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Resenha filme ‘Precisamos falar sobre Kevin’

Precisamos falar sobre Kevin’, filme americano adaptado do romance escrito por Lynne Ramse e
estreado no Brasil em 2012, apresenta seu enredo fora da ordem cronológica, sempre sob a
perspectiva da personagem EVA, mãe de Kevin, que lembra a concepção, nascimento e
crescimento do seu primogênito, o qual, além de assassinar o pai e sua irmã, arquiteta e executa
uma chacina no seu colégio.

O filme inicia com o filho já preso e entre cenas de presente e passado, observa-se Eva vivendo
sozinha, procurando emprego e sendo hostilizada pela população local enquanto rememora-se
como uma mulher bem sucedida profissionalmente e assumindo uma gravidez não planejada e
tendo dificuldades para vivenciar a plenitude da maternidade tão desejada por outras mulheres.
EVA tem depressão pós-parto e curiosamente o bebê Kevin, que chora frequentemente, acalma-
se nos braços do pai.

À primeira vista tem-se a impressão que Kevin apresenta um desenvolvimento diferenciado:


fala tardiamente e usa fraldas para além do tempo esperado, entretanto a mãe observa seu filho
crescer, constatando a contra gosto que seu rebento tem para com ela um comportamento de
manipulação, ironia e hipocrisia, enquanto se mostra dócil para o pai que nada percebe.

Eva engravida novamente e nasce uma menina. À medida que os anos passam Kevin age com
hostilidade para com a irmã, deixando Eva sempre em estado de alerta. Certa noite a genitora lê a
estória de Robin Hood para o filho que dias depois ganha de presente do pai um conjunto de arco
e flexa. O tempo passa e o pai assiste orgulhosamente o desenvolvimento da habilidade do filho
como arqueiro.

Kevin, com aproximadamente 16 (dezesseis) anos provoca um acidente onde sua irmã perde
um dos olhos. Eva compartilha com o marido suas desconfianças quanto às intenções do filho no
incidente, porém este discorda e ainda insiste para que ela console o filho, assegurando-lhe que
realmente ele fez o melhor que pode pela irmã. A estas alturas, o casal discute o fim do
casamento enquanto Kevin descasca e saboreia uma lichia de tal maneira, que faz expectador
comparar a fruta a um globo ocular.

A película alcança seu ápice tensional quando, para horror dos expectadores, Kevin se tranca
em um ginásio de esportes com vários estudantes, fazendo-os de alvos humanos.

A mãe estarrecida presencia a prisão do filho e retorna para casa onde encontra o marido e a
filha mortos por flechas.
Crítica

O filme é apresentado de forma anacrônica, em uma narrativa que cansa, pois se assemelha a
montagem de um quebra-cabeças, desenrolando-se em um tenso enredo onde mãe e filho, desde
o berço, não criam os laços afetivos esperados.
O diretor poderia ter explorado os aspectos psicológicos dos personagens, bem como a
problemática da psicopatologia na infância e adolescência e suas implicações juridícas, porém tal
não ocorre e então emerge à lembrança Lacan (1955) advertindo que o sujeito se torna insano
não por vontade própria, mas então porquê?
Enquanto acadêmica de Psicologia, muitas são as inferências quanto aos possíveis motivos
que teriam levado o sujeito a desenvolver os comportamentos apresentados em tela e autorizo-
me a continuar com as indagações: e se Kevin tivesse sido amado e desejado pela mãe desde a
concepção, e se tivesse tido pais amorosos, atentos e responsivos, e se estes o tivessem
encaminhado já em tenra idade para ser acolhido e escutado por profissionais gabaritados, o
desfecho desta estória poderia ter sido diferente?
A certeza que fica é: para alcançar a alma humana e tentar auxilia-la a desenvolver o seu
melhor, estudar sempre é preciso!

PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN. Produção de Andrew Warren, Jennifer Fox, Luc
Roeg, Robert Salerno e Tilda Swinton. EUA: BBC Films, 2011. (112 min), son., color.

LACAN, Jacques. O seminário: livro 4, a relação de objeto. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. 229 p.

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