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Catologia e decadência

1. Ultimos momentos de vida do homem na terra-Fim do Mundo (Omega)

O termo 'escatologia' designa a doutrina dos fins últimos, isto é, o corpo de crenças relativas
ao destino final do homem e do universo. Tem origem no termo grego, geralmente empregado
no plural, tá escháta 'as últimas coisas'
Porém, alguns especialistas, nomeadamente teólogos e historiadores da religião, empregam-
no no singular, escháton 'o acontecimento final' para designar o Dia do Senhor, o Dia do Juízo
Final, segundo o Apocalipse cristão.
Por vezes, nos textos dogmáticos gregos é usado como adjetivo, referindo-se a termos que
designam o tempo eschatai mnerai 'os últimos dias', eschátos krónos 'o último tempo', escháte
hora 'a última hora' "As palavras "escatologia" e "escatológico" ligam-se ao tempo final e não
ao tempo da decisão. O tempo final é certamente um tempo decisivo, mas nem todo o tempo
decisivo é tempo final"; "A etimologia mostra claramente que a palavra tem um sentido
exclusivamente temporal
A escatologia refere-se, por um lado, ao destino último do indivíduo e, por outro, ao da
coletividade – humanidade, universo.
As concepções escatológicas colocam muitas vezes, entre o aquém atual e o além do fim dos
tempos, um longo período aqui em baixo, que é uma espécie de prefiguração terrestre desse
além.
"se a tradição escatológica tem por objetivo o fim do mundo, a tradição messiânico
milenarista visa apenas o fim de um mundo no momento do grande dia, o Millenial Day, que
será ao mesmo tempo o início de uma nova Era, de uma nova Idade, de um novo Mundo"

Escatologias "primitivas" para os primitivos, o Fim do Mundo já existiu, embora se deva


repetir num futuro mais ou menos próximo."
Com efeito, as cosmogonias dos primitivos foram muitas vezes completadas por mitos sobre
cataclismos cósmicos (tremores de terra, incêndios, desabamentos de montanhas, epidemias),
os mais frequentes dos quais são os mitos do Dilúvio.
Por outro lado, em comparação com os mitos que narram o fim do mundo no passado, os
mitos que se referem a um fim futuro são inesperadamente pouco numerosos, entre os
primitivos.
As condições do fim do mundo são geralmente concebidas de três formas principais pelas
sociedades "primitivas": ou é por culpa dos homens que cometeram pecados ou faltas rituais
(por exemplo, uma etnia de uma das Ilhas Carolinas, Namolut pensa que um dia o Criador
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aniquilará a humanidade, por causa dos seus pecados, continuando, no entanto, os deuses a
existir); ou será a pura vontade de Deus, que porá fim ao mundo (este Deus pode ser bom ou
mau; para os Kai da Nova Guiné, o Criador, Mãlenfung, que adormeceu depois de ter criado o
Universo, despertará para destruir o céu que há de cair sobre a terra, fazendo desaparecer toda
a vida; os Negritos da Península da Malaca acreditam que o deus Kurei, a quem chamam
"mau", destruirá um dia homens e mundo, sem distinção entre bons e maus; ou, como para os
habitantes das Ilhas Andaman, o deus Puluga destruirá a terra e a abóbada celeste por um
tremor de terra, mas ressuscitará os homens, corpo e alma reunidos, que viverão eternamente
felizes, ignorando a doença, a morte e o casamento.
Finalmente, a causa do fim do mundo pode ser apenas a sua decadência, por um processo de
degradação contínua.

As religiões da Antiguidade com poucas exceções tiveram pouco interesse pela escatologia,
pois que acreditavam na solidez da ordem do mundo, estabelecida pela criação divina.

A segunda é o aparecimento da noção de ressurreição dos mortos [Daniel, 12, 2], evocada
como sinal de justiça e do poder de Deus, mais do que como esperança de salvação.
Estes textos revelam a organização do céu (com a sua hierarquia de anjos, o mistério das
origens com particular insistência no Paraíso, onde se restabelecerá, no fim dos tempos, a
amizade entre Deus e o homem) e, sobretudo, os acontecimentos do fim dos tempos, isto é, a
escatologia.

