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MBA FINANÇAS UFSCAR SOROCABA

Nara Rossetti
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Sobre os professores/autores

Prof. Dra. Nara Rossetti


Professora Adjunta da Universidade Federal de São Carlos, Campus de
Sorocaba, doutora em Engenharia de Produção pela EESC-USP, mestre em
Contabilidade e graduada em Economia pela Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP-USP). Na área de
pesquisa e de extensão (consultoria e treinamento), atua principalmente em
Análise Financeira de Empresas, Gestão de Valor e de Custos. É Coordenadora
do Curso de Especialização EaD (pós-graduação lato sensu) MBA Finanças, da
UFSCar/Sorocaba.

Atividades – Orientação geral


As atividades das quatro unidades foram desenvolvidas a partir das videoaulas
e deste e-book. Para que possa desenvolvê-las de forma mais eficiente e
proveitosa, é pertinente:
Assistir as videoaulas e ler atentamente o material das Unidade 1, 2, 3 e
4; acompanhando os exercícios de exemplo e tentando desenvolvê-los
junto com o professor no momento das videoaulas para uma melhor
fixação dos conceitos apresentados.
O material aqui desenvolvido é uma base para o acompanhamento da
disciplina, para um maior aprofundamento dos assuntos recomenda-se,
se necessário, consultar a bibliografia constante em Referências
Bibliográficas.

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Sumário

INTRODUÇÃO......................................................................................................................................... 4

UNIDADE 1 ............................................................................................................................................. 5

CONCEITOS INICIAIS .......................................................................................................................... 5

CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS ............................................................................................................ 6

CUSTEIO POR ASORÇÃO .................................................................................................................. 10

UNIDADE 2 ........................................................................................................................................... 14

CUSTEIO VARIÁVEL .......................................................................................................................... 14

RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO .............................................................................................. 18

UNIDADE 3 ........................................................................................................................................... 22

MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO COM LIMITAÇÃO NA CAPACIDADE PRODUTIVA ............................. 22

CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES................................................................................................ 25

UNIDADE 4 ........................................................................................................................................... 30

FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA .................................................................................................. 30

CUSTO META E DECISÃO SOBRE AS VENDAS .................................................................................. 33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................... 35

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GESTÃO DE CUSTOS

INTRODUÇÃO

Conforme o processo produtivo avança, os custos relacionados ao processo de fabricação


de determinado produto vão incorporando valor ao mesmo, pois tudo começa quando a
matéria prima dá entrada no almoxarifado da empresa, a partir disso à medida que o
produto vai sendo construído, os gastos para a sua produção serão despendidos, como o
tempo de horas de máquinas utilizadas, as horas de mão de obra e demais materiais
necessários para a finalização do produto. Dessa forma, enquanto o produto ainda não foi
vendido, ele é um bem da empresa, representado no Balanço Patrimonial nos Ativos na
conta Estoque.
A partir do momento em que o produto é vendido todos esses gastos serão apresentados
na Demonstração do Resultado do Exercício como Custo do Produto Vendido. A gestão
desses custos então é fundamental para qualquer organização pois impacta diretamente
a rentabilidade e lucratividade dos negócios.
Empresas que desconhecem a sua estrutura de custos, são incapazes de tomar decisões
corretas e de proceder com seu processo orçamentário preciso. Dessa forma, prejudica-se
o fluxo de caixa planejado, deixando-o, muitas vezes, distante do real, o que pode levar a
empresa a não geração de valor.
Portanto, é de extrema importância que o departamento de produção e de finanças
caminhem juntos e na mesma direção, fornecendo dados exatos para sua gestão, visando
um bom gerenciamento de seus custos.

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UNIDADE 1

CONCEITOS INICIAIS

Antes de iniciar os conceitos e classificações de custos, deve-se entender quais são os tipos
de gastos de uma organização. Os investimentos são gastos realizados hoje pela empresa
que tem por objetivo um benefício esperado maior no futuro. Os custos são gastos
realizados com o processo produtivo ou o serviço prestado pela organização e as despesas
referem-se aos gastos administrativos da empresa.
Porém essa diferença entre despesas e custos nem sempre tem sua mensuração clara e
objetiva, então outra forma de diferenciá-los seria reconhecer todos os gastos até o
momento em que o produto está pronto para venda como custos, e todos os gastos do
produto após este momento como despesa.
Mesmo tendo estas “regrinhas” que nos permitem diferenciar custos de despesas, muitas
vezes as empresas adotam seus próprios critérios para que o processo de separação se
torne mais claro. Por exemplo, se os valores são irrelevantes no contexto orçamentário da
organização e repetitivos, os gestores muitas vezes optam por classificá-los como despesa,
para que isso não cause distorções na hora de avaliar os custos atribuídos ao produto.
Porém, que fique claro que essa separação não depende apenas da gestão da empresa,
pois existem leis que regem a contabilidade no Brasil, já discutidas e informadas no
material de Análise Financeira de Empresas.

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CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS

De acordo com Martins (2018) os custos de produção podem ser divididos em:
Custos de Produção do Período: são custos incorridos no processo produtivo
durante determinado período.
Custos da Produção Acabada: custos incorridos na produção acabada do período e
pode conter custos de produção de períodos anteriores.
Custos dos Produtos Vendidos: são os custos do produto acabado que já foram
vendidos e entregues ao consumidor final, pode conter custos de produção de
diversos períodos.
Porém, torna-se necessário o reconhecimento de “o que” ou “quem” será custeado, ou
terá seus custos reconhecidos. Este “o que” ou “quem” chamamos de objeto de custo. Os
objetos de custo podem ser o produto, um departamento da empresa, o cliente, uma
atividade específica etc. De acordo Horngren et. al. (2000, p. 19) objeto de custo é
“qualquer coisa para a qual se deseja uma mensuração de custo”.
Os custos podem ser classificados como: Direto, Indireto, Variável e Fixo.
Os Custos Diretos são aqueles que possuem apropriação direta ao objeto de custo, ou
seja, são de mais fácil mensuração pois já se conhece o montante utilizado em cada
unidade de produto, por exemplo. Os custos diretos podem ser, por exemplo, mão de obra
direta, material direto, matéria prima, embalagens etc.
Os Custos Indiretos são os que não possuem apropriação direta, sendo necessário um
direcionador de custo (ou critério de rateio) que os “carregue” ao objeto de custo. Energia
elétrica pode ser um exemplo de custo indireto, pois como direcionar toda a energia
utilizada no parque industrial para cada um dos produtos produzidos? Neste caso,
necessita-se de um direcionador de custo comum a todos os produtos o qual poderá ser
utilizado como critério de rateio e contabilizado nos produtos.

