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CLÍNICA MÉDICA COMPLEMENTAR EM ANIMAIS DOMÉSTICOS

TRANSFUSÃO SANGUÍNEA EM CÃES E GATOS I

Objetivo: conhecer pontos fundamentais para a realização da transfusão sanguínea e exercitar o


procedimento.

Transfusão sanguínea é o procedimento pelo qual realiza a transferência de sangue total ou


hemocomponentes de um indivíduo doador para um indivíduo receptor. As transfusões são realizadas
para aumentar a capacidade do sangue em transportar oxigênio, para restaurar o volume sanguíneo do
organismo, para melhorar a imunidade ou para corrigir distúrbios de coagulação.
Um dos primeiros fatores a ser considerado para a coleta do sangue é a escolha dos doadores.
Os cuidados a serem tomados na escolha dos cães e gatos são de crucial importância para a segurança
dos próprios doadores, bem como dos animais que serão transfundidos com o sangue coletado.
De forma geral, o estado de saúde deve ser bom, devem estar bem nutridos, livre de
ectoparasitas, vermifugação e vacinação atualizadas. Os doados devem ser negativos para os testes de
doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue. Os doadores felinos devem ser preferencialmente
mantidos domiciliados a fim de minimizar o risco de transmissão de doenças infecciosas.
Os cães doadores devem ter, no mínimo 25kg. Atualmente, a bolsa de coleta de sangue
utilizada é de uso humano, e o volume mínimo de sangue a ser coletado é de 300mL, já que valores
inferiores desequilibrariam a proporção sangue:anticoagulante (63mL de CPDA – solução de adenina,
glicose, fosfato e citrato). O doador poderá doar de 15 a 20% do volume estimado de sangue corpóreo,
tanto para cães como para gatos. Um gato doador de sangue tem como critério peso mínimo de 5kg,
entre 1 a 8anos de idade. Já os cães, podem iniciar a doação também a partir de um ano de idade e
devem ter uma idade máxima de 10 anos.
O volume a ser coletado de cães é de 13 a 20mL por kg de peso vivo e gatos podem doar 10 a
15mL de sangue por kg, não devendo ultrapassar 60mL, excetuando-se gatos com mais de 8kg.
A tranquilidade e o temperamento dócil são características desejáveis para o doador canino.
Entretanto, cães muito agitados podem ser, eventualmente, sedados (butorfanol – 0,2mL/kg IM). A
maioria dos gatos necessita de algum tipo de contenção química para a coleta de sangue, levando em
consideração a natureza de sua espécie (cetamina – 1 a 2 mg/kg + diazepam – 0,1mg/kg IV ou
butorfanol – 0,1 a 0,2 mg/kg + diazepam 0,5mg/kg IV).
Para gatos doadores hematócrito (Ht) mínimo de 30% e hemoglobina de 10g/dL são aceitáveis,
entretanto, Ht entre 35 e 40% e hemoglobina de 11g/dL são preferíveis. Os intervalos de coleta citados
na literatura são de 3 a 4 semanas para a frequência de doação, mas para o bem-estar e as
particularidades da coleta na espécie recomendam-se intervalos de 2 a 3 meses. Os cães doadores
devem ter hematócrito mínimo de 40%, além dos demais parâmetros do hemograma dentro dos valores
de referência para a espécie. A doação de sangue pode ser realizada a cada 21 dias para a espécie.
O sangue deve ser coletado por venopunção única e acondicionada em bolsas próprias para
hemoterapia. Em cães e gatos, a veia preferencial para o acesso é a jugular, entretanto podem-se
utilizar a veia cefálica ou femoral em cães de porte gigante. Quanto ao posicionamento dos doadores, o
decúbito lateral permite boa contenção e ótima localização para o responsável pela coleta. Cães e gatos
normalmente ficam confortáveis nessa posição, permitindo uma coleta tranquila. Distraia o animal com
carinho, um auxiliar de contenção com as mãos distraindo o doador com carinhos fará o cão relaxar e
permitir a coleta. Animais muito agitados e desconfiados podem preferirão se manter em pé e em dias
quentes mais ofegantes. Nesses casos uma boa opção é a coleta de sangue do animal sentado. O uso de
focinheiras pode ser utilizado para segurança da equipe de trabalho.
Recomenda-se a preparação com assepsia cirúrgica do local, com tricotomia e limpeza com
solução iodado e álcool, não só para a segurança do produto, mas para a segurança do próprio doador.
As bolsas plásticas utilizadas para a coleta de sangue, especialmente, em caninos, são as
mesmas bolsas usadas em hemoterapia humana e devem seguir as normas definidas pela Anvisa. O
volume de anticoagulante nas bolsas (63mL) é suficiente para a coleta de um volume sanguíneo que
varia de 300 a 550mL. Para felinos, há restrição de bolsas que podem ser utilizadas na rotina. No Brasil,
existem tentativas de padronizar bolsa, solução e agulha para gatos, entretanto ainda estão em
pesquisa.
Para felinos, em território brasileiro, pode-se utilizar um sistema aberto com coleta em seringa,
mas nesse caso o sangue não pode ser mantido por mais de 24h em refrigeração. A heparina é um
anticoagulante que pode ser empregado, mas o ideal é usar a solução de bolsas comerciais (1mL de
solução de CPDA para cada 10mL de sangue colhido). O uso de seringa impede o fracionamento
sanguíneo e também dificulta sua infusão. Podem ser utilizadas bombas de infusão ou acondicioná-lo
em bolsas satélites sanguíneas.
O processo de coleta do sistema aberto é bem simples. Utiliza-se um escalpe borboleta 19, que
deve ser acoplado a uma torneira de três vias. Com uma seringa de 60mL aspiram-se 7mL do
anticoagulante (CPDA) acoplando-se também à torneira de três vias; na terceira saída da torneira,
acopla-se a bolsa-satélite sem anticoagulante e estéril, que servirá para armazenar o sangue até sua
utilização, que nesse caso não deve ultrapassar 24 horas em razão do grande risco de contaminação.

Bibliografia: Jericó, Márcia Marques. Tratado de Medicina Interna de cães e gatos. 1º ed. Rio de Janeiro:
Roca, 2019.

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