Finalmente, para o historiador, o estudo das escatologias torna mais urgente a tarefa de
distinguir História e história, devir histórico e ciência histórica. No seu domínio próprio, a
inteligibilidade científica da evolução das sociedades, o conceito de escatologia e os
fenómenos escatológicos convidam o historiador a ampliar as investigações a novas
problemáticas históricas e a estudar esta porção ainda virgem em grande parte, ou mal
começada a decifrar, do domínio das mentalidades e dos sentimentos limitados por este
conceito e estes fenómenos.
A reflexão sobre o tempo histórico está inacabada. Ela deve apelar mais fortemente para os
métodos e os resultados da história das religiões e da antropologia.
Um historiador do Budismo, que estudou a escatologia dessa religião, distingue três modos de
pensamento e de estados de consciência do homem, perante o tempo: a ausência do tempo
como fonte da religião, o conceito do Grande Tempo como fonte do mito, o tempo profano
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como fonte da razão. Quanto vale para um historiador esta distinção aplicada a realidades
históricas precisas?
Em sentido lato, por vezes demasiado lato, escatologia e apocalipse são tomados como
sinónimos de angústia, de medo. Que sabemos nós do medo na história?
Alguns estudiosos americanos travaram uma discussão sobre a proximidade de uma
psicologia cataclísmica. Este aspecto foi esclarecido, em parte, através da noção de medo do
Cristianismo. Mas resta muito para fazer.
O mais importante seria substituir por análises sérias os sentimentos de que se quis fazer a
mola psicológica da escatologia. Sem negar a importância da noção de salvação, considero-a
no entanto demasiado vaga, demasiado polivalente, para fornecer uma base sólida ao estudo
das mentalidades escatológicas. Os desejos de justiça e renovação parecem-me mais
fundamentais. Na história dos sentimentos, lançada por Lucien Febvre, quantos temas
interessantes de investigação!
E, principalmente, o tema da espera. O historiador que se lançasse nesta pista podia, encontrar
um ponto de partida e uma garantia de boa escolha, nas reflexões de um dos grandes mestres
da interdisciplinaridade de hoje – Marcel Mauss. Numa comunicação feita à Société Française
de Psychologie, em 10 de janeiro de 1924, afirmava: "Permitam-me assinalar um fenômeno,
em relação ao qual precisamos dos vossos conhecimentos, cujo estudo é da maior urgência
para nós e que supõe a totalidade do homem a espera.
Entre os fenómenos da sociologia, a espera é um dos que está mais próximo do psíquico e do
filosófico simultaneamente, e é, ao mesmo tempo, um dos mais frequentes.
É especialmente fecundo o estudo da espera e da iluminação moral, dos desenganos,
infligidos à espera dos indivíduos e das colectividades, o estudo das suas reacções.
Finalmente, a espera é um desses fatos em que a emoção, a percepção e, com maior rigor, o
movimento e o estado do corpo condicionam directamente o estado social e são
condicionados por ele a tripla consideração do corpo, do espírito e do meio social devem
aliar-se.
A escatologia pode tomar-se um dos temas mais interessantes de história geral, para os
historiadores contemporâneos e futuros, graças a um novo olhar sobre a escatologia na
história, a espera e a sua variante religiosa, a esperança.
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2. A crise do Universo

Queda e 'ruína' Instabilidade ou queda; Hesita-se entre dois tipos de sistemas "naturais": o
sistema biológico dos seres vivos (e a ideia de decadência ligar se-á à de envelhecimento e de
morte) ou o sistema astronómico do Universo (e decadência evocará o declínio, o pôr-do-sol
ou a "decadência" do ano, o Outono.
Contudo, o conceito de decadência pôde encontrar um lugar e encontrou-o na Idade
Moderna , quer entre os conceitos de ruína e morte dos conjuntos históricos Assim, o tema da
ruína e decadência dos ir~Wérios serviu, fundamentalmente, para esclarecer o conceito de
marcha da civilização.

