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Audição e equilíbrio

Sumário
1. Ondas sonoras
2. Estruturas do ouvido
3. Vias auditivas
4. Córtex auditivo
5. Lesões cerebrais e perturbações auditivas
6. Sistema vestibular
7. Vias vestibulares

Os sons são captadas pelo pavilhão auricular e penetram no canal auditivo


causando a vibração do tímpano. Esta vibração transmite-se à cadeia
ossicular atingindo a cóclea de onde partem estímulos nervosos que são
conduzidos ao córtex auditivo. Os sons servem para a transmissão de
informação, como no caso da linguagem, ou para a orientação espacial e
conhecimento do mundo. A audição é para a maioria das pessoas um sentido
secundário face à visão. Contudo a audição pode substituir ou completar os
outros sentidos.

1. Ondas sonoras
As ondas sonoras propagam-se pela vibração dos objectos e do ar. O som
propaga-se, no ar, à velocidade de 340 m/s não se propagando no vácuo. O
ouvido humano detecta frequências compreendidas entre 20 e 20.000 Hertz
(ciclos por segundo). Os sons graves têm baixas frequências e os sons

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agudos têm frequências altas. As três características de um som incluem a
tonalidade que varia com a frequência, o volume que depende da amplitude
e o timbre que está relacionado com a complexidade da onda sonora.

2. Estruturas do ouvido
O ouvido é o órgão da audição e do equilíbrio nos vertebrados. Situa-se no
osso temporal e divide-se em três compartimentos (Fig.1) que incluem: o
ouvido externo, o ouvido médio e o ouvido interno.
2.1. Ouvido externo
O ouvido externo funciona como um funil e é formado pelo pavilhão
auricular e pelo canal auditivo externo. O som é captado, amplificado e
orientado para o ouvido médio através do ouvido externo.

Fig. 1 – O ouvido pode ser dividido em três compartimentos: ouvido externo, ouvido
médio e ouvido interno.

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2.2. Ouvido médio
O ouvido médio destina-se a converter o som em energia mecânica aplicada
sobre o ouvido interno. O tímpano é uma membrana com cerca de 1 cm de
diâmetro que vibra com a energia sonora imprimindo movimento à cadeia
ossicular. Separa o ouvido externo do ouvido médio e está ligado à cadeia
ossicular formada pelo martelo, bigorna e estribo (Fig. 2). Destes ossículos
o martelo está aderente ao tímpano, a bigorna articula-se com o martelo e
com o estribo. Por fim o estribo actua sobre a cóclea. Este conjunto permite
que a força aplicada sobre a janela oval seja cerca de 20 vezes superior à
existente sobre o tímpano. O ouvido médio está ligado à nasofaringe por um
canal chamado trompa de Eustáquio (Fig.1) que permite equilibrar as
pressões dos dois lados do tímpano.

Fig. 2 – Ossículos do ouvido médio. O martelo está aderente ao tímpano e o estribo


exerce pressão sobre a janela ovale.

2.3. Ouvido interno


O ouvido interno destina-se a converter um estímulo mecânico num estímulo
nervoso. A cóclea faz parte do ouvido interno e transforma a onda de
pressão num sinal eléctrico que é conduzido até ao córtex auditivo. A cóclea
tem a forma de um caracol com duas voltas e meia. O estribo exerce pressão
na janela oval que a transmite à cóclea. No interior da cóclea existe o canal
coclear que contem o órgão de Córti que transforma os estímulos de

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pressão em impulsos nervosos. No interior da cóclea por cima do canal
coclear existe um canal chamado rampa vestibular e por baixo outro canal
chamado rampa timpânica. A rampa timpânica abre-se na janela redonda
que serve para descompressão da força aplicada sobre a janela oval pelo
estribo. O canal coclear está preenchido pela endolinfa e apresenta a
membrana basilar em baixo e a membrana tectorial em cima. Entre estas
duas membranas situa-se o órgão de Córti que é uma estrutura complexa.

Fig. 3 – A – Canais semicirculares e cóclea. B – Anatomia da cóclea. C – Anatomia do


orgão de Córti.
O órgão de Córti é formado por células ciliadas que se despolarizam quando
sofrem uma deformação motivada pela onda sonora. Os sons agudos, de

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maior frequência, fazem vibrar a membrana basilar junto à janela oval os
sons mais graves, de mais baixa frequência, fazem vibrar a membrana na sua
porção terminal.

