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Complementos de OM

e Anteprojecto

Perguntas Teóricas com Resolução

Ricardo Cardoso
Rodrigo Emídio
Índice Complementos de OM e Anteprojecto

Índice

Índice.................................................................................................................................... i

1- Rolamentos ..................................................................................................................... 1
2- Correias e Correntes ..................................................................................................... 17
3- Engrenagens ................................................................................................................. 34

i
Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

1- Rolamentos

1- Fale da contaminação dos rolamentos por partículas estranhas, salientando:


importância; como evitar; como se considera no dimensionamento.
A contaminação de rolamentos, caracterizada pelo factor de contaminação, v, é um
parâmetro cuja importância se reflecte no chamado factor de limpeza, s. De forma a
evitar a contaminação de rolamentos por partículas estranhas deve-se, durante o processo
de montagem, escolher uma atmosfera com uma sala seca e sem pó, afastada de máquinas
que produzam, por exemplo, aparas, partículas de rectificação ou pós. Também as
superfícies onde os rolamentos vão ser montados devem ser escrupulosamente limpas
sendo-lhes por vezes aplicadas uma pintura que seja resistente ao óleo de lubrificação.
No que respeita ao dimensionamento, a contaminação é caracterizada pelo chamado
factor de contaminação, v, parâmetro este que varia consoante o tipo de limpeza. Ex.:
Máxima limpeza (v=0,3), Boas condições (v=0,5), entre outros. Por sua vez, o factor de
contaminação, v, influencia também o factor de limpeza, s, parâmetro este retirado de
ábacos em função de: v (factor de contaminação), k (relação de viscosidade) e fs (índice
de solicitação).

2- Considere uma aplicação em que rolamento deve ocupar pouco espaço radial.
a) Que rolamento sugere? Qual o seu desempenho em termos de adaptabilidade
angular e capacidade de carga radial e axial?
b) Comente a afirmação: "Nunca devemos substituir um rolamento por outro com
folga diferente."
c) De que depende a velocidade de rotação máxima admissível (ou frequência
rotacional máxima) de um rolamento. Que rolamentos apresentam melhor
desempenho neste aspecto?
a) O tipo de rolamento indicado para ocupar o menor espaço radial possível é o rolamento
de agulhas. A principal característica deste tipo de rolamento é a sua elevada capacidade
de carga radial mas baixa capacidade de carga axial. Em termos de adaptabilidade

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

angular (é a capacidade de um rolamento poder compensar os erros de desalinhamento


dos apoios e dos ângulos de flexão dos veios), esta última é baixa pelo facto de a relação
L D ser bastante elevada. Além disso, este tipo de rolamento permite ainda transmitir
grandes potências em espaços reduzidos.

b) A afirmação é falsa se houver necessidade de substituir o rolamento por outro com um


valor de folga diferente, uma vez que o valor inicial da folga, antes da montagem, é
diferente do seu valor após montagem, visto que os anéis são comprimidos ou expandidos
por ajustes e também devido às dilatações térmicas dos componentes associados aos
rolamentos.

c) A velocidade que os rolamentos podem atingir é limitada pela temperatura máxima de


operação. Os tipos de rolamento com baixo coeficiente de atrito e, consequentemente,
baixa geração de calor são os mais adequados para altas velocidades de operação. Deste
modo, os tipos de rolamentos mais utilizados para situações em que se pretendem
velocidades de rotação elevadas são os rolamentos fixos de uma carreira de esferas, os
rolamentos fixos de contacto angular e os rolamentos de fusos.

3- a) Defina vida nominal e vida ajustada de um rolamento.


b) Existem rolamentos especiais com duas carreiras, uma de esferas de contacto
angular e outra radial de esferas. Fale desta solução em termos de capacidade de
carga radial e axial, adaptabilidade angular e custo.
a) A vida nominal de um rolamento é o termo estabelecido pela ISO para definir o
número de rotações ou horas a uma velocidade constante que 90% de um grupo de
rolamentos, aparentemente idênticos, atingem ou ultrapassam antes de se desenvolver o
p
C 
critério de ruína por fadiga. É definida por: L10    Vida em rotações ou
P
p
10 6  C 
L10h    Vida em horas , em que:
60n  P 
C – Capacidade de carga dinâmica;

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

C – Capacidade de carga dinâmica;


P – Carga dinâmica equivalente;
n – Velocidade de rotação;
p – Expoente de duração de vida nominal (p=3 para rolamentos de esferas e p=10/3
para rolamentos de rolos).
A vida ajustada de um rolamento é o termo usado para a determinação da vida de
um rolamento através de uma análise mais pormenorizada que tem em consideração
outros factores como é o caso da lubrificação, da fiabilidade, da contaminação, entre
p
C 
outros. É definida por: Lna  a1a 2 a3   Vida em rotações ou
P
p
106  C 
Lnah  a1a2 a3   Vida em horas, em que:
60n  P 
a1 – Factor de fiabilidade;
a2 – Factor do material;
a3 – Factor de condições de funcionamento.
Graficamente, a vida nominal é representada da seguinte forma:

b) Os rolamentos com duas carreiras de esferas não são mais do que uma conjugação das
características de dois tipos de rolamentos (neste caso, um de contacto angular e outro
radial de esferas) que têm como finalidade satisfazer as necessidades mediante o tipo de
aplicação a realizar. De forma a caracterizar este tipo de solução em termos de
capacidade de carga axial e radial, adaptabilidade angular e custo, é conveniente fazer
uma análise de cada um dos rolamentos separadamente:
 Rolamentos de esferas de contacto angular:
- Capacidade de carga axial: elevada mas apenas num sentido;

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

- Capacidade de carga radial: elevada;


- Adaptabilidade angular: nula ou praticamente nula.
 Rolamentos radial de esferas:
- Capacidade de carga axial: permitem este tipo de carga embora de uma
forma reduzida;
- Capacidade de carga radial: elevada;
- Adaptabilidade angular: nula ou praticamente nula.
Como se pode verificar pelas características de cada tipo de rolamento mencionadas
anteriormente, iremos desta forma obter um rolamento de características especiais mas
com o inconveniente de o seu custo ser encarecido pelo facto de estarmos perante uma
situação de utilização de um rolamento com características especiais, comparativamente à
utilização dos referidos rolamentos separadamente.

4- Considere um rolamento rígido de esferas.


a) De que depende a folga em serviço? Quais as consequências de folgas
exageradamente pequenas ou exageradamente grandes?
b) Diga o que entende por ângulo de contacto de um rolamento. Dê exemplos de
rolamentos com diferentes ângulos de contacto. Como se considera este parâmetro
no dimensionamento à fadiga?
a) A folga em serviço depende do ajuste com interferência entre o rolamento e o eixo ou
caixa. A folga interna de um rolamento é definida como a distância total que um anel
pode ser movido em relação ao outro na direcção radial ou na direcção axial. A folga
interna inicial é maior do que a folga em serviço, pois os anéis são expandidos ou
comprimidos por ajustes com interferência e também porque há diferenças no
posicionamento dos anéis do rolamento, devido às dilatações térmicas dos componentes
associados. A folga interna radial de um rolamento é muito importante para um
desempenho satisfatório. Como regra geral os rolamentos devem ter uma folga em
serviço igual a zero, ou então uma pequena pré-carga. Rolamentos de rolos cilíndricos e
auto compensadores de rolos, por outro lado, devem sempre ter alguma folga radial
mesmo que pequena. O mesmo é válido para rolamentos de rolos cónicos, excepto em
aplicações onde uma grande rigidez seja requerida.

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

Se a folga for exageradamente pequena então vão existir pré-cargas nos rolamentos
após a sua montagem, o que se reflecte num mau desempenho por parte desse rolamento,
quando sujeito a determinadas cargas ou esforços.
Se a folga for exageradamente elevada poderá ocorrer um empeno por parte do veio
onde está montado o rolamento ou pode ocorrer o seu desgaste devido aos choques que
são originados pela folga entre as esferas e os anéis (folga demasiado elevada), podendo
conduzir à inutilização por parte desses mesmos rolamentos.

b) O ângulo de contacto  é o ângulo definido entre o plano da face do rolamento e a


normal à superfície de contacto entre os corpos rolantes e respectivas superfícies.
A capacidade de um rolamento suportar cargas axiais é determinada pelo ângulo de
contacto, a, quanto maior o ângulo, maior a capacidade de suportar carga axial de um
rolamento. O ângulo de contacto pode tomar os seguintes valores:
 0º: Para rolamentos fixos de esferas, rolamentos de rolos cilíndricos;
 ≤ 45º: Para rolamentos de contacto angular de esferas, auto
compensadores de esferas, rolamentos de rolos cónicos e auto
compensadores de rolos;
 > 45º: Para rolamentos axiais de rolos esféricos auto-compensadores e
rolamentos axiais de rolos cónicos;
 90º: Para rolamentos axiais de esferas e rolamentos axiais de rolos.
No que respeita à influência do ângulo de contacto  no dimensionamento à fadiga,
sabemos que, dependendo do seu valor, maiores ou menores serão as cargas existentes
pelo que teremos de ter em consideração no dimensionamento à fadiga o seu valor.

