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SEGURANÇA PÚBLICA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Sumário
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 3

1. SEGURANÇA PÚBLICA ...................................................................... 4

2. SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL .................. 5

2.1. Órgãos que compõe a Segurança Pública ....................................... 6

3. SISTEMA ÚNICO DE SEGURANÇA PUBLICA ................................... 9

5. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA .............................................................. 10


6. FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ........................................... 12

7. O CICLO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ............................................ 15

8. VIOLÊNCIA CONTRA MULHER ....................................................... 16

9. VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS................................................. 18


10. VIOLÊNCIA CONTRA HOMENS ................................................. 19
11. VIOLÊNCIA CONTRA HOMOSSEXUAIS .................................... 19
12. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E O ISOLAMENTO SOCIAL CAUSADO
PELA COVID-19 ........................................................................................... 21
13. ALGUNS MITOS CRIADOS PELA SOCIEDADE ACERCA DA
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ............................................................................ 23
“AS MULHERES APANHAM, PORQUEM GOSTAM OU PROVOCAM."
...................................................................................................................... 23
"A VIOLÊNCIA SÓ ACONTECE EM FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA E
POUCA INSTRUÇÃO” .............................................................................. 23

"É FACÍL IDENTIFICAR O TIPO DE MULHER QUE APANHA”..... 23

“A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NÃO OCORRE COM FREQUÊNCIA”


.................................................................................................................. 23

“PARA ACABAR COM A VIOLÊNCIA, BASTA PROTEGER AS


VÍTIMAS E PUNIR OS AGRESSORES." .................................................. 24

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“A MULHER NÃO PODE DENUNCIAR A VIOLÊNCIA EM


QUALQUER DELEGACIA” ....................................................................... 24

"SE A SITUAÇÃO FOSSE TÃO GRAVE, AS VÍTIMAS


ABANDONARIAM LOGO OS AGRESSORES” ........................................ 25

"EM BRIGA DE MARIDO E MULHER NÃO SE METE A


COLHER./ROUPA SUJA SE LAVA EM CASA." ....................................... 25

"OS AGRESSORES NÃO SABEM CONTROLAR SUAS EMOÇÕES."


.................................................................................................................. 26

"A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA VEM DE PROBLEMAS COM O


ÁLCOOL, DROGAS OU DOENÇAS MENTAIS." ...................................... 26

"A LEI MARIA DA PENHA É INCONSTITUCIONAL." .................... 26

"A LEI MARIA DA PENHA PODE SER APLICADA TANTO PARA O


HOMEM QUANTO PARA A MULHER." .................................................... 27

"A LEI MARIA DA PENHA SÓ FOI FEITA PARA AS MULHERES SE


VINGAREM DOS HOMENS." ................................................................... 28

14. REFERÊNCIAS ............................................................................ 29

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1. SEGURANÇA PÚBLICA
Segurança Pública é um processo complexo, sistêmico, abrangente e otimizado,
que visa à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, permitindo o usufruto de direitos e o cumprimento de deveres.
Necessita de ações integradas a nível Federal Estadual, Distrital e Municipal,
com a participação de entidades públicas e privadas e da comunidade como um
todo. É um dever do Estado, uma responsabilidade e direito de todos, visando,
assim, garantir a ordem pública e a proteção de todos os cidadãos brasileiros.

O constituinte de 1988 foi econômico ao ordenar apenas policiais da União e dos


Estados, sem abordar o papel de outros órgãos governamentais e da sociedade
na estrutura de combate ao crime e violência.

Na prática, a segurança pública é um processo sistêmico, abrangente e


complexo, que contempla várias ações:

. De caráter preventivo (educação, saúde, saneamento, emprego, policiamento


preventivo, etc);

. De legislação penal (definição de crimes e penas);

. Da persecução penal (atuação dos órgãos policiais de investigação e o


Ministério Público)

. Do processo penal (julgamento do acusado pelo juiz);

. Da execução penal (cumprimento da pena) e

. A ressocialização (reintegração do preso à sociedade).

Sendo assim, inicialmente não seria correto e legal atribuir todas as


responsabilidades sobre a segurança pública somente às “polícias”. A
responsabilidade de todos contida na C.F, também diz respeito à participação
dos cidadãos na contribuição com a segurança pública, denunciando os delitos
de que tenham conhecimento, discutindo as melhores soluções a criminalidade

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e a prevenção da violência através dos Conselhos Comunitários (CONSEGS)


com a discussão de problemas pertinentes a cada localidade, cidade ou bairro.
A segurança pública é responsabilidade de todos e precisa contemplar políticas
sociais integrais, com a participação da administração pública da União, Estados
e Municípios e da sociedade.

2. SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


No artigo 144 da Constituição Federal, há uma especificação dos órgãos que
pertencem a Segurança Pública. Essas instituições são responsáveis por
atividades no sentido de prevenir, inibir, neutralizar ou reprimir a prática de atos
considerados ilegais perante a legislação vigente e situações de riscos ao bem
estar social.

Art. 144 CF. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I – polícia federal;

II – polícia rodoviária federal;

III – polícia ferroviária federal;

IV – polícias civis;

V – polícias militares e corpos de bombeiros militares;

VI – polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação dada pela Emenda


Constitucional nº 104, de 2019)

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2.1. Órgãos que compõe a Segurança Pública


POLÍCIA FEDERAL

A Polícia Federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e


mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:

-Apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de


bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser
em lei;

- Prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o


contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
órgãos públicos nas respectivas áreas competência;

-Exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras,

-Exercer as funções de polícia judiciária da União.

POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

A Polícia Rodoviária Federal é a responsável pelo patrulhamento ostensivo de


estradas e vias federais da nação.

As funções englobam a fiscalização do tráfego e impedimento de crimes no


trânsito, assim como a apreensão, quando necessário, de cargas irregulares ou
ilegais, evitando o contrabando e o tráfico entre fronteiras.

POLÍCIA FERROVIÁRIA FEDERAL

A Polícia Ferroviária Federal, órgão permanente, organizado e mantido pela


União e estruturado em carreira, destina-se, na forma de lei, ao patrulhamento
ostensivo das ferrovias federais.

POLÍCIAS CIVIS

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As Polícias Civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incubem,


ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração
de infrações penais, exceto as militares.

POLÍCIA MILITAR

Às Polícias Militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem


pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em
lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. Protegendo o cidadão, a
sociedade e os bens públicos, contribuindo para todos os segmentos, diminuindo
conflitos e garantindo a segurança para a população. É importante destacar que
policiais militares e corpos de bombeiros militares são forças auxiliares e
reservas do Exército.

A Emenda Constitucional nº 104, de 4 de dezembro de 2019 determina no artigo


5º que cabe às Polícias Penais Federal, Estaduais e Distrital, a vigilância, ordem
e segurança dos estabelecimentos penais.

§ 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal


da unidade federativa a que pertencem, cabe a segurança dos estabelecimentos
penais.

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3. SISTEMA ÚNICO DE SEGURANÇA PUBLICA

A criação do Sistema Único de Segurança Pública (Susp) é um marco divisório


na história do país. Implantado pela Lei nº 13.675/2018, sancionada em 11 de
junho de 2018, o Susp dá arquitetura uniforme ao setor em âmbito nacional e
prevê, além do compartilhamento de dados, operações e colaborações nas
estruturas federal, estadual e municipal.

Com as novas regras, os órgãos de segurança pública, como as polícias civis,


militares e Federal, as secretarias de Segurança e as guardas municipais serão
integrados para atuar de forma cooperativa, sistêmica e harmônica.

O Sistema Único de Segurança Pública (Susp) tem como órgão central o


Ministério da Segurança Pública e é integrado pelas polícias Federal, Rodoviária
Federal; civis, militares, Força Nacional de Segurança Pública e corpos de
bombeiros militares. Além desses, também farão parte do Susp: agentes
penitenciários, guardas municipais e demais integrantes estratégicos e
operacionais do segmento da Segurança Pública.

A integração e a coordenação dos órgãos integrantes do Susp dar-se-ão nos


limites das respectivas competências, por meio de:

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. Operações com planejamento e execução integrados;

. Estratégias comuns para atuação na prevenção e no controle qualificado de


infrações penais;

. Aceitação mútua de registro de ocorrência policial;

. Compartilhamento de informações, inclusive com o Sistema Brasileiro de


Inteligência (Sisbin);

. Intercâmbio de conhecimentos técnicos e científicos;

. Integração das informações e dos dados.

A lei do Susp cria também a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa


Social (PNSPDS) para fortalecer "as ações de prevenção e resolução pacífica
de conflitos, priorizando políticas de redução da letalidade violenta, com ênfase
para os grupos vulneráveis". A Política será estabelecida pela União e está
prevista para valer por dez anos. Caberá aos estados, ao Distrito Federal e aos
municípios estabelecerem suas respectivas políticas a partir das diretrizes do
Plano Nacional.

A PNSPDS visa à preservação da vida, à manutenção da ordem pública, ao


meio ambiente conservado a garantia da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, o enfrentamento e prevenção à criminalidade e à violência em todas
as suas formas, assim como o engajamento da sociedade, a transparência e
publicidade das boas práticas.

5. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A Violência doméstica é comportamento que envolve violência ou outro tipo de


abuso por parte de uma pessoa contra outra num contexto doméstico, como no
caso de um casamento ou união de facto, ou contra crianças ou idosos. Quando
é perpetrada por um cônjuge ou parceiro numa relação íntima contra o outro

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cônjuge ou parceiro denomina-se violência conjugal, podendo ocorrer tanto entre


relações heterossexuais como homossexuais, ou ainda entre antigos parceiros
ou cônjuges. A violência doméstica pode assumir diversos tipos, incluindo
abusos físicos, verbais, emocionais, económicos, religiosos, reprodutivos e
sexuais. Estes abusos podem assumir desde formas subtis e coercivas até
violação conjugal e abusos físicos.

A violência doméstica ocorre quando o abusador acredita que o seu abuso é


aceitável, justificado ou improvável de ser reportado. A violência doméstica pode
dar origem a ciclos de abuso intergeracionais, criando a imagem em crianças e
outros membros da família que o abuso é aceitável. Poucas pessoas nesse
contexto são capazes de se reconhecer no papel de abusadores ou vítimas, uma
vez que a violência é considerada uma disputa familiar que simplesmente se
descontrolou.

Em relações afetivas abusivas, pode ocorrer um ciclo abusivo durante o qual


aumenta a tensão e é cometido um ato violento, seguido por um período de
reconciliação e calma. As vítimas podem ser encurraladas para situações de
violência doméstica através de isolamento, poder e controlo, aceitação cultural,
falta de recursos financeiros, medo, vergonha ou para proteger os filhos. Na
sequência dos abusos, as vítimas podem desenvolver incapacidades físicas,
problemas de saúde crónicos, doenças mentais, incapacidade de voltar a criar
relações afetivas saudáveis e incapacidade financeira. As vítimas podem ainda
desenvolver problemas psicológicos, como perturbação de stress pós-
traumático. As crianças que vivem em lares violentos demonstram
frequentemente problemas psicológicos desde muito novas, como agressividade
latente, o que em idade adulta pode contribuir para perpetuar o ciclo de violência.

Partindo deste conceito podemos ainda distinguir a Violência Doméstica entre:

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-VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM SENTIDO ESTRITO: maus tratos físicos; maus


tratos psíquicos; ameaça; coação; injúrias; difamação e crimes sexuais.

- VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM SENTIDO LATO, que inclui outros crimes em


contato doméstico [violação de domicílio ou perturbação da vida privada;
devassa da vida privada (imagens; conversas telefônicas; emails; revelar
segredos e fatos privados; etc. violação de correspondência ou de
telecomunicações; violência sexual; subtração de menor; violação da obrigação
de alimentos; homicídio: tentado/consumado; dano; furto e roubo)]

6. FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A lei 11.340/2006, conhecida como lei Maria da Penha, no intuito de facilitar a


identificação dos tipos de agressões, em seu artigo 7º, descreve formas de
violência doméstica contra a mulher, como sendo, dentre outras: violência física,
pela prática de atos que ofendam a sua saúde ou integridade física; violência
psicológica, por condutas que lhes causem qualquer forma de danos
emocionais; violência sexual, por qualquer forma de constrangimento a
presenciar, manter ou a participar de relação sexual não desejada; violência
patrimonial, por atos que restrinjam ou impeçam o uso de seus bens, direitos e
recursos financeiros, bens ou documentos pessoais ou de trabalho; e, violência
moral, caracterizada por atos que configurem calúnia, difamação ou injúria.

Art. 7 São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua


integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno

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desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,


comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito
de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e
à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a


presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure


retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,


difamação ou injúria.

 VIOLÊNCIA EMOCIONAL: qualquer comportamento do(a)


companheiro(a) que visa fazer o outro sentir medo ou inútil. Usualmente inclui
comportamentos como: ameaçar os filhos; maltratar os animais de estimação;
humilhar o outro na presença de amigos, familiares ou em público, entre outros.

 VIOLÊNCIA SOCIAL: qualquer comportamento que intenta controlar a


vida social do(a) companheiro(a), através de, por exemplo, impedir que este(a)
visite familiares ou amigos, cortar o telefone ou controlar as chamadas e as
contas telefônicas, trancar o outro em casa.

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 VIOLÊNCIA FÍSICA: qualquer forma de violência física que um


agressor(a) inflige ao companheiro(a). Pode traduzir-se em comportamentos
como: esmurrar, estrangular, queimar, induzir ou impedir que o(a)
companheiro(a) obtenha medicação ou tratamentos.

