Você está na página 1de 23

Fundada em 26 de agosto de 1956

CNPJ: 23.513.864/0001-02

SOU BATISTA, TENHO UMA IDENTIDADE


Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Sou batista, tenho uma identidade é a primeira palestra em nosso
encontro. É bastante oportuno começar por aqui. O conceito de
identidade evangélica e batista anda muito difuso. Para a mídia secular,
sempre desinformada e estabanada, evangélico é alguém que não é
católico. Nos anos setentas havia um jogador de futebol do Botafogo, ruim
de bola toda vida, mas que chegou até a Seleção do Zagallo, um tal de
Chiquinho Pastor. Era membro da Cultura Racional, movimento de fundo
esotérico que nem cristão é, mas logo lhe pespegaram o rótulo de pastor.
Em Manaus, nos cinco anos em que lá passei, um quarteirão antes da PIB
de Manaus havia a PIB da Restauração, movimento ultrapentecostal, que
nada tinha de batista, mas que guardava o nosso nome. E muita gente
confundia as duas igrejas.
Vamos tratar da identidade batista. Mas surge uma questão:
“que batista?”. O que este nome nos sugere? Conheci no Amazonas os
“Batistas da Fé”. Gente séria, muito trabalhadora, até mesmo bem
preparada teologicamente, mas que não admitia liderança feminina nem
mesmo estimulava que mulheres orassem em público. Os batistas
canadenses tem práticas diferentes das nossas. A recomendação ao
Seminário é feita pela Convenção e não pela igreja local. E é a Convenção
que consagra ao ministério, também. Em Cuba, as mulheres pastoras são
uma realidade há mais de 20 anos. Alguns batistas chineses, até mesmo
por sua cultura centrada nos anciãos, são de tendência presbiteriana,
sendo a congregação local chamada apenas para decidir casos especiais.
Temos vários grupos batistas, cada um com particularidades que não
pertencem a outros, e alguns deles, muitas vezes, não considerando os
outros como batistas por causas destas particularidades. Por causa do
varejo, rejeitam o atacado.
Em Roraima, os batistas regulares iniciaram o trabalho batista no
tempo em que a região ainda era Território Federal do Rio Branco. Eles
têm a Igreja Batista Central, que é a pioneira. Chegamos dez anos depois e
abrimos a Primeira Igreja Batista, quando eles já tinham duas. Nós nos
consideramos batistas e se há trabalho de outro grupo e não o nosso, em
uma cidade, consideramos o lugar sem trabalho batista. O que

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

caracteriza, então, a identidade batista? Aqui mesmo, entre nós, teremos


muitas práticas eclesiológicas diferentes. Alguns serão a favor da ceia
restrita e outros não. Alguns rebatizarão pessoas de outros grupos
imersionistas e outros não. Os modelos eclesiológicos são cada vez mais
numerosos. O que é identidade batista, então?
1. REMONTANDO À ORIGEM
Os batistas existiam antes de nós. Nós, que aqui estamos, não fundamos o
movimento. Os batistas também já existiam antes da Convenção Batista
Brasileira. Nossa linha deve ser esta: o que direcionou os primeiros
batistas? Por que eles surgiram? Vamos examinar os pontos principais
balizadores dos batistas. Eles serão nossa linha por onde andar. E
mostrarão alguma coisa de nossa identidade. Pelo que pude examinar de
nossa história são oito os pontos principais, dentre vários. São eles: a
autoridade da Escrituras, a liberdade de opinião, o batismo consciente
de crentes, a segurança eterna dos salvos, batismo e ceia como
ordenanças e não sacramentos, o sacerdócio universal de todos os
crentes, a autonomia da igreja local com governo congregacional, a
separação entre Igreja e Estado.
Estas características são encontradas no início de nossa história, no início
do século XVII, como vistas na insatisfação de muitos cristãos da época
com a Igreja Anglicana. Nesta encontravam-se dois grupos mais
numerosos, dentre outros, os puritanos e os separatistas. Foi daqui, dos
separatistas, que surgiram os primeiros líderes batistas, John Smyth e
Thomas Helwys. Isto é história. Tentar ajustar os batistas aos valdenses,
albigenses, pretrobrussianos, cátaros, anabatistas e outros insatisfeitos
com a Igreja Romana, ao longo da história, é perigoso. É mais romance
que história. E uma tentativa de dourar a história para tornar nosso
passado mais remoto e comovente não é honestidade intelectual. Nós não
precisamos disso. A veracidade da doutrina batista não depende de
identificação com a igreja de Jerusalém. Depende de sua confrontação
com o Novo Testamento. Disse-me o Pr. Irland Pereira de Azevedo que,
conversando com um cônego católico que fizera seu doutorado em
História Eclesiástica, em Roma, este lhe disse que tendo examinado os
vários grupos evangélicos viu que os batistas eram os mais próximos ao
Novo Testamento. Um belo testemunho de fora. Se bem que
particularmente, acho que as duas primeiras igrejas, a de Jerusalém e a de

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

Antioquia, eram batistas. Só haviam duas e já estavam com problemas


doutrinários e brigando entre si. Só podiam ser batistas. kkkk
Alguém achará que estes pontos são genéricos. Posso responder que o
ensino de Jesus e a Bíblia são genéricos, a ponto de permitir que grupos
como Testemunhas de Jeová e Mórmons se digam cristãos. Nós é que
particularizamos e criamos minúcias. Mas estes pontos são nossas
características maiores e deles derivam algumas posturas doutrinárias. A
observância ou não destes pontos é responsável por erros que aparecem
com roupagem diferente em nosso tempo. Eles se ampliam em outros
aspectos. Vamos considerá-los, portanto.
2. A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS
Todo grupo herético diz crer na Bíblia como Palavra de Deus e como única
regra de fé e prática. Depois, estabelece suas normas com base nas suas
tradições eclesiásticas ou visão de fundadores ou líderes mais
proeminentes (ou mais falantes, com domínio de discussão).
Neste ponto seguimos o princípio de Lutero de Sola Scriptura. Lutero
rejeitou que a Tradição e o Magistério da Igreja fossem elementos que
regessem a teologia da Igreja. Para nós fica uma advertência. Temos muito
de tradição e de magistério como formadores de nossa teologia. Isso
acontece quando particularizamos e definimos o que a Bíblia não define e
fechamos questão, rejeitando qualquer outra prática diferente da nossa
como válida.
Temos uma Declaração Doutrinária, como Convenção Batista Brasileira
que somos. Um documento que me parece muito bom e dentro do qual
me situo sem problemas. Mas ele é um documento indicativo e não
normativo. Ou seja, ele indica o que cremos e não é uma norma para
nós. Nossa normativa são as Escrituras e nenhum outro documento. Se
isto parece óbvio, desejo fazer três observações aqui. Uma refere-se
à pressão do sucesso. A segunda, à pressão do líder mais expressivo. A
terceira, à nova hermenêutica. São elementos que militam contra a
normatividade das Escrituras.
A pressão do sucesso é a aquela que sucede porque um determinado
método está dando resultado em algum lugar e com isso se torna quase
que um padrão. Um método é um caminho para se chegar a um alvo. Mas
temos visto a sacralização de métodos. Alguém consegue encher a igreja
Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com
Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

