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GRUPO FISIOWORK

BANDAGEM FUNCIONAL

Porto Alegre / RS
2022

Julio Krucoski - krucoski@yahoo.de -


introdução
A obra em questão é a primeira edição do livro Bandagem Funcional – Teoria
e Aplicações, sendo fruto do sucesso de uma edição piloto que demonstrou grande
procura pelos profissionais da área da reabilitação e treinamento, deixando muito
claro a necessidade de fazer uma obra mais completa pra preencher e sanar dúvidas
sobre a bandagem funcional elástica e rígida na reabilitação e no treinamento.
A bandagem funcional ainda é pouco explorada em toda a sua plenitude,
conceitos e métodos. Pensando nisso foi colocado ao longo do livro muito mais que
informações sobre aplicações das bandagens, e sim informações sobre
biomecânica, controle motor e plasticidade neural e muscular, complexos sensoriais
e a neurofisiologia da dor. O maior entendimento dos conceitos que abordaremos
irá possibilitar a escolha da melhor técnica de aplicação com a bandagem que mais
seja de acordo com o seu tratamento ou treinamento e principalmente para os
diferentes problemas. Vale ressaltar que a bandagem é uma ferramenta que pode
e deve ser utilizada com auxílio de outras técnicas, assim o seu sucesso será ainda
maior.
Uma das maiores motivações para a produção deste material foi demonstrar
algumas experiências de vida com pacientes e atletas e, principalmente, a resposta
de cada um deles com o uso da bandagem. Queremos passar para todos os leitores
que a bandagem funcional é um recurso de baixo custo, fácil aplicação e pode
auxiliar muito na continuidade dos estímulos que buscamos em nosso tratamento

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O uso da bandagem funcional é cada vez maior, e o recurso está cada vez mais
presente não só no esporte como no âmbito clínico. Hoje, além dos e educação
física, temos dentistas, fonoaudiólogos e terapeutas profissionais da fisioterapia
ocupacionais usando as bandagens.
Espero realmente que esta obra possa auxiliá-lo a entender melhor os
conceitos, métodos e aplicações da bandagem funcional, nas diferentes patologias
ou tratamentos, e principalmente que você tenha mais uma ferramenta que vai
ajudar no tratamento e reabilitação dos seus alunos e pacientes.

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capítulo 1
HISTÓRIA
O uso de bandagens é muito mais antigo do que podemos imaginar, desde os
tempos antigos esse instrumento já era utilizado para o auxílio de técnicas.
Hipócrates por exemplo as utilizava após realizar uma manipulação para corrigir um
pé torto congênito, com o intuito de manter o posicionamento do membro e
prologar o efeito da manipulação. Ambroise Paré também trabalhava com a terapia
manual associada as bandagens para correções articulares, já Nicholas Andry
utilizava bandagens umedecidas para tratar lesões de ligamentos articulares.

Talvez o uso de bandagens mais famoso do mundo se fazia no Egito antigo, na


mumificação, para a conservação dos corpos após a morte. Já no século XVIII, o
dermatologista Paul Gerson, desenvolveu as famosas meias elásticas de
compressão, utilizadas para comprimir a perna no tratamento de úlceras de origem
venosa, e que até hoje é muito utilizada para tratamentos de controle de edema de
membros inferiores.
As bandagens funcionais podem ser feitas de material elástico ou rígido, que
utilizam como auxílio externo o corpo humano. As elásticas apresentam a
capacidade de se estirar, já as rígidas não se alteram. São feitas a partir de
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componente químico com aderência e na maioria das vezes não causando alergia a
quem está utilizando.
Há muitas marcas de bandagens elásticas em todo o mundo. Na década de
1970, surgiu na Ásia uma das primeiras, a Kinesio Taping®, criada por Kenso Kase.
Durante anos, outras foram aparecendo, como, por exemplo, Cure Tape® (Espanha),
K. Taping® (Alemanha), Sport Tex® (Coreia do Sul) e Physio Taping® (China). Elas
foram desenvolvidas para proporcionar maior liberdade de movimento, uma vez
que as primeiras bandagens eram rígidas.
Visando o tratamento e correções articulares, Jenny Mcconnel apresentou em
1984 um conceito de bandagem funcional rígida, e publicou seu estudo em 1986.
Inicialmente usada para corrigir posições patelares anormais em atletas com
síndrome de dor patelofemoral.
Outro modo de aplicação, proposto por Kenzo Kase, em 1986, consiste na
aplicação de uma fita adesiva de algodão hipoalérgica que pode ser deformada até
140% do seu tamanho original, tornando-se altamente elástica e resultando em
menos esforço de mecanismo, em comparação com um tape convencional.
Considera-se que o Kinesio Taping aumenta a propriocepção, fornecendo uma
estimulação aferente constante através da pele. De acordo com seu criador, o
Kinesio Taping proporciona estímulos cutâneos que modulam o movimento,
facilitam a função muscular normal, corrigem os possíveis desalinhamentos
articulares aliviando a tensão muscular, reduzem a dor, melhoraram a circulação
sanguínea e linfática, e auxiliam na redução do edema.
Devido a grande exposição da bandagem funcional, a aquisição do produto se
tornou muito fácil. Devido as informações de diferentes veículos de comunicação e