3. Vias auditivas
As fibras nervosas que abandonam a cóclea juntam-se às fibras vestíbulares
e formam o nervo auditivo também chamado VIII par. Estas fibras entram
no tronco cerebral e fazem sinapse no núcleo coclear, que se situa na
protuberância. Daí partem fibras que passam pelo lemnisco lateral até
atingirem os tubérculos quadrigémios inferiores. Daqui partem axónios
para o corpo geniculado interno do tálamo que por sua vez envia axónios
para o córtex auditivo primário que se situa no lobo temporal (Fig. 4). À
volta do córtex auditivo primário situa-se o córtex auditivo secundário que
analisa os sons e os encaminha para outras áreas.

Fig. 4 – Corte coronal passando pelos lobos temporais. A via da audiçãio termima a nível
da região temporal bilateralmente, isto é, cada ouvido tem representação cortical bilateral.

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Cada um dos lobos temporais recebe informação proveniente dos dois
ouvidos. Há uma correspondência entre as regiões do órgão de Córti e a
projecção no córtex temporal da via auditiva.

4. Córtex auditivo
O córtex auditivo situa-se na porção superior do lobo temporal e representa a
última etapa da audição. Corresponde às áreas 41 e 42 descritas por
Brodmann. O córtex auditivo direito e o esquerdo comunicam por fibras que
atravessam o corpo caloso. O sistema auditivo contem fibras directas e
cruzadas pelo que a informação de cada ouvido atinge os dois hemisférios
cerebrais. Contudo a via cruzada é mais rica em fibras pelo que se torna mais
activa. O ouvido direito, que tem uma ligação preferencial ao hemisfério
esquerdo, é melhor no reconhecimento de material verbal enquanto. O
ouvido direito, com ligação preferencial ao hemisfério direito, tem mais
capacidade para identificação de melodias.
As células do córtex auditivo primário estão organizadas por frequências e
fazem uma análise das características do som. As frequências mais baixas
são captadas posteriormente e as mais elevadas anteriormente. Estas células
têm uma organização tonotópica isto é a disposição cortical, em termos de
análise das frequências, é semelhante à disposição das células ciliadas ao
longo do orgão de Córti. O córtex auditivo primário comunica com o
secundário que orienta a informação referente à linguagem para a área de
Wernicke. A área de Wernicke situa-se no hemisfério esquerdo, na maioria
das pessoas, e é responsável pela compreensão da linguagem.

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5. Lesões cerebrais e perturbações auditivas
Na síndrome de Down, no autismo e nas dificuldades de aprendizagem há
um predomínio do ouvido esquerdo que está preferencialmente ligado ao
hemisfério direito. As lesões do lobo temporal podem ocasionar agnosias
auditivas que ser traduzem numa dificuldade em identificar o significado dos
estímulos auditivos. Pensa-se que os seres humanos nascem com uma
predisposição para identificar a música. A amusia é um défice adquirido que
prejudica a capacidade para identificar as características da música. A
agnósia para os sons é a incapacidade para perceber o significado de sons
não verbais como o toque de um alarme. Na agnósia verbal há uma
dificuldade para compreender o significado das palavras sem haver
dificuldade na identificação dos sons. A escrita espontânea, a linguagem oral
e a leitura estão mantidas.

5. Sistema vestibular
O sistema vestibular está relacionado com o equilíbrio, com os reflexos
posturais e com os movimentos oculares. O labirinto é o receptor das
informações que são enviadas para o tálamo, córtex sensitivo, cerebelo e
medula espinhal. Embora não esteja relacionado com a audição está ligado à
coclea e a sua lesão leva a surdez. O labirinto é formado pelos canais
semicirculares e pelos orgãos otolíticos.

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Fig. 5 – Os canais semicirculars com as ampolas, o sáculo e o utrículo formam o orgão do
equilíbrio

5.1. Canais semicirculares


Os canais semicirculares, em número de três, estão orientados nas três
direcções do espaço. Há um canal anterior, outro posterior e o terceiro é
lateral (Fig. 5). Os canais detectam movimentos angulares ou seja rotação da
cabeça. Estes canais estão preenchidos por um líquido chamado endolinfa e
têm uma dilatação chamada ampôla que contem células ciliadas
semelhantes às existentes no orgão de Córti. São estas células que vão
detectar os movimentos angulares.
5.2. Orgãos otolíticos
O utrículo e o sáculo são os orgãos otolíticos. Contém células ciliadas cujos
cílios se encontram inseridos numa substância gelatinosa com cristais de
carbonato de cálcio chamados otolitos. O utrículo e o sáculo estão
orientados em direcções perpendiculares.

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6. Vias vestibulares
As fibras resultantes do sistema vestibular vão-se unir às vindas da cóclea
para formar o nervo auditivo ou VIII par. A maior parte destas fibras termina
nos núcleos vestibulares do tronco cerebral. Estes núcleos para além de
estarem ligados entre si têm ligações ao cerebelo, à medula espinhal, aos
núcleos dos motores oculares e área sensitiva a nível do córtex parietal.

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