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WARREN LEVINSON

Tradução
Flávio Guimarães da Fonseca
Professor associado do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Doutor em Microbiologia pela UFMG.

Danielle Soares de Oliveira Daian


Doutoranda do curso de Pós-Graduação em Microbiologia da UFMG.
Mestre em Microbiologia pela UFMG.

Revisão técnica desta edição


Flávio Guimarães da Fonseca
Professor associado do Departamento de Microbiologia da UFMG. Doutor em Microbiologia pela UFMG.

L665m Levinson, Warren.


Microbiologia e imunologia médicas [recurso
eletrônico] / Warren Levinson ; tradução: Danielle Soares de
Oliveira Daian ; tradução e revisão técnica: Flávio
Guimarães da Fonseca. - 13. ed. - Porto Alegre : AMGH,
2016.

Editado como livro impresso em 2016.


ISBN 978-85-8055-557-8

1. Microbiologia médica. 2. Imunologia. I. Título.

CDU 579.61

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo - CRB 10/2094


Um livro médico LANGE

WARREN LEVINSON
Professor of Microbiology
Department of Microbiology and lmmunology
University of California, San Francisco
San Francisco, California

• • , •
1cro 1a e 1ca

13ª Edição e muno o

Versão impressa
desta obra: 2016

Me
Graw
Hill
Education

AMGH Editora Ltda.


2016
Obra originalmente publicada sob o título Review ofmedical microbiology and immunology, 13th edition
ISBN 9780071818117

Original edition copyrigth ©2014, McGraw-Hill Global Education Holdings, LLC, New York, New York.
Ali rights reserved.

Portuguese language translation copyright ©2016, AMGH Editora Ltda., a Division of Grupo A Educação S.A. Company.
Ali rights reserved.

Gerente editorial: Letícia Bispo de Lima

Colaboraram nesta edição:

Editora: Simone de Fraga

Arte sobre capa original: Márcio Monticelli

Preparação de originais: Carine Garcia Prates

Leitura final: Marquieli Oliveira

Editoração: Techbooks

Nota
A microbiologia e a imunologia são ciências em constante evolução. À medida que novas pesquisas e a própria experiência clínica
ampliam o nosso conhecimento, são necessárias modificações na terapêutica, em que também se insere o uso de medicamentos.
Os autores desta obra consultaram as fontes consideradas confiáveis num esforço para oferecer informações completas e, geral-
mente, de acordo com os padrões aceitos à época da publicação. Entretanto, tendo em vista a possibilidade de falha humana ou de
alterações nas ciências médicas, os leitores devem confirmar estas informações com outras fontes. Por exemplo, e em particular,
os leitores são aconselhados a conferir a bula completa de qualquer medicamento que pretendam administrar para se certificar
de que a informação contida neste livro está correta e de que não houve alteração na dose recomendada nem nas precauções e
contraindicações para o seu uso. Essa recomendação é particularmente importante em relação a medicamentos introduzidos
recentemente no mercado farmacêutico ou raramente utilizados.

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à


AMGH EDITORA LTDA., uma parceria entre GRUPO A EDUCAÇÃO S.A. e McGRAW-HILL EDUCATION
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É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer


formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web
e outros), sem permissão expressa da Editora.

IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Agradecimentos
Dou boas-vindas a Brian S. Schwartz, M.D., como colaborador ra da 7ª edição, Jennifer Bernstein; à editora da 8ª edição, Linda
nesta 13ª edição. Brian é professor assistente da Escola de Medici- Conheady; à editora das 10ª e 11ª edições, Sunita Dogra; à edi-
na, University of California em São Francisco, leciona Medicina tora da 12ª edição, Rebecca Kerins; e à editora da 13ª edição,
Clínica e é especialista em doenças infecciosas. Ele contribuiu Caroline Define, por terem possibilitado que os mais elevados
com três importantes capítulos para a nova parte de doenças in- padrões de gramática, ortografia e estilo tenham sido observa-
fecciosas deste livro. dos e aplicados.
Pelo mesmo grato motivo, dou boas-vindas a Peter Chin- Agradeço imensamente a inestimável assistência de minha
-Hong, M.D. Peter é professor associado da Escola de Medicina, esposa, Bárbara, para tornar este livro uma realidade.
University of California em São Francisco, leciona Medicina Clí- Dedico este livro aos meus pais, que me ensinaram o amor
nica e é especialista em doenças infecciosas. Ele contribuiu com à academia, o prazer em ensinar e o valor de ser uma pessoa
quatro importantes capítulos para a nova parte deste livro, sobre organizada.
doenças infecciosas.
Agradeço à editora das 5 primeiras edições deste livro, Warren Levinson
Yvonne Strong; à editora da 6ª edição, Cara Lyn Coffey; à edito-
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
Prefácio
Este livro é uma revisão concisa dos aspectos de importância mé- As características a seguir foram incluídas para promover
dica da microbiologia e da imunologia. Ele contempla tanto os uma experiência de aprendizado bem-sucedida aos estudantes
aspectos básicos quanto os clínicos da bacteriologia, virologia, que utilizam este livro:
micologia, parasitologia e imunologia. As doenças infecciosas
1. A informação é apresentada de forma sucinta, com especial
importantes também são discutidas, usando uma abordagem de
cuidado em deixá-la clara, interessante e atual.
órgãos e sistemas.
2. Há uma forte ênfase no texto quanto à aplicação clínica da
O principal objetivo desta obra é ser uma fonte de informa-
microbiologia e da imunologia às doenças infecciosas.
ções atualizadas e clinicamente relevantes em um nível apropria-
3. Nas seções de bacteriologia e virologia clínicas, os micror-
do àqueles que estão iniciando sua educação médica, de modo
ganismos estão separados em patógenos de maior e menor
especial na disciplina de microbiologia médica.
importância. Isso permite ao estudante focar nos microrga-
Esta edição apresenta informações de importância médica
nismos mais importantes e clinicamente relevantes.
nos campos em constante mudança da microbiologia e da imu-
4. As informações-chave são resumidas em tabelas de revisão.
nologia. O livro contém muitas fotomicrografias coloridas de
Conceitos importantes são ilustrados por figuras coloridas.
microrganismos corados, assim como imagens de testes labora-
5. Conceitos-chave são listados ao final de cada capítulo de
toriais importantes. Ele também inclui muitas imagens de lesões
ciência básica.
clínicas e destaca informações atuais sobre fármacos antimicro-
6. Questões de autoavaliação com respostas estão incluídas ao
bianos e vacinas.
final de cada capítulo.
Com vistas a tornar o livro útil para estudantes com diversos
7. As questões para autoavaliação abrangem aspectos impor-
objetivos de estudo e estilos de aprendizado, a didática foi ampla-
tantes de cada subdisciplina: bacteriologia, virologia, mico-
mente explorada.
logia, parasitologia e imunologia. Uma seção separada con-
1. Uso de linguagem acessível. tendo questões adicionais foi incluída. Outra seção oferece
2. Uma seção separada contendo resumos de microrganismos questões ambientadas no contexto de casos clínicos.
importantes para uma revisão rápida dos conteúdos essenciais. 8. Breves resumos sobre microrganismos de importância mé-
3. Questões para autoavaliação, com respostas ao final de cada dica são apresentados juntos, em uma seção especial, com o
grupo de questões. objetivo de facilitar o acesso rápido à informação e estimu-
4. Questões para Diagnóstico Clínico, com 80 questões de mi- lando a comparação entre microrganismos.
crobiologia e imunologia. As questões são escritas no forma- 9. Cinquenta casos clínicos são apresentados em um formato
to de casos clínicos e simulam um exame feito em compu- breve de resolução de problemas, permitindo a análise pelo
tador. Respostas são fornecidas ao final de cada bloco de 40 leitor. Esses casos ilustram a importância da informação ad-
questões. vinda da ciência básica para o diagnóstico clínico.
5. Questões de autoavaliação com respostas estão presentes ao 10. Imagens coloridas ilustrando achados clínicos importantes,
final dos capítulos, para que o estudante verifique se as in- como lesões de doenças infecciosas, colorações de Gram de
formações importantes foram aprendidas. bactérias, fotomicrografias eletrônicas de vírus e imagens
6. Vinhetas de casos clínicos oferecem informações úteis para microscópicas de fungos, protozoários e vermes estão in-
testes e exames. cluídas ao longo do texto.
7. Uma seção intitulada "Resumo para diagnóstico de doenças 11. A 13ª edição apresenta 9 novos capítulos sobre doenças
infecciosas" contempla também aspectos epidemiológicos. infecciosas a partir de uma perspectiva de órgãos e siste-
8. Muitas imagens de lesões clinicamente relevantes, vistas em mas. Estes capítulos foram escritos em linguagem também
pacientes com diversas doenças infecciosas descritas neste acessível e são apropriados para introduzir os estudantes de
livro, estão disponíveis em www.langetextbooks.com (em medicina aos respectivos assuntos. Os capítulos são intitu-
inglês)*. lados Infecções dos ossos e das juntas, Infecções cardíacas,
Infecções do sistema nervoso central, Infecções do trato
gastrintestinal, Infeções pélvicas, Infecções do trato respi-
*A manutenção e a disponibilização desta página são de responsabilidade ratório superior, Infecções do trato respiratório inferior,
da McGraw-Hill Education .
•••
VI 11 Prefácio

Infecções da pele e de tecidos moles e Infecções do trato que apresenta a informação essencial de um modo agradável, in-
• I •
unnano. teressante e que estimule a aprendizagem. Espero que você con-
corde que este livro atende esses critérios.
Após lecionar microbiologia médica e doenças infecciosas
por muitos anos, percebo que os estudantes apreciam um livro
Warren Levinson
Recursos de aprendizagem
1. CONTEÚDO DO CAPÍTULO: os principais assuntos em 5. RESUMO PARA DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS INFEC-
cada capítulo estão listados de forma que o leitor possa iden- CIOSAS: 11 tabelas contendo importantes informações clí-
tificar rapidamente os tópicos discutidos. nicas e epidemiológicas (páginas 681 a 688).
2. TEXTO: uma descrição objetiva e completa de informações 6. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO: 654 questões para
de importância médica para estudantes. Inclui bacteriologia autoavaliação que podem ser usadas como revisão e estudo
básica e clínica (páginas 1-218), virologia básica e clínica (páginas 689 a 730).
(páginas 219-382), micologia (fungos) (páginas 383-408), 7. QUESTÕES PARA DIAGNÓSTICO CLÍNICO: Duas se-
parasitologia (páginas 409-474), imunologia (páginas 475- ções com 40 questões (páginas 731 a 740).
568) e ectoparasitas (páginas 569-576). 8. CONCEITOS-CHAVE: resumos ao final de cada capítulo
O texto possui, também, 9 capítulos sobre doenças in - de ciência básica.
fecciosas. Esses capítulos incluem Infecções de ossos e juntas 9. CASOS CLÍNICOS: 50 casos que descrevem importantes
(páginas 577-581), Infecções cardíacas (páginas 582-588), doenças infecciosas com ênfase em informações diagnósti-
Infecções do sistema nervoso central (páginas 589-596), In- cas (páginas 671 a 680).
fecções do trato gastrintestinal (páginas 597-603), Infecções 10. IMAGENS CLÍNICAS: mais de 50 imagens de lesões cli-
do trato respiratório superior (páginas 611-616), Infecções nicamente importantes ilustram os textos. Imagens clínicas
do trato respiratório inferior (páginas 617-621), Infecções adicionais podem ser encontradas em www.langetextbooks.
da pele e de tecidos moles (páginas 622-628) e Infecções do com/levinson/gallery/ (em inglês)*.
trato urinário (páginas 629-632).
3. RESUMOS DE ORGANISMOS: descrevem características
importantes dos organismos (páginas 633-670), permitindo
uma revisão mais rápida do assunto.
4. APLIQUE SEU CONHECIMENTO: questões com respos- *A manutenção e a disponibilização desta página são de responsabilidade
tas estão incluídas no final dos capítulos. da McGraw-Hill Education.
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
Sumário
23. Micoplasmas 193
PARTE 1
24 Espiroquetas 195
Bacteriologia Básica 1 25. Clamídias 204
26. Riquétsias 208
1. Bactérias Comparadas a Outros
Microrganismos 1 27. Patógenos Bacterianos de Menor
Importância 212
2. Estrutura de Células Bacterianas 4
3. Crescimento 15
4. Genética 18 PARTE 111
5. Classificação de Bactérias de Importância
Médica 24
Virologia Básica 219
6. Microbiota Normal 26 28. Estrutura 220
7. Patogênese 31 29. Replicação 226
8. Defesas do Hospedeiro 52 30. Genética e Terapia Gênica 238
9. Diagnóstico Laboratorial 61 31. Classificação dos Vírus de Importância
10. Fármacos Antimicrobianos: Mecanismo de Médica 242
Ação 69 32. Patogênese 247
11. Fármacos Antimicrobianos: Resistência 86 33. Defesas do Hospedeiro 255
12. Vacinas Bacterianas 95 34. Diagnóstico Laboratorial 261
13. Esterilização e Desinfecção 99 35. Fármacos Antivirais 264
36. Vacinas Virais 274
PARTE 11
Bacteriologia Clínica 105 PARTE IV
14. Visão Geral dos Principais Patógenos e
Virologia Clínica 279
Introdução às Bactérias Anaeróbias 105 37. Vírus de DNA Envelopado 282
15. Cocos Gram-Positivos 109 38. Vírus de DNA Não Envelopado 297
16. Cocos Gram-Negativos 127 39. Vírus de RNA Envelopado 303
17. Bacilos Gram-Positivos 134 40. Vírus de RNA Não Envelopado 322
18. Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao 41. Vírus da Hepatite 331
Trato Intestinal 146 42. Arbovírus 342
19. Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao 43. VírusTumorais 348
Trato Respiratório 168
44. Vírus Lentos e Príons 359
20. Bacilos Gram-Negativos Relacionados a Fontes
45. Vírus da Imunodeficiência Humana 365
Animais (Organismos Zoonóticos) 174
46. Patógenos Virais de Menor Importância 377
21. Micobactérias 180
22. Actinomicetos 190
••
XII Sumário

PARTE V PARTE IX
Micologia 383 Doenças Infecciosas 577
47. Micologia Básica 383 70. Infecções dos Ossos e das Articulações 577
48. Micoses Cutâneas e Subcutâneas 389 71. Infecções Cardíacas 582
49. Micoses Sistêmicas 393 72. Infecções do Sistema Nervoso Central 589
50. Micoses Oportunistas 400 73. Infecções do Trato Gastrintestinal 597
74. Infecções Pélvicas 604
75. Infecções do Trato Respiratório Superior 611
PARTE VI 76. Infecções do Trato Respiratório Inferior 617
Parasitologia 409 77. Infecções da Pele e dos Tecidos Moles 622
51. Protozoários Intestinais e Urogenitais 41 O 78. Infecções do Trato Urinário 629
52. Protozoários do Sangue e de Tecidos 420
53. Protozoários Patógenos de Menor PARTE X
Importância 437
54. Cestódeos 440
Resumos dos Organismos
55. Trematódeos 449 de Importância Médica 633
56. Nematódeos 456

PARTE XI
PARTE VII
Casos Clínicos 671
Imunologia 475
57. Imunidade 475
58. Bases Celulares da Resposta Imune 486 PARTE XII
59. Anticorpos 507 Resumo para Diagnóstico
60. Imunidade Humoral 516 de Doenças Infecciosas 681
61. lmunidadeCelular 519
62. Complexo Principal de
Histocompatibilidade e Transplantes 521
63. Complemento 527
PARTE XI li
64. Reações Antígeno-Anticorpo no Questões para Autoavaliação 689
Laboratório 531
65. Hipersensibilidade (Alergia) 541
66. Tolerância e Doença Autoimune 550 PARTE XIV
67. Imunidade a Tumores 559 Questões para
68. Imunodeficiência 561
Diagnóstico Clínico 731

PARTE VI 11 Índice 741


Ectoparasitas 569
69. Ectoparasitas que Causam Doenças
em Seres Humanos 569
CAPÍTULO

Bactérias Comparadas a
Outros Microrganismos 1
CONTEODO DO CAPITULO

Micróbios que causam doenças infecciosas Conceitos·chave


características importantes Aplique seu conhecimento
Eucariotos e procarlotos Questões para autoavaliação
Terminologia

MICRÓBIOS QUE CAUSAM DOENÇAS ma, onde as proteínas são sintetizadas e a energia é gerada. Vírus
apresentam um cerne que contém o material genético (RNA ou
INFECCIOSAS DNA). mas não apresentam citoplasma. e.por isso dependem das
Os agentes de doenças infecciosas humanas pertencem a cinco cé)ulas hospedeiras para prover a maquinaria de síntese proteica
principais grupos de organismos: bactérias, fungos.. protO'LOários.. e geração de energia.
he)mintos e virus. As bactérias pertencem ao reino dos procario- (2) Mecanismo de replicação. As células replicam-se
tos. os fungos (leveduras e bolores) pertencem ao reino dos fun- por fissão binária ou por mitose. periodo durante o qual uma
gos. e os protozoários são membros do reino dos protistas. Por célula parental divide-se, originando duas cé)u)as-filhas, en-
ftm, os hehnintos (vermes) são classificados no reino dos animais quanto mantém sua estrutura ce)u)ar. As cé)ulas procarióticas
(Tabela l· l) Protistas e fungos se distinguem dos animais e plan· (p. ex.. bactérias) replicam-se por fissão binária, ao passo que.
tas por serem ou unicelu1ares ou então organismos multic.e1u1ares as célu)as eucarióticas replicam-se. por mitose. Em contraparti-
re)ativamente simples. Por outro lado, os helmintos são organis- da, os vírus desorganizam-se, produzindo várias cópias de seu
mos mu1ticelu1ares comp)exos. Em conjunt~ os he)mintos e os
protozoários são denominados parasitas. Os vírus são muito dis-
tintos dos demais organismos - não exibem natureza celu1ar. mas TABELA 1·1 Relações biológicas entre microrganismos
se mu)tip)icam somente dentro de célu)as. patogênicos
Microrganismos
Reino potG91nia>s Tipos do c,1u111
CARACTERfSTICAS IMPORTANTES
Animal Helmintos (viumes) Eucar'iótico
Várias das características essenciais desses organismos estão des-
critas na Tabela 1-2. Uma propriedade marcaJ\te é o fato de bac- Ptotistas PrototOá(iOS Eucariótico
térias. fungos. protozoários e helmilltos serem celulares.. ao passo
que os vírus Jlão são. Essa distinção baseia-se principa1mente em Fungos Fungos Oevedufas e bolore:s) E.ucatiótico
três critérios: Ptoca,ionte 8act~fias P,ocariótico
(1) Estrutura. Cé)ulas possuem um núcleo ou nudeoide
Vírus Não celular
(ver a seguir) que contém ONA; este é circundado pelo citoplas-
2 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 1-2 Comparação entre organismos de importância médica

Característica Vírus Bactérias Fungos Protozoários e helmintos

Células Não Sim Sim

Diâmetro aproximado (µ,m) 1 0,02-0,2 1-5 3-1 O (leveduras) 15-25 (trofozoítos)

Acido nucleico DNAou RNA DNAeRNA DNAe RNA DNAe RNA

Tipo de núcleo Nenhum Procariótico Eucariótico Eucariótico

Ribossomos Ausentes 705 805 805

Mitocôndrias Ausentes Ausentes Presente Presente

Natureza da superfície Capsídeo proteico ou Parede celular rígida con- Parede celular rígida Membrana flexível
externa lipoproteico tendo peptideoglicano contendo quitina

Motilidade Nenhum Parcial Nenhum A maioria

Método de replicação Não por fissão binária Fissão binária Brotamento ou mitose2 Mitose 3
1
Para comparação, uma hemácia humana mede cerca de 7 µm.
2
Leveduras dividem-se por brotamento, ao passo que os bolores dividem-se por mitose.
3
Células helmfnticas dividem-se por mitose, mas o organismo se reproduz por meio de ciclos de vida sexuais complexos.

ácido nucleico e de proteínas, e, em seguida, reorganizam-se (1) A célula procariótica possui um núcleo verdadeiro que
em uma progênie de múltiplos vírus. Além disso, os vírus de- contém múltiplos cromossomos, sendo circundado por uma
vem replicar-se no interior de células hospedeiras, uma vez que, membrana nuclear, e utiliza um aparato mitótico para garantir a
conforme mencionado anteriormente, eles são desprovidos de alocação equitativa dos cromossomos na progênie celular.
sistemas para síntese de proteínas e geração de energia. Com ex- (2) O nucleoide de uma célula procariótica consiste em uma
ceção das riquétsias e clamídias, que também requerem células única molécula circular de DNA organizada frouxamente, des-
hospedeiras para seu crescimento, as bactérias podem replicar- provida de membrana nuclear e de aparato mitótico (Tabela 1-3).
-se extracelularmente.
Além dos diferentes tipos de núcleos, as duas classes celula-
(3) Natureza do ácido nucleico. As células contêm tanto
res distinguem-se por várias outras características:
DNA quanto RNA, ao passo que os vírus contêm DNA ou RNA,
porém não ambos. (1) As células eucarióticas contêm organelas, como mito-
côndrias e lisossomos, assim como ribossomos maiores (SOS),
enquanto as procarióticas não apresentam organelas e exibem
ribossomos menores (70S).
EUCARIOTOS E PROCARIOTOS (2) A maioria dos procariotos apresenta uma parede celular
As células evoluíram em dois tipos fundamentais distintos, eu- rígida, contendo peptideoglicano, um polímero de aminoácido
carióticas e procarióticas, podendo ser diferenciadas com base e açúcares, como seu componente estrutural exclusivo. As célu-
na sua estrutura e na complexidade de sua organização. Os fun - las de eucariotos, ao contrário, não contêm peptideoglicano. Elas
gos e protozoários são eucarióticos, ao passo que as bactérias são são ligadas por uma membrana celular flexível, ou, no caso dos
procarióticas. fungos, apresentam uma parede celular rígida contendo quitina,

TABELA 1-3 Características de células procarióticas e eucarióticas

Característica Células bacterianas procarióticas Células humanas eucarióticas

DNA no interior de uma membrana nuclear Não Sim

Divisão mitótica Não Sim

DNA associado com histonas Não Sim

Número de cromossomos Um Mais de um

Organelas envoltas por membranas, como mitocôndrias e lisossomos Não Sim

Tamanho do ribossomo 705 805

Parede celular contendo peptideoglicano Sim Não


CAPÍTULO 1 Bactérias Comparadas a Outros Microrganismos 3

ca, como poliovírus, vírus do sarampo ou vírus da raiva. Alguns


CONCEITOS-CHAVE vírus são denominados com dois termos, como o herpes-vírus
humano, porém esses termos não representam gênero e espécie.
• Os agentes que causam doenças infecciosas em seres huma-
nos incluem bactérias, fungos (leveduras e bolores), protozo-
ários, helmintos (vermes) e vírus.
APLIQUE SEU CONHECIMENTO
• As células bact erianas têm um núcleo procariótico, ao passo
que as células humanas, fúngicas, d e protozoários e de hei m in- 1. Você está assistindo a um programa de televisão sobre bacteriófa-
tos apresentam um núcleo eucariótico. Os vírus são acelulares gos, vírus que causam a morte de bactérias. Seu colega de quarto
e não possuem núcleo. diz: "Uau, talvez os vírus possam ser utilizados para matar bactérias
que infectam seres humanos. Você está tendo aula de microbiologia
• Todas as células contêm tanto DNA quanto RNA, ao passo que
atualmente; quais as diferenças entre vírus e bactérias?". Qual das
os v írus contêm DNA ou RNA, nunca ambos.
seguintes opções seria a afirmação mais precisa?
• Células bacterianas e fúngicas são envoltas por uma parede
(A) Vírus n ão possuem mitocôndrias, ao passo que as bactérias
celular rígida, ao passo que as células humanas, de protozoá-
possuem.
rios e de hei mintos apresentam membrana celular flexível.
(B) Vírus não possuem núcleo, ao passo que as bactérias possuem.
• A parede celular bact eriana contém peptideoglicano, ao pas- (C) Vírus não possuem ribossomos, ao passo que as bactérias pos-
so que a parede celular fúngica contém quitina. suem.
(D ) Os vírus replicam-se por fissão binária, ao passo que as bacté-
rias se replicam por mitose.
(E) Vírus são procariotos, ao passo que as bactérias são eucariotas.
um homopolímero de N-acetilglicosamina, geralmente forman-
2. As bactérias, os fungos (leveduras e bolores), os vírus e os protozoá-
do seu arcabouço.
rios são agentes importantes de doen ças humanas. Qual dos micror-
(3) A membrana da célula eucariótica contém esteróis, en-
ganismos a seguir apresenta DNA ou RNA, mas não ambos?
quanto nenhum procarioto - com exceção do organismo desprovi-
(A) Bactérias.
do de parede, Mycoplasma - contém esteróis em suas membranas.
(B) Bolores.
A motilidade corresponde à outra característica pela qual (C) Protozoários.
esses organismos podem ser diferenciados. A maioria dos pro- (D) Vírus.
(E) Leveduras.
tozoários e algumas bactérias são móveis, ao passo que os fungos
e vírus são imóveis. Os protozoários formam um grupo hetero- 3. Qual dos organismos a seguir contém DNA não circundado por
gêneo que pode apresentar três órgãos de locomoção distintos: uma membrana nuclear?
flagelos, cílios e pseudópodes. As bactérias móveis deslocam-se (A) Bactérias.
apenas por meio de flagelos. (B) Bolores.
( C) Protozoários.
(D) Leveduras.

TERMINOLOGIA
Bactérias, fungos, protozoários e helmintos são denominados RESPOSTAS
de acordo com o sistema binominal de Linneus, que emprega o
1. (C)
gênero e a espécie, ao passo que os vírus não são denominados
2. (D)
dessa forma*. Por exemplo, em relação à bactéria bem-conhecida
3. (A)
Escherichia coli, Escherichia corresponde ao nome do gênero, e
coli, ao da espécie. De forma similar, a denominação da levedura
Candida albicans, consiste em Candida como gênero e albicans
como espécie. Os vírus, no entanto, recebem denominação úni-
QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
contradas na seção de Bacteriologia básica da Parte XIII: Ques-
* N. de R. T. Nos últimos anos, o ICTV (International Commitee on Ta-
xonomy ofVirus) vem organizando a taxonomia viral de forma que estes
tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam-
também utilizem o sistema binomial de Linneus. No entanto, diferente- bém a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
mente dos outros organismos, cuja terminologia é baseada em latim ou página 731.
grego, o ICTV utiliza o inglês como base.
CAPÍTULO

Estrutura de Células
Bacterianas

CONTEODO DO CAPÍTULO

Forma e tamanho da célula bacteriana Estruturas externas à parede celular


Estrutura da célula bacteriana Esporos bacterianos
Parede celular Conceitos-chave
Membrana citoplasmática Aplique seu conhecimento
Citoplasma Questões para autoavaliação

FORMA E TAMANHO DA CÉLULA Parede celular


BACTERIANA A parede celular é o componente mais externo, sendo comum a
todas as bactérias (exceto a espécies de Mycoplasma, envoltas por
As bactérias podem ser classificadas, de acordo com sua for-
uma membrana celular e não por uma parede celular). Algumas
ma, em três grupos básicos: cocos, bacilos e espiroquetas
bactérias exibem elementos de superfície externos à parede celu-
(Figura 2-1). Os cocos são esféricos, os bacilos exibem forma
de bastonete, e os espiroquetas são espiralados. Algumas bacté-
rias variam quanto à forma, sendo referidas como pleomórficas
(com muitas formas). A forma de uma bactéria é determinada
por sua parede celular rígida. O aspecto microscópico de uma c9 CD
bactéria corresponde a um dos critérios mais importantes utiliza- A-1 A-2 A-3 A-4
dos em sua identificação.
Além de suas formas características, o arranjo das bactérias
é importante. Por exemplo, alguns cocos organizam-se em pa-
res (diplococos), alguns em cadeias (estreptococos), e outros
em agrupamentos semelhantes a cachos de uvas (estafilococos).
B-1 B-2 B-3 B-4 B-5
Esses arranjos são determinados pela orientação e pelo grau de
ligação das bactérias no momento da divisão celular. O arranjo
dos bacilos e dos espiroquetas exibe menos importância médica e
não será descrito neste capítulo introdutório.
As bactérias variam em tamanho, de 0,2 a 5 µm (Figura 2-2).
As menores bactérias (Mycoplasma) exibem tamanho aproxima- C-1
damente equivalente aos maiores vírus de animais (poxvírus) e
FIGURA 2- 1 Morfologia bacteriana. A: Cocos em agrupamentos
correspondem aos menores organismos capazes de existir fora
(p. ex., Staphylococcus; A-1); em cadeias (p. ex., Streptococcus; A-2); em
de um hospedeiro. As bactérias bacilares mais longas exibem
pares, com extremidades afiladas (p. ex., Streptococcus pneumoniae;
tamanho similar ao de algumas leveduras e hemácias humanas A-3); em pares, com forma de rim (p. ex., Neisseria; A-4). B: Bastonetes
(7 µm). (baci los): com extremidades retas (p. ex., Bacillus; 8-1 ); com extremida-
des arredondadas (p. ex., Salmonella; 8-2); em forma de clava (p. ex.,
Corynebacterium; 8-3); fusiformes (p. ex., Fusobacterium; 8-4); em for-
ESTRUTURA DA CÉLULA BACTERIANA ma de vírgula (p. ex., Vibrio; 8-5). C: Espiroquetas: em forma espiralada
relaxada (p. ex., Borre/ia; C-1); intensamente espiralado (p. ex., Trepone-
A estrutura de uma bactéria típica está ilustrada na Figura 2-3, e ma; C-2). (Modificada e reproduzida, com permissão, de Joklik WK et ai. Zinsser
as características importantes de cada componente são apresen- Microbiology. 20th ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright
tadas na Tabela 2-1. 1992 por McGraw-Hill.)
CAPITULO 2 Estrutura de Células Bacterianas S

Faixa do Fa.xa do Umite infe,ior

l
mletoscóplo microscópio da visão
etetrõnico Hemácias óptico humana

Mycop/lJsma
Bacillus
Virus da Haomop/ll/us anrhrocls
hepatite B lnfluenzao
Candlda
Pohovirusl HIV Poxvirusl a1blc.;Jns

------~~---+-- t -=--t-=-- -- l--r


11 li 1 1 1 1l i 111 1 1 1 1 111 ti li 111
0,005 0 ,0 1 0,03 0,05 º· 1 0,3 0,5
Escala (µm)
3 5 10 30 50 100 300

FIGURA 2·2 Tamanhos representativos de bact~rias, vírus, léVeduras, protozoários e hemácias humanas. As bact~ias variam em tamanho
desde Mycoplosmo, as meoores,até 8ocif/us omhrocú, uma das maiores. Os vírus variam dos poliovírus, um dos menores, aos poxvfrus, os maiO(eS.
As leveduras, comoCondido olbicans, gec-almente são maiores que as bactMas. Os J)(Otozoários eXibem várias formas diferentes e uma ampla íai·
xa de tamanho. HIV, vírus da imunodefld ência humana. (Modificada e reproduzlda.com permlssJo.de JokUkWKei aLZlns.se, Mk10blc.'-c9y, 20th ed. Pub!lcada
orlglnatmente por Appleton & Lange. Copyright 1992. McGraw-HUll

lar, como cápsula, flagelos e pili. que correspondem a componen- ( l) A camada de peptideogHcano é muito mais espessa em
tes menos comuns, que são discutidos a seguir. bactérias gram-positivas que em gram-negativas. Algumas bacté·
A parede ce)ular se localiza externamente à membrana cito- rias gram-positivas também possuem fibras compostas por ácido
plasmática, e é composta por peptldeogllcanos (ver página 6). teicoico. que se projetam para fora do peptideoglicano. fato não
O peptideogHcano provém suporte estrutural e confere a manu- observado em bactérias gram-ne.gativas.
tenção da forma da cêlu)a bacteriana, (2) Em c-ontrapartida, os organismos gram-negativos pos-
suem uma camada externa comp]exa, consistindo em polissaca-
Paredes celulares de bactérias gram-positivas e rideos, lipoproteínas e fosfolipídeos. Situado entre a camada da
gram-negativas membrana e a membrana citop)asmática. encontra.se o espaço
pedplasmátlco, que. em algumas espéc,ies, corresponde ao local
A estrutura, a composição química e a espessura da parede c.e-
de enzimas de11omiJ1adas ~-Jactamases. as quais degradam peni-
lular diferein em bactérias gram-positivas e gram-negativas
(Tabela 2-2, Figura 2-4 e Quadro "Coloração de Gramj.
ci.li11a e outros fármacos ~-Jactâmicos.

Membmna celular

Parede celular Cápsula


Pílus sexual

FIGURA 2·3 Estrutura bacteriana. (Modificada e reproduzida, com permlssi o. de Ryan K. et al Shetris Mtdkol 1,1krobloJ09y, 4th ed. Copyright 2004.
McGraw-HIIL)
6 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 2-1 Estruturas bacterianas

Estrutura Composição químka Função

Componentes essenciais
Parede celular
Peptideoglicano Arcabouço de glicano (açúcar) Confere sustentação rígida, protege contra a pressão osmótica; cor-
com cadeias laterais peptídicas responde ao local de ação de penicilinas e cefalosporinas, sendo
que se ligam cruzadamente degradado pela lisozima
Membrana externa de LipídeoA Componente tóxico da endotoxina
bactérias gram-negativas
Polissacarídeo Principal antígeno de superfície, frequentemente utilizado no diag-
nóstico laboratorial
Fibras de superfície de Acido teicoico Principal antígeno de superfície, raramente utilizado no d iagnóstico
bactérias gram-posit ivas laboratorial
Membrana plasmática Bicamada lipoproteica sem esteróis Local de enzimas oxidativas e de transporte
Ribossomos RNA e proteínas nas subunidades Síntese proteica; local de ação de aminoglicosídeos, eritromicina, te-
SOS e 30S traciclinas e cloranfenicol
Nucleoide DNA Material genético
Mesossomo Invaginação da membrana p las- Participa da divisão celular e secreção
mática
Periplasma Espaço entre a membrana plas- Contém várias enzimas hidrolít icas, incluindo 13-lactamases
mática e a membrana externa

Componentes não essenciais


1
Cápsula Polissacarídeo Protege contra a fagocitose
Pilus ou fímbrias Glicoproteína Dois tipos: (1) medeia a ligação às superfícies celulares; (2) o pilus
sexual medeia a ligação de duas bactérias durante a conj ugação
Flagelo Proteína Motilidade
Esporo Capa semelhante à queratina, áci- Confere resistência à desidratação, ao calor e a compostos químicos
do dipicolínico
Plasmídeo DNA Contém uma variedade de genes de resistência a antibióticos e a toxinas
Grânulo Glicogênio, lipídeos, polifosfatos Local de nutrientes no citoplasma
Glicocálice Polissacarídeo Medeia a aderência a superfícies
1
Com exceção do Bacillus anthracis, no qual há um polipeptídeo formado por ácido o-glutãmico.

A parede celular exibe várias outras propriedades importantes: Em virtude de sua importância, três componentes da parede
celular (peptideoglicano, lipopolissacarídeo e ácido teicoico) se-
(1) Em organismos gram-negativos, contém a endotoxina,
rão discutidos em detalhes a seguir.
um lipopolissacarídeo (ver páginas 8 e 44).
(2) Seus polissacarídeos e suas proteínas são antígenos úteis
Peptideoglicano
na identificação laboratorial.
(3) Suas proteínas porinas desempenham papel na regula- O peptideoglicano é uma rede complexa e entrelaçada que envol-
ção da passagem de moléculas pequenas e hidrofílicas ao interior ve toda a célula, sendo composto por uma única macromolécula
das células. As porinas da membrana externa formam um tríme- ligada covalentemente. É observado apenas nas paredes celulares
ro que atua, geralmente de modo inespecífico, como um canal bacterianas. Confere uma sustentação rígida à célula, é impor-
que permite a entrada de substâncias essenciais, como açúcares,
aminoácidos e metais, assim como vários fármacos antimicrobia-
nos, como as penicilinas. TABELA 2-2 Comparação entre paredes celulares de
bactérias gram-positivas e gram-negativas
Paredes celulares de bactérias acidorresistentes Células Células
As micobactérias (p. ex., Mycobacterium tuberculosis) apresen- Componente gram-positivas gram-negativas
tam uma parede celular incomum, responsável pela impossibi-
Peptideoglicano Mais espesso; mui- Mais fino; camada
lidade de as micobactérias serem coradas pelo método de Gram.
ticamadas única
Essas bactérias são referidas como acidorresistentes, uma vez
que resistem à descoloração por álcool-ácido após serem coradas Ácidos teicoicos Sim Não
por carbol-fucsina. Essa propriedade está relacionada à alta con-
Lipopolissacarídeo Não Sim
centração de lipídeos, denominados ácidos micólicos, observada
(endotoxina)
na parede celular das micobactérias.
CAPÍTULO 2 Estrutura de Células Bacterianas 7

Flagelo _ _ _ _ _ _ _ ___,

1--- - - - - - - - Pllus---------i

.. :i----- Cápsula - - --t-


...
. . . .... . .
... ..
Membrana externa _ _,..,..,..,. 1-r-,i'-r-i""T"'f......,......,...,...,,j i,,,,,:.,."T"T.,..,..-r-r-r
-8 nm
- - Peptideoglicano - -iiiii!!!!!=ii
15-80 nm -2 nm
,,,~- - - Membrana - - --·
8
IL.l..&..L..1..1...1..1...1..1...1..1..&..L.&..L.&..L..L.1..&..L..1..1..&..L.u citoplasmática .........................................................................
Gram-positiva - nm 8
- nm Gram-negativa

FIGURA 2-4 Paredes celulares de bactérias gram-positivas e gram-negativas. Observa-se que, em bactérias gram-positivas, o peptideoglicano
é muito mais espesso que em bactérias g ram-negativas. Observa-se também que apenas as bactérias gram-negativas possuem uma membrana
externa contendo endotoxina (lipopolissacarídeo [LPS]) e um espaço periplasmático, onde são encontradas as J3-lactamases. Diversas bactérias
gram-positivas importantes, como os estafilococos e os estreptococos, apresentam ácidos teicoicos. (Reproduzida, com permissão, de lngraham JL,
Maal0e O, Neidhardt FC. Growth ofthe Bacterial Ce/1. Sinauer Associates, 1983.)

tante para a manutenção da forma característica dela e permite glicosamina. Ligado a cada uma das moléculas de ácido murârni-
que esta resista a meios de baixa pressão osmótica, como a água. co, há um tetrapeptídeo que consiste em D e L-aminoácidos, cuja
Uma porção representativa do peptideoglicano é apresentada na composição exata difere de uma bactéria para outra. Dois desses
Figura 2-5. O termo peptideoglicano é derivado dos peptídeos e aminoácidos devem ser especialmente mencionados: o ácido
açúcares (glicano) que compõem a molécula. Mureína e muco- diaminopimélico, específico de paredes celulares bacterianas, e
peptídeo são sinônimos de peptideoglicano. a D-alanina, envolvida nas ligações cruzadas entre os tetrapep-
A Figura 2-5 ilustra o arcabouço de carboidratos, composto tídeos, bem como na ação da penicilina. Observe que esse tetra-
por moléculas alternadas de ácido N-acetilmurârnico e N-acetil- peptídeo contém os raros D-isômeros de aminoácidos; a maioria

Cadeia de
] glicanos

Arcabouço de

1
Cadeia
Ligações
interpeptídicas
(células
Peptideoglicano
carboidratos
1
NAG

tetrapeptídica
g ram-positivas)
(aminoácidos)
1

L Cadeias
l
tetrapeptídicas
(aminj idos)
tetrapeptídica

Cadeia [
de Cadeia tetrapeptídica Ligações
glicanos (aminoácidos) interpeptídicas
A B
FIGURA 2-5 Estrutura do peptideoglicano. A: O peptideoglicano é composto por uma cadeia de g licanos (NAM e NAG), por uma cadeia te-
trapeptídica e por ligações cruzadas (ligações interpeptíd icas). B: Na parede celular, o peptideoglicano forma uma estrutura tridimensional com
múltiplas camadas. NAG, N-acetilg licosamina; NAM, ácido N-acetil murâmico (Modificada e reproduzida, com permissão, de Nester EW et ai. Microbiology:
A Human Perspective. 6th ed. Copyright 2009. McGraw-Hill.)
8 PARTE I Bacteriologia Básica

COLORAÇÃO DE GRAM

Esse método de coloração, desenvolvido em 1884 pelo médico A coloração de Gram é eficaz:
dinamarquês Christian Gram, corresponde ao procedimen -
(1) Na identificação de diversas bactérias.
to mais importante na microbiologia. Esse método separa a
(2) Porque influencia na escolha de antibióticos, uma vez
maioria das bactérias em dois grupos: as bactérias gram-po-
que, em geral, as bactérias gram-positivas são mais suscetíveis
sitivas, que se coram em azul, e as bactérias gram -negativas,
à penicilina G que as bactérias gram-negativas.
que se coram em vermelho. A coloração de Gram envolve o
seguinte procedimento de quatro etapas: Entretanto, nem todas as bactérias podem ser visualizadas
pela coloração de Gram. A Tabela 2-3 relaciona as bactérias
(1) O corante cristal violeta cora todas as células em azul/
, de importância médica que não podem ser visualizadas pelo
purpura.
método de Gram e descreve os motivos. A abordagem micros-
(2) A solução de iodo (um mordente) é adicionada, for-
cópica alternativa à coloração de Gram é descrita.
mando um complexo cristal violeta-iodo; todas as células
Observa-se que são necessárias aproximadamente
mantêm a coloração azul.
100.000 bactérias/mL para que se possa visualizar uma bac-
(3) O solvente orgânico, como acetona ou etanol, remove
téria por campo de microscopia, utilizando óleo de imersão
o complexo corante azul das bactérias gram-negativas de pare-
(objetivas de l00X). Dessa forma, a sensibilidade da coloração
de fina e ricas em lipídeos, em grau maior do que das bactérias
de Gram é baixa. Isso explica porque amostras de sangue de
gram -positivas de parede mais espessa e pobres em lipídeos.
pacientes raramente são submetidas de forma direta ao méto-
Os organismos gram-negativos apresentam-se, então, incolo-
do de Gram, mas sim previamente incubadas durante a noite
res; as bactérias gram-positivas permanecem azuis.
para permitir o crescimento bacteriano. Uma importante ex-
(4) O corante vermelho safranina cora em vermelho/ rosa
ceção a esse fato são amostras provenientes de pacientes com
as células gram-negativas descoloridas; as bactérias gram-po-
meningococcemia, nas quais é possível observar altas concen-
sitivas permanecem azuis.
trações de Neisseria meningitidis no sangue desses pacientes.

das proteínas contém L-isômeros. Outro componente importante para a resistência do hospedeiro à infecção microbiana. Bactérias
dessa rede consiste na ligação peptídica cruzada entre dois tetra- tratadas com lisozima podem intumescer e romper-se como re-
peptídeos. As ligações cruzadas variam entre as espécies; no caso sultado da entrada de água nas células, as quais exibem elevada
de Staphylococcus aureus, por exemplo, cinco resíduos de glicina pressão osmótica interna. No entanto, quando as células trata-
ligam a o-alanina terminal à penúltima L-lisina. das com lisozimas se encontram em uma solução com a mesma
Por estar presente em bactérias, mas não em células huma- pressão osmótica que a do interior bacteriano, essas células so-
nas, o peptideoglicano corresponde a um alvo adequado para fár- brevivem, assumindo formas esféricas, denominadas protoplas-
macos antibacterianos. Vários desses fármacos, como penicilinas, tos, circundadas apenas por uma membrana citoplasmática.
cefalosporinas e vancomicina, inibem a síntese de peptideoglica-
no por inibirem a transpeptidase responsável pelas ligações cru- Lipopol issacarídeo
zadas entre os dois tetrapeptídeos adjacentes (ver Capítulo 10). O lipopolissacarídeo (LPS) da membrana externa da parede celu-
A enzima lisozima, presente na lágrima, no muco e na sa- lar de bactérias gram-negativas é uma endotoxina. É responsável
liva de seres humanos, é capaz de clivar o arcabouço de peptide- por várias características de doenças, como febre e choque (es-
oglicano, rompendo suas ligações glicosil, contribuindo, assim, pecialmente hipotensão), causadas por esses organismos (ver pá-

TABELA 2-3 Bactérias de importância médica que não podem ser visualizadas pela coloração de Gram

Nome Motivo Abordagem microscópica alternativa

Microbactérias, incluindo M. tubercu/osis Alto teor de lipídeos na parede celular, im- Coloração acidorresistente
pedindo a penetração do corante

Treponema pallidum Muito delgada para permitir visualização Microscopia de campo escuro ou com anti-
corpos fluorescentes

Mycop/asma pneumoniae Ausência de parede celular; tamanho muito Nenhum


pequeno

Legionella pneumophila Fraca captação do corante vermelho Aumento do tempo de contracoloração

Clamídias, incluindo C. trachomatis Intracelular; tamanho muito pequeno Corpos de inclusão no citoplasma

Riquétsias Intracelular; tamanho muito pequeno Coloração de Giemsa ou outros corantes de


tecidos
CAPÍTULO 2 Estrutura de Células Bacterianas 9

gina 44). É denominado endotoxina porque consiste em uma Membrana citoplasmática


porção integral da parede celular, ao contrário das exotoxinas,
Internamente adjacente à camada de peptideoglicano da parede
as quais são liberadas pelas bactérias. O grupo de sintomas cau-
celular localiza-se a membrana plasmática, composta por uma
sados pela endotoxina de uma bactéria gram-negativa é similar
bicamada fosfolipídica similar à de células eucarióticas quanto
ao de outras bactérias gram-negativas, mas a severidade dos sin-
ao aspecto microscópico. As duas são quimicamente similares,
tomas pode diferir amplamente. Em contrapartida, os sintomas
porém as membranas eucarióticas contêm esteróis, ao contrário
causados por exotoxinas de bactérias diferentes são normalmente
dos procariotos em geral. Os únicos eucariotos que apresen-
muito diferentes.
tam esteróis em suas membranas são os do gênero Mycoplasma.
O LPS é composto por três unidades distintas (Figura 2-6):
A membrana desempenha quatro funções importantes: (1) trans-
(1) Um fosfolipídeo denominado lipídeo A, responsável pe- porte ativo de moléculas para o interior da célula, (2) geração de
los efeitos tóxicos. energia pela fosforilação oxidativa, ( 3) síntese de precursores da
(2) Um cerne polissacarídico composto por cinco açúcares parede celular, e (4) secreção de enzimas e toxinas.
ligados ao lipídeo A por meio de cetodesoxioctulonato (CDO).
(3) Um polissacarídeo externo consistindo em até 25 uni- Citoplasma
dades repetidas de três a cinco açúcares. Esse polímero externo
O citoplasma exibe duas áreas distintas quando observado ao mi-
corresponde ao importante antígeno somático, ou O, de várias
croscópio eletrônico:
bactérias gram-negativas, utilizado na identificação de certos or-
ganismos no laboratório clínico. Algumas bactérias, notadamen- (1) Uma matriz amorfa que contém ribossomos, grânulos de
te os membros do gênero Neisseria, possuem um lipo-oligossa- nutrientes, metabólitos e plasmídeos.
carídeo (LOS) externo, o qual contém algumas poucas unidades (2) Uma região nucleoide interna composta por DNA.
repetidas de açúcar.
Ribossomos
Ácido teicoico Os ribossomos bacterianos são o local da síntese proteica, como
São fibras de glicerol-fosfato ou ribitol-fosfato que se situam na nas células eucarióticas, mas diferem dos ribossomos eucarióticos
camada externa da parede celular gram-positiva e estendem-se a em relação ao tamanho e à composição química. Os ribossomos
partir desta. Alguns polímeros de ácido teicoico contendo glice- bacterianos apresentam tamanho de 70S, com as subunidades
rol penetram na camada de peptideoglicano, ligando-se covalen- SOS e 30S, ao passo que os ribossomos eucarióticos apresentam
temente ao lipídeo da membrana citoplasmática e, nesse caso, re- tamanho de 80S, com as subunidades 60S e 40S. As diferenças
cebem a denominação ácido lipoteicoico; outros são ancorados nas proteínas e nos RNAs ribossomais constituem a base para a
ao ácido murâmico do peptideoglicano. ação seletiva de vários antibióticos que inibem a síntese proteica
A importância médica dos ácidos teicoicos reside em sua capa- de bactérias, mas não de seres humanos (ver Capítulo 10).
cidade de induzir o choque séptico quando causado por certas bac-
térias gram-positivas; isto é, os ácidos teicoicos ativam as mesmas Grânulos
vias que a endotoxina (LPS) de bactérias gram-negativas. Os ácidos
O citoplasma contém vários tipos de grânulos que atuam como
teicoicos também medeiam a ligação de estafilococos às células mu-
áreas de armazenamento de nutrientes e que se coram de modo
cosas. Bactérias gram-negativas não possuem ácidos teicoicos.
característico com determinados corantes. Por exemplo, a vo-
lutina corresponde a uma reserva de alta energia, armazenada
na forma de metafosfato polimerizado. Esse grânulo mostra-se
metacromático, uma vez que se cora em vermelho pelo corante
azul de metileno, em vez de azul, como seria esperado. Os grâ-
Polissacarídeo Antígeno
somático nulos metacromáticos são uma propriedade característica de
"O" Corynebacterium diphtheriae, causador da difteria.

} Cerne
Nucleoide
Dissacarídeo-
} difosfato O nudeoide corresponde à região do citoplasma onde o DNA está
localizado. O DNA de procariotos é uma única molécula circular,
9
com peso molecular de aproximadamente 2 X 10 , contendo cerca
Lipídeo A
Ácidos graxos de 2 mil genes. (Como comparação, o DNA humano contém cerca
de 100 mil genes.) Uma vez que o nucleoide não apresenta membra-
na nuclear, nucléolo, fuso mitótico, nem histonas, há pouca seme-
lhança com o núcleo eucariótico. Uma diferença importante entre o
DNA bacteriano e o DNA eucariótico é o fato de o DNA bacteriano
FIGURA 2-6 Estrutura da endotoxina (lipopolissacarídeo [LPS]). não apresentar íntrons, ao contrário do DNA eucariótico.
O polissacarídeo do antígeno O encontra-se exposto na face exterior
da célula, ao passo que o lipídeo A encontra-se voltado para o lado
interno. (Modificada e reproduzida, com permissão, de Brooks GF et ai. Medical
Plasmídeos
Microbiology. 19th ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright Plasmídeos são moléculas de DNA de dupla-fita, circulares e ex-
1991. McGraw-Hill.) tracromossômicos, capazes de replicar-se independentemente
1O PARTE I Bacteriologia Básica

do cromossomo bacteriano. Embora sejam geralmente extracro-


mossômicos, os plasmídeos podem integrar-se ao cromossomo
bacteriano. Os plasmídeos estão presentes tanto em bactérias Gene da Gene da
gram-positivas quanto em gram-negativas, podendo haver vários transposase resistência a
tipos diferentes de plasmídeos em uma célula: antibióticos

( 1) Plasmídeos transmissíveis podem ser transferidos FIGURA 2-7 Genes de transposons. Este transposon carrega um
de uma célula a outra por conjugação (ver, no Capítulo 4, uma gene de resistência a antibióticos. RI, repetição invertida. {Modificada e
reproduzida, com permissão, de Willey JM et ai. Prescott's Principies ofMicrobiolo-
discussão sobre conjugação). São grandes (peso molecular de
gy. New York: McGraw-Hill, 2009.)
40-100 milhões), uma vez que contêm cerca de uma dúzia de ge-
nes responsáveis pela síntese de pilus sexual e de enzimas neces-
sárias à transferência. Frequentemente estão presentes em poucas
cópias ( 1-3) por células. "genes saltadores". Alguns transposons movem-se por meio da
(2) Plasmídeos não transmissíveis são pequenos (peso replicação de seu DNA e da inserção de uma nova cópia em outro
molecular de 3-20 milhões), uma vez que não contêm genes de local (transposição replicativa), ao passo que outros são excisados
transferência; frequentemente estão presentes em muitas cópias de um local sem replicação e, então, inseridos em um novo local
(10-60) por célula. (transposição direta). Esses elementos podem codificar enzimas
de resistência a fármacos, toxinas ou uma variedade de enzimas
Os plasmídeos carreiam os genes envolvidos nas seguintes envolvidas no metabolismo, bem como causar mutações no gene
funções e estruturas de importância médica: onde são inseridos, ou alterar a expressão de genes próximos.
(1) Resistência a antibióticos, a qual é mediada por uma va- Os transposons geralmente apresentam quatro domínios
riedade de enzimas. identificáveis. Em cada extremidade, há uma sequência curta de
(2) Resistência a metais pesados, como mercúrio, o compo- DNA contendo repetições invertidas, as quais estão envolvidas
nente ativo de alguns antissépticos (p. ex., mertiolato e mercuro- na integração do transposon ao DNA receptor. O segundo domí-
cromo), e prata, sendo mediada por uma enzima redutase. nio corresponde ao gene da transposase, a qual consiste na enzi-
(3) Resistência à luz ultravioleta, mediada por enzimas de ma que medeia os processos de excisão e integração. A terceira
reparo de DNA. região consiste no gene do repressor, que regula a síntese tanto da
(4) Pili (fímbrias) que medeiam a adesão das bactérias às cé- transposase quanto do produto gênico do quarto domínio, que,
em muitos casos, corresponde a uma resistência a antibióticos
lulas epiteliais.
mediada por enzimas (Figura 2-7).
(5) Exotoxinas, incluindo diversas enterotoxinas.
Genes de resistência a antibióticos são transferidos de
Outros produtos de interesse são codificados por plasmídeos: uma bactéria à outra principalmente por meio da conjugação
(ver Capítulo 4). Esta transferência é mediada principalmen-
( 1) Bacteriocinas são proteínas tóxicas produzidas por de-
te por plasmídeos, embora alguns transposons, denominados
terminadas bactérias que são letais para outras bactérias. Dois
transposons conjugativos, sejam também capazes de transferir
mecanismos de ação comuns de bacteriocinas são (i) degradação
resistência a antibióticos.
de membranas das células bacterianas por meio de produção de
Ao contrário dos plasmídeos ou vírus bacterianos, os trans-
poros na membrana, e (ii) degradação do DNA bacteriano pela
posons são incapazes de replicar-se de forma independente; eles
DNAse. Exemplos de bacteriocinas produzidas por bactérias de
replicam-se como parte do DNA receptor. Mais de um transpo-
importância médica são as colicinas, produzidas por Escheri-
son pode estar localizado no DNA; por exemplo, um plasmídeo
chia coli, e as piocinas, produzidas por Pseudomonas aeruginosa.
pode conter vários transposons carreando genes de resistência a
As bactérias que produzem bacteriocinas exibem vantagem sele-
fármacos. As sequências de inserção correspondem a um tipo
tiva na competição por fontes alimentares, quando comparadas
de transposon que possui um menor número de bases (800-1.500
às que não as produzem. Entretanto, a importância médica das
pares de bases), uma vez que essas não codificam suas próprias
bacteriocinas está na possibilidade de serem úteis no tratamento
enzimas de integração. Essas sequências podem causar mutações
de infecções causadas por bactérias resistentes a antibióticos.
em seu local de integração e podem estar presentes em múltiplas
(2) Enzimas de fixação de nitrogênio de Rhizobium, nos nó-
cópias nas extremidades de transposons maiores.
dulos radiculares de leguminosas.
(3) Tumores causados por Agrobacterium em plantas.
(4) Vários antibióticos produzidos por Streptomyces. Estruturas externas à parede celular
(5) Uma variedade de enzimas degradativas, produzidas por Cápsula
Pseudomonas e capazes de promover a limpeza de áreas de risco A cápsula é uma camada gelatinosa que reveste toda a bacté-
ambiental, como derramamento de óleo e locais de despejo de
ria. É composta por polissacarídeos, exceto no bacilo do antraz,
compostos químicos tóxicos.
que possui uma cápsula de ácido D-glutâmico polimerizado.
Os açúcares que compõem os polissacarídeos variam de uma
Transposons espécie bacteriana para a outra e, frequentemente, determinam
Os transposons são segmentos de DNA que se deslocam pron- o tipo sorológico de uma espécie. Por exemplo, existem 84 tipos
tamente de um local a outro, tanto no interior quanto entre os sorológicos distintos de Streptococcus pneumoniae, os quais são
DNAs de bactérias, plasmídeos e bacteriófagos. Em virtude de distinguidos pelas diferenças antigênicas dos açúcares da cápsu-
sua capacidade incomum de se movimentar, são apelidados de la polissacarídica.
CAPÍTULO 2 Estrutura de Células Bacterianas 11

A cápsula é importante por quatro razões: Os pili desempenham dois papéis importantes:
(1) É um determinante da virulência de diversas bactérias, ( 1) Medeiam a ligação das bactérias a receptores específicos
uma vez que limita a capacidade de fagócitos englobarem as da superfície de células humanas, etapa necessária à iniciação da
bactérias. Cargas negativas no polissacarídeo capsular repelem a infecção por alguns organismos. Mutantes de Neisseria gonorrhoeae
membrana celular negativamente carregada do neutrófilo e evi- que não formam pili não são patogênicos.
tam que ele englobe a bactéria. Variantes de bactérias capsuladas (2) Um tipo especializado de pilus, o pilus sexual, estabelece
que perderam a capacidade de produzir uma cápsula geralmente a ligação entre as bactérias doadoras (macho) e receptoras (fême-
não são patogênicas. as) durante a conjugação (ver Capítulo 4).
(2) A identificação específica de um organismo pode ser fei-
ta por meio do uso de antissoro contra o polissacarídeo da cápsu- Glicocálice (camada limosa)
la. Na presença de um anticorpo homólogo, a cápsula apresentará O glicocálice consiste em um revestimento polissacarídico se-
um intenso inchaço. Esse fenômeno de intumescimento, utiliza- cretado por muitas bactérias. Ele reveste as superfícies como um
do no laboratório clínico para identificar certos organismos, é filme e possibilita a firme aderência das bactérias a estruturas
denominado reação de Quellung. variadas (p. ex., pele, válvulas cardíacas e cateteres). O glicocá-
(3) Os polissacarídeos capsulares são utilizados como an- lice é um importante componente dos biofilmes (ver página 37).
tígenos em determinadas vacinas, uma vez que são capazes de A importância clínica do glicocálice é ilustrada pelo fato de ce-
induzir a formação de anticorpos protetores. Por exemplo, os po- pas de Pseudomonas aeruginosa produtoras de glicocálice cau-
lissacarídeos capsulares purificados de 23 tipos de S. pneumoniae sarem infecções do trato respiratório em pacientes com fibrose
estão presentes na vacina atual. cística; além disso, cepas produtoras de glicocálice das espécies
(4) A cápsula pode desempenhar um papel na adesão das Staphylococcus epidermidis e o estreptococo do grupo viridans
bactérias aos tecidos humanos, que consiste em uma etapa inicial causam endocardites. O glicocálice também medeia a adesão
importante da infecção. de certas bactérias, como Streptococcus mutans, à superfície dos
dentes. Isso desempenha papel importante na formação da placa
Flagelos dental, o precursor da cárie dental.
Os flagelos são longos apêndices, semelhantes a um chicote,
que deslocam as bactérias em direção aos nutrientes e a outros Esporos bacterianos
fatores atrativos, processo denominado quimiotaxia. O longo
filamento que atua como um propulsor é composto por várias Essas estruturas altamente resistentes são formadas em resposta às
subunidades de uma única proteína, denominada flagelina, or- condições adversas por dois gêneros de bacilos gram-positivos de
ganizadas em diversas cadeias entrelaçadas. A energia para o importância médica: o gênero Bacillus, que inclui o agente do an-
movimento, a força próton-motiva, é fornecida pelo trifosfa- traz, e o gênero Clostridium, que inclui os agentes do tétano e do
to de adenosina (ATP), o qual é derivado da passagem de íons botulismo. A formação de esporos (esporulação) ocorre quando
através da membrana. os nutrientes, como fontes de carbono e nitrogênio, são escassos
As bactérias flageladas exibem número e localização de (Figura 2-8). O esporo é formado no interior da célula e contém
flagelos característicos: algumas bactérias apresentam um, en- DNA bacteriano, uma pequena quantidade de citoplasma, membra-
quanto outras apresentam vários; em algumas, os flagelos estão na celular, peptideoglicano, pouquíssima água e, o mais importante,
localizados em uma extremidade, enquanto em outras, esses um revestimento espesso semelhante à queratina, responsável pela
são distribuídos por toda a superfície externa. Apenas algumas acentuada resistência do esporo ao calor, à radiação e a compostos
bactérias possuem flagelos; muitos bacilos os possuem, mas a químicos. Essa resistência pode ser mediada pelo ácido dipicolini-
maioria dos cocos não, sendo, portanto, imóveis. Os espiroque- co, um quelante de íons cálcio encontrado apenas em esporos.
tas movem-se por meio de uma estrutura semelhante ao flagelo, Uma vez formado, o esporo não exibe qualquer atividade
denominada filamento axial, que se enrola ao redor da célula metabólica, podendo permanecer dormente por muitos anos.
espiralada, produzindo um movimento ondulado. Quando exposto à água e a nutrientes apropriados, enzimas espe-
Os flagelos exibem importância médica por duas razões: cíficas degradam o revestimento, a água e os nutrientes penetram,
e ocorre a germinação em uma célula bacteriana potencialmente
(1) Algumas espécies de bactérias móveis (p. ex., E. coli e patogênica. Observa-se que esse processo de diferenciação não
espécies de Proteus) são causas comuns de infecções do trato uri- corresponde a uma forma de reprodução, uma vez que uma célula
nário. Os flagelos podem desempenhar papel na patogênese por produz um esporo que germina, originando uma única célula.
propelirem as bactérias ao longo da uretra até a bexiga. A importância médica dos esporos reside em sua extra-
(2) Algumas espécies de bactérias (p. ex., espécies de ordinária resistência ao calor e a compostos químicos. Como
Salmonella) são identificadas no laboratório clínico pelo uso de resultado de sua resistência ao calor, a esterilização não é obti-
anticorpos específicos contra proteínas flagelares. da por meio de fervura. O aquecimento por vapor sob pressão
(autoclave) a 121 ºC, geralmente por 30 minutos, é necessário
Pili (fímbrias) para garantir a esterilidade de produtos de uso médico. Esporos
Os pili são filamentos semelhantes a pelos que se estendem a par- não são frequentemente observados em espécimes clínicos obti-
tir da superfície celular. São mais curtos e lineares que os flagelos, dos de pacientes infectados por organismos formadores de espo-
sendo compostos por subunidades de uma proteína, a pilina, or- ros, uma vez que o suprimento de nutrientes é adequado.
ganizadas em fitas helicoidais. São encontrados principalmente A Tabela 2-4 descreve as características de importância mé-
em organismos gram-negativos. dica dos esporos bacterianos.
12 PARTE I Bacteriologia Básica

Membrana plasmática Septo

Parede
~~
celular ~ ~-- •

Nucleoide DNA

FIGURA 2-8 Esporos bacterianos. O esporo contém o DNA bacteriano completo, envolto por uma espessa e resistente capa.

TABELA 2-4 Características importantes dos esporos e suas implicações médicas

Características importantes dos esporos Implicações médicas

Altamente resistente ao aquecimento; os esporos não são Os suprimentos médicos devem ser aquecidos a 121 ºC por pelo menos 15
mortos pela fervura (1 00ºC), porém são mortos a 121 ºC. minutos, a fim de serem esterilizados.

Altamente resistentes a vários compostos químicos, incluin- Somente soluções designadas como esporicidas promoverão a morte de
do a maioria dos desinfetantes. Isso é atribuído à capa do esporos.
esporo, espessa e semelhante à queratina.

Podem sobreviver por vários anos, especialmente no solo. Ferimentos contaminados pelo solo podem ser infectados por esporos, cau-
sando doenças como tétano (C. tetant) e gangrena gasosa (C. perfringens).

Não exibem atividade metabólica mensurável. Antibióticos são ineficazes contra os esporos, pois atuam inibindo certas
vias metabólicas de bactérias. Além disso, a capa do esporo é impermeá-
vel aos antibióticos.

Os esporos são formados quando os nutrientes são insufi- Os esporos não são observados com frequência no local de infecções porque
cientes, mas germinam, formando bactérias, quando os os nutrientes são limitantes. Bactérias, em vez de esporos, são geralmente
nutrientes se tornam disponíveis. observadas em esfregaços submetidos à coloração de Gram.

Os esporos são produzidos por membros de somente dois As infecções transmitidas por esporos são causadas por espécies de Bacil/us
gêneros de bactérias de importância médica, Bacil/us e ou C/ostridium.
C/ostridium, os quais consistem em bacilos gram-positivos.

CONCEITOS-CHAVE

Forma e tamanho • A membrana externa das bactérias gram-negativas contém en-


dotoxina (lipopolissacarídeo, LPS), o principal indutor de cho-
• As bactérias podem se apresentar sob três formas: cocos (esfe-
que séptico. A endotoxina consiste em lipídeo A, que induz a
ras), bacilos (bastonetes) e espiroquetas (espirais).
febre e a hipotensão observadas no choque séptico, e um polis-
• Os cocos são organizados em três padrões: pares (diplococos), sacarídeo (antígeno O), útil na identificação laboratorial.
cadeias (estreptococos) e agrupamentos (estafilococos).
• Entre a camada de peptideoglicano e a membrana externa de
• O tamanho da maioria das bactérias varia entre 1 e 3 µm. bactérias gram-negativas encontra-se o espaço periplasmático,
Mycoplasma, as menores bactérias (e, portanto, as menores cé- que corresponde à localização das /j-lactamases, e as enzimas
lulas) medem 0,2 µm. Algumas bactérias, como Borre/ia, têm até que degradam antibióticos í3-lactâmicos, como penicilinas e ce-
1O µm, isto é, são maiores que uma hemácia humana, que apre- falosporinas.
senta cerca de 7 µm de diâmetro.
• O peptideoglicano é encontrado apenas em células bacterianas.
Consiste em uma rede que reveste toda a bactéria e confere ao
Parede celular bacteriana organismo sua forma . É composto por um arcabouço de açúcar
• Todas as bactérias possuem parede celular composta por pepti- (glicano) e cadeias laterais peptídicas (peptídeo). As cadeias late-
deoglicano, exceto Mycop/asma, que são envoltas somente por rais sofrem ligação cruzada por ação da transpeptidase, a enzima
uma membrana celular. inibida pelas penicilinas e cefalosporinas.

• As bactérias gram-negativas apresentam uma fina camada de • A parede celular de micobactérias (p. ex., M. tubercu/osis) exibe
peptideoglicano, envolta por uma membrana externa contendo mais lipídeos que bactérias gram-positivas ou gram-negativas.
lipídeo, ao passo que as bactérias gram-positivas apresentam Como resultado, os corantes utilizados na coloração de Gram não
uma espessa camada de peptideoglicano e não possuem mem- penetram em (i.e., não coram) micobactérias. As micobactérias
brana externa. Essas diferenças explicam por que as bactérias são coradas pela coloração acidorresistente; essas bactérias fre-
gram-negativas perdem a coloração quando expostas ao solven- quentemente são denominadas bacilos acidorresistentes.
te de lipídeos durante a coloração de Gram, enquanto as gram- • As lisozimas matam as bactérias por clivarem o arcabouço de gli-
-positivas permanecem coradas. cano do peptideoglicano.
CAPÍTULO 2 Estrutura de Células Bacterianas 13

• A membrana citoplasmática das bactérias consiste em uma bica- Estruturas externas à parede celular
mada lipídica (sem esteróis), localizada internamente no pepti-
• As cápsulas são antifagocitárias, isto é, limitam a capacidade de
deoglicano. Ela regula o transporte de nutrientes para dentro da
neutrófilos englobarem as bactérias. Praticamente todas as cáp-
célula e a secreção de toxinas para fora da célula. sulas são compostas por polissacarídeos; a cápsula polipeptídica
do bacilo do antraz é a única exceção. As cápsulas são também
Coloração de Gram os antígenos de várias vacinas, como a vacina pneumocócica.
Os anticorpos contra a cápsula neutralizam o efeito antifagocitá-
• A coloração de Gram é o mais importante proced imento de
rio, permitindo que as bactérias sejam englobadas pelos neutró-
coloração. As bactérias gram-positivas coram-se em púrpura,
filos. A opsonização é o processo pelo qual os anticorpos inten-
enquanto as bactérias gram-negativas coram-se em cor-de-rosa.
sificam a fagocitose.
Essa diferença baseia-se na capacidade de bactérias gram-posit i-
vas reterem o complexo cristal violeta-iodo na presença de um sol- • Os pili são filamentos proteicos que se estendem a partir da su-
vente de lipídeos, geralmente álcool-acetona. As bactérias gram- perfície bacteriana e medeiam a ligação das bactérias à superfí-
-negativas, pelo fato de apresentarem uma membrana externa cie das células humanas. Um tipo de pilus, o pilus sexual, atua na
contendo lipídeos e peptideoglicano delgado, perdem o corante conjugação (ver Capítulo 4).
púrpura quando tratadas com álcool-acetona. Perdem a colora- • O glicocálice consiste em uma "camada limosa" polissacaríd ica
ção e coram-se em cor-de-rosa quando expostas a um corante secretada por certas bact érias. Essa camada adere firmemente
vermelho, como safranina. as bactérias à superfície das células humanas e à superfície de
cateteres, válvulas cardíacas p rostéticas e próteses de quadril.
• Nem todas as bactérias podem ser v isualizadas utilizando-se a
coloração de Gram. Alguns importantes patógenos de seres hu-
manos, como as bactérias que causam a tuberculose e a sífi lis, Esporos bacterianos
não podem ser visualizados utilizando-se essa coloração. • Os esporos exibem import ância médica por serem altamente re-
sistentes ao calor e não serem mortos por vários desinfetantes.
DNA bacteriano A fervura não mata os esporos. Esporos são formados por deter-
minados bacilos gram-positivos, principalmente por espécies de
• O genoma bacteriano consiste em um único cromossomo de
Bacil/us e Clostridium.
DNA circular, localizado no nucleoide.
• Os esporos possuem uma capa espessa semelhante à queratina,
• Plasmídeos são segmentos extracromossômicos de DNA circular
o que permite sua sobrevivência por vários anos, especialmen-
que codificam exotoxinas, assim como muitas enzimas responsá-
te no solo. Os esporos são formados quando o suprimento de
veis pela resistência a antibióticos.
nutrientes se encontra baixo; porém, quando os nutrientes são
• Transposons são segmentos pequenos de DNA que frequente- restabelecidos, os esporos germinam, formando bactérias que
mente se movem entre o DNA cromossômico e o DNA plasmidial. podem causar doenças. Os esporos são metabolicamente inativos,
Esses segmentos carreiam genes de resistência a antibióticos. mas contêm DNA, ribossomos e outros componentes essenciais.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO (A) Trata-se de uma amostra não patogênica porque pode ser fa-
cilmente fagocitada.
1. O passo inicial para o início da infecção de muitas bactérias é a ade- (B) Trata-se de uma amostra n ão patogênica porque não é capaz
são às mucosas do organismo. O componente bacteriano que me- de invadir tecidos.
deia essa aderência é: (C) Trata-se de uma amostra não patogênica porque só é capaz de
(A) Lipídeo A. crescer em anaerobiose.
(B) Nucleoide. (D) É uma amostra altamente patogênica porque é capaz de secre-
( C) Peptideoglicano. tar grandes quantidades de exotoxina.
(D) Pilus. (E) É uma amostra altamente patogênica porque é capaz de secre-
(E) Plasmídeo. tar grandes quantidades de endotoxina.
2. No procedimento de coloração de Gram, as bactérias são expostas 4. Cepas de Mycobacterium tuberculosis coram-se pela coloração aci-
ao álcool 95% ou a uma solução de acetona/álcool. A razão desse dorresistente, mas n ão pela coloração de Gram. Qual das opções a
passo é: seguir explica melhor essa afirmativa?
(A) Aderir as células à lâmina. (A) A bactéria possui uma grande quantidade de pili, que absorve
(B) Reter o corante púrpura dentro de todos os tipos bacterianos. o corante púrpura
(C) Causar o rompimento da membrana externa, permitindo que (B) A bactéria possui uma grande quantidade de lipídeos de mem-
o corante púrpura seja liberado das células bacterianas. brana, dificultando a entrada do corante púrpura na célula.
(D) Facilitar a entrada do corante púrpura dentro das células (C) A bactéria possui uma parede celular muito fina, que n ão re-
gram-negativas. tém o corante.
(E) Formar um complexo com a solução de iodo. (D) A bactéria é muito fina para ser visualizada na coloração de
Gram.
3. Durante o estudo de fatores bacterianos associados à doença, desco-
(E) A célula da bactéria possui uma grande quantidade de histo-
briu-se que um mutante raro de uma cepa patogênica não era capaz
nas, negativamente carregadas.
de formar cápsula. Qual das opções a seguir traz informações mais
prováveis a respeito desse mutante não encapsulado?
14 PARTE I Bacteriologia Básica

5. Dos componentes bacterianos, qual exibe maior variação antigê- 9. A lisozima presente nas lágrimas é uma substância efetiva na pre-
nica? venção de conjuntivites. Qual das substâncias a seguir é degradada
(A) A cápsula. pela lisozima?
(B) Lipídeo A de endotoxina. (A) Endotoxina.
(C) Peptideoglicano. (B) DNA do nucleoide.
(D) Ribossomo. (C) Peptideoglicano.
(E) Esporo. (D) Pilus.
(E) DNA plasmidial.
6. As 13-lactamases representam uma importante causa de resistência
aos antibióticos. Onde as 13-lactamases são mais frequentemente en- 10. Várias bactérias que formam esporos são importantes patógenos
contradas? humanos. Sobre o assunto, marque a opção correta:

(A) Associadas ao DNA no nucleoide. (A) Os esporos são mortos ao serem fervidos por 15 minutos.
(B) Eles são produzidos por cocos gram-positivos.
(B) Associadas aos pili na superfície celular.
(C) Eles são formados pelas bactérias quando estas são expostas a
(C) Livres no citoplasma.
antibióticos.
(D) Inseridas na cápsula.
(D) Os esporos são formados pelos anaeróbios somente na presen-
(E) No espaço periplasmático.
ça de oxigênio.
7. Entre as opções a seguir, qual descreve de forma mais precisa as (E) Apesar de serem metabolicamente inativos, podem sobreviver
diferenças estruturais entre bactérias gram-positivas e gram-nega- por anos nesse estado inativo.
tivas?
(A) Bactérias gram-positivas apresentam uma camada espessa de
peptideoglicano, ao passo que as gram-negativas apresentam RESPOSTAS
uma camada delgada.
(B) Bactérias gram-positivas apresentam uma membrana lipídica 1. (D)

externa, ao contrário das gram-negativas. 2. (C)


(C) Bactérias gram-positivas formam um pilus sexual que medeia 3. (A)
4. (B)
a conjugação, ao passo que nas bactérias gram-negativas isso
5. (A)
não é observado.
6. (E)
(D) Somente as bactérias gram-positivas possuem plasmídeos.
7. (A)
(E) Bactérias gram-positivas apresentam cápsulas, ao passo que as
8. (D)
gram-negativas não possuem tal estrutura.
9. (C)
8. Bactérias causadoras de infecções nosocomiais (hospitalares) fre- 10. (E)
quentemente produzem substâncias extracelulares que as permitem
aderir firmemente à superfície de aparatos médicos, como cateteres
intravenosos. Qual das opções a seguir representa essa substância
QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
extracelular?
(A) Filamento axial. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
(B) Endotoxina. contradas na seção de Bacteriologia Básica da Parte XIII: Ques-
(C) Flagelo. tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam -
(D) Glicocálice. bém a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
(E) Porina. página 731.
CAPÍT U LO

Crescimento 3
CONTEODO DO CAPITULO

Cklo de crescimento Conceitos-chave


Crescimento aeróbio e anaeróbio Aplique seu conhecimento
Fermentação de açücares Questões para autoavaliação
Metabolismo do ferro

CICLO DE CRESCIMENTO
As bactérias reproduzem-se por fissão binária, processo em que
uma célu)a parental dh,ide-se. originando duas células-filhas.
Pelo fato de uma c-élula originar duas céJulas-fühas.. é referido
que as bactérias re.aliz.a.m aescimento exponencial (crescimento
logarítmico). O cone.eito de crescimento exponencial pode ser
ilustrado pela seguinte relação:

Tempo
Número de c~lulas
• 8 16
FIGURA 3-1 Curva de cr~scimooto bacteriano: a, fase lag; b, fase log;
Exponencial
c, fase estacionária; d, fa se de morte. (Reproduzida, com permlss!o, de
JokllkWK e colaboradores. Zl'nsset Mktoblology. 20th ed. PubUcada Mglnalmen-
Assim, uma bactéria produzirá 16 bactérias após quatro ge- te po, Appleton & Lange. Copyrigh t 1992.McGraw·Hll.)
rações.
O tempo de dupHcação (geração) das bactérias varia de
20 minutos.. no caso de Escherichia coli, a mais de 18 horas. no no período em que as céluJas produzem peptideoglican~ isto é,
caso de Mycobacterium tuberculosis. O crescimento exponencial quando estão em divisão. A fase log também ê conhecida como a
e o tempo curto de duplicação de a1guns organismos resultam na fase exponencial
rápida geração de grande número de bactérias. Por exemplo. um (3) A fase eslaclonárla 0<:orre quando a depleção de nu-
organismo E. coli originará uma progênie superior a 1.000 em trientes ou os produtos tóxicos causam uma diminuição no cres-
aproximadamente três horas., e acima de l milhão em cerca de cimento atê que o número decêlulas novas produz.idas equilibra-
sete horas. O tempo de duplicação varia não somente em relação -se com o número de célu1as que morrem. resuJtando em um
à espécie. mas também de acordo com a quantidade de nutrien- estado de equilíbrio. As células cultivadas em um aparato espe-
tes. temperatura, pH e outros fatores ambientais. cial, denominado quimiostato. no qua1 nutrientes frescos são adi-
O ciclo de crescimento de bactérias apresenta quatro fases cionados continuamente. podem permanecer na fase log e não
principais. Se um número de bactérias for inoculado em um entram na fase estacionária.
meio nutriente líquido. realizando-se a contagem de bactérias (4) A fase fina) corresponde à fase de morte. caracterizada
a intervalos frequentes, as fases características de uma curva de por um dedínio no número de bactérias viáveis.
crescimento padrão podem ser demonstradas (Figura 3 -1).
(1) A primeira corresponde à fase lag, durante a qual ocorre
CRESCIMENTO AERÓBIO E ANAERÓBIO
inte1tsa atividade metabólica; contudo. as células não se dividem.
Essa fase pode durar de a1guns minutos a muitas horas. Para a maioria dos organismos.. um suprime!lto adequado de
(2) A fase log (logarítmica) é a fase em que se observa rá- oxigênio inte-nsifi~ o metabolismo e o cre.scimento. O oxigênio
pida divisão celular. Fármacos ~-lactâmicos. como a penicilina, atua como o aceptor de. hidrogênio nas etapas finais da produ-
atuam durante essa fase. uma vez que os fânnacos são eficazes ção de energia catalisada pelas fiavoproteinas e pelos citocromos.
16 PARTE I Bacteriologia Básica

Uma vez que a utilização de oxigênio gera duas moléculas tóxicas, realizam a fermentação, porém, as aeróbias, que crescem somen -
o peróxido de hidrogênio (H20 2 ) e o radical livre superóxido (02), te na presença de oxigênio, não a realizam. Organismos aeróbios,
as bactérias requerem duas enzimas para utilizar o oxigênio. A pri- como Pseudomonas aeruginosa, produzem metabólitos que en-
meira corresponde ao superóxido dismutase, que catalisa a reação tram no ciclo de Krebs por processos distintos da fermentação,
como a desaminação de aminoácidos.
Em testes de fermentação realizados no laboratório clínico,
a produção de piruvato e lactato torna o meio ácido, fato que
e a segunda consiste na catalase, que catalisa a reação pode ser detectado por um indicador de pH cuja cor modifica-
-se diante de alterações no pH. Por exemplo, quando um açúcar
é fermentado na presença do indicador vermelho de fenol, o pH
torna-se ácido e o meio passa a exibir coloração amarela. No en-
A resposta ao oxigênio é um critério importante para a clas- tanto, se o açúcar não for fermentado, não há a produção de áci-
sificação das bactérias e exibe grande importância prática, uma do e o vermelho de fenol permanece vermelho.
vez que espécimes obtidos a partir de pacientes devem ser in-
cubados na atmosfera apropriada ao crescimento das bactérias.
(1) Algumas bactérias, como M. tuberculosis, são aeróbias
METABOLISMO DO FERRO
obrigatórias; isto é, requerem oxigênio para o crescimento, uma O ferro, sob a forma de íon férrico, é necessário para o cresci-
vez que seu sistema de geração de ATP depende do oxigênio mento das bactérias por ser um componente essencial dos cito-
como aceptor final de hidrogênio. cromos e de outras enzimas. A quantidade de ferro disponível
(2) Outras bactérias, como E. coli, são anaeróbias facultati- no corpo humano para as bactérias é muito baixa, uma vez que
vas; elas utilizam o oxigênio, caso este se encontre presente, para o ferro é sequestrado por proteínas ligantes de ferro, como a
gerar energia por meio da respiração; contudo, são capazes de transferrina. Para obter o ferro necessário para o crescimento, as
utilizar a via da fermentação para sintetizar ATP na ausência de bactérias produzem compostos ligantes de ferro, denominados
oxigênio suficiente. sideróforos. Os sideróforos, como a enterobactina produzida por
(3) O terceiro grupo de bactérias consiste nas anaeróbias E. coli, são secretados pelas bactérias, quelam o ferro disponível
obrigatórias, como Clostridium tetani, incapazes de crescer na e, assim, o capturam, ligando-se a receptores específicos localiza-
presença de oxigênio, uma vez que são desprovidas de superó- dos na superfície das bactérias, sendo ativamente transportados
xido dismutase ou catalase, ou ambos. Anaeróbios obrigatórios para o interior da célula. O fato de as bactérias apresentarem esse
variam em sua resposta à exposição ao oxigênio; alguns podem mecanismo descrito reforça a importância do ferro para o cresci-
sobreviver, mas são incapazes de se multiplicar, ao passo que ou- mento e metabolismo bacterianos.
tros são rapidamente mortos.

CONCEITOS-CHAVE
FERMENTAÇÃO DE AÇÚCARES
No laboratório clínico, a identificação de vários patógenos im - • As bactérias reproduzem-se por fissão binária, ao passo que
portantes de seres humanos baseia-se na fermentação de deter- célu las eucarióticas se reproduzem por mitose.
minados açúcares. Por exemplo, Neisseria gonorrhoeae e Neis- • O ciclo de crescimento bacteriano consiste em quatro fases: a
seria meningitidis podem ser distinguidas entre si com base na fase lag, durante a qual os nutrientes são incorporados; a fase
log, durante a qual ocorre rápida divisão celu lar; a fase esta-
fermentação de glicose ou maltose (ver página 130); e E.coli pode
cionária, quando o número de células que morrem se equipa-
ser diferenciada de Salmonella e Shigella de acordo com sua capa-
ra ao número de células que estão sendo geradas; e a fase de
cidade de fermentar a lactose (ver página 149). morte, na qual a maioria das células está morrendo porque os
O termo fermentação refere-se à clivagem de um açúcar nutrientes foram exauridos.
(como glicose ou maltose) a ácido pirúvico e, em seguida, a áci-
• Algumas bactérias podem crescer na presença de oxigênio
do láctico. (Mais especificamente, corresponde à clivagem de um (aeróbias e facultativas), ao passo que outras morrem na
monossacarídeo, como glicose, maltose ou galactose. Observa-se presença de oxigênio (anaeróbias). A utilização de oxigênio
que a lactose é um dissacarídeo composto por glicose e galactose pelas bactérias origina produtos tóxicos, como o superóxido
e, portanto, deve ser clivada pela í3-galactosidase em E. coli antes e o peróxido de hidrogênio. Os organismos aeróbios e facul-
que ocorra a fermentação.) A fermentação é também denomina- tativos possuem enzimas, como o superóxido dismutase e a
da ciclo glicolítico (glico = açúcar, lítico = quebra), sendo este o cata/ase, que destoxificam esses produtos, ao passo que os
anaeróbios não as apresentam, sendo mortos na presença de
processo pelo qual as bactérias facultativas geram ATP na ausên-
oxigênio.
cia de oxigênio.
Na presença de oxigênio, o piruvato produzido pela fermen- • A fermentação de determinados açúcares corresponde à base
da identificação laboratorial de alguns patógenos importan-
tação entra no ciclo de Krebs (ciclo de oxidação, ciclo do ácido
tes. A fermentação de açúcares, como a glicose, resulta na
tricarboxílico), sendo metabolizado em dois produtos finais, C02
produção de ATP e ácido pirúvico ou láctico. Esses ácidos pro-
e H 20. O ciclo de Krebs produz mais ATP que o ciclo glicolítico; movem diminuição do pH, fato que pode ser detectado pela
assim, as bactérias facultativas exibem crescimento mais rápido alteração na cor de corantes indicadores.
na presença de oxigênio. As bactérias facultativas e anaeróbias
CAPÍTULO 3 Crescimento 17

APLIQUE SEU CONHECIMENTO RESPOSTAS


1. A Figura 3-1 demonstra uma curva de crescimento bacteriano divi- 1. (B)
dida em fases: a, b, c e d. Em qual das fases o antibiótico penicilina 2. (D)
provavelmente causará a morte das bactérias?
(A) Fase a.
(B) Fase b. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(C) Fase c.
(D) Fase d. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
2. Algumas bactérias são anaeróbias obrigatórias. Qual das opções a
contradas na seção de Bacteriologia Básica da Parte XIII: Ques-
seguir melhor explica esse fenômeno? tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam-
bém a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
(A) Elas podem produzir energia tanto por fermentação (i.e., gli-
cólise) quanto por respiração, utilizando o ciclo de Krebs e os página 731.
citocromos.
(B) Elas não são capazes de produzir seu próprio ATP.
(C) Elas não formam esporos.
(D) Elas não possuem superóxido dismutase e catalase.
(E) Elas não possuem cápsula.
CAPÍTU L O

4 Genética
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução 3, T,ansformaçâo
Mutações Recombinação
Transferência de ONA dentro das células bacterianas Conceitos-chave
Transferência de ONA ent re células bacterianas Aplique seu conhecimento
1. Conjugação Questões para autoavaliação
2. T,ansdução

INTRODUÇÃO do ONA, porque a DNA.polimerase comete um erro ou porque


um agente mutagênico altera a formação das ligações de hidro•
O material genético de uma bactéria típica. Eschen'chia coli. con- gênio da base utilizada como molde, de maneira que uma base
siste em uma única molécula de ONA circu)ar com peso molecu- errada é inserida. Qua11do a substituição de bases resu1ta em um
)ar de cerca de 2 X 10'. sendo composta por aproximadamente códon que simplesmente promove a inserção de um aminoácido
5 X 10° pares de bases. Essa quantidade de i1úormação genética diferente. a mutação é denominada mutação de troca de senti•
é capaz-de codificar cerca de 2 miJ proteínas com peso mo)ecular do (do inglês, missense); quando a substituição de bases origina
médio de 50 mil. O DNA do menor organismo de vida livre. a um códon de térmi110. que i11terrompe prematuramente a síntese
bactéria desprovida de parede Mycoplasma, exibe peso mo)ecular proteic.a, a mutação é denominada mutaç:ão sem sentido (do in-
de 5 X 104• O ONA de céJulashumanas contém cerca de 3 X 10') glês.. nonsense). Mutações sem sentindo quase sempre destroem
pares de bases e codifica aproximadamente 100 mil proteínas. a função da proteína.
Observa.se que as bactérias são haploides; em outras pa· (2) O segundo tipo de mutação corresponde â mutação de
la,,ras, possuem um único cromossomo e. portanto, uma única alteração de fase de leitura. Ocorre quando um ou Jllais pares de
cópia de cada gene. As célu1as eucarióticas (como as cê)ulas hu· bases são adicionados ou removidos., alterando a fase de leitura do
manas) são dlploides. significando que apresentam um par de ribossomo, e resultando na incorporação dos aminoácidos erra-
e.ada cromossomo e, assim, possuem duas cópias de cada gene. dos ..a jusante" à mutação e na produção de uma proteína inativa.
Em células diploides. uma cópia de um gene (alelo) pode ser ex- (3) O terceiro tipo de mutação ocorre quando transpo.sons
pressa como uma proteína (i.e.• pode ser dominante), ao passo ou sequências de inserção integram-se ao DNA. Essas porções
que outro ale)o pode não ser expresso (i.e., pode ser rec.essivo). recém.i1tseridas de ONA podem causar profundas modificações
Em células haploides., qualquer gene que tenha sofrido mutação nos genes em que são inseridas. bem como nos genes adjacentes.
- e, por isso, não é expresso - resulta em uma célula desprovida
daquela característica. As mutações podem ser causadas por compostos quúnicos.,
radiação ou vírus. Os compostos químicos atuam de várias for.
mas diferentes.
MUTAÇÕES ( 1) Alguns, como o ácido nitroso e os agentes alquilantes.. al-

Mutação é uma modificação na sequência de bases do DNA que teram a base existente de modo a formar uma ligação de hidrogê·
nio preferencia1mente com a base errada. Por exemplo, a adenina
geralmente resu1ta na inserção de um diferente aminoácido em
deixa de parear com a timina, pareaJ\do.se com a citosina.
uma proteCna e no surgimento de um fenótipo alterado. As muta.
(2) Alguns compostos químicos, como 5-bromouracila,
ções resu1tam de três tipos de alterações moleculares:
correspondem a aná1ogos de bases, pois são similares às bases
(1) O primeiro tipo consiste na substituição de bases. normais. Um.a vez que o átomo de bromo apresenta um raio atô-
Isso ocorre quando uma base é i1tserida em substituição a OU· mico similar ao de um grupo meti), a 5-bromouracila pode ser
tra. A substituição de bases ocorre no momento da replic.ação i11serida em substituição à t.im.ina (5-metiluraci)a). Entretant~ a
CAPÍTULO 4 Genética 19

5-bromouracila apresenta menor fidelidade na formação de li- processo pela síntese de uma cópia do seu DNA e pela inserção
gações de hidrogênio que a timina e, desse modo, liga-se com dessa cópia em outro local do cromossomo bacteriano ou do
maior frequência à guanina. Isso resulta em uma transição de par plasmídeo. A estrutura e a função dos transposons são descritas
de bases A-T para um par de bases G-C, originando, assim, uma no Capítulo 2, enquanto seu papel na resistência aos fármacos
mutação. O fármaco antivira! iododesoxiuridina atua como aná- antimicrobianos é descrito no Capítulo 11. A transferência de um
logo de base timina. transposon para um plasmídeo e a subsequente transferência de
(3) Alguns compostos químicos, como o benzopireno, en- plasmídeos para outra bactéria por conjugação (ver posterior-
contrado na fumaça do tabaco, ligam-se às bases do DNA, cau- mente) contribuem de forma significativa para a disseminação
sando mutações de alterações de fase. Esses compostos químicos, da resistência a antibióticos.
frequentemente carcinogênicos e mutagênicos, intercalam -se en- A transferência de DNA no interior das bactérias também
tre bases adjacentes, distorcendo e desorganizando a sequência ocorre por rearranjos programados (Figura 4-1). Esses rearran-
deDNA. jos genéticos são responsáveis por muitas das alterações antigéni-
cas observadas em Neisseria gonorrhoeae e Borrelia recurrentis, a
Os raios X e a luz ultravioleta também podem causar mu-
causa da febre recorrente. (Também ocorrem em tripanosomas,
tações.
discutidos no Capítulo 52.) O rearranjo programado consiste
(1) Os raios X exibem alta energia e podem danificar o DNA no movimento de um gene de um local silencioso de armaze-
de três maneiras: (a) clivando as ligações covalentes que mantêm namento, onde o gene não é expresso, para um local ativo, onde
unida a cadeia de ribose-fosfato, (b) produzindo radicais livres a transcrição e a tradução ocorrem. Há muitos genes silenciosos
capazes de atacar as bases e (c) alterando os elétrons nas bases e, que codificam variantes dos antígenos, e a inserção de um novo
desse modo, modificando suas ligações de hidrogênio. gene no local ativo de maneira sequencial, repetida e programa-
(2) A radiação ultravioleta, que exibe energia mais baixa da, consiste na fonte da variação antigénica consistente. Essas
que os raios X, promove a ligação cruzada de bases pirimídicas movimentações não são induzidas por uma resposta imune, mas
adjacentes, formando dímeros. Essa ligação cruzada (p. ex., de têm como efeito permitir que os organismos dela evadam.
timinas adjacentes formando um dímero de timina) resulta na
incapacidade de o DNA replicar-se apropriadamente.
Certos vírus, como o vírus bacteriano Mu (bacteriófago mu-
TRANSFERÊNCIA DE DNA ENTRE
tador), provocam elevada frequência de mutações quando seu CÉLULAS BACTERIANAS
DNA é inserido no cromossomo bacteriano. Uma vez que o DNA A transferência de informação genética de uma célula a outra
viral pode ser inserido em vários pontos críticos, podem ocorrer pode ocorrer por três métodos: conjugação, transdução e trans-
mutações em genes variados. Estas mudanças podem ser de alte- formação (Tabela 4-1). Do ponto de vista médico, as duas con-
ração de fase ou remoções. sequências mais importantes da transferência de DNA são (1) a
Mutações letais condicionais são de interesse médico disseminação da resistência a antibióticos de uma bactéria para
porque podem ser úteis em vacinas, como a vacina contra gri- outra por meio da conjugação e (2) o fato de que diversas exoto-
pe. O termo condicional indica que a mutação é expressa apenas xinas importantes são codificadas por bacteriófagos e são trans-
em determinadas condições. As mutações letais-condicionais feridas por meio da transdução.
mais importantes são as sensíveis à temperatura. Organismos
temperatura-sensitivos podem se replicar em uma temperatura
1. Conjugação
relativamente baixa, ou permissiva, (p. ex., 32°C), mas não con-
seguem se multiplicar em temperaturas maiores, ou restritivas A conjugação corresponde ao "acasalamento,, de duas células
(p. ex., 37°C). Esse comportamento é causado por uma mutação bacterianas, durante o qual o DNA é transferido da célula doa-
que determina uma mudança de aminoácido em uma proteína dora à receptora (Figura 4-2). Este processo de acasalamento é
essencial, o que permite que ela funcione normalmente a 32°C controlado por um plasmídeo F (fertilidade) (fator F), que car-
mas não a 37°C, pois em temperaturas maiores a proteína sofre reia os genes das proteínas necessárias à conjugação. Uma das
uma alteração em sua conformação. Um exemplo de um mutan- proteínas mais importantes corresponde à pilina, a qual forma
te letal-condicional de importância médica corresponde a uma o pilus sexual (tubo de conjugação). O acasalamento é iniciado
linhagem do vírus influenza atualmente utilizada em uma vacina quando o pilus da bactéria macho doadora, que carreia o fator F
experimental. Essa vacina contém um vírus incapaz de crescer a (F+), liga-se a um receptor da superfície da bactéria fêmea recep-
37ºC e, portanto, incapaz de infectar os pulmões e causar pneu- tora, que não contém um fator F (F-). As células, então, estabe-
monia, mas é capaz de crescer a 32ºC no nariz, onde pode se re- lecem contato direto pela retração do pilus. Após uma clivagem
plicar e induzir a imunidade. enzimática do DNA do fator F, uma fita é transferida por meio da
ponte de conjugação ao interior da célula receptora. O processo
é completado pela síntese da fita complementar, originando um
TRANSFERÊNCIA DE DNA DENTRO DAS plasmídeo de dupla-fita com o fator F, tanto na célula doadora
quanto na receptora. A célula receptora torna-se uma célula F+
CÉLULAS BACTERIANAS
masculina capaz de transmitir o plasmídeo. Observa-se que, nes-
Os transposons transferem o DNA de um local do cromosso- sa circunstância, somente o fator F, e não o cromossomo bacte-
mo bacteriano a outro, ou para um plasmídeo. Realizam esse riano, foi transferido.
20 PARTE I Bacteriologia Básica

Locusde
expressão

1 2 3 4 N

mRNA
O rearranjo programado
desloca o gene 2 para
Proteína 1 o locus de expressão
(antígeno 1)

Locusde
expressão

2 2 3 4 N

{
mRNA
{
Proteína 2
(antígeno 2)

FIGURA 4-1 Rearranj os programados. Na parte superior da figura, o gene da proteína 1 encontra-se no locus de expressão e o mRNA da
proteína 1 é sintetizado. Em um momento posterior, uma cópia do gene 2 é produzida e inserida no Jocus de expressão. Ao deslocar somente
a cópia do gene, a célula sempre mantém o DNA original para uso futuro. Quando o DNA do gene 2 é inserido, o DNA do gene 1 é excisado e
degradado.

Algumas células F+ apresentam seu plasmídeo F integrado combinar-se com o DNA receptor, tomando-se um componente
ao genoma bacteriano e, portanto, adquirem a capacidade de estável de seu material genético.
transferir o cromossomo para outra célula. Essas células são de-
nominadas células Hfr (alta frequência de recombinação [do 2. Transdução
inglês, high-frequency recombination]) (Figura 4-3). Durante esta
transferência, a fita simples de DNA que entra na célula reci- A transdução consiste na transferência de DNA celular por meio
piente F- contém um pedaço do fator F na extremidade inicial, de um vírus bacteriano (bacteriófago, fago) (Figura 4-4). Du-
seguido pelo cromossomo bacteriano e, por fim, pelo restante rante o crescimento do vírus no interior da célula, uma porção do
do fator F. O tempo necessário para a transferência completa do DNA bacteriano é incorporada na partícula virai, sendo trans-
DNA bacteriano é de aproximadamente 100 minutos. A maioria ferido para a célula receptora durante a infecção. No interior da
dos acasalamentos resulta na transferência de apenas uma porção célula receptora, o DNA do fago pode integrar-se ao DNA celular
do cromossomo do doador, uma vez que a ligação entre células e a célula pode adquirir uma nova característica - processo de-
pode se romper. Os genes da célula doadora que são transferidos nominado conversão lisogênica (ver final do Capítulo 29). Esse
variam, já que o plasmídeo F pode integrar-se em vários locais processo pode transformar um organismo não patogênico em
distintos do DNA bacteriano. Os genes bacterianos adjacentes patogênico. As toxinas diftérica, botulínica, colérica e eritrogê-
à porção-líder do fator F são os primeiros e, por isso, os mais nica (Streptococcus pyogenes) são codificadas por bacteriófagos e
frequentemente transferidos. O DNA recém-adquirido pode re- podem ser transferidas por transdução.

TABELA 4-1 Comparação entre conjugação, transdução e transformação

Procedimento de transferência Processo Tipo de células envolvidas Natureza do DNA transferido

Conjugação DNA transferido de uma proteína Procarióticas Cromossômico ou plasmidial


para outra

Transdução DNA transferido de uma célula Proca rióticas Qualquer gene na transdução ge-
para outra, por um vírus neralizada; apenas certos genes
na transdução especializada

Transformação DNA purificado captado por uma Procarióticas ou eucarióticas Qualquer DNA
bactéria (p. ex., humanas)
CAPÍTULO 4 Genética 21

Existem dois tipos de transdução: generalizada e especiali-


Célula zada. O tipo generalizado ocorre quando o vírus carreia um seg-
recipiente F- mento derivado de qualquer região do cromossomo bacteriano.
Isso ocorre porque o DNA celular é fragmentado após a infecção
pelo fago e porções do DNA celular de mesmo tamanho do DNA
virai são incorporadas à partícula viral com uma frequência de
cerca de uma a cada mil partículas virais. O tipo especializado
ocorre quando o DNA do vírus bacteriano, que foi integrado ao
DNA celular, é excisado e carreia uma porção do DNA celular
adjacente. Uma vez que a maioria dos fagos lisogênicos (tempe-
rados) integra-se em locais específicos no DNA bacteriano, os ge-
Célula f + nes celulares adjacentes transduzidos geralmente são específicos
DNA
bacteriano daquele vírus.

FIGURA 4-2 Conjugação. Um plasmídeo F está sendo transferido de 3. Transformação


uma bactéria doadora F+ para uma receptora F. A transferência ocor- A transformação consiste na transferência do próprio DNA de
re no local de contato criado pelo pilus sexual. O novo plasmídeo da uma célula a outra. Isso ocorre por um dos dois métodos seguin-
bactéria receptora é composto por uma fita parental (linha contínua) tes. Na natureza, bactérias em processo de morte podem liberar
e uma fita recém-sintetizada (linha pontilhada). O plasmídeo previa-
seu DNA, o qual pode ser captado por células receptoras. Existem
mente existente na bactéria doadora agora consiste em uma fita pa-
poucas evidências indicando que esse processo desempenhe pa-
rental (linha contínua) e uma fita recém-sintetizada (linha pontilhada).
pel significativo na geração de doença. Em laboratório, um pes-
Ambos os plasmídeos são ilustrados exibindo somente uma curta
porção do DNA recém-sintetizado (linhas pontilhadas), mas no fim da quisador pode extrair DNA de um tipo bacteriano e introduzir
síntese de DNA tanto o doador quanto o receptor contêm uma cópia em bactérias geneticamente distintas. Quando um DNA purifi-
completa do DNA plasmidial. (Modificada, com permissão, de Stanier RY, cado é injetado no núcleo de uma célula eucariótica, o processo é
Duodorof M, Adelberg EA. The Microbial World. 3rd ed. Prentice-Hall, Pearson denominado transfecção. A transfecção é frequentemente utili-
Education, 1970.) zada em procedimentos de engenharia genética.

Célula f +
doadora

O DNA do plasmídeo
DNA de fertilidade é
bacteriano
integrado no
cromossomo bacteriano

l
Célula F-
receptora

DNA
bacteriano

Célula f +
doadora

DNA
bacteriano ,- - - - ----=-- - A cópia do
cromossomo bacteriano
é transferida à receptora

FIGURA 4-3 Recombinação de alta frequência. Parte superior: Um plasmídeo de fertilidade (F) foi integrado ao cromossomo bacteriano. Parte
inferior: O plasmídeo F medeia a transferência do cromossomo bacteriano da doadora para as bactérias receptoras.
22 PARTE I Bacteriologia Básica

