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BANDAGEM FUNCIONAL
Porto Alegre / RS
2022
introdução
A obra em questão é a primeira edição do livro Bandagem Funcional – Teoria
e Aplicações, sendo fruto do sucesso de uma edição piloto que demonstrou grande
procura pelos profissionais da área da reabilitação e treinamento, deixando muito
claro a necessidade de fazer uma obra mais completa pra preencher e sanar dúvidas
sobre a bandagem funcional elástica e rígida na reabilitação e no treinamento.
A bandagem funcional ainda é pouco explorada em toda a sua plenitude,
conceitos e métodos. Pensando nisso foi colocado ao longo do livro muito mais que
informações sobre aplicações das bandagens, e sim informações sobre
biomecânica, controle motor e plasticidade neural e muscular, complexos sensoriais
e a neurofisiologia da dor. O maior entendimento dos conceitos que abordaremos
irá possibilitar a escolha da melhor técnica de aplicação com a bandagem que mais
seja de acordo com o seu tratamento ou treinamento e principalmente para os
diferentes problemas. Vale ressaltar que a bandagem é uma ferramenta que pode
e deve ser utilizada com auxílio de outras técnicas, assim o seu sucesso será ainda
maior.
Uma das maiores motivações para a produção deste material foi demonstrar
algumas experiências de vida com pacientes e atletas e, principalmente, a resposta
de cada um deles com o uso da bandagem. Queremos passar para todos os leitores
que a bandagem funcional é um recurso de baixo custo, fácil aplicação e pode
auxiliar muito na continuidade dos estímulos que buscamos em nosso tratamento
O uso da bandagem funcional é cada vez maior, e o recurso está cada vez mais
presente não só no esporte como no âmbito clínico. Hoje, além dos e educação
física, temos dentistas, fonoaudiólogos e terapeutas profissionais da fisioterapia
ocupacionais usando as bandagens.
Espero realmente que esta obra possa auxiliá-lo a entender melhor os
conceitos, métodos e aplicações da bandagem funcional, nas diferentes patologias
ou tratamentos, e principalmente que você tenha mais uma ferramenta que vai
ajudar no tratamento e reabilitação dos seus alunos e pacientes.
capítulo 1
HISTÓRIA
O uso de bandagens é muito mais antigo do que podemos imaginar, desde os
tempos antigos esse instrumento já era utilizado para o auxílio de técnicas.
Hipócrates por exemplo as utilizava após realizar uma manipulação para corrigir um
pé torto congênito, com o intuito de manter o posicionamento do membro e
prologar o efeito da manipulação. Ambroise Paré também trabalhava com a terapia
manual associada as bandagens para correções articulares, já Nicholas Andry
utilizava bandagens umedecidas para tratar lesões de ligamentos articulares.
MCCONNEL TAPING
O método McConnel Taping, foi criado na Austrália pela fisioterapeuta Jenny
McConnel, que durante anos utilizou as bandagens rígidas na sua prática clínica,
como um conjunto de técnicas para o tratamento da condromalácia patelar. Sua
pesquisa foi publicada no ano de 1986, constatando que a técnica era eficaz no
controle da dor. Em pouco tempo seus métodos foram se popularizando pelo
mundo, além de ter sua aplicabilidade expandida para outras partes do corpo como
coluna, ombros e tornozelos.
O objetivo dos procedimentos de McConnel é atuar na recuperação
biomecânica e proativa de articulações, corrigir o deslocamento patelar anormal
para permitir que o paciente realize movimentos e exercícios, diminua a dor, altere
a biomecânica, abordando um dos quatro componentes do desalinhamento que
talvez precisem ser corrigidos. Estes são; deslizamento medial, inclinação medial,
inclinação anterior e rotação.
Essa técnica utiliza uma bandagem super rígida de algodão com um adesivo
forte e uma pré-bandagem sem látex (Leuko tape® com Cover-Roll®, ou uma fita
Endura®Sports com uma fita Endura®FIX) ou até mesmo o popular esparadrapo é
uma ótima alternativa para aplicação do método. São usadas para disfunções
biomecânicas articulares, como síndromes femuropatelares, por exemplo.
Permanecem no paciente por mais de 12 horas e geralmente não mais do que 24 a
36 horas.
Esta foi a primeira técnica envolvendo bandagens funcionais descrita na
literatura, com certeza a que abriu portas para muitos outros métodos. Logo, é uma
técnica muito conhecida na reabilitação e no esporte, principalmente por
fisioterapeutas, profissionais de educação física e atletas. Sua aplicação mais famosa
são as botas de esparadrapo no tornozelo.
Figura: Método MacConnel Taping.
KINESIO TAPING
O método Kinesio Taping, foi criado no Japão no ano de 1986, pelo
quiropraxista Kenzo Kase. Utilizando bandagem funcional elástica, Kenzo
revolucionou as técnicas existentes, uma vez que, além de exercer as funções
básicas de outras bandagens, permitia também que o paciente não perdesse a
amplitude de movimento e tão pouco a função dada ao seguimento afetado.
Quando o Kenzo Kase estava desenvolvendo a técnica, após anos de pesquisa
com diversos materiais, desenvolveu um tipo de fita aderente com características
semelhantes a pele humana, com relação a elasticidade e a textura, em resposta as
limitações que ele encontrava no tratamento de seus pacientes com o tradicional
método de bandagens rígidas.
