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COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO 1

GUDAT, Ulrich. Compreensão de um terapeuta sobre Bioenergética. Apostila do curso de


Especialização em Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2009.
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COMPREENSÃO DE UM TERAPEUTA SOBRE BIOENERGÉTICA

Ulrich Gudat

PERSPECTIVA HISTÓRICA

A Análise Bioenergética desenvolveu-se fora da Psicanálise. Aluno de


Freud, Wilhelm Reich começou a trabalhar diretamente com o corpo como
técnica terapêutica nos anos trinta. Em sua “Vegetoterapia”, trabalhou
particularmente para aprofundar e liberar a respiração de modo a melhorar e
intensificar a experiência emocional. Alunos de Reich, Alexander Lowen e John
Pierrakos, posteriormente, desenvolveram e expandiram esse método até a
atualmente denominada Análise Bioenergética (LOWEN, 1958; 1975).
A base do método bioenergético é o entrelaçamento estreito dos
processos mentais / psíquicos e físicos (Reich, em 1971, fala de uma
“identidade funcional” entre mente e corpo). As mais importantes experiências
de vida encontram expressão não somente no funcionamento mental e
psíquico, mas também no corpo: na postura, nos padrões de reação e também
nas inibições da mobilidade, respiração e expressão. Estes padrões
incorporados representam a “estrutura de caráter” que influencia a
autopercepção física, a autoestima, a autoimagem e os padrões básicos de
intercâmbio com o ambiente.
Em termos gerais, em sua teoria, a Análise Bioenergética corresponde à
abordagem psicanalítica. A diferença essencial repousa no método de
tratamento. O terapeuta bioenergético possui, em seu uso de uma terapia
corporal, uma “segunda linguagem”, com a qual se comunica com o paciente.
Enquanto o paciente, em suas ações físicas, demonstra os padrões
básicos pelos quais interage com o mundo e com as pessoas de referência
relevantes, o terapeuta bioenergético pode responder igualmente no nível
corporal, dando suporte, confirmando, encorajando, oferecendo resistência ou
frustrando. Dessa maneira, um diálogo fisicamente orientado vem à tona, de

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CENTRO REICHIANO DE PSICOTERAPIA CORPORAL LTDA
Av. Pref. Omar Sabbag, 628 – Jd. Botânico – Curitiba/PR – Brasil - CEP: 80210-000
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acordo com a corrente habilidade ou prontidão do paciente, complementando,


acompanhando ou substituindo a comunicação verbal com o paciente1.
A experiência demonstra que esta “segunda linguagem” também fala à
experiência pré-verbal do paciente, que então revive relações objetais
precoces. Desta forma, de forma bem sucedida, alcança-se mais facilmente do
que com a terapia puramente verbal um nível suficientemente profundo de
experiência, no qual a estrutura básica do problema agudo ou da desordem
torna-se visível e pode ser tratada.
O trabalho corporal torna-se psicoterapeuticamente eficiente de dois
modos complementares:
Primeiro: movimentos evitados previamente, sensações e experiências
são (re)ativados pelas intervenções corporais terapêuticas. Isto permite que
material psíquico inconsciente venha à luz e se torne acessível à elaboração
mental e psíquica e ao tratamento. O trabalho corporal é assim um meio de
acessar o material inconsciente do paciente, comparável à interpretação de
sonhos na Psicanálise clássica. O tempo todo, o corpo surge como uma
realidade fenomenológica, como um espaço para a experiência pessoal e como
o portador de experiências e de significados em uma ordem simbólica. O efeito
curativo é baseado na recém fundada possibilidade de processar a experiência
precoce, tornando então viável sua reavaliação, conclusão e integração dentro
do processo terapêutico.
Segundo: embora o que foi dito acima possa parecer suficiente para
justificar o uso de métodos corporalmente orientados em psicoterapia, Reich e
Lowen sugerem ainda outro modo de operação; a mobilização da energia
curativa pela ativação energética num nível imediatamente físico. Técnicas
essenciais, nesse sentido, baseiam-se no aprofundamento da respiração, na
liberação de tensões musculares por meio de respiração especial e de técnicas
expressivas e em intervenções de liberação muscular. Há ainda técnicas
desenvolvidas para aumentar o relaxamento físico e a motilidade em geral,