Bacteriófago
DNA
~~
i1 Progênie
do DNA
!lJ
Progênie
defagos
DNA
bacteriano

~
do fago do fago transduzido DNA
~~~
,,,,.,,,
' DNAda
DNA "'; ' ~ DNA bactéria bactéria
bacteriano hospedeira hospedeira
fragmentado
A B e D E

FIGURA 4-4 Transdução. A: Um bacteriófago infecta uma bactéria, e o DNA fágico penetra na célula. B: O DNA do fago replica-se e o DNA
bacteriano é fragmentado. C: A progênie fágica é formada e liberada; a maioria contém DNA fágico, enquanto poucos contêm DNA bacteriano.
D: Outra bactéria é infectada por um fago contendo DNA bacteriano. E: o DNA bacteriano transduzido integra-se ao DNA hospedeiro, e o hospe-
deiro adquire uma nova característica. Essa bactéria hospedeira sobrevive, uma vez que nenhum DNA v irai é transduzido; dessa forma, não ocorre
replicação v irai. (Outro tipo de mecanismo de transdução é ilustrado na Figura 29-8.)

O uso experimental da transformação revelou importantes ser integrado ao cromossomo da célula hospedeira por recombi-
informações sobre o DNA. Em 1944, demonstrou-se que o DNA nação. Existem dois tipos de recombinação:
extraído de pneumococos capsulados lisos era capaz de transfor-
( 1) A recombinação homóloga, em que dois segmentos de
mar pneumococos não capsulados rugosos em organismos cap-
DNA exibindo extensas regiões de homologia pareiam-se e per-
sulados lisos. Essa demonstração de que o princípio de transfor-
mutam porções pelos processos de clivagem e religação.
mação correspondia ao DNA consistiu na primeira evidência de
(2) A recombinação não homóloga, em que pouca, ou ne-
que o DNA correspondia ao material genético.
nhuma, homologia é necessária.

Diferentes Zoei genéticos dirigem esses dois tipos e, desse


RECOMBINAÇÃO modo, presume-se que enzimas diferentes estejam envolvidas.
Embora seja inferido que uma variedade de endonucleases e
Uma vez que o DNA é transferido da célula doadora para a recep- ligases estão envolvidas, a sequência exata de eventos é desco-
tora por um dos três processos descritos anteriormente, ele pode nhecida.

CONCEITOS-CHAVE

• As bactérias possuem apenas uma cópia de seu DNA, isto é, são • A transferência de DNA entre células bacterianas ocorre princi-
haploides. Em contrapartida, as células eucarióticas apresentam palmente por dois processos: conjugação e transdução. A con-
duas cópias de seu DNA genômico, isto é, são diploides. O DNA jugação é o processo pelo qual o DNA p lasm idial ou cromos-
bacteriano é circular; o DNA nuclear humano é linear. sômico é transferido diretamente de uma bactéria a outra. Para
• A transferência de DNA no interior de células bacterianas ocorre que a conjugação ocorra, a bactéria doadora deve possuir um
por dois processos: movimentação de transposons e rearranjos plasmídeo de "fertilidade" (plasmídeo F) que codifica as proteínas
programados. Os transposons são pequenos segmentos de DNA mediadoras desse processo, das quais as mais importantes estão
que prontamente se deslocam de um local a outro do cromosso- relacionadas com a formação do pilus sexual. O DNA transferido
mo bacteriano, ou do cromossomo bacteriano para um plasmí- por conjugação à bactéria receptora consiste em uma nova cópia,
deo. Os transposons têm importância médica porque geralmen- permitindo à doadora manter uma cópia do DNA. Os plasmídeos
te carreiam genes de resistência a antibióticos. A transferência que carreiam genes de resistência a antibióticos são geralmente
de transposons presentes em p lasmídeos para outras bactérias transferidos por conjugação.
por conjugação contribui significativamente para a resistência a • A transdução é o processo pelo qual o DNA, p lasmidial ou
antibióticos. cromossômico, é transferido de uma bactéria a outra por inter-
• Os rearranjos programados consistem na movimentação de médio de um vírus. O DNA transferido integra-se ao DNA cro-
genes a partir de locais inativos (de armazenamento) para locais mossômico da célula receptora, e novas proteínas, como as exo-
ativos, onde são expressos como novas proteínas. Esse processo toxinas, são sintetizadas - um processo denominado conversão
tem importância médica porque as bactérias podem adquirir no- lisogênica.
vas proteínas (antígenos) em sua superfície, evadindo do sistema • A transformação é o processo pelo qual o próprio DNA, tanto o
imune. Dois importantes organismos onde isso ocorre são Neisse- DNA liberado por células em processo de morte quanto o DNA
ria gonorrhoeae, o agente causador da gonorreia, e Trypanosoma purificado em laboratório, penetra em uma bactéria receptora.
brucei, um protozoário que causa a doença africana do sono. Do ponto de vista médico, esse processo parece ser menos im-
portante que a conjugação e a transdução.
CAPÍTULO 4 Genética 23

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 4. Corynebacterium diphtheriae é o agente causador da difteria, pela


produção de toxina diftérica. O gene codificador da toxina é inte-
1. A emergência de bactérias resistentes a antibióticos, especialmente grado dentro do genoma bacteriano durante a conversão lisogênica.
bacilos gram-negativos entéricos, é um fenômeno de importância O gene dessa toxina é adquirido por um processo chamado:
médica. Isso ocorre frequentemente devido a um processo que en- (A) Conjugação.
volve a formação de pilus sexual e uma subsequente transferência de
(B) Transdução.
plasmídeos contendo um ou mais transposons. Qual das opções a ( C)Transformação.
seguir corresponde a esse processo? (D) Translocação.
(A) Conjugação. (E) Transposição.
(B) Transdução.
(C) Transformação.
(D) Translocação.
(E) Transposição.
RESPOSTAS
2. Várias bactérias patogênicas apresentam a habilidade de translocar 1. (A)
fragmentos de seu DNA em um processo denominado rearranjos 2. (C)
programados. Qual das opções a seguir representa a consequência 3. (B)
mais importante desse processo? 4. (B)

(A) O número de plasmídeos aumenta de forma significativa, ele-


vando de forma notável a resistência a antibióticos.
(B) A quantidade de endotoxina aumenta de forma significativa, o QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
que eleva a habilidade de a bactéria causar choque séptico.
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
(C) Os antígenos de superfície das bactérias variam de forma sig-
nificativa, o que aumenta sua capacidade de evadir a opsoniza- contradas na seção de Bacteriologia Básica da Parte XIII: Ques-
ção por anticorpos. tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam-
(D) A habilidade de a bactéria ser lisogenizada é significativamen- bém a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
te aumentada, o que eleva de forma significativa as quantida- página 731.
des de exotoxinas.
(E) A habilidade de a bactéria sobreviver de forma intracelular au-
menta de forma significativa.
3. Qual entre as afirmações abaixo é a mais acurada em relação aos
transposons?
(A) Eles codificam enzimas que degradam cromossomos bacte-
rianos.
(B) Eles são pequenas sequências de DNA que frequentemente
codificam enzimas que fazem a mediação de resistência a anti-
bióticos.
(C) Eles são pequenas sequências de RNA que silenciam genes re-
guladores específicos.
(D) Eles são uma família de RNA transportadores que aumentam a
frequência de mutações em locais específicos no genoma bac-
teriano.
CAPÍTULO

5 Classificação de Bactérias
de Importância Médica

CONTEODO DO CAPITULO

Princípios de classificação Questões para autoavaliação


Conceitos-chave

PRINcfPIOS DE CLASSIFICAÇÃO UtiJizando esses critérios, juntamente com diferentes rea.


ções bioqufrnicas, muitas bactérias podem ser prontamente elas·
A dassificação atual das bactérias baseia-se principalmente em siftcadas em gêneros e espécies distintos. Contudo, ocorreram
c.aracterístkas morfológicas e bioquhnic.as. Um esquema que vários exemplos nos quais esses critérios posicionaram bactérias
divide os microrganismos de importância médica por gênero é no mesmo gênero, enquanto o sequenciamento do DNA de seus
apresentado na Tabela 5-1. Com objetivos pedagógicos.. esse es- genomas revelou serem significativamente diferentes, devendo
quema de classificação difere dos derivados de prindpios taxonô-- ser classificadas em um gênero novo ou distinto. Por exemp)o..
micos estritos de duas maneiras: um organismo anterionnente conhecido como Pseudomona.s Ct·
pacia foi dassificado como Butkholderia cepacia, uma vez co1ts·
(1) Estão induidos apenas os organismos descritos neste H-
tatado que a se.quência de bases de seu DNA é significativamente
vro na seção sobre bactérias de importância médica.
distinta do DNA dos membros do gênero Pseudomonas.
(2) Uma vez que existem inúmeros bacilos gram-negativos.
esses bacilos são divididos em três categorias: organismos respi-
ratórios, organismos zoonóticos e organismos entéricos e rela-
cionados. CONCEITOS-CHAVE
O critério inicial utiliudo na classificação consiste. na na• A dassificaçáo das bactMas baseia--se em vários cr'it~rtos,
tureza da parede celular; ou seja, a parede é rígida, flexive) ou como a natureta da parede celular, carc1cterísticas tintotiais,
ausente? As bactérias que apresentam paredes rígidas e espes• capacidade de cresce, na presença ou na au~ncia de oxig~ io
sas podem ser subdivididas em bactérias de vida Jivre, capazes e capacidade de for«w'u·esporos.
de crescer em meios Jaboratoriais na ausência de cé)ulas huma. OcritMo atualmente utilizado consiste na sequ~cia de bases
nas ou animais, e. bactérias que não são de vida livre. as quais do ONA genômico. Vá,ias bact~rias foram redassific.adas com
correspondem a parasitas intracelulares obrigatórios e, portan. base nessa infOC'mação.
to. capaz.es de crescer apenas no interior de células hwnanas ou
de outros animais. Os organismos de vida livre podem ainda
ser subdi\•ididos, de acordo com a morfologia e a reação tin·
toria), em wna variedade de cocos e baciJos gram•positivos e. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
gram.negativos, com diferentes exigências em relação ao oxi• Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en•
gênio e à capacidade de formação de esporos. As bactérias que. contradas na seção de Bacteriologia Básic.a da Parte Xlll: Ques~
apresentam paredes de)gadas e flexíveis (os espiroquetas) e as tões para Autoavaliação.. a partir da página 689. Consulte tam•
desprovidas de. parede celular (os micoplasmas) formam uni· bém a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico.. a partir da
dades distintas. página 731.
CAPÍTULO 5 Classificação de Bactérias de Importância Médica 25

TABELA 5-1 Classificação de bactérias de importância médica

Características Gênero Doenças representativas

1. Células com parede rígida e espessa


A. De vida livre (bactérias extracelulares)
1. Gram-posit ivas
a. Cocos Streptococcus Pneumonia, faringite, celulite
Staphylococcus Abscesso de pele e outros órgãos
b. Bacilos formadores de esporos
(1) Aeróbios Bacillus Ant raz
(2) Anaeróbios C/ostridium Tétano, gangrena gasosa, botulismo
c. Bacilos não formadores de esporos
(1) Não fi lamentosos Corynebacterium Difteria
Listeria Meningite
(2) Filamentosos Actinomyces Actinomicose
Nocardia Nocardiose
2. Gram-negativas
a. Cocos Neisseria Gonorreia, meningite
b. Bacilos
(1) Facultativos
(a) Lineares
(i) Organismos respiratórios Haemophilus Meningite
Bordetella Coqueluche
Legionella Pneumonia
(ii) Organismos zoonót icos Bruce/la Brucelose
Francisel/a Tularemia
Pasteurella Celulite
Yersinia Peste
(iii) Organismos entéricos e relacionados Escherichia Infecção do t rato urinário, diarreia
Enterobacter Infecção do t rato urinário
Serratia Pneumonia
Klebsiel/a Pneumonia, infecção do trato urinário
Salmonella Enterocolite, febre t ifoide
Shigel/a Enterocolite
Proteus Infecção do t rato urinário
(b) Curvos Campylobacter Enterocolite
Helicobacter Gast rite, úlcera péptica
Vibrio Cólera
(2) Aeróbios Pseudomonas Pneumonia, infecção do trato urinário
(3) Anaeróbios Bacteroides Peritonite
3. Acidorresistentes Mycobacterium Tuberculose, hanseníase
B. De vida não livre (parasitas intracelulares obrigatórios) Rickettsia Febre maculosa das Montanhas Rochosas, t ifo, febre Q
Chlamydia Uret rite, tracomia, psitacose

li. Células com parede flexível e delgada (espiroquetas) Treponema Sífilis


Borre/ia Doença de Lyme
Leptospira Leptospirose

Ili. Células desprovidas de parede Mycop/asma Pneumonia


CAPÍTULO

6 Microbiota Normal
CONTEODO DO CAPITULO

Conceito de miaobiota normal M icrobiota normal do trato urogenital


M lcrobiota normal da pele Conceitos-chave
M iaobiota normal do trato respiratório Aplique seu conhecimento
M icrobiota normal do trato gastrlntestlnal Questões para autoavaliação

CONCEITO DE MICROBIOTA NORMAL Deve-se também realizar a distinção entre os membros da


m.icrobiota normal, que são residentes permanentes. e a oolonl-
A mlcrobiota normal ê o termo utilizado para descrever as vá- zação do indi,•Iduo por um novo organismo. Em um contexto..
rias bactérias e fungos que são residentes permanentes de de- todos os seres humanos são coloniz.ados pelos organismos da
termio.ados )oca.is corporais, especialmente a pele. a parte otal da
faringe, o co)o e a vagina (Tabelas 6-1 e 6-2). Vírus e parasitas
(protozoários e helmintos). que formam os outros grupos prin- TABELA 6-1 Resumo dos membros da microbiota
cipais de microrganismos, não são normalmente considerados normal e suas localizações anatômicas
membros da microbiota normal. embora e)es possam estar pre-
sentes em indivíduos assintomâticos. Organismos da microbiota 1Membrosda mlaoblota nonnal 1
Locallaçlo anat6mk.a
normal são frequeJltemente denominados comensais. Comen. Candida albicarts Soca, colo, vagina
sais são organismos que se beneficiam de outros organismos, mas
Emerococcus foecalis Colo
que não trazem danos ao hospedeiro.
O termo mkrobioma humano ê fre.que11temente usado Esdierichia coli e outros colifo,mes Colo, vagina, u,et,a distal
para descrever a m.icrobiota normal Por meio do uso de têcni.
cas diagnóstic.as mo)eculares sofisticadas, muitas novas bactérias Esp&:ies de Bacteroides Colo, garganta, vagina
têm sido identificadas como membros do m.icrobioma. O papel Esp&:ies de Ckmridium Colo
dessas bactérias no funcionamento do sistema imune. e também
como causa de doenç.as.. está sendo investigado. Esp&:ies de Co.,y,,ebocretium Nasofartnge, pele, vagina
Os membros da microbiota variam de um )ocal a outro (difte,oides)
quanto ao número e ao tipo. Embora a microbiota normal seja Esp&:ies de Haemophilus Nasorartnge, conjuntiva
encontrada povoando intensamente várias regiões do corpo. os
órgãos internos geralmente são estéreis. Regiões como o sistema Esp&:ies de l.actobaô'Jlu.s Soca, colo, vagina
nervoso central. o sangue, os brônquios inferiores e alvéolos.. o Esp&:ies de Neisseria Soca, nasofarínge
fígado, o baço, os rins e a bexiga são desprovidos de microrganis-
mos. exceto por aqueles organismos transientes. Estreptococos do grupo viridans Soca, t1asofartnge
Há também uma distinção entre a presença desses organis-
GardneteJlo vagina/is vagina
mos e o estado de portador. Sob determinados aspectos, todos
os seres humanos são portadores de microrganismos. porém PropiO(Jibacrerium «nes Pele
esse termo não corresponde ao uso normal no contexto médico.
Pseudomonos oef'Uginosa Colo, pele
O termo port~dor implica o fato de um indivíduo albergar um pa-
tóge110 em potencial e, portanto, poder representar uma fonte de Sraphylococcus oureus Nariz. pele
infecção a terceiros. Esse termo é mais frequentemente utilizado
Sraphyloco«us epldermir.h's Pele, nariz, boca, vagina,
em referência a uma pessoa que apresenta infecção assintomática
utetra
ou a um individuo que se recuperou de uma doenç.a. mas ainda
carreia o organismo. podendo albergá.to por um longo periodo. 'Em otdem alfabétlc.a.
CAPÍTULO 6 Microbiota Normal 27

TABELA 6-2 Membros da microbiota normal de importância


1 2
Localização Organismos importantes Organismos de menor importância

Pele Staphy/ococcus epidermidis Staphy/ococcus aureus, Corynebacterium (difteroides), vários


estreptococos, Pseudomonas aeruginosa, anaeróbios
(p. ex., Propionibacterium), leveduras (p. ex., Candida a/bicans)

Nariz Staphy/ococcus aureus3 S. epidermidis, Corynebacterium (difteroides), vários estreptococos

Boca Estreptococos do grupo viridans Vários estreptococos, Eikenella corrodens

Placa dental Streptococcus mutans Prevotel/a intermedia, Porphyromonas gingivalis

Cavidades Vários anaeróbios (p. ex., Bacteroides, Fusobacterium,


gengiva is estreptococos, Actinomyces)

Garganta Estreptococos do grupo viridans Vários estreptococos (incluindo Streptococcus pyogenes e


Streptococcus pneumoniae), espécies de Neisseria, Haemophilus
influenzae, S. epidermidis

Colo Bacteroides fragilis, Escherichia coli Bifidobacterium, Eubacterium, Fusobacterium, Lactobacil/us, vários
bacilos aeróbios gram-negativos, Enterococcus faecalis e outros
estreptococos, C/ostridium
3 3
Vagina Lactobacillus, E. coli, estreptococos do grupo B Vários estreptococos, vários bacilos gram-negativos. 8. fragilis,
Corynebacterium (difteroides), C. a/bicans

Uretra S. epidermidis, Corynebacterium (difteroides), vários estreptococos,


vários bacilos gram-negativos (p. ex., E. colt)3
1
Organismos de importância médica ou presentes em maior quantidade.
2
Organismos de menor importância médica ou presentes em menor quantidade.
3
Esses organismos não pertencem à microbiota normal dessa localização, mas correspondem a importantes colonizadores.

microbiota normal; entretanto, o termo colonização refere-se ge- antibióticos orais, podem apresentar deficiências vitamínicas
ralmente à aquisição de um novo organismo. Após a colonização como resultado da redução da microbiota normal. Todavia, uma
por um novo organismo (i.e., adesão e crescimento, geralmente vez que animais livres de germes exibem bom estado nutricional,
em uma membrana mucosa), este pode causar uma doença in- a microbiota normal não é essencial à nutrição adequada.
fecciosa ou pode ser eliminado pelas defesas de seres humanos.
Além disso, um indivíduo colonizado por um novo organismo
pode transmitir esse organismo a outros, isto é, atuar como um MICROBIOTA NORMAL DA PELE
reservatório de infecção para terceiros.
O organismo predominante na pele é o Staphylococcus
Os membros da microbiota normal desempenham papel na
epidermidis, que não é patogênico quando situado na pele, mas
manutenção da saúde, bem como na promoção de doenças, de
pode causar doenças quando atinge determinados locais, como
três maneiras distintas:
válvulas cardíacas artificiais ou articulações prostéticas. É en-
( 1) Eles podem causar doenças, especialmente em indiví- contrado na pele com frequência muito superior ao organismo
duos imunocomprometidos ou debilitados. Embora esses or- patogênico relacionado, Staphylococcus aureus (Tabela 6-2). Há
3 4 2
ganismos não sejam patogênicos em sua localização anatômica cerca de 10 a 10 organismos/cm de pele. A maioria localiza-se
normal, podem ser patogênicos em outras regiões do corpo. superficialmente no estrato córneo, porém alguns encontram -se
(2) Constituem um mecanismo de defesa protetor. As bacté- nos folículos pilosos e atuam como reservatório para substituir a
rias residentes não patogênicas ocupam locais de adesão na pele microbiota superficial após lavagem das mãos. Organismos anae-
e na mucosa, podendo interferir na colonização por bactérias pa- róbios, como Propionibacterium e Peptococcus, estão situados em
togênicas. A capacidade de os membros da microbiota limitarem folículos mais profundos da derme, onde a tensão de oxigênio
o crescimento de patógenos é denominada resistência à coloni- é baixa. Propionibacterium acnes é um organismo anaeróbio co-
zação. Quando a microbiota normal é suprimida, os patógenos mum na pele, implicando na patogênese da acne.
podem crescer e causar doenças. Por exemplo, os antibióticos A levedura Candida albicans também é um membro da mi-
podem reduzir a microbiota normal do colo, permitindo que crobiota normal da pele. Pode atingir a corrente sanguínea de
Clostridium difficile, organismo resistente a antibióticos, cresça um indivíduo quando a pele é perfurada por agulhas (p. ex., em
em abundância, causando uma colite pseudomembranosa. pacientes em uso de cateteres intravenosos, ou em indivíduos
(3) Podem desempenhar uma função nutricional. As bacté- que fazem uso de fármacos intravenosos). Ela é uma importante
rias intestinais produzem grande quantidade de vitaminas B e K. causa de infecções sistêmicas em pacientes que apresentam baixa
Indivíduos malnutridos, quando submetidos ao tratamento com imunidade celular.
28 PARTE I Bacteriologia Básica

MICROBIOTA NORMAL DO TRATO TABELA 6-3 Principais bactérias encontradas no colo

RESPIRATÓRIO Número/g Patógeno


1
Bactéria de fezes importante
Um amplo espectro de organismos coloniza o nariz, a garganta
e a boca, porém os brônquios inferiores e alvéolos geralmente 1 11
Bacteroides, especialmente 8. fragilis 10 º-10 Sim
contêm poucos organismos, ou nenhum. O nariz é colonizado
Bifidobacterium 1010 Não
por uma variedade de espécies estreptocócicas e estafilocócicas,
das quais a mais importante corresponde ao patógeno S. aureus. Eubacterium 1010 Não
Surtos ocasionais de doença devido a esse organismo, particu-
7 8
larmente em berçários, podem ser associados a profissionais de Coliformes 10 - 10 Sim
saúde portadores do organismo na cavidade nasal, na pele ou na Enterococcus, especialmente E. faecalis 10 - 1oª
7
Sim
região perianal.
7
A garganta contém uma variedade de estreptococos do grupo Lactobacil/us 10 Não
viridans, espécies de Neisseria e S. epidermidis (Tabela 6-2). Esses 6
C/ostridium, especialmente C. perfringens 10 Sim
organismos não patogênicos ocupam locais de adesão da mucosa
da faringe, impedindo o crescimento dos patógenos Streptococcus 1
Bacteroides, Bifidobacterium e Eubacterium (que correspondem a mais de 90%
pyogenes, Neisseria meningitidis e S. aureus, respectivamente. da microbiota das fezes) são anaeróbios. Os coliformes (Escherichia coli, espécies
de Enterobacter e outros organismos gram-negativos) são anaeróbios facultati-
Os estreptococos do grupo viridans correspondem a cerca de vos predominantes.
metade das bactérias encontradas na cavidade oral. Streptococcus
mutans, um membro do grupo viridans, é de interesse especial
por estar presente em grande número (10 10/g) na placa dental, a com destaque para Bacteroides fragilis. Os anaeróbios facultati-
precursora da cárie. A placa presente na superfície do esmalte é vos mais abundantes são os coliformes, sendo Escherichia coli o
composta por glicanos gelatinosos de alto peso molecular secre- membro mais importante.
tados pelas bactérias. As bactérias aprisionadas produzem grande A microbiota normal do trato gastrintestinal desempenha
quantidade de ácido, o qual promove a desmineralização do es- importante papel nas doenças extraintestinais. Por exemplo,
malte, iniciando a formação de cárie. Os estreptococos do grupo Escherichia coli corresponde à principal causa de infecções do
viridans, como S. sanguinis, também são a causa mais frequente trato urinário, enquanto Bacteroides fragilis é uma importante
de endocardites bacterianas subagudas. Esses organismos podem causa de peritonite associada à perfuração da parede intestinal
atingir a corrente sanguínea durante cirurgias odontológicas, por trauma, apendicite ou diverticulite. Outros importantes pa-
aderindo-se a válvulas cardíacas danificadas. tógenos anaeróbios incluem Fusobacterium e Peptostreptococcus.
Eikenella corrodens, também componente da microbiota Outras importantes bactérias facultativas incluem o Enterococcus
oral normal, causa infecções de pele e tecidos moles associadas faecalis, que causa infecções do trato urinário e endocardite, e a
às mordeduras humanas e a lesões por socos, ou seja, lesões que Pseudomonas aeruginosa, que causa várias infecções, particular-
ocorrem nas mãos durante lutas. mente em pacientes hospitalizados e com defesas imunológicas
Bactérias anaeróbias, como espécies de Bacteroides, Prevo- comprometidas. P. aeruginosa encontra-se presente em 10% das
tella, Fusobacterium, Clostridium e Peptostreptococcus, são encon- fezes normais, bem como no solo e na água.
tradas nos sulcos gengivais, onde a concentração de oxigênio é A terapia antibiótica com clindamicina, por exemplo, pode
muito baixa. Quando aspirados, esses organismos podem causar suprimir a microbiota normal predominante, permitindo, assim,
abscessos pulmonares, especialmente em pacientes debilitados e que um organismo raro, como Clostridium difficile, produtor de
com má higiene dental. Além disso, os sulcos gengivais corres- toxina, cresça em abundância e cause colite grave. A administra-
pondem ao hábitat natural de Actinomyces israelii, um actino- ção oral de certos antibióticos, como a neomicina, previamente à
miceto anaeróbio que pode causar abscessos na mandíbula, nos cirurgia gastrintestinal para "esterilizar,, o intestino, leva à redu-
pulmões ou no abdome. ção significativa da microbiota normal por vários dias, seguida
de um retorno gradativo aos níveis normais.

MICROBIOTA NORMAL DO TRATO


GASTRINTESTINAL MICROBIOTA NORMAL DO TRATO
UROGENITAL
Em indivíduos com dieta normal, o estômago contém poucos
organismos devido a seu pH baixo e suas enzimas. O intestino A microbiota vaginal de mulheres adultas contém principalmen-
delgado geralmente contém pequeno número de estreptococos, te espécies de Lactobacillus (Tabela 6-2). Os lactobacilos são res-
lactobacilos e leveduras, particularmente C. albicans. Grandes ponsáveis pela produção do ácido láctico que mantém baixo o
números desses organismos são encontrados na porção terminal pH vaginal da mulher adulta. Antes da puberdade e após a me-
do íleo. nopausa, quando os níveis de estrogênio são baixos, os lactoba-
O colo corresponde à principal localização das bactérias no cilos são raros e o pH vaginal é alto. Os lactobacilos parecem ser
corpo. Cerca de 20% das fezes consistem em bactérias, aproxi- capazes de prevenir o crescimento de patógenos potenciais, uma
11
madamente 10 organismos/g. As principais bactérias encontra- vez que sua supressão pelo uso de antibióticos pode levar ao cres-
das no colo estão listadas na Tabela 6-3. É importante destacar cimento exagerado de C. albicans. O crescimento excessivo dessa
que mais de 90% da microbiota fecal é composta por anaeróbios, levedura pode resultar em vaginite por Candida.
CAPÍTULO 6 Microbiota Normal 29

A vagina situa-se próxima ao ânus, podendo ser colonizada Em indivíduos sadios, a urina, quando na bexiga, é estéril.
por membros da microbiota fecal. Por exemplo, mulheres pro- Contudo, durante a passagem pelas porções mais distais da ure-
pensas a infecções recorrentes do trato urinário albergam orga- tra, a urina sofre contaminação por S. epidermidis, coliformes,
nismos como E. coli e Enterobacter no introito. Cerca de 15 a 20% difteroides e estreptococos não hemolíticos. A região ao redor da
das mulheres em idade fértil apresentam estreptococos do grupo uretra feminina e de homens não circuncisados contém secreções
B na vagina. Esse organismo é uma importante causa de sepse e que apresentam Mycobacterium smegmatis, um organismo aci-
meningite em recém-nascidos, sendo adquirido durante a passa- dorresistente. A pele que reveste o trato urogenital corresponde
gem pelo canal do parto. Em aproximadamente 5% das mulheres, ao local de Staphylococcus saprophyticus, uma causa de infecções
a vagina é colonizada por S. aureus, implicando uma predisposi- do trato urinário em mulheres.
ção à síndrome do choque tóxico.

CONCEITOS-CHAVE

• A microbiota normal consiste nos microrganismos residentes Candida albicans, uma levedura também encontrada na pele,
permanentes do corpo, presentes em todos os indivíduos. Al- pode entrar na corrente sanguínea e causar infecções dissemina-
guns indivíduos são colonizados, temporariamente ou por lon- das, como é o caso de endocardites em usuários de drogas endo-
gos períodos, por determinados microrganismos. Todavia, esses venosas. S. aureus também está presente na pele, embora seu
organismos não são considerados membros da microbiota nor- principal local seja o nariz. Esse organismo causa abscessos na
mal. Os portadores (também denominados portadores crônicos) pele e em vários outros órgãos.
são os indivíduos nos quais organismos patogênicos encontram-
-se presentes em números significativos e, portanto, correspon- • Parte oral da faringe. Os principais membros da microbiota nor-
mal da boca e garganta são os estreptococos do grupo viridans,
dem a uma fonte de infecção de terceiros.
como 5. sanguis e 5. mutans. Os estreptococos do grupo viridans
• Os organismos da microbiota normal são bactérias ou levedu-
são a causa mais comum de endocardite subaguda.
ras. Vírus, protozoários e helmintos não são considerados mem-
bros da microbiota normal (entretanto, os seres humanos podem • Trato gastrintestinal. O estômago contém pouquíssimos orga-
ser portadores de alguns desses organismos). nismos devido ao baixo pH. O colo contém a microbiota normal
• Os organismos da microbiota normal habitam as superfícies cor- mais numerosa, bem como a maior diversidade de espécies,
porais expostas ao meio ambiente, como a pele, a orofaringe, incluindo bactérias anaeróbias e facultativas. Existem bacilos e
o trato gastrintestinal e a vagina. Os membros da microbiota cocos gram-positivos, e também bacilos e cocos gram-negativos.
normal diferem em número e tipo nos vários locais anatômicos. Os membros da microbiota normal do colo são uma importante
• Os membros da microbiota normal são organismos de baixa vi- causa de doenças que ocorrem externamente ao colo. Os dois
rulência. Em seu local anatômico normal, não são patogênicos. membros mais importantes da microbiota do colo que causam
Contudo, quando deixam seu local anatômico normal, podem doenças são os organismos Bacteroides fragilis, um anaeróbio, e
causar doenças, especialmente em imunocomprometidos. a bactéria facultativa E. coli. Enterococcus faecalis, um facultati-
vo, também corresponde a um importante patógeno.
• A resistência à colonização ocorre quando os membros da mi-
crobiota normal ocupam locais receptores da pele e superfícies • Vagina. Os lactobacilos são organismos predominantes da mi-
mucosas, impedindo, assim, a adesão de patógenos a esses re- crobiota normal da vagina. Mantêm o pH vaginal baixo, inibindo
ceptores. o crescimento de organismos como C. a/bicans, uma importante
causa de vaginite.
Membros importantes da microbiota normal • Uretra. O terço distal da uretra contém uma variedade de bac-
• Pele. O membro predominante da microbiota normal da pele térias, principalmente 5. epidermidis. A uretra feminina pode ser
é o S. epidermidis. Este organismo é uma importante causa de colonizada por membros da microbiota fecal, como E. coli, predis-
infecções em válvulas cardíacas artificiais e próteses articulares. pondo a infecções do trato urinário.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 2. Uma mulher de 76 anos portadora de prótese de quadril vem até
você reclamando de febre e dor nessa articulação. Você está preo-
1. O colo é o local anatômico com a maior população de bactérias cupado em relação a uma possível infecção por Staphylococcus
integrantes da microbiota normal. Qual das bactérias a seguir está epidermidis. Com base em seus conhecimentos da microbiota nor-
presente em maior número no colo? mal, qual é a fonte mais provável desse microrganismo?
(A) Bacteroides fragilis. (A) Placa dentária.
(B) Clostridium perfringens. (B) Boca.
(C) Enterococcus f aecalis. (C) Pele.
(D) Escherichia coli. (D) Estômago.
(E) Espécies de Lactobacillus. (E) Vagina.
30 PARTE I Bacteriologia Básica

3. Sua paciente é uma mulher de 30 anos com história de febre reumá- RESPOSTAS
tica, que tem apresentado febre nas últimas duas semanas. Durante
o exame clínico você identificou um ruído atípico emitido pelo co- 1. (A)
ração. Você suspeita de endocardite e solicita uma cultura do san- 2. (C)
gue, onde é detectado o crescimento de um estreptococo do grupo 3. (C)
viridans, subsequentemente identificado como S. sanguinis. Com 4. (D)
base em seus conhecimentos sobre a microbiota normal, qual é a
fonte mais provável deste microrganismo?
(A) Duodeno. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(B) Pele.
(C) Garganta. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
(D) Uretra. contradas na seção de Bacteriologia Básica da Parte XIII: Ques-
(E) Vagina. tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam -
4. Um surto de infeções em lesões pós-cirúrgicas causada por bém a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
Staphylococcus aureus ocorreu em um hospital. A equipe de con- página 731.
trole de infecções foi acionada para investigar a existência de um
possível portador. Utilizando seus conhecimentos sobre microbiota
normal, a fonte mais provável desse organismo seria:
(A) Colo.
(B) Cavidade gengival.
(C) Boca.
(D) Nariz.
(E) Garganta.
CAPÍTULO

Pato gênese

CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Princípios da patogênese Infecções bacterianas associadas com o câncer


Por que as pessoas adquirem doenças infecciosas? Linhagens diferentes de uma mesma espécie de bactéria
Tipos de infecções bacterianas podem gerar doenças diferentes

Estágios da patogênese bacteriana Estágios característicos de uma doença infecciosa

Determinantes da patogênese bacteriana O microrganismo isolado do paciente realmente causou a


doença?
1. Transmissão
Conceitos-chave
2. Aderência às superfícies celulares
Aplique seu conhecimento
3. Invasão, inflamação e sobrevivência intracelular
Questões para autoavaliação
4. Produção de toxinas
5. lmunopatogênese

PRINCÍPIOS DA PATOGÊNESE infecciosa da Salmonella seja da ordem de 100 mil microrganis-


mos. A dose infecciosa das bactérias depende, principalmen-
Um microrganismo é considerado um patógeno quando é ca- te, dos seus fatores de virulência (p. ex., se seu pilus permite
paz de causar doença. Alguns microrganismos, por sua vez, são a adesão adequada às membranas mucosas, se há produção de
altamente patogênicos (i.e., causam doença com frequência), exotoxinas ou endotoxinas, se há uma cápsula que as proteja da
enquanto outros raramente causam doença. Patógenos oportu- fagocitose e se há sobrevivência às várias defesas inespecíficas do
nistas são os que raramente provocam doença em indivíduos hospedeiro, como ao ácido estomacal).
imunocompetentes, mas que podem causar infecções graves em Há dois usos da palavra parasita. Neste capítulo, o termo
pacientes imunocomprometidos. Os oportunistas frequente- refere-se à relação parasitária entre a bactéria e as células do hos-
mente pertencem à microbiota normal do corpo. A origem do pedeiro (i.e., a presença da bactéria é prejudicial às células do
termo oportunista refere-se à habilidade de o microrganismo hospedeiro). Bactérias que são patógenos humanos podem ser
aproveitar a oportunidade oferecida por um hospedeiro cujas de- consideradas, portanto, parasitas. Alguns patógenos bacterianos
fesas imunes estão reduzidas e provocar uma doença. são parasitas intracelulares obrigatórios (p. ex., Chlamydia e
A virulência é uma medida quantitativa da patogenicidade Rickettsia), uma vez que se multiplicam apenas no interior das
relativa ao número de microrganismos necessários para causar células do hospedeiro. Muitas outras bactérias são parasitas fa-
uma determinada doença. A dose letal de 50% (LD 50 ) represen- cultativos, pois se multiplicam no interior de outras células, in-
ta o número de microrganismos necessários para matar metade dependentemente de outras células, ou em meio bacteriológico.
dos hospedeiros infectados, assim como a dose infecciosa de 50% O outro uso do termo parasita refere-se aos protozoários e hel-
(DI50 ) representa o número necessário para gerar doença em mintos, ambos discutidos na Parte VI deste livro.
metade dos hospedeiros infectados. Organismos com uma LD50
(ou DI50 ) mais baixa são considerados mais virulentos quando
comparados aos com uma LD50 ( ou DI50) mais alta, uma vez que POR QUE AS PESSOAS ADQUIREM
menos microrganismos são necessários para causar uma doença
DOENÇAS INFECCIOSAS?
ou a morte do hospedeiro.
A dose infecciosa de um microrganismo necessária para ge- Pessoas adquirem doenças infecciosas quando o microrganismo
rar uma doença varia imensamente entre as diferentes bactérias supera as defesas do hospedeiro (i.e., quando o equilíbrio entre o
patogênicas. Por exemplo, Shigella e Salmonella causam diarreia microrganismo e o hospedeiro se altera a favor do microrganis-
por meio da infecção do trato gastrintestinal, embora a dose in- mo). O organismo ou seus subprodutos estão, portanto, presen-
fecciosa da Shigella seja inferior a 100 microrganismos e a dose tes em quantidade suficiente para a indução de vários sintomas,
32 PARTE I Bacteriologia Básica

como febre e inflamações, que são interpretados como oriundos Toxinas se enquadram em duas categorias gerais: exotoxinas e en-
de uma doença infecciosa. dotoxinas. Exotoxinas são polipeptídeos liberados pela célula bac-
Sob a perspectiva do microrganismo, dominar o hospedeiro teriana, enquanto endotoxinas são lipopolissacarídeos (LPS), com-
depende de dois fatores críticos: o número de microrganismos ponentes integrais da parede celular. Endotoxinas são encontradas
aos quais a pessoa ou o hospedeiro é exposto e a virulência des- apenas em bacilos e cocos gram -negativos, não são liberadas ati-
ses microrganismos. Obviamente, quanto maior a quantidade de vamente pela célula bacteriana e provocam febre e choque, entre
microrganismos, maior a probabilidade de infecção. É importan- outras manifestações sistêmicas. Exotoxinas e endotoxinas podem
te observar, entretanto, que um número pequeno de microrga- provocar sintomas por si só; a presença da bactéria no hospedeiro
nismos altamente virulentos pode causar doença, assim como não é necessária. Bactérias invasivas, entretanto, multiplicam-se de
um número grande de microrganismos pouco virulentos causa. forma intensiva e localizada, induzindo uma resposta inflamatória
A virulência de um microrganismo é determinada pela habilida- caracterizada pela presença de eritema, edema, hipertermia e dor.
de deste em produzir inúmeros fatores de virulência, alguns dos Os processos de invasão e inflamação são discutidos posterior-
quais foram descritos anteriormente. mente na seção "Determinantes da patogênese bacterianà:
A produção de fatores de virulência específicos também de- Muitas infecções bacterianas são transmissíveis ou comu-
termina o tipo de doença causada pela bactéria. Uma amostra de nicantes (i.e., são passadas de um hospedeiro ao outro), mas não
Escherichia coli produtora de um tipo de exotoxina, por exemplo, todas. A tuberculose, por exemplo, é transmissível (i.e., dissemi-
gera uma diarreia aquosa (não sanguinolenta), ao passo que uma nada de pessoa a pessoa por meio de perdigotos contaminados
amostra diferente de E. coli produz outro tipo de exotoxina que produzidos durante a tosse de pessoas infectadas); o botulismo,
provoca uma diarreia sanguinolenta. Este capítulo descreve inú- entretanto, não é transmissível, uma vez que a exotoxina produ-
meros exemplos importantes de doenças específicas associadas à zida pelo microrganismo presente no alimento contaminado afe-
produção de determinados fatores de virulência. tará apenas os que se alimentarem desse alimento. Quando uma
Sob a perspectiva do hospedeiro, a resposta imune inata e doença é altamente transmissível, o termo contagioso é utilizado.
a resposta adquirida representam suas principais defesas, sendo Uma infecção é considerada epidêmica quando ocorre com
que a última inclui tanto a resposta celular quanto a resposta me- frequência muito maior que a comum; é pandêmica quando
diada por anticorpos. A redução no funcionamento de qualquer apresenta uma distribuição mundial. Uma infecção endêmica,
componente de defesa do hospedeiro altera o equilíbrio a favor por sua vez, é constantemente presente em baixos níveis em uma
do microrganismo, aumentando a possibilidade da ocorrência de população específica. Além das infecções que resultam em sin-
uma doença infecciosa. Algumas causas importantes da redução tomas perceptíveis, muitas são inaparentes ou subclínicas e po-
de nossas defesas incluem imunodeficiências genéticas, como a dem ser observadas apenas por meio de técnicas como sorologia
agamaglobulinemia, e as imunodeficiências adquiridas, exem- pareada ou isolamento do microrganismo. Algumas infecções
plificadas pela síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids), resultam em um estado latente, após o qual a reativação da mul-
pela imunossupressão induzida por medicamentos, no caso de tiplicação do microrganismo e a posterior recorrência dos sinto-
pacientes receptores de órgãos transplantados, e pela quimiote- mas podem ser observadas. Certas infecções podem produzir um
rapia em pacientes sob tratamento de câncer. Pacientes que apre- estado de portador crônico, no qual o microrganismo continua a
sentam diabetes ou doenças autoimunes também podem apre- multiplicar-se com ou sem a produção de manifestações clínicas
sentar defesas imunes reduzidas. Uma revisão sobre as defesas do no hospedeiro. Portadores crônicos assintomáticos (p. ex., por-
hospedeiro é apresentada nos Capítulos 8 e 57. tadores da febre tifoide) são importantes fontes de infecção para
Em inúmeras ocasiões, um indivíduo adquire um microrga- outros indivíduos e, portanto, um risco para a saúde pública.
nismo e nenhuma doença infeciosa ocorre em decorrência do su- Determinar se um microrganismo isolado de um paciente é,
cesso da defesa desse hospedeiro. Essas infecções assintomáticas de fato, a causa da doença envolve o conhecimento sobre dois fe-
são muito comuns e, em geral, são reconhecidas por meio da de- nômenos: a microbiota normal e a colonização. Membros da mi-
tecção de anticorpos contra o microrganismo no soro do paciente. crobiota normal são residentes permanentes do corpo e variam
conforme o local anatômico que ocupam (ver Capítulo 6). Quan-
do um microrganismo é obtido a partir do espécime clínico, o
TIPOS DE INFECÇÕES BACTERIANAS conhecimento sobre a participação dele na microbiota normal do
paciente é fundamental para a interpretação do achado. A colo-
O termo infecção apresenta mais de um significado. Um dos sig-
nização refere-se à presença de um novo organismo que não está
nificados é observado quando um microrganismo infecta uma
presente na microbiota normal e também não representa a causa
pessoa (i.e., ele entrou no corpo dessa pessoa). Por exemplo,
dos sintomas. A distinção entre um patógeno e um colonizador
uma pessoa pode ser infectada por um microrganismo de bai-
pode tornar-se um dilema clínico difícil, especialmente quando
xa patogenicidade e não desenvolver sintomas da doença. Outro
os espécimes clínicos são obtidos a partir do trato respiratório,
significado do termo infecção está relacionado à descrição de
como culturas de garganta ou de escarro.
uma doença infecciosa, como quando alguém diz "eu tenho uma
infecção': Nesse contexto, nota-se um intercâmbio entre as pala-
vras infecção e doença, embora seja importante perceber que, de
ESTÁGIOS DA PATOGÊNESE BACTERIANA
acordo com as definições iniciais, a palavra infecção não deve ser
equiparada à condição de doença. Normalmente, o significado A maioria das infecções bacterianas é adquirida de fontes exter-
do termo se sobressairá conforme o contexto apresentado. nas. Algumas infecções bacterianas, entretanto, são causadas por
Bactérias provocam doença por meio de dois mecanismos membros da microbiota normal e, portanto, não dependem da
principais: (1) produção de toxinas e (2) invasão e inflamação. transmissão direta, anterior ao início da infecção.
CAPÍTULO 7 Patogênese 33

Uma sequência generalizada dos estágios de uma infecção Embora algumas infecções sejam causadas por membros da
pode ser assim representada: microbiota normal, a maioria é adquirida de fontes externas. Os pa-
tógenos são normalmente eliminados dos pacientes pelos tratos res-
(1) Fonte externa como fonte de transmissão pela porta de
piratório e gastrintestinal; a transmissão ao novo hospedeiro, por-
entrada.
tanto, ocorre normalmente por meio de aerossóis respiratórios ou
(2) Evasão das defesas primárias do hospedeiro, como a pele
contaminação fecal de fontes de alimento e água. Microrganismos
e o ácido gástrico.
também podem ser transmitidos por contato sexual, urina, contato
(3) Aderência às membranas mucosas, frequentemente pe-
cutâneo, transfusão sanguínea, seringas contaminadas ou picada de
los pili bacterianos.
artrópodes. O contato sanguíneo, seja pela transfusão sanguínea ou
(4) Colonização por meio da multiplicação da bactéria no
pelo compartilhamento de seringas durante o uso intravenoso de
local de aderência.
drogas, pode transmitir vários patógenos de etiologias bacteriana
(5) Manifestações clínicas da doença oriundas da produção
e viral. A triagem de sangue doado objetivando a detecção de Tre-
de toxinas ou da invasão acompanhada pelo processo inflamatório.
ponema pallidum, vírus da imunodeficiência humana (HIV), vírus
(6) Respostas do hospedeiro, imunidade inespecífica e espe-
T-linfotrófico humano (HTLV), vírus da hepatite B, vírus da hepa-
cífica durante os passos 3, 4 e 5.
tite C e vírus do Oeste do Nilo (do inglês, West Nile vírus), reduziu
(7) Progressão ou resolução da doença.
consideravelmente o risco de infecção por esses organismos.
As principais doenças bacterianas transmitidas por carra-
patos nos Estados Unidos são a doença de Lyme, a febre macu-
DETERMINANTES DA PATOGÊNESE losa das Montanhas Rochosas, a erliquiose, a febre recorrente e a
BACTERIANA tularemia. Das cinco doenças citadas, a doença de Lyme repre-
senta a mais comum. Carrapatos do gênero Ixodes podem trans-
1. Transmissão mitir três doenças infeciosas: a doença de Lyme, a erliquiose e a
O entendimento do modo de transmissão das bactérias e de babesiose, sendo esta última uma doença protozoótica.
outros agentes infecciosos é extremamente importante sob a Bactérias, vírus e outros microrganismos também podem
perspectiva da saúde pública, uma vez que interromper a cadeia ser transmitidos da mãe para a prole por um processo conhecido
de transmissão representa uma excelente maneira de prevenir como transmissão vertical. Os modos de transmissão por meio
doenças infeciosas. O modo de transmissão de inúmeras doenças dos quais os microrganismos são transmitidos verticalmente
infecciosas ocorre entre seres humanos, mas doenças infecciosas ocorrem através da placenta, pelo contato com o canal vaginal
também são adquiridas de fontes não humanas, como o solo, a durante o parto e pela amamentação. A transmissão vertical de
água e os animais. Fômites são objetos inanimados, como toa- alguns microrganismos de importância médica está descrita na
lhas, que servem como fonte de microrganismos que podem pro- Tabela 7-2. (A transmissão horizontal, por sua vez, é utilizada
vocar doenças infecciosas. Alguns exemplos importantes sobre para descrever a transmissão entre seres humanos quando não há
os modos de transmissão estão descritos na Tabela 7 -1. a relação de transmissão da mãe para a sua prole.)

TABELA 7-1 Modos importantes de transmissão

Modo de transmissão Exemplo clínico Comentários

1. Entre seres humanos


A. Contato direto Gonorreia Contato íntimo (p. ex., sexual ou passagem pelo canal do parto)
B. Ausência de contato direto Disenteria Fecal-oral (p. ex., eliminado nas fezes humanas e ingerido por
meio de alimentos e água contaminados)
C. Transplacentária Sífilis congênita Bactérias cruzam a placenta e infectam o feto
D. Parenteral Sífilis Sangue transfundido ou uso intravenoso de drogas podem
transmitir bactérias e vírus; o rastreamento do sangue desti-
nado às transfusões reduziu significativamente esse risco

li. Não humano para ser humano


A. Dosolo Tétano Esporos presentes no solo podem penetrar na pele através de
ferimentos
B. Da água Doença dos legionários Bactérias presentes em aerossóis podem ser inaladas e atingir
os pulmões
C. De animais
1. Direta Febre da arranhadura do gato Bactérias penetram na pele por arranhões causados por gatos
2. Por meio de artrópodes Doença de Lyme Bactérias penetram através da mordida do carrapato infectado
3. Por meio de excretas de Síndrome hemolítico-urêmica Bactérias oriundas das fezes de bovinos podem ser ingeridas
animais causada pela E. coli 0157 quando a carne está mal passada
D. De fôm ites Infecção cutânea estafilocócica Bactérias presentes em um determinado objeto (p. ex., uma
toalha) entram em contato com a pele quando de seu uso
34 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 7-2 Transmissão vertical de alguns patógenos importantes


1
Modo de transmissão Patógeno Tipo de microrganismo Doença no feto ou neonato

Transplacentário Treponema pallidum B Sífilis congênita


2
Listeria monocytogenes B Sepse e meningite neonatais
Citomega lovírus V Anormalidades congênitas
Pa rvovírus B 19 V Hidropsia fetal
Toxop/asma gondii p Toxoplasmose

Pelo canal do parto/ Streptococcus aga/actiae (estreptococos B Sepse e meningite neonatais


durante o parto do grupo B)
Escherichia coli B Sepse e meningite neonatais
Chlamydia trachomatis B Conjuntivite ou pneumonia
Neisseria gonorrhoeae B Conjuntivite
Herpes-vírus simples 2 V Infecção cutânea, do SNC ou disseminada
(septicemia)
Vírus da hepatite B V Hepatite B
3
Vírus da imunodeficiência humana V Infecção assintomática
Candida a/bicans F Candidíase

Amamentação Staphy/ococcus aureus B Infecção oral ou cutânea


Citomegalovírus V Infecção assintomática
Vírus T-linfotrófico humano (HTLV) V Infecção assintomática

SNC, sistema nervoso central.


1
B, bactéria; V, vírus; F, fungo; P, protozoário.
2
L. monocytogenes também pode ser transmitida durante o parto.
3
HIV é principalmente transmitido durante o parto, mas também pode ser transmitido pela via transplacentária e pela amamentação.

Existem quatro portas de entrada importantes: trato res- moléculas que permitem a aderência às superfícies celulares são
piratório, trato gastrintestinal, trato genital e pele (Tabela 7-3). denominadas adesinas.
Microrganismos importantes e doenças transmitidas pela água Após a adesão, as bactérias frequentemente formam uma
estão descritos na Tabela 7-4. matriz protetora, denominada biofilme, constituída por diversos
As doenças bacterianas importantes transmitidas por ali- tipos de polissacarídeos e proteínas. Os biofilmes formam-se es-
mentos estão listadas na Tabela 7 -5, e aquelas transmitidas por pecialmente em corpos estranhos, como próteses de articulações,
insetos estão listadas na Tabela 7-6. O modo específico de trans- válvulas cardíacas e cateteres endovenosos, mas também podem
missão de cada microrganismo está descrito na seção subsequen- ocorrer em estruturas nativas, como válvulas cardíacas naturais.
te destinada a cada um deles. Os biofilmes protegem as bactérias tanto de antibióticos quanto
Animais também são importantes como fonte de infecção de das defesas imunes do hospedeiro, como anticorpos e neutrófi-
diversos microrganismos que infectam o ser humano. Os animais los. Essas estruturas também retardam a cura da ferida, gerando
podem representar tanto a fonte (reservatórios) quanto o modo processos infecciosos crônicos, principalmente em diabéticos. Os
de transmissão (vetores) de determinados microrganismos. biofilmes desempenham papéis importantes na persistência de
Doenças para as quais os animais são reservatórios são denomi- Pseudomonas no pulmão de pacientes com fibrose cística e na
nadas zoonoses. As zoonoses importantes causadas por bactérias formação da placa dental, precursora das cáries.
estão listadas na Tabela 7-7. A produção de biofilmes por bactérias como a Pseudomonas
é controlada por um processo denominado quorum sensing.
Nesse processo, as bactérias crescem de maneira não agressiva
2. Aderência às superfícies celulares
até que um determinado quórum é atingido (i.e., uma certa den-
Certas bactérias têm estruturas especializadas (p. ex., pili) ou sidade de bactérias); neste ponto, a síntese de novos fatores de
produzem substâncias (p. ex., cápsulas ou glicocálices) que virulência bacterianos ocorre, contribuindo para a patogênese.
as permitem aderir às superfícies de células humanas, aumen- Corpos estranhos, como válvulas cardíacas e articulações ar-
tando sua capacidade de causar doença. Esses mecanismos de tificiais, predispõem à infecção. As bactérias podem aderir a essas
aderência são essenciais aos microrganismos que se prendem superfícies, mas a adesão de fagócitos é pobre devido à ausência
às membranas mucosas; mutantes desprovidos desses mecanis- de selectinas e outras proteínas de ligação na superfície artificial
mos são frequentemente não patogênicos. Os pili presentes em (ver Capítulo 8).
Neisseria gonorrhoeae e E. coli, por exemplo, permitem a ade- Algumas amostras de E. coli e Salmonella apresentam pro-
são desses microrganismos ao epitélio do trato urinário, assim teínas de superfície, denominadas fibras curli, capazes de mediar
como o glicocálice de Staphylococcus epidermidis e de algumas a ligação da bactéria ao endotélio ou a proteínas extracelulares,
amostras de Streptococcus permite a forte aderência desses mi- como fibronectinas. Proteínas curli também podem interagir
crorganismos ao endotélio das válvulas cardíacas. As inúmeras com proteínas do soro, como o fator XII - componente da casca-
CAPÍTULO 7 Patogênese 35

TABELA 7-3 Portas de entrada de alguns patógenos comuns


1
Porta de entrada Patógeno Tipo de mkrorganismo Doença

Trato respiratório Streptococcus pneumoniae B Pneumonia


Neisseria meningitidis B Meningite
Haemophi/us influenzae B Meningite
Mycobacterium tuberculosis B Tuberculose
Vírus influenza V Gripe
Rinovírus V Resfriado comum
Vírus Epstein- Barr V Mononucleose infecciosa
Coccidioides immitis F Coccidioidomicose
Histoplasma capsulatum F Histoplasmose

Trato gastrintestinal Shigella dysenteriae B Disenteria


Salmonella typhi B Febre tifoide
Vibrio cholerae B Cólera
Vírus da hepatite A V Hepatite infecciosa
Pol iovírus V Poliomielite
Trichinella spiralis H Triquinose

Pele Clostridium tetani B Tétano


Rickettsia rickettsii B Febre maculosa das Montanhas Rochosas
Vírus da raiva V Raiva
Trichophyton rubrum F Tinea pedis (pé-de-atleta)
Plasmodium vivax p Malária

Trato genital Neisseria gonorrhoeae B Gonorreia


Treponema pa/lidum B Sífilis
Chlamydia trachomatis B Uretrite
Papilomavírus humano V Verrugas genitais
Candida albicans F Vagi nite
1
B, bactéria;V, víru s; F, f ungo; P, protozoário; H, helminto.

TABELA 7-4 Transmissão de doenças importantes pela água


1
Porta de entrada Patógeno Tipo de mkrorganismo Doença

Trato gastrintestinal
1. Ingestão de água potável Espécies de Salmonella B Diarreia
Espécies de Shigella B Diarreia
Campylobacter jejuni B Diarreia
Norovírus2 V Diarreia
Giardia lamblia p Diarreia
Cryptosporidium parvum p Diarreia
2. Ingestão de água durante o nado3 Leptospira interrogans B Leptospirose

Trato respiratório
Inalação de aerossóis Legionella pneumophila B Pneumonia (doença dos legionários)

Pele
Penetração através da pele Pseudomonas aeruginosa B Foliculite de banho quente
Schistosoma mansoni H Esquitossomose

Nariz
Penetração por meio de lâmina cribri- Naegleria fowleri p Meningoencefalite
forme para as meninges e o encéfalo
1
B, bactéria;V, víru s; P, prot ozoário; H, helminto.
2
Primeirament e conhecido como vírus Norwalk.
3Todos os microrganismos que causam diarreia pela ingest ão de água potável podem causar d iarreia quando ingeri dos durant e o nado.
36 PARTE 1 Bacteriologia Básica

TABELA 7-5 Doenças bacterianas transmitidas por alimentos

Bactéria Alimento característico Principal reservatório Doença

1. Doenças diarreicas
Cocos gram-positivos
Staphylococcus aureus Bolo e pão cremoso, bat ata, ovo e Seres humanos Intoxicação alimentar, princi-
salada de atum paimente vômito
Bacilos gram-positivos
Bacillus cereus Arroz reaquecido Solo Diarreia
C/ostridium perfringens Carne cozida, moída ou molho de Solo, animais ou seres hu- Diarreia
carne manos
Listeria monocytogenes Derivados do leite não pasteurizados Solo, animais ou p lantas Diarreia
Bacilos gram-negativos
Escherichia coli Diversos alimentos e água Seres humanos Diarreia

E. co/i amostra 0 157:H? Carne malpassada Gado bovino Colite hemorrágica


Salmonella enteritidis Aves, carne vermelha e ovos Animais domésticos, princi- Diarreia
paimente aves
Salmonella typhi Diversos alimentos Seres humanos Febre t ifoide
Espécies de Shigella Diversos alimentos e água Seres humanos Diarreia (disenteria)
Vibrio cholerae Diversos alimentos (p. ex., frutos do Seres humanos Diarreia
mar) e água
Vibrio parahaemolyticus Frutos do mar Água salgada morna Diarreia
Campylobacterjejuni Diversos alimentos Animais domésticos Diarreia
Yersinia enterocolitica Diversos alimentos Animais domésticos Diarreia

li. Doenças não diarreicas


Bacilos gram-positivos
C/ostridium botulinum Vegetais enlatados inapropriadamen- Solo Botulismo
te e peixe defumado
Listeria monocytogenes Derivados do leite não pasteurizados Vacas Septicemia do neonato ou
da mãe
Bacilos gram-negativos
Vibrio vulnificus Frutos do mar Água salgada morna Sepse
Espécies de Bruce/la Carne e leite A nimais domésticos Brucelose
Francisella tularensis Carne Coelhos Tularemia
Micobactérias
Mycobacterium bovis Leite Vacas Tuberculose intestinal

TABELA 7-6 Doenças bacterianas transmitidas por artrópodes

Badéria Artrópodes Reservatório Doença

Bacilos gram-negativos
Yersinia pestis Pulgas de roedores Roedores (p. ex., ratos e cães-de-pradaria) Peste
Francisella tularensis Carrapatos (Dermacentor) Inúmeros animais (p. ex., coelhos) Tularemia

Espiroquetas
Borre/ia burgdorferi Carrapatos (lxodes) Ratos Doença de Lyme
Borre/ia recurrentis Piolhos Seres humanos Febre recorrente

Riquétsias
Rickettsia rickettsii Carrapatos (Dermacentor) Cães, roedores e carrapatos (Dermacentor) Febre maculosa das
Montanhas Rochosas
Rickettsia prowazekii Piolhos Seres humanos Tifo epidêmico
Ehr/ichia chaffeensis Carrapatos (Dermacentor, lxodes) Cães Erliquiose
CAPÍTULO 7 Patogênese 37

TABELA 7-7 Zoonoses causadas por bactérias

Bactéria Principal reservatório Modo de transmissão Doença

Bacilos gram-positivos
Baci/lus anthracis Animais domésticos Contato direto Antraz
Listeria monocytogenes Animais domésticos Ingestão de produtos derivados do leite Septicemia do neonato
não pasteurizado ouda mãe
Erysipelothrix Peixes Contato direto Erisipeloide ou pseudo-
rhusiopathiae erisipela

Bacilos gram-negativos
Bartonella henselae Gatos Arranhões na pele Doença da arranhadura
do gato
Espécies de Bruce/la Animais domésticos Ingestão de produtos derivados do leite Brucelose
não pasteurizado; contato com tecido
animal infectado
Campylobacter jejuni Animais domésticos Ingestão de carne contaminada Diarreia
Escherichia co/i 0157:H7 Gado bovino Fecal-oral Colite hemorrágica
Francisella tularensis Diversos animais, especialmente coelhos Picada de carrapato ou contato direto Tularemia
Pasteure/la multocida Gatos Mordida de gato Celulite
Salmonella enteritidis Aves, ovos e gado bovino Fecal-oral Diarreia
Yersinia enterocolitica Animais domésticos Fecal-oral Diarreia
Yersinia pestis Roedores, principalmente ratos e Picada de pulga de roedor Sepse
cães-de-pradaria

Micobadérias
Mycobacterium bovis Vacas Ingestão de produtos derivados do leite Tuberculose intestinal
não pasteurizado

Espiroquetas
Borre/ia burgdorferi Camundongos Picada de carrapato (lxodes) Doença de Lyme
Leptospira interrogans Ratos e cães Urina Leptospirose

Clamídias
Chlamydia psittaci Psitacídeos Inalação de aerossóis Psitacose

Riquétsias
Rickettsia rickettsii Ratos e cães Picada de carrapato (Demacentor) Febre maculosa das
Montanhas Rochosas
Coxiella burnetii Ovinos Inalação de aerossóis do líquido amniótico FebreQ
Ehr/ichia chaffeensis Cães Picada de carrapato (Demacentor) Erliquiose

ta de coagulação. Essas proteínas, portanto, desempenham papel (1) Colagenase e hialuronidase, as quais degradam o colá-
importante na produção dos trombos observados durante pro- geno e o ácido hialurônico, respectivamente, permitindo, assim,
cessos de coagulação intravascular disseminada (CID), associa- que a bactéria se dissemine por meio do tecido subcutâneo. Essas
dos à septicemia provocada por essas bactérias. (Ver discussão enzimas são particularmente importantes no caso da celulite cau-
sobre endotoxinas na página 44.) sada pelo Streptococcus pyogenes.
(2) Coagulase, produzida pelo Staphylococcus aureus, que
3. Invasão, inflamação e sobrevivência acelera a formação do coágulo de fibrina a partir de seu precur-
sor, o fibrinogênio (esse coágulo protege a bactéria da fagocitose
intracelular por meio do isolamento da área infectada e por envolver o mi-
Um dos principais mecanismos pelo qual bactérias provocam crorganismo em uma camada de fibrina). A coagulase também é
doença é a invasão do tecido seguida de inflamação. (A respos- produzida pela Yersinia pestis, causadora da peste bubônica. Ver
ta inflamatória está descrita no Capítulo 8.) O outro mecanismo Capítulo 20 sobre o papel da coagulase na patogênese da peste.
importante, a produção de toxinas, e um terceiro mecanismo, a (3) Protease de imunoglobulina A (IgA), capaz de degra-
imunopatogênese, serão descritos posteriormente neste capítulo. dar IgA, permitindo a adesão do microrganismo às membra-
Diversas enzimas secretadas por bactérias invasivas desem- nas mucosas. É produzida principalmente pela N. gonorrhoeae,
penham papéis na patogênese. Entre as mais importantes encon- Haemophilus influenzae e Streptococcus pneumoniae.
tram-se as seguintes: (4) Leucocidinas, capazes de destruir neutrófilos e macrófagos.
38 PARTE I Bacteriologia Básica

Além dessas enzimas, inúmeros fatores de virulência contri- A sobrevivência intracelular é um atributo importante
buem para o processo de invasão por meio da limitação dos me- de certas bactérias, uma vez que aumenta a sua capacidade de
canismos de defesa do hospedeiro, principalmente da fagocitose, provocar doença. Essas bactérias são denominadas patógenos
para que possam operar efetivamente. "intracelulares" e comumente provocam lesões granulomatosas.
As bactérias mais conhecidas nessa categoria pertencem aos gê-
(1) O mais importante dos fatores antifagocitários é a cápsu-
neros Mycobacterium, Legionella, Brucella e Listeria. O fungo in-
la externa à parede celular, presente em inúmeros patógenos im-
tracelular mais conhecido é o Histoplasma. Esses organismos não
portantes, como S. pneumoniae e Neisseria meningitidis. A cápsula
são parasitas intracelulares obrigatórios, fato que os distingue de
polissacarídica impede que os fagócitos possam se aderir à bacté-
Chlamydia e Rickettsia. Eles podem ser cultivados em laboratório
ria; anticorpos anticapsulares propiciam a ocorrência de fagocito-
em meio microbiológico e, portanto, não são parasitas intracelu-
se com mais eficiência (um processo denominado opsonização)
lares obrigatórios. A preferência pelo ambiente intracelular de-
(ver página 55). As vacinas contra Str. pneumoniae, H. influenzae
corre, provavelmente, da proteção contra anticorpos e neutrófilos
e N. meningitidis contêm antígenos polissacarídicos capsulares ca-
de atividade extracelular.
pazes de induzir anticorpos anticapsulares protetores.
Essas bactérias têm inúmeros mecanismos diferentes que
(2) Um segundo grupo de fatores antifagocitários é consti-
as permitem sobreviver e crescer no meio intracelular. Esses in-
tuído pelas proteínas de parede celular dos cocos gram-positivos,
cluem ( 1) inibição da fusão do fagossomo com o lisossomo, para
como a proteína M dos estreptococos do grupo A (S. pyogenes) e
evitar as enzimas de degradação do lisossomo; (2) inibição da
a proteína A do S. aureus. A proteína M tem propriedades antifa-
acidificação do fagossomo, que diminui a atividade das enzimas
gocitárias, e a proteína A se liga à imunoglobulina G (IgG), pre-
de degradação do lisossomo; e (3) escape do fagossomo para o
venindo a ativação do complemento. Esses fatores de virulência
citoplasma, onde não há enzimas de degradação. Membros dos
estão resumidos na Tabela 7-8.
gêneros Mycobacterium e Legionella são conhecidos por usarem
Bactérias podem causar dois tipos de inflamação: piogê- os dois primeiros mecanismos, enquanto o terceiro é utilizado
nica e granulomatosa. Na inflamação piogênica (produtora de por membros do gênero Listeria.
pus), neutrófilos constituem as células predominantes. Algumas A invasão celular por bactérias depende da interação de
das bactérias piogênicas mais importantes são os cocos gram- proteínas de superfície bacterianas específicas, denominadas
-positivos e gram-negativos, listados na Tabela 7-8. Na inflama- invasinas, com receptores celulares específicos pertencentes à
ção granulomatosa, macrófagos e células T predominam. O mi- família das integrinas de adesão transmembrana. O movimento
crorganismo mais importante nessa categoria é o Mycobacterium das bactérias para dentro da célula é uma função desempenhada
tuberculosis. Nenhuma toxina ou enzima bacteriana indutora por microfilamentos de actina. Uma vez dentro das células, essas
de granulomas foram identificadas. Aparentemente, antígenos bactérias residem geralmente no interior de vacúolos celulares,
bacterianos estimulam a resposta imune celular, resultando na como fagossomos. Algumas permanecem nesses locais, outras
sensibilização de linfócitos Te na atividade de macrófagos. A fa- migram para o citoplasma ou movimentam-se para o citoplasma
gocitose por macrófagos resulta na eliminação da maioria das de células adjacentes por meio de túneis formados pela actina.
bactérias, embora algumas sobrevivam e desenvolvam-se no pró- A invasão de células vizinhas, conforme descrito, permite que a
prio macrófago presente no granuloma. bactéria evada as defesas do hospedeiro. Agregados de filamentos

TABELA 7-8 Fatores de superfície de virulência importantes para a patogênese bacteriana

Organismo Fator de virulência Utilizado em vacina Comentários

Cocos gram-positivos
Streptococcus pneumoniae Cápsula polissacarídica Sim Determina o sorotipo
Streptococcus pyogenes Proteína M Não Determina o sorotipo1
Staphylococcus aureus Proteína A Não Liga-se à região Fc de lgG, impedindo a ativação
do complemento

Cocos gram-negativos
Neisseria meningitidis Cápsula polissacarídica Sim Determina o sorotipo

Bacilos gram-positivos
Bacillus anthracis Cápsula polipeptídica Não

Bacilos gram-negativos
Haemophi/us influenzae Cápsula polissacarídica Sim Determina o sorotipo
Klebsiella pneumoniae Cápsula polissacarídica Não
Escherichia coli Proteínas pili Não Provoca aderência
Salmonella typhi Cápsula polissacarídica Não Não é importante para outras salmonelas
Yersinia pestis Proteínas V e W Não
1
Não confundir sorotipo com o agrupamento dos estreptococos, cujo determinante está associado ao polissacarídeo da parede celular.
CAPÍTULO 7 Patogênese 39

de actina na superfície da Listeria monocytogenes, por exemplo, Após a colonização e a multiplicação das bactérias na porta
propelem esse microrganismo de uma célula a outra de maneira de entrada, elas podem invadir a corrente sanguínea e dissemi-
análoga a um estilingue, um processo também conhecido como nar-se para outras partes do corpo. Os receptores de superfície
"foguetes de actina': celular capazes de interagir com ligantes bacterianos determi-
As "Yops,, (proteínas de membrana externa de Yersinia), pro- nam, na maioria das vezes, os órgãos afetados. Algumas bactérias
duzidas por inúmeras espécies de Yersinia, são exemplos impor- ou vírus, por exemplo, afetam o encéfalo, uma vez que os recep-
tantes de fatores de virulência que agem principalmente após a tores para esses microrganismos estão localizados na superfície
invasão da célula humana pelo microrganismo. Os efeitos mais im- dos neurônios encefálicos. A barreira hematencefálica, que limita
portantes são a inibição da fagocitose por neutrófilos e macrófagos o acesso de certas substâncias químicas ao encéfalo, não é con -
e a inibição da produção de citocinas por macrófagos (p. ex., fator siderada um fator determinante para a infecção do encéfalo por
de necrose tumoral [TNF] ). Uma das Yops da Yersinia pestis, por microrganismos. O conceito da barreira hematencefálica remete
exemplo, é uma protease (Yop J) capaz de clivar o sinal de transdu- principalmente à incapacidade de penetração de substâncias quí-
ção das proteínas necessárias à síntese do TNF. Dessa forma, há a micas hidrofílicas (carregadas, ionizadas) no parênquima ence-
inibição da ativação das defesas do hospedeiro e uma contribuição fálico rico em lipídeos, enquanto substâncias químicas lipofílicas
à habilidade do microrganismo em causar a peste bubônica. (lipossolúveis) são capazes de cruzá-la.
Os genes que codificam muitos dos fatores de virulência nas Duas doenças importantes, difteria e colite pseudomembra-
bactérias estão agrupados em ilhas de patogenicidade presentes no nosa, são caracterizadas por lesões inflamatórias, denominadas
cromossomo bacteriano. Em muitas bactérias, por exemplo, encon- pseudomembranas. As pseudomembranas são espessas, ade-
tram-se os genes de adesinas, invasinas e exotoxinas de maneira ad- rentes e apresentam exsudatos acinzentados ou amarelados nas
jacente. Variantes não patogênicas dessas bactérias não apresentam mucosas da garganta, na difteria, ou do colo, na colite pseudo-
essas ilhas de patogenicidade. Aparentemente, essas regiões grandes membranosa. O termo pseudo refere-se à natureza anormal des-
do genoma bacteriano foram transferidas como blocos por meio da sas membranas em contraste com a anatomia normal das mem-
conjugação ou transdução. Diferentemente de plasmídeos e bacte- branas do corpo, como o tímpano e as membranas placentárias.
riófagos, essas ilhas não têm a capacidade de se replicar indepen -
dentemente do cromossomo bacteriano. Ilhas de patogenicidade
são encontradas em muitos bacilos gram-negativos, como E. coli,
4. Produção de toxinas
Salmonella, Shigella, Pseudomonas e Vibrio cholerae, assim como em O segundo principal meio pelo qual as bactérias geram doença
cocos gram-positivos, como S. pneumoniae. Informações adicionais é a produção de toxinas. Uma comparação entre as principais
sobre as ilhas de patogenicidade são apresentadas na seção Infec- características de exotoxinas e endotoxinas é demonstrada na
ções Bacterianas Associadas com o Câncer (ver página 47). Tabela 7-9.

TABELA 7-9 Principais características de exotoxinas e endotoxinas

Comparação das propriedades

Propriedade Exotoxina Endotoxina

Fonte Certas espécies de bactérias gram-positivas e gram-negativas Parede celular de bactérias gram-negativas

Secretada pela célula Sim Não

Química Polipeptídeo Li popol issacarídeo

Localização dos genes Plasmídeo ou bacteriófago Cromossomo bacteriano

Toxicidade Alta (dose letal da ordem de 1 µg) Baixa (dose letal da ordem de centenas de
microgramas)

Efeitos clínicos Inúmeros efeitos (ver texto) Febre, choque

Modo de ação Inúmeras maneiras (ver texto) Inclui TNF e interleucina 1

Antigenicidade Induz altos títulos de anticorpos, denominados antitoxinas Pouco antigênica

Vacinas Toxoides utilizados como vacinas Ausência de formação de toxoides e nenhuma


vacina disponível

Estabilidade térmica Rapidamente destruídas a 60ºC (exceto pela enterotoxina Estável a 100ºC por 1 hora
estafilocócica)

Doenças típicas Tétano, botulismo e difteria Meningococemia, septicemia por bacilos


gram-negativos

TNF, fator de necrose tumoral.


40 PARTE I Bacteriologia Básica

Exotoxlnas resu)tan.do na inibição da sintese proteica. Por outro lado. a pro•


Exotoxinas são produzidas por inúmeras bactérias gram-positi- tefna ADP·ribosilato G~ encontrada nas toxinas colérica e de E.
coli, ativa a síntese proteica. Essa proteína provoca um aumento
vas e gram-negativas, diferentemente das endotoxinas.. presentes
na atividade do adeniJato.ciclase e, consequentemente, aumenta
apenas em bactérias gram-negativas. A diferença essencia1 con-
a quantidade de monofosfato de adenosina (AMP) ddica, assim
siste no fato de que exotoxinas são sec.retadas peJas bactérias.
ao passo que endotoxinas são componentes da parede ce)ular. como a produção da diarreia aquosa. A toxina pertússis é uma in-
Exotoxinas são polipeptfdeos cujos genes estão frequentemente teressante variação do tema. Ela promove a ribosilação por ADP
Jocalizados em pJasmideos ou bacteriófagos de cido lisog~nico. da protelna G1• inativando-a. A inativação da proteina inibidora
Algumas das importantes exotoxinas codificadas pelo DNA de G ativa a ade,tilato-cicJase. gerando um aumento da quantidade
de. AMP cidic~ o que apresenta pape) importante como causa
bacteriófagos são as toxinas diftérica. colérica e botulhtica.
Exotoxi.nas e1lco11tram-se entre as substâncias mais tóx.icas já dos sintomas da coqueluche.
conhecidas. A dose letal da toxina tetânica para um ser humano. Exotoxinas são liberadas da bactéria por meio de estruturas
especia1izadas, conhecidas como sistemas de sec.reção. Algum
por exemplo, é estimada em menos do que 1 µ.g. Devido ao fato
de que algumas exotoxinas purificadas podem reprodmir todos sistemas de secreção transportam as exotoxinas para o espaço ex·
os aspectos da doença, pode.se concluir que certas bactérias não traceJular, enquanto outros as )evam diretamente ao interior das
células dos mamíferos. Os sistemas que as levam diretamente ao
aprese11tam nenhum outro papel na patogênese além da slntese da
espaço intrac.eJular são considerados mais eficientes, uma vez que
exotoxina em si. Polipeptídeos de exotoxinas são bons antígenos.
as exotoxi.nas não são expostas aos anticorpos presentes no meio
uma vez que induzem a síntese de anticorpos protetores, conhe<:'l·
extrace)ular.
dos como anticorpos antitoxina. alguns dos quais são üteis para a
Seis diferentes sistemas de secreção são conhecidos; o siste·
proteção ou tratamento de doenças como o borulismo e o tétano.
ma de secreção tipo UI (também conhecido como injectossoma),
Quando tratados com formaldeido (ou ácidos ou caJor). os poli.
por sua vez. é particu)armente importante para a viru)ência do
peptideos das exotoxinas são convertidos em toxoides. frequente·
microrganismo. Esse sistema de secreç.ão é mediado por uma
mente utiliudos em vacinas protetoras. uma vez que mantêm sua
projeção semelhante a uma agulha (algumas vezes denominada
antigenicidade, mas perdem sua toxicidade durante o processo.
"'seringa molecu1ar,.) e por bombas de transporte. ambos presen-
Muitas exotoxinas apresentam subunidades A e B em suas
estruturas. Asubunidade A(ou ativa) possui atividade tôxk-a. ao tes na membrana celular bacteriana. A importância do sistema
de seueção do tipo UI é i)ustrada pelo achado de que amostras
passo que a subu,tidade B(ou de ligação) é responsável pela liga-
de Pseudomonas aeruginosa que apresentam esse sistema são sig-
ção da exotoxina aos receptores espedficos de superfície celular.
nificativamente mais virulentas, quando comparadas às que não
A ligação da subunidade B determina o local de ação específico
o apresentam. Outros bacilos gram-negativos de importância
da exotoxina. A toxina botulínica, por exemp)o. age nas junções
médica que apresentam o injectossoma são espécies de Shi'ge.lla,
neuromuscu)ares.. uma vez que sua subunidade B se Hga a recep~
Sa/monella, E. co/i e l'. pestis.
tores específicos na superfície do neurônio motor presente na
Os mecanismos de ação de exotoxinas importantes produzi-
junção. Exotoxinas importantes que possuem estrutura base.ada
das por bactérias toxigênicas estão descritos a seguir e resumidos
em subunidades A e B induem as toxinas diftérica, tetânica, bo-
nasTabelas7-10, 7· 11e7· 12. A princ,ipal )ocalizaçãodossintomas
tulCnic.a e colétic.a. além da enterotoxina de E. coli (Figura 7. 1).
da doença causada por exotoxinas está descrita na Tabela 7-13.
A subunidade A de várias toxinas age por meio da ribosl·
lação de ADP (i.e., a subunidade A é uma entim.a que cata1isa Bactérias gram-positivas
a adição de uma ribose difosfato de adenosina IADP-ribose) à
proteína.alvo da célula humana). A adição de uma AOP.fibose As exotoxinas produzidas por bactérias gram-positivas apresen-
frequentemente inativa a proteína-alvo, embora também possa tam inllmeros mecanismos de ação e geram diferentes manifesta-
gerar uma hiperatividade da mesma, e ambos os processos esta• ções clínicas. Entre as exotoxinas mais importantes está a toxina
rão relac,ionados com os sintomas da doença. A toxina diftérica diftérica, que inibe a síntese proteica por meio da inativação de
EF-2; as toxinas tetânica e botu1Inica, neurotoxinas que previnem
e a exotoxina A de Pseudomonas. por exemplo, provoc.a.m a ribo-
silação de ADP do fator de elongação 2 (EF-2), inativando-o e a Hberação de neurotraosmissoreS; e a toxina da síndrome do cho-
que tóxico (TSST), que atua como um superan.tígeno provocando
a liberaç.ão de grandes quantidades de citocinas pelas células T
auxiHares e macrófagos. Os mecanismos de ação das exotoxinas
CÉLULA HUMANA produzidas por bactérias gram-positivas estão descritos a seguir.
ADP-R
r:'-::::;= (1) A toxina diftérica, produzida pe)o Corynebacterium
L- -+- Inibiç ão da
T 1 { Subunidade T síntese ptotoica diphtheriae. inibe a síntese proteica por meio da ribosilaç.ão por
ADP de EF-2 (Figura 7-1).'
ox na ativa 1'-i ,il-
'' - - 1 - - - - - - - - - ~
dittórlca Subunidade Fator de A sub.se.quente morte celu)ar leva a dois sintomas proemi-
de ligação elongação 2 nentes na difteria: à formação da pseudomembrana na garganta
e à miocardite.
FIGURA 7·1 Modo de ação da toxina difté(ica. A toxina liga~se à su-
perfície celular po( meio da subunidade de ligação, e a subu.nidade aO•
A ath•idade da exotoxina depende de duas funções media-
va penetra na célula. A subunidade ativa~ uma enzima que catalisa a das por diferentes domínios da molécu)a. A toxina é sintetizada
adição de uma AOP·ribose (AOP·FO ao fator de elongaçáo 2 (EF--2). Esse
1
pc-ocesso inativa o EF· 2, e a síntese proteica é inibida. A exo toxina A de Pseudomonas aerughiosa tem o mesmo modo de ação.
CAPÍTULO 7 Patogênese 41

TABELA 7-10 Exotoxinas bacterianas importantes

Vacina
Bactéria Doença Modo de ação toxoide

Bacilos gram-positivos
Corynebacterium Difteria Inativa EF-2 por meio da ribosilação de ADP Sim
diphtheriae
C/ostridium tetani Tétano Bloqueia a liberação do neurotransmissor inibidor glicina por Sim
meio da clivagem proteolítica de proteínas liberadas
1
Clostridium botulinum Botulismo Bloqueia a liberação da acetilcolina por meio da clivagem de Sim
proteínas liberadas
C/ostridium difficile Colite pseudomembranosa Exotoxinas A e B inativam GTPases por meio da glicosilação Não
Clostridium perfringens Gangrena gasosa A toxina alfa é uma lecitinase; enterotoxina é um superantígeno Não
Bacillus anthracis Antraz O fator de edema é uma adenilato-ciclase; o fator letal é uma Não
protease que cliva a MAP cinase, necessária à divisão celular

Cocos gram-positivos
Staphy/ococcus aureus 1. Síndrome do choque tóxico É um superantígeno; liga-se a proteínas do MHC de classe li e ao Não
receptor de células T; induz IL-1 e IL-2
2. Intoxicação alimentar É um superantígeno que age localizada mente no trato gastrin- Não
testinal
3. Síndrome da pele escaldada É uma protease que cliva desmogleno em desmossomos Não
Streptococcus pyogenes Escarlatina É um superantígeno; ação similar à síndrome do choque tóxico Não
deS. aureus

Bacilos gram-negativos
Escherichia coli 1. Diarreia aquosa Toxina lábil capaz de estimular a adenilato-ciclase pela ribosila- Não
ção de ADP; toxinas estáveis estimulam a guanilato-ciclase
2. Diarreia sanguinolenta A toxina shiga inibe a síntese de proteínas em enterócitos por Não
meio da remoção de uma adenina do RNA ribossomal 285
Shigella dysenteriae Diarreia sanguinolenta A toxina shiga inibe a síntese de proteínas em enterócitos por Não
meio da remoção de uma adenina do RNA ribossomal 285
Vibrio cholerae Cólera Estimula a adenilato-ciclase pela ribosilação de ADP Não
2
Bordetella pertussis Coqueluche Estimula a adenilato-ciclase por meio da ribosilação de ADP; Sim
inibe receptores de quimiocinas
1
Somente para indivíduos de alto risco.
2
A vacina acelular contém toxoide pertússis, além de outras quatro proteínas.

como um único polipeptídeo (peso molecular, 62.000) atóxico, peso molecular de 22.000, localizado na região aminoterminal
uma vez que o local ativo está mascarado (Figura 7-2). Uma úni- da exotoxina, é uma enzima que catalisa a transferência de uma
ca quebra proteolítica associada à redução de ligações sulfídricas ADP-ribose oriunda de uma nicotinamida ademina dinucleotí-
gera dois polipeptídeos ativos. O fragmento A, um peptídeo de deo (NAD) para o EF-2, inativando-o. A ribosilação por ADP de

TABELA 7-11 Mecanismos de ação importantes das TABELA 7-12 Exotoxinas que aumentam o AMP cíclico
exotoxinas bacterianas intracelular

Mecanismo de Bactéria Exotoxina Modo de ação


ação Exotoxina
Vibrio Toxina colérica ADP ribosila o fator G5, ati-
Ribosilação de Toxina diftérica, toxina colérica, toxina termo- cholerae vando-o e estimulando a
ADP lábil da Escherichia coli e toxina pertússis adenilato-ciclase

Supera ntígeno Toxina da síndrome do choque tóxico, entero- Escherichia Toxina lábil Equivalente ao descrito
toxina estafilocócica e toxina eritrogênica coli para a toxina colérica

Protease Toxina tetânica, toxina botulínica, fator le- Bordetella Toxina pertússis ADP ribosila o fator Gj, inati-
tal da toxina do antraz e toxina da pele pertussis vando-o e estimulando a
escaldada adenilato-ciclase

Lecitinase Toxina alfa de C/ostridium perfringens Bacil/us Fator de edema da É uma adenilato-ciclase
anthracis toxina do antraz
42 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 7-13 Principal localização das manifestações clínicas de doenças causadas por exotoxinas bacterianas

Principal localização das


manifestações clínicas Organismo Modo de ação da exotoxina

Trato gastrintestinal
1. Cocos gram-positivos Staphy/ococcus aureus Enterotoxina é um superantígeno
2. Bacilos gram-positivos C/ostridium difficile Inativa GTPases em enterócitos
C/ostridium perfringens Supera ntígeno
Bacil/us cereus Supera ntígeno
3. Bacilos gram-negativos Vibrio cho/erae Estimula a adenilato-ciclase
Escherichia coli toxigênica Estimula a adenilato-ciclase
Escherichia coli 0157 Inativa a síntese proteica

Sistema nervoso
1. Bacilos gram-positivos Clostridium tetani Inibe a liberação de glicina
C/ostridium botulinum Inibe a liberação de acetilcolina

Trato respiratório
1. Bacilos gram-positivos Corynebacterium diphtheriae Inativa a síntese proteica
2. Bacilos gram-negativos Bordetella pertussis Estimula a adenilato-ciclase; inibe o receptor de quimiocina

Pele, tecido mole ou músculo


1. Cocos gram-positivos S. aureus (síndrome da pele escaldada) Protease que quebra desmossomos na pele
S. aureus (amostras MRSA) A leucocidina PV é uma toxina formadora de poros capaz de
lesar a membrana celular
Streptococcus pyogenes (escarlatina) A toxina eritrogênica é um superantígeno
2. Bacilos gram-positivos Clostridium perfringens Lecitinases clivam a membrana celular
Bacil/us anthracis O fator de edema é uma adenilato-ciclase; o fator letal é uma
protease

Sistêmica
1. Cocos gram-positivos S. aureus A toxina da síndrome do choque tóxico é um superantígeno

MRSA, Staphylococcus aureus resistentes à meticilina; PV, Panton-Valentine.

EF-2 congela o complexo de translocação e a síntese proteica é associada à redução de ligações sulfídricas. Esse processo libera o
interrompida. A reação ocorre conforme o descrito: fragmento ativo A, que inativa EF-2. A atividade enzimática é es-
pecífica para EF-2; nenhuma outra proteína é ribosilada por ADP.
EF-2 + NAD ~ EF-2-ADP-ribose + Nicotinamida Essa especificidade decorre da presença de um aminoácido único
em EF-2, uma histidina modificada, denominada diftamida. A
O fragmento B, um peptídeo de peso molecular de 40.000 reação ocorre em todas as células eucariotas, sem especificidade
localizado na região carboxiterminal, liga-se aos receptores pre- por tecido ou órgão. A síntese proteica mitocondrial ou procario-
sentes na membrana externa das células eucariotas, mediando o ta não é suscetível, uma vez que outros fatores de elongação estão
transporte do fragmento A para dentro dessas células. envolvidos. A atividade enzimática é marcantemente potente; uma
Em síntese, a exotoxina liga-se à membrana celular por meio única molécula do fragmento A é capaz de matar uma célula em
de uma região próxima à sua extremidade carboxil. A toxina é poucas horas. Outros organismos cujas exotoxinas atuam por meio
transportada através da membrana e ocorre a quebra proteolítica da ribosilação por ADP são E. coli, V. cholerae e Bordetella pertussis.

s-s---- coo-
coo-
Protease Fragmento A

NH 3+
s
1

s -----coo-
Toxina intacta Fragmento B

FIGURA 7-2 Exotoxina diftérica. A toxina extracelular intacta liga-se à célula eucariótica por meio da região B (fragmento escuro). Após a cli-
vagem proteolítica e a redução da ponte dissulfeto, a região A (fragmento claro), que contém a enzima ribosilato, é ativada. (Reproduzida, com
permissão, de Pappenheimer, Gill. Science. 1973;182:354.)
CAPÍTULO 7 Patogênese 43

O gene tox, codificador da exotoxina, é carreado por um e necrosante. Algumas amostras de C. perfringens produzem uma
bacteriófago, denominado fago beta. Dessa forma, apenas amos- enterotoxina capaz de gerar diarreia aquosa. Essa enterotoxina
tras de C. diphtheriae que carreiam esse fago em ciclos lisogê- funciona como um superantígeno, de maneira semelhante à en-
nicos causam difteria. ( C. diphtheriae que não carreiam fagos terotoxina de S. aureus (ver item 8, a seguir).
lisogênicos podem ser encontradas na garganta de indivíduos (6) Três exotoxinas são produzidas por Bacillus anthracis, o
sadios.) A regulação da síntese de exotoxinas é controlada pela agente etiológico do antraz: o fator de edema, o fator letal e o
interação do ferro do meio com o repressor do gene tox sintetiza- antígeno protetor. As três exotoxinas associam -se, embora cada
do pela bactéria. À medida que a concentração de ferro aumenta, componente apresente uma função distinta. O fator de edema é
o complexo ferro-repressor inibe a transcrição do gene tox. uma adenilato-ciclase que aumenta as concentrações de AMP
(2) A toxina tetânica, produzida pelo Clostridium tetani, é cíclico dentro da célula, promovendo a perda de íons cloreto e
uma neurotoxina que previne a liberação da glicina, um neuro- água e a subsequente formação de edema no tecido (Tabela 7-12).
transmissor inibidor. Quando os neurônios inibidores não são O fator letal é uma protease que cliva uma fosfocinase necessária
funcionais, os neurônios excitatórios não são contrapostos, ge- à via de transdução de sinal que controla o crescimento celular.
rando um processo de espasmos musculares e uma consequente A perda dessa fosfocinase resulta na falência do crescimento e,
paralisia espástica. A toxina tetânica (tetanospasmina) é composta consequentemente, morte celular. O antígeno protetor, por sua
por duas subunidades codificadas por um DNA plasmidial. A ca- vez, liga-se aos receptores de superfície de membrana celular e
deia pesada do polipeptídeo liga-se aos gangliosídeos da mem- promove a formação de poros, permitindo que os fatores de ede-
brana neuronal; a cadeia leve, por sua vez, é responsável pela ma e o fator letal penetrem na célula. A denominação antígeno
degradação da( s) proteína( s) associada(s) à liberação do neuro- protetor é baseada na descoberta de que anticorpos contra essa
transmissor inibidor. A toxina liberada no local periférico lesado proteína são capazes de proteger contra a doença. Estes anticor-
pode viajar tanto por meio do transporte axonal retrógrado quan- pos bloqueiam a ligação do antígeno protetor e, dessa forma, im-
to pela corrente sanguínea para as epífises anteriores ou neurô- pedem que o fator de edema e o fator letal entrem na célula.
nios intersticiais da medula espinal. O bloqueio da liberação de (7) O TSST é um superantígeno produzido principalmente
neurotransmissores inibidores leva a contrações convulsivas dos por algumas amostras de S. aureus, embora algumas amostras de
músculos voluntários, bem-exemplificadas por espasmos da mus- S. pyogenes também sejam capazes de produzi-lo. O TSST liga-
culatura mandibular e do pescoço ("mandíbula travadà'). -se diretamente às proteínas do complexo principal de histocom-
(3) A toxina botulínica, produzida por Clostridium patibilidade (MHC) de classe II, presente na superfície de células
botulinum, é uma neurotoxina que bloqueia a liberação de ace- apresentadoras de antígeno (macrófagos), independentemente do
tilcolina na sinapse, gerando uma paralisia flácida. Aproxima- processamento intracelular prévio. Esse complexo interage com
damente 1 µg dessa toxina é letal para seres humanos, repre- a cadeia~ do receptor de células T de muitas células T auxiliares
sentando um dos compostos mais tóxicos conhecidos. A toxina (ver discussão sobre superantígenos no Capítulo 58). Essa intera-
é composta por duas subunidades polipeptídicas, unidas por ção promove a liberação de grandes quantidades de interleucinas,
pontes dissulfídicas. Uma das subunidades liga-se ao receptor do especialmente a interleucina 1 e a interleucina 2. Essas citocinas
neurônio, a outra subunidade é uma protease que degrada a(s) estão associadas a muitos dos sinais e sintomas do choque tóxico.
proteína(s) responsável(eis) pela liberação de acetilcolina. Exis- O TSST é ainda um fator "mitogênico,, de células T (i.e., induz a
tem seis sorotipos de toxina botulínica (A-F). Alguns sorotipos multiplicação das células T), contribuindo para a superprodução
são codificados por plasmídeos, outros por bacteriófagos tempe- de citocinas.
rados e alguns pelo próprio cromossomo bacteriano. (8) A enterotoxina estafilocócica também é um superantíge-
(4) Duas exotoxinas são produzidas por Clostridium difficile, no, embora aja localizadamente nas células linfoides do intestino
ambas envolvidas na patogênese da colite pseudomembranosa. delgado, uma vez que é ingerida. A enterotoxina é produzida por
A exotoxina A é uma enterotoxina que provoca a diarreia aquosa. S. aureus presente em alimentos contaminados, provocando um
A endotoxina B é uma citotoxina que lesa a mucosa do colo e, quadro de intoxicação alimentar normalmente após uma a seis
portanto, induz à formação de pseudomembranas. As exotoxi- horas após a ingestão. Os principais sintomas são vômito e diar-
nas A e B são glicosiltransferases que glicosilam proteínas sina- reia aquosa. A alta frequência de vômito observada é provocada
lizadoras denominadas Rho-GTPases - um processo que inibe o pela grande quantidade de citocinas liberadas pelas células lin-
desempenho dessas GTPases no processo de transdução ao qual foides do intestino, que estimulam o sistema nervoso entérico e
estão associadas. A glicosilação pela exotoxina B provoca uma ativam o centro do vômito no encéfalo.
desagregação dos filamentos de actina do citoesqueleto, levando (9) A toxina esfoliativa é uma protease produzida por
à apoptose e morte celular. S. aureus que provoca a síndrome da pele escaldada. Essa toxina
( 5) Diversas toxinas associadas à gangrena gasosa são produ- cliva a desmogleína, uma proteína presente nos desmossomos da
zidas por Clostridium perfringens e por outras espécies do mesmo pele, resultando no descolamento das camadas mais superficiais
gênero. Um total de sete fatores letais e cinco enzimas já foram da epiderme. A toxina esfoliativa também é conhecida como to-
caracterizados, embora nenhuma espécie de Clostridium produza xina epidermolítica.
todos os 12 produtos. A toxina alfa é a mais bem-caracterizada, ( 1O) A leucocidina de Panton-Valentine (PV) é uma exotoxi-
uma lecitinase capaz de hidrolisar lecitinas de membrana celu- na formadora de poro produzida por amostras de S. aureus resis-
lar, provocando sua destruição e afetando rapidamente as células tente à meticilina (MRSA). Essa toxina destrói leucócitos, a pele e
adjacentes. As outras quatro enzimas são a colagenase, protease, os tecidos subcutâneos. Suas duas subunidades organizam -se na
hialuronidase e desoxirribonuclease (DNase). As sete toxinas le- membrana celular, formando um poro através do qual ocorre a
tais compõem um grupo heterogêneo com atividades hemolítica passagem de conteúdo intracelular para o meio extracelular.
44 PARTE I Bacteriologia Básica

( 11) A toxina eritrogênica é produzida por S. pyogenes e vendo um aumento nas concentrações de GMP cíclico, inibindo
provoca os exantemas característicos da escarlatina. Seu meca- a reabsorção de íons sódio e provocando a diarreia.
nismo de ação é semelhante ao observado para TSST (i.e., age (2) A toxina Shiga (também conhecida como verotoxina ou
como um superantígeno, ver o descrito anteriormente). O DNA toxina tipo Shiga) é uma exotoxina produzida principalmente
codificador dessa proteína reside em um bacteriófago tempe- por amostras de E. coli pertencentes ao sorotipo O157:H7. Essas
rado. Bactérias não lisogênicas não causam a escarlatina, mas amostras êntero-hemorrágicas provocam um quadro de diar-
podem causar faringite. reia sanguinolenta, e estão frequentemente associadas a surtos
que envolvem o consumo de carne malpassada, principalmente
Bactérias gram-negativas quando se trata de hambúrgueres em restaurantes do tipo fast-
As exotoxinas produzidas por bactérias gram-negativas também
jood. A toxina foi assim denominada em função de outra toxina
apresentam diversos mecanismos de ação e produzem diferentes muito semelhante, produzida pela Shigella dysenteriae. A toxina é
capaz de inativar a síntese proteica por meio da remoção de uma
manifestações clínicas. Duas exotoxinas muito importantes são
as enterotoxinas da E. coli e do V. cholerae (toxina colérica), que adenina de um local específico da subunidade 28S do ribossomo
humano. O termo verotoxina, por sua vez, refere-se ao efeito cito-
aumentam a quantidade intracelular de AMP cíclico nos enteró-
pático observado em cultivo de células Vero (macaco).
citos, produzindo a diarreia aquosa (Tabela 7-12). O mecanismo
A toxina Shiga é codificada por um bacteriófago tempera-
de ação e os aspectos clínicos das exotoxinas produzidas por bac-
do (lisogênico). Quando entra na corrente sanguínea, essa toxi-
térias gram-negativas estão descritos a seguir.
na pode provocar uma síndrome hemolítico-urêmica (SHU).
(1) A enterotoxina termolábil produzida pela E. coli provo- A toxina Shiga liga-se aos receptores renais e dos endotélios dos
ca diarreia aquosa, não sanguinolenta, por meio da estimulação pequenos vasos sanguíneos. A inibição da síntese proteica pro-
da atividade da adenilato-ciclase nas células do intestino delgado voca a morte dessas células, levando à falência renal e à anemia
(Figura 7-3). O aumento da concentração de AMP cíclico resul- hemolítica microangiopática. Alguns antibióticos, como o cipro-
tante provoca a secreção de íons cloreto, inibição da absorção de fl.oxacina, levam ao aumento da produção de toxina Shiga pela
sódio e perda significativa de líquidos e eletrólitos para o lúmen E. coli 0157, predispondo o paciente à SHU.
intestinal. A toxina termolábil, inativada a 65°C por 30 minu- (3) As enterotoxinas produzidas por V. cholerae, o agente
tos, é composta por duas subunidades: a subunidade B, que se causador da cólera (ver Capítulo 18), e por Bacillus cereus, um
liga a um receptor de gangliosídeo da membrana celular, e uma causador da diarreia, apresentam mecanismo de ação semelhante
subunidade A, que penetra na célula e permite a transferência ao observado para a toxina termolábil de E. coli (Figura 7-3).
da ADP-ribose do NAD para a proteína estimuladora acoplada (4) A toxina pertússis, produzida pela Bor. pertussis, o agente
(proteína GJ Esse processo "travà' a proteína G5 na sua posi- etiológico da coqueluche, é uma exotoxina que catalisa a trans-
ção ativada, estimulando continuamente a adenilato-ciclase e, ferência de ADP-ribose do NAD para a proteína G inibidora.
portanto, a síntese de AMP cíclico. Isso ativa a proteína-cinase A inativação deste regulador inibidor tem dois efeitos: o primeiro
dependente de AMP cíclico, uma enzima que fosforila transpor- é a estimulação da atividade de adenilato-ciclase e o consequen-
tadores de íons na membrana celular e provoca a perda de água te aumento das quantidades de AMP cíclico dentro das células
e íons pela célula. Os genes das toxinas termolábil e termoestável afetadas (Tabela 7-12). Esse processo resulta em edema e outras
(descritas a seguir) são codificados por plasmídeos. mudanças no trato respiratório, levando à tosse típica observada
Além da toxina termolábil, há a toxina termoestável, um durante a coqueluche. O segundo efeito é a inibição de vias de
polipeptídeo que não é inativado pela fervura por 30 minutos. transdução de sinal usada por receptores de quimiocinas, o que
A toxina termoestável afeta a monofosfato de guanosina (GMP) leva a uma marcante linfocitose, normalmente observada em
cíclica e não a AMP cíclica. A guanilato-ciclase é estimulada, pro- pacientes com coqueluche. A toxina inibe as vias de transdução

ENTERÓCITO

------~ ~ - - ----1)11~ tcAMP ---•~ t Proteína- )li Água e


Subunidade -cinase eletrólitos
Toxina ativa
colérica
Subunidade
de ligação Água, cloretos
LÚMEN INTESTINAL e bicarbonatos

~
Diarreia

FIGURA 7-3 Modo de ação das enterotoxinas de Escherichia coli e Vibrio cholerae. A enterotoxina (p. ex., toxina colérica) liga-se à superfície do
enterócito por meio da subunidade de ligação. A subunidade ativa penetra o enterócito. A subunidade ativa é uma enzima que catalisa a adição
de ADP-ribose (ADP-R) à proteína reguladora Gs. Esse processo ativa a adenilato-ciclase e gera uma superprodução de monofosfato de adenosina
cíclico (cAMP). Como consequência, a atividade da proteína-cinase dependente de AMP cíclico aumenta, fazendo com que água e eletrólitos
deixem os enterócitos, causando diarreia aquosa.
CAPÍTULO 7 Patogênese 45

de sinal de todos os receptores de quimiocinas, impedindo que principais causas de óbitos em unidades de tratamento intensivo,
os linfócitos migrem para ou entrem nos tecidos linfoides (baço, apresentando taxa de mortalidade de 30 a 50%. As endotoxinas
linfonodos). O aumento da concentração de linfócitos no sangue de bactérias gram-negativas representam a causa mais bem esta-
é decorrente da dificuldade dessas células em passar para os teci- belecida do choque séptico, embora moléculas de superfície de
dos (ver discussão sobre quimiocinas no Capítulo 58). bactérias gram-positivas (que não apresentam endotoxinas) tam-
bém possam causar choques sépticos.
Endotoxinas Duas características do choque séptico são interessantes:
As endotoxinas são parte integral da parede celular de bacilos (1) O choque séptico é diferente do choque tóxico. No cho-
e cocos gram-negativos, diferentemente do observado para as que séptico, a bactéria está presente na corrente sanguínea, ao
exotoxinas, que são ativamente liberadas pela célula bacteriana passo que no choque tóxico a toxina está presente no sangue.
(Tabela 7-9). Além disso, outros inúmeros fatores distinguem A importância dessa observação reside no fato de que, no choque
endotoxinas de exotoxinas. Endotoxinas são lipopolissacarídeos séptico, culturas bacterianas de sangue são normalmente positi-
(LPS), ao passo que exotoxinas são polipeptídeos; enzimas envol- vas, ao passo que no choque tóxico são normalmente negativas.
vidas na síntese de LPS são codificadas pelo cromossomo bacte- (2) O choque séptico pode levar ao óbito mesmo quando an-
riano, enquanto plasmídeos e bacteriófagos frequentemente co- tibióticos eliminam a bactéria presente no sangue (i.e., as amos-
dificam exotoxinas. A toxicidade das endotoxinas é baixa quando tras de sangue tornam-se negativas). Isso ocorre porque o choque
comparada à toxicidade das exotoxinas. Todas as endotoxinas é mediado por citocinas como o TNF e a interleucina (IL) -1, que
produzem sintomas sistêmicos de febre e choque, embora en- continuam agindo mesmo depois que as bactérias responsáveis
dotoxinas de alguns microrganismos sejam mais eficientes quan- por suas induções não estão mais presentes no sangue.
do comparadas às demais (Figura 7-4). Endotoxinas são pouco A estrutura do LPS está demonstrada na Figura 2-6. A por-
antigênicas; a produção de anticorpos protetores é tão baixa que ção tóxica da molécula é composta pelo lipídeo A, que contém
inúmeros episódios de toxicidade podem ocorrer. Toxoides nun- inúmeros ácidos graxos. O ácido J3-hidroximirístico é um ácido
ca foram produzidos a partir de endotoxinas e, portanto, endoto- sempre presente, encontrado apenas no lipídeo A. Os demais áci-
xinas não estão presentes em nenhuma vacina disponível. dos graxos variam de acordo com cada espécie. O cerne polissa-
Um dos principais locais de ação das endotoxinas são os carídico localizado no meio da molécula encontra-se protruso na
macrófagos. As endotoxinas (LPS) são liberadas da superfície superfície bacteriana e apresenta a mesma composição química
de bactérias gram-negativas em pequenos pedaços da membrana que os demais membros do gênero.
externa, os quais se ligam à proteína de ligação ao LPS no plasma. O antígeno somático (O) é um polissacarídeo externo que
Este complexo interage com um receptor na superfície de macró- difere entre as diferentes espécies e frequentemente é diferente
fagos, denominado CD 14, o qual ativa o receptor semelhante ao entre linhagens de uma única espécie. É um importante antígeno
Toll 4 (TLR-4). Uma cascata de sinalização é, então, ativada den- de algumas bactérias gram-negativas e é composto por 3, 4 ou
tro do macrófago, o que resulta na síntese de citocinas, como a 5 açúcares que se repetem até 25 vezes. Uma vez que o número
interleucina 1 (IL-1), o fator de necrose tumoral (TNF) e o óxido de permutas desses arranjos é consideravelmente grande, existem
nítrico (ver abaixo e a Figura 7-4). inúmeros tipos antigênicos. Para a Salmonella, por exemplo, mais
A ocorrência de febre e hipotensão são características evi- de 1.500 tipos antigênicos foram identificados. Algumas bacté-
dentes do choque séptico. Outras manifestações clínicas incluem rias, especialmente N. meningitidis e N. gonorrhoeae, possuem
taquicardia, taquipneia e leucocitose (aumento de leucócitos, lipo-oligossacarídeos (LOS) que apresentam muito poucas subu-
principalmente de neutrófilos). O choque séptico é uma das nidades repetitivas de açúcares no antígeno O.

Endotoxinas
(especialmente lipídeo A)

Ativação dos Ativação do Ativação do


macrófagos complemento fator tecidual

i ' i i i '
IL-1 TNF Óxido nítrico C3a C5a Cascata de
t t t t t coagulação
Febre Febre e Hipotensão Hipotensão Quimiotaxia t
hipotensão edema de neutrófilos CID

FIGURA 7-4 Modo de ação da endotoxina. Endotoxinas são a principal causa do choque séptico, primeiramente caracterizado por febre,
hipotensão e coagulação intravascular disseminada (CID). Endotoxinas geram man ifest ações clínicas por meio da ativação de três proces-
sos críticos: (1) ativação de macrófagos e subsequente produção de interleucina 1 (IL-1), fator de necrose tumoral (TNF) e óxido nítrico;
(2) ativação do complemento e subsequente produção de C3a e CSa; e (3) ativação do fator tecidual, um componente precoce da cascata
de coagulação.
46 PARTE I Bacteriologia Básica

Os efeitos biológicos das endotoxinas (Tabela 7-14) incluem: produtos oriundos da clivagem de produtos de fibrina (produtos
da quebra de fibrina) detectados no sangue dos pacientes com CID.
(1) Febre, decorrente da liberação de interleucina 1 pelos
Endotoxinas não provocam esses efeitos diretamente.
macrófagos (pirogênio endógeno) e interleucina 6, que age no
Em vez disso, elas induzem a produção de citocinas como a IL-1
centro hipotalâmico regulador da temperatura. 2
e o TNF pelos macrófagos. O TNF é o mediador central do pro-
(2) Hipotensão, choque e perfusão prejudicada de órgãos
cesso, uma vez que moléculas purificadas de TNF recombinantes
essenciais decorrente da vasodilatação provocada pela liberação
são capazes de reproduzir os efeitos das endotoxinas, assim como
de óxido nítrico, aumento da permeabilidade capilar induzida
anticorpos anti-TNF são capazes de bloquear esses mesmos efei-
pelo TNF, maior vasodilatação e permeabilidade capilar induzi-
tos. Endotoxinas também induzem a liberação do fator inibidor
das pela bradicinina.
da migração de macrófagos, que também desempenham um pa-
(3) CID decorrente da ativação da cascata de coagulação, re-
pel na indução do choque séptico.
sultando em trombose, petéquias ou equimoses, isquemia tecidual
Observe que pequenas quantidades de TNF apresentam
e, consequentemente, falência de órgãos vitais. A cascata de coagu- efeitos benéficos (p. ex., gerando uma resposta inflamatória na
lação é ativada quando o fator tecidual é liberado da superfície das presença de um micróbio), mas em grandes quantidades apre-
células endoteliais lesadas pela infecção. O fator tecidual interage sentam um efeito contrário (p. ex., provocando o choque séptico
com os fatores de coagulação circulantes, provocando a formação e a CID). É interessante observar que a ativação de plaquetas, que
disseminada de coágulos nos capilares. Um teste do o-dímero po- resulta na formação do coágulo e emparedamento das infecções,
sitivo fornece evidência laboratorial para o diagnóstico de CID. representa o mesmo processo que, quando magnificado, provo-
(4) Ativação da via alternativa da cascata do sistema do com- ca a CID e a necrose tumoral. A capacidade do TNF em ativar
plemento, gerando inflamação e danos teciduais. A C5a é uma plaquetas é responsável pelo coágulo intravascular, pelo infarto e
potente quimiocina que atrai neutrófilos para o local da infecção. pela subsequente morte do tecido tumoral. Os sintomas de cer-
(5) Ativação de macrófagos, que aumenta sua capacidade fa- tas doenças autoimunes, como a artrite reumatoide, também são
gocítica, e a expansão clonal de muitas células B, aumentando a mediados pelo TNF; entretanto, esses sintomas não são induzi-
produção de anticorpos. (Endotoxinas são ativadores policlonais dos por endotoxinas, mas por outros mecanismos, descritos no
de células B, mas não de células T.) Capítulo 66. Alguns dos efeitos benéficos e maléficos importan-
O resultado final dos cinco processos descritos é conhecido tes do TNF estão listados na Tabela 7-15.
como síndrome da resposta inflamatória sistêmica, ou SIRS. Endotoxinas podem provocar febre nos pacientes quando
Os sinais clínicos mais comuns de SIRS são febre, hipotensão, ta- presentes em líquidos endovenosos. No passado, líquidos en-
quicardia, taquipneia e leucocitose. dovenosos eram esterilizados pela autoclavação, que eliminava
Danos ao endotélio vascular desempenham um papel cru- quaisquer microrganismos presentes, mas resultava na liberação
cial nos processos de hipotensão e CID observados durante o de endotoxinas não inativadas pelo calor. Por essa razão, os lí-
choque séptico. Os danos endoteliais permitem o extravasamen- quidos são atualmente esterilizados pela filtração, que remove
to do plasma e das hemácias para o tecido, resultando na perda fisicamente os microrganismos sem a liberação de endotoxinas.
de volume sanguíneo e, portanto, na hipotensão. O endotélio A contaminação de líquidos endovenosos pode ser verificada
lesado também serve como um local de agregação e ativação por meio de um teste baseado na observação de que nanogramas
plaquetária, o que leva aos milhares de coágulos endovasculares
manifestados na CID. TABELA 7-1 s Efeitos benéficos e deletérios do TNF
A evidência de que endotoxinas provocam esses efeitos deri-
vam dos dois achados seguintes: ( 1) LPSs purificados, livres dos Efeitos benéficos de pequenas quantidades de TNF
microrganismos, são capazes de reproduzir os efeitos, e (2) an- Inflamação (p. ex., vasodi latação), aumento da permeabilidade
tissoro contra endotoxinas pode mitigar ou bloquear os efeitos. vascu lar
Clinicamente, a ocorrência de CID pode ser verificada em Adesão de neutrófilos ao endotélio
Aumento da atividade microbicida de neutrófilos
um paciente pelo teste laboratorial do o-dímero. Os o-dímeros são
Ativação e adesão de plaquetas
Aumento da expressão das proteínas do MHC de classes I e li
TABELA 7-14 Efeitos da endotoxina
Efeitos deletérios de grandes quantidades de TNF
Manifestações Choque séptico (p. ex., hipotensão e febre alta)
1 Coagulação intravascular disseminada
clínicas Mediador ou mecanismo
Sintomas inflamatórios e algumas doenças autoimunes
Febre lnterleucina 1 e interleucina 6
TNF, fator de necrose tu moral; MHC, complexo principal de histocompatibilidade.
Hipotensão (choque) Fator de necrose tu moral, óxido nítrico e
bradicinina
2
Endotoxinas (LPS) induzem primeiramente esses fatores por meio da
Inflamação Produção de CSa pela via alternativa do ligação com proteínas ligantes de LPS presentes no soro. Esse complexo
complemento atrai neutrófilos liga-se, então, ao CD14, um receptor presente na superfície de macró-
fagos. O CD 14 interage com uma proteína transmembrana conhecida
Coagulação (CID) Ativação do fator tecidual
como receptor semelhante ao Toll, que ativa uma cascata de sinalização
CID= coagulação intravascular disseminada. intracelular, levando à ativação de genes que codificam várias citocinas,
1
0 fator de necrose tumoral provoca muitas dessas reações. como a interleucina 1, o TNF entre outros fatores.
CAPÍTULO 7 Patogênese 47

de endotoxinas são capazes de coagu)ar extratos do caranguejo- não piog!n.icas, mediadas por exotoxinas, como a síndrome
.fer radura. ou limulus. do choque tôxico. a síndrome da pele escaldada e a intoxicação
Efeitos fisiopatológicos semelhantes aos provocados por en- alilnentar. Como bactérias pertencentes ao mesmo gênero ou à
dotoxinas também podem ocorrer em bacteriemias causadas por mesma espécie provoc.am doenças com manifestações clinicas
microrga1tismos gram-poslu,~os (p. ex., infecções por S. aureus tão diferentes? A resposta é que. indi,,idualmente. bactérias po-
e S. pyogenes). Uma vez que endotoxinas estão ausentes nesses dem produzir fatores de vi.rulê11cia diferentes que coiúerem a elas
microrganismos., um componente de parede ce)ular diferente - a capacidade de gerar doenças diferentes.
principalmente o ácido Jipoteicoico - provoca a liberação de TNF Os diferentes fatores de virulência são codificados por pias,.
e inter}eucina. 1 pe)os mactófagos. inídeos. transposon.s, pe)o genoma de bacteriófagos temperados
O choque séptico provocado por endotoxinas é uma das 0isogênicos) e por ilhas de patogenic-idade. Esses elementos de
principais causas de morte. especialmente em hospitais. Trata- transferêncfa gellética podem ou não estar preseJltes em uma lmica
mentos para o choque séptico com anticorpos antiprote(na A e bactéria, que respoJlde pela capacidade de gerar diferentes doenças.
TNF o.ão apresentaram sucesso. mas o tratamento com a proteína A TabeJa 7•16 descre-.·e os diferentes fatores de viru)ência de três
Cativada (drotrecogina-atfa. Xigris) reduz a taxa de mortalida- dos patógenos bacterianos mais relevantes: S. aun~us, S. pyogenes e
de em pacientes com o choque séptico grave. A prote(11a C re- E. coli. A Figura 7.5 descreve a i.mportâ.11cia das ilhas patogênicas
presenta uma proteina humana normal, que funciona como um em refação aos diferentes tipos de doenças provocadas por E. coli.
anticoagulante por meio da inibição da formaçlo da trombina.
A proteína C também aumenta a fibrinólise, processo que pro-
move a degtadaç.ão dos coágu)os recém.formados. A proteCna C. ESTÃGIOS CARACTERÍSTICOS DE UMA
aparentemente. previne a CID, evitando a falência múltip)a dos DOENÇA INFECCIOSA
ôrgãos, frequentemente observada no choque séptico. Efeitos
adversos. como hemorragias, e controvétsias relativas à sua efe- Um.a doença i11fecciosa aguda d pica apresenta quatro estágios:
th'idade. limitam o uso clCnico da proteína Cativada. (Kota: em ( 1) O período de incubação, re)ativo ao tempo entre o con-
201 1. o fármaco Xigris foi retirado do mercado.) tato com o microrganismo (ou toxina) e o inicio dos sintomas
(esse tempo varia de horas a dias ou semanas, dependendo do
s. lmunopatogênese microrganismo).
Em certas doenças.. como a febre reumática e a g)omerulonefrite,
(2) O periodo prodrômico, durante o qual sintomas inespe-
dficos, como febre, mal-estar e perda de apetite. ocorrem.
o microrganismo por si não provoca a doença, mas sim a respos•
ta imune à presença do microrganismo. Na febre reumática, por (3) O período espedflco da doença, durante o qual os si-
nais e sintomas mais caracteristicos da doença ocorrem.
exempl~ há a formação de a11ticorpos contra a proteína M do
(4) O período de recuperação. também conhecido como
S. pyogenes, que apresentam re.ação cruzada com tecidos articula·
período de convalescença, durante o quaJ a doença cede e opa-
res, cardíacos e c.erebrais. A inflamação ocorre e resu1ta em artri·
ciente retoma ao estado saudável
te, m.iocardite e encefa)ite. achados caracteristicos dessa doença.
Após o pel'fodo de recuperaçã~ aJguns indivíduos tornam-se
carreadores crônicos dos microrganismos, podendo disseminá-
INFECÇÕES BACTERIANAS ASSOCIADAS .(os enquanto permanecem clinicamente saudáveis. Outros mi-
COMOCÃNCER crorgarusmos podem desenvolver uma infecção latente, sendo ca-
pazes de provocar novos episódios de doença como os observados
O fato de que c.ertos virus podem provocar cânc.er já é bem esta- primeiramente, ou sinais e sintomas diferentes. Apesar de muitas
belecido. mas a observação de que algumas bactérias i1úecciosas infecções gerarem sintomas, muitas outras são subcllnicas (i.e.• o
podem estar associadas com o câncer ainda é uma novidade. Inú- individuo permanece assintomático apesar de infectado pe)o mi-
meros exemp)os documentados incluem (l) a associação da in- crorganismo). Nas infecções subcJbticas. quando o período de
fecç.ão peJo Helicobacter pylori com o carcinoma gástrico e com o recuperação termina, a presenç.a de anticorpos é frequentemente
liiúoma do tecido Jinfoide associado à mucosa gástrica (MAI:r), utilizada pata determinar a ocorrência ou não da doença.
e (2) a assa<:iação da infecção por C•mpylob•cter jejuni com o
linfoma MALT do intesti110 delgado (também conhecido como
doença da cadeia alfa pesada). Apoiando a hipótese de que esses O MICRORGANISMO ISOLADO DO
liJúomas são provocados por bactérias está a observação de que PACIENTE REALMENTE CAUSOU
a antibioticoterapia pode provocar a regressão do câncer quando
utilizada na fase precoce da doença. A DOENÇA?
Um.a vez que pessoas albergam microrga11ismos como membros
permanentes da m.iuobiota normaJ ou mesmo m.icrobiotas tran-
LINHAGENS DIFERENTES DE UMA sientes, essa pode ser uma pergunta interessante e muitas vezes
MESMA ESPtCIE DE BACTtRIA PODEM confusa, A resposta depende da situaç.ão. Uma possível situação
é aquela na quaJ nenhum agente foi identificado para a doença
GERAR DOENÇAS DIFERENTES e um microrganismo candidato foi isolado, F.sse mesmo prob)e.-
OS. auteus provoca doenças inflamatôrias e piogênicas como ma foi enfrentado por Robert Koch, em 1877; Koch esteve entre
endocardite, osteomielite e artrite séptica, bem como doenças os primeiros indivíduos a tentar determinar a causa de doenças
48 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 7-16 Linhagens diferentes de uma mesma espécie de bactéria podem gerar doenças diferentes

Bactérias Doenças Fatores de virulência Modo de ação

Staphylococcus aureus
1. Mediada por exotoxinas Síndrome do choque tóxico Toxina da síndrome do Superantígeno
choque tóxico
Intoxicação alimentar (gastren- Enterotoxina Superantígeno
terite)
Síndrome da pele escaldada Toxina esfoliativa Protease cliva desmogleína
2. Piogênica Abscesso cutâneo, osteomielite Enzimas causadoras de Coagulase, hialuronidase, leucocidina,
e endocardite inflamação e necrose lipase e nuclease

Streptococcus pyogenes
1. Mediada por exotoxinas Escarlatina Toxina eritrogênica Superantígeno
Síndrome do choque tóxico Toxina da síndrome do Superantígeno
estreptocócico choque tóxico
2. Piogênica (supurativa) Faringite, celulite e fasceíte Enzimas causadoras de Hialuronidase (fator de disseminação)
necrosante inflamação e necrose
3. Não supurativa (imuno- Febre reumática Certas proteínas M do Anticorpos antiproteína M reagem cru-
patogênica) pilus zadamente com os tecidos cardíaco,
articular e cerebral
Glomerulonefrite aguda Certas proteínas M do Deposição de imunocomplexos nos
pilus glomérulos

Escherichia coli
1. Mediada por exotoxinas Diarreia aquosa, não sanguino- Toxina lábil Ativação da adenilato-ciclase aumenta
lenta (diarreia do viajante) o AMP cíclico; não há morte celular
Diarreia sanguinolenta (asso- Toxina semelhante ao Citotoxina inibe síntese proteica; há
ciada com hambúrguer mal- Shiga (verotoxina) morte celular
passado); amostra 0157:H7
2. Piogênica Infecção do t rato urinário Pili uropáticos Aderência dos pili aos receptores
Gal-Gal do epitélio da bexiga
Meningite neonatal Cápsula K-1 Antifagocitário

Amostra não
patogênica de E. coli

t
E. coli causadora E. coli causadora E. coli causadora
de diarreia aquosa de infecção urinária de meningite neonatal
(amostra enterotoxigênica) (amostra uropática) (amostra capsular K-1 )

FIGURA 7-5 Ilhas de patogenicidade codificadoras de fatores de virulência que determinam o t ipo de infecção. O topo da figura apresenta uma
amostra não patogênica de E. coli que não contém ilhas de patogenicidade (PAls) no seu DNA genômico. A linha preta e oval observada nas célu-
las de E. coli representa o DNA genômico. PAls podem ser transferidas de um bacilo entérico gram-negativo para uma amostra não patogênica de
E. coli por meio dos processos de conjugação ou transdução. A aquisição de PAI, que codifica fatores de virulência, torna a E. coli não patogênica
capaz de gerar doenças específicas. Na figura, PAI-A codifica uma enterotoxina, PAI-B codifica pili capazes de aderir ao epitélio do trato urinário, e
PAI-C codifica uma enzima que sintetiza o polissacarídeo capsular K-1. Como resultado, são observadas três diferentes amostras de E. coli capazes
de causar três diferentes doenças.
CAPÍTULO 7 Patogênese 49

infecciosas, especificamente do antraz no gado bovino e da tuber- mente sugerem um conjunto de possíveis agentes etiológicos.
culose humana. Sua investigação levou à formulação do postula- A recuperação de um agente em número suficiente de um espéci-
do de Koch, correspondente aos critérios a serem contemplados, e me clínico apropriado é normalmente suficiente para o diagnósti-
por ele estabelecidos, para confirmar o papel de "agente causador,, co etiológico. Esse recurso pode ser ilustrado por dois exemplos:
de um determinado microrganismo. Os critérios são os seguintes: ( 1) em um paciente com dor de garganta, a presença de alguns
estreptococos í3-hemolíticos é insuficiente para um diagnóstico
( 1) O microrganismo deve ser isolado de todos os pacientes microbiológico, ao passo que a presença de muitos é suficiente,
com a doença. e (2) em um paciente com febre, a presença de estreptococos a-
(2) O microrganismo deve ser isolado, livre de outros mi- -hemolíticos é considerada parte da microbiota normal, ao passo
crorganismos, e crescer in vitro, em cultura pura. que o mesmo microrganismo no sangue é provavelmente a causa
(3) O microrganismo puro deve ser capaz de causar a doença de uma endocardite bacteriana.
em um animal suscetível e saudável. Em algumas infecções, nenhum microrganismo é isolado
(4) O microrganismo deve ser recuperado do animal ino- do paciente, o diagnóstico consiste na detecção do aumento do
culado. título (a quantidade) de anticorpos contra um determinado mi-
O segundo tipo de situação pertence ao problema prático, crorganismo. Para isso, o título de anticorpos da amostra de soro
cotidiano, referente ao diagnóstico específico da doença de um seguinte ou tardia deve apresentar-se pelo menos quatro vezes
paciente. Nesse contexto, os sinais e sintomas da doença normal- maior que a amostra de soro anterior ou precoce.

CONCEITOS-CHAVE

• O termo patógeno refere-se aos micróbios capazes de gerar mum; e pandemias são referentes a infecções que se dispersam
doença, especialmente quando causam doença em indivíduos rapidamente para grandes áreas do globo.
imunocompetentes. O termo patógeno oportunista refere-se
aos micróbios capazes de gerar doença apenas em indivíduos Fatores determinantes da patogênese bacteriana
im u nocom prometidos.
Transmissão
• Virulência é a medida da habilidade de um micróbio causar
• As vias de transmissão de microrganismos incluem os processos
doença (i.e., micróbios de alta viru lência requerem menos indi-
entre seres humanos, assim como os entre não humanos e se-
víduos para causar doença quando comparados aos de baixa vi-
res humanos. Fontes não humanas incluem animais, solo, água
rulência). A D1 50 representa o número de microrganismos neces-
e alimentos.
sários para causar doença em 50% da população. Uma D1 50 baixa
indica um microrganismo de alta virulência. • A transmissão entre seres humanos pode ocorrer tanto pelo con-
tato direto quanto indiretamente, por meio de um vetor, como
• A virulência de um micróbio é determinada pelos fatores de vi-
carrapatos e mosquitos. A transmissão entre animais e humanos
rulência presentes, como cápsu las, exotoxinas e endotoxinas.
também pode ocorrer por contato direto ou indireto via vetor.
• A possibilidade de uma pessoa apresentar uma doença infeccio-
• As principais "portas de entrada" do corpo humano são o tra-
sa ou não é determinada pelo equilíbrio entre o número e a viru-
to respiratório, o trato gastrintestinal, a pele e o trato ge-
lência dos microrganismos, em conjunto com a competência do
nital.
sistema imune dessa pessoa.
• Doenças humanas para as quais os animais são os reservatórios
• Muitas infecções são assintomáticas ou inaparentes, uma vez
são denominadas zoonoses.
que as defesas eliminam o microrganismo antes mesmo que ele
consiga se multiplicar a números suficientes para causar os sinto-
mas de uma doença. Aderência às superfícies celulares
• O termo infecção tem dois significados: (1) a presença de mi- • Os pili representam o principal mecanismo por meio do qual
crorganismos no corpo e (2) os sintomas de uma doença. bactérias aderem às superfícies das células humanas. Os pili são
A presença de microrganismos no corpo nem sempre resulta nos compostos por fibras que se estendem da superfície das bacté-
sintomas de uma doença (ver item anterior). rias que medeiam a aderência por meio da interação com recep-
tores específicos da célula humana.
• Bactérias podem causar doença por meio de dois mecanismos
principais: produção de toxinas (exotoxinas e endotoxinas) e • O glicocálice é um polissacarídeo secretado por algumas amos-
indução de inflamação. tras de bactérias que permitem uma forte aderência a certas
estruturas, como vá lvulas cardíacas, implantes prostáticas e ca -
• A maioria das infecções bacterianas é comunicável (i.e., capaz de
se dispersar de pessoa para pessoa), mas algumas não apresen- teteres.
tam essa capacidade (p. ex., botulismo e pneumonia por Legio-
nella). Invasão, inflamação e sobrevivência intracelular
• Três termos epidemiológicos são frequentemente usados para se • A invasão de um tecido é facilitada pela ação de enzimas secreta-
descrever uma infecção: as infecções endêmicas são aquelas que das pelas bactérias. A hialuronidase, por exemplo, é produzida
ocorrem de forma persistente, normalmente em baixos níveis, pelo Streptococcus pyogenes e degrada o ácido hialurônico pre-
em certa área geográfica; epidemias, por outro lado, incluem sente no tecido subcutâneo, permitindo a rápida dispersão do
aquelas infecções que ocorrem em taxas muito superiores ao co- microrganismo.
SO PARTE I Bacteriologia Básica

• Proteases de lgA degradam a lgA secretada, permitindo a ade- • Exotoxinas apresentam diferentes mecanismos de ação e dife-
rência de bactérias às membranas mucosas. rentes alvos celulares, sendo capazes, portanto, de provocar uma
• A cápsula circundante à bactéria apresenta atividade antifago- variedade de doenças com sintomas característicos. (Ver Tabelas
citária (i.e., retarda a ingestão do microrganismo pelo fagócito). 7-9 e 7-1O.) Inúmeras exotoxinas são enzimas que adicionam
Amostras mutantes de muitos patógenos que passam a não pro- ADP-ribose (ribosilação por ADP) a certos componentes celu-
duzir cápsula são não patogênicas. lares. Algumas exotoxinas atuam pela clivagem proteolítica de
• A inflamação é uma importante defesa do hospedeiro, induzi- componentes da célula e outras são superantígenos, gerando
da pela presença de bactérias no corpo. Existem dois tipos de uma produção exacerbada de citocinas.
inflamação, a piogênica e a granulomatosa; as bactérias nor-
malmente geram um dos dois tipos. Na inflamação piogênica, Endotoxinas
a defesa do hospedeiro contra bactérias piogênicas (produtoras • Endotoxinas são lipopolissacarídeos (LPSs) localizados na
de pus), como o 5. pyogenes, consiste em neutrófilos (assim como membrana externa apenas das bactérias gram-negativas. Elas
anticorpos e o complemento). Na inflamação granulomatosa, não são secretadas pelas bactérias.
a defesa do hospedeiro contra bactérias intracelulares indutoras
• O lipídeo A é um componente tóxico dos LPSs. Ele induz à pro-
de granulomas, como o Mycobacterium tuberculosis, consiste em
dução exacerbada de citocinas pelos macrófagos, como o fator
macrófagos e células T CD4-positivas. O tipo de inflamação é um
de necrose tumoral, a interleucina 1 e o óxido nítrico, respon -
importante critério para o diagnóstico.
sáveis pelos sintomas da síndrome do choque séptico, como a
• Bactérias podem evadir o sistema de defesa do hospedeiro por
febre e a hipotensão. Os LPSs ainda ativam a cascata do comple-
meio de um processo denominado sobrevivência intracelular
mento (via alternativa), produzindo um aumento da permeabili-
(i.e., bactérias que vivem no meio intracelular estão protegidas da
dade vascular, e a cascata de coagulação, gerando um processo
ação de macrófagos e neutrófilos). Observa-se que muitas dessas
de coagulação intravascular disseminada.
bactérias (p. ex., M. tubercu/osis) não são parasitas intracelulares
obrigatórios (que se multiplicam apenas dentro de células), mas • As endotoxinas são pouco antigênicas, não induzem antitoxinas
apresentam apenas a habilidade de viver no ambiente intracelular. e não formam toxoides.

Exotoxinas Estágios característicos de uma doença infecciosa


• Exotoxinas são polipeptídeos secretados por certas bactérias
• Geralmente existem quatro estágios discretos. O período de in-
que alteram funções celulares específicas, resultando nos sinto-
cubação, relativo ao tempo entre o contato com o microrganis-
mas da doença. Elas são produzidas por bactérias gram-positivas
mo (ou toxina) e o início dos sintomas. O período prodrômico,
e bactérias gram-negativas, ao passo que endotoxinas são en-
durante o qual sintomas inespecíficos ocorrem. O período espe-
contradas apenas em bactérias gram-negativas.
cífico da doença, durante o qual os sinais e sintomas mais carac-
• Exotoxinas são antigênicas e induzem anticorpos, conhecidos
terísticos da doença ocorrem. O período de recuperação, duran-
como antitoxinas. Exotoxinas podem ser modificadas para a
te o qual a doença cede e o paciente retorna ao estado saudável.
formação de toxoides, que são antigênicos, mas não tóxicos. To-
xoides, como o toxoide do tétano, são utilizados para imunizar • Após o período de recuperação, alguns indivíduos tornam-se
indivíduos contra a doença. carreadores crônicos do microrganismo, enquanto para outros
há o estabelecimento de uma infecção latente.
• Muitas exotoxinas apresentam estruturas com subunidades A
e B, nas quais a subunidade A é ativa (tóxica) e a subunidade B • Alguns indivíduos apresentam infecções subclínicas, durante as
liga-se à membrana celular e permite a entrada da subunidade quais permanecem assintomáticos. A presença de anticorpos re-
A na célula. vela a ocorrência prévia da infecção.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO ( C) Haemophilus influenzae.


(D) Shigella dysenteriae.
1. Lavar as mãos é uma maneira importante de interromper a cadeia (E) Streptococcus pneumoniae.
de transmissão de uma pessoa para outra. Qual das bactérias a se-
3. As principais células envolvidas nas inflamações piogênicas são os
guir pode ter sua transmissão interrompida pela lavagem das mãos?
neutrófilos, ao passo que as células envolvidas nas inflamações gra-
(A) Borrelia burgdorferi. nulomatosas são principalmente os macrófagos e as células T amd-
(B) Legionella pneumophila. liares. Qual das seguintes bactérias está mais associada à geração de
(C) Staphylococcus aureus. inflamação do tipo granulomatosa?
(D) Streptococcus agalactiae (estreptococos do grupo B). (A) Escherichia coli.
(E) Treponema pallidum. (B) Mycobacterium tuberculosis.
2. A transmissão vertical representa a transmissão de um microrganis- ( C) Neisseria gonorrhoeae.
mo da mãe para o feto ou da mãe para o neonato. Qual das bactérias (D) Streptococcus pyogenes.
a seguir está mais associada à transmissão vertical? (E) Staphylococcus aureus.
(A) Chlamydia trachomatis.
(B) Clostridium tetani.
CAPÍTULO 7 Patogênese 51

4. Qual das seguintes combinações entre exotoxinas e endotoxinas e 9. Inúmeras empresas de biotecnologia financiaram rastreamentos
suas respectivas propriedades está correta? clínicos para o uso de um fármaco baseado em anticorpos mono-
(A) Exotoxinas-polipeptídeos; endotoxinas-lipopolissacarídeos. clonais antilipídeo A. A septicemia provocada por qual das seguin-
(B) Exotoxinas-pouco antigênicas; endotoxinas-altamente antigê- tes duplas de microrganismos está mais apta a ser amenizada pela
n1cas. administração desses anticorpos?
(C) Exotoxinas-produzidas apenas por bactérias gram-negativas; (A) Bordetella pertussis e Clostridium perfringens.
endotoxinas-produzidas apenas por bactérias gram-positivas. (B) Escherichia coli e Neisseria meningitidis.
(D) Exotoxinas-pouco tóxicas por micrograma; endotoxinas-alta- ( C) Pseudomonas aeruginosa e Bacillus anthracis.
mente tóxicas por micrograma. (D) Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus aureus.
(E) Exotoxinas-vacinas via toxoides são ineficientes; endotoxinas- (E) Streptococcus pneumoniae e Staphylococcus aureus.
-vacinas via toxoides são eficientes. 10. Considerando a endotoxina, qual das seguintes opções é a MAIS
5. Qual das duplas abaixo produz (ambas as espécies) exotoxinas que correta?
aumentam o AMP cíclico em células humanas? (A) Endotoxina é um polipeptídeo cuja porção tóxica é composta
(A) Vibrio cholerae e Corynebacterium diphtheriae. por duas o-alaninas.
(B) Clostridium perfringens e Streptococcus pyogenes. (B) Endotoxinas são produzidas por cocos gram-positivos e cocos
(C) Escherichia coli e Bordetella pertussis. gram-negativos.
(D) Corynebacterium diphtheriae e Staphylococcus aureus. (C) Endotoxinas agem por meio da ligação às proteínas do MHC
(E) Bacillus anthracis e Staphylococcus epidermidis. de classe II e à porção variável da cadeia beta dos receptores de
células T.
6. Qual das duplas a seguir produz exotoxinas que agem via ribosila-
(D) Endotoxinas causam febre e hipotensão pela indução da libe-
ção por ADP?
ração de interleucinas como a interleucina 1 e o fator de necro-
(A) Corynebacterium diphtheriae e Escherichia coli. se tumoral.
(B) Clostridium perfringens e Staphylococcus aureus. (E) A antigenicidade das endotoxinas reside nas suas cadeias late-
(C) Clostridium tetani e Bacillus anthracis. rais compostas por ácidos graxos.
(D) Enterococcus faecalis e Mycobacterium tuberculosis.
(E) Escherichia coli e Streptococcus pyogenes.
7. Qual das bactérias seguintes produz uma exotoxina capaz de inibir RESPOSTAS
a liberação de acetilcolina na junção neuromuscular?
1. (C)
(A) Bacillus anthracis.
2. (A)
(B) Bordetella pertussis. 3. (B)
(C) Clostridium botulinum. 4. (A)
(D) Corynebacterium diphtheriae. 5. (C)
(E) Escherichia coli. 6. (A)
8. Um homem de 25 anos com dores abdominais foi diagnosticado 7. (C)
com apendicite aguda. Subitamente, o homem apresentou aumento 8. (C)
da temperatura corporal para 39ºC acompanhado de queda súbita 9. (B)
na pressão arterial. Qual das seguintes possibilidades é a provável 10. (D)
causa da febre e da hipotensão?
(A) Uma exotoxina que promove a ribosilação por ADP do fator
de elongação 2. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(B) Uma exotoxina que estimula a produção de grandes quantida-
des de AMP cíclico. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
(C) Uma endotoxina que provoca a liberação do fator de necrose contradas na seção de Bacteriologia Básica da Parte XIII: Ques-
tumoral. tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam-
(D) Uma endotoxina que se liga à proteína do MHC de classe 1. bém a parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
(E) Uma exoenzima que cliva o ácido hialurônico. página 731.
CAPÍTULO

8 Defesas do Hospedeiro
CONTEODO DO CAPITULO

Princípios de defesas do hospedeiro Imunidade adaptat iva (específica}


Imunidade Inata (inespecfflca) Falhas nas defesas do hospedeiro predispõem a Infecções
Pele e membranas mucos.as Conceitos-chave
Resposta inflamatória e fagocitose Aplique seu conhecimento
Febre Questões para autoavaliação

PRINCÍPIOS DE DEFESAS DO HOSPEDEIRO os ácidos graxos secretados pe)as glânduJas sebáceas cutâneas
possuem ação antibacteriana e antifúngica. Acredita.se que o au•
As defesas do hospedeiro são compostas por dois sistemas com- mento na produção de ácidos graxos que ocorre na puberdade
plementares e frequentemente interativos: (1) as defesas inatas explique a maior resistência às infec:ções fúngicas do tipo tine.as.,
(inespedficas), que protegem contra microrganismos em geral. observadas nesse período. O baixo pH da pele (entre 3 e 5), de-
e (2) a imunidade adaptativa (espedflc:a), que protege contra um corrente desses ácidos graxos., também exerce um efeito antimi·
microrganismo em particu)ar. As defesas inatas podem ser clas- ctobiano. Embora muitos organismos vivam sobre a pele ou nela
sificadas em três principais categorias: (1) barreiras físicas., como como membros da microbiota normal. e)es são inofensivos desde
a pele e as membranas mucosas intactas; (2) cé)ulas fagocitátias. que não penetrem no corpo.
e.orno neutrófilos, mactófagos e cé)ulas natutal killer; e (3) proteI· Uma segunda defesa importante corresponde à membrana
nas, como o complemento, a Jisozima e o interferon. A Figura s .1 mucosa do trato respiratório. a qual ê revestida por cíJios e reco-
mostra o pape) de vários componentes das defesas inespedficas berta por muco. A movimentação coordenada dos cllios conduz
na resposta inicia) à i1úecção bacteriana. As defesas adquiridas o muco até o nariz e a boca, onde as bactérias capturadas podem
são mediadas por anticorpos e li,úócitos T. O Capítulo 57 descre- ser expelidas. Esse aparato mucodliar. o elevador e.ili.ar. pode ser
ve essas defesas do hospedeiro com mais detalhes. danificado pelo álcool, pe)o fumo e por virus; o dano predispõe o
Há dois principais tipos de defesas do hospedeiro contra hospedeiro a infecções bacterianas. Outros mecanismos de pro-
as bactérias: a resposta plogênlca e a resposta granuJomatosa. teção do trato respiratório envoh•em os mactófagos alveolares. a
A defesa contra c.ertas bactérias, como Staphyloc.occus aureus e lisozima das lágrimas e o muco, pelos do nariz. e o reflexo de
Stteptoc.occus pyogenes. corresponde à resposta piogênica (pro- tosse que impede a aspiração para os pulmões.
dutora de pus), que consiste em anticorpos. comp)emento e A perda d.a barreira flsica coiúerida pela pele e pelas mem-
neutróftlos. Essas bactérias piogênicas são frequentemente deno. branas mucosas predispõe.às iiúecções. A Tabela s .1 descreve os
minadas patógenos extrace)ulares, uma vez que não invadem as organismos que comumente c.ausam ilúecções associadas à perda
célu)as. A defesa contra outras bactérias, como MycoMctetium dessas barreiras de proteção.
tubetculosi's e listeria monocytogenes. corresponde à resposta gra• A proteção inespedfica do trato gastrintestina1 inclui as en-
nu)omatosa. que consiste em macrófagos e células T CD4 positi· 2imas hidrolfticas d.a saliva, o ácido estomacal, assim como várias
vas (auxiJiares). Essas bactérias frequentemente são denomina. enzimas de.gradativas e macrófugos do intestino de)gado. A vagi·
das patógenos intrace)ulares. uma vez que podem invadir células na da mulher adu1ta encontra•se protegida pe)o pH baixo gerado
e sobreviver no interior delas. pe)os lactobacilos.. membros da mkrobiota normal.
Uma proteç.ão adicional observada no trato gastrintesti·
nal e no trato respiratório inferior é conferida por defensinas.
IMUNIDADE INATA (INESPECÍFICA) Oefensinas são peptídeos com alta carga positiva (catiônicos)
que criam poros nas membranas das bactérias. promovendo sua
Pele e membranas mucosas morte. NeutrófiJos e as cé)ulas de Paneth nas criptas intestinais
A pele intacta corresponde à primeira linha de defesa contra vá· contêm um tipo de defensina (o:.defensinas). ao passo que o trato
rios organismos. Além da barreira física representada pela pele. respiratório prod02 tipos diferentes de defensinas. denominadas
CAPÍTULO 8 Defesas do Hospedeiro S3

As bactérias penetram na pele

,,

Ativação do complemento
Fagocitose por
pela via alternativa

'. C5,6, 7,8,9


C3b opsoniza Neutrófilos Macrófagos
formam o
as bactérias,
C5a atrai complexo de
intensificando
neutrófilos ataque às
a fagocitose
membranas que
por neutrófilos
lisa as bactérias

Apresentam
Produção de
epítopos e
citocinas
estimulam

'.
O fator de
' ',
Quimiocinas
,
''
A interleucina 6 Imunidade
necrose tumoral A interleucina 1 (p. ex., IL-8, MIP) Imunidade
induz proteínas mediada por
induz a induz febre atraem neutrófilos celular
da fase aguda anticorpos
inflamação e macrófagos

FIGURA 8-1 Respostas precoces do hospedeiro à infecção bacteriana. MIP, proteína inflamatória de macrófagos.

í3-defensinas. O mecanismo pelo qual as defensinas diferenciam difficile e Candida albicans causem doenças, como colite pseudo-
as membranas das bactérias e das células humanas ainda é des- membranosa e vaginite, respectivamente.
conhecido.
As bactérias da microbiota normal da pele, da parte nasal
Resposta inflamatória e fagocitose
da faringe, do colo e da vagina ocupam esses nichos ecológicos,
impedindo a multiplicação de patógenos nesses locais. A impor- A presença de corpos estranhos, como bactérias, no interior
tância da microbiota normal pode ser observada ocasionalmente do organismo provoca uma resposta inflamatória protetora
quando a terapia antimicrobiana elimina esses organismos be- (Figura 8-2). Essa resposta caracteriza-se pelos achados clínicos
néficos, permitindo, assim, que organismos como Clostridium de vermelhidão, edema, calor e dor no local da infecção. Esses si-

TABELA 8-1 O dano à pele e às membranas mucosas predispõe à infecção causada por certas bactérias

Bactérias comumente causadoras de infecção associada


Fator predisponente Local da infecção ao fator predisponente

Cateteres intravenosos Pele Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus aureus

Diabetes Pele S. aureus

Queimaduras Pele Pseudomonas aeruginosa


. ,
Fibrose cística Trato respiratório P.. aerug,nosa

Trauma mandibular Sulco gengival Actinomyces israelii


2
Extração dental Parte oral da faringe Estreptococos do grupo viridans

Mucosite oral secundária à quimio- Boca, mas também todo trato gas- Estreptococos do grupo viridans, Capnocytophaga gingivalis
terapia contra câncer trintestinal
1
Bactérias envolvidas com menor frequência incluem Burkholderia cepacia e Stenotrophomonas maltophilia.
2
Os estreptococos do grupo viridans não causam infecção local após extração dental, mas podem atingir a corrente sanguínea e provocar endocardite.
S4 PARTE I Bacteriologia Básica

nais são decorrentes do maior fluxo sanguíneo, da maior permea- que ativa macrófagos e sua ação microbicida, é produzido por
bilidade capilar e do extravasamento de líquidos e células para células T auxiliares ativadas.
os espaços teciduais. A maior permeabilidade deve-se a vários Os neutrófilos e os macrófagos são atraídos ao local de in -
mediadores químicos, entre os quais os mais importantes são a fecção por pequenos polipeptídeos, denominados quimiocinas
histamina, as prostaglandinas e os leucotrienos. Componentes (citocinas quimiotáticas). As quimiocinas são produzidas por cé-
do complemento, C3a e C5a, também contribuem para o aumen- lulas teciduais da área infectada, por células endoteliais locais e
to da permeabilidade vascular. A bradicinina é um importante por neutrófilos e macrófagos residentes. A interleucina 8 é uma
mediador da dor. quimiocina que atrai principalmente os neutrófilos, ao passo que
Os neutrófilos e macrófagos, ambos fagócitos, são uma a proteína quimiotática de monócitos-1 (MCP-1) e a proteína in-
importante parte da resposta inflamatória. Os neutrófilos são flamatória de macrófagos (MIP) atraem macrófagos e monócitos
predominantes em infecções piogênicas agudas, ao passo que os (ver Capítulo 58).
macrófagos são mais prevalentes em infecções crônicas ou gra- Como parte da resposta inflamatória, as bactérias são en -
nulomatosas. Os macrófagos realizam duas funções: são fagocitá- globadas (fagocitadas) por neutrófilos polimorfonucleares
rios e produzem duas importantes citocinas pró-inflamatórias, (PMNs) e macrófagos. Os PMNs representam aproximadamente
o fator de necrose tumoral (TNF) e a interleucina 1 (IL-1). 60% dos leucócitos presentes no sangue, e seu número aumenta
A síntese de IL-1 a partir de sua forma precursora inativa é me- significativamente durante a infecção (leucocitose). No entan-
diada por enzimas proteolíticas (caspases) em uma estrutura to, em determinadas infecções bacterianas, como a febre tifoide,
citoplasmática, denominada inflamassoma. A importância da observa-se uma diminuição no número de leucócitos (leucope-
resposta inflamatória na limitação da infecção é enfatizada pela nia). O aumento nos PMNs é causado pela produção de fatores
capacidade de os agentes anti-inflamatórios, como os corticoste- estimulantes de granulócitos (fator estimulador de colônias gra-
roides, reduzirem a resistência à infecção. nulocíticas [G-CSF] e fator estimulante de colônias [GM-CSF];
Certas proteínas, conhecidas coletivamente como resposta ver Capítulo 58) pelos macrófagos logo após a infecção.
de fase aguda, são também produzidas pelo fígado. Entre elas, as Observa-se que, embora os PMNs e os macrófagos fago-
mais conhecidas são a proteína C-reativa e a proteína de ligação citem as bactérias, os PMNs não apresentam antígenos aos lin-
à manose, que se ligam à superfície das bactérias e intensificam fócitos T auxiliares, ao contrário dos macrófagos (e das células
a ativação da via alternativa do complemento (ver Capítulo 58). dendríticas) (ver Capítulo 58). As células dendríticas são as célu-
A proteína C-reativa recebeu esse nome devido à sua capacidade las apresentadoras de antígeno mais importantes. A capacidade
de ligar-se a um carboidrato da parede celular de Streptococcus fagocitária das células dendríticas é intensificada pela presença
pneumoniae (ver página 123). A proteína de ligação ao lipo- de receptores da proteína de ligação à manose.
polissacarídeo (endotoxina) é outra importante proteína da O processo de fagocitose pode ser dividido em três etapas:
fase aguda, produzida em resposta às bactérias gram -negativas. migração, ingestão e morte. A migração de PMNs ao local de
A interleucina 6 (IL-6) é o principal indutor da resposta de fase infecção deve-se à produção de quimiocinas, como a interleuci-
aguda, e também corresponde a uma citocina pró-inflamatória. na 8 e o componente C5a do complemento. A adesão de PMNs
Os macrófagos são a principal fonte de IL-6, entretanto, vários ao endotélio do local de ligação é mediada inicialmente pela in-
outros tipos celulares também a produzem. O interferon gama, teração dos PMNs com proteínas selectinas do endotélio e, em

Bactérias piogênicas Bactérias intracelulares


(p. ex., Staphylococcus aureus) (p. ex., Mycobacterium tubercu/osis)

Complexos Células T
Superfície bacteriana
bactérias-anticorpos auxiliares (CD4+)

Via Via IL-2


lnterferon y
clássica ',
'. alternativa '

Ativação do complemento Macrófagos e células


T auxiliares
1 ativados
C5a C3a,C5a
'. ,

'
Atrai Proteases danificam
neutrófilos o endotélio (edema) Hipersensibilidade tardia

.,

'. { ~ Endurecimento e eritema


Desencadeia a
Permeabilidade Vasodilatação
liberação de mediador
capilar (edema) (eritema)
(p. ex., histamina)

FIGURA 8-2 Inflamação. A resposta i nflamatória pode ser causada por dois mecanismos distintos. A esquerda: Bactérias piogênicas
(p. ex., Staphy/ococcus aureus) causam inflamação por meio de mecanismos mediados por anticorpos e pelo complemento. Adireita: Bactérias
intracelulares (p. ex., Mycobacterium tubercu/osis) causam inflamação por meio de mecanismos mediados por células.
CAPÍTULO 8 Defesas do Hospedeiro SS

+ Nem anticorpo + Neutrófilo - - Fagocitose


nem C3b pouco eficiente
Bactéria
encapsulada

+ Anticorpo + Neutrófilo - ~ Fagocitose


e/ou C3b intensificada
Bactéria
encapsulada

FIGURA 8-3 Opsonização. Parte superior: Uma bactéria encapsulada é fracamente fagocitada por um neutrófilo na ausência de anticorpos
do tipo imunoglobulina G (lgG) ou de C3b. Parte inferior: Na presença de anticorpo lgG ou de C3b ou de ambos, a bactéria é opsonizada (i.e., é
mais facilmente fagocitada pelo neutrófilo).

seguida, pela interação dos PMNs com integrinas, denominadas Na primeira reação, o oxigênio molecular é reduzido por um
"proteínas LFX: localizadas na superfície do PMN, com proteínas elétron, originando o radical superóxido, que exibe pequena ação
de moléculas de adesão intracelular (ICAMs) na superfície da cé- bactericida. Na etapa seguinte, a enzima superóxido dismutase
1
lula endotelial. catalisa a formação de peróxido de hidrogênio a partir de dois ra-
A quantidade de proteínas ICAM do endotélio é aumen- dicais superóxido. O peróxido de hidrogênio é mais tóxico que o
tada pelos mediadores inflamatórios, como IL-1 e TNF (ver superóxido, porém não é eficiente contra organismos produtores
Capítulo 58), que são produzidos por macrófagos em resposta à de catalase, como os estafilococos.
presença das bactérias. O aumento do nível de proteínas ICAM O óxido nítrico (NO) é outro importante agente micro-
garante a adesão seletiva dos PMNs ao local da infecção. A per- bicida. Corresponde a um intermediário reativo do nitrogênio,
meabilidade aumentada dos capilares devido à presença de hista- sintetizado por uma enzima induzível, denominada óxido ní-
2
mina, quininas e prostaglandinas permite a migração dos PMNs trico sintase, em resposta a estimuladores como as endotoxinas.
pela parede capilar a fim de alcançarem as bactérias. Essa migra- A superprodução de NO contribui para a hipotensão observada
ção é denominada diapedese e leva alguns minutos para ocorrer. no choque séptico, uma vez que provoca vasodilatação dos vasos
As bactérias são ingeridas pela invaginação da membrana sanguíneos periféricos.
celular do PMN ao redor das bactérias, formando um vacúolo A explosão respiratória também resulta na produção do
(fagossomo). Esse englobamento é potencializado pela ligação agente microbicida - NO. O NO contém um radical livre que
de anticorpos IgG (opsoninas) à superfície da bactéria, processo participa da morte oxidativa de micróbios ingeridos por fagoci-
denominado opsonização (Figura 8-3). O componente C3b do tose pelos neutrófilos e macrófagos. A óxido nítrico sintase, a en-
complemento intensifica a opsonização. (As membranas celula- zima que produz NO, é induzida nessas células após a fagocitose.
res externas tanto dos PMNs quanto dos macrófagos possuem re- A morte do organismo no interior do fagossomo é um
ceptores para a porção Fc da IgG e para C3b.) Mesmo na ausência processo que ocorre em duas etapas, consistindo em degranu-
de anticorpos, o componente C3b do complemento, que pode ser lação seguida pela produção de íons hipoclorito, os quais são os
gerado pela via "alternativà: pode promover a opsonização. Isso é principais agentes microbicidas. Na degranulação, os dois tipos
particularmente importante no caso de organismos bacterianos e de grânulos presentes no citoplasma do neutrófilo fundem-se ao
fúngicos cujos polissacarídeos ativam a via alternativa. fagossomo, esvaziando seu conteúdo durante o processo. Esses
Por ocasião do englobamento, uma nova via metabólica, grânulos são lisossomos que contêm uma variedade de enzimas
conhecida como explosão respiratória, é desencadeada; como essenciais para os processos de morte e degradação que ocorrem
resultado, há a produção de dois agentes microbicidas, radical no interior da fagolisossoma.
superóxido e peróxido de hidrogênio. Esses compostos altamente
( 1) Os grânulos lisossomais maiores, que constituem cerca
reativos (frequentemente denominados intermediários reativos
de 15% do total, contêm a importante enzima mieloperoxida-
de oxigênio) são sintetizados pelas seguintes reações:
se, assim como a lisozima e várias outras enzimas degradativas.
(A mieloperoxidase, que apresenta cor verde, contribui significa-
02 + e- ~02 -
tivamente para a cor do pus.)
-
202 + 2H + ~H20 2 + 0 2 (2) Os grânulos menores, que constituem os 85% restantes,
contêm lactoferrina e enzimas degradativas adicionais, como
proteases, nucleases e lipases. Os grânulos lisossomais podem ex-
travasar para o espaço extracelular, bem como para o fagossomo.
1
As proteínas LFA e as proteínas ICAM medeiam a adesão entre muitos Externamente à célula, as enzimas degradativas podem atacar
tipos de células. Essas proteínas estão descritas de maneira mais detalha- estruturas muito grandes para serem fagocitadas, como micélios
da no Capítulo 58. fúngicos e bactérias extracelulares.
2
A ação anti-inflamatória do ácido acetilsalicílico é resultado de seu re-
sultado em inibir a ciclox:igenase, reduzindo, assim, a síntese de prosta- O processo de morte microbiana em si ocorre por uma va-
glandinas. riedade de mecanismos, os quais são classificados em duas cate-
S6 PARTE I Bacteriologia Básica

gorias: dependentes e independentes de oxigênio. O mecanismo A redução da fagocitose predispõe à ocorrência


dependente de oxigênio mais importante envolve a produção da de infecções bacterianas
molécula bactericida, íon hipoclorito, de acordo com a seguinte
A importância da fagocitose como um mecanismo de defesa do
reação:
hospedeiro pode ser enfatizada pela observação de que a redução
do número ou da função dos fagócitos predispõe o organismo
a infecções bacterianas, especialmente a infecções causadas por
determinados organismos (Tabela 8-2):
A mieloperoxidase catalisa a reação entre o íon cloreto e o
peróxido de hidrogênio, o qual foi produzido pela explosão res- ( 1) Infeções repetidas ocorrem em crianças com defeitos
piratória, originando o íon hipoclorito, na presença de mielope- genéticos relacionados ao processo de fagocitose. Dois exemplos
roxidase. O próprio hipoclorito danifica as paredes celulares, mas desses defeitos são: a doença granulomatosa crônica, na qual o
pode também reagir com o peróxido de hidrogênio, originando fagócito não é capaz de matar as bactérias ingeridas devido a um
oxigênio singleto, que danifica as células ao reagir com as liga- defeito na NADPH oxidase e a uma consequente deficiência na
ções duplas dos ácidos graxos dos lipídeos de membrana. geração de H 2O2; e a síndrome de Chédiak-Higashi, quando são
Poucos indivíduos são geneticamente deficientes em mielo- formados grânulos lisossomais anormais incapazes de fundir-se
peroxidase; no entanto, seus sistemas de defesa são capazes de ao fagossomo, de modo que, apesar de as bactérias serem ingeri-
matar as bactérias, embora de forma mais lenta. Nesses indiví- das, elas sobrevivem.
duos, a explosão respiratória, que produz peróxido de hidrogênio (2) Infecções frequentes ocorrem em pacientes neutropêni-
e íon superóxido, parece ser suficiente, porém há duas ressalvas: cos, especialmente quando a contagem de PMNs atinge valores
se um organismo produz catalase, o peróxido de hidrogênio será abaixo de 500/µL como resultado de fármacos imunossupresso-
ineficaz; e se um organismo produz superóxido dismutase, o su- res ou irradiação. Essas infecções frequentemente são causadas
peróxido será ineficaz. por organismos oportunistas (i.e., organismos que raramente
Os mecanismos independentes de oxigênio são importantes causam doença em indivíduos com o sistema imune normal).
em condições anaeróbias. Esses mecanismos envolvem: a lacto- (3) A esplenectomia remove uma importante fonte tanto
ferrina, a qual quela o ferro das bactérias; a lisozima, que degrada de fagócitos quanto de imunoglobulinas, predispondo à sepse
o peptideoglicano da parede celular bacteriana; as proteínas ca- causada por três bactérias piogênicas capsuladas: S. pneumoniae,
tiônicas, que danificam as membranas celulares; e pH baixo. Neisseria meningitidis e Haemophilus influenzae. A S. pneumoniae
Os macrófagos também migram, englobam e matam as bac- causa aproximadamente 50% de todos os episódios de sepse em
térias, utilizando essencialmente os mesmos processos que os pacientes esplenectomizados. Pacientes com anemia falciforme
PMNs, porém existem várias diferenças a serem consideradas: e outras anemias hereditárias podem autoinfartar seu baço, re-
sultando em perda da função esplênica e predisposição à sepse
(1) Os macrófagos não apresentam mieloperoxidase e, des-
causada por essas bactérias.
se modo, são incapazes de produzir íon hipoclorito; no entanto,
(4) Indivíduos com diabetes melito, especialmente os que
produzem peróxido de hidrogênio e superóxido na explosão res-
exibem baixo controle da glicose ou episódios de cetoacidose,
piratória.
apresentam maior número de infecções, assim como infecções
(2) Determinados organismos, como os agentes da tuber-
mais graves, quando comparados a indivíduos não diabéticos.
culose, brucelose e toxoplasmose, são preferencialmente inge-
O principal defeito das defesas nesses pacientes é a função re-
ridos pelos macrófagos, em vez de PMNs, e podem permanecer
duzida dos neutrófilos, especialmente quando ocorre a acidose.
viáveis e multiplicar-se no interior dessas células; os granulo-
mas formados durante essas infecções contêm vários desses Duas doenças específicas altamente associadas ao dia-
macrófagos. betes são a otite externa maligna, causada por Pseudomonas
(3) Os macrófagos secretam um ativador de plasminogênio, aeruginosa, e mucormicose, causada pelos bolores do gênero
uma enzima que converte a pró-enzima plasminogênio na enzi- Mucor e Rhizopus. Adicionalmente, têm sido observadas inci-
ma ativa plasmina, a qual dissolve coágulos de fibrina. dência e severidade crescentes de casos de pneumonia causa-

TABELA 8-2 A fagocitose reduzida predispõe a infecções causadas por certas bactérias

Bactérias comumente causadoras de infecção


Tipo de redução Causa da redução associada ao tipo de redução

Número reduzido de neutrófilos Quimioterapia contra câncer, irradiação Staphy/ococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa
corporal total

Função reduzida de neutrófilos Doença granulomatosa crônica S. aureus


Diabetes S. aureus

Função reduzida do baço Esplenectomia, anemia fa lciforme Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis,
Haemophilus influenzae
CAPÍTULO 8 Defesas do Hospedeiro S7

das por bactérias como S. pneumoniae e S. aureus, assim como infecção subclínica (i.e., uma infecção sem sinais de doença)
casos de infecções do trato urinário causadas por organismos ou por meio de uma vacina. Essa proteção desenvolve-se mais
que incluem a Escherichia coli e Candida albicans, sendo todas lentamente, porém é de maior duração que a imunidade passiva.
essas adquiridas na comunidade. A vulvovaginite por Candida A resposta primária normalmente demanda 7 a 1Odias para que
é também mais comum em diabéticos. Os indivíduos diabé- anticorpos se tornem detectáveis. Uma importante vantagem da
ticos também apresentam muitas infecções nos pés, uma vez imunidade ativa está no fato de ocorrer uma resposta anamnés-
que a aterosclerose compromete a circulação sanguínea, pro- tica (secundária), isto é, há uma rápida resposta (cerca de três
movendo a necrose tecidual. As infecções de pele, como celu- dias) caracterizada por grandes quantidades de anticorpos contra
lites e úlceras, e também as infecções de tecidos moles, como a um antígeno ao qual o sistema imune foi previamente exposto.
fasceíte necrosante, são comuns e podem se estender até o osso A imunidade ativa é mediada tanto por anticorpos (imunoglobu-
que suporta esses tecidos, causando osteomielite. O S. aureus e linas) quanto por células T:
uma mistura de bactérias anaeróbias facultativas são as causas
( 1) Os anticorpos protegem contra os organismos por uma
mais comuns.
variedade de mecanismos - neutralização de toxinas, lise de bac-
térias na presença do complemento, opsonização das bactérias
Febre para facilitar a fagocitose e interferência na adesão de bactérias e
A infecção provoca um aumento na temperatura corporal atri- vírus às superfícies celulares. Se os níveis de IgG caem para quan-
buído ao pirogênio endógeno (IL-1) liberado pelos macrófagos. tidades inferiores a 400 mg/dL (normal = 1.000-1.500 mg/dL), o
A febre pode ser uma resposta protetora, uma vez que uma varie- risco de desenvolvimento de uma doença piogênica causada por
dade de bactérias e vírus cresce mais lentamente em temperatu- bactérias, como os estafilococos, aumenta.
ras elevadas. Uma vez que os anticorpos, especialmente IgG, são detec-
táveis por dias a semanas após a infecção, acredita-se que os
anticorpos não desempenhem um papel principal no comba-
IMUNIDADE ADAPTATIVA te à infecção primária no local inicial da infecção (em geral, a
(ESPECÍFICA) pele ou a membrana mucosa), protegendo, em vez disso, contra
disseminação hematogênica do organismo para locais corporais
A imunidade adaptativa resulta da exposição ao organismo (imu- distantes, e contra uma segunda infecção por aquele organismo
nidade ativa) ou do recebimento de anticorpos pré-formados no futuro.
produzidos em outro hospedeiro (imunidade passiva). (2) As células T medeiam uma variedade de reações, in-
A imunidade passiva adaptativa é uma forma de proteção cluindo a destruição citotóxica de bactérias e células infectadas
temporária contra um determinado organismo, sendo adquirida por vírus, ativação de antígenos e hipersensibilidade tardia.
por meio da inoculação de soro contendo anticorpos pré-for- As células T, especialmente as do tipo Th-1 (ver Capítulo 58) e
mados de outra pessoa ou animal. A imunização passiva ocorre macrófagos, também são a principal defesa do organismo contra
naturalmente na forma de imunoglobulinas transferidas da mãe micobactérias, como Mycobacterium tuberculosis, e fungos que
para a criança por meio da placenta (IgG) ou do leite materno causam doenças sistémicas, como Histoplasma e Coccidioides.
(IgA). Essa proteção é muito importante durante os primeiros As células T também auxiliam as células B na produção de anti-
dias de vida, quando a criança apresenta capacidade reduzida de corpos com vários antígenos, mas não todos.
desenvolver uma resposta ativa. A Tabela 8-3 descreve os principais mecanismos de defesa
A imunidade passiva tem a importante vantagem de suas do hospedeiro contra as bactérias. Esses mecanismos incluem
capacidades protetoras estarem presentes de imediato, ao passo a imunidade humoral contra bactérias piogênicas e exotoxinas,
que a imunidade ativa ocorre dentro de poucos dias a poucas bem como a imunidade celular contra bactérias intracelulares.
semanas, dependendo de tratar-se de uma resposta primária ou
secundária. Contudo, a imunidade passiva apresenta a impor-
tante desvantagem de a concentração de anticorpos sofrer rápida FALHAS NAS DEFESAS DO HOSPEDEIRO
redução à medida que as proteínas são degradadas, de modo que
PREDISPÕEM A INFECÇÕES
a proteção persiste normalmente por apenas um mês ou dois.
A administração de anticorpos pré-formados pode resultar na A frequência ou gravidade das infecções é aumentada diante de
sobrevivência de indivíduos acometidos por determinadas doen- certas condições predisponentes. Essas condições predisponen -
ças, como botulismo e tétano, causadas por exotoxinas potentes. tes classificam-se em duas categorias principais: os pacientes
Globulinas séricas administradas por via endovenosa consistem são imunocomprometidos ou possuem corpos estranhos, como
em uma medida profilática para pacientes com hipogamaglobuli- cateteres de longa duração ou dispositivos prostéticos. Os cor-
nemia ou submetidos a transplante de medula óssea. Além disso, pos estranhos são predisponentes, uma vez que as defesas do
elas podem minimizar os sintomas de certas doenças, como a he- hospedeiro não atuam de maneira eficiente na presença deles.
patite causada pelo vírus da hepatite A, apesar de aparentemente A Tabela 8-4 descreve as condições predisponentes e os organis-
terem pouco efeito no caso de doenças bacterianas cuja patogé- mos mais comuns responsáveis por infecções quando essas con-
nese é de natureza invasiva. dições estão presentes.
A imunidade ativa adaptativa consiste na proteção baseada Certas doenças e anomalias anatômicas também predispõem
na exposição ao organismo na forma de doença sintomática, a infecções. Por exemplo, pacientes com diabetes frequentemente
S8 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 8-3 Mecanismos de defesa essenciais do hospedeiro contra as bactérias

Mecanismo de defesa
essencial do hospedeiro Tipo de bactérias ou toxinas Exemplos importantes

Mediado por anticorpos Bactérias piogênicas capsuladas 5treptococcus pneumoniae, 5treptococcus pyogenes, 5taphy/ococcus aureus,
(imunidade humoral) Neisseria meningitidis, Haemophilus influenzae, Pseudomonas aeruginosa

Mediado por anticorpos Exotoxinas Corynebacterium diphtheriae, C/ostridium tetani, C/ostridium botulinum

Mediado por células Bactérias intracelulares Mycobacterium tubercu/osis, micobactérias atípicas, Legionella pneumophila,
Listeria monocytogenes

apresentam infecções por S. aureus, talvez por duas razões: esses causada por estreptococos do grupo viridans. Os neutrófilos têm
pacientes apresentam expressiva aterosclerose, a qual provoca re- dificuldade em penetrar nas vegetações formadas nas válvulas de
lativa anoxia tecidual, bem como aparentemente exibem defeito endocardite. Pacientes com aneurisma aórtico são propensos às
na função dos neutrófilos. Pacientes com anemia falciforme fre- infecções vasculares causadas por espécies de Salmonella.
quentemente apresentam osteomielite por Salmonella, provavel- Pacientes imunossuprimidos frequentemente apresentam
mente porque as células de morfologia anormal causam a oclu- uma resposta alterada à infecção (p. ex., febre muito baixa ou
são de pequenos capilares ósseis. Isso causa o aprisionamento da ausente e resposta inflamatória branda ou inexistente). Por essa
Salmonella no osso, aumentando o risco de osteomielite. razão, um alto nível de suspeita deve ser considerado ao avaliar
Pacientes com determinados defeitos cardíacos congênitos pacientes imunocomprometidos, especialmente os deliberada-
ou danos valvulares reumáticos são predispostos à endocardite mente imunossuprimidos, como os transplantados.

TABELA 8-4 Condições que predispõem a infecções e os organismos que comumente causam essas infecções

Condição predisponente Organismos comumente causadores de infecção

Estado imunocomprometido
Baixos títulos de anticorpos Bactérias piogênicas (p. ex., 5taphy/ococcus aureus, 5treptococcus pneumoniae)
Pequena quantidade de complemento (C3b) Bactérias piogênicas (p. ex., 5. aureus, 5. pneumoniae)
Pequena quantidade de complemento (C6, 7, 8, 9) Neisseria meningitidis
Pequeno número de neutrófilos Bactérias piogênicas (p. ex., 5. aureus, 5. pneumoniae)
Baixa atividade de neutrófilos, como na DGC 5. aureus e Aspergillus fumigatus
Pequeno número de células CD4, como na Aids Várias bactérias (p. ex., micobactérias), vários vírus (p. ex., CMV) e vários fungos
(p. ex., Candida)

Presença de corpos estranhos


Cateteres urinários Escherichia coli
Cateteres intravenosos 5taphy/ococcus epidermidis, Candida a/bicans
Válvulas cardíacas prostéticas 5. epidermidis, C. a/bicans
Articulações prostéticas 5. epidermidis
Enxertos vasculares 5. epidermidis, 5. aureus, 5almonella enterica

Aids= Síndrome da imunodeficiência adquirida; DGC = doença granulomatosa crônica; CMV = citomegalovírus.

CONCEITOS-CHAVE

• As defesas do hospedeiro contra infecções bacterianas incluem teínas, como o complemento e a lisozima. As defesas adaptati-
defesas inatas e adaptativas. As defesas inatas são inespecíficas, vas são altamente específicas em relação ao organismo e incluem
isto é, são efetivas contra vários organismos diferentes. As defe- anticorpos e células, como linfócitosT auxiliares CD4 e linfócitos
sas inatas incluem barreiras físicas, como a pele e as membranas T citotóxicos CDS.
mucosas intactas; células, como neutrófilos e macrófagos; e pro-
CAPÍTULO 8 Defesas do Hospedeiro S9

Imunidade inata proteínas ICAM no endotélio. A concentração de proteínas ICAM


é aumentada pelas citocinas liberadas por macrófagos ativados,
• A pele e as membranas mucosas intactas constituem uma bar-
resultando na atração de neutrófilos para o local infectado.
reira física contra a infecção. A perda da integridade da pele
(p. ex., em uma queimadura) predispõe à infecção. O baixo pH • Os neutrófilos, então, migram por meio do endotélio (diapede-
da pele, do estômago e da vagina também protege contra a in- se) e ingerem as bactérias. lgG e C3b são opsoninas, as quais
fecção. intensificam a ingestão das bactérias. Existem receptores para a
• O trato respiratório, porta de entrada muito importante para cadeia pesada de lgG e para C3b na superfície dos neutrófilos.
micróbios, é protegido pelo elevador ciliar, por macrófagos • A morte das bactérias no interior do neutrófilo é causada por
alveolares, pela lisozima, por pelos do nariz e pelo reflexo de hipoclorito, peróxido de hidrogênio e superóxidos. Os lisos-
tosse. somos contêm várias enzimas degradativas e fundem-se com o
• A microbiota normal da pele e as membranas ocupam os recep- fagossomo, originando uma fagolisossoma, no interior da qual
tores, reduzindo a possibilidade de adesão dos patógenos, um ocorre a morte bacteriana.
processo denominado resistência à colonização. A supressão • Infecções piogênicas recorrentes e graves ocorrem em indiví-
da microbiota normal por antibióticos predispõe à infecção duos que apresentam neutrófilos inadequados. Por exemplo,
por determinados organismos. Dois importantes exemplos são indivíduos com neutrófilos defectivos, indivíduos exibindo me-
a supressão da microbiota do colo, predispondo à colite pseudo-
nos de 500 neutrófilos/µL, submetidos à esplenectomia ou que
membranosa causada por C/ostridium difficile, e a supressão da
apresentam diabetes melito têm maior risco de infecções pio-
microbiota vaginal, predispondo à vaginite causada por Candida
gênicas.
a/bicans.
• A inflamação (i.e., vermelhidão, edema, calor e dor) correspon- Imunidade adaptativa
de a uma importante defesa do hospedeiro. A vermelhidão, o
• A imunidade passiva refere-se à proteção baseada na transfe-
edema e o calor resultam do aumento do fluxo sanguíneo e
rência de anticorpos pré-formados de um indivíduo (ou animal)
do aumento da permeabilidade vascular, que apresentam o
a outro. A imunidade passiva propicia proteção imediata, mas
efeito de conduzir as células e proteínas das defesas até o local
de curta duração (persistindo por poucos meses). Exemplos de
da infecção. O aumento do fluxo sanguíneo e da permeabilidade
vascular é causado por mediadores, como a histamina, as pros- imunidade passiva incluem a administração de antitoxina, trans-
taglandinas e os leucotrienos. ferência de lgG da mãe para o feto pela placenta e transferência
de lgA da mãe para o recém-nascido pelo aleitamento.
• As células fagocitárias predominantes na inflamação são os neu-
trófilos e macrófagos. Os neutrófilos são observados na respos- • A imunidade ativa refere-se à proteção baseada na formação
ta inflamatória piogênica contra bactérias como Staphy/ococcus de imunidade mediada por anticorpos e por células após a
aureus e Streptococcus pyogenes, ao passo que os macrófagos são exposição ao próprio micróbio (com ou sem o desenvolvimento
observados na resposta inflamatória granulomatosa contra bac- da doença), ou aos antígenos do micróbio em uma vacina. A imu-
térias como Mycobacterium tubercu/osis. nidade ativa confere proteção de longa duração, porém não é
efetiva nos dias subsequentes à exposição ao micróbio. Na res-
• A resposta de fase aguda consiste em proteínas (p. ex., proteína
e-reativa, proteína de ligação à manose e proteína de ligação ao
posta primária, o anticorpo surge em 7 a 1O dias, enquanto na
LPS) que intensificam a resposta do hospedeiro às bactérias. A resposta secundária, o anticorpo surge em aproximadamente
interleucina 6 é o principal indutor dessa resposta. três dias.

• Os neutrófilos e os macrófagos são atraídos para o local da infec- • As principais funções dos anticorpos consistem em neutralizar
ção por quimiocinas, que consistem em pequenos polipeptíde- as toxinas bacterianas e os vírus, opsonizar as bactérias, ati-
os produzidos pelas células no local infectado. A interleucina 8 e var o complemento, formando um complexo que ataca a mem-
o CSa são importantes quimiocinas para neutrófilos. brana, capaz de promover a morte das bactérias e interferir na
adesão às superfícies mucosas. A lgG corresponde ao principal
• Em resposta à maioria das infecções bacterianas, há um aumen-
anticorpo opsonizante, lgG e lgM ativam o complemento, e lgA
to no número de neutrófilos no sangue. Esse aumento é cau-
interfere na adesão à mucosa.
sado pela produção de fatores estimulantes de granulócitos
pelos macrófagos. • As principais funções da imunidade celular consistem na pro-
• Tanto os neutrófilos quanto os macrófagos fagocitam as bac- teção contra bactérias intracelulares e morte de células infec-
térias; contudo, os macrófagos (bem como células similares, tadas por vírus. As células T auxiliares (e macrófagos) protegem
denominadas células dendríticas) também apresentam an- contra bactérias intracelulares, ao passo que as células T citotóxi-
tígenos às células T auxiliares CD4 positivas, ao contrário dos cas matam células infectadas por vírus.
neutrófilos. As células dendríticas provavelmente corres-
pondem às células apresentadoras de antígenos mais im- Defesas reduzidas do hospedeiro
portantes do corpo. • As defesas reduzidas do hospedeiro resultam em aumento
• Após os neutrófilos serem atraídos pelas quimiocinas ao local da frequência e da gravidade das infecções. As principais causas
infectado, eles ligam-se ao endotélio, utilizando inicialmente as incluem várias imunodeficiências genéticas, presença de corpos
selectinas presentes no endotélio e, em seguida, pela interação estranhos e existência de certas doenças crônicas, como diabetes
de integrinas (proteínas LFA) presentes nos neutrófilos com as melito e insuficiência renal.
60 PARTE I Bacteriologia Básica

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 4. Opsonização é o processo pelo qual:


(A) A bactéria é mais facilmente fagocitada.
1. Qual das opções a seguir corresponde à defesa MAIS importante
(B) Quimiocinas atraem macrófagos para o local de infecção.
para prevenir a ação de exotoxinas?
(C) Neutrófilos migram do sangue por meio do endotélio até al-
(A) Ligação de citocinas a receptores específicos para exotoxinas cançar o local de infecção.
inibe a ligação de exotoxinas. (D) A resposta de fase aguda é induzida.
(B) Degradação de exotoxinas pelo complexo de ataque amem- (E) A via alternativa do complemento é ativada.
branas do sistema do complemento.
(C) Lise de exotoxinas por perforinas produzidas por linfócitos T
citotóxicos.
(D) Neutralização de exotoxinas por anticorpos, impedindo sua
RESPOSTAS
ligação ao alvo. 1. (D)
(E) Fagocitose de exotoxinas por neutrófilos e subsequente des- 2. (C)
truição por hipoclorito. 3. (D)
2. A resposta inflamatória na pele é caracterizada pela presença de eri- 4. (A)
tema (vermelhidão). Qual das opções a seguir corresponde à causa
mais importante de eritema?
(A) Componente C3b do complemento. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(B) Interferon gama.
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
(C) Histamina.
(D) Hipoclorito. contradas na seção de Bacteriologia Básica da Parte XIII: Ques-
(E) Superóxido. tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam -
bém a parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
3. Uma criança de um ano de idade apresentando repetidas infecções
foi diagnosticada com doença granulomatosa crônica (DGC). Uma página 731.
deficiência em qual dos fatores a seguir seria a causa de DGC?
(A) Receptor de interferon gama.
(B) Integrinas LFA.
(C) Proteína ligadora de manos e.
(D) NAPDH oxidase.
(E) Óxido nítrico.
CA P Í T U LO

Diagnóstico Laboratorial 9
CONTEODO DO CAPITULO

Abo rdagem d o diag nóst ico labo rato rial Métod os imunológicos
Métod os bacteriológicos Identificação de um o,ganismo po, meio da utilização de
Hemocuttu,as um antissoro conhecido
Culturas de garganta Identificação de anticorpos séticos por meio da utilização
de antigenos conhecidos
Culturasde escarro
Métodos baseados na detecção de ácidos nucleicos
Culturas de líquido cereb<ospinal
Cop,ocultura Conceitos·chave
Apliq ue seu conhecimento
u,ocultu1as
Questões para autoavaliação
Culruras do trato genital
Culturas de feridase abscessos

ABORDAGEM DO D IAGNÓSTICO o crescimento do organismo ein cultura, sua sensibi1idade em


relação a vários aJ\tibióticos é determinada pelos procedi.Juentos
LABORATORIAL
descritos no Capítulo 11.
O diagnôstico )aboratorial de doenças i1úecciosas envolve duas
Um.a abotdagem geral para o diagnóstico de uma infecção
abordagens principais: uma coitsiste na abotdagem bacterloló·
bacteriana é descrita na Tabela 9· 1. Essa abordagem enfatiza a
gk.a, na qua1 o organismo é identificado por meio de técnicas de
importância da rea1ização da colotação de Grame da obtenção
colotação e cultivo, e a outra consiste na abotdagem imunológi·
de uma cultura pura do organismo. Entretanto. algumas vezes o
ca (sorológica), na qual o organismo é identificado pela detecção
organismo não é recupetado em uma cultura. sendo necessário
de aJ\ticorpos contra o organismo no soro do paciente.
o emprego de outras técnicas. A Tabela 9·2 descreve algumas
Na abordagem bacteriológica de diagnóstico de doenças in·
abordagens para a realização do diagnóstico quando as culturas
fecciosas, várias etapas importantes antecedem o trabalho labo·
são negativas. Uma abotdagem comumente utilizada consiste no
ratotial propriamente dito, ou seja, (1) escolha do espécime apro·
teste sorológiro, que determina a presença de anticotpos esped·
priado a ser examinado., o que requer conhecimento a respeito ficos contta o organismo. Na maioria dos casos, um aumento de.
da patogênese da uúecção; (2) coleta do espécime de modo apro-
ptiado, a fim de evitar a contaminação pela microbiota normal; quatro vezes no titulo de anticorpos entre as amostras de soro da
(3) transporte do espé:Cime rapidamente ao laboratório, ou sua fase aguda e da fase de convalescença é considerado significativo.
A obtenção de uma cultura puta envolve o cultivo do orga.
armazenagem correta; e (4) fornecimento de informações essen·
nismo em um ágar bacteriológico. lnicia1mente, o ágar-sa.ngue é
ciais para orientar os profissionais do laboratório. utilizado, pois permite o cultivo de várias bactétias e a observa.
Em geral. o trabaJho desenvolvido no laboratório bacterioló-
ção do tipo de hemólise.
gico adota três abordagens:
O ágar..sangue contém hemácias. mas deve.se observar que
(1) Observaç.ao do organismo ao microscópio após colota· os vírus e as bactérias intracelulares obrigatórios.. como Chlamydffl
ção. e Ricketrsia. não crescem em ágar.sangue. As hemácias não pos-
(2) Obtençclo de uma cultura pura do organismo pela inocu- suem um núcleo funcional e, portanto. são incapazes de sustentar
lação em meio bacteriológico. o crescimento de vlrus ou de bactérias intracelulares obrigatórias.
(3) ldentificaçifo do organismo por intermédio de reações O ágar-sangue contém inibidores de certas bactérias.. como
bioquímicas. crescimento em meios seletivos, sond.as de OKA, membros dos gêneros Neisseria e Haemophilus. sendo necessário
ou reações com anticorpos especlficos. Tanto a escolha das abor· o aquecimento do sangue. a fim de inativar esses inibidores, Des-
dagens a serem utilizadas quanto a sequência em que serão em• se modo. essas bactérias são cultivadas em ágar-sangue coz.ido
pregadas dependem do tipo do espécime e do organismo. Apôs ou ágar.chocolate (assim denominado porque o sangue aquecido
62 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 9-1 Abordagem geral para o diagnóstico de uma infecção bacteriana

1. Obtenção de um espécime a partir do local infectado.

2. Coloração do espécime, empregando o procedimento apropriado (p. ex., coloração de Gram ou coloração acidorresistente). Quando são
verificadas bactérias na amostra submetida à coloração de Gram, devem ser observadas sua forma (p. ex., cocos ou bacilos), seu tama-
nho, sua organização (p. ex., cadeias ou agrupamentos) e se correspondem a organismos gram-positivos ou gram-negativos. Também é
importante determinar se um ou mais tipos de bactérias encontram-se presentes. O aspecto microscópico não é suficiente para deter-
minar a espécie de um organismo, mas frequentemente permite uma suposição confiável quanto ao gênero do organismo e, portanto,
orienta a terapia empírica.

3. Cultura do espécime em meios apropriados (p. ex., placas de ágar-sangue). Na maioria dos casos, as placas devem ser semeadas de
modo que permitam a obtenção de colônias isoladas (i.e., uma "cultura pura"). As placas devem ser incubadas na presença ou na ausên-
cia de oxigênio, de acordo com o caso.

4. Identificação do microrganismo por meio de testes apropriados (p. ex., fermentação de açúcares, sondas de DNA, testes baseados em
anticorpos - como aglutinação ou imunofluorescência). Observar características especiais, como hemólise e produção de pigmentos.

5. Realização de teste de suscetibilidade a antibióticos.

assume a coloração de chocolate). Outros meios contêm fatores É importante obter pelo menos três amostras de 10 mL de
de crescimento específicos necessários ao crescimento das bac- sangue durante um período de 24 horas, uma vez que o número
térias, ou contêm antibióticos que inibem a microbiota normal, de organismos pode ser pequeno, e sua presença, intermitente.
permitindo que as bactérias patogênicas obtenham nutrientes O local da punção venosa deve ser limpo com iodo 2% para im-
para o crescimento. pedir a contaminação por membros da microbiota da pele, geral-
Determinados meios, chamados de meios seletivos diferen- mente Staphylococcus epidermidis. O sangue obtido é adicionado
ciais, são frequentemente utilizados. Esses meios são seletivos a 100 mL de um meio de cultura rico, como infusão de encéfalo-
porque contêm compostos que permitem o cultivo seletivo de cer- -coração. A opção de inocular um ou dois frascos varia entre
tas bactérias, e são diferenciais porque contêm outros compostos hospitais. Quando dois frascos são utilizados, um é mantido em
que permitem a diferenciação entre um tipo de bactéria e outro, condições anaeróbias e outro não. Quando apenas um frasco é
com base em alguma reação bioquímica. A Tabela 9-3 apresenta utilizado, a baixa tensão de oxigênio no fundo do frasco permite
uma relação de vários meios sólidos bacteriológicos comumente o crescimento de anaeróbios.
utilizados no diagnóstico laboratorial, bem como sua função. As hemoculturas são verificadas diariamente quanto à tur-
bidez ou produção de CO2 durante sete dias ou mais. Se houver
crescimento, são realizados a coloração de Gram, o subcultivo e
MÉTODOS BACTERIOLÓGICOS testes de sensibilidade a antibióticos. Se não houver crescimento
após um ou dois dias, o subcultivo cego em outros meios pode re-
Hemoculturas velar os organismos. As culturas devem ser mantidas por 14 dias
As hemoculturas são realizadas com maior frequência diante da quando houver suspeita de endocardite infecciosa, fungemia ou
suspeita de sepse, endocardite, osteomielite, meningite ou pneu- infecção por bactérias de crescimento lento, como Brucella.
monia. Os organismos mais frequentemente isolados a partir
de hemoculturas são dois cocos gram-positivos, Staphylococcus Culturas de garganta
aureus e Streptococcus pneumoniae, e três bacilos gram-negativos, As culturas de garganta são utilizadas principalmente para de-
Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa. tectar a presença de estreptococos ~-hemolíticos do grupo A

TABELA 9-2 Como diagnosticar uma infecção bacteriana quando a cultura for negativa

1. Detectar anticorpos no soro do paciente. A detecção de anticorpos do tipo lgM indica uma infecção em curso. Um aumento de quatro
vezes ou mais no título de anticorpos entre a amostra de soro da fase aguda e a amostra de soro da fase de convalescença também indi-
ca uma infecção em curso. (Uma importante desvantagem do uso de amostras de soro da fase aguda e de convalescença está no fato de
a amostra da fase convalescente ser geralmente coletada 1Oa 14 dias após a amostra de soro da fase aguda. Nesse momento, o paciente
frequentemente encontra-se recuperado e o diagnóstico assume caráter retrospectivo.) Um único título de anticorpos lgG é de difícil
interpretação, uma vez que não esclarece se representa uma infecção corrente ou prévia. Em certas doenças, um único título de magni-
tude suficiente pode ser utilizado como evidência presuntiva de uma infecção corrente.

2. Detectar antígenos no espécime do paciente. Utilizar anticorpos conhecidos para detectar a presença de antígenos dos organismos
(p. ex., anticorpo fluorescente para detectar antígenos no tecido, aglutinação de látex para detectar antígenos dos polissacarídeos cap-
sulares no líquido cerebrospinal).

3. Detectar ácidos nucleicos no espécime do paciente. Utilizar a reação em cadeia da polimerase (PCR) e sondas de DNA para detectar o
DNA ou RNA do organismo.
CAPÍTULO 9 Diagnóstico Laboratorial 63

TABELA 9-3 Meios sólidos bacteriológicos comumente utilizados e suas funções

Denominação do ágar1 Bactérias isoladas no ágar Função ou propriedade do ágar

Sangue Várias bactérias Detecção de hemólise

Bordet-Gengou Bordetel/a pertussis O crescimento é permitido por uma maior concentra-


ção de sangue

Extrato de carvão e levedura Legionella pneumophila O crescimento é permitido por uma concentração
aumentada de ferro e cisteína

Chocolate Neisseria meningitidis e Neisseria O aquecimento do sangue inativa os inibidores de


gonorrhoeae a partir de locais crescimento
estéreis

Agar-chocolate adicionado dos fatores X e V Haemophilus influenzae Os fatores X e V são requeridos para o crescimento

Gema de ovo C/ostridium perfringens A lecitinase, se produzida pelo organismo, degrada a


gema de ovo, originando um precipitado insolúvel

Eosina azul de metileno Vários bacilos entéricos gram- Seletivo contra bactérias gram-positivas e diferencia
-negativos fermentadores e não fermentadores da lactose

Lõwenstein-Jensen Mycobacterium tubercu/osis Seletivo contra bactérias gram-positivas da microbio-


ta do trato respiratório e contém lipídeos necessá-
rios para o crescimento

MacConkey Vários bacilos entéricos gram- Seletivo contra bactérias gram-positivas e diferencia
-negativos fermentadores e não fermentadores da lactose

Telurito Corynebacterium diphtheriae O telurito é metabolizado a telúrio, que exibe uma


coloração negra

Thayer-Martin N. gonorrhoeae, a partir de locais não Agar-chocolate contendo antibióticos para inibir o
estéreis crescimento da microbiota normal

Tríplice açúcar ferro (TSI) Vários bacilos entéricos gram- Diferencia os fermentadores dos não fermentadores de
-negativos lactose e os produtores dos não produtores de H2S
1
Os nomes estão listados em ordem alfabética.

(Streptococcus pyogenes), uma causa importante e tratável de tivos, como K. pneumoniae e P. aeruginosa, são causas comuns de
faringite. Também são utilizadas diante da suspeita de difteria, pneumonias adquiridas em ambientes hospitalares.
faringite gonocócica ou monilíase ( Candida). É importante que o espécime a ser cultivado seja de fato
Durante a coleta do espécime, o swab deve tocar a região escarro, e não saliva. O exame de um esfregaço do espécime,
posterior da faringe, bem como as tonsilas ou fossas tonsilares. submetido à coloração de Gram, frequentemente revela se o
O material do swab é inoculado em uma placa de ágar-sangue espécime é satisfatório. Um espécime confiável apresenta mais
e semeado de modo a permitir a obtenção de colônias isoladas. de 25 leucócitos e menos de 1O células epiteliais por campo, em
Se colônias de estreptococos í3-hemolíticos são encontradas após um aumento de lOOx. Uma amostra não confiável pode levar a
24 horas de incubação a 35ºC, um disco de bacitracina é utilizado equívocos, devendo ser rejeitada pelo laboratório. Se o pacien-
para se determinar se o organismo é um estreptococo do gru- te não for capaz de tossir e se a necessidade de um diagnóstico
po A. Se o crescimento for inibido ao redor do disco, trata-se de
microbiológico for premente, a indução do escarro, a aspiração
um estreptococo do grupo A, caso contrário, não se trata de um
transtraqueal, a lavagem brônquica ou a biópsia pulmonar po-
estreptococo í3-hemolítico do grupo A.
dem ser necessárias. Uma vez que esses procedimentos evitam
Observa-se que a coloração de Gram geralmente não é reali-
a microbiota normal das vias superiores, apresentam maior pro-
zada em um swab de garganta, uma vez que é impossível diferen-
babilidade de apresentar um diagnóstico microbiológico preci-
ciar, com base no aspecto, os estreptococos da microbiota normal
so. Uma avaliação preliminar da causa da pneumonia pode ser
de S. pyogenes.
realizada por meio da coloração de Gram se um grande número
dos organismos característicos for observado.
Culturas de escarro A cultura do escarro em ágar-sangue frequentemente revela
As culturas de escarro são realizadas principalmente quando colônias características, sendo a identificação realizada por vá-
há suspeita de pneumonia ou tuberculose. O agente etiológico rios testes sorológicos ou bioquímicos. Culturas de Mycoplasma
mais frequente de pneumonias adquiridas em comunidade é o são realizadas com pouca frequência; o diagnóstico geralmente
S. pneumoniae, ao passo que o S. aureus e bastonetes gram -nega- é confirmado por um aumento no título de anticorpos. Quando
64 PARTE I Bacteriologia Básica

existe suspeita de pneumonia por legionella. o organismo pode ração de Gram das fezes não é rea1iuda. uma vez que o grande
ser cultivado em ágar carvão-Jevedura, o qual contêm elevada número de bactérias da microbiota normaJ do colo pode dificul·
concentração de ferro e enxofre necessária ao crescimento. tara interpretação.
Diante da suspeita de tuberculose. deve-se realizar de ime- Para o cultivo de Salmonella e Shigella. meios se)etivos e dife.
diato uma coloração acidorresistente, assim como a cu1tura do renciais. como os ágares MacConkey ou eosina azul de meti1eno
escarro em meios especiais. que são incubados por pelo menos (EMB), são utilizados. Esses meios são seletivos porque permitem
seis semanas. Para o diagnóstico de pneumonia por aspiração e o crescimento de bacilos gram•negativos, porém inibem vários
de abscessos puhnonares.. as cu)turas anaeróbias são importantes. gram-positivos. Suas propriedades diferenciais são baseadas no
fato de que Salmonella e Shige.lla não fermentam a Jactose, ao passo
Culturas de líquido cerebrosplnal que muitos outros bastonete.s gram-negativos entéric.os o fazem.
No ágar EMB. as co)ônias de E. coli, uma bactéria fermentadora
Culturas de líquido cerebrospinal são rea1izadas principalmente
de lactose. têm co)oração púrpura e apresentam um brilho esver•
quando existe suspeita de meningite. Espécimes de líquido ce-
rebrospina) obtidos de casos de encefalite, abscesso enc.efálico de.ado. Por outro lado. as colónias de bactérias não fermentadoras
de lactose. como Salmonella e Shigella, se apresentam incolores.
e empiema subduraJ geralmente revelam culturas negativas. As
Se co)ônias não fetmentadoras de lactose são encontradas.,
causas mais importantes de meningite bacteriana aguda são três
um tubo de ágar em co)una inclinada de trip)o açúcar e ferro
organismos encapsulados: Neisseria meningitidis, S. pneumoniae
e Haemophilus 1'nfluenzae.
(TSI) é usado para se distinguir Sa/monella de Shigella. Algumas
Uma vez que a meningite aguda corresponda a uma emer. espécies de Proteus assemelham-se à ~lmonella em ágar TSI;
contudo, podem ser diferendadas pe)o fato de produzirem a
gência mé.dic.a. o espécime deverá ser transportado imediata.
mente ao Jaboratório. O esfregaço do sedimento da amostra cen• e112ima urease. ao contrário da Salmonella. O organismo é adi-
trifugada submetido à coloração de Gram orienta o tratamento cionalmente identific.ado como uma espécie de Salmonella ou
empírico imediato. Se forem observados organismos simi)ares Shigella com o uso de antissoros específicos para o antígeno O
da parede ce)ular do organismo em um teste de aglut.inação. Esse
a N. meningitidi's, H. influenzae ou S. pneumoniae, o teste de
QueUung ou de imunofluorescência com antissoros específicos procedimento é geraJmente realizado em laboratórios hospitala-
podem identificar rapidamente o organismo. As culturas são rea. res; no entanto. a identific.ação precisa das espécies é realizada em
lizadas em ágar.sangue e ágar.chocolate, sendo incubadas a 35ºC laboratórios da rede pllblica de saúde.
em atmosfera contendo 5% de CO~ A hemat.ina e a nicotinamida CampyloMcter jejuni é. cultivado em meios contendo an-
adenina dinucleotideo (NAD) (fatores X e V, respectivamente) tibióticos (p. ex., ágar de Skirrow) a 42ºC em uma atmosfera
são adicionadas pata intensific.ar o crescimento de H. 1'nfluenzae. contendo 5% de 0 1 e 10% de 001• O organismo exibe bom cres-
Nos casos de meningite subaguda. Mycobactetium cimento nessas condições, diferentemente de vários outros pató·
tubetculosis e o fungo Ctyptococcus neoformans são os orga• genos intestinais, Embora existam técnicas disponíveis. as cultu·
nismos mais comumente isolados. Co)orações acidorresis· ras de fezes não são realiz.adas com frequência para organismos
tentes do líquido cerebrospinal devem ser rea)izadas. embora como Yersinia enterocolitica. Vibrio ~ rahaemolyticus e E. coli en-
M. tuberculosis possa não ser observada. uma vez que pode estar teropatogênica ou toxigênica. Apesar de sua presença em graJtde
presente. em pequenos números. O líquido deve ser cuh ivado. número nas fezes, anaeróbios raramente são patógenos no trato
sendo as culturas mantidas por um periodo mínimo de seis se• intestina) e. portanto. culturas anaeróbias de amostras de fezes
manas. C. ne.ofotmans. uma levedura com brotamento que.possui são desnecessárias.
cápsula proeminente. pode ser observada no líquido cerebrospi· Espécimes de fezes de aparência sanguinolenta e bri1han•
naJ quando corado c.om tinta nanquim. te são normalmente cultivadas em meio MacConkey.sorbitol
Testes imuno)ógicos para detectar a presença de antigenos Cepas de E.coU 0157 não fermentam o sorbitol e apresentam CO·
capsulares no Uquido cetebrospinal podem ser usados para iden. lôitia incolores, ao passo que amostras comuns de E. coli fermen-
tificar N. meningitidis. S. pneumoniae. H. injluenzae, estreptO· tam o sorbitol e se apresentam vermelhas.
cocos do grupo B, E. coli e C. ne.oform<ms. Os dois testes mais
utilizados são a aglutinação de partkulas de látex e a contraimu. Uroculturas
noe1etroforese.
As uroculturas (culturas de urina) são rea1.izadas principa1men-
te diante da suspeita de pielonefrite ou cistite. A causa mais fre.
Coprocultura quente de i1úecções do trato urinário corresponde a E. coli. Outros
As cu1turas de fezes são rea1izadas principalmente em casos de agentes comuns são Entetobacter. Ptoteus e Entetoc«cus faecah's.
enterocoHte. Os patógenos bacterianos causadores de diarreia Em um indivíduo sadio., a urina presente na bexiga é esté·
mais comuns nos Estados Unidos são Shigella, Salmonella e ril. porém adquire organismos da microbiota nonnaJ à medida
Campyltibacter. Cepas de E. coli O157 também são importantes que cruza a porção dista1 da uretra. Para evitar esses organismos..
e.a.usas de diarreia. um espécime do jato intennediário. eliminado após a higiene do
Um exame microscópico direto das fezes pode ser informa. oriflcio externo. é utiliz.ado em cu1turas de urina. Em situações
tivo sob dois aspectos: ( l) co)oração com az.ul de metileno. que especiais. a aspiração suprapúbica, ou a cateteriução, pode ser
revela muitos leucócitos. indica o envolvimento de algum orga• requerida para a obtenção de um espécime. Pelo fato de a urina
nismo invasiv~ em vez de toxigênico; e (2) a coloração de Gram corresponder a um bom meio de cultura. é essencial que as cultu·
pode revelar grandes números de certos organismos. como esta• ras sejam realiz.adas até uma hora após a coleta ou armazenadas
fiJococos, clostrfdeos ou campilobactérias, Muitas vezes. a co)o. em um refrigeradora4ºC por. no máximo, 18 horas.
CAPÍTULO 9 Diagnóstico Laboratorial 6S

É geralmente aceito que uma contagem de pelo menos morfológicas típicas, observados por microscopia de campo escu-
100.000/ mL deve ser encontrada, a fim de concluir que uma ro em líquido oriundo de lesão genital indolor, é suficiente para o
bacteriúria significativa encontra-se presente (em indivíduos diagnóstico. Os testes sorológicos enquadram -se em dois grupos:
assintomáticos). Há evidências de que uma contagem de somen- ( 1) os testes com anticorpos não treponêmicos, como o teste do
te 100/mL seja significativa no caso de pacientes sintomáticos. Laboratório de Pesquisa em Doenças Venéreas (VDLR, Venereal
Essa determinação é realizada por meio de culturas quantitativas Disease Research Laboratory) ou o teste de reagina plasmática rá-
ou semiquantitativas. Existem várias técnicas: ( 1) uma alça cali- pida (RPR), e (2) os testes com anticorpos treponêmicos, como o
brada, que comporta 0,001 mL de urina, pode ser utilizada para teste de absorção de anticorpos treponêmicos fluorescentes (FTA-
semear a cultura; (2) diluições decimais seriadas podem ser pre- -ABS). Esses testes são descritos nas páginas 66 e 198.
paradas, realizando-se a semeadura das amostras das diluições;
(3) um procedimento de varredura adequado ao uso no consul- Culturas de feridas e abscessos
tório médico envolve uma espátula recoberta por ágar, a qual é Uma grande variedade de organismos está envolvida em infec-
mergulhada na urina. Após a incubação da espátula, a densidade ções de feridas e abscessos. As bactérias mais frequentemente
das colônias é comparada a gráficos-padrão, a fim de obter uma isoladas diferem de acordo com o local anatômico e os fatores
estimativa da concentração de bactérias. predisponentes. Abcessos encefálico, pulmonares ou abdominais
são frequentemente causados por organismos anaeróbios que
Culturas do trato genital incluem Bacteroides fragilis e cocos gram-positivos, como S. au-
As culturas do trato genital são realizadas principalmente com reus e S. pyogenes. Infecções de feridas traumáticas abertas são
espécimes coletados de indivíduos que apresentam secreções causadas principalmente por membros da microbiota de solos,
anormais, ou em espécimes dos contatos assintomáticos de um como Clostridium perfringens; infecções de feridas cirúrgicas são
indivíduo portando uma doença sexualmente transmissível. Um normalmente causadas pelo S. aureus. As infecções no local de
dos patógenos mais importantes do trato genital é a Neisseria mordedura de cães ou gatos são comumente decorrentes de Pas-
gonorrhoeae. O diagnóstico laboratorial de gonorreia é realizado teurella multocida, ao passo que as mordeduras humanas envol-
vem principalmente os organismos anaeróbios da cavidade oral.
pelo exame microscópico de um esfregaço submetido à coloração
Uma vez que os anaeróbios estão frequentemente envolvidos
de Gram e pela cultura do organismo.
nesses tipos de infecções, é importante acondicionar o espécime
Os espécimes são obtidos por meio de um swab do canal
em tubos de coleta anaeróbios e realizar rapidamente seu trans-
uretral (para homens), do colo do útero (para mulheres) ou do
porte para o laboratório. Pelo fato de muitas dessas infecções se-
canal anal (para homens e mulheres). A secreção uretral peniana
rem decorrentes de múltiplos organismos, incluindo misturas de
é frequentemente utilizada. Pelo fato de N. gonorrhoeae ser um
anaeróbios e não anaeróbios, é importante cultivar o espécime
organismo muito delicado, o espécime deve ser inoculado direta-
em diferentes condições atmosféricas. A coloração de Gram pode
mente em placa de ágar Thayer-Martin chocolate ou em meio de
fornecer informações valiosas quanto à gama de organismos em
transporte especial (p. ex., meio Trans-grow).
consideração.
Diplococos gram-negativos encontrados intracelularmente
em neutrófilos em um esfregaço de uma secreção uretral mascu-
lina apresentam uma probabilidade superior a 90% de correspon- MÉTODOS IMUNOLÓGICOS
derem a N. gonorrhoeae. Uma vez que os esfregaços realizados
a partir de swabs do colo do útero e do canal anal são menos Os métodos imunológicos são descritos em mais detalhes no
confiáveis, as culturas são necessárias. A observação de apenas Capítulo 64. Contudo, é de interesse neste momento a apresen-
diplococos extracelulares sugere que essas neissérias podem ser tação de informações sobre como as reações sorológicas auxiliam
membros da microbiota normal, e que o paciente pode estar aco- no diagnóstico microbiológico. Existem essencialmente duas
metido por uretrite não gonocócica. abordagens básicas: (1) utilização de anticorpos conhecidos para
A uretrite não gonocócica e a cervicite são também infec- identificar o microrganismo, e (2) utilização de antígenos conhe-
ções extremamente comuns. A causa mais frequente corresponde cidos para detectar a presença de anticorpos no soro do paciente.
à Chlamydia trachomatis, incapaz de crescer em meios artificiais,
devendo ser cultivada em células vivas. Com esse objetivo, são Identificação de um organismo por meio da
utilizadas culturas de células humanas ou gemas de ovos embrio- utilização de um antissoro conhecido
nados. A descoberta de inclusões intracitoplasmáticas típicas
Reação de intumescimento capsular (Quellung)
ao utilizar-se a coloração de Giemsa ou anticorpos fluorescen-
tes permite o diagnóstico. Devido à dificuldade no cultivo de Várias bactérias podem ser identificadas diretamente em espécimes
C. trachomatis, atualmente métodos não bacteriológicos, como clínicos por essa reação, que se baseia na observação microscópica
ensaio imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA) para detectar do intumescimento da cápsula, quando na presença de antissoro
antígenos clamidiais em exsudatos ou urina, ou ensaios com son- homólogo. Antissoros contra os seguintes organismos encontram -
das de DNA para ácidos nucleicos clamidiais, são utilizados com -se disponíveis: todos os sorotipos de S. pneumoniae (Omniserum),
frequência para o diagnóstico de doenças sexualmente transmis- H. influenzae do tipo b e N. meningitidis dos grupos A e C.
síveis causadas por esse organismo.
Uma vez que Treponema pallidum, o agente da sífilis, não Teste de aglutinação em lâmina
pode ser cultivado, o diagnóstico é realizado por microscopia e Antissoros podem ser utilizados para identificar Salmonella
sorologia. A presença de espiroquetas móveis, com características e Shigella por meio da aglutinação (agregação) do organismo
66 PARTE I Bacteriologia Básica

desconhecido. Os antissoros dirigidos contra antígenos O da Testes sorológicos para sífilis


parede celular de Salmonella e Shigella são comumente utili- A detecção de anticorpos no soro do paciente é frequentemente
zados em laboratórios hospitalares. Antissoros contra antíge- utilizada no diagnóstico de sífilis, uma vez que T. pallidum não
nos H flagelares e antígeno Vi capsular de Salmonella são uti- cresce em meios laboratoriais. Existem dois tipos de testes:
lizados em laboratórios da rede de saúde pública com objetivos
epidemiológicos. (1) Os testes não treponêmicos utilizam uma mistura de
cardiolipina-lecitina-colesterol como antígeno e não um antíge-
no do organismo. A cardiolipina (difosfato-glicerol) é um lipídeo
Teste de aglutinação do látex
extraído do coração bovino normal. A floculação (agregação) da
Esferas de látex revestidas com anticorpos específicos sofrem cardiolipina ocorre na presença de anticorpos contra T. pallidum.
aglutinação na presença de bactérias ou antígenos homólogos. Os testes VDRL e RPR são não treponêmicos, comumente uti-
Esse teste é utilizado para determinar a presença do antígeno lizados como procedimentos de varredura. Não são específicos
capsular de H. influenzae, N. meningitidis, várias espécies de es- para a sífilis, contudo, são de baixo custo e de fácil realização.
treptococos e da levedura C. neoformans. (2) Os testes treponêmicos utilizam T. pallidum como an-
tígeno. Os dois testes treponêmicos mais importantes são o
Teste da contraimunoeletroforese FTA-ABS e o MHA-TP (micro-hemaglutinação-Treponema
Nesse teste, o antígeno bacteriano desconhecido e um anticor- pallidum). No teste FTA-ABS, a amostra do soro do paciente,
po específico conhecido deslocam-se um em direção ao outro previamente absorvida com treponemas diferentes de T. pallidum
em um campo elétrico. Se os dois forem homólogos, forma-se para remover anticorpos inespecíficos, é submetida a uma reação
um precipitado no interior da matriz de ágar. Uma vez que os com T. pallidum não viáveis em uma lâmina. Anticorpos contra
anticorpos são carregados positivamente no pH empregado no imunoglobulinas G (IgG) humanas marcados com fluoresceínas
teste, apenas antígenos carregados negativamente, geralmente são, então, utilizados para determinar se anticorpos IgG contra
polissacarídeos capsulares, podem ser avaliados. O teste pode T. pallidum se ligaram ao microrganismo. No teste MHA-TP,
ser utilizado para detectar a presença de antígenos capsulares de a amostra de soro do paciente é submetida a uma reação com
H. influenzae, N. meningitidis, S. pneumoniae e estreptococos do hemácias de carneiro revestidas com antígenos de T. pallidum.
grupo B no líquido cerebrospinal. A hemaglutinação ocorre quando há a presença de anticorpos.

Ensaio imunoadsorvente ligado à enzima Teste da crioaglutinina


Nesse teste, uma enzima de fácil detecção é ligada a um anticorpo Pacientes com infecções por Mycoplasma pneumoniae desenvol-
específico, o qual é utilizado para detectar a presença do antígeno vem anticorpos autoimunes que aglutinam hemácias na tempera-
homólogo. Uma vez que várias técnicas foram desenvolvidas na tura de 4ºC, mas não a 37ºC. Esses anticorpos ocorrem em certas
aplicação desse princípio, as etapas específicas utilizadas não po- doenças, causadas por outros agentes, o que pode causar resulta-
dem ser aqui detalhadas (ver Capítulo 64). Esse teste é útil para a dos falso -positivos.
detecção de uma ampla variedade de infecções bacterianas, virais
e fúngicas.
MÉTODOS BASEADOS NA DETECÇÃO DE
Testes com anticorpos fluorescentes ÁCIDOS NUCLEICOS
Uma variedade de bactérias pode ser identificada pela exposição Existem três tipos de testes baseados em ácidos nucleicos utiliza-
a um anticorpo conhecido marcado com um corante fluorescen- dos no diagnóstico de doenças bacterianas: teste de amplificação
te, o qual é detectado visualmente ao microscópio de luz ultra- do ácido nucleico, sondas de ácido nucleico e análise da sequên-
violeta. Vários métodos podem ser utilizados, como as técnicas cia do ácido nucleico. Os testes baseados em ácidos nucleicos são
diretas e indiretas (ver Capítulo 64). altamente específicos, bastantes sensíveis (especialmente os testes
de amplificação) e mais rápidos que o cultivo do organismo. Es-
Identificação de anticorpos séricos por meio da ses testes são especialmente úteis para bactérias de difícil cultivo,
utilização de antígenos conhecidos como espécies de Chlamydia e Mycobacterium.
Os testes de amplificação de ácido nucleico utilizam a reação
Teste da aglutinação em lâmina ou tubo em cadeia da polimerase (PCR), ou outro processo de amplifi-
Nesse teste, diluições seriadas na base dois de uma amostra do cação, para aumentar o número de moléculas de DNA ou RNA
soro do paciente são misturadas a suspensões bacterianas pa- específicos da bactéria, de modo que a sensibilidade do teste é
drão. A maior diluição do soro capaz de promover a aglutinação significativamente mais alta que a dos testes que não envolvem
das bactérias corresponde ao título do anticorpo. Como ocorre amplificação. Muitas bactérias podem ser identificadas por meio
na maioria dos testes que envolvem anticorpos do paciente, uma da utilização desses testes, mas eles são especialmente úteis na
elevação de pelo menos quatro vezes no título entre as amostras detecção de Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae em
precoce e tardia deve ser demonstrada para que se faça o diag- amostras de urina, em casos clínicos de doenças sexualmente
nóstico. Esse teste é utilizado principalmente para auxiliar no transmissíveis (DSTs).
diagnóstico de febre tifoide, brucelose, tularemia, peste, leptospi- Os testes que utilizam sondas de ácido nucleico têm como fi-
rose e doenças por riquétsias. nalidade detectar o DNA ou RNA bacterianos diretamente (sem
CAPÍTULO 9 Diagnóstico Laboratorial 67

amplificação), empregando uma sonda de DNA ou RNA marca- A análise da sequência do ácido nucleico é utilizada para
da que se hibridiza especificamente com o ácido nucleico bacte- identificar as bactérias com base na sequência do RNA ribossomal
riano. Esses testes são de realização mais simples que os testes de do organismo. Um organismo nunca antes cultivado, Tropheryma
amplificação, porém, menos sensíveis. whipplei, foi identificado com o uso dessa abordagem.

CONCEITOS-CHAVE

• O diagnóstico laboratorial de doenças infecciosas inclui testes • Feridas e abscessos podem ser causados por uma grande varie-
bacteriológicos, imunológicos (sorológicos) e moleculares dade de organismos. As culturas devem ser incubadas tanto na
(baseados em ácidos nucleicos). presença quanto na ausência de oxigênio, uma vez que anaeró-
bios frequentemente estão envolvidos.
Testes bacteriológicos
• Os testes bacteriológicos são geralmente iniciados pela colora- Testes imunológicos (sorológicos)
ção do espécime do paciente e pela observação do organismo • Os testes imunológicos (sorológicos) podem determinar se an-
ao microscópio. Em seguida, realiza-se a cultura do organismo, ticorpos estão presentes no soro do paciente, assim como
geralmente em ágar-sangue, e, então, são realizados vários tes- detectar os antígenos do organismo em tecidos ou líquidos
tes para identificar o organismo causal. A obtenção de uma cul- corporais.
tura pura das bactérias é essencial para um diagnóstico preciso.
• Nesses testes, os antígenos do organismo causal podem ser de-
• As hemoculturas são úteis nos casos de sepse e outras doenças tectados pelo uso de anticorpos específicos, frequentemente mar-
nas quais o organismo é frequentemente encontrado na corren- cados com um corante, como fluoresceína (testes com anticorpos
te sanguínea, como endocardite, meningite, pneumonia e oste- fluorescentes). A presença do anticorpo no soro do paciente pode
omielite. ser detectada utilizando-se antígenos derivados do organismo.
• As culturas de garganta são bastante úteis no diagnóstico de Em alguns testes, o soro do paciente contém anticorpos que rea-
faringite causada por Streptococcus pyogenes (faringite estrep- gem com um antígeno não derivado do organismo causal, como
tocócica), entretanto, são também utilizadas no diagnóstico de o teste VDRL, no qual a cardiolipina de coração bovino reage com
difteria, faringite gonocócica e infecção de garganta causada por anticorpos presentes no soro de pacientes que apresentam sífilis.
Candida a/bicans. • Em muitos testes nos quais são detectados anticorpos do pa-
• As culturas de escarro são utilizadas principalmente para diag- ciente, coleta-se uma amostra do soro na fase aguda e na fase
nosticar a causa de pneumonias, mas também são utilizadas em de convalescença, e um aumento de pelo menos quatro vezes
casos de suspeita de tuberculose. no título entre as amostras deve ser observado para realização
• As culturas de líquido cerebrospinal são bastante úteis nos ca- do diagnóstico. A razão de esses critérios serem utilizados é que
a presença de anticorpos em uma única amostra poderia ser de-
sos suspeitos de meningite. Essas culturas geralmente são ne-
gativas nos casos de encefalite, abscesso encefálico e empiema corrente de uma infecção anterior; portanto, um aumento signi-
ficativo (quatro vezes ou mais) no título é utilizado para indicar a
subdural.
existência de uma infecção em curso. O anticorpo lgM também
• As coproculturas são úteis principalmente diante da queixa de pode ser utilizado como indicador de infecções em curso.
diarreia sanguinolenta (disenteria, enterocolite), em vez de
diarreia aquosa, frequentemente causada por enterotoxinas ou
vírus. Testes moleculares (baseados na detecção de
• As uroculturas são utilizadas para determinar a causa de pielo-
ácidos nucleicos)
nefrite ou cistite. • Testes moleculares podem detectar a presença de DNA ou RNA
bacteriano nos espécimes do paciente. Esses testes são sensíveis
• As culturas de trato genital são utilizadas mais frequentemente
e específicos, e os resultados podem ser obtidos de forma rápi-
para o diagnóstico de gonorreia e cancroide. O cultivo de Ch/a-
da. Eles têm se tornado o padrão-ouro para algumas doenças
mydia trachomatis é difícil, de modo que métodos não bacterio-
lógicos, como ELISA e sondas de DNA, são atualmente utilizados infecciosas.
com maior frequência que as culturas. O agente da sífilis ainda • A especificidade desses testes reside na habilidade de uma sonda
não foi cultivado, portanto, o diagnóstico é realizado sorologica- de DNA ou RNA se ligar de forma específica em uma sequência
mente. de DNA ou RNA da bactéria a ser identificada.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 2. O principal objetivo ao se realizar uma cultura de garganta é a de-
tecção da presença de qual entre as seguintes bactérias?
1. Se o procedimento de assepsia for malfeito durante uma coleta de (A) Neisseria meningitidis.
sangue, as hemoculturas podem apresentar contaminação com qual
(B) Staphylococcus aureus.
das bactérias a seguir? ( C) Staphylococcus epidermidis.
(A) Escherichia coli. (D) Streptococcus pneumoniae.
(B) Haemophilus influenzae. (E) Streptococcus pyogenes.
(C) Pseudomonas aeruginosa.
(D) Staphylococcus epidermidis.
(E) Streptococcus pneumoniae.
68 PARTE I Bacteriologia Básica

3. A cultura de escarro será rejeitada (i.e., não será corada ou cultiva- RESPOSTAS
da) pelo laboratório clínico se:
1. (D)
(A) Apresentar estrias de sangue.
2. (E)
(B) Apresentar anticorpos do tipo IgA.
3. (C)
(C) Apresentar mais células epiteliais do que neutrófilos.
4. (B)
(D) Apresentar pus.
(E) Apresentar grânulos de enxofre.
4. A identificação de Salmonella e Shigella em coproculturas utilizando
o meio eosina azul de metileno (EAM) é dependente de qual das QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
propriedades a seguir? Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
(A) Salmonella e Shigella produzem colônias azuis na presença do contradas na seção de Bacteriologia Básica da Parte XIII: Ques-
azul de metileno. tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam -
(B) Salmonella e Shigella produzem colônias incolores porque não bém a parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
são capazes de fermentar lactose.
página 731.
(C) Salmonella e Shigella produzem colônias verdes porque utili-
zam a bile presente no meio.
(D) Salmonella e Shigella produzem colônias vermelhas devido à
presença de eosina no meio.
(E) Salmonella e Shigella produzem colônias amarelas porque fer-
mentam glicose.
CAPÍTU L O

Fármacos Antimicrobianos:
Mecanismo de Ação 10
CONTEODO DO CAPITULO

PRINCÍPIOS DE TERAPIA ANTIMICROBIANA Mecanismos farmacológicos adicionais


ATIVIDADE BACTERICIDA E BACTERIOSTÁTICA QUIMIDPROFILAXIA
MECANISMOS DE AÇÃO PRDBIÓTICOS
Inibição da síntese da parede celular Conceitos·chave
Inibição da síntese proteica Aplique seu conhecimento
Inibição da síntese de ácidos nudeicos Questões para autoavaliação
Alteração da função da membrana celular

PRINCÍPIOS DE TERAPIA ANTIMICROBIANA - - - - - - - - - -


O conceito mais importante. que. fundamenta a terapia antiJUi· um fármaco capaz de inibir seletivamente a replicação vira1. Pe)o
crobiana corresponde à tox:iddade seletiva. isto é. a inibição fato de os vírus utilizarem muitas das funções ceJu)ares normais
seletiva do crescimento do microrganismo sem danos ao hos• do hospedeiro em seu crescimento. não é simples desenvolver
pedeiro. A toxicidade se)etiva é obtida explorando-se as dife. um fármac.o que iniba especificamente as funções virais sem cau.
renças entre o metabolismo e a estrutura do microrganismo sar danos à célula hospe.deira.
e as carac.terlsticas correspondentes das células humanas. Por Antibióticos de amplo espectro são ativos c.ontra vários ti·
exemplo, as penicilinas e cefalosporinas são agentes antibacte~ pos de microrganismos; por exemplo, as tetracidinas são ativas
rianos eficaz.es porque impedem a síntese de peptideoglicano., contra diversos bacilos gram.negativos, da.mídias, micoplasmas
inibindo o crescimento das células bacterianas, mas não das e riquétsias. Os antibióticos de pequeno espectro são ativos coo.
células humanas. tra um ou poucos tipos; por exemplo, a vancomicina é utiliz.ada
Existem quatro locais principais na célula bacteriana que principalmente contra c.ertos cocos gram.positivos, isto é, estafi.
a diferem o suficiente da célula humana, de modo que podem Jococos e enterococos.
atuar como a base de ação de fármacos clinicamente efetivos: Os fánnacos antifúngicos estão indufdos neste capítulo por.
parede celular, ribossomos. ácidos nudeicos e membrana celular que exibem )oca.is de ação únicos similares. como paredes celu(a.
(Tabela 10- 1). res. membranas c.eJuJares e síntese de âcidos nudeicos. Informa.
Existem muito mais fármacos antibacterianos que fármacos ções adicionais sobre fármacos antifúngicos são apresentadas no
antivirais. Isso é uma consequência da dificuldade de desenvolver Capítulo 47.

ATIVIDADE BACTERICIDA E BACTERIOSTÃTICA - - - - - - - - -


Em algumas situações clinicas, é essencial utilizar um fármaco del~ como a fagocitose., são necessários para matar as bactérias.
bactericida em vez de bacteriostático. Um tlrmaco bacteridda Os fármacos bactericidas são particularmente úteis em deter mi·
mata as bactérias, ao passo que um fármaco bacterlostátlco nadas infecções, como as que representam risco imediato à vida.
inibe seu crescimento. mas não causa sua morte (Figura 10-1). as que ocorrem em um paciente cuja contagem de leucócitos
As características marcantes do comportamento dos fármacos polimorfonucleares esteja abaixo de 500/µ.L. e na endocardite.
bacteriostâticos são: ( l) as bactérias podem voltar a aesc.er quan• na qual a fagocitose encontra.se )imitada pela rede fibrinosa das
do o fármaco é retirado, e (2) os mecanismos de defesa do hospe. vegetações e os fármacos bacteriostáticos não promovem a c.ura.
70 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 10-1 Mecanismo de ação de importantes fármacos antibacterianos e antifúngicos

Mecanismo de ação Fármacos

Inibição da síntese de parede celular


1. (a) Atividade antibacteriana ocorre pela inibição das ligações Penicilinas, cefalosporinas, imipenem, aztreonam, vancomicina
cruzadas (transpeptidação) entre os peptideoglicanos
(b) Inibição de outras etapas da síntese dos peptideoglicanos Cicloserina, bacitracina
2. Inibição da atividade antifúngica da síntese de 13-glicano Caspofungina

Inibição da síntese proteica


Ação sobre a subunidade ribossomal SOS Cloranfenicol, eritromicina, clindamicina, linezolide
Ação sobre a subunidade ribossomal 305 Tetraciclinas e aminoglicosídeos

Inibição da síntese de ácido nucleico


Inibição da síntese de nucleotídeos Sulfonamidas, trimetoprima
Inibição da síntese de DNA Quinolonas (p. ex., ciprofloxacina)
Inibição da síntese de mRNA Rifampina

Alteração da função da membrana celular


Atividade antibacteriana Polimixina, daptomicina
Atividade antifúngica Anfotericina B, nistatina, terbi nafina, azoicos (p. ex., itraconazol)

Outros mecanismos de ação


1. Atividade antibacteriana lsoniazida, metronidazol, etambutol, pirazinamida
2. Atividade antifúngica Griseofulvina, pentamidina

MECANISMOS DE AÇÃO - - - - - - - - - - - - - - - -
INIBIÇÃO DA SÍNTESE DA PAREDE degradando o peptideoglicano. Algumas bactérias (p. ex., cepas
de S. aureus) são tolerantes à ação da penicilina, já que essas
CELULAR enzimas autolíticas não são ativadas. Um organismo toleran-
1. Inibição da síntese da parede celular te é aquele que é inibido, porém não é eliminado pela ação de
um fármaco que normalmente é bactericida, como a penicilina
bacteriana
(ver Carbapenemas).
Penicilinas
Penicilinas (e cefalosporinas) atuam inibindo as transpepti-
dases, enzimas que catalisam a etapa final das ligações cruza-
das durante a síntese de peptideoglicano (ver Figura 2-5). Por C/)
.(1)
exemplo, em Staphylococcus aureus, a transpeptidação ocorre >
•ctS
entre o grupo amino na extremidade da ligação cruzada de º> Sem adição ~
pentaglicina e o grupo carboxiterminal da D-alanina da cadeia ~
·e: de fármaco
•(l)
lateral do tetrapeptídeo. Uma vez que a estereoquímica da pe- õ
ctS
nicilina é similar à de um dipeptídeo, D-alanil-o-alanina, a pe-
nicilina pode ligar-se ao local ativo da transpeptidase e inibir
sua atividade.
.o
(l)
"O
e
(l)
Fármaco
\ Fármaco
"- Fármaco
bacteriostático
removido
E
,::::, bacteriostático
Dois fatores adicionais estão envolvidos na ação da peni- adicionado
z
cilina: Fármaco
bactericida
(1) O primeiro é o fato de a penicilina ligar-se a uma varie-
dade de receptores da membrana celular e parede celular bacte- Tempo
rianas, denominados proteínas de ligação à penicilina (PBPs).
Algumas PBPs são transpeptidases; as demais agem na síntese do FIGURA 10-1 Atividade bacteriostática e bactericida de fármacos
antimicrobianos. Tanto o fármaco bacteriostático quanto o bactericida
peptideoglicano. Suas funções específicas estão além dos objeti-
foram adicionados na cultura bacteriana em crescimento nos tempos
vos deste livro. As alterações nas PBPs são responsáveis, em par-
indicados pelas setas. Após um breve período lag, em que o fármaco
te, por um organismo tornar-se resistente à penicilina. penetra na bactéria, o fármaco mata a bactéria, e um decréscimo no
(2) O segundo fator é o fato de enzimas autolíticas, deno- número de células viáveis acontece. O fármaco bacteriostático causa
minadas mureína hidrolases (mureína é um sinônimo de pepti- a interrupção do crescimento bacteriano, conforme indicado, mas se
deoglicano), serem ativadas em células tratadas com penicilina, esse fármaco é retirado do meio, a bactéria volta a crescer.
CAPÍTULO 10 Fármacos Antimicrobianos: Mecanismo de Ação 71

Células tratadas com penicilina morrem por ruptura, re- nos dolorosa quando injetada por via intramuscular, uma vez que
sultante do influxo de água para o interior da célula bacteriana, a procaína atua como anestésico.
de alta pressão osmótica. Quando a pressão osmótica do meio (3) Penicilina G benzatina, na qual a penicilina G é conjuga-
é aumentada em cerca de três vezes, pela adição de quantidade da à benzatina. Essa forma é metabolizada de forma muito lenta,
suficiente de KCI, por exemplo, a ruptura não ocorre e o orga- sendo frequentemente denominada preparação de "depósito':
nismo pode sobreviver na forma de um protoplasto. A exposição
A benzilpenicilina é um dos antibióticos mais eficazes e
da célula bacteriana à lisozima, presente nas lágrimas humanas,
mais amplamente utilizados. Entretanto, ela exibe quatro des-
resulta na degradação do peptideoglicano e na ruptura osmótica
vantagens, três das quais foram superadas com sucesso pela mo-
similar à causada pela penicilina.
dificação da cadeia lateral. As três desvantagens são ( 1) eficácia
A penicilina é bactericida, mas mata as células apenas
limitada contra vários bacilos gram-negativos; (2) hidrólise pe-
quando estas encontram-se em fase de crescimento. Durante
los ácidos gástricos, de modo que não pode ser administrada
o crescimento celular, há síntese de um novo peptideoglicano e
oralmente; e (3) inativação por í3-lactamases. A efetividade li-
ocorre a transpeptidação. No entanto, em células que não se en-
mitada da penicilina G contra bacilos gram -negativos é devida
contram em crescimento, não são requeridas novas ligações cru-
à inabilidade do fármaco para penetrar na membrana externa
zadas e a penicilina mostra-se inativa. Desse modo, as penicilinas
do organismo. A quarta desvantagem, comum a todas as pe-
são mais ativas durante a fase log do crescimento das células
nicilinas e que ainda não foi superada, é a hipersensibilidade,
bacterianas do que durante a fase estacionária (ver, no Capítulo 3,
especialmente anafilaxia, observada em alguns receptores do
o ciclo de crescimento da célula bacteriana).
fármaco.
As penicilinas (e cefalosporinas) são denominadas fárma-
A eficácia das penicilinas contra bacilos gram-negativos foi
cos í3-lactâmicos, devido à importância do anel í3-lactâmico
aumentada por meio de uma série de modificações químicas na
(Figura 10-2). Uma estrutura intacta do anel é essencial à ati-
cadeia lateral (Tabela 10-2). Pode-se observar que a ampicilina e
vidade antibacteriana: a clivagem do anel por penicilinases
a amoxicilina exibem atividade contra vários bacilos gram -ne-
(P-lactamases) inativa o fármaco. O composto de ocorrência na-
gativos, o que penicilinas anteriores não apresentam. Contudo,
tural mais importante corresponde à benzilpenicilina (penicilina
esses fármacos não são úteis contra Pseudomonas aeruginosa e
G), a qual é composta pelo núcleo do ácido 6-aminopenicilânico,
Kl.ebsiella pneumoniae. Desse modo, outras penicilinas foram in-
presente em todas as penicilinas, e de uma cadeia lateral benzil
troduzidas. Em termos gerais, à medida que a atividade contra
(ver Figura 10-2). A penicilina G encontra-se disponível em três
bactérias gram -negativas aumenta, a atividade contra bactérias
formas principais:
gram-positivas diminui.
(1) Penicilina G aquosa, a qual é metabolizada mais rapida- A segunda importante desvantagem - hidrólise ácida no
mente. estômago - também foi minimizada por meio de modificações
(2) Penicilina G procaína, na qual a penicilina G é conjugada da cadeia lateral. O local da hidrólise ácida consiste na ligação
à procaína. Essa forma é metabolizada mais lentamente, e é me- amida entre a cadeia lateral e o núcleo de ácido penicilânico

Local da hidrólise ácida

7 / / S~ / CH3
R - N - CH - CH
© l®I 0
e_
1 3 F\ ~
CH R =v C - 1H - C -
C-
\ N CH -COOH
li C
O Local de ação da penicilinase
(clivagem do anel 13-lactâmico)

A. Ácido 6-aminopenicilânico B. Penicilina G (benzilpenicilina)

R=

OC2 H5
C. Nafcilina (etoxinaftamidopenicilina)

FIGURA 10-2 Penicilinas. A: O núcleo do ácido 6-aminopenicilânico é composto por um anel tiazolidina (a), um anel 13-lactâmico (b) e um grupo
amino (c). Os locais de inativação pelos ácidos gástricos e pela penicilinase estão indicados. B: O grupo benzi 1, que forma a benzilpenicilina (peni-
ci lina G) quando ligado a R. C: O grande anel aromático substituinte que forma a nafcilina, penicilina resistente à 13-lactamase, quando ligado a R.
O grande anel bloqueia o acesso da 13-lactamase ao anel 13-lactâmico.
72 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 10-2 Atividade de penicilinas selecionadas


1
Fármaco Uso clínico

Penicilina G Cocos gram-posit ivos, bacilos gram-positivos, Neisseria, espiroquetas, como Treponema pallidum e diver-
sos anaeróbios (exceto Bacteroides fragilis), porém nenhum dos bacilos gram-negativos listados abaixo

Ampici lina ou amoxicilina Certos bacilos gram-negativos, como Haemophilus influenzae, E. coli, Proteus, Salmonela e Shigella, mas não
Pseudomonas aeruginosa

Ticarcilina P. aeruginosa, especialmente quando uti lizada em combinação sinergística com um aminoglicosídeo

Piperacilina Similar à ticarcilina, porém com maior atividade contra P. aeruginosa e Klebsiella pneumoniae

Nafcilina ou dicloxacilina Staphylococcus aureus produtores de penicilinase


1
0 espectro de ação está intencionalmente incompleto. Ele foi simplificado para o aluno iniciante, a fim de ilustrar a cobert ura expandida dos organismos gram-
-negativos com sucessivas gerações, e não aborda todos os usos clínicos possíveis.

(ver Figura 10-1). Modificações sutis da cadeia lateral naquela re- atividade expandida contra certos bacilos gram-negativos. As ce-
gião, como adição de um oxigênio (produzindo penicilina V) ou falosporinas de quarta e quinta gerações também apresentam ati-
um grupo amino (produzindo ampicilina), impedem a hidrólise, vidade contra muitos cocos gram-positivos.
permitindo a administração oral do fármaco. As cefalosporinas são eficazes contra uma ampla gama de
A inativação da penicilina G pelas [3-lactamases é outra organismos, e, em geral, são bem toleradas, produzindo menos
desvantagem importante, especialmente no tratamento de in- reações de hipersensibilidade que as penicilinas. Apesar da se-
fecções por S. aureus. O acesso da enzima ao anel [3-lactâmico é melhança estrutural, um paciente alérgico à penicilina apresenta
bloqueado modificando-se a cadeia lateral pela adição de grandes somente 10% de possibilidade de ser hipersensível também às
anéis aromáticos contendo grupos metil ou etil (meticilina, oxa- cefalosporinas. A maioria das cefalosporinas é produto de bolo-
cilina, nafcilina, etc.; Figura 10-2). Outra defesa contra as [3-lacta- res do gênero Cephalosporium; algumas, como as cefoxitinas, são
mases consiste em inibidores, como o ácido clavulâmico e sulbac- produzidas pelo actinomiceto Streptomyces.
tam. Esses inibidores são análogos estruturais de penicilina que
exibem pouca atividade antibacteriana, mas ligam-se fortemente Carbapenemas
a [3-lactamases e, dessa forma, protegem a penicilina. Combina-
Carbapenemas são fármacos [3-lactâmicos estruturalmente dis-
ções como amoxicilina e ácido clavulâmico (Augmentine) apre-
tintos das penicilinas e cefalosporinas. Por exemplo, imipenem
sentam uso clínico. Algumas bactérias resistentes a essas combi-
(N-formimidoiltienamicina), um carbapenema atualmente em
nações foram isoladas a partir de espécimes de pacientes.
uso, apresenta um grupo metileno no anel em substituição ao
As penicilinas geralmente são atóxicas em níveis clinica-
enxofre (Figura 10-4). O imipenem possui o maior espectro de
mente eficazes. A principal desvantagem desses compostos é a
ação entre os fármacos [3-lactâmicos. Apresenta excelente ati-
hipersensibilidade, que ocorre em cerca de 1 a 10% dos pacientes.
vidade bactericida contra diversas bactérias gram-positivas,
As reações de hipersensibilidade incluem anafilaxia, erupções
gram-negativas e anaeróbias. É eficaz contra a maioria dos cocos
cutâneas, anemia hemolítica, nefrite e febre induzida por fárma-
gram-positivos (p. ex., estreptococos e estafilococos), a maioria
cos. Um exantema maculopapular induzido pelo fármaco é bas-
dos cocos gram-negativos (p. ex., Neisseria), diversos bacilos
tante comum. A anafilaxia, a complicação mais grave, ocorre em
gram-negativos (p. ex., Pseudomonas, Haemophilus e membros
0,5% dos pacientes. O óbito decorrente de anafilaxia é observado
em 0,002% (1:50.000) dos pacientes.

Cefalosporinas
R-C-NH
1 J = lS: )
11
As cefalosporinas são fármacos [3-lactâmicos que atuam da mes- O O N ,,-0 CH 2 - R2
ma maneira que as penicilinas; isto é, são agentes bactericidas
que inibem as ligações cruzadas do peptideoglicano. Suas estru- COOH
turas, no entanto, são diferentes: as cefalosporinas apresentam A
um anel hexamérico adjacente ao anel [3-lactâmico e apresentam
duas substituições no núcleo composto pelo ácido 7-aminocefa-
losporânico (Figura 10-3); já as penicilinas contêm um anel pen- R2
tamérico e apresentam substituições em apenas um local.
As cefalosporinas de primeira geração são ativas princi-
palmente contra cocos gram-positivos (Tabela 10-3). De forma
O s CH
2
Cefalotina - o-e
,?o
"cH3
similar às penicilinas, novas cefalosporinas foram sintetizadas, B
tendo como objetivo expandir a atividade contra bacilos gram-
-negativos. Essas novas cefalosporinas foram classificadas em FIGURA 10-3 Cefalosporinas. A: O núcleo do ácido 7-aminocefalos-
segunda, terceira e quarta gerações, com cada geração exibindo porânico. B: Os dois grupos R do fármaco cefalotina.
CAPÍTULO 1O Fármacos Antimicrobianos: Mecanismo de Ação 73
1
TABELA 10-3 Atividade de determinadas cefalosporinas

Geração de
cefalosporina Fármaco Uso clínico

Primeira Cefazolina, cefalexina Cocos gram-posit ivos como os estafilococos e os estreptococos, exceto os enterococos e MRSA

Segunda Cefuroxima Haemophilus influenzae

Cefoxitina Bacteroides fragilis

Terceira Ceftriaxona Bastonetes gram-negativos entéricos, como Escherichia coli, Klebsiel/a e Proteus. Também
Neisseria gonorrhoeae

Ceftazidima Pseudomonas aeruginosa e outros bacilos entéricos gram-negativos

Quarta Cefepima Bacilos entéricos gram-negativos que produzem um amplo espectro de 13-lactamases; 5. aureus
(exceto MRSA) e Streptococcus pneumoniae resistente à penicilina

Quinta Cefta rol i na Cocos gram-posit ivos e bacilos g ram-negativos causadores de pneumonia bacteriana e cocos
gram-positivos causadores de infecções na pele, incluindo MRSA

MRSA = Staphylococcus aureus resistentes à meticilina.


1
0 espectro de ação está intencionalmente incompleto. Ele foi simplificado para o aluno iniciante, a fim de ilustrar a cobertura expandida dos organismos gram-
-negativos com sucessivas gerações, e não aborda todos os usos clínicos possíveis.

da família Enterobacteriaceae, como E. coli) e vários anaeróbios gram-negativos, como Enterobacteriaceae e Pseudomonas, po-
(p. ex., Bacteroides e Clostridium). O imipenem é especialmente rém é inativo contra bactérias gram-positivas e anaeróbias. Esse
útil para o tratamento de infecções causadas por bacilos gram- antibiótico é resistente à maioria das J3-lactamases. É extrema-
-negativos que produzem um amplo espectro de J3-lactamases, mente útil em pacientes hipersensíveis à penicilina, pois não há
que os confere resistência a todas as penicilinas e cefalosporinas. reação cruzada.
Os carbapenemas são frequentemente o fármaco de última esco-
lha contra bactérias multirresistentes. Vancomicina
O imipenem é prescrito em combinação com a cilastatina,
A vancomicina é um glicopeptídeo que inibe a síntese da parede
que é um inibidor da desidropeptidase, uma enzima renal que
celular ao bloquear a transpeptidação por um mecanismo dife-
inativa o imipenem. O imipenem não é inativado pela maioria
rente do dos fármacos J3-lactâmicos. A vancomicina liga-se direta-
das J3-lactamases. Entretanto, carbapenemases produzidas por
mente à porção D-alanil-D-alanina do pentapeptídeo, bloqueando
K. pneumoniae e que degradam imipenem e outras carbapene-
a ligação da transpeptidase, ao passo que os fármacos J3-lactâmicos
mases têm emergido. Outros carbapenemas, como o ertapenem
e o meropenem, não são inativados por desidropeptidases e não ligam-se à própria transpeptidase. A vancomicina também inibe
uma segunda enzima, a transglicosilase bacteriana, que também
são prescritos em combinação com a cilastatina.
atua na síntese de peptideoglicano, mas a inibição desta parece ser
menos importante que a inibição da transpeptidase.
Monobactâmicos A vancomicina é um agente bactericida efetivo contra algu-
Os monobactâmicos são também fármacos J3-lactâmicos, estru- mas bactérias gram-positivas. Seu uso mais importante ocorre
turalmente distintos das penicilinas e cefalosporinas. Os mono- no tratamento de infecções causadas por linhagens de S. aureus
bactâmicos caracterizam-se por um anel J3-lactâmico sem estru- que são resistentes às penicilinas penicilase-resistentes, corno a
tura adjacente em anel contendo enxofre, isto é, são monocíclicos nafcilina e a meticilina (p. ex., S. aureus resistentes à rneticilina
(Figura 10-4). O aztreonam, atualmente o monobactâmico de [MRSA]). Observa-se que a vancomicina não é um fármaco J3-lac-
maior utilidade, exibe excelente atividade contra vários bacilos târnico e, portanto, não é degradada pelas J3-lactamases. A van-

CH3
1
OH N - 0 - C - COOH
li 1
C -.. . . CH3
N~ CONH CH3
H2 N ~
8
;> 17
COOH
)-~,
O S03
A B

FIGURA 10-4 A: lmipenem. B: Aztreonam.


74 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 10-4 Mecanismos de ação de antibióticos que inibem a síntese proteica

Antibiótico Subunidade ribossomal Modo de ação Bactericida ou baderiostátko

Aminoglicosídeos 305 Bloqueia o funcionamento do complexo de iniciação Bactericida


e provoca a leitura incorreta do mRNA

Tetraciclinas 305 Bloqueia a ligação do tRNA ao ribossomo Bacteriostático

Cloranfenicol 505 Bloqueia a peptid iltransferase Ambos'

Macro lides 505 Bloqueia a translocação Principalmente bacteriostático

Clindamicina 505 Bloqueia a formação da ligação peptídica Principalmente bacteriostático

Linezolide 505 Bloqueia a etapa inicial da formação do ribossomo Ambos'

Telitromicina 505 Idêntico a outros macrolídeos (p. ex., eritromicina) Ambos'

Estreptograminas 505 Causa liberação prematura da cadeia peptídica Ambos'


1
Podem ser bact ericidas ou bact eriost áticos, dependendo do o rganismo.

comicina é também utilizada no tratamento de infecções causa- to de aspergilose invasiva que não responde à anfotericina B. A
das por Staphylococcus epidermidis e enterococos. Linhagens de micafungina é aprovada para o tratamento de candidíase esofági-
S. aureus, S. epidermidis e enterococos que apresentam resistência ca e na profilaxia de infecções invasivas por Candida em pacientes
parcial ou total à vancomicina têm sido isoladas de pacientes. submetidos a transplante de medula óssea. A anidulafungina foi
A telavancina é um derivado sintético da vancomicina que aprovada para o tratamento de candidíase esofágica e outras in-
inibe a síntese de peptideoglicano e causa a disrupção da mem- fecções graves por Candida.
brana celular bacteriana. Esse fármaco é usado para o tratamento
de lesões na pele e de tecidos moles, especialmente as causadas
porMRSA. INIBIÇÃO DA SÍNTESE PROTEICA
Um efeito adverso bem conhecido da vancomicina é a "sín-
drome do homem vermelho': A vermelhidão deve-se à vasodi- Diversos fármacos inibem a síntese proteica de bactérias, sem
latação induzida pela liberação de histamina pelos mastócitos e interferir significativamente na síntese proteica das células hu-
basófilos. Esse é um efeito direto da vancomicina nessas células e manas. Essa seletividade é decorrente das diferenças entre as
não devido a uma resposta mediada por IgE. proteínas ribossomais, RNAs e enzimas associadas bacterianas e
humanas. As bactérias apresentam ribossomos 70S1, com as su-
bunidades SOS e 30S, ao passo que as células humanas exibem
Cicloserina & bacitracina
ribossomos SOS, com subunidades 60S e 40S.
A cicloserina é um análogo estrutural de D-alanina, que inibe a Cloranfenicol, eritromicina, clindamicina e linezolide atuam
síntese do dipeptídeo D-alanil-D-alanina da parede celular. É uti- sobre a unidade SOS, ao passo que as tetraciclinas e os aminogli-
lizada como um fármaco de segunda linha no tratamento da cosídeos atuam sobre a subunidade 30S. Um resumo dos meca-
tuberculose. A bacitracina é um antibiótico polipeptídico cícli- nismos de ação desses fármacos é apresentado na Tabela 10-4, e
co que impede a desfosforilação do fosfolipídeo que transporta um resumo de sua atividade de utilidade clínica é apresentado na
a subunidade do peptideoglicano através da membrana celular. Tabela 10-5.
Isso bloqueia a regeneração do carreador lipídico e inibe a síntese
da parede celular. A bacitracina é um fármaco bactericida útil no
1. Fármacos que atuam sobre a
tratamento de infecções cutâneas superficiais; entretanto, é ex-
cessivamente tóxica para o uso sistêmico. subunidade 30S
Aminoglicosídeos
2. Inibição da síntese da parede
Os aminoglicosídeos são fármacos bactericidas especialmente
celular fúngica úteis contra vários bacilos gram-negativos. Certos aminoglicosí-
Equinocandinas, como caspofungina (Cancidas) e micafungina deos são utilizados contra outros organismos. A estreptomicina,
(Mycamine), são lipopeptídeos que bloqueiam a síntese da pare- por exemplo, é utilizada na terapia multifármacos da tuberculose,
de celular fúngica por meio da inibição da enzima que sintetiza e a gentamicina é utilizada em combinação com a penicilina G
o 13-glicano. O 13-glicano é um polissacarídeo composto porca- contra enterococos. Os aminoglicosídeos são assim denomina-
deias longas de D-glicose, componente essencial de determinados dos devido ao componente aminoaçúcar da molécula, o qual é
patógenos fúngicos de importância médica.
A caspofungina inibe o crescimento de Aspergillus e Candida, 1
"S" refere-se a unidades Svedberg, uma medida de velocidade de sedi-
mas não de Cryptococcus ou Mucor. A caspofungina é utilizada no mentação em um gradiente de densidade. A velocidade de sedimentação
tratamento de candidíase disseminada, assim como no tratamen- é proporcional à massa da partícula.
CAPÍTULO 1O Fármacos Antimicrobianos: Mecanismo de Ação 75
1
TABELA 10-5 Espectro de atividade de antibióticos que inibem a síntese proteica

Antibiótico Uso clínico Comentários

Aminoglicosídeos
Estreptomicina Tuberculose, tularemia, peste, b rucelose Ototóxica e nefrotóxica
Gentamicina e Várias infecções por bacilos gram-negativos, incluindo Aminoglicosídeos mais amplament e ut ilizados
tobramicina Pseudomonas aeruginosa
Amicacina A mesma da gentamicina e da tobramicina Eficaz contra alguns organismos resistentes à gen-
tamicina e à tobramicina
Neomicina Preparação pré-operatória do intestino Muito tóxica para uso sistêmico; uso oral, desde
que não absorvida

Tetraciclinas Infecções por riquétsias e clamíd ias, Mycoplasma pneumoniae Não devem ser administradas durante a gestação
ou em crianças

Tigeciclina Infecções de pele causadas por cocos g ram-posit ivos e infec- Efeitos adversos sim ilares aos das tetraciclinas
ções int ra-abdominais causadas por bactérias anaeróbias
facultativas (ver texto)

Cloranfenicol Meningite por Haemophilus influenzae, febre t ifoide, infecções A toxicidade para medula óssea lim ita o uso a in-
anaeróbias (especialmente por Bacteroides fragilis) fecções graves

Macrolides Pneumonia causada por Mycoplasma e Legionella, infecções Geralmente bem tolerada, porém pode provocar
por cocos gram-positivos em pacientes alérgicos à penicilina d iarreia

Clindamicina Anaeróbios, como Clostridium perfringens e Bacteroides fragilis Colite pseudomembranosa é um importante efeito
colateral

Linezolide Enterococos resistentes à vancomicina, Staphylococcus aureus Geralmente bem tolerado


resistentes à meticilina e Staphylococcus epidermidis, e
pneumococos resistentes à penicilina

Telitromicina Pneumonias adquiridas na comunidade causadas por várias Muitas bactérias resistentes a outros macrolídeos
bactérias, incluindo Streptococcus pneumoniae resistentes a são suscetíveis à telitromicina
múlt iplos fármacos

Estreptograminas Bacteriemia causada por Enterococcus faecium resistentes à Sem resistência cruzada entre estreptograminas e
vancomici na outros fármacos inibidores da síntese proteica

Retapamulina Infecções de pele causadas por Streptococcus pyogenes e


5. aureus resistentes à meticilina
1
0 espectro de ação está intencionalmente incompleto. Ele foi simplificado para o aluno iniciante, a fim de ilustrar a cobertura expandida dos organismos gram-
-negativos com sucessivas gerações, e não aborda todos os usos clínicos possíveis.

conectado por uma ligação glicosídica a outros derivados de açú-


car (Figura 10-5).
Os dois importantes mecanismos de ação de aminoglico-
sídeos foram bem-documentados em relação à estreptomicina;
outros aminoglicosídeos provavelmente atuam de forma similar.
Tanto a inibição do complexo de iniciação quanto a leitura in-
correta do RNA mensageiro (mRNA) ocorrem; o primeiro pro-
cesso provavelmente é mais importante para a atividade bacteri-
cida do fármaco. Um complexo de iniciação composto por uma
subunidade 30S tratada com estreptomicina, uma subunidade o
SOS e um mRNA não atuará - isto é, não serão formadas ligações
peptídicas, nem polissomos, resultando em um "monossomo de
estreptomicinà' congelado. A leitura incorreta da trinca do có-
don do mRNA, de modo que o aminoácido incorreto é inserido OH
na proteína, também ocorre em bactérias tratadas com estrepto-
micina. O local de ação na subunidade 30S inclui uma proteína FIGURA 10-5 Aminoglicosídeos. Os aminoglicosídeos consistem em
ribossomal e o RNA ribossomal (rRNA). Como resultado da ini- aminoaçúcares unidos por uma ligação g licosídica. Éapresent ada a es-
bição da iniciação e de leitura incorreta, ocorrem danos à mem- trutura da gentamicina.
76 PARTE I Bacteriologia Básica

brana e morte bacteriana. (Em 1993, outro possível mecanismo ferro e, por isso, moléculas relacionadas, como vitaminas conten-
de ação foi descrito, isto é, os aminoglicosídeos inibem o auto- do ferro, não podem ser administradas durante a antibioticote-
processamento do rRNA mediado pela ribozima.) rapia. Casos de fotossensibilidade (vermelhidão após exposição
Os aminoglicosídeos apresentam certas limitações quanto aos raios solares) também já foram descritos após terapia com
ao uso: (1) têm efeito tóxico sobre os rins e sobre as porções audi- tetraciclinas.
tiva e vestibular do oitavo nervo craniano. Para se evitar toxicida- A tigeciclina (Tygacil) é o primeiro membro clinicamente
de, as concentrações séricas do fármaco, o nitrogênio urético no disponível da classe das glicilciclinas. Ela apresenta uma estru-
sangue e a creatinina devem ser medidos. (2) Eles são fracamente tura similar à das tetraciclinas e o mesmo mecanismo de ação;
absorvidos no trato gastrintestinal e não podem ser administra- essas moléculas ligam-se à subunidade 30S ribossomal, inibindo
dos oralmente. (3) Eles penetram fracamente no líquido espinal e a síntese proteica bacteriana. Elas apresentam um espectro simi-
devem ser administrados pela via intratecal durante o tratamento lar de efeitos adversos. A tigeciclina é usada para tratar infecções
de meningites. (4) São ineficientes contra bactérias anaeróbias, da pele e da estrutura dérmica, causadas por S. aureus sensíveis a
uma vez que seu transporte para dentro da célula bacteriana re- meticilina e resistentes a meticilina, estreptococos dos grupos A
quer oxigênio. e B, enterococos resistentes à vancomicina, E. coli e Bacteroides
fragilis. A tigeciclina também é utilizada para tratar infecções in-
Tetraciclinas tra-abdominais graves, causadas por uma variedade de bactérias
anaeróbias estritas e facultativas.
As tetraciclinas constituem uma família de antibióticos com ati-
vidade bacteriostática contra uma variedade de bactérias gram-
-positivas e gram-negativas, micoplasmas, clamídias e riquétsias. 2. Fármacos que atuam sobre a
Inibem a síntese proteica, ligando-se à subunidade ribossomal subunidade 50S
30S e bloqueando a entrada do aminoacil RNA de transferên-
cia (tRNA) no local aceptor do ribossomo. No entanto, a ação Cloranfenicol
seletiva da tetraciclina sobre as bactérias não ocorre em nível O cloranfenicol é ativo contra uma ampla gama de organismos,
ribossomal, uma vez que, in vitro, a tetraciclina inibe igualmen- incluindo bactérias gram-positivas e gram-negativas (inclusive
te a síntese proteica em ribossomos purificados de células tanto anaeróbias). Tem efeito bacteriostático contra certos organismos,
bacterianas quanto humanas. Sua seletividade baseia-se em sua como Salmonella typhi. Entretanto, exibe atividade bactericida
captação significativamente aumentada em células bacterianas contra os três importantes organismos capsulados que causam
suscetíveis em comparação às células humanas. meningite: Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae e
As tetraciclinas, como o nome indica, possuem quatro Neisseria meningitidis.
anéis cíclicos com diferentes substituintes nos três grupos R O cloranfenicol inibe a síntese proteica, ligando-se à subuni-
(Figura 10-6). As várias tetraciclinas (p. ex., doxiciclina, mino- dade ribossomal SOS e bloqueando a ação da peptidiltrans-
ciclina, oxitetraciclina) exibem atividade antimicrobiana similar, ferase, o que impede a síntese de novas ligações peptídicas. O
porém propriedades farmacológicas distintas. Em geral, as tetra- fármaco inibe seletivamente a síntese proteica bacteriana, uma
ciclinas apresentam baixa toxicidade, mas estão associadas a im- vez que se liga ao local catalítico da transferase na subunidade ri-
portantes efeitos colaterais. O primeiro consiste na supressão da bossomal SOS bacteriana, mas não da transferase da subunidade
microbiota normal do trato gastrintestinal, podendo levar à diar- ribossomal 60S humana. O cloranfenicol inibe a síntese proteica
reia e ao crescimento abundante de bactérias e fungos resistentes nas mitocôndrias das células humanas em certo grau, uma vez
ao fármaco. O segundo consiste na supressão de Lactobacillus na que as mitocôndrias apresentam subunidade SOS (acredita-se que
microbiota vaginal normal, o que causa o aumento de pH, permi- as mitocôndrias evoluíram a partir de bactérias). Essa inibição
tindo o crescimento de Candida albicans, o que resulta em vagi- pode ser responsável pela toxicidade dose-dependente do cloran-
nite. O terceiro efeito colateral consiste na formação de manchas fenicol em relação à medula óssea (discutida posteriormente).
marrons na dentição de fetos e crianças de pouca idade, como re- O cloranfenicol é uma molécula comparativamente sim-