 VIOLÊNCIA SEXUAL: qualquer comportamento em que o(a)


companheiro(a) força o outro a protagonizar atos sexuais que não deseja. Alguns
exemplos: pressionar ou forçar o companheiro para ter relações sexuais quando
este não quer; pressionar, forçar ou tentar que o(a) companheiro(a) mantenha
relações sexuais desprotegidas; forçar o outro a ter relações com outras
pessoas.

 VIOLÊNCIA FINANCEIRA: qualquer comportamento que intente


controlar o dinheiro do(a) companheiro(a) sem que este o deseje. Alguns destes
comportamentos podem ser: controlar o ordenado do outro; recusar dar dinheiro
ao outro ou forçá-lo a justificar qualquer gasto; ameaçar retirar o apoio financeiro
como forma de controlo.

 PERSEGUIÇÃO: qualquer comportamento que visa intimidar ou


atemorizar o outro. Por exemplo: seguir o(a) companheiro(a) para o seu local de
trabalho ou quando este(a) sai sozinho(a); controlar constantemente os
movimentos do outro, quer esteja ou não em casa.

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7. O CICLO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A violência doméstica funciona como um sistema circular – o chamado Ciclo da


Violência Doméstica – que apresenta, regra geral, três fases:

-AUMENTO DA TENSÃO: as tensões acumuladas no cotidiano, as injúrias e as


ameaças tecidas pelo agressor, criam, na vítima, uma sensação de perigo
eminente. Nesta fase, a tensão entre o casal aumenta pela maior irritabilidade
do agressor, que se mostra mais estressado, agressivo, culpabiliza a vítima e
busca torná-la amedrontada, enquanto a vítima se vê “andando sobre ovos” ao
buscar de toda forma não provocar ou irritar mais ainda o agressor. Nessa fase
se observam com maior evidência a violência psicológica e moral.

-ATAQUE VIOLENTO: o agressor maltrata fisicamente e psicologicamente a


vítima; estes maus-tratos tendem a escalar na sua frequência e intensidade. Há
o ápice da violência, no qual o agressor explode e toda a tensão da fase anterior
e se materializa em qualquer uma das violências que já foi mencionada. A
denúncia da violência geralmente ocorre nessa fase, mas nem todas as
mulheres saem dela ilesas, já que a agressão pode resultar na morte da vítima.

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-LUA-DE-MEL: o agressor envolve agora a vítima de carinho e atenções,


desculpando-se pelas agressões e prometendo mudar (nunca mais voltará a
exercer violência). Após a explosão, o agressor se arrepende e nesta fase
apresenta comportamentos que buscam a reconciliação com a vítima. O
indivíduo demonstra remorso, promete que vai mudar, busca justificar seu
momento de explosão, torna-se amoroso, carinhoso. Esse comportamento,
aliado aos sentimentos que tomam conta da mulher, como o medo, a culpa e a
ilusão, acabam por convencê-la a prosseguir o relacionamento. Mas o ciclo
voltará a se repetir.

Este ciclo caracteriza-se pela sua continuidade no tempo, isto é, pela sua
repetição sucessiva ao longo de meses ou anos, podendo ser cada vez menores
as fases da tensão e de apaziguamento e cada vez mais intensa a fase do ataque
violento. Usualmente, este padrão de interação termina onde antes começou.
Em situações limite, o culminar destes episódios poderá ser o homicídio.

8. VIOLÊNCIA CONTRA MULHER

A violência contra as mulheres é um fenômeno complexo e multidimensional,


que atravessa classes sociais, idades e regiões, e tem contado com reações de
não reação e passividade por parte das mulheres, colocando-as na procura de
soluções informais e/ou conformistas, tendo sido muita a relutância em levar este
tipo de conflitos para o espaço público, onde durante muito tempo foram
silenciados.

A reação de cada mulher à sua situação de vitimização é única. Estas reações


devem ser encaradas como mecanismos de sobrevivência psicológica que, cada
uma, aciona de maneira diferente para suportar a vitimização.

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Muitas mulheres não consideram os maus-tratos a que são sujeitas, o dano, a


injúria, a difamação ou a coação sexual e a violação por parte dos cônjuges ou
companheiros como crimes.

As mulheres encontram-se, na maior parte dos casos, em situações de violência


doméstica pelo domínio e controlo que os seus agressores exercem sobre elas
através de variados mecanismos, tais como: isolamento relacional; o exercício
de violência física e psicológica; a intimidação; o domínio econômico, entre
outros.

