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PRECISAMOS, AINDA, FALAR SOBRE HOMOFOBIA?

O Brasil é um dos países que mais mata homossexuais no mundo


Luciano Domingos Oliveira Silva

Adolfo Caminha (1867 – 1897), foi um escritor naturalista brasileiro. De sua obra,
destaca-se o livro Bom Crioulo, publicado pela primeira vez em 1895. À época, não teve
uma boa aceitação, pois abordava assuntos considerados polêmicos, contrários à
sociedade. Dentre os assuntos, uma pessoa negra como personagem principal de uma
obra literária e a homossexualidade.
Pelo contexto, acredita-se que a obra retrata um período anterior a 1888. Amaro,
um negro fugitivo das fazendas cafeeiras, que apesar de todo o desenvolvimento físico
construído debaixo dos acoites, dos grilhões e das chicotadas; do desprezo, da dureza e
da brutalidade do trabalho servil e escravo; é um homem educado, submisso ao mando. E
esta submissão dá a ele o apelido de Bom Crioulo, o título da obra. E Amaro apaixona-se
por Aleixo, outro homem, iniciando, então, o seu calvário de sofrimento, aceitação de si
mesmo e dos demais, e a luta para que não descobrissem a sua sexualidade pois, à
época, a Sodomia (termo utilizado para identificar a relação entre homens) era
considerada crime de lesa-majestade e estes homens eram condenados à morte.
Apesar de ser uma obra literária, Bom Crioulo retratava a realidade da sociedade.
Isto posto, o que mudou desde 1895 até os dias de hoje no tocante ao tratamento aos
negros e aos homossexuais neste país? E lá se vão mais de 120 anos...
A pauta desta matéria não é sobre os negros. Não é lembrar que foram arrancados
de sua terra-mãe, trazidos à força para um país desconhecido, colocados sob o peso de
mordaças, correntes e grilhões; foram açoitados; foram física, espiritual e mentalmente
torturados e violentados; passaram mais de 300 anos escravizados e, ao serem ‘libertos’,
tornaram párias de uma sociedade injusta, discriminadora e preconceituosa. A pauta não
é esta. A pauta é sobre a homossexualidade.
A sociedade patriarcal caucaso-eurocênctrica heteronormativa brasileira de 1895
colocava o homem branco como dono e senhor de todas as coisas, principalmente dos
interesses financeiros da família tradicional, buscando casamentos lucrativos para os
seus filhos entre os seus iguais. Neste contexto, fica possível imaginar que o
relacionamento entre pessoas do mesmo sexo fosse algo aceitável. E não era mesmo.
Quase um século depois, no dia 17 de maio de 1990, a OMS (Organização Mundial
de Saúde) retirou a homossexualidade da lista do CID-10, classificação internacional de
doenças e problemas relacionados à saúde. Nesta data celebra-se o Dia Internacional da
Luta contra a Homofobia, pois até então, a homossexualidade era considerada doença
mental passível de tratamento ou desvio de caráter passível de desprezo, humilhação e
execração pública. E pasmem... ainda hoje, em 2023, existem pessoas que acreditam
nestas atrocidades. Por causa destas pessoas que fazemos a pergunta-título:
PRECISAMOS, AINDA, FALAR SOBRE HOMOFOBIA?
Sim, precisamos. Os homossexuais sofrem as mais diversas formas de agressão
todos os dias. O agressor pode ser uma única pessoa ou um grupo de pessoas; pode ser
uma instituição comercial, religiosa ou governamental. Não importa. Eles sofrem
violências todos os dias, sejam elas verbais, morais, físicas ou psicológicas. E em alguns
casos, sofrem o abandono da família, o desprezo da sociedade e, por fim, a morte. Sim, a
morte. E apesar das políticas públicas para o enfrentamento destas realidades, ainda
estamos longe do objetivo.
Em mais de 60 países do mundo, muitos deles de profissão muçulmana, a
homossexualidade é considerada crime passível de multa, castigo, prisão e até pena de
morte. Mas o Brasil, considerado um país de profissão católico-cristã, amarga o triste
recorde de ser o país que mais mata homossexuais no mundo... mata pelo simples
desprezo, preconceito e ódio a pessoas que vivem uma condição sexual diferente do que
as pessoas ‘criminosas’ acreditam ser o certo.
O Papa Francisco é enfático em afirmar que devemos acolher a todos e, neste
caso, independentemente de sua condição sexual. Nas palavras do Sumo Pontífice,
“Somos todos filhos de Deus, e Deus nos ama como somos e pela força que cada um de
nós luta pela nossa dignidade”. E ele vai além, pois afirma que cada Católico tem a
obrigação de lutar para acabar com as leis que criminalizam a homossexualidade em seu
país. Lembremos que a Igreja, dispensadora de todas as graças, tem a obrigação de
acolher a todos, pois, a semelhança de Cristo, que muito amou, o Amor tem que ser a
base de todas as suas ações. Atos de discriminação, desprezo, agressão e ódio mão
cabem a ninguém, muito menos, a nós católicos. A nós católicos, a semelhança de Cristo,
cabem o respeito, a acolhida e, acima de tudo, o Amor.

Referências:
Bíblia de Jerusalém
Catecismo da Igreja Católica
ALESP Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo - https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=356970
BBC News Brasil – Dia do Orgulho Gay: os países onde é ilegal ser homossexual. – Publicação: 28 de
junho de 2021
Câmara Legislativa
CNN Brasil https://www.cnnbrasil.com.br/internacional
Governo Federal – Ministério da Saúde
Politize - https://www.politize.com.br

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