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disto, quando vejo pessoas julgando que somente seu grupo possui o
verdadeiro espírito batista e age para impor o que julga ortodoxia aos
demais. A busca de clones não é compatível com o caráter batista. Aliás, a
riqueza da Igreja de Cristo está na sua diversidade. Isto se verifica até
mesmo na chamada dos doze, feita por Jesus. Eles eram pessoas
diferentes. Pescadores, cobradores de impostos, um possível guerrilheiro
(se aceitarmos a tese de Oscar Cullman de que Judas Iscariotes quer dizer
“Judas, o homem do punhal”). Um colaboracionista com Roma, o poder
dominante, e um revolucionário, contra o poder dominante, portanto.
Mas ambos chamados e ambos dentro da perspectiva de Jesus.
Esta liberdade de opinião permite que a CBB, por exemplo, abrigue em
seu meio amilenistas, pré-milenistas, pré-milenistas dispensacionalistas e
pós-milenistas. Neste aspecto, ela guardou o princípio batista. Há outros
grupos batistas que exigem uma postura específica. Não é o nosso caso.
Abrigamos diversas tendências porque este ponto não é fundamental,
mas secundário.
É preciso também deixar algo claro aqui. Liberdade de expressão não
significa uma babel teológica, mas sim que onde há pontos inegociáveis
não há nada para se negociar. E que onde há pontos não definidos,
mantém-se uma postura de respeito. Mas ela é uma conseqüencia
inevitável do fato de que não temos um papa ou alguém “infalível”, que
todos temos o Espírito Santo, que somos todos falíveis, também. É um
desdobramento do sacerdócio universal de todos os salvos. Se todos
temos acesso a Deus e se todos temos o Espírito Santo, nenhum de nós é
mais conectado a Deus do que os demais, para falar em seu nome aos
demais. Não temos gurus entre nós. Nem papas. O autoritarismo
teológico é uma agressão em si, pelo que significa, e é, também, uma
agressão à nossa história.
É óbvio que isto faz com que surjam muitas divergências. Aliás, o
capítulo X do livro de Faircloth e Torbert, Esboço da História dos
Baptistas, se intitula “Livres Para Divergir”. É um capítulo dedicado às
divergências históricas entre os batistas, em seus vários grupos. Mas como
alguém já disse, um bom princípio a se observar aqui é: “Nas pequenas
coisas, diversidade; nas questões capitais, unidade; em todas as coisas,
caridade”. Divergências no cristianismo aparecem cedo, como vemos em
Atos 15, e nas cartas de Paulo, todas elas escritas para resolver problemas
são claros: “quem crer e for batizado” (Mc 16.16) e “Que impede que eu
seja batizado? É lícito se crês..” (At 8.36-37).
A adoção de uma determinada Igreja pelo poder civil levou a um ingresso
na Igreja, pelo batismo, de uma quantidade enorme de pessoas sem
nenhuma convicção religiosa. Desde que Constantino adotou o
cristianismo isto começou a acontecer. A Igreja se tornou morada de
incrédulos e não de regenerados. Mas devidamente submetidos a um
ritual chamado batismo. Este é um problema quando as linhas entre o
poder civil e a Igreja são tênues ou são apagadas.
A concepção mágica do batismo também produziu muitos membros da
Igreja incrédulos. Temos informes da crise teológica de alguns jesuítas
que vieram como missionários para o Brasil. Acreditavam que batizando o
índio, este se converteria, pois o batismo tinha um poder sacramental,
mágico-mítico. Mas batizava-se o índio e este continuava antropófago e
idólatra. O batismo não regenera. Apenas testemunha de uma
regeneração que deve ter sucedido. O batismo consciente de adultos
impede isto e faz com que a Igreja seja composta de convertidos. Se hoje,
batizando apenas adultos, temos uma quantidade enorme de gente
encostada em nosso meio, imagine-se batizando-se bebês recém-
nascidos e considerando-os membros da Igreja!
Esta insistência no batismo somente de crentes fez com que o rótulo de
“anabatistas” fosse aplicado a muita gente que nada em comum tinha
com os anabatistas. E algumas pessoas o aplicam aos primeiros batistas.
