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Os Sentidos especiais

Audição
A audição é o sentido social mais importante, pois é o responsável pela
interação com as outras pessoas e o mundo. O encéfalo é capaz de transformar
estímulos como as ondas de pressão do ar em sons. As ondas sonoras são
formadas por áreas de compressão do ar, os picos (alta pressão), alternadas
com áreas em que as moléculas estão distanciadas, os vales (baixa pressão).
Dessa maneira, o som é a interpretação de amplitude, frequência e
duração dessas ondas. A frequência é a sequência de repetições dos picos de
ondas. Ela é medida em ondas por segundo ou Hertz (Hz). A audição média gira
em torno de 20 a 20.000 Hz. A amplitude significa a distância entre um vale e
um pico. A intensidade da onda sonora é uma função da amplitude. Ela é
medida em decibéis (dB). Uma conversação normal mede cerca de 60 dB e tem
frequência entre 100 e 3.000 Hz. Os sons acima de 80 dB podem danificar o
aparelho auditivo.
A transformação ou transdução das ondas sonoras em sons pelo encéfalo
é um processo que segue vários passos e exige estruturas especializadas da
orelha. Quando ocorre a produção de som, a orelha o capta, o conduz e o
transforma em impulso nervoso na área encefálica responsável pela audição.
Desse modo, a transdução de energia, ou seja, a transformação de energia da
onda sonora passa pelas seguintes etapas:
■ Vibração mecânica
■ Ondas fluidas
■ Sinais químicos
■ Potenciais de ação
■ Percepção da “audição”.

Cada parte da orelha é responsável por essas transformações.


Anatomicamente, a orelha é dividida em: orelhas externa, média e interna.
Em sua parte apical ou superior (a parte basal, de baixo, está apoiada
na membrana basilar), as células ciliadas são compostas por muitos feixes de

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cílios, as microvilosidades, que são especializações da membrana plasmática,
chamadas de estereocílios nas células ciliadas. Os estereocílios, apesar de
serem microvilosidades, são muito parecidos com cílios e ficam distribuídos em
fileiras de tamanho crescente (do menor para o maior). Os feixes de cílios,
estereocílios, ficam em contato direto com a endolinfa do ducto coclear, como
se estivessem mergulhados nela.
Existe uma membrana gelatinosa, denominada membrana tectória,
também imersa na endolinfa, que fica na parte superior e apoiada nas
extremidades dos estereocílios.
Já na parte de baixo da célula ciliar (parte basal) são feitas conexões
(sinapses) com neurônios sensitivos primários e neurônios motores, cujos
axônios formam o nervo vestibulococlear (VIII).

Fisiologia da audição

As ondas sonoras são captadas pela orelha externa e direcionadas para


o meato acústico externo, incidindo na membrana timpânica, o que a faz vibrar
para fora e para dentro. O tímpano está conectado ao martelo, que também
começa a vibrar. A vibração é transmitida rapidamente para a bigorna e o
estribo, que está conectado de um lado à bigorna e, do outro, à janela oval.
Com a vibração do estribo para frente e para trás, a janela oval vibra
com muita intensidade. Tal vibração produz movimentos de ondas na perilinfa
do ducto vestibular. Essas ondas passam pelo helicotrema e chegam ao ducto
timpânico, onde são dissipadas na janela redonda. Com os movimentos da
perilinfa, dos ductos vestibular e timpânico, a endolinfa do ducto coclear
também se movimenta, produzindo ondas nesse canal, que atingem o órgão de
Corti.
As ondas de endolinfa atingem a membrana basilar, que desloca as
células ciliadas em direção à membrana tectória, que causa uma curvatura nos
estereocílios. Ligando um estereocílio ao outro existem pequenos filamentos de
proteínas, que ficam acoplados em estruturas chamadas de armadilhas na
membrana plasmática das células ciliares. Quando ocorre a curvatura ou

