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LIVRO DOS NÚMEROS

a) Título
Na tradição hebraica, esse livro é denominado bamidbar (NO DESERTO),
justamente porque narra a travessia do deserto pelos israelitas. Porém, na
tradução grega, recebeu o nome de NÚMEROS por causa dos recenseamentos
apresentados, sobretudo nos capítulos 1-4; 26.

b) Estrutura
O livro dos números é o mais complexo do Pentateuco. Como observam
muitos autores, é bastante difícil de estruturar 1. Prevalece a divisão em três
partes, mas com enorme variedade de opiniões.
1ª – 1-10: Israel no Sinai (Moisés faz o recenseamento, ordena o
acampamento, dá o estatuto dos levitas, promulga leis, dita disposições cultuais).
2ª – 11-21: a caminhada de Israel rumo a Moab (queixas e infidelidades
do povo).
3ª – 22-36: Israel nas planícies de Moab (a história de Balaão, novo
recenseamento, designação de Josué como sucessor de Moisés).

c) Aspectos literários
Recenseamentos, itinerários, narrativas, leis, bênçãos, poemas são alguns
dos gêneros literários mais significativos presentes no livro dos números.
Segundo Knierim, o livro dos números pertence ao gênero literário da
marcha militar. Consta de duas partes: em 1,-10,10 prepara-se o plano para a
marcha e em 10,11-36,13 este plano é executado2.

d) Grandes temas

1
R. RENDTORFF, M. NOTH, G.W. COATS, PH. J. BUDD, B.S. CHILDS.
2
KNIERIM, R.P. The Book of Numbers, em Id., The Task of Old Testament Theology. Substance,
Method, and Cases, Grand Rapids, 1995, 380-388.
1. Dogma da eleição: Israel é um povo a parte e não se conta entre
as nações (Nm 23, 9).
2. Um templo vivente: a descrição do acampamento coincide com a
do templo de Salomão.
3. Depositário da bênção: a bênção aarônica (Nm 6, 22-27).
4. Israel é uma teocracia: os dirigentes do povo são vigários e
representantes de Deus.

O livro conserva três aspectos:

1. Israel era um povo em marcha; não estabelecido de forma permanente ou seja,


sedentário.
2. Era um povo isolado, foras de todas as influências estrangeiras.
3. Era um povo em formação.

SIGNIFICADO DO DESERTO PARA O POVO:


O deserto no livro do Números mais do que um espaço geográfico é um
tempo no qual Israel manifesta sua identidade e Deus revela sua palavra.
No deserto se ver dois caminhos:
- Fidelidade;
- Idolatria
Estes dois caminhos vão ser sempre lembrados quando o povo estiver em
crise. Ex 32 – o bezerro de ouro.
Aqueles que seguirem o caminho da fidelidade entrarão na terra
prometida, os demais que seguirem a idolatria serão engolidos pela terra.