com um método e logo começa ter seguidores, e passa a realizar


congressos para exportar seu método. Há métodos que funcionam num
lugar e em outros, não. Fui pastor, por 7 anos e meio, de uma igreja, no
Distrito Federal, da qual fui o organizador. Era um grupo, tranformamos
em congregação e depois em igreja. Quando fui para Manaus, os métodos
usados na Quadra 02 de Sobradinho não serviam para a PIB de Manaus,
que tinha, na época 92 anos. Muitos métodos não interferem em
doutrina. São apenas um jeito de fazer as coisas funcionarem. Mas há
métodos que implicam em doutrina: a adoção de uma pregação da
teologia da prosperidade, a centralização de poder nas mãos dos clérigos
da igreja, o uso da cura divina e de instrumentos sagrados como
chamariz, por exemplo. Muitas vezes se abandona a posição histórica dos
batistas quanto às Escrituras porque se adotam métodos para funcionar e
alguns desse métodos são importados de outros contextos doutrinários e
exigem aqueles postulados doutrinários, de onde vieram, para se
viabilizarem. Todo método e qualquer sistema que sacrifique a soberania
das Escrituras como padrão aferidor de nossa conduta é uma quebra de
nossa identidade. Isto aparece até mesmo em questões bem simples. Pela
nossa visão das Escrituras, o ensino da Bíblia sempre foi central em nosso
meio. Muitas igrejas tinham versículos bíblicos pintados nas paredes e
uma Bíblia insculpida na sua frente. Hoje o símbolo distintivo de muitas
igrejas não é a Bíblia, mas a caixa de som. Quem dirige o culto não é o
pastor, é a equipe de louvor. Nada aqui contra o louvor, mas uma
advertência: quando o ensino da Bíblia se torna secundário a ponto de
muitas vezes ter que se encurtar o sermão porque o programa foi muito
extenso, estamos diante de uma dificuldade. Os batistas sempre foram o
povo da Bíblia. Não sei se ainda são. Mas sei que o que produz
crescimento espiritual e santidade numa igreja é a Bíblia, ensinada de
forma clara e com autoridade, aplicada pelo Espírito Santo à vida dos
ouvintes. De passagem, diria que não somos chamados para o sucesso,
mas para a fidelidade. O bom sucesso, os frutos, de nosso trabalho
depende de Deus. É o Espírito quem faz a obra crescer. Técnicas e
métodos são instrumentos, apenas.
A pressão do líder é algo que se observa quando líderes que são
mais expressivos, ou mais falantes ou que melhor se articulam em
bastidores, acabam se impondo como o padrão para os demais. Os
batistas sempre se caracterizaram por divergências. Desde o início, com os

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

chamados batistas gerais e os batistas particulares. A Aliança Batista


Mundial reúne grupos com práticas diferentes, dentro de seu bojo. A
tendência à uniformização, muitas vezes de acordo com a cabeça de uma
minoria, em busca um procedimento padrão, coloca-nos na situação de
termos dominantes entre nós, e assim, de chegarmos a outra regra de fé e
de prática, a obediência a algumas pessoas e à prática dessas pessoas. O
Novo Testamento é genérico em muito da eclesiologia que nele aparece.
Alguns querem particularizar e impor seu estilo. Isto me parece
problemático. A falta de aceitação de pensamento diferentes traz mais
“rachas” do que a diversidade de opinião. Nenhum líder nosso, por maior
que seja sua igreja, por mais capacitado intelectualmente que seja, e por
maior que seja seu cargo na estrutura denominacional, está apto para
determinar o que cremos. O que cremos foi razoavelmente solidificado
em quase 400 anos de história batista no mundo.
A nova hermenêutica é o aspecto mais preocupante no uso das
Escrituras. Com a Igreja Católica, a fonte de autoridade era a Igreja,
subsidiada pela Tradição e pelo Magistério. Lutero tirou a fonte de
autoridade da Igreja e a colocou na Bíblia. O movimento pentecostal a
tirou da Bíblia e colocou na experiência. O movimento neopentecostal
está construindo outro eixo hermenêutico: a de gurus, de pessoas com
mais experiência com Deus. É o início de um retorno ao eixo católico. Isto
vai trazer conseqüências danosas para o evangelho, mais à frente, embora
já esteja trazendo agora. É que nesta postura, a Bíblia fica subordinada às
declarações humanas. Em vez de reger a teologia da igreja, ela passa a ser
explicada pela teologia da igreja. Esta nova hermenêutica é muito
perigosa porque além de mudança de eixo mudou também o critério de
interpretação. No protestantismo histórico e entre os evangélicos
históricos, o critério de interpretação da Bíblia sempre foi a pessoa de
Cristo, com base no conceito de na revelação progressiva, que
depreendemos bem de Hebreus 1.1-2. É o Novo Testamento que
interpreta o Antigo e este não pode se sobrepor ao Novo. Hoje o critério
de interpretação é o Espírito Santo. Um pastor neopentecostal dizia pela
televisão que “Jesus é o canal para nos trazer o Espírito Santo”. Antes era
o Espírito Santo quem nos levava a Cristo. Agora Cristo nos traz o Espírito.
Cristo é o meio para se chegar ao Espírito, que é o final. A Igreja Universal
do Reino de Deus, por exemplo, não tem a cruz como seu símbolo, mas
uma pomba, significando o Espírito Santo. É a chamada “onda do

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

Espírito”, que é, na realidade, uma pretensão à nova revelação. É aqui que


reside o perigo maior: o Espírito Santo é um eufemismo para as
impressões pessoais do intérprete, que se tornam uma palavra inspirada.
O que ele acha é revelação do Espírito. Assim, a Bíblia deixa de ser
normativa e passa a ser indicativa. A normativa é a palavra do líder. O uso
que as campanhas da Universal fazem das Escrituras, particularmente o
uso do Antigo Testamento, mostra isso. A Bíblia apenas legitima as
práticas do grupo, em vez de regê-las. E o Espírito Santo se tornou
propriedade dos iluminados da seita. O Espírito Santo fala quando alguém,
líder, “sentiu” uma nova verdade. Na nova hermenêutica, o sentir vale
mais que o que é, o que está escrito. Jesus é uma pessoa histórica,
objetiva, e seu ensino está na Bíblia. O Espírito Santo não é uma pessoa
histórica, embora seja uma pessoa, e seu ensino passa a ser o que as
pessoas sentem. Isto cria um clero, pessoas especiais, com revelações do
Espírito. Há, então, um clero que determina o credo e a prática para o
povo. Tanto que muitos desses grupos não ligam a mínima para educação
religiosa, EBD, etc. . Basta-lhes um salão para realizar seus cultos,
carregados de emoção e muitos deles manipuladores das pessoas.
Esta nova hermenêutica tem privilegiado o domínio de
revelações, visões e sonhos sobre a Bíblia. Uma pastora neopentecostal
dizia, pela televisão, ter um mapeamento das potestades demoníacas.
Quem era o demônio regente de cada território, os chamados demônios
territoriais. Quando perguntada sobre onde conseguiu isto, disse com
toda simplicidade que foi de demônios postos sob juramento. Não sei um
demônio mesmo jurando estará dizendo a verdade. Mas me impressiona
que uma pessoa diga com todas as letras que está ensinando uma
revelação de demônios e as pessoas que a ouvem ainda exultem com isso.
Nossa identidade batista parte daqui: zelo pelas Escrituras. Nada
de mais nada de menos. Quando ela fala, nós falamos. Quando ela cala,
nós calamos. Todo material que produzimos, toda e qualquer postura
eclesiológica, devem ser avaliados por ela. Não é se deu certo em algum
lugar ou se está enchendo alguma igreja em algum lugar, ou se foi
proferida por algum teólogo ou pastor muito consagrado e zeloso pela
doutrina, mas se não colide com a Bíblia. Aliás, todas as heresias nasceram
de pessoas muito espirituais e zelosas. Não de mundanos. É o que Paulo
disse dos judeus: “têm zelo por Deus, mas não com entendimento”

