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2. Aviolência na escola
, 1e mUito
E, poss1ve · provave , 1que, pe1o menos em alguns momentos , a violênc1·a
tenha estado presente em todas as escolas. Mesmo se tal ocorrera_no pas~ado, hoje
o problema parece ter se tornado mais frequente e de_ proporçoes maiores, por
vários motivos. Alguns deles seriam: a violência na sociedade em geral e no am-
biente onde os alunos vivem, o noticiário na mídia, o aumento no número e na
heterogeneidade dos alunos nas escolas, o uso de drogas, a desvalorização do sa-
ber, da escola e do professor e a desvinculação da escola em relação à vida dos
alunos, assuntos já discutidos neste livro.
Em uma sociedade potencialmente violenta, grande parte dos pais acredita
que a escola constitua um oásis, ao qual podem confiar não só a instrução como
também a guarda de seus filhos em segurança. Esse nem sempre é o caso.
Antigamente, quando se falava em violência nas escolas, pensava-se imedia-
tamente e quase q:ue e~clusivame~te na yio~ência levada a efeito por Ji> ~ rrd~
ª ? ultos, geralmynte de profes~.ores diretores, a menores. Havia, nars~ci,e1a?e
em geral, a noção,de que faria parte ~a boa educação das crianças, e até dos, ~do-1
nos aceitavam sem 1contestação tais punições e os pais até os valorizavam. H~via,
dessa forma, nas escolas, a palmatória, algo totalmente desconhecido moderna-
-
1
mente, puxõe~•de orelhas, bem como o colocar alunos ajoelhados sobre grãos de
milho, colocá-los no canto da sala de aula, virados para a parede, colocar neles
orelhas de burro, deixar alunos presos na sala durante o recreio etc. Tais casti'-
gos somente eram objeto de reclamação quando feriam fisicamente os alunos. 1
dãoli
alarme falso
· , IJ ,
de bombas na 1
1 escola.
11 1' 1 1
Mui1'tas vezes
,, , '
vistas
11
por
,
tais alunos como 1
1
uma travessura
1 ,JI'
inocente, c~nstituem
' ' " tillf :\ 1 f ,ÍJ
fi;>rmas
1
'
de extravasar
/1, I.' .
violência. Ess'as ocor- 1 1
1
rofessores,,., os
. alunos também
, não os valon·z, , am , eorno valonzavam
1
. ' an tigamen ' te.
P
Aviolenc1a contra os professores se mamresta .r por• apelidos pejorativos por in-1
1
, , ,•
1
die.aÇ. ão de características
. , deprecia · tivas, como ~da.de avançada,1 ,aparência
, , i
.física,'
,se bem que hoje, nas escolas públicas, sej~ bastante raro o professor atribuir
1
nota baixa a alunos, e mais rara ainda a retenção de alunos em uma dada série
e~cólar, uma das causas de agressão contra professores seria a atribuição dessas
notas. Nesse tipo de escola, a regra consiste em promover sempre o aluno, qual-
quer que seja seu nível de conhecimentos, e o p~ofessor sofre pressões não só dos
alunos e de seus responsáveis, como também de todo o sistema par~ não reter
nenhum aluno. O termo "reprovação" sumiu do vocabuÍário, substituído por re-
tenção, este considerado menos traumático par~ o aluno. Os consellios tendem
a aprovar alunos até por bom comportamento, quando suas avaliações pelo pro-
• 1
1 1
326 Orientação Educacional na Prática
parte das autoridades,,têm uma tarefa muito ,mais árdua qu,e ensinar, que é a de
1
manter a ordem. ,, 1 , 1 ' 1
Nas mochilas dos alunos, além do esperado material escolar, podem ser en-
contradas drogas, armas e outras ·coisas do tipo. ' .
1
1Uma das causas mais recentes da violência nas escolas se deve ao namoro preL
coce. Pesquisa da Fundação Osvaldo Cruz'constatou que 87% dentre 3.205 ado-
lescentes do país, de idades entre 15 e ,19 anos, já vivenoiaram formas de violência
no namoro ou no \'ficar". Essas agressões começam com tapas, 1muitas 1vezes in-
terpretadas como brincadeiras, e podem evoluir para, crimes de morte, como
aconteceu recentemente com uma adolescente assassinada pelo namorado. Há
relatos de casos de adolescentes que têm medo de terminar o namoro por,medo
do namorado.