5- Relativamente à lubrificação de rolamentos indique:


a) Objectivos com que se faz;
b) Tipos de lubrificante e suas vantagens;
c) Qual deve ser a viscosidade do óleo, referindo os parâmetros que a determinam.
a) Como objectivos principais da lubrificação de rolamentos podem citar-se:
- Evitar o contacto metálico directo entre as superfícies dos elementos do rolamento
(corpos rolantes, anéis de rolamento e gaiolas);

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

- Proteger as superfícies do rolamento contra a corrosão;


- Ajudar a distribuir e a dissipar o calor gerado durante o movimento do rolamento;
- Proteger o rolamento contra a contaminação por partículas estranhas.

b) São usados como lubrificantes de rolamento tanto óleos como massas minerais. As
massas de lubrificação devem ser usadas em detrimento do óleo, por exemplo, quando se
utilizam eixos inclinados ou verticais. Por outro lado, contribui para evitar a
contaminação do rolamento por partículas estranhas, humidade e água. No caso de
indústrias alimentares e têxteis, o risco de contaminação dos produtos é também muito
menor. Quando se utilizam apoios simples num veio a utilização de massa é normalmente
a solução utilizada. Têm ainda a vantagem de poderem operar por longos períodos de
tempo sem necessidade de manutenção.
Como limitações à utilização das massas lubrificantes podemos citar os limites de
temperatura de funcionamento (menor que 100°C) e de velocidade de rotação (devido ao
consequente aumento da temperatura). A quantidade de massa lubrificante não deve ser
excessiva para não causar um aumento desfavorável da temperatura; sobretudo quando o
rolamento gira a altas velocidades.
As massa de lubrificação de rolamentos são constituídas por um óleo mineral ou
sintético e por um sabão, normalmente de natureza metálica. Por vezes são incorporados
aditivos que melhoram algumas das suas propriedades.
A utilização do óleo como lubrificante de rolamentos deve ser feita somente nas
seguintes condições:
- Quando a elevada velocidade de rotação ou as altas temperaturas de
funcionamento não permitem o uso de massa;
- Quando é necessário evacuar o calor gerado pelo rolamento ou de origem externa;
- Quando outros órgãos adjacentes da máquina, por exemplo engrenagens, estão
lubrificados com óleo.

c) A selecção do óleo lubrificante é feita tendo em consideração a sua viscosidade. Em


função das dimensões do rolamento e da velocidade de rotação, há uma viscosidade
mínima que deve ser garantida à temperatura de funcionamento. Por outro lado, a

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

utilização de um óleo com a viscosidade mais elevada, apesar de melhorar a duração do


rolamento, faz aumentar a temperatura de funcionamento do óleo com a consequente
aceleração do envelhecimento deste. Há, portanto, limites superiores e inferior para a
viscosidade do óleo a utilizar.

6- Fez-se a selecção de um rolamento para uma dada aplicação, porém este falhou
prematuramente. Aponte as causas possíveis justificando sucintamente.
A falha prematura pode ter uma ou várias das seguintes causas possíveis:
- Critério de ruína inadequado no que respeita ao tipo de aplicação (ruína por fadiga
ou por deformação permanente) ou ao cálculo da carga equivalente;
- Presença de cargas imprevistas no que respeita à intensidade, direcção ou tipo
(contínua ou intermitente);
- Presença de contaminantes, nomeadamente se o lubrificante é líquido ou se não
existe blindagem;
- Lubrificação inadequada em termos de viscosidade ou caudal;
- Temperatura de serviço elevada devido a velocidade elevada ou lubrificação
inadequada.

7- a) Defina carga dinâmica equivalente. Como se calcula? Como se considera a sua


influência na vida à fadiga dos rolamentos?
b) Diga o que entende por rolamento separável. Dê dois exemplos. Quais as
vantagens de utilizar um rolamento separável?
a) Uma vez que a capacidade de carga dinâmica é baseada numa carga puramente radial
para rolamentos radiais e puramente axial para rolamentos axiais, toma-se necessário
definir uma carga dinâmica equivalente P como uma carga hipotética, constante em
grandeza e direcção, que actua radialmente sobre um rolamento radial ou axialmente e
centrada sobre um rolamento axial, e que teria o mesmo efeito na duração do rolamento
que as cargas reais a que o rolamento está efectivamente sujeito. É calculada a partir da
seguinte expressão: P=X Fr +Y Fa, onde:
P -Carga dinâmica equivalente;
Fr -Carga radial;

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

Fa – Carga axial;
X -Factor de carga radial;
Y -Factor de carga axial.
Os valores de X e Y são indicados nos catálogos de rolamentos para cada tipo e
dimensão de rolamento. A influência da carga equivalente na vida à fadiga (vida
p
C 
nominal) de um rolamento é tida em conta pela expressão: L10    .
 p

b) Os rolamentos separáveis são rolamentos em que os anéis internos podem ser


montados independentemente dos anéis externos. Exemplos de rolamentos separáveis são
os rolamentos de rolos cilíndricos e de rolos cónicos. A vantagem deste tipo de
rolamentos é que os que a possuem são mais facilmente montados e desmontados. Este
tipo de rolamentos são recomendados se ocorrerem frequentes montagens e
desmontagens.

8- a) Escreva a equação de Palmgren, explicando o seu significado. Defina


capacidade dinâmica de carga tendo como base esta equação.
b) Defina capacidade de carga estática.
a) Como se sabe da teoria da fadiga, quanto mais elevada é a tensão máxima aplicada,
menor é a vida de um componente. Palmgren determinou experimentalmente a relação
entre as vidas L1 e L2 de dois grupos idênticos de rolamentos solicitados por cargas
p
L F 
diferentes F1 e F2 como sendo: 1   2  sendo p um expoente que depende da forma
L2  F1 

dos corpos rolantes: p = 3 para rolamentos de esferas e p = 10/3 para rolamentos de


rolos. Com vista à selecção de rolamentos, é necessário conhecer qual a carga suportável
para uma determinada vida. Assim, define-se como capacidade de carga dinâmica, C,
como uma carga radial constante que um grupo de rolamentos aparentemente idênticos,
podem suportar para uma vida nominal L10 de um milhão de rotações.

b) A capacidade de carga estática, Co, define-se como a carga à qual corresponde uma
tensão calculada no centro da superfície de contacto mais carregada (a que está sujeita a

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

uma maior carga) entre os corpos rolantes e as pistas de rolamento. Esta tensão de
contacto produz uma deformação permanente total do elemento rolante e das pistas de
rolamento que é de aproximadamente 0,0001 do diâmetro do elemento rolante. As cargas
utilizadas na definição de Co são puramente radiais para rolamentos radiais e puramente
axiais para rolamentos axiais.

9- Quais os modos de ruína de rolamentos. Justifique sucintamente a sua


ocorrência.
Os modos de ruína em rolamentos são: Ruína por deformação plástica, por fadiga e por
desgaste ou gripagem (estes dois últimos modos de ruína são originados pelo
aquecimento, pela falta de lubrificação, contaminação ou montagem incorrecta).

10- Os corpos rolantes são componentes fundamentais de um rolamento.


a) Quais as formas dos corpos rolantes?
b) Qual a influência que o número, a forma, tamanho, e a uniformidade de tamanho
dos corpos rolantes têm na capacidade de carga de um rolamento?
a) Os corpos rolantes podem ser: esferas, rolos (cilíndricos, cónicos ou esféricos) e
agulhas.

b) A capacidade de carga de um rolamento é função de: número, forma, tamanho, e


uniformidade de tamanho dos corpos rolantes. Quanto maior a capacidade de carga de um
rolamento, maior o número de corpos rolantes, maior o seu tamanho e maior a sua
uniformidade de tamanho. Os rolamentos de dupla carreira de esferas possuem em cada
anel duas pistas. A sua capacidade de carga radial é superior aos de uma carreira de
esferas e capacidade de carga axial é reduzida. Os rolos cilíndricos admitem cargas
radiais maiores que as esferas, no caso de rolamentos radiais, embora as cargas axiais
venham reduzidas. Os rolos cónicos combinam as características de cilindros e esferas,
admitindo combinações de cargas axiais e radiais elevadas tanto em rolamentos axiais
como em radiais.

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

11- a) Compare um rolamento de rolos cónicos com um rolamento rígido de esferas


de dimensão idêntica quanto a:
 Capacidade de carga axial e radial;
 Adaptabilidade angular;
 Compacidade;
 Custo;
 Limite de rotação;
 Ruído;
 Facilidade de montagem.
b) Como se considera a influência do lubrificante na vida dos rolamentos à fadiga?
a) Os rolamentos de rolos cónicos combinam as vantagens dos rolamentos de esferas e
dos rolamentos de rolos cilíndricos, já que podem admitir cargas radiais, axiais ou
qualquer combinação de ambas, e têm uma elevada capacidade de carga. O anel interno e
o externo pode ser montados em separado. Como estes rolamentos admitem cargas axiais
somente num sentido, é normalmente necessário um outro rolamento em posição oposta
para permitir contra-apoio, obtendo-se assim montagens em "X' e em "O".
Os rolamentos rígidos de esferas são caracterizados por uma boa capacidade de
carga radial e axial, reduzida adaptabilidade angular (menor que 5-6', dependendo da
série do rolamento e do nível de carga) e elevado limite de velocidade angular. A
utilização de um orifício lateral de enchimento criado nos anéis interno e externo, permite
inserir um maior número de esferas, aumentando assim a capacidade de carga radial.
Porém, a capacidade de carga axial é reduzida devido à interferência das esferas com a
extremidade do orifício de enchimento quando é aplicada uma carga axial. Este tipo de
rolamento tem, também um baixo preço e é de fácil montagem.

b) Para que os rolamentos funcionem com fiabilidade, é necessário que sejam


lubrificados adequadamente a fim de evitar o contacto metálico entre os corpos rolantes,
pistas e gaiola, prevenir o desgaste, além de proteger as superfícies do rolamento contra a
corrosão. A escolha do lubrificante e do método de lubrificação adequada para cada
aplicação de rolamentos é, portanto, de extrema importância, assim como uma correcta
manutenção.

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

12- Considere os rolamentos representados na figura. Saliente as suas características


principais.

