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Centro Universitário INTA - UNINTA

CENTRO DE CIÊNCIAS DE ADMINISTRAÇÃO, ARQUITETURA, ENGENHARIAS E


TECNOLÓGICAS – CCA
Curso: Arquitetura e Urbanismo
Turma: T30N
Disciplina: Metodologia Da Pesquisa Científica
Docente: Odaléa Barbosa De Carvalho Melo Lima e Alana Aragão Vasconcelos
Discente: Maria Clara De Araújo Avelino

Referências Bibliográficas
KOOLHAAS, Rem. "Generic City", texto integrante do livro "S, M, L, XL", outubro 1995

Citações
"Seria a cidade contemporânea como os aeroportos – todas iguais? Esta convergência só é
possível com a ausência da identidade – o que é visto usualmente como urna perda. No entanto,
na escala em que ocorre, este processo deve significar alguma coisa. Quais são as
desvantagens da identidade e as vantagens da ausência? E se este processo de
homogeneização, aparentemente acidental fosse intencional, um movimento consciente de saída
das diferenças em direção às semelhanças? E se estivéssemos testemunhando um movimento
de liberação global: ‘fora coma personalidade’! O que resta depois que a identidade é despida?’’

A identidade centraliza, insiste em uma essência, em um ponto. Sua tragédia e uma simples
questão geométrica. Enquanto a esfera de influência se expande, a área central cresce mais e
mais, desesperançosamente diluindo tanto a força quanto a autoridade do âmago;
inevitavelmente a distância entre centro e circunferência cresce até um ponto de ruptura. Nesta
perspectiva, a recente, tardia descoberta da periferia como zona de valor potencial – um tipo de
condição pré-histórica que talvez finalmente seja digna de uma ‘atenção arquitetônica’ – é
somente uma insistência disfarçada na prioridade e dependência do centro: sem centro, sem
periferia; o interesse no primeiro presumivelmente compensa o vazio do ultimo. Conceitualmente
órfã, a, condição de periferia piora pelo fato de sua mãe ainda estar viva, roubando o show,
enfatizando as inadequações de seu rebento. As últimas vibrações emanadas do exausto centro
antecipam a leitura da periferia como uma massa critica. Não somente o centro é, por definição,
muito pequeno para executar suas obrigações, como ele próprio deixou de ser o centro real para
tomar-se uma miragem esfumaçada, a caminho de sua implosão; sua presença ilusória nega le-
gitimidade ao resto da cidade.

A Cidade Genérica é liberada do cativeiro do centro, da camisa-de-força da identidade. A Cidade


Genérica quebra com esse ciclo destrutivo de dependência: ela não é nada além de um reflexo
da necessidade e capacidade presentes. É igualmente estimulante e desestimulante em
qualquer lugar. É ‘superficial’ – como um estúdio hollywoodiano, pode produzir uma nova
identidade a cada manhã de segunda-feira.

A Cidade Genérica é o que resta após grandes seções de vida urbana intercruzando-se até o
ciberespaço. É um lugar de sensações fracas e distendidas, poucas e distantes emoções,
discreta e misteriosa como um grande espaço iluminado por um pequeno abajur.Comparada à
cidade clássica, a Cidade Genérica esta sedada, ao ser percebida de uma posição sedentária.
Ao invés de concentração – presença simultânea – na Cidade Genérica, os “momentos”
individuais são distantemente espaçados para criar um transe de experiências estéticas quase
imperceptíveis; a variação cromática na iluminação fluorescente de um edifício de escritórios
minutos antes do pôr-do-sol, as sutilezas das pequenas diferenciações nos brancos de um painel
luminoso à noite. Como comida japonesa, as sensações podem ser reconstituídas e
intensificadas na mente, ou não – podem simplesmente ser ignoradas (existe uma chance). Esta
impregnante falta de urgência e insistência atua como uma droga potente e induz à alucinação
do normal.
Em uma drástica inversão do que supostamente é a maior característica da cidade – “bigness” –
a sensação dominante da Cidade Genérica é de uma misteriosa calma: quanto mais calma está,
mais se aproxima do estado puro. A Cidade Genérica chama a atenção das “desgraças” que
foram atribuídas à cidade tradicional antes que nosso amor por ela tome-se incondicional. A
serenidade da Cidade Genérica é alcançada pela evacuação do domínio público, como em um
treinamento de emergência contra incêndios.

