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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE

CAMILLY CERENZ, FERNANDA NAKIRI MATIDA E HUMBERTO TAVARES DA LUZ

USO DE DIÓXIDO DE CARBONO SUPERCRÍTICO PARA DESCAFEINAR GRÃOS DE


CAFÉ E FOLHAS DE ERVA -MATE.

GUARAPUAVA
2022
Dióxido de carbono (CO₂):

O dióxido de carbono, também conhecido como gás carbônico, é uma substância química
formada por dois átomos de oxigênio e um de carbono (CO₂). Um gás importante para o reino
vegetal, pois é essencial na realização do processo de fotossíntese das plantas, no qual ocorre
o processo de respiração (expiração) dos seres humanos e também na queima dos
combustíveis fósseis (gasolina, diesel, querosene, carvão mineral e vegetal)
Este gás é utilizado comercialmente em algumas bebidas alcoólicas, na fabricação de álcool
comum, utilizado como anestésicos em animais que vão para o abate, regulação do pH de
águas de aquário e também em extintores de incêndio.
Chamamos de gelo seco o gás carbônico em estado sólido. A molécula de gás carbônico
não possui estado líquido, portanto, ela sublima, passando do estado sólido para o estado
gasoso.
Se inalado em grande quantidade, pode provocar irritações nas vias aéreas, vômitos,
náuseas e até mesmo a morte por asfixia.
A grande quantidade de dióxido de carbono na atmosfera é prejudicial ao planeta, pois
ocasiona o efeito estufa e, por consequência, o aquecimento global, isso ocorre porque o CO₂
entre outros gases é capaz de absorver parte da radiação infravermelha emitida pela superfície
da Terra, evitando que elas escapem para o espaço, assim aumentando significativamente a
temperatura. Os desmatamentos e a queima de combustíveis fósseis são os principais
“culpados” pelo excesso de dióxido de carbono no planeta.
Estruturalmente o dióxido de carbono é constituído por moléculas de geometria linear e de
caráter apolar. Por isso as atrações intermoleculares são muito fracas, tornando-o um gás nas
condições ambientais.
C + O₂ — CO₂
O gás carbônico é um óxido ácido cuja forma molecular é CO₂. Em contato com água,
reage formando ácido carbônico (H₂CO₃). A reação ocorre nos dois sentidos e ao retirarmos a
água da molécula do ácido, temos novamente o gás carbônico ou anidrido carbônico.
O dióxido de carbono é apolar devido a geometria linear que faz com que o momento
dipolar resultante da molécula seja igual a zero.
Na molécula de CO₂, cada átomo de oxigênio divide dois elétrons com o átomo de
carbono. Sendo assim, podemos afirmar que, cada átomo de oxigênio, está ligado ao átomo de
carbono (central) por meio de ligações duplas.
A ligação dupla é composta por uma ligação sigma e uma pi. A ligação sigma está no
mesmo plano, enquanto a ligação pi é perpendicular ao plano.
O CO₂ apresenta hibridização do átomo de carbono do tipo sp, por apresentar duas
ligações duplas. Dessa forma, o carbono fica com quatro orbitais desemparelhados, podendo
realizar quatro ligações covalentes.
Gases supercríticos:

Por definição, um fluido supercrítico, refere-se ao estado da matéria acima de uma