1- Rol

1- Rolamento fixo de uma carreira de esferas: Este tipo de rolamento é caracterizado por
uma boa capacidade de carga radial e axial, reduzida adaptabilidade angular (menor que
5-6', dependendo da série do rolamento e do nível de carga) e elevado limite de
velocidade angular. Este tipo de rolamento tem, também, um baixo preço e é de fácil
montagem.
2- Rolamento auto compensador de esferas: Compensa desalinhamentos
decorrentes da deflexão do veio e de desalinhamentos dos apoios (erros de montagem).
Este tipo de rolamento apresenta uma pista externa de forma esférica côncava e duas
carreiras de esferas. São recomendados para situações onde se exige uma boa
adaptabilidade angular (até 4°), com cargas radiais e axiais reduzidas.
3- Rolamento axial de esferas de escora simples: Admite carga axial elevada e
carga radial nula e o limite de rotações é médio, devido ao efeito desfavorável da força
centrífuga. Os rolamentos axiais devem ser pré-carregados com uma força axial,
dependente da velocidade de rotação e de uma constante, especificada para cada
dimensão de rolamento.
4- Rolamento de rolos cilíndricos: Permite uma maior capacidade de carga radial do
que os rolamentos de esferas de igual dimensão, em virtude da sua maior área de
contacto. Geometricamente, o contacto faz-se segundo uma linha, nos rolamentos de
rolos cilíndricos, em vez de um ponto, nos rolamentos de esferas e, portanto, sob a acção
da carga aplicada, a área de contacto terá uma forma rectangular em vez de uma forma
circular. Porém, este tipo de rolamentos tem a desvantagem de requerer uma quase

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

perfeita geometria dos rolos e das pistas e, portanto, exigir um perfeito alinhamento dos
apoios e elevada rigidez dos veios.
Os rolamentos de rolos cilíndricos são separáveis, o que facilita bastante a sua
montagem e desmontagem. Os anéis internos e externos podem apresentar um, dois ou
nenhum rebordo nas suas extremidades, dando origem aos vários tipos de construção
destes rolamentos. Por conseguinte, apenas alguns tipos de construção destes rolamentos
permitem absorver esforços axiais.
5- Rolamento de agulhas: São rolamentos de rolos cilíndricos fabricados com rolos
longos, relativamente ao seu diâmetro, algumas vezes destinados a trabalhar na superfície
endurecida de um veio ou de um furo. Neste caso, eles são fornecidos, respectivamente,
sem o anel interno ou externo. São aplicados como rolamentos livres (separáveis) e
consistem em um ou dois anéis e uma coroa de agulhas com gaiola. A característica
principal destes rolamentos é a sua elevada capacidade de carga, combinada com uma
igualmente elevada compacidade radial. Permitem transmitir potências elevadas em
espaço reduzido.
6- Rolamento de rolos cónicos: Nos rolamentos de rolos cónicos, os elementos
rolantes são troncos de cone de tal modo desenhados que o movimento relativo entre os
rolos e as pistas é de rolamento puro, sem deslizamento. Combinam as vantagens dos
rolamentos de esferas e dos rolamentos de rolos cilíndricos, admitindo cargas radiais,
axiais ou combinações de ambas, até valores elevados. O anel interno e o externo pode
ser montados em separado. Como estes rolamentos admitem cargas axiais apenas num
sentido, é normalmente necessário um outro rolamento em posição oposta para permitir
contra-apoio, obtendo-se assim montagens em "X" e em "O".

13- a) Quais os parâmetros a ter em conta na selecção do tipo de rolamento?


b) Numa dada aplicação de rolamentos existe carga axial e carga radial. Que
rolamento consideraria utilizar? (Considere diferentes razões carga axial/carga
radial).
a) Os parâmetros a ter em consideração na selecção do tipo de rolamento são:
- Tipo de máquina movida e motora;

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

- As condições de trabalho: frequência rotacional e carga (magnitude, axial/radial,


direcção e o tipo de choque);
- O espaço disponível;
- A temperatura de serviço;
- As condições ambientais (se se trata, por exemplo, de um ambiente corrosivo);
- A disposição do eixo onde vão ser instalados os rolamentos (vertical, inclinado ou
horizontal);
- A rigidez das peças (veio e caixa).

b) Dadas as cargas existentes usaria um rolamento rígido de esferas ou um de rolos


cónicos ou mesmo um rolamento de contacto angular.

14- a) Comente a seguinte afirmação: “Os rolamentos rígidos de esferas são os


melhores rolamentos e por isso são os mais utilizados”.
b) Fale no método térmico de montagem de rolamentos.
a) A afirmação pode ser considerada verdadeira visto que neste tipo de rolamento:
- A carga radial e a carga axial são boas;
- A adaptabilidade angular é baixa;
- O limite de velocidade é baixo;
- O custo é baixo;
- O ruído também é relativamente reduzido;
- É o tipo de rolamento com maiores aplicações, apesar de no processo de selecção
de rolamentos termos de ter em consideração todos os factores necessários para a sua
escolha.

b) O método térmico é usado para rolamentos de maior dimensão com furo cilíndrico que
nem sempre podem ser montados a frio, já que a força necessária à montagem do
rolamento aumenta com o seu tamanho. O método térmico consiste em pré-aquecer o
rolamento para a montagem do anel interno, ou do alojamento (por exemplo, os cubos de
roda) para a montagem do anel externo. A diferença de temperatura entre o aro do
rolamento e o veio ou alojamento depende do grau de aperto e diâmetro de assentamento

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

do rolamento. Nos catálogos de rolamentos são apresentados diagramas que permitem


obter esses valores. Porém, em nenhum caso se deve aquecer um rolamento acima de 125
°C, para que não ocorram alterações dimensionais. Os rolamentos com placas de
protecção e vedação, em virtude de virem de fábrica lubrificados para a vida com massa,
não devem ser aquecidos.

15- a) Considere as expressões seguintes que designam rolamentos:


21309E.TVPB
E.51210

Divida estas designações nos seus campos fundamentais, indicando a


informação contida em cada um deles.
b) Em condições idênticas de funcionamento, a vida à fadiga de rolamentos
comercialmente idênticos varia significativamente. Como se considera normalmente
esta incerteza no dimensionamento dos rolamentos à fadiga? O que justifica a
dispersão de vidas?
c) Alguns rolamentos radiais de esferas têm um rasgo num dos anéis. Porquê? Esse
rasgo afecta a capacidade de carga axial do rolamento? Nos rolamentos axiais de
esferas não é necessário ter esse rasgo. Porquê?
a) A designação completa de um rolamento consiste numa designação básica e pode
incluir uma ou mais designações suplementares. Geralmente a designação básica consiste
numa identificação do tipo de rolamento, da série de largura e da série do furo. As
designações suplementares são localizadas antes (prefixo) ou depois (sufixo) da
designação básica. Os prefixos indicam componentes do rolamento. Os sufixos são
utilizados para indicar desenhos (variantes) que diferem de alguma maneira do desenho
original ou que diferem da execução padrão. Para exemplificar, consideremos:

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

b) Essa incerteza considera-se tendo em conta a probabilidade de ocorrência de um


determinado dano de fadiga. A dispersão de vidas pode-se explicar pelo facto de não se
poderem fabricar dois ou mais rolamentos exactamente iguais, daí o uso da probabilidade
de falha por fadiga.

c) A utilização de um orifício lateral de enchimento criado nos anéis interno e externo,


permite inserir um maior número de esferas, aumentando assim a capacidade de carga
radial. Porém, a capacidade de carga axial é reduzida devido à interferência das esferas
com a extremidade do orifício de enchimento quando é aplicada uma carga axial. Nos
rolamentos axiais de esferas não é necessário ter esse rasgo porque já admitem elevadas
cargas axiais e cargas radiais nulas. Além disso, o tipo de montagem das suas partes
constituintes é diferente.

16- Comente a seguinte afirmação: "Todos os rolamentos são constituídos por um


anel externo, um anel interno, corpos rolantes e gaiola."
A afirmação é falsa. Há rolamentos que não têm anel interno ou externo que são
destinados a trabalhar à superfície de um veio ou de um furo, respectivamente. Nesse
caso o veio ou o furo devem ter uma superfície endurecida. Em alguns tipos de
rolamentos, não existe gaiola, como por exemplo, em rolamentos de muito pequena
dimensão e em alguns rolamentos de rolos cilíndricos. Por outro lado, há rolamentos que
têm componentes adicionais, por exemplo, blindagens.

17- Indique as principais vantagens das chumaceiras de rolamentos em relação aos


outros tipos de chumaceiras.

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Capítulo 1 – Rolamentos Complementos de OM e Anteprojecto

O termo “chumaceira de rolamento”, por vezes também designado por chumaceira anti-
fricção, é usado para descrever uma classe de chumaceiras na qual a carga principal é
transferida entre os elementos através de contacto por rolamento no lugar de um contacto
por escorregamento. Deste facto resulta que o atrito no início do movimento é pouco
superior ao que se verifica em regime de operação, podendo dizer-se que o coeficiente de
atrito varia pouco com a carga e a velocidade. Em contraste, nas chumaceiras de
escorregamento, o atrito metal com metal que se observa no arranque faz com que o
coeficiente de atrito varie muito com a velocidade de rotação. Pode, assim, dizer-se que
uma das principais vantagens das chumaceiras de rolamento em relação às de
escorregamento é o seu baixo atrito na fase de início de movimento, o que as torna
particularmente indicadas para aplicações onde se verificam paragens e partidas
frequentes sob acção de carga.
Comparando os dois tipos:
- As chumaceiras de rolamento têm a capacidade de suportar esforços axiais e
radiais (nalguns tipos);
- Ocupam menor espaço axial mas maior espaço radial que as chumaceiras de
escorregamento;
- Requerem pouco lubrificante e pequena manutenção;
- São mais ruidosas e mais caras e têm vida limitada, excepto em condições de
funcionamento especiais, devido às elevadas tensões de contacto que se verificam nas
suas pistas, de forma repetida, tendo como consequência uma eventual ruína por fadiga.
As vantagens e desvantagens entre estes dois tipos de chumaceiras fazem com que
cada uma delas seja mais apropriada para algumas aplicações, não se podendo afirmar
que uma delas é melhor que a outra. As chumaceiras de rolamento são um dos tipos de
componentes mecânicos que o projectista não dimensiona, apenas selecciona a partir do
catálogo do fabricante.