A rua está morta. Esta descoberta coincidiu com tentativas frenéticas para que ela seja
ressuscitada. A arte pública está em toda a parte - como se duas mortes fizessem uma vida. A
‘pedestrianização’ – com a intenção de preservar - meramente canaliza os fluxos daqueles
fadados a destruir os objetos de suas desejadas reverências com seus próprios pés.
A Cidade Genérica está no caminho da horizontalidade para a verticalidade. O arranha-céu
parece ser a tipologia final, definitiva. Engoliu todo o resto. Pode existir em qualquer lugar, em
um campo de arroz ou no centro da cidade – já não faz nenhuma diferença. As torres, agora, não
estão mais juntas, estão tão espaçadas que não interagem. Densidade no isolamento é o ideal.
Moradia não é um problema. Ou ela foi completamente resolvida ou totalmente deixada ao
acaso: o primeiro caso é o legal, o segundo o ilegal. No primeiro caso, torres ou,
usualmente, lajes (15 cm de profundidade, no máximo); no segundo (em uma
complementaridade perfeita) uma crosta de cabanas improvisadas. Uma solução consome o céu,
a outra o chão. É estranho que aqueles com menos dinheiro habitam a mais cara comodidade: a
terra. Aqueles que pagam, habitam o que é gratuito: o ar. Em ambos os casos a moradia prova
ser surpreendentemente cômoda: não apenas a população dobra de tantos em tantos anos,
como também, como resultado do afrouxamento das várias religiões, o número médio de
ocupantes por unidade habitacional cai pela metade – através de divórcios e outros fenômenos
de divisões familiares – com a mesma freqüência que a população da cidade duplica: enquanto
seus números incham, a densidade da Cidade Genérica está perpetuamente decrescendo.

As ruas são apenas para os carros. Para as pessoas (pedestres) deixam-se os passeios (como
em um parque de diversões), as ‘promenades’ que as levantam do chão, para depois subjugá-las
a um catálogo de condições exageradas – vento, calor, locais íngremes, frio, interior, exterior,
cheiros, fumaças – em uma seqüência que é uma caricatura grotesca da vida na cidade histórica.
Existe horizontalidade na Cidade Genérica, mas ela está de saída. Esta horizontalidade consiste
tanto de uma história que ainda não está bem apagada, quanto de enclaves ‘tudorianos’ que se
multiplicam ao redor do mundo como emblemas recém-cunhados de preservação.

A Cidade Genérica apresenta a morte final do planejamento. Por quê? Não que ela não seja
planejada, de fato, grandes universos complementares de burocratas e desenvolvimentistas
afunilam inimagináveis fluxos de energia e dinheiro em sua conclusão: pelo mesmo dinheiro suas
planícies podem ser fertilizadas com diamantes, seus lamaçais pavimentados com tijolos de
ouro. No entanto, sua mais perigosa e mais divertida descoberta é que o planejamento não faz a
menor diferença. Edifícios podem ser bem localizados (uma torre próxima a uma estação de
metrô) ou mal localizados (centros inteiros a milhas de distância de uma estrada).
Eles florescem/ perecem imprevisivelmente. Redes de trabalho se esgarçam, envelhecem,
apodrecem, tornam-se obsoletas: populações dobram, triplicam, quadruplicam, desaparecem. A
superfície da cidade explode, a economia acelera, desacelera, rompe, colapsa. Como antigas
mães que ainda alimentam embriões titânicos, cidades inteiras são construídas sobre infra-
estruturas coloniais, das quais seus opressores levaram o projeto para casa. Ninguém sabe
aonde, como, desde quando passam os esgotos, qual a localização exata das linhas telefônicas,
qual a razão da posição do centro, aonde os eixos monumentais terminam. Tudo isso prova que
existem infinitas margens escondidas, reservas colossais de escória, um perpétuo, orgânico
processo de ajuste de padrões, de comportamento; expectativas que mudam com a inteligência
biológica do animal mais alerta. Nesta apoteose de múltiplas escolhas, nunca será possível
reconstruir o binômio causa e efeito outra vez. Eles funcionam – e isto é tudo."

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