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Introdução
A sociedade contemporânea tem trazido um fenômeno não tão atual, mas que
retorna em um momento delicado a questão do preconceito em nome dos
valores familiares, religiosos e morais, em detrimento da pessoa humana.
Já do lado de fora do veículo, a vítima pela primeira vez, se dirigiu aos agressores
através de um gesto. A saber: colocou sua pequena mala no chão, e com as
duas mãos livres, apontou os respectivos dedos médios, em direção aos
passageiros que permaneceram dentro do ônibus.
Destaco que, 95% (noventa e cinco por cento) dos ocupantes do veículo eram
atacantes. E Logo após à primeira demonstração de revolta da vítima, um deles
pegou uma lata de refrigerante e jogou em direção a ela, chamando-a de “bicha
atrevida”.
Ainda não tenho uma resposta específica, para o meu comportamento, creio que
possa ter sido medo, sensação de impotência, dentre outras emoções. Os outros
não agressores, também não o defenderam nem por um momento, penso que
seus motivos foram similares aos meus.
As autoras acima, afirmam que a maioria das pessoas acreditam que todos os
travestis sejam homossexuais, o que pode ser enganoso, pois esse gênero pode
ser interpretado de modos diversos, dentre os quais estão: a motivação na
liberdade de vestir-se, o meio artístico, causas envolvendo expressão emocional,
ou ainda, motivo de mudança de identidade (Durigan e Mina, 2007).
Quando constataram que os dados sobre a violência policial, vão além do fato
de policiais negligenciarem diariamente, crimes e agressões cometidas por
clientes. Pois a violência policial abrange “o abuso de autoridade, a extorsão e
as prisões ilegais ocorridas” (Bonassi e Cols.2015).
No que diz respeito à omissão perante a agressão da vítima, Dinis (2011), aponta
em seu artigo, uma situação no contexto escolar, na qual professores, além de
evitarem discussões quanto à diversidade sexual e gênero, se omitiam diante
dos casos da violência física ou verbal dirigidas a estudantes que divulgam sua
diferença sexual e de gênero.
Assim sendo, no que se refere aos travestis, poderia haver um avanço contra o
preconceito, de modo que as pessoas pudessem percebe-los, como indivíduos
que tem direitos iguais a elas. Cabe ressaltar que, se a grande massa da
população acolhesse esse olhar da psicologia, seria uma grande vitória.
Contudo, essas pessoas não estariam prestando nenhum favor aos travestis,
mas sim, apenas cumprindo seus deveres.
No tocante aos travestis que se prostituem, infere-se que, grande parte o faz por
questão de sobrevivência, considerando a escassez desses sujeitos em outros
campos de trabalho. Perante essa situação, é plausível apontar que,
intervenções psicológicas poderiam contribuir de forma significativa, a começar
agindo nas escolas, no sentindo de levar conhecimentos aos estudantes, para
que esses diminuam o preconceito quanto aos diferentes gêneros.
Com relação aos abusos por parte de alguns policiais, aos quais os travestis são
submetidos, e muitos permanecem calados, pelo medo (segundo a literatura),
compete ao poder público, se atentar para esse e outros fatos de agressões à
essas vítimas.
É comum perceber que ao longo dos séculos o que se proclama diferente, não
usual pela maioria, sofra com o preconceito, seja perseguido e ainda, tenha sua
vida em sociedade, dificultada e muito.
Foi assim a tempos atrás com aqueles que sofriam distúrbios mentais, que eram
simplesmente afastados do convívio social e eram jogados como subespécies,
em sanatórios, como descreve bem Foucault “o louco tinha que ser vigiado nos
seus gestos, rebaixado nas suas pretensões, contradito no seu delírio,
ridicularizado no seu erro” (FOUCAULT, 1975, p. 82).
É de bom tom lembrar de existir uma constituição federal, e além disso ser o
Brasil signatário da Declaração dos Direitos Humanos, entre outras formas
normativas que se calque a questão de legitimar o livre arbítrio numa sociedade
que se auto denomina Estado Democrático de Direito.
