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Os inícios da teoria da arquitectura:

da estética clássica aos tratados de arquitectura


Os primeiros tratados de arquitectura:
de Vitrúvio a Alberti
O que são os tratados?
Por um lado, um tratado poderia definir-se como:

“uma longa enciclopédica que pretende abranger todos os conhecimentos arquitectónicos”

E, por outro lado, é também normativo, isto é,

“dita as regras para um bom trabalho arquitectónico”

A arquitectura regulamentada pelos tratados era muito confortável porque fornecia instruções para
alcançar uma arquitectura correcta e com bons resultados.
O tratado de Vitrúvio
Século I a.C
O tratado de Vitrúvio
Marcos Vitrúvio Polião é o pai de toda a tratadística arquitectónica e, por tanto, da teoria da
arquitectura. Vitrúvio escreveu no século I a.C um tratado, denominado em latim De architectura libri
decem, isto é, os dez livros de arquitectura.

Este, o De Architectura, é a única obra sobre arquitectura que nos chegou da Antiguidade
praticamente completa, advindo daí a sua grande importância para todos aqueles que se
interessaram por estudar a arquitetura grega e romana. Mas não, só, a sua influência é tal que sem
ele, a arquitectura occidental clássica posterior que vai do século XV ao século XIX não poderia ser
compreendida.
O tratado de Vitrúvio

1. O autor: Marcos Vitrúvio Polião.


2. O objectivo e a estructura do tratado.
3. A interpretação do tratado.
4. Limites e Influência do tratado de Vitrúvio.
O autor: Marcos Vitrúvio Polião
O autor: Marcos Vitrúvio Polião
Marcos Vitrúvio Polião foi contemporâneo de dois grandes dirigentes da antiga Roma: Júlio César e
o seu sucessor Otaviano Augusto. De facto, o seu tratado esta dedicado precisamente a este último.

Com Júlio César, Vitrúvio, serviu no exército romano e construiu máquinas militares e talvez
pontes. Posteriormente, o arquiteto manteve a sua aura artística e deixou as máquinas para os
engenheiros. Como arquitecto, apenas um de seus edifícios é conhecido: a Basílica da cidade de
Fano, mas realmente Vitrúvio não foi um arquitecto de sucesso. Sentiu-se ignorado como arquitecto e
com o seu tratado quis reflectir a importância da arquitectura e mostrar os seus conhecimentos sobre
a disciplina.
O autor: Marcos Vitrúvio Polião
Na época em que foi escrito este tratado, Vitrúvio ao falar de arquitectura romana referia-se à
arquitectura romana da época, que era do tipo helenístico e, portanto, ligada à arquitectura grega.
A arquitectura romana ainda não havia desenvolvido as suas grandes conquistas.

Como o De Architectura é a obra teórica mais antiga sobre arquitectura, adquiriu um status de culto
na história da teoria da arquitectura, até o século XIX, convertendo-se em referência chave para
todos os teóricos e profissionais da arquitectura.

Especialmente para os teóricos do Renascimento, o tratado de Vitrúvio é o modelo e a origem do


conhecimento arquitectónico.
O objectivo e a estructura do tratado
O objectivo e a estructura do tratado
A publicação do De Architectura ocorreu na década de 20 a.C., no início do governo de Octávio
Augusto que vinha se comprometendo com o embelezamento da cidade. O objectivo de Vitrúvio era:

“recolher todas as regras da arte de construir. (...) Isso me levou a escrever um tratado completo
sobre arquitetura com todas as minhas teorias. (...) e fornecer as bases desta poderosa arte."

No entanto, o De Architectura não pode ser visto apenas como um manual para arquitectos ou futuros
arquitectos, pois ele destinava-se em primeiro lugar ao próprio Imperador, e em seguida aos
arquitectos e a todos aqueles eruditos que se interessassem pelo assunto.
O objectivo e a estructura do tratado
“Eu comprometo-me, com estes livros, como espero, a disponibilizar, não só aos que edificam como
também a todos os eruditos, sem qualquer dúvida e com a máxima autoridade, os conhecimentos
acerca das potencialidades da arte e dos raciocínios que lhe são inerentes”

O objectivo principal do tratado era auxiliar ao Imperador em sua política de construção da cidade.