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

(Rm.10:2). O entendimento das Escrituras é fundamental para uma


denominação sadia.
3. A LIBERDADE DE OPINIÃO
Liberdade de opinião ou liberdade de expressão é um outro apanágio dos
batistas. É um legado nosso aos demais grupos evangélicos. A monarquia
católica ou a teocracia protestante nunca poderiam predominar em meio
à consciência batista. A tentativa de se formar uma Genebra calvinista
nunca vingaria entre nós. Devemos isto, em termos de ação, a um jovem
pastor de 24 anos, Roger Williams. Ele começou seu pastorado em Boston,
em 1631. Não demorou para desagradar as autoridades locais. Ele
recusava o direito dos magistrados em decretarem penalidades jurídicas
por infrações religiosas. Williams achava que a Igreja e o Estado deviam
ser absolutamente distintos, o que aliás, os separatistas ingleses que
originaram a primeira igreja batista, com este nome, em 1609, na
Holanda, já defendiam. Ele não criou o princípio, mas levou-o às últimas
conseqüências. Sobre separação entre Igreja e Estado falaremos mais à
frente. Mas Roger Williams defendia bem mais que isso. Defendia a
absoluta liberdade religiosa. O Estado não tem direito de impor sua fé aos
seus súditos. E as pessoas têm o direito de escolher a sua fé e até mesmo
não professar fé alguma. Cada pessoa é responsável por sua vida e por
suas decisões. O homem não pode ser tutelado nem pela Igreja pelo
Estado. Por isso também que nunca podemos apoiar ditadura alguma. E
toda e qualquer intolerância, seja racial, social, religiosa, ideológica ou
política deve ser veementemente rejeitada por nós.
Tendo sido expulso de Boston, num inverno rigoroso, mas tendo sido
salvo pelos índios, Roger Williams fundou uma pequena colônia, na Baía
de Narragansett, com algumas de suas ex-ovelhas da Igreja Episcopal, que
o acompanharam. No documento de fundação da colônia ficaram
definidas como postulados a tolerância religiosa e a liberdade de opinião.
Isto é motivo de satisfação para nós, ao mesmo que se torna um lembrete
sobre como devemos proceder. A primeira comunidade que estabeleceu
como princípio a liberdade religiosa absoluta foi fundada por um homem
que veio a se tornar batista e que, em 1639, fundou a primeira igreja
batista em solo americano. A liberdade de expressão é um fundamento
muito caro aos batistas. Por isso me assusto muito, e até mesmo tenho
me retraído em envolvimento com estrutura denominacional por causa

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

disto, quando vejo pessoas julgando que somente seu grupo possui o
verdadeiro espírito batista e age para impor o que julga ortodoxia aos
demais. A busca de clones não é compatível com o caráter batista. Aliás, a
riqueza da Igreja de Cristo está na sua diversidade. Isto se verifica até
mesmo na chamada dos doze, feita por Jesus. Eles eram pessoas
diferentes. Pescadores, cobradores de impostos, um possível guerrilheiro
(se aceitarmos a tese de Oscar Cullman de que Judas Iscariotes quer dizer
“Judas, o homem do punhal”). Um colaboracionista com Roma, o poder
dominante, e um revolucionário, contra o poder dominante, portanto.
Mas ambos chamados e ambos dentro da perspectiva de Jesus.
Esta liberdade de opinião permite que a CBB, por exemplo, abrigue em
seu meio amilenistas, pré-milenistas, pré-milenistas dispensacionalistas e
pós-milenistas. Neste aspecto, ela guardou o princípio batista. Há outros
grupos batistas que exigem uma postura específica. Não é o nosso caso.
Abrigamos diversas tendências porque este ponto não é fundamental,
mas secundário.
É preciso também deixar algo claro aqui. Liberdade de expressão não
significa uma babel teológica, mas sim que onde há pontos inegociáveis
não há nada para se negociar. E que onde há pontos não definidos,
mantém-se uma postura de respeito. Mas ela é uma conseqüencia
inevitável do fato de que não temos um papa ou alguém “infalível”, que
todos temos o Espírito Santo, que somos todos falíveis, também. É um
desdobramento do sacerdócio universal de todos os salvos. Se todos
temos acesso a Deus e se todos temos o Espírito Santo, nenhum de nós é
mais conectado a Deus do que os demais, para falar em seu nome aos
demais. Não temos gurus entre nós. Nem papas. O autoritarismo
teológico é uma agressão em si, pelo que significa, e é, também, uma
agressão à nossa história.
É óbvio que isto faz com que surjam muitas divergências. Aliás, o
capítulo X do livro de Faircloth e Torbert, Esboço da História dos
Baptistas, se intitula “Livres Para Divergir”. É um capítulo dedicado às
divergências históricas entre os batistas, em seus vários grupos. Mas como
alguém já disse, um bom princípio a se observar aqui é: “Nas pequenas
coisas, diversidade; nas questões capitais, unidade; em todas as coisas,
caridade”. Divergências no cristianismo aparecem cedo, como vemos em
Atos 15, e nas cartas de Paulo, todas elas escritas para resolver problemas