6
O direcionador de custos é “qualquer fator que afeta os custos totais. Isso significa dizer
que uma mudança no direcionador de custo implicará uma alteração nos custos totais.”
(HORNGREN et. al 2000, p.20)
Os Custos Variáveis são os que variam de acordo com a unidade produzida, ou seja, quanto
mais se produz mais aumentam os custos variáveis totais. Os custos variáveis podem ser
diretos, como os exemplos já citados, matéria-prima, material direto, mão de obra direta
e embalagens, ou indireto, como energia elétrica. A Figura 1 (a) demonstra graficamente
a representação de custos variáveis diretos, pois cada unidade a mais produzida aumenta
uma unidade do custo variável total. Já a Figura 1 (b) demonstra graficamente os custos
variáveis indiretos, em que é necessário um montante a mais que uma unidade produzida
para que se alterem os custos variáveis totais.

(a) (b)
$ $
CV CV

un. un.

Figura 1: Representação gráfica dos custos variáveis.

Já os custos fixos são os que não tem sensibilidade às unidades produzidas, podendo ou
não serem de valores constantes ao longo de determinado período, como aluguel,
depreciação etc. A Figura 2 (a) representa graficamente os custos fixos em período

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determinado (01 mês, 01 ano, durante o ciclo operacional...), enquanto a Figura 2 (b)
representa os custos fixos em mais de um período, ou seja, os custos fixos aumentam de
uma vez, quando a produção atinge determinado volume, se mantem por outro período e
sobem para um novo patamar novamente, dado um novo volume de produção, assim, os
custos fixos assumem uma forma de “escada” ao longo do tempo.

(a) (b)
$ $ CF

CF

un. un.

Figura 2: Representação gráfica dos custos fixos.

O Quadro 1 apresenta alguns exemplos das classificações de custos. Essas definições


embora geralmente ocorram dessa forma, não estão totalmente fechadas, dependendo
sempre da natureza do negócio e de suas operações.

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Matéria Prima Custo Direto e Variável

Embalagens Custo Direto e Variável

Comissão de Vendedores Despesa

Mão de Obra Direta Custo Direto e Variável

Salários da Supervisão da Produção Custo Indireto, Variável ou Fixo

Depreciação das Máquinas Custo Indireto e Fixo

Energia Elétrica Custo Indireto e Variável ou


Despesa

Aluguel do Prédio Custo Indireto e Fixo

Seguro da Fábrica Custo Indireto e Fixo

Honorários da Diretoria Despesas

Material Direto Custo Direto e Variável

Quadro 1: Exemplos de Classificações de Custos.

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE OS CONCEITOS INICIAIS DE CUSTOS

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CUSTEIO POR ASORÇÃO

Os métodos ou sistemas de custeio são formas de se fazer a gestão de custos de um ou


mais objetos de custos. Os métodos de custeio mais conhecidos são: Custeio por Absorção,
Custeio Variável, Custeio por Atividades e Custeio Pleno.
De acordo com Garrison e Noreen (2001) o custeio por absorção considera todos os custos
de produção como custos do produto, independente do custo ser variável ou fixo. Assim,
no custeio por absorção o custo de uma unidade do produto consiste em materiais diretos.
mão-de-obra direta e custos indiretos fixos e variáveis. Ou seja, todos os custos referentes
ao produto ou ao serviço são incorporados ao custo do produto vendido, separando-se das
despesas na Demonstração do Resultado do Exercício.
A Figura 3, expõe a Demonstração do Resultado do Exercício e a separação em sua
estrutura entre custos e despesas.

Figura 3: Demonstração do Resultado do Exercício.

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O Custeio por Absorção cumpre as normas de contabilidade pois considera a separação
entre custos e despesas tal como descrita na DRE. Porém, a maior desvantagem do custeio
por absorção está na forma como os custos indiretos são apropriados ao objeto de custo.
Como é necessário um direcionador de custo para “levar” os custos indiretos ao objeto de
custo, muitas vezes a escolha desse direcionador, ou o critério de rateio utilizado pode ser
arbitrária, o que traria distorções ao custo final do produto. Vejam o exemplo abaixo:

Exemplo 1: Suponha uma empresa fabrique e venda cadeiras de praia de dois tipos: reclinável e não
reclinável. A cadeira reclinável (CR) possui preço de venda de R$ 50,00, enquanto a não reclinável (NR)
possui preço de venda de R$ 30,00.
Os custos e despesas variáveis e custos e despesas fixos por período são os seguintes:

CR NR
Custos Diretos:
Mão de Obra R$ 4,50 por hora R$ 3,50 por hora
Horas de Mão de Obra 2h por unidade 1,5h por unidade
Matéria Prima R$ 12,50 por unidade R$ 9,00 por unidade
Custos Indiretos:
Aluguel R$ 10.000,00/mês
Depreciação R$ 1.000,00/mês
Energia Elétrica R$ 2.500,00/mês
Despesas:
Despesas Variáveis R$ 1,50 por unidade R$ 1,00 por unidade
Despesas Fixas R$ 5.000,00/mês

Sabendo-se que são fabricadas e vendidas por mês 3.000 cadeiras reclináveis e 2.500 cadeiras não
reclináveis, determine o lucro bruto e a margem de lucro bruta de cada tipo de cadeira para a empresa,
sabendo-se que o rateio dos custos indiretos é feito de acordo com o número de unidades produzidas.
Primeiro calcula-se os custos diretos totais, multiplicando o número de horas de mão de obra pelo valor
unitário e pela quantidade produzida no mês e o valor da matéria prima unitário também pela quantidade:

CR NR
Custos Diretos:
Mão de Obra 27.000,00 13.125,00
Horas de Mão de Obra 37.500,00 22.500,00
TOTAL 64.500,00 35.625,00