Vitrúvio desenvolve este tratado após longas reflexões e afirma tê-lo escrito como um arquitecto que
conhece sua profissão. Conseguiu agregar em uma obra os saberes, de gregos e romanos, que se
encontravam dispersos, juntando a isso a sua experiencia práctica. Desta maneira, demonstrou a
importância da união entre teoria e práctica.
O objectivo e a estructura do tratado
A ambição de Vitrúvio com esse trabalho era muito grande e, segundo ele, estava motivado por
fazê-lo porque

"observei que há muitos volumes publicados pelos gregos sobre o assunto e poucos pelos
nossos"

Por detrás do seu trabalho existe um conhecimento fundamental dos volumes teóricos sobre a
arquitectura grega. Assim, desenvolve um tratado sistemático, organizado em dez livros, cada um
precedido de uma introdução. O tratado para além de sistemático também é unitário e abrangente
dado que toca desde os princípios da arquitectura até os detalhes da sua implementação.
O objectivo e a estructura do tratado
1. O primeiro trata sobre o arquitecto, a sua formação e os conhecimentos que deveria possuir;
traz uma definição de arquitetura; esclarece sobre a escolha dos lugares para as construções e
para o estabelecimento da cidade, bem como das distribuições de obras publicas na cidade.
2. No segundo livro, faz uma descrição minuciosa dos materiais necessários para as construções;
onde encontrá-los e quais os melhores materiais para determinadas obras.
3. O terceiro e o quarto livros são dedicados especificamente à construção dos templos, falando
sobre a tipologia dos templos; e as partes que os compõem. Nestes livros, existe uma explicação
sobre as ordens arquitectónicas, estando o terceiro livro dedicado a ordem dórica.
4. Enquanto que o quarto põe o foco nas ordens jônica e coríntia.
O objectivo e a estructura do tratado
5. No quinto livro, podemos encontrar uma explicação sobre a arquitectura pública romana, tais
como o foro, as basílicas, o teatro, entre outros espaços públicos importantes na cidade.
6. O sexto livro trata sobre a arquitectura privada, em especial as casas, a domus.
7. O sétimo livro contém orientações ao respeito dos acabamentos destas construções.
8. O oitavo livro fala sobre a importância das águas e os diferentes tipos de água.
9. No nono livro, pode-se ver uma explicação sobre os conhecimentos referentes à astronomia e à
gnomónica.
10. E o décimo e último livro trata sobre diversos mecanismos de uso civil e militar que podiam ser
inseridos nas construções propostas por Vitrúvio.
A interpretação do tratado
A interpretação do tratado: Livro I
No primeiro livro Vitrúvio delineia o que ele acha que um arquitecto deve saber e, em seguida, o que
ele considera que são os “princípios fundamentais” da arquitectura e as suas partes.

Capítulo 1. O que é a arquitectura e o que devem saber os arquitectos?

A “ciência do arquitecto” compreende tanto a práctica quanto a teoria, sendo que a primeira requer
a experiência e a segunda se faz necessária para explicar as coisas relativas ao engenho e a
racionalidade. Os arquitectos que têm um conhecimento completo de ambos terão mais cedo
alcançado o seu objetivo e carregado autoridade com eles.
A interpretação do tratado: Livro I
Para Vitrúvio, o arquitecto deve estar equipado com o conhecimento de muitos ramos de estudo e
variados tipos de aprendizado:

“A arquitectura é uma ciência que deve ser acompanhada de muitos outros conhecimentos e
estudos, graças aos quais julga as obras de todas as artes que lhe estão relacionadas. Esta ciência é
adquirida pela práctica e pela teoria”

Assim, para ser um bom arquitecto é necessário ter talento e gosto pelo estudo porque o arquitecto
sem estudo e o estudo sem talento não pode formar o profissional.
A interpretação do tratado: Livro I
Desta maneira, Vitrúvio determina que o arquitecto deve ter uma ampla formação intelectual em:

• Literatura: para sustentar o pensamento teórico e afirmar a sua memória através dos livros.
• Desenho: para poder mostrar a figura do trabalho realizado.
• Geometria: para treiná-lo especialmente no uso da régua e do compasso.
• Óptica: para conseguir uma iluminação adequada dentro dos edifícios.
• Aritmética: para o cálculo de custos e para a difícil resolução das relações proporcionais.
• História: para compreender o significado da ornamentação já que esta tem um forte valor
cultural e comunicativo.
A interpretação do tratado: Livro I
• Filosofia: dá ao arquitecto elevação de vista, impede-o de ser arrogante e torna-o, afável,
justo, leal e isento de ganância.
• Fisiologia: para compreender melhor os fenómenos da natureza.
• Música: como base para compreender a teoria das proporções.
• Leis: Na medida em que regulam a propriedade pública e privada.
• Astrologia: para definir a melhor orientação dos edifícios em relação as estações já que o
tempo e o clima são mutáveis.
• Medicina por conta das questões climáticas, do ar, da salubridade e insalubridade dos locais
e do uso de diferentes águas.
A interpretação do tratado: Livro I
Vitrúvio também ressalta as qualidades e virtudes necessárias ao exercício profissional:

“Liberto de arrogância e avareza, características que ofuscariam os verdadeiros valores da arte, o


arquitecto deve sempre buscar pela máxima qualidade e perfeição da obra, uma vez que este sim
seria o seu maior bem: a ciência dos preceitos.”

Neste contexto, a prática de clientelismo, o oportunismo profissional e os valores ligados ao acúmulo


ilimitado de fortuna são duramente criticados pelo autor: o arquiteto deve zelar pela dignidade e
boa fama, uma e outra inseparáveis da competência na arte.
A interpretação do tratado: Livro I
Capítulo 2. Princípios fundamentais da arquitectura

Vitrúvio expõe os princípios fundamentais da arquitectura que, para ele, são: ordinatio (ordem),
dispositio (disposição), eurythmia, symmetria (simetria), decor (decoração) e distributio (economia).

Os termos ordinatio e dispositio estão bastante ligados. Vitrúvio define o primeiro como a adequação dos
elementos da obra à justa medida, tendo como finalidade obter proporções e simetria. A ordem permite
um ajuste de todas as partes de uma construção de acordo com o seu uso e estará regulada pela
quantidade (conveniente distribuição dos módulos adoptados como unidades de medida.)
A interpretação do tratado: Livro I
Dispositio: a correcta colocação das partes tendo em conta às dimensões reais da obra a ser edificada
de modo que formem um conjunto elegante. As suas formas de expressão são as seguintes:

• Planta (ichnographia): desenho para traçar o espaço no terreno que o edifício vai ocupar.
• Elevação (orthographia): representação da fachada e da sua figura com as respectivas medidas.
• Perspectiva (scaenographia): o desenho sombreado não só da fachada, mas das partes laterais do
edifício, pela simultaneidade de todas as linhas visuais em um ponto.

Essas três partes nascem da meditação (esforço intelectual e pensativo que aspira alcançar um feliz
sucesso) e da invenção (o efeito desse esforço mental que dá solução aos problemas).
A interpretação do tratado: Livro I
Eurythmia é a beleza e aptidão nos ajustes das partes. Isso é encontrado quando as partes de uma
obra têm uma altura adequada à sua largura, uma largura adequada ao seu comprimento. Em uma
palavra, quando todos eles correspondem simetricamente.

Symmetria: o ajuste adequado entre as diversas partes de uma obra, e a relação entre as
diferentes partes e o todo, de acordo com uma determinada parte escolhida como norma e
calculada através de uma unidade eleita como módulo, abrangendo a forma total do edifício. Para
Vitrúvio, assim como no corpo humano há uma espécie de harmonia simétrica entre as suas diferentes
também acontece o mesmo com os edifícios para que sejam perfeitos.
A interpretação do tratado: Livro I
Em resumo, Vitruvio considera que há proporção se cada uma das partes e o edifício como um todo
forem concebidos a partir de uma medida comum: o módulo, do qual resulta o sistema de simetria.

