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GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Daiana Brito
Valdeilson Moreira
FEIRA DE SANTANA-BA
Novembro/2023
CENTRO UNIVERSITÁRIO NOBRE
BACHARELADO EM PSICOLOGIA
Daiana Brito
Valdeilson Moreira
negra no Brasil é uma questão crucial que perpetua a hierarquia racial estabelecida pelo
colonialismo (Ignácio; Mattos, 2019). Embora avanços significativos tenham sido feitos, Ignácio
a saúde mental continua sendo uma área negligenciada. Esta lacuna levanta sérias questões sobre
a abordagem universal das políticas de saúde no país, visto que a discriminação racial e a
com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, 10,6% dos adultos no Brasil, cerca de 15,5
milhões de pessoas, afirmaram ter sido discriminadas no serviço de saúde por médicos ou outros
profissionais de saúde. Notavelmente, as mulheres (11,6%), pessoas de cor preta (11,9%) e parda
(11,4%), bem como aquelas com níveis de instrução mais baixos (11,8%), destacaram-se como
Além disso, a disparidade no acesso aos serviços de saúde é evidente, com 78,8% das
pessoas negras não possuindo plano de saúde. A falta de acesso adequado à saúde aumenta
mental, como taxas de depressão, e comportamentos de risco, como tabagismo, são mais
prevalentes nesse grupo vulnerável, destacando a urgência de adaptações políticas específicas
Esse documentário visa realizar uma análise crítica das políticas públicas de saúde mental
complexidade e urgência desse tema, evidenciando omissões nas políticas atuais e a falta de
geral do Grupo Cultural Moviafro e diretor presidente da Associação Cultural Bloco Afro
as deficiências nas políticas existentes, com ênfase na ausência de ações comunitárias por parte
formular políticas públicas, elevando o debate sobre saúde mental para além do indivíduo,
Esse documentário não apenas destaca a importância dessas vozes na discussão sobre
saúde mental, mas também ressalta a necessidade urgente de políticas públicas mais inclusivas,
preta
psíquico. Gostaríamos de enriquecer essa atividade com uma reflexão do pensamento da Dra.
A fala de Davis & Faustino (2023) ocorre no minuto 20:16 e se estende até o minuto
23:46. Ele aborda a questão do racismo na reforma psiquiátrica brasileira. O Faustino destaca
que a reforma no Brasil, inspirada na reforma italiana liderada por Franco Basaglia, teve como
africana. Contudo, ele traz o questionamento do livro da Raquel Gouveia a discussão. “Como a
reforma no Brasil, um país que passou a maior parte de sua história sob o jugo da escravidã o,
Essa reflexão é importante para o debate sobre o racismo e a saúde mental no Brasil,
chama a atenção para o fato de que a reforma psiquiátrica brasileira não aprofundou as
desigualdades raciais existentes no país. Isso contribuiu de alguma forma para a perpetuação do
Kabengele (2014, apud Santos, 2018) destaca que os efeitos da discriminação racial são
devastadores na estrutura psíquica. Essa constatação, embora cada vez mais reconhecida, ainda
não se traduziu de maneira efetiva nas políticas públicas. Ignácio e Mattos (2019) observam que,
reconhecimento mais amplo dessa premissa. No entanto, esse reconhecimento ainda não se
converteu em ações concretas que abordem as disparidades étnicas e raciais na saúde mental.
Ignácio e Mattos (2019), destaca a resistência em incorporar questões raciais nas políticas de
saúde mental. Mesmo nas conferências nacionais, como a de 2001 e 2010, o tema foi abordado
Maria Lúcia, citada por Ignácio e Mattos (2019), destaca a lacuna na abordagem da saúde
psíquico cotidiano da população negra. Essa omissão reflete a falta de estratégias para lidar com
diferenciado e injusto.
A reflexão proposta por Moreira, Costa e Santos (2023) destaca que o autoconceito das
pessoas negras pode ser impactado pelo racismo, reforçando a importância de considerar a
desinstitucionalização do racismo.