16
Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

2- Correias e Correntes

1- a) Considere a figura onde se representa a secção transversal de uma


transmissão por correia. Saliente as características que deve ter cada um dos
materiais (A e B). Qual a posição correcta do material B? Justifique.

b) Fale dos dispositivos de montagem e pré-tensão em transmissões por correia.


a) A correia representada é do tipo trapezoidal. A forma como são construídas varia de
fabricante para fabricante, com o tamanho da secção, esforços e até o ambiente em que
vão trabalhar. As mais comuns são constituídas por uma alma em borracha rígida com
boa aderência e resistência ao desgaste, contendo no seu interior cabos tensores
construídos em algodão, fibra sintética e em cabos especiais de aço ou fibra. Na figura
apresentada, a notação A diz respeito às de borracha e a notação B diz respeito a cabos
tensores construídos em algodão, fibra sintética e em cabos especiais de aço ou fibra.
A posição correcta do material B é a figura do meio, visto que esta disposição evita
o fenómeno de fadiga que ocorre devido a tensões de natureza cíclica. Como as correias
trapezoidais possuem espessura reduzida, as tensões de flexão serão mais elevadas, o que
contribui bastante para o fenómeno de fadiga. Para o evitar, os cabos tensores são
posicionados junto à linha neutra da secção transversal da correia (figura do meio).

b) Devido à necessidade de existência de forças de atrito para que se dê a transmissão de


potência desejada, é necessário que durante a montagem, as correias (planas ou
trapezoidais) fiquem submetidas a uma certa pré-tensão. Este valor de pré-tensão depende
da potência a transmitir, da velocidade linear da correia e do ângulo de contacto ou

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

abraçamento. No entanto, obedece a limites inferiores para evitar o fenómeno de


escorregamento e superiores para não sobrecarregar os apoios e a própria correia.
Existem vários métodos ou dispositivos para a aplicação de um dado valor de pré-
tensão:
- Um desses dispositivos é o caso do entre-eixo variável através do deslocamento do
eixo de uma das polias;
- Um outro dispositivo é o uso de uma polia tensora, quando não conseguimos
variar o entre-eixo através do seu deslocamento. Este dispositivo tem como grande
vantagem o facto de, comparativamente ao anterior, poder aumentar o ângulo de
contacto. Como desvantagem destaca-se o facto de introduzir tensões alternadas que, por
sua vez, são mais prejudiciais que as tensões cíclicas;
- Finalmente, temos também as chamadas transmissões Rockwood (ou de montagem
suspensa), onde o motor é colocado sobre uma base articulada, ficando o esticamento
garantido mesmo que estejamos perante cargas severas como é o caso de choques
bruscos. A grande vantagem deste dispositivo relativamente aos anteriores é o facto de
permitir uma regulação constante da força de pré-tensão em função da potência a
transmitir, o que se traduz num aumento da vida para a correia e um menor esforço nos
veios e chumaceiras.

2- a) Escreva a equação de Eytelwein. Indique o significado desta equação e de cada


um dos símbolos utilizados.
b) Comente a afirmação: “As polias não devem ser nem muito grandes nem muito
pequenas”.
a) A equação de Eytelwein é definida por: T1e/ T2e=e^(1), cujos símbolos têm o
seguinte significado:
T1e – Tensão eficaz no ramo tenso;
T2e – Tensão eficaz no ramo bambo;
 – Coeficiente de atrito correia/polia;
1 – Ângulo de abraçamento no tambor motor.

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

b) A afirmação é verdadeira. Para uma dada potência a transmitir, o esforço útil será tanto
menor quanto maior for a velocidade linear, V, da correia o que é conseguido com um
diâmetro primitivo maior da polia motora. No entanto existem limitações quanto ao
diâmetro primitivo das polias, resultantes de: maior custo, limitações de espaço e maiores
forças centrípetas as quais virão adicionadas à força útil diminuindo a capacidade de
transmissão de potência da correia, pelo que as polias não devem ser muito grandes nem
muito pequenas.

3- Considere uma aplicação em que se pretende transmitir a potência entre um


motor de combustão interna mono-cilíndrico e uma bomba centrífuga. A potência a
transmitir é de 6 c.v., não sendo fundamental ter uma relação perfeitamente
constante. Esta bomba vai ser utilizada para tirar água de um rio, com fins
agrícolas. Pretende-se uma solução compacta e barata. Que tipo de transmissão
sugere. Justifique.
Para o problema apresentado sugiro a utilização de uma correia trapezoidal para efectuar
a transmissão já que nos é pedida uma solução compacta, o que pode ser conseguido com
este tipo de transmissão visto que tem um entre-eixo reduzido. Em termos de custos é
também aconselhável a correia uma vez que são mais baratas que as correntes.
Relativamente à transmissão de potência não haverá qualquer inconveniente pois este tipo
de transmissão pode transmitir até uma potência na ordem dos 100 kW. Tem ainda a
vantagem de não necessitar de lubrificação, o que não acontece no caso das correntes e o
ruído é também menor.

4- a) Indique quais os modos de ruína de transmissões por correias trapezoidais em


condições normais de funcionamento? Justifique sucintamente a sua resposta.
b) Considere a expressão relativa às transmissões por correia:
T1  T2 1 Q  1 P q 2
T0    v
2 2 Q 1 v g
i) Diga qual o significado dos símbolos indicados

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

ii) Diga como deve variar T0 se: aumentarmos a velocidade angular;


considerarmos um entre-eixo maior; aumentarmos a secção da correia;
aumentarmos o diâmetro da polia menor.
iii) Esta equação é aplicável às transmissões por correia dentada? Justifique.
iv) Justifique a existência de um valor recomendado para T0. Quais os modos
de ruína que estão associados a valores exageradamente altos e baixos de
T0 ?
a) Em condições normais de funcionamento, os modos de ruína de transmissões por
correias trapezoidais são:
- O desgaste das superfícies laterais aderentes: consequência de um
escorregamento excessivo. Este último assume valores comportáveis se não houver uma
solicitação excessiva ou um pré-tensionamento inadequado, ou ainda se não houver uma
incorrecta manutenção. De forma a reduzir este desgaste deve-se escolher polias com
bons acabamentos superficiais;
- A rotura por fadiga: esta rotura é resultante da variação cíclica das tensões entre
os ramos tenso e bambo, a que se sobrepõem as tensões de flexão que são também
originadas pelas cargas cíclicas.

b) i. O significado e cada um dos símbolos intervenientes na expressão apresentada é o


seguinte:
T0 – Força de pré-tensionamento;
T1 – Força total no ramo tenso;
T2 – Força total no ramo bambo;
Q – Razão de tensões;
P – Potência transmissível;
V – Velocidade periférica da correia;
q – Peso por unidade de comprimento da correia;
g – Aceleração da gravidade.
ii. Se aumentarmos a velocidade angular, w: Maior será o valor da velocidade periférica,
V, maior será a força centrípeta, Fc (Fc=m.V^2/r e V=wr) e como tal maior será a força de
pré-tensionamento, T0.

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

Se considerarmos um entre-eixo maior então termos de também aumentar a força de


pré-tensionamento, T0, para que possamos transmitir a potência desejada.
Se, por outro lado, aumentarmos a secção da correia, maior será a potência que
poderá ser transmitida e, consequentemente, maior terá que ser a força de pré-
tensionamento, T0, para que consiga “compensar” esse aumento de potência para que não
ocorra o escorregamento.
Se aumentarmos o diâmetro da polia menor estamos a aumentar o seu raio e, como
mv 2
tal, maior será a força centrípeta, Fc ( Fc  e v   r ) e como tal maior será a força
r
de pré-tensionamento, T 0 .
iii. Não, esta equação não é aplicável às transmissões por correia dentada visto que nestas
últimas o escorregamento é nulo devido à existência de dentes e a existência de T0 é
justificada pela necessidade de obtenção de uma dada força que evite o escorregamento.
iv. A existência de um valor recomendado para T0 é justificada pela necessidade de
obtenção de uma dada força que evite o escorregamento e por outro lado que evite
demasiados esforços sobre os veios, o que implicaria uma vida mais curta para a correia.
Para valores exageradamente altos de T0 o modo de ruína que ocorrerá será por
desgaste. Por outro lado, para valores exageradamente baixos de T0 o modo de ruína que
ocorrerá será for fadiga.

5- a) Indique as características mais importantes de uma transmissão por correia


dentada, que a distinguem das outras transmissões. Qual o modo de ruína mais
frequente?
b) Considere uma transmissão por correia trapezoidal em que não ocorre
escorregamento. Qual o efeito na vida da correia do aumento do entre-eixo, do
aumento da pré-tensão, do aumento dos diâmetros das polias e da utilização de uma
polia pré-tensora? Justifique.
c) Quais os aspectos a ter em conta na selecção do número de dentes do pinhão de
uma transmissão por corrente? Justifique.
a) As correias dentadas são constituídas por um núcleo metálico interior (armação) que,
por sua vez, é constituído por várias superfícies helicoidais de cabos metálicos com fios

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

elementares em aço, cuja carga de rotura é superior a 2000 MPa. Este tipo de correia
assegura uma grande precisão de transmissão de movimento devido à ausência de
escorregamento, ao contrário das planas e das trapezoidais onde este fenómeno esta
presente. Comparativamente às transmissões por correntes, as correias dentadas têm a
vantagem de ter um funcionamento silencioso e permitem velocidades periféricas muito
superiores. Além disso, resistem melhor às condições ambientais (poeiras e humidades),
não necessitando de dispositivos de protecção o que não acontece nas correntes. No
entanto, são menos resistentes às temperaturas de operação/funcionamento
comparativamente às correntes. No que respeita a custos, as correias dentadas têm um
preço mais acessível do que as correntes e, relativamente aos choques, apresentam
também uma melhor prestação ou capacidade de resistência. Como inconveniente, têm
também o facto de não conseguirem transmitir potências tão elevadas como as correntes.
O modo de ruína mais frequente em correias dentadas é por fadiga.

b) O efeito na vida de uma correia trapezoidal em que não ocorre escorregamento


aquando:
- Do aumento do entre-eixo: ocorre um aumento do comprimento a correia terá
um menor número de passagens pelas polias diminui o número de vezes que as secções
das correias são sujeitas à flexão aumenta a vida da correia;
- Do aumento do diâmetro: diminui o número de vezes que as secções das correias
são sujeitas à flexão aumenta a vida da correia;
- Da existência de uma polia pré-tensora: são introduzidas tensões alternadas que,
por sua vez, são mais prejudiciais que a tensões repetidas originadas ciclicamente
diminui a vida da correia.

c) Os aspectos a ter em conta na selecção do número de dentes do pinhão de uma


transmissão por corrente são:
I – O número de dentes a considerar deve ser ímpar para assegurar um desgaste
uniforme uma vez que as correntes têm, normalmente, um número par de elos;
II – O número de dentes deve ser superior a 17 para evitar o efeito da oscilação da
velocidade linear da corrente (efeito poligonal);

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

III – Não introduzir um número de dentes elevado tem como desvantagem o facto
de provocar maiores forças centrípetas diminuindo assim a eficiência da transmissão.
Como tal, o número de dentes deve ser inferior a 120 para que se garanta um total
engrenamento.

6- Explique em que consiste o efeito poligonal numa transmissão por correntes de


rolos. Determine a variação da sua velocidade longitudinal. Como pode ser
diminuída essa variação.
Ao considerarmos a figura a seguir apresentada, podemos verificar que, durante o
engrenamento da corrente com o pinhão, a corrente está sujeita a dois movimentos
simultâneos de velocidades variáveis e desfasadas angularmente de um ângulo :

Deste modo, podemos assim verificar que o efeito poligonal consiste na oscilação
da velocidade linear da corrente.
Pelo facto de a corrente estar sujeita a dois movimentos simultâneos de velocidade
(um movimento de avanço no sentido longitudinal de velocidade v1 e um movimento de
oscilação no sentido transversal de velocidade v2) podemos então determinar a sua
variação de velocidade longitudinal, v1, através da expressão a seguir apresentada:

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

v1  v  cos   
 Z1 
Em que:
 v 1 - Velocidade longitudinal;
 v - Velocidade tangencial uniforme;

    - Corresponde ao ângulo  , já que este último varia


 Z 
 1

entre     e     ;
 Z1   Z1 
 Z 1 - Número de dentes do pinhão.
De forma a diminuir a variação dessa velocidade longitudinal devemos aumentar o
seu número de dentes, como podemos verificar no gráfico a seguir apresentado:

7- Descreva as variações de tensão que ocorrem numa correia durante uma rotação
completa desta.
As correias, ao longo do seu comprimento, estão sujeitas a diferentes esforços, estando
cada ramo da correia sujeito a tensões devidas aos esforços T1 e (ramo tenso) e T1 2 (ramo

bambo) e à força centrífuga, assim como a tensões de tracção e tensões de flexão, em que

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

estas últimas ocorrem desde o início de contacto da correia com as polias, até ao
momento em que esse contacto termina.
Durante uma rotação completa da correia, cada secção desta sofre 4 flexões
instantâneas no momento em que entra em contacto com as polias e quando esse mesmo
contacto termina, como se pode verificar na figura a seguir apresentada:

8- Comente a seguinte afirmação: “Numa transmissão por correia trapezoidal deve


utilizar-se sempre o menor entre-eixo possível bem como as polias de diâmetro
pequeno.”
A afirmação é incorrecta. De facto, as correias trapezoidais têm por si só um entre-eixo
reduzido. Sendo a fórmula da potência transmissível numa correia dada por: Pt= Pb.G.CL,
em que:
- Pb: Potência básica
- G: Factor de ângulo de contacto
- CL: Factor de comprimento da correia
Então vemos que devido ao factor CL, que tem em consideração a influência do
comprimento da correia na duração da sua vida útil, que quanto maior for o comprimento
da correia menor será o número de ciclos de fadiga a que fica submetida uma dada secção
transversal dessa mesma correia. Como o entre-eixo é uma função do comprimento da
correia, quanto menor for a correia maior será o número de ciclos de fadiga.

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

Com a utilização de polias de diâmetro pequeno, sabemos que para uma certa
potência a transmitir, o esforço útil sobre a correia é tanto menor quanto maior for a
velocidade linear da correia, V, e, como tal, quanto maior for o diâmetro primitivo da
polia motora menor será o esforço útil provocado na correia, contrariando deste modo o
que foi dito no enunciado. Se o diâmetro da polia for muito pequeno, a correia ficará
sujeita a um grande esforço útil e, consequentemente, menor será a potência que esta
poderá transmitir. É também importante ter em atenção que a escolha de diâmetros
elevados de polias implica um custo elevado, limitações de espaço e maiores forças
centrípetas, as quais virão adicionadas à força útil diminuindo assim a capacidade de
transmissão de potência da correia. Daí a razão pela qual existe um valor limite para a
velocidade linear.

9- Comente a afirmação: “Para aumentar a potência transmissível por uma


transmissão por correias trapezoidais basta aumentar a sua secção da correia, tal
como se ilustra na figura. O mesmo acontece para as correias planas e as correias
dentadas.”

A afirmação é verdadeira, apesar de existirem outras formas de o fazer: mantendo a


geometria, as velocidades e a tensão no ramo tenso através da razão de tensões, Q, e
aumentando 1 (através da introdução de uma polia tensora) e aumentando o coeficiente
de atrito,  (através da escolha de um outro tipo de material para a correia e para a polia).

10- Compare as características de desempenho dos diferentes tipos de transmissão


que estudou (por correias).
Quando se tem de transmitir potência de um eixo para outro a uma distância tal que o
emprego de engrenagens não é aconselhável por qualquer razão técnica ou económica,
usa-se muitas vezes a transmissão por correias.
O tipo de correias a usar depende de vários factores entre os quais se inclui a necessidade,
ou não, de manter uma relação de transmissão rigorosa.

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

Assim usam-se correias planas ou trapezoidais quando a razão de transmissão não


necessita de ser rigorosamente mantida e correias dentadas quando a relação de
transmissão deve ser rigorosamente mantidas.
Por outro lado, as correias trapezoidais apresentam limites superiores de
velocidades periféricas (devido à força centrífuga) e inferiores (devido ao
escorregamento) no que respeita aos valores máximo de binário e potência transmissível,
as correias trapezoidais são tipo de transmissão mais limitado.
As correias trapezoidais e dentadas devem ser usadas entre eixos paralelos e de
preferência horizontais, enquanto que as correias planas podem ser montadas entre eixos
não complanares com ou sem inversão de sentido.
Todas as correias apresentam boa resistência às condições ambientais (humidade e
poeiras) não necessitando de dispositivos de protecção.
Quanto à temperatura, todas as correias se revelam muito pouco resistentes.
Constituem o tipo de transmissão mais económico e menos compacto. Necessitam, em
geral, de uma elevada distância entre eixos, obtendo-se soluções mais compactas com a
utilização de correias trapezoidais. Apresentam a desvantagem de obrigarem a um
ajustamento do entre eixo e de pré-tensão. As correias dentadas permitem melhor
compacidade mas maior custo e dispensam a pré-tensão.
As correias planas revelam-se especialmente adequadas para grandes distâncias
entre eixos. As correias planas por serem menos solicitadas à flexão pelas cargas
alternadas têm uma duração em serviço superior às correias trapezoidais e absorvem
melhor os choques.
As correias dentadas são as que apresentam uma vida mais baixa devido à rotura
por fadiga do pé dos dentes onde se registam grandes concentrações de tensões, resistem
mal aos choques.
As correias planas e trapezoidais em virtude do, sempre existente, escorregamento
entre a polia e a correia não conseguem assegurar uma relação de transmissão constante.
As correias dentadas conseguem grande precisão de transmissão já que não existe
escorregamento.
Todos os tipos de correias dispensam grandes cuidados de manutenção à excepção
da verificação periódica na pré-tensão nas correias planas e trapezoidais. Todos os tipos

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

de correias apresentam um funcionamento silencioso mas são muito pouco fiáveis


comparadas cm outros tipos de transmissão.
As correias planas são mais fáceis de montar que as trapezoidais especialmente nos
casos de polias montadas em veios bi-apoiados. As correias trapezoidais são fabricadas
sem-fim.

11- Considere uma transmissão por correia. Diga qual o efeito na potência
transmissível das seguintes alterações:
i) Utilizar correias trapezoidais em vez de correias planas;
ii) Reduzir o entre-eixo;
iii) Reduzir d1 e d2, mantendo a relação de transmissão;
iv) Reduzir d1, aumentando a relação de transmissão;
v) Aumentar a pré-tensão.
Justifique.
i. Utilizar correias trapezoidais em vez de planas: a correia trapezoidal permite obter
tensões normais entre os flancos da correia e as superfícies conjugadas da polia são muito
superiores às que se conseguem com a utilização de correias planas, donde resultam
forças de atrito mais elevadas. Assim sendo, poderemos aplicar maiores potências às
correias planas do que Às trapezoidais, devido ao chamado efeito cunha que retarda o
escorregamento;
ii. Reduzir o entre-eixo: ao diminuir o entre-eixo estamos a diminuir o ângulo de
abraçamento, 1, correia/polia e consequentemente menor será a potência que poderá ser
transmitida.
iii. Reduzir d1 e aumentando a relação de transmissão: o esforço útil sobre a correia é
tanto menor quanto maior for a velocidade linear da correia, V, ou seja, quanto maior for
od diâmetro primitivo da polia motora. Deste modo, ao reduzirmos os diâmetros
primitivos estamos a aumentar o esforço útil sobre a correia e, consequentemente, menor
será a potência transmitida.
iv. Reduzir d1 e d2 mantendo a relação de transmissão: ao diminuir d1 estamos a diminuir
o ângulo de abraçamento, 1, correia/polia e consequentemente menor será a potência que
poderá ser transmitida.

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

v. Aumentando a pré-tensão: a potência transmissível será maior.

12- a) Comente a afirmação: “Consegue-se aumentar a potência transmissível por


uma transmissão por correia utilizando correias trapezoidais, utilizando polias de
diâmetro pequeno ou aumentando a pré-tensão”.
b) Qual o principal modo de ruína das transmissões por correntes? Que parâmetros
determinam a potência transmissível?
a) A afirmação é em parte verdadeira. A escolha de correias trapezoidais implica um
valor para o coeficiente de atrito superior ao das correias planas devido ao efeito de cunha
que se desenvolve nas faces laterais das correias de secção trapezoidal, o que implica
deste modo uma maior potência transmissível.
Com a utilização de polias de diâmetro pequeno, sabemos que para uma certa
potência a transmitir, o esforço útil sobre a correia é tanto menor quanto maior for a
velocidade linear da correia, V, e, como tal, quanto maior for o diâmetro primitivo da
polia motora menor será o esforço útil provocado na correia, contrariando deste modo o
que foi dito no enunciado. Se o diâmetro da polia for muito pequeno, a correia ficará
sujeita a um grande esforço útil e, consequentemente, menor será a potência que esta
poderá transmitir. É também importante ter em atenção que a escolha de diâmetros
elevados de polias implica um custo elevado, limitações de espaço e maiores forças
centrípetas, as quais virão adicionadas à força útil diminuindo assim a capacidade de
transmissão de potência da correia. Daí a razão pela qual existe um valor limite para a
velocidade linear.
No que respeita ao aumento de pré-tensão, este parâmetro faz sentido se estiver
abaixo de um valor limite em que provoca sobretensionamento, pois este último
provocará um esforço excessivo no veio e reduzirá a vida da correia. Deste modo, ao
aplicarmos uma pré-tensão dos limites que são considerados razoáveis, estamos a
aumentar o ângulo de abraçamento, 1, e assim a potência transmissível. Esta pré-tensão
pode ser provocada através de uma polia tensora, por exemplo.

b) O principal modo de ruína de transmissões por corrente é o desgaste que ocorre devido
ao movimento relativo entre os elementos constituintes de uma corrente. De facto, irá

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

haver desgaste na corrente (aumento de folga entre os pares pino/bucha e bucha/rolo), o


que se irá traduzir num aumento do comprimento da corrente. Este aumento, por sua vez,
tem como consequência um enrolamento da corrente em torno do pinhão segundo um
diâmetro superior ao seu diâmetro primitivo. Os parâmetros que influenciam o desgaste
são: a pressão exercida (maior a potência, maior a força exercida e consequentemente
maior será o desgaste), o deslocamento (com o aumento do número de articulações e com
a passagem do tempo maior será o desgaste), a lubrificação e a contaminação (uma
lubrificação deficiente e a contaminação por partículas não desejadas favorecem o
desgaste) e também o material dos quais os constituintes da corrente são feitos.
Os parâmetros que determinam a potência transmissível são: a força útil (Tu) e a
velocidade média da corrente (Vm), visto que P= Tu. Vm.

13- Indique o significado das expressões seguintes e das variáveis envolvidas:


 1 q T1e
P  T1e 1    V T1e  T1  V 2 Q  e 1
 Q g T2 e

a) As variáveis envolvidas nas expressões têm o seguinte significado:


P – Potência transmissível;
T1e – Tensão eficaz no ramo tenso;
T2e – Tensão eficaz no ramo bambo;
V – Velocidade periférica da correia;
Q – Razão entre tensões eficazes;
 – Coeficiente de atrito correia/polia;
1 – Ângulo de abraçamento no tambor motor;
q – Peso por unidade de comprimento da correia;
g – Aceleração da gravidade.

14- Quais os aspectos a ter na montagem de uma transmissão por corrente para que
se verifique um certo funcionamento desta?
Para que se verifique um correcto funcionamento de uma corrente devemos, aquando da
sua montagem, respeitar os seguintes aspectos:

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

- Os veios entre os quais se vai transmitir movimento devem estar paralelos, de


preferência na posição horizontal, e devem rodar evitando o mais possível a flexão;
- A roda e o pinhão devem ser montados em folga na árvore, para evitar a
excentricidade devida ao enchavetamento. Caso isto não aconteça, irá ocorrer ruído e
vibrações especialmente para grandes velocidades;
- O pinhão e a roda devem ser alinhados com o auxílio de um nível, lateralmente;
- A corrente deve ser colocada em funcionamento sem pré-tensão. O ramo bambo
deve ter uma ligeira folga de montagem. Caso a corrente seja montada na vertical, deve
ser bem esticada para evitar o engrenamento no pinhão e na roda;
- Devem também ser respeitados os mecanismos de compensação de desgaste:
deslocamento do entre-eixo de uma das rodas e aplicação de uma polia tensora.

15- Nas motorizadas e motas utiliza-se normalmente uma transmissão por corrente.
Porquê utilizar correntes e não correias ou engrenagens? Pondere os seguintes
aspectos: custo, condições de serviço (limpeza, humidade), necessidade de relação de
transmissão constante, ruído, distância entre eixos, posição relativa dos eixos,
velocidade periférica e potência.
As razões pelas quais se utilizam normalmente transmissões por correntes e não por
correias em motorizadas encontram-se resumidas na tabela a seguir apresentada:

Correias Correntes
Custo Mais acessível Mais Elevados
Condições Resiste melhor a condiçoes ambientais e Exigem lubrificação e resistem mal às
de Serviço não necessita de dispositivos de protecção condiçõesambientais
Não conseguem manter este parâmetro
Relação de Mantêm este parâmetro constante sem perdas
constante
Transmissão
Ruído Funcionamento silencioso Mais ruidoso que as correias
Distância Podem ser usadas em grandes distâncias Usadas em entre-eixos menores do que as
entre Eixos entre eixos correias
Posição
Veios paralelos e de preferência
Relativa dos Só entre veios rigorosamente paralelos
horizontais
Eixos
Velocidade Relativamente elevadas (na ordem dos 90
Relativamente baixas (na ordem dos 17 m/s)
Periférica m/s)
Potência Não tão elevadas como as correntes Permitem maiores potências que as correias

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Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

16- Considere a seguinte figura:


1

3
2

6 6

Indique os nomes dos componentes representados. Entre que componentes


ocorrem desgaste? Em quais é mais importante? De que depende o desgaste ao fim
de um determinado tempo?
O nome dos componentes representados na figura é (de cima para baixo):
1 - Placas exteriores;
2 - Pinos;
3 - Placas interiores;
4 - Buchas;
5 - Rolos;
6 - Placas exteriores.
Os componentes em que ocorrem mais desgaste são nos pares pinos/buchas, pares
buchas/rolos e também ocorrem nos pares roda/corrente (apesar de não se encontrar
representado na figura). Relativamente aos pontos onde ocorre maior desgaste destacam-
se os pontos superiores e inferiores localizados nas rodas segundo um eixo vertical.
O desgaste tem uma maior importância nos pares pinos/buchas e pares buchas/rolos
visto que são os responsáveis pelo aumento do comprimento da corrente (aumento do
passo). Este aumento, por sua vez, tem como principal consequência o do enrolamento da
corrente em torno do pinhão e da roda.
Ao fim de um determinado tempo o desgaste depende da pressão exercida (maior a
potência, maior a força exercida e consequentemente maior será o desgaste), do
deslocamento (com o aumento do número de articulações e com a passagem do tempo

32
Capítulo 2 – Correias e Correntes Complementos de OM e Anteprojecto

maior será o desgaste), da lubrificação e da contaminação (uma lubrificação deficiente e


a contaminação por partículas não desejadas favorecem o desgaste) e também do material
dos quais os constituintes da corrente são feitos.

17- Indique qual a influência das seguintes alterações na potência transmissível por
uma corrente e no efeito poligonal que ocorre nessa corrente:
i) Aumento de Z1;
ii) Tratamento térmico dos componentes que permita endurecimento
superficial;
iii) Aumento de n1;
iv) Aumento de entre-eixo.
Justifique sucintamente onde achar conveniente.
i) Aumento de Z1 na:
- Na potência transmissível: teremos rodas maiores, menor será a força centrípeta, Fc, e
como tal menor será a potência transmissível;
- No efeito poligonal: melhor será este efeito visto que / Z1 irá decrescer e tender para
zero fazendo com que as velocidades transversais e longitudinais fiquem iguais à
velocidade periférica da correia, V (V1=V.cos.(/ Z1)).
ii) Tratamento térmico dos componentes que permita endurecimento superficial:
- Na potência transmissível: teremos maiores quantidades de potência transmissível;
- No efeito poligonal: não haverá qualquer alteração.
iii) Aumento de n1 na:
- Na potência transmissível: como V1=(D1n1)/60 então como o aumento de n1 maior será
a força centrípeta, Fc, e como tal menor será a potência transmissível;
- No efeito poligonal: maiores serão os choques.
iv) Aumento de entre-eixo:
- Na potência transmissível: maiores serão as perdas de potência transmissível;
- No efeito poligonal: não haverá qualquer alteração.

33
Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

3- Engrenagens

1- a) Defina passo axial de um dentado helicoidal e relacione-o com o módulo real.


Qual o valor do passo axial para uma engrenagem de dentado recto?
b) O escorregamento entre os perfis de dente em contacto e consequente desgaste
são inevitáveis?
a) O passo axial de um dentado helicoidal, px, é o passo medido ao longo do eixo
horizontal e relaciona-se com o módulo real, m n, da seguinte forma:
pn
pt cos  p   mn
px    n e como p n    mn  p x  . Numa engrenagem de
tan  sen sen sen
cos 

dentado recto como o ângulo de inclinação, , é igual a zero então: px= (não é definido
porque não há avanço axial).

b) Sim, o escorregamento entre os perfis de dente em contacto e consequente desgaste são


inevitáveis mas podem ser minorados ou por tratamentos superficiais ou reduzindo ao
máximo o valor do escorregamento específico. Deste modo deve-se assim verificar o
equilíbrio de escorregamento específico nos pontos extremos da linha de acção (A e B).

2- a) Fale da interferência em engrenagens, salientando: em que consiste; as suas


consequências; como se evita.
b) Considere as expressões seguintes, que estão relacionadas com o fenómeno da
interferência. Indique o seu significado.

Z
2 Z 2  1 Z
2 cos 
r  sin 2  t  ha
Z 1  Z 2  Z 22  4
sin 2  sin 
2
sin 2  t
a) A interferência verifica-se sempre que o ponto de início de contacto, que ocorre
quando a extremidade do perfil da roda movida contacta o flanco do pé da roda motora, é
anterior à parte em envolvente de círculo do perfil do dente. Ou seja, o início de contacto

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

verifica-se num ponto que é interior ao círculo de base da roda O2, e portanto, numa
porção do flanco de pé do dente que é não envolvente. Nestas condições, o efeito prático
é a impossibilidade de engrenamento das rodas com o entre-eixo normal (folga nula).
Se porventura, se colocassem estas rodas a trabalhar com um entre-eixo
propositadamente maior (folga considerável), o engrenamento era possível, mas a acção
conjugada ficaria limitada e ocorreria um funcionamento ruidoso, com vibrações e um
rápido desgaste das porções não envolventes dos perfis dos dentes.
Para evitar a interferência devemos:
I – Adoptar um maior número de dentes nas rodas. No entanto, a utilização de mais
dentes implica diâmetros primitivos maiores. Como consequência as rodas virão maiores,
donde resulta uma solução menos compacta e mais cara, maiores velocidades do círculo
primitivo e por isso mais ruidosas. Assim esta é uma solução raramente aceitável;
II – Utilização de um maior ângulo de pressão uma vez que o aumento do ângulo
de pressão conduz à redução do raio da base. Como consequência haverá um aumento da
porção envolvente dos perfis dos dentes, que por sua vez implicará uma redução no risco
de interferência. No entanto, prejudica a capacidade de transmissão de potência da
engrenagem e aumenta o ruído.
II – Utilização de correcção de dentado: reduzir a altura de cabeça (saída) do dente
cuja extremidade se encontra a provocar interferência com o flanco do pé dos dentes da
roda conjugada.