Em seguida, os custos indiretos serão rateados de acordo com a proporção de unidades produzidas de
cada tipo de cadeira:

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CR NR
Quantidade Produzida 3.000 2.500
Custos Indiretos:
Proporção 55% 45%
TOTAL 7.363,64 6.136,36

Rateio dos Custos Indiretos: Total Produzido 5.500 unidades por mês
Rateio dos Custos Indiretos: Total Custos: R$ 13.500,00/mês

Então, estrutura-se a DRE para o cálculo do Lucro Bruto e da Margem de Lucro Bruta de cada um dos
produtos:
DRE
CR NR Total
Receita de Vendas 150.000,00 75.000,00 225.000,00
(-) Custo dos Produtos Vendidos 71.863,64 41.761,36 113.625,00
= Lucro Bruto 78.136,36 33.238,64 111.375,00
(-) Despesas Variáveis 4.500,00 2.500,00 7.000,00
(-) Despesas Fixas 5.000,00
= Lucro Operacional 99.375,00
Margem de Lucro Bruta 52% 44%

Agora, suponha que o critério de rateio dos custos indiretos mude e não seja mais quantidade produzida,
mas sim o total do custo de Mão de Obra mensal empregado na fabricação de cada um dos tipos de
cadeiras. Assim, a proporção e valor dos custos indiretos seria:
Rateio dos Custos Indiretos: Total do Valor de Mão de Obra Mensal: R$ 40.125,00
Rateio dos Custos Indiretos: Total Custos: R$ 13.500,00/mês

CR NR
Mão de Obra 27.000,00 13.125,00
Custos Indiretos:
Proporção 67% 33%
TOTAL 9.084,11 4.415,89

E a DRE:
DRE
CR NR Total
Receita de Vendas 150.000,00 75.000,00 225.000,00
(-) Custo dos Produtos Vendidos 73.584,11 40.040,89 113.625,00
= Lucro Bruto 76.415,89 34.959,11 111.375,00
(-) Despesas Variáveis 4.500,00 2.500,00 7.000,00
(-) Despesas Fixas 5.000,00
= Lucro Operacional 99.375,00
Margem de Lucro Bruta 51% 47%

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Ou seja, ao mudar o critério de rateio dos custos indiretos a margem de lucro das cadeiras
reclináveis diminuiu e a margem de lucro das cadeiras não reclináveis aumentou. Isso
significa que o critério utilizado para ratear os custos indiretos pode mudar
consideravelmente os lucros dos produtos de uma organização, o que pode induzir o
gestor a erros no momento da tomada de decisão. Essa é a principal crítica e desvantagem
desse tipo de sistema de custeio, a forma como é feita a escolha dos direcionadores de
custos dos custos indiretos.

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE CUSTEIO POR ABSORÇÃO E A VIDEO AULA


COM UM EXEMPLO MAIS DETALHADO SOBRE O RATEIO DOS CUSTOS INDIRETOS.

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UNIDADE 2

CUSTEIO VARIÁVEL

Diferentemente do custeio por Absorção, o custeio variável considera como Custo do


Produto Vendido, os custos que são diretos e variáveis, não necessitando assim de critérios
de rateio para os custos indiretos e fixos, já que estes não são considerados como custos
do produto. Desta forma, o custeio variável demonstra qual produto mais contribui para a
formação do lucro da empresa considerando apenas aqueles custos que são inerentes e
de apropriação direta ao produto, evitando assim, as distorções causadas pelos diferentes
critérios de rateio utilizados na mensuração e distribuição dos custos indiretos.
Essa diferença entre a Receita e os Custos e Despesas Variáveis é chamada de Margem de
Contribuição. A figura 4 expõe a Demonstração do Resultado do Custeio Variável.

Figura 4: Demonstração do Resultado no Custeio Variável.

De acordo com Martins (2018, p. 179) Margem de Contribuição é “a diferença entre o


preço de venda e o Custo Variável de cada produto; é o valor que cada unidade
efetivamente traz a empresa de sobra entre sua receita e o custo que de fato provocou e
que pode lhe ser imputado sem erro.”
Embora a Margem de Contribuição seja uma excelente ferramenta no processo de tomada
de decisão pois demonstra efetivamente qual produto mais contribui para a formação do
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lucro da empresa, este tipo de custeio só pode ser usado de forma gerencial, pois seu
formato não atende as normas contábeis geralmente aceitas. Todo o custo fixo e indireto
do período é abatido integralmente do resultado e não apenas o custo do produto que foi
vendido no período. Assim, a Realização das Receitas e Confrontação das Despesas que
definem o período de competência contábil não são cumpridas.
A Margem de Contribuição Unitária (Preço de Venda – Custos e Despesas Variáveis
Unitárias) demonstra de forma mais eficaz o produto a ter sua produção incentivada ou
até descontinuada dentro do processo produtivo, pois se os produtos possuem
quantidades produzidas diferentes entre si, a Margem de Contribuição Total considerará
essas diferenças. Assim, o produto com maior Margem de Contribuição Unitária será
considerado o produto com melhor eficiência, ficando a cargo da gestão da empresa a
decisão de aumentar ou não sua produção dada a demanda.
Vamos considerar o mesmo exemplo usado anteriormente: das cadeiras reclináveis (CR) e
não reclináveis (NR).

APÓS O EXEMPLO ABAIXO, ASSISTA A VIDEOAULA SOBRE CUSTEIO VARIÁVEL


PARA ENTENDER MELHOR COM EXEMPLOS O CONCEITO DE CUSTEIO VARIÁVEL E
MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO.