Mas este era um termo genérico, como é hoje o termo “evangélico” que
para o nossa “bem informada” mídia engloba todo mundo que não seja
católico. Mas os anabatistas remontam a 1490, com Conrado Grebel tido
como seu fundador, sendo ele um ex-cooperador de Zuínglio. Discordou
de Zuínglio por não aceitar o batismo infantil. E com eles, os anabatistas,
os batistas tinham em comum o batismo apenas de regenerados, uma
Igreja composta apenas de regenerados, a supremacia das Escrituras e a
liberdade civil e religiosa. Mas discordavam deles no seu pacifismo radical,
sua omissão como cidadãos (alguns anabatistas viam o Estado como
demoníaco) e sua proibição de juramentos, inclusive em tribunais, pontos
de vista teológicos sobre encarnação e hipnose da alma e a necessidade
da sucessão apostólica para o batismo. Mas voltemos à visão sobre o
batismo consciente de crentes.
mesmo se dá. Devolve-se. Não é nosso, é de Deus e veio à nossa mão por
algum momento. Lutero adotou a prática da consubstanciação. Segundo
ele, o pão e o vinho não se transformam no corpo e sangue de Cristo, mas
Cristo está com a substância. Zuínglio defendia a presença espiritual de
Cristo quando da celebração da ceia. Os batistas não aceitamos nenhuma
destas posições. Entendemos ser um memorial. Baseamo-nos nas palavras
de Jesus: “fazei isto em memória de mim”. Batismo e ceia não conferem
graças, mas testemunham de nossa fé. Por isso que não chamamos a ceia
de “santa ceia”. Não chamamos o batismo de “santo batismo”. É que o
valor da cerimônia não está na sua possível santidade, mas na sua
significação.
Dirá alguém que está farto de saber isto. Mas é preciso que reafirmemos
nossa posição anti-sacramentalista, porque vemos hoje o regresso desta
prática, devidamente metamorfoseada pelo neopentecostalismo, no meio
das igrejas evangélicas. O cenário evangélico atual apresenta um cenário
onde elementos mágicos e sagrados se fazem presentes. Tenho visto
igrejas distribuindo sal do mar Morto para “abrir caminho” (igreja, sim
senhor!), azeite declarado como vindo do monte das Oliveiras sendo
usado para ungir as pessoas (há alguma usina de beneficiamento de
azeitonas lá?) e até crucifixos feitos da cruz de Jesus (pastores evangélicos,
sim!). Vai se generalizando a prática de beber água de um copo
devidamente benzido pela oração do pastor. Algo tão supersticioso como
a água benta do padre. A alegação que ouvi, de um crente batista, é que
ele se sentiu bem depois de beber daquela água. É a figura sacramental: o
sentimentalismo e a sensação ocupam o lugar do ensino bíblico. Há um
fetichismo em nosso meio com terra santa, areia santa, água santa, sal
santo, folha de oliveira santa, etc. No cristianismo as pessoas são santas,
mas as coisas não. No cristianismo não há lugares e objetos santos. Nem
mesmo o prédio onde a igreja se reúne é santuário, no rigor do termo. O
prédio onde a Igreja se reúne e que alguns chamam, na linguagem do
Antigo Testamento, de “santuário”, não é santuário nem morada de
Deus. É salão de cultos. O Eterno não mora em prédios, mas em pessoas.
Elas é que são o santuário (At 17.24, 1Co 3.16, 6.19 e Hb 3.6). Isto não é
dessacralizar o evangelho, mas dar-lhe uma dimensão muito mais
profunda. Colocando em palavras mais simples, esta compreensão faz
surgir aquilo que Tillich declara ser o reconhecimento do universo como
templo de adoração. Aonde quer que vamos, aí estará o lugar de culto.
uma linha vermelha com Deus. Ora, se há algo que aprendemos sobre a
liderança nos dois Testamentos, é que o Antigo elitiza a liderança e
o Novo a democratiza. Para o neopentecostal, o Novo Testamento, a
mensagem da graça e a eclesiologia simples, despida de objetos, palavras
e gestual sagrados não são interessantes. Assim, ele se refugia no
Antigo Testamento. Por isso há igrejas evangélicas com castiçais de sete
braços e estrelas de Davi no lugar da cruz, outras desfraldando a bandeira
de Israel (e envergonhando-se da brasileira), guardando festas judaicas, e
até mesmo tendo incensários em seus salões de cultos. Há evangélicos
que parecem frustrados por não serem judeus. A liturgia pomposa do
judaísmo é mais atraente e permite mais manobra ao líder que se põe
acima dos outros. E com isso, os membros da igreja são os ajudantes do
obreiro.
