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TCHAU, QUERIDA!

Uma estética da democracia agonizante na cobertura dos protestos pelo impeachment de


Dilma Rousseff

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Processo de Seleção 2019

Projeto de Pesquisa

TCHAU, QUERIDA!
Uma estética da democracia agonizante na cobertura dos protestos pelo
impeachment de Dilma Rousseff

Linha de pesquisa: Jornalismo e Sociedade


Eixo Temático: Narrativa, discurso e poder

Maio de 2019
TCHAU, QUERIDA!

Uma estética da democracia agonizante na cobertura dos protestos pelo impeachment de


Dilma Rousseff

1º) Definição do problema de pesquisa

“As catástrofes inopinadas não são jamais a consequência ou o


efeito, como se costuma dizer, de um motivo único, de uma causa
singular; mas são como um vórtice, um ponto de depressão
ciclônica na consciência do mundo, para as quais conspirava toda
uma gama de causalidades convergentes”. (Calvino, 1990, p.119)
“Ora, onde mora o perigo
é lá que também cresce
o que salva” (Friedrich Hölderlin apud M. Heiddeger, 2007, p.29)

“Intervenção militar já”, “Dilma quenga”, “We say no to comunism!”, “Pela


minha família, pelos meus amigos, eu voto sim”, “Pelos fundamentos do
cristianismo”, “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra”. Entre
março de 2015 e abril de 2016, o povo brasileiro vivenciou – parte dele perplexo,
outra parte eufórico – as manifestações pelo impeachment da presidenta Dilma
Rousseff, reeleita pouco menos de dois anos antes, e que culminaram, em 17 de abril
de 2016, na votação favorável ao seu afastamento na Câmara dos Deputados. É certo
que uma complexa cadeia de atores cooperaria decisivamente, nem sempre de forma
aberta ou orquestrada, para que a deposição se saísse bem-sucedida. É o caso de
mencionar a atuação do poder judiciário, o apoio explícito das organizações patronais,
de parte da mídia tradicional e, estes fartamente documentados, os movimentos
subterrâneos de proeminentes lideranças políticas. Mas, para além desses atores, a
presidenta dificilmente teria sido removida do cargo não fossem os massivos, festivos,
estridentes protestos de rua que deram o respaldo que faltava ao processo de
impeachment. Esses protestos, bem como a resposta / reflexo oferecida pelo sistema
político – isto é, a votação pelo impeachment na Câmara –, e a forma como esses
eventos foram representados nos mais diversos meios de comunicação serão o foco
deste projeto de pesquisa.
É constatável que, embora não de maneira generalizada, tanto os protestos de
rua contra Dilma Rousseff quanto as manifestações dos deputados em 17 de abril se
deixaram contaminar por inegáveis fundamentos autoritários – as aspas que abrem
nosso primeiro parágrafo pinçamos de centenas de outras possíveis que marcaram
presença nas manifestações e na votação fatídica. De forma velada ou aberta,
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expressou-se, nos meses do que aqui nomearemos “acontecimento ‘tchau, querida!’”,


o desprezo por um conjunto de valores que acordou-se chamar de democráticos.
Embora os veículos da chamada “mídia tradicional” não tenham deixado de
registrar esse desprezo, em geral ele foi apresentado como fruto de atos isolados.
Como ressaltam Carla Rizzotto, Kelly Prudencio e Rafael Sampaio, pesquisadores da
Comunicação, os eventos que cercam o impeachment de Dilma foram quase sempre
tratados como apenas mais uma “disputa político-partidária” (2017), desligados de
uma história social e de elementos constituintes da identidade nacional. Conforme
defenderemos a seguir, os protestos em favor do impeachment não podem ser bem
compreendidos sem se levar em consideração a performance de um Brasil imaginado
que ali se realizou, o que extrapola a mera disputa entre defensores de partidos
políticos e as intrigas palacianas de Brasília.
Os acontecimentos, ensina Quéré (2005), rompem com a normalidade
corriqueira, descortinam sentidos, falam da nossa experiência cotidiana e expõem as
condições e contradições de sua própria irrupção. Para tanto, acionam memórias,
mobilizam imaginários culturais e tradições e, baseados no que os precede, visam a
provocar uma reação no presente. Assim sendo, os protestos pelo impeachment de
Dilma Rousseff colocaram em cena, por meio de um jogo performativo que
naturalmente incluiu a mídia, mas que em diversos momentos fugiu ao seu poder de
agendamento dos fatos, disputas simbólicas – com consequências materiais e
políticas, como atestam os anos seguintes – presentes no seio da sociedade brasileira e
que revelam um conjunto de anseios, medos e rancores de classe, gênero e raça.
Isso fica claro, para além do que estava escrito em cartazes e do que foi
proferido em trios elétricos e na tribuna do Congresso, na estética e na ética própria a
partir das quais se configuraram os protestos. O ufanismo verde-e-amarelo da camisa
da seleção brasileira de futebol, o acionamento dos “valores da família tradicional”, a
exaltação de figuras como a do então juiz Sérgio Moro e do Exército brasileiro como
representantes da moral e da ordem parecem convergir na construção simbólica de
certa 'brasilidade ancestral', anterior à suposta invasão desta por elementos que teriam
suspendido sua alegada cordialidade telúrica. Isso fica evidente em diversas pautas
que encontraram eco entre parcela expressiva dos manifestantes: na defesa da 'escola
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sem partido', contrária à abordagem de questões históricas e de gênero nas escolas; na


