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Em março de 1934, Stalin criminalizou a homossexualidade em toda a

Uniã o Soviética.

A iniciativa de criminalizaçã o da homossexualidade veio do vice-chefe da


OGPU, a polícia secreta GG Iagoda em setembro de 1933, quando
escreveu uma carta a Josef Stalin insistindo que uma lei contra os
homossexuais era necessá ria do ponto de vista da segurança do Estado.
Ele apresentou os homossexuais como pertencentes a uma rede de
espiõ es contra-revolucioná rios. Stalin estava muito interessado em agir
com base no pedido de Iagoda, passando-o para Kaganovich, um membro
do Politburo com uma nota adicional: "Esses canalhas devem receber uma
punição exemplar, e um decreto-guia correspondente deve ser introduzido
em nossa legislação".

Lagoda entã o elaborou um texto para a lei em 13 de dezembro de 1933.


Apenas alguns dias depois, em 16 de dezembro, o Politburo aprovou o
esboço. No dia seguinte, o Comitê Executivo Central de Toda a Uniã o da
URSS adotou o mesmo projeto, a ser aplicado por todas as repú blicas
componentes da Uniã o. Em 7 de março de 1934, o projeto tornou-se lei na
URSS, seguida em 1 de abril na Repú blica Socialista Federativa Soviética
Russa (RSFSR). No processo, vá rias alteraçõ es foram feitas no rascunho
original. Doravante, homens apanhados em atos homossexuais poderiam
ser presos e condenados a entre três e cinco anos de prisã o. Nos anos
subsequentes, milhares de homossexuais acabaram nas prisõ es e campos
de trabalho de Stalin.

É uma ironia da histó ria que o regime stalinista tenha denunciado a


homossexualismo como uma depravaçã o burguesa, citando a Alemanha e
os nazistas como exemplos, precisamente quando Hitler estava se
movendo exatamente na mesma direçã o que Stalin sobre essa questã o.

Apó s a criminalizaçã o na Uniã o Soviética, a Internacional Comunista


Estalinista tornou-se permeada pelo sentimento anti-homossexualismo
em quase todos os países onde os regimes stalinistas chegaram ao poder.
A prá tica foi criminalizada da Europa Oriental à China e a Cuba.

Um membro do Partido Comunista da Grã -Bretanha que trabalhava em


Moscou no Moscow Daily News . Quando recebeu a notícia da nova lei,
escreveu uma carta a Stalin perguntando-lhe como justificá -lo. O título da
carta era: Um homossexual pode ser um comunista?

Stalin mandou arquivar a carta de Whyte, mas primeiro acrescentou sua


pró pria nota: "Um idiota e um degenerado", uma referência clara ao autor
da carta. Embora ele tivesse a carta arquivada, tais protestos de
comunistas gays alertaram Stalin para a necessidade de uma campanha
de propaganda para influenciar a opiniã o pú blica. Entã o ele chamou a
ajuda de alguém que era mais capaz do que ele mesmo como escritor,
Maksim Gorky, que escreveu apressadamente um artigo, "Proletarian
Humanism", publicado no Pravda e no Izvestia em maio de 1934. O artigo
era um texto raivosamente homofó bico que posicionou a
homossexualidade como uma doença burguesa ocidental, até uma
expressã o da “influência desmoralizadora do fascismo”. E o slogan que ele
levantou foi: “Destrua os homossexuais - o fascismo desaparecerá”.

Krylenko, Comissá rio do Povo da Justiça, em 1936, sentiu a necessidade


de explicar a natureza real da nova lei. Em uma reuniã o do Comitê
Executivo Central, ele explicou que os homossexuais eram inimigos de
classe e criminosos. Em referência à descriminalizaçã o da
homossexualidade apó s a revoluçã o, ele explicou que a legislaçã o havia
sido influenciada pelo pensamento no Ocidente, que via a
homossexualidade como uma doença e nã o como um crime.

Vale a pena citar uma parte de seu discurso, que mostra o gosto da
homofobia desenfreada da burocracia:

“Em nosso ambiente, no ambiente dos trabalhadores, tomando o ponto de


vista das relações normais entre os sexos, que estão construindo sua
sociedade em princípios saudáveis, não precisamos de pequenos cavalheiros
desse tipo. Quem, então, na maioria das vezes, são nossos clientes nesses
assuntos? Trabalhadores Não! Ralé desmembrada.

Garotinha decadente, seja dos resíduos da sociedade ou dos remanescentes


das classes exploradoras.

Eles não sabem para onde ir, então eles se voltam para a pederastia!"

(Citado em Desejo Homossexual na Rússia Revolucionária , por Dan


Healey)

Com seu discurso, Krylenko deixou claro que todos os homossexuais


deviam ser tratados como criminosos. No período dos expurgos e
julgamentos do espetá culo, a repressã o aos homossexuais era severa e
costumava ser usada para atingir dissidentes. Uma vez realizada a tarefa
de erradicar todas as possíveis divergências, com prisõ es, campos de
trabalho, tortura, confissõ es e execuçõ es, a lei continuou a ser aplicada,
mas com menor veemência
A repressã o dos homossexuais continuou até a morte de Stalin e além.
Milhares de homossexuais acabaram nas prisõ es e gulags de Stalin.
Quando ele morreu, eles estavam entre os mais de dois milhõ es de
pessoas condenadas ao trabalho forçado. Apó s a morte de Stalin, o regime
mudou a populaçã o dos gulags com uma anistia para muitos dos que lá
estavam. Mas os homossexuais nã o foram incluídos porque eram
considerados criminosos comuns.