e) Conteúdo
O livro de Números está intimamente unido aos livros do Êxodo e do
Deuteronômio. A unidade do livro se deve ao quadro geográfico, isto é, o
deserto entre o monte Sinai e as estepes da região de Moab.
O livro começa com uma indicação cronológica: “... no primeiro dia do
segundo mês do segundo ano após a saída do Egito” (Nm 1,1).
Os israelitas chegaram ao monte Sinai no terceiro mês após a saída do
Egito (Ex 19,1) e partiram onze meses depois (Nm 10,11). Em Dt 1,3, Moisés
fala ao povo no primeiro dia do undécimo mês do quadragésimo ano da saída do
Egito. Assim, o tempo de permanência no deserto descrito no livro de Números
é de trinta e nove anos, dos quais trinta e oito passados na região de Cades
Barnéa, ao sul da cidade de Bersabéia. O percurso entre o Sinai e Cades Barnéa
demorou onze dias (Dt 1,2). Assim, podemos dizer que o livro de Números
descreve os últimos vinte dias passados no monte Sinai, os trinta e oito anos no
deserto perto de Cades Barnéa e os seis meses na região de Moab.
Os últimos acontecimentos no monte Sinai antes da partida são o
recenseamento dos homens aptos para a guerra; a disposição das várias tribos no
acampamento; uma série de prescrições sobre os levitas e outras leis; a
celebração da páscoa (9,1-5); a apresentação da nuvem que cobre o tabernáculo
(9,15-23). Logo depois, começa a marcha pelo deserto sob a direção do sogro de
Moisés, que conhecia bem a região, pois era morador do Sinai (10,11ss).
A seguir o livro apresenta as murmurações e lamentações do povo pelas
dificuldades da viagem. Cansados de comer o maná, desejam carne. Deus envia
as codornizes (11,31); a escolha, por Moisés, de setenta homens como
conselheiros; as revoltas de Aarão e Miriam, irmãos de Moisés (12). Ao chegar
perto de Canaã, no deserto de Paran, ao sul da terra prometida, na região de
Cades Barnéa, Moisés escolhe alguns homens para explorar a terra. Alguns
deles, ao voltar, alarmam o povo, afirmando que a terra era habitada por
gigantes (13). Os israelitas se revoltam e Moisés intercede para que Deus não os
castigue. Todos os exploradores, com exceção de Josué e Caleb, são atingidos
com a morte. O povo é poupado, mas deverá permanecer quarenta anos no
deserto e nenhum deles entrará na terra prometida (14). Para fugir do castigo, os
israelitas atacam os amalecitas e cananeus na tentativa frustrada de entrar na
terra prometida e não ficar tanto tempo no deserto, mas são derrotados em
Horma (14,39-45). A seguir, o livro apresenta uma série de prescrições sobre as
ofertas de alimento em alguns sacrifícios e sobre a violação do sábado (15).
Narra, depois, a revolta de Core, Datan e Abiran (16). Não se trata da revolta de
todo o povo, mas de alguns chefes tribais: Core pela tribo de Levi e Datan e
Abiran da tribo de Rubem. O motivo da revolta é a contestação da autoridade de
Moisés como chefe de todo o povo, e de Aarão como único sumo sacerdote.
Passa-se, então, do segundo ao quadragésimo ano da saída do Egito.
Portanto, trinta e oito anos após a chegada em Cades Barnéa (13,26). Dali os
israelitas partem em direção a região de Moab. Nesse percurso é contada a morte
de Miriam, irmã de Moisés (20,1); a água que sai da rocha (20,2-21); a morte de
Aarão (20,22-29); a derrota de Arad, rei dos cananeus em Horma (21,1-3); o
caminho ao largo da região de Edom em direção do sul; o episódio da serpente
de bronze (21,4ss); as vitórias sobre Seon, rei dos amorreus e Og, rei de Basan
(21,21).
A partir do capítulo 22, Israel já se encontra nas planícies de Moab. Então,
o livro narra a história do advinho Balaão, que Balac rei de Moab mandou
buscar na região do rio Eufrates para amaldiçoar, Balaão bendiz o povo (24).
Logo depois, narra a idolatria dos israelitas provocada pelas mulheres de Moab e
Madian, o castigo divino e o zelo de Finéias, neto de Aarão (25). È feito um
novo recenseamento para dividir a terra prometida (26). O total dos israelitas é
de 601.730 pessoas. A seguir, narra-se a investidura de Josué como substituto de
Moisés (27,12) e novas prescrições sobre os sacrifícios e as festas (28-29).
O capítulo 31 narra a vitória sobre os madianitas e o 32 descreve a divisão
da Transjordânia entre as tribos de Rubén, Gad e metade de Manassés.
Apresenta uma retrospectiva das etapas do caminho pelo deserto (33); a ordem
para a divisão de Canaã pelas outras tribos (33,50) e termina, dando as
disposições sobre as cidades refúgio para os homicidas (35,9) e sobre a herança
das mulheres casadas (36)
f) Mensagem
Para o livro de Números, as tribos que fugiram da opressão do Egito
formam agora um povo. É o povo de Deus a caminho da terra prometida a
Abraão e a seus descendentes. Povo que foi tirado do Egito com prodígios e
milagres, que fez a aliança com Deus no Sinai; é agora um povo santo, pois
Deus habita no seu meio no Tabernáculo, o conduz por meio de seus
intermediários Moisés e Josué. O povo é formado por leigos que conquistarão a
terra prometida e por levitas consagrados ao serviço de Deus no Tabernáculo. A
nuvem que paira sobre o Tabernáculo e que caminha na frente do povo, indica a
presença de Deus. O livro de Números apresenta, pois, o Israel do deserto como
o Israel ideal. Mas nem por isso deixa de narrar as revoltas sob as mais variadas
formas: murmurações, desânimo, rejeição da mediação de Moisés, descrença,
etc. Na teologia do autor, o deserto é o lugar em que Deus habita e caminha com
seu povo, mas é também o lugar do pecado, da ingratidão, da revolta contra
Deus.

Questionário

1. Por que este livro recebe o nome de Números?


2. Por que o título hebraico é mais apropriado do que o grego?
3. Onde estavam os israelitas ao iniciar-se o livro e onde ao terminar?
4. Que tribo não foi incluída no recenseamento inicial?
5. Que finalidade prática a expulsão dos impuros do acampamento tinha em
mira? (5,1-4)
6. Quais eram as três exigências do voto nazireu? (Cap. 6)
7. Por que motivo se fazia oferta, segundo o capítulo 7?
8. Que indício da humildade de Moisés vemos no capítulo 11?
9. Que nos ensina o capítulo 14 acerca da incredulidade?
10.Por que foi gravíssima a rebelião descrita no capítulo 16?
11. Como Deus confirmou a eleição de Aarão como sumo sacerdote? (Cap.
17)
12.Se Balaão houvesse amaldiçoado a Israel, teria sido eficaz sua maldição?
(23,23). Explique.
13.Como reconheceram os chefes militares que o Senhor lhes havia dado a
vitória? (31,48-54)

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