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SOBRE O PROBLEMA DA FILOSOFIA E

OUTROS ESCRITOS

Ficha de Leitura para a UC de

Tomás Leandro Peixoto

N.º

11/11/2023
FICHA DE LEITURA

Referência bibliográfica:
ZUBIRI, Xavier, Sobre el problema de la filosofía y otros escritos (1932-1944), /
Fundación Xavier Zubiri, pp. 42-79; 120-124

Alianza, 2002

Palavras-chave:

Resumo:

Desenvolvimento temático:
Nesta parte da obra Zubiri preocupa se em dar nos a conhecer os dois
horizontes da filosofia grega, que para ele são o horizonte do movimento e o
horizonte da criação.
De início fala-nos do horizonte de movimento, começa por dizer que este
movimento não é apenas um movimento local, mas sim toda a mutabilidade do
ser, tudo está em mudança. O autor dá alguns exemplos de movimentos, tais
como as mudanças meteorológicas, o nascimento e a morte.
De seguida o autor começa por dizer que o homem fala, ou seja possui logos.
Neste logos o homem não se limita a estar entre as coisas, mas sim expressa as
coisas entre as quais se encontra. De seguida Zubiri explica como se forma este
horizonte, afirma que a partir deste trato eloquente com as coisas, surge o
horizonte no qual o grego vê o mundo. Logo de seguida Zubiri fala de como o

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homem está para o mundo, conclui que o homem se contra por cima do mundo
onde vive.
De seguida o autor diz nos que ao exprimirmos o logos das coisas pretendemos
dizer o que são as coisas. Foi assim que surgiu a visão de uma totalidade,
denominada por Parménides de noein. É nesta visão que podemos observar o
mundo a descoberto, sem a ocultação das palavras. O autor diz que esta visão o
noein é uma visão mais interior, uma visão que nos permite saber se alguém é
bom amigo, sabermos se estamos doentes. De seguida Zubiri fala-nos do
“nous”, e aquele que possui o nous, a esse damos o nome de o “conhecedor”
das coisas com diferentes manifestações. O logos entra aqui como o um
identificador, serve para demonstrar o que se sabe ou aquilo que se conhece,
dentro do noein.
No paragrafo seguinte o autor volta a falar da estranheza, esta que levou o
homem a questionar-se, a olhar para as coisas de maneira violenta. Foi com esta
observação violenta do horizonte de “tudo o que sempre é”, que contem em si o
mundo inteiro, foi aqui que nasceu formalmente a filosofia, com a visão
filosófica do homem desse horizonte. É através desta observação do homem do
horizonte que surge o movimento cósmico, pois este acha-se em movimento,
por se autoconsiderar efémero. É aqui que Zubiri começa a falar do movimento
propriamente dito, afirma que o movimento oculta, porque com ele as coisas
mudam, mudam entre si e passam a ser outras coisas (devir).
Zubiri volta a tocar no horizonte da totalidade, para nos mostrar de ondem vem
a natureza, nome dado pelos gregos a este todo-coisa, aquilo que é
momentaneamente, antes de ser ocultado pela mudança, pelo movimento.
De seguida Zubiri apresenta-nos a aclamada pergunta (Tí tò ón) ou seja “o que
é?”, esta pergunta surge da conclusão de que com o noein, com um olhar
noentico, descobrimos a variedade das coisas, do homem e da natureza, que
individualmente cada coisa seria uma busca da natureza, uma manifestação.
É a partir desta pergunta que surgem dois temas centrais da filosofia, o tem a
que aborda cada coisa no seu ser e o tema que fala do todo enquanto todo. Para
os gregos as coisas em movimento não são apenas as coisas encobertas, mas sim

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as descobertas, porque tudo muda com o devir, tudo está em movimento,
aquilo que vemos, as coisas já familiarizadas e as coisas encobertas.