Em Portugal, um diácono, conversando comigo, queixou-se da
mentalidade católica infiltrada nas igrejas batistas. O pastor era um
sacerdote e os diáconos, seus coroinhas. No meio neopentecstal, parece
que o pastor é um executivo espiritual e os membros, os pagadores de
contas. Lutero tentou apagar o conceito católico de que a Igreja era a
liderança, o clero. Para ele, igreja era o povo e não a instituição,
representado por seu clero. Ele não gostava da palavra kirche para igreja,
porque enfatizava a instituição. Preferia gemeinde, que dá a idéia de
comunidade. Ele queria a ênfase no povo. O povo é a Igreja e o povo é
sacerdote.
Isto significa que a obra é de todos e que não podemos ter gurus
iluminados em nosso meio. Não há pessoas credenciadas para terem mais
acesso a Deus, em detrimento de outras. Não há sangue azul espiritual
nem uma plebe espiritual. Deus trata seus filhos por igual, por causa da
pessoa de Jesus Cristo. Deus chamou Abraão de “meu amigo”. Mas Jesus
disse que seremos seus amigos se fizermos o que ele nos manda. Não
restringiu, mas ampliou. (Jo.15:14-16)
Não temos entre nós uma pessoa que tem revelações especiais de Deus. A
revelação de Deus está na sua Palavra, a Bíblia. Qualquer crente sincero,
iluminado pelo Espírito Santo, pode compreender seus ensinos. Pode não
penetrar nas sutilezas teológicas ou textuais originais, mas compreende a
essência.
não compete ao estado criar órgãos para as igrejas. Aonde isto nos
levaria? O vereador retirou seu projeto.
Isto também nos é uma advertência: somos cidadãos como todos os
demais e não devemos esperar tratamento especial. Inquieta-me ver
igrejas batistas pedindo ônibus à prefeituras e órgãos públicos para
fazerem piqueniques. Se não têm dinheiro para alugar um ônibus, que não
andem de ônibus! Vão a pé ou não façam piquenique! Se nos incomoda
ver dinheiro público sendo usado para levantar estátuas a Iemanjá em
cidades da orla marítima, deveria nos incomodar também o uso de
dinheiro público para monumentos à Bíblia. O poder civil não pode
patrocinar nenhuma religião! Nem a nossa!
Nunca fomos subversivos. Mas não podemos ser coniventes com um
Estado desumano, corrupto, desvalorizador do homem. Nosso norte são
os valores da Palavra de Deus. Olhamos para eles e seguimos nossa
jornada. O que se desvia deles, isso recriminamos. Não é se nos beneficia,
mas se é um princípio bíblico.
Pagamos impostos, servimos ao exército, damos nossa parcela para este
país. Mas não o sacralizamos nem o deificamos. O culto ao Estado
produziu a aberração chamada “Cristãos Alemães”, que queria uma igreja
germânica, de raça pura. Mas não admitimos a ingerência do Estado em
nossa vida. Nem transigimos nossos padrões por causa do Estado. As casas
de prostituição pagam taxas e são estabelecidas legalmente, mas a
prostituição é pecado. O que é legal nem sempre é moral. O casamento de
homossexuais pode ser tolerado civilmente, mas é pecado. Uma igreja
batista deve dizer como Lutero: que sua consciência é cativa da Palavra de
Deus.
A identidade batista parte daqui: nossas igrejas não se cevam às custas do
Estado, não lhe pedem dinheiro nem benesses, não o apóiam em busca de
favores. Eventualmente, podemos ter a mesma linha de um determinado
político ou de um partido. Será o que Francis Schaeffer chama de “co-
beligerância”. Mas nunca seremos subordinados nem sustentadores do
poder civil.
CONCLUSÃO
Terminei a listagem e comentários dos princípios batistas que me
parecem os pilares de nossa postura. Podem ser óbvios, mas assumi-los
Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com
Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
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