O Estado, não pode sob pena de estar transgredindo o próprio texto legal
incentivar, discriminar e tolher o direito de uma minoria, em nenhuma hipótese,
nem alegando qualquer manifestação, a República, existe e é mantida para
proteção de todos os seus cidadãos, sem nenhuma separação ou subdivisão,
seja qual critério que possa usar.
O centro medular do Estado social e de todos os direitos de sua ordem
jurídica é indubitavelmente o princípio da igualdade. Com efeito,
materializa ele a liberdade da herança clássica. Com esta compõe um
eixo ao redor do qual gira toda a concepção estrutural do Estado
democrático contemporâneo. De todos os direitos fundamentais a
igualdade é aquele que mais tem subido de importância no Direito
Constitucional de nossos dias, sendo, como não poderia deixar de ser,
o direito-chave, o direito-guardião do Estado social (BONAVIDES,
2001, p. 340-341).
Na esteira deste debate se encontra a lei que deve ser obedecida, sem justificar
qualquer transgressão, como se autorizada, inclusive demonstrando o papel do
Estado quando houver qualquer manifestação de distinção ou, de afugentar
qualquer grupo que seja, conforme texto exposto;
[...] o princípio da igualdade jurídica determina que a lei não pode ser
fonte de privilégio ou de perseguições, mas sim instrumento regulatório
da vida social, que necessita tratar equitativamente todos os cidadãos.
Ao se cumprir a lei, todos os seus destinatários hão de receber
tratamento parificado, de modo que ao próprio ditame legal é defeso
instituir disciplinas diversas para situações equivalentes. Essa
exigência, por sua vez, não interdita a possibilidade de tratamento
diferenciado, que se razoável, tem abrigo na ordem constitucional
(SILVA, 2003, p. 91).
O princípio tem que ser respeitado a todo custo, afinal, a base de uma sociedade
minimamente justa, unitária e isonômica, passa pela forma como todos que
habitam o Estado, a sociedade é tratada, e é bom se afirmar que ninguém está
acima da lei, ao contrário, todos devem respeito e observância do que a lei
propaga, a despeito de concordar ou não.
No caso em tela, esta ideia de regras é ainda mais complicada por ser fruto da
ideia de um grupo de pessoas motivadas por ideias próprias, nem sempre
embasadas, mas que em sua forma criteriosa de existir se baseia no perigoso
certo e errado.
Neste diapasão, não é sem razão que juntamente com este pensamento
comezinho se encontra o que se tem estudado como fenômeno social antigo a
questão da estigmatização, não só na figura daqueles que cometem crime, mas
como aqueles que não se adequam a esta “regra” do “certo e errado”.
O direito não comunga de tal preeminência, até porque sua função social ser a
de resguardar “os iguais, na medida de suas igualdades, e os desiguais na
medida de suas desigualdades”, desta feita, a base é outra e não a norma
positivada.
Cumpre notar o que se é dito sobre este poder imanente, usurpado, não
delegado;
Na linha desta ideia observa-se como se pode criar a figura dos “outsiders”,
propondo que uma conduta desviante seja pautada como uma marca no
indivíduo que tenha praticado uma conduta delituosa, rotulando-o para sua vida
como alguém que será sempre lembrado como alguém que “roubou”, observe;
Considerações finais
O fato real narrado, não pode ficar sem uma resposta, sem ser ao menos
discutido, uma vez não ser único, ao contrário, ser comum e está se tornando
corriqueiro, se faz necessário ao menos estabelecer a linha tênue entre o
aceitável e o que não se pode aceitar sob hipótese alguma.
Referências Bibliográficas
ARAÚJO, Luiz Alberto David. Direito constitucional: Princípio da Isonomia e a
Constatação da Discriminação Positiva. São Paulo: Saraiva, 2006.
GOMES, Loiny Kévia Dias; SILVA, Marcos Antonio Duarte. O labelling approach
e a seletividade penal como consequência da falência do sistema. Boletim
Jurídico, Uberaba/MG, a. 13, no 1540. Disponível em: Acesso em: 28 jul. 2018.
https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/309394678/o-que-sao-os-
crimes-de-odio