sultado da deposição do fármaco nos dentes em desenvolvimen- ples, com um núcleo de nitrobenzeno (Figura 10-7). O pró-
to; as tetraciclinas são fortes quelantes de cálcio. Por essa razão, prio nitrobenzeno é um depressor da medula óssea, portanto,
a tetraciclina é contraindicada para mulheres grávidas e crianças a porção nitrobenzeno da molécula pode estar envolvida nos
com idade abaixo de oito anos. As tetraciclinas também quelam problemas hematológicos relatados em relação a esse fármaco.
O principal efeito colateral do cloranfenicol consiste na toxici-
dade para a medula óssea, com dois tipos. Um deles consiste
OH o o na supressão dose-dependente, que tem maior probabilida-
li
e
'--- NH2
OH
OH CH2 0 H O
R2 H N(CH 3h

0
R R1 OH 11 li
H O2N - C - C - N-C - CHCI2
1 1 1
FIGURA 10-6 Estrutura da t etracicli na. A estrutura formada por H H H
quarto anéis está representada juntamente com seus três locais R.
= =
A clortetraciclina, por exemplo, possui R CI, R, CH3 e R2 H. = FIGURA 10-7 Cloranfenicol.
CAPÍTULO 1O Fármacos Antimicrobianos: Mecanismo de Ação 77

de de ocorrer em pacientes que receberam doses elevadas por A clindamicina liga-se à subunidade SOS e bloqueia a for-
longos períodos, sendo reversível quando a administração do mação de ligações peptídicas por um mecanismo indeterminado.
fármaco é interrompida. O outro tipo consiste na anemia aplás- Sua especificidade em relação às bactérias deve-se à sua capaci-
tica, causada por uma reação idiossincrática ao fármaco. Essa dade de ligar-se à subunidade 60S dos ribossomos humanos.
reação não é dose-dependente, podendo ocorrer semanas após O efeito colateral mais importante da clindamicina corres-
a interrupção na administração do fármaco, e não é reversível. ponde à colite pseudomembranosa, a qual, de fato, pode ocorrer
Felizmente, essa reação é rara, ocorrendo em cerca de 1:30.000 com praticamente qualquer antibiótico, tanto administrado por
pacientes. via oral quanto parenteral. A patogênese dessa complicação po-
Uma manifestação tóxica específica do cloranfenicol é a sín- tencialmente grave consiste na supressão da microbiota normal do
drome do "bebê cinzà: na qual a pele da criança apresenta colo- intestino, causada pelo fármaco e pelo crescimento abundante de
ração cinza, ocorrendo vômitos e choque. Isso decorre da ativi- uma linhagem de Clostridium difficile resistente ao fármaco. O or-
dade reduzida da glicuroniltransferase em crianças, resultando ganismo secreta uma endotoxina que produz a pseudomembrana
na concentração tóxica de cloranfenicol. A glicuroniltransferase é no colo e causa diarreia grave, frequentemente sanguinolenta.
a enzima responsável pela destoxificação do cloranfenicol.
Linezolide
Macrolídeos O linezolide é utilizado no tratamento de enterococos resistentes
Os macrolídeos são um grupo de fármacos com um amplo es- à vancomicina, S. aureus e S. epidermidis resistentes à meticili-
pectro de atividade. O nome macrolídeos refere-se à grande na, e também no caso de penumococos resistentes à penicilina.
estrutura de anel (13-16 carbonos) presente nestas moléculas É bacteriostático contra enterococos e estafilococos, porém é
(Figura 10-8). A azitromicina, a eritromicina e a claritromicina bactericida contra pneumococos.
são os principais macrolídeos utilizados na clínica. A azitromi- O linezolide liga-se ao RNA ribossomal 23S da subunidade
cina é usada para tratar infecções do trato genital, causadas por SOS e inibe a síntese proteica, apesar de seu mecanismo exato ser
Chlamydia trachomatis, e infecções do trato respiratório, cau- desconhecido. Aparentemente, ele bloqueia alguma etapa preco-
sadas por Legionella, Mycoplasma, Chlamydia pneumoniae e S. ce (iniciação) da formação do ribossomo.
pneumoniae. A eritromicina tem um espectro de atividade simi-
lar, mas apresenta uma meia-vida mais curta e, por isso, precisa Telitrom icina
ser administrada mais frequentemente, originando mais efeitos
A telitromicina (Ketek) corresponde ao primeiro membro de uti-
adversos, particularmente no trato gastrintestinal. A claritro-
micina é usada principalmente no tratamento de infecções por lidade clínica do grupo dos antibióticos cetolídeos. É similar aos
Helicobacter, e também no tratamento e prevenção de infecções macrolídeos quanto à estrutura geral e ao mecanismo de ação,
causadas por Mycobacterium avium-intracellulare. mas distinta quimicamente o suficiente, de modo que organismos
resistentes aos macrolídeos podem ser sensíveis à telitromicina.
Os macrolídeos inibem a síntese de proteínas bacterianas
por se ligarem à subunidade SOS e prevenirem a liberação de Esta exibe amplo espectro de atividade contra uma variedade de
tRNA descarregado a partir do local doador após a formação bactérias gram-positivas e gram-negativas (incluindo pneumoco-
cos resistentes a macrolídeos), sendo utilizada no tratamento de
da ligação peptídica. Assim, o local doador permanece ocupa-
do, impedindo a ligação de um novo tRNA, interrompendo a pneumonia adquirida na comunidade, bronquite e sinusite.
síntese proteica.
Estreptograminas
Clindamicina Uma combinação de duas estreptograminas - quinupristin e dal-
A atividade clínica mais útil desse fármaco bacteriostático ocor- fopristin (Synercid) - é frequentemente usada para o tratamento
re contra anaeróbios, tanto bactérias gram-positivas, como de infecções sanguíneas causadas por Enterococcus f aecium re-
Clostridium perfringens, quanto gram-negativas, como Bacteroi- sistentes à vancomicina (mas não contra Enterococcus faecalis
des fragilis. resistentes à vancomicina). Também se encontra aprovada para
o uso em infecções causadas por Streptococcus pyogenes, S. pneu-
moniae resistente à penicilina, S. aureus resistente à meticilina e
S. epidermidis resistente à meticilina.
H OH OH H O CH3 CH3 H CH3 H CH3 As estreptograminas provocam liberação prematura da ca-
1 1 1 1 li 1 1 1 1 1 1
CHCHC-c-c-c-c-c-cH-C-C-C-C-C-C = O deia peptídica em crescimento a partir da subunidade ribossomal
3 21 A1-L ~ 1 1 2 1 1 1 1 1 SOS. A estrutura e o mecanismo de ação das estreptograminas
L o CH3 H OH o H o H diferem de todos os demais fármacos que inibem a síntese protei-
ca, e não há resistência cruzada entre as estreptograminas e esses
outros fármacos.

Retapamulina
A retapamulina (Altabax) é o primeiro membro clinicamente
aprovado da nova classe de antibióticos, chamada de pleuromu-
FIGURA 10-8 Eritromicina. tilinas. Esses fármacos inibem a síntese de proteínas bacterianas
78 PARTE I Bacteriologia Básica

pela ligação ao RNA 23S da subunidade SOS, bloqueando a liga- enzima di-hidropteroato sintase. Essa inibição competitiva pode
ção do doador de tRNA. A retapamulina é um antibiótico tópico ser suplantada por um excesso de PABA.
usado no tratamento de infecções de pele, como o impetigo, cau- A base da ação seletiva das sulfonamidas em relação às
sado por S. pyogenes e S. aureus sensíveis à meticilina. bactérias está no fato de muitas bactérias sintetizarem seu áci-
do fólico a partir de precursores contendo PABA, ao passo que
as células humanas requerem ácido fólico pré-formado como
INIBIÇÃO DA SÍNTESE DE ÁCIDOS um nutriente exógeno, uma vez desprovidas das enzimas que o
sintetizam. Células humanas desviam-se da etapa em que as sul-
NUCLEICOS
fonamidas atuam. As bactérias capazes de utilizar o ácido fólico
O modo de ação e a utilização clínica de fármacos importantes pré-formado são igualmente resistentes às sulfonamidas.
que agem inibindo a síntese de ácidos nucleicos estão resumidos O grupo p-amino da sulfonamida é essencial à sua atividade.
na Tabela 10-6. Assim, modificações são realizadas na cadeia lateral do ácido sul-
fônico. As sulfonamidas são de baixo custo e raramente causam
1. Inibição da síntese de precursores efeitos colaterais. No entanto, podem ocorrer febre relacionada
ao fármaco, erupções, fotossensibilidade (vermelhidão após ex-
Sulfonamidas posição à luz solar) e supressão da medula óssea. As sulfonamidas
Tanto isoladamente quanto em combinação com trimetoprima, representam o grupo de fármaco que mais se apresenta associado
as sulfonamidas são úteis em uma variedade de doenças bacteria- com eritema multiforme e suas formas mais graves, a síndrome
nas, como infecções do trato urinário causadas por E. coli, otite de Stevens-Johnson e a necrólise epidérmica tóxica.
média causada por S. pneumoniae ou H. influenzae em crianças,
shigelose, nocardiose e cancroide. Em combinação, também são Trimetoprima
os fármacos de escolha utilizados para o tratamento de duas A trimetoprima também inibe a produção de ácido tetra-hidro-
doenças causadas por protozoários: toxoplasmose e pneumonia fólico, mas por um mecanismo diferente do das sulfonamidas,
por Pneumocystis. As sulfonamidas correspondem a uma grande isto é, inibe a enzima di-hidrofolato redutase (Figura 10-9). Sua
família de fármacos bacteriostáticos produzidos por síntese quí- especificidade em relação às bactérias baseia-se em sua maior
mica. Em 1935, o composto parental, a sulfanilamida, tornou-se afinidade pela redutase bacteriana do que pela enzima humana.
o primeiro agente antimicrobiano clinicamente eficaz. A trimetoprima é mais frequentemente utilizada de forma
O mecanismo de ação das sulfonamidas consiste em blo- associada ao sulfametoxazol. Observa-se que ambos os fármacos
quear a síntese de ácido tetra-hidrofólico, o qual é requerido atuam sobre a mesma via, - porém, em locais diferentes - a fim
como um doador de metil na síntese dos precursores de ácido de inibir a síntese de tetra-hidrofolato. As vantagens da combina-
nucleico adenina, guanina e timina. As sulfonamidas são aná- ção são: ( 1) mutantes bacterianas resistentes a um dos fármacos
logos estruturais do ácido p-aminobenzoico (PABA). PABA serão inibidas pelo outro, e (2) os dois fármacos podem atuar si-
condensa-se a um composto de pteridina, originando ácido di- nergisticamente, isto é, quando utilizados em conjunto, provo-
-hidropteroico, um precursor do ácido tetra-hidrofólico (Figura cam inibição significativamente maior que a soma da inibição
10-9). As sulfonamidas competem com PABA pelo local ativo da causada por cada fármaco de maneira separada.

1
TABELA 10-6 Modo de ação e atividade de inibidores selecionados de ácidos nucleicos

Fármaco Moclodeação Uso clínico

Sulfonamidas Inibem a síntese de ácido fólico; atuam Utilizadas em combinação com t rimetoprima para ITU causada por
(p. ex., sulfametoxazol) como inibidores competitivos de E. coli; otite média e sinusite causada por H. influenzae; MRSA;
PABA pneumonia por Pneumocystis

Trimetoprima Inibe a síntese de ácido fólico por meio Utilizada em combinação com sulfonamidas para os usos descritos
da inibição de DHFR anteriormente

Fluoroquinolonas Inibem a síntese de DNA por meio da A ciprofloxacina é usada para tratar infecções no trato GI causadas
(p. ex., ciprofloxacina, inibição da DNA-girase por Shigella e Salmonella, e também para tratar ITU causadas por
levofloxacina bastonetes gram-negativos entéricos. A levofloxacina é usada
para tratar infecções do trato respiratório, especialmente aquelas
causados por Streptococcus pneumoniae resistente à penicilina.

Flucitosina Inibe a síntese da timidina por meio da Utilizada em combinação com anfotericina B para meningite por
inibição do timidilato sintase criptococos

Rifam pi na Inibe a síntese de mRNA por meio da Utilizada em combinação com isoniazida e outros fármacos para
inibição de RNA-polimerase tratar a tuberculose

DHFR = di-hidrofolate redutase; GI = gastrintestinal; MRSA = Staphylococcus aureus res istente à meticilina; PABA = ácido para-aminobenzoico; ITU = infecções do trato
urinário.
1
0 espectro de ação está intencionalmente incompleto. Ele fo i simplificado para o aluno iniciante, a fim de enfatizar os usos mais comuns.
CAPÍTULO 1O Fármacos Antimicrobianos: Mecanismo de Ação 79

COOH

Ácido Di-hidropteroato Ácido Di-hidrofolato Ácido


para-aminobenzoico sintase di-hidrofólico redutase tetra-hidrofólico
(PABA) (DHF) (THF)
+
Outros
componentes
t
Inibido pela
t
Inibido pela
sulfonamida trimetoprima
e
FIGURA 10-9 Mecanismo de ação de sulfonamidas e da trimetoprima. A: Comparação entre as estruturas do ácido p-aminobenzoico (PABA)
e sulfanilamida. Observa-se que a única diferença é a presença de um grupo carboxil (COOH) no PABA, enquanto a sulfanilamida apresenta um
grupo sulfonamida (S0 2NH2). B: Estrutura da trimetoprima. C: Inibição da via do ácido fólico pela sulfonamida e pela trimetoprima. As sulfona-
midas inibem a síntese do ácido d i-hidrofólico (DHF) a partir de seu precursor, o PABA. A trimetoprima inibe a síntese do ácido tetra-hidrofólico
(THF) a partir de seu precursor, o DHF. A perda de THF inibe a síntese de DNA porque THF requer a transferência de um grupo metil para o uracil
para a produção de ti mina, componente essencial do DNA. (Modificada e reproduzida, com permissão, de Corcoran JW, Hahn FE, eds. Mechanism ofAction of
Antimicrobial Agents. Vol. 3 de Antibiotics. Springer-Verlag; 1975.)

Trimetoprima-sulfametoxazol tem utilidade clínica no to. O órgão regulador da qualidade de alimentos e fármacos dos
tratamento de infecções do trato urinário, da pneumonia por Estados Unidos (Food and Drug Administration [FDA]) expres-
Pneumocystis e da shigelose. Também é utilizada profilatica- sou sua preocupação a respeito da possibilidade da ocorrência de
mente em pacientes granulopênicos, a fim de prevenir infecções tendinite e ruptura de tendão causada pelo uso de fluoroquinolo-
oportunistas. na, especialmente em pacientes acima de 60 anos, e em pacientes
sob tratamento com corticosteroides, como a prednisona. Outro
2. Inibição da síntese de DNA importante efeito adverso das fluoroquinolonas é a neuropatia
periférica, que causa, por exemplo, dor, sensação de queimação,
Fluoroquinolonas sensação de dormência, ou formigamento nos braços ou pernas.
As fluoroquinolonas são fármacos bactericidas que bloqueiam
a síntese de DNA bacteriano pela inibição da DNA-girase Flucitosina
(topoisomerase). As fluoroquinolonas, como ciprofloxacina
A flucitosina (fluorocitosina, 5-FC) é um fármaco antifúngico
(Figura 10-10), levofloxacina, norfloxacina, ofloxacina e outras,
que inibe a síntese de DNA. É um análogo nucleosídeo meta-
são ativas contra uma ampla gama de organismos que causam in-
bolizado a fluoruracil, que inibe o timidilato sintase, limitando,
fecções do trato respiratório inferior, do trato intestinal, do trato
assim, o fornecimento de timidina. É utilizada em combinação
urinário e de tecidos esqueléticos e moles. O ácido nalidíxico, que
com anfotericina B no tratamento de infecções disseminadas por
é uma quinolona, mas não uma fluoroquinolona, é muito menos
cândida ou criptocócicas, especialmente meningite criptocócica.
ativo, sendo utilizado apenas no tratamento de infecções do trato
Não é utilizada isoladamente, uma vez que mutantes resistentes
urinário. As fluoroquinolonas não são recomendadas para crian-
emergem muito rapidamente.
ças e mulheres grávidas por danificarem cartilagens em crescimen-
3. Inibição da síntese de mRNA

/\
y A rifampina é utilizada principalmente no tratamento da tuber-
culose, em combinação com outros fármacos, assim como na
HNV profilaxia de contatos próximos de pacientes com meningite cau-
sada por N. meningitidis ou H. influenzae. É também utilizada em
F COOH combinação com outros fármacos no tratamento de endocardite
o associada a válvulas prostéticas, causada por S. epidermidis. Com
exceção da profilaxia de curto prazo da meningite, a rifampina é
FIGURA 10-1 O Ciprofloxacina. O triângu lo indica o grupo ciclopropil. administrada em combinação com outros fármacos, uma vez que
80 PARTE I Bacteriologia Básica

mutantes resistentes surgem em uma taxa elevada quando esta é e enterobactérias produtoras de carbapenemases. As polimixinas
utilizada isoladamente. são peptídeos cíclicos compostos por 10 aminoácidos, seis dos
O mecanismo de ação seletivo da rifampina é baseado no quais são ácido diaminobutírico. Os grupos amino livres de carga
bloqueio da síntese de mRNA pela RNA-polimerase bacteriana, positiva atuam como um detergente catiônico, rompendo a estru-
sem afetar a RNA-polimerase das células humanas. A rifampina é tura fosfolipídica da membrana celular.
vermelha, de modo que a urina, a saliva e o suor de pacientes que A daptomicina é um lipopeptídeo cíclico que degrada a
utilizam rifampina frequentemente assumem coloração laranja, membrana celular de cocos gram-positivos. Tem ação bacte-
o que é desagradável, porém inócuo. A rifampina é excretada em ricida contra microrganismos como S. aureus, S. epidermidis,
altas concentrações na saliva, fato responsável por seu sucesso na S. pyogenes, Enterococcus faecalis e E. faecium, incluindo linha-
profilaxia da meningite bacteriana, uma vez que os organismos gens de S. aureus e S. epidermidis resistentes à meticilina, linha-
encontram-se presentes na garganta. gens de S. aureus resistentes à vancomicina, e linhagens de E.
O rifabutin, um derivado da rifampina que apresenta o mes- f aecalis e E. f aecium resistentes à vancomicina. É aprovada para
mo modo de ação da última, é útil na prevenção de doença cau- uso em infecções graves de pele e de tecidos moles causadas por
sada por Mycobacterium avium-intracellulare em pacientes que essas bactérias.
apresentam quantidades reduzidas de células T auxiliares (p. ex.,
no caso de pacientes com a síndrome da imunodeficiência adqui- 2. Alterações de membranas celulares fúngicas
rida [Aids]). Observe que o rifabutin não causa aumento do cito-
A anfotericina B, o fármaco antifúngico mais importante, é
cromo P-450, ao contrário da rifampina. Assim, o rifabutin pode
utilizado no tratamento de uma variedade de doenças fúngicas
ser utilizado por pacientes com HIV/ Aids que utilizam fármacos
inibidores de protease ou NRTI. disseminadas. É classificada como um composto polieno porque
A fidaxomicina (Dificid) inibe a ação da RNA-polimerase apresenta um conjunto de sete ligações duplas insaturadas na es-
trutura de seu anel macrolídeo (poli significa muitos, e o sufixo
de C. difficile. Esse fármaco é usado no tratamento de colite pseu-
domembranosa e na prevenção de recidivas dessa doença. A fi-
eno indica a presença de ligações duplas; Figura 10-11). Esse fár-
maco rompe a membrana celular de fungos devido à sua afini-
daxomicina inibe especificamente o crescimento de C. difficile e
não afeta a microbiota normal do colo, composta por bactérias dade por ergosterol, componente das membranas fúngicas, mas
não das membranas de células bacterianas ou humanas. Fungos
gram-negativas.
resistentes à anfotericina B raramente foram recuperados a partir
de espécimes de pacientes.
A anfotericina B apresenta significativa toxicidade renal e
ALTERAÇÃO DA FUNÇÃO DA medidas dos níveis séricos de creatinina são realizadas para mo-
MEMBRANA CELULAR nitorar a dose. A nefrotoxicidade é reduzida de forma significati-
va quando o fármaco é administrado em veículos lipídicos como
1. Alteração das membranas celulares
lipossomos. Todavia, essas formulações são de alto custo. Febre,
bacterianas calafrios, náusea e vômitos são efeitos colaterais comuns.
Existem poucos compostos antimicrobianos que atuam sobre a A nistatina é outro agente antifúngico polieno que, em vir-
membrana celular, uma vez que as semelhanças estruturais e quí- tude de sua toxicidade, é utilizado topicamente em infecções cau-
micas das membranas celulares bacterianas e humanas dificul- sadas pela levedura Candida.
tam a existência de toxicidade seletiva suficiente. A terbinafina bloqueia a síntese de ergosterol pela inibição
As polimixinas constituem uma família de antibióticos po- do escaleno epoxidase. É utilizada no tratamento de infecções
lipeptídicos dentro da qual o composto clinicamente mais útil dermatológicas da pele e das unhas.
é a polimixina E (colistina). Ela é ativa contra bastonetes gram- Os azóis são fármacos antifúngicos que atuam inibindo a
-negativos, especialmente P. aeruginosa, Acinetobacter baumannii síntese de ergosterol. Eles bloqueiam a demetilação dependente

OH o OH OH OH OH o
HOOC

HO

OH

FIGURA 10-11 Anfotericina B.


CAPÍTULO 1O Fármacos Antimicrobianos: Mecanismo de Ação 81

N
OH N
N~ 1 ; ~
'--:::
1-1 N02
1 N-CH2 - C-CH2-N 1
NYN -CH2CH2OH
""=N
~
N
I
o F CONHNH2

A. lsoniazida
CH 3

B. Metronidazol

F FIGURA 10-13 A: lsoniazida. B: Metronidazol.

Fluconazol

FIGURA 10-12 Fluconazol.


sistência ao fármaco. Seu principal efeito colateral consiste na
toxicidade hepática. O fármaco é administrado associado à piri-
doxina, a fim de prevenir complicações neurológicas.
O metronidazol (Flagyl) é bactericida contra bactérias
do citocromo P-450 do lanosterol, um precursor do ergosterol.
anaeróbias. (Também é eficaz contra determinados protozoá-
Fluconazol, cetoconazol, voriconazol, posaconazol e itraconazol
rios, como Giardia e Trichomonas.) O metronidazol é um pró-
são utilizados no tratamento de doenças fúngicas sistémicas; clo-
-fármaco ativado para o composto ativo nas bactérias anaeró-
trimazol e miconazol são utilizados apenas topicamente, pois são
bias por meio de redução mediada por ferredoxina de seu grupo
muito tóxicos para serem administrados sistemicamente. Os dois
nitro.
anéis azol contendo nitrogênio do fluconazol podem ser obser-
Esse fármaco exibe dois possíveis mecanismos de ação, não
vados na Figura 10-12.
estando claro qual deles é o mais importante. O primeiro, que
O cetoconazol tem utilidade no tratamento de blastomicose,
explica sua especificidade por anaeróbios, corresponde à sua ca-
candidíase mucocutânea, coccidioidomicose e infecções cutâ-
pacidade de atuar como depósito de elétrons. Ao captar os elé-
neas causadas por dermatófitos. O fluconazol é útil no tratamen-
trons, o fármaco priva o organismo do poder redutor necessário.
to de infecções por cândida e criptococos. Itraconazol é utilizado
Além disso, quando os elétrons são adquiridos, o anel do fármaco
no tratamento de histoplasmose e blastomicose. Posaconazol é
é clivado e forma-se um intermediário tóxico que provoca da-
utilizado no tratamento de candidíase da parte oral da faringe e
nos ao DNA. A natureza precisa do intermediário e sua ação são
na prevenção de infecções por Candida e Aspergillus em indiví-
desconhecidas. A estrutura do metronidazol é apresentada na
duos imunocomprometidos. O miconazol e o clotrimazol, dois
Figura 10-13.
outros imidazois, são úteis para o tratamento tópico de infecções
O segundo mecanismo de ação do metronidazol consiste em
por Candida e também no tratamento de dermatofitoses. Fungos
sua capacidade de inibir a síntese de DNA. O fármaco liga-se ao
resistentes a azóis raramente foram recuperados a partir de espé-
DNA e provoca clivagem nas fitas, impedindo sua atuação ade-
cimes de pacientes.
quada como um molde para a DNA-polimerase.
O etambutol é um fármaco bacteriostático ativo contra
M. tuberculosis e várias micobactérias atípicas. Acredita-se que
MECANISMOS FARMACOLÓGICOS atue inibindo a síntese de arabinogalactano, que promove a liga-
ADICIONAIS ção entre os ácidos micólicos e o peptideoglicano do organismo.
A pirazinamida (PZA) é um fármaco bactericida utilizado
1. Atividade antibacteriana no tratamento da tuberculose, mas não no tratamento da maioria
A isoniazida, ou hidrazida do ácido isonicotínico (INH, iso- das infecções micobacterianas atípicas. PZA é particularmente
nicotinic acid hydrazide ), é um fármaco altamente específico eficiente contra organismos semidormentes presentes na lesão,
para o Mycobacterium tuberculosis e outras micobactérias. É os quais não são afetados por INH ou rifampina. PZA atua ini-
utilizada em combinação com outros fármacos no tratamento bindo um ácido graxo sintase, impedindo a síntese de ácido mi-
da tuberculose, e isoladamente na prevenção de tuberculose cólico. PZA é convertida ao intermediário ativo, o ácido pirazi-
em indivíduos expostos. Uma vez que penetra bem em células noico, por uma amidase de micobactérias.
humanas, é eficaz contra os organismos que crescem no inte-
rior de macrófagos. A estrutura da isoniazida é apresentada na
2. Atividade antifúngica
Figura 10-13.
A INH inibe a síntese de ácido micólico, o que explica sua A griseofulvina é um fármaco antifúngico útil no tratamento de
especificidade por micobactérias e sua relativa atoxicidade para infecções nos cabelos e nas unhas causadas por dermatófitos. Ela
seres humanos. O fármaco inibe a redutase necessária à síntese liga-se à tubulina dos microtúbulos e pode atuar impedindo a
de ácidos graxos de cadeia longa, denominados ácidos micólicos, formação do fuso mitótico.
os quais são constituintes essenciais das paredes celulares de mi- A pentamidina é ativa contra fungos e protozoários. É am-
cobactérias. O fármaco ativo provavelmente corresponde a um plamente utilizada na prevenção ou no tratamento de pneumonia
metabólito de INH, formado pela ação de catalase-peroxidase, causada por Pneumocystis jiroveci. Inibe a síntese de DNA por
uma vez que a deleção dos genes destas enzimas resulta em re- um mecanismo desconhecido.
82 PARTE I Bacteriologia Básica

QUIMIOPROFILAXIA - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Na maioria dos casos, os agentes antimicrobianos descritos nes- É de particular importância a prevenção de endocardite em
te capítulo são utilizados no tratamento de doenças infecciosas. pacientes submetidos a cirurgias odontológicas e que apresentam
Entretanto, existem situações em que eles são usados para pre- danos em válvulas cardíacas ou em uma válvula cardíaca pros-
venir a ocorrência de doenças - um processo chamado de qui- tética pelo uso pré-operatório de amoxicilina. A profilaxia para
mioprofilaxia. prevenir endocardite em pacientes submetidos à cirurgia do trato
A quimioprofilaxia é utilizada em três circunstâncias: antes gastrintestinal ou urogenital não é recomendada.
de procedimentos cirúrgicos, em pacientes imunocomprometi- A cefazolina é frequentemente utilizada para a prevenção de
dos, e em indivíduos apresentando imunidade normal que foram infecções estafilocócicas em pacientes que irão se submeter a cirur-
expostos a determinados patógenos. A Tabela 10-7 descreve os gias ortopédicas, incluindo implantes de próteses. A quimioprofi-
fármacos e as situações em que são utilizados. Para mais infor- laxia é desnecessária em indivíduos com implantes de cateteres de
mações, ver capítulos sobre os organismos individuais. diálise, marca-passo cardíaco ou derivação ventriculoperitoneal.

PROBIÕTICOS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Ao contrário dos antibióticos químicos previamente descritos patogênicas que podem ser eficazes no tratamento ou na preven -
neste capítulo, os probióticos consistem em bactérias vivas e não ção de certas doenças humanas. A base sugerida para o possível

TABELA 10-7 Uso quimioprofilático dos fármacos descritos neste capítulo

Número do capítulo para


Fármaco Uso informação adicional

Penicilina 1. Prevenir faringite recorrente em indivíduos que apresentam febre reumática 15


2. Prevenir sífilis em indivíduos expostos a Treponema pallidum 24
3. Prevenir sepse pneumocócica em crianças esplenectomizadas 15

Ampicilina Prevenir sepse e meningite neonatal em crianças nascidas de mães portadoras de 15


estreptococos do grupo B

Amoxicilina Prevenir endocardite causada por estreptococos do grupo viridans em indivíduos com 15
válvulas cardíacas danificadas e submetidos à cirurgia odontológica

Cefazolina Prevenir infecções estafilocócicas de feridas cirúrgicas 15

Ceftriaxona Prevenir gonorreia em indivíduos expostos a Neisseria gonorrhoeae 16

Ciprofloxacina 1. Prevenir meningite em indivíduos expostos a Neisseria meningitidis 16


2. Prevenir antraz em indivíduos expostos a Bacil/us anthracis 17
3. Prevenir infecções em paciente neutropênicos 68

Rifam pi na Prevenir meningite em pacientes expostos a N. meningitidis e Haemophilus influenzae 16, 19

lsoniazida Prevenir a progressão de Mycobacterium tubercu/osis em indivíduos de alto risco, recen- 21


1
temente infectados e assintomáticos

Eritromicina 1. Prevenir coqueluche em indivíduos de alto risco expostos a Bordetel/a pertussis 19


2. Prevenir conjuntivite gonocócica e clamidial em recém-nascidos 16, 25

Tetraciclina Prevenir a peste em indivíduos de alto risco expostos a Yersinia pestis 20

Fluconazol Prevenir meningite criptocócica em pacientes com Aids 50

Clotrimazol Prevenir monilíase em pacientes com Aids e em outros indivíduos com imunidade ce- 50
lular reduzida

Trimetoprima- 1. Prevenir pneumonia por Pneumocystis em pacientes com Aids 52


-sulfa metoxazol
2. Prevenir infecções recorrentes do trato urinário 18

Pentamidina Prevenir pneumonia por Pneumocystis em pacientes com Aids 52

Aids = síndrome da imunodeficiência adquirida.


1
A quimioprofilaxia com isoniazida também é considerada tratamento para indivíduos assintomáticos (ver Capítulo 21 ).
CAPÍTULO 1O Fármacos Antimicrobianos: Mecanismo de Ação 83

efeito benéfico reside no fornecimento de resistência à coloni- significativamente o número de casos de diarreia nosocomial em
zação, em que o organismo não patogênico impede a ligação do crianças. Além disso, a levedura Saccharomyces boulardii reduz
organismo patogênico aos locais da mucosa, na intensificação o risco de diarreia associada a antibióticos, causada por Clostri-
da resposta imune contra o patógeno, ou na redução da respos- dium difficile. Os efeitos adversos são muito raros; entretanto,
ta inflamatória contra o patógeno. Por exemplo, a administração complicações graves vêm sendo observadas em pacientes imu-
oral de Lactobacillus rhamnosus vivos da linhagem GG reduz nossuprimidos e em pacientes com cateteres vasculares.

CONCEITOS-CHAVE

• Para que um antibiótico seja útil clinicamente, ele deve apresen- • Hipersensibilidade às penici linas, especialmente anafilaxia
tar toxicidade seletiva (i.e., deve inibir processos bacterianos mediada por lgE, ainda é um problema significativo.
de forma mais significativa que processos de células humanas). • Cefalosporinas são estruturalmente similares às penicilinas: am-
• Os fármacos antibióticos possuem quatro alvos principais: a pa- bas apresentam o anel 13-lactâmico. A p rimeira geração de cefa-
rede celular, os ribossomos, a membrana celular e os ácidos losporinas é ativa principalmente contra cocos gram-positivos, e
nucleicos. Células humanas não são afetadas por esses fármacos, a segunda, terceira e quarta gerações possuem espectro de ação
uma vez que não possuem parede celu lar, além de apresentarem ampliado, agindo contra bacilos gram-negativos.
ribossomos, enzimas envolvidas no metabolismo do ácido nu- • As carbapenemas, como o imipenem e os monobactâmicos,
cleico e esteróis de membranas distintos das células bacterianas. como o aztreonam, também são fármacos 13-lactâmicos, embo-
ra sejam estruturalmente diferentes das penicilinas e cefalospo-
• Fármacos bactericidas matam as bactérias, ao passo que os
rinas.
fármacos bacteriostáticos inibem o crescimento das bactérias,
sem, no entanto, causar a sua morte. Fármacos bacteriostáticos • A vancomicina é um glicopeptídeo (i.e., não apresenta anel 13-
dependem dos fagócitos do paciente para matar os microrganis- -lactâmico) com mecanismo de ação muito similar ao das penici-
mos. Se o paciente apresenta poucos neutrófilos, fármacos bac- linas e cefalosporinas (i.e., inibem transpeptidases).
tericidas devem, então, ser utilizados. • A caspofungina é um lipopeptídeo que inibe a síntese de
pa rede celular fúngica, bloqueando a síntese de 13-glicano,
Inibição da síntese da parede celular um polissacarídeo que compõe a parede celular desses o rga-
nismos.
• Penicilinas e cefalosporinas agem inibindo transpeptidases,
as enzimas que promovem a ligação cruzada do peptideogli-
cano. Transpeptidases também são referidas como proteínas
Inibição da síntese proteica
ligadoras de penicilina. Várias bactérias de importância médi- • Os aminoglicosídeos e as tetraciclinas agem na subunidade
ca (p. ex., Streptococcus pneumoniae) manifestam resistência às 305 do ribossomo bacteriano, ao passo que o cloranfenicol, a
penicilinas, graças a mutações nos genes codificadores das pro- eritromicina e a clindamicina agem na subunidade SOS do ri-
teínas ligadoras de penicilina. bossomo bacteriano.

• A exposição a penicilinas ativa enzimas autolíticas que degra- • Os aminoglicosídeos inibem a síntese de proteínas bacterianas
pela ligação à subunidade 305 ribossomal, bloqueando o com-
dam bactérias. Se essas enzimas autolíticas não estiverem ativa-
plexo de iniciação. Dessa forma, ligações peptídicas não são
das (p. ex., como em algumas linhagens de Staphy/ococcus au-
formadas. A gentamicina, a tobramicina e a estreptomicina são
reus), a bactéria não é morta, e a linhagem é dita tolerante.
exemplos de aminoglicosídeos.
• As penicilinas matam as bactérias quando estas estão em fase de
• As tetraciclinas inibem a síntese de proteínas bacterianas, blo-
multip licação (i.e., durante a síntese ativa de peptideoglicano).
queando a ligação da aminoacil tRNA sintase na subunidade
Dessa forma, as penicilinas são mais ativas durante a fase log
305 do ribossomo. As tetraciclinas representam uma classe de
de crescimento bacteriano do que durante as fases lag ou esta- fármacos; a doxicicli na é a tetraciclina utilizada com mais fre-
cionária. quência.
• As penicilinas e cefa losporinas são fármacos P-lactâmicos • O cloranfenicol inibe a síntese p roteica bacteriana por meio do
(i.e., requerem um anel P-lactâmico íntegro para que funcio- bloqueio da peptidil transferase, enzima que adiciona novos
nem). As P-lactamases (p. ex., penicilinases e cefalosporinases) aminoácidos à cadeia polipeptídica nascente. Esse fármaco pode
clivam o anel 13-lactâmico, inativando o fármaco. causar supressão da medula óssea.
• Modificações na cadeia lateral adjacente ao anel 13-lactâmico • A eritromicina inibe a síntese de proteínas bacterianas, blo-
conferem a esses fármacos novas propriedades, como o au- queando a liberação do tRNA após este ter t ransferido seu ami-
mento de sua atividade contra bacilos g ram-negativos, possi - noácido ao polipeptídeo crescente. A eritromicina é um membro
bilidade de administração oral e proteção contra 13-lactamases. da família dos macrolídeos, que inclui a azitromicina e a cla ritro-
Por exemplo, a penicilina original (penicilina G) não pode ser micina.
administrada oralmente, uma vez que os ácidos do estômago • A clindamicina liga-se ao mesmo local ao qual a eritromicina se
causam hid ró lise das ligações entre o anel 13-lactâmico e a ca- liga, no ribossomo bacteriano. Ela é eficaz contra muitas bactérias
deia lateral. Entretanto, a ampicilina e a amoxicilina podem ser anaeróbias. A clindamicina é um dos antibióticos que predispõe
administradas oralmente por apresentarem diferenças nas ca- pacientes à colite pseudomembranosa causada por C/ostridium
deias laterais. difficile e, por isso, é pouco utilizado.
84 PARTE I Bacteriologia Básica

Inibição da síntese de ácidos nucleicos • A anfotericina B causa a ruptura da membrana celular fúngi -
ca por se ligar ao ergosterol na membrana. Esse fármaco é
• As sulfonamidas e a trimetoprima inibem a síntese de nucleo-
usado no tratamento de doenças fúngicas sistêmicas, embora
tídeos; as quinolonas inibem a síntese de DNA; e a rifampina
apresente efeitos colaterais significativos, especialmente nos
inibe a síntese de RNA.
rins.
• As sulfonamidas e a trimetoprima inibem a síntese do ácido
• Os azóis são fármacos antifúngicos que inibem a síntese de er-
tetra-hidrofólico - o principal doador de grupos metil requeri-
gosterol. A família dos azóis incluem fármacos como o cetocona-
dos durante a síntese de adenina, guanina e timina. As sulfona-
zol, o fluconazol, o itraconazol e o clotrimazol. Eles são úteis no
midas são estruturalmente análogas do ácido p -aminobenzoico,
tratamento de micoses sistêmicas e de pele.
um componente do ácido fálico. A trimetoprima inibe a di-hi-
drofolato redutase - enzima que reduz o ácido di-hidrofólico
em ácido tetra -hidrofólico. A combinação de sulfametoxazol e Mecanismos adicionais
trimetoprima é frequentemente usada, uma vez que bactérias • A isoniazida inibe a síntese de ácido micólico - uma longa
resistentes a uma das substâncias geralmente não são resistentes cadeia de ácidos graxos encontrados na parede celular de mico-
à outra. bactérias. A isoniazida é um pró-fármaco que requer a ação da
• As quinolonas inibem a síntese de DNA pelo bloqueio da DNA- peroxidase bacteriana (catalase) para ser ativado, inibindo a
-girase (topoisomerase) - a enzima que desenrola a fita de DNA síntese de ácido micólico. A isoniazida é o fármaco mais impor-
para que ela seja replicada. As quinolonas representam uma tante utilizado no tratamento da tuberculose e de micobactérias
família de fármacos, incluindo a ciprofloxacina, a ofloxacina e a atípicas.
levofloxacina. • O metronidazol é efetivo contra bactérias anaeróbias e cer-
• A rifampina inibe a síntese de RNA bacteriana, bloqueando a tos protozoários, pois age como um depósito de elétrons, rou-
RNA-polimerase que sintetiza o mRNA. A rifampina é geralmen- bando os elétrons necessários para a vida dos organismos. Além
te utilizada em combinação com outros fármacos devido à alta disso, esse fármaco produz formas tóxicas intermediárias, que
taxa de mutação do gene da RNA-polimerase bacteriana, que causam danos ao DNA.
resulta em rápida aquisição de resistência ao fármaco.
Quimioprofilaxia
Alterações na função da membrana celular • Os fármacos antimicrobianos são utilizados na prevenção de
• Fármacos antifúngicos predominam nessa categoria. Esses fár- doenças infecciosas, assim como no tratamento destas. Os fár-
macos apresentam toxicidade seletiva porque as membranas macos quimioprofiláticos são administrados em três diferentes
fúngicas apresentam ergosterol, ao passo que as membranas situações: para prevenir infecções em feridas cirúrgicas, para pre-
das células humanas apresentam colesterol. As bactérias, com venir infecções oportunistas em pacientes imunocomprometi-
exceção dos micoplasmas, não apresentam esteróis de mem- dos, e para prevenir infecções em indivíduos que foram expostos
brana e, portanto, são resistentes a esses fármacos. a patógenos causadores de doenças infecciosas.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO (C) Ambos requerem um anel 13-lactâmico intacto para sua ação
adequada.
1. A cefazolina é frequentemente administrada antes de procedimen- (D) Ambos devem ser administrados a crianças maiores de oito
tos cirúrgicos, visando à prevenção de infecções de feridas cirúrgi- anos, pois podem causar danos a cartilagens.
cas. Qual das opções a seguir representa o mecanismo de ação da (E) Não devem ser administrados juntos por apresentarem efeito
cefazolina? antagônico.
(A) Age como um escoadouro de elétrons. 4. A seguir estão listados fármacos que são utilizados em conjun-
(B) Liga-se na subunidade 30S do ribossomo, inibindo a síntese de to para o tratamento de certas infecções. Qual das combinações
proteínas. representa fármacos que agem inibindo o mesmo processo meta-
(C) Inibe a transcrição de mRNA bacteriano. bólico?
(D) Inibe as transpeptidases necessárias para a síntese do peptide-
(A) Anfotericina e flucitosina.
oglicano.
(B) Isoniazida e rifampina.
(E) Inibe a síntese de ácido fálico, requerido como doador de gru-
( C) Penicilina G e gentamicina.
po metil.
(D) Sulfonamida e trimetoprima.
2. Qual dos fármacos a seguir inibe a síntese de ácido nucleico bacte-
5. A respeito das penicilinas e cefalosporinas, qual das opções a seguir
riano pelo bloqueio do ácido tetra-hidrofólico?
é a mais correta?
(A) Ceftriaxona.
(A) A clivagem do anel 13-lactâmico inativará as penicilinas, mas
(B) Eritromicina.
não as cefalosporinas.
(C) Metronidazol.
(B) As penicilinas, ao contrário das cefalosporinas, agem inibindo
(D) Rifampina.
a ação das transpeptidases.
(E) Trimetoprima.
( C) Ambas são fármacos bactericidas.
3. Considerando as penicilinas e os aminoglicosídeos, qual das opções (D) Ambas são ativas contra cocos gram-positivos, mas não contra
a seguir é a mais acurada? bacilos gram-negativos.
(A) Ambos agem na parede celular. (E) Danos aos túbulos renais representam um importante efeito
(B) Ambos são fármacos bactericidas. adverso causado por ambos os fármacos.
CAPÍTU LO 1O Fármacos Antimicrobianos: Mecanismo de Ação 85

6. A respeito dos fármacos antimicrobianos que agem inibindo a sín- 10. Dos seguintes ant ibióticos, qual deles causa mais fototoxicidade?
tese de ácido nucleico bacteriano, qual das seguintes opções é a mais (A) Anfotericina B.
correta? (B) Ciprofloxacina.
(A) A ciprofloxacina inibe a RNA-polimerase por ser um análogo ( C) Gentamicina.
de ácido nucleico. (D) Metronidazol.
(B) A rifampina inibe a síntese de RNA mensageiro. (E) Sulfametoxazol.
(C) As sulfonamidas inibem a síntese de DNA. 11. Dos seguintes antibióticos, qual causa a síndrome do "homem
(D) A trimetoprima inibe a DNA-polimerase, prevenindo o desen- vermelho"?
rolamento da dupla-fita de DNA.
(A) Azitromicina.
7. A respeito dos aminoglicosídeos e das tetraciclinas, qual das opções (B) Doxiciclina.
é a mais correta? ( C) Gentamicina.
(A) Ambos são bactericidas. (D) Sulfametoxazol.
(B) Ambos previnem a síntese de proteínas por meio da ligação à (E) Vancomicina.
subunidade 30S do ribossomo.
(C) Ambos inibem a peptidiltransferase.
(D) Ambos devem ser acetilados pelas células humanas para que RESPOSTAS
sejam ativos.
(E) Ambos causam escurecimento dos dentes quando administra- 1. (D)
dos a crianças pequen as. 2. (E)
3. (B)
8. A toxicidade seletiva de fármacos antifúngicos, como a anfoterici-
4. (D)
na B e o itraconazol, é baseada na presença da seguinte estrutura
5. (C)
fúngica:
6. (B)
(A) Subunidade 30S ribossomal. 7. (B)
(B) Di-hidrofolato redutase. 8. (D)
(C) DNA-girase. 9. (C)
(D) Ergosterol. 10. (E)
(E) Ácido micólico. 11. (E)
9. As próximas três questões são a respeito de efeitos adversos causa-
dos por antibióticos. Qual entre os antibióticos abaixo causa uma
neurotoxicidade significativa e precisa ser administrado conjunta- QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
mente com a vitamina B6 para prevenir complicações neurológicas?
(A) Amoxicilina. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
(B) Ceftriaxona. contradas na seção de Bacteriologia Básica da Parte XIII: Ques-
( C) lsoniazida. tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam-
(D) Rifampina. bém a parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
(E) Vancomicina. página 731.
CA P ÍTU L O

11 Fármacos Antimicrobianos:
Resistência

CONTEODO DO CAPITULO

Princípios de resistência a antibióticos Testando a sensibilidade aos ant lbiótkos


Bases genéticas da resistência Coocentração inibidora mínima
Resistência mediada por cromossomos Concentração bactericida mínima
Resistência mediada por plasmjdeos Atividade bacte,icida do soro
Resistência mediada pot ttansposons Produção de ~ lactamase
Mecanismos especfficos de resistência Uso de combinações de antibióticos
Bases não genéticas da resistência Conceitos-chave
Seleção de bactérias resistentes por uso excessivo e uso Aplique seu conhecimento
incorreto de antibióticos Questões para autoavaliação

PRINcfPIOS DE RESISTtNCIA A tteptomicil1a. assim como um rRNA 23S meti)ado pode resultar em
resistêocia à eritromicina). (3) As bactérias reduz.em sua permea•
ANTIBIÓTICOS bllidade ao fármaco, de modo que uma concentração intrac.elular
Há quatro me<:rutism.os principais que medeiam a resistência das efetiva do fánnaco não é obtida (p. ex., modificações nas porinas
bactérias aos fármacos (Tabela 11 • l). ( l) As bactérias produzem en- podem reduzir a quantidade de penicilina que penetra na bactéria).
zimas que inatiyam o fármaco (p. ex., as í3,-lactamases podem ina. (4) As bactérias exportam fármacos ativamente por meio do uso
tivat penicilinas e cefuJospotinas pe)a clivagem do anel íi-1actàmico de "bombas de resistência múltipJa a fàtmacos" (bomba MOR, ou
do fánnaco). (2) As bactérias sintetizam afros modificados, contra bomba de ..efluxo''). A bomba l\.1DR importa prótons e, em uma
os quais os fármacos não t~m efeito (p. ex.. uma proteú1a mutante reação do tipo permutação. exporta uma variedade de moléculas
na subunidade ribossomal 30S pode resultar em resistência à es- exógenas. incluindo certos antibióticos. como as tetraciclinas.

TABELA 11-1 Mecanismo.sde resistência a fármacos

1Mecanismo Eumplo Importam "rmKOI comumente aletados

lnativaçào do fármaco Clivagem pela JHactamase Fármacos 1Hactàmicos, como penicilinas


e cefalosporinas

Modificação do alvo do fármaco 1. Mutação nas proteínas de ligação à penicilina Penicilinas


nas bactérias
2. Mutação"ª proteína da subut'lidade rfüossomal 30S Aminoglicosídeos, como a estreptomicina
3. Substituição da alanina por lactato no peptidooglicano Vancomicina
4. Mutação na ONA-girase Quinolonas
s. Mutação na RNA·poUmerase Rifampina
6. Mutação na catalase,peroxidase lsoniazida

Redução na permeabilidade ao Mutação nas proteínas porinas Penicilinas, aminoglicosídeos e outros


fár-maco
E,q)ottação do fármaco pelas Bomba de resist~cia a múltiplos fármacos Tettacid inas, sulfonamidas, quinolonas
bactérias
CAPÍTULO 11 Fármacos Antimicrobianos: Resistência 87

Grande parte da resistência ao fármaco deve-se a uma TABELA 11-2 Bactérias de importância médica que
modificação genética do organismo, tanto a uma mutação exibem significativa resistência a fármacos
cromossômica quanto à aquisição de um plasmídeo ou trans-
Resistência a fármacos
poson. Mudanças não genéticas, as quais possuem menor im-
Tipo de bactérias clinicamente significativa
portância, serão discutidas no tópico das bases não genéticas
da resistência. Cocos gram-positivos
O termo alto nível de resistência é utilizado para os casos em Staphylococcus aureus Penicilina G, meticilina/nafcilina
que a resistência ao antimicrobiano não pode ser superada pelo Streptococcus pneumoniae Penicilina G
aumento da dose do fármaco. Nesses casos, um antibiótico, geral- Enterococcus faecalis, Penicilina G, aminoglicosídeos,
mente de uma classe diferente, é utilizado. A resistência mediada E. faecium vancomicina
por enzimas, como as J3-lactamases, frequentemente resulta em
Cocos gram-negativos
altos níveis de resistência, uma vez que todo o fármaco é des-
truído pela bactéria. O termo baixo nível de resistência é utili-
Neisseria gonorrhoeae Penicilina G

zado quando a resistência pode ser superada pelo aumento da Bacilos gram-positivos
dose do antibiótico. A resistência mediada por mutações no gene Nenhum
codificador do alvo do fármaco é, muitas vezes, associada com
baixo nível de resistência, uma vez que o fármaco ainda pode se Bacilos gram-negativos
ligar ao alvo, embora com intensidade reduzida. Haemophi/us influenzae Ampicilina
1
Ilustrando o uso desses termos, cepas de Neisseria Pseudomonas aeruginosa 13-lactâmicos, aminoglicosídeos
2 1
gonorrhoeae que produzem penicilinases não podem ser tratadas Enterobacteriaceae 13-lactâmicos, aminoglicosídeos
de forma bem-sucedida com penicilina G. Elas exibem um alto
Micobactérias
nível de resistência e, nesses casos, um fármaco diferente, como
Mycobacterium tubercu/osis3 lsoniazida, rifampina
ceftriaxona, deve ser usado. Entretanto, amostras de N. gonorrho-
M. avium-intracellulare lsoniazida, rifampina e muitos
eae que sintetizam proteínas-alvo de penicilina com certas altera-
outros
ções estruturais podem ser tratadas com altas doses de penicilina.
Há uma probabilidade significativamente aumentada de in- '~-lactâmicos são as penicilinas e as cefalosporinas.
2
A família Enterobacteriaceae inclui bactérias como Escherichia coli, Enterobacter
fecções hospitalares serem causadas por organismos resistentes
cloacae, Klebsie/la pneumoniae e Serratia marcescens.
a antibióticos, quando comparadas às infecções adquiridas na 3
Algumas cepas de M. tuberculosis são resistentes a mais de dois fármacos.
comunidade. Esse fato é especialmente verdadeiro no caso de in-
fecções hospitalares causadas por Staphylococcus aureus e bacilos
entéricos gram-negativos, como Escherichia coli e Pseudomonas tâneas geralmente varia de 10-7 a 10-9, valores muito inferiores
aeruginosa. Os organismos resistentes a antibióticos são comuns à frequência de aquisição de plasmídeos de resistência. Desse
em ambientes hospitalares, uma vez que a ampla utilização de modo, a resistência cromossômica representa um problema clí-
antibióticos em hospitais promove a seleção desses organismos. nico menor do que a resistência mediada por plasmídeos.
Além disso, as cepas hospitalares são frequentemente resistentes O tratamento de certas infecções com dois ou mais fár-
a múltiplos antibióticos. Essa resistência geralmente decorre da macos se baseia no seguinte princípio: se a frequência com
aquisição de plasmídeos carreando vários genes que codificam as que uma bactéria sofre mutações e se torna resistente ao anti-
enzimas mediadoras da resistência. biótico A é de 10· 7 (1 em 10 milhões) e a frequência com que
A Tabela 11-2 descreve determinadas bactérias de impor- a mesma bactéria sofre mutações para se tornar resistente ao
tância médica e os principais fármacos aos quais são resistentes. antibiótico B é de 10-8 (1 em 100 milhões), então a chance de a
Observa-se que, embora essas bactérias sejam também resisten- bactéria se tornar resistente a ambos os antibióticos (assumin-
tes a outros fármacos, para simplificar, apenas os fármacos mais do-se que estes agem por mecanismos distintos) é a soma das
característicos estão listados. Algumas linhagens das bactérias duas probabilidades, ou de 10- 15 • Assim, é altamente improvável
listadas na Tabela 11-2 são altamente resistentes a múltiplos anti- que a bactéria se torne resistente a ambos os antibióticos. Dito
bióticos, denominadas S. aureus resistentes à meticilina (MRSA; de outra maneira, embora um organismo possa ser resistente
ver Capítulo 15), Enterococcus faecium resistentes à vancomicina a um antibiótico, é provável que seja tratado de maneira eficaz
(VRE; ver Capítulo 15), Streptococcus pneumoniae resistentes a pelo outro antibiótico.
múltiplos fármacos (MDR-SP; ver Capítulo 15), P. aeruginosa
(ver Capítulo 18) e Mycobacterium tuberculosis resistentes a múl- Resistência mediada por plasmídeos
tiplos fármacos (MDR-MTB; ver Capítulo 21).
Do ponto de vista clínico, a resistência mediada por plasmídeos
exibe grande importância por três razões:
BASES GENÉTICAS DA RESISTÊNCIA ( 1) Ocorre em várias espécies diferentes, especialmente em
bacilos gram-negativos.
Resistência mediada por cromossomos (2) Os plasmídeos frequentemente medeiam a resistência a
A resistência cromossômica deve-se a uma mutação no gene que múltiplos fármacos.
codifica o alvo do fármaco ou o sistema de transporte que con- (3) Os plasmídeos exibem uma alta taxa de transferência de
trola a captação do fármaco. A frequência de mutações espon- uma célula a outra, geralmente por conjugação.
88 PARTE I Bacteriologia Básica

Plasmídeos de resistência (fatores de resistência, fatores R) TABELA 11-3 Mecanismos de resistência mediada por
são moléculas de DNA de dupla-fita extracromossômicos e circu- fator R
lares que carreiam os genes de uma variedade de enzimas capazes
Fármaco Mecanismo de resistência
de degradar antibióticos e modificar os sistemas de transporte de
membrana (Figura 11-1). A Tabela 11-3 descreve os principais Penicilinas e Clivagem de í3-lactamase de anel í3-lactâmico
mecanismos de resistência a vários fármacos importantes. cefalosporinas
Os fatores R podem carrear um gene de resistência a antibió-
Aminoglicosídeos Modificação por acetilação, adenililação ou
ticos ou podem carrear dois ou mais desses genes. A implicação
fosforilação
médica de um plasmídeo carrear mais de um gene de resistência
é dupla: primeiro, e mais óbvio, é o fato de uma bactéria conten- Cloranfenicol Modificação por acetilação
do aquele plasmídeo poder ser resistente a mais de uma classe de
antibióticos (p. ex., penicilinas e aminoglicosídeos), e, segundo, Eritromicina Mudança no receptor por mutilação do rRNA
o uso de um antibiótico que seleciona um organismo resistente Tetraciclina Captação reduzida ou transporte aumentado
a outro antibiótico selecionará um organismo resistente a todos
os antibióticos cujos genes de resistência sejam carreados pelo Sulfonamidas Saída ativa da célula e afinidade reduzida da
plasmídeo. Por exemplo, se um organismo possui o plasmídeo enzima
R ilustrado na Figura 11-1, o uso de penicilina selecionará um
organismo resistente não somente à penicilina, mas também a
tetraciclinas, aminoglicosídeos (como estreptomicina e gentami- aproximadamente 60 milhões, e plasmídeos pequenos, com peso
cina), cloranfenicol e eritromicina. molecular de cerca de 10 milhões. Os plasmídeos grandes corres-
Além da produção de resistência a fármacos, os fatores R pondem a fatores R conjugativos, os quais contêm o DNA adicio-
apresentam duas propriedades muito importantes: (1) podem nal para codificar o processo de conjugação. Os fatores R peque-
replicar-se independentemente do cromossomo bacteriano; as- nos não são conjugativos e contêm apenas os genes de resistência.
sim, uma célula pode conter várias cópias; e (2) podem ser trans- Além de conferir resistência a antibióticos, os fatores R
feridos não somente a células da mesma espécie, mas também a transmitem duas outras características: (1) resistência a íons me-
outras espécies e gêneros. Observa-se que essa transferência por tálicos (p. ex., codificam uma enzima que reduz íons mercúricos
conjugação encontra-se sob o controle dos genes do plasmídeo R a mercúrio elementar); e (2) resistência a certos vírus bacteria-
e não do plasmídeo F (fertilidade), o qual controla a transferência nos por codificarem endonucleases de restrição que degradam o
do cromossomo bacteriano (ver Capítulo 4). DNA de bacteriófagos infectantes.
Os fatores R são encontrados em duas amplas categorias
quanto ao tamanho: plasmídeos grandes, com peso molecular de Resistência mediada por transposons
Os transposons são genes transferidos no interior do DNA ou
entre grandes segmentos deste, como o cromossomo bacteriano
e os plasmídeos. Um típico transposon de resistência a fármacos
é composto por três genes flanqueados em ambos os lados por
sequências de DNA mais curtas, geralmente uma série de bases
repetidas invertidas que medeiam a inteiração do transposon
com o DNA maior (ver Figura 2-7). Os três genes codificam (1)
a transposase, enzima que catalisa a excisão e reintegração do
transposon; (2) um repressor que regula a síntese de transposase;
Tetraciclina Gentamicina
e (3) o gene de resistência ao fármaco.

Estreptomicina MECANISMOS ESPECÍFICOS DE


RESISTÊNCIA
Penicilina Cloranfenicol
Q ºe;, Penicilinas e cefalosporinas. Existem vários mecanismos de
$/)08 ~ro.º
de resistência a\~ resistência a esses fármacos. A clivagem mediada por (3-lacta-
mases (penicilinases e cefalosporinases) é de longe o mecanismo
FIGURA 11-1 Plasm ídeo de resistência (plasm ídeo R, fator R). mais importante (ver Figura 10-1). As 13-lactamases produzidas
A maioria dos plasmídeos de resistência possui dois conj untos de
por vários organismos apresentam diferentes propriedades. Por
genes: (1) genes de resistência que codificam o pilus sexual e outras
exemplo, a penicilinase estafilocócica é indutível pela penicili-
proteínas med iadoras de t ransferência do DNA plasmid ial durante a
conjugação; e (2) genes de resistência a fármacos que codificam as na, sendo secretada no meio. Em contrapartida, algumas 13-lac-
proteínas med iadoras da resistência a fármacos. A metade inferior tamases produzidas por diversos bacilos gram-negativos são
da figura ilustra, da esquerda para a direita, os genes que codificam a produzidas constitutivamente, situam-se no espaço periplasmá-
resistência a tetraciclina, estreptomicina, penicilina (í3-lactamase), clo- tico próximo ao peptideoglicano e não são secretadas no meio.
ranfenicol, eritromicina e gentamicina. As 13-lactamases produzidas por vários bacilos gram-negativos
CAPÍTULO 11 Fármacos Antimicrobianos: Resistência 89

exibem especificidades distintas; algumas são mais ativas contra na Europa; entretanto, seu uso não foi aprovado nos Estados Uni-
cefalosporinas, outras, contra penicilinas. O ácido clavulânico e dos.) O locus VanA codifica as enzimas que sintetizam D-alanina-
o sulbactam são análogos de penicilina que se ligam fortemente -D-lactato, assim como várias proteínas reguladoras.
às ~-lactamases, inativando-as. Combinações desses inibidores e Linhagens de enterococos resistentes à vancomicina (VRE)
penicilinas (p. ex., ácido clavulânico e amoxicilina [Augmentin]) têm sido obtidas de espécimenes clínicos. Raros isolados de
podem sobrepujar a resistência mediada por muitas das ~-lacta- S. aureus exibindo resistência à vancomicina também foram re-
mases, mas não por todas. cuperados de espécimes de pacientes. Raros isolados de S. pneu-
As ~-lactamases de espectro estendido (ESBLs, extended- moniae exibindo tolerância à vancomicina foram também re-
-spectrum {3-lactamases) são produzidas por várias bactérias en- cuperados.
téricas, principalmente E. coli, Klebsiella, Enterobacter e Proteus. Aminoglicosídeos. A resistência a aminoglicosídeos ocorre
ESBLs conferem às bactérias resistência a todas as penicilinas, por três mecanismos: (1) modificação de fármacos por enzimas
cefalosporinas e monobactâmicos. Entretanto, essas bactérias de fosforilação, adenililação e acetilação (o mecanismo mais im-
permanecem sensíveis a combinações, como piperacilina/tazo- portante) codificadas por plasmídeo; (2) mutação cromossômica
bactam. Em 2009, uma nova cepa altamente resistente de Kleb- (p. ex., uma mutação no gene codificador da proteína-alvo na
siella foi isolada na Índia, carreando um plasmídeo que codifica- subunidade 30S do ribossomo bacteriano); e (3) diminuição da
va a metalo-~-lactamase Nova Délhi (NDM-1). Esse plasmídeo permeabilidade da bactéria ao fármaco.
confere altos níveis de resistência a muitos antibióticos, e tem se Tetraciclinas. A resistência às tetraciclinas resulta da inca-
espalhado para outras enterobactérias. Enterobactérias resisten- pacidade de o fármaco atingir uma concentração inibidora no
tes carreando ND M-1 têm surgido em vários países, incluindo os interior das bactérias. Isso decorre de processos codificados por
Estados Unidos. plasmídeos, que reduzem a captação do fármaco ou aumentam
A resistência às penicilinas também pode ocorrer devido a seu transporte para fora da célula.
modificações nas proteínas de ligação à penicilina (PBPs) da Cloranfenicol. A resistência ao cloranfenicol é devida à pre-
membrana celular bacteriana. Estas modificações são responsá- sença de acetiltransferases codificadas por plasmídeos. As acetil-
veis tanto pelos baixos quanto pelos altos níveis de resistência à transferases acetilam o fármaco, inativando-o.
penicilina G apresentados pelo S. pneumoniae, e também pela re- Eritromicina. A resistência à eritromicina é devida, princi-
sistência do S. aureus à nafcilina e a outras penicilinas resistentes palmente, a uma enzima codificada por plasmídeo que metila o
à ~-lactamase. A resistência de MRSA a quase todos os ~-lactâ- rRNA 23S e, desta forma, bloqueia a ligação do fármaco a seu
micos é atribuída à presença de proteínas de ligação à penicilina alvo. Uma bomba de efluxo, que reduz a concentração da eritro-
(do tipo 2a, encontrado particularmente em MRSA). A relativa micina no interior da bactéria, causa resistência em baixo nível
resistência de Enterococcus f aecalis às penicilinas pode ocorrer ao fármaco. Uma esterase produzida por bacilos entéricos gram-
em virtude de proteínas de ligação à penicilina modificadas. A -negativos cliva o anel macrolídeo, inativando o fármaco.
resistência em baixo nível de Neisseria gonorrhoeae à penicilina é Sulfonamidas. A resistência às sulfonamidas ocorre princi-
atribuída à baixa permeabilidade ao fármaco. A resistência em palmente por dois mecanismos: ( 1) a presença de um plasmídeo
alto nível decorre da presença de um plasmídeo codificador de codificador de um sistema de transporte ativo do fármaco para
penicilinase. fora da célula; e (2) uma mutação cromossômica que modifica o
Alguns isolados de S. aureus demonstram, ainda, outra for- gene codificador da enzima-alvo di-hidropteroato sintase, redu-
ma de resistência, denominada tolerância, em que o crescimento zindo a afinidade do fármaco pelo alvo.
do organismo é inibido pela penicilina, mas o organismo não é Trimetoprima. A resistência à trimetoprima ocorre princi-
morto. Atribui-se esse fato a uma falha na ativação das enzimas palmente devido a mutações no gene cromossômico que codifica
autolíticas, mureínas hidrolases, que degradam o peptideoglicano. o di-hidrofolato redutase, a enzima que reduz di-hidrofolato a
Carbapenemas. A resistência aos carbapenemas, como o tetra-hidrofolato.
imipenem, é causada por carbapenemases que degradam o anel Quinolonas. A resistência às quinolonas deve-se principal-
~-lactâmico. Essa enzima confere ao organismo resistência às mente a mutações cromossômicas que modificam a DNA-girase
penicilinas e às cefalosporinas. Carbapenemases são produ- bacteriana.
zidas por muitos bacilos gram-negativos, especialmente por Rifampina. A resistência à rifampina deve-se a uma muta-
Klebsiella, Escherichia e Pseudomonas. Amostras de Klebsiella ção cromossômica no gene que codifica a RNA-polimerase bac-
carbapenemo-resistentes representam uma causa importante de teriana, resultando em uma ligação ineficaz do fármaco. Devido
5
infecções hospitalares, sendo resistentes a todos os antibióticos ao fato de que a resistência ocorre em altas frequências (10- ) , a
conhecidos. rifampina não é prescrita como o único fármaco no tratamento
Vancomicina. A resistência à vancomicina é causada por de infecções. Ela é utilizada para a prevenção de certas infecções
uma modificação do componente peptídico do peptideoglicano porque é administrada por apenas um curto período de tempo
de D-alanil-o -alanina, que corresponde ao local normal de liga- (ver Tabela 10-5).
ção da vancomicina, para D-alanina-D-lactato, ao qual o fárma- Isoniazida. A resistência de Mycobacterium tuberculosis à
co não se liga. Dos quatro Zoei gênicos mediadores da resistência isoniazida deve-se a mutações no gene da catalase-peroxidase do
à vancomicina, VanA é o mais importante. É carreado por um organismo. A atividade da enzima catalase ou peroxidase é ne-
transposon em um plasmídeo e confere resistência em alto nível cessária para sintetizar o metabólito da isoniazida, o qual inibe de
contra a vancomicina e a teicoplanina. (A teicoplanina é utilizada fato o crescimento da bactéria.
90 PARTE I Bacteriologia Básica

Etambutol. A resistência de Mycobacterium tuberculosis ao de antibióticos aumentam a probabilidade da ocorrência desses


etambutol é decorrente de mutações no gene codificador da ara- problemas por intensificarem a seleção de mutantes resistentes:
binosil transferase, a enzima que sintetiza arabinogalactano na
( 1) Alguns médicos utilizam múltiplos antibióticos quando
parede celular do organismo.
apenas um seria suficiente, prescrevem a terapia antibiótica por
Pirazinamida. A resistência de Mycobacterium tuberculosis
um período desnecessariamente longo, utilizam antibióticos em
à pirazinamida (PZA) deve-se a mutações no gene que codifica a
infecções autolimitadas em que antibióticos não são necessários
amidase bacteriana, a enzima que converte PZA à forma ativa do
e fazem uso excessivo de antibióticos na profilaxia pré e pós-
fármaco, o ácido pirazinoico.
-operatória.
(2) Em muitos países, os antibióticos são vendidos sem re-
ceita médica ao público em geral; essa prática encoraja o uso in-
BASES NÃO GENÉTICAS DA RESISTÊNCIA devido e indiscriminado dos fármacos.
Existem várias razões não genéticas para a impossibilidade de os (3) Os antibióticos são empregados em rações animais para
fármacos inibirem o crescimento de bactérias: prevenir infecções e promover o crescimento. Isso seleciona or-
ganismos resistentes nos animais e pode contribuir para o pool de
( 1) As bactérias podem ser isoladas no interior de uma cavi-
organismos resistentes em seres humanos.
dade de um abscesso, na qual o fármaco não é capaz de penetrar
efetivamente. A drenagem é, portanto, necessária como adjunto
à quimioterapia.
TESTANDO A SENSIBILIDADE AOS
(2) As bactérias podem encontrar-se em estado letárgi-
co (i.e., sem crescimento), sendo, portanto, insensíveis aos ini- ANTIBIÓTICOS
bidores de parede celular, como penicilinas e cefalosporinas. Concentração inibidora mínima
De modo similar, M. tuberculosis pode ficar dormente nos te-
cidos por vários anos, permanecendo insensível aos fármacos Em muitas infecções, os resultados dos testes de sensibilidade
durante esse período. Se houver diminuição nas defesas do hos- são importantes para a escolha do antibiótico. Esses resultados
pedeiro, as bactérias começam a se multiplicar e tornam-se no- são comumente relatados como concentração inibidora mí-
vamente suscetíveis aos fármacos, indicando que não ocorreram nima (CIM), sendo definida como a menor concentração do
modificações genéticas. fármaco capaz de inibir o crescimento do organismo. A CIM é
(3) Em determinadas circunstâncias, organismos que seriam determinada por meio de inoculação do organismo, isolado a
geralmente mortos pela penicilina podem perder sua parede ce- partir do paciente, em uma série de tubos ou frascos contendo
lular, sobrevivendo como protoplastos, insensíveis a fármacos diluições do fármaco na base dois (Figura 11-2). Após incuba-
ativos contra a parede celular. Posteriormente, se esses organis- ção a 35ºC por 18 horas, a menor concentração do fármaco que
mos sintetizarem sua parede celular, tomam-se totalmente susce- impede o crescimento visível do organismo corresponde à CIM.
tíveis a esses fármacos. Isso fornece ao médico uma concentração precisa do fármaco,
(4) A presença de corpos estranhos torna mais difícil o orientando na escolha tanto do fármaco quanto da dosagem a
tratamento antibiótico bem-sucedido. Isso aplica-se a corpos ser usada.
estranhos, como implantes cirúrgicos e cateteres, bem como a Um segundo método para determinar a sensibilidade ao
antibiótico consiste no método de difusão em disco, em que dis-
materiais que penetram no corpo por ocasião de ferimentos pe-
netrantes, como farpas e estilhaços. cos impregnados com antibióticos variados são posicionados na
(5) Várias circunstâncias podem dar a impressão de que os superfície de uma placa de meio sólido que foi inoculada com o
organismos são resistentes (p. ex., a administração de fármaco organismo isolado do paciente (Figura 11-3). Após a incubação
a 35ºC por 18 horas, período em que o antibiótico se difunde
incorreto ou da dosagem incorreta, ou incapacidade de o fárma-
a partir do disco, determina-se o diâmetro da zona de inibição.
co atingir o local apropriado do corpo). (Um bom exemplo desta
O tamanho da zona de inibição é comparado com padrões, a fim
última corresponde à pequena penetração de várias cefalospo-
de determinar a sensibilidade do organismo ao fármaco.
rinas das primeiras gerações no líquido cerebrospinal.) A falha
do paciente em relação ao uso do fármaco (desobediência, não
participação) é um exemplo de outra circunstância. Concentração bactericida mínima
Em determinadas infecções, como endocardite, é importante
conhecer a concentração do fármaco que de fato mata o or-
SELEÇÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES ganismo, em vez da concentração que simplesmente inibe seu
POR USO EXCESSIVO E USO INCORRETO crescimento. Essa concentração, denominada concentração
bactericida mínima (CBM), é determinada coletando-se uma
DE ANTIBIÓTICOS
pequena amostra (0,01 ou 0,1 mL) dos tubos utilizados para o
Graves surtos de doenças causadas por bacilos gram-negativos ensaio de CIM, semeando-os sobre a superfície de uma placa
resistentes a múltiplos antibióticos ocorreram em vários países de ágar-sangue desprovida de fármaco (Figura 11-2). Quais-
em desenvolvimento. Na América do Norte, muitas infecções quer organismos que forem inibidos, mas não mortos, exibem
hospitalares são causadas por organismos exibindo resistência a possibilidade de crescer, uma vez que o fármaco foi diluído
múltipla. Três aspectos principais do uso excessivo e incorreto significativamente. Após a incubação a 35ºC por 48 horas, a
CAPÍTULO 11 Fármacos Antimicrobianos: Resistência 91

Fármaco 50 25 12,5 6,2 3,1 1,5 O, 75 Sem Ausência


(µg/mL) fármaco de
bactéria
t O, 1 mL

••
Ausência de
bactéria
.•• •..••.••.•
•• • • 3' 1


•••••• •
• • ••

12,5 6,2

FIGURA 11-2 Determinação da concentração inibidora mínima (CIM) e da concentração bactericida mínima (CBM). Parte superior: O orga-
nismo recuperado do paciente é adicionado a tubos contendo quantidades decrescentes do antibiótico. Após a incubação a 37ºC por uma noi-
te, o crescimento das bactérias é observado visualmente. A menor concentração de fármaco capaz de inibir o crescimento, isto é, 3, 1 µg/ml,
corresponde à CIM. Contudo, neste momento, não se sabe se as bactérias foram mortas ou se o fármaco apenas inibiu seu crescimento. Parte
inferior: Para determinar se a concentração do fármaco é bactericida, ou sej a, para determinar sua CBM, uma alíquota (O, 1 ml) dos tubos é ino-
culada em uma p laca de meio sólido que não contenha qualquer fármaco. A concentração do fármaco que inibe pelo menos 99,9% das colônias
bacterianas, isto é, 6,2 µg/ml, corresponde à CBM.

menor concentração que reduziu o número de colônias em fármacos bacteriostáticos "em geral" apresentam CBM signifi-
99,9%, comparando-se ao controle desprovido do fármaco, cativamente superior à CIM.
corresponde à CBM. Os fármacos bactericidas geralmente
exibem CBM igual ou muito similar à CIM, ao passo que os Atividade bactericida do soro
No tratamento da endocardite, pode ser útil a determinação da
Discos de efetividade do fármaco, avaliando-se a capacidade de o fármaco
Crescimento antibióticos presente no soro do paciente matar o organismo. Este teste, deno-
bacteriano
minado atividade bactericida do soro, é executado de maneira
Zona de similar à determinação da CBM, exceto pelo fato de que o teste
inibição do
utiliza uma amostra de soro do paciente, em vez de uma solução
crescimento
padrão de fármaco. Após um inóculo-padrão do organismo ter
sido adicionado e a mistura ter sido incubada a 35ºC por 18 ho-
ras, uma pequena amostra é subcultivada em placas de ágar-san-
gue, determinando-se a diluição do soro capaz de matar 99,9%
dos organismos. Experimentos clínicos demonstraram que um
1
pico de atividade bactericida do soro de 1:8 ou 1:16 é adequado
para uma terapia bem-sucedida da endocardite.

G Produção de P-lactamase
Em infecções graves causadas por determinados microrganis-
1 2 3 4 mos, como S. aureus e Haemophilus influenzae, é importante sa-
ber, o mais breve possível, se o organismo isolado do paciente
está produzindo í3-lactamase. Com esse propósito, ensaios rápi-
dos para detectar a enzima podem ser utilizados para obter uma
Medida resposta em poucos minutos, ao contrário de um teste CIM ou
FIGURA 11-3 Teste de sensi bilidade ao antibiótico. Uma zona de teste de difusão em disco, que demandam 18 horas.
inibição circunda vários discos contendo antibiótico. Uma zona exi-
bindo determinado d iâmetro, ou superior, indica que o organismo é
1
sensível. Alguns organismos resistentes crescerão próximos ao disco Uma variável desse teste depende de o soro ter sido coletado logo após
(p. ex., o d isco N). (Modificada, com permissão, de Wistreich GA, Lechtman a administração do fármaco (na "concentração de pico") ou pouco antes
MD. Laboratory Exercises in Microbiology. 5th ed. Copyright 1984 por Macmillan; da dose seguinte (na "baixá'). Outra variável corresponde ao tamanho
Fig. 29.2, p. 237.) do inóculo.
92 PARTE I Bacteriologia Básica

Um procedimento geralmente utilizado consiste no método rentes entre si (i.e., são somente aditivos). Algumas vezes, ocorre
do í3-lactâmico cromogênico, em que um fármaco í3-lactâmico uma interação sinergística, em que o efeito dos dois fármacos em
colorido é adicionado a uma suspensão dos organismos. Se hou- conjunto é significativamente maior que a soma dos efeitos dos
ver produção de í3-lactamase, a hidrólise do anel í3-lactâmico dois fármacos agindo separadamente. Raramente, o efeito dos
provoca alteração na cor do fármaco em dois a 1O minutos. Dis- dois fármacos é antagonista, em que o resultado corresponde a
cos impregnados com í3-lactâmico cromogênico também podem uma atividade significativamente menor que a soma das ativida-
ser utilizados. des dos dois fármacos separadamente.
Um efeito sinergístico pode resultar de uma série de me-
canismos. Por exemplo, a combinação de uma penicilina e um
USO DE COMBINAÇÕES DE aminoglicosídeo, como a gentamicina, exibe ação sinergística
contra enterococos (E. faecalis), uma vez que a penicilina causa
ANTIBIÓTICOS
danos suficientes à parede celular, de modo a intensificar a entra-
Na maioria dos casos, o agente antimicrobiano mais adequado da do aminoglicosídeo. Quando administrados separadamente,
deve ser selecionado para o uso, uma vez que minimiza os efeitos nenhum dos fármacos é eficaz. Um segundo exemplo correspon-
colaterais. No entanto, existem várias circunstâncias em que dois de à combinação de uma sulfonamida com trimetoprima. Nessa
ou mais fármacos são frequentemente administrados: situação, os dois fármacos atuam sobre a mesma via metabólica,
de modo que, se um dos fármacos não inibe suficientemente a
(1) Para tratar infecções graves antes que a identidade do or-
síntese de ácido fólico, o segundo fármaco confere a inibição efe-
ganismo seja conhecida.
tiva ao bloquear uma etapa subsequente da via.
(2) Para obter um efeito inibidor sinergístico contra certos
Embora o antagonismo entre dois antibióticos seja inco-
organismos.
mum, um exemplo é clinicamente importante. Este envolve
(3) Para prevenir a emergência de organismos resistentes.
o uso de penicilina G combinada com o fármaco bacterios-
(Se as bactérias tornarem-se resistentes a um dos fármacos, o se-
tático tetraciclina no tratamento de meningite causada pelo
gundo fármaco promoverá sua morte, impedindo, assim, o surgi-
S. pneumoniae. O antagonismo ocorre porque a tetraciclina
mento de linhagens resistentes.)
inibe o crescimento do microrganismo, impedindo o efeito bac-
Dois fármacos podem interagir de uma entre várias formas tericida da penicilina G, a qual provoca a morte apenas de orga-
possíveis (Figura 11-4). Normalmente, os fármacos são indife- nismos em crescimento.

Indiferença Sinergismo Antagonismo


.....J
E
'-
o Sem fármaco Sem fármaco Sem fármaco
a.
CJ)
Q)
> Fármaco B Fármaco B Fármaco B
-ca
>
CJ) ~
ca \
·.::::
-
•Q)

~
" "', Fármaco A
\
\
.e
Q)
"O '' \ A+B

e
Q)
E
,::::,
'' A+B
\
\
\
Fármaco A

e:
o \ Fármaco A
"O
C) \ A+B
o
.....J
\
\

o 12 o 12 o 12
Horas após a inoculação

FIGURA 11-4 Interação de fármacos. As linhas contínuas representam a resposta das bactérias ao fármaco A isoladamente, fármaco B isolada-
mente, ou nenhum fármaco. As linhas pontilhadas representam a resposta à combinação dos fármacos A e B.
CAPÍTULO 11 Fármacos Antimicrobianos: Resistência 93

CONCEITOS-CHAVE

• Os quatro principais mecanismos de resistência a antibióticos • A resistência a eritromicinas é causada principalmente por uma
são (1) a degradação enzimática do fármaco, (2) a modificação enzima codificada por plasmídeos, a qual promove a metilação
do alvo do fármaco, (3) a permeabilidade reduzida ao fármaco do RNA ribossomal 23S, bloqueando a ligação do fármaco.
e (4) a exportação ativa do fármaco. • A resistência a sulfonamidas deve-se principalmente a enzimas
• Na maior parte das vezes, a resistência aos fármacos resulta de codificadas por plasmídeo que exportam ativamente o fármaco
uma alteração genética no organismo, causada por uma mutação a partir da bactéria.
cromossômica ou pela aquisição de um plasmídeo ou transposon. • A resistência a quinolonas é causada principalmente por muta-
ções no gene codificador da DNA-girase bacteriana.
Bases genéticas da resistência • A resistência à rifampina é causada principalmente por muta-
• As mutações cromossômicas em geral modificam o alvo do ções no gene codificador da RNA-polimerase bacteriana.
fármaco, de modo que o fármaco não se liga mais a este, ou mo- • A resistência à isoniazida deve-se principalmente à perda da pe-
dificam a membrana, de modo que o fármaco não é capaz de roxidase (catalase) bacteriana que ativa a isoniazida ao metabó-
penetrar adequadamente na célula. As mutações cromossômicas lito que inibe a síntese de ácido micólico.
ocorrem com baixa frequência (talvez 1 em 1O milhões de orga-
nismos) e, frequentemente, afetam um fármaco ou uma família
de fármacos.
Bases não genéticas da resistência
• As razões não genéticas pelas quais bactérias não são inibidas
• Os plasmídeos causam resistência a fármacos pela codifica-
por antibióticos estão no fato de os fármacos não atingirem
ção de enzimas que os degradam ou modificam. A resistência
bactérias localizadas no centro de um abscesso, e de certos
mediada por plasmídeo ocorre em frequência maior que as mu-
fármacos, como penicilinas, não afetarem bactérias que não
tações cromossômicas, em geral afetando múltiplos fármacos
se encontram em crescimento. Além disso, a presença de cor-
ou famílias de fármacos.
pos estranhos torna mais difícil o tratamento antibiótico bem-
• Plasmídeos de resistência (plasmídeos R, fatores R), em geral, -sucedido.
carreiam dois conjuntos de genes. Um conjunto codifica as en-
zimas que degradam ou modificam os fármacos, ao passo que o
outro codifica as proteínas que medeiam a conjugação, o prin-
Testando a sensibilidade aos antibióticos
cipal processo pelo qual os genes de resistência são transferidos • A concentração inibidora mínima (CIM) corresponde à me-
de uma bactéria para a outra. nor concentração do fármaco capaz de inibir o crescimento
de bactérias isoladas do paciente. Não se sabe se, nesse teste,
• Os transposons são pequenos segmentos de DNA que se des-
as bactérias inibidas foram mortas ou apenas interromperam o
locam de um local a outro do cromossomo bacteriano ou a
partir do cromossomo bacteriano para o DNA plasmidial. Trans- crescimento.
posons frequentemente carreiam genes de resistência a fár- • A concentração bactericida mínima (CBM) corresponde à
macos. Muitos plasmídeos R carreiam um ou mais transposons. menor concentração do fármaco capaz de matar as bactérias
isoladas do paciente. Em certas doenças, como a endocardite, é
frequentemente necessária a utilização da concentração bacteri-
Mecanismos específicos de resistência
cida do fármaco.
• A resistência a penicilinas e cefalosporinas é mediada por
três mecanismos principais: (1) degradação por 13-lactamases,
(2) mutações nos genes das proteínas de ligação à penicilina e
Uso de combinações de antibióticos
(3) permeabilidade reduzida. A degradação por P-lactamases • Dois ou mais antibióticos são utilizados em determinadas cir-
é o mais importante. cunstâncias, como infecções de risco à vida, antes de a causa ser
identificada, para prevenir a emergência de bactérias resistentes
• A resistência à vancomicina é causada por uma modificação na
durante regimes de tratamentos prolongados, e para obter um
parte o-alanil-o-alanina do peptídeo presente no peptideoglica-
efeito sinergístico (aumentado).
no, resultando na impossibilidade de ligação da vancomicina.
• Um efeito sinergístico é aquele em que o efeito de dois fárma-
• A resistência a aminoglicosídeos é mediada por três mecanismos
cos administrados em conjunto é superior à soma dos efeitos dos
principais: (1) modificação do fármaco por enzimas de fosfori-
dois fármacos administrados individualmente. O melhor exem-
lação, adenililação e acetilação; (2) mutações nos genes codifi-
cadores de uma das proteínas ribossomais 305; e (3) redução da plo de sinergia corresponde ao marcante efeito de morte de
enterococos observado na combinação de uma penicilina com
permeabilidade.
um aminoglicosídeo, em comparação ao pequeno efeito de cada
• A resistência a tetraciclinas é frequentemente causada pela per- fármaco administrado isoladamente.
meabilidade reduzida ou pela exportação ativa do fármaco pela
bactéria.
94 PARTE I Bacteriologia Básica

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 4. A concentração inibidora mínima (CIM) de um microrganismo


isolado de um paciente é de 1 µg/mL para penicilina e 8 µg/mL
1. A disseminação da resistência a antibióticos de urna bactéria para para gentamicina. Entretanto, a CIM calculada para a combinação
outra é um fenômeno bem-conhecido e com grande importância entre penicilina e gentamicina é de 0,01 µg/mL. Qual das afirmati-
clínica. Qual dos mecanismos a seguir é mais provável de estar en- vas a seguir melhor descreve esse efeito?
volvido com a disseminação da resistência?
(A) Ativação.
(A) Acetilação. (B) Antagonismo.
(B) Conjugação. (C) Rearranjo.
(C) Rearranjo programado. (D) Recombinação.
(D) Mobilidade do protoplasto. (E) Sinergismo.
(E) Tradução.
5. Em relação aos mecanismos de resistência a fármacos específicos,
2. Em relação aos mecanismos específicos envolvidos na aquisição de qual das opções a seguir é a mais correta?
resistência aos antimicrobianos pelas bactérias, qual das opções a (A) Certas cepas de Enterococcus faecalis produzem o-lactato em
seguir é a mais correta?
vez de o-alanina, o que proporciona resistência à vancomicina.
(A) Algumas bactérias contêm uma enzima que cliva o anel de (B) Certas cepas de Escherichia coli produzem ergosterol, propor-
aminoglicosídeos. cionando resistência à gentamicina.
(B) Algumas bactérias contêm ácido clavulânico, que se liga à pe- (C) Algumas cepas de Neisseria gonorrhoeae produzem uma peptidil
nicilina G e a inativa. transferase mutante, o que proporciona resistência à tetraciclina
(C) Algumas bactérias contêm um gene codificador de uma trans- (D) Certas cepas de Streptococcus pyogenes produzem uma 13-lac-
peptidase mutada, proporcionando resistência à doxiciclina. tamase, o que confere resistência à eritromicina.
(D) Algumas bactérias contêm um gene codificador de uma RNA-
-polimerase mutada, proporcionado resistência à rifampina.
(E) Algumas bactérias apresentam urna alteração na proteína ri-
bossomal, proporcionando resistência à isoniazida.
RESPOSTAS
3. A suscetibilidade bacteriana a antibióticos é frequentemente deter- 1. (B)
minada pela determinação da concentração inibidora mínima 2. (D)
(CIM). Em relação ao ensaio de CIM, qual das opções a seguir é a 3. (B)
mais correta? 4. (E)
5. (A)
(A) A CIM é a menor concentração de uma bactéria isolada de um
paciente capaz de inibir a atividade de uma dose-padrão de
antibiótico.
(B) A CIM é a menor concentração de antibiótico capaz de inibir o QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
crescimento de bactérias isoladas de um paciente.
(C) A CIM é a menor concentração de antibiótico capaz de matar
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
bactérias isoladas de um paciente. contradas na seção de Bacteriologia Básica da Parte XIII: Ques-
(D) A CIM é a menor concentração de antibiótico no soro dopa- tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam -
ciente capaz de inibir a atividade de urna concentração-padrão bém a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
de um antibiótico. página 731.
CAPÍTULO

Vacinas Bacterianas 12
CONTEODO DO CAPITULO

Princípios das vacinas bacterianas Conceitos-chave


Imunidade ativa Aplique seu conhecimento
Imunidade passiva Questões para autoavaliação

PRINCÍPIOS DAS VACINAS BACTERIANAS Imunidade ativa


As doenças bactetianas podem ser ptevenidas pelo uso de imu1ti· As vacinas bacterianas são compostas por polissacarídeos capsu-
zações que induzem a imunidade ativa ou passiva. A imunidade )ares.. exotoxinas proteicas inativadas (toxoide.s), bactérias mortas
ativa é induzida por vacinas preparadas a partir de bactérias ou ou bactérias vivas atenuadas. As vacinas bacterianas disponíveis e
de seus produtos. Este capítulo apresenta um resumo dos tipos suas indicações são descritas a seguir. A Tabela 12·2 reJadona as
de vacinas (Tubela 12· l); a informação detalhada referente a cada vacinas bacterianas (e virais) recomendadas para crianç.as de Oa
vacina é apresentada 110s capítulos que abordam os organismos 6 anos de idade em 2011.
e.spedficos. A imunidade passiya é fornecida pela admiiüstração
de anticorpos pré-formados em preparações chamadas de imuno- Vacinas de polissacarídeos capsulares
globulinas. As imunoglobulinas úteis contra doenças bacterianas (1) A vacina de Streptococcus pneumoniae contêm os po}js.
são descritas a seguir. A imunidade passh·a-atin envolve a admi• sacarídeos capsulares dos 23 sorotipos mais prevalentes. ~ reco.
nistração de imunoglobu)inas para fornecer proteção imediata e mendada para indivíduos com idade acima de 60 anos e pacien.
de uma vacina para fornecer proteção a Jongo prazo. Essa aborda· tes em qualquer idade que apresentem doenças crônicas. como
gem é de.scrita a seguir, na seção sobre a antitoxina tetânica. diabetes e cirrose. ou com função esplênica comprometida ou

TABELA 12- 1 Vacinas bacterianas atuais

l Uso IIKt«la Doonça Antigano

usocomum Corynebactedum diphtheriae Difteria Toxoide


C/ostridium tetani T~tano Toxoide
8otderella pe1russls Coqueluche Acelular (proteínas purific.adas) ou OC'ganismos mortos
Hoemophilus i'nfluertzoe Meningite Polissacatídeo c.apsular conjugado a uma proteína carteadora
Streptococcus pneumO/liae Pneumonia Polissacatídeo c.apsular ou polissacatídeo c.apsular conjugado a
uma proteína caneadota
Neisseria meningib'dis Meningite Polissaca,ídeo c.apsular ou polissacatídeo c.apsular conjugado a
uma proteína caneadota
Situações especiais Salmone/la typhi Febc'e tifoide Organismos vivos ou polissacarídeo capsular
Vibdo chole,oe Cólera Organismos mortos
Yetsi'nio peseis Peste Organismos mortos
8ocillus onrhrads Anttaz Proteínas parcialmente purificadas
Mycobocretium bovis (BCG) Tuberculose Organismos vivos
Francisella tulareMis Tulaiemia Organismos vivos
Rickettslo ptowazekii Tifo Organismos mortos
Coxiel/o bumetii Feb<eQ Organismos mortos
96 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 12-2 Vacinas recomendadas para crianças entre vacina mais as vacinas de difteria, tétano e coqueluche (DTP,
1
O e 6 anos de idade diphtheria, tetanus, and pertussis), encontra-se disponível.
(4) Uma das vacinas contra febre tifoide contém o polissa-
Vacinas bacterianas Vacinas virais
carídeo capsular de Salmonella typhi. É indicada para indivíduos
Haemophilus influenzae tipo b (Hib) Hepatite B residentes ou que viajam por regiões onde existe risco elevado
de febre tifoide, bem como para indivíduos em contato próximo
Meningocócica Vírus influenza com pacientes ou portadores crônicos.
Pneumocócica Poliovírus, inativados*
Rotavírus Vacinas de toxoides
Sarampo, caxumba, rubéola ( 1) A vacina contra Corynebacterium diphtheriae contém o
(MMR) toxoide (exotoxina tratada com formaldeído). A imunização con-
Varicela tra difteria é indicada para todas as crianças, sendo administrada
em três doses, aos dois, quatro e seis meses de idade, com re-
Toxoide diftérico, toxoide tetânico, Hepatite A
forços administrados após um ano e em intervalos subsequentes.
pertússis acelular (DTPa)
(2) A vacina contra Clostridium tetani contém o toxoide te-
1
As vacinas estão listadas em ordem alfabética. Uma descrição completa does- tânico, sendo administrada a todos os indivíduos precocemen-
quema de vacinação está disponível no website do Centers for Disease Control te e, em seguida, na forma de reforços como proteção contra o
and Prevention; www.cdc.gov.
*N. de T. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações utiliza a vacina atenuada
tétano.
contra o poliovírus na vacinação de crianças contra a paralisia infantil. Não obs- ( 3) A vacina contra Bordetella pertussis contém o toxoide
tante, como uma meta do plano mundial da erradicação da pólio, a inserção pertússis; entretanto, inclui também outras proteínas. Por isso, é
gradual da vacina inativada no Brasil deverá ocorrer.
descrita na próxima seção.

Vacinas de proteínas purificadas


esplenectomizados. Uma segunda vacina, contendo o polissaca-
( 1) Existem dois tipos de vacinas para B. pertussis: vacina
rídeo capsular de 13 sorotipos pneumocócicos associados a uma
acelular contendo proteínas purificadas, e vacina contendo as
proteína carreadora (toxoide diftérico), encontra-se disponível
bactérias mortas inteiras. Atualmente, recomenda-se, nos Es-
para a proteção de crianças que não respondem adequadamente
tados Unidos, a vacina acelular. O principal antígeno da vacina
à vacina não conjugada. A função da proteína carreadora é expli- acelular consiste na toxina pertússis inativada (toxoide pertússis);
cada na Figura 57-5. porém, outras proteínas, como a hemaglutinina filamentosa e a
Um problema em potencial em relação ao uso da vacina pertactina, são também requeridas para a proteção total. A to-
pneumocócica contendo 13 sorotipos corresponde à substitui- xina pertússis utilizada na vacina é inativada geneticamente pela
ção do sorotipo. A vacina reduzirá a incidência da doença causa- introdução de duas alterações de aminoácidos, a fim de eliminar
da pelos sorotipos presentes na vacina, mas não a incidência geral sua atividade tóxica (ribosilação de ADP), mantendo sua anti-
da doença pneumocócica, uma vez que outros sorotipos ausentes genicidade. Essa é a primeira vacina a conter um toxoide ina-
na vacina poderão agora causar doença? Dados atuais indicam tivado geneticamente. A vacina é indicada a todas as crianças
que sim. Um aumento no índice de doença pneumocócica invasi- como proteção contra coqueluche. É geralmente administrada
va causada pelo sorotipo 19A, um sorotipo até então não presente em combinação com os toxoides diftérico e tetânico (vacina DPT
na vacina, foi observado. Com isso, o sorotipo 19A foi incluído ou DTPa).
na atual formulação da vacina que contempla 13 sorotipos. (2) A vacina contra Bacillus anthracis contém o "antígeno
protetor,, purificado a partir do organismo. É administrada a
(2) Neisseria meningitidis contém polissacarídeos capsulares
indivíduos cuja ocupação os coloca em risco de exposição ao or-
de quatro tipos importantes (A, C, W-135 e Y). Duas formas da
ganismo.
vacina encontram-se disponíveis: uma contém os polissacaríde-
os conjugados a uma proteína carreadora (toxoide diftérico), ao
Vacinas com bactérias vivas atenuadas
passo que a outra contém apenas os polissacarídeos. É adminis-
trada quando existe risco elevado de meningite (p. ex., durante ( 1) A vacina contra tuberculose contém uma linhagem viva
um surto, quando os estudantes ingressam na faculdade e moram atenuada de Mycobacterium bovis, denominada BCG, sendo re-
comendada, em alguns países, para crianças sob alto risco de ex-
em alojamentos, quando recrutas militares ingressam em campos
posição à tuberculose ativa.
de treinamento ou quando indivíduos viajam para regiões onde a
(2) Uma das vacinas contra febre tifoide contém Salmonella
meningite é hiperendêmica).
typhi viva atenuada. É indicada para indivíduos residentes ou que
(3) A vacina de Haemophilus influenzae contém o polissa-
viajam por regiões onde existe risco elevado de febre tifoide, bem
carídeo do tipo b conjugado ao toxoide diftérico ou a outra pro- como para indivíduos em contato próximo com pacientes ou
teína carreadora. É administrada em crianças entre 2 e 15 meses portadores crônicos.
para prevenir meningite. O polissacarídeo capsular individual- (3) A vacina contra tularemia contém células vivas atenua-
mente é pouco imunogênico em crianças, porém a associação das de Francisella tularensis, sendo utilizada principalmente em
dele a uma proteína carreadora aumenta significativamente a indivíduos expostos devido à sua ocupação, como profissionais
imunogenicidade. Uma vacina combinada, consistindo nessa de laboratório, veterinários e caçadores.
CAPÍTULO 12 Vacinas Bacterianas 97

Vacinas com bactérias mortas ligada, a fim de prevenir o agravamento da doença, a antitoxina
(1) A vacina contra Vibrio cholerae contém organismos mor- deve ser prontamente administrada. Na prevenção, a antitoxina
tos, sendo administrada a indivíduos que viajam para regiões é administrada a indivíduos imunizados inadequadamente que
onde a cólera é endêmica. apresentam ferimentos contaminados ("sujos"). A antitoxina é
(2) A vacina contra Yersinia pestis contém organismos mor- produzida em seres humanos, a fim de evitar reações de hi-
tos, sendo indicada para indivíduos com alto risco de contrair persensibilidade. Além da antitoxina, esses indivíduos devem
peste. receber o toxoide tetânico. Esse é um exemplo de imunidade
(3) A vacina contra tifo contém células mortas de Rickettsia passiva-ativa. O toxoide e a antitoxina devem ser administra-
rickettsiae, sendo utilizada principalmente na imunização de dos em locais corporais distintos para evitar que a antitoxina
membros das Forças Armadas. neutralize o toxoide.
(4) A vacina contra febre Q contém células mortas de (2) A antitoxina botulínica é utilizada no tratamento de
Coxiella burnetii, sendo utilizada para imunizar indivíduos com botulismo. Uma vez que a antitoxina pode neutralizar a toxina
alto risco de exposição a animais infectados pelo organismo. não ligada, impedindo a progressão da doença, ela deve ser ad-
ministrada prontamente. Ela contém anticorpos contra as toxinas
Imunidade passiva botulínicas A, B e E, os tipos mais comuns. A antitoxina é produ-
zida em cavalos, de modo que a hipersensibilidade pode ser um
As antitoxinas (imunoglobulinas) podem ser utilizadas no trata-
problema.
mento e na prevenção de certas doenças bacterianas. As seguin-
(3) A antitoxina diftérica é utilizada no tratamento de difte-
tes preparações encontram -se disponíveis:
ria. A antitoxina pode neutralizar a toxina não ligada, prevenin-
( 1) A antitoxina tetânica é utilizada no tratamento do té- do a progressão da doença; portanto, a antitoxina deve ser admi-
tano e em sua prevenção (profilaxia). Como tratamento, uma nistrada prontamente. A antitoxina é produzida em cavalos, de
vez que o objetivo consiste em neutralizar qualquer toxina não modo que a hipersensibilidade pode ser um problema.

CONCEITOS-CHAVE

• A imunidade contra determinadas doenças bacterianas pode ser comendada apenas para indivíduos com possibilidade de expo-
induzida pela imunização com antígenos bacterianos (imuni- sição ao organismo.
dade ativa) ou pela administração de anticorpos pré-formados • A vacina BCG contra tuberculose contém Mycobacterium bovis
(imunidade passiva). vivos atenuados, sendo utilizada em países onde a doença é en-
dêmica. Uma das vacinas contra febre tifoide contém Salmonella
Imunidade ativa typhi viva atenuada.
• A imunidade ativa pode ser obtida com vacinas consistindo em • As vacinas contra cólera, peste, tifo e febre Q contêm bactérias
(1) polissacarídeos capsulares bacterianos, toxoides, bacté- inteiras mortas. Essas vacinas são utilizadas na proteção de indi-
rias inteiras (tanto mortas quanto vivas atenuadas) ou (2) pro- víduos com possibilidade de serem expostos.
teínas purificadas isoladas a partir das bactérias.
• Vacinas contendo polissacarídeos capsulares como imunóge- Imunidade passiva
no são dirigidas contra Streptococcus pneumoniae, Haemophilus • A imunidade passiva na forma de antitoxinas encontra-se dis-
influenzae, Neisseria meningitidis e Salmonella typhi. O polissacarí- ponível para a prevenção e o tratamento de tétano, botulismo e
deo capsular presente na vacina pneumocócica, vacina meningo- difteria. Essas três doenças são causadas por exotoxinas. As anti-
cócica e vacina contra H. influenzae é conjugado a uma proteína toxinas (anticorpos contra as exotoxinas) neutralizam as exotoxi-
carreadora para intensificar a resposta de anticorpos. nas, impedindo seus efeitos tóxicos.
• Duas vacinas contêm toxoides como imunógeno: as vacinas
contra difteria e tétano. O toxoide corresponde a uma toxina Imunidade passiva-ativa
inativada, que perdeu sua capacidade de provocar a doença,
• Envolve o fornecimento de proteção imediata (porém, de curto
mas manteve sua imunogenicidade. (A vacina pertússis também
contém toxoide, entretanto, também contém outras proteínas prazo) na forma de anticorpos, assim como proteção de longo
bacterianas.) prazo na forma de imunização ativa. Um excelente exemplo do
uso de imunidade passiva-ativa corresponde à prevenção de té-
• Duas vacinas contêm proteínas bacterianas purificadas como tano em indivíduos não imunizados que apresentam ferimento
imunógeno. A mais comumente utilizada corresponde à vacina contaminado. Tanto a antitoxina tetânica quanto o toxoide te-
pertússis acelular, a qual, em combinação com toxoides difté- tânico devem ser administrados. A administração deve ser feita
rico e tetânico, é recomendada para todas as crianças. A vacina em locais distintos, a fim de que os anticorpos da antitoxina não
contra antraz também contém proteínas purificadas, mas é re-
neutralizem o toxoide.
98 PARTE I Bacteriologia Básica

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 4. A imunização passiva é utilizada para prevenir ou tratar uma
doença causada por quais bactérias?
1. Qual das opções a seguir corresponde ao imunógeno utilizado na (A) Clostridium tetani e Clostridium botulinum.
vacina contra Streptococcus pneumoniae? (B) Escherichia coli e Staphylococcus aureus.
(A) Polissacarídeo capsular. (C) Neisseria meningitidis e Bacillus anthracis.
(B) Endotoxina. (D) Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae.
(C) Microrganismos mortos por formaldeído. (E) Streptococcus pyogenes e Salmonella typhi.
(D) Proteína do pilus.
(E) Toxoide.
2. Qual dos microrganismos a seguir causa uma doença cuja vacina é RESPOSTAS
feita utilizando um toxoide?
1. (A)
(A) Bacteroides fragilis.
2. (B)
(B) Corynebacterium diphtheriae.
3. (C)
(C) Neisseria meningitidis.
4. (A)
(D) Salmonella typhi.
(E) Vibrio cholerae.
3. Qual dos microrganismos a seguir causa uma doença cuja vacina
é feita utilizando um imunógeno associado a uma proteína carrea-
QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
dora (vacina conjugada)? Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
(A) Bacillus anthracis. contradas na seção de Bacteriologia Básica da Parte XIII: Ques-
(B) Clostridium tetani. tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam-
(C) Haemophilus influenzae. bém a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
(D) Mycobacterium tuberculosis.
página 731.
(E) Streptococcus pyogenes.
CAPÍTULO

Esterilização e Desinfecção 13
CONTEODO DO CAPITULO

PRINCÍPIOS DE ESTERILIZAÇÃO E DESINFECÇÃO AGENTES FÍSICOS


TAXA DE MORTE DE MICRORGANISMOS calor
AGENTES QUÍMICOS Radiação
Ruptura de membranas celulares Filtração
Modificação de proteínas Conceitos·chave
Modificação de ácidos nuclelcos Aplique seu conhecimento
Questões para autoavaliação

PRINCÍPIOS DE ESTERILIZAÇÃO E DESINFECÇÃO - - - - - - - -


A esterlliuç.ão é a inativação ou remoção de todos os microrga. patógenos devem ser mortos. apesar de alguns organismos e es.
nismos, incluindo os esporos bacterianos, os quais são a1tame11te poros bacterianos sobreviverem. Em relação às propriedades de
resistentes. A esterilização costuma ser realizada pela autoclava. danos aos tecidos. os desinfetantes variam de compostos corro-
ção. que COJlsiste na exposição a vapor a 12lºC. sob pressão de sivos contendo fenol. que devem ser utilizados apeJlas em objetos
15 )b/polª, por 15 minutos. lnstrwnentos cirúrgicos, que podem inanimados, a compostos menos tó.'Ocos. como etano) e iod~ que
ser danificados por caJor úmido. em gera1, são esterilizados por podem ser utilizados em superficies cutâ.ne.a.s. Os compostos quí-
meio da exposição ao gás ôJtido de etileno, ao passo que a maioria micos empregados para eliminar microrganismos na supertlcie da
das soluções intravenosas é esteriliz.ada por ftltração. pele e nas membranas mucosas são denominados anUssêptlcos.
A desinfecção c-onsiste na eliminação de muitos microrga• A Tabela l3· l descreve alguns desinfetantes de uso rotineiro
nismos, mas não de todos. Para uma desinfecção adequada. os e seus modos de ação.

TAXA DE MORTE DE MICRORGANISMOS - - - - - - - - - - -


A morte de microrganismos ocorre em determinada taxa, de- cação do agente. T. Coletivamente, c1· é com frequência refe.
pendendo principa1mente de duas variáveis: a concentração do rido como a dose. Dito de outra maneira. o número de. micror-
agente e o período de tempo em que o agente é aplicado. A taxa ganismos mortos é diretamente.proporcional a CI. A relação é.
de morte é definida pela relação muitas vezes referida em termos de sobreviventes. uma vez que.
estes são quantificados com facilidade a partir da formação de.
Net 1/C"T colônias. A morte de um microrganismo é definida pela sua
inabilidade em se reproduz.ir. Em certas drc.unstâncias. os res.
a qual revela que.o número de sobreviventes, N, é inversamente tos fisicos de bactérias mortas ainda podem causar problemas
proporcional à concentração do agente. C. e ao tempo de apJi. (ver página 46).

AGENTES QUÍMICOS - - - - - - - - - - - - - - - - -
Os compostos químicos variam significativamente quanto à ca• responde à razão entre a concentração de fenol e a concentra-
pacidade de matar os microrganismos. Uma medida quantitativa ção do agente requerida para causar a mesma taxa de morte nas
dessa variação é expressa como o coeficiente fenólko, que cor- condições-padrão do teste.
100 PARTE I Bacteriologia Básica

TABELA 13-1 Desinfecção e esterilização: uso clínico

Desinfetante ou método de desinfecção


Uso clínico comumente utilizado

Desinfecção das mãos de cirurgiões antes de cirurgias Clorexidina

Desinfecção do campo cirúrgico antes de cirurgias lodóforo

Desinfecção da pele antes de venipunctura ou imunização Etanol 70%

Desinfecção da pele antes de coleta de hemocultura ou introdução de cateter vascular Tintura de iodo seguida por etanol 70%, iodó-
foro ou clorexidina

Limpeza de feridas Timerosal, clorexidina, peróxido de hidrogênio

Limpeza de feridas causadas por queimaduras Sulfad iazina de prata

Limpeza de respingos de sangue de pacientes com hepatites B e C Hipoclorito (água sanitária)

Esterilização de instrumentos cirúrgicos e materiais termossensíveis (p. ex., endoscópios, óxido de etileno ou glutaraldeído
equipamentos para terapia respiratória)

Esterilização de materiais termorresistentes (p. ex., roupas cirúrgicas, coberturas de pacientes) Autoclave

Esterilização de soluções intravenosas Filt ração

Desinfecção do ar em salas de cirurgia (quando não estiverem em uso) Luz ultravioleta

Desinfecção de pisos em salas de cirurgia Cloreto de benzalcônio

Desinfecção de estetoscópio Etanol 70%

Conservante em vacinas Timerosal

Os agentes químicos atuam principalmente por um entre a membrana. Compostos quaternários de amônio (p. ex., cloreto
estes três mecanismos: (1) ruptura de membrana contendo lipí- de benzalcônio) são detergentes catiônicos amplamente utiliza-
deos, (2) modificação de proteínas, ou (3) modificação do DNA. dos na antissepsia da pele. O cloreto de benzalcônio é o ingre-
Cada um dos seguintes agentes químicos foi classificado em diente ativo de desinfetantes comumente utilizados em pisos e
uma das três categorias, embora alguns dos compostos químicos outras superfícies.
atuem por mais de um mecanismo.
Fenóis
O fenol foi o primeiro desinfetante utilizado em sala cirúrgica
RUPTURA DE MEMBRANAS CELULARES (por Lister, por volta de 1860), apesar de ser raramente utilizado
Álcool nos tempos atuais como desinfetante, devido ao fato de ser muito
cáustico. A clorexidina é um fenol clorado amplamente utilizado
O etanol é amplamente utilizado na limpeza da pele antes da como desinfetante de mãos antes de procedimentos operatórios
imunização ou venipunctura. Atua principalmente pela desor- ("lavagem cirúrgicà') e na limpeza de ferimentos. O hexacloro-
ganização da estrutura lipídica das membranas, mas também fenol, que consiste em um bifenol com seis átomos de cloro, é
desnatura as proteínas. O etanol requer a presença de água para utilizado em sabões germicidas, mas preocupações quanto à pos-
atividade máxima, ou seja, é muito mais efetivo a 70% do que a sível neurotoxicidade limitaram seu uso. Os fenóis não apenas
100%. Etanol 70% é frequentemente utilizado como um antissép- danificam as membranas, como também desnaturam proteínas.
tico para a limpeza da pele antes da venipunctura. Entretanto,
uma vez que não é tão eficaz quanto compostos contendo iodo,
estes últimos devem ser utilizados antes da coleta de hemocultu- MODIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS
ra ou introdução de cateteres intravenosos.
Cloro
Detergentes O cloro é utilizado como desinfetante na purificação de supri-
Os detergentes são agentes "superfície-ativos" compostos por mentos de água e no tratamento de piscinas. Também correspon-
uma porção hidrofóbica de cadeia longa e lipossolúvel e um gru- de ao componente ativo do hipoclorito (água sanitária, Clorox),
po hidrofílico polar, que pode ser um cátion, um ânion ou um o qual é utilizado como desinfetante em residências e hospitais.
grupo não iônico. Esses surfactantes interagem com lipídeos de O cloro é um agente oxidante potente que provoca a morte por
membrana celular por meio de sua cadeia hidrofóbica e com a promover a ligação cruzada de grupos sulfidril essenciais de en-
água circundante por meio de seu grupo polar, rompendo, assim, zimas, originando o dissulfeto inativo.
CAPÍTULO 13 Esterilização e Desinfecção 101

lodo cleicos. Tanto as proteínas quanto os ácidos nucleicos contêm


grupos essenciais -NH2 e -OH, que são os principais locais de
O iodo é o antisséptico cutâneo mais efetivo utilizado na prática
alquilação pelo grupo hidroximetil do formaldeído. O glutaral-
médica, devendo ser utilizado antes da coleta de urna hernocultu-
deído, que possui dois grupos aldeído reativos, é 10 vezes mais
ra ou da introdução de cateteres intravenosos, urna vez que a con-
eficaz que o formaldeído, além de ser menos tóxico. Em hos-
taminação pela rnicrobiota da pele, bem corno por Staphylococcus
pitais, é utilizado na esterilização de equipamentos de terapia
epidermidis, pode representar um problema. O iodo, assim corno o
respiratória.
cloro, é um oxidante que inativa as enzimas que contêm sulfidril. Ele
também se liga especificamente a resíduos de tirosina nas proteínas.
O iodo é fornecido em duas formas: óxido de etileno
O gás óxido de etileno é amplamente utilizado em hospitais na
(1) A tintura de iodo (solução a 2% de iodo e iodeto de po-
esterilização de materiais termossensíveis, como instrumentos
tássio em etanol) é utilizada para preparar a pele antes de uma
cirúrgicos e plásticos. Provoca a morte por meio da alquilação
coleta de sangue. Por poder irritar a pele, a tintura de iodo deve
de proteínas e ácidos nucleicos (i.e., o grupo hidroxietil ataca os
ser removida com álcool.
átomos de hidrogênio reativos presentes em grupos amino e hi-
(2) Iodóforos são complexos de iodo com detergentes, fre-
droxil essenciais).
quentemente utilizados no preparo da pele antes de cirurgias,
uma vez que são menos irritantes que a tintura de iodo.
Ácidos e álcalis
Metais pesados Ácidos fortes e álcalis provocam a morte pela desnaturação
de proteínas. Embora a maioria das bactérias seja suscetível
O mercúrio e a prata exibem a maior atividade antibacteriana
ao NaOH a 2%, é importante observar que Mycobacterium
entre os metais pesados, sendo os mais amplamente usados na
tuberculosis e outras micobactérias são relativamente resisten-
medicina. Atuam ligando-se aos grupos sulfidril, bloqueando a
tes a ele, que é utilizado no laboratório clínico para liquefazer
atividade enzimática. O timerosal (rnertiolato) e a merbromina
o escarro antes da cultura do organismo. Ácidos fracos, como
(mercurocrorno), que contêm mercúrio, são utilizados corno an-
os ácidos benzoico, propiônico e cítrico, são frequentemente
tissépticos cutâneos. O nitrato de prata é utilizado na prevenção
utilizados como conservantes de alimentos, uma vez que são
de oftalmia gonocócica neonatal. A sulfadiazina de prata é utiliza-
bacteriostáticos. A ação desses ácidos é parcialmente uma
da na prevenção de infecções de feridas causadas por queimadura.
função da porção orgânica (p. ex., benzoato), assim como do
baixo pH.
Peróxido de hidrogênio
O peróxido de hidrogênio é utilizado corno antisséptico na limpe-
za de ferimentos e para desinfetar lentes de contato. Sua eficácia MODIFICAÇÃO DE ÁCIDOS NUCLEICOS
é limitada pela capacidade de o microrganismo produzir catalase,
Uma variedade de corantes não apenas cora os microrganismos,
enzima que degrada H 2 O 2 • (As borbulhas produzidas quando o
mas também inibe seu crescimento. Um deles é o cristal violeta
peróxido é aplicado nos ferimentos são formadas pelo oxigênio
(violeta de genciana), o qual é utilizado corno antisséptico cutâ-
originado a partir da clivagem do H 2O 2 pela catalase presente nos
neo. Sua ação baseia-se na ligação da molécula do corante de
tecidos.) O peróxido de hidrogênio é um agente oxidante que ata-
carga positiva aos grupos fosfato de carga negativa dos ácidos nu-
ca os grupos sulfidril, inibindo a atividade enzimática.
cleicos. Verde malaquita, um cristal violeta do tipo trifenilamina,
é um componente do meio de Lõwenstein-Jensen, utilizado para
Formaldeído e glutaraldeído cultivar M. tuberculosis. O corante inibe o crescimento de orga-
O formaldeído, disponível na forma de solução a 37% em água nismos indesejados no escarro durante o período de incubação
(formalina), promove a desnaturação de proteínas e ácidos nu- de seis semanas.

AGENTES FÍSICOS - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Os agentes físicos atuam pela transmissão de energia na forma de uma vez que a água auxilia na ruptura de ligações não covalen-
calor ou radiação, ou pela remoção dos organismos por filtração. tes (p. ex., ligações de hidrogênio) que mantêm unidas as cadeias
proteicas em suas estruturas secundária e terciária.
A esterilização por calor úmido, normalmente a autoclava-
CALOR ção, corresponde ao método de esterilização utilizado com mais
frequência. Uma vez que os esporos bacterianos são resisten-
A energia térmica pode ser aplicada de três maneiras: na forma tes à fervura (l00ºC ao nível do mar), eles devem ser expostos a
de calor úmido (por fervura ou autoclavação), calor seco ou por temperaturas mais altas; esse processo só pode ser realizado com
pasteurização. Em geral, o calor provoca morte pela desnatura- um aumento da pressão. Com esse fim, uma câmara de autoclave
2
ção de proteínas, embora danos à membrana e clivagem enzimá- é usada, onde o vapor, a uma pressão de 15 lh/pol , atinge a tem-
tica do DNA também possam ocorrer. O calor úmido promove peratura de 121 ºC, sendo esta mantida por 15 a 20 minutos. Esse
a esterilização a urna temperatura mais baixa que o calor seco, processo mata até mesmo os esporos altamente termorresistentes
102 PARTE I Bacteriologia Básica

de Clostridium botulinum, a causa do botulismo, com margem encontram em uso. Os esporos bacterianos são bastante resis-
de segurança. Para testar a eficácia do processo de autoclavação, tentes e requerem uma dose até 10 vezes superior à das bacté-
são utilizados organismos formadores de esporos, por exemplo, rias vegetativas.
membros do gênero Clostridium. Os raios X exibem maior energia e poder de penetração que
A esterilização por calor seco, em contrapartida, requer tem- a radiação UV, e causam a morte sobretudo pela produção de
peraturas na faixa de l 80ºC por duas horas. Esse procedimento é radicais livres (p. ex., produção de radicais hidroxil a partir da
utilizado principalmente para vidraria, sendo utilizado com me- hidrólise da água). Esses radicais altamente reativos podem rom-
nor frequência que a autoclavação. per as ligações covalentes do DNA, matando o organismo. Com-
A pasteurização, utilizada principalmente para o leite, postos contendo sulfidril, como o aminoácido cisteína, podem
consiste no aquecimento do leite a 62ºC por um período de 30 proteger o DNA contra o ataque de radicais livres. Outro meca-
minutos, seguido por resfriamento rápido. (A pasteurização nismo consiste em um ataque direto sobre uma ligação covalente
rápida a 72ºC por 15 segundos é frequentemente utilizada.) do DNA, resultando na ruptura da cadeia. No entanto, esse pro-
Isso é suficiente para matar as células vegetativas de patógenos cesso é provavelmente menos importante que o mecanismo que
transmitidos pelo leite (p. ex., Mycobacterium bovis, Salmonella, envolve radicais livres.
Streptococcus, Listeria e Brucella), mas não esteriliza o leite. Os raios X matam prontamente as células vegetativas, mas
os esporos são muito resistentes, provavelmente em razão de seu
baixo teor de água. Os raios X são utilizados na medicina para a
RADIAÇÃO esterilização de itens termossensíveis, como suturas e luvas cirúr-
gicas, além de itens plásticos, como seringas.
Os dois tipos de radiação usados para matar microrganismos
são a luz ultravioleta (UV) e os raios X A maior atividade an-
timicrobiana da luz UV ocorre na faixa de 250 a 260 nm, que
FILTRAÇÃO
corresponde à região de comprimento de onda de máxima
absorção pelas bases purínicas e pirimidínicas do DNA. O dano A filtração é o método preferencial de esterilização de determina-
mais importante causado pela irradiação UV consiste na for- das soluções, como as que contêm componentes termossensíveis.
mação de dímeros de timina, embora também ocorra a adição No passado, as soluções para uso intravenoso eram submetidas à
de grupos hidroxil às bases. Como resultado, a replicação de autoclave, mas a endotoxina termorresistente das paredes celu-
DNA é inibida, tornando os organismos incapazes de crescer. lares de bactérias gram-negativas mortas causava febre nos pa-
As células possuem mecanismos de reparo de danos induzidos cientes que recebiam essas soluções. Desse modo, atualmente, as
por UV, que envolvem a clivagem de dímeros na presença de soluções são filtradas a fim de que se tornem livres de pirogênio
luz visível (fotorreativação) ou excisão de bases danificadas, que antes da autoclavação.
não depende de luz visível (reparo na ausência de luz). Uma O filtro mais comumente utilizado é composto por nitroce-
vez que a radiação UV pode causar danos à córnea e à pele, o lulose e possui poros de 0,22 µ,m. Esse tamanho é capaz de reter
uso de irradiação UV na medicina é limitado. Entretanto, essa todas as bactérias e esporos. Os filtros atuais agem pela captura e
radiação é utilizada em hospitais para matar organismos trans- retenção de partículas um pouco menores pela atração eletrostá-
mitidos pelo ar, especialmente em salas de cirurgia que não se tica das partículas aos filtros.

CONCEITOS-CHAVE

• A esteri lização consiste na morte de todas as formas de vida • Os agentes químicos matam as bactérias por uma entre as t rês
microbiana, incluindo os esporos bacterianos. Os esporos são seguintes ações: ruptura dos lipídeos das membranas celulares,
resistentes à fervura, de modo que a esteri lização de equipa- modificação de proteínas ou modificação do DNA.
mentos médicos é realizada geralmente a 121 ºC por 15 minutos • Os agentes físicos matam (ou removem) bactérias por um entre
em autoclave. A esterilização de materiais termossensíveis é reali- os três seguintes processos: calor, radiação ou filtração.
zada pela exposição ao óxido de etileno, ao passo que os líquidos
• O calor geralmente é aplicado em temperaturas acima da ebuli-
podem ser esterilizados por filtração.
ção (12 1ºC), a fim de matar os esporos; entretanto, materiais ter-
• A desinfecção consiste na redução do número de bactérias mossensíveis, como o leite, são expostos a temperaturas inferio-
a um nível suficientemente baixo, de modo que a ocorrência res ao ponto de ebulição (pasteurização), promovendo a morte
da doença seja improvável. Os esporos e algumas bactérias so- de patógenos presentes no leite, mas não sua esterilização.
breviverão. Por exemplo, a desi nfecção da água para consumo
• A radiação, como a luz ultravioleta e a radiação X, é frequente-
é alcançada por meio do t ratamento com cloro. A desinfecção
mente uti lizada na esterilização de itens termossensíveis. A luz
da pele antes de uma venipunctura é realizada pelo tratamento
UV e a rad iação X matam, causando danos ao DNA.
com etanol 70%. Os desinfetantes suaves o suficiente para serem
utilizados sobre a pele e outros tecidos, como o etanol 70%, são • A filtração é capaz de esterilizar líquidos quando a dimensão
denominados antissépticos. dos poros do filtro for pequena o suficiente para reter todas as
bactérias e os esporos. Líquidos t ermossensíveis (p. ex., líqu idos
• A morte de micróbios por agentes químicos ou radiação é pro-
intravenosos) são frequentemente esterilizados por filtração.
porcional à dose, a qual é definida como o produto da concentra-
ção multiplicada pelo tempo de exposição.
CAPÍTULO 13 Esterilização e Desinfecção 103

APLIQUE SEU CONHECIMENTO RESPOSTAS


1. A respeito da esterilização e da desinfecção, escolha a opção correta: 1. (C)
(A) O álcool a 70% é um antisséptico melhor que o iodo, e, por 2. (C)
isso, o álcool a 70% é a melhor opção para desinfetar a pele
antes de uma punctura.
(B) Os desinfetantes matam as formas vegetativas e os esporos QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
bacterianos.
( C) Durante o processo de esterilização por autoclavação, atempe- Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
ratura deve se elevar acima do ponto de fervura para matar os contradas na seção de Bacteriologia Básica da Parte XIII: Ques-
esporos bacterianos. tões para Autoavaliação, a partir da página 689. Consulte tam-
(D ) A transmissão de patógenos associados ao consumo de leite bém a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da
pode ser evitada pela pasteurização, que causa a morte tanto página 731.
de formas vegetativas quanto dos esporos bacterianos.
(E) A luz ultravioleta, utilizada em salas de cirurgia, mata as bacté-
rias por causar oxidação de lipídeos de membrana.
2. Qual das substâncias químicas a seguir é utilizada para esterilizar
instrumentos hospitalares sensíveis à temperatura?
(A) Cloreto de benzalcônio.
(B) Cresol.
( C) Óxido de etilen o.
(D ) Timerosal.
(E) Tintura de iodo.
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CAPÍ T U LO
Visão Geral dos Principais
Patógenos e Introdução às
Bactérias Anaeróbias 14
CONTEODO DO CAPITULO

Visão geral dos principais patógenos Diagnóstico labo,at°'ial


Introdução às bactérias anaeróbias Tratamento
Características importantes Conceitos·chave
Anaeróbiosde interesse médico Aplique seu conhecimento
Infecções clínicas Questões para autoavaliação

V ISÃO GERAL DOS PRINCIPAIS Como ocorre em quaJquer dassific.ação envoh'endo en.
tidades biolôgicas. essa não é totalmente precisa. Por exemplo,
PATÓGENOS Campylobactet causa doença do trato intestinal, mas está fre.
Os principais patógenos bacterianos estão apresentados na Tabe~ que11temente associado a uma fonte animal. Entretanto.. apesar
la 14· 1 e serão descritos nos Capítulos 15 a 26. A fim de que o)ei• de aJgumas imprecisões, a subdivisão do grande número de. ba.
tor possa concentrar.se nos patógenos importantes. as bactérias cilos gram-negativos n.e.ssas categorias funcionais poderá ser útil
de menor importância médica são descritas em um capítulo à ao)eitor.
parte (ver Capítulo 27). Os organismos que não são corados imediatamente pe)o
A'Iàbela 14-1 está dividida em organismos que são corados método de Gram se distribuem em seis categorias principais: es.
imediatamente pe)o método de Gram e aqueles que não o são. pécies de Myco~cten'um, as quais são bacilos ákool-acidorresis-
Os organismos corados pelo método de Gram são classificados tentes; espécies de Mya,plasma, que não apre.sentam parede celu-
em quatro categorias: cocos gram-positivos.. cocos gram-negati· )ar e, portanto., não se coram pelo método de Gram; espécies de
vos. bacilos gram-positivos e bacilos gram-negativos. Uma vez 1'teponema e Leptospira. as quais são espiroquetas muito delgados
que existem vários tipos de bacilos gram-negativos, e)es foram para serem visualizados quando corados pelo método de Gram;
separados em três grupos: e espécies de Chlam)'dfr~ e Ricketrsia, as quais se coram bem pe)o
método de Giemsa ou outros.. porém se coram pobremente pe)o
(1) Organismos associados ao trato intestina1;
método de Gram. As espécies de Chlamydia e Ricketrsia são pa.
(2) Organismos associados ao trato respiratório;
rasitas intraceJu)ares obrigatórios, ao contrário dos membros dos
(3) Organismos oriundos de fontes animais (bactérias zoo.
nóticas).
outros quatro ~neros.
A Tabela 14-2 apresenta as 10 doenças bacterianas "notificá-
Para facilitar o entendimento, os organismos associa· veis,. mais comuJlS nos F.stados Un.idos em 2009, conforme com.
dos ao trato intestinal são., ainda, subdivididos em três grupos: pilado pe)o Centers for Oisease Contro) and Prevention (COC).
(1) patógenos encontrados dentro e fora do trato intestina1, Observa-se que somente as doenç,as notificlveis estão in.cluidas
(2) patógenos enco11trados no interior do trato i11testinal, e. e que certas condições comuns, como faringite estreptocócica
(3) patôgenos externos ao trato intestinal. e impetigo. não estão induidas. Duas doenças sexua)mente
106 PARTE li Bacteriologia Clínica

TABELA 14-1 Principais patógenos bacterianos

Tipo de organismo Gênero

Corados imediatamente pelo método de Gram


Cocos gram-positivos Staphy/ococcus, Streptococcus, Enterococcus
Cocos gram-negativos Neisseria
Bacilos gram-positivos Corynebacterium, Listeria, Bacillus, C/ostridium, Actinomyces, Nocardia
Bacilos gram-negativos
Organismos do trato intestinal
Patógenos encontrados dentro e fora do trato Escherichia, Salmonella
Patógenos encontrados no interior do trato Shigella, Vibrio, Campylobacter, Helicobacter
Patógenos encontrados fora do trato Grupo Klebsiel/a-Enterobacter-Serratia, Pseudomonas, Grupo Proteus-Providencia-
-Morganella, Bacteroides
Organismos do trato respiratório Haemophilus, Legionella, Bordetel/a
Organismos de fontes animais Bruce/la, Francisella, Pasteurella, Yersinia

Não corados imediatamente pelo método de Gram


Parasitas intracelulares não obrigatórios Mycobacterium, Mycop/asma, Treponema, Leptospira
Parasitas intracelulares obrigatórios Chlamydia, Rickettsia

transmissíveis, infecção por Chlamydia e gonorreia, são as biente). Eles formam um grupo heterogêneo composto por
doenças significativamente mais comuns entre as listadas, segui- uma variedade de bactérias, desde as que exibem crescimen-
das por salmonelose, sífilis e doença de Lyme, as quais ocupam as to mínimo em 20% de oxigênio até as capazes de crescer ape-
primeiras cinco posições. nas em uma atmosfera com teor de oxigênio abaixo de 0,02%.
A Tabela 14-3 descreve as necessidades ótimas de oxigênio
para vários grupos representativos de organismos. Os aeróbios
INTRODUÇÃO ÀS BACTÉRIAS obrigatórios, como a Pseudomonas aeruginosa, exibem melhor
ANAERÓBIAS crescimento na atmosfera ambiente com oxigênio a 20% e ne-
nhum crescimento em condições de anaerobiose. Os anaeróbios
Características importantes facultativos, como a Escherichia coli, podem crescer bem em
qualquer das circunstâncias. Organismos aerotolerantes, como o
Os anaeróbios são caracterizados por sua capacidade de cres-
Clostridium histolyticum, podem exibir certo grau de crescimen-
cer somente em atmosfera contendo menos de 20% de oxigênio
to na atmosfera ambiente; entretanto, multiplicam-se de forma
(i.e., exibem crescimento pobre ou ausente em atmosfera am-
mais rápida em uma concentração de oxigênio mais baixa. Or-
ganismos microaerofílicos, como o Campylobacter jejuni, reque-
TABELA 14-2 As 1 O doenças bacterianas notificáveis rem concentração de oxigênio reduzida (- 5%) para crescimento
1 ótimo. Os anaeróbios obrigatórios, como o Bacteroides fragilis e o
mais comuns nos Estados Unidos em 2011
Clostridium perfringens, requerem uma atmosfera praticamente
Doença Número de casos ausente de oxigênio. Vários anaeróbios utilizam nitrogênio, em
Infecções genitais por clamídias 1.412.791 vez de oxigênio, como aceptor final de elétrons.
A principal razão da inibição do crescimento de anaeróbios
Gonorreia 321.849 pelo oxigênio consiste na quantidade reduzida (ou ausência) de
catalase e superóxido dismutase (SOD) observada nos anaeróbios.
Salmonelose 51.887
A catalase e o SOD eliminam os compostos tóxicos peróxido de
Sífilis 46.042 hidrogênio e superóxido, formados durante a produção de energia
pelo organismo (ver Capítulo 3). Outra razão é a oxidação de gru-
Doença de Lyme 33.097
pos sulfidril essenciais em enzimas sem poder redutor suficiente
Coqueluche 18.719 para regenerá-las.
Além da concentração de oxigênio, o potencial de oxir-
Doença invasiva por Streptococcus pneumoniae 17.138 redução (Eh) de um tecido é um determinante importante do
Shigelose 13.352
crescimento dos anaeróbios. Áreas com baixo Eh, como bolsas
periodontais, placa dental e colo, propiciam o crescimento ade-
Tuberculose 10.528 quado de anaeróbios. Lesões por esmagamento, que resultam
na desvitalização tecidual causada por suprimento sanguíneo
Escherichia coli produtora de toxina shiga 6.047
insuficiente, originam baixo Eh, permitindo o crescimento de
1
0 último ano em que os dados completos estão disponíveis. anaeróbios e a promoção de doenças.
CAPfTU LO 14 Visão Geral dos Principais Patógenos e Introdução às Bactérias Anaeróbias 107

TABELA 14-3 Necessidades ótimas de oxigênio de bactérias representativas

CreKimento nas seguintes condições

Tipo bacteriano Organismo representativo Aeróbia Anaeróbia

Aeróbios obrigatórios Pseudomonas aeruginosa 3+ o


Anaeróbios facultativos Escherichia coli 4+ 3+

Organismos aerotolerantes Clostridium histolyticum 1+ 4+

Microaerófilos Campylobacter jejuni o 1+ ,

Anaeróbios obrigatórios Bacteroides fragilis o 4+


1
C.jejuni exibe melhor crescimento (3 + ) em 5% de 0 2 mais 10% de C02• É também denominado capnofílico devido à sua necessidade de C0 2 para cresci ment o
ót imo.

Anaeróbios de interesse médico As doenças causadas por membros anaeróbios da micro-


biota normal caracterizam-se por abscessos, localizados mais
Os anaeróbios de interesse médico estão apresentados na Tabe-
frequentemente no encéfalo, nos pulmões, no trato genital fe-
la 14-4. Pode-se observar que eles incluem bacilos e cocos, tanto
minino, no trato biliar e em outros locais intra-abdominais.
gram-positivos quanto gram-negativos. Os bacilos são dividi-
A maioria dos abscessos contém mais de um organismo, tan-
dos em formadores de esporos (p. ex., o gênero Clostridium) e
to múltiplos anaeróbios quanto uma mistura de anaeróbios e
os não formadores de esporos (p. ex., Bacteroides). Neste livro,
anaeróbios facultativos. Acredita-se que os anaeróbios faculta-
três gêneros de anaeróbios são descritos como os principais
tivos consumam oxigênio suficiente, permitindo o crescimento
patógenos bacterianos: Clostridium, Actinomyces e Bacteroides.
dos anaeróbios.
Streptococcus é um gênero de importantes patógenos, consistin-
Três importantes achados no exame físico que levam à sus-
do em organismos tanto anaeróbios quanto facultativos. Os de-
peita de infecção anaeróbia são: secreção fétida, presença de gás
mais anaeróbios são menos importantes e são discutidos no
no tecido e necrose de tecido. Além disso, infecções associadas à
Capítulo 27.
aspiração pulmonar, à cirurgia intestinal, ao aborto, ao câncer ou
a mordidas de seres humanos ou animais frequentemente envol-
Infecções clínicas vem anaeróbios.
Muitos dos anaeróbios de importância médica são membros
da microbiota normal humana. Assim, não correspondem a Diagnóstico laboratorial
patógenos em seu hábitat normal, causando doença apenas
Dois aspectos do diagnóstico microbiológico de uma infecção
quando deixam esses locais. Duas exceções importantes são o
anaeróbia são importantes, antes mesmo da cultura do espécime:
Clostridium botulinum e o Clostridium tetani, os agentes do botu-
(1) obtenção do espécime apropriado e (2) o rápido transporte
lismo e do tétano, respectivamente, que são organismos do solo.
do espécime ao laboratório em condições de anaerobiose. Um
Clostridium perfringens, outro importante patógeno de seres hu-
espécime apropriado é o que não contém membros da microbio-
manos, é encontrado no colo e também no solo.
ta normal que poderiam confundir a interpretação. Por exemplo,
espécimes como sangue, líquido pleural, pus e aspirados transtra-
TABELA 14-4 Bactérias anaeróbias de interesse médico queais são apropriados, ao contrário do escarro e das fezes.
No laboratório, as culturas são manipuladas e incubadas em
Coloração condições anaeróbias. Além dos critérios diagnósticos usuais da
Morfologia deGram Gênero
coloração de Gram, morfologia e reações bioquímicas, a técnica
Bacilos formadores + Clostridium especial de cromatografia gasosa é importante. Nesse proce-
de esporos dimento, ácidos orgânicos, como os ácidos fórmico, acético e
Nenhum propiônico, são quantificados.

Bacilos não + Actinomyces, Bifidobacterium,


formadores de Eubacterium, Lactobacil/us,
Tratamento
esporos Propionibacterium Em geral, a drenagem cirúrgica do abscesso e a administração de
Bacteroides, Fusobacterium fármacos antimicrobianos são indicadas. Fármacos normalmen-
te utilizados no tratamento de infecções anaeróbias são penicili-
Cocos não + Peptococcus,
na G, cefoxitina, cloranfenicol, clindamicina e metronidazol. Ob-
formadores de Peptostreptococcus,
esporos Streptococcus
serva-se, no entanto, que vários isolados do importante patógeno
B. fragilis produzem a -lactamases, sendo, portanto, resistentes à
Veillonella
penicilina.
108 PARTE li Bacteriologia Clínica

APLIQUE SEU CONHECIMENTO RESPOSTAS


1. Qual a principal razão pela qual algumas bactérias são anaeróbias 1. (A)
(i.e., não crescem na presença de oxigênio)? 2. (C)
(A) Porque elas não possuem catalase e superóxido dismutase su-
ficientes.
(B) Porque elas possuem grande quantidade de íons ferrosos que QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
são oxidados a íons férricos na presença de oxigênio.
( C) Porque elas possuem mitocôndrias diferentes que não conse- Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
guem funcionar na presença de oxigênio. encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
(D) Porque a transcrição do gene para a proteína do pilus está re- Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
primida na presença de oxigênio. também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
2. Qual entre os seguintes grupos inclui bactérias que são ambas anae- da página 731.
róbias?
(A) Actinomyces israeli e Serratia marcescens.
(B) Campylobacter jejuni e Vibrio cholerae.
( C)Clostridium perfringens e Bacteroides fragilis.
(D) Mycobacterium tuberculosis e Pseudomonas aeruginosa.
(E) Mycoplasma pneumoniae e Corynebacterium diphtheriae.
CA P Í T ULO

Cocos Gram-Positivos 15
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Aplique seu conhecimento


Staphylococcus Resumos dos organismos
Streptococcus Questões para autoavaliação
Streptococcus pneumoniae

INTRODUÇÃO Características Importantes


Há dois gêneros de cocos gram-positivos de importância médica: Os estafilococos são cocos gram-positivos esféricos, organiza-
Sraphylococcus e Streptococcus. Dois dos mais importantes patô· dos em agtupamentos it regu)ares semelhantes a cachos de uvas
genos de seres hwnanos. St-aphylococcus 41uteus e Streptococcus (Figura 15-5). Todos os estafilococos produzem cataJase, ao con-
pyogenes. são descritos neste capítu1o. Os estafilococos e estrep- trário dos estreptococos (a c.atalase degrada H20 2 a 0 2 e H20 }.
tococos são imóveis e não fonnam esporos. A cata1ase é um importante fator de virulência. Bactérias que
Tanto os estafilococos quanto os estreptococos são cocos produzem cata1ase podem sobreviver ao efeito Jetal do H10 z den-
gram-positivos, apesar de serem diferenciados por dois critérios tro de neutrófiJos.
principais: Três espécies de. estafilococos são patógenos de seres hu-
manos: S. aureus. S. epidermidis e S. saptophyticus (Tabela 15-1}.
(1) Microscopicamente, os estafilococos apresentam-se Das três. o S. aureus é certamente. a mais importante. O S. au.-
como agrupamentos seme)hantes a cachos de uvas. ao passo que reus se distingue das outtas espécies ptindpahnente por pro-
os estreptococos formam cadeias. du?.ir a coagulase (Figura 15-6). A coagulase é uma enzima
(2) Bioquimkamente, os estafiJococos produzem catalase que causa a coagulação do plasma por ativar a protrombina,
(i.e., degradam peróxido de hidrogênio). ao passo que os estrep- formando trombina. A trombina. então, catalisa a ati\•ação de.
tococos não a produzem,

STAPHYLOCOCCUS
Doenças
O Sraphylococcus auteus causa abscessos (Figuta 15-1), vátias
infecções piogênicas (p. ex., endocardite. artrite séptica e os-
teomielite), intoxicação alimentat, sindtome da pe)e escaldada
(Figura 15-2) e síndrome do choque tóxico, OS. aureus é uma
das causas mais comuns de pnewnonia hospita1at, septicemia e
infecções de. feridas cirúrgicas. t uma importante causa de ill·
fecções c.utãneas. como foliculite (Figura 15- 3}. celulite e impe-
tigo (Figuta 15-4). t , também, a princ.ipa1 causa de.conjuntivite
bacteriana. FIGURA 1 s-1 Abscesso no p~. Observe a á rea centra l elevada co n·
O SMphylococcus epidermidis pode causar endocardi- tendo pus esbranquiçado circundada pof Mtema. um a bscesso~ a
te e infecções em articulações prostétic.as. O SMphylococcus lesão clássica causada pelo Staphy/ococcus auttus. (Imagem utlnza.da.
saptophyticus caucSa infecções do trato urinário. A síndrome de com permlss1o,de\Volff K, Johnson R(eds): ftrz,potrick's Co!orAtlas & SynopsJ.s o(
Ka·wasaJci. é uma doença de etiologia desconhecida. que pode ser Cllnko/Dmnotcfogy. 6th ed. NewYOrk: McGraw-H1.I~ 2009. Copyright() 2009 por
causada por determinadas lin.hage1ts de S. aureus. l he McG raw,Hll Companles., lnc.)
110 PARTE li Bacteriologia Clínica

FIGURA 15-4 lmpetigo. Observe as lesões vesiculares cobertas com


crostas eritematosas "cor de mel''. O impetigo é causado por Staphylo-
coccus aureus ou Streptococcus pyogenes. (Imagem utilizada, com per-
missão, de Wolff K, Johnson R (eds): Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of Clinicai
Dermatology. 6th ed. New York: McGraw-Hill, 2009. Copyright © 2009 por The
McGraw-Hill Companies, lnc.)
FIGURA 15-2 Sínd rome da pele escaldada. Observe a descamação
generalizada na criança. É causada por uma exot oxina produzida
por Staphylococcus aureus. (I magem uti lizada, com permissão, de Wolff
K, Johnson R (eds): Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of Clinicai Dermatology.
6th ed. New York: McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 por The McGraw-Hill
Companies, lnc.)

FIGURA 15-3 Foliculite. Observe as múlt iplas, pequenas pústulas no FIGURA 15-5 Staphylococcus aureus - colo ração de Gram. As setas
queixo e no pescoço. Staphylococcus aureus é a causa mais comum de indicam cocos gram-positivos em forma de"cacho de uva''. A ponta de
foliculite. (Reproduzida, com permissão, de Wolff K, Goldsmit h LA, Katz SI et ai seta indica um neutrófi lo com núcleo segmentado em cor-de-rosa.
(eds): Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine. 7th ed. New York: McGraw- (Utilizada, com perm issão, da Professora Shirl ey Lowe, Universit y of Californ ia,
-Hill, 2008, pg 1699. Copyright© 2008 por The McGraw-Hill Companies, 1nc.) San Fra ncisco School of Medicine, Estados Unidos.)
CAPÍTULO 15 Cocos Gram-Positivos 111

TABELA 15-1 Estafilococos de importância médica

Produção de Hemólise Características


1
Espécies coagulase típica importantes Doença típica

S. aureus + ~ Proteína A na superfície Abscesso, intoxicação alimentar, síndrome do choque tóxico

S. epidermidis Ausente Sensível à novobiocina Infecção de vá lvu las cardíacas prostéticas e próteses de qua-
dril; membro comum da microbiota da pele

S. saprophyticus Ausente Resistente à novobiocina Trato urinário


1
Todos os estafilococos são catalase-positivos.

fibrinogênio, formando o coágulo de fibrina. S. epidermidis e S. cilinas, mas não todas. Algumas linhagens de S. aureus são resis-
saprophyticus são referidos frequentemente como estaftlococos tentes a penicilinas í3-lactamase-resistentes, como a meticilina e a
coagulase-negativos. nafcilina, pela ocorrência de modificações na proteína de ligação
Staphylococcus aureus produz um pigmento carotenoide à penicilina (PBP) em suas membranas celulares. Genes no cro-
chamado de estafiloxantina, que confere uma coloração dou- mossomo bacteriano, denominados genes mecA, codificam essas
rada às suas colônias. Esse pigmento aumenta a patogenicidade alterações nas PBPs.
do organismo por inativar o efeito microbicida de superóxidos e Estas linhagens são comumente conhecidas como S. aureus
outras espécies reativas de oxigênio no interior dos neutrófilos. resistentes à meticilina (MRSA) ou S. aureus resistente à nafci-
O S. epidermidis não sintetiza esse pigmento, produzindo colô- lina (NRSA). O MRSA é responsável por mais de 50% das linha-
nias brancas. O S. epidermidis é significativamente menos viru- gens de S. aureus isoladas de pacientes em hospitais nos Estados
lento que o S. aureus. Unidos. A linhagem mais comum de MRSA nos Estados Unidos
Duas outras características distinguem adicionalmente é a linhagem "USA300':
essas espécies. O S. aureus normalmente fermenta o manitol e Linhagens de S. aureus que apresentam resistência interme-
é capaz de hemolisar hemácias, ao passo que S. epidermidis e diária à vancomicina (VISA) e resistência completa à vancomici-
S. saprophyticus não o fazem. A hemólise de hemácias pelas he- na (VRSA) também têm sido encontradas. O conjunto de genes
molisinas produzidas por S. aureus é a fonte de ferro necessária que codifica a resistência à vancomicina em S. aureus é o mesmo
para o crescimento do organismo. O ferro presente na hemoglo- que confere resistência à vancomicina em enterococos. Esses ge-
bina é recuperado pela bactéria e utilizado na síntese de enzimas nes estão localizados em um transposon em um plasmídeo que
citocromo utilizadas na produção de energia. codifica as enzimas que substituem D-lactato por D-alanina no
Mais de 90% das linhagens de S. aureus contêm plasmídeos peptideoglicano.
que codificam í3-lactamase, a enzima que degrada diversas peni- OS. aureus apresenta diversos componentes de parede celu-
lar e antígenos importantes:
(1) A proteína A é a principal proteína da parede celular.
Ela é um importante fator de virulência porque se liga à porção
Fc da IgG no local de ligação do complemento, impedindo a sua
ativação. Como consequência, não há produção de C3b, e a op-
sonização e a fagocitose dos organismos são significativamente
reduzidas. A proteína A é utilizada em determinados testes no la-
boratório clínico porque se liga à IgG e forma um "coaglutinadd'
com complexos antígeno-anticorpo. Os estafilococos coagulase-
-negativos não produzem a proteína A.
(2) Os ácidos teicoicos são polímeros de ribitol fosfato. Eles
medeiam a adesão dos estafilococos às células mucosas. Os áci-
dos lipoteicoicos desempenham um papel na indução de choque
séptico pela indução de citocinas, como a interleucina 1 (IL-1) e
o fator de necrose tumoral (TNF) de macrófagos (para mais deta-
lhes, ver discussão sobre choque séptico na seção de Endotoxina
do Capítulo 7).
(3) A cápsula polissacarídica também é um importante
fator de virulência. Existem 11 sorotipos baseados na antigeni-
cidade da cápsula polissacarídica, embora os tipos 5 e 8 sejam
FIGURA 15-6 Teste de coagulase - tubo superior inoculado com Sta-
responsáveis por 85% das infecções. Algumas linhagens de S. au-
phy/ococcus aureus; tubo inferior inoculado com Staphy/ococcus epider- reus são revestidas por uma pequena quantidade de cápsula
midis. A seta aponta para o plasma coagulado por ação da coagulase polissacarídica, chamada de microcápsula. Essa microcápsula é
produzida pelo 5. aureus. (Utilizada, com permissão, da Professora Shirley fracamente imunogênica, o que dificulta a produção de uma va-
Lowe, University of California, San Francisco School of Medicine, Estados Unidos.) cina eficiente.
112 PARTE li Bacteriologia Clínica

(4) Receptores de superfície para bacteriófagos estafilocó- a enterotoxina, a toxina da síndrome do choque tóxico e a es-
cicos específicos permitem a "fagotipagem,, de linhagens com foliatina.
objetivos epidemiológicos. Os ácidos teicoicos compõem parte
( 1) A enterotoxina causa intoxicação alimentar, caracterizada
desses receptores.
por vômito proeminente e diarreia aquosa não sanguinolenta. A to-
(5) O peptideoglicano de S. aureus exibe propriedades do
xina atua como um superantígeno no interior do trato gastrintesti-
tipo endotoxina (i.e., pode estimular a produção de citocinas pe-
nal, estimulando a liberação de grandes quantidades de IL-1 e IL-2
los macrófagos, como também pode ativar as cascatas do comple-
por macrófagos e células T auxiliares, respectivamente. O vômito
mento e de coagulação). Isso explica a habilidade de o S. aureus
proeminente é aparentemente causado por citocinas liberadas pelas
causar os achados clínicos do choque séptico, embora não possua
células linfoides, estimulando o sistema nervoso entérico a ativar o
endotoxina.
centro de vômito no encéfalo. A enterotoxina é relativamente ter-
morresistente e, desse modo, não é inativada pelo cozimento rápi-
Transmissão do. É resistente ao ácido gástrico, bem como às enzimas do estôma-
Os seres humanos são o reservatório para estafilococos. O nariz go e jejuno. Há seis tipos imunológicos de enterotoxina: tipos A a F.
é o principal local de colonização pelo S. aureus e aproximada- (2) A toxina da síndrome do choque tóxico (TSST, to-
mente 30% das pessoas são colonizadas em algum momento de xic shock syndrome toxin) causa choque tóxico, especialmente
suas vidas. Indivíduos que são carreadores crônicos de S. aureus em mulheres no período menstrual fazendo uso de absorvente
no nariz possuem risco aumentado de apresentar infecções de higiênico interno, ou em indivíduos apresentando infecções de
pele causadas pelo S. aureus. ferimentos. O choque tóxico também ocorre em pacientes que
A pele, especialmente de profissionais hospitalares e pacien- utilizam tampão nasal para estancar sangramento nasal. A TSST
tes, também corresponde a um local comum de colonização por é produzida localmente por S. aureus na vagina, no nariz ou em
S. aureus. O contato manual representa um importante modo de outro local infectado. A toxina atinge a corrente sanguínea, cau-
transmissão, e a lavagem das mãos diminui a transmissão. sando uma toxemia. Culturas de sangue geralmente não apresen-
O Staphylococcus aureus também é encontrado na vagina de tam crescimento de S. aureus.
aproximadamente 5% das mulheres, predispondo-as à síndrome A TSST é um superantígeno e causa choque tóxico por es-
do choque tóxico. Fontes adicionais de infecções estafilocócicas timular a liberação de grandes quantidades de IL-1, IL-2 e TNF
estão associadas a lesões humanas e fômites, como toalhas e rou- (ver discussões sobre exotoxinas, no Capítulo 7, e sobre superan-
pas contaminadas por essas lesões. tígenos, no Capítulo 58). Aproximadamente 5 a 25% dos isolados
Doenças causadas por S. aureus são favorecidas por um am- de S. aureus carreiam o gene que codifica a TSST. O choque tóxi-
biente altamente contaminado (p. ex., familiares apresentando co ocorre em indivíduos que não apresentam anticorpos contra
furúnculos) e por um sistema imune comprometido. A imuni- a TSST.
dade humoral reduzida, incluindo baixos níveis de anticorpos, (3) A esfoliatina causa a síndrome da "pele escaldadà' em
complemento ou neutrófilos, predispõe especialmente a infec- crianças. É "epidermolíticà' e atua como uma protease que cliva
ções estafilocócicas. Diabetes e o uso de drogas intravenosas a desmogleína dos desmossomos, levando à separação da epider-
predispõem à infecção pelo S. aureus. Pacientes acometidos por me na camada de células granulares.
doença granulomatosa crônica (DGC), uma doença caracteriza- (4) Várias exotoxinas podem matar leucócitos (leucocidi-
da por uma falha na capacidade dos neutrófilos em matarem as nas) e causar necrose de tecidos in vivo. Entre elas, as duas mais
bactérias, são especialmente propensos a infecções por S. aureus importantes são a toxina a e a leucocidina P-V. A toxina a causa
(ver Capítulo 68). necrose acentuada na pele e hemólise. O efeito citotóxico da to-
OS. epidermidis é encontrado principalmente na pele hu- xina a é atribuído à formação de orifícios na membrana celular
mana e pode entrar na corrente sanguínea nos pontos onde cate- e à consequente perda de substâncias de baixo peso molecular a
teres endovenosos perfuram a pele. S. saprophyticus é encontrado partir da célula danificada.
principalmente na mucosa do trato genital de mulheres jovens e, A leucocidina P-V é uma toxina formadora de poros que
a partir desse local, podem ascender até a bexiga, causando infec- mata as células, especialmente leucócitos, por causar danos às
ções do trato urinário. membranas celulares. As duas subunidades da toxina ligam-se à
membrana celular para formar um poro pelo qual o conteúdo
Patogênese celular vaza. O gene que codifica a leucocidina P-V está locali-
zado em um fago lisogênico. A importância da leucocidina P-V
Staphylococcus aureus como fator de virulência é indicada pela grave infecção de pele e
O S. aureus é capaz de causar doenças tanto por meio da pro- tecidos moles, causada por linhagens de MRSA que produzem
dução de toxinas quanto por meio da indução de inflamação essa leucocidina. Uma pneumonia necrosante grave também é
piogênica. A lesão típica causada pelo S. aureus é um abscesso. causada por determinadas linhagens de S. aureus que produzem
Os abscessos sofrem necrose central e, em geral, drenam para a leucocidina P-V. Aproximadamente 2% dos isolados clínicos de
o exterior (p. ex., furúnculos), mas os organismos podem tam- S. aureus produzem a leucocidina P-V.
bém ser disseminados na corrente sanguínea. Corpos estranhos, (5) As enzimas incluem coagulase, fibrinolisina, hialuroni-
como suturas e cateteres intravenosos, são importantes fatores dase, proteases, nucleases e lipases. A coagulase, por promover a
predisponentes à infecção por S. aureus. coagulação do plasma, atua no englobamento do local infecta-
Diversas toxinas e enzimas importantes são produzidas do, retardando a migração de neutrófilos a ele. A estafilocinase é
pelo S. aureus. As três exotoxinas clinicamente importantes são uma fibrinolisina capaz de lisar os trombos.
CAPÍTULO 15 Cocos Gram-Positivos 113

TABELA 15-2 Importantes características da patogênese de estafilococos

Organismo Tipo de patogênese Doença típica Fator predisponente Modo de prevenção

S. aureus 1. Toxigênica (superan- Síndrome do choque tóxico Tampão nasal ou vaginal Reduzir o tempo de uso do
tígeno) tampão
Intoxicação alimentar Armazenamento impróprio Refrigerar os alimentos
de alimentos
2. Piogênica (abscesso)
a. Local 1nfecção de pele (p. ex., Má higiene da pele; falhas Asseio; lavagem das mãos;
impetigo e infecções de nos procedimentos as- redução do estado de
feridas cirúrgicas) sépticos portador nasal
1
b. Disseminada Sepse, endocardite Uso de fármacos IV Reduzir o uso de fármacos IV

S. epidermidis Piogênica Infecções de locais de cate- Falhas nos procedimentos Lavagem das mãos; pronta
teres intravenosos e dis- assépticos ou na pronta remoção de cateteres IV
positivos prostéticos remoção de cateteres IV

S. saprophyticus Piogênica Infecção do trato urinário Atividade sexual

IV, intravenoso.
1
Para simplificar, várias formas de doenças disseminadas causadas por 5. aureus (p. ex., osteomielite, artrite) não foram incluídas na tabela.

Staphylococcus epidermidis e envolvem contato pessoal próximo, como lutadores e jogadores


Staphylococcus saprophyticus de futebol, também apresentam risco. Observe que MRSA ad-
quiridos em hospitais (HA-MRSA) causam aproximadamente
Diferentemente do S. aureus, esses dois estafilococos coagulase-
-negativos não produzem exotoxinas. Portanto, eles não causam
intoxicação alimentar ou síndrome do choque tóxico. Eles po-
dem, no entanto, causar infecções piogênicas. O S. epidermidis,
por exemplo, é um causador proeminente de infecções piogêni-
cas em implantes prostéticos, como válvulas cardíacas e juntas
dos quadris. Já o S. saprophyticus é causa frequente de infecções
do trato urinário, especialmente cistites.

Achados clínicos
As importantes manifestações clínicas causadas por S. aureus
podem ser divididas em dois grupos: as piogênicas (produtoras
de pus) e as mediadas por toxina (Tabela 15-2). Staphylococcus
aureus é a principal causa de infecções de pele, tecidos moles, os-
sos, articulações, pulmões, coração e rins. As doenças piogênicas
são o primeiro grupo descrito, e as doenças mediadas por toxinas
formam o segundo grupo.

Doenças piogênicas causadas pelo


Staphylococcus aureus
(1) Infecções de pele são muito comuns. Elas incluem im-
petigo (Figura 15-4), furúnculos, carbúnculos (Figura 15-7),
paroníquia, celulite, foliculite (Figura 15-3), hidradenite supu-
rativa, conjuntivite, infecções de pálpebras (blefarite e hordéolo)
e infecções de mama pós-parto (mastite). Linfangite também
pode ocorrer, principalmente no antebraço associado à infecção
na mão.
Infecções necrosantes graves de pele e tecidos moles são
FIGURA 15-7 Carbúnculo. O carbúncu lo é um abscesso de várias
causadas por linhagens de MRSA que produzem a leucocidina
pústulas, geralmente localizado na parte de trás do pescoço. Observe
P- V. Essas infecções são geralmente adquiridas na comunidade, a gota de pus amarelado, perto do centro da lesão. Carbúnculos são
em vez de adquiridas em hospitais. As linhagens de S. aureus re- causados por Staphy/ococcus aureus. (Imagem utilizada, com permissão,
sistentes à meticilina adquiridas em comunidade (CA-MRSA) de Wolff K, Johnson R (eds): Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis ofClinical Dermato-
constituem uma causa comum de infecção entre moradores de logy. 6th ed. New York: McGraw-Hill, 2009. Copyright © 2009 porThe McGraw-Hill
rua e usuários de drogas intravenosas. Atletas cujas atividades Companies, lnc.)
114 PARTE li Bacteriologia Clínica

50% de todas as infecções nosocomiais por S. aureus. A análise camadas, exsudação de fluido seroso e desequilíbrio eletrolítico.
molecular revela que as linhagens CA-MRSA são distintas das Pode haver perda de cabelos e unhas. A recuperação, em geral,
linhagens HA-MRSA. ocorre em um período de sete a 1O dias. Essa síndrome ocorre
(2) A septicemia (sepse) pode originar-se a partir de qual- com maior frequência em crianças.
quer lesão localizada, especialmente infecções de ferimentos,
ou como resultado do uso abusivo de drogas injetáveis. A sepse Doença de Kawasaki causada pelo
causada por S. aureus exibe características clínicas similares às Staphylococcus aureus
da sepse causada por certas bactérias gram-negativas, como
A doença de Kawasaki (DK) é uma doença de etiologia desco-
Neisseria meningitidis (ver Capítulo 16). nhecida, e que será discutida aqui, uma vez que várias de suas
(3) A endocardite pode ocorrer em válvulas cardíacas nor-
manifestações se assemelham com a síndrome do choque tóxico
mais ou prostéticas, especialmente a endocardite direita (válvula
causado por superantígenos de S. aureus (e também S. pyogenes).
tricúspide) em usuários de drogas injetáveis. (A endocardite de A DK é uma vasculite que envolve artérias pequenas e médias,
válvulas prostéticas é frequentemente causada por S. epidermidis.) especialmente as artérias coronárias. É a causa mais comum de
(4) A osteomielite e a artrite podem surgir por dissemina-
doença cardíaca adquirida em crianças nos Estados Unidos.
ção hematogênica, a partir de um foco infectado distante, ou por Clinicamente, a DK se caracteriza por febre alta, com pelo
introdução direta em um local de ferimento. O S. aureus é uma menos cinco dias de duração; conjuntivite não purulenta bilateral;
causa muito comum dessas doenças, especialmente em crianças. lesões dos lábios e da mucosa oral (p. ex., língua de morango, ede-
(5) Infecções de feridas pós-cirúrgicas são uma importante ma de lábios e eritema da orofaringe); linfadenopatia cervical; uma
causa de morbidade e mortalidade em hospitais. O S. aureus é a erupção maculopapular difusa e eritematosa; e edema e eritema
causa mais frequente. O S. aureus e o S. epidermidis, por exemplo, das mãos e dos pés, frequentemente terminando com descamação.
são as causas mais comuns de infecções nos locais de instalação O achado clínico mais característico da DK corresponde ao
de marca-passos cardíacos. comprometimento cardíaco, especialmente miocardite, arritmia
(6) A pneumonia pode ocorrer em pacientes pós-cirúrgicos e regurgitação envolvendo as válvulas mitral e aórtica. A princi-
ou após uma infecção respiratória virai, especialmente a gripe. pal causa de morbidade e mortalidade na DK é o aneurisma das
A pneumonia estafilocócica com frequência leva à empiema ou artérias coronárias.
abscesso pulmonar. Em muitos hospitais, é a causa mais comum A DK é muito mais comum em crianças de ascendência
de pneumonia nosocomial, em especial a pneumonia associada asiática, levando à especulação de que certos alelos do complexo
à ventilação em unidades de terapia intensiva. CA-MRSA causa principal de histocompatibilidade (MHC, major histocompatibi-
uma grave pneumonia necrosante. lity complex) podem predispor a doença. É uma doença de crian-
(7) A conjuntivite geralmente apresenta-se com dor unila- ças com menos de 5 anos de idade, ocorrendo frequentemente
teral, queimação nos olhos, hiperemia da conjuntiva e secreção em pequenos surtos. Ocorre em nível mundial, mas é muito mais
purulenta. O organismo é transmitido para o olho por meio dos comum no Japão.
dedos contaminados. S. aureus é a causa mais comum na maio- Não há qualquer teste diagnóstico laboratorial definitivo
ria dos casos, mas Streptococcus pneumoniae e Haemophilus para a DK. A terapia efetiva consiste do uso de altas doses de
influenzae são mais comuns em crianças. Conjuntivite gonocó- imunoglobulinas (IVIG) adicionadas a altas doses de ácido ace-
cica e não gonocócica (causada por Chlamydia trachomatis) é ad- tilsalicílico, o que imediatamente reduz a febre, outros sintomas
quirida na infância pela passagem no canal do parto. e, mais importante, reduz significativamente a ocorrência de
(8) Os abscessos podem ocorrer em qualquer órgão quan - aneurismas.
do o S. aureus circula na corrente sanguínea (bacteriemia). Esses
abscessos são frequentemente chamados de "abscessos metastáti- Staphylococcus epidermidis e
cos': já que ocorrem em razão da dispersão da bactéria a partir do Staphylococcus saprophyticus
local original de infecção, muitas vezes a pele.
Existem dois estafilococos coagulase-negativos de impor-
tância médica: S. epidermidis e S. saprophyticus. Infecções por
Doenças mediadas por toxinas causadas pelo
S. epidermidis são quase sempre adquiridas em hospitais, ao pas-
Staphylococcus aureus so que as infecções por S. saprophyticus são quase sempre adqui-
(1) A intoxicação alimentar (gastrenterite) é causada pela ridas na comunidade.
ingestão de enterotoxina, a qual é pré-formada nos alimentos e, O Staphylococcus epidermidis é membro da microbiota hu-
portanto, apresenta um curto período de incubação (uma a oito mana normal da pele e de membranas mucosas, mas pode atin-
horas). Na intoxicação alimentar estafilocócica, o vômito é geral- gir a corrente sanguínea (bacteriemia), originando infecções
mente mais proeminente do que a diarreia. metastáticas, especialmente no local de implantes. Comumente
(2) A síndrome do choque tóxico é caracterizada por febre, infecta cateteres intravenosos e implantes prostéticos (p. ex., vál-
hipotensão, erupção cutânea difusa, macular, similar a uma quei- vulas cardíacas prostéticas [endocardite], enxertos vasculares e
madura de sol, que progride para descamação, e envolvimento de articulações prostéticas [artrite ou osteomielite]) (Tabela 15-2).
três ou mais dos seguintes órgãos: fígado, rim, trato gastrintesti- Staphylococcus epidermidis é também uma importante causa de
nal, sistema nervoso central, músculos ou sangue. sepse em neonatos e de peritonite em pacientes apresentando
(3) A síndrome da pele escaldada é caracterizada por febre, insuficiência renal e submetidos à diálise peritoneal por cateter
além do aparecimento de amplas bolhas na pele e uma erupção permanente. Esse organismo corresponde à bactéria mais co-
macular eritematosa. Há ocorrência de grandes áreas da pele des- mum a causar infecções em derivações de líquido cerebrospinal.
CAPÍTULO 15 Cocos Gram-Positivos 11 S

Linhagens de S. epidermidis que produzem um glicocálice podem causar surtos significativos de doença, especialmente em
apresentam maior probabilidade de aderir a materiais de implan- hospitais. O fármaco de escolha para esses estafilococos é a van-
tes prostéticos e, portanto, exibem maior probabilidade de infec- comicina, algumas vezes associada à gentamicina. Daptomicina
tar esses implantes, quando comparadas a linhagens que não pro- também pode ser útil. Trimetoprima-sulfametoxazol ou clinda-
duzem um glicocálice. Membros do corpo hospitalar constituem micina podem ser utilizados no tratamento de infecções sem ris-
um reservatório importante para linhagens de S. epidermidis re- co à vida causadas por esses organismos. Observa-se que essas
sistentes a antibióticos. linhagens de MRSA são resistentes a quase todos os fármacos ~-
O S. saprophyticus causa infecções do trato urinário, parti- -lactâmicos, incluindo penicilinas e cefalosporinas. Ceftarolina-
cularmente em mulheres jovens e sexualmente ativas. A maioria -fosamil é o primeiro fármaco ~-lactâmico utilizado no trata-
das mulheres que apresenta essa infecção manteve relação sexual mento de infecções pelo MRSA.
nas 24 horas prévias. Após Escherichia coli, esse organismo é a Linhagens de S. aureus com resistência intermediária à van -
principal causa de infecções do trato urinário adquiridas na co- comicina (linhagens VISA) ou com resistência completa à van-
munidade em mulheres jovens. comicina (linhagens VRSA) têm sido isoladas de pacientes. Essas
linhagens são geralmente resistentes a meticilina/nafcilina, o que
Diagnóstico laboratorial as torna muito difíceis de tratar. Daptomicina (cubicina) também
pode ser utilizada no tratamento de infecções por esses organis-
Esfregaços de lesões estafilocócicas revelam cocos gram-
mos. Quinupristina-dalfopristina (Synercid) é outro fármaco de
-positivos em agrupamentos semelhantes a cachos de uvas
escolha.
(Figura 15-5). Culturas de S. aureus geralmente revelam colônias
O tratamento da síndrome do choque tóxico envolve a re-
amarelo-douradas que são, com frequência, ~-hemolíticas. O S.
versão do choque mediante o uso de fluidos, fármacos pressores
aureus é coagulase-positivo (Figura 15-6). O ágar hipertônico
e fármacos inotróficos; a administração de uma penicilina resis-
manitol é um sistema de triagem comumente usado para a detec-
tente à ~-lactamase, como nafcilina; e a remoção do tampão ou
ção de S. aureus. Culturas de estafilococos coagulase-negativos
desbridação do local infectado, conforme a necessidade. Um pool
geralmente originam colônias brancas e não hemolíticas. Os dois
de globulinas séricas, contendo anticorpos contra a TSST, pode
estafilococos coagulas e-negativos são diferenciados com base
ser útil.
em sua sensibilidade ao antibiótico novobiocina: S. epidermidis
A mupirocina é muito eficiente como antibiótico tópico
é sensível, ao passo que S. saprophyticus é resistente. Não existem
no caso de infecções da pele causadas pelo S. aureus. Também
testes sorológicos ou cutâneos utilizados para o diagnóstico de
tem sido utilizada para reduzir o estado de portador nasal dos
qualquer infecção estafilocócica aguda.
profissionais hospitalares e pacientes apresentando infecções
No caso da síndrome do choque tóxico, o isolamento de
estafilocócicas recorrentes. Um antisséptico tópico para a pele,
S. aureus não é requerido para o diagnóstico, desde que os
como a clorexidina, pode ser usado conjuntamente com a mu-
critérios clínicos sejam compatíveis. Os achados laboratoriais . .
p1roc1na.
que suportam o diagnóstico da síndrome do choque tóxico
Algumas linhagens de estafilococos exibem tolerância
incluem o isolamento da linhagem de S. aureus produtora de
(i.e., podem ser inibidas pelos antibióticos, porém não são mor-
TSST e o desenvolvimento de anticorpos contra a toxina du-
tas). (Ou seja, a razão entre a concentração bactericida mínima
rante o período de convalescença, embora este último crité-
[CBM] e a concentração inibidora mínima [CIM] é muito ele-
rio não seja útil para o diagnóstico durante a fase aguda da
vada.) A tolerância pode resultar de uma falha dos fármacos em
doença.
inativarem os inibidores de enzimas autolíticas que degradam o
Para fins epidemiológicos, S. aureus pode ser subdividido
organismo. Organismos tolerantes devem ser tratados com com-
em subgrupos com base na suscetibilidade do isolado clínico à
binações de fármacos (ver Capítulo 1O).
lise por uma variedade de bacteriófagos. Um indivíduo portando
A drenagem (espontânea ou cirúrgica) corresponde ao prin-
S. aureus do mesmo grupo fágico que o grupo responsável pelo
cipal procedimento do tratamento de abscessos. Incisão e drena-
surto pode ser a fonte das infecções.
gem (I&D) costumam ser suficientes no tratamento de abscessos
de pele, como o furúnculo, e antibióticos não são necessários na
Tratamento maioria dos casos. A infecção prévia confere apenas imunidade
Nos Estados Unidos, 90% ou mais das linhagens de S. aureus são parcial a reinfecções.
resistentes à penicilina G. A maioria dessas linhagens produz P- O S. epidermidis costuma ser altamente resistente a anti-
-lactamase. Esses organismos podem ser tratados com penici- bióticos. A maioria das linhagens produz ~-lactamase, mas são
linas resistentes à ~-lactamase (p. ex., nafcilina ou cloxacilina), sensíveis a fármacos resistentes à ~-lactamase, como a nafcilina.
algumas cefalosporinas ou vancomicina. O tratamento com uma Essas são chamadas de linhagens sensíveis à meticilina (MSSE).
combinação de penicilina sensível à ~-lactamase (p. ex., amoxi- Algumas linhagens são resistentes a meticilina/nafcilina (MRSE,
cilina) e um inibidor de ~-lactamase (p. ex., ácido clavulânico) methicillin!nafcillin-resistant) devido a proteínas de ligação à pe-
também é útil. nicilina modificadas. O fármaco de escolha é a vancomicina, à
Aproximadamente 20% das linhagens de S. aureus são resis- qual a rifampina ou um aminoglicosídeo podem ser adicionados.
tentes à meticilina ou resistentes à nafcilina devido à ocorrência A remoção do cateter ou outro dispositivo é frequentemente ne-
de proteínas de ligação à penicilina alteradas. Essas linhagens cessária. Infecções do trato urinário por S. saprophyticus podem
resistentes de S. aureus são frequentemente denominadas pelas ser tratadas com trimetoprima-sulfametoxazol ou uma quinolo-
abreviações MRSA e NRSA, respectivamente. Esses organismos na, como a ciprofloxacina.
116 PARTE li Bacteriologia Clínica

TABELA 15-3 Estreptococos de importância médica


1
Espécies Grupo de Lancefield Hemólise típica Características diagnósticas

S.pyogenes A ~ Sensível à bacitracina

S. aga/actiae B ~ Resistente à bacitracina; hidrólise do hipurato


2
E. faecalis D a ou~ ou nenhuma Crescimento em NaCI a 6,5%
3
S. bovis D a ou nenhuma Crescimento ausente em NaCI a 6,5%
4
S. pneumoniae NA Bile-solúvel; inibido por optoquina
5
Grupo viridans NA Q'. Não bile-solúvel; não inibido por optoquina
1
Todos os estreptococos são catalase-negativos.
2
Tanto o E. faecalis quanto o 5. bovis crescem em ágar bile-esculina, ao passo que outros estreptococos não. Eles hidrolisam a esculina, resultando em uma caracterís-
tica descoloração negra do ágar.
3
5. bovis é um organismo não enterocócico do grupo D.
4
NA, não aplicável.
5
Os estreptococos do grupo viridans incluem várias espécies, como S. sanguinis, 5. mutans, 5. mitis, 5. gordonii, 5. salivarius, 5. anginosus, 5. milleri e 5. intermedius.

Prevenção catalase-negativos, ao passo que os estafilococos são catalase-


-positivos (Tabela 15-3).
Não existem vacinas contra estafilococos. Asseio, lavagem fre-
Uma das características mais importantes para a identifica-
quente das mãos e manipulação asséptica das lesões auxiliam no
ção de estreptococos é o tipo de hemólise (Figura 15-12).
controle da disseminação de S. aureus. A colonização persistente
do nariz por S. aureus pode ser reduzida por meio do uso de mu- (1) Estreptococos a-hemolíticos formam uma zona verde
pirocina intranasal ou antibióticos orais, como a ciprofloxacina ao redor de suas colônias, resultante da lise incompleta das hemá-
ou o trimetoprima-sulfametoxazol. No entanto, a completa eli- cias no ágar. A coloração verde é formada quando o peróxido de
minação da bactéria é muito difícil de conseguir. Pode ser ne- hidrogênio produzido pela bactéria oxida a hemoglobina (de cor
cessária a remoção de portadores das áreas de alto risco (p. ex., vermelha) a biliverdina (de cor verde).
salas cirúrgicas e berçários). Cefazolina é frequentemente utili- (2) Estreptococos P-hemolíticos formam uma zona clara ao
zada no tratamento pré-operatório, a fim de prevenir infecções redor de suas colônias, uma vez que ocorre a lise completa das
estafilocócicas em feridas cirúrgicas. hemácias. A í3-hemólise é decorrente da produção de enzimas
(hemolisinas), denominadas estreptolisina O e estreptolisina S
(ver seção "Patogênese': adiante).
STREPTOCOCCUS (3) Alguns estreptococos não causam hemólise (-y-hemo-
lise).
Os estreptococos de importância médica estão listados na Tabe-
la 15-3. Todos, exceto um desses estreptococos, são discutidos
nesta seção; Streptococcus pneumoniae é discutido separadamen-
te, ao final deste capítulo, devido à sua importância.

Doenças
Os estreptococos causam uma ampla variedade de infecções.
S. pyogenes (um estreptococo do grupo A) é a principal causa bac-
teriana de faringite (Figura 15-8) e celulite (Figura 15-9). É uma
importante causa de impetigo (Figura 15-3), fasceíte necrosante e
síndrome do choque tóxico estreptocócico. Também é o fator in-
citador de duas importantes doenças imunes, a febre reumática e
a glomerulonefrite aguda. Streptococcus agalactiae (um estreptoco-
co do grupo B) é a principal causa de sepse e meningite neonatais.
Enterococcus faecalis é uma importante causa de infecções noso-
comiais do trato urinário e endocardite. Estreptococos do grupo
viridans constituem a causa mais comum de endocardites (Figura
15-10). O Streptococcus bovis também causa endocardite.
FIGURA 15-8 Faringite. Observe o eritema do palato mole, da úvula
e da faringe posterior e inchaço da úvula. A principal causa bacteriana
Características importantes
de faringite é o Streptococcus pyogenes. Observe que as linhas bran-
Os estreptococos são cocos gram-positivos esféricos, organizados cas curvadas na úvula e no palato são artefatos de fotografia. (Fonte:
em cadeias ou pares (Figura 15-11). Todos os estreptococos são Centers for Disease Control and Prevention. CDC #6323.)
CAPÍTULO 15 Cocos Gram-Positivos 117

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FIGURA 15-9 Celulite. Observe o eritema e o inchaço do dorso do
pé. O Streptococcus pyogenes é a causa mais comum da celulite. (Corte-
sia de Richard P. Usatine, M.D., e The Color Atlas ofFamily Medicine.) FIGURA 15-11 Streptococcus pyogenes - coloração de Gram. A seta
aponta para uma cadeia longa de cocos gram-positivos. (Utilizada, com
permissão, da Professora Shirley Lowe, University of California, San Francisco
School of Medicine, Estados Unidos.)
Os estreptococos í3-hemolíticos possuem dois importantes
antígenos:
( 1) O carboidrato C determina o grupo dos estreptococos
nes que produzem determinados tipos de proteína M são reu-
í3-hemolíticos. Ele situa-se na parede celular, e sua especificidade matogênicas (i.e., causam principalmente febre reumática), ao
é determinada por um aminoaçúcar. passo que linhagens de S. pyogenes que produzem outros tipos
(2) A proteína M é o fator de virulência mais importante de proteína M são nefritogênicas (i.e., causam principalmente
e determina o tipo dos estreptococos í3-hemolíticos. Esse antí- glomerulonefrite aguda). Embora a proteína M seja o principal
geno se projeta da membrana externa da célula e interfere na componente antifagocitário de S. pyogenes, o organismo tam-
ingestão da bactéria por fagócitos (ou seja, é antifagocítico). bém possui uma cápsula polissacarídica que contribui para o
Anticorpos contra a proteína M conferem imunidade tipo- retardo da fagocitose.
-específica. Existem aproximadamente 80 sorotipos com base
na proteína M, o que explica a possibilidade de ocorrência de
múltiplas infecções por S. pyogenes. As linhagens de S. pyoge-

FIGURA 15-12 a -Hemólise e 13-hemólise em ágar-sangue - a seta


FIGURA 15-1 O Endocardite. Observe a ocorrência de vegetações curta aponta para uma colônia a-hemolítica, provavelmente um es-
(setas pretas) na válvula mitral. Estreptococos do grupo viridans são treptococo do grupo viridans. A seta longa aponta para uma colônia
a causa mais comum de endocardite bacteriana subaguda. (Reprodu- 13-hemolítica, provavelmente Streptococcus pyogenes. O espécime uti-
zida, com permissão, de Longo DL et ai. (eds): Harrison's Principies oflnternal Me- lizado foi um swab de garganta de um indivíduo com faringite. (Utili-
dicine. 18th ed. New York: McGraw-Hill, 2012, pg 1052. Copyright© 2012 por The zada, com permissão, da Professora Shirley Lowe, University of California, San
McGraw-Hill Companies, lnc.) Francisco School of Medicine, Estados Unidos.)
118 PARTE li Bacteriologia Clínica

Classificação dos estreptococos micina também pode ser utilizada, mas enterococos resistentes à
vancomicina (VRE, vancomycin-resistant enterococci) emergiram
Estreptococos (3-hemol íticos e se tornaram uma importante e temida causa de infecções noso-
São distribuídos em grupos de A a U (conhecidos como grupos comiais de risco à vida. Mais linhagens de E. f aecium são resisten-
de Lancefield) com base em diferenças antigénicas no carboidra- tes à vancomicina do que linhagens de E. f aecalis.
to C. No laboratório clínico, o grupo é determinado por meio do Estreptococos do grupo D que não são enterococos, como
teste da preciptina com antissoros específicos ou por imunofluo- o S. bovis, podem causar infecções similares. No entanto, são or-
A •
rescenc1a. ganismos bem menos difíceis de combater (p. ex., são inibidos
Os estreptococos do grupo A (S. pyogenes) constituem um por 6,5% de NaCl e são eliminados pelo uso da penicilina G).
dos mais importantes grupos de patógenos humanos. Eles são a Observa-se que a reação hemolítica de estreptococos do gru-
causa mais frequente de faringite bacteriana e uma causa muito po D é variável: a maioria é o.-hemolítica, porém, algumas são
comum de infecções de pele. As bactérias se aderem ao epitélio J3-hemolíticas, enquanto outras são não hemolíticas.
da faringe por meio de pili compostos por ácido lipoteicoico e Os estreptococos dos grupos C, E, F, G, H e K a U raramente
proteína M. Muitas linhagens possuem uma cápsula de ácido causam doenças em seres humanos.
hialurônico que apresenta propriedades antifagocíticas. O cresci-
mento de S. pyogenes em ágar é inibido pelo antibiótico bacitraci- Estreptococos não (3-hemol íticos
na, um importante critério diagnóstico (Figura 15-13).
Alguns estreptococos não produzem hemólise, ao passo que ou-
Os estreptococos do grupo B (S. agalactiae) colonizam o
tros produzem o.-hemólise. Os principais organismos a-hemolí-
trato genital de algumas mulheres e podem causar meningite e
ticos são o S. pneumoniae (pneumococos) e os estreptococos do
sepse neonatais. Eles são normalmente resistentes à bacitracina.
grupo viridans (p. ex., Streptococcus mitis, Streptococcus sanguinis
Também são capazes de hidrolisar (quebrar) o hipurato, sendo
e Streptococcus mutans). Pneumococos e estreptococos do grupo
um importante critério de diagnóstico.
viridans são distinguidos no laboratório clínico por dois princi-
Estreptococos do grupo D incluem enterococos (p. ex.,
pais critérios: ( 1) o crescimento de pneumococos é inibido por
E. faecalis e Enterococcus faecium) e não enterococos (p. ex.,
optoquina, já o crescimento de estreptococos do grupo viridans
S. bovis). Os enterococos são membros da microbiota normal do
não é inibido; e (2) colônias de pneumococos são dissolvidas
colo e são caracterizados por sua capacidade de causar infecções
quando expostas à bile (são bile-solúveis), ao passo que os estrep-
urinárias, biliares e cardiovasculares. São organismos muito tena-
tococos do grupo viridans não se dissolvem quando expostos à
zes, capazes de crescer em salina hipertônica (6,5%) ou em bile,
mesma substância.
e não são mortos pela penicilina G. Como resultado, uma com -
Os estreptococos do grupo viridans são membros da micro-
binação sinergística de penicilina e um aminoglicosídeo (como a
biota normal da faringe humana e intermitentemente atingem a
gentamicina) é necessária para matar os enterococos. A vanco-
corrente sanguínea, causando endocardite infecciosa. S. mutans
sintetiza os polissacarídeos (dextranos) encontrados na pla-
ca dental e que levam à formação da cárie dental. Streptococcus
intermedius e Streptococcus anginosus (também conhecidos como
o grupo S. anginosus-milleri) são normalmente a-hemolíticos ou
não hemolíticos, apesar de alguns isolados serem J3-hemolíticos.
Eles são encontrados principalmente na boca e no colo.

Peptostreptococos
Os peptostreptococos crescem em condições de anaerobiose ou
microaerofilia e produzem hemólise variável. Os peptostreptococos
são membros da microbiota normal do intestino, da boca e do trato
genital feminino, e participam de infecções anaeróbias mistas. O
termo infecções anaeróbias mistas refere-se ao fato de essas infec-
ções serem causadas por múltiplas bactérias (caráter polimicrobia-
no), algumas das quais são anaeróbias, enquanto outras são facul-
tativas. Por exemplo, peptostreptococos e estreptococos do grupo
viridans, ambos membros da microbiota oral, são frequentemente
encontrados em abscessos encefálicos pós-cirurgia odontológica.
FIGURA 15-13 Teste de bacitracina - a seta aponta para a zona de
inibição de crescimento de estreptococos do grupo A (Streptococcus
Peptostreptococcus magnus e Peptostreptococcus anaerobius são as
pyogenes), causada pela bacitracina que se difundiu a partir do disco A. espécies frequentemente isoladas de espécimenes clínicos.
A metade superior da placa de ágar-sangue mostra 13-hemólise causa-
da por estreptococos do grupo A, exceto na região ao redor do disco de Transmissão
bacitracina. A metade inferior da placa de ágar-sangue exibe 13-hemó-
lise causada por estreptococos do grupo B (Streptococcus aga/actiae), e A maioria dos estreptococos faz parte da microbiota normal da
não há zona de inibição de crescimento ao redor do disco de bacitraci- garganta, da pele e do intestino de seres humanos, mas causa
na. (Utilizada, com permissão, da Professora Shirley Lowe, University of doença quando obtém acesso aos tecidos ou ao sangue. Os es-
California, San Francisco School of Medicine, Estados Unidos.) treptococos do grupo viridans e o S. pneumoniae são encontrados
CAPÍTULO 15 Cocos Gram-Positivos 119

principalmente na parte oral da faringe; S. pyogenes é encontra- e êmbolos. Ela pode ser utilizada para lisar trombos de artérias
do na pele e, em pequenas quantidades, na parte oral da faringe; coronárias em pacientes infartados.
S. agalactiae é encontrado na vagina e no colo; e tanto os entero- (3) A DNase (estreptodornase) degrada o DNA em exsuda-
cocos quanto os estreptococos anaeróbios localizam -se no colo. tos ou tecidos necróticos. Anticorpos contra DNase B desenvol-
vem-se durante a piodermite, o que pode ser utilizado para fins
Patogênese diagnósticos. Misturas de estreptocinase-estreptodomase aplica-
das como teste cutâneo apresentam reação positiva na maioria dos
Estreptococos do grupo A (S. pyogenes) causam doenças por adultos, indicando uma imunidade celular normal.
meio de três mecanismos: ( 1) inflamação piogênica, que é indu-
zida localmente no local dos organismos no tecido; (2) produção Além disso, os estreptococos do grupo A produzem cinco
de exotoxina, que pode causar sintomas sistêmicos disseminados importantes toxinas e hemolisinas:
em regiões corporais onde não há organismos; e (3) imunológi-
( 1) A toxina eritrogênica causa a erupção da escarlatina. Seu
co, que ocorre quando o anticorpo contra um componente do or-
mecanismo de ação é similar àquele da TSST de S. aureus (i.e., age
ganismo reage de forma cruzada com o tecido normal ou forma
como um superantígeno; ver S. aureus, anteriormente neste capí-
imunocomplexos que danificam o tecido normal (ver seção sobre
tulo e no Capítulo 58). Ela é produzida apenas por certas linha-
doenças pós-estreptocócicas, posteriormente, neste capítulo). As
gens de S. pyogenes lisogenizadas por um bacteriófago que carreia
reações imunes causam inflamação (p. ex., as articulações infla-
o gene para a toxina. A injeção de uma dose de teste cutâneo da
madas observadas na febre reumática), porém não há organis-
toxina eritrogênica (teste de Dick) dá resultado positivo em in-
mos nas lesões (Tabela 15-4).
divíduos desprovidos da antitoxina (i.e., indivíduos suscetíveis).
A proteína M de S. pyogenes é o fator antifagocitário mais
(2) A estreptolisina O é uma hemolisina que é inativada
importante, mas sua cápsula, composta por ácido hialurônico, é
por oxidação (lábil ao oxigênio). Ela causa í3-hemólise somente
também antifagocitária. Não são formados anticorpos contra a
quando as colônias desenvolvem-se abaixo da superfície de uma
cápsula, uma vez que o ácido hialurônico é um componente nor-
placa de ágar-sangue. É imunogênica e o anticorpo contra ela
mal do corpo e os seres humanos são tolerantes a ele.
(ASO) se desenvolve após a infecção com estreptococos do gru-
Os estreptococos do grupo A produzem três importantes
po A. O título do anticorpo ASO pode ser importante no diag-
enzimas associadas à inflamação:
nóstico da febre reumática.
(1) A hialuronidase degrada o ácido hialurônico, o qual (3) A estreptolisina S é uma hemolisina que não é inativada
constitui a substância básica do tecido subcutâneo. A hialuro- pelo oxigênio (estável ao oxigênio). Ela não é antigênica, porém é
nidase é conhecida como fator de disseminação, uma vez que responsável pela í3-hemólise quando as colônias desenvolvem-se
facilita a rápida disseminação de S. pyogenes em infecções de pele na superfície de uma placa de ágar-sangue.
(celulite). (4) A exotoxina A piogênica é a toxina responsável pela
(2) A estreptocinase (fibrinolisina) ativa o plasminogênio, maioria dos casos da síndrome de choque tóxico por estrepto-
formando plasmina, que dissolve a fibrina em coágulos, trombos cocos. Ela possui o mesmo modo de ação da TSST estafilocóci-

TABELA 15-4 Características importantes da patogênese de estreptococos

Principal local da doença (D),


colonização (C) ou microbiota
Organismo Tipo de patogênese Doença típica normal (MN)

S. pyogenes (grupo A) 1. Piogênica


a. Local lmpetigo, celulite Pele (D)
Faringite Garganta (D)
b. Disseminada Sepse Corrente sanguínea (D)
2. Toxigênica Escarlatina Pele (D)
Choque tóxico Vários órgãos (D)
3. lmunomediada (pós-estreptocócica, Febre reumática Coração, articulações (D)
não supurativa)
Glomerulonefrite aguda Rim (D)

S. aga/actiae (grupo B) Piogênica Sepse e meningite neonatais Vagina (C)

E. faecalis (grupo D) Piogênica Infecção do trato urinário, endocardite Colo (MN)

S. bovis (grupo D) Piogênica Endocardite Colo (MN)

S. pneumoniae Piogênica Pneumonia, otite média, meningite Parte oral da faringe (C)

Estreptococos do Piogênica Endocardite Parte oral da faringe (MN)


grupo viridans
120 PARTE li Bacteriologia Clínica

ca (i.e. trata-se de um superantígeno que provoca a liberação de O impetigo, uma forma de piodermite, é uma infecção cutânea
grandes quantidades de citocinas a partir de células T auxiliares superficial caracterizada por lesões crostosas "cor de mel': Lin-
e macrófagos; ver tópicos sobre bactérias gram-negativas e célu- fangite também pode ocorrer, principalmente no antebraço asso-
las T de memória). ciado à infecção na mão.
(5) A exotoxina B é uma protease que destrói rapidamente Os estreptococos do grupo A também causam endometrite
os tecidos e é produzida em grandes quantidades por linhagens (febre puerperal), uma infecção grave em mulheres grávidas, e
de S. pyogenes, os denominados estreptococos "comedores de sepse. A glomerulonefrite aguda pós-estreptocócica imunome-
carne': responsáveis pela fasceíte necrosante. diada também pode ocorrer, principalmente após infecções de
A patogênese dos estreptococos do grupo B (S. agalactiae) pele causadas por certos tipos de proteína M de S. pyogenes.
baseia-se na capacidade do organismo de induzir uma resposta Os estreptococos do grupo B causam sepse e meningite
inflamatória. Entretanto, ao contrário do S. pyogenes, não foram neonatais. O principal fator predisponente consiste na ruptura
descritas enzimas citotóxicas ou exotoxinas, e não há evidência de prolongada (superior a 18 horas) das membranas em mulheres
qualquer doença induzida imunologicamente. Os estreptococos colonizadas pelo organismo. Crianças nascidas antes de 37 sema-
do grupo B exibem uma cápsula polissacarídica antifagocitária, e nas de gestação apresentam risco significativamente aumentado
o anticorpo anticapsular confere proteção. da doença. Além disso, crianças cujas mães não apresentam an-
A patogênese deflagrada pelo S. pneumoniae e pelos es- ticorpos contra estreptococos do grupo B e, consequentemente,
treptococos do grupo viridans é incerta, uma vez que nenhuma nascem desprovidas de IgG adquirida pela via transplacentária,
exotoxina ou enzima que destrói tecidos foi identificada até hoje. exibem elevada taxa de sepse neonatal causada por esses organis-
O principal fator de virulência do S. pneumoniae é sua cápsula mos. Os estreptococos do grupo B também são uma importante
polissacarídica antifagocitária. Muitas das linhagens dos estrep- causa de pneumonia neonatal.
tococos do grupo viridans que causam endocardite produzem Embora a maioria das infecções por estreptococos do gru-
um glicocálice que possibilita ao organismo se aderir às válvulas po B ocorra em neonatos, esses organismos também causam
cardíacas. infecções, como pneumonia, endocardite, artrite, celulite e
osteomielite, em adultos. A endometrite pós-parto também ocor-
Achados clínicos re. O diabetes é o principal fator predisponente de infecções por
estreptococos do grupo B em adultos.
OS. pyogenes causa três tipos de doenças: (1) doenças piogêni- Estreptococos do grupo viridans (p. ex., S. mutans, S. sanguinis,
cas, como a faringite e a celulite; (2) doenças toxigênicas, como a S. salivarius e S. mitis) constituem as causas mais comuns de endo-
escarlatina e a síndrome do choque tóxico; e (3) doenças imunes, cardite infecciosa. Eles atingem a corrente sanguínea (bacteriemia)
como a febre reumática e a glomerulonefrite aguda (GNA). (Con-
sulte a próxima seção sobre doenças pós-estreptocócicas.)
O S. pyogenes (estreptococos do grupo A) é a causa bacte-
riana mais comum da faringite (dor de garganta). A faringite
estreptocócica é caracterizada por dor na garganta e febre. Quan-
do examinadas, tonsilas e garganta estão inflamadas, geralmente
com exsudato amarelado, acompanhadas de linfonodos cervicais
sensíveis. Quando não tratada, a recuperação espontânea ocorre
em 1O dias, mas uma febre reumática pode ocorrer (ver a seguir
a seção sobre doenças pós-estreptocócicas). Uma faringite não
tratada pode se estender à orelha média (otite média), aos seios
nasais (sinusite), aos mastoides (mastoidite) e às meninges (me-
ningite). Quando a dificuldade em engolir persiste, isso pode in-
dicar um abscesso peritonsilar ou retrofaringeano.
Quando os estreptococos infectantes produzirem toxina
eritrogênica e o hospedeiro for desprovido de antitoxinas, o re-
sultado pode ser escarlatina. Uma língua "em morango,, é uma
lesão característica da escarlatina. O S. pyogenes também causa
outra doença mediada por toxina, a síndrome do choque tóxi-
co estreptocócico, que apresenta sinais clínicos similares àqueles
vistos na síndrome do choque tóxico estafilocócico (ver doença
de Kawasaki causada pelo Staphylococcus aureus). Entretanto, a
síndrome do choque tóxico estreptocócico apresenta, geralmen-
te, um local piogênico de inflamação identificável, além do fato
de que culturas de sangue são frequentemente positivas. Por ou-
tro lado, na síndrome do choque tóxico estafilocócico nenhuma FIGURA 15-14 Erisipela. Observe as bordas bem-demarcadas da
dessas características é típica. área inflamada. Streptococcus pyogenes é o principal agente causador
Os estreptococos do grupo A causam infecções de pele e de erisipela. (Reproduzida, com permissão, de Longo DL et ai. (eds): Harrison's
tecidos moles, como celulite, erisipela (Figura 15-14), fasceíte Principies oflnternal Medicine. 18th ed. New York: McGraw-Hill, 2012. Copyright ©
necrosante (gangrena estreptocócica) e impetigo (Figura 15-3). 2012 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
CAPÍTULO 15 Cocos Gram-Positivos 121

a partir da parte oral da faringe, geralmente após cirurgia odonto- hipertensão, edema de face (especialmente edema periorbital)
lógica. Os sinais de endocardite são febre, sopro cardíaco, anemia e e tornozelos e urina "turvà, (devido à presença de hemácias na
eventos embólicos, como hemorragias em lasca, hemorragias pete- urina). A maioria dos pacientes recupera-se completamente.
quiais subconjuntivas e lesões de Janeway. O sopro cardíaco é cau- A reinfecção por estreptococos raramente leva à recorrência de
sado por formações vegetativas na válvula cardíaca (Figura 15-10). glomerulonefrite aguda.
A endocardite é 100% fatal, exceto quando efetivamente tratada A doença é iniciada por complexos antígeno-anticorpo na
com agentes antimicrobianos. Cerca de 10% dos casos de endocar- membrana basal glomerular, e os antígenos solúveis das mem-
dite são causados por enterococos, mas qualquer organismo que branas estreptocócicas podem corresponder ao antígeno incita-
cause bacteriemia pode alojar-se em válvulas deformadas. Em mais dor. A doença pode ser prevenida pela erradicação precoce dos
de 90% dos casos, são necessárias pelo menos três hemoculturas estreptococos nefritogênicos presentes nos locais de colonização
para assegurar a recuperação do organismo. da pele, mas não pela administração de penicilina após o início
Estreptococos do grupo viridans, especialmente S. anginosus, dos sintomas.
S. milleri e S. intermedius, também causam abscessos encefálicos,
frequentemente em combinação com anaeróbios da boca (ca- Febre reumática aguda
racterizando uma infecção mista aeróbia-anaeróbia). A cirurgia
Aproximadamente duas semanas após uma infecção por estrep-
odontológica é um importante fator predisponente de abscessos
tococos do grupo A - em geral faringite - pode haver o desenvol-
encefálicos, uma vez que propicia uma porta de entrada para os es-
vimento de febre reumática, caracterizada por febre, poliartrite
treptococos do grupo viridans e permite que anaeróbios da cavida-
migratória e cardite. A cardite danifica os tecidos miocárdico e
de oral atinjam a corrente sanguínea (bacteriemia), disseminando-
endocárdico, especialmente as válvulas mitral e aórtica, resul-
-se para o encéfalo. Estreptococos do grupo viridans também estão
tando em vegetações nas válvulas. Movimentos espasmódicos e
envolvidos em infecções mistas de aeróbios e anaeróbios em ou-
incontroláveis dos membros ou da face (coreia) também podem
tras partes do corpo (p. ex., abscessos pulmonares e abdominais).
ocorrer. Os títulos de ASO e a taxa de sedimentação de hemácias
Os enterococos causam infecções do trato urinário, espe-
são elevados. Observa-se que infecções de pele por estreptococos
cialmente em pacientes hospitalizados. Cateteres urinários de
do grupo A não causam febre reumática. A maioria dos casos
longa duração e instrumentação do trato urinário são importan-
de faringite causada por estreptococos do grupo A ocorre em
tes fatores predisponentes. Os enterococos também causam en-
crianças entre 5 e 15 anos, portanto, a febre reumática acomete
docardite, particularmente em pacientes submetidos à cirurgia
crianças dessa faixa etária.
ou à instrumentação do trato gastrintestinal ou urinário. Tam-
bém causam infecções intra-abdominais e pélvicas, normal- A febre reumática deve-se a uma reação imune entre anti-
corpos contra certas proteínas M estreptocócicas que reagem de
mente em combinação com anaeróbios. Streptococcus bovis, um
forma cruzada com antígenos dos tecidos articulares, cardíacos
estreptococo não enterocócico do grupo D, causa endocardite,
sobretudo em pacientes apresentando carcinoma de colo. Essa e cerebrais. É uma doença autoimune, significativamente exa-
associação é tão intensa que pacientes apresentando bacteriemia cerbada pela recorrência de infecções estreptocócicas. Quando
ou endocardite por S. bovis devem ser investigados quanto à pre- as infecções estreptocócicas são tratadas no período de oito dias
sença de carcinoma de colo. após sua manifestação, a febre reumática geralmente é preveni-
Os peptostreptococos são uma das bactérias mais comu- da. Após um episódio de febre reumática com danos cardíacos, a
mente encontradas em abscessos encefálicos, pulmonares, abdo- reinfecção deve ser prevenida por profilaxia de longo prazo. Nos
minais e pélvicos. Estados Unidos, menos de 0,5% das infecções por estreptococos
do grupo A leva à febre reumática; contudo, nos países tropicais
em desenvolvimento, essa taxa é superior a 5%.
Doenças pós-estreptocócicas {não supurativas)
Consistem em distúrbios em que uma infecção local por estrepto- Diagnóstico laboratorial
cocos do grupo A é seguida, após algumas semanas, por inflamação
em um órgão que não foi infectado pelos estreptococos. A inflama- Microbiológico
ção é causada por uma resposta imune (anticorpos) às proteínas Esfregaços submetidos à coloração de Gram não são úteis no
M estreptocócicas, que reagem de forma cruzada com os tecidos caso da faringite estreptocócica, uma vez que os estreptococos
humanos. Algumas linhagens de S. pyogenes portando certas pro- do grupo viridans são membros da microbiota normal e não
teínas M são nefritogênicas e causam GNA, ao passo que outras podem ser distinguidos visualmente de S. pyogenes patogênicos.
linhagens apresentando proteínas M distintas são reumatogênicas, Contudo, esfregaços de lesões ou ferimentos da pele corados que
causando febre reumática aguda. Essas doenças aparecem várias se- revelam estreptococos são diagnósticos. Culturas de swabs da fa-
manas após a infecção real, uma vez que esse é o tempo necessário ringe ou de lesões, em placas de ágar-sangue, revelam colônias
para a produção de quantidades suficientes de anticorpos. J3-hemolíticas pequenas e translúcidas em um período de 18 a
48 horas. Quando inibidas por discos de bacitracina, provavel-
Glomerulonefrite aguda mente correspondem a estreptococos do grupo A (Figura 15-13).
A GNA normalmente ocorre duas a três semanas após a infecção Os estreptococos do grupo B são caracterizados por sua ca-
cutânea por determinados tipos estreptocócicos do grupo A em pacidade de hidrolisar hipurato e pela produção de uma pro-
crianças (p. ex., a proteína M do tipo 49 causa GNA com maior teína que provoca maior hemólise em ágar-sangue de carneiro
frequência). A GNA é mais frequente após infecções de pele do quando combinada à J3-hemolisina de S. aureus (teste CAMP).
que após faringite. As características clínicas mais marcantes são Os estreptococos do grupo D hidrolisam a esculina na presença
122 PARTE li Bacteriologia Clínica

de bile (i.e., originam um pigmento negro no ágar bile-esculina). A endocardite causada pela maioria dos estreptococos do
Os organismos do grupo D são adicionalmente subdivididos em grupo viridans é curável pelo tratamento prolongado com pe-
enterococos que crescem em meio hipertônico contendo NaCl nicilina. No entanto, a endocardite enterocócica apenas pode
(6,5%) e aqueles que não o fazem. ser erradicada com penicilina ou vancomicina combinada a um
Embora as culturas sejam ainda consideradas o padrão-ouro aminoglicosídeo.
para o diagnóstico de faringite estreptocócica, os resultados da Enterococos resistentes a múltiplos fármacos (p. ex., penici-
cultura não são disponibilizados por pelo menos 18 horas, e seria linas, aminoglicosídeos e vancomicina) vêm emergindo. A resis-
conveniente saber, enquanto o paciente encontra-se no consultó- tência à vancomicina em enterococos é mediada por um cassete
rio, se antibióticos devem ser prescritos. Por esse motivo, foram de genes que codifica as enzimas que substituem o-lactato por
desenvolvidos testes rápidos que fornecem um diagnóstico em o-alanina no peptideoglicano. O mesmo grupo de genes codifica
aproximadamente 1O minutos. a resistência à vancomicina em S. aureus.
O teste rápido detecta a presença de antígenos bacterianos Os VREs atualmente são uma importante causa de infecções
em um espécime de swab de garganta. Nesse teste, antígenos es- nosocomiais; não há terapia antibiótica confiável para esses orga-
pecíficos dos estreptococos do grupo A são extraídos do swab de nismos. Atualmente, estão sendo utilizados dois fármacos expe-
garganta por meio de certas enzimas, sendo submetidos a uma rimentais no tratamento de infecções causadas por VRE: linezo-
reação com anticorpos contra esses antígenos ligados a partículas lida (Zyvox) e daptomicina (Cubicina).
de látex. A aglutinação das partículas coloridas de látex ocorre Os estreptococos não enterocócicos do grupo D (p. ex.,
quando estreptococos do grupo A estão presentes no swab de S. bovis), não são altamente resistentes e podem ser tratados com
garganta. A especificidade desse teste é alta, mas a sensibilidade é penicilina G.
baixa (i.e., resultados falso-negativos podem ocorrer). Se o resul- O fármaco de escolha para infecções por estreptococos do
tado do teste é negativo, mas a suspeita de faringite estreptocóci- grupo B corresponde à penicilina G ou à ampicilina. Algumas
ca é alta, uma cultura deve ser feita. linhagens podem requerer doses mais elevadas de penicilina G,
Há também um teste rápido para a detecção de estreptoco- ou uma combinação de penicilina G e um aminoglicosídeo, para
cos do grupo Bem amostras vaginais e retais. O teste detecta o erradicar o organismo. Os peptostreptococos podem ser tratados
DNA do organismo, e os resultados podem ser obtidos em apro- com penicilina G.
ximadamente uma hora.
Os estreptococos do grupo viridans formam colônias Prevenção
u-hemolíticas em ágar-sangue e devem ser diferenciados de
S. pneumoniae (pneumococos), que também são u-hemolíticas. A febre reumática pode ser prevenida pelo tratamento imediato
Os estreptococos do grupo viridans são resistentes à lise por bile da faringite causada por estreptococos do grupo A com penici-
e crescem na presença de optoquina, ao contrário dos pneumo- lina. A prevenção de infecções estreptocócicas (geralmente com
cocos. Os vários estreptococos do grupo viridans são classificados penicilina benzatina uma vez ao mês, durante vários anos) em
em espécies mediante uso de uma variedade de testes bioquímicos. indivíduos já acometidos por febre reumática é importante, a fim
de prevenir a recorrência da doença. Não há evidências de pa-
Sorológico cientes que foram acometidos por GNA necessitarem de profila-
xia similar com penicilina.
Os títulos de ASO são altos logo após infecções por estreptococos
Em pacientes apresentando válvulas cardíacas danificadas
do grupo A. Em pacientes com suspeita de febre reumática, um
que são submetidos a procedimentos odontológicos invasivos, a
título elevado de ASO é geralmente utilizado como evidência de
endocardite causada por estreptococos do grupo viridans pode
uma infecção pregressa, já que as culturas de garganta são fre-
ser prevenida com o uso pré-operatório de amoxicilina. Para se
quentemente negativas no momento em que o paciente apresenta
evitar o uso desnecessário de antibióticos, é recomendado admi-
a febre reumática. Os títulos de anti-DNase B são elevados em
nistrar amoxicilina profilática apenas àqueles pacientes que apre-
infecções de pele por estreptococos do grupo A e servem como
sentam riscos elevados de consequências graves em função de
um indicador de infecção estreptocócica prévia em pacientes sus-
uma endocardite (p. ex. aqueles com válvulas cardíacas prostéti-
peitos de apresentarem GNA.
cas ou que já apresentaram histórico de endocardite), ou no caso
daqueles que estão submetidos a procedimentos odontológicos
Tratamento de alto risco, como é o caso da manipulação de tecido gengival.
As infecções por estreptococos do grupo A podem ser tratadas Não se recomenda mais a terapia proftlática aos pacientes subme-
com penicilina G ou amoxicilina, mas os pacientes acometidos tidos a procedimentos gastrintestinais ou urogenitais.
por febre reumática ou GNA não são beneficiados pelo tratamento A incidência de sepse neonatal causada por estreptococos
com penicilina após o início das duas doenças. Em infecções bran - do grupo B pode ser reduzida por meio de uma abordagem com
das por estreptococos do grupo A, a penicilina V oral pode ser uti- duas vertentes. (1) Todas as mulheres grávidas, tendo entre 35 e
lizada. Em pacientes alérgicos à penicilina, a eritromicina ou um 37 semanas de gestação, devem ser avaliadas por meio de cultu-
de seus derivados de ação prolongada (p. ex., a azitromicina) po- ras retais e vaginais. Caso essas culturas sejam positivas, a penici-
dem ser utilizados. Entretanto, linhagens de S. pyogenes resistentes lina G deverá ser administrada de forma endovenosa às vésperas
à eritromicina emergiram, podendo limitar a efetividade de fár- do parto. (2) Se as pacientes não tiverem sido avaliadas por cul-
macos da classe dos macrolídios no tratamento da faringite estrep- tura, então a penicilina G deverá ser administrada de forma en-
tocócica. A clindamicina também pode ser utilizada em pacientes dovenosa às vésperas do parto no caso de mulheres que tiverem
alérgicos à penicilina. O S. pyogenes não é resistente a penicilinas. rompimento prolongado de membranas (superior a 18 horas) e
CAPÍTULO 15 Cocos Gram-Positivos 123

cujos partos se iniciarem antes da 37ª semana de gestação; ou


ainda, àquelas que apresentarem febre durante o parto. Se a pa-
ciente for alérgica à penicilina, podem ser utilizadas cefazolina
,
.. -
ou vancomicina. A administração oral de ampicilina a mulheres • t
portadoras de estreptococos do grupo B na vagina não erradica
o organismo. Testes rápidos para antígenos de estreptococos do
' -
grupo Bem espécimes vaginais podem ser insensíveis, e recém-
-nascidos de mulheres antígeno-negativas apresentaram, apesar
disso, sepse neonatal. Observou-se, no entanto, que infecções por
estreptococos do grupo B declinaram como resultado dessas me-
didas profiláticas, ao passo que as infecções neonatais causadas
por E. coli aumentaram. --·•,·
Não existem vacinas disponíveis contra quaisquer dos es-
treptococos, exceto S. pneumoniae (ver próxima seção).
-, - ..
STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE
FIGURA 15-15 Streptococcus pneumoniae - coloração de Gram.
Doenças As setas apontam para diplococos gram-positivos típicos. Observe que
a área clara ao redor do organismo corresponde à cápsu la. (Utilizada,
Streptococcus pneumoniae causa pneumonia, bacteriemia, me-
com permissão, da Professora Shirley Lowe, University of California, San Francis-
ningite e infecções do trato respiratório superior, como otite mé- co School of Medicine, Estados Unidos.)
dia, mastoidite e sinusite. Os pneumococos são a causa mais co-
mum de pneumonia adquirida na comunidade, meningite, sepse
em indivíduos esplenectomizados, otite média e sinusite. Tam- va-se que a CRP é um indicador inespecífico de inflamação, tor-
bém são a causa mais comum de conjuntivite, principalmente em nando-se elevada em resposta à presença de diversos organismos,
crianças. Observe que os S. pneumoniae são também conhecidos não somente de S. pneumoniae. Clinicamente, a presença de CRP
como pneumococos. no soro humano é quantificada em laboratório por sua reação
com o carboidrato de S. pneumoniae. A importância médica da
Características importantes CRP refere-se ao fato de uma CRP elevada aparentemente cor-
responder a um melhor indicador de risco de ataque cardíaco do
Os pneumococos são cocos gram-positivos em forma de lança, ar-
que uma taxa elevada de colesterol.
ranjados em pares (diplococos) ou cadeias curtas (Figura 15-15).
(O termo em forma de lança significa que os diplococos são ovais
com extremidades relativamente afiladas, em vez de esféricos.)
Em ágar-sangue, eles produzem a-hemólise. Ao contrário doses-
treptococos do grupo viridans, eles são lisados por bile ou desoxi-
colato, e seu crescimento é inibido pela optoquina (Figura 15-16).
Os pneumococos possuem cápsulas polissacarídicas com
mais de 85 tipos antigenicamente distintos. Diante do antisso-
ro tipo-específico, as cápsulas sofrem intumescimento (reação
de Quellung), processo que pode ser utilizado para identificar
o tipo. As cápsulas são fatores de virulência (i.e., interferem na
fagocitose, favorecendo a invasividade). Anticorpos específicos
contra a cápsula opsonizam o organismo, facilitam a fagocito-
se e promovem a resistência. Esses anticorpos desenvolvem -se
em seres humanos como resultado de infecção (assintomática
ou clínica) ou pela administração de vacina polissacarídica. O
polissacarídeo capsular obtém principalmente uma resposta de
células B (i.e., T-independente).
Outro componente importante da superfície de
S. pneumoniae é um ácido teicoico presente na parede celular, FIGURA 15-16 Teste de optoquina - a seta aponta para a zona de
denominado substância C (também conhecido como polissaca- inibição de crescimento de Streptococcus pneumoniae, causada pela
rídeo C). Esse carboidrato exibe importância médica, não por si, optoquina que se difundiu a partir do disco P. Na metade inferior
da placa de ágar-sangue, observa-se a a-hemólise produzida por S.
mas pelo fato de reagir com uma proteína sérica normal produzi-
pneumoniae, exceto na região ao redor do disco de optoquina. A seta
da pelo fígado, denominada proteína C-reativa (CRP, C-reactive
aponta para o limite externo da zona de inibição. A metade superior
protein). A CRP é uma proteína de "fase aguda,, que apresenta da placa de ágar-sangue exibe a -hemólise causada por um estrepto-
uma elevação de até 1.000 vezes durante a inflamação aguda. A coco do grupo viridans, e não há zona de inibição ao redor do disco de
CRP não é um anticorpo (que é ')'-globulina), correspondendo a optoquina. (Utilizada, com permissão, da Professora Shirley Lowe, University
uma J3-globulina. (O plasma contém a, J3 e ')'-globulinas.) Obser- of California, San Francisco School of Medicine, Estados Unidos.)
124 PARTE li Bacteriologia Clínica

Transmissão dos pela reação de Quellung com antissoro de múltiplos tipos.


No ágar-sangue, os pneumococos geram pequenas colônias
Os seres humanos são os hospedeiros naturais de pneumococos,
a-hemoliticas. As colônias são bile-solúveis (i.e., são lisadas pela
não havendo reservatório animal. Já que uma proporção (5 a
bile), e o crescimento é inibido pela optoquina (Figura 15-16).
50%) da população saudável alberga organismos virulentos na
As hemoculturas são positivas em 15 a 25% das infecções
parte oral da faringe, as infecções pneumocócicas não são con -
pneumocócicas. A cultura de líquido cerebrospinal é, em ge-
sideradas transmissíveis. Em indivíduos jovens e sadios, a resis-
ral, positiva na meningite. O diagnóstico rápido de meningite
tência é elevada, e a doença ocorre mais frequentemente quando
pneumocócica pode ser realizado mediante a detecção de seu
fatores predisponentes (ver a seguir) estão presentes.
polissacarídeo capsular no líquido espinal por meio do teste
de aglutinação do látex. Um teste rápido que detecta o antíge-
Patogênese no urinário para o diagnóstico de pneumonia pneumocócica e
O principal fator de virulência é o polissacarídeo capsular, sendo bacteriemia também se encontra disponível. O antígeno urinário
que os anticorpos anticapsulares são protetores. O ácido lipotei- corresponde ao polissacarídeo C (também conhecido como subs-
coico, que ativa o complemento e induz a produção de citocinas tância C) e não se trata do polissacarídeo capsular. Em razão do
inflamatórias, contribui para a resposta inflamatória, bem como número crescente de linhagens resistentes à penicilina, os testes
para a síndrome do choque tóxico que ocorre em alguns pacien- de sensibilidade a antibióticos devem ser realizados em organis-
tes imunocomprometidos. A pneumolisina, a hemolisina que mos isolados de infecções graves.
causa a-hemólise, pode também contribuir para a patogênese.
Os pneumococos produzem proteases de IgA que aumen- Tratamento
tam a capacidade do organismo de colonizar a mucosa do trato
A maioria dos pneumococos é suscetível às penicilinas e à eri-
respiratório superior. Os pneumococos multiplicam -se nos teci-
tromicina, embora tenha emergido resistência significativa a pe-
dos e causam inflamação. Quando atingem os alvéolos, há efusão
nicilinas (ver próximo parágrafo). Em infecções pneumocócicas
de fluido, de hemácias e leucócitos, resultando em consolidação
graves, a penicilina G é o fármaco de escolha, ao passo que nas
do pulmão. Durante o período de recuperação, os pneumococos
infecções pneumocócicas brandas, a penicilina V oral pode ser uti-
são fagocitados, as células mononucleares ingerem os restos celu-
lizada. As fluoroquinolonas com boa atividade antipneumocócica,
lares e a consolidação regride.
como a levofloxacina, também podem ser utilizadas. Em pacientes
Os fatores que diminuem a resistência, predispondo os
alérgicos à penicilina, a eritromicina ou um de seus derivados de
indivíduos à infecção pneumocócica, incluem: ( 1) intoxicação
ação prolongada (p. ex., a azitromicina) podem ser utilizados.
por álcool ou drogas, ou outro comprometimento cerebral ca-
Nos Estados Unidos, cerca de 25% dos isolados exibem resis-
paz de deprimir o reflexo de tosse e aumentar a aspiração de
tência de baixo nível à penicilina, principalmente como resultado
secreções; (2) anomalias do trato respiratório (p. ex., infecções
de modificações nas proteínas de ligação à penicilina. Uma por-
virais), acúmulo de muco, obstrução brônquica e lesões do trato
centagem crescente de isolados, variando de 15 a 35%, dependendo
respiratório causadas por substâncias irritantes (que perturbam a
da localização, exibe resistência de alto nível, atribuída a múltiplas
integridade e movimentação do revestimento mucociliar); (3) di-
alterações nas proteínas de ligação à penicilina. Eles não pro-
nâmica circulatória anormal (p. ex., congestão pulmonar e insu-
duzem J3-lactamase. A vancomicina é o fármaco de escolha para
ficiência cardíaca); (4) esplenectomia; e (5) certas doenças crô-
pneumococos resistentes à penicilina, especialmente para pacien-
nicas, como anemia falciforme e nefrose. Pacientes com anemia
tes gravemente doentes. A ceftriaxona ou a levofloxacina podem
falciforme autoinfartam seus baços, tornando-se funcionalmente
ser utilizadas em casos menos graves. Entretanto, surgiram linha-
asplênicos e mais predispostos à sepse pneumocócica. Trauma-
gens de pneumococos tolerantes à vancomicina. (A tolerância aos
tismo cefálico que provoque perda de líquido espinal pelo nariz
antibióticos está descrita nas seções Mecanismos de ação e Carba-
predispõe à meningite pneumocócica.
penemas, nos Capítulos 1O e 11, respectivamente.) Linhagens de
pneumococos resistentes a múltiplos fármacos também surgiram.
Achados clínicos
A pneumonia frequentemente inicia-se por manifestação súbita de Prevenção
calafrios, febre, tosse e dor pleural. O escarro apresenta coloração
Apesar da eficiência do tratamento com fármacos antimicrobia-
"ferruginosà' vermelha ou marrom. A bacteriemia ocorre em 15 a
nos, a taxa de mortalidade em razão de infecções pneumocó-
25% dos casos. A recuperação espontânea pode iniciar-se em cin-
cicas é alta em pacientes imunocomprometidos (especialmente
co a 1Odias, e é acompanhada pelo desenvolvimento de anticorpos
naqueles esplenectomizados) e em crianças menores de 5 anos.
anticapsulares. Os pneumococos são uma causa proeminente de
Esses indivíduos devem ser vacinados com a vacina pneumocó-
otite média, sinusite, mastoidite, conjuntivite, bronquite purulen-
cica conjugada 13-valente. O imunógeno dessa vacina é com-
ta, pericardite, meningite bacteriana e sepse. Os pneumococos são
posto pelo polissacarídeo pneumocócico dos 13 sorotipos mais
a causa principal de sepse em pacientes sem um baço funcional.
prevalentes conjugados (ligados) a uma proteína carreadora, (to-
xoide diftérico). A vacina pneumocócica 23-valente não conju-
Diagnóstico laboratorial gada deve ser administrada a indivíduos saudáveis com 50 anos
Em esfregaços de escarro submetidos à coloração de Gram, os ou mais.
pneumococos são visualizados como diplococos gram-positivos Essas vacinas são seguras, eficazes e garantem proteção dura-
em forma de lança (Figura 15-15). Podem também ser detecta- doura (pelo menos cinco anos). A imunização das crianças reduz
CAPÍTULO 15 Cocos Gram-Positivos 125

a incidência de doença pneumocócica em adultos, uma vez que 5. Qual a exotoxina formadora de poro, produzida por Staphylococcus
as crianças correspondem à principal fonte do organismo para os aureus, que mata as células e é importante em lesões necrosantes gra-
adultos, e a imunização reduz a taxa de portadores entre as crianças. ves que se espalham rapidamente, causada por linhagens de MRSA?
Uma dose de reforço é recomendada para (1) pessoas com (A) Coagulase.
mais de 65 anos que receberam a vacina há mais de cinco anos e (B) Enterotoxina.
que tinham menos de 65 anos na ocasião; e (2) para pessoas com (C) Esfoliatina.
idade entre 2 e 64 anos e que são esplenectomizadas, infectadas (D) Leucocidina P-V.
(E) Estaftloxantina.
pelo vírus da imunodeficiência adquirida (HIV), que estão sob
quimioterapia para o tratamento de câncer, ou que estão receben- 6. Dos antibióticos a seguir, qual é o mais indicado no tratamento de
do fármacos imunossupressores para prevenir a rejeição de órgãos. infecções necrosantes graves de pele causadas por uma linhagem
MRSA de Staphylococcus aureus?
Um potencial problema em relação ao uso da vacina pneu-
mocócica é a substituição de sorotipo. A vacina reduzirá a in- (A) Amoxicilina.
cidência da doença causada pelos sorotipos presentes na vacina, (B) Ceftriaxona.
(C) Ciprofloxacina.
mas não a incidência global de doença pneumocócica, pelo fato
(D) Gentamicina.
de que outros sorotipos ausentes na vacina causarão a doença?
(E) Vancomicina.
De fato, foi relatado um aumento no número de casos de doença
pneumocócica invasiva causada pelo sorotipo 19A, originalmen- 7. Ocorreu um surto de pneumonia pneumocócica grave e sepse em
detentos de uma prisão superlotada. Uma análise laboratorial deter-
te ausente da vacina heptavalente previamente usada.
minou que um sorotipo estava envolvido. O médico da prisão disse
que a vacina pneumocócica pode ter limitado o surto. Qual das se-
guintes estruturas do pneumococo é responsável pela determinação
APLIQUE SEU CONHECIMENTO do sorotipo e é, também, o imunógeno na vacina?
1. Você está em um laboratório de análises clínicas olhando uma co- (A) A cápsula.
loração de Gram quando o técnico do laboratório vai até você e diz: (B) A proteína flagelar.
"Eu acho que seu paciente está com bacteriemia por Staphylococcus (C) O antígeno O.
epidermidis:' Qual dos seguintes conjuntos de resultados o técnico (D) O peptideoglicano.
encontrou com o organismo isolado da hemocultura? (E) A proteína do pilus.
(A) Cocos gram-positivos em cadeia, catalase-positivo, coagulase- 8. Qual das seguintes frases melhor descreve a patogênese da febre
-positivo. reumática?
(B) Cocos gram-positivos em cadeia, catalase-negativo, coagulase- (A) Uma exotoxina produzida por Streptococcus pyogenes, que age
-negativo. como um superantígeno, causando danos no músculo cardíaco.
(C) Cocos gram-positivos em "cachos de uva: catalase-positivo, (B) Uma exotoxina produzida por Streptococcus pyogenes, que
coagulase-negativo. ADP-ribosila uma proteína G, causando danos no tecido das
(D) Cocos gram-positivos em "cachos de uva': catalase-negativo, articulações.
coagulase-positivo. ( C) Um anticorpo contra o polissacarídeo capsular de Streptococcus
(E) Diplococos gram-positivos, catalase-negativo, coagulase-positivo. pyogenes, que causa uma reação cruzada com o tecido das arti-
2. A produção de superantígenos por Staphylococcus aureus está culações, danificando-o.
envolvida na patogênese de qual das seguintes doenças? (D) Um anticorpo contra a proteína M de Streptococcus pyogenes,
(A) Impetigo. que causa uma reação cruzada com o músculo cardíaco, dani-
(B) Osteomielite. ficando-o.
(C) Síndrome da pele escaldada. (E) Uma endotoxina produzida por Streptococcus pyogenes, que
(D) Sepse. ativa macrófagos para liberarem citocinas que danificam o
(E) Síndrome do choque tóxico. músculo cardíaco.
3. Qual das opções a seguir é um fator de virulência produzido por 9. Qual dos seguintes testes laboratoriais é o mais apropriado para di-
Staphylococcus aureus que previne a ativação do complemento, re- ferenciar Streptococcus pyogenes de outros estreptococos 13-hemolí-
duzindo, assim, a opsonização pelo C3b? ticos?
(A) Catalase. (A) Habilidade de crescer em solução salina a 6,5% de NaCl.
(B) Coagulase. (B) Ativação da proteína e -reativa.
(C) Endotoxina. (C) Hidrólise da esculina em presença de bile.
(D) Proteína A. (D) Inibição pela bacitracina.
(E) Ácido teicoico. (E) Inibição pela optoquina.
4. Qual a principal razão pela qual as linhagens de Staphylococcus 10. Infecções por quais das bactérias relacionadas a seguir são normal-
aureus resistentes à meticilina (MRSA) são resistentes à meticilina e mente tratadas com penicilinas, como a amoxicilina, pelo fato de
à nafcilina? elas não apresentarem baixos ou altos níveis de resistência e nem
(A) Elas produzem 13-lactamases que degradam esses antibióticos. precisarem de um tratamento sinérgico com um aminoglicosídeo
(B) Elas possuem proteínas de ligação à penicilina alteradas, o que para serem eficazes?
reduz a ligação a antibióticos. (A) Enterococcus faecalis.
(C) Elas possuem porinas alteradas que previnem a entrada dos (B) Staphylococcus aureus.
antibióticos no interior das células bacterianas. ( C) Staphylococcus epidermidis.
(D) Elas possuem proteínas de exportação codificadas por plasmí- (D) Streptococcus pneumoniae.
deo, que removem o fármaco de dentro da bactéria. (E) Streptococcus pyogenes.
126 PARTE li Bacteriologia Clínica

11. Seu paciente em uma unidade de emergência tem uma úlcera de 15. Sua paciente, uma mulher de 50 anos, adquiriu pneumonia na co-
5 cm na perna, que está cercada por uma área de inflamação sensí- munidade, causada por Streptococcus pneumoniae. Os testes de sus-
vel, quente e vermelha. Você faz uma coloração de Gram do pus re- cetibilidade a antibióticos revelaram um CIM menor que 0,1 µ,g/mL
tirado da úlcera e observa ao microscópio cocos gram-positivos em de penicilina G. Qual dos antibióticos a seguir seria a melhor opção
cadeia. Na cultura do pus crescem pequenas colônias 13-hemolíticas de tratamento da infecção?
que são catalase-negativas e inibidas pela bacitracina. Esses resul- (A) Clindamicina.
tados indicam que o organismo causador da lesão provavelmente (B) Gentamicina.
pode ser: (C) Metronizadol ou doxiciclina.
(D) Penicilina G ou levofloxacina.
(A) Enterococcus faecalis.
(E) Vancomicina.
(B) Staphylococcus aureus.
(C) Streptococcus agalactiae. 16. Seu paciente, um homem de 70 anos, apresenta endocardite, cau-
(D) Streptococcus pneumoniae. sada por Enterococcus faecalis. Qual combinação de antibióticos a
(E) Streptococcus pyogenes. seguir seria a melhor opção de tratamento da infecção?
(A) Azitromicina e trimetoprima-sulfametoxazol.
12. Quatro pessoas da família Jones fizeram um delicioso piquenique
(B) Cloranfenicol e rifampina.
no último domingo. Era um dia quente e o alimento ficou sob o sol
(C) Doxiciclina e levofloxacina.
por várias horas. Três horas depois, todos eles apresentaram vômito
(D) Metronidazol e clindamicina.
com diarreia não sanguinolenta. No posto de saúde foi detectado
(E) Penicilina G e gentamicina.
que a Sra. Jones, que preparou o alimento, tinha uma paroníquia em
seu polegar. Qual dos seguintes organismos pode ser a causa mais
provável da infecção?
RESPOSTAS
(A) Enterococcus faecalis.
(B) Staphylococcus aureus. 1. (C)
(C) Staphylococcus epidermidis. 2. (E)
(D) Streptococcus agalactiae. 3. (D)
(E) Streptococcus pyogenes. 4. (B)
5. (D)
13. Uma mulher de 20 anos, sexualmente ativa, reporta disúria e outros
6. (E)
sintomas relacionados a uma infecção do trato urinário. A colora- 7. (A)
ção de Gram da urina revela cocos gram-positivos. Qual dos con- 8. (D)
juntos de agentes bacterianos a seguir seria a causa mais provável 9. (D)
dessa infecção? 10. (E)
(A) Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes. 11. (E)
(B) Staphylococcus saprophyticus e Enterococcus faecalis. 12. (B)
(C) Streptococcus agalactiae e Staphylococcus epidermidis. 13. (B)
(D) Streptococcus pneumoniae e Enterococcus f aecalis. 14. (B)
(E) Streptococcus pyogenes e Streptococcus pneumoniae. 15. (D)
16. (E)
14. Seu paciente, uma criança de 2 semanas de idade, estava bem até
dois dias atrás, quando ela parou de se alimentar e ficou irritada. Ela
agora apresenta febre de 38ºC, desenvolveu erupções petequiais por
todo o corpo, e está com dificuldade de acordar. Na sala de emer-
RESUMOS DOS ORGANISMOS
gência, foi realizada uma hemocultura e, também, uma cultura do Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
líquido cerebrospinal. A coloração de Gram do líquido cerebrospi- -se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida
nal revelou cocos gram-positivos em cadeia. A cultura do líquido revisão do material essencial.
espinal no ágar-sangue revelou a presença de colônias 13-hemolíticas
que cresciam na presença de bacitracina e hidrolisavam o hipurato.
Qual dos seguintes organismos pode ser a causa mais provável da
infecção?
QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(A) Staphylococcus aureus. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
(B) Streptococcus agalactiae. contradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII: Ques-
(C) Streptococcus mutans. tões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte também
(D) Streptococcus pneumoniae. a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
(E) Streptococcus pyogenes. na 731.
CA P Í T U L O

Cocos Gram-Negativos 16
CONTEODO DO CAPITULO

Ne.lsseria Aplique seu con hecimento


1, Neisserla menlngitklis Resumos dos organismos
2. Neisserla gonorrhoeae Questões para autoavaliação

NEISSERIA da variação antlgênica dos pili gonocódcos. resu1tante de re.ar•


ranjo cromossômic~ sendo conhecidos mais de 100 sorotipos.
Doenças Os gonococos apresentam três proteínas de membrana externa
O gênero Neim:ria contém dois importantes patôgenos huma- (proteínas I, II em). A proteína II desempenha papel na adesão
nos: Neisseria meningitidis e Neisseria gonorrhoeae. Neisseria do organismo às células e também varia ailtigenicamente.
meningitidis causa principa)mente meningite e meningococe- As neissérias são bactérias gram-negativas e co11têm endoto--
mia (Figura 16-1). ~ a principal causa de morte por infecção em xina n.a membrai1a externa. A endotoxina das neissérias consiste
crianç.as nos Estados Unidos. AN. gonorrhoe.ae causa a gonorreia em um lipo-oligossacarldeo (LOS), ao contrário do lipopollssa-
(Figura 16-2). a segunda infecção bacteriana notificável mais fre- carfdeo (LPS) encontrado nos bacilos granHtegativos. Tanto o
quente nos Estados Unidos (Tabelas 16-1 e 16-2). Também causa LOS quanto o LPS contêm o Jipídeo A. mas a parte oligossaca-
conjuntivite neon.atal (ofta1mia neonata1) (Figura 16-3) e doenç.a rfdica do LOS contém poucas mo)éculas de açúcar. ao passo que
inflamatória pélvica (DIP). A Neisseria meningitidis é também a parte polissacarfdica do LPS contém uma cadeia 1atera1 c.om
conhecida como meningococo. ao passo que Ntisseria gonotrho-- Jongas repetições de açúcares.
Me é conhecida como gonococo. O crescimento de ambos os organismos é inibido por tra-
ços de metais e ácidos graxos tóxicos presentes em determinados
Características Importantes meios de cultura (p. ex., placas de ágar.sangue). Portanto, são
As neissérias são cocos gram-negativos semelhantes a um par de cultivados em ágar-choco)ate contendo sangue aquecido a SOºC,
feijões (Figura 16-4). o que inativa os inibidores. As neissérias são oxldase-po.sitivas
(Figura 16-5) (i.e .• elas possuem a enzima citocromo e). Esse é
(1) Ntisseria meningiridis (meningococo) exibe uma cápsula
um importante teste diagnóstico laboratorial no quaJ as colônias
pollssacarí:dica proeminente que i11tensifica a viru)ência por sua
ação antifagocitária e induz anticorpos protetores (Tabela 16-3). expostas à fenilenodiamina tornam-se púrpuras ou negras.. como
Os meningococos são divididos em pe)o menos 13 grupos resultado da oxidação do reagente pela enzima (Figura 16-2).
sorológicos. com base na antigenicidade de seus polissacarfdeos O gênero Neüseria é um entre vários da família
capsu1ares. Cinco sorotipos causam a maioria dos casos de. me~ Keisseriaceae. Um gênero distinto contém o organismo Moraxe/la
ningite e meningococemia: A, B. C. Y e w. 135. O sorotipo A c.dtarthalis. membro da microbiota normal da garganta. poden·
é a principa1 causa de meningite epidêmic.a em todo o mundo. do causar. contudo, infecções do trato respiratório. como sinu-
O sorotipo Bé responsável pe)a maioria dos casos da doença nos site, otite. média. bronquite e pneumonia. Motaxella cat-arrhaUs.
Estados Unidos. assim como membros de outros gêneros. e.orno Branhamella.
(2) Neisseria gonorrhoeae (go11ococo) não possui cápsula Kinge/la e Acinetobacrer, são descritos no (".,apftulo 27. (Moraxella
po)issacarfdica; no entanto, apresenta múltiplos sorotipos com cararrhalis corresponde à atua) denominação de Branhamella
base 11a antigenicidade da proteína do pilu,s. Há uma acentua• c,,tarrhalis.)
128 PARTE li Bacteriologia Clínica

FIGURA 16-1 Meningococemia. Lesões púrpuras na perna, causa- FIGURA 16-2 Gonorreia. Corrimento uretral purulento, causado por
das por coagulação intravascular disseminada mediada por endotoxi- Neisseria gonorrhoeae. (Reproduzida, com permissão, de Wolff K, Johnson R
na. (Reproduzida, com permissão, de Wolff K, Johnson R (eds): Fitzpatrick's Color (eds): Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis ofC/inical Dermatology. 6th ed. NewYork:
Atlas & Synopsis of Clinicai Dermatology. 6th ed. New York: McGraw-Hill, 2009. McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
Copyright© 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)

1
TABELA 16-1 Neissérias de importância médica

Cápsula Fermentação Produção de


Espécies Porta de entrada polissacarídica de maltose P-lactamase Vacina disponível

N. meningitidis (meningococo) Trato respiratório + + Nenhuma +


N. gonorrhoeae (gonococo) Trato genital Parcial
1
Todas as neissérias são oxidase-positivas.

TABELA 16-2 Importantes características clínicas das neissérias

Organismo Tipo de patogênese Doença típica Tratamento

N. meningitidis Piogênica Meningite, meningococemia Penicilina G

N. gonorrhoeae Piogênica
1
1. Localizada Gonorreia (p. ex., uretrite, cervicite) Ceftriaxona + doxiciclina 2
2. Ascendente Doença inflamatória pélvica Cefoxitina + doxiciclina 1' 2
1
3. Disseminada Infecção gonocócica disseminada Ceftriaxona
3
4. Neonatal Conjuntivite (oftalmia neonatal) Ceftriaxona
1
Outros fármacos também podem ser empregados. Ver orientações de tratamento publicadas pelo Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos.
2
Adicionar doxiciclina no caso de possível coinfecção por Chlamydia trachomatis.
3
Como prevenção, utilizar unguento de eritromicina ou gotas de nitrato de prata.
CAPÍTULO 16 Cocos Gram-Negativos 129

FIGURA 16-3 Conjuntivite neonatal (oftalmia neonatal), causada


por Neisseria gonorrhoeae. Exsudato purulento do olho, principalmen-
te na pálpebra inferior direita. O outro agente comum de conjuntive é FIGURA 16-5 Teste de oxidase - uma gota do reagente de oxidase
a Chlamydia trachomatis. foi depositada à esquerda e à direita do papel-filtro. As bactérias de
uma colônia de Neisseria gonorrhoeae foram homogeneizadas com
a gota à esquerda e uma coloração púrpura indica um teste positivo
(i.e., o organismo é oxidase-positivo). As bactérias de uma colônia de
Escherichia coliforam homogeneizadas com a gota à direita, e a ausên-
cia de uma coloração púrpura indica um teste negativo (i.e., o orga-
nismo é oxidase-negativo). (Utilizada, com permissão, da Professora Shirley
Lowe, University of California, San Francisco School of Medicine, Estados Unidos.)

1. Neisseria meningitidis
Patogênese e epidemiologia
Os seres humanos são os únicos hospedeiros naturais de menin-
gococos. Os organismos são disseminados por gotículas transmi-
tidas pelo ar. Colonizam as membranas da parte nasal da faringe
e tornam-se parte da microbiota transiente do trato respiratório
superior. Os portadores são geralmente assintomáticos. A partir
da parte nasal da faringe, o organismo pode atingir a corrente
sanguínea e disseminar-se a locais específicos, como as meninges
ou articulações, ou pode disseminar-se por todo o corpo (me-
ningococemia). Aproximadamente 5% dos indivíduos tornam-
-se portadores crônicos, atuando como fonte de infecção para
terceiros. A taxa de portadores pode atingir 35% em indivíduos
FIGURA 16-4 Neisseria gonorrhoeae - coloração de Gram. A seta que vivem em ambientes confinados (p. ex., recrutas militares).
aponta para diplococos gram-negativos com típica forma de "feijão': Esse fato explica a elevada frequência de surtos de meningite nas
dentro de um neutrófilo. (Utilizada, com permissão, da Professora Shirley Forças Armadas antes do uso da vacina. A taxa de portadores é
Lowe, University of California, San Francisco School of Medicine, Estados Unidos.) também elevada entre os contatos próximos (familiares) dos pa-
cientes. Surtos de doença meningocócica também ocorreram em
universitários residindo em alojamentos.
Dois organismos são responsáveis por mais de 80% dos ca-
TABELA 16-3 Propriedades da cápsula polissacarídica
. 1 sos de meningite bacteriana em crianças com idade acima de 2
d o menIngococo meses: Streptococcus pneumoniae e N. meningitidis. Desses orga-
(1) Intensifica a virulência por sua ação antifagocitária nismos, os meningococos, especialmente os do grupo A, exibem
maior probabilidade de causar epidemias de meningite. Os me-
(2) Éo antígeno que define os grupos sorológicos ningococos do grupo B causam muitos casos de meningite nos
(3) É o antígeno detectado no líquido cerebrospinal de pacientes países em desenvolvimento, uma vez que nesses países não são
com meningite usadas vacinas contra a bactéria (ver "Prevenção': posteriormen-
te). Em geral, N. meningitidis corresponde à segunda causa mais
(4) É o antígeno presente na vacina frequente de meningite, quando comparada a S. pneumoniae,
1
As mesmas quatro características aplicam-se à cápsula do pneumococo e a
porém é a causa mais comum em indivíduos com idades entre
Haemophilus influenzae. 2 e 18 anos.
130 PARTE li Bacteriologia Clínica

Os meningococos apresentam três importantes fatores de siste no teste de aglutinação do látex, que detecta a presença do
virulência: polissacarídeo capsular no líquido cerebrospinal.
(1) Uma cápsula polissacarídica que permite ao organismo
resistir à fagocitose por leucócitos polimorfonucleares (PMNs). Tratamento
(2) Endotoxina, responsável por febre, choque e outras A penicilina G é o tratamento de escolha para infecções menin-
alterações fisiopatológicas (na forma purificada, a endotoxina gocócicas. Uma cefalosporina de terceira geração, como a ceftria-
pode reproduzir muitas das manifestações clínicas da meningo- xona, também pode ser usada. Linhagens resistentes à penicilina
cocemia). são de rara ocorrência, mas a resistência à sulfonamida é comum.
(3) Uma protease para imunoglobulina A (IgA) que auxilia No período entre 2007 e 2008, linhagens de N. meningitidis resis-
a bactéria a se ligar às membranas do trato respiratório superior tentes à ciprofloxacina foram encontradas.
ao degradar a IgA secretória.
A resistência à doença está correlacionada à presença do Prevenção
anticorpo contra o polissacarídeo capsular. A maioria dos por- A quimioprofilaxia e a imunização são utilizadas na prevenção
tadores desenvolve títulos de anticorpos protetores no período de doença meningocócica. A rifampina ou a ciprofloxacina po-
de duas semanas de colonização. Uma vez que a imunidade é dem ser utilizadas na profilaxia de indivíduos que estabeleceram
grupo-específica, é possível que o indivíduo apresente anticor- contato próximo com o caso-índice. Esses fármacos são preferi-
pos protetores contra um grupo de organismos, mas que seja dos, uma vez que são secretados na saliva de maneira eficiente, ao
suscetível à infecção por organismos dos outros grupos. O com- contrário da penicilina G.
plemento é uma importante característica das defesas, uma vez Existem três formas de vacina meningocócica* em uso nos
que indivíduos apresentando deficiências do complemento, Estados Unidos, todas elas contendo o polissacarídeo capsular
particularmente de componentes do complemento de ação dos grupos A, C, Y e W-135 como imunógenos. Há duas formas
tardia (C6-C9), exibem incidência aumentada de bacteriemia da vacina conjugada: a vacina Menactra contém os quatro po-
. , .
men1ngococ1ca. lissacarídeos conjugados com o toxoide diftérico como proteína
carreadora, ao passo que a vacina Menveo contém os quatro po-
Achados clínicos lissacarídeos conjugados a uma forma mutante, atóxica, da toxina
As duas manifestações mais importantes da doença são a menin- diftérica como proteína carreadora. A Menomune, uma vacina
gococemia (Figura 16-1) e a meningite. A forma mais grave de não conjugada, contém apenas os quatro polissacarídeos (não
meningococemia é a doença potencialmente fatal, denominada conjugados a uma proteína carreadora). As vacinas conjugadas
síndrome de Waterhouse-Friderichsen, caracterizada por fe- induzem maiores títulos de anticorpos em crianças do que a va-
bre alta, choque, púrpura amplamente espalhada, coagulação cina não conjugada. As vacinas induzem títulos de anticorpos
disseminada intravascular, trombocitopenia e insuficiência similares em adultos. Observa-se que nenhuma das vacinas con-
adernai. A bacteriemia pode resultar na colonização de vários tém o polissacarídeo do grupo B, uma vez que ele não é imuno-
órgãos, especialmente as meninges. Os sintomas da meningite gênico em seres humanos. Uma quarta vacina criada para uso na
meningocócica são os de uma típica meningite bacteriana, ou meningite da África, chamada MenAfrivac, é uma vacina conju-
seja, febre, cefaleia, rigidez de nuca e alta concentração de PMNs gada que contém apenas o polissacarídeo do grupo A.
no líquido cerebrospinal. De forma geral, as vacinas conjugadas são mais utilizadas
que as não conjugadas. A vacina não conjugada é efetiva na
prevenção de epidemias de meningite e na redução da taxa de
Diagnóstico laboratorial portadores, especialmente entre os militares. Indivíduos que via-
Os principais procedimentos laboratoriais incluem o esfrega- jam para regiões onde estão ocorrendo epidemias devem receber
ço e a cultura de amostras de sangue e líquido cerebrospinal. a vacina. Universitários residindo em alojamentos são estimula-
Um diagnóstico presuntivo de meningite meningocócica pode dos a receber a vacina. Não é recomendada dose de reforço para
ser realizado quando cocos gram-negativos são observados qualquer das vacinas, se recebida após os 16 anos de idade. A va-
em um esfregaço de líquido cerebrospinal (Figura 16-4). O cina conjugada é recomendada para crianças com idades entre 11
organismo cresce melhor em ágar-chocolate incubado a 37ºC, e 12 anos, visando reduzir a incidência de doença meningocócica
em atmosfera com 5% de CO2• Um diagnóstico presuntivo de em adolescentes e adultos jovens. Uma dose de reforço é reco-
Neisseria pode ser realizado quando são detectadas colônias de mendada aos que receberam a vacina conjugada antes dos 16
diplococos gram-negativos oxidase-positivos (Figura 16-5). A anos de idade. Relatos sobre efeitos adversos da vacina descrevem
diferenciação entre N. meningitidis e N. gonorrhoeae é realizada vários casos de síndrome de Guillain-Barré após a imunização
com base na fermentação de açúcares: os meningococos fer- com Menactra. Uma relação causal entre a imunização e a
mentam maltose, ao contrário dos gonococos (ambos os or- síndrome de Guillain-Barré não foi estabelecida.
ganismos fermentam glicose). A imunofluorescência também
pode ser utilizada para identificar essas espécies. Os testes para * N. de R.T. No Brasil, o Ministério da Saúde incluiu o uso da vacina me-
verificar a presença de anticorpos séricos não são úteis para o ningocócica C (conjugada) no calendário vacinal infantil em 2010. A vaci-
diagnóstico clínico. Entretanto, um procedimento capaz de au- na protege contra o sorogrupo C. A vacina meningocócica A/C/Y/W135
xiliar no rápido diagnóstico de meningite meningocócica con- está também disponível no Brasil, mas não é oferecida gratuitamente.
CAPÍTULO 16 Cocos Gram-Negativos 131

2. Neisserla gonorrhoeae te nas mulheres consiste em uma infecção ascendente das tubas
uterinas (saJpingite. DIP), podendo resultar em esterilidade ou
Patogênese e epldemlologla gravidez ectópica como resultado da formação de cicatrizes 11as
Os gonococos. assim como os meningococos. causam doença tubas.
apenas em seres humanos. O organismo é geralmente trans- As infecções gonocócicas disseminadas (IGDs) comumente
mitido sexua!Jnente, sendo que recém. nascidos podem ser manifestam-se como artrite, tenossino,,ite ou pUstulas na pele.
infectados durante o nascimento. Uma vez que o gonococo é A infecção disseminada é a causa mais comum de artrite séptica
bastante seosivel à desidratação e a condições de baixa tempe- em adultos sexualmente ativos. O diagnóstico dinico de IGD é
ratura, a transmissão sexual favorece sua sobrevivência. Em ge• freque11temente difícil de ser confinnado por testes laboratoriais.
ral, a gonorreia é sintomática em homens, mas assintomática em uma vez que o organismo não é cultivado em mais de 50% dos
mulheres. Infecções do trato genita1 são a fonte mais comum do casos.
organismo, porém as i1úecções anorretais e far(ngeas são também Outros locais infectados incluem a região anorretal. a gar•
importantes fontes de i1úecç.ão. ganta e os olhos. As infecções anorretais ocorrem pri11cipa1mente
Os plll constituem um dos mais importantes fatores de em mulheres e em homens homossexuais. Freque11temente são
virulência. já que controlam a adesão às superflcies das céJu)as assintomáticas. mas pode ocorrer uma secreção sa11guino)enta ou
mucosas e são antifagocitários. Os gonococos apresentando pili purulenta (proctite). Ka garganta, ocorre faringite, embora mui-
são geralmente virulentos, ao passo que linhagens desprovidas tos pacientes sejam assintomátícos. Em crianças recém.11ascidas.
de piU são avirulentas. Dois fatores de virulê11cia da parede celu- a conjuntivite puru)enta (oftahnia neonatal) (Figura 16-3) é re-
lar são a endotoxlna (llpo-ollgossac:arídeo, WS) e as proteínas sultante de infecção gonocódca adquirida da mãe durante a pas.
da membrana externa. A protease de IgA do organismo pode sagem pe)o canal do parto. A incidência de oftalmia gonocódca
hidrolisar a lgA secretora. a qual, de outra forma. b)oque.aria a diminuiu sig1lificativamente nos anos recentes devido ao amp)o
adesão à mucosa. Os gonococos não aprese11tam cápsulas. uso profilátko de unguento ocular de eritromicina (ou nitra.
As principais defesas do hospedeiro contra os gonococos to de prata). apHcado logo após o nascimento. A conjuntivite
são os anticorpos (lgA e lgG). o complemento e os neutrófilos. gonocócic.a também ocorre em adultos como resu)tado da trans-
A opsonização mediada por anticorpos e a morte no interior de ferência dos organismos dos órgãos genitais para os olhos.
fagócitos ocorrem. apesar de infecções gonocócicas repetidas se- Outras infecções sexualmente transmissíveis (p. ex., s(ftlis
rem comuns, principalmente como resultado de alterações anti- e uretrite não gonocócica causada por Chlamydia trachomatis)
gênicas dos pili e das proteínas da membrana externa. podem coexistir com a gonorreia; portanto, o diagnóstico apro-
Os gonococos infectam pri11cipalmente as superflcies mu. priado e as medidas terapêuticas adequadas devem ser adotados.
cosas (p. ex., u.retra e vagina). porém oc.orre dissemi11ação. Cer.
tas linhagens de gonococos c.ausam infecções dissemi11adas com Diagnóstico laboratorial
maior frequência que outras. A caracteristica mais importante
O diagnóstico de infecções localizadas depende da co)oração
dessas li11hagens consiste em sua resistência à morte por anticor•
de Grame. da cu)tura da secreção (Figura 16-1). Não obstante,
pose complemento. O mecanismo dessa ..resistê11cia ao soro,. é
exames baseados na amp)uic.ação de ácjdos nudeicos são ampla-
desconhecido. mas a presença de uma proteína pori11a (porina A)
na parede ce)ular. que inativa o componente C3b do sistema do mente usados como testes de triagem (ver abaixo).
compleme1lto. parece desempenhar um papel importante. Em homens. a detecção de diplococos gram.negativos no
interior de PMNs em um espécime de secreção uretra1 é suficien.
A ocorrência de uma i1úecção disseminada é fu11ção não
te para o diagnóstico (Figura 16~4). Em mulheres, o uso da CO·
somente da li11hagem do gonococ~ mas também da efetividade
)oração de Gram isoladamente pode ser de difícil interpretação;
das defesas do hospedeiro. Individuos com uma deficiência nos
desse modo. devem ser realizadas cu1turas. As co)orações de
componentes de ação tardia do complemento (C6-C9) exibem
risco de infecções disseminadas, bem como as mu)heres durante Gramem espécimes cervicais podem ser falso-positivas devido
à presença de diplococos granHte.gativos na microbiota normal,
o período menstrua) e a gestação. As infecções disseminadas, em
bem como podem ser falso-negativas em virtude da dificu)da.
geraJ, surgem a partir de illfecções assintomâticas. indicando que
de de visualização de pequeno número de gonococos quando
a inflamação localizada pode inibir a disseminação.
são utilizadas lentes de imersão. As culturas também devem ser
utilizadas no diagnóstico de faringite ou de ilúecções anorretais
Achados clínicos suspeitas.
Os gonococos causam infecções localizadas., geraJmente no trato Os espécimes co)etados de Jocais de muc.osas.. como ure-
genita1, bem como iJúecções disseminadas, com a co)onização de tra e colo do Ute~ são cultivados em meio Thayer-Martin. que
vários órgãos. Os gonococ.os atingem esses órgãos por meio da consiste. em ágar.chocolate contendo antibióticos (vancomici-
corrente sanguinea (bacteriemia gonocócica). na, colistina, trimetoprima e nistatina). a fim de suprimir a mi-
Em homens, a gonorreia caracteriza.se ptincipalme11te por ure- crobiota normal A detecção de uma co)ônia oxidase-positiva
trite, acompanhada de disúria e descarga purulenta (Figura 16-2). A (Figura 16-5) composta por diplococos gram-negativos é sufi-
epididintite pode ocorrer. ciente para identificar o isolado como um membro do gênero
Em mulheres, a iiúecção loc.aJiza-se principalmente na Ntfsseri·a. A identificação espedfica do gonococo pode ser rea-
endocérvice, provocando secreção vaginal purulenta e sangra- lizada com base na fermentação de glicose (mas não de ma1tose)
mento intermenstrual (cervicite). A complk.ação mais frequen- ou pe)a coloração com anticorpo fluorescente. Observa-se que
132 PARTE li Bacteriologia Clínica

espécimes oriundos de locais estéreis, como sangue ou líquido ar- APLIQUE SEU CONHECIMENTO
ticular, podem ser cultivados em ágar-chocolate sem antibióticos,
1. Em relação às diferenças entre Neisseria meningitidis (meningoco-
uma vez que não há microbiota normal competidora.
cos) e Neisseria gonorrhoeae (gonococos), qual das seguintes afir-
Dois testes rápidos que detectam a presença de ácidos nu-
mações é a mais correta?
cleicos gonocócicos em espécimes de pacientes são amplamen-
(A) Os meningococos são oxidase-positivos, ao passo que os go-
te utilizados como teste de varredura. Esses testes são altamente
nococos não são.
sensíveis e específicos. Em um tipo de teste, os ácidos nucleicos
(B) Os meningococos possuem uma cápsula polissacarídica espes-
gonocócicos são amplificados (testes de amplificação), ao passo
sa, ao passo que os gonococos não.
que, no outro tipo, não são amplificados. Os testes de amplifica- (C) Os meningococos possuem o lipídeo A, ao passo que os gono-
ção, frequentemente abreviados como NAAT (do inglês, nucleic cocos não.
acid amplification test), podem ser usados em amostras de urina, (D) Os meningococos produzem penicilinase, ao passo que os go-
o que abrevia a necessidade do uso de técnicas de coleta mais in- nococos não.
vasivas. Observa-se que testes sorológicos para determinar apre- (E) Os meningococos sintetizam protease de IgA, ao passo que os
sença de anticorpos contra gonococos no soro do paciente não gonococos não.
são úteis para o diagnóstico. 2. Sua paciente, uma menina de 14 anos de idade, foi enviada da es-
cola para casa por apresentar uma febre de 38,9ºC, dor de cabeça
Tratamento grave e desmaios em sala de aula. Quando sua febre subiu para
40ºC, sua mãe a levou a um centro de emergência, onde foram
A ceftriaxona é o tratamento de escolha para infecções gono- constatadas uma pressão de 60/20 e uma hemorragia petequial
cócicas sem complicações. A azitromicina ou a ciprofloxacina grave. O líquido espinal foi coletado e diplococos gram-negativos
devem ser utilizadas se o paciente for alérgico a penicilinas e foram observados após coloração de Gram. Das opções a seguir,
cefalosporinas. Devido ao fato de que infecções mistas com qual pode ser a principal causa da febre, hipotensão e hemorragia
C. trachomatis são comuns, azitromicina ou doxiciclina devem petequial?
ser também prescritas. Uma cultura de acompanhamento deve (A) Endotoxina.
ser realizada uma semana após a conclusão do tratamento para (B) Protease de IgA.
determinar se ainda há presença de gonococos. O tratamento ( C)Oxidase.
de infecções gonocócicas complicadas, como DIP, geralmente (D) Proteína do pilus.
(E) Superantígeno.
necessita de hospitalização. A terapia é complexa e vai além do
escopo deste livro. 3. Considerando a paciente da Questão 2, qual das seguintes opções
Antes de meados dos anos 1950, todos os gonococos eram representa o melhor antibiótico para o tratamento dessa infecção?
altamente sensíveis à penicilina. Posteriormente, surgiram iso- (A) Azitromicina.
lados com resistência de baixo nível à penicilina e a outros (B) Doxiciclina.
antibióticos, como tetraciclina e cloranfenicol. Esse tipo de re- ( C)Penicilina G.
(D) Rifampina.
sistência é codificada pelo cromossomo bacteriano, sendo decor-
(E) Trimetoprima-sulfametoxazol.
rente da captação reduzida do fármaco ou de locais de ligação
modificados, em vez da degradação enzimática do fármaco. 4. Em relação às diferenças entre Neisseria meningitidis (meningoco-
cos) e Neisseria gonorrhoeae (gonococos), qual das seguintes afir-
Então, em 1976, linhagens produtoras de penicilinase
mações é a mais correta?
(PPNG) exibindo resistência de alto nível foram isoladas de pa-
cientes. A penicilinase é codificada por plasmídeo. Atualmente, (A) Os seres humanos são os principais reservatórios para as
as linhagens PPNG são comuns em várias regiões do mundo, in- duas bactérias.
(B) Muitos isolados clínicos de meningococos produzem 13-lac-
cluindo diversas áreas urbanas dos Estados Unidos, onde aproxi-
tamase, entretanto os isolados clínicos de gonococos não
madamente 10% dos isolados são resistentes. Isolados resistentes produzem.
às fluoroquinolonas, como a ciprofloxacina, têm se tornado um ( C) Os meningococos apresentam tipos antigênicos múltiplos, ao
problema importante, de forma que as fluoroquinolonas não são passo que os gonococos apresentam apenas um.
mais recomendadas como tratamento. (D) A vacina conjugada contra gonorreia contém sete tipos da
proteína do pilus como imunógenos.
Prevenção (E) O principal modo de transmissão das duas bactérias é por as-
piração de gotículas.
A prevenção da gonorreia envolve o uso de preservativos e o
5. Seu paciente, um homem de 20 anos de idade, apresenta um ex-
rápido tratamento de pacientes sintomáticos, assim como de sudato uretral. Você faz uma coloração de Gram do pus e observa
seus parceiros. Os casos de gonorreia devem ser notificados ao diplococos gram-negativos com neutrófilos. Qual dos antibióticos a
departamento de saúde pública para garantir o acompanhamen- seguir é o melhor para o tratamento da infecção?
to adequado. Um problema importante refere-se à detecção de (A) Ceftriaxona.
portadores assintomáticos. A conjuntivite gonocócica em recém- (B) Gentamicina.
-nascidos é prevenida com mais frequência pelo uso de unguento ( C)Penicilina G.
de eritromicina. Gotas de nitrato de prata são utilizadas com me- (D) Trimetoprima-sulfametoxazol.
nor frequência. Não há vacina disponível. (E) Vancomicina.
CAPÍTULO 16 Cocos Gram-Negativos 133

RESPOSTAS QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


1. (B) Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
2. (A) encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
3. (C) Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
4. (A)
também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
5. (A)
da página 731.

RESUMOS DOS ORGANISMOS


Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
-se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida
revisão do material essencial.
CAPÍTULO

Bacilos Gram-Positivos
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução BACILOS GRAM-POSITIVOS NÃO FORMADORES DE ESPOROS


