Você está na página 1de 8

Técnica Vocal – Profª Natalia Decotelli

A CRIANÇA E O ADOLESCENTE CANTORES

A metodologia na segunda parte deste texto é indicada para estudantes do CA ao Segundo Grau.
Nesta fase é apropriado ter algum tipo de instrução formal de voz. Este capítulo é dirigido ao
desenvolvimento vocal durante esses anos. Porém, pedagogos de música estão se dando cada vez
mais conta de que para atingir cedo o sucesso na habilidade de cantar deve-se começar com canto
na pré-escola. Scott declarou que as "crianças pré-escolares têm mais capacidade para aprender
música e responder do que nós imaginamos" (1989, p. 13). Então, este capítulo começa com uma
breve discussão sobre o cantar cedo na primeira infância.

CARACTERÍSTICAS DE DESENVOLVIMENTO VOCAL

O Cantor Pré-escolar

O Mc Donald e Simons declaram, "Assim como as crianças são 'programadas para


aprender', elas também poderiam ser descritas como 'programadas para cantar' " (1989, pág. 88) Os
autores notam que os bebês logo começam a separar os sons que podem produzir dos sons
produzidos no ambiente. O resultado é um tipo de imitação na qual as crianças se envolvem num
jogo vocal, ou o que Gordon (1985) chamou de "murmúrio musical." Greemberg (1979) afirma
que os primeiros vocalizes como gritos e murmúrios logo se desenvolvem em murmúrios musicais
que têm alturas definidas, freqüentemente repetidos em pequenos intervalos. Mc Donald e Simons
notam que tais explorações vocais devem ser encorajadas e respondidas pelos adultos, "porque é
pelas respostas destes que as crianças aprendem a atribuir significado aos seus sons. " (pág. 89)
O período inicial do jogo vocal e experimentação é seguido pelo que Greemberg chama de
um período de "abordagem ao canto" (dos dezoito meses aos três anos).
Por volta dos dois anos, as crianças podem produzir "canções" que consistem somente na repetição
rítmica de uma palavra ou frase, com variação de altura ondulante perto do tom da fala, e na idade
de dois anos e meio, elas terão começado a imitar o ritmo e contorno de canções familiares , mas
não os intervalos precisos (Davidson, 1985,; Mckernon, and Gardner, 1981, Greenberg, 1979;
Moog, 1968; Ransey, 1983). Isto sugere que experiências precoces de canto devessem incluir tanto
atividades de fala como canções e versos. Durante esta fase de "abordagem ao canto", um
repertório de padrão tonal está sendo desenvolvido e a memória tonal está sendo moldada. Estes
são parâmetros psicológicos importantes para o desenvolvimento da voz cantanda na criança.
"Infelizmente, a forte ênfase ao desenvolvimento da linguagem neste momento pode resultar em
desatenção ao desenvolvimento da voz cantada da criança" (Swears, 1985, pág. 27). Então, as
crianças precisam de ambientes ricos em experiências musicais, que inclui adultos cantando
sozinhos e com elas.

Ensinar canto para todos os pré-escolares significa cantar para eles, com eles e por eles.
Uma criança que ouviu muito canto produzirá trechos dessas canções por volta dos dois
anos de idade; aos três anos, muitas crianças cantam melodiosamente e possuem um
repertório relativamente extenso. Na fase da pré-escola, quando a habilidade de
linguagem está se desenvolvendo rapidamente a habilidade de cantar, outra forma de
linguagem, também deveria se desenvolvida. ( McDonald e Simons, 1989, pág. 89).

Crianças que tiveram muitas experiências com canto, começarão a cantar com precisão
numa extensão que vai do ré 3 ao sol 3 por volta dos três anos de idade (Greenberg, 1979).
Seguindo suas inclinações naturais , muitas crianças cantarão na região da fala, ou com voz de
peito (ajuste mais grave). Na realidade, bebês não podem distinguir freqüentemente entre a sua
fala e a sua voz cantada e assim, cantam num tipo de tom monótono. As crianças deveriam ser
“Teaching Kids to Sing” - Keneeth H. Phillips – Schirmer Books, 1992
“The Child and Adolescent Singer” - Parte I - Capítulo 4
Técnica Vocal – Profª Natalia Decotelli