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muitas opiniões pessoas e pouca pesquisa, o uso se tornou fácil e rápido com um
custo baixa. Basicamente qualquer pessoa pode comprar um rolo de bandagem,
colocar em um site de vídeos e se auto aplicar. Porém, assim o uso da bandagem
funcional está sendo feito de maneira empírica e sem nenhuma avaliação, critério
ou até mesmo profissional apto para o mesmo.
Grande parte das pessoas que utilizam as bandagens profissionais
desconhecem para que ou até o porque de sua utilização, principalmente no que se
refere a parte fisiológica da bandagem. Para o uso dessa metodologia é necessário
um conhecimento aprofundado sobre, anatomia, fisiologia, biomecânica, dor, efeito
placebo, mecanismos de lesão, tipos de tecido entre outro. As técnicas não devem
ser aplicadas por pessoa que não sejam profissional da área da saúde e que não seja
qualificada. Os profissionais precisam ter a clareza de que, se aplicada com
sabedoria e de maneira correta poderá produzir melhoras, porem do contrário
poderá causar danos.
Desde os anos 2000 as bandagens funcionais estão cada vez mais populares e
cada vez mais rápido vemos pessoas e atletas fazendo o uso das mesmas sem um
controle ou acompanhamento profissional adequado. A bandagem funcional se
tornou febre entre os amantes do esporte após o astro do futebol David Beckham
levantar a camiseta e estar em suas costas a aplicação.

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Figura: David Beckham, jogador de futebol.

Atualmente, a bandagem funcional é reconhecida como um instrumento


essencial para todos os envolvidos no tratamento e reabilitação de lesões. É
amplamente utilizado não apenas para lesões esportivas, mas também para muitas
outras condições, como desequilíbrio muscular, articulações instáveis e controle
neural prejudicado. Durante o tratamento e a reabilitação, a aplicação da bandagem
ajuda no processo de cicatrização, apoiando e protegendo as estruturas lesionadas
de mais lesões ou estresse, reduzindo assim a necessidade de tratamento
prolongado e afastamento do trabalho.
Novas técnicas estão sendo desenvolvidas constantemente para a prevenção
de lesões, que também podem ser usadas na prática geral e no ambiente hospitalar
para a população não esportiva. Uma vez dominadas as técnicas básicas, cabe aos
profissionais modificar, alterar e desenvolver eles mesmos novas técnicas, sempre
aderindo aos fundamentos da bandagem.
A medicina esportiva se inclina para a mobilização precoce por meio de terapia
funcional, e a imobilização total em moldes de gesso está se tornando menos
comum. Em vez disso, é usado um suporte removível, para permitir que a terapia

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continue durante toda a fase de recuperação. Usar o método em um membro ou
parte do corpo é como aplicar um 'molde flexível' que ajuda na prevenção de mais
lesões e repousa a parte afetada. Moldes de fita flexíveis limitam a amplitude de
movimento e podem ser usados em muitos esportes onde suportes rígidos não são
permitidos.

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CAPÍTULO 02
CONCEITOS E MÉTODOS

Neste capítulo vamos apresentar os conceitos e metodologias já descritas na


literatura sobre bandagem funcional. Hoje encontramos diversos métodos de
aplicações de bandagens, cada uma com suas individualidades e especificidades
dependendo muito dos princípios básicos que a norteiam. Foram encontrados
quatro principais métodos na literatura, sendo eles: Spiral Taping, McConnel Taping,
Kinesio Taping, Athletic Taping.
O mais importante é conhecer o seu paciente e saber o que ele precisa. Assim,
tendo um conhecimento geral de cada metodologia e suas particularidades, você
terá várias opções na hora de tomar a decisão e saber qual delas será melhor para
a situação específica.

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SPIRAL TAPING
Em 1980, o Japonês Nobutaka Tanaka, médico acupunturista e técnico em
ortopedia, quando trabalhava em sua clínica, usando bandagens em lesões no corpo
de atletas, percebeu que de acordo com a direção do enfaixamento, se para direita
ou esquerda, a dor da lesão aumentava ou diminuía. Foi então, por meio dessas
experiências que, pesquisando a relação entre músculo e articulação, percebeu que
o equilíbrio do local a ser tratado estava relacionado com o ponto correspondente
do lado inverso a cada articulação ultrapassada. Com isso, ao utilizar sua descoberta,
obteve excelentes resultados em tratamentos de doenças crônicas como as
lombalgias.
Com colagem de fitas adesivas, em lugares determinados e com formatos
específicos, provoca-se um estímulo no sistema nervoso, havendo a liberação de
substâncias relaxantes musculares, analgésicas e anti-inflamatórias, fazendo com
que essa terapia seja indicada para doenças osteomusculares.
Em 1985, concluiu que ao utilizar uma simples fita de esparadrapo, comum ou
especial, adotando alguns critérios ou testes, onde se observava os fluxos da
energia: se para direita ou esquerda, largura das fitas, checagem da dose do
estímulo, muscular ou articular, anterior posterior, etc. ele podia atenuar ou
eliminar dores e até restabelecer, por completo, o equilíbrio físico e energético de
partes do corpo lesionadas, dos seus pacientes. Finalmente, por meio de estudos,
chegoh-se a conclusão que a técnica possui embasamento científico.
Finalmente em 1994, a Spiral Taping se tornou conhecida no Japão em virtude
da competição HAKONE EKI-DEN (maratona de revezamento mais famosa e

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tradicional desde 1920) A Universidade de Yamanash ganhou a competição,
estabelecendo um novo recorde com a ajuda da Spiral Taping.
Essa técnica vem ganhando espaço no tratamento para alívio da dor, na
reabilitação neuromuscular e até em harmonização energética do organismo. Trata-
se de aplicação de tiras de esparadrapo, com larguras específicas, de forma
estratégica e sem medicamentos, nas áreas afetadas, tendo efeito anti-inflamatório,
analgésico, de sinergismo muscular e proporcionando equilíbrio energético. Essa
técnica tem como vantagem não ser invasiva, apresentar baixo custo, facilidade na
aplicação, rápido resultado e acessibilidade do material usado.