crítica ao programa Bolsa Família e às cotas raciais e socioeconômicas nas
universidades; ou no clamor pela redução da idade penal.
“O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito”, escreveu
Foucault, “é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que
de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso”
(1979, p.8). Um dos desafios que se relaciona ao problema de pesquisa é traçar a
“genealogia das relações de força”, em termos foucaultianos, que deram forma à
cobertura dos protestos na mídia. Interessa compreender as “coisas” que o discurso
pelo impeachment produziu e as formas de prazer que o permearam. Uma hipótese é
de que sua estética autoritária opera, também, como forma de autoproteção e
isolamento para certos grupos sociais da nossa caótica, violenta e desigual realidade.
Recorrendo outra vez ao filósofo francês, o desafio estará em “distinguir os
acontecimentos, diferenciar as redes e os níveis a que pertencem e reconstituir os fios
que os ligam e que fazem com que se engendrem, uns a partir dos outros” (1979, p.6).
Há, em diversas análises que se seguiram à deposição de Dilma, a avaliação de
que existe continuidade entre os protestos de 2013 e as manifestações pelo
impeachment. Quanto a isto não há ponto pacífico, e foge aos nossos objetivos
apontar se ocorreu 'cooptação dos protestos pela direita' ou 'apropriação das
manifestações pela mídia', embora a discussão seja importante e pertinente. Mas nos
interessa uma semelhança entre as manifestações de 2013 e as de 2015-16 e que
implica uma precedência das primeiras: ambas instabilizaram as fronteiras entre a
casa e a rua no imaginário social brasileiro, e nas duas ocasiões disputou-se
simbolicamente qual é o lugar da rua no acerto democrático, estando tais disputas,
naturalmente, refletidas na forma como os protestos apareceram na mídia.
No breve ensaio de Roberto DaMatta intitulado “O que faz do brasil, Brasil”, o
sociólogo trata de um conjunto de contradições que constituiriam as bases de certo
imaginário fundante da nossa sociedade. A mais fundamental delas, que “não podem
ser confundidas sob a pena de grandes confusões e desordens” (1986, p. 28), é a cisão
entre a casa e a rua1.
1
- O carnaval, naturalmente, seria a exceção que confirma a regra.
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Isso porque a casa, diz DaMatta, “ordena um mundo à parte” no Brasil:

quando falamos da “casa” não estamos nos referindo apenas a um


local onde dormimos, comemos ou que usamos para estar
abrigados do frio ou da chuva. Mas a um espaço profundamente
totalizado numa forte moral. Uma dimensão da vida social
permeada de valores e realidades múltiplas. Coisas que vêm do
passado e objetos que estão no presente: esfera onde nos
realizamos como seres humanos que têm um corpo físico, e
também uma dimensão moral e social. Assim, na casa, somos
únicos e insubstituíveis (1986, p. 20)
E quão diferente é a rua: lugar da luta, da batalha, do anonimato e da
insegurança, nela a rede imperativa de relações calorosas da casa é substituída pela
fria lei da autoridade policial – daí expressões como 'moleque de rua' e 'no olho da
rua' para se referir à situações de miséria, ou 'mulher do lar' e 'comida caseira' para
dizer do recato e do afeto. Casa e rua, enfim, são entendidas como “formas
representativas das relações sociais do passado e do presente”, como escreveu
também o geógrafo Milton Santos (1996, p. 168), e nessa fronteira se assenta parte da
ideia da “tradicional família brasileira”, dela se desprendendo um entendimento
particular do que é público e privado e, em alguns casos, certo e errado.
Constitui indício importante, então, o fato de as manifestações de 2013 terem
acontecido em horários de pico em dias úteis, enquanto os protestos pelo
impeachment e a votação na Câmara ocorreram aos domingos, quando as famílias se
reúnem para almoçar. Numa, cobrava-se no início maior acesso à coisa pública, pauta
encarnada na crítica ao aumento das passagens de ônibus, na outra, falava-se em
'moralizar' a política, usando uma panela – outro indício importante – como
instrumento expressivo da indignação. Interessa ainda a maneira como a polícia tratou
e foi tratada pelos manifestantes: em 2013, o violento embate; em 2015-16, a
camaradagem captada em milhares de selfies.
O problema de pesquisa, então, se resume nas seguintes questões: como se
constituíram esteticamente os ataques à democracia que ocuparam as ruas e
posteriormente a Câmara em maio de 2016? Como se deram, nos relatos jornalísticos
e nas redes sociais, as construções de sentido em torno dos protestos? Pensando no
contexto performativo do acontecimento, proporcionado por essa presença massiva de
novos e tradicionais meios de comunicação - “espaços privilegiados no qual a
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sociedade fala consigo mesma, a propósito de si mesma” (2012, p. 12), como define
Vera França –, como esses ataques se integraram à vivência sociopolítica do país?
Tendo no horizonte as muitas contradições que habitam o imaginário social da nossa
nação, onde esses protestos aí se ajustam e que tipo de instabilidade trouxeram? E
quais os significados desse rearranjo para a “paisagem midiática” e o processo
democrático no Brasil?