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

na vida das igrejas (talvez as exceções sejam Efésios e Filipenses). Mas é


uma atitude cristã saber viver com divergências. E é, também, uma marca
do espírito batista.
4. O BATISMO CONSCIENTE DE CRENTES
A idéia de que o batismo tinha poder salvífico se arraigou na Igreja cristã
muito lentamente. Parece que pelo quarto século, o sacramentalismo
acabou impondo a ceia e o batismo como sacramentos e como elementos
obrigatórios, a serem ministrados para trazerem graça espiritual. O
batismo passou a ser algo praticado para se alcançar a salvação. Mas já
desde o segundo século que a prática de batizar crianças se
institucionalizara na Igreja. Segundo O Didaquê, obra ainda do primeiro
século, a igreja primitiva usava a imersão e a afusão como métodos de
batismo. Tudo leva a crer que as crianças (não no Novo Testamento, pois
não temos notícia de batismo infantil neste período) eram submetidas à
afusão e, mais tarde, à aspersão.
O entendimento do batismo como elemento transmissor de graça
(sacramento) deve nos alertar. Com muita facilidade as pessoas
transferem para objetos, gestos e ritos, alguns poderes especiais (no seu
entendimento). Muitas vezes sacramentamos formas e ritos. Já ouvi gente
dizer que o Cantor Cristão é inspirado e que nunca deveríamos ter um
novo hinário, que não é inspirado. Inspirado, para nós, é só a Bíblia. E
nenhum material pode ser visto como algo sagrado. Isto traz problemas,
pelos desdobramentos posteriores.
A grande luta dos separatistas se deu nesta área: o esforço para se ter
uma igreja composta apenas de crentes regenerados. A pessoa só podia
ser membro da igreja pelo batismo e este só podia ser aplicado a pessoas
conscientes do que estavam fazendo. Ninguém podia impor o batismo a
outro. E a única motivação é a conversão a Jesus. Batizei uma pessoa que
fora batizada na Universal. Antes de fazê-lo, quando questionei o porquê
de seu batismo, a resposta veio mais ou menos nestes termos: “Eu recebi
uma bênção lá na Igreja. Aí me disseram que se eu quisesse continuar
sendo abençoada eu deveria ser da Igreja e para isso teria que me batizar.
Então fui batizada para continuar sendo abençoada”. Não é esta a
motivação para o batismo. A motivação é a fé em Jesus. Os textos bíblicos

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

são claros: “quem crer e for batizado” (Mc 16.16) e “Que impede que eu
seja batizado? É lícito se crês..” (At 8.36-37).
A adoção de uma determinada Igreja pelo poder civil levou a um ingresso
na Igreja, pelo batismo, de uma quantidade enorme de pessoas sem
nenhuma convicção religiosa. Desde que Constantino adotou o
cristianismo isto começou a acontecer. A Igreja se tornou morada de
incrédulos e não de regenerados. Mas devidamente submetidos a um
ritual chamado batismo. Este é um problema quando as linhas entre o
poder civil e a Igreja são tênues ou são apagadas.
A concepção mágica do batismo também produziu muitos membros da
Igreja incrédulos. Temos informes da crise teológica de alguns jesuítas
que vieram como missionários para o Brasil. Acreditavam que batizando o
índio, este se converteria, pois o batismo tinha um poder sacramental,
mágico-mítico. Mas batizava-se o índio e este continuava antropófago e
idólatra. O batismo não regenera. Apenas testemunha de uma
regeneração que deve ter sucedido. O batismo consciente de adultos
impede isto e faz com que a Igreja seja composta de convertidos. Se hoje,
batizando apenas adultos, temos uma quantidade enorme de gente
encostada em nosso meio, imagine-se batizando-se bebês recém-
nascidos e considerando-os membros da Igreja!
Esta insistência no batismo somente de crentes fez com que o rótulo de
“anabatistas” fosse aplicado a muita gente que nada em comum tinha
com os anabatistas. E algumas pessoas o aplicam aos primeiros batistas.
Mas este era um termo genérico, como é hoje o termo “evangélico” que
para o nossa “bem informada” mídia engloba todo mundo que não seja
católico. Mas os anabatistas remontam a 1490, com Conrado Grebel tido
como seu fundador, sendo ele um ex-cooperador de Zuínglio. Discordou
de Zuínglio por não aceitar o batismo infantil. E com eles, os anabatistas,
os batistas tinham em comum o batismo apenas de regenerados, uma
Igreja composta apenas de regenerados, a supremacia das Escrituras e a
liberdade civil e religiosa. Mas discordavam deles no seu pacifismo radical,
sua omissão como cidadãos (alguns anabatistas viam o Estado como
demoníaco) e sua proibição de juramentos, inclusive em tribunais, pontos
de vista teológicos sobre encarnação e hipnose da alma e a necessidade
da sucessão apostólica para o batismo. Mas voltemos à visão sobre o
batismo consciente de crentes.

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

Preocupa-me o fato de que o batismo tem se tornado em alguns


segmentos nossos um ato social. Muita gente se batiza porque está
freqüentando a igreja há muito tempo, porque a família toda é batizada,
porque é o único quesito que lhe falta para ser crente, pois é freqüentador
assíduo, etc. A única razão válida para o batismo é a fé em Jesus Cristo
como Salvador e o desejo de testemunhar deste fato. Se não isto não
aconteceu, houve um banho, mas não batismo. Nossa identidade batista
deve preservar isto com vigor: a porta de entrada na Igreja é o batismo e
este é ministrado para quem crê no Senhor Jesus. A Igreja existe em
função de Jesus Cristo.
Neste aspecto do batismo, os batistas devem algo aos menonitas. De 1609
até 1638, os batistas praticavam apenas a afusão. Foi no contato com os
menonitas que aprenderam a praticar o batismo por imersão. Em 1638, a
Igreja de Spilsbury declarou que só aceitaria o batismo por imersão. Em
1644, sete igrejas batistas assumiram uma declaração doutrinária,
chamada de “Confissão de Londres”, em que a forma de batismo era por
imersão, aceitando a declaração da Igreja de Spilsbury. Desde então, esta
vem sendo a prática dominante em nosso meio.
5. A SEGURANÇA ETERNA DOS SALVOS
Esta é outra herança teológica preciosa dos batistas. A Declaração
Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, ao falar sobre a doutrina da
salvação, traz esta afirmação: “O preço da redenção eterna do crente foi
pago de uma vez por Jesus Cristo, pelo derramamento do seu sangue na
cruz”. Chamo a sua atenção para as expressões “redenção eterna”, “pago
de uma vez” e “pelo derramamento de seu sangue na cruz”. A salvação é
eterna. Não é temporária nem parcial. O assunto foi resolvido de uma vez
por todas na cruz. Cristo não pagou cotas e deixou outras para nós. Pagou
tudo, de uma vez. Não foi parcialmente. O autor de hebreus mostra que
seu sacrifício foi único, irrepetível e perfeito. E o preço pago por ele foi seu
próprio sangue. É importante ressaltar uma coisa: no processo da
salvação, não somos o agente, mas Jesus Cristo o é. E sua obra é perfeita.
A salvação não depende de nós, mas dele. Ele não rejeita o pecador que
vem a ele, nem se arrepende de nos ter salvado.
“Mas conheci muita gente que esteve na igreja e hoje está
excluída!”, e o argumento sempre ouvido nestes casos. A antiga Confissão