, As escolas também costumam ser palco de brigas ,entre alunos por causa·de
namorados. A erotização precoce das crianças, a banalização do sexo mostrada
na Tv, a maior liberalidade dos pais desembocam nesses problemas nas escolas.
São variados os tipos de violência que ocorrem nas escolas. De tempos em tem-
, '
pos, e cada vez mais amiúde, os jornais e a TV noticiam vários casos.
A U demo, entidade que congrega diretores de escolas, apresentou resultado de
i,
uma pesquisa realizada em 683 escolas. Dentre elas, 80% (586) registraram a ocor-
rência de algum tipo de violência, sendo que 411 delas viraram caso de polícia.
Apesar de já ser preocupante esse resultado, as porcentagens devem ser
bem maiores. Muitos diretores, professores e demais funcionários deixam de dar
queixas por medo de represálias.
Em uma escola do Distrito Federal, segundo publicação em jornal, "o coti-
diano recheado de tensão e pequenas brigas ... foi chacoalhado ... por um crime
ocorrido a P?ucos metr~s da escola". Uma estudante que se preparava para che-
gar ao colégio foi baleada e morta por outro ex-estudante da mesma escola. Se-
gun~o 9 diretor dessa escola, "Já ha,1.a um movimento em curso, mas depoi~ do
episódio, o combate à violência passou a ser ? tema para todos". Segu~do a
'.f
mesma notícia, "A estatística está longe de ser exemplar. odos os dfas, pelo me-
nos dois episódios que merecem atendi•mento são registrados por periodo. No ano
1 11.,1 1 1 1
passado, porém, eram entre 15 e 20. O número de agressões caiu de forma sig-
,,) ' ' 1 11 1 1 ' 1 '
escolar dos alunos. Em uma pesquisa, foi constatado que quatro em cada dez es-
1 ., 1 1 ·1 '1 t • ' 1
A violência nas escolas preJ·udica diret amente o rendimento . escolar dos alu-
0 s. Al ém. disso,
_ também,
. como causa· ouico nsequencia · d o· p10r
• ren di menta est'a
11
.,,.,a constataçao levantada pelo presidente do s1n
u1.. · d·1cat o d os di retores· d e s~ao
Pau · lo· a maior
. rotatividade
_ dos professores
. . deVI·do a' · 1~ · U bl
VI0 encrn. m pro ema cr0~ -
nico que afhge escolas da penfena da:s grandes cidades é a falta de professores
ª
que se disponham lecionar nelas. Outro problema, mais genérico, é o de que
0
número de professores está diminuindo e muitos dos formados no magistério
sequer entram rias salas de aula, sendo que alguns deixam a profissão' após al-
guns anos. ,
Além da evasão dos docentes, ocorre também o grande número de faltas, seja
por doença psicossoinática, seja porque muitos professores procuram atendi-
mento médico em busca de atestado para se ausentarem das salas de aula.
d
Aviolência nas escolas e o Orientador Educacional • 331
perguntas ~orno essas devem ser feitas e analisadas pelo SOE e discutidas com
a cornumdade que trabalha na escola e também com os responsáveis pelo
to dª
infrator.
alui:, punições devem ser adequadas quantitativa e qualitativamente e de car~"
ducativo. Obngar um pai nco a pagar por uma cortina não educa nem o pru,
ter e O filho, e muito menos os colegas do filho. A antiga "expulsão" do aluno que
ue:sentou falta grave foi substituída pela transferência de escola, o que não chega
ap:er urna punição e pode ser até um prêmio pata O aluno, que vai levar para ou-
a escola o mesmo tipo de comportamentos. A suspensão pode também ser um
tr~núo, pois o aluno ficará desobrigado da frequência a um lugar que o desagrada.
pr As causas citadas da indisciplina devem ser analisadas na escolha das respec-
. as punições que deverão se restringir ao estritamente necessário. Isso não quer
tiV . . d d J: -
dizer que deva ser perm1ss1va, mas que a ote, e preierência a prevença_º·.
Analisadas as causas, citadas e outras que venham a ocorrer aos partic1pan-
tes, p rocu rar maneiras de evitá-las. Essa
, não é uma
, ,tarefa apenas do Or.E, mas 1,
li
1.
l 1
1. ( \
Obullying, uma forma de violência nas escolas
1. Oque é obullying?
O bullying é uma forma verbal ou física de violência praticada por alunos(s) con-
tra aluno(s) que, se bem que tenha sempre existido nas escolas, vem se tomando
cada vez mais conhecida e frequente, atingindo níveis cada vez mais graves.