2º) Justificativa

Parte da pertinência em se estudar os protestos contra Dilma e a votação na


Câmara a partir de uma perspectiva comunicativa, voltada ao entendimento das
narrativas, do discurso e do poder, está em que estes eventos se deram em contextos
altamente midiatizados, tendo sido gestados, tanto por meios especializados de
comunicação quanto por pessoas comuns, para serem vistos, curtidos e amplamente
compartilhados por muitos nas redes sociais da internet.
Se os protestos contra Dilma foram tal como os descrevemos até aqui –
manifestações de rua francamente constituídas, estética e discursivamente, numa
chave autoritária -, o que levou jornais de renome como O Estado de S. Paulo a
afirmar, editorialmente, que a saída de parte da população às ruas representou “o fim
da anestesia da consciência crítica da nação”, ressonando o slogan publicitário de que
“o gigante acordou”, como anotam, em artigo, Liziane Guazina, Hélder Prior e Bruno
Araújo (2018)? Porque, como questionam os mesmos autores, o enquadramento que
os veículos de mídia brasileiros fizeram do processo de impeachment diferem tanto do
enquadramento dos veículos de mídia internacionais? Estas são apenas algumas das
muitas perguntas que a representação dos protestos suscita.
Para chegar ao fundo destas questões, é necessário olharmos para dois
aspectos dos protestos e de suas representações midiáticas. Por um lado,
parafraseando Celia Mota, é o caso de “analisar a construção de sentidos sobre o fato,
tanto nas redes sociais como nos relatos jornalísticos, e perceber a memória coletiva aí
contida” (2014), e, por outro, voltar atenção para “o nível semiótico-estilísticos”
dessas representações, o que, como explicam Rizzotto, Prudencia e Sampaio, “leva
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em conta as convenções de estilo envolvidas na representação, o que implica em saber


como as convenções adquirem significados sociais” (2017). Mais sobre essa
abordagem será detalhado na metodologia do projeto.
Mas para delinear a importância de se estudar os protestos de uma perspectiva
midiática, voltemos a 2013, um ano antes da reeleição de Dilma Rousseff, quando
uma primeira onda de manifestações, estas contra o aumento das passagens de ônibus,
proliferou pelo país.
Na semana decisiva em que as manifestações tomaram nova proporção,
cristalizando expressões como “jornadas de junho” e “não é só por 20 centavos” para
se referir ao que antes era tratado pelos jornais de grande circulação como atos
isolados de vandalismo, os veículos da mídia tradicional, parafraseando Antunes e
Vaz (2006, p. 52), que num momento inicial criticaram em conjunto os protestos de
junho para, poucas semanas depois, abraçá-los como sinal de uma democracia
pulsante, foram inundados por “fluxos repentinos, verdadeiras enchentes” de fatos e
feitos dos protestos, “ampliando a vazão de narrativas” sobre eles. Para o cientista
político Marcos Nobre,

As revoltas de 2013 não têm lideranças, palanques nem discursos.