certa temperatura crítica (Tc) e pressão crítica (Pc).
O CO₂ supercrítico é um processo de baixo custo, prontamente disponível, de fácil
remoção do produto final e possui significativa capacidade de extração devido ao seu maior
poder de penetração.
O CO₂ também é reconhecido como um solvente seguro e apolar, adequado para a
extração de compostos fracamente polares e com baixo peso molecular, como carotenóides,
triglicerídeos e ácidos graxos.
A extração supercrítica em algumas espécies de plantas pode aumentar a concentração
em até 40 vezes quando comparado aos métodos tradicionais, tornando-se uma alternativa
para maior concentração de compostos ativos.
É importante ressaltar que, nenhuma substância é um fluído supercrítico, mas sim que
pode ser levada ao estado supercrítico pelo uso de calor e pressão até superar o seu ponto
crítico. Em pressões supercríticas não vemos a diferença de fases durante o processo, o
líquido uniformemente se expande em um vapor.
Quando um composto é confinado em um espaço determinado, gás e líquido estão em
equilíbrio entre si. Aquecendo-se o sistema, as propriedades intrínsecas (densidade,
viscosidade, índice de refração, condutividade elétrica) de ambos convergem para um mesmo
ponto até serem idênticas . Esse ponto é denominado ponto crítico, e nele acaba-se a interface
gás/líquido, pois a partir deste ponto encontra-se uma única fase supercrítica. Fluido
supercrítico é portanto, toda substância que se encontra em condições de pressão e
temperatura superiores aos seus parâmetros críticos.

Erva-mate e cafeína:

A descafeinização da erva-mate por CO2 supercrítico é um atrativo econômico para o


mercado, já que além das folhas descafeinadas também se obtém a cafeína retirada de tal, que
é de grande interesse na indústria.
Quando tratamos da extração temos de utilizar de alguns aparelhos, estes são: vaso de
extração, compressor ou uma bomba de alta pressão, dois trocadores de calor, válvula de
expansão e vaso separador. Esse processo utiliza da recirculação do solvente, contendo filtros
na saída do vaso separador para que o solvente se torne o mais puro possível. O solvente é
pressurizado no compressor, logo após ele vai pelo pré aquecedor saindo do estado líquido
para o supercrítico, então segue para o vaso de extração. Dado fim a fase de extração, o
solvente e o extrato deixam o extrator e passam pela válvula de expansão, ocorre uma redução
brusca de pressão e temperatura.
Diagrama do processo de extração supercrítica. (Cassel et al., 2008b).

Tratado o processo básico de extração, falarei um pouco sobre a erva-mate, a necessidade de


retirada da cafeína e as especificações de tal molécula:
Ilex paraguariensis St. Hill var. paraguariensis pertencente à família Aquifoliaceae,
popularmente conhecida como erva-mate é muito utilizada com água quente (chimarrão) e
com água fria (tererê), mas além de bebidas ela é usada para medicamentos, insumo de
alimentos, higiene e entre outros. Na constituição química da erva-mate aparecem: alcalóides
(cafeína, teobromina e teofilina), taninos (ácidos fólico e cafeico), vitaminas (A, B, C e E),
polifenóis (ácido cafeico, ácidos clorogênicos), saponinas, sais minerais (sódio, alumínio,
cálcio, fósforo, ferro, magnésio, zinco, manganês e potássio), açúcares (frutose, glucose,
rafinose e sacarose), flavonóides (quercetina, kaempferol) e lipídeos (óleos essenciais e
substâncias ceráceas) (Vásquez e Moyna, 1986; Alikaridis,1987; Valduga, 1994; Filip et al.,
1998; Filip et al., 2009).
Afirma-se que a erva-mate não é tóxica. Porém, em estudos Lopes et al. (2007)
encontraram em folhas novas 0,90% de cafeína e em folhas velhas 0,75% de cafeína, isso em
pessoas sensíveis a tal molécula pode causar estimulação excessiva, insônia, gastrite e em
altas doses pode se induzir ataque do pânico, por isso também deve ser evitada por pessoas
com ansiedade e que sofrem de insônia. Além disso, a cafeína pode provocar a liberação
espontânea de íons cálcio dentro do músculo, desencadeando pequenos tremores
involuntários, aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca.
A cafeína é uma metil-xantina, pertence ao grupo químico dos alcalóides, essa é é um
pó branco, cristalino, com sabor amargo, inodoro e as partículas possuem a forma de agulhas.
Apresenta massa molar de 194,19 g/mol, ponto de sublimação de 178ºC e uma densidade
relativa de 1,23. Sublima sem que se decomponha termicamente e é solúvel em água
(consequentemente solúveis nos líquidos aquosos do organismo, tendo acesso à superfície das
células) embora com hidrofobicidade suficiente para atravessar as membranas biológicas ricas
em lipídeos. (Fredholm et al., 1999; Richetti, 2009).
Molécula da cafeína.