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Exemplo 2: Temos a seguinte estrutura de custos e despesas:

CR NR
Custos Diretos:
Mão de Obra R$ 4,50 por hora R$ 3,50 por hora
Horas de Mão de Obra 2h por unidade 1,5h por unidade
Matéria Prima R$ 12,50 por unidade R$ 9,00 por unidade
Custos Indiretos:
Aluguel R$ 10.000,00/mês
Depreciação R$ 1.000,00/mês
Energia Elétrica R$ 2.500,00/mês
Despesas:
Despesas Variáveis R$ 1,50 por unidade R$ 1,00 por unidade
Despesas Fixas R$ 5.000,00/mês

Os custos diretos totais então são:


CR NR
Custos Diretos:
Mão de Obra 27.000,00 13.125,00
Horas de Mão de Obra 37.500,00 22.500,00
TOTAL 64.500,00 35.625,00
Assim, a DRE do Custeio Variável seria:
CR NR Total
Receita de Vendas 150.000,00 75.000,00 225.000,00
(-) Custo dos Produtos Vendidos 64.500,00 35.625,00 100.125,00
(-) Despesas Variáveis 4.500,00 2.500,00 7.000,00
(=) Margem de Contribuição 81.000,00 36.875,00 117.875,00
(-) Custos Indiretos 13.500,00
(-) Despesas Fixas 5.000,00
(=) Lucro Operacional 99.375,00
Margem de Lucro Bruta 54% 49%
O CPV do Custeio Variável considera apenas os custos diretos e variáveis, enquanto custos indiretos e
fixos e despesas fixas são subtraídos integralmente do resultado total e não são rateados. Assim, sabe-se
exatamente qual produto mais contribui para a formação do lucro total da empresa sem as distorções
apresentadas pelos custos indiretos. Deve-se também calcular a Margem de Contribuição Unitária de cada
produto, já que as quantidades fabricadas e vendidas são diferentes:
CR NR Total
Preço de Venda 50 30 80
(-) Custo Variável Unitário 21,5 14,25 35,75
(-) Despesas Variável Unitária 1,5 1 2,5
(=) Margem de Contribuição 27 14,75 41,75

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A diferença entre o Custeio Variável e o Custeio por Absorção está, portanto na forma
como são contabilizados os custos indiretos. Enquanto no Custeio por Absorção são
considerados no custo do produto apenas os custos indiretos dos produtos vendidos, no
Custeio Variável é considerado em sua DRE todo o custo indireto do período.
Como as empresas dificilmente produzem e vendem todo o seu estoque dentro do
período, de um período para o outro o Lucro Operacional de ambos os métodos de custeio
seria diferente exatamente por causa da quantidade produzida e não vendida dentro de
determinado período.
Por exemplo, se a empresa possui $ 1.000,00 de custos indiretos e produziu 100 unidades
em determinado período, isso significa que cada unidade do produto possui um custo
indireto de $ 10. Supondo que apenas 90 unidades do produto foram vendidas, no custeio
por absorção o custo indireto a ser somado ao custo direto no C.P.V. será de $ 900,00 ($
10 x 90), porém no custeio variável todo o custo de R$ 1.000,00 será deduzido da Margem
de Contribuição para a formação do Lucro Operacional.
No longo prazo essa diferença não existe, pois todas as unidades produzidas serão
vendidas, mas de um período para outro a diferença no Lucro Operacional dos dois
métodos de custeio pode ser bem significativa, dependendo do número de unidades que
permaneceram em estoque de um período para outro.

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE UM EXEMPLO DA DIFERENÇA DE CUSTEIO


VARIÁVEL E CUSTEIO POR ABSORÇÃO COM UNIDADES RESTANTES EM ESTOQUE.

17
RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

Quando se fala em Relação Custo, Volume e Lucro queremos entender como dada
estrutura de custos e seu volume de produção afeta o lucro da organização. Para tanto, é
fundamental o entendimento de Ponto de Equilíbrio, que define a quantidade que deve
ser produzida e vendida dado determinado nível de lucro.
O Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC) nos traz a informação da quantidade necessária a ser
produzida e vendida para que a empresa tenha pelo menos lucro zero, ou seja, essa
quantidade deve ser suficiente para gerar receitas que pelo menos se igualem aos custos
totais.
A Figura 5 (a) demonstra graficamente as Receitas e os Custos Totais (os quais estão
somados as despesas totais) de determinado objeto de custo. A figura 5 (b) demonstra a
mesma relação gráfica, porém expõe o momento em que a curva de Receitas Totais cruza
com a curva de Custos Totais, o qual está assinalado pelo círculo vermelho.

(a) (b)
$
$
Receita Total
Receita Total

Custo Total Custo Total

Prejuízo

Lucro

Custo Fixo Custo Fixo

un. un.

Figura 5: Representação gráfica do Ponto de Equilíbrio Contábil.

Este cruzamento é exatamente o Ponto do Equilíbrio Contábil (PEC), pois neste momento
o lucro é zero com receitas e custos iguais. Acima e a direita deste ponto a receita se torna
18
maior que o custo, gerando lucro para a organização. A esquerda e abaixo, os custos ainda
são maiores que as receitas, gerando prejuízo.
A formulação para se calcular o PEC, portanto é:

RT = CT
(P x Q) = [(CVun + DVun) x Q + (CF+DF)]

Em que RT = Receita Total,


CT = Custo Total,
P = Preço de Venda,
Q = Quantidade,
CVun = Custo Variável Unitário,
DVun = Despesa Variável Unitária
CF = Custos Fixos
DF = Despesas Fixas

Assim, colocando Q em evidência, temos que:


(P x Q) = [(CVun + DVun) x Q + (CF+DF)]
Q (P – CVun – DVun) = CF + DF
QPEC = CF + DF
MCun.

Como (P – CVun – DVun) nada mais é do que a Margem de Contribuição Unitária, então
a quantidade a ser produzida e vendida no PEC é igual aos custos e despesas fixos dividido
pela margem de contribuição unitária.

Outro ponto de equilíbrio a ser considerado é o Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE). O


PEE determina a quantidade a ser produzida e vendida para a que empresa obtenha um

19
lucro mínimo desejado. Esse lucro mínimo normalmente é um percentual do investimento
realizado no negócio, ou seja, o custo de oportunidade do capital investido, e é calculado
pela seguinte formulação:

QPEE = (CF + DF) +Lucro Mínimo Desejado


MCun.

Aos custos e despesas fixos somam-se o lucro desejado pelos investidos.

Além do PEC e do PEE considera-se também o Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF). O PEF
apresenta a quantidade que deve ser produzida e vendida para que o fluxo de caixa se
mantenha positivo. Para seu cálculo subtrai-se dos custos e despesas fixos as Despesas não
Desembolsáveis, como por exemplo Depreciação, pois não apresentam efeito no caixa da
empresa. Assim, sua formulação é a seguinte:

QPEF = (CF + DF) – Despesas Não Desembolsáveis


MCun.