As passeatas se formam, se dividem e se reúnem sem roteiro
estabelecido. É difícil até mesmo prever onde vão surgir e ganhar
corpo. Organizam-se a partir de catalisadores nas redes sociais e
no boca a boca das mensagens de texto. Não são revoltas dirigidas
contra este ou aquele partido, esta ou aquela figura política. São
revoltas contra o sistema, contra “tudo o que aí está”. (2013, p.6)
Organizados e divulgados nas redes sociais da internet, esses protestos
ilustram bem a atual reconfiguração do espaço midiático da qual fala a pesquisadora
Geane Alzamora, “marcado pela lógica participativa e pela interconexão em rede”
(2012, p.53). Milhares de manifestantes transmitiram imagens e impressões sobre o
que acontecia, atestando tanto a tendência “à virtualização ou telerrealização das
relações humanas” de que fala Alzamora quanto “a dimensão comunicativa que
permeia práticas sociais mais amplas” indicada por Antunes e Vaz (2006, p. 50). A
instabilização que os protestos representaram para as narrativas jornalísticas
tradicionais, em cujas redações era visível a perplexidade sobre a forma e o conteúdo
dos protestos, integra o 'acontecimento junho de 2013', e explica, em parte, a guinada
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de opiniões entre os editorialistas de O Globo, Folha de S.Paulo, Band etc., e a


subsequente cobertura dos protestos de 2015-16.
Muito já se produziu sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Do processo
jurídico que culminou em sua queda às engrenagens políticas e econômicas que se
moveram para torná-la possível, parte de suas minúcias foram destrinchadas por
sociólogos, economistas, juristas, documentaristas e jornalistas. Mas o cientista
político Gabriel Vitullo, em um mea-culpa em nome de sua área de estudos, fala da
necessidade de examinar a democracia “também segundo a ótica das grandes massas”,
evitando o foco excessivo nas elites dirigentes:
a democratização não deve ser vista apenas como o resultado de
uma eleição ou opção estratégica das elites, omitindo o restante da
sociedade, os setores populares e a própria história. Ficar nesse
único plano implica dizer que são as elites e não a sociedade que
constituem os fatores cruciais da democratização e que, portanto, a
democracia pode ser confeccionada ou desmontada de acordo com
as opções ou decisões tomadas por um reduzido grupo de
lideranças políticas. (2001, P. 56)
Rousiley Maia aponta outro paradoxo semelhante: embora assumir a
centralidade da mídia na vida pública seja há muito um lugar-comum, parte dos
estudos que abordam a democracia negligenciam os meios de comunicação, “como se
eles não tivessem valor para explicação dos fenômenos” (2010, p.14). Outra
justificativa desta investigação está em tratar da constituição propriamente
comunicativa da democracia contemporânea e de seus recentes solavancos a partir
desse fenômeno tão atual, cujo desenrolar em verdade segue em passo, atentando para
a produção de sentidos nas coberturas dos protestos de 2015-16 – e também de
presença, diria Gumbrecht (2010), daí a nossa curiosidade quanto aos elementos
estéticos e performáticos dos protestos.

3º) Objetivos

Os objetivos desta proposta são: examinar as dimensões estéticas, narrativas,


ideológicas, simbólicas e sociopolíticas do tratamento dos protestos em favor do
impeachment nos meios de comunicação ditos tradicionais, e também nos chamados
novos meios que surgiram com a internet. Partindo destas coberturas jornalísticas,
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profissionais ou amadoras, engajadas ou “objetivas”, buscaremos caracterizar e


compreender o processo comunicacional engendrado desde os protestos, que,
conforme argumentaremos mais à frente, nos parece ter “migrado” para dentro da
Câmara – e para o mundo da política institucional em geral – a partir da votação que
determinou a abertura do processo de impedimento e nos anos subsequentes à queda
de Dilma Rousseff. Elementos que constituem, enfim, um panorama da instabilidade
democrática no Brasil, instabilidade esta que se observa também em outras nações,
como vamos expor na seção seguinte deste projeto de pesquisa.

4º) Referencial teórico

Jacques Rancière conta que o ódio à democracia é tão velho quanto a


democracia em si. O próprio termo, diz, foi cunhado como insulto pelos que “viam a
ruína de toda a ordem no inominável governo da multidão” (2014, p. 8). Da Ágora de
Atenas à constituição da massiva esfera pública, passando pela revolução Americana
e pela disseminação, patrocinada pelo Plano Marshall, da “pior forma de governo à
exceção de todas as outras” no pós-2ª Guerra, o que o acerto democrático buscou,
avalia o filósofo, foi “tirar do fato democrático o melhor que se podia tirar dele, mas
ao mesmo tempo contê-lo estritamente para preservar dois bens considerados
sinônimos: o governo dos melhores e a defesa da ordem proprietária” (p. 9).
Esse enlace entre democracia e capitalismo, explica o sociólogo Wolfgang
Streeck, se estabeleceu em parte do Ocidente sobretudo para evitar uma ressurreição
do totalitarismo e para fazer frente a sedução da saída soviética. Em sua “era de ouro”,
até o fim dos anos 1960, aliando crescimento econômico ao “estado do bem-estar
social”, esse encontro, diz Streeck, funcionou tão bem que domina ainda hoje “nossas
ideias sobre o que o capitalismo democrático é ou poderia e deveria ser” (2012, p. 36).
O “capitalismo democrático”, para Rancière, contudo, foi fundado e opera no
limite de uma contradição. Isso porque a democracia, em sua essência,

longe de ser a forma de vida dos indivíduos empenhados em sua


felicidade privada, é o processo de luta contra essa privatização, o
processo de ampliação dessa esfera. Ampliar a esfera pública não
significa, como afirma o chamado discurso liberal, exigir a
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intervenção crescente do Estado na sociedade. Significa lutar


contra a divisão do público e do privado que garante a dupla
dominação da oligarquia no Estado e na sociedade (2014, p. 72)

A democracia que conhecemos, então, não passaria de uma democracia manca,


um estado oligárquico de direito “limitado pelo duplo reconhecimento da soberania
popular e das liberdades individuais”, soberania e liberdades, estas, limitadas pela
realidade da economia, “que não nos dá a escolha de interpretar e nos pede somente
respostas adaptativas” (2012, p. 98).
À esquerda, a crítica à democracia, formulada inicialmente por Marx e ainda
influente, diz Rancière, acusa que “as leis e as instituições da democracia formal são
as aparências por trás das quais e o instrumento com os quais se exerce o poder da
classe burguesa” (2012, p. 9). O que esses críticos exigem, em tese, é mais
democracia – os protestos de 2013, entende Marcos Nobre, operaram nesta chave.
Mas a crítica à democracia observada em grande parte dos protestos contra
Dilma, ao contrário, exigiu outra coisa. Usando as palavras de Rancière, “o novo ódio
à democracia pode ser resumido em uma tese simples: só existe uma democracia boa,
a que reprime a catástrofe da civilização democrática” (2012, p. 11).
Esse decréscimo de adesão ao consenso democrático não é exclusividade
nacional. Para Afonso Albuquerque (2018), a situação brasileira não destoa do que
acontece mundo afora. Fortes sinais de uma crise proliferam-se inclusive nas
democracias consolidadas, diz o pesquisador, fazendo-se ver nos Estados Unidos de
Trump e na Inglaterra, agora destacada da União Europeia pelo reacionário acordo do
Brexit. Streeck diz algo semelhante: “parece evidente que a capacidade de gestão
política do capitalismo democrático declinou acentuadamente nos últimos anos”
(2012, p. 53). Diversos livros e estudos sobre a crise democrática foram divulgados
nos últimos anos, ao exemplo de “Como as democracias morrem', de Steven Levitsky
(2018), e “O povo contra a democracia”, de Yascha Mounk (2019).
Mas é verdade, também, que o ódio à democracia tem cores próprias no Brasil.
Do revisionismo quanto aos significados da ditadura militar passando pelo desprezo
ao estado laico e aos direitos humanos e pela negação da existência de racismo e de
interesses conflitantes de classes no país, ele conjuga, como demonstram os protestos
pelo impeachment e a votação na Câmara, uma rede de enunciados que parecem
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remeter à formação histórica e social do país. Seria talvez o caso de, nos moldes do
que Hannah Arendt chamou de “ideologia da ralé” em Origens do Totalitarismo,
pensar em uma ideologia da ralé à brasileira.
Em sua autópsia da ascensão do nazismo ao poder na Alemanha, Arendt
introduz o conceito de “ralé” para dizer de um grupo heterogêneo, composto por
gentes das mais variadas classes, e que por isso a historiografia às vezes confunde
com “o povo”. “Refugo” da burguesia, esses grupos que viriam a apoiar o nazismo
assistiam, desde o fim da 1a Guerra, à decadência das estruturas sociais e dos valores
morais em que se moldaram. Sem tradição de participação política, sua retórica se
fez justamente na rejeição à política, ao diálogo e às contradições que ela encerra. Às
diferenças inerentes à vida democrática, opôs, “não porque sejam estúpidas ou
perversas, mas porque essa fuga lhes permite manter um mínimo de respeito
próprio” (1975, p. 466), o autoritarismo e o recrudescimento de mitologias acerca da
raça e da nação. Violência simbólica e material, ódio e cinismo, para essa “ralé”,
afiguraram-se como métodos de ação política. O ensaísta Thiago Dias da Silva, em
artigo publicado na revista Cult, acrescenta outras características notáveis dessa
“ralé” política:

Projetando sobre o espaço público o funcionamento do espaço


privado, os indiferentes gritam, aos montes, que os problemas da
economia nacional se resolvem se todos acordarem mais cedo para
trabalhar, que as questões sociais se sanam com castigos mais
severos. Insensíveis ao tempo da política, acreditam que grandes
mudanças exigem apenas o tempo de demonstração de suas
verdades, creem no fim instantâneo da corrupção e nos efeitos
imediatos de leis moralizantes. Sem a mínima noção do que é
possível realizar dentro do espaço público, acreditam que um
vereador pode acabar com a nudez das artes, que o jornalismo deve
entregar corruptos à polícia, que seus filhos se tornarão bons
alunos porque o presidente prometeu educação rígida. (2019,
online2)

Guardadas as diferenças que distinguem o ódio à democracia na Alemanha dos


anos 1930/40 e nos dias de hoje no Brasil, parece haver similaridades na “ralé”
2
- Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/hannah-arendt-
bolsonarismo/?fbclid=IwAR3spv6x6-CGFq8qlsBjyA-OFg4r6Se031FNhztvT7k-
YNRgS75gGuecpzs
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descrita por Arendt e que foi visto em 2015-16 – e àquilo que, cada vez mais, tem
frequentado as discussões políticas. O viralismo do discurso antipolítica, com ataques
aos partidos em geral e ao PT em específico, e a defesa da “família”, de “deus” e da
“pátria” ante supostas ameaças difusas estão aí para respaldar a comparação. Cabe
perguntar: para além da disputa acerca do impeachment, o que esse ódio à democracia
no Brasil expressa, e como esses anseios reverberaram na mídia?
Para Benedict Anderson, a essência de ideias como as de “nação”, “povo” ou
“cidadãos de bem” consiste em que todos que a elas aderem “tenham muita coisa em
comum, e também que tenham esquecido muitas coisas” (2008, p. 32). De fato, o que
as manifestações pelo impeachment colocaram em cena foram também disputas em
torno da memória: a comunidade imaginária, o Brasil ali feito em performance,
trouxe consigo amnésias características, e para se chegar ao fundo do ódio à
democracia expresso em 2015-16 é também nesse espaço, no espaço das disputas da
memória – que, na definição de Henri Bergson, “intercala o passado no presente”
(1999, p. 80) –, que precisamos mergulhar.
O Brasil, diz Gilberto Freyre, “sendo um só, é também uma constelação de
Brasis” (1968, p. 11), de forma que o ineditismo do processo civilizatório brasileiro
estaria na delicada “renda social” que logrou “juntar contrários” e “harmonizar
extremos” (p. 124). Tais disputas acerca da memória desvelam também isso: um país
em que as visões de mundo – o “relacionamento com o real”, diz Muniz Sodré (2016,
p. 20) –, a parte a unidade formal, estão radicalmente cindidas. Pacificada
imperfeitamente, como provou o tempo, no processo político que André Singer chama
de “lulismo” (2012), as trincheiras que apartam os muitos brasis, explica Darcy
Ribeiro, têm profundas raízes históricas:

Nessas condições [da formação histórica nacional], exacerba-se o


distanciamento social e cultural entre as classes dominantes e as
subordinadas, e entre estas e as oprimidas, agravando as oposições
para acumular, debaixo da uniformidade étnica-cultural e da
unidade nacional, tensões dissociativas de caráter traumático. Em
consequência, as elites, primeiro lusitanas, depois luso-brasileiras
e, afinal, brasileiras, viveram sempre e vivem ainda sob o pavor
pânico do alçamento das classes oprimidas. Boa expressão desse
pavor pânico é a brutalidade repressiva contra qualquer
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Uma estética da democracia agonizante na cobertura dos protestos pelo impeachment de


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insurgência e a predisposição autoritária, que não admite qualquer


alteração da ordem vigente. (1995, p. 23)
O “caráter traumático” dessas “tensões dissociativas”, cremos, ficou expresso,
em negativo, nas manifestações pelo impeachment e em sua cobertura pelos mais
variados meios de comunicação. Novas perguntas surgem daí: que qualidade de
imaginário a cobertura dos protestos mobilizou, a que memórias recorreram e quais
ambicionaram encobrir? Acredito que na atenção aos elementos propriamente
estéticos dos protestos e de suas representações midiáticas possamos satisfazer parte
das dúvidas até aqui apresentadas.
Muniz Sodré dá conta de que o “trabalho do sensível na sociedade” é
composto de “falas, gestos, ritmos e ritos” guiadas por “uma lógica afetiva em que
circulam estados oníricos, emoções e sentimentos” (2006, p. 33). Recompor
analiticamente esse quadro sensível, enfim, é outro dos desafios desta investigação.

