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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DÂMARES VIEIRA DE PAULA


GABRIEL CAMPOS PEREIRA
HEITOR MUNIZ BARRETO ROMUALDO
JULIA PEREIRA BATITUCCI
YURI FRANÇA CALMON

INTEGRAÇÃO BÁSICO-CLÍNICA I
CASO CLÍNICO 2 - DENGUE

VITÓRIA
2024
TERMOS DESCONHECIDOS

Cefaleia: dor em qualquer região da cabeça.


Dor retro-orbitária: dor atrás dos olhos.
Artralgia: dor nas articulações.
Mialgia: dor nos músculos.
HVacinal: histórico vacinal.
Prova do laço: exame, realizado em caso de suspeita de arboviroses, que busca
identificar a fragilidade dos vasos sanguíneos.
HD: histórico da doença.

RESUMO

A paciente Flávia de Oliveira Silva, moradora de Vila Velha-ES, de 39 anos, procurou


a UBS após assistir a uma reportagem televisiva sobre o aumento dos casos de
dengue no Espírito Santo. Além disso, ela deseja ser mãe e parar com o
anticoncepcional. Não apresentava nenhuma alteração cutânea, ausculta pulmonar
e cardiovascular normais, abdome normal, PA – 120 x 80mmHg, frequência
cardíaca: 84bpm, temperatura de 38,5ºC e nega diabetes, hipertensão ou doenças
hepáticas. Prova de laço foi realizada, com resultado negativo. Hemograma dentro
da normalidade. Pelo contexto da epidemia, a usuária foi orientada a fazer uso de
soro caseiro para reidratação oral e paracetamol 750mg de 6/6 horas. Retorno em
48 horas para reavaliação.

ANATOMIA

1. Descreva as características de uma articulação sinovial.

As articulações sinoviais compõem a maioria das articulações, e são caracterizadas


por serem livremente móveis, limitado apenas por ligamentos, músculos, tendões ou
ossos adjacentes. Outra característica da Articulação Sinovial é a presença de um
líquido preenchendo a cavidade articular.
Essa articulação apresenta as seguintes propriedades: Uma cartilagem articular,
uma membrana sinovial e o líquido sinovial.

A cartilagem articular é uma fina camada de cartilagem hialina que cobre a


superfície articular lisa dos ossos. A cápsula articular é uma membrana dupla que
envolve e encerra a articulação, suas fibras estão aderidas ao periósteo ósseo. A
camada mais interna da cápsula é chamada de membrana sinovial, essa membrana
produz um líquido espesso chamado líquido sinovial, que é responsável pela
nutrição da cartilagem articular e pela lubrificação das superfícies articulares,
servindo também como amortecedor de peso, não permitindo que as cartilagens
façam contato direto entre si.

Além dessas quatro características, algumas dessas articulações sinoviais possuem


discos articulares, ou meniscos, que se estendem para dentro da articulação a partir
da cápsula articular.

Figura 1:Ilustração de uma articulação sinovial e suas estruturas.

Fonte: Oliveira, Harley Francisco: Anatomia disciplinas USP.

Vale salientar que, as articulações sinoviais são classificadas conforme os seus


movimentos e formato de suas fasces articulares.

Tipos de articulações sinoviais:

Gínglimo: Realizam o movimento de flexão e extensão; exemplo a


articulação do cotovelo.
• Trocóidea: Realizam o movimento de rotação em torno de seu próprio eixo;
exemplo a articulação atlantoaxial.
• Elipsoídea: Realizam o movimento de flexão, abdução, adução e extensão e
circundação; exemplo a articulação metacaropofalângica.
• Selar: Realizam o movimento de flexão, abdução, adução e extensão;
exemplo a articulação carpometacarpal.
• Esferóidea: Realizam os movimentos de flexão, abdução, adução, extensão,
rotação e circundação; exemplo a articulação do quadril.
• Plana: Permite apenas o movimento de deslizamento; exemplo a articulação
acromioclavicular.

2. Descreva os componentes da cápsula articular

A cápsula articular é o principal meio de união dos ossos nas articulações sinoviais e
reveste a cavidade articular, envolve as peças ósseas e mantêm a sinóvia na
cavidade articular. Tal estrutura é composta por duas camadas: uma camada de
membrana fibrosa externa, que é revestida por uma membrana sinovial serosa,
localizada internamente e que produz a sinóvia. Além disso, o periósteo funde-se
com a camada fibrosa da cápsula articular.