Bullying é um termo comumente usado nos EUA para designar um deter-
minado tipo de violência encontrado nas escolas ou que, tendo como epicentro
estabelecimento escolar, pode também ser praticado em suas cercanias ou por
meios virtuais. Embora a prática do bullying não se restrinja a agressões de
I'
aluno(s) contra aluno(s) no ambiente escolar, pois pode ocorrer também em ou-
tros locais frequentados por crianças e jovens, como clubes, vizinhança etc., ela
será tratada neste livro sobre Or.E. do ponto de vista da escola.
Em inglês, o verbo bully significa intimidar, dominar, perseguir, atormentar,
aterrorizar, oprimir.
Tem-se notícia de que, em menor ou igual proporção, envolvendo diferentes
graus de violência física, o bullying exista em vários países. Talvez porque primeiro
se tenha tido notícia declarada do problema nos EUA, o termo inglês é também
empregado no Brasil, sem tradução para o português. Até recentemente desco-
nhecido em nosso país, hoje se vê, com frequência, esse termo em todos os ca-
nais da mídia.
O bullying pode ser caracterizado como uma forma de violência física, psi-
cológica ou social, tendo como origem discriminação de algum tipo, geralmente
causada por preconceito. Embora o preconceito seja a causa mais comum para
o bullying, ele não constitui sua única causa possível.
Algumas vezes, o bullying pode também ser causado por outro tipo de dis-
criminação, envolvendo inveja, quando a vítima escolhida difere do grupo porca-
racterísticas que podem suscitar inveja ou ciúmes como namorado cobiçado, rou-
pas ou materiais escolares mais caros ou até notas mais altas nas provas.
Recentemente, foi noticiado que um grupo de alunas, entre 11 e 15 anos de
Obul/ying, uma for ma de violencia
. • nas escolas 335
IIIIIÍ
336 • Orientação Educacional na Prática
Bill Watterson que, •por meio do personagem Calvin: das histórias_ em qua-
drinhos criadas por ele, retrata a vida de uma típica família norte-amencana, em
algumas tiras apresenta O Calvin, garoto de uns 6 anos de idade, sendo ameaçado
po11 um menino grandalhão, que ora lhe pede, o dinheiro do lanche, ora exige que
elci~ lhe ceda O lugar no balanço, no recreio. E interessante notar, que ,o pequeno
Calvin, mesm9 efll,u.m país onde O bulltjing é sobejamente conh~cido, nã? recorre
aos seus pais ou à direção da escola, m~s procura resolver 1sozinhq o problema,
ora apanhando, ora cedendo, filosoficamente, ao mais forte. ,
O bullying não, se restringe a colegas. Há notícias de que foncionários, p:ro-
fessores e até diretores de escolas estão sujeitos a ~le. Tem sido comum a exis-
tência dy adultos que temem exercer suas funções em detern;iinadas esco,las ppr
medo de agressões.
1 ' '
O bullying vem ocolrei;i.do em vári?s ,p~ses. Foi notícia d~ jornal, por exrm-
plo, _q ue em Portugal um rapaz de ~2 anos saltou.de uma ponte sobre um rio por
não aguentar mais o bullying por parte dos colegas, dos quais viµha sendo vítima.
Na mesma notícia, há a história de l.J.!31 profes,s or português que também saltou
de uma ponte sobre o Tejo por não aguentar mais os insultos e as ameaças por
' • 1 '
parte dos seus alunos. Nos dois casos narrados, o autor da notícia atribui os acon-
tecimentos às "sucessivas reformas em Portugal, que, ao destruírem a autoridad~
dos professores, apenas prepararam o terreno para que as escolas públicas do país
se transformassem em faroestes grotescos, onde as crianças não conhecem lei..."
1'
Como se vê, t;mto as ocorrências como as causas e as consequências delas são se-
melhantes ao verificado em diferentes países, inclusive no Brasil.
Por incrível que possa parecer, costuma ocorrer nas escolas não só bullying
por parte de alunos contra alunos, e destes contra professores e funcionários,
como até de professores e de funcionários contra seus colegas.
Além do bullying real, uma nova forma dele é o virtual, ou cyberbullying, por
meio de fotos e vídeos postados na internet ou em aparelhos celulares, em que
colegas são ridicularizados ou denegridos. Com a expansão do uso do celular e
da intemet, o problema vem se agravando cada vez mais.
Tabela 1
Percentual de entrevistados com algum nível de preconceito
Geral 99,3
Contra portadores de necessidades especiais 96,5
Étnico-raciais 94.2
Gênero 93.5
Geracional (contra mais idosos, por exemplo) 91.0
87.5
Socioeconômica
87.3
Orientação sexual
75.9
Territorial
340 • Orientação Educacional na Prática
Tabela2
Ao terminar esta nova edição deste livro, o hullying começou a se tomar cada
vez mais visível na mídia, seja porque tem aumentado muito em números e na
gravidade dos casos, seja meramente porque a população e as autoridades estão
tomando conhecimento de um p~oblema que há muito existia, mas que não ti-
nha nome especial e erà ignorado.' '
Qualquer que seja o caso, o hullying está sendo objeto de pesquisas no país.
Em recente exemplar do jornal O Estado de S. Paulo, há uma chamada de pri-
meira página para uma pesquisa sobre o assunto. Na terceira página da mesma
i1,, edição, o tema do dia, que foi o hullying, recebeu 2.995 comentários de leitpres.
Os comentários selecionados para publicação foram:
"Tive uma ~miga que se suicidou. Ela era atormentada por ser 'gordinha e tí-
mida'. Eu também fui porque era muito magra"; "Meu filho enfrentou isso por
usar óculos e ser 'mansinho demais'. Que a pedagogia e a psicologia comecem a
reagir agora"; "Na escola, fui atorment~do até dar um soco nele. Todo bully não
passa de um covarde. Se você aperta, ele sai correndo".
Esses comentários são interessantes porque mostram o dia a dia dh' que
acontece com as vítimas. Na mesma edição, uma mãe relata o caso de sua.fµh~
que exerceu o bu?l~in~, pa~c}Pª°iiº , g_rupo liderado pela aluna mais po-
pular da classe. A m~e conversou com ela e levou o caso à pr~fessora. É inte-
ressante a constataçao de que não apenas a vítima do.bullying' precisa de apoio
o
psicológico, mas também quem pratica precisa desse apofo, p~is as razões para
ele podem estar ligadas a problemas de ordem psicológica que estariam por trás
de tal prática.
Como a pesquisa citada nessatedição.chegou ,à conclusão de que, no Brasil,
a maior parte do hullying ocorre nas salas de aula e não no recreio, como em ou-
tros países, isso mo~tiia que os professores não estão preparados para detectar o
problema, provaveJ~ente não percebendo o que esteja ocorrendo ou conside-
rando-o como mera brincadeira inconsequente.
Na intemet, a difusão de conteúdos agressivos contra pessoas é, pelas carac-
terísticas da rede e pelo uso crescente dela, muito ampla e rápida. Embora seja
Obullying, urna forma de violência nas escolas • 341
do problema.
Cabe ao Or.E.:
, IJUllying como se manifesta na prática, quais são
e 0
Procurar conhecer o que ,
seus indícios, as possíveis causas e consequências dele.
342 Orientação Educacional na Prática
1. Oque é pedofilia?
A pedofilia constitui uma forma específica de agressão contra menores de idade.
A pedofilia existe há muito tempo, mas pouca gente conhecia o termo, hoje
já quase do total domínio público. A palavra tem origem no grego, sendo que peda
significa criança e filia, gosto de. O simples gostar de crianças é bastante louvá-
vel, mas tecnicamente a palavra pedofilia é empregada com conotação de abuso
sexual de crianças e, por extensão, de menores de idade, em geral, isto é, crian-
ças ou adolescentes.
Quando um termo técnico, que designa um mal social, passa a fazer parte do
vocabulário da população, tal mal aparenta ser recente ou suas proporções su-
postamente estão sendo assustadoramente aumentadas. Embora não haja esta-
tísticas, pode-se supor que a incidência da pedofilia não aumentou, em valores
relativos ao crescimento da população. Pode-se supor também, com bom grau
de probabilidade, que os casos hoje existentes estão se tornando mais conheci-
dos e que, como consequência dessa maior divulgação, outros casos que perma-
neciam encobertos comecem a aparecer. Após assistir a um programa de televi-
344 • Orientação Educacional na Prática
1995, havia na Alemanha 210 mil denúncias de abuso, das quais 300 ligadas ao
clero, portanto menos de 0,2% do total.
O que também choca a quem estuda as estatísticas da pedofilia é que ela
ocorre onde menos se espera, isto é, na própria casa da criança e, às vezes, in-
cluindo entre as vítimas mais de uma criança da casa.