2
b) - Z  : Representa o número de dentes limite ao qual corresponde o limiar de
sin 2 
interferência de talhagem. Se quisermos talhar uma roda com um número de dentes Z<
Z’, sem interferência de talhagem, é necessário que, durante o processo de geração de
dentado, se desvie a linha de referência da cremalheira da linha primitiva de talhagem de
uma quantidade xm0, sendo x dado por: xi=(Z’ - Zi)/Z’.

- Z 1  Z 2  Z 22  4
Z 2  1 : Representa o número de dentes do pinhão, de ângulo
sin 2 
de pressão, , e de dentado normal no limiar da interferência teórica, ou seja, o círculo de

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

cabeça da roda passa pelo ponto de tangência da linha de pressão com o círculo de base
do pinhão.
2 cos 
- Z : Representa o número de dentes limite de interferência de talhagem
sin 2  t
em dentado helicoidal.
- r  sin 2  t  ha : Equação que permite obter o número de dentes limite para um
dentado helicoidal.

3- a) Quais os modos de ruína em engrenagens? Onde ocorrem mais facilmente: no


pinhão ou na roda? Justifique.
b) Defina relação de condução, ângulo de inclinação do dentado, relação de
recobrimento. Indique valores usuais.
a) Os modos de ruína em engrenagens podem ser:
- Por desgaste (devido ao movimento relativo);
- Rotura por flexão no pé do dente para cargas mais elevadas;
- Rotura por fadiga no pé do dente devido às tensões de flexão;
- Fadiga superficial ou de contacto (“Pitting”) pelo facto de o dente estar sujeito às
cargas cíclicas (não depende da lubrificação que, por sua vez, impede apenas o desgaste
nas superfícies dos materiais). Este é o único modo de ruína originado pela pressão
superficial aplicada;
- Fadiga no pé dos dentes (“Spalling”) ou descascamento.
Estes modos de ruína ocorrem mais no pinhão pelo facto de este ter um número de
dentes inferiores ao da roda e também pelo facto de o escorregamento ser maior no
pinhão.

b) Relação de condução, εα : parâmetro adimensional usado para assegurar a continuidade


g  a
do engrenamento. É definida por:     . Os seus valores mais usuais são: εα 1
pb p

(na prática) e εα>1 (teoricamente).


Ângulo de inclinação do dentado, β: ângulo entre o dentado e o eixo da roda (β 
[15º; 45º]). Os valores de β>45º não são recomendados e valores de β<15º não nos

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

permite tirar partido do dentado helicoidal. Para dentado recto usa-se, normalmente,
β=20º.
Relação de recobrimento, β: Deve ser pelo menos igual a 1 e é definida
b  tg b
por:      1 . A relação de condução total, γ, por sua vez, é definida
  mt px

por:         , em que  corresponde à relação de condução aparente.

4- De que dependem as tensões máximas no pé do dente?


As tensões máximas no pé do dente dependem principalmente da capacidade de
resistência à rotura, mas também da capacidade de resistência à tensão superficial de uma
engrenagem em que uma ou duas rodas que a constituem sofreram “undercutting”.
Também o abaixamento da relação de condução, εα, prejudica a capacidade de
transmissão de potência, e consequentemente, de tensões máximas (↑ εα → melhor
distribuição de cargas sobre os dentes).
O enfraquecimento da base do dente pelo processo de geração enfraquece o dente,
logo as tensões máximas terão de ser menores.

5- a) Diga o que entende por cremalheira.


b) Diga o que entende por linha de pressão ou de acção (justifique os nomes), perfil
em envolvente (e quais as suas vantagens), passo aparente, correcção de dentado
sem e com variação de entre-eixo.
ha 2 cos 
c) Mostre que r  é equivalente a Z . Deduza a primeira
sin 2  t sin 2 
expressão.
a) Uma cremalheira (geratriz normalizada) é a ferramenta em forma de cremalheira, a
partir da qual se pode gerar o dentado com perfil em envolvente de uma roda com
qualquer número de dentes. Os parâmetros que a definem são o passo, p0, medido ao
longo da linha de referência, o ângulo de pressão, α0, o módulo, m0 e a altura do dente, h0.

b) Linha de pressão ou de acção é uma linha assim designada pelo facto de as forças
entre os dentes em contacto actuarem sempre segundo esta linha (desprezando o atrito). A

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

linha de acção não varia de posição em virtude de ser sempre tangente ao círculo de base,
e assim, é sempre normal às envolventes no ponto de contacto, satisfazendo portanto, a
lei da acção conjugada.
Um perfil em envolvente representa, de um modo geral, uma curva traçada com o
auxílio de um cilindro e de um fio que é enrolado em seu torno. Seguidamente, é também
acoplado à extremidade deste mesmo fio um lápis que será responsável pela traçagem da
respectiva curva da envolvente do círculo. As vantagens dos perfis em envolvente nos
dentados das engrenagens são o facto de permitirem o funcionamento em perfeitas
condições mesmo quando o entre-eixo de funcionamento é diferente do entre-eixo normal
e também têm a vantagem de permitirem obter uma simplicidade de geometria das
ferramentas de corte e a possibilidade de efectuar aberturas de dentado corrigido com
ferramentas normais.
O passo aparente, pt, é a distância que separa dois perfis homólogos, medida no
plano de corte normal ao eixo do pinhão.
A correcção de dentado sem variação de entre-eixo é um parâmetro que ocorre
quando o entre-eixo de funcionamento é igual ou entre-eixo normal.
A correcção de dentado com variação de entre-eixo é um parâmetro que ocorre
quando o entre-eixo de funcionamento é diferente do entre-eixo normal.

c) Sendo:
ha  mn
 e pt    mt    d    mt  Z  d  mt  Z
  d  pt  Z

mn mn mn mn
Como: mt   d   Z  2r  Z  r  Z
cos  cos  cos  2 cos 

 ha  m n

Pegando em  mn , e substituindo na 1ª expressão do enunciado,
 r   Z
 2 cos 

ha mn mn 2 cos 
vem: r  Z  Z .
sin  t
2
2 cos  sen  t
2
sen 2 t

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

6- Considere a seguinte equação:


g f  ga g g f  ga b  tg
          
pb   mt pb  mt
Em que:

ga  r2  ha 2 2  r22 cos2   r2 sin 


a) Indique o significado de cada um dos parâmetros.
a) O significado de cada um dos parâmetros intervenientes na expressão é o seguinte:
- εγ: Relação de condução total;
- εα: Relação de condução aparente. Serve para adimensionalizar a relação gα > pb
(arco de condução > passo primitivo) que assegura a continuidade do engrenamento. εα
deve ser ≥ 1,3;
- εβ: Relação de recobrimento. Deve ser pelo menos igual a 1;
- gf: Comprimento de aproximação. É a distância entre o ponto onde se dá o início
do engrenamento até ao ponto I de contacto dos dois círculos primitivos;
- ga: Comprimento de afastamento. Comprimento compreendido entre I e o fim da
acção (engrenamento);
- pb: Passo de base;
- β: Ângulo de inclinação (primitiva), é também conhecido por ângulo de hélice (é
o mesmo para as 2 rodas, mas para uma roda a hélice deve ser direita, e para a outra deve
ser esquerda);
- mt: módulo aparente. É o módulo resultante das medições no plano normal ao
eixo do pinhão;
- αt: ângulo de pressão aparente. É também medido no plano normal ao eixo do
pinhão;
- gβ: Comprimento de recobrimento. Depende directamente do ângulo β e da
largura do dentado;
- r1: Raio primitivo. Raio medido na circunferência primitiva, que não é mais que
circunferências imaginárias que rodam uma sobre a outra durante a rotação das rodas

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

dentadas e que têm velocidades tangenciais em I iguais, sendo por isso a relação de
transmissão invariável;
- ha1: altura da cabeça do dente do pinhão.

7- O desgaste pode ser responsável pela ocorrência de ruína. O que é feito para
minimizar o seu efeito, prolongando a vida da engrenagem? Que outros modos de
ruína são usuais?
Para minimizar o efeito da ruína, podemos:
- No caso da existência de interferência, podemos reduzir a altura de cabeça (saída)
do dente, cuja ponta se encontra em interferência com o flanco do pé do dente da roda
conjugada, sendo este processo chamado de correcção de dentado. Este evitará assim, o
rápido desgaste do pé do dente e o seu consequente enfraquecimento.
- O parâmetro que mais afecta o desgaste é o escorregamento. De facto, numa
engrenagem, o movimento relativo que ocorre durante a acção conjugada entre os perfis
dos dentes, não é um rolamento puro; o rolamento é acompanhado de um escorregamento
relativo. Através da análise do dentado e da velocidade do escorregamento, chegou-se á
conclusão que:
 O escorregamento é nulo em I
 O escorregamento aumenta à medida que o ponto de contacto se afasta do
ponto primitivo.
Mas a velocidade de escorregamento, só por si, não é suficiente para caracterizar as
condições de desgaste dos dentes conjugados. Desta forma surgiu um parâmetro que tem
uma melhor correlação com o desgaste. É o chamado escorregamento específico, e não é
mais que a relação do escorregamento com o rolamento.
Assim, para evitar o desgaste será importante ter em conta que:
 ↑ α→ cos α ↓ → Gα ↑ (escorregamento)
 ga ↑ ou gf ↑ → Gα ↑
 r1 , r2 ↑ → Gα ↓
 1 1  g f  ga
2 2

G    
 r1 r2  2 cos

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

Desta análise, podemos concluir que o escorregamento será maior para o pinhão
(escorregamento específico maior para o pinhão), isto também porque o pinhão tem
menos dentes, logo sofre mais. Para tirar este desgaste, podemos fazer um tratamento
superficial (térmico/químico, cementação, carbono-nitruração, mecânico, grenalhagem).
São ainda usuais outros modos de ruína, tais como:
- Desgaste devido ao movimento relativo
- Rotura por flexão no pé do dente (estático), para cargas mais elevadas
- Rotura por fadiga no pé do dente, devido às tensões de flexão
- Fadiga superficial ou de contacto (pitting) devido ao dente estar sujeito às cargas
cíclicas (não depende da lubrificação que só impede o desgaste nas superfícies dos
materiais). É o único modo devido à pressão superficial aplicada
- Fadiga no pé dos dentes (spalling) ou descascamento.