Vejamos o Exemplo 3:

20
Exemplo 3: Suponha uma empresa de vasos ornamentais com a seguinte estrutura de custos e despesas
em determinado período:
Custo Fixo: $ 20.000,00
Despesa Fixa: $ 10.000,00
Depreciação: $ 1.500,00 (já inclusa no custo fixo)
Custo e Despesa variáveis Unitários: $ 10,00
Preço de Venda: $ 50,00
Qual a quantidade a ser produzida e vendida para que a empresa obtenha lucro zero, ou seja, a
quantidade no Ponto de Equilíbrio Contábil?

Para calcular o PEC:


QPEC = CF + DF ,
MCun.

Assim: QPEC = 20.000 + 10.000 = 30.000 = 750 unidades.


(50 – 10) 40

Desta forma, a empresa precisa produzir e vender 750 vasos ornamentais no período para que as Receitas
Totais se igualem aos Custos e Despesas Totais.
Suponha agora que os sócios desta empresa esperam ter pelo menos 10% do capital investido de lucro
mínimo desejado. Sabe-se que o investimento inicial na empresa foi de $ 50.000,00. Qual seria o Ponto
de Equilíbrio Econômico?

QPEE = (CF + DF) +Lucro Mínimo Desejado


MCun.

QPEE = (20.000 + 10.000) +(10% x 50.000)


40

QPEE = (30.000) +(5.000)


40

QPEE = (30.000) +(5.000)


40

QPEE = 875 unidades


Assim, a empresa precisa produzir e vender ao menos 875 vasos para que consiga remunerar seus sócios
de acordo com o mínimo desejado.
E por fim, calcularemos o Ponto de Equilíbrio Financeiro, para saber quantas unidades a empresa precisa
produzir e vender para manter seu fluxo de caixa positivo.
QPEF = (CF + DF) – Despesas Não Desembolsáveis
MCun.

QPEF = (30.000) – 1.500 ≅ 713 unidades


40
Lembrando que sempre que o resultado apresentar números decimais, o arredondamento deve ser
realizado para cima, para garantir o ponto de equilíbrio.

21
UNIDADE 3

MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO COM LIMITAÇÃO NA CAPACIDADE


PRODUTIVA

Em seu livro “A Meta”, de 1984, Eliyahu M. Goldratt desenvolveu a Teoria das Restrições,
em que afirmava que todo sistema produtivo possui uma ou mais restrições, também
chamada de gargalo, para atingir sua meta. Essas restrições podem ser internas (como
capacidade limitada de horas de mão de obra, horas máquina, etc.) ou externas (como
limitação no fornecimento de matéria prima ou demanda de mercado).
Como visto anteriormente, a Margem de Contribuição Unitária é considerada uma ótima
ferramenta no processo de tomada de decisão, pois verifica o quanto cada objeto de custo
realmente contribui para a formação do lucro da empresa considerando apenas os custos
variáveis subtraídos da receita, o que evita as distorções causadas pelos custos fixos e
indiretos devido aos diferentes critérios de rateio utilizados bem como as diferentes
quantidades produzidas.
Porém, esta ferramenta é válida levando-se em conta que os sistemas não possuem
restrições, o que no “mundo real” coorporativo é quase impossível de acontecer, pois as
empresas se deparam com os diversos tipos de gargalos em seus processos produtivos.
Sendo assim, é fundamental que os gestores levem em consideração essas restrições no
processo de tomada de decisão, deixando a Margem de Contribuição Unitária de ser a
ferramenta mais confiável neste caso e passando a ser a Margem de Contribuição por Fator
Limitante.
A Margem de Contribuição por Fator Limitante permite que a empresa conheça qual o
produto mais contribui com a formação do lucro da empresa considerando a restrição.
Assim, é necessário que se divida a margem de contribuição unitária pelo fator limitante.

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Supomos que uma empresa que fabrica dois produtos diferentes, (X e Y) está com limitação
em seu fornecimento de matéria prima. Embora o mercado absorva por completo toda a
capacidade de produção da empresa, seus fornecedores não obtém toda a matéria prima
necessária para fornecer no período.
Assim, a empresa terá que escolher qual produto terá sua produção incentivada, já que
não consegue atender a toda a demanda dos dois produtos devido a limitação. A empresa
então deve incentivar a produção daquele produto que tiver a maior Margem de
Contribuição por Fator Limitante, alocando toda a matéria prima possível neste produto
dada a demanda, e o que restar de matéria prima alocar no produto com menor Margem
de Contribuição por Fator Limitante, assim a empresa garante uma maximização do lucro.
Vejamos o exemplo 4 abaixo:

Exemplo 4: Uma empresa que fabrica mesas e cadeiras e possui a seguinte estrutura de custos variáveis:

Mesas Cadeiras
Matéria Prima ($/unid.) 300,00 75,00
Matéria Prima (kg por unid.) 4 1
Horas de Mão de Obra Direta
(h/unid.) 6 2,5
Valor da Hora da MOD ($/unid.) 22,00 22,00
Quantidade fabricada e vendida 1.500 6.000
Despesas Variáveis ($/unid.) 1,5 0,75
Preço de Venda Unitário 800,00 300,00

Para atender a demanda total (a empresa já opera em toda a sua capacidade), a empresa necessita de
12.000 quilos de matéria prima (6.000 quilos para produzir a quantidade total de mesas e 6.000 quilos
para produzir o total de cadeiras). Ocorre que neste mês houve um problema com o fornecimento da
madeira e a empresa só conseguiu comprar 9.000 quilos de matéria prima.
Ao fazer sua DRE pelo custeio variável a empresa chegou aos seguintes resultados:

Mesas Cadeiras
Preço de Venda Unitário 800,00 300,00
(-) Custos Variáveis 432,00 130,00
Matéria Prima 300,00 175,00
Mão de Obra Direta 132,00 55,00
(-) Despesas Variáveis 1,50 0,75
MC unitária 366,50 169,25

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O produto que possui maior Margem de Contribuição Unitária são as mesas, então sua produção deveria
ser incentivada ao invés das cadeiras? Se assim fosse, empregaríamos 6.000 quilos de matéria prima na
produção das mesas e 3.000 quilos restantes na produção das cadeiras, produzindo assim 1.500 mesas e
3.000 cadeiras. Vamos ver como fica o lucro operacional neste caso:

Mesas Cadeiras Total


Preço de Venda Unitário 1.200.000,00 900.000,00 2.100.000,00
(-) Custos Variáveis 648.000,00 390.000,00 1.038.000,00
(-) Despesas Variáveis 2.250,00 2.250,00 4.500,00
MC unitária 549.750,00 507.750,00 1.057.500,00
(-) Custos e Despesas Fixos 500.000,00
Lucro Operacional 557.500,00

Mas, como já dito anteriormente, quando temos restrição a ferramenta de decisão deve ser a Margem
de Contribuição Unitária por Fator Limitante. No caso, o fator limitante é quilo de matéria prima, assim
seria:

Mesas Cadeiras
MC unitária 366,50 169,25
Matéria Prima (kg por 4 1
unid.)
MC por fator limitante 91,63 169,25

Diferentemente do que nos mostrava a MC unitária, a MC por fator limitante das cadeiras é maior do que
das mesas. Assim, alocando 6.000 quilos de matéria prima para a produção das cadeiras e 3.000 quilos
para as mesas, a produção será de 6.000 cadeiras e 750 mesas, demonstrando o seguinte lucro
operacional:

Mesas Cadeiras Total


Preço de Venda Unitário 600.000,00 1.800.000,00 2.400.000,00
(-) Custos Variáveis 324.000,00 780.000,00 1.104.000,00
(-) Despesas Variáveis 1.125,00 4.500,00 5.625,00
MC unitária 274.875,00 1.015.500,00 1.290.375,00
(-) Custos e Despesas Fixos 500.000,00
Lucro Operacional 790.375,00

Fica evidenciado desta forma que ao incentivar o produto com maior MC por fator limitante, o lucro da
empresa é maximizado.
Mas e quando temos várias restrições ao mesmo tempo? O melhor é que se tente fazer as restrições
separadas para cada produto observando qual combinação, dados os diferentes gargalos, melhor
impactam no lucro da empresa. Muitas vezes é necessário a ajuda de um programa computacional ou
mesmo pesquisa operacional para definição do melhor mix de produção.

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO POR FATOR


LIMITANTE

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CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES

O Custeio Baseado em Atividades, também denominado de Custeio ABC pela sigla em


inglês de Activity Based Costing, de acordo com Garisson e Noreen (2000), “é o método de
custeio projetado para municiar os gerentes com informações de custo (...) por
conseguinte, os custos “fixos”. É também utilizado como um elemento da gestão por
atividade, abordagem de gestão que tem por foco as atividades.”
De acordo com Nakagawa (2001) o ABC já era conhecido e usado por contadores em 1800
e início de 1900 e nos anos 60 o método já era bastante conhecido e usado na década. No
Brasil, os estudos e pesquisas sobre o ABC tiveram início em 1989, no Departamento de
Contabilidade e Atuária da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.
Segundo Hansen e Mowen (2001), um sistema de Custeio Baseado em Atividades,
primeiramente rastreia os custos para as atividades e, em seguida, para os produtos e
outros objetos de custo. E para Martins (2018) procura reduzir as distorções provocadas
pela arbitrariedade dos critérios de rateios realizados para direcionar o custo indireto ao
objeto de custo.
Em suma, o Custeio ABC é uma forma mais precisa e acurada de se ratear os custos
indiretos e fixos, pois demonstra o quanto cada atividade consumiu dos recursos indiretos
dentro do processo produtivo. Tudo o que consome recursos pode ser considerado uma
atividade, mas para entrar no sistema de custeio essa atividade tem que ser relevante e
ainda ser capaz de indicar o montante de recursos aplicados a cada objeto de custo, por
meio dos direcionadores de atividade.
Nem sempre a implementação do Custeio ABC é possível dentro das organizações. Sua fase
de implementação deve ser extremamente detalhista e muitas vezes o custo da
informação pode não compensar o benefício gerado por ela, por isso além de um critério
de rateio, o custeio ABC é também um instrumento de gestão de custos.
Mas uma vez que a empresa percebeu a necessidade do reconhecimento dos custos das
atividades, ela deve passar pelas 6 fases de implementação do custeio que são:

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Identificação e definição das atividades e dos respectivos centros;
Apropriação direta, sempre que possível, dos custos aos produtos e aos objetos de custo;
Apropriação dos custos aos centros de custo da atividade;
Determinação dos direcionadores de atividades;
Apropriação dos custos aos objetos de custo, utilizando os direcionadores de atividade e
Elaboração de relatórios gerenciais.
Seguindo as 6 etapas de implementação do custeio ABC temos que na primeira a empresa
deve identificar e definir seus centros e suas atividades relevantes. Pois bem, dentro do
exemplo da nossa empresa que fabrica mesas e cadeiras, então os centros e atividades
identificados seriam:
Departamentos Atividades

Comprar Materiais
Compras
Desenvolver Fornecedores

Almoxarifado Receber Material


Inspecionar Material
Armazenar Material
Controlar Estoques

Administração da Programar Produção

Produção Controlar Produção


Processar Produtos e
Máquinas
Controlar Processos
(Engenharia)

Embalar produtos
Inspeção Final
Despachar Produtos

Ou seja, após identificar seus centros de custo deve-se identificar quais são as atividades
relevantes dentro de cada centro. Seguindo a implementação do método de Custeio ABC,

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o próximo passo é apropriar diretamente os custos diretos aos objetos de custo, ou seja,
matéria prima, material direto, mão de obra direta e etc.
A terceira fase do processo determina que a empresa deve atribuir os valores dos custos
indiretos e fixos às atividades já reconhecidas anteriormente. Segundo Martins (2018) a
primeira fonte de dados para custear as atividades é o razão geral da empresa, além de ser
muitas vezes necessário estudos da engenharia e entrevistas com os gestores de diversos
departamentos.
Ainda de acordo Martins (2018) pode ser feita a alocação dos custos indiretos as atividades
por rastreamento, que aloca os custos com base na relação de causa e efeito entre a
ocorrência das atividades e a geração dos custos.
O estudo para o custeio das atividades deve ser preciso e minucioso, pois é isto que
diferencia o custeio ABC dos demais critérios utilizados pelo sistema de custeio tradicional.
A quarta fase da implementação do sistema de custeio ABC é a identificação dos
direcionadores de atividade. Nem sempre uma atividade relevante apresentará um
direcionador claro e objetivo, o que acaba se tornando um problema para a gestão, pois
mesmo essa atividade consumindo recursos não há clareza em como direcionar estes
custos ao seu objeto de custo. Por isso, deve-se buscar sempre direcionar o custo das
atividades ao produto de forma precisa.
Seguindo com nosso exemplo, as atividades levantadas poderiam indicar os seguintes
direcionadores de atividade:

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Departamentos Atividades Custos Direcionadores

Comprar Materiais $ Nº de pedidos


Compras
Desenvolver Fornecedores Nº de fornecedores

Almoxarifado Receber Material $ Nº de recebimentos


Inspecionar Material
Armazenar Material Nº de lotes
Controlar Estoques inspecionados e
armazenados

Administração da Programar Produção $ Nº de produtos


Controlar Produção Nº de lotes
Produção
Processar Produtos e Nº de horas máquinas
Máquinas por unidade
Tempo de dedicação dos
Controlar Processos Engenheiros
(Engenharia)
Embalar produtos $ Nº de produtos
Inspeção Final
Despachar Produtos embalados
Nº de produtos
despachados

Por exemplo, como inspecionar e armazenar material e controlar estoques foram


identificados como atividades relevantes e são de fato atividades muito afins, um único
direcionador pode ser usado para as três atividades que é número de lotes inspecionados
e armazenados.
A próxima e quinta fase seria apropriar os custos ao objeto de custo por meio dos
direcionadores de atividades, verificando a proporção consumida por cada produto de
acordo com o critério de rateio identificado. Assim, na atividade de Controlar Processos,
por exemplo, sabemos que o direcionador é o tempo gasto dos engenheiros ao produto,
então a forma como o tempo dos engenheiros é dividida entre a produção de mesas e
cadeiras é o que determinará o custo desta atividade para os dois produtos.
28
Ou mesmo na atividade de comprar materiais, quantos pedidos de matéria prima são
feitos para a produção de mesas e quanto são feitos para a produção de cadeiras? Isto será
o direcionador do custo ao objeto.
E a sexta e última fase é a elaboração de relatórios gerenciais. Após o custeamento dos
objetos de custo por meio das atividades, já é possível construir a Demonstração de
Resultado do Exercício, pois o Custo do Produto Vendido já pode ser calculado.
Diversas críticas são feitas ao sistema de custeio ABC pois este método de custeio não
elimina a figura do rateio dos custos. Além disso, o benefício de um sistema de custos ABC
fornecer informações para tomar decisões melhores precisa ser confrontado com seus
custos de medida e os de implementação. Porém, mesmo sendo um método utilizado para
definir melhores critérios de rateio, o faz de forma muito mais precisa e acurada, pois
resulta em número de custos que medem melhor o modo como os objetos de custos
diferentes usam montantes diferentes de recursos da empresa (HORNGREN et al, 2004).

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE O CUSTEIO ABC E A VIDEO AULA DE UM


EXEMPLO QUE DEMONSTRA A APLICAÇÃO DESSE MÉTODO

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UNIDADE 4

FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

A formação do preço de venda é uma das decisões mais difíceis enfrentada pelos gestores
das empresas, pois afetam além da quantidade produzida e vendida também a gestão dos
custos.
Muitas variáveis estão inseridas na decisão de se formar o preço de venda, a primeira e
mais importante vem do mercado, das preferências dos consumidores pelo produto e do
quanto estão dispostos a pagar, além disso o preço de venda tem que ser capaz de cobrir
todos os custos e despesas com a produção do produto e ou/serviço e ainda remunerar os
investidores por sua alocação de capital.
Se a empresa em questão é um monopólio, ou seja, única no mercado a fornecer tal
produto, a decisão sobre o preço de venda ficará mais a critério de sua gestão, embora
esse preço não possa ultrapassar o montante que afete a procura pelo seu produto. Mas
estando a empresa em competição, o preço de venda não deve ultrapassar o de seus
concorrentes sem que seu produto ofereça um diferencial específico.
Quando a empresa atua em mercados competitivos deve-se levar em consideração a
elasticidade do produto. Se qualquer variação de preço afeta pouco a quantidade
demandada, como é o caso da indústria alimentícia, por exemplo, então a empresa tem
uma margem de segurança para determinar seu preço de venda de acordo com suas
estratégias de marketing. Mas se o produto tem uma alta elasticidade, ou seja, qualquer
variação de preço pode afetar muito a procura pelo produto, então a empresa terá que
ajustar seu preço de venda sempre dentro do limite estabelecido pelo mercado, e neste
caso deve-se trabalhar com uma taxa de lucro desejado mínimo.
De acordo com Horngreen (2004) Os compradores preferem preços estáveis e previsíveis
para um longo período pois isso reduz a necessidade de monitorar preços, melhora o
30
planejamento e constrói relacionamentos de longo prazo entre consumidores e produto.
Mas para cobrar um preço estável e obter retorno desejado, a organização deve conhecer
e administrar os seus custos.
Assim, qual o preço a cobrar por um produto dado sua estrutura e custos e a margem de
lucro mínima desejada pela organização?
Uma das metodologias utilizadas para precificação é o markup. Neste método o preço é
“construído” de dentro para fora, ou seja, parte da estrutura de custos e despesas da
empresa e da margem de lucro desejada para se obter o preço de venda. Vejamos o
exemplo abaixo:
Supondo que uma empresa tenha apurado que o custo unitário do seu produto (fixos e
variáveis) tem valor de $ 81,00. Além disso, sabe-se que as despesas gerais e
administrativas equivalem a cerca de 11% da receita bruta. As despesas de vendas,
comissão de vendedores, estão em torno de 5% do preço de venda bruto, e os impostos
incidentes sobre o preço de venda bruto são 20%. Os investidores desejam que o produto
gere uma margem de lucro de cerca de 8% sobre a receita bruta.
O markup neste caso então seria todos os gastos incidentes sobre o preço de venda bruto
(ou receita bruta) mais a margem de lucro desejada, totalizando 44%. Sabe-se então que
o preço de venda (PV) deveria cobrir todo o markup mais o custo unitário do produto.
Assim,

