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Paloma Dias Lotti Garcia

Gramática para preparadores e revisores de


texto - Ibraíma Dafonte Tavares
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Texto da aula

Na videoaula desta semana você viu alguns tópicos de linguagem recorrentes no trabalho de preparação e
revisão de texto. Agora você vai ver outros tantos. A minha expectativa é que, depois destas nove semanas de
curso, você esteja mais bem preparado para enfrentar o desafio de corrigir textos profissionalmente. Quem nunca
trabalhou com isso deve ter percebido que não se trata de empreitada trivial, que é preciso bastante preparo para
se aventurar a mexer no texto de autores e tradutores.
Assim, ficam aqui dois conselhos para quem ainda não começou: estude muito e estude sempre; comece pela
revisão.

ALGUM versus NENHUM

Quando vem antes do substantivo, algum tem sentido positivo.

Vejo alguma luz no fim do túnel.


Tenho algum dinheiro para me manter na cidade.

Quando algum vem depois do substantivo, assume significado negativo, e nesse caso pode ser substituído por
nenhum.

Não vejo luz alguma.


[Equivale a Não vejo nenhuma luz]

Era pessoa sem medo algum.


[Equivale a Era pessoa sem nenhum medo]

Nenhum também pode adquirir o valor afirmativo de qualquer em frases como esta:

Mais do que nenhuma mulher, ela vivia para a família.


Tomou o remédio, mas não sentiu nenhuma melhora.
NENHUM versus NEM UM:

A diferença entre as duas formas está na intensidade da expressão. Nem um é a forma mais forte e equivale a
um só, sequer um.

Não tenho nem um livro.


Não sabia nem uma resposta.

DEBAIXO versus DE BAIXO

Debaixo é um advérbio que significa em posição inferior, sob e também em situação inferior.

Encontrou a bola debaixo da mesa.


Não é mais o supervisor. Agora está debaixo.

De baixo é uma locução cujo sentido é o oposto de de cima.

Olhou-a de baixo para cima.


Veio de baixo e subiu na carreira.
O vestido rasgou-se de baixo a cima.
Saiu de baixo da árvore.

Repare:

Saiu de baixo da árvore MAS Estava debaixo da árvore

DEMAIS versus DE MAIS

Demais é um advérbio de intensidade que significa excessivamente, muitíssimo, além da conta. Ele pode ser
usado junto de verbos e adjetivos.

Ana Paula fala demais.


É cedo demais.
Aqueles irmãos são bons demais.

Demais também é um pronome indefinido que significa os outros, os restantes.


Os demais deputados se recusaram a votar.
Avalie estes professores e dispense os demais.

De mais é uma locução que significa de sobra, a mais. É o oposto da locução de menos.

Não ponha sal de mais na comida.


Há gente no mundo que tem coisas de mais.
O mal do Brasil é termos advogados de mais.

De mais também pode ter o significado de capaz de causar estranheza, anormal.

Não via nada de mais naquele rapaz.

AO ENCONTRO DE versus DE ENCONTRO A

São expressões opostas. Ao encontro de significa em direção a, em favor de.

A mãe foi ao encontro do filho.


Suas ideias vão ao encontro das minhas.

De encontro a significa contra.

Aumentar impostos vai de encontro aos nossos desejos.


Os professores reclamaram, pois a decisão tomada foi de encontro às suas reivindicações.

QUE, QUÊ, POR QUE, PORQUE, PORQUÊ

Que versus Quê:

Você tem fome de quê? Assim mesmo, acentuado. Se lembrarmos a regra, não haverá dúvida: acentuam-se os
monossílabos tônicos terminados em a, e, o, seguidos ou não de s. Na oração acima, o pronome que está
acentuado porque é tônico.
Preparadores e revisores costumam explicar esse acento dizendo que ele existe porque o pronome está no fim
da frase, mas não é exatamente essa a razão. Na origem um vocábulo átono, o que torna-se tônico quando está
no final de um grupo entonacional. No exemplo acima ele está no fim de um grupo entonacional e,
coincidentemente, também no fim da oração. Já no exemplo abaixo, ele está no fim do grupo entonacional
(também fim de uma oração), embora não esteja no fim do período (ou no fim da frase).
Ficou pensativo, abriu os olhos imaginando não sei o quê, fez uma careta e saiu.

