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Análise de Circuitos

1. Conceitos básicos

Um circuito elétrico consiste na interconexão de componentes ou elementos elétricos.


Tal interconexão tem o objetivo de transmitir energia elétrica de um ponto a outro, seja para
alimentar cargas de grandes potências ou sinais de baixíssima amplitude. A seguir, serão vistos
alguns dos principais conceitos utilizados em circuitos elétricos.

1.1. Carga elétrica

É a propriedade elétrica das partículas atômicas que compõem a matéria, medida em


coulombs (C). A carga de um elétron (negativa), em módulo é igual à do próton (positiva), e
corresponde a 1,602 ∙ 10 𝐶.

1.2. Corrente elétrica

É definida como o fluxo de cargas em um condutor, ou a quantidade de carga que


atravessa a seção de um condutor num intervalo de tempo:

𝑑𝑞
𝑖(𝑡) = [𝐴]
𝑑𝑡

Δ𝑞
𝐼 é = [𝐴]
Δ𝑡

Para manter uma corrente no condutor, deverá ser aplicado constantemente um campo
elétrico externo ao mesmo. Se esse campo apresentar sempre o mesmo sentido, surgirá uma
corrente contínua. Já se o campo inverter seu sentido periodicamente, a corrente resultante
será uma corrente alternada.
A unidade de medida da corrente é o ampère (A). Embora seja uma grandeza escalar, é
comum expressar o “sentido” da corrente. O sentido convencional da corrente é o do
movimento das cargas positivas. Como nos condutores metálicos quem se desloca são os
elétrons (carga negativa), o sentido convencional da corrente é oposto ao movimento das cargas
negativas.
De forma alternativa, a quantidade de carga transferida através da seção de um
condutor num intervalo de tempo é obtida por:

𝑞= 𝑖(𝑡) 𝑑𝑡

1.3. Tensão elétrica

Para transportar uma carga elétrica (elétron) ao longo de um condutor, é necessário a


transferência de energia para o sistema, ou a realização de um trabalho externo. Tal trabalho é
realizado por uma força eletromotriz (fem), como uma bateria, por exemplo. Esta força também
é chamada de diferença de potencial (sempre é avaliada com relação a uma referência) ou
simplesmente tensão elétrica.
A tensão 𝑣 entre dois pontos 𝑎 e 𝑏 em um circuito é a energia necessária para mover
uma unidade de carga através de um elemento, de 𝑎 para 𝑏, medida em volts (V), é dada por:
𝑑𝑤
𝑣 =
𝑑𝑞
Sendo 𝑤 a energia em joules (J) e 𝑞 a carga elétrica, em coulombs (C).

1.4. Resistência elétrica

Se um condutor é submetido a um campo elétrico externo, uma certa carga elétrica é


deslocada no interior do material. No entanto, essas cargas não se movem livremente,
ocorrendo uma certa oposição ao fluxo da carga (corrente elétrica), dada por:

𝜌𝐿
𝑅=
𝐴
Sendo:
𝐿 = comprimento do condutor [𝑚]
𝐴 = área da seção do condutor [𝑚 ]
𝜌 = resistividade, característica de cada material [Ω 𝑚]
𝑅 = resistência elétrica, em ohms [Ω]

1.5. 1ª Lei de Ohm

Ohm verificou, experimentalmente, que a relação entre a diferença de potencial 𝑉


aplicada a um condutor metálico e a corrente 𝐼 era constante. Essa constante é a Resistência
Elétrica!
𝑉
𝑅=
𝐼

Ainda pode-se definir a condutância 𝐺 como o inverso da resistência e a condutividade


𝜎 como o inverso da resistividade:
1
𝐺=
𝑅
1
𝜎=
𝜌

A condutividade é dada em siemens/metro (𝑆/𝑚) e a condutância em siemens (𝑆) ou


ainda em mho (℧). A tabela abaixo apresenta alguns valores de condutividade de certos
materiais:

Substância Condutividade (𝑺/𝒎)


Cobre 5,8 ∙ 10
Alumínio 3,5 ∙ 10
Ferro puro 1,0 ∙ 10
Aço doce 8,4 ∙ 10
Água do mar 5,0
Areia 2,0 ∙ 10
Quartzo 8,3 ∙ 10

1.6. 2ª Lei de Ohm

A resistência elétrica dos materiais é variável de acordo com a temperatura. No caso dos
metais, o aumento da temperatura resulta no aumento da resistência, porém, em certas
substâncias, ocorre o contrário. A resistência, em função da temperatura, é dada por:

𝑅 = 𝑅 [1 + 𝛼(𝑇 − 𝑇 )]
Onde:
𝑅 = resistência do condutor à temperatura 𝑇;
𝑅 = resistência do condutor à temperatura 𝑇 ;
𝛼 = coeficiente que depende do material.