8- Comente a seguinte afirmação: “O dentado inclinado é utilizado por uma


questão estética, não tendo outras vantagens ou inconvenientes.”
A afirmação é falsa. O dentado inclinado tem, relativamente ao dentado recto, vantagens
e inconvenientes. Quando a potência é transmitida por um par de rodas helicoidais,
ambos os veios ficam sujeitos a forças axiais. Estas forças podem ser eliminadas através
da utilização de engrenagens com dois dentados helicoidais justapostos (dentado em
espinha), mas com a desvantagem de serem economicamente mais caros e de montagem
mais difícil. Quando duas ou mais rodas com dentado helicoidal são montadas no mesmo
veio, o sentido das hélices deve ser escolhido de forma a minimizar a carga axial. Ao
contrário do que acontece com as rodas de dentado recto, em que o contacto se inicia em
toda a largura do dente simultaneamente, nas rodas de dentado helicoidal, cada dente
entra em contacto num dos extremos e, à medida que a rotação se efectua, o contacto
prossegue ao longo do dente, segundo uma linha que não é paralela aos eixos das rodas.
Assim o engrenamento entre os dentes ocorre gradualmente, o que torna o funcionamento
das rodas com dentado helicoidal mais suave e menos ruidoso do que o das rodas com
dentado recto. Além disso, o engrenamento gradual resulta também em efeitos dinâmicos
mais baixos, e permite, frequentemente, a utilização de velocidades de rotação mais
elevadas. Resumindo, temos para o dentado helicoidal temos que:

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

VANTAGENS
- Menor número de dentes;
- Movimento mais suave;
- Menos ruidoso;
- Maior tempo de engrenamento;
- Quando associados aos pares, permitem eliminar forças axiais impostas pela
transmissão de potência (dentado em espinha).
DESVANTAGENS
- São mais caros;
- Montagem mais difícil;
- Impõem forças axiais aos veios.

9- Mostre que, na ausência de interferência, se a potência não variar a força que se


exerce entre os dentes de uma engrenagem com dentado recto em envolvente de
círculo é constante, qualquer que seja o ponto de engrenamento.
Na ausência de interferência a força de escorregamento, Fesc, é nula uma vez que todas as
forças ocorrem segundo a linha de acção ou linha de base (é uma recta que passa pelo
ponto I de contacto dos dois círculos primitivos, tangente aos dois círculos de base e é
inclinada de um ângulo α (ângulo de pressão) relativamente à tangente comum aos dois
círculos primitivos em I) como se pode verificar na figura seguinte:

Ângulo
alfa

Força sobre a
linha de base

Como tal, a potência, P, que se exerce entre os dentes com dentado recto em
envolvente de círculo é dada por: P  Fb  Vb  Fb  P Vb , em que Fb corresponde à
força exercida segundo a linha de acção ou linha de base e Vb é a velocidade segundo
essa mesma linha. Uma vez que Vb  V  cos  e V  1 r1 então a força Fb será dada

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

P P
por: Fb   . Deste modo, se a potência, P, não variar então a
V  cos  1 r1  cos 

velocidade angular, ω1, o raio da roda, r1, e o ângulo, , manter-se-ão constantes e, como
tal, Fb=Constante.

10- Defina escorregamento específico e porque é que muitas vezes se corrige o


dentado para equilibrar os seus valores máximos no pinhão e na roda?
A velocidade de escorregamento, só por si, não é suficiente para caracterizar as condições
de desgaste dos dentes conjugados. Assim é fundamental a definição de um parâmetro
que tenha uma melhor correlação com o desgaste. Este parâmetro é o escorregamento
específico que não é mais do que a relação do escorregamento com o rolamento:
- No caso do pinhão o escorregamento específico, Eesp, é definido por:
a1 .c1  a 2 .c 2
Eesp.  ;
a1 .c1
- No caso da roda o escorregamento específico, Eesp, é definido por:
a1 .c1  a 2 .c 2
Eesp.  .
a 2 .c 2

Nas expressões anteriormente apresentadas os parâmetros a1c1 e a2c2 representam


arcos.
No caso de um dentado normal, o escorregamento específico máximo do pinhão,
que ocorre no flanco de pé dos seus dentes, é nitidamente mais intenso que o
escorregamento específico máximo na roda que ocorre no flanco de pé dos seus dentes.
Verifica-se assim um desequilíbrio nos valores dos deslizamentos específicos máximos
nas duas rodas resultando num desgaste mais rápido do pinhão. Porém, se fizermos uma
correcção de dentado podemos igualar os valores do escorregamento específico máximo
e daí a razão pela qual muitas vezes se corrige o dentado para equilibrar os seus valores
máximos no pinhão e na roda.

11- Comente a afirmação: “Se o custo das engrenagens fosse reduzido, este seria o
tipo de transmissão a usar em todas as aplicações”.

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

A afirmação é falsa. De facto existem situações em que, por exemplo, as correias são
preferíveis pois exigem menos manutenção, o mesmo acontecendo com as correntes. O
mesmo já não se passa com as engrenagens, visto que estas exigem uma manutenção
mais cuidada. Além disso, existem também dispositivos onde o silêncio do
funcionamento é exigido, e nestas condições, as correias são mais vantajosas em vez da
utilização de engrenagens que são mais ruidosas. Também as correias e as correntes têm
uma montagem mais fácil que as engrenagens que, por sua vez, obrigam a uma rigorosa
afinação da folga entre as rodas.
Assim, apesar de o custo ser de facto um entrave à utilização de engrenagens,
existem outras opções de projecto que, em certas situações, se revelam mais vantajosas,
mesmo que o preço fosse mais reduzido para as engrenagens.

12- Comente a afirmação: “Uma correcção de dentado com coeficiente positivo


reduz a espessura no pé do dente, o que reduz a resistência da roda à rotura”.
Uma correcção de dentado positivo significa que a linha de referência da cremalheira de
corte é exterior ao círculo primitivo de talhagem da roda. Por outro lado, uma correcção
de dentado negativo significa que a linha de referência da cremalheira de corte é interior
ao círculo primitivo de talhagem da roda.
Relativamente à afirmação, podemos afirmar que a primeira parte desta é negativa
visto que “uma correcção de dentado coeficiente positivo aumenta a espessura no pé do
dente” e não o que foi referido. No que respeita à segunda parte da afirmação, esta é
positiva uma vez que a resistência à rotura será reduzida se a espessura do pé do dente for
diminuída, pois o dente ficará mais fraco e, consequentemente menos resistente, o que
conduz à sua ruína pelo processo de flexão.

13- a) Considere uma transmissão por rodas de dentado helicoidal. Indique o


significado das variáveis na expressão seguinte:

  X 1  X 2 
inv  t'  inv t   2tg  n 
d1  d 2  cos  mn
Ilustre onde achar conveniente. Simplifique a expressão para dentado recto.
O significado das variáveis intervenientes na expressão apresentada é o seguinte:

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

- inv (t’): Evoluta do ângulo de pressão aparente de funcionamento;


- inv (t): Evoluta do ângulo de pressão aparente de corte;
- n: Ângulo de pressão real;
- X1 e X2: Coeficientes de correcção de dentado nas rodas 1 e 2, respectivamente;
- d1 e d2: Diâmetros primitivos nas rodas 1 e 2, respectivamente;
- : Ângulo de inclinação do dentado;
- mn: Módulo real.
No caso de dentado recto (=0), a expressão tem a seguinte forma:

  X 1  X 2 
inv  '  inv 0   2tg  0 
Z 1  Z 2 
Visto que:
 d1 cos 
Z 1  m
 d  d2
   0  Z1  Z 2  1
n

Z  d 2 cos  mn
 2
mn

14- Diga o que entende por correcção de dentado e indique as principais razões para
a sua utilização.
O funcionamento de um mecanismo de transmissão de movimento por engrenagens, não
é isento de problemas, e como tal, tem implícitos alguns, como por exemplo, a
interferência, que ocorre sempre que o contacto entre duas engrenagens se inicia num
ponto que é interior ao círculo de base da roda motora. Para evitar esta situação, utiliza-se
a correcção de dentado.
Assim sendo, a correcção de dentado, tal como o próprio nome indica, é um
mecanismo utilizado para corrigir alguns dos defeitos de funcionamento de engrenagens,
e é utilizado com duas finalidades:
- Evitar interferências;
- Equilibrar o escorregamento específico máximo sobre o pinhão e a roda, e o
factor de gripagem (σHg) nos pontos extremos de contacto.
A correcção de dentado, pode ainda ser feita com ou sem variação do entre-eixo
dependendo dos valores do coeficiente de desvio  .

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Capítulo 3 – Engrenagens Complementos de OM e Anteprojecto

Para melhor ilustrar a correcção de dentado, podemos referir o procedimento a usar


para evitar a interferência. Assim, neste caso concreto, a correcção pode ser feita durante
a talhagem do dentado através da redução da altura da cabeça dos dentes da roda que
causa interferência.

15- Indique quais os factores determinantes que levam à selecção de engrenagens


para caixas de velocidades de automóvel.
A caixa de velocidades de um automóvel, tem por objectivo transmitir potência do motor
às rodas, de modo a permitir o movimento do automóvel. A caixa de velocidades é um
mecanismo multiplicador de velocidade, que devido à configuração do automóvel, exige
elevada compacidade. Este é talvez, o factor mais importante a ter em conta ao
seleccionar as engrenagens (em detrimento de correntes ou correias), pois estas são a
solução mais compacta.
Por outro lado, o espectro de potências a que se aplicam as engrenagens é muito
grande, razão pela qual estas são usadas nas caixas de velocidades.
As engrenagens permitem manter constante a relação de transmissão.
Tendo em conta que a caixa de velocidades de um automóvel deve ter um
funcionamento com baixo ruído, seleccionam-se engrenagens de dentado helicoidal. A
utilização deste tipo de dentado, permite que o engrenamento entre os dentes ocorra
gradualmente, o que além de tornar o funcionamento mais suave e silencioso, resulta
também em efeitos dinâmicos mais baixos e permite a utilização de velocidades de
rotação mais elevadas.

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