Figura: Método Spiral Taping

MCCONNEL TAPING
O método McConnel Taping, foi criado na Austrália pela fisioterapeuta Jenny
McConnel, que durante anos utilizou as bandagens rígidas na sua prática clínica,
como um conjunto de técnicas para o tratamento da condromalácia patelar. Sua
pesquisa foi publicada no ano de 1986, constatando que a técnica era eficaz no

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controle da dor. Em pouco tempo seus métodos foram se popularizando pelo
mundo, além de ter sua aplicabilidade expandida para outras partes do corpo como
coluna, ombros e tornozelos.
O objetivo dos procedimentos de McConnel é atuar na recuperação
biomecânica e proativa de articulações, corrigir o deslocamento patelar anormal
para permitir que o paciente realize movimentos e exercícios, diminua a dor, altere
a biomecânica, abordando um dos quatro componentes do desalinhamento que
talvez precisem ser corrigidos. Estes são; deslizamento medial, inclinação medial,
inclinação anterior e rotação.
Essa técnica utiliza uma bandagem super rígida de algodão com um adesivo
forte e uma pré-bandagem sem látex (Leuko tape® com Cover-Roll®, ou uma fita
Endura®Sports com uma fita Endura®FIX) ou até mesmo o popular esparadrapo é
uma ótima alternativa para aplicação do método. São usadas para disfunções
biomecânicas articulares, como síndromes femuropatelares, por exemplo.
Permanecem no paciente por mais de 12 horas e geralmente não mais do que 24 a
36 horas.
Esta foi a primeira técnica envolvendo bandagens funcionais descrita na
literatura, com certeza a que abriu portas para muitos outros métodos. Logo, é uma
técnica muito conhecida na reabilitação e no esporte, principalmente por
fisioterapeutas, profissionais de educação física e atletas. Sua aplicação mais famosa
são as botas de esparadrapo no tornozelo.

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Figura: Método MacConnel Taping.

WHITE ATHLETIC TAPING


A bandagem Athletic é comumente confundida com o método McConnel, por
ser muito semelhante a este e possivelmente foi desenvolvida através do mesmo.
Já foi a bandagem mais utilizada mundialmente; rígida, geralmente requer uma pré-
bandagem para não agredir a pele. É conhecida como Bandagem Funcional, que,
apesar do nome, não promove efetivamente a função devido à falta de elasticidade.
Aplica-se adequadamente a imobilizações articulares e a limitações de movimentos
não funcionais ou patológicos.

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Figura: White Athletic Taping

As principais desvantagens são o curto período de permanência na pele,


ficando geralmente, de 24 a 48 horas no paciente. Existe a possibilidade de reação
alérgica resultante da presença de látex, podendo até causar feridas na pele.
Os objetivos gerais são; restringir o movimento de uma articulação lesionada,
comprimir tecidos moles para reduzir o inchaço, apoiar estruturas anatômicas
envolvidas na lesão, servir como uma tala ou proteger uma tala, curativos ou
curativos seguros, proteger a articulação lesada contra novos ferimentos e durante
o processo de cicatrização.

KINESIO TAPING
O método Kinesio Taping, foi criado no Japão no ano de 1986, pelo
quiropraxista Kenzo Kase. Utilizando bandagem funcional elástica, Kenzo
revolucionou as técnicas existentes, uma vez que, além de exercer as funções

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básicas de outras bandagens, permitia também que o paciente não perdesse a
amplitude de movimento e tão pouco a função dada ao seguimento afetado.
Quando o Kenzo Kase estava desenvolvendo a técnica, após anos de pesquisa
com diversos materiais, desenvolveu um tipo de fita aderente com características
semelhantes a pele humana, com relação a elasticidade e a textura, em resposta as
limitações que ele encontrava no tratamento de seus pacientes com o tradicional
método de bandagens rígidas.
Desde então, já foram desenvolvidos mais de vinte tipos de bandagens,
chegando à atual, a Kinesio Tex Tape Gold. Comparada as bandagens tradicionais, é
fina e complacente (pode ser estendida de 40% a 60% do seu comprimento original),
apresentando elasticidade semelhante à da pele. Assim, vem sendo aplicada com
grande eficiência em atletas de alto desempenho e também na população em geral,
de recém-nascidos a idosos.

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A técnica foi apresentada internacionalmente pela primeira vez nas
olimpíadas de Seul em 1988. Porém, a porta de entrada para o ocidente ocorreu
somente em 1995 nos EUA e no ano seguinte na Europa. Mais recentemente, vimos
a maciça dessa técnica em diversos medalhistas nas Olimpíadas de Athenas, Pequim
e Londres. Hoje, está presente em centros olímpicos, e reabilitação e em clínicas e
consultórios espalhados por todo o mundo.
Dentro os inúmeros benefícios que este método pode proporcionar, podemos
citar exemplificadamente; redução do quadro álgico por estímulo sensorial cutâneo,
correção da biomecânica articular e de funções musculares, alinhamento de tecidos
moles, como pele e aponeuroses, melhora da circulação dos fluidos orgânicos
(sangue e linfa), otimização da reparação de lesões teciduais, alívio da compressão

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de tecidos moles; e facilitação ou limitação dos movimentos, drenagem linfática,
dentre outros.
Esta é com certeza a técnica que mais despertou o interesse mundial pelo
tema das bandagens e, com certeza, é atualmente a mais conhecida entre os
profissionais das saúdes e esporte.