Alguns exemplos de coeficiente de temperatura:


Material 𝜶 °𝑪 𝟏
Alumínio 0,0036
Cobre 0,0040
Níquel 0,0050
Prata 0,0040

1.7. Potência elétrica

Um dos efeitos mais importantes relacionados com a condução de cargas elétricas é o


efeito Joule, que resulta na liberação de energia na forma de calor.
Quando um condutor é submetido a uma diferença de potencial entre seus terminais,
uma certa energia é gasta no transporte de um terminal a outro. A energia necessária para
transportar uma carga Δ𝑞 em um intervalo de tempo Δ𝑡 será:

Δw = 𝑉 ∙ Δ𝑞
E a potência dissipada, definida como a energia pelo tempo, será:

Δ𝑤 Δ𝑞
𝑃 é = =𝑉 = 𝑉𝐼
Δ𝑡 Δ𝑡
Ou
𝑑𝑤
𝑝(𝑡) = = 𝑣(𝑡) ∙ 𝑖(𝑡)
𝑑𝑡

Uma vez que 𝑅 = 𝑉/𝐼, ainda tem-se:

𝑉
𝑃= = 𝑅𝐼
𝑅

1.8. Convenção de sinal passivo

De acordo com essa convenção, a corrente entra pelo terminal com polaridade de
tensão positiva, sendo 𝑝 = +𝑣𝑖. Neste caso:
 Se 𝑣𝑖 > 0: o elemento está absorvendo potência
 Se 𝑣𝑖 < 0: o elemento está fornecendo potência
I

+
V R
-

Caso a corrente entre no terminal com polaridade de tensão negativa, deve-se adotar
𝑝 = −𝑣𝑖.

De acordo com a lei da conservação de energia, a soma algébrica de potência em um


circuito, em qualquer instante de tempo, deve ser zero:
𝑝=0
2. Introdução aos Circuitos Elétricos

Os elementos empregados em circuitos elétricos podem ser classificados de duas


formas: passivos e ativos. Elementos ativos são capazes de fornecer potência ao circuito, como
por exemplo baterias, geradores e amplificadores (que são modelados como fontes
controladas). Já os elementos passivos não são capazes de fornecer potência ao circuito e alguns
exemplos são os resistores, capacitores e indutores.
A seguir serão apresentados os principais elementos de circuitos elétricos e regras
práticas utilizadas para sua análise.

2.1. Fontes
As fontes são elementos ativos que podem ser de tensão ou de corrente, e ainda podem
ser classificadas como fontes independentes ou dependentes.
 Fontes de tensão: uma fonte de tensão ideal irá apresentar sempre a mesma
tensão (diferença de potencial) em seus terminais. A corrente que irá circular
pela fonte é consequência do restante do circuito conectado a ela.
 Fontes de corrente: uma fonte de corrente ideal fornecerá sempre uma mesma
corrente ao circuito. Neste caso, a tensão nos terminais da fonte será
consequência do restante do circuito conectado a ela.
 Observação: Uma vez que é necessário um caminho fechado para a passagem da
corrente elétrica e que a fonte de corrente sempre está fornecendo corrente, ela
nunca poderá ser desconectada do circuito. Na prática, caso isso ocorra, a tensão
entre os seus terminais tenderá ao infinito!
 Fontes independentes: uma fonte independente é um elemento ativo que
fornece tensão ou corrente independentemente de outras variáveis do circuito,
como ocorre com uma bateria, por exemplo.
 Fonte dependentes ou controladas: uma fonte dependente ou controlada é um
elemento ativo no qual a grandeza fornecida é controlada por outra grandeza
do circuito (tensão ou corrente). São exemplos de fontes controladas os
amplificadores operacionais e os transistores. Dessa forma, existem quatro
diferentes possibilidades para estas fontes:
o FTCT: fonte de tensão controlada por tensão;
o FTCC: fonte de tensão controlada por corrente;
o FCCT: fonte de corrente controlada por tensão;
o FCCC: fonte de corrente controlada por corrente.

+ +
V V I

Fontes independentes de tensão Fonte independente de corrente

+ V = k.x I = k.x
-

Fonte controlada de tensão Fonte controlada de corrente


2.2. Resistor

O resistor é um elemento passivo, de dois terminais, utilizado para modelar o


comportamento de resistência à corrente elétrica. O seu símbolo é apresentado abaixo:

R R

2.3. Ramos, nós e malhas

 Ramo: representa um único elemento, tal como uma fonte de tensão ou um


resistor;
 Nó: é o ponto de conexão entre dois ou mais ramos;
 Loop ou malha: é qualquer caminho fechado em um circuito, formado por um
nó de partida que percorre um conjunto de nós e retorna ao nó de partida. Um
loop será independente se ele contiver um ramo que não pertença a qualquer
outro loop.