estimuladas desde bebês a explorar o agudo, ou a voz de cabeça e empregar esta voz para cantar
sempre que possível. O nível da dinâmica deve ser suave, pois cantar forte automaticamente
emprega os músculos de laringe que produzem a voz de peito. Veja a seguir um procedimento para
descobrir ou aprender a usar a voz de registro agudo:
1 - Dirija as crianças num canto ou verso de duas linha simples no registro grave (voz da
fala).
2 - Proponha versos que sugiram as crianças "pulem" para o registro de cabeça (por
exemplo, o "Pedro é ágil, o “Pedro” é espoleta; ele saltou por cima [salte para a voz aguda]
da fogueira").
3 - Proponha versos onde uma frase inteira pode ser dita no agudo (por exemplo, "Quem é
que comeu meu mingau de aveia? " como é dito pelo urso de bebê na estória "Os Três
Ursos").
4 - Proponha versos com duas ou três palavras que sugiram a voz aguda.
5 - Proponha canções muito curtas (duas frases), toda na voz aguda.
Mantenha a dinâmica suave, e a altura das frases da canção acima do Dó 3, de preferência
em torno do sol3 ou lá 3.

Muitas crianças ficam presas a região grave de suas vozes quando são novas e nunca
aprendem cantar nas extremidades internas das suas pregas vocais (i.e., a voz aguda). Então, é
recomendado que as crianças na primeira infância sejam conduzidas a descobrir e a cantar no
registro agudo durante algum tempo sem tentar combinar isto com o registro mais grave. A voz
aguda ficará mais forte e então poderá ser trabalhada e combinada com a voz mais grave mais
adiante. Não obstante, até mesmo com exploração vocal e modelos vocais bons, muitas crianças
nesta idade têm tendência a cantar exclusivamente no grave. Estes cantores inexperientes não
deveriam ser desestimulados a cantar. Eles pecisam ser estimulados a cantar levemente, cantar
muito sozinhos para ouvir a própria voz e, continuar explorando o registro agudo através da fala e
das canções de atividades.
O repertório usado com crianças é um dado importante para o sucesso vocal. As canções
geralmente deveriam ser curtas e deveriam conter muita repetição de padrões melódicos e
rítmicos. Os padrões melódicos pentatônico e diatônico são apropriados (Jarjisian, 1983), e
semitons não devem ser evitados nos padrões melódicos de crianças de três a cinco anos (Sinor,
1984). Nós também concluímos que intervalos descendentes, em oposição aos intervalos
ascendentes, são cantados com maior precisão" (1990, pág. 25). O intervalo de uma terça menor
descendente tem tido um lugar tradicional nos padrões melódicos e na literatura vocal de crianças
pré-escolares. Além disso, o sucesso do desempenho é ampliado pelo uso de recursos visuais,
movimentos e instrumentos.
Os anos pré-escolares são anos tremendamente importantes para a fundamentação da
aprendizagem musical. Infelizmente, estes são freqüentemente os anos mais negligenciados pelo
ensino regular de música. Scott conclui:
Numa sociedade onde, crescentemente, a televisão se tornou a principal fonte de estimulo,
e os pais de todas as classes econômicas têm menos tempo para gastar com suas crianças
e aparentemente menos confiança em como fazer música com elas, nós, de educação
musical, temos um uma grande responsabilidade. Afinal de contas, quem sabe melhor que
nós o valor intrínseco da música e a alegria de compartilhar o fazer musical! [1989, pág.
31]

O Canto da Educação Infantil ao Ensino Fundamental

No CA é o momento ideal para começar a aula de técnica vocal. Nesta idade é bastante
possível trabalhar os parâmetros de postura e respiração, fonação, produção de som, dicção e
“Teaching Kids to Sing” - Keneeth H. Phillips – Schirmer Books, 1992
“The Child and Adolescent Singer” - Parte I - Capítulo 4
Técnica Vocal – Profª Natalia Decotelli

