Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
O uso de serviços de saúde é um comportamento complexo, determinado por uma
grande variedade de fatores. A relação entre a utilização de serviços e seus determi�
nantes pode ser melhor compreendida por meio de modelos teóricos explicativos. Este
trabalho irá revisar os conceitos dos principais modelos teóricos do uso de serviços,
como o Modelo de Crenças em Saúde, o Modelo Comportamental de Andersen, o
Modelo de Dutton e o Modelo de Evans & Stoddart, com ênfase no modelo de An�
dersen, já que tem sido o mais aplicado em estudos de utilização. Dentre os modelos
revisados, o modelo de crenças e o de Andersen foram os pioneiros. Este último
incorporou o conceito das crenças em saúde como um dos determinantes do uso e
propôs ainda a discussão acerca de novos determinantes, como a necessidade e o
acesso, que seriam incorporados pelos modelos subseqüentes. Dada a complexidade
existente neste campo, torna-se fundamental o contínuo debate e investigação acerca
do uso de serviços de saúde e seus fatores relacionados.
Palavras-chave
Serviços de saúde, utilização, modelos teóricos
Abstract
Health services utilization is a complex behavior determined by a great variety of
factors. The relationship between the use of health services and its determinants can
be easier understood by means of theoretical models of use. The aim of this paper
is to review the main concepts of some theoretical models of use, such as the Health
Belief Model, Andersen’s Behavioral Model, the Model of Dutton, and the Model
of Evans & Stoddart, with emphasis in Andersen’s model, for it has been the most
applied in studies of use. Among them, the Health Belief Model and Andersen’s
Behavioral Model were the pioneers. The latter has incorporated health beliefs as
one of the determinants of the use of health services. Moreover, it has proposed a
discussion on other new determinants, such as need and access, which would be
incorporated by subsequent models. Given the complexity of this field, it becomes
relevant the increasing debate and research concerning health services utilization
and its related factors.
� Mestre
����������������
em Saúde Coletiva).
����������������
End: Av.
����������
Lúcio Costa,
������� nº
����������
3.360, bloco
����������
01, �����������������
aptº 303 Barra ����������������
da Tijuca - Rio �������������
de Janeiro - �����
CEP:
22630-010 E-mail: analuizabp@yahoo.com.br
� Pós-doutorado
�����������������������
em Saúde Pública
������������������������
pela Université de��� Montréal,
���������� Canadá.
�������
Professora-adjunta do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Docente do
Programa de Pós-Graduação do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva – IESC/UFRJ.
Key words
Health services, utilization, theoretical models
1. Introdução
O uso de serviços de saúde é uma interação entre os consumidores e os pres�
tadores destes serviços. É um comportamento complexo, determinado por uma
grande variedade de fatores (Dever, 1988). Compreende tanto o contato direto
com os serviços de saúde (consultas médicas, hospitalizações), como o indireto
(realização de exames preventivos e diagnósticos). Resulta ainda da interação
do comportamento do indivíduo que procura cuidados e do profissional que o
conduz dentro do sistema de saúde (Travassos & Martins, 2004).
Os motivos pelos quais um indivíduo se consulta vão além da carga de mor�
bidade que este possa estar sofrendo (Mendoza-Sassi & Béria, 2001). Segundo
Donabedian (1973), o conjunto de interações entre os profissionais de saúde e os
seus clientes não ocorre em um vácuo, mas sim dentro de um ambiente organi�
zacional que, por sua vez, é rodeado e penetrado por traços sociais e culturais.
A utilização dos serviços de saúde, portanto, é influenciada por fatores sociocul�
turais e organizacionais, e fatores relacionados com o consumidor e prestador
de serviços (Dever, 1988).
Hulka e Wheat (1985) realizaram uma revisão da literatura sobre os fatores que
influenciam a utilização dos serviços de saúde e os dividiram em cinco categorias
principais, a saber, estado de saúde e necessidade, características demográficas,
disponibilidade de médicos, aspectos organizacionais dos serviços de saúde e
mecanismos financeiros. O principal determinante do uso de serviços foi o estado
de saúde ou necessidade do indivíduo, a qual possui relação de causalidade com
o uso. Outros fatores como sexo, idade, disponibilidade de médicos, plano de
saúde, mecanismos financeiros e o nível socioeconômico dos indivíduos também
estiveram associados ao uso de serviços.