Atabela seguinte mostra a classificação, pelo número de casos, das principais
categorias de pedófilos, conforme dados coletados nas unidades da Rede Criança
nas zonas leste e sul de São Paulo, até maio de 2009.
Tabela 1
. - nao
Embora essa class1ficaçao - sep· a mesma em todas as populações , .estuda-
das, pais e padrastos geralmente encabeçam as listas de casos. Causa espec1e, nessa
346 • Orientação Educacional na Prática
lista, não só O grau de parentesco dos que cometem abusos com as crianças como
também a ordem de incidência desses casos e a presença de avós nas estatísticas.
Além dessas pessoas listadas, causa muita estranheza e apreensão uma nova
estatística. Segundo noticiou O Jornal da Tarde, em 2009, ocorreram na capital
de São Paulo 27 estupros em escolas, creches e escolas de ensino fundamental.
Difícil de se acreditar! Na maioria deles, segundo o Infocrim (base de dados da
polícia), os agressores foram funcionários, colegas e até professores. A faixa etá-
ria das vítimas foi de 2 a 17 anos. O crime, em geral, ocorreu no banheiro e nas
salas de aula. Embora a escola devesse ser um local totalmente insuspeito para
a ocorrência da pedofilia, é possível que ela venha ocorrendo há muito tempo
nesse local.
Quem acompanha o noticiário tem a impressão de que, de repente, a socie-
dade foi acometida por uma epidemia de pedofilia e que, portanto, tudo está pio-
rando. Na realidade, a sociedade está mais alerta para casos que sempre ocorre-
ram em seu seio, mas que hoje estão se tomando visíveis. Segundo o delegado do
lO()a DP, "Depois que a imprensa passou a dar mais destaque para casos de pe-
dofilia, os parentes das vítimas passaram a procurar a polícia para fazer denúncia".
Segundo a mesma notícia, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
disse em nota que no caso de envolvimento de funcionários, é aberto um processo
administrativo interno e que o profissional pode ser exonerado. Diante da gra-
, 'l
vidade do caso, essa ação não estaria sendo tímida?
A Secretaria Municipal de São Paulo informou desconhecer o estudo do In-
focrim e por isso não iria se manifestar. O fato de tais dados terem sido coleta-
dos em São Paulo não significa que o ocorrido se concentre ou se restrinja a essa
capital, mas é muito provável que a falta de dados para outras cidades seja indí-
cio de que o problema nelas é até relativamente maior.
Ao contrário do que se poderia supor, portanto, o número de desconhecidos que
abusam de crianças é relativamente pequeno. Além desses, há casos de vizinhos,
1
'lj
amigos da família, pais de amigos da vítima e até de casais que aproveitam da pro-
1 ximidade e da confiança da criança e dos pais para a prática da pedofilia.
IJ 1
Também ao contrário do que muitos acreditam, o pedófilo pode ser homo ou
heterossexual, pode ser solteiro ou casado, inclusive tendo filhos menores.
l j
OOrientador Educacional ealunos vítimas de pedofilia • 347
a busam de cnanças
_ , também fora m abusados na mfancia
.A ou adolescência, se bem
que esta nao e a regra nem ent re os que abusam e nem entre os que foram abu-
sados. Mas ª exiStê~cia de casos mostra que esse é um tipo de crime que tende
a se propagar, se nao for combatido adequadamente.
Há pedófilos
, . que .não têm condiçao - de consegmr · parceiros
· adultos, seJa· por
seu asp~cto fisi~o, sep pela idade avançada, seja por timidez, seja pela condição
econôm1ca, motivos pelos quais procurariam ou achariam mais fácil satisfazer seus
desejos com pessoas indefesas, mas nem todos os pedófilos se enquadrariam em
qualquer desses casos.
Há, também, os que praticam tais delitos pela conveniência da oportunidade.
Muitas vezes, as mães saem para trabalhar e deixam seus filhos em casa, sozinhos
ou aos cuidados de pais ou padrastos desocupados, de avós, de tios ou de vizinhos,
de trabalhadores contratados, que se aproveitam da facilidade da ocasião e da con-
fiança das mães. Nesses casos, a criança nem sempre, ou raramente, consegue
comunicar à mãe os abusos, seja porque é ameaçada, seja porque o crime é pra-
ticado por pessoa muito ligada a ela, seja porque a mãe não acreditaria, pensando
tratar-se de mentira ou fantasia infantil, seja porque a criança não sabe verbali-
zar o que ocorre ou sente vergonha de fazê-lo, ou seja, ainda, porque a mãe não
quer ou não lhe convém tomar providências.