Também se usa o acento quando o pronome que é substantivo, o que acontece quando ele tem o sentido de
alguma coisa, que coisa. Sendo um substantivo, pode ser precedido de artigos.

Ele tem um quê de mistério.


Notei em seus olhos um quê de dúvida.

Quando átono – ou seja, quando não é pronunciado com intensidade –, não deve ser acentuado.

O que você deseja?


Sei bem que razão ele tinha para tomar aquela decisão.

que, porque, porquê:

– Por que foi? – Porque quis.


– Assim, sem mais? – Sem mais nem porquê.

Esqueça a simplificação de que se escreve por que (em duas palavras) na pergunta e porque (numa só palavra)
nas respostas. O assunto comporta muito mais sutilezas. Veja a tabela abaixo.

Quando se usa Exemplos

por que = por que razão Os neurocientistas começam a entender por


que certas crianças não conseguem ler.
= por qual razão

São terríveis as crises por que o país passou.


= pelo qual/pelos quais
= pela qual/pelas quais

porque = explicação ou causa Isso ocorre porque sua linguagem corporal


contradiz o que ele fala.

por quê = no fim de um grupo Por quê?


entonacional
Ninguém sabe por quê.

porquê = substantivo que significa Todos o acusavam, e ninguém dizia o porquê.


motivo, causa
Não entendemos o porquê de sua demissão.
OS SUBSTANTIVOS COMPOSTOS

A formação dos substantivos compostos não é um assunto dos mais simples, e infelizmente o último acordo
ortográfico só fez confundir um pouco mais as coisas. A maior dificuldade está em distinguir o que diferencia um
composto de uma locução substantiva. Antes do acordo, havia por exemplo esta diferença de grafia:

Dia-a-dia (substantivo)
Dia a dia (locução)

Então, nós escrevíamos:

Meu dia-a-dia é muito cansativo.


Dia a dia ela construía sua poupança.

Atualmente, pelas regras do acordo (base XV), não há mais diferença de grafia entre essas expressões, e elas
devem ser escritas sem hífen. Na verdade, substantivos como pé-de-moleque, testa-de-ferro, mão-de-obra, etc.
passaram a ser considerados locuções e perderam os hifens. Restaram poucas exceções, como cor-de-rosa,
água-de-colônia, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé-de-meia. Trata-se de uma lógica muitas vezes difícil de
entender. Peguemos, por exemplo, o nome de dois sinais de pontuação: ponto-final e ponto e vírgula. Pela nova
regra, o primeiro tem hífen (é substantivo composto) e o segundo, não (é locução). Mas pelo menos temos o
consolo de saber que dois-pontos leva hífen!
Entre os compostos ligados por preposição, mantêm os hifens aqueles que designam espécies botânicas e
zoológicas, como arara-de-barriga-amarela e maria-sem-vergonha. Embora essa regra pareça bastante clara, nem
por isso deixou de dar confusão a grafia da palavra castanha-de-caju. O Houaiss registrava com hífen e o Aurélio
dizia que o composto havia perdido os hifens por causa do novo acordo. Mas não é espécie botânica? Pois
durante algum tempo prevaleceu entre os revisores o entendimento de que não é espécie botânica, já que a
espécie botânica é o cajueiro; na verdade, essa castanha não seria nem sequer o fruto do cajueiro, impedindo
assim que fosse hifenizada como o são laranja-lima e banana-prata, frutos da bananeira e da laranjeira. Por essa
interpretação, usar hifens em castanha-de-caju seria o mesmo que usar hifens em semente-de-abóbora, por
exemplo.
Mas eis que uma pesquisa mais apurada revelou que o verdadeiro fruto do cajueiro é a castanha, sendo a
parte carnosa apenas a sua sustentação. Ufa! Então está certo o Houaiss: castanha-de-caju. Como, aliás, explicou
a Academia Brasileira de Letras, que publica o VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, o livro que
determina a grafia de todas as palavras do português do Brasil. Pena que nesse meio-tempo uma porção de livros
de culinária tenha sido impressa com a presença de castanhas de caju. Pena também que o VOLP continue não
registrando esse vocábulo.
A história da castanha-de-caju é uma das muitas que ilustram a dificuldade diária de preparadores e
revisores de texto com a grafia das palavras compostas. É preciso ter sempre à mão os dicionários e o VOLP, as
gramáticas e os dicionários de dificuldades, mas saiba que muitas vezes eles não vão resolver o seu problema e
você terá de encontrar sozinho uma solução, pois os falantes/autores estão sempre inventando novidades.