Outro desafio crucial é a falta de preparo dos profissionais de saúde mental para lidar
com questões raciais. Gouveia & Zanello (2018, apud Moreira, Costa e Santos, 2023) indicam
que muitos profissionais são incapazes de reconhecer suas próprias atitudes racistas
negra exige o reconhecimento da interseção entre racismo e saúde mental. Isso implica superar
culturalmente sensíveis que promovam a equidade racial e a saúde mental para todos.
3. Metodologia
população negra", parte da equipe se mobilizou para levantamento de dados teóricos para
embasamento do trabalho, enquanto a outra parte se dedicou a encontrar pessoas relevantes que
pudessem contribuir com entrevistas e, desse modo, construir o documentário, sendo que Thirza
pessoas que, sendo negras ou estando próximas à população negra, pudessem contribuir com a
visão mais próxima possível da realidade da pessoa preta. Ou seja, ouvir quem de fato vivencia
de forma direta ou indireta os desafios das políticas públicas de saúde mental em Feira de
Santana e região. A equipe entende que esse critério é muito importante, uma vez que políticas
públicas para determinados grupos precisam ser estabelecidas mediante a escuta dos problemas,
das dores enfrentadas por eles. E, quem mais sabe de sua dor senão aqueles que, diariamente,
movimentos afros na cidade de Feira de Santana, ele vivencia, na própria pele e através da
A entrevista com Val Conceição foi conduzida por Daiana Brito e Rita de Fátima no local
previamente estabelecido, Mercado de Arte Popular. O local foi escolhido devido seu valor
histórico para Feira de Santana uma vez que se constitui como parte da cultura popular da
entrevistado se sentiu o mais confortável possível para o diálogo. Para o trabalho, foram
elaboradas dez perguntas para aplicação durante as entrevistas. Antes da realização das
entrevistas, foi feita uma votação virtual, por meio de enquete, para que os integrantes do grupo
escolhessem quais questões seriam perguntadas, considerando a possibilidade de contribuição ao
tema do trabalho de cada um dos participantes. Para a entrevista com Val Conceição foram
● Como você avalia a atual situação da saúde mental na comunidade afro da nossa cidade?
● Quais são os principais desafios enfrentados pela população preta em relação à saúde
mental?
● Quais recursos ou programas você acredita que seriam mais eficazes na promoção da
Outra pessoa selecionada para realização da entrevista foi Cristiane Oliveira Lopes,
pessoa que trabalha na Secretaria de Saúde de Feira de Santana. Uma das missões da secretaria é
promover a atenção integral por meio de ações que englobam a integralidade dos indivíduos. Por
isso, o grupo entendeu que esta seria uma entrevista relevante que poderia corroborar
documentário. O documento foi enviado, por correio eletrônico, para a Secretaria de Saúde,
entrevista, o grupo precisou se reorganizar para encontrar outros (as) participantes que pudessem
Após nova busca, foram selecionadas mulheres pretas de diversas categorias que
Foram elas: Ana Gabriela Barreto, representante sindical da categoria de alimentos do estado da
Melão, no município de Irará, estado da Bahia. As questões foram escolhidas pela equipe, por
meio de votação no grupo do whatsapp, antes da aplicação da entrevista e estão descritas abaixo:
● Como se pensar a luta histórica de pessoas negras em busca de saúde mental numa
● Os objetivos principais das políticas públicas em saúde mental pra população negra é a
e a discriminação nas instituições nos serviços do sus. No seu ponto de vista esses
ao documentário por não terem sido selecionadas após votação no grupo. Estão descritas abaixo:
● Em sua experiência, quais são os estigmas mais prevalentes associados à saúde mental na
Após elaboração das entrevistas, os vídeos foram disponibilizados para ajustes e cortes,
por meio do editor de vídeo Canva. Para tornar as falas ainda mais complementares foi acordado
colocar trechos das falas dos entrevistados, recortes de noticiários para embasar ainda mais a
A edição final foi realizada por meio do Canva. Foram totalizados minutos de gravação,
somados todos os vídeos gravados e, após edição, o documentário totalizou minutos. Sintetizar
um assunto tão vasto e denso foi um dos principais desafios da edição, uma vez que não foi
tarefa fácil selecionar os principais pontos dentre tantos levantados durante entrevistas.