PV = 81 + 0,44PV
0,56PV = 81
PV = 144,64

Por este método, o preço de venda deste produto deveria ser em torno de $ 145,00. Mas
como se tem outras variáveis no mercado, conforme discutido anteriormente, este preço
deve ser considerado uma referência para a empresa, sujeita a ajustes para mais ou para
menos (MARTINS, 2018).
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Um método de custeio que pode ser usado para fixação do preço de venda é o RKW, em
alemão Reichskuratorium für Wirtschaftlichkeit. Este método rateia não apenas os custos
de produção, mas todas as despesas da empresa, por isso é também conhecido como
custeio pleno. De acordo com Martins (2018), ao calcular os custos dos produtos adiciona-
se o lucro para enfim chegar ao preço de venda. Porém, não pode ser aplicado a uma
economia de mercado, em que os preços são determinados pela oferta e procura dos bens.
Segundo Martins (2018, p. 207) “é muito mais provável que uma empresa analise seus
custos e suas despesas para verificar se é viável trabalhar com um produto, cujo preço de
mercado influencia diretamente, do que ela determinar o preço em função dos custos e
despesas.”

ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE FORMAÇÃO DE PREÇO DE VENDA

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CUSTO META E DECISÃO SOBRE AS VENDAS

Seguindo o raciocínio de que uma empresa inserida em um mercado competitivo deveria


trabalhar e gerenciar melhor a sua estrutura de custos para conseguir trabalhar com o
preço de venda adotado pelo mercado, seria como definir o custo de fora para dentro e
uma das formas de se fazer tal gerenciamento é por meio do custo meta ou custo padrão,
onde parte-se do custo máximo que a empresa pode trabalhar para manter seus níveis de
rentabilidade.
Segundo Martins (2018), todas as divisões da organização devem estar alinhadas com o
compromisso de se manter e/ou atingir o custo meta. O abaixo demonstra como cada
divisão da empresa e cada fase de produção do bem (e mais além ainda, olhando sua
cadeia de valor) devem estar comprometidas para que em cada uma delas seja possível o
gerenciamento dos custos, para se atingir o custo meta.

Divisões da Empresa Como atingir o custo meta

Características técnicas do produto


Projeto do Produto

Planejamento As características técnicas podem ser alteradas, de


acordo com os produtos oferecidos.

Tecnologias Disponíveis (componentes que compõe


Engenharia
o produto)

Comportamento do Produto
Marketing
Definições das estratégias financeiras, apurações
Contabilidade
de custos, orçamentos, etc.

Fornecedores Cadeia de Valor

Fonte: Martins (2018)

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Assim, a empresa consegue olhar ao mesmo tempo de forma ampla e de forma específica
para cada componente do processo produtivo, o que permite tentar trabalhar com o custo
máximo definido dado o preço de venda praticado no mercado.
Uma das dúvidas que permeiam as organizações em seus gerenciamentos de custos é o
quanto produzir dado o preço de venda. As empresas muitas vezes sentem necessidade de
um aumento real em suas margens de contribuição, para que assim, se maximize
lucratividade. Mas dado as leis de oferta e demanda e a elasticidade dos bens, muitas vezes
aumentar preço significa diminuir demanda. A decisão da empresa então fica sendo:
vender mais a um preço menor ou vender menos a um preço maior?
O senso comum nos diria que vender mais é sempre a melhor solução, pois temos em
mente que quanto maior o faturamento, maior a lucratividade. Isso nem sempre é
verdade, o ideal para a empresa é maior lucratividade e não obrigatoriamente isto está
alinhado com maior faturamento, pois a outra variável importante nessa questão é, claro,
são os custos.
Para saber se é melhor vender mais a um preço menor ou vender menos a um preço maior
devemos primeiro analisar qual opção traria maior lucratividade para a empresa, e esta
opção seria aquela que gerasse a maior Margem de Contribuição Total (MCT), já que os
custos fixos são constantes para as duas opções, uma maior MCT elevaria o lucro.
Vamos ao exemplo de uma empresa fabricante de pneus:

Exemplo 5:
Custo Variável Unitário = $ 220,00
Decisão: Opção 1: Vender 1.000 pneus a $ 400,00 cada ou;
Opção 2: Vender 850 pneus a $ 500 cada.

Opção 1: MC unitária = $ 180,00


MCT = $ 180 x 1.000 = $180.000

Opção 2: MC unitária = $ 280,00


MCT = $ 280 x 850 = $ 238.000

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Ou seja, neste exemplo fica claro que nem sempre vender mais é melhor, mesmo
vendendo menos, mas com um preço maior a empresa consegue maximizar lucratividade,
pois a um preço maior o mercado também vai absorver um montante menor do produto,
dado as leis de oferta e demanda.
Portanto, sempre, em qualquer situação, o gerenciamento dos custos será um dos maiores
responsáveis por maximizar a rentabilidade do negócio, pois a maioria das empresas vive
e sobrevive sob forte regime de concorrência. Então, é estritamente necessária uma
análise aprofundada da estrutura de custos, pois sem isso, os orçamentos ficam
comprometidos e as empresas podem ter projeções futuras muito distantes do real, o que
pode gerar surpresas desagradáveis como baixa lucratividade e até futuros prejuízos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATKINSON, A.A. et al. Contabilidade Gerencial. São Paulo, Atlas, 2000.


GARRISON, R., MOREEN, E. Contabilidade Gerencial. Rio de Janeiro : LTC, 2001.
HANSEN, D.R.; MOWEN, M.M. Gestão de Custos: contabilidade e controle. São Paulo,
Pioneira Thomson Learning, 2001
HORNGREN, C. T.; FOSTER, G.; DATAR, S. M. Contabilidade de Custos. 9 ed. Rio de Janeiro,
LTC, 2000.
MARTINS, E. Contabilidade de Custos. São Paulo, Atlas, 2003.
MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 11 ed. São Paulo, Gen/Atlas, 2018.
NAKAGAWA, M. ABC Custeio Baseado em Atividades. 2a. Ed. São Paulo, Atlas, 2001

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