A flexão dos substantivos compostos

Quando os compostos são aglutinados, o plural é o mesmo de um substantivo simples.

aguardente – aguardentes
malmequer – malmequeres
lobisomem – lobisomens
pontapé – pontapés

Quando os termos que constituem o substantivo composto são ligados por hífen, podem variar todos os
elementos ou apenas um deles. Se o primeiro elemento for um verbo, só o segundo elemento é flexionado.

guarda-roupa – guarda-roupas
beija-flor – beija-flores
furta-cor – furta-cores
porta-bandeira – porta-bandeiras

Da mesma maneira, nos compostos com grão, grã e bel, só o segundo elemento varia.

grão-mestre – grão-mestres
grã-cruz – grã-cruzes
bel-prazer – bel-prazeres

Quando os termos que constituem o substantivo composto são dois substantivos, um substantivo + um
adjetivo, ou um adjetivo + um substantivo, em geral os dois termos variam.

carta-bilhete – cartas-bilhetes
amor-perfeito – amores-perfeitos
tenente-coronel – tenentes-coronéis
gentil-homem – gentis-homens
guarda-civil – guardas-civis
segunda-feira – segundas-feiras

Entretanto, quando o composto for constituído de substantivo + substantivo que funciona como
determinante do primeiro, só o primeiro varia. Os gramáticos Celso Cunha e Evanildo Bechara pensam assim, mas
o VOLP e diversos dicionários entendem que os dois elementos podem variar. Assim, podemos aceitar as
seguintes flexões:
peixe-boi – peixes-boi
peixe-boi – peixes-bois
salário-família – salários-família
salário-família – salários-famílias
navio-escola – navios-escola
navio-escola – navios-escolas

Obs.: Se o segundo substantivo for uma cor “invariável”, só o primeiro elemento é flexionado:

banana-prata – bananas-prata
manga-rosa - mangas-rosa

Nos compostos com preposição ou nas locuções, só o primeiro elemento varia.

castanha-de-caju – castanhas-de-caju
joão-de-barro – joões-de-barro
chapéu de sol – chapéus de sol
mula sem cabeça – mulas sem cabeça

MAS, se o segundo elemento não for uma preposição, varia apenas o terceiro elemento.

bem-te-vi – bem-te-vis
bem-me-quer – bem-me-queres

Quando o substantivo composto é constituído de duas formas verbais, podem variar os dois elementos ou
apenas o segundo.

corre-corre – corres-corres ou corre-corres


gira-gira – giras-giras ou gira-giras
ruge-ruge – ruges-ruges ou ruge-ruges
pisca-pisca – piscas-piscas ou pisca-piscas

No substantivos compostos onomatopeicos, flexiona-se apenas o segundo elemento.

reco-reco – reco-recos
tique-taque – tique-taques
pingue-pongue – pingue-pongues

Essas são as regras da gramática normativa, mas elas comportam exceções. Consulte sempre um
dicionário.

O PLURAL DAS CORES

Se a cor em questão for um adjetivo composto, seu plural seguirá a regra geral dos adjetivos compostos:
flexiona-se apenas o último elemento.

Saias verde-escuras
Casas amarelo-claras
Céus azul-escuros

Mas, caso o segundo elemento do adjetivo composto seja um substantivo, ele não varia.

Bolsas amarelo-ouro.
Sapatos verde-limão.

Se a cor em questão for um substantivo composto, flexionam-se todos os elementos.

Os verdes-escuros se misturavam aos azuis-claros.

Alguns substantivos simples também designam cores, como laranja, rosa, violeta, prata, ouro. Nesse caso,
eles também não variam.

Os muros violeta.
As poltronas rosa.
Os vestidos laranja.
As calças cinza.
Os ternos vinho.
As paredes limão.