1
Interações físicas não devem ser simplesmente equiparadas a tocar. À parte de intervenções
de toque, tais como massagem, pressão em certas áreas musculares, contenção física,
suporte, etc., há também diversas maneiras de intervir corporalmente que não envolvem tocar
o corpo; por exemplo, convidar a executar certos movimentos, tomar certas posturas, sentir a si
mesmo em relação a objetos imaginados ou substitutivos ou com a experiência de interagir
com o terapeuta de uma maneira particular.
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bem como o encorajamento e o suporte para determinados processos físicos


inconscientes e para a livre e profunda expressão das emoções. Assim, nesse
momento, os processos mentais, intelectuais, são ultrapassados e somente as
mudanças físicas acima mencionadas são focalizadas. De maneira ainda mais
marcante, o recém adquirido acesso à experiência emocional profunda
modifica uma série de parâmetros fisiológicos, juntamente com a autoestima da
pessoa, e com muitos outros processos mentais. Conectado a esse processo,
o contato da pessoa com seu ambiente social também muda. De acordo com a
hipótese subjacente, todas essas mudanças ganham espaço como
consequência dos eventos energéticos (isto é, fisiológicos, musculares, etc.).
Além disso, Lowen estabeleceu o conceito e a prática do grounding, o
qual ocorre primeiramente no nível físico. Estar grounded significa ter
segurança física e também flexibilidade. Fenomenologicamente significa estar
conectado à realidade. A ênfase no grounding e no contato com a realidade
leva a terapia a trabalhar no direcionamento social de aproximadamente todos
os movimentos emocionais. Então, as relações sociais, familiares,
profissionais, políticas e ideológicas da pessoa também se tornam foco de
atenção em terapia.
A Terapia Bioenergética, tal como ensinada por Lowen e seus
colaboradores, combina métodos de trabalho orientados ao corpo e leva em
consideração o sistema social, referindo-se a um processo de terapia
organizado de maneira flexível e de acordo com a evolução de cada caso
individual. Esta combinação de trabalho psicológico-fenomenológico interno,
físico-energético e social-sistêmico é de fato um aspecto característico da
Análise Bioenergética. Recentemente, a conexão do trabalho com a relação
terapêutica, no sentido da teoria de relações objetais, tem crescido em
importância. A enorme complexidade envolvida nesta tarefa de grande alcance
traz, de um lado, desafios ao terapeuta, enquanto, por outro lado, torna
compreensível porque tentativas de descrição sistemática desse método
terapêutico são escassas.
A Análise Bioenergética foi primeiramente desenvolvida como um
método de tratamento de pessoas com desordens neuróticas (depressão,
ansiedade) e para pessoas com problemas relacionados à sexualidade e aos
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vínculos. Em função do acesso à vivência corporal, trouxe benefícios ao


tratamento de desordens de personalidade pré-verbais (como os problemas
narcisista e borderline) e, logicamente, para o tratamento de doenças
psicossomáticas, em especial as funcionais. Pessoas sem desordens clínicas
podem experimentar a Análise Bioenergética para encontrar um caminho
satisfatório fora de crises vitais, para aprofundar suas sensações ou para
vivenciar a liberdade na alegria e na criatividade.

REFERÊNCIAS

LOWEN, Alexander. The Language of the Body. New York: MacMillan


Publishing Co., 1958.

LOWEN, Alexander. Bioenergetics. New York: Penguin Books, 1975.

REICH, Wilhelm. Character Structure. New York: The Noonday Press, 1971.

Tradução: Sandra Mara Volpi

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