BACILOS GRAM-POSITIVOS FORMADORES DE ESPOROS Corynebacterium diphtheriae
Bacillus Listeria monocytogenes
Clostridium Aplique seu conhecimento
Resumos dos organismos
Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO As espécies de Bacillus e Clostridium são mais longas e coram-


-se mais intensamente que as espécies de Corynebacterium e
Existem quatro gêneros de bacilos gram-positivos de importância Listeria. As espécies de Corynebacterium exibem morfologia
médica: Bacillus, Clostridium, Corynebacterium e Listeria. Bacillus similar a uma clava (i.e., são mais delgadas em uma extremida-
e Clostridium formam esporos, ao contrário de Corynebacterium de do que na outra). As espécies de Corynebacterium e Listeria
e Listeria. Os membros do gênero Bacillus são aeróbios, ao passo exibem, caracteristicamente, morfologia bacilar em forma de
que os do gênero Clostridium são anaeróbios (Tabela 17-1 ). VouL.
Esses bacilos gram-positivos também podem ser dife-
renciados com base em seu aspecto, pela coloração de Gram.

BACILOS GRAM-POSITIVOS FORMADORES DE ESPOROS - - - - - -


BACILLUS 1. Bacillus anthracis
Existem duas espécies de Bacillus de importância médica: Doença
Bacillus anthracis e Bacillus cereus. As características importantes B. anthracis causa o antraz (Figura 17-1 ), que é comum em ani-
da patogênese dessas duas espécies de Bacillus são descritas na mais, mas raro em seres humanos. A doença em seres humanos
Tabela 17-2. exibe três formas principais: cutânea, pulmonar (inalação) e gas-
trintestinal. Em 2001, ocorreu um surto de antraz cutâneo e por
inalação nos Estados Unidos. O surto foi causado pelo envio de
esporos do organismo pelo correio. Foram relatados 18 casos;
TABELA 17-1 Bacilos gram-positivos de importância
dentre esses, cinco resultaram em óbitos devido à epidemia.
médica

Exotoxinas Propriedades importantes


Crescimento Formação importantes
Gênero anaeróbio de esporos na patogênese B. anthracis é um bacilo gram -positivo grande, com extremi-
dades retas, comumente observado em cadeias (Figura 17-2).
Bacillus + + Sua cápsula antifagocítica é composta por o-glutamato. (Essa
característica é exclusiva - as cápsulas de outras bactérias são
C/ostridium + + +
polissacarídicas.) O B. anthracis é imóvel, ao passo que outros
Corynebacterium + membros do gênero são móveis. A toxina do antraz é codificada
em um plasmídeo, ao passo que a cápsula de poliglutamato é co-
Listeria
dificada em um plasmídeo distinto.
CAPÍTULO 17 Bacilos Gram-Positivos 135

TABELA 17-2 Características importantes da patogênese de espécies de Bacillus

Transmissão/fator
Organismo Doença predisponente Ação da toxina Prevenção

8. anthracis Antraz 1. Antraz cutâneo: esporos do A exotoxina possui três componentes: o antígeno A vacina contém o
solo penetram no ferimento protetor liga-se às células; o fator de edema é antígeno protetor
2. Antraz pulmonar: os esporos uma adenilato-ciclase; o fator letal é uma pro- como imunógeno
são inalados até o pulmão tease que inibe o crescimento celular

8. cereus Intoxicação Os esporos germinam em arroz Duas exotoxinas (enterotoxinas): Vacina inexistente
alimentar reaquecido; as bactérias, 1. Similar à toxina colérica, aumenta o AMP cíclico
então, produzem exotoxinas 2. Similar à enterotoxina estafilocócica, é um
que são ingeridas supera ntígeno

Transmissão A-B. A subunidade B, de ligação, de cada exotoxina consiste em


um antígeno protetor. A subunidade A, ou ativa, exibe atividade
Os esporos do organismo persistem por anos no solo. Os seres
enzimática.
humanos são mais frequentemente infectados por via cutânea
O fator de edema, uma exotoxina, é uma adenilato-ciclase
devido a traumas na pele, o que permite a entrada de esporos
que gera um aumento na concentração intracelular de monofosfa-
presentes em produtos animais, como couro, cerdas e lã. Os es-
to de adenosina cíclico (cAMP). Isso causa extravasamento de flui-
poros também podem ser inalados, atingindo o trato respiratório.
do a partir da célula para o espaço extracelular, manifestando-se
O antraz pulmonar (por inalação) ocorre quando os esporos são
como edema. (Observa-se a similaridade da ação em comparação
inalados até os pulmões. O antraz gastrintestinal ocorre pela à toxina do cólera.) O fator letal é uma protease envolvida na cli-
ingestão de carne contaminada. vagem da fosfocinase que ativa a via de transdução de sinal da
O antraz por inalação não é transmissível de pessoa a pes- proteína-cinase ativada por mitógenos (MAPK, mitogen-activated
soa, apesar de a infecção ser grave. Após ser inalado até o pulmão, protein kinase). Essa via controla o crescimento das células hu-
o organismo desloca-se rapidamente para os linfonodos medias- manas, e a clivagem da fosfocinase inibe o crescimento celular. O
tinais, onde causa mediastinite hemorrágica. Pelo fato de deixar o antígeno protetor forma poros na membrana da célula humana,
pulmão rapidamente, o antraz não é transmitido a terceiros pela permitindo a entrada do fator de edema e do fator letal na célula. A
via respiratória. denominação antígeno protetor refere-se ao fato de que o anticor-
po contra essa proteína protege contra a doença.
Patogênese
A patogénese baseia-se principalmente na produção de duas Achados clínicos
exotoxinas, conhecidas coletivamente como toxina do antraz. A lesão característica do antraz cutâneo é uma úlcera indolor
As duas exotoxinas, o fator de edema e o fator letal, consistem, com uma escara negra (crosta, casca) (Figura 17-1). O edema lo-
cada uma, em duas proteínas em configuração de subunidade cal é acentuado. A lesão é denominada pústula maligna. Os ca-
sos não tratados progridem para bacteriemia e óbito.

I
,.___

FIGURA 17-1 Lesão de pele, causada pelo antraz. Observa-se a esca-


ra preta, uma lesão necrótica coberta por uma crosta, causada pelo fa-
tor letal, uma exotoxina produzida pelo 8acil/us anthracis. Observa-se FIGURA 17-2 8acil/us anthracis - coloração de Gram. A seta apon-
também a área de edema ao redor da escara, que é causada por outra ta para um bacilo longo gram-positivo, semelhante a um "vagão': em
exotoxina, chamada de fator de edema. (Fonte: Centers for Disease Control uma cadeia longa. (Figura cortesia de Public Health lmage Library, Centers for
and Prevention. CDC # 2033. Provedor CDC: Dr. James H. Steele.) Disease Control and Prevention.)
136 PARTE li Bacteriologia Clínica

O antraz pulmonar (por inalação), também conhecido é mantido aquecido por muitas horas (p. ex., arroz reaquecido).
como "doença dos tosquiadores de la: inicia-se com sintomas A porta de entrada é o trato gastrintestinal.
inespecíficos no trato respiratório, semelhantes aos sintomas da
gripe, especialmente tosse seca e pressão subesternal. Esse quadro Patogênese
progride rapidamente para mediastinite hemorrágica, efusões
pleurais sanguinolentas, choque séptico e óbito. Embora os
B. cereus produz duas enterotoxinas. O mecanismo de ação de
pulmões sejam infectados, não são observadas as características uma das enterotoxinas é o mesmo mecanismo da toxina do
cólera (i.e., adiciona adenosina difosfato ribose, processo de-
clássicas nem imagem radiológica de pneumonia. O alargamen-
nominado ADP-ribosilação, a uma proteína G, estimulando a
to mediastinal observado no raio X de tórax é um importante
critério diagnóstico. A mediastinite hemorrágica e a meningite adenilato-ciclase e promovendo um aumento na concentração
de monofosfato de adenosina [AMP] cíclico no interior do
hemorrágica são complicações graves de risco à vida. Os sinto-
mas do antraz gastrintestinal incluem vômito, dor abdominal e enterócito). O mecanismo de ação da outra enterotoxina asse-
diarreia sanguinolenta. melha-se ao da enterotoxina estaftlocócica (i.e., consiste em um
superantígeno ).

Diagnóstico laboratorial
Achados clínicos
Os esfregaços exibem grandes bacilos gram -positivos em ca-
deias (Figura 17-2). Os esporos, em geral, não são observados Existem duas síndromes. ( 1) Uma das síndromes apresenta um
em esfregaços de exsudato, uma vez que os esporos são forma- curto período de incubação (4 horas) e consiste principalmente
dos quando os nutrientes são insuficientes e, nos tecidos infecta- em náuseas e vômito, de forma semelhante à intoxicação alimen-
dos, há abundância de nutrientes. Colônias não hemolíticas são tar por estafilococos. (2) A outra síndrome apresenta um longo
formadas em ágar-sangue incubado em condições aeróbias. Em período de incubação (18 horas) e é caracterizada por diarreia
caso de ataque bioterrorista, o rápido diagnóstico pode ser rea- aquosa não sanguinolenta, o que lembra a gastrenterite causada
lizado em laboratórios especiais pelo uso de testes de reação em por Clostridium.
cadeia da polimerase (PCR, polymerase chain reaction). Outro
procedimento de diagnóstico rápido consiste no teste direto com Diagnóstico laboratorial
anticorpos fluorescentes, que detecta os antígenos do organismo Geralmente não é realizado.
na lesão. Testes sorológicos, como o ensaio imunoadsorvente
ligado à enzima (ELISA, enzyme-linked immunosorbent assay)
Tratamento
pesquisam a presença de anticorpos, requerem amostras de soros
pareadas, de fase aguda e convalescente, e só podem ser utiliza- Limita-se ao tratamento sintomático.
dos para realizar um diagnóstico retrospectivo.
Prevenção
Tratamento Não há método preventivo específico. O arroz não deve ser man-
A ciprofloxacina é o fármaco de escolha. A doxiciclina é um tido aquecido por períodos longos.
fármaco alternativo. Linhagens resistentes não foram isoladas
clinicamente.
CLOSTRIDIUM
Prevenção Existem quatro espécies de importância médica: Clostridium
A ciprofloxacina ou a doxiciclina foram utilizadas como profila- tetani, Clostridium botulinum, Clostridium perfringens (que
xia em indivíduos expostos durante o surto de 2001 nos Estados causa gangrena gasosa ou intoxicação alimentar) e Clostridium
Unidos. Indivíduos sob alto risco podem ser imunizados com difficile. Todos os clostrídios são bacilos gram-positivos,
vacina acelular contendo o antígeno protetor purificado como anaeróbios estritos e formadores de esporos (Figura 17 -3).
imunógeno. A vacina é pouco imunogênica, sendo administrada As características importantes da patogénese e prevenção são
em seis doses no decorrer de um período de 18 meses. Reforços descritas na Tabela 17-3.
anuais também são administrados, a fim de manter a proteção.
Incinerar animais mortos por antraz, em vez de enterrá-los, pre- 1. Clostridium tetani
vine a contaminação do solo pelos esporos.
Doença
2. Bacillus cereus O C. tetani causa o tétano (Figura 17-4).

Doença
Transmissão
Bacillus cereus causa intoxicação alimentar.
Os esporos são amplamente distribuídos no solo. A porta de en-
trada geralmente é um local de ferimento (p. ex., o local onde
Transmissão um prego penetra no pé). Contudo, os esporos também po-
Os esporos presentes em grãos, como arroz, resistem à ação do dem ser introduzidos durante o "skin-popping: técnica empre-
vapor e da fritura rápida. Os esporos germinam quando o arroz gada por dependentes químicos, a fim de injetar droga na pele.
CAPÍTULO 17 Bacilos Gram-Positivos 137

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FIGURA 17-4 Tétano. Observe a marcante hiperextensão das costas,


FIGURA 17-3 C/ostridium perfringens - coloração de Gram. A seta uma posição denominada opistótono, causada pela toxina tetânica,
indica um bacilo gram-positivo grande. (Utilizada, com permissão, uma exotoxina que bloqueia a liberação de mediadores dos neurônios
da Professora Shirley Lowe, University of California, San Francisco School of inibidores da medula espinal. (Fonte: Centers for Disease Control and Pre-
Medicine, Estados Unidos.) vention. CDC # 6373.)

A germinação dos esporos é favorecida por tecido necrótico e existe apenas um tipo antigênico de toxoide tetânico na vacina
pouco suprimento sanguíneo no ferimento. O tétano neonatal, contra o tétano.
em que o organismo penetra por um ferimento infectado no um-
bigo ou associado à circuncisão, representa um importante pro- Achados clínicos
blema em alguns países em desenvolvimento.
O tétano caracteriza-se por intensos espasmos musculares
(paralisia espástica, tetania). As características clínicas específicas
Patogênese incluem trismo ( trismus) decorrente da contração rígida dos
A toxina tetânica (tetanospasmina) é uma exotoxina produ- músculos da mandíbula, impedindo a abertura da boca, uma ex-
zida por células vegetativas no local do ferimento. Essa toxina pressão facial característica, conhecida como riso sardônico, e
polipeptídica é transportada intra-axonalmente (via retrógrada) reflexos exacerbados. Frequentemente é observado opistótono,
ao sistema nervoso central, onde se liga a receptores de ganglio- um arqueamento pronunciado das costas, decorrente do espas-
sídeos, bloqueando a liberação de mediadores inibidores (p. ex., mo dos fortes músculos extensores dorsais (Figura 17-4). Segue-
glicina e ácido gama-aminobutírico [GABA]) nas sinapses espi- -se a insuficiência respiratória. Uma elevada taxa de mortalidade
nais. A toxina tetânica e a toxina botulínica (ver a seguir) estão está associada a essa doença. Observa-se que no tétano ocorre
entre as substâncias mais tóxicas conhecidas. São proteases que paralisia espástica (intensas contrações musculares), ao passo
clivam as proteínas envolvidas na liberação de mediadores. que, no botulismo, ocorre paralisia flácida (contrações muscula-
A toxina tetânica possui um tipo antigênico, diferentemen- res fracas ou ausentes).
te da toxina botulínica, a qual apresenta oito tipos. Portanto,

TABELA 17-3 Características importantes da patogênese de espécies de Clostridium

Transmissão/fator
Organismo Doença predisponente Ação da toxina Prevenção

C. tetani Tétano Os esporos no solo penetram Bloqueia a liberação de Vacina de toxoide


no ferimento transmissores inibidores
(p. ex., glicina)

C. botulinum Botulismo A exotoxina no alimento é Bloqueia a liberação de Enlatamento apropriado;


ingerida acetilcolina cozimento dos alimentos

C. perfringens 1. Gangrena gasosa Os esporos no solo penetram Lecitinase Desbridação de ferimentos


no ferimento
2. Intoxicação alimentar A exotoxina no alimento é Superantígeno Cacção de alimentos
ingerida

C. difficile Colite pseudomembranosa Antibióticos suprimem a A citotoxina danifica a Uso apropriado de


microbiota normal mucosa do colo antibióticos
138 PARTE li Bacteriologia Clínica

Diagnóstico laboratorial Juntamente com a toxina tetânica, é uma das substâncias mais
tóxicas conhecidas. Há oito tipos imunológicos da toxina; os tipos
Não há diagnóstico microbiológico nem sorológico. Os or-
A, B e E são os mais comuns na enfermidade de seres humanos.
ganismos raramente são isolados a partir do local do ferimen-
O Botox é uma preparação comercial da exotoxina A utilizada para
to. O C. tetani produz um esporo terminal (i.e., um esporo na
remover rugas faciais. Quantidades mínimas da toxina são efica-
extremidade do bacilo). Isso confere ao organismo o aspecto
zes no tratamento de certos distúrbios musculares espasmódicos,
característico de uma "raquete de tênis':
como torcicolo, "cãibra do escrivão,, e blefarospasmo.

Tratamento
Achados clínicos
A imunoglobulina tetânica (antitoxina tetânica) é utilizada para
São observadas fraqueza e paralisia descendentes, incluindo di-
neutralizar a toxina. O papel dos antibióticos é incerto. Quan -
plopia, disfagia e insuficiência muscular respiratória. Não ocorre
do são utilizados antibióticos, o metronidazol ou a penicilina G
febre. Por outro lado, a síndrome de Guillain-Barré é uma parali-
podem ser administrados. Uma ventilação adequada deve ser
sia ascendente (ver Capítulo 66).
mantida e um suporte respiratório deve ser fornecido. Benzodia-
Há duas formas clínicas especiais: (1) botulismo de ferida,
zepinas (p. ex., diazepam) devem ser administradas para prevenir
em que os esporos contaminam um ferimento, germinam e pro-
os espasmos.
duzem a toxina no local; e (2) botulismo infantil, no qual os orga-
nismos crescem no intestino, onde produzem a toxina. A ingestão
Prevenção
de mel contendo o organismo está implicada na transmissão de
O tétano é prevenido pela imunização com o toxoide tetânico botulismo infantil. As crianças afetadas desenvolvem fraqueza
(toxina tratada com formaldeído) na infância e, em seguida, a ou paralisia e podem necessitar de suporte respiratório, embora,
cada 1O anos. O toxoide tetânico é geralmente administrado em em geral, recuperem-se espontaneamente. Nos Estados Unidos,
crianças em combinação com o toxoide diftérico e a vacina per- o botulismo infantil corresponde a cerca da metade dos casos de
tússis acelular (DTPa). botulismo, e o botulismo de ferida está associado ao abuso de
Quando ocorre um trauma, o ferimento deve ser limpo e de- drogas, especialmente por skin-popping com heroína negra.
bridado, e um reforço do toxoide tetânico deve ser administrado.
Quando o ferimento encontra-se altamente contaminado, a imu- Diagnóstico laboratorial
noglobulina tetânica, o reforço de toxoide e a penicilina devem
ser administrados. A imunoglobulina tetânica (antitoxina tetâ- O organismo geralmente não é cultivado. A toxina botulínica é
nica) é produzida em seres humanos, a fim de evitar as reações demonstrável no alimento não ingerido e no soro do paciente
de doença do soro que ocorrem quando se utiliza a antitoxina por testes de proteção em camundongos. Os camundongos são
produzida em cavalos. A administração de imunoglobulinas e do inoculados com uma amostra do espécime clínico e morrerão,
toxoide tetânico (em locais corporais distintos) é um exemplo de exceto se protegidos pela antitoxina.
imunidade passiva-ativa.
Tratamento
2. Clostridium botulinum Administra-se a antitoxina trivalente (tipos A, B e E), juntamente
com suporte respiratório. A antitoxina é produzida em cavalos,
Doença
e a doença do soro ocorre em cerca de 15% dos receptores do
O C. botulinum causa o botulismo. antissoro.

Transmissão Prevenção
Os esporos, amplamente distribuídos no solo, contaminam vege- A esterilização apropriada de todos os alimentos enlatados e em-
tais e carnes. Quando esses alimentos são enlatados ou embala- balados a vácuo é essencial. Os alimentos devem ser cozidos ade-
dos a vácuo sem a esterilização adequada, os esporos sobrevivem quadamente, a fim de inativar a toxina. Latas estufadas devem ser
e germinam no ambiente anaeróbio. A toxina é produzida no descartadas (as enzimas proteolíticas de clostrídios formam gás,
alimento enlatado, sendo ingerida pré-formada. Os alimentos promovendo o estufamento das latas).
de maior risco são (1) vegetais alcalinos, como feijões verdes, pi-
mentas e cogumelos, e (2) peixes defumados. A toxina é relativa-
3. Clostridium perfringens
mente termolábil, sendo inativada pela fervura do alimento por
vários minutos. Desse modo, a doença pode ser prevenida por O C. perfringens causa duas doenças distintas, gangrena gasosa e
cozimento suficiente. intoxicação alimentar, dependendo da via de entrada no corpo.

Patogênese Doença: gangrena gasosa


A toxina botulínica é absorvida a partir do intestino, sendo A gangrena gasosa (mionecrose, fasceíte necrosante) é
transportada pela corrente sanguínea para as sinapses de nervos uma das duas doenças causada pelo C. perfringens (Figu-
periféricos, onde bloqueia a liberação de acetilcolina. É uma pro- ra 17-5). A gangrena gasosa é também causada por outros
tease que cliva as proteínas envolvidas na liberação de acetilcolina. clostrídios histotóxicos, como Clostridium histolyticum, Clos-
A toxina é um polipeptídeo codificado por um fago lisogênico. tridium septicum, Clostridium novyi e Clostridium sordellii.
CAPÍTULO 17 Bacilos Gram-Positivos 139

Diagnóstico laboratorial
Esfregaços de amostras de tecido e exsudato exibem grandes ba-
cilos gram-positivos. Em geral, os esporos não são observados,
uma vez que são formados principalmente em condições de
deficiência nutricional. Os organismos são cultivados anaero-
biamente e identificados por reações de fermentação de açúcar
e produção de ácido orgânico. As colônias de C. perfringens
apresentam uma dupla zona de hemólise no ágar-sangue. O ágar
gema de ovo é utilizado para demonstrar a presença de lecitinase.
Testes sorológicos não são úteis.

Tratamento
A penicilina G é o antibiótico de escolha. Os ferimentos devem
ser desbridados.

Prevenção
Os ferimentos devem ser limpos e desbridados. A penicilina
pode ser administrada como profilaxia. Não há vacina.

Doença: intoxicação alimentar


A intoxicação alimentar é o segundo tipo de doença causada pelo
C. perfringens.

Transmissão
Os esporos estão localizados no solo e podem contaminar o ali-
mento. Os esporos termorresistentes sobrevivem ao cozimento
FIGURA 17-5 Gangrena gasosa. Observa-se a extensa área de ne-
e germinam. Os organismos crescem em grandes números em
crose na face lateral do pé. A necrose é causada principalmente pela
lecitinase, produzida pelo C/ostridium perfringens. A produção de gás
alimentos reaquecidos, especialmente em pratos à base de carnes.
no tecido é uma ca racterística da gangrena causada por essas bacté-
rias anaeróbias. Uma grande bolha cheia de gás e fluido pode ser vista Patogênese
perto do tornozelo. (Figura utilizada, com permissão, de David Kaplan, M.D.)
O C. perfringens é um membro da microbiota normal do colo,
mas não do intestino delgado, onde a enterotoxina atua, provo-
(O C. sordellii também causa a síndrome do choque tóxico em cando diarreia. O mecanismo de ação da enterotoxina é o mesmo
mulheres no pós-parto ou após abortos). mecanismo da enterotoxina de Staphylococcus aureus (i.e., atua
como um superantígeno).
Transmissão
Achados clínicos
Os esporos estão localizados no solo; as células vegetativas são
membros da microbiota normal do colo e da vagina. A gan- A doença apresenta um período de incubação que varia de 8 a
grena gasosa está associada a ferimentos de guerra, acidentes 16 horas e é caracterizada por diarreia aquosa acompanhada por
automobilísticos e de motocicleta e abortos sépticos (endometrite). cólicas e um pouco de vômito. O quadro normalmente se resolve
em 24horas.
Patogênese
Diagnóstico laboratorial
Os organismos crescem em tecidos traumatizados (especialmen-
te músculos) e produzem uma variedade de toxinas. A mais im- Geralmente não é realizado. Não há ensaios para a toxina. Gran-
portante é a toxina alfa (lecitinase), que danifica as membranas des números de organismos podem ser isolados a partir do ali-
celulares, incluindo as membranas de hemácias, o que resulta em mento não ingerido.
hemólise. Enzimas degradativas produzem gás nos tecidos.
Tratamento
Achados clínicos O tratamento é sintomático; não são administrados fármacos an-
timicrobianos.
Dor, edema, celulite e gangrena (necrose) ocorrem na área do fe-
rimento (Figura 17-5). A crepitação indica a presença de gás nos
tecidos. A hemólise e a icterícia são comuns, bem como exsuda- Prevenção
tos tintos de sangue. O estado pode evoluir para choque e morte. Não existem medidas preventivas específicas. Os alimentos de-
As taxas de mortalidade são elevadas. vem ser cozidos adequadamente, a fim de matar o organismo.
140 PARTE li Bacteriologia Clínica

contra o câncer também predispõe à colite pseudomembranosa.


O C. difficile raramente invade a mucosa intestinal.

Achados clínicos
O C. difficile causa diarreia associada a pseudomembranas
(placas amarelo-esbranquiçadas) na mucosa do colo (Figura
17-6). (O termo pseudomembrana foi definido no Capítulo 7, pá-
gina 39.) A diarreia geralmente não é sanguinolenta, e são obser-
vados neutrófilos nas fezes de cerca de metade dos casos. Febre e
dores abdominais ocorrem com frequência. As pseudomembra-
nas são visualizadas por sigmoidoscopia. Megacolo tóxico pode
ocorrer, e a ressecção cirúrgica do colo pode ser necessária. A co-
lite pseudomembranosa pode ser diferenciada de uma diarreia
transitória, que ocorre como efeito colateral de vários antibióticos
orais, testando-se a presença da toxina nas fezes.
Em 2005, uma cepa nova e mais virulenta de C. difficile
emergiu. Essa nova linhagem causa doença mais grave, exibe
FIGURA 17-6 Colite pseudomembranosa. Observe as lesões amare- maior probabilidade de causar recorrências e responde menos ao
ladas e semelhantes a placas no colo. A doença é causada por uma metronidazol, quando comparada à linhagem anterior. Também
exotoxina produzida pelo C/ostridium difficile, que inibe a proteína
caracteriza-se pela resistência à quinolona. Acredita-se que o am-
transdutora do sinal, levando à morte dos enterócitos. (Reproduzida,
plo uso de quinolonas em doenças diarreicas possa ter promovi-
com permissão, de Fauci AS et ai. (eds): Harrison's Principies of Internai Medicine.
17th ed. New York: McGraw-Hill, 2008, pg 1837. Copyright© 2008 por The Mc-
do a seleção dessa nova linhagem.
Graw-Hill Companies, lnc.)
Diagnóstico laboratorial
A presença de exotoxinas em um filtrado do espécime de fezes
4. Clostridium difficile
do paciente corresponde à base do diagnóstico laboratorial. É
Doença insuficiente fazer cultura das fezes para verificar a presença de
C. difficile, uma vez que as pessoas podem ser colonizadas pelo
O C. difficile causa colite pseudomembranosa associada ao uso
de antibiótico (Figura 17-6). A bactéria é a causa nosocomial (ad- organismo e não apresentar a doença. Observa-se que o isola-
quirida em hospital) mais comum de diarreia. mento do C. difficile das fezes, seguido pela evidência de que o
isolado é um produtor de toxina, pode ser útil. Entretanto, esse
processo é demorado e pode não ser capaz de ser completado em
Transmissão um período de tempo considerado relevante clinicamente.
O organismo é encontrado no trato gastrintestinal de aproxi- Existem dois tipos de testes geralmente utilizados para detec-
madamente 3% da população geral e em até 30% de pacientes tar as exotoxinas. Um deles é um ELISA que utiliza anticorpos co-
hospitalizados. A maioria dos indivíduos não é colonizada, o que nhecidos contra exotoxinas. Os testes de ELISA são rápidos, apesar
explica por que a maioria das pessoas que tomam antibióticos de serem menos sensíveis que o teste de citotoxicidade. No teste
não é acometida por colite pseudomembranosa. O C. difficile é de citotoxicidade, células humanas em cultura são expostas à
transmitido pela via fecal-oral. As mãos dos profissionais hospi- exotoxina presente no filtrado de fezes, sendo observada a morte
talares são importantes intermediários. das células. Esse teste é mais sensível e específico, mas requer um
período de incubação de 24 a 48 horas. Para diferenciar a citoto-
Patogênese xicidade causada pelas exotoxinas da citotoxicidade causada por
um vírus possivelmente presente nas fezes do paciente, o anticorpo
Os antibióticos suprimem os membros da microbiota normal
contra as exotoxinas é utilizado para neutralizar o efeito citotóxico.
sensíveis ao fármaco, permitindo que o C. difficile se multipli-
Somado aos testes de detecção da toxina, o ensaio de PCR
que e produza as exotoxinas A e B. Tanto a exotoxina A quanto
para detectar a presença do gene da toxina no DNA é também
a exotoxina B são glicosiltransferases (i.e., enzimas que glico-
utilizado.
silam [adicionam glicose a] uma proteína G, denominada Rho
GTPase). O principal efeito da exotoxina Bem particular consiste
na despolimerização da actina, resultando em perda da integri- Tratamento
dade do citoesqueleto, apoptose e morte dos enterócitos. O antibiótico causador deve ser suspenso. Metronidazol ou van-
A clindamicina foi o primeiro antibiótico a ser reconheci- comicina devem ser administrados oralmente, acompanhados de
do como causa de colite pseudomembranosa, apesar de serem reposição de fluidos. O metronidazol é preferido, uma vez que o
conhecidos vários antibióticos que causam essa doença. Atual- uso da vancomicina pode selecionar enterococos resistentes a ela.
mente, cefalosporinas de terceira geração constituem a causa Entretanto, em casos com risco de morte, a vancomicina deve ser
mais comum, em razão da alta frequência com que são utilizadas. utilizada por ser mais efetiva que o metronidazol. Em pacientes
A ampicilina e as fluoroquinolonas também estão comumente sob risco de morte, a remoção cirúrgica do colo também pode
implicadas. Adicionalmente aos antibióticos, a quimioterapia I
ser necessar1a.

CAPÍTULO 17 Bacilos Gram-Positivos 141

Em muitos pacientes, o tratamento não erradica o estado de têm sido relatadas, mas questões de segurança têm limitado sua
portador, podendo ocorrer repetidos episódios de colite. A fida- aceitação.
xomicina é utilizada tanto no tratamento da colite pseudomem-
branosa quanto em casos de recaídas dessa doença. Ela é eficaz
Prevenção
em casos nos quais o paciente corre risco de morte.
Transplante fecal é outra possibilidade terapêutica. O pro- Não há vacinas ou fármacos preventivos. Devido ao fato de que
cesso envolve a administração da microbiota do intestino gros- antibióticos constituem um importante fator predisponente para
so de um indivíduo normal, por enema ou por meio de tubo a colite pseudomembranosa, devem ser prescritos apenas quando
nasoduodenal, para o paciente com colite pseudomembranosa. necessário. Nos hospitais, procedimentos estritos de controle de
Essa técnica é baseada no conceito de interferência bacteria- infecções, como a higienização rigorosa das mãos, são importan-
na (i.e., substituir o C. difficile por uma microbiota normal do tes. O uso de probióticos como Lactobacillus, Bifidobacterium ou
intestino). Taxas extremamente altas de cura com essa técnica a levedura Saccharomyces podem ser úteis na prevenção da colite
pseudomembranosa.

BACILOS GRAM-POSITIVOS NÃO FORMADORES DE ESPOROS - - - -


Existem dois patógenos importantes nesse grupo: Corynebacterium Pato gênese
diphtheriae e Listeria monocytogenes. As características importan-
Embora a produção de exotoxina seja essencial à patogênese,
tes da patogênese e prevenção são descritas na Tabela 17-4.
a invasividade é também necessária, uma vez que o organismo
deve primeiro estabelecer-se e manter-se na garganta. A toxina
diftérica inibe a síntese proteica por meio da ribosilação do ADP
CORYNEBACTERIUM DIPHTHERIAE associado ao fator-2 de elongação (EF-2). A toxina afeta todas
Doença as células eucarióticas, independentemente do tipo tecidual, mas
não tem efeito sobre o fator análogo em células procarióticas.
O C. diphtheriae causa a difteria (Figura 17-7). Outras espécies
A toxina é um polipeptídeo único, apresentando dois
de Corynebacterium (difteroides) estão implicadas em infecções
domínios funcionais. Um domínio medeia a ligação da toxina are-
oportunistas. ceptores glicoproteicos da membrana celular (fragmento B). O ou-
tro domínio (fragmento A) possui atividade enzimática que cliva
Características importantes a nicotinamida da nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) e
As corinebactérias são bacilos gram-positivos que exibem for- transfere a ADP-ribose remanescente para EF-2, promovendo, as-
ma de clava (mais largas em uma extremidade), organizadas em sim, a inativação deste. Outros organismos cujas exotoxinas atuam
paliçadas ou em formações em V ou L (Figura 17-8). Os bacilos por ADP-ribosilação são descritos nas Tabelas 7-9 e 7-10.
exibem aspecto de contas. Essas contas consistem em grânulos de O DNA que codifica a toxina diftérica é parte do material
polifosfatos altamente polimerizados - um mecanismo de arma- genético de um bacteriófago temperado, denominado fago beta.
zenamento de ligações de fosfato de alta energia. Os grânulos exi- Durante a fase lisogênica do crescimento viral, o DNA desse
bem coloração metacromática (i.e., um corante cora o restante vírus integra-se ao cromossomo bacteriano e a toxina é sintetiza-
da célula em azul e cora os grânulos em vermelho). da. Células de C. diphtheriae que não são lisogenizadas por esse
fago não produzem exotoxina e não são patogênicas.
A resposta do hospedeiro ao C. diphtheria consiste em:
Transmissão
Os seres humanos são os únicos hospedeiros naturais de ( 1) Inflamação local na garganta, com um exsudato fibrino-
C. diphtheriae. Organismos tanto toxigênicos quanto não toxi- so, que forma a pseudomembrana rígida, aderente e acinzenta-
gênicos são encontrados no trato respiratório superior, sendo da, característica da doença.
transmitidos por gotículas disseminadas pelo ar. O organis- (2) Anticorpos capazes de neutralizar a atividade da exoto-
mo pode também infectar a pele no local de uma lesão cutânea xina, bloqueando a interação do fragmento B com os recepto-
preexistente. Isso ocorre principalmente nos trópicos, mas pode res, impedem a entrada na célula. O grau de imunidade de um
ocorrer em nível mundial em indivíduos indigentes exibindo má indivíduo pode ser avaliado pelo teste de Schick. O teste é reali-
higiene da pele. zado pela injeção intradérmica de O, 1 mL de toxina padronizada

TABELA 17-4 Características importantes da patogênese por Corynebacterium diphtheriae e Listeria monocytogenes

Organismo Tipo de patogênese Doença típica Fator predisponente Modo de prevenção

C. diphtheriae Toxigênica Difteria Falha na imunização Vacina de toxoide

L. monocytogenes Piogênica Meningite; sepse Neonato; imunossupressão Não há vacina; pasteurização de produtos
lácteos
142 PARTE li Bacteriologia Clínica

las e a garganta (Figura 17-7). (O termo pseudomembrana foi


definido no Capítulo 7. página 39.) Os outros aspectos são
inesped ficos: febre. faringite e adenopatia cervical. Há três
complicações marcantes:
( 1) Extensão da membrana até a Jaringe e traqueia, causando
obstrução da \'ia aérea.
(2) Miocardite acompanhada de arritmias e co)apso circu-
latório.
(3) Fraqueza ou paralisia, especialmente dos nen•os crania-
nos. A para1isi.a dos músculos do pa1ato mole e da faringe pode
levar à regurgitação de Ou.idos pelo nariz.. Neurite periférica afe-
tando os músculos das extremidades também oc.orre.
A difteria cutânea causa lesões cutâneas ulcerativas reco-
bertas por uma membrana cinza. Essas )esões são muitas vezes
indo)entes e.com frequência não invadem teci.dos circundantes.
Sintomas sistêmicos raramente ocorrem. Nos Estados Unidos, a
difteria ocorre principalmente em indigentes.

Diagnóstico laboratorial
FIGURA 17·7 Oifte,ia. Obse(va•se a pseudomembrana branco-acin- O diagnóstico laboratorial envolve o isolamento do organismo
zentada c:obtindo a faringe postefior e a inílamação do palato e da e a comprovação da produção de toxina. Deve.se enfatizar que
faringe. A doença ~ causada pela toxina diftMca, uma êXOtoxina que a opção de tratamento com a antitoxina é uma decisão clinica
inibe a síntese proteica p,ela inibição do fato( de elongação 2. (Cortesia e não pode aguardar os resultados laboratoriais. Um SW41b de
do Dr. Peter Strebel.) garganta deve ser cu1tivado em meio de Loeffler. uma placa de
telurlto e uma placa de ágar-sangue. A placa de teJurito contêm
um sal de telúrio.. o qual é reduzido a te)úrio elementar no in-
purificada. Se o paciente não apresentar a antitoxina. a toxina
provocará inflamação no loca) após quatro a sete dias. Se não terior do organismo. A caracterfstka coloração negra-acinzen-
houver inflamação. a antitoxina encontra se presente e o pacien.
8
tada do telúrio na colônia corresponde a um c.ritêrio indicador
te é imune. O teste é raramente re.aHzado nos Estados Unidos. de diagnóstico. Quando C. d1'phtheriae é recuperado a partir
exceto em circunstâncias epidemio)ógicas especiais. das culturas. a inoculação em animal ou um teste de precipitina
com anticorpos por difusão em ge) são realizados para verificar
a produção de toxina. Um ensaio de PCR pata verificar a presen-
Achados clínicos ça do gene da toxina no organismo isolado do paciente também
Embora a difteria seja rara nos Estados Unidos, os médicos pode ser utilizado.
devem estar alertas para seu sina) mais proeminente, a pseu• E.sfregaços de swab de garganta devem ser corados pela colo-
domembrana espessa acinzentada e aderente sobre as tonsi• ração de Gram e por azul de meti)eno. Embora o diagnóstico de
difteria não possa ser realizado pelo exame do esfrega~ o acha-
do de vários bacilos gram-positivos afdados e pleomórficos pode
ser sugestivo. O corante azu) de metileno é exce)ente para revelar
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.re-. os grânu)os metacromáticos característicos.

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Tratamento
O tratamento de escolha é a antitoxina, que deve ser administra-
da imediatamente com base na suspeita cHnica. uma vez que há
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1 ~~ demora nos proc.edimentos de diagnóstico laboratoria1. A toxina

• <( '\ liga-se rápida e irreversivelmente às células e, uma vez Jigada. não
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pode ser neutra1iuda pela antitoxina. Assim, a função da antito-
xina consiste em neutralizar a toxina não Jigada presente.no san-
~ ~ gue. Pelo fato de o antissoro ser produz-ido em e.aval.os.. o paciente
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r; deve ser testado quanto à hipersensibilidade. e medicações para
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o tratamento da anafilaxia devem estar disponíveis. A doença do
soro (ver Capftu1o 65) pode ocorrer após administração do antis-
FIGURA 17 ·8 Cotynebacted um diphthedoe - coloração de Gram. soro desenvolvido em cava1os.
A seta aponta para um oodlo gram-positivo"em for-ma de clava~Otriân- O tratamento com penici)ina G ou eritromicina é também
gulo aponta para corínebac~ rías em sua típica formaVou L. (f lguracor- recomendado. porém nenhum desses fármacos substitui a an-
tesla de Publlc Health lmageUbrary, Centers f«DiseaseControl andPreventlon.) titoxina. Os antibióticos inibem o crescimento do organismo..
CAPÍTULO 17 Bacilos Gram-Positivos 143

reduzem a produção de toxina e diminuem a incidência de por- rompimento de membranas ou infectar o neonato durante a pas-
tadores crônicos. sagem pelo canal do parto.
A patogênese de Listeria depende da capacidade do organis-
Prevenção mo de invadir células e sobreviver no interior delas. A invasão
das células é mediada pela internalina produzida por Listeria e
A difteria é muito rara nos Estados Unidos, uma vez que as crian-
pela E-caderina da superfície das células humanas. A capacidade
ças são imunizadas com o toxoide diftérico (geralmente admi-
da Listeria de cruzar a placenta, penetrar nas meninges e invadir
nistrado em uma combinação de toxoide diftérico, toxoide tetâ-
o trato gastrintestinal depende da interação da internalina com a
nico e vacina pertússis acelular, frequentemente abreviada por
E-caderina nos tecidos.
DTPa). O toxoide diftérico é preparado por meio do tratamento
da exotoxina com formaldeído. Esse tratamento inativa a toxici- Ao penetrar na célula, o organismo produz listeriolisina,
dade, deixando o caráter antigênico intacto. A imunização con- que permite o seu escape do fagossomo para o citoplasma, evi-
siste em três doses, administradas nas crianças aos 2, 4 e 6 meses tando, assim, sua destruição no fagossomo. Pelo fato de a Listeria
de idade, com reforços aos 1 e 6 anos de idade. Uma vez que a crescer preferencialmente de modo intracelular, a imunidade
imunidade diminui, recomenda-se uma dose de reforço a cada celular corresponde a uma defesa mais importante que a imu-
1O anos. A imunização não impede a presença do organismo na nidade humoral. A supressão da imunidade celular predispõe a
parte nasal da faringe. infecções por Listeria.
A Listeria monocytogenes pode deslocar-se de uma célula a
outra por meio de foguetes de actina - filamentos de actina que
LISTERIA MONOCYTOGENES se polimerizam e impulsionam as bactérias através da membrana
de uma célula humana à outra.
Doenças
A L. monocytogenes causa meningite e sepse em recém -nascidos, Achados clínicos
em grávidas e em adultos imunossuprimidos. O organismo A infecção durante a gravidez pode causar aborto, parto prema-
também causa surtos de gastrenterite febril. É um importante turo ou sepse durante o período periparto. Os recém-nascidos
motivo de preocupação da indústria de alimentos. infectados durante o parto podem apresentar meningite aguda
após uma a quatro semanas. As bactérias atingem as meninges
Características importantes via corrente sanguínea (bacteriemia). A mãe infectada pode ser
A L. monocytogenes é um pequeno bacilo gram-positivo, organi- assintomática ou apresentar uma enfermidade similar à gripe.
zado em forma de V ou L, semelhante às corinebactérias. O or- As infecções por L. monocytogenes em adultos imunocomprome-
ganismo exibe um movimento incomum, em cambalhota, que o tidos podem manifestar-se como sepse ou meningite.
diferencia das corinebactérias, as quais são imóveis. As colônias A gastrenterite causada por L. monocytogenes é caracteriza-
em uma placa de ágar-sangue produzem uma zona estreita de da por diarreia aquosa, febre, cefaleia, mialgia e cólicas abdomi-
í3-hemólise, similar à hemólise de alguns estreptococos. nais, mas pouco vômito. Surtos são normalmente causados por
Listeria exibe bom crescimento em temperaturas baixas, de produtos lácteos contaminados, embora carnes malcozidas de
modo que o armazenamento de alimento contaminado no refri- frango e salsichas tenham sido envolvidas, assim como pratos
gerador pode aumentar o risco de gastrenterite. Esse crescimento pré-prontos como molhos e saladas.
paradoxal em baixa temperatura é denominado "intensificação
pelo frio': Diagnóstico la boratoria 1
O diagnóstico laboratorial é realizado principalmente pela
Patogênese
coloração de Gram e por cultura. A detecção de bacilos gram-
As infecções por Listeria ocorrem em duas situações clínicas: ( 1) -positivos semelhantes a difteroides, bem como a formação de
no feto ou no recém-nascido como resultado da transmissão colônias pequenas e cinzas, apresentando uma zona estreita de
transplacentária ou durante o parto; e (2) em mulheres grávidas í3-hemólise em uma placa de ágar-sangue, sugerem a presença
e adultos imunossuprimidos, sobretudo pacientes submetidos a de Listeria. O isolamento de Listeria é confirmado pela presença
transplante renal. (Observa-se que as gestantes apresentam uma de organismos móveis, o que os diferencia das corinebactérias
imunidade celular diminuída durante o terceiro trimestre.) imóveis. A identificação do organismo como L. monocytogenes é
O organismo exibe distribuição mundial nos animais, nas realizada por testes de fermentação de açúcar.
plantas e no solo. A partir desses reservatórios, é transmitido aos
seres humanos principalmente pela ingestão de produtos lácteos
Tratamento
não pasteurizados, carnes malcozidas e vegetais crus. O contato
com animais de criação e suas fezes é também uma importante O tratamento da doença invasiva, como meningite e sepse, con-
fonte desse organismo. Nos Estados Unidos, a listeriose é uma siste em trimetoprima-sulfametoxazol. Combinações como
doença transmitida principalmente por alimentos, associada à ampicilina e gentamicina ou ampicilina e trimetoprima-sulfa-
ingestão de queijo não pasteurizado e iguarias de carne. Após ser metoxazol também podem ser utilizadas. Linhagens resistentes
ingerida, a bactéria aparece no colo e, a seguir, pode colonizar o são raras. A gastrenterite ocasionada por Listeria geralmente não
trato genital feminino. A partir daí, pode infectar o feto se houver requer tratamento.
144 PARTE li Bacteriologia Clínica

Prevenção 7. Sua paciente, uma mulher de 40 anos, apresenta diplopia e outros


sinais de fraqueza do nervo craniano. A história da paciente mos-
A prevenção é difícil, uma vez que não há imunização. Reco- trou que ela cultiva seus próprios vegetais e gosta de preservá-los em
menda-se limitar a exposição de mulheres grávidas e pacien- jarras que ela prepara em casa. Ela gosta de suas vagens preservadas,
tes imunossuprimidos às fontes em potencial, como animais alimento que comeu sem cozinhar em uma salada no jantar da noite
de criação, produtos lácteos não pasteurizados e vegetais crus. passada. Qual dos agentes a seguir é a causa mais provável desse
A administração de trimetoprima-sulfametoxazol a pacien- caso clínico?
tes imunocomprometidos para prevenir a pneumonia por (A) Bacillus anthracis.
Pneumocystis também pode prevenir a listeriose. (B) Clostridium botulinum.
( C) Clostridium perfringens.
(D) Clostridium tetani.
APLIQUE SEU CONHECIMENTO (E) Listeria monocytogenes.
1. Das opções a seguir, qual é um bacilo gram-positivo em forma de 8. Seu paciente, um homem de 30 anos, apresenta uma lesão de 2 cm
clava, que causa doença pela produção de uma exotoxina que mata no braço. Ela começou como uma pápula indolor que foi crescendo
células pela inibição do fator de elongação 2, resultando na inibição e, em poucos dias, ulcerou e formou uma crosta preta (escara). Ele
da síntese proteica? trabalha em um abatedouro, onde seu trabalho é retirar a pele do
(A) Bacillus anthracis. gado. Uma coloração de Gram do fluido da lesão mostrou bacilos
(B) Bacillus cereus. gram-positivos grandes. Qual dos agentes a seguir é a causa mais
(C) Clostridium perfringens. provável desse caso clínico?
(D) Corynebacterium diphtheriae. (A) Bacillus anthracis.
(E) Listeria monocytogenes. (B) Clostridium botulinum.
2. Das opções a seguir, qual é um bacilo gram-positivo grande, que ( C) Clostridium perfringens.
causa necrose do tecido pela produção de uma exotoxina que degra- (D) Clostridium tetani.
da lecitina, resultando na lise da membrana celular? (E) Listeria monocytogenes.
(A) Bacillus anthracis. 9. Seu paciente, um homem de 30 anos, foi trazido para a sala de emer-
(B) Bacillus cereus. gência após um acidente com motocicleta, no qual ele sofreu uma
(C) Clostridium perfringens. fratura exposta na perna. Ele apresenta febre alta e uma celulite que
(D) Corynebacterium diphtheriae. se espalha rapidamente com crepitação na região da fratura. Bacilos
(E) Listeria monocytogenes. gram-positivos grandes foram observados no exsudato. O tecido
3. Das opções a seguir, qual é formada por um conjunto de bactérias que necrótico foi desbridado. Qual dos antibióticos a seguir é o melhor
causa doença caracterizada pela formação de pseudomembranas? para o tratamento da infecção?
(A) Bacillus anthracis e Listeria monocytogenes. (A) Azitromicina.
(B) Bacillus cereus e Clostridium perfringens. (B) Ciprofloxacina.
(C) Bacillus cereus e Clostridium tetani. ( C)Gentamicina.
(D) Corynebacterium diphtheriae e Clostridium difficile. (D) Penicilina G.
(E) Corynebacterium diphtheriae e Listeria monocytogenes. (E) Vancomicina.
4. Das opções a seguir, qual é formada por um conjunto de bactérias 10. Sua paciente é uma senhora de 65 anos que dias atrás removeu um
cujas doenças podem ser prevenidas pelo uso de uma vacina toxoide? carcinoma de colo por meio de uma cirurgia. Ela agora apresenta fe-
(A) Bacillus anthracis e Clostridium botulinum. bre súbita e tosse, e um raio X de tórax revela pneumonia. Após ser
(B) Bacillus anthracis e Clostridium perfringens. tratada com o antibiótico apropriado, ela apresentou diarreia grave.
(C) Bacillus cereus e Clostridium tetani. Você suspeita que ela tenha colite pseudomembranosa. Qual dos
(D) Corynebacterium diphtheriae e Clostridium tetani. antibióticos a seguir é o melhor para o tratamento da infecção?
(E) Corynebacterium diphtheriae e Listeria monocytogenes.
(A) Ceftriaxona.
5. Seu paciente, em uma unidade de terapia intensiva pediátrica, é um (B) Doxiciclina.
menino de 2 semanas de idade com febre alta e sintomas de menin- ( C)Gentamicina.
gite. Uma coloração de Gram do líquido espinal mostrou a presença (D) Metronidazol.
de pequenos bacilos gram-positivos. As colônias no ágar-sangue (E) Trimetoprima-sulfametoxazol.
apresentavam uma zona estreita de 13-hemólise. Qual dos agentes a
seguir é a causa mais provável dessa meningite neonatal?
(A) Bacillus anthracis.
(B) Bacillus cereus. RESPOSTAS
(C) Clostridium perfringens. 1. (D)
(D) Corynebacterium diphtheriae. 2. (C)
(E) Listeria monocytogenes. 3. (D)
6. Considerando o paciente da Questão 5, qual das seguintes opções 4. (D)
representa o melhor antibiótico para o tratamento dessa infecção? 5. (E)
(A) Doxiciclina. 6. (D)
(B) Gentamicina. 7. (B)
(C) Metronidazol. 8. (A)
(D) Trimetoprima-sulfametoxazol. 9. (D)
(E) Vancomicina. 10. (D)
CAPÍTULO 17 Bacilos Gram-Positivos 145

RESUMOS DOS ORGANISMOS QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam- Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
-se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida contradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII: Questões
revisão do material essencial. para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte também a Par-
te XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CAPÍTULO
Bacilos Gram-Negativos
• Relacionados ao
• Trato Intestinal
CONTEODO DO CAPÍTULO

Introdução PATÔGENOS EXTERNOS AO TRATO INTESTINAL


Enterobacteriaceae e organismos relacionados Grupo Klebsiel/a-Enterobacter-Serratia
PATÔGENOS INTERNOS E EXTERNOS AO TRATO INTESTINAL Grupo Proteus-Providencia-Morganel/a
Escherichia Pseudomonas
Sa/monel/a Bacteroides e Prevotel/a
PATÔGENOS ESSENCIALMENTE INTERNOS AO TRATO Aplique seu conhecimento
INTESTINAL Resumos dos organismos
Shigel/a Questões para autoavaliação
Vibrio
Campy/obacter
Helicobacter

INTRODUÇÃO
Os bacilos gram-negativos constituem um grande grupo de orga-
nismos diversos (ver Figuras 18-1, 18-2 e 19-1). Neste livro, essas

FIGURA 18-2 Vibrio cholerae - coloração de Gram. A seta longa


aponta para um bacilo gram-negativo curvo. A ponta de seta ind ica
FIGURA 18-1 Escherichia coli- coloração de Gram. A seta aponta para um flagelo em uma das extremidades de um bacilo gram-negativo
um bacilo gram-negativo. (Utilizada, com permissão, da Professora Shirley curvo. (Figura cortesia de Public Healt h lmage Library, Centers for Disease
Lowe, University of Californ ia, San Francisco School of Medicine, Estados Unidos.) Control and Prevention.)
CAPÍTULO 18 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Intestinal 147

TABELA 18-1 Categorias dos bacilos gram-negativos


1Capftulo Fonto do local de lnloqlo 6'nero
18 Tr'ato intestinal Eschertchia, Salmanello
1. Interno e extefno Shigella, Vibrfo,Campylabactet, Helicobacter
2. Principalmente interno Grupo K/ebsiello·Enterobocter-Seffatla, grupo Proteus-Pr(Nidencia·Morgane.ffa, Pseudomo~
3. Somente êXtemo nas, 8ocreroides
19 Trato respiratório Hoemophilus. LegiOllella, 80,detella

20 Font~ animais 8tucella, Fra11ciseila, Pasteurel/1.1, Yersinia

bactérias foram subdivididas em três categorias clinicamente re- Antes da descrição dos organismos específicos., é convenien.
levantes., cada uma abordada em um capítulo distinto. de acordo te descrever a familia Enterobactetiaceae. à qua1 vários desses ba.
com a refação do organismo principalmente aos tratos intestinal cilos gram-negativos pertencem.
ou respiratório., ou a fontes animais (Tabela 18-1). Embora essa
abordagem leve a algumas sobreposições. ela deve ser útil por
permitir que os conceitos gerais sejam enfatizados. ENTEROBACTERIACEAE E ORGANISMOS
Os bacilos gram-negativos relacionados ao trato intestinal RELACIONADOS
incluem um grande número de gêneros. Esses gêneros foram,
portanto.. divididos em três grupos, de acordo com a principal EJ\terobacteriac.eae é uma grande famí1ia de bacilos gram-nega•
localização anatômica da doença, ou seja. (1) patógenos internos tivos, encontrados principa1mente no colo de seres humanos e
e externos ao trato intestinal, (2) patógenos principalmente inter- em outros animais. muitos como membros da microbiota not·
nos ao trato intestinal e (3) patôgenos externos ao trato intestina) mal. Esses organismos são os principais anaeróbios facultativos
(Tabela 18- 1). do intestino grosso.. mas estão presentes em números relativa.
A frequência com a qual os organismos relacionados ao tra• mente baixos quando comparados a anaerôbios estritos como
to intestina1 causam doenç.a nos Estados Unidos é aprese11tada na Bacteroides. Embora os membros da fumUia Enterobacteriac.eae
Tabela 18-2. Sa/mone//a, Shigel/a e Campylobacter são patógenos sejam dassificados taxonomicamente como um conjunto. c.au.
frequentes do trato gastri11testinal. ao passo que Escheric.hia. sam uma variedade de doenças por diferentes mecanismos pato-
Vibrio e Yersinia são menos frequentes, Linhagens enterotoxigê- gênicos. Os organismos e a1gumas das doenças que e)es causam
nicas de Escherichü~ coU constituem wna causa comum de diar- são listados na Tabela 18·5.
reia nos países em desenvolvimento.. porém são menos comu1ts As características comuns a todos os membros dessa famUia
nos Estados Unidos. Os bacilos gram-negativos de importância heterogênea são sua 1oca1ização anatômica e os quatro proc.es.
médica responsáveis por diarreia são descritos na Tabela 18-3. sos metabôlicos seguintes: (l) todos são anaeróbios facultativos;
As i1úecções do trato urinário são causadas principa1mente por (2) todos fetmentam glicose (a fetmentação de outros açúcares
E. coli; os outros organismos são menos comu1ts. Os baci)os é variáve)); (3) nenhum possui citocromo-oxidase (i.e., são oxi.
gram-negativos de importância médica que causam infecções do dase-negativos); e (4) red02em nitratos a nitritos como parte de
trato urinário são descritos na Tabela 18-4. seus processos geradores de energia.
Pacientes infectados com patôgenos entéricos, como Shi- Essas quatro reações podem ser utiliz.adas para diferenciat
gella. Salmonella. Campylocabter e Ymi'nia, apresentam uma as Enterobacteriac.e.ae de outros grupos de organismos de.impor.
a1ta incidência de determinadas doenças autoimunes, como a tãncia médica - os baci)os gram-negativos não fermentadores.
síndrome de. Reiter (ver Capítu)o 66}. A)ém disso.. a infecção sendo Pseudomonas aeruginosa o mais importante entre eles. 1
por Campylobacter jejuni predispõe à síndrome de Gui1Jain- O Pseudomonas aeruginosa, uma importante causa de.
- Barré. infecção do trato urinário e de sepse em pacientes hospitali·
z.ados, não fermenta glicose. não reduz nitratos. e é o:tidase-
·POSitivo. Ao contrário das Enterobacteriaceae, esse otganismo
TABELA 18-2 Frequência das doenças causadas por é. aeróbio estrito e produz sua energia a partir da oxidação e. não
bacilos gram·negativos relacionados ao tr ato intestinal da fermentação.
nos Estados Unidos
Patogênese
Pai.,_ Patógenos menos
Local da lnloqlo lnquontn frwquentes Todos os membros da familia Enterobacteriac.eae, por serem
gram-ne.gativos, contêm endotoxinas em suas paredes celulares.
Trato intestinal Salmonella, Shigeila, Eschedchio, Vibri'o, Além disso.. várias exotoxinas são produzidas (p. ex., E. coU e
Compylobocter Yerslrtia

Trato urinário Escherichia Ente,obocter, 1


Klebstella, Proteui Os outros organismos desse grupo, isolados com menor frequência. são
PseudomOft(Js membros dos seguinte$ gêneros: ttdiromobac.ter. 11dnetobacter. 11/ruligtnes,
Eikenella, F/al'(lbacterium, Kingella e Moraxella; \'C-r Capitulo 27.
148 PARTE li Bacteriologia Clínica

TABELA 18-3 Bacilos gram-negativos que causam diarreia

Leucócitos Dose
Espécies Febre nasfezes infectante Achados bacteriológicos ou epidemiológicos típicos

Mediada por enterotoxina


1. Escherichia coli ? Fermenta lactose
2. Vibrio cholerae 10 7 Bactérias em forma de v írgula

Invasiva-inflamatória
1. 5almonella (p. ex., 5. enterica) + + 10 5 Não fermenta lactose
2. 5higella (p. ex., 5. dysenteriae) + + 10 2 Não fermenta lactose
4
3. Campylobacter jejuni + + 10 Bactérias em forma de v írgula ou S; crescimento a 42ºC
4. E. coli (linhagens enteropatogênicas) + + ?
5. E. coli 0 157:H? + +/- ? Transmitida por carnes pré-preparadas e malcozidas;
causa a síndrome hemolítico-urêmica

Mecanismo incerto
1
1. Vibrio parahaemolyticus + + ? Transmitido por frutos do mar
1 8
2. Yersinia enterocolitica + + 10 Geralmente transmitida por animais de estimação
(p. ex., filhotes de cães)
1
Algumas linhagens produzem enterotoxina, contudo seu papel patogênico não está claro.

TABELA 18-4 Bacilos gram-negativos responsáveis por infecções do trato urinário1 ou sepse2

Fermentação
Espécies daladose Características do organismo

Escherichia coli + As colônias exibem brilho metálico em ágar EAM

Enterobacter cloacae + Causa infecções nosocomiais e, frequentemente, apresenta resistência a fármacos

Klebsiella pneumoniae + Apresenta grande cápsula mucoide e, consequentemente, colônias viscosas

5erratia marcescens Produção de pigmento vermelho; causa infecções nosocomiais e, frequentemente, é


resistente a fármacos

Proteus mirabilis A motilidade causa "alastramento" no ágar; produz urease

Pseudomonas aeruginosa Produção de pigmento azul-esverdeado e odor de frutas; causa infecções nosocomiais
e, frequentemente, é resistente a fármacos

EAM, eosina azul de metileno.


1
Diagnosticadas a partir da cult ura quantitativa de uri na.
2
Diagnosticada a partir da cultura de sangue ou pus.

TABELA 18-5 Doenças causadas por membros da família Enterobacteriaceae

Principal patógeno Doenças representativas Gêneros relacionados de menor importãncia

Escherichia Infecção do trato urinário, d iarreia do v iajante, meningite neonatal

5hige/la Disenteria

5almonella Febre t ifoide, enterocolite Arizona, Citrobacter, Edwardsiella

Klebsiella Pneumonia, infecção do trato urinário

Enterobacter Pneumonia, infecção do trato urinário Hafnia

5erratia Pneumonia, infecção do trato urinário

Proteus Infecção do trato urinário Providencia, Morganella

Yersinia Peste, enterocolite, adenite mesentérica


CAPÍTULO 18 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Intestinal 149

Vibrio cholerae secretam exotoxinas, denominadas enterotoxinas, TABELA 18-6 Fermentação da lactose por membros da
que ativam a adenilato-ciclase no interior das células do intestino família Enterobacteriaceae e organismos relacionados
delgado, provocando diarreia) (ver Capítulo 7).
Fermentação da lactose Organismos

Antígenos Ocorre Escherichia, Klebsiella, Enterobacter

Os antígenos de vários membros das Enterobacteriaceae, espe- Não ocorre Shigella, Salmonella, Proteus,
cialmente Salmonella e Shigella, são importantes; eles são utiliza- Pseudomonas
dos para fins de identificação tanto no laboratório clínico quanto
Ocorre lentamente Serratia, Vibrio
em investigações epidemiológicas. Os três antígenos de superfície
são os seguintes:
(1) O antígeno da parede celular (também conhecido como
antígeno somático, ou O) corresponde à porção polissacarídica na fermentação de lactose, que consiste no critério metabólico
externa do lipopolissacarídeo (ver Figura 2-6). O antígeno O, mais importante utilizado na identificação desses organismos
composto por oligossacarídeos repetidos consistindo em três (Tabela 18-6). Nesses meios, os não fermentadores de lactose
ou quatro açúcares repetidos 15 ou 20 vezes, corresponde à base (p. ex., Salmonella e Shigella) formam colônias incolores, ao pas-
para a tipagem sorológica de vários bacilos entéricos. O número so que os fermentadores de lactose (p. ex., E. coli) formam colô-
de antígenos O distintos é bastante alto (p. ex., há aproximada- nias coloridas. Em ágar EAM, as colônias de E. coli apresentam
mente 1.500 tipos de Salmonella e 150 tipos de E. coli). um brilho verde característico. O efeito seletivo desses meios na
(2) O antígeno H se localiza na proteína flagelar. Apenas supressão de organismos gram-positivos indesejados é exercido
organismos flagelados, como Escherichia e Salmonella, pos- por sais biliares ou corantes bacteriostáticos presentes no ágar.
suem antígenos H, ao contrário dos organismos imóveis, como Um conjunto adicional de testes de varredura, consistindo
Klebsiella e Shigella. Os antígenos H de certas espécies de Salmo- em ágar tríplice açúcar ferro (TSI, triple sugar iron) e ágar ureia,
nella são incomuns, uma vez que os organismos podem alternar é realizado antes dos procedimentos de identificação definitiva.
reversivelmente entre dois tipos de antígeno H, denominados As explicações para o uso desses meios e as reações de diversos
antígenos de fase 1 e de fase 2. Os organismos podem utilizar essa organismos importantes estão apresentadas no Quadro "Meios
alteração na antigenicidade para escapar do sistema imune. sólidos para bacilos gram-negativos" (ver posteriormente, neste
(3) O antígeno polissacarídico capsular, ou K, é particular- capítulo) e também na Tabela 18-7. Os resultados dos processos
mente proeminente em organismos intensamente encapsula- de varredura são, com frequência, suficientes para identificar o
dos, como Klebsiella. O antígeno K é identificado pela reação de gênero de um organismo; no entanto, uma gama de 20 ou mais
Quellung (intumescimento capsular) na presença de antissoros testes bioquímicos são necessários para identificar a espécie.
específicos, sendo utilizado na sorotipagem de E. coli e Salmonella Outra informação valiosa utilizada para identificar alguns
typhi para fins epidemiológicos. Em S. typhi, a causa da febre ti- desses organismos corresponde à sua motilidade, a qual depen-
foide, o antígeno K é denominado antígeno Vi (ou virulência). de da presença de flagelos. As espécies de Proteus são bastante
móveis e caracteristicamente alastram-se sobre a placa de ágar-
Diagnóstico laboratorial -sangue, encobrindo as colônias de outros organismos. A mo-
tilidade é também um importante critério diagnóstico para a
Espécimes suspeitos de conter membros das Enterobacteriaceae diferenciação entre Enterobacter cloacae, o qual é móvel, de Kleb-
e de organismos relacionados são geralmente inoculados em siella pneumoniae, um organismo imóvel.
dois meios, uma placa de ágar-sangue e um meio seletivo dife- Quando os resultados dos testes de varredura sugerem a
rencial, como ágar MacConkey ou ágar eosina-azul de metileno presença de uma linhagem de Salmonella ou Shigella, um teste
(EAM). A capacidade diferencial destes últimos meios baseia-se

TABELA 18-7 Reações de ágar tríplice açúcar ferro (TSI)


1
Reações

Superfície Base Gás H 2S Gêneros representativos

Acida Acida + Escherichia, Enterobacter, Klebsiella

Alcalina Acida Shigella, Serratia

Alcalina Acida + + Salmonella, Proteus

Alcalina Alcalina Pseudomonas2


1
A prod ução de ácido torn a amarelo o indicador vermelho de fenol; o indicador mostra-se vermelho em condições alcalinas. A presença de FeS negro na base indica a
produção de H2S. Nem todas as espécies dos vários gêneros exibirão o aspect o acima em ágarTSI. Por exemplo, algumas linhagens de Serra tia são capazes de fermen-
tar a lactose lentamente, apresentando uma reação ácida na superfície.
2
Pseudomonas, embora não seja membro da família Enterobacteriaceae, foi incluído nesta tabela, uma vez que sua reação em ágar TSI corresponde a um critéri o
diagnóstico útil.
150 PARTE li Bacteriologia Clínica

MEIOS SÓLIDOS PARA BACILOS GRAM-NEGATIVOS

Agar tríplice açúcar e ferro (TSIJ ou alcalina). (3) Quando nem a lactose nem a glicose são
fermentadas, a base e a superfície apresentam-se vermelhas.
Os componentes importantes desse meio são sulfato ferroso e
A superfície pode exibir coloração vermelho-púrpura mais in-
os três açúcares - glicose, lactose e sacarose. A concentração da
tensa (mais alcalina) como resultado da produção de amônia
glicose corresponde a um décimo da concentração dos outros
a partir da desaminação oxidativa de aminoácidos. (4) Se H 2S
dois açúcares. O meio presente no tubo apresenta uma região
for produzido, a coloração negra do sulfeto ferroso pode ser
sólida e pouco oxigenada na porção inferior, denominada base,
observada.
e uma área inclinada e bem-oxigenada na porção superior, de-
As reações de alguns dos organismos importantes são
nominada superfície. O organismo é inoculado na base e ao
apresentadas na Tabela 18-7. Uma vez que diversos organis-
longo da superfície.
mos podem apresentar a mesma reação, o ágar TSI correspon-
A interpretação dos resultados do teste é realizada da
de somente a um dispositivo de varredura.
seguinte forma: (1) quando a lactose (ou sacarose) é fermen-
tada, há produção de grande quantidade de ácido, tornando
amarelo o indicador vermelho de fenol, tanto na base quanto Agar-ureia
na superfície. Alguns organismos geram gases, originando bo- Os componentes importantes desse meio são a ureia e o indica-
lhas na base. (2) Se a lactose não é fermentada, mas a pequena dor de pH, vermelho de fenol Se o organismo produz rease, a
quantidade de glicose o é, o fundo do tubo - que é deficien- ureia é hidrolisada a NH3 e CO2• A amônia torna o meio alcali-
te em oxigêncio - se torna amarelo. No entanto, na superfície no, e a coloração do vermelho de fenol modifica-se de laranja-
inclinada o ácido será oxidado até CO2 e H 2O pelo organis- -claro para roxo-avermelhado. Organismos importantes que são
mo, fazendo com que a superfície se torne vermelha (neutra urease-positivos incluem espécies de Proteus e K. pneumoniae.

de aglutinação pode ser utilizado para identificar o gênero do or- to público de água representa um dos avanços mais importantes
ganismo e para determinar se ele é um membro do grupo A, B, da saúde pública no século XX.
CouD.
Antibioticoterapia
Coliformes e saúde pública
O tratamento apropriado de infecções causadas por membros da
A contaminação do sistema público de abastecimento de água família Enterobacteriaceae e por organismos relacionados deve
por esgoto é detectada pela presença de coliformes na água. Em
ser vinculado individualmente à sensibilidade do organismo aos
um sentido geral, o termo coliforme inclui não somente E. coli,
antibióticos. Em termos gerais, uma ampla gama de agentes anti-
mas também outros organismos residentes do colo, como Ente-
microbianos é potencialmente efetiva (p. ex., algumas penicilinas
robacter e Klebsiella. Contudo, uma vez que apenas E. coli é um e cefalosporinas, aminoglicosídeos, cloranfenicol, tetraciclinas,
organismo exclusivo do intestino grosso, enquanto os demais
quinolonas e sulfonamidas). Em geral, a escolha específica de-
são encontrados também no meio ambiente, esse termo é em-
pende dos resultados de testes de sensibilidade a antibióticos.
pregado como indicador de contaminação fecal. Nos testes de Observa-se que muitos isolados desses bacilos entéricos
qualidade da água, E. coli é identificada por sua capacidade de gram-negativos são altamente resistentes a antibióticos de-
fermentar lactose com a produção de ácido e gás, por sua capa- vido à produção de J3-lactamases e outras enzimas que modifi-
cidade de crescer a 44,SºC e pelo tipo característico das colônias
cam os fármacos. Esses organismos frequentemente realizam
em ágar EAM. Uma contagem de colônias de E. coli acima de conjugação, adquirindo plasmídeos (fatores R) que medeiam a
4/dL na água potável municipal é indicativa de contaminação fe- resistência a múltiplos fármacos. Por exemplo, a metalo J3-lacta-
cal inaceitável. Uma vez que E. coli e os patógenos entéricos são mase Nova Délhi codificada por um plasmídeo confere resistên-
mortos pela cloração da água potável, a obtenção desse padrão
cia a penicilinas, cefalosporinas, monobactamos e carbapenens.
raramente representa um problema. A desinfecção do suprimen-

PATÕGENOS INTERNOS E EXTERNOS AO TRATO INTESTINAL


ESCHERICH/A diarreia aquosa. Algumas linhagens de E. colisão êntero-hemor-
rágicas e provocam diarreia sanguinolenta.
Doenças
Escherichia coli é a causa mais comum de infecção do trato
Características importantes
urinário e de sepse associada a bacilos gram-negativos. É uma A E. coli é um bacilo gram-negativo reto (Figura 18-1), ao con-
das duas importantes causas de meningite neonatal e o agente trário dos bacilos gram-negativos curtos dos gêneros Vibrio,
associado com maior frequência à "diarreia do viajante", uma Campylobacter e Helicobacter.
CAPÍTULO 18 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Intestinal 151

A E. coli é o organismo anaeróbio facultativo mais abundan- As linhagens produtoras de enterotoxina não causam
te no colo e nas fezes. Entretanto, é significativamente superado inflamação, não invadem a mucosa intestinal, e causam diarreia
em número pelos anaeróbios obrigatórios, como Bacteroides. aquosa não sanguinolenta. No entanto, certas linhagens de E. coli
A E. coli fermenta lactose, característica que a distingue são enteropatogênicas ( enteroinvasivas) e causam doença não
dos dois principais patógenos intestinais, Shigella e Salmonella. pela formação de enterotoxina, mas pela invasão do epitélio do
A E. coli possui três antígenos utilizados para identificar o orga- intestino grosso, provocando diarreia sanguinolenta (disenteria)
nismo em investigações epidemiológicas: o antígeno O, ou de pa- acompanhada por células inflamatórias (neutrófilos) nas fezes.
rede celular; o antígeno H, ou flagelar; e o antígeno K, ou capsu- Determinadas linhagens êntero-hemorrágicas de E. coli
lar. Uma vez que existem mais de 150 antígenos O, 50 H e 90 K, as (i.e., as do sorotipo O157:H7) também causam diarreia san-
várias combinações resultam em mais de 1.000 tipos antigênicos guinolenta por produzirem uma exotoxina denominada toxi-
de E. coli. Sorotipos específicos são associados a determinadas na Shiga, uma vez que são muito similares às produzidas por
doenças (p. ex., 055 e 0111 causam surtos de diarreia neonatal). espécies de Shigella. A toxina Shiga atua removendo uma adenina
do RNA ribossomal maior (28S), interrompendo, assim, a síntese
proteica. A toxina Shiga é codificada por bacteriófagos tempera-
Patogênese
dos (lisogênicos). Ela é conhecida também como verotoxina, em
O reservatório de E. coli inclui seres humanos e animais. A fonte função do efeito citopático que ela provoca em células Vero (de
de E. coli responsável por infecções do trato urinário consiste na macaco) em cultura.
própria microbiota colônica do paciente, que coloniza a região Essas linhagens O157:H7 estão associadas a surtos de
urogenital. A fonte de E. coli que provoca meningite neonatal diarreia sanguinolenta decorrentes da ingestão de carnes pré-
é o canal de parto materno; a infecção é adquirida durante o -prontas malcozidas (p. ex., hambúrgueres), frequentemente em
nascimento. Em contrapartida, a E. coli responsável pela diar- restaurantes do tipo fastjood. As bactérias na superfície da car-
reia do viajante é adquirida pela ingestão de alimento ou água ne são mortas pelo cozimento, mas as que estão presentes no in-
contaminados por fezes humanas. Observa-se que o principal terior malcozido sobrevivem. Além disso, o contato direto com
reservatório de E. coli 0157 êntero-hemorrágica corresponde ao animais (p. ex., visitas a fazendas e zoológicos) também pode
gado bovino, sendo o organismo adquirido por meio da carne estar associado à diarreia sanguinolenta causada por linhagens
malcozida. O157:H7.
A E. coli possui vários componentes claramente identifica- Alguns pacientes acometidos por diarreia sanguinolen-
dos que contribuem para sua capacidade de causar doença: pili, ta causada por linhagens O157:H7 também apresentam uma
uma cápsula, endotoxina e três exotoxinas (enterotoxinas), duas complicação de risco à vida, denominada síndrome hemolítico-
que causam diarreia aquosa e uma que provoca diarreia sangui- -urêmica (SHU, hemolytic-uremic syndrome), que ocorre quando
nolenta e síndrome hemolítico-urêmica. a toxina Shiga atinge a corrente sanguínea. Essa síndrome consis-
te em anemia hemolítica, trombocitopenia e insuficiência renal
Infecção do trato gastrintestinal aguda. A anemia hemolítica e a insuficiência renal ocorrem por-
que há receptores para a toxina Shiga na superfície do endotélio
A primeira etapa corresponde à adesão do organismo às células
de pequenos vasos sanguíneos, assim como na superfície do
do jejuno e íleo por meio dos pili que se projetam a partir da
epitélio renal. A morte das células endoteliais dos pequenos vasos
superfície bacteriana. Uma vez aderidas, as bactérias sintetizam
sanguíneos resulta em uma anemia hemolítica microangiopática,
enterotoxinas (exotoxinas que atuam no trato intestinal), que
em que as hemácias que atravessam a área danificada tornam-
atuam sobre as células do jejuno e íleo, causando diarreia. As to- -se intensamente distorcidas (esquistócitos) e, em seguida, so-
xinas são marcantemente célula-específicas; as células do colo
frem lise. A trombocitopenia ocorre porque as plaquetas aderem
não são suscetíveis, provavelmente por serem desprovidas de re-
à superfície endotelial danificada. A morte das células epiteliais
ceptores para a toxina. As linhagens enterotoxigênicas de E. coli dos rins leva à insuficiência renal. O tratamento da diarreia cau-
podem produzir uma ou ambas as enterotoxinas. sada por linhagens O157:H7 com antibióticos, como ciprofloxa-
(1) A toxina termolábil (LT, labile toxin) atua estimulando cina, aumenta o risco de desenvolvimento da SHU por aumentar
a adenilato-ciclase. Tanto a LT como a toxina colérica agem ca- a quantidade de verotoxina liberada pelas bactérias em processo
talisando a adição de adenosina difosfato-ribose (um processo de morte.
denominado de ribosilação do ADP) à proteína G, o que estimula
a ciclase. Esse processo ativa a ciclase de forma irreversível. O au- Infecções do trato urinário
mento resultante na concentração de monofosfato de adenosina Certos sorotipos O de E. coli causam preferencialmente infecções
(AMP) cíclico intracelular estimula a proteína-cinase dependente do trato urinário. Essas linhagens uropatogênicas caracterizam-
de AMP cíclico, que fosforila os transportadores de íons da mem- -se por pili contendo proteínas adesinas que se ligam a receptores
brana. Os transportadores exportam íons, causando um extrava- específicos do epitélio do trato urinário. O local de ligação desses
samento de fluidos, potássio e cloro a partir dos enterócitos para receptores consiste em dímeros de galactose (dímeros Gal-Gal).
o lúmen intestinal, resultando em diarreia aquosa. Observe que a O suco de oxicoco* contém flavonoides que inibem a ligação dos
toxina colérica possui o mesmo mecanismo de ação.
(2) A outra enterotoxina é uma toxina termoestável *N. de T. O oxicoco é uma fruta em forma de pequena baga verme-
(ST, stable toxin) de baixo peso molecular, que estimula agua- lha, muito ácida e típica da América do Norte, pertencendo ao gênero
nilato-ciclase. Vaccinium. Nos Estados Unidos, a fruta é conhecida como cranberry.
152 PARTE li Bacteriologia Clínica

TABELA 18-8 Aspectos clínicos das infecções por Escherichia coli

Achado clínico/doença Principal fator patogênico Principal resultado laboratorial

Achados dentro do trato intestinal


1
Diarreia aquosa, não sanguinolenta (diarreia Enterotoxina que aumenta o AMP cíclico Não há hemácias ou leucócitos nas fezes
do viajante)
Diarreia sanguinolenta causada por E. coli A toxina Shiga (verotoxina) inibe a síntese Hemácias nas fezes; esquistócitos no esfre-
0157; síndrome hemolítico-urêmica proteica gaço de sangue

Achados fora do trato intestinal


Infecção do trato urinário Pili gal-gal ligam-se à mucosa da bexiga Leucócitos na urina, urocultura positiva
Meningite neonatal Polissacarídeo capsular K1 é antifagocitário Leucócitos no líquido espinal, cultura de
líquido cerebrospinal positiva
2
Sepse, especialmente em hospitais A endotoxina induz febre, hipotensão e CID Leucocitose, hemocultura positiva
1
AMP, adenosina monofosfato.
2
CID, coagulação intravascular disseminada.

pili bacterianos aos receptores e pode ser útil na prevenção de in - Infecções êntero-hemorrágicas por E. coli (EHEC, enterohe-
fecções urinárias recorrentes. A motilidade de E. coli pode awd- morrhagic E. coli), ao contrário, resultam em uma síndrome simi-
liar em sua capacidade de ascender pela uretra até a bexiga, bem lar à disenteria, caracterizada por diarreia sanguinolenta, cólica
como ascender pelo ureter até o rim. abdominal e febre, similar à causada por Shigella.
As linhagens O157:H7 de E. coli também causam diar-
Infecções sistêmicas reia sanguinolenta, que pode ser complicada pela síndrome
Os outros dois componentes estruturais, a cápsula e a endoto- hemolítico-urêmica. Essa síndrome caracteriza-se por insufi-
xina, desempenham um papel mais marcante na patogênese da ciência renal, anemia hemolítica e trombocitopenia. A anemia
doença sistêmica do que na doença do trato intestinal. O polis- hemolítica é causada por danos nos capilares induzidos pela exo-
sacarídeo capsular interfere na fagocitose, intensificando a ca- toxina, resultando em danos nas hemácias enquanto elas passam
pacidade do organismo de causar infecções em vários órgãos. pelos capilares. Essas hemácias que atravessam a área danificada
Por exemplo, as linhagens de E. coli que causam meningite tornam-se intensamente distorcidas (esquistócitos), o que pode
neonatal geralmente apresentam um tipo capsular específico, ser observado em um esfregaço do sangue e que é característico
denominado antígeno Kl. A endotoxina de E. coli corresponde de uma anemia hemolítica microangiopática. Em 2011, um surto
ao lipopolissacarídeo da parede celular, sendo responsável por de diarreia e SHU na Alemanha foi causado por uma linhagem
várias características da sepse por gram-negativos, como febre, de E.coli produtora da toxina Shiga e que foi classificada como da
hipotensão e coagulação intravascular disseminada. linhagem O104:H4, e não O157:H7.
Células T do tipo Th-17, que produzem interleucina 17, SHU ocorre particularmente em crianças tratadas com fluo-
constituem um importante fator de defesa do hospedeiro contra roquinolonas ou outros antibióticos por apresentarem diarreia.
a sepse causada por bactérias entéricas, como E. coli e Klebsiella. Por essa razão, os antibióticos não devem ser utilizados no trata-
Pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana mento de diarreia causada por EHEC.
(HIV) apresentam a perda de células Th-17 e se tornam predis- (2) Achados clínicos fora do trato gastrintestinal:
postos a sepse causada por E. coli e Klebsiella. E. coli é a principal causa de infecções do trato urinário
adquiridas na comunidade. Essas infecções ocorrem principal-
mente em mulheres, achado atribuído a três características que
Achados clínicos
facilitam a infecção ascendente até a bexiga, ou seja, uretra cur-
E. coli causa uma variedade de doenças tanto interna quanto ex- ta, proximidade entre a uretra e o ânus e colonização da vagi-
ternamente ao trato intestinal. Os principais achados clínicos, na por membros da microbiota fecal. Esse organismo também
fatores de patogenicidade e os principais resultados laboratoriais é a causa mais frequente de infecções nosocomiais (adquiridas
são descritos na Tabela 18-8. em hospitais) do trato urinário, as quais ocorrem com a mesma
( 1) Achados clínicos dentro do trato gastrintestinal: frequência em homens e mulheres e são associadas ao uso de ca-
A diarreia causada por E. coli enterotoxigênica geralmen- teteres urinários internos. As infecções do trato urinário podem
te é aquosa, não sanguinolenta, autolimitante e de curta duração limitar-se à bexiga ou estender-se pelo sistema coletor até os rins.
(um a três dias). Está frequentemente associada a viagens (diar- Quando apenas a bexiga está envolvida, a doença é denominada
reia do viajante ou "turistà').2 cistite, ao passo que a infecção renal é denominada pielonefrite.
Os sintomas mais proeminentes de cistite são dor (disúria) e fre -
2
E. coli enterotoxigênica é a causa mais comum da diarreia do viajan- quência de micção; os pacientes geralmente não apresentam fe-
te; contudo, outras bactérias (p. ex., espécies de Salmonella, Shigella, bre. A pielonefrite é caracterizada pela ocorrência de febre, dores
Campylobacter e Vibrio), vírus, como o Norwalk, e protozoários, como no flanco e sensibilidade ângulo-costovertebral. Disúria e altera-
espécies de Giardia e Cryptosporidium, também estão envolvidos. ções na frequência de micção podem ou não ocorrer.
CAPÍTULO 18 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Intestinal 153

A E. coli é também uma importante causa, juntamente com (p. ex., nitrofurantoína ou trimetoprima-sulfametoxazol). O uso
os estreptococos do grupo B, de meningite e sepse em neona- de suco de oxicoco para prevenir infecções recorrentes do trato
tos. A exposição do recém-nascido a E. coli e a estreptococos urinário parece basear-se na capacidade de os taninos do suco
do grupo B ocorre durante o nascimento, como resultado da inibirem a ligação dos pili de linhagens uropatogênicas de E. coli
colonização da vagina por esses organismos em aproximada- ao epitélio da bexiga, e não pela acidificação da urina, que era a
mente 25% das mulheres grávidas. E. coli é o organismo isolado justificativa anterior.
com maior frequência de pacientes apresentando sepse adquiri- Alguns casos de sepse podem ser prevenidos pela pron-
da em hospital, que surge principalmente a partir de infecções ta remoção ou pela alteração do local de linhas endovenosas.
urinárias, biliares ou peritoneais. A peritonite geralmente consis- A diarreia do viajante pode ser evitada algumas vezes pelo
te em uma infecção mista, causada por E. coli ou outros bacilos uso profilático de doxiciclina, ciprofloxacina, trimetoprima-
entéricos gram-negativos e membros anaeróbios da microbiota -sulfametoxazol ou Pepto-Bismol. A ingestão de alimentos crus
do colo, como Bacteroides e Fusobacterium. e água não purificada deve ser evitada ao viajar para certos
países.
Diagnóstico laboratorial
Espécimes suspeitos de conterem bacilos entéricos gram-negati-
SALMONELLA
vos, como E. coli, são cultivados inicialmente em placa de ágar-
-sangue e em meio diferencial, como ágar EAM ou ágar Mac- Doenças
Conkey. E. coli, que fermenta a lactose, origina colônias róseas,
As espécies de Salmonella causam enterocolite, febres entéricas,
ao passo que organismos lactose-negativos são incolores. Em
como febre tifoide, e septicemia com infecções metastáticas,
ágar EAM, as colônias de E. coli apresentam um brilho verde
como a osteomielite. Estão entre as causas mais comuns de ente-
característico. Algumas das características importantes, que au-
rocolite bacteriana nos Estados Unidos.
xiliam na diferenciação de E.colide outros bacilos gram-negati-
vos fermentadores de lactose, são as seguintes: ( 1) produz indol
a partir de triptofano, (2) descarboxila a lisina, (3) utiliza acetato Características importantes
como única fonte de carbono, e (4) é móvel. A E. coli O157:H7 As salmonelas são bacilos gram-negativos que não fermentam
não fermenta sorbitol, o que é um importante critério para lactose, porém produzem H 2S - características utilizadas em
diferenciá-la de outras linhagens de E. coli. O isolamento de E. sua identificação laboratorial. Seus antígenos - O de parede
coli enterotoxigênica ou êntero-hemorrágica a partir de pacien- celular, H flagelar e Vi (virulência) capsular - são importantes
tes apresentando diarreia não é um procedimento diagnóstico para fins taxonômicos e epidemiológicos. Os antígenos O, os
rotineiro. polissacarídeos externos da parede celular, são utilizados para
subdividir as salmonelas nos grupos A a I. Há duas formas dos
Tratamento antígenos H, as fases 1 e 2. Somente uma das duas proteínas
H é sintetizada por vez, dependendo de qual sequência gêni-
O tratamento de infecções por E. coli depende do local da
ca encontra-se no alinhamento correto para ser transcrita
doença e do perfil de resistência do isolado específico. Por
em mRNA. Os antígenos Vi (polissacarídeos capsulares) são
exemplo, uma infecção não complicada baixa do trato urinário
antifagocitários e constituem um importante fator de virulên-
(cistite) pode ser tratada com o uso de trimetoprima-sulfame-
cia de S. typhi, o agente da febre tifoide. Os antígenos Vi são
taxazol ou nitrofurantoína. A pielonefrite pode ser tratada com
também utilizados na sorotipagem de S. typhi no laboratório
ciprofloxacina ou ceftriaxona. Entretanto, a sepse por E. coli
clínico.
requer tratamento com antibióticos parenterais (p. ex., uma ce-
Existem três métodos para denominar as salmonelas. Ewing
falosporina de terceira geração, como cefotaxima, associada ou
não a um aminoglicosídeo, como a gentamicina). Para o trata- divide o gênero em três espécies: S. typhi, Salmonella choleraesuis
e Salmonella enteritidis. Nesse esquema, há um sorotipo em cada
mento de meningite neonatal, muitas vezes é administrada uma
uma das duas primeiras espécies e 1.500 sorotipos na terceira.
combinação de ampicilina e cefotaxima. A terapia antibiótica
Kaufman e White conferem denominações distintas de espécie
geralmente não é indicada para doenças diarreicas por E. coli.
para cada sorotipo; existem cerca de 1.500 espécies diferentes,
Contudo, a administração de trimetoprima-sulfametoxazol ou
geralmente denominadas de acordo com a cidade onde foram
loperamida (Imodium) pode diminuir a duração dos sintomas.
isoladas. Salmonella dublin, de acordo com Kaufman e White,
Em geral, apenas a reidratação é necessária nessa doença auto-
corresponderia a S. enteritidis sorotipo dublin, de acordo com
limitante.
Ewing. A terceira abordagem para a denominação de salmonelas
baseia-se no grau de similaridade determinado pela análise da
Prevenção hibridização de DNA. Nesse esquema, S. typhi não corresponde a
Não há prevenção específica para infecções por E. coli, como uma espécie distinta, sendo classificada como Salmonella enterica
imunização ativa ou passiva. Contudo, várias medidas gerais sorovar typhi. Esses três esquemas de denominação encontram-
podem ser adotadas para prevenir certas infecções causadas -se em uso.
por E. coli e outros organismos. Por exemplo, a incidência de Em termos clínicos, as espécies de Salmonella são fre-
infecções do trato urinário pode ser reduzida pelo uso criterioso quentemente consideradas como duas categorias distintas, ou
e pela pronta remoção de cateteres e, no caso de infecções re- seja, as espécies tifoides (i.e., as que causam febre tifoide) e as
correntes, pela profilaxia prolongada com antissépticos urinários espécies não tifoides (i.e., as que causam diarreia [enterocolite] e
154 PARTE li Bacteriologia Clínica

TABELA 18-9 Comparação entre características importantes de Salmonella e Shigella

Característica Shigel/a Salmonella, exceto Salmonella typhi Salmonella typhi

Reservatório Seres humanos Animais, especialmente aves domésticas e ovos Seres humanos

Dose infecciosa (10 50) Baixa 1 Alta Alta

Diarreia como característica proeminente Sim Sim Não

Invasão da corrente sanguínea Não Sim Sim

Estado de portador crônico Não Infrequente Sim

Fermentação de lactose Não Não Não

Produção de H2S Não Sim Sim

Vacina d isponível Não Não Sim


1
Um organismo que apresenta 1D50 baixa requer um número muito pequeno de bactérias para causar doença.

infecções metastáticas, como osteomielite). As espécies tifoides (3) A septicemia representa somente cerca de 5 a 10% das
são S. typhi e S. paratyphi. As espécies não tifoides incluem di- infecções por Salmonella e ocorre em uma dessas duas situações:
versos sorotipos de S. enterica. Desses sorotipos, S. entérica soro- um paciente apresentando uma doença crônica subjacente, como
tipo choleraesuis é a espécie mais frequentemente envolvida em anemia falciforme ou câncer, ou uma criança apresentando en-
infecções metastáticas. terocolite. O curso séptico é mais indolente que o observado nos
casos de outros bacilos gram-negativos. A bacteriemia resulta na
Patogênese e epidemiologia colonização de vários órgãos, sendo osteomielite, pneumonia
e meningite as sequelas mais comuns. A osteomielite em uma
Os três tipos de infecções por Salmonella (enterocolite, febres
criança com anemia falciforme é um exemplo importante des-
entéricas e septicemia) apresentam características patogênicas
se tipo de infecção por salmonela. Tecidos previamente lesados,
distintas.
como infartos e aneurismas, especialmente aneurismas aórticos,
(1) A enterocolite caracteriza-se por uma invasão do te- são os locais mais frequentes de abscessos metastáticos. O gênero
cido epitelial e subepitelial dos intestinos delgado e grosso. Li- Salmonella é também uma importante causa de infecções de en-
nhagens não invasivas não causam doença. Os organismos pe- xertos vasculares.
netram via células mucosas e entre elas até a lâmina própria, A epidemiologia das infecções por Salmonella está relacio-
resultando em inflamação e diarreia. Os neutrófilos limitam a nada à ingestão de alimentos e água contaminados por excreções
infecção no intestino e nos linfonodos mesentéricos adjacentes; humanas e animais. Salmonella typhi, a causa da febre tifoide, é
a bacteriemia é frequente durante a enterocolite. Contrariamen- transmitida apenas por seres humanos, entretanto, todas as ou-
te à enterocolite por Shigella, em que a dose infecciosa é mui- tras espécies têm um significativo reservatório animal e humano.
to baixa (na ordem de 100 organismos), a dose requerida para As fontes humanas são indivíduos que temporariamente excre-
Salmonella é muito superior, de pelo menos 100 mil organis- tam o organismo durante, ou logo após, um acesso de enteroco-
mos. Várias propriedades de salmonelas e shigelas são compa- lite, ou portadores crônicos que excretam o organismo durante
radas na Tabela 18-9. O ácido gástrico é uma importante defesa anos. As fontes animais mais frequentes são aves domésticas e
do hospedeiro; a gastrectomia ou o uso de antiácidos reduz sig- ovos, mas carnes mal-cozidas também foram implicados. Cães e
nificativamente a dose infecciosa. outros animais de estimação, incluindo tartarugas, cobras, lagar-
(2) Na febre tifoide e em outras febres entéricas, a infecção tos e iguanas, são fontes adicionais.
é iniciada no intestino delgado, entretanto, poucos sintomas gas-
trintestinais ocorrem. Os organismos penetram, multiplicam-se
Achados clínicos
nos fagócitos mononucleares das placas de Peyer e, em seguida,
disseminam-se até os fagócitos do fígado, da vesícula biliar e do Após um período de incubação de 12 a 48 horas, a enteroco-
baço. Isso leva à bacteriemia, a qual está associada à manifestação lite manifesta-se por náusea e vômito, progredindo para dor
de febre e outros sintomas, provavelmente causados pela endo- abdominal e diarreia, que pode variar de branda a grave, com
toxina. A sobrevivência e o crescimento dos organismos no in- ou sem sangue. Em geral, a doença persiste por alguns dias, é
terior de fagossomos de células fagocitárias é uma propriedade autolimitante, causa diarreia não sanguinolenta e não requer
marcante dessa doença, assim como a preferência pela invasão da cuidados médicos, exceto no caso de indivíduos muito jovens
vesícula biliar, que pode resultar no estabelecimento do estado ou bastante idosos. Indivíduos infectados por HIV, especial-
de portador, com a excreção das bactérias pelas fezes durante mente os com uma baixa contagem de CD4, apresentam maior
longos períodos. número de infecções por Salmonella, incluindo diarreia mais
CAPÍTULO 18 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Intestinal 155

grave e infecções metastáticas mais graves, quando comparados do organismo, o diagnóstico pode ser realizado sorologicamente
aos não infectados por HIV. Salmonella typhimurium é a espécie pela detecção de um aumento no título de anticorpos no soro do
mais comum de Salmonella responsável por enterocolite nos paciente (teste de Widal).
Estados Unidos, porém praticamente todas as espécies já foram
implicadas.
Tratamento
Na febre tifoide, causada por S. typhi, e na febre entérica,
causada por organismos como S. paratyphi A, B e C (S. paratyphi A enterocolite causada por Salmonella é, em geral, uma doença
B e C são também conhecidas como Salmonella schottmuelle- autolimitante, que regride sem tratamento. A reposição de fluidos
ri e Salmonella hirschfeldii, respectivamente), o surgimento da e eletrólitos pode ser necessária. O tratamento com antibióticos
doença é lento, com febre e constipação, em vez do predomínio não diminui a duração da doença, nem reduz os sintomas; na
de vômitos e diarreia. A diarreia pode ocorrer precocemente, realidade, ele pode prolongar a excreção dos organismos, au-
porém, em geral, desaparece quando surgem a febre e a bacte- mentar a frequência do estado de portador e selecionar mutantes
riemia. Após a primeira semana, à medida que a bacteriemia resistentes ao antibiótico. Os agentes antimicrobianos são indica-
se torna mais constante, ocorrem febre alta, delirium, abdome dos apenas para neonatos ou indivíduos com doenças crônicas,
sensível e esplenomegalia. Manchas rosadas (i.e., máculas róseas que apresentam risco de septicemia e abscessos disseminados.
no abdome) estão associadas à febre tifoide, contudo, ocorrem A resistência a antibióticos mediada por plasmídeo é comum,
raramente. Leucopenia e anemia são muitas vezes observadas. devendo ser realizados testes de sensibilidade a antibióticos.
Testes de função hepática frequentemente mostram-se anormais, Os fármacos que retardam a motilidade intestinal (i.e., que redu-
indicando envolvimento hepático. zem a diarreia) aparentemente prolongam a duração dos sinto-
A regressão da doença inicia-se por volta da terceira sema- mas e a excreção fecal dos organismos.
na, mas podem ocorrer complicações graves, como hemorragia O tratamento de escolha para as febres entéricas, como fe-
ou perfuração intestinal. Cerca de 3% dos pacientes acometi- bre tifoide e septicemia com infecção metastática, consiste em
dos por febre tifoide tornam-se portadores crônicos. A taxa de ceftriaxona ou ciprotloxacina. A ampicilina ou a ciprofloxacina
portadores é mais elevada entre as mulheres, sobretudo nas com devem ser usadas em pacientes que são carreadores crônicos de
doença prévia de vesícula biliar ou cálculos biliares. S. typhi. A colecistectomia pode ser necessária para abolir o es-
A septicemia é mais frequentemente causada por tado de portador crônico. Abscessos focais devem ser drenados
S. choleraesuis. Os sintomas iniciais consistem em febre, mas com cirurgicamente quando possível.
enterocolite ausente ou discreta, progredindo para sintomas fo-
cais associados ao órgão afetado, frequentemente ossos, pulmões Prevenção
ou meninges.
As infecções por Salmonella são prevenidas principalmente por
medidas de saúde pública e de higiene pessoal. O tratamento
Diagnóstico laboratorial apropriado do esgoto, o monitoramento do suprimento de água
Na enterocolite, o organismo é mais facilmente isolado a partir de clorada em relação à contaminação por bactérias coliformes, co-
uma amostra de fezes. Entretanto, nas febres entéricas, a hemo- proculturas de manipuladores de alimentos, a fim de identificar
cultura é o procedimento que apresenta a maior probabilidade portadores, lavagem das mãos antes da manipulação de alimen-
de revelar o organismo durante as primeiras duas semanas da tos, pasteurização do leite, bem como o cozimento apropriado de
enfermidade. As culturas de medula óssea são, com frequência, aves, ovos e carnes, consistem em medidas importantes.
positivas. As coproculturas também podem ser positivas, sobre- Duas vacinas se encontram disponíveis, porém conferem
tudo em portadores crônicos, nos quais o organismo é secretado apenas proteção limitada (50-80%) contra S. typhi. Uma das
na bile, atingindo o trato intestinal. vacinas contém o polissacarídeo capsular Vi de S. typhi (admi-
As salmonelas formam colônias não fermentadoras de lac- nistrado intramuscularmente), e a outra contém uma linhagem
tose (incolores) em ágar MacConkey ou EAM. Em ágar TSI, são viva e atenuada de S. typhi (Ty2la) (administrada oralmente).
observadas uma superfície alcalina e uma base ácida, frequente- As duas vacinas são igualmente efetivas. A vacina é recomendada
mente com gás e H 2S (coloração negra na base). Salmonella typhi para indivíduos que viajam ou residem em regiões de alto ris-
corresponde a uma importante exceção; esse organismo não co, bem como para os indivíduos cuja ocupação os coloca em
forma gás e produz somente uma pequena quantidade de H 2S. contato com o organismo. Uma nova vacina conjugada contra a
Se o organismo é urease-negativo (espécies de Proteus, que geram febre tifoide contendo o antígeno polissacarídico capsular (Vi)
reações similares no ágar TSI, são urease-positivas), o isolado de acoplado a uma proteína carreadora é segura e imunogênica em
Salmonella pode ser identificado e agrupado por meio do teste de crianças pequenas, mas no momento não se encontra disponível
aglutinação em lâmina nos sorogrupos A, B, C, D ou E, de acordo nos Estados Unidos.*
com seu antígeno O. A sorotipagem definitiva dos antígenos O, H
e Vi é feita em laboratórios de referência em saúde pública, para
fins epidemiológicos. *N. de R.T. De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil, nenhuma
A salmonelose é uma doença notificável, devendo ser rea- das duas vacinas mencionadas é disponibilizada dentro do Programa
lizada uma investigação para determinar sua fonte. Em certos Nacional de Imunizaçãoes; no entanto, estão disponíveis em clínicas
casos de febre entérica e sepse, quando é difícil a recuperação particulares.
156 PARTE li Bacteriologia Clínica

PATÓGENOS ESSENCIALMENTE INTERNOS AO TRATO INTESTINAL - -


SHIGELLA reia, que inicialmente pode ser aquosa e, posteriormente, conter
sangue e muco. A doença varia de branda a grave, dependendo de
Doença dois fatores principais: a espécie de Shigella e a idade do pacien-
As espécies de Shigella causam enterocolite. A enterocolite causa- te, sendo as crianças e os idosos afetados de forma mais grave.
da por Shigella é frequentemente denominada disenteria bacilar. Shigella dysenteriae, responsável pela doença mais grave, geral-
O termo disenteria refere-se à diarreia sanguinolenta. mente é detectada nos Estados Unidos somente em viajantes que
retornam do exterior. Shigella sonnei, que causa doença branda,
é isolada de cerca de 75% dos indivíduos apresentando shigelose,
Características importantes
nos Estados Unidos. A diarreia frequentemente regride em dois
As shigelas são bacilos gram-negativos não fermentadores de ou três dias; nos casos graves, os antibióticos podem reduzir o
lactose, que podem ser diferenciadas de salmonelas com base em curso da doença. Aglutininas séricas surgem após a recuperação,
três critérios: não produzem gás a partir da fermentação de glico- porém não são protetoras, uma vez que o organismo não atinge o
se, não produzem H2S e são imóveis. Todas as shigelas possuem sangue. O papel protetor da IgA intestinal é incerto.
antígenos O (polissacarídeo) em suas paredes celulares, e esses
antígenos são utilizados para dividir o gênero em quatro grupos: Diagnóstico laboratorial
A, B, CeD.
As shigelas formam colônias não fermentadoras de lactose (in-
colores) em ágar MacConkey ou EAM. Em ágar TSI, produzem
Patogênese e epidemiologia
uma superfície alcalina e base ácida, sem produção de gás ou H 2S.
As shigelas são os patógenos mais efetivos entre as bactérias A confirmação do organismo como Shigella e a determinação de
entéricas. Elas apresentam valores de D150 extremamente baixos seu grupo são realizadas pela aglutinação em lâmina.
(ver Princípios de patogênese). A ingestão de apenas 100 orga- Um importante coadjuvante no diagnóstico laboratorial
5
nismos causa doença, ao passo que pelo menos 10 células de consiste na coloração com azul de metileno de uma amostra fe-
V. cholerae ou Salmonella são necessárias para produzir os sinto- cal, visando à detecção de neutrófilos. A presença de neutrófilos
mas. Várias propriedades de shigelas e salmonelas são compara- indica envolvimento de um organismo invasivo, como Shigella,
das na Tabela 18-9. Salmonella ou Campylobacter, em vez de um organismo produtor
A shigelose é uma doença apenas de seres humanos (i.e., de toxina, como V. cholerae, E. coli ou Clostridium perfringens.
não há reservatório animal). O organismo é transmitido pela (Certos vírus também causam diarreia sem a presença de neu-
via fecal-oral. Os principais fatores envolvidos na transmissão trófilos nas fezes.)
são os dedos, as moscas, os alimentos e as fezes. Os surtos trans-
mitidos por alimentos superam os surtos transmitidos pela Tratamento
água na proporção de 2 para 1. Os surtos ocorrem em creches
e instituições de saúde mental, onde a transmissão fecal-oral é O principal tratamento para a shigelose consiste na reposição
mais provável de ocorrer. Aproximadamente metade de todas de fluidos e eletrólitos. Em casos brandos, não são indicados
as crianças com menos de 10 anos de idade apresentam culturas antibióticos. Em casos graves, uma tluoroquinolona (p. ex., ci-
de fezes positivas para Shigella. Não ocorre o estado de portador profloxacina) é o fármaco de escolha, mas a incidência de
prolongado no caso de infecções por Shigella, diferentemente do plasmídeos que conferem resistência a múltiplos fármacos é ele-
que ocorre com infecções pela S. typhi. vada, de modo que testes de sensibilidade a antibióticos devem
As shigelas, que causam doença quase que exclusivamente ser realizados. Trimetoprima-sulfametoxazol é uma escolha al-
no trato gastrintestinal, produzem diarreia sanguinolenta (di- ternativa. Fármacos antiperistálticos são contraindicados na shi-
senteria) por invadirem as células da mucosa do íleo distal e gelose, uma vez que prolongam a febre, a diarreia e a excreção do
do colo. Há uma inflamação local acompanhada de ulceração, organismo.
mas os organismos raramente atravessam a parede ou atingem
a corrente sanguínea, diferentemente das salmonelas. Embora Prevenção
algumas linhagens produzam uma enterotoxina (denominada
A prevenção da shigelose depende da interrupção da transmissão
toxina Shiga), a invasão corresponde ao fator crítico na patogê-
fecal-oral por meio da coleta e do tratamento adequados does-
nese. A evidência para essa afirmação está no fato de mutantes
goto, cloração da água e higiene pessoal (lavagem das mãos pelos
incapazes de produzir a enterotoxina, porém invasivos, ainda
manipuladores de alimentos). Não há vacina, e o uso profilático
serem capazes de causar a doença, ao passo que mutantes não in-
de antibióticos não é recomendado.
vasivos não são patogênicos. As toxinas Shiga são codificadas por
bacteriófagos lisogênicos. As toxinas Shiga muito semelhantes às
produzidas por Shigella são produzidas pelas linhagens de E. coli
êntero-hemorrágicas O157:H7 que causam enterocolite e SHU.
V/BRIO
Doenças
Achados clínicos O V. cholerae, principal patógeno neste gênero, é o agente causa-
Após um período de incubação de um a quatro dias, os sintomas dor do cólera. O Vibrio parahaemolyticus causa diarreia associa-
manifestam-se por febre e cólicas abdominais, seguidos por diar- da à ingestão de frutos do mar crus ou cozidos inadequadamente.
CAPÍTULO 18 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Intestinal 157

Vibrio vulnificus causa celulite e sepse. Características importan- da doença em virtude do grande número de portadores
tes da patogênese de V. cholerae, C. jejuni e Helicobacter pylori são assintomáticos. Em 1992, o V. cholerae do sorogrupo 0139 sur-
descritas na Tabela 18-10. giu, causando uma epidemia de cólera amplamente disseminada
na Índia e em Bangladesh.
Características importantes A patogênese do cólera depende da colonização do intestino
delgado pelo organismo e da secreção da enterotoxina. Para que
Os víbrios são bacilos gram-negativos curvos em forma de
a colonização ocorra, um grande número de bactérias deve ser
vírgula (Figura 18-2). O V. cholerae é dividido em dois grupos
ingerido, uma vez que o organismo é particularmente sensível ao
de acordo com a natureza de seu antígeno O de parede celular.
ácido gástrico. Indivíduos apresentando pouco ou nenhum ácido
Os membros do grupo O 1 causam doença epidêmica, ao pas-
gástrico, como os que tomam antiácidos ou submetidos à gas-
so que os organismos não pertencentes ao grupo O 1 causam
trectomia, são muito mais suscetíveis. A adesão às células das mi-
doença esporádica, ou não são patogênicos. Os organismos O 1
apresentam dois biotipos, denominados clássico e EI Tor, e três crovilosidades do intestino, um requerimento para a colonização,
está relacionada à secreção da enzima bacteriana mucinase, a
sorotipos, chamados de Ogawa, Inaba e Hikojima. (Os biotipos
baseiam-se em diferenças nas reações bioquímicas, ao passo qual dissolve o revestimento glicoproteico protetor das células
que os sorotipos são baseados em diferenças antigênicas.) Es- intestinais.
sas propriedades são utilizadas para caracterizar isolados em Após a adesão, o organismo multiplica-se e secreta uma en-
investigações epidemiológicas. Os organismos do sorogrupo terotoxina, denominada colerágeno (toxina do cólera). Essa exo-
0139, responsáveis por uma importante epidemia ocorrida em toxina pode reproduzir os sintomas do cólera, mesmo na ausên-
1992, são identificados por sua reação ao antissoro contra os cia de células de Vibrio. O modo de ação da toxina colérica está
antígenos polissacarídicos 0139 (antígeno O). descrito no próximo parágrafo e na Figura 7-3 do capítulo sobre
V. parahaemolyticus e V. vulnificus são organismos ma- patogênese bacteriana.
rinhos; eles vivem principalmente nos oceanos, sobretudo em O colerágeno consiste em uma subunidade A (ativa) e uma
águas salobras mais quentes. São halófilos (i.e., requerem uma subunidade B (de ligação). A subunidade B, que corresponde a
elevada concentração de NaCl para seu crescimento). um pentâmero composto por cinco proteínas idênticas, liga-se a
um receptor glangliosídeo da superfície do enterócito. A subuni-
dade A é inserida no citosol, onde catalisa a adição de ADP-
1. Vibrio cholerae
-ribose à proteína Gs (G5 é a proteína G estimuladora). Esse pro-
Patogênese e epidemiologia cesso bloqueia a proteína G5 na posição "ativà: causando uma
O V. cholerae é transmitido por contaminação fecal da água e estimulação persistente da adenilato-ciclase. A superprodução
dos alimentos, principalmente a partir de fontes humanas. Por- de AMP cíclico ativa a proteína-cinase dependente de AMP
tadores humanos são frequentemente assintomáticos e incluem cíclico, uma enzima que fosforila os transportadores de íons
indivíduos em período de incubação ou convalescentes. Os prin- na membrana celular, resultando na perda de água e íons pela
cipais reservatórios animais são os crustáceos e moluscos mari- célula. O efluxo aquoso alcança o lúmen intestinal, resultan-
nhos, como camarões e ostras. A ingestão desses animais sem o do em intensa diarreia aquosa que não contém neutrófilos ou
cozimento adequado pode transmitir a doença. hemácias. A morbidade e morte são decorrentes da desidratação
Uma importante epidemia de cólera, abrangendo os anos e do desequilíbrio eletrolítico. Entretanto, se o tratamento for
1960 e 1970, iniciou-se no Sudeste Asiático e disseminou-se por instituído prontamente, a doença segue um curso autolimitante
três continentes, atingindo regiões da África, Europa e o restante por até sete dias.
da Ásia. Uma pandemia de cólera iniciou-se no Peru, em 1991, Os genes da toxina colérica e outros fatores de virulência são
e disseminou-se por vários países das Américas Central e do carreados em um bacteriófago de DNA de fita simples, denomi-
Sul. O organismo isolado com maior frequência foi o biotipo El nado CTX. A conversão lisogênica de linhagens não produtoras
Tor de V. cholerae 01, geralmente do sorotipo Ogawa. Os fato- de toxina para as linhagens produtoras de toxina pode ocorrer
res que predispõem às epidemias são más condições sanitárias, quando o fago CTX realiza a transdução desses genes. Os pili que
má nutrição, superpopulação e serviços médicos inadequa- promovem a adesão do organismo à mucosa intestinal são os re-
dos. Medidas de quarentena não impediram a disseminação ceptores para o fago.

TABELA 18-1 O Características importantes da patogênese de bacilos gram-negativos curvos que afetam o
trato gastrintestinal

Organismo Tipo de patogênese Doença típica Local da infecção Principal abordagem terapêutica

Vibrio cholerae Toxigênica Diarreia aquosa Intestino delgado Reposição de fluidos

Campylobacterjejuni Inflamatória Diarreia sanguino lenta Colo Antibióticos 1


1
Helicobacter pylori 1nfla matória Gastrite; úlcera péptica Estômago; duodeno Antibióticos
1
Ver no texto os antibióticos específicos.
158 PARTE li Bacteriologia Clínica

O V. cholerae não pertencente ao grupo O 1 é uma causa ocorre nos Estados Unidos nem no Brasil. As vacinas com or-
ocasional de diarreia associada à ingestão de moluscos obtidos a ganismos vivos ou inativados não são recomendadas para uso
partir de águas costeiras dos Estados Unidos. rotineiro em viajantes. O uso de tetraciclina para a prevenção
da doença é eficaz para os contatos próximos, no entanto, não
Achados clínicos é capaz de prevenir a disseminação de uma epidemia impor-
tante. A rápida identificação de portadores é importante para a
A diarreia aquosa em grandes volumes corresponde à limitação de surtos.
característica marcante do cólera. Não há hemácias ou leucócitos
nas fezes. Fezes tipo água de arroz é a expressão frequentemente
empregada para o efluente não sanguinolento. Não há dor abdo- 2. Vibrio parahaemolyticus
minal, e os sintomas subsequentes estão relacionados à intensa O V. parahaemolyticus é um organismo marinho transmitido
desidratação. A perda de fluidos e eletrólitos leva às insuficiências pela ingestão de frutos do mar crus ou malcozidos, sobretudo
cardíaca e renal. Acidose e hipocalemia também ocorrem como moluscos, como ostras. Esse organismo é uma importante causa
resultado da perda de bicarbonato e potássio nas fezes. A taxa de de diarreia no Japão, onde o peixe cru é consumido em grandes
mortalidade sem tratamento é de 40%. quantidades. Contudo, nos Estados Unidos, é um patógeno pou-
co frequente, embora vários surtos tenham ocorrido a bordo de
Diagnóstico laboratorial navios de cruzeiro pelo Caribe. Pouco se sabe sobre sua patogê-
nese, exceto que uma enterotoxina similar ao colerágeno é secre-
A abordagem adotada para o diagnóstico laboratorial depende da tada e, algumas vezes, ocorre invasão limitada.
situação. Durante uma epidemia, realiza-se uma análise clínica,
O quadro clínico causado por V. parahaemolyticus varia de
havendo pouca necessidade do laboratório. Em uma região onde diarreia aquosa branda a grave, náusea e vômitos, cólicas abdo-
a doença é endêmica, assim como para a identificação de porta-
minais e febre. A doença é autolimitante, perdurando por cerca de
dores, emprega-se, no laboratório, uma variedade de meios sele-
três dias. O V. parahaemolyticus diferencia-se do V. cholerae princi-
tivos3 que não são de uso comum nos laboratórios dos Estados
palmente com base no crescimento em NaCl: V. parahaemolyticus
Unidos.
cresce em solução de NaCl a 8% (como convém para um organis-
Para o diagnóstico de casos esporádicos nos Estados mo marinho), ao contrário de V. cholerae. Não há nenhum trata-
Unidos, uma cultura das fezes diarreicas contendo V. chole-
mento específico indicado, uma vez que a doença é relativamente
rae exibirá colônias incolores em ágar MacConkey, uma vez leve e autolimitada. A doença pode ser prevenida pela refrigeração
que a lactose é fermentada de forma lenta. O organismo é
e cocção adequadas dos frutos do mar.
oxidase-positivo, fato que o diferencia dos membros da família
Enterobacteriaceae. Em ágar TSI, são observadas uma superfície
ácida e uma base ácida sem a presença de gás ou H 2S, uma vez
3. Vibrio vulnificus
que o organismo fermenta a sacarose. Um diagnóstico presunti- O V. vulnificus também é um organismo marinho (i.e., é en-
vo de V. cholerae pode ser confirmado pela aglutinação do orga- contrado em águas salgadas mornas, como o mar do Caribe).
nismo pelo antissoro polivalente 01 ou não 01. Um diagnóstico Causa infecções graves de pele e dos tecidos moles (celulite), so-
retrospectivo pode ser realizado sorologicamente pela detecção bretudo em manipuladores de moluscos marinhos, que, com
de uma elevação no título de anticorpos entre o soro da fase frequência, apresentam ferimentos na pele. Pode também causar
aguda e da fase convalescente. septicemia rapidamente fatal em indivíduos imunocompro-
metidos que ingeriram moluscos crus contaminados pelo orga-
Tratamento nismo. Frequentemente, são observadas bolhas hemorrágicas na
pele de pacientes acometidos por sepse causada por V. vulnificus.
O tratamento consiste na reposição imediata e adequada de água
Doença hepática crônica (p. ex., cirrose) predispõe a infecções
e eletrólitos, tanto oralmente quanto por via endovenosa. A gli-
graves. O tratamento recomendado é a doxiciclina.
cose é adicionada à solução para aumentar a absorção de água e
eletrólitos. Antibióticos, como a tetraciclina, não são necessários,
mas reduzem a duração dos sintomas e o período de excreção
dos organismos.
CAMPYLOBACTER
Doenças
Prevenção O Campylobacter jejuni é uma causa frequente de enterocolite,
A prevenção é realizada principalmente por medidas de saúde sobretudo em crianças. A infecção por C. jejuni corresponde a
pública que garantam um suprimento de água e alimentos lim- um antecedente comum da síndrome de Guillain-Barré. Outras
pos. A vacina, composta por organismos inativados, é de utilida- espécies de Campylobacter são raras causas de infecção sistêmica,
de limitada; ela apresenta apenas 50% de eficácia na prevenção particularmente bacteriemia.
da doença por três a seis meses e não interrompe a transmissão.
Em certos países, há uma vacina viva disponível, mas isso não Propriedades importantes
Os campilobacteres são bacilos curvos gram-negativos que exi-
3
São utilizados meios como ágar tiossulfato-citrato-sais biliares ou teluri- bem morfologia em vírgula ou S. Eles são microaerofilicos,
to-taurocolato-gelatina. exibindo melhor crescimento em oxigênio a 5%, em vez dos
CAPÍTULO 18 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Intestinal 159

20% presentes na atmosfera. C. jejuni cresce bem a 42ºC, ao uma cultura do sangue em condições-padrão de temperatura e
4
contrário de Campylobacter intestinalis - observação útil para o ar atmosférico poderá revelar bacilos gram-negativos, em for-
diagnóstico microbiológico. ma de vírgula ou S. A identificação do organismo como C. in-
testinalis é confirmada pela sua incapacidade de crescimento
Patogênese e epidemiologia a 42ºC, sua habilidade de crescer a 25ºC e sua resistência ao
ácido nalidíxico.
Animais domésticos, como gado bovino, galinhas e cães,
atuam como fonte dos organismos para os seres humanos. A
transmissão geralmente ocorre pela via fecal-oral. Alimentos e Tratamento
água contaminados por fezes de animais são a principal fonte Eritromicina ou ciprotloxacina são utilizadas com sucesso na en-
de infecção humana. Alimentos como aves domésticas, carnes terocolite por C. jejuni. O tratamento de escolha para a bacterie-
e leite não pasteurizado estão comumente envolvidos. Filho- mia por C. intestinalis é um aminoglicosídeo.
tes de cães apresentando diarreia são uma fonte comum para a
contaminação em crianças. A transmissão entre seres humanos Prevenção
ocorre, porém é menos frequente do que a transmissão do animal
para o ser humano. C. jejuni é uma importante causa de diarreia Não há vacina ou outra medida preventiva específica. A co-
nos Estados Unidos; foi recuperado de 4,6% dos pacientes aco- leta e o tratamento adequado do esgoto, bem como a higiene
metidos por diarreia, em comparação a 2,3% e 1% nos casos de pessoal (lavagem das mãos) são importantes medidas a serem
Salmonella e Shigella, respectivamente. consideradas.
Características da patogênese das infecções por
Campylobacter estão descritas na Tabela 18-10. Inflamação da mu-
cosa intestinal costuma ocorrer, acompanhada pela presença de HEL/COBACTER
sangue nas fezes. Infecções sistêmicas (p. ex., bacteriemia) ocor-
Doenças
rem com maior frequência em neonatos ou adultos debilitados.
O Helicobacter pylori causa gastrite e úlceras pépticas. A infecção
Achados clínicos por H. pylori representa um fator de risco para carcinoma
gástrico e está associada a linfomas de tecido linfoide associado
A enterocolite, causada principalmente por C. jejuni, manifesta- às mucosas (MALT, mucosal-associated lymphoid tissue).
-se com diarreia aquosa de odor fétido, seguida por fezes san-
guinolentas, acompanhadas por febre e dor abdominal grave.
Características importantes
Infecções sistêmicas, mais comumente bacteriemia, são causadas
por C. intestinalis. Os sintomas de bacteriemia (p. ex., febre e Os helicobacteres são bacilos gram-negativos curvos, similares
mal-estar geral) não estão associados a quaisquer achados físicos aos campilobacteres. No entanto, uma vez que diferem suficien-
específicos. temente em determinadas características bioquímicas e flagela-
A infecção gastrintestinal por C. jejuni está associada à res, são classificados como um gênero distinto. Em particular,
síndrome de Guillain-Barré, a causa mais comum de parali- os helicobacteres são fortemente urease-positivos, ao passo que
sia neuromuscular aguda. A síndrome de Guillain-Barré é uma campilobacteres são urease-negativos.
doença autoimune, atribuída à formação de anticorpos contra
C. jejuni que reagem de forma cruzada com os antígenos nos Patogênese e epidemiologia
neurônios (ver Capítulo 66). A infecção por Campylobacter está
O H. pylori adere-se às células secretoras de muco da mucosa
também associada a doenças autoimunes: artrite reativa e síndro-
gástrica. A produção de grandes quantidades de amônia a par-
me de Reiter, descritas também no Capítulo 66.
tir da ureia, mediada pela urease do organismo, associada a uma
resposta inflamatória, leva a danos na mucosa. A perda do reves-
Diagnóstico laboratorial timento mucoso protetor predispõe à gastrite e à úlcera péptica
Se um paciente apresentar diarreia, um espécime das fezes é cul- (Tabela 18-10). A amônia também neutraliza o ácido gástrico,
tivado em uma placa de ágar-sangue contendo antibióticos5 que permitindo a sobrevivência do organismo. Epidemiologicamen-
inibem a maioria dos demais membros da microbiota fecal. te, a maioria dos pacientes com essas doenças apresenta H. pylori
A placa é incubada a 42ºC em uma atmosfera microaero- em biópsias de espécimes do epitélio gástrico.
fílica, contendo 5% de oxigênio e 10% de dióxido de carbono, O hábitat natural de H. pylori é o estômago humano, prova-
o que favorece o crescimento de C. jejuni. A identificação é velmente depois de adquirido por ingestão. Entretanto, ele não
feita pela ausência de crescimento a 25ºC, positividade para a foi isolado de fezes, alimentos, água ou animais. Ocorre, prova-
oxidase e sensibilidade ao ácido nalidíxico. Contrariamente a velmente, a transmissão de pessoa a pessoa, uma vez que são ob-
Shigella e Salmonella, a fermentação da lactose não é utilizada servados vários casos de infecção em uma mesma família. A taxa
como característica diferencial. Se há a suspeita de bacteriemia, de infecção por H. pylori é muito elevada nos países em desenvol-
vimento - o que é compatível com a elevada taxa de carcinoma
4
Também conhecido como CampylobacterJetus subespécie fetus. gástrico nesses países.
5
Por exemplo, o meio de Skirrow contém vancomicina, trimetoprima, ce- Os linfomas de MALT são tumores de células B localizados,
falotina, polimixina e anfotericina B. em geral, no estômago, mas eles também podem ocorrer em
160 PARTE li Bacteriologia Clínica

qualquer parte do trato gastrintestinal. O H. pylori é frequen - não invasivo, denominado teste do "hálito de ureià'. Nesse tes-
temente encontrado em lesões associadas ao MALT; imagina- te, ingere-se ureia radiativa. Se o organismo estiver presente, a
-se que a inflamação crônica induzida pelo organismo é capaz urease cliva a ureia ingerida, ocorre produção de C02 radiativo, e
de estimular a proliferação de linfócitos B e, eventualmente, do a radiatividade é detectada no hálito.
linfoma de células B. O tratamento com antibióticos direcionado Um teste para a presença do antígeno de Helicobacter nas
contra o organismo muitas vezes causa a regressão do tumor. fezes pode ser utilizado para o diagnóstico, bem como para con-
firmar que o tratamento eliminou o organismo. A presença de
Achados clínicos anticorpos IgG no soro do paciente pode também ser utilizada
como evidência de infecção.
A gastrite e a úlcera péptica são caracterizadas por dor recorrente
no abdome superior, frequentemente acompanhada por sangra-
Tratamento e prevenção
mento no trato gastrintestinal Não há ocorrência de bacteriemia,
nem de doença disseminada. O tratamento envolve o uso de antibióticos para eliminar o
Helicobacter e um fármaco para reduzir a acidez gástrica. A
Diagnóstico laboratorial combinação de dois antibióticos é usada porque foi observada
resistência, sobretudo ao metronizadol. O tratamento de úlceras
O organismo pode ser observado em esfregaços submetidos à duodenais com antibióticos (p. ex., amoxicilina e metronidazol) e
coloração de Gram de espécimes de biópsia da mucosa gástrica. com sais de bismuto (Pepto-Bismol) resulta em uma diminuição
Pode ser cultivado nos mesmos meios em que são cultivados os significativa da taxa de recorrência. A tetraciclina pode ser uti-
campilobacteres. Ao contrário de C. jejun~ H. pylori é urease- lizada em vez da amoxicilina. Não há vacina ou outra medida
-positivo. A produção de urease é a base de um teste diagnóstico preventiva específica.

PATÓGENOS EXTERNOS AO TRATO INTESTINAL - - - - - - - -


GRUPO KLEBSIELLA-ENTEROBACTER-
-SERRATIA
Doenças
Esses organismos são geralmente patógenos oportunistas,
responsáveis por infecções nosocomiais, sobretudo pneumonia
e infecções do trato urinário. A K. pneumoniae é um importante
patógeno do trato respiratório também fora de hospitais.

Características importantes
Klebsiella pneumoniae, Enterobacter cloacae e Serratia marces-
cens são as espécies geralmente envolvidas em infecções huma-
nas. São encontradas, com frequência, no intestino grosso, mas
também estão presentes no solo e na água. Esses organismos exi-
bem propriedades muito similares e muitas vezes são diferencia-
dos com base em diversas reações bioquímicas e na motilidade.
K. pneumoniae possui uma cápsula polissacarídica bastante es-
pessa, conferindo às suas colônias um aspecto mucoide marcan-
te. S. marcescens produz colônias que apresentam pigmentação
vermelha (Figura 18-3).

Patogênese e epidemiologia
FIGURA 18-3 Serratia marcescens - colônias de pigmentação ver-
Dos três organismos, K. pneumoniae é provavelmente um melha. A seta aponta para uma colônia de pigmentação vermelha de
patógeno primário, não oportunista; essa propriedade está re- 5. marcescens. (Utilizada, com permissão, da Professora Shirley Lowe, Universi-
lacionada à sua cápsula antifagocitária. Embora esse organismo ty of California, San Francisco School of Medicine, Estados Unidos.)
seja um patógeno primário, pacientes apresentando infecções por
K. pneumoniae frequentemente exibem condições predisponen-
tes, como idade avançada, doença respiratória crônica, diabetes Infecções por Enterobacter e Serratia estão nitidamente
ou alcoolismo. O organismo é carreado no trato respiratório de relacionadas à hospitalização, sobretudo a procedimentos in-
aproximadamente 10% dos indivíduos sadios, que ficam propen- vasivos, como cateterismo intravenoso, entubação respiratória
sos à pneumonia caso as defesas sejam reduzidas. e manipulações do trato urinário. Além disso, surtos de pneu-
CAPÍTULO 18 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Intestinal 161

monia por Serratia foram associados à contaminação da água GRUPO PROTEUS-PROV/DENCIA-


de dispositivos de terapia respiratória. Antes do uso extensivo
-MORGANELLA
desses procedimentos, S. marcescens era um organismo inofen-
sivo, mais frequentemente isolado de fontes ambientais, como Doenças
a água.
Esses organismos causam principalmente infecções do trato
Serratia também causa endocardite em usuários de drogas
urinário, tanto adquiridas em comunidade quanto hospitalares.
injetáveis. Como observado em vários outros bacilos gram-
-negativos, a patogênese do choque séptico causado por esses
organismos está relacionada às endotoxinas de suas paredes Características importantes
celulares. Esses bacilos gram-negativos distinguem-se de outros membros
da família Enterobacteriaceae por sua capacidade de produzir a
Achados clínicos enzima fenilalanina desaminase. Além disso, produzem a enzima
urease, que cliva a ureia, originando NH 3 e C02 • Certas espécies
Infecções do trato urinário e pneumonia são as entidades clínicas
são bastante móveis e produzem um intenso efeito alastrante no
usuais associadas a essas três bactérias. Entretanto, ocorrem bac-
ágar-sangue, caracterizado por anéis expansivos (ondas) dos or-
teriemia e disseminação secundária a outras áreas, como as me-
ganismos sobre a superfície do ágar (Figura 18-4).
ninges. A distinção das infecções causadas por esses organismos
Os antígenos O da parede celular de certas linhagens de
com base nos achados clínicos é difícil, com exceção da pneumo-
Proteus, como OX-2, OX-19 e OX-K, reagem de forma cruza-
nia causada por Klebsiella, que produz escarro espesso e sangui-
da com os antígenos de diversas espécies de riquétsias. Esses
nolento (escarro em "geleia de groselhà') e pode progredir para
antígenos de Proteus podem ser utilizados em testes labora-
necrose e formação de abscessos.
toriais para detectar a presença de anticorpos contra certas
Existem duas outras espécies de Klebsiella responsáveis por
riquétsias no soro do paciente. Esse teste, denominado reação de
infecções humanas incomuns, raramente observadas nos Esta-
Weil-Felix, em homenagem a seus criadores, tem sido utilizado
dos Unidos. Klebsiella ozaenae está associada à rinite atrófica, e
com menor frequência, à medida que são desenvolvidos proce-
Klebsiella rhinoscleromatis causa um granuloma destrutivo do
dimentos mais específicos.
nariz e da faringe.
No passado, existiam quatro espécies de Proteus de impor-
tância médica. Entretanto, estudos moleculares de similaridade
Diagnóstico laboratorial do DNA revelaram que duas das quatro espécies exibiam dife-
Os organismos desse grupo originam colônias fermentadoras renças significativas. As duas foram, então, renomeadas: Proteus
de lactose (coloridas) em ágar diferencial, como MacConkey ou morganii atualmente é Morganella morganii, e Proteus rettgeri
EAM, embora Serratia, que corresponde a um fermentador tar- atualmente chama-se Providencia rettgeri. No laboratório clínico,
dio de lactose, possa produzir uma reação negativa. Esses orga- esses organismos são diferenciados de Proteus vulgaris e Proteus
nismos são diferenciados pelo uso de testes bioquímicos. mirabilis com base em diversos testes bioquímicos.

Tratamento
Uma vez que a resistência a antibióticos desses organismos
pode variar amplamente, a escolha do fármaco depende dos
resultados de testes de sensibilidade. Os isolados derivados
de infecções hospitalares são frequentemente resistentes a
múltiplos antibióticos. Isolados resistentes a carbapenemas
correspondem a uma importante causa de infecções hospitala-
res e são resistentes a quase todos os antibióticos conhecidos.
Um aminoglicosídeo (p. ex., gentamicina) e uma cefalosporina
(p. ex., cefotaxima) são utilizados empiricamente até que os re-
sultados dos testes sejam conhecidos. Em infecções graves por
Enterobacter, uma combinação de imipenem e gentamicina é
frequentemente utilizada.

Prevenção
Algumas infecções hospitalares causadas por bacilos gram-
FIGURA 18-4 Espécies de Proteus - motilidade pulsante em ágar-
-negativos podem ser prevenidas por medidas gerais, como
-sangue. A ponta de seta indica o local onde as bactérias Proteus foram
alteração do local de cateteres intravenosos, remoção de cate- depositadas no ágar-sangue. A seta mais curta aponta para a borda do
teres urinários quando não são mais necessários, e adoção de primeiro anel de motilidade. A seta mais longa aponta para a borda do
cuidados adequados em relação aos dispositivos de terapia segundo anel de motilidade. {Utilizada, com permissão, da Professora Shirley
respiratória. Não há vacina. Lowe, University of California, San Francisco School of Medicine, Estados Unidos.)
162 PARTE li Bacteriologia Clínica

Patogênese e epidemiologia que P. mirabilis, que é indol-negativo. O tratamento de escolha


para as espécies indol-positivas é uma cefalosporina (p. ex., ce-
Os organismos estão presentes no colo humano, bem como
fotaxima). O P. rettgeri é frequentemente resistente a múltiplos
no solo e na água. Sua tendência em causar infecções do trato
antibióticos.
urinário provavelmente seja decorrente de sua presença no colo
e da colonização da uretra, especialmente em mulheres. A inten-
sa motilidade de Proteus pode contribuir para sua capacidade de Prevenção
invadir o trato urinário. Não há medidas preventivas específicas, mas várias infecções
A produção da enzima urease é uma característica im- hospitalares do trato urinário podem ser prevenidas pela pronta
portante da patogênese de infecções do trato urinário por esse remoção de cateteres urinários.
grupo. A urease hidrolisa a ureia presente na urina, produzindo
amônia, que eleva o pH, originando urina alcalina. Isso estimu-
la a formação de pedras (cálculos), denominadas "estruvitas': PSEUDOMONAS
compostas por fosfato amônio magnesiano. Os cálculos do tra-
to urinário interrompem o fluxo de urina, danificam o epitélio Doenças
urinário e atuam como um nicho de infecções recorrentes por A Pseudomonas aeruginosa causa infecções (p. ex., sepse, pneu-
aprisionarem as bactérias no interior do cálculo. Uma vez que a monia e infecções do trato urinário), principalmente em pacien-
urina alcalina também favorece o crescimento dos organismos e tes apresentando baixas defesas. Ela também causa, em pacientes
o maior dano renal, o tratamento envolve a manutenção da urina com fibrose cística, infecções crônicas do trato respiratório infe-
com pH baixo. rior, infecções de feridas (celulite) em queimaduras de pacien-
tes (Figura 18-5) e, em pacientes diabéticos, causa otite externa
Achados clínicos maligna. Essa bactéria é a causa mais comum de pneumonias
Os sinais e sintomas de infecções do trato urinário causadas por associadas à ventilação mecânica. (P. aeruginosa é também co-
esses organismos são idênticos aos causados por E. coli ou ou- nhecida como Burkholderia aeruginosa. ) Pseudomonas cepacia
(renomeada Burkholderia cepacia) e Pseudomonas maltophilia
tros membros da família Enterobacteriaceae. Espécies de Proteus
(renomeada Xanthomonas maltophilia e, atualmente, deno-
também podem causar pneumonia, infecções de ferimentos e
minada Stenotrophomonas maltophilia) também causam essas
septicemia. P. mirabilis é a espécie de Proteus que causa a maioria
das infecções hospitalares ou adquiridas na comunidade, embora infecções, porém com menor frequência. A Pseudomonas pseu-
domallei (também conhecida como Burkholderia pseudomallei),
P. rettgeri tenha emergindo como um importante agente de infec-
ções nosocomiais. o agente da melioidose, é descrita no Capítulo 27.

Diagnóstico laboratorial Características importantes


Esses organismos, em geral, são intensamente móveis, exibindo As pseudomonas são bacilos gram-negativos que se asseme-
um crescimento "alastrante" em ágar-sangue, que pode frustrar lham aos membros da família Enterobacteriaceae, mas dife-
rem pelo fato de serem organismos aeróbios estritos; isto é,
os esforços para a recuperação de culturas puras de outros orga-
nismos. O crescimento em ágar-sangue contendo álcool feniletil geram sua energia apenas pela oxidação de açúcares e não pela
inibe o alastramento, permitindo a obtenção de colônias isola- fermentação. Uma vez que não fermentam a glicose, são referi-
das de Proteus e de outros organismos. Eles produzem colônias
não fermentadoras de lactose (incolores) em ágar MacConkey
ou EAM. P. vulgaris e P. mirabilis produzem H 2S, causando a
formação de pigmentação negra no fundo do tubo de ágar TSI,
ao passo que nem M. morganii e nem P. rettgeri possuem a mes-
ma característica. P. mirabilis é indol-negativo, ao passo que as
outras três espécies são indol-positivas, distinção que pode ser
utilizada clinicamente para orientar a escolha de antibióticos. Es-
sas quatro espécies de importância médica são urease-positivas.
A identificação desses organismos no laboratório clínico é ba-
seada em uma variedade de reações bioquímicas.

Tratamento
A maioria das linhagens é sensível aos aminoglicosídeos e à tri-
metoprima-sulfametoxazol; contudo, já que isolados individuais
podem variar, testes de sensibilidade a antibióticos devem ser
realizados. O P. mirabilis é a espécie mais frequentemente sensí- FIGURA 18-5 Celulite causada por Pseudomonas aeruginosa.
vel à ampicilina. As espécies que são indol-positivas (P. vulgaris, Observa-se a coloração azul-esverdeada do pus na infecção da ferida
M. morganii e P. rettgeri) são mais resistentes aos antibióticos do de queimadura. (Cortesia do Dr. Robert L. Sheridan.)
CAPÍTULO 18 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Intestinal 163

das como não fermentadoras, contrariamente aos membros da e pode colonizar o trato respiratório superior de pacientes hospi-
família Enterobacteriaceae, que fermentam a glicose. A oxidação talizados. Sua capacidade de crescer em soluções aquosas simples
envolve o transporte de elétrons pelo citocromo c (i.e., são oxi- resultou na contaminação de equipamentos de terapia respiratória
dase-positivas). e anestesia, fluidos intravenosos e, até mesmo, água destilada.
As pseudomonas são capazes de crescer em água contendo A P. aeruginosa é essencialmente um patógeno oportunis-
apenas traços de nutrientes (p. ex., água de torneira), fato que ta, responsável por infecções em pacientes hospitalizados (p.
favorece sua presença no ambiente hospitalar. P. aeruginosa e ex., pacientes com queimaduras extensas), nos quais as defesas
B. cepacia possuem a incrível capacidade de sobreviver ao trata- da pele são destruídas; em pacientes com doenças respiratórias
mento com desinfetantes, fato que é, pelo menos em parte, res- crônicas (p. ex., fibrose cística), nos quais os mecanismos nor-
ponsável por sua importante participação em infecções adquiri- mais de depuração encontram-se comprometidos; em pacien-
das em hospitais. Observou-se seu crescimento em soluções de tes imunocomprometidos; em pacientes exibindo contagem de
sabão contendo hexaclorofeno, em antissépticos e em detergentes. neutrófilos abaixo de 500/µL; e em pacientes fazendo uso de ca-
A P. aeruginosa produz dois pigmentos que são úteis no teteres de longa duração. A bactéria causa 1Oa 20% das infecções
diagnóstico clínico e laboratorial: (1) a piocianina, que pode hospitalares e, em muitos hospitais, é a causa mais comum de
tornar azul o pus presente em ferimentos, e (2) a pioverdina pneumonias nosocomiais induzidas por bactérias gram-negati-
(fluoresceína), um pigmento amarelo-esverdeado que fluores- vas, sobretudo nos casos das pneumonias associadas à ventilação
ce sob luz ultravioleta, propriedade que pode ser utilizada na mecânica artificial.
detecção precoce de infecções cutâneas em pacientes queima- A patogênese baseia-se em múltiplos fatores de virulência:
dos. No laboratório, esses pigmentos difundem-se pelo ágar, endotoxina, exotoxinas e enzimas. Sua endotoxina, assim como
conferindo coloração azul-esverdeada, útil para a identificação. a de outras bactérias gram-negativas, causa os sintomas de sepse
A P. aeruginosa é a única espécie de Pseudomonas capaz de sinte- e choque séptico. A exotoxina mais bem-conhecida é a exotoxi-
tizar a piocianina (Figura 18-6). na A, que causa necrose tecidual. Ela inibe a síntese de proteínas
Linhagens de P. aeruginosa isoladas de pacientes apresen- nas células eucariotas por meio do mesmo mecanismo descrito
tando fibrose cística exibem uma camada limosa (glicocálice) para a exotoxina diftérica, ou seja, pela ADP-ribosilação do fa-
proeminente, conferindo às suas colônias um aspecto bastante tor de elongação 2. O organismo também produz enzimas, como
mucoide. A camada limosa medeia a adesão do organismo às elastase e proteases, que são histotóxicas e facilitam a invasão da
membranas mucosas do trato respiratório e impede a ligação dos corrente sanguínea. A piocianina danifica os cílios e as células
anticorpos ao organismo. mucosas do trato respiratório.
Linhagens de P. aeruginosa que possuem um "sistema de
secreção de tipo III" são significativamente mais virulentas que
Patogênese e epidemiologia
as que não o possuem. Esse sistema de secreção transfere a exoto-
A P. aeruginosa é encontrada principalmente no solo e na água, xina da bactéria diretamente ao interior da célula humana adja-
mas aproximadamente 10% dos indivíduos são portadores na mi- cente, permitindo que a toxina evite os anticorpos neutralizantes.
crobiota normal do colo. É encontrada em regiões úmidas da pele Os sistemas de secreção do tipo III são mediados por bombas de
transporte da membrana celular bacteriana. Das quatro exoenzi-
mas conhecidamente transportadas por esse sistema de secreção,
a Exo S é a mais claramente associada à virulência. Exo S apre-
senta vários mecanismos de ação, dos quais o mais importante
é a ADP-ribosilação de uma proteína Ras, levando a danos ao
citoesqueleto.

Achados clínicos
A Pseudomonas aeruginosa pode causar infecções em pra-
ticamente qualquer região do corpo, sendo predominantes
infecções do trato urinário, pneumonia (sobretudo em pacien-
tes apresentando fibrose cística) e infecções de feridas (princi-
palmente queimaduras) (Figura 18-5). É uma importante causa
de pneumonia nosocomial, sobretudo em pacientes que estejam
recebendo ventilação mecânica (pneumonia associada à venti-
lação). A partir desses locais, o organismo pode atingir o san-
gue, causando sepse. A bacteria pode se disseminar para a pele,
onde causa lesões negras e necróticas, denominadas ectima
FIGURA 18-6 Pseudomonas aeruginosa - pigmento azul-esver-
deado. O pigmento azul-esverdeado (piocianina) produzido pela gangrenosa (Figure 18-7). Pacientes com sepse por P. aerugi-
P. aeruginosa se difunde pelo ágar. (Utilizada, com permissão, da Professora nosa apresentam uma taxa de mortalidade acima dos 50%. É
Shirley Lowe, Universit y of California, San Francisco School of Medicine, Estados uma importante causa de endocardite em usuários de drogas
Unidos.) intravenosas.
164 PARTE li Bacteriologia Clínica

ções causadas por B. cepacia e S. maltophilia é o trimetoprima-


-sulfametoxazol.

Prevenção
A prevenção de infecções por P. aeruginosa envolve a manu-
tenção da contagem de neutrófilos acima de SOO/ µ..L, pronta
remoção de cateteres de longa duração, adoção de cuidados es-
peciais - no caso de pele queimada -, e adoção de outras me-
didas similares para limitar a infecção em pacientes exibindo
defesas reduzidas.

BACTEROIDES E PREVOTELLA
Doenças
FIGURA 18-7 Ectima gangrenosa. Lesões necróticas na pele cau-
Membros do gênero Bacteroides constituem a causa mais comum
sadas por Pseudomonas aeruginosa. {Reproduzida, com permissão, de
Wolff K, Johnson R, Saavedra A (eds): Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis ofC/inical
de infecções anaeróbias graves (p. ex., sepse, peritonite e abces-
Dermatology. 7t h ed. New York: McGraw-Hill, 2013. Copyright © 2013 por The sos). O Bacteroides fragilis é o patógeno mais frequente nesses
McGraw-Hill Companies, lnc.) casos. A Prevotella melaninogenica é também um importante
patógeno. P. melaninogenica era anteriormente conhecida como
Bacteroides melaninogenicus, e ambas as nomenclaturas ainda
Otite externa grave (otite externa maligna) e outras lesões de podem ser encontradas.
pele (p. ex., foliculite) ocorrem em usuários de piscinas e hidro-
massagens (foliculite associada à banheira de hidromassagem) Propriedades importantes
nas quais a cloração é feita de forma inadequada. P. aeruginosa
é a causa mais comum de osteocondrite podal em indivíduos Bacteroides e Prevotella são bacilos gram-negativos, anaeróbios
que sofrem ferimentos puntiformes pelos solados de calçados de e não formadores de esporos. Entre as várias espécies de
ginástica. Infecções da córnea causadas por P. aeruginosa podem Bacteroides, duas são patógenos de seres humanos: B. fragillil e
ocorrer em pacientes usuários de lentes de contato. Bacteroides corrodens.
Os membros do grupo B. fragilis são os organismos predo-
11
minantes do colo humano, alcançando aproximadamente 10 /g
Diagnóstico laboratorial
de fezes, sendo encontrados na vagina de aproximadamente 60%
A P. aeruginosa cresce como colônias não fermentadoras de lac- das mulheres. P. melaninogenica e B. corrodens ocorrem princi-
tose (incolores) em ágar MacConkey ou EMB. A bactéria é oxi- palmente na cavidade oral.
dase-positiva. Um característico brilho metálico observado no
crescimento em ágar TSI, associado ao pigmento azul-esverdeado Patogênese e epidemiologia
em ágar nutriente comum (Figura 18-6), e um aroma de fruta é
suficiente para realizar um diagnóstico presuntivo. O diagnóstico Uma vez que espécies de Bacteroides e Prevotella são membros
é confirmado por reações bioquímicas. A identificação com ob- da microbiota normal, as infecções são endógenas, geralmen-
jetivos epidemiológicos é realizada pela tipagem do bacteriófago te surgindo a partir de uma ruptura na superfície mucosa, não
ou da piocina.
6 sendo transmissíveis. Esses organismos causam uma variedade
de infecções, como abscessos locais no local de uma ruptura na
mucosa, abscessos metastáticos decorrentes de disseminação he-
Tratamento
matogênica a órgãos distantes, ou abscessos pulmonares devidos
Uma vez que P. aeruginosa é resistente a vários antibióticos, o à aspiração da microbiota oral.
tratamento deve ser orientado conforme a sensibilidade de cada Fatores predisponentes, como cirurgia, trauma e doença
isolado e monitorado frequentemente; linhagens resistentes po- crônica, desempenham um importante papel na patogêne-
dem emergir durante a terapia. O tratamento de escolha é uma se. Necrose tecidual local, suprimento sanguíneo deficitário
penicilina antipseudomonal (p. ex., piperacilina/tazobactam ou e crescimento de anaeróbios facultativos no local contribuem
ticarcilina/clavulanato), com um aminoglicosídeo (p. ex., gen- para as infecções anaeróbias. Os anaeróbios facultativos, como
tamicina ou amicacina). No caso de infecções causadas por li- E. coli, utilizam o oxigênio, promovendo sua redução a um
nhagens altamente resistentes, a colistina (polimixina E) pode ser nível que permite o crescimento dos organismos anaeróbios
útil. O fármaco de escolha para infecções do trato urinário é a
ciprofloxacina. O fármaco de escolha para o tratamento de infec- 7
Bacteroides fragilis é dividido em cinco subespécies, das quais a mais im-
portante é o B. fragilis subespécie fragilis. As outras quatro subespécies
6
A piocina é um tipo de bacteriocina produzida por P. aeruginosa. Dife- são B. fragilis subespécies distasonis, ovatus, thetaiotamicron e vulgatus.
rentes linhagens produzem piocinas variadas, as quais podem servir para Desse modo, é mais apropriado referir-se ao grupo B. fragilis do que sim-
a diferenciação dos organismos. plesmente a B. fragilis.
CAPÍTULO 18 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Intestinal 165

Bacteroides e Prevotella. Como resultado, diversas infecções


anaeróbias contêm uma microbiota mista de facultativos e
anaeróbios. Esse fato tem importantes implicações na terapia;
tanto os anaeróbios facultativos quanto os anaeróbios estritos
devem ser tratados.
A cápsula polissacarídica de B. fragilis é um importante fator
de virulência. A resposta do hospedeiro à cápsula desempenha
um papel importante na formação de abscessos. Observa-se,
também, que a endotoxina de B. fragilis contém uma variante do
lipídeo A, que perdeu um de seus ácidos graxos e, consequen-
temente, é 1.000 vezes menos ativo que a endotoxina típica de
bactérias como a Neisseria meningitidis.
Enzimas como hialuronidase, colagenase e fosfolipase são
produzidas e contribuem para o dano do tecido. Linhagens de
B. fragilis produtoras de enterotoxinas podem causar diarreia
tanto em crianças quanto em adultos.

Achados clínicos
O grupo de organismos B. fragilis é mais frequentemente as-
sociado a infecções intra-abdominais, tanto peritonite quanto
abscessos localizados. Abscessos pélvicos, fasceíte necrosante e FIGURA 18-8 Prevotella melaninogenica - colônias de pigmenta-
ção negra. A seta aponta para uma colônia de pigmentação negra de
bacteriemia também ocorrem. Abscessos na cavidade oral, na
P. melaninogenica. (Utilizada, com permissão, da Professora Shirley Lowe,
faringe, no encéfalo e no pulmão são causados, com frequência,
University of California, San Francisco School of Medicine, Estados Unidos.)
por P. melaninogenica, um membro da microbiota oral normal;
entretanto, B. fragilis é encontrado em cerca de 25% dos absces-
sos pulmonares. Em geral, B. fragilis causa doenças abaixo do Prevenção
diafragma, ao passo que P. melaninogenica causa doenças acima
A prevenção de infecções por Bacteroides e Prevotella centra-se
do diafragma. A Prevotella intermedia é uma importante causa de na administração pré-operatória de uma cefalosporina, frequen-
gengivites, periodontites e abcessos dentários.
temente cefoxitina, no caso de cirurgias abdominal ou pélvica.
Não há vacina.
Diagnóstico laboratorial
As espécies de Bacteroides podem ser isoladas anaerobiamen-
te em placas de ágar-sangue contendo canamicina e vancomi- APLIQUE SEU CONHECIMENTO
cina para inibir organismos indesejados. São identificadas por 1. Seu paciente é um homem de 75 anos com um cateter urinário após
reações bioquímicas (p. ex., fermentações de açúcares) e pela uma cirurgia de prostatectomia devida a um câncer de próstata. Ele
produção de certos ácidos orgânicos (p. ex., ácidos fórmico, está apresentando febre súbit a de 40ºC, pressão arterial de 70/40 e
acético e propiônico), que são detectados por cromatografia ga- pulso de 140. Você solicitou várias hemoculturas, e o laboratório
sosa. A P. melaninogenica produz colônias negras características reportou que todas foram positivas para um bacilo gram-negativo
com colônias vermelhas. Qual das seguintes bactérias é a causa mais
(Figura 18-8).
provável dessa infecção?
(A) Escherichia coli.
Tratamento (B) Klebsiella pneumoniae.
Membros do grupo B. fragilis são resistentes às penicilinas, ( C) Pro teus mirabilis.
cefalosporinas de primeira geração e aminoglicosídeos, por (D) Pseudomonas aeruginosa.
isso são os mais resistentes entre as bactérias anaeróbias. Are- (E) Serratia marcescens.
sistência à penicilina resulta da produção de J3-lactamase. 2. Você é um epidemiologista da saúde pública e foi chamado para
O metronidazol corresponde ao fármaco de escolha, sendo a investigar uma epidemia de diarreia sanguinolenta em 16 pessoas.
cefoxitina, a clindamicina e o cloranfenicol fármacos alterna- Você suspeita que essa diarreia esteja associada à ingestão de ham-
búrguer malpassado em um determinado restaurante de comida
tivos. Os aminoglicosídeos são frequentemente combinados
fast-food. Em uma cultura dos hambúrgueres malpassados restantes
para o tratamento de bacilos gram-negativos facultativos em
cresceu bacilo gram-negativo que produz colônias púrpura-escuras
infecções mistas. Os fármacos de escolha para o tratamento de em ágar EAM, o que evidencia que ele fermenta lactose. Qual das
infecções causadas por P. melaninogenica são o metronidazol bactérias a seguir é a causa mais provável desse surto?
ou a clindamicina. Linhages de P. melaninogenica produto- (A) Escherichia coli.
ras de J3 -lactamase já foram isoladas de pacientes. A drena- (B) Salmonella enterica.
gem cirúrgica de abscessos, em geral, acompanha a terapia (C) Salmonella typhi.
antibiótica, mas os abscessos pulmonares frequentemente re- (D) Shigella dysenteriae.
gridem sem drenagem. (E) Vibrio cholerae.
166 PARTE li Bacteriologia Clínica

3. Seu paciente apresenta queimadura de terceiro grau na maioria de cultura e coprocultura do menino e da cobra revelaram o mesmo
seu corpo. Ele estava bem até dois dias atrás, quando começou a organismo. As culturas cresceram como bacilos gram-negativos
apresentar febre e suas roupas de cama apresentavam pus de colora- transparentes em ágar EAM. Qual das seguintes bactérias é a causa
ção azul-esverdeada. A coloração de Gram do pus mostrou bacilos mais provável dessa infecção?
gram-negativos que formavam colônias sem cor no ágar EAM. Qual (A) Helicobacter pylori.
das seguintes bactérias é a causa mais provável dessa infecção? (B) Proteus mirabilis.
(A) Campylobacter jejuni. (C) Salmonella enterica.
(B) Escherichia coli. (D) Shigella dysenteriae.
(C) Haemophilus influenzae. (E) Vibrio cholerae.
(D) Pseudomonas aeruginosa. 9. Sua paciente, uma mulher de 25 anos, com dor ao urinar e urina
(E) Salmonella enterica. escura, não apresenta febre ou dor. Ela não foi hospitalizada. Você
4. Em relação ao paciente da Questão 3, qual dessas combinações de acha que ela tem cistite. Uma coloração de Gram da urina mostrou a
antibióticos melhor trataria a infecção? presença de bacilos gram-negativos. Cultura da urina em ágar EAM
(A) Azitromicina + gentamicina. mostrou colônias transparentes, e o teste de urease resultou positi-
(B) Doxiciclina + gentamicina. vo. No ágar foi observada motilidade pulsante da cultura em ágar-
( C) Metronidazol + gentamicina -sangue. Qual das seguintes bactérias é a causa mais provável dessa
(D) Piperacilina/tazobactam + gentamicina. infecção?
(E) Vancomicina + gentamicina. (A) Escherichia coli.
5. Em relação aos membros da família Enterobacteriaceae, qual das (B) Helicobacter pylori.
seguintes sentenças é a mais apropriada? ( C) Pro teus mirabilis.
(D) Pseudomonas aeruginosa.
(A) Todos os membros da família são anaeróbios estritos, o que
(E) Serratia marcescens.
quer dizer que eles precisam ser cultivados na ausência de
oxigênio. 10. Seu paciente apresenta dor abdominal e uma massa é descoberta no
(B) Todos os membros da família fermentam lactose, o que é um quadrante inferior esquerdo. Ao passar por uma laparotomia (aber-
importante critério diagnóstico no laboratório clínico. tura cirúrgica do abdome), um abscesso foi encontrado. Cultura do
(C) Todos os membros da família possuem endotoxina, um im- pus mostrou a presença de Bacteroides fragilis. Em relação a esse
portante fator de patogenicidade. organismo, qual das seguintes sentenças é a mais correta?
(D) Todos os membros da família produzem enterotoxina, que (A) Um estágio do ciclo de vida do B. fragilis envolve a formação
ADP-ribosila uma proteína G em enterócitos humanos. de esporos no solo.
6. Você está em um programa de trabalho de verão em uma clínica de (B) B. fragilis é um anaeróbio estrito, bacilo gram-negativo, cujo
uma pequena cidade do Equador. Nesse período, ocorre uma epi- hábitat natural é o colo humano.
demia de cólera, e seu paciente apresenta diarreia forte e pressão (C) B. fragilis produz colônias negras quando crescido em ágar-
arterial de 70/40. Qual entre as opções a seguir constitui a ação mais -sangue.
apropriada a ser seguida? (D) A patogênse de B. fragilis envolve uma exotoxina que aumenta
(A) Administrar fármacos antimotilidade para diminuir a diarreia.
os níveis de AMP cíclico pela ADP-ribosilação de uma pro-
(B) Administrar soro intravenoso para repor o volume de água
teína G.
(E) O toxoide vacina! deve ser administrado para prevenir a
perdido.
( C) Administrar tetraciclina para matar a bactéria.
doença causada pelo B. fragilis.
(D) Fazer coprocultura e contagem de leucócitos nas fezes para um 11. Considerando o paciente da Questão 10, qual das seguintes opções
diagnóstico mais preciso. representa o melhor antibiótico para o tratamento dessa infecção?
7. Sua paciente, uma mulher de 20 anos, apresenta diarreia. Ela acaba (A) Doxiciclina.
de retornar aos Estados Unidos após uma viagem de três semanas (B) Gentamicina.
ao Peru, onde ela comeu peixe cru na sua festa de despedida. Agora (C) Metronidazol.
ela apresenta diarreia grave, com 20 evacuações diárias, e está se (D) Penicilina G.
sentindo muito fraca e com tonturas. Sua coprocultura resultou ne- (E) Rifampina.
gativa para presença de sangue oculto. Uma coloração de Gram das 12. Seu paciente em uma clínica de gastrenterologia é um homem de
fezes mostrou a presença de bacilos gram-negativos curvos. Uma 50 anos, vendedor de seguros, que apresenta acidez estomacal há
coprocultura em ágar de MacConkey mostrou colônias transpa- vários meses. A utilização de antiácidos alivia os sintomas. Após
rentes. Qual das seguintes bactérias é a causa mais provável dessa verificar toda a sua história e fazer um exame médico, você discute
infecção? esse caso com um residente, que sugere fazer um teste de ureia mar-
(A) Escherichia coli. cada com isótopo radiativo, que testa a presença da enzima urease.
(B) Helicobacter pylori. Qual das bactérias a seguir, segundo o residente, seria a causa mais
( C) Proteus mirabilis. provável da doença desse paciente?
(D) Pseudomonas aeruginosa. (A) Helicobacter pylori.
(E) Vibrio cholerae. (B) Proteus mirabilis.
8. Seu paciente, um garoto de seis anos, apresenta diarreia sanguino- (C) Salmonella enterica.
lenta há dois dias consecutivos, acompanhada de febre de 40ºC e (D) Serratia marcescens.
vômitos. Ele possui uma cobra como animal de estimação. Hemo- (E) Shigella dysenteriae.
CAPÍTULO 18 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Intestinal 167

13. Sua paciente, uma mulher de 35 anos, com epilepsia, teve um ataque RESUMOS DOS ORGANISMOS
há dois meses. Ela veio para uma consulta porque apresenta tosse
com escarro. Uma radiografia do tórax revelou uma cavidade com Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
níveis de ar e fluido. Uma coloração de Gram do escarro mostrou a -se na página 663. Favor consultar esses resumos para urna rápida
presença de bacilos gram-negativos, e uma cultura revelou colônias revisão do material essencial.
negras que cresciam no ágar-sangue apenas na ausência de ar. Qual
das seguintes bactérias é a causa mais provável dessa infecção?
(A) Bacteroides fragilis. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(B) Campylobacter jejuni.
( C) Klebsiella pneumoniae. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
(D) Prevotella melaninogenica. encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
(E) Proteus mirabilis. Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
da página 731.
RESPOSTAS
1. (E)
2. (A)
3. (D)
4. (D)
5. (C)
6. (B)
7. (E)
8. (C)
9. (C)
10. (B)
11. (C)
12. (A)
13. (D)
CAPÍTULO
Bacilos Gram-Negativos

19 Relacionados ao
Trato Respiratório

CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Aplique seu conhecimento


Haemophilus Resumos dos organismos
Bordetella Questões para autoavaliação
Leg/onella

INTRODUÇÃO adultos.. particularmente nos com doença pu)monar obstrutiva


crônica. Haemophilus ducreyi. o agente do cancroide, é discutido
Existem três bacilos gram-negativos de importância médica ge... no Capítulo 27.
raJmente associados ao trato respiratôrio, que são Haemophilus
1'nfluenzae. Bordetella pertuuis e Legionell~ pneumophUa
(Tabe)a 19· l ). H. influenzae e B. pertus.sis são encontrados apenas Características Importantes
em seres humanos, ao passo que L pneumophila e encontrado O H. influenzae é um bacilo gram-negativo pequeno (cocoba-
principa.hneJlte em fontes ambientais de água, cilo) com uma cápsula potissacarídica (Figura 19-1). É um dos
três importantes plógenos encapsulados, juntamente com os
pneumococ-os e meningococos. A tipagem sorológica baseia-se
HAEMOPHILUS na antigenicidade do polissacarideo capsular. Dos seis sorotipos,
o Upo b causa a maioria das doenças graves invasivas., como me-
Doenças ningite e sepse. A c.ápsu)a do tipo b é composta por po1irribito1
OH. 1'nfluenzae era a principa1 e-a.usa de meningite em crianças. fosfato. Linhagens não encapsuladas também podem c.ausar
mas o uso da vacina "conjugada" a1tamente efkaz reduziu sig· doenças, especialmente doenças do trato respiratório superior,
nific.ativamente a incidência de meningite causada por esse mi· como sinusites e otites médias, mas. em gera). são não invasivas.
crorganismo. E)e ainda é uma importante causa de infecções do O crescimento do microrganismo em meios Jaboratoriais requer
trato respiratório superior (otite média, sinusite. conjuntivite e a adição de dois componentes, heme (fator X) e NAD (fator V).
epiglotite) e sepse em crianças. Causa também pneumonia em visando à produção adequada de energia.

TABELA 19-1 Bacilosgram-negati vosassociados ao trato respi ratório

Fatores X e V
necesúrk,s para Vacina Profllula
EspKlos Princlpols doo- Diagnóstico laboratorlal o crwsdmento dlspon/vol para contatos
H. it1fluenzoe Meningite'; otite m~dia, sinusite, Cultuta; polissacarídeo capsular + + FUfampina
pneumonia, epiglotite no soro ou liquido espinal

8. pertussis Coqueludle (pe«tússis) Anticorpo fluorescetite em + A.tittomicina


secreções; cultur-a

Lpneumophilo Pneumonia Sorologia; antígeno utinário; Nenhuma


cultur-a
'Em palses onde a vacina conJ119ada de H.JnfluenMe b foi Implantada. reduziu-se slgnlflcattvamente a lndd~ncla de menlnglte causada por esse mlcrotgankmo.
CAPÍTULO 19 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Respiratório 169

Outras infecções graves causadas por esse microrganismo


incluem artrite séptica, celulite e sepse, esta última ocorrendo so-
bretudo em pacientes esplenectomizados. A epiglotite, que pode
obstruir a via aérea, raramente ocorre. Uma epiglote inchada e
' "vermelho-cereja" pode ser vista, nesses casos. Essa doença in-
fantil potencialmente fatal é causada quase que exclusivamente
por H. influenzae. A pneumonia em adultos idosos, sobretudo
nos que apresentam doença respiratória crônica, pode ser causa-
da por linhagens não tipáveis de H. influenzae.

Diagnóstico la boratoria 1
O diagnóstico laboratorial depende do isolamento do microrga-
nismo em ágar-sangue aquecido ("chocolate") enriquecido com
dois fatores de crescimento necessários à respiração bacteriana,
FIGURA 19-1 Haemophi/us influenzae - coloração de Gram. As setas ou seja, fator X (um composto heme) e fator V (NAD). O sangue
apontam para dois pequenos bacilos "cocobacilares" gram-negativos.
utilizado no ágar-chocolate é aquecido, a fim de inativar inibido-
(Utilizada, com permissão, da Professora Shirley Lowe, University of California,
San Francisco School of Medicine, Estados Unidos.)
res inespecíficos do crescimento de H. influenzae.
Um microrganismo capaz de crescer apenas na presença
de ambos os fatores de crescimento é presumivelmente iden-
Patogênese e epidemiologia tificado como H. influenzae; outras espécies de Haemophilus,
como Haemophilus parainfluenzae, não requerem ambos os
O H. influenzae infecta somente seres humanos; não há
fatores. A identificação definitiva pode ser realizada por meio
reservatório animal. Ele penetra no corpo por meio da inalação de testes bioquímicos ou pela reação de intumescimento cap-
de gotículas no trato respiratório, resultando em colonização sular (de Quellung). Outras formas de identificação de linha-
assintomática ou em infecções como otite média, sinusite ou gens encapsuladas incluem a coloração do microrganismo com
pneumonia. O microrganismo produz uma protease de IgA anticorpo fluorescente e testes de contraimunoeletroforese ou
que degrada a IgA secretora, facilitando a adesão à mucosa aglutinação do látex, que detectam o polissacarídeo capsular.
respiratória. Após estabelecer-se no trato respiratório superior,
o microrganismo pode atingir a corrente sanguínea (bacterie- Tratamento
mia) e disseminar-se até as meninges. A meningite é causada
principalmente por linhagens encapsuladas, mas linhagens não O tratamento de escolha para a meningite e outras infecções sis-
encapsuladas estão frequentemente associadas à otite média, si- têmicas graves causadas por H. influenzae é a ceftriaxona. De 20
nusite e pneumonia. Observe que a incidência de meningites a 30% dos isolados de H. influenzae do tipo b produzem uma
causadas pelo tipo encapsulado b foi enormemente reduzida em J3-lactamase que degrada J3-lactâmicos sensíveis à penicilinase,
como a ampicilina, mas não a ceftriaxona. É importante instituir
razão do fato de que a vacina contém o polissacarídeo do tipo b
prontamente o tratamento antibiótico, uma vez que a incidên-
como imunógeno. A patogênese das infecções pelo H. influenza
cia de sequelas neurológicas (p. ex., empiema subdural) é alta.
envolve a ação de sua cápsula antifagocítica e a endotoxina; não
A meningite por H. influenzae não tratada exibe taxa de morta-
há produção de exotoxinas.
lidade de aproximadamente 90%. Infecções do trato respiratório
A maioria das infecções ocorre em crianças com idade entre
superior causadas por H. influenzae, como otites e sinusites, são
6 meses e 6 anos, com maior incidência na faixa etária de 6 me-
tratadas com amoxicilina-clavulanato ou trimetoprima-sulfame-
ses a 1 ano. Essa distribuição etária é atribuída a um declínio na
toxazol.
quantidade de IgG materna na criança, associado à incapacidade
de a criança gerar anticorpos suficientes contra o antígeno cap-
Prevenção
sular polissacarídico até atingir a idade aproximada de 2 anos.
A vacina contém o polissacarídeo capsular de H. influenzae do
Achados clínicos tipo b conjugado ao toxoide diftérico ou à outra proteína car-
readora. Dependendo da proteína carreadora, a vacina é admi-
A meningite causada por H. influenzae não pode ser diferencia- nistrada entre as idades de 2 e 15 meses. Essa vacina é significati-
da clinicamente da causada por outros patógenos bacterianos vamente mais eficaz em crianças pequenas, comparada à vacina
(p. ex., pneumococos ou meningococos). A rápida manifestação não conjugada, e reduziu a incidência de meningite causada por
de febre, cefaleia e rigidez de nuca, juntamente com sonolência, esse microrganismo em aproximadamente 90% das crianças imu-
é característica. A sinusite e a otite média causam dor na região nizadas. A meningite em contatos próximos do paciente pode ser
afetada, opacificação dos seios infectados e vermelhidão e abau- prevenida com rifampina. A rifampina é utilizada por ser secre-
lamento da membrana timpânica. O H. influenzae é secundário tada na saliva em maior extensão que a ampicilina. A rifampina
somente em relação aos pneumococos como causa dessas duas reduz o porte respiratório do microrganismo, reduzindo, assim,
infecções. a transmissão.
170 PARTE li Bacteriologia Clínica

BORDETELLA fagocitárias (p. ex., neutrófilos), pode inibir a atividade bacteri-


cida dessas. Mutantes bacterianos desprovidos de atividade de
Doença ciclase são avirulentos.
A B. pertussis causa coqueluche (pertússis). (4) A citotoxina traqueal é um fragmento do peptide-
oglicano bacteriano que danifica as células ciliadas do trato
respiratório. A citotoxina traqueal aparentemente atua em con -
Características importantes junto com a endotoxina, induzindo óxido nítrico, que mata as
A B. pertussis é um bacilo gram-negativo pequeno, cocobacilar e células epiteliais ciliadas.
encapsulado.
Achados clínicos
Patogênese e epidemiologia A coqueluche é uma traqueobronquite aguda que inicia com
B. pertussis, um patógeno presente apenas em seres humanos, é sintomas brandos do trato respiratório superior, seguidos por
transmitido por gotículas disseminadas pelo ar, produzidas du- tosse paroxística grave, que perdura de uma a quatro sema-
rante episódios graves de tosse. Os microrganismos aderem-se ao nas. O padrão paroxístico caracteriza-se por crises de tosse
epitélio ciliado do trato respiratório superior, mas não invadem o espasmódica, acompanhadas pela produção de quantidades co-
tecido subjacente. O decréscimo da atividade ciliar e subsequente piosas de muco, terminando com uma inspiração "em grito': à
morte das células do epitélio ciliado são aspectos importantes da medida que o ar passa pela glote estreitada. Apesar da gravidade
patogênese. dos sintomas, o microrganismo restringe-se ao trato respiratório,
A coqueluche é uma doença altamente contagiosa que e as hemoculturas são negativas. Uma leucocitose acentuada é
ocorre principalmente em bebês e crianças pequenas, e exibe observada, com até 70% de linfócitos. Embora anoxia do sistema
distribuição mundial. O número de casos tem diminuído nos nervoso central e exaustão possam ocorrer como resultado da
Estados Unidos* em razão do amplo uso da vacina. No entanto, tosse grave, o óbito deve-se principalmente à pneumonia.
surtos de caxumba nos verões de 2005, 2010 e 2012, naquele país, O quadro clássico da coqueluche descrito anteriormente
geraram preocupação sobre a diminuição da imunidade e à reco- ocorre, na maioria das vezes, em crianças pequenas. Em adultos,
mendação de que novas doses de reforço fossem administradas a infecção por B. pertussis manifesta-se frequentemente por tosse
(ver "Prevenção,,) paroxística de gravidade variável, perdurando por semanas. Com
Vários fatores desempenham um importante papel na pa- frequência, a tosse convulsa característica é ausente, o que dificulta
togênese: o reconhecimento da tosse causada por esse microrganismo. Em
uma conduta clínica correta, adultos apresentando tosse por várias
(1) A adesão do microrganismo aos cílios das células epite- semanas (frequentemente referida como tosse de 100 dias) devem
liais é mediada por uma proteína presente nos pili, denominada ser avaliados quanto à presença de infecção por B. pertussis.
hemaglutinina filamentosa. Anticorpos contra a hemaglutinina
filamentosa inibem a adesão e protegem contra a doença.
Diagnóstico laboratorial
(2) A toxina pertússis estimula a adenilato-ciclase ao cata-
lisar a adição de adenosina difosfato ribose, um processo deno- O microrganismo pode ser isolado a partir de swabs da parte na-
minado ADP-ribosilação, à subunidade inibidora do complexo sal da faringe coletados durante o estágio paroxístico. O meio de
1
proteína G (proteína G). Isso resulta em estimulação prolongada Bordet-Gengou, utilizado com esse propósito, contém porcenta-
da adenilato-ciclase e uma consequente elevação de monofosfa- gem elevada de sangue (20-30%), a fim de inativar os inibidores
to de adenosina (AMP) cíclico e da atividade da proteína-cinase presentes no ágar.
dependente de AMP cíclico. Esse processo resulta em edema da A identificação do microrganismo isolado pode ser reali-
mucosa respiratória, o que contribui para os quadros de tosse zada por aglutinação com o antissoro específico ou por coloração
grave vistos na coqueluche. A toxina também possui um domínio com anticorpo fluorescente. Contudo, o microrganismo cresce
que medeia sua ligação a receptores da superfície das células epi- de forma muito lenta em cultura, de modo que a coloração di-
teliais do trato respiratório. É uma toxina composta por subuni- reta com anticorpo fluorescente dos espécimes da parte nasal da
dades A e B. faringe é frequentemente utilizada para o diagnóstico. Testes com
A toxina pertússis também causa uma acentuada linfocitose base na reação em cadeia da polimerase são altamente específicos
no sangue dos pacientes acometidos por coqueluche. A toxina e sensíveis, devendo ser empregados quando disponíveis.
inibe a transdução de sinal pelos receptores de quimiocina, re- O isolamento do microrganismo em pacientes apresentando
sultando na incapacidade de os linfócitos penetrarem no tecido tosse prolongada é frequentemente difícil. Testes sorológicos que
linfoide, como baço e linfonodos. Uma vez que os linfócitos não detectam a presença do anticorpo no soro do paciente podem ser
penetram no tecido linfoide, há um aumento de sua quantidade utilizados para o seu diagnóstico.
no sangue (ver a discussão sobre quimiocinas no Capítulo 58).
A inibição da transdução de sinal pelos receptores de quimioci- Tratamento
nas também é causada pela ADP-ribosilação da proteína Gi. A azitromicina é o fármaco de escolha. Observe que a azitromici-
(3) Os microrganismos também sintetizam e exportam na reduz o número de organismos na garganta e diminui o risco
adenilato-ciclase. Essa enzima, quando captada por células
1
0 microrganismo foi isolado pela primeira vez em 1906, por cientistas
*N. de T. Assim como no Brasil. franceses.
CAPÍTULO 19 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Respiratório 171

de complicações secundárias. No entanto, tem pouco efeito sobre Características importantes


o curso da doença quando ela alcança o estágio de tosse prolon-
As legionelas são bacilos gram-negativos que se coram fraca-
gada, uma vez que, a esta altura, a toxina já danificou a mucosa
mente pela coloração de Gram padrão. Possuem, no entanto,
respiratória. Cuidados de apoio (p. ex., terapia oxigênica e sucção
uma parede celular do tipo gram-negativa, e um maior tempo do
do muco) durante o estágio paroxístico são importantes, sobre-
contracorante safranina aumenta a sua visibilidade. As legionelas
tudo em bebês.
presentes em secções de biópsia pulmonar não são coradas pelo
método-padrão de hematoxilina e eosina (H&E); assim, métodos
Prevenção especiais, como a coloração de Dieterle de impregnação pela pra-
Existem dois tipos de vacinas, uma acelular, que contém as pro- ta, são utilizados para visualizar os microrganismos. Durante o
teínas purificadas do organismo, e uma vacina inativada, que surto de 1976, as primeiras tentativas de cultivo dos microrga-
contém células mortas de B. pertussis. A vacina acelular contém nismos em meios de cultura comuns falharam, uma vez que o
cinco antígenos da bactéria purificados. Trata-se da vacina atual- microrganismo requer uma alta concentração de ferro e cisteína.
mente utilizada nos Estados Unidos. O principal imunógeno Os meios de cultura suplementados com esses nutrientes propi-
dessa vacina é a toxina pertússis inativada (toxoide pertússis). ciam o crescimento.
O toxoide presente na vacina consiste na toxina pertússis ina- A L. pneumophila é responsável por aproximadamente 90%
tivada geneticamente pela introdução de duas modificações de das pneumonias atribuídas a legionelas. Existem 16 sorogrupos
aminoácidos, eliminando sua atividade de ribosilação de ADP, de L. pneumophila, sendo que a maioria dos casos é causado por
porém mantendo sua antigenicidade. Essa é a primeira vacina a organismos do sorogrupo 1. Existem cerca de 30 outras espécies
conter um toxoide inativado geneticamente. Outros antígenos de Legionella que causam pneumonia; no entanto, a maioria dos
pertússis presentes na vacina são hemaglutinina filamentosa, demais 10% de casos é causada por duas espécies, Legionella
pertactina e fímbrias dos tipos 2 e 3. A vacina acelular apresenta micdadei e Legionella bozemanii.
menos efeitos adversos do que a vacina inativada, porém induz
imunidade de menor duração. Patogênese e epidemiologia
A vacina contra a coqueluche é geralmente administrada em
As legionelas estão associadas principalmente a fontes ambien-
combinação com os toxoides diftérico e tetânico (DTPa) em três
tais de água, como aparelhos de ar-condicionado e torres de
doses, a partir dos 2 meses de idade. Recomenda-se uma dose
resfriamento de água. Surtos de pneumonia em hospitais foram
de reforço dos 12 aos 15 meses de idade e outra por ocasião do
atribuídos à presença do microrganismo em torneiras, pias e chu-
ingresso da criança na escola. Devido à ocorrência de surtos en-
veiros. A porta de entrada é o trato respiratório, e as alterações
tre adolescentes, recomenda-se uma dose de reforço entre as ida-
patológicas ocorrem principalmente no pulmão. Entretanto, em
des de 1O e 18 anos. Essa vacina, denominada Boostrix, também
casos graves, ocorre bacteriemia acompanhada por danos do
contém os toxoides diftérico e tetânico. Outra vacina, denomi-
endotélio vascular em múltiplos órgãos, principalmente encéfa-
nada Adacel, também contém os toxoides tetânicos e diftéricos.
lo e rins. O principal fator de virulência do microrganismo é o
Uma dose de reforço também é recomendada para adultos. Para
lipopolissacarídeo (endotoxina). Exotoxinas não são produzidas.
a proteção de recém-nascidos, mulheres grávidas devem receber
O candidato típico para a doença dos legionários seria um
a vacina. Anticorpos IgG antipertússis passarão pela placenta e
homem idoso, fumante e consumidor de quantidades substan-
protegerão o feto.
ciais de álcool. Pacientes com a síndrome da imunodeficiência
A vacina inativada não é mais utilizada nos Estados
adquirida (Aids), câncer, transplantados (sobretudo no caso de
Unidos ou no Brasil, devido à suspeita de causar vários efeitos
transplantes renais), ou pacientes sendo tratados com o uso de
colaterais, incluindo encefalopatia pós-vacinal em uma taxa de
corticosteroides são predispostos à pneumonia por Legionella,
aproximadamente um caso por milhão de doses administra-
indicando que, nesses casos, a imunidade celular é o mecanismo
das. No entanto, a vacina inativada ainda é utilizada em vários
, de proteção mais importante. Apesar da transmissão do organis-
pa1ses.
mo pelo ar, a disseminação interpessoal não ocorre, conforme
A eritromicina é útil na prevenção da doença em indivíduos
demonstrado pela não ocorrência de casos secundários em con-
não imunizados e expostos. Também deve ser administrada em
tatos próximos dos pacientes.
crianças imunizadas com idade abaixo de 4 anos que foram ex-
postas, uma vez que a imunidade induzida pela vacina não con-
fere proteção total. Achados clínicos
O quadro clínico pode variar desde enfermidade branda simi-
lar à gripe até uma pneumonia grave, acompanhada de confusão
LEGIONELLA mental, diarreia não sanguinolenta, proteinúria e hematúria
microscópica. Embora a tosse seja um sintoma proeminente, o
Doença escarro é frequentemente reduzido e não purulento. A hiponatre-
A L. pneumophila (e outras legionelas) causa pneumonia tanto mia (sódio sérico< 130 mEq/L) é um importante achado labora-
em pacientes imunocomprometidos encontrados na comunida- torial, sendo observada com maior frequência em pneumonias
de quanto em hospitais. O gênero recebeu a denominação de- causadas por Legionella do que nas causadas por outras bactérias.
vido ao famoso surto de pneumonia entre os participantes da A maioria dos casos regride espontaneamente em sete a 1O dias,
convenção da Legião Americana, na Filadélfia, em 1976 (doença mas, em idosos ou pacientes imunocomprometidos, a infecção
dos legionários). pode ser fatal.
172 PARTE li Bacteriologia Clínica

2
A legionelose é uma pneumonia atípica e deve ser dife- (A) Bordetella pertussis.
renciada de outras pneumonias similares, como pneumonia por (B) Haemophilus influenzae.
Mycoplasma, pneumonia viral, psitacose e febre Q. (C) Klebsiella pneumoniae.
A febre de Pontiac é uma forma branda, similar à gri- (D) Legionella pneumophila.
(E) Pseudomonas aeruginosa.
pe, de infecção por Legionella que não resulta em pneumonia.
A denominação "Pontiac" é derivada da cidade localizada em 2. Considerando o paciente da Questão 1, qual das seguintes opções
Michigan, Estados Unidos, que foi local de um surto em 1968. representa o melhor antibiótico para o tratamento dessa infecção?
(A) Azitromicina.
(B) Ceftriaxona.
Diagnóstico laboratorial (C) Gentamicina.
Colorações de Gram do escarro revelam diversos neutrófilos, (D) Metronidazol.
mas não bactérias. O microrganismo não cresce em m eios co- (E) Piperacilina/tazobactam.
muns em uma cultura de escarro ou sangue, porém crescerá 3. Seu paciente é um menino de 6 anos que se queixa de dor na ore-
em ágar carvão-levedura, um meio especial, suplementado lha. A mãe dele diz que isso começou ontem e que ele tem febre de
com ferro e cisteína. O diagnóstico geralmente depende da 39,4ºC. Ao exame físico, você vê um tímpano perfurado que está
observação de um aumento significativo no título de anti- exsudando uma pequena quantidade de pus. Utilizando um swab,
corpos no soro da fase convalescente por meio do ensaio de você obtém uma amostra de pus e faz uma coloração de Grame cul-
tura. A coloração de Gram revela pequenos bacilos cocobacilares.
imunofluorescência indireta. A detecção de antígen os de
Não há crescimento sobre uma placa de ágar-sangue, mas em uma
L. pneumophila na urina é uma forma rápida de realizar o placa de ágar-chocolate suplementada com fatores X e V crescem
diagnóstico. O teste do antígeno urinário está disponível ape- pequenas colônias cinzas. Qual das seguintes bactérias é a causa
nas para organismos do sorogrupo 1. Havendo disponibilidade mais provável da otite média?
de tecido, é possível demonstrar a presença de antígenos de (A) Bordetella pertussis.
Legionella em tecido pulmonar infectado utilizando-se a colo- (B) Haemophilus influenzae.
ração com anticorpo fluorescente. O título de crioaglutinação (C) Klebsiella pneumoniae.
não se eleva na pneumonia por Legionella, ao contrário da (D) Legionella pneumophila.
pneumonia por Mycoplasma. (E) Pseudomonas aeruginosa.
4. Este microrganismo é um pequeno bacilo gram-negativo que causa
Tratamento uma importante doença do trato respiratório. Ele produz uma to-
xina que ADP-ribosila a proteína G. Uma marcante característica
Azitromicina ou eritromicina (com ou sem rifampina) corres- da doen ça causada por este microrganismo é o aumento intenso de
pondem ao tratamento de escolha. Certas fluoroquinolonas, linfócitos. Atualmente não causa doença nos Estados Unidos devido
como levofloxacina e trovafloxacina, são também fármacos ao uso generalizado da vacina que induz anticorpos contra cinco de
de escolha. Esses fármacos são efetivos não somente contra suas proteínas, uma das quais é a exotoxina. Qual a mais provável
L. pneumophila, mas também contra Mycoplasma pneumoniae identidade do organismo misterioso?
e Streptococcus pneumoniae. O microrganismo frequentemente (A) Bordetella pertussis.
produz J3-lactamase, de modo que as penicilinas e as cefalospori- (B) Haemophilus influenzae.
nas são menos eficazes. (C) Klebsiella pneumoniae.
(D) Legionella pneumophila.
(E) Pseudomonas aeruginosa.
Prevenção
5. Sua paciente é uma mulher de 75 anos, com história de fumo de
A prevenção envolve a redução do consumo de cigarros e álcool, 110 maços de cigarro por ano, e que agora tem uma febre de 39ºC
eliminação de aerossóis oriundos de fontes de água, e redução e tosse produtiva de expectoração amarelada. A coloração de Gram
da incidência de Legionella nos suprimentos de água em hospi- do escarro mostra pequenos bacilos gram-negativos. Não há cres-
tais por meio de temperaturas elevadas e hipercloração. Não há cimento em ágar-sangue, mas colônias crescem em ágar-chocolate
vacina. suplementado com NAD e hemina. Qual das seguintes bactérias é a
causa mais provável dessa pneumonia?
(A) Bordetella pertussis.
APLIQUE SEU CONHECIMENTO (B) Haemophilus influenzae.
(C) Klebsiella pneumoniae.
1. Seu paciente é um homem de 75 anos que fumou cigarros ( dois (D) Legionella pneumophila.
maços por dia há mais de 50 anos) e consumiu bebidas alcoólicas (E) Pseudomonas aeruginosa.
(seis cervejas por dia) durante a maior parte de sua vida adulta.
6. Seu paciente é um menino de 5 anos, com febre alta e sinais de
Ele agora tem os sinais e sintomas de pneumonia. Uma coloração
obstrução das vias respiratórias. A visualização da epiglote mos-
de Gram do escarro revela neutrófilos, mas nenhuma bactéria.
tra inflamação caracterizada por inchaço acentuado e aparência
Colônias aparecem em ágar carvão-levedura (BYCE), mas não em
"vermelho-cerejà: Qual dos antibióticos a seguir é o melhor para o
ágar-sangue. Qual das seguintes bactérias é mais provável de ser a
tratamento da infecção?
causa da pneumonia?
(A) Ampicilina.
(B) Ceftriaxona.
2
Uma pneumonia é atípica quando seu agente causador não pode ser iso- (C) Doxiciclina.
lado em meios laboratoriais comuns ou quando seu quadro clínico não se (D) Gentamicina.
assemelha ao da pneumonia pneumocócica. (E) Metronidazol.
CAPÍTULO 19 Bacilos Gram-Negativos Relacionados ao Trato Respiratório 173

RESPOSTAS QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


1. (D) Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
2. (A) encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
3. (B) Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
4. (A)
também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
5. (B)
da página 731.
6. (B)

RESUMOS DOS ORGANISMOS


Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
-se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida
revisão do material essencial.
CA P ÍTU L O
Bastonetes Gram-Negativos

20 Relacionados a Fontes Animais


(Organismos Zoonóticos)

CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Bartonella
Bruce/la Aplique seu conl'teclmento
Francis.e/la Resumos dos organismos
Yerslnia Questões para autoavaliação
Pa.steurella

INTRODUÇÃO Característ icas Importantes


Zoonoses são doenças humanas causadas por microrganismos As brucelas são pequenos bacilos gram-negativos que não apre-
que são adquiridos de animais. Existem zoonoses bacterianas, vi. sentam cápsula. Os três principais patógenos humanos e seus
rais. fúngicas e parasitá.rias. Alguns microrganismos zoonóticos reservatórios animais são Bruce.lia melite.nsis (e.abras e ovelhas),
são adquiridos diretamente do reservatório anima1, ao passo que Bruce/la abortu, (gado) e Bruce/la suis (porcos).
outros são transmitidos por vetores. como mosquitos, pulgas ou
carrapatos. Patogênese e epldemlologla
Há quatro bacilos gram-negativos de importância médi- Os microrganismos entram no corpo tanto pe)a ingestão de lati~
ca que possuem reservatórios animais significativos: espécies cínios contaminados quanto atrayés da pele pelo contato direto
de Brucella. Francisella lulMensis, Ytt$l'nia pe..stis e Pasteute.lla em um cenário ocupacional. como um abatedouro. Eles 1oca1i-
multocida (fabeJa 20- 1). zam-se no sistema reticuloendoteliaJ, como lilúonodos, fígado.
baço e medu1a óssea. Muitos microrganismos são mortos por
macrófagos. mas alguns sobrevivem dentro dessas células. onde
BRUCELLA eles estão protegidos dos aJ\tic.orpos. A resposta do hospedeiro ê
granu)omatosa, c.om liJúócitos e cê)ulas gigaJ\tes epite)ioides.. as
Doença quais podem progredir para formar um abscesso foc.al. O me-
Espécies de Btucell.a causam bruce)ose (febre ondulante). canismo de patogênese desses microrgaJl.ismos ainda não é bem

TABELA 20-1 Bacilos gram-negativo.s associados a fontes animais

- da lnfwcçlo Modo de tra111mlulo de


Elf*I•• Ooo1191 hum11111 animais para •ru humanos Dlagn6stlco

Espécies de 8tucelose Suínos, bovinos, Laticínios; contato com tecidos Sorológico ou cultur.1
Bruce/lo cap,inos, ovinos animais

Ftondsello Tularemia Coelhos, cervos, Contato com tecidos animais; Sorológico


wlateMis cau.1patos cau.1patos

Yersinia Peste Roedores Mordida de pulga 1mut10Ruores~ncia ou cultura


pestis
Posteuteilo Celulite Gatos, cachorros Mordida de gato ou cachoao Material proveniente de cultura
multodda deferida
80,tone/lo Doença da arranhadur.1 do Gatos Mordida ou arran.hadura de gato; Sorológico ou colo,aça.ode prata
he,ue/oe gato e angiomatose bacilar mordida de pulga de gato warthin·Starry do tecido
CAPÍTULO 20 Bastonetes Gram-Negativos Relacionados a Fontes Animais (Organismos Zoonóticos) 17S

definido, exceto pelo fato de que a endotoxina está envolvida. epidemiologia. O tipo A é mais virulento e encontrado principal-
Exotoxinas não são produzidas. mente nos Estados Unidos, ao passo que o tipo B é menos viru-
Queijo importado feito de leite de cabra não pasteurizado, lento e encontrado principalmente na Europa.
produzido tanto no México quanto em regiões do Mediterrâneo,
tem sido uma fonte de infecção por B. melitensis nos Estados Uni- Patogênese e epidemiologia
dos. A doença ocorre mundialmente, mas é rara nos Estados Uni-
dos, uma vez que a pasteurização do leite mata o microrganismo.* A F. tularensis é notável na grande variedade de animais que
infecta e na amplitude da sua distribuição nos Estados Unidos.
É enzoótica (endêmica em animais) em todos os Estados Uni-
Achados clínicos dos, mas a maioria dos casos ocorre em áreas rurais do Arkansas
Após um período de incubação de uma a três semanas, sintomas e Missouri. Já foram isoladas mais de 100 espécies diferentes de
inespecíficos ocorrem, como febre, calafrios, fadiga, mal-estar, animais selvagens, sendo os mais importantes coelhos, cervos e
anorexia e perda de peso. O início pode ser agudo ou gradual. uma variedade de roedores. A bactéria é transmitida entre esses
O padrão de febre ondulante (aumentando e diminuindo), que animais por vetores, como carrapatos, ácaros e piolhos, sobre-
fornece seu nome à doença, ocorre na minoria dos pacientes. tudo carrapatos Dermacentor que se alimentam do sangue de
Aumento dos gânglios linfáticos, fígado e baço são frequente- coelhos selvagens. O carrapato mantém a cadeia de transmissão
mente encontrados. Pancitopenia ocorre. Infecções por B. meli- passando as bactérias à sua descendência por via transovariana.
tensis tendem a ser mais graves e prolongadas, ao passo que as Nesse processo, as bactérias são passadas por meio dos estágios
causadas por B. abortus são mais autolimitadas. A osteomielite de ovo, larva e ninfa para carrapatos adultos capazes de transmi-
é a complicação mais frequente. A disseminação secundária de tir a infecção.
,
pessoa a pessoa e rara. Os seres humanos são hospedeiros acidentais "finais,, que
adquirem uma infecção principalmente ao serem mordidos pelo
Diagnóstico laboratorial vetor ou por terem contato cutâneo com o animal durante a re-
moção da pele. Raramente, o microrganismo é ingerido em carne
A recuperação do microrganismo requer o uso de meio de cultu-
contaminada, causando tularemia gastrintestinal, ou é inalado,
ra enriquecido e incubação em CO2 10%. O microrganismo pode
causando pneumonia. Não há disseminação de pessoa a pessoa.
ser identificado presuntivamente utilizando um teste de aglutina-
O tipo principal de tularemia nos Estados Unidos é a transmitida
ção em lâmina com antissoro de Brucella, e as espécies podem ser
por carrapatos de um coelho reservatório.**
identificadas por testes bioquímicos. Se os microrganismos não
são isolados, análises de amostras de soro de pacientes para um O microrganismo penetra na pele, formando uma úlcera no
local na maioria dos casos. Em seguida, localiza-se nas células do
aumento no título de anticorpos para Brucella podem ser usadas
sistema reticuloendotelial, e granulomas são formados. Necrose
para fazer um diagnóstico. Na ausência de uma amostra de soro
de fase aguda, um título de pelo menos 1: 160 em amostra de soro caseosa e abscessos também podem ocorrer. Os sintomas são
de fase convalescente é diagnosticado. causados principalmente por endotoxina. Nenhuma exotoxina
foi identificada.

Tratamento
Achados clínicos
O tratamento de escolha é a tetraciclina associada à rifampina.
Não há resistência significativa a esses fármacos. A apresentação pode variar de um início súbito com sintomas
semelhantes a uma gripe a um início prolongado de uma febre
baixa e adenopatias. Aproximadamente 75% dos casos são do
Prevenção
tipo "ulceroglandular': no qual o local de entrada ulcera e os lin-
A prevenção da brucelose envolve a pasteurização do leite, a imu- fonodos regionais estão inchados e doloridos. Outras formas me-
nização de animais e o abate de animais infectados. Não há vaci- nos frequentes de tularemia incluem glandular, oculoglandular,
na para seres humanos. tifoidal, gastrintestinal e pulmonar. A doença geralmente confere
imunidade vitalícia.

FRANCISELLA Diagnóstico laboratorial


Doença As tentativas para cultivar o microrganismo em laboratório são
raramente realizadas, uma vez que existe um alto risco de in-
A Francisella tularensis causa tularemia.
fecção por inalação nos trabalhadores do laboratório, e o meio
contendo cisteína especial necessário para o crescimento geral-
Características importantes mente não está disponível. O método diagnóstico mais utilizado
A F. tularensis é um bacilo gram -negativo pequeno, pleomórfico. é o teste de aglutinação com amostras de soro de fase aguda e
Ele apresenta apenas um tipo sorológico. Existem dois biotipos, convalescente. A coloração com anticorpo fluorescente do tecido
A e B, que são distinguidos principalmente por sua virulência e infectado pode ser usada, se estiver disponível.

*N. de R. T. A doença também é rara no Brasil, embora haja focos em **N. de R.T. No Brasil, não há casos registrados dessa doença, de acordo
regiões rurais onde o consumo de leite não pasteurizado é comum. com dados do Ministério da Saúde.
176 PARTE li Bacteriologia Clínica

Tratamento O cido urbano, que não ocorre nos Estados Unidos, consiste
na transmissão da bactéria entre ratos urbanos (que são o reser•
A estreptomicina é o fármaco de escolha. Não há resistência sig.
,,atório) tendo a pulga do rato como vetor. Esse ciclo predomina
nificativa a antibióticos.
durante periodos de. fa1ta de saneamento (p. ex.• em tempo de
guerra), quando os ratos proHferam e entram em coJ\tato com as
Prevenção pulgas no ciclo silvestre.
A prevenção envo)ve evitar tanto a mordida por catrapatos quanto Os eventos no interior da pulga são fasciJ\antes.. bem como
a manipulação de animais si)vestres. Existe uma vacina que apre• essenciais. A pu)ga ingere a bactéria enquanto se alimenta do
senta a bactéria viva atenuada que é fornecida apenas a pessoas sangue de roedores com bacteriemia. Um biofi1me espesso con•
como caçadore.s de pele, cuja ocupação os co)oca em contato pró. tendo muitos microrganismos se forma na região superior do
ximo com animais se)vagens. A vacina é experimental e não está trato gastrintestinal, impedindo que qualquer a1ünento prossiga
disponível comercja)mente, mas pode ser obtida do U.S. Army até o trato gastrintestina1 da pu1ga. f.ssa pulga "bloqueada': então,
Medical Research Command. Fort Detrick, Maryland Essa vacina• regurgita os organismos dentro da corrente sanguinea do próxi·
e a vacina do bacilo de Calmette-Guérin (BCG) para tuberculose mo animal ou ser humano que a pulga morder.
são as duas ü.nicas vacinas de bactérias vivas para uso hwuano. Os microrganismos inoculados no momento da mordida
espalham.se para linfonodos regionais, os quais se tornam incha•
dos e dolorosos. Esses Jinfonodos inchados são os bubões, que
YERSINIA originaram o nome peste bubônica. Os microrganismos podem
akançar a1tas conceJ\trações no sangue (bacteriemia) e dissemi·
Doença nar.se para formar abscessos em diversos órgãos. Os sintomas
A Yersinia pestfs é a causa da peste, também conhecida como pes• reladonados à endotoxina, induindo coagulação intravascu)ar
te negra, o flage)o da Idade Média. Ela também é wna doença disseminada e hemorragia cutânea, provavelmente são a gênese
contemporânea. ocorrendo no oeste dos Estados Unidos e em do termo peste negra.
divetsos outros países do mundo. Duas espécies menos impor. Além dos ciclos de transmissão siJvestre e urbano, a trans•
tantes, Yersinia enterocoh'ti~ e. YerJinia pseudotuberculoSJ's. são missão do microrganismo por gotículas respiratórias provenien•
descritas no Capítu)o 27. tes de pacieJ\tes com praga pneumônic.a pode ocorrer.
O microrganismo apresenta aJguns fatores que contribuem
para sua virulência: ( 1) o antígeno do envelope capsular, chama•
Características importantes do de f . J, que protege contra a fagocitose; (2) endotoxina; (3)
A Y. pestis é um pequeno badlo gram.negativo que exibe co)o. uma exotoxina; e (4) duas proteínas conhecidas como antígeno V
ração bipolar (Le., assemelha.se a um pino de segurança, com e antfgeJ\o W. Os antígenos V e. W permitem ao organismo SO·
uma área dara central). Microrganismos recém•isolados pos• breviver e se multiplicar de forma intracelu1ar. Não obstante, seu
suem wna cápsu1a composta por wn comp)exo proteína.polissa. modo de ação ainda é desconhecido. A ação da exotoxina é des·
c.arfdeo. Acápsu1a pode ser perdida com repiques em laborató- conhecida.
rio; a perda da cápsula é acompanhada pela perda da virulência. Outros fatores que contribuem para a patogenicidade ex•
Trata.se de uma das bactérias mais virulentas conhecidas e apre.. traordinária de Y. pe.stis são um grupo de fatores de virulência,
senta uma OI» muito baixa (i.e.• um a 10 microrganismos são coletivameJ\te chamado de Yops (proteína.s externas de Yersinia
e.a.pazes de causar doença). 1YerSJ'nia ou ter proteins )). Elas são injetadas dentro de uma célula
humana via sistema secretor tipo UI e inibem a fagocitose e a
Patogênese e epidemiologia produção de citodnas por mac.rófagos e neutrófiJos. Por exem•
pio, uma das proteínas Yops (Yop/) é uma protease que quebra
O bacilo da peste tem sido endêmico em roedores selvagens da
duas proteínas da via de transdução de sinal necessárias para a
Europa e Ásia por milhares de anos. mas entrou na América do indução da s(ntese do fator de necrose tumora1. Jsso inibe a ati•
Korte no inlcio dos anos 1900. provavelmente transportado por
vação das defesas hospedeiras e contribui para a habilidade do
um rato que abaJ\dOJ\Ou o barco em um porto na Ca1ifórnia. Ele
microrganismo em replicar rapidamente dentro do indivíduo
agora ê endêmico em roedores setvage1ts no oeste dos Estados
Unidos, apesar de.99% dos casos de praga ocorrerem no Sudeste i1úectado.
Asiático.""
O cido enzoótico (silvestre) consiste na transmissão entre Achados clínicos
roedores selvagens por meio de pulgas. Nos Estados Unidos. os A peste bubônica. a forma mais frequente, começa com dor e in·
cães~de•pradaria são o principa1 reservatório. Roedores são re.. chaç.o dos linfoJ\odos que drenam o local da mordida da pulga e
)ativamente resistentes à doenç.a; a maioria é assintomática. Os sintomas sistêmicos. como febre, mia1gias e prostração. Os gân·
seres humanos são hospedeiros acidentais.. e casos de peste nos glios afetados aumentam e tornam.se deJicadamente dolorosos..
Estados Unidos oc.orrem como resultado da mordida de pulgas Esses bubões são wna característica inicial encoJ\trada. O clioque
que fazem parte de um cido silvestre. séptico e a pneumonia são os principais eventos subsequentes de
risco à vida, A peste pneumô1tica pode resultar tanto da inalação
•N. de R.T. No Brasil não hâ \,a,cina, uma \'ez.quc a doença inexiste aquL de um aerosso) quanto de um êmbolo séptico que alcança os pul·
·"N. de R.T. No Brasil. a doença humana i: rara e está limitada às regiões mões. A peste bubônica não tratada é fatal em cerca de metade dos
rurais do Nordeste. Minas Gerais, Espirito Santo e Rio de Janeiro. casos. e a peste pneumônica não tratada é invariavelmente futa1.
CAPÍTULO 20 Bastonetes Gram-Negativos Relacionados a Fontes Animais (Organismos Zoonóticos) 177

Diagnóstico laboratorial como um fator predisponente à infecção. A maioria das infecções


oriundas de mordidas são polimicrobianas, tendo presentes uma
O esfregaço e a cultura do sangue ou pus derivado do bubão é
variedade de organismos anaeróbios facultativos, sobretudo espé-
o melhor procedimento diagnóstico. Grande cuidado deve ser
cies de Streptococcus, e também anaeróbios, adicionalmente à P.
tomado pelo médico durante a aspiração do pus e por trabalha-
multocida. A patogênese não é bem compreendida, exceto pelo
dores de laboratórios que fazem a cultura para não criar um ae-
fato de a cápsula ser um fator de virulência e a endotoxina estar
rossol capaz de transmitir a infecção. As colorações de Giemsa
presente na parede celular. Nenhuma exotoxina é produzida.
ou Wayson revelam a típica aparência de pino de segurança do
microrganismo com mais acerto do que a coloração de Gram.
Achados clínicos
A coloração por anticorpo fluorescente pode ser usada para
identificar o microrganismo no tecido. Um aumento no título de A celulite que se espalha rapidamente no local da mordida de um
anticorpo para o antígeno do envelope pode ser útil retrospecti- animal é um indicativo de infecção por P. multocida. O período
vamente. de incubação é curto, geralmente menor que 24 horas. A osteo-
mielite pode complicar a mordida de gato em particular, porque
Tratamento os dentes pontiagudos e afiados de gatos podem implantar o mi-
crorganismo sob o periósteo.
O tratamento de escolha é uma combinação de estreptomicina
e uma tetraciclina, como a doxiciclina, embora a estreptomicina
Diagnóstico laboratorial
possa ser usada individualmente. A levofloxacina também pode
ser usada. Não há resistência significativa a antibióticos. Tendo O diagnóstico é feito pelo encontro do microrganismo na cultura
em vista a rápida progressão da doença, o tratamento não deve de uma amostra do local da ferida.
esperar pelos resultados da cultura bacteriológica. A incisão e
drenagem dos bubões normalmente não são necessárias. Tratamento
A penicilina G é o tratamento de escolha. Não há resistência sig-
Prevenção nificativa a antibióticos.
A prevenção da peste envolve o controle da propagação de ratos
em áreas urbanas, prevenindo a entrada dos ratos no país por Prevenção
meio de barco ou avião, e evitando tanto a mordida de pulga Indivíduos que foram mordidos por gatos devem receber ampi-
quanto o contato com roedores selvagens mortos. Um paciente cilina para prevenir infecção por P. multocida. Mordidas de ani-
com peste deve ser colocado em isolamento estrito (quarente- mais, sobretudo de gatos, não devem ser suturadas.
na) por 72 horas após o início da terapia antibiótica. Apenas as
pessoas mais próximas necessitam receber tetraciclina profilá-
tica, mas todos os contatos devem ser observados quanto à fe- BARTONELLA
bre. Relatar um caso de peste às autoridades de saúde pública é
obrigatório. Doença
Uma vacina consistindo em microrganismos inativados por A Bartonella henselae é a causa da doença decorrente da arranha-
formalina fornece proteção parcial contra a peste bubônica, mas dura de gato e da angiomatose bacilar. A doença da arranhadura
não contra a pneumônica. Essa vacina foi utilizada pelas Forças de gato é uma das doenças zoonóticas mais comuns nos Estados
Armadas dos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, mas Unidos.
não é recomendada para turistas que viajam ao Sudeste Asiático.
Características importantes
PASTEURELLA A B. henselae é um bacilo gram-negativo pequeno, pleiomórfico.
Trata-se de um microrganismo fastidioso que não crescerá em
Doença cultura de rotina em ágar-sangue. Ele pode ser cultivado em meio
A Pasteurella multocida causa infecções com ferida associadas à especializado em laboratório clínico.
mordida de gato e cachorro.
Patogênese e epidemiologia
Características importantes Arranhões de gato e mordidas, sobretudo de filhotes, são o prin-
A P. multocida é um bacilo gram-negativo curto, encapsulado, cipal modo de transmissão de B. henselae para seres humanos.
que exibe coloração bipolar. O microrganismo é membro da microbiota oral de diversos ga-
tos. Há evidências de que ele seja transmitido de gatos para seres
humanos pela mordida de pulgas de gatos. A exposição à urina
Patogênese e epidemiologia ou às fezes de gato não representa um risco de transmissão. A
O microrganismo é parte da microbiota normal da boca de di- transmissão de pessoa a pessoa por B. henselae não apresenta um
versos animais, particularmente cães e gatos domésticos, e é papel significativo na infecção.
transmitido por mordida. Cerca de 25% das mordidas de animais É um microrganismo de baixa virulência e a doença é auto-
tornam-se infectadas com o microrganismo, com suturas atuando limitada em indivíduos imunocompetentes.
178 PARTE li Bacteriologia Clínica

FIGURA 20-1 Doença da arranhadura do gato. Observe os dois lin-


fonodos axilares inflamados e intumescidos em um paciente com a
doença da arranhadura do gato. (Reproduzida, com permissão, de Wolff K,
Johnson R. Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis ofClinicai Dermatology. 6th ed. New
York: McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)

FIGURA 20-2 Angiomatose bacilar. Observe a lesão cutânea verme-


lho-cereja, semelhante a um hemangioma. (Reproduzida, com permissão,
Achados clínicos de Wolff K, Johnson R. Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of Clinicai Dermatolo-

Em indivíduos imunocompetentes, B. henselae causa a doença gy. 6th ed. New York: McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 por The McGraw-Hill
Companies, lnc.)
da arranhadura de gato (CSD, cat-scratch disease). Essa doença
é caracterizada por febre e linfonodos aumentados e doloro-
sos, geralmente no mesmo lado que o arranhão (Figura 20-1). imunológicos. O microrganismo pode ser cultivado em meio
A pápula no local do arranhão pode preceder a linfadenopatia. artificial, porém, dessa forma, demora cinco dias ou mais para
A CSD apresenta um curso prolongado, mas é resolvida, mes- crescer e, por isso, geralmente não é feito. O diagnóstico de BA
mo sem antibióticos. Uma pequena porcentagem dos indivíduos é muitas vezes feito pela descoberta de bacilos pleiomórficos na
infectados desenvolve doença sistêmica, como endocardite ou biópsia de tecidos utilizando coloração de prata Warthin-Starry.
encefalite. A análise patológica do tecido da lesão irá distinguir angiomatose
Em indivíduos imunocomprometidos, sobretudo aque- bacilar de sarcoma de Kaposi.
les com a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids),
B. henselae causa a angiomatose bacilar (AB). A AB é caracte-
rizada por lesões vasculares proeminentes, vermelho-cereja,
Tratamento
acometendo a pele e os órgãos viscerais (Figura 20-2). As lesões Nenhuma terapia antibiótica é geralmente recomendada para
parecem papulares ou nodulares. Peliose bacilar (peliosis hepatis) CSD. Se o paciente apresentar linfadenite grave, a azitromici-
é similar à angiomatose bacilar, exceto pelo fato de que na peliose na é o fármaco de escolha. O tratamento da AB com doxicicli-
as lesões ocorrem principalmente no fígado e baço na ou eritromicina é efetivo. Não há resistência significativa a
antibióticos.
Diagnóstico laboratorial
Com frequência, o diagnóstico de CSD é realizado sorologica-
Prevenção
mente. Anticorpos contra antígenos B. henselae podem ser detec- Os antibióticos não são recomendados para indivíduos que te-
tados no soro de pacientes por meio de uma variedade de testes nham sofrido uma arranhadura de gato. Não há vacina.
CAPÍTULO 20 Bastonetes Gram-Negativos Relacionados a Fontes Animais (Organismos Zoonóticos) 179

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 4. Em relação à Bartonella henselae, qual das seguintes opções é a mais
precisa?
1. Seu paciente é um menino de 10 anos que apresenta febre alta e lin-
(A) B. henselae é um bacilo gram-positivo, anaeróbio, formador de
fonodos axilares inchados e doloridos, no lado esquerdo. Sua mãe
esporo.
disse que ele trouxe para casa um rato morto há alguns dias. Você (B) O hábitat natural da B. henselae é a boca de gatos.
suspeita que ele possa ter a peste bubônica. Quanto ao microrganis- (C) B. henselae causa celulite em pacientes imunocomprometidos,
mo causador, qual das seguintes alternativas é mais precisa? como pacientes com Aids.
(A) Ele apresenta uma D150 muito baixa. (D) O diagnóstico no laboratório clínico depende da detecção de
(B) Ele é transmitido de roedores a seres humanos via carrapatos. anticorpos no soro de pacientes que aglutinarão cardiolipina.
(C) É endêmico principalmente nos Estados ao longo da costa les- (E) O fármaco de escolha para infecções por B. henselae é o metro-
te dos Estados Unidos. nidazol.
(D) Seu principal fator de virulência é uma exotoxina que induz a
produção de IL-2 por células T auxiliares CD4 positivas.
(E) A infecção deve ser tratada com altas doses de penicilina G RESPOSTAS
intravenosa.
1. (A)
2. Seu paciente é um homem de 20 anos que foi mordido na mão
2. (C)
quando tentava separar a briga entre dois gatos. Ele agora tem uma
3. (A)
lesão inchada, vermelha, quente e dolorida no local da mordida que
4. (B)
se espalhou rapidamente por toda a mão. Qual das seguintes bacté-
rias é a causa mais provável de sua celulite?
(A) Brucella melitensis.
(B) Francisella tularensis.
RESUMOS DOS ORGANISMOS
(C) Pasteurella multocida. Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
(D) Yersinia pestis. -se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida
3. Sua paciente é uma mulher de 30 anos que relata ter tido febre in- revisão do material essencial.
termitente de 38,9ºC, sudorese e cansaço desde o mês passado. Ela
perdeu o apetite e perdeu cerca de 4,5 kg nesse período. Ela gosta de
comer queijo de cabra não pasteurizado. No exame, foi detectada QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
hepatosplenomegalia. Um hemograma revela pancitopenia. Qual
das seguintes bactérias é a causa mais provável dessa infecção? Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
(A) Brucella melitensis. encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
(B) Francisella tularensis. Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
(C) Pasteurella multocida. também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
(D) Yersinia pestis. da página 731.
CAPÍTULO

21 Micobactérias

CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Aplique seu conhecimento


Mycobocterium tube.rculosis Resumos dos organismos
Micobactérias atípicas Questões para autoavaliação
Mycobacterlum leprae

INTRODUÇÃO kansasii, podem causar doença similar à tuberculose. porém são


patógenos menos frequentes. Bactérias de crescimento rápido,
As micobactérias são bacilos (bastonetes) aeróbios acldorresis• como o Mycobacterium chelonae. ocasionalmente causam doen•
tentes (Figura 21· 1). Esses microrganismos não são gram. po- ças humanas em pacientes imunocomprometidos ou naque)es
sitivos nem gram-negativos (i.e., são fracamente corados pelos que receberam implantes de apare)hos prostéticos (TabeJa 21-1).
corantes utilizados na coloração de Gram). As micobactérias As características clinicas de três importantes mic.obactétias são
são, praticamente. as únicas bactérias acidorresistentes. (Com a descritas na 'làbe)a 21-2.
exceção de Nocardia ,uteroides, a principa1 causa de nocardiose.
que também é acidorresistente.) O termo acidorresi'stente refere.
-se à capacidade de um organismo reter o ooraJ\te carbo)fucsina. MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS
apesar do tratamento subsequente com uma mistura etanol-áci-
do doridrico. O elevado teor Hpídico (aproximadamente 60%) de Doença
sua parede celular torna as micobactérias acidorresistentes. Esse é o organismo causador da tuberculose. Mundialmente, o
Os principais patógenos são Mycobaaerium tubcrculo- M. tuberculosis causa mais mortes do que qua1quer outro agente
sis, a causa da tubercu)ose. e Mya:ibactcrium leprae, o agen. microbiano. Cerca de um terço da população mundia1 encontra-
te da hansenfase. Micobactérias atípicas, como o comp)e. ·Se infectada por esse microrganismo. Anualmente, estima-se
xo Mycobacten'um avium-1'ntrace.llulare. e Mycobacterium que 1,7 miJhão de pessoas morram devido à tuberculose, com a
ocorrência de 9 milhões de novos casos a cada ano. Estima.se que
500 mil pessoas estejam infectadas com uma cepa mu1tirresisten-
te de M. tuberculosis.

Características Importantes
O M. tuberculos1's c.resce lentamente (i.e., seu tempo de dobra•
mento corresponde a 18 horas, contrariame11te à maioria das
bactérias. que são capazes de duplicar seu número em uma hora
ou menos). Pe)o fato de o crescimento ser tão lento, as cu1turas de
espécimes clínicos devem ser mantidas por seis a oito semanas
antes de serem consideradas negativas. M. tuberculosis pode ser
cu1tivado em meios bacterio)ógicos, ao contrário de M. leprae. Os
meios utilizados para seu crescimento (p. ex.• meio de Lõwens•
tei11-Je11se11) contêm nutrientes complexos (p. ex.• gema do ovo)
e corantes (p. ex... verde malaquita). Os corantes inibem a micro•
FIGURA 21-1 Mycobactedum ruberculos is - colo(açâo acido,tesiSa biota normaJ indesejada presente em amostras de escarro.
tente. Bacilos vermelhos longos de M. tubercukHis são vísualitados em O M. tuberculosisé um mkrorganismo aeróblo obrigatório;
um fundo a2:ul. (figura cortesia do Dr. George Kublc.a, PubOc Health lmage isso expHca sua preferência ein causar doença em tecidos alta•
Ubtary, Centers for Dlsease Control and Prev-enUon.l mente oxigenados.. como o lobo superior do pulmão e os rins.
CAPÍTULO 21 Micobactérias 181

TABELA 21-1 Micobactérias de importância médica

Crescimento em meio Temperatura preferencial


Espécies bacteriológico invivo (ºC) Fonte ou modo de transmissão

M. tubercu/osis Lento (semanas) 37 Gotículas respiratórias

M. bovis Lento (semanas) 37 Leite de animais infectados

M. leprae Nenhum 32 Contato próximo prolongado


1
Micobactérias atípicas Lento (semanas) 37 Solo e água

M. kansasii

M.marinum Lento (semanas) 32 Água

Complexo M. avium-intracellulare Lento (semanas) 37 Solo e água

M. fortuitum-chelonae complex Rápido (dias) 37 Solo e água


1
Apenas exemplos representativos são fornecidos.

A propriedade acidorresistente de M. tuberculosis (e outras micólico, enquanto outra ocorre no gene de catalase-peroxidase,
micobactérias) é atribuída a ácidos graxos de cadeias longas enzima necessária à ativação da INH no interior da bactéria.
(C78-C90), denominados ácidos micólicos, que estão presentes
na parede celular desses organismos.
Transmissão e epidemiologia
O fator corda (dimicolato de trealose) está correlacionado à
virulência do microrganismo. Linhagens virulentas crescem em O M. tuberculosis é transmitido de pessoa a pessoa por aerossóis
um padrão característico, similar a uma corda com aspecto de respiratórios, sendo o pulmão o local inicial de infecção. No cor-
"serpentina': não observado em linhagens não virulentas. O mi- po, o microrganismo localiza-se principalmente no interior de
crorganismo também contém diversas proteínas que, quando células reticuloendoteliais (p. ex., macrófagos). Os seres huma-
combinadas com as ceras, promovem uma hipersensibilidade tar- nos correspondem ao reservatório natural de M. tuberculosis.
dia. Essas proteínas são os antígenos utilizados no teste cutâneo de Apesar de alguns animais poderem ser infectados, eles não são
PPD, do inglês, purified protein derivative (derivado proteico pu- um reservatório para a infecção humana. A transmissão ocorre
rificado; também conhecido como teste cutâneo de tuberculina). principalmente por aerossóis gerados pela tosse de indivíduos
Um lipídeo localizado na parede celular bacteriana, denominado com "esfregaço-positivo" (i.e., indivíduos cujo escarro contém
tiocerol dimicoserosato, é requerido para a patogênese no pulmão. bacilos detectáveis pela coloração acidorresistente). No entanto,
O M. tuberculosis é relativamente resistente a ácidos e álcalis. cerca de 20% dos indivíduos são infectados por aerossóis produ-
NaOH é utilizado para concentrar espécimes clínicos; destrói zidos pela tosse de indivíduos com "esfregaço-negativo':
bactérias indesejadas, células humanas e muco, porém não des- Nos Estados Unidos, a tuberculose é uma doença prati-
trói o microrganismo. M. tuberculosis é resistente à desidratação, camente exclusiva de seres humanos. Em países em desenvol-
de modo que sobrevive em escarro expectorado seco; essa pro- vimento, Mycobacterium bovis também causa tuberculose em
priedade pode ser importante em sua transmissão por aerossóis. seres humanos. M. bovis é encontrado em leite de vaca, o qual,
Linhagens de M. tuberculosis resistentes ao principal fárma- exceto quando pasteurizado, pode causar tuberculose gastrintes-
co antibacteriano, a isoniazida (hidrazida do ácido isonicotíni- tinal em seres humanos. A tuberculose ocorre somente em um
co [HIN] ), além de linhagens resistentes a múltiplos antibióti- pequeno número de indivíduos infectados. Nos Estados Unidos,
cos (denominadas linhagens resistentes a múltiplos fármacos a maioria dos casos de tuberculose está associada à reativação
[MDR] ), se tornaram um problema mundial. Essa resistência é em homens idosos malnutridos. O risco de infecção e doença
atribuída a uma ou mais mutações cromossômicas, uma vez que é maior em indivíduos de baixo poder socioeconômico, com
não foram encontrados plasmídeos nesse organismo. Uma des- moradia precária e má nutrição. Estes fatores, em detrimento de
sas mutações ocorre em um gene envolvido na síntese de ácido fatores genéticos, são os prováveis responsáveis pelas altas taxas

TABELA 21-2 Características clínicas de micobactérias importantes

Principal local Teste cutâneo Uso de terapia com Vacina


Organismo de infecção em uso comum múltiplos fármacos disponível

M. tubercu/osis Pulmões Sim Sim Sim

M. avium-intracellulare Pulmões Não Sim Não

M. leprae Pele, nervos Não Sim Não


182 PARTE li Bacteriologia Clínica

de infecção, nos Estados Unidos, entre ameríndios, afro-ameri- Anticorpos circulantes também são formados, porém não
canos e indivíduos nativos do Alaska. * desempenham qualquer papel na resistência e não são utilizados
para fins diagnósticos. Pacientes que apresentam deficiência na
Patogênese resposta imune celular, como aqueles com a síndrome da imu-
nodeficiência adquirida (Aids), possuem risco muito maior de
O M. tuberculosis não produz exotoxinas, assim como não contém
desenvolver tuberculose disseminada e potencialmente fatal.
endotoxina em sua parede celular. De fato, nenhuma micobactéria
Mutações no gene do receptor de interferon -y são outra causa de
produz toxinas. O microrganismo infecta preferencialmente imunidade celular defectiva que predispõe à tuberculose grave.
macrófagos e outras células reticuloendoteliais. O M. tuberculosis
Isso enfatiza a importância da ativação de macrófagos por inter-
sobrevive e multiplica-se no interior de um vacúolo celular, deno-
feron -y na defesa do hospedeiro contra M. tuberculosis.
minado fagossomo. O microrganismo sintetiza uma proteína, de-
A infecção prévia pode ser detectada por um resultado
nominada "proteína repetitiva exportadà: que impede a fusão do positivo no teste cutâneo de tuberculina, o qual é decorrente
fagossomo com o lisossomo, permitindo, assim, que o organismo
de uma reação de hipersensibilidade tardia. O PPD é utilizado
escape das enzimas degradativas do lisossomo.
como antígeno no teste cutâneo de tuberculina. A preparação de
As lesões são dependentes da presença do organismo e da PPD de intensidade intermediária, que contém cinco unidades
resposta do hospedeiro. Existem dois tipos de lesões: de tuberculina, é geralmente utilizada. O teste cutâneo é ava-
( 1) Lesões exsudativas, que consistem em uma resposta liado medindo-se o diâmetro do intumescimento ao redor do
inflamatória aguda e ocorrem principalmente nos pulmões, no local do teste cutâneo (Figura 21-2). Observa-se que deve ser en-
local inicial da infecção. contrado intumescimento (espessamento), e não apenas eritema
(2) Lesões granulomatosas, que consistem em uma área (vermelhidão).
central com células gigantes contendo bacilos tuberculosos, O diâmetro necessário para julgar o teste como positivo
circundada por uma zona de células epitelioides. Essas células depende do estado do indivíduo submetido ao teste. Intumesci-
gigantes, denominadas células gigantes de Langhans, são mentos de 15 mm ou mais são positivos para um indivíduo que
um importante achado patológico das lesões tuberculosas. não apresenta fatores de risco conhecidos. O intumescimento de
Um tubérculo consiste em um granuloma circundado por tecido 1O mm ou mais é positivo para um indivíduo que apresenta fato-
fibroso que sofreu necrose caseosa central. Os tubérculos cicatri- res de alto risco, como um indivíduo indigente, usuário de drogas
zam por fibrose e calcificação. intravenosas ou residente de asilos. O intumescimento de 5 mm
ou mais é positivo para um indivíduo que apresenta deficiência
A lesão primária da tuberculose geralmente ocorre nos na imunidade celular (p. ex., pacientes com Aids) ou indivíduos
pulmões. A lesão exsudativa parenquimal e os linfonodos que estabeleçam contato próximo com uma pessoa apresentando
adjacentes são conjuntamente denominados complexo de Ghon. tuberculose ativa.
As lesões primárias, em geral, ocorrem nos lobos inferiores, ao Um teste cutâneo positivo indica infecção prévia pelo
passo que as lesões por reativação geralmente ocorrem nos ápices. microrganismo, mas não necessariamente doença ativa. O teste
As lesões de reativação ocorrem também em outros locais bem- de tuberculina mostra-se positivo quatro a seis semanas após a
-oxigenados, como rins, encéfalo e ossos. A reativação é observada
infecção. A imunização com a vacina do bacilo Calmette-Guérin
principalmente em pacientes imunocomprometidos ou debilitados. (BCG) (ver página 185) pode provocar um teste positivo, porém
A disseminação do microrganismo pelo corpo ocorre por as reações, em geral, apresentam 5 a 1O mm e tendem a dimi-
dois mecanismos:
(1) Um tubérculo pode erodir em um brônquio, perder seu
conteúdo caseoso e, desse modo, disseminar o microrganismo
para outras regiões dos pulmões, para o trato gastrintestinal, se
deglutido, e para outros indivíduos quando expectorado.
(2) Pode se disseminar pela corrente sanguínea até vários
órgãos internos. A disseminação pode ocorrer em um estágio
precoce se a imunidade celular for incapaz de conter a infecção
inicial, ou em um estágio tardio se o indivíduo tornar-se imuno-
comprometido.

Imunidade e hipersensibilidade
Após a recuperação da infecção primária, a resistência ao mi-
crorganismo é mediada pela imunidade celular (i.e., por células
T CD4-positivas e macrófagos). As células T CD4-positivas são
células T auxiliares Th-1 (ver Capítulo 58).
FIGURA 21-2 Teste cutâneo da tuberculina. Um derivado proteico
*N. de R.T. O Brasil é um dos 22 países no mundo que, segundo a purificado (PPD) foi injetado intradermicamente e, após 48 horas, o
Organização Mundial da Saúde, concentra 80% dos casos estimados. A diâmetro do inchaço local é medido com um paquímetro. (Reproduzi-
maior parte das notificações acontece nos Estados da região Sudeste do da, com permissão, de Talaro KP. Foundations in Microbiology. 8th ed. New York:
Brasil. McGraw-Hil, 2011.)
CAPÍTULO 21 Micobactérias 183

nuir com o tempo. Indivíduos apresentando reações de PPD com


15 mm ou mais são considerados infectados por M. tuberculosis,
mesmo que tenham recebido a vacina BCG. Um teste cutâ-
neo positivo reverte-se para negativo em cerca de 5 a 10% dos
indivíduos. Atualmente, nos Estados Unidos, a reversão para ne-
gativo é mais comum que há alguns anos, uma vez que, nos dias
atuais, existe menor probabilidade de um indivíduo ser exposto
ao microrganismo e, consequentemente, menor probabilidade de
receber um estímulo para o sistema imune.
O teste cutâneo por si não induz uma resposta positiva em
uma pessoa que não tenha sido exposta ao microrganismo. Este
pode, no entanto, "reforçar,, uma resposta fraca ou negativa em
um indivíduo que tenha sido exposto, produzindo uma reação
positiva. As implicações clínicas desse "efeito de reforço,, estão
além do objetivo deste livro.
A reatividade à tuberculina é mediada pelo ramo celular do
sistema imune; ela pode ser transferida por células T CD4 posi-
tivas, mas não pelo soro. A infecção pelo vírus do sarampo pode
suprimir a imunidade celular, resultando em uma perda de reativi-
dade ao teste cutâneo de tuberculina e, em algumas circunstâncias,
na reativação de microrganismos dormentes e da doença clínica.
Um gene denominado Nramp determina a resistência natu-
ral à tuberculose. Indivíduos que apresentam mutações no gene
Nramp exibem taxa muito mais elevada de tuberculose clínica
em comparação aos indivíduos com o alelo normal. A proteína FIGURA 21-3 Eritema nodoso. Observe os nódulos eritematosos
NRAMP localiza-se na membrana do fagossomo de macrófagos ao longo da superfície anterior da tíbia, bilateralmente. (Cortesia do Dr.
Hanus Rozsypal.)
e desempenha importante papel na morte do microrganismo no
interior do fagossomo.

expectorado a partir de uma lesão pulmonar, ou por M. bovis in-


Achados clínicos gerido a partir de laticínios não pasteurizados. A tuberculose da
Os achados clínicos são múltiplos e vários órgãos podem es- parte oral da faringe geralmente apresenta-se na forma de uma
tar envolvidos. Febre, fadiga, suores noturnos e perda de peso úlcera indolor, acompanhada por adenopatia local.
são comuns. A tuberculose pulmonar provoca tosse e hemop- Na tuberculose renal, ocorrem disúria, hematúria e dor
tise. A escrófula corresponde a uma linfadenite cervical mico- de flanco. A "piúria estéril,, é um achado característico. A urina
bacteriana que se apresenta na forma de linfonodos intumes- contém leucócitos, no entanto, as culturas de patógenos bacte-
cidos e não sensíveis, geralmente com distribuição unilateral. rianos comuns do trato urinário não exibem crescimento. Entre-
O M. tuberculosis é o agente causador da maior parte dos casos de tanto, as culturas micobacterianas são frequentemente positivas.
escrófula. No entanto, micobactérias que não causam a tuberculo- Observa-se que a maioria (aproximadamente 90%) das
se, como é o caso de Mycobacterium scrofulaceum, também podem infecções por M. tuberculosis são assintomáticas. Infecções as-
causar a escrófula. A linfadenite é a manifestação extrapulmonar sintomáticas, também conhecidas como infecções latentes, po-
mais comum da tuberculose. Pacientes infectados pelo vírus da dem reativar e causar tuberculose sintomática. Embora possam
imunodeficiência humana (HIV) são mais propensos a apresentar existir algumas diferenças quanto à virulência entre linhagens
a linfadenite multifocal do que aqueles não infectados pelo HIV. do microrganismo, o determinante de maior importância da
O eritema nodoso, caracterizado por nódulos sensíveis manifestação da doença corresponde à adequação da resposta
ao longo das superfícies extensoras da tíbia e da ulna, é uma imune celular do hospedeiro (CMI, cell mediated immune respon-
manifestação de infecção primária observada em pacientes que se). Por exemplo, pacientes com Aids exibem uma taxa muito ele-
estão controlando a infecção por meio de uma resposta potente vada de reativação a partir de uma infecção assintomática prévia
mediada por células (Figura 21-3). A tuberculose miliar carac- e de rápida progressão da doença. Nesses pacientes, a doença
teriza-se por múltiplas lesões disseminadas, similares a grãos de causada por M. tuberculosis não tratada exibe taxa de mortalida-
alpiste. A meningite tuberculosa e a osteomielite tuberculosa, de de 50%. Além disso, a administração de infliximabe (Remica-
principalmente a osteomielite vertebral (doença de Pott), consti- de), um anticorpo monoclonal que neutraliza o fator de necrose
tuem formas disseminadas importantes. tumoral (TNF, tumor necrosis factor), promoveu a ativação de tu-
A tuberculose gastrintestinal caracteriza-se por dor abdo- berculose latente em alguns pacientes. Infliximabe é utilizado no
minal e diarreia, acompanhadas por sintomas gerais de febre e tratamento de artrite reumatoide (ver Capítulo 66). Indivíduos
emagrecimento. Pode ocorrer obstrução ou hemorragia intesti- diabéticos também apresentam predisposição à reativação e pro-
nal. A região ileocecal corresponde ao local mais frequentemente gressão da doença.
envolvido. A tuberculose do trato gastrintestinal pode ser cau- Em alguns pacientes com Aids que são infectados pelo
sada por M. tuberculosis quando este é deglutido após ter sido M. tuberculosis, o uso da terapia antirretroviral altamente ativa
184 PARTE li Bacteriologia Clínica

(HAART, highly active antiretroviral therapy) causa uma exacer- Há duas abordagens para o diagnóstico de infecções latentes.
bação dos sintomas. Esse fenômeno é denominado síndrome in- Uma delas consiste no teste cutâneo de PPD, conforme descrito
flamatória da reconstituição imune (IRIS, immune reconstitution anteriormente neste capítulo, na seção "Imunidade e hipersensibi-
inflammatory syndrome). A explicação para a intensificação dos lidade': Uma vez que existem dificuldades para a interpretação do
sintomas se baseia no fato de que a terapia HAART causa um au- teste PPD, assim como para o retorno do indivíduo para a leitura
mento no número de células T CD4 do paciente, o que aumenta a do teste cutâneo, um teste laboratorial quantitativo mostra-se útil.
resposta inflamatória. Para prevenir esse fenômeno, os pacientes Esse teste laboratorial é um ensaio de liberação do interferon 'Y
devem ser tratados para as infecções subjacentes antes do início (IGRA, interferon--y release assay), e há duas versões disponíveis:
da terapia HAART. Quantiferon-TB e T-spot.TB. Nesse teste, as células sanguíneas
do paciente são expostas a antígenos de M. tuberculosis, sendo
Diagnóstico laboratorial medida a quantidade de interferon gama liberada pelas células. A
sensibilidade e especificidade do IGRA são tão eficientes quanto
A coloração acidorresistente do escarro ou de outro espécime
o teste cutâneo de PPD. Uma vez que os antígenos usados nesse
clínico é o teste inicial comum (Figura 21-1). Tanto a versão
teste são específicos para M. tuberculosis e não estão presentes no
de Kinyoun da coloração acidorresistente quanto a versão de BCG, o ensaio não é influenciado pelo fato de o paciente ter sido
Ziehl-Neelsen, mais antiga, podem ser utilizadas. Para fins de
previamente imunizado ou não com a vacina BCG.
avaliação rápida, o corante auramina, que pode ser visualizado
por microscopia de fluorescência, é utilizado.
Após a digestão do espécime pelo tratamento com NaOH Tratamento e resistência
e concentração por centrifugação, o material é cultivado em A terapia com múltiplos fármacos é utilizada para prevenir a
meios especiais, como ágar Lõwenstein- Jensen, por até oito se- emergência de mutantes resistentes a fármacos durante a longa
manas. Esse microrganismo não cresce em placa de ágar-sangue. duração do tratamento (de seis a nove meses). (Microrganismos
No meio líquido BACTEC, metabólitos radiativos são incor- que se tornam resistentes a um dos fármacos serão inibidos pelo
porados e o crescimento pode ser detectado pela produção de outro.) A isoniazida (INH), um fármaco bactericida, correspon-
dióxido de carbono radiativo em cerca de duas semanas. Um de à base do tratamento. O tratamento da maioria dos pacien-
meio líquido é preferido para o isolamento, uma vez que o mi- tes acometidos por tuberculose pulmonar é realizado com três
crorganismo cresce de forma mais rápida e reprodutível do que fármacos: INH, rifampina e pirazinamida. INH e rifampina são
em meio sólido. Se houver crescimento, o microrganismo pode administradas por seis meses. Entretanto, o tratamento com pira-
ser identificado por meio de testes bioquímicos. Por exemplo, M. zinamida é interrompido após dois meses. Um regime um pouco
tuberculosis produz niacina, ao contrário de praticamente todas diferente também pode ser utilizado. Um método conveniente de
as demais micobactérias, sintetizando, também, catalase. se lembrar desse regime consiste em administrar quatro fárma-
Testes de amplificação do ácido nucleico podem ser utiliza- cos (isoniazida, rifampina, pirazinamida e etambutol) por dois
dos para detectar a presença de M. tuberculosis diretamente nos meses e dois fármacos (isoniazida e rifampina) por quatro meses.
espécimes clínicos como o escarro. Testes estão disponíveis para Em pacientes imunocomprometidos (p. ex., pacientes com Aids),
detectar tanto o RNA ribossomal quanto o DNA de microrganis- que apresentam doença disseminada, ou que provavelmente al-
mos. Esses testes são altamente específicos, mas sua sensibilidade bergam organismos resistentes à INH, o quarto fármaco, o etam-
varia. Em espécimes de escarro que apresentam coloração aci- butol, é acrescentado, sendo todos os quatro fármacos adminis-
dorresistente positiva, a sensibilidade é alta, mas em espécimes trados por um período de nove a 12 meses.
"esfregaço-negativos': a sensibilidade é significativamente baixa. Embora a terapia seja geralmente administrada durante me-
Esses testes são muito úteis para decidir quando iniciar a terapia ses, o escarro do paciente torna-se não infeccioso no período
prévia para obter os resultados da cultura. de duas a três semanas. A necessidade de terapia prolongada é
Uma vez que a resistência a fármacos, sobretudo contra a atribuída (1) à localização intracelular do microrganismo; (2) ao
isoniazida (ver a seguir), representa um problema, testes de susce- material caseoso, que bloqueia a penetração do fármaco; (3) ao
tibilidade devem ser realizados. Todavia, o microrganismo cres- crescimento lento do microrganismo; e (4) às formas "persisten-
ce de forma muito lenta e os testes de suscetibilidade geralmente tes,, metabolicamente inativas no interior da lesão. Uma vez que os
demandam várias semanas, período muito longo para orientar a microrganismos metabolicamente inativos podem não ser mortos
escolha inicial dos fármacos. Para resolver esse problema, testes pelos fármacos antituberculose, o tratamento pode não erradicar
moleculares estão disponíveis, os quais detectam mutações nos a infecção, podendo ocorrer a reativação da doença no futuro.
genes cromossômicos que codificam tanto o gene da catalase, que A linfadenite, incluindo a linfadenite cervical (escrófula)
medeia a resistência à isoniazida, quanto o gene da RNA-polime- causada pelo M. tuberculosis, deve ser tratada com o mesmo re-
rase, que medeia a resistência à rifampina. O ensaio de luciferase, gime de fármacos descrito anteriormente para a doença disse-
capaz de detectar em poucos dias microrganismos resistentes a minada. A escrófula causada pelo M. scrofulaceum pode ser tra-
fármacos, também é utilizado. A luciferase é uma enzima isolada tada pela remoção cirúrgica do linfonodo cervical, no entanto,
de vagalumes, que produz luz na presença de trifosfato de adeno- existem abordagens alternativas. Uma discussão completa desses
sina (ATP). Se o microrganismo isolado do paciente for resistente, aspectos está além do escopo deste livro.
ele não será danificado pelo fármaco (i.e., produzirá quantidade O tratamento de infecções latentes (assintomáticas) consis-
normal de ATP), e a luciferase produzirá a quantidade normal de te na administração de INH por seis a nove meses ou INH mais
luz. Quando o organismo for sensível ao fármaco, haverá menor rifapentina por três meses. Essa abordagem é empregada com
produção de ATP, bem como de luz. maior frequência em pacientes assintomáticos, cujo teste cutâneo
CAPÍTULO 21 Micobactérias 185

de PPD converteu-se recentemente a um resultado positivo. O ris- dos recentes e realizar o tratamento de infecções latentes, con-
co de infecção sintomática é maior nos primeiros dois anos após forme descrito anteriormente. Grupos que devem ser avaliados
a infecção, de modo que a INH é particularmente indicada para com o teste cutâneo de PPD incluem indivíduos com infecção
esses "convertidos recentes': A INH é também utilizada em crian- por HIV, contatos próximos de pacientes com tuberculose ati-
ças expostas a pacientes com tuberculose sintomática. Pacientes va, populações de baixa renda, alcoólatras e usuários de drogas
que recebem INH devem ser avaliados quanto à presença de he- intravenosas, presidiários e indivíduos estrangeiros oriundos de
patite induzida por fármacos, principalmente pacientes com idade países com alta incidência de tuberculose.
acima de 35 anos. A rifampina pode ser utilizada em indivíduos Uma vez que existem alguns problemas associados aos tes-
expostos a linhagens resistentes à INH. Uma combinação de ri- tes cutâneos de PPD, como a medida e interpretação dos resul-
fampina e pirazinamida não deve ser utilizada, uma vez que ela foi tados, e a inconveniência de o paciente precisar retornar para a
responsável por elevada taxa de dano hepático grave. leitura do teste cutâneo, foi desenvolvido um teste laboratorial
A resistência à INH e a outros fármacos antituberculose é para detectar infecções latentes. Esse teste, denominado Quan-
observada com frequência crescente nos Estados Unidos, sobre- tiferon-TB (QFT), mede a quantidade de interferon -y liberada
tudo em imigrantes do Sudeste Asiático e da América Latina. pelos linfócitos do paciente após a exposição ao PPD em cultura
Linhagens de M. tuberculosis resistentes a múltiplos fármacos celular. O QFT necessita apenas de um espécime sanguíneo co-
(linhagens MDR) surgiram, principalmente em pacientes com letado e determina a quantidade de interferon -y por meio de um
Aids. O padrão mais comum corresponde à resistência à INH e teste imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA).
à rifampina, mas alguns isolados são resistentes a três ou mais A vacina BCG pode ser utilizada para induzir resistência
fármacos. O tratamento de microrganismos MDR geralmente parcial à tuberculose. A vacina contém uma linhagem de M. bovis
envolve o uso de quatro ou cinco fármacos, incluindo ciproflo- viva atenuada, denominada bacilo de Calmette-Guérin. A vacina
xacina, amicacina, etionamida e cicloserina. As recomendações é eficaz na prevenção do surgimento de tuberculose na forma de
exatas dependem do padrão de resistência do isolado e não fazem uma doença clínica, sobretudo em crianças, embora não previna
parte do objetivo deste livro. a infecção por M. tuberculosis. No entanto, um importante pro-
Em 2013, um novo fármaco, a bedaquilina, foi aprovada blema em relação à vacina é sua efetividade variável, que pode
para o tratamento de linhagens MDR. Ela deve ser usada em variar de Oa 70%. É utilizada principalmente em regiões do mun-
combinação com outros fármacos, e não como uma monotera- do onde a incidência da doença é elevada. A vacina geralmente
pia. Ela é uma diarilquinolina que inibe uma ATP sintase exclu- não é utilizada nos Estados Unidos, em virtude de sua efetividade
siva de M. tuberculosis. variável e porque a incidência da doença é baixa, não compen-
O tratamento prévio contra a tuberculose predispõe à sando, portanto, seu custo.*
seleção desses organismos MDR. A não adesão ao tratamento A reatividade do teste cutâneo, induzida pela vacina admi-
(i.e., pacientes que não completam o curso total da terapia) repre- nistrada em crianças, desaparece com o tempo, e a interpretação
senta um fator importante para a sobrevivência de microrganis- da reação do teste cutâneo em adultos não é alterada pela vacina.
mos resistentes. Uma abordagem para o problema da não adesão Por exemplo, reações ao teste cutâneo de 10 mm ou mais não de-
corresponde à terapia diretamente observada (TDO), na qual vem ser atribuídas à vacina, exceto quando esta foi administrada
profissionais da área da saúde observam o paciente tomando a recentemente. Nos Estados Unidos, o uso da vacina limita-se a
medicação. crianças pequenas que se encontram em contato próximo com
As linhagens de M. tuberculosis que são resistentes à INH, indivíduos apresentando tuberculose ativa e aos militares. Ava-
à rifampina, a uma fluoroquinolona e pelo menos mais um fár- cina BCG não deve ser administrada em indivíduos imunocom-
maco são chamadas de linhagens extensivamente resistentes a prometidos, uma vez que os microrganismos BCG vivos podem
fármacos (XDR, extensively drug-resistant). As linhagens XDR causar doença disseminada.
surgiram em 2005, na África do Sul, entre pacientes infectados A vacina BCG também é utilizada no tratamento de câncer
porHIY. de bexiga. A vacina é instilada na bexiga e atua na estimulação
inespecífica da imunidade celular, a qual pode inibir o cresci-
Prevenção mento das células do carcinoma.
A pasteurização do leite e a eliminação do gado bovino infec-
A incidência da tuberculose começou a diminuir significativa- tado são importantes para a prevenção de tuberculose intestinal.
mente antes mesmo do advento da terapia medicamentosa nos
anos 1940. Esse fato é atribuído às melhores condições de mo-
radia e nutrição, que aumentaram a resistência dos hospedeiros.
MICOBACTÉRIAS ATÍPICAS
Atualmente, a prevenção da disseminação do microrganismo
depende, em grande parte, da rápida identificação e do tratamen- Várias espécies de micobactérias são caracterizadas como
to adequado de pacientes que expelem o microrganismo pela atípicas, uma vez que diferem em certos aspectos do protótipo,
tosse. O uso de máscaras e outros procedimentos de isolamen- M. tuberculosis. Por exemplo, micobactérias atípicas são ampla-
to respiratório para impedir a disseminação da doença para os mente distribuídas no meio ambiente e não são patogênicas para
profissionais médicos também é importante. A identificação de cobaias, ao passo que M. tuberculosis é encontrado apenas em seres
indivíduos expostos a pacientes com doença pulmonar ativa com humanos, sendo altamente patogênico para cobaias. As micobacté-
tosse deve ser realizada.
Um componente importante da prevenção consiste na *N. de R.T. No Brasil, a vacina faz parte do Programa Nacional de
aplicação do teste cutâneo de PPD, a fim de detectar converti- Imunizações e é dada ao nascimento, em dose única.
186 PARTE li Bacteriologia Clínica

TABELA 2 1-3 Classificação de Runyon de micobactérias atípicas

Fo~o do pigmento

Gnlpo Taxa ele cresclm.nto Claro Escuro Esp4clos tfpicu

Lenta + M. kansasJi, M. madnum

li tenta + + M. sctofuloceum

Ili Lenta Compléxo M. ovi'um·iflttacellulare

IV Rápida M. fottuituf'l't-chelõnaecomplex

rias atípicas são algumas vezes chamadas de outras micobactérias difetenciação por meio de testes laboratoriais-padrão é bas-
não Tuberculosis (MOTTS, mycobac.teria 01her than 1überculosis). tante difícil Esses organismos causam doenças pu)monares
As micobactérias atípicas são classificadas em quatro gru- clinicamente indistinguíveis da tubercu1ose, principa1mente
pos, de acordo com sua taxa de crescimento e sua condição de em pacientes imunocomprometidos, como aque)es com Aids,
produzir pigmento em determinadas situações (Tabe)a 21 -3). cuja contagem de células T CD4 está abaixo de 200/µ,L MAi é
As micobac.térias atípicas nos grupos I, Il e Ili crescem Jentamen- a causa bactetiana mais comum da doença em pacientes com
te. em uma taxa simiJar à de M . tuberwlosis. ao passo que as no Aids. Os microrganismos são amplamente distribuídos no meio
grupo l V são "'produtores rápidos~ produz.indo colônias em me- ambiente, incluindo água e so)o, particularmente 110 sudeste
nos de sete dias. Os microrganismos do grupo J fotmam co)ônias dos Estados Unidos. São altamente resistentes a fármacos anti-
com pigmento amare)o-alatanjado somente quando expostos à ruberculose e, frequentemente. é necessária a combinação de até.
luz (fotocromogênloo.s), ao passo que os organismos do grupo seis fátmacos para o tratamento adequado. Os atuais fármacos
11 produzem o pigmento principalmente na aus~ncia de luz (es- de. escolha são a clatittomicina e um ou mais dos seguintes
ootocromogênicos). As micobactérias do grupo UI produzem fármacos: etambutol, rifabutina ou ciprofloxacina. A clatitro-
pouco ou nenhum pigmento amarelo-alatanjado, independente-· mkina atualmente é recomendada na prevenção da doença em
mente da presença ou ausência de luz (ac.romogênlcos). pacientes com Aids.

Grupo 1(fotocromogênlcos) Grupo IV (mico bactérias de


M. kans.uii causa doença pulmonar clinicamente semelhante à crescimento rápido)
tuberculose. Pot ser antigenic.amente similar à M. tuberculosis. os O comp)exo Mycobacten'um fottuitum -chelonae é composto
pacientes apresentam teste cutã11eo de tubercu)ina positivo com por duas espécies similares, M. fortuitum e M. che.lonae. Esses
frequência. Seu hábitat no meio ambiente é. desconhecido, mas microrganismos são saptófitas. encontrados sobretudo no solo
as infecções causadas por esse microrganismo são observadas. e na água. raramente causando doença em setes humanos. As
nos Estados Unidos. nos Estados do Centro-Oeste e. no Texas. ilúec.ções ocorrem principalmente em duas populações: (1) pa-
~ suscetível aos fánnacos antituberculose padrão. cientes imunoc-omprometidos e (2) indivíduos com artic.ulações
Mycobacterium marfoum causa "granuloma da piscina': prostét.icas de quadril e fazendo uso de cateteres intetnos. lnfec.
também conhecido como "granu)oma do aquário"'. F.ssas lesões ções da pele e de tecidos moles ocorrem nos locais de ferimen-
ulcetantes granulomatosas ocotrem na pe)e no local de abrasões tos por agulhas (p. ex., Jocais tatuados). Esses organismos são
ocorridas em pisci11as e aquários. O hábitat natural do microtga- frequentemente resistentes à tetapia antituberculose; a terapia
nismo são águas doe.e e salgada. O tratamento com uma tetraci- com múltiplos fármacos em combinação. associada à excisão
dina, como minocidina, é efic.az. cirórgic.a. pode ser requerida para o tratamento efetivo. Os atuais
fármacos de esc-olha são amicacina mais doxicidina.
Grupo li (escotocromogênlcos) Mycobacterium absce.ssus é outra micobactêria de crescimen-
to tápido adquirida a partir do meio ambiente. Causa infecções
M. scrofulaceum causa escrôfula, uma adenite c.ervic.a) gra11ulo-
matosa, geraJmente em crianças. (M. tuberculosis também cau- pulmonares. bem como infecções de pele. ossos e articulações.
.É altamente resistente a antibióticos.
sa escrôfula.) O microrganismo penetra através da parte otal da
faringe e infecta os )üúonodos adjac.entes. Seu hábitat natural Mycobacterium smegmatis é uma micobactétia de cresci-
mento rápido, não associada a doenças humanas. O microrganis-
compreende fontes de água ambientais. mas foi também isola-
mo é membro da microbiota normal do esmegma, o material que
do como um saprófita do trato respiratório humano. A escrófu)a
se acumu)a abaixo do prepúcio.
frequentemente pode ser curada pela excisão cirúrgic.a dos linfo-
nodos afetados.
MYCOBACTERIUM LEPRAE
Grupo Ili (acromogênlcos)
O complexo M. avium-inlracellulare (MAi, MAC} é com- Doença
posto por duas espécies. M. avium e M. intracellulate, cuja Esse microtganismo causa Jepra (hansenfase).
CAPÍTULO 21 Micobactérias 187

TABELA 21-4 Comparação entre as hanseníases tuberculoide e lepromatosa

Característica Hanseníase tuberculoide Hanseníase lepromatosa

Tipo de lesão Uma ou poucas lesões com pequena Muitas lesões com destruição tecidual
destruição tecidual evidente

Número de bacilos acidorresistentes Poucos Vários

Probabilidade de transmit ir a hanseníase Baixa Alta

Resposta celular a M. Jeprae Presente Reduzida ou ausente

Teste cutâneo da lepromina Positivo Negativo

Características importantes dano causado pela resposta imune celular (CMI, cell-mediated
immune) nos nervos.
O M. leprae não é cultivável em laboratório, quer em meios arti-
Há duas formas distintas de hanseníase - tuberculoide e
ficiais quer em cultura celular. Pode ser multiplicado em animais
lepromatosa - com várias formas intermediárias entre os dois
experimentais, como em camundongos ou tatus. Os seres huma-
nos são os hospedeiros naturais, embora o tatu possa correspon- extremos (Tabela 21 -4).
der a um reservatório para a infecção humana na região do delta (1) Na hanseníase tuberculoide (também conhecida como
do Rio Mississippi, nos Estados Unidos, onde esses animais são hanseníase paucibacilar), a resposta CMI ao organismo limita o
comuns. Em vista disso, a hanseníase pode ser considerada uma seu crescimento, raros bacilos acidorresistentes são encontrados
zoonose, ao menos em determinados Estados do sul dos Estados
e os granulomas contêm formas celulares gigantes. Parece prová-
Unidos, como Louisiana e Texas.*
vel que a lesão do nervo seja causada pela imunidade celular, uma
A temperatura ótima de crescimento (30ºC) do M. leprae é
vez que existem poucos microrganismos e a resposta CMI é forte.
mais baixa do que a temperatura corpórea, de forma que a bac-
A resposta CMI consiste principalmente em células
téria se multiplica preferencialmente na pele e em nervos super-
CD4-positivas e um perfil Th-1 de citocinas, ou seja, interferon
ficiais. Cresce muito lentamente, apresentando um tempo de
geração de 14 dias. Isso o torna o patógeno bacteriano de seres -y, interleucina 2 e interleucina 12. A resposta CMI é responsável
humanos de crescimento mais lento. Como consequência, a tera- pelos danos aos nervos observados na hanseníase tuberculoide.
pia antibiótica deve ser mantida por um longo período, em geral, O resultado do teste cutâneo da lepromina é positivo.
por vários anos. O teste cutâneo da lepromina é similar ao teste da tuberculina
(ver anteriormente). Um extrato de M. leprae é injetado intra-
Transmissão dermicamente, sendo observada a induração após 48 horas nos
indivíduos em que a resposta imune celular contra o microrga-
A infecção é adquirida por contato prolongado com pacientes nismo encontra-se presente.
acometidos por hanseníase lepromatosa, que expelem grande (2) Na hanseníase lepromatosa (também conhecida como
número de M. leprae nas secreções nasais e a partir das lesões
hanseníase multibacilar), a resposta celular contra a bactéria é
cutâneas. Nos Estados Unidos, a hanseníase ocorre principalmen-
parca, a pele e as membranas mucosas apresentam grandes quan-
te no Texas, em Louisiana, na Califórnia e no Havaí. A maioria dos
tidades de organismos, histiócitos esponjosos em vez de granulo-
casos ocorre em imigrantes oriundos do México, das Filipinas, do
mas são encontrados e o resultado do teste cutâneo da lepromina
Sudeste Asiático e da Índia. A doença ocorre em nível mundial,
sendo a maioria dos casos observados nas regiões tropicais da é negativo. A lesão do nervo parece ser causada pelo contato di-
Ásia e da África. Possivelmente, o tatu não corresponde a um reto, uma vez que existem muitos microrganismos e a resposta
reservatório importante, uma vez que não é encontrado em várias celular é pequena.
regiões do mundo nas quais a hanseníase é endêmica. Há evidências de que pacientes com a hanseníase leproma-
tosa produzem interferon ~ (interferon de atividade antiviral)
Patogênese em resposta à infecção pelo M. leprae, ao passo que indivíduos
que apresentam a forma tuberculoide da hanseníase produzem
O microrganismo replica-se intracelularmente, em geral no
interferon -y. A presença de interferon ~ inibe a síntese de interfe-
interior de histiócitos cutâneos, células endoteliais e células de
ron -y e, portanto, diminui a resposta CMI necessária para conter
Schwann. O dano nervoso na hanseníase é o resultado de dois
a infecção.
processos: dano causado pelo contato direto com a bactéria ou
Observa-se que, na hanseníase lepromatosa, apenas ares-
posta celular contra M. leprae é defectiva (i.e., o paciente é
*N. de R.T. No Brasil, a hanseníase é considerada um grave problema
anérgico a M. leprae). A resposta celular contra outros microrga-
de saúde pública, sendo que o país apresenta uma taxa relativamente
elevada de casos (1,5 por 10 mil habitantes) que se concentram nos nismos não é afetada, e a resposta humoral contra M. leprae en-
Estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão (dados do Ministério contra-se intacta. Entretanto, esses anticorpos não são protetores.
da Saúde (2012]). A resposta de células T consiste principalmente em células Th-2.
188 PARTE li Bacteriologia Clínica

Achados clínicos
O período de incubação perdura por vários anos e a
manifestação da doença é gradual. Na hanseníase tuberculoide,
são observadas lesões cutâneas de natureza macular hipopig-