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CAPÍTULO 03
ANATOMIA E FISIOLOGIA
FUNCIONAL

Neste capítulo vamos apresentar alguns conceitos básicos sobre anatomia e


biomecânica, para que o entendimento sobre aplicação da bandagem funcional
possa ser cada vez mais amplo e fundamentado.

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ENTENDENDO NOSSOS SISTEMAS
O corpo humano, ao longo dos milhões de anos, buscou adaptar-se aos
diferentes ambientes, desenvolvendo seu potencial físico e psicológico. Todas as
adaptações do corpo humano se dão por meio do ambiente que ele vive, seus
funcionamentos e suas manifestações. O corpo é constituído por diversos sistemas
que possibilitam melhor integração entre ele e o ambiente, para que suas funções
sejam as mais adequadas possíveis. A integração do corpo humano se dá pelos
ajustes corporais frente a estímulos sensoriais que captam informações e as
transmitem ao sistema nervoso central, as quais são interpretadas e enviadas como
resposta ao sistema osteomuscular.
Para os autores Mello (1998) e Gardne (2006) a formação dos sistemas
corporais acontece desde a vida intrauterina. À medida que o embrião se
desenvolve no útero materno, os sistemas corporais são formados ao longo dos 9
meses, reunindo todas as informações genéticas herdadas dos pais para a
constituição física da criança. Mesmo que cada indivíduo apresente características
morfológicas distintas (variações anatômicas), estas não se traduzem
necessariamente em prejuízo funcional. Tais diferenças fazem com que cada um se
distinga do outro (raça, sexo, biotipo, idade) mesmo que as funções corporais sejam
iguais para todos.
Para Moore (2007), os sistemas corporais são totalmente inter-relacionados,
ou seja, dependem uns dos outros para o bom funcionamento do corpo humano.
Cada sistema, cada órgão é responsável por uma ou mais atividades, possibilitando
ao indivíduo atitudes diferenciadas como resposta aos diversos estímulos.
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Milhares de reações químicas acontecem a todo instante em nosso corpo, seja
para captar energia para a manutenção da vida, movimentar os músculos,
recuperar-se de ferimentos e doenças ou manter a temperatura adequada. O corpo
humano funciona de maneira complexa promovendo a interação de inúmeros
elementos químicos, mas, ao mesmo tempo, pode ser interpretado de modo
simples porque é constituído na medida certa. Todas as partes que o constituem
funcionam de maneira integrada, em harmonia e sincronia, para que maximizem
sua potencialidade.

CONHECENDO A PELE
Sempre que prensamos na aplicação de uma bandagem, logo buscamos
identificar as alterações biomecânicas ou patologicas, e na maioria das vezes não
levamos em consideração um fator importante a Pele. Para que qualquer um dos
métodos seja compreendido, se torna indispensável o conhecimento e o
comportamento da pele com intuito de melhorar os processos terapêuticos. Logo é
imprescindível saber identificar fatores que podem alterar as propriedades físicas
da pele, como: etnia, idade, peso, hábitos alimentares, genética, sexo, regiões do
corpo, disposição do colágeno, elastina e outros.

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Figura: Imagem emblemática sobre a pele de Valverde de Hamusco, 1556.

O médico belga Andreas Vesalius, considerado por muitos um ícone da


anatomia moderna, foi um dos primeiros a fazer referências sobre estudos de pele.
A pele sadia tem a capacidade de ser extensível, a fim de não limitar qualquer
movimento ao sistema musculoesquelético. Assim, todas as vezes que ocorre um
movimento articular, a pele deve acompanhá-lo, estirando-se na mesma direção.
Na maioria das regiões, ela se estende mais em determinadas direções que em
outras; isso também se dá com a força de tensão. Com o passar dos anos, a
habilidade da matriz de tecido elástico de retornar a pele do estado estendido ao
completamente relaxado (deformação elástica) é gradualmente perdida, e a
extensibilidade é substituída por flacidez (deformação plástica), que cumpre a
mesma função de viabilizar a liberdade de movimentos.
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As tensões submetidas à pele podem ser de origem estática ou dinâmica. As
estáticas são as naturalmente existentes na pele e dependentes das características
estruturais cutâneas de cada indivíduo. As linhas de clivagem descrevem esse tipo
de tensão predominante em determinado local sem nenhuma referência às
influências dinâmicas do sistema musculoesquelético. As tensões dinâmicas são
oriundas da combinação de forças relacionadas com as ações musculares
voluntárias, como o movimento articular e a expressão facial. Além disso, a força da
gravidade também exerce grande influência nos dois tipos de tensão, pois altera a
magnitude e a direção das tensões locais.

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Linhas de Clivagem:

I. São as linhas de tensão ou de Langer.


II. Longitudinalmente espirais nos membros e transversais no pescoço e no
tronco.
III. Estão relacionadas à direção predominante de fibras colágenas na pele.