Um circuito com 𝑏 ramos, 𝑛 nós e 𝑙 loops independentes irá satisfazer o teorema


fundamental da topologia de circuitos:
𝑏 =𝑙+𝑛−1

2.4. Conexão série e paralelo


 Série: dois ou mais elementos estarão em série se estiverem conectados em
sequência e sem nenhuma derivação entre eles. Neste caso, todos os elementos
irão conduzir a mesma corrente, já a tensão pode ser diferente em cada um;
 Paralelo: dois ou mais elementos estão em paralelo se estiverem conectados
aos mesmos dois nós. Neste caso, a tensão sobre cada elemento será a mesma,
enquanto que as correntes em cada um podem ser diferentes.

2.5. Leis de Kirchhoff

As leis de Kirchhoff, das correntes e das tensões, representam um recurso fundamental


para análise de circuitos e serão apresentadas a seguir:
2.5.1. Lei das corrente de Kirchhoff (LCK) ou Lei dos nós

Estabelece que a soma algébrica das correntes que entram em um nó (ou região
fechada) é zero:

𝑖 =0

Ou, de outra forma:


“A soma das correntes que entram em um nó é igual a soma das correntes que saem
deste nó.”
Ex.

𝐼 +𝐼 =𝐼 +𝐼 +𝐼

10 = 1 + 6 + 𝐼
𝐼 =3𝐴

2.5.2. Lei das tensões de Kirchhoff (LTK) ou Lei das malhas


Estabelece que a soma algébrica de todas as tensões em um caminho fechado (ou
malha) é zero:

𝑉 =0

Ex.
0,5 A

+ +
V1 M1 R1
10 V
10 V 20 
-

2.6. Associação de resistores

A associação de resistores é uma técnica que pode facilitar a solução de circuitos, no


qual dois ou mais resistores podem ser representados por um único resistor equivalente. A
associação pode ser em série, paralelo ou ainda uma combinação entre série e paralelo.

2.6.1. Associação série

R1 R2 R3 Req
A B  A B

Busca-se encontrar o valor de uma resistência que seja equivalente à 𝑅 , 𝑅 e 𝑅 em


série.
I R1 R2 R3
+ VR1 - + VR2 - + VR3 -
+
V1

Pela LTK:
𝑉 =𝑉 +𝑉 +𝑉
𝑉 = 𝐼𝑅 + 𝐼𝑅 + 𝐼𝑅
𝑉 = 𝐼(𝑅 + 𝑅 + 𝑅 )
𝑉
=𝑅 = 𝑅 +𝑅 +𝑅
𝐼
I

+
+
V1 VReq Req

Ou seja, na associação série:

𝑅 = 𝑅 + 𝑅 + ⋯+ 𝑅

2.6.2. Associação paralelo

I1 I1

IR1 IR2 IR3


+ +
V1 R1 R2 R3  V1 Req

Pela lei dos nós, percebe-se que:

𝐼 =𝐼 +𝐼 +𝐼

No entanto, a tensão sobre cada resistor é igual a 𝑉 :

𝑉 𝑉 𝑉
𝐼 = + +
𝑅 𝑅 𝑅
𝐼 1 1 1
= + +
𝑉 𝑅 𝑅 𝑅
No circuito equivalente:

𝑉
=𝐼
𝑅
𝐼 1 1 1 1
= = + +
𝑉 𝑅 𝑅 𝑅 𝑅

Ou seja, em uma associação de resistores em paralelo:

1 1 1 1
= + + ⋯+
𝑅 𝑅 𝑅 𝑅
Ou...
1
𝑅 =
1 1 1
𝑅 + 𝑅 + ⋯+ 𝑅

No caso específico de apenas dois resistores:

1 1 1 𝑅 +𝑅
= + =
𝑅 𝑅 𝑅 𝑅 𝑅
𝑅 𝑅
𝑅 =
𝑅 +𝑅

2.6.3. Associação mista

É uma combinação das associações série e paralelo. Como pode assumir diversas
configurações, não há uma equação padrão a ser utilizada e deve realizar associações parciais,
ora série, ora paralelo.
R1 R2
A

R4 R5 R6

R3
B

R1 R2 R8
A

R4 R5

R9 R10

R6 R7

R3
B

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