Desde então, já foram desenvolvidos mais de vinte tipos de bandagens,
chegando à atual, a Kinesio Tex Tape Gold. Comparada as bandagens tradicionais, é
fina e complacente (pode ser estendida de 40% a 60% do seu comprimento original),
apresentando elasticidade semelhante à da pele. Assim, vem sendo aplicada com
grande eficiência em atletas de alto desempenho e também na população em geral,
de recém-nascidos a idosos.
A técnica foi apresentada internacionalmente pela primeira vez nas
olimpíadas de Seul em 1988. Porém, a porta de entrada para o ocidente ocorreu
somente em 1995 nos EUA e no ano seguinte na Europa. Mais recentemente, vimos
a maciça dessa técnica em diversos medalhistas nas Olimpíadas de Athenas, Pequim
e Londres. Hoje, está presente em centros olímpicos, e reabilitação e em clínicas e
consultórios espalhados por todo o mundo.
Dentro os inúmeros benefícios que este método pode proporcionar, podemos
citar exemplificadamente; redução do quadro álgico por estímulo sensorial cutâneo,
correção da biomecânica articular e de funções musculares, alinhamento de tecidos
moles, como pele e aponeuroses, melhora da circulação dos fluidos orgânicos
(sangue e linfa), otimização da reparação de lesões teciduais, alívio da compressão
de tecidos moles; e facilitação ou limitação dos movimentos, drenagem linfática,
dentre outros.
Esta é com certeza a técnica que mais despertou o interesse mundial pelo
tema das bandagens e, com certeza, é atualmente a mais conhecida entre os
profissionais das saúdes e esporte.
CAPÍTULO 03
ANATOMIA E FISIOLOGIA
FUNCIONAL
CONHECENDO A PELE
Sempre que prensamos na aplicação de uma bandagem, logo buscamos
identificar as alterações biomecânicas ou patologicas, e na maioria das vezes não
levamos em consideração um fator importante a Pele. Para que qualquer um dos
métodos seja compreendido, se torna indispensável o conhecimento e o
comportamento da pele com intuito de melhorar os processos terapêuticos. Logo é
imprescindível saber identificar fatores que podem alterar as propriedades físicas
da pele, como: etnia, idade, peso, hábitos alimentares, genética, sexo, regiões do
corpo, disposição do colágeno, elastina e outros.
Figura: Imagem emblemática sobre a pele de Valverde de Hamusco, 1556.
Figura: Linha de Clivagem, indicam a direção predominante das fibras colágenas na derme.
DERME
O primeiro conceito que vamos apresentar é sobre a derme (Pele). Se
refletirmos, essa seria toda a base para as bandagens funcionais, porém, este
conceito vai muito além de simplesmente entender a pele, mas tudo que envolver
esse sistema e suas funções.
A Derme pode ser conhecida por ser o sistema analgésico, resultante de ações
sensoriais da bandagem funcional sobre mecanoreceptores, por meio de pressão,
tensão, elevações, descompressões e trações relacionadas a pele. Portanto, devido
ao estímulo tátil superficial, acontece a ativação dos nervos periféricos que estão
presentes na pele, proporcionando um efeito de analgesia, de acordo com a teoria
das comportas medulares de Melzack e Wall (1965). Segundo os autores, a
condução das informações de dor aguda e crônica transmitidas respectivamente,
pelas fibras A-Delta e Tipo C, ambas possuem um menor diâmetro, poderiam ser
inibidas pela atividade de fibras aferentes periféricas do tipo A- Beta de maior
diâmetro, ou pela atividade de vias descendentes do cérebro relacionadas a
modulação da dor.
Corpúsculos de Meissner
Corpúsculos de Paccini
Respondem à vibração.
PLASTICIDADE
O sistema nervoso é uma pedra angular no estudo de neurociências e desde
sempre exerceu grande fascínio sobre cientistas e até leigos. Um dos temas
recorrentes estudados nas neurociências é a neuroplasticidade ou plasticidade
neural, principal assunto deste capítulo. Consista em flexibilidade e maleabilidade
de neurônios e circuitos neurais para alterações estruturais e funcionais, em
resposta a uma experiência (Sale et al., 2014).
Representa uma função constante e um recurso do sistema nervoso, que
ocorre diariamente e determina a capacidade desse sistema de adaptar-se às
mudanças nas condições do ambiente, desde uma alteração nos processos de
aprendizado e memorando vasculares, desmielinizantes, degenerativas e tumorais.
Apresenta diversas configurações que, em geral, fundamentam a capacidade do
sistema nervoso de modificar sua organização a partir de numerosas e complexas
etapas temporárias que ocorrem desde níveis moleculares, sinápticos,
eletrofisiológicos e estruturais.
Neurônios
Fenômenos plásticos
Plasticidade somática
Uma plasticidade somática pode ser compreendida como uma possibilidade
de alteração da capacidade proliferativa ou da morte de uma população de
neurônios em resposta a interferências do ambiente externo. Entretanto, não
apenas o controle da proliferação como também a morte celular, ambos exercitados
durante o desenvolvimento, têm um componente genético forte e estão sujeitos a
influências apenas do microambiente neural. O mundo exterior, até onde se sabe
atualmente, não interfere nesses processos.
Plasticidade dendrítica
Plasticidade sináptica