5º) Metodologia

A investigação se desdobrará em duas etapas. Para melhor enquadrar os


acontecimentos em questão, em um primeiro momento será retomada a história da
hegemonização do discurso democrático no Ocidente, história que passa, como já foi
apontado, pela conciliação entre democracia e capitalismo e a decorrente legitimação,
para além dos ideais democráticos, de ideais de progresso, mérito individual etc. Em
paralelo, amparado por Rancière, Hannah Arendt e outros, retomarei também a
história-irmã da democracia, ou seja, a história dos discursos e das ideias que a
confrontam e que com ela geram fricção: certo discurso economicista, proselitismo de
classe, nacionalismos e moralismos, entre outros, serão temas de interesse.
Ainda nessa primeira fase, dedicarei atenção especial à constituição da
democracia no Brasil e à formação de um arcabouço político-institucional, e também
cultural, que, para André Singer (2012) e Marcos Nobre (2013), visou a “blindar” os
comandantes da política de pressões populares. Esse arcabouço, cujas características
institucionais se cristalizaram na redemocratização, mas que tem raízes que aludem há
muito antes, teria sofrido um abalo a partir de 2013, processo que se torna mais
agudo, por vias imprevistas, em 2015-16. Para compreender esse arco, atentarei para
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Dilma Rousseff

os momentos em que a rua – como nas manifestações pelas Diretas ou na deposição


de Collor – ocupou posição central na mídia e no processo democrático nacional.
Tendo tratado dos antecedentes, passo à segunda fase. Para abordar os
protestos de 2015-16 e a votação na Câmara, opto por não trazer de antemão um
material selecionado: pretendo um levantamento de materiais jornalísticos e
documentais que não seja exaustivo, mas representativo do que se deu nas ruas e no
Congresso e das maneiras como os eventos foram narrados, prestando atenção às
peculiaridades regionais e a escalada das manifestações. Assim, videorreportagens,
textos e fotos da imprensa profissionalizada (Folha de S.Paulo, Piauí, El País, BBC,
GloboNews, G1, O Estado de S.Paulo, Estado de Minas, Uol etc), bem como textos,
fotos e vídeos produzidos por manifestantes e pela dita mídia alternativa (Mídia Ninja,
Movimento Brasil Livre, Jornalistas Livres etc), serão levados em conta. O período
pesquisado irá de 15 de março de 2015, data em que acontece o primeiro protesto
massivo pedindo a deposição da presidenta, convocado por movimentos como
“Endireita Brasil”, “Vem pra rua” e MBL, até a votação na Câmara em 17 de abril de
2016. A sessão dominical que abriu o processo de impeachment contra Dilma,
transmitida ao vivo pela TV Câmara, será também foco de atenção. Não pretendo
ignorar, ao longo da investigação, que, em simultâneo, manifestações em favor do
mandato da presidenta aconteciam; mas, por contingência do foco, elas irão compor
um segundo plano nas análises.
Nossa visada sobre esse material obedecerá sempre que possível a
metodologia do enquadramento multimodal, assim sintetizada por Rizzotto, Prudencio
e Sampaio (2017):

A análise é realizada a partir de quatro níveis: denotativo,


semiótico-estilístico, conotativo e ideológico. Os níveis conotativo
e ideológico buscam responder quais são os significados sociais
inseridos nos símbolos e como as imagens são construídas de
maneira a moldar a percepção da audiência (…). A análise
narrativa se pauta no grau de narratividade, no gênero narrativo e
nos papeis associados aos sujeitos presentes na notícia (…). A
análise de enquadramento parte da conceituação de Robert Entman
(1997), que explica que os quadros da mídia são compostos pela
definição do problema, diagnóstico das causas, julgamentos morais
e indicação de soluções. (2017).
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O exame dos protestos e da votação na Câmara como eventos interligados tem


mais de uma razão. A primeira é que as forças que se mobilizaram pela deposição
justificaram seus movimentos a partir de dois principais argumentos: o impeachment
observava os ritos e prazos jurídicos estabelecidos; e havia clamor popular pedindo o
afastamento da presidenta. Assim, o que teria banhado de legitimidade a votação de
17 de abril foram também os protestos de 2015-16 – como sabemos, uma longa e
desgastante discussão aponta para o golpismo inerente ao processo como um todo, e
esses dois argumentos frequentam obrigatoriamente a vertente dos que vêm na
deposição de Dilma uma saída legítima, ainda que traumática politicamente.
Luís Felipe Miguel (2017), Wilson Gomes (2005) e diversos nomes das
ciências e da comunicação política concordam com Vitullo em que, desde a
redemocratização, “a política institucionalizou-se de maneiras que desvalorizam, de
modo sistemático, a dimensão participativa da democracia” (2001, p. 57). Para
Marcos Nobre, foi também esse “fechamento do sistema político à efetiva influência e
participação da sociedade que abriu a possibilidade da canalização de energias de
vulto contra a própria democracia” (2013, 12). Esse acerto alimenta certa dinâmica
clientelista entre representantes e representados que vimos operar no impeachment.
Não por acaso, assistimos na votação de abril dedicatórias como a do deputado Valdir
Colatto (PMDB-SC), que votou “por Santa Catarina, por nossos agricultores, sem os
quais ninguém almoça nem janta”, ou de Adail Carneiro (PP-CE), que ilustra à
perfeição essa dinâmica:

Reconheço o trabalho belíssimo que o ex-presidente Lula fez pelo


nosso Brasil, dando oportunidades aos mais pobres. Quero pedir
desculpas a ele e também ao Cid Gomes [governador do Ceará].
Mas não posso deixar de atender aos pedidos das redes sociais
para que tenhamos nova oportunidade ao povo (online3)

Mas, para além das causalidades políticas entre os protestos e a votação,


entendo ser necessário examiná-los em conjunto pela continuidade estética que os
liga. As mesmas cores, o mesmo clima festivo, o mesmo discurso ora furioso ora
alusivo a certa ideia de cordialidade, a mesma atmosfera – o mesmo stimmung,
acrescentaria Gumbrecht – fizeram-se presentes nas ruas e na Câmara. Interessa,

3
- Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=wcxN2WZRcEU , acessado em 7/9/2018
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portanto, a forma como os representantes políticos buscaram, em suas performances


no Plenário, se aproximar estética e simbolicamente do que se expressou nas
manifestações pelo impeachment, bem como o contexto altamente midiatizado
inerente a ambos.
A performance, explica Zumthor, “momento decisivo em que todos os
elementos se cristalizam em uma e para uma percepção sensorial, (…) realiza,
concretiza, faz passar algo da virtualidade à realidade” (2007, p. 9). Retomando B.
Anderson, performou-se em 2015-16 um Brasil imaginado, performance esta que
“implica e comanda uma presença, uma conduta, um Dasein comportando
coordenadas espaço-temporais e fisiopsíquicas concretas, uma ordem de valores
encarnada em um corpo vivo” (p. 15). Esses “enunciados performativos”, seguindo
também o pesquisador Carlos Mendonça, estão, portanto, “atravessados por saberes
específicos, configurados a partir de uma ética e uma estética própria” (2018, p. 4).
O aspecto estético dos protestos e da votação e a sua apresentação na mídia
será o eixo analítico condutor desta investigação. O drama ali constituído, diria
Wisnik, é revelador de uma série de “relações, valores e ideologias que podem estar
em um estado de latência ou de virtualidade num dado sistema social” (2008, p. 24).
Assuntos nos quais não se toca vieram à tona naqueles meses, exibindo com
eloquência traços dos conflitos e contradições da conformação social brasileira
geralmente relegados ao velho conhecido e falsamente conciliador “deixa disso”.
Uma última ideia que pode ser útil na investigação é a caracterização que
Sodré faz da “estética do grotesco” como “outro estado de consciência que penetra a
realidade das coisas, exibindo a sua convulsão, arrancando-lhe os véus do
encobrimento” (2016, p. 23). Estaria a democracia contemporânea, acompanhando
Sodré, beirando “à extrapolação violenta de si mesma, vulnerável ao paradoxo de seus
valores universais, que carregariam ao mesmo tempo a sua afirmação e a sua
denegação” (p. 24)?
Se acreditarmos que sim, e parece ser esse o caso, momentos como a “dança
do impeachment”, protagonizada por manifestantes em Fortaleza em 16 de agosto de
2015 e divulgada nas redes sociais, ou a abertura da sessão de votação na Câmara,
quando o então deputado federal Eduardo Cunha rogou “que Deus tenha piedade
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desta nação”, podem ser compreendidos a partir da chave da estética do grotesco, que
para Sodré muitas vezes oferece “uma radiografia inquietante, surpreendente, às vezes
risonha, do real” (p. 24). Torno a questionar, enfim: o que a cobertura dos ataques à
democracia nas manifestações pelo impeachment de Dilma ambicionaram encobrir, e
o que revelaram nessa tentativa?

6º) Cronograma

2019 2019 2020 2020 2021 2021 2022


2022/2
/1 /2 /1 /2 /1 /2 /1
Levantamento bibliográfico e
seleção dos autores e
X X X X
conceitos que integrarão a
tese; elaboração de artigos
Cumprimento das disciplinas
obrigatórias, optativas e X X X X
estágio docência
Elaboração do projeto de
X
pesquisa final
Elaboração de análises sobre
o material jornalístico e
documental acerca das
X X X X
manifestações de 2016 e da
votação do impeachment na
Câmara dos deputados
Redação do texto da
qualificação, já com as X X
primeiras análises
Qualificação X
Redação e revisão do texto
final da tese, considerando os
X X X
apontamentos da banca de
qualificação
Defesa da tese X

7º) Referências bibliográficas


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