Figura: Linha de Clivagem, indicam a direção predominante das fibras colágenas na derme.

Ocorre variação de tensões na pele nos diferentes locais anatômicos e em


direções distintas, e, conforme ocorre o envelhecimento biológico, a tensão da pele
diminui. Contudo, sob a ação de uma força constante mantida ao longo do tempo,
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a pele continua a estirar, como observado em técnicas de expansão tecidual, como
na gestação ou na obesidade.

DERME
O primeiro conceito que vamos apresentar é sobre a derme (Pele). Se
refletirmos, essa seria toda a base para as bandagens funcionais, porém, este
conceito vai muito além de simplesmente entender a pele, mas tudo que envolver
esse sistema e suas funções.

A Derme pode ser conhecida por ser o sistema analgésico, resultante de ações
sensoriais da bandagem funcional sobre mecanoreceptores, por meio de pressão,
tensão, elevações, descompressões e trações relacionadas a pele. Portanto, devido
ao estímulo tátil superficial, acontece a ativação dos nervos periféricos que estão
presentes na pele, proporcionando um efeito de analgesia, de acordo com a teoria
das comportas medulares de Melzack e Wall (1965). Segundo os autores, a
condução das informações de dor aguda e crônica transmitidas respectivamente,
pelas fibras A-Delta e Tipo C, ambas possuem um menor diâmetro, poderiam ser
inibidas pela atividade de fibras aferentes periféricas do tipo A- Beta de maior
diâmetro, ou pela atividade de vias descendentes do cérebro relacionadas a
modulação da dor.

Então, os efeitos analgésicos podem ser relacionados como um mecanismo de


(fechamento das comportas) na medula espinhal, associada a liberação de opióides
endógenos a nível encefálico e medular, uma vez alcançado determinando grau de
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estímulo. Desse modo, o simples contato das bandagens, associado ao
deslizamento, a pressão e a tensão da pele permitem o alívio da dor e a sensação
de desconforto local e em tecidos subjacentes. Entretanto, o estímulo cutâneo não
é a principal fonte de analgesia por meio da bandagem funcional, mas sim, a
abertura de espaço desencadeada a nível de derme e epiderme por meio das
circunvoluções que serão apresentadas adiante.

Mecanoreceptores cutâneos: as sensações exteroceptivos incluem tato,


pressão e vibração. Embora sejam frequentemente classificadas como sensações
distintas, são detectadas pela mesma classe de receptores chamados
mecanoreceptores.

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Figura: Efeitos Terapêuticos Exteroceptivos.

Existem pelo menos seis tipos de mecanoreceptores e podemos citar cinco


como os principais exteroreceptores: Terminações de Ruffini, Discos de Merkel,
Corpúsculos de Meissner, Receptor do Folículo Piloso e Terminações de Pacini.

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Figura: Derme e suas terminações.

Adaptação lenta -> Terminações de Ruffini e Discos de Merkel:

Respondem durante a aplicação do estímulo e continuam emitindo PA


(potencial de ação) durante a presença do estímulo (redução gradual da
frequência), detectam intensidade e duração do estímulo.

Figura: exteroreceptores adaptação lenta.


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Terminações de Ruffini

Têm por característica principal a adaptação lenta a uma tensão constante.


Desse modo, se tornam indispensáveis para a sinalização de estados contínuos de
deformação da pele e dos tecidos profundos, como sinais intensos e contínuos de
tato e sinais de pressão. Já nas articulações, atuam na sinalização do grau de rotação
articular.

Figura: Corpúsculo de Ruffini e Discos de Merkel.

Terminações multi-ramificadas situadas em camadas mais profundas da pele


e tecidos profundos. Adaptam-se muito pouco, importantes para detecção de
estados contínuos de deformação da pele e de tecidos profundos. Presente em
grande quantidade nos ligamentos periodontais.

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Discos de Merkel

Estão localizados nas pontas dos dedos e na epiderme. São os responsáveis


por detectarem as pressões contínuas, são importantes na determinação de
texturas.

Receptores táteis de extremidades expandidas presentes em grande


quantidade na pele glaba (polpa dos dedos).

Adaptam-se lentamente. Com os Corpúsculos de Meissner, são responsáveis


pela localização exata do estímulo e pelo reconhecimento da textura, do contorno,
da forma dos objetos tocados. São mais superficiais que os receptores de Ruffini.

Adaptação Rápida -> Corpúsculo de Meissner, Receptor do Folículo Piloso e


Corpúsculo de Pacini:

Respondem durante a aplicação do estímulo e continuam emitindo PA durante


a presença do estímulo (redução gradual da frequência), detectam intensidade e
duração do estímulo.

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Figura: Exteroreceptores adaptação rápida.

Corpúsculos de Meissner

Adaptam-se rapidamente após o estímulo, sendo muito sensíveis ao


movimento de objetos leves sobre a superfície da pele e também à vibração de baixa
frequência.

Terminações nervosas em espirais.

Detectam velocidade (adaptam-se rápido, 1 segundo).

Encontrados na pelo glaba (polpa dos dedos, lábios e outras áreas).

Movimentos leves sobre a pele e vibração de baixa frequência.

Não respondem a estímulos de pressão contínua.

Receptores do Folículo Piloso

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Estão associados com todos os pelos. Em animais concentram-se nas vibrissas.
Adaptam- se muito rapidamente.