expressão. O mero ato de cantar não é em si um programa completo de canto. Sem instrução
adequada no processo de cantar, as crianças desenvolvem hábitos ruins que ficam enraizados para
o resto da vida. Como qualquer outra habilidade que deve ser dominada, canto requer prática
constante. O uso da voz cantada dever ser uma atividade diária. O professor da turma deveria estar
preparado para conduzir os cantos de atividade na ausência do professor de música. Muitas
crianças já cantam com precisão no CA. Os que não conseguem serão ajudados por um programa
de desenvolvimento de educação vocal. Maturidade é um fator principal, e meninos,
especialmente, podem ter dificuldade em coordenar o mecanismo vocal. Felizmente, a maioria das
crianças ama cantar nesta idade e o fará entusiasticamente. O trabalho do professor de música é
canalizar a energia destes jovens em hábitos vocais construtivos que produzirão cantores precisos
e confiantes.
Graham Welch (1986a, 1986b), a partir de sua própria pesquisa e da pesquisa de outros,
hipotetizou um "desenvolvimento contínuo da habilidade de cantar", que é caracterizado através de
cinco etapas que vai do cantor desafinado ao cantor afinado.

1ª Fase. As palavras da canção parecem ser então de interesse maior que a melodia.
Freqüentemente há uma variação muito pequena na entonação. Talvez, porque para
algumas crianças seja impossível observar mais que um parâmetro da melodia de uma
vez e as palavras são para eles, a característica dominante. Em resposta a um estímulo
tonal as crianças parecem escolher um tom vocal confortável em lugar de tentar
reproduzir o tom proposto. Porém, há evidência que o tom confortável é freqüentemente
consoante com o tom proposto.

2ª Fase. Alguma variação no tom cantado pode coincidir ocasionalmente com o tom
proposto. Há um consenso crescente de que a afinação pode ser um processo consciente e
que as variações de altura são controláveis.

3ª Fase. Uma preocupação maior para controlar a afinação é fazer a voz dar saltos
intervalares em direção a altura desejada. Aos poucos mais notas vão sendo acertadas. O
esboço melódico segue os contornos gerais da melodia dada. A extensão vocal continua se
expandindo.

4ª Fase. As crianças agora podem executar algumas notas afinadas. A melodia e os


intervalos agora estão mais corretos mas algumas mudanças de tonalidade podem
acontecer se a altura proposta ficar incômoda ou fora da ainda limitada extensão vocal.

5ª Fase. Não ocorrem grandes erros na entonação melódica. Há um alto nível de acerto
em relação a afinação. A extensão vocal é tanto mais aguda quanto mais grave que
anteriormente [Welch, 1986b, páginas 299-300].

As fases acima mencionadas não são definitivas e não pretendem ser exclusivas, mas
sugerem que o canto das crianças pode ser pensado como um processo de desenvolvimento e que
essas estratégias de ensino deveriam ser responsáveis por estas fases. Pesquisa e prática indicam
que as crianças terão comportamento vocal em algum lugar durante o processo e que com apoio
adequado o canto pode ser melhorado. Welch conclui, "O papel do professor envolve um
reconhecimento da complexidade do desenvolvimento do canto. Uma criança que mostra
evidência de estar numa das fases menos qualificadas deveria ser considerada como um paciente
em recuperação, em lugar de necessariamente revelar uma falta irrecuperável de habilidade
musical" (1986b, pág. 300).
“Teaching Kids to Sing” - Keneeth H. Phillips – Schirmer Books, 1992
“The Child and Adolescent Singer” - Parte I - Capítulo 4
Técnica Vocal – Profª Natalia Decotelli

A Avaliação do Desenvolvimento da Voz Cantada foi desenvolvido por Rutkowski (1990)


estudando a resposta do canto das crianças do jardim de infância. As cinco categorias são
semelhantes as propostas por Welch:
1 - Pre-cantores: Crianças que não sustentam a afinação; a resposta cantanda delas se
assemelha a cantar na região da voz da fala.

2 - Cantores-da-voz-falada: Crianças que sustentam tons e exibem um pouco de


sensibilidade para afinação mas permanecem dentro da região da voz da fala...

3 - Cantores -indecisos: Crianças que sustentam tons mas freqüentemente oscilam entre a
extensão da voz falada e da voz cantada. Quando cantam, elas utilizam uma extensão que
vai aproximadamente até...[ fá # 3]

4 – Cantores-de-extensão-inicial: As crianças que usam a extensão da voz cantada acima do


registro de passagem, normalmente até o lá 3.