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

de Fé, substituída pela Declaração Doutrinária, trazia o item XI, “Da


Perseverança dos Santos”. Nele se diz: “Cremos que só são crentes
verdadeiros aqueles que perseveram até o fim; que a sua ligação
perseverante com Cristo é o grande sinal que os distingue dos que
professam superficialmente”. A característica marcante de um verdadeiro
salvo é que ele persevera na fé. Cabem aqui as palavras de 1João 2.19:
“Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos
nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se
manifestasse que não são dos nossos”.
Isto é realmente tão relevante assim? Sem pestanejar, respondo
que sim. Porque o evangelho fala de salvação. Ela é obra exclusiva de
Jesus Cristo. Nós não a produzimos. Nós a aceitamos. A qualidade da
nossa salvação está relacionada com o caráter do nosso Salvador. Ela não
depende de nossos esforços. Quando se pensa na possibilidade da perda
da salvação, assume-se que há esforços humanos que podem derrubar o
que Cristo fez. E coloca-se a salvação como algo que podemos ter ou
deixar de ter com base no que fizemos ou deixamos de fazer. Ela não é
mais obra da graça. Nem sua eficácia e sua durabilidade. E esta concepção
batista torna a Igreja uma instituição que, espiritualmente, está segura
para sempre, pela sua fé em Cristo. Ela não é clube onde a pessoa entra
e sai. Ela é face visível do reino invisível, a ponta do iceberg. Envolver-se
com a igreja local, sendo-se regenerado, é estar na Igreja Militante, a
Universal.
E há muita coerência batista quando se analisa esta doutrina
junto com a do batismo apenas para regenerados. Não há como alguém
realmente batizado vir a se desviar. Se a pessoa foi regenerada pelo poder
do Espírito Santo e foi batizada, então está segura. Isto nos recorda que o
batismo não é para simpatizantes do evangelho, mas para regenerados
pelo evangelho. Temos batizado muita gente que é apenas simpatizante
do evangelho e esses, um dia, não sendo convertidos, correm o risco de ir
embora. Mas quando se tem certeza de que o batizado, que se torna
membro da igreja, é um regenerado, este permanecerá na fé. Se a pessoa
morreu para vida anterior, como pode voltar a viver nela? E é também,
para nós, a garantia de que a verdadeira igreja estará preservada, pois
será sempre de regenerados. Ao mesmo tempo, é uma advertência para
quem se chega a uma igreja batista: está assumindo um compromisso

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

para sempre. Ser membro de uma igreja batista é um sinal, uma


declaração, de conversão a Jesus Cristo e a expressão do desejo de se unir
ao seu povo. Ao mesmo tempo é uma declaração de que se está
assumindo um compromisso com Cristo e o seu evangelho para sempre. A
identidade de um batista é forte, aqui: ele é um salvo e salvo para sempre
e por completo.
6. BATISMO E CEIA COMO ORDENANÇAS E NÃO COMO
SACRAMENTOS
Sacramento é o ato religioso que santifica ou confere graça a quem o
recebe. Ordenança é o reconhecimento de quem uma determinada ordem
foi atribuída a alguém. Há uma diferença muito grande entre os dois.
Parece que a idéia do batismo e da ceia do Senhor como sacramentos se
deu por volta do quarto século. Eles necessitam, por serem ritos mágicos,
uma classe especial de pessoas. Por isso, com o sacramento veio logo o
surgimento de um clero. Para a Igreja Católica, os sacramentos são sete:
batismo, confirmação, eucaristia, penitência, extrema-unção, ordem e
matrimônio. São elementos que conferem graças.
Os batistas entendemos que Jesus deixou duas celebrações para sua Igreja
e que as igrejas devem observar: o batismo e a ceia. Nunca os vimos como
veículos transmissores de graça, mas como atos de celebração da fé. O
batismo celebra e testemunha nossa conversão a Cristo e proclama a
nossa disposição de uma vida com ele. A ceia celebra a morte vicária de
Cristo e anuncia sua volta. Alguns outros pequenos grupos batistas
adotam, ainda o lava-pés. Mas dispenso-me de abordar isto por ser algo
pouco expressivo.
Sobre o batismo já se falou um pouco, anteriormente. Abordamo-lo aqui
apenas pelo ângulo de não ser um sacramento. Detenhamo-nos, então,
um pouco, na ceia. A postura católica é a da transubstanciação, evento
em que o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo.
Isso se dá quando do ofertório, na missa, quando o padre oferece os
elementos a Deus. Eles são transformados. Aliás, por favor, não chame o
momento de dízimos e ofertas na sua igreja de “ofertório”. A não ser que
haja lá algum padre que esteja transformando os elementos no corpo e
sangue de Cristo. Os batistas não temos “ofertório”. Temos “devolução
dos dízimos”. Uso o termo “devolução” porque dízimo não se paga nem

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

mesmo se dá. Devolve-se. Não é nosso, é de Deus e veio à nossa mão por
algum momento. Lutero adotou a prática da consubstanciação. Segundo
ele, o pão e o vinho não se transformam no corpo e sangue de Cristo, mas
Cristo está com a substância. Zuínglio defendia a presença espiritual de
Cristo quando da celebração da ceia. Os batistas não aceitamos nenhuma
destas posições. Entendemos ser um memorial. Baseamo-nos nas palavras
de Jesus: “fazei isto em memória de mim”. Batismo e ceia não conferem
graças, mas testemunham de nossa fé. Por isso que não chamamos a ceia
de “santa ceia”. Não chamamos o batismo de “santo batismo”. É que o
valor da cerimônia não está na sua possível santidade, mas na sua
significação.
Dirá alguém que está farto de saber isto. Mas é preciso que reafirmemos
nossa posição anti-sacramentalista, porque vemos hoje o regresso desta
prática, devidamente metamorfoseada pelo neopentecostalismo, no meio
das igrejas evangélicas. O cenário evangélico atual apresenta um cenário
onde elementos mágicos e sagrados se fazem presentes. Tenho visto
igrejas distribuindo sal do mar Morto para “abrir caminho” (igreja, sim
senhor!), azeite declarado como vindo do monte das Oliveiras sendo
usado para ungir as pessoas (há alguma usina de beneficiamento de
azeitonas lá?) e até crucifixos feitos da cruz de Jesus (pastores evangélicos,
sim!). Vai se generalizando a prática de beber água de um copo
devidamente benzido pela oração do pastor. Algo tão supersticioso como
a água benta do padre. A alegação que ouvi, de um crente batista, é que
ele se sentiu bem depois de beber daquela água. É a figura sacramental: o
sentimentalismo e a sensação ocupam o lugar do ensino bíblico. Há um
fetichismo em nosso meio com terra santa, areia santa, água santa, sal
santo, folha de oliveira santa, etc. No cristianismo as pessoas são santas,
mas as coisas não. No cristianismo não há lugares e objetos santos. Nem
mesmo o prédio onde a igreja se reúne é santuário, no rigor do termo. O
prédio onde a Igreja se reúne e que alguns chamam, na linguagem do
Antigo Testamento, de “santuário”, não é santuário nem morada de
Deus. É salão de cultos. O Eterno não mora em prédios, mas em pessoas.
Elas é que são o santuário (At 17.24, 1Co 3.16, 6.19 e Hb 3.6). Isto não é
dessacralizar o evangelho, mas dar-lhe uma dimensão muito mais
profunda. Colocando em palavras mais simples, esta compreensão faz
surgir aquilo que Tillich declara ser o reconhecimento do universo como
templo de adoração. Aonde quer que vamos, aí estará o lugar de culto.