Do ponto de vista social e cultural, há pais que se acham no direito de abusar
de suas filhas simplesmente pelo fato de serem os seus pais, e há, também, aque-
les que acham que a melhor maneira de elas perderem a virgindade é com eles.
Amaior divulgação sobre a pedofilia tem contribuído para que as vítimas per-
cebam sua condição de vítimas e para que denunciem, mas isso nem sempre é
fácil ou possível. O Or.E., bem como os profissionais da área da saúde e até os
professores devem ficar atentos para indícios de que alguma criança esteja so-
frendo abusos.
tasse com pelo menos um Or.E. por turno, profissional esse melhor preparado
e com atribuições especificamente_ voltadas para o bem-estar geral dos alunos.
r
d e 10rma ,.
espontanea, . , 1Oga. Ione Julien criou o projeto
a ps1co d 1denominado "Sala
de Espera,, , que consiste . em dinami ,. •ca de grupo
d com, d os a to escentes enquant
di 0
estes aguardam consultas com profiisSIO · nais a sau e. O s emas
. . para. ·seus sao
,. ongem
t em . em problemas apresentados por escrito, . e caso SeJa. identificado
. .qual-
quer m • dício . l"enc1•a , Oadolescente é encammhado para
. de VIO . ªJuda
. . especializada
. .
O O r.E . pode, tam bem,, r ealizar dinâmicas de grupos e mstitmr a cru:xa de su-
gestoes_ para temas a serem deb atiºd os com os alunos adolescentes. . . , .
Profissionais da área de saúde devem estar atentos para smais físicos e psi-
cológicos não só de violência como de abuso se~al. , .
Os professores do ensino infantil e das primeiras senes do fundamental que
lidam, no dia a dia, com os seus alunos, têm condições, quer por habilidades pró-
prias, quer se treinados, de detectar a existência de agressões e/ou de abuso se-
xual em seus alunos. Muitas vezes, basta observar as brincadeiras espontâneas das
crianças e a maneira como brincam com suas bonecas para detectar a possível
existência de problemas. Professores de Educação Física podem observar 0
comportamento de alunos que apresentam comportamentos estranhos em suas
aulas. Professores de Português têm a oportunidade de detectar problemas nas
redações e em outros trabalhos livres que passam a seus alunos. Professores de
Artes também têm essa oportunidade nos trabalhos livres. Muitas vezes a criança,
11
1' embora não se manifeste diretamente, projeta em seus desenhos livres ou dese-
nhos da família, nas representações cênicas, nas brincadeiras com bonecas, o que
está ocorrendo com ela.
O assunto deve ser sempre tratado com muita cautela. O Or.E. deve lembrar
que a criança tem imaginação muito desenvolvida, tornando-se difícil, muitas ve-
' zes, separar fatos de produtos dessa imaginação.
1,
Quando se foca muito em determinado assunto, todos começam a ver fan-
tasmas onde não existem. A criança logo percebe quando um determinado as-
sunto desperta a atenção dos adultos e ela procura manter essa atenção elabo-
rando sobre o tema. Foi o que ocorreu em um caso que ficou conhecido como
o da "Escola de Base". Tratava-se de uma escola de educação infantil com esse
1 1
nome. Surgiu um ~ºª~º-de que os alunos estavam sendo abusados por parte dos
educadores e func10nanos. O caso causou 1·ndignaça~ ~ , d · d alu
. o nao so os pais esses -
nos como da sociedade em geral. Notícias sobre ele povoaram a mídia, a escola
f~i depredada,. os apontados como responsáveis foram a julgamento, execrados
nao só pelos pais dos alunos como por toda a op;n;~ 'bli 1 r • r h da
. uuao pu ca, a esco a 101 1ec a '
até que se venficou que tais abusos não exi· ti • , d · · e
· t .d ·
morais erem ocom o sem poss"bilºd s ram ... , isso apos anos matenrus
1 1 d d ' .
. ' a e e reparação. Esse caso em particu-
lar, ilustra a caut~la com que se deve trat d d fili , ' d _
tela não deve im edir ue O ar a pe O a. Porem, o excesso e cau
. ti P q Or.E. se mantenha atento ao problema mas que pro-
cure mves gar e ter certeza antes d t . ,. . '
e ornar proVIdencias.