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Transcrição de registos · Vídeo 2.

Almeida Garrett

Manual · p. 67

Fontes históricas e literárias 03 min 33 s

de Frei Luís de Sousa


A personagem que dá origem ao título da obra, Frei Luís de Sousa, antes Manuel de Sousa
Coutinho, existiu de facto. Nasceu em Santarém, em 1555, e morreu no Convento de São Domin-
gos de Benfica, em 1632.
Filho do fidalgo Lopo de Sousa Coutinho, Manuel de Sousa, após viajar pelas Índias ociden-
5 tais e orientais, parte, com a idade de vinte e um anos, para Malta e ingressa na Ordem dos Cava-
leiros de Malta. Em 1577, é feito prisioneiro por piratas e encarcerado em Argel, onde trava co-
nhecimento com Miguel de Cervantes.
Depois de uma estadia em Valência ao serviço de Filipe II de Espanha, regressa a Portugal
em 1584 e casa com D. Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal, cavaleiro ao serviço de
10 D. Sebastião, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir.
Em 1599, é nomeado capitão-mor da cidade de Almada, com o posto de coronel. Alguns anos
mais tarde, aquando da assolação da cidade de Lisboa pela peste, recusa instalar os governado-
res do Reino na sua residência, incendiando-a, para evitar o ultraje à sua pessoa.
Verifica-se um hiato de treze anos de autoexpatriamento no Brasil, durante o qual falece a
15 sua filha. Manuel de Sousa Coutinho, conjuntamente com D. Madalena de Vilhena, professa os
votos perpétuos na Ordem Dominicana; ele, no Convento de São Domingos de Benfica, onde toma
o nome de Frei Luís de Sousa, e D. Madalena de Vilhena, no Convento do Sacramento.
À semelhança do pai, também Manuel de Sousa Coutinho devota a sua vida freirática à hagio-
grafia (estudo e relato da vida de santos) e à monografia. Da sua obra destacam-se a biografia de
20 Frei Bartolomeu dos Mártires e anais de D. João III, por incumbência de Filipe III de Espanha
(II de Portugal).
Como curiosidade, saliente-se que uma das versões explicativas para o ingresso do casal na
ordem domínica se deveu ao facto insólito e inverosímil de que um peregrino, regressado de
Jerusalém, trouxera a notícia de que D. João de Portugal, após trinta e cinco anos de cativeiro,
25 ainda se encontrava vivo na Terra Santa, tornando, assim, o casamento de Manuel de Sousa Cou-
tinho com D. Madalena de Vilhena um ato pecaminoso e adúltero.
Garrett leu, a propósito da história de Frei Luís de Sousa, as memórias do bispo de Viseu,
D. Francisco Alexandre Lobo, e a narrativa de Frei António da Encarnação. […]
Podemos ainda considerar que as vivências do autor contribuíram para a construção das
30 personagens que apresenta no drama. Com efeito, a relação de D. Madalena e de Manuel de
Sousa Coutinho seriam a representação do seu romance com Adelaide Pastor Deville (após a
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separação do escritor de Luísa Midosi); dessa união nasceu Maria Adelaide, cuja ilegitimidade
motivou o sofrimento do escritor, pois não conseguira a dissolução do seu primeiro casamento, o
que não lhe permitia dar a sua filha um estatuto social condigno, facto que Garrett transporia
35 para a personagem inocente Maria de Noronha, vitimada igualmente pela situação de ilegitimi-
dade, após o regresso de D. João de Portugal, que torna nula a união de seus pais.
JACINTO, Conceição, e LANÇA, Gabriela, 2012.
Análise da obra Frei Luís de Sousa. Porto: Porto Editora (pp. 14-15)
fotocopiável

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