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

Esta visão sacramental tem reduzido o evangelho a algo que acontece


num determinado dia, num determinado local, com determinados
símbolos, sob o comando de determinadas pessoas. Sobre este último
aspecto falarei mais à frente quando abordar a questão do sacerdócio
universal de todos os salvos, que se opõe ao crescente sacerdotalismo que
se verifica em nosso tempo.
A consideração de objetos como se fossem sagrados leva à santificação
deles. Daí para a idolatria e sua irmã gêmea, a superstição, o passo a ser
dado é pequeno. Por isso precisamos reafirmar: não temos sacramentos e
repudiamos a espiritualização de símbolos e de gestos. O transmissor de
graça é o Espírito Santo. Ele habita em nós, se somos convertidos. Se
alguém não é, pode se afogar nas águas do Jordão, ficar com barriga
d’água de tanto beber água ungida pela oração do pastor, que isso não
adiantará nada. A fé deve ser posta em Deus e não em coisas nem em
gestos nem em ritos. Um batista que preze sua identidade nunca se
envolverá com fetichismo do neo-sacramentalismo pentecostal.
7. O SACERDÓCIO UNIVERSAL DE TODOS OS SALVOS
Desde o início, os batistas partilharam com os vários grupos insatisfeitos
com o protestantismo e com os separatistas, que eram os insatisfeitos da
Igreja da Inglaterra, a rejeição de um clero. Isto é o que se chama “a
doutrina do sacerdócio universal de todos os salvos”. Num certo sentido,
não temos sacerdotes entre nós. Isto no sentido de alguém com mais
acesso a Deus do que os demais. Em outro sentido, todos nós somos
sacerdotes porque todos nós temos acesso a Deus, sem necessidade um
mediador humano.
O pastor não é um sacerdote. Sua oração tem tanto valor, aos olhos de
Deus, como a oração do zelador da igreja, desde que este seja crente. A
oração do crente é ouvida por causa da graça de Deus, da mediação de
Jesus e da intercessão que o Espírito faz por nós, junto à Trindade. A
identidade batista é fortemente marcada por esta concepção teológica: o
sacerdócio universal de todos os salvos, em conseqüência do livre acesso
que todos nós temos à presença divina. Não precisamos da corrente de
318 homens e mulheres de Deus para sermos abençoados. Podemos ser
abençoados porque Deus tem prazer em dar coisas boas a seus filhos e as
dará aos que lhe pedirem. Há critérios para isso e o Novo Testamento os

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

explicita. Mas a responsabilidade não é de um clero. É da igreja como um


todo.
No entanto, esta doutrina tão valiosa está sendo diluída em nosso meio.
Isto está sucedendo por causa do entendimento cada vez mais forte, de
que temos um clero e um laicato. Preocupa-me ver, cada vez mais, as
igrejas terem ministros formados e assalariados para tudo, como se fosse
esta a única maneira de prover liderança para as comunidades
eclesiásticas. Acho correto termos ministros de música, de educação
religiosa, de juventude, de missões, etc., em nossas igrejas. Milito na
educação ministerial, fui presidente da ABIBET por seis anos, e não
poderia pensar doutra maneira. Mas me receio que com isso se diga ao
nosso povo que só as pessoas que são formadas em seminários e que
sejam devidamente remuneradas podem fazer a obra de Deus. Isto pode
trazer uma mentalidade daninha: os ministros fazem o trabalho e os
crentes pagam a conta. A incidência do uso do termo “leigo” para os não
consagrados aos ministérios é reveladora disto. É um uso inexato. Todos
nós somos ministros, pois todos somos servos. E todos somos leigos,
porque todos somos povo (é este o sentido da palavra “leigo”, alguém do
povo). Não temos clero nem laicato, como batistas. Somos todos
ministros e somos todos povo. Mas isto tem sido esquecido, porque, cada
vez mais, as bases ministeriais são buscadas no Antigo Testamento e não
no Novo. Usamos os termos do Novo com a conotação do Antigo. Aliás,
muita gente anda pregando o Antigo Testamento sem analisá-lo pelo
Novo Testamento. Mas com esta visão, o pastor do Novo Testamento
passa a ter a conotação do sacerdote do Antigo Testamento. É
o “ungido”, o detentor de uma relação especial com Deus que os outros
não têm. Só ele pode realizar certos atos litúrgicos, como se fosse o
sacerdote do Antigo Testamento. Por exemplo, batismo e ceia só podem
ser celebrados por ele. Assumimos isto como postura, mas não é uma
exigência bíblica. Convencionamos isto. No meio carismático isto é mais
forte. Os pastores tornam a igreja dependente deles. Só eles têm a oração
poderosa, a corrente de libertação só pode ser feita por eles e na igreja, só
eles quebram as maldições, etc. O sentido teológico do sacerdote hebreu
parece permear fortemente o sentido teológico do pastor
neotestamentário. Este conceito convém ao pastor neopentecostal. Ele se
torna um homem acima dos outros, incontestável, líder que deve ser
acatado. Tem uma autoridade espiritual que os outros não têm. Ele tem

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

uma linha vermelha com Deus. Ora, se há algo que aprendemos sobre a
liderança nos dois Testamentos, é que o Antigo elitiza a liderança e
o Novo a democratiza. Para o neopentecostal, o Novo Testamento, a
mensagem da graça e a eclesiologia simples, despida de objetos, palavras
e gestual sagrados não são interessantes. Assim, ele se refugia no
Antigo Testamento. Por isso há igrejas evangélicas com castiçais de sete
braços e estrelas de Davi no lugar da cruz, outras desfraldando a bandeira
de Israel (e envergonhando-se da brasileira), guardando festas judaicas, e
até mesmo tendo incensários em seus salões de cultos. Há evangélicos
que parecem frustrados por não serem judeus. A liturgia pomposa do
judaísmo é mais atraente e permite mais manobra ao líder que se põe
acima dos outros. E com isso, os membros da igreja são os ajudantes do
obreiro.
Em Portugal, um diácono, conversando comigo, queixou-se da
mentalidade católica infiltrada nas igrejas batistas. O pastor era um
sacerdote e os diáconos, seus coroinhas. No meio neopentecstal, parece
que o pastor é um executivo espiritual e os membros, os pagadores de
contas. Lutero tentou apagar o conceito católico de que a Igreja era a
liderança, o clero. Para ele, igreja era o povo e não a instituição,
representado por seu clero. Ele não gostava da palavra kirche para igreja,
porque enfatizava a instituição. Preferia gemeinde, que dá a idéia de
comunidade. Ele queria a ênfase no povo. O povo é a Igreja e o povo é
sacerdote.
Isto significa que a obra é de todos e que não podemos ter gurus
iluminados em nosso meio. Não há pessoas credenciadas para terem mais
acesso a Deus, em detrimento de outras. Não há sangue azul espiritual
nem uma plebe espiritual. Deus trata seus filhos por igual, por causa da
pessoa de Jesus Cristo. Deus chamou Abraão de “meu amigo”. Mas Jesus
disse que seremos seus amigos se fizermos o que ele nos manda. Não
restringiu, mas ampliou. (Jo.15:14-16)
Não temos entre nós uma pessoa que tem revelações especiais de Deus. A
revelação de Deus está na sua Palavra, a Bíblia. Qualquer crente sincero,
iluminado pelo Espírito Santo, pode compreender seus ensinos. Pode não
penetrar nas sutilezas teológicas ou textuais originais, mas compreende a
essência.