Entretanto, ao perder a sua identidade histórica em proveito de novos poderes, a Antiguidade


e, singularmente Roma, transformava a imagem da sua própria decadência num estranho
poder de sedução sobre os espíritos.
Os critérios da decadência tipologia da decadência, constituída por seis critérios diferentes. A
decadência cósmica, a velhice do mundo. É a idéia de marcha para o fim do mundo, a imagem
do universo sob o aspecto de um velho, onde a natureza, ao começar a declinar, parece atrasar
a vinda de Cristo. A terra tornou-se deserta, o mar despovoado, os próprios céus se
corrompem, sobre a luz aparecem sombras. O fenômeno revela-se na terra das mais diversas
formas: as teorias de Galileu ou o aumento dos preços na Inglaterra.
A decadência moral ou, decadência dos costumes. concebida como gradual, caracteriza-se
muitas vezes pela riqueza e luxo.

O declínio religioso trata-se da decadência da Igreja, que cada vez mais se afastou do modelo
primitivo, entregandose à avareza e ao orgulho, descurando a piedade, substituindo a virtude
pela hipocrisia, ignorando a disciplina, a caridade, a humildade e, acima de tudo, tolerando a
tirania crescente do Papado. descreve a Igreja como uma chaga de lepra, da cabeça aos pés), é
desenvolvido principalmente pelos protestantes, A decadência política, o desaparecimento dos
Estados e dos impérios. Este critério apresenta-se sob duas formas principais: a corrupção
interna de tipos fundamentais de governo, desenvolvendo-se muitas vezes numa teoria de
ciclos, e o envelhecimento inevitável dos impérios que dão lugar a sucessivas dominações.
A decadência cultural da língua, das letras, das artes e das ciências foi frequentemente
sobretudo depois da Renascença vista como sinal fundamental da decadência. a decadência,
as causas podem ser de três espécies: divinas, naturais e humanas. O recurso a Deus implica a
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idéia de Providência e, principalmente, a de punição dos pecados, dos governantes e dos


povos. As causas naturais podem ser de ordem astronômica e biológica. os casos humanos
crescem e declinam como se fossem regidos por uma lei natural, como a lua a que estão
submetidos. Os impérios, assim como as igrejas e as seitas, sofrem, em virtude do "horóscopo
das religiões", o destino traçado nas estrelas.

Para outros as sociedades são como organismos humanos. "Os impérios, tal como os homens,
devem crescer, enfraquecer e extinguir-se". Por vezes a decadência deriva de um simples
automatismo mecânico. utilizam a noção de decadência, permite intuir que os defensores das
causas humanas preferem dar prioridade às causas internas, em relação às causas externas. "A
verdade é que todo o Estado pode morrer de duas maneiras: uma é a ruína que lhe vem do
exterior; a outra, oposta, é a da crise interna. A primeira é de difícil previsão e a segunda é
determinada no interior".

Conclusao
Como vimos que a escatologia sempre ela foi percebida como um conceito que designava o
fim de uma derterminado tempo final ou fim do universo, desde antiguidade ate a idade
moderna.
Mas, na idade moderna o escotologia ela não designa o fim do mundo ou universo mas sim
como fim politico que é fim de um estado, fim de costume neste caso a crise de valores de
uma sociedade, com isto, poderiamos assim dizer que a escatologia é uma decadencia ou crise
dos fenomenos que acontece, neste caso, a decadência cósmica, que explica a velhice do
mundo, ou seja, é a idéia de marcha para o fim do mundo, a imagem do universo sob o
aspecto de um velho, onde a natureza, ao começar a declinar, parece atrasar a vinda de Cristo.
A terra tornou-se deserta, o mar despovoado, os próprios céus se corrompem, sobre a luz
aparecem sombras. O fenômeno revela-se na terra das mais diversas formas: as teorias de
Galileu ou o aumento dos preços na Inglaterra, a decadência moral ou, decadência dos
costumes. concebida como gradual, caracteriza-se muitas vezes pela riqueza e luxo

Bibliografia
LE GOFF, Jacques. História e memória; tradução Bernardo Leitão. Campinas, SP. 1924

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