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Trabalho Final Antropologia Visual, Alicia Macena
Trabalho Final Antropologia Visual, Alicia Macena
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Entrevista com Jaider Esbell, artista e ativista indígena: “Nós somos essencialmente guerreiros, Tantas-Folhas: Partenon
Cultural da Palavra, acesso em 26/11/2023
e as amarras do mercado artístico emerge como um ponto de tensão, especialmente quando
consideramos o desfecho trágico do suicídio de Esbell. Essa dualidade lança dúvidas sobre a
eficácia real da Bienal como um espaço que promove a autonomia e a genuína
representatividade dos artistas indígenas. Didi-Huberman nos convida a enxergar as imagens
não apenas como representações visuais, mas como agentes capazes de evocar emoções,
estimular reflexões e mobilizar ações. Ao aplicar esse olhar à Bienal, questionamos como as
imagens presentes neste evento, desde as obras de Jaider Esbell até às demais expressões
artísticas indígenas, atuam na construção de narrativas visuais que transcendem a superfície
estética. A obra de Jaider Esbell, especialmente quando demonstrada através de imagens em
movimento, como no filme que se torna uma crônica visual de sua militância, ganha uma
dimensão mais profunda, as imagens capturam não apenas a estética singular, mas também
uma profunda conexão entre a arte e a resistência indígena contemporânea, essas imagens não
são meramente instantâneas no tempo; são testemunhas visuais de uma manifestação de
resistência cultural.
O questionamento sobre o propósito essencial da Bienal de Arte de São Paulo se torna
inevitável, a análise crítica de Bell Hooks e Didi-Huberman levanta a questão: a Bienal é, de
fato, um espaço de celebração e liberdade para os artistas indígenas, ou é uma plataforma
que, de alguma forma, contribui para o desgaste emocional e para eventos tão trágicos como
o suicídio de Jaider Esbell? A obra de Esbell, comprovada à luz do governo Bolsonaro e do
olhar crítico de Bell Hooks, revela-se como um testemunho vigoroso da resistência indígena.
No entanto, uma questão persiste: até que ponto a Bienal representa uma verdadeira abertura
para a expressão indígena, e em que medida essa abertura é moldada pelas dinâmicas
mercadológicas que podem contribuir para o desgaste emocional e, em casos extremos, para
decisões trágicas? O questionamento sobre a verdadeira essência da Bienal ganha força ao
considerarmos as estruturas que permeiam esse evento cultural, a dualidade de oferecer
visibilidade enquanto ambientes ambientais submetem as manifestações indígenas às
demandas do mercado levantando inquietações sobre as desvantagens desse espaço, a Bienal,
que se propõe a ser um ambiente de diversidade, pode paradoxalmente contribuir para a
simplificação e apropriação da arte indígena, exacerbando o custo e contribuindo para a
percepção equivocada da natureza intrinsecamente coletiva da expressão cultural indígena.
Nesse contexto, a necessidade de uma compreensão mais profunda das estruturas
subjacentes da Bienal, da influência do mercado e do papel das imagens se intensifica, a
Bienal, ao mesmo tempo em que oferece visibilidade, parece carregar consigo uma falácia,
um paradoxo entre a aparente abertura cultural e as realidades menos evidentes que podem
contribuir para a vulnerabilidade dos artistas indígenas. Essa análise crítica não apenas
desvela as contradições presentes nesse espaço cultural, mas também enfatiza a urgência de
uma abordagem mais autêntica e respeitosa em relação às narrativas indígenas, que vão além
das demandas mercadológicas e das expectativas superficiais.
Assim, ao desvendar a narrativa visual de Jaider Esbell através do filme, somos
convidados a contemplar não apenas uma obra de arte, mas um testemunho vigoroso de uma
população que, apesar das adversidades, tece sua própria história, resistindo à assimilação
cultural e reafirmando sua existência no tecido diversificado da sociedade contemporânea,
que afirma sempre como os povos originários são essencialmente guerreiros. É uma ode à
resiliência, uma celebração da identidade indígena que ecoa para além das galerias,
alimentando a chama da compreensão e respeito pela riqueza da diversidade humana, sem
Jaider Esbell a bienal não teria sido o que foi, ele foi a reformulação de todo o conceito
inicial proposto para o artista indígena em 2021, afirmando sempre como os povos
originários são essencialmente guerreiros.
Bibliografia:
HOOKS, Bell. The Oppositional Gaze: Black Female Spectator. IN:Race and Representation
Boston: South End Press, 1992.
DIDI-HUBERMAN, G. Quando as imagens tocam o real. PÓS: Revista do Programa de Pós-
graduação em Artes da EBA/UFMG, Belo Horizonte, p. 206–219, 2012.
Nós somos essencialmente guerreiros, Tantas-Folhas: Partenon Cultural da Palavra,
disponível em https://tantasfolhas.com/entrevista/. Acesso em 26/11/2023.
Partida precoce: a arte, as exposições e a saudade de Jaider Esbell, Veja São Paulo, Por
Tatiane de Assis, disponível em
https://vejasp.abril.com.br/coluna/memoria/partida-precoce-a-arte-as-exposicoes-e-a-
saudade-de-jaider-esbell?
utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=eda_vejasp_audiencia_institucional
&gad_source=1&gclid=CjwKCAiA9ourBhAVEiwA3L5RFlKyGn7mRVP9CaOv8ZLosCvT
UfIsB2zVuCVgoEUZfvXVRThbX5c0KhoCcx4QAvD_BwE. Acesso em 26/11/2023.
Os territórios, sendo corpos, precisam ser livres para serem vivos, Brasil de Fato, disponivel
em https://www.brasildefators.com.br/2021/11/09/os-territorios-sendo-corpos-precisam-ser-
livres-para-serem-vivos. Acesso 26/11/2023.
A "armadilha psicodélica" de Jaider Esbell, João Pedro Soares, Made for Minds, disponível
em https://www.dw.com/pt-br/a-armadilha-psicod%C3%A9lica-de-jaider-esbell/a-59717656.
Acesso dia 26/11/2023.
Jaider Esbell, A Terra é Redonda, disponível em https://aterraeredonda.com.br/jaider-esbell/.
Acesso 26/11/2023.