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inclinação dos estereocílios, esses filamentos puxam as armadilhas, liberando
a passagem de eletrólitos da endolinfa para dentro da célula.
Com a abertura dos canais, dos portões na membrana plasmática das
células ciliares, ocorre uma grande entrada (influxo) de íons potássio (K+), o
que provoca sua despolarização. A curvatura dos estereocílios na direção
oposta fecha esses canais. Após a despolarização, a célula ciliar promove a
exocitose de neurotransmissores, principalmente o glutamato, que age nos
neurônios sensitivos do nervo coclear, causando também sua despolarização.
Por fim, o impulso nervoso segue a via auditiva até chegar ao principal centro
de tradução no lobo temporal do córtex cerebral.

Vias auditivas ou acústicas

Após a geração do potencial de ação pelo órgão de Corti na orelha interna, o


impulso nervoso segue o trajeto apresentado a seguir:
■ O nervo vestibulococlear (VIII) vai em direção à medula oblonga, onde
algumas fibras cruzam para o lado oposto e outras se mantêm do mesmo lado;
■ Em seguida, as fibras passam pelo mesencéfalo e o tálamo;
■ Do tálamo, os sinais acústicos dirigem-se à área primária da audição, no giro
temporal superior do córtex cerebral.

Equilíbrio
A posição do corpo humano no espaço é função desse sentido que
também é chamado de estado de balanço, estático (parado) ou dinâmico (em
movimento). Informações sensitivas vindas da orelha interna, dos
proprioceptores (articulações e músculos) e da visão informam o encéfalo sobre
a posição do corpo a cada momento.
O aparelho vestibular, a principal estrutura que fornece informações
sobre o equilíbrio, está localizado na orelha interna, juntamente com a cóclea.
Assim como a cóclea, esse aparelho é constituído por vários canais preenchidos
por endolinfa. Esse aparelho inclui os órgãos otolíticos, sáculo e utrículo, e os
canais semicirculares.

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As células ciliadas fazem sinapses com os neurônios sensitivos do ramo
vestibular do nervo vestibulococlear (VIII).

Vias do equilíbrio

As fibras nervosas do ramo vestibular do nervo vestibulococlear (VIII)


saem da orelha interna e direcionam-se para o tronco encefálico, em regiões
da medula oblonga e da ponte. Algumas fibras passam direto e chegam ao
cerebelo. As fibras percorrem a formação reticular e alcançam o tálamo, que
projeta os tratos em direção ao córtex cerebral.

Visão
A visão é a tradução da luz (ondas eletromagnéticas) em imagens mentais
nas áreas encefálicas. Assim como na audição, serão descritas as principais
estruturas com suas funções fisiológicas, seguindo os passos.

Estruturas acessórias

Os olhos dispõem de várias estruturas acessórias que contribuem na


fisiologia da visão, tais como sobrancelhas, pálpebras, pestanas (cílios),
aparelho lacrimal e músculos extrínsecos.
A parte neural, neurônios retinianos, é composta por três camadas
acima do epitélio pigmentado, onde existem várias conexões sinápticas. Na
sequência fisiológica, são encontradas:
■ Camada de fotorreceptores
■ Camada de células bipolares
■ Camada de células ganglionares.
Em resumo, a camada de fotorreceptores está apoiada no epitélio
pigmentado e o seu outro lado faz sinapses com as células bipolares. As células
bipolares ficam no meio, ou melhor, entre os fotorreceptores (parte de baixo)
e as células ganglionares (parte de cima).

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■ Camada de fotorreceptores

Essas células são as responsáveis em transformar os raios luminosos


em impulsos nervosos. Cada retina contém milhões dessas células, chamadas
de cones e bastonetes.
O corpo humano dispõe de cerca de 120 milhões de bastonetes, células
que captam as gradações do cinza. Os bastonetes, portanto, não promovem a
visão de cores e sim a visão em luz fraca ou com pouca luminosidade, como a
visão noturna (monocromática). Estão espalhados na periferia da retina.
Os cones são menos numerosos, aproximadamente 6 milhões, mas essas
células captam intensidades mais fortes de luz e possibilitam a visão das cores.
Existe uma região, a mácula lútea, que fica no centro da parte posterior da
retina. Bem no meio da mácula lútea existe uma depressão denominada fóvea
central, onde estão apenas os cones, pois as camadas das células bipolares e
ganglionares foram deslocadas para os lados da fóvea. Com isso, a fóvea
central é a área da retina com maior grau de resolução ou acuidade visual.