5 - Cantores: Crianças aptas a cantar acima e abaixo do registro de passagem, sib 3, e tem o
domínio de suas vozes cantadas. [Rutkowski, 1990, pág. 92].

As crianças iniciantes podem entrar em quaisquer das cinco fases dadas por Rutkowski.
Sem ajuda adequada, os que estão nas fases iniciais nunca se tornarão precisos ou confiantes. Os
professores deveriam usar - junto com as técnicas deste método - canções e jogos para canto e
repeti-los individualmente e em grupo. As crianças nesta idade precisam experimentar cantar em
uníssono com outras vozes e, ainda mais importante, precisam exercitar o registro agudo
descendentemente, com uma produção leve da voz de cabeça. O registro grave não deveria ser
suprimido já que emerge naturalmente, mas o canto deveria continuar leve para minimizar sua
predominância. A extensão da canção deve ser mantida acima do Dó central, abaixo do qual a voz
de peito aparece.
A segunda série parece ser um ano fundamental na vida das crianças. Alunos das segunda
série não deixaram de ser bebês há tanto tempo, e a distinção menino-menina já fica mais clara.
Os meninos já não querem jogar com meninas no intervalo e, se o professor de música não tiver
cuidado, cantar será considerado por muitos meninos como a atividade de menina. Crianças que já
participaram cantando avidamente, freqüentemente ficam inibidas e resistem a participar. A menos
que sejam controladas, tais atitudes serão mais radicais com o passar do tempo, e nos anos
seguintes, muitas crianças deixarão de gostar de cantar. Alguns professores desistem e passam a
cantar menos; música em geral se transforma em "apreciação" musical. Outros formam o então
chamado Coro Selecionado para esses estudantes que querem continuar cantando. Infelizmente,
muitas crianças ficam desanimadas de só cantar por uma atitude mal orientada, e não serem
escolhidas para o coro seleto só piora a sua confusão. Os professores têm que fazer todo o possível
para assegurar as crianças que todos podem aprender a cantar. Este assunto deve enfrentado de
frente na segunda série e assim muitas crianças serão poupadas das conseqüências inevitáveis da
insegurança disfarçada em indiferença.
Na terceira série, alunos que tiveram boas experiências com o canto e bastante
oportunidade para cantar mostrarão as evidências dessa bela qualidade associada com um bom
canto das crianças. Um repertório mais exigente, com frases mais longas e extensões maiores será
possível e, mais atenção deve ser dedicada aos detalhes da expressão musical. O canto em
harmonia deve ser estabelecido com os alunos cantando alternadamente melodia e partes
harmônicas em seleções variadas. O nível dinâmico para cantar deve ser desenvolvido mas nunca
além do mezzo-forte. As crianças que não conseguem alcançar a afinação deverão trabalhadas
“Teaching Kids to Sing” - Keneeth H. Phillips – Schirmer Books, 1992
“The Child and Adolescent Singer” - Parte I - Capítulo 4
Técnica Vocal – Profª Natalia Decotelli

individualmente. É como se parte do processo de coordenação motora não estivesse funcionando


bem e necessitasse da atenção individual do professor.
O desenvolvimento e a beleza vocais atingem o seu ponto máximo na voz infantil dos
alunos de quarta a sexta séries. É possível uma extensão além de duas oitavas (sol 2 ao sol 4) o que
resulta num registro agudo “aflautado”, um registro grave mais encorpado (abaixo do Dó central) e
um registro intermediário (dó3 a dó 4) que equilibra os registros de cabeça e de peito. A técnica
vocal em desenvolvimento deve insistir numa atenção habitual a postura, ao controle do fôlego,
afinação, ressonância, dicção e uma maior atenção ao significado e espírito dos textos das canções.
As crianças devem ser estimuladas a participar com solos e a fazer julgamento crítico sobre a
qualidade e a técnica vocal. A dinâmica pode caminhar para um ocasional forte mas a beleza da
entonação nunca deve ser sacrificada pelo canto pesado.
As crianças que continuam a cantar com problemas precisam de cuidados individuais.
Existem testes de aptidão musical que determinam se os problemas são psicológicos ou motores.
Coordenação física pode ser de auxílio com exercícios de postura e respiração, mas um médico
deve ser consultado quando a criança tem problemas na laringe (i.e., rouquidão ou aspereza).
Finalmente, alunos nesta idade devem ser preparados para a mudança de voz na
adolescência , abrindo uma discussão franca sobre as transformações psicológicas e fisiológicas
que ocorrem no amadurecimento. Mudanças que alguns alunos já devem estar experimentando.
Este é o momento crucial para elucidar os medos e as concepções erradas que eles têm sobre a
puberdade. Depois disso já será muito tarde para discutir a adolescência.