Essa regra vale também para o ultravioleta. Assim, ao falar dos raios solares, diremos:

Raios infravermelhos

MAS
Raios ultravioleta

E o que fazer diante de um “vermelho acobreado” ou um “vermelho vibrante”? Existe algum grau de
subjetividade nessas designações, mas, grosso modo, pode-se dizer que acobreado indica uma tonalidade e que
vibrante indica uma qualidade. Assim, recomenda-se:

Vermelho-acobreado
Vermelho vibrante
Azul-acinzentado
Azul luminoso
Verde-amarelado
Verde brilhante

OS PRONOMES RELATIVOS

Os pronomes relativos são aqueles que fazem referência a um termo anterior. Eles podem exercer diversas
funções sintáticas, e também introduzem as orações subordinadas adjetivas. Com os pronomes relativos evitamos
a repetição dos termos nas orações.

Exemplos:

Orações simples: Este é o museu. Eu visitei o museu.


Com pronome relativo: Este é o museu que eu visitei.

Orações simples: Eu comprei a blusa. A blusa é amarela.


Com pronome relativo: Eu comprei a blusa que é amarela.

Orações simples: A casa foi assaltada. Eu morava na casa.


Com pronome relativo: A casa onde eu morava foi assaltada.

Orações simples: O homem era muito generoso. Ela se casou com o homem.
Com pronome relativo: O homem com quem ela se casou era muito generoso.

Orações simples: Nunca se deu bem com o irmão. Sentia ciúme do irmão.
Com pronome relativo: Nunca se deu bem com o irmão, de quem sentia ciúme.

Os pronomes relativos
Variáveis Invariáveis
Masculino Feminino
o qual os quais a qual as quais que
cujo cujos cuja cujas quem
quanto quantos quantas onde

No dia a dia da preparação e da revisão de texto, podemos constatar que há muitos erros no emprego
desses pronomes – em especial em textos traduzidos –, seja porque falta uma preposição, seja porque a escolha
do pronome é equivocada, seja porque a frase está truncada a ponto de ser sintaticamente incompreensível. Esses
erros também são muito comuns na internet e aparecem até mesmo nos grandes portais de notícias.

Lugares em SP que todos deveriam ir pelo menos uma vez.

Essa era uma chamada de capa de um desses portais. Ela apresenta um erro muito comum na fala dos
brasileiros que está se infiltrando na escrita. O problema dessa construção é a ausência da preposição a, que é
regida pelo verbo ir. Como nós sempre vamos a algum lugar e a preposição deve ser mantida mesmo quando há
um pronome relativo na frase, o correto seria:

Lugares em SP a que/aos quais todos deveriam ir pelo menos uma vez.

Também são comuns as seguintes construções:

O restaurante que eu comi ontem era muito bom.


Aquele ator que eu não sei o nome ganhou o Oscar.

Por que estão erradas essas construções? Porque estabelecem relações equivocadas entre os termos das
orações. No primeiro exemplo, com certeza o falante se referia ao restaurante onde comeu. Mas o que ele disse foi
que comeu o restaurante. No segundo exemplo, há uma relação de posse, que só pode ser expressa pelo relativo
cujo. O falante não lembra o nome do ator. Portanto, em bom português normativo, aquele ator cujo nome não sei.
Há contorções ainda maiores, como estes exemplos apresentados pelo professor Evanildo Bechara:

O escritor de que todos conhecemos o livro...


As pessoas de quem reconheceis os privilégios...

Para corrigir as duas sentenças acima, basta usar cujo, o relativo que indica posse, parentesco, qualidade,
condição, etc. E elas ficariam assim:

O escritor cujo livro conhecemos...


As pessoas cujos privilégios reconheceis...

Outro erro muito comum aparece no emprego do relativo onde. Este é um pronome para indicar um lugar,
um espaço físico, mas cada vez mais vemos construções como estas, erradas:

É um momento maravilhoso, onde o garoto ainda está descobrindo a vida.


Trata-se de um enredo sensacional, onde o suspense se mantém até o fim.
Espero por esse tempo onde as coisas vão se esclarecer.
Em todos os casos acima, onde deve ser substituído por em que ou no qual, pois momento, enredo e
tempo – os elementos aos quais o pronome relativo se refere – não podem ser caracterizados como um espaço
físico.

