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Universidade Federal de Uberlândia

Instituto de História
História Medieval
Professora: Cleber Vinicius Amaral Felipe
Aluno/a: Gustavo Eduardo Morais
Nº de Matrícula:12311HIS014

Resenha 15/02

LE GOFF, Jaques; SCHMITT, Jean-Claude. “Dicionário analítico do ocidente


medieval Vol. 1”. Editora Unesp, 2027. (p. 25 à p. 40).

O texto resenhado tem como função discutir o "Além" como um estado esotérico
e póstumo, utilizando em suma, a proposta cristã, que compunha o imaginário dos
viventes no Ocidente medieval.
À diante, o cristianismo é categorizado pelos autores como uma "religião de
salvação" e atribuem o sucesso e seu engajamento populacional e político à carência de
sentidos sobre o pós-vida proporcionada pelo período já qualificado com "idade da
angústia". Além disso, o cristianismo haveria traçado a situação póstera do indivíduo a
partir de seu comportamento, limitando a agência divina e responsabilizando-o
integralmente sobre seu lugar nesse Além, reafirmando-o como algo que não diz
respeito à Deus, ou se não, diz respeito não somente à Deus. A partir disso, abria-se um
leque binário de possibilidades para o derradeiro destino dos ainda vivos. A segregação
dos crentes no pós-morte, onde como resultado das suas bem-aventuranças ou não, se
dispõe uma das situações na dicotomia da moral divina: o inferno da danação eterna ou
o paraíso do gozo infindável.
O texto desempenha o importante papel de intrincar esse imaginário ao
comportamento direto dos homens e mulheres da idade média, que como seres
portadores do pecado original e irremediavelmente relacionados às contingencias
mundanas, optaram por travar a guerra cotidiana contra os símbolos do mau e aos frutos
perniciosos ao espirito que os levariam para a morte eterna. Desta forma, a ferida do
mau na cerne humana estaria sempre aberta e sangrando, e portanto a purificação diária
da alma é constituinte da vitória à tentação do Diabo, no caminho trilhado para o paraíso
do gozo eterno: "O além é uma dimensão imediata deste mundo"- (p.27).
No capitulo posterior, há uma profusão de relatos, sobretudo, dos evangelhos
do Novo Testamento, que os autores julgam responsáveis por fecundar e enrijecer a
ideia de inferno como o local destinado aos pecadores iníquos no castigo eterno. De tal
forma, que diversas áreas do empreendimento social, dos interesses individuais e das
esferas familiares relativas à época, se valeram da escatologia do Além para justificar e
viabilizar determinados projetos econômicos e Ideológicos. E além disso, esse
imaginário foi responsável por incontáveis produções iconográficas e literárias no
campo da arte, cujas contribuições nos ajudam a conceber tamanha a influência desse
imaginário na cosmovisão cristã no período medieval.
O texto nos mostra também, que as situações do paraíso e inferno foram
estabelecidas rapidamente, assim como o destino imediato após a morte, que concluiu
que todos os fiéis aguardariam no “seio de Abraão”. Lugar de conforto que demarcava
uma linha tênue entre o céu e inferno, um meio termo, onde não há danação mas
também não há o gozo de se defrontar com divino, se configurando como um lugar de
descanso para as almas até o julgamento final. Outra perspectiva era de que as almas
indiscutivelmente justas eram recolhidas para o céu imediatamente, da mesma forma
que, as indiscutivelmente injustas, que carregam em si o pecado imperdoável (Matheus
12:31-32, Bíblia sagrada), seriam jogadas diretamente no inferno imediatamente após a
morte, assim como os suicidas (1 Coríntios 3:16-17, Bíblia sagrada), ambas as
concepções foram subvertidas com a criação do purgatório no século XII.
Ao ler, percebo que o texto compreende que os relatos de visitas desses lugares
do Além nos evangelhos, não permitiam uma compreensão elaborada sobre seus
detalhes. Então traça paralelos com outros relatos históricos que continham elementos
que configuravam essa visita ao esotérico, tratando o Apocalipse de Paulo (Bíblia
sagrada), como um protótipo para as futuras composições, que começaram aparecer de
forma mais ampla através de "visões", obtidas daqueles que eram entendidos como
receptáculos mediadores do mistério divino. Talvez a principal transformação
propiciada por esses relatos posteriores seja a criação do purgatório (A viajem do
cavaleiro Owen), no século XII.
O texto segue expondo que o imaginário sobre o Além cristão medieval, evoca
através de heranças e apetrechos, as características de outros aléns, mas que apesar
disso, é responsável por melhor estabelecer um parâmetro espacial entre a moral da
virtude e a transgressão eminente do vício: moral e imoral; certo e errado; bem e mau;
céu e inferno; enfim, em cima e em baixo: a terra se torna um lugar de intercessão entre
o paraíso e a danação, onde os justos sobem e os ímpios descem, gerando um novo
imaginário específico sobre a natureza do céu e das profundezas.

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