O Cantor Adolescente

É considerado adolescência o período do desenvolvimento humano que geralmente começa na


sexta série ou quando o aluno está com aproximadamente doze anos. É a passagem da infância
para adulto, um período de amadurecimento que pode vir carregado de inseguranças como
mudanças fisiológicas e psicológicas que requerem novos meios de lidar com a vida. O
temperamento do adolescente é freqüentemente ativo, caracterizado por rápidas e imprevisíveis
mudanças de humor. O desejo de se tornar um adulto independente está freqüentemente em
conflito com a ansiedade de deixar a segurança e a proteção infância. Por um momento, as
adolescentes podem agir tola e imaturamente e a seguir serem sérios e cuidadosos.

O professor de adolescente, especialmente da sexta e sétima séries, tem que lidar com um
grupo de estudantes que variam amplamente no tamanho físico, personalidade, habilidade mental
e estabilidade emocional- ou instabilidade, como é o mais freqüente. As meninas tendem a ser
mais sensíveis (irritáveis), enquanto os meninos aparentam uma atitude mais “cool” ou passiva. As
meninas participam prontamente das atividades da turma enquanto os meninos se detém e
observam. A atitude machista de força e estoicismo é forte no menino adolescente e o faz ser mais
conformista que as meninas adolescentes. Os esportes são muito importantes nesta idade mas, mais
para os meninos que buscam estabelecer suas identidades jogando no campo. As meninas, em
geral, são mais maduras mas ambos podem ser insensíveis no modo como eles se tratam. O
menino que é pequeno para sua idade pode se tornar o alvo de piadas tanto quando a menina que
não está se “desenvolvendo”. A adolescência é o período mais difícil da vida. É maravilhoso
qualquer um que sobreviva a isto.
Dar aula para adolescentes requer muita intuição e paciência. Os adolescentes, pela sua
própria natureza, são céticos e, os professores tem que trabalhar para conquistar esses alunos de
modo a criar um vínculo especial. Não deixar o adolescente falar ou embaraçá-lo diante da turma
são duas maneiras de afastar o professor do aluno. Por um outro lado, os adolescentes ainda não
são adultos e requerem muita orientação e encorajamento. Quando um vínculo especial é criado
entre professor e alunos, não há ninguém mais dedicado e interessado.
“Teaching Kids to Sing” - Keneeth H. Phillips – Schirmer Books, 1992
“The Child and Adolescent Singer” - Parte I - Capítulo 4
Técnica Vocal – Profª Natalia Decotelli