Comentado um pouco sobre a erva mate, existe um outro produto da qual a cafeína é
extraída, o café. Retirar a cafeína se tornou uma meta das indústrias cafeeiras, pois quando
consumidas em pequenas quantidades, não traz prejuízos à saúde, mas em alguns casos, a sua
alta concentração pode trazer efeitos colaterais já citados anteriormente e em alguns casos há
pessoas que possuem certa aversão a essa substância. Atualmente, para ser chamado de
descafeinado, o café precisa ter mais de 97% da cafeína retirada, e como o café possui cerca
de 800 a 1500 compostos químicos diferentes, extrair de 1% a 2% de cafeína sem alterar o
sabor original do produto é bem complicado. Antigamente se utilizava o cloreto de metileno
para este processo, porém na década de 1980 o cloreto de metileno foi considerado
cancerígeno, desse modo se começaram a pesquisar outros métodos para a extração da
cafeína. Atualmente o método mais eficaz é utilizando fluido supercrítico, em especial o
CO2.
Na extração da cafeína com CO2 supercrítico, os grãos de café são umedecidos com o
objetivo de aumentar a porcentagem de água em seu interior, sendo assim, ocorre uma
expansão de volume que permite a abertura dos poros, o que facilita a extração da cafeína e
reduz o tempo de extração. Em seguida, os grãos são colocados em um extrator, onde
circula-se o estado supercrítico do CO2 no grão até solvatar a cafeína.
Após completar o ciclo de extração, separa-se a solução de cafeína mais CO2 no
estado supercrítico, essa separação é feita através da redução de pressão e aumento da
temperatura. E por fim, se separa a cafeína do dióxido de carbono utilizando carvão ativado.
A extração supercrítica possui diversas vantagens em relação às técnicas de extração
convencionais, pois ela dispensa o uso de solventes orgânicos, que são poluentes, e elimina a
etapa de separação solvente/extrato, uma etapa de elevado custo. O dióxido de carbono é um
dos mais recomendados devido a este gás ser inerte, de baixo custo e de fácil obtenção, sem
odor e não inflamável, além de ser adequado para extração de compostos sensíveis a altas
temperaturas. Como desvantagem, está o alto custo de investimentos e de manutenção, devido
à sua operação em alta pressão.
A cafeína extraída é vendida para fabricantes de refrigerantes e produtos
farmacêuticos, tendo efeito estimulante e diurético.
Referências bibliográficas:

Brun, G.W., 2012. PROCESSO DE PRODUÇÃO DE ERVA-MATE DESCAFEINADA


E DE MICRO / NANOPARTÍCULAS DE CAFEÍNA USANDO DIÓXIDO DE
CARBONO. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

MARIA, PORTO. Relatório sobre produção de café descafeinado.

BRASIL (2005). Resolução de diretoria colegiada - RDC n°277 de 22 de setembro de 2005,


“Regulamento técnico para café, cevada, chá, erva-mate e produtos solúveis''. Diário Oficial
da União, 2005.

BURROWS, H. P. (2012). Química ao cubo . Rio de Janeiro: LTC.

ANKLAM, E., MULLER, A. Extraction of caffeine and vanillin from drugs by supercritical
carbon dioxide. Pharmazie, 1995

CARRILHO,Emanuel.,TAVARES,Maria Cecília.,LANÇAS, Fernando. Fluidos supercríticos


em química analítica. Cromatografia com fluido supercrítico: conceitos termodinâmicos.
Scielo, 2001. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/qn/a/P9r85nmZsJ3jkGrnTv4V9Wx/?lang=pt. Acesso em 17/12/2022

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