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

O que quero dizer pode ser resumido no expediente de um boletim de


uma igreja batista conservadora dos Estados Unidos. Lá constava:
“Ministros da Igreja: todos os crentes. Auxiliar dos ministros: o Pastor da
Igreja”. Deus não deu a tarefa de fazer a obra aos pastores, a não ser a
tarefa de serem pastores. A tarefa de fazer a obra foi dada à Igreja como
um todo. E o Espírito foi dado a todos e não apenas aos pastores.
8. A AUTONOMIA DA IGREJA LOCAL
Este é outro princípio batista inegociável. E é onde devo contextualizar um
pouco mais porque temos problemas sérios nesta área. Surpreende-me,
hoje, ler em jornais de procedência de instituições batistas artigos contra
a autonomia das igrejas locais e até mesmo alguns lamentos de muitos
por termos esta doutrina. Entendo que vivemos um tempo bem diferente
do vivido há 20 anos. As estruturas denominacionais passam por um
processo de desgaste junto às igrejas. Sua imagem está afetada. Isto é
conseqüência até mesmo de um dado cultural, a pós-modernidade,
momento social em que vivemos e em que as estruturas são questionadas
e deixadas de lado, e o individualismo é cada vez mais acentuado. Para
piorar, em algumas de nossas instituições denominacionais houve má
gerência, e a repercussão disto atingiu as demais. Em outras, aconteceu
certo açodamento de pessoas que confundiram as coisas e conseguiram,
com suas atitudes, criar uma postura refratária por parte das igrejas.
Zelosas pelo seu trabalho, algumas pessoas começaram a pressionar as
igrejas e a reclamar das não coloboradoras, muitas vezes insinuando não
serem batistas ou serem desengajadas da doutrina batista por não
contribuírem financeiramente para a instituição. Em outras vezes, a luta
por poder, nos bastidores, em nada difere da luta que se vê no
mundo. Esta confusão, para mim, se deu porque se ignorou o fato de que
a estrutura é serva das igrejas e existe em função delas e não o oposto.
Nem mesmo chamo nossas instituições de denominação porque
denominação, no meu entendimento, são as igrejas e as doutrinas que
elas sustentam. Chamo de estrutura e as vejo como pára-eclesiásticas, ou
seja, elas existem para caminharem ao lado das igrejas. Por isso, entendo
que as estruturas precisam rever seus métodos e seu discurso. Não devem
cobrar das igrejas, mas mostrar sua competência, sua administração com
lisura, e como estão levando a obra das igrejas à frente. Parece-me

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

surrealista que alguns vejam as igrejas como adversárias da denominação.


Elas são a denominação!
Não é segredo que as igrejas têm diminuído sua colaboração para a
estrutura, tanto em finanças como em envolvimento. Os alvos
missionários não têm sido alcançados. Isto cria uma ansiedade por parte
de quem gerencia um programa, pois precisa de recursos. Por isso, vez por
outra se lêem artigos em que alguém reclama da autonomia da igreja local
e critica as que não estão cerrando fileiras com a estrutura. Seria bom
fazer com que as igrejas todas assumissem o programa da estrutura e bem
como os ônus decorrentes da funcionalização do programa.
Aliás, mais que surpreender-me, choca-me ver tais artigos defendendo
restrição à autonomia das igrejas. Creio que isto não melhorará as coisas,
mas que as piorará. Afastará mais igrejas, ainda. Tentar enquadrar as
igrejas é militar contra toda uma história quase quatrocentã. E não existe
autonomia relativa. Ou há ou não há. Elas são autônomas, cem por cento
autônomas. Quero citar um trecho de um líder batista insuspeito, José dos
Reis Pereira. Poucos batistas foram tão engajados na obra como ele.
Certa vez, em uma carta, ele me disse que estava com 24 atribuições
denominacionais. Reis Pereira foi uma vela que se gastou dos dois lados.
Eis seu texto: “Os Batistas Gerais decaíram à proporção em que uma forte
tendência centralizadora triunfava entre eles. Vitoriosa essa tendência a
autonomia das igrejas locais foi sacrificada. E é um outro princípio batista,
esse da autonomia da igreja local” (Breve História dos Batistas, p. 81).
Centralizar o poder ou as decisões e fortalecer o centro não melhorará a
situação. Reis mostra que a história já provou isso. Deve-se fortalecer e
melhorar a base, que são as igrejas. Se estas forem fortes e sadias, a
denominação será forte e sadia.
Associações, convenções, juntas e assemelhados existem para servir à
igreja local. Estas não são apenas pagadoras das contas, mas devem ser
senhoras do processo denominacional. Isto deve ser reafirmado porque,
se anos sessentas e setentas o modelo pentecostal foi nosso grande
problema, nos anos noventas e nesta primeira década, nosso problema
parece ser o modelo presbiteriano.
Não se deve nem se pode negar a autonomia da igreja local, até mesmo
porque o Novo Testamento só mostra uma instituição, que é ela, e

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

desconhece todas as que criamos. O que criamos não é antibíblico, mas é


abíblico. Não é errado, mas existe para funcionalizar e vitalizar a igreja
local. O que devemos fazer é mostrar que as igrejas do Novo Testamento
viviam em mutualidade, que se ajudavam, como Paulo mostra em suas
cartas. Autonomia e mutualidade não são antônimos. Mostremos que as
igrejas se engajavam em projetos comuns, mas tudo partia delas. Até
mesmo o envio de missionários. Os missionários eram enviados pelas
igrejas e eram missionários das igrejas e nunca enviados por uma
instituição. Sei que os tempos são outros, as circunstâncias culturais são
outras, mas me parece que muitas vezes olhamos pelo lado errado do
binóculo. A pedra de toque do processo batista é a igreja local. Neste
sentido, somos congregacionais desde nossa origem: o governo pertence
à congregação local e ela não está sujeita a nenhum outra instância. E
cooperação, sim. Mas sacrifício ou abandono da autonomia da igreja local,
nunca!
A grandeza desta doutrina nos permite declarar que a maior e mais rica
igreja batista vale tanto quanto a menor e mais pobre. E o que se faz em
nome dos batistas precisa do aval moral das igrejas para ter credibilidade
entre elas. Não se trata apenas de autonomia da igreja local, mas de sua
soberania. As estruturas precisam compatibilizar-se com as igrejas. Até
mesmo por um fator muito simples: precisam delas para sobreviver.
9. A SEPARAÇÃO ENTRE IGREJA E ESTADO
Este item amplia a liberdade da Igreja. Não é apenas a questão de que ela
não está subordinada ao Estado, mas que ela e o Estado têm esferas
diferentes. A Igreja é cidadã deste mundo e sujeita-se a leis de justiça e de
bom senso. Mas deve exclamar como os apóstolos, em Atos 4.19: “Mas
Pedro e João, respondendo, lhes disseram: Julgai vós se é justo diante de
Deus ouvir-nos antes a vós do que a Deus”. A lealdade última da Igreja é
para com Deus e sua Palavra. Sua pátria mais amada é a celestial. O
Estado também está sob a lei da justiça divina. No Antigo Testamento,
Iahweh escolheu Israel, mas é Senhor de todas as nações e toda a terra.
Devemos nos lembrar disto.
Na Escandinávia, os pastores luteranos são pagos pelo Estado. No Brasil,
constantemente, verbas públicas são usadas para recuperar igrejas
católicas, consideradas como patrimônio arquitetônico ou cultural. Mas

