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Turma, tomando o que propôs Leandro quando disse "uma questão interessante para o debate é o que

falta em nossos territórios, em nossas unidades, em nossas equipe, em nossas redes, para podermos
construir projetos de cuidado como o que foi apresentado no caso Natália, o que vocês acham?", endosso
essa proposta sugerindo que tragam para discussão exemplos de casos que tenham participado (ou tido
conhecimento) em suas unidades, que tenham envolvido populações ou grupos vulneráveis, e nos
contem como foi a abordagem e o desfecho: qual rede se formou? quem da equipe de saúde da unidade
se envolveu? que outros agentes de proteção social foram acionados? como foi solucionado o caso?...

O caso que trago ocorreu na Equipe Praia do Forte e relato a experiência de acompanhamento a
uma adolescente vítima de estupro que teve como resultado uma gravidez indesejada e se refere a
adolescente P.S. que ficou grávida aos 11 anos de J. P. de 16 anos, filho de seu padrasto, ambos
foram criados como irmãos desde pequenos e após a descoberta da gravidez J.P. fugiu para o
nordeste. A família em questão é extremamente vulnerável em primeiro contato com a equipe a mãe
de P.S externa o desejo de que a mesma realize um aborto legal, já a menor não compartilha da
mesma ideia da mãe e quer ter a criança. A primeira abordagem a situação se deu com a enfermeira,
tal escuta inicial foi feita junto da mãe, de maneira consentida pela menor, uma vez que a paciente
demonstrava-se mais segura na presença desta, a enfermeira garantiu confidencialidade dos fatos
além de manifestar o desejo de ajudá-las, neste momento o trabalho de escuta, diálogo e assistência,
busca estabelecer vínculos necessários: o despojamento e a empatia; a capacidade de compreender
sem julgar; o respeito; e estabelecimento de limites. A partir do primeiro contato no acolhimento à
adolescente, narrou os fatos e esses foram registrados no PEC e-SUS AB, que subsidiará a
construção de um projeto terapêutico singular (PTS) para melhor manejo da situação,
encaminhamentos e responsabilização dos membros da equipe de saúde. No acolhimento inicial,
além da escuta, foram prestadas medidas de profilaxia secundária, como a solicitação TIG, de testes
sorológicos para infecções sexualmente transmissíveis, mesmo com a negativa da vítima sobre o
uso de violência física. Em discussão do caso em reunião de equipe, com presença da saúde bucal e
com matriciamento do NASF, optou-se por adotar o modelo de PTS para abordagem do caso, haja
vista a complexidade dos fatores envolvidos e as possíveis repercussões psicossociais na ausência
de um seguimento adequado. Realizou-se também a notificação do ocorrido ao SINAN. A visita
domiciliar também foi utilizada como ferramenta de aproximação e identificação das
vulnerabilidades in loco. Ficou estabelecido na construção do PTS a abordagem da saúde bucal
como estratégia de ressignificação do indivíduo vítima de violência. Durante está construção
aspectos individuais de constrangimento e culpa; aspectos familiares com sentimentos de medo
diante de ameaças no domicílio; e de aspectos estruturais, como desconhecimento de seus direitos;
naturalização da violência de gênero; do temor de que se possa levar suas histórias até seu domicilio
ou a outras instâncias; como polícia, por exemplo; e até descrença na intervenção de polícia a
respeito de sua proteção e segurança, foram levantados buscando fortalecer a Rede Integrada de
Cuidados. O CRAS foi acionado enquanto rede de apoio no sentido de favorecer que a família
reconheça seu papel na sociedade e também na busca de benefícios sociais pra reduzir as
vulnerabilidades. O Conselho Tutelar também foi acionado como mecanismo de busca de proteção
judicial. Durante a evolução do caso a menor já estava com 22 semanas de gestação fato que
impediu o aborto legal.

Cabe trazer a este debate acime que segundo SEVALHO (2018), que na representação conceitual de
vulnerabilidade, interligam-se: o componente individual, referente às informações que a pessoa tem
sobre o problema e à capacidade de utilizá-las na construção de práticas protetoras integradas ao
dia-a-dia; o componente social, relativo à obtenção de informações e ao poder de influir politica e
socialmente para alcançar, segurança, livre expressão e proteção; o componente programático,
pertinente à qualidade e ao funcionamento efetivo dos programas de controle e serviços, que podem
direcionar a produção de práticas e saberes em saúde.
SEVALHO, Gil. O conceito de vulnerabilidade e a educação em saúde fundamentada em Paulo Freire. In-
terface (Botucatu), Botucatu , v. 22, n. 64, p. 177-188, Mar. 2018 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
32832018000100177&lng=en&nrm=iso>. access on 19 Mar. 2021. Epub May 18,
2017. https://doi.org/10.1590/1807-57622016.0822

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