Ele dá como exemplo o de um homem bem formado que serve de modelo para a arquitectura com as
proporções ideais do corpo humano. Ele propõe dentro dessas proporções humanas o que mais tarde
foi chamado de homem Vitruviano. Neste sentido, afirma que:

“todas as medidas derivam do corpo humano, daí a relação antropocêntrica da arquitectura.”


A interpretação do tratado: Livro I
Vitrúvio recomenda que a arquitectura dos templos deveria basear-se na perfeita proporção do
corpo humano, onde todas as partes coexistem harmonicamente.

Surge uma clara intenção de desenhar objetos de arte e arquitectura, seguindo as ordens naturais.

Vitrúvio não estabelece valores absolutos nas proporções da arquitetura. Ele fala das três ordens
(dórica, jônica e coríntia), mas explica como elas mudaram as relações modulares e a variedade.
Não existe um cânone arquitectónico adequado em Vitrúvio.
A interpretação do tratado: Livro I
O decor compreende o aspecto correcto da obra que resulta da perfeita adaptação do edifício no qual
não existe nada que não se baseie na razão. O decor estará baseado na utilização de regras rígidas
onde é preciso atender ao rito, aos costumes ou estatuto ou a natureza dos lugares.

Por exemplo, os templos dedicados a Minerva, Marte e Hércules deveria ser utilizada a ordem dórica
porque a esses deuses correspondem edifícios sem a delicadeza das outras ordens; enquanto que para
Vênus, Flora, Prosérpina, os edifícios da ordem coríntia são mais apropriados pois a essas divindades
parece que correspondem a obras delicadas e adornadas com flores. Para Juno, Diana, Padre Baco... será
seguido um procedimento intermediário, construindo templos de ordem jônica.
A interpretação do tratado: Livro I
Em relação aos costumes, o decor exige que um edifício magnífico por dentro, sejam adaptadas
entradas elegantes, adequadas à sua riqueza, elegância e beleza.

O decoro natural exige a escolha dos lugares mais saudáveis para a localização de qualquer templo e
onde haja fontes abundantes de água.

Da mesma maneira, Vitrúvio também está de acordo com o decoro natural de dar luz do oriente aos
quartos e bibliotecas, orientando ao invés as casas de banho e quartos de inverno para o poente. Outros
lugares que requerem de uma luz contínua, deveriam estar orientados à norte, porque esta parte do céu
permanece constante e imutável o dia todo.
A interpretação do tratado: Livro I
Distributio seria a gestão adequada dos materiais e do local, bem como o equilíbrio económico de
custos e bom senso na construção das obras. Isso será observado se, em primeiro lugar, o
arquitecto não exige coisas que não podem ser encontradas ou preparadas sem grandes despesas.

Outro tipo de distribuição tem a ver com a concepção dos diferentes espaços de acordo com os
diferentes usos que os proprietários propõem e em relação com os recursos económicos dos quais
dispõem. Assim, Vitrúvio considera que é necessário adaptar adequadamente os edifícios às
necessidades e às diferentes condições das pessoas que os habitarão.
A interpretação do tratado: Livro I
Capítulo 3. As partes da arquitectura

Vitrúvio determina que existem três partes da arquitectura, dividindo-as de acordo com o seu uso:

“As partes da arquitectura são três: construção, gnômica e mecânica. Por sua vez, a construção
divide-se em duas: uma cuja finalidade é a construção de paredes e edifícios públicos; a outra,
de casas particulares. Nas obras públicas, três objetivos devem ser atendidos: a defesa, a
religião e o conforto das pessoas ... todos buscados pela solidez, utilidade e beleza”
A interpretação do tratado: Livro I
Neste sentido, existem três classes de edifícios públicos: o primeiro para fins defensivos, o segundo
para religiosos e o terceiro para fins utilitários.