Figura 2 - Componentes do osso

Fonte: Anatomia orientada para a clínica -Moore


Figura 3 - Ilustração das características essenciais e não essenciais das articulações sinoviais
a) membrana fibrosa da cápsula articular; b) membrana sinovial da cápsula articular; c) cavidade
articular; d) cartilagem articular

Fonte: Manual de Anatomia Humana para estudantes de nutrição

3. O que significa “dengue expandida” e quais os principais sistemas são


afetados?

A Organização Mundial da Saúde, no ano de 2011, descreveu a chamada síndrome


da dengue expandida em um guia para prevenção e controle global (WHO, 2011). A
necessidade de uma denominação própria foi dado pelo estudo de formas incomuns
da manifestação do vírus da dengue (DENV), incluindo o comprometimento de
órgãos vitais como os rins, o coração ou até mesmo o cérebro.
Ademais, como resume Kularatne (Kularatne, Dalugama; 2022), os principais
sistemas afetados neste tipo de dengue são:

● Neurológico - Encefalite, encefalopatia, neuropatias, síndrome de


Guillain-Barré;

● Gastrointestinal - Hepatite, colecistite, pancreatite, necrose hepática


hemorrágica;

● Renal – Nefrite;

● Cardíaco – Miocardite, pericardite;

● Musculoesquelético – Miosite;

● Hematológico - Linfo-histiocitose hemofagocítica, trombocitopenia imune


(Kularatne, Dalugama; 2022).

É necessário apontar também que muitos casos do DENV que se tornam dengue
expandida não são registrados, tanto pelo desconhecimento da possibilidade destes
sintomas quanto pela sua característica atípica de ataque a diversos sistemas do
corpo humano (WHO, 2011).

4. Em que fase costuma acontecer e quais são as principais manifestações


cutâneas da dengue.

Segundo Kularatne, é na fase febril da dengue – que ocorre tipicamente entre o


terceiro e sétimo dia – que manifestam-se os sintomas visíveis na epiderme
humana, como o branqueamento da pele por pressão (Fig. 1), podendo ter ou não
erupções morbiliformes – pequenas maculo-pápulas eritematosas – e ilhas de áreas
pálidas (Kularatne, Dalugama; 2022).

Figura 4 - branqueamento na pele causado por pressão superficial


Fonte: Ranjan Premaratna. Professor de medicina. University of Kelaniya. Sri Lanka.

Ademais, durante os últimos dias da fase febril, é comum ocorrerem petéquias (Fig.
2) – pontos vermelhos ou amarronzados – ao longo do dorso dos pés, nas pernas,
nas mãos e nos braços. Em alguns casos, a coceira na pele pode ser constatada
(WHO, 2011).

Figura 5 - petéquia nos membros inferiores

Fonte: MD Edge, Demartology

HISTOLOGIA
Qual o principal local de absorção de água e de eletrólitos no organismo?
Qual(is) a organização histológica em camadas desta parte?
O principal local de absorção de água e eletrólitos situa-se na mucosa do intestino
delgado, absorvendo cerca de 6 a 7L de água, 30 a 35g de sódio. Tanto a água
quanto os íons são absorvidos não região apical e liberados na membrana
basolateral. Assim, através de moléculas transportadoras, como canais iônicos e
aquaporinas ocorrerá o transporte dos eletrólitos e da água, respectivamente
(Gartner; Leslie, 2022).

Segundo Aires (2018), geralmente, são ingeridos 2 L de água por dia, sendo que 7 L
são secretados pelo trato gastrointestinal (TGI), totalizando 9 L. O intestino delgado
é responsável por absorver 7,5 L desse fluido, já o cólon, subdivisão do intestino
grosso absorverá 1,4 L. Com isso, 0,1 L de liquido será expelido junto com as fezes.

Figura 6 – Volume de água ingerida, secretada e absorvida ao longo do trato gastrointestinal

Fonte: ‌Gartner; Leslie (2022)


Uma das consequências da dengue é a desidratação. Sendo que, os sintomas de
diarreia e vômitos potencializam a perda de fluidos, ocasionando a excreção agua e
sais essenciais para a manutenção da homeostase (Kularatne; Dalugama, 2022).
Em virtude disso, o uso de “soro caseiro” ou soro fisiológico são fundamentais para
impedir a descompensação de sais e água no organismo.

A organização histológica do intestino delgado será apresentada na imagem abaixo,


explicitando as suas estruturas seguidas de suas respectivas funções (Gartner;
Leslie, 2022).

Figura 7 – Histologia do intestino delgado

Fonte: ‌Gartner; Leslie (2022)

Vilosidades(V): Aumentam a superfície de contato, auxiliando na absorção.

Lúmen (L): Cavidade ou espaço interno do intestino delgado.

Criptas de Lieberkühn (CL): São glândulas tubulares simples.


Placas de Peyer (PP): Região onde há um acumulo de elementos linfoides.

Lâmina própria (LP): Região composta de tecido conjuntivo frouxo, onde está
presente as criptas de Lieberkühn.

Camada serosa (Se): O íleo, jejuno e parte do duodeno são compostos por uma
camada serosa.

Plexo mioentérico de Auerbach (setas): Estão localizados entre a camada


circular interna (CI) e a camada longitudinal externa (LE).

Tecido conjuntivo subseroso (TCSSe): Localizado entre a camada longitudinal


externa (LE) e camada serosa (Se).

EMBRIOLOGIA

Quais os problemas ocasionados pela dengue durante a gestação Faça a


relação entre atividade da placenta e a dengue.

Dependendo do grau da doença, do estágio da gravidez e do estado de saúde geral


da mãe, a dengue pode provocar sérios efeitos na grávida e no feto. Alguns desses
efeitos estão expressos abaixo.

Complicações na gravidez:

● Morte da mãe: casos raros;

● Aborto espontâneo;

● Parto prematuro.

Complicações no feto e no recém-nascido:

● Bebê natimorto/ morte do recém-nascido

● Baixo peso no nascimento

● Restrição de crescimento intra uterina (IUGR)

● Atrasos no desenvolvimento neurológico


● Problemas motores

● Sistema Imunológico.

O vírus da dengue tem habilidade de passar através da placenta. Esse fenômeno


pode ocorrer em qualquer momento da gravidez, sendo mais comum logo antes do
parto. Quanto maior for o nível viral na circulação, maiores são as chances de
transmissão vertical da dengue para o feto. A dengue neonatal se manifesta com
febre, manchas, sangramento e hepatomegalia.

MEDICINA SOCIAL

1. O que é epidemiologia e qual a sua importância nos estudos das doenças


infecciosas?

Epidemiologia é o conhecimento que permite estudar o processo de saúde-doença


em coletividades humanas tendo como objetivo a distribuição da doença na
população, no tempo e no lugar. Nesse sentido, a epidemiologia permite descrever,
explicar e analisar causas, consequências e impactos, utilizando saberes de
diversas áreas de conhecimento.

No estudo do processo saúde e doença a epidemiologia:

● Analisa a distribuição dos determinantes das doenças, dos danos e dos


eventos relacionados à saúde;

● Propõe medidas específicas de prevenção e controle de doenças, de danos e


de eventos relacionados à saúde;

● Subsidia, por meio de indicadores, o planejamento, a administração e a


avaliação das ações em saúde.

2. Por que podemos considerar a Dengue uma epidemia no momento atual?


Justifique.

O conceito de epidemia está relacionado com o número crescente de incidência de


casos de uma doença em diversas regiões, sem resultar em uma escala global
(Carvalheiro, 2008).
Segundo o Ministério da Saúde (2018), há uma característica fundamental para
classificar uma epidemia. Primeiro, as pessoas iram se expor ao fator de risco, tendo
em vista que terá o fator de incubação. Assim, o individuo não expressará os
sintomas da doença. Entretanto, haverá um elevado aclive na curva epidemiológica,
atingido o pico da doença, mantendo- se em números elevados de casos por
determinado momento. Em caso mais graves, poderá ocorrer uma série de picos da
doença. Logo, terá um momento que ocorrerá um declive gradual da doença até que
ela se estabilize.