Onde x Aonde

No português moderno, os gramáticos procuram estabelecer uma diferença entre onde (o lugar em que)
e aonde (o lugar a que). E nós devemos respeitar essa abordagem no nosso trabalho. Porém, é bom saber que
essa diferença não é respeitada com muito rigor nos clássicos da nossa língua.
Sobre esse assunto, o professor Evanildo Bechara diz que “Esta lição da gramática tende a ser cada vez
mais respeitada na língua escrita contemporânea, embora não sejam poucos os exemplos em contrário, entre
escritores brasileiros e portugueses”. Domingos Paschoal Cegalla afirma que “A distinção entre onde e aonde,
que se firmou na língua culta atual, nem sempre foi respeitada pelos escritores clássicos”. Celso Cunha e Lindley
Cintra oferecem alguns exemplos:

Vela ao entrares no porto


Aonde o gigante está!
(Fagundes Varela)

Mas aonde te vais agora,


Onde vais, esposo meu?
(Machado de Assis)

Por fim, um lembrete sobre a capacidade do relativo que de causar ambiguidade quando há mais de um
antecedente ao qual ele possa se referir.

Visitamos a fábrica de pneus da cidade que foi fundada há 95 anos.

– E se os russos atacassem agora? – perguntou Judith Exner, uma das incontáveis amantes de Kennedy,
que mantinha simultaneamente um romance com o chefão mafioso Sam Giancana.

No primeiro exemplo acima, é difícil saber se quem tem 95 anos é a fábrica de pneus ou a cidade. No
segundo exemplo, podemos ficar na dúvida se quem mantinha um caso com o chefão mafioso era o Kennedy ou a
Judith Exner. Como corrigir?

Na cidade, visitamos a fábrica de pneus que foi fundada há 95 anos.


Visitamos a fábrica de pneus da cidade de 95 anos.
Na cidade de 95 anos, visitamos a fábrica de pneus.

– E se os russos atacassem agora? – perguntou Judith Exner, que era uma das incontáveis amantes de
Kennedy e ao mesmo tempo mantinha um romance com o chefão mafioso Sam Giancana.

CHEGO OU CHEGADO?
Como vocês devem lembrar, há verbos (não muitos) que têm dois particípios. O regular, terminado em -ado
ou -ido. E o irregular. São os verbos abundantes. Veja uma pequena lista deles:

aceitar – aceitado e aceito


acender – acendido e aceso
benzer - benzido e bento
concluir - concluído e concluso
eleger - elegido e eleito
emergir - emergido e emerso
entregar - entregado e entregue
enxugar - enxugado e enxuto
expelir - expelido e expulso
expressar - expressado e expresso
expulsar - expulsado e expulso
extinguir - extinguido e extinto
findar - findado e findo
frigir - frigido e frito
imergir - imergido e imerso
imprimir - imprimido e impresso
isentar - isentado e isento
limpar - limpado e limpo
matar - matado e morto
morrer - morrido e morto
omitir - omitido e omisso
pagar – pagado e pago
prender - prendido e preso
romper - rompido e roto
salvar – salvado e salvo
segurar - segurado e seguro
soltar – soltado e solto
submergir - submergido e submerso
suprimir - suprimido e supresso
suspender - suspendido e suspenso
tingir - tingido e tinto

A gramática normativa mandar usar as formas regulares com os verbos auxiliares ter e haver e as formas
irregulares com os verbos auxiliares ser e estar.

Eu tinha soltado o cinto cinco minutos antes.


O cinto estava solto.

O barco havia submergido sem deixar rastros.


Anos mais tarde, encontraram o barco submerso.
A mãe tinha morrido.
A mãe estava morta.

Com os verbos que não são abundantes não há dificuldade, pois só há um particípio.

O sol tinha fustigado a embarcação.


A embarcação foi fustigada pelas intempéries.

Ele havia feito o pedido no mês anterior.


Sou feita de coragem.

Tinham procurado uma casa na Inglaterra.


Ele é procurado pela polícia.