A violência doméstica não pode ser vista como um destino que a mulher tem que
aceitar passivamente. O destino sobre a sua própria vida pertence-lhe e deve
ser ela a decidi-lo, sem ter que aceitar resignadamente a violência que não a
realiza enquanto pessoa.

A Lei Maria da Penha foi criada para a proteção da mulher contra a violência
doméstica e familiar. Assim, caso um homem sofra violência no ambiente
doméstico e familiar, ele não poderá se beneficiar das medidas desta lei. Nesse
caso, será aplicado o Código Penal.

Conforme Artigo 5ª, da Lei 11340 de 07 de Agosto de 2006, configura violência


doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e
dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015)

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio


permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por


indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa;

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III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha


convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de


orientação sexual.

E em 2015, foi inserido no Código Penal a previsão legal do feminicídio, como


modalidade do homicídio qualificado:

Homicídio qualificado

§ 2° Se o homicídio é cometido:

(…)

Feminicídio

VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:

Pena – reclusão, de doze a trinta anos.

§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o


crime envolve:

I – violência doméstica e familiar;

II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

9. VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS

As crianças podem ser consideradas vítimas de violência doméstica como:

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1 - TESTEMUNHAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: inclui presenciar ou ouvir os


abusos infligidos sobre a vítima, ver os sinais físicos depois de episódios de
violência ou testemunhar as consequências desta violência na pessoa abusada;

2 - INSTRUMENTOS DE ABUSO: Um pai ou mãe agressor pode utilizar os filhos


como uma forma de abuso e controlo;

3 - VÍTIMAS DE ABUSO: As crianças podem ser física e/ou emocionalmente


abusadas pelo agressor (ou mesmo, em alguns casos, pela própria vítima).

10. VIOLÊNCIA CONTRA HOMENS

Apesar de as mulheres sofrerem maiores taxas de violência doméstica, os


homens também são vítimas deste crime. As mulheres também cometem,
frequentemente violência doméstica, e não o fazem apenas em autodefesa.

Os homens vítimas de violência doméstica experimentam comportamentos de


controlo, são alvo de agressões físicas (em muitos casos com consequências
físicas graves) e psicológicas, bem como também estes receiam abandonar
relações abusivas. O medo e a vergonha são, para estas vítimas, a principal
barreira para fazer um primeiro pedido de ajuda. Estes homens receiam ser
desacreditados e humilhados por terceiros (familiares, amigos e até mesmo
instituições judiciárias e policiais) se decidirem denunciar a sua vitimização.

11. VIOLÊNCIA CONTRA HOMOSSEXUAIS

A violência contra homossexuais, assume características e dinâmicas típicas de


qualquer manifestação entre parceiros íntimos. As semelhanças entre as

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relações abusivas em casais do mesmo sexo e em casais de sexo diferente são


maiores do que as diferenças. Mas existem alguns aspectos distintivos na
violência doméstica nos casais homossexuais.

-O OUTING COMO INSTRUMENTO DE INTIMIDAÇÃO:


Esta é uma estratégia de violência psicológica que consiste em revelar ou
ameaçar revelar a orientação sexual do seu parceiro. Assim, se um/a dos
parceiro/as não fez ainda o "outing", ou seja, não revelou a sua
homossexualidade no seio da sua família, rede de amigos e/ou no trabalho, o/a
agressor/a pode ameaçar contar;

-A QUESTÃO DO/AS FILHO/AS:


No caso de casais com filho/as, a ameaça de cortar os laços da vítima com a(s)
criança(s), o que pode ser particularmente violento se a vítima não for legalmente
reconhecida como pai ou mãe dos/as seus/suas filhos/as.

- A LIGAÇÃO ENTRE A SUA ORIENTAÇÃO SEXUAL E VIOLÊNCIA:


Para muitas destas vítimas, a sua orientação sexual aparece intimamente ligada
à/s sua/s relação/ções violentas, pelo que podem culpabilizar-se pelo fato de
estarem a ser vítimas de violência doméstica devido a serem gays, lésbicas ou
trans.

-O ISOLAMENTO E A CONFIDENCIALIDADE DA COMUNIDADE LGBTI:


Muitas vezes, a reduzida dimensão da rede e das comunidades LGBTI a que
agressor/a e vítima pertencem pode dificultar o pedido de ajuda por parte da
vítima.

-O ESTIGMA NA PROCURA DE AJUDA:


Pelo receio do estigma na procura de ajuda e no contato com organizações
públicas e privadas, as vítimas LGBTI poderão ter dificuldade acrescida em
procurar e obter ajuda. Isto, associado a experiências anteriores de

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discriminação ou pedidos de ajuda sem sucesso, pode levá-las aumentar o seu


isolamento e, consequentemente, a sua vulnerabilidade.

12. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E O ISOLAMENTO SOCIAL


CAUSADO PELA COVID-19

A necessidade do isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19


trouxe muitos reflexos para a vida de todas as pessoas, positivos para algumas
e negativos para outras. As mulheres são um grupo que têm sentido os efeitos
negativos, dado o aumento drástico da violência doméstica e familiar.

Isso se deve a uma série de fatores, como a perda ou diminuição da renda


familiar em razão do desemprego, suspensão das atividades de trabalho,
sobrecarga das tarefas domésticas, incluindo o cuidado dos filhos fora da escola,
aumento do consumo de bebidas alcoólicas, isolamento da vítima de seus
amigos e familiares, e outras situações que aumentam a tensão nas relações
domésticas.

Por essas razões, esse aumento não ocorreu exclusivamente no Brasil. A


violência doméstica também cresceu significativamente em outros países que
foram duramente afetados pela pandemia.

Na Itália, segundo epicentro global da pandemia, verificou-se que de 1º a 18 de


abril houve um aumento de 161% (cento e sessenta e um por cento) de ligações
e contatos para relatar episódios de violência doméstica e pedir ajuda para uma
central italiana antiviolência, comparado ao mesmo período do ano anterior,
segundo divulgou o Departamento de Igualdades e Oportunidades.

Em outras ocasiões, o isolamento social já foi visto como causa de aumento da


violência doméstica e familiar. Foi o caso da crise de Ebola na República
Democrática do Congo. Um relatório do Comitê Internacional de Resgate –

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organização criada pela iniciativa de Albert Einstein – mostra que a percepção


de aumento da violência doméstica aumentou consideravelmente. Isso também
aconteceu no Brasil durante o surto de Zika Vírus em 2016.

Segundo especialistas, a convivência intensa, a tensão do momento e o próprio


isolamento social, longe de parentes e amigos, contribui para que o número de
casos de violência doméstica aumentem ou piorem. Mas os casos notificados
ainda estão bem abaixo da realidade, afirma Marisa Gaudio, diretora de
Mulheres da OAB-RJ:

A maioria das mulheres não denuncia o seu agressor ainda. Vivemos em uma
sociedade muito machista e patriarcal que culpabiliza a mulher pela agressão,
pelo fim de uma relação, especialmente se envolver filhos, e que desestimula
essa mulher a denunciar. O convívio intenso, nesse momento de muita
ansiedade e tensão, tem piorado os casos. Um pessoa que nunca bateu, por
exemplo, pode ter descambado para a violência física.

Muitas mulheres têm dificuldade inclusive de reconhecer que estão em uma


relação de violência. Por isso é tão importante à informação e saber que há uma
rede de serviços para essas mulheres. Amigos e familiares também precisam
estar atentos. Uma agressão psicológica pode levar a uma física que pode levar
ao feminicídio.

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13. ALGUNS MITOS CRIADOS PELA SOCIEDADE


ACERCA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

“AS MULHERES APANHAM, PORQUEM GOSTAM OU PROVOCAM."

Quem é vítima de violência doméstica passa muito tempo tentando evitá-la para
assegurar sua própria proteção e a de seus filhos. As mulheres ficam ao lado
dos agressores por medo, vergonha ou falta de recursos financeiros, sempre
esperando que a violência acabe, e nunca para manter a violência.

"A VIOLÊNCIA SÓ ACONTECE EM FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA E POUCA


INSTRUÇÃO”

A violência doméstica é um fenômeno que não distingue classe social, raça,


etnia, religião, orientação sexual, idade e grau de escolaridade. Todos os dias,
somos impactados por notícias de mulheres que foram assassinadas por seus
companheiros ou ex-parceiros. Na maioria desses casos, elas já vinham
sofrendo diversos tipos de violência há algum tempo, mas a situação só chega
ao conhecimento de outras pessoas quando as agressões crescem a ponto de
culminar no feminicídio.

"É FACÍL IDENTIFICAR O TIPO DE MULHER QUE APANHA”

Não existe um perfil específico de quem sofre violência doméstica. Qualquer


mulher, em algum período de sua vida, pode ser vítima desse tipo de violência.

“A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NÃO OCORRE COM FREQUÊNCIA”

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2013 o Brasil já


ocupava o 5º lugar, num ranking de 83 países onde mais se matam mulheres.

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A confirmação da frequência da violência de gênero é o ciclo que se estabelece


e é constantemente repetido: aumento da tensão, ato de violência e lua de mel.
Nessas três fases, a mulher sofre vários tipos de violência (física, moral,
psicológica, sexual e patrimonial), que podem ser praticadas de maneira isolada
ou não.