Falamos agora do outro horizonte da filosofia ocidental, o horizonte da criação


e da nilidade. Este horizonte começa por dizer o autor que é muito diferente do
horizonte de movimento, neste horizonte vemos o mundo a partir da visão
cristã. Zubiri diz que esta diferença de horizontes, entre o horizonte grego de
movimento e horizonte de criação europeu e cristão surge a diferença radical
entre o modo de filosofar grego e o modo de filosofar cristão. Para os gregos
como diz o autor no decorrer deste livro, o mundo é algo que muda, que varia,
já para o homem cristão europeu o mundo é algo que de um nada pretende ser.
Para o grego as coisas deixam de ser devido há mudança, já o homem pós-
helénico vê esse problema de outra forma, não a mudança das coisas, mas sim o
que as levou a ser, como chegaram a ser. Vemos isso quando o grego pergunta
o que é o mundo, com essa pergunta vemos que o grego já pressupõe que o
mundo está ali, ele apenas descobre o mundo. Já o homem pós-helénico não
questiona o que é o mundo, mas sim questiona como é que o mundo passou a
ser algo, não dá como garantido a existência do mundo a partir do nada. Com
os gregos deparamos nos com a totalidade do que é, já com os homens da nossa
era deparamo-nos com a totalidade do que não é.
De seguida Zubiri fala-nos da entrada do cristianismo no mundo helénico, por
são Paulo, e diz que a plateia não entende aquele conceito de criação a partir do
nada. Com a entrada do cristianismo no mundo romano, necessita de se
estender, precisa de se helenizar.
Mas temos que ter em conta que o problema não é entender a forma como o
cristianismo se estendeu no mundo clássico, mas sim entender o quê que existe no
cristianismo que o permitiu expandir. Outra diferença da visão entre o grego e o pós-
helénico é sem duvida a noção de natureza, para o grego a sua pólis é um momento de
natureza, para o homem da nossa era, o homem pós-helénico a natureza, o lugar
natural é o seu povo, a natureza é a existência do seu povo. O homem pós-helénico o
hebreu vê o mundo como modos da sua existência pessoal.

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Uma das grandes diferenças entre ambos os povos (gregos helénicos e hebreus) é a
maneira como vêm o outro e o que consideram como o outro. O hebreu responde a
isto como quem é o meu próximo, visível até hoje na parábola evangélica. O grego por
natureza considera o próximo os outros gregos. Um facto interessante para o autor, é
a verdade para o hebreu, que se mostra como promessa, e não apenas um atributo
eventualmente presente. Sendo assim, se compararmos a noção de verdade e em todo
o caso a noção de falsidade, para o homem helénico o oposto á verdade é a falsidade,
já o hebreu, como vê a verdade como uma promessa chama a falsidade de desilusão.
O hebreu, ao contrario do grego que acredita que o movimento indica a natureza
como archê, este não sente o curso das coisas, não vê o movimento da mesma forma
como o grego, pois a ideia de movimento do grego torna nos efémeros, e se
pensarmos bem, o ser humano já possui uma predisposição natural para a eternidade
(ideia que vem de Deus, e apenas com ele é que afirmamos a vida após a morte). Zubiri
de facto destaca que sem a presença do homem na terra, sem a comunhão entre Deus
e homem (principio ultimo do criador), a gloria de deus estaria perdida, como tal, o
universo depende de Deus, nós enquanto criação á sua imagem dependemos dele.
Finalizando esta primeira parte do trabalho, acho importante referir que o cristianismo
expandiu-se para o resto da europa muito rapidamente, pois deus uma grande
importância á palavra “verdade”.

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Relação da teoria e do texto de Zubiri com a metafisica de Aristóteles (1º Livro)

Eu selecionei uma frase da metafisica, e tentei relacionar com aquilo que vimos de
Zubiri, também tentei dizer onde Zubiri completa Aristóteles.

“foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no principio como
agora” (Aristóteles 40)
Esta ideia de admiração, já falada por Karl Jaspers aparece também nos textos de
Zubiri, e de facto os homens iniciaram a filosofia ao admirarem-se das coisas, daquilo
que os rodeia, daquilo que lhes é estranho, sempre na tentativa de tentar familiarizar-
se com o que era estranho. Foi precisamente no horizonte da estranheza que começou
a filosofia.
Se virmos bem ambos chegaram ao conceito de criação, mas Aristóteles chegou lá com
a sua metafísica, com a teoria das causas, dai saiu a ideia da causalidade, provocada
pelo motor imóvel. Nó cristãos sabemos que não é assim que as coisas funcionam, a
metafísica de Aristóteles está de facto presente no horizonte do movimento, na
procura de verdade, etc. Zubiri tem na época dele o conceito de Deus, ele sabe que a
causalidade não é o que realmente acontece, mas sim o conceito de criação, acho que
a presença da ideia de Deus afirmada na época de Zubiri ajudou-o a melhorar em parte
a sua filosofia compara a Aristóteles.
” Apesar de ser apenas uma menção honrosa esta frase diz muito sobre a filosofia de

Zubiri, de facto o conhecimento move o homem e a procura pelo mesmo move-o,

vimos em Zubiri que o homem não procura o conhecimento sempre da mesma forma.”

(Aristóteles 1)

“Todos os homens, por natureza, desejam conhecer”

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Comentário pessoal: posso afirmar que Zubiri enquanto escrevia esta obra tinha

sem duvida o livro da metafisica aberto em cima de secretária, é de facto

interessante ver as semelhanças entre um autor clássico, tão antigo e um autor

mais recente e moderno como Zubiri. Deixa-me a pensar que a teoria de

Aristóteles ainda é das melhores.

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