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

são lugares de cultos. Isto é contra nosso princípio de um Estado leigo,


que não deve investir em nenhuma religião nem beneficiar nenhum culto.
Diferentemente de grupos anabatistas e outros radicais do século XVI, os
batistas nunca questionaram o Estado por ser Estado. Mas também não
podemos divinizá-lo. Lembremos que a luta do Apocalipse mostra o
Cordeiro contra um Estado que deseja ser Deus. Nosso compromisso é
com a justiça, com a honestidade e com a dignidade humana. Podemos
nos rejubilar de termos em nossa história um Prêmio Nobel da Paz, o Pr.
Martin Luther King Jr, assim agraciado pela sua luta pelos direitos dos
negros norte-americanos. Mas, quando a turma de formandos do
Seminário do Sul, em 1968, o tomou como seu paraninfo, alguns dos
missionários americanos que lecionavam no Seminário, bem como parte
da cúpula batista brasileira, ficaram indignados com os alunos. Estavam
muito sintonizados com o regime militar e achavam que King era um
comunista, um agitador. Que miopia! Que perda de senso de história!
Uma igreja batista não é da direita nem da esquerda nem mesmo do
centro. É de cima. Seus valores são espirituais e celestiais. Uma igreja
batista faz parte da Igreja de Cristo, que é multi-racial, multi-étnica,
multigeográfica. Sou brasileiro e não me envergonho disto. Posso,
também, dizer como Fernando Pessoa: “minha pátria é a língua
portuguesa”, ou seja, tenho uma identidade lingüística. Amo meu idioma,
dizendo como Olavo Bilac: “em que da voz materna ouvi: ‘meu filho’”. Foi
na língua portuguesa, no Brasil, que ouvi minha mãe, Nelya Werdan, uma
filha de suíços, me chamar de “filho”. Foi neste país, o Brasil, que duas
famílias estrangeiras, os portugueses Gomes Coelho e os suíços Werdan
Suhett me deram origem. Mas, mais que brasileiro e descendente de
portugueses e suíços, sou cidadão do reino do céu. E os princípios do reino
celestial são os que devem subordinar minha vida.
Deus não é brasileiro (se fosse, teria pedido asilo em alguma embaixada
estrangeira há muito tempo) nem tem nacionalidade alguma. Devemos
ser patriotas, mas devemos discordar do Estado quando este invade área
que não é sua. Por incrível que pareça, duas semanas atrás, um vereador
de Campinas apresentou projeto para criar um órgão público para
“deliberar, normatizar, fiscalizar e executar políticas relativas aos direitos
e interesses do segmnto religioso evangélico”. Fizemos uma grande grita:

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

não compete ao estado criar órgãos para as igrejas. Aonde isto nos
levaria? O vereador retirou seu projeto.
Isto também nos é uma advertência: somos cidadãos como todos os
demais e não devemos esperar tratamento especial. Inquieta-me ver
igrejas batistas pedindo ônibus à prefeituras e órgãos públicos para
fazerem piqueniques. Se não têm dinheiro para alugar um ônibus, que não
andem de ônibus! Vão a pé ou não façam piquenique! Se nos incomoda
ver dinheiro público sendo usado para levantar estátuas a Iemanjá em
cidades da orla marítima, deveria nos incomodar também o uso de
dinheiro público para monumentos à Bíblia. O poder civil não pode
patrocinar nenhuma religião! Nem a nossa!
Nunca fomos subversivos. Mas não podemos ser coniventes com um
Estado desumano, corrupto, desvalorizador do homem. Nosso norte são
os valores da Palavra de Deus. Olhamos para eles e seguimos nossa
jornada. O que se desvia deles, isso recriminamos. Não é se nos beneficia,
mas se é um princípio bíblico.
Pagamos impostos, servimos ao exército, damos nossa parcela para este
país. Mas não o sacralizamos nem o deificamos. O culto ao Estado
produziu a aberração chamada “Cristãos Alemães”, que queria uma igreja
germânica, de raça pura. Mas não admitimos a ingerência do Estado em
nossa vida. Nem transigimos nossos padrões por causa do Estado. As casas
de prostituição pagam taxas e são estabelecidas legalmente, mas a
prostituição é pecado. O que é legal nem sempre é moral. O casamento de
homossexuais pode ser tolerado civilmente, mas é pecado. Uma igreja
batista deve dizer como Lutero: que sua consciência é cativa da Palavra de
Deus.
A identidade batista parte daqui: nossas igrejas não se cevam às custas do
Estado, não lhe pedem dinheiro nem benesses, não o apóiam em busca de
favores. Eventualmente, podemos ter a mesma linha de um determinado
político ou de um partido. Será o que Francis Schaeffer chama de “co-
beligerância”. Mas nunca seremos subordinados nem sustentadores do
poder civil.
CONCLUSÃO
Terminei a listagem e comentários dos princípios batistas que me
parecem os pilares de nossa postura. Podem ser óbvios, mas assumi-los
Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com
Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí
Fundada em 26 de agosto de 1956
CNPJ: 23.513.864/0001-02

ou negá-los trazem desdobramentos, que também procurei aqui mostrar.


A questão mais importante me parece ser esta: temos um passado nobre.
Não surgimos de um racha por causa de liderança, de voracidade por
dinheiro ou por esquisitice. Surgimos aos redor de princípios. Que nossos
ancestrais sustentaram por séculos. Muitos deram suas vidas por eles.
Hoje, observá-los parece fácil. Mas nem sempre o fazemos. Por
conveniência, porque nos atrapalham, porque impedem alguns planos
nossos. Mas são princípios batistas que formam nossa identidade. Que
nunca os abandonemos e que nunca percamos essa identidade.

Avenida Nossa Senhora de Fátima,1103 – Bairro Fátima– E-mail: ibmemorialparnaiba@gmail.com


Telefone (86) 99992-0427 - CEP 64.202-220 – Parnaíba – Piauí

Você também pode gostar