Em relação ao segundo componente da arquitetura, a gnômica, este termo se refere ao


conhecimento dos movimentos solares o que permite o uso eficiente das orientações nas edificações.

Enquanto a última parte da arquitectura, a mecânica, refere-se ao uso de máquinas para a


construção de canteiros de obras e também para a defesa e ataque às cidades. Um ponto de
contacto entre a arte da arquitectura e a arte da estratégia militar.
A interpretação do tratado: Livro I
O mais importante das palavras de Vitrúvio citadas são as três palavras: solidez, utilidade e beleza.
São as famosas categorias de Firmitas, Utilitas e Venustas (tríade Vitruviana). Traduzido em termos
atuais: técnica, função e estética, geralmente válidos para uma boa arquitectura.

• A solidez depende da firmeza das fundações.


• A utilidade resulta da distribuição exacta das partes do edifício, de forma que tudo esteja
colocado no lugar certo e que seja adequado e necessário.
• A beleza será alcançada quando a aparência da obra seja agradável e de bom gosto e
quando as suas partes estejam na devida proporção de acordo com os princípios de simetria.
1. Solidez (firmitas)

2. Utilidade (utilitas) 1. Ordinatio (ordem)


2. Dispositio (disposição)
1. Proporção
3. Eurythmia
4. Symmetria (simetria)

3. Beleza (venustas)

5. Decor (decoração)
2. Adequação
6. Distributio (economia)
A interpretação do tratado: Livro I
Capítulo 4. A escolha de lugares saudáveis

Vitrúvio também fala da escolha adequada dos lugares de implantação dos edifícios. Para ele, antes
de lançar os alicerces dos muros de uma cidade, deve-se escolher um local com ares muito
saudáveis. Este local deve ser alto, com uma temperatura amena, não exposto a névoas ou geadas,
nem ao calor nem ao frio. Também estará longe dos locais pantanosos para evitar que se torne um
local infeccioso e pestilento.
A interpretação do tratado: Livro II
Na abertura do segundo livro, Vitrúvio trata de descrever a origem da arquitectura e ao
mesmo tempo, demonstrar a importância do artista e do arquitecto como instrumentos do
bom governo.

Posteriormente, discute os diferentes tipos de materiais e as diferentes técnicas de


construção (aedificatio) a ser empregues na edificação. Assim, fala de adobes, areia, cal,
das pedreiras, das diferentes classes de edifícios e da madeira.
A interpretação do tratado: Livro III e IV
O estudo dos templos é reservado aos livros terceiro e quarto, os mais importantes a nível normativo em

toda a tratadística vitruviana. A composição do templo é aqui definida a partir 7 géneros: in antis,

prostilo, anfiprostilo, períptero, pesudodíptero, díptero e hipetro. A partir da combinação destas sete

classificações iniciais, Vitrúvio estabelece as cinco classes de templos que podem existir: picnóstilos,

sístilos, diástilos, areóstilos e êustilos.

Cabe, desta forma, ao arquitecto, a partir das descrições narradas dos diferentes géneros observar qual

tipologia possui mais qualidades em relação às demais para a obra em que se pensa destinar.
A interpretação do tratado: Livro III e IV
A partir da associação, definida no primeiro livro, entre a excelência da arte e os princípios de
symmetria e decor, Vitrúvio, no prefácio do quarto livro, descreve os três gêneros de construção
legados pela Grécia e detalha a origem, as proporções e os aspectos singulares das colunas dórica,
jônica e coríntia.

Sobre a coluna dórica, descreve a singeleza das formas da coluna em comparação com a beleza
nua do corpo masculino, ambas a demonstrar firmeza e vigor. A coluna jônica faz referência à
“delicadeza e esbelteza feminina”, enquanto a coluna coríntia remete à “delicadeza virginal das
donzelas”.
A interpretação do tratado: Livro V e VI
No quinto livro, Vitrúvio volta-se aos edifícios públicos ordenados de maneira hierárquica. Em suma,
os edifícios públicos são descritos nesse capitulo, dando-se grande destaque ao foro, à basílica e ao
teatro. Também fala dos banhos, palestras e os edifícios construídos sobre a água.

