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“O Tesouro” de Eça de Queirós

Categorias da narrativa
Notas soltas

1-TÍTULO
- O título apresenta-nos um elemento importante da história ou
seja, apresenta-nos o motivo da história; o tesouro.
- O título está relacionado com o espaço, a ação e as
personagens. É-nos apresentada uma natureza idílica da qual o
tesouro é parte integrante que leva ao desenrolar da ação e que ajuda à revelação do carácter das
personagens.
- Simbolicamente o” tesouro” desperta a ganância, a ambição e o materialismo realçando o lado
negativo do ser humano.
- Os elementos que descrevem o “tesouro” também são simbólicos.

Cofre – Essência humana / algo de importante


Velho – Guardado de geração em geração
Ferro – Resistente ao tempo
Ouro – Metal resistente à corrupção / perfeição
Três chaves / três fechaduras – salvação / acesso à perfeição
Dístico em letras árabes – Tempo remoto

O número três significa a perfeição, a unidade – três irmãos, três chaves e três fechaduras -
simbolicamente é explorado em termos de contraste, já que não existe unidade nem perfeição nos
eventos protagonizados pelos irmãos.

2- AÇÂO

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 A ação do conto divide-se em três partes distintas : introdução, desenvolvimento e conclusão.
 A organização das várias sequências narrativas são feitas por encadeamento, ou seja, sucedem-se
umas às outras.
 Quanto á delimitação da ação, até ao penúltimo parágrafo pode-se considerar fechada porque se
conhece o fim da história. No último parágrafo pode-se considerar que a ação é aberta porque se
desconhece o destino do tesouro.
 No final é-nos dito que “a natureza recupera a sua anterior quietude” porque os irmãos são o
elemento intruso na natureza idílica e desaparecem como se a própria natureza os tivesse engolido.
 Os irmãos não conseguiram levar o tesouro porque a ambição os matou. O tesouro continua na
mata de Roquelanes como um chamariz, pondo à prova a ambição humana.
 O conto tem uma estrutura circular porque quando chegamos ao final do conto podemos regressar
de imediato ao início do mesmo.

3-PERSONAGENS

 Quanto ao relevo as personagens são protagonistas / principais – centro da ação


 Quanto à composição as personagens são planas – mantêm o mesmo comportamento
 Relação existente entre a personagem e o meio utilizado em cada crime:
Rui – Navalha – Objeto pequeno, certeiro que remete para o carácter decidido de rui.
Guanes – Veneno – Provoca uma morte lenta, agonizante, à qual ele queria assistir.
Rostabal – Espada – Arma nobre que pertence aos cavaleiros, restabelece a ordem da troça de que era
vítima.
Caraterização das personagens:

Guanes Rostabal Rui

Magro, pele negra, leve, Alto, cabelo longo, Gordo, ruivo, barbudo,
pescoço de grou, bêbado, barbudo, olhos raiados, pescoço peludo, avisado,
jogador, leviano, invejoso, forte, destro, bravio, decidido, cínico, bravio,
bruto, esbanjador, cerdo, analfabeto, torpe, persuasivo, astuto,
ganancioso, traiçoeiro vingativo, desconfiado, vingativo, ganancioso,
ingénuo calculista, ambicioso,
sonhador, ansioso, receoso

4-ESPAÇO / TEMPO
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 A primeira referência temporal é o Inverno e o espaço é a casa em Paços de Medranhos.
 A segunda referência temporal é a Primavera (abril) e o espaço a Mata de Roquelanes
 O dia da semana em que se passa a ação é o Domingo que simbolicamente é um dia sagrado , da
família.
 O tempo cronológico em que decorre a ação é entre o Inverno e a Primavera ( um dia )
 O tempo histórico para onde nos remete o texto é a Idade Média.

5-NARRADOR

 Existem dois tipos de narrador no conto:


Narrador não participante: relato em 3ª pessoa, justificado através dos tempos verbais e pronomes
pessoais;
Narrador heterodiegético; focalização interna / observador, assume o ponto de vista de uma
personagem; o narrador sabe tanto como as personagens.

6-ESTILO

 O uso expressivo do adjetivo é, possivelmente, o processo estilístico que melhor individualiza Eça de
Queirós . O adjetivo surge:
anteposto - silenciosa manhã
em séries binárias ou ternárias - A tarde descia, pensativa e doce
colocado entre vírgulas – D. Rui, o mais avisado, era veneno.

7-SIMBOLOGIA

O tesouro está guardado num cofre


- protege, preserva, permite que o seu conteúdo permaneça intocado ao longo do tempo.
- é de ferro, material resistente, simultaneamente, à força e à corrupção.
Três fechaduras
- preservam o conteúdo do cofre (Da curiosidade? Da cobiça? Da apropriação indevida?...), mas três
chaves permitem abri-lo sem dificuldade. Note-se: nenhuma delas, só por si, mas as três em conjunto. Só a
cooperação dos três irmãos permite aceder ao tesouro. Foi apenas porque, momentaneamente, os três

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cooperaram, que lhes foi permitido contemplar o “tesouro”. E porque não souberam manter esse espírito de
cooperação, não lhes foi permitido possuir o “tesouro”.
Quando Rui expõe a estratégia a seguir, o número “três” volta a aparecer insistentemente (“...três
alforges de couro, três maquias de cevada, três empadões de carne e três botelhas de vinho.”), como que a
sublinhar o individualismo que os vai conduzir à tragédia.
Ouro
- material precioso e incorruptível, é ele próprio símbolo de perfeição. Obviamente, para além do seu
valor material, simboliza a salvação, a elevação a uma forma superior de vida, mais espiritual, menos
animal. É esse o verdadeiro bem, o verdadeiro tesouro. Os fidalgos de Medranhos vivem mergulhados na
decadência material e na degradação moral. Não se lhes conhece uma atividade útil, um sentimento mais
elevado, um afeto. Vivem com os animais e como animais. O “tesouro” está ali, à sua frente, é possível
alcançá-lo; mas, para isso, é necessário enfrentar dificuldades, largar a cobiça, vencer o egoísmo, criar laços
de solidariedade e verdadeira fraternidade.
Dístico em letras árabes
- mal legível, remete para um passado distante, mítico, um tempo de paz, equilíbrio e perfeição, uma
idade de ouro que poderá ser recuperada por quem conseguir encontrar o “tesouro.

8-INDÍCIOS TRÁGICOS

Frequentemente, na narrativa, a tragédia é anunciada antecipadamente por indícios, que as


personagens ignoram, mas não passam despercebidos ao leitor atento.
Cantiga que Guanes entoa ao dirigir-se à vila e continua a cantarolar quando regressa.

Olé! Olé!
Sale la cruz de la iglesia,
Vestida de negro luto...

A “cruz” e o “negro luto” são referências claras à morte que Guanes planeia para os irmãos. Mas
ironicamente prenuncia também a sua própria morte. Como se vê, nenhuma das três personagens é capaz de
reconhecer esse sinal.
Duas garrafas que Guanes trouxe de Retorquilho. Rui estranha o facto, mas não suspeita da traição.
Se as personagens fossem capazes de interpretar esses indícios poderiam fugir ao destino. Mas são incapazes
disso e é desse lento aproximar do desenlace e da incapacidade das personagens para o evitar que resulta a
dimensão trágica da narrativa.

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