Corpúsculos de Paccini

Também conhecidos como Adaptação Muito Rápida, estão localizados nas


camadas mais profundas da pele, estimulados por movimentos rápidos dos tecidos,
vibrações e mudanças de pressões. Respondem em um intervalo de tempo pequeno
e detectam a vibração dos tecidos ou outras alterações rápidas do estado mecânico.

Localizam-se abaixo da pele e em tecidos profundos.

Emitem apenas 1 ou 2 potenciais de ação para cada estímulo. Adaptam-se


em milissegundos.

Respondem à vibração.

PLASTICIDADE
O sistema nervoso é uma pedra angular no estudo de neurociências e desde
sempre exerceu grande fascínio sobre cientistas e até leigos. Um dos temas
recorrentes estudados nas neurociências é a neuroplasticidade ou plasticidade
neural, principal assunto deste capítulo. Consista em flexibilidade e maleabilidade
de neurônios e circuitos neurais para alterações estruturais e funcionais, em
resposta a uma experiência (Sale et al., 2014).

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Representa uma função constante e um recurso do sistema nervoso, que
ocorre diariamente e determina a capacidade desse sistema de adaptar-se às
mudanças nas condições do ambiente, desde uma alteração nos processos de
aprendizado e memorando vasculares, desmielinizantes, degenerativas e tumorais.
Apresenta diversas configurações que, em geral, fundamentam a capacidade do
sistema nervoso de modificar sua organização a partir de numerosas e complexas
etapas temporárias que ocorrem desde níveis moleculares, sinápticos,
eletrofisiológicos e estruturais.

As possibilidades de adaptação são inúmeras, e as mudanças podem ser


transitórias, com duração de alguns segundos (curto prazo) ou até permanentes
(longo prazo). Quando se consegue um prazo longo, são capazes de produzir
alterações fisiológicas adicionais que podem ser anatômicas, como, por exemplo,
uma remoção de conexões sinápticas preexistentes e novas. Esse fenômeno ocorre
desde embriogênese, também em condições patológicas e, de modo mais
significativo, em resposta a diversas experiências e aprendizados. Na formação do
cérebro em desenvolvimento, uma experiência interativa com informações
genéticas de modo que ou o fenótipo final seja uma combinação de recursos, as
habilidades serão cada uma de sua própria individualidade, incluindo a era do bi.

Funções e células do sistema nervoso

O sistema nervoso, em conjunto com o sistema endócrino, coordena todas as


funções orgânicas. Receba estímulos recebidos dentro de um fórum e responda a
eles para manter o indivíduo em homeostase completa. Comanda desde eventos
como sensibilidade e motricidade até fenômenos psíquicos complexos, como
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memória e comportamento emocional. Suas células características, que operam
sincronicamente, são os neurônios e as células da glia (neuroglia ou gliócitos).

Neurônios

São unidades morfofuncionais fundamentais do sistema nervoso com função


de recebimento, processamento e envio de informações. Altamente excitáveis,
comunicadas entre si ou com células efetoras como células musculares ou
glandulares.

Apresentam duas propriedades exclusivas: excitabilidade e condutibilidade,


funcionando como unidades de informação. São dotados de: corpo celular contendo
núcleo, com material genético, e citoplasma, como as organelas citoplasmáticas;
dendritos, com prolongamentos múltiplos e ramificados, especializados na
recepção da informação (aferências); e axônio, com prolongamento delgado e
extenso, especializado na transmissão de informações (eferências). Este último, a
partir das profundezas ramificadas no seu terminal (telodendro), contém as
vesículas sinápticas, que, por sua vez, compõem o mecanismo de
neurotransmissores. Vale ressaltar a existência de microtúbulos no interior do
axônio, estruturas fundamentais para o transporte axoplasmático anterógrado e
retrógrado, quais são as possíveis substâncias químicas que são causadas,
respectivamente, do corpo celular ao terminal do axônio.

Os neurônios operam em circuitos ou redes neurais a partir de sinais


quimioelétricos. Apresenta vários tipos e tamanhos e pode ter ou não bainha de
mielina, ou que determina a velocidade de condução dos sinais elétricos.

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Células da glia, neuróglia ou gliócitos

São as células predominantes do sistema nervoso. Derivada da palavra grega


glia, que significa “cola”, e forma uma matriz complexa que fornece agregação e
sustentação aos neurônios. No entanto, as estatísticas atuais apontam que suas
funções são muito mais complexas e essenciais para o bom funcionamento do
sistema nervoso. Caracterizam-se de acordo com seu tamanho (macros e micróglia)
e também em acordo com suas funções. Pertencem ao grupo de macros os
seguintes tipos de celulares: astrócitos, células ependimárias, oligodendrócitos no
sistema nervoso central (SNC) e células de Schwann no sistema nervoso periférico
(SNP).

Dentre as células da macro e suas funções, destacadas:

Astrócitos: células gliais predominantes no SNC; os pés astrocíticos ligam


neurônios a capilares sanguíneos, desempenhando a função nutritiva. Em
embriogênese, apresentando papel importante no desenvolvimento inicial do SNC,
por fornecer uma via para neurônios em reprodução, já que se estende da superfície
dos ventrículos ao córtex cerebral revestido pela pia. Adicionalmente, regule a
concentração de íons e neurotransmissores nas secções de neurônios, viabilizando,
para estes, ou restabelecendo mais rapidamente o gradiente eletroquímico normal.

Por fim, após lesões do sistema nervoso, há proliferação dessas células no


tornozelo das lesões, promovendo uma cicatrização glial (gliose), que resulta na
reorganização da estrutura do tecido para isolamento físico da área das lesões.
Nesse contexto, essas células são capazes de produzir fatores neuroprotetores

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como citocinas antiinflamatórias e fatores neurotróficos, contribuindo para a
sobrevivência de neurônios.

Oligodendrócitos: responsáveis pela produção da bainha de mielina no SNC.


Um fato curioso que será abordado mais adiante na rede central, o bloqueio por
essas células, contém moléculas proteicas que bloqueiam a capacidade
regenerativa dos axônios centrais.

Células ependimárias: revestidas como cavidades ventriculares, o aqueduto


cerebral do mesencéfalo e o canal central da medula espinal. Constituem os plexos
corióideos e são responsáveis pela produção do líquido cefalorraquidiano.

Células de Schwann: são responsáveis pela produção da bainha de mielina no


SNP. Em caso de lesão dos nervos periféricos, use um suporte de apoio aos cones
de crescimento regenerativo. Nessas condições também são capazes de fagocitar e
limpar o ambiente neural e os fatores neurotróficos, auxiliar no processo de
regeneração.

Fenômenos plásticos

Os fenômenos plásticos podem ser classificados em: plasticidade somática,


plasticidade dendrítica, plasticidade axônica e plasticidade sináptica (Doretto, 1996;
Cohen, 2001; LundyEkman, 2008; Quaresma, 2010).

Plasticidade somática
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Uma plasticidade somática pode ser compreendida como uma possibilidade
de alteração da capacidade proliferativa ou da morte de uma população de
neurônios em resposta a interferências do ambiente externo. Entretanto, não
apenas o controle da proliferação como também a morte celular, ambos exercitados
durante o desenvolvimento, têm um componente genético forte e estão sujeitos a
influências apenas do microambiente neural. O mundo exterior, até onde se sabe
atualmente, não interfere nesses processos.

No entanto, pesquisas recentes mostram que alguns neurônios têm


capacidade proliferativa (chamadas “célulastronco”) e são capazes de disseminar e
diferenciar números de tipos celulares, sejam gliócitos ou neurônios. Esse
fenômeno já foi mostrado em epítopos sensoriais, como o olfatório, o auditivo e o
otolítico, e em regiões situadas em torno dos ventrículos laterais, que geram
neurônios para hipocampo e outras áreas encefálicas, como hipotálamo, retina,
negra e amígdala.

Plasticidade dendrítica

Existem substâncias que apontam para a plasticidade estrutural ou


morfológica dos dendritos, sugerindo que o período ontogênico ocorra a
plasticidade nos troncos e espinhas dendríticas, e, na fase adulta, ela se restrinja às
espinhas, pode modificar os dendritos, então, por ação do ambiente. Esse modelo
plástico é de grande importância, pois é fundamental para o estabelecimento e
recuperação da memória, uma vez que os experimentos recentes registram esses
achados no hipocampo.

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Plasticidade axônica

A plasticidade axônica dividida em brotamento colateral e brotamento


regenerativo. O primeiro ocorre quando um alvo desnervado é reinervado por
ramificações de axônios intactos, conforme Figura 4.3. O segundo, como resultado
de lesão sobre um axônio, caracteriza-se pelo recrutamento do coto proximal do
mesmo axônio (Figura 4.4).

Plasticidade sináptica

Uma plasticidade sináptica é o maior componente da neuroplasticidade. Sua


presença na resposta ao padrão de atividade elétrica foi postada pelo psicólogo
canadense Donald Hebb, que introduziu o conceito de que o padrão de atividade
elétrica é importante para induzir mudanças na sináptica. A Hebb incorporou, em
particular, a noção de que a atividade correlacionada entre os neurônios pré-pós-
sinápticos promove uma potencial atividade sináptica, ou a atividade não
correlacionada promove a interatividade-sináptica, as alterações dinâmicas e
funcionais.

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CAPACIDADE SENSORIAL
Sabemos que a seguinte afirmação será um pouco
controversa para alguns leitores, explicando em seguida: “O
sistema nervoso central não tem nenhuma ideia do que acontece
na periferia!” Ao analisar os estímulos externos como, por
exemplo, ondas sonoras, ondas de luz, temperatura etc., é
possível perceber que o SNC não pode interpretar diretamente.
Torna-se necessário o auxílio de um sistema que possa codificar
em atividade neural. Esse sistema se chama sistema sensorial, o
qual traduz tais estímulos na atividade eletroquímica de um
neurônio, ou seja, na linguagem compreendida pelo SNC.

Vale ressaltar a diferença entre os termos de atividade


neural e processamento neuronal. O primeiro se refere à
atividade eletroquímica de um neurônio, e o segundo, ao
processamento, ou qual envolve uma rede de neurônios. Assim,
esse processamento é algo mais complexo e aberto, não apenas
como trocas de informações entre neurônios circunvizinhos, mas
também entre distintas e distantes áreas do SN.

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Imagem: Transferência de estímulo.

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Figura: Resposta cerebral a estimulação.

Um objetivo primordial dos terapeutas é que seus pacientes


tenham condições de realizar movimentos cada vez mais
eficientes sem vista, evidentemente, a individualidade de cada
um. Assim, é preciso contar com um aparelho locomotor
adequado, comandado por um sistema motor, ou receber os
resultados cruciais dos processos neuronais, que ocorreram
devido a atividades neurais. Estas, por sua vez, iniciam com
codificação (transdução), pelo sistema sensorial, dos estímulos
biofísicos em sinais eletroquímicos. Destarte, a maioria dos

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trabalhos terapêuticos tem seu início no sistema sensorial, uma
porta de entrada para o universo neurológico do paciente.

Figura: Modelo de BiofeedBack Sensorial pela Bandagem Funcional.

É importante enfatizar e descrever ainda mais o sistema


sensorial como contribuição indispensável para o bom
funcionamento do motor. Como mencionado anteriormente, os
estímulos biofísicos devem ser capturados pelos receptores, que

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codificam como informações recebidas na periferia em atividade
neural. Evidentemente, não faria sentido essas informações
recém-codificadas ficariam no nível periférico, pois, para que
possam ser processados, devem ter acesso ao SNC. Assim, inicia-
se a segunda etapa: o transporte para uma parte central do SN.

Há outro processo extremamente importante a ser


observado: a integração das distintas informações oriundas de
variados canais sensoriais. O SNC tem uma capacidade inestimável
de integrar informações sensoriais para arquivamentos e
recrutamentos quando necessário. Além disso, o córtex cerebral
confere uma outra significante, a percepção. Assim, arquivar e
recrutar faz parte do processo de memória, não somente o que
diz respeito à memória cognitiva (p. Ex., quanto ao conhecimento
da capital de um país ou nome de um objeto), mas também à
memória neuromuscular.

Vejamos como essas integrações são importantes: imagine


uma criança cega ou com paralisia cerebral. Ela é privada de
informações sensoriais essenciais ao controle do motor e tem
grande dificuldade para desenvolver os sensores sensoriais
homogêneos. Uma variabilidade de informações é primordial para
uma integração adequada, ou seja, o SN é uma variável de
variação, pois, existe uma maneira de aprender se há algo para
comparar; finalmente, é necessária alguma diferença.

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O SN atendimento de diferenças; por isso, um dos objetivos
terapêuticos deve basear-se em fornecer uma variabilidade das
informações ao SN dos pacientes. Nesse contexto, associado, de
modo qualitativo, diferentes instrumentos terapêuticos
favorecem a recuperação do paciente.

O sistema sensorial influencia o sistema motor de duas


maneiras concomitantes: (1) por retroalimentação (feedback),
informações se os movimentos intencionados pelo córtex seguem
seus rumos corretos e (2) por antecipação (feedforward) seja,
antes de que os movimentos tenham sido realizados / finalizados.

Feedback | Reativo, adaptativo

Análise uma situação hipotética: ao tentar remover os


óculos, sua mão toca a bochecha esquerda. Nesse momento, os
receptores (p. Ex., Pressão e pressão) informam ao SN que a mão
não se encontra onde deve estar, ocorreu um erro. Estruturas
como o próprio córtex, o cerebelo e a formação reticular, podem
comparar a intenção inicial cortical e, em seguida, ativar
mecanismos neuronais para corrigir os movimentos; ocorrer uma
reprogramação do sistema motor e você mover, muito
provavelmente, a mão em direção aos óculos sobre o nariz. Essa
correção ocorre depois de uma primeira tentativa de chegar aos

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óculos. Ela é, então, algo reativo, adaptativo, é uma
retroalimentação.

Feedforward | Previamente, proativo, antecipadamente

Veja outro exemplo: você está jogando tênis e seu


adversário bate forte com uma raquete na bola. Você acompanha
a trajetória inicial da bola e pode, de acordo com suas
experiências, prever onde ela tocará o chão e para onde se
direcionar. Nesse momento, todos os seus movimentos podem
contribuir para que você se posicione em um lugar adequado no
fim de um jogo de bola de boliche para o outro lado da quadra,
onde encontrar ou outro jogador. Nesse momento, o adversário
lança uma bola de tênis com efeito, de modo que ela toca o chão
no local previsto, mas, infelizmente, não segue a trajetória que
você imagina. Sendo assim, você, que já estava se posicionando
em determinado lugar, viu que seguiu outro caminho.

O sistema de informações visuais únicas ao SN que move,


ainda que não concluído (porque uma bola ainda não foi atingida
pela volta para o outro lado da quadra), será corrigido
antecipadamente. Esse novo ajuste motor é um somatório entre
os dados do sistema visual (informações para corrigir) e os dados
informados há pouco pelos controladores (cerebelo [CB], núcleos
da base [NB] e formação reticular [FR]). Está claro que há outros

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sistemas que obtêm informações para corrigir e / ou adequar os
movimentos. Esses outros sistemas são o sistema auditivo, o
vestibular e o límbico, que controlam as emoções. Juntos, eles
participam do controle motor pelo mecanismo de avanço.

Neste capítulo mostramos aspectos gerais da pele e de cinco


receptores cutâneos que dão ao sistema musculoesquelético
capacidade de identificar estímulos apostos a pele, em pequenas
ou grandes áreas ou de pequena ou longa duração. Estes são os
principais responsáveis, quando estimulados corretamente, pelos
efeitos benéficos da bandagem funcional, ou seja, pela
homeostase tecidual e corporal nos níveis superficiais e profundos
do corpo, portanto, todos estes aspectos são de grande
importância para ao profissional que deseja trabalhar com as
bandagens funcionais.

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