Gráfico 1 – Curva epidemiológicos

Fonte: Ministério da Saúde (2018)

Por meio dessa interpretação gráfica da curva epidemiológica, pode-se comparar


com a epidemia de dengue no ano de 2024. Visto que, os números de casos de
dengue estão bastante elevados, tendo em vista que foram notificados 71.144
casos, sendo que a incidência é de 1.750,57 casos para 100 mil habitantes, durante
as 10 primeiras semanas de 2024. Logo, a população do Espirito Santa se encontra
em um momento de aclive da propagação da doença, o que indica uma rápida
disseminação dessa doença.
Conforme o critério de classificação da dengue, os habitantes do Espirito Santo
estão enquadrados no nível alto de incidência, mais de 300 casos por 100 mil
habitantes, o que reforça a gravidade desse surto epidemiológico de dengue.

3. Considerando as condições de vida e desigualdades sociais, qual a


população mais afetada pela Dengue? Justifique.

Ao levar em conta as condições de vida e as desigualdades sociais, certamente as


mulheres pretas e pardas são o grupo da população com maior registro de casos
prováveis de dengue em 2024 no Brasil, em especial aquelas entre 30 e 39 anos. Os
dados foram retirados da Folha de São Paulo e provêm do painel de monitoramento
da doença do Ministério da Saúde. Tais dados são o reflexo de um cenário
permeado por desigualdades, que atingem majoritariamente os grupos
marginalizados, ou seja, as mulheres pretas e pardas. Sendo assim, localizado em
territórios vulneráveis, atingido pela escassez econômica e pela negligência estatal,
esse grupo específico não é assistido pelos trabalhos preventivos e pelas políticas
públicas do Estado e, muitas vezes, vive em condições precárias de trabalho e
moradia. Consequentemente, privadas de recursos como saneamento básico,
acesso a vacinas, a tratamentos e a informações, é inevitável que essas mulheres
sejam as mais atingidas pela dengue.

REFERÊNCIAS

Oliveira, Harley Francisco: Anatomia disciplinas USP, São Paulo. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/82587/mod_folder/content/0/Livro_Anatomia/
Capitulo-06.pdf?forcedownload=1

MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F.; AGUR, Anne M. R.. Anatomia Orientada para
Clínica. 8. ed. Rio de Janeiro, RJ: Grupo Gen, 2022. 1096 p.

BAPTISTA, Josemberg da Silva. Manual de anatomia humana para estudantes de


nutrição. Vitória: Edufes, 2020. Disponível em:
ps://drive.google.com/file/d/10m2VCt3BesDVVnD-QaIfW_W6NQNq1nWC/view.
Acesso em: 22 mar. 2024.
AHUJA, Shivani; MUNTODE GHARDE, Pramita. A Narrative Review of Maternal

and Perinatal Outcomes of Dengue in Pregnancy. Cureus, 11 nov. 2023.

Disponível em:

https://assets.cureus.com/uploads/review_article/pdf/174221/20231211-14278-c

g1gb0.pdf. Acesso em: 22 mar. 2024.

Guido Palmeira Gladys, Miyashiro Miyashiro, Juliana Valentim Chaiblich

FIOCRUZ: Epidemiologia

Disponível

em:https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/handle/icict/39909/T;jsessionid=CDFD

2FED46BF560313EBC378A412DB7B?sequence=2

Carvalheiro, J. DA R. Epidemias em escala mundial e no Brasil. Estudos


Avançados, v. 22, n. 64, p. 7–17, dez. 2008.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia para Investigações de Surtos ou Epidemias. [s.l:


s.n.]. Disponível em
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_investigacao_surtos_epidemias.p
df>.

GARTNER, Leslie P. Tratado de Histologia. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN,


2022. E-book. ISBN 9788595159003. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595159003/. Acesso em: 22
mar. 2024.

AIRES, Margarida de M. Fisiologia, 5ª edição. [Digite o Local da Editora]: Grupo

GEN, 2018. E-book. ISBN 9788527734028. Disponível em:

https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527734028/. Acesso em:

23 mar. 2024.
KULARATNE, S. A.; DALUGAMA, C. Dengue infection: Global importance,
immunopathology and management. Clinical Medicine, v. 22, n. 1, p. 9–13, jan.
2022.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Comprehensive Guideline for Prevention and


Control of Dengue and Dengue Haemorrhagic Fever. Revised and expanded
edition. WHO Regional Office for South-East Asia. 2011.

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