“PARA ACABAR COM A VIOLÊNCIA, BASTA PROTEGER AS VÍTIMAS E


PUNIR OS AGRESSORES."

Tanto a proteção das vítimas quanto a punição dos agressores são importantes
no combate à violência. Mas isso não é suficiente, principalmente porque a
violência doméstica e familiar contra as mulheres é um problema estrutural, ou
seja, ocorre com frequência em todos os estratos sociais, obedecendo a uma
lógica de agressões que já são mapeadas pelo ciclo da violência. Daí surge a
necessidade também de ações sequenciadas para o enfrentamento da violência
de gênero, tais como inserir essa discussão nos currículos escolares de maneira
multidisciplinar; criar políticas públicas com medidas integradas de prevenção;
promover pesquisas para gerar estatísticas e possibilitar uma sistematização de
dados em âmbito nacional; realizar campanhas educativas para a sociedade em
geral (empresas, instituições públicas, órgãos governamentais, ONGs etc.); e
difundir a Lei Maria da Penha e outros instrumentos de proteção dos direitos
humanos das mulheres.

“A MULHER NÃO PODE DENUNCIAR A VIOLÊNCIA EM QUALQUER


DELEGACIA”

A violência doméstica pode, sim, ser denunciada em qualquer delegacia, sem


perder de vista, entretanto, que a Delegacia Especializada no Atendimento à
Mulher (DEAM) é o órgão mais capacitado para realizar ações de prevenção,
proteção e investigação dos crimes de violência de gênero. O acesso à justiça é
garantido às mulheres no art. 3º da Lei Maria da Penha.

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"SE A SITUAÇÃO FOSSE TÃO GRAVE, AS VÍTIMAS ABANDONARIAM


LOGO OS AGRESSORES”

Grande parte dos feminicídios ocorre na fase em que as mulheres estão tentando
se separar dos agressores. Algumas vítimas, após passarem por inúmeros tipos
de violência, desenvolvem uma sensação de isolamento e ficam paralisadas,
sentindo-se impotentes para reagir, quebrar o ciclo da violência e sair dessa
situação.

"É MELHOR CONTINUAR NA RELAÇÃO, MESMO SOFRENDO


AGRESSÕES, DO QUE SE SEPARAR E CRIAR O FILHO SEM O PAI."

Muitas mulheres acreditam que suportar as agressões e continuar no


relacionamento é uma forma de proteger os filhos. No entanto, eles vivenciam e
sofrem a violência com a mãe. Isso pode ter consequências na saúde e no
desenvolvimento das crianças, pois elas correm o risco não só de se tornarem
vítimas da violência, mas também de reproduzirem os atos violentos dos
agressores.

"EM BRIGA DE MARIDO E MULHER NÃO SE METE A COLHER./ROUPA


SUJA SE LAVA EM CASA."

A violência sofrida pela mulher é um problema social e público na medida em


que impacta a economia do País e absorve recursos e esforços substanciais
tanto do Estado quanto do setor privado: aposentadorias precoces, pensões por
morte, auxílios-doença, afastamentos do trabalho, consultas médicas,
internações etc.

De acordo com o § 2º do art. 3º da Lei Maria da Penha, é de responsabilidade


da família, da sociedade e do poder público assegurar às mulheres o exercício
dos “direitos à vida, à segurança, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à

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justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à dignidade, ao respeito e


à convivência familiar e comunitária”.

Além disso, desde 2012, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a Lei
Maria da Penha é passível de ser aplicada mesmo sem queixa da vítima, o que
significa que qualquer pessoa pode fazer a denúncia contra o agressor, inclusive
de forma anônima. Achar que o companheiro da vítima “sabe o que está fazendo”
é ser condescendente e legitimar a violência num contexto cultural machista e
patriarcal. Quando a violência existe em uma relação, ninguém pode se calar.

"OS AGRESSORES NÃO SABEM CONTROLAR SUAS EMOÇÕES."

Se isso fosse verdade, eles também agrediriam chefes, colegas de trabalho e


outros familiares, e não somente a esposa, as filhas e os filhos. A violência
doméstica não é apenas uma questão de “administrar” a raiva. Os agressores
sabem como se controlar, tanto que não batem no patrão, e sim na mulher ou
nos filhos. Além disso, eles agem dessa maneira porque acreditam que não
haverá consequências pelos seus atos.

"A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA VEM DE PROBLEMAS COM O ÁLCOOL,


DROGAS OU DOENÇAS MENTAIS."