grupo, via enquete. Os temas a serem votados estão descritos abaixo. O tema “Desafios para as
políticas públicas de saúde mental da população negra” foi selecionado com 57% dos votos.
De igual modo, foram selecionadas três músicas para votação, descritas abaixo.
Inicialmente, foi escolhida “Pontos”, de Túlio Borges. Entretanto, após pesquisa, foi identificado
direitos autorais, o que inviabilizou seu uso. Dessa forma, as duas músicas restantes foram
postas, novamente, para votação, vencendo a música instrumental “Djembe Jenny”. Sua escolha
se justifica devido ao toque do tambor estar associado à identificação cultural e se conectar com
● Djembe Jenny
● Restless Natives
4. Considerações Finais
saúde mental no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), torna-se evidente a complexidade e
Este trabalho, ao analisar a situação em Feira de Santana, Bahia, revela lacunas e obstáculos que
afrodescendente.
Os dados alarmantes sobre discriminação nos serviços de saúde, destacados pela Pesquisa
Nacional de Saúde de 2013, ilustram a urgência de ações que promovam a equidade racial. A
ausência de acesso adequado à saúde mental, evidenciada pela falta de planos de saúde entre a
população preta, intensifica os riscos à saúde, reforçando a necessidade premente de políticas mais
inclusivas e sensíveis.
A reflexão proporcionada pela Dra. Rachel Gouveia, por meio do pensamento de Daivis
Faustino, sublinha a importância de incorporar a perspectiva racial desde a raiz das políticas de
perpetuação de políticas que não atendem às necessidades específicas e que não consideram a
A ausência de fiscalização eficaz nas políticas públicas de saúde mental, citada pela
sindicante, Ana Gabriela Barreto, agrava ainda mais a situação, permitindo a continuidade de
compromisso mais robusto com a fiscalização e avaliação constante das políticas, garantindo que
Além disso, a abordagem dos fatores sociais, como o impacto do racismo na estrutura
psíquica, precisa ser central na formulação de políticas públicas, comentados por Bárbara
interseção entre raça, classe e acesso aos cuidados de saúde deve ser considerada de maneira mais
preta.
A elaboração desse documentário trouxe crescimento pessoal e acadêmico para todo grupo,
que despendeu esforços para que o trabalho apresentasse de fato aquilo que o tema exigia por sua
seriedade e profundidade, tendo cada participante desenvolvendo a parte que foi designado, como
Moreira, N. M.; Costa, I. I.; Santos, J. E.(2023). Promoção em Saúde Mental da População
Negra Brasileira, um Levantamento Bibliográfico. Estudos e Pesquisas em Psicologia,
v. 23, n. 2, p. 667-688.
Santos Abrahão de Oliveira. Saúde mental da população negra: uma perspectiva não
institucional. Revista da ABPN, v. 10, n. 24, p.241-259, nov. 2017 – fev. 2018.
Ferreira, J. (2022) MoviAfro fortalece cultura afro-brasileira em Feira de Santana. Ação social,
Cultura e Lazer, Educação, Na Perifa. Disponível em:
https://expresso.estadao.com.br/naperifa/moviafro-promove-cultura-afro-brasileira-na-
periferia-de-feira-de-santana/. Acesso em: 19/11/2023.
Davis, E. C., Passos, R. G., & Faustino, D. (2023). Racismo, subjetividade e saúde mental: O
pioneirismo negro. [Vídeo]. YouTube.
https://www.youtube.com/watch?v=mVyBrFLNxP4