Manter ativo o interesse dos meninos em cantar na adolescência é o desafio principal para
os músico pedagogos. Em algumas escolas, programas esportivos dominam a atenção dos meninos
enquanto os programas de música sofrem. Estabelecer bom relacionamento com treinadores
esportivos pode ajudar a construir a ponte de abertura entre esportes e atividades musicais. Além
disso, os meninos são sempre embaraçados pelos problemas associados a mudança de voz. É
necessário que haja uma conversa franca e honesta a respeito dos vários parâmetros do
amadurecimento vocal nesta idade. Alguns professores preferem ter classes de meninos e meninas
separadas na sexta e sétima séries. Isto permite que o professor trabalhe especificamente os
problemas relativos a cada gênero sem o constrangimento e tensão entre os meninos e meninas
desta idade.
A mais importante consideração é que os adolescentes precisam continuar cantando
durante esta fase. O coral do segundo grau confia fielmente no sistema alimentador do final do
primeiro grau. Geralmente, uma vez que o aluno de sexta ou sétima séries saiam do coro, eles não
retornam mais. Por esta razão, canto tem que ser um conteúdo do currículo geral de música das
sextas e sétimas séries. Em geral, esta é a última chance do professor de música de convencer esses
alunos sobre o valor do canto.
Infelizmente, a maioria do que é feito em sala de aula é baseado na “canção de
abordagem”. Os livros de música são distribuídos, e espera-se que os alunos se envolvam com isto,
independente deles se sentirem confortáveis cantando ou não. Esse tipo de atividade recreacional
freqüentemente fortalece um atitude negativa para cantar. É justamente nesta hora que os alunos
deveriam ser bem informados de que cantar é um comportamento a ser instruído, uma habilidade
governada por um processo psicomotor. Uma semelhança fisiológica, como defendida por este
método, é mais atrativo para meninos que estão tentando lidar com a mudança de seus corpos.
Cantar pode ser demonstrado, requer os mesmos tipos de coordenação física que a participação
atlética requer. Se as técnicas fundamentais para um bom canto não foram estabelecidas antes da
adolescência, então um programa de canto deve começar a ser desenvolvido na sexta série. Nunca
é tão tarde para começar a ensinar os jovens que cantar é algo que quase todo mundo pode
aprender a fazer!
As letras das músicas para adolescentes são outra importante consideração para estimular o
interesse pelo canto. Letras de natureza sentimental ou pessoal irão naturalmente afastar os alunos,
já que eles consideram que estas sejam músicas para os alunos da Educação Infantil. As letras das
músicas tem que ser cuidadosamente escolhidas por refletir as necessidades e interesses dos
adolescentes, e as músicas divertidas não devem ser ignoradas.
Um coro masculino de adolescentes é mais um meio de se manter o interesse em cantar
durante a puberdade. O espírito de solidariedade que é estabelecido cria um vínculo benéfico para
um programa de música completo. Quando os meninos participam do coro, as meninas estarão lá!
Algumas escolas alternam os dias dos coros feminino e masculino no mesmo período, com um dia
apenas para o coro misto, geralmente a sexta feira. Seja qual for o meio, precisamos manter os
adolescentes cantando!

A MUDANÇA DE VOZ
Mudança de Voz do Menino

A mudança da voz masculina é um bem-documentado (Kahane, 1978) fenômeno provocado por


mudanças hormonais no corpo durante os anos da adolescência. Isto pode começar já no Ensino
Fundamental (3ª à 5ª séries), mas freqüentemente começa quando o menino está com
aproximadamente 12 anos e parece culminar na sétima série. Indicadores fisiológicos da entrada
na puberdade incluem o grande esforço do crescimento, desajeitamento físico, o desenvolvimento
dos órgãos sexuais, crescimento de pelos no corpo e marcas faciais.
“Teaching Kids to Sing” - Keneeth H. Phillips – Schirmer Books, 1992
“The Child and Adolescent Singer” - Parte I - Capítulo 4
Técnica Vocal – Profª Natalia Decotelli

Uma mudança na voz falada é outro indicador que uma mudança física está começando,
especialmente o engrossamento e crescimento da laringe. Na pré puberdade o menino que está a
ponto de entrar na mudança de voz exibirá um grande brilho e vigor tanto na voz falada quanto na
cantada. Mudanças notáveis na fala podem incluir uma temporária perda de controle ou “quebra” e
uma qualidade pesada ou rouca. Uma vez começada a puberdade as pregas vocais dos meninos
aumentam em comprimento e espessura. Kahane , num estudo comparando a laringe humana na
pré puberdade e puberdade, relata que em ambos os sexos as “pregas vocais alcançaram
essencialmente seu tamanho adulto na puberdade; porém as pregas vocais masculinas tinham
aumentado cerca de duas vezes mais que as pregas vocais femininas” ( 1978, pág. 11). Esse
aumento evidente no comprimento das pregas vocais masculinas (cerca de dez milímetros) é a
causa da queda de uma oitava entre a voz infantil e a voz do homem adulto. Também responde
pela saliência da laringe masculina popularmente conhecida como “pomo de Adão”.
A voz dos meninos muda de diferentes maneiras. Alguns meninos parecem nunca
experimentar uma quebra de voz. Suas vozes podem mudar lentamente e freqüentemente tais
meninos se tornam tenores. Outros meninos experimentam uma radical e intensa mudança: estes
freqüentemente tornam-se baixos. O relógio biológico de cada menino é diferente e a natureza tem
que levar seu próprio curso determinando a maneira da mudança de voz. É comum encontrarmos
na oitava série meninos que não mudaram de voz. Estes meninos precisam ser protegidos do
ridículo e lembrados que a mudança ocorrerá porque isso é um fato da vida!
Através dos anos várias abordagens relativas ao canto tem sido recomendadas para os
meninos durante a adolescência e especificamente durante o período de mudança de voz . As
próprias recomendações desse autor são esboçadas no capítulo 3 junto com extensões e tessisturas
recomendáveis para meninos da sexta série ao terceiro ano do segundo grau. Contudo, um grande
número de autoridades vocais tem escrito sobre a mudança de voz masculinas e, os mais
proeminentes deles estão apresentados aqui como base de comparação.