■ Camada de células bipolares

A conexão entre as células bipolares e os fotorreceptores é chamada


camada sináptica externa. As células bipolares podem ser de três tipos: células
horizontais, células bipolares e células amácrinas. Logo acima das células
bipolares está a sinapse com as células ganglionares, resultando em uma área
chamada camada sináptica interna.

■ Camada de células ganglionares

Após realizarem sinapses com as células bipolares, os axônios das


células ganglionares formam o nervo óptico. Esse nervo sai do globo ocular
por um orifício chamado disco óptico, também conhecido como ponto cego, já
que não tem cones e bastonetes, de maneira que não se consegue ver a imagem
nesse local.

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O olho é construído em três camadas: túnica fibrosa, túnica vascular e
retina.
► Túnica fibrosa. É formada por esclera (dá forma e protege as partes
internas) e córnea (recebe e refrata a luz).
► Túnica vascular. É formada por coroide (proporciona suprimento sanguíneo
e absorve a luz difusa), corpo ciliar (secreta o humor aquoso e altera a forma
do cristalino para a visão de perto ou de longe [acomodação]) e íris (regula a
quantidade de luz que entra no globo ocular).
► Retina. Recebe a luz e a transforma em potenciais receptores e em impulsos
nervosos. Sua saída para o encéfalo é por meio de axônios das células
ganglionares, que formam o nervo óptico (NC II).
Os fotorreceptores são divididos como:
■ Bastonetes: responsáveis pela visão noturna monocromática;
■ Cones: responsáveis pela alta acuidade visual e pela visão colorida durante
o dia.

► Fisiologia da visão

O retinal, na ausência da luz, encontra-se na forma cis-retinal. Quando


os raios luminosos estimulam os fotorreceptores, o cis-retinal absorve os
fótons de luz e transforma-se em trans-retinal. Essa transformação recebe o
nome de isomerização. A isomerização provoca várias reações químicas
intracelulares, cuja consequência é a produção de sinais elétricos.
O trans-retinal separa-se completamente da opsina em cerca de 1 min,
o que faz gerar um produto sem cor. Por isso, essa fase é conhecida como
descoramento do fotopigmento. Após o descoramento, uma enzima chamada
isomerase do retinal tranforma o trans-retinal novamente em cis-retinal.
Finalmente, cis-retinal livre pode se ligar à opsina, dando origem a outro
fotopigmento. Dessa maneira, há nova produção de fotopigmento. Essa última
etapa é denominada regeneração.
Como se pode observar, essas reações químicas são processos cíclicos,
nos quais a mesma estrutura que inicia os eventos é produzida no final.

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Em resumo: isomerização → descoramento → regeneração →
isomerização → descoramento → regeneração (tudo isso ocorre dentro dos
fotorreceptores).
Os fotorreceptores fazem sinapses com as células bipolares, localizadas
entre os fotorreceptores (abaixo) e as células ganglionares (acima). Os axônios
das células ganglionares formam o nervo óptico.
Um detalhe importante sobre os fotorreceptores é que, no escuro, o
comportamento dessas células é de liberação de neurotransmissores
(glutamato) em função da abertura dos canais de sódio. Como o glutamato é
uma substância inibitória, as células bipolares sofrem ações inibitórias.
Todavia, no claro, sob a ação dos raios luminosos, a isomerização do retinal
fecha os canais de sódio e provoca um potencial hiperpolarizante.
Com isso, há diminuição e parada da liberação de glutamato nas sinapses
com as células bipolares. Com a ausência do glutamato (neurotransmissor
inibitório), as células bipolares ficam excitadas, liberando neurotransmissores
nas sinapses com as células ganglionares.
Após sofrerem excitação, as células ganglionares disparam sinais
elétricos para os seus axônios. Todos os axônios das células ganglionares
formam o nervo óptico (NC II), que sai do globo ocular pelo disco óptico e
segue pela via visual até a área de tradução no córtex occipital.

Via visual

■ Os nervos ópticos seguem em direção ao quiasma óptico, área de cruzamento


dos nervos e, em seguida, formam o trato óptico;
■ O trato óptico termina no núcleo geniculado lateral do tálamo;
■ Deixando o tálamo, o nervo óptico prossegue rumo à área primária da visão,
localizada no lobo occipital do córtex cerebral.

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Olfato
A palavra olfato deriva de olfacere, que significa cheirar. As células
receptoras olfatórias localizam-se na cavidade nasal e são estimuladas por
substâncias químicas voláteis, ou seja, que evaporam, espalham-se pelo ar e
chegam às narinas.
As células olfatórias apresentam cílios na sua parte voltada para a
cavidade nasal. Esses cílios são recobertos por um muco, cuja função é
aprisionar as moléculas químicas do odor. Após ficarem presas no muco, as
moléculas odoríferas encaixam-se nos receptores de membrana presentes nos
cílios e ativam a via de segundo mensageiro, causando a despolarização da
célula.
Em seguida, do outro lado da célula olfatória, os axônios formam o nervo
olfatório (I) e levam os impulsos nervosos em direção à região de tradução desse
sentido, localizada no bulbo olfatório, imediatamente abaixo dos lobos frontais
do cérebro.
A via olfatória realiza conexões sinápticas nessa área e segue pelo trato
olfatório até o lobo temporal do córtex.

Paladar
O paladar, ou gustação, assim como o olfato, é um sentido químico. O
paladar depende da combinação de alguns tipos de sensação como azedo, doce,
salgado e amargo.
O gosto salgado é desencadeado pela presença dos íons sódio (Na+). Já
o azedo origina-se de substâncias ácidas (H+), e a sensação do doce, de
moléculas orgânicas pequenas (baixo peso molecular), como glicose, frutose e
alguns aminoácidos. O gosto amargo é derivado de moléculas orgânicas
grandes (alto peso molecular) e também nitrogenadas, que apresentam o
nitrogênio em sua constituição. O gosto amargo pode representar perigo para
o corpo humano, pois muitas substâncias tóxicas são amargas.
As células receptoras desse sentido localizam-se em várias partes da
cavidade bucal, principalmente na língua. As células receptoras agrupam-se e

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formam os órgãos gustativos, juntamente com outras células, resultando em
estruturas especiais chamadas de papilas ou botões gustativos.
Os botões gustativos estão espalhados na língua, mas existem regiões
nas quais as papilas agrupam-se em maior número e captam gostos
específicos. Na ponta da língua (região anterior), por exemplo, são encontradas
as papilas fungiformes, que captam os sabores doces e salgados. Na região
de trás (posterior) da língua, existem as papilas circunvaladas que,
predominantemente, traduzem o gosto amargo. Nas bordas da língua (lados),
encontram-se as papilas foliáceas, sensíveis ao gosto ácido ou azedo.
Após a despolarização das células gustatórias na língua pelos sinais
químicos, os axônios dessas células seguem em direção à medula oblonga por
três nervos: facial (NC VII), glossofaríngeo (NC IX) e vago (NC X). Depois, da
medula oblonga, algumas fibras seguem diretamente para o sistema límbico e
hipotálamo, e o restante das fibras parte no sentido do tálamo. A partir do
tálamo, as fibras direcionam-se à principal área de tradução do paladar, o lobo
parietal do córtex cerebral.

REFERÊNCIA:

BOER, Nilton César Pezati. Fisiologia: curso prático. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2017.

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