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Repórter: Brenda Maria | Produção: Beatriz Anacleto | Data: 23 de maio de 2023.

Em entrevista com B&B NEWS, Marcone Moreira Fernandes, de 45 anos de idade, junto com
Maria do Socorro Apolinario dos Santos, de 58 anos, falam da importância do Conselho Tutelar na
cidade de Areial e dão detalhes com uma visão de dentro dos casos que normalmente dificilmente
são vistos por fora pelos moradores. Ambos são naturais de Esperança-PB, uma cidade vizinha. O
Conselho Tutelar de Areial surgiu em meados de 2007 e atualmente conta com 5 conselheiros.
Maria foi a primeira mulher a fazer parte do projeto, na qual soma 14 anos atuando na profissão, e
Marcone, 06 anos.

B&B NEWS — Nós sabemos que os casos que vocês atuam se dividem em casos mais leves,
moderados e os mais graves. Quais são as dificuldades que vocês enfrentam para atuar nos casos
considerados mais graves?

Maria do Socorro A. dos Santos — O caso mais grave que podemos atuar é o abuso, porque é
uma coisa que é sigilosa, e a dificuldade se constitui na justiça, pois é lenta.

Marcone Moreira Fernandes — Pela solução dos casos, essa questão (dificuldade ser
constituida na justiça) demora muito. Muitas vezes são passados e levam anos para serem
resolvidas, algumas foram passadas a anos pra gente e até hoje não tem uma resposta ainda, mas
que está lá para ser resolvido.

B&B NEWS — Em situações em que o abuso é cometido por pessoas da própria família, nesses
casos, tem aceitação facil da família ou tem situações que vocês precisam ter uma conversa mais
longa?

Maria do Socorro A. dos Santos — Sim, uma conversa mais longa. E muitas das vezes a
denúncia não vem diretamente da família, vem de terceiros. Tem casos que é a família quem
mesmo procura e denuncia o abusador, mesmo sendo familiares.

Marcone Moreira Fernandes — Quando no caso do abuso, quando o abuso acontece dentro do
seio familiar, dentro da própria família, a criança é retirada imediatamente pela questão de risco de
vida e pela proteção de segurança dela ela é tirada.

B&B NEWS — Agora, falando sobre o dia 18 de maio: Vocês atuaram firmemente para que as
pessoas tivessem acesso à campanha. Sobre o público-alvo, que no caso são crianças e
adolescentes: Eles aceitam? Entra facilmente na cabeça deles o que é errado, o que muita das
vezes não é visto como errado?
Maria do Socorro A. dos Santos — Tem criança que entende, porque antes do dia 18 de Maio a
gente trabalha nas escolas e os alunos já estavam trabalhando antes. Quando nós chegamos lá,
eles já estavam entendendo o que estava acontecendo, o que é o abuso e como ele acontece. Uns
ainda falam, outros já ficam com timidez. A timidez também não deixa eles falarem.

O dia 18 de Maio é muito importante porque tem casos que são descobertos no dia 18 de Maio
dentro das escolas, com as crianças das escolas. Raramente não tem uma descoberta no dia 18,
ou então durante a semana que a escola trabalha o assunto, aí dali surge algum abuso que estava
escondido.

Marcone Moreira Fernandes — O interessante também é que trabalhamos com diversas


faixas-etárias, né? Criança, adolescente, pré-adolescentes… Mas uma coisa que a gente percebe
quando estamos fazendo o nosso trabalho, mostrando, explicando, orientando as escolas na sala
de aula, é que geralmente as crianças têm mais curiosidade em perguntar do que os próprios
adolescentes. Muitas vezes ficam com vergonha, né? Tem uma dúvida e fica com vergonha,
pensando no que o colega vai achar daquilo ali, então muita das vezes deixam de tirar a dúvida,
deixam de esclarecer, pensando que o colega vai rir ou vai falar alguma coisa.

É um assunto muito importante e que a gente sempre fala: tem essa data específica para a gente
lembrar, e não comemorar. Nós sempre lembramos que é um assunto que tem que ser trabalhado,
e lembrado sempre. Porque nós estamos aqui nesse momento conversando, mas em algum lugar
por aí tem alguma criança ou algum adolescente sendo abusado, e os índices de abuso, de
estrupro, assasinato e violência sexual é muito alto no pais, então nós temos que trabalhar isso
frequentemente.

B&B NEWS — Já ocorreram casos das crianças terem medo de vocês? Eu confesso que quando
eu era mais nova eu tinha medo de vocês me pegarem e me levarem embora. Esse tabu ainda
continua?

Maria do Socorro A. dos Santos — Continua. O Conselho Tutelar para as crianças e adolescentes é
um vilão. É como se fosse aquele passado dos nossos avós, “o bicho papão”, “o papa figo”, que
pega as crianças e levam elas. Para a maioria das crianças o conselho é isso, que estão lá para
levar para algum lugar, retirar… Eles ainda não entenderam ainda, esse tabu ainda continua.

Marcone Moreira Fernandes — Muitos pais são quem fazem isso com as crianças. “Olha, se
comporte direito se não eu vou chamar o conselho tutelar pra buscar você.”, muitas vezes essa
imagem se cria por conta disso. Gente, não façam isso. O nosso trabalho não é retirar a criança de
ninguém, não é tomar a criança de ninguém. O nosso trabalho é aconselhar, como o próprio nome
diz: Conselho. Estamos aqui para aconselhar, orientar, trabalhar para defender os direitos que as
crianças e adolescentes têm. Tem muita criança que ainda tem medo quando vêem a gente. Então
sempre pedimos para os pais não falarem coisas desse tipo, pois nosso trabalho não é esse,
jamais faríamos isso, a não ser em uma situação bem grave em caso de estrupro ou abuso, onde a
criança ou adolescente está em risco de vida, aí nesse caso ela é retirada.

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