Muitos homens agridem as suas mulheres sem que apresentem qualquer um


desses fatores.

"A LEI MARIA DA PENHA É INCONSTITUCIONAL."

É comum ver argumentos de que a Lei Maria da Penha fere a Constituição


Federal em seu art. 5º, inciso I, segundo o qual “homens e mulheres são iguais
em direitos e obrigações nos termos desta constituição”. Assim, o problema
estaria no fato de que a lei teria tratado a violência doméstica e familiar pelo viés
de gênero, o que, para muitos, seria uma “discriminação” do sexo masculino,

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pois marcaria uma diferenciação entre homens e mulheres e infringiria o princípio


da isonomia.

No entanto, esse princípio não significa uma igualdade literal, mas prescreve que
sejam tratadas igualmente as situações iguais e desigualmente as desiguais.
Ora, as mulheres enfrentam desvantagens históricas dentro do contexto
machista e patriarcal em que vivemos, as quais vão desde o trabalho, passando
pela participação política e o acesso à educação, até as relações familiares,
entre outras.

Dessa forma, a Lei Maria da Penha, longe de privilegiar as mulheres em


detrimento dos homens, tem uma atuação imprescindível para equilibrar as
relações e proteger as mulheres em situação de risco e violência, visando uma
igualdade real, e não apenas teórica. Por fim, vale ressaltar que o Supremo
Tribunal Federal (STF) também já se posicionou quanto a essa questão,
decidindo pela constitucionalidade da lei.

"A LEI MARIA DA PENHA PODE SER APLICADA TANTO PARA O HOMEM
QUANTO PARA A MULHER."

A Lei Maria da Penha será aplicada para proteger todas as pessoas que se
identificam com o gênero feminino e que sofram violência em razão desse fato −
conforme o parágrafo único do art. 5º da lei, a violência doméstica e familiar
contra a mulher pode se configurar independentemente de orientação sexual.
Inclusive, alguns tribunais de justiça já aplicam a legislação para mulheres
transexuais.

Quanto ao homem, ele será colocado diante da Lei n. 11.340/2006 sempre que
for considerado um agressor. Se ele for vítima, serão aplicados os dispositivos
previstos no Código Penal, e não aqueles presentes na Lei Maria da Penha.

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"A LEI MARIA DA PENHA SÓ FOI FEITA PARA AS MULHERES SE


VINGAREM DOS HOMENS."

A Lei Maria da Penha cria mecanismos para enfrentar e combater a violência


doméstica e familiar contra a mulher, ou seja, trata-se de uma lei elaborada para
proteger as mulheres, trazendo inclusive definições claras e precisas sobre a
violência de gênero.

Todo homem que se tornar um agressor infringe a lei e viola os direitos humanos
das mulheres. Portanto, é preciso fazer o registro de ocorrência para que a
autoridade policial realize os procedimentos necessários tanto para a proteção
da vítima quanto para a investigação dos fatos. Diante disso, em vez de falar em
“vingança”, deve-se falar em “justiça”.

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14. REFERÊNCIAS

1. ADEODATO, Vanessa G. CARVALHO, Racquel R. SIQUEIRA, Verônica


R. SOUZA, Fábio G. M. Qualidade de vida e depressão em mulheres vítimas
de seus parceiros. Cad. Saúde Pública 2005.
2. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
Senado, 1988.
3. CAVALCANTI, Stela V. S. F. Violência Doméstica. Análise da Lei
“Maria da Penha”, n. 11.340/06. Salvador: Ed. Podivm, 2007.
4. DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. A efetividade da
Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a
mulher. São Paulo, SP: Ed. Revista dos Tribunais, 2008.
5. GIORDANI, Annecy Tojeito. Violências contra a mulher. São Caetano
do Sul, SP: Yendis Editora, 2006.
6. LEI Nº 13.675, DE 11 DE JUNHO DE 2018. Disciplina a organização e o
funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança publica, nos termos do
§7 do art. 144 da Constituição Federal; cria a Política Nacional de Segurança
Pública e Defesa Social (PNSPDS); Institui o Sistema Único de Segurança
Pública (Susp)
7. SCHRAIBER, Lilia B. OLIVEIRA, Ana Flávia P.L. FRANÇA JUNIOR, Ivan.
PINHO, Adriana A. Violência contra a mulher: estudo em uma unidade de
atenção primária à saúde. Cad. Saúde Pública, vol. 36, n. 4. São Paulo, SP:
2002
8. SILVA, Jorge da. Segurança Pública e Polícia: criminologia crítica
aplicada. Rio de Janeiro: Forense, 2003

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