De fato, enquanto o regime se afastou de alguns dos piores aspectos do


terror stalinista, no caso das relaçõ es homossexuais, a repressã o
aumentou de fato. Paradoxalmente, o confinamento forçado de um
grande nú mero de homens - e mulheres em campos separados - nas
prisõ es e campos de trabalho aumentou os nú meros envolvidos no
relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Porém que uma das coisas
que o regime temia ao libertar muitos dos detentos do gulag era que estes
poderiam “infectar” a sociedade mais ampla com a influência “corrupta”
da homossexualidade!

O destino das lésbicas nã o era melhor. Se alguma coisa, as coisas


pioraram para eles. Muitos acabaram sendo tratados como dissidentes
políticos, declarados doentes mentais e enviados para hospitais
'psiquiá tricos' para 'tratamento', o que significava ser forçado a tomar
medicaçã o.

O homossexualismo só seria finalmente descriminalizada em abril de


1993 e, em 1996, e foi confirmado na elaboraçã o de um novo có digo
penal. Isso foi feito no contexto do novo regime que pretendia romper
com grande parte da antiga configuraçã o stalinista, à medida que a
burocracia se aproximava do capitalismo e se afastava da economia
planejada.

Outros países comunistas

Apó s a criminalizaçã o na Uniã o Soviética, vá rios outros países da


Internacional Comunista passaram a seguir a repressã o imposta aos
homossexuais. E passou a ser visto como um comportamento degenerado
que emana da sociedade burguesa.

A Polô nia foi a ú nica exceçã o, onde o antigo Có digo Penal de 1932 havia
descriminalizado atos consensuais entre pessoas do mesmo sexo, e essa
lei foi transferida para o regime stalinista apó s a Segunda Guerra
Mundial. No entanto, em todos os outros regimes do bloco oriental, a
homossexualidade foi tratada como uma ofensa criminal. Apenas alguns
anos depois alguns desses regimes começaram a liberalizar a questã o. A
descriminalizaçã o dos atos homossexuais na Tchecoslová quia e na
Hungria ocorreu em 1962, na Bulgá ria e na Alemanha Oriental em 1968,
com exceçã o da Romênia, que apenas descriminalizou em 1996, vá rios
anos apó s a queda dos regimes stalinistas. Na Romênia, a legislaçã o anti-
gay foi particularmente severa, com sentenças de prisã o que podem
chegar a 10 anos.
Na Iugoslá via, que nã o era um satélite da Uniã o Soviética, cada repú blica
que compunha a federaçã o tinha autonomia nessa legislaçã o. Assim,
Croá cia, Montenegro e Eslovênia descriminalizaram em 1977, enquanto
as outras repú blicas só o fizeram depois do colapso da repú blica federal
iugoslava. A Albâ nia, um regime extremamente autá rquico,
descriminalizou em 1977, embora a descriminalizaçã o completa nã o
tenha ocorrido até 1995, alguns anos apó s o colapso do regime stalinista
de Hoxha.

Em Cuba também, apó s a chegada ao poder de Castro e também sob a


influência da Uniã o Soviética, a homossexualidade foi criminalizada.
Imediatamente apó s a Revoluçã o Cubana, muitos proeminentes artistas e
intelectuais de orientaçã o gay eram simpá ticos ao novo regime porém
dentro de alguns anos tudo isso mudou e houve uma repressã o geral aos
atos entre pessoas do mesmo sexo, com muitos homossexuais sendo
aprisionados. Foi somente em meados da década de 1970 que uma
abordagem mais tolerante começou a emergir e, em 1979, atos de mesmo
sexo foram legalizados.

O que aconteceu sob o regime maoísta é de particular interesse porque a


China historicamente teve uma tradiçã o de aceitaçã o da
homossexualidade desde o período inicial de sua antiga civilizaçã o.
Ninguém poderia alegar que a homossexualidade nã o tinha lugar na
sociedade chinesa. Foi somente na histó ria mais recente que isso mudou.
E apó s a revoluçã o de 1949, o mesmo ambiente homofó bico prevalecente
na Uniã o Soviética também foi promovido na China. A China maoísta
adotou a mesma abordagem que a Uniã o Soviética sob Stalin, prendendo
gays e aprisionando-os. Durante a Revoluçã o Cultural na década de 1960,
os homossexuais foram publicamente humilhados e sentenciados a
longos períodos na prisã o. Esse permaneceu o caso durante todo o
período maoísta e a homossexualidade só foi finalmente descriminalizada
em 1997, mais de vinte anos apó s a morte de Mao. E foi só em 2001 que a
homossexualidade deixou de ser oficialmente classificada como
transtorno mental. Mesmo assim, as atitudes oficiais em relaçã o à
atividade do mesmo sexo eram de que ela era uma "anormalidade".

O Vietnã é muito diferente, onde nã o há registros de homossexualidade


alguma vez criminalizada. Isso nã o significa que as atitudes oficiais
fossem amigá veis para os gays. Foi frequentemente apresentado como
um mal social e em um ponto houve apelos por uma lei que proíbe
atividades do mesmo sexo, mas nada resultou disso.

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