A relação entre a utilização dos serviços e seus determinantes pode ser me�
lhor compreendida por meio de modelos teóricos explicativos do uso de serviços
de saúde. Alguns dos principais modelos teóricos são: o Modelo de Crenças em
Saúde, desenvolvido na década de 50; o Modelo Comportamental de Andersen,
elaborado em 1968; o Modelo de Dutton, de 1986; e o Modelo de Evans &
Stoddart, proposto em 1990 (Rosenstock, 1966; Andersen, 1995; Dutton, 1986;
Evans & Stoddart, 1994). Este trabalho irá revisar os conceitos dos principais
modelos teóricos do uso de serviços, com ênfase no Modelo Comportamental
de Andersen.
472 – Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 16 (3): 471 - 482, 2008
Este último será destacado devido à sua maior aplicabilidade nos estudos de
utilização (Travassos & Martins, 2004), decorrente possivelmente da sua relativa fa�
cilidade de operacionalização, e por se tratar de um dos modelos de uso de serviços
mais completos, tendo sofrido atualizações constantes ao longo das últimas décadas.
Também foi um dos modelos pioneiros na dimensão do uso de serviços, tendo in�
fluenciado os modelos posteriores.
Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 16 (3): 471 - 482, 2008 – 473
474 – Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 16 (3): 471 - 482, 2008
Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 16 (3): 471 - 482, 2008 – 475
Figura 1
Modelo de Andersen (fase 4 ou modelo emergente)
Fonte: Andersen 1995
476 – Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 16 (3): 471 - 482, 2008
Figura 2
Modelo de crenças em saúde
Fonte: Glanz et al., 2002
2.4. Modelo de Evans & Stoddart
Evans & Stoddart propuseram, em 1990, a criação de um modelo mais
complexo, flexível e de fácil compreensão, que representasse a grande variedade
das relações dos determinantes de saúde, chamado de “Modelo de Produção da
Saúde” (Evans & Stoddart, 1994). Este foi criado em várias etapas, evoluindo em
Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 16 (3): 471 - 482, 2008 – 477
3. Conclusão
Os modelos teóricos do uso de serviços de saúde são ferramentas impor�
tantes para a melhor compreensão do processo de utilização de serviços e os
seus fatores relacionados. Dentre os modelos revisados, o modelo Andersen e
478 – Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 16 (3): 471 - 482, 2008
Figura 3
Modelo de Dutton
Fonte: Dutton, 1986
Figura 4
Modelo Evan & Stoddart
Fonte: Evan & Stoddart, 1994
Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 16 (3): 471 - 482, 2008 – 479
modelos de Dutton e de Evans & Stoddart, embora cada modelo tenha as suas
especificações (Quadro 1).
Dada a complexidade existente no campo do uso de serviços, haja visao
as diferenças, com a intensificação da reflexão sobre o tema, entre o modelo
inicial proposto por Andersen e o de 1995 em diante (modelo emergente), não
é impossível imaginar que possam haver diferenças nas relações entre o uso de
serviços e seus determinantes dependendo do contexto avaliado. Por isso, torna-
se fundamental o contínuo debate e investigação acerca do uso de serviços de
saúde e seus fatores relacionados.
Referências Bibliográficas
Andersen, R. M. Revisiting the behavioral model and access to medical care:
does it matter? Journal of Health and Social Behavior. United States, v. 36, n. 1, p.
1-10, 1995.
Glanz, K.; Rimer, B. K.; Lewis, F. M. Health behavior and health education. Theory,
research and practice. San Francisco: Wiley & Sons, 2002. 52p.
Rosenstock, I. M. Why people use health services. The Milbank Memorial Fund
Quarterly. United States, v. 44, n. 3, p. 94-124, 1966.
480 – Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 16 (3): 471 - 482, 2008
Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 16 (3): 471 - 482, 2008 – 481