Seis Abordagens Contemporâneas


sobre a Mudança de Voz Masculina.

Real Escola de Música Sacra (Igreja da Inglaterra). Esta abordagem (Johnson, 1935) é
uma continuação da prática dos tradicionais coros ingleses de treinar os meninos a cantar nos
cultos da Igreja Anglicana. Os meninos que ainda não mudaram as vozes são ensinados a cantar na
extensão de soprano profissional usando somente o registro de cabeça. O som tem uma qualidade
pura com pouco ou nenhum vibrato, a extensão abaixo do mi 3 é fraco e quase nunca usado. Por
esta razão, a parte de contralto tem que ser cantada por homens contratenores. Exatamente durante
a mudança de voz, meninos-soprano são mantidos cantando na região aguda de suas vozes.
Quando os meninos amadurecem e já não é possível sustentar a extensão de soprano, dó4 ao dó5,
suas vozes são silenciadas para um período de ajustamento até a voz grave estar estabelecida.
Os críticos reclamam que a abordagem inglesa resulta na quebra da voz , a qual está
freqüentemente associada a mudança de voz masculina. No capítulo 3 John Dawson (1902)
criticou duramente esta abordagem e Richard Miller (1977) conta que alguns regentes de coros
ingleses estão agora começando a questionar a prática da técnica de um só registro para os
meninos. Cantar somente no registro superior da voz, não prepara o menino para aquilo que
deveria ser uma transição natural, o uso do seu registro grave. Contudo, esta abordagem
demonstrou que os meninos podem continuar cantando seguramente na região aguda durante a
adolescência e que esta voz não precisa ser completamente abandonada.
Abordagem Alto-Tenor (Duncan McKenzie). Esta abordagem (Mckenzie, 1956) diz que
a mudança de voz é um processo gradual em que os meninos perdem seu registro agudo e
adicionam notas no seu registro grave. O termo Alto-Tenor descreve a voz do menino após esta
ter abaixado para o estágio onde a nova voz começa a se desenvolver. A extensão é de uma
“Teaching Kids to Sing” - Keneeth H. Phillips – Schirmer Books, 1992
“The Child and Adolescent Singer” - Parte I - Capítulo 4
Técnica Vocal – Profª Natalia Decotelli

oitava- sol2 ao sol3. A qualidade vocal é distinta (nem menino, nem homem) e leve. Todas as
vozes seguem um processo gradual de descida com uma mudança correspondente em qualidade. A
mudança na voz falada é o mais seguro indicador de mudança na voz cantada. Como a nova voz
está se desenvolvendo (de alto-tenor), a voz de menino desaparece totalmente e tons mais graves
são adcionados a extensão. Depois disso, a voz pode perder alguns de seus tons mais graves e
ganhar um pouco mais de agudo. Esta subida é característica desta abordagem. Somente depois
deste estágio pode se assegurar que a voz está verdadeiramente estabelecida. ( O processo de
subida freqüentemente acontece no segundo grau.) Quanto mais tempo a voz permanecer nesta
extensão de alto-tenor (de poucos meses a um ano) mais provável é que se tornará um tenor. O
alto-tenor pode cantar a parte de primeiro tenor para música a quatro vozes, mas não terá o peso de
uma voz de tenor adulto para equilibrar com as outras vozes. McKenzie previne com relação ao
menino que na mudança de voz usa registros muito agudos ou muito graves e sustenta que o
seguro, a região média , é confortável e é a melhor.

“Teaching Kids to Sing” - Keneeth H. Phillips – Schirmer Books, 1992


“The Child and Adolescent Singer” - Parte I - Capítulo 4

Você também pode gostar