No sexto livro, cujo maior foco é a arquitectura privada, Vitrúvio introduz importantes conceitos sobre
beleza, ornamento e conveniência, comprometendo o estudo da symmetria com o respeito às
prescrições do decoro (decor). Desta maneira, o autor determina diversas tipologias privadas
associadas aos diferentes níveis sociais.
A interpretação do tratado: Livro VII, VIII, IX e X
O livro sétimo versa sobre acabamentos, ornatos e gêneros de pinturas a serem empregues nos
diferentes edifícios. Assim, fala dos pavimentos, rebocos, pinturas, à aplicação de mármores e o uso
de cores, diferenciado as cores naturais das cores artificiais etc.

O resto dos livros tratam de assuntos que agora são mais típicos da engenharia, seja civil (como o
livro VIII) ou industrial (como IX e X). As principais temáticas abordadas no livro oitavo tem a ver com
questões de hidráulica e distribuição da água. O nono livro, dedica-se a ciência dos relógios de
sol (primeiros relógios baseados no princípio de mapear a sombra seguindo o movimento do sol).
Enquanto que o último livro fala sobre às maquinas de construção e das máquinas de guerra
Limites e Influência do tratado de Vitrúvio
Limites e Influência do tratado de Vitrúvio
Com os seus dez livros, Vitrúvio chegou a uma conclusão radical: a única arquitectura que merecia o nome
de arte era a arquitcetura greco-romana. No entanto, a influência de Vitrúvio na época romana foi
limitada. A devoção e admiração por Vitrúvio sem limites começa no Renascimento. Em 1416 foi
encontrado um exemplar do tratado atribuído ao humanista Poggio Bracciolioni. Este marcou um momento
chave de redescoberta. Daí se deu a mitificação de Vitrúvio que passou a ser o modelo e a origem do
conhecimento arquitectónico.

No entanto o texto de Vitrúvio, tal e como chegou ao século XV, apresentava uma série de obstáculos que
precisavam ser superadas para que assumisse o papel de um manual útil para a práctica do arquitecto
renascentista.
Limites e Influência do tratado de Vitrúvio
O primeiro deles tinha a ver com a tradução do latim em que foi escrito. O segundo, com a correcta
interpretação de seu conteúdo em termos arquitetónicos e construtivos. E finalmente, com a possibilidade
de traduzi-lo em imagens aplicáveis à obra do arquitecto.

Vitrúvio, menciona a existência de desenhos e gráficos que acompanhariam os dez livros, dos quais nada
nos chegou. Acredita-se que eram desenhos simples. A partir do Renascimento houve uma tentativa de
traduzir em imagens os conceitos introduzidos por Vitrúvio. A primeira edição ilustrada do tratado de
Vitrúvio é feita por Fra Giocondo em 1511 em Veneza e se torna uma das mais famosas. Outra das
edições ilustradas mais importantes é a realizada em 1556 por Daniele Barbaro em Veneza e ilustrada
por Palladio.
Considerações finais
Considerações finais
Em conclusão, Vitrúvio e o seu tratado são um paradoxo na história da arte. Trata-se de um
autor que na sua época teve uma influência muito limitada, mas que alcançou muitos anos
(séculos) após a sua morte um destaque que ninguém jamais teve na história da
arquitectura.

No século XVII, com a visão crítica do pensamento esclarecido, a autoridade de Vitrúvio foi
se desintegrando, o que não significa que coisas interessantes do seu tratado não sejam
ainda hoje úteis para a práctica arquitectónica.
O tratado de Vitrúvio

Como foi chamado o tratado de Vitrúvio e qual era o objectivo do mesmo?

Explique quais sãos os seis princípios fundamentais da arquitectura segundo Vitrúvio e em que consiste
cada um deles.

Quais são as três características que, de acordo com Vitrúvio, a boa arquitetura deve ter?

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