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No contexto nacional, desde os anos 1990, houve estudos sobre o Big Five em
amostras brasileiras, com um aumento de instrumentos nacionais para avaliar os cinco traços
amplos. O artigo em questão investiga se os cinco grandes traços apresentam uma estrutura
de inter-relação hierárquica ou não hierárquica. Também aborda a valoração das polaridades
dos traços amplos encontradas em instrumentos que avaliam o Big Five. Além disso,
descreve os modelos que representam as hipóteses do estudo, o método utilizado, os
resultados obtidos e discute suas implicações para a área.
O estudo busca aprimorar o modelo Big Five, questionando se os cinco traços amplos
do segundo nível do modelo estão em um mesmo nível ou se há uma relação hierárquica
entre eles não identificada empiricamente. A hipótese é que esses traços não são do mesmo
nível e que alguns são hierarquicamente superiores, servindo de base para explicar os demais.
Isso contrasta com o modelo tradicional que considera os cinco traços como isomórficos, ou
seja, no mesmo nível. O estudo propõe um novo modelo hierárquico onde alguns traços são
mais basais e explicam os outros. Essa estrutura ocorre entre os cinco traços amplos do Big
Five, com traços de nível basal influenciando a emergência de traços em níveis posteriores.
O estudo aborda a questão da mensuração das polaridades dos traços no modelo Big
Five, destacando que cada um dos cinco grandes traços possui duas polaridades distintas. Por
exemplo, o traço Extroversão tem as polaridades Introversão e Extroversão. No entanto,
evidências mostram um desequilíbrio na mensuração dessas polaridades nos instrumentos
utilizados. Em muitos casos, as escalas e itens tendem a favorecer uma das polaridades em
detrimento da outra. Por exemplo, o traço Neuroticismo frequentemente é definido por
adjetivos ou frases que expressam características negativas ou desadaptativas, enquanto sua
polaridade oposta, Estabilidade emocional, é menos enfatizada.
O estudo propõe duas hipóteses teóricas para modelar a estrutura dos traços de
personalidade do Big Five. A primeira hipótese segue o modelo tradicional, onde os cinco
grandes traços estão no mesmo nível de hierarquia. A segunda hipótese, elaborada pelos
autores, propõe um modelo hierárquico de quatro níveis, onde algumas polaridades são mais
basais e explicam as outras. Esses modelos são comparados empiricamente usando path
analysis, permitindo determinar qual modelo melhor se ajusta aos dados coletados. Ambos os
modelos incluem as oito polaridades medidas pelo ICP, mas diferem na forma como essas
polaridades estão estruturadas.
O estudo envolveu 684 alunos do sexto ano do ensino fundamental até o terceiro ano
do ensino médio de uma escola particular em Belo Horizonte, Minas Gerais. Os participantes
eram predominantemente do sexo feminino (52%), com idades entre 10 e 18 anos. O
instrumento utilizado foi o ICP (Inventário de Características da Personalidade), que é um
instrumento de autorelato composto por 27 itens. Cada item é avaliado em uma escala tipo-
Likert de cinco pontos. Uma análise fatorial confirmatória foi realizada para verificar se os
itens do ICP mediam adequadamente as oito polaridades descritas anteriormente. Os
resultados mostraram que o modelo apresentou um bom grau de ajuste aos dados, com cargas
fatoriais satisfatórias e alfas de Cronbach aceitáveis para todas as polaridades. A coleta de
dados ocorreu no início de 2008 em 19 turmas, e a aplicação do instrumento foi feita de
forma coletiva por psicólogos ou estudantes de psicologia treinad os. Todos os procedimentos
seguiram diretrizes éticas, incluindo a obtenção de consentimento informado dos
participantes e de seus responsáveis legais. A análise dos dados foi realizada utilizando o
método path analysis, com o software Mplus 5.2 para a análise fatorial confirmatória e o
software Amos 16 para a análise de caminho. O ajuste dos modelos foi avaliado pelos índices
de ajuste CFI e RMSEA, sendo considerado adequado quando o CFI era maior que 0,90 e o
RMSEA era menor que 0,08.