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“Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos” é um longa-metragem documental dirigido

por Marcelo Masagão, lançado em 1999. O filme é uma intricada antologia audiovisual
do século XX, entrelaçando imagens de filmes antigos, fotografias, reportagens de
televisão e arquivos diversos. A montagem, também assinada por Masagão, cria
narrativas que alternam entre o real e o ficcional, sem depoimentos dos
personagens, utilizando legendas para a locução. Silêncios e efeitos sonoros são
habilmente empregados para construir a narrativa, enquanto a música é composta por
Wim Mertens, com direção musical do próprio diretor.

O título do filme, “Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos”, foi inspirado em uma
frase encontrada por Masagão no portal do cemitério de Paraibuna, interior de São
Paulo, que entrelaça morte e vida, sendo esse o tema central da obra. Financiado em
parte por uma bolsa da Fundação MacArthur, o filme resultou de três anos de
pesquisa nos acervos de imagens do século XX. Masagão se dedicou a visitar
cemitérios e a imaginar recortes biográficos da vida de pessoas desconhecidas,
explorando o binômio destruição/criação que caracterizou o século XX.

O filme recebeu contribuições de consultores de História, como Nicolau Sevcenko e


Eduardo Valadares, e foi elogiado por sua abordagem complexa da memória do século
XX. A ausência de uma narrativa contínua e linear, comum em documentários, e a
opção por não incluir um narrador, foram aspectos destacados pela singularidade e
força poética da obra. A construção do filme é baseada em elementos da história e
da psicanálise, como evidenciado pela frase inicial “O Historiador é o rei” seguida
por “Freud a rainha”, que estabelecem as bases da pesquisa.

A obra foi realizada com um orçamento baixo, dos quais a maior parte foi destinada
ao pagamento de direitos de imagens. Apesar disso, “Nós que Aqui Estamos por Vós
Esperamos” recebeu inúmeros prêmios, incluindo Melhor Filme pelo júri oficial e
pelo júri popular, Melhor Roteiro e Melhor Montagem no Festival de Cinema Nacional
de Recife, além de Melhor Documentário no Festival Internacional do Uruguai e
Melhor Montagem no Festival de Gramado. Seu estilo compilatório e contemplativo foi
comparado ao de outros cineastas como Godfrey Reggio e Peter Greenaway, destacando-
se pela montagem espirituosa e inteligente que explora todas as possibilidades
plásticas, poéticas e conceituais do tempo e do espaço.

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