Balanço Patrimonial,
para nossa empresa exemplo, com destaque para o valor do Investimento e o valor do
NOPAT:

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Figura 21: BP – Investimento e NOPAT

Com isso, o ROI da nossa empresa exemplo é de 15,18%, calculado como apresentado na
fórmula abaixo:

O ROI de 15,18% mostra que, para cada $100 de Investimento, a empresa gerou $15,18 de
NOPAT.

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RENTABILIDADE

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Indicadores de Endividamento

Índice de Estrutura de Capital

Na figura 22 é apresentado um Balanço Patrimonial que possui um Ativo Total de $100.000


(aplicação de recursos). Esse Ativo Total é financiado por $40.000 de recursos de terceiros
(Passivo Total) e por $60.000 de recursos próprios (Patrimônio Líquido). Então, do total de
$100.000 aplicados por essa empresa, 40% é financiado por terceiros (que corresponde
aos $40.000 de Passivo).

Figura 22: Estrutura de Capital

O Índice de Estrutura de Capital mensura justamente esse percentual do Ativo Total que é
financiado com recursos de terceiros, como mostra a fórmula abaixo:

Assim, quanto maior for esse índice, maior a dependência da empresa em relação a capital
de terceiros e maior seu endividamento.
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Índice de Endividamento

O Índice de Endividamento mensura a relação entre Capital de Terceiros e Capital Próprio


da empresa.
Abaixo, é apresentada uma figura 23 com um Balanço Patrimonial que possui um Passivo
Total (dívidas) de $40.000 e um Patrimônio Líquido (recursos próprios) de $60.000.

Figura 23: BP – Endividamento

O Índice de Endividamento é calculado dividindo o Passivo Total pelo PL, como mostra a
fórmula abaixo:

No nosso exemplo, a empresa possui $0,67 de dívida para cada $1,00 de capital próprio.
Índice de Cobertura de Juros
O Índice de Cobertura de Juros mostra a relação entre o caixa gerado pela empresa, com
o quanto a empresa paga de juros pelos empréstimos e financiamentos. Assim, esse

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indicador é uma medida da capacidade de pagamento da empresa, frente aos juros de suas
dívidas. O Índice de Cobertura de Juros é calculado dividindo o EBITDA (como medida de
caixa), pelas Despesas Financeiras, como mostra a fórmula abaixo:

Temos como exemplo, um EBITDA de $8.000 e Despesas Financeiras de $2.000, o que


resulta em um Índice de Cobertura de Juros de 4 vezes. Isso mostra que a empresa gerou,
no período, um EBITDA 4 vezes maior que o valor pago de juros por empréstimos e
financiamentos. Quanto menor for esse indicador, mais comprometido está o caixa
(EBITDA) com o pagamento de juros.
Vale lembrar que o EBITDA, conforme apresentado na unidade 3, mede o potencial de
geração bruta de caixa, a partir das atividades operacionais da empresa, mas não
representa o caixa livre. De acordo com Assaf Neto (2015), o EBITDA não representa o
volume monetário efetivo de caixa, sendo interpretado de forma mais apropriada como
sendo o potencial de geração de caixa proveniente da atividade operacional da empresa.
Isso porque parte das receitas consideradas no EBITDA pode não ter sido recebida, assim
como parte das despesas incorridas pode ainda estar pendente de pagamento.
Em relação ao denominador da fórmula, é importante identificar, dentre os itens que
compõem a Despesa Financeira, o que realmente corresponde ao pagamento de juros por
empréstimos e financiamentos. Para isso, é necessário verificar as notas explicativas das
Despesas Financeiras, para um detalhamento maior.
O Índice de Cobertura de Juros muitas vezes é utilizado em cláusulas de contrato de
financiamentos (covenants), em que a instituição financeira estabelece punições para o
caso da empresa atingir um patamar menor ao que foi estabelecido em contrato (por
exemplo, punição se a empresa apresentar um Indicador de Cobertura de Juros ≤ 2,5).
Relação Dívida Bruta e EBITDA

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O Indicador Dívida Bruta/EBITDA mensura a relação entre o que a empresa deve, com o
que a empresa gera de caixa em suas atividades operacionais. A Dívida Bruta corresponde
ao Passivo Oneroso (Empréstimos, Financiamentos e Títulos de Dívida).
Temos abaixo um exemplo em que a Dívida Bruta é de $30.0000 e o EBITDA é de $8.000:

Com isso, a relação entre a Dívida Bruta e o EBITDA é de 3,75 vezes. Isso mostra que a
empresa, em nosso exemplo, possui uma Dívida Bruta 3,75 vezes maior que o EBITDA
gerado no período. Quanto maior este indicador, mais comprometida é a capacidade da
empresa em saldar suas dívidas.
Relação Dívida Líquida e EBITDA
A relação entre Dívida e EBITDA também pode ser calculada utilizando a Dívida Líquida.
A Dívida Líquida é calculada subtraindo da Dívida Bruta o valor das Disponibilidades (o que
a empresa possui em Caixa e em Aplicações Financeiras que podem ser rapidamente
convertidas em caixa), como mostra a equação abaixo:

Dívida Líquida = Dívida bruta - Disponibilidades

Temos abaixo um exemplo em que o EBITDA é $8.000, Dívida Bruta é de $30.000 e as


Disponibilidades de $10.000. Se o que a empresa possui em Disponibilidades for utilizado
para saldar as dívidas, a Dívida Líquida resulta em $20.000. Nesse caso, a Relação Dívida
Líquida e EBITDA é de 2,5 vezes, como apresentado na fórmula abaixo:

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Esse indicador mostra que a empresa possui uma Dívida Líquida 2,5 vezes maior que o
EBITDA gerado no período. Quanto maior este indicador, mais comprometida é a
capacidade da empresa em saldar suas dívidas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSAF NETO, A. Estrutura e Análise de Balanços. São Paulo, Atlas, 2015.
FIPECAFI. Manual de Contabilidade Societária. 2ª Edição. São Paulo: Atlas, 2017.
IUDÍCIBUS, S. Análise de Balanços. São Paulo, Atlas, 2017.
MARION, J. C. Contabilidade Básica. 11ª Edição. São Paulo: Atlas, 2015a.
MARION, J. C. Contabilidade Empresarial. 17ª Edição. São Paulo: Atlas, 2015b.
MARTINS, E.; DINIZ, J. A.; MIRANDA, G. J. Análise Avançada das Demonstrações Contábeis:
uma Abordagem Crítica. São Paulo, Atlas, 2012.

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