Um caso interessante aconteceu com o verbo pegar. Ele não é um verbo abundante em sua origem, mas
os brasileiros criaram para ele o particípio irregular pego. E a novidade pegou de tal maneira que agora o certo
parece errado. Quem há de achar correta uma construção como Fulano foi pegado com a boca na botija? Mas
atenção: chego é uma opção que ainda não existe na linguagem culta padrão. Jamais deixe passar construções
como Ele tinha chego à conclusão de que a língua portuguesa é mesmo difícil. Por enquanto, pelo menos.

DE OLHO NO TEXTO

O material de trabalho

A despeito de todos os recursos que a internet oferece, preparadores e revisores de texto precisam
construir uma boa biblioteca de obras de referência, pois elas serão consultadas todos os dias. O principal é ter
bons dicionários da língua portuguesa. Os mais recomendados são o Dicionário Houaiss e o Dicionário Aurélio.
Adquira a versão em papel ou a versão digital dos dois, se possível. Na internet encontram-se abertos o Dicionário
Caldas Aulete (aulete.com.br) e o Michaelis (michaelis.uol.com.br). Não é preciso comprar o VOLP, pois o banco
de dados está aberto no site da Academia Brasileira de Letras (academia.org.br).
São necessários também dicionários de regência verbal e nominal. As melhores opções são os de Celso
Luft (Dicionário prático de regência verbal e Dicionário prático de regência nominal).
Ainda na seara dos dicionários, como o mercado editorial brasileiro trabalha muito com obras estrangeiras,
é bom ter um dicionário bilíngue de inglês, um de francês e um de espanhol, pelo menos. Não gaste dinheiro com
versões escolares. O melhor bilíngue inglês para trabalhos profissionais é o Webster’s Houaiss – procure-o em
sebos. A Editora Porto, de Portugal, tem bons dicionários bilíngues.
Por fim, preparadores e revisores de texto precisam de gramáticas e dicionários de dificuldades.
Novamente, fuja de versões escolares. A gramática mais didática é a de Celso Cunha e Lyndley Cintra (Nova
gramática do português contemporâneo). A Moderna gramática portuguesa, de Evanildo Bechara, traz muitas
contribuições da linguística e é muito atual, embora tenha uma diagramação menos amigável. Há também a
Gramática metódica da língua portuguesa, do Napoleão Mendes de Almeida. Ao consultá-la, porém, é preciso ter
em mente que o Napoleão é um purista dos mais radicais. Por fim, para quem gosta de estudar o idioma,
recomendo a Gramática Houaiss da língua portuguesa, trabalho primoroso do professor José Carlos de Azeredo. É
preciso comprar todas? Sim, com o tempo é bom comprar todas.
São também boas aquisições: ABC da língua culta, de Celso Luft; Novo dicionário de dúvidas da língua
portuguesa, de Evanildo Bechara; e Dicionário de dificuldades da língua portuguesa, de Domingos Paschoal
Cegalla.
Chegamos então ao fim da aula e também ao fim do curso. Você tem ainda um material complementar para
analisar e exercícios para fazer. Foi um prazer tê-lo(a) neste curso. Espero que ele tenha sido proveitoso e que de
fato contribua para a sua jornada profissional. Desejo a você muita sorte e muitas alegrias nesse caminho.

Ibraíma Dafonte Tavares

Evanildo Bechara, Moderna gramática portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2005, p. 193.

Como pronome relativo, quanto é sempre antecedido dos pronomes indefinidos tudo, todos e todas, que podem
ser omitidos.

Evanildo Bechara, Moderna gramática portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2005, p. 486.

Evanildo Bechara, Novo dicionário de dúvidas da língua portuguesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira/Lucerna, 2016,
p. 208.

Domingos Paschoal Cegalla, Dicionário de dificuldades da língua portuguesa, Rio de Janeiro, Lexicon, 2011, p. 47.

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INÍCIO - Utilização do Ambiente Virtual de Aprendi...
AULA 01 - Texto, contexto e trabalho editorial
AULA 02 - Gramática, coesão e colocação
AULA 03 - No princípio era o verbo
AULA 04 - Concordância verbal e concordância nominal
AULA 05 - Regência verbal
AULA 06 - Eu, tu, eles e a colocação dos pronomes ...
AULA 07 - Do artigo à crase
AULA 08 - A vírgula
AULA 09 - Outras questões de linguagem
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