mentada ou em placa, nervos superficiais espessados e anestesia
significativa das lesões cutâneas (Figura 21-4). Na hanseníase
lepromatosa, são observadas múltiplas lesões cutâneas nodu-
lares, resultando na característica fácies leonina (Figura 21-5).
Após o início da terapia, pacientes com hanseníase lepromatosa
frequentemente desenvolvem eritema nodoso leprótico (ENL),
interpretado como sinal de restabelecimento da imunidade ce-
lular. O ENL caracteriza-se por nódulos dolorosos, principal-
mente ao longo das superfícies extensoras da tíbia e ulna, neu-
rite e uveíte.
O aspecto desfigurante da doença resulta de vários fatores:
(1) a anestesia cutânea resulta em queimaduras e outros traumas,
que frequentemente se tornam infectados; (2) a reabsorção óssea
leva à perda de traços, como os do nariz e das extremidades dos
dedos; e (3) a infiltração da pele e dos nervos leva ao espessamen-
to e pregueamento da pele. Na maioria dos pacientes apresen-
tando lesão cutânea simples, a doença regride espontaneamente.
Pacientes acometidos por formas intermediárias da doença, en -
tre as formas tuberculoide e lepromatosa, podem progredir para
FIGURA 21-5 Hanseníase lepromatosa. A forma lepromatosa é ca-
qualquer dos extremos.
racterizada por lesões múltiplas, em relevo, frequentemente com a
aparência de fácies leonina (a face assemelha-se à de um leão com a
Diagnóstico laboratorial sobrancelha proeminente). (Cortesia de Robert H. Gelber, M.D.)

Na hanseníase lepromatosa, a presença dos bacilos pode ser facil-


mente demonstrada realizando-se uma coloração acidorresisten- As culturas são negativas, uma vez que o microrganismo não
te das lesões de pele ou dos raspados nasais. Macrófagos repletos cresce em meios artificiais.
de lipídeos, denominados "células esponjosas': que contêm mui- Um teste sorológico para detecção de IgM contra o glicolípe-
tos bacilos acidorresistentes, são observados na pele. Na forma de fenólico do tipo 1 é útil para o diagnóstico da hanseníase lepro-
tuberculoide, são observados poucos microrganismos e o apare- matosa, mas não é útil no diagnóstico da hanseníase tuberculoide.
cimento de granulomas típicos é suficiente para o diagnóstico. O diagnóstico da hanseníase lepromatosa pode ser confirmado
pelo uso da reação em cadeia da polimerase (PCR) a partir de uma
amostra de pele. Resultados falso-positivos em testes sorológicos
inespecíficos para sífilis - como os testes VDRL e RPR - ocorrem
frequentemente em pacientes com a hanseníase lepromatosa.

Tratamento
O fármaco principal na terapia é a dapsona (diaminodifenil-
sulfona), mas devido ao fato de que resistência significativa ao
fármaco tem emergido, uma terapia combinada passou a ser re-
comendada (p. ex., dapsona, rifampina e clofazimina para a han-
seníase lepromatosa e dapsona mais rifampina no caso da forma
tuberculoide). O tratamento é administrado por pelo menos dois
anos ou até que as lesões estejam desprovidas de microrganismos.
Uma combinação de ofloxacina mais claritromicina constitui um
regime alternativo. A talidomida é o tratamento de escolha para
reações graves de ENL.

FIGURA 21-4 Hanseníase tuberculoide. A forma tuberculoide é Prevenção


caracterizada por uma lesão única, lisa e hipopigmentada que per-
deu a sensibilidade. (Reproduzida, com permissão, de Longo DL et ai. (eds): O isolamento de todos os pacientes acometidos por hanseníase
Harrison's Principies of Internai Medicine. 18th ed. New York: McGraw-Hill, 2012. lepromatosa, associado à quimioprofilaxia com dapsona em
Copyright© 2012 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.) crianças expostas, é necessário. Não há vacina.
CAPÍTULO 21 Micobactérias 189

APLIQUE SEU CONHECIMENTO (C) No laboratório clínico, MAi forma colônias em sete dias, ao
passo que as colônias de M. tuberculosis geralmente requerem
1. Seu paciente é um homem sem-teto de 25 anos que reclama de tos- ao menos 21 dias de incubação para que as colônias apareçam.
se durante o último mês. A tosse agora é produtora de uma quan- (D) MAi é geralmente suscetível a um regime de fármaco de iso-
tidade razoável de escarro contendo sangue ao dia. O escarro não niazida e rifampina, ao passo que M. tuberculosis é frequente-
é malcheiroso. Ele perdeu 4,5 kg, mas disse que não se alimenta mente resistente.
regularmente. Ao exame físico, a temperatura era de 38ºC e crepi- (E) O hábitat natural do MAi é o meio ambiente, ao passo que o
tações roucas foram ouvidas no vértice do pulmão esquerdo. Uma hábitat natural de M. tuberculosis é o ser humano.
coloração acidorresistente do escarro revela bacilos acidorresis- 5. Em relação à paciente da Questão 4, se MAi mostrou-se a causa
tentes. A cultura do escarro não mostra crescimento em sete dias, dos sintomas dela, qual das seguintes opções é a melhor escolha de
mas colônias amarelo-daras são visíveis em 21 dias. Dos seguintes antibiótico a ser prescrito?
microrganismos, qual deles provavelmente é o causador dessa in- (A) Amicacina e doxiciclina.
fecção? (B) Claritromicina, etambutol e rifabutina.
(A) Mycobacterium fortuitum-chelonae. (C) Dapsona, rifampina e clofazimina.
(B) Mycobacterium leprae. (D) Isoniazida e gentamicina.
(C) Mycobacterium marinum. (E) Isoniazida, rifampina, etambutol e pirazinamida.
(D) Mycobacterium tuberculosis. 6. Seu paciente é um homem de 20 anos com uma lesão escamosa não
2. Qual dos seguintes regimes é o tratamento ótimo inicial para o pa- dolorosa única, expandindo lentamente em seu peito pelos últimos
ciente da Questão 1? dois meses. A lesão é não pruriginosa, e ele perdeu a sensibilidade
no local da lesão. Aparentemente, está bem. Ele é um imigrante re-
(A) Isoniazida por nove meses.
cente da América Central. Uma coloração acidorresistente do ras-
(B) Isoniazida e gentamicina por duas semanas.
pado da lesão é positiva. Qual das seguintes doenças provavelmente
(C) Isoniazida e rifampina por quatro meses.
acometeu o paciente?
(D) Isoniazida, rifampina, etambutol e pirazinamida por dois
(A) Tuberculose cutânea.
meses.
(B) Granuloma de aquário.
3. Seu paciente é um homem de 70 anos com fraqueza progressiva em ( C) Hanseníase lepromatosa.
ambas as pernas que começou há cerca de uma semana. Ele relatou (D) Escrófula.
ter dor nas costas e febre desde o mês passado. A ressonância mag- (E) Hanseníase tuberculoide.
nética (RM) da medula espinal revelou a destruição de várias vérte-
bras torácicas e de massa paravertebral. A descompressão cirúrgica
e o desbridamento foram realizados. A análise histológica da massa
RESPOSTAS
revelou granulomas caseosos, e células de Langhans gigantes foram
observadas nos granulomas. A coloração de Gram revelou ausência 1. (D)
de microrganismos, mas uma coloração acidorresistente mostrou 2. (D)
bacilos vermelhos. A cultura não mostrou nenhum crescimento 3. (D)
em sete dias, mas o crescimento é visto em 28 dias. Das seguintes 4. (E)
opções, qual é a causa mais provável? 5. (B)
6. (E)
(A) Mycobacterium fortuitum-chelonae.
(B) Mycobacterium leprae.
(C) Mycobacterium marinum.
(D) Mycobacterium tuberculosis. RESUMOS DOS ORGANISMOS
4. Sua paciente é uma mulher de 30 anos que está infectada com HIV Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
e apresenta baixa contagem de células CD4. Ela agora tem resulta- -se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida
dos de tuberculose pulmonar, mas você está preocupado com o fato revisão do material essencial.
de ela poder estar infectada com Mycobacterium avium intracellu-
lare (MAi). A respeito do MAi, qual das seguintes opções é a mais
correta?
QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(A) A doença disseminada causada pelo MAi é geralmente o re-
sultado da redução na produção de anticorpos, ao passo que Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
a doença disseminada causada por M. tuberculosis é normal- encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
mente causada pela redução da imunidade celular. Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
(B) Imigrantes do Sudeste Asiático são mais suscetíveis a serem também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
infectados com MAi do que com M. tuberculosis. da página 731.
CA P ÍT U L O

22 Actinomicetos
CONTEODO DO CAPITULO

Int rodução Aplique seu conhecimento


Actinomyces isroelil Resumos dos organismos
Nocordla asteroides Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO Propriedades Importantes e patogênese


Os actinomicetos são uma famUia de bactérias que formam fl. O A . israe.lii e um organismo anaeróbio que faz parte da mlcro-
lamentos longos e ramlflcado.s que se as.semelham a hifas de biota normal da cavidade oral. Após um trauma local. como
fungos (Figura 22-1). Eles são gram-positivos, mas alguns (como uma fra tura mandibular ou extração dentária, esse organismo
Noc.dtdia tuteroide.s) também são bacilos fracamente addorresis- pode invadir os tecidos. formando fiJamentos circundados por
tentes (Tabela 22-1). áre.as de inflamação.

Achados clínicos
ACTINOMYCES ISRAELII
As lesões típicas da actinomicose surgem como inchaços endu.
Doença reci.dos e.i1tsensfveis que se desenvoh'em lentamente e que. even•
tualmente, drenam pus através de flstulas (Figura 22-2). Grânu-
O A. israe.h'i c.ausa a actinomicose.
los amarelos e rigidos (grânu1os de enxofre) compostos por uma
massa de filamentos são fonnados no pus.
Em cerca de 50% dos casos, a lesão inicial envolve a face e
o pescoço; nos demais casos. o )oca) corresponde ao tórax ou
ao abdome. A actinomicose pé)vica pode ocorrer em mulheres
que faz.em uso de dispositivo intrauterino por Jongo período.
A. istaelii e espécies de Arachnia são as causas mais comuns de
actinomicose em seres humanos. A doença não é transmissível
entre seres humanos.

Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico laboratorial é realizado pela (1) observação de
bacilos ramificados gram.positivos, especiaJmente na presença
de grãnu1os de eJ1.xofre., e (2) observação de crescimento quan•
do espécimes de pus ou teci.dos são cultivados em condições
anaeróbias. Os microrganismos podem ser ideJ1tificados por
imunofluorescência. Não há testes sorológicos.

Tratamento e prevenção
FIGURA 22· 1 NocotdiOOSU!IOi'des- colo,açãodé G,am. A seta aponta
pa,a a área de filamentos dos bacilos gram-positivos. (Figura cortesia do O tratamento consiste em administração pro)ongada de penici·
Or. Thomas Selters,EmoryUnlverslty,Centersfor Dlseas.e Co~'\troland Pre...entlon.) lina G, associada à drenagem cirúrgica. Kão ocorre resistência
CAPÍTULO 22 Actinomicetos 191

TABELA 22-1 Actinomicetos

Crescimento
Espécies Doença Hábitat em meio Diagnóstico Tratamento

A. israelii Actinomicoses (abscessos com Cavidade oral Anaeróbio Bacilos gram-positivos fila- Penicilina G
drenagem do trato sinusal e estrito mentosos ramificados;
"grânulos de enxofre" no pus) cultura (anaeróbia)

N. asteroides Nocardiose (abscessos no encéfalo Meio ambiente Aeróbio Bacilos gram-positivos fila- Trimetoprima-
e nos rins em pacientes imuno- mentosos ramificados; -su lfa metoxazol
deficientes, pneumonia) geralmente acidorresis-
tentes; cultura (aeróbia)

significativa à penicilina G. Não há disponibilidade de vacina ou Propriedades importantes e patogênese


fármaco profilático.
As espécies de Nocardia são aeróbias, encontradas no meio am-
biente, particularmente no solo. Em indivíduos imunocompro-
metidos, podem causar infecção pulmonar, bem como dissemi-
NOCARDIA ASTEROIDES nar-se. Em tecidos, as espécies de Nocardia são evidenciadas como
Doença filamentos delgados ramificados gram-positivos. Muitos isolados
de N. asteroides são fracamente acidorresistentes (i.e., o processo
A N. asteroides causa a nocardiose. de coloração utiliza uma solução de ácido clorídrico mais fraca
que a utilizada para corar micobactérias). Quando se utiliza ácido
na concentração regular, eles não são acidorresistentes.

Achados clínicos
A N. asteroides geralmente causa pneumonia, abscessos pulmo-
nares com formação de cavidades, nódulos pulmonares ou em-
piema. O microrganismo pode se espalhar do pulmão para vários
outros órgãos, sobretudo o encéfalo, onde pode causar abscessos.
A doença ocorre mais frequentemente em indivíduos imuno-
comprometidos, sobretudo nos com imunidade celular reduzida.
A Nocardia brasiliensis, uma espécie diferente de Nocardia, causa
infecções de pele nas regiões mais ao sul dos Estados Unidos e
também causa o micetoma, normalmente em regiões tropicais.

Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico laboratorial envolve (1) a observação de bacilos
ou filamentos ramificados gram -positivos (Figura 22-1) ou fra-
camente acidorresistentes em coloração acidorresistente, e (2) a
observação de crescimento aeróbio em meio bacteriológico em
poucos dias.

Tratamento e prevenção
O tratamento é feito com a utilização de trimetoprima-sulfa-
metoxazol. A drenagem cirúrgica também pode ser necessária.
Ocasionalmente, ocorre resistência a fármacos. Não há vacina ou
fármacos profiláticos disponíveis.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO


FIGURA 22-2 Actinomicose. Observa-se a lesão inflamada com peque-
na abertura do trato sinusal anterior à orelha direita. O"grânulo de enxo- 1. Sua paciente é uma mulher de 75 anos com febre e um nódulo dolo-
fre" amarelado pode ser visto na abertura. (Figura cortesia do Dr. Thomas F. roso em seu antebraço. Ela também apresenta uma tosse não produ-
Sellers, Public Health lmage Library, Centers for Disease Control and Prevention.) tiva que ela diz estar pior que sua tosse associada ao fumo. Ela está
192 PARTE li Bacteriologia Clínica

tomando corticosteroides em altas doses (prednisona) devido a uma (C) O microrganismo é resistente tanto à penicilina quanto aos
doença autoimune. A radiografia do tórax revela uma lesão nodu- aminoglicosídeos.
lar no lobo direito superior. Uma biópsia do nódulo em seu braço (D) Os grânulos de enxofre são frequentemente vistos no trato si-
foi obtida. A coloração de Gram de sua amostra evidenciou bacilos nusal, formados dentro da lesão cutânea.
gram-positivos filamentosos. Os bacilos também eram fracamente (E) A vacina contra o microrganismo contém um toxoide como o
. ,
acidorresistentes. Quanto ao microrganismo causador, qual das se- ununogeno.
guintes alternativas é mais precisa?
(A) A cultura do microrganismo deve ser feita em condições de
anaerobiose. RESPOSTAS
(B) O hábitat natural do microrganismo é o solo.
(C) Ele produz uma exotoxina que inibe a síntese proteica por ri- 1. (B)

bosilação de ADP. 2. (D)


(D) Os grânulos de enxofre são frequentemente observados nas
lesões cutâneas.
(E) A vacina contra o microrganismo contém o polissacarídeo RESUMOS DOS ORGANISMOS
capsular como o imunógeno.
Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
2. Seu paciente é um homem de 20 anos que se envolveu em uma
-se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida
briga em um bar aproximadamente três semanas atrás. Ele levou
um soco que quebrou o segundo molar esquerdo. Ele agora tem revisão do material essencial.
três centímetros de área inflamada na pele recobrindo o dente
quebrado que está drenando pus. A coloração de Gram do pus
revela bacilos filamentosos gram-positivos. Os bacilos não apa- QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
recem em vermelho na coloração acidorresistente. Quanto ao
microrganismo causador, qual das seguintes alternativas é a mais Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
correta? encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
(A) A infecção causada pelo microrganismo ocorre principalmen-
Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
te na área de vale de Ohio e do Rio Mississippi. também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
(B) O hábitat natural do microrganismo é o solo. da página 731.
CAPÍ T U LO

Micoplasmas 23
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Resumos dos organismos


Mycopkuma pneumonlae Questões para autoavaliação
Aplique seu conhecimento

INTRODUÇÃO Patogênese e epldemlologla


Os micoplasmas consistem em um grupo de microrganismos O M. pneumoniae, um patógeno apena.s de seres humanos, é
muito pequenos e desprovidos de parede celular. entre os quais transmitido por goUculas respiratórias. Kos pu)mões.. o orga-
Mycoplasma pneumoniae corresponde ao principal patógeno. nismo apresenta forma de bacilo, com extremidades aftladas que
contêm proteínas específicas que atuam como o ponto de adesão
ao epitélio respiratório. A mucosa respiratória não sofre invasão.
MYCOPLASMA PNEUMONIAE mas a movimentação ciJiar ê inibida e ocorre necrose epitelial.
O mecanismo pelo qual o M. pneumoniae causa inflamaç.ão é in-
Doença certo. Sabe-se que produz peróxido de hidrogênio, o que contri-
O M . pneumoniae c.ausa pneumonia "'atipica". bui pata o dano às células do trato respiratório.
O M. pneumoniae apresenta somente um sorotipo. antige-
Características Importantes nicamente distinto de outras espécies de Mycoplasma. A imuni-
dade.ê incomp)eta, podendo ocorrer outros episódios da doença.
Os micoplasmas são os menores organismos de vida livre. sen- Durante a infecção por M . pneumom'ae. são produzidos autoan-
do que muitos apresentam diâmetro celular tão pequeno quanto ticorpos contra hemácias (crioa.glutlnlnas) e célu)as enc.ef.llicas.
0,3 µm. Sua caracterfstk.a mais notável, no entanto, é a aus~nci.a pulmonares e hepáticas, F.sses anticorpos podem estar envolvidos
de uma parede ceJular.1 em a1gumas manifestações extrapuhnonares da infecção.
Como consequência, os micoplasmas coram.se fracamente As infecções por M. pneumom'ae ocorrem em nivel mundial.
pe)a coloração de Gram. e. os antibiôticos que inibem a s(ntese com um aumento da incidência durante o inverno. Esse micror-
de parede c.elu)ar (p. ex., penicilinas e cefa)osporinas) são inefi- ganismo corresponde à causa mais frequente de pneumonia em
cazes, Sua superfície externa consiste em uma membrana celu1ar adu1tos jovens, sendo também responsável por surtos em grupos
tlex{ve); desse modo. esses microrganismos são capazes de assu- que estabelecem contatos próximos. como famUias.. mi1itares e
mir uma variedade de formas. Sua membrana citoplasmática é a universitários. Estima-se que apenas 10% dos indh•fduos infec-
única membrana bacteriana que contêm colesterol, um esterol tados sejam, de fato, acometidos por pneumonia. A pneumonia
geraJmente encontrado em membranas de células eucarióticas, por Mycoplasma corresponde a 5 a 10% de todas as pneumonias
Os micoplasmas podem ser cultivados em laboratório em adquiridas em comunidade.
meios artificiais, porém apresentam exigências nutricionais com-
plexas, incluindo diversos lipfdeos. Os micoplasmas apresentam Achados clínicos
crescimento lento, requerendo pe)o menos uma semana pata ori-
ginar uma co)ônia \'isivel. Frequentemente, a co)ônia exibe uma A pneumonia por Mycoplasma é o tipo mais comum de pneu-
forma caracterfstic.a de "ovo frito·: com o e.entro mais elevado e monia atlpica. Anteriormente. chamava-se pnewnonla aUpica
uma porção extema mais delgada. primária. (Pneumonias atípic.as podem ser causadas também por
Legionei/a pneumophila (doença do legionário], Chlamydia pneu-
' Outros tipos de bactérias.. na presença de penicilina. podem existir cm moniae. Chlamydia psitMci [psitacose], Coxiella burnelii !febre
um estado desprovido de parede, denominado "forma L~ mas podem Q ) e por vims. como o virus influenza e por adenovirus. O termo
sintetizar novamente suas paredes cdu)arcs quando a penicilina for rc· atfpito significa que a bactéria causal não pode ser iso)ada em
movida. meios rotineiros no diagnóstico )aboratorial. ou que a doença não
194 PARTE li Bacteriologia Clínica

se assemelha à pneumonia pneumocócica.) A manifestação da urealyticum pode ser responsável por aproximadamente 20% dos
pneumonia por Mycoplasma é gradual, iniciando-se geralmente casos de uretrite não gonocócica. Os ureaplasmas podem ser dife-
com tosse não produtiva, faringite ou otalgia. Escarro esbran- renciados dos micoplasmas por sua capacidade de produzir a en-
quiçado e não sanguinolento é produzido em pequenas quanti- zima urease, que degrada a ureia em amônia e dióxido de carbono.
dades. Os sintomas constitucionais de febre, cefaleia, mal-estar
geral e mialgias são intensos. A parcimônia de achados no exame
torácico exibe marcante contraste em relação à proeminência dos APLIQUE SEU CONHECIMENTO
infiltrados observados no raio X de tórax do paciente. A doença
regride espontaneamente em 1Oa 14 dias. Além da pneumonia, 1. O Mycoplasma pneumoniae é uma causa importante de pneumonia
M. pneumoniae também causa bronquite. atípica. Em relação a esse organismo, qual das seguintes sentenças é
a mais correta?
As manifestações extrapulmonares incluem a síndrome de
Stevens-Johnson, eritema multiforme, fenômeno de Raynaud, (A) Amoxicilina é o fármaco de escolha para pneumonia causada
arritmias cardíacas, artralgias, anemia hemolítica e manifestações por esse microrganismo.
(B) Anticorpos no soro de pacientes irão aglutinar células sanguí-
neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré.
neas humanas a 4ºC, mas não a 37ºC.
(C) A coloração de Gram do escarro revela pequenos bacilos
Diagnóstico laboratorial gram-negativos.
O diagnóstico geralmente não é realizado pela cultura de amos- (D ) Trata-se de um parasita intracelular obrigatório que pode
crescer apenas dentro de células humanas no laboratório
tras de escarro; o surgimento de colônias em meios especiais
clínico.
demanda pelo menos uma semana. A cultura em meios comuns
(E) Indivíduos com fibrose cística são predispostos à pneumonia
revela somente a microbiota normal. causada por esse microrganismo.
A realização de testes sorológicos é a base para o diagnóstico.
2. Qual das seguintes alternativas é o fármaco de escolha para pneu-
Um título de crioaglutinina de 1:128 ou superior é indicativo de
monia atípica causada por M. pneumoniae?
infecção recente. As crioaglutininas são autoanticorpos IgM con-
tra hemácias do tipo O, que aglutinam essas células a 4ºC, mas (A) Amoxicilina.
(B) Azitromicina.
não a 37ºC. Entretanto, apenas metade dos pacientes com pneu-
( C)Ceftriaxona.
monia por Mycoplasma apresentará resultado positivo em relação (D )Gentamicina.
às crioaglutininas. O teste é inespecífico; resultados falso -positi- (E) Vancomicina.
vos ocorrem em infecções por vírus influenza e adenovírus. O
diagnóstico de infecção por M. pneumoniae pode ser confirmado
por um aumento de quatro vezes ou mais no título de anticorpos
específicos no teste de fixação do complemento. RESPOSTAS
1. (B)
Tratamento 2. (B)

O tratamento de escolha é um macrolídio, como eritromicina ou


azitromicina, ou uma tetraciclina, como doxiciclina. A fluoroqui-
nolona levofloxacina é também efetiva. Esses fármacos podem RESUMOS DOS ORGANISMOS
reduzir a duração dos sintomas, embora, conforme mencionado Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
anteriormente, a doença regrida espontaneamente. As penicili- -se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida
nas e cefalosporinas são inativas, uma vez que o microrganismo revisão do material essencial.
não possui parede celular.

Prevenção QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


Não há vacina ou outra medida preventiva específica.
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
Outros micoplasmas Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
O Mycoplasma hominis tem sido relacionado como uma cau- também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
sa pouco frequente de doença pélvica inflamatória. Ureaplasma da página 731.
CAPÍTULO

Espiroquetas
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Leptospira
Treponema Outros espiroquetas
1. Treponema pallidum Aplique seu conhecimento
2. Treponematoses não venéreas Resumos dos organismos
Borre/ia Questões para autoavaliação
1. Borre/ia burgdorferi
2. Borre/ia recurrentis e Borre/ia hermsii

INTRODUÇÃO Os espiroquetas são bacilos espiralados e flexíveis, de pare-


de delgada (Figura 24-1). São móveis devido à ondulação de fi-
Três gêneros de espiroquetas causam infecção humana: lamentos axiais situados abaixo da membrana externa. Os trepo-
( 1) Treponema, que causa sífilis, e as treponematoses não venéreas; nemas e leptospiras são tão delgados que podem ser visualizados
(2) Borrelia, responsável pela doença de Lyme e febre recorrente; e apenas por meio da microscopia de campo escuro, impregnação
(3) Leptospira, o agente da leptospirose (Tabela 24-1). por prata ou por imunofluorescência. As borrélias são maiores,

TABELA24-1 Espiroquetas de importância médica

Crescimento
emme10
.
Espécies Doença Modo de transmissão Diagnóstico Morfologia bacteriológico Tratamento

T.pallidum Sífilis Contato íntimo (sexual); Microscopia; Fino, espirais justas, Penicilina G
através da placenta testes soro- visto por micros-
lógicos copia de campo
escuro, impregna-
ção por prata ou
coloração por imu-
nofl uorescência

B. burgdorferi Doença de Mordida de carrapato Observações Grande, frouxamen- + Tetraciclina ou


Lyme clínicas; te espiralado; amoxicilina para
microscopia corado pela colo- doença aguda;
ração de Giemsa penicilina G para
doença crônica

B. recurrentis Febre recor- Mordida de piolho Observações Grande, frouxamen- + Tetraciclina


rente clínicas; te espiralado;
microscopia corado pela colo-
ração de Giemsa

L. interrogans Leptospirose Alimento ou bebida con- Testes soroló- Fino, espirais justas, + Penicilina G
taminada pela urina de gicos visto por micros-
animais infectados (ratos, copia de campo
cães, porcos, vacas) escuro
196 PARTE li Bacteriologia Clínica

Transmissão e epidemiologia
O J: pallidum é transmitido a partir de lesões cutâneas ou de
membranas mucosas (p. ex.• órgãos genitais.. cavidade oraJ e
reto) contendo espiroquetas de um indivíduo infectado a outros
indivíduos por contato íntimo. Também pode ser transmitido
de mulheres grávidas para o feto. Em casos raros. o sangue des•
tinado a tra1tsfosões coletado durante fases precoces da s{fi1is
também é i1úeccioso. T. p~/Udum é um microrganismo que infec.
ta apenas seres humanos. Não há um reservatório animal.
A sífilis ocorre mundialmente e sua incidência tem aumen•
tado. t! uma das principais doenças notific.áveis nos Estados
Unidos. Acredita.se que muitos casos não sejam notificados, o
que limita as medidas de saúde púbJica. Nos últimos anos. hou•
ve um aumento acentuado na incidência da doença em homens
homossexuais.

FIGURA 24-1 Treponemo pallidum - microscopia de campo escuro. Patogênese e achados clínicos
Aforma em espir'aJdestee:spi,oqueta está no centtodocampo. {Figura
cortesia doOr. Schwaru, Cemer$ fotOisea:se Control and Preventlonl O T. pa/Udum não sintetiza toxinas ou enzimas importantes.
O microrganismo frequentemente infecta o endotélio de peque•
nos vasos sanguíneos. causando endarterite. Isso ocorre durante
coradas por Giemsa e outros corantes hem.ato)ógicos, podendo todos os estágios da sífilis.. porém é particularmente importante
ser visua1iz.adas ao microscópio óptico c-omum. na patogênese das )esões encefálic.as e cardiovasculares observa•
das na s!ftlis terciária.
Na sifi1is primária. os espiroquetas multiplicam.se no Jocal
TREPONEMA de inocuJação. e uma úlcera Jocalizada e indo)or ( cancro) é geral·
mente formada em duas a 10 semanas (Figura 24·2). A úlcera cl·
1. Treponema pallidum catriza espontaneamente. contudo os espiroquetas disseminam•
.se amp)amente pe)a corrente sanguínea (bacteriemia), atingindo
Doença
vários órgãos.
O Treponema ~lh'dum causa a sífilis. Após um a três meses, as lesões da sifllls secundária po·
dem surgir. Essas Jesões manifestam-se como um exantema ma·
Características importantes culopapular. principalmente nas regiões palmares e plantares
O 1: pallidum nunca foi cultivado em meios bacterio)ógicos ou (Figura 24-3). ou como pápulas úmidas na pele e em membranas
mucosas (placas mucosas). As )esões úmidas observadas nos ór-
em cu1tura de células. Os treponemas não pato~1ticos, os quais
fazem parte da microbiota norma) de membranas mucosas hu-
manas. podem ser cu1tivados.
O T. pallidum exibe crescimento multo lento. A impor-
tância médica desse fato refere-se à necessidade da presença de
antibióticos em concentrações efetivas por algumas semanas, a
fim de matar os microrganismos e curar a doença (ver a seguir
a seção "'Tratamento"'). Por exemplo, a penicilina be112atina con·
siste na peniciJina utiliz.ada no tratamento da sífiHs primária e
secundária. uma vez que a penicilina é liberada Jentamente a par.
tir dessa preparação de depósito e as conc.entrações bactericidas
mantêm.se por semanas após a administração do aJ1tibiótico.
Os aJ\tigenos de T. ~/Udum induzem anticorpos espedficos.
que podem ser detectados por imunofluorescência ou testes de
hemag)utinação J\O )aboratório clinico. Também induzem aJ1ti·
corpos inespedficos (reagina), 1 que podem ser detectados pe)a
fioculação de lipfdeos (cardio1ipina) extraídos de tecidos normais
de m.amCferos (p. ex.. coração bovino).
Tanto o anticorpo espedfico antitreponêmico quanto a
reagina inespecifica são utilizados no diagnóstico soro)ógico de
FIGURA 24-2 Cancro da sífilis pc-imáóa. Observe a úlcera rasa e de
sífilis. bo(da enrolada (seta vermelha) que~ típica de um canao sifilítico.
(Reprod wlda. com perm.l$SJo. de Wolff ti::. Johnson R. Fftzpotn'ck<s Cotor Adas &
1
A reagina da sífilis (lgM e lgG) não d('\,·e ser confundida com o anticorpo SynopsJs ofClin fcolDermaro.'cgy. 6th ed. New't'0tk: McGraw-Ha~ 2009. Copytl,ght
reagina ( lgE) envolvido em alergia. O 2009 por l he McGraw·HJII Companle$, rnc.)
CAPÍTULO 24 Espiroquetas 197

FIGURA 24-3 Lesões pa lmares na sífilis secundária. Observe as


lesões papuloescamosas na palma direita. Lesões palmares são ge- FIGURA 24-4 Condiloma plano da sífilis secundária. Observe as
ralmente bi laterais. (Reproduzida, com permissão, de Wolff K, Johnson lesões planas e úmidas na região perianal (setas pretas). (Reproduzi-
R. Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of Clinica/ Dermatology. 6th ed. New York: da, com permissão, de Wolff K, Johnson R. Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of
McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.). Clinica/ Dermatology. 6th ed. NewYork: McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 por
The McGraw-Hill Companies, lnc.)

gãos genitais são denominadas condilomas planos (Figura 24-4).


Essas lesões são ricas em espiroquetas e altamente infectantes; no terceiro mês de gestação, podendo ocorrer infecção fetal. Nos ne-
entanto, também cicatrizam espontaneamente. A alopecia focal onatos infectados, lesões de pele e ossos são comuns, como den-
também ocorre. Os sintomas constitutivos da sífilis secundária tes de Hutchinson, "molares em amorà: nariz em sela, rágades,
incluem febre baixa, mal-estar geral, anorexia, emagrecimento, snuffies e bossa frontal. Outros achados, como hepatosplenome-
cefaleia, mialgias e linfadenopatia generalizada. Pode ocorrer galia, ceratite intersticial e oito formas de surdez associada aos
também faringite, meningite, nefrite e hepatite. Em alguns indi- nervos também são observados. A infecção fetal também pode
víduos, os sintomas das fases primária e secundária podem não resultar em natimorto.
ocorrer, e, no entanto, a doença pode progredir. A imunidade contra sífilis é incompleta. Anticorpos contra
Cerca de um terço dos casos de sífilis precoce (primária o organismo são produzidos, mas não interrompem a progressão
ou secundária) irão curar espontaneamente, sem tratamento. da doença. Pacientes com sífilis precoce que foram tratados po-
Outro terço permanece latente (i.e., não surgem lesões, porém dem contrair a sífilis novamente. Pacientes com sífilis tardia são
testes sorológicos positivos indicam a continuidade da infecção). relativamente resistentes à reinfecção.
O período latente pode ser dividido em estágios precoce e tar-
dio. No período latente precoce, que pode ter duração de um Diagnóstico la boratoria 1
a dois anos após o estágio secundário, os sintomas da sífilis se-
cundária podem reaparecer e os pacientes podem infectar outras Existem três abordagens importantes a serem consideradas.
pessoas. No período latente tardio, que pode perdurar por vários
anos, não se manifestam sintomas e os pacientes não são infec- Microscopia
tantes. No terço restante dos indivíduos, a doença progride para Os espiroquetas podem ser demonstrados a partir de lesões pri-
o estágio terciário. A sífilis terciária pode apresentar granulomas márias ou secundárias da sífilis, como cancro ou condiloma pla-
(gomas), principalmente na pele e nos ossos; envolvimento do no, por meio da microscopia de campo escuro ou pelo teste di-
sistema nervoso central, também conhecido como neurossí- reto do anticorpo fluorescente (DFA, direct fluorescent antibody).
filis (p. ex. tabes dorsallis, paresia); ou lesões cardiovasculares Eles não são observados em um esfregaço submetido à coloração
(p. ex, aortites, aneurisma da aorta ascendente). Os treponemas de Gram. Em espécimes para biópsia, como os obtidos a partir
raramente são observados em lesões terciárias. de gomas observadas na sífilis terciária, podem ser utilizados
O T. pallidum também causa sífilis congênita. O micror- corantes histológicos, como a coloração por prata ou anticorpos
ganismo é transmitido através da placenta, geralmente após o fluorescentes.
198 PARTE li Bacteriologia Clínica

Testes sorológicos não específicos efetivo e não podem ser utilizados para determinar a resposta ao
Esses testes envolvem o uso de antígenos não treponêmicos. tratamento ou a ocorrência de reinfecção. Eles são de custo mais
Extratos de tecidos normais de mamíferos (p. ex., cardiolipina elevado e de realização mais difícil que os testes inespecíficos e,
de coração bovino) reagem com anticorpos presentes em amos- portanto, não são empregados como métodos de varredura.
tras de soro de pacientes com sífilis. Esses anticorpos, que consis-
tem em uma mistura de IgG e IgM, são denominados anticorpos Tratamento
"reagina,, (ver anteriormente). Testes de floculação (p. ex., teste A penicilina é efetiva no tratamento de todos os estágios da
do Laboratório de Pesquisa de Doenças Venéreas [VDRL, do in- sífilis. Uma única injeção de penicilina G benzatina (2,4 milhões
glês, Veneral Disease Research Laboratory] e reagina plasmática de unidades) pode erradicar o T. pallidum e curar a sífilis pre-
rápida [RPR, do inglês, rapid plasma reagin]) detectam a pre- coce (primária e secundária). Observe que a penicilina benza-
sença desses anticorpos. Esses testes são positivos na maioria tina é usada porque a penicilina é liberada de forma bem len-
dos casos de sífilis primária e quase sempre positivos nos casos ta a partir dessa preparação em depósito. O T. pallidum cresce
de sífilis secundária. O título desses anticorpos inespecíficos di- muito lentamente, sendo necessária a presença da penicilina
minui com o tratamento eficaz, contrariamente aos anticorpos em concentração bactericida durante semanas. Se o paciente for
específicos, que são positivos por toda a vida (ver a seguir). alérgico à penicilina, a doxiciclina pode ser utilizada, porém deve
Reações falso-positivas ocorrem em infecções como ser administrada durante períodos prolongados, a fim de promo-
hanseníase, hepatite B, mononucleose, bem como em várias ver a cura. Na neurossífilis, altas doses de penicilina G aquosa são
doenças autoimunes. Portanto, resultados positivos devem ser administradas devido à baixa penetração da penicilina benzatina
confirmados por testes específicos (ver a seguir). Os resultados no sistema nervoso central. Não foi observada resistência à peni-
de testes inespecíficos geralmente tornam-se negativos após o cilina. No entanto, linhagens resistentes à azitromicina surgiram.
tratamento e devem ser utilizados para determinar a resposta ao Mulheres grávidas com sífilis devem ser imediatamente tra-
tratamento. Esses testes podem também ser falsamente negativos tadas com o tipo de penicilina aplicável ao seu estágio de doença.
como resultado do fenômeno prozona. Nesse fenômeno, o título Neonatos que apresentam um teste sorológico positivo devem
de anticorpos é muito elevado (excesso de anticorpos) e não ocor- também ser tratados. Embora exista a possibilidade de que um
re floculação. Mediante a diluição do soro, no entanto, o resulta- teste positivo seja causado por anticorpos de origem materna, e
do do teste torna-se positivo (ver Capítulo 64). Esses testes são não porque o neonato está infectado, é prudente tratar sem espe-
de baixo custo e de fácil realização e, desse modo, são utilizados rar vários meses para determinar se o título de anticorpos decli-
como um método de varredura da população quanto à presença -
nara, ou nao.
de infecção. Os testes inespecíficos, bem como os testes específicos Mais da metade dos pacientes com sífilis secundária tra-
(ver a seguir), são descritos em mais detalhes no Capítulo 9. tados com penicilina manifestam febre, calafrios, mialgias e
O diagnóstico laboratorial da sífilis congênita é baseado na outros sintomas semelhantes aos da gripe poucas horas após
de que o recém-nascido apresenta um título de anticorpos mais terem recebido o antibiótico. Essa resposta, denominada reação
elevado que o da mãe durante o teste de VDRL. Adicionalmente, de Jarisch-Herxheimer, é atribuída à lise dos treponemas e à
se o teste VDRL da criança for um resultado falso-positivo em liberação de substâncias similares a endotoxinas. Os pacientes
decorrência de anticorpos maternos que cruzaram a placenta, devem ser alertados sobre essa possibilidade, bem como sobre
esse título declinará com o tempo. Se o recém-nascido estiver de a possibilidade de os sintomas citados persistirem por até 24 ho-
fato infectado, o título permanecerá elevado. Contudo, indepen- ras, sendo que o alívio sintomático pode ser obtido com ácido
dentemente dos resultados do teste VDRL, todo recém-nascido acetilsalicílico. A reação de Jarisch-Herxheimer também ocorre
cuja mãe apresente sífilis deve ser submetido a tratamento. após o tratamento de outras doenças causadas por espiroquetas,
como doença de Lyme, leptospirose e febre recorrente. O fator de
Testes sorológicos específicos necrose tumoral (TNF, tumor necrosis factor) é um importante
Esses testes envolvem o uso de antígenos treponêmicos e, por- mediador dessa reação, uma vez que a imunização passiva com
tanto, são mais específicos que os testes descritos anteriormente. anticorpos contra TNF pode prevenir seus sintomas.
Nesses testes, T. pallidum reage, em ensaios de imunofluorescên-
cia (FTA-ABS)2 ou hemaglutinação (TPHA, MHA-TP),3 com an- Prevenção
ticorpos treponema-específicos no soro do paciente. A prevenção depende do diagnóstico precoce e do tratamen -
A quantidade desses anticorpos eleva-se no decorrer de duas to adequado, do uso de preservativos, da administração de
a três semanas de infecção; portanto, os resultados do teste são antibióticos após exposição suspeita, e do acompanhamento
positivos na maioria dos pacientes com sífilis primária. Esses tes- sorológico dos indivíduos infectados e de seus contatos. A pre-
tes permanecem positivos por toda a vida após o tratamento sença de qualquer doença sexualmente transmissível torna
obrigatória a realização do teste para sífilis, uma vez que, com
2
FTA-ABS (do inglês,fluorescent treponemal antibody-absorbed) consiste frequência, várias infecções diferentes são transmitidas simulta-
no teste de absorção de anticorpos treponêmicos fluorescentes. O soro do neamente. Não há vacina contra sífilis.
paciente é absorvido com treponemas não patogênicos, a fim de remover
anticorpos de reação cruzada antes de reagirem com T. pallidum. 2. Treponematoses não venéreas
3
TPHA (do inglês, T. pallidum hemagglutination assay) é o ensaio de
hemaglutinação de T. pallidum. MHA-TP é um ensaio de hemaglutinação São infecções causadas por espiroquetas que são praticamen-
realizado em uma placa de microtitulação. te indistinguíveis daquelas causadas por T. pallidum. Elas são
CAPÍTULO 24 Espiroquetas 199

endêmicas em populações, sendo transmitidas por contato



direto. Todas essas infecções geram resultados positivos (não
treponêmicos e treponêmicos) em testes sorológicos para
sífilis. Nenhum desses espiroquetas foi cultivado em meios
bacteriológicos. As doenças incluem bejel, na África, bouba
(causada por T. pallidum subespécie pertenue), em vários países
tropicais úmidos, e pinta (causada por Treponema carateum),
nas Américas Central e do Sul. Todas podem ser curadas com
penicilina.

BORRELIA
As espécies de Borrelia são espiroquetas irregulares, frouxamente
espiralados, que se coram prontamente com Giemsa e outros co-
rantes. Podem ser cultivados em meios bacteriológicos contendo
soro ou extratos teciduais. Eles são transmitidos por artrópodes
e causam duas doenças principais: a doença de Lyme e a febre
recorrente.

1. Borre/ia burgdorferi
Doença '
A Borrelia burgdorferi causa a doença de Lyme (denominação
derivada de uma cidade no Estado de Connecticut, Estados FIGURA 24-5 Carrapato lxodes. Forma de ninfa do carrapato com a
Unidos). A doença de Lyme é também conhecida por borreliose cabeça enfiada na pele cercada por uma erupção eritematosa macular.
de Lyme. É a doença transmitida por carrapato mais comum (Reproduzida, com a permissão, de Wolff K, Johnson R. Fitzpatrick's Color Atlas &
nos Estados Unidos, sendo também a doença transmitida por Synopsis ofClinicai Dermatology. 6th ed. New York: McGraw-Hill, 2009. Copyright
vetor mais comum. Aproximadamente 20 mil casos ao ano são © 2009 por The McGraw-Hill Companies, lnc.)

comunicados ao Centers for Disease Control and Prevention, e


acredita-se que esse número seja significativamente menor que
Mamíferos grandes, sobretudo cervos, correspondem a um
o número real.
hospedeiro obrigatório no ciclo de vida do carrapato, contudo,
não são um reservatório importante para o organismo.
Características importantes O estágio ninfa! do carrapato transmite a doença com maior
A B. burgdorferi é um espiroqueta flexível, móvel, que pode ser frequência que os estágios adulto e larval. As ninfas alimentam-se
visualizado por microscopia de campo escuro e por meio das co- principalmente no verão, o que explica a alta incidência da doen-
lorações de Giemsa e prata. Pode ser cultivado em determinados ça durante os meses de maio a setembro no Hemisfério Norte.
meios bacteriológicos, porém culturas rotineiras obtidas a partir
de paciente (p. ex., sangue, líquido espinal) são, em geral, negati-
vas. Em contrapartida, a cultura do organismo a partir do vetor
carrapato é geralmente positiva.

Transmissão e epidemiologia
A B. burgdorferi é transmitida por meio da picada de um car-
rapato (Figuras 24-5 a 24-7). O carrapato Ixodes scapularis é o
vetor na costa Leste dos Estado Unidos e também no Centro-
-Oeste. Ixodes pacificus é a espécie envolvida na costa Oeste.
O microrganismo é encontrado com muito mais frequência em
carrapatos I. scapularis (35-50%) do que em I. pacificus (aproxi-
madamente 2%). Esse fato explica a menor incidência da doença
na Costa Oeste. O principal reservatório do organismo consiste
em mamíferos pequenos, principalmente o camundongo-de-pata
branca, no qual as ninfas se alimentam. 4

4Na Califórnia, o rato-do-mato é o principal reservatório, e um segundo FIGURA 24-6 lxodes scapularis - carrapato de pernas pretas. Fêmea
carrapato, Ixodes neotomae, perpetua a infecção no rato-do-mato, porém, ingurgitada após o repasto sanguíneo. (Figura cortesia do Dr. Gary Alpert,
não transmite a infecção para seres humanos. Centers for Disease Control and Prevention.)
200 PARTE li Bacteriologia Clínica

febre recorrente e a tularemia. Os carrapatos I. scapularis trans-


mitem três doenças: duas doenças bacterianas, a doença de Lyme
e a erliquiose granulocítica humana, e uma doença causada por
protozoários, a babesiose. A coinfecção com B. burgdorferi e Ba-
besia ocorre principalmente em áreas endêmicas, como são os
casos do Estado americano de Massachusetts e de outros Estados
da região Nordeste daquele país.

Patogênese
A patogênese está associada à disseminação do microrganismo a
partir do local da mordedura através da pele adjacente seguida da
disseminação para vários órgãos por meio da corrente sanguínea
(bacteriemia), sobretudo coração, articulações e sistema nervoso
central. Não foram identificadas exotoxinas, enzimas ou outros
fatores de virulência importantes.
Observa-se que o microrganismo deve adaptar-se a dois
hospedeiros notavelmente diferentes, o carrapato e o mamífero
(tanto camundongos quanto seres humanos). Ele faz isso mo-
dificando sua proteína externa de superfície (OSP, outer surfa-
ce protein). Essas OSPs variam antigenicamente entre os seres
humanos.
Episódios múltiplos da doença de Lyme ocorrem devido
à reinfecção, e não pela recorrência em razão da reativação do
organismo. Não há evidências que suportem um estágio latente
causado por B. burgdorferi.

Achados clínicos
Os achados clínicos foram divididos em três estágios; entretanto,
FIGURA 24-7 Um carrapato lxodes aguarda por um hospedeiro, essa é uma doença progressiva, e os estágios não são distintos.
como um veado ou um ser humano, em uma folha de grama. (Figura No estágio 1 (estágio precoce localizado), o achado clínico mais
cortesia dos Drs. Amanda Loftis, Will Reeves e Chris Paddock, Centers for Disease comum é o eritema crônico migratório (também chamado de
Control and Prevention.) eritema migratório), que consiste em uma erupção macular eri-
tematosa e expansiva que, frequentemente, apresenta uma apa-
rência de "alvo,, ou "olho-de-boi,, (Figura 24-8).
O carrapato deve alimentar-se por 24 a 48 horas para trans- A erupção aparece entre três a 30 dias após a mordida do
mitir uma dose infecciosa. Isso significa que a inspeção da pele carrapato. Tanto a mordida do carrapato quanto a erupção são
após a exposição pode prevenir a doença. Contudo, as ninfas são indolores e não causam prurido.
bastante pequenas e podem facilmente passar despercebidas. Não A erupção pode, ocasionalmente, ser acompanhada por
ocorre disseminação entre seres humanos. sintomas inespecíficos semelhantes a um quadro gripal, incluin-
A doença ocorre mundialmente.* Nos Estados Unidos, três
regiões são as mais afetadas: os Estados ao longo da costa do
Atlântico Norte, os Estados ao norte do Centro-Oeste (p. ex.,
Wisconsin), e a Costa Oeste, principalmente a Califórnia. Apro-
ximadamente 80% dos casos relatados ocorrem em quatro Esta-
dos americanos: Nova Iorque, Connecticut, Pensilvânia e Nova
Jersey.
A doença de Lyme é a doença transmitida por carrapato mais
comum nos Estados Unidos. As principais doenças bacterianas
transmitidas por carrapatos nos Estados Unidos são a doença de
Lyme, a febre maculosa das Montanhas Rochosas, a erliquiose, a

*N. de R.T. No Brasil, a ocorrência da doença de Lyme é extremamen-


te rara ou inexistente. Casos semelhantes à doença foram descritos, mas
espécies de Borrelia nunca foram isoladas. Nesses casos, estruturas su-
gestivas de outros agentes etiológicos foram encontradas no sangue de
pacientes (como Mycoplasma e Chlamydia). Em razão da impossibilidade FIGURA 24-8 Erupção eritematosa crônica migratória da doença de
de se assegurar que a doença de Lyme ocorre no Brasil, essas doenças Lyme. Observe a erupção macular eritematosa e expansiva, em forma
semelhantes foram chamadas de síndrome de Baggio-Yoshinari. oval ou de "alvo'~ (Cortesia de Vijay K. Sikand, M.D.)
CAPÍTULO 24 Espiroquetas 201

do febre, calafrios, cansaço e dor de cabeça. Lesões cutâneas Antibióticos profiláticos devem ser administrados a pes-
secundárias frequentemente ocorrem. A artralgia, porém não soas picadas por carrapato? A decisão depende de dois fatores
a artrite, constitui outro achado comum nesse estágio precoce. principais: a porcentagem de carrapatos infectados na região e
Em cerca de 25% dos casos da doença de Lyme não se observa o período de tempo durante o qual o carrapato alimentou-se
o eritema. do indivíduo. Se a porcentagem de carrapatos infectados for
No estágio 2 (estágio precoce disseminado), que ocorre elevada e o tempo for superior a 48 horas, pode ser convenien-
semanas a meses mais tarde, envolvimentos cardíacos e neuro- te a prescrição profilática de doxiciclina. Qualquer indivíduo
lógicos predominam. Ocorre a miocardite, acompanhada por que tenha sido mordido por carrapato deve ser alertado a
várias formas de bloqueio cardíaco. Meningite aguda (asséptica) observar cuidadosamente o surgimento de uma erupção ou
e neuropatia craniana, como paralisia do nervo facial (paralisia sintomas semelhantes aos da gripe durante as três semanas
de Bell), são proeminentes durante esse estágio. Paralisia bilateral seguintes.
do nervo facial é amplamente sugestiva de doença de Lyme. Neu- Uma vacina contendo uma proteína de superfície externa
ropatias periféricas também ocorrem. recombinante (OspA) de B. burgdorferi como imunógeno já este-
Em geral, segue-se uma fase latente que perdura por sema- ve disponível, mas deixou de ser comercializada.
nas ou meses. No estágio 3 (estágio tardio disseminado), a artrite,
normalmente nas juntas maiores (p. ex. joelhos), é um achado 2. Borre/ia recurrentis e Borre/ia hermsii
característico. Acredita-se que a artrite de Lyme apresente origem
Borrelia recurrentis, Borrelia hermsii e várias outras borrélias cau-
autoimune. A encefalopatia também ocorre no estágio 3.
sam febre recorrente. Durante a infecção, os antígenos desses
Alguns pacientes tratados para infecção de Lyme continuam
microrganismos sofrem variação. À medida que anticorpos se
a apresentar sintomas subjetivos prolongados de fadiga, dores
desenvolvem contra um antígeno, variantes emergem produzin-
nas articulações ou alterações do estado mental após os sintomas
do a recorrência da doença. Esse processo pode se repetir por
objetivos terem desaparecido. Nenhuma evidência microbiológi-
três a 1Ovezes.
ca para infecção tem sido detectada nesses pacientes, e a terapia
A B. recurrentis é transmitida de pessoa a pessoa pelo piolho
antibiótica prolongada não alivia os sintomas.
corporal humano. Os seres humanos são os únicos hospedeiros.
B. hermsii e várias outras espécies de Borrelia são transmitidas
Diagnóstico laboratorial aos seres humanos por carrapatos moles ( Ornithodoros). Roe-
Embora o microrganismo possa ser cultivado em laboratório, dores e outros animais pequenos são os principais reservatórios.
as culturas raramente são positivas e, portanto, em geral não Essas espécies de Borrelia são transmitidas transovariamente nos
são realizadas. O diagnóstico é realizado sorologicamente pela carrapatos, fenômeno que desempenha importante papel na ma-
detecção de anticorpos IgM ou de uma elevação no título de anti- nutenção do microrganismo na natureza.
corpos IgG por meio de ensaio imunoadsorvente ligado à enzima Durante a infecção, a mordida do artrópode introduz os
(ELISA) ou um teste de imunofluorescência indireta. A IgM é espiroquetas, que, então, se multiplicam em vários tecidos, cau-
geralmente detectável duas semanas após a infecção, atingindo sando febre, calafrios, cefaleias e disfunção de múltiplos órgãos.
valor mais elevado em três a seis semanas. Testes sorológicos rea- Cada ataque termina quando surgem os anticorpos.
lizados antes de duas semanas provavelmente apresentarão resul- O diagnóstico é, em geral, realizado diante da observação de
tados negativos. Trinta dias após a infecção os testes de detecção grandes espiroquetas em esfregaços de sangue periférico corados.
de IgG passam a ser mais confiáveis. Eles podem ser cultivados em meios especiais. Testes sorológicos
Infelizmente, existem problemas em relação à especificidade raramente mostram-se úteis. A tetraciclina pode ser benéfica
e à sensibilidade desses testes, em virtude da presença de anticor- precocemente na doença, assim como pode prevenir recorrên-
pos que reagem cruzadamente contra espiroquetas da microbiota cias. A melhor forma de prevenção consiste em evitar os vetores
normal. Um teste positivo deve ser confirmado por uma análise artrópodes.
de Western blot (Immunoblot). Além disso, pacientes tratados
precocemente podem não desenvolver anticorpos detectáveis.
Um teste de reação em cadeia da polimerase (PCR, polymerase LEPTOSPIRA
chain reaction) capaz de detectar o DNA do organismo também
As leptospiras são espiroquetas intensamente espiralados e que
se encontra disponível.
apresentam ganchos em suas terminações. Elas se coram pobre-
mente com o uso de corantes comuns e, portanto, não são vistas
Tratamento e prevenção à microscopia óptica convencional, porém podem ser visualiza-
O tratamento de escolha para a doença no estágio 1 ou outras das por meio da microscopia de campo escuro. Elas crescem em
manifestações brandas consiste em doxiciclina ou amoxicilina. meios bacteriológicos contendo soro.
Para as formas mais graves ou nos estágios tardios da doença, re- A Leptospira interrogans é o agente causador da leptospiro-
comenda-se o uso de ceftriaxona. Não há resistência significativa se. A leptospirose é comum em países tropicais, principalmente
a antibióticos. A prevenção envolve o uso de roupas protetoras durante as estações chuvosas, mas é rara nos Estados Unidos.
e de repelentes contra insetos. O exame cuidadoso da pele para A L. interrogans pode ser dividida em quatro sorogrupos que
verificar a presença de carrapatos é também muito importante, ocorrem em diferentes animais e áreas geográficas. Cada soro-
uma vez que o carrapato deve alimentar-se por 24 a 48 horas para grupo é subdividido em sorovares de acordo com a resposta a
transmitir uma dose infecciosa. testes de aglutinação.
202 PARTE li Bacteriologia Clínica

As leptospiras infectam animais variados, incluindo ratos APLIQUE SEU CONHECIMENTO


e outros roedores, animais domésticos e animais de estimação.
Nos Estados Unidos, os cães correspondem ao reservatório mais 1. Seu paciente é um homem de 65 anos, com confusão gradualmente
aumentada e instabilidade durante a caminhada. Uma punção lom-
importante. Já no Brasil, os ratos domésticos são o reservatório
bar espinal revelou líquido espinal claro, glicose normal e um ní-
principal. Os animais excretam leptospiras na urina, a qual con- vel de proteína elevado. Havia também 96 células/mm3, das quais
tamina a água e o solo. A natação em água contaminada ou o 86% eram linfócitos. A coloração de Gram do líquido cerebrospinal
consumo de alimentos ou bebidas contaminados podem resul- foi negativa. As imagens da ressonância magnética (RM) do encé-
tar em infecção humana. Já ocorreram surtos entre os partici- falo foram normais. Uma amostra de líquido cerebrospinal reagiu
pantes de triatlo e competições de aventura envolvendo natação com cardiolipina de tecido cardíaco bovino a um título de 1/1.024.
em águas contaminadas. Mineiros, fazendeiros e indivíduos que Quanto ao microrganismo causador dessa infecção, qual das se-
trabalham em redes de esgoto apresentam risco elevado. Nos guintes opções é a mais precisa?
Estados Unidos, a população urbana de baixa renda exibe alta (A) Ele é transmitido pela mordida de carrapato.
taxa de infecção, conforme determinado pela presença de anti- (B) A resistência à penicilina G é comum, logo, a ceftriaxona deve
corpos.* A transmissão de pessoa a pessoa é rara. ser utilizada.
A infecção humana ocorre quando leptospiras são ingeridas (C) Ele nunca foi cultivado em meio bacteriológico no laboratório
clínico.
ou cruzam as membranas mucosas ou a pele. Os microrganis-
(D) É improvável de ser erradicado, uma vez que o gado bovino é
mos circulam pelo sangue e multiplicam-se em vários órgãos,
um importante reservatório para o microrganismo.
produzindo febre e disfunção hepática (icterícia), renal (uremia), (E) Um teste confirmatório para o microrganismo utiliza uma
pulmonar (hemorragia) e do sistema nervoso central (meningite reação de aglutinação com seu polissacarídeo capsular.
asséptica). A enfermidade é geralmente bifásica, com febre, ca-
2. Seu paciente é um homem de 20 anos que apresenta uma erupção
lafrios, cefaleia intensa e sufusão conjuntiva (vermelhidão difusa eritematosa, macular e indolor em seu braço direito durante os últi-
da conjuntiva), manifestando-se precocemente na doença, segui- mos quatro dias. A erupção tem aproximadamente 10 cm de diâme-
dos por um curto período de desaparecimento desses sintomas, à tro. Ele também apresenta febre de 37,SºC e cefaleia moderada. Ele
medida que os microrganismos deixam o sangue. A segunda fase, relata passeios em vários fins de semana recentemente no Estado de
a fase "imune': é frequentemente caracterizada pelos achados de Nova Iorque. Você suspeita que a erupção seja um eritema migrató-
meningite asséptica e, em casos graves, dano hepático (icterícia) rio e que ele tenha a doença de Lyme. Qual das seguintes opções é a
e insuficiência renal. A imunidade sorovar-específica desenvol- melhor abordagem para confirmar seu diagnóstico clínico?
ve-se com a infecção. (A) Detectar anticorpos IgM utilizando o ensaio ELISA.
O diagnóstico baseia-se na história de possível exposição, (B) Determinar o título em um teste VDLR.
sinais clínicos sugestivos e um aumento acentuado nos títulos de ( C) Coloração de Gram e cultura em ágar-sangue incubada aero-
anticorpos IgM. Ocasionalmente, leptospiras são isoladas a partir biamente.
(D) Coloração de Grame cultura em ágar-sangue incubada anae-
de culturas de sangue e urina.
robiamente.
A penicilina G é o tratamento de escolha. Não há resistência
(E) Crescimento em células humanas em cultura de células e iden-
significativa a antibióticos. A prevenção envolve principalmente tificação com anticorpo fluorescente.
evitar o contato com o ambiente contaminado. A doxiciclina é
3. Suponha que o paciente da Questão 2 tenha a doença de Lyme.
efetiva na prevenção da doença em indivíduos expostos.
Qual dos seguintes antibióticos é o mais apropriado para tratar essa
infecção?
(A) Azitromicina ou trimetoprima-sulfametoxazol.
OUTROS ESPIROQUETAS (B) Doxiciclina ou amoxicilina.
Espiroquetas anaeróbios saprofíticos são proeminentes na micro- ( C)Gentamicina ou amicacina.
(D) Metronidazol ou clindamicina.
biota normal da cavidade oral humana. Esses espiroquetas par-
(E) Penicilina G ou levofloxacina.
ticipam de infecções mistas por anaeróbios, mordidas humanas
infectadas, úlceras de estase, etc. 4. Em relação à sífilis, qual das seguintes opções é a mais correta?
O Spirillum minar causa um tipo de febre da mordedura de (A) A lesão característica da sífilis primária é uma vesícula doloro-
rato em seres humanos. O Streptobacillus moniliformis, um bacilo sa nos órgãos genitais.
gram-negativo, também causa febre decorrente da mordida de (B) Na sífilis secundária, o número de microrganismos é baixo,
logo, a chance de transmitir a doença a outros é baixa.
rato. (Ver Capítulo 27 para mais informações.)
( C) Na sífilis secundária, tanto a reagina plasmática rápida (RPR)
quanto o teste de absorção de anticorpos treponêmicos fluo-
rescentes (FTA-ABS) são geralmente positivos.
(D) O título de anticorpos no teste FTA-ABS normalmente declina
*N. de R.T. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o número quando o paciente tiver sido tratado adequadamente.
de casos relativos é alto, tanto nas populações urbanas quanto nas ru- (E) Na sífilis congênita, nenhum anticorpo é formado contra o
rais, e a maioria dos casos se concentra nos Estados das regiões Sudeste Treponema pallidum, uma vez que o feto é tolerante ao mi-
e Sul. crorganismo.
CAPÍTULO 24 Espiroquetas 203

5. Em relação à Borrelia burgdorferi e à doença de Lyme, qual das se- RESPOSTAS


guintes opções é a mais correta?
1. (C)
(A) B. burgdoferi infecta um grande percentual de reservatórios
2. (A)
roedores nos Estados do Oeste, como a Califórnia, do que em
3. (B)
Estados do Nordeste, como Nova Iorque.
4. (C)
(B) A patogênese da doença de Lyme é baseada na produção de
5. (E)
uma exotoxina que induz a produção de IL-2 por células T
6. (D)
auxiliares.
(C) A vacina contra a doença de Lyme contém o polissacarídeo
capsular de todos os quatro sorotipos como imunógeno.
(D) Familiares próximos de pessoas infectadas com B. burgdorferi RESUMOS DOS ORGANISMOS
devem ser tratados com ciprofloxacina.
(E) B. burgdorferi é transmitida a seres humanos pela mordida de Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
carrapatos do gênero Ixodes. -se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida
revisão do material essencial.
6. A penicilina G benzatina é usada para tratar as sífilis primária e se-
cundária em vez de penicilina G procaína. Qual das seguintes alter-
nativas é a melhor razão para essa escolha?
(A) Pacientes alérgicos à penicilina G procaína não são alérgicos à QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
penicilina G benzatina. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
(B) A penicilina G benzatina apresenta uma concentração inibido-
encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
ra mínima maior que a penicilina G procaína.
(C) A penicilina G benzitina penetra no sistema nervoso central
Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
em um nível maior que a penicilina G procaína.
também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
(D) A penicilina G benzatina é uma preparação de depósito que da página 731.
proporciona uma longa duração e um nível elevado do fárma-
co que mata T. pallidum de crescimento lento.
CAPÍTULO

25 Clamídias
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Aplique seu conhecimento


Chlomydio trachomatis Resumos dos organismos
Chlamydio pneumonioe Questões para autoavaliação
Chlomydio psittocl

INTRODUÇÃO As clamidias apresentam um cido replicativo diferente das


demais bactérias. O ciclo é iniciado quando o corpo elementar
As damfdias são parasitas intraceJuJares obrigatórios., isto é. cres. extracelular, metabolicame11te i11erte e semelhante a um ..espo-
cem some.nu~ no interior de células. São os agentes de doenças ro·: penetra na c-élu)a e reotganiz.a-se em um corpo reticulado
sexualmente transmissíveis comuns. como uretrite e cervicite. maior e metaboHcamente ativo (Figura 25-1). F.ste último sofre
bem como outras i1úecções, como pneumonia, psitacose, t.raco-- repetidos ciclos de fissão binária, originando corpos reticulados
ma e linfogranuloma venéreo. filhos. os quais são liberados da célu)a. Ko interior das células.. o
local de replicação apresenta-se como um corpo de indusão, o
Doenças qual pode ser corado e visualiz.ado ao microscópio (Figura 25-2).
Essas inclusões são úteis na idelltificaçã.o desses mkrorganismos
A Chlamydia lmchomall's causa infecções oculares (oonjunth•ite.
no )aboratório clhtico,
tracoma), dos tratos respiratório (pneumonia) e genita1 (uretrite.
Todas as damldias comparti)ham um antígeno poJissacar(-
Jinfogranu)oma venéreo). C. 1mchomatú é a causa mais oomwn
de doenças sexualmente transmlssh·eis nos Estados Unidos. dico grupo-especifico, o qual é detectado por testes de focação do
comp)emento. Elas também possuem antígenos (proteinas) espé-
Infecções por C. trac.homatis também estão associadas com a sfn.
cie-espedficos e imunotipowespedficos, os quais são detectados por
drome de Reiter. uma doença autoimune.
imunofiuorescência. C. psitlaci e C. pne1'1tloniae apresentam um
A Chlamydfr~ pneumoniae (anteriormente de11omi11ada li-
imunotipo cada, ao passo que C. tmchomatis exibe pelo menos 15.
nhagem TWAR) causa pneumonia atípica. A Chlamydia psittaci
causaa psitacose (Tabela 25-1).
Transmissão e epidemiologia
C. pneumoniae e C. psittaci são suficientemente diferelltes
quanto ao aspecto molecular em relação a C. trachomaas. de AC. trachomatis infecta apenas seres humanos, sendo. em geraJ,
modo que foram redassificadas em um novo g~nero. denomi- transmitida por contato pessoa) próximo (p. ex., sexualmente
nado Chlamydophila. Taxonomicameute. esses organismos hoje ou pela passagem através do canal de parto). Indivíduos com
são Chlamydophila pneumoniae e Chlamydophila psittaci. Ko en- infecções asslntomátlca.s do trato genital correspondem a um
tanto. do ponto de vista médico, aillda são co11hecidos como importante reservatório de infecção para terceiros, Ko tracoma,
Chlamydia pneumoniae e Chlamydia psittaci, que são as denomi- C. trachomatis é transmitida pe)o contato entre dedos e olhos ou
nações utilizadas neste livro. entre fôinites e olhos. C. pneumoniae infecta apenas seres huma-
nos e é transmitida de pessoa a pessoa por aerossóis. C. psittaci
infecta aves (p. ex.• papagaios, pombos e aves doméstic.as, alêm
Características importantes de muitos mamíferos). Os seres humanos são i1úectados prin-
As damfdias são bactérias intracelulares obrigatórias. Elas são cipahnente pela inalação de mic.rorga1tismos presentes em feus
incapazes de produzir energia suficiente para o crescimento in- ressecadas de aves.
depende11te. e. por essa razão, são capazes de crescer apenas no A doença sexualmente transmissível causada por C.
interior de células hospedeiras. Aprese11tam parede celular rígida. trachomatis ocorre mundiaJmente. porém o tracoma ocorre com
mas não têm uma típica camada de peptideogHcano. Suas pare... maior frequência nos países em desenvolvimento. em regiões se-
des celulares são simi1ares às de bactérias gram-negativas, mas cas e quentes, como as do Norte da África. O tracoma correspon-
desprovidas de ácido murãmico. de à principa1 causa de cegueira nesses países.
CAPÍTULO 25 Clamídias 205

TABELA25-1 Clamídias de importância médica

Forma de Número
Hospedeiros transmissão de tipos
Espécies Doença naturais a seres humanos imunológicos Diagnóstico Tratamento

C. trachomatis Uretrite, pneumo- Seres Contato sexual; Mais de 15 Inclusões nas células Doxiciclina,
nia, conjuntivi- humanos transmissão epiteliais vistas com eritromicina
te, linfogranu- perinatal auxílio da coloração de
lama venéreo, Giemsa ou por imuno-
tracoma fluorescência; também
por cultura de células

C. pneumoniae Pneumonia Seres Gotículas 1 Teste sorológico Doxiciclina


atípica humanos respiratórias

C. psittaci Psitacose Aves Inalação de fezes 1 Teste sorológico (cultura Doxiciclina


(pneumonia) secas de aves de células raramente
é feita)

Pacientes acometidos por uma doença sexualmente não é transmissível. A C. pneumoniae causa infecções dos tra-
transmissível são coinfectados por C. trachomatis e Neisseria tos respiratórios superior e inferior, principalmente bronquite e
gonorrhoeae em aproximadamente 1Oa 30% dos casos. pneumonia, em adultos jovens.
AC. trachomatis apresenta mais de 15 imunotipos (A a L).
Os tipos A, B e C causam tracoma, uma conjuntivite crônica
Patogênese e achados clínicos
endêmica na África e na Ásia. O tracoma pode recorrer ao lon-
As clamídias infectam principalmente as células epiteliais go de vários anos e levar à cegueira, porém não causa enfer-
das membranas mucosas ou os pulmões. Raramente causam midade sistêmica. Os tipos D a K causam infecções do trato
infecções invasivas e disseminadas. A C. psittaci infecta princi- genital, que, ocasionalmente, são transmitidas aos olhos ou ao
palmente os pulmões. A infecção pode ser assintomática (detec- trato respiratório. Em homens, é uma causa comum de uretrite
tada apenas por uma elevação no título de anticorpos) ou pode não gonocócica (frequentemente abreviada por UNG), a qual
causar febre alta e pneumonia. A psitacose humana geralmente é caracterizada por corrimento uretral (Figura 25-3). Essa in-

Fixação e entrada
do corpo elementar

Formação do
~ corpo reticulado

Multiplicação dos corpos


Cessação da ) reticulados por fissão binária
multiplicação

Corpos elementares

Desenvolvimento de Reorganização dos corpos


uma grande inclusão reticulados em corpos elementares
citoplasmática

FIGURA 25-1 Ciclo de vida da clamídia. O corpo elementar extracelular, inerte, entra na célula epitelial e transforma-se em corpo reticulado que
se divide diversas vezes por fissão binária. Os corpos reticulados filhos transformam-se em corpos elementares e são liberados da célula epitelial.
O corpo de inclusão citoplasmático, o qual é característico de infecções por clamídias, consiste em diversos corpos elementares e reticulados
filhos. (Modificada e reproduzida, com permissão, de Ryan K et ai. Sherris Medical Microbiology. 3rd ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright
1994 por McGraw-Hill.)
206 PARTE li Bact eriologia Clínica

Os imunotipos Ll a L3 de C. trachomatis causam linfogra-


nuloma venéreo, uma doença sexualmente transmissível que
apresenta lesões nos órgãos genitais e nos linfonodos.
A infecção por C. trachomatis leva à formação de anticorpos
e reações celulares, porém não prom ove resistência à reinfecção
nem eliminação dos organismos.

Diagnóstico laboratorial
As clamídias formam inclusões citoplasmáticas, as quais po-
dem ser visualizadas mediante o uso de corantes especiais (p. ex.,
corante de Giemsa) ou imunofluorescência (Figura 25-2). A co-
loração de Gram não é útil. Em exsudatos, o organismo pode
ser identificado dentro de células epiteliais por meio do uso de
anticorpos fluorescentes ou por h ibridização com um a sonda
FIGURA 25-2 Ch/amydia trachomatis - imagem obtida por micros- de DNA. Os antígenos clamídios também podem ser detectados
copia óptica de uma cultu ra cel ular. A seta longa aponta para o cor- em exsudatos ou na urina por ELISA (ensaio imunoadsorven-
po de inclusão citoplasmát ico de C. trachomatis; a seta cu rta aponta te ligado à enzima). Testes de amplificação de ácidos nucleicos
para o núcleo da célula. (Fig ura cortesia d o Dr. E. Arum e Dr. N. Jacobs, Pu blic
(NAATs, nucleic acid amplification tests), a partir da urina de pa-
Health lmage Library, Centers for Disease Contrai and Prevention.)
cientes, são amplamente utilizados para o diagnóstico de doenças
clamidiais sexualmente transmissíveis. Testes que não envolvam
fecção pode progredir para epididimite, prostatite ou proctite. cultura, como o NAAT, são agora m ais comumente realizados
Em mulheres, desenvolve-se cervicite, que pode progredir para que os testes baseados em cultura (ver a seguir).
salpingite e doença inflamatória pélvica (DIP). Episódios repe- As clamídias podem ser cultivadas em culturas celulares tra-
tidos de salpingite ou de DIP podem resultar em infertilidade tadas com ciclo-heximida, que inibe a síntese proteica das célu-
ou gravidez ectópica. las hospedeiras mas não a síntese das clamídias, intensificando,
Crianças nascidas de mães infectadas frequentemente de- assim, a replicação clamídia. Em cultura, C. trachomatis forma
senvolvem conjuntivite mucopurulenta (conjuntivite de inclusão inclusões contendo glicogênio, ao passo que C. psittaci e C. pneu-
neonatal) sete a 12 dias após o parto, e algumas desenvolvem moniae formam inclusões que não contêm glicogênio. As inclu-
pneumonite clamidial duas a 12 semanas após o nascimento. sões contendo glicogênio são visualizadas pela coloração com
A conjuntivite clamidial também ocorre em adultos, como re- iodo. Exsudatos derivados dos olhos, do trato respiratório ou do
sultado da transferência dos microrganismos a partir dos órgãos trato genital originam culturas positivas em aproximadamente
genitais para os olhos. Pacientes com infecções do trato genital m etade dos casos.
causadas por C. trachomatis apresentam uma alta incidência Testes sorológicos são utilizados para o diagnóstico de infec-
de síndrome de Reiter, que se caracteriza por uretrite, artrite ções por C. psittaci e C. pneumoniae. Entretanto, raramente são
e uveíte. A síndrom e de Reiter é um a doença autoimune cau- úteis para o diagnóstico de doença causada por C. trachomatis,
sada pela reação cruzada entre os anticorpos formados contra uma vez que a frequência de infecção é tão elevada que vários
C. trachomatis e os antígenos das células da uretra, articulações e indivíduos já apresentam anticorpos.
trato uveal (ver Capítulo 66).
Tratamento
Todas as clamídias são suscetíveis a tetraciclinas, como doxici-
clina, e a m acrolídios, como eritromicina e azitromicina. A azi-
tromicin a é o fármaco de escolha para doenças sexualmente
transmissíveis causadas por C. trachomatis. Devido à alta taxa
de coinfecção com gonococos e C. trachomatis, qualquer pacien-
te com diagnóstico de gonorreia também deve ser tratado para
C. trachomatis com azitromicina.
O fármaco de escolha para tratamento da conjuntivite de in-
clusão neonatal e da pneumonia é eritromicina oral. O fármaco
de escolha para tratar infecções por C. psittaci e C. pneumoniae,
bem com o para o linfogranulom a venéreo, é uma tetraciclina,
como a doxiciclina.

Prevenção
FIGURA 25-3 Uretrite não gonocócica. Observa-se o corrimento Não há vacina contra qualquer doença clam ídia. A melh or me-
aquoso não purulento causado por Ch/amydia trachomatis. O corri- dida preventiva contra doenças sexualmente transmissíveis
mento uret ra! causado por Neisseria gonorrhoeae é mais mucoide e causadas por C. trachomatis consiste em limitar a transmissão
purulento. (Cortesia do Seatle STD/HIV Prevention Training Center.) pelo pronto tratamento tanto do paciente quanto dos parceiros
CAPÍTULO 25 Clamídias 207

sexuais, incluindo os indivíduos assintomáticos. Os contatos se- (C) O ciclo de vida consiste em corpos elementares do lado de fora
xuais devem ser localizados, e indivíduos que mantiveram conta- das células e corpos reticulados dentro das células.
to no decorrer de um período de 60 dias devem ser tratados. Com (D) Elas só podem se replicar dentro de células, uma vez que não
frequência, vários tipos de doenças sexualmente transmissíveis apresentam ribossomos para sintetizar suas proteínas.
(E) A vacina contra C. pneumoniae contém o polissacarídeo cap-
estão presentes de forma simultânea. Desse modo, o diagnóstico
sular como o imunógeno conjugado a uma proteína carrea-
de uma delas requer uma pesquisa por outros agentes etiológicos.
dora.
A administração de eritromicina oral a crianças recém-
3. Qual das seguintes opções é o fármaco de escolha para doen-
-nascidas de mães infectadas pode prevenir a conjuntivite de in-
ças sexualmente transmissíveis (uretrite, cervicite) causadas por
clusão e a pneumonite causadas por C. trachomatis. Observa-se C. trachomatis?
que eritromicina pomada utilizada na prevenção de conjuntivite
(A) Ampicilina.
gonocócica neonatal é muito menos efetiva contra conjuntivite
(B) Azitromicina.
clamidial neonatal. A eritromicina oral deverá ser utilizada. (C) Ciprofloxacina.
A psitacose em seres humanos é controlada pela restrição (D) Metronidazol.
da importação de psitacídeos, pela eliminação de aves doentes, e (E) Rifampina.
pela adição de tetraciclina à ração das aves. Rebanhos domésticos
de perus e patos são testados quanto à presença de C. psittaci.
RESPOSTAS
1. (D)
APLIQUE SEU CONHECIMENTO 2. (C)
1. Seu paciente é um homem de 20 anos que apresenta corrimento 3. (B)
uretral. A coloração de Gram do pus revelou diversos neutrófilos,
mas nenhuma bactéria. Você suspeita que essa infecção possa ser
causada por Chlamydia trachomatis. Qual das seguintes opções é o RESUMOS DOS ORGANISMOS
resultado laboratorial que melhor apoia o seu diagnóstico clínico?
(A) A coloração de Gram do pus revela pequenos bacilos gram- Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
-positivos. -se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida
(B) O microrganismo produz colônias beta-hemolíticas em placas revisão do material essencial.
de ágar-sangue quando incubadas em aerobiose.
(C) O microrganismo produz colônias a-hemolíticas em placas de
ágar-sangue quando incubadas em anaerobiose. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(D) Coloração fluorescente de anticorpos de inclusões citoplasmá-
ticas nas células epiteliais no exsudato. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
(E) Aumento de quatro vezes ou mais no título de anticorpos con- encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
tra C. trachomatis. Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
2. Em relação às clamídias, qual das seguintes opções é a mais precisa? também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
(A) A imunidade vitalícia geralmente segue um episódio de doen- da página 731.
ça causada pelos microrganismos.
(B) O hospedeiro reservatório para as três espécies de clamídia
que causam infecção em seres humanos é o homem.
CAPÍTULO

Riquétsias
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

INTRODUÇÃO Aplique seu conhecimento


Rickettsiae rickettsii Resumos dos organismos
Rickettsia prowazekii Questões para autoavaliação
Coxiella burneti

INTRODUÇÃO tam reação cruzada com antígenos das linhagens OX de Proteus


vulgaris. O teste de Weil-Felix, o qual detecta anticorpos antirri-
Riquétsias são parasitas intracelulares obrigatórios, isto é, cres- quétsias no soro de pacientes por aglutinação dos organismos de
cem somente no interior de células. Elas são o agente do tifo, da Proteus, é baseado nessa reação cruzada.
febre maculosa e da febre Q. A C. burnetii apresenta um estágio semelhante a esporo que
é altamente resistente ao dessecamento, o que aumenta sua habi-
Doenças lidade de causar infecção. Também apresenta DI50 muito baixa,
Nos Est ados Unidos, há duas doenças significativas causadas estimada em cerca de um organismo. A C. burnetii existe em duas
por Rickettsia: a febre maculosa das Montanhas Rochosas, cau- fases que diferem quanto à antigenicidade e à virulência: organis-
sada pela Rickettsia rickettsii, e a febre Q, causada pela Coxiella m os da fase I são isolados do paciente, são virulentos, e sinteti-
burnetii. O tifo epidêmico, causado por Rickettsia prowazekii, é zam certos antígenos de superfície, ao passo que organismos da
uma doença importante que ocorre principalm ente em condi- fase II são produzidos por repetidas passagens em cultura, não
ções de aglom eração e de vida insalubres durante períodos de são virulentos, e perderam a capacidade de sintetizar certos an -
guerra. Outras doenças causadas por Rickettsia, como o tifo rural tígenos de superfície. A importância clínica da variação de fases
e endêmico, ocorrem principalmente em países em desenvolvi- é que pacientes com febre Q crônica apresentam titulação de an -
mento. A riquetsiose vesicular, causada por Rickettsia akari, é ticorpos muito mais elevada para antígenos da fase I do que os
uma doença rara encontrada em algum as cidades densamente pacientes com febre Q aguda.
povoadas nos Estados Unidos. Ehrlichia chaffeensis e Anaplasma
phagocytophilum são descritas no Capítulo 27. Transmissão
O aspecto mais marcante do ciclo de vida das riquétsias é que
Características importantes elas são mantidas n a n atureza em determinados artróp odes,
Riquétsias são bacilos muito curtos e de difícil visualização ao como carrapatos, piolhos, pulgas e ácaros e, com uma exceção,
microscópio óptico. Estruturalmente, sua parede celular asseme- são transmitidas a seres humanos por meio da picada do artró-
lha-se à de bacilos gram -negativos, porém coram -se com pouca pode. As riquétsias circulam amplamente na corrente sanguínea
intensidade pela coloração de Gram padrão. (bacteriemia), infectando principalmente o endotélio da parede
As riquétsias são parasitas intracelulares obrigatórios, dos vasos sanguíneos.
uma vez que são incapazes de produzir energia suficiente para A exceção à transmissão por artrópodes é a C. burnetii, o
replicar-se extracelularmente. Por esse motivo, as riquétsias de- agente da febre Q, o qual é transmitido por aerossóis e inalado
vem crescer em cultura de células, ovos embrionados ou anim ais até os pulmões. Praticamente todas as doenças riquetsianas são
experimentais. As riquétsias dividem -se por fissão binária no in- zoonoses (i.e., apresentam um reservatório animal), com a ex-
terior da célula hospedeira, ao contrário das clamídias, as quais ceção notável do tifo epidêmico, o qual ocorre apenas em seres
t am bém são parasitas intracelulares obrigatórios, mas replicam - humanos. Ele ocorre apenas em seres humanos porque o orga-
se por meio de um ciclo intracelular distinto. nismo causador, R. prowazekii, é transmitido pelo piolho corpo-
Diversas riquétsias, com o Rickettsia prowazekii, Rickettsia ral humano. Um resumo dos vetores e reservatórios para doenças
tsutsugamushi e R. rickettsii, p ossuem antígenos que apresen - riquetsianas está apresentado na Tabela 26-1.
CAPÍTULO 26 Riquétsias 209

TABELA 26-1 Resumo das doenças riquetsianas selecionadas

Reservatório em
Doença Organismo Vetor artrópode mamíferos Importante nos Estados Unidos

Febre maculosa
Febre maculosa das R. rickettsii Carrapatos Cachorros, roedores Sim (especialmente nos Estados do
Montanhas Rochosas Sudeste, como a Carolina do Norte)
Riquetsiose vesicular R. akari Ácaros Ratos Não

Grupo do tifo
Epidêmico R. prowazekii Piolhos Seres humanos Não
Endêmico R. typhi Pulgas Roedores Não
Rural R. tsutsugamushi Ácaros Roedores Não

Outros
Febre Q C. burnetii Nenhum Bovinos, ovinos, Sim
caprinos

A incidência da doença depende da distribuição geográfi- onde o carrapato do cão, Dermacentor variabilis, está localizado.
ca do vetor artrópode e do risco de exposição, sendo reforçada O nome "febre maculosa das Montanhas Rochosas,, é derivado da
1
por fatores como más condições de higiene e acampamento em região na qual a doença foi primeiramente encontrada.
regiões de mata. Esses fatores são discutidos posteriormente, jun- O carrapato é um importante reservatório de R. rickettsii,
tamente com cada doença individual. assim como o vetor; o microrganismo é transmitido de carrapato
a carrapato pela via transovariana, resultando em uma infecção
Patogênese permanente. Certos mamíferos, como cães e roedores, também
são reservatórios do microrganismo. Seres humanos são hospe-
A lesão típica causada pelas riquétsias é a vasculite, particular-
deiros acidentais e não são necessários para a perpetuação do
mente no revestimento endotelial da parede do vaso onde o mi-
microrganismo na natureza; não há transmissão entre pessoas.
crorganismo é encontrado. Danos aos vasos cutâneos resultam
A maioria dos casos ocorre em crianças durante a primavera e o
na erupção característica, bem como em edema e hemorragia
início do verão, quando os carrapatos estão ativos. A febre ma-
causada pelo aumento da permeabilidade capilar. A base da pa-
culosa das Montanhas Rochosas representa 95% das doenças ri-
togénese por esses microrganismos é desconhecida. Há algumas
quetsianas nos Estados Unidos; existem cerca de 1.000 casos por
evidências de que endotoxinas estejam envolvidas, o que está de
ano. Ela pode ser fatal se não for tratada, mas se for diagnosticada
acordo com a natureza de algumas lesões, como febre e petéquias,
e tratada, resulta em cura imediata.*
mas seu papel ainda não foi confirmado. Nenhuma exotoxina ou
enzima citolítica foi encontrada.

Achados clínicos e epidemiologia


Esta seção está limitada às duas doenças riquetsianas mais co-
muns nos Estados Unidos (i.e., febre maculosa das Montanhas
Rochosas e febre Q) e à outra principal doença riquetsiana, o tifo.

Febre maculosa das Montanhas Rochosas


Essa doença é caracterizada pelo início agudo de sintomas inespe-
cíficos (p. ex., febre, cefaleia grave, mialgias e prostração). A erup-
ção típica, que aparece dois a seis dias depois, inicia com mácu-
las que frequentemente progridem para petéquias (Figura 26-1).
A erupção normalmente aparece primeiro nas mãos e nos pés e, FIGURA 26-1 Febre maculosa das Montanhas Rochosas. Observe
erupção petequial generalizada. (Reproduzida do MMWR, Diagnosis and
em seguida, desloca-se para o tronco. Associada à cefaleia, outras
Management of Tickborne Rickettsial Diseases: Rocky Mountain Spotted Fever,
alterações profundas no sistema nervoso central, como delirium e
Ehrlichiosis, and Anaplasmosis- United States. March 13, 2006/55(RR04);1 - 27,
coma, podem ocorrer. Coagulação intravascular disseminada, ede- http://www.cdc.gov/mmwr.)
ma e colapso circulatório podem surgir em casos graves. O diag-
nóstico deve ser realizado com base na clínica e a terapia deve ser
iniciada imediatamente, pois o diagnóstico laboratorial é adiado até 1
No oeste dos Estados Unidos, é transmitida pelo carrapato-da-madeira,
que um aumento no título de anticorpos possa ser observado. Dermacentor andersoni.
A denominação da doença é enganosa, uma vez que ela ocorre *N. de R.T. No Brasil, doenças maculosas causadas por riquétsias ocor-
principalmente ao longo da Costa Leste dos Estados Unidos (nos rem numa taxa relativamente baixa, porém, casos são descritos todos os
Estados do sudeste, como Virgínia, Carolina do Norte e Geórgia), anos, principalmente nos Estados do Sudeste brasileiro.
210 PARTE li Bacteriologia Clínica

2
FebreQ são de piolho a piolho; portanto, a infecção humana é um estágio
Ao contrário de outras doenças riquetsianas, os principais órgãos obrigatório no ciclo. O tifo epidêmico está associado com guerras
envolvidos na febre Q são os pulmões. Ela inicia-se subitamente e pobreza; atualmente encontra-se em países em desenvolvimento
com febre, cefaleia grave, tosse e outros sintomas semelhantes aos na África e na América do Sul, mas não nos Estados Unidos.*
da gripe. Essas são as únicas manifestações observadas em muitos A forma recorrente do tifo epidêmico é chamada de doen-
pacientes, mas uma pneumonia desenvolve-se em aproximada- ça de Brill-Zinsser. Os sinais e sintomas são semelhantes aos
mente metade desses pacientes. A hepatite é frequente o suficiente do tifo epidêmico, porém menos graves, de curta duração e
para que a combinação entre pneumonia e hepatite sugira febre Q. raramente fatais. As recidivas podem ocorrer até 50 anos mais
Uma erupção é rara, ao contrário das outras doenças riquetsianas. tarde e podem ser precipitadas por outra doença intercorrente.
Em geral, a febre Q é uma doença aguda, e a recuperação é espe- Nos Estados Unidos, a doença é vista em idosos que tiveram tifo
rada mesmo na ausência de terapia antibiótica. Raramente, a febre epidêmico durante a II Guerra Mundial na Europa. A doença de
Q crônica caracterizada por endocardite fatal ocorre. Brill-Zinsser é epidemiologicamente interessante; pacientes per-
A febre Q é a única doença riquetsiana que não é transmi- sistentemente infectados podem servir como uma fonte do mi-
tida a seres humanos pela mordida de um artrópode. Os reser- crorganismo se forem picados pelo piolho.
vatórios importantes para a infecção humana são bovinos, ovi-
nos e caprinos. O agente, C. burnetii, o qual causa uma infecção Diagnóstico laboratorial
inaparente nesses hospedeiros reservatórios, é encontrado em O diagnóstico laboratorial de doenças riquetsianas é baseado na
alta concentração na urina, nas fezes, no tecido placentário e no análise sorológica em vez do isolamento do microrganismo. Em -
líquido amniótico dos animais. Ele é transmitido a seres huma- hora Rickettsia possa crescer em cultura de célula ou ovos em-
nos via inalação de aerossóis desses materiais. A doença ocorre brionados, esse é um processo perigoso que não está disponível
mundialmente, sobretudo em indivíduos cujas ocupações os ex- em laboratório clínico convencional.
põem à pecuária, como pastores, funcionários de abatedouros e Entre os testes sorológicos, o ensaio de imunofluorescência
trabalhadores agrícolas. O leite de vaca é, em geral, responsável indireta e o ensaio imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA)
por infecções subclínicas em vez de doença em seres humanos. A são os mais frequentemente usados. O teste de Weil-Felix é de
pasteurização do leite mata o microrganismo. interesse histórico, mas não é mais realizado; uma vez que sua
especificidade e sensibilidade são muito baixas. A base do teste
Tifo de Weil-Felix está descrita a seguir.
Existem várias formas de tifo, entre elas estão as chamadas tifo Um aumento de quatro vezes ou mais no título entre as
epidêmico associado ao piolho, causado por R. prowazekii, tifo amostras de soro da fase aguda e convalescente é a forma mais
endêmico associado à pulga, causado por Rickettsia typhi, tifo comum na qual o diagnóstico laboratorial é realizado. Isso geral-
rural associado ao ácaro, causado por R. tsutsugamushi, e diver- mente é um diagnóstico retrospectivo, pois a amostra convales-
sas outras formas mais raras. Casos de tifo endêmico associado cente é obtida duas semanas após a amostra aguda. Se o quadro
à pulga, também chamado de tifo murino, ocorrem em núme- clínico é típico, um só título de fase aguda de 1:128 ou mais é
ro reduzido nas regiões sul da Califórnia e do Texas. A seguinte aceito como evidência presuntiva. Se o teste estiver disponível,
descrição está limitada ao tifo epidêmico, o mais importante do um diagnóstico pode ser feito durante a fase aguda da doença
grupo de doenças do tifo. por ensaio imunofluorescente obtido a partir do local da erupção
O tifo inicia-se com o aparecimento súbito de calafrios, febre, petequial.
cefaleia e outros sintomas semelhantes aos da gripe aproximada- O teste de Weil-Felix baseia-se na reação cruzada entre o
mente uma a três semanas após ocorrer a mordida do piolho. En- antígeno presente em diversas riquétsias e o antígeno polissaca-
tre o quinto e nono dia após o início dos sintomas, uma erupção rídico O encontrado em P. vulgaris OX-2, OX-19 e OX-K. O teste
maculopapular inicia-se no tronco e espalha-se perifericamente. mede a presença de anticorpos antirriquétsias no soro de pacien-
A erupção torna-se petequial e espalha-se por todo o corpo, mas tes por meio de sua habilidade em aglutinar bactérias Proteus.
poupa a face, as palmas das mãos e as solas dos pés. Sinais de me- Os microrganismos específicos causadores de doenças riquetsia-
ningoencefalite grave, incluindo delirium e coma, iniciam com a nas podem ser identificados por meio da aglutinação observada
erupção e continuam na segunda e terceira semanas. Nos casos com uma ou outra dessas três linhagens diferentes de P. vulgaris.
não tratados, a morte ocorre em decorrência de um colapso vas- Entretanto, como mencionado, esse teste não é mais utilizado nos
cular periférico ou de uma pneumonia bacteriana. Estados Unidos.
O tifo epidêmico é transmitido de pessoa a pessoa pelo pio-
lho corporal humano, Pediculus. Quando um paciente bacteriê- Tratamento
mico é mordido, o microrganismo é ingerido pelo piolho e multi- O tratamento de escolha para todas as doenças riquetsianas é a
plica-se no epitélio intestinal. Ele é excretado nas fezes do piolho tetraciclina, com cloranfenicol como a segunda escolha.
durante o ato de picar a próxima pessoa e é autoinoculado pela
própria pessoa quando esta coça o local da picada. O piolho in-
Prevenção
fectado morre após poucas semanas, e não há nenhuma transmis-
A prevenção de várias dessas doenças é baseada na redução da
2 exposição aos vetores artrópodes pelo uso de roupas de proteção
Q deriva de "Query" ("Perguntà'); a causa da doença era representada
por um ponto de interrogação, pois quando a doença foi primeiramente
descrita na Austrália, em 1937, sua causa era desconhecida. *N. de R.T. No Brasil, esta forma de tifo é considerada inexistente.
CAPÍTULO 26 Riquétsias 211

e pela utilização de repelente de insetos. A examinação frequen- 2. Quanto à febre Q, qual das seguintes opções é a mais precisa?
te da pele para carrapatos é importante na prevenção da febre (A) O microrganismo causador é transmitido pela picada de carra-
maculosa; o carrapato deve se manter preso por várias horas pato.
para transmitir a doença. Não há vacina contra a febre macu- (B) O hábitat natural do agente causador é o camundongo-de-pa-
losa das Montanhas Rochosas. Antibióticos profiláticos não são ta-branca.
recomendados para indivíduos assintomáticos mordidos pelo (C) O diagnóstico é feito principalmente pela coloração de Gram e
cultura em ágar-chocolate.
carrapato.
(D) Ocupações que predispõem as pessoas à febre Q incluem vete-
A prevenção do tifo é baseada na higiene pessoal e na remo-
rinários e trabalhadores de matadouros.
ção dos piolhos por meio do uso de DDT. Uma vacina contra o (E) Pacientes com febre Q frequentemente apresentam exantema
tifo, contendo organismos R. prowazekii inativados com formali- petequial envolvendo as palmas das mãos.
na, é efetiva e útil aos militares em tempos de guerra; no entanto,
não está disponível para o uso civil nos Estados Unidos. Pessoas
com alto risco de contrair a febre Q, como veterinários, pasto- RESPOSTAS
res, trabalhadores dos matadouros e funcionários de laboratório
expostos a C. burnetii, devem receber a vacina que consiste no 1. (C)
2. (D)
microrganismo inativado.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO RESUMOS DOS ORGANISMOS


1. Sua paciente é uma mulher de 40 anos com o aparecimento súbito Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
de febre de 40ºC, cefaleia grave e erupção petequial sobre a maior -se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida
parte do corpo, incluindo a palma das mãos. Hemoculturas são ne- revisão do material essencial.
gativas. Infelizmente, apesar dos antibióticos e de outros apoios, ela
faleceu no dia seguinte. Uma necropsia foi realizada, e testes imuno-
-histoquímicos em seu tecido cerebral revelaram uma infecção por QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
Rickettsia rickettsii. Qual das seguintes opções é a mais provável?
(A) A paciente vive no Colorado e foi mordida por um carrapato. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
(B) A paciente vive no Colorado e foi picada por um mosquito. encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
(C) A paciente vive na Virgínia e foi mordida por um carrapato. Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
(D) A paciente vive na Virgínia e foi mordida por uma pulga. também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
(E) A paciente vive em Connecticut e foi picada por um mosquito. da página 731.
CAPÍTULO

27 Patógenos Bacterianos de
Menor Importância

CONTEODO DO CAPITULO

Bactérias de menor importancla médica Fusobacterium


Abiotrophia Gardnerella
Achromobacter GrupoHACEK
Acinetobacter Hoemophilus aegyptius
Actinoboci/lus Hoemophilus ducreyi
Aeromonas Hafnia
Alca/igenes Kinge/la
Anaplasma Lactobacillus
Arachnia Micrococcus
Arcanobacteâum Mobjluncus
Arizona Moraxel/a
Bartonella quintana e Bartonel/a bacilhtormis Peprococcus
Bifidobacterium Peprostreptococcus
Bradyrhizobium Plesiomonas
Branhamel/a Porphyromonas
Calymmatobacteâum Propionibacterium
Capnocytophaga Pseudomonas pseudomaílei
Cardiobacterium Rhodococcus
Chromobacterium Sarcina
Chryseobactedum Spirillum
Otrobacter Streptobaci/lus
Corynebacterium jeikeium Streptococcus suis
Corynebacterium minutissimum Tropheryma
Edwardsie/la Vei/loneíla
Ehrlichia Vlo/bachia
Eikenel/a Yersinia enterocolitica e Yersinia pseudotuberculosis
Erwinia Aplique seu conhecimento
Erysipelothrix Resumos dos organismos
Eubacterium Questões para autoavaliação

BACTtRIAS DE MENOR IMPORTÃNCIA em sua escolha a respeito de quais microrganismos incluir nesta
categoria. Contudo. a separação dos patógenos de menor impor·
MtDICA tância dos de maior importância deve permitir que o leitor se
Os patógenos bacterianos de menor importância mêdk.a são concentre nos patógenos mais importaJ\tes. proporcionaJ\do ao
brevemente descritos neste capítulo. E.specia1.istas podem diferir meJ\os alguma informação sobre os menos importantes.
CAPÍTULO 27 Patógenos Bacterianos de Menor Importância 213

TABELA 27-1 Patógenos bacterianos de menor importância

Tipo de bactéria Gêneros ou espécies

Cocos gram-positivos Abiotrophia, Micrococcus, Peptococcus, Peptostreptococcus, Sarcina, Streptococcus suis

Bacilos gram-positivos Arachnia, Arcanobacterium, Bifidobacterium, Erysipelothrix, Eubacterium, Gardnerella, Lactobacil/us, Mobiluncus,
Propionibacterium, Rhodococcus

Cocos gram-negativos Veillonella

Bacilos gram-negativos Achromobacter, Acinetobacter, Actinobacillus, Aeromonas, Alcaligenes, Arizona, Bartonella quintana e B. bacilliformis,
Calymmatobacterium, Capnocytophaga, Cardiobacterium, Chromobacterium, Chryseobacterium, Citrobacter,
Corynebacterium jeikeium, Corynebacterium minutissimum, Edwardsiella, Eikenella, Erwinia, Fusobacterium,
grupo HACEK, Haemophilus ducreyi, Hafnia, Kingella, Moraxella, Plesiomonas, Porphyromonas, Pseudomonas
pseudomallei (também conhecida como Burkho/deria pseudomal/ei), Spirillum, Streptobacil/us, Yersinia
enterocolitica, Yersinia pseudotubercu/osis

Rickettsia Anap/asma, Ehrlichia, Wo/bachia

Não classificadas Tropheryma

Esses microrganismos estão apresentados em ordem alfabé- de um patógeno oportunista raro, causador de endocardite em
tica. A Tabela 27-1 lista os microrganismos de acordo com sua válvulas cardíacas danificadas e sepse.
aparência na coloração de Gram.
Aeromonas
Abiotrophia
Espécies de Aeromonas são bacilos gram-negativos encontrados
Espécies de Abiotrophia eram conhecidas anteriormente como na água, no solo, em alimentos e em fezes de animais e seres hu-
estreptococos nutricionalmente deficientes. Elas são membros da manos. A Aeromonas hydrophila causa infecções de feridas, diar-
microbiota normal da boca e podem causar endocardite bacte- reia e sepse, sobretudo em pacientes imunocomprometidos.
riana subaguda.
Alcaligenes
Achromobacter
Espécies de Alcaligenes são cocobacilos gram -negativos encon-
Espécies de Achromobacter são cocobacilos gram-negativos en-
trados no solo e na água e estão associados a materiais contendo
contrados principalmente em reservatórios de água. Eles são pa-
água, como respiradores em hospitais. Alcaligenes faecalis é um
tógenos oportunistas e estão envolvidos em septicemia, pneumo-
patógeno oportunista, capaz de causar sepse e pneumonia.
nia e infecções do trato urinário.

Acinetobacter Anaplasma
Espécies de Acinetobacter são cocobacilos gram -negativos co- A Anaplasma phagocytophilum é um membro da família das ri-
mumente encontrados no solo e na água, porém podem fazer quétsias e causa a anaplasmose granulocítica humana (AGH).
parte da microbiota normal. Eles são patógenos oportunistas que A doença é endêmica nos Estados norte-americanos da região
rapidamente colonizam pacientes com suas defesas hospedeiras Nordeste e Centro-Norte (p. ex., Connecticut e Wisconsin). Adis-
comprometidas. O Acinetobacter baumannii, a espécie normal- tribuição é similar àquela da doença de Lyme. Carrapatos Ixodes
mente envolvida em infecções humanas, causa doença sobretudo constituem um dos principais vetores. Roedores e cães são impor-
em ambiente hospitalar, em geral associada a equipamentos de tantes reservatórios. Na AGH, os granulócitos, em vez das célu-
terapia respiratória (pneumonia associada a ventilador) e à in - las mononucleares, são infectados, mas a doença é clinicamente
trodução de cateteres urinários. Septicemia, pneumonia e infec- indistinguível das causadas por Ehrlichia chaffeensis. O microrga-
ções do trato urinário são as manifestações mais frequentes. O nismo forma um corpo de inclusão, chamado de mórula, no ci-
A. baumannii é incrivelmente resistente a antibióticos, e alguns toplasma de células infectadas. A mórula, que apresenta forma de
isolados são resistente a todos os antibióticos conhecidos. O amora, é indistinguível da formada por Ehrlichia. O diagnóstico é
imipenem é o fármaco de escolha para infecções causadas por feito sorologicamente pela detecção de um aumento no título de
linhagens suscetíveis. A colistina é útil em linhagens resistentes anticorpo. A doxiciclina é o fármaco de escolha para o tratamen-
aos carbapenêmicos. Os nomes anteriores para os gêneros desses to. Esse organismo era anteriormente conhecido como Ehrlichia
microrganismos incluem Herellea e Mima. equi, e a doença causada por ele era anteriormente denominada
erliquiose granulocítica humana (EGH).
Actinobacillus
As espécies de Actinobacillus são bastonetes cocobacilares.
Arachnia
O Actinobacillus actinomycetemcomitans é encontrado como par- Espécies de Arachnia são bacilos gram-positivos anaeróbios que
te da microbiota normal do trato respiratório superior. Trata-se formam filamentos longos e ramificados semelhantes aos de
214 PARTE li Bacteriologia Clínica

Actinomyces. Eles são encontrados principalmente na boca (as- Calymmatobacterium


sociados à placa dental) e nas criptas tonsilares. Arachnia propio-
O Calymmatobacterium granulomatis é um bacilo gram-negativo
nica, a principal espécie, causa abscessos similares aos causados
que causa granuloma inguinal (também conhecido como dono-
por Actinomyces israelii, incluindo a presença de "grânulos de
vanose ), uma doença sexualmente transmissível caracterizada
enxofre,, nas lesões.
por ulceração genital e tecido inchado e destruição óssea. O diag-
nóstico é feito por meio da visualização dos microrganismos
Arcanobacterium corados (corpos de Donovan) dentro de grandes macrófagos da
O Arcanobacterium haemolyticum é um bacilo gram-positivo em lesão. A tetraciclina é o tratamento de escolha para essa doença,
forma de clava que se assemelha às corinebactérias. É uma causa que é rara nos Estados Unidos, mas endêmica em muitos países
rara de faringite e úlceras cutâneas crônicas. A faringite pode ser em desenvolvimento. O C. granulomatis é também conhecido
acompanhada por uma erupção semelhante à erupção de escar- como Klebsiella granulomatis.
latina.
Capnocytophaga
Arizona O Capnocytophaga gingivalis é um bacilo gram-negativo fusifor-
Espécies de Arizona são bacilos gram-negativos da família me que está associado à doença periodontal, mas também pode
das Enterobacteriaceae; elas fermentam lactose lentamente. ser um patógeno oportunista, causando sepse e mucosite em pa-
A Arizona hinshawii é encontrada nas fezes de galinhas e de ou- cientes imunocomprometidos. A Capnocytophaga canimorsus é
tros animais domésticos e causa doenças semelhantes às causadas um membro da microbiota oral de cães e causa infecções decor-
por Salmonella, como enterocolite e febre entérica. O microrga- rentes de mordida de cachorros. Ela também pode causar sepse
nismo é, em geral, transmitido por alimento contaminado (p. ex., em pacientes imunocomprometidos, principalmente naqueles
ovos secos). que não possuem o baço, e também em pacientes com histórico
de abuso de álcool.
Bartonella quintana e Bartonella bacilliformis
Cardiobacterium
A Bartonella quintana é o agente causador da febre das trin-
cheiras, sendo também implicada como causa de alguns casos O Cardiobacterium hominis é um bacilo pleomórfico gram-ne-
de angiomatose bacilar. A febre das trincheiras é transmitida gativo. Ele é um membro da microbiota normal do colo humano,
por piolhos, e os seres humanos são o reservatório para o mi- mas pode ser um patógeno oportunista, causando principalmen-
crorganismo. A B. bacilliformis causa duas doenças raras: a fe- te endocardites.
bre de Oroya e a verruga peruana, sendo que ambas são está-
gios da doença de Carrión. A doença ocorre apenas em certas Chromobacterium
áreas das Cordilheiras dos Andes, e suspeita-se que haja um O Chromobacterium violaceum é um bacilo gram -negativo que
reservatório animal. produz um pigmento violeta. É encontrado no solo e na água e
pode causar infecções de feridas, principalmente em regiões sub-
Bifidobacterium tropicais do planeta.
O Bifidobacterium eriksonii é um bacilo gram-positivo anaeróbio
e filamentoso encontrado como parte da microbiota normal na Chryseobacterium
boca e no trato gastrintestinal. Ele ocorre em infecções anaeró- Espécies de Chryseobacterium são bacilos gram -negativos encon-
bias mistas. trados no solo e na água. Chryseobacterium meningosepticum, o
principal patógeno desse gênero, é um patógeno oportunista, cau-
Bradyrhizobium sador de meningite e sepse, especialmente em bebês prematuros.
Em adultos, ele causa surtos de pneumonia hospitalar, sobretudo
O Bradyrhizobium enterica é um bacilo gram-negativo suposta-
mente causador da colite do cordão umbilical. Essa colite se ma- em pacientes e intubados. Ele é resistente à maioria dos antibió-
ticos, no entanto, é notável como a única bactéria gram -negativa
nifesta como uma diarreia não sanguinolenta em pacientes que
que é suscetível à vancomicina. O gênero Chryseobacterium era
receberam transplante halogênico de células-tronco de cordão
anteriormente chamado de Flavobacterium.
umbilical. O agente foi identificado por meio de ensaios de rea-
ção em cadeia da polimerase (PCR) e sequenciamento de DNA a
partir de tecidos infectados obtidos de biópsias de colo. Citrobacter
Espécies de Bradyrhizobium são bactérias comuns do solo Espécies de Citrobacter são bacilos gram-negativos (membros da
que são capazes de fixar o nitrogênio em plantas leguminosas. família Enterobacteriaceae) relacionados a Salmonella e Arizona.
A B. enterica é o primeiro membro do gênero a ser identificado Eles ocorrem no ambiente e no colo humano e podem causar
como um patógeno oportunista humano. sepse em pacientes imunocomprometidos.

Branhamella Corynebacterium jeikeium


A Branhamella catarrhalis foi renomeada Moraxella catarrhalis O Corynebacterium jeikeium é um pequeno bacilo gram-positivo
(ver Moraxella, a seguir). encontrado principalmente na pele de pacientes hospitalizados.
CAPÍTULO 27 Patógenos Bacterianos de Menor Importância 21S

Ele causa sepse em pacientes imunocomprometidos, mais fre- sipela (causada por estreptococo). O erisipeloide normalmente
quentemente nos neutropênicos. Infecções estão, em geral, asso- ocorre nas mãos de pessoas que manipulam carne e peixe.
ciadas à introdução de cateteres e válvulas prostéticas do coração.
O fármaco de escolha é a vancomicina. Linhagens adquiridas em Eubacterium
hospitais são resistentes a muitos outros antibióticos.
Espécies de Eubacterium são bacilos gram-positivos, anaeróbios,
não formadores de esporo, que estão presentes em grande núme-
Corynebacterium minutissimum
ro como parte da microbiota normal do colo humano. Raramen-
O Corynebacterium minutissimum é um pequeno bacilo gram- te causam doença humana.
-positivo que causa a eritrasma. A eritrasma é caracterizada por
máculas castanhas, em escamas, pruriginosas na pele da região Fusobacterium
genital. O diagnóstico é normalmente feito pela visualização de
Espécies de Fusobacterium são bacilos pontiagudos anaeróbios
uma fluorescência vermelho-coral em vez do cultivo do micror-
gram-negativos. Eles são parte da microbiota humana normal da
ganismo. O fármaco de escolha é a eritromicina oral.
boca, do colo e do trato genital feminino e são isolados de abscessos
encefálicos, pulmonares, intra-abdominais e pélvicos. São frequen-
Edwardsiella
temente encontrados em infecções mistas com outros anaeróbios
Espécies de Edwardsiella são bacilos gram-negativos (membros e anaeróbios facultativos. Fusobacterium nucleatum ocorre, jun-
das Enterobacteriaceae) semelhantes à Salmonella. Eles podem tamente com vários espiroquetas, em casos de angina de Vincent
causar enterocolite, sepse e infecções de feridas. ("boca de trincheirà'), a qual é caracterizada por uma gengivite
ulcerativa necrosante. F. nucleatum e Fusobacterium necrophorum
Ehrlichia também causam a doença de Lemierre, uma infecção anaeróbia do
A Ehrlichia chaffeensis é um membro da família das riquétsias e espaço faringeal posterior e que é acompanhada por tromboflebite
agente causador da erliquiose monocítica humana (EMH). Essa da veia jugular interna e embolias metastáticas infecciosas do pul-
doença assemelha-se à febre maculosa das Montanhas Rochosas, mão. Os fármacos de escolha para infecções por Fusobacterium po-
exceto pela erupção cutânea característica que normalmente não dem ser tanto a penicilina G quanto o metronidazol.
ocorre. Febre alta, cefaleia grave e mialgias são os sintomas proe-
minentes. O microrganismo é endêmico em cães e é transmitido Gardnerella
a seres humanos por carrapatos, sobretudo o carrapato de cachor- A Gardnerella vaginalis é um bacilo facultativo gram-variável as-
ros, Dermacentor, e o carrapato-estrela solitário, Amblyomma. sociado à vaginose bacteriana, caracterizada por um corrimento
Carrapatos do gênero Ixodes também são vetores. A E. chaffeen- vaginal fétido e pela presença de células-chave, as quais são cé-
sis infecta principalmente os leucócitos mononucleares e forma lulas epiteliais vaginais cobertas por bactéria. O teste de odor da
mórulas características no citoplasma. (Uma mórula é um corpo secreção vaginal, que consiste em tratar o corrimento vaginal com
de inclusão que se assemelha a uma amora. Consiste em muitas KOH 10%, com a exalação de forte odor semelhante a peixe, é
células agrupadas de E. chaffeensis.) Linfopenia, trombocitope- sempre positivo. Entretanto, a tricomoníase, a qual também pode
nia e valores elevados de enzimas hepáticas são observados. Nos causar um teste de "whiff' positivo, deve ser descartada antes que
Estados Unidos, a doença ocorre principalmente nos Estados do o diagnóstico de vaginose bacteriana possa ser feito. O fármaco
Sul, principalmente no Arkansas. O diagnóstico é, em geral, soro- de escolha é o metronidazol. Mobiluncus (ver adiante), um bacilo
lógico por meio da detecção do aumento no título de anticorpos. anaeróbio, é também frequentemente encontrado nessa doença.
A doxiciclina é o fármaco de escolha para o tratamento. Mulheres com vaginose bacteriana têm incidência elevada de par-
to prematuro e, consequentemente, ocorre incidência aumentada
Eikenella de morbidade e mortalidade em suas crianças recém-nascidas.
O Eikenella corrodens é um bacilo gram-negativo que é membro
da microbiota normal da boca humana. Ele causa infecções da GrupoHACEK
pele e dos ossos associadas a mordidas humanas e a lesões em É um grupo de pequenos bacilos gram-negativos que têm em
"punhos cerrados': Ele também causa sepse e infecções de teci- comum os seguintes itens: crescimento lento em cultura, neces-
dos moles da cabeça e do pescoço e em usuários de drogas que sidade de altas concentrações de C02 para crescer em cultura e
lambem as agulhas antes da injeção. O E. corrodens é também habilidade de causar endocardite. Eles são membros da micro-
denominado Bacteroides ureolyticus. biota da parte oral da faringe e podem entrar na corrente san-
guínea a partir desse local. O nome "HACEK,, é um acrônimo
Erwinia das primeiras letras dos gêneros das seguintes bactérias: Haemo-
Espécies de Erwinia são bacilos gram-negativos (membros da fa- philus aphrophilus e Haemophilus paraphrophilus, Actinobacillus
mília Enterobacteriaceae) encontrados no solo e na água e estão actinomycetemcomitans, Cardiobacterium hominis, Eikenella
raramente envolvidos em doença humana. corrodens e Kingella kingae.

Erysipelothrix Haemophilus aegyptius


O Erysipelothrix rhusiopathiae é um bacilo gram-positivo que O Haemophilus aegyptius (bacilo de Koch-Weeks) é um pequeno
causa erisipeloide, uma infecção cutânea que se assemelha à eri- bacilo gram -negativo, importante causa da conjuntivite em crian-
216 PARTE li Bacteriologia Clínica

ças. Algumas linhagens de H. aegyptius causam a febre purpúrica pulmonar obstrutiva crônica. É encontrado apenas em seres
brasileira, uma infecção infantil com risco à vida caracterizada humanos, sendo transmitido por aerossol respiratório. Trime-
por púrpura e choque. Esse microrganismo é também conhecido toprima-sulfametoxazol ou amoxicilina-clavulanato podem ser
como Haemophilus influenzae biagrupo aegyptius. utilizados no tratamento dessas infecções. A maioria dos isolados
clínicos produz í3-lactamase. A Moraxella nonliquefaciens é uma
Haemophilus ducreyi das duas causas mais comuns de blefarite (infecção das pálpe-
bras); o Staphylococcus aureus é a outra. O tratamento habitual é
Esse pequeno bacilo gram -negativo causa a doença sexualmente a aplicação local de pomada antibiótica, como eritromicina.
transmissível cancroide (cancro mole), a qual é comum em
países tropicais, mas incomum nos Estados Unidos. A doença
inicia-se com lesões penianas dolorosas, úlceras não endureci-
Peptococcus
das (moles) e linfadenite local (bubão). O diagnóstico é feito por Os peptococos são cocos anaeróbios gram-positivos, semelhan-
meio do isolamento de H. ducreyi da úlcera ou do pus aspirado tes a estafilococos, encontrados como membros da microbiota
de um linfonodo. O microrganismo requer ágar-sangue aquecido normal da boca e do colo. Eles também são isolados de abscessos
(chocolate) suplementado com fator X (heme), mas, ao contrá- de vários órgãos, normalmente de infecções anaeróbias mistas.
rio de H. influenzae, não requer o fator V (NAD). O cancroide
pode ser tratado com eritromicina, azitromicina ou ceftriaxona. Peptostreptococcus
Devido ao fato de diversas linhagens de H. ducreyi produzirem
Os peptostreptococos são cocos anaeróbios gram -positivos en-
um plasmídeo codificador de penicilinase, as penicilinas não po-
contrados como membros da microbiota normal da boca e do
dem ser utilizadas.
colo. Eles também são isolados de abscessos de vários órgãos,
normalmente de infecções anaeróbias mistas.
Hafnia
Espécies de Hafnia são bacilos gram-negativos (membros da fa- Plesiomonas
mília Enterobacteriaceae) encontrados no solo e na água, e são
A Plesiomonas shigelloides é um bacilo gram-negativo associado
patógenos oportunistas raros.
a fontes de água. Ele causa gastrenterites autolimitadas, princi-
palmente em áreas tropicais, e pode causar doença invasiva em
Kingella indivíduos imunocomprometidos.
A K. kingae é um bacilo gram-negativo da microbiota normal da
parte oral da faringe humana. É uma causa rara de infecção opor- Porphyromonas
tunista e endocardite. Porphyromonas gingivalis e Porphyromonas endodontalis são ba-
cilos gram-negativos, anaeróbios, encontrados na boca. Eles cau-
Lactobacillus sam infecções periodontais, como gengivite e abscessos dentais.
Lactobacilos são bacilos gram-positivos não formadores de es-
poro encontrados como membros da microbiota normal da Propionibacterium
boca, do colo e do trato genital feminino. Na boca, podem de- As propionibactérias são bacilos pleiomórficos anaeróbios
sempenhar papel na produção de cáries dentais. Na vagina, eles gram-positivos encontrados na pele e no trato gastrintestinal.
são a principal fonte de ácido láctico, o qual mantém o pH baixo. O Propionibacterium acnes é parte da microbiota normal da pele
Os lactobacilos são causa rara de infecção oportunista. e pode causar infecções de cateteres e shunts. Ele está envolvido
em infecções mistas associadas a mordidas de cães e gatos e em
Micrococcus abscessos de cabeça e de pescoço.
Os micrococos são cocos gram-positivos que fazem parte da mi- O P. acnes também está envolvido na patogénese da acne,
crobiota normal da pele. Eles são patógenos humanos raros. uma condição que afeta mais de 85% dos adolescentes. A patogé-
nese da acne envolve a impactação das glândulas sebáceas segui-
da por inflamação causada pela presença de P. acnes. As pústulas
Mobiluncus da acne são compostas por sebo, células inflamatórias, como neu-
Espécies de Mobiluncus são bacilos anaeróbios curvos gram-posi- trófilos e linfócitos, e o microrganismo. Antibióticos, como a eri-
tivos, que, frequentemente, apresentam coloração gram-variável. tromicina, administrados tanto topicamente quanto oralmente,
Eles estão associados à vaginose bacteriana em mulheres. são efetivos sobretudo quando associados a outros agentes, como
A Gardnerella (ver anteriormente), um bacilo facultativo, é tam- o peróxido de benzoíla ou retinoides.
bém muitas vezes encontrado nessa doença.
Pseudomonas pseudomallei
Moraxella A Pseudomonas pseudomallei (também conhecido como
Espécies de Moraxella são cocobacilos gram-negativos seme- Burkholderia pseudomallei) é um bacilo gram-negativo que cau-
lhantes a neissérias. A M. catarrhalis é o principal patógeno desse sa a melioidose, uma doença rara encontrada principalmente
gênero. Ele causa otite média e sinusite, principalmente em crian- no sudeste asiático. O microrganismo é encontrado no solo e é
ças, assim como bronquite e pneumonia em idosos com doença transmitido, com frequência, quando o solo contamina abrasões
CAPÍTULO 27 Patógenos Bacterianos de Menor Importância 217

cutâneas. Essa doença tem sido vista nos Estados Unidos, devido microrganismo, seu modo de transmissão e sua patogênese são
ao fato de as infecções adquiridas por membros das Forças Ar- desconhecidos.
madas durante a Guerra do Vietnã serem reativadas muitos anos A natureza desse microrganismo permaneceu desconhecida
depois. A doença aguda é caracterizada por febre alta e expecto- por muitos anos. Em 1992, foi identificado como um actinomi-
ração purulenta e com sangue. Casos não tratados podem evoluir ceto quando o RNA ribossomal recuperado de bacilos observa-
para sepse e morte. Na forma crônica, a doença pode aparecer dos em lesões duodenais foi comparado com o RNA ribossomal
como pneumonia ou abscessos pulmonares ou assemelhar-se à de outra bactéria. A Tropheryma é um microrganismo intra-
tuberculose. O diagnóstico é feito por meio da cultura do mi- celular que tem sido cultivado em cultura de células humanas,
crorganismo do sangue ou escarro. O tratamento de escolha é a mas cujo processo não é, em geral, para diagnosticar a doença.
ceftazidima, que é administrada por várias semanas. O diagnóstico laboratorial é geralmente feito por coloração por
ácido periódico de Schiff (PAS) de biópsias do intestino delga-
Rhodococcus do, no qual inclusões são vistas nos macrófagos. A coloração de
PAS, no entanto, não é específica, de forma que ensaios de PCR,
O Rhodococcus equi é uma bactéria gram-positiva cuja formava- muito mais específicos, são usados para confirmar o diagnósti-
ria de coco a bacilo. É uma causa rara de pneumonia e doença co. O fármaco de escolha para o tratamento é o trimetoprima-
pulmonar cavitária em pacientes cuja imunidade celular está sulfametoxazol.
comprometida. O diagnóstico é feito por meio do isolamento do
microrganismo em ágar laboratorial e pela observação de colô-
Veillonella
nias rosa-salmão que não fermentam a maioria dos carboidratos.
Ele pode parecer acidorresistente e, em caso afirmativo, pode ser A Veillonella parvula é um diplococo anaeróbio gram-negativo
confundido com Mycobacterium tuberculosis. O tratamento de es- que é parte da microbiota normal da boca, do colo e da vagina.
colha é uma combinação de rifampina e eritromicina. (O R. equi É um patógeno oportunista raro que causa abscessos dos sínus,
era conhecido como Corynebacterium equi.) das tonsilas e do encéfalo, normalmente em infecções anaeróbias
mistas.
Sarcina
Wolbachia
Espécies de Sarcina são cocos anaeróbios gram-positivos agrupa-
dos em conjuntos de quatro ou oito. Eles são membros minori- As espécies de Wolbachia são bactérias semelhantes à Rickettsia,
tários da microbiota normal do colo e raramente são patógenos. encontradas no interior de células de nematódeos filariais, como
Wuchereria e Onchocerca (ver Capítulo 56). A Wolbachia libera
moléculas semelhantes a endotoxinas que, acredita-se, desem-
Spirillum
penham um papel na patogênese de infecções por Wuchereria
O Spirillum minar é um bacilo gram-negativo, em forma de es- e Onchocerca. O tratamento de pacientes com infecções por
piral, que causa febre da mordida de rato ("sodoku,,). A doença Wuchereria e Onchocerca com doxiciclina para matar a Wolbachia
é caracterizada por uma erupção marrom-avermelhada que se resulta em uma redução significativa no número de vermes fi-
espalha a partir da mordida, acompanhada por febre e linfadeno- lárias no paciente. As Wolbachia não são conhecidas como cau-
patia local. O diagnóstico é feito pela combinação de microscopia sadoras de doença humana, mas infectam diversas espécies de
e inoculação em animal. insetos em todo o mundo.

Streptobacillus Yersinia enterocolitica e


O Streptobacillus moniliformis é um bacilo gram-negativo que Yersinia pseudotubercu/osis
causa outro tipo de febre associada à mordida de ratos (ver Y. enterocolitica e Y. pseudotuberculosis são bacilos ovais, gram-
Spirillum, no parágrafo anterior). -negativos, maiores que Yersinia pestis. Os fatores de virulência
produzidos por Y. pestis não são produzidos por essas espécies.
Streptococcus suis Esses microrganismos são transmitidos a seres humanos por
Em agosto de 2005, foi relatado que infecções por S. suis causa- contaminação de alimento com fezes de animais domésticos
ram a morte de 37 fazendeiros na China. A doença é caracte- como cães, gatos e gado. Infecções por Yersinia são relativamente
infrequentes nos Estados Unidos, mas o número de casos docu-
rizada pelo desenvolvimento repentino de choque hemorrágico.
mentados tem aumentado durante os últimos anos, talvez como
Essa espécie é conhecida por causar doença em porcos, mas rara-
mente em pessoas antes desse surto. A disseminação da bactéria resultado de procedimentos laboratoriais aperfeiçoados.
a partir do caso principal para outros não ocorreu. O Y. enterocolitica causa enterocolite clinicamente in -
distinguível da causada por Salmonella ou Shigella. Tanto o
Y. enterocolitica quanto o Y. pseudotuberculosis podem causar
Tropheryma adenites mesentéricas, que se assemelham clinicamente a apen-
A Tropheryma whipplei é a causa da doença de Whipple, uma dicites agudas. A adenite mesentérica é o principal achado em
doença rara caracterizada por perda de peso prolongada, diarreia apendicectomia, na qual um apêndice normal é encontrado. Ra-
e poliartrite. Sem o tratamento antibiótico, ela é fatal. Infiltra- ramente, esses microrganismos estão envolvidos em bacteriemia
dos de macrófagos "espumantes,, no tecido afetado, sobretudo no e abscessos do fígado ou do baço, principalmente em pessoas
intestino delgado, são comumente vistos. O reservatório desse com doença subclínica.
218 PARTE li Bacteriologia Clínica

Infecções por Yersinia estão associadas a duas doenças au- (C) A penicilina G é o fármaco de escolha para tratar infecções
toimunes: artrite reativa e síndrome de Reiter. Outros patógenos causadas por H. ducreyi.
(D) Ele causa cancroide, o qual é caracterizado por uma úlcera do-
entéricos, como Salmonella, Shigella e Campylobacter, também
lorosa nos órgãos genitais.
desencadeiam essas doenças. Artrite reativa e síndrome de Reiter
estão descritas no Capítulo 66. 3. A respeito de Yersinia enterocolitica, qual das seguintes opções é a
mais precisa?
O Y. enterocolitica é normalmente isolado das amos-
(A) Ele causa adenite mesentérica, que pode mimetizar a apendicite.
tras de fezes e forma uma colônia lactose-negativa no ágar de
(B) É um diplococo gram-negativo encontrado principalmente no
MacConkey. Ele cresce melhor a 25ºC do que a 37ºC; a maioria
interior de neutrófilos.
dos resultados de testes bioquímicos são positivos a 25ºC e ne- ( C) É a causa mais comum de enterocolite nos Estados Unidos.
gativos a 37ºC. A incubação de amostras de fezes a 4ºC por uma (D) Seu hábitat natural é a parte oral da faringe humana, e não há
semana, uma técnica chamada de enriquecimento frio, aumenta reservatório animal.
a frequência de recuperação do microrganismo. A Y. enteroco- 4. A respeito de Ehrlichia chaffeensis, qual das seguintes opções é a
litica pode ser distinguida da Y. pseudotuberculosis por reações mais precisa?
bioquímicas. (A) É transmitida principalmente por picada de mosquito.
O laboratório, em geral, não está envolvido no diagnóstico (B) Ela forma colônias 13-hemolíticas no ágar-sangue.
de Y. pseudotuberculosis; culturas são raramente realizadas nos (C) Sua apresentação clínica mais comum é a meningite aguda.
casos de adenite mesentérica, e o microrganismo é raramente (D) É endêmica nas ilhas da costa de Massachusetts (p. ex.,
recuperado de amostras de fezes. Testes sorológicos não estão Nantucket).
(E) Ela forma um corpo de inclusão, chamado de mórula, no cito-
disponíveis na maioria dos laboratórios clínicos hospitalares.
plasma das células infectadas.
A enterocolite e a adenite mesentérica causadas por micror-
ganismos não requerem tratamento. Em casos de bacteriemia ou
abscessos, tanto trimetoprima-sulfametoxazol quanto ciproflo-
RESPOSTAS
xacina são normalmente efetivos. Não há medidas preventivas,
exceto proteção contra contaminação de alimento pelas fezes de 1. (B)

animais domésticos. 2. (D)


3. (A)
4. (E)

APLIQUE SEU CONHECIMENTO


1. A respeito de Fusobacterium nucleatum, qual das seguintes opções é RESUMOS DOS ORGANISMOS
a mais precisa?
Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
(A) Seu hábitat natural é o solo.
-se na página 663. Favor consultar esses resumos para uma rápida
(B) Trata-se de um bacilo puntiforme anaeróbio gram-negativo.
revisão do material essencial.
(C) O fármaco de escolha para infecções causadas por F. nucleatum
é a azitromicina.
(D) O diagnóstico laboratorial é baseado na detecção da habilida-
de da exotoxina em matar células em cultura de tecidos. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
2. A respeito de Haemophilus ducreyi, qual das seguintes opções é a Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
mais precisa? encontradas na seção de Bacteriologia Clínica da Parte XIII:
(A) Ele requer os fatores X e V para crescer no ágar de MacConkey. Questões para Autoavaliação, a partir da página 693. Consulte
(B) A coloração de Gram do exsudato proveniente da lesão mostra também a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
grandes bacilos gram-positivos. da página 731.
Todos os outros age11tes infecciosos descritos neste livro, ou seja, citoplasma. mitocôndrias e ribossomos. As células procarióticas.
bactérias, fungos, protozoários e vermes.. são compostos por uma como as bactérias, não apresentam a separação entre núcle-o e.
única célula ou por muitas células. Os organismos celulares são citoplasma, e não possuem mitocôndrias, embora possuam ri-
capazes de se replicar de forma independente, podem sintetizar bossomos. de. forma que são capazes de sintetizar suas próprias
sua própria energia e proteínas, e podem ser visua1izados por mi- prote(nas.
croscopia óptica. Em contrapartida. os víms não são organismos (2) Os vlrus pr«:isam se reproduzir (replic~r) dentro de cé-
celu1ares, não são capazes de se replicar independenteme11te. não lulas, uma vez que eles não são capazes de produzir sua própria
são capazes de produzir sua própria energia e proteínas.. e são energia ou sintetizar suas proteínas. Jâ que eJes só podem se re-
demasiadamente pequenos para serem vistos por microscopia produzir de11tro de céJulas, os vírus são parasitas intra~lulares
óptica. obrigatórios. (As únicas bactérias que são parasitas intracelula-
Os vfrus aprese11tam as seguintes características: res obrigatórios são as damídias e as riquétsias. Estas bactérias
não conseguem sintetizar energia suficiente para se replicarem
(1) V(rus são partículas compostas por um cerne interno
de forma independente.)
que contém DNA ou RNA (mas não ambos) coberto por um
(3) Os v(rus se replic.am de maneira diferente das células
capsídeo proteico protetor. Alguns vírus apresentam uma mem-
(i. e.• os v(rus não sofrem fissão binária ou mitose). Um único
brana Hpoproteica externa. denomiJ\ada envelope. que circunda vírus pode se replicar de forma a produzir centenas de v(rus.. for.
a camada proteica. Vfrus não possuem núcleo, citoplasma, mito- mando a progênie vital. ao passo que uma célula se di,,ide e pro-
côndrias e nem ribossomos. As células, procarióticas e eucarió- duz apenas duas céJulas.fühas.
ticas, possuem tanto DNA quanto RNA. As células eucarióticas..
como fungos.. protozoários e células humanas. possuem núcleo, Alàbela lll-1compara alguns dos atributos de vírus e céJuJas.

TABELA 111·1 Comparação entre vírus e células


Proprledado Vlrus C61ulu
Tipo de ácido nucleico ONA ou ANA. mas não ambos DNAe RNA

Proteínas Poucas Muitas

Membrana lipoproteica Envelope píesente em alguns vírus Membíana celular sempre presente
Aibossomos Ausentes' Ptesentes
Mitocôndria Ausentes Presentes em <:ilulas eucarióticas, mas
não em c~lulas procatióticas
EnZimas Nenhuma ou poucas Muitas
Multiplicaçâo por meio de fissão binária ou mitose Não Sim

'Os arenavfrus possuem alguns rlbossomos nã.o funcionais.


CAPÍTULO

Estrutura

CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Tamanho e forma dos vírus Agentes atípicos semelhantes a vírus


Acidos nucleicos virais Conceitos-chave
Capsídeo virai e simetria Aplique seu conhecimento
Proteínas virais Questões para autoavaliação
Envelope virai

TAMANHO E FORMA DOS VÍRUS CAPSÍDEO VIRAL E SIMETRIA


O diâmetro dos vírus varia de 20 a 300 nm; isso corresponde O ácido nucleico é cercado por uma cobertura proteica, denomi-
aproximadamente a uma faixa de tamanhos que vai da maior nada capsídeo, composta por subunidades denominadas capsô-
proteína até a menor célula (ver Figura 2-2). Suas formas são meros. Cada capsômero, composto por uma ou várias proteínas,
frequentemente denominadas por termos coloquiais (p. ex., es- pode ser visto em microscópio eletrônico como uma partícula
feras, bastões, balas ou tijolos), mas na realidade são estruturas esférica, algumas vezes com um orifício central.
complexas de simetria geométrica precisa (ver a seguir). A forma A estrutura composta pelo genoma de ácido nucleico e pelas
das partículas virais é determinada pelo arranjo de subunidades proteínas do capsídeo é denominada nucleocapsídeo. O arranjo
repetitivas que formam a cobertura proteica (capsídeo) do ví- dos capsômeros fornece à estrutura viral sua simetria geométri-
rus. As formas e os tamanhos de alguns vírus importantes são ca. Nucleocapsídeos virais possuem duas formas de simetria: ( 1)
demonstrados na Figura 28-1. icosaédrica, na qual os capsômeros são arranjados em 20 triân-
gulos que formam uma figura simétrica (um icosaedro) com um
contorno aproximado de uma esfera; e (2) helicoidal, na qual os
ÁCIDOS NUCLEICOS VIRAIS capsômeros são arranjados em uma espiral oca que apresenta
forma de bastão. A espiral pode ser rígida ou flexível. Todos os
A anatomia de dois tipos representativos de partículas virais é
vírus de seres humanos que possuem nucleocapsídeo helicoidal
apresentada na Figura 28-2. O ácido nucleico viral (genoma) é
são cobertos por uma membrana externa, chamada de envelope
localizado internamente e pode ser tanto DNA de fita simples ou (i.e., não existem vírus helicoidais de seres humanos não envelo-
1
dupla quanto RNA de fita simples ou dupla.
pados). Vírus que possuem um nucleocapsídeo icosaédrico po-
Apenas vírus possuem material genético composto por dem ser envelopados ou não envelopados (Figura 28-2).
DNA fita simples ou de RNA de fita simples ou dupla. O ácido
A vantagem de construir uma partícula viral com subunida-
nucleico pode ser tanto linear quanto circular. O DNA é sempre
des proteicas idênticas é dupla: (1) há uma redução na necessida-
uma molécula única; o RNA pode apresentar-se em uma molé-
de de informação genética, e (2) há favorecimento de automon-
cula única ou em vários fragmentos. Por exemplo, tanto o vírus
tagem (i.e., nenhuma enzima ou energia é necessária). De fato,
influenza quanto o rotavírus possuem genoma de RNA segmen-
partículas virais funcionais foram montadas em tubos de ensaio
tado. Quase todos os vírus possuem uma cópia única de seu ge-
pela combinação de ácidos nucleicos purificados com proteínas
noma (i.e., são haploides). Uma exceção é encontrada na família
purificadas na ausência de células, fonte de energia e enzimas.
dos retrovírus, cujos membros possuem duas cópias de seu geno-
ma (i.e., são diploides).
PROTEÍNAS VIRAIS
As proteínas virais possuem várias funções importantes. As pro-
teínas do capsídeo protegem o genoma de DNA ou RNA de
1
A natureza do ácido nucleico de cada vírus é listada nas Tabelas 31-1 degradação por nucleases. As proteínas na superfície dos vírus
e 31-2. medeiam a ligação deles a receptores específicos presentes na
CAPÍTULO 28 Estrutura 221

Herpes-vírus Poxvírus

e
Adenovírus Papovavírus Hepadnavírus Parvovírus

Vírus de DNA

Paramixovírus Ortomixovírus Coronavírus Arenavírus Retrovírus

Filovírus

Reovírus Picornavírus Rabdovírus Togavírus Buniavírus

100 nm Vírus de RNA

FIGURA 28-1 Formas e tamanhos de vírus de importância médica.* (Modificada e reproduzida, com permissão, de Fenner F, White DO. Medical Virology.
4th ed. Academic Press. Copyright 1994 Elsevier.)

*N. de T. A nomenclatura correta dos vírus é regulada por um órgão internacional, denominado International Committee on Taxonomy of Virus
(ICTV), e segue os mesmos princípios da nomenclatura científica binomial de Lineu. Assim, o nome cientificamente correto do herpes-vírus causador
do herpes labial, por exemplo, é Human herpesvirus 1, sendo o primeiro nome o epíteto genérico (Human, iniciando com maiúscula e em itálico) e o
segundo nome o epíteto específico (herpesvirus 1, iniciando com minúscula e também em itálico. O numeral 1 auxilia na separação de outras espécies
entre os herpes-vírus simples). Neste livro, o autor adotou o uso de uma nomenclatura vernacular não oficial para os vírus: herpes-vírus, por exemplo,
o que foi mantido na tradução.

superfície da célula hospedeira. Essa interação entre as proteínas fectadas por vírus. Essas proteínas externas não apenas induzem
virais e o receptor celular é o principal determinante da especifici- anticorpos, mas também são alvos deles (i.e., anticorpos ligam-se a
dade de hospedeiros e de órgãos/tecidos. Proteínas virais exter- essas proteínas virais e impedem ["neutralizam''] o vírus de entrar
nas são também antígenos importantes que induzem anticorpos na célula e replicar-se). As proteínas externas induzem essas res-
neutralizantes e ativam células T citotóxicas para matar células in- postas imunes após infecção natural e imunização (ver a seguir).
222 PARTE Ili Virologia Básica

Capsômero Alguns vírus contêm proteínas reguladoras no vírion em


uma estrutura denominada tegumento, que se localiza entre
~ l Cerne de }
ácido nucleico Nucleocapsídeo o nucleocapsídeo e o envelope. Essas proteínas reguladoras in-
1/ Capsídeo cluem fatores de transcrição e tradução que controlam tanto pro-
cessos virais quanto celulares. Membros da família dos herpes-
A
vírus, como o herpes-vírus simples e o citomegalovírus, possuem
tegumentos proeminentes e bem-caracterizados.
Matriz proteica

ENVELOPE VIRAL
Além do capsídeo e das proteínas internas, existem outros dois
Envelope lipídico
tipos de proteínas, ambas associadas ao envelope. O envelope é
uma membrana lipoproteica composta por lipídeos derivados da
Espículas glicoproteicas membrana celular do hospedeiro e por proteínas que são vírus-
-específicas. Além disso, muitas vezes há glicoproteínas na forma
FIGURA 28-2 Corte transversal de dois tipos de partículas virais. A: de projeções similares a espículas na superfície, que se ligam a
Vírus não envelopado com um nucleocapsídeo icosaédrico. B: Vírus receptores da célula hospedeira durante a entrada do vírus na
envelopado com um nucleocapsídeo helicoidal. (Modificada e reprodu- célula. Outra proteína, a proteína de matriz, medeia a interação
zida, com permissão, de Brooks GF et ai. Medical Microbiology. 20th ed. Publicada entre proteínas do capsídeo e o envelope.
originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1995 por McGraw-Hill.)
O envelope viral é adquirido enquanto o vírus sai da célula
por meio de um processo denominado "brotamento" (ver Capí-
O termo "sorotipo" é usado para descrever uma subcate- tulo 29). O envelope da maioria dos vírus é derivado da mem-
goria de vírus com base em seus antígenos de superfície. Por brana externa celular, com a notável exceção dos herpes-vírus,
exemplo, o vírus do sarampo possui um sorotipo, os poliovírus que obtêm seu envelope a partir da membrana nuclear da célula.
possuem três sorotipos, e os rinovírus possuem mais de 100 so- Em geral, a presença de um envelope confere instabilidade
rotipos. Isso ocorre porque todos os vírus do sarampo possuem ao vírus. Vírus envelopados são mais sensíveis ao calor, desseca-
apenas um determinante antigênico na sua proteína de superfície mento, detergentes e solventes lipídicos, como álcool e éter, do
que induz anticorpos neutralizantes capazes de prevenir infec- que os vírus com nucleocapsídeo não envelopado, que são com-
ções. Em contrapartida, os poliovírus possuem três diferentes postos apenas por ácido nucleico e proteínas do capsídeo.
determinantes antigênicos em suas proteínas de superfície, ou Um fato clínico interessante correlacionado a essa observa-
seja, o poliovírus tipo 1 possui um determinante antigênico, o ção é que praticamente todos os vírus transmitidos pela via fecal-
poliovírus tipo 2 possui um determinante antigênico diferente, e -oral (os que precisam sobreviver no ambiente) não possuem um
o poliovírus tipo 3 possui um determinante antigênico diferente envelope, isto é, são vírus com nucleocapsídeo não envelopado.
dos tipos 1 e 2 e, por isso, os poliovírus possuem três sorotipos. Esse grupo inclui vírus como o vírus da hepatite A, poliovírus,
Há duas implicações medicamente importantes decorrentes dis- vírus de Coxsackie, ecovírus, vírus Norwalk e rotavírus. Em con-
so. Em primeiro lugar, uma pessoa pode ser imune (possuir anti- trapartida, vírus envelopados são mais comumente transmitidos
corpos) ao poliovírus do tipo 1 e ainda assim adquirir a doença, por contato direto, como pelo sangue ou por transmissão sexual.
poliomielite, causada pelos poliovírus 2 ou 3. A segunda implica- Exemplos desses vírus incluem o vírus da imunodeficiência hu-
ção é que a vacina contra poliomielite deve conter todos os três mana, o herpes-vírus simples do tipo 2 e os vírus das hepatites
sorotipos para poder ser completamente protetora. B e C. Outros vírus envelopados são transmitidos diretamente
Algumas das proteínas internas virais são estruturais pela picada de insetos (p. ex., o vírus da febre amarela e o vírus
(p. ex., as proteínas do capsídeo de vírus envelopados), ao passo do Oeste do Nilo) ou por meio da mordida de animais (p. ex., o
que outras são enzimas (p. ex., as polimerases que sintetizam o vírus da raiva).
mRNA viral). As proteínas internas virais variam dependendo do Muitos outros vírus envelopados são transmitidos de pessoa
vírus. Alguns vírus possuem DNA ou RNA-polimerases ligadas a pessoa por gotículas de aerossol respiratório, como o vírus in-
ao seu genoma; outros, não. Se um vírus possui um envelope, fluenza, o vírus do sarampo, o vírus da rubéola, o vírus sincicial
então uma proteína de matriz que medeia a interação entre as respiratório e o vírus da varicela-zóster. Se as gotículas não infec-
proteínas do capsídeo e as proteínas do envelope está presente. tarem imediatamente, elas podem secar no ambiente e os vírus
Alguns vírus produzem proteínas que agem como "superan- envelopados são rapidamente inativados. Observa-se que os ri-
tígenos", similares em sua ação aos superantígenos produzidos novírus, que são transmitidos por gotículas de aerossol, são vírus
por bactérias, como é o caso da toxina da síndrome do choque com nucleocapsídeo não envelopado que podem sobreviver no
tóxico de Staphylococcus aureus (ver Capítulos 15 e 58). Vírus co- ambiente por períodos de tempo significativos. Dessa forma, eles
nhecidos por produzir superantígenos incluem dois membros da podem ser transmitidos por meio das mãos, caso estas tenham
família dos herpes-vírus, denominados vírus Epstein-Barr e cito- entrado em contato com o vírus em superfícies contaminadas.
megalovírus, e o retrovírus de tumor mamário de camundongos. Conforme descrito anteriormente neste capítulo, as proteí-
A hipótese atual fornecida para explicar porque esses vírus pro- nas de superfície dos vírus, sejam proteínas do capsídeo ou gli-
duzem um superantígeno é que a ativação de células T CD4-posi- coproteínas do envelope, são os principais antígenos contra os
tivas é necessária para que a replicação deles ocorra. quais o hospedeiro monta sua resposta imune contra o vírus. Elas
CAPÍTULO 28 Estrutura 223

também são determinantes de especificidade de tipo (frequente- chamadas de encefalopatias espongiformes transmissíveis, que
mente chamado de sorotipo). Em geral, há pouca proteção cru- incluem doenças como Creutzfeldt-Jakob em seres humanos e
zada entre sorotipos diferentes. Vírus que apresentam múltiplos paraplexia enzoótica em ovinos (ver Capítulo 44). Como nem
sorotipos (i.e., possuem variantes antigênicos) exibem uma habi- DNA nem RNA foram detectados nos príons, eles são claramente
lidade aprimorada em evadir as defesas do hospedeiro, uma vez diferentes dos vírus (Tabela 28-1). Além disso, a observação de
que anticorpos contra um sorotipo não protegem contra outro príons por microscopia eletrônica mostra filamentos em vez de
sorotipo. partículas virais. Príons são muito mais resistentes à inativação
por luz ultravioleta e ao calor do que vírus. Eles são notavelmente
resistentes a formaldeído e nucleases. Entretanto, são inativados
AGENTES ATÍPICOS SEMELHANTES por hipoclorito, NaOH e autoclavação. Hipoclorito é usado para
A VÍRUS esterilizar equipamentos cirúrgicos e outros insumos médicos
que não podem ser autoclavados.
Há quatro exceções às descrições típicas dos vírus da forma como Príons são compostos por uma única glicoproteína com um
apresentadas anteriormente: peso molecular de 27 mil a 30 mil. Usando o príon da paraplexia
( 1) Os vírus defectivos são compostos por ácidos nucleicos enzoótica como modelo, foi descoberto que essa proteína é co-
virais e proteínas, mas são incapazes de se replicar na ausência dificada por um único gene celular. Esse gene é encontrado em
de um vírus auxiliar, que fornece as funções faltantes. Vírus de- números iguais em células de animais infectados e animais não
fectivos geralmente possuem uma mutação ou uma deleção em infectados. Além disso, a quantidade de mRNA que codifica a
parte do seu material genético. Durante o crescimento da maior proteína do príon é a mesma em células não infectadas e infecta-
parte dos vírus de seres humanos, é produzida uma maior quan- das. Frente a essas descobertas, modificações pós-traducionais
tidade de partículas defectivas do que de partículas virais infec- da proteína do príon são hipotetizadas como a importante dife-
ciosas. A razão entre partículas defectivas e infecciosas pode ser rença entre as proteínas encontradas em células infectadas e não
tão alta quanto 100:1. Já que essas partículas defectivas podem infectadas.
interferir no crescimento das partículas infecciosas, foi hipote- Existem evidências de que uma mudança na conforma-
tizado que os vírus defectivos podem auxiliar na recuperação de ção da forma a -helicoidal normal (conhecida como PrPc, ou
uma infecção por limitar a habilidade de partículas infecciosas proteína de príon celular) para uma forma anormal de folha J3
crescerem. (conhecida como PrPsc, ou proteína de príon da paraplexia en-
(2) Os pseudovírions contêm DNA da célula hospedeira no zoótica) seja a modificação importante. A forma anormal, então,
lugar do DNA viral dentro do capsídeo. Eles são formados du- recruta formas normais adicionais para mudar sua configuração,
rante infecções por certos vírus quando o DNA da célula hospe- e o número de partículas anormais patogênicas aumenta. Apesar
deira é fragmentado e pedaços dele são incorporados no interior de os príons serem compostos apenas por proteínas, RNAs ce-
do capsídeo proteico. Pseudovírions podem infectar células, mas lulares específicos aumentam a conversão da forma a -helicoidal
não se replicam. normal para a forma de folha J3-pregueada.
(3) Os viroides consistem apenas em uma única molécula Evidências de que o recrutamento é um passo essencial vêm
de RNA circular sem capsídeo proteico nem envelope. Existe de camundongos mutagenizados ("nocaute") nos quais o gene
uma extensa homologia entre as bases do RNA de um viroide, que codifica a proteína do príon é não funcional e nenhuma pro-
gerando grandes regiões de dupla-fita. Esse RNA é bastante pe- teína de príon é produzida. Esses camundongos não desenvol-
queno (peso molecular de 1 x 105) e, aparentemente, não codifica vem a doença, apesar de receberem injeções contendo a proteína
nenhuma proteína. Porém, viroides replicam, mas o mecanismo de príon patogênica.
ainda não é claro. Eles causam várias doenças em vegetais, mas A função da proteína de príon normal ainda não está clara.
não estão relacionados a nenhuma doença humana. Existem algumas evidências de que ela é uma das proteínas de
(4) Os príons são partículas infecciosas compostas pura- transdução de sinal em neurônios e que é capaz de se ligar ao
mente por proteínas (i.e., não contêm nenhum ácido nucleico cobre. Camundongos mutagenizados nos quais o gene que co-
detectável). Eles estão ligados à causa de certas doenças "lentas", difica a proteína do príon se encontra inativo parecem normais.

TABELA 28-1 Comparação entre príons e vírus convencionais

Característica Príons Vírus convencionais

Partícula contém ácido nucleico Não Sim

Partícula contém proteína Sim, codificados por genes celulares Sim, codificados por genes virais

São inativados rapidamente pela luz ultravioleta ou pelo calor Não Sim

Aparência em microscópio eletrônico Bacilos fi lamentosos (do tipo amiloide) Simetria icosaédrica ou helicoidal

Infecções induzem anticorpos Não Sim

Infecções induzem inflamação Não Sim


224 PARTE Ili Virologia Básica

A proteína do príon em células normais é sensível a proteases, ao infect ado. Uma aparência vacuolar (espongiforme) é encontrada,
passo que a proteína do príon em células infectadas é resistente sem células inflamatórias. Proteínas do príon em tecido cerebral
a proteases, provavelmente devido à mudança de conformação. infectado formam partículas com forma de bastão que são mor-
A observação de que a proteína do príon é o produto de um fológica e histoquimicamente indistinguíveis do amiloide, uma
gene normal celular pode explicar por que nenhuma resposta substância encontrada no tecido cerebral de indivíduos com vá-
imune é formada contra essa proteína (i.e., ocorre tolerância). rias doenças do sistema nervoso central (assim como com doen-
Similarmente, não há resposta inflamatória em tecido cerebral ças de outros órgãos).

CONCEITOS-CHAVE

Tamanho e estrutura dos vírus • A proteína de matriz medeia a interação entre as p roteínas do
nucleocapsídeo virai e as proteínas do envelope.
• Os vírus variam em tamanho, possui ndo desde o tamanho de
uma p roteína grande (-20 nm) até o tamanho das menores célu- • Alguns vírus produzem variantes antigênicos de suas proteínas
las (-300 nm). A maioria dos vírus apresenta-se como esferas ou de superfície, que permitem ao vírus evadir as defesas do hospe-
bastões em microscopia eletrônica. deiro. Anticorpos contra um variante antigênico (sorotipo) não
irão neutralizar um sorotipo diferente. Alguns vírus possuem um
• Os vírus contêm DNA ou RNA, mas nunca ambos.
sorotipo; outros possuem múltiplos sorotipos.
• Todos os vírus possuem uma cobertura proteica chamada de
capsídeo, que recobre o genoma. O capsídeo é composto por
subunidades repetidas chamadas de capsômeros. Em alguns ví- Envelope virai
rus, o capsídeo representa a superfície externa, mas em outros, o • O envelope virai consist e em uma membrana que contém li-
capsídeo é coberto por um envelope lipoproteico que se torna a pídeos originados da célula do hospedeiro e proteínas codifi-
superfície externa da partícula. A estrutura composta pelo geno- cadas pelo vírus. Na maioria dos casos, o envelope é adquirido
ma de ácido nucleico e pelas proteínas do capsídeo é denomina- enquanto o vírus deixa a célula por um processo chamado de
da nucleocapsídeo. brotamento.
• As subunidades repetidas do capsídeo fornecem ao vírus uma • Vírus com um envelope são menos estáveis (i.e., são mais facil-
aparência simétrica que é útil para propósitos de classificação. mente inativados) do que vírus não envelopados (sem envelope).
Alguns nucleocapsídeos virais possuem simetria esférica (ico- Em geral, vírus envelopados são transmit idos por contato di reto
saédrica), ao passo que outros possuem simetria helicoidal. com sangue e fluidos corporais, ao passo que vírus não envelopa-
dos podem sobreviver mais tempo no ambiente e ser transmiti-
• Todos os vírus de seres humanos que possuem nucleocapsídeo
dos por meios indiretos, como pela rota fecal-oral.
helicoidal são envelopados (i.e., não existem vírus não envelopa-
dos helicoidais que infectem seres humanos). Vírus que possuem
um nucleocapsídeo icosaédrico podem ser tanto envelopados Príons
quanto não envelopados. • Príons são partículas infecciosas compostas inteiramente por
proteínas. Eles não possuem DNA nem RNA.
Acidos nucleicos virais • Eles causam doenças como a doença de Creutzfeldt-Jakob e
• O genoma de alguns vírus consiste em DNA, ao passo que o ge- kuru em seres humanos e a doença da vaca louca e paraplexia
noma de outros consiste em RNA. Esses genomas de DNA e RNA enzoótica em animais. Essas doenças são chamadas de ence-
podem ser tanto de fita simples quanto de dupla-fita. falopatias espongiformes transmissíveis. O termo espongi-
forme refere-se à aparência semelhante à esponja do encéfalo
• Alguns vírus de RNA, como o vírus influenza e o rotavírus, pos-
vista nessas doenças. Os b uracos da esponja são vacúolos resul-
suem um genoma segmentado (i.e., o genoma é composto por
tant es de neurônios mortos. Essas doenças estão descritas no
vários fragmentos).
Capítulo 44.
• Todos os vírus possuem uma cópia do seu genoma (haploides),
exceto os retrovírus, que possuem duas cópias (diploides). • As proteínas do p ríon são codificadas por um gene celular.
Quando estas proteínas estão na configuração a-helicoidal nor-
mal, elas são não patogênicas, mas quando sua configuração
Proteínas virais muda para folha tJ-pregueada, elas agregam-se em filamen-
• As proteínas de superfície virais medeiam a ligação com os re- tos que perturbam a função neuronal e resultam nos sinto-
ceptores celulares do hospedeiro. Essa interação determina mas da doença.
a especificidade de hospedeiro e de órgãos/tecidos do vírus. • Príons são altamente resistentes à inativação por luz ultra-
• As proteínas de superfície são alvos de anticorpos (i.e., anticor- violeta, calor e outros agentes inativantes. Como resultado, têm
pos ligados a essas proteínas de superfície impedem que o vírus sido inadvertidamente t ransmit idos por hormônios de cresci-
se ligue ao receptor celular). Isso "neutraliza" (i nibe) a replicação mento humanos e instrumentos neurocirúrgicos.
virai. • Por serem proteínas humanas normais, eles não geram res-
• Os vírus também possuem proteínas internas, das quais algumas posta inflamatória nem resposta por anticorpos em seres
são DNA ou RNA-polimerases. humanos.
CAPÍTULO 28 Estrutura 225

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 3. Considerando o tegumento, qual das opções a seguir é a mais correta?
(A) Ele desnuda o vírion dentro da vesícula fagocitária.
1. As proteínas da superfície externa dos vírus apresentam diversas
(B) Ele medeia a ligação do vírus com a superfície celular.
funções importantes. Considerando essas proteínas, qual das se-
(C) Ele guia o cerne viral do citoplasma para o núcleo.
guintes opções é a mais correta?
(D) Ele é o local no qual novos vírions brotam da superfície de
(A) Elas são os antígenos contra os quais anticorpos neutralizantes uma célula infectada.
são formados. (E) Ele é a localização das proteínas do vírion que atuam como
(B) Elas são polimerases que sintetizam o RNA mensageiro viral. fatores de transcrição virais.
(C) Elas são proteases que degradam proteínas celulares, levando à
morte celular.
(D) Elas são proteínas que regulam a transcrição viral.
(E) A mudança na conformação dessas proteínas pode resultar em
RESPOSTAS
doenças mediadas por príons, como a doença de Creutzfeldt- 1. (A)
Jakob. 2. (C)
2. Se um vírus possui um envelope, ele é mais facilmente inativado por 3. (E)
solventes lipídicos e detergentes do que um vírus que não possui um
envelope. Qual dos seguintes vírus é mais sensível à inativação por
solventes lipídicos e detergentes? QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(A) Vírus de Coxsackie.
(B) Vírus da hepatite A. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
(C) Herpes-vírus simples. contradas na seção de Virologia Básica da Parte XIII: Questões para
(D) Poliovírus. Autoavaliação, a partir da página 700. Consulte também a Parte
(E) Rotavírus. XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CAPÍTULO

29 Replicação
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução lisogenla
Curva de crescimento virai Relação entre lisogenia em bactérias e latência em células
Eventos espedficos durante o ciclo de crescimento humanas
Adsorção, penetração e desnudamento Conceitos-cl\ave
Expressão gênica e replicação do genoma Aplique seu conhecimento

Montagem e libe,açáo Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO fim do período de latência. Este efeito cltopátlco (ECP) culmina


na lise e morte das céJulas. O ECP pode ser visto em microsco·
O ciclo de repHcação viral é descrito neste capítulo de duas for- pia óptica e. quando observado.. é um passo iniciaJ importante no
mas diferentes. A primeira abordagem ê a curva de cresciment~ diagnóstico de infecções virais. Kem todos os v(rus causam ECP;
que mostra a quantidade de vfrus produzido em tempos diferen-
tes após a infec.ção. A segunda é uma descrição passo a passo de
eventos espedficos que ocorrem no interior da célula duraJ\te o t.000
crescimento vira1.

CURVA DE CRESCIMENTO VIRAL ô


1

A curva de crescimento representada na Figura 29-1 mostra que


quando um vírlon (uma partícula vira1) infecta uma céJula, ele
I,,
:;;,
10
!,
~
pode replicar.se em aproximadamente 10 horas para produzir ·s .,,8
centenas de vfrions 110 interior dessa céJula. Essa notável ampJi.
ficação explica como os vírus se espaJham rapidamente de célu· "'6
·e
",
e
o
1a a célula, Observa.se que o tempo necessário para os ciclos de > "'
crescime11to variam; de minutos.. para aJguns vCrus de bactérias.. a ~
0,1
horas. para alguns vírus de seres humanos.
O primeiro evento mostrado na Figura 29· 1 é bastante sur•
preendente: o vírus desaparece. como representado pela linha
s a s
continua que decai até o eixo x. Apesar de a pardcuJa virai não
estar mais presente, o ácido nucleico virai continua a funcionar e
começa a se acumuJar no interior da célula. como indicado peJa
1

L
2 3 •
Horas
6 1

Período de-1--Pen'odo de
J 10 11 12

Jinha tracejada. O tempo no qual nenhum vírus é encontrado no eclipse aescimen10


interior da céJuJa é conhecido como período de eclipse. O pe--
ríodo de eclipse termina com o aparecimento do vfrus (linha FIGURA 29-1 Curva de Cfe-scimentoviraLA figura mostra que uma
partícula virai infecciosa Mrion) entrando em uma c~lula no momento
continua). O período de latência, em contrapartida. é definido
da infecção resulta em mais de 100 vírions infecciosos 1o ho(as depois,
pelo tempo do i1úcio da infecção até o aparecimento do vírus ex.
um notável aumento. PochMe observar o pedodo de eclips,e dura.nte
tracelularmente. Observe que a infecção inicia com uma partfcu. o qual nenhum vírus infe,ccioso ~ detectado dentto da c~ula infecta·
1a virai e termina com várias centenas de partículas virais sendo da. Nesta curva de C(escimooto, a quantidade de vfrus infe,ctantes é de
produzidas; esse tipo de reprodução é exdusivo dos vírus. um ví,ioo/célula (i.e., uma unidade infecciosa por' célula). {Mod,ftcada
Alterações da morfologia celular acompanhadas por pro• e reproduzlda, com permlsdo, de JokllkWK et ai. Zi'nsse, Mkrobiology. 20th ed.
nunciadas perturbações de funções cetuJares começam perto do Publicada orig1natmentepor Appleton &Lange. Copyright l992porMcGraw-Hílll
CAPÍTULO 29 Replicação 227

alguns podem replicar-se causando poucas mudanças morfológi- e replicação do genoma); e (3) eventos tardios (i.e., montagem
cas e funcionais nas células. e liberação). Com esta sequência em mente, cada estágio será
descrito de maneira mais detalhada.

EVENTOS ESPECÍFICOS DURANTE Adsorção, penetração e desnudamento


O CICLO REPLICATIVO As proteínas da superfície do vírion ligam-se a receptores pro-
Uma visão geral dos eventos está descrita na Tabela 29-1 e é apre- teicos específicos na superfície da célula por meio de ligações
sentada de forma diagramática na Figura 29-2. A partícula virai fracas não covalentes. A especificidade dessa ligação determina
infectante parental liga-se à membrana celular e, então, penetra o espectro de hospedeiro do vírus. Alguns vírus possuem um
na célula hospedeira. O genoma viral é "desnudado,, pela remo- espectro limitado, ao passo que outros possuem um espectro am-
ção das proteínas do capsídeo, deixando o genoma livre para plo. Por exemplo, os poliovírus podem entrar somente em células
funcionar. São sintetizados o RNA mensageiro e as proteínas pre- de seres humanos e outros primatas, ao passo que o vírus da raiva
coces; as proteínas precoces são enzimas usadas para replicar pode entrar em todas as células de mamíferos. A especificidade
o genoma viral. RNA mensageiro tardio e proteínas são, então, de órgãos de um vírus também é derivada da interação com re-
sintetizados. Essas proteínas tardias são proteínas estruturais ceptores. Os receptores celulares que já foram identificados são
do capsídeo. Os vírions da progênie são montados a partir do proteínas de superfície que possuem várias outras funções. Por
material genético replicado e das proteínas do capsídeo recém - exemplo, o herpes-vírus simples do tipo 1 liga-se ao receptor do
-produzidas, e são, então, liberados da célula. fator de crescimento de fibroblastos, o vírus da raiva liga-se ao
Outra forma geral de descrever o ciclo de crescimento é a receptor de acetilcolina, e o vírus da imunodeficiência humana
seguinte: (1) eventos precoces (i.e., adsorção, penetração e des- (HIV) liga-se à proteína CD4 de linfócitos T auxiliares.
nudamento); (2) eventos intermediários (i.e., expressão gênica A partícula viral penetra por meio de seu englobamento por
uma vesícula pinocitótica, dentro da qual o processo de desnu-
damento se inicia. O pH baixo no interior da vesícula favorece o
desnudamento. O rompimento da vesícula ou a fusão da camada
TABELA 29-1 Estágios do ciclo de crescimento virai
externa do vírus com a membrana da vesícula deposita o cerne
Adsorção e penetração do vírion parental do vírus no citoplasma.
Os receptores para vírus na superfície celular são pro-
teínas que possuem outras funções na vida da célula. Prova-
Desnudamento do genoma vira i
velmente, o receptor celular usado por vírus mais conhecido
é a proteína CD4, que funciona como um dos receptores para
o HIV, mas cuja função normal é a ligação com proteínas do
1 2 complexo principal de histocompatibilidade (MHC, major his-
Síntese do mRNA virai precoce
tocompatibility complex) de classe 2, envolvidas na ativação de
células T auxiliares. Alguns outros exemplos que servirão para
ilustrar essa questão: o vírus da raiva liga-se ao receptor de ace-
Síntese das proteínas virais precoces tilcolina, o vírus Epstein-Barr liga-se ao receptor de comple-
mento, e o vírus vaccínia liga-se ao receptor de fator de cresci-
mento epidérmico.*
Replicação do genoma virai Alguns vírus de bactérias (bacteriófagos) possuem um me-
canismo especial de entrada em bactérias que não possui equiva-
lente em vírus de seres humanos ou em vírus de animais ou plan-
Síntese do mRNA vira i tardio tas. Alguns dos bacteriófagos do grupo T infectam Escherichia
coli pela ligação de várias proteínas da cauda à superfície celular
e, então, usam lisozimas da própria cauda para degradar uma
Síntese das proteínas virais tardias porção da parede celular. Nesse ponto, a bainha da cauda con-
trai-se, fazendo a ponta do cerne cruzar a parede celular. O DNA
viral, então, entra na célula pelo cerne da cauda, enquanto as pro-
Montagem dos vírions da progênie
teínas do capsídeo permanecem do lado externo.
Agora, é interessante descrever o fenômeno de ácido nuclei-
co infeccioso, pois ele fornece uma transição entre os conceitos
de especificidade de hospedeiro, descritos anteriormente, e de
Liberação dos vírions da célula
funcionamento precoce do genoma, que será discutido a seguir.
Observa-se que a questão é se o genoma purificado é infeccioso.
1
Em alguns casos, o genoma virai é funcionalmente equivalente ao mRNA; dessa
forma, o mRNA precoce não precisa ser sintetizado.
2 *N. de T. Trabalhos recentes têm desmentido essa hipótese. Atualmente,
Precoce é definido como o período que antecede a replicação do genoma.
Nem todos os vírus apresentam uma distinção entre funções precoces e tardias. embora esta não seja uma questão definitiva, imagina-se que o vírus vac-
Em geral, proteínas precoces são enzimas, ao passo que proteínas tardias são cínia utilize múltiplos receptores para se ligar à célula, e entre eles os mais
componentes estruturais dos vírus. aceitos são as moléculas de sulfato de heparan na superfície celular.
228 PARTE Ili Virologia Básica

Adenovírus
1
(j) / Citoplasma

Adsorção > ( / Núcleo


2
Penetração
~

9
Liberação do
vírus e lise da /
célula infectada
=
TTT
DNAviral 3
Proteínas precoces \ Desnudamento
\/V\.,
mRNAviral

o
'---../
Capsídeo virai
Proteína virai
/ DNAviral
no núcleo
o Ribossomos

4
8 Transcrição
Montagem \ Síntese das proteínas precoce
/ tardias (proteínas , .
/G-Jôl, / do capsídeo) Srntese das proternas
'Y~ / precoces (enzimas como - Síntese de
\ as DNA-polimerases) mRNA precoce

~ virai e de /RNA tardio --- /

Trad:ção
tardia
~
~ 8
~ Trad~ção
precoce
~ 8 ~ - "'~"
6
Síntese de DNA e
transcrição tardia

FIGURA 29·2 Ciclo replicativo virai. O ciclo replicativo do adenovírus, um vírus de DNA não envelopado, é mostrado. (Modificada e reprod uzida,
com permissão, de Jawetz E, Melnick JL, Adelberg EA. Review ofMedical Microbiology. 16th ed. Publicada originalmente por Applet on & Lange. Copyright 1984 por
McGraw-Hill.)

Todos os vírus são "infecciosos" para uma pessoa ou cultivo celu- que todos os vírus são infecciosos, mas nem todos os DNAs ou
lar, mas nem todos os genomas purificados são infecciosos. RNAs virais (genomas) são infecciosos.
Ácido nucleico infeccioso consiste em DNA ou RNA viral
(sem nenhuma proteína) que pode executar o ciclo replicativo Expressão gênica e replicação do genoma
viral em sua totalidade e resultar na produção de partículas virais
O primeiro passo na expressão gênica viral é a síntese do mRNA.
completas. Isso é interessante a partir de três pontos de vista:
É nesse ponto que os vírus seguem caminhos diferentes depen-
(1) A observação de que o ácido nucleico purificado é in- dendo da natureza de seu ácido nucleico e da parte da célula onde
feccioso é a prova definitiva de que o ácido nucleico, e não as eles se replicam (Figura 29-3).
proteínas, é o material genético. Os vírus de DNA, com uma exceção, replicam-se no núcleo e
(2) O ácido nucleico infeccioso pode contornar a especifi- usam a RNA-polimerase dependente de DNA do hospedeiro para
cidade do espectro de hospedeiros determinada pela interação sintetizar seu próprio mRNA. Os poxvírus são a exceção porque se
entre proteína viral-receptor celular. Por exemplo, apesar de po- replicam no citoplasma, onde não têm acesso à RNA-polimerase
liovírus intactos só poderem se replicar em células de primatas, da célula hospedeira. Eles, portanto, carregam sua própria poli-
RNA purificado de poliovírus pode entrar em células de não merase dentro da partícula viral. O genoma de todos os vírus de
primatas, passar pelo seu ciclo replicativo normal e produzir DNA consiste em DNA de dupla-fita, exceto para os parvovírus,
poliovírus normais. Os poliovírus produzidos nas células de não que possuem um genoma de DNA de fita simples (Tabela 29-2).
primatas só podem infectar células de primatas porque agora A maior parte dos vírus de RNA realiza seu ciclo replicati-
possuem suas proteínas de capsídeo. Essas observações indicam vo inteiramente no citoplasma. As duas principais exceções são
que as funções internas de células de não primatas são capazes os retrovírus e os vírus influenza, que possuem um passo replica-
de sustentar a replicação viral depois que a penetração ocorreu. tivo importante no núcleo. Os retrovírus integram uma cópia de
(3) Apenas alguns vírus possuem ácidos nucleicos infeccio- DNA do seu genoma no DNA da célula hospedeira, e os vírus in-
sos. A razão para isso será discutida posteriormente. Observa-se fluenza sintetizam os genomas de sua progênie no núcleo. Além
CAPÍTU LO 29 Replicação 229

Papovavírus**
Adenovírus
(±) DNA Herpes-vírus
Hepadnavírus*
Poxvírus*
Picornavírus
Togavírus
Flavivírus
(+) ANA
\ , I .....-'-----....;......,
(±) DNA -+----- (+) DNA ou(-) DNA
Parvovírus

Virai Ortomixovírus*
(+) ANA ~ (±) DNA -+----- (-) ANA Paramixovírus*
{+) mRNA
Aetrovírus* Aabdovírus*

t
(±) ANA
Aeovírus*

Legenda: (+) = Fita com mesma polaridade do mANA (±) = Dupla-fita


(-) = Fita complementar ao mANA * = Vírus que possuem uma polimerase no vírion
FIGURA 29-3 Sínt ese de mRNA virai por vírus de importância médica. A informação a seguir inicia no topo da figura e move-se no sentido ho-
rário. Vírus com genoma de DNA de dupla-fita (p. ex., papovavírus**, como os papilomavírus de seres humanos) usam a RNA-polimerase da célula
hospedeira para sintetizar mRNA virai. Observa-se que os hepadnavírus (p. ex., v írus da hepatite B) possuem uma DNA-polimerase no vírion que sin-
tetiza a porção faltante do genoma de DNA, mas o mRNA virai é sintetizado pela RNA-polimerase da célula hospedeira. Os parvovírus usam a DNA-
-polimerase da célula hospedeira para sintetizar o DNA virai de dupla-fita e a RNA-polimerase da célula hospedeira para sintetizar mRNA virai. Vírus
com genoma de RNA de fita simples e polaridade negativa (p. ex., ortomixovírus, como o vírus influenza) usam uma RNA-polimerase oriunda do
vírion para sintetizar o mRNA virai. Vírus com um genoma de RNA de dupla-fita (p. ex., reovírus) usam uma RNA-polimerase oriunda do vírion para
sintetizar o mRNA virai. Alguns vírus com genoma de RNA de fita simples senso-posit ivo (p. ex., retrovírus) usam uma DNA-polimerase oriunda do
vírion para sintetizar uma cópia de DNA do genoma de RNA, mas usam um RNA-polimerase da célula hospedeira para sintetizar mRNA virai. Alguns
vírus com genoma de RNA de fita simples de polaridade posit iva (p. ex., picornavírus) usam o próprio genoma de RNA como seu mRNA. {Modificada
e reproduzida, com permissão, de Ryan K et ai. Sherris Medical Microbiology. 3rd ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1994 por McGraw-Hill.}

**N. de T. Antigamente, os papilomavírus e os poliomavírus eram classificados em uma única família, que recebia o nome de Papovaviridae (papova-
vírus). No entanto, essa família foi desmembrada em razão das diferenças genéticas entre os dois t ipos de vírus, e o grupo Papovaviridae foi extinto.
Atualmente, os papilomavírus pertencem à família Papillomaviridae, ao passo que os poliomavírus pertencem à família Polyomaviridae.

TABELA 29-2 Características importantes dos vírus de DNA

DNA genômico Local de replicação Polimerase no vírion lnfedividade do genoma Vírus humano protótipo
12
Fita simples Núcleo Não • Sim Parvovírus 819

Dupla-fita
1
Circular Núcleo Não Sim Papilomavírus
Circular; fita simples parcial Núcleo s·1m 3 Não Vírus da hepatite B
1
Linear Núcleo Não Sim Herpes-vírus, adenovírus
Linear Citoplasma Sim Não Vírus da varío la, vírus vaccínia
1
0 mRNA é sintetizado pela RNA-polimerase da célula hospedeira no núcleo.
2
0 genoma de DNA de fita simples é convertido em DNA de dupla-fita pela polimerase da célula hospedeira. Então, uma DNA-polimerase codificada pelo vírus sinte-
t iza o DNA da progênie.
3
0 vírus da hepatite B usa uma DNA-polimerase dependente de RNA codificada pelo vírion para sintetizar o DNA de sua progênie usando um mRNA completo como
molde. Essa enzima é um tipo de"t ranscriptase reversa'; mas funciona em uma etapa d iferente no ciclo rep licativo quando comparada com a t ranscriptase reversa
dos ret rovírus.
Nota: todos os vírus de DNA codificam sua própria DNA-polimerase utilizada para replicar o genoma. Eles não usam a DNA-polimerase da célula hospedeira {com
exceção dos parvovírus, como mencionado anteriormente}.

disso, o mRNA do vírus da hepatite delta é também sintetizado (1) A estratégia mais simples é ilustrada pelos poliovírus,
1
no núcleo dos hepatócitos. que possuem RNA de fita simples com polaridade positiva
O genoma de todos os vírus de RNA consiste em RNA de
fita simples, exceto para os membros da família dos reovírus, 1
Polaridade positiva é definida como um RNA com a mesma sequência
que possuem um genoma de RNA de dupla-fita. O rotavírus é um de bases do mRNA. Um RNA com polaridade negativa possui uma se-
patógeno humano importante pertencente à família dos reovírus. quência de bases complementar ao mRNA. Por exemplo, se a sequência
Os vírus de RNA dividem-se em quatro grupos com estraté- do mRNA é A-C-U-G, um RNA com polaridade negativa seria U-G-A-C,
gias bastante diferentes para sintetizar mRNA (Tabela 29-3). ao passo que um RNA com polaridade positiva seria A-C-U-G.
230 PARTE Ili Virologia Básica

TABELA 29-3 Características importantes dos vírus de RNA

Polimerase Genoma
RNA genômico Polaridade novírion Fonte de mRNA infectivo Vírus humano protótipo

Fita simples, não segmentado + Não Genoma Sim Poliovírus

Fita simples

Não segmentado Sim Transcrição Não Vírus do sarampo, vírus da raiva

Segmentado Sim Transcrição Não Vírus influenza

Dupla-fita, segmentado ± Sim Transcrição Não Rotavírus


1 2 3
Fita simples, diploide + Sim Transcrição Não HTLV,Hlv4
1
Os retrovírus possuem uma DNA-polimerase dependente de RNA.
2
0 mRNA é transcrito a partir de um DNA intermediário.
3
Embora o genoma de RNA retroviral não seja infeccioso, o DNA intermediário é.
4
HTLV, vírus linfotrófico de células T humanas; HIV, vírus da imunodeficiência humana.

como seu material genético. Esses vírus usam seu genoma de terísticas adicionais do mRNA viral estão descritas no quadro
RNA diretamente como mRNA. "m RNA VIr . al".
(2) O segundo grupo possui RNA de fita simples com pola- Observa-se que duas famílias de vírus utilizam uma trans-
ridade negativa como seu material genético. Um mRNA precisa criptase reversa (uma DNA-polimerase dependente de RNA)
ser transcrito pelo uso da fita negativa como molde. Como a cé- durante seu ciclo replicativo, mas o objetivo da enzima durante
lula não possui uma RNA-polimerase capaz de usar RNA como os ciclos é diferente. Como descrito na Tabela 29-4, os retrovírus,
molde, o vírus carrega sua própria RNA-polimerase dependente como o HIV, usam seu genoma de RNA como molde para sinte-
de RNA. Existem duas subcategorias de vírus de RNA com pola- tizar um DNA intermediário no início de seu ciclo replicativo.
ridade negativa: os que possuem apenas um único segmento de Entretanto, os hepadnavírus, como o vírus da hepatite B (HBV),
RNA (p. ex., vírus do sarampo [um paramixovírus] ou o vírus da usam um RNA intermediário como molde para produzir seu ge-
raiva [um rabdovírus]) e os que possuem múltiplos segmentos de noma de DNA nas etapas finais de seu ciclo replicativo.
RNA (p. ex., o vírus influenza [um ortomixovírus]). Depois que o mRNA dos vírus de DNA ou RNA é sinte-
Alguns vírus, como os arenavírus e alguns buniavírus, pos- tizado, ele é traduzido pelos ribossomos da célula hospedeira
suem um genoma de RNA segmentado, com a maior parte das em proteínas virais, sendo algumas proteínas precoces (i.e.,
fitas negativas, mas também com algumas regiões de fitas posi- enzimas necessárias para a replicação do genoma viral) e ou-
tivas. Segmentos de RNA que contêm regiões com polaridades tras proteínas tardias (i.e., proteínas estruturais) da progênie
positivas e negativas são chamados de "ambissenso". viral. (O termo precoce é definido como o que ocorre antes da
(3) O terceiro grupo possui RNA de dupla-fita como ma- replicação do genoma, e tardio é definido como o que ocorre
terial genético. Como a célula não possui enzimas capazes de após a replicação do genoma.) Das proteínas precoces, a mais
transcrever esse RNA em mRNA, o vírus carrega sua própria po- importante para os vírus de RNA é a polimerase que sintetizará
limerase. Observa-se que a fita positiva de um RNA de dupla-fita muitas cópias do material genético viral para as partículas da
não pode ser usada como mRNA, uma vez que está ligada por progênie viral. Não importa como o vírus produz seu mRNA,
ligações de hidrogênio à fita negativa. Os rotavírus, importantes a maioria dos vírus produz uma polimerase codificada pelo ví-
agentes causadores de diarreia em crianças, possuem 11 segmen- rus (uma replicase) que replica o genoma (i.e., que faz muitas
tos de RNA de dupla-fita. cópias do genoma parental que se tornará o genoma dos vírions
(4) O quarto grupo, exemplificado pelos retrovírus, possui da progênie). A Tabela 29-5 descreve quais vírus codificam sua
RNA de fita simples de polaridade positiva transcrito em DNA de própria replicase e quais vírus usam polimerases celulares para
dupla-fita pela DNA-polimerase dependente de RNA (transcrip- replicar seu genoma.
tase reversa) carregada pelo vírus. Essa cópia de DNA é, então, Alguns mRNAs virais são traduzidos em polipeptídeos pre-
transcrita em mRNA viral pela RNA-polimerase comum da cé- cursores que precisam ser clivados por proteases para produzir
lula hospedeira (polimerase II). Os retrovírus são a única família as proteínas estruturais funcionais (Figura 29-4 e Tabela 29-6),
de vírus diploides (i.e., eles possuem duas cópias do seu genoma ao passo que outros mRNAs são traduzidos diretamente em pro-
deRNA). teínas estruturais. Um exemplo notável do primeiro caso ocorre
Essas diferenças explicam por que alguns vírus produzem durante a replicação dos picornavírus (p. ex., poliovírus, rinoví-
ácido nucleico infeccioso, ao passo que outros não o fazem. Vírus rus e vírus da hepatite A), na qual o genoma de RNA, funcionan-
que não necessitam de uma polimerase no vírion podem pro- do como mRNA, é traduzido em um único polipeptídeo, que é,
duzir DNA ou RNA infeccioso. Em contrapartida, vírus como então, clivado por uma protease codificada pelo vírus em várias
os poxvírus, os vírus de RNA senso negativo, os vírus de RNA proteínas. Essa protease é uma das proteínas do polipeptídeo
de dupla-fita e os retrovírus, que requerem uma polimerase do único, um exemplo interessante de uma protease agindo em seu
vírion, não podem gerar ácido nucleico infeccioso. Várias carac- próprio polipeptídeo.
CAPÍTULO 29 Replicação 231

RNA MENSAGEIRO VIRAL

Existem quatro aspectos interessantes do mRNA viral e de sua região precoce do genoma é transcrita e, portanto, apenas certas
expressão em células eucarióticas. (1) Os mRNAs virais pos- proteínas precoces são produzidas. Uma das proteínas precoces
suem três características em comum com os mRNAs celulares: é um repressor dos genes tardios; isso atrasa a transcrição até o
na extremidade 5' há um "cap" de GTP metilado, que está aco- momento apropriado. (4) Três processos diferentes são usados
plado por uma ligação "invertidà' (3' para 5 ') no lugar da liga- para gerar os mRNAs monocistrônicos que irão codificar para
ção comum 5' para 3 '; na extremidade 3' há uma cauda de 100 uma única proteína do genoma viral policistrônico:
a 200 resíduos de adenosina [poli(A)]; e o mRNA é gerado por
splicing a partir de um transcrito maior do genoma. Na verda- ( 1) mRNAs individuais são transcritos a partir de vários
de, essas três modificações foram inicialmente observadas em pontos específicos de iniciação ao longo do genoma, que é o
estudos com mRNA viral e, então, estendidas para os mRNAs mesmo mecanismo usado por células eucarióticas e pelos her-
celulares. (2) Alguns vírus usam seu material genético ao má- pes-vírus, adenovírus, e pelos vírus de DNA e RNA causadores
ximo ao produzir mais de um tipo de mRNA a partir do mes- de tumores.
mo fragmento de DNA por "deslocamento da fase de leiturà'. (2) Nos reovírus e vírus influenza, o genoma é segmen-
Isso é feito iniciando-se a transcrição uma ou duas bases além tado em múltiplos fragmentos, e cada qual codifica para um
(a jusante) do local de iniciação original. (3) Em alguns vírus únicomRNA.
de DNA, há um controle temporal sobre a região do genoma (3) Nos poliovírus, o genoma de RNA inteiro é traduzido
que é transcrita em mRNA. Durante os estágios iniciais do ciclo em um longo polipeptídeo, que é, então, clivado em proteínas
de crescimento, antes que a replicação do DNA inicie, apenas a específicas por uma protease.

Outra importante família de vírus na qual polipeptídeos para produzir o RNA senso-positivo de sua progênie; (5) o vírus
precursores são sintetizados é a família dos retrovírus (Retrovi- da hepatite B usa seu mRNA como molde para produzir o DNA
ridae). Por exemplo, os genes gag e pol do HIV são traduzidos de dupla-fita de sua progênie; e (6) os outros vírus de DNA de
em polipeptídeos precursores, que são, então, clivados por uma dupla-fita replicam seu de DNA pelo mesmo processo semicon-
protease codificada pelo vírus. Ela é a protease inibida pelos fár- servativo pelo qual o DNA da célula é sintetizado.
macos classificados como inibidores de protease. Os flavivírus, Enquanto a replicação do genoma viral ocorre, as proteínas
como os vírus da hepatite Ceda febre amarela, também sinteti- estruturais do capsídeo que serão usadas pelas partículas da pro-
zam um polipeptídeo precursor que deve ser clivado para formar gênie viral são sintetizadas. Em alguns casos, os genomas virais
as proteínas funcionais, o que é feito por ação de uma protease recém-replicados podem servir como moldes para o mRNA tar-
codificada pelos vírus. Em contrapartida, outros vírus, como o dio que codifica as proteínas do capsídeo.
vírus influenza e o rotavírus, possuem genomas segmentados, e
cada segmento codifica para um polipeptídeo funcional específi- Montagem e liberação
co no lugar de um polipeptídeo precursor. As partículas da progênie são montadas pelo empacotamento
A replicação do genoma viral é controlada pelo princípio da do ácido nucleico viral dentro das proteínas do capsídeo. Pouco
complementaridade, que requer a síntese de uma fita com se- é conhecido sobre os passos exatos do processo de montagem.
quência de bases complementares; essa fita serve, então, de mol- Surpreendentemente, alguns vírus podem ser montados em tu-
de para a síntese do verdadeiro genoma viral. Os seguintes exem- bos de ensaio apenas pelo uso de RNA e proteínas purificados.
plos da Tabela 29-7 devem esclarecer a questão: (1) os poliovírus Isso indica que a especificidade para a interação reside no RNA
produzem um intermediário de fita negativa, que é o molde para e nas proteínas, e que a ação de enzimas e o gasto de energia não
o genoma de fita positiva; (2) o vírus influenza, vírus do saram- - , .
sao necessanos.
po e vírus da raiva produzem um intermediário de fita positiva, As partículas virais são liberadas da célula por um dos dois
que é o molde para o genoma de fita negativa; (3) os rotavírus processos descritos a seguir. O primeiro é a ruptura da membra-
produzem uma fita positiva que atua tanto como mRNA quanto na celular e liberação das partículas maduras; isso geralmente
como molde para a fita negativa do genoma de RNA de dupla- ocorre com vírus não envelopados. O segundo, que ocorre com
-fita; (4) os retrovírus usam a fita negativa do DNA intermediário vírus envelopados, é a liberação dos vírus por brotamento atra-

TABELA 29-4 Comparação da atividade da transcriptase reversa do HIV (retrovírus) e HBV (hepadnavírus)

Molde de RNA para a Produto de DNA da Fase da replicação quando a


Tipo de vírus transcriptase reversa transcriptase reversa transcriptase reversa está ativa

HIV (retrovírus) Genoma Não genômico Precoce

HBV (hepadnavírus) Não genômico Genoma Tardia

HBV, vírus da hepatite B; HIV, vírus da imunodeficiência humana.


232 PARTE Ili Virologia Básica

TABELA 29-5 Origem dos genes que codificam as polimerases que sintetizam o genoma virai

Tipo de polimerase Polimerase codificada por Vírus de importãncia médica

DNA Célula Parvovírus B19, papi lomavírus humano

DNA Vírus Herpes-vírus (HHV, VZV, CMV, EBV), adenovírus, vírus da hepatite B, v írus da varío la

RNA Célula HIV, HTLV, HDV

RNA Vírus Poliovírus, HAV, HCV, v írus influenza, v írus do sarampo, vírus sincicial respiratório,
v írus da raiva, vírus da rubéola, rotavírus, vírus Ebola, arenavírus, hantavírus

CMV , citomegalovírus; EBV, vírus Epstein-Barr; HAV, vírus da hepatite A; HCV, vírus da hepatit e C; HDV, vírus da hepatite D; HIV, vírus da imunodeficiência humana;
HSV, vírus herpes-simples; HTLV, vírus linfotrófico de células T humanas; VZV, vírus varicela-zóster.

vés da membrana celular externa (Figura 29-5). (Uma exceção é a O processo de brotamento inicia quando proteínas específicas vi-
família dos herpes-vírus, cujos membros adquirem seu envelope rais se inserem na membrana celular em locais específicos. O nu-
da membrana nuclear, em vez da membrana celular externa.)* cleocapsídeo viral, então, interage com esses locais específicos na
membrana por meio da proteína de matriz. A membrana celular
*N. de R.T. Essa informação está desatualizada. Embora a tradução em evagina nesse local, e a partícula envelopada brota da membra-
relação ao original esteja correta, h oje se sabe que os h erpes-vírus n ão na. O brotamento geralmente não danifica a célula, e, em certos
adquirem seu envelope da membrana nuclear, mas sim de organelas cito- casos, a célula sobrevive enquanto produz grandes números de
plasmáticas, como o aparelho de Golgi. partículas virais por brotamento.

A.Poliovírus
O genoma virai é o mRNA

1Tradução
Polipeptídeo precursor
completo (poliproteína)

Clivagem por proteases codificadas pelo vírus


1

l Clivagens adic ionais

Proteínas do capsídeo e enzimas

B. Retrovírus
Cópia de DNA do RNA

l Transcrição
genômico integrada

mRNA para a poliproteína Gag-Pol

l Tradução

Poliproteína Gag-Pol

l Clivagem por proteases codificadas pelo vírus

Proteínas do capsídeo e enz imas

FIGURA 29-4 Síntese de precursores polipeptídicos. A: O mRNA do poliovírus é traduzido em um polipeptídeo precursor completo, que é cli-
vado por uma protease codificada pelo vírus em proteínas v irais funcionais. B: Os mRNAs retrovirais são traduzidos em polipeptídeos precursores,
que são, então, clivados por uma protease codificada pelo v írus em proteínas virais funcionais. A clivagem da poliproteína precursora Gag-Pol
pela protease do vírion ocorre no vírion imaturo após seu brotamento da membrana celular. A clivagem produz a proteína de capsídeo (p24), a
proteína de matriz (pl 7) e enzimas, como a transcriptase reversa e a integrase. A clivagem da poliproteína Env é realizada por uma protease celu-
lar, e não pela protease do vírion. Inibidores da protease do vírion são fármacos eficientes contra o vírus da imunodeficiência humana.
CAPÍTULO 29 Replicação 233

TABELA 29-6 Proteases codificadas por vírus de importância médica

Local da clivagem
Família virai Natureza da poliproteína proteolítica Vírus de importãncia médica

Picornaviridae Polipeptídeo único formado pela tradução do Citoplasma Poliovírus, rinovírus, vírus da hepatite A,
genoma de RNA completo vírus de Coxsackie

Flaviviridae Polipeptídeo único formado pela tradução do Citoplasma Vírus da hepatite C, vírus da febre amarela,
genoma de RNA completo vírus da dengue

Togaviridae Mais de um polipeptídeo formado pela t radução Citoplasma Vírus das encefalites equinas do leste e
de mRNAs subgenômicos oeste, vírus da rubéola

Coronaviridae Mais de um polipeptídeo formado pela t radução Citoplasma Coronavírus


de mRNAs subgenômicos

Retroviridae Mais de um polipeptídeo formado pela t radução Vírion em brotamento Vírus da imunodeficiência humana, vírus
de mRNAs subgenômicos da leucemia de células T humanas

LISOGENIA Vários aspectos de infecções por vírus causadores de tumores ou


herpes-vírus são similares aos eventos do ciclo lisogênico do fago
O ciclo de replicação típico, descrito anteriormente, ocorre na lambda.
maioria das vezes em que o vírus infecta uma célula. Entretanto, Infecções por fago lambda em E. coli iniciam com a injeção
alguns vírus podem usar uma via alternativa, chamada de ciclo do genoma de DNA de dupla-fita linear por meio da cauda do
lisogênico, na qual o DNA viral se torna integrado no cromosso- fago para o interior da célula. O DNA linear torna-se circular
mo da célula hospedeira e nenhuma partícula viral da progênie é quando regiões de fita simples nas suas extremidades pareiam
produzida nesse momento (Figura 29-6). O ácido nucleico viral com suas bases complementares. Uma enzima de ligação faz uma
continua a funcionar em seu estado integrado de várias maneiras. ligação covalente em cada fita para fechar o círculo. A circula-
Umas das mais importantes funções da lisogenia do ponto rização é importante porque é a forma circular que integra no
de vista médico é a síntese de várias exotoxinas em bactérias, DNA da célula hospedeira.
como diftérica, botulínica, colérica e toxinas eritrogênicas, A escolha entre o caminho que leva à lisogenia ou à re-
codificadas por genes de um bacteriófago integrado (prófago). plicação completa é realizada quando a síntese das proteínas
Conversão lisogênica é o termo aplicado para as novas proprie- precoces começa. De forma simples, a escolha depende do
dades que uma bactéria adquire como resultado da expressão balanço entre duas proteínas, o repressor, produzido pelo
dos genes de um prófago integrado (Figura 29-7). A conversão gene c-I, e o antagonista do repressor, produzido pelo gene
lisogênica é mediada pela transdução de genes bacterianos de cro (Figura 29-9). Se o repressor predomina, a transcrição de
uma bactéria doadora para uma bactéria receptora por bacterió- outros genes precoces é interrompida e a lisogenia prossegue.
fagos. Transdução é o termo utilizado para se descrever a trans- A transcrição é inibida pela ligação do repressor em dois lo-
ferência de genes de uma bactéria para outra por meio de vírus cais operadores que controlam a síntese de proteínas precoces.
(ver Figuras 29-7 e 29-8 e página 20). Se o produto gênico do gene cro impedir a síntese de repres-
O ciclo lisogênico ou "temperado" é descrito para o bacterió- sores suficientemente, o resultado é replicação e lise da célu-
fago lambda, pois ele é o modelo melhor entendido (Figura 29-8). la. Um correlato do estado lisogênico é que o repressor pode

TABELA 29-7 Complementaridade na replicação do genoma virai

Vírus protótipo Genoma parental' Forma intermediária Genoma da progênie

Poliovírus +ssRNA - ssRNA +ssRNA

Vírus influenza, vírus do sarampo, vírus da raiva - ssRNA + ssRNA - ssRNA

Rotavírus dsRNA +ssRNA dsRNA

Retrovírus +ssRNA dsDNA +ssRNA

Parvovírus B19 ssDNA dsDNA ssDNA

Vírus da hepatite B dsDNA +ssRNA dsDNA

Papovavírus, poliomavírus, adenovírus, herpes-vírus, poxvírus dsDNA dsDNA dsDNA


1
ss, fita simples; ds, d upla-fita; +, polaridade positiva;-, polaridade negativa.
234 PARTE Ili Virologia Básica

também impedir a replicação de fagos lambda adicionais que


infectarem posteriormente. Isso é chamado "imunidade" e é,
especificamente, dirigido contra fagos lambda, uma vez que o
repressor se liga apenas aos locais operadores do DNA do fago
Vírion em lambda; outros fagos não são afetados.
/ brotamento O próximo passo importante no ciclo lisogênico é a integra-
ção do DNA viral no DNA da célula. Isso ocorre pela correspon-
Envelope dência de um local de ligação específico no DNA do fago lambda
a um local homólogo no DNA da E. coli, e a integração (quebra
ácido nucleico
e rejuntamento) dos dois DNAs é mediada por uma enzima de
recombinação codificada pelo fago. O DNA viral integrado é cha-
Vírion maduro mado de prófago. A maior parte dos fagos lisogênicos integra em
um ou poucos locais específicos, mas alguns, como o fago Mu
FIGURA 29-5 Brotamento. A maioria dos vírus envelopados obtém
(ou mutador), podem integrar seu DNA em muitos locais, e ou-
seu envelope lipoproteico da membrana celular. A proteína de matriz
medeia a interação entre o nucleocapsídeo virai e o envelope v irai.
tros fagos, como o fago Pl, na verdade nunca integram, mas per-
(Reproduzida, com permissão, de M ims CA. The Pathogenesis of lnfectious manecem em um estado "temperado" extracromossomicamente,
Disease. 3rd ed, Academic Press. Copyright 1987 Elsevier.) similar a um plasmídeo.

Bacteriófago >..
infecta E. coli

1-+-- Cromossomo bacteriano

C iclo lítico Escolha Ciclo lisogênico

PP Prófago

Síntese de

o
O DNA do fago >..
muitos vírus
integra no DNA da
da progênie
E. co/i e nenhuma
do fago >..
progênie é produzida
PP neste momento

t t Irradiação por UV
Liberação
do fago >.. PP
e lise da
E. co/i PP O DNA do fago >..
é excisado de seu
estado integrado
e mais fagos são
produzidos

Liberação
do fago >..
e lise da
E. co/i

FIGURA 29-6 Comparação dos ciclos lít ico e lisogênico de replicação dos bacteriófagos (fagos). No ciclo lítico, a replicação do fago completa-
-se sem interrupção. No ciclo lisogênico, a replicação do fago é interrompida, e o DNA do fago integra-se no DNA da bactéria. O DNA integrado é
chamado de prófago e pode permanecer no estado integrado por longos períodos. Se a bactéria for exposta a certos ativadores, como luz UV, o
DNA do p rófago é excisado do DNA da bactéria e o fago entra no ciclo lítico, que termina com a produção da progênie do fago.
CAPÍTULO 29 Replicação 235

Genes do Genes do enzimas que excisam o prófago do DNA celular. O vírus então
fago 13 fago 13 completa seu ciclo replicativo, levando à produção de progênie
Toxina
diftérica viral e lise da célula.
toxina diftérica

Relação entre lisogenia em bactérias e

o
Cromossomo
bacteriano
Conversão lisogênica
latência em células humanas
Membros da família dos herpes-vírus, como o herpes-vírus sim-
ples (HSV), vírus varicela-zóster, citomegalovírus (CMV) e vírus
Epstein-Barr, exibem latência - o fenômeno no qual nenhum ou
muito poucos vírus são produzidos depois da infecção inicial,
Um fago 13 carregando Genes da toxina mas que em algum ponto posterior ocorre a reativação e produ-
o gene da toxina diftérica diftérica integrados
ção viral completa. O paralelo com a lisogenia de bacteriófagos
infecta C. diphtheriae no cromossomo
não lisogenizada por de C. diphtheriae; é claro.
fago 13; a bactéria era a bactéria torna-se O que é conhecido sobre como os herpes-vírus iniciam e
não patogênica antes patogênica. mantêm o estado latente? Logo após a infecção de neurônios por
da infecção pelo fago 13. HSV, um conjunto de "transcritos associados à latência" (LATs)
FIGURA 29-7 Conversão lisogênica. No painel à esquerda, a trans- é sintetizado. Eles são RNAs reguladores não codificadores que
dução do gene da toxina diftérica pelo bacteriófago 13 resulta na con- inibem a replicação viral. O mecanismo exato pelo qual eles o
versão lisogênica de Corynebacterium diphtheriae não lisogênica e não fazem ainda não é claro. A reativação da replicação viral em um
patogênica. No painel à direita, a bactéria receptora lisogenizada pode momento posterior ocorre quando os genes que codificam LATs
agora p roduzir toxina diftérica e causar difteria. Observe que nenhu- são excisados. *
ma progênie virai é p roduzida dentro da bactéria lisogenizada, uma O CMV emprega mecanismos diferentes. O genoma do
vez que o gene codificador da toxina diftérica substituiu alguns dos CMV codifica microRNAs que inibem a tradução de mRNAs
genes do fago 13 que são necessários à replicação. Portanto, o fago 13 necessários para a replicação viral. Além disso, o genoma do
não pode replicar. A bactéria lisogenizada não é morta pelo fago e
CMV codifica tanto uma proteína quanto um RNA que inibe
pode multiplicar-se, produzir toxina diftérica e causar doença.
apoptose em células infectadas. Isso permite que a célula infec-
tada sobreviva.

Uma vez que o DNA viral integrado se replica junto do


DNA celular, cada célula-filha herda uma cópia. Entretanto, o
prófago não fica permanentemente integrado. Ele pode ser indu- *N. de T. Essa informação está incorreta. Embora os mecanismos que
zido a retomar seu ciclo replicativo pela ação de luz UV e de cer- regulam a latência e a reativação dos herpes-vírus ainda não sejam to-
tas substâncias químicas que danificam DNA. A luz UV induz a talmente conhecidos, sabemos que os genes LATs não são excisados do
síntese de uma protease, que cliva o repressor. Os genes precoces genoma viral, mas são simplesmente reprimidos e, consequentemente,
passam a funcionar, incluindo os genes que codificam para as silenciados.

~ Apenas DNA X.
FagosX.
Circularização Quebra e / infecciosos
do A DNA rejuntamento Irradiação primeiramente
por uv produzidos

~ DNAX
~ Genega/
da E. coli

Fagos X.
transdutores e
não infecciosos
raramente produzidos

FIGURA 29-8 Lisogenia. O DNA linear do fago lambda (À) é injetado na bactéria, circulariza e, então, integra-se no DNA bacteriano. Quando
integrado, o DNA do fago é chamado de prófago. Quando o prófago é induzido a entrar no ciclo replicativo, uma excisão anormal do DNA do fago
pode ocorrer (i.e., parte do DNA do fago e parte do DNA da bactéria, incluindo o gene gal, são excisados). O gene gal pode agora ser transduzido
para outra bactéria. A transdução está também descrita na Figura 4-4. (Reproduzida, com permissão, de Jawetz E et ai. Reviewof Medical Microbiofogy. 17th
ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1986 McGraw-Hill.)
236 PARTE Ili Virologia Básica

Genes de replicação
Genes de
e-III N PL OL c-I pRM OR PR cro e-II do DNA e de
integração
proteínas do capsídeo

FIGURA 29-9 Controle da lisogenia. Logo após a infecção, a transcrição dos genes N e ero inicia-se. A proteína N é um antiterminador que
permite a transcrição de e-li e e-Ili e dos genes à d ireita de e-li e à esquerda de e-Ili. A proteína e-li aumenta a produção da proteína e-1 repressora.
e-1 possui duas funções importantes: (1) ela inibe a transcrição em PRORe PLOu impedindo a replicação do fago, e (2) ela é um regulador posit ivo
de sua própria síntese por ligar-se a PRM' O ponto crucial de decisão para lisogenia é a ligação do repressor e-1 ou da proteína ero ao local OR. Se o
repressor e-1 ocupar Ow a lisogenia prevalece; se a proteína ero ocupar Ow a replicação v irai prevalece. N, gene antiterminador; e-1, gene repressor;
e-li e e-Ili, genes que influenciam a produção de e-1; PLOL, operador e promotor esquerdos; PROw operador e promotor d ireitos; PRM' promotor para
manutenção do repressor; ero, gene que antagoniza o repressor e-1.

CONCEITOS-CHAVE

Curva de crescimento virai Os retrovírus, como o HIV, possuem um genoma de RNA de po-
laridade positiva e uma DNA-polimerase no vírion que sintetiza
• Um vírion infecta uma célula e centenas de vírions da progênie
uma cópia de DNA do genoma de RNA. Esse DNA é o molde usa-
são produzidos dentro de horas. Essa é uma notável amplificação
do pela RNA-polimerase da célula hospedeira para sintetizar o
e explica a rápida d isseminação dos vírus de célula a célula.
mRNA virai.
• O período de eclipse é o momento em que nenhuma partícula
• Vírus de DNA: a maioria dos vírus de DNA, como os herpes-ví-
virai é detectada dentro da célula infectada. Ele ocorre logo após
rus, adenovírus e papilomavírus, possui um genoma de DNA de
a célula ser infectada.
dupla-fita e utiliza a RNA-polimerase da célula hospedeira para
• Efeito citopático (ECP) é o termo usado para descrever o dano, sintetizar o mRNA virai. Os poxvírus possuem um genoma de
tanto morfológico quanto funcional, infligido na célula pelo vírus. DNA de dupla-fita, mas possuem também uma RNA-polimerase
Em um laboratório clínico, a presença de um vírus em uma amos- no vírion que sintetiza o mRNA v irai. Os poxvírus possuem uma
tra de paciente é geralmente detectada pela visualização de ECP RNA-polimerase no vírion porque eles replicam no citoplasma e
em cultura de célula. não têm acesso à RNA-polimerase do hospedeiro no núcleo.
• Replicação virai: todos os vírus de DNA se replicam no núcleo,
Ciclo de replicação virai com exceção dos poxvírus, que se replicam no citoplasma. Todos
• Adsorção: a interação de proteínas da superfície do vírus com os vírus de RNA replicam no citoplasma, exceto os retrovírus, ví-
proteínas receptoras específicas na superfície da célula é um dos rus influenza e vírus da hepatite D, que necessitam de um passo
principais determinantes de especificidade de espécie e de es- intranuclear em sua replicação. Muitos vírus codificam uma repli-
pecificidade de órgãos do vírus. case, que é uma DNA ou RNA-polimerase que sintetiza as muitas
cópias dos genomas da progênie virai.
• Acido nucleico infeccioso é o genoma de DNA ou RNA virai, pu-
rificado e livre de todas as proteínas, que pode passar pelo ciclo • Genoma virai: o genoma de todos os vírus de DNA é de dupla-
replicativo inteiro no interior de uma célula e produzir progênie -fita, com exceção dos parvovírus, que é de fita simples. O geno-
virai infecciosa. O ácido nucleico infeccioso, por não estar asso- ma de todos os vírus de RNA é de fita simples, exceto os genomas
ciado a proteínas, pode entrar e replicar-se no interior de células, dos reovírus (p. ex., rotavírus), que são de dupla-fita.
fato não realizado por um vírion intacto. • Proteínas virais: as proteínas precoces normalmente são en-
• Polaridade do RNA virai genômico: o RNA genômico que apre- zimas usadas na síntese dos ácidos nucleicos virais, ao passo
senta a mesma sequência de bases do mRNA é, por definição, um que as proteínas tardias são normalmente componentes es-
RNA de polaridade positiva. A maioria dos genomas de polarida- truturais da progênie virai. Alguns vírus, como os poliovírus e
de positiva é traduzida em proteínas virais sem a necessidade de retrovírus, traduzem seu mRNA em poliproteínas precursoras,
uma polimerase contida no vírion. Os retrovírus são uma exceção, que precisam ser clivadas por proteases para produzir proteí-
sendo que estes usam a transcriptase reversa contida no vírion nas funcionais.
para transcrever o RNA genômico em DNA. Um genoma de RNA • Montagem e libertação: todos os vírus envelopados adquirem
que possui uma sequência de bases complementar a um mRNA seu envelope ao brotar da membrana celular externa, no mo-
tem, por definição, polaridade negativa. Um vírus de genoma de mento em que deixam a célula infectada, com exceção dos her-
RNA com polaridade negativa necessita ter uma RNA-polimerase pes-vírus, que adquirem seu envelope ao brotar pela membrana
no vírion para sintetizar seu mRNA. nuclear.* A proteína de matriz medeia a interação do nucleocap-
• Expressão dos genes virais: todos os vírus requerem RNAs men- sídeo com o envelope.
sageiros específicos do vírus para sintetizar proteínas específicas • Lisogenia é o processo pelo qual o DNA virai se torna integrado
do vírus. no DNA da célula hospedeira, a replicação para, e nenhuma pro-
• Vírus de RNA: alguns vírus de RNA, como o poliomavírus, apre- gênie virai é produzida. Posteriormente, se o DNA for danificado
sentam um RNA genômico de polaridade positiva que funciona
como mRNA (i. e., o genoma é o mRNA). Outros vírus, como o
*N. de T. Essas informações estão incorretas e/ou desatualizadas, pois diversos
vírus influenza, possuem um genoma de RNA de polaridade ne- vírus envelopados adquirem seus envelopes ao brotar por meio de membra-
gativa e uma RNA-polimerase no vírion que sintetiza o mRNA nas de organelas da célula hospedeira. Os flavivírus, por exemplo, adquirem
virai. Os rotavírus possuem um genoma de RNA de dupla-fita o seu envelope ao brotar para o interior do retículo endoplasmático, e os her-
e uma RNA-polimerase no vírion que sintetiza o mRNA virai. pes-vírus adquirem seu envelope ao brotar para dentro do aparelho de Golgi.
CAPÍTULO 29 Replicação 237

por, por exemplo, luz UV, o DNA virai é excisado do DNA da célula é o processo pelo qual vírus carregam genes de uma célula para
hospedeira, e a progênie virai é produzida. O DNA virai integra- outra. Conversão lisogênica é o t ermo usado para ind icar que
do é chamado de prófago. Células bacterianas carregando um a célula adquiriu uma nova característ ica como resultado de um
prófago podem adquirir novas característ icas, como a capacida- prófago integrado.
de de produzir exotoxinas como a toxina diftérica. Transdução

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 5. Considerando o ciclo de replicação viral, qual das seguintes opções
é a mais correta?
1. Muitos vírus são altamente específicos considerando o tipo de célu-
(A) Durante a fase lisogênica, o resultado t ípico é a produção de
las que infectam. Das seguintes opções, qual é o determinante mais
centenas de vírions.
importante dessa especificidade?
(B) O vírus da hepatite B possui uma RNA-polimerase no vírion
(A) A proteína de matriz. que é necessária para sintetizar RNA mensageiro a partir da
(B) A polimerase do vírion. fita positiva do DNA viral.
( C) A proteína protease. (C) Os herpes-vírus possuem uma DNA-polimerase dependente
(D) A glicoproteína de superfície. de RNA n o vírion.
(E) O mRNA viral. (D) A conversão lisogênica é o processo pelo qual bactérias
2. Seu projeto de pesquisa é estudar os vírus que causam infecções do adquirem novos genes devido à transdução por um bacterió-
trato respiratório superior. Você isolou um vírus da garganta de um fago lisogênico.
paciente e descobriu que seu genoma é de RNA. Além disso, você (E) O vírus da varíola traduz seu genoma em um único polipeptí-
descobriu que o gen oma é o complemento do mRNA viral no in- deo, que é, então, clivado em proteínas estruturais e não estru-
terior da célula infectada. Das seguintes opções, qual é a conclusão turais.
mais apropriada à qual você pode chegar? 6. Qual das seguintes opções cita dois nomes de vírus em que ambos
(A) O genoma de RNA é infeccioso. traduzem seu RNA mensageiro em polipeptídeos precursores que
(B) O genoma de RNA é segmentado. precisam ser clivados por proteases codificadas pelo vírion?
( C) O vírion contém uma polimerase. (A) Herpes-vírus simples e papilomavírus humano.
(D) O vírion possui um envelope lipoproteico. (B) Vírus da imunodeficiência humana e poliovírus.
(E) Um DNA de fita simples é sintetizado durante a replicação. ( C) Vírus influenza e vírus do sarampo.
3. O genoma purificado de certos vírus pode entrar em uma célula e (D) Vírus da raiva e vírus da hepatite B.
iniciar a produção de progênie virai (i.e., o genoma é infeccioso). (E) Rotavírus e parvovírus.
Em relação a esses vírus, qual das seguintes opções é a mais correta?
(A) Seu genoma de RNA possui uma polaridade positiva.
(B) Seu genoma de RNA é de dupla-fita. RESPOSTAS
( C) Eles possuem uma polimerase no vírion.
1. (D)
(D) Eles possuem um genoma segmentado.
2. (C)
(E) Eles necessitam de proteínas do tegumento para serem infec-
3. (A)
ciosos.
4. (B)
4. Considerando a replicação viral, qual das seguintes opções é a mais 5. (D)
correta? 6. (B)
(A) O efeito citopático normalmente ocorre durante o período de
eclipse.
(B) Na maioria dos casos, as proteínas precoces são en zimas, e as QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
proteínas tardias são proteínas do capsídeo.
(C) A montagem de um vírus não envelopado de maneira padro- Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
nizada ocorre enquanto o vírion brota da membrana celular. contradas na seção de Virologia Básica da Parte XIII: Questões
(D) O vírus influenza sintetiza seu mRNA usando uma RNA-poli- para Autoavaliação, a partir da página 700. Consulte também a
merase dependente de RNA da célula hospedeira. Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
(E) Os retrovírus (p. ex., HIV) sintetizam seu mRNA usando uma
na 731.
enzima do vírion, chamada de transcriptase reversa.
CAPÍTU L O

30 Genética e Terapia Gênica

CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Conceitos-cl\ave
Mutações Aplique seu conl'teclmento
Interações entre vírus Questões para autoavaliação
Terapia gênica e vacinas recombinantes
Te, apia gênica
Vacinas recombinantes

INTRODUÇÃO Mutações letais condkionais são extremamente valio·


sas para determinar a função de genes virais. Essas mutações
O estudo de genética vira) compreende duas grandes áreas: funcionam normalmente em condições permissivas. mas fa.
(1) mutações e o seu efeito oa repHcação e patogênese; e (2) a in- lham em replicar ou expressar o gene mutante em condições
teração de dois \•irus geneticamente distintos que infectam uma restritivas. Por exemp)o, mutantes letais condicionais sensíveis
mesma céJu)a. Além diss~ os vírus servem como vetores de te- à temperatura expressam seu fenótipo normalmente em uma
rapia gênica e de vacinas recombinantes.. duas âreas que são uma temperatura baixa (permissiva), mas em uma temperatura alta
grande promessa para o tratamento de doenças genéticas e para a (restritiva) o produto gênico mutante é inativo. Fornecendo um
prevenção de doenças infecciosas, exemplo espedfico. mutantes sensíveis à temperatura do vírus
do sarcoma Rous podem transformar células normais em ma•
lignas na temperatura permissiva de 37"C. Quando as cé)ulas
MUTAÇÕES transformadas são mantidas na temperatura restritiva de 41 "C.
Mutações no ONA ou RNA vital ocorrem pelos mesmos proces- seu fenótipo retorna à aparência e ao comportamento normais.
sos de substituição de bases, deleçõ<s e mudaoça na fase de leitura, O fenótipo ma1ig110 é recuperado quando a temperatura per-
como as já descritas para bactérias no Capítulo 4. Provave)mente. missiva é restaurada,
o uso prático mais importante das mutações é a produção de va. Observa-se que mutantes sensíveis à temperatura já foram
cinas contendo virus vivos atenuados. Esses mutantes atenuados introduzidos na prática cHnica, Mutantes sensíveis à temperatura
perderam sua patogenicidade, mas retiveram sua antigenicidade; do virus 1'nfluenza estão sendo utilizados para produção de vaci-
assim, eles são capazes de induzir imunidade sem causar doença. nas, uma vez que esses virus irão crescer nas vias aéreas superio-
Existem dois outros tipos de mutantes de interesse. Os pri- res mais frias.. onde causam poucos sintomas e induzem anticor-
meiros são variantes antlgênlcos. como os que ocorrem frequen• pos. mas não crescerão nas vias aéreas inferiores mais quentes..
temente com os v(rus influenza. que possuem uma proteína de onde podem causar pneumo1tia.
superflcie a1terada e. portanto, não são mais inibidos pelos an. A)guns mutantes deletérios possuem a característica in-
ticorpos preexistentes de uma pessoa. O variante pode. então. comum de serem partículas defectivas interlerentes. Eles são
c.ausar doença, ao passo que a linhagem original não. Os v(rus defectivos porque não podem replicar, a não ser que a função
da imunodefici~ncia humana e da hepatite C também produzem removida seja fornecida por um vlru,s "'auxiliar~ Eles também in•
muitos variantes antig~1ticos. Esses vírus possuem uma pollme- terferem no crescimento do virus normal se infectam primeiro e
rase com tendênda a erro, responsáve) pelo surgimento de mu. antecipam as funções celu1ares necessárias. Partkulas defectivas
tações. O segundo tipo são os mutantes resistentes a f.\rmacos. interferentes podem contribuir para a recuperação de infecções
os quais são insensiveis a um fármaco anth'ira1, uma vez que o virais; e)as interferem na produção da progênie vira). limitando.
alvo do fármaco, norina1mente uma enzima, foi modificado. assim. a disseminação do ,1rus para outras cé)ulas.
CAPÍTULO 30 Genética e Terapia Gênica 239

INTERAÇÕES ENTRE VÍRUS pois produzem proteínas complementares diferentes. Se ele não
conseguir, as duas mutações estão no mesmo gene, e ambas as
Quando dois vírus geneticamente distintos infectam uma célula, proteínas são não funcionais. Realizando muitos testes parea-
três fenômenos diferentes podem acontecer. dos com mutantes diferentes, é possível determinar domínios
(1) Recombinação é a troca de genes entre dois cromos- funcionais de grupos complementares que correspondem aos
somos baseada no crossing over entre regiões de homologia sig- genes. Controles apropriados são necessários para remover os
nificativa na sequência de bases nucleotídicas. A recombinação efeitos da recombinação.
pode ser facilmente demonstrada para vírus com DNA de dupla- (3) Na mistura fenotípica, o genoma de um vírus tipo A
fita como material genético, podendo também ser usada para pode ser coberto com proteínas de superfície de um vírus tipo B
determinar seu mapa genético. Entretanto, a recombinação por (Figura 30-2). O vírus fenotipicamente misturado pode infectar
vírus de RNA ocorre em uma frequência muito baixa, se ocor- as células determinadas por sua cobertura de proteínas do tipo B.
rer. Rearranjo é o termo usado quando vírus com um genoma Entretanto, a progênie viral resultante da infecção apresentará a
segmentado, como o vírus influenza, trocam segmentos. Isso cobertura composta por proteínas do tipo A, que são as únicas co-
normalmente resulta em uma frequência de troca gênica muito dificadas por seu material genético do tipo A. Um exemplo inte-
mais alta do que a da recombinação. O rearranjo de segmentos ressante do fenômeno de mistura fenotípica é o caso dos pseudo-
de RNA do vírus influenza está envolvido nas intensas mudanças tipos, que consistem no nucleocapsídeo de um vírus e no envelope
antigênicas do vírus, o que constitui a base para as epidemias de outro. Pseudotipos compostos pelo nucleocapsídeo do vírus da
recorrentes de gripe. estomatite vesicular (um rabdovírus) e pelo envelope do vírus da
(2) Complementação pode ocorrer quando tanto um quan- imunodeficiência humana (HIY, um retrovírus) estão, atualmente,
to ambos os vírus que infectam uma célula possuem uma mu- sendo utilizados para estudar a resposta imune contra HIY.
tação que resulta em uma proteína não funcional (Figura 30-1).
O vírus não mutado "complementa" o mutante, produzindo
proteínas funcionais que servem para ambos os vírus. A comple- TERAPIA GÊNICA E VACINAS
mentação é um método importante pelo qual um vírus auxiliar RECOMBINANTES
permite a replicação de um vírus defectivo. Um exemplo clini-
camente importante de complementação é o vírus da hepatite B, Vírus estão sendo utilizados como vetores genéticos de duas
que fornece seu antígeno de superfície para o vírus da hepatite formas inéditas: (1) para entregar novos genes funcionais em
pacientes com doenças genéticas (terapia gênica); e (2) para
delta, que é defectivo em sua capacidade de produzir suas pró-
prias proteínas externas. produzir novas vacinas virais que contêm vírus recombinantes
carregando os genes de vários vírus diferentes, induzindo, assim,
Esse fenômeno é a base para o teste de complementação,
que pode ser usado para determinar quantos genes existem imunidade para várias doenças com uma imunização.
em um genoma viral. Ele é realizado determinando se um ví-
rus mutante A consegue complementar um vírus mutante B. Terapia gênica
Se ele conseguir, as duas mutações estão em genes diferentes, Os retrovírus estão sendo utilizados atualmente como vetores do
gene que codifica a adenosina deaminase (ADA) em pacientes
com imunodeficiências resultantes de um gene de ADA defecti-
y z
vo. Os retrovírus são excelentes vetores, uma vez que uma cópia
Vírus A
y z de DNA do seu genoma de RNA é integrada de forma estável
Vírus B no DNA da célula hospedeira e os genes integrados são expres-
Vírus A e sos de maneira eficiente. Vetores retrovirais são construídos pela
Vírus A Vírus B v írus B
remoção de genes codificadores de várias proteínas virais do
vírus e pela sua substituição pelo gene humano de interesse (p.
+ + + ex., o gene de ADA). Partículas virais contendo o gene humano
~ ~ ~ são produzidas dentro de "células auxiliares" que contêm os ge-
nes virais removidos e que, portanto, podem fornecer, por com-
+
Sem progênie
+
Sem progênie
+
Progênie dos
plementação, as proteínas virais faltantes necessárias para que o
virai virai vírus A e B vírus replique. Os retrovírus produzidos pelas células auxiliares
podem infectar células de pacientes e introduzir o gene humano
FIGURA 30-1 Complementação. Se tanto o vírus A quanto o v írus B nas células, mas não podem replicar, uma vez que não possuem
infectam uma célula, nenhum vírus é produzido porque cada um pos-
vários genes virais. A incapacidade de esses vírus replicarem é
sui um gene mutado. Se ambos os vírus infectam uma célula, o produ-
uma vantagem importante para a terapia gênica humana.
to proteico do gene Y do vírus A irá complementar o vírus B, o produto
proteico do gene Z do vírus B irá complementar o vírus A, e a progênie
dos vírus A e B será produzida. Observa-se que nenhuma recombina- Vacinas recombinantes
ção ocorreu e que a progênie do vírus A irá conter o gene z mutado e a
Vacinas virais recombinantes contêm vírus que foram mo-
progênie do vírus B irá conter o gene mutante y. Y, Z, genes funcionais;
dificados geneticamente para carregar genes de outros vírus.
y, z, genes mutados não funcionais.
240 PARTE Ili Virologia Básica

V~US 1 V~US2

••1••

e
•••

e
0 ººº0
oo .&.&.&.& oo
Q IYYTI O
0
o o0

···~ / ººº
•• ••

~===--

Célula murina

Ambos os tipos
de genomas e • • • i o o
proteínas v irais
são sintetizados • l l l • E
o
NN\
o
NN\
o
NN\
o
o

no interior da
célula murina
• •

VÍRUS 3
t +
VÍRUS4

ooº••••
o .&.&.&.& o
OIYYY\ O
•• oº • Mistura
fenotípica

··º
Célula humana
+
Célula de galinha

VÍRUS 5 VÍRUS 6
••• •••
··1··
•• ••
•••••••
··1··
•• ••
•••••••
FIGURA 30-2 M istura fenotípica. Inicialmente, o Vírus 1 (proteínas do capsídeo azuis e genoma vertical) e o Vírus 2 (proteínas do capsídeo
amarelas e genoma horizontal) infectam a mesma célula murina. O Vírus 1 pode infectar células humanas, mas não as células de galinha (uma
propriedade determinada pelas proteínas azuis de superfície); e o Vírus 2 pode infectar células de galinha, mas não as células humanas (uma pro-
priedade determinada pelas proteínas amarelas de superfície). Entretanto, tanto o Vírus 1 quanto o Vírus 2 podem infectar células murinas. Dentro
das células murinas, ambos os genomas são replicados e as proteínas azuis e amarelas dos capsídeos são sintetizadas.
Como mostrado, alguns v írus da progênie (Vírus 3 e 4) apresentam uma mistura fenotípica, pois possuem tanto as proteínas de superfície
azuis quanto as amarelas e, portanto, podem infectar tantos as células de galinha quanto as células humanas. Observe que na próxima rodada de
infecção, quando o Vírus 3 infectar uma célula humana ou de galinha, a progênie resultante daquela infecção (Vírus 5 e 6) é determinada pelo ge-
noma vertical, e será idêntica ao Vírus 1, tendo apenas proteínas azuis no capsídeo e um genoma vertical. De maneira similar (mas não mostrada
na figura), quando o Vírus 4 infectar células humanas ou de galinha, a progênie resultante da infecção será determinada pelo genoma horizontal,
e será idêntica ao Vírus 2. {Modificada e reproduzida, com permissão, de Joklik WK et ai. Zinsser Microbiology, 20th ed. Appleton & Lange, Norwalk, CT, 1992.)
CAPÍTULO 30 Genética e Terapia Gênica 241

Vírus com genomas grandes (p. ex., vírus vaccínia) são exce- APLIQUE SEU CONHECIMENTO
lentes candidatos para esse propósito. Para construir os vírus
1. Em um laboratório, uma virologista estava estudando as proprie-
recombinantes, qualquer gene do vírus da vaccínia que não for
dades do HIV. Ela infectou a mesma célula com o HIV e o vírus da
essencial para replicação virai é removido, e um gene de outro
raiva. (O HIV pode infectar apenas células CD4-positivas humanas,
vírus que codifica para um antígeno que gera anticorpos neu- ao passo que o vírus da raiva pode infectar tanto células humanas
tralizantes é introduzido. Por exemplo, o gene para o antígeno quanto células caninas.) Alguns vírions da progênie foram capazes
de superfície do vírus da hepatite B foi introduzido no vírus da de infectar células caninas, dentro das quais ela encontrou RNA es-
vaccínia e é expresso em células infectadas. Vacinas recombi- pecífico de HIV. Qual das seguintes opções é o termo usado para
nantes ainda não estão clinicamente disponíveis, mas vacinas descrever esses resultados?
desse tipo prometem melhorar muito a eficiência dos progra- (A) Complementação.
mas de imunização. (B) Mistura fenotípica.
(C) Rearranjo.
(D) Recombinação.
2. Você isolou dois mutantes de poliovírus, um mutado no gene X
CONCEITOS-CHAVE
e outro mutado no gene Y. Se você infectar células com cada um
individualmente, nenhum vírus é produzido. Se você infectar uma
• Mutações no genoma virai podem produzir variantes antigê- única célula com ambos os mutantes, qual das afirmações seguintes
nicos e variantes resistentes a fármacos. Mutações também é a mais correta?
podem produzir variantes atenuados (enfraquecidos) que
(A) Se ocorrer complementação entre os produtos gênicos mutan-
não conseguem causar doença, mas que mantêm sua antige-
tes, haverá produção de progênie viral dos tipos X e Y.
nicidade e são úteis em vacinas.
(B) Se ocorrer mistura fenotípica, tanto progênie do tipo X quanto
• Mutantes sensíveis à temperatura podem replicar em uma Y serão produzidas.
temperatura baixa (permissiva), mas não em uma tempe- (C) Se o genoma for transcrito em DNA, então tanto vírus X quan-
ratura alta (restritiva). Mutantes sensíveis à temperatura do to Y serão produzidos.
vírus influenza são utilizados em uma das vacinas contra a (D) Como o rearranjo de segmentos genômicos ocorre com alta
doença. frequência, tanto progênie do tipo X quanto do tipo Y serão
• Rearranjo (troca) de segmentos do genoma de RNA do vírus produzidas.
influenza é importante na patogênese das epidemias globais
causadas por esse vírus.
• Complementação ocorre quando um vírus produz uma pro- RESPOSTAS
teína que pode ser usada por outro vírus. Um exemplo médi-
1. (B)
co importante é o vírus da hepatite D, que usa o antígeno de
2. (A)
superfície do vírus da hepatite B como sua proteína externa.
• Mistura fenotípica ocorre quando dois vírus diferentes infec-
tam a mesma célula e a progênie virai contém proteínas de
ambos os vírus parentais. Isso pode dotar a progênie virai com QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
a habilidade de infectar células de espécies que o vírus paren-
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
tal normal não consegue.
contradas na seção de Virologia Básica da Parte XIII: Questões
para Autoavaliação, a partir da página 700. Consulte também a
Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
na 731.
CAPÍTULO

31 Classificação dos Vírus de


Importância Médica
CONTEODO DO CAPITULO

Princípios de classificação Flavivírus


VlrusdeDNA Togavfrus
Parvovfn.is Retrovrcus
Poliomavr,us Ortomixovr,us
Papilomavifus Paramixovfrus
Adenovr,us Rabdovfrus
Hepadnavlíus Filovfrus
Herpes-virus C0tonavf,us
Poxvr,us Arenavirus
Vírus de RNA Buniavfrus
Picornavr,us Oeltav'irus
Hepevr,us Conceitos-chave
Calicivirus Questões para autoavaliação
Reovirus

PRINcfPIOS DE CLASSI FICAÇÃO Parvovírus


A das.sificação dos vírus ê baseada em critérios químicos e mor- São vírus nus icosaédticos muito pequenos (22 nm de diâmetro)
fológicos. Os dois principais componentes dos \'frus usados para com um DNA linear de fita simples. Existem dois tipos de par·
dassificação são (l) o ácido nucleico (seu peso molecular e sua vo,•írus: defectivos e não defectivos. Os parvovkus defectivos
estrutura) e (2) o capsídeo (seu tamanho e sua simetria e se e)e (p. ex.. vírus adenoassoci.ados) necessitam de um vírus auxiliar
é envelopado). Um esquema de das.sific.ação baseado nesses fa- para replicação, O DNA dos parvovírus defectivos é incomum
tores é ilustrado nas Tabelas 31-1 e 31-2 para vírus de ONA e porque a fita positiva de ONA e a fita negativa de ONA são car-
RNA, respectivamente. Esse esquema foi simplificado a partir da regadas em partkulas diferentes. Os parvov(rus não defectivos
dassific.ação completa para enfatizar os organismos de importân· são melhor ilustrados pelo v(rus 8 19. que está associado a crises
eia médica. Apenas as famílias virais são listadas; subfamilias são aplásticas ein pacientes com anemia fakiforme e com eritema
descritas no capitu)o sobre vírus específicos. i1úeccioso - uma doença inócua infanti) caracterizada por man•
chas avermelhadas na pele que se asseme)ham a ..bofetadas'~

V IRUSDEDNA Poliomavírus
As familias dos virus de DNA são descritas na Tabela 3 1· 1. São vlrus icosaédricos nus (45 nm de diâmetro) com ONA
As quatro familias de virus icosaédricos nas (i.e., não envelo- dup)a~ftta circular superenovelado. Dois exemp)os de polio-
pados) - os parvovfrus. poliomav(rus. papiJomavírus e adeno- mavirus humanos são o poHomavirus JC, iso)ado de paciei\tes
virus - estão apresentadas em ordem crescente de tamanho da com leucoei\cefalopatia multifocal progressiva. e o vírus BK.
partkula, assim como estão as três famfüas envelopadas. A fa- isolado da urina de pacientes imu.nossuprimidos submetidos a
mClia dos hepadnavirus, que. inclui o v(rus da hepatite B e os transplante de rins. O poliomav(rus e o vírus vacuo)ante símio
herpes-vírus, é constituída por vírus icosaédricos eiwe)opados. 40 (virus SV40} são po)iomavirus de camundongos e macacos,
Os maiores vírus, os poxvírus, possuem uma simetria interna respectivamei\te. que induzem tumores malignos em uma gran•
complexa. de variedade de espécies.
CAPÍTULO 31 Classificação dos Vírus de Importância Médica 243

TABELA 31-1 Classificação dos vírus de DNA*

Envelope Simetria do Tamanho do Peso molecular


Família virai** presente capsídeo vírion (nm) do DNA (x106) Estrutura do DNA 1 Vírus de importância médica

Parvoviridae Não lcosaédrico 22 2 FS, linear Vírus B19

Polyomaviridae Não lcosaédrico 45 3 DF, circular, supereno- Vírus JC***, vírus BK


velado

Papillomaviridae Não lcosaédrico 55 5 DF, circular, supereno- Papilomavírus humano


velado

Adenoviridae Não lcosaédrico 75 23 DF, linear Adenovírus

Hepadnaviridae Sim lcosaédrico 42 1,5 DF, circular incompleto Vírus da hepatite B


2
Herpesviridae Sim lcosaédrico 100 100 a 150 DF, linear Herpes-vírus simples 1, vírus da
va ricela-zóster, citomega loví-
rus, vírus Epstein-Barr

Poxviridae Sim Complexo 250 x 400 125 a 185 DF, linear Vírus da varíola, vírus do molusco
contagioso
1
FS, fita simples; DF, dupla-fita.
2
0 nucleocapsídeo dos herpes-vírus é de 100 nm, mas o envelope varia de tamanho. O vírus inteiro pode ter até 200 nm de diâmetro.
*N. de R.T. As famílias representadas na tabela correspondem às de maior importância clínica. No entanto, existem outras famílias virais de menor importância que
também possuem DNA como genoma. Entre estas estão os bacteriófagos, muitos dos quais existem em nossa microbiota intestinal normal; e os mimivírus, os maiores
vírus conhecidos, parasitas regulares de amebas, mas que têm sido relacionados a eventuais surtos de pneumonia em seres humanos.
**N. de T. A nomenclatura foi alterada em relação ao texto original do autor para refletir as regras taxonômicas corretas.
***N. de R.T. O nome correto do vírus JC é poliomavírus JC, e será utilizado desta maneira no livro.

Papi lomavírus mais importantes são os herpes-vírus simples 1 e 2, vírus dava-


ricela-zóster, citomegalovírus e vírus Epstein-Barr (que causa a
Os papilomavírus são vírus icosaédricos nus (55 nm de diâme-
mononucleose infecciosa).
tro) com DNA de dupla-fita superenovelado. O patógeno huma-
no nessa família corresponde ao papilomavírus humano (HPV,
human papillomavirus). Ele causa papilomas (verrugas) em Poxvírus
vários locais do corpo, e algumas linhagens causam carcinoma
cervical. Muitas espécies de animais são infectadas por papiloma- São os maiores vírus cujos hospedeiros principais são vertebra-
vírus, mas esses vírus são específicos para cada espécie animal e dos, apresentam forma semelhante a tijolos, um envelope com
normalmente não infectam seres humanos. uma aparência não usual, e uma simetria complexa de capsídeo.
Eles são nomeados pelas lesões de pele, ou "pocks,: que causam.
Adenovírus O vírus da varíola e o vírus do molusco contagioso são dois im-
portantes membros.
São vírus icosaédricos nus (75 nm de diâmetro) com DNA de
dupla-fita linear. Eles causam faringites, doenças do trato respi-
ratório superior e inferior e uma variedade de outras infecções
menos comuns. Existem pelo menos 40 tipos antigénicos, alguns VÍRUSDERNA
dos quais causam sarcomas em animais, mas não causam tumo- As 14 famílias de vírus de RNA são descritas na Tabela 31-2.
res em seres humanos. Primeiramente, são listadas as três famílias de vírus icosaédri-
cos nus e, após, são listadas as três famílias de vírus icosaédricos
Hepadnavírus envelopados. As oito famílias restantes são de vírus helicoidais
São vírus com duplo envoltório (42 nm de diâmetro) composto envelopados; as cinco primeiras possuem RNA de fita simples
por um capsídeo icosaédrico coberto por um envelope. O DNA é linear como genoma, ao passo que as últimas três possuem RNA
de dupla-fita circular, considerado incomum, pois a fita completa fita simples circular.
não é um círculo covalentemente fechado, e a outra fita é apro-
ximadamente 25% menor que a fita completa. O vírus da hepati- Picornavírus
te B é um patógeno humano dessa família.
Eles têm 28 nm de diâmetro e possuem RNA de fita simples, po-
laridade positiva, linear e não segmentado dentro de seu capsídeo
Herpes-vírus icosaédrico nu. O nome "picornà, é derivado de pico (pequeno)
São vírus envelopados (100 nm de diâmetro) com um nucleocap- que contém RNA. Existem dois grupos de patógenos humanos:
sídeo icosaédrico e DNA de dupla-fita linear. Eles são conhecidos ( 1) enterovírus, como poliovírus, vírus de Coxsackie, ecovírus e
por causarem infecções latentes. Os cinco patógenos humanos vírus da hepatite A; e (2) rinovírus.
244 PARTE Ili Virologia Básica

TABELA31-2 Classificação dos vírus de RNA*


Peso
Tamanho molecular
Envelope Simetria do da partícula doRNA Vírus de importância
1
Família virai- presente capsícleo (nm) (x106) Estrutura do RNA médka

Picornavi ridae Não lcosaédrico 28 2,5 FS, linear, não segmentado, Poliovírus, rinovírus, vírus da
polaridade posit iva hepatite A

Hepeviridae Não lcosaédrico 30 2,5 FS, linear, não segmentado, Vírus da hepatite E
polaridade posit iva

Caliciviridae Não lcosaédrico 38 2,7 FS, linear, não segmentado, Norovírus


polaridade posit iva

Reoviridae Não lcosaédrico 75 15 DF, linear, 1O ou 11 segmentos Rotavírus

Flaviviridae Sim lcosaédrico 45 4 FS, linear, não segmentado, Vírus da febre amarela, vírus
polaridade posit iva do dengue, vírus do Oeste
no Nilo, vírus da hepatite C

Togaviridae Sim lcosaédrico 60 4 FS, linear, não segmentado, Vírus da rubéola


polaridade positiva

Retroviridae Sim lcosaédrico 100 72 FS, linear, duas fitas idênticas HIV, vírus da leucemia de
(diploide), polaridade posit iva células T humanas

Orthomyxoviridae Sim Helicoidal 80a 120 4 FS, linear, oito segmentos, Vírus influenza
polaridade negativa

Paramyxoviridae Sim Helicoidal 150 6 FS, linear, não segmentado, Vírus do do sarampo, vírus
polaridade negativa da caxumba, vírus respira-
tório sincicial

Rabdoviridae Sim Hel icoidal 75 X 180 4 FS, linear, não segmentado, Vírus da raiva
polaridade negativa
3
Filoviridae Sim Helicoidal 80 4 FS, linear, não segmentado, Vírus ebola, vírus Marburg
polaridade negativa

Coronaviridae Sim Helicoidal 100 10 FS, linear, não segmentado, Coronavírus


polaridade posit iva

Arenaviridae Sim Helicoidal 80a 130 5 FS, circular, dois segmentos com Vírus da coriomeningite
extremidades coesivas, pola- linfocitária
ridade negativa

Bunyaviridae Sim Helicoidal 100 5 FS, circular, três segmentos com Vírus da encefalite da
extremidades coesivas, pola- Califórnia, hantavírus
ridade negativa
4
Deltavirus*** Sim lncerta 37 0,5 FS, circular, círculo fechado, Vírus da hepatite delta
polaridade negativa
1
FS, fita simples; DF, dupla-fita.
2
0 genoma dos retrovírus contém duas moléculas idênticas, cada uma com peso molecular de 3,5 x 106•
3
As partículas possuem 80 nm de largura, mas podem ter milhares de nanômetros de comprimento.
4
0 nucleocapsfdeo parece esférico, mas sua simetria é desconhecida.
*N. de R.T. As famílias representadas na tabela correspondem às de maior importância clínica. No entanto, existem outras famílias virais de menor importância (ou que
infectam outros hospedeiros que não os seres humanos) que também possuem RNA como genoma.
**N. de T. A nomenclatura foi alterada em relação ao texto original do autor para refletir as regras taxonômicas corretas.
***N. de R.T. Os deltavírus ainda não estão classificados taxonomicamente em família. A nomenclatura "deltavírus" corresponde à categoria taxonômica de gênero.

Hepevírus Calicivírus
São vírus nus (30 nm de diâmetro) com nucleocapsídeo icosa- São vírus nus (38 nm de diâmetro) com um capsídeo icosaé-
édrico. Eles possuem RNA de fita simples, polaridade positiva, drico. Eles possuem RNA de fita simples, polaridade positiva,
linear, não segmentado. O principal patógeno humano é o vírus linear, não segmentado. O principal patógeno humano é o no-
da hepatite E. rovírus.
CAPÍTULO 31 Classificação dos Vírus de Importância Médica 245

Reovírus mentado, linear. O termo rabdo refere-se à forma de bala. O vírus


da raiva é o único patógeno humano importante.
São vírus nus (75 nm de diâmetro) com dois capsídeos icosaé-
dricos. Eles possuem 10 ou 11 segmentos de RNA de dupla-fita
lineares. O nome é um acrônimo de "respiratory enteric orphan", Filovírus
uma vez que eles foram originalmente encontrados nos tratos São vírus envelopados com nucleocapsídeo helicoidal e RNA de
respiratório e entérico e não foram associados a nenhuma doença fita simples, polaridade negativa, não segmentado, linear. Eles
humana. O principal patógeno humano é o rotavírus, que cau- são longos filamentos altamente pleomórficos, com 80 nm de
sa diarreia, principalmente em crianças. O genoma do rotavírus diâmetro, podendo ter milhares de nanômetros de comprimen-
possui 11 segmentos de RNA de dupla-fita. to. O termo filo significa "fio" e refere-se aos longos filamentos.
Os dois patógenos humanos são o vírus ebola e o vírus Marburg.
Flavivírus
São vírus envelopados com um capsídeo icosaédrico e RNA de Coronavírus
fita simples, polaridade positiva, linear, não segmentado. Os fla-
vivírus incluem o vírus da hepatite C, o vírus da febre amarela, o São vírus envelopados com um nucleocapsídeo helicoidal e um
vírus da dengue, o vírus do Oeste do Nilo, e os vírus da encefalite RNA de fita simples, polaridade positiva, não segmentado, li-
de Saint Louis e da encefalite japonesa. near. O termo corona refere-se ao halo proeminente de espículas
que saem do envelope. Os coronavírus causam infecções do tra-
Togavírus to respiratório, como resfriados comuns e síndrome respiratória
aguda grave (SARS, severe acute respiratory syndrome), em seres
São vírus envelopados com um capsídeo icosaédrico e RNA de
humanos.
fita simples, polaridade positiva, linear, não segmentado. Nessa
família, há dois principais grupos de patógenos humanos: os alfa-
vírus e os rubivírus. O grupo dos alfavírus inclui os vírus da ence- Arenavírus
falite oriental e ocidental; o grupo dos rubivírus consiste apenas São vírus envelopados com um nucleocapsídeo helicoidal e um
no vírus da rubéola. RNA de fita simples, polaridade negativa, circular, dividido em
dois segmentos. (Uma parte de ambos os segmentos é de RNA
Retrovírus polaridade positiva, e o termo RNA ambissenso é usado para des-
São vírus envelopados com um capsídeo icosaédrico e duas fitas crever esse genoma incomum.) O termo arena significa "areià' e
idênticas (denominados diploides) de RNA de fita simples, pola- refere-se aos grânulos na superfície virai que são ribossomos não
ridade positiva, linear. O termo retro trata da transcrição reversa funcionais. Dois patógenos humanos dessa família são o vírus da
do genoma de RNA em DNA. Existem dois grupos de interesse coriomeningite linfocitária e o vírus da febre do Lassa.
médico: (1) o grupo dos oncovírus, que contém os vírus de sar-
coma e leucemia (p. ex., vírus linfotrófico de células T humanas Buniavírus
[HTLV]) e (2) o grupo dos lentivírus ("vírus lentos"), que inclui o
vírus da imunodeficiência humana (HIV) e alguns patógenos de São vírus envelopados com um nucleocapsídeo helicoidal e
animais (p. ex., o vírus visna). Um terceiro grupo, os espumaví- RNA de fita simples, polaridade negativa, circular, dividido em
rus, é descrito no Capítulo 46. três segmentos. Alguns buniavírus contêm RNA ambissenso em
seu genoma (ver Arenavírus, anteriormente). O termo bunia
Ortomixovírus refere-se ao protótipo, o vírus Bunyamwera, que foi nomeado
Esses vírus (mixovírus) são envelopados, com um capsídeo heli- pelo local onde foi isolado na África. Esses vírus causam ence-
coidal e oito segmentos de RNA de fita simples, polaridade nega- falite e várias febres, como a febre hemorrágica da Coreia. Os
tiva, lineares. O termo mixo refere-se à afinidade desses vírus por hantavírus e o vírus Sin Nombre (ver Capítulo 46) são membros
mucinas, e orto foi adicionado para distingui-los dos paramixoví- dessa família.
rus. O vírus influenza é o principal patógeno humano.
Deltavírus {sem classificação em Família -
Paramixovírus Deltavirus corresponde ao gênero)
São vírus envelopados com nucleocapsídeo helicoidal e RNA de O vírus da hepatite delta (HDV) é o único membro desse gênero.
fita simples, polaridade negativa, não segmentado, linear. Os pa- Ele é um vírus envelopado com um genoma de RNA covalen-
tógenos humanos importantes são os vírus do sarampo, caxum- temente fechado em círculo que é fita simples, senso negativo.
ba, da parainfluenza e sincicial respiratório. A simetria do nucleocapsídeo é incerta. Ele é um vírus defectivo
porque não possui a habilidade de se multiplicar, a não ser que o
Rabdovírus vírus da hepatite B (HBV) esteja presente dentro da mesma célu-
São vírus envelopados em forma de bala com um nucleocapsídeo la. O HBV é necessário porque ele codifica o antígeno de super-
helicoidal e RNA de fita simples, polaridade negativa, não seg- fície da hepatite B (HBsAg), que é parte do envoltório externo do
246 PARTE Ili Virologia Básica

HDV. O genoma de RNA do HDV codifica apenas uma proteína,


a proteína interna do cerne, chamada de antígeno delta.* • Os picornavírus, calicivírus e reovírus são vírus de RNA sem um
envelope, enquanto todas as outras famílias de vírus de RNA
possuem um envelope. Os reovírus possuem RNA dupla-fita;
todas as outras famílias de vírus de RNA possuem RNA de fita
simples. Os reovírus e vírus influenza possuem RNA segmenta-
CONCEITOS-CHAVE do; todas as outras famílias de vírus de RNA possuem RNA não
segmentado. Os picornavírus, calicivírus, flavivírus, togavírus,
• A classificação dos vírus é baseada principalmente na natureza retrovírus e coronavírus possuem RNA de polaridade positiva,
do genoma e se o vírus possui um envelope. enquanto todas as outras famílias possuem RNA de polaridade
• Os poxvírus, herpes-vírus e hepadnavírus são vírus de DNA negativa.
envelopados, enquanto os adenovírus, poliomavírus, papilo-
mavírus e parvovírus são vírus de DNA sem um envelope (i.e.,
eles são vírus com nucleocapsídeo nu). Os parvovírus possuem
DNA de fita simples, enquanto todas as outras famílias de vírus QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
de DNA possuem DNA dupla-fita. O DNA dos hepadnavírus
(vírus da hepatite B) é, em sua maioria, dupla-fita, mas possui Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
uma região de fita simples. contradas na seção de Virologia Básica da Parte XIII: Questões
para Autoavaliação, a partir da página 700. Consulte também a
Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
na 731.

*N. de R.T. Essa informação está incorreta. Os deltavírus codificam mais


uma proteína: sua RNA-polimerase viral.
CAPÍTU L O

Pato gênese 32
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Infecções virais persistentes


A célula infectada Infecções em po,tado,es crônicos
O paciente infectado Infecções latentes
T,ansmissão e po,ta de entrada Infecções por vfrus lentos
Infecções localizadas ou disseminadas Conceitos·chave
Patogénese e imunopatogênes.e Aplique seu conhecimento
Virulência Questões para autoavaliação
Evasão das defesas do hospedeiro

INTRODUÇÃO Negri, que são indusões citoplasmáticas eosinófilas encontradas


em neurônios cerebrais infectados com o virus da raiva. Outro
A capacidade dos vfrus de causar doença pode ser ana1isada sob importante exemp)o é a inclusão do tipo olho de coruja, vista no
dois níveis distintos: (1) as mudanças que ocorrem no interior núdeo de células infectadas pe)o citomega1ovírus. Micrografias
de céJulas individuais, e (2) o proc.esso que ocorre no paciente e)etrônicas de corpúscu)os de indusão podem também auxiJiar
i1úectado. no diagnóstico quando partículas virais de morfologias típicas
são visualizadas.
A fusão de células infectadas por virus produz células gigan-
A dLULA INFECTADA tes multlnucle.adas, que caracteristicamente se formam após in-
Existem quatro principais efeitos de uma infecção vira1 em uma fecções por herpes•vírus e paramixovirus. A fusão ocorre como
célula: (1) morte, (2) fusão das células para formar uma célula resu1tado de mudanç.as na membrana celular. provavelmente
multinudeada, (3) transformação ma1igna, e (4) nenhuma mu- causadas pela inserção de proteínas virais na membrana. O diag-
dança morfológica ou funciona) aparente. nóstico d ín.ico de i1úecções de pele por herpes-virus é auxiJiado
A morte da célu)a prnvavelmente ocorre devido à in ibição pelo encontro de célu1as gigantes mu1tinudeadas com indusões
da síntese de. macromoléc.ulas. A inibição da síntese de prote(~ intranudeares eosinofllicas em raspados de pe)e.
nas ce)ulares do hospedeiro frequentemente ocorre primeiro e Uma característica de infecções virais em uma cé)ula é o efei•
é pwv,we1mente o efeito mais importante. A inibição da síntese to dtopático (ECP). Essa mudança na aparência da célula infec.
de ONA e RNA pode ser um efeito sec.undário. t importante tada Jlormalmente começa com arredondamento e escurecimento
observar que a s(11tese. de proteinas celulares é inibida, mas a da célula, culminando em lise (desintegração) ou formação de cé-
síntese de. protelnas virais ainda ocorre. Por exemplo, os polio- Julas gigaJltes. Adetecção de vírus em espécimes cHnicos frequeJl-
v(rus i11ativam um fator de. iniciação (IF) necessário para que temente é baseada no aparecimento de ECP em cultivo celular.
o mRNA ce)ular seja traduzido em proteínas celulares, mas os Além disso, o ECP é a base para o ensaio de placa. um método
mRNAs dos poJiov(rus possuem um local particular de.Jigação importante para quantificação de.vírus em uma amostra.
ao ribossomo que os permitem ignorar o IF e. ainda assim, sin- A i1úecção por certos vírus causa transformação maligna.
tetizar proteínas virais. que é caracteriuda por crescimento descontrolado. sobrevivên-
Célu1as infectadas frequentemente apresentam corpúsculos cia pro)ongada e mudanças morfológicas. como áreas focais de
de inclusão, que são âreas distintas que contêm proteinas virais cé)ulas arredondadas e empilhadas. Essas mudanças são descritas
ou partículas virais. E)es possuem localização intranudeat ou in• detalhadamente no Capítulo 43.
tracitoplasmática característica, e sua aparência depende do tipo A infecção de células acompanhada de produção virai pode
de v(rus. Um dos melhores exemplos de corpúsculos de inclusão ocorrer sem mudanças morfo)ógicas ou mudanç.as funcionais in•
que podem auxiliar no diagnóstico clínico são os corpúsculos de tensas. Essa observação destaca a grande variação na natureza da
248 PARTE Ili Virologia Básica

interação entre o vírus e a célula, variando da destruição rápida da tratos respiratórios superior e inferior. Os vírus respiratórios pos-
célula até um relacionamento simbiótico no qual a célula sobre- suem um período de incubação curto, uma vez que se replicam
vive e multiplica-se, independentemente da replicação do vírus. diretamente na mucosa, mas infecções sistêmicas como poliomie-
lite e sarampo, possuem períodos de incubação longos, uma vez
que há necessidade de viremia e locais secundários de replicação.
O PACIENTE INFECTADO Uma das infecções virais sistêmicas melhor conhecidas é a
poliomielite paralítica (Figura 32-1). Após a ingestão do polioví-
A patogênese no paciente infectado envolve ( 1) transmissão
rus, este infecta e multiplica-se no interior de células do intestino
do vírus e sua entrada no hospedeiro; (2) replicação do vírus e
delgado e, então, se dissemina para os linfonodos mesentéricos,
dano às células; (3) disseminação do vírus para outras células e
onde se multiplica novamente. Desse modo, ele entra na corren-
órgãos; (4) a resposta imune, tanto como uma defesa do hospe-
te sanguínea e é transmitido para certos órgãos internos, onde
deiro quanto como uma causa que contribui para certas doenças;
se multiplica mais uma vez. O vírus reentra na corrente sanguí-
e (5) persistência do vírus em algumas situações.
nea e é transmitido para o sistema nervoso central, onde causa
Os estágios de uma infecção virai típica são os mesmos des-
dano às células do corno anterior da medula espinal, resultando
critos para uma infecção bacteriana no Capítulo 7, isto é, um pe-
na paralisia muscular característica. É durante essa viremia obri-
ríodo de incubação durante o qual o paciente é assintomático,
gatória que anticorpos IgG circulantes induzidos pela vacina da
um período prodrômico durante o qual ocorrem sintomas não
pólio podem evitar que o vírus infecte o sistema nervoso central.
específicos, um período específico da doença durante o qual
A replicação virai no trato gastrintestinal resulta na presença de
ocorrem sintomas e sinais característicos, e um período de recu-
poliovírus nas fezes, perpetuando sua transmissão para outros.
peração durante o qual a doença diminui e o paciente recupera
Algumas infecções virais disseminam-se sistemicamente
sua saúde. Em alguns pacientes, a infecção persiste e um estado
não por meio da corrente sanguínea, mas sim por fluxo axonal
carreador crônico ou uma infecção latente ocorre (ver a seguir).
retrógrado no interior de neurônios. Quatro patógenos humanos
importantes executam essa função: vírus da raiva, herpes-vírus
Transmissão e porta de entrada simples do tipo 1, herpes-vírus simples 2 e vírus varicela-zóster.
Os vírus são transmitidos para um indivíduo por várias rotas Como exemplo, o vírus da raiva é introduzido no corpo pelo lo-
diferentes, e suas portas de entrada são variadas (Tabela 32-1). cal de mordida de um animal. O vírus infecta neurônios sensores
Por exemplo, disseminação pessoa a pessoa ocorre pela transfe- locais e ascende para o sistema nervoso central por fluxo axonal
rência de secreções respiratórias, saliva, sangue ou sêmen e pela retrógrado, onde ele pode causar encefalite.
contaminação fecal de água e de alimentos. A transferência de Alguns dos determinantes moleculares da patogênese fo-
sangue, tanto por transfusão quanto pelo compartilhamento de ram determinados pelo uso de infecções de reovírus em camun-
agulhas durante uso de drogas intravenosas, pode transmitir vá- dongos como modelo de estudo. Esse vírus possui três diferen-
rios vírus (e bactérias). O rastreamento no sangue doado para o tes proteínas externas de capsídeo, cada uma com uma função
vírus da imunodeficiência humana, vírus linfotrófico de células T distinta em determinar o curso da infecção. Uma das proteínas
humanas, vírus da hepatite B, vírus da hepatite C e vírus do Oeste liga-se a receptores específicos na superfície celular e, dessa for-
do Nilo (assim como para Treponema pallidum) reduziu conside- ma, determina tropismo por tecidos. A segunda proteína confere
ravelmente o risco de infecção por esses patógenos. resistência a enzimas proteolíticas do trato gastrintestinal e age
A transmissão também pode ocorrer entre mãe e filho no como o antígeno que estimula a resposta imune celular. A tercei-
útero por meio da placenta, no momento do nascimento ou du- ra proteína inibe a síntese de RNA e proteínas celulares, levando à
rante a amamentação (Tabela 32-2). (A transmissão entre mãe e morte da célula. Alternativamente, essa terceira proteína pode ter
filho é denominada transmissão vertical. Transmissão de pessoa um papel significativo no início de infecções virais persistentes.
a pessoa, que não seja de mãe para filho, é denominada trans-
missão horizontal.) Patogênese e imunopatogênese
A transmissão de animais para seres humanos pode ocor-
Os sinais e sintomas da maioria das doenças virais indubitavel-
rer tanto diretamente pela mordida de um hospedeiro reserva-
mente são o resultado da morte de células pela inibição da síntese
tório, como na raiva, quanto indiretamente por meio da picada
macromolecular induzida por vírus. A morte das células infec-
de um inseto-vetor, como um mosquito, que transfere o vírus de
tadas por vírus resulta em perda de função e nos sintomas da
um reservatório animal para uma pessoa. As doenças zoonóticas
doença. Por exemplo, quando o poliovírus mata neurônios moto-
causadas por vírus são descritas na Tabela 32-3. Além disso, a
res, o resultado é paralisia dos músculos inervados por esses neu-
ativação de um vírus latente não replicativo, resultando em um
rônios. Semelhantemente, a hemorragia causada pelo vírus Ebola
vírus ativo e replicante, pode ocorrer no interior do indivíduo,
é devida aos danos às células endoteliais vasculares causados pela
sem nenhuma fonte externa de transmissão.
glicoproteína de envelope do vírus.
Entretanto, existem algumas doenças que não são ocasiona-
Infecções localizadas ou disseminadas das pelos danos ou pela destruição causados pelo vírus em células
A maior parte das infecções virais pode ser localizada na porta infectadas. Por exemplo, a diarreia induzida por rotavírus é causa-
de entrada ou disseminada sistemicamente pelo corpo. O melhor da principalmente pela estimulação do sistema nervoso entérico.
exemplo de uma infecção localizada é o resfriado comum causa- Acredita-se que enterócitos infectados por rotavírus produzam
do por rinovírus, que envolve apenas o trato respiratório superior. citocinas que estimulam os neurônios entéricos, resultando em
Já a gripe, causada pelo vírus influenza, afeta principalmente os excesso de fluido e secreção eletrolítica no lúmen do intestino.
CAPÍTULO 32 Patogênese 249

TABELA 32-1 Principais portas de entrada de patógenos virais importantes

Porta de entrada Vírus Doença


1
Trato respiratório Vírus influenza Gripe
Rinovírus Resfriado comum
Vírus sincicial respiratório Bronquiolite
Vírus Epstein-Barr Mononucleose infecciosa
Vírus da varicela-zóster Catapora
Herpes-vírus simples 1 Herpes labial
Citomegalovírus Síndrome da mononucleose
Vírus do sarampo Sarampo
Vírus da caxumba Caxumba
Vírus da rubéola Rubéola
Hantavírus Pneumonia
Adenovírus Pneumonia
Parvovírus 819 Síndrome da bochecha esbofeteada
2
Trato gastrintestinal Vírus da hepatite A Hepatite A
Pol iovírus Poliomielite
Rotavírus Diarreia

Pele Vírus da raiva3 Raiva


3
Vírus da febre amarela Febre amarela
3
Vírus do dengue Dengue
Papilomavírus humano Papilomas (verrugas)

Trato genital Papilomavírus humano Papilomas (verrugas)


Vírus da hepatite B Hepatite B
Vírus da imunodeficiência humana Síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids)
Herpes-vírus simples 2 Herpes genital e herpes neonatal

Sangue Vírus da hepatite B Hepatite B


Vírus da hepatite C Hepatite c
Vírus da hepatite D Hepatite D
Vírus linfotrófico de célulasT humanas Leucemia
Vírus da imunodeficiência humana Aids
Citomegalovírus Síndrome da mononucleose ou pneumonia

Transplacentário Citomegalovírus Anormalidades congênitas


Rubéola Anormalidades congênitas
Parvovírus B19 Hidropsia fetal
1
Na maiori a dos casos, a transmissão desses vírus ocorre por aerossóis respiratórios ou saliva.
2
Na maioria dos casos, a transmissão desses vírus ocorre pela via fecal-oral por meio de alimentos ou água contaminados.
3
Na maiori a dos casos, a transmissão desses vírus ocorre pela mordida de um animal infectado.

Existem outras doenças nas quais a morte celular por ataque (2) Células T citotóxicas estão envolvidas na patogênese da
imune possui um papel importante na patogênese. Tanto células hepatite causada pelos vírus da hepatite A, B e C. Esses vírus não
T citotóxicas quanto anticorpos possuem um papel considerável causam ECP, e o dano ao hepatócito é resultante do reconheci-
na imunopatogênese. mento de antígenos virais na superfície dessas células por células
(1) O sistema melhor estudado é o da coriomeningite linfo- T citotóxicas. As erupções cutâneas do sarampo são similarmente
citária (LCM) em camundongos; a LCM ocorre em seres huma- causadas por essas células, que atacam o endotélio vascular infec-
nos também, mas é muito rara. Quando o vírus da LCM é ino- tado na pele.
culado no encéfalo de camundongos adultos, a replicação viral (3) A patogênese imunomediada também ocorre quando
ocorre seguida de morte. Entretanto, quando o vírus da LCM é complexos vírus-anticorpo-complemento se formam e se depo-
inoculado no encéfalo de um camundongo adulto imunossupri- sitam em vários tecidos. Isso ocorre nas infecções pelo vírus da
mido ou de um camundongo recém-nascido, o animal permane- hepatite B, nas quais imunocomplexos exercem um papel impor-
ce bem, apesar da extensiva replicação viral. Quando linfócitos tante na produção da artrite característica dos estágios precoces
imunes são inoculados nesses animais infectados, porém saudá- da hepatite B. Os imunocomplexos também causam a artrite
veis, a morte ocorre. Parece que a morte das células é causada por observada em infecções por parvovírus Bl9 e vírus da rubéola.
ataque imune das células T citotóxicas aos novos antígenos virais A patogênese da pneumonia causada pelo vírus sincicial respi-
presentes na membrana celular, em vez de ser via inibição das ratório em crianças é atribuída a imunocomplexos formados por
funções celulares mediada por vírus. IgG maternos e antígenos virais.
250 PARTE Ili Virologia Básica

TABELA 32-2 Vírus que comumente causam infecções Dia Intestino delgado:
perinatais Invasão

n
o # Multiplicação
Tipo de transmissão Vírus
1
Transplacentária Citomegalovírus 1 Linfonodos mesentéricos:
Parvovírus B19 Multiplicação
Vírus da rubéola
1
2 2 Corrente sangu ínea:
Na hora do nasciment o Vírus da hepatite B
Vírus da hepatite C Viremia primária
Herpes-vírus simples 2
3 3 1
Vírus da imunodeficiência humana Foco central de
Papilomavírus humano multiplicação (fígado, baço)
4 1
Amamentação Citomegalovírus Corrente sangu ínea:
Vírus linfotrófico de célulasT humanas Viremia secundária
1
Pode-se observar que exist em bactérias importantes, como Treponema pallidum 5 1
e Listeria monocytogenes, e um protozoário import ante, Toxoplasma gondii, que Aparecimento inicial de anticorpos
também são transmitidos t ransplacentalmente. 1
2
Pode-se observar q ue existem bactérias importantes, como Neisseria
6 SNC:
gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis e estreptococos do grupo B, que também
são t ransm itidas na hora do nascimento. Invasão e
3
0 vírus da im unodeficiência humana também é t ransmitido por meio da pla- multiplicação,
centa e pelo aleitament o materno. 7 resultando em
meningoencefalite

Virulência 8

Linhagens de vírus variam muito na sua capacidade de causar


doença. Por exemplo, existem linhagens de poliovírus que muta- 9
ram suficientemente para terem perdido a capacidade de causar
pólio em indivíduos imunocompetentes (i.e., elas são atenua-
das). Essas linhagens são usadas nas vacinas. Os genes virais que 10 - - - - - - - - - Altos níveis de
anticorpos no soro
controlam a virulência desses vírus são pouco caracterizados, e o
processo de virulência é pouco conhecido. 11 Paralisia causada por morte
de neurônios motores
Evasão das defesas do hospedeiro
12 Excreção nas fezes
Os vírus apresentam diversas formas de escapar das defesas do
hospedeiro (Tabela 32-4). Esses processos são normalmente de- FIGURA 32-1 Infecção v irai sistêmica por poliovírus, resultando em
nominados imunoevasão. Alguns vírus codificam receptores poliomielite paralítica. (Modificada e reprod uzida, com permissão, de Brooks
para vários mediadores de imunidade como interleucina 1 (IL-1) GF et ai. Medical Microbiology. 20t h ed. Publicada originalmente por Applet on &
Lange. Copyright 1995 por McGraw-Hill.)
e fator de necrose tumoral (TNF). Por exemplo, o vírus vaccí-
nia codifica uma proteína que se liga à IL-1, e o vírus fibroma
codifica uma proteína que se liga ao TNF. Quando liberadas da bloquearem a replicação viral (ver Capítulo 33). O CMV codifica
célula infectada por vírus, essas proteínas ligam-se aos imunome- um microRNA que se liga ao mRNA codificador de um ligante
diadores e bloqueiam sua capacidade de interagir com receptores de superfície das células natural killer. A ligação do microRNA
em seus alvos corretos, as células imunes que medeiam as defesas
impede a síntese do ligante, o que previne a eliminação da célu-
do hospedeiro contra infecções virais. Reduzindo as defesas do la infectada pelo CMV por células natural killer. O vírus Ebola
hospedeiro, a virulência do vírus é aumentada. Essas proteínas
do sarampo bloqueia a síntese de IL- 12, reduzindo uma resposta
codificadas por vírus que bloqueiam imunomediadores do hos- Th-1 efetiva. O vírus Ebola ebola sintetiza duas proteínas, uma
pedeiro são geralmente chamadas de receptores isca.
das quais bloqueia a indução de interferons, ao passo que a outra
Além disso, alguns vírus (p. ex., vírus da imunodeficiência
bloqueia sua ação. Coletivamente, esses fatores virais são chama-
humana [HIV] e herpes-vírus como o herpes-vírus simples e o
dos de virocinas.*
citomegalovírus [CMV]) são capazes de reduzir a expressão de
proteínas do MHC (complexo principal de histocompatibilida-
*N. de T. Na verdade, a classificação desses elementos de escape imune é
de) de classe I, dessa forma reduzindo a habilidade de células T
mais complexa. Virocinas são proteínas codificadas pelos vírus que mi-
citotóxicas de matar células infectadas por vírus. Outros vírus
metizam a ação de citocinas; viroceptores são proteínas virais que funcio-
(p. ex., herpes-vírus simples) são capazes de inibir a ação do nam como receptores solúveis de citocinas e quimiocinas; e proteínas de
complemento. Vários vírus (HIV, vírus Epstein-Barr e adenoví- virocamuflagem são proteínas virais que impedem que o sistema imune
rus) sintetizam RNAs que bloqueiam a fosforilação de um fator identifique células infectadas pelos vírus (p. ex., diminuindo a expressão
de iniciação (eIF-2), o que reduz a capacidade de os interferons deMHC).
CAPÍTULO 32 Patogênese 251

TABELA 32-3 Vírus de importância médica que possuem um reservatório animal

Vírus Reservatório animal Modo de transmissão Doença

Vírus da raiva Nos Estados Unidos, gambás, gua- Normalmente, mordida do animal Raiva
xinins e morcegos; em países infectado; também por aerossol
em desenvolvimento, cães da saliva do morcego
1
Hantavírus Peromyscus Aerossol ou excretas secas Síndrome pulmonar por
hantavírus (pneumonia)

Vírus da febre amarela Macacos Picada do mosquitoAedes* Febre amarela

Vírus do dengue Macacos Picada do mosquito Aedes Dengue

Vírus de encefalites2 Aves selvagens (p. ex., andorinhas) Picadas de vários mosquitos Encefalite

Coronavírus SARS3 Viverrídeos Gotas de aerossol SARS

Vírus da gripe aviá ria (HSN 1) Galinhas e outras aves domésticas Gotas de aerossol, guano Gripe aviária

'O vírus Sin Nombre é o hantavírus mais importante nos Estados Unidos.
2
Vírus de encefalite importantes nos Estados Unidos incluem os vírus da encefalite equina oriental e ocidental, vírus do Oeste do Nilo e vírus da encefalite Saint Louis.
3
SARS, sínd rome respiratória aguda grave.
* N. de T. No ambiente periurbano, rural ou silvestre, o vírus da febre amarela pode ser t ransmitido por mosquitos de outros gêneros, como é o caso do gênero
Haemagogus, na América do Sul.

Uma terceira forma importante pela qual os vírus evadem influenza são atribuídas à emergência de novos tipos antigênicos.
as defesas do hospedeiro é pela exibição de tipos antigênicos O HIV e o vírus da hepatite C possuem múltiplos sorotipos, o que
múltiplos (também conhecidos como sorotipos múltiplos). A im- contribui para a dificuldade em se obter uma vacina contra esses
portância clínica de um vírus possuir múltiplos sorotipos é que vírus. Observa-se que apenas alguns vírus possuem múltiplos so-
um paciente pode ser infectado com um sorotipo, recuperar-se e rotipos. Muitos patógenos humanos importantes (p. ex., vírus do
apresentar anticorpos que o protegerão de infecções por esse so- sarampo, vírus da rubéola, vírus da varicela-zóster e vírus da rai-
rotipo no futuro; entretanto, essa pessoa ainda pode ser infectada va) possuem apenas um sorotipo, e alguns possuem apenas pou-
por outro sorotipo daquele vírus. O exemplo clássico de um vírus cos sorotipos (p. ex., o poliovírus possui três sorotipos).
com múltiplos sorotipos são os rinovírus, que apresentam mais de
100 sorotipos. Essa é a razão pela qual o "resfriado comum'' cau- Infecções virais persistentes
sado pelos rinovírus é tão frequente. O vírus influenza também Na maioria das infecções virais, o vírus não permanece no cor-
apresenta múltiplos sorotipos, e as graves epidemias globais de po por um período significativo após a recuperação clínica.

TABELA 32-4 Mecanismos importantes por meio dos quais os vírus escapam das defesas do hospedeiro

Defesa do hospedeiro Vírus que utiliza esse


envolvida Mecanismo de eKape mecanismo

Células T citotóxicas Redução da quantidade de proteínas de MHC de classe 1, diminuindo a ativi- HIV, HSV, CMV, adenovírus
dade de células T citotóxicas

Células T auxiliares (Th-1) Bloqueio de IL-12, o que reduz a formação de células Th-1 e diminui a res- Vírus do sarampo
posta imune celular

lnterferon Bloqueio da síntese de interferon pelas células infectadas pelo vírus EBV

lnterferon Bloqueio da síntese da cinase que fosforila o fator de iniciação-2 HIV, influenza e HSV

1nterleuci nas Produção de receptores para imunomediadores; receptores são secretados Vírus vaccínia codifica receptor
das células infectadas, se ligam aos mediadores e os inativam para IL-1

Quimiocinas Produção de proteínas que se ligam a quimiocinas; essas proteínas blo- Vírus vaccínia
queiam a ação das quimiocinas e inibem a migração de células inflamató-
rias para o local de infecção

Complemento Produção de proteínas que se ligam à proteína do complemento C3b; isso HSV
bloqueia a ação opsonizante de C3b, assim como sua habilidade de parti-
cipar na formação do complexo de ataque à membrana

CMV, citomegalovírus; EBV, vírus Epstein-Barr; HIV, vírus da imunodeficiência humana; HSV, herpes-vírus simples; IL, interl eucina.
252 PARTE Ili Virologia Básica

Entretanto, em certas situações, o vírus permanece por longos acompanhados de produção viral. Em infecções por herpes-vírus
períodos, intacto ou na forma de um componente subviral (p. ex., simples, o vírus entra no estado latente nas células dos gânglios
genoma). Os mecanismos que podem contribuir para a persis- sensoriais. A natureza molecular do estado de latência é desco-
tência dos vírus incluem (1) integração de um DNA pró-viral no nhecida. O herpes-vírus simples 1, que causa infecções princi-
DNA da célula hospedeira, como ocorre com os retrovírus; (2) palmente nos olhos e na face, torna-se latente no gânglio trigê-
imunotolerância, uma vez que anticorpos neutralizantes não são meo, ao passo que o herpes-vírus simples 2, que causa infecções
formados; (3) formação de complexos vírus-anticorpos, que per- principalmente nos órgãos genitais, torna-se latente nos gânglios
manecem infecciosos; (4) localização dentro de um "santuário" lombares e sacral. O vírus varicela-zóster, outro membro da fa-
protegido imunologicamente (p. ex., o encéfalo); (5) variação mília dos herpes-vírus, causa varicela (catapora) como sua ma-
antigênica rápida; (6) disseminação célula a célula sem uma fase nifestação inicial e, então, permanece latente, principalmente em
extracelular, de forma que o vírus não é exposto a anticorpos; e células dos gânglios trigêmeos ou torácicos. Ele pode reaparecer
(7) imunossupressão, como na Aids. na forma de vesículas dolorosas de zóster (cobreiros), normal-
Existem três tipos de infecções virais persistentes de impor- mente na face ou no tronco.
tância clínica. Elas são distinguidas principalmente por se o vírus
é normalmente produzido pelas células infectadas e pelo tempo Infecções por vírus lentos
de aparecimento tanto do vírus quanto dos sintomas da doença.
O termo lento refere-se ao período prolongado entre a infecção
Infecções em portadores crônicos inicial e o início da doença, que é normalmente medido em anos.
Em situações em que a causa foi identificada, o vírus mostrou
Alguns pacientes infectados com certos vírus continuam produ- ter um ciclo de crescimento normal, e não prolongado. Todavia,
zindo quantidades significativas do vírus por períodos longos. não significa que o crescimento do vírus seja lento, mas sim, que
Este estado de portador pode se seguir tanto a uma infecção o período de incubação e a progressão da doença são prolonga-
assintomática quanto à doença real. O próprio estado de porta- dos. Duas dessas doenças são causadas por vírus convencionais,
dor pode tanto ser assintomático quanto resultar em uma doença a panencefalite esclerosante subaguda, que se segue vários anos
crônica. Exemplos clínicos importantes são as hepatites crônicas, após infecções por vírus do sarampo, e leucoencefalopatia mul-
que ocorrem em portadores dos vírus da hepatite B ou hepati- tifocal progressiva (PML, progressive multifocal leukoencephalo-
te C, e infecções neonatais com o vírus da rubéola ou citomega- pathy), causada pelo poliomavírus JC, um papovavírus. A PML
lovírus, nas quais os portadores podem produzir vírus por anos. ocorre principalmente em pacientes que apresentam linfomas
ou são imunossuprimidos. Outras infecções lentas em seres hu-
Infecções latentes manos (p. ex., doença de Creutzfeldt-Jakob e kuru) podem ser
Nessas infecções, melhores ilustradas pelo grupo dos herpes- causadas por agentes não convencionais, chamados de príons
-vírus, o paciente recupera-se de uma infecção inicial e a produ- (ver Capítulo 28). As infecções virais lentas são descritas no
ção viral cessa. Subsequentemente, os sintomas podem recorrer, Capítulo 44.

CONCEITOS-CHAVE

A célula infectada • A transformação maligna ocorre quando células são infectadas


por vírus o ncogênicos. Células transformadas são capazes de
• A morte de células infectadas é provavelmente causada pela ini-
crescer sem restrições.
bição da síntese proteica celular. A tradução do mRNA v irai em
proteínas v irais impede que os ribossomos sintetizem proteínas • Algumas células infectadas por vírus parecem v isual e funcional-
mente normais, mas produzem grandes quantidades de progê-
celulares.
nie virai.
• Corpúsculos de inclusão são agregados de vírions em locais
específicos da célula que são úteis para d iagnóstico laboratorial.
O paciente infectado
Dois exemplos importantes são os corpúsculos de Negri, no ci-
• Uma infecção v irai em uma pessoa apresenta, normalmente, qua-
toplasma de células infectadas pelo vírus da raiva, e inclusões
tro estágios: período de incubação, período prodrômico, período
do tipo olho de coruja, no núcleo de células infectadas por ci-
específico da doença e período de recuperação.
tomegalovírus.
• As principais portas de entrada são os tratos respiratório, gastrin-
• Células g igantes multinucleadas formam-se quando células são testinal e genital, mas infecções na pele, da placenta e pelo san-
infectadas por alguns vírus, principalmente herpes-vírus e para- gue são igualmente importantes.
mixovírus, como o vírus sincicial respiratório.
• A transmissão de mãe para o filho é chamada de transmissão
• O efeito citopático (ECP) é uma mudança visual ou funcional em vertical; todos os outros modos de transmissão (p. ex., fecal-
células infectadas, normalmente associado à morte das células. -oral, aerossol respiratório, picada de inseto) são transmissões
CAPÍTULO 32 Patogênese 253

horizontais. Uma transmissão pode ser de ser humano para ser • Os vírus podem evad ir as defesas do hospedeiro pela produção
humano ou de um animal para um ser humano. de múltiplos antígenos, impedindo inativação por anticorpos, e
• As infecções virais mais graves são sistêmicas (i.e., o vírus viaja de pela redução da síntese de proteínas de MHC de classe 1, dimi-
uma porta de entrada via sangue para vários órgãos). Entretanto, nuindo a capacidade de uma célula apresentar antígenos virais e
algumas são localizadas na porta de entrada, como a gripe co- evitando a capacidade de células T citotóxicas de matar células
mum, que envolve apenas o trato respiratório superior. infectadas por vírus. Os vírus também produzem receptores para
imunomediadores, como IL-1 e TNF, evitando a capacidade des-
Patogênese ses mediadores de ativar processos antivirais.

• Os sintomas das infecções virais são normalmente causados pela


morte de células infectadas e uma consequente perda de Infecções virais persistentes
função. Por exemplo, os poliovírus matam neurônios, resultando • O estado portador refere-se a pessoas que produzem vírus por
em paralisia. longos períodos de tempo e podem servir como fonte de infec-
• A imunopatogênese é o processo pelo qual os sintomas de uma ção para outros. O estado portador frequentemente associado a
doença v irai são causados pelo sistema imune, em vez da morte infecções pelo vírus da hepatite C é um exemplo de importância
de células pelo vírus. Um t ipo de imunopatogênese é a morte médica.
de células infectadas pelo vírus por ataque de linfócitos T ci-
• Infecções latentes são infecções que não estão produzindo vírus
totóxicos que reconhecem antígenos virais na superfície celular.
em um determinado momento, mas podem ser reativadas em
Os danos ao fígado relacionados aos vírus que causam hepatites
um tempo subsequente. As infecções latentes frequentemente
ocorrem por esse mecanismo. Outro mecanismo é a formação
associadas a infecções por herpes-vírus simples são um exemplo
de complexos vírus-anticorpos que são depositados em teci-
dos. A artrite associada a infecções por parvovírus 819 ou vírus de importância médica.
da rubéola ocorre por esse mecanismo. • Infecções virais lentas referem-se às doenças com um longo
• A virulência de vírus difere significativamente de um vírus para período de incubação, normalmente medido em anos. Algumas,
outro e entre linhagens diferentes do mesmo vírus. A base gené- como a leucoencefalopatia multifocal progressiva, são causadas
tica para essas diferenças não é bem conhecida. Linhagens com por vírus, ao passo que outras, como a doença de Creutzfeldt-
virulência enfraquecida (aten uada) são normalmente usadas Jakob, são causadas por príons. O encéfalo é frequentemente o
como vacinas. local principal dessas doenças.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 4. Alguns vírus são conhecidos pela sua capacidade de causar infec-
ções perinatais. Qual dos seguintes vírus tem mais chance de causar
1. Os vírus podem causar mudanças em células individuais visíveis infecções perinatais?
no microscópio óptico após coloração adequada. Qual das seguin- (A) Citomegalovírus.
tes opções apresenta a mudança mais característica observada em (B) Vírus Epstein-Barr.
células infectadas pelo vírus da raiva? ( C) Poliomavírus JC.
(A) Corpúsculos de inclusão no citoplasma de macrófagos. (D) Norovírus.
(B) Corpúsculos de inclusão no citoplasma de neurônios. (E) Poliovírus.
(C) Corpúsculos de inclusão no núcleo de neurônios.
5. Qual dos seguintes vírus causadores de doença em seres humanos
(D) Células gigantes multinucleadas compostas por neurônios.
possui um reservatório animal?
(E) Células gigantes multinucleadas compostas por macrófagos.
(A) Citomegalovírus.
2. Muitos vírus usam o trato respiratório superior (boca, faringe)
(B) Vírus da hepatite C.
como sua importante porta de entrada. Uma característica da porta ( C) Vírus da varíola.
de entrada é ser o local onde o vírus inicialmente infecta e se replica. (D) Vírus varicela-zóster.
Qual dos seguintes vírus é mais provável de entrar via trato respira- (E) Vírus da febre amarela.
tório superior?
6. Qual das seguintes opções melhor descreve o mecanismo pelo qual
(A) Vírus da dengue.
a imunopatogênese ocorre?
(B) Vírus Epstein-Barr.
(C) Vírus da hepatite A. (A) Capacidade de os anticorpos bloquearem a patogênese dos
(D) Vírus da hepatite B. vírus.
(E) Rotavírus. (B) Capacidade de as células T citotóxicas bloquearem a patogêne-
se dos vírus.
3. O termo transmissão vertical refere-se à:
(C) Capacidade de os neutrófilos bloquearem a patogênese dos
(A) Transmissão por um inseto-vetor de um reservatório para o vírus.
paciente. (D) Capacidade de as células T citotóxicas causarem a patogênese
(B) Transmissão de uma profissional do sexo para um cliente. dos vírus.
( C) Transmissão de mãe para filho. (E) Capacidade de os eosinófilos causarem a patogênese dos vírus.
(D) Transmissão de uma criança para outra na escola.
(E) Transmissão de pessoa a pessoa dentro de uma família.
254 PARTE Ili Virologia Básica

RESPOSTAS QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


1. (B) Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
2. (B) contradas na seção de Virologia Básica da Parte XIII: Questões
3. (C) para Autoavaliação, a partir da página 700. Consulte também a
4. (A)
Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
5. (E)
na 731.
6. (D)
CA P Í T U LO

Defesas do Hospedeiro 33
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução 8. Circuncisão
Defesas não específicas 9. Fatores que modificam as defesas do hospedeiro
1. Jnterferons alfa e beta Defesas específicas
2. Células nat ural killer 1. Jmunidadeariva
3. Fagocitose 2. Imunidade passiva
4. a·Defensinas 3. Imunidade de rebanho
5. Enzima apo/ipoprorefna 8 edirora de RNA (APOBECJG) Conceitos·chave
6. Febre Aplique seu conhecimento
7. Depuração mucociíiar Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO Os interferons são divididos em três grupos base.ados na


célula de origem, que são os leuc.ócitos, fibroblastos e Jinfócitos.
As defesas do hospedeiro contra vírus dividem-se em duas gran- Eles também são conhecidos como interferoos alfa. beta e gama.
des categorias: (1) não especificas. das quais as mais importantes respectivamente. Interferons à e íi são induzidos por v(rus, ao
são os interferoits e as céJu)as natural killer; e (2) específicas, in- passo que o interferon y (célula T. imune) é induzido por antige.
duindo imunidade humoral e imunidade ce)ular. Os interferons nos e é um dos efetores da imunidade ceJu)ar (ver Capítulo 58).
coitstituem uma precoc.e primeira linha de defesa, ao passo que Adiscussão a seguir sobre os interferons à e íi destaca a indução
a imunidade humoral e a imunidade ce)ular são efetivas apenas e ação de sua atividade.antivira) (Figura 33.1).
posteriormente, pois são necessários vários dias para induzir os
lados humoral e celular da resposta imune. Indução de lnterferons alfa e beta
Uma descrição sobre como os v{rus escapam das defesas do
hospedeiro se encontra no Capítulo 32. Os indutores mais fortes desses interferons são vírus e RNAs de
dupla-flta. A indução não é específica para um ,1rus em particu.
)ar. Muitos vírus de ONA e RNA são indutores competentes. em.
DEFESAS NÃO ESPEclFICAS hora eles difiram em sua eficiência. A descoberta de que o RNA
de dupla.fita, mas não RNA de fita simples ou DNA, é um bom
1. lnterlerons alfa e beta indutor levou à hipótese de que um RNA de dupla-fita é sinteti·
zado como parte do cido replicativo de todos os vírus indutores.
Os interferons à e íi co11stituem um grupo de.proteínas produ· ORNA de dupJa.fita poH (rJ.rC) é um dos mais fortes indutores
zidas pelas células humanas"' em resposta a uma infecção virai e estava sendo considerado como um age-nte antivirai, mas efeitos
(ou após a exposição a substâncias indutoras). Eles inibem a
co)aterais tóxicos impediram seu uso clhtico, Os indutores fracos
rep1icação dos vírus mediante bloqueio da síntese de protef.
de interesse microbiológico incluem uma variedade de bactérias
nas '\'irais, e o fazem por intermédio de dois mecanismos: um
intracelulares e protozoários, assim como certas substâncias de
é por meio de uma ribonudease que degrada mRNAs. e o OU·
bactérias. como endotoxinas.
tro é por meio de uma cinase proteica que inibe a síntese de
Essa extensa Jista de indutores evidencia que a indução des.
proteínas.
ses interferons não é específica Similarmente, sua ação inibido.
ra não é específica para nenhum vfrus em particular. Entretanto.
e)es são específicos quando se considera a espécie hospedeira
•x. de T. Cabe ressaltar que não são apenas as células humanas que pro- em que. funcionam (i.e.• interferons produzidos por células hu.
duzem intcrfcrons. mas as cêlu!as de muitos animais tambêm. manas são ativos em cé)ulas humanas. mas são muito menos efe..
256 PARTE Ili Virologia Básica

Vírus

.
.~-...--~ -....
Moléculas
de interferon
,,,...--....._~
............_
Proteínas

Infecção
mRNA virai

\ >•••••·
(\\

ti?J V .
virai

A B e
FIGURA 33-1 Indução e ação dos interferons. A: Uma infecção virai induz a síntese de interferon, que, então, sai da célula infectada. B: O inter-
feron liga-se ao seu receptor na superfície de uma célula não infectada e induz a síntese de três novas enzimas cod ificadas pela célula (proteínas
antivirais). C: Um novo vírion entra na célula, porém a replicação virai é inibida pelas proteínas antivirais induzidas pelo interferon. Uma dessas
proteínas antivirais é uma ribonuclease que degrada mRNAs e outra é uma cinase proteica que fosforila um fator de iniciação, inibindo a síntese
proteica. (Modificada e reproduzida, com permissão, de Tortora G, Funk B, Case C. Microbiology: An lntroduction.Sth ed. Benjamin/Cummings; 1995.)

tivos em células de outras espécies). Fica claro, portanto, que ou- lnterferon
tros animais não podem ser utilizados como fonte de interferons Se liga à
para terapia humana. Assim, os genes para interferons humanos superfície celular
,,
foram clonados, e interferons para uso médico são agora produ-
zidos por técnicas de engenharia genética. Células não infectadas produzem
oligo A sintase, ribonuclease e
Ação dos interferons alfa e beta proteína-cinase - todos inativos

Os interferons inibem a replicação intracelular de uma ampla


variedade de vírus de DNA e RNA, mas produzem pouco efeito A infecção
virai gera
no metabolismo de células não infectadas. Essa seletividade surge
RNAdf ,,
da presença de RNA de dupla-fita em células infectadas por ví-
OligoA Ribonuclease
rus, que não estão presentes em células não infectadas. sintase
Proteína-
inativa -cinase inativa
Os interferons não apresentam nenhum efeito sobre partí- inativa
culas virais extracelulares. Os interferons agem por meio de sua
ligação a receptores na superfície celular que sinalizam para que
a célula produza três proteínas, dessa forma induzindo um "esta-
RNAdf 1 RNAdf l
do antivirai" (Figura 33-2). Essas três proteínas são produzidas Oligo A - - - - - - - ~ Proteína-
,, -cinase ativa
como precursores inativos até o momento em que são ativados
por RNAs de dupla-fita sintetizados durante a replicação viral.
Como resultado, essas proteínas são ativas em células infectadas
RNAse
ativa degrada
mRNA
1
Fosforila o fator
por vírus, mas não em células não infectadas. de elongação 2
As três proteínas celulares são ( 1) uma 2,5-oligo A sintase
que sintetiza um trinucleotídeo de adenina (2,5-oligo A), (2) uma
ribonuclease que é ativada pelo 2,5-oligo A e degrada mRNAs
l
Inibe a
virais e celulares, e (3) uma proteína-cinase que fosforila um síntese proteica
fator de iniciação (eIF-2) para a síntese proteica, inativando-o.
O resultado final é que tanto a síntese proteica viral quanto a ce-
lular são inibidas e a célula morre. Nenhum vírus é produzido ,,
por aquela célula e a dispersão do vírus é reduzida. Morte da célula
Como os interferons são produzidos em poucas horas após o infectada pelo vírus
início da replicação viral, eles podem agir nas fases precoces das FIGURA 33-2 O interferon induz um estado antivirai dentro da
doenças virais para limitar a disseminação do vírus. Por outro célula não infectada. O interferon se liga à superfície da célula não in-
lado, os anticorpos começam a surgir no sangue vários dias após fectada e induz a produção de três proteínas que permanecem inati-
a infecção. vas até que um vírus infecte aquela célula. Estas proteínas são a o ligo
O interferon alfa já foi aprovado para uso em pacientes que A sintase, a ribonuclease e a proteína cinase. Quando um vírus infecta
apresentam condiloma acuminado e hepatite crônica ativa cau- aquela célula, moléculas de RNA de dupla-fita (RNAdf) são sintetizadas
como parte do ciclo replicativo virai. O RNAdf ativa a o ligo A sintase,
sada pelos vírus da hepatite B ou C. O interferon beta é usado
que sintetiza oligo A, que, por sua vez, ativa a ribonuclease, a qual
no tratamento da esclerose múltipla. O interferon gama reduz
degrada mRNAs virais (e celulares). O RNAdf também ativa a proteí-
as infecções recorrentes em pacientes que apresentam a doença na-cinase, que fosforila o fator de elongação-2. Esse fenômeno inibe a
granulomatosa crônica (ver Capítulo 68). Os interferons são tam- síntese de proteínas, tanto virais quanto celulares. A célula morre sem
bém usados clinicamente em pacientes com cânceres, como o que haja produção de progênie virai, dessa forma limitando a d isper-
sarcoma de Kaposi e a leucemia de células pilosas. são da infecção.
CAPÍTULO 33 Defesas do Hospedeiro 257

2. Células natural killer 8. Circuncisão


Células natural killer (NK) são uma parte importante das defesas Há evidências de que a circuncisão previne a infecção por três
inatas contra células infectadas por vírus. Elas são chamadas de vírus transmitidos sexualmente: HIV, papilomavírus humano e
células "natural killer" porque são ativas sem a necessidade de herpes-vírus simples 2 (HSV-2).
serem expostas ao vírus previamente e não são específicas para
nenhum vírus. As células NK são um tipo de linfócito T, mas não 9. Fatores que modificam as defesas do
possuem um receptor para antígenos. Elas reconhecem células
hospedeiro
infectadas por vírus por meio da ausência de proteínas do MHC
(complexo principal de histocompatibilidade) de classe I na su- Vários fatores influenciam as defesas do hospedeiro de forma não
perfície das células infectadas. Elas matam células infectadas específica ou multifatorial:
por vírus por meio da secreção de perforinas e granzimas, que (1) A idade é uma variável significativa no resultado de in-
causam apoptose da célula infectada. (Ver "Células dendríticas",
fecções virais. Em geral, infecções são mais graves em neonatos
página 501, para mais informações.) e em idosos do que em crianças mais velhas e adultos jovens.
Por exemplo, influenza é mais grave em pessoas idosas do que em
3. Fagocitose jovens adultos, e infecções pelos herpes-vírus simples são mais
Os macrófagos, principalmente macrófagos fixos do sistema re- graves em neonatos do que em adultos.
ticuloendotelial e macrófagos alveolares, são os tipos celulares (2) Níveis aumentados de corticosteroides predispõem
importantes na limitação de infecções virais. Por outro lado, leu- a infecções mais graves por alguns vírus, como o vírus varice-
cócitos polimorfonucleares são a defesa celular predominante em la-zóster; o uso tópico de cortisona em ceratite herpética pode
infecções bacterianas. exacerbar o dano ocular. Não está claro como esses efeitos são
mediados, já que os corticosteroides podem causar uma série de
4. a-Defensinas efeitos pertinentes, como lise de linfócitos, recrutamento dimi-
nuído de monócitos, inibição da produção de interferon e estabi-
As cx-defensinas são uma família de peptídeos positivamente car- lização de lisossomos.
regados com atividade antiviral. (Elas também apresentam ativi- (3) A desnutrição leva a infecções virais mais graves
dade antibacteriana; ver Capítulo 8.) Elas interferem no vírus da (p. ex., existe uma taxa de mortalidade de sarampo muito mais
imunodeficiência humana (HIV) ligando-se ao receptor CXCR4 alta em países em desenvolvimento do que em países desenvol-
e bloqueando a entrada do vírus na célula. A produção de cx-de- vidos). Má nutrição causa produção diminuída de imunoglobuli-
fensinas pode explicar por que alguns indivíduos infectados com nas e de atividade de fagócitos, assim como integridade reduzida
HIV são "não progressores" em longo prazo. de pele e de membranas de mucosas.

5. Enzima apolipoproteína 8 editora de RNA


(APOBEC3G) DEFESAS ESPECÍFICAS
A APOBEC3G é um importante membro das defesas inatas do
Existe evidência de resistência natural contra alguns vírus em
hospedeiro contra infecções retrovirais, sobretudo contra HIV.
certas espécies, provavelmente com base na ausência de recep-
É uma enzima que causa hipermutações no DNA retroviral pela
tores nas células da espécie resistente. Por exemplo, algumas
desaminação de citosinas tanto do mRNA quanto do DNA retro-
pessoas são resistentes à infecção por HIV porque não possuem
viral, dessa forma inativando essas moléculas e reduzindo a infec-
um dos receptores de quimiocina que medeia a entrada do ví-
tividade. O HIV defende-se contra essa defesa inata do hospedei-
rus na célula. Entretanto, o tipo de defesa mais importante é a
ro produzindo Vif (proteína de infectividade viral), que neutraliza
imunidade adaptativa, tanto adquirida ativamente por exposi-
a APOBEC3G, impedindo que as hipermutações ocorram.
ção ao vírus quanto adquirida passivamente pela transferência de
soro imune. Uma imunidade ativa pode ser iniciada contraindo-
6. Febre -se a própria doença, passando por uma infecção não aparente,
A temperatura elevada do corpo pode ter um papel nas defesas ou sendo vacinado.
do hospedeiro, mas sua importância ainda é incerta. A febre age
de duas formas: (1) a temperatura alta do corpo pode diretamen- 1. Imunidade ativa
te inativar partículas virais, sobretudo os vírus envelopados, que
A imunidade ativa, na forma de anticorpos e células T citotó-
são mais sensíveis ao calor do que vírus não envelopados; e (2) a
xicas, é muito importante para a prevenção de doenças virais.
replicação de alguns vírus é reduzida em altas temperaturas, por-
A primeira exposição ao vírus, causando tanto uma infecção não
tanto, a febre pode inibir a replicação.
aparente quanto uma doença sintomática, estimula a produção
de anticorpos e ativação de células T citotóxicas. O papel que os
7. Depuração mucociliar anticorpos e células T citotóxicas têm na recuperação dessa pri-
O mecanismo de depuração mucociliar do trato respiratório meira infecção é incerto e pode variar de vírus para vírus, mas é
pode proteger o hospedeiro. Seu dano (p. ex., por tabagismo) re- evidente que eles possuem um papel essencial em proteger contra
sulta em uma frequência aumentada de infecções do trato respi- a doença quando expostos ao mesmo vírus em algum momento
ratório, principalmente por influenza. no futuro.
258 PARTE Ili Virologia Básica

A duração da proteção varia; infecções virais disseminadas, degradam a partícula viral; vírus inteiros infecciosos podem ser
como sarampo e caxumba, conferem imunidade duradoura con- recuperados por meio da dissociação de complexos vírus-anti-
tra recorrências, mas infecções localizadas, como a gripe comum, corpos. Anticorpos incompletos, também chamados de "blo-
muitas vezes geram apenas uma breve imunidade de alguns me- queadores': podem interferir na neutralização e formar imuno-
ses. A IgA confere proteção contra vírus que entram através da complexos, que são importantes na patogênese de certas doenças.
mucosa respiratória e gastrintestinal, e IgM e IgG protegem con- Alguns vírus, como os herpes-vírus, podem disseminar-se de cé-
tra vírus que entram ou são disseminados pelo sangue. A prote- lula a célula por meio de ligações intercelulares, evadindo o efeito
ção duradoura contra infecções virais sistêmicas, como as doen- neutralizante dos anticorpos.
ças infantis sarampo, caxumba, rubéola e catapora (varicela), é Anticorpos que interferem na aderência (adsorção e pene-
uma função da resposta anamnésica (secundária) de IgG. Para tração) dos vírus à superfície celular são chamados de anticorpos
certos vírus respiratórios, como os vírus parainfluenza e o vírus neutralizantes. Observa-se que um anticorpo neutralizante é di-
sincicial respiratório, o título de IgA na secreção respiratória cor-
recionado contra as proteínas de superfície do vírus, normalmen-
relaciona-se com a proteção, ao passo que o título de IgG não.
te as proteínas envolvidas na interação do vírus com receptores
Infelizmente, a proteção por IgA contra a maioria dos vírus do
da superfície da célula hospedeira. Anticorpos formados contra
trato respiratório geralmente dura menos que cinco anos.
componentes internos do vírus (p. ex., o antígeno do cerne do
O papel da imunidade ativa na recuperação de uma infecção
vírus da hepatite B) não neutralizam a infectividade do vírus.
viral é incerto. Como a recuperação frequentemente precede o
O segundo mecanismo principal é a lise das células infec-
aparecimento de anticorpos humorais detectáveis, as imunoglo-
bulinas podem não ser importantes. Além disso, crianças com tadas por vírus na presença de anticorpos e complemento. O an-
agamaglobulinemia recuperam-se de infecções por sarampo nor- ticorpo liga-se a novos antígenos vírus-específicos na superfície
malmente e podem ser imunizadas contra sarampo com sucesso, da célula e então se liga ao complemento, que enzimaticamente
indicando que a imunidade celular tem um papel importante. degrada a membrana celular. Como a célula é morta antes que
Isso é sustentado pela observação de que crianças com deficiên- uma produção completa do vírus ocorra, a disseminação do vírus
cia congênita em células T são vulneráveis a infecções graves por é significativamente reduzida.
vírus do sarampo e herpes-vírus. As células T são importantes A lise de células infectadas por vírus também é causada
para a recuperação de muitas, mas não de todas as doenças virais. por linfócitos T citotóxicos. Essas células T CDS positivas re-
A proteção oferecida pela imunidade ativa pode ser afeta- conhecem antígenos virais apenas quando eles são apresentados
da pelo fenômeno do pecado antigênico original. Esse termo em associação com proteínas do MHC de classe I (ver Capítu-
refere-se à observação de que quando uma pessoa é exposta a lo 58). Eles matam células infectadas por vírus por três métodos:
um vírus que tem reatividade cruzada com outro vírus ao qual (1) pela liberação de perforinas, que formam cavidades na mem-
o indivíduo já foi exposto anteriormente, mais anticorpos po- brana celular de células infectadas; (2) pela liberação de enzimas
dem ser produzidos contra o vírus original do que contra o proteolíticas, chamadas de granzimas, no interior da célula in-
vírus atual. Parece que as células imunes de memória podem fectada, que degradam o conteúdo celular; e (3) pela ativação da
responder contra a exposição antigênica original em um nível proteína FAS, que causa morte celular programada (apoptose).
maior do que contra a subsequente. Isso foi observado em pes- Nem todas as infecções virais induzem anticorpos.
soas com anticorpos contra o tipo A 1 do vírus influenza, que, Tolerância a antígenos virais pode ocorrer quando a infecção
quando expostas ao tipo Ai_, produziam grandes quantidades de viral se desenvolve em um feto ou em um recém-nascido. O sis-
anticorpos contra o AI' mas poucos anticorpos contra o A2• Essa tema-modelo no qual a tolerância foi demonstrada é a infecção
é também uma causa fundamental da febre hemorrágica grave que causa coriomeningite linfocitária (LCM) em camundongos.
da dengue* (ver Capítulo 42). Esse fenômeno também apresenta Se o vírus da LCM for inoculado em um camundongo recém-
duas consequências práticas: (1) tentativas de vacinar pessoas -nascido, o vírus replica-se amplamente, mas nenhum anticorpo
contra diferentes linhagens do vírus influenza podem ser menos
é formado durante o período de vida do animal. O vírus é re-
eficientes do que se espera; e (2) estudos epidemiológicos com
conhecido como "próprio': porque estava presente no momento
base na medição de títulos de anticorpos podem gerar resulta-
de maturação do sistema imune. Se o vírus da LCM for dado a
dos enganosos.
um camundongo adulto, anticorpos são formados normalmente.
Como um anticorpo inibe os vírus? Existem dois mecanis-
Não há exemplo de tolerância total a um vírus em seres humanos;
mos principais. O primeiro é a neutralização da infectividade do
vírus pela ligação do anticorpo a proteínas da superfície exter- até mesmo na síndrome da rubéola congênita, na qual o vírus
na do vírus. Essa ligação tem dois efeitos: (1) ela pode impedir infecta o feto, alguns anticorpos contra o vírus da rubéola são
a interação do vírus com o receptor celular, e (2) ela pode ligar produzidos. Entretanto, a produção e liberação viral podem con-
as proteínas virais e estabilizar o vírus para que o desnudamen- tinuar por meses ou anos.
to não ocorra. O vírus, portanto, não consegue se replicar. Além A supressão da resposta celular pode ocorrer durante infec-
disso, um vírus coberto por anticorpos é mais rapidamente fa- ções por certos vírus. O exemplo mais conhecido é a perda da
gocitado do que um vírus normal, um processo similar ao efeito reatividade ao teste cutâneo de tuberculina durante infecções por
de opsonização dos anticorpos em bactérias. Os anticorpos não sarampo. Infecções por citomegalovírus ou HIV também podem
causar supressão. Alguns vírus podem "regular negativamente"
*N. de T. No caso de dengue grave, n o entanto, o fenômeno do pecado (reduzir) a quantidade de proteínas do MHC de classe I e classe
antigênico original está relacionado a linfócitos T que reagem cruzada- II produzidas pelas células, o que pode ser um mecanismo pelo
mente contra sorotipos diferentes do vírus, e não a anticorpos. qual esses vírus suprimem a imunidade celular.
CAPÍTULO 33 Defesas do Hospedeiro 259

2. Imunidade passiva
A transferência de soro humano contendo os anticorpos apro-
priados fornece imunidade de curta duração para indivíduos ex-
postos a certos vírus. O termo passiva refere-se à administração
de anticorpos pré-formados. Dois tipos de preparações de imu-
noglobulinas são usados para esse propósito. Um deles possui
altos títulos de anticorpos contra um vírus específico, e o outro é
uma amostra misturada de doadores de plasma que contém uma
mistura heterogênea de anticorpos com títulos baixos. As imu-
noglobulinas são preparadas por fracionamento alcoólico, que
remove qualquer vírus do soro. As três preparações de alto título
mais frequentemente utilizadas são empregadas após exposição
aos vírus da hepatite B, raiva e varicela-zóster. Preparações de
imunoglobulinas com baixo título são utilizadas principalmente
para prevenir hepatite A em pessoas que viajam para áreas onde
essa infecção é hiperendêmica.
Dois exemplos especializados de imunidade passiva incluem
a transferência de IgG da mãe para o feto pela placenta e a trans-
ferência de IgA da mãe para o recém-nascido pelo colostro.

3. Imunidade de rebanho
A "imunidade de rebanho" (também conhecida como FIGURA 33-3 Imunidade de rebanho. A imunização de nove ind iví-
duos (em bege) pode proteger a pessoa não imunizada (em vermelho)
"imunidade de grupo") é a proteção de um indivíduo a uma in-
por meio da interrupção da transmissão. Níveis de imunização de 90%
fecção pelo fato de os outros membros da população (o "reba-
são geralmente considerados suficientes para proteger o ind ivíduo
nho") serem incapazes de transmitir o vírus para aquele indiví- não imunizado.
duo. A imunidade de rebanho pode ser obtida pela imunização
da população com uma vacina que interrompe a transmissão,
como a vacina viva atenuada de pólio, mas não com uma vaci- Entretanto, a característica importante quando se considera imu-
na que não interrompe a transmissão, como a vacina de pólio nidade de rebanho é a indução de IgA, que impede a transmissão.
inativada (apesar de ela proteger o indivíduo imunizado contra A imunidade de rebanho pode ser obtida tanto por infec-
a doença). Observa-se que a imunidade de rebanho ocorre com ções naturais quanto por vacinas. Por exemplo, se uma doença
a vacina de pólio viva principalmente porque ela induz IgA no viral, como o sarampo, ocorrer em aproximadamente 90% de um
intestino, que inibe a infecção pelo vírus virulento, impedindo a grupo, e se os que se recuperaram da doença possuírem imunida-
transmissão para outros. Além disso, o vírus vivo vacinal pode se de suficiente para evitar que se tornem infectados e sirvam como
replicar na pessoa imunizada e disseminar-se para outros mem- fonte de vírus para outros, então os 10% restantes estarão prote-
bros da população, aumentando o número de pessoas protegidas. gidos pela imunidade de rebanho.

CONCEITOS-CHAVE

lnterferons Outras defesas inespecíficas


• Vírus e RNA de dupla-fita são os indutores mais potentes de • As células natural killer (NK) são linfócitos que destroem células
interferons. Muitos vírus induzem interferons, e muitos vírus são infectadas por muitos vírus diferentes (i.e., elas são não espe-
inibidos por interferons (i.e., nem a indução dos interferons nem cíficas). As células NK não possuem um receptor para antígeno
sua ação são específicos). em sua superfície, d iferentemente dos linfócitos Te B. Em vez d is-
• Os interferons agem por meio de sua ligação a um receptor na so, células NK reconhecem e destroem células que não apre-
superfície da célula, o que sinaliza para que a célula produza sentam proteínas do MHC de classe I em sua superfície. Elas
ribonuclease, o ligo A sintase e proteína-cinase em suas formas matam células pelos mesmos mecanismos usados pelas célulasT
inativas. O RNAdf produzido por um vírus infectante ativa essas citotóxicas (i.e., pela secreção de perforinas e granzimas).
proteínas. Os interferons não entram na célula e não possuem • A fagocitose por macrófagos e a depuração de muco pelos cílios
efeito em vírus extracelulares. do trato respiratório também são defesas importantes. Dano a
• Os interferons inibem a replicação v irai por meio do bloqueio essas defesas predispõem a infecções v irais.
da síntese proteica, principalmente degradando mRNAs e pela • Níveis aumentados de corticosteroides inibem várias defesas do
inativação do fator de elongação 2. hospedeiro e predispõem a infecções v irais graves, sobretudo in-
• Os interferons a e 13 possuem uma ação antivirai mais forte do fecções disseminadas por herpes-vírus. Má nutrição predispõe a
que a do interferon -y. O último age principalmente como uma infecções graves de sarampo em países em desenvolvimento. In-
interleucina que ativa macrófagos. d ivíduos muito jovens e idosos apresentam infecções virais mais
graves.
260 PARTE Ili Virologia Básica

Defesas específicas • A imunidade passiva tem efeito imediatamente, enquanto a


imunidade ativa leva de sete a 1O dias na resposta primária
• Imunidade ativa contra infecções virais é mediada por an-
(ou três a cinco dias na resposta secundária) para estimular quan-
ticorpos e células T citotóxicas. Ela pode ser gerada tanto por
tidades detectáveis de anticorpos.
exposição ao vírus quanto por imunização por uma vacina virai.
• Imunidade de rebanho é a proteção de um indivíduo que resul-
• Imunidade passiva consiste em anticorpos pré-formados em
ta da imunidade de muitos outros membros da população (o"re-
outra pessoa ou animal.
banho"), que interrompe a transmissão do vírus para o indivíduo.
• A duração da imunidade ativa é muito mais longa do que a A imunidade de rebanho pode ser obtida tanto pela imunização
da imunidade passiva. A imunidade ativa é medida em anos, ao quanto pela infecção natural de uma porcentagem suficiente-
passo que a imunidade passiva dura poucas semanas ou poucos mente alta da população.
meses.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO (D) IgE pode prevenir infecções virais ativando o complemento, o
que leva à produção do complexo de ataque à membrana.
l. Considerando o modo de ação do interferon, qual das seguintes (E) Interleucina 2 é importante na proteção de células não infecta-
opções é a mais correta? das contra infecção viral pela inibição da liberação do vírus de
(A) Ele age inibindo a protease viral. células infectadas.
(B) Ele age inibindo a polimerase do vírion.
(C) Ele age induzindo uma ribonuclease que degrada mRNA viral.
(D) Ele age ligando-se ao vírion extracelular, dessa forma inibindo
a penetração na célula.
RESPOSTAS
(E) Ele age contra vírus com um genoma de DNA, mas não contra 1. (C)
vírus que possuem RNA como genoma. 2. (C)
2. Considerando os aspectos imunes das doenças virais, qual das se-
guintes opções é a mais correta?
(A) Anticorpos protegem contra algumas doenças virais pela ini- QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
bição da síntese de mRNA pela RNA-polimerase do vírion.
(B) IgG possui um papel importante na n eutralização da infectivi- Questões sobre os ternas discutidos neste capítulo podem ser en-
dade viral durante a infecção primária. contradas na seção de Virologia Básica da Parte XIII: Questões para
(C) IgA exerce um efeito antivira!, impedindo o vírus de infectar as Autoavaliação, a partir da página 700. Consulte também a Parte
células das mucosas dos tratos respiratório e gastrintestinal. XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CA P Í T U L O

Diagnóstico Laboratorial 34
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Ident ificação microscópica


Ident ificação em cultivo celular Procedimentos sorológicos
Fixação do complemento Detecção de antígenosvirais
Inibição da hemaglutinação Detecção de ácidos nucleicos virais
Neutralização Conceitos·chave
Ensaio com anticorpo fluo,escente Aplique seu conhecimento
Radioimunoensaio Questões para autoavaliação
Ensaio imunoadsorvente ligado à enzima
Microscopia imunoeletrõnica

INTRODUÇÃO Se o vírus não produz um ECP, sua presença pode ser detev
tada por várias outras técnicas:
Existem cinco abotdage1ts para o diagnóstico de. doenças virais
pe)o uso de espécimes d inkos: (1) identificação do vírus em cul. (1) Hemadsorção (Le., ligação de hemácias à superfície de
tivo ce)ular. (2) identificação microscópica diretamente do espé~ células infectadas por vírus). Essa técnica é limitada aos v(rus
cime, (3) procedimentos sorológicos para detectar um aumento com uma proteína hemaglutin.ina em seu envelope. como os VÍ·
no titulo de anticorpos ou a presença do anticorpo lgM, (4) de- rus do sarampo, da parainfluenza e da influenza.
tecção de antígenos virais no sangue ou em fluidos corporais. e (2) Interferência na formação de ECP por um segundo vi-
(5) detecção do ácido nudeico vital no sangue ou nas céJulas do rus. Por exemplo. o vírus da rubéola, que não causa ECP. pode
paciente. ser detectado pela interferência na formação de ECP por certos
enterm•írus. como os ecovírus ou vírus de Coxsackie.
(3) Uma diminuição na produção de ácido por céJulas i1úev
IDENTIFICAÇÃO EM CULTIVO CELULAR tadas que estão morrendo. Isso pode ser detectado visualmente
pela mudança de cor do vermelho de fenol ( um indicador de pH)
A replicação de vírus requer cultivos ceJulares.. uma vez que os do meio de cultura. O indicador permanece vermelho (alca1ino)
vírus se replicam apenas em células vivas, e não em meio livre na presença de células infectadas por vírus, mas se torna amarelo
de céJulas, como a maioria das bactérias. Como muitos vírus são
na presença de células normais metabolizantes. como resultado
inativados à temperatura ambiente. é importante inocuJar o espé~ do ácido produzido. Essa técnica pode ser usada para detectar
cime no cultivo c.eluJar rapidamente; transporte breve ou armaze. certos entero,1rus.
namento a 4ºC são aceitáveis.
A replicação virai em cuJtivo celular frequentemente pro• A identlflcação definitiva do crescimento virai em cul.
duz um efeito citopátlco (ECP) caractedstico que fornece uma tivo de células é realizada pelo uso de anticorpos conhecidos
identificação presunUva. O ECP é a mudança da aparência das em um de vários testes. Fixação do complemento, inibição da
células iiúectadas por v(rus. Essa mudança pode ser em tama• hemag)utinação e neutralização do ECP são os testes mais fre .
nho, forma e em fusão de células. a fim de formar células gigan~ quentemeJ\te. usados. Outros procedimentos, como anticorpos
tes multinudeadas (sincídos). Em geral. o ECP é a manifestação tluoresceJ\tes, radioimunoeJ\saios. ensaio imunoadsorvente.liga•
de células i1úectadas por vírus que estão morrendo ou que estão do à enl.ima (ELISA) e microscopia imunoeletrônica, também
mortas. O tempo que o ECP leva para aparecer e o tipo de célula são usados em casos especiais. Uma breve descrição desses testes
na qua1 o vfrus produz o ECP são pistas importantes na identifi· é apreseJ\tada a seguir. e serão descritos com mais deta1hes na
cação presuntiva. seção de imunologia.
262 PARTE Ili Virologia Básica

Fixação do complemento centes. (3) A microscopia eletrônica detecta partículas virais, que
podem ser caracterizadas pelo seu tamanho e sua morfologia.*
Se o antígeno (o vírus desconhecido no sobrenadante da cultura)
e o anticorpo conhecido forem homólogos, o complemento será
fixado (ligado) ao complexo antígeno-anticorpo. Isso o torna in- PROCEDIMENTOS SOROLÕGICOS
disponível para lisar o sistema "indicador': que é composto por
1
hemácias sensibilizadas. O aumento no título de um anticorpo contra um vírus pode ser
utilizado para diagnosticar infecções presentes. Soroconversão é
o termo usado para descrever a detecção de um anticorpo contra
Inibição da hemaglutinação
um vírus (ou qualquer micróbio) no soro de um paciente quando
Se o vírus e o anticorpo forem homólogos, o vírus é impedido de este anteriormente não possuía nenhum anticorpo. Dito de outra
se ligar às hemácias e nenhuma hemaglutinação ocorre. Apenas forma, o soro do paciente foi convertido de anticorpo-negativo
vírus que aglutinam hemácias podem ser identificados por esse para anticorpo-positivo.
método. Uma amostra de soro é obtida assim que a etiologia viral seja
suspeitada (fase aguda), e uma segunda amostra é obtida 10 a
Neutralização 14 dias depois (fase convalescente). Se o título do anticorpo
na amostra de soro da fase convalescente for pelo menos qua-
Se o vírus e o anticorpo forem homólogos, o anticorpo ligado à
tro vezes maior do que o título na amostra de soro da fase agu-
superfície do vírus bloqueia sua entrada na célula. Isso neutraliza
da, o paciente é considerado infectado. Por exemplo, se o título
a infectividade do vírus, uma vez que impede a replicação viral e
na amostra de soro da fase aguda é 1/4 e o título na amostra da
a subsequente formação de ECP ou infecção em animais.
fase convalescente é 1/16 ou maior, o paciente apresentou um
aumento significativo no título do anticorpo e foi infectado re-
Ensaio com anticorpo fluorescente centemente. Se, entretanto, o título na amostra de soro da fase
Se a célula infectada por vírus e o anticorpo marcado com fluo - convalescente for 1/8, esse aumento não é significativo e não deve
resceína forem homólogos, a característica cor verde-maçã da ser interpretado como um sinal de infecção recente.
fluoresceína é observada nas células por microscopia ultravioleta É importante perceber que um título de anticorpo em uma
(UV). única amostra não distingue entre uma infecção prévia e uma
atual. O título do anticorpo pode ser determinado por muitos
dos testes imunológicos mencionados anteriormente. Esses diag-
Radioimunoensaio
nósticos sorológicos são normalmente realizados retrospectiva-
Se o vírus e o anticorpo forem homólogos, há menos anticorpos mente, uma vez que a doença muitas vezes já encerrou seu curso
remanescentes para se ligarem ao vírus conhecido marcadora- no momento em que os resultados são obtidos.
diativamente. Em certas doenças virais, a presença de anticorpos IgM é
usada para diagnosticar infecções atuais. Por exemplo, a presença
Ensaio imunoadsorvente ligado à enzima de anticorpo IgM contra o antígeno do cerne indica infecção pelo
vírus da hepatite B.
Em um teste de ELISA para identificar um vírus, um anticor-
Outros testes sorológicos inespecíficos estão disponíveis.
po conhecido contra o vírus é ligado a uma superfície. Se o
Por exemplo, o teste de anticorpo heterófilo (Monospot) pode
vírus estiver presente no espécime de um paciente, ele se liga-
ser usado para diagnosticar mononucleose infecciosa. No teste
rá ao anticorpo. Uma amostra de um anticorpo ligado a uma
heterófilo, soro humano é reagido com hemácias de cavalos ou
enzima é adicionada, e irá ligar-se ao vírus preso. O substrato
ovelhas. Se o anticorpo heterófilo está presente (i.e., se o paciente
da enzima é adicionado, e a quantidade de enzima ligada será
foi infectado pelo vírus Epstein-Barr), a aglutinação das hemá-
determinada.
cias ocorre. (Ver Capítulo 37 para mais informações.)

Microscopia imunoeletrônica
Se o anticorpo for homólogo ao vírus, agregados de complexos DETECÇÃO DE ANTÍGENOS VIRAIS
vírus-anticorpos são visualizados ao microscópio eletrônico. Antígenos virais podem ser detectados no sangue do paciente ou
em fluidos corporais por vários testes, mas com mais frequência
por ELISA. Testes para o antígeno p24 do vírus da imunodefi-
IDENTIFICAÇÃO MICROSCÓPICA ciência humana (HIV) e para o antígeno de superfície do vírus da
hepatite B são exemplos comuns dessa abordagem.
Os vírus podem ser detectados e identificados pelo exame mi-
croscópico direto de espécimes clínicos, como materiais de bióp-
sia e lesões de pele. Três procedimentos diferentes podem ser *N. de R.T. É importante observar, no entanto, que muitos vírus que
causam doenças completamente diferentes são idênticos ao microscópio
utilizados. (1) A microscopia óptica pode revelar corpúsculos
eletrônico. Por exemplo, os vírus da hepatite A, da poliomielite e do res-
de inclusão ou células gigantes multinucleadas características.
friado comum são absolutamente idênticos morfologicamente.
O teste de Tzanck, que revela células gigantes multinucleadas 1
0 título é a medida da concentração de anticorpos no soro do paciente.
induzidas por herpes-vírus em lesões vesiculares de pele, é um Ele é definido como a maior diluição do soro que gera uma reação posi-
bom exemplo. (2) A microscopia UV é utilizada para detecção tiva no teste. Ver o Capítulo 64 para uma discussão sobre título e sobre
de vírus em células infectadas marcadas por anticorpos fluores - vários testes sorológicos.
CAPÍTULO 34 Diagnóstico Laboratorial 263

DETECÇÃO DE ÁCIDOS NUCLEICOS VIRAIS ácidos nucleicos virais estiver presente no paciente, a reação em
cadeia da polimerase pode ser usada para amplificar os ácidos
Ácidos nucleicos virais (i.e., tanto o genoma viral quanto o nucleicos virais. Ensaios para detecção do RNA dos vírus HIV e
mRNA viral) podem ser detectados no sangue ou nos tecidos da hepatite C e para detecção do DNA do vírus da hepatite B no
de pacientes com o uso de DNA ou RNA complementar (cDNA sangue do paciente (carga virai) são comumente usados para se
ou cRNA) como sondas. Se apenas uma pequena quantidade de monitorar o curso da doença e avaliar o prognóstico do paciente.

CONCEITOS-CHAVE

Identificação em cultivo celular vírus ebola, que apresenta uma aparência característica e cresci-
mento em cu ltura arriscado.
• A presença de vírus em um espécime de paciente pode ser de-
tectada pela visualização de "efeito citopático" (ECP) em culti-
vo celular. O ECP não é específico (i.e., muitos vírus o causam). Procedimentos sorológicos
Uma identificação mais específica do vírus geralmente envolve • A presença de lgM pode ser utilizada para diagnosticar infec-
um teste baseado em anticorpo, como a imunofluorescência, a ções atuais.
fixação do complemento ou o ensaio imunoadsorvente ligado à
• A presença de lgG não pode ser utilizada para diagnosticar
enzima (ELISA).
infecções atuais porque o anticorpo pode ser oriundo de uma
infecção no passado. Assim, amostras pareadas de soro, das fases
Identificação microscópica aguda e convalescente, devem ser analisadas. Um título de anti-
• Corpúsculos de inclusão, formados por agregados de muitas corpo que seja pelo menos quatro vezes maior na fase convales-
partículas virais, podem ser vistos tanto no núcleo quanto no ci- cente quando comparado com a fase aguda pode ser usado para
toplasma de célu las infectadas. Eles são inespecíficos. Dois exem- fazer o diagnóstico.
plos importantes são as inclusões nucleares, formadas por certos
herpes-vírus, e as inclusões citoplasmáticas, formadas pelo vírus Detecção de antígenos virais e ácido nucleico
da raiva (corpúsculos de Negri).
• A presença de proteínas virais, como a p24 do HIV ou o antígeno
• Células gigantes multinucleadas são formadas por vários vírus, de superfície da hepatite B, é normalmente usada no diagnóstico.
particularmente por certos herpes-vírus, vírus sincicial respirató-
• A presença de DNA ou RNA virai está se tornando o"padrão-ouro"
rio e vírus do sarampo.
em diagnóstico virai. Sondas marcadas são altamente específicas
• A co loração por anticorpos fluorescentes de células obtidas de e os resu ltados são obtidos rapidamente. Pequenas quantidades
pacientes ou de célu las infectadas em cultura podem fornecer de ácidos nucleicos virais podem ser amplificadas usando trans-
um diagnóstico rápido e específico. criptase reversa para produzir quantidades detectáveis pela son-
• A microscopia eletrônica não é normalmente utilizada no diag- da. Um exemplo importante é o ensaio de "carga virai" para RNA
nóstico clínico, mas é útil no diagnóstico de certos vírus, como o de HIV.

(C) Papilomavírus humano.


APLIQUE SEU CONHECIMENTO
(D) Parvovírus Bl9.
1. Considerando o diagnóstico de infecções virais no laboratório clíni- (E) Vírus da rubéola.
co, qual das seguintes opções fornece o diagnóstico MAIS específico?
(A) Efeito citopático produzido por um vírus que se replica em cé-
lulas de prepúcio humano. RESPOSTAS
(B) Corpúsculos de inclusão citoplasmáticos produzidos por um
vírus que se replica no citoplasma. 1. (D)

(C) Células gigantes multinucleadas produzidas por um vírus que 2. (B)


se replica em células de pele humanas.
(D) Neutralização da infectividade usando anticorpos contra a
proteína de superfície viral. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(E) Corpúsculos de inclusão intranucleares produzidos por um
vírus que se replica no núcleo. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
contradas na seção de Virologia Básica da Parte XIII: Questões
2. A visualização de células gigantes multinucleadas em um teste de
Tzanck pode ser utilizada para obter um diagnóstico presuntivo da para Autoavaliação, a partir da página 700. Consulte também a
infecção por qual dos seguintes vírus? Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
(A) Vírus Epstein-Barr.
na 731.
(B) Herpes-vírus simples.
CA P ÍTU L O

35 Fármacos Antivirais

CONTEODO DO CAPITULO

Princípios de terapia antivirai lnibido,es do vírus da imunodeficiência humana


Inibição de eventos precoces lnibldo,es do vírus da hepatite e
Inibição da síntese de ácidos nuclekos virais Inibição da síntese de proteínas virais
lnibidotes de herpes·ví,us lntetfe,on
lnibido,es de retrovirus Fomivirsen
lnibido,es do vírus da hepatite 8 Inibição da liberação d o vírus
lnibldo,es do vírus da hepatite e Quimioprofilaxia
lnibido,es de outros vr,us Conceitos-chave
Inibição da integrase Aplique seu conhecimento
Inibição da divagem d e polipeptíd eos p recurso res Questões para autoavaliação
(inibid o res da p rotease}

PRINcf PIOS DE TERAPIA ANTIVIRAL Outro fator limitante é a emerg~ncia de mutantes virais
resistentes a fármacos. Por exemplo. quando mutantes do HIV
Comparado ao número de fármacos disponiveis para tratar in- resistentes a fármacos emergem, é.necessário que o regime de tra-
fecções bacterianas. o número de fármacos antivirais é muito tame11to seja alterado. Assim, o tratamento de i1úecções por HIV
baixo. A principal razão para essa diferença é a di.Oc-uldade em utiliza múltiplos fármacos, geralmente de classes difere11tes.. para
obter toxlcldade seletiva co11tra os vírus; sua replicação está que no e.aso de mutantes resistirem a um fármaco, outro ainda
intimamente envoh•ida com os processos sintet.i.za11tes normais seja efetivo.
da célula. Apesar da dificuldade. vârios passos de replicação es-
pecíficos dos vírus já foram identificados e são alvos de ação de
fármacos virais efetivos (Tabela 35· 1). A 'làbeJa 35- 2 descreve o INIBIÇÃO DE EVENTOS PRECOCES
modo de ação de fármacos anth•irais que bloqueiam eventos ini-
ciais da replic.ação vital, e a Tabela 35-3 descreve o modo de ação Aamantadina (u-adamantanamina) ê um composto de três anéis
de fârmacos antivirais que bloqueiam a síntese de ácido nudei- (Figura 35-3) que bloqueia a replicação do v(rus influenu, A. O
co vira1. A Figura 35-1 mostra a repJicação de um vírus-modelo fármaco impede a replicação inibindo o desnudamento do vírus
e o local de ação de vários fármacos usados para tratar diversas por meio do bloqueio da atividade de "t.raosporte iônico'' da pro-
infecções virais. A Figura 35-2 mostra a replicação do v(rus da teCna da matriz (proteCna M2) no vtrion.. Aabsotção e penetração
imunodeficiência humana (HIV) e o )oca) de ação de fármacos ocorrem normalmente, mas a transcrição pela RNA-polimerase
utilizados para tratar a infecção pelo HIV. do v[rion não ocorre, uma vez que o desnud.amellto não acon-
Outra )imitação dos fármac.os antivirais é que eles são rela- tece. Esse fármaco inibe especificamente o vírus influenza A; os
tivamente ineficazes.. pois muitos ciclos de replicação vital ocor- vírus influenza B e C não são afetados.
rem durante o período de incubação. quando o paciente ainda Apesar da sua eficâcia em prevenir 1'nfluenza, ela não ê
estâ bem. Quando o pacjente apresenta uma doença vital sistê- amplamente utilizada nos Estados Unidos. porque a vacinação
mica reco11hedveJ, o v(rus já se espalhou pelo corpo e é muito é preferível para a população de alto risco. Além disso. a maior
tarde para impedi-lo. Além do mais. alguns virus (p. ex., herpes- parte dos isolados tornou-se resistente à amantadina. Os prin-
.. ,,frus) tornam-se latentes no interior das células. e nenhum fár. cipais efeitos colaterais da amantadina são alterações do sistema
maco antivirai atual consegue erradicá-los. nervoso centra1, c-omo tontura, ataxia e insônia. A rimantadina ê
CAPÍTULO 35 Fármacos Antivirais 26S

TABELA 35-1 Etapas da replicação virai inibidas por fármacos antivirais

Etapa da replicação virai inibida Fármacos virais efetivos

Eventos precoces (entrada ou desnudamento do vírus) Amantadina, rimantadina, enfuvirtida, maraviroque, palivizumabe

Síntese de ácido nucleico por herpes-vírus Aciclovir, ganciclovir, valaciclovir, valganciclovir, penciclovir, fanciclovir,
cidofovir, vidarabina, idoxuridina, trifluridina, foscarnet

Síntese de ácidos nucleicos pelo vírus da imunodeficiência Zidovudina, lamivudina, entricitabina, didanosina, estavudina, abacavir,
humana (HIV) tenofovir, nevirapina, delavirdina, efavirenz, etravirina, rilpivirina

Síntese de ácidos nucleicos pelo vírus da hepatite B (HBV) Adefovir, entecavir, lamivudina, telbivudina, tenofovir

Síntese de ácidos nucleicos pelo vírus da hepatite C (HCV) Sofosbuvir

Síntese de ácidos nucleicos por outros vírus Ribarivin

lntegrase que integra o DNA do HIV no DNA celular Raltegravir, elvitegravir, dolutegravir

Clivagem de polipeptídeos precursores Inibidores da protease do HIV, como saquinavir, indinavir, ritonavir, nelfi-
navir, amprenavir, atazanavir, darunavir, lopinavir, tipranavir
Inibidores da protease do vírus da hepatite C, como boceprevir,
simeprevir, telaprevir

Síntese proteica direcionada por mRNA virai lnterferon, fomivirsen

Liberação do vírus influenza da célula infectada Oseltamivir, zanamivir

um derivado de amantadina que possui o mesmo mecanismo de INIBIÇÃO DA SÍNTESE DE ÁCIDOS


ação, mas menos efeitos colaterais.
NUCLEICOS VIRAIS
A enfuvirtida é um peptídeo sintético que se liga a gp41 da
superfície do HIV, bloqueando a entrada do vírus na célula. Ela é Inibidores de herpes-vírus
a primeira de uma nova classe de fármacos anti-HIV, conhecidos Inibidores nucleosídeos
como "inibidores de fusão,, (i.e., eles impedem a fusão do envelo-
Esses fármacos são análogos de nucleosídeos que inibem a DNA-
pe virai com a membrana celular).
-polimerase de um ou mais membros da família dos herpes-ví-
O maraviroque bloqueia a ligação do HIV ao CCR-5 - um
rus. Por exemplo, o aciclovir inibe a DNA-polimerase dos her-
correceptor importante para as linhagens de HIV que usam
pes-vírus simples 1 e 2 e do vírus da varicela-zóster, mas não do
CCR-5 para entrar nas células. O fármaco liga-se ao CCR-5 e blo-
citomegalovírus (CMV).
queia a interação de gp120, uma proteína de envelope do HIV,
com o CCR-5 da superfície celular. 1. Aciclovir - o aciclovir (acicloguanosina) é um análogo de
O palivizumabe é um anticorpo monoclonal direcionado guanosina que apresenta um fragmento de três átomos de car-
contra a proteína de fusão do vírus sincicial respiratório (RSV). bono no lugar da ribose normal, que possui cinco carbonos
O palivizumabe neutraliza o RSV ligando-se à proteína de fusão (ver Figura 35-3). O termo aciclo refere-se ao fato de que o
da superfície do RSV, impedindo que o vírus se ligue a recepto- fragmento de três carbonos não possui uma estrutura em anel
res na superfície de células da mucosa do trato respiratório. Ele é (a = sem, ciclo = anel).
usado para prevenir bronquiolite e pneumonia em crianças pre- O aciclovir é ativo principalmente contra herpes-vírus sim-
maturas ou imunocomprometidas. ples 1 e 2 e vírus varicela-zóster (VZV). Ele é relativamente não

TABELA 35-2 Fármacos antivirais que bloqueiam eventos precoces

Fármaco antivirai Modo de ação Vírus inibido

Amantadina, rimantadina Inibe o desnudamento, bloqueando a proteína de matriz M2 Vírus influenza

Enfuvirtida Inibe a fusão do envelope virai com a membrana citoplasmática ao se ligar a HIV
gp41 do vírus da imunodeficiência humana (HIV)

Maraviroque Inibe a ligação ao receptor de superfície celu lar CCR-5 HIV

Palivizumabe Anticorpo monoclonal que bloqueia a ligação da proteína de fusão virai a um Vírus sincicial respiratório
receptor nas células da mucosa respiratória
266 PARTE Ili Virologia Básica

TABELA 35-3 Fármacos antivirais que bloqueiam a síntese de ácido nucleico virai

Modo de ação Fármacos antivirais

Inibição da DNA-polimerase de herpes-vírus 1. Inibidores nucleosídicos: aciclovir, ganciclovir, valaciclovir, valganciclovir,


penciclovir, famciclovir, cidofovir, vidarabine, idoxuridine, triflurid ine
2. Inibidores não nucleosíd icos: foscarnet

Inibição da transcriptase reversa do vírus da 1. Inibidores nucleosídicos: zidovudine, lamivudine, emtricitabine, didanosine,
imunodeficiência humana (HIV) stavud ine, abacavir, tenofovir

2. Inibidores não nucleosídicos: nevirapine, delavirdine, efavirenz, et ravirine,


rilpivirine

Inibição da transcriptase reversa do vírus da hepatite B Adefovir, entecavir, lamivud ina, telbivudina

Inibição da síntese de ácidos nucleicos por outros vírus Ribavirin

tóxico, porque é ativado preferencialmente no interior de células sa terminação da cadeia porque não possui um grupo hidroxila
infectadas por vírus. Isso é devido à timidina-cinase codifica- na posição 3' .
da pelo vírus, que fosforila o aciclovir de maneira muito mais Para recapitular, a ação seletiva do aciclovir é baseada em
eficiente do que a timidina-cinase celular. Como apenas herpes- duas características do fármaco. ( 1) O aciclovir é fosforilado a
vírus simples 1 e 2 e VZV codificam uma cinase que fosforila aciclovir monofosfato de maneira muito mais eficiente pela timi-
aciclovir de maneira eficiente, o fármaco é ativo principalmente dina-cinase codificada pelos herpes-vírus do que pela timidina-
contra esses vírus. Ele não apresenta atividade contra CMV. Uma cinase celular. Ele é, portanto, preferencialmente ativado em célu-
vez que o fármaco é fosforilado para aciclovir monofosfato pela las infectadas por herpes-vírus e muito menos ativado em células
timidina-cinase viral, cinases celulares sintetizam o aciclovir tri- não infectadas, o que explica os seus poucos efeitos colaterais.
fosfato, que inibe a DNA-polimerase viral de maneira muito mais (2) O aciclovir trifosfato inibe a DNA-polimerase codificada pe-
eficiente do que inibe a DNA-polimerase celular. O aciclovir cau- los herpes-vírus de maneira muito mais eficiente do que inibe a

Núcleo
....
/
'
Desnudamento
inibido pela
amantadina
/
/
' \
I \
(influenza)
1 1

@ \
\ /
I
Progênie
genômica

, '--=---'--/_,.., . . _
\ ?.. ??-.~?? __
Liberação do
Síntese de vírus inibida
ácidos nucleicos por oseltamivir
inibida por e zanamivir
(influenza)
1. Aciclovir - (HSV-;
,V: ;Zl/
~ )- - -..!!~!E~---;....
2. Ganciclovir - (CMV) 1. lnterferon a e ~ Processamento
3. Foscarnet- (HSV, CMV) (o interferon ~ é de proteínas
4. Cidofovir - (CMV) usado clinicamente precursoras inibido
5. Ribavirin - (RSV, HCV) contra HBV e HCV) por boceprevir e
6. Adenovir, entecavir, 2. Fomivirsen (CMV) telaprevir (HCV)
telbivudine (HBV)
7. Sofosbuvir (HCV)

FIGURA 35-1 Ciclo replicativo de um vírus-modelo mostrando o local de ação de fármacos utilizados para tratar diversas infecções virais. CMV, ci-
tomegalovírus; HBV, vírus da hepatite B; HCV, vírus da hepatite C; HSV, herpes-vírus simples; RSV, vírus respiratório sincicial; VZV, vírus varicela-zóster.
CAPÍTU LO 35 Fármacos Antivirais 267

Inibição por inibidores de entrada

i
(enfuvirtida, maraviroque) - - - - - - - - - - - - - - - - -

Vírion

{~,,~ ,,,,,i Núcleo

~'/ ~. . - Y°~ / '


11111 111\ \\
/ '\
\
1

Transcrição
1
/
/ RNAs genômicos
Transcrição\
reversa ~
- - ~
~

Clivagem
pela
Inibição por inibidores protease
de transcriptase reversa
(zidovudina e outros)
i
Inibição por
inibidores
Inibição por inibidores
de protease
de integrase (raltegravir) (indinavir
e outros)

FIGURA 35-2 Ciclo replicativo do vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) mostrando o local de ação de fármacos utilizados para tratar a
infecção pelo HIV.

o o

~ N
~ N

HO-H2 C
,,,,o --.. . . i / 0 -.. . . _
CH2 CH 2 CH CH2
1 1

HO-H2C HO-H 2C HO
Aciclovir Ganciclovir Trifluridina
(acicloguanosina)

o
li -:1/ o
HO - P - C
1 ""- oH
OH
Foscarnet

HO OH N3
Ribarivin Amantadina Zidovudina
(azidotimidina)

FIGURA 35-3 Estruturas de alguns fármacos antivirais de importância médica.


268 PARTE Ili Virologia Básica

DNA-polimerase celular. Ele, portanto, inibe a síntese de DNA cesso similar ao pelo qual o aciclovir é ativado pelo herpes-vírus
viral em um grau muito maior do que inibe a síntese de DNA simples. Isolados de CMV resistentes a ganciclovir já surgiram,
celular (Figura 35-4). principalmente devido a mutações no gene UL97 que codifica a
O aciclovir tópico é eficiente no tratamento de herpes genital fosfocinase.
primária e reduz a frequência de recorrências enquanto está sendo O ganciclovir é eficiente no tratamento da retinite causada
utilizado. Entretanto, ele não possui nenhum efeito na latência ou pelo CMV em pacientes com a síndrome da imunodeficiência
na taxa de recorrências após a interrupção do tratamento. O aci- adquirida (Aids) e é útil para tratar outras doenças disseminadas,
clovir é o tratamento de escolha para encefalite por herpes-vírus como colites e esofagites, causadas por aquele vírus. Os principais
simples 1 e é eficiente em impedir infecções sistêmicas por herpes- efeitos colaterais do ganciclovir são leucopenia e trombocitope-
vírus simples 1 ou VZV em pacientes imunocomprometidos. nia, como resultado de inibição da médula óssea. O valganci-
Mutantes resistentes a aciclovir já foram isolados de pacien- clovir, que pode ser administrado oralmente, é também efetivo
tes infectados com herpes-vírus simples 1 e VZV. A resistência contra a retinite por CMV.
ocorre com mais frequência devido a mutações no gene que co-
3. Cidofovir- o cidofovir (hidroxifosfonilmetoxi-propilcitosina,
difica a timidina-cinase. Isso resulta em atividade reduzida ou na
HPMPC, Vistide) é um análogo de citosina que não possui um
total ausência da timidina-cinase codificada pelo vírus.
anel de ribose. Ele é útil no tratamento de retinite causada por
O aciclovir é bem tolerado e causa poucos efeitos colaterais -
CMV e em infecções graves por papilomavírus humano. Ele pode
mesmo em pacientes que tomam o fármaco oralmente por anos,
ser útil no tratamento de molusco contagioso grave em pacientes
para suprimir o herpes genital. O aciclovir intravenoso pode cau-
imunocomprometidos. Um importante efeito colateral é o dano
sar toxicidade renal ou no sistema nervoso central.
nos nns.
Derivados do aciclovir com várias propriedades estão dispo-
níveis atualmente. O valaciclovir atinge uma alta concentração 4. Vidarabina - a vidarabina (adenina arabinosídeo, ara-A) é um
no plasma quando ingerido via oral e é utilizado para herpes ge- análogo nucleosídeo com arabinose no lugar do açúcar normal,
nital e herpes-zóster. O creme de penciclovir é utilizado para o ribose. Quando entra na célula, o fármaco é fosforilado porcina-
tratamento de herpes orolabial recorrente. O fanciclovir, quando ses celulares a trifosfato, que inibe a DNA-polimerase codificada
ingerido via oral, é convertido em penciclovir e é utilizado para por herpes-vírus de maneira mais eficiente do que a DNA-poli-
tratar infecções por herpes-zóster ou herpes-vírus simples. merase codificada pela célula. A vidarabina é efetiva contra infec-
ções por herpes-vírus simples 1, como encefalites e ceratite, mas é
2. Ganciclovir - o ganciclovir (di-hidroxipropoximetilguanina,
menos efetiva e mais tóxica do que o aciclovir.
DHPG, Cytovene) é um análogo nucleosídico da guanina que
apresenta um fragmento com quatro átomos de carbono, em vez 5. ldoxuridina - a idoxuridina (iododesoxiuridina, IDU, IUDR)
da ribose (ver Figura 35-3). Ele é estruturalmente similar ao aci- é um análogo nucleosídeo no qual o grupo metil da timidina foi
clovir, mas é mais ativo contra CMV do que ele. O ganciclovir é substituído por um átomo de iodo. O fármaco é fosforilado a
ativado por uma fosfocinase codificada por CMV em um pro- trifosfato por cinases celulares e incorporado ao DNA. Como a

Em células infectadas por herpes-vírus

T imidina-cinase codificada Cinase Cinase


por herpes-vírus celular celular

ACV - - - - - - - - ~ ACV-MP - - - - - ~ ACV-DP - - - - - ~ ACV-TP

O ACV-TP é incorporado na cadeia nascente de DNA dos herpes-vírus e, agindo como um


terminador de cadeias, inibe a DNA-polimerase v irai.

Em células não infectadas

Timidina-cinase
codificada pela célula
ACV _ _ _ _ _ _ _ _.,.. No ACV-MP

Como nenhum ACV-MP é produzido, nenhum ACV-DP ou ACV-TP pode ser produzido.

FIGURA 35·4 O aciclovir (ACV) é fosforilado em ACV-MP de maneira muito eficiente pela t im idina-cinase codificada por herpes-vírus, mas de
maneira muito pouco eficiente pela timidina-cinase codificada pela célula. As timid inas-cinase cod ificadas pelo herpes-vírus simples 1, herpes-
v írus simples 2 e v írus varicela-zóster (VZV) são particularmente ativas com ACV; as timid ina-cinase codificadas pelo citomegalovírus e vírus
Epstein-Barr não são. Isso explica a ação seletiva de ACV em células infectadas por herpes-vírus simples 1, herpes-vírus simples 2 e VZV. O fato de
que ACV-TP não é produzido em células não infectadas explica por que ACVapresenta tão poucos efeitos colaterais (i.e., por que a síntese de DNA
não é inibida em células não infectadas). ACV-MP, ACV monofosfato; ACV-DP, ACV difosfato; ACV-TP, ACV trifosfato.
CAPÍTULO 35 Fármacos Antivirais 269

IDU apresenta uma elevada frequência de malpareamentos com 2. Lamivudina - a lamivudina (didesoxitiacitidina) é um análo-
guanina, ele causa a formação de DNA e mRNA danificado para go nucleosídeo que causa terminação de cadeia durante a síntese
a progênie viral. Entretanto, como IDU é incorporada no DNA do DNA pela transcriptase reversa do HIV. Quando utilizada em
de células normais tanto quanto no DNA viral, ele é muito tóxico conjunto com AZT, ela é muito eficiente tanto em reduzir a carga
para ser utilizado sistemicamente. Ele é clinicamente útil no tra- viral quanto em elevar a contagem de células CD4. A lamivudine
tamento tópico de ceratoconjuntivite causada pelo herpes-vírus é utilizada também no tratamento da hepatite B crônica porque
simples, mas nos Estados Unidos, a tritluorotimidina (ver próxi- ela inibe a transcriptase reversa do vírus da hepatite B. Ela é um
mo item) é o fármaco de escolha. dos inibidores de nucleosídeo que apresenta melhor tolerância
6. Trifluridina - a tritluridina (tritluorotimidina) é um análogo por parte do paciente. No entanto, efeitos adversos, como neutro-
de nucleosídeo no qual o grupo metil da timidina contém três penia, pancreatite e neuropatia periférica, podem ocorrer.
átomos de flúor em vez de três átomos de hidrogênio (ver Figura 3. Emtricitabina - a emtricitabina, um derivado da lamivudina,
35-3). Seu mecanismo de ação é o mesmo da IDU. Como a IDU,
também é útil e bem tolerada. Uma combinação de emtricitabi-
ele é muito tóxico para uso sistêmico. Ele é o fármaco de escolha
na e tenofovir pode ser utilizada como profilaxia pré-exposição
para tratamento tópico de ceratoconjuntivite causada pelo her-
para homens homossexuais, assim como para profilaxia pós-ex-
pes-vírus simples.
posição.
Inibidores não nucleosídeos 4. Didanosina - a didanosina (didesoxinosina, ddI) é um
Inibidores não nucleosídeos inibem a DNA-polimerase dos her- análogo nucleosídeo que causa terminação de cadeia durante
pes-vírus por mecanismos diferentes dos descritos anteriormente a síntese de DNA; ela não possui grupos hidroxila na ribose.
para análogos nucleosídeos. O foscarnet é o único fármaco nessa O fármaco administrado ddI é metabolizado para ddATP,
classe aprovado até este momento. o princípio ativo. Ele é eficiente contra síntese de DNA pela
transcriptase reversa do HIV e é utilizado para tratar pacientes
1. Foscarnet - o foscarnet (fosfonoformato trissódico), diferen-
com Aids que são intolerantes para, ou resistentes à, zidovudi-
temente dos fármacos anteriores, que eram análogos de nucleo-
na. Os principais efeitos adversos da didanosina são pancreatite
sídeos, é um análogo de pirofosfato (ver Figura 35-3). Ele liga-se
e neuropatia periférica.
à DNA-polimerase no local de clivagem de pirofosfato e impede
a remoção de fosfatos dos trifosfatos nucleosídeos (dNTP). Isso s. Stavudina - a stavudina (dideidrodideoxitimidina, d4T) é
inibe a adição do próximo dNTP e, como consequência, a ex- um análogo de nucleosídeo que causa a terminação da cadeia
tensão da fita de DNA. O foscarnet inibe a DNA-polimerase de de DNA durante sua síntese. Ela inibe a síntese de DNA pela
todos os herpes-vírus, sobretudo herpes-vírus simples e CMV. transcriptase reversa do HIV e é utilizada para tratar pacientes
Diferentemente do aciclovir, ele não requer ativação pela timidi- com Aids avançada que são intolerantes para, ou resistentes a,
na-cinase. Ele é útil no tratamento de retinite causada por CMV, outras terapias aprovadas. O principal efeito adverso é neuropa-
mas o ganciclovir é o tratamento de primeira escolha para essa tia periférica.
doença. O foscarnet também é utilizado para tratar pacientes in-
fectados com mutantes de herpes-vírus simples 1 e VZV resisten- 6. Abacavir - o abacavir é um análogo de guanosina que causa a
tes ao aciclovir. terminação da cadeia de DNA durante sua síntese. Ele está dis-
ponível por meio do programa "acesso expandido" para os que
Inibidores de retrovírus tiveram falhas com o regime de fármacos disponíveis. O abacavir
Inibidores nucleosídeos é utilizado em combinação com um inibidor de protease, geral-
mente darunavir e ritonavir, ou juntamente com a zidovudina
A toxicidade seletiva da zidovudina, lamivudina, emtricitabina,
mais a lamivudina. Os principais efeitos adversos são dano he-
didanosina, zalcitabina, stavudina, abacavir e tenofovir é baseada
pático e reações graves de hipersensibilidade. Pacientes que apre-
na habilidade desses fármacos em inibir a síntese de DNA pela
sentam o alelo HLA-B1701 são mais propensos a apresentarem
transcriptase reversa do HIV em taxas muito maiores do que
reações de hipersensibilidade grave ao abacavir, incluindo febre,
eles inibem a síntese de DNA pela DNA-polimerase em células
humanas. Esses fármacos são coletivamente chamados de inibi- erupções ou problemas respiratórios. Assim, pacientes devem ser
dores nucleosídeos de transcriptase reversa (NRTis, nucleoside testados para este alelo antes de receberem o abacavir. Se opa-
reverse transcriptase inhibitors). O efeito desses fármacos na re- ciente desenvolve sintomas de hipersensibilidade, o fármaco deve
plicação do HIV está ilustrado na Figura 35-2. ser imediata e permanentemente suspenso.

1. Zidovudina - a zidovudina (azidotimidina, AZT) é um análo- 7. Tenofovir- o tenofovir é um fosfonato acíclico que é análogo
go de nucleosídeo que provoca a terminação da cadeia de DNA à adenosina monofosfato. Ele é um inibidor de transcriptase re-
durante sua síntese; ela apresenta um grupo azida no lugar do versa que age por terminação de cadeia. É aprovado para uso em
grupo hidroxil na ribose (ver Figura 35-3). Ela é particularmen- pacientes que desenvolveram resistência a outros inibidores de
te eficiente contra síntese de DNA pela transcriptase reversa do transcriptase reversa e para os que estão iniciando um tratamen-
HIV e inibe o crescimento do vírus em cultivo de células. Os to pela primeira vez. Ele deve ser utilizado em conjunto com ou-
principais efeitos adversos da zidovudina são supressão da me- tros fármacos anti-HIV. Os principais efeitos adversos são dano
dula óssea e miopatia. hepático, acidose láctica e insuficiência renal
270 PARTE Ili Virologia Básica

Inibidores não nucleosídeos Lamivudina


Ao contrário dos fármacos descritos anteriormente, os fárma- A lamivudine se encontra descrita na seção "Inibidores de retro-
' ,,
cos desse grupo não são análogos nucleosídeos e não causam VIrUS.
terminação de cadeia. Os inibidores não nucleosídeos de trans-
criptase reversa (NNRTis, nonnucleoside reverse transcriptase Telbivudina
inhibitors) agem ligando-se perto do local ativo da transcriptase A telbivudina é um análogo de timidina que inibe a DNA-poli-
reversa e induzindo uma mudança conformacional que inibe merase (transcriptase reversa) do HBV, mas não possui nenhum
a síntese do DNA viral. Os NNRTis não devem ser utilizados efeito contra a transcriptase reversa do HIV. Ela é útil no trata-
como monoterapia porque mutantes resistentes surgem rapi- mento de infecções crônicas por HBV.
damente. Linhagens de HIV resistentes a um NNRTI são nor-
malmente resistentes aos outros também. Com frequência, os Tenofovir
NNRTis são utilizados em conjunto com um ou dois análogos
O tenofovir se encontra descrita na seção "Inibidores de retro-
nucleosídeos. ' ,,
VIrUS.
1. Nevirapina - a nevirapine é normalmente usada em combina-
ção com zidovudina e a didanosina. Não há resistência cruzada Inibidores do vírus da hepatite C
com os inibidores nucleosídeos de transcriptase reversa descritos
O sofosbuvir é um análogo de uridina que inibe a RNA-polime-
anteriormente. O principal efeito colateral da nevirapina é erup-
rase do HCV. É útil no tratamento da infecção crônica pelo HCV
ção cutânea grave (síndrome de Stevens-Johnson).
causada pelos genótipos 1, 2, 3 e 4.
2. Delavirdina - a delavirdina é eficiente em combinação com a
zidovudina ou zidovudina mais didanosina. O principal efeito Inibidores de outros vírus
colateral da delavirdina é erupção cutânea.
Ribarivina
3. Efavirenz- o efavirenz é eficiente em combinação com a zido-
A ribavirina é um análogo nucleosídeo no qual uma fração de
vudina mais lamivudina. Os efeitos colaterais mais comuns são
triazol-carboxiamida substitui o aminoimidazol-carboxiamida
referentes ao sistema nervoso central, como tontura, insônia e
dos precursores de purinas normais (ver Figura 35-3). O fárma-
dores de cabeça.
co inibe a síntese de nucleotídeos de guanina, que são essenciais
4. Etravirina - a etravirina é um NNRTI de segunda geração que para vírus de DNA e de RNA. Ela também inibe o capping 5' de
é útil no tratamento de pacientes previamente tratados e que mRNAs virais. A ribavirina em aerossol é utilizada clinicamente
apresentam viremia significativa. Ela é mais eficiente quando para tratar pneumonites causadas pelo vírus respiratório sincicial
administrada em conjunto com dois inibidores de protease, da- (RSV) em crianças e para tratar infecções graves pelo vírus in-
runavir e ritonavir. O efeito adverso mais comum é erupção, e a fluenza B. A ribavirina é também utilizada em combinação com o
síndrome de Stevens-Johnson já foi relatada, embora seja rara. interferon a (peginterferon) no tratamento da hepatite C.

s. Rilpivirina - a rilpivirina é um NNRTI de segunda geração útil


em pacientes que ainda não foram tratados. Ela é mais eficiente INIBIÇÃO DA INTEGRASE
quando utilizada em conjunto tanto com tenofovir quanto com
entricitabina. Os efeitos adversos mais comuns são depressão e O raltegravir é um inibidor de integrase (i.e., ele bloqueia a inte-
insônia. grase codificada pelo HIV que medeia a integração do DNA viral
recém-sintetizado no DNA da célula hospedeira). Dois inibido-
res adicionais da integrase se encontram disponíveis: o dolutegra-
Inibidores do vírus da hepatite B
vir e o elvitegravir.
Adefovir
O adefovir é um análogo da adenosina monofosfato que inibe a
DNA-polimerase (transcriptase reversa) do vírus da hepatite B INIBIÇÃO DA CLIVAGEM DE
(HBV). É utilizado para o tratamento de hepatites crônicas ativas POLIPEPTÍDEOS PRECURSORES
causadas por esse vírus. (INIBIDORES DA PROTEASE}
Entecavir Inibidores do vírus da imunodeficiência humana
O entecavir (Baraclude) é um análogo de guanosina que inibe Membros da classe de fármacos dos inibidores de protease (IPs),
a DNA-polimerase (transcriptase reversa) do HBV. Ele não pos- como saquinavir, indinavir, ritonavir, lopinavir/ritonavir, azata-
sui nenhuma atividade contra a DNA-polimerase (transcriptase navir, tipranavir, amprenavir e seu pró-fármaco fosamprenavir,
reversa) do HIV. É aprovado para o tratamento de adultos com darunavir e nelfinavir inibem a protease codificada pelo HIV
infecções crônicas por HBV. (Figura 35-5). A protease cliva os polipeptídeos precursores de
CAPÍTULO 35 Fármacos Antivirais 271

INIBIÇÃO DA SÍNTESE DE
PROTEÍNAS VIRAIS
lnterferon
O modo de ação do interferon é descrito no Capítulo 33. O in-
terferon ex recombinante é efetivo no tratamento de alguns pa-
cientes com infecções crônicas pelos vírus da hepatite B ou C.
Ele também causa a regressão do condiloma acuminado causado
por papilomavírus humanos, e também de lesões do sarcoma de
Kaposi, causadas pelo herpes-vírus humano 8.
O interferon peguilado (peg-interferon), que consiste em
FIGURA 35-5 Estrutura do inibidor de protease saquinavir. Observa-
-se a presença de várias ligações peptídicas, que interagem com o lo- um interferon ex conjugado ao polietilenoglicol, é utilizado
cal ativo da protease. A seta indica uma das ligações peptídicas. para o tratamento de hepatites B e C crônicas. A vantagem do
interferon peguilado está no fato de que este possui uma meia-
vida mais longa que o interferon ex não conjugado, podendo
gag e pol para produzir várias proteínas do nucleocapsídeo (p. ex., ser administrado uma vez por semana, em vez de três vezes
p24) e proteínas enzimáticas (p. ex., transcriptase reversa) neces- por semana.
sárias para replicação viral. Esses inibidores contêm ligações pep-
tídicas que se ligam ao local ativo da protease viral, impedindo a Fomivirsen
protease de clivar o precursor viral. Esses fármacos inibem a pro- O fomivirsen é um DNA antissenso que bloqueia a replica-
dução de vírions infecciosos, mas não afetam o DNA pró-viral e, ção do CMV. DNA antissenso é um DNA de dupla-fita cuja
portanto, não curam a infecção. sequência de bases é complementar ao mRNA viral. O DNA
A monoterapia com IPs não deve ser utilizada porque mu- antissenso liga-se ao mRNA do interior da célula infectada e
tantes resistentes emergem rapidamente. Na maioria dos casos, o impede de ser traduzido em proteínas virais. O fomivirsen é
esses fármacos são prescritos em conjunto com inibidores de aprovado para tratamento de retinite intraocular causada por
transcriptase reversa, como zidovudina e lamivudina. O ritona- CMV. Essa é a primeira e, até o momento, a única molécula an-
vir normalmente é utilizado em conjunto com outro IP, como na tissenso a ser aprovada para o tratamento de doença humana.
combinação de lopinavir/ritonavir comumente usada. O ritona-
vir inibe a enzima que metaboliza a outra IP, o que efetivamente
aumenta a concentração do outro fármaco (p. ex., o lopinavir na INIBIÇÃO DA LIBERAÇÃO DO VÍRUS
combinação de lopinavir/ritonavir). Uma forma fácil de selem-
O zanamivir e o seltamivir inibem a neuraminidase do vírus
brar dessa combinação é considerar que o ritonavir "intensificà'
influenza. Essa enzima está localizada na superfície do vírus in-
o efeito do lopinavir. fluenza e é necessária para a liberação do vírus da célula hospe-
Os efeitos colaterais dos IPs incluem naúsea, diarreia e acú- deira. A inibição da liberação do vírus influenza limita a infecção,
mulo anormal de gordura na parte posterior do pescoço, que reduzindo a disseminação do vírus de uma célula para outra. Es-
pode resultar em aparência de "dorso de búfalo': Esses depósitos ses fármacos são efetivos contra os vírus influenza A e B, ao con-
anormais de gordura podem ser desfigurantes e levam à inter- trário da amantadina, que é eficaz apenas contra o vírus influenza
rupção do tratamento pelos pacientes. Os depósitos de gordura A. Além disso, são efetivos contra cepas do vírus influenza que
são um tipo de lipodistrofia; o processo metabólico pelo qual isso são resistentes à amantadina.
ocorre é desconhecido. Indinavir pode causar cálculo renal; por-
tanto, quantidades maiores de água devem ser consumidas para
reduzir as chances de formação de cálculo. QUIMIOPROFILAXIA
Na maior parte das situações, os agentes antivirais descritos
Inibidores do vírus da hepatite C
neste capítulo são utilizados para o tratamento de doenças in-
Boceprevir, simeprevir e telaprevir são IPs que bloqueiam a fecciosas. Entretanto, existem situações em que eles são uti-
ação da serina protease necessária para a replicação do vírus da lizados para prevenir a ocorrência de doenças - um processo
hepatite C. Esses fármacos estão aprovados para o tratamento de chamado de quimioprofilaxia. A Tabela 35-4 descreve os fár-
hepatite C crônica causada pelo vírus da hepatite C (genótipo 1) macos usados para esse propósito e as situações em que são
em combinação com peginterferon e ribavirin. O efeito adverso utilizados. Para mais informações, ver os capítulos sobre vírus
mais importante desse fármaco é anemia. individuais.
272 PARTE Ili Virologia Básica

TABELA 35-4 Uso quimioprofilático dos fármacos descritos neste capítulo

Número do capítulo para


Fármaco Uso informações adicionais

Amantadina Prevenção de influenza durante epidemias causadas pelo vírus influenza A 39

Aciclovir Prevenção de doença disseminada causada por herpes-vírus simples ou 37


VZ.V em pacientes imunocomprometidos

Ganciclovir Prevenção de doença disseminada causada por CMV em pacientes 37


imunocomprometidos, principalmente retinite em pacientes com
Aids

Palivizumabe Prevenção de bronquiolite e pneumonia causadas pelo vírus sincicial 39


respiratório em crianças

Zidovudina ou nevirapina Prevenção de infecção por HIV em neonatos 45

Zidovudina, lamivudina e indinavir Prevenção de infecção por HIV em ferimentos causados por agulhas 45

Aids, síndrome da imunodeficiência adquirida; CMV, citomegalovírus; HIV, vírus da imunodeficiência humana; HSV, herpes-vírus simples; VZV, vírus varicela-zóster.

CONCEITOS-CHAVE

• Toxicidade seletiva é a capacidade de um fármaco inibir a repli- Inibidores de herpes-vírus: inibidores não
cação virai sem significativamente danificar a célula hospedeira.
nucleosídeos
É difícil atingir um alto grau de toxicidade seletiva com fármacos
• O foscarnet inibe a DNA-polimerase de todos os herpes-vírus,
antivirais, uma vez que o vírus só pode se replicar no interior de
mas é clinicamente útil contra herpes-vírus simples e CMV. Ele é
células e utiliza muitas funções celulares durante a replicação.
um análogo de pirofosfato que inibe a clivagem de pirofosfa-
to a partir do trifosfato nucleosídeo que foi adicionado à cadeia
Inibição de eventos precoces crescente de DNA.
• A amantadina inibe o desnudamento do vírus influenza A blo-
queando a atividade de "canal iônico" da proteína de matriz virai Inibidores de retrovírus: inibidores nucleosídeos
(proteína M2). O fármaco não tem efeito contra vírus influenza B (NRTls)
ou e.
• A zidovudina inibe a DNA-polimerase (transcriptase reversa)
• O maraviroque inibe a ligação da gpl 20 do HIV ao receptor CCR-5 do HIV. Ela é um fármaco terminador de cadeia porque pos-
da célula. sui um grupo azida no lugar do grupo hidroxila na posição 3'.
• O enfuvirtida é um "inibidor de fusão''. Ele inibe a fusão do HIV Diferentemente do aciclovir, ela não requer uma cinase cod ifi-
com a membrana da célula se ligando a gp41, uma proteína de cada pelo vírus para ser fosforilada. Cinases celulares fosforilam
envelope do HIV. o fármaco, então ela é ativa em células não infectadas, e efeitos
adversos significativos podem ocorrer.

Inibidores de herpes-vírus: inibidores nuc/eosídeos • Outros fármacos com o mesmo mecanismo de ação incluem la-
mivudina, didanosina, entricitabina, estavudina, abacavir eteno-
• O aciclovir inibe a DNA-polimerase do herpes-vírus simples
fovir.
(HSV) 1 e 2, e também do vírus varicela-zóster (VZV). O aciclovir
precisa ser ativado dentro da célula infectada por uma timi-
dina-cinase codificada pelo vírus e que fosforila o fármaco. O
Inibidores de retrovírus: inibidores não
aciclovir não é fosforilado em células não infectadas, e a síntese nucleosídeos (NNRTls)
de DNA celular não é inibida. A toxicidade seletiva é alta, e há • Nevirapina, delavirdina, efavirenz, etravirina e rilpivirina ini-
poucos efeitos colaterais. bem a DNA-polimerase (transcriptase reversa) do HIV, mas
• O aciclovir é um fármaco terminador de cadeia porque não não são análogos de nucleosídeos.
possui um grupo hidroxila na posição 3 '. Ele não possui um
anel de ribose (i.e., ele é aciclo, que significa sem anel). A ausên- Inibidores do vírus da hepatite B
cia desse grupo hidroxila faz o próximo nucleosídeo trifosfato • Adefovir, entecavir, lamivudina e telbivudina inibem a DNA-poli-
não ser adicionado e a cadeia de DNA replicante ser terminada. merae do vírus da hepatite B (HBV). Esses fármacos são úteis no
• O aciclovir inibe a replicação, mas não apresenta efeito na tratamento de infecções crônicas por HBV.
latência de herpes-vírus simples 1, herpes-vírus simples 2 e VZV.
• A ação do ganciclovir é muito similar à do aciclovir, mas ele é Inibidores do vírus da hepatite C
efetivo contra citomega lovírus (CMV), ao passo que o aciclovir • O sofosbuvir é útil no tratamento de infecções agudas ou crôni-
não é. cas pelo HCV.
CAPÍTULO 35 Fármacos Antivirais 273

Inibidores de outros vírus • Boceprevir, simeprevir e telaprevir inibem a protease do vírus


da hepatite C.
• A ribavirina é um análogo de guanina que inibe síntese de ácido
nucleico de vários vírus, incluindo do vírus sincicial respiratório e
vírus da hepatite C. Inibidores da síntese de proteínas virais
• lnterferons inibem a replicação virai por meio da degradação
do mRNA e do bloqueio da síntese proteica. (Ver Capítulo 33
Inibidores da integrase
para mais informações.) O interferon a peguilado é utilizado no
• Raltegravir, elvitegravir e dolutegravir inibem a integrase codifi- tratamento da hepatite B crônica e também no tratamento de in-
cada pelo HIV, b loqueando a integração do DNA pró-virai do HIV fecções agudas e crônicas pelo vírus da hepatite C.
no genoma da célula hospedeira.
• O fomivirsen é um DNA antissenso que se liga ao mRNA do CMV,
o que impede que o mRNA seja traduzido em proteínas v irais.
Inibidores da protease
• O indinavir e outros fármacos similares inibem a protease co- Inibidores da liberação dos vírus
dificada pelo HIV. A inibição da protease impede a clivagem dos • O zanamivir e o oseltamivir inibem a neuraminidase tanto
polipeptídeos precursores, que impede a formação das proteínas do vírus influenza A quanto do influenza B. Isso impede a li-
estruturais do vírus. A síntese de vírus infecciosos é inibida, mas o beração da progênie virai, reduzindo a d ispersão do vírus para
DNA virai integrado no DNA da célula hospedeira não é afetado. células v izinhas.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 4. Em relação ao aciclovir, qual das seguintes opções é a MAIS correta?
(A) In ibição da medula óssea é um efeito adverso significativo.
1. Considerando o modo de ação dos fármacos antivirais, qual das se-
(B) Ele termina o estado latente de herpes-vírus simples 1 e her-
guintes opções é a MAIS correta?
pes-vírus simples 2.
(A) A amantadina inibe a DNA-polimerase codificada pelo vírus (C) Ele inibe a timidina-cinase codificada pelo vírus que é neces-
que é necessária para sintetizar o DNA da progênie viral. sária para sintetizar DNA viral.
(B) A lamivudina inibe a RNA-polimerase codificada pela célula (D) Resistência a aciclovir é principalmente causada por bombas
que é necessária para sintetizar o genoma viral. de prótons que exportam o fármaco da célula.
(C) O raltegravir inibe a tradução de mRNA viral em proteínas (E) Ele é um fármaco terminador de cadeia, uma vez não possui
virais. um anel de ribose completo e, portanto, não contém um grupo
(D) O ritonavir inibe a protease codificada pelo vírus que é neces- hidroxila no local correto.
sária para clivar polipeptídeos precursores virais em proteínas
funcionais.
(E) A zidovudina inibe a RNA-polimerase codificada pelo vírus
que é necessária para sintetizar mRNA viral.
RESPOSTAS
2. Qual das seguintes opções melhor descreve a ação do oseltamivir 1. (D)
(Tamiflu)? 2. (E)
3. (D)
(A) Inibe a transcriptase reversa.
4. (E)
(B) Inibe a RNA-polimerase dependente de RNA do vírion.
(C) Inibe a RNA-polimerase dependente de DNA na célula infec-
tada.
(D) Inibe a síntese de proteínas virais pela ligação à subunidade QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
60S do ribossomo.
(E) Inibe a neuraminidase necessária para liberação do vírus da
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
célula infectada. contradas na seção de Virologia Básica da Parte XIII: Questões
para Autoavaliação, a partir da página 700. Consulte também a
3. Qual das seguintes opções é um efeito adverso bem-descrito dos ini-
Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
bidores de protease utilizados para tratamento de infecções por HIV?
na 731.
(A) In ibição da medula óssea.
(B) Perturbações no sistema nervoso central.
( C) Hepatite induzida pelo fármaco.
(D) Lipodistrofia.
(E) Neuropatia periférica.
CAPÍTULO

Vacinas Virais

CONTEODO DO CAPÍTULO

Introdução Conceitos-chave
Imunidade ativa Aplique seu conhecimento
Imunidade passiva Questões para autoavaliação
Imunidade de rebanho

INTRODUÇÃO o vírus da vacina não se replica. Na ausência de replicação, epí-


topos virais não são apresentados em associação com proteínas
Como poucos fármacos são úteis contra infecções virais, a pre- do MHC de classe I, e a resposta de células T citotóxicas não é
venção da infecção pelo uso de vacinas é muito importante. ativada (ver Capítulo 58). Apesar de as vacinas vivas estimularem
A prevenção de doenças virais pode ser conquistada pelo uso de uma resposta de longa duração, doses de reforço são atualmente
vacinas que induzem imunidade ativa ou pela administração de recomendadas para as vacinas de sarampo e de pólio.
anticorpos pré-formados que fornecem imunidade passiva. Uma forma singular de vacina viral viva atenuada é a vacina
contra influenza que contém um mutante sensível à temperatura
do vírus como imunógeno. O mutante sensível à temperatura irá
IMUNIDADE ATIVA
Existem dois tipos de vacinas que induzem imunidade ativa: as
1
que contêm vírus vivo cuja patogenicidade foi atenuada e as que TABELA36-1 Características de vacinas virais vivas e
contêm vírus inativado. Algumas vacinas, como a vacina da he- inativadas
patite B, contêm proteínas virais purificadas e são, em geral, cha-
madas de vacinas de subunidades. As características das vacinas Característica Vacina viva Vacina inativada
de subunidades lembram as das vacinas inativadas, uma vez que
Duração da imunidade Mais duradoura Mais curta
não ocorre replicação viral nessas vacinas. Os atributos das vaci-
nas vivas e inativadas estão listados na Tabela 36-1. Eficiência de proteção Maior Menor
Em geral, há uma preferência por vacinas vivas em vez de
lmunoglobulinas (lg) lgA1 e lgG lgG
vacinas contendo vírus inativados uma vez que sua proteção é
produzidas
maior e mais duradoura. Com as vacinas vivas, o vírus multi-
plica-se no hospedeiro, produzindo um estímulo antigênico pro- Imunidade celular pro- Sim Fraca ou
longado, e tanto IgA quanto IgG são induzidos quando a vacina duzida inexistente
é administrada pela rota natural de infecção (p. ex., quando a
Interrupção da transmis- Mais eficiente Menos eficiente
vacina de pólio é administrada oralmente). Vacinas inativadas,
são de vírus virulentos
que são normalmente administradas intramuscularmente, não
estimulam uma grande resposta de IgA. Vacinas inativadas tam- Reversão à virulência Possível Não
bém não estimulam uma resposta de células T citotóxicas, já que
Estabilidade em tempe- Baixa Alta
ratura ambiente
1
Um vírus atenuado é um vírus incapaz de causar doença, mas que man- Excreção do vírus va- Possível Não
tém sua antigenicidade e pode induzir proteção.* cinai e transmissão
*N. de T. A característica mais notável de um vírus vacinal atenuado, para contatos não
1
além daquelas apresentadas em , é o fato de que ele ainda é capaz de imunizados
se multiplicar - ou pelo menos iniciar seu ciclo replicativo - dentro das
1
células de um indivíduo imunizado. Se a vacina for administrada pela rota nat u ral.
CAPÍTULO 36 Vacinas Virais 275

se replicar nas vias aéreas mais frias do nariz, onde induz imuni- A maioria das vacinas virais são, em geral, administradas an-
dade baseada em IgA, mas não irá se replicar no tecido pulmonar tes de uma exposição conhecida (i.e., elas são administradas pré-
mais quente, não causando doença. -exposição). Entretanto, existem duas vacinas, as vacinas contra
Existem três considerações sobre o uso de vacinas vivas: raiva e hepatite B, que também são eficientes quando administra-
das pós-exposição, pois o período de incubação dessas doenças
(1) Elas são compostas por mutantes virais atenuados, que
é longo o suficiente para que a imunidade induzida pela vacina
podem reverter a virulentos tanto durante a produção da vacina
possa prevenir a doença. Portanto, a vacina contra raiva é mais
quanto na pessoa imunizada. A reversão à virulência durante a
comumente administrada em pessoas depois que elas receberam
produção pode ser detectada por testes de controle de qualidade,
uma mordida de um animal potencialmente raivoso, e a vacina
mas não há testes para predizer se a reversão ocorrerá no indiví-
contra hepatite B é administrada em pessoas que sofreram uma
duo imunizado. Das vacinas vivas comumente utilizadas, apenas
lesão causada por agulhas.
a vacina da pólio já apresentou problemas relativos à reversão;
A perspectiva é de que algumas das desvantagens das vacinas
vacinas de sarampo, caxumba, rubéola e varicela não apresenta-
atuais sejam suprimidas pelo uso de antígenos virais purificados
ram esses problemas.
produzidos a partir de genes clonados em bactérias ou leveduras.
Mesmo que o vírus de uma vacina viva não reverta, ele ainda
As vantagens dos antígenos produzidos pelo processo de clona-
pode causar doença porque, mesmo atenuado (enfraquecido), ele
gem consistem em não possuir nenhum ácido nucleico viral, e,
ainda pode ser patogênico em um hospedeiro com imunidade
portanto, não poder replicar nem reverter a virulentos, não pos-
reduzida. Por essa razão, vacinas com vírus vivos não devem ser
suir vírus contaminantes de cultivo de células, e poder ser pro-
administradas a pessoas imunocomprometidas ou a mulheres
duzidos em grande quantidade. Uma desvantagem dessas vacinas
grávidas, já que há risco de o feto ser infectado.
clonadas é que elas são improváveis de estimular uma resposta
(2) A vacina viva pode ser excretada pela pessoa imuniza-
de células T citotóxicas, já que nenhuma replicação viral ocorre.
da. Este aspecto é uma faca de dois gumes. Por um lado, isso é
Outra expectativa para o futuro é o uso de "vacinas de DNA".
vantajoso caso a disseminação do vírus imunize outros com su-
Essas vacinas contêm DNA purificado, que codifica as proteínas
cesso, como ocorre com a vacina viva de pólio. Por outro lado,
virais apropriadas, geneticamente inserido em um vetor viral ou
entretanto, isso pode ser um problema quando, por exemplo, um
plasmídeo. A imunização com esse composto de DNA gera tanto
poliovírus revertido a virulento se dissemina para uma pessoa
anticorpos quanto células T citotóxicas e protege contra doenças
suscetível. Casos raros de paralisia por pólio ocorrem a cada ano
em experimentos com animais.
nos Estados Unidos por essa via de infecção.
Algumas vacinas vivas, como as vacinas contendo vírus vac-
(3) Um segundo vírus pode contaminar a vacina se ele es-
cínia, adenovírus e poliovírus, estão sendo utilizadas experimen-
tiver presente nas culturas de células utilizadas para preparar a
talmente para imunização contra outros vírus, como HIV. Isso
vacina. Essa preocupação existe tanto para vacinas vivas quanto
é realizado pela inserção de um gene de HIV no genoma viral
inativadas, apesar de as vacinas vivas serem mais problemáticas, já
e, então, pela infecção de um animal experimental com o vírus
que o processo que inativa o vírus da vacina inativada pode tam-
construído. A vantagem desse procedimento é que uma resposta
bém inativar o vírus contaminante. É interessante, portanto, que
de células T citotóxicas é gerada (porque o vírus está se replican-
o evento mais marcante de contaminação de uma vacina tenha
do), enquanto, se o antígeno purificado sozinho fosse usado para
ocorrido com a vacina inativada para pólio. Em 1960, foi relatado
imunizar o animal, uma resposta de anticorpos - mas não uma
que o vírus vacuolizante símio 40 (SV40) vivo, um vírus "passa-
resposta de células T citotóxicas - seria gerada.
geiro" inaparente em células de rim de macaco, havia contamina-
As vacinas virais atualmente em uso são descritas na Ta-
do alguns lotes de vacina de pólio e era resistente ao formaldeído
bela 36-2. As vacinas, tanto virais quanto bacterianas, reco-
utilizado para inativar o poliovírus. Houve grande preocupação
mendadas para crianças de O a 6 anos de idade são listadas na
quando se descobriu que o vírus SV40 causa sarcomas em uma
Tabela 36-3.
variedade de roedores. Felizmente, ele não causou câncer em indi-
víduos inoculados com a vacina de pólio contaminada.
Algumas vacinas virais, como as vacinas de influenza, sa- IMUNIDADE PASSIVA
rampo, caxumba e febre amarela, são produzidas em embriões de
A imunidade passiva é fornecida pela administração de anticor-
galinha. Essas vacinas não devem ser administradas em pessoas
pos pré-formados em preparações chamadas de imunoglobuli-
que apresentem uma reação anafilática a ovos. Pessoas com
nas. As imunoglobulinas úteis na prevenção de doenças virais
alergia a penas de galinha podem ser imunizadas.
são descritas a seguir. A imunidade passiva-ativa é induzida pela
Além das desvantagens já mencionadas das vacinas inativa-
administração tanto de imunoglobulinas, para fornecer proteção
das - isto é, elas induzem uma proteção de curta duração, são
imediata, quanto de uma vacina, para fornecer proteção a longo
menos protetoras e induzem menos anticorpos IgA - , ainda há
prazo. Essa estratégia é descrita nas seções sobre raiva e hepati-
o problema em potencial de que o processo de inativação pode ser
te B. As seguintes preparações estão disponíveis:
inadequado. Apesar de isso ser raro, já aconteceu nos primeiros
dias da produção da vacina de pólio inativada. Não obstante, as va- (1) Imunoglobulinas contra raiva (RIG, rabies immune glo-
cinas inativadas apresentam duas vantagens importantes: elas não bulin) são utilizadas na prevenção de raiva em pessoas que po-
podem reverter ao estado virulento, e são mais estáveis que as dem ter sido expostas ao vírus. Ela é administrada pela injeção
vacinas vivas quando expostas a temperaturas elevadas. Assim, da maior quantidade possível de RIG no tecido do local da mor-
elas podem ser utilizadas mais facilmente em climas tropicais. dida, enquanto o restante é administrado intramuscularmente.
276 PARTE Ili Virologia Básica

TABELA 36-2 Vacinas virais atuais

Uso Vacina Vírus vivo, vírus inativado ou subunidade virai

Comum Sarampo Vivo


Caxumba Vivo
Rubéola Vivo
1
Varicela (catapora) Vivo
2
Pálio Vivo e inativado *
3
Vírus influenza Vivo e inativado (subunidades purificadas)
Hepatite A lnativado
4
Hepatite B Subunidade
Raiva lnativado
5
Rotavírus Vivo
Papilomavírus humano Subunidade
6
Situações especiais Febre amarela ** Vivo
6
Encefalite japonesa lnativado
Adenovírus Vivo
7
Varíola Vivo
1
Existem duas vacinas que contêm vírus da varicela-zóster vivo: uma que previne varicela e outra que previne zóster (ver Capítulo 37).
2
Apenas a vacina inativada é recomendada para imunização de rotina nos Estados Unidos.
3
A vacina viva contém um mutante do vírus influenza sensível à temperatura. A vacina inativada contém duas subunidades proteicas purificadas (hemaglutinina e
neuraminidase) obtidas após o vírus ser quimicamente inativado.
4
A vacina recombinante contém apenas o antígeno de superfície do HBV.
5
Existem duas vacinas com rotavírus vivos (ver Capítulo 40).
6
Usada ao viajar para áreas endêmicas.
7
Usada por militares e certos agentes de saúde, como os "primeiros respondedores': e equipes de salas de emergência.
*N. de R.T. No Brasil, o uso da vacina viva contra pólio (vacina Sabin) é recomendado. No entanto, o Ministério da Saúde planeja introduzir o uso intercalado da vacina
inativada contra pólio de forma gradual, até a completa substituição da vacina viva pela inativada, em alguns anos.
**N. de R.T. No Brasil, por este ser um país endêmico, a vacina viva contra a febre amarela faz parte do Programa Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde, sendo
dada primeiramente aos 9 meses de idade. A vacinação é altamente aconselhável nas regiões onde há ocorrência da febre amarela silvestre.

12
TABELA 36-3 Vacinas recomendadas para crianças entre O e 6 anos '

Vacinas bacterianas Vacinas virais3

Haemophilus influenzae tipo b (Hib) Hepatite B

Meningocócica Influenza

Pneumocócica Poliovírus, inativado


Rotavírus
Sarampo, caxumba, rubéola (MMR)**
Varicela

Toxoide diftérico, toxoide tetânico, pertússis acelular (DTPa)* Hepatite A


1
As vacinas estão listadas em ordem alfabética.
2
Uma descrição completa do calendário de vacinação em uso nos Estados Unidos está disponível no website do Centers for Disease Control and Prevention, www.
cdc.gov.***
3
A vacina contra papilomavírus humano é recomendada para pessoas do sexo feminino com idades entre 9 e 26 anos.
*N. de R.T. Vacina polivalente comumente conhecida no Brasil como vacina tríplice bacteriana.
**N. de R.T. Vacina polivalente comumente conhecida no Brasil como vacina tríplice virai.
***N. de T. Já a descrição das vacinas do Programa Nacional de Imunizações (PN I) Brasileiro pode ser encontrada no website do Portal Saúde - Ministério da Saúde do
Brasil, Calendário Nacional de Imunizações: http://portalsaude.saude.gov.br/.
CAPITULO 36 Vacinas Virais 277

A preparação contéin um alto título de anticorpos produz.idos (5) Jmunog1obu1inas (IGs) são úteis para a prevenção (ou
pe)a superimuniz.ação de voluntários humanos com a vacina da mitigação) de hepatite A ou sarampo em pessoas que possam
raiva. A RJG é obtida de seres humanos para evitar reações de ter sido expostas a esses vírus. Essas IGs sã~ em geral. utilizadas
hipersensibilidade. Além da RIG. a vacina contendo virus inati• antes de viagens a áreas do mundo onde o vírus da hepatite A
vado da raiva produzido em células diploides humanas deve ser é endê1uico. As IGs co11têm um conjunto de soro obtido de um
administrada. A RIG e a vacina devem ser administradas em lo- grande número de voluntários humanos que não foram hiperi-
cais diferentes. Esse é um exemplo de imunização passiva~ativa, munizados. A eficiência da IG é baseada no fato de o anticorpo
(2) Imunoglobulinas contra hepatite B (HBIG, hepatitis B estar presente em muitos membros do co11junto.
immune globulin) são utilizadas na prevenção de hepatite Bem
pessoas que podem ter sido expostas ao vfrus por meio do conta·
to com agulhas contaminadas ou no caso de rec.ém-nascidos de IMUNIDADE DE REBANHO
mães que são carreadoras do vfrus da hepatite B. A preparação
A imunidade de rebanho (também conhecida como imunidade
contém um alto título de anticorpos contra hepatite B e é obti-
da de seres humanos para evitar reações de hipersensibilidade. de grupo) ocorre quando uma porcentagem suficientemente alta
A HBIG é, em gera1, utilizada em conjunto com a vacina contra da população (o "rebanho'') é imuniz.ada, a fim de que um indi-
hepatite B. um exemplo de imunização passiva-ativa, víduo não imuniz.ado esteja protegido (ver Capítulo 33). Para a
(3) Imunoglobulina oontra wrlcela-zó,ter (VZIG, varice/la- imunidade de rebanho ocorrer. a ,-acina precisa impedir a trans-
.zostet immune globulin) é utilizada n.a prevenção de zóster disse• missão do vírus.. assim como impede a doença. Por exemplo. a
minado em pessoas que possam ter sido expostas .ao vírus e que vacina viva atenuada de pólio consegue fornecer boa imunidade
de rebanho porque ela induz lgA intestina), que. impede o polio-
são imunocomprometidas. A preparação contém um alto título
de anticorpos contra o vírus da varicela-zóster e é obtida de seres vtrus de se replicar no trato gastrintestina1 e ser traitsmitido para
outros. Entretant~ a vacina inativada de pó)io não induz imuni-
humanos para evitar reações de hipersensibilidade.
(4) lmunoglobu1inas contra vaccinla (VIG. vaccinia immu- dade de rebanho, uma vez que lgA secretado não é produzido, e
ne globulins) podem ser utilizadas para tratar aJgum.as das com-
indivíduos imunizados (apesar de protegidos contra a polioiuieli-
plicações da vacinação contra variola. te) ainda podem servir de fo11te de poJiovims pata outros.

CONCEITOS-CHAVE

Imunidade ativa te quando lgG é transferi do da m3e para o feto, p« meio da pia·
Imunidade ativa pode se, ge, ada p« vacinas contendo vírus ina· centa, e quando lgA é tfansferido da mãe para o recém-nascido,
Uvado, subunidades proteicas purtflcadas ou vírus vivos atenua· pelocolostro.
dos (etifraqueddos). A principal va.ntagem da Imunidade passiva é que ela fornece
Em geral, vacinas com vírus vivo .slio pritferldas a vacinas ln• proteção Imediata. A ptincipal desvantagem é que ela não for·
nece ptoteç:ão a longo pc-azo (i.e., ela é ativa apenas p« pou~s
tlvadas pof t,~s razões: (1) elas induzem um alto título de anU•
corpos e proteção de longa duração; (2) elas induzem uma maior semanas a poucos meses).
variedade de anticofpos (p. ex., tanto lgA quanto lgG, e não ape· Preparações de imunoglobulinas contfa vfrus da raiva, virus da
nas lgG); e (3) elas ativam células T citotóxicas, que matam ~ lulas hepatite A. vírus da hepatite 8 e vírus da varícela-2:óster são efi·
infectadas por vfrus. dentes.
Existem alguns problemas potenciais com vacinas de vf.. A lmunldadê passiva-ativa consl1te na adminl1t:raçlo tanto
rus vivos, o mais importante sendo a rewrslo à vlrulfnda. de lmunoglobullnas quanto de uma vacina virai. Isso forne-
A transmissão do vírus vadnal para outros que possam se, imu· ce ptoteç:ao imediata e de longa duração, Por exemplo, proteção
nocomprometidos é outta preocupação. Também pode haver contra raiva em uma pessoa nao imuniuida que foi mordida por
um segundo vírus indesejado na vacina, que estava p,esente nas um animal potendalmente raivoso consiste tanto em imunoglo·
~ lulas utilizadas pata produzir o vírus vacinai. Esse segundo vírus buli nas contra raiva quanto em vacina contta raiva.
pode causar efeitos adversos.
Vacinas de virus vivo nlo devem sêr admlnl1t:radas para ln- Imunidade de rebanho
divfduOJ imunof.iomprometldos ou para mulheres gr,vldas. lmunldadê dê rebanho é a proteção de um indivíduo que re·
Vacinas produzidas em embriões de galinha, principalmente a suita da imunidade de muitos outros membfos da população (o
vacina contra i't1fluet1Zo, nao devem se, administradas a pessoas '"rebanho") que intetrompe a uansmissão do vírus pata o indivi·
que aptesentam reaçãoanafilática a ovos. duo. Ela pode se, conquistada tanto por imuni:iação ativa quanto
pela infecção natural de uma porcentagem suficientemente alta
da população. A imunidade de tebanho édiflc-ilmente cooquista·
Imunidade passiva
da por imunidade passiva porque, apesar- de os anticOC"pos pro·
Imunidade pauiva f a Imunidade adaptativa por um lndlvf.. tegefem o indivíduo conti a a disseminação do vfrus por meio da
duo pela tran.sferfnda dê antlcorpo.s p"·formados produ?i• corrente sanguínea, eles difldlmente impeditiam a replicação do
dos tanto em outfOS seres humanos quanto em animais. Essas vírus em out, as pottas de entrada e, consequentemente, a trans·
preparações de anticorpos são nofmalmente chamadas de imu• missão para outros.
noglobulinas. A imunidade passiva também ocOC"re naturalmen·
278 PARTE Ili Virologia Básica

APLIQUE SEU CONHECIMENTO RESPOSTAS


1. Em relação às vacinas virais, qual das seguintes opções é a MAIS 1. (D)
correta? 2. (C)
(A) Vacinas inativadas induzem uma resposta mais duradoura do 3. (B)
que vacinas vivas atenuadas. 4. (B)
(B) Vacinas inativadas não são mais utilizadas no Brasil porque
elas não induzem IgA secretora.
(C) Vacinas inativadas induzem uma faixa mais ampla de respos- QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
tas imunes do que vacinas vivas atenuadas.
(D) Vacinas inativadas são mais seguras de serem administradas a Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
pacientes imunocomprometidos do que vacinas vivas atenuadas. contradas na seção de Virologia Básica da Parte XIII: Questões
2. Indivíduos que possuem uma reação anafilática a proteínas de ovo para Autoavaliação, a partir da página 700. Consulte também a
NÃO devem receber qual das seguintes vacinas? Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
(A) Vacina contra hepatite A. na 731.
(B) Vacina contra hepatite B.
(C) Vacina contra influenza.
(D) Vacina contra pólio.
(E) Vacina contra raiva.
3. A indução de imunidade passiva-ativa é útil na prevenção de qual
dos seguintes conjuntos de duas doenças virais?
(A) Hepatite A e dengue.
(B) Hepatite B e raiva.
(C) Influenza e varicela.
(D) Caxumba e febre amarela.
(E) Rubéola e sarampo.
4. Proteção de um indivíduo não imunizado com base na imunização
de um número suficiente de outros membros da população é a des-
crição de qual das seguintes imunidades?
(A) Imunidade ativa.
(B) Imunidade de rebanho.
(C) Imunidade passiva.
(D) Imunidade passiva-ativa.
(E) Imunidade pós-exposição.
A maioria dos vírus clinicamente. importantes pode ser c.ategori- por meio do uso efetivo de uma vacina. O vírus do molusco con.
zada em grupos de acordo com as suas caracter(sticas estruturais tagioso é o único poxvfrus que causa doença nos Estado Unidos
(i.e., vírus de DNA envelopados, vfrus de DNA não e-nve)opados1. nos tempos atuais." (Ver Capítulo 37.)
vírus de- RNA enveJopados.. vírus de RNA não envelopados) (ver
Capítulos 37 a 40 e Tabela IV-1).
No entanto, aJguns vírus (p. ex, arbovirus, vírus twnorais e VÍRUS DE DNA NÃO ENVELOPADOS
vírus lentos) (ver Capítulos 41 a 45) são melhor descritos em ter.
mos de suas c,aracteristicas biológicas. Diversos v(rus de menor Adenovírus
importância clínica (p. ex., parvovírus e coronav(rus) são descri- Esses virus são conhecidos por causar infecções dos tratos respi·
tos no Capftu1o 46. Uma visão geral das quatro categorias virais é ratórios inferior e superior. induindo faringites e pneumon.ias.
apresentada a seguir. (Ver Capítulo 38.)

Papllomavírus
VÍRUS DE DNA ENVELOPADOS
Esses virus causam papi)omas na pele e nas membranas muco.
Herpes-vírus sas de diversas áreas do corpo. Alguns tipos virais estão implica.
E.sses vírus se destacam por sua capacidade de causar infecçõe.s dos como causas de cânceres (p. ex., carcinoma de colo uterino).
latentes. F.ssa famí1ia de vírus illclui (1) os herpes.v(rus simples (Ver Capítulo 38.)
1 e 2, que caus.am a formação de vesfculas dolorosas na face e. na
região genita1. respectivamente; (2) o virus varicela-zóster, causa- Parvovírus B19
dor da variceJa (catapora) geralmente em crianças e. quando há a Esse v(rus causa a síndrome da "'bochecha esbofete-ada~ hidropi·
recorrência. do zóster; (3) o citomegalov(rus.. que constitui uma sia fetal e anemia grave, principalmente naque)es pacientes que
importante causa de más-formações congênitas; (4) o vírus Eps- apresentam alguma forma de anemia hereditária, como a anemia
tein-Barr, agente da mollonucleose infecciosa; e (5) o herpes-v(rus falciforme. (Ver Capítulo 38.)
humano 8, causador do sarcoma de Kaposi (ver Capítulo 37.)

Vírus da hepatite B VIRUS DE RNA ENVELOPADOS


Esse vitus é uma importante causa de hepatites virais. Diferen- Vírus respiratórios
temente do v(rus da hepatite A (um vírus de RNA nucJeocaps(-
dico). o vírus da hepatite B causa uma forma mais grave de he- ( 1) Vírus influenza A e B. O v(rus da influenza A é o princi-
patite. re.sulta frequentemente no e.stado de portador crônico. e pal causador de epidemias recorrentes de gripe.
está imp)icado na indução do carcinoma hepatocelular, que é o (2) Virusp<mu'nfluenza. Esses vírus constituem a causa prin·
tipo de câncer mais comum em todo o mundo. (Ver Capítulo 41.) cipal de crupe em crianças mais novas e uma importante e-a.usa de
resfriados comuns em adultos.
(3) Vírus respiratório sincicial. Este vírus é o princ-ipal causa-
Poxvírus dor de bronquioJites e pneum.01tias em a ianças. (Ver Capítu1o 39.)
Os poxvírus constituem os maiores e mais complexos vírus que
infectam seres humanos e/ou animais. A ,,adota foi erradicada

1Vlnls não cm·dopados também são chamados de vírus nucloocapsídkos • N. de ·e: No cntan~ outros pox\•írus que acometem os SC'fC'S humanos ocor•
nus. rcm na AmC-rica do Sul. incluindo o BrasiL na Europa. na Ásia e na África.
280 PARTE IV Virologia Clínica

TABELA IV-1 Principais patógenos virais

Estrutura Vírus

Vírus de DNA envelopados Herpes-vírus (herpes-vírus simples 1 e 2, vírus varicela-zóster, citomegalovírus, vírus Epstein-Barr,
herpes-vírus humano 8), vírus da hepatite B, vírus da varíola

Vírus de DNA nucleocapsídicos Adenovírus, papilomavírus, parvovírus B19

Vírus de RNA envelopados Vírus influenza, vírus parainfluenza, vírus respiratório sincicial, vírus do sarampo, vírus da caxumba,
vírus rubéola, vírus da raiva, vírus T-linfotrófico humano, vírus da imunodeficiência adquirida, vírus
da hepatite C

Vírus de RNA nucleocapsídicos Enterovírus (poliovírus, vírus de Coxsackie, ecovírus, vírus da hepatite A), rinovírus, rotavírus, vírus
Norwalk, vírus da hepatite E

Vírus do sarampo, caxumba e rubéola países em desenvolvimento. Mais importante nos Estados Unidos
são os vírus de Coxsackie, capazes de causar meningites assépti-
Esses vírus causam doenças conhecidas relacionadas à infância
cas, miocardites e pleurodinia, e também os ecovírus, que cau-
e são os componentes da vacina tríplice viral (MMR, mumps,
sam meningites assépticas. (Ver Capítulo 40.)
measles and rubella). O amplo uso da vacina reduziu marca-
damente a incidência dessas doenças nos Estados Unidos e em
outras partes do mundo. Esses vírus são conhecidos por compli- Rinovírus
cações associadas às doenças que causam (p. ex., a infecção pelo Esses vírus constituem a causa mais frequente de resfriados co-
vírus da rubéola em mulheres grávidas pode causar más-forma- muns. Eles possuem um grande número de tipos antigénicos di-
ções congênitas). (Ver Capítulo 39.) ferentes, característica responsável por sua habilidade de causar
doenças com tamanha frequência. (Ver Capítulo 40.)
Vírus da raiva
Esse vírus causa uma encefalite quase invariavelmente fatal após a Rotavírus
sua transmissão pela mordida de um animal rábico. Nos Estados Esses vírus possuem um genoma bastante incomum, compos-
Unidos, animais silvestres, como cangambás, raposas, guaxinins e to por 11 segmentos de RNA de dupla-fita. Os rotavírus são
morcegos, constituem os principais reservatórios do vírus. Entre- uma importante causa de gastrenterite em crianças mais novas.
tanto, infecções em seres humanos são raras. (Ver Capítulo 39.) (Ver Capítulo 40.)

Vírus da hepatite C Vírus da hepatite A


Esses vírus causam a hepatite C, a forma mais prevalente de he- Esse vírus constitui uma importante causa de hepatite. Trata-se
patites nos Estados Unidos. Ele é responsável por elevadas taxas de um enterovírus, contudo, neste livro ele será tratado em con-
do estado de carreador crônico e predispõe à hepatite crônica e junto com o vírus da hepatite B. O vírus da hepatite A é estrutu-
também ao carcinoma hepático. ralmente distinto do vírus da hepatite B, sendo que o último é um
vírus de DNA envelopado. Adicionalmente, ele é epidemiologi-
Vírus T-linfotrófico humano camente distinto da hepatite B (i.e, afeta principalmente crianças,
é transmitido pela rota fecal-oral e raramente gera um estado de
Esse vírus causa a leucemia de células T em seres humanos. Tam-
carreador crônico). (Ver Capítulo 41.)
bém causa uma doença de cunho autoimune, denominada para-
paresia espástica tropical. (Ver Capítulo 43.)
Norovírus
Vírus da imunodeficiência humana Os norovírus são uma causa comum de gastrenterites, sobretudo
em adultos. Eles constituem uma causa conhecida de surtos de
O vírus da imunodeficiência humana (HIV) causa a síndrome da
vômito e diarreia em hospitais, casas de repouso e em cruzeiros
imunodeficiência adquirida (Aids). (Ver Capítulo 45.)
navais. (Ver Capítulo 40.)

VÍRUS DE RNA NÃO ENVELOPADOS Hepevírus


O principal patógeno humano na família dos hepevírus é o vírus
Enterovírus da hepatite E (HEV, hepatitis E vírus). Ele causa uma hepatite ad-
Esses vírus infectam o trato entérico e são transmitidos pela rota quirida pela rota fecal-oral, de forma similar ao que ocorre com o
fecal-oral. Os poliovírus raramente causam doença nos Estados vírus da hepatite A. O HEV é um vírus não envelopado, com um
Unidos devido ao uso da vacina, no entanto, permanecem como genoma de RNA de fita simples e polaridade positiva.
causa importante de meningites assépticas e paralisia em alguns
PARTE IV Virologia Clínica 281

OUTRAS CATEGORIAS TABELA IV-2 As 1Odoenças virais notificáveis mais


1
comuns nos Estados Unidos em 2011
O Capítulo 42 descreve um grupo variado de arbovírus, cuja
principal característica comum é o fato de serem transmitidos Doença Número de casos
por um vetor artrópode. O Capítulo 43 descreve vírus tumorais,
Diagnósticos de infecção por HIV 35.266
e o Capítulo 44 analisa os vírus "lentos': os quais constituem,
principalmente, agentes causadores de doenças degenerativas do Cata pora (varicela) 14.513
sistema nervoso central. O Capítulo 45 descreve o HIV, causador
Hepatite B 2.903
da Aids. Os patógenos virais menos comuns são descritos no Ca-
pítulo 46. Hepatite A 1.398
A Tabela IV-2 lista a frequência de ocorrência das 10 doen-
ças virais notificáveis mais comuns nos Estados Unidos até 2011 Hepatite C 1.229
(a data mais recente para a qual dados completos estão disponí- Encefalite neuroinvasiva pelo vírus do Oeste 486
veis). Observe que o resfriado comum, provavelmente a doença do Nilo
mais frequente, não se encontra listado em razão do fato de que
não se trata de uma doença notificável. Caxumba 404

Febre da dengue 251

Sarampo 220

Doenças neuroinvasivas causadas por vírus 120


do sorogrupo California

' Data mais recente para a qual dados completos estão disponíveis.
CAPÍTULO

37 Vírus de DNA Envelopado


CONTEODO DO CAPITULO

HERPES-VÍRUS POXVÍRUS
Herpes·vírus simples 1 e 2 Vírus da varíola
Vírus da varicela--zóster (VZV} Vírus do molusco contagioso
Citomegalovírus (CMV) HEPAONAV[RUS
Vírus Epsteín-Barr (EBV) Vírus da hepatite B
Herpes·vtrus humano 8 (herpes·vfrus associado ao sarcoma Aplique seu conhecimento
de Kaposl) Resumos dos organismos
Questões para autoavaliação

HERPES-VÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
A familia Herpesviridae contém seis importantes patôgenos hu.
manos: herpes.vírus simples (HSV) tipos l e 2. vírus da varicela·
·2.ÓSter. citomega1ovfrus, vírus Epstein.Barr e o herpes. virus hu.
mano 8 (o agente do sarcoma de Kaposi).
Todos os herpes.vírus são estruturalmente similares e pos•
suem um cerne loosaédrlco circundado por um enyefope li·
poproteico (Figura 37-1). O genoma é composto por DNA de
dupJa..flta linear. O vfrion não contém uma polimerase. Os he, .
pes.vírussão grandes (120 . 200 1un de diâmetro), perdendo em
tamanho somente para os poxvCrus.
E)es se repHcam no núdeo e formam inclusões intranucle.
ares, e são os únicos vírus a adquirirem seu e11velope pelo bro-
tamento na membrana nuclear.·· Os vfrions dos herpes.v(rus
possuem um tegu.mento, )ocalizado entre o nucleocapsfdeo e o
enve)ope. F.ssa estrutu.ra contém proteínas reguJadotas, como fa.
tores transcricionais e traducionais, que desempenham um papel
importante 11a repHcação viral.
Os herpes.v(rus são conhecidos por sua habilidade em cau- FIGURA 37·1 Herpes-vírus simples 1 (HSV·1) - microfotografia ele·
sar infecções latentes. Nessas infecções.. a doença aguda é segui- tt6nica. Tr~s vírions sào visíveis. A seta curta aponta para o envelope
da por um período assintomático durante o qual o vírus per ma. de um vírion de HSV. A seta longa aponta para o nucleocapsídeo do
nece em estado quiescente (latente). Quando o paciente é exposto vírion. A átea escura entre o nucleocapsideo interno e o envelope ê>t·
a um agente estimulante ou quando há imunossuptessão, ocorre temo~ o tegumento. (Figura cortesia do Dr. John Hlerholzer. Publk Health
lmagelibtary, Centers for DlseaseControl and Preventlon.J
a reativação da replicação vira1 e, consequentemente. a doença. 1
Com alguns herpes.vírus (p. ex.• het pes•vfrus simp)es), os sin.

• N. de R.1: Pesquisas mais recentes demonstram que os herpes.vírus


adquirem seu envelope do aparelho de Golgi ou de membranas da rede tomas dos episôdios subseque11tes são similares aos do episódio
trans.(iolgL inicial; entretanto. com outros (p. ex., vfrus da varkela-zóster),
1
Observa•se a similaridade entre latência com herpeM·irus e lisogenia eles são diferentes (Tabela 37-1).
com bacteriófagos (discutida no Capitulo 29).
CAPÍTULO 37 Vírus de DNA Envelopado 283

TABELA 37-1 Características importantes das infecções comuns por herpes-vírus

Vírus Infecção primária Local normal de latência Infecção recorrente Rota de transmissão
1 23
HSV-1 Gengivoestomatite Gânglios sensoriais cranianos Herpes labial, ' encefalite, Via secreções respiratórias e saliva
ceratite
23
HSV-2 Herpes genital, doença Gânglios sensoriais lombares Herpes genital ' Contato sexual, infecção perinatal
disseminada perinatal ou sacrais
2
Vl.\/ Varicela Gânglios sensoriais cranianos Zóster Via secreções respiratórias
ou torácicos
1
EBV Mononucleose infecciosa Linfócitos B Disseminação por Via secreções respiratórias e saliva
assinto máticos3A

CMV Infecção congênita (no Monócitos Disseminação por Infecção intrauterina, transfusões,
1 2
útero), mononucleose assi ntomáticos contato sexual, via secreções
(p. ex., saliva e urina)
5 6
HHV-8 lncerta Desconhecida Sarcoma de Kaposi Sexual ou transplante de órgãos

CMV, citomegalovírus; EBV, vírus Epstein-Barr; HSV-1,2, herpes-vírus simples 1 e 2, respectivamente; HHV-8, herpes-vírus humano 8.
1
A infecção primária é frequentemente assintomática.
2
Em pacientes imunocomprometidos, a disseminação virai causa doença fatal.
>rambém ocorre disseminação por indivíduos assintomáticos.
4
lnfecção latente por EBV predispõe ao linfoma de células B.
>rambém conhecido como herpes-vírus associado ao sarcoma de Kaposi.
6
Uma síndrome semelhante à mononucleose foi descrita. O sarcoma de Kaposi também pode resultar de uma infecção primária.

Algumas informações estão disponíveis em relação aos me- local de latência. Os ex-herpes-vírus, consistindo nos vírus HSV-1
canismos pelos quais o herpes-vírus simples (HSV) e o citomega- e 2, e o VZV infectam principalmente células epiteliais e causam
lovírus (CMV) iniciam e mantêm o estado latente. Rapidamente infecções latentes em neurônios. Os ~-herpes-vírus, consistindo no
após o HSV infectar os neurônios, um conjunto de "transcritos citomegalovírus e no herpes-vírus simples 6, infectam e tornam-se
associados à latência,, (LATS, latency-associated transcript) é latentes em uma variedade de tecidos. Os -y-herpes-vírus, consis-
sintetizado. Esses RNAs reguladores, não codificantes, suprimem tindo no EBV e no herpes-vírus humano 8 (HHV-8, vírus asso-
a replicação virai. O processo pelo qual a latência é terminada ciado ao sarcoma de Kaposi), infectam e se tornam latentes prin-
e a reativação virai ocorre não é clara, mas vários disparadores, cipalmente em células linfoides. A Tabela 37-2 descreve algumas
como a luz solar, a febre e o estresse, são conhecidos. CMV esta- importantes características clínicas dos herpes-vírus mais comuns.
belece latência pela produção de microRNAs que inibem a tra- Alguns herpes-vírus são associados ou mesmo causam cân-
dução de mRNAs requeridos para a replicação virai. Além disso, ceres em seres humanos (p. ex., o vírus Epstein-Barr é associado
o genoma do CMV codifica uma proteína e um RNA que têm a ao linfoma de Burkitt e ao carcinoma nasofaringeal, ao passo que
habilidade de inibir a apoptose nas células infectadas. A inibição
da apoptose permite a sobrevivência das células infectadas.
Três dos herpes-vírus, HSV tipos 1 e 2 e o vírus varicela-
-zóster (VZV) causam um exantema vesicular, tanto durante
infecções primárias quanto nas reativações. As infecções primá-
rias são, em geral, mais graves que as reativações.* Os outros dois
herpes-vírus, CMV e o vírus Epstein-Barr (EBV), não causam
exantema vesicular.
Quatro herpes-vírus, HSV-1, HSV-2, VZVe CMV, induzem
a formação de células gigantes multinucleadas, as quais podem
ser visualizadas microscopicamente nas lesões. A importância
das células gigantes pode ser mais bem ilustrada pelo esfregaço
de Tzanck, técnica que revela células gigantes multinucleadas em
um esfregaço obtido das doloridas vesículas genitais, causadas
pela infecção pelo HSV-2 (Figura 37-2).
A família Herpesviridae pode ser dividida em três categorias
com base no tipo de células mais frequentemente infectadas e no
FIGURA 37-2 Herpes-vírus simples 2 - células gigantes multinuclea-
das em um esfregaço de Tzanck. A seta aponta para uma célula gigan-
*N. de T. Exceção para o vírus VZV, cuja reativação se manifesta na forma te multinucleada com aproximadamente oito núcleos. (Figura cortesia
de herpes-zóster, a qual pode ser mais grave do que a manifestação pri- do Dr. Joe Miller, Public Health lmage Library, Centers for Disease Control and
mária, que é a varicela. Prevention.)
284 PARTE IV Virologia Clínica

TABELA37-2 Características clínicas dos herpes-vírus

Produção de Doenças fetais ou Técnica de diagnóstico Terapia antivirai


Vírus células gigantes neonatais importantes laboratorial importante comumente utilizada
1
HSV-1 Sim Não Cultivo celular Aciclovir

HSV-2 Sim Sim Cultivo celular Aciclovir

vzv Sim Não Cultivo celular Aciclovir


2

3
CMV Sim Sim Cultivo celular Ganciclovir

EBV Não Não Anticorpos heterófilos Nenhum

HHV-8 Não Não Sondas de DNA 1nterferon a

CMV, citomegalovírus; EBV, vírus Epstein-Barr; HHV-8, herpes-vírus 8; HSV-1 e 2, herpes-vírus simples 1 e 2, respectivamente; VZV, vírus varicela-zóster.
1
Não utilizado na herpes labial recorrente.
2
Não utilizado em varicela em crianças imunocompetentes.
3
Utilizado na retinite causada por citomegalovírus e em outras formas graves da doença.

o herpes-vírus humano 8 causa o sarcoma de Kaposi). Muitos Características importantes


herpes-vírus causam câncer em animais (p. ex., leucemia em ma-
HSV-1 e HSV-2 são estrutural e morfologicamente indistin-
cacos e linfomatose em galinhas) (ver Capítulo 43).
guíveis. No entanto, eles podem ser diferenciados por meio
do padrão de restrição enzimática de seus DNAs genômicos
e também por antissoros monoclonais direcionados contra a
HERPES-VÍRUS SIMPLES 1 E 2
glicoproteína G. Os seres humanos são os hospedeiros naturais
O HSV tipo 1 (HSV-1) e o tipo 2 (HSV-2) podem ser distingui- tanto do HSV-1 quanto do HSV-2.
dos por dois caracteres principais: antigenicidade e local onde as
lesões ocorrem. As lesões causadas pelo HSV-1 estão, em geral, Resumo do ciclo de multiplicação
acima da cintura, ao passo que as causadas pelo HSV-2 estão
O ciclo inicia quando o HSV-1 se liga inicialmente ao heparan-
abaixo da cintura. A Tabela 37-3 descreve algumas diferenças im-
-sulfato na superfície celular e, então, a um segundo receptor, a
portantes entre as doenças causadas por HSV-1 e HSV-2.
nectina. Logo após a fusão do envelope viral com a membrana
celular, o nucleocapsídeo e as proteínas do tegumento são libe-
Doenças rados no citoplasma. O nucleocapsídeo viral é transportado para
O HSV-1 causa gengivoestomatite aguda, herpes labial recor- o núcleo, onde se dirige para o poro nuclear, e o DNA genômi-
rente, ceratoconjuntivite (ceratite) e encefalite, sobretudo em co penetra no núcleo juntamente com a proteína do tegumento
adultos. O HSV-2 causa herpes genital, encefalite neonatal e VP16. O DNA genômico linear torna-se circular. VP16 interage
outras formas de herpes neonatal e meningite asséptica. A in- com fatores de transcrição celulares para ativar a transcrição de
fecção pelo HSV-1 ou HSV-2 é uma causa comum de eritema genes imediatamente precoces (IE, immediate early) pela RNA-
multiforme. -polimerase da célula hospedeira. RNA mensageiro IE é traduzi-

TABELA 37-3 Comparação das doenças causadas por HSV-1 e HSV-2

Local Doença causada por HSV-1 Doença causada por HSV-2

Pele Lesões vesiculares acima da cintura Lesões vesiculares abaixo da cintura (principalmente órgãos
genitais)

Boca Gengivostomatite Rara

Olhos Ceratoconjuntivite Rara

Sistema nervoso central Encefalite (lobo temporal) Meningite


1 2
Neonato Rara Lesões de pele, encefalite e infecção disseminada

Disseminação para as vísceras em Sim Rara


pacientes imunocomprometidos

HSV-1 e 2, herpes-vírus simples 1 e 2, respectivamente.


1
Infecção adquirida após o nascimento a partir de pessoa infectada pelo HSV-1.
2
Infecção adquirida durante a passagem pelo canal do parto.
CAPÍTULO 37 Vírus de DNA Envelopado 28S

do em proteínas IE que regulam a síntese de proteínas precoces, lombar e sacral. Durante a latência, a maioria do DNA vira! está
como a DNA-polimerase que replica o genoma e a timidina- localizada no núcleo, mas não está integrada no DNA nuclear. O
-cinase. Essas duas proteínas são importantes, uma vez estão en- vírus pode ser reativado do estado latente por uma variedade de
volvidas na ação do aciclovir, o fármaco efetivo mais importante indutores (p. ex., luz solar, mudanças hormonais, traumas, estres-
contra o HSV. se e febre), quando ele migra a partir do neurônio e se multiplica
Observa-se que a síntese precoce de proteínas pelo HSV na pele, causando lesões.
pode ser dividida em duas categorias: imediatamente precoce e A lesão característica de pele é uma vesícula que contém
precoce. As proteínas imediatamente precoces são aquelas cuja fluido seroso repleto de partículas virais e fragmentos celula-
síntese de mRNA é ativada por uma proteína que faz parte da res. Quando a vesícula se rompe, vírus são liberados e podem
partícula vira! (i.e., nenhuma síntese de nova proteína vira! é re- ser transmitidos a outros indivíduos. Células gigantes mul-
querida para a produção de cinco proteínas imediatamente pre- tinucleadas são, em geral, encontradas na base das lesões de
coces). As proteínas precoces, por outro lado, requerem a síntese herpes-vírus.
de novas proteínas virais reguladoras para ativar a transcrição de A imunidade é tipo-específica, mas alguma proteção cru-
seus mRNAs. zada existe. Entretanto, a imunidade é incompleta e reinfecção
A DNA-polimerase vira! replica o DNA genômico enquan- e reativação ocorrem na presença de IgG circulante. A imuni-
to a síntese de proteínas precoces é interrompida e a síntese de dade celular é importante na limitação dos herpes-vírus, uma
proteínas tardias inicia. Essas proteínas tardias estruturais são vez que sua supressão frequentemente resulta em reativação,
transportadas ao núcleo, onde a montagem dos vírions ocorre. espalhamento e doença grave.
O vírion obtém seu envelope por brotamento por meio da mem-
brana nuclear e é liberado da célula via túbulos ou vacúolos que Achados clínicos
se comunicam com o exterior.
Em células latentemente infectadas, como os neurônios O HSV-1 causa muitas formas de doença primária e recorrente:
infectados pelo HSV, o DNA circular de HSV reside no núcleo, ( 1) A gengivoestomatite ocorre principalmente em crianças
mas não é integrado ao DNA genômico. A transcrição do DNA e é caracterizada por febre, irritabilidade e lesões vesiculares na
de HSV é limitado a poucos transcritos associados à latência boca. A doença primária é mais grave e apresenta duração su-
(LATSs). Esses RNAs reguladores, não codificantes, suprimem perior se comparada às recidivas. As lesões se curam esponta-
a replicação vira!. A reativação da replicação vira! pode ocorrer neamente em duas a três semanas. Muitas crianças têm infecção
em uma fase tardia, quando os genes que codificam LATSs são primária assintomática.
desligados. (2) Herpes labial é a forma mais suave, recorrente, caracte-
rizada por agrupamentos de vesículas, frequentemente na junção
Transmissão e epidemiologia mucocutânea dos lábios ou do nariz (Figura 37-3). A recidiva
normalmente reaparece no mesmo local.
O HSV-1 é transmitido principalmente pela saliva e por con-
(3) A ceratoconjuntivite é caracterizada por úlcera de cór-
tato direto, ao passo que o HSV-2 é transmitido por contato
nea e lesões do epitélio conjuntiva!. Recidivas podem levar a ci-
sexual. Como resultado, as infecções pelo HSV-1 ocorrem so-
catrizes e à cegueira.
bretudo na face, ao passo que lesões pelo HSV-2 ocorrem na
área genital. Entretanto, práticas de sexo orogenital podem re-
sultar em infecção pelo HSV-1 nos órgãos genitais e em lesões
por HSV-2 na cavidade oral (isso ocorre em cerca de 10 - 20%
dos casos). Embora a transmissão ocorra mais frequentemente
quando as lesões ativas estão presentes, verifica-se o espalha-
mento assintomático de HSV-1 e HSV-2, sendo importante na
transmissão.
O número de infecções pelo HSV-2 tem aumentado acen-
tuadamente nos últimos anos, ao passo que as infecções pelo
HSV-1, não. Em torno de 80% da população dos Estados Unidos
são infectados com HSV-1 e 40% têm herpes labial recorrente.
A maioria das infecções primárias pelo HSV-1 ocorre na infân-
cia, o que é evidenciado pelo aparecimento precoce de anticor-
pos. Em contrapartida, anticorpos para o HSV-2 não aparecem
até a idade do início da atividade sexual.

Patogênese e imunidade
O vírus multiplica-se na pele ou na membrana mucosa no lo-
cal inicial da infecção e, então, migra até os neurônios pelo fluxo
axonal retrógrado e torna-se latente nas células dos gânglios FIGURA 37-3 Herpes labial - observam-se vesículas sobre o lábio
sensoriais. Em geral, o HSV-1 torna-se latente nos gânglios tri- superior adjacente à vermelhidão da borda do lábio causada pelo her-
geminais, ao passo que o HSV-2 se torna latente nos gânglios pes-vírus simples 1. (Figura cortesia de Jack Resneck, Sr., MD.)
286 PARTE IV Virologia Clínica

( 4) A encefalite causada pelo HSV-1 é caracterizada por


uma lesão necrótica em um lobo temporal. Febre, vômitos, dores
de cabeça, convulsões e estado mental alterado são características
clínicas típicas. O início pode ser agudo ou prolongado por mui-
tos dias. A doença ocorre como resultado da infecção primária
ou da recidiva. Imagens obtidas pela ressonância magnética fre-
quentemente revelam as lesões. O exame do líquido espinal, em
geral, mostra moderado aumento de linfócitos, moderada eleva-
ção na quantidade de proteína e quantidade normal de glicose. A
encefalite pelo HSV-1 tem uma alta taxa de mortalidade e causa
sequela neurológica grave nos sobreviventes.
(5) Panarício herpético é uma lesão pustulosa da pele dos
dedos ou das mãos. Ela pode ocorrer em pessoas da área médica
como resultado do contato com a lesão do paciente.
(6) Herpes do gladiador, como o próprio nome sugere,
ocorre em lutadores e outros que têm contato próximo corporal.
É causado principalmente por HSV-1 e é caracterizado por lesões
vesiculares na cabeça, no pescoço e no tronco.
(7) Eczema herpético (erupção variceliforme de Kapo-
si) é uma infecção da pele em pacientes com dermatite atópica.
As lesões vesiculares são encontradas no local da dermatite atópi-
ca (eczema). A maioria dos casos ocorre em crianças.
(8) Infecções disseminadas, como esofagite e pneumonia,
ocorrem em pacientes imunocomprometidos com função de cé-
lulas T suprimida.

O HSV-2 causa doenças graves, nas formas primária e


recidivante:
FIGURA 37-4 Herpes genital - observam-se vesículas na lateral do
(1) O herpes genital é caracterizado pela ocorrência dele- pênis causadas pelo herpes-vírus simples 2. (Figura cortesia de Jack Res-
sões vesiculares nas áreas genitais e anais de homens e mulheres neck, Sr., M.D.)

(Figura 37-4). As lesões são mais graves e prolongadas na doença


primária que na recorrente. Infecções primárias estão associadas
recidiva, por duas razões: ( 1) a quantidade de vírus produzido
à febre e à adenopatia inguinal. Infecções assintomáticas ocorrem
durante a infecção primária é maior do que a produzida durante
em homens (na próstata ou na uretra) e mulheres (no colo do
a infecção secundária, e (2) mães que tenham sido previamente
útero) e podem ser uma fonte de infecção para outros indivíduos.
infectadas podem passar IgG por meio da placenta, a qual pode
Muitas infecções são assintomáticas (i.e., muitas pessoas pos-
proteger o neonato de uma infecção disseminada grave.
suem anticorpos anti-HSV-2 mas não têm história de doença).
(3) Meningite asséptica causada pelo HSV-2 é comumente
Aproximadamente 80 a 90% dos herpes genitais são cau-
uma doença autolimitante, branda, com poucas sequelas.
sados pelo HSV-2. Os casos restantes são causados pelo HSV-1
como resultado de contato oral-genital. A importância clínica As infecções pelo HSV-1 e HSV-2 são associadas ao erite-
desse fato é que a quimioprofilaxia para o HSV-2 deve ser con- ma multiforme. A erupção do eritema multiforme aparece como
siderada, uma vez que as lesões causadas pelo HSV-2 recidivam uma área central vermelha, circundada por um anel de pele nor-
com mais frequência do que aquelas causadas pelo HSV-1. mal, sendo este circundado por um anel vermelho ("alvo" ou le-
(2) Herpes neonatal é originado principalmente do contato são "olho-de-boi"). Essas lesões são, em geral, maculares ou pa-
com lesões vesiculares no canal do parto. Em alguns casos, embora pulares e ocorrem simetricamente no tronco, nas mãos e nos pés.
não haja lesões visíveis, o HSV-2 é disseminado no canal do par- Acredita-se que a erupção seja uma reação imunomediada à pre-
to (disseminação assintomática) e pode afetar a criança durante o sença de antígenos de HSV. O aciclovir é útil em prevenir episó-
nascimento. Herpes neonatal varia de uma doença grave (p. ex., le- dios de recidiva do eritema multiforme, provalmente por reduzir
sões disseminadas ou encefalite) a lesões locais mais brandas (pele, a quantidade de antígenos do HSV. Muitos fármacos, sobretudo
olhos, boca) e infecções assintomáticas. A doença neonatal pode as sulfonamidas, entre os fármacos antimicrobianos, comumente
ser prevenida pela realização da cesariana em mulheres que apre- causam o eritema multiforme. Outra causa infecciosa relevante
sentam lesões ativas ou culturas virais positivas. HSV-1 e HSV-2 inclui o Mycoplasma pneumoniae e vírus, como o da hepatite B e
podem causar infecções neonatais graves, as quais são adquiridas o da hepatite e.
a partir de pessoas cuidadoras que são portadoras. Apesar de sua O eritema multiforme principal, também conhecido como
associação com infecções neonatais, nem o HSV-1 ou o HSV-2 síndrome de Stevens-Johnson, é caracterizado por febre, lesões
causam anomalias congênitas de nenhum grau significativo. orais erosivas e lesões de pele extensivas e descamantes. A infec-
Infecção neonatal grave é mais provável de ocorrer quando a ção por M. pneumoniae é a causa infecciosa mais comum dessa
mãe está experimentando uma infecção primária, em vez de uma síndrome.
CAPÍTULO 37 Vírus de DNA Envelopado 287

Diagnóstico laboratorial cientes que apresentam recorrência frequente pelo HSV-2. Aqui-
mioprofilaxia supressiva também reduz a disseminação do vírus
Um procedimento laboratorial importante é o isolamento do ví-
e, consequentemente, a sua transmissão para outros pacientes. A
rus das lesões em culturas de células. O efeito citopático caracte-
prevenção também envolve o cuidado de evitar contato com le-
rístico ocorre em um a três dias, após os quais o vírus pode ser
sões veiculares ou úlceras. A cesariana é recomendada para mu-
identificado pela marcação das células infectadas, utilizando an-
lheres que apresentam lesões genitais ou cultura viral positiva no
ticorpos fluorescentes, ou pela detecção de glicoproteínas virais,
pré-parto. A circuncisão reduz o risco de infecção pelo HSV-2.
em ensaio imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA). O HSV-1
Não há vacina contra HSV-1 ou HSV-2.
pode ser distinguido do HSV-2 por meio do uso de anticorpos
monoclonais direcionados contra a glicoproteína G, frequente-
mente empregados em testes de ELISA.
Um diagnóstico presuntivo rápido pode ser feito a partir das
VÍRUS VARICELA-ZÕSTER (VZV)
lesões da pele, pelo esfregaço de Tzanck, no qual células da base Doença
das vesículas são coradas com o corante de Giemsa. A presença
Varicela (catapora) é a doença primária; o zóster (cabreiro) é a
de células gigantes multinucleadas sugere a infecção por herpes-
-vírus (Figura 37-2). forma recorrente.
Se há a suspeita de encefalite herpética, um diagnóstico rápi-
do pode ser feito por meio da detecção do DNA de HSV no líqui- Características importantes
do espinal pela reação em cadeia da polimerase (PCR). O ensaio O VZV é estrutural e morfologicamente similar a outros herpes-
de PCR é mais sensível do que a cultura viral. O diagnóstico da -vírus, mas é antigenicamente diferente. Apresenta um único so-
infecção neonatal por herpes-vírus geralmente envolve o uso de rotipo. O mesmo vírus causa varicela e zóster. Os seres humanos
culturas virais ou ensaios de PCR. são os hospedeiros naturais.
Testes sorológicos, como o teste de neutralização, podem
ser utilizados no diagnóstico das infecções primárias, já que um
Resumo do ciclo de multiplicação
aumento significativo no título de anticorpos é rapidamente ob-
servado. Entretanto, esse teste não é utilizado nas infecções re- O ciclo é similar ao do HSV (ver página 284).
cidivantes porque muitos adultos já possuem anticorpos circu-
lantes, e recidivas raramente causam um aumento no título de Transmissão e epidemiologia
anticorpos.
O vírus é transmitido por gotículas respiratórias e pelo contato
direto com as lesões. A varicela é uma doença altamente conta-
Tratamento giosa da infância; mais de 90% das pessoas nos Estados Unidos
O aciclovir (acicloguanosina, Zovirax) é o tratamento de escolha desenvolvem anticorpos a partir dos 1Oanos de idade.* A varice-
para a encefalite e doença sistêmica causada por HSV-1. Também la ocorre em todo o mundo. Antes de 2001, havia mais casos de
é útil no tratamento do herpes genital primário e recorrente; o varicela do que de qualquer outra doença notificável, mas o uso
fármaco diminui a duração das lesões e também reduz a intensi- difundido da vacina tem reduzido significativamente o número
dade da disseminação virai, no entanto, não cura o estado laten- de casos.
te. O aciclovir é também utilizado para tratar infecções neonatais Há VZV infeccioso nas vesículas de zóster. Esse vírus pode
causadas pelo HSV-2. Mutantes do HSV-1 resistentes ao aciclovir ser transmitido para crianças, normalmente por contato direto, e
têm sido isolados de pacientes; foscarnete é utilizado nesses casos. causar varicela. A ocorrência de varicela e zóster em um hospital
Para infecções oculares do HSV-1, outros análogos de nu- é um grande problema no controle de infecções, uma vez que o
cleosídeos (p. ex., trifluridina [Viroptic]) são utilizados topica- vírus pode ser transmitido a pacientes imunocomprometidos e
mente. Aciclovir oral é também utilizado para o tratamento da causar infecção disseminada com risco de morte.
ceratite causada por HSV. Penciclovir (um derivado do aciclovir)
ou docosanol (um álcool saturado de cadeia longa) pode ser uti- Patogênese e imunidade
lizado para tratar recidivas de infecções orolabiais por HSV-1 em
O VZV infecta a mucosa do trato respiratório superior e se
adultos imunocompetentes. Valaciclovir (Valtrex) e famciclovir
dissemina via sangue até a pele, onde erupção vesicular tí-
(Famvir) são utilizados para o tratamento do herpes genital e
pica ocorre. Células gigantes multinucleadas com inclusões
para a supressão de recorrência.
citoplasmáticas são visualizadas na base das lesões. O vírus
Observe que nenhum tratamento farmacológico da infecção
infecta os neurônios sensoriais e é levado por fluxo axonal re-
primária é capaz de prevenir recorrências; os fármacos não apre-
trógrado para as células do gânglio da raiz dorsal, onde se
sentam efeito sobre o estado latente, no entanto, o uso profilá-
torna latente.
tico, de longa duração com aciclovir, valaciclovir ou famciclovir
Nas células latentemente infectadas, o DNA do VZV fica
pode suprimir recorrências clínicas.
localizado no núcleo e não é integrado ao DNA celular. Na
vida adulta, frequentemente quando a imunidade celular se
Prevenção
Valaciclovir (Valtrex) e famciclovir (Famvir) são utilizados na su- *N. de R.T. Os números no Brasil são semelhantes, mas as crianças costu-
pressão de infecções recorrentes, principalmente no caso de pa- mam ser acometidas mais cedo, até os 8 anos de idade.
288 PARTE IV Virologia Clínica

encontra reduzida ou em razão de trauma local, o vírus é ati-


vado e causa lesões vesiculares na pele e neuralgia por zóster.
A imunidade que se segue após a varicela dura para toda a
vida: uma pessoa apresenta varicela apenas uma vez, mas o zóster
pode ocorrer apesar da imunidade à varicela. Zóster, em geral,
ocorre somente uma vez. A frequência do zóster aumenta com
o avanço da idade, talvez como consequência da perda de imu-
nidade.

Achados clínicos
Varicela
Após um período de incubação de 14 a 21 dias, breves sintomas
prodrômicos de febre e mal-estar podem ocorrer. Uma erupção
papulovesiculosa aparece em agrupamentos no tronco e se espa-
lha para a cabeça e extremidades (Figura 37-5). A erupção evolui
de pápulas a vesículas e depois a pústulas e, finalmente, a crostas.
FIGURA 37-6 Zóster (cabreiro) - observe as vesículas ao longo do
O prurido é um sintoma acentuado, principalmente quando as
dermátomo de um nervo torácico causadas pelo vírus da varicela-
vesículas estão presentes. A varicela é branda em crianças, mas -zóster. (Figura cortesia de Richard P. Usatine, MD, e The Color Atlas of Family
grave em adultos. A pneumonia e a encefalite são as principais Medicine.)
complicações, sendo raras e ocorrendo com frequência em adul-
tos. A síndrome de Reye, caracterizada por encefalopatia e dege-
neração do fígado, é associada à infecção por VZV e pelo vírus Zóster
influenza B, principalmente em crianças que tomam ácido acetil- A ocorrência de vesículas dolorosas ao longo de um nervo senso-
salicílico. Sua patogênese é ainda desconhecida. rial da cabeça ou do tronco é o quadro comum (Figura 37-6). A
dor pode durar por semanas, e a neuralgia pós-zóster (também
conhecida como neuralgia pós-herpética) pode ser debilitante.
Em pacientes imunocomprometidos, infecções disseminadas
com risco de morte, como a pneumonia, podem ocorrer.

Diagnóstico laboratorial
Embora a maioria dos diagnósticos seja feita clinicamente, tes-
tes laboratoriais estão disponíveis. Um diagnóstico presuntivo
pode ser feito pelo uso do esfregaço de Tzanck. Células gigantes
multinucleadas são visualizadas em lesões por VZV, bem como
nas por HSV (Figura 37-2). O diagnóstico definitivo é feito pelo
isolamento do vírus em cultura de célula e identificação com an-
tissoro específico. Um aumento no título de anticorpos pode ser
utilizado para diagnosticar varicela, mas é menos útil no diag-
nóstico de zóster.

Tratamento
Nenhuma terapia antivira! é necessária para varicela ou zóster
em crianças imunocompetentes. Adultos imunocompetentes
com casos moderados ou graves de varicela ou zóster, em geral,
são tratados com aciclovir, pois pode reduzir a duração e a gra-
vidade dos sintomas. Crianças e adultos imunocomprometidos
com varicela, zóster ou doença disseminada devem ser tratados
com aciclovir. Doença causada por amostras de VZV resisten -
tes ao aciclovir pode ser tratada com foscarnete. Dois fármacos
semelhantes ao aciclovir, famciclovir (Famvir) e valaciclovir
(Valtrex), podem ser utilizados por pacientes com zóster, com o
objetivo de acelerar a cicatrização das lesões, mas nenhum des-
FIGURA 37-5 Varicela (catapora) - observe as vesículas sobre uma
ses fármacos pode curar o estado latente. Há alguma evidência
base eritematosa causada pelo vírus da varicela-zóster. (Figura cortesia de que esses fármacos reduzem a incidência de neuralgia pós-
de Richard P. Usatine, MD, e The Color Atlas ofFamily Medicine.) -zóster.
CAPÍTULO 37 Vírus de DNA Envelopado 289

Prevenção de órgãos. A infecção pelo CMV ocorre mundialmente, e mais de


80% dos adultos possuem anticorpos contra esse vírus.
Há duas vacinas contra VZV: uma desenvolvida para prevenir
varicela, chamada de Varivax, e outra desenvolvida para prevenir
o zóster, chamada de Zostavax. Ambas contêm VZV vivo ate- Patogênese e imunidade
nuado, mas a vacina de zóster contém 14 vezes mais vírus que a A infecção do feto pode causar a doença de inclusão citome-
vacina contra a varicela. A vacina de zóster é efetiva em prevenir gálica, caracterizada por células gigantes multinucleadas, com
os sintomas de zóster, mas não erradica o estado latente do VZV. acentuadas inclusões intranucleares. Muitos órgãos são afetados,
A vacina de varicela é recomendada para crianças entre 1 e a infecção generalizada resulta em anormalidades congênitas.
e 12 anos, ao passo que a vacina de zóster é recomendada para A infecção do feto ocorre principalmente quando a infecção pri-
maiores de 60 anos e para quem já apresentou varicela. A vacina mária ocorre na mulher grávida (i.e., quando ela não possui anti-
contra varicela é administrada em duas doses, ao passo que ava- corpos que poderiam neutralizar o vírus antes que ele infectasse
cina contra zóster é administrada em uma única dose. Já que es- o feto). O feto, em geral, não é infectado quando a mulher grávi-
sas vacinas contêm vírus vivo, elas não devem ser administradas da possui anticorpos contra o vírus. Anormalidades congênitas
a pessoas imunocomprometidas ou mulheres grávidas. são mais comuns quando o feto é infectado durante o primeiro
O aciclovir é útil na prevenção da varicela e na disseminação trimestre da gestação, pois é no primeiro trimestre que ocorre
de zóster em pessoas imunocomprometidas expostas ao vírus. A o desenvolvimento dos órgãos, e a morte de qualquer célula pre-
imunoglobulina contra varicela-zóster (VZIG, varicella-zoster cursora pode resultar em defeitos congênitos.
immune globulin ), a qual contém um alto título de anticorpos A infecção de crianças e adultos é, em geral, assintomáti-
para o vírus, é também útil como profilaxia. ca, exceto em indivíduos imunocomprometidos. O CMV entra
em um estado latente principalmente nos monócitos e pode
ser reativado quando a imunidade celular está diminuída. O
CITOMEGALOVÍRUS (CMV) CMV pode ainda persistir nos rins por anos. A reativação do
CMV do estado latente nas células do colo do útero pode re-
Doenças sultar na infecção do recém-nascido durante sua passagem no
O CMV causa uma doença de inclusão citomegálica (principal- canal do parto.
mente anormalidades congênitas) em neonatos. Essa é a causa O CMV possui um mecanismo efetivo de "evasão imune':
mais comum de anormalidades congênitas nos Estados Unidos. o qual permite que ele seja mantido no estado latente por lon-
O CMV é uma causa muito importante de pneumonia e outras gos períodos. Nas células infectadas pelo CMV, a montagem dos
doenças em pacientes imunocomprometidos, como os recepto- peptídeos virais no complexo principal de histocompatibilidade
res de medula óssea e transplante de órgãos sólidos. Ele também (MHC) de classe I é instável, assim os antígenos virais não são
causa mononucleose heterófila negativa em pacientes imuno- apresentados na superfície celular e a morte pelas células T ci-
comprometidos. totóxicas não ocorre. Adicionalmente, o CMV codifica diversos
microRNAs, um dos quais se liga ao mRNA celular que codifica
Características importantes a proteína de MHC de classe I, impedindo a sua tradução. Esse
mecanismo previne as proteínas virais de serem apresentadas na
O CMV é estrutural e morfologicamente similar a outros herpes- superfície das células infectadas, e a morte pelas células T citotó-
-vírus, mas é antigenicamente diferente. Apresenta um único so- xicas não ocorre.
rotipo. Os seres humanos são os hospedeiros naturais; amostras A infecção pelo CMV causa um efeito imunossupressor ge-
de CMV de animais não infectam seres humanos. Células gigan- rado pela inibição de células T. As defesas do hospedeiro contra
tes são formadas, por isso o nome citomegalo. o CMV incluem tanto anticorpos circulantes quanto imunidade
celular. A imunidade celular é mais importante, uma vez que sua
Resumo do ciclo de multiplicação supressão pode levar à doença sistémica.
O ciclo é similar ao do HSV (ver página 284). Uma característica
única da replicação do CMV é que algumas das proteínas imedia- Achados clínicos
tamente precoces são traduzidas dos mRNAs presentes na célula Aproximadamente 20% das crianças infectadas com o CMV
infectada pelo vírus parental, em vez de serem traduzidas a partir durante a fase gestacional apresentam as manifestações clínicas
de mRNAs sintetizados em células recentemente infectadas. aparentes da doença de inclusão citomegálica, como microce-
falia, convulsões, surdez, icterícia e púrpura. As lesões púrpu-
Transmissão e epidemiologia ras são semelhantes a um "bolinho de amoras': e são resultantes
O CMV é transmitido por uma variedade de modos. No iní- de trombocitopenia. Hepatosplenomegalia é muito comum. A
cio da vida, ele é transmitido por meio da placenta, no canal do doença da inclusão citomegálica é uma das causas que levam à
parto, e muito comumente durante a amamentação. Em crianças deficiência intelectual nos Estados Unidos. Crianças infectadas
pequenas, o modo mais comum de transmissão é pela saliva. Pos- podem continuar a excretar o CMV por muitos anos, principal-
teriormente, ele é transmitido sexualmente; o vírus está presente mente na urina.
no sêmen e na secreção do colo do útero. Ele pode ser transmiti- Em adultos imunocompetentes, o CMV pode causar a mo-
do naturalmente pelo sangue durante transfusões e transplantes nonucleose heterofílica negativa, a qual é caracterizada por fe-
290 PARTE IV Virologia Clínica

bre, letargia e pela presença de linfócitos atípicos do sangue peri- ao valganciclovir têm surgido, principalmente devido a mutações
férico nos esfregaços. Infecções sistémicas pelo CMV, sobretudo no gene UL97, que codifica a fosfocinase. Testes de suscetibilida-
pneumonias, esofagites e hepatites, ocorrem em alta proporção de a fármacos têm sido realizados.
em indivíduos imunossuprimidos (p. ex., pacientes de transplan- Foscarnete (Foscavir) é também efetivo, no entanto, cau-
tes renais e de medula óssea). No caso de pacientes que apresen- sa mais efeitos colaterais. Diferentemente do HSV e do VZV, o
tam a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids), o CMV CMV é muito resistente ao aciclovir. O cidofovir é útil no trata-
comumente infecta o trato intestinal e causa colites diarreicas in- mento da retinite por CMV. O fomivirsen é um DNA antissen-
tratáveis. O CMV também causa retinite em pacientes com Aids, so aprovado para o tratamento intraocular da retinite por CMV.
podendo levar à cegueira. Essa é a primeira e, até o momento, a única molécula antissenso a
ser aprovada para o tratamento de doença humana.
Diagnóstico laboratorial
A abordagem preferencial envolve o cultivo em tubos especiais, Prevenção
contendo lamínulas de vidro em conjunto com o uso de anticor- Não há vacina. O ganciclovir pode suprimir a retinite progressiva
pos imunofluorescentes, que geram o diagnóstico em 72 horas. em pacientes com Aids. Crianças com a doença de inclusão cito-
O vírus obtido na cultura pode ser utilizado para determinar a megálica que estão transmitindo o vírus em sua urina devem ser
suscetibilidade ao ganciclovir. isoladas de outras crianças. O sangue, para que seja transfundido
Outro método diagnóstico inclui anticorpos fluorescentes e a recém-nascidos, deve ser negativo para a presença de anticor-
coloração histológica de corpos de inclusão em células gigantes pos anti-CMV. Se possível, somente órgãos de doadores negati-
na urina e em tecidos. Os corpúsculos de inclusão são intranu- vos para anticorpos anti-CMV deveriam ser transplantados para
cleares e apresentam uma forma de olho de coruja (Figura 37-7). receptores que são negativos para a presença desses anticorpos.
Um aumento de quatro vezes ou mais no título de anticorpos é Uma preparação de imunoglobulinas com alto título de anticor-
também diagnóstico. Ensaios baseados em PCR para detecção de pos (CytoGam) é usada para prevenir a infecção disseminada do
DNA ou RNA de CMV em tecidos e líquidos corporais, como CMV em órgãos de pacientes transplantados.
líquido espinal e líquido amniótico, são também muito úteis.
A antigenemia do CMV pode ser mensurada pela detecção
da pp65 nos leucócitos do sangue pela utilização de um ensaio VÍRUS EPSTEIN-BARR (EBV)
de imunofluorescência. A pp65 é uma proteína localizada no
nucleocapsídeo do CMV e pode ser detectada no interior de leu- Doenças
cócitos infectados por meio do uso de anticorpos monoclonais O EBV causa a mononucleose infecciosa. Esse vírus é associado
marcados com fluoresceína, específicos para pp65. ao linfoma de Burkitt, outros linfomas de células B e carcinoma da
parte nasal da faringe. O EBV também causa a leucoplasia pilosa.
Tratamento
O ganciclovir é moderadamente efetivo no tratamento da retinite Características importantes
e pneumonia por CMV em pacientes com Aids. O valganciclovir, O EBV é estrutural e morfologicamente similar aos outros her-
que pode ser administrado oralmente, é também efetivo contra a pes-vírus, mas antigenicamente diferente. O antígeno mais im-
retinite por CMV. Amostras de CMV resistentes ao ganciclovir e portante é o antígeno do capsídeo virai (VCA), uma vez que é
o mais frequentemente utilizado nos testes diagnósticos. O antí-
geno precoce (EA, early antigen), produzido antes da síntese do
DNA, e o antígeno nuclear de Epstein-Barr (EBNA, Epstein-Barr
nuclear antigen), localizado no núcleo ligado ao cromossomo, são

•- algumas vezes úteis no diagnóstico. Dois outros antígenos, o antí-


geno de membrana determinado por linfócitos e o antígeno viral
da membrana, também têm sido detectados. A atividade neutra-
lizante é direcionada contra os antígenos da membrana viral.
Os seres humanos são os hospedeiros naturais. O EBV in-
fecta principalmente células linfoides, sobretudo linfócitos B. O
EBV também infecta células da faringe, o que resulta em uma
proeminente dor de garganta. Nas células latentemente infecta-
das, o DNA do EBV fica no núcleo e não é integrado ao DNA
celular. Alguns genes, mas não todos, são transcritos e somente
um grupo deles é traduzido em proteínas.

Resumo do ciclo de multiplicação


FIGURA 37-7 Citomegalovírus - corpúsculos de inclusão em forma
de olho de coruja. A seta aponta para um corpúsculo de inclusão do
O ciclo é similar ao do HSV (ver página 284). O EBV penetra
tipo"olho de coruja" no núcleo de uma célula infectada. (Figura cortesia no linfócito B no local do receptor para o componente C3 do
do Dr. Edwin Ewing, Jr., Public Health lmage Library, Centers for Disease Control complemento.
and Prevention.)
CAPÍTULO 37 Vírus de DNA Envelopado 291

Transmissão e epidemiologia
O EBV é transmitido principalmente pela troca de saliva (p. ex.,
durante o beijo). A saliva de indivíduos com uma reativação da
infecção latente, bem como de indivíduos com infecção ativa,
pode funcionar como uma fonte do vírus. Ao contrário do CMV,
a infecção do EBV pelo sangue é muito rara.
A infecção pelo EBV é uma das infecções mundiais mais co-
muns; mais de 90% da população adulta dos Estados Unidos pos-
suem anticorpos. A infecção nos primeiros anos de vida é nor-
malmente assintomática. Infecções precoces tendem a ocorrer
em indivíduos de grupos socioeconômicos menos privilegiados.
A frequência de mononucleose clinicamente evidente, entretan-
to, é mais elevada em pessoas que são expostas ao vírus mais tar-
diamente na vida (p. ex., estudantes universitários).*

Patogênese e imunidade
A infecção ocorre primeiramente na orofaringe e, então, se dis-
semina para o sangue, onde passa a infectar linfócitos B. Os lin -
fócitos T citotóxicos reagem contra as células B infectadas. As
células T são os "linfócitos atípicos,, visualizados no esfregaço FIGURA 37-8 Leucoplasia pilosa - observe as placas esbranquiçadas
sanguíneo. O EBV permanece latente nos linfócitos B. na face lateral da língua causadas pelo vírus Epstein-Barr. (Reproduzida,
com permissão, de Wolff K, Johnson R. Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis ofClini-
A resposta imune à infecção pelo EBV consiste primeira-
cai Dermatology. 6th ed. NewYork: McGraw-Hill, 2009. Copyright © 2009 porThe
mente em anticorpos IgM anti-VCA. Anticorpos IgG anti-VCA
McGraw-Hill Companies, lnc.)
surgem em seguida e persistem por toda a vida. A resposta de
IgM é, portanto, útil para o diagnóstico da infecção aguda, ao
passo que a resposta de IgG é mais adequada para mostrar in -
fecção anterior. A imunidade duradoura contra episódios de a esportes de contato, como o futebol, é uma complicação temida
mononucleose infecciosa é baseada nos anticorpos ao antígeno da esplenomegalia, embora rara.
viral da membrana. Em adição à forma comum da mononucleose infecciosa,
Além dos anticorpos EBV-específicos, são encontrados descrita no parágrafo anterior, o EBV causa também uma for-
anticorpos heterofílicos. O termo heterofílico se refere a an - ma de mononucleose grave, frequentemente fatal, que ocorre
ticorpos que são detectados por testes utilizando antígenos em crianças que apresentam uma imunodeficiência hereditária,
diferentes do antígeno que os induziram. Os anticorpos hete- denominada síndrome linfoproliferativa ligada ao X. O gene mu-
rofílicos formados na mononucleose infecciosa aglutinam he- tado codifica uma proteína transdutora de sinal necessária tanto
mácias de ovinos ou de equinos em laboratório. (Anticorpos de para a função de células T quanto de células natural killer. A taxa
Forssman no soro de seres humanos que reagem cruzadamente de mortalidade é de 75% em crianças em torno dos 10 anos. Os
são retirados pela adsorção com extrato de rim de porquinhos- transplantes de medula ou de sangue do cordão umbilical podem
-da-índia, antes da aglutinação.) Observa-se que esses anti- curar a imunodeficiência preexistente. O EBV também causa a
corpos não reagem com quaisquer antígenos do EBV. Parece leucoplasia pilosa - caracterizada por lesões esbranquiçadas,
provável que a infecção pelo EBV modifique constituintes da não malignas, e que apresentam uma superfície "pilosà' na região
membrana celular de forma que eles se tornam antigénicos e lateral da língua (Figura 37-8). Isso ocorre em indivíduos imuno-
induzem os anticorpos heterofílicos. Anticorpos heterofílicos, comprometidos, sobretudo em pacientes com Aids.
em geral, desaparecem dentro de seis meses depois da recupe- A infecção por EBV é associada a muitos cânceres, como
ração. Esses anticorpos não são específicos para a infecção pelo o linfoma de Burkitt, algumas formas do linfoma de Hodgkin e
EBV e são também observados em indivíduos com hepatite B carcinoma da parte nasal da faringe. A palavra associada se refere
e doença do soro. à observação de que a infecção pelo EBV é o evento inicial que
induz as células a se dividirem, mas o evento em si não causa a
malignização. Etapas adicionais são necessárias para que a trans-
Achados clínicos formação malignizante possa ocorrer. A redução da imunidade
A mononucleose infecciosa é caracterizada principalmente por celular predispõe à multiplicação descontrolada das células in-
febre, dor de garganta, linfadenopatia e esplenomegalia. Anore- fectadas pelo EBV.
xia e letargia são acentuadas. A hepatite é frequente; a encefalite Outra doença associada ao EBV é a doença linfoproliferativa
ocorre em alguns pacientes. A recuperação espontânea ocorre, pós-transplante (PTLD). A forma mais comum da PTLD é um
em geral, em duas a três semanas. A ruptura esplênica, associada linfoma de células B. A PTLD ocorre após transplantes de medula
e também de órgãos sólidos. O principal fator predisponente à
*N. de R.T. Estudos indicam que 80% da população brasileira têm sorolo- PTLD é a imunossupressão requerida para prevenir a rejeição do
gia positiva para o EBV. A infecção nos primeiros anos de vida é normal- enxerto. O linfoma pode regredir se o grau de imunossupressão
mente assintomática. for reduzido.
292 PARTE IV Virologia Clínica

Diagnóstico laboratorial Tratamento


O diagnóstico laboratorial da mononucleose infecciosa no labo- Nenhuma terapia antivira! é necessária para a mononucleose in-
ratório clínico é baseado em duas abordagens: fecciosa sem complicações. O aciclovir tem pouca atividade con-
tra o EBV, mas a administração de altas doses pode ser útil em
(1) Na abordagem hematológica, ocorre linfocitose absoluta
infecções de EBV com risco à vida.
e cerca de 30% de linfócitos atípicos são visualizados no esfre-
gaço. Esses linfócitos atípicos estão aumentados, possuem um
núcleo expandido e um citoplasma abundante e, frequentemente, Prevenção
vacuolizado (Figura 37-9). Eles são linfócitos T citotóxicos reati- Não há vacina disponível para EBV.
vos a células B infectadas com o EBV.
(2) Na abordagem imunológica, há dois tipos de testes Associação ao câncer
sorológicos: (a) o teste de anticorpos heterofilicos é útil para
o diagnóstico precoce da mononucleose infecciosa, pois ele A infecção por EBV é associada a cânceres de origem linfoide: o lin-
é normalmente positivo em duas semanas pós-adoecimento. foma de Burkitt em crianças africanas, outros linfomas de células
Entretanto, devido ao declínio do título de anticorpos pós- B, o carcinoma nasofaríngeo em populações chinesas e o carcinoma
-recuperação, esse teste não é útil para detecção de infecções tímico nos Estados Unidos. A evidência inicial da associação da in-
prévias. O teste Monospot é, em geral, utilizado na detecção fecção pelo EBV com o linfoma de Burkitt foi a produção do EBV
de anticorpos heterofílicos; ele é mais sensível, mais específi- pelas células do linfoma em cultura. De fato, esse foi o modo pelo
co e mais barato que o teste de aglutinação em tubo. (b) Os qual o EBV foi descoberto por Epstein e Barr, em 1964. Evidência
testes de anticorpos específicos para o EBV são utilizados, adicional inclui o fato de que DNA do EBV e EBNA são encontra-
principalmente, em casos difíceis de diagnosticar. A resposta dos nas células dos carcinomas nasofaríngeo e tímico. O EBV pode
de anticorpos IgM ao antígeno VCA pode ser utilizada para induzir transformação malignizante em linfócitos B in vitro.
detectar precocemente o adoecimento; a resposta de anticor- No linfoma de Burkitt, a oncogênese ocorre em função da
pos IgG ao VCA pode ser utilizada para detectar infecções pré- translocação do oncogene c-myc para um local genômico adja-
vias. Em certos casos, anticorpos contra EA e EBNA podem cente ao promotor de um gene codificador de imunoglobulina.
ser facilmente diagnosticados. Isso intensifica a síntese da proteína c-myc, uma potente onco-
proteína. A proteína c-myc é uma reguladora transcricional que
Embora o EBV possa ser isolado de amostras clínicas, como aumenta a síntese de cinases que ativam o ciclo celular.
a saliva, pela transformação morfológica dos linfócitos do cordão
umbilical, esse é um procedimento tecnicamente difícil e não é
facilmente disponível. Nenhum vírus é produzido nos linfócitos HERPES-VÍRUS HUMANO 8
do cordão umbilical; sua presença é detectada pela coloração de
antígenos no núcleo, utilizando anticorpos fluorescentes.
(HERPES-VÍRUS ASSOCIADO
AO SARCOMA DE KAPOSI)
Em 1994, foi descoberto que um novo herpes-vírus, atualmente
conhecido como herpes-vírus humano 8 (HHV-8), ou herpes-
-vírus associado ao sarcoma de Kaposi (KSHV), causa o sarcoma
de Kaposi (SK), o tipo de câncer mais comum em pacientes com
Aids. A ideia de que outro vírus além do HIV fosse a causa do
sarcoma de Kaposi surgiu de dados epidemiológicos que mostra-
ram que o sarcoma de Kaposi era comum em pacientes que ha-
viam adquirido o HIV sexualmente, mas raro em pacientes que
adquiriram o HIV via transfusão sanguínea. Um segundo vírus
transmitido sexualmente parecia ser a provável causa.
A evidência inicial de que o HHV-8 estava envolvido foi o
achado de que a maioria das células do sarcoma de Kaposi retira-
das dos pacientes com Aids continham o DNA desse vírus, mas
os tecidos retirados de pacientes com Aids sem o sarcoma de
Kaposi tinham muito pouco DNA viral. O DNA desse vírus foi
também encontrado em células do sarcoma de Kaposi que vieram
de pacientes não infectados pelo HIV. A partir da análise do DNA,
ficou demonstrado que o HHV-8 se assemelha mais aos herpes-
-vírus linfotróficos (p. ex., EBV e o herpes-vírus saimiri) do que
FIGURA 37-9 Linfócitos atípicos na mononucleose infecciosa
aos herpes-vírus neurotróficos, como o HSV-1, HSV-2 e o VZV.
- observam-se dois linfócitos atípicos, cada um com o núcleo au-
mentado e citoplasma abundante, no lado esquerdo. O linfócito
Apoio adicional foi fornecido por estudos sorológicos, os
no lado direito parece normal. (Reproduzida, com permissão, de Fauci quais mostravam que a maioria dos pacientes infectados com
AS, Braunwald E, Kasper DL et ai., eds. Harrison's Principies of Internai Medici- HIV que apresentavam sarcoma de Kaposi possuíam anticorpos
ne. 17th ed. New York: McGraw-Hill, 2008, pg 1107. Copyright© 2008 por The para o HHV-8, ao passo que um número consideravelmente me-
McGraw-Hill Companies, lnc.) nor de pacientes infectados com HIV sem o sarcoma de Kaposi
CAPÍTULO 37 Vírus de DNA Envelopado 293

possuíam anticorpos para esse vírus, e um número ainda menor


de pacientes com outras doenças sexualmente transmissíveis, mas
que não eram infectados pelo HIV, possuíam estes anticorpos. A
estimativa atual da infecção pelo HHV-8 na população, em geral,
atinge cerca de 3% nos Estados Unidos e na Inglaterra, e cerca de
50% na África oriental.* O HHV-8 causa transformação maligna
por um mecanismo similar aos de outros vírus de DNA (p. ex., o
papilomavírus humano), a inativação de um gene supressor de tu-
mor. Uma proteína codificada pelo HHV-8, denominada antíge-
no nuclear associado à latência (LANA, latency-associated nuclear
antigen) inativa as proteínas supressoras de tumor RB e p53, o que
induz a transformação maligna de células endoteliais.
A transmissão do HHV-8 ocorre principalmente por meio
de relação sexual desprotegida e da saliva, mas o vírus pode ser
transmitido também em órgãos transplantados, como rins, o que FIGURA 37-1 O Sarcoma de Kaposi - observe duas lesões elevadas,
parece ser a causa do sarcoma de Kaposi associado ao transplan - púrpura-avermelhadas, no pé, causada pelo herpes-vírus humano 8,
te. O DNA do HHV-8 é encontrado nas células do sarcoma de (associado ao sarcoma de Kaposi). (Reproduzida, com permissão, de Usa-
tine RP et ai. The Color Atlas ofFamily Medicine. New York: McGraw-Hill, 2009. Co-
Kaposi associado ao transplante, mas não em células de outros
pyright© 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
cânceres associados ao transplante.
O sarcoma de Kaposi em pacientes com Aids é uma malig-
nização das células endoteliais vasculares que contêm muitas cé- O diagnóstico laboratorial do sarcoma de Kaposi é, em ge-
lulas fusiformes e hemácias. As lesões variam de avermelhadas ao ral, realizado em biópsias de lesões de pele. O DNA e o RNA do
púrpura-escuro, de planas a nodulares, e, frequentemente, surgem HHV-8 estão presentes na maioria das células fusiformes, no en-
em múltiplos locais, como a pele, a cavidade oral e as solas dos tanto, essa análise não é realizada com frequência. O vírus não
pés (mas não nas palmas das mãos) (Figura 37 -1 O). Internamente, cresce em culturas celulares.
as lesões ocorrem geralmente no trato intestinal e nos pulmões. O tipo de tratamento depende do local e do número de lesões.
As hemácias extravasadas dão à lesão a cor púrpura. O HHV-8 Excisão cirúrgica, radiação e medicamentos sistêmicos, como o in-
também infecta células B, induzindo-as a proliferar e produzir um terferon a ou a vimblastina, podem ser utilizados. Não há terapia
tipo de linfoma, chamado de linfoma de efusão primária. antivirai específica e não há vacinação contra o HHV -8.

POXVÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
A família Poxviridae inclui três vírus de importância médica: plasma e não tem acesso à RNA-polimerase celular, que está lo-
vírus da varíola, vírus vaccínia e vírus do molusco contagioso calizada no núcleo.
(MCV). Os poxvírus são os maiores e mais complexos vírus que O vírus da varíola possui um único e estável sorotipo, o qual
infectam animais. é a chave para o sucesso da vacina. Se a antigenicidade variasse,
como no caso do vírus influenza, a erradicação não teria tido su-
cesso. O vírus da varíola infecta somente seres humanos, não há
VÍRUS DA VARÍOLA reservatório animal.

Doença Resumo do ciclo de multiplicação


O vírus da varíola é o agente da varíola, a única doença que foi to-
A seguinte descrição do ciclo de multiplicação é baseada em es-
talmente erradicada. A erradicação é devida à vacina. Existe uma
tudos com o vírus vaccínia, uma vez que é muito menos provável
preocupação com o uso do vírus da varíola como um agente do
que este vírus cause doença em seres humanos do que o vírus da
bioterrorismo. Poxvírus de origem animal, como os vírus cowpox
varíola. Após a penetração na célula e desnudamento, a RNA-
e monkeypox, são descritos no Capítulo 46.
-polimerase virai dependente de DNA sintetiza o mRNA pre-
coce, o qual é traduzido em proteínas precoces não estruturais,
Características importantes principalmente enzimas requeridas para os passos subsequentes
Os poxvírus apresentam partículas em forma de tijolo contendo da replicação virai. O DNA virai é, então, replicado, e, após, serão
DNA linear de dupla-fita, um cerne em forma de disco no in- sintetizadas proteínas estruturais que irão formar a progênie virai.
terior de uma membrana dupla e um envelope lipoproteico. O Os vírions serão montados e irão adquirir seus envelopes por bro-
vírion contém uma RNA-polimerase dependente de DNA. Essa tamento, a partir da membrana da célula hospedeira,* de onde são
enzima é necessária, uma vez que o vírus se multiplica no cito- liberados. Observa-se que todos os passos da multiplicação ocor-
rem no citoplasma, o que é pouco comum para um vírus de DNA.

*N. de R.T. Não há um consenso sobre a estimativa de indivíduos infec-


tados no Brasil. Estudos diversos indicam números que variam de 2,8 a *N. de R.T. Pesquisas recentes mostram que os poxvírus adquirem seu
15% da população em geral. envelope de membranas do aparelho de Golgi ou da rede trans-Golgi.
294 PARTE IV Virologia Clínica

Transmissão e epidemiologia como encefalite, vaccínia generalizada e vaccínia gangrenosa, ex-


cediam a incidência de varíola. A rotina de vacinação de popula-
O vírus da varíola é transmitido via aerossóis respiratórios ou
ções civis foi descontinuada, e não é mais um pré-requisito para
por contato direto com o vírus em lesões de pele ou em fômites,
viagens internacionais. Militares ainda são vacinados.
como roupas de cama.
Em resposta à possibilidade de um ataque bioterrorista uti-
No período anterior aos anos 1960, a varíola se espalhou em
lizando o vírus da varíola, o governo federal dos Estados Unidos
grandes áreas da África, da Ásia e da América do Sul, e milhões
instituiu um programa para vacinar os socorristas na linha de
de pessoas foram afetadas. Em 1967, a Organização Mundial da
frente, para que eles pudessem fornecer cuidado médico emer-
Saúde lançou uma campanha de vacinação que levou à erradicação
gencial sem medo de contrair a doença. Para proteger a popu-
da varíola. O último caso ocorrido naturalmente foi na Somália,
lação geral, não imunizada, será adotado o uso de vacinação em
em 1977.
anéis. Esse fato é baseado no conhecimento de que um indivíduo
exposto pode ser imunizado até quatro dias pós-exposição e
Patogênese e imunidade ser protegido. Então, se um ataque ocorrer, pessoas que tiverem
A varíola inicia quando o vírus infecta o trato respiratório supe- sido reconhecidamente expostas serão imunizadas, bem como as
rior e os linfonodos locais e, então, penetra no sangue (viremia pessoas que tiverem contato com estas e, em seguida, tiverem o
primária). Os órgãos internos são infectados; então, o vírus se contato do contato, em um círculo em expansão (anéis). Muitas
dissemina no sangue novamente (viremia secundária) e se espa- pessoas, civis e militares, têm tido miocardite após a vacinação,
lha para a pele. Esses eventos ocorrem durante o período de in- e, como já descrito, é necessário cuidado a respeito da expansão
cubação, quando o paciente ainda não apresenta sintomas espe- desse programa para a população em geral.
cíficos. A erupção é o resultado da multiplicação do vírus na pele, Imunoglobulina contra vaccínia (VIG, vaccinia immune glo-
seguida do dano causado pelas células T citotóxicas que atacam bulins) contendo altos títulos de anticorpos contra o vírus vac-
as células infectadas pelo vírus. cínia pode ser utilizada para tratar a maioria das complicações
A imunidade que se segue à varíola dura por toda a vida; a vacinais. No passado, a metisazona era utilizada para tratar as
imunidade pós-vacinal dura cerca de 1Oanos.* complicações da vacinação e poderia ser utilizada novamente.
A rifampina inibe a RNA-polimerase viral dependente de DNA,
mas não foi utilizada clinicamente contra a varíola.
Achados clínicos
Após um período de incubação de 7 a 14 dias, há um início sú-
bito dos sintomas prodrômicos, como febre e mal-estar. Isso é VÍRUS DO MOLUSCO CONTAGIOSO
seguido por erupção, a qual é pior na face e nas extremidades
do que no tronco (i.e., apresenta uma distribuição centrífuga). A O vírus do molusco contagioso (MCV, molluscum contagiosum
erupção se desenvolve por meio de estágio de máculas a pápulas, vírus) é um membro da família Poxviridae, mas é bastante dis-
vesículas, pústulas e, finalmente, crostas em duas a três semanas. tinto dos vírus vaccínia e da varíola. A lesão do molusco conta-
gioso é uma pequena pápula (2 - 5 mm) da cor de carne sobre
a pele ou membrana mucosa, não dolorosa, não pruriginosa e
Diagnóstico laboratorial
não inflamada (Figura 3 7 -11). As lesões, características, apre-
No passado, quando a doença ocorria, o diagnóstico era feito
pelo isolamento viral em cultura de células ou em embriões de
galinha, ou pela detecção de antígenos virais no líquido vesicular
por imunofluorescência.

Prevenção
A doença foi erradicada pelo uso global da vacina, contendo o
vírus vaccínia vivo atenuado. O sucesso da vacina é dependente
de cinco fatores críticos: ( 1) o vírus da varíola tem um único e es-
tável sorotipo; (2) não há reservatório animal, e os seres humanos
são os únicos hospedeiros; (3) a resposta de anticorpos é rápi-
da, e, portanto, as pessoas expostas podem ser protegidas; (4) a
doença é facilmente reconhecível clinicamente e, assim, pessoas
expostas podem ser rapidamente imunizadas; e (5) não há estado
de portador ou infecção subclínica.
A vacina é inoculada intradermicamente, onde a multiplica-
ção do vírus ocorre. A formação da vesícula é indicativa de "pegà'
(sucesso). Embora a vacina fosse relativamente segura, tornou-se
aparente na década de 1970, que a incidência de efeitos colaterais FIGURA 37-11 Molusco contagioso - observam-se duas lesões pa-
pulares abaixo do olho, causadas pelo vírus do molusco contagioso,
*N. de T. Algumas pesquisas têm mostrado que a duração da imunidade um membro da família dos poxvírus. (Reproduzida, com permissão, de
varia muito, no entanto, é comum encontrar indivíduos com imunidade Usatine RP et ai. The Color Atlas of Family Medicine. New York: McGraw-Hill, 2009.
mesmo 35 a 40 anos depois da vacinação. Copyright© 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
CAPÍTULO 37 Vírus de DNA Envelopado 295

sentam uma depressão em forma de copo (umbilicadas) com o na área genital. As lesões podem ser grandes e numerosas em
centro esbranquiçado. A lesão é composta por células epiteliais pacientes com imunidade celular reduzida, como em pacientes
hiperplásicas, dentro das quais podem ser vistos corpúsculos de com Aids. Em pacientes imunocompetentes, as lesões são autoli-
inclusão citoplasmáticos. Estes corpúsculos de inclusão contêm a mitantes, mas podem perdurar por meses.
progênie de MCV. O diagnóstico é geralmente feito clinicamente; o vírus não é
Observa-se que essas lesões diferem das verrugas, as quais isolado no laboratório clínico, e os títulos de anticorpos não são
são causadas pelo papilomavírus, um membro da família Pa- úteis. A remoção das lesões por curetagem ou com nitrogênio líqui-
povaviridae. * do são comumente efetivas. Não há terapia antivira! estabelecida,
O MCV é transmitido por contato pessoal íntimo, incluindo mas o cidofovir pode ser útil no tratamento de lesões extensivas
o contato sexual. A doença é bastante comum em crianças, nas que ocorrem em pacientes imunocomprometidos. Em pacientes
quais as lesões ocorrem com mais frequência ao redor dos olhos com Aids, a terapia antirretroviral pode restaurar suficientemente a
e sobre o tronco. Adultos frequentemente apresentam lesões imunidade, causando a resolução das lesões. Não há vacina.

HEPADNAVÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
(C) Animais domésticos, como os suínos e as galinhas, são os prin-
VIRUS DA HEPATITE B
cipais reservatórios do VZV.
O vírus da hepatite B, um vírus de DNA envelopado, está descri- (D) A vacina contra a varicela contém todos os três sorotipos do
to no Capítulo 41, juntamente com outros vírus causadores de VZV inativado por formalina como imunógeno.
hepatites. (E) Quando o zóster ocorre em um paciente imunocomprometi-
do, o aciclovir deve ser administrado para prevenir a infecção
disseminada.
APLIQUE SEU CONHECIMENTO 4. Em relação ao citomegalovírus (CMV), qual das seguintes opções é
a mais correta?
1. Seu paciente é um homem com 30 anos que tem episódios frequen-
(A) O CMV é normalmente adquirido pela via fecal-oral em adul-
tes de herpes labial. Ele pede a você explicações sobre o herpes-vírus
simples 1 (HSV-1). Qual das seguintes opções seria a afirmação mais tos.
(B) Neonatos nascidos de mães infectadas devem receber a vacina
precisa a se fazer?
de subunidade.
(A) O aciclovir pode erradicar o estado latente do HSV-1, mas não ( C) A reativação do CMV nas células dos gânglios sensoriais leva à
doHSV-2.
ocorrência de vesículas dolorosas ao longo dos nervos.
(B) O principal local de latência do HSV-1 consiste em neurônios
(D) A lamivudina deveria ser utilizada para tratar as infecções pelo
do gânglio sensorial da face. CMV em pacientes imunocomprometidos.
(C) O HSV-1 é um vírus envelopado que tem um genoma de DNA
(E) A infecção de um feto pelo CMV durante o primeiro trimestre
e uma DNA-polimerase no vírion. resulta em mais anormalidades congênitas que durante o ter-
(D) As lesões primárias são menos extensas e graves que as lesões ceiro trimestre.
das infecções recorrentes pelo HSV-1.
5. Em relação ao vírus Epstein-Barr (EBV) e à mononucleose infeccio-
(E) O diagnóstico laboratorial das infecções pelo HSV-1 geral-
mente envolve a detecção de um aumento de mais de quatro sa, qual das seguintes opções é a mais correta?
vezes no título de anticorpos contra o vírus. (A) O EBV entra no estado latente principalmente em células T
auxiliares CD4 positivas.
2. Sua paciente é uma mulher que dará à luz na próxima semana. Ela per-
(B) Aproximadamente 10% das pessoas nos Estados Unidos já fo-
gunta a você sobre o risco de o bebê ser infectado com o herpes-vírus
simples 2 (HSV-2). Qual das seguintes é a resposta mais correta? ram expostas ao EBV.
( C) Pessoas com mononucleose infecciosa produzem anticorpos
(A) HSV-2 é uma causa significativa de anormalidades congênitas.
que aglutinam hemácias de ovinos.
(B) O risco é maior se a mãe tem lesões visíveis do que se ela não (D) Os linfócitos atípicos no sangue de pessoas com mononucleose
as tem. infecciosa são células T auxiliares infectadas com EBV.
(C) O risco é maior se a mãe tem anticorpos IgG para o HSV-2 do (E) Pacientes com deficiência de imunidade celular poderiam re-
que se ela tem anticorpos IgM. ceber imunização passiva-ativa contra EBV.
(D) O risco é maior se o nascimento ocorrer por cesariana do que
6. A ocorrência natural de varíola foi totalmente erradicada. A erra-
pelo canal do parto.
(E) O risco é maior se a mãe estiver tendo um episódio de doença dicação foi alcançada pelo uso de vacina. Em relação a essa vacina,
recidivante causada pelo HSV-2 do que se fosse um episódio qual das seguintes opções é a mais correta?
. ' .
pnmano. (A) A vacina deveria ser administrada em conjunto com anticor-
3. Em relação ao vírus da varicela-zóster (VZV), qual das seguintes pos pré-formados para o vírus.
opções é a mais correta? (B) A administração da vacina um dia pós-exposição ao vírus não
protege contra a doença.
(A) Altas doses de aciclovir podem eliminar o estado latente cau- ( C) A vacina contém vírus da varíola inativado; então, o vírus va-
sado pelo VZV. cinal não causa efeito adverso.
(B) O principal local de latência do VZV está no núcleo dos neu- (D) O vírus da varíola tem um único e estável sorotipo; assim, no-
rônios motores. vas formulações da vacina não devem ser refeitas a cada ano.
(E) Uma vez que os animais domésticos, como as vacas, são o
*N. de R.T. Essa família viral não existe mais. Ela foi dividida em duas principal reservatório para o vírus da varíola, a vacina deve
famílias: Papillomaviridae e Polyomaviridae. interromper a transmissão a partir dessas fontes.
296 PARTE IV Virologia Clínica

7. Seu paciente é um homem de 35 anos que teve uma convulsão nes- RESPOSTAS
ta manhã. Uma ressonância magnética nuclear revelou uma lesão
do lobo temporal. Uma biópsia do encéfalo revelou células gigantes 1. (B)
multinucleadas com corpos de inclusão intranucleares. Qual das se- 2. (B)
guintes opções é a mais provável causa dessa doença? 3. (E)
4. (E)
(A) Citomegalovírus.
(B) Epstein-Barr vírus. 5. (C)
6. (D)
(C) Herpes-vírus simples 1.
(D) Herpes-vírus humano 8.
7. (C)
8. (A)
(E) Vírus da varicela-zóster.
9. (A)
8. Em relação ao paciente da Questão 7, qual das seguintes opções é a 10. (C)
melhor escolha de fármaco para tratar a sua infecção?
(A) Aciclovir.
(B) Lamivudina.
(C) Oseltamivir.
RESUMOS DOS ORGANISMOS
(D) Ritonavir. Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam -
(E) Zidovudina. -se na página 648. Favor consultar esses resumos para uma rápida
9. Sua paciente é uma mulher de 22 anos com episódios graves de diar- revisão do material essencial.
reia sanguinolenta. Ela tem sorologia positiva para o HIV com uma
contagem de CD4 de 50. Coprocultura para Shigella, Salmonella
e Campylobacter foram negativas. Um teste para a toxina de Clos-
QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
tridium difficile foi negativo. A colonoscopia revelou muitas lesões
ulceradas. A biópsia revelou células com inclusões nucleares "olho Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
de corujâ: Qual das seguintes opções é a mais provável causa dessa contradas na seção de Virologia Clínica da Parte XIII: Questões
doença? para Autoavaliação, a partir da página 703. Consulte também a
(A) Citomegalovírus. Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
(B) Vírus Epstein-Barr. na 731.
(C) Herpes-vírus simples 1.
(D) Herpes-vírus humano 8.
(E) Vírus da varicela-zóster.
1O. Em relação à paciente da Questão 9, qual das seguintes opções é a
melhor escolha de fármaco para tratar a sua infecção?
(A) Amantadina.
(B) Enfurvitida.
(C) Ganciclovir.
(D) Nevirapina.
(E) Ribavirina.
CAPÍT U LO

VírusdeDNA
Não Envelopado 38
CONTEODO DO CAPITULO

Adenovírus Aplique seu conhecimento


Papilomavírus Resumos dos organismos
Parvovtrus Questões para autoavaliação
Poliomavírus

ADENOVÍRUS Certos sorotipos de adenov(rus humanos (principalmente


12, 18 e 31) causam sarcomas no 1oca1 de injeção em roedores de
Doenças laboratório, como hamstets neonatos. !\ão existem evidências de
Os adenov(rus causam uma variedade de doenças dos tratos res- que adenovírus causem tumores em seres humanos.
piratório superior e inferior. como faringi te, oonjuntivite (..olho
oor-de-rosa'"). resfriado comum e pneumo1tia. Ceratoconju1ltivite, Resumo do ciclo de multiplicação
cistite hemorrágic.a e gastrenterite também ocorrem. A1gu.ns adeno- Após a ligação à superflcje celular por meio das suas fibras, o vi-
vírus causam wcomas em roedores. A Tabela 38- 1 desaeve aJgu- rus penetra e sofre desnudamento. e o ONA vital se desloca para
mas características clínicas importantes dos adenovitus e compara- o núdeo. RNA-poliinerases ONA-dependentes da célula hospe-
-os com c.aracteristicas dos outros dois vCrus de importância médica deira transcrevem os genes precoces. e enzimas de splidng a1ter-
deste capítulo, o papilomavirus humano (HPV) e o pan,o,1rus Bl 9, nativo removem o RNA referente aos fntrons. resultando em um
mRNA funcional. (Observa-se que {ntrons e éxons, comuns no
Características Importantes ONA eucariótico. foram inicia1mente descritos para o DNA de
Adenovírussão virus não envelopados com OK'A lü1ear de dupla- adenov(rus.) O mRNA precoc.e é traduzido. no citoplasma, em
.fita e um nudeocapsfdeo icosaédrico. São os ú!licos vírus com proteCnas não estruturais. Após a replicação do ONA viral no nú-
uma flbra saliente em cada um dos 12 vértices do capsfdoo. A deo. mRNA tardio é transcrito e. então.. traduzido nas proteinas
fibra é o instrumento de ligação e é uma hem.aglutinina. Quando estruturais do v{rion. A montagem viral ocorre no núdeo. e o
purificada, livre de virions. a fibra é tôxica pata células humanas. vírus é liberado pela lise da célula. e não por brotamento.
São coJ\hecidos 41 tipos antigênicos; a prote(na da fibra é
o principal antígeno tipo-específico. Todos os adenovirus pos• Transmissão e epidemiologia
suem um aJ\tlgeno grupo-especifico comum localiz.ado na pro~ Os adenovfrus podem ser transmitidos por meio de diversos
te(l\a hexona. mecanismos: gotkulas em aerossol, via fecaJ.oraJ e inoculação

TABELA 38-1 características clínicas dos vírus de ONA não envelopado

Seus tipos cauum C.rtos tipos


Vfrus Modo drt tnnsmlulo doe-dlstlnt..s CIIUHffl dncer vacina dlsponfftl
Adenovírus Respiratório; fec.al~oral Sim Sim, em animais, mas não Sim. mas~ usada apenas
em se,es humanos emmilita,es
Papilomavfrus humano Sexual;contato com a pele Sim Sim, em seres humanos Sim
Patvovírus819 Respiratório; transplacentário Nilo Não Nào
298 PARTE IV Virologia Clínica

direta da conjuntiva por tonômetros ou pelos dedos. A via fecal- revestimento entérico, o que protege o vírus vivo da inativa-
-oral é o mecanismo de transmissão mais comum entre crianças ção pelo ácido gástrico. O vírus infecta o trato gastrintestinal,
e seus familiares. Diversas espécies de animais são infectadas por no qual causa uma infecção assintomática e induz imunidade
linhagens de adenovírus, mas essas linhagens não são patogêni- contra a doença respiratória. A vacina não está disponível para
cas para os seres humanos. o uso em ClVlS.
As infecções por adenovírus são endêmicas mundialmen- A ceratoconjuntivite epidêmica é uma doença iatrogênica,
te, no entanto, ocorrem surtos entre recrutas militares, aparen - evitável pela rigorosa assepsia e lavagem das mãos pelos profis-
temente como resultado das condições de vida que facilitam a sionais da área da saúde que examinam os olhos.
transmissão. Certos sorotipos são associados a síndromes espe-
cíficas (p. ex., os tipos 3, 4, 7 e 21 causam doença respiratória,
principalmente em recrutas militares; os tipos 8 e 19 causam ce- PAPILOMAVÍRUS
ratoconjuntivite epidêmica; os tipos 11 e 21 causam cistite he-
morrágica; e os tipos 40 e 41 causam gastrenterite infantil). Doenças
Os papilomavírus humanos causam papilomas, os quais são tu-
Patogênese e imunidade mores benignos de células escamosas (p. ex., verrugas de pele).
Os adenovírus infectam o epitélio mucoso de vários órgãos Alguns tipos de HPV, principalmente os tipos 16 e 18, causam
(p. ex., o trato respiratório [superior e inferior], o trato gastrin- carcinoma do colo do útero, do pênis e do ânus.
testinal e as conjuntivas). A imunidade baseada em anticorpos
neutralizantes é tipo-específica e duradoura. Características importantes
Além da infecção aguda que leva à morte das células, os ade- Os papilomavírus são vírus não envelopados com DNA de dupla-
novírus causam uma infecção latente, particularmente nos teci-
-fita circular e um nucleocapsídeo icosaédrico. Dois dos genes
dos adenóideos e tonsilares da garganta. Na verdade, esses vírus precoces, E6 e E7, estão envolvidos na carcinogênese. Eles codifi-
foram denominados devido às adenoides, de onde foram primei-
cam proteínas que inativam as proteínas codificadas pelos genes
ramente isolados em 1953. supressores de tumores em células humanas (p. ex., o gene p53 e
o gene do retinoblastoma [RB], respectivamente). A inativação
Achados clínicos das proteínas p53 e RB é um importante passo no processo pelo
No trato respiratório superior, os adenovírus causam infecções, qual uma célula normal se torna uma célula cancerígena.
como faringite, febre faringoconjuntival e doença respiratória Existem pelo menos 100 tipos de papilomavírus, classifica-
aguda, caracterizada por febre, dor de garganta, coriza (corri- dos principalmente com base na análise de fragmentos de res-
mento nasal) e conjuntivite. No trato respiratório inferior, cau- trição de DNA. Há uma pronunciada predileção de certos ti-
sam bronquite e pneumonia atípica. Hematúria e disúria são pos infectarem determinados tecidos. Por exemplo, verrugas
evidentes na cistite hemorrágica. Gastrenterite com diarreia não cutâneas são causadas principalmente por HPV-1 a HPV-4, ao
sanguinolenta ocorre sobretudo em crianças com idade inferior a passo as verrugas genitais são, em geral, causadas por HPV-6 e
2 anos. A maioria das infecções por adenovírus se resolve espon- HPV-11. Aproximadamente 30 tipos de HPV infectam o trato
taneamente. Cerca de metade de todas as infecções por adenoví- genital.
rus é assintomática.
Resumo do ciclo de multiplicação
Diagnóstico laboratorial Pouco se sabe sobre as especificidades da multiplicação virai,
Os métodos de diagnósticos mais frequentes são o isolamento do pois o vírus se multiplica deficientemente, ou não se multiplica,
vírus em cultura celular e a detecção de um aumento em quatro em culturas celulares. No tecido humano, partículas virais in-
vezes ou mais no título de anticorpos. A fixação do complemen - fecciosas são encontradas em células escamosas terminalmente
to e a inibição da hemaglutinação são os testes sorológicos mais diferenciadas, em vez de em células basais. Observa-se que o
importantes. HPV, inicialmente, infecta células da camada basal da pele, no
entanto, nenhum vírus é produzido por essas células. Em vez
Tratamento disso, vírus infecciosos são produzidos por células escamosas
da superfície, o que aumenta a probabilidade de que uma trans-
Não há terapia antivirai.
missão eficaz ocorra.
Em células malignas, o DNA virai é integrado ao DNA da
Prevenção célula hospedeira nas adjacências de proto-oncogenes celulares, e
Três vacinas vivas não atenuadas contra os sorotipos 4, 7 e 21 E6 e E7 são superexpressos. Entretanto, em células não malignas
estão disponíveis, mas são administradas apenas a militares. infectadas latentemente, o DNA virai é epissomal, e E6 e E7 não
Cada uma das três vacinas é monovalente (i.e., cada uma con- são superexpressos. Essa diferença ocorre porque outro gene pre-
tém apenas um sorotipo). Os vírus são administrados separa- coce, E2, controla a expressão de E6 e E7. O gene E2 é funcional
damente, pois interferem entre si quando administrados em quando o DNA virai é epissomal, mas é inativado quando o DNA
conjunto. As vacinas são disponibilizadas em uma cápsula com virai é integrado.
CAPÍTULO 38 Vírus de DNA Não Envelopado 299

Transmissão e epidemiologia
Os papilomavírus são transmitidos principalmente pelo contato
pele a pele e por contato genital. Verrugas genitais estão entre
as doenças sexualmente transmissíveis mais comuns. Verrugas
cutâneas são mais comuns em crianças e em adultos jovens, e
tendem a regredir em adultos mais velhos. O HPV transmitido
de uma mãe infectada ao neonato durante o nascimento causa
verrugas na boca e no trato respiratório da criança, sobretudo na
laringe. Várias espécies de animais são infectadas por seus pró-
prios tipos de papilomavírus, mas esses vírus não são uma fonte
importante de infecção humana.

Patogênese e imunidade FIGURA 38-2 Papilomas (verrugas) no pênis (condiloma acumina-


Os papilomavírus infectam células epiteliais escamosas e induzem do) - observe as lesões secas e verrucosas causadas pelo papilomaví-
um vacúolo citoplasmático característico no interior dessas célu- rus humano. (Reproduzida, com permissão, de Wolff K, Johnson R. Fitzpatrick's
las. Essas células vacuoladas, denominadas coilócitos, são a marca Color Atlas & Synopsis of Clinicai Dermatology. 6th ed. New York: McGraw-Hill,
2009. Copyright © 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
da infecção por esses vírus. A maioria das verrugas é benigna e não
progride para a malignidade. Contudo, a infecção por HPV está
associada ao carcinoma de colo do útero e ao carcinoma do pê- (condilomas acuminados) (Figura 38-2) são causadas principal-
nis. As proteínas codificadas pelos genes virais E6 e E7 interferem mente por HPV-6 e HPV-11. HPV-6 e HPV-11 também causam
com a atividade inibidora do crescimento de proteínas codificadas papilomas no trato respiratório, sobretudo papilomas de laringe
pelos genes supressores de tumor p53 e RB e, assim, contribuem em crianças pequenas.
para a oncogênese causada por estes vírus. As proteínas E6 e E7 do O carcinoma do colo uterino, do pênis e do ânus, assim
HPV-16 se ligam mais fortemente às proteínas p53 e RB do que as como as lesões pré-malignas, denominadas neoplasias intraepi-
proteínas E6 e E7 de outros tipos de HPV não associados aos car- teliais, são associados à infecção pelo HPV-16 e pelo HPV-18. As
cinomas. Este achado explica porque o HPV-16 causa carcinomas lesões pré-malignas recebem seu nome de acordo com o órgão
mais frequentemente do que outros tipos de HPV. afetado (p. ex., neoplasia intraepitelial cervical [NIC] e neopla-
A imunidade celular e os anticorpos são induzidos pela in- sia intraepitelial peniana [NIP]). Lesões pré-malignas ocultas no
fecção virai e estão envolvidos na regressão espontânea das ver- colo do útero e no pênis podem ser reveladas pela aplicação de
rugas. Pacientes imunossuprimidos (p. ex., pacientes portadores ácido acético no tecido. HPV-16 também está envolvido na causa
da síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]) apresentam
de cânceres orais.
verrugas mais extensas e, da mesma forma, mulheres infectadas
com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) apresentam ta-
xas mais altas de carcinoma de colo uterino.
Diagnóstico laboratorial
As infecções são, em geral, diagnosticadas clinicamente. A pre-
Achados clínicos sença de coilócitos nas lesões indica infecção por HPV. Um teste
baseado na reação em cadeia da polimerase (PCR) pode ser uti-
Papilomas em vários órgãos é o achado predominante. Esses pa- lizado para detectar a presença do DNA de 14 genótipos de HPV
pilomas são causados por tipos específicos de HPV. Por exemplo, de alto risco, incluindo HPV-16 e HPV-18.
verrugas cutâneas e plantares (Figura 38-1) são causadas princi-
Testes diagnósticos baseados na detecção de anticorpos no
palmente por HPV-1 a HPV-4, ao passo que as verrugas genitais soro do paciente ou no isolamento do vírus a partir do seu tecido
não são utilizados.

Tratamento e prevenção
O tratamento habitual para as verrugas genitais é a podofilina;
interferon o. também é eficaz e é mais adequado na prevenção
de recorrências do que os tratamentos não antivirais. O nitrogê-
nio líquido é comumente utilizado em verrugas na pele. Verru-
gas plantares podem ser removidas cirurgicamente por meio da
aplicação tópica de ácido salicílico. O cidofovir pode ser útil no
tratamento de infecções graves por HPV.
FIGURA 38-1 Papilomas (verrugas) no dedo - observe as lesões se- Existem duas vacinas contra HPV. Gardasil, uma vacina
cas e verrucosas causadas pelo papilomavírus humano. (Reproduzida,
recombinante contra quatro tipos de HPV, contém as proteínas
com permissão, de Wolff K, Johnson R. Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of Clini-
capsídeas dos tipos 6 e 11, que causam verrugas genitais, e dos
cai Dermatology. 6th ed. New York: McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 porThe
McGraw-Hill Companies, lnc.)
tipos 16 e 18, que são as duas causas mais comuns de carcinoma
300 PARTE IV Virologia Clínica

do colo do útero, peniano e anal. Cervarix também é uma vacina A hidropsia fetal manifesta-se como um extenso edema do
recombinante, mas contém as proteínas apenas dos tipos 16 e 18. feto. Ela é secundária à falência cardíaca congestiva, precipitada
Cervarix contém um adjuvante, chamado de AS04, que estimula por anemia grave causada pela morte de eritroblastos infectados
receptores semelhantes ao Toll e, desse modo, aumenta a produ- pelo parvovírus B19 no feto.
ção de anticorpos. Imunizações contra HPV não possuem efeito
em papilomas já existentes. Achados clínicos
O papel da cesariana na prevenção da transmissão de HPV
da mãe com verrugas genitais ao recém-nascido é incerto. A cir- Existem cinco apresentações clínicas importantes.
cuncisão reduz o risco de infecção pelo HPV.
Eritema infeccioso (síndrome da bochecha
esbofeteada, quinta doença)
PARVOVÍRUS É uma doença branda, principalmente da infância, caracteriza-
da por uma erupção vermelha-brilhante que é mais proeminente
Doenças nas bochechas (Figura 38-3), acompanhada de febre baixa, cor-
O parvovírus B19 causa eritema infeccioso (síndrome da boche- rimento nasal (coriza) e dor de garganta. Uma erupção eritema-
cha esbofeteada, quinta doença), anemia aplástica (principal- tosa, menos intensa e de aspecto "rendado,, surge no corpo. Os
mente em pacientes com anemia falciforme) e infecções fetais, sintomas se resolvem em cerca de uma semana.
incluindo hidropsia fetal. A doença em crianças é também denominada quin-
ta doença. As outras quatro doenças de erupção macular ou
Características importantes maculopapular da infância são sarampo, rubéola, escarlatina e
roséola.
O parvovírus B19 é um vírus muito pequeno (22 nm), não enve-
lopado, com genoma de DNA de fita simples. O genoma é um
Anemia aplástica
DNA de fita negativa, porém não há uma polimerase do vírion.
O capsídeo possui simetria icosaédrica. Há um sorotipo. Crianças com anemia crônica, como anemia falciforme, ta-
lassemia e esferocitose, podem apresentar anemia aplástica
Resumo do ciclo de multiplicação
Após a adsorção aos receptores da célula hospedeira, o vírion pe-
netra e desloca-se para o núcleo, onde ocorre a replicação. O geno-
ma de DNA de fita simples apresenta alças em forma de "grampo,,
nas duas extremidades, que fornecem regiões de dupla-fita para
a DNA-polimerase celular iniciar a síntese dos genomas da pro-
gênie. O mRNA viral é sintetizado pela RNA-polimerase celular
a partir do intermediário de DNA de dupla-fita. A progênie viral
é montada no núcleo. O vírus B19 multiplica-se apenas quando a
célula se encontra na fase S, o que explica por que o vírus se multi-
plica em precursores de hemácias, mas não em hemácias maduras.

Transmissão e epidemiologia
O vírus B19 é transmitido principalmente pela via respiratória; a
transmissão transplacentária também ocorre. Sangue doado para
transfusões também pode transmitir o vírus. A infecção pelo ví-
rus B19 ocorre mundialmente, e cerca da metade dos indivíduos
dos Estados Unidos com idade acima de 18 anos possui anticor-
pos contra o vírus. Os seres humanos são o reservatório natural;
os animais não são uma fonte de infecção humana.

Patogênese e imunidade
O vírus B19 infecta principalmente dois tipos de células: célu-
las precursoras de hemácias (eritroblastos) na medula óssea,
o que explica a anemia aplástica, e células endoteliais dos vasos
sanguíneos, o que explica, em parte, a erupção associada ao eri-
tema infeccioso. Imunocomplexos compostos por vírus e IgM ou FIGURA 38-3 Síndrome da bochecha esbofeteada - observe as
IgG também contribuem para a patogênese da erupção e para a erupções bilaterais maculares eritematosas nas bochechas causadas
artrite observada em alguns adultos infectados pelo vírus Bl9. pelo parvovírus B19. (Figura cortesia de Richard P. Usatine, MD, e The Color
A infecção confere imunidade permanente contra a reinfecção. Atlas of Family Medicine.)
CAPÍTULO 38 Vírus de DNA Não Envelopado 301

transiente, porém grave (crise aplástica), quando infectadas O poliomavírus de célula de Merkel causa carcinoma de pele
pelo vírus B 19. Indivíduos com hemácias normais não exibem e é discutido no Capítulo 43. Poliomavírus JC é a causa de leuco-
anemia clinicamente aparente, embora os precursores de hemá- encefalopatia multifocal progressiva e é discutido no Capítulo 44.
cias sejam infectados. Vírus BK causa nefropatia em pacientes transplantados renais e é
discutido no Capítulo 46. O vírus SV40 não causa doença detec-
Infecções fetais tável em seres humanos, mas causa sarcomas em hamsters neona-
Se uma mulher estiver infectada pelo vírus B19 durante o pri- tos. O vírus SV40 é discutido como um vírus causador de tumor
meiro ou segundo trimestre de gravidez, o vírus pode cruzar a no Capítulo 43 e como contaminante da vacina contra pólio no
placenta e infectar o feto. A infecção durante o primeiro trimes- Capítulo 40.
tre é associada à morte fetal, ao passo que a infecção durante o
segundo trimestre leva à hidropsia fetal. As infecções de terceiro
trimestre não resultam em achados clínicos importantes. O vírus APLIQUE SEU CONHECIMENTO
B19 não é uma causa comum de anormalidades congênitas, pro-
1. Em relação aos adenovírus, qual das seguintes declarações é mais
vavelmente porque o feto morre quando precocemente infectado correta?
na gestação.
(A) Aciclovir é o fármaco de escolha para infecções com risco à
vida.
Artrites (B) Eles causam faringite, pneumonia e conjuntivite ("olho rosa").
A infecção por parvovírus B19 em adultos, principalmente em (C) Eles são frequentemente transmitidos por meio da placenta e
mulheres, pode causar artrite, envolvendo sobretudo as pequenas causam hidrocefalia no feto.
(D) A vacina contra adenovírus é recomendada para todas as
articulações das mãos e dos pés bilateralmente. Assemelha-se à
crianças antes da idade escolar.
artrite reumatoide. Outras infecções virais que causam uma ar-
(E) O diagnóstico laboratorial depende da identificação de células
trite relacionada à formação de imunocomplexos são a hepatite B gigantes multinucleadas na biópsia, uma vez que o vírus não é
e a rubéola. cultivado em cultura celular.
2. Em relação ao papilomavírus humano (HPV), qual das seguintes
Infecção crônica pelo parvovírus 819 opções é a mais correta?
Indivíduos com imunodeficiências, sobretudo pacientes infecta- (A) Não existe vacina disponível contra HPV.
dos por HIV, submetidos à quimioterapia ou transplantados, po- (B) Aciclovir é eficaz na prevenção de lesões causadas pelo HPV,
dem apresentar anemia crônica, leucopenia ou trombocitopenia mas não cura o estágio latente.
como resultado da infecção crônica por Bl9. ( C) Complexos de antígeno-anticorpo desempenham um papel
importante na patogênese de verrugas causadas pelo HPV.
(D) As proteínas precoces do HPV desempenham um papel mais im-
Diagnóstico laboratorial portante na transformação maligna do que as proteínas tardias.
A quinta doença e a anemia aplástica são, em geral, diag- (E) O diagnóstico de infecções por HPV é comumente realizado
nosticadas pela detecção de anticorpos IgM. O vírus B19 pode pela detecção de inclusões citoplasmáticas nas células gigantes
ser isolado a partir de swabs de garganta, procedimento que não nas lesões.
é realizado com frequência. Em pacientes imunocomprometidos, 3. Em relação ao parvovírus B19, qual das seguintes opções é a mais
anticorpos podem não ser detectáveis; portanto, o DNA virai no correta?
sangue pode ser determinado por métodos de PCR. A infecção (A) Uma vacina está disponível e contém vírus mortos como imu-
,
fetal pode ser determinada pela análise por PCR do líquido am- nogeno.
niótico. (B) Pacientes infectados pelo parvovírus B19 podem ser diagnos-
ticados no laboratório pelo uso do teste de crioaglutinina.
( C) Parvovírus B19 causa uma anemia grave, uma vez que ele in-
Tratamento e prevenção fecta preferencialmente hemácias precursoras, como eritro-
Não existe tratamento específico para infecção por Bl9. Imuno- blastos.
globulinas combinadas podem ter um efeito benéfico na infecção (D) Comumente infecta neutrófilos, resultando em uma imunode-
ficiência que predispõe a infecções por bactérias piogênicas.
crônica por B19 em pacientes com imunodeficiências. Não existe
(E) Parvovírus possuem um genoma de DNA dupla-fita, mas re-
vacina nem quimioprofilaxia.
querem uma DNA-polimerase no vírion, pois replicam-se no
citoplasma.
4. Uma mulher de 24 anos é atendida pelo ginecologista para um exa-
POLIOMAVÍRUS me de Papanicolaou de rotina. O exame mostra neoplasia intraepi-
Existem três membros da família dos poliomavírus que causam telial cervical grau 3 (NIC 3). O médico decide examinar o parceiro
doença em seres humanos: o poliomavírus da célula de Merkel sexual masculino de longo prazo. Qual das seguintes opções é o
achado mais provável?
(Merkel cell polyomavirus), o vírus JC e o vírus BK. Outro vírus, o
SV40, é um vírus símio que infectou seres humanos quando esse (A) Condiloma plano.
(B) Condiloma acuminado.
contaminou a vacina contra poliovírus, no entanto, esta infecção
(C) Neoplasia intraepitelial peniana associada ao HPV-6.
não resultou em nenhuma doença humana.
(D) Neoplasia intraepitelial peniana associada ao HPV-16.
302 PARTE IV Virologia Clínica

RESPOSTAS QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


1. (B) Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
2. (D) contradas na seção de Virologia Clínica da Parte XIII: Questões
3. (C) para Autoavaliação, a partir da página 703. Consulte também a
4. (D)
Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
na 731.

RESUMOS DOS ORGANISMOS


Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
-se na página 648. Favor consultar esses resumos para uma rápida
revisão do material essencial.
CAPÍTULO

Vírus de RNA Envelopado 39


CONTEODO DO CAPITULO

ORTOMIXOVIRUS TOGAVÍRUS
Vírus influenza Vírus da rubéola
PARAMIXOVIRUS Outros togavfrus
Vírus do sarampo RABDOVIRUS
Vírus da caxumba Vírus da raiva
Vírus sinclclal respiratório RETROVIRUS
Vírus da poroinfluenza Vírus T-linfotrófico humano
CORONAVÍRUS Aplique seu conhecimento
Coronavírus Resumos dos organismos
Questões para autoavaliação

ORTOMIXOVÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
V ÍRUS INFLUENZA 1'njluenza Ase iniciou. Este e.surtos subsequentes estão desuitos
na página 308. Em 2009, houve u.m surto de gripe humana cau-
Os ,•I.rus 1'nfluenza são importantes patôgenos humanos. uma vez sado por um v(rus 1'nfluenza HlNl de origem suina (vfrus in·
que causam tanto surtos sazonais de gripe, que provocam doença fluenz:.a de origem suina, S~OIV (do ing)ês swine-origen influen~
e morte de milhares de indh•fduos a cada ano, quanto infrequen- virusl). Este surto e a pandemia que se seguiu estão descritos na
tes. mas devastadoras. epidemias mundiais (pandemias). página 309. Em 2013, ocorreu um surto de gripe causado por
Os virus 1'nfluenza são os únicos membros da família uma cepa H7N9 do vírus influenza.
Orthomyxoviridae. Os ortomixovírus diferem dos paramixov(rus
principalmente pelo fato de os primeiros apresentarem genoma 1. Vírus Influenza humano
de RNA segmentado (geraJmente oito segmentos), ao passo que
1
o genoma de RNA dos últimos coJlsiste em um único segmento. Doença
O termo mixo se refere à observação de que esses vírus interagem O vírus influenza A causa epidemias mundiais (pandemias) de
com muciJl.aS (glicoprotelnas na superfície das c:élu)as).
gripe, o vfrus influenza B causa importaJltes surtos de gripe, e o
Além disso, os ortomixovírus são menotes (110 nm de diãme• vfrus influenza C causa infecções brandas do trato respiratótio,
tro) que os pw.mixov!rus (ISO nm de diâmetro). Ver Tabela 39-1 mas não causa surtos de gripe. As pandemias ocorrem quando
para diferenças adicionais. uma variante do virus influen~ A que contém uma nova hema-
A Tabe)a 39·2 mostra uma comparação do v{rus influenza A glutinina, contra a qual os indh,fduos não possuem anticorpos
com vá.rios outros vírus que infectam o trato respiratório. A Ta· preexistentes, é introduzida na população humana.
bela 39.3 descreve algumas das importantes caracter(sticas dbü· As pandemias causadas peJo vírus 1'nfluenza A raramente.
cas dos vírus influen~ e as compara com características clínicas ocorrem (a ú)tima ocorreu em 1968); no entanto, grandes surtos
de outros virus de importância médica abordados neste capítulo. causados por esse \'Ífus ocorrem praticamente todos os anos em
Em 1997, um surto de gripe em seres humanos (gripe avi• muitos países. A e.ada ano. a gripe é a causa mais comum de in-
ária, influen~ aviária) causada por uma cepa HSN l de vfrus fecções do trato respiratório que resu)tam em consultas médicas
e hospita1izações nos Estados Unidos.
1
0 peso mo!ocuJar total do RNA do ,•írus influetizn é de aproximadamen- Ourante a pandemia de gripe de 1918, morreram mais
te (2-4} X JOf, ao pmo que o peso molecular do R.'-'A do paramixovírus norte. americ.anos do que na Primeira Guerra Mundial, Segun-
é superior, de aproximadamente (5- 8) X l0". da Guerra Mundial, Guerra da Coréia e Guerra do Vietnã em
304 PARTE IV Virologia Clínica

TABELA 39-1 Propriedades de ortomixovírus e paramixovírus

Propriedade Ortomixovírus Paramixovírus

Vírus Vírus influenza A, B e C Vírus do sarampo, da caxumba, sincicial respirató-


rio e da parainfluenza

Genoma RNA de fita simples segmentado (oito segmentos) RNA de fita simples não segmentado de polaridade
de polaridade negativa negativa

RNA-polimerase virai Sim Sim

Capsídeo Helicoidal Helicoidal

Envelope Sim Sim

Tamanho Menor (11 O nm) Maior (150 nm)

Espículas na superfície Hemaglutinina e neuraminidase em espículas Hemaglutinina e neuraminidase na mesma


1
diferentes espícula

Formação de células gigantes Não Sim


1
Vírus individuais diferem nos detalhes. Ver Tabela 39-4.

1
TABELA39-2 Características de vírus que infectam o trato respiratório

Imunidade
Número de permanente à Vacina Latência
Vírus Doença sorotipos doença disponível virai Tratamento

VírusdeRNA

Vírus influenza Gripe Vários Não + Amantadina riman-


tadina, oseltamivir,
zanamivir

Vírus da Laringotraqueobronquite Vários Não Nenhum


parainfluenza (crupe)

Vírus sincicial Bronquiolite Dois Incompleta Ribarivin


respiratório

Vírus da Rubéola Rubéola Um Sim + Nenhum

Vírus do sarampo Sarampo Um Sim + Nenhum

Vírus da caxumba Parotite, meningite Um Sim + Nenhum

Rinovírus Resfriado comum Vários Não Nenhum

Coronavírus Resfriado comum, SARS2 Três Não Nenhum

Vírus de Coxsackie Herpangina, pleurodinia, Vários Não Nenhum


miocardite

VírusdeDNA
3
Herpes-vírus Geng ivoestomatite Um Não + Aciclovir em pacientes
simples 1 imunodeficientes

Vírus da varicela- Catapora, herpes-zóster Um Sim para varicela; + Aciclovir em pacientes


-zóster não para zóster imunodeficientes

Citomegalovírus Pneumonia em imuno- Um N-ao3 + Ganciclovir


com prometidos

Vírus Epstein-Barr Monucleose infecciosa Um Sim + Nenhum

Adenovírus Faringite, pneumonia Vários Não +4 + Nenhum


1
Vírus influenza, vírus da parainfluenza, vírus sincicial respiratório, vírus da rubéola, vírus do sarampo, vírus da caxumba e coronavírus são vírus de RNA envelopado, e
são descritos neste capítulo.
2
SARS, síndrome respiratória aguda grave.
3
Não, uma vez que a reativação do vírus latente pode causar doença.
4
Somente para recrutas militares.
CAPÍTULO 39 Vírus de RNA Envelopado 305

TABELA 39-3 Características clínicas de certos vírus de RNA envelopado

lmunoglobulinas
Vírus Erupção cutânea Células multinucleadas Tipo de vacina frequentemente usadas

Vírus influenza Não Não lnativada Não

Vírus sincicial respiratório Não Sim Nenhum Não

Vírus do sarampo Sim Sim Viva Não

Vírus da rubéola Sim Não Viva Não

Vírus da raiva Não Não lnativada Sim

conjunto. O vírus influenza B não causa pandemias, sendo que sua capacidade de causar epidemias mundiais (pandemias)
os principais surtos causados por este vírus não ocorrem com a devastadoras. Existem dois tipos de modificações antigénicas:
mesma frequência que aqueles causados pelo vírus influenza A. (1) alterações antigênicas (shift), que são modificações mais
Estima-se que aproximadamente 36 mil pessoas morrem de gripe significativas, com base no rearranjo de segmentos do genoma
a cada ano nos Estados Unidos*. de RNA, e (2) derivas antigênicas (drift), que são modificações
menores, com base em mutações no genoma de RNA. Observa-
Características importantes -se que, no rearranjo, segmentos inteiros de RNA são trocados,
e cada um codifica uma única proteína (p. ex., a hemaglutinina)
O vírus influenza é composto por um genoma de RNA de fita (Figura 39-2).
simples segmentado, um nucleocapsídeo helicoidal e um enve-
O vírus influenza A possui duas proteínas de matriz: a pro-
lope lipoproteico externo (Figura 39-1). O vírion contém uma
teína de matriz Ml se localiza entre a nucleoproteína interna e o
RNA-polimerase RNA-dependente, que transcreve o genoma de
envelope e é capaz de prover integridade estrutural à partícula
polaridade negativa em mRNA. viral. A proteína de matriz M2 forma um canal iônico entre o
O envelope é coberto por dois tipos diferentes de espículas, interior do vírus e o meio externo. Esse canal iônico possui um
2
uma hemaglutinina e uma neuraminidase. O vírus influenza A
papel essencial durante o desnudamento do vírion depois que
possui 16 tipos antigenicamente distintos de hemaglutinina (HA)
este entra na célula. O canal transporta prótons para dentro do
e nove tipos antigenicamente distintos de neuraminidase (NA).
vírion causando a degradação do envelope, o que libera o nucleo-
Conforme descrito a seguir, alguns desses tipos causam doença
capsídeo contendo o RNA genômico e permitindo sua migração
em seres humanos, embora a maioria dos tipos normalmente
até o núcleo.
cause doença em outras espécies animais, como aves, cavalos e
porcos.
A função da hemaglutinina é ligar-se ao receptor da super-
fície celular (ácido neuramínico, ácido siálico) para iniciar a in -
fecção da célula. No laboratório clínico, a hemaglutinina aglutina
as hemácias, que constituem a base de um teste diagnóstico, de-
nominado teste de inibição da hemaglutinação. A hemaglutinina
é também o alvo de anticorpos neutralizantes (i.e., anticorpos
contra a hemaglutinina são capazes de inibir a infeção da célula).
A neuraminidase cliva o ácido neuramínico (ácido siálico)
para liberar a progênie viral da célula infectada. A hemaglutinina
atua no início da infecção, ao passo que a neuraminidase atua no
final da infecção. A neuraminidase também é capaz de degradar
a camada protetora de muco que recobre o trato respiratório. Esta
propriedade aumenta a habilidade do vírus de alcançar as células
epiteliais respiratórias.
Os vírus influenza, sobretudo o vírus influenza A, apre-
sentam modificações na antigenicidade de suas proteínas he-
maglutinina e neuraminidase; essa propriedade contribui para

*N. de R.T. Embora uma estimativa acurada do total de óbitos causados FIGURA 39-1 Vírus influenza - micrografia eletrônica. A seta longa
pela gripe sazonal no Brasil não esteja disponível, o número de casos de aponta para o nucleocapsídeo helicoidal do v írus influenza. O nucleo-
síndromes gripais atendidos no sistema público de saúde é de aproxima- capsídeo contém o genoma de RNA segmentado e de polaridade ne-
damente 450 mil casos anuais. Ainda assim, esse número é considerado gativa. A seta curta aponta para as espículas do envelope virai. As espí-
bastante subestimado. culas são as proteínas hemaglutinina e neuraminidase. (Figura cortesia
2
Paramixovírus também possuem uma hemaglutinina e uma neuramini- do Dr. Erskine Palmer e do Dr. M. Martin, Public Health lmage Library, Centers for
dase, mas as duas proteínas estão localizadas na mesma espícula. Disease Control and Prevention.)
306 PARTE IV Virologia Clínica

Vírus Vírus variações antigênicas (shift) responsáveis por epidemias entre os


influenza influenza seres humanos. Por exemplo, se um vírus influenza A aviário e
humano aviário
um ser humano infectam a mesma célula (p. ex., no trato respira-
tório de um agricultor), pode ocorrer um rearranjo e surgir uma
nova variante do vírus A humano, contendo a hemaglutinina do
1 1 1 1 1 1 1 1 vírus aviário (Figura 39-1).
Há evidências de que aves aquáticas sejam uma fonte co-
1 1 1 1 1 1 1 1
mum desses novos genes e que o evento de rearranjo que resulta
em novas linhagens humanas ocorra em porcos. Em outras pala-
vras, porcos podem servir como o "recipiente de misturà' no qual
os vírus humanos, aviários e suínos se rearranjam. Existem 16
tipos de hemaglutinina (Hl - H16) e nove tipos de neuraminida-
Células do pulmão
se (Nl - N9) encontrados em aves aquáticas. Em seres humanos,
predominam três tipos de hemaglutinina (H 1, H2 e H3) e dois de
Rearranjo de segmentos neuraminidase (Nl e N2).
l do RNA genômico Uma vez que o vírus influenza B é apenas um vírus huma-
no, não há fonte animal de novos segmentos de RNA. O vírus
influenza B, portanto, não sofre alterações antigênicas. Todavia,
sofre deriva antigênica suficiente para que a cepa circulante possa
1 1 1 1 ser incluída na nova versão da vacina contra a gripe produzida a
cada ano. O vírus influenza B não possui antígenos em comum
1 1 1 1
com o vírus influenza A.
A/Filipinas/82 (H3N2) ilustra a nomenclatura dos vírus
influenza. "X' refere-se ao grupo antigênico. Em seguida, estão
Nova cepa de
vírus influenza
a localização e o ano em que o vírus foi isolado. H3N2 é a de-
signação dos tipos de hemaglutinina (H) e neuraminidase (N).
FIGURA 39-2 Alteração antigênica nos vírus influenza. Uma cepa As cepas HlNl e H3N2 do vírus influenza A são, atualmente, as
humana do vírus influenza, contendo o gene codificador de um tipo mais comuns, sendo as cepas incluídas na vacina atual. A cepa
antigênico de hemaglutinina (em cor de laranja) infecta a mesma célu- H2N2 causou uma pandemia em 1957.
la pulmonar que uma cepa de vírus influenza aviário, contendo o gene
codificador de um tipo antigênico de hemaglutinina distinto (em pre-
to). Ocorre o rearranjo dos segmentos de RNA genômicos que codifi- Resumo do ciclo de multiplicação
cam a hemaglutinina, e uma nova cepa de vírus influenza é produzida, O vírus adsorve-se à célula quando a hemaglutinina viral intera-
contendo a hemaglutinina do tipo aviá ria (em preto). ge com receptores de ácido siálico na superfície celular. (A hema-
glutinina na superfície viral é clivada por proteases extracelula-
Os vírus influenza possuem antígenos grupo-específicos e res, gerando uma hemaglutinina modificada que, efetivamente,
tipo-específicos. medeia a ligação à superfície celular.) O vírus, então, penetra na
célula em vesículas e se desnuda no interior de um endossamo. O
( 1) A ribonucleoproteína interna é o antígeno grupo-especí- desnudamento é facilitado pelo baixo pH no interior do endos-
fico que distingue os vírus influenza A, B e C. samo. Prótons passam para o interior do vírion através do canal
(2) A hemaglutinina e a neuraminidase são os antígenos iônico, formado pela proteína M2. Esse processo causa a degra-
tipo-específicos situados na superfície. Anticorpos contra a he- dação do envelope e a liberação do nucleocapsídeo no citoplas-
maglutinina neutralizam a infectividade do vírus (e previnem a ma, o qual, então, migra para o núcleo da célula, onde o genoma
doença), ao passo que anticorpos contra o antígeno grupo-espe- de RNA é transcrito.
cífico (que está situado internamente) não o fazem. Anticorpos No núcleo, a RNA-polimerase do vírion transcreve os
contra a neuraminidase não neutralizam a infectividade, mas oito segmentos genômicos em oito mRNAs. A síntese dos oito
reduzem a doença, diminuindo a quantidade de vírus liberados mRNAs ocorre no núcleo, pois é necessário um "cap,, de guano-
da célula infectada e, desse modo, reduzindo a disseminação do sina metilado. O cap é obtido de RNAs nucleares da célula, em
vírus para células adjacentes. um processo denominado "cap snatching: A maioria dos mRNAs
Um importante determinante da virulência desse vírus é desloca-se para o citoplasma, onde são traduzidos em proteínas
uma proteína não estrutural, denominada NS-1, codificada pelo virais. Alguns dos mRNAs virais permanecem no núcleo, no qual
RNA genômico do vírus influenza. A proteína NS-1 possui diver- servem como molde para a síntese dos RNAs genômicos de fita
sas funções, mas aquela ligada à virulência é a sua capacidade de negativa da progênie de vírions. A replicação dos genomas da
inibir a produção de mRNA do interferon pela célula infectada. progênie é realizada por uma subunidade da RNA-polimerase vi-
Como resultado, as defesas inatas são reduzidas e a virulência vi- ral diferente (que atua como replicase) da subunidade que atuou
ral é proporcionalmente aumentada. anteriormente como transcriptase na síntese dos mRNAs. Duas
Muitas espécies de animais (p. ex., aves aquáticas, galinhas, proteínas recentemente sintetizadas, a proteína NP e a proteína
suínos e cavalos) têm seus próprios vírus influenza. Estes vírus de matriz, ligam-se ao RNA genômico da progênie no núcleo, e
animais são uma fonte de segmentos de RNA que codificam as este complexo é transportado ao citoplasma.
CAPÍTULO 39 Vírus de RNA Envelopado 307

A ribonucleoproteína helicoidal é montada no citoplasma, a raros. Em geral, os sintomas se solucionam espontaneamente em


proteína de matriz medeia a interação do nucleocapsídeo com o quatro a sete dias, mas a ocorrência de pneumonia gripal ou bacte-
envelope, e o vírion é liberado da célula por brotamento a partir da riana pode complicar o curso. Uma das complicações bem-conhe-
membrana celular externa, no local onde a hemaglutinina e a neu- cidas da gripe é a pneumonia causada por Staphylococcus aureus.
raminidase estão situadas. A neuraminidase libera o vírus ao clivar A síndrome de Reye, caracterizada por encefalopatia e de-
o ácido neuramínico na superfície celular no local do brotamento generação hepática, é uma complicação rara com risco à vida que
da progênie de vírions. Os vírus influenza, os vírus da hepatite del- ocorre em crianças após algumas infecções virais, principalmente
ta e os retrovírus são os únicos vírus de RNA que apresentam um influenza B e catapora. A administração de ácido acetilsalicílico
estágio importante de multiplicação ocorrendo no núcleo. para reduzir a febre em infecções virais foi associada à patogênese
da síndrome de Reye.
Transmissão e epidemiologia
Diagnóstico laboratorial
O vírus é transmitido por gotículas respiratórias disseminadas
pelo ar. A capacidade de o vírus influenza A causar epidemias Embora a maioria dos diagnósticos de gripe seja realizada com
depende de modificações antigênicas na hemaglutinina e na base clínica, existem testes laboratoriais disponíveis. O teste mais
neuraminidase. Conforme mencionado anteriormente, o vírus comumente utilizado é um ensaio imunoadsorvente ligado à
influenza A sofre tanto alterações antigênicas significativas quanto enzima (ELISA), que detecta o antígeno viral em secreções res-
derivas antigênicas menos significativas. Variantes por alterações piratórias, como lavados nasais e de garganta, swabs nasais e de
antigênicas surgem raramente, ao passo que variantes por deriva garganta, ou no escarro. Vários testes rápidos de ELISA, adequa-
surgem praticamente todos os anos. A última alteração antigênica dos para o uso no próprio consultório médico, se encontram dis-
significativa responsável por uma pandemia em seres humanos poníveis. Dois testes (FLU OIA e o teste de influenza QuickVue)
ocorreu em 1968, quando o H3N2 surgiu. Epidemias e pandemias são baseados na detecção de antígenos virais, utilizando anti-
(epidemias mundiais) ocorrem quando a antigenicidade do vírus corpos monoclonais, e um terceiro teste (ZSTATFLU) baseia-se
se modifica o suficiente, de modo que a imunidade preexistente na detecção da neuraminidase viral, utilizando um substrato da
de vários indivíduos deixa de ser eficaz. A antigenicidade do vírus enzima que muda de cor quando clivado pela neuraminidase. A
influenza B sofre deriva antigênica, mas não alteração antigênica. justificativa para o uso dos testes rápidos é que o tratamento com
As modificações antigênicas exibidas pelos vírus influenza B são inibidores da neuraminidase deve ser instituído dentro de 48 ho-
menos drásticas e menos frequentes que as do vírus influenza A. ras após o início dos sintomas. Outros testes como o anticorpo
A gripe ocorre principalmente nos meses de inverno, de de- fluorescente direto e a reação em cadeia da polimerase (PCR)
zembro a fevereiro no Hemisfério Norte, quando a gripe e pneu- também são utilizados.
monias bacterianas secundárias causam um número significativo A gripe também pode ser diagnosticada pela detecção de
de óbitos, sobretudo entre indivíduos idosos. A morbidade da anticorpos no soro do paciente. Um aumento no título de anti-
gripe em crianças menores de 2 anos é também muito alta, per- corpos em pelo menos quatro vezes entre as amostras de soro
dendo apenas para a morbidade em idosos. No Hemisfério Sul coletadas no início da doença e após 1O dias é suficiente para o
(p. ex., na Austrália, na Nova Zelândia e no Brasil), a gripe ocor- diagnóstico. Os testes de inibição da hemaglutinação ou de fixa-
re principalmente nos meses do inverno, de junho a agosto. Nas ção do complemento (FC) podem ser utilizados para avaliar o
regiões tropicais, a gripe ocorre durante todo o ano, com pouca título de anticorpos. Esse procedimento é utilizado na realização
variação sazonal. de diagnóstico retrospectivo, frequentemente com propósitos
epidemiológicos, uma vez que a segunda amostra é coletada 1O
Patogênese e imunidade dias após o início dos sintomas.

Após o vírus ter sido inalado, a neuraminidase degrada a ca- Tratamento


mada protetora de muco, permitindo ao vírus acesso às células
dos tratos respiratórios superior e inferior. A infecção é limitada O Oseltamivir (Tamiflu) e o zanamivir (Relenza) são utilizados
principalmente a essa região, uma vez que as proteases que cli- no tratamento e na prevenção da gripe. São membros de uma
vam a hemaglutinina localizam-se no trato respiratório. Apesar classe de fármacos, denominados inibidores de neuraminidases,
dos sintomas sistêmicos, raramente ocorre viremia. Os sintomas que atuam inibindo a liberação de vírus de células infectadas.
sistêmicos, como mialgias graves, são devidos a citocinas circu- Isso limita a extensão da infecção, reduzindo a disseminação do
lando no sangue. Há necrose das camadas superficiais do epitélio vírus de uma célula à outra. Esses fármacos são efetivos contra os
respiratório. A pneumonia por vírus influenza, o que pode com- vírus influenza A e B, ao contrário da amantadina, que é eficaz
plicar a gripe, apresenta localização intersticial. apenas contra o vírus influenza A.
A imunidade depende principalmente de IgA secretora no Em 2009, a maioria dos isolados do vírus influenza HlNl
trato respiratório. IgG é também produzida, porém é menos prote- era resistente ao Tamiflu. A maior parte dos isolados do novo ví-
tora. Células T citotóxicas também desempenham papel protetor. rus influenza HlNl (suíno) (ver adiante) é suscetível; no entanto,
mutantes resistentes ao Tamiflu já surgiram. Cepas de H3N2 ain-
da são suscetíveis ao Tamiflu. Cepas HlNl e H3N2 permanecem
Achados clínicos
suscetíveis ao Relenza. Em geral, cepas de vírus influenza HSNl
Após um período de incubação de 24 a 48 horas, febre, mialgias, que causam a gripe aviária (ver adiante) são sensíveis ao Tamiflu
cefaleia, dor de garganta e tosse se desenvolvem subitamente. e ao Relenza, mas resistentes à amantadina e à rimantadina.
Mialgias graves (dores musculares) associadas a sintomas do tra- O Tamiflu é administrado oralmente, ao passo que o Relen-
to respiratório são características da gripe. Vômito e diarreia são za é administrado diretamente no trato respiratório por inalação.
308 PARTE IV Virologia Clínica

Estudos clínicos demonstraram que esses fármacos reduzem a A maioria das vacinas descritas acima é produzida em
duração dos sintomas em um a dois dias. Também reduzem a ovos de galinha, e qualquer um que apresente alergia signifi-
quantidade de vírus produzido e, portanto, diminuem as chances cativa às proteínas do ovo (p. ex., anafilaxia) não deve receber
de disseminação para outros indivíduos. Para um tratamento efe- estas vacinas. Entretanto, em 2012, o órgão regulamentador de
tivo, esses fármacos devem ser administrados dentro de 48 horas alimentos e fármacos dos Estados Unidos (U.S. Food and Drug
após o início dos sintomas. Administration - FDA) aprovou uma vacina de subunidade para
A amantadina é aprovada tanto no tratamento quanto na a gripe (Flucelvax) produzida em células cultivadas de rim de
prevenção de influenza A. Entretanto, 90% das linhagens H3N2 bezerro. Essa vacina apresenta duas vantagens: pode ser admi-
nos Estados Unidos são resistentes à amantadina (e à rimantadi- nistrada a indivíduos que possuem alergia a ovos e apresenta um
na, ver a seguir), de modo que esses fármacos não são mais re- menor tempo de conversão, de forma que os mutantes circulantes
comendados. Esses medicamentos bloqueiam o canal iônico de mais recentes podem ser usados.
M2, inibindo, assim, o desnudamento. A resistência é causada Também em 2012, o FDA aprovou o uso de uma vacina re-
principalmente por mutações pontuais no gene da proteína M2. combinante (Flublok) que foi produzida pela inserção do gene
Observa-se que a amantadina é eficaz apenas contra que codifica a hemaglutinina viral no genoma de um vírus de
influenza A e não contra influenza B. A Rimantadina, um deri- inseto (baculovírus) que se propaga em células de inseto em cul-
vado da amantadina, também pode ser utilizada no tratamento e tura. Essa vacina contém a proteína hemaglutinina purificada
na prevenção de influenza A e possui menos efeitos colaterais que como imunógeno e também pode ser administrada a indivíduos
a amantadina. Deve-se enfatizar que o uso da vacina é preferível que apresentam alergia a ovos.
ao uso de fármacos antivirais para a prevenção da gripe. Observa-se que a vacina inativada não é um bom imunó-
geno, uma vez que pouco IgA é produzido e o título de IgG é
Prevenção relativamente baixo. A proteção dura apenas seis meses. Doses
de reforço anuais são recomendadas e devem ser administra-
O principal modo de prevenção é a vacina, que contempla tanto o das antes da estação da gripe (p. ex., em outubro, nos Estados
vírus influenza A quanto o B. Antes de 2013, a vacina era trivalente Unidos, e, no Brasil, entre março e maio). Essas doses também
e incluía isolados recentes de duas cepas A (HlNl e H3N2) e uma
fornecem uma oportunidade de imunizar contra as modifica-
cepa B. Em 2013, vacinas tetravalentes contendo duas cepas A e
ções antigénicas mais recentes. A vacina deve ser administrada
duas cepas B se tornaram disponíveis. A vacina é geralmente re- a todos os indivíduos com 6 meses de idade ou mais, desde que
formulada a cada ano, a fim de conter cepas antigénicas correntes.
não apresentem alguma contraindicação para recebê-la. É par-
Há dois tipos principais de vacinas contra a gripe disponí- ticularmente importante que indivíduos com doenças crônicas,
veis nos Estados Unidos, uma vacina inativada (morta) e uma
sobretudo em condições respiratória e cardiovascular, recebam a
vacina viva atenuada. A vacina que foi utilizada por vários anos vacina. Também deve ser administrada a profissionais da área da
é uma vacina inativada contendo subunidades proteicas purifica-
saúde que possivelmente podem transmitir o vírus a indivíduos
das do vírus (hemaglutinina e neuraminidase). O vírus é inativa-
sob alto risco.
do com formaldeído e, então, tratado com um solvente lipídico
Um efeito colateral da vacina contra a gripe utilizada nos anos
que desagrega os vírions. Observe que a hemaglutinina é o antí-
1970, contendo a cepa da gripe suína que causou gripe em seres
geno mais importante, pois ele induz a formação de anticorpos humanos, foi o risco aumentado da síndrome de Guillain-Barré,
neutralizantes. Essa vacina é administrada, em geral, de forma
que se caracteriza por uma paralisia ascendente. Análises dos efei-
intramuscular. Em 2011, uma vacina inativada contra gripe, ad-
tos colaterais das vacinas contra a gripe em uso durante os últimos
ministrada via intradermal, tornou-se disponível.
1O anos não revelou aumento no risco da síndrome de Guillain-
A outra vacina corresponde a uma vacina viva e atenuada
-Barré.
que contém mutantes dos vírus influenza A e B sensíveis à tempe-
Adicionalmente à vacina, a gripe pode ser prevenida pelo
ratura. Esses mutantes sensíveis à temperatura podem se replicar uso do oseltamivir, descrito anteriormente no tópico "tratamen -
na mucosa nasal, que é mais fresca (33ºC), onde eles induzem
to': O oseltamivir é particularmente útil no caso de pessoas idosas
a produção de IgA, mas são incapazes de se multiplicar no tra-
que não foram imunizadas e que podem ter sido expostas ao ví-
to respiratório inferior, que é mais quente (37ºC). Os vírus vivos
rus. Observe que o fármaco não deve ser considerado como um
na vacina, portanto, imunizam, mas não causam doença. Essa
substituto para a vacina. A imunização é o mecanismo de preven-
vacina é administrada por pulverização no nariz ("vaporização
ção mais confiável.
nasal"). A vacina viva não deve ser administrada às mulheres grá-
vidas e a indivíduos imunocomprometidos. *
2. Infecção em seres humanos por
*N. de T. No Brasil, apenas a vacina inativada é utilizada nas cam- vírus influenza aviário
panhas públicas de vacinação coordenadas pelo Ministério da Saú- Vírus influenza HSN1
de. A vacina é dada preferencialmente a determinados grupos po-
pulacionais, que incluem idosos, gestantes a partir do 3° mês de Em 1997, a cepa HSNl do vírus influenza A que causa gripe
gestação, profissionais da saúde, indivíduos com doenças pulmo- aviária, principalmente em galinhas, causou, em Hong Kong,
nares, entre outros. Em 2015, a vacina trivalente brasileira foi com- uma forma agressiva de gripe humana com alta mortalidade. No
posta pelo vírus influenza A/California/7/2009(H1Nl)pdm09, vírus inverno de 2003 a 2004, um surto de gripe aviária causada por
influenza A/Switzerland/9715293/2013(H3N2) e pelo vírus influenza uma cepa HSNl matou milhares de galinhas em diversos países
B/Phuket/3073/2013. A vacina tetravalente possuía os três anteriores adi- asiáticos. Milhões de galinhas foram sacrificadas em um esforço
cionados de mais uma cepa do vírus B (B/Brisbane/60/2008).
CAPÍTULO 39 Vírus de RNA Envelopado 309

para conter a disseminação da doença. Quatrocentos e oito casos que infecta uma espécie de tentilhão (um tipo de pássaro) comum
humanos de gripe pelo vírus H5Nl ocorreram entre 2003 e feve- na Ásia e na Europa. Esta linhagem H7N9 é sensível aos inibido-
reiro de 2009, resultando em 254 óbitos (uma taxa de mortalida- res de neuraminidase oseltamivir e zanamivir. Não há vacina.
de de 62%). Observou-se que esses 408 indivíduos foram direta-
mente infectados por galinhas. Tanto as secreções respiratórias 3. Infecções em seres humanos por
quanto o guano das galinhas contêm o vírus infeccioso.
vírus influenza suíno
A disseminação da cepa H5Nl de indivíduo para indivíduo
ocorre raramente, mas é uma importante preocupação, uma vez Em abril de 2009, uma nova cepa (HlNl) de vírus influenza A
que ela pode aumentar drasticamente, caso um rearranjo com de origem suína (S-OIV) causou um surto de gripe humana,
linhagens adaptadas ao ser humano ocorra. Em 2005, o vírus que surgiu inicialmente no México, depois nos Estados Unidos,
H5Nl se disseminou da Ásia para a Sibéria e para o interior do posteriormente disseminando-se para 208 países. O Centers for
Leste Europeu, onde foi responsável pela morte de milhares de Disease Control and Prevention (CDC) utiliza o nome "nova in-
aves, no entanto, não causou doença em seres humanos. Até fluenza A (HlNl),, para esse vírus.
dezembro de 2009, não houve casos de gripe humana por vírus Até dezembro de 2009, milhões de casos ocorreram em todo
H5Nl nos Estados Unidos nem no Brasil. Entretanto, houve dois o mundo. Houve tantos casos que muitos países interromperam
casos de gripe humana causadas pela cepa de vírus influenza avi- o registro do número de casos. Houve 9.596 mortes em todo o
ário H7N2. mundo, das quais 1.445 ocorreram nos Estados Unidos.* Em 11
A capacidade de a cepa H5Nl infectar galinhas (e outras de junho de 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) de-
aves) de maneira mais eficiente do que infecta seres humanos é clarou uma alerta pandêmico do nível 6 (nível de alerta máximo).
devida à presença de certo tipo de receptor virai ao longo de toda Até agosto de 201 O, o número de casos declinou significativamen-
a mucosa do trato respiratório das galinhas. Em contrapartida, te e o alerta de pandemia foi rescindido. Até o momento da escrita
seres humanos apresentam esse tipo de receptor apenas nos al- deste livro, em novembro de 2013, o número de casos nos Estados
véolos, não no trato respiratório superior. Isso explica porque os Unidos e em todo mundo havia declinado sensivelmente.
seres humanos são raramente infectados com a cepa H5Nl. To- A doença afetou principalmente pessoas jovens (60% dos
davia, quando a exposição é intensa, o vírus é capaz de alcançar casos eram em indivíduos com 18 anos ou mais novos). Os sinto-
os alvéolos e causar pneumonia grave. mas foram, no geral, brandos com poucas fatalidades ocorrendo
A virulência da cepa H5Nl é significativamente maior do em pacientes comprometidos em termos médicos. Não houve
que as linhagens HlNl e H3N2, que vêm causando doença em surto de gripe suína em porcos antes desse surto humano. A ali-
seres humanos por muitos anos. Isso pode ser atribuído a duas mentação com carne de porco não transmite o vírus.
características da linhagem H5Nl, a saber, sua relativa resistên- O S-OIV é fruto de um rearranjo quádruplo. A hemagluti-
cia à ação do interferon, e sua capacidade de induzir a produção nina, a nucleoproteína e genes de proteínas não estruturais são
incrementada de citocinas, sobretudo do fator de necrose tumo- de origem suína e norte-americana; a neuraminidase e os genes
ral. Acredita-se que o aumento das citocinas medeie a patogénese codificadores das proteínas de matriz são de origem suína e da
da pneumonia e da síndrome do desconforto respiratório agudo Eurásia; os genes que codificam duas subunidades da polimerase
(SDRA) observada nas infecções por H5Nl. são de origem aviária e norte-americana; e, por fim, os genes que
A cepa de H5Nl é sensível aos inibidores de neuraminidase, codificam uma terceira subunidade da polimerase têm como ori-
oseltamivir (Tamiflu) e zanamivir (Relenza), mas não é sensível à gem a linhagem H3N2 humana.
amantadina e à rimantadina. Tamiflu é o fármaco de escolha para Uma cepa de rearranjo triplo circulou em suínos norte-ame-
o tratamento e a prevenção. Não existe vacina humana disponível ricanos durante vários anos antes de 2009, mas raramente causou
contra a cepa H5Nl, mas há uma disponível para o uso em espé- gripe humana. Na cepa de rearranjo triplo, todos os cinco genes,
cies aviárias. Em 2008, o órgão norte-americano que regula mer- que não são genes da polimerase, são de origem suína norte-
cados farmacêuticos e de alimentos (FDA) aprovou uma vacina -americana; e os genes da polimerase possuem a mesma origem
inativada contra o vírus influenza H5Nl, mas até o momento da da cepa de rearranjo quádruplo. Essa cepa não apresenta genes de
escrita deste livro, ela ainda não estava disponível para o público. origem suína euro-asiática.
A vacina está sendo estocada na Reserva Nacional de Emergência É importante salientar que a maior parte dos indivíduos no
nos Estados Unidos. mundo não possui anticorpos protetores contra a hemaglutini-
na suína de S-OIV, apesar de poder apresentar anticorpos con-
tra a cepa sazonal do vírus HlNl, adquirido por imunização ou
Vírus influenza H7N9
por exposição ao próprio vírus. Observa-se também que a cepa
Em 2013, ocorreu um surto de gripe causada por uma linhagem S-OIV dissemina-se facilmente entre seres humanos, ao contrá-
H7N9 do vírus influenza. Antes desse episódio, a linhagem H7N9 rio da cepa aviária H5Nl, que não se dissemina.
era conhecida por afetar apenas aves, sobretudo galinhas. Até ju- Um teste de PCR para diagnóstico da infecção por S-OIV
lho de 2013, 133 pessoas haviam sido diagnosticadas com gripe está disponível. S-OIV é sensível a oseltamivir e zanamivir, mas
causada por este vírus, das quais 43 vieram a óbito (taxa de morta- resistente a amantadina e rimantadina. Tanto uma vacina inativa-
lidade de 32%). Os casos se limitaram à China e à Tailândia. Não da quanto uma vacina viva atenuada contra S-OIV tornaram-se
foi documentada a disseminação sustentada de pessoa a pessoa. amplamente disponíveis em novembro de 2009.
Todos os genes deste vírus são de origem aviária. Ele adqui-
riu seu gene H7 de patos e seu gene N9 de aves selvagens, ao passo *N. de R.T. Nessa mesma época, o Brasil notificou 750 óbitos causados
que todos os outros genes vieram de uma linhagem de influenza pela nova cepa de influenza.
31 O PARTE IV Virologia Clínica

PARAMIXOVÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - -
A famí1ia dos patam.ixovirus contém quatro patógenos humanos com o envelope, e.o virus é liberado por brotamento a partir da
importantes: virus do saramp~ vírus da caxumba. virus sincicial membrana ceJular.
respiratório ( RSV) e vírus da pa,ru'nfluenza. Diferem dos ortomi•
xovfrus porque os seus genomas não são segmentados, apresen. Transmissão e epidemiologia
tam diâmetro maior e suas espfculas de supertlcie são difere!ltes
(Tabela 39-1). O vlrus do sarampo é transmitido por gotículas respiratórias
Os paramixo\•irus são compostos por um segmento de RNA produz.idas por tosse ou espirro. tanto durante o periodo prodrô·
de fita simples, um nudeocapsfdeo heHcoidal e um envelope lipo- mico quanto por alguns dias após o aparecimento da erupção.
proteico externo. O vfrion contém uma RNA-pollmerase RNA· O sarampo ocorre mundialmente. em geral. em surtos a cada
·dependente, que transueve o genoma de polaridade negativa dois a três aJ\os, quaJ\do o número de crianças suscetíveis alcança
em mRNA. O genoma, portanto, não é i1úeccioso. O envelope é um alto niveL A OMS estima que ocorram 30 milhões de casos de
coberto por espfculas.. que contêm hemaglutinina, neuraminida~ sarampo por ano em todo o mundo.
se ou uma proteína de fusão que causa fosão ce)ular e, em alguos A taxa de acometimento é uma das mais a1tas entre as doen•
casos, hemólise (Tabela 39-4). ças virais; a maioria das crianças contrai a doença clínica por
exposição. Quando esse virus ê introduz.ido em uma população
que não enfrentou o sarampo. e.omo foi verificado nos habitantes
do arquipélago do HavaI por volta de 1800, ocorrem epidemias
Vf RUS DO SARAMPO
devastadoras. No caso de crianças desnutridas. principalmeJ\te
Doença em países em desenvo)vimento. o sarampo é uma doença muito
mais séria do que quando ela ocorre em crianças bem-nutridas.
Esse vlrus causa o sarampo, uma doença caractedzada por uma
A deficiência em vitamina A ê especialmente importante nesse
erupção maculopapular. Ocorre principalmente na infância. aspecto. e a suplementação desta ,•itamina reduz enormemente
(Ver seção "Achados cHnicos,. para mais informações.)
a gravidade do sarampo. Pacientes com imunidade c.etu)ar defi.
ciente (p. ex.• pacientes com Aids) apresentam uma doença grave
Características importantes e com risco de vida quando contraem sarampo."
O RNA genômico e o nucJeoc.apsfdeo do virus do sarampo são
de um paramixovítus típico (ver anteriormente). O vírion possui Patogênese e imunidade
dois tipos de espfculas no envelope, uma com atividade de hema- Após infectar as c:éJulas de revestimento do trato respiratório supe-
glutinação e a outra com atividades de fusão ceJu)ar e hemo1Itica rior. o ,,{rus entra na corrente sanguínea e infecta as cé)ulas reticu-
(Tabela 39-4). Apresenta um único sorotipo e a hemagluti1tina é loendote)iais, onde se inu)tiplica novamente. Então, disse.mina.se
o antfgeno contra o qual os anticorpos neutralizantes são direcio-
até a pele pela corrente sanguínea. A erupção é causada principal·
nados. Os seres humanos são os hospedeiros naturais.
me.nte peJas c:éJulas T c:itotóxicas que atacam as c:élulas endoteliais
vasc.ulares da pele Utfectadas pelo v(rus do sarampo. A vascu1ite
Resumo do ciclo de multipllcação mediada por anticorpos também pode desempenhar um papel
Após a adsorção à superficie celular por meio de sua hemaglu- importaJlte. Logo após o surgimento da erupção. o vírus não pode
tinina, o vírus penetra e se desnuda. e a RNA-polimerase do mais ser recuperado e o pac-iente não dissemina o v(rus para os OU·
vfrion transcreve o genoma de fita negativa em mRNA. Mú)-
tiplos mRNAs são sintetizados, e cada um deles é traduz.ido ·x. de 1: A diminuição da cobertura \,a,cinal cm países industrializados e
nas proteínas virais espedficas; nenhwna poliprotefna análo- dcsenvoMdos da Europa e da Amêrka do Norte. causadas principalmcn·
ga à sintetizada por poHovirus é produzida. O nucleoc.apsídeo te cm virtude de movimentos de grupos sociais anth,--acinas-, têm levado a
heHcoidal é montado, a proteína de matriz medeia a interação um aumento preocupante do numero de casos de sarampo ne-™'s países.

TABELA 39·4 Espículas do envelope dos paramixovírus

Hemaglutlnlna NauramlnklaH Protafna CM fudo,

Vírus do sarampo + +
Vírus da caxumbal + + +
Vírus sincic:ial respiratório +
Vírus da p0toinfluenzo~ + + +
'As proteínas de fusJodos vfM do sarampo e da caxumba slio também hemollslna.s.
'Nos vfrus da caxumba e dapotalnfluenza, a hemagfutlnlna ea neuramfnldaseesdo na mesma espkula e a proteína de fusAo está em uma espkula dkferente.
CAPÍTULO 39 Vírus de RNA Envelopado 311

tros. Células gigantes multinucleadas, formadas como resultado


da proteína de fusão das espículas, são características das lesões.
A imunidade permanente ocorre em indivíduos que já apre-
sentaram a doença. Embora anticorpos IgG possam desempenhar
um papel significativo na neutralização do vírus durante o estágio
de viremia, a imunidade celular é mais importante. A importância
da imunidade celular é ilustrada pelo fato de crianças agamaglobu-
linêmicas apresentarem um curso normal da doença e imunidade
subsequente, e por serem protegidas pela imunização. Anticorpos
maternos cruzam a placenta e os bebês são protegidos durante os
primeiros seis meses de vida.
A infecção pelo vírus do sarampo pode causar uma depres-
são transiente da imunidade celular contra outros microrga-
nismos, como Mycobacterium tuberculosis, gerando uma perda
da reatividade do teste epitelial da proteína purificada derivati-
va (PPD), induzindo a reativação de organismos dormentes e a
ocorrência de doença clínica. O mecanismo proposto para essa
descoberta incomum é que quando o vírus do sarampo se liga ao
seu receptor (denominado CD46) na superfície de macrófagos
humanos, a produção de IL-12, necessária para que ocorra a imu-
nidade celular, é suprimida.

Achados clínicos
Após um período de incubação de 1O a 14 dias, ocorre uma fase
prodrômica caracterizada por febre, conjuntivite (causando foto-
fobia), coriza e tosse. Manchas de Koplik são lesões vermelhas
brilhantes com um ponto branco central, localizadas na mucosa
bucal, sendo praticamente diagnósticas. Poucos dias depois, sur-
ge uma erupção maculopapular na face, que progride gradual-
mente pelo corpo até as extremidades inferiores, incluindo as FIGURA 39-3 Sarampo - observa-se erupção maculopapular man-
chada "morbiliforme'~ (Figura cortesia de Public Health lmage Library, Centers
palmas das mãos e as plantas dos pés (Figura 39-3). Posterior-
for Disease Control and Prevention.)
mente, a erupção desenvolve uma tonalidade marrom.
As complicações do sarampo podem ser bastante graves. A en-
cefalite ocorre com uma taxa de 1 a cada 1.000 casos de sarampo. Tratamento
A taxa de mortalidade da encefalite é de 10%, e ocorrem sequelas
permanentes, como surdez e deficiência intelectual, em 40% dos Não há terapia antivira! disponível.
casos. Além disso, há ocorrência de pneumonia primária associada
ao sarampo (células gigantes) e pneumonia bacteriana secundária. Prevenção
Otite média bacteriana é bastante comum. A panencefalite esclero- A prevenção baseia-se na imunização com a vacina viva ate-
sante subaguda (PEES) é uma doença fatal rara do sistema nervoso nuada. A vacina é eficaz e causa poucos efeitos colaterais. É ad-
central que ocorre vários anos após o sarampo (ver Capítulo 44). ministrada por via subcutânea em crianças aos 15 meses de ida-
O sarampo em mulheres grávidas leva ao aumento do risco de, geralmente em combinação com as vacinas contra rubéola e
de natimorto, em vez de anomalias congênitas. A infecção do feto caxumba. A vacina não deve ser administrada às crianças antes
pelo vírus do sarampo é mais grave que a infecção pelo vírus da dos 15 meses de idade, uma vez que anticorpos maternos na
rubéola, pois o vírus do sarampo geralmente causa morte fetal, ao criança podem neutralizar o vírus e reduzir a resposta imune.
passo que o vírus da rubéola causa anomalias congênitas. Uma dose de reforço é recomendada, já que a imunidade pode
O sarampo atípico ocorre em alguns indivíduos que rece- sofrer um declínio. A vacina contém vírus vivos, portanto, não
beram a vacina inativada e foram subsequentemente infectados deve ser administrada em indivíduos imunocomprometidos ou
pelo vírus do sarampo. É caracterizado por uma erupção atípica em gestantes. A vacina reduziu significativamente o número de
sem as manchas de Koplik. Uma vez que a vacina inativada não casos de sarampo nos Estados Unidos; foram relatados apenas
é utilizada há vários anos, o sarampo atípico ocorre apenas em 138 casos de sarampo em 1997. No entanto, ainda ocorrem sur-
adultos e é infrequente. tos entre indivíduos não imunizados (p. ex., crianças de cidades
do interior norte-americano e de países em desenvolvimento).*
Diagnóstico laboratorial
A maioria dos diagnósticos é realizada com base clínica, mas o vírus
pode ser isolado em culturas celulares. Um aumento de quatro vezes *N. de R.T. O Brasil é considerado um modelo mundial de cobertura va-
ou mais no título de anticorpos pode ser utilizado para diagnosticar cina! contra o sarampo. Nos últimos 10 anos, foram relatados aproxima-
casos difíceis. Ensaios de PCR também são utilizados. damente 180 casos.
312 PARTE IV Virologia Clínica

A vacina inativada não deve ser utilizada. Imunoglobulinas maternos cruzam a placenta e conferem proteção durante os pri-
podem ser utilizadas para modificar a doença quando adminis- meiros seis meses de vida.
tradas a indivíduos não imunizados precocemente, no período
de incubação. Isso é especialmente necessário quando os indiví- Achados clínicos
duos não imunizados são imunocomprometidos.
Após um período de incubação de 18 a 21 dias, um estágio pro-
drômico de febre, mal-estar e anorexia é seguido por edema
unilateral ou bilateral doloroso das glândulas parótidas. Há um
VÍRUS DA CAXUMBA aumento característico da dor na parótida durante a ingestão de
Doença sucos cítricos. A doença é, em geral, benigna e se resolve esponta-
neamente em uma semana.
Esse vírus causa caxumba, uma doença caracterizada por edema
Duas complicações são importantes. Uma é a orquite em ho-
da glândula parótida. Ocorre principalmente na infância. (Ver
mens na pós-puberdade, que, quando bilateral, pode resultar em
seção '½.chados clínicos" para uma descrição mais detalhada.)
esterilidade. Homens na pós-puberdade apresentam uma túnica
albugínea fibrosa, que resiste à expansão, causando, assim, necro-
Características importantes se por pressão dos espermatócitos. A orquite unilateral, embora
O RNA genômico e o nucleocapsídeo são os de um paramixo- bastante dolorosa, não provoca esterilidade. A outra complicação
vírus típico. O vírion possui dois tipos de espículas de envelope: é a meningite, que é, em geral, benigna, autolimitante e sem se-
uma com atividade de hemaglutinina e de neuraminidase, e a quelas. O vírus da caxumba, vírus de Coxsackie e ecovírus são as
outra com atividade de fusão celular e hemolítica (Tabela 39-4). três causas mais frequentes de meningite viral (asséptica). O uso
O vírus apresenta um único sorotipo. O anticorpo neutrali- disseminado da vacina nos Estados Unidos levou a uma evidente
zante é dirigido contra a hemaglutinina. A proteína interna do nu- redução na incidência de meningite por caxumba.
cleocapsídeo é o antígeno S (solúvel), detectado no teste diagnóstico
da fixação do complemento. Os seres humanos são os hospedeiros Diagnóstico laboratorial
naturais.
O diagnóstico de caxumba, em geral, é realizado clinicamente, no
entanto, testes laboratoriais estão disponíveis para confirmação.
Resumo do ciclo de multiplicação O vírus pode ser isolado em cultura celular da saliva, do líquido
A replicação é similar àquela do vírus do sarampo (ver Vírus do espinal ou da urina. Ensaios de PCR também podem ser utiliza-
sarampo). dos. Além disso, um aumento em quatro vezes no título de anti-
corpos, tanto na inibição da hemaglutinação quanto no teste CF,
Transmissão e epidemiologia é diagnóstico. Um único teste CF que analisa os antígenos S e V
(viral) também pode ser utilizado. Uma vez que anticorpos con-
O vírus da caxumba é transmitido por gotículas respiratórias. tra o antígeno S surgem precocemente e são de curta duração, sua
A caxumba ocorre mundialmente, com o pico de incidência du- presença indica infecção atual. Quando apenas anticorpos V são
rante o inverno. Cerca de 30% das crianças apresentam infecção encontrados, o paciente apresentou caxumba no passado.
subclínica (inaparente), a qual confere imunidade. Foram relata- Um teste cutâneo para caxumba com base na hipersensibili-
dos apenas 683 casos de caxumba nos Estados Unidos em 1997 dade tardia pode ser utilizado para detectar infecção prévia, mas
- um achado atribuído ao uso disseminado da vacina. No en- testes sorológicos são preferidos. O teste cutâneo para caxumba é
tanto, em 2006, um ressurgimento da caxumba ocorreu, e 6.584 amplamente utilizado para determinar se a imunidade celular do
casos foram registrados, apesar da alta taxa de cobertura (87%) paciente é competente.
da vacina.*
Tratamento
Patogênese e imunidade
Não há terapia antivira! contra a caxumba.
O vírus infecta o trato respiratório superior e, então, se dissemina
por meio da corrente sanguínea para infectar as glândulas paró-
Prevenção
tidas, os testículos, os ovários, o pâncreas e, em alguns casos, as
meninges. De forma alternativa, o vírus pode ascender da muco- A prevenção consiste na imunização com a vacina viva atenuada.
sa bucal até a glândula parótida pelo dueto de Stensen. A vacina é eficaz e de longa duração (pelo menos 1O anos) e pro-
A imunidade permanente ocorre nos indivíduos que já voca poucos efeitos colaterais. São recomendadas duas imuniza-
apresentaram a doença. Há um equívoco popular de que a ca- ções, uma aos 15 meses e uma dose de reforço dos 4 aos 6 anos,
xumba unilateral pode ser seguida por caxumba no outro lado. geralmente em combinação com as vacinas contra sarampo e ru-
A caxumba ocorre apenas uma vez; casos subsequentes de pa- béola. Por ser uma vacina viva, não deve ser administrada a indi-
rotidite podem ser causados por outros vírus, como os vírus da víduos imunocomprometidos ou mulheres grávidas. A imunoglo-
parainfluenza, por bactérias e por pedras nos duetos. Anticorpos bulina não é útil para prevenir ou mitigar a orquite por caxumba.
No fim dos anos 1980, surtos de caxumba ocorreram tanto
em indivíduos imunizados quanto não imunizados. Isso provo-
*N. de R.T. No Brasil, a caxumba não é urna doença de notificação obri-
cou, em 1989, a recomendação da administração de uma segunda
gatória e, em razão disso, não há dados compilados que avaliem a situa-
dose da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba, rubéola). A in-
ção epidemiológica atual.
CAPÍTULO 39 Vírus de RNA Envelopado 313

cidência da caxumba caiu, e não houve surtos até 2006, quando A maioria dos indivíduos apresenta múltiplas infecções cau-
6.584 casos ocorreram, principalmente em indivíduos com idade sadas por RSV, indicando que a imunidade é incompleta. A razão
universitária que, surpreendentemente, receberam duas doses da para esse fato é desconhecida, mas não se deve à variação antigê-
vacina. O enfraquecimento da imunidade após a segunda dose e nica do vírus. Anticorpos IgA respiratórios reduzem a frequência
a imunização com um genótipo diferente do genótipo que causou de infecção por RSV conforme o indivíduo envelhece.
o surto são explicações sugeridas.
Achados clínicos
Em bebês, o RSV é uma importante causa de doenças do trato
VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO respiratório inferior, como bronquiolite e pneumonia. O RSV é
Doenças também uma importante causa de otite média em crianças pe-
quenas. Em crianças maiores e adultos jovens saudáveis, o RSV
O vírus sincicial respiratório (RSV) é a causa mais importante de
causa infecções do trato respiratório, como o resfriado comum
pneumonia e bronquiolite em bebês. É também uma causa im-
e a bronquite. Entretanto, em idosos (indivíduos com idade su-
portante de otite média em crianças e de pneumonia em idosos e
perior a 65 anos) e em adultos com doenças cardiopulmonares
pacientes com doenças cardiopulmonares crônicas.
crônicas, RSV causa doença grave do trato respiratório inferior,
incluindo pneumonia.
Características importantes
O RNA genômico e o nucleocapsídeo são os de um paramixoví- Diagnóstico la boratoria 1
rus típico (Tabela 39-1). Suas espículas de superfície são proteí-
Um imunoensaio enzimático ("teste antigênico rápido,,) que de-
nas de fusão, e não hemaglutininas ou neuraminidases (Tabela
tecta a presença de antígenos de RSV em secreções respiratórias é
39-4). A proteína de fusão causa fusão das células, formando cé-
comumente utilizado. A presença do vírus pode ser detectada por
lulas gigantes multinucleadas (sincícios), as quais dão origem à
imunofluorescência em esfregaços do epitélio respiratório ou pelo
denominação do vírus.
isolamento em cultura celular. O efeito citopático em cultura celu-
Os seres humanos são os hospedeiros naturais do RSV. Du-
lar é caracterizado pela formação de células gigantes multinuclea-
rante vários anos, acreditou-se que o RSV tinha um sorotipo;
das. Um aumento de quatro vezes ou mais no título de anticorpos é
todavia, dois sorotipos, denominados subgrupo A e subgrupo
também diagnóstico. Um teste de reação em cadeia da polimerase
B, foram detectados por testes com anticorpos monoclonais. An-
via transcriptase reversa (RT-PCR) também se encontra disponível.
ticorpos contra a proteína de fusão neutralizam a infectividade.

Tratamento
Resumo do ciclo de multiplicação
A ribavirina em aerossol é recomendada para bebês hospitaliza-
A replicação é similar àquela do vírus do sarampo (ver Vírus do
dos gravemente doentes, mas há incertezas quanto à sua eficácia.
sarampo).
Uma combinação de ribavirina e globulinas hiperimunes contra
RSV pode ser mais eficaz.
Transmissão e epidemiologia
A transmissão ocorre por gotículas respiratórias e pelo conta- Prevenção
to direto de mãos contaminadas com o nariz ou com a boca. O Não há vacina. Tentativas prévias de proteção com uma vacina
RSV causa surtos de infecções respiratórias a cada inverno, ao inativada resultaram em um aumento na gravidade dos sintomas.
contrário de vários outros vírus de "resfriados,,, que retornam A imunização passiva com anticorpos monoclonais direciona-
à comunidade a cada poucos anos. Ocorre em todo o mundo e dos contra a proteína de fusão de RSV (palivizumabe) pode ser
praticamente todos os indivíduos já foram infectados por volta utilizada como profilaxia em bebês prematuros ou imunocom-
dos 3 anos de idade. O RSV também causa surtos de infecções prometidos. Globulinas hiperimunes (RespiGam) também estão
respiratórias em crianças hospitalizadas; esses surtos podem ser disponíveis como profilaxia para esses bebês e para crianças com
controlados pela lavagem das mãos e pelo uso de luvas, que inter- doença pulmonar crônica. Surtos nosocomiais podem ser limita-
rompem a transmissão pelos profissionais da saúde. dos pela lavagem das mãos e pelo uso de luvas.

Patogênese e imunidade
A infecção por RSV em bebês é mais grave e, frequentemente, VÍRUS DA PARAINFLUENZA
envolve o trato respiratório inferior, em comparação a crianças Doenças
maiores e adultos. A infecção é localizada no trato respiratório e
a viremia não ocorre. Esses vírus causam crupe (laringotraqueobronquite aguda), la-
A doença grave em bebês pode apresentar um mecanismo ringite, bronquiolite e pneumonia em crianças e uma doença se-
imunopatogênico. Anticorpos maternos transmitidos à criança melhante ao resfriado comum em adultos.
podem reagir com o vírus, formar imunocomplexos e danificar
as células do trato respiratório. Testes com uma vacina inativada Características importantes
resultaram em doença mais grave, uma descoberta inesperada O RNA genômico e o nucleocapsídeo são os de um paramixoví-
que suporta esse mecanismo. rus típico (Tabela 39-1). As espículas de superfície consistem nas
314 PARTE IV Virologia Clínica

proteínas hemaglutinina (H), neuraminidase (N) e de fusão (F) sa de crupe. O vírus da parainfluenza 3 é o vírus mais comum
(Tabela 39-4). A proteína de fusão medeia a formação de célu- isolado de crianças com infecção do trato respiratório inferior
las gigantes multinucleadas. As proteínas H e N estão na mesma nos Estados Unidos. O vírus da parainfluenza 4 raramente causa
espícula; a proteína F situa-se em uma espícula separada. Seres doença, exceto o resfriado comum.
humanos e animais são infectados pelos vírus da parainfluenza,
mas as cepas animais não infectam seres humanos. Há quatro ti- Achados clínicos
pos que são diferenciados pela antigenicidade, efeito citopático e
patogenicidade (ver a seguir). Anticorpos contra a proteína H ou Os vírus da parainfluenza são mais conhecidos como a principal
proteína F neutralizam a infectividade. causa de crupe em crianças menores de 5 anos de idade. O crupe
é caracterizado por tosse intensa e rouquidão. Além de crupe, es-
ses vírus causam uma variedade de doenças respiratórias, como
Resumo do ciclo de multiplicação resfriado comum, faringite, laringite, otite média, bronquite e
A replicação é similar àquela do vírus do sarampo (ver Vírus do pneumonia.
sarampo).
Diagnóstico laboratorial
Transmissão e epidemiologia A maioria das infecções é diagnosticada clinicamente. O diag-
Esses vírus são transmitidos por gotículas respiratórias. Causam nóstico pode ser realizado em laboratório pelo isolamento do
doença em todo o mundo, sobretudo nos meses de inverno. vírus em cultura celular ou pela observação de um aumento de
quatro vezes ou mais no título de anticorpos. Ensaios de PCR
Patogênese e imunidade também podem ser utilizados.

Esses vírus causam doença dos tratos respiratório superior e


inferior sem viremia. Uma grande proporção das infecções é Tratamento e prevenção
subclínica. Os vírus da parainfluenza 1 e 2 são a principal cau- Não há terapia antivirai ou vacina disponível.

CORONAVÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
CORONAVÍRUS merase que replica o genoma. Além disso, mRNAs são sintetizados
e, então, traduzidos em proteínas estruturais. O vírus é montado e
Doenças adquire seu envelope a partir do retículo endoplasmático, e não da
Os coronavírus são uma importante causa do resfriado comum, membrana plasmática. A multiplicação ocorre no citoplasma.
provavelmente perdendo apenas para os rinovírus em frequência.
Em 2002, uma nova doença caracterizada como uma pneumonia Transmissão e epidemiologia
atípica, denominada síndrome respiratória severa aguda (SARS, se- Os coronavírus são transmitidos por aerossóis respiratórios.
vere acute respiratory syndrome) surgiu. Em 2012, outra pneumonia A infecção ocorre mundialmente e no início da vida, conforme
grave surgiu, denominada síndrome respiratória do Oriente Médio. evidenciado pela descoberta de anticorpos em mais de metade
das crianças. Surtos ocorrem principalmente no inverno, a cada
Características importantes dois a três anos.
A SARS originou-se na China, em novembro de 2002, e
Os coronavírus apresentam um genoma de RNA não segmenta-
disseminou-se rapidamente para outros países. Até 2009, houve
do, de fita simples e polaridade positiva. São vírus envelopados,
8.300 casos e 785 mortes - uma taxa de mortalidade de aproxi-
com nucleocapsídeo helicoidal. Não existe polimerase do vírion.
madamente 9%. A transmissão pessoa a pessoa ocorre, e alguns
Ao microscópio eletrônico, podem ser observadas espículas
pacientes com SARS são considerados "superdisseminadores': No
proeminentes, em forma de clava e com aspecto de coroa (halo).
início do surto, vários profissionais de saúde foram afetados, mas
Existem dois sorotipos, nomeados 229E e OC43. A sequência ge-
procedimentos de controle das infecções respiratórias reduziram
nômica do coronavírus que causou o surto de SARS (CoV-SARS)
significativamente a disseminação nos hospitais. Existem vários
difere das cepas humanas existentes. A sequência genômica de
coronavírus de animais, e eles são suspeitos de serem a fonte de
diferentes isolados de CoV-SARS é muito similar, de forma que
CoV-SARS. O morcego-ferradura parece ser o reservatório natu-
a antigenicidade do vírus é provavelmente bastante estável. O re-
ral do CoV-SARS, sendo a civeta um hospedeiro intermediário.
ceptor para o coronavírus SARS na superfície das células é a enzi-
Em 2012 a 2013, um novo coronavírus humano causou um
ma 2 de conversão da angiotensina.
surto de pneumonia grave, frequentemente fatal, na Arábia Saudita
e em outros países daquela região. A doença foi denominada sín -
Resumo do ciclo de multiplicação drome respiratória do oriente médio (MERS, Middle East respira-
O vírus adsorve-se a células por meio de suas espículas de super- tory syndrome) e o vírus denominado coronavírus MERS (MERS-
fície (hemaglutinina) e, em seguida, penetra no citoplasma, onde é -CoV). O vírus mais proximamente relacionado é um coronavírus
desnudado. O genoma de fita positiva é traduzido em dois polipep- de morcegos, animais considerados como possíveis reservatórios.
tídeos grandes, que são autoclivados pela protease codificada pelo A transmissão pessoa a pessoa é baixa. Outra nomenclatura co-
vírus. Dois desses peptídeos agregam-se para formar a RNA-poli- mum para esse vírus é coronavírus-EMC (HCoV-EMC).
CAPÍTULO 39 Vírus de RNA Envelopado 315

Patogênese e imunidade A SARS é uma pneumonia atípica grave, caracterizada por


febre de pelo menos 38ºC. tosse não produtiva, dispneia e h.ipó·
A infecção por coronavirus ê, em gera1, limitada às célu1as mu• xia. Arrepios, c.alafrios, maJ.estar e dor de cabeça comumente
cosas do trato respiratório. Aproximadamente 50% das infecções ocorrem, mas dor de gargaJ1ta e rinorreia são incomuns. Radio.
são assintoináticas e é incerto o papel que desempenham na dis· grafias de tórax revelam infütrados intersticiais c.om aparência
sem.inação da i1úecção. A imunidade após a infecção parece ser
de °'vidro fosco': que não cavitam. São observadas leucopenia e
breve e reinfecções podem ocorrer. trombocitopenia. O período de incubação da SARS varia de dois
A pneumonia causada pelo coronav(rus SARS é caracteriz.a.
a 10 dias. com média de cinco dias. Os achados cHnicos relativos
da por edema difuso, resu1tando em hipóxia. A ligação do vírus à
à MERS são similares àqueles vistos na SARS.
enzima 2 de conversão da angiotensina na superfície do epitélio
do trato cespiratório pode contribuir pata o descontrole do equi·
líbrio de fluidos., que causa edema no espaço alveolar. O MER.">· Diagnóstico laboratorial
.cov se liga ao co.26 na mucosa respiratória. não a ACE·2. O diagnóstico do "resfriado comum'' é principalmente um diag.
nóstico clCnico. Se há a suspeita de SARS ou MER.S. testes ba.sea.
Achados clínicos dos em anticorpos ou PCR podem ser utilizados.
O resfriado comum causado por coronavírus ê caracterizado por
coriza (ri.norteia, corrimento nasaJ), dor e ardência na garganta Tratamento e prevenção
e febre baixa. Essa doença norma1mente dura vârios dias e não Kão existe terapia antivirai ou vacina disponivel. Uma combina-
possui sequelas de longo prazo. Os corona\•lrus também causam ção de ribavirina e esteroides foi testada no tratameJ1to de casos
bronquite. de SARS com risco à vida, porém sua eficácia é incerta.

TOGAVÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
V ÍRUS DA RUBtOLA Transmissão e epidemiologia
Doenças O vírus é transmitido por meio de gotículas respiratórias e da
mãe para o feto.. por via transplacentá.ria. A doença ocorre mun.
Esse vírus causa a rubéola e a síndrome da rubéola congênita. A dia1.mente. Em regiões onde a vacina não é utilizada. ocorrem
sfndrome da rubéola congênita caracteriza-se por malformações epidemias a cada 6 a 9 anos.
congênitas. Em 2005, o Centers for Oisease Control and Prevention
(CDC) declarou a rubéola erradicada dos Estados U,tidos. Os
Características Importantes poucos casos que ocorreram nos Estados U1tidos foram adqui·
O v(rus da rubéola é um membro da familia dos toga\•írus. t! ridos no exterior e importados ao país. A eliminação foi possível
composto por um segmento de RNA de fita simples. um nucJeo- pelo amplo uso da vacina. Como resultad~ o citome-galovírus é
uma causa mais comum de ma1formações congênitas nos Esta.
capsfdoo ioosaédrico e um envelope lipoproteico. Entretanto.,
dos Unidos do que o vírus da rubéola:•
ao COJ\trário dos paramixovirus. como os vírus do sarampo e
da caxumba, o virus da rubéola possui RNA de flta positiva e,
portanto.. não possui uma po)imerase no vírion. Suas espku)as Patogênese e Imunidade
de superfkie contêm hemag)utinina. O vírus apresenta um lutico A multiplicação inicia) do v(rus ocorre na parte nasal da faringe
tipo antigênico. Anticorpos contra a hemaglutinina neutralizam e 110s linfonodos locais. A partir daI, o vírus se dissemiJla pela
a i1úectividade. Os seres humanos são os hospedeiros naturais. corrente sanguínea aos órgãos internos e à pele. A origem da
erupção é incerta. podendo ser devida à vasculite mediada por
Resumo do ciclo de multiplicação complexos antígeno-anticorpo.
A infecção natura1 )eva à imunidade permanente. Não
Uma vez que o coJ1hecimento sobre a multiplicação do vírus da
rubéola é incompleto, o e.ido a seguir se baseia na multiplicação ocorrem segundos casos de rubéola; erupções similares são cau.
sadas por outros vírus, como v(rus de Coxsac.kie e ec.ovírus. Os
de outros togavfrus. Após a pe!letração na célula e o desnuda-
mento, o genoma de RNA de fita positiva é traduzido em diversas anticorpos cruzam a placenta e protegem o recém.nascido.
proteínas estrutura.is e não estruturais. Pode ser observada a dife-
rença entre togav(rus e poliovírus. que também possuem genoma Achadosclínlcos
de RNA com fita positiva, mas traduzem seu RNA em uma ú1tica Rubéola
poliproteina grande, posteriormente divada. Uma das proteínas
não estruturais do virus da rubéola é uma RNA.polimerase A rubéola é uma doença mais branda e curta que o sarampo.
Após um período de incubação de 14 a 21 dias. um bre,•e período
RNA-depende11te, que inkia1mente replica o genoma. sintetizan-
do um molde de fita negativa e. a partir daí, as fitas positivas da
..N. de R.T. ú Brasil apresentou surtos de rubéola entre os anos de 2006 e
progênie. Tanto a multiplic.ação quanto a montagem ocorrem no
2008, quando cerca de l2 mil casos foram notificados.. f..sscs surtos le\<a·
citoplasma. e.o envelope é adquirido da membrana citoplasmáti- rama campanhas intensificadas de ,·ad nação cm adultos e, como resulta·
ca quando o v(rion sai da célu1a. do. nenhum 0 01,-0 caso foi notifi-cado no Brasil desde 2009.
316 PARTE IV Virologia Clínica

Diagnóstico laboratorial
O vírus da rubéola pode ser cultivado em culturas celulares, no
entanto, produz pouco efeito citopático (ECP). É, portanto, ge-
ralmente identificado por sua capacidade de interferir no ECP de
ecovírus. Quando o vírus da rubéola está presente no espécime
do paciente e cresceu na cultura celular, não haverá ECP quan-
do a cultura for superinfectada com um ecovírus. O diagnóstico
também pode ser realizado pela observação de um aumento de
quatro vezes ou mais no título de anticorpos entre os soros da
fase aguda e da fase convalescente no teste de inibição da hema-
glutinação ou no ELISA, bem como pela observação da presença
de anticorpos IgM em uma única amostra de soro da fase aguda.
Ensaios de PCR também podem ser utilizados.
Em uma gestante exposta ao vírus da rubéola, a presença de
anticorpos IgM indica infecção recente, ao passo que um título
de 1:8 ou superior de anticorpos IgG indica imunidade e, conse-
quentemente proteção do feto. Se houve infecção recente, uma
amniocentese pode revelar a presença do vírus da rubéola no
líquido amniótico, indicando infecção fetal definitiva.

Tratamento
Não há terapia antivira!.

FIGURA 39-4 Rubéola - observe as erupções maculopapulares finas Prevenção


e quase confluentes. (Cortesia de Stephen E. Gellis, MD.) A prevenção envolve imunização com a vacina viva atenuada.
A vacina é eficiente e de longa duração (pelo menos 1O anos) e
causa poucos efeitos colaterais, exceto por artralgias transientes em
prodrômico, apresentando febre e mal-estar, é seguido por uma
algumas mulheres. É administrada por via subcutânea a crianças
erupção maculopapular, que inicia na face e progride de forma
com 15 meses de idade (geralmente em combinação com a vacina
descendente, envolvendo as extremidades (Figura 39-4). Linfade-
contra sarampo e caxumba), bem como a mulheres adultas jovens,
nopatia auricular posterior é característica. A erupção dura, em
se elas não estiverem grávidas e forem usar contraceptivos nos pró-
geral, três dias. Quando a rubéola ocorre em adultos, sobretudo
ximos três meses. Não há evidências de que o vírus vacinal cause
em mulheres, a poliartrite causada por imunocomplexos ocorre
malformações. Uma vez que é uma vacina viva, não deve ser admi-
com frequência.
nistrada a pacientes imunocomprometidos ou a mulheres grávidas.
A vacina foi responsável por uma redução significativa na
Síndrome da rubéola congênita incidência de rubéola e da síndrome da rubéola congênita. Ela
O vírus da rubéola não é importante como causa de uma doença induz a formação de IgA respiratória, interrompendo, assim, a
branda da infância, mas sim por ser teratogênico. Quando uma disseminação de vírus virulentos por transporte nasal.
gestante não imune é infectada durante o primeiro trimestre, Imunoglobulinas (Ig) séricas podem ser administradas a
principalmente no primeiro mês, importantes malformações mulheres grávidas no primeiro trimestre, caso tenham sido ex-
congênitas podem ocorrer como resultado da viremia materna e postas a um caso diagnosticado de rubéola e a interrupção da
da infecção fetal. A taxa aumentada de anomalias durante as pri- gravidez não seja uma opção. Os principais problemas relacio-
meiras semanas de gravidez é atribuída ao desenvolvimento mui- nados à administração de Ig são o fato de que existem circuns-
to sensível de órgãos que ocorre nesse período. As malformações tâncias em que esse método falha em prevenir a infecção fetal e,
são generalizadas e envolvem principalmente o coração (p. ex., então, isso pode confundir a interpretação dos testes sorológicos.
dueto arterial patente), os olhos (p. ex., cataratas) e o encéfalo Quando a interrupção da gestação é uma opção, recomenda-se
(p. ex., surdez e deficiência intelectual). tentar determinar se a mãe e o feto foram infectados, como des-
Além disso, algumas crianças infectadas no útero podem crito na seção anterior, "Diagnóstico laboratorial':
continuar a excretar o vírus da rubéola durante meses após o Para proteger mulheres grávidas da exposição ao vírus da ru-
nascimento, o que representa um importante risco à saúde pú- béola, vários hospitais requerem que seus profissionais comprovem
blica, já que o vírus pode ser transmitido a mulheres grávidas. sua imunidade por testes sorológicos ou por provas de imunização.
Alguns eliminadores congênitos são assintomáticos e não apre-
sentam malformações e, portanto, só podem ser diagnosticados
se o vírus for isolado. Bebês infectados congenitamente também OUTROS TOGAVÍRUS
apresentam títulos de IgM significativos e títulos de IgG persis-
tentes por longo período após o desaparecimento dos anticor- Outros tipos de togavírus de importância médica são descritos
pos maternos. no capítulo sobre arbovírus (ver Capítulo 42).
CAPÍTULO 39 Vírus de RNA Envelopado 317

RABDOVÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
VÍRUS DA RAIVA O país de origem e o hospedeiro reservatório de uma cepa
do vírus da raiva podem ser frequentemente identificados pela
Doença determinação da sequência de bases do RNA genômico. Por
Esse vírus causa a raiva, uma encefalite. exemplo, um indivíduo desenvolveu raiva clínica nos Estados
Unidos, porém, o sequenciamento do RNA genômico revelou
que o vírus pertencia à cepa mexicana. Foi, posteriormente, des-
Características importantes
coberto que o homem foi mordido por um cão enquanto esteve
O vírus da raiva é o único membro de importância médica da no México, alguns meses antes.
família dos rabdovírus. Possui um RNA de fita simples envolto
por um capsídeo em forma de projétil circundado por um enve- Patogênese e imunidade
lope lipoproteico. Uma vez que o RNA genômico possui pola-
ridade negativa, o vírion contém uma RNA-polimerase RNA- O vírus se multiplica localmente no local da mordida, infecta os
-dependente. O vírus da raiva possui um único tipo antigénico. neurônios sensitivos e se desloca por transporte axônico ao siste-
A antigenicidade reside nas espículas glicoproteicas do envelope. ma nervoso central. Durante esse transporte no interior do nervo,
O vírus da raiva apresenta uma ampla gama de hospedeiros: o vírus é protegido do sistema imune e ocorre pouca ou nenhuma
ele pode infectar todos os mamíferos, mas apenas certos mamí- resposta imune. O vírus multiplica-se no sistema nervoso central
feros são importantes fontes de infecções humanas (ver adiante). e, então, se desloca pelos nervos periféricos até as glândulas sali-
vares e outros órgãos. A partir das glândulas salivares, penetra na
saliva para ser transmitido pela mordida. Não há estágio virêmico.
Resumo do ciclo de multiplicação
No sistema nervoso central, desenvolve-se a encefalite, com
O vírus da raiva liga-se ao receptor de acetilcolina na superfície a morte de neurônios e desmielinização. Neurônios infectados
celular. Após a entrada na célula, a RNA-polimerase do vírion contêm uma inclusão citoplasmática eosinofílica, denominada
sintetiza cinco mRNAs que codificam para proteínas virais. Após corpúsculo de Negri, que é importante no diagnóstico labora-
a replicação do RNA genômico viral pela RNA-polimerase co- torial da raiva (Figura 39-5). Uma vez que poucos indivíduos
dificada pelo vírus, o RNA progênie é montado com proteínas sobreviveram à raiva, não há informação sobre a imunidade à
virais para formar o nucleocapsídeo, e o envelope é adquirido doença ao ser mordido novamente.
quando o vírion brota através da membrana celular.
Achados clínicos
Transmissão e epidemiologia
O período de incubação varia de 2 a 16 semanas ou mais, de
O vírus é transmitido pela mordida de um animal raivoso, que acordo com a localização da mordida. É mais curto quando as
manifesta comportamento agressivo e com tendência a morder, o mordidas ocorrem na cabeça, em vez de na perna, uma vez que o
que é induzido pela encefalite viral. O vírus está na saliva do ani- vírus tem uma distância mais curta para percorrer até alcançar o
mal raivoso. Nos Estados Unidos, a transmissão geralmente ocor- sistema nervoso central.
re a partir da mordida de animais silvestres, como gambás, gua- Clinicamente, os pacientes acometidos apresentam um pró-
xinins e morcegos; cães e gatos são imunizados com frequência e, dromo caracterizado por sintomas inespecíficos, os quais incluem
portanto, raramente são fontes de infecção humana. Recentemen- febre, anorexia e mudanças da sensibilidade na região da mordida,
te, morcegos foram a fonte da maioria dos casos de raiva humana denominadas parestesias. Depois do pródromo, a raiva pode se ma-
nos Estados Unidos. Roedores e coelhos não transmitem a raiva.* nifestar de duas formas: a "furiosa'' (encefalítica) ou a "estúpida"
A raiva humana também ocorreu nos Estados Unidos em
indivíduos que não foram mordidos, e esses casos foram deno-
minados exposições "sem mordidà: O exemplo mais importante
desse tipo de transmissão é a exposição a aerossóis de secreções
de morcegos contendo o vírus da raiva. Outro exemplo raro é a
transmissão em transplantes de córneas obtidas de pacientes que
morreram por raiva não diagnosticada.
Nos Estados Unidos, ocorrem menos de 10 casos de raiva a
cada ano (sobretudo importados), ao passo que em países em de-
senvolvimento ocorrem centenas de casos, principalmente devido a
cães raivosos. Em 2007, os Estados Unidos foram declarados "livres
da raiva caninà' - resultado da ampla imunização de cães. Mun-
dialmente, cerca de 50 mil pessoas morrem de raiva a cada ano.**

*N. de R.T. No Brasil, cães domésticos e morcegos são os principais re-


servatórios da doença. FIGURA 39-5 Vírus da raiva - corpúsculo de Negri. A seta aponta
**N. de R.T. Desde 2006, o número de casos anuais no Brasil é inferior a para um "corpúsculo de Negri': um corpúscu lo de inclusão no cito-
10. O número de casos acumulados nos últimos 10 anos é de aproxima- plasma de um neurônio infectado. (Figura cortesia de Public Health lmage
damente 120. Library, Centers for Disease Control and Prevention.)
318 PARTE IV Virologia Clínica

(paralítica). A forma furiosa ocorre em c.erca de 80% dos casos. Na nhação. A iJnWl.iz.ação pré-exposição com a vaci11a contra a raiva
forma furiosa, ocorrem agitação. delfrio.s. oonvulsões e hidrofo. deve ser administrada a indivíduos em grupos de alto risco, oomo
bia. A hidrofobia se caracteriza como uma aversão à deglutição de veterinários, tratadores de zoológicos e viajantes a regiões de in-
água em razão dos espasmos do)orosos dos múscu1os da faringe. fecção h.iperendêmica (p. ex., membros do Corpo da Paz). A imu-
Em contrapartida, na forma estúpida esses sintomas não ocorrem. niução pré-exposição oonsiste em três dose.s. administradas nos
Nesse caso. a medula espinaJ é primeiramente envo)vida, gerando dias o. 7 e 21 ou 28. Doses de reforço são administradas de aoordo
uma paralisia ascendente. A morte ocorre quase invariavelmente com a necessidade pata manter um título de anticorpos de l :5.
após ambas as formas, mas com a evolução dos sistemas artificiais A vaciJ\a contra a raiva é também rotineiramente uti1izada
de supone vitais, alguJlS poucos indivíduos têm sobrevivido. na pós~exposição (i.e.• após o indivíduo ter sido exposto ao v(.
rus pela mordida do animal). O longo período de incubação da
Diagnóstico laboratorial doença concede ao virus da ,-acin.a tempo suficiente para induzir
imunidade protetora,
O diagnóstico rápido de infecções por raiva no animal ê. em ge~ A imuJ\ização pós~exposição envolve o uso da ,·acina e da
ra1, realizado pe)o exame do tecido cerebral pela utilização de en. imunoglobullna humana oontra raiva (RIG, obtida de indiv(.
saios de PCR, anticorpos Ouorescentes contra o vírus da raiva ou
duos hiperimunizados) junto da limpei.a imediata da ferida. Esse
pela coloração histológica dos corpúsculos de Negri no citoplas- é um exemplo de imunização passiva.ativa. A imu1tiução contra
ma de neurôJlios do hipocampo (Figura 39·5). O vírus pode ser o tétano também deve ser co1tsiderada.
isoJado do encêfaJo aJlimal pelo crescünento em cuJtu.ra ceJular. A decisão de admiJtistrar a imunização pós-exposição de-
mas isso demanda muito tempo para ser con,siderado útiJ na de· pende de vários fatores, como ( 1) o tipo do anima1 (todos os
cisão quaJ\to à administração da vaciJ\a. ataques por animais silvestres requerem imunização); (2) se wn
A raiva em seres humanos pode ser diagJ\osticada por eJ\• ataque por um aJ\imaJ doméstico foi provocado. se o animal foi
saios de PCR. marcação por 3.Jlticorpos fiuorescentes de.um esp~ imunizado adequadamente e se o anima1 encontra-se disponível
cime de biópsia. geraJme11te obtido da pele da nuca, na base dos para ser observado; e (3) se a raiva é end~mica na região. Deve ser
cabelos. isolamento do vírus a partir de fontes como saJiva, Hqui•
solicitada a recomendação das autoridades locais de saúde públi-
do espinal e tecido c.erebral; ou por um aumento 1lo título de anti· ca. ProfissioJ\ais hospitalares expostos a um paciente com raiva
corpos contra o v(rus. Corpúsculos de Kegri podem ser revelados
não precisam ser imunizados, exceto se ocorreu uma exposição
ein raspados de córnea e em necropsia de espécimes cerebrais. significativa (p. ex.. um ferimento traumático em urn profissionaJ
da saúde).
Tratamento Se a decisão for imunizar, são recomendadas HOCV e RJG.
Kão há terapia antivital para um paciente com raiva. Apenas o Cinco doses de HDCV são administradas (nos dias O, 3, 7. 14 e
tratamento de suporte está disponível. 28), J\O entanto. RIG é administrada apenas uma vez. juntamente
com a primeira dose de HDCV (em um 1oca1 diferente). HDCV
Prevenção e RIG são admiJtistradas em locais distintos para preveJ\ic a neu-
tralização do vírus J\a vacina pelos anticorpos na RIG. A maior
Nos Estados Unidos. a vacina contra raiva contém virus inativa. quantidade possiw) de RIG é administrada no local da mordida,
dos multiplicados em céluJas diploides humanas. (Vacinas multi· e o restante é administrado por ,•ia intramuscular. Se o aJ\imal foi
plicadas em células pulmonares de macaco ou células de embrião capturado. deve ser observado por 10 dias e sacrificado caso de~
de galinha também se encontram disponlveis.)~ Em outros paíse.s. senvolva os sintomas. O encéfalo do aJ\imal deve.ser examinado
a vacina em embrião de pato ou em diversos tecidos nervosos tam. por i.mu.nofiuoresc.ênci.a.
bém estão disponíveis. A vacina produ.2.ida em embrião de pato A vacina para a imunização de cães e gatos consiste em
apresenta baixa imunogenicidade. ao passo que a vacina produzi. v(rus da raiva inativados. A primeira imuJ\ização geralmente é
da em tec,idos nen·osos pode causar uma enc.efa)ite alêtgica como administrada aos 3 meses de idade. com doses de reforço admi-
resultado de reações cruzadas com a mielina humana. Por essas ta· nistradas anualmente, ou a intervalos de três anos. Nos F.stados
zões. a vacina de céJu)as diploides humanas (HDC.,'''V) é a preferida. Unidos. uma vacina alternativa utilizada em c.ães e gatos contém
Existem duas abordagens para a prevenção da raiva em seres vírus canaripox vivos geneticamente modificados para coJ\ter o
humanos: a imunização pré-exposição e a imunização pós•imu- gene para protelna do envelope do vírus da raiva.

RETROVÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
V IRUS T-LINFOTRÓFICO HUMANO Doença
Existem dois importantes retrovfrus humanos: virus T·linfot.rófi. O v(rus T·linfotrófico humano 1 (HTLV 1) caucSa duas doenças
4

co humano. descrito neste capftu1o. e o v(rus da imunodeficiência claramente diferentes: um câJ\cer, denomiJ\ado leucemia/liJúoma
humana (HIV). descrito no Capftu1o 45. de céluJas T do adulto, e uma doença neurológica, denominada
mie1opatia associada ao HTLV (também conhecida como para-
paresia espástica tropical ou mie)opatia progressiva crônica). O
• N. de R.l: A vacina disponivd no Brasj) é produz.ida c-m cu)tivo celular.
Tanto as \'acinas produzidas c-m cC-lulas humanas como as produzidas cm
HTLV-2 também parece causar essas doenças, embora a associa-
cé)ulas de- animais são disponíveis. ção não seja explicitamente documentada. (Todas as informações
CAPÍTULO 39 Vírus de RNA Envelopado 319

desta seção referem-se ao HTLV-1, exceto quando for menciona- subsequente transporte ao citoplasma, onde são traduzidos em
do o contrário.) proteínas virais estruturais. ORNA de comprimento total destina-
do a tornar-se RNA genômico da progênie também é sintetizado e
Características importantes transportado ao citoplasma. O nucleocapsídeo do vírion é monta-
do no citoplasma e o brotamento ocorre na membrana celular ex-
HTLV e HIV são os dois membros de importância médica da
terna. A clivagem dos polipeptídeos precursores em proteínas es-
família dos retrovírus. Ambos são vírus envelopados, contendo
truturais funcionais é mediada pela protease codificada pelo vírus.
uma transcriptase reversa no vírion e duas cópias de um geno-
ma de RNA de fita simples de polaridade positiva. Entretanto, o
HTLV não mata células T, ao passo que o HIV mata. Na verdade, Transmissão e epidemiologia
o HTLV realiza o oposto, causando uma transformação maligna O HTLV é transmitido principalmente pelo uso de drogas intra-
que "imortalizà' as células T infectadas e permite que as células venosas, pelo contato sexual ou pela amamentação. Transmissão
proliferem de maneira não controlada. transplacentária tem sido raramente documentada. Nos Estados
Os genes do genoma do HTLV, cujas funções foram clara- Unidos, a transmissão por transfusão de sangue foi drasticamente
mente identificadas, são os três genes estruturais comuns a todos reduzida com o advento do rastreamento do sangue doado para
os retrovírus, gag, pol e env, além de dois genes reguladores, tax e a presença de anticorpos contra HTLV e o descarte das amostras
rex. Em geral, os genes e as proteínas do HTLV são similares aos positivas. A transmissão por produtos sanguíneos processados,
do HIV em relação ao tamanho e à função, porém os genes dife- como imunoglobulinas séricas, não ocorreu. Acredita-se que a
rem na sequência de bases e, portanto, as proteínas diferem na se- transmissão ocorra principalmente pela transferência de células
quência de aminoácidos (e na antigenicidade). Por exemplo, p24 infectadas e não por vírus livres extracelulares. Por exemplo, o
é a principal proteína do nucleocapsídeo tanto no HTLV quanto sangue total, mas não o plasma, é a principal fonte, bem como
no HIV, mas diferem antigenicamente. Os vírions de HTLV e linfócitos infectados no sêmen são a principal fonte de vírus
HIV contêm uma transcriptase reversa, integrase e protease. As transmitidos sexualmente.
proteínas do envelope do HTLV são gp46 e gp2 l, ao passo que as A infecção pelo HTLV é endêmica em certas regiões
do HIV são gp120 e gp41. geográficas, como a região do Caribe, incluindo o Sul da Flórida,
As proteínas codificadas pelos genes tax e rex desempe- o Leste da América do Sul, o Oeste da África e o Sul do Japão.
nham os mesmos papéis funcionais das codificadas pelos ge- A taxa de adultos soropositivos é de até 20% em algumas des-
nes reguladores do HIV, tat e rev. A proteína Tax é um ativador sas regiões, embora a infecção possa ocorrer em qualquer lugar,
transcricional, ao passo que a proteína Rex controla o proces- já que indivíduos infectados migram dessas regiões de infecção
samento do mRNA viral e a exportação deste do núcleo para o endêmica*. Pelo menos a metade dos indivíduos infectados por
citoplasma. A proteína Tax é necessária para a transformação HTLV nos Estados Unidos é infectada pelo HTLV-2, geralmente
maligna das células T. adquirido pelo uso de drogas intravenosas.
Ao contrário de outros retrovírus oncogênicos, como o vírus
do sarcoma de Rous em galinhas (ver página 350), o HTLV não Patogênese e imunidade
possui um oncogene em seu genoma, bem como não integra seu
DNA pró-viral em um local específico próximo a um oncoge- O HTLV causa duas doenças distintas, cada qual com um tipo
ne celular no DNA da célula T (i.e., não causa mutagênese por diferente de patogénese. Uma doença é a leucemia/linfoma de
inserção). Preferencialmente, a oncogênese é iniciada pela ativa- células T do adulto (L/LTA), em que a infecção de linfócitos T
ção da transcrição do mRNA celular e viral pela proteína Tax. A CD4-positivos por HTLV induz transformação maligna. Con-
proteína Tax ativa a síntese de IL-2 (que é um fator de crescimen- forme descrito anteriormente, a proteína Tax codificada pelo
to das células T) e do receptor de IL-2. IL-2 promove o rápido HTLV aumenta a síntese de IL-2 (fator de crescimento de cé-
crescimento das células T e, eventualmente, as transformações lulas T) e do receptor de IL-2, o que inicia o crescimento des-
malignas das células T. controlado característico de uma célula cancerosa. Todas as
A estabilidade dos genes do HTLV é muito maior do que a células T malignas contêm o mesmo DNA pró-viral integrado,
do HIV. Como consequência, o HTLV não apresenta o alto grau indicando que a malignidade é monoclonal (i.e., surgiu de uma
de variabilidade da antigenicidade das proteínas do envelope, única célula infectada por HTLV). O HTLV permanece latente
como ocorre no HIV. nas células T malignas (i.e., o HTLV é, em geral, não produzido
pelas células malignas).
Resumo do ciclo de multiplicação A outra doença é a mielopatia associada ao HTLV (MAH),
também conhecida como paraparesia espástica tropical ou mie-
Acredita-se que a multiplicação do HTLV obedeça a um ciclo re- lopatia progressiva crônica. MAH é uma doença desmielinizante
troviral típico, mas informações específicas têm sido difíceis de se do encéfalo e da medula espinal, sobretudo dos neurônios mo-
obter, uma vez que o vírus multiplica-se mal em cultura celular. tores da medula. MAH é causada por uma reação autoimune
O HTLV infecta principalmente linfócitos T CD4-positivos. Ore- cruzada (em que a resposta imune contra o HTLV danifica os
ceptor celular do vírus é desconhecido. No interior do citoplasma, neurônios) ou por células T citotóxicas que matam os neurônios
a transcriptase reversa sintetiza uma cópia de DNA do genoma, infectados por HTLV.
a qual migra até o núcleo e integra-se ao DNA celular. O mRNA
viral é sintetizado pela RNA-polimerase celular e a transcrição é
ativada pela proteína Tax, conforme mencionado anteriormente. *N. de R.T. O Brasil é o país com o maior número absoluto de indivíduos
A proteína Rex controla a síntese dos mRNAs gaglpol e env, e o infectados em todo o mundo.
320 PARTE IV Virologia Clínica

Achados clínicos APLIQUE SEU CONHECIMENTO


A L/LTA é caracterizada por linfadenopatia, hepatosplenome- 1. Em relação ao vírus influenza, qual das seguintes opções é a mais
galia, lesões ósseas líticas e lesões cutâneas. Essas características correta?
são causadas por células T em proliferação que infiltram nesses
(A) O vírion contém uma DNA-polimerase RNA-dependente.
órgãos. No sangue, as células T malignas apresentam um núcleo (B) Suas proteínas da superfície, hemaglutinina e neuraminidase,
distinto "em forma de flor': A hipercalcemia devida ao aumen- possuem múltiplos tipos sorológicos.
to da atividade dos osteoclastos, no interior das lesões ósseas, é ( C) A proteína que sofre variação antigênica mais frequentemente
observada. Pacientes com L/LTA frequentemente apresentam é a ribonucleoproteína interna.
imunidade celular reduzida e infecções oportunistas por fungos (D) A deriva antigênica envolve modificações mais significativas
,
e virus - comuns.
sao na antigenicidade que resultam do rearranjo dos segmentos do
As características clínicas da MAH incluem distúrbio da RNA genômico.
marcha, fraqueza dos membros inferiores e dor lombar. Pode (E) A neuraminidase na superfície viral medeia a interação do ví-
rus com os receptores no trato epitelial.
ocorrer perda do controle do intestino e da bexiga. A perda da
função motora é muito maior que a perda sensitiva. Células T 2. Em relação ao vírus influenza e à gripe, qual das seguintes opções é
com núcleo "em forma de flor,, podem ser encontradas no líqui- a mais correta?
do espinal. A ressonância magnética nuclear do encéfalo mostra (A) Tanto a vacina inativada quanto a vacina viva atenuada indu-
achados inespecíficos. A progressão dos sintomas ocorre lenta- zem imunidade permanente.
mente por um período de anos. MAH ocorre principalmente (B) O vírus influenza A causa doença mais grave e epidemias mais
amplamente disseminadas do que o vírus influenza B.
em mulheres de meia-idade. A doença assemelha-se à esclerose
(C) O genoma do vírus influenza A possui oito segmentos, mas o
múltipla, exceto pelo fato de que MAH não exibe as remissões
genoma do vírus influenza B possui um segmento.
características da esclerose múltipla. (D) A classificação dos vírus influenza em A, B e C é baseada nas
A L/LTA e a MAH são doenças relativamente raras. A gran- diferenças antigênicas nas suas hemaglutininas.
de maioria das pessoas infectadas por HTLV desenvolve infec- (E) Portadores crônicos (i.e., pacientes nos quais o vírus influenza
ções assintomáticas, geralmente detectadas pela presença de an - é isolado por pelo menos seis meses após a doença aguda) são
ticorpos. Apenas uma pequena parte dos indivíduos infectados uma importante fonte de infecção humana.
desenvolve L/LTA ou MAH. 3. Em relação ao vírus do sarampo e ao sarampo, qual das seguintes
opções é a mais correta?
Diagnóstico laboratorial (A) A vacina contra o sarampo contém vírus inativados como
. ,
rmunogeno.
A infecção por HTLV é determinada pela detecção de anticorpos
(B) Uma das principais sequelas do sarampo é a glomerulonefrite
contra o vírus no soro do paciente utilizando teste de ELISA. O autoimune e a falência do rim.
ensaio de Western blot é utilizado para confirmar um resultado (C) O sarampo é improvável de ser erradicado, uma vez que existe
de ELISA positivo. O ensaio de PCR pode detectar a presença um importante reservatório animal para esse vírus.
de RNA ou DNA de HTLV no interior de células infectadas. Os (D) A transmissão fecal-oral durante a fase de fralda é o principal
testes de laboratório utilizados no rastreamento do sangue doado método de aquisição do vírus do sarampo.
contêm apenas antígenos de HTLV-1, porém, devido ao fato de (E) Esse vírus possui apenas um tipo antigênico, e a imunidade
que ocorre reação cruzada entre HTLV-1 e HTLV-2, a presen- permanente ocorre em pacientes que tiveram sarampo.
ça de anticorpos contra ambos os vírus é, em geral, detectada. 4. Em relação ao vírus sincicial respiratório (RSV), qual das seguintes
Entretanto, alguns anticorpos contra HTLV-2 não são detectados opções é a mais correta?
nesses testes rotineiros de triagem. O isolamento do HTLV em (A) O RSV é uma causa importante de bronquiolite em bebês.
cultura celular de espécimes do paciente não é realizado. (B) O RSV causa tumor em animais recém-nascidos, mas não em
A L/LTA é diagnosticada pelo achado de células T malignas seres humanos.
nas lesões. O diagnóstico de MAH é apoiado pela presença de ( C) A vacina contra RSV é recomendada para todas as crianças
anticorpos contra HTLV no líquido espinal ou pela observação antes de iniciar a idade escolar.
(D) Amantadina deve ser administrada a idosos moradores de asi-
de ácidos nucleicos de HTLV em células do líquido espinal.
los para prevenir surtos da doença causada por RSV.
(E) RSV forma corpúsculos de inclusão intranuclear em neutrófi-
Tratamento e prevenção los que são importantes para o diagnóstico pela clínica labora-
torial.
Não existe tratamento antiviral específico para infecção por
HTLV, bem como nenhum fármaco antiviral irá curar infecções 5. Em relação ao vírus da rubéola, qual das seguintes opções é a mais
latentes por HTLV. A L/LTA é tratada com regimes de quimio- correta?
terapia anticancerígenos. Fármacos antivirais não foram eficazes (A) Infecção sistêmica com o vírus da rubéola frequentemente
no tratamento de MAH. Corticosteroides e danazol produziram causa dano grave ao fígado, resultando em cirrose.
(B) Quando uma gestante é infectada durante o primeiro trimes-
melhora em alguns pacientes.
tre, geralmente resulta em malformações fetais significativas.
Não há nenhuma vacina contra HTLV. Medidas preventi-
( C) A principal fonte de vírus são adultos que se recuperaram da
vas incluem o rastreamento do sangue doado para a presença de doença mas são portadores crônicos do vírus.
anticorpos, o uso de preservativos para prevenir a transmissão (D) É recomendada a imunização de profissionais da saúde dos
sexual e orientação às mulheres com anticorpos contra HTLV sexos masculino e feminino com a vacina inativada por for-
para evitarem a amamentação. malina.
CAPÍTULO 39 Vírus de RNA Envelopado 321

(E) As modificações significativas na antigenicidade desse vírus 9. Sua paciente é uma mulher de 75 anos com febre, calafrios e mial-
são devidas ao rearranjo dos segmentos do genoma. gias que iniciaram no dia anterior. É janeiro e um surto de influenza
6. Em relação ao vírus da raiva, qual das seguintes opções é a mais está ocorrendo no asilo de idosos onde ela vive. Um teste rápido
correta? para um antígeno de influenza é positivo. Qual das seguintes opções
é a melhor escolha de fármaco para tratar a infecção?
(A) A observação de corpúsculos de inclusão intranuclear em ma-
crófagos é evidência presumível da infecção por vírus da raiva. (A) Aciclovir.
(B) Lamivudina é utilizada para tratar raiva, uma vez que inibe a (B) Amantadina.
DNA-polimerase RNA-dependente do vírion. (C) Interferon.
(C) Nos Estados Unidos, gambás e morcegos são mais prováveis de (D) Oseltamivir.
transmitir o vírus da raiva para indivíduos do que cães e gatos. (E) Ribavirina.
(D) O período de incubação da doença é, em geral, de 2 a 4 dias,
levando ao rápido progresso da encefalite e à morte.
(E) Após a mordida do animal, o vírus da raiva entra na corrente RESPOSTAS
sanguínea, multiplica-se em órgãos internos, como o fígado,
e, então, alcança o sistema nervoso central durante a viremia 1. (B)
secundária. 2. (B)
3. (E)
7. Uma mulher estava caminhando em áreas isoladas, quando um
4. (A)
gambá apareceu e a mordeu na perna. Ela chega à sua sala de emer-
5. (B)
gência aproximadamente uma hora após a mordida. Qual das se- 6. (C)
guintes opções é a ação mais apropriada? (A)
7.
(A) Administrar imediatamente vacina contra raiva e imunoglo- 8. (E)
bulinas séricas. 9. (D)
(B) Tranquilizá-la de que a raiva não é um problema, pois gambás
não transmitem raiva.
(C) Observar o animal por 10 dias e somente tratar a mulher se
sinais de raiva aparecerem no animal.
RESUMOS DOS ORGANISMOS
(D) Testar o soro da paciente para anticorpos no momento e em 10 Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
dias para avaliar se existe um aumento do título de anticorpos -se na página 648. Favor consultar esses resumos para uma rápida
antes do tratamento. revisão do material essencial.
8. O vírus T-linfotrófico humano (HTLV) causa leucemia das células
T em adultos. Em relação a esse vírus, qual das seguintes opções é a
mais correta?
QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(A) HTLV é transmitido principalmente pela via fecal-oral.
(B) Oseltamivir cura o estágio latente estabelecido pelo HTLV nas Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
células T. contradas na seção de Virologia Clínica da Parte XIII: Questões
(C) O genoma do HTLV consiste em um RNA dupla-fita, entre- para Autoavaliação, a partir da página 703. Consulte também a
tanto, não há polimerase no vírion. Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
(D) O HTLV é associado com leucemia no Japão, mas o vírus não na 731.
apareceu nos Estados Unidos até o momento.
(E) A oncogênese pelo HTLV é relacionada a um fator transcricio-
nal viral que ativa a produção de interleucina 2 e o seu receptor.
CAPÍT U LO

40 VírusdeRNA
Não Envelopado

CONTEODO DO CAPITULO

PICORNAVÍRUS REOVÍRUS
Enterovírus Rotavírus
Rinovírus Aplique seu conhecimento
CALICIVÍRUS Resumos dos organismos
Norovírus Questões para autoavaliação

PICORNAVÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Picoma\'ÍCUS são pequenos virus (20 - 30 nm) não envelopados A temperatura ótima para multiplicação dos enterovírus ê
compostos por um nucleocapsídeo icosaédrlco e um genoma 37°C. ao passo que os rinov(rus crescem mais adequadamente
RNA de Ota simples. O genoma de RNA possui polaridade p<r a 33ºC. em conformidade com a temperatura mais baixa da ca-
sitiva (i.e., ao penetrar na célula, e)e. funciona como o mRNA vi• vidade nasal. Os enterovfrus são está\'eis em condições ácidas
raJ). Não há pofünera.se no interior do virion. Os picornavCrus se (pH 3 a 5), o que lhes permite sobreviver à exposição ao ácido
repHcam no citop)asma das céJulas infectadas. Eles não são ina. gástrico. enquanto os rinovírus são acidolábeis. lsso expHca por
tivados por solventes de lipídeos, como o éter. uma vez que não que as infecções por rinovlrus são restritas à cavidade nasaJ e. à
possuem um envelope. garganta.
A familia dos picornavlrus inclui dois grupos de importância Caractedsticas importantes dos v(rus que comumente infec-
médica: os enterovírus e os rinovirus. Entre os principais enteroví• tam o trato intestina) estão resumidas na Tabela 40-2. Essa tabela
rus estão os poliovCrus. vCrus de Coxsackie, ecovirus e vírus da hepa- inclui os picornavírus. mas também os rotav(rus e os noravCrus..
tite A (descrito 110 Capítulo 41). Os enterovCrus iJÚectam princ:i,pal· que serão posteriormente descritos neste capítulo, e os adenov(.
mente o trato e11têrico. ao passo que os rinov(rus são encontrados rus, que serão descritos no Capítulo 38.
na cavidade nasaJ e na garganta (rino = 11ariz) (Tabela 40- l).

TABELA 40-1 Picomavírus de importância médica

lnatlvado polo Temp«atura 6tlma


Vlrus l.oall Inicial da 1 ~ ,ddo estomacal para multlpllcaçlo Doenças
PoUovírus TratoGI Não 3rc Poliomielite

Vírus de Coxsackie TratoGI Não 3rC Meningite, mioc.arditM,


febre aftosa, etc.

Ecovírus Trato GI Não 3rc Meningite

Vírus da hepatite A TratoGI Não 37'C Hepatite


Rinovfrus Trato respiratório superior Sim 33°( Resfrtado comum
CAPÍTULO 40 Vírus de RNA Não Envelopado 323

TABELA 40-2 Características dos vírus que comumente infectam o trato intestinal

Imunidade
Número de permanente à Vacina Terapia
Vírus Acido nucleico Doença sorotipos doença disponível antivirai

Poliovírus RNA Poliomielite 3 Sim +


(tipo-específica)

Vírus de Coxsackie RNA Meningite, cardite, etc. Vários Não

Ecovírus RNA Meningite, etc. Vários Não

Vírus da hepatite A RNA Hepatite 1 Sim +


1
Rotavírus RNA Diarreia Diversos Não +
1
Norovírus RNA Diarreia Muitos Não

Adenovírus DNA Diarreia 41, dos quais dois Desconhecida


causam diarreia
1
0 número exato é incerto.

ENTEROVÍRUS co com as proteínas do capsídeo. Os vírions acumulam-se no cito-


plasma celular e são liberados como consequência da morte celular.
1. Poliovírus Os vírions não brotam da membrana celular.
Doença
Transmissão e epidemiologia
Esse vírus causa a poliomielite.
Os poliovírus são transmitidos pela via fecal-oral. Replicam-se
na parte oral da faringe e no trato intestinal. Os seres humanos
Propriedades importantes
são os únicos hospedeiros naturais.
A gama de hospedeiros é limitada aos primatas (i.e., seres hu- Devido ao sucesso da vacina, a poliomielite causada pelo
manos e primatas não humanos, como macacos e símios). Essa vírus "selvagem,, de ocorrência natural foi erradicada dos Esta-
limitação deve-se à ligação da proteína do capsídeo viral ao re- dos Unidos e, de fato, de todo o Hemisfério Ocidental. Os casos
ceptor encontrado apenas nas membranas de células de primatas. raros nos Estados Unidos ocorrem principalmente em ( 1) indiví-
Entretanto, observa-se que o RNA viral purificado (destituído da duos expostos a revertentes virulentos do vírus atenuado da va-
proteína do capsídeo) pode penetrar e se replicar em diversas cé- cina viva e (2) indivíduos não imunizados expostos ao poliovírus
lulas de não primatas - o RNA pode escapar do crivo do receptor selvagem quando viajam ao exterior. Anteriormente à disponibi-
da membrana celular (i.e., um "RNA infeccioso,,). lidade da vacina, ocorriam epidemias no verão e no outono.
Existem três tipos sorológicos (antigênicos) baseados em A Organização Mundial da Saúde estabeleceu como meta a er-
diferentes determinantes antigênicos das proteínas externas do radicação da pálio paralítica até 2005. Infelizmente, essa meta não
capsídeo. Devido à pouca reação cruzada existente, a proteção foi alcançada. Em 1988, ocorreram 388 mil casos de pálio paralítica
contra a doença requer a presença de anticorpos contra cada um em todo o mundo, ao passo que em 2005 ocorreram menos de 2 mil.
dos três tipos. Apesar dessa notável diminuição, a pálio paralítica continua a ocor-
rer. Até 2012, ainda havia um total de aproximadamente 200 casos
Resumo do ciclo replicativo a cada ano em três países: Afeganistão, Nigéria e Paquistão. Até o
momento, a varíola é a única doença infecciosa que foi erradicada,
O vírion interage com receptores celulares específicos da membra-
uma consequência do uso mundial da vacina contra a varíola.
na celular e penetra na célula. As proteínas do capsídeo são, então,
removidas. Após o desnudamento, o genoma de RNA funciona
como mRNA e é traduzido em um grande polipeptídeo, denomi- Patogênese e imunidade
nado proteína viral não capsídea 00. Esse polipeptídeo é clivado em Após multiplicação na parte oral da faringe e no intestino delga-
múltiplas etapas por uma protease codificada pelo vírus, forman- do, sobretudo no tecido linfoide, o vírus se dissemina pela cor-
do tanto as proteínas do capsídeo da progênie de vírions quanto as rente sanguínea até o sistema nervoso central. Também pode se
diversas proteínas não capsídeas, incluindo a RNA-polimerase que disseminar por via retrógrada pelos axônios dos nervos.
sintetiza os RNAs genômicos da progênie. A replicação do genoma No sistema nervoso central, o poliovírus se multiplica pre-
ocorre pela síntese de uma fita complementar negativa, que serve de ferencialmente nos neurônios motores, localizados no corno
molde para as fitas positivas. Algumas dessas fitas positivas atuam anterior da medula espinal. A morte dessas células resulta em
como mRNA na produção de mais proteínas virais, enquanto o res- paralisia dos músculos inervados pelos neurônios motores. A
tante toma-se RNA genômico da progênie de vírions. A montagem paralisia não é devida à infecção viral de células musculares. O
da progênie de vírions ocorre pela encapsulação do RNA genômi- vírus também pode afetar o tronco encefálico, ocasionando a po-
324 PARTE IV Virologia Clínica

liomielite "bulhar,, (com paralisia respiratória), mas apenas rara- Diagnóstico laboratorial
mente danifica o córtex cerebral.
O diagnóstico é realizado pelo isolamento do vírus ou pela eleva-
Em indivíduos infectados, a resposta imune consiste tanto em
ção no título de anticorpos. O vírus pode ser recuperado da gar-
IgA intestinal quanto em IgG humoral específicos para o sorotipo.
ganta, das fezes ou do líquido espinal pela inoculação em cultu-
Infecções proporcionam imunidade tipo-específica duradoura.
ras celulares. O vírus causa um efeito citopático (ECP) e pode ser
identificado pela neutralização do ECP com antissoros específicos.
Achados clínicos
A gama de respostas à infecção por poliovírus inclui ( 1) infecção Tratamento
assintomática inaparente, (2) poliomielite abortiva, (3) poliomie-
Não há terapia antivira!. O tratamento é limitado ao alívio sinto-
lite não paralítica e (4) poliomielite paralítica. A infecção assinto-
mático e ao suporte respiratório, se necessário. Fisioterapia para
mática é bastante comum. Cerca de 1% das infecções é clinicamen-
os músculos afetados é importante.
te aparente. O período de incubação geralmente é de 1Oa 14 dias.
A forma clínica mais comum é a poliomielite abortiva, que é
uma doença branda e febril, caracterizada por cefaleia, garganta Prevenção
inflamada, náusea e vômitos. A maioria dos pacientes se recupera A poliomielite pode ser prevenida tanto pela vacina inativada
espontaneamente. A poliomielite não paralítica se manifesta como (vacina Salk, vacina morta, IPV) quanto pela vacina viva ate-
meningite asséptica com febre, cefaleia e torcicolo. Esse quadro, nuada (vacina Sabin, vacina oral, OPV) (Tabela 40-3). Ambas as
com frequência, também regride de forma espontânea. Na polio- vacinas induzem anticorpos humorais que neutralizam os vírus
mielite paralítica, a paralisia flácida é o achado predominante, mas que penetram no sangue e, desse modo, previnem a infecção do
o envolvimento do tronco encefálico pode levar à paralisia respi- sistema nervoso central e a doença. Ambas as vacinas, viva e ina-
ratória com risco à vida. Espasmos musculares dolorosos também tivada, contêm os três sorotipos. Atualmente, a vacina inativada
ocorrem. O dano aos nervos motores é permanente, porém algu- é preferida por razões descritas a seguir.
ma recuperação da função motora ocorre à medida que outras A versão atual da vacina inativada é chamada de vacina in-
células nervosas assumem a função. Na pólio paralítica, tanto as tensificada antipólio, ou eIPV (enhanced polio vaccine). Essa va-
meninges quanto o parênquima encefálico (meningoencefalite) cina apresenta uma maior taxa de soroconversão e induz títulos
estão frequentemente envolvidos. Quando a medula espinal tam- de anticorpos maiores que a IPV anterior. A eIPV também induz
bém está envolvida, o termo meningomieloencefalite é empregado. alguma imunidade de mucosas por IgA, tornando-a capaz de in-
Uma síndrome pós-poliomielite que ocorre vários anos após terromper a transmissão, embora a quantidade de IgA secretora
a doença aguda tem sido descrita. Uma deterioração significativa induzida pela eIPV seja significativamente menor que a quanti-
da função residual dos músculos afetados ocorre vários anos após dade induzida pela OPV. Desse modo, a OPV é preferida para os
a fase aguda. A causa dessa deterioração é desconhecida. esforços de erradicação. A única versão da vacina contra a pólio
O estado de portador permanente não ocorre após a infec- produzida atualmente nos Estados Unidos é a eIPV. Em certos
ção por poliovírus, mas a excreção de vírus nas fezes pode ocor- países onde a pólio permanece endêmica (p. ex., Índia), uma va-
rer por diversos meses. cina oral monovalente contra a pólio é utilizada, uma vez que a

TABELA 40-3 Características importantes das vacinas contra poliovírus

Propriedade lnativada (Salk) Viva (Sabin)

Previne doença Sim Sim

Interrompe a transmissão Não Sim

Induz lgG humoral Sim Sim

Induz lgA intestinal Não Sim

Confere proteção secundária pela disseminação a outras pessoas Não Sim

Interfere na multiplicação de vírus virulentos no intestino Não Sim

Reverte à virulência Não Sim (raramente)

Coinfecção com outros enterovírus pode prejudicar a imunização Não Sim

Pode causar doença em indivíduos imunocomprometidos Não Sim

Via de administração Injetável Oral

Requer refrigeração Não Sim

Duração da imunidade Mais curta Mais duradoura


CAPÍTULO 40 Vírus de RNA Não Envelopado 325

taxa de soroconversão é mais alta com a vacina monovalente do ram expostos. A imunização passiva de recém-nascidos também
que com a vacina trivalente. ocorre, como resultado da passagem de anticorpos IgG matemos
Anteriormente, havia preferência pela vacina viva nos Es- por meio da placenta.
tados Unidos por duas razões principais: ( 1) ela interrompe a A quarentena de pacientes com a doença não é efetiva, uma
transmissão fecal-oral por meio da indução de produção de IgA vez que a excreção fecal dos vírus ocorre em indivíduos infec-
secretora no trato gastrintestinal; (2) é administrada oralmente, tados antes da manifestação dos sintomas, bem como nos que
sendo mais facilmente aceita pelos pacientes do que a vacina ina- permanecem assintomáticos.
tivada, que precisa ser injetada.
A vacina viva* apresenta quatro desvantagens: (1) em raras 2. Vírus de Coxsackie
ocasiões, pode ocorrer a reversão do vírus atenuado à sua forma
virulenta, causando doença ao indivíduo vacinado (principalmente Os vírus de Coxsackie são nomeados devido à cidade de
Coxsackie, no Estado de Nova Iorque, onde foram primeiramen-
no caso do vírus do tipo 3); (2) a vacina pode causar doença em in-
divíduos imunodeficientes e, portanto, não deve ser aplicada a estes te isolados.
pacientes; (3) a infecção do trato gastrintestinal por outros enteroví-
rus pode limitar a replicação do vírus vacina!, o que gera redução da Doenças
proteção gerada pela vacinação; (4) a vacina deve ser mantida sob Os vírus de Coxsackie causam uma variedade de doenças. Os vírus
refrigeração para evitar que o vírus vivo seja inativado pelo calor. do grupo A causam, por exemplo, herpangina, conjuntivite he-
Surtos de pólio paralítica causada por poliovírus derivados morrágica aguda e doença de mão-pé-boca, ao passo que os vírus
da vacina (VDPVs) continuam a ocorrer, principalmente em do grupo B causam pleurodinia, miocardite e pericardite. Ambos
regiões onde existe um grande número de pessoas não imuni- os tipos causam doença inespecífica do trato respiratório superior
zadas. Essas linhagens de VDPV perderam sua atenuação pela (resfriado comum), erupções febris e meningite asséptica. Os vírus
aquisição, por recombinação, de genes de enterovírus selvagens. de Coxsackie e os ecovírus (ver a próxima seção), juntos, causam
Surtos de pólio paralítica associada a VDPV foram contidos por aproximadamente 90% dos casos de meningite (asséptica) viral.
campanhas para imunizar pessoas na região afetada com a vacina
oral (Sabin), que interrompe a transmissão fecal-oral.
Propriedades importantes
Acredita-se que a duração da imunidade seja mais longa
com a vacina viva quando comparada com a vacina inativada, O tamanho e a estrutura do vírion, assim como a natureza do
embora uma dose de reforço seja recomendada para ambas. RNA genômico, são similares aos dos poliovírus. A classificação
O esquema de vacinação atualmente aprovado nos Estados dos vírus de Coxsackie em grupo A ou B é baseada em sua patoge-
Unidos consiste em quatro doses da vacina inativada, adminis- nicidade em camundongos. Os vírus do grupo A causam miosite
tradas aos 2 meses, 4 meses, 6 a 18 meses e após o ingresso na difundida e paralisia flácida, que é rapidamente fatal, ao passo que
escola, dos 4 aos 6 anos. Um reforço (vitalício) é recomendado os vírus do grupo B causam lesões generalizadas menos graves
para adultos que viajam para regiões endêmicas. O uso da vacina no coração, no pâncreas e no sistema nervoso central, bem como
inativada deve prevenir alguns dos aproximadamente 1O casos miosite focal. Pelo menos 24 sorotipos de vírus de Coxsackie A e
anuais de pólio paralítica associada à vacina que surgem pela re- seis sorotipos de vírus de Coxsackie B são reconhecidos.
versão do vírus atenuado.
No passado, alguns lotes da vacina de poliovírus foram con- Resumo do ciclo replicativo
taminados por um papovavírus, o vírus SV40, que causa sarco-
A multiplicação é similar à dos poliovírus.
mas em roedores. O vírus SV40 foi um vírus "contaminante,, nas
células renais de macaco utilizadas para cultivar os poliovírus
para a vacina. Felizmente, não houve aumento na incidência de Transmissão e epidemiologia
câncer nos indivíduos inoculados com a vacina contra a pólio Os vírus de Coxsackie são transmitidos principalmente pela via
contendo o vírus SV40. No entanto, existem algumas evidências fecal-oral, mas aerossóis respiratórios também desempenham
de que o DNA de SV40 possa ser encontrado em certos cânceres um papel importante na transmissão. Multiplicam-se na par-
humanos, como linfoma não Hodgkin; o papel do SV40 como te oral da faringe e no trato intestinal. Os seres humanos são os
causador de câncer em indivíduos imunizados com as primeiras únicos hospedeiros naturais. As infecções por vírus de Coxsackie
versões da vacina contra a pólio é indefinido. Atualmente, cul- ocorrem mundialmente, sobretudo no verão e no outono.
turas celulares utilizadas para fins vacinais são cuidadosamente
analisadas para excluir a presença de vírus acidentais. Patogênese e imunidade
A imunização passiva com imunoglobulinas séricas está dis-
Os vírus do grupo A têm preferência pela pele e pelas membranas
ponível para a proteção de indivíduos não imunizados que fo-
mucosas, ao passo que os vírus do grupo B causam doenças em vá-
rios órgãos, como coração, pleura, pâncreas e fígado. Tanto os ví-
*N. de R.T. No Brasil, o uso da vacina viva contra pólio (vacina Sabin) é a rus do grupo A quanto os do B podem afetar as meninges e os neu-
estratégia de escolha. No entanto, o Ministério da Saúde planeja introdu- rônios motores (células do corno anterior), causando paralisia. A
zir o uso intercalado da vacina inativada contra pólio de forma gradual, partir de seu local inicial de multiplicação, na parte oral da faringe
até a completa substituição da vacina viva pela inativada, em alguns anos.
e no trato intestinal, eles disseminam-se pela corrente sanguínea.
Essa estratégia faz parte do processo final de eliminação completa do po-
liovírus. Desde a década de 1990, o Brasil não apresenta nenhum caso de
A imunidade após a infecção é conferida por anticorpos IgG
poliomielite autóctone. tipo-específicos.
326 PARTE IV Virologia Clínica

Achados clínicos Diferentemente dos poliovírus, não causam doenças em maca-


cos. São transmitidos pela via fecal-oral e ocorrem mundialmen-
Doenças específicas do grupo A te. A patogênese é similar à de outros enterovírus.
A herpangina caracteriza-se por febre, dor de garganta e vesícu- Juntamente com os vírus de Coxsackie, os ecovírus são uma
las sensíveis na parte oral da faringe. A doença de mão-pé-boca das principais causas de meningite asséptica (virai). O diag-
é caracterizada por uma erupção vesicular nas mãos e nos pés e nóstico é realizado pelo isolamento do vírus em cultura celular.
por ulcerações na boca, principalmente em crianças. Testes sorológicos são de pouca relevância, uma vez que há um
grande número de sorotipos e nenhum antígeno em comum.
Doenças específicas do grupo B Não existe terapia antivira! ou vacina disponível.
A pleurodinia (doença de Bornholm, mialgia epidêmica, "gar-
ra do diabo") caracteriza-se por febre e dor peitoral grave do 4. Outros enterovírus
tipo pleural. Observa-se que a dor da pleurodinia é devida à Em vista da dificuldade de se classificar vários enterovírus, todos
infecção de músculos intercostais (miosite), e não à infecção os isolados novos receberam uma simples denominação numéri-
da pleura. ca desde 1969.
A miocardite e a pericardite são caracterizadas por febre, O enterovírus 70 é a principal causa de conjuntivite hemor-
dor peitoral e sinais de insuficiência congestiva. Miocardiopa- rágica aguda, caracterizada por hemorragias petequiais nas con-
tia dilatada com hipocinesia global do miocárdio é uma sequela juntivas bulhares. A recuperação completa geralmente ocorre, e
temida, que, frequentemente, requer transplante cardíaco para não há terapia.
manutenção da vida. Diabetes em camundongos pode ser cau- O enterovírus 71 é uma das principais causas de doenças
sado por dano pancreático resultante da infecção por vírus de virais do sistema nervoso central, incluindo meningite, encefali-
Coxsackie B4. Esse vírus é suspeito de desempenhar um papel te e paralisia. Também causa diarreia, hemorragias pulmonares,
similar no diabetes juvenil em seres humanos. doença de mão-pé-boca e herpangina. O enterovírus 72 é o vírus
da hepatite A, descrito no Capítulo 41.
Doenças causadas por ambos os grupos
Ambos os grupos de vírus podem causar meningite asséptica,
paresia leve e paralisia flácida aguda, similar à poliomielite. In- RINOVÍRUS
fecções respiratórias superiores, faringites e doenças febris meno-
res, com ou sem erupção, também podem ocorrer. Doença
Esses vírus são a principal causa do resfriado comum.
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico é realizado pelo isolamento do vírus em cultura Características importantes
celular ou em camundongos lactentes, bem como pela obser- Há mais de 100 tipos sorológicos, o que explica por que o
vação de um aumento no título de anticorpos neutralizantes. resfriado comum ocorre com tanta frequência. Como descrito
Um teste rápido (2,5 horas) baseado na reação em cadeia da poli- na Tabela 40-1, esses vírus multiplicam-se de maneira mais
merase (PCR) para detecção do RNA dos enterovírus no líquido apropriada a 33ºC que a 37ºC, o que explica por que afetam
espinal é útil para o diagnóstico imediato de meningite viral, uma principalmente a cavidade nasal e a conjuntiva, em vez do tra-
vez que técnicas baseadas no cultivo viral podem levar dias para to respiratório inferior. Pelo fato de serem acidolábeis, são
produzir um resultado. mortos pelo ácido gástrico quando engolidos. Isso explica por
que eles não infectam o trato gastrintestinal, ao contrário dos
Tratamento e prevenção enterovírus. A gama de hospedeiros é limitada aos seres huma-
nos e aos chimpanzés.
Não existe terapia com fármacos antivirais ou uma vacina dis-
ponível contra esses vírus. A imunização passiva não é reco-
mendada. Resumo do ciclo de multiplicação
A multiplicação é similar à dos poliovírus. O receptor da superfí-
3. Ecovírus cie celular para os rinovírus é a molécula de adesão intracelular 1
(ICAM-1), uma proteína de adesão localizada na superfície de
Em inglês, o prefixo echo é um acrônimo para enteric cytopathic
diversos tipos celulares.
human orphan. Os ecovírus foram inicialmente denominados
"órfãos", visto que não foram associados a nenhuma doença;
atualmente, sabe-se que esses vírus causam uma variedade de Transmissão e epidemiologia
doenças, como meningite asséptica, infecção do trato respirató- Existem dois mecanismos de transmissão para esses vírus. No
rio superior, doença febril com ou sem erupção, diarreia infantil passado, acreditava-se que os rinovírus fossem transmitidos
e conjuntivite hemorrágica. diretamente de um indivíduo para outro por meio de aerossóis
A estrutura dos ecovírus é similar à de outros enterovírus. de gotículas respiratórias. No entanto, parece que um modo
Mais de 30 sorotipos foram isolados. Ao contrário dos vírus de indireto, no qual gotículas respiratórias são depositadas nas
Coxsackie, os ecovírus não são patogênicos para camundongos. mãos ou sobre superfícies, como uma mesa, e, então, trans-
CAPÍTULO 40 Vírus de RNA Não Envelopado 327

portadas pelos dedos para o nariz ou para os olhos, também é Achados clínicos
importante.
Após um período de incubação de 2 a 4 dias, espirros, corrimen-
O resfriado comum é considerado a infecção humana mais
to nasal, dor de garganta, tosse e cefaleia são comuns. Uma sen -
comum, embora dados sejam difíceis de se obter, uma vez que
sação de frio pode ocorrer, embora haja alguns outros sintomas
não se trata de uma doença bem-definida ou notificável. Muitos
sistémicos. A enfermidade dura aproximadamente uma semana.
dias de trabalho e estudo são perdidos por ano como resultado
Observa-se que outros vírus, como os coronavírus, adenovírus,
dos "resfriados': Os rinovírus ocorrem mundialmente, causando
vírus influenza C e vírus de Coxsackie, também causam a síndro-
doença sobretudo no outono e no inverno. A razão para essa va-
me do resfriado comum.
riação sazonal é incerta. Somente baixas temperaturas não pre-
dispõem ao resfriado comum, porém, a aglomeração que ocorre
em escolas, por exemplo, pode intensificar a transmissão durante Diagnóstico laboratorial
o outono e o inverno. A frequência de resfriados é alta na infância O diagnóstico pode ser realizado pelo isolamento do vírus em
e diminui durante a fase adulta, presumivelmente devido à aqui- cultura celular a partir de secreções nasais, no entanto, isso rara-
sição de imunidade. mente é realizado. Testes sorológicos não são aplicados.
Alguns sorotipos de rinovírus são prevalentes durante uma
estação, sendo substituídos por outros sorotipos apenas na esta- Tratamento e prevenção
ção seguinte. Aparentemente, a população desenvolve imunidade
contra os sorotipos prevalentes, mas permanece suscetível aos Não há terapia antivirai específica. Vacinas parecem ser impra-
outros. ticáveis devido ao grande número de sorotipos. Lenços de papel
impregnados com uma combinação de ácido cítrico (que inativa
os rinovírus) e lauril sulfato de sódio (um detergente que inativa
Patogênese e imunidade
vírus envelopados, como vírus influenza e vírus sincicial respira-
A porta de entrada é o trato respiratório superior e a infecção é tório), limitam a transmissão quando utilizados para remover os
limitada a essa região. Os rinovírus raramente causam doença do vírus de dedos contaminados por secreções respiratórias. Altas
trato respiratório inferior, provavelmente devido ao seu cresci- doses de vitamina C possuem baixa capacidade de prevenir res-
mento deficiente a 37ºC. friados induzidos por rinovírus. Pastilhas contendo gluconato de
A imunidade é sorotipo-específica e é relacionada às IgAs zinco estão disponíveis para o tratamento do resfriado comum,
secretoras nasais, em vez de a anticorpos humorais. mas sua eficácia ainda não foi comprovada.

CALICIVÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Os calicivírus são vírus pequenos, não envelopados, com RNA de Características importantes
fita simples de polaridade positiva. Embora compartilhem essas
Os norovírus possuem um genoma de RNA de polaridade positi-
características com os picornavírus, os calicivírus distinguem-se
va, de fita simples e não segmentado. É um vírus não envelopado
dos picornavírus por apresentarem genoma maior e distintas es-
com nucleocapsídeo icosaédrico. Não há polimerase no interior
pículas na superfície. O norovírus é o principal patógeno huma-
do vírion. Ao microscópio eletrônico, podem ser observadas
no na família dos calicivírus.
10 espículas proeminentes e 32 depressões em forma de taça.
Existem muitos sorotipos, sendo que o número exato é desco-
nhecido. Cinco genogrupos foram identificados. A maioria das
NOROVÍRUS infecções humanas é causada por membros do genogrupo II.
Doença
Os norovírus constituem uma das principais causas de gastren- Resumo do ciclo de multiplicação
terites virais em adultos em todo o mundo. Os norovírus são Os norovírus se replicam de maneira semelhante aos poliovírus
também a principal causa de gastrenterites virais em crianças nos (ver anteriormente, neste capítulo).
Estados Unidos, uma vez que a vacina contra os rotavírus levou à
diminuição da incidência de doenças causadas por este último*. Transmissão e epidemiologia
O vírus Norwalk é um importante norovírus e seu nome advém
Os norovírus são transmitidos pela rota fecal-oral, frequente-
de um surto de gastrenterite que ocorreu em uma escola na cida-
de de Norwalk, Ohio, Estados Unidos, em 1969. mente envolvendo a ingestão de frutos do mar ou água conta-
minados. Os surtos, em geral, ocorrem em situações de aglo-
meração, como navios de cruzeiros (sobretudo na região do
*N. de T. No Brasil, embora a vacina contra rotavírus já esteja incluída no ca- Caribe ), escolas, acampamentos, hospitais e casas de repouso.
lendário público de vacinação, surtos de gastrenterites virais por esses vírus
A transmissão entre pessoas também ocorre, principalmente
ainda são bastante importantes. Além dos rotavírus, os norovírus (particu-
em situações de aglomeração. Existem vários calicivírus de
larmente o vírus de Norwalk) também são causas comuns de surtos de gas-
trenterites. Em menor frequência, outros agentes virais associados a surtos
animais, mas não existem evidências de que causem infecção
de gastrenterites virais no país incluem astrovírus, adenovírus e parvovírus. humana.
328 PARTE IV Virologia Clínica

A infecção pode ser intensificada em virtude de diversas ca- to o vômito quanto as fezes não contêm sangue. A doença dura
racterísticas virais: baixas doses infectantes, excreção dos vírus geralmente de 2 a 3 dias e não há sequelas de longa duração,
nas fezes tanto antes quanto após a ocorrência dos sintomas e por exceto no caso de alguns pacientes imunocomprometidos, nos
muitas semanas após a recuperação, e resistência à inativação por quais gastrenterites crônicas podem ocorrer. Em alguns surtos,
cloração e também à dessecação quando exposto ao ambiente. determinados pacientes manifestam sinais de envolvimento do
Imagina-se que o vírus permaneça infeccioso por muitos dias em sistema nervoso central, como cefaleia, meningismo, fotofobia e
água, alimentos crus e em superfícies, como maçanetas. obnubilação.

Patogênese e imunidade Diagnóstico laboratorial


A infecção pelos norovírus é, em geral, limitada às células da Quando um diagnóstico específico é necessário, uma reação de
mucosa do trato intestinal. Ocorre diarreia aquosa destituída de PCR a partir das fezes pode ser realizada. Não obstante, o diag-
hemácias ou leucócitos. Várias infecções assintomáticas ocorrem, nóstico é normalmente clínico.
como determinado pela detecção de anticorpos. A imunidade
após a infecção parece ser breve e reinfecções podem ocorrer. Tratamento e prevenção
Novas linhagens surgem a cada 2 a 4 anos, causando surtos dis-
Não existe terapia antivira! ou vacina disponível. A desidrata-
seminados.
ção e o desequilíbrio eletrolítico provocados pelo vômito e pela
diarreia podem exigir a reidratação oral ou aplicação de fluidos
Achados clínicos endovenosos. Higiene pessoal, como o hábito de lavar as mãos, e
A doença é caracterizada pelo início súbito de vômitos e diar- medidas de saúde pública, como o tratamento adequado do esgo-
reia acompanhados por febre baixa e cólicas abdominais. Tan - to e a desinfecção de superfícies contaminadas, são úteis.

REOVÍRUS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Em inglês, reo é um acrônimo para respiratory enteric orphan. limerase RNA-dependente sintetiza mRNA a partir de cada um
Quando esse vírus foi descoberto, foi isolado dos tratos respiratório dos 11 segmentos no interior do citoplasma. Os 11 mRNAs são
e entérico e não foi associado a qualquer doença. Os rotavírus são traduzidos em um número correspondente de proteínas estru-
os patógenos humanos mais importantes da família dos reovírus. turais e não estruturais. Uma delas, uma RNA-polimerase, sin-
tetiza fitas senso-negativas, que passarão a fazer parte do geno-
ma da progênie viral. Proteínas capsídicas formam um capsídeo
ROTAVÍRUS incompleto ao redor das fitas senso-negativas e, em seguida, as
fitas senso-positivas dos segmentos genômicos da progênie são
Doença sintetizadas. O vírus é liberado do citoplasma pela lise da célula e
Os rotavírus constituem uma causa comum de gastrenterites vi- não por brotamento.
rais, principalmente em crianças mais novas.
Transmissão e epidemiologia
Características importantes Os rotavírus são transmitidos pela via fecal-oral. A infecção ocor-
Os rotavírus possuem um genoma de RNA de dupla-fita, seg- re mundialmente, e, por volta dos 6 anos de idade, a maioria das
mentado, envolto por um nucleocapsídeo icosaédrico de cama- crianças apresenta anticorpos contra pelo menos um sorotipo.
da dupla sem um envelope. O genoma dos rotavírus apresenta
11 segmentos. O vírion contém uma RNA-polimerase RNA-de- Patogênese e imunidade
pendente. Uma polimerase do vírion é requerida, pois as células
Os rotavírus multiplicam-se nas células mucosas do intestino
humanas não possuem uma RNA-polimerase capaz de sintetizar
delgado, resultando no excesso de secreção de líquidos e eletró-
mRNA a partir de um molde de RNA de dupla-fita.
litos no lúmen intestinal. A consequente perda de sais, glicose e
Diversos animais domésticos são infectados por suas pró-
água leva à diarreia. Não ocorre inflamação, e a diarreia é não
prias linhagens de rotavírus, no entanto, esses animais não são
sanguinolenta. Acredita-se que essa diarreia aquosa seja causada
uma fonte de doença humana. Existem pelo menos seis sorotipos
principalmente pela estimulação do sistema nervoso entérico.
de rotavírus humanos. A proteína da superfície externa (também
A virulência de certos reovírus em camundongos foi asso-
conhecida como hemaglutinina viral) é o antígeno tipo-específi-
ciada a proteínas codificadas por diversos segmentos genômicos
co e induz anticorpos protetores.
específicos. Por exemplo, um gene controla o tropismo tecidual,
enquanto outro controla a inibição da síntese de RNA e de pro-
Resumo do ciclo de multiplicação teínas celulares.
Os rotavírus ligam-se à superfície celular no local do receptor A imunidade à infecção por rotavírus é incerta. É prová-
~-adrenérgico. Após a penetração do vírion na célula, a RNA-po- vel que IgA intestinal direcionada contra sorotipos específicos
CAPITULO 40 Vírus de RNA Não Envelopado 329

proteja contra a rei1úecção e que lgA do co)ostro proteja recém· (C} Poliomielite paralítka é a manifestação mais comum de uma
•nascidos atê a idade de 6 meses. infccç-ão por um polio\titus.
(D} Os poliovírus possuem um RNA de fita simples, como seu
genoma e uma polimcrasc no virion, que sintctiz.a o seu
Achados clínicos mRNA.
A infecção por rota,•Irus é. caracterizada por náusea, vômito e (E} A atual recomendação vacinai é administrar a \'3cina vi\·a
diarreia aquosa não sanguinolenta. A gastrenterite é mais grave atenuada nas trés primeiras imunizações, prevenindo que a
em e.danças pequenas, nas quais a desidratação e o desequilíbrio criança atue como rescn:·atório, .seg-..iida de reforços utilizando
a ,•acina inativada.
eletrolítico são uma grande preocupação. Adu1tos gera)mente
apresentam sintomas mais )eves. 2. Um carpinteiro aposentado de 70 anos inscreveu-se em uma orga-
nização voluntária para construir casas cm um pais em dc.senvol\'i·
mento onde a pó!io ainda é endémica ele planeja ficar lá por nove
Diagnóstico laboratorial meses e acha que nunca foi 1,-acinado contra pólio. Qual das seguin-
Embora o diagnóstico da maioria dos casos de gastrenterites tes opções i: a aç-ão mais apropriada?
virais não envolva o laboratório, o diagnóstico pode ser reaJi. (A} Adminisuar soro imune de globulinas (SJG}.
zado por meio da detecção de rotaví..rus nas feus utilizando (B) Administrar a vacina inati\'ada contendo apenas o tipo 3.
radioimunoensaios ou ensaios imunoen2imáticos (ELISA}. (C} Administrar a vacina inati\·ada contendo os tipos L 2 e 3.
Essa abordagem é viáve1, uma vez que. há um grande. núme• (D) Administrar a vacina vi\'3 contendo apenas o tipo 3.
(E} Administrara vacina vi\'3 contendo os tipos L 2 e 3.
ro de partículas virais nas fezes. A primeira demonstração de
rotavirus nas fez.es foi reaHuda pot mictoscopia imunoele· 3, Em relação aos rincr..Crus. qua1 das seguintes opções é a maiscorrcta!
trônica, na qual anticorpos agregam os v{tions. petmitindo a (A} Os rinovírus são uma importante causa de meningite vira) e
sua visualização ao microscópio eletrônico. Essa técnica não é miocardite.
viável pata o uso na prática cUnica diátia. Além da detecção de (B) A ,·acina contra rinovírus é recomendada para todas as crian-
antígenos, o diagnóstico pode ser rea1izado pela observação de ças acima de 2 anos de idade.
(C} Os rinovfrus possuem vários tipos sorológicos, assim. uma
um aumento de quatro vez.es ou mais no título de anticorpos.
pessoa pode apresentar várias infecções causadas por esses
Embora o vfrus possa ser cultivado. esse procedimento não é vírus.
rotineiramente reaHzado. (D) Os rinovirus não são inafü-ados pelo ácido estomacal, portan-
to, eles infectam o trato gastrintestinal superior e são uma das
Tratamento e prevenção causas de diarreia.
(E} Uma importante característica do diagnóstico 1aboratori:a1 dos
Existem duas vacinas disponíveis contra totavCrus. Ambas con-
rino\tirus é a descoberta de efeito citopático cm cuJturas cdu-
têm vítus vivos e são administradas oralmente. Um.a é uma vaci- larcs consistindo de ci:Julas gigantes mu)tinudeadas.
na viva atenuada, a qual contém ape11as o sototipo mais comum
4. Em relação aos norov(rus.. qual entre as seguintes opções é a respos-
(Gl) que causa doença nos Estados Unidos. A outra ê uma vacina ta mais correta?
viva rearranjada, a qual contém cinco cepas de rotavírus. Pacien~
(A} A diarreia é causada por uma cxotoxina q ue aumenta a quanti·
tes c.om história de intuscepção 11ão devem receber nenhuma das dadc de adenosina monofosfato cíclico (AMP ddico}.
vacinas. (B) Não há ncutróftlos ou hemácias nas fezes.
Os cinco rota.vírus na vaciJ\a Rotateq são obtidos pot rear• (C} O ritona\tir, um inibidor de protc.as.e. é o fármaco de escolha
ranjo gênico, em que.o gene para a proteína da superfície.externa para diarreia crónica causada pdos noro\titus.
do rotavfrus humano é insetido em uma linhagem bovina de ro- (D) Ingestão de hambúrg-..ier malcozido é um modo comum de
tavlrus. (Deve..-se mencionar que os rotavfrus aptesentam geno• aquisição de norovfrus, visto que o gado é o principaJ rescr,·a·
ma segmeJ\tado.} A linhagem bovina não é patogênica para seres tório do vírus.
humanos. mas a proteína da superflcie.externa humaJ\a preseJ\te (E} O diagnóstico de diarreia induzida por norovi.rus é geralmen-
no v{rus da vaciJ\a induz a imunidade (lgA} protetota no trato te rcaJizado pela detecção de um aumento de quatro vezes ou
mais no titulo de anticorpos contra o ,i'.ru.s..
gastrintestinal.
Uma vacina aprovada anteriormente foi removida quando S. Em relação aos tota\i'.rus. qual du .seguintes opções i: a mais correta?
uma a1ta taxa de intusc.epção ocorreu nos receptores da vacina. (A} Os rotavíru.s são a principal causa de diat1da nosocomiaJ cm
Medidas higiênicas como despejo apropriado de esgoto e a lava- unidades de tratamento intensi,-o.
gem das mãos são úteis. Não há terapia antivital. (B) A ,·acina contra rota\titus conti:m \'Ííu.s \'h-os atenuados como
imunógcno.
(C} Os rota\tirus possuem um genoma de RNA de fita simples não
segmentado e não possuem uma polimcrasc no vírion.
APLIQUE SEU CONHECIMENTO (D) O diagnóstico de diarreia por rotavírus é gcraJmcnte rcaJizado
pd a detecção de um aumento de quat.to \'ezes ou mais no titu-
1. Em relação aos polio,•írus e à poliomielite, qual das seguintes opções
lo de anticorpos contra o vírus.
é a mais correta!
(E} A diarreia causada por rota1,irus é devida a uma protdna vi-
(A) O polio,i'.ru.s é transmitido principaJmcnte pda via fecaJ-oral. rai que aumenta a libcraç.ão de fgA por vários linfócitos D
(B} Nm·as ,•ariantes antigênicas surgem pela coinfocção com Ji. submucosos.
nhagens animais de polio,•írus.
330 PARTE IV Virologia Clínica

RESPOSTAS QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


1. (A) Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
2. (C) contradas na seção de Virologia Clínica da Parte XIII: Questões
3. (C) para Autoavaliação, a partir da página 703. Consulte também a
4. (B)
Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
5. (B)
na 731.

RESUMOS DOS ORGANISMOS


Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
-se na página 648. Favor consultar esses resumos para uma rápida
revisão do material essencial.
CAPÍ T ULO

Vírus da Hepatite 41
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Vírus da hepatite E (HEV}


Vírus da hepatite A {HAV} Vírus da hepatite G (HGV)
Vírus da hepatite B (HBV) Apliq ue seu conhecimento
Vírus de hepatites não A, não 8 Resumos dos organismos
Vírus da hepatite e (HCV} Questões para autoavaliação
Vírus da hepatite D (HDV, deltavfrus}

INTRODUÇÃO C virus). vírus da hepatite O (HDV, hepatit1's D virus, delta,•irus) e


virus da hepatite E (HEV, hepatitis E vírus) (Tabelas 41-1 e 41-2).
Muitos virus causam hepatite. Destes. cinco vlrus de importâJ\cia Outros vírus. como o v(rus Epstein -Barr (que causa a mononu.
médica são comumente descritos como "'virus da hepatite·: uma deose infec.ciosa). o citomegalov(rus e o virus da febre amareJa.
vez que seu local principal de infecção é o flgado. Os cinco vírus infectam o fígado, mas também infectam outros Jocais do corpo.
são ovfrus d a hepatite A (HAV, hepatitis A vfrus) , v(rus da hepa- e, portam~ não são exclusivamente virus da hepatite. EJes não
tite B (HBV. hepatitis B virus), vlrus da hepatite C (HCV, hefJ"tilis são discutidos neste livro.

TABELA 4 1~1 Glossário dos v írus da hepat ite e seus marcadores sorológ icos

rAb,.,,latura Nome. dffcrlçlo


HAV Vírus da hepatite A. um picornavfrus (vírus de RNA não envelopado)

19M anti·HAV Anticorpo lgM anti·HAV; o melhor teste para detectar a hepatite A aguda
H8V Vírus da hepatite 8, um hepadnavfrus (envelopado, vírus de ONA de flta parcialmente dupla}; também conhecido como
partícula de Dane

H8sAg Antígeno enconttado na supet fície do H8V, tamMm encontrado em partículas não infecciosas no sangue dos pacientes;
positivo durante a fase aguda da doença; a presença continuada indica o estado de portador crônico

antt-H8s Anticorpo anti-H8sAg; fornece imunidade à hepatite 8

H8cAg Antígeno asSOdado ao cerne do H8V

antt-H8c Anticorpo anti-H8cAg; positivo durc1nte a fase de janela imunológica; o H8cAb lgM é um indicador d e doença recente

H8eAg um segundo e diferente determinante antig~nico no cerne do H8V; indicador importante da ttansmissibilidbde

ant;,.HBe Anticorpo para o antígeno e; indica baixa ttansmissibilidbde

NãoA, não8 Os vírus da hepatitequenào sâoHAVnemH8V

HCV Vírus da hepatite C, um flavivírus (vírus de RNA envelopado); um dos vírus naoA, não 8

HOV Vírus da hepatite O, um pequeno vírus de RNA com o envelope H8sAg; vírus defectivo que se multiplica somente em
células infectbdas pelo H8V

HEV Vírus da hepatite t um hepevírus (vírus de RNA não envelopado); um dos vírus não A. não 8
332 PARTE IV Virologia Clínica

TABELA 41-2 Propriedades importantes dos vírus da hepatite

Multiplicação DNA-polimerase HBsAgno


, .
Vírus Genoma defectiva nov1r1on envelope Família virai

HAV RNAfs Não Não Não Picornaviridae

HBV DNAdf1 Não Sim Sim Hepadnaviridae

HCV RNAfs Não Não Não Flaviviridae


2
HDV RNAfs Sim Não Sim Não atribuída (gênero Deltavirus)

HEV RNAfs Não Não Não Hepeviridae

df, dupla-fita; fs, fita simples.


1
DNAdf circular incompleto.
2
RNAfs, circular, senso-negativo.

VÍRUS DA HEPATITE A (HAV) originam-se a partir de fontes comuns, como água e alimentos
contaminados (p. ex., ostras de águas poluídas ingeridas cruas).
Doença Diferentemente do HBV, o HAV é raramente transmitido pelo
O HAV causa a hepatite A. sangue, porque o nível de viremia é baixo e a infecção crônica
não ocorre. Cerca de 50 a 75% dos adultos nos Estados Unidos já
foram infectados, conforme evidenciado pelos anticorpos IgG.*
Características importantes
O HAV é um enterovírus típico, classificado na família Picor- Patogênese e imunidade
naviridae. Ele possui um genoma de RNA de fita simples e um
nucleocapsídeo icosaédrico não envelopado, e multiplica-se no A patogénese da infecção pelo HAV não é completamente conheci-
citoplasma da célula. O HAV é também conhecido como entero- da. O vírus se multiplica, provavelmente, no trato gastrintestinal e é
vírus 72. Há apenas um sorotipo e não há relação antigénica com disseminado até o fígado pelo sangue. Os hepatócitos são infectados,
o HBV ou outros vírus causadores de hepatites. mas o mecanismo pelo qual o dano celular ocorre não está claro. A
infecção pelo HAV em cultivo celular não produz efeito citopático,
e é provável que o dano que ocorre aos hepatócitos seja devido à
Resumo do ciclo de multiplicação
agressão de células T citotóxicas. A infecção é clarificada, o dano é
O HAV possui um ciclo de multiplicação similar ao dos outros reparado e nenhuma infecção crônica se segue. A hepatite causada
enterovírus (o ciclo de multiplicação do poliovírus é discutido por diferentes vírus não pode ser distinguida patologicamente.
no Capítulo 40). A resposta imune consiste, inicialmente, em anticorpos IgM,
os quais são detectados no período em que a icterícia aparece. Por-
Transmissão e epidemiologia tanto, isso é importante no diagnóstico laboratorial da hepatite A.
O aparecimento da IgM precede em 1 a 3 semanas a produção de
O HAV é transmitido pela rota fecal-oral. Os seres humanos
anticorpos IgG, os quais fornecem proteção por toda a vida.
são o reservatório do HAV. Os vírus aparecem subitamente nas
fezes duas semanas antes de os sintomas aparecerem, e a qua-
rentena dos pacientes é ineficaz. As crianças são o grupo mais Achados clínicos
frequentemente infectado, e os surtos ocorrem em ocasiões par- As manifestações clínicas da hepatite são praticamente as mes-
ticulares, como acampamentos de verão e internatos. Os surtos mas, independentemente de qual é o vírus causador (Tabela 41-3).

TABELA41-3 Características clínicas das hepatites virais


Modo de Portador Teste laboratorial normalmente Vacina lmunoglobulinas
A O
Vírus transmissão cronico utilizado para o diagnóstico disponível úteis

HAV Fecal-oral Não lgM HAV Sim Sim

HBV Sangue, sexual, ao nascimento Sim HBsAg, Anti-HBs, Anti-HBc lgM Sim Sim
1
HCV Sangue, sexual Sim Anti-HCV Não Não
1
HDV Sangue, sexual Sim Anticorpos contra o antígeno delta Não Não

HEV Fecal-oral Não Nenhum Não Não

Anti, anticorpo; Ag, antígeno.


1
A transmissão sexual parece provável, mas é pouco documentada.

*N. de R.T. No Brasil, estima-se que 70% da população adulta tenha anti-
corpos contra o HAV, denotando infecção ou contato prévio com o vírus.
CAPÍTULO 41 Vírus da Hepatite 333

Febre, anorexia, náusea, vômito e icterícia são característicos. Uri-


na escura, fezes pálidas e níveis elevados de transaminases são Proteína da
observados. A maioria dos casos se resolve espontaneamente em superfície
~ - - (HBsAg)
t
l
2 a 4 semanas. O HAV tem um curto período de incubação (3 a 4 22
u..u.a;e~=-- Cerne (HBcAg) nm
semanas), ao contrário do HBV, que tem o período de incubação
de 10 a 12 semanas. A maioria das infecções pelo HAV é assinto- 42 i--=~ - DNA genômico -----'-t-----==
nm
mática e é detectada somente pela presença de anticorpos IgG.
Não há hepatite crônica ou estado de portador crônico, e não há
predisposição ao hepatocarcinoma celular. l Partículas de antígeno
de superfície (HBsAg)
n :~ r 1 1

Partícula virai
Diagnóstico laboratorial
A detecção de anticorpos IgM é o teste mais importante. Um au-
mento de quatro vezes no título dos anticorpos IgG pode ser uti-
lizado. O isolamento viral em cultura celular é possível, mas não FIGURA 41-1 Vírus da hepatite B (HBV). Aesquerda: Corte transver-
está disponível no laboratório clínico. sal do vírion de HBV. Adireita: Esferas e filamentos de 22 nm compos-
tos apenas pelo antígeno de superfície do vírus da hepatite B. Como
não há DNA virai nas esferas e nos filamentos, estes não são infeccio-
Tratamento e prevenção sos. (Modificada e reproduzida, com permissão, de Ryan K et ai. Sherris Medical
Não há terapia antivira! disponível. A imunização ativa com Microbiology. 3rd ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright
uma vacina contendo o HAV inativado está disponível. O vírus 1994 McGraw-Hill.)

é multiplicado em células humanas em cultura e inativado com


formalina. Duas doses, uma dose inicial seguida de um reforço 6
contendo um genoma de DNA circular de fita parcialmente du-
a 12 meses mais tarde, devem ser administradas. Nenhuma dose
pla (Figura 41-1 e Tabela 41-2).
de reforço subsequente é recomendada. A vacina é recomendada
O envelope contém uma proteína, chamada de antígeno de
a viajantes para países em desenvolvimento, para crianças de 2 a
superfície (HBsAg), a qual é importante para o diagnóstico labo-
18 anos e para homossexuais do sexo masculino. Se uma pessoa 2
ratorial e para a imunização.
não imunizada necessita viajar para uma área endêmica em um
No interior do cerne há uma DNA-polimerase DNA-de-
período de quatro semanas, deve ser administrada a imunização
pendente. O genoma contém quatro genes (quatro janelas aber-
passiva (ver a seguir) para fornecer proteção imediata, e a vacina
tas de leitura) que codificam cinco proteínas. O gene S codifica o
deve ser administrada, a fim de oferecer proteção de longa dura-
antígeno de superfície; o gene C codifica o antígeno do capsídeo
ção. Esse é um exemplo de imunização passiva-ativa.
e também o antígeno e; o gene P codifica a polimerase; e o gene X
Uma vez que muitos adultos possuem anticorpos anti-HAV,
codifica a proteína X (HBx). A HBx é um ativador da transcrição
pode ser adequado determinar se os anticorpos estão presentes
do RNA viral e pode estar envolvida em oncogênese, já que esta
antes de administrar a vacina. A vacina é também efetiva na pro-
proteína viral pode inativar a proteína supressora de tumor p53
filaxia pós-exposição se administrada em até duas semanas da
(ver Capítulo 43). A DNA-polimerase possui as atividades RNA-
exposição. Uma vacina combinada que imuniza contra HAV e
-dependente (transcriptase reversa) e DNA-dependente.
HBV, denominada Twinrix, se encontra disponível. Twinrix con-
A microscopia eletrônica do soro de pacientes revela três ti-
tém os mesmos imunógenos das vacinas individuais para os dois
pos diferentes de partículas: alguns vírions com 42 nm e muitas
vírus citados.
esferas de 22 nm e filamentos longos de 22 nm de comprimen-
A imunização passiva com soroglobulina imune antes da
to, os quais compõem o antígeno de superfície (Figura 41-2). O
infecção ou no período de 14 dias após a exposição pode prevenir
HBV é o único vírus de seres humanos que produz esferas e fi-
ou suavizar a doença. Observações de higiene apropriada (p. ex.,
lamentos em grande número no sangue dos pacientes. A taxa de
saneamento básico e lavagem das mãos após defecar) são de im-
filamentos e pequenas esferas para os vírions é de 1.000: 1.
portância crucial.
Adicionalmente ao HBsAg, há dois outros antígenos loca-
lizados no cerne do vírus*: o antígeno do capsídeo (HBcAg) e
o antígeno e (HBeAg). O antígeno do capsídeo, como sugerido
VÍRUS DA HEPATITE B (HBV) pelo nome, se localiza no nucleocapsídeo viral e forma o cerne
Doença do vírion, ao passo que o antígeno e é solúvel, sendo liberado
de células infectadas na corrente sanguínea. O antígeno e é um
O HBV é o agente causador da hepatite B. importante indicador de transmissibilidade.
Para fins vacinais, o HBV tem um único sorotipo com base
Características importantes no HBsAg. Entretanto, para fins epidemiológicos, há quatro sub-
O HBV é um membro da família Hepadnaviridae. É um vírion
envelopado de 42 nm, 1 com um cerne de capsídeo icosaédrico 2
0 HBsAg foi conhecido como antígeno Austrália por ter sido primeira-
mente encontrado no soro de um aborígene australiano.
1
Também conhecida como partícula de Dane (denominada a partir do *N. de T. Essa informação está incorreta: o antígeno e (HBeAg) não é en-
nome do cientista que primeiramente publicou uma micrografia eletrô- contrado na partícula viral, mas apenas em células infectadas pelo vírus
nica do vírion). replicante.
334 PARTE IV Virologia Clínica

genoma da célula hospedeira, os quais parecem ser os DNAs que


mantêm o estado de portador crônico. A progênie do HBV com
seu envelope contendo o HBsAg é liberada da célula por brota-
mento através da membrana celular.

Transmissão e epidemiologia
Os três principais modos de transmissão são pelo sangue, duran-
te o intercurso sexual, e de forma perinatal, da mãe para o filho.
A observação de que acidentes com agulhas podem transmitir o
vírus indicam que somente pequenas quantidades de sangue são
necessárias. A infecção pelo HBV é especialmente prevalente em
usuários de drogas intravenosas. O rastreamento do sangue para
a presença do HBsAg tem diminuído de maneira considerável o
3
número de casos de hepatite B associados à transfusão.
FIGURA 41-2 Vírus da hepatite B - micrografia eletrônica. A seta
Entretanto, devido ao fato de a transfusão sanguínea ser um
longa aponta para um típico vírion do vírus da hepatite B. A seta curta
aponta para uma pequena esfera (imediatamente à esquerda da ponta
procedimento moderno, deve haver outra rota natural de trans-
da seta) e para um comprido fi lamento (imediatamente à direita da missão. O HBV pode ser encontrado no sêmen e em fluidos vagi-
ponta da seta), ambas estruturas compostas somente por proteínas de nais, de forma que a transmissão sexual é provavelmente impor-
superfície do vírus da hepatite B. (Figura cortesia de Public Health lmage tante. A transmissão da mãe para o filho durante o parto é outra
Library, Centers for Disease Control and Prevention.) importante rota natural de infecção. A transmissão transplacen-
tária, se ocorrer, é rara. Não há evidência de que a transmissão do
HBV possa ocorrer durante a amamentação.
tipos sorológicos do HBsAg com base no antígeno grupo-espe- Observa-se que os vírus envelopados, como o HBV, são mais
cífico "à' e dois conjuntos de epítopos mutuamente exclusivos, d sensíveis ao ambiente que os vírus não envelopados, e são trans-
ou y e w ou r. Isso leva a quatro sorotipos - adw, adr, ayw e ayr -, mitidos de maneira mais eficiente por contato íntimo (p. ex., con-
os quais são úteis em estudos epidemiológicos, uma vez que estão tato sexual). Os vírus não envelopados, como o HAV, são muito
concentrados em áreas geográficas determinadas. estáveis e são bem transmitidos no ambiente (p. ex., transmissão
A especificidade do HBV para as células do fígado é baseada fecal-oral).
em duas propriedades: receptores vírus-específicos localizados A hepatite B é encontrada em todo o mundo, mas é particu-
na membrana celular dos hepatócitos (facilitam a entrada) e fa- larmente prevalente na Ásia. Mundialmente, mais de 300 milhões
tores de transcrição encontrados somente no hepatócito que au- de pessoas são cronicamente infectadas com o HBV, e cerca de
mentam a síntese de mRNA virai (atuam após a penetração). 75% destas são asiáticos. Há alta incidência de carcinoma he-
Os seres humanos são o único hospedeiro natural do HBV. patocelular (hepatoma) em muitos países asiáticos - um acha-
Não há um reservatório animal. do que indica que o HBV pode ser um vírus tumoral humano
(ver Capítulo 43). A imunização contra o HBV tem reduzido sig-
Resumo do ciclo de multiplicação nificativamente a incidência de hepatoma em crianças. A vacina
Após a entrada do vírion na célula e seu desnudamento, a DNA- para o HBV parece ser a primeira vacina a prevenir o cancer
• • • • A

-polimerase do vírion sintetiza uma parte ausente do DNA, e um humano.


DNA de dupla-fita circular fechado é formado no núcleo. O DNA
serve de molde para síntese de mRNA pela RNA-polimerase ce- Patogênese e imunidade
lular. Após os mRNAs individuais serem produzidos, um grande Após entrar no sangue, o vírus infecta os hepatócitos, e os antíge-
transcrito de polaridade positiva é gerado, o qual é o molde para nos virais são apresentados na superfície das células. Células T ci-
a fita negativa do DNA da progênie. A fita negativa serve, então, totóxicas medeiam um ataque imune contra os antígenos virais, e
como molde para a fita positiva do DNA genômico. A síntese de ocorrem inflamação e necrose. O ataque imune contra antígenos
DNA dependente de RNA catalisada pela transcriptase reversa virais em hepatócitos infectados é mediado por células T citotó-
codificada pelo HBV é realizada no interior do cerne dos vírions xicas. A patogénese da hepatite B é provavelmente o resultado da
recém-montados no citoplasma. A síntese de DNA dependente lesão celular, uma vez que o HBV por si só não induz efeito cito-
de RNA que produz o genoma e a síntese de DNA dependente de
DNA que preenche a porção ausente do DNA logo após a infec-
3
ção da próxima célula são realizadas pela mesma enzima (i.e., o Nos Estados Unidos, o sangue doado é triado para o HBsAg, anticorpos
genoma do HBV codifica uma única polimerase). HBcAg, HCV, HIV-1, HIV-2 e HTLV-1. Dois outros testes também são
Os hepadnavírus são os únicos vírus que produzem DNA ge- realizados, um teste de VD RL para a sífilis e um ensaio de transaminase,
o qual, se elevado, indica dano no fígado e é um marcador substituto para
nômico por transcrição reversa utilizando mRNA como molde.
a infecção viral.*
(Observa-se que esse tipo de síntese de DNA RNA-dependente é
*N. de R.T. No Brasil, os mesmos testes são realizados (para detecção
similar, no entanto apresenta diferenças em relação ao processo de HBV, HCV, HIV, HTLV e sífilis). Atualmente, a legislação brasileira
nos retrovírus, nos quais o RNA genômico é transcrito em um dispensou o teste de transaminases. Diferentemente dos Estados Unidos,
DNA intermediário.) Alguns dos DNAs da progênie integram no um teste para detecção da doença de Chagas também é realizado.
CAPÍTULO 41 Vírus da Hepatit e 335

pático. Os complexos antígeno-anticorpo causam a maioria dos se o HIV for tratado antes do HBV. Isso ocorre devido à "recons-
sintomas precoces (p. ex., artralgias, artrite e urticária) e algumas tituição imune': que ocorre quando o HIV é tratado com suces-
das complicações em hepatites crônicas (p. ex., glomerulonefrite, so, levando ao aumento do dano nos hepatócitos pela restauração
crioglobulinemia e vasculite). das células T citotóxicas competentes. Por essa razão, sugere-se
Cerca de 5% dos pacientes adultos com HBV se tornam que o HBV seja tratado antes de tratar o HIV.
portadores crônicos do vírus. Por outro lado, 90% dos recém -
-nascidos se tornam portadores crônicos quando infectados (ver Diagnóstico laboratorial
a seguir). Um portador crônico é alguém que tem HBsAg per-
sistindo em seu sangue por, no mínimo, seis meses. O estado Os dois testes sorológicos mais importantes para o diagnóstico
precoce da hepatite B são os testes para HBsAg e para anticor-
de portador crônico é atribuído à infecção persistente dos hepa-
pos do tipo IgM contra o antígeno do capsídeo. Ambos surgem
tócitos, que resulta na presença prolongada de HBV e HBsAg no
precocemente no soro do paciente acometido. O HBsAg apare-
sangue. O principal fator a determinar se uma pessoa se cura da
ce durante o período de incubação e é detectado na maioria dos
infecção ou se torna portador crônico é a adequação da resposta
pacientes durante o pródromo e a doença aguda (Figura 41-3).
por células T citotóxicas. O DNA do HBV existe principalmente
Ele cai até níveis indetectáveis durante a convalescença na maio-
como epissomo no citoplasma das células permanentemente in-
ria dos casos; sua presença prolongada (pelo menos seis meses)
fectadas; poucas cópias do DNA do HBV são integradas no DNA
indica o estado de portador e o risco de hepatite crônica e carci-
da célula hospedeira.
noma hepático. Como descrito na Tabela 41-4, o anti-HBs não é
Uma alta taxa de carcinoma hepatocelular ocorre em por-
detectável durante o estado de portador crônico. Observa-se que
tadores crônicos. O gene HBx pode ser um oncogene, uma vez
o anti-HBs está, de fato, sendo produzido, mas não é detectável
que a proteína HBx é capaz de inativar a proteína supressora de
tumor p53 (ver Capítulo 43). Adicionalmente, o carcinoma he- nos testes laboratoriais, uma vez que se liga à grande quantidade
de HBsAg presente no sangue. O anti-HBs também é produzido
patocelular pode decorrer da regeneração celular persistente de
hepatócitos, uma tentativa natural do corpo para substituir os he-
patócitos mortos pela infecção. De forma alternativa, a transfor-
mação maligna pode ser o resultado da mutagênese insercional, Testes diagnósticos importantes

que poderia ocorrer quando o genoma do HBV integra no DNA Período de Pródromo, Convalescença
incubação doença aguda Precoce Tardia
do hepatócito. A integração do DNA do HBV poderia ativar uma
HBsAg Anti- Anti-HBs
oncogênese celular, levando à perda do controle do crescimento. HBsAg (anti-HBc) -HBc (anti-HBc)
O estado de portador crônico é mais provável de se estabele-
cer quando a infecção ocorre em recém-nascidos do que em um A o 1 2 3 4 5 6 7 8
adulto, provavelmente porque o sistema imune do recém-nascido
é menos competente do que o do adulto. Aproximadamente 90% DNA-polimerase / -------- -- - -
dos recém-nascidos infectados se tornam portadores crônicos. Vírions de HBV / Anti-HBc

O portador crônico resultante da infecção neonatal está associa- /


do ao alto risco de carcinoma hepatocelular.
A imunidade por toda a vida ocorre após a infecção natural o
.a
e é mediada pela resposta de anticorpos contra o HBsAg. An- i= Período de janela
ticorpos anti-HBsAg (anti-HBs) são protetores, uma vez que se Anti-HBs
ligam ao antígeno de superfície do vírion, prevenindo sua intera-
ção com os receptores no hepatócito. Em outras palavras, o anti- - - Anti-HBe
-HBs neutraliza a infectividade do HBV. Observa-se que os anti-
corpos contra o antígeno do cerne (anti-HBc) não são protetores,
uma vez que o antígeno do cerne está no interior do vírion e os B o 1 2 3 4 5 6 7 8
Meses após exposição
anticorpos não podem interagir com ele.
Transaminases
elevadas
Achados clínicos
1 Sintomas 1
e
Muitas infecções pelo HBV são assintomáticas e são detectadas
somente pela presença de anticorpos ao HBsAg. O período mé- FIGURA 41-3 A: Testes diagnósticos importantes durante os vários
dio de incubação para a hepatite B é de 10 a 12 semanas, o qual é estágios da hepatite B. B: Achados sorológicos em um paciente com
muito mais longo que o da hepatite A (3-4 semanas). A aparência hepatite B aguda. C: Duração da atividade aumentada de enzimas he-
páticas e dos sintomas em um paciente com hepatite B aguda. Anti-
clínica da hepatite B aguda é similar à da hepatite A. Entretanto,
-HBc, anticorpo contra o capsídeo do vírus da hepatite B; anti-HBe, an-
em relação à hepatite B, os sintomas tendem a ser mais graves, e
ticorpo contra o antígeno e do vírus da hepatite B; anti-HBs, anticorpo
hepatite com risco de vida pode ocorrer. A maioria dos porta- contra o antígeno de superfície do vírus da hepatite B; HBeAg, antí-
dores crônicos é assintomática, mas alguns apresentam hepatite geno e do vírus da hepatite B; HBsAG, antígeno de superfície do vírus
crônica ativa, que pode levar à cirrose e à morte. da hepatite B; HBV, vírus da hepatite B. (Modificada e reproduzida, com
Pacientes coinfectados com HBV e vírus da imunodeficiên- permissão, de Hollinger FB, Dienstag JL. Hepatitis viruses: ln: Lennette EH et ai.,
cia humana (HIV) podem apresentar dano hepático aumentado eds. Manual ofClinicai Microbiology. 4th ed. Washington, DC: ASM Press; 1985.)
336 PARTE IV Virologia Clínica

TABELA 41-4 Resultados dos testes sorológicos em quatro estágios da infecção pelo HBV

Teste Doença aguda Fase de janela Recuperação completa Estado de portador crônico

HBsAg Positivo Negativo Negativo Posit ivo


1
Anti-HBs Negat ivo Negat ivo Positivo Negativo
2
Ant i-HBc Posit ivo Positivo Positivo Positivo
1
Portadores crônicos possuem test e de ant icorpos negat ivos, mas o Ant i-HBs é prod uzido nesses ind ivíduos. Ele é ind etect ável nos testes, uma vez q ue se liga à grande
quantidade de HBsAg present e no p lasma. Eles não são tolerant es ao HBsAg.
2
A lgM é encont rada no estág io agudo; a lgG é encont rada nos estág ios subseq uentes.
Observação: pessoas imun izadas com a vacina para HBV possuem Ant i-HBs, mas não Ant i-HBc, pois o imunógeno vacina i é o HBsAg purificado.

durante o estado agudo da doença, mas não é detectável, uma vez Prevenção
que está ligado a complexos antígeno-anticorpo.
A prevenção envolve o uso da vacina, da globulina hiperimune
Observa-se que há um período de muitas seman as após o
ou de ambas.
desaparecimento de HBsAg em que o Anti-HBs ainda não é de-
tectável. Essa é a fase de janela imunológica. Neste momento, (1) A vacina contém o HBsAg produzido em leveduras pela
o Anti-HBc é sempre p ositivo e pode ser utilizado para esta- tecnologia do DNA recombinante. A vacina é altamente efetiva na
belecer o diagn óstico. O Anti-HBc está presente em pacientes prevenção da hepatite B e tem poucos efeitos colaterais. A taxa de
que apresentam infecção aguda ou crônica, bem como nos que soroconversão é de aproximadamente 95% em adultos saudáveis. A
se recuperaram da infecção aguda. Portanto, o Anti-HBc n ão vacina é indicada para pessoas que são frequentemente expostas ao
p ode ser utilizado para distinguir entre infecção aguda e infec- sangue e seus derivados, como profissionais da saúde (p. ex., estu-
ção crônica. A forma IgM do Anti-H Bc está presente durante a dantes de medicina, cirurgiões e dentistas), pacientes que são sub-
infecção aguda e desaparece aproximadamente seis meses após metidos a múltiplas transfusões ou diálise, pacientes com doenças
a infecção. O teste para o HBcAg não está prontamente disp oní- sexualmente transmissíveis frequentes e usuários de drogas ilegais
vel. A Tabela 41-4 descreve os resultados dos testes sorológicos injetáveis. Viajantes que planejam longa estadia em áreas endêmi-
que caracterizam os quatro imp ortantes estágios da infecção cas, como muitos países da Ásia e da África, devem ser vacinados. O
pelo HBV. U.S. Public Health Service recomenda que todos os recém-nascidos
O HBeAg surge durante o período de in cubação e está e os adolescentes recebam a vacina.*
presente durante o pródromo e a doen ça aguda precoce e em Atualmente, doses de reforço após o regime das três doses
certos portadores crônicos. Sua presen ça indica alta probabi- iniciais são recomendadas. Entretanto, se os títulos de anticor-
lidade de transmissão, porém, em contrapartida, o ach ado do pos declinarem em pacientes imunizados que estão sob alto risco,
Anti-HBe indica baixa probabilidade de transmissão, embora como os pacientes dialisados, então uma dose de reforço deve ser
esta ain da possa ocorrer. A atividade da DNA-polimerase é considerada.
detectável durante o período de incubação e precocemente n a A imunização com a vacina do HBV muito difundida tem
doença, mas o ensaio não está disponível n a maioria dos labo- reduzido significativamente o carcinoma hepatocelular em crian -
ratórios clínicos. ças. Uma vacina que contém o HBsAg e o HAV inativado fornece
A detecção do DNA viral (carga virai) no soro é uma forte proteção contra a hepatite B e a hepatite A.
evidên cia de que vírus infeciosos estão presentes. A redução da (2) A globulina hiperimune anti-hepatite B (HBIG) contém
carga viral em pacientes com hepatite B crônica é utilizada para alto título de HBsAb. Ela é utilizada para fornecer proteção passiva
monitorar o sucesso da terapia antiviral. imediata aos indivíduos com exposição conhecida ao sangue HB-
sAg-positivo (p. ex., após ferimento acidental com agulhas). A reco-
Tratamento mendação precisa para o uso da vacina para o HBV e da HBIG vão
além do escopo deste livro. Entretanto, a recomendação em relação
Nenhuma terapia antiviral, em geral, utilizada no caso da hepa-
a uma preocupação comum entre os estudantes de medicina, o feri-
tite B aguda. No caso da hepatite B crônica, por outro lado, o
mento acidental com agulha de um paciente HBsAg positivo, é que
entecavir ou o ten ofovir são os fármacos de escolha. Estes são
a vacina e a HBIG podem ser administradas (em locais separados).
análogos de nucleosídeos que inibem a atividade da transcriptase
Isso é verdadeiro se o sangue do paciente for HBeAb-positivo.
reversa do HBV. O interferon em sua forma peguilada (pegin-
terferon a-2a - Pegasys) também é utilizado. Outros análogos de A vacina e a HBIG podem ser administradas a um recém -
nucleotídeo como a lamivudina (Epivir-HBV), o adefovir e a tel- -nascido cuja mãe é HBsAg-positiva. Esse regime é bastante efeti-
bivudina são utilizados com menor frequência. Uma combinação vo na redução da taxa de infecção em recém -nascidos cujas mães
de tenofovir e emtricitabina é também utilizada. são portadoras crônicas do HBV. O regime composto pela vacina
Estes fármacos reduzem a inflamação hepática a diminuem acrescida de HBIG em pacientes com ferimentos por agulhas e
a carga viral do HBV em pacientes com hepatite B crônica ativa.
Nem o interferon ou os análogos de nucleosídeo curam a infec-
ção pelo HBV. Em muitos pacientes, quando é suspendido o uso *N. de R.T No Brasil, a vacina faz parte do Programa Nacional de Imu-
nizações, e é administrada gratuitamente em três doses: ao nascer, no 1°
do fármaco, a multiplicação do HBV retorna.
mês e no 6° mês de vida.
CAPÍTU LO 41 Vírus da Hepatite 337

em recém -nascidos é um bom exemplo de imunização passiva- -RNA atua aum entando a síntese do mRNA do HCV. (Micro-
-ativa, em que tanto a proteção imediata quanto a proteção de -RNAs são conhecidos por potencializar a síntese de mRNA em
longa duração são fornecidas. muitos tecidos.) Em 2013, um teste clínico utilizando um nucleo-
A efetividade do parto realizado por meio de cesariana com tídeo antissenso que se liga ao miR- 122 e bloqueia sua atividade
o objetivo de reduzir a infecção de recém-nascidos pelo HBV é in- demonstrou a redução prolongada dos níveis de RNA do HCV em
certa. Atualmente, não se recomenda esse procedimento. A ama- pacientes infectados.
mentação de recém -nascidos imunizados por mães portadoras de
hepatite B cônica gera pouco risco de infecção para a criança. Transmissão e epidemiologia
Todas as transfusões de sangue devem ser triadas para o
Os seres humanos são o reservatório do HCV. Ele é transmitido
HBsAg. Nenhum paciente com história de hepatite (de qualquer
tipo) deve doar sangue, uma vez que vírus não A, não B podem principalmente pelo sangue. Atualmente, o uso de drogas injetáveis
responde por quase todas as novas infecções por HCV. A transmis-
estar presentes. A triagem de populações de alto-risco para se de-
são da mãe para o filho durante o parto é outro modo de transmis-
tectar portadores crônicos por meio de métodos sorológicos deve
são bastante comum. A transmissão via transfusão de sangue rara-
ser realizada, pois a identificação e o tratamento de portadores
mente acontece, uma vez que o sangue doado contendo anticorpos
poderá reduzir a transmissão do vírus.
anti-HCV é descartado. A transmissão via ferimento acidental com
agulha ocorre, mas o risco é mais baixo que para o HBV. A trans-
missão sexual é incomum e não há evidências de transmissão por
VÍRUS DE HEPATITES NÃO A, NÃO B
meio da placenta ou durante o aleitamento materno.
O termo ((hepatite não A, não B" foi criado para descrever os ca- O HCV é o patógeno transmitido pelo sangue mais pre-
sos de hepatite para os quais os testes sorológicos existentes ha- valente nos Estados Unidos.* (Dados epidem iológicos nos
viam descartado todas as causas virais conhecidas. O termo não Estados Unidos demonstram que o HCV está abaixo do H IV e
é frequentemente utilizado porque a principal causa de hepatite do HBV em termos de transmissão pelo sangue, mas estima-se
não A, não B, o HCV, foi identificada. Além disso, HDV e HEV que o H CV é realmente o mais prevalente.) Aproximadamente
tam bém foram descritos. Experimentos de proteção cruzada in- 4 m ilhões de pessoas nos Estados Unidos (1-2% da população)
dicam que existem outros vírus de hepatite adicionais. são cronicamente infectadas com o HCV.** Diferentemente do
vírus da febre amarela, outro flavivírus que infecta o fígado e é
transmitido por mosquitos, não há evidência de um inseto-vetor
VÍRUS DA HEPATITE C (HCV) para o HCV. Em todo o mundo, é estimado que 180 milhões de
pessoas sejam infectadas com o HCV.
Doença Muitas infecções são assintomáticas, assim, a busca de an -
O H CV causa a hepatite C. ticorpos contra o HCV em indivíduos pertencentes a grupos de
risco deve ser conduzida. Adicionalmente, a triagem daqueles
Características importantes indivíduos que nasceram entre os anos de 1945 e 1965 deve ser
feit a, uma vez que este grupo apresenta altas taxas de infecção.
O HCV é um m embro da família Flaviviridae. Ele é um vírion Nos Estados Unidos, cerca de 1% dos candidatos à doação de
envelopado, contendo um genoma de RNA de fita simples, de po- sangue possui anticorpos anti-HCV. Pessoas que compartilham agu-
laridade positiva. O vírion não possui uma polimerase. lhas ao injetar drogas intravenosas são infectadas com frequência.
O HCV possui pelo menos seis genótipos e múltiplos sub- As preparações comerciais de imunoglobulinas são, em geral, segu-
genótipos baseados nas diferenças entre os genes que codificam ras, mas muitos casos de transmissão do HCV têm ocorrido. Esse é
uma das duas glicoproteínas do envelope. Essa variação genética o único exemplo de uma doença infecciosa capaz de ser transmitida
resulta em uma região ''hipervariável" na glicoproteína do en-
por meio de preparações comerciais de imunoglobulinas.
velope. A variabilidade é devida à alta taxa de mutação no gene
do envelope, aliada à ausência de atividade de correção na RNA-
-polimerase codificada pelo vírus. Como resultado, muitas su- Patogênese e imunidade
bespécies (quase espécies) frequentemente ocorrem no sangue de O HCV infecta principalmente os hepatócitos, mas não há evidên-
um indivíduo ao mesmo tempo. Os genótipos la e l b são os mais cias de que o vírus induza efeitos citopáticos nas células hepáticas.
comuns nos Estados Unidos. Em vez disso, a morte dos hepatócitos é provavelmente causada
pelo ataque imune das células T citotóxicas. A infecção pelo HCV
Resumo do ciclo de multiplicação predispõe fortemente ao carcinoma hepatocelular, embora não
haja evidência para um oncogene no genoma viral ou para inserção
A multiplicação do HCV é incerta porque ele não foi multipli- de uma cópia do genoma viral no DNA das células cancerígenas.
cado em cultivo celular. Outros flavivírus multiplicam-se no ci-
toplasma e traduzem o seu genoma de RNA em grandes poli-
*N. de R.T. No Brasil, os dados são escassos, mas estima-se que o H IV e o
proteínas, a partir das quais as proteínas funcionais são clivadas
HBV ainda são mais prevalentes que o HCV como patógeno transmissí-
por uma protease codificada pelo vírion. Essa protease é o alvo
vel por meio do sangue. A este grupo adiciona-se ainda o HTLV, uma vez
de uma potente terapia anti-H CV (ver a seção de tratamento). É que o país apresenta a maior prevalência mundial deste vírus.
provável que o HCV se multiplique seguindo esse modelo. **N. de R.T. O Brasil é considerado pela Organização Mundial da Saúde
A replicação do HCV no fígado é intensificada por um mi- como um país de endemicidade intermediária para a hepatite C. Estima-se
croRNA específico do fígado denominado miR-122. Esse micro- que a prevalência das infecções por HCV no Brasil seja em torno de 2,5%.
338 PARTE IV Virologia Clínica

O alcoolismo intensifica consideravelmente a taxa de car- ensaio baseado na reação em cadeia da polimerase para detectar
cinoma hepatocelular em indivíduos infectados pelo HCV Esse a presença do RNA viral (carga virai) no soro do paciente deve
fato suporta a ideia de que o câncer é causado pelo dano pro- ser realizado, a fim de determinar se uma doença ativa existe. A
longado ao fígado e pela consequente rápida taxa de crescimen- redução da carga viral em pacientes com hepatite C é utilizada
to dos hepatócitos, como tentativa de regeneração, em vez de como ferramenta para se monitorar o sucesso da terapia antivira!.
ser causado por um efeito oncogênico direto do H CV Suporte O isolamento do vírus de espécimes do paciente não é realizado.
adicional para essa ideia é a observação de que pacientes por- Uma infecção crônica é caracterizada por níveis elevados de tran-
t adores de cirrose de qualquer etiologia, não somente cirrose saminase, RIBA positivo e RNA detectável por um período mí-
alcoólica, têm risco aument ado de carcinoma h epatocelular. nimo de seis meses.
(Um estudo de 1998, no qual há a possibilidade de a proteín a
do cerne do HCV causar carcinoma hepatocelular em camun- Tratamento
dongos, pode levar a uma melhor compreensão da oncogênese
O tratamento da hepatite C aguda com interferon a peguilado
pelo HCV)
diminui significativamente o número de pacientes que se tor-
Anticorpos contra o HCV são produzidos, mas aproxima-
nam portadores crônicos do vírus. O tratamento de escolha
damente 75% dos pacientes são cronicamente infectados e con-
para a hepatite C crônica é uma combinação de interferon a-2a
tinuam a produzir vírus por pelo menos um ano. (Observa-se
que a taxa de portadores crônicos do HCV é muito mais alta peguilado, ribavirina e um in ibidor de protease (ver o próxi-
que a de portadores crônicos do HBV.) A hepatite crônica ativa mo parágrafo). O interferon peguilado consiste do interferon
e a cirrose ocorrem em aproximadamente 10% desses pacientes. a conjugado ao polietileno glicol. O polietileno glicol aumenta
significativamente a meia-vida do interfetron a. Em alguns pa-
No caso de pacientes que se curam da infecção, não se sabe se a
cientes, o trat amento reduz de forma significativa a replicação
reinfecção ocorre ou se a imunidade continua por toda a vida.
viral, fazen do com que o RNA viral (carga viral) se torne inde-
tectável. O genótipo 1 do HCV é menos responsivo ao interferon
Achados clínicos e à ribavirina que os genótipos 2 e 3. Como resultado, pacientes
Clinicamente, a infecção aguda pelo HCV é mais branda em rela- infectados com o genótipo 1 são tratados por 12 meses, ao passo
ção à infecção pelo HBV Febre, anorexia, náusea, vômito e icte- que os infectados com os genótipos 2 e 3 são tratados, em geral,
rícia são comuns. Urina escura, fezes pálidas e níveis elevados de por seis meses.
transaminases são observados. A adição de um inibidor de protease, boceprevir, simepre-
A hepatite C assemelh a-se à hepatite B na medida em que vir ou telaprevir, à combinação do interferon peguilado e riba-
a doença crônica do fígado que se segue, a cirrose, e a predispo- virina melhorou significativamente a duração da suspensão da
sição ao carcinoma hepatocelular são preocupantes. Observa-se replicação do HCV do genótipo 1.
que o estado de portador crônico ocorre mais frequentem ente na Em 2013, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou
infecção pelo HCV que pelo HBV A biópsia de fígado é, muit as o uso do sofosbuvir para o tratamento da infecção crônica pelo
vezes, realizada em pacientes com infecção crônica para avaliar HCV causada pelos genótipos 1, 2, 3 e 4. O fármaco consiste em
a extensão do dano no fígado e para guiar as decisões no trata- um análogo de uridina que inibe a ação da RNA-polimerase do
mento. Muitas infecções pelo HCV são assintomáticas, incluin- HCV. O sofosbuvir é efetivo se utilizado isoladamente ou em
do as infecções agudas e crônicas, e são detectadas somente pela combinação com ribavirin, mas não requer o uso de interferon.
presença de anticorpos. O período de incubação médio é de oito
semanas. A cirrose resultante da infecção crônica pelo HCV é a Prevenção
indicação m ais comum para transplante de fígado.
A infecção pelo HCV leva a reações autoimun es significa- Não há vacina, e globulinas hiperimunes não estão disponíveis.
tivas, incluindo vasculite, artralgia, púrpura e glomerulonefrite Globulinas de soro imune em forma de pool não são úteis para
mem branoproliferativa. O HCV é a principal causa de crioglobu- profilaxia pós-exposição. Não existe indicação efetiva para a pro-
linemia mista essencial. Os crioprecipitados são, em geral, com- filaxia após um ferimento acident al com agulha; somente o mo-
postos por antígenos de HCV e anticorpos. nitoramento é recom endado.
O sangue com anticorpos anti-HCV é descartado - um
procedimento que tem prevenido praticamente todas as infec-
Diagnóstico laboratorial ções pelo HCV via transfusão desde 1994, quando a testagem foi
A infecção pelo HCV é diagnosticada por meio da detecção iniciada. Recomenda-se a pesquisa de anticorpos anti-HCV em
de anticorpos contra H CV em um ensaio im unoenzim ático indivíduos nascidos nos Estados Unidos entre os anos de 1945 e
(ELISA). O antígeno no ensaio é uma proteína recombinante for- 1965, pois pessoas neste grupo apresent am altas t axas de infec-
mada por três proteínas do HCV imunogenicamente estáveis, e ção. O tratamento daqueles que são anticorpo-positivos ajuda a
não inclui as proteínas do envelope, altamente variáveis. O teste reduzir a transmissão do vírus.
não distingue entre IgM e IgG, assim como não distingue entre Pacientes com infecção crônica pelo HCV devem ser adver-
infecção aguda, crônica ou resolvida. tidos para reduzir ou eliminar o consumo de bebidas alcoólicas
Com o resultados falso-positivos podem ocorrer no teste a fim de diminuir o risco de carcinoma hepatocelular e cirrose.
de ELISA, um ensaio imunológico recombinante (RIBA, recom- Pacientes com infecção crôn ica pelo HCV e cirrose devem ser
binant immunoblot assay) deve ser realizado com o teste confir- m onitorados com testes para a a-fetoproteína e ultrassonografias
matório. Se os resultados no teste de RIBA forem positivos, um de fígado para detectar carcinomas no estágio precoce. Pacientes
CAPÍTULO 41 Vírus da Hepatite 339

com falha renal devida à infecção pelo HCV podem receber o Transmissão e epidemiologia
transplante de fígado, mas a infecção do enxerto com HCV ge-
O HDV é transmitido das mesmas maneiras que o HBV (i.e., se-
ralmente ocorre.
xualmente, por contato com sangue e durante o nascimento).
Para pacientes coinfectados com HCV e HIV, deve ser pres-
Nos Estados Unidos, a maioria das infecções por HDV ocorre
crita a HAART (terapia antirretroviral altamente ativa highly ac-
em usuários de drogas intravenosas que compartilham agulhas.
tive antiretroviral therapy) com precaução, uma vez que a recupe-
Infecções pelo HDV ocorrem em todo o mundo, com distribui-
ração da imunidade celular (reconstituição imune) pode resultar
ção similar à das infecções pelo HBV.
em exacerbação da hepatite. Deve-se considerar o tratamento da
infecção pelo HCV antes de iniciar a HAART.
Patogênese e imunidade
É provável que a patogênese da hepatite causada por HDV e HBV
VÍRUS DA HEPATITE D seja a mesma (i.e., os hepatócitos infectados pelo vírus são danifi-
(HDV, DELTAVÍRUS} cados pelas células T citotóxicas). Há evidência de que o antígeno
delta seja citopático para os hepatócitos.
Doença Anticorpos IgG antiantígeno delta não são detectados por
O HDV causa hepatite D (hepatite delta). longos períodos após a infecção; é, portanto, incerto se a imuni-
dade de longo prazo para o HDV existe.
Propriedades importantes e
Achados clínicos
ciclo de multiplicação
Devido ao HDV poder se replicar somente em células também in-
O HDV não é comum, uma vez que é um vírus defectivo (i.e.,
fectadas com o HBV, a hepatite delta pode ocorrer somente em uma
não se replica sozinho, pois não possui o gene codificador da
pessoa infectada com o HBV. Um indivíduo pode ser infectado por
proteína do envelope). O HDV só pode se replicar em células
HDV e HBV ao mesmo tempo (i.e., ser "coinfectado") ou ser previa-
também infectadas pelo HBV, uma vez que utiliza os antígenos
mente infectado pelo HBV e, então, "superinfectado" com o HDV.
de superfície do HBV (HBsAg) como sua proteína de envelope. O
A hepatite em pacientes coinfectados com o HDV e o HBV
HBV é, portanto, o vírus auxiliar para HDV (Figura 41 -4).
é mais grave que nos infectados somente com o HBV, mas a in-
O HDV é um vírus envelopado com um genoma de RNA
cidência de hepatite crônica é aproximadamente a mesma de pa-
circular, covalentemente fechado, de fita simples e polaridade
cientes infectados somente com HBV. Entretanto, a hepatite em
negativa. O RNA do HDV é muito pequeno e codifica somente
portadores crônicos que se tornam superinfectados com HDV é
uma proteína, a proteína interna do cerne, chamada de antígeno
muito mais grave, e a incidência de hepatite fulminante, hepatite
delta. O RNA genômico do HDV não possui nenhuma sequência
com risco de vida, hepatite crônica e insuficiência hepática é sig-
homóloga ao DNA genômico do HBV. O HDV não possui uma
nificativamente mais alta.
polimerase no vírion; o genoma de RNA é replicado e transcrito
pela RNA-polimerase da célula hospedeira. O genoma do RNA
do HDV é uma "ribozimà' (i.e., ele possui a habilidade de realizar Diagnóstico laboratorial
autoclivagem e autoligação - propriedades que são empregadas O diagnóstico da infecção pelo HDV no laboratório é feito pela
durante a replicação do genoma). O HDV se multiplica no nú- detecção do antígeno delta ou de anticorpos IgM contra o antíge-
cleo, mas as especificidades do ciclo replicativo são complexas e no delta no soro dos pacientes.
estão além do escopo deste livro.
O HDV possui somente um sorotipo porque o HBsAg tem Tratamento e prevenção
somente um sorotipo. Não há evidência da existência de um re-
servatório animal para o HDV. O interferon a peguilado pode mitigar alguns dos efeitos da hepa-
tite crônica causada pelo HDV, mas não elimina o estado de por-
tador crônico. Não há terapia antivira! específica contra o HDV.
Não há, também, vacina contra o HDV, no entanto, uma pessoa
imunizada contra o HBV não será infectada pelo HDV, uma vez
que o HDV não se replica na ausência da infecção pelo HBV.

VÍRUS DA HEPATITE E (HEV}


----:;F;:"--,;;;;f-- - Antígeno delta O HEV é uma importante causa de hepatites transmitidas via
(cerne proteico) fecal-oral. Imagina-se que seja mais comum que o HAV em mui-
tos países em desenvolvimento. Ele é uma causa comum de epi-
demias de hepatite transmitida pela água na Ásia, na África, na
FIGURA 41-4 Vírus da hepatite D. Observe que o antígeno de su-
Índia e no México, mas é incomum nos Estados Unidos.* O HEV
perfície do vírus da hepatite B (HBsAg) forma o envelope externo.
O genoma consiste em uma molécula de RNA circular. (Modificada e
reprod uzida, com permissão, de Ryan K et ai. Sherris Medical Microbiology. 3rd ed. *N. de R.T. É também incomum no Brasil, sendo apenas a quinta hepatite
Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1994 McGraw-Hill.) viral mais frequente (depois das hepatites A, B, C e D, respectivamente).
340 PARTE IV Virologia Clínica

é um vírus não envelopado de RNA de fita simples, classificado 3. Uma mulher positiva para o antígeno de superfície do vírus da he-
como membro da família Hepeviridae, gênero Hepevirus. Clini- patite B (HBsAg) e negativa para o anticorpo contra este antígeno
camente, a doença assemelha-se à hepatite A, com exceção da (anti-HBs) acabou de dar à luz a uma criança. Qual das seguintes
alta taxa de mortalidade em mulheres grávidas. A doença crônica opções é o procedimento mais apropriado a ser feito em relação ao
recém-nascido?
do fígado não ocorre, e não há estado de portador prolongado.
O teste para anticorpos anti-HEV não está prontamente dis- (A) Nenhum. A criança está protegida contra a hepatite B.
(B) Imunizar com a vacina contendo o HBsAg (vacina HBV).
ponível; o diagnóstico é, portanto, feito pela exclusão do HAV e
(C) Administrar a globulina hiperimune anti-hepatite B (HBIG).
outras causas. Não há tratamento antivira! disponível e nenhu-
(D ) Administrar a vacina e a HBIG.
ma vacina. Em 2007, uma vacina recombinante contra o HEV
4. Em relação ao vírus da hepatite B (HBV) e à doença hepatite B, qual
apresentou segurança e efetividade em testes clínicos, mas até o
das seguintes opções é a mais correta?
momento da escrita deste livro ela ainda não estava disponível.
(A) O indicador mais confiável de que a pessoa pode transmitir o
HBV é a presença do HBsAg no sangue.
(B) O HBV tem um DNA de fita parcialmente dupla como geno-
VÍRUS DA HEPATITE G (HGV) ma e possui uma DNA-polimerase no vírion.
Em 1996, o vírus da hepatite G (HGV) foi isolado de pacientes (C) Profissionais da área da saúde que sofreram uma picada de
com hepatite pós-transfusional. O HGV é um membro da famí- agulha enquanto tiravam sangue de uma pessoa com hepatite
B devem receber aciclovir.
lia Flaviviridae, como o H CV. Entretanto, de maneira distinta do
(D ) A infecção pelo HBV induz anticorpos anti-HBc (antígeno do
HCV, que é claramente a causa da hepatite aguda e da hepatite
cerne), os quais protegem a pessoa de uma segunda infecção
crônica ativa, e predispõe ao carcinoma hepatocelular, o HGV pela mesma amostra de HBV.
não foi documentado como causa de nenhum desses achados (E) Uma pessoa na "fase de janela imunológica" pode ser diag-
clínicos. O papel do HGV como causador de doença no fígado nosticada como tendo sido infect ada pelo HBV se os anti-
ainda precisa ser estabelecido, mas se sabe que ele pode causar corpos contra o antígeno de superfície (HBsAg) estiverem
infecção crônica com duração de décadas. Aproximadamente 60 presentes.
a 70% dos pacientes infectados eliminam o vírus e desenvolvem 5. Em relação ao vírus da hepatite C (HCV), qual das seguintes opções
anticorpos. é a mais correta?
O HGV é transmitido na relação sexual e pelo sangue. Ele (A) A infecção crônica com o HCV predispõe ao carcinoma hepa-
é carreado no sangue de milhões de pessoas em todo o mundo. tocelular.
Nos Estados Unidos, ele é encontrado no sangue de aproximada- (B) O HCV é um vírus defectivo que requer a infecção concorren-
mente 2% dos candidatos aleatórios à doação de sangue, 15% dos te do HBV para se multiplicar.
infectados com HCV e 35% dos infectados com HIV. Pacientes (C) A infecção crônica pelo HCV ocorre menos frequentemente
coinfectados com HIV e HGV têm baixa taxa de mortalidade e que a infecção crônica pelo HBV.
(D ) A vacina inativada contra o HCV é pouco imunogênica, então
menos HIV em seu sangue do que os infectados somente com
doses de reforço devem ser administradas pelo menos a cada
HIV. Sugeriu-se que o HGV pode interferir na multiplicação do
cinco anos.
HIV. (O HGV é também conhecido como vírus GB-C.)
(E) Saneamento básico adequado reduz significativamente a inci-
dência de hepatite e.
6. Em relação ao vírus da hepatite D (HDV), qual das seguintes opções
APLIQUE SEU CONHECIMENTO é a mais correta?

1. Um surto de icterícia ocorreu em muitas crianças de uma mesma (A) O uso do interferon a pode erradicar o estado de infecção la-
creche. Se o surto tiver sido causado por um vírus, qual das seguin- tente estabelecido pelo HDV.
tes opções é a causa mais provável? (B) A imunização contra o HBV reduzirá a incidência da hepatite
causada pelo HDV.
(A) Vírus da hepatite A.
(C) O HDV possui DNA como genoma e uma DNA-polimerase
(B) Vírus da hepatite B.
dependente de RNA em seu vírion.
(C) Vírus da hepatite C.
(D ) O diagnóstico laboratorial da infecção pelo HDV é feito pela
(D ) Vírus da hepatite D.
multiplicação do HDV em células coinfectadas pelo HBV.
2. Em relação ao vírus da hepatite A (HAV), qual das seguintes opções (E) Muitas infecções pelo HDV ocorrem em creches, em crianças
seria a afirmação mais correta? na fase de fralda, porque o vírus é transmitido principalmente
(A) A vacina do HAV contém vírus vivo atenuado como imunóge- via fecal-oral.
no. 7. Seu paciente é um homem de 35 anos que reclamou que o branco
(B) A testagem do sangue para a transfusão reduz grandemente a dos seus olhos tinha se tornado amarelo. Após coletar a história e fa-
disseminação pelo HAV. zer um exame físico, você pediu testes sorológicos para determinar
(C) O diagnóstico é geralmente feito por testes sorológicos e não se ele tem hepatite viral. Com base nos resultados, você disse que ele
pelo cultivo virai. tem uma forma branda de hepatite que não causa danos graves para
(D ) Episódios múltiplos de hepatite A são comuns uma vez que o fígado. Sua conclusão é baseada no resultado positivo de qual dos
essa doença possui três sorotipos. seguintes testes?
(E) O vírus apresenta um genoma de RNA de fita simples, seg-
(A) Anticorpos antivírus da hepatite C.
mentado e de polaridade positiva, e também uma RNA-poli-
(B) Antígeno de superfície da hepatite B.
merase no vírion.
(C) Antígeno da hepatite delta.
(D ) Anticorpos IgM antivírus da hepatite A.
CAPÍTULO 41 Vírus da Hepatite 341

8. Sua paciente é uma mulher de 20 anos com hepatite B crônica que RESPOSTAS
foi diagnosticada por detecção de antígeno de hepatite B em seu
sangue mais de seis meses após ter apresentado hepatite aguda. 1. (A)
Qual das seguintes opções é a melhor escolha de fármaco para tratar 2. (C)
a hepatite B crônica? 3. (D)
(A)
4. (B)
Aciclovir.
(B) Foscarnete. 5. (A)
(C) 6. (B)
Entecavir.
(D)
7. (D)
Ritonavir.
(E) Zidovudina. 8. (C)
9. (C)
9. Seu paciente é um homem de 27 anos com um histórico de uso de
drogas intravenosas e que foi diagnosticado com hepatite C crônica.
Ele é negativo para anticorpos anti-HIV. Qual das seguintes opções
é a melhor escolha de fármacos para tratar a hepatite C crônica? RESUMOS DOS ORGANISMOS
(A) Aciclovir e foscarnete. Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
(B) Ganciclovir e enfuvirtida. -se na página 648. Favor consultar esses resumos para uma rápida
(C) Interferon peguilado e ribavirina. revisão do material essencial.
(D) Zidovudina e lamivudina.
(E) Zidovudina e ritonavir.

QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
contradas na seção de Virologia Clínica da Parte XIII: Questões
para Autoavaliação, a partir da página 703. Consulte também a
Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
na 731.
CAPÍT U LO

42 Arbovírus
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Vírusda febre do carrapato do Colo,ado


Caracteristicas importantes Vírusdo Oeste do Nilo
Transmissão Importantes arbovírus que causam doenças principalmente
Achados clínicos e epidemiologia fora dos Estados Unidos
Arbovírus que causam doenças nos Estados Unidos Vírus da febre amacela

Vírusda encefalite equina oriental Vírus da dengue


Vírusda encefalite equina ocidental Aplique seu conhecimento

Vírusda encefalite de Saint Louis Resumos dos organismos


Vírusda encefalite da Califórnia Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO ( 1) Os togavíruszsão caracterizados por um nudeocapsfdeo


icosaédrico envo)to por um envelope e genoma de RNA de fita
A palavra arbo,1.ru.s é um acrônimo para arthrop-botn virus. e simples, de polaridade positiva. Exibem diâmetro de 70 11.m, ao
enfatiza o fato de que estes v(rus são transmitidos por artrópo- coJltrário dos flavivfrus, que apresentam diâmetro de 40 a 50 nm
des. principa1mente mosquitos e c.arrapatos. ~ uma denominação (ver a seguir). Os togavirus são divididos em duas familias. al·
coletiva para um grande grupo de vírus distintos. com mais de favírus e rubiv(rus, Apenas os alfavírus são considerados neste
600 na última contagem. Em getal, são denoininados de acordo livro. O único rubh•írus é o vírus da rubéola, que é discutido no
com as doenças que causain (p. ex.• vírus da febre ainarela) ou Capítulo 39.
com a localidade onde foram primeiramente isolados (p. ex.• vf. (2) Os tlaviv(rus' são similares aos togavirus, já que também
rus da encefalite de Saint Louis). apresentam nudeocapsídeo kosaédrico envo1to por um enve)ope
Um novo grupo de vírus, denoininados robovfrus, surgiu e genoma de RNA de fita simples, de polaridade positiva; contu·
recentemeJlte. O termo robo refere.se ao fato de esses vírus se~ d~ os flavivírus apresentam diâmetro de apenas 40 a 50 nm, ao
rem transmitidos por roedores (i.e., são transinitidos diretamen. passo que os togavírus apresentam diâmetro de.70 nm.
te de roedores para seres humanos, sem um artrópode-vetor). A (3) Os buniavírus4 apresentam nudeocapsídeo helicoida)
tra1tsinissão ocorre quando exc.rementos secos de roedores são envolto por um envelope e genoina consistindo em três seg•
inalados até o pulmão humano (p. ex., ao varrer o chão de uma mentos de RNA de polaridade. negativa unidos por Jigações de
cabana). Dois entre esses robovírus causam uma sindrome de hidrogênio.
sofrimento respiratório que é frequentemente fatal: o vírus Sin
Koinbre (um hantav(rus) e o vírus Whitewater Arroyo (um are.
nav(rus), Esses vírus são descritos no Capítulo 46.
Transmissão
O cido de vida dos arbov(ms é baseado na habilidade desses v(.
Características importantes rus de se multiplicarem tanto no hospedeiro vertebrado quanto
no vetor hematófago (Figura 42· l ). Para que a transmissão eficaz
A maioria dos arbovírus eclassificada em tr~s famí)ias.. 1 a saber. ocorra, o virus deve estar presente na corrente sanguínea do hos-
Togaviridae. Flaviviridae e Bunyaviridae (Tabe)a 42· l ). pedeiro vertebrado (viremia) em wn títu)o suficientemente alto
para ser c-aptado no pequeno vo)ume de sangue ingerido durante

1
1oga significa capa.
1
Alguns arbov(rus pertencem a outras duas familias. Por exemplo. o virus ' Flavi significa amarelo, como na febre amarela.
4
do carrapato do Colorado é um reo•..-frus; o vírus Kcrn C..an)'On e o \tir.1s "Bimia"' refere-se a Bunyamwcra. cidade da África onde o ,.1rus-protóti·
da estomatite ,.·esicu1ar são rabdovlrus. po foi descoberto.
CAPITULO 42 Arbovírus 343

TABELA 42-1 Cla ssificaçã o dos p rincipais a rbovírus a fim de produzir a prog!nie. Um período de tem,r obrigatório,
denominado período de incubação extrínseco. deve ocorrer
Vírus d• lnt eresM
para que o v(rus se multiplique adequadamente. permitindo que
FamOla G•n•ro m, dlco nas Am,rlcH
a sa1iva do vetor contenha quantidade suficiente de ,,frus para
Togaviridae Alphavirus' Vírus da encefalite equina oóen- transmitir uma dose infectante. Para a maioria dos vírus. o pe-
tat Ylrus da encefalite equina ríodo de incubação extrhtseoo varia de 7 a 14 dias.
Ocidental Aléin da transmissão entre vertebrados.. alguns arbovírus
são transmitidos por passagem vertica1 "'transovariana'' da fêmea
Ravivitidae Flavivi'tul Vírus da encefalitede Saint Louis.
vírus da febre amarela, \'lrus da do c.arrapato para sua prole. A transmissão vertical é importante
dengue, vírus do Oeste do Nilo para a sobreviv~ncia do v(rus quando um hospedeiro vertebrado
não está disponivel.
8unyaviridae 8unyaviru? Vírus da encefalite da Califótnia Os seres humanos estão envolvidos 110 ciclo de transmis-
são dos atbovfrus de.duas maneiras distintas. Em geral, os seres
Aooviridae Otbivitus Vírus da febt e do carrapato do
Colorado humanos são hospedeiros terminais., pois a concentração de.
vírus no sangue humano é muito baixa e a duração da virem.ia
'Atfavlrus de outras , eglOes lncl~m os vírus Chlkungunya, Mayaro. O'Nyong- é. muito curta para a próxima picada transmitir o v(rus. Entre,..
·Nyorlg, Ros.s Rl'ver e da floresta de Semlíkl
~Flavtvfrus de outras reglóes Incluem os vírus da encefahte Japonesa, da doença
tanto, em algwnas doenças (p. ex., febre amarela e dengue), se-
da floresta de Kya.sanut da encefallte de MurrayValley, da febre hemo«âg!ca de res humanos apresentam alto nível de. virem.ia e. atuam como
Omsk, das encelalltesdePc•nassan e do Oeste do Nlfo. reservatório do vírus.
1
Sunlavírus de outras reglOes lnduem os vfrus do complexo Bunyamwera e o A i1úecção por arbov{rus, em geral, não resulta em doença
vírus Oropouche.
no artrópode-vetor ou no animal vertebrado que atua como hos-
pedeiro natura1. Adoença ocorre principa1mente quando o vírus
a picada do inseto. Após a ingestão, o v(rus se multiplica no intes. infecta hospe.deiros terminais. Por exemplo. o virus da febre ama-
tino do artrópode e se dissemina para outros órgãos. induindo rela circula inofensivamente entre macacos se)vagens da América
as glândulas salivares. Apenas as fêmeas da espécie atuam como do Sul, mas quando o vírus infecta um ser humano, a febre ama-
vetor dos vírus, pois só elas necessitam de alimentação de sangue, rela pode ocorrer.

Ciclo de
transmissão
dos arbovírus

Hospedeiro inciden1al
(soros humanos o cavalos)

FIGURA 42·1 Ciclo de transmissão dos arbovfrus. Os a,boví,us normalmente estabele<:em um cid o entfe o hospedeiro resetvatórío Wftebfa·
do, frequentemen te uma ave, e o vetor, f,e,quentemente um mosquito. O vet0< infectado pode também picar outros hospedeiros, como sec-es
humanos e cavalos, os quais são~hospedeiros terminais: uma vez que a vi,ernia nesses hosped eiros~ muito baixa para prover-aoV(!tOt uma dose
infectante. {Mod,ftcada do provedor. Centers for DlseaseConud and Preventlon.)

so periodo de incubação intrinscco e o inter,'a.lo entre o momento da


picada e o surgimento dos sintomas no hospedeiro humano.
344 PARTE IV Virologia Clínica

Achados clínicos e epidemiologia centenas de casos também ocorram. As infecções subclínicas exce-
dem enormemente o número de casos evidentes.
As doenças causadas pelos arbovírus variam de gravidade branda
A encefalite é caracterizada por início súbito de cefaleia gra-
a rapidamente fatal. O quadro clínico, em geral, corresponde a
ve, náusea, vômito e febre. Alterações no estado mental, como
uma das três categorias: (1) encefalite, (2) febre hemorrágica ou
confusão e letargia, acontecem em seguida. Ocorre um curso
(3) febre com mialgias, artralgias e erupção não hemorrágica. A
descendente rapidamente progressivo, com rigidez de nuca, con-
patogênese dessas doenças envolve não apenas o efeito citocida
vulsões e coma. Se o paciente sobreviver, as sequelas do sistema
do vírus, mas também, em alguns casos, um proeminente com-
nervoso central são geralmente graves. A imunidade após a in-
ponente imunopatológico. Após a recuperação da doença, em
fecção é permanente.
geral, a imunidade é permanente.
O diagnóstico é realizado pelo isolamento do vírus ou pela
As doenças arbovirais ocorrem principalmente nos trópicos,
demonstração de aumento no título de anticorpos. Médicos de-
mas também são observadas nas zonas temperadas, como nos Es-
vem ter alto índice de suspeita durante os meses do verão nas
tados Unidos, e zonas do extremo norte, como no Alasca e na Si-
regiões geográficas propícias. A doença não ocorre no inverno,
béria. Possuem tendência a causar surtos súbitos, muitas vezes na
uma vez que os mosquitos não são ativos. Não se sabe como o
fronteira entre comunidades humanas e regiões de selva ou floresta.
vírus sobrevive durante o inverno - em aves, mosquitos ou talvez
em algum outro animal.
Não há terapia antivira! disponível. Uma vacina inativada
ARBOVÍRUS QUE CAUSAM DOENÇAS está disponível para proteção de cavalos, mas não de seres huma-
NOS ESTADOS UNIDOS* nos. A doença é muito rara para que a produção de uma vacina
humana seja economicamente viável.
Vírus da encefalite equina oriental
Dos quatro vírus de encefalite listados na Tabela 42-2, o vírus da Vírus da encefalite equina ocidental
encefalite equina oriental (EEE, eastern equine encephalitis) causa
O vírus da encefalite equina ocidental (WEE, western equine en-
a doença mais grave e está associado à maior taxa de mortalida-
de (cerca de 50%). Em seu hábitat natural, o vírus é transmitido cephalitis) causa doença com mais frequência que o vírus da EEE,
principalmente pelo mosquito do pântano, Culiseta, que vive en - mas a doença é menos grave. Infecções inaparentes ultrapassam o
tre pequenas aves silvestres dos Estados do Atlântico e da Costa do número de infecções aparentes em pelo menos 100:1. O número
de casos nos Estados Unidos varia, em geral, de 5 a 20 por ano, e a
Golfo. Espécies de mosquitos Aedes são suspeitos de transportar o
vírus das aves selvagens reservatórias para os principais hospe- taxa de mortalidade é de aproximadamente 2%.
deiros terminais, cavalos e seres humanos. O número de casos de O vírus é transmitido principalmente por mosquitos Culex
encefalite humana causados pelo vírus da EEE nos Estados Uni- entre a população de aves selvagens dos Estados ocidentais, prin-
dos, em geral, varia de O a 4 por ano, embora surtos envolvendo cipalmente em áreas de terras irrigadas.

TABELA 42-2 Epidemiologia das doenças importantes causadas por arbovírus nos Estados Unidos

Incidência
1 2
Doença Vetor Reservatório animal Distribuição geográfica aproximada por ano
3
EEE Mosquito Aves selvagens Estados do Atlântico e do Golfo Oa4
3 4
WEE Mosquito Aves selvagens Oeste do Mississippi 5 a 20
4
SLE Mosquito Aves selvagens Ampla distribuição nos Estados do Sul, 10 a 30
Centrais e do Oeste

EC Mosquito Pequenos mamíferos Estados do Centro-Norte 40a80

CTF Carrapato Pequenos mamíferos Montanhas Rochosas 100 a 300

Encefalite do Mosquito Aves selvagens Endêmica na África; ampla distribuição 700 a 1.000
Oeste do Nilo nos Estados Unidos

EC, encefalite da Califórnia; CTF, febre do carrapato do Colorado; EEE, encefalite equina oriental; SLE, encefalite de St. Louis; WEE, encefalite equina ocidental.
1
0 vírus da encefalite equina venezuelana causa doença nos Estados Unidos muito raramente para ser incluído.
2
Casos em seres humanos.
3
Cavalos são hospedeiros terminais, não reservatórios.
4
Centenas de casos durante surtos.

*N. de R.T. De todos os vírus listados nesta seção, apenas os vírus da ence-
falite de Saint Louis e da encefalite do Oeste do Nilo já foram detectados no
Brasil. Mesmo assim, casos de infecção humana só foram confirmados para
o vírus da encefalite de Saint Louis, ao passo que o vírus da encefalite do
Oeste do Nilo só foi detectado em animais na região do Pantanal Brasileiro.
CAPÍTULO 42 Arbovírus 345

O quadro clínico da infecção pelo vírus da WEE é similar, A doença ocorre, principalmente, em indivíduos que pra-
porém, menos grave que o causado pelo vírus da EEE. As seque- ticam caminhadas ou que acampam nas Montanhas Rochosas,
las são menos comuns. O diagnóstico é realizado pelo isolamento e é caracterizada por febre, cefaleia, dor retro-orbital e mialgia
do vírus ou pela observação de aumento no título de anticorpos. grave. O diagnóstico é realizado pelo isolamento do vírus a partir
Não há terapia antiviral. Existe uma vacina inativada para cava- do sangue ou pela detecção de aumento no título de anticorpos.
los, mas não para seres humanos. Não há terapia antiviral ou vacina disponível. A prevenção envol-
ve o uso de roupas protetoras e inspeção da pele para presença
Vírus da encefalite de Saint Louis de carrapatos.
O vírus da encefalite de Saint Louis (SLE, Saint Louis encephalitis)
causa doença em uma região geográfica mais ampla que os vírus
Vírus do Oeste do Nilo
da EEE e da WEE. É encontrado nos Estados do Sul, Centro e Oes- O vírus do Oeste do Nilo (WNY, West Nile vírus) foi responsável
te e causa 1Oa 30 casos de encefalite por ano nos Estados Unidos. por um surto de encefalite na cidade de Nova Iorque e arredores
O vírus é transmitido por várias espécies de mosquitos em julho, agosto e setembro de 1999. Foi a primeira vez que o
Culex, que diferem dependendo da localização. Ainda, aves sil- WNV causou doença nos Estados Unidos. Nesse surto, ocorre-
vestres pequenas, sobretudo pardais ingleses, são o reservatório, ram 27 casos confirmados e 23 casos prováveis, incluindo cinco
e os seres humanos são hospedeiros terminais. Embora os vírus óbitos. Diversas aves, sobretudo corvos, também morreram. Ne-
da EEE e da WEE sejam predominantemente rurais, o vírus da nhum caso em seres humanos ocorreu após a ampla pulverização
SLE ocorre em áreas urbanas, já que esses mosquitos preferem se de compostos para controle de mosquitos e o início de condições
reproduzir em águas residuais paradas. climáticas mais frias.
O vírus da SLE causa encefalite moderadamente grave com No verão de 2000, ocorreram 18 casos e um óbito e, até julho
taxa de mortalidade de cerca de 10%. A maioria das infecções é de 2001, o vírus se disseminou por vários Estados ao longo da
inaparente. Sequelas são raras. costa Leste (de New Hampshire até a Flórida), bem como para
O diagnóstico é, muitas vezes, realizado sorologicamente, o Oeste, em Louisiana. Em 2002, houve aumento acentuado no
uma vez que o vírus é difícil de isolar. Não há terapia antiviral ou número de casos. Ocorreram mais de 4 mil casos, 274 indivíduos
vacina disponível. morreram e o vírus se disseminou mais para o Oeste, até o Co-
lorado. Em 2003, ocorreram 7.700 casos, com 166 mortes, e o
Vírus da encefalite da Califórnia vírus se disseminou até a Califórnia. Em 2012, ocorreram 3-142
casos relatados e 134 mortes. O WNV é o responsável pelo maior
O vírus da encefalite da Califórnia (CE, California encephalitis)
número de óbitos causados por uma encefalite oriunda de mos-
foi inicialmente isolado de mosquitos na Califórnia, em 1952, no
quitos nos Estados Unidos. É desconhecido o modo pelo qual o
entanto essa denominação é imprópria, uma vez que a maioria WNV foi introduzido nos Estados Unidos, mas provavelmente
das doenças em seres humanos ocorre nos Estados do Centro-
um viajante infectado ou um mosquito infectado, transportado
-norte. A cepa do vírus da CE que causa encefalite com maior fre- por avião, estejam envolvidos.
quência é denominada La Crosse, devido à cidade em Wisconsin
O WNV é um flavivírus classificado no mesmo grupo anti-
onde foi isolada. O vírus da CE é o único entre os quatro prin-
gênico que o vírus da SLE. É endêmico na África, mas também
cipais vírus de encefalite nos Estados Unidos que é membro da
causou encefalite em regiões da Europa e da Ásia. Aves selvagens
família dos buniavírus.
são o principal reservatório do vírus, o qual é transmitido por
O vírus La Crosse é transmitido pelo mosquito Aedes mosquitos, principalmente os do gênero Culex. Os seres huma-
triseriatus entre roedores de florestas. O vírus é transmitido nos são hospedeiros terminais. A transmissão do vírus por trans-
nos mosquitos via transovariana e, desse modo, sobrevive no in-
plantes de órgãos também já ocorreu.
verno, quando os mosquitos não estão ativos. O quadro clínico
O quadro clinico mais importante é a encefalite, com ou
pode ser brando, semelhante à meningite enteroviral, ou grave,
sem sintomas de meningite, que ocorre, em geral, em pessoas
semelhante à encefalite herpética. A morte raramente ocorre.
com mais de 60 anos. A encefalite ocorre em cerca de 1% das
O diagnóstico é, na maioria das vezes, realizado sorologicamen-
infecções; febre e cefaleia sem a ocorrência de encefalite ocorre
te, e não pelo isolamento do vírus. Não há terapia antiviral ou
em cerca de 20%; e por volta de 80% das infecções são assin-
vacina disponível.
tomáticas.
O diagnóstico laboratorial pode ser realizado pelo isolamen-
Vírus da febre do carrapato do Colorado to do vírus a partir de tecido cerebral, sangue ou líquido espinal,
Entre as cinco doenças descritas na Tabela 42-2, a febre do carra- ou pela detecção de anticorpos no líquido espinal ou no sangue.
pato do Colorado (CTF, Colorado tickfever) é a mais facilmente Ensaios baseados na reação em cadeia da polimerase (PCR)
diferenciada das demais, tanto biológica quanto clinicamente. O encontram-se também disponíveis. Não há terapia antiviral ou
vírus da CTF é um reovírus transmitido pelo carrapato-do-ma- vacina disponível. Em uma tentativa de prevenir infecções pelo
to Dermacentor andersoni entre os roedores pequenos (p. ex., sangue, bancos de sangue pesquisam o sangue de doadores para
esquilos) das Montanhas Rochosas. Ocorrem aproximadamente a presença de WNV por meio do uso de sondas de ácido nucleico
100 a 300 casos por ano nos Estados Unidos. específicas para o vírus.
346 PARTE IV Virologia Clínica

TABELA 42-3 Epidemiologia das doenças importantes causadas por arbovírus fora dos Estados Unidos

Doença Vetor Reservatório animal Distribuição geográfica Vacina disponível

Febre amarela Sim


1. Urbana Mosquito Aedes Seres humanos África tropica l e América do Sul
2. Silvestre Mosquito Haemagogus Macacos África tropica l e América do Sul

Dengue Mosquito Aedes Seres humanos; e provavel- Áreas tropicais, principalmente no Caribe Não
mente macacos

ARBOVÍRUS QUE CAUSAM DOENÇAS A prevenção da febre amarela envolve o controle dos mos-
quitos e a imunização com a vacina contendo vírus vivos atenua-
IMPORTANTES PRINCIPALMENTE FORA dos da febre amarela*. Viajantes e residentes de áreas endêmicas
DOS ESTADOS UNIDOS devem ser imunizados. A proteção dura até 1O anos, e reforços
Embora a febre amarela e a dengue não sejam endêmicas nos são necessários a cada 1Oanos para viajantes que entram em cer-
Estados Unidos, o extensivo número de viagens de cidadãos tos países. Epidemias ainda ocorrem em regiões da África tro-
norte-americanos a regiões tropicais implica a ocorrência de ca- pical e da América do Sul. Por se tratar de uma vacina viva, não
sos importados. Assim, é importante que os médicos dos Estados deve ser administrada a indivíduos imunocomprometidos nem a
Unidos se familiarizem com essas duas doenças. Tanto o vírus da mulheres grávidas.
febre amarela quanto o vírus da dengue são classificados como
flavivírus. A Tabela 42-3 descreve a epidemiologia de importan- Vírus da dengue**
tes doenças causadas por arbovírus que ocorrem, principalmente, Embora a dengue não seja endêmica nos Estados Unidos, alguns
fora dos Estados Unidos. O vírus da encefalite japonesa, também turistas do Caribe e de outras regiões tropicais retornam com
um flavivírus e uma importante causa de encefalite epidêmica na essa doença. Recentemente, ocorreram de 100 a 200 casos por
Ásia, é descrito no Capítulo 46. ano nos Estados Unidos, principalmente nos Estados do Sul e do
Leste. Nenhum caso de transmissão endógena ocorreu nos Esta-
Vírus da febre amarela dos Unidos. É estimado que cerca de 20 milhões de indivíduos
Como o nome indica, a febre amarela é caracterizada por icterícia sejam infectados pelo vírus da dengue a cada ano mundialmente.
e febre. É uma doença grave e com risco à vida, que inicia com o A dengue é a doença viral transmitida por inseto mais comum
aparecimento súbito de febre, cefaleia, mialgias e fotofobia. Após no mundo.
esse pródromo, os sintomas progridem e comprometem o fígado, A dengue clássica*** (febre quebra-ossos) inicia subitamen-
os rins e o coração. Ocorrem prostração e choque, acompanha- te como uma síndrome semelhante à gripe, consistindo em febre,
dos de hemorragia do trato gastrintestinal superior com hema- mal-estar, tosse e cefaleia. Ocorrem dores graves nos músculos e
têmese ("vômito negro,,). O diagnóstico em laboratório pode ser nas articulações (quebra-ossos). Linfonodos aumentados, erup-
realizado pelo isolamento do vírus ou pela detecção de aumento ção maculopapular e leucopenia são comuns. Aproximadamente
no título de anticorpos. Não há terapia antivira! disponível e a após uma semana, os sintomas regridem, no entanto, a fraqueza
taxa de mortalidade é alta. Se o paciente se recupera, não ocorre pode persistir. Embora desagradável, essa forma típica da dengue
infecção crônica e uma imunidade permanente é conferida. é raramente fatal e apresenta poucas sequelas.
A febre amarela ocorre principalmente nas regiões tropicais
da África e da América do Sul. Na epidemiologia da febre ama-
*N. de R.T. O Brasil é um país endêmico para a febre amarela, onde o ci-
rela, existem dois ciclos distintos na natureza, com diferentes clo silvestre ocorre em toda a região Centro-sul, Central e Norte. Embora
reservatórios e vetores. surtos da doença ocorram, o país é considerado livre da febre amarela
( 1) A febre amarela silvestre é uma doença de macacos na urbana. A vacina viva atenuada faz parte do Programa Nacional de Imu-
nizações e é administrada em dose única aos 9 meses de idade.
África tropical e na América do Sul; é transmitida principal-
**N. de R.T. A dengue é considerada como a mais importante doença
mente por mosquitos, encontrados nas copas das árvores, da infectocontagiosa no Brasil, em termos epidemiológicos. Os surtos re-
espécie Haemagogus. Macacos são o reservatório permanente, centes, causados pela cocirculação dos quatro sorotipos conhecidos, têm
enquanto os seres humanos são hospedeiros acidentais. Os seres afetado mais de 1 milhão de pessoas a cada ano.
humanos (p. ex., lenhadores) são infectados quando entram na ***N. de T. Desde 2010, a OMS propôs uma nova classificação para as
selva de forma ocupacional. manifestações clínicas da dengue, em vez do uso das terminologias "den-
(2) Em contrapartida, a febre amarela urbana é uma doença de gue clássica" e "febre hemorrágica da dengue". Nesta nova proposta, as
seres humanos, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que se doenças causadas são classificadas como dengue - com ou sem sinais de
reproduz em águas paradas. Na forma urbana da doença, os seres alerta - ou dengue grave. Essa nova terminologia objetiva a inclusão de
pacientes apresentando falência orgânica importante, mas sem sinais he-
humanos são o reservatório. Para que a transmissão eficiente ocor-
morrágicos, dentro do grupo de tratamento prioritário. A mudança foi
ra, o vírus deve multiplicar-se no mosquito durante o período de
proposta com base num grande número de pacientes que não eram hos-
incubação extrínseco de 12 a 14 dias. Após o mosquito infectado pitalizados por não apresentarem sinais de hemorragia, mas que vinham
picar o indivíduo, o período de incubação intrínseco é de 3 a 6 dias. a falecer mais tarde em razão da falência de órgãos.
CAPÍTULO 42 Arbovírus 347

Em contrapartida, a febre da dengue hemorrágica é uma 2. A febre amarela ainda existe em diversas regiões tropicais do mun-
doença muito mais grave, com taxa de mortalidade que se aproxi- do. Qual das seguintes opções é a melhor razão para a febre amarela
ma de 10%. O quadro inicial é o mesmo da dengue clássica, porém, ainda existir?
em seguida, desenvolve-se choque e hemorragia, principalmente (A) O saneamento básico é inadequado em diversas regiões.
no trato gastrintestinal e na pele. A febre da dengue hemorrágica (B) Seres humanos e macacos são reservatórios para o vírus da fe-
ocorre particularmente no Sul da Ásia, ao passo que a forma clássi- bre amarela.
(C) O vírus sofreu mutação e, portanto, a vacina existente não é
ca é encontrada nas regiões tropicais em todo o mundo.
mais eficiente.
A síndrome do choque hemorrágico*** é devida à produ-
(D) A vacina foi retirada do mercado, uma vez que foram encon-
ção de grandes quantidades de anticorpos de reação cruzada no trados efeitos colaterais inaceitáveis.
momento da segunda infecção de dengue. A patogénese ocorre (E) Indivíduos em países em desenvolvimento não podem tomar
da seguinte forma: o paciente se recupera da dengue clássica, cau- amantadina quando entram em regiões endêmicas.
sada por um dos quatro sorotipos do vírus da dengue, e produz 3. Em relação ao vírus do Oeste do Nilo (WNV), qual das seguintes
anticorpos contra aquele sorotipo. Quando o paciente é infectado opções é a mais correta?
por outro sorotipo do vírus da dengue, ocorre uma resposta ana-
(A) Os roedores são o principal reservatório para o WNY.
mnéstica heterotípica, e grandes quantidades de anticorpos de (B) O WNV não causa doença nos Estados Unidos.
reação cruzada contra o primeiro sorotipo são produzidas. Exis- (C) O WNV é transmitido principalmente por carrapatos Ixodes.
tem duas hipóteses sobre o que ocorre em seguida. A primeira é (D) A maioria das infecções é assintomática, mas idosos estão sob
a de que imunocomplexos compostos por vírus e anticorpos são risco de encefalite.
formados e ativam o complemento, causando aumento da per- (E) A vacina viva atenuada deve ser administrada a adultos idosos
meabilidade vascular e trombocitopenia. A segunda é a de que os em regiões endêmicas.
anticorpos intensificam a entrada do vírus em monócitos e ma-
crófagos, com a consequente liberação de grandes quantidades de
citocinas. Ambos os cenários resultam em choque e hemorragia. RESPOSTAS
O vírus da dengue é transmitido pelo mosquito A. aegypti, 1. (C)
que também é o vetor para o vírus da febre amarela. Os seres hu- 2. (B)
manos são o reservatório do vírus da dengue, porém, suspeita-se 3. (D)
de um ciclo silvestre envolvendo macacos como reservatório e
outras espécies Aedes como vetores.
O diagnóstico pode ser realizado no laboratório pelo isola- RESUMOS DOS ORGANISMOS
mento do vírus em cultura celular ou por testes sorológicos que
demonstram a presença de anticorpos IgM ou aumento de quatro Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
vezes ou mais no título de anticorpos no soro da fase aguda e da -se na página 648. Favor consultar esses resumos para uma rápida
fase de convalescença. Um ensaio de PCR que detecta o vírus no revisão do material essencial.
sangue também se encontra disponível.
Não há terapia antiviral ou vacina contra dengue disponí-
veis. Os surtos são controlados pelo uso de inseticidas e drena- QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
gem das águas paradas, que servem como local de procriação
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
para os mosquitos. Proteção pessoal inclui o uso de repelentes
contradas na seção de Virologia Clínica da Parte XIII: Questões
para mosquitos e roupas que cubram todo o corpo. para Autoavaliação, a partir da página 703. Consulte também a
Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
na 731.
APLIQUE SEU CONHECIMENTO
1. Um surto de febre da dengue hemorrágica ocorreu recentemente
em dois países da América Central. Em relação à dengue e à febre da
dengue hemorrágica, qual das seguintes opções é a mais correta?
(A) Os seres humanos são hospedeiros terminais para o vírus da
dengue.
(B) A febre da dengue hemorrágica ocorre principalmente em
indivíduos deficientes nos componentes do complemento de
ação tardia.
(C) O vírus da dengue é transmitido pelos mosquitos Aedes, e ma-
cacos são um importante reservatório natural.
(D) A vacina contendo o vírus da dengue vivo atenuado é reco-
mendada para indivíduos que vivem em ou viajam para áreas
endêmicas.
(E) A febre da dengue hemorrágica ocorre com maior frequência
em indivíduos infectados pela primeira vez do que quando
eles são reinfectados, uma vez que anticorpos protegem contra
reinfecção.
CAPÍTULO

43 Vírus Tumorais
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Vírus Epstein-Sarr


Transformação maligna de células Herpes-vfrus humano 8
Morfologia alterada Vírus da hepatite 8
Controle de cres.cimento alterado Poliomavrrus da célula de Me,kel
Propriedades celulares alteradas Vacinas contra o cincer
Propriedades bioquímicas alteradas Vírus tumorais de animais causam câncer em seres humanos?
Papel dos vírus tu morais na transformação maligna Vírus tu morais de animais
Pró-vírus e oncogenes Papovavfrus
Consequência da infecção por vírus tumorais Adenovr,us
Transmissão dos vírus tumorais Herpes-virus
Vírus tumorais humanos Poxvr,us
Ví11.1.s T·linfottófko humano Aplique seu conhecimento
Vírus da hepa tite C Resumos dos organismos
Papilomavfrus humano Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO rapidamente analisado e compreendido. Até o moment~ os ge.


nomas de muitos vírus tumorais já foram clonados e se.quencia•
Os \•írus podem causar tumores benignos ou malignos em mui· dos, e o numero de genes e suas funções têm sido detenninados..
tas espécies de anjmais (p. ex., sapos. peixes. aves e mamíferos). fornecendo importantes informações.
Apesar da ocorrência comum de vírus tumotais em animais. so-
mente poucos vírus são associados a tumores de seres humanos.
e a evidência de que eles são os agentes causadores é verdadeira TRANSFORMAÇÃO MALIGNA
pata muito poucos.
Os vírus tu.mora.is não possuem tamanho, forma ou composi• DECtLULAS
ção quínlica características. Alguns são grandes. e outros são muito O termo transformaçiío maligna se refere a mudanças nas proprie•
pequenos; aJguns são envelopados, e outros não possuem enveJope. dades de crescimento, morfo)ogia e outras características das células
alguns possuem DNA como seu materia) genético, e outros, RNA. twnora.is (làbe)a 43. J). A tra.nsforinação maJigna pode ser induzida
O fator que une todos é a habilidade comum de causar tumores. por vírus rumorais não somente em animais, mas também em cé·
Os vírus tumorais estão na vanguarda da investigação do lulas em cultura. Em cu)rura. as mudanças que se seguem ocorrem
c.ã.ncer, por duas razões principais: quando as c:élu1as se tornan1 transformadas ma)ignan1ente.
( l) E)es são ma.is rápidos e eficientes na produção de tumo-
res., se comparados a agentes quhnicos ou radiações. Por exem• Morfologia a lterada
pio. muitos desses vírus podem causar tumores em todos os As células malignas perdem suas caracteristicas formas dife.
animais suscetíveis em uma ou duas semanas e podem produzir rendadas e parec.em arredondadas e mais refringentes quando
transformações m.alignas em células em cultura em poucos dias. visualizadas ao microscópio. O arredondamento é devido à de·
(2) Eles possuem poucos genes se comparados às cé)ulas hu. sagregação dos fiJamentos de actina, e a aderência reduzida das
manas (somente três. quatro ou cinco para muitos retrovitus) e, célu1as à superfície da p)aca de cu)tura é o resu)tado das mudan•
c-onsequentemente, o seu pape) na produção do câncer pode ser ças de carga da superflcie celular.
CAPÍTULO 43 Vírus Tu morais 349

TABELA 43-1 Características da transformação maligna Propriedades celulares alteradas


Característica Descrição ( 1) A síntese de DNA é induzida. Se as células em repouso
na fase G 1 foram infectadas com vírus tumorais, elas entrarão
Morfologia alterada Perda da forma diferenciada
prontamente na fase S (i.e., sintetizar DNA e iniciar a divisão).
Arredondamento como resultado da de-
(2) O cariótipo torna-se alterado (i.e., ocorrem mudanças na
sagregação dos filamentos de actina e
da diminuição da adesão à superfície
quantidade e na forma dos cromossomos como resultado de de-
Mais refringentes leções, duplicações e translocações).
(3) Antígenos diferentes dos das células normais aparecem.
Controle alterado Perda de inibição do crescimento por Esses novos antígenos podem ser proteínas codificadas pelos
do crescimento contato vírus, proteínas celulares preexistentes que foram modificadas
Perda de inibição do movimento por
ou proteínas celulares que estavam anteriormente sob repressão
contato
e que são, agora, sintetizadas. Alguns novos antígenos estão na
Requerimentos reduzidos para fatores de
crescimento do soro
superfície celular e induzem anticorpos circulantes ou uma res-
Aumento da capacidade de ser clonada a posta celular que pode matar a célula tumoral. Esses novos an-
partir de uma única célula tígenos são o local de reconhecimento para a vigilância contra
Aumento da capacidade de crescer em células tumorais.
suspensão (4) A aglutinação por lectinas é aumentada. As lectinas são
Aumento da capacidade de crescimento glicoproteínas de plantas que se ligam especificamente a certos
contínuo ("imortalização") açúcares sobre a superfície celular (p. ex., aglutinina do germe de
trigo). O aumento da aglutinação pelas células tumorais pode ser
Propriedades Indução de síntese de DNA
celulares Mudanças cromossômicas
devido ao agrupamento de locais de receptores existentes, em vez
alteradas Aparecimento de novos antígenos de resultar da síntese de novos receptores.
Aglutinação aumentada por lectinas
Propriedades bioquímicas alteradas
Propriedades Níveis reduzidos de AMP cíclico
bioquímicas Secreção aumentada de ativador de plas- (1) Os níveis de monofosfato de adenosina (AMP) cíclico
alteradas minogênio são reduzidos nas células malignas. A adição do AMP cíclico
Glicólise anaeróbia aumentada permite que as células malignas revertam para a aparência e as
Perda de fibronectina propriedades de crescimento de células normais.
Mudanças em glicoproteínas e glicolipídeos
(2) Células malignas secretam mais ativador de plasmino-
gênio que as células normais. Esse ativador é uma protease que
converte o plasminogênio em plasmina, a enzima que dissolve o
Controle de crescimento alterado coágulo de fibrina.
(3) O aumento da glicólise anaeróbia leva ao aumento da
(1) As células malignas crescem em um padrão empilhado
produção de ácido láctico (efeito de Warburg). O mecanismo que
e desorganizado se comparadas às células normais, as quais pos-
induz essa mudança é desconhecido.
suem aparência plana e organizada. O termo aplicado a essa mu-
(4) Há perda da fibronectina, uma glicoproteína de alto peso
dança no padrão de crescimento nas células malignas é a perda
molecular. O efeito dessa perda é desconhecido.
de inibição por contato. Inibição por contato é a propriedade das
( 5) Ocorrem mudanças nos açúcares componentes das gli-
células normais que se refere à sua habilidade de interromper seu
coproteínas a glicolipídeos nas membranas de células malignas.
crescimento e movimento quando em contato com outra célula.
As células malignas perderam essa habilidade e, consequentemen -
te, movem-se umas sobre as outras, continuando a crescer até uma
PAPEL DOS VÍRUS TUMORAIS NA
quantidade elevada, e formam uma disposição aleatória de células.
(2) Células malignas apresentam maior probabilidade de TRANSFORMAÇÃO MALIGNA
crescer in vitro com concentração muito mais baixa de soro do A transformação maligna é uma modificação permanente no
que células normais. comportamento das células. O material genético do vírus deve
(3) Células malignas crescem bem em suspensão, ao passo estar presente e em funcionamento todo o tempo ou pode alterar
que células normais crescem bem somente quando estão aderidas alguns componentes celulares e não ser necessário subsequente-
a uma superfície (p. ex., em uma placa de cultura). mente? A resposta para essa questão foi obtida pelo uso de um
(4) Células malignas são facilmente clonadas (i.e., elas cres- mutante do vírus do sarcoma de Rous sensível à temperatura.
cem em uma colônia de células a partir de uma célula inicial), ao Esse mutante possui um gene de mutação alterado que é fun-
passo que as células normais não servem para esse propósito de cional a uma temperatura baixa e permissiva (35ºC), mas não a
forma eficaz. uma temperatura alta e restritiva (39ºC). Quando células de ga-
(5) A infecção de uma célula por um vírus tumoral "imorta- linha foram infectadas a 35ºC, elas se transformaram conforme
lizà' essa célula, permitindo-lhe continuar a crescer muito além o esperado, mas quando incubadas a 39ºC, elas recuperaram sua
do que cresceria sua célula homóloga normal. Células normais morfologia e seu comportamento normais em poucas horas. Dias
em cultura têm tempo de vida de cerca de 50 gerações, mas célu- ou semanas mais tarde, quando essas células retornaram a 35ºc,
las transformadas malignamente crescem de maneira indefinida. recuperaram seu fenótipo transformado. Portanto, a produção
3S0 PARTE IV Virologia Clínica

contínua de alguma proteína funcional codificada pelo vírus é Fator de


necessária para a manutenção do estado transformado. crescimento
Apesar de a transformação maligna ser uma mudança per- Regulador
manente, a reversão para a normalidade pode acontecer, embora da apoptose ~ Receptor
raramente. Nos reversares estudados, o genoma virai permane- para fator de
ceu integrado no DNA celular, mas houve modificação na quali- crescimento
dade e na quantidade do RNA vírus-específico. Regulador do ---+- -+-----+
Proteína G
ciclo celular

PRÓ-VÍRUS E ONCOGENES
Transdutor
Os dois principais conceitos envolvidos na maneira como a tu- Tirosin a - ~ de sinal
morigênese virai ocorre são representados pelos termos pró-ví- -cinase
Fator de
rus e oncogene. Estas ideias contrastantes englobam a questão transcrição
fundamental sobre a fonte dos genes para a malignização.
FIGURA 43-2 Funções das oncoproteínas celu lares. Oncogenes ce-
(1) No modelo do pró-vírus, os genes entram na célula no lulares codificam proteínas que possuem uma variedade de funções,
momento da infecção, carreados pelo vírus tumoral. muitas das quais estão mostradas na figura. Essas oncoproteínas ati-
(2) No modelo do oncogene, os genes para a malignização já vam o ciclo ce lular e causam o crescimento desregulado da célula.
estão presentes em todas as células do organismo, em virtude de já Utilizada, com permissão, de Murray RK et ai. Harper's 11/ustrated Biochemistry.
estarem presentes no óvulo ou no esperma iniciais. Esses oncogenes 29th ed. New York: McGraw-Hil, 2012.)

codificam para proteínas que estimulam o crescimento celular (p.


ex., fator de crescimento de fibroblasto). No modelo do oncogene,
normais embrionárias se hibridizou à sonda, indicando que célu-
carcinogênicos, como produtos químicos, radiação e vírus tumo-
las normais continham um gene homólogo ao gene virai. Hipote-
rais, ativam os oncogenes celulares, culminando na superexpressão
tiza-se que os oncogenes celulares possam ser os precursores dos
desses fatores de crescimento. Esse processo inicia o crescimento
oncogenes virais. Os proto-oncogenes são os precursores normais
celular inapropriado e a transformação maligna (Figura 43-1).
dos oncogenes celulares. Os proto-oncogenes codificam proteínas
Tanto os pró-vírus quanto os oncogenes podem desempe- celulares normais e estão sob controle regulador da célula. Os on-
nhar funções nas transformações malignas. Evidência para o cogenes celulares adquiriram mutações que fazem com que eles
modelo do pró-vírus consiste em encontrar cópias do DNA virai escapem do controle regulador, gerando a produção exacerbada
integrado no DNA celular somente em células que tenham sido das proteínas alteradas. A Figura 43-2 mostra as funções de onco-
infectadas por vírus tumorais. As células correspondentes não in- proteínas importantes codificadas por oncogenes celulares.
fectadas não possuem cópias do DNA virai. Embora os oncogenes celulares e virais sejam similares, eles
não são idênticos. Eles diferem na sequência de base em vários
1. Papel dos oncogenes celulares na tumorigênese pontos; e os oncogenes celulares possuem íntrons e éxons, ao
passo que os oncogenes virais não os possuem. É provável que os
A primeira evidência direta de que oncogenes existem em célu- oncogenes virais tenham sido adquiridos pela incorporação dos
las normais foi baseada nos resultados de experimentos nos quais oncogenes celulares a retrovírus que não continham esses genes.
uma cópia do DNA do gene onc de um retrovírus aviário, o vírus Os retrovírus podem ser vistos como agentes de transdução,
do sarcoma de Rous, foi utilizado como sonda. O DNA de células transportando os oncogenes a partir de uma célula para outra.
(Ver Capítulo 4 para a discussão sobre transdução.)
Desde essa observação inicial, mais de 20 oncogenes celu-
lares foram identificados pelo uso de sondas de DNA do vírus
do sarcoma de Rous, ou por sondas feitas a partir de outros on-
Oncogenes celulares cogenes virais. A Tabela 43-2 descreve a função de diversos on-
~ ativam o ciclo celular
cogenes celulares importantes e sua relação com vários cânceres
humanos. Muitas células contêm diversos oncogenes celulares
diferentes. Além disso, os mesmos oncogenes celulares podem
~ Genes supressores
ser encontrados em espécies tão diversas quanto moscas-da-
de tumores inibem
o ciclo celular -fruta, roedores e seres humanos. Essa conservação por meio da
evolução sugere uma função fisiológica normal para esses genes.
FIGURA 43-1 Efeitos dos oncogenes celulares e dos genes supres- Alguns são conhecidos por serem expressos durante o desenvol-
sores de tumor no ciclo celular. As oncoproteínas codificadas pelos vimento embrionário normal.
oncogenes celulares ativam o ciclo celu lar ao permitirem a passagem
Uma marcante diversidade das funções dos oncogenes vi-
da fase G1 para a fase S. As proteínas codificadas pelos genes supres-
rais foi encontrada. Alguns destes, como o gene src, codificam
sores de tumor, principalmente p53 e RB, inibem o ciclo celu lar na fase
G1• A inativação dessas proteínas causa a ativação do ciclo celu lar por
uma proteína-cinase que fosforila especificamente o aminoá-
permitir a passagem da fase G1 para a fase S. G1, gap 1; G2, gap 2; M, mi- cido tirosina, ao contrário das proteínas-cinases mais encontra-
tose; S, síntese de DNA. (Modificada, com permissão, de Murray RK et ai. das nas células, as quais fosforilam preferencialmente o aminoá-
Harper's 11/ustrated Biochemistry. 29th ed. New York: McGraw-Hil, 2012.) cido serina.
CAPÍTU LO 43 Vírus Tu morais 351

TABELA 43-2 Exemplos de oncogenes celulares transportados ao núcleo e interagem com fatores nucleares. A
envolvidos em cânceres humanos síntese de DNA é ativada e a divisão celular ocorre. Superexpres-
são ou expressão inapropriada de quaisquer desses fatores prece-
Oncogene Função do Cânceres humanos
dentes em negrito podem resultar em transformação maligna.
celular oncogene importantes
Observe que n em todos os vírus tumorais da família Re-
abl Tirosina-cinase de Leucem ia crônica m ie- troviridae contêm genes onc. Como esses vírus causam trans-
via sinalizadora loide formação maligna? Parece que o DNA copiado do RNA viral
se integra próximo a um oncogene celular, causando aumento
erb B-2 Receptor com fu nção Carcinoma de mama e de
marcante em sua expressão. Esse processo é denominado mu-
(her/neu) ti rosina-cinase ovário, neuroblastoma
tagênese insercional. A superexpressão do oncogen e celular
ras Proteína G Carcinoma de co lo, de pode ter um papel importante na transformação m aligna indu-
pulmão e de t ireoide; zida por esses vírus.
melanoma Em bora tenha sido demonstrado que os oncogenes virais
possam causar a transformação m aligna, não foi diretamente
myc Fator de t ranscrição Linfoma de Burkitt; carcino-
ma de mama e de ovário
evidenciado que os oncogenes celulares possam fazê-lo. Entre-
tanto, como descrito na Tabela 43-3, as evidências sugerem que
jun/fos Reg ulador de trans- Carcinoma de mama e de eles podem.
cnçao pulmão
(1) DNA contendo os oncogenes celulares isolados de certas
src Tirosina-cinase de Carcinoma de colo células tumorais pode transformar células normais em cultura.
via sinalizadora Quando as sequências de base desses oncogenes celulares "trans-
formadores" foram analisadas, en controu-se uma única base
pi3k Cinase lipídica de via Carcinoma de co lo
sinalizadora alterada em relação ao oncogene da célula normal (i.e., a base
havia sido mutada). Em muitas células isoladas de tumores, os
locais alterados nos genes são os mesmos.
(2) Em certos tumores, translocações características de seg-
Outros oncogenes possuem uma sequên cia de bases quase
mentos cromossômicos podem ser visualizadas. Nas células do
idêntica à dos genes para certos fatores de crescimento celulares
linfoma de Burkitt, ocorre uma translocação que move o onco-
(p. ex., fator de crescimento epidérmico). Muitas proteínas codi-
gene celular (c-myc) do seu local normal no cromossomo 8 para
ficadas pelos oncogenes produzem efeito na membrana celular
uma nova localização adjacente a um gene da cadeia pesada da
(p. ex., o oncogene ras codifica uma proteína G), ao passo que
imunoglobulina no cromossomo 14. Esse deslocamento aumenta
alguns atuam no núcleo pela ligação ao DNA (p. ex., o oncogene
a expressão do gene c-myc.
myc codifica um fator de transcrição). Essas observações suge-
Em células afetadas pela leucemia crônica mieloide
rem que o controle de crescimento é um processo de várias eta-
(LCM), um cromossomo truncado, denominado cromossomo
pas e que a carcinogênese pode ser induzida por meio da interfe-
Filadélfia, é observado. Esse cromossomo apresenta uma trans-
rência em uma ou mais dessas etapas.
locação característica que resulta na expressão exacerbada do on -
Com base no conhecimento das categorias dos oncogenes,
cogene bcr-abl, o qual codifica uma tirosina-cinase. A atividade
o seguinte modelo de crescimento pode ser construído. Após o
aum entada dessa cinase eleva a taxa de divisão celular e inibe o
fator de crescimento se ligar ao seu receptor na membrana celu-
reparo do DNA, o que resulta na leucemia. Fármacos que inibem
lar, as proteínas G associadas à mem brana e as tirosinas-cinases
a ação dessa cinase, como a imatinibe, induzem uma remissão
são ativadas. Estas, por sua vez, interagem com as proteínas cito-
prolongada e são bem-tolerados.
plasmáticas ou produzem segundos mensageiros, os quais são

TABELA 43-3 Evidências de que oncogenes celulares (c-onc) podem causar tumores

Evidência Descrição

Mutação do gene c-onc O DNA isolad o de células t umorais pode transformar cé lulas normais. Esse DNA possui
um gene c-onc com mutação de uma única base.

Translocação do gene c-onc O movimento do gene c-onc para uma nova localização em u m cromossomo diferente
resulta em malignização, acompanhada por aumento na expressão do gene.

Am plificação do gene c-onc O número de có pias do gene c-onc é aumentado, resultando na expressão reforçada
de seus mRNAs e proteínas.

Inserção do ret rovírus p róximo ao gene c-onc O DNA pró-virai insere-se próximo ao gene c-onc, altera ndo sua expressão e causa ndo
tu mores.

Superexpressão do gene c-onc A adição de um local de promotor at ivo reforça a expressão do gene c-onc e a tra nsfor-
por modificação em laboratório mação maligna ocorre.
3S2 PARTE IV Virologia Clínica

(3) Alguns tumores possuem múltiplas cópias dos oncoge- TABELA 43-4 Exemplos de genes supressores de tumor
nes celulares, no mesmo cromossomo ou em múltiplos cromos- envolvidos em cânceres humanos
somos pequenos. A amplificação desses genes resulta em supe-
Gene supressor
rexpressão de seus mRNAs e proteínas.
de tumor Cânceres humanos importantes
(4) A inserção da cópia de DNA do RNA retroviral (DNA
pró-virai) próximo a um oncogene celular estimula a expressão Rb Retinoblastoma; carcinoma de mama, de be-
do gene c-onc. xiga e de pulmão
(5) Certos oncogenes celulares isolados de células normais
p53 Carcinoma de mama, de colo e de pulmão;
podem causar transformação maligna se tiverem sido modifica-
astrocitoma
dos para ser superexpressos na célula receptora.
WT1 Tumor renal de Wi lms
Em síntese, dois diferentes mecanismos - mutação e ex-
pressão aumentada - parecem ser capazes de ativar os "proto- DCC Carcinoma de colo
-oncogenes,, quiescentes em um oncogene funcional, capaz
de transformar uma célula. Os oncogenes celulares fornecem
uma base racional para a carcinogênese por agentes químicos
3. Papel dos genes celulares codificadores de
e radiação (p. ex., um carcinogênico químico pode atuar por
reforçar a expressão de um oncogene celular). Além disso, o micro-RNAs na tumorigênese
DNA isolado de células tratadas com um carcinogênico quí- Os genes de micro-RNA não codificam proteínas, mas, em vez
mico pode transformar malignamente outras células normais. disso, exercem seu efeito regulador sendo transcritos em micro-
As células tumorais resultantes contêm oncogenes das células -RNAs que se ligam a sequências no mRNA e impedem que este
tratadas quimicamente, e esses genes são expressos com alta seja traduzido em proteína. Por exemplo, existem micro-RNAs
eficiência. que se ligam ("silenciam,,) a transcritos de mRNA de um gene su-
pressor de tumor. Como resultado, a proteína supressora de tumor
2. Papel dos genes supressores de tumor celular não é sintetizada, o que aumenta a probabilidade de tumorigênese.
na tumorigênese
Há, ainda, outro mecanismo de carcinogênese envolvendo genes CONSEQUÊNCIA DA INFECÇÃO
celulares. Trata-se da mutação em um gene supressor de tumor.
(Figura 43-1). Um exemplo bem-documentado é o gene da sus- POR VÍRUS TUMORAIS
cetibilidade ao retinoblastoma, o qual normalmente atua como A consequência da infecção por vírus tumorais depende do vírus
supressor da formação do retinoblastoma. Quando ambos os e do tipo celular. Alguns tumores virais realizam todo o seu ciclo
alelos deste antioncogene são mutados (tornando-se não fun- de multiplicação virai com a produção de progênie virai, ao passo
cionais), o retinoblastoma ocorre. O papilomavírus humano e o que outros realizam um ciclo interrompido, análogo à lisogenia,
vírus SV40 produzem uma proteína que se liga a e inativa a pro- no qual o DNA pró-virai é integrado ao DNA celular, e ocorre
teína codificada pelo gene do retinoblastoma. O papilomavírus limitada expressão de genes virais. Entretanto, a transformação
humano também produz uma proteína que inativa a proteína co- maligna não requer que a progênie virai seja produzida. Em vez
dificada pelo gene p53, outro gene supressor de tumor nas células disso, tudo o que é necessário é a expressão de um ou, no máxi-
humanas. O gene p53 codifica um fator de transcrição que ativa mo, alguns genes virais. Observa-se, entretanto, que alguns vírus
a síntese de uma segunda proteína, a qual bloqueia as cinases de- tumorais se transformam pela inserção de seu DNA pró-virai de
pendentes de ciclina, requeridas para que a divisão celular ocor- uma maneira que ativa os oncogenes celulares.
ra. A proteína p53 também promove a apoptose das células que Na maioria dos casos, os vírus tumorais de DNA, como
tenham sofrido danos no DNA ou que contenham oncogenes ce- os papovavírus, transformam somente as células nas quais eles
lulares ativos. A morte dessas células induzida por apoptose tem não se replicam. Essas células são chamadas de "não permissi-
efeito "supressor de tumor': pois mata as células destinadas a se vas,, porque não permitem a multiplicação virai. As células das
tornarem cancerosas. espécies nas quais o vírus tumoral foi inicialmente isolado são
Parece provável que a inativação dos genes supressores de "permissivas,, (i.e., os vírus se multiplicam e normalmente ma-
tumor seja um mecanismo geral importante da oncogênese vi- tam as células, e nenhum tumor é formado). Por exemplo, o vírus
rai. Os genes supressores de tumor estão também envolvidos na SV40 se multiplica em células de macaco-verde africano (sua es-
formação de outros cânceres (p. ex., câncer de mama, carcinomas pécie de origem) e causa efeito citopático, mas não causa tumo-
de colo e vários sarcomas). Por exemplo, em muitos carcinomas res. Entretanto, em células de roedores, os vírus não se replicam,
de colo, dois genes são inativados, o gene p53 e o DCC (removi- expressam somente seus genes precoces e causam transformação
do no carcinoma de colo deleted in colon carcinoma). A Tabela maligna. Nas células transformadas "não produtivas': o DNA vi-
43-4 lista diversos genes supressores de tumores importantes e rai é integrado no cromossomo do hospedeiro e permanece lá
sua relação com vários cânceres humanos. Mais da metade dos por meio de divisões celulares subsequentes. O conceito básico
cânceres de seres humanos tem o gene p53 mutado no DNA aplicável tanto a vírus tumorais de RNA quanto de DNA é o que
das células malignas. diz que somente a expressão de genes virais, e não a replicação
CAPÍTULO 43 Vírus Tu morais 353

TABELA 43-5 Oncogenes virais

Característica VírusdeDNA VírusdeRNA

Protótipo virai Vírus SV40 Vírus do sarcoma de Rous

Nome do gene Gene precoce da região A Genesrc

Nome da proteína AntígenoT Proteína src


1
Função da proteína Proteína-cinase, atividade de ATPase, ligação ao Proteína-cinase que fosforila tirosina
DNA e estimulação da síntese de DNA

Localização da proteína Principalmente nuclear, mas há alguns na mem- Membrana plasmática


brana plasmática

Necessária para a replicação virai Sim Não

Necessária para a transformação celular Sim Sim

Gene possui homólogo celular Não Sim


1
Alguns retrovírus possuem o gene onc, que codifica para outras proteínas, como o fator de crescimento derivado de plaquetas e o fator de crescimento epidérmico.

do genoma virai ou a produção de progênie, é requerida para a e de muitos outros vírus, codifica para uma proteína-cinase que
transformação. fosforila a tirosina. Alguns vírus têm um gene para um fator que
A etapa essencial requerida para um vírus tumoral de DNA regula o crescimento celular (p. ex., fator de crescimento epi-
(p. ex., o SV40) causar uma transformação maligna é a expressão derma! ou fator de crescimento derivado de plaqueta), e ainda
dos genes "precoces,, do vírus (Tabela 43-5). (Os genes precoces outros têm um gene que codifica para uma proteína ligante de
são os expressos antes da replicação do DNA virai.) Esses genes DNA. A conclusão é que o controle do crescimento normal é um
precoces requeridos produzem um grupo de proteínas precoces, processo de várias etapas, que pode ser afetado em um ou mais
1
denominadas antígenos T. níveis. A adição de um oncogene viral perturba o controle do
O antígeno T grande, necessário e suficiente para induzir a processo de crescimento e resulta em tumor celular.
transformação, liga-se ao DNA do SV40 no local de ligação da O material genético virai permanece estavelmente integrado
síntese do DNA virai. Isso é compatível com o achado de que no DNA da célula hospedeira por um processo similar à lisogenia.
o antígeno T grande é requerido para a iniciação da síntese de No ciclo lisogênico, o DNA do bacteriófago torna-se estavelmente
DNA celular nas células infectadas pelo vírus. Bioquímicamente, integrado ao genoma bacteriano. O genoma de DNA linear dos fa-
o antígeno T grande possui atividade de proteína-cinase e de tri- gos temperados lambda forma um círculo de dupla-fita no interior
fosfato de adenosina (ATPase). A grande maioria dos antígenos da célula infectada, e, então, se integra covalentemente ao DNA
T grande está localizada no núcleo celular, mas alguns deles es- bacteriano (Tabela 43-6). Um repressor que previne a transcrição
tão na membrana celular externa. Nessa localização, o antígeno da maioria dos outros genes do fago lambda é sintetizado. Similar-
T grande pode ser detectado como um antígeno de transplante, mente, o DNA circular de dupla-fita dos vírus tumorais de DNA
denominado antígeno de transplante tumor-específico (TSTA, integra-se covalentemente no DNA das células eucarióticas, e so-
tumor-specific transplantation antigen). O TSTA é o antígeno que mente os genes precoces são transcritos. Até o momento, nenhum
induz a resposta imune contra o transplante de células transfor- repressor foi identificado em qualquer célula infectada por vírus
madas por vírus. Relativamente poucas informações são conhe- tumoral de DNA. Com os vírus tumorais de RNA (retrovírus), o
cidas sobre o antígeno T pequeno do SV40, exceto que se ele não genoma de RNA de fita simples linear é transcrito em um DNA de
for sintetizado, a eficiência de transformação decresce. Em célu- dupla-fita linear que se integra ao DNA celular. Em síntese, ape-
las infectadas pelo poliomavírus, o antígeno T médio possui o sar das diferenças em seus genomas e na natureza das células hos-
mesmo papel do antígeno T grande do SV40. pedeiras, esses vírus percorrem o caminho comum de um DNA
Em células infectadas por vírus tumorais de RNA, este gene de dupla-fita intermediário seguido pela integração covalente no
necessário pode ter uma entre muitas funções diferentes, depen- DNA celular e a subsequente expressão de certos genes.
dendo do retrovírus. O oncogene do vírus do sarcoma de Rous, Assim, como um bacteriófago lisogênico pode ser induzi-
do a entrar no ciclo replicativo por radiação ultravioleta e certas
substâncias químicas, os vírus tumorais podem ser induzidos por
1
Nas células infectadas pelo vírus SV40, dois antígenos T, o grande muitos mecanismos. A indução é uma das abordagens usadas
(PM 100.000) e o pequeno (PM 17.000) são produzidos, ao passo que nas
para determinar se os vírus tumorais estão presentes em células
células infectadas por poliomavírus, três antígenos T são produzidos, o
cancerígenas (p. ex., o vírus T linfotrófico humano foi descoberto
grande (PM 90.000), o médio (PM 60.000) e o pequeno (PM 22.000). Ou-
tros vírus tumorais, como os adenovírus, também induzem os antígenos por indução do vírus das células leucêmicas utilizando iodode-
T, os quais são imunologicamente distintos dos outros dois papovavírus. soxiuridina).
354 PARTE IV Virologia Clinica

--
TABELA 43·6 l isogenia como modelo para integração dos vírus tumorais

Transalçlo llm-
1Tipo dn lrus No... lni.graçio · - v irais
Fago temperado Fagolambda Vírus de ONAdf linear + +
VírustumoraldeONA Vírus SV40 Vírus de ONAdf circular + +
Víru.s tu moral de RNA Vírus do sarcoma de Rou.s Vírus de RNAfs linear + +'
df. dup1a-flta; fs, fita simples.
1Transcr\ç,aolmJtada em algumasctYulas ou sobcettas condições, mas transaiçJ,o lntegra.lcom muttlplkaç.\ovíral em outras.

Tr~s t&nkas t~m sido utilizadas para indu.tir vírus tumorais Quando a transm issão vertical ocorre, a exposição ao \'Í·
a se replkartm em células lransformadu: r-us p recocemente na vida pode resultar em tolerância aos an.
tígenos virais e. como consequência, o sistema imune não eJi.
(1) O método mais frequentemente utilizado é a adição de
minará o vírus-. Grandes- quantidades de \•frus são produzidas,
análogos de nudeosídeos (p. ex., iododes.ox.iuridina). O mecaniS·
e há alta frequência de câncer. Em contrapartida. quando uma
mo da indução por esses análogos ainda é incerto.
transmissão hor izontal ocorre, o animal imunocompetente
(2) O segundo método envolve a fusão com células ..auxi·
produz anticorpos conlra o \'Írus, e a freq uência do câncer é
Hares" (Lt.• a célula transformada não permissh•a é fundida com
baixa. Se um animal imunocompetente é tor-nado imunodefl.
uma célula permissiva) nas quais o \•irus passa por um ciclo de
dente por meio experimental, a frequência do câncer aumenta
multiplicação normal. No interior do heterocarionte (uma célula
de maneira considerável.
com dois o u mais núcleos, formada pda fusão de dois diferentes
A transmissão horizontal pro,•a"elmente não ocorre em se.
tipos celulares), o vírus tumoral é indu.tido e vírus infttdosos
res h umanos; aqueles em contato íntimo com pacientes com Cân·
são produzidos. O me<anismo de indução é deS('onhecido.
cer (p. ex., familiares e profüsionais da saúd e) não têm (re,quênda
(3) No terceiro método, os vírus auxiliares forne<em função
aumentada de câncer. Aconteceram su.rtos de leucemia em várias
ausente para complementar o vírus tumoral integrado. A infec.
<rianças na mesma tstola. mas eles foram interpretados estatiS·
ção com o vírus auxiliar resulta na produção tanto do \1 íru.s tu·
tkamente como e\ entos raros aleatórios que aconttttm de ma.
1

moral integrado quanto do vírus auxiliar.


neira coincidente.
O processo de resgate de vírus tumorais das células revelou a
existênda de vírus end ógenos. O tratamento de células embrio-
nárias normais m1o infutndns com os análogos de nudeosídeo VfRUS TUMORAIS HUMANOS
resultou na produção de rttrov(rus. O DNA retroviral está inte.
Existem sete vírus tumorais h umanos conhecidos (Tabela 43·7).
grado no DNA cromos.sômko de todas as células e sen·e como
Dois são \•irus de RNA: o vírus linfotrófico de <élulas T huma.
molde para a multiplicação \'iral Este DNA prÓ·\'iral p rO\•aveJ.
nas e o vírus da hepatite C. Os oulros cinco são vírus que pOS·
mente su rgiu da infecção retroviral da cé.Jula germinativa de al·
suem DNA como genoma: papilomavírus, o \'Írus Epsttin-Barr,
gum ancestral pré-histórico.
o herpes.vírus humano 8 (\•irus d o s.arcoma de Kaposi). o vírus
Os retrov(rus endógenos, que são resgatados de c~lulas de at.
gumas espécies (incluindo os seres humanos), diferem dependen. da hepatite B e o poliomavírus da célula de Merkel
do das espé<:ies de origem. Os retr0\'írus endógenos são xenotrópi·
cos (um:i significa estrangeiro; tropismo significa ser atraído por~ 1. Vírus tumorais de RNA
i.e., eles infe<tam com maior eficiência células de outras espécies Vírus T-linfot rófico hu mano
do que as células de sua espécie de o rigem). A entrada dos \•írus
endógenos nas células de origem é limitada como resultado de Existem dois vírus Hnfotróf'icos de células T humanas ( HTLVs,
uma interação do envelope \irai defe<ti\'O com o receptor celular. lmman T·ctll lympl1otropic virus) isolados até o momento, o
Embora des sejam retro\•írus.. a maioria dos \'Írus endógenos nào é HTLV· l e o HTL\f.2, ambos associados a leucemias e linfoma~.
vírus tumoral (i.e., somente poucos causam leucemia). O HTLV·l foi inicialmente isolado em 1980. das células de um
paciente com a fo rma cutànea de um liníoma de células T. Seu
RNA e suas proteínas são diferentes dos de todos os outros retro·
v(rus. Al6n de tausar câncer, o HTLV é a caus.a da paraparesia
TRANSMISSÃO DE VIRUS TU MORAIS
espástka tropical, uma doença autoimune em que ocorre a fra.
A transmissão dos vírus tumorais em animais experimentais queza progressi\•a das pernas. (Informação adicional sobre HTLV
pode ocorrer por dois processos: vertical e hor~ontal. A tran S· pode ser enconlrada no Capítulo 39.)
missão ,·er tical indica o movimento do vírus da màe para o O HTLV· 1 pode causar càncer por um mecanismo diíeren·
recém.nascido,. ao passo que a tr ansmissão horiz.on lal destre· te dos outros retrovírus. Não há on cogen e virai. Em \'et d isso,
ve a passagem do vírus entre animais que não têm uma relação o vírus possui dois genes especiais (além dos genes.padrão gag.
mãe.fllho. A transmissão \'ertical ocorre por três mé'lodos: (1) o pt,I e t'nv), denominados tax e rex, que possuem um papel na
material genético está no esperma ou no Ó\fulo, (2) o vírus passa oncogênese por regulação da transcrição e tradução de mRNA.
pela placenta, e (3) é transmitido na amamentação. A proteÚla Tax possui duas atividades: ( 1) da age nas sequêndas
CAPITUL043 VirusTumorais 355

TABELA 43·7

1.RNA
Variedades de vírus tu morais

1Acido nucloko gon6mlco Família virai


Retroviôdae
Vlrus -rals-
Vírus linfotrófico de células T
Virus tumorais de animais
Vírus causadores de sarcomas. leucemia e cardno•
Flaviviridae humanas mas em diversas espécies de aves e mamíferos
Vírus da hepatite C

2.0NA Papilomavirus Papilomavírus humano Papilomavirus de d iversos mamiferos


Herpes•virus Vírus Epstein•Barr; herpes-vírus O herpes-vírus saimiri causa linfomas em macacos;
humano 8 (vírus associado ao o vírus da d oença de Marek causa doença em
sarcoma de Kaposi) galinhas
Hepadnaviridae Virus da hepatite B Vírus de hepatites de patos e esquilos
Poliomavírus Poliomavirus da célula de Merkel Poliomavírus eo vírus SV40 causam d iversos cán·
ceres em roedores
Adenovírus Os adenovírus humanos dos sorotipos 12,18 e 31
causam sarcomas em roedores
Poxvírus Vírus do fi broma•mixoma; vírus tumoral do maca-
code Yaba

nudeotídkas presentes nas terminações longas e repetidas do ví- na costa Oeste de K)'ushu. Antkorpos encontrados no soro de
rus (LTR. long term;nnl re~al) estimulando a síntese de mRNAs pts.soas leuc~mkas e no soro de 25% da população normal de
virais;e (2) ela induz a atjvaçãodo fator KB (NF-KB), o qual esti- Kyushu reagiram com o HTLV- 1. (Somente uma pequena fração
mula a produção de interleudna 2 (Il-2) e também do receptor de indjvíduos infectados (0ntrai leu(t:mia, indkando que a infec-
para IL-2. O aumento nos nh·eis de IL-2 e seu receptor estimula ção pelo HTLV por si só é insulkiente para (a.usar (ân(er.) Allm
as (élulas Ta um crescimento contínuo. assim, aumentado a pro- dis.so, o HTLV-1 é endêmico em algumas áreas da África e em
babiUdade de essas (é.Julas se tornarem maligna~ A proteína Rex várias ilhas do Caribe, como demonstrado pela alta frequ~nda
determina qual mRNA pode deixar o núdeo e entrar no citoplas- de antkorpos. O número de pessoas (Om título de antkorpos po-
ma para ser traduzido. sitivos nos Estados Unidos é muito pequeno, exceto em certos
O HTLV- 1 não é um vírus endógeno (Le.• o DNA pró-virai Estados do Sudeste.
('Orrespondente ao seu RNA genômko não é enconlrado no DNA O HTLV-2 possui 60% de homologia genética com o
de (élulas humanas normais). Ele é um \'Írus exógeno adquirido, HTLV 1. Como o HTLV-1, de é transmitido prindpalmente por
uma \'eZ que o seu DNA pró-virai é en(ontrado somente no DNA sangue, s~men e células T CO4-positivas. Os testes sorológicos
de células de linfoma maligno. Ele infe(-ta células T CD4-posi- de rotina não distinguem entre o HTLV-1 e o HTLV-2; enlretan-
th•as, preferendalmente, e induz transformação maligna nessas to, outras técni('aS (p. ex., reação em ('adtia da polimerase) são
(élulas in vitro. Alguns (porém não todos) pacientes com linfoma requerida~
de (élulas T possuem antkorpos conlra o \'Írus, o que sugere que
o vírus pode não ser a causa de todos os linfomas de télulas T. Vírus da hepatite C
Anticorpos t'Ontra o vírus não são enconlrados na população em
geral, indicando que a infttção não é disseminada.· A infecção <rônka pelo vírus da hepatite C (HCV), da mesma
forma que no caso do vírus da hepatite B (HBV). também predis-
A transmissão ocorre principalmente por meio do alei-
lamento matemo. do contato sexual, e por meio da tro(a de põe ao cardnoma hepatoctlular. O HCV é um vírus de RNA que
não possui oncogene e não forma DNA intermediário durante a
sangue t'Onlaminado (p. ex., em transfusões sanguíneas e
no caso de usuários de drogas intravenosas). Nos Estados replicação. Ele causa hepatite crônica. que parece ser o prindpal
evento predisponente. (Informação adicional sobre o HCV pode
Unidos, o sangue para as transfusões é triado para anticor-
ser en(ontrada no Capítulo 41.)
pos anti-HTLV-1 e anti-HTLV-i-•. e é descartado se positivo.
Recentemente, o HT LV-1 e o HTLV-2 foram encontrados em
igual frtqu~nda no sangue doado. Os testes sorológicos para o 2. Vírus tumorais de DNA
HTLV não reagem cruzadamente t'Om o vírus da imunodeíl- Papilomavírus humano
dênda humana (HIV).
Aproximadamente no mesmo período da des(oberta do O papilomavírus humano (HPV. human papillomav;nu) é um
HTLV-1 . um vírus similar foi isolado de células T malignas no dos dois vírus ddlnith•amente conhttidos por (a.usar tumores
Japão. Nesse país, um agrupamento de casos foi descoberto tm seres humanos. Os papilomas (verrugas) são benignos, mas
podem progredir e formar cardnomas, sobretudo em uma pes-
soa imunocomprometida. O H PV infecta principalmente o epité-
•x de T. O Brasil. juntalllffltecom outros paises, como o Japão. aprestnta lio esamoso ou queratinizado da mu(os.a. (Informação adidonal
uma das maiores prC\•alêndas mundiais de infecção pclo HTLV e, con.se· sobre o H PV pode ser encontrada no Capítulo 38.)
quentemente. de linfomas de cilulas T. Os papilomavírus são vírus não envelopados que pos.suem
··N. de T. Esses testes tambêm são realizados cm bancos de sangue bra· como genoma uma mol&ula de DNA supereno•,elado. drt'ular e
s:iJdros.
356 PARTE IV Virologia Clínica

de dupla-fita, com um nudeocapsfdeo icosaédrico. A carcinogê. supressoras de tumor p53 e RB. o que origina a transformaç.ão
nese causada pelo HPV envo)ve duas proteínas codificadas pelos maligna das células endoteliais. (Informação adicional sobre o
genes E6 e E7, as quais interferem com a atividade de proteínas HHV-8 pode ser encontrada no Capítulo 37.)
codificadas por dois genes supressores de tumor encontrados em
células normais: p53 e Rb (retinoblastoma). Kas céJu)as caJ\cefO.. Vlrus da hepatite B
sas, o DNA virai é integrado no ONA ce)ular. e as proteCnas E6 e
E7 são produzidas. A infecção pelo HBV é significativamente mais comum em
Há pelo menos 100 diferentes tipos de HPV. e muitos de· pacientes que apresentam o carcinoma hepatocelular primá-
)es causam entidades clínicas distintas. Por exemp)o, HPV-1 a rio (hepatoma) do que em indivíduos não acometidos pela
HPV.4 e.ausam verrugas p)antares nas solas dos pés. ao passo que doença. Essa relação é notável em áreas da África e da Ásia,
HPV-6 e HPV· 11 causam verrugas anogenitais (coJ1di1oma acu. onde a incidência tanto de infecção pelo HBV quanto do he-
minado) e papilomas lar(ngeos. Certos tipos de HPV, principaJ. patoma é alta. A infecção crônica pelo HBV comumente causa
mente os tipos 16 e 18, são implicados como causa do carcinoma c irrose do fígado; esses dois eventos são os principais fatores
de colo do útero. do ~n.is e do ânus. predisponentes ao hepatoma. Parte do genoma do HBV está
integrada no DNA celular em células malignas. Entretanto. ne-
nhum gene do HBV foi definitiva.mente. implicado na oncogê-
Vírus Epstein-Barr nese. A integração do ONA do HBV pode causar mutagênese
O vírus Epstein-Batt (EBV) é um herpes-v(rus que foi isoJado a insercional. resultando na ativação de um oncogênese celular.
partir de células de um individuo da África Oriental com linfo- Adidona1mente, a proteína HBx pode apresentar um papel na
ma de Burkltt. O EBV, agente causal da mononucleose infecciosa. cardnogênese, uma ve:i que ela inibe a proteína supressora de
transforma os lU.1fócitos B em cultura e causa linfoma em saguis. tumor p53. (informação adicional sobre o HBV pode. ser en~
Ele é também associado ao carcinoma da nasofaringe, um tumor contrada no Capitulo 41.)
que ocorre principalmente. na China, e ao carcinoma tímico e ao
linfoma de células B, nos Estados Unidos. Entretanto, as células de Poliomavírus da célula de Merkel
pacientes com linfom.a de Burkitt nos Estados Unidos não mos-
O poliomavfrus da ckJula de Merkel (MCPV, Merkel ceU polyoma-
traram evidência de i1úecção pelo EBV. (húonnação adicional
virus) causa um carcinoma das células de Merkel na pele (células
sobre o EBV pode ser encontrada no Capítulo 37.)
Células isoladas de individuos da Áfric.a Oriental com lin- de Merkel são neurorreceptores de pressão e tato). O carcinoma
foma de Burkitt continham DNA de EBV e antígeno nudear de ocorre mais frequentemente na pele exposta ao sol, como na face
e no pescoço. lndiv(duos imunossuprimidos e idosos apresentam
EBV. Somente uma pequena fração de muitas cópias do DNA de
EBV estava integrada; a maioria do ONA vital encontra-se na predisposição para esse tipo de câncer.
fonna de círculos fechados., no citoplasma. Membros da familia Polyoma,•iridae são v(rus pequenos,
A dificuldade em provar que. o EBV é um vfrus nunoral não enve)opados, com o genoma composto por ONA de dupla-
humano é o fato de a infecção pelo v(rus ser disseminada, mas . fita, e que são conhecidos por causarem tumores em animais
(ver seção sobre vfrus tumotais de animais). A infecção pelo
o tumor ser raro. A hipótese atual é que a infecção pelo EBV
induz a proliferação das células B, aumentando a possibilidade MCPV é c-omum. como indicado pela presença de aJtticorpos
contra o ,1rus no sangue de muitos doadores saudáveis. O modo
de um segundo evento ocorrer {p, ex.• ativação de oncogene ce-
lular). Nas células do linfoma de Burkitt, um oncogene.celular. de transmissão ainda não é conhecido.
c-myc, que. está normalmente loca1iza.do no cromossomo s. é Em células do carcinoma. o DNA do MCPV está integrado
translocado ao cromossomo 14. no local dos genes da cadeia ao genoma da célula. O gene que codifica para o antígeno T gran-
de se encontra mutado, de forma que o vfrus não pode se replicar,
pesada da imunog)obulina. Essa translocação tta:t o gene c-myc
No entanto. o antigeno T grande continua a ser sintetizado, O an~
em justaposição a um promotor ativo. e grande quantidade de.
RNA de c-myc é sintetiza.da. Sabe--se que o oncogene c-myc co- tfgeno T induz a maligniz.ação da célula por meio da inibição de
difica um fator de transcrição, mas o papel desse fator na onco- proteínas supressoras de rumor, como p53 e RB. Uma vez que o
gênese é incerto. MCPV não se replica nas células do carcinoma. pacientes não são
i1úeciosos.
O diagnóstico é feito por meio de análises patológicas a par-
Herpes-vlrus humano 8 tir de espécimes cirúrgicos. Não há nenhum teste laboratorial,
O hetpes-vfrus humano 8 (HHV.s). também conhecido como baseado no vírus, clinicamente disponível. Não há terapia anti·
herpes-vírus associado ao sarcoma de Kaposi (KSHV. Kaposi) virai e nem vacina disponíveis. A prevenção envolve a redução
sarcoma-associated herpesvirus), causa o sarcoma de Kaposi da exposição ao sol. uso de bloqueadores solares e a realização
(SK). O SK é um tumor maligno de células endoteliais que apre- frequente de exames de pele para se detectar o câncer antes do
senta muitas células e hemácias em forma de fuso. É o tipo de surgime!lto de metástases.
c.ânc.er mais comum em pacientes com a síndrome da imunode-
ficiência adquirida (Aids). O KSHV pode ser transmitido tanto
sexualmente quanto por meio da saliva. Uma proteína codific.ada VACINAS CONTRA O CÃNCER
pelo KSHV. denominada antJgeno nudear associado à latência
(LANA, latency~ssociated nuclear ~nt1'gen), inativa as proteínas Há duas vacinas projetadas para prevenir o câncer de seres
humanos: a vacina para o HBV e a vacina para o HPV. O uso
CAPÍTU LO 43 Vírus Tu morais 357

disseminado da vacina de HBV na Ásia tem reduzido significati- muns aos retrovírus de uma espécie. Há três tipos morfológicos
vamente a incidência do carcinoma hepatocelular. A vacina con- importantes de retrovírus, denominados B, C e D, dependendo
tra o HPV, a causa do carcinoma de colo do útero, foi aprovada da localização do capsídeo ou cerne. A maioria dos retrovírus é
para uso nos Estados Unidos em 2006. de partículas do tipo C, mas o vírus do tumor mam ário de ca-
mundongos é uma partícula do tipo B, e o HIV, o causador da
Aids, é uma partícula do tipo D.
VÍRUS TUMORAIS DE ANIMAIS PODEM A sequência gênica do RNA de um vírus do sarcoma aviário
CAUSAR CÂNCER EM SERES HUMANOS? típico é gag, pol, env e src. Os retrovírus não transformadores pos-
suem três genes, pois perderam o gene src. A região gag codifica
Não há evidências de que os vírus tumorais de animais causem os antígenos grupo-específicos, o gene pol codifica para a trans-
tumor em seres humanos. Na verdade, a única informação dispo- criptase reversa, e o gene env codifica as duas proteínas do enve-
nível sugere que eles não causam, pois ( 1) as pessoas que foram lope (espículas) e o gene src codifica para a proteína-cinase. Em
inoculadas com a vacina de poliovírus contaminada com o SV40 outros retrovírus oncogênicos, como o HTLV-1, há uma quinta
não tiveram maior incidência de câncer que o grupo-controle região codificadora (o gene tax) próxima à extrem idade 3: que
não inoculado, (2) soldados inoculados com a vacina da febre codifica uma proteína que reforça a transcrição viral.
amarela contaminada com o vírus da leucemia aviária não tive- As sequências nas extrem idades 5' e 3' funcionam na inte-
ram alta incidência de tumores, e (3) membros de famílias que gração do DNA pró-viral e na transcrição dos mRNAs a partir do
possuíam gatos que morreram de leucemia, causada pelo vírus DNA pró-viral integrado, pela RNA-polimerase II do hospedeiro.
da leucemia felina, não mostraram aumento da ocorrência de A cada extremidade, há uma sequência3 chamada de LTR, que é
leucemia em relação às famílias-controle. Observa-se, entretan- composta por muitas regiões, e uma delas, próxima à extremida-
to, que alguns tumores de células humanas, como o linfoma não de 5 ', é o local de ligação para o tRNA iniciador.
Hodgkin, contêm DNA do SV40, mas a relação desse DNA com Após a infecção da célula por um retrovírus, os seguintes
a transformação maligna é incerta. eventos ocorrem: utilizando o genoma como molde, a transcrip-
tase reversa (uma DNA-polimerase RNA-dependente) sintetiza o
DNA pró-viral de dupla-fita. O DNA, então, é integrado no DNA
VÍRUS TUMORAIS DE ANIMAIS celular. A integração do DNA pró-viral é um evento obrigatório,
mas não há um local específico de integração. A inserção da LTR
1. Vírus tumorais de RNA viral pode reforçar a transcrição de genes celulares adjacentes.
Os vírus tumorais de RNA têm sido isolados de um grande nú- Se esse gene celular for um oncogene, pode resultar em transfor-
mero de espécies, com o cobras, aves e mamíferos, incluindo os mação maligna. Isso explica com o os retrovírus sem os oncoge-
primatas não humanos. Os vírus tumorais de RNA importantes nes virais podem causar transformação.
são listados na Tabela 43-7. Eles são importantes em razão de sua
ubiquidade, sua habilidade em causar tum ores em seus hospedei- 2. Vírus tumorais de DNA
ros de origem, seu pequeno número de genes e pela relação de
seus genes aos oncogenes celulares (ver seção Provírus e oncoge- Papovavírus
nes, página 350). Dentro do antigo grupo dos papovavírus (família que agora foi
Esses vírus perten cem à família Retroviridae (o prefixo desmembrada em Papillomaviridae e Polyomaviridae), os dois
retro significa reverso), nomeados assim em consequência de mais bem-caracterizados são os poliomavírus e o vírus SV40.
um a transcriptase reversa localizada no vírion. Essa enzima Os poliomavírus (poli significa muitos; oma significa tum or)
transcreve o RNA genômico em um DNA pró-viral de dupla- causam um a ampla variedade de tumores histologicamente di-
-fita, essencial para sua replicação. O genom a viral consiste em ferentes quando inoculados em roedores neonatos. Seu hospe-
duas moléculas idênticas de RNA senso-positiva. Cada molécula deiro natural é o camundongo. O vírus SV40, que foi isolado de
tem peso molecular de aproximadamente 2 X 106 ( esses são os células renais de macaco Rhesus, causa sarcomas em hamsters
únicos vírus que são diploides [i.e., possuem duas cópias do seu recém -nascidos.
genom a no vírion]). As duas moléculas são ligadas por ligações Os poliomavírus e o vírus SV40 compartilham muitas carac-
de hidrogênio por bases complementares localizadas próximas à terísticas biológicas e químicas (p. ex., dupla-fita, DNA circular
6
extremidade 5' de ambas as moléculas de RNA. Também ligado superenovelado de peso molecular 3 x 10 e um nucleocapsídeo
próximo à extrem idade 5' de cada RNA está o RNA de transfe- icosaédrico de 45 nm ). Entretanto, a sequência de seus DNAs e
rência (tRNA), que serve como iniciador 2 para a transcrição do a antigenicidade de suas proteínas são bastante distintas. Ambos
RNAem DNA. sofrem um ciclo lítico (permissivo) nas células de seus hospedei-
O capsídeo icosaédrico é circundado por um envelope con- ros naturais, com a produção da progênie viral. Entretanto, quan -
tendo espículas de glicoproteínas. Algumas proteínas do capsí- do eles infectam as células de espécies heterólogas, o ciclo não
deo interno são antígenos grupo-específicos, os quais são co- permissivo segue-se e nenhum vírus é produzido, sendo a célula
malignamente transformada.
2
A proposta deste tRNA iniciador é atuar como ponto de ligação para o
3
primeiro desoxinucleotídeo no início da síntese do DNA. Os iniciadores 0 comprimento da sequência varia de 250 a 1.200 bases, dependendo
são tRNAs normais das células que são características para cada retrovírus. do vírus.
3S8 PARTE IV Virologia Clínica

Nas células transformadas, o DNA virai integra-se no DNA AVALIE SEU CONHECIMENTO
da célula hospedeira, e somente proteínas precoces são sinteti-
zadas. Algumas dessas proteínas (p. ex., os antígenos T descritos 1. Em relação aos vírus que possuem um papel na carcinogênese
na página 343) são necessárias para a indução e manutenção do humana, qual das seguintes opções é a mais correta?
estado transformado. (A) O vírus Epstein-Barr é implicado como causa do carcinoma
O poliomavírus JC, um poliomavírus humano, é o causador da parte nasal da faringe principalmente na Ásia, onde ele é
da leucoencefalopatia multifocal progressiva (ver Capítulo 44). Ele transmitido por mosquitos em áreas rurais.
também causa tumores encefálicos em macacos e hamsters. Não há (B) A evidência para o vírus da hepatite C como causa do carcino-
ma hepatocelular inclui encontrar uma cópia do DNA viral do
evidência de que esse vírus cause câncer em seres humanos.
genoma do HCV integrado no DNA de hepatócitos.
(C) O vírus da hepatite B é implicado como causa do carcinoma
Adenovírus hepatocelular porque países com alta incidência de hepatite
Alguns adenovírus humanos, especialmente os sorotipos 12, 18 B crônica também apresentam alta incidência de carcinoma
hepatocelular.
e 31, induzem sarcomas em hamsters recém-nascidos e transfor-
(D) O vírus linfotrófico de células T humanas é um retrovírus que
mam células de roedores em cultura. Não há evidência de que foi encontrado associado à leucemia no Japão, mas não foi en-
esses vírus causem tumores em seres humanos, e nenhum DNA contrado nos Estados Unidos.
adenoviral tem sido detectado no DNA de quaisquer células hu-
2. Quanto aos oncogenes de vírus tumorais de DNA, qual das seguin-
manas tumorais. tes opções é a mais correta?
Os adenovírus passam tanto por um ciclo permissivo, em
(A) Eles codificam a proteína-cinase que fosforila a proteína p53.
algumas células, quanto por um ciclo não permissivo e transfor-
(B) Eles interagem com os proto-oncogenes celulares e os ativa.
mador, em outras. O genoma de DNA linear torna-se circular (C) Eles codificam fatores de crescimento celulares que ativam a
dentro da célula infectada, porém, ao contrário do que acontece fase S, de síntese de DNA.
com os papilomavírus e poliomavírus (em que o genoma inteiro (D) Eles codificam proteínas que se ligam a proteínas codificadas
se integra), somente uma pequena região do genoma dos adeno- pelos genes supressores de tumor.
vírus se integra ao genoma celular. Ainda assim, a transformação 3. Quanto ao mecanismo principal pelos quais os retrovírus oncogêni-
ocorre. Essa região codifica para muitas proteínas, e uma delas é cos causam transformações malignas, qual das seguintes opções é a
o antígeno T (antígeno tumoral). O antígeno T de adenovírus é mais correta?
necessário para a transformação e é antigenicamente distinto dos (A) Eles causam mutações pontuais em genes reguladores celulares.
antígenos T de poliomavírus e SV40. (B) Eles carregam genes para proteínas que atuam como fatores
celulares de crescimento.
Herpes-vírus (C) Eles sintetizam uma proteína que inibe a ação da proteína
celular p53.
Muitos herpes-vírus de animais são conhecidos por causar tu- (D) Eles codificam uma recombinase que causa a translocação de
mores. Quatro espécies de herpes-vírus causam linfomas em certos cromossomos.
primatas não humanos. Os herpes-vírus saimiri (Saímírííne her- (E) Eles codificam uma DNA-polimerase que aumenta a taxa de
pes-vírus 1) e ateies (Ateline herpes-vírus 1) induzem linfomas de síntese de DNA celular.
células Tem macacos do Novo Mundo. Já os herpes-vírus pan
(Paníne herpes-vírus 2) e papio (Papííne herpes-vírus 2) transfor-
mam linfócitos B em chimpanzés e babuínos, respectivamente. RESPOSTAS
Um herpes-vírus de galinhas causa a doença de Marek, uma 1. (C)
neurolinfomatose contagiosa e rapidamente fatal. A imunização 2. (D)
de galinhas com uma vacina viva atenuada resulta em decrésci- 3. (B)
mo no número de casos. Um herpes-vírus está implicado como
causa de carcinomas renais em sapos.
RESUMOS DOS ORGANISMOS
Poxvírus
Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam -
Dois poxvírus causam tumores em animais; eles são o vírus do -se na página 648. Favor consultar esses resumos para uma rápida
fibroma-mixoma (rabbít fibroma vírus), o qual causa fibromas ou revisão do material essencial.
mixomas em coelhos e em outros animas, e o vírus do tumor do
macaco de Yaba (Yaba monkey tumor vírus), o qual causa histio-
citomas benignos em animais e voluntários humanos. Pouco se QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
sabe sobre esses vírus.
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
contradas na seção de Virologia Clínica da Parte XIII: Questões
para Autoavaliação, a partir da página 703. Consulte também a
Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
na 731.
CAPÍTULO

Vírus Lentos e Príons 44


CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Doenças lentas de animais


Doenças lentas causadas por vírus convencionais Scrapje
Leucoencefalopatia muftifocal prog,essiva Visna
Paneocefalite es.cle,osante subaguda Encefalopatia espongiforme bovina
Síndrome da imunodeficiência adquirida Síndrome debilitante crônica
Doenças lentas causadas por prfons Aplique seu conhecimento
KutU Resumos dos organjsmos
Doença de Creutzfeldt·Jakob Questões para autoavaliação
Variante da doença de Creutzfeldt·Jakob (vCJD)

INTRODUÇÃO duas formas. Um RNA celular espedfico reforça essa mudança


conformacionaJ. Os prions são descritos de maneira mais deta-
Doenças infecciosas "lentas,. são causadas por um grupo hete· lhada no Capítulo 28.
rogêneo de ageJ\tes contendo tanto v(rus convencionais quanto As proteínas priônkas patogênicas podem ser conceitua).
ageJ\tes não convencioJ\ais, os quais J\ão são vCrus (p. ex., os ptI· mente imaginadas como proteínas maJfor-mada.s. Essas protei.
01ts). Príons são partículas contendo proteínas sem nenhum nas malformadas não apenas causam a CJO em seres humanos e
ácido nucleioo detectáve.J, que são altamente resistentes à ina- a doença da «vaca louca" 110 gado. mas também são suspeitas de
tivação pelo caJor, fonna1deido e Ju:t ultravioleta em doses que estarem envoMdas na patogênese de outras importantes doenças
inativariam os virus. Observa.se que os prions são resistentes do sistema nervoso central, como Alzheimer e Parkinson.
às temperaturas geralmente empregadas no cozimento.. um fato Em seres humanos, os agentes "'lentos" e.a.usam doenças no
que pode ser importante em sua possível habilidade de serem slsteina nen~oso central, caracterizadas por um longo período
transmitidos pelos a)iinentos (ver, a seguir. uma variante. da de incubaçã~ um início gradua} e um curso invariavelmente fa.
doença de Creutzfeldt-Jakob [CJD, Creutzfe/dt-Jakob disease)). ta1 e progressivo. Não há nenhuma terapia antimicrobiana para
Os prions são. entretanto.. inativados por agentes que desagre• essas doenças. Observa se que o termo lento se. refere à doença,
4

gam proteínas e lipídeos, como o fenol. éter. NaOH e hipodorito não à taxa de mu1tip1icação dos ,1rus que causam doenças lentas.
(ver Capítulo 28). A taxa de mu1tiplicação desses vírus é similar à da maioria de
A proteína prfon é codificada por um gene da c.élula nor. outros vírus.
mal e acredita se que faz parte de vias de transdução de sina1 em
4

As doenças humanas mediadas por prfons (p. ex.• kuru e


neurônios. A prote(na prfon nonnaJ (conhecida como PRPc. ou CJD) são chamadas de encefalopatlas espongiformes transmls-
proteína prfon celu)ar) possui uma quantidade significativa de sh-eis (TSEs, transmissible spongiform encephalopathia). O ter-
coiúormações em o: hé1ice. Quando a confonnação em a -hélice
4

mo espongifotme se refere aos buracos esponjosos, semelhantes


muda para uma folha '3-pre.gueada (conhecida como PrPS<::, ou aos do queijo sulço, visualizados no parênquima do encéfalo e
proteína prfon associada ao scmpie), essas formas anormais agre· que são e.a.usados pela morte dos neurônios (Figura 44 1). l\e.
4

gam.se em filamentos. os quais interrompem a função normal nhuma partku)a virai é visualizada no encéfa1o de pessoas com
dos neurônios e causam a morte celuJar. Os pdons, entretanto.. se essas doenças.
.. reproduzem" por meio do recrutamento das formas em a .hélice O termo encefalopatia se refere a um processo patológico no
pe)as formas anormais em folha '3-pregueada, alterando a con- encêfalo sem sinais de inflamação. Em contrapartida. o termo tn·
formação das primeiras. Perceba que a forma normal em « -hélice cefalite se refere a um processo inflamatório no enc.éfalo no qual
e a forma anormal em folha '3-pre.gueada apresentam a mesma estão presentes neutrófilos ou linfócitos. Em TSE.s. não há mu.
sequência de aminoâcidos. Apenas a conformação difere entre as danças inflamatórias no eoc.éfalo.
360 PARTE IV Virologia Clínica

Há evidências de que a quinacrina e outros análogos de acri-


dina inibam a formação da forma patológica PrPsc em cultura de
células. Esses fármacos têm sido atualmente testados em mode-
los animais por sua habilidade para tratar ou prevenir as doenças
• A •
pr1on1cas.
Doenças causadas por príons podem ser classificadas em
três categorias. Algumas são, claramente, doenças transmissíveis
(infecciosas), como o kuru; outras são claramente hereditárias
(genéticas), como a insônia familiar fatal; e outras são esporádi-
cas (nem infecciosa e nem hereditária), como é o caso da maioria
dos casos de CJD. Os casos esporádicos provavelmente são devi-
dos a mutações somáticas espontâneas nos indivíduos afetados.

DOENÇAS LENTAS CAUSADAS POR VÍRUS


CONVENCIONAIS
FIGURA 44-1 Encefalopatia espongiforme mediada por príons Leucoencefalopatia multifocal progressiva
(doença da vaca louca) - duas setas apontam para a aparência es- A leucoencefalopatia multifocal progressiva (PML, progressive
pongiforme (buracos semelhantes aos do queijo suíço) no encéfalo multifocal leukoencephalopathy) é uma doença fatal desmielini-
de uma vaca com doença da vaca louca. O encéfalo de um paciente zante da substância branca (i.e., leucoencefalopatia) e envolve
com a doença de Creutzfeldt-Jakob apresenta uma aparência seme-
múltiplas áreas do encéfalo (i.e., multifocal). Observa-se que ela
lhante. (Figura cortesia do Dr. AI Jenny, Public lmage Health Library, Centers for
não é uma encefalite uma vez que não há inflamação no encéfalo.
Disease Control and Prevention.)
O quadro clínico inclui defeitos do campo visual, mudan-
ças no estado mental e fraqueza. A doença rapidamente progride
A transmissibilidade do agente de kuru e CJD ("príonl') foi para a cegueira, demência e coma; a maioria dos pacientes morre
inicialmente estabelecida pela inoculação em primatas de mate- no período de seis meses. A doença ocorre principalmente em
rial proveniente dos encéfalos de pacientes infectados, seguida indivíduos que apresentam a imunidade celular comprometida,
por transferência seriada aos encéfalos de outros primatas. principalmente aqueles com a síndrome da imunodeficiência
Observa-se, entretanto, que a kuru e a variante da CJD adquirida (Aids). Pacientes recipientes de terapia contra o cân-
(e a encefalopatia espongiforme bovina [BSE, bovine spongiform cer ou pacientes que utilizam fármacos imunossupressores após
encephalopathy] - "doença da vaca loucà') são adquiridas por in- transplantes de órgãos também são acometidos. Alguns pacientes
gestão. Nesta rota, a proteína príon deve sobreviver à digestão submetidos a tratamento para esclerose múltipla com o anticor-
no trato intestinal, e, assim, penetrar na mucosa do intestino. A po monoclonal natalizumabe desenvolvem PML. A Tabela 44-1
proteína príon é, então, amplificada no interior do folículo das descreve algumas características importantes das doenças lentas
células dendríticas no tecido linfoide, como as placas de Peyer. virais em seres humanos causadas por vírus convencionais.
Os príons se disseminam para o baço, levados pelas células den- A PML é causada pelo poliomavírus JC, um membro da fa-
dríticas. Do baço, os príons se disseminam para o sistema nervo- mília Polyomaviridae. Os poliomavírus são vírus não envelopa-
so central, provavelmente por inervação simpática. dos com um genoma formado por DNA de dupla-fita circular. O
É também possível que os príons alcancem o encefálo por poliomavírus JC infecta e mata oligodendrócitos, causando des-
estarem no interior de linfócitos, uma vez que há um caso bem- mielinização. Os neurônios não são afetados. Anticorpos contra
-documentado de CJD adquirida por transfusão sanguínea. o poliomavírus JC são encontrados em aproximadamente 75%
Além disso, a CJD tem sido transmitida de maneira iatrogênica do soro de seres humanos em geral, indicando que a infecção é
(i.e., no contexto médico, por transplante de córnea, enxertos de muito difundida. A doença ocorre quando o poliomavírus JC la-
dura-máter, eletrodos implantados no encéfalo e extratos de hor- tente é ativado em pacientes imunocomprometidos. O vírus per-
mônio do crescimento produzidos a partir de hipófises humanas). siste nos rins e é excretado na urina. O diagnóstico é, em geral,

TABELA 44-1 Características importantes das doenças lentas virais causadas por vírus convencionais

Doença Vírus Família virai Características importantes

Leucoencefalopatia multifocal progressiva Poliomavírus JC Poliomaviridae Infecção generalizada; doença somente


em pacientes imunocomprometidos

Panencefalite esclerosante subaguda Vírus do sarampo Paramyxoviridae Doença em crianças jovens com vírus
defectivo no encéfalo

Síndrome da imunodeficiência V~usdaimunodeficiência Retroviridae O HIV infecta células CD4-positivas


adquirida (Aids) humana (HIV) (p. ex., macrófagos do encéfalo)
CAPITULO 44 Vírus l entos e Príons 361

realizado pelo ensaio da reação em cadeia da poJimerase de biôp- DOENÇAS LENTAS CAUSADAS POR
sia do encéfaJo ou Hquido cerebrospina1. Não há um tratamento
antivirai especifico. mas o cidofovir pode ser benéfico.
PRIONS
Existem cinco TSEs humanas causadas por pr(ons: kuru, CJD,
Panencefalite esclerosante subaguda variante de CJD. síndrome de Gerstmann-Sttãussler.Scheinker
(GSS, Gerstm,mn-Striiussler-Scheinker syndrome) e a insônia fa.
A panenc.efalite esderosante subaguda (SSPE. subacute sclerosing miJiar fatal. A Tabela 44--2 descreve aJgumas caracteristkas im-
p,mencephalitis) é. uma doença lenta e progressiva caracteriza-
portantes das doenças lentas humanas causadas pelos prions.
da por lesões inflamatôrias em muitas áreas do encéfa)o. ~ uma
doença rara que ocorre em crianças que foram infectadas com o
vírus do sarampo muitos anos antes do aparecimento da doença. Kuru
Diferentemente da PML, imunossupressão ndo é um fato predis. Essa doença fatal é caracteriz.ada por tremores progressivos e ata-
ponente. A SSPE inicia com )eves mudanças na personalidade e xia, mas não por demência. Ela ocorre somente entre membros
tennina com dem~ncia e morte. das tribos Fore da Nova Guiné. Ela foi transmitida durante um
A SSPE é uma infecção persistente por uma variante do v(. ritua1 no qual os crânios dos mortos foram abertos e os encéfalos,
rus do sarampo que não pode c-ompletar sua replicação. A evi. comidos. Há dois modos pelos quais a doença pode ser adquiri-
dência para essa ocorrência é: da: ou por ingestão de encéfalos ou por ferimentos na pele que
ocorrem durante a preparação dos encéfalos, quando tecidos de
(1) Corpúsculos de inclusão contendo nudeocapsideos heli-
encéfaJo são introduzidos no corpo. Desde que a prática foi en-
coidais, os quais reagem com anticorpos ao vírus do saramp~ são
visualizados nos neurônios afetados. cerrada, a kuru praticamente desapareceu. Os agentes da kuru e
(2) Um vírus similar ao v(rus do sarampo pode ser induzido da CJD (ver a seguir) têm sido transmitidos de maneira seriada
em primatas.
a partir dessas céJulas por cocultivo com céluJas permissivas em
cu1tu.ra. O vírus induzido possui uma proteína de matriz diferen-
te; essa proteína é importante na montagem viraL Doença de Creutzfeldt-Jakob
(3) Os pacientes possuem altos títulos de anticorpos contra O exame patológico de encéfaJos de pacientes com CJD e kuru
o ,1rus do sarampo no sangue e no Hquido cerebrospina1. revela a aparência espongiforme (esponja ou queijo suíço) similar
(4) A SSPE pratic.amente desapareceu nos Estados Unidos à associada com scrapieem ovelhas (ver posteriormente). As mu-
desde o inicio da imun.izaç.ão generaliz.ada com a vacina contra danças espongiformes são o resultado da vacuolizaç.ão e de perda
o sarampo. neuronais, em vez de desmielinização. Kão são visua1izadas cé-
lulas inflamatôrias no encéfa1o. Os prfons c.ausam scrapie e têm
A panencefalite progressiva pode ocorrer em pacientes com
rubéola congênita. sido encontrados nos encéfa1os de pacientes com CJO.
Ao contrário da kuru, a CJO é encontrada esporadicamen-
te no mundo e. afeta ambos os sexos. A incidência de CJD é de
Síndrome da Imunodeficiência adquirida aproximadamente um e.aso por milhão, e não há aumento de
A Aids é causada pelo v(rus da imunodefkiência humana (HIV). risco assoei.ado com hábitos alimentares.. ocupação ou exposição
um membro do gênero lentivfrus dos retrov(rus. A Aids é uma animal. lildividuos vegetarianos e indi,•Iduos que comem car-
doença com um longo período latente e um cutso progressivo e ne possuem a mesma ta."<a. A taxa de CJO é a mesma nos países
pode e1wolver o sistema nervoso central. Ver Capítu1o 45 para nos quais os animais têm scmpi'e e nos países em que os animais
mais informações.

TABELA 44-2 características importantes das doenças lentas causadas po r príons


Patog,ne.. Caractar,st1ca1 Importantes

Kuru T(ansmissível/lnfecciosa causada pela ingestão ou manuseio de tecido ce,ebral;


oco1(e éf'T'I populações tJibais na Nova Guin~

Doença de úeutzfeldt~Jakob 1. Transmissivél/infé<:ciosa Transmissão iauogOOica po( transporte de córnea, eletrodos


ce(eb(aise hormõnio do crescimento

2. Hereditária/genlitica Mutação em células germinauvas

3. Esporádica Nenhuma relação com qualquet causa con.h,e,cida; possível


nova mutação em ~ lula.s somáticas; é a forma mais comum

Vatiante da doença de C(eutzfeldt•Jakob Transmissível/iníecciosa P(ovavelmente adqui,ida po( ingestão de carne ou tecido
nervoso de animaiscom doença da vaca louca

Síndrome de Gerstmann•Striiussler-Sc-heinker Hereditária/genética Mutação em células germinativas

Insônia familiar ratai Hereditária/genética Mutação em células germinauvas


362 PARTE IV Virologia Clínica

não têm. Não há evidência de transmissão de pessoa a pessoa ou dada de form a autossôm ica dom inante. Nesses pacientes, 12
transm issão transplacentária. diferentes p ontos de mutações e muitas mutações insercionais
Não há aumento de risco para prestadores de cuidados mé- n o gene da proteína do príon têm sido encontrados. Um a delas,
dicos; portanto, jalecos e máscaras são desnecessários. As precau- a mutação de ponto no códon 102, é a mesma mutação encon-
ções-padrão para a obtenção de espécimes infecciosos devem ser trada em pacientes com a síndrome GSS - outra doença lenta
observadas. A doença tem sido transmitida de forma iatrogênica do sistema nervoso central de seres humanos. As principais ca-
(p. ex., em transplante de córnea, por meio de eletrodos intrace- racterísticas clín icas da sín drome de GSS são ataxia cerebelar
rebrais, em hormônios extraídos de hipófises humanas e em en- e paraparesia espástica. As form as h ereditárias dessa doença
xertos de dura-máter de cadáveres). Há somente um caso confir- podem ser preven idas pela detecção de portadores e aconse-
mado de CJD transmitida por transfusão de sangue, e o uso de lhamento genético.
drogas intravenosas não aumenta o risco. Esterilização apropriada A origem dessas encefalopatias espongiformes é composta
do material contaminado com o agente da CJD consiste no uso da por três formas: infecciosa, hereditária e esporádica. As formas
autoclavação ou tratamento com hipoclorito de sódio. infecciosas são a kuru e provavelmente a forma variante da CJD
Os prin cipais ach ados clínicos da CJD são demência (in- (ver a próxima seção). A transmissão do agente infeccioso foi
cluindo mudança comportamental, perda de memória e con - documentada por passagem seriada do material de encéfalo de
fusão) e mioclonias. Achados adicionais incluem ataxia, afasia, uma pessoa com CJD a chimpanzés. A forma hereditária é me-
perda visual e hemiparesia. Os sintomas muitas vezes aparecem lhor ilustrada pela síndrome GSS (ver parágrafo anterior) e por
gradualmente e progridem inexoravelmente. No estágio termi- uma doença fatal, cham ada de insônia familiar fatal. O termo es-
nal, o paciente torna-se mudo e acinético, e, então, com atoso. porádica se refere ao aparecimento da doença na ausência de uma
Cerca de 80% de todas as pessoas afetadas morrem no período causa infecciosa ou hereditária.
de um ano. A maioria dos casos ocorre em pessoas entre os 50 e A insônia familiar fatal é uma doença muito rara carac-
os 70 anos. terizada por insônia progressiva e disautonomia (disfunção do
Um diagnóstico provável de CJD pode ser realizado pato- sistema nervoso autônomo), resultando em vários sintomas, de-
logicamente pela detecção de mudanças espongiformes em uma mência e morte. Uma mutação específica na proteína príon é en-
biópsia de encéfalo. Perda neuronal e gliose são observadas. Pla- contrada em pacientes com essa doença.
cas amiloides são também observadas em alguns casos de CJD.
Na variante da CJD, placas ''floridas" compostas por placas ami- Variante da doença de Creutzfeldt-Jakob
loides semelh antes a flores circundadas por um halo de vacúo- (vCJD)
los são visualizadas. Imagens do encéfalo e o eletrencefalograma
podem mostrar mudanças características. Não há evidência de Em 1996, muitos casos de CJD ocorreram na Grã-Bretanha de-
inflamação (i.e., nenhum neutrófilo ou linfócito é visto). Os re- vido à ingestão de carne bovina. Esses casos são um a nova va-
sultados da contagem sanguínea e testes de rotina do líquido ce- riante da CJD (vCJD, também denominada nvCJD; new variant
rebrospinal são normais. O achado de uma proteína normal do of CJD) porque eles ocorreram em pessoas muito m ais jovens
encéfalo, denominada 14-3-3, no líquido cerebrospinal fornece e tinham certos achados clínicos e patológicos diferentes dos
suporte ao diagnóstico. encontrados na forma típica da doença. Nenhuma das pessoas
O diagnóstico específico de CJD é, em geral, realizado por afetadas havia consumido encéfalos bovinos ou ovinos, mas ma-
imuno-histoquímica, na qual anticorpos antipríons marcados terial encefálico havia sido m isturado em carnes processadas,
são utilizados para corar os espécimes de encéfalo do paciente. como salsichas.
Como ainda não foram desenvolvidos anticorpos antiproteínas Somente pessoas cuja proteína príon nativa é homozigota
príons, não há testes diagnósticos sorológicos. Nenhum anticor- para a metionina no aminoácido 129 contraem a vCJD. As pes-
po é produzido em seres hum anos, uma vez que estes são tole- soas cuja proteína príon nativa é hom ozigota para a valina no
rantes às proteínas príons. (Os anticorpos utilizados nos testes aminoácido 129, ou que são heterozigotas, não contraem a vCJD.
laboratoriais de imuno-histoquímica são produzidos em outros Esses achados indicam que as proteínas príons com metionina
animais nos quais os príons de seres humanos são imunogêni- são mais facilmente dobradas nas formas patológicas da folha
cos.) Diferentemente dos vírus, os príons não podem crescer em ~-pregueada.
cultura, portanto, não há métodos de diagnóstico com base em Os príons isolados de casos da forma "variante da CJD" em
culturas celulares. seres humanos se assemelham quimicamente aos príons isolados
Tecido tonsilar obtido de pacientes com a variante da CJD da doença da vaca louca mais que a outros príons, o que constitui
foi positivo para o príon, pela utilização de ensaios baseados em evidência para corroborar a hipótese de que a variante da CJD
anticorpos m onoclonais. O uso do tecido tonsilar ou outro tecido foi originada do consumo da carne bovina. Não há evidência de
linfoide similar pode prevenir a necessidade da biópsia de encé- que a ingestão de ovelha esteja associada à variante da CJD. Des-
falo. Proteínas de príon patológicas têm sido também detectadas de fevereiro de 2009, a vCJD foi diagnosticada em 209 pessoas,
no epitélio olfatório de pacientes com CJD. e 165 delas tinham vivido no Reino Unido. Três casos de vCJD
Não há tratamento para CJD e não há nenhum fármaco ou ocorreram nos Estados Unidos; imagina-se que em dois casos a
vacina disponível para a prevenção. doença foi adquirida no Reino Unido. Todos os casos de vCJD
Embora a maioria dos casos de CJD seja esporádico, cerca ocorreram em indivíduos que viveram em ou viajaram para um
de 10% são hereditários. A forma h ereditária (familiar) é h er- país onde a BSE foi detectada.
CAPITULO 44 Vírus lentos e Príons 363

t desconhecido o número de pessoas que carregam o pt{- preocupação significativa nos países onde a variante de CDJ pos-
on patogênico na forma latente (assintomática). A possibiHda- sa surgír em seres humanos. Dois casos de. BSE em gado bovino
de de que essas pessoas portadoras assintomáticas do prfon da nos Estados Unidos foram relatados.
'\-CJD possam ser a fonte de infecç.ão para outros (p. ex., por meio
de transfusão de sangue) tem levado os bancos de sangue nos Síndrome debilitante crônica
Estados Unidos a eliminar do pool de doadores pessoas que te-
nham vivido na G-rã-BretaJ\ha por mais de seis meses. A síndrome debilitante ctônic.a (CWD. chronic wasting disease)
de cervos e renas ê uma doença mediada por prfons que ocorre.
nos Estados Unidos. Já que a vCJD é fortemente suspeita de ser
transmitida pela ingestão de carne, há uma preocupação em re-
DOENÇAS LENTAS DE ANIMAIS
lação às consequências da ingestão de carne de cervos e de rena
As doenças lentas transmiss(veis dos animais são modelos im- (carne de caça). Em 2002. foi relatado que doenças neurodegene,.
portantes pata as doenças humanas. Scrapie e viso.a são doenças rafoias ocorreram em três homens que haviam com.ido carne de
de ovelhas. e BSE (doença da vaca louca) é uma doença de bovi- cervo nos anos 1990. Uma dessas doenças foi confirmada como
nos que parece ter surgido da ingestão de tecido de ovelha pelo CJO. Não estáclaro se há uma relação causaJ, e a vigilância conti-
gado bovino. A doença debi1itante crônica ocorre em cervos e nua. Essa preocupação foi intensificada em 2006. quando prfons
alces. Visna é causada por um v[ms. ao passo que as outras três foram detectados no músculo de cervo com CWD, mas não em
são doenças mediadas por prfon. múscu1o de cervos normais.

Scrapie
A scrapie é uma doença de ovelhas. caracterizada por tremores..
APLIQUE SEU CONHECIMENTO
ataxia e coceira, de\•ido à qual oveJhas raspam sua lã contra cer• 1. Em relação aos "vírus lentos" e suas doenças. qual das seguintes
cas. EJa tem um período de incubação de muitos meses. A de· opções ea mais correta?
generação espongiforme sem inílam.ação é visualizada no tecido (A) Os \tirus que causam doenças lentas. como a lcucocnccfa1opa·
cerebraJ dos anünais afetados. h transmitida aos camundongos e tia mu.JtifocaJ progress.iva ( P~1L), têm baixa taxa de replicarão
a outros animais por um extrato enc.efàlico que não contém ne• que conta para o longo pcriodo latente e lenta progressão da
nhuma partícula virai reconhecível Estudos em camundongos doença.
(B) A PML é causada por um \tirus que causa infecções inaparcn·
reveJaram que a infecth•idade está associada a uma proteína de
tes generalizadas.
peso moJecuJar de 27 mil conhecida como u1n príon (ver Agentes
(C) A doença de Crcutzfcldt·Jakob (CJD) e causada pelo po1io-
virais semelhantes a v(rus.. Capítulo 28). mavirus CJ, um rctrovfrus que integra uma cópia de seu DNA
gcnômko no DXA de neurônios cerebrais.
Vlsna (D) A CjD ocorre principalmente cm indivíduos imunocompro·
metidos. mas a infecção com o ,•írus que causa a CjO é co·
Visna é uma doença de ovelhas caracterizada por pneumonia mum. como C\'idcnciado pela presença de anticorpos.
e lesões desmieJinizantes no encêfaJo. Ela é causada pelo vf.
2. Quanto aos prions. qual das scg-..iintcs opções é a mais. correta?
rus visna-maedi. um membro do gênero UnlivinH da família
Retroviridae. Dessa forma. possui um genoma de R.KA diploide (A) O genoma dos prions consiste cm Ri'IA de polaridade ncgati\'a
de fita simples e uma DNA.poliinerase. dependente de RNA em que tem um gene da pol.imcras.c dcfccti\'o.
(B) As proteínas prfons são caracterizadas por apresentarem
seu v(rion. Acredita.se que a integração do DNA pró-viraJ no
mudanças confonnacionais da forma U·hélicc para a forma
DNA da célula hospedeira possa ser importante para a petsistên· !l·prcgucada.
eia do vírus no hospedeiro e, consequentemente, em seu longo e (C) Os príons são muito scnsÍ\'ciS à tuz ultravioleta. moth'O pdo
prolongado período de incubação e curso progressivo. qual a luz. UV eutilizada cm salas de cirurgia de hospitais para
evitar a sua transmissão.
Encefalopatla espongiforme bovina (D) A principal defesa contra os prions consiste cm uma resposta
intlamatôria composta principalmente por macrófagos e céJu.
A BSE é também conhe<:ida como doença da vaca louca. O gado las T C04-positi1,'aS.
torna.se agressivo, atá.xico e, por fim, morre. O gado bovino 3. Em rdarlo à leucocnccfa1opatia multifocal progrcssi1,-a ( PML), qual
adquire a BSE por meio de alimentos suplementados com órgãos das .seguintes opções é a mais correta?
(p. ex., encéfalo) obtidos de ovelhas infectadas com prfoits scra-
(A) Ela é causada por um mutante dcfocli\'O do \•írus do sarampo.
pie. (~ tambêm possível que a BSE surja no gado por uma muta· (B) O vírus permanece latente cm hcpatôcitos por muitos anos.
ção no gene que codifica a proteína prfon.) (C) As lesões ocorrem cm muitas áreas do encéfalo, resultando cm
A BSE é endêmica na Grã. Bretanha. A suplementação aJi- diversos sintomas.
mentar com ôrgãos de ovelhas foi banida na Grã•Btetanha em (D) O acidovir é o fármaco de escolha para pacientes cm estágios
1988 e milhões de bovinos foram sacrificados, duas medidas que iniciais da PML.
levaram a um declínio pronunciado no número de novos ca• (E) Ela é caracterizada por uma reação inflamatória no cncéfa1o
sos de BSE. A BSE foi encontrada em bovinos em outros países contendo muitos neutr661os.
europeus, como França, Alemanha, Itália e Espanha, e h.á uma
364 PARTE IV Virologia Clínica

4. Quanto às doenças mediadas por príons, qual das seguintes opções RESPOSTAS
é a mais correta?
1. (B)
(A) As doenças mediadas por príons são caracterizadas por vacúo-
2. (B)
los no encéfalo, denominados "modificações espongiformes".
3. (C)
(B) A variante da doença de Creutzfeldt-Jakob é uma doença do
4. (A)
gado bovino causada pela ingestão de encéfalo de ovelha mis-
turado ao alimento do gado.
(C) Kuru é uma doença mediada por príons para a qual o diagnós-
tico pode ser confirmado em laboratório por aumento maior RESUMOS DOS ORGANISMOS
ou igual a quatro vezes no título de anticorpos.
(D) Na doença de Creutzfeldt-Jakob, somente os neurônios laten- Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam -
temente infectados pelo poliomavírus JC produzem filamen- -se na página 648. Favor consultar esses resumos para uma rápida
tos de príon que rompem a função neuronal. revisão do material essencial.
(E) A doença de Creutzfeldt-Jakob ocorre principalmente em
crianças antes dos 2 anos de idade, uma vez que elas não apre-
sentam resposta imune adequada contra a proteína príon. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
contradas na seção de Virologia Clínica da Parte XIII: Questões
para Autoavaliação, a partir da página 703. Consulte também a
Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da pági-
na 731.
CAPÍ T U LO

Vírus da Imunodeficiência
Humana 45
CONTEODO DO CAPITULO

Doença Diagnóstico labo,atocial


Características importantes T,atamento
Resumo do ciclo de multiplicação Prevenção
T,ansmissão e epidemiologia Aplique seu conhecimento
Patogénese e imunidade Resumos dos organismos
Achados clínicos Questões para autoavaliação

Doença O gene gagcodifica. as proteínas do ..cerne,. interno. entre as


quais a mais importante ê a protelna p24. Ela é relevante clinica-
O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é a causa da síndro•
mente, uma vez que é o antígeno nos testes sorológicos iniciais
me da imunodeficiência adquirida (Aids).
que determina se o paciente tem anticorpos ao HIV (i.e., se está
Os vírus HIV· l e HJV.2causam Aids.mas o HIV· l éencon• infectado com o HIV) (ver seção de Diagnóstico laboratorial,
trado mundiahnente, ao passo que o HIV.2 é encontrado princi.
neste capítu)o).
paimente na Afric.a Ocidental Este capítulo se refere ao HIV· 1,
salvo quando forem discutidos outros assuntos pertinentes.

Características Importantes
O HIV é um dos dois importantes retrovirus )infotróficos de
cé)ulas T humanas (o outro é o HTLV, human T•cell leukemia
vitus). O HIV infec ta e mata preferendalmente l lnfócito.s T
auxiliares (CD4), resultando na perda da imunidade ceJu)ar e
a1ta probabiHdade de que o hospedeiro desenvolva infecções
oportunistas. Outras cê)ulas (p. ex., macrófagos e monócitos)
que possuem proteína CD4 em sua superfkie. podem também
ser i1úectadas.
O HIV pertence ao gênero lentiv;rus da famfüa Retroviri-
dae., e causa üúecções "lentas" com longos períodos de incubação
(ver Capítulo 44). O HIV possui um capsídeo cô,tico (tipo D)
envolto por um enve)ope contendo glkoproteinas virais esped-
ficas (gpl20 e gp4 1) (Figuras 45-1 e 45-2). O genoma do HIV
consiste em duas mo)écu1as idênticas de RNA de fita simp)es. de
po)aridade positiva, ditas dlploides. O genoma do HIV é o mais
comp)exo dos retrov(rus conhecidos (Figura 45-3). A)ém dos FI GURA 45·1 Vírus da imunodefici~nda adquirida (HlV)- microfoto--
grafia eletrônica. A seta grande aponta pata um vítion de HIV maduro
três genes retrovirais típicos,g~g. pol e env, os quais codificam as que acabou de se, liberado do linfócito infectado na parte inferior da
proteínas estruturais. o RNA genômico possui seis genes reguJa. figura. A seta pequena (na parte inferior' esquerda da imagem) apon~
dores (Tabe)a 45· l). Dois desses genes regu1adores, Mt e rev, são ta para muitos vítions nascentes no citoplasma, imediatamente antes
necessários para a replicação virai, e os outros quatro. neJ. vif, vpt d e brotarem da membrana celular: {Figura conesla do Dr. A. Harrlson, Dr.
e vpu. não são necessários para a repJicação e são denominados P. Felrlnoe Dr. E. Pafmer,Publlc lmage Health Llbrary, Centers for DlseaseControl
"genes acessôrios". and Preventlon.)
366 PARTE IV Virologia Clínica

gp41 env mum na América do Norte. O subtipo B infecta preferencialmen-


~ te células mononucleares e parece ser rapidamente transmitido
Transcriptase
reversa
durante o sexo anal, ao passo que o subtipo E infecta preferen-
cialmente células do trato genital de mulheres e parece ser rapi-
gp12oenv damente transmitido durante o sexo vaginal.
v Três enzimas estão localizadas no nucleocapsídeo do vírion:
transcriptase reversa, integrase e protease (ver Figura 45-2).
A transcriptase reversa é a DNA-polimerase RNA-depen-
dente, fonte do nome da família dos retrovírus. Essa enzima
Proteína de
matriz p17 transcreve o RNA genômico em DNA pró-virai. A transcriptase
reversa é uma enzima bifuncional; ela apresenta uma atividade
de ribonuclease H. A ribonuclease H degrada o RNA quando
Bicamada lipídica
este está presente na forma híbrida RNA-DNA. A degradação
do RNA genômico virai é um passo essencial na síntese do DNA
FIGURA 45-2 Secção transversal do vírus da imunodeficiência
pró-virai de dupla-fita. A integrase, outra enzima importante
adquirida (HIV). No interior, duas moléculas de RNA virai são mostra-
no interior do vírion, medeia a integração do DNA pró-virai no
das associadas à transcriptase reversa . Envolvendo essas estruturas,
está o nucleocapsídeo retangu lar, composto por proteínas p24. Ob- DNA da célula hospedeira. A protease virai cliva as poliproteínas
serva-se que a protease virai e a integrase estão também localizadas precursoras em polipeptídeos virais funcionais.
no interior do capsídeo (além da transcriptase reversa), mas, por au- Um gene regulador essencial é o tat (transativação da
sência de espaço, não estão mostradas na figura. No exterior, estão as transcrição), 1 o qual codifica a proteína que aumenta a transcri-
duas proteínas do envelope, gp120 e gp41, que estão encaixadas no ção dos genes virais (e talvez dos genes celulares).
envelope de bicamada lipídica, derivada da membrana celular. (Repro- A proteína Tat e outra proteína reguladora codificada pelo
duzida, com permissão, de Green WC. Mechanisms of disease: the molecular bio- HIV, denominada Nef, reprimem a síntese de proteínas do
logy of human immunodeficiency virus type 1 infection. NEJM. 1991 ; 324(5):309.)
complexo principal de histocompatibilidade (MHC) de clas-
se I, reduzindo a habilidade das células T citotóxicas de ma-
O gene pol codifica muitas proteínas, incluindo a "transcrip- tarem as células infectadas pelo HIV. O outro gene regulador
tase reversà' do vírion, a qual sintetiza DNA utilizando o RNA essencial, rev, controla a passagem do mRNA tardio do núcleo
genômico como molde, uma integrase que integra o DNA vi- ao citoplasma. A função dos quatro genes acessórios está des-
crita na Tabela 45-1.
rai no DNA genômico celular, e a protease que cliva as diversas
A proteína acessória Vif (infectividade virai) aumenta a in-
proteínas precursoras virais. O gene env codifica a gpl60, uma
glicoproteína precursora que é clivada para formar as duas glico- fectividade do HIV por inibir a ação da APOBEC3G, uma enzi-
proteínas do envelope (superfície), gp120 e gp41. ma que causa hipermutação no DNA retroviral. A APOBEC3G
As diferenças na sequência de base do gene que codifica a é a "enzima apolipoproteína B editora de RNX' que desamina
gp120 são utilizadas para subdividir o HIV em subtipos, chama- citosinas no mRNA e no DNA retroviral, inativando, assim, essas
dos de clados. Diferentes clados são encontrados em diferentes moléculas e diminuindo a infectividade. A APOBEC3G é con-
áreas do mundo. Por exemplo, o clado B é o subtipo mais co- siderada um importante membro da imunidade inata do hos-
pedeiro contra a infecção retroviral. O HIV se defende contra a
imunidade inata do hospedeiro produzindo Vif, que neutraliza a
APOBEC3G, prevenindo a ocorrência da hipermutação.
gag pol env
Há muitos antígenos do HIV importantes:
LTR p24* PROT POL H INT gp120 gp41 LTR
5' - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - - + - - - + - - - 3'
VIF TAT VPU REV NEF (1) gp120 e gp41 são as glicoproteínas tipo-específicas do
envelope. A gpl20 se projeta a partir da superfície e interage
FIGURA 45-3 O genoma do vírus da imunodeficiência adquirida com o receptor CD4 (e com uma proteína secundária, um recep-
(HIV). Acima da linha estão os três genes que codificam para as prin- tor de quimiocina) na superfície celular. A gp41 está encaixada
cipais proteínas estruturais: (1) o gene gag codifica os antígenos inter- no envelope e medeia a fusão do envelope virai com a membra-
nos grupo-específicos (p. ex., p24); (2) o gene pol codifica proteínas na celular durante a infecção. O gene que codifica a gp120 sofre
que possuem quatro diferentes atividades enzi máticas: protease mutações rapidamente, resultando em muitas variantes antigê-
(PROT), uma poli merase que funciona como transcriptase reversa
nicas. A região mais imunogênica da gp 120 é chamada de alça
(POL), RNase H (H) e integrase (INT); (3) o gene env codifica as duas
V3; esse é um dos locais que variam antigenicamente em grau
glicoproteínas do envelope vira i, gp 120 e gp41. Abaixo da linha es-
tão cinco genes regu ladores: fator de infectividade virai (VIF), proteína
significativo. Anticorpos anti-gpl20 neutralizam a infectivida-
transativadora (TAT), proteína virai U (VPU), regulador da expressão de de do HIV, mas o rápido aparecimento de variantes de gp 120
proteínas virais (REV) e fator regulador negativo (NEF). Nas duas ex- tem dificultado a produção de uma vacina efetiva. A alta taxa de
tremidades, estão as terminações longas repetidas (LTR), as quais são
os locais de início de transcrição. No interior da 5' LTR está o local de
1
ligação para a proteína TAT, denominado elemento de resposta à tran- Transativação se refere à ativação da transcrição de genes distantes do
sativação (TAR). TAT aumenta o início e o elongamento da transcrição gene (i.e., outros genes no mesmo DNA pró-viral ou no DNA celular).
do mRNA virai. (*p24 e outras pequenas proteínas, como p17 e p7, são Um local de ação da proteína Tat é a terminação longa repetida na extre-
codificadas pelo gene gag.) midade 5' do genoma viral.
CAPÍTULO 45 Vírus da Imunodeficiência Humana 367

TABELA 45-1 Genes e proteínas do vírus da imunodeficiência humana

Proteínas codificadas pelo


Gene gene Função das proteínas

1. Genes estruturais encontrados em todos os retrovírus

gag p24,p7 Nucleocapsídeo


p17 Matriz
1
pol Transcriptase reversa Transcreve RNA genômico em DNA
Protease Cliva polipeptídeos precursores
lntegrase Integra o DNA v irai no genoma da célula hospedeira
env Gp120 Ligação à proteína CD4
Gp41 Fusão com a célula hospedeira

li. Genes reguladores encontrados no vírus da imunodeficiência humana necessários para a replicação

tat Tat Ativação da transcrição de genes virais


rev Rev Transporte de mRNAs tardios do núcleo para o citoplasma

Ili. Genes reguladores encontrados no vírus da imunodeficiência humana que não são necessários para a replicação (genes acessórios)

nef Nef Reduz proteínas CD4 e proteínas do MHC de classe I na superfície das células infectadas;
2
induz morte de célulasT citotóxicas não infectadas; importante para a patogênese do SIV
vif Vif Aumenta a infectividade por inibição da ação da APOBEC3G (uma enzima que causa hiper-
mutação no DNA retroviral)
vpr Vpr Transporta o cerne v irai do citoplasma ao núcleo em células que não estão em d ivisão
vpu Vpu Aumenta a liberação do v írus a partir da célula

MHC, complexo pri ncipal de histocompatibilidade (do inglês, major histocompatibility complex).
1
A transcriptase reversa também possui atividade de ribonu clease H, a qual degrada o RNA genômico para perm it ir que a segunda fita de DNA seja prod uzida.
2
M utantes do gene nef do vírus da imunodeficiência símia (SIV) não causam Aids em macacos.

mutação pode ser devida à ausência de uma função de correção com SIV. As proteínas do SIV assemelham-se às do HIV-2 mais
da transcriptase reversa. estreitamente que as dos isolados originais de HIV.
(2) O antígeno grupo-específico p24 está localizado no cer-
ne e não há variação descrita. Anticorpos contra p24 não neu- Resumo do ciclo de multiplicação
tralizam a infectividade do HIV, mas servem como importante
marcador sorológico da infecção. Em geral, o ciclo de multiplicação do HIV segue o ciclo carac-
terístico dos retrovírus (Figura 45-4). O passo inicial de entra-
A gama de hospedeiros naturais do HIV é limitada aos seres da do HIV nas células é a ligação do vírion da proteína do en-
humanos, embora certos primatas possam ser infectados expe- velope gpl20 à proteína CD4 da superfície celular. A proteína
rimentalmente. O HIV não é um vírus endógeno de seres hu- gp 120 do vírion interage, então, com uma segunda proteína
manos (i.e., nenhuma sequência do HIV é encontrada no DNA na superfície celular, um dos receptores de quimiocina. Em
de células humanas normais). A origem do HIV e como ele foi seguida, a proteína gp4 l do vírion medeia a fusão do envelope
introduzido nas populações humanas são questões que perma- viral com a membrana celular, e o cerne viral contendo nu-
necem incertas. Há evidência de que chimpanzés que vivem na cleocapsídeo, RNA genômico e transcriptase reversa penetra
África Ocidental tenham sido a fonte do HIV-1. Se os chimpan- no citoplasma.
zés fossem a fonte de HIV para seres humanos, seria um bom Os receptores de quimiocina, como as proteínas CXCR4 e
exemplo de um vírus que "cruza a barreira entre espécies". CCRS, são necessários para a entrada do HIV nas células CD4-
Além do HIV-1, dois outros retrovírus similares são dignos -positivas. As amostras de HIV que possuem tropismo pelas cé-
denota: lulas T se ligam ao CXCR4, ao passo que as amostras que pos-
suem tropismo pelos macrófagos se ligam ao CCRS. Mutações
(1) O vírus da imunodeficiência humana tipo 2 (HIV-2)
no gene que codifica o CCRS protegem o indivíduo contra a
foi isolado de um paciente com Aids na África Ocidental, em
infecção pelo HIV. Pessoas que são homozigotas recessivas são
1986. As proteínas do HIV-2 são somente cerca de 40% idênticas
completamente resistentes à infecção, e os heterozigotos progri-
às dos isolados iniciais do HIV. O HIV-2 permanece localizado
dem para a doença mais lentamente. Cerca de 1% da população
principalmente na África Ocidental e é muito menos transmis-
ancestral da Europa Ocidental possui mutações nesse gene, e cer-
sível que o HIV- 1.
ca de 10 a 15% são heterozigotos. Uma das mutações mais bem-
(2) O vírus da imunodeficiência símia (SIV) foi isolado de
-caracterizadas é a mutação delta 32, na qual 32 pares de base
macacos com uma doença semelhante à Aids. Anticorpos pro-
encontram-se removidos do gene CCRS.
venientes de algumas mulheres africanas reagem cruzadamente
368 PARTE IV Virologia Clínica

Inibição por inibidores de entrada


(enfuvirtida, maraviroque) __________________

Vírion\
(~,,~ , , - - .....
Núcleo

~ . ,,'
1,,,11,,,,,
.....'l . . .
/
/
' '\
\
\
1
Transcrição 1
/
/ RNAs genõmicos
Transcrição\
reversa ~
- - ~
~

Inibição por
inibidores de
@ Côp;a doDNA
Clivagem
pela
protease
transcriptase reversa
(zidovudina e outros) r
Inibição por
inibidores de
Inibição por inibidores protease
de integrase (raltegravir) (indinavir
e outros)

FIGURA 45-4 Ciclo replicativo do vírus da imunodeficiência adquirida (HIV). A figura mostra os locais de ação de fármacos importantes utiliza-
dos no tratamento das infecções pelo HIV. O modo de ação dos inibidores de transcriptase reversa, inibidores de entrada, inibidores de integrase
e inibidores de protease são descritos no Capítulo 35. No lado direito da figura, o item "clivagem pela protease" descreve o processo por meio do
qual a protease codificada pelo vírus cliva a poliproteína Gag-Pol em duas proteínas virais funcionais à medida que o vírus brota pela membrana
celular. Essas proteínas funcionais recém-sintetizadas são transportadas pelo vírion maduro para a próxima célula e agem dent ro da célula recém-
-infectada. A transcriptase reversa e a integrase são duas dessas proteínas virais. (Modificada e reproduzida, com permissão, de Ryan Ket ai. Sherris Medical
Microbiology. 3rd ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1994 McGraw-Hill.)

No citoplasma, a transcriptase reversa transcreve o geno- Tl e a proteína viral Tat são partes do complexo que transcreve o
ma de RNA em DNA de dupla-fita, o qual migra para o núcleo, mRNA viral. As proteínas celulares também estão envolvidas no
onde se integra ao DNA da célula hospedeira. O DNA viral pode processo de brotamento pelo qual o vírus deixa a célula.
integrar-se em diferentes locais no DNA da célula hospedeira, e
múltiplas cópias do DNA podem ser integradas. A integração é Transmissão e epidemiologia
mediada por uma endonuclease codificada pelo vírus (integrase).
O mRNA viral é transcrito a partir do DNA pró-viral pela RNA- A transmissão do HIV ocorre principalmente pelo contato sexual
e por transferência de sangue contaminado. A transmissão pe-
-polimerase da célula hospedeira (aumentada pela proteína Tat
rinatal a partir de mães infectadas ao neonato também ocorre
codificada pelo vírus) e traduzido em várias poliproteínas. As po-
por cruzamento da barreira placentária no nascimento ou pela
liproteínas Gag e Pol são clivadas pela protease viral, ao passo que
amamentação. É estimado que mais de 50% das infecções neona-
a poliproteína Env é clivada por uma protease celular.
tais ocorram no momento do nascimento e que a porcentagem
A poliproteína Gag é clivada para formar a principal pro-
teína do cerne viral (p24), a proteína de matriz (pl7) e muitas restante seja dividida em partes iguais entre a transmissão trans-
placentária e o aleitamento. Não há evidência de transmissão do
proteínas pequenas. A poliproteína Pol é clivada para formar
HIV via aérea, pela água ou por insetos.
transcriptase reversa, integrase e protease. O vírion imaturo con-
tendo as poliproteínas precursoras é formado no citoplasma, e A infecção ocorre pela transferência de células infectadas
pelo HIV ou por partículas do HIV livres (i.e., HIV não associa-
a clivagem pela protease viral ocorre quando o vírion imaturo
do à célula). Embora pequenas quantidades de vírus sejam en-
brota da membrana celular. Esse processo de clivagem resulta na
contradas em fluidos (p. ex., saliva e lágrimas), não há evidência
forma madura e infecciosa do vírion.
de que elas tenham um papel na infecção. Em geral, a transmis-
Observa-se que a multiplicação do HIV é dependente tanto de
são do HIV segue o modelo da infecção pelo vírus da hepatite B,
proteínas virais quanto de proteínas celulares. Primeiramente, há
exceto pelo fato de que o HIV é transferido com menor eficiência
proteínas celulares necessárias durante os eventos precoces, como a
(i.e., o inóculo viral necessário para causar infecção pelo HIV é
proteína CD4 e os receptores de quimiocina CXCR4 e CCRS. Pro-
teínas celulares, como a actina e a tubulina, estão envolvidas com o muito maior que para o HBV). Pessoas com doenças sexualmente
transmissíveis, principalmente as com lesões ulcerativas, como
movimento do DNA viral para o núcleo. A proteína celular ciclina
sífilis, cancros e herpes genital, têm risco significativamente mais
CAPÍTULO 45 Vírus da Imunodeficiência Humana 369

alto de adquirir o HIV. Homens não circuncisados têm risco sa esses tumores diretamente uma vez que não é encontrado nas
maior de adquirir o HIV que os circuncisados. células cancerígenas. A infecção inicial do trato genital ocorre
A transmissão do HIV via transfusão sanguínea tem sido em células dendríticas que revestem a mucosa (células de Lan-
grandemente reduzida pela testagem de doadores de sangue para gerhans); após, as células T auxiliares CD4-positivas se tornam
a presença de anticorpos para o HIY. Entretanto, há um período infectadas. O HIV é primeiramente encontrado no sangue, cerca
precoce na infecção, denominado "janelà', quando o sangue de de 4 a 11 dias após a infecção.
uma pessoa infectada pode conter o HIV, mas os anticorpos ain- A infecção pelo HIV também tem como alvo um subcon-
da não são detectáveis. Atualmente, bancos de sangue testam junto de células CD4-positivas, denominadas células Thl 7. Es-
para a presença do antígeno p24 na tentativa de detectar sangue sas células constituem importantes mediadores de imunidade de
contendo HIY. mucosas, sobretudo no trato gastrintestinal. Muitas células Thl 7
O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) es- de mucosa são mortas precocemente na infecção pelo HIV. As
timou que até o fim de 2011 havia 1,1 milhão de pessoas infec- células Thl7 produzem a interleucina 17 (IL-17), citocina que
tadas com HIV vivendo nos Estados Unidos. A taxa de trans- atrai neutrófilos para o local de infecções bacterianas. A perda
missão tem declinado de maneira marcante, essencialmente das células Thl7 predispõe o indivíduo infectado pelo HIV a in-
devido ao aumento dos esforços de prevenção e à melhoria do fecções sanguíneas por bactérias presentes na microbiota normal
tratamento para o HIV; este último reduziu o número de pessoas do colo, como a Escherichia coli.
com altos títulos de HIV. O CDC estima que aproximadamen- O HIV infecta também monócitos e macrófagos do encé-
te 50 mil novas infecções ocorram a cada ano. O CDC também falo, produzindo células gigantes multinucleadas e sintomas re-
calcula que 15% das pessoas que são infectadas pelo HIV não levantes do sistema nervoso central. A fusão de células infecta-
têm conhecimento de que se encontram infectadas, pois nunca das mediada pela gp41, no encéfalo e em outros locais, é um dos
foram testadas.* principais achados patológicos. As células recrutadas no sincício
Aproximadamente 630 mil morreram em decorrência da acabam por morrer. A morte das células infectadas pelo HIV é
Aids, nos Estados Unidos, desde 1981, quando a doença foi reco- também resultado do ataque imune por linfócitos CDS citotóxi-
nhecida pela primeira vez. cos. A efetividade das células T citotóxicas pode ser limitada pela
Até 2011, estima-se que aproximadamente 34 milhões de habilidade das proteínas virais Tat e Nef de reduzir a síntese de
pessoas em todo o mundo estejam infectadas pelo HIV, dois ter- proteínas do MHC de classe I (ver posteriormente).
ços das quais vivem na África Subsaariana. África, Ásia e Amé- Outro suposto mecanismo para explicar a morte de células
rica Latina detêm as mais altas taxas de novas infecções. A Aids T auxiliares é que o HIV atua como um "superantígeno" que ati-
é a quarta causa de morte em todo o mundo. (Doenças cardíacas va indiscriminadamente muitas células T auxiliares, levando-as à
isquêmicas, doenças cerebrovasculares e doenças do trato respi- morte. O achado de que outro membro da família Retroviridae,
ratório inferior são ranqueadas em primeiro, segundo e terceiro o vírus do tumor mamário de camundongo, pode atuar como su-
lugar, respectivamente.) perantígeno reforça essa teoria. Os superantígenos são descritos
Nos Estados Unidos e na Europa, durante os anos 1980, a no Capítulo 58.
infecção pelo HIV e pela Aids ocorreram principalmente em A infecção não citopática persistente dos linfócitos T tam-
homossexuais do sexo masculino (sobretudo os com parcei- bém ocorre. As células persistentemente infectadas continuam a
ros múltiplos), usuários de drogas intravenosas e hemofílicos. produzir o HIV, o que ajuda a sustentar a infecção in vivo. O teci-
A transmissão heterossexual era rara nessas regiões nos anos do linfoide (p. ex., os linfonodos) é o principal local de manuten-
1980, mas tem aumentado significativamente. A transmissão ção da infecção pelo HIV.
heterossexual é o modo predominante de transmissão nos paí- Uma pessoa infectada pelo HIV é considerada infectada
ses africanos. por toda a vida. Isso é o resultado da integração do DNA viral
Poucos profissionais da área de saúde têm se infectado, no DNA das células infectadas. Embora o uso de potentes fárma-
apesar da exposição frequente e de lesões causadas por seringas, cos antivirais (ver posteriormente a seção "Tratamento") possa
sustentando a premissa de que a dose infectante para o HIV é reduzir significativamente a quantidade de HIV que está sendo
alta. O risco de se tornar infectado após exposição percutânea produzida, células CD4-positivas com infecção latente e timóci-
ao sangue infectado com HIV é estimado em torno de 0,3%. A tos imaturos servem como fonte contínua de vírus.
transmissão do HIV a partir dos profissionais da área de saúde Os controladores de elite são um grupo raro de pessoas in-
para os pacientes é extremamente rara. fectadas pelo HIV (menos de 1% de todos os infectados) que não
têm HIV detectado em seu sangue. Sua contagem de CD4 é nor-
Patogênese e imunidade mal sem o uso de fármacos antirretrovirais. A habilidade de ser
um controlador de elite não depende de sexo, etnia ou modo de
O HIV infecta as células T auxiliares (células CD4-positivas) e as
aquisição do vírus. Embora o mecanismo ainda não esteja claro,
mata, resultando em uma supressão da imunidade celular. Isso
há evidências de que certos alelos HLA sejam protetores, e que
predispõe o hospedeiro a várias infecções oportunistas e certos
um inibidor da cinase dependente de ciclina, conhecida como
cânceres, como o sarcoma de Kaposi e o linfoma. O HIV não cau-
p21, tenha um importante papel nesse mecanismo.
Além disso, há um grupo de indivíduos infectados pelo HIV
*N. de T. Os números disponibilizados pelo Ministério da Saúde Brasilei- que tem vivido por muitos anos sem infecções oportunistas e
ro dão conta que desde 1981 foram notificados 657 mil casos de Aids no sem redução na contagem de células CD4. As amostras isoladas
país. Até 2011, a taxa de incidência de Aids no Brasil era de 20,2 casos a desses indivíduos mostram mutação no gene nef, indicando sua
cada 100 mil habitantes.
370 PARTE IV Virologia Clínica

importância na patogênese. A proteína Nef atua diminuindo a


AGUDO LATENTE IMUNODEFICIÊNCIA
síntese de proteínas do complexo principal de histocompatibili-
dade (MHC) de classe I, e a incapacidade do vírus mutante em
produzir a proteína Nef funcional permite que as células T citotó- cn
~
Sintomas agudos
~
Infecções oportunistas
xicas retenham sua atividade. o
.<!: e malignidades
Há a hipótese de que alguns indivíduos sejam "não pro- cii Linfócitos CD4
~
gressores" de longo prazo, e que essa condição possa estar li- cn
gada à sua habilidade de produzir grandes quantidades de :~z Anticorpos anti-p24

a-defensinas. Essas moléculas compõem uma família de Anticorpos anti-gp 120


peptídeos carregados positivamente que apresentam atividade
antibacteriana e que também têm atividade antivirai. Elas in-
terferem na ligação do HIV ao receptor CXCR4 e bloqueiam a
O 1 2 3 4 5 6 3-~10
entrada do vírus na célula.
Tempo após a infecção (meses) Tempo após a infecção (anos)
Além dos efeitos prejudiciais sobre as células T, anormalida-
des nas células B também ocorrem. A ativação clonal de células FIGURA 45-5 Curso da infecção pelo vírus da imunodeficiência
B é observada, tendo como resultado altos níveis de imunoglo- adquirida (HIV). Os três principais estágios da infecção pelo HIV- agu-
bulinas. As doenças autoimunes, como a trombocitopenia, po- do, crônico e imunodeficiência - são mostrados em conjunção com
dem ocorrer. importantes achados laboratoriais. Observa-se que os níveis de vírus
e de RNA virai (carga virai) são altos no estágio precoce da infecção,
A principal resposta às infecções pelo HIV consiste em
tonando-se baixos por muitos anos e, então, aumentados novamen-
linfócitos citotóxicos CDS-positivos. Essas células respondem à
te durante o estágio de imunodeficiência. O nível de linfócitos CD4
infecção inicial e a controlam por muitos anos. Surgem mutantes
permanece mais ou menos normal durante muitos anos e, então, cai.
do HIV, principalmente com mutações no gene env que codifica Isso resulta no estágio de imunodeficiência, o qual é caracterizado por
a gp 120, mas novos clones de células T citotóxicas proliferam e infecções oportunistas e malignidades. (Reproduzida, com permissão, de
controlam as amostras mutantes. É o inexorável esgotamento das Weiss RA. How does HIV cause AIDS? Science. 1993; 260:1273.)
células T citotóxicas que resulta no quadro clínico da Aids. As
células T citotóxicas perdem sua efetividade, já que muitas células
T CD4 auxiliares morrem; então, a suplementação de citocinas, ra 45-5). No estágio agudo, o qual, em geral, inicia dentro de 2
como IL-2, requeridas para a ativação das células T citotóxicas, a 4 semanas após a infecção, ocorre um quadro semelhante à
não é mais suficiente. mononucleose, que inclui febre, letargia, dor de garganta e linfa-
Há evidências de que mutantes "furtivos" de HIV sejam denopatia generalizada. Uma erupção maculopapular no tronco,
hábeis em proliferar sem controle, uma vez que o paciente não nos braços e nas pernas (mas preservando a palma das mãos e a
possui clones de células T citotóxicas capazes de responder à planta dos pés) é também observada. A leucopenia ocorre, mas
amostra mutante. Adicionalmente, mutações em qualquer gene o número de células CD4 é geralmente normal. Com frequência,
codificador de proteínas do MHC de classe I resultam em uma altos níveis de viremia ocorrem, e a infecção é rapidamente trans-
progressão mais rápida para a Aids clínica. A proteína mutante mitida durante esse curto estágio. O estágio agudo, em geral, tem
para MHC de classe I não apresenta adequadamente os epítopos resolução espontânea em cerca de duas semanas. A resolução do
do HIV, o que resulta na incapacidade das células T citotóxicas quadro agudo pode ser acompanhada por redução da viremia e
em reconhecer e destruir as células infectadas pelo HIY. aumento no número de células T CDS-positivas (citotóxicas) di-
Anticorpos contra várias proteínas do HIY, como as proteí- rigidas contra o HIY.
nas p24, gpl20 e gp41, são produzidos, mas eles neutralizam o Os anticorpos anti-HIV aparecem, em geral, de 10 a 14 dias
vírus de maneira deficiente, e parecem ter pouco efeito no curso após a infecção, e muitos pacientes irão soroconverter em 3 a 4
da doença. semanas após a infecção. Observa-se que a inabilidade em detec-
O HIV possui três mecanismos principais pelos quais ele tar os anticorpos previamente a esse tempo pode resultar em tes-
evade do sistema imune: ( 1) integração do DNA viral no DNA tes sorológicos falso-negativos (i.e., a pessoa está infectada, mas
da célula hospedeira, resultando em uma infecção persistente; os anticorpos não são detectáveis no momento do teste). Isso traz
(2) uma alta taxa de mutação no gene env; e (3) a produção das implicações importantes, pois o HIV pode ser transmitido para
proteínas Tat e Nef que modulam negativamente as proteínas outras pessoas durante esse período. Se o teste de anticorpos for
do MHC de classe I necessárias para que as células T citotóxi- negativo, mas ainda houver suspeita da infecção por HIV, devem
cas possam reconhecer e matar as células infectadas pelo HIV. ser realizados testes baseados na reação em cadeia da polimerase
A habilidade do HIV em infectar e destruir as células T auxilia- (PCR) para o RNA viral no plasma.
res CD4-positivas aumenta sua capacidade de evitar a destruição Dos que se tornaram soropositivos durante a fase aguda da
pelo sistema imune. infecção, aproximadamente 87% são sintomáticos (i.e., cerca de
13% experimentam uma fase inicial assintomática).
Após a viremia inicial, um platô viral ocorre, o qual pode di-
Achados clínicos
ferir de uma pessoa para outra. Esse platô representa a quantida-
Os achados clínicos da infecção pelo HIV podem ser divididos de de vírus produzida (i.e., a carga virai), e tende a permanecer
em três estágios: um estágio agudo precoce, um estágio latente "estável': ou constante, por anos. Quanto mais alta a carga no fi-
intermediário e um estágio tardio, a imunodeficiência (Figu- nal da infecção inicial, mais probabilidade há de que o indivíduo
CAPÍTULO 45 Vírus da Imunodeficiência Humana 371

progrida para a fase sintomática de Aids. É estimado que uma ausente, uma grande quantidade de partículas de HIV ainda
pessoa infectada possa produzir até 1Obilhões de novos vírions a são produzidas pelas células dos linfonodos, mas permanecem
cada dia. Essa carga viral pode ser estimada utilizando um ensaio isoladas no interior deles. Isso indica que durante o período de
para a detecção do RNA viral no plasma dos pacientes. (O ensaio latência clínica o vírus propriamente dito não entra em estado
detecta RNA de vírions livres no plasma, não de vírus associados latente.
às células.) Uma síndrome, denominada complexo relacionado à Aids
A quantidade de RNA viral serve para guiar as decisões so- (ARC), pode ocorrer durante o período latente. As mais frequen-
bre o tratamento e o prognóstico. Por exemplo, se um tratamento tes manifestações são febres persistentes, fadiga, perda de peso e
falhar em reduzir a carga viral, os fármacos devem ser substituí- linfadenopatia. A ARC frequentemente progride para Aids.
dos. No que diz respeito ao prognóstico, um paciente com mais A fase tardia da infecção pelo HIV é geralmente a Aids, ma-
de 10 mil cópias de RNA viral por mL de plasma é significativa- nifestada por um declínio no número de células CD4, para um
mente mais provável de progredir para a Aids que um paciente nível abaixo de 200/µL e um aumento da frequência e gravidade
com menos de 10 mil cópias. de infecções oportunistas. A Tabela 45-2 descreve algumas das
O número de células T CD4-positivas é outra importante infecções oportunistas comuns observadas e seu organismo cau-
medida que guia o manejo dos pacientes infectados. Esse mar- sador, visualizados nos pacientes infectados pelo HIV durante a
cador é utilizado para determinar quando um paciente neces- fase tardia, o estágio de imunocomprometimento da infecção.
sita de quimioprofilaxia contra organismos oportunistas, para As duas manifestações mais características da Aids são a
determinar quando um paciente necessita da terapia anti-HIV e pneumonia por Pneumocystis e o sarcoma de Kaposi. Entretan-
para determinar a resposta a essa terapia. O limite inferior para to, muitas outras infecções oportunistas ocorrem com alguma
uma contagem de células T CD4 considerada normal é de SOO frequência. Elas incluem infecções virais, como herpes-vírus
células/µL. Pessoas que apresentam essa contagem, ou mais ele- simples disseminada, herpes-zóster, infecções por citomegaloví-
vada, são geralmente assintomáticas. A frequência e a gravidade rus e leucoencefalopatia multifocal progressiva; infecções fúngi-
das infecções oportunistas aumentam significativamente quando cas, como candidíase (causada por Candida albicans), meningite
a contagem de CD4 reduz a níveis abaixo de 200 células/µL. Uma criptocócica e histoplasmose disseminada; infecções por pro-
contagem de CD4 de 200 células/ µL ou menos é considerada tozoários, como toxoplasmose e criptosporidiose; e infecções
como condição que define a ocorrência da Aids. bacterianas disseminadas, como as causadas por Mycobacte-
No estágio intermediário da infecção pelo HIV, um longo rium avium-intracellulare e Mycobacterium tuberculosis. Muitos
período latente, medido em anos, normalmente se segue. Nos pacientes com Aids apresentam problemas neurológicos graves
pacientes não tratados, o período latente típico tem duração de (p. ex., demência e neuropatia), os quais podem ser causados pela
7 a 11 anos. O paciente é assintomático durante esse período. infecção do encéfalo pelo HIV ou por muitos desses organismos
Embora o paciente seja assintomático e a viremia seja baixa ou oportunistas.

TABELA 45-2 Infecções oportunistas comuns em pacientes com Aids

Local da infecção Doença ou sintoma Organismo causador

Pulmões 1. Pneumonia Pneumocystis jiroveci, citomegalovírus


2. Tuberculose Mycobacterium tuberculosis

Boca 1. Candid íase Candida afbicans


2. Leucoplasia p ilosa Vírus Epstein-Barr
3. Ülceras Herpes-vírus simples 1, Histoplasma capsulatum

Esôfago 1. Candid íase C. albicans


2. Esofagite Citomegalovírus, herpes-vírus simples 1

Trato intestinal Diarreia Espécies de Salmonella, espécies de Shigella, citomegalovírus,


Cryptosporidium parvum, Giardia lamblia

Sistema nervoso central 1. Meningite Cryptococcus neoformans


2. Abscesso encefálico Toxoplasma gondii
3. Leucoencefalopatia multifocal progressiva Poliomavírus JC

Olhos Retinite Citomegalovírus

Pele 1. Sarcoma de Kaposi Herpes-vírus humano 8


2. Zóster Vírus da varicela-zóster
3. Nódulos subcutâneos C. neoformans

Sistema reticuloendotelial Linfadenopatia ou esplenomegalia Complexo Mycobacterium avium, v írus Epstein-Barr


372 PARTE IV Virologia Clínica

Diagnóstico laboratorial Infelizmente, nenhum tratamento resulta em "curà' (i.e., er-


radica o vírus do organismo), mas urna supressão em longo prazo
O diagnóstico presuntivo da infecção pelo HIV é realizado por
pode ser alcançada. Entretanto, se o tratamento é interrompido,
meio da detecção de anticorpos contra a proteína p24 do HIV, no
o vírus retorna à multiplicação ativa e grandes quantidades de
soro do paciente, utilizando um ensaio imunoenzimático (ELISA).
vírus infeccioso reaparecem.
Devido à ocorrência de alguns resultados falso-positivos desse teste,
O tratamento das infecções pelo HIY, em geral, envolve múl-
o diagnóstico definitivo é obtido pelo teste de Western blot (tam-
tiplos medicamentos antirretrovirais. O uso de um único fárma-
bém conhecido corno Immunoblot), no qual as proteínas virais são
co (rnonoterapia) para o tratamento não é feito devido à elevada
resolvidas em gel de poliacrilarnida, transferidas para urna membra-
taxa de mutação que leva à resistência a medicamentos.
na de nitro celulose (o blot) e expostas ao soro dos pacientes. Se os
A escolha dos fármacos é complexa e depende de vários fa-
anticorpos estiverem presentes no soro dos pacientes, eles se ligarão
tores (p. ex., se a infecção é inicial ou urna infecção já estabeleci-
às proteínas virais (predominantemente às proteínas gp41 ou p24).
da, o número de células CD4, a carga viral, o modelo de resistên-
Anti-IgG humana marcada com enzima é adicionada. Urna reação
cia do vírus e se a pessoa é gestante ou é coinfectada com HBV ou
colorimétrica revela a presença dos anticorpos anti-HIV no soro
HCV). A Tabela 45-3 descreve o mecanismo de ação dos fárma-
dos pacientes infectados. A Figura 64-9 retrata um teste de Western
cos e seus principais efeitos adversos. O número de medicamen-
blot (Immunoblot) utilizado para diagnosticar a infecção pelo HIV.
tos e os vários fatores determinantes previamente mencionados
O OraQuick é um teste rápido de triagem capaz de detec-
fazem com que a descrição de todos os tratamentos esteja além
tar anticorpos contra o HIV em urna amostra de swab oral e que
do escopo deste livro. Recomenda-se que o leitor consulte as di-
pode ser realizado em casa. Os resultados ficam prontos em 20
retrizes de terapia antirretroviral do Departrnent of Health and
minutos. Resultados positivos requerem confirmação por um
Hurnan Services, como o Medical Letter.*
teste de Western blot.
Até 2013, a abordagem preferencial para iniciar a terapia an-
O HIV pode ser isolado em cultura de células a partir de
tirretroviral consistia de um entre quatro regimes, sendo que to-
amostras clínicas, mas esse procedimento está disponível somen-
dos eles utilizam três de quatro fármacos possíveis. Cada regime
te para alguns centros médicos. A PCR é a técnica mais sensível
inclui o uso de erntricitabina e tenofovir, aos quais são adicionados
e específica que pode ser utilizada para detectar o DNA do HIV
efavirenz, raltegravir ou urna combinação de dois inibidores de
nas células infectadas. Alguns indivíduos que não possuem anti-
protease (ritonavir mais atazanavir ou ritonavir mais darunavir).
corpos detectáveis têm apresentado a positividade nos testes de
Essas combinações são conhecidas corno terapia antirre-
PCR. Corno já mencionado, a quantidade de RNA viral no plas-
troviral altamente ativa (HAART highly active antiretroviral
ma (i.e., a carga viral) pode também ser determinada utilizando
therapy). Essa terapia é muita efetiva no prolongamento da vida,
ensaios baseados em PCR.
no aumento da qualidade de vida e na redução da carga viral,
Durante o primeiro mês após a infecção, os testes de anticor-
mas não cura a infecção crônica pelo HIV (i.e., a multiplicação
pos podem ser negativos. Esses testes falso-negativos são devidos
do HIV no interior de células CD4-positivas continua indefini-
à quantidade insuficiente de anticorpos detectada nos testes de
damente). A descontinuação do HAART quase sempre resulta
ELISA, produzida nos estágios iniciais da infecção. O tempo médio
em viremia (um retorno da carga viral para o platô viral pré-tra-
para soroconversão é de 1Oa 14 dias. A maioria das pessoas infecta-
tamento) e queda na contagem de CD4.
das, embora não todas, terá soroconvertido em até quatro semanas.
A partir dessa perspectiva, o diagnóstico da infecção aguda
pelo HIV pode não ser capaz de ser realizado utilizando testes so-
Inibidores de transcriptase reversa
rológicos. A presença do HIV pode ser melhor detectada durante nucleosídicos/nucleotídicos (NRTls)
a infecção aguda pelo ensaio de RNA do HIV no plasma (carga A Tabela 45-3 descreve seis inibidores nucleosídeos da trans-
viral), urna vez que a virernia é, em geral, alta nos estágios iniciais criptase reversa (abacavir, didanosina, entricitabina, lamivudina,
da infecção. O teste do antígeno p24 ou a cultura viral podem estavudina e zidovudina) e um único inibidor nucleotídeo de
também ser utilizados. transcriptase reversa, tenofovir. Esses fármacos são caracteriza-
Outros testes laboratoriais importantes no manejo de urna dos por não apresentar um grupo hidroxil-3 no anel da ribose
pessoa infectada pelo HIV incluem a contagem de CD4, os en- e, portanto, são medicamentos terminadoras de cadeia. Eles
saios de carga viral e os testes de resistência aos fármacos de inibem a replicação do HIV por interferir na síntese de DNA
amostra de HIV que estejam infectando o paciente. Os testes de pró-viral pela transcriptase reversa. Eles não podem curar uma
resistência ao fármaco são descritos ao fim da seção sobre Trata- célula infectada de uma cópia de DNA pró-viral já integrada.
mento, neste capítulo. Informações adicionais sobre esses medicamentos "análogos de
nucleosídeos" e outros antirretrovirais podem ser encontradas no
Tratamento Capítulo 35. Observa-se que a zalcitabina, um NRTI análogo de
citosina, não está mais disponível.
O tratamento da infecção pelo HIV tem resultado em redução Dois principais problemas limitam o uso do NRTI: a emer-
marcante na mortalidade e em melhor qualidade de vida dos indi- gência de resistência e os efeitos adversos. Os principais efeitos
víduos infectados. Os dois objetivos específicos do tratamento são: adversos são descritos na Tabela 45-3. Por exemplo, o uso prolon-
( 1) reestabelecer as funções imunes por meio do incremento da
contagem de CD4, o que reduz a ocorrência de infecções oportu-
nistas e certas neoplasias; e (2) reduzir a carga viral, o que reduz as *N . de R.T. No Brasil, recomenda-se a consulta das diretrizes fornecidas
chances de transmissão do vírus para outras pessoas. pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da
Saúde, disponíveis em www.aids.gov.br.
CAPÍTULO 45 Vírus da Imunodeficiência Humana 373

TABELA 45-3 Fármacos utilizados para o tratamento da infecção pelo HIV

Classe do fármaco Nome do fármaco Efeito adverso (EA) principal ou comentário

Inibidores da transcriptase reversa


Nucleosídeos (NRTls) Abacavir (ABC) EA: reação de hipersensibilidade multiorgânica grave, principalmente em
pacientes portadores do HLAB5701
Didanosina (dd l) EA: pancreatite e neuropatia periférica
Entricitabina (FTC) Derivado de lamivudina; bem tolerado
Lamivudina (3TC) Bem tolerado. Também utilizado para o tratamento de infecções pelo
vírus da hepatite B.
Estavudina (d4T) EA: neuropatia periférica, lipoatropia, acidose láctica com esteatose hepá-
tica, pancreatite
Zidovudina (AZT, ZDV) EA: supressão de medula óssea (anemia, neutropenia)

Nucleotídeos Tenofovir EA: bem tolerado, mas ocorre toxicidade renal


Não nucleosídeos (NNRTls) Delavirdina (Rescriptor) EA: erupção; evitar na gravidez; raramente utilizado
Efavirenz EA: modificações no SNC e erupções; evitar na gravidez devido à possível
teratogenia
Rilpivirina EA: erupção
Etravirina (lntelence) EA: síndrome de Stevens-Johnson; hepatotoxicidade
Nevirapina (Viramune) EA: depressão, insônia

Inibidores da protease1 Amprenavir EA: erupção, anemia hemolítica


Atazanavir (Reyataz) EA: hiperbilirrubinemia, intervalo PR prolongado
Darunavir EA: hepatotoxicidade
Fosamprenavir Um pró-fármaco de amprenavir; metabolizado a amprenavir porfosfata-
ses no epitélio gástrico. EA: erupção
lndinavir (Crixivan) EA: cristalúria e nefrolitíase devidas à pobre solubilidade
Lopinavir/ritonavir Ritonavir inibe o metabolismo de CYP3A do lopinavir, aumentando, as-
sim, a concentração efetiva do lopinavir
Nelfinavir (Viracept) Pode conter níveis de etilmetanossulfonato (etilmesilato), que pode ser
carcinogênico, mutagênico ou teratogênico. EA: diarreia
Ritonavir Ver lopinavir/ritonavir, saquinavir e t ipranavir
Saquinavir (l nvirase e Fortovase) A invirase deve ser ingerida com o ritonavir; fortovase pode ser adminis-
trada sem o ritonavir
Tipranavir (Aptivus) EA: se ingerida com o ritonavir (Norvir), pode ocorrer doença grave do
fígado

Inibidores de entrada
Inibidor de fusão Enfuvirtide (Fuzeon) Liga-se à gp41 virai e bloqueia a fusão do vírus com a membrana celular
EA: reações no local de injeção
Correceptor antagonista Maraviroque (Selzentry) Bloqueia a ligação da gp120 virai ao correceptor CCRS na membrana celular;
efetivo contra os vírus CCRS-trópicos, mas não contra os CXCR4-trópicos
EA: hepatotoxicidade, principalmente em infectados com HBV ou HCV

Inibidores da integrase Raltegravir (lsentress) Inibe a integração do DNA pró-virai no DNA celular
EA: náusea, d iarreia, erupção
Elvutegravir (Stribild) Disponível em combinação com cobicistat, tenofovir e emtricitabine.
EA: diarreia
Dolutegravir (Tivicay) EA: insônia, dores de cabeça

SNC, sistema nervoso central.


'Todos os inibidores de protease causam lipodistrofia ("corcunda de búfalo") e obesidade central como efeitos adversos. Náusea e diarreia também são muito comuns.
A hepatotoxicidade ocorre especialmente nos pacientes com hepatite B ou C.

gado da zidovudina (ZDV) é limitado pela supressão da medula de ação da ZDV, mas são mais bem toleradas, e uma ou outra
óssea, o que pode levar à anemia e à neutropenia. Essa hemato- é um componente da HAART. Abacavir é também comumente
toxicidade é devida à inibição da DNA-polimerase mitocondrial. utilizado. Pacientes que apresentam o alelo HLA-Bl 701 são mais
Apesar disso, a ZDV é utilizada em profilaxia pós-exposição e na suscetíveis à ocorrência de reações de hipersensibilidade grave
prevenção da transmissão vertical da mãe para o feto. A lamivu- ao abacavir. Os pacientes devem ser testados para a presença do
dina e seu análogo entricitabina possuem o mesmo mecanismo alelo antes da prescrição do abacavir.
374 PARTE IV Virologia Clínica

Inibidores da transcriptase reversa não nucleosídicos


A Tabela 45-3 descreve cinco inibidores não nucleosídeos da
transcriptase reversa (delavirdina, efavirenz, etravirina, nevira-
pina e rilpivirina) que são efetivos contra o HIV. Diferentemen-
te dos NRTis, esses medicamentos não são análogos de bases.
Efavirenz e nevirapina são os fármacos mais comumente utiliza-
dos nessa classe de medicamentos. Efavirenz é um componente
comum dos tratamentos de HAART, principalmente uma única
pílula que contém efavirenz, tenofovir e entricitabina. A nevira-
pina é comumente utilizada na prevenção da transmissão vertical
do HIV da mãe para o feto. A nevirapina e o efavirenz podem
causar erupções na pele e a síndrome de Stevens-Johnson.

Inibidores da protease
A Tabela 45-3 descreve os inibidores atualmente disponíveis
(amprenavir, atazanavir, darunavir, fosamprenavir, indinavir,
FIGURA 45-6 Lipod istrofia - observa-se um acúmulo de gordura na
nelfinavir, ritonavir, saquinavir, tipranavir e uma combinação de parte de trás do pescoço. Isso é conhecido como "corcunda de búfa-
lopinavir e ritonavir). Quando utilizados em combinação com os lo'; e é um efeito adverso dos fármacos antirretrovirais da classe dos
análogos de nucleosídeo, os inibidores da protease são muito efi- inibidores da protease. {Reproduzida, com permissão, de Wolff K, Johnson
cazes em inibir a multiplicação viral e aumentar a contagem de R. Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of Clinicai Dermatology. 6th ed. New York:
células CD4, sendo comumente utilizados em regimes HAART. McGraw-Hill, 2009. Copyright © 2009 por The McGraw-Hill Companies, lnc.)
Lopinavir e ritonavir são administrados em combinação porque
o ritonavir inibe a degradação do lopinavir, aumentando, assim,
a concentração do lopinavir. Uma referência mais simples é dizer Inibidores de entrada
que o ritonavir "reforça" o lopinavir. A Tabela 45-3 descreve dois inibidores de entrada, enfuvirtida e
Os mutantes do HIV resistentes aos inibidores da protease maraviroque. Enfuvirtida é a primeira das novas classes de fár-
podem ser um problema clínico significativo. A resistência a um macos anti-HIV, conhecidos como inibidores de fusão (i.e., eles
dos inibidores da protease frequentemente transmite a resistência previnem a fusão do envelope viral com a membrana celular).
a todos; entretanto, a combinação de dois inibidores da protease, Enfurvitida é um peptídeo sintético que se liga à gp41 no envelo-
ritonavir e lopinavir, é efetiva contra as amostras mutantes e não pe viral, bloqueando, assim, a entrada do HIV na célula. Ele deve
mutantes do HIY. Além disso, o darunavir é efetivo contra muitas ser administrado por injeção e tem um custo muito elevado.
amostras de HIV que são resistentes a outros inibidores da pro- O maraviroque também impede a entrada do HIV nas célu-
tease. Mutantes do HIV resistentes aos inibidores da protease e las. Ele bloqueia a ligação da proteína gpl20 do envelope viral
da transcriptase reversa têm sido isolados de pacientes. do HIV ao CCR5, o qual é um importante correceptor na super-
Um importante efeito colateral dos inibidores da protease fície celular. Antes de prescrever o maraviroque, um teste labo-
é a deposição anormal de gordura em áreas específicas do cor- ratorial (ensaio de Tropismo) deve ser realizado para se garantir
po, como a parte de trás do pescoço (ver Figura 45-6). Quando que o tropismo da linhagem de HIV do paciente em questão é
isso ocorre, diz-se que a pessoa tem o aspecto de "corcunda para o CCR5. O maraviroque deve ser utilizado em combinação
de búfalo': Esse depósito anormal de gordura é um tipo de li- com outro fármaco antirretroviral em pacientes portadores de
podistrofia; o processo metabólico pelo qual isso ocorre não é linhagens de HIV com tropismo pelo CCR5, e em adultos que
conhecido. apresentam linhagens de HIV conhecidamente resistentes a ou-
O tratamento para a infecção aguda pelo HIV com dois tros fármacos antirretrovirais.
inibidores da transcriptase reversa e um inibidor da protease é
frequentemente utilizado. Com esse tratamento, a carga viral cai Inibidores da integrase
abaixo dos níveis de detecção, a contagem de células CD4 sobe O raltegravir é o primeiro fármaco a inibir a integrase codifi-
e a atividade de CDS aumenta. O efeito, em longo prazo, dessa cada pelo HIV (Tabela 45-3). Ele é recomendado para uso em
abordagem na taxa de progressão para a Aids ainda necessita ser pacientes que tenham sido tratados com outros antirretrovirais,
determinado. mas que continuam a produzir níveis significativos de HIV. Dois
Mulheres grávidas infectadas com o HIV devem ser tratadas inibidores de integrase adicionais se encontram disponíveis: do-
com dois análogos de nucleosídeos e um inibidor da protease. lutegravir e elvitegravir.
Um regime típico inclui o uso de lamivudina, ZDV e lopinavir/ri-
tonavir. Adicionalmente, ZDV deve ser administrado ao neonato.
Resistência aos fármacos antirretrovirais
Esses fármacos parecem não causar dano ao feto, embora casos
raros de disfunção mitocondrial e morte devido à ZDV tenham Mutantes do HIV resistentes aos fármacos têm surgido, afetan-
sido descritos. O leitor deve consultar as informações atuais so- do significativamente a habilidade de inibidores da transcriptase
bre o uso desses medicamentos durante a gestação. Uma discus- reversa e da protease em manter sua eficácia clínica. Aproxima-
são completa está além do escopo deste livro. damente 10% dos pacientes recentemente infectados o são com
amostras de HIV resistentes a pelo menos um dos fármacos
CAPÍTULO 45 Vírus da Imunodeficiência Humana 375

antirretrovirais. Testes laboratoriais para detectar amostras mu- conazol para prevenir recorrências de meningites criptocócicas,
tantes incluem análises fenotípicas e genotípicas. A genotipagem o ganciclovir para prevenir recorrências de retinites, causadas
revela a presença de mutações específicas nos genes da transcrip- pelo citomegalovírus, e preparações orais de fármacos antifún-
tase reversa (TR) ou da protease (PR). A fenotipagem determina gicos, como o clotrimazol, para prevenir candidíases, causadas
a habilidade dos vírus em crescer em culturas de células na pre- pela C. albicans.
sença do medicamento. Um dos métodos de fenotipagem recu-
pera os genes da TR e PR dos vírus de pacientes e os inclui em
uma amostra-teste do HIV, a qual é, então, utilizada para infec- APLIQUE SEU CONHECIMENTO
tar células em cultura. Outro teste laboratorial pode determinar
o tropismo dos vírus isolados de pacientes (i.e., se ele utiliza o 1. Em relação à estrutura e à multiplicação do vírus da imunodeficiên-
cia humana (HIV), qual das seguintes opções é a mais correta?
CCRS como seu correceptor). Se assim for, o maraviroque pode,
então, ser utilizado no tratamento. (A) O mRNA viral é o molde para a síntese do genoma de RNA.
(B) Durante a entrada do HIV na célula, a proteína viral p24 inte-
rage com a proteína CD4 na superfície celular.
Síndrome inflamatória da imunidade reconstituída (C) O HIV contém uma integrase no interior do vírion que integra
A síndrome inflamatória da imunidade reconstituída cópias do genoma viral nos vírions da progênie.
(IRIS, immune reconstitution inflammatory syndrome) pode (D) O HIV possui uma enzima no vírion que sintetiza DNA de
ocorrer em pacientes infectados pelo HIV tratados pela terapia dupla-fita utilizando um genoma de RNA de fita simples como
HAART e que são coinfectados por outros micróbios, como molde.
HBV, HCV, M. tuberculosis, complexo do M. avium, Cryptococcus (E) O genoma do HIV codifica uma protease que cliva as proteí-
nas celulares ribossomais, resultando na inibição da síntese de
neoformans e Toxoplasma gondii. Nessa síndrome, uma exacer-
proteínas específicas da célula.
bação dos sintomas clínicos ocorre, uma vez que os fármacos an-
tirretrovirais reforçam a habilidade da montagem da resposta in- 2. Em relação aos aspectos clínicos do vírus da imunodeficiência
humana (HIV), qual das seguintes opções é a mais correta?
flamatória. Pacientes infectados com o HIV com baixa contagem
de CD4 têm capacidade reduzida de produzir inflamação, porém (A) Durante a infecção primária do HIV, pneumonia por
a HAART restaura a resposta inflamatória e, como resultado, os Pneumocystis frequentemente ocorre.
(B) Durante o longo período assintomático que pode durar anos,
sintomas tornam-se mais pronunciados. Para evitar a ocorrência
nenhum HIV é sintetizado.
de !RIS, as coinfecções devem ser tratadas antes da instituição da
(C) Durante o período em que ocorrem muitas infecções oportu-
terapia HAART, se possível. nistas, o HIV não pode ser detectado no sangue.
(D) A resposta de anticorpos à infecção primária pelo HIV normal-
Prevenção mente é detectada no período de 7 a 10 dias pós-infecção.
(E) Pessoas com alto nível de RNA viral em seu plasma são mais
Não há vacina disponível. A prevenção consiste em tomar me-
suscetíveis à infecção por Aids sintomática (i.e., infecções
didas para evitar a exposição ao vírus (p. ex., usar preservativos,
oportunistas) que as com baixos níveis.
não compartilhar seringas e agulhas e descartar o sangue doado
3. Em relação ao diagnóstico laboratorial do vírus da imunodeficiên-
contaminado com o HIV).
cia humana (HIV), qual das seguintes opções é a mais correta?
A profilaxia pós-exposição (PPE), com as que ocorrem
(A) O rastreamento inicial do sangue para anticorpos anti-HIV é
após um acidente com agulha ou outra exposição não ocupacio-
realizado pelo teste da fixação de complemento.
nal de alto risco, consiste no uso de dois fármacos (p. ex., lami-
(B) Carga viral é o termo utilizado para descrever a quantidade de
vudina e ZDV, no caso de exposições de baixo risco, e os mes-
vírus infecciosos produzidos pelos linfócitos T CD4-positivos
mos dois medicamentos adicionados de lopinavir/ritonavir, no em cultura de células.
caso de exposições de alto risco). Em vez de lamivudina e ZDV, (C) Após a infecção com o HIV, anticorpos contra o vírus podem
uma combinação de tenofovir e emtricitabina (Truvada) pode ser ser detectados antes de o teste da reação em cadeia da polimera-
administrada. A PPE deve ser aplicada tão cedo quanto possível se (PCR) poder detectar os ácidos nucleicos virais específicos.
após a exposição, e deve ser continuada por 28 dias. A emtricita- (D) Já que resultados falsos-positivos podem ocorrer nos testes de
bina também pode ser utilizada como profilaxia pré-exposição rastreamento para o HIV, um teste confirmatório, chamado de
(PPrE) no caso de indivíduos que possuem alto risco de infecção, ensaio de Western blot, deve ser realizado naqueles com o re-
sultado positivo nos testes de rastreamento.
como é o caso de homossexuais masculinos.
Dois passos podem ser utilizados para reduzir o número de 4. Em relação ao modo de ação dos medicamentos utilizados no tra-
casos da infecção pelo HIV em crianças: terapia antirretroviral tamento do vírus da imunodeficiência humana (HIV), qual das se-
guintes opções é a mais correta?
deve ser administrada a mães infectadas com HIV e neonatos,
e mães infectadas com o HIV não devem amamentar. A escolha (A) O maraviroque atua inibindo a transcriptase reversa no vírion.
dos fármacos antirretrovirais depende de vários fatores, então, (B) O raltegravir inibe a integração do DNA do HIV no genoma
da célula hospedeira.
diretrizes atuais devem ser consultadas. Além disso, o risco da
( C) A zidovudina é um análogo de nucleosídeo que inibe a síntese
infecção neonatal pelo HIV é baixo se o parto for por cesariana
de mRNA do HIV.
em vez de parto normal. A circuncisão reduz a infecção pelo HIY. (D) O ritonavir atua pela ligação à proteína Tat, a qual previne a
Muitos fármacos são comumente utilizados por pacientes ligação e liberação do vírion de HIV.
em estágios avançados da Aids para prevenir infecções oportu- (E) A lamivudina é um fármaco de "cadeia de terminação': uma
nistas. Alguns exemplos incluem o uso do trimetoprima-sulfa- vez que inibe o crescimento da cadeia de peptídeo por causar
metoxazol para prevenir a pneumonia por Pneumocystis, o flu- erro de leitura do mRNA viral.
376 PARTE IV Virologia Clínica

5. Em relação aos efeitos adversos dos fármacos utilizados no trata- 9. Seu paciente é um homem de 25 anos que descobriu recentemen-
mento da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), te, por meio de testes imunoenzimático (ELISA) e de Western blot
qual das seguintes opções é a mais provável de causar supressão da positivos, estar infectado pelo HIV. Sua contagem de CD4 é 125 e
medula óssea? sua carga viral é 7 mil. Ele não recebeu nenhuma medicação antirre-
(A) Lamivudina. troviral. Qual das seguintes opções é a melhor escolha de fármacos
(B) Lopinavir. para tratar sua infecção?
(C) Nevirapina. (A) Aciclovir, foscarnete e ribavirina.
(D) Maraviroque. (B) Enfurvitida, raltegravir e maraviroque.
(E) Zidovudina. (C) Lamivudina, ribavirina e ritonavir/lopinavir.
6. Em relação aos efeitos adversos dos fármacos utilizados no trata- (D ) Zidovudina, lamivudina e efavirenz.
mento da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV),
qual das seguintes opções é a mais provável de causar lipodistrofia,
isto é, depósito anormal de gordura? RESPOSTAS
(A) Lamivudina.
1. (D)
(B) Lopinavir.
2. (E)
(C) Nevirapina. (D)
3.
(D) Maraviroque.
4. (B)
(E) Zidovudina.
5. (E)
7. Em relação aos efeitos adversos dos fármacos utilizados no trata- 6. (B)
mento da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), 7. (C)
qual das seguintes opções é a mais provável de causar a síndrome de 8. (B)
Stevens-Johnson? 9. (D)
(A) Lamivudina.
(B) Lopinavir.
(C) Nevirapina. RESUMOS DOS ORGANISMOS
(D) Maraviroque.
(E) Zidovudina. Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
8. Em relação ao vírus da imun odeficiência humana (HIV), qual dos -se na págin a 648. Favor consultar esses resumos para uma rápida
seguintes modos de transmissão ocorre com MAIS frequência que revisão do mater ial essencial.
os outros?
(A) Contato direto com a pele.
(B) Durante o nascimento. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(C) Via fecal-oral.
(D) Aerossóis respiratórios.
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
contradas na seção de Virologia Clínica da Parte XIII: Questões
para Autoavaliação, a par tir da página 703. Consulte também a
Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clín ico, a partir da pági-
na 731.
CAPÍTULO

Patógenos Virais de
Menor Importância

CONTEÜDO DO CAPITULO

VÍRUS DE MENOR IMPORTÃNCIA MÉDICA Vírus da encefalite japonesa


Astrovírus Vírus da febre de Lassa
Vírus BK Vírus Lujo
Vírus Borna Vírus da coriomeningite linfocitária
Vírus do Vale de Cache Vírus Marburg
Vírus Chikungunya Vírus Nipah
Vírus Ebola Vírus Powassan
Hantavírus Poxvírus de origem animal
Vírus Heartland Espumavírus
Vírus Hendra Vírus do complexo Tacaribe
Herpes-vírus B Vírus Whitewater Arroyo
Bocavírus humano VírusZika
Herpes-vírus simples 6 Aplique seu conhecimento
Metapneumovírus humano Resumos dos organismos
Vírus Jamestown Canyon Questões para autoavaliação

VÍRUS DE MENOR IMPORTÂNCIA MÉDICA - - - - - - - - - - -


Esses vírus são apresentados em ordem alfabética, listados na Ta- até o momento. Contudo, causa nefropatia e perda de enxerto
bela 46-1, de acordo com seu ácido nucleico e a presença de um em transplantados renais imunossuprimidos. Ocorre eliminação
envelope. assintomática do vírus BK na urina de pacientes imunocompro-
metidos e na de mulheres grávidas no terceiro trimestre. Não há
terapias antivirais eficientes contra o vírus BK.
ASTROVÍRUS
Astrovírus são vírus de RNA não envelopados, de tamanho si-
VÍRUSBORNA
milar ao dos poliovírus. Apresentam morfologia característica
de cinco ou seis pontas. Causam diarreia aquosa, sobretudo em O vírus Borna é um vírus envelopado com genoma de RNA de
crianças. A maioria dos adultos possui anticorpos contra astro- fita simples não segmentado e polaridade negativa. Possui o me-
vírus, sugerindo que a infecção ocorre frequentemente. Não há nor genoma entre os vírus com esse tipo de RNA e é o único vírus
fármacos antivirais ou medidas preventivas disponíveis. que se multiplica no núcleo da célula infectada. Sequências de
DNA homólogas ao genoma do vírus Borna estão integradas no
DNA humano. Ele é um vírus neurotrófico conhecido por infec-
VÍRUSBK tar regiões do encéfalo, como o hipocampo.
Borna é o nome de uma cidade na Alemanha onde o ví-
O vírus BK é um membro da família dos poliomavírus. Os po-
rus foi responsável por causar doença em cavalos, em 1885. É
liomavírus são vírus não envelopados com um genoma forma-
um vírus zoonótico causador de doença em animais domés-
do por DNA de dupla-fita circular. Vírus BK e poliomavírus JC ticos, como bovinos, ovinos, cães e gatos. O vírus Borna não
(ver Capítulo 44) são os dois poliomavírus que infectam seres
foi estabelecido como um patógeno humano, porém, existem
humanos.
evidências de que ele esteja associado a doenças psiquiátricas
A infecção pelo vírus BK é amplamente difundida, confor- humanas, caracterizadas por comportamento anormal, como o
me determinado pela presença de anticorpo, geralmente adqui-
distúrbio bipolar.
rida na infância, e a infecção não é associada a nenhuma doença
378 PARTE IV Virologia Clínica

TABELA 46-1 Patógenos virais de menor importância

Características Vírus representativos

Vírus de DNA envelopados Herpes-vírus B, herpes-vírus simples 6, poxvírus de origem animal (vírus da varío la bovina, vírus da
varíola dos macacos)

Vírus de DNA não envelopados Vírus BK, bocavírus humano

Vírus de RNA envelopados Vírus Borna, vírus do Vale de Cache, vírus Chikungunya, vírus Ebola, hantavírus, vírus Hendra, metap-
neumovírus humano, vírus Jamestown Canyon, vírus da encefalite japonesa, vírus da febre de Lassa,
vírus Lujo, vírus da coriomeningite linfocítica, vírus Marburg, vírus Nipah, espumavírus, vírus do
complexo Tacaribe (p. ex., vírus Junin e Machupo), vírus Whitewater Arroyo, vírus Zika

Vírus de RNA não envelopados Astrovírus

VÍRUS DO VALE DE CACHE esse vírus aproxima-se de 100%. A maioria dos casos surge por
transmissão secundária a partir do contato com sangue ou secre-
Esse vírus foi inicialmente isolado em Utah, em 1956, embora ções do paciente (p. ex., em equipe hospitalar). A reutilização de
seja encontrado em todo o Hemisfério Ocidental. É um buniaví- agulhas e seringas também está implicada na disseminação nos
rus transmitido de animais domésticos para pessoas pelos mos- hospitais. Embora muito temida, a febre hemorrágica Ebola é
quitos Aedes, Anopheles ou Culiseta. É uma causa rara de ence- bastante rara. Até 2009, aproximadamente 1.000 casos ocorreram
falite em seres humanos. Não há tratamento nem vacina contra desde seu aparecimento em 1976.
infecções pelo vírus do Vale de Cache. O vírus Ebola é membro da família dos Filovírus. A aparên-
cia dos Filovírus (filo = fio) é única. Eles são os vírus mais longos,
frequentemente medindo milhares de nanômetros (Figura 46-1).
VÍRUS CHIKUNGUNYA O reservatório natural do vírus Ebola é desconhecido. Macacos
Esse vírus causa a febre Chikungunya, caracterizada por apa- podem ser infectados, mas pelo fato de ficarem doentes, é impro-
recimento súbito de febre alta e dores nas articulações, princi- vável que sejam o reservatório. Morcegos são suspeitos de ser o
palmente nos punhos e nos tornozelos. Uma erupção macular reservatório, no entanto, isso ainda não foi determinado. A alta
ou maculopapular em grande parte do corpo é comum. Surtos taxa de mortalidade do vírus Ebola é atribuída a diversos fatores
envolvendo milhões de pessoas na Índia, na África e nas ilhas do de virulência: sua glicoproteína de superfície é capaz de matar cé-
Oceano índico ocorreram nos anos de 2004 a 2006. lulas endoteliais, o que resulta em hemorragia. Além disso, duas
O vírus Chikungunya é um vírus de RNA envelopado e outras proteínas virais são capazes de inibir a indução e ação do
membro da família dos togavírus. Possui genoma de RNA de fita interferon. Linfócitos são mortos e a resposta de anticorpos é ine-
simples e polaridade positiva. Ele é transmitido por mosquitos ficaz. Em 2014, ocorreu um surto severo de febre hemorrágica
do gênero Aedes, tanto Aedes aegypti quanto Aedes albopictus. por Ebola na África Ocidental, acometendo principalmente a Li-
Este último mosquito é encontrado nos Estados Unidos e tam- béria, a Guiné e a Serra Leoa. Milhares de pessoas foram infecta-
bém no Brasil,* de forma que existe o potencial para ocorre-
rem surtos. Indivíduos retornando aos Estados Unidos vindos
de regiões onde houve surtos foram diagnosticados com febre
Chikungunya. O diagnóstico laboratorial envolve a detecção
do vírus no sangue tanto por meio da cultura quanto por meio
de testes imunoenzimáticos (ELISA). Testes de anticorpos para
IgM ou para uma elevação no título de IgG também podem ser
utilizados para o diagnóstico. Não há terapia antivira! ou vacina
disponível.

VÍRUSEBOLA
O vírus Ebola leva o nome de um rio do Zaire, que foi o local
de um surto de febre hemorrágica, em 1976. A doença inicia
com febre, cefaleia, vômito e diarreia. Posteriormente, ocorre
sangramento no trato gastrintestinal, seguido por choque e coa-
gulação intravascular disseminada. As hemorragias são causadas
por trombocitopenia grave. A taxa de mortalidade associada a FIGURA 46-1 Vírus Ebola - micrografia eletrônica. A seta lon-
ga aponta para um vírion característico do vírus Ebola. A seta curta
aponta para a aparência de "cajado de pastor" de alguns vírions Ebola.
*N. de R.T. No Brasil, a febre Chikungunya surgiu como doença emer- (Figura cortesia do Dr. Erskine Palmer e do Dr. Russell Regnery, Public Health lma-
gente no ano de 2014. ge Library, Centers for Disease Control and Prevention.)
CAPÍTULO 46 Patógenos Virais de Menor Importância 379

das e a taxa de mortalidade excedeu os 50%. Esse foi o pior surto Não há fármaco efetivo; ribavirina foi utilizada, no entanto,
já registrado da doença, o que levou a OMS a declarar estado de parece ser ineficaz. Não há vacina contra nenhum dos hantavírus.
emergência mundial em Saúde Pública.
O diagnóstico é realizado pelo isolamento do vírus ou pela
detecção de aumento no título de anticorpos. (Extremo cuidado VÍRUS HEARTLAND
deve ser tomado na manipulação de espécimes no laboratório.)
Esse vírus foi primeiramente reconhecido como patógeno humano
Não há terapia antivira! disponível. Tratamento com imunoglo-
em 2012, quando foi relacionado a episódios de febre, tromboci-
bulinas séricas contendo anticorpos contra o vírus Ebola teve re-
topenia e leucopenia em dois homens no estado Norte-americano
sultados variáveis.
do Missouri. O vírus é membro da família Bunyaviridae, e é trans-
A prevenção é concentrada em limitar a disseminação se-
mitido pela picada do carrapato da estrela solitária, Amblyomma.
cundária pelo manuseio apropriado das secreções e do sangue do
Não há tratamento antivira! ou vacina para esse vírus.
paciente. Não há vacina.

HANTAVÍRUS VÍRUS HENDRA


Os hantavírus são membros da família dos buniavírus. O vírus- Esse vírus foi inicialmente reconhecido como patógeno huma-
no em 1994, quando causou uma grave doença respiratória em
-protótipo é o vírus Hantaan, o agente da febre hemorrágica da
Hendra, Austrália. É um paramixovírus semelhante ao vírus do
Coreia (FHC). A FHC é caracterizada por cefaleia, hemorragias
sarampo, anteriormente denominado morbilivírus equino. As
petequiais, choque e insuficiência renal. Ocorre na Ásia e na Eu-
ropa, mas não na América do Norte nem na América do Sul, e infecções humanas foram adquiridas pelo contato com cavalos
infectados, porém, morcegos frutíferos parecem ser o reserva-
exibe uma taxa de mortalidade de aproximadamente 10%. Os
tório natural. Não há tratamento ou vacina para infecções pelo
Hantavírus fazem parte de um grupo heterogêneo de vírus, deno-
vírus Hendra.
minados robovírus, sigla que significa "rodent-borne vírus,, (ou
vírus originados de roedores). Os robovírus são transmitidos por
roedores de forma direta (sem que haja necessidade de um vetor
artrópode), ao passo que os arbovírus são "arthropod-borne': ou HERPES-VÍRUS B
seja, originados de artrópodes. Esse vírus (vírus B de macacos ou herpes-vírus de símios) causa
Em 1993, um surto de uma nova doença, caracterizada uma encefalite rara e é frequentemente fatal em indivíduos em
por sintomas similares aos da gripe, seguidos rapidamente por contato próximo com macacos ou seus tecidos (p. ex., tratadores
insuficiência respiratória aguda, ocorreu no Oeste dos Estados de zoológicos ou técnicos de culturas celulares). O vírus causa
Unidos, centralizado no Novo México e no Arizona. Essa doença, uma infecção latente em macacos similar à infecção pelo herpes-
atualmente denominada síndrome pulmonar por hantavírus, é -vírus simples (HSV) 1.
causada por um hantavírus (vírus Sin Nombre) endêmico em O herpes-vírus B e o HSV-1 reagem cruzadamente do ponto
camundongos-cervo (Peromyscus) e é adquirida pela inalação de de vista antigênico, porém, anticorpos contra o HSV-1 não pro-
aerossóis de urina e fezes do roedor. Esse hantavírus não é trans- tegem contra a encefalite causada pelo herpes-vírus B. A presen-
mitido de um indivíduo para outro. Poucos indivíduos possuem ça de anticorpos contra o HSV-1, no entanto, pode causar erros
anticorpos contra o vírus, indicando que infecções assintomáti- no diagnóstico sorológico, tornando difícil a interpretação do
cas não são comuns. aumento do título de anticorpos. Assim, o diagnóstico pode ser
O diagnóstico é realizado pela detecção de RNA viral no te- realizado apenas pela recuperação do vírus. O uso do aciclovir
cido pulmonar pelo ensaio de reação em cadeia da polimerase pode ser benéfico. A prevenção consiste no uso de vestuário e
(PCR), por imuno-histoquímica de tecido pulmonar ou pela de- máscaras para prevenir a exposição ao vírus. Imunoglobulinas
tecção de anticorpos IgM no soro. A taxa de mortalidade da sín- contendo anticorpos contra herpes-vírus B devem ser adminis-
drome pulmonar por hantavírus é muito alta, aproximadamente tradas após uma mordida de macaco.
35%. Entre 1993 e dezembro de 2009, um total de 534 casos de
síndrome pulmonar por hantavírus foram relatados nos Estados
Unidos. A maioria dos casos ocorreu nos Estados do Oeste do BOCAVÍRUS HUMANO
Mississippi, particularmente Novo México, Arizona, Califórnia e
Colorado, nessa ordem.* O bocavírus humano (HBoV) é um parvovírus isolado de crian-
ças pequenas com infecções do trato respiratório. Anticorpos
contra HBoV são encontrados na maioria dos adultos em todo o
*N. de R.T. No Brasil, as hantaviroses (causadas por vírus do gênero Han- mundo. Uma descrição desse vírus foi inicialmente relatada em
tavirus) são consideradas doenças emergentes e causam desde infecções 2005, e o seu exato papel na doença do trato respiratório ainda
assintomáticas e febris até doenças graves. As infecções graves incluem precisa ser definida.
duas síndromes principais: 1) a síndrome pulmonar por hantavírus,
doença caracterizada por extenso comprometimento respiratório; e 2) a
síndrome cardiopulmonar por hantavírus, na qual, além dos sintomas HERPES-VÍRUS SIMPLES 6
pulmonares, há também extenso dano cardíaco. De 1993 até 2013, apro-
ximadamente 1.500 casos confirmados de hantaviroses foram relatados Esse herpes-vírus é a causa do exantema súbito (roséola infantil),
no Brasil, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 50%. uma doença comum em crianças, caracterizada por febre alta e
380 PARTE IV Virologia Clínica

erupção macular ou maculopapular transiente. O vírus é encon- to de múltiplos órgãos. A doença inicia lentamente, com febre,
trado mundialmente e até 80% dos indivíduos são soropositivos. cefaleia, vômitos e diarreia, progredindo para o envolvimento de
O vírus é linfotrófico e infecta tanto as células B quanto as células pulmões, coração, rins e encéfalo. Ocorre erupção petequial e he-
T. Ele permanece latente dentro dessas células, mas pode ser re- morragia do trato gastrintestinal, seguidas pelo óbito por colapso
ativado em pacientes imunocomprometidos, causando pneumo- vascular.
nia. Muitas das características virológicas e clínicas do herpes- O vírus da febre de Lassa é membro da família Arenaviridae,
-vírus simples 6 são similares àquelas do citomegalovírus, outro que inclui outros patógenos humanos infrequentes, como o vírus
membro da família dos herpes-vírus. da coriomeningite linfocitária e certos membros do complexo
Tacaribe. Os arenavírus (arena significa areia) são agrupados em
razão de sua aparência incomum ao microscópio eletrônico. Sua
METAPNEUMOVÍRUS HUMANO característica mais notável são as partículas semelhantes à areia
na sua superfície, que são os ribossomos. A função desses ribos-
Esse paramixovírus foi primeiramente relatado, em 2001, como
somos, se houver, é desconhecida. Os arenavírus são vírus enve-
causa de bronquiolite e pneumonia graves em crianças pequenas,
lopados com superfície espiculada, nucleocapsídeo helicoidal e
na Holanda. É similar ao vírus sincicial respiratório (também um
RNA de fita simples e polaridade negativa.
paramixovírus) em relação à gama de doenças que causa no trato
O hospedeiro natural do vírus da febre de Lassa é o peque-
respiratório. Estudos sorológicos demonstraram que a maioria
no roedor Mastomys, que apresenta infecção crônica por toda a
das crianças foi infectada por esse vírus até a idade de 5 anos, e
vida. O vírus é transmitido aos seres humanos por alimentos ou
que ele está presente nos seres humanos há pelo menos 50 anos.
água contaminados pela urina do animal. A transmissão secun-
dária entre profissionais hospitalares também ocorre. A infecção
assintomática é amplamente disseminada em regiões de infecção
VÍRUS JAMESTOWN CANYON endêmica.
O vírus Jamestown Canyon (JCV) é um membro da família dos O diagnóstico é realizado pelo isolamento do vírus ou pela
buniavírus que causa encefalite. É transmitido pela picada de detecção de aumento no título de anticorpos. Ribavirina reduz
mosquitos, mais comumente pela espécie Aedes. O JCV circula a taxa de mortalidade quando administrada precocemente, e o
amplamente em cervos na América do Norte, mas raramente soro hiperimune, obtido de indivíduos que se recuperaram da
causa doença em seres humanos. Nos Estados Unidos, os casos doença, tem sido benéfico em alguns casos. Não há vacina dispo-
ocorrem principalmente nos Estados do nordeste e Centro-oeste. nível e a prevenção se concentra nas práticas adequadas de con-
Não há tratamento antivirai ou vacina contra infecções por JCV. trole das infecções e no controle dos roedores.

VÍRUS DA ENCEFALITE JAPONESA VÍRUS LUJO


Esse vírus é a causa mais comum de encefalite epidêmica. O vírus Lujo é um arenavírus que causa uma febre hemorrági-
A doença é caracterizada por febre, cefaleia, rigidez da nuca, es- ca semelhante à febre de Lassa. Esse vírus surgiu na Zâmbia, em
tados alterados de consciência, tremores, falta de coordenação e 2008, e foi a causa de um surto no qual quatro dos cinco pacien-
convulsões. A taxa de mortalidade é alta, e as sequelas neuroló- tes infectados morreram. O único sobrevivente foi tratado com
gicas são graves e podem ser observadas na maioria dos sobrevi- ribavirina. A identificação desse vírus foi realizada pelo sequen-
ventes. A doença ocorre em toda a Ásia, porém, é mais prevalente ciamento do RNA virai do fígado e do soro de pacientes. O reser-
no Sudeste Asiático. Os casos raros observados nos Estados Uni- vatório animal e o mecanismo de transmissão são desconhecidos,
dos ocorreram em viajantes retornando da Ásia. Militares Norte- mas outros arenavírus são transmitidos pela excreta de roedores.
-americanos foram afetados na Ásia.
O vírus da encefalite japonesa é membro da família dos
flavivírus. É transmitido aos seres humanos por certas espécies VÍRUS DA CORIOMENINGITE
de mosquitos Culex, endêmicos nos campos de arroz da Ásia. LINFOCITÃRIA
Existem dois principais hospedeiros reservatórios - aves e por-
O vírus da coriomeningite linfocitária é um membro da família
cos. O diagnóstico pode ser realizado pelo isolamento do vírus,
dos arenavírus. É uma causa rara de meningite asséptica e não
pela detecção de anticorpos IgM no soro ou no líquido espinal,
pode ser diferenciado clinicamente de causas virais mais frequen-
ou pela coloração do tecido cerebral com anticorpos fluorescen-
tes (p. ex., ecovírus, vírus de Coxsackie ou vírus da caxumba).
tes. Não há terapia antivirai. A prevenção consiste em uma vacina
O quadro geral consiste em febre, cefaleia, vômito, torcicolo e al-
inativada e uso de pesticidas para o controle do mosquito-vetor.
terações do estado mental. O líquido espinal apresenta um maior
A imunização é recomendada para indivíduos que vivem em
número de células, principalmente linfócitos, com alta concen-
áreas com infecção endêmica por vários meses ou mais.
tração de proteínas e concentração normal ou baixa de açúcar.
O vírus é endêmico na população de camundongos, nos
quais ocorre infecção crônica. Animais infectados via transpla-
VÍRUS DA FEBRE DE LASSA centária tornam-se portadores permanentes sadios. O vírus é
O vírus da febre de Lassa foi inicialmente observado em 1969, na transmitido aos seres humanos por alimentos ou água contami-
cidade nigeriana de mesmo nome. O vírus causa febre hemorrá- nados por urina ou fezes de camundongos. Não ocorre dissemi-
gica grave e frequentemente fatal, caracterizada por envolvimen- nação de pessoa a pessoa (i.e., seres humanos são hospedeiros
CAPÍTULO 46 Patógenos Virais de Menor Importância 381

acidentais terminais), embora a transmissão do vírus por trans- VÍRUS POWASSAN


plante de órgãos tenha ocorrido. Em 2005, sete entre oito recep-
tores de transplante que foram infectados morreram. O diag- O virus Powassan é um flavivírus que causa encefalite com o po-
nóstico é realizado pelo isolamento do vírus a partir do líquido tencial para deixar sequelas significativas. É transmitido por car-
espinal ou pela detecção de aumento no título de anticorpos. Não rapatos do gênero Ixodes, e roedores são o reservatório. Trata-se
há terapia antivira! ou vacina disponível. do único flavivírus transmitido por carrapatos.*
Essa doença é o protótipo utilizado para ilustrar a imu- O vírus recebeu seu nome em referência à cidade de Powa-
nopatogênese. Se camundongos adultos imunocompetentes ssan, Ontario, Canadá, onde um dos primeiros casos notificados
forem inoculados, ocorrem meningite e morte. Entretanto, se ocorreu. Nos Estados Unidos, a maioria dos casos ocorre nos Es-
camundongos recém-nascidos ou adultos imunodeficientes por tados de Minnesota e Wisconsin. A cada ano ocorrem, em geral,
radiação X forem inoculados, não ocorre meningite, apesar da entre O e 1O casos nos Estados Unidos. O diagnóstico pode ser
intensa multiplicação viral. Quando células T sensibilizadas são feito por PCR ou por meio de testes sorológicos. Não há fármaco
transplantadas nos adultos imunodeficientes, ocorrem meningite antivira! ou vacina disponíveis.
e morte. Os camundongos adultos imunodeficientes, aparente-
mente sadios, lentamente desenvolvem glomerulonefrite. Esses
camundongos parecem ser parcialmente tolerantes ao vírus pelo POXVÍRUS DE ORIGEM ANIMAL**
fato de sua imunidade celular estar inativa, embora anticorpos Quatro poxvírus causam doenças em animais e também causam
suficientes sejam produzidos para causar a doença por imuno- lesões pustulosas em seres humanos em ocasiões raras. São trans-
complexos. mitidos pelo contato com os animais infectados, geralmente em
situações ocupacionais.
O vírus da varíola bovina causa lesões vesiculares nos úberes
VÍRUS MARBURG das vacas e pode causar lesões similares na pele de indivíduos
O vírus Marburg e o vírus Ebola são similares pelo fato de que que realizam a ordenha das vacas. O vírus da pseudovaríola bo-
ambos causam febre hemorrágica e são membros da família vina causa um quadro similar, porém, é antigenicamente distinto.
dos filovírus; no entanto, são antigenicamente distintos. O vírus O vírus Orf é a causa da dermatite pustulosa contagiosa em car-
Marburg foi inicialmente reconhecido como causa de doença em neiros e de lesões vesiculares nas mãos de tosquiadores.
seres humanos, em 1967, em Marburg, na Alemanha. A caracte- O vírus da varíola dos macacos é distinto dos outros três;
rística comum dos indivíduos infectados foi a exposição a maca- causa uma doença em seres humanos semelhante à varíola. Essa
cos-verdes africanos recentemente chegados da Uganda. Assim doença ocorre quase exclusivamente na África Central. Em 2003,
como o vírus Ebola, o reservatório natural do vírus Marburg é um surto de varíola dos macacos ocorreu em Wisconsin, Illinois
desconhecido, apesar de morcegos serem suspeitos. e Indiana. Nesse surto, a fonte do vírus foi animais importados
O quadro clínico dessa febre hemorrágica é como o descrito da África. Aparentemente, os vírus dos animais importados in-
para o vírus Ebola (ver página 378). Em 2005, um surto de febre fectaram cães-da-pradaria locais, os quais, então, foram a fonte
hemorrágica causado pelo vírus de Marburg matou centenas de da infecção humana. Nenhum dos afetados morreu. Na África, o
pessoas em Angola. Nenhum caso de doença causada pelo ví- vírus da varíola dos macacos apresenta taxa de mortalidade entre
rus Ebola ou vírus Marburg ocorreu nos Estados Unidos antes 1 e 10%, ao contrário dos 50% para a varíola. Não há tratamento
de 2008. No entanto, nesse ano, um viajante dos Estados Unidos antivira! efetivo. A vacina contra varíola parece ter algum efeito
ficou doente após visitar uma caverna em Uganda habitada por protetor contra o vírus da varíola dos macacos.
morcegos frutíferos. Ele retornou aos Estados Unidos, onde foi Qualquer caso novo de doença similar à varíola deve ser
diagnosticado com a febre hemorrágica de Marburg. O paciente precisamente diagnosticado para garantir que não seja devido ao
se recuperou sem apresentar sequelas. vírus da varíola. Não foram registrados casos de varíola no mun-
O diagnóstico é realizado pelo isolamento do vírus ou pela do todo desde 1977, 1 e a imunização contra varíola foi autorizada
detecção de aumento no título de anticorpos. Não há terapia anti- a ser interrompida.
vira! ou vacina disponível. Assim como o vírus Ebola, ocorreram Por essas razões, é importante ter certeza de que casos no-
casos secundários entre profissionais da área de saúde; portanto, vos de doença similar à varíola devem-se ao vírus da varíola dos
práticas rigorosas de controle das infecções devem ser instituídas macacos. O vírus da varíola dos macacos pode ser diferenciado,
para prevenir a disseminação nosocomial. em laboratório, do vírus da varíola pela antigenicidade e pelas

*N. de T. Essa informação está incorreta. O vírus Powassan é o único


VÍRUS NIPAH flavivírus transmitido por carrapatos na América do Norte, porém, vários
outros flavivírus transmitidos por carrapatos causam entre 10 mil e 15
O vírus Nipah é um paramixovírus que causa encefalite, princi- mil casos de infecção humana em todo o mundo.
palmente em países do Sul da Ásia, como Bangladesh, Malásia e **N. de R.T. No Brasil, doenças zoonóticas causadas pelo vírus vaccínia e
Singapura. O reservatório natural parece ser morcegos frutíferos. que afetam gado bovino e seres humanos são descritas desde 1996. Vacas
Indivíduos que tiveram contato com porcos estão, particulamen- infectadas apresentam lesões nas tetas, por meio das quais ordenhadores
te, sob risco de encefalite, e alguma transmissão entre seres huma- se infectam e passam a apresentar a formação de pústulas nas mãos e nos
membros superiores. Ainda não está claro como e quando esse vírus pas-
nos ocorre. Em geral, paramixovírus são transmitidos pela saliva
sou a circular em ambientes rurais e silvestres, mas sabe-se que roedores
e pelo escarro, e esse é, provavelmente, o mecanismo de transmis-
peridomésticos estão envolvidos na cadeia de transmissão.
são. Não há tratamento ou vacina para infecções pelo vírus Nipah. 1
Com a exceção de dois casos adquiridos em laboratório, em 1978.
382 PARTE IV Virologia Clínica

lesões características que causa na membrana corioalantóide de APLIQUE SEU CONHECIMENTO


ovos de galinha.
1. Em relação ao vírus Ebola, qual das seguintes opções é a mais
correta?
(A) Gambás e guaxinins são os principais reservatórios naturais
ESPUMAVÍRUS
para o vírus Ebola.
Os espumavírus são uma subfamília dos retrovírus que provocam (B) Em áreas endêmicas, a maioria dos indivíduos é latentemente
um aspecto espumoso nas culturas celulares. Podem representar infectada com o vírus Ebola.
um problema na produção de vacinas virais quando contaminam ( C) Deve ser administrado ganciclovir para prevenir a doença em
as culturas celulares utilizadas na produção de vacinas. Não há indivíduos expostos ao vírus Ebola.
(D) A febre hemorrágica Ebola ocorre principalmente em indiví-
patógenos humanos conhecidos.
duos com imunidade celular deficiente.
(E) A aparência do vírus Ebola na microscopia eletrônica é de um
fio longo, que, frequentemente, possui uma extremidade curva.
VÍRUS DO COMPLEXO TACARIBE 2. Em relação ao vírus Sin Nombre (um hantavírus), qual das seguin-
O complexo Tacaribe contém diversos patógenos humanos, to- tes opções é a mais correta?
dos causadores de febre hemorrágica. (A) Sua principal manifestação clínica é encefalite.
Os mais conhecidos são o vírus Sabiá, no Brasil, vírus Junin, (B) Os principais reservatórios são animais domésticos, como o
na Argentina, e vírus Machupo, na Bolívia. As febres hemorrá- porco.
gicas, como o nome implica, são caracterizadas por febre e san- ( C) A infecção é adquirida pela inalação de fezes secas e urina de
camundongo.
gramento no trato gastrintestinal, na pele e em outros órgãos.
(D) Oseltamivir é um fármaco profilático eficiente se administra-
O sangramento deve-se à trombocitopenia. Morte ocorre em até
do em 48 horas de exposição.
20% dos casos, e os surtos podem envolver milhares de pessoas. (E) A imunização de crianças com idade de 15 meses com a vacina
Trabalhadores agrícolas estão particularmente em risco. inativada reduz consideravelmente a incidência da doença.
Semelhantes a outros arenavírus, como o vírus da febre de
3. Em relação ao vírus da encefalite japonesa (JEV), qual das seguintes
Lassa e o vírus da coriomeningite linfocitária, esses vírus são en- opções é a mais correta?
dêmicos na população de roedores e são transmitidos a seres hu-
(A) O principal reservatório do JEV são morcegos.
manos pela contaminação acidental de alimentos e da água pela (B) É transmitido pela picada do carrapato de cães, Dermacentor.
excreta de roedores. O diagnóstico pode ser realizado pelo isola- ( C) Aciclovir é o fármaco de escolha para a encefalite causada pelo
mento do vírus ou pela detecção de aumento no título de anticor- JEV.
pos. Em uma infecção laboratorial pelo vírus Sabiá, a ribavirina (D) A vacina inativada deve ser administrada em pessoas que vi-
foi um tratamento eficaz. Não há vacina disponível. vem em áreas endêmicas.
(E) JEV é um vírus não envelopado com genoma de RNA de du-
pla-fita circular.
VÍRUS WHITEWATER ARROYO
Esse vírus é a causa de febre hemorrágica/síndrome do descon- RESPOSTAS
forto respiratório agudo no Oeste dos Estados Unidos. É um
membro da família Arenaviridae, assim como o vírus da febre de 1. (E)
2. (C)
Lassa, que causa febre hemorrágica na África (ver Bocavírus hu-
3. (D)
mano, página 380). Ratos do mato são o reservatório do vírus, o
qual é transmitido pela inalação de excrementos secos dos roedo-
res. Esse modo de transmissão é idêntico ao observado para han-
tavírus, como o vírus Sin Nombre (ver Hantavírus, página 379). RESUMOS DOS ORGANISMOS
Não há terapia antivirai estabelecida e não há vacina. Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam -
-se na página 648. Favor consultar esses resumos para uma rápida
revisão do material essencial.
VÍRUSZIKA
O vírus Zika é um flavivírus que causa uma doença semelhante à
dengue, caracterizada por febre, artralgia, erupções e conjuntivi- QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
te. O vetor é constituído por várias espécies de mosquito Aedes. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
Em 2007, um surto em Yap, uma ilha na Micronésia, afetou pelo encontradas na seção de Virologia Clínica da Parte XIII: Ques-
menos 49 indivíduos*. Nenhuma morte ocorreu. Não há fármaco tões para Autoavaliação, a partir da página 703. Consulte tam-
antivirai ou vacina. bém a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir
da página 731.
* N. de T. Os primeiros casos de infecção pelo vírus Zika no Brasil ocor-
reram em 2015, no Rio Grande do Sul e na Bahia. Também em 2015,
centenas de casos de microcefalia em recém-nascidos foram atribuídos à
infecção da gestante. No entanto, a associação entre a infecção e a doença
não foi comprovada ainda.
CAPÍTULO

Micologia Básica 47
CONTEODO DO CAPITULO

Estrutura e crescimento Terapia antifúngica


Patogfonese Conceitos·chave
ToxJnas Wnglcas e alergias Aplique seu conhecimento
Diagnóstico laboratorial Questões para autoavaliação

ESTRUTURA E CRESCIMENTO forma, os fungos são insensíveis a alguns antibióticos, como a pe.
nicilina, que inibem a síntese do peptideoglicano.
Fungos ()eveduras e fungos filamentosos) são organismos euca- A quitina é um polissacatídeo composto por longas cadeias
riotos que diferem das bactérias., organismos procariotos.. em vá- de N-acetilglicosamina. A célula fungica também contém outros
rias caracter(sticas fundamentais (Tabela 47-1). Duas estruturas polissacarldeos, e entre eles o mais importante é o ~-glicano, um
celu1ares dos fungos são importantes na área d.fnica: Jongo poUmero de D·glicose. O P-g).icano tem importância mê.
( l ) A parede da céluJa fungica ê composta basicamente por dica, pois representa o local de atuação do fármaco antifúngico
quitina (e não por peptideoglicano, como nas bactérias); dessa caspofungina.

TABELA 47-1 Comparação entre fungos e bactérias

Oiâmetto Aproximadamente 4 µm (Condida) Aproximadamente 1 µm (Staphylococcus)

Núcleo Eucariótico Procariótico

Citoplasma Mitocôndria e retículo endoplasmático presentes Mitoc600óa e retículo endoplasmático ausentes

Membrana celular Esteróis ptesentes Esteróis ausentes (exceto em Mycoplasma)

Cooteúdo da parede celular Quitina Peptideoglic.ano


Esporos Esporos sexuados e assexuados pata repfodução Endósporos para sobreviWncla, não para reprodução

Oimoffismo térmico Sim (alguns) Não


Metabolismo Requerem c.arbono Ofgânico; não são anaeróbios Muitasnão requerem carbono OC"gânico; muitas são
obrigatórios anaeróbias obrigatórias
384 PARTE V Micologia

(2) A membrana celular dos fungos contém ergosterol, ao


contrário da membrana da célula humana, que contém colesterol.
A ação seletiva da anfotericina B e antifúngicos azoicos nos fun-
gos, como o fluconazol e o cetoconazol, é baseada nos diferentes
esteróis de membrana.
Existem dois tipos morfológicos de fungos: as leveduras e
os fungos filamentosos. As leveduras crescem de forma unice-
B
lular e se reproduzem por brotamento. Fungos filamentosos
crescem como longos filamentos (hifas) e formam um ema-
ranhado (micélio). Algumas hifas possuem septos transversais
(hifa septada), e outras não (hifa asseptada). As hifas asseptadas
são multinucleadas (cenocíticas). O crescimento das hifas ocorre
pela elongação da sua extremidade e não por divisão celular do
seu filamento.
Alguns fungos de interesse clínico são chamados de di-
mórficos (i.e., fungos que apresentam diferenças morfológicas
em diferentes temperaturas). Esses fungos são filamentosos na D E F
temperatura ambiente e são leveduras (ou outras estruturas) nos
tecidos humanos na temperatura corporal. FIGURA 47-1 Esporos assexuados. A: Blastoconídios e pseudo-hifas
(Candida). B: Clamidósporos (Candida). C: Artrósporos (Coccidioides).
A maioria dos fungos é aeróbia obrigatória; alguns são
D: Esporângios e esporangiósporos (Mucor). E: Microconídios (Asper-
anaeróbios facultativos; entretanto, nenhum é anaeróbio obri-
gillus). F: Microconídios e macroconídios (Microsporum). (Modificada e
gatório. Todos os fungos necessitam de uma fonte de carbono
reproduzida, com permissão, de Conant N F et ai. Manual of Clinicai Mycology.
orgânico pré-formado - por isso são encontrados com frequên- 3rd ed. Saunders; 1971.)
cia na matéria orgânica em decomposição. O hábitat natural da
maioria dos fungos é o meio ambiente. Uma exceção impor-
tante se refere à espécie Candida albicans, a qual faz parte da Embora este livro tenha como foco os fungos patogênicos de
microbiota normal humana. seres humanos, é preciso enfatizar que os fungos também são uti-
Alguns fungos reproduzem-se de forma sexuada pela pro- lizados na produção de importantes alimentos (p. ex., pão, queijo,
dução de esporos sexuadas (p. ex., zigósporos, ascósporos e vinho e cerveja). Os fungos também são responsáveis pela degra-
basidiósporos). Zigósporos são esporos simples e extensos de dação de alguns alimentos. Por poderem crescer em ambientes
parede espessa; ascósporos são formados no interior de sacos, mais secos, mais ácidos e sob pressões osmóticas mais elevadas
denominados ascos; e os basidiósporos são formados externa- do que as bactérias, os bolores são frequentemente envolvidos na
mente na extremidade de um pedestal, denominado basídio. A degradação de frutas, grãos, vegetais e compotas.
classificação desses fungos é baseada nos seus esporos sexuadas.
Fungos que não formam esporos sexuadas são chamados de "im-
perfeitos,, e classificados como fungos imperfeitos. PATOGÊNESE
A maioria dos fungos de interesse clínico propaga-se de
forma assexuada, formando os conídios (esporos assexuados) A resposta para infecções causadas por muitos fungos é a forma-
ção de granulomas. Granulomas são produzidos nas principais
produzidos na lateral e na extremidade de estruturas especia-
micoses sistêmicas (p. ex., coccidioidomicose, histoplasmose,
lizadas (Figura 47-1). A forma, a cor e o arranjo dos conídios
blastomicose e outras). A resposta imune celular está envolvida
ajudam na identificação desses fungos. Alguns conídios impor-
tantes são ( 1) artrósporos, 1 que são produzidos pela fragmen- na formação de granulomas. A supuração aguda, caracterizada
pela presença de neutrófilos em exsudatos, também ocorre em
tação da extremidade da hifa e representam a forma de trans-
missão da espécie Coccidioides immitis; (2) clamidósporos, certas micoses, como aspergilose e esporotricose. Os fungos não
possuem endotoxinas em suas paredes celulares, e não produzem
que são arredondados, com parede espessa e muito resistentes
exotoxinas similares às das bactérias.
(os clamidósporos produzidos por C. albicans ajudam na sua
A ativação do sistema imune celular resulta em uma resposta
identificação); (3) blastósporos, que são formados pelo proces-
de hipersensibilidade tardia cutânea para certos antígenos fún-
so de brotamento, pelo qual as leveduras se reproduzem assexu-
gicos injetados de forma intradérmica. Um teste cutâneo positivo
adamente (algumas leveduras, como C. albicans, podem formar
brotamentos múltiplos que não são liberados, produzindo ca- indica a exposição a um antígeno fúngico. Entretanto, o teste po-
deias, denominadas pseudo-hifas, as quais são utilizadas para sitivo não implica uma infecção atual, pois a exposição ao antí-
sua identificação); e (4) esporangiósporos, que são formados geno pode ter ocorrido anteriormente. O teste cutâneo negativo
no interior de uma estrutura sacular (esporângio) na extremi- torna o diagnóstico improvável se for realizado em um paciente
imunocomprometido. Devido à presença de Candida como parte
dade de colunas produzidas pelos fungos filamentosos dos gê-
da microbiota normal em seres humanos, o teste cutâneo com
neros Rhizopus e Mucor.
seus antígenos pode ser utilizado para determinar se a resposta
imune celular está normal.
A transmissão e localização geográfica de alguns fungos im -
1
0 termo esporos pode ser substituído por conídios (p. ex., artroconídios). portantes são descritas na Tabela 47-2.
CAPÍTULO 47 Micologia Básica 385

TABELA 47-2 Transmissão e localização geográfica de alguns fungos importantes

Forma do organismo Localização geográfica


Gênero Hábitat transmitido Porta de entrada endêmica

Coccidioides Solo Artrósporos Inalação para os pulmões Sudoeste dos Estados Uni-
dos e América Latina

Histoplasma Solo (associado a fezes Microconíd io Inalação para os pulmões Mississippi e vale do Rio
de aves) Ohio, nos Estados Unidos;
muitos outros países

Blastomyces Solo Microconíd io Inalação para os pulmões Estados a Leste do Rio Mis-
sissippi, nos Estados Uni-
dos; África

Paracoccidioides Solo Desconhecida Inalação para os pulmões América Latina

Cryptococcus Solo (associado a fezes Leveduras Inalação para os pulmões No mundo todo
de pombos)

Aspergillus Solo e p lant as Coníd ios Inalação para os pulmões No mundo todo

Candida Corpo humano Leveduras Microbiota normal da pele, No mundo todo


boca, trato gastrintestinal
e vagina

A pele intacta é uma defesa efetiva do hospedeiro contra cer- Outras toxinas ingeridas, as aflatoxinas, são derivadas de
tos fungos (p. ex., Candida, dermatófitos), mas se a pele estiver cumarinos produzidas por Aspergillus flavus, que causam danos
danificada, esses organismos podem se estabelecer. Ácidos graxos ao fígado e tumores em animais, além de serem suspeitas de causar
presentes na pele inibem o crescimento de dermatófitos, e hormô- carcinoma hepático em seres humanos. As aflatoxinas são ingeri-
nios associados à pele, que ocorrem na puberdade, limitam o apa- das com grãos industrializados, bem como com amendoins, e me-
recimento de tinhas no couro cabeludo, causadas por Trichophyton. tabolizadas pelo fígado em epóxido, o qual representa um potente
A microbiota normal da pele, bem como a membrana mucosa, é agente carcinogênico. A aflatoxina B1 induz uma mutação no gene
capaz de suprimir o desenvolvimento dos fungos. Quando a mi- supressor de tumor p53, levando à perda da proteína p53 e, conse-
crobiota normal é inibida (p. ex., no caso do uso de antibióticos), o quentemente, perda do controle de crescimento dos hepatócitos.
crescimento excessivo de fungos, como a C. albicans, pode ocorrer. Alergias causadas por esporos de fungos, principalmente es-
No trato respiratório, uma importante defesa do hospedei- poros de Aspergillus, são manifestadas, em geral, por uma reação
ro são as membranas mucosas da parte nasal da faringe, que são asmática (rápida broncoconstrição mediada por IgE), eosinofilia
capazes de capturar esporos fúngicos inalados, bem como os ma- e formação de pápula e rubor no teste de reação cutânea. Esses
crófagos alveolares. As imunoglobulinas circulantes IgG e IgM sinais clínicos são causados pela resposta de hipersensibilidade
são produzidas em resposta às infecções fúngicas; entretanto, seu imediata aos esporos fúngicos.
papel na proteção contra essas doenças ainda não é claro. A res-
posta imune celular é protetora; sua supressão pode levar à reati-
vação e à disseminação de infecções fúngicas assintomáticas e a DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
doenças causadas por fungos oportunistas.
Existem quatro procedimentos para o diagnóstico laboratorial de
doenças fúngicas: (1) exame microscópico direto, (2) cultivo do
organismo, (3) testes de sonda de DNA e (4) testes sorológicos.
TOXINAS FÚNGICAS E ALERGIAS O exame microscópico direto de amostras clínicas, como escarro,
Além das infecções micóticas, existem dois outros tipos de biópsia de pulmão e raspagem de pele, depende da caracterização
doenças fúngicas: ( 1) micotoxicoses, causadas pela ingestão de de esporos assexuados, hifas ou leveduras utilizando um micros-
toxinas, e (2) alergias a esporos fúngicos. As micotoxicoses mais cópio óptico. O espécime deve ser tratado com hidróxido de po-
conhecidas ocorrem após a ingestão de cogumelos do gênero tássio (KOH) a 10% para dissolver o material tecidual, deixando o
Amanita. Esses fungos produzem cinco toxinas conhecidas, e fungo, que é alcalirresistente, intacto. O espécime pode, também,
duas delas - amanitina e faloidina - estão entre as hepatotoxinas ser corado por meio de preparações especiais. Alguns exemplos
mais potentes. A toxicidade da amanitina é baseada em sua capa- de importantes diagnósticos realizados por exame direto são ( 1)
cidade de inibir a RNA-polimerase celular, inibindo a síntese do presença de esférulas por C. immitis e (2) presença de cápsula
mRNA. Outra micotoxicose, o ergotismo, é causada pelo fungo espessa de Cryptococcus neoformans, observada com auxílio do
filamentoso Claviceps purpurea, o qual infecta grãos e produz corante da Índia em líquido espinal. O calcoflúor branco é um
alcaloides (p. ex., ergotamina e dietilamida do ácido lisérgico corante fluorescente que se liga à parede da célula fúngica, útil
[LSD] ) que causam fortes efeitos vasculares e neurológicos. para identificação de fungos em amostras de tecidos. O corante
386 PARTE V Micologia

TABELA 47-3 Mecanismos de ação e efeitos adversos dos fármacos antifúngicos

Uso Nome do fármaco Mecanismo de ação Importantes efeitos colaterais

Uso sistêmico Anfotericina B Ligação ao ergosterol e ruptura da Toxicidade renal, febre e calafrios;
(intravenoso, oral) membrana celular dos fungos monitoramento da função rena l;
uso em dose-teste; preparações
lipossomais reduzem a toxicidade
Azóis, como fluconazol, ceto- Inibição da síntese do ergosterol Cetoconazol inibe o citocromo P450
conazol, itraconazol, vori- humano; a diminuição da síntese
conazol, posaconazol de esteroides pelas gônadas
resu lta em ginecomastia
Equinocandinas, como caspo- Inibição da síntese de o-glicano, um Bem tolerado
fungina, micafungina componente da parede celular
dos fungos
Flucitosina (FC) Inibição da síntese de DNA; FC é Toxicidade para a medula óssea
convertida em fluoruracil, que
inibe a timidina sintase
Griseofulvina Ruptura do fuso mitótico por meio Toxicidade para o fígado
da ligação à tubu lina

Uso tópico (apenas Azóis, como clotrimazol, mi- Inibição da síntese do ergosterol Bem tolerado na pele
na pele); muito tóxico conazol
para uso sistêmico
Terbinafina Inibição da síntese do ergosterol Bem tolerado na pele
Tolnaftato Inibição da síntese do ergosterol Bem tolerado na pele
Nistatina Ligação ao ergosterol e ruptura da Bem tolerado na pele
membrana celular dos fungos

metenamina de prata também é útil no diagnóstico microscópico TERAPIA ANTIFÚNGICA


de fungos em amostras de tecidos.
Fungos são frequentemente cultivados em ágar de Sabou- Os fármacos utilizados para o tratamento de doenças causadas
raud, que facilita o crescimento de fungos de crescimento mais por bactérias não têm efeito sobre doenças fúngicas. Por exem-
lento pela inibição do crescimento de bactérias presentes nas plo, penicilinas e aminoglicosídeos inibem o crescimento de
amostras. A inibição do crescimento bacteriano deve-se ao baixo muitas bactérias, mas não afetam o crescimento dos fungos. Essa
pH do meio e à adição de cloranfenicol e ciclo-hexamida. A apa- diferença é explicada pela presença de algumas estruturas pre-
rência do micélio e a natureza dos esporos assexuados são, em sentes nas bactérias (p. ex., peptideoglicano e ribossomos 70S)
geral, suficientes para identificação do organismo. que estão ausentes nos fungos.
Testes utilizando análise de DNA podem identificar colônias Os fármacos antifúngicos mais efetivos, anfotericina B e vá-
crescendo em cultura em um estágio inicial de crescimento quan- rios azóis, exploram o ergosterol presente na membrana celular
do comparados com testes baseados na detecção visual das colô- dos fungos, o qual não é encontrado em bactérias ou na membra-
nias. Como resultado, a análise de DNA pode ser realizada mais na celular de seres humanos. A anfotericina B (Fungizon) rompe
rapidamente. Atualmente, as análises de DNA estão disponíveis a membrana celular fúngica no local do ergosterol e os azóis ini-
para Coccidioides, Histoplasma, Blastomyces e Cryptococcus. bem a síntese do ergosterol, um componente essencial das mem-
Testes para a presença de anticorpos em soro ou líquido es- branas fúngicas. Outro fármaco antifúngico, a caspofungina, ini-
pinal de pacientes são úteis no diagnóstico de micoses sistêmi- be a síntese do ~-glicano, que é encontrado na parede celular dos
cas, mas são menos efetivos em diagnósticos de outras infecções fungos, mas é ausente na parede celular das bactérias. As células
fúngicas. Como nos casos de testes sorológicos para bactérias e humanas não possuem parede celular.
vírus, um aumento significativo na titulação de anticorpos deve O mecanismo de ação dos fármacos antifúngicos é descrito
ser observado para confirmar um diagnóstico. O teste de fixação no Capítulo 10. A Tabela 47-3 resume o modo de ação e a impor-
do complemento é o mais frequentemente utilizado em suspeitas tância dos efeitos colaterais dos principais fármacos antifúngicos.
de casos de coccidioidomicose, histoplasmose e blastomicose. A ocorrência de resistência clinicamente significativa a antifún-
Em meningite criptocócica, a presença de antígenos polissaca- gicos é incomum. A resistência aos fármacos azólicos é rara, mas
rídeos capsulares de C. neoformans no líquido espinal pode ser está aumentando.
detectada pelo teste de aglutinação do látex.
CAPÍTULO 47 Micologia Básica 387

CONCEITOS-CHAVE

Estrutura e crescimento à disseminação de doença causada por fungos, como Aspergillus


eMucor.
• Fungos são organismos eucariotos que ocorrem em duas formas
básicas: leveduras e fungos filamentosos. As leveduras são
unicelulares, já os fungos filamentosos possuem longos filamen- Toxinas fúngicas e alergias
tos de células, denominados hifas. As leveduras se reproduzem • A ingestão de cogumelos Amanita causa necrose do fígado de-
por brotamento, processo no qual as células-filhas apresentam vido à presença de duas toxinas, amanitina e faloidina. A amani-
tamanhos diferentes; por outro lado, os fungos filamentosos se tina inibe a RNA-polimerase que sintetiza o mRNA celular.
reproduzem por divisão celular (as células-filhas são iguais em
• A ingestão de amendoins e grãos contaminados com Aspergillus
tamanho).
flavus causa câncer no fígado devido à presença de aflatoxinas.
• Alguns fungos são dimórficos (i.e., eles podem existir tanto A epoxiaflatoxina induz a mutação do gene p53, que resulta em
como leveduras quanto como fungos filamentosos). À tempera- perda da proteína supressora tumoral p53.
tura ambiente (p. ex., 25ºC), fungos dimórficos são filamentosos,
• A inalação de esporos de Aspergillus fumigatus pode causar as-
já à temperatura corporal de seres humanos eles ocorrem como
pergilose alérgica broncopulmonar. Essa reação alérgica é
leveduras (ou em forma esférica).
mediada pela resposta de hipersensibilidade imediata mediada
• A parede celular dos fungos é constituída de quitina; a parede por lgE.
celular de bactérias é constituída de peptideoglicano. Entretanto,
antibióticos que inibem a síntese do peptideoglicano, como pe-
nicilinas, cefalosporinas e vancomicinas, não são efetivos contra
Diagnóstico laboratorial
os fungos. • O exame microscópico de uma preparação com KOH pode reve-
lar a presença de estruturas fúngicas. A função do KOH é dissolver
• As membranas celulares dos fungos contêm ergosterol, ao pas-
as células humanas, permitindo a visualização do fungo.
so que a membrana celular das bactérias não possui ergosterol.
Entretanto, antibióticos que inibem a síntese do ergosterol (p. ex., • O ágar de Sabouraud é frequentemente utilizado para cultivar
os azóis) não são efetivos contra bactérias. Semelhantemente, fungos devido ao seu baixo pH, que inibe o crescimento de bac-
a anfotericina B que se liga à membrana celular dos fungos por térias, permitindo o desenvolvimento de fungos de crescimento
meio do local do ergosterol não é efetiva contra bactérias. lento.
• A análise de DNA pode ser utilizada para identificação de fungos
Patogênese crescendo em cultura em seus estágios iniciais (i.e., quando o ta-
manho da colônia ainda é pequeno).
• Infecções com alguns tipos de fungos sistêmicos, como Histop/as-
ma e Coccidioides, causam uma resposta de defesa granuloma- • Testes para presença de antígenos e anticorpos para antígenos
tosa do hospedeiro (composta por macrófagos e linfócitos T fúngicos são frequentemente utilizados. Dois testes comu-
auxiliares). Infecções causadas por outros fungos, principalmente mente utilizados são os testes para o antígeno criptocócico no
Aspergillus, Mucor e Sporothrix, causam uma resposta piogênica líquido espinal e para anticorpos para Coccidioides no soro de
(composta por neutrófilos). pacientes.

• Infecções com fungos sistêmicos, como Histop/asma e Coccidioides,


podem ser detectadas pelo teste cutâneo. Um antígeno extraído Terapia antifúngica
do organismo é injetado de forma intradérmica e produz uma • A toxicidade seletiva da anfotericina B e dos grupos azóis é ba-
reação de hipersensibilidade tardia, manifestada como um en- seada na presença do ergosterol da membrana celular dos fun-
durecimento (aumento da espessura) da pele. Observa-se que um gos, ao contrário do colesterol encontrado nas membranas das
teste cutâneo positivo indica apenas que a infecção ocorreu, mas células humanas e da ausência de esteróis nas membranas das
não se ocorreu no passado ou no presente. Entretanto, um teste células bacterianas.
cutâneo positivo não indica que a doença do paciente foi causada • A anfotericina B liga-se à membrana celular dos fungos no local
por aquele determinado organismo. Observa-se também que um
do ergosterol e rompe a integridade das membranas.
teste cutâneo negativo pode ocorrer em pacientes com baixa imu-
nidade celular, como os com uma baixa contagem de CD4. Para • Os azóis, como itraconazol, fluconazol e cetoconazol, inibem a
determinar se o paciente aumenta a resposta de hipersensibilida- síntese do ergosterol.
de tardia, um controle do teste cutâneo utilizando um antígeno • A toxicidade seletiva das equinocandinas, como caspofungina,
comum, como Candida a/bicans, pode ser utilizado. é baseada na presença de parede celular fúngica, ao passo que
• A imunidade celular reduzida predispõe à disseminação de doen- células humanas não possuem parede celular. As equinocandinas
ças causadas por fungos sistêmicos, como Histoplasma e Cocci- inibem a síntese do o-glicano, o qual é um componente da pare-
dioides, embora um número reduzido de neutrófilos predisponha de celular dos fungos.
388 PARTE V Micologia

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 3. Em relação ao modo de ação dos fármacos antifúngicos, qual das
seguintes opções é a mais correta?
1. Em relação às estruturas e à reprodução dos fungos, qual das se- (A) Os azóis, como o fluconazol, atuam inibindo a síntese do er-
guintes opções é a mais correta? gosterol.
(A) O peptideoglicano é um importante componente da parede (B) A anfotericina B atua inibindo a síntese proteica dos fungos
celular dos fungos. sobre a subunidade ribossomal 40S.
(B) Fungos filamentosos são fungos que crescem como células (C) A terbinafina atua inibindo a síntese de DNA dos fungos, mas
únicas e se reproduzem por brotamento. não afeta a síntese de DNA em células humanas.
(C) Alguns fungos são dimórficos (i.e., apresentam-se como leve- (D) As equinocandinas, como a caspofungina, atuam inibindo a
duras à temperatura ambiente e como filamentosos à tempera- síntese do RNA mensageiro em leveduras, mas não em fungos
tura corporal). filamentosos.
(D) A membrana celular dos fungos contém ergosterol, ao contrá-
rio da membrana celular humana, que contém colesterol.
(E) Como a maioria dos fungos é anaeróbia, eles devem ser cul- RESPOSTAS
tivados em condições anaeróbias em laboratórios de análises
clínicas. 1. (D)
2. (B)
2. Em relação à patogênese dos fungos, qual das seguintes opções é a
3. (A)
mais correta?
(A) A ingestão do cogumelo Amanita geralmente causa problemas
renais.
(B) A resposta do hospedeiro para infecções sistêmicas dos fun- QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
gos, como as causadas por Histoplasma e Coccidioides, consiste Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
na formação de granulomas. encontradas na seção de Micologia da Parte XIII: Questões para
(C) A febre observada na infecção fúngica sistêmica é causada por
Autoavaliação, a partir da página 708. Consulte também a Parte
endotoxinas induzidas liberadas por interleucina 1.
(D) A ingestão de aflatoxina produzida por Aspergillus flavus pode
XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
causar adenocarcinoma de colo.
(E) Um resultado positivo no teste cutâneo para antígenos fúngi-
cos, como a coccidioidina, é causado por uma reação de hiper-
sensibilidade imediata.
CAPÍTULO

Micoses Cutâneas e
Subcutâneas 48
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Esporotricose
Micoses cutineas Cromomicose
Oe,matofitoses M icetoma
Tínea ve,sicol0< Aplique seu conhecimento
Tfneaneg,a Resumos dos organismos
Micoses subcutineas Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO MICOSES CUTÃNEAS


Micoses de interesse médico podem ser divididas em qua. Dermatofitoses
tro categorias: (1) cutã.neas, (2) subcutã.neas, (3) slstêinlcas e
As dermatofitose.s são causadas por ÍU!lgos (dermatófitos) que
(4) oportunistas. Algumas características de importantes doen·
ças fúngicas estão descritas na Tabela 48- 1. Micoses c.utâneas e infectam apenas estrututa.s quetatinizadas superficiais (pele.
subcutâneas são discutidas neste c.apítu)o. e c.aracteristicas im• pelos e unhas) e. não tecidos profundos. Os dermatófitos mais
portantes dos organismos causadores encontram-se descritas na importantes estão classificados em três gê!leros: Trichophy1on.
Epidetmophyton e Microsporum. Eles são tta1tsmitidos pot pes·
'Iàbela 48·2. As micoses sistêmicas e oportunistas são discutidas
soas illfec.tadas pelo contato direto. Microsporum também é trans-
nos Capítulos 49 e 50. respectivamente.

TABELA 48-1 características de importantes doenças fúngicas


Gtnon,(1) do(1) agent.(1)
1
Tipo Localluçlo ....~1u Doença repreHntatlva cauudorfos) Gravidade da doança
CutàMa Camada morta da pele Tínea ve(sicolor Molossez1o 1+
Epiderme, pelos, unhas Oermatofltose (tínea) Mkrospotum, Tti'chophytot1, 2+
EpjdetmoplrytM

Subcutânea Subcútis Espo(otricose Spotothtix 2+


Micetoma Vátios gêneros 2+

Sistêmica ô rgàos inter-nos Coccidioidomicose Cocôdioide.s 4+


Histoplasmose Hisroplosmo 4+
81astotnicose 8lostomyces 4+
Pafacoccidioidomicose Porococcidioides 4+

Oportunista ó rgãos inter-nos Criptococose Ctyptoaxcus 4+


c.andidíase Condido 2+a 4+
Aspergilose Aspe.rg;/lus 4+
Mucormicose Mucor,Rhizopus 4+
11+, n~o ê grave.o tratamento pode ou mio ser administrado: 2+, moderadamentegraw, tratamento frequentemente administrado: 4+,grave, tratamento admlnls·
trado pMClpalmenteem doenças dlssemtnadas.
390 PARTE V Micologia

TABELA48-2 Características importantes das doenças fúngicas da pele e subcutâneas


Forma microscópica Importantes Diagnóstico
Gênero observada no tecido Modo de transmissão achados clínicos laboratorial

Trichophyton, Hifa De pessoa a pessoa Tínea do couro cabeludo, Preparações com hidróxido
Epidermophyton tínea do pé, etc. As de potássio (KOH) reve-
tíneas, em inglês, rece- Iam hifas septadas. Cultu-
bem a denominação de ra em ágar Sabouraud
"ringworm". Um anel de
vesículas inflamadas e
pruríticas com uma re-
gião central cicatrizada

Microsporum Hifa De pessoa a pessoa e de ani- Tínea do couro cabeludo, Preparações com hidróxido
mal a pessoa tínea do pé, etc. As de potássio (KOH) reve-
tíneas, em inglês, rece- Iam hifas septadas. Cultu-
bem a denominação de ra em ágar Sabouraud
"ringworm". Um anel de
vesículas inflamadas e
pruríticas com uma re-
gião central cicatrizada

Malassezia Hifas e leveduras Pessoa a pessoa Placas descamadas no tron- Preparações com hidróxido
co; frequentemente não de potássio (KOH) reve-
pigmentado; frequente- Iam mistura de hifas e
mente não prurítico leveduras

Sporothrix Leveduras Lesões penetrantes a partir Pústulas ou úlceras nas Preparações com hidróxido
de atividades, como mãos, frequentemente de potássio (KOH) reve-
jardinagem, causam a acompanhados de nódu- Iam leveduras em forma
implantação dos esporos los nos braços de charuto. O cultivo a
fúngicos; p. ex, espinhos 20ºC revela hifas com co-
de rosas. nídios em forma de flor

mitido por animais, como cachorros e gatos. Isso indica que, para Em algumas pessoas infectadas, a hipersensibilidade causa
prevenir reinfecções, os animais também devem ser tratados. a reação de dermatofítide ("id,,) (p. ex., vesículas nos dedos).
As dermatofitoses (tíneas) são infecções crônicas frequente- As lesões id são a resposta do antígeno fúngico circulante; as
mente localizadas em áreas quentes e úmidas do corpo (p. ex., pé lesões não possuem hifas. Os pacientes com infecções por tínea
de atleta e comichão). 1 Típicas lesões de tíneas apresentam uma
borda circular com sinais de inflamação contendo pápulas e vesí-
culas circundadas por uma zona clara de pele normal. As lesões,
em geral, são pruriginosas.
Pelos quebradiços e unhas espessas e partidas também
são observadas. A doença é, em geral, identificada pela parte
do corpo afetada (p. ex., tínea do couro cabeludo [cabeça], tí-
nea do corpo [corpo], tínea crural [coxas] e tínea do pé [pés])
(Figura 48-1).
O Trichophyton tonsurans é a causa mais comum da prolife-
ração de tínea do couro cabeludo em crianças e a principal cau-
sa de infecções tipo endótrix (no interior do pelo). Trichophyton
rubrum é também um agente causador muito comum de tínea do
couro cabeludo. Trichophyton schoenleinii é o causador do favo,
uma forma de tínea do couro cabeludo em que uma crosta pode
ser observada no escalpo. Espécies de Trichophyton também cau-
sam uma lesão pustular inflamada, no escalpo, denominada ke-
rion. A marcante inflamação é causada por uma intensa reação à FIGURA 48-1 Tínea do corpo. Observa-se uma lesão circular e infla-
presença do fungo mediada por células T. mada com uma zona central clara. É causada por dermatófitos, como
Epidermophyton, Trichophyton e Microsporum. (Reproduzida, com per-
missão, de Fauci AS, Braunwald E, Kasper DL et ai, eds. Harrison's Principies of In-
1
Essas infecções são também conhecidas como tínea do pé e tínea crural, ternai Medicine. 17th ed. NewYork: McGraw-Hill, 2008. Copyright© 2008 porThe
respectivamente. McGraw-Hill Companies, lnc.)
CAPÍTULO 48 Micoses Cutâneas e Subcutâneas 391

apresentam teste cutâneo positivo em contato com extratos de


fungos (p. ex., tricofitina).
Lâminas contendo raspados de pele ou de unhas, tratados
com hidróxido de potássio a 10% (KOH), revelam hifas septadas à
microscopia. Culturas em ágar Sabouraud à temperatura ambiente
produzem hifas e conídios característicos. Lesões de tínea do cou-
ro cabeludo, causadas por espécies de Microsporum, podem ser de-
tectadas com fluorescência quando são expostas à luz ultravioleta.
O tratamento envolve o uso de cremes antifúngicos locais
FIGURA 48-2 Esporotricose. Observam-se lesões papulares na mão
- terbinafina, ácido undecilênico, miconazol, tolnaftato, etc. -
esquerda e no antebraço. Causada por Sporothrix schenckii. (Reprodu-
ou via oral, como griseofulvina. A prevenção pode ser realizada zida, com permissão, de Wolff K, Johnson R. Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of
mantendo-se a pele seca e fresca. Clinicai Dermatology. 6th ed. NewYork: McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 por
The McGraw-Hill Companies, lnc.)
Tínea versicolor
Tínea versicolor (pitiríase versicolor), uma infecção cutânea su- seminada. A esporotricose ocorre com mais frequência em jardi-
perficial apenas de importância estética, é causada por Malasse- neiros, principalmente nos que podam rosas, pois eles podem
zia furfur. As lesões são, em geral, observadas como áreas hipo- se ferir com os espinhos das rosas.
pigmentadas, sobretudo na pele bronzeada no verão. A infecção No laboratório clínico, leveduras em brotamento podem ser
pode ser levemente escamosa ou com coceira, mas, em geral, é as- visualizadas em amostras de tecidos. Em cultura à temperatura
sintomática. Isso ocorre com mais frequência em climas quentes e ambiente, ocorrem hifas rodeadas por grupos de conídios ovais
úmidos. As lesões contêm células leveduriformes em brotamento nas extremidades dos conidióforos (assemelhando-se a uma mar-
e hifas. O diagnóstico pode ser realizado pela observação dessa garida). O fármaco de escolha para lesões de pele é o itraconazol
mistura em preparações de KOH de raspagem de pele. A cultura (Sporanox). A doença pode ser prevenida por meio da proteção
geralmente não é realizada. O tratamento de escolha envolve o da pele quando ocorre contato com plantas, musgos e madeira.
uso tópico do miconazol, porém, as lesões apresentam a tendência
de recorrer. Fármacos antifúngicos orais, como o fluconazol e o
Cromomicose
itraconazol, podem ser utilizados para tratar as lesões recorrentes.
Essa é uma infecção granulomatosa progressiva e lenta causada
Tínea negra por vários fungos do solo (Fonsecaea, Phialophora, Cladosporium,
etc.) quando estes são introduzidos na pele através de um trauma.
A tínea negra é uma infecção de camadas queratinizadas da pele. Esses fungos são coletivamente chamados de fungos dematiáceos,
Ela ocorre como uma mancha marrom, causada por um pig- pois seus conídios ou hifas são escuros, tanto nas cores cinza quan-
mento similar à melanina presente nas hifas. O agente causador, to preta. Lesões semelhantes a verrugas com abscessos incrustados
Cladosporium werneckii, é encontrado no solo e transmitido para se estendem pelos vasos linfáticos. A doença ocorre principalmen-
as lesões. Nos Estados Unidos, a doença ocorre nos Estados do te nos trópicos e são observadas nos pés e nas pernas. No laborató-
Sul. O diagnóstico pode ser realizado pelo exame de microscopia rio clínico, células marrom-escuras arredondadas são visualizadas
direta e pelo isolamento da cultura utilizando raspagens da pele. em leucócitos ou em células gigantes. A doença é tratada com flu-
A infecção é tratada com um agente queratolítico tópico (p. ex., citosina ou tiabendazol oral, além de cirurgia local.
ácido salicílico ).
Micetoma
MICOSES SUBCUTÂNEAS Fungos do solo (Petriellidium, Madurella) penetram através de
ferimentos nos pés, nas mãos ou nas costas e causam abscessos,
São micoses causadas por fungos que crescem no solo e sobre com pus que escorre pelos sínus. O pus contém grânulos com-
vegetais, e são introduzidas no tecido subcutâneo através de um pactos coloridos. Actinomicetos, como Nocardia, podem causar
trauma. lesões similares (micetoma actinomicótico). As sulfonamidas
podem auxiliar no caso da ocorrência da forma actinomicótica.
Esporotricose Não existe um fármaco efetivo contra a forma fúngica; a remoção
O Sporothrix schenckii é um fungo dimórfico. A forma filamen- cirúrgica é recomendada.
tosa ocorre sobre vegetais e a forma leveduriforme ocorre nos
tecidos humanos. Quando os esporos do fungo filamentoso são
introduzidos na pele, normalmente por um espinho, é formada APLIQUE SEU CONHECIMENTO
uma pústula local, ou úlcera, com nódulos ao longo dos vasos
1. Em relação às tíneas e aos dermatófitos, qual das seguintes opções é
linfáticos (Figura 48-2). As lesões são, em geral, indolores e ocor- a mais correta?
re uma pequena doença sistêmica. Lesões sem tratamento podem
(A) Os dermatófitos são fungos filamentosos sem dimorfismo
aumentar e diminuir durante os anos. Pacientes infectados pelo térmico.
vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) que apresentam bai- (B) O fármaco de escolha para o tratamento das lesões de tíneas é
xa contagem de células CD4 podem apresentar esporotricose dis- a anfotericina B.
392 PARTE V Micologia

(C) O propósito da preparação de KOH é a observação de antíge- 4. Seu paciente é um garoto com 10 anos com tínea do pé (pé de atle-
nos fúngicos no interior de células infectadas. ta). Qual das seguintes opções representa o melhor fármaco de es-
(D) A reação de dermatofítide refere-se à área necrosada, geral- colha para o tratamento da infecção?
mente observada no centro de lesões de tínea. (A) Anfotericina B.
(E) O reservatório principal dos dermatófitos do gênero Tricho- (B) Caspofungina.
phyton são os animais domésticos, como cães e gatos. (C) Flucitosina.
2. Em relação à esporotricose e ao Sporothrix schenckii, qual das se- (D) Terbinafina.
guintes opções é a mais correta?
(A) Os principais reservatórios de Sporothrix são as fezes de ca-
chorro. RESPOSTAS
(B) O diagnóstico laboratorial envolve a observação de fungos fi-
1. (A)
lamentosos não septados em uma amostra de lesão.
(C) Sporothrix é frequentemente contraído por feridas durante a 2. (C)
jardinagem. 3. (B)
(D) O tratamento de escolha para esporotricose é a remoção cirúr- 4. (D)
gica de lesões, pois não há nenhum fármaco efetivo.
(E) A doença ocorre principalmente em pacientes deficientes na
atuação tardia do complemento. RESUMOS DOS ORGANISMOS
3. Sua paciente é uma mulher de 65 anos com uma lesão ulcerada de
Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
2 cm na palma da mão, a qual aumentou nos últimos meses. A lesão
está levemente sensível e sem rubor, calor ou dor. Uma análise cui-
-se na página 658. Favor consultar esses resumos para uma rápida
dadosa da história revela que a paciente fez um arranjo de azevinho revisão do material essencial.
para utilizar no Natal. (Folhas de azevinho possuem pontas afiadas.)
A paciente tem febre, mas está bem. Um aspirado da lesão foi obti-
do. Qual das seguintes opções representa o melhor diagnóstico da QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
esporotricose?
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
(A) A cultura em ágar-sangue a 25ºC revelou colônias brancas
encontradas na seção de Micologia da Parte XII: Questões para
13-hemolíticas.
(B) Uma coloração de metenamina de prata examinada sob mi-
Autoavaliação, a partir da página 708. Consulte também a Parte
croscopia óptica revelou leveduras com brotamentos. XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
(C) O exame microscópico com uma preparação de KOH revelou
hifas septadas.
(D) A cultura em ágar Sabouraud a 37ºC revelou um micélio mar-
rom com esporos verdes.
(E) O exame de amostra não corada em microscópio de campo
escuro revelou hifas não septadas.
CAPÍTULO

Micoses Sistêmicas
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Paracoccidioides
Coccidioides Aplique seu conhecimento
Histoplasma Resumos dos organismos
8/astomyces Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO As características importantes das doenças fúngicas sistémi-


cas são descritas na Tabela 49-1. Os fungos sistémicos são tam-
Micoses sistémicas resultam da inalação de esporos de fungos bém chamados de fungos endêmicos, pois são endêmicos (locali-
dimórficos que ocorrem em sua forma filamentosa no solo. Nos zados) de certas áreas geográficas.
pulmões, os esporos diferenciam-se em leveduras ou outras for-
mas especializadas, como esférulas.
A maioria das infecções nos pulmões é assintomática e limi- COCCIDIOIDES
tada. Entretanto, em algumas pessoas, a doença dissemina-se e os
organismos desenvolvem-se em outros órgãos, causando lesões Doença
destrutivas que podem resultar em morte. Pessoas infectadas não
A espécie Coccidioides immitis causa coccidioidomicose.
transmitem essas micoses sistémicas para outras pessoas.

TABELA49-1 Características importantes das doenças fúngicas sistêmicas


Forma microscópica Importantes achados
Gênero observada no tecido Localização geográfica clínicos Diagnóstico laboratorial

Coccidioides Esférula Sudoeste dos Estados Febre do Vale em indivíduos Cultura a 20ºC cresce na for-
Unidos e América Latina imunocompetentes; disse- ma filamentosa com pre-
minação aos ossos e me- sença de artrósporos; teste
ninges em indivíduos imu- sorológico para lgM e lgG
nossuprimidos, mulheres
grávidas, afro-americanos
e em filipinos

Histop/asma Leveduras no interior Ohio e vales do Rio Lesões nas cavidades dos Cultura a 20ºC cresce na for-
dos macrófagos Mississippi; distribuição pulmões; granulomas no ma filamentosa com ma-
mundial; associado com fígado e baço; pancitope- croconídios tuberculados;
pássaros e guano de nia e úlcera na língua em teste sorológico para lgM e
morcegos i mu nocomprometidos lgG; antígeno na urina

8/astomyces Leveduras com brotos Regiões Sudeste e Central Lesões ulceradas na pele Cultura a 20ºC cresce na for-
únicos e de base dos Estados Unidos; ma filamentosa
larga África

Paracoccidioides Leveduras com múlti- América Latina, sobretudo Lesões ulceradas no rosto e Cultura a 20ºC cresce na for-
pios brotos Brasil na boca ma filamentosa; teste soro-
lógico para lgM e lgG
394 PARTE V Micologia

6~
Artrósporos ~
t)

Esférula com "-~ . . . . .


endósporos
A B

FIGURA 49-1 Estágios de Coccidioides immitis. A: Artrósporos formam-se nas extremidades das hifas presentes no solo. Eles germinam no solo
para formar novas hifas. Se inalados, os artrósporos diferenciam-se em esférulas. B: Endósporos no interior das esférulas presentes nos tecidos.
Quando as esférulas se rompem, os endósporos disseminam-se e formam novas esférulas. (Modificada e reproduzida, com permissão, de Brooks GF et
ai. Medical Microbiology. 20th ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1995 McGraw-Hill.)

Características Patogênese
C. immitis é um fungo dimórfico que ocorre como filamentoso Nos pulmões, os artrósporos formam grandes esférulas (30 µm
no solo e como esférula nos tecidos (Figura 49-1). de diâmetro), com parede dupla, espessa e refratária, que é preen-
chida com os endósporos (Figura 49-3). Quando ocorre a rup-
Transmissão e epidemiologia tura da parede, os endósporos são liberados e diferenciam-se em
novas esférulas. O organismo pode disseminar-se no interior do
O fungo é endêmico em regiões áridas do Sudoeste dos Es-
indivíduo pela extensão direta ou via corrente sanguínea. Lesões
tados Unidos e na América Latina. Indivíduos que vivem no
granulomatosas podem ocorrer praticamente em qualquer órgão,
Centro e no Sul da Califórnia, Arizona, Novo México, Oeste
mas são encontradas, a princípio, nos ossos e no sistema nervoso
do Texas e Norte do México, região geográfica chamada de central (meningite).
"Lower Sonoran Life Zone': são infectados com frequência. No
A disseminação a partir dos pulmões para os outros ór-
solo, o fungo forma hifas com artrósporos, que se alternam
gãos ocorre em pessoas com deficiência na imunidade celular.
com células vazias (Figura 49-2). Os artrósporos são muito le-
A maioria dos indivíduos infectados com C. immitis desenvolve
ves e carregados pelo vento. Eles podem ser inalados e infec- uma resposta imune celular (hipersensibilidade tardia) queres-
tam os pulmões.
tringe o desenvolvimento do organismo. Um modo para deter-

FIGURA 49-2 Coccidioides immitis - artrósporos. Artrósporos retan- FIGURA 49-3 Coccidioides immitis - esférula. A seta longa apon-
gulares em forma de barril visualizados na cor azul devido ao corante ta para uma esférula no tecido pulmonar. Esférulas são estruturas
lactofenol azul de algodão. Artrósporos também são chamados de grandes e de parede celu lar espessa que contêm muitos endósporos.
artroconídios. (Figura cortesia do Dr. Hardin, Public Health lmage Library, A seta curta aponta para um endósporo. (Figura cortesia do Dr. L. Georg,
Centers for Disease Control and Prevention.) Public Health lmage Library, Centers for Disease Control and Prevention.)
CAPÍTULO 49 Micoses Sistêmicas 395

minar se uma pessoa produziu resposta imune celular adequada lizados para lesões persistentes nos pulmões ou doença generali-
para o organismo é a realização do teste cutâneo (ver posterior- zada. O cetoconazol é também efetivo em doenças pulmonares.
mente). Em geral, uma pessoa que apresenta teste cutâneo positi- Caso ocorra meningite, o fluconazol é o fármaco de escolha. A
vo desenvolveu imunidade suficiente para prevenir a dissemina- anfotericina B intratecal pode ser necessária e pode induzir a re-
ção da doença. Se, tardiamente, a imunidade celular do indivíduo missão da doença, mas resultados em longo prazo são geralmente
for suprimida por fármacos ou pela doença, pode ocorrer uma desfavoráveis. Não existem meios de prevenção, exceto evitar via-
doença disseminada. gens para áreas endêmicas. Pacientes com meningite coccidioidal
devem receber terapia supressiva em longo prazo com fluconazol
Achados clínicos a fim de prevenir recorrência.

A infecção dos pulmões é normalmente assintomática e detec-


tada apenas pelo teste cutâneo positivo e pela presença de anti-
HISTOPLASMA
corpos. Algumas pessoas infectadas apresentam doença simi-
lar à influenza, com febre e tosse. Cerca de 50% dos infectados Doença
apresentam mudanças nos pulmões (infiltrados, adenopatia ou
O Histoplasma capsulatum causa a histoplasmose.
efusões), como pode ser observado por meio de uma radiografia
de tórax, e 10% dos infectados desenvolvem eritema nodoso (ver
posteriormente) ou artralgias. Essa síndrome é chamada de "febre Características
do vale,, (no Vale de São Joaquim na Califórnia) ou "reumatismo O H. capsulatum é um fungo dimórfico que ocorre como fila-
do deserto,, (no Arizona); ela tende a diminuir espontaneamente. mentoso no solo e como levedura nos tecidos. Esse fungo forma
A disseminação da doença pode ocorrer em quase todos os dois tipos de esporos assexuados (Figura 49-4): (1) macroconí-
órgãos; as meninges (meningite), os ossos (osteomielite) e a pele dios tuberculados, com característica parede espessa e projeções
(nódulos) são locais importantes onde pode ocorrer a doença. semelhantes a dedos, que são importantes para identificação
A incidência mundial da disseminação em pessoas infectadas laboratorial; e (2) microconídios, esporos menores com parede
com C. immitis é de 1%; entretanto, a incidência em filipinos e fina e lisa, que, se inalados, transmitem a infecção.
afro-americanos é 10 vezes maior. Mulheres no terceiro trimes-
tre de gestação também apresentam aumento de incidência da Transmissão e epidemiologia
disseminação. O eritema nodoso (EN) manifesta-se como nódu-
los vermelhos e firmes ("desert bumps,,) na extensão de super- Esse fungo ocorre em muitas partes do mundo. Nos Estados
fícies, como a pele sobre a tíbia e a ulna. Isso é uma resposta de Unidos, ele é endêmico nos Estados Centrais e Orientais, prin-
hipersensibilidade tardia (mediada por células) para os antígenos cipalmente em Ohio e nos vales do Rio Mississippi. O fungo
fúngicos e, então, um indicador de bom prognóstico. Não há or- cresce no solo, particularmente se o solo for contaminado com
ganismos nas lesões; eles não representam sinais da disseminação muitos excrementos de pássaros, sobretudo os de estorninhos.
da doença. O EN não é específico para coccidioidomicose; ele Apesar de os pássaros não serem infectados, os morcegos podem
ocorre em outras doenças granulomatosas (p. ex., histoplasmose, ser infectados e excretar o organismo em seu guano. Em áreas de
tuberculose e hanseníase). infecção endêmica, a escavação do solo durante construções ou
Em pessoas infectadas, o teste cutâneo com extratos fún- explorações de cavernas infestadas com morcegos tem resultado
gicos (coccidioidina e esferulina) causa pelo menos um endure- em número significativo de pessoas infectadas.
cimento de 5 mm 48 horas após sua aplicação (reação de hiper- Em diferentes países tropicais africanos, a histoplasmose
sensibilidade tardia). Os testes cutâneos tornam-se positivos em é causada pelo Histoplasma duboisii. O panorama clínico dessa
2 a 4 semanas de infecção e permanecem assim por anos, mas
são, em geral, negativos (anergia) em pacientes com doença dis-
seminada.

Diagnóstico laboratorial
Em amostras de tecido, as esférulas são visualizadas microscopica-
mente. Culturas em ágar de Sabouraud incubadas a 25ºC apresen -
tam hifas com artrósporos (Figura 49-2). (Cuidado: as culturas são
altamente infecciosas; precauções contra a inalação de artrósporos
devem ser tomadas.) Em testes sorológicos, IgM e precipitinas de
IgG são detectadas após 2 a 4 semanas de infecção e, então, seus ní-
veis diminuem nos meses subsequentes. Anticorpos da fixação do
complemento ocorrem inicialmente em baixas titulações, mas a ti-
tulação aumenta consideravelmente se ocorrer uma disseminação.

Tratamento e prevenção FIGURA 49-4 Esporos assexuados de Histop/asma capsu/atum. A:


Macroconídios tuberculados. B: Microconídios. (Reproduzida, com per-
Nenhum tratamento é necessário para infecções assintomáticas missão, de Brooks GF et ai. Medical Microbiology. 19th ed. Publicada originalmen-
ou primárias brandas. A anfotericina B ou o itraconazol são uti- te por Appleton & Lange. Copyright 1991 McGraw-Hill.)
396 PARTE V Micologia

espécie é diferente do causado pelo H. capsulatum. Uma descri-


ção das diferenças entre a histoplasmose africana e a que é obser-
vada nos Estados Unidos está além do escopo deste livro.

Patogênese e achados clínicos


Os esporos inalados são fagocitados pelos macrófagos e trans-
formados em formas leveduriformes. Nos tecidos, H. capsulatum
ocorre como uma levedura oval no interior dos macrófagos (Fi-
guras 49-5 e 49-6). As leveduras sobrevivem nas fagolisossomas
dos macrófagos por meio da produção de substâncias alcalinas,
como bicarbonato e amônia, as quais elevam o pH e inativam as
enzimas degradativas dos fagolisossomos.
Os organismos disseminam-se amplamente por todo o
corpo, sobretudo no fígado e no baço, entretanto, a maioria das
infecções permanece assintomática e os pequenos focos granulo-
FIGURA 49-6 Histop/asma capsu/atum - leveduras dentro de macró-
matosos cicatrizam por calcificação. Com exposição intensa (p.
fagos. A seta aponta para um macrófago que contém várias leveduras
ex., em granjas ou em cavernas infestadas de morcegos), pneu-
coradas em púrpura no citoplasma. Leveduras dentro de macrófagos
monia e lesões nos pulmões podem manifestar-se clinicamente. podem ser vistas em muitos macrófagos nesta amostra do baço. (Fi-
A histoplasmose grave disseminada se desenvolve numa minoria gura cortesia do Dr. M. Hicklin, Public Health lmage Library, Centers for Disease
dos pacientes infectados, principalmente em crianças e em in - Control and Prevention.)
divíduos que apresentam sua imunidade celular reduzida, como
é o caso de indivíduos que apresentam a síndrome da imuno-
deficiência adquirida (Aids). Nestes, a pancitopenia e as lesões macrófagos são observadas microscopicamente (Figura 49-6).
ulcerativas na língua são características da histoplasmose disse- Culturas em ágar de Sabouraud revelam hifas com macroconí-
minada. Em pessoas imunocompetentes, o EN pode ocorrer (ver dios tuberculados quando o crescimento ocorre em temperatu-
a descrição do EN anteriormente, na seção sobre Coccidioides). ras mais baixas (p. ex., 25ºC), ou leveduras quando o crescimen-
EN é um sinal de que a imunidade celular está ativa e o organis- to se dá a 37ºC. Testes imunoenzimáticos (ELISA) que detectam
mo será provavelmente contido. um antígeno polissacarídico de Histoplasma são úteis, assim
Um teste cutâneo utilizando a histoplasmina (um extrato como o são testes que detectam RNA do fungo por meio de son-
micelial) se torna positivo (i.e., evidencia uma induração de até das de DNA. Em pacientes imunocomprometidos com a doença
5 mm) no período de 2 a 3 semanas após a infecção e permane- disseminada, testes para o antígeno de Histoplasma na urina são
ce positivo por muitos anos. Entretanto, como há ocorrência de especialmente utilizados uma vez que os testes com anticorpos
muitas reações falso-positivas (devido à reação cruzada) e muitas podem ser negativos.
reações falso-negativas (na doença disseminada), o teste cutâneo Dois exames sorológicos são úteis para o diagnóstico: fixa-
não é útil para o diagnóstico. Além disso, o teste cutâneo pode ção do complemento (FC) e imunodifusão (ID). Um título de
estimular uma resposta com anticorpos e confundir o teste soro- anticorpos de 1:32 no exame de FC com antígenos na fase leve-
lógico. O teste cutâneo é útil para estudos epidemiológicos, pois duriforme é considerado diagnóstico. Entretanto, a reação cru-
mais de 90% de indivíduos apresentam resultados positivos em zada com outros fungos, sobretudo Blastomyces, pode ocorrer.
áreas de infecções endêmicas. Os títulos de FC diminuem quando a doença se torna inativa e
aumentam na disseminação da doença. O exame de 1D detecta a
precipitação dos anticorpos (precipitinas) pela formação de duas
Diagnóstico laboratorial
bandas, M e H, em um ensaio de difusão em ágar-gel. O teste de
Em amostras de biópsia de tecidos ou aspirados de medula ós- 1D é mais específico, mas menos sensível em comparação com o
sea, células leveduriformes ovais presentes no interior dos exame de FC.

Tratamento e prevenção
Nenhuma terapia é necessária em infecções assintomáticas e
primárias não graves. No caso de lesões pulmonares progres-
sivas, o uso de itraconazol oral é efetivo. Na doença dissemina-
da, a utilização de itraconazol (ou anfotericina B) parenteral é
o tratamento de escolha. A anfotericina B lipossomal deve ser
administrada em pacientes com história de problemas renais.
Em meningites, o fluconazol é, em geral, administrado já que é
capaz de penetrar bem no líquido espinal. O itraconazol oral é
FIGURA 49-5 Histoplasma capsu/atum. As leveduras estão locali-
zadas no interior do macrófago. (Reproduzida, com permissão, de Brooks utilizado para a supressão crônica em pacientes com Aids. Não
GF et ai. Medical Microbiology. 19th ed. Publicada originalmente por Appleton & existem meios de prevenção, exceto evitar exposição em áreas
Lange. Copyright 1991 McGraw-Hill.) de infecção endêmica.
CAPÍTULO 49 Micoses Sistêmicas 397

~ - Microconídio

A B

FIGURA 49-7 8/astomyces dermatitidis. A: Leveduras com brotos de base larga a 37ºC. B: Fungo filamentoso com microconídios a 20ºC. (Repro-
duzida, com permissão, de Brooks GF et ai. Medical Microbiology. 19th ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1991 McGraw-Hill.)

BLASTOMYCES Transmissão e epidemiologia


Doença Esse fungo é endêmico principalmente na região oriental da
América do Norte, na região próxima aos rios Ohio, Mississippi e
O fungo Blastomyces dermatitidis causa a blastomicose, doença Saint Lawrence, bem como na região dos Grandes Lagos. Menos
também conhecida como blastomicose norte-americana. comum, a blastomicose ocorre nas Américas Central e do Sul,
África e Oriente Médio. Esse fungo cresce no solo úmido rico
Características em matéria orgânica, formando hifas com conídios em forma de
O B. dermatitidis é um fungo dimórfico que existe como fi- pera. A inalação dos conídios causa a infecção humana.
lamentoso em solos e como levedura em tecidos infectados.
A levedura é envolvida com uma parede celular dupla e refra- Patogênese e achados clínicos
tária e apresenta um broto simples de base larga (Figuras 49- 7 A infecção ocorre principalmente via trato respiratório. Casos
e 49-8). Observa-se que esse organismo forma um broto de assintomáticos ou brandos são dificilmente detectados. A disse-
base larga, ao passo que Cryptococcus neoformans forma um minação pode resultar em granulomas ulcerativos da pele, dos
broto de base estreita. ossos ou de outros locais.

Diagnóstico laboratorial
Em biópsias de amostras de tecidos, leveduras com parede es-
pessa e com um broto de base larga são visualizadas microscopi-
camente (Figura 49-8). Hifas com pequenos conídios em forma
de pera são visíveis em cultura. O teste cutâneo não fornece es-
pecificidade e possui baixa importância. Testes sorológicos têm
pouco valor.

Tratamento e prevenção
O itraconazol é o fármaco de escolha para a maior parte dos pa-
cientes, mas a anfotericina B deve ser utilizada para tratamento
de doenças graves. A remoção cirúrgica pode ser útil. Não há for-
ma de prevenção.

PARACOCCIDIOIDES
FIGURA 49-8 8/astomyces dermatitidis- levedura com broto de base
Doença
larga. A seta indica a base larga do broto da levedura. (Figura cortesia
do Dr. L. Ajello, Public Health lmage Library, Centers for Disease Control and O fungo Paracoccidioides brasiliensis causa a paracoccidioidomi-
Prevention.) cose, também conhecida como blastomicose sul-americana.
398 PARTE V Micologia

APLIQUE SEU CONHECIMENTO


1. Em relação à coccidioidomicose e C. immitis, qual entre as seguintes
opções é a mais correta?
(A) C. immitis é um fungo filamentoso no solo e uma levedura no
FIGURA 49-9 Paracoccidioides brasiliensis. Observe os múlt iplos bro-
corpo humano.
tos da forma leveduriforme do Paracoccidioides, ao contrário do broto
(B) O diagnóstico da coccidioidomicose aguda pode ser realizado
único de 8/astomyces.
pela detecção de anticorpos IgM no soro dos pacientes.
(C) Turistas que vão para as Filipinas têm alto risco de contrair a
doença.
Características (D) Os nódulos de eritema nodoso são uma descoberta caracterís-
O P. brasiliensis é um fungo dimórfico que ocorre como filamen- tica na coccidioidomicose disseminada.
toso no solo e como levedura nos tecidos. A levedura possui pare- (E) A infecção geralmente ocorre quando os artrósporos pene-
de espessa com múltiplos brotos, ao contrário de B. dermatitidis, tram na pele (p. ex., por meio de uma ferida causada por espi-
nh os de rosas).
que possui um broto simples (Figuras 49-9 e 49-10).
2. Em relação à histoplasmose e ao Histoplasma capsulatum, qual das
seguintes opções é a mais correta?
Transmissão e epidemiologia
(A) Em biópsias de tecido, H. capsulatum é encontrado como leve-
Esse fungo cresce no solo e é endêmico em áreas rurais da Amé- dura no interior dos macrófagos.
rica Latina. A doença ocorre somente nessa região. (B) O diagnóstico laboratorial é realizado pela visualização de tu-
bos germinativos quando incubados a 37ºC.
(C) A histoplasmose ocorre principalmente em áreas tropicais das
Patogênese e achados clínicos Américas Central e do Sul.
Os esporos são inalados, e ocorrem lesões tardias nos pulmões. (D) Para prevenir a doença, pessoas que vivem em áreas endêmi-
As infecções assintomáticas são comuns. Alternativamente, ocor- cas devem receber vacina contendo histoplasmina.
re o desenvolvimento de lesões nas membranas mucosas, aumen- (E) A maioria das infecções é adquirida pela ingestão acidental de
comida contaminada com esporos fúngicos provenientes do solo.
to dos linfonodos e disseminação em muitos órgãos.
3. Em relação a Blastomyces dermatitidis, qual das seguintes opções é a
mais correta?
Diagnóstico laboratorial
(A) O fungo forma um micélio em cultura a 37ºC no laboratório
No pus e em tecidos, células leveduriformes que se assemelham clínico.
a um timão de navio podem ser microscopicamente observadas. (B) A imunidade humoral é a principal defesa do hospedeiro con-
Em uma am ostra cultivada por 2 a 4 semanas, pode crescer o tra esse organismo.
organismo característico. Testes cutâneos raramente são úteis. (C) Esse fungo causa a reação de dermatofítide ("id") quando se
Testes sorológicos indicam que, quando títulos significativos de dissemina para pele.
(D ) O mais importante fator de virulência desse organismo é a en-
anticorpos são detectados (por ID ou FC), a doença ativa está
dotoxina presente em sua parede celular.
presente. (E) É um fungo dimórfico que ocorre como filamentoso no solo e
como levedura no corpo humano.
Tratamento e prevenção 4. Sua paciente é uma mulher de 30 anos que está em seu terceiro tri-
O fármaco de escolha é o itraconazol administrado via oral por mestre de gestação, tem origem filipina e vive no Vale Central da
Califórnia. Ela apresenta fortes dores nas costas há várias semanas.
vários meses. Não há forma de prevenção.
Uma radiografia revela uma lesão na quarta vértebra lombar. Uma
amostra de biópsia da lesão foi examinada por um patologista, que
lhe informou que a paciente tem uma coccidioidomicose. Das se-
guintes opções, qual foi observada na biópsia?
(A) Hifas não septadas.
(B) Hifas septadas.
(C) Esférulas contendo endósporos.
(D) Leveduras contendo apenas um broto.
' (E) Leveduras contendo múltiplos brotos.
5. Seu paciente é um homem de 30 anos, sorologicamente positivo
para o vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) e que apresen-
ta contagem de linfócitos CD4+ em 100. Ele apresenta uma lesão
ulcerada na língua e biópsias da lesão revelaram leveduras dentro
de macrófagos. Um diagnóstico de histoplasmose disseminada foi
feito. Qual das seguintes opções é a melhor escolha de fármaco para
tratar sua histoplasmose disseminada?
(A) Anfotericina B.
FIGURA 49- 1O Paracoccidioides - leveduras com mú ltiplos brotos (B) Caspofungina.
que se assemelham a um t imão de navio. Col oração de metenamina (C) Clotrimazol.
de prata. (Figu ra cortesia d o Dr. L. Georg, Publ ic Health lmage Library, Centers (D) Flucitosina.
for Disease Contrai and Prevent ion.) (E) Terbinafina.
CAPÍTULO 49 Micoses Sistêmicas 399

RESPOSTAS QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


1. (B) Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
2. (A) encontradas na seção de Micologia da Parte XIII: Questões para
3. (E) Autoavaliação, a partir da página 708. Consulte também a Parte
4. (C)
XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
5. (A)

RESUMOS DOS ORGANISMOS


Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
-se na página 658. Favor consultar esses resumos para uma rápida
revisão do material essencial.
CAPÍTULO

Micoses Oportunistas
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução FUNGOS DE MENOR IMPORTÃNCIA


Candida Penicillium marneffei
Cryptococcus Pseudallescheria boydii
Aspergillus Fusarium solani
Mucor e Rhizopus Aplique seu conhecimento
Pneumocystis Resumos dos organismos
Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO CANDIDA
Fungos oportunistas não são capazes de causar doenças na maio- Doenças
ria das pessoas imunocompetentes, mas podem causá-las em
Candida albicans, a espécie mais importante de Candida, causa
pessoas com as defesas imunes debilitadas. Existem cinco gêne-
candidíase, vaginite, esofagite, assaduras e candidíase mucocutâ-
ros de fungos de importância médica: Candida, Cryptococcus, As-
nea crônica. Essa espécie de levedura também é capaz de causar
pergillus, Mucor e Rhizopus. Algumas características importantes
infecções disseminadas, como endocardite (particularmente em
das doenças ocasionadas por fungos oportunistas são descritas
usuários de drogas intravenosas), infecções na corrente sanguí-
na Tabela 50-1.
nea (candidemia) e endoftalmite. As infecções associadas a son-
das intravenosas ou cateteres urinários também são importantes.

TABELA 50-1 Características importantes das doenças causadas por fungos oportunistas

Forma microscópica Localização


Gênero observada no tecido geográfica Importantes achados clínicos Diagnóstico laboratorial

Candida Levedura formadora No mundo Cândida na boca e na vagina; endocardite Gram-positiva; a cultura apresenta
de pseudo-hifas todo em usuários de drogas intravenosas crescimento de colônias de
(também hifas) leveduras; Candida a/bicans for-
ma tubos germinativos

Cryptococcus Levedura com cápsula No mundo Meningite A tinta nanquim evidencia levedu-
bem-desenvolvida todo ras com cápsula proeminente;
a cultura gera colônias intensa-
mente mucoides

Aspergillus Micélio com hifa No mundo Massa micelial no pulmão; infecções por A cultura gera micélio com esporos
septada todo queimadura e ferida; infecções em cate- verdes; conídios em cadeia
teres; sinusite

Mucore Micélio com hifa No mundo Lesão necrótica produzida quando o micé- A cultura gera micélio com esporos
Rhizopus asseptada todo lio invade os vasos sanguíneos; fatores pretos; conídios no interior de
de predisposição são a cetoacidose dia- uma bolsa, chamada de espo-
bética, acidose renal e câncer rângio
CAPÍTULO 50 Micoses Oportunistas 401

Pseudo-hifa ~

Tubo germinativo
Levedura com
brotamento
. .___.. .,_. . I
o
t

A B

FIGURA 50-1 Candida a/bicans. A: Leveduras em brotamento e pseudo-hifas em tecidos ou exsudatos. B: Pseudo-hifa e clamidósporos em
cultura a 20º(. C: Tubos germinativos a 37º(. (Reproduzida, com permissão, de Brooks GF et ai. Medical Microbiology. 20th ed. Publicada originalmente por
Appleton & Lange. Copyright 1995 McGraw-Hill.)

Características C. albicans na pele predispõe a infecções envolvendo instrumen-


tos que penetram na pele, como agulhas (uso de drogas intrave-
C. albicans é uma levedura oval com um broto simples (Figuras
nosas) e cateteres.
50-1 e 50-2). Ela faz parte da microbiota normal das membranas
mucosas do trato respiratório superior, sistema gastrintestinal e
trato genital feminino. Nos tecidos, C. albicans pode ocorrer na Patogênese e achados clínicos
forma leveduriforme ou como pseudo-hifas (Figuras 50-1 e 50- Quando a defesa local ou sistémica do hospedeiro estiver enfra-
3). Pseudo-hifas são leveduras alongadas que visualmente asseme- quecida, a doença poderá ocorrer. Uma elevada proliferação de
lham-se a hifas, mas não são hifas verdadeiras. As hifas verdadei- C. albicans na boca produz manchas, chamadas de candidíase
ras também são formadas quando C. albicans invade tecidos. (Figura 50-4). (Observe que a candidíase é uma pseudomem-
A fermentação de carboidratos diferencia as espécies de brana, um termo que é definido no Capítulo 7, na página 39.)
Candida (p. ex., Candida tropicalis, Candida parapsilosis, Candi- A vaginite com coceira e secreção é favorecida por um pH ele-
da krusei e Candida glabrata). vado, diabetes ou uso de antibióticos. Os antibióticos suprimem
os Lactobacillus da microbiota normal, os quais mantêm o pH
Transmissão baixo. Como resultado, o pH aumenta, o que favorece a prolife-
ração de Candida.
Como um membro da microbiota normal, C. albicans já se en-
A invasão da pele ocorre em áreas quentes e úmidas, as quais
contra presente na pele e nas membranas mucosas. A presença de
se tornam vermelhas e danificadas. Dedos e unhas se tornam
envolvidos no processo de invasão quando são repetidamente
imersos em água; indivíduos que realizam a lavagem de pratos

FIGURA 50-2 Candida a/bicans - levedura. A seta longa indica le-


vedura com brotamento. A seta curta indica a membrana externa de
uma célula epitelial vaginal. Na coloração de Gram de uma amostra,
diferentes bactérias que fazem parte da microbiota normal da vagina FIGURA 50-3 Candida a/bicans- pseudo-hifas. As duas setas indicam
podem ser observadas. (Figura cortesia do Dr. S. Brown, Public Healh lmage pseudo-hifas de Candida a/bicans. (Figura cortesia do Dr. S. Brown, Public
Library, Centers for Disease Control and Prevention.) Healh lmage Library, Centers for Disease Control and Prevention.)
402 PARTE V Micologia

ção encontram -se predispostos ao desenvolvimento de infecções


invasivas por Candida.
O abuso de drogas intravenosas, a utilização de cateteres
intravenosos e a hiperalimentação também são fatores predis-
ponentes para a disseminação da candidíase, principalmente na
endocardite do lado direito e na endoftalmite (infecção no olho).
A esofagite por Candida, frequentemente acompanhada do en-
volvimento do estômago e do intestino delgado, é observada
em pacientes com leucemia e linfoma. Os nódulos subcutâne-
os são frequentemente observados em pacientes neutropênicos
com a doença disseminada. C. albicans é a espécie mais comum
associada à doença disseminada nesses pacientes, no entanto
C. tropicalis e C. parapsilosis também configuram -se como pató-
genos importantes.

Diagnóstico laboratorial
FIGURA 50-4 Candida a/bicans - candidíase na boca. Observam-se Em exsudatos ou tecidos, leveduras com brotamentos e pseudo-
placas esbranquiçadas na língua. (Figura cortesia de Richard P. Usatine, MD,
-hifas ocorrem como gram-positivas e podem ser visualizadas
e The Color Atlas of Family Medicine.)
por meio da utilização do corante branco calcoflúor. Em cultura,
colônias de leveduras típicas são formadas, as quais são seme-
em restaurantes são comumente afetados. Como consequência, lhantes às grandes colônias dos estafilococos. Os tubos germi-
pode ocorrer o espessamento ou a perda da unha. As assaduras nativos são formados em soro a 37ºC, os quais distinguem C. al-
em crianças ocorrem quando as fraldas úmidas não são trocadas bicans da maioria das outras espécies de Candida (Figura 50-1).
imediatamente (Figura 50-5). Clamidósporos são geralmente formados por C. albicans, mas
Em pessoas imunossuprimidas, Candida pode disseminar- não por outras espécies de Candida. Testes sorológicos raramente
-se para muitos órgãos ou causar candidíase mucocutânea crô- são úteis.
nica (CMC). A CMC é uma infecção prolongada da pele, das Os testes cutâneos com antígenos de Candida são unifor-
mucosas oral e genital e das unhas que ocorre em indivíduos com memente positivos em adultos imunocompetentes e utilizados
baixa imunidade de células T. Pacientes com mutações no gene como indicador de que uma pessoa pode apresentar resposta
codificador de interleucina 17 e do receptor de IL-17 estão pre- imune celular. Um indivíduo que não apresenta resposta contra
dispostos à CMC. Após um transplante de órgãos, pacientes que os antígenos de Candida no teste cutâneo supostamente apre-
recebem fármacos imunossupressores para a prevenção da rejei- senta uma imunidade celular deficiente. Esse indivíduo é con-
siderado anérgico, e outros testes cutâneos não podem ser in -
terpretados. Assim, se um indivíduo apresenta um teste cutâneo
negativo para Candida, um teste cutâneo de derivado proteico
purificado (PPD) para tuberculose pode apresentar um resultado
falso-negativo.

Tratamento e prevenção
O fármaco de escolha para cândidas da parte oral da faringe e
esofágica é o fluconazol. O itraconazol e o voriconazol também
são efetivos. A caspofungina ou micafungina também podem ser
utilizadas para candidíase esofágica. O tratamento de infecções
na pele consiste em fármacos antifúngicos de uso tópico (p. ex.,
clotrimazol ou nistatina). A vaginite por Candida é tratada com
fármacos azóis tópicos (intravaginais ), como o clotrimazol ou
miconazol, ou com fluconazol via oral. A candidíase mucocutâ-
nea pode ser controlada com cetoconazol.
O tratamento de candidíase disseminada consiste no uso
de anfotericina B ou fluconazol. A anfotericina B lipossomal
deve ser administrada em pacientes com história de problemas
renais.
FIGURA 50-5 Candida a/bicans- assadu ras. Observe a amp la área
Esses dois fármacos podem ser utilizados com ou sem fluci-
de inflamação na região perineal. (Reproduzida, com permissão, de
tosina. O tratamento de infecções por cândida com fármacos an-
Wolff K, Johnson R. Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of Clinicai Dermatology. tifúngicos pode ser suplementado por fatores de predisposição.
6th ed. New York: McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 porThe McGraw-Hill Linhagens de C. albicans resistentes aos fármacos azóis emergi-
Companies, lnc.) ram em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida
CAPÍTULO 50 Micoses Oportunistas 403

(Aids) que receberam tratamento profi1átioo de Jongo prazo com


tluconazoL
Certas infecções causadas por Undida (p. ex.• candidfa.se)
podem ser prevenidas por dotrimazo) via oral. miconazol em
pasti1has ou 1tistati11a. O tluconazol é útil na prevenção de i11.
fecções causadas por Undida em pacientes de alto risco, como
os submetidos a transplante de medula óssea e recém.nascidos
prematuros. A micafungi11a também pode ser utilizada. Não há
vacina.

CRYPTOCOCCUS
Doença
Cryptococcus neoformans causa a ctiptococ.ose. sobretudo a me• FIGURA 50-7 Ctyprococcus neoformoM - pc-epa, ação com tinta nan-
ningite criptocócica. A criptococose.é a doença fúngica invasiva, quim. A seta indic;, uma léVedu(;, com b(otamento de Cryprococcus
que apresenta risco à vida, mais comum em todo o mundo. Ela é neofo,mans. úbse(va-se a proeminente e translúcida cápsula de polis,,
notadamente importante em pacientes com Aids. Outra espécie, sa~rídeo delineada pelas partículas da tinta nanquim. (Figura cortesia
Cryptococcus gattii, causa doença em seres humanos menos fre. do Dr. L Ha!eyPubl!c Heatth lmage Llbrary, Centers for Oisease and PreYentlon)
quentemente do que C. neoformans.
Patogênese e achados clínicos
Características
A infecção pu)monar é norma)mente assintomática ou pode
C. neoformans é uma levedura oval com brotamentos envoMda produz.ir wna pneumonia branda. A doença causada por C.
por uma proeminente cápsula de polissacaddeo (Figuras 50-6 neoformam ocorre principalmente em pacientes com baixa
e 50-7). Esse fungo não é dimórfico. Observa-se que esse orga- imWlidade celular. sobretudo em pacientes com Aids, nos
nismo produz um broto de base estreita, ao passo que a forma quais o organismo se dissemina para o sistema nen•oso cen.
levedurifonne de Blastomyces detmatitidis produz um broto de tra) (meningite} e outros órgãos. Os nódu)os subcutãne.os são.
base larga. em geral, observados na doença disseminada. Observa-se,
entretanto. que aproximadamente. metade dos pacientes com
Transmissão meningite criptocócica não apresenta evidências de imunos-
C. neoformans tem ampla distribuição o.a natureza e cresce abun- supressão.
dantemente em solos contendo fezes de aves (sobretudo de Em alguns pacientes com Aids infectados por Ctyptococ-
pombos). Os pássaros não são infectados. A infecção humaoa cus, o tratamento com a terapia 3Jttirretrovira1 altamente ativa
resulta da inalação do organismo. Não ocorre transmissão de (HAART) provoca uma exacerbação dos sintomas. Esse fenôme-
pessoa a pessoa C. g~ttii é associado a eucaliptos, mais frequen- no é chamado de síndrome inflamatória da reconstituição imuoe
temente oos F.stados do Noroeste dos Estados Unidos. E)e tam- (IRIS, 1'mmune reconstitulion 1'nflammatory syndrome). A expli·
bém é encontrado em regiões tropicais e subtropicais de muitos cação para essa exacerbação é. que a HAART aumenta o núme.
países, inclusive no Brasil. ro de células C04, o que eJe'\-.:t a resposta i1ú1amatória. Alguns
pacientes foram a óbito como consequência d.a !RIS criptocócic.a.
Para a preveoção da !RIS. os pacieotes devem ser tratados para a
infecção subjacente antes do início d.a HAART.
C. gattii causa doeoça em seres humanos menos frequen.
temente. porém é mais capaz de desencade.ar uma doença em
um indivíduo imunocompetente.do que C. neoformans. C. gattii
apresenta maior probabilidade de e.a.usar criptococomas (granu.
Jomas). sobretudo no encéfalo, do que C. neoformans.

Diagnóstico laboratorial

o c5 Ko líquido espioal misturado com a tinta nanqulm. a cé)ula


)e.ve.durifonne é visualizada microscopicamente envoMda por
uma proeminente cápsula não corada. A coloração de GraJn para
FIGURA 50-6 Cryptococcus neofo,mons. Pteparaçao com tinta nan-
o orgaJtismo não é viável, mas corantes como a metenamioa de
quim evidenciando leveduras com brotamento e com cápsula proe- prata. o ácido periódico de Schiff e a mucicarmina permitem que
minente. A tinta nanquim propor<iona um coouaste preto, e a le-ve· o organismo seja observado. O organismo pode ser cu1tivado a
dura não~ CO(ada. {Reproduzida. com permlsdo, de 8rooksGF et al /Aedlcol partir do Hquido espinal e de outras amostras. As colônias são
Mlcrobtology. 20th ed. Publlcadaorlglnalmente por Appleton & Lange. Copyrfght altamente mucoides - um reflexo da grande quaJ\tidade de polis-
1995 McGraw-Hill.J sacarídeo c.apsular produzido pelo organismo.
404 PARTE V Micologia

Os testes sorológicos podem ser realizados para anticorpos


e antígenos. No líquido espinal infectado, o antígeno capsular
ocorre em elevada titulação e pode ser detectado pelo teste de
aglutinação com partículas de látex. Esse teste é chamado de
teste do antígeno criptocócico, normalmente abreviado como
"crag,:
A distinção entre C. neoformans e C. gattii em laboratório
requer meios especializados que, em geral, não estão disponíveis;
dessa forma, muitas infecções por C. gattii podem não ser diag-
nosticadas.

Tratamento e prevenção
O tratamento combinado com anfotericina B e flucitosina é
utilizado para meningite e outras doenças disseminadas. A an-
fotericina B lipossomal deve ser administrada em pacientes
FIGURA 50-9 Aspergillus fumigatus - hifa septada. A seta longa indi-
com história de problemas renais. Não há métodos específi- ca a hifa septada de Aspergillus. Observa-se a parede celu lar delgada
cos de prevenção. O fluconazol é utilizado em pacientes com dos fungos filamentosos. A seta curta indica o característico ângulo
Aids para supressão em longo prazo da meningite criptocócica. curto da ramificação em forma de Y. (Figura utilizada, com permissão, do
C. gattii é menos responsivo aos fármacos antifúngicos do que Prof. Henry Sanchez, University of Califórnia, San Francisco School of Medicine.)
C. neoformans.

ASPERGILLUS
Doença
As espécies de Aspergillus, sobretudo Aspergillus fumigatus, cau-
sam infecções na pele, nos olhos, nas orelhas e em outros órgãos;
"bola fúngicà, nos pulmões; e aspergilose alérgica broncopulmo-
nar.

Características
As espécies de Aspergillus ocorrem somente como fungos fi-
lamentosos; não são fungos dimórficos. Possuem hifa septada
e formam ramificações em forma de V (dicotômicas) (Figuras
50-8 e 50-9). As paredes das hifas são mais ou menos paralelas,
ao contrário das de Mucor e Rhizopus, que são irregulares (Fi-
guras 50-8 e 50-10). Os conídios de Aspergillus formam cadeias
radiais, ao contrário das formadas por Mucor e Rhizopus, que se
encontram no interior de um esporângio (Figura 50-11).
FIGURA 50-1 O Espécies de Mucor - hifa asseptada. A seta indica a
hifa asseptada com forma irregular de Mucor. (Figura cortesia do Dr. L.
Transmissão Ajello, Public Heatlh lmage Library, Centers for Disease and Prevention)
Esses fungos filamentosos estão amplamente distribuídos na
natureza. Eles desenvolvem -se em vegetação em decomposição,
produzindo cadeias de conídios. A transmissão ocorre pelos co-
nídios presentes no ar.

FIGURA 50-8 Aspergillus e Mucor p resentes em tecidos. A:


Aspergillus apresenta hifas septadas com ramificações em formato FIGURA 50-11 Aspergillus e Mucor em cultura. A: Os esporos de
de V. B: Mucor apresenta hifas asseptadas com ramificações em ân- Aspergillus formam-se radia lmente em colunas. B: Os esporos de Mu-
gulo reto. cor estão presentes no interior de um esporângio.
CAPÍTULO 50 Micoses Oportunistas 405

Patogênese e achados clínicos esporos presentes no ar e invadem tecidos de pacientes com bai-
xa resistência. Eles proliferam nas paredes dos vasos sanguíneos,
Aspergillus fumigatus é capaz de colonizar e, posteriormente, in-
particularmente nos seios paranasais, nos pulmões ou no intesti-
vadir regiões danificadas da pele, de feridas, de queimaduras, da
no, e causam infarto e necrose do tecido distal pelo entupimento
córnea, da orelha externa e dos seios paranasais. A. fumigatus é a das veias (Figura 50-12).
causa mais comum de sinusite fúngica. Em pessoas imunocom- Pacientes que apresentam cetoacidose diabética, queima-
prometidas, sobretudo as com neutropenia, o fungo invade os duras, transplantes de medula óssea ou leucemia são particular-
pulmões e outros órgãos, produzindo hemoptises e granulomas. mente suscetíveis. Os pacientes diabéticos são suscetíveis à mu-
Os pacientes neutropênicos também estão predispostos a infec- cormicose rinocerebral, na qual os esporos do fungo germinam
ções em cateteres intravenosos causadas por esse organismo. Em para formar as hifas que invadem a corrente sanguínea respon-
2012, ocorreu um surto de infecções causadas por A. fumigatus, sável por suprir o encéfalo. Uma espécie, Rhizopus oryzae, causa
sobretudo meningite, provocadas por soluções de corticosteroi- cerca de 60% dos casos de mucormicose.
des injetáveis contaminadas pelo fungo. Em amostras de biópsia, os organismos são observados mi-
Os aspergilos são bem conhecidos por sua capacidade de cres- croscopicamente como hifas asseptadas com paredes espessas,
cer em cavidades dos pulmões, principalmente cavidades causadas irregulares e ramificadas que formam ângulos mais ou menos re-
por tuberculose. No interior das cavidades, eles produzem um as- tos (Figuras 50-8 e 50-10). As culturas apresentam colônias com
pergiloma (bola fúngica), a qual pode ser observada por meio de esporos presentes no interior de um esporângio (Figura 50-11).
radiografia do tórax como uma estrutura radiopaca que muda sua Esses organismos são difíceis de cultivar porque se apresentam
posição quando o paciente se move da posição ereta para a supina. como uma célula única e longa, e danos a qualquer parte da célu-
A aspergilose broncopulmonar alérgica (ABPA) é uma la podem inviabilizar seu crescimento.
reação de hipersensibilidade à presença de Aspergillus nos brôn- Se o diagnóstico for precoce, o tratamento do distúrbio, as-
quios. Os pacientes com ABPA apresentam sintomas de asma e sociado à administração de anfotericina B e à remoção cirúrgica
alta titulação de IgE frente a antígenos de Aspergillus, e expec- do tecido necrosado infectado, resulta em redução da doença ou
toram fragmentos de hifas amarronzados. A asma causada pela cura. A anfotericina B lipossomal deve ser administrada em pa-
inalação dos conídios presentes no ar, sobretudo em certos locais, cientes com história de problemas renais. O posaconazol também
também pode ocorrer. O Aspergillus flavus que cresce em cereais pode ser utilizado.
ou castanhas produz aflatoxinas que podem ser carcinogênicas
ou muito tóxicas.
PNEUMOCYSTIS
Diagnóstico laboratorial
Pneumocystis jiroveci é classificado com uma levedura com base
As amostras de biópsia revelam hifas ramificadas e septadas em análises moleculares, mas, clinicamente, muitos ainda o con-
invadindo o tecido (Figura 50-9). As culturas apresentam colô- sideram como um protozoário ou um organismo "não classifica-
nias com cadeia de conídios dispostas radialmente (Figura 50- do': Ele é discutido no Capítulo 52, juntamente com os protozo-
11). Entretanto, as culturas positivas não provam a existência de ários do sangue e tecidos. Em 2002, taxonomistas renomearam
doença, pois a colonização é comum. Em indivíduos com asper- as espécies de Pneumocystis que acometes seres humanos como
gilose invasiva, podem ocorrer altos títulos do antígeno galacto- P. jiroveci, e recomendaram que P. carinii seja utilizado somente
manana no soro. Os pacientes com ABPA apresentam elevados para descrever as espécies de Pneumocystis que acometem ratos.
níveis de IgE específicos para antígenos de Aspergillus e eosino-
filia proeminente. As precipitinas IgG também estão presentes.

Tratamento e prevenção
A aspergilose invasiva é tratada com voriconazol ou anfoterici-
na B. A anfotericina B lipossomal deve ser utilizada em pacientes
que apresentam dano renal preexistente. A caspofungina pode
ser efetiva em casos de aspergilose invasiva que não respondem à
anfotericina B. A bola fúngica que se desenvolve nos seios nasais
ou na cavidade pulmonar também pode ser removida cirurgica-
mente. Pacientes com ABPA podem ser tratados com corticoste-
roides e agentes antifúngicos, como o itraconazol. Não há méto-
dos específicos de prevenção.

MUCOR E RHIZOPUS
A mucormicose (zigomicose, ficomicose) é uma doença causada FIGURA 50-12 Espécie de Mucor - mucormicose. Observe a área de
por fungos filamentosos saprofíticos (p. ex., Mucor, Rhizopus e necrose que envolve o nariz e a face. (Reproduzida, com permissão, de
Absidia), amplamente encontrados no meio ambiente. Esses fun- Lichtman MA et ai, eds. Lichtman's Atlas of Hematology. New York: McGraw-Hill,
gos não são dimórficos. Esses organismos são transmitidos por 2007. Copyright© 2007 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
406 PARTEV Micologia

FUNGOS DE MENOR IMPORTÃNCIA - - - - - - - - - - - -


PENICILUUM MARNEFFEI 2. Em rdaç-ão a Cryptoc.o«us w:cformans. qual das seguintes opções é
a mais corrcta?
Penicillium matnejfei é um fungo dimórfico que causa uma doeu. (A) Ele é um fungo dimórfico, que cresce como filamentoso no
ça simi)ar à tuberculose em pacientes com Aids, particularmente solo e como levedura no corpo humano.
em países do Sudeste Asiátic~ como a TaiJândia. E)e cresce como (B} Ele Cadquirido principalmente pda ingestão de alimento con·
um fungo filamentoso que produz pigmentos cor-de.rosa a 25"C. laminado com guano de pombo.
mas a 3rC cres.ce como uma pequena levedura que se asseme· (C) Microscopia de campo esruro C geralmente uti1izada pa.ra
)ha a Histoplasma capsulatum. Os ratos.de.Jxunbu são os únicos visualizar o organismo no liquido espinal.
hospe.deiros conhecidos. O diagnóstico é realiz.ado tanto pe)o (D) A patogênesc envolve uma e.xotox.ina que atua como um supe·
rantigeno que recruta linfôcitos para o liquido espinal
crescimento do organismo em cultura quanto pela utilização de
(E) O diagnóstico laboratorial da meningite criptocócica. pode ser
anticorpos corados com fiuorescênci.a em tecidos afetados, O tra.
documentado pela detecção do polissacaridco capsular do or·
tamento de escolha consiste na anfotericina Bpor duas semanas ganismo no líquido espinaL
seguida pelo itraconazo) oral por 10 semanas. As recidivas po- 3. Em re1aç.ão a Aspergifü,s fumigatus, qua) das seguintes opções é a
dem ser prevenidas com uso prolongado de itraconazol oral mais corrcta?
(A) O hábitat natural de A. fumigat11s é o foliculo capilar da pele
humana.
PSEUDALLESCHERIA BOYDII (B} No lahoratôrio díni-co, as culturas de A. fumigatus incubadas a
l7°C formam colónias de k·.,·edu.ras.
Pseudallescheria boydii é um fungo fiJamentoso que causa doenç,a
(C) A tinta nanquim C normalmente utilizada para visualizar
principalmente em pacientes imunocomprometidos. Os achados
A fumigatus no laboratório cllnico.
cHnicos e a aparência microscópica de hifas septadas em tecido (D) A fumigats,s causa a ..bola fúngica,. em pacientes com cavida-
são seme)hantes às caracterfstic.as do Aspergi/Jus. Em cultura. des pulmonares pro\-ocadas por tuberculose.
a apar~ncia dos confdios (piriformes) e a coloração do micêlio (E) O principal fator de predisposição à aspergi1osc alérgica bron-
(cinza-amarronzado) de P. boydU são difere11tes das características copulmonar é a neutropcnia.
de Aspergi/Jus. O fárinaco de escolha pode ser tanto o cetocona- 4. Em relação a espécies de ,\1ucor. qual das seguintes opções é a mais
zo) quanto o itraco11azol. pois a resposta à anfotericina B ê fraca. correta?
O desbridamento de tecidos necrosados também é importante. (A) A infecção é adquirida pda ingestão de alimento contaminado
com esporos do organismo.
(B} A cetoacidose diabética é o principa) fator de predisposição
FUSARIUM SOLANI para a mucormicose invasi\·a.
(C) As espécies de Muc.or possuem hifas .scptadas. ao contrário das
Fusarium so!Ani ê um fungo fi)amentoso que caucSa doença prin· espécies de Asp1rrgillus, que possuem hifas asscptadas.
cipalmente em pacientes 11eutropênic.os. Febre e )e.sões 11a pele (D) Em amostras de biópsia obtidas de pacientes com doença im·a·
são as características dúticas mais comuns. O organismo é simi- siva, espécies de M11corocorrem como pseudo-hifas..
lar ao Aspergillus. pois possui hifa septada que tende a invadir (E) Os testes ruW\cos utilizando mucoroidina como imunógcno
a corrente sanguine.a. As cu1turas em sa11gue são normalmente são utilizados para determinar se o paciente foi infectado com
positivas na doença disseminada. fan cultura, conidios em forma espécies de Mm:or.
de banana são observados. A a1úotericina B Hpossomal é o fâf. 5. Sua paciente é uma mulher de 20 anos. soropositi\'3 para o vírus da
maco de escolha. Os cateteres devem ser removidos ou trocados. imunodeficiência humana (HIV}, que apresenta uma contagem de
Em 2006, um surto de queratite de Fusarium (infecção da cór- CD4 de 50. Ela contraiu meningite criptocócica. Qual das .seguintes
nea) ocorreu em pessoas que utilizaram uma determinada solu- opções é a escolha mais adequada de fârmaco para uso como pro·
ção para lentes de contato. filaxia cm longo prazo para prevenir outro episôdio de meningite
criptocôcica?
(A) Anfotcricina B.
(B} Caspofungina.
APLIQUE SEU CONHECIMENTO (C) l-1uconawL
1. Em rdaç.ão à C. albic.ans, qual das seguintes opções é a mais concta! (D) Flucitosina.
(A) O di:agnóstko da candidiase disseminada C geralmente reali· (E) Terbinafma.
zado pela detecção de anticorpos tgrvt. 6. SC'U paciente é um bebê de um mês de idade com lesões esbran-
(B) E1a ocorre como Je\'C'dura na superficie de mucosas. mas for. quiçadas na boca. que são diagnosticadas como candidfase da parte
ma pseudo-h.ifa quando in\,ade tecidos. oral da faringe. Qual das seguintes opções representa o fârmaco de
(C} A imunidade mediada por anticorpos é a mais importante de- escolha para o tratamento dessa infecção!
fesa do hospedeiro cm comparação com a imunidade celular. (A) Anfotcricina B.
(D} O teste cutâneo positivo pode ser utilizado para confirm ar o (B} Caspofungina.
diagnóstico da infecção cutânea causada por Crmdidn albic.ans. (C) l-1uconawL
(E} ~o laboratôrio clinico. ela é diagnosticada pdo isolamento da (D) Flucitosina.
fase de micélio com hifas asseptadas quando as culturas cres· (E) Terbinafma.
cem à tempcratu.ra ambiente.
CAPÍTULO 50 Micoses Oportunistas 407

7. Sua paciente é uma mulher de 50 anos com leucemia, neutropênica RESUMOS DOS ORGANISMOS
devido à quimioterapia de seu câncer. Ela agora tem uma aspergilo-
se disseminada que não responde à anfotericina B. Qual das seguin- Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
tes opções representa o fármaco de escolha para o tratamento dessa -se na página 658. Favor consultar esses resumos para uma rápida
infecção? revisão do material essencial.
(A) Anfotericina B.
(B) Caspofungina.
(C) Fluconazol. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(D) Flucitosina.
(E) Terbinafina. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser
encontradas na seção de Micologia da Parte XIII: Questões para
Autoavaliação, a partir da página 708. Consulte também a Parte
RESPOSTAS XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
1. (B)
2. (E)
3. (D)
4. (B)
5. (C)
6. (C)
7. (B)
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Parasitas ocorrem em duas formas distintas: protozoários com- Muitos helmintos possuem um ciclo de vida que progride
postos por uma única célula e metazoários multicelulares, de- do ovo, passando pela larva, até a forma adulta. O ovo contém o
nominados helmintos ou vermes. Do ponto de vista médico, os embrião que, após a eclosão, se diferencia em uma forma larval,
protozoários podem ser divididos em quatro grupos: Sarcodina a qual sofre um processo de amadurecimento até atingir a forma
(amebas), Sporozoa (esporozoários), Mastigophora (flagelados) adulta e produtora de ovos.
e Ciliata (ciliados). Os metazoários são subdivididos em dois Há certos termos aplicados aos hospedeiros de determinados
filos: Platyhelminthes (vermes-chatos) e Nemathelminthes (ne- parasitas à medida que os últimos progridem em seus ciclos de
matódeos). O filo Platyhelminthes contém duas classes de im- vida. O hospedeiro definitivo é aquele em que o ciclo sexuado do
portância médica: a classe Cestada (tênias) e a classe Trematoda parasita ocorre, ou aquele em que o patógeno adulto está presente.
(fascíolas). Essa classificação está representada na Figura VI-1. Já o hospedeiro intermediário é aquele em que o ciclo assexuado
A compreensão do ciclo de vida e da patogênese de proto- do parasita ocorre, ou aquele em que a forma larvária está presente.
zoários e helmintos requer uma explicação acerca de determi- Em relação ao diagnóstico dessas infecções, o exame das fe-
nados termos. Muitos protozoários possuem um ciclo de vida zes à procura de ovas e parasitas (O&P} é, em geral, realizado.
que consiste em um trofozoíto, forma móvel, que se alimenta Ovas se refere a ovos, e o termo parasita, nesse caso, se refere às
e reproduz e é circundada por uma membrana flexível, e um larvas ou às formas adultas.
cisto, que corresponde a uma forma imóvel, sem metabolismo A eosinofilia está associada a diversas infecções helmín-
e não reprodutiva, a qual é circundada por uma espessa pare- ticas, principalmente quando larvas de fascíolas migram por
de celular. A forma encistada sobrevive bem no meio ambiente, meio dos tecidos. Elevadas contagens de eosinofilia são encon-
sendo frequentemente envolvida na transmissão do patógeno. tradas em infecções causadas pelos seguintes vermes: Ascaris,
Certos protozoários, como a Leishmania e o Trypanosoma, Strongyloides, Trichina, Toxocara e os ancilostomídeos, Necator e
apresentam formas flageladas, denominadas promastigotas ou Ancylostoma. Infecções pelo verme-chato (fascíola) Schistosoma
tripomastigotas, assim como formas não flageladas denomina- (um trematódeo) também induz eosinofilia. Os eosinófilos consti-
das amastigotas. tuem uma importante defesa do hospedeiro contra esses parasitas.

Parasitas
1
1
Protozoários Metazoários
1 (helmintos)
1 1 1 1
Sarcodina Sporozoa Mastigophora Ciliata
(amebas) (esporozoários) (flagelados) (ciliados)

1
Platyhelminthes Nemathelminthes
(vermes chatos) (nematódeos)
1
1 1
Trematoda Cestada
(fascíolas) (tênias)

FIGURA Vl-1 Relações dos parasitas de importância médica.


CA P ÍTU L O

51 Protowários Intestinais e
Urogenitais
CONTEODO DO CAPITULO

Int rodução PROTOZOÁRIOS UROGENITAIS


PROTOZOÁRIOS INTESTINAIS Trlchomonas
Entamoeba Aplique seu conhecimento
Giardia Resumos dos organismos
Cryptosporldium Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO nia e os esporozoários Plasmodium e TO.x-0plasma. O importante


patógeno oportunista pulmonar Pneumocyst1's é discutido 11este
Keste liv~ os principais protozoários patogênicos estão agrupa· grupo, embora haja f\•idências mo)eculares de que ele deveria ser
dos de acordo com sua localização no corpo humano onde gera). classificado como um fungo.
mente causam doença. Os protozoários intestinais e urogenitais
Os principais protozoários e os de menor importância são
são descritos neste c.apftulo e os protozoários do sangue e do teci•
listados na Tabela 51 -1.
do são descritos no Capítulo 52.
Embora imigrantes e norte-americanos que regressam
( l) No interior do trato intestinal. três organismos - a ameba do exterior possam apresentar aJguma doença parasitária, cer-
EnMmoeba hútolytic.a. o fiagelado Giardia lamblia e o esporozoá. tos parasitas ocorrem com mais frequência fora dos Estados
rio Cryptospori'dium homfnis - são os mais importantes. Unidos. As caracterlsticas dos protozoários de interesse médico.
(2) Ko trato urogenital. o flagelado Tric.homonas vaginali's é incluindo sua ocorrência 110s Estados Unidos, são descritas na
o patógeno mais importante. Tabela 51-2.
(3) Os protozoários do sangue e do tecido represe11tam um Os estágios de importância médica no ciclo de \•ida dos pro-
grupo variado que indui os flagelados Trypanosoma e Leishma- tozoários intestioais são descritos na Tabela 51 ·3.

PROTOZOÃRIOS INTESTINAIS - - - - - - - - - - - - - -
ENTAMOEBA O cisto possui quatro n6cleos, um critério importa11te para
o diagnóstico. Mediante a excistação 110 trato intestinal, uma
Doenças ameba com quatro núcleos desenvo)ve-se e divide-se em oito
trofozoftos. O trofozoito adulto possui um único núdoo com re-
Entamoeba. histolyti~ causa a disenteria amebiana e o abscesso vestimento unifonne de cromatina periférica e wn núdeo centra)
hepático. proeminente (c.ariossomo).
Os anticorpos são formados contra os antígenos dos trofo-
Características importantes zoitos na amebfase invasiva. mas e)es não são protetores; infec.
ções anteriores não previnem novas infecções. Os anticorpos são
O ciclo de vida de E. histolyt1'ca e apresentado na Figura 51-L
úteis para diagnósticos soro)ógicos.
O ciclo de vida possui dois estágios: a ameba móvel (trofoz.oito)
e o cisto imóve) (Figuras 51-2A e B, 51 -3 e 51-4). O trofozofto
é encontrado no interior de Jesões intesti11ais e extrai11testinais
Patogênese e epidemiologia
e em fezes diarreicas. Os cistos predominam em fezes não diar- O organismo é. contraldo pela ingestão de cistos transmitidos
reicas. Esses cistos não são muito resistentes e são rapidamente principa)mente pela rota fecal-oral em alimentos e água con-
mortos por água fervente, mas não por doração dos suprimentos taminados. A transmissão anal-oral também pode ocorrer.
de água. Eles são removidos pela ftltração da água. Não há um reserntório aniJnal Os cistos ingeridos diferen•
CAPÍTULO 51 Protozoários Intestinais e Urogenitais 411

TABELA 51-1 Protozoários patogênicos principais e secundários

Tipo e localização Espécies Doença

Protozoários principais

Trato intestinal Entamoeba histolytica Amebíase


Giardia lamblia Giardíase
Cryptosporidium parvum Cri ptosporid iose
Trato urogenital Trichomonas vagina/is Tricomoníase
Sangue e tecido Espécies de Plasmodium Malária
Toxoplasma gondii Toxoplasmose
Pneumocystis jiroveci Pneumonia
Espécies de Trypanosoma Tripanossomíase
T. cruzi Doença de Chagas
1
T. gambiense Doença do sono
1
T. rhodesiense Doença do sono
Espécies de Leishmania Leishmaniose
L. donovani Calazar
2
L. tropica Leishmaniose cutânea
2
L.mexicana Leishmaniose cutânea
L. braziliensis Leishmaniose mucocutânea

Protozoários secundários

Trato intestinal Balantidium coli Disenteria


/sospora belli lsosporíase
Enterocytozoon bieneusi M icrosporid iose
Septata intestina/is M icrosporid iose
Cyc/ospora cayetanensis Ciclosporíase
Sangue e tecido Espécies de Naegleria Meningite
Espécies de Acanthamoeba Meningite
Babesia microti Babesiose
1
Também conhecidos como T. brucei gambiense e T. brucei rhodesiense, respectivamente.
2
L. tropica e L. mexicana causam leishmaniose cutânea no Velho Mundo e no Novo Mundo, respectivamente.

ciam-se em trofozoítos no íleo, mas tendem a colonizar o ceco dos para outras pessoas. Em alguns pacientes, uma lesão granu-
e o colo. lomatosa chamada de ameboma, pode se formar no ceco ou nas
Os trofozoítos invadem o epitélio do colo e secretam enzi- áreas retossigmoides do colo. Essas lesões podem assemelhar-se a
mas que causam necrose localizada. Uma pequena inflamação um adenocarcinoma de colo e devem ser distinguidas dele.
ocorre no local. Assim que a lesão atinge a camada muscular, Um abscesso amebiano do fígado é caracterizado por uma
ocorre a formação de uma úlcera na "forma de balão': carac- dor no quadrante superior direito, perda de peso, febre e aumen-
terística que pode debilitar e destruir grandes áreas do epitélio to do fígado. Os abscessos no lobo hepático direito podem pene-
do intestino (Figura 51-5). A progressão dos trofozoítos para a trar no diafragma e causar uma doença pulmonar. A maioria dos
submucosa leva à invasão da circulação portal. O local mais fre- casos de abscesso hepático amebiano ocorre em pacientes que
quente da doença sistémica é o fígado, onde se formam abscessos não apresentam amebíase intestinal. A aspiração dos abscessos
contendo trofozoítos. hepáticos produz um pus de coloração marrom-amarelada, com
A infecção causada por E. histolytica é encontrada em todo a aparência e consistência de uma pasta de anchova.
o mundo, mas ocorre com mais frequência em países tropicais,
principalmente em áreas com deficiência no saneamento básico. Diagnóstico laboratorial
Cerca de 1 a 2% dos habitantes dos Estados Unidos são afetados.
O diagnóstico da amebíase intestinal baseia-se na presença tanto
A infecção é comum em homossexuais do sexo masculino.
dos trofozoítos nas fezes diarreicas quanto de cistos presentes nas
fezes (Figuras 51-3 e 51-4). As fezes diarreicas devem ser examina-
Achados clínicos das até uma hora após a coleta para verificar a motilidade ameboide
A amebíase intestinal aguda ocorre na forma de disenteria dos trofozoítos. Os trofozoítos caracteristicamente contêm hemá-
(i.e., diarreia mucosa sanguinolenta) acompanhada por um des- cias ingeridas. O erro mais comum é confundir leucócitos fecais
conforto no baixo abdome, flatulência e tenesmo. A amebíase crô- com trofozoítos. Já que os cistos alcançam as fezes intermitente-
nica pode ocorrer na forma de sintomas com baixa intensidade, mente, pelo menos três amostras devem ser examinadas. O teste
como diarreia ocasional, perda de peso e fadiga. Cerca de 90% das O&P não é sensível, e resultados falso-negativos ocorrem com fre-
pessoas infectadas apresentam infecções assintomáticas, podendo quência. Além disso, cerca de metade dos pacientes que apresentam
ser portadoras, e as fezes contêm cistos que podem ser transmiti- amebíase extraintestinal possuem os exames de fezes negativos.
412 PARTE VI Parasitologia

TABELA 51-2 Características dos protozoários de importância médica

Ocorrência nos
Organismo Modo de transmissão Estados Unidos Diagnóstico Tratamento

1. Protozoários intestinais ou urogenitais

Entamoeba Ingestão de cistos pre- Sim Trofozoítos ou cistos nas fezes; Metronidazol ou tinidazol
sentes no alimento sorologia

Giardia Ingestão de cistos pre- Sim Trofozoítos ou cistos nas fezes Metronidazol
sentes no alimento

Cryptosporidium Ingestão de cistos pre- Sim Coloração acidorresistente Paromomicina pode ser útil
sentes no alimento dos cistos

Trichomonas Sexual Sim Trofozoítos em lâmina a fresco Metronidazol

li. Protozoários do sangue e tecidos

Trypanosoma

T. cruzi Barbeiro Rara Esfregaço de sangue, medula Nifurtimox


óssea, xenodiagnóstico
1
T. gambiense, Mosca tsé-tsé Não Esfregaço de sangue Suramina
T. rhodesiense

Leishmania

L. donovani Flebotomíneos Não Medula óssea, baço ou lin- Esti bog Iuconato
fonodo

L. tropica, L. mexicana, Flebotomíneos Não Fluido da lesão Esti bog Iuconato


L. braziliensis

Plasmodium

P. vivax, P. ovale, Mosquito Anopheles Rara Esfregaço de sangue Cloroquina, se sensível; também
P. malariae primaquina para P. vivax e P. ovale

P. falciparum Mosquito Anopheles Não Esfregaço de sangue Cloroquina, se sensível; mefloquina


ou quinina com doxiciclina;
Malarone ou artemisininas, se
resistente

Toxoplasma Ingestão de cistos em Sim Sorologia; exame microscó- Sulfadiazina e pirimetamina para
carne crua; contato pico do tecido; inoculação doença congênita e pacientes
com fezes de gatos em camundongos imunocomprometidos

Pneumocystis Inalação Sim Biópsia ou lavado do pulmão Tri metopri ma-sulfa metoxazol;
também pentamidina ou
atovaquona
1
Melarsoprol é utilizado se o sistema nervoso central estiver comprometido.

TABELA 51-3 Estágios de importância médica nos ciclos de vida dos protozoários intestinais

Estágio em que Estágio(s) mais associado(s) lmportante(s) estágio(s)


Organismo Inseto-vetor infecta seres humanos à doença em seres humanos fora de seres humanos

Entamoeba Nenhum Cisto Os trofozoítos causam diarreia sanguinolenta Cisto


e abscesso no fígado

Giardia Nenhum Cisto Os trofozoítos causam diarreia aquosa Cisto

Cryptosporidium Nenhum Cisto Os trofozoítos causam diarreia aquosa Cisto

Trichomonas Nenhum Trofozoíto Os trofozoítos causam corrimento vaginal Nenhum


CAPÍTULO 51 Protozoários Intestinais e Urogenitais 413

Amebíase
( Entamoeba histolytica}

LEGENDA

D Estágio infectante

.l!J Estágio de diagnóstico Ingestão de


cistos adultos
rJ Doença intestinal no colo
l]J Doença extraintestinal

Dl!l
Contágio dos cistos e
trofozoítos pelas fezes

FIGURA 51-1 Entamoeba histolytica. Ciclo de vida. A seta roxa na parte superior mostra os cistos sendo ingeridos. No interior do intestino, o
cisto produz os trofozoítos que causam a amebíase disentérica no colo e podem se disseminar para o fígado (mais frequente), pulmão e encéfalo
(A e B). A seta azul na parte inferior mostra os cistos e os trofozoítos sendo transmitidos às fezes e atingindo o meio ambiente. A seta vermelha
indica a sobrevivência dos cistos no meio ambiente. (Fonte: Centers for Disease Control and Prevention.)

FIGURA 51-2 A: Trofozoíto de Entamoeba histolytica com uma he-


mácia ingerida e um núcleo (o círculo interno com linha pontilhada FIGURA 51-3 Entamoeba histolytica - trofozoíto. A seta longa indica
representa uma hemácia). B:Cisto de E. histolytica com quatro núcleos. o trofozoíto de E. histolytica. A seta curta indica o núcleo do trofozoíto.
C: Trofozoíto de Giardia lamblia. D: Cisto de G. lamblia. E: Trofozoíto de A ponta de seta indica uma das seis hemácias ingeridas. (Fonte: Centers
Trichomonas vagina/is (1.200 X ). for Disease Control and Prevention.)
414 PARTE VI Parasitologia

uma preparação com corante tricrômico; cada preparação mos-


tra diferentes aspectos da morfologia do cisto. Essas preparações
também são úteis para distinguir disenteria amebiana de disen-
teria bacilar. Posteriormente, muitas células inflamatórias, como
leucócitos polimorfonucleares, são observadas, ao passo que na
disenteria amebiana elas não são observadas.
Os testes sorológicos são úteis para o diagnóstico da ame-
bíase invasiva. O teste de hemaglutinação direta é geralmente po-
sitivo em pacientes com doença invasiva, mas é frequentemente
negativo em indivíduos assintomáticos que transmitem cistos.

Tratamento
O tratamento de escolha para amebíase intestinal sintomática ou
abscessos hepáticos é o metronidazol ou tinidazol. Os abscessos he-
páticos não precisam ser drenados. Os carreadores assintomáticos
FIGURA 51-4 Entamoeba histo/ytica - cisto. A seta indica um cisto de
de cistos devem ser tratados com iodoquinol ou paromomicina.
E. histo/ytica. Dois dos quatro núcleos são visíveis apenas à esquerda
da cabeça da seta. (Fonte: Centers for Disease Control and Prevention.)
Prevenção
A prevenção envolve proteção contra contaminação fecal dos ali-
E. histolytica pode ser diferenciada de outras amebas por
mentos e da água e a adoção de boas práticas de higiene, como a
meio de dois critérios principais. ( 1) O primeiro é a natureza do
lavagem das mãos. O tratamento da água pelos órgãos municipais
núcleo do trofozoíto. O núcleo de E. histolytica possui um peque-
é geralmente efetivo, mas surtos de amebíase em moradores das
no nucléolo central e grânulos finos de cromatina na borda da
cidades ocorrem quando a contaminação é significativa. O uso
membrana nuclear. Os núcleos de outras amebas são completa-
de fezes humanas ("night soil,,) para fertilização de plantações
mente diferentes. (2) O segundo é o tamanho do cisto e a quan-
deve ser proibido. Em áreas onde ocorrem infecções endêmicas,
tidade de núcleos. Os cistos adultos de E. histolytica são menores
os vegetais devem ser cozidos.
que os de Entamoeba coli e contêm quatro núcleos, ao passo que
os cistos de Entamoeba coli possuem oito núcleos.
Os trofozoítos de Entamoeba díspar, uma espécie não pato-
gênica de Entamoeba, são morfologicamente diferenciados dos
GIARDIA
de E. histolytica; entretanto, uma pessoa que possui trofozoítos Doença
nas fezes é tratada apenas se apresentar os sintomas. Dois testes
são altamente específicos para a detecção de E. histolytica nas fe- Giardia lamblia causa giardíase.
zes: um detecta o antígeno de E. histolytica, e o outro detecta o
ácido nucleico do organismo por meio de um ensaio baseado na Características importantes
reação em cadeia da polimerase (PCR). O ciclo de vida de G. lamblia é apresentado na Figura 51-6.
Uma busca detalhada por cistos inclui preparação a fresco O ciclo de vida consiste em dois estágios: o trofozoíto e o cisto
em solução salina, preparação a fresco com iodo e fixação com (Figuras 51-2C e D, e 51-7). O trofozoíto possui forma de pera
com dois núcleos, quatro pares de flagelos e um disco de sucção
com o qual ele se adere à parede do intestino. O cisto oval pos-
sui parede espessa com quatro núcleos e muitas fibras internas.
Cada cisto forma dois trofozoítos durante a excistação no trato
intestinal.

Patogênese e epidemiologia
A transmissão ocorre pela ingestão de cistos em alimentos e água
contaminados com fezes. A excistação ocorre no duodeno, onde
o trofozoíto se fixa à parede do intestino, mas não invade a muco-
sa e não penetra na corrente sanguínea. O trofozoíto causa infla-
mação da mucosa duodenal, levando à má absorção de proteínas
e gorduras.
O organismo é encontrado em todo o mundo; cerca de 5% de
amostras de fezes nos Estados Unidos contêm cistos de Giardia.
FIGURA 51-5 Entamoeba histolytica - úlcera em forma de balão Aproximadamente metade dos indivíduos infectados são carrea-
formada na mucosa do colo, resultando em diarreia sanguinolenta. dores assintomáticos que continuam a excretar cistos por anos.
(Fonte: Centro de Controle e Prevenção de Doenças/Dr. Mae Melvin.) A deficiência de IgA predispõe largamente à infecção sintomática.
CAPÍTULO 51 Protozoários Intestinais e Urogenitais 41S

Giardíase
( Giardia lambiia)
LEGENDA f.)
D Estágio infectante D
m Estágio de diagnóstico

Contaminação dos alimentos


ou da água com cistos
Os trofozoítos também
alcançam as fezes,
mas não sobrevivem
no meio ambiente

o
D
m Cisto

FIGURA 51-6 Giardia lamblia. Ciclo de vida. A seta roxa na parte superior mostra os cistos sendo ingeridos. No interior do intestino, o cisto
produz os trofozoítos que causam diarreia. A seta roxa na parte inferior indica cistos e trofozoítos sendo passados para as fezes e contaminando
o meio ambiente. A seta vermelha indica a sobrevivência dos cistos no meio ambiente. (Fonte: Centers for Disease Control and Prevention/Dr. Alexander
J. da Silva e Melanie Moser.)

Além de ser endêmica, a giardíase ocorre em surtos associa- cuadas (p. ex., em carreadores assintomáticos), apenas os cistos
dos a fontes de água contaminadas. A cloração da água não mata podem ser visualizados. Um ensaio imunoadsorvente ligado à
os cistos, mas a filtração é capaz de removê-los. Aventureiros que enzima (ELISA), capaz de detectar antígenos de Giardia nas fe-
bebem água de riacho não tratada são frequentemente infecta- zes, também é muito efetivo no diagnóstico. Os testes para anti-
dos. Muitas espécies de mamíferos, bem como os seres humanos, corpos no soro não estão disponíveis rotineiramente.
atuam como reservatórios. Eles transmitem cistos por meio das Se esses testes forem negativos e os sintomas persistirem,
fezes, os quais contaminam subsequentemente as fontes de água. o teste do barbante, que consiste em engolir um pedaço de
A giardíase é comum em homens homossexuais como resultado barbante até ele chegar ao duodeno, pode ser útil. Os trofozo-
do contato oral-anal. A incidência é alta entre crianças em cre- ítos aderem -se ao barbante e podem ser visualizados após a sua
ches e entre pacientes de hospitais psiquiátricos. retirada.

Achados clínicos Tratamento


A diarreia aquosa (não sanguinolenta) e com mau cheiro é O tratamento de escolha é o metronidazol ou o hidrocloreto de
acompanhada por náusea, anorexia, flatulência e cólicas abdomi-
. .
qu1nacr1na.
nais que duram semanas ou meses. Não ocorre febre.
Prevenção
Diagnóstico laboratorial A prevenção envolve o consumo de água fervida, filtrada ou tra-
O diagnóstico é realizado pela descoberta de trofozoítos ou cis- tada com iodo em áreas endêmicas ou em caminhadas por tri-
tos, ou ambos, em fezes diarreicas (Figura 51-7). Em fezes eva- lhas. Não há fármaco profilático ou vacina.
416 PARTE VI Parasitologia

CRYPTOSPORIDIUM
Doença
Cryptosporidium hominis causa a criptosporidiose, doença cujo
principal sintoma é a diarreia. A diarreia apresenta-se mais
grave em pacientes imunocomprometidos (p. ex., aqueles que
possuem a síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]).
O nome Cryptosporidium parvum corresponde à nomenclatura
antiga, que não é mais utilizada.

Características importantes
O ciclo de vida de C. hominis é apresentado na Figura 51-8.
Alguns aspectos do ciclo de vida ainda são desconhecidos, mas
os estágios apresentados vêm sendo identificados. Os oocistos
liberam esporozoítos, que originam os trofozoítos. Seguem -se
vários estágios, os quais envolvem a formação de esquizontes e
FIGURA 51-7 Giardia lamblia - trofozoíto. A seta indica o trofozoíto merozoítos. Por fim, formam-se microgametas e macrogame-
em forma de pera de G. lamblia. (Fonte: Centers for Disease Control and
tas; estes unem -se para formar o zigoto, o qual se diferencia em
Prevention/Dr. M. Mosher.)
um oocisto. Esse ciclo possui várias características em comum
com outros esporozoários (p. ex., Isospora). Taxonomicamente,
Cryptosporidium encontra-se na subclasse Coccidia.

Criptosporidiose
(Cryptosporidium hominis)

Oocisto com parede


espessa é ingerido
pelo hospedeiro

Água
Alimento potável

A Contaminação da água e
V' de alimentos com oocistos

Oocisto com parede espessa


é liberado do hospedeiro

FIGURA 51-8 Cryptosporidium hominis. Ciclo de vida. A seta roxa na parte superior mostra os cistos sendo ingeridos. No interior do intestino, o
oocisto produz trofozoítos que causam diarreia. A seta roxa na parte inferior mostra os cistos sendo transmitidos às fezes e contaminando o meio
ambiente. A seta vermelha indica a sobrevivência dos cistos no meio ambiente. (Fonte: Centers for Disease Control and Prevention/Dr. Alexander J. da
Silva e Melanie Moser.)
CAPÍTULO 51 Protozoários Intestinais e Urogenitais 417

Patogênese e epidemiologia
O organismo é adquirido pela transmissão fecal-oral de oocistos
provenientes tanto de fontes humanas (principalmente) quanto
de fontes animais, como o gado (ocasionalmente). Os oocistos
excistam no intestino delgado, onde os trofozoítos (e outras for-
mas) se aderem à parede intestinal. A invasão não ocorre. O je-
juno é o local mais infectado. A patogénese da diarreia é incerta;
nenhuma toxina conhecida foi identificada.
Os criptosporídeos causam diarreia em todo o mundo.
Grandes surtos de diarreia causados por criptosporídeos em vá-
rias cidades nos Estados Unidos são atribuídos à falha na purifi-
cação da água potável. Outros surtos são relacionados à contami-
nação fecal de piscinas e lagos. Os cistos são altamente resistentes
à cloração, mas são mortos pela pasteurização e podem ser remo-
vidos por filtração. FIGURA 51-9 Cryptosporidium hominis - cistos. Coloração acidor-
resistente dos cistos nas fezes. Os cistos aparecem vermelhos em um
Achados clínicos contraste azul. (Fonte: Centers for Disease Control and Prevention/J lnfect Dis.
1983;147(5):824- 8.)
A doença em pacientes imunocomprometidos apresenta-se pri-
meiramente como uma diarreia aquosa e não sanguinolenta, que
causa grande perda de líquidos. Os sintomas persistem por lon- Tratamento e prevenção
gos períodos em pacientes imunocomprometidos, ao passo que
são autolimitados em indivíduos imunocompetentes. Embora A nitazoxanida é o fármaco de escolha para pacientes que não
pacientes imunocomprometidos geralmente não morram em são infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).
consequência de criptosporidiose, a perda de líquidos e a má nu- Não existe uma terapia com fármacos efetiva para pacientes imu-
trição causam debilitação grave. nocomprometidos gravemente, mas a paromomicina pode ser
útil na redução da diarreia. Não há vacina ou outros meios de
Diagnóstico laboratorial prevenção. A purificação das fontes de água, incluindo filtração
para remover os cistos, que são resistentes ao cloro utilizado para
O diagnóstico é realizado pela detecção de oocistos em esfregaço desinfecção, pode prevenir a criptosporidiose.
de fezes, utilizando o método de coloração Kinyoun (Figura 51-
9). Um ensaio para a detecção de antígenos de Cryptosporidium
nas fezes também é efetivo no diagnóstico.

PROTOZOÁRIOS UROGENITAIS - - - - - - - - - - - - - -
TRICHOMONAS dos 30 anos de idade, e mais baixa em mulheres na pós-meno-
pausa. As infecções assintomáticas são comuns em homens e
Doença mulheres.
Trichomonas vaginalis causa tricomoníase.
Achados clínicos
Características importantes Em mulheres ocorre um corrimento aquoso, com mau cheiro,
esverdeado, acompanhado por prurido e ardor. A infecção em
T. vaginalis é um organismo em forma de pera com um núcleo
homens é, em geral, assintomática, mas cerca de 10% dos homens
central e quatro flagelos anteriores (Figuras 51-2E e 51-10). Ele
infectados apresentam uretrite.
apresenta uma membrana ondulante que se estende por cerca de
dois terços de seu comprimento. Ele ocorre apenas como trofo-
zoíto; não existe na forma de cisto. Diagnóstico la boratoria 1
Em uma lâmina a fresco de secreções vaginais (ou de próstata),
Patogênese e epidemiologia os trofozoítos em forma de pera apresentam um movimento rá-
pido característico (Figura 51-10). Os neutrófilos são vistos com
O organismo é transmitido pelo contato sexual e, portanto, não
frequência no fluido. Não há teste sorológico.
há necessidade de uma forma resistente do cisto. As localizações
primárias do organismo são a vagina e a próstata. Ele é encon-
trado apenas em seres humanos; não há um reservatório animal.
Tratamento e prevenção
A tricomoníase é uma das infecções mais comuns mun- O fármaco de escolha é o metronidazol para ambos os parcei-
dialmente. Cerca de 25 a 50% das mulheres nos Estados Unidos ros, com o objetivo de prevenir a reinfecção. A manutenção de
são portadoras do organismo. A frequência da doença sinto- um pH baixo da vagina é útil. O uso de preservativos limita a
mática é mais alta em mulheres sexualmente ativas, em torno transmissão. Não há fármaco profilático ou vacina.
418 PARTE VI Parasitologia

4. Em relação a Trichomonas vaginalis, qual das seguintes opções é a


mais correta?
(A) O fármaco de escolha para tricomoníase é o metronidazol.
(B) Animais domésticos, como cães e gatos, são os principais re-
servatórios do organismo.
( C) T. vaginalis é geralmente adquirido pelo contato com cistos do
organismo durante o contato sexual.
(D) O diagnóstico laboratorial geralmente envolve a detecção do
aumento de quatro vezes da titulação de IgA.
(E) O parceiro assintomático de uma mulher com T. vaginalis com
infecção não deve ser tratado, pois homens assintomáticos ra-
ramente são fontes do organismo.
5. Sua paciente é uma mulher de 30 anos que retornou de uma via-
gem pela Europa Oriental há uma semana. Na viagem, ela apresen-
tou anorexia, náuseas sem vômito e distensões abdominais. Nos
dois últimos dias, teve diarreias aquosas explosivas. Um exame de
FIGURA 51-10 Trichomonas vagina/is -trofozoíto. As setas indicam
suas fezes revelou organismos móveis, flagelados e com forma de
dois trofozoítos. (Fonte: Centers for Disease Control and Prevention.) pera. Das seguintes opções, qual é a provável causa dessa infecção?
(A) C. hominis.
(B) E. histolytica.
APLIQUE SEU CONHECIMENTO ( C) G. lamblia.
(D) T. vaginalis.
1. Em relação à E. histolytica, qual das seguintes opções é a mais correta?
6. Considerando a paciente da Questão 5, qual das seguintes opções
(A) E. histolytica causa úlceras em formato de balão na mucosa do
representa o melhor antibiótico para o tratamento dessa infecção?
colo.
(B) Animais domésticos, como cães e gatos, são os principais re- (A) Cloroquina.
servatórios de E. histolytica. (B) Metronidazol.
(C) Ao microscópio, E. histolytica é reconhecida por possuir dois ( C) Nifurtimox.
pares de flagelos. (D) Praziquantel.
(D) As infecções por E. histolytica são limitadas na mucosa intesti- (E) Estibogluconato.
nal e não se disseminam pelos órgãos. 7. Sua paciente é uma mulher de 30 anos, voluntária do Corpo da Paz,
(E) A infecção é geralmente adquirida pela ingestão do trofozoíto que retornou recentemente da América Central. Ela agora apresenta
em alimentos e água contaminados. febre e dores no quadrante superior direito. Ela disse que teve diar-
2. Em relação à G. lamblia, qual das seguintes opções é a mais correta? reia sanguinolenta há dois meses. A tomografia computadorizada
(A) O fármaco de escolha para giardíase é a cloroquina. revelou uma área radiolúcida no fígado que foi interpretada como
(B) Na giardíase, a análise de ovas e parasitas (O&P) nas fezes um abscesso. A aspiração do material do abscesso foi realizada. Um
exame microscópico revelou trofozoítos não flagelados móveis com
revela esporozoítos.
(C) G. lamblia produz uma enterotoxina que aumenta o AMP cí- movimento ameboide. Das seguintes opções, qual é a provável causa
dessa infecção?
clico no interior do enterocisto, resultando em diarreia.
(D) A infecção por G. lamblia é adquirida pela ingestão de alimen- (A) C. hominis.
tos e água contaminados apenas com fezes de seres humanos (B) E. histolytica.
(i.e., não há nenhum reservatório animal para esse organismo). ( C) G. lamblia.
(E) A infecção por G. lamblia ocorre principalmente no intestino (D) T. vaginalis.
delgado, resultando em má absorção e fezes com mau cheiro, 8. Seu paciente é um homem de 30 anos com diarreia aquosa persis-
espumosas e contendo gordura. tente por duas semanas. Ele é HIV-positivo com contagem de CD4
3. Em relação a C. hominis, qual das seguintes opções é a mais correta? de 10. A cultura das fezes revelou a ausência de bactérias patogêni-
cas. A análise de ovas e parasitas revelou cistos que foram corados
(A) Os seres humanos são os únicos reservatórios para C. hominis.
(B) O exame microscópico das fezes diarreicas revela hemácias e de vermelho com corante acidorresistente. Das seguintes opções,
qual é a provável causa dessa infecção?
leucócitos.
(C) O diagnóstico laboratorial envolve a observação de cistos do (A) C. hominis.
organismo em um corante acidorresistente nas fezes. (B) E. histolytica.
(D) C. hominis é geralmente adquirido pela ingestão de trofozoítos ( C) G. lamblia.
presentes em alimentos e água contaminados. (D) T. vaginalis.
(E) Em pacientes imunocomprometidos, como os pacientes com
Aids com baixa contagem de CD4, ocorre a doença dissemina-
da que geralmente envolve o encéfalo e as meninges.
CAPÍTULO 51 Protozoários Intestinais e Urogenitais 419

RESPOSTAS QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


1. (A) Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
2. (E) contradas na seção de Parasitologia da Parte XIII: Questões para
3. (C) Autoavaliação, a partir da página 710. Consulte também a Parte
4. (A)
XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
5. (C)
6. (B)
7. (B)
8. (A)

RESUMOS DOS ORGANISMOS


Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
-se na página 661. Favor consultar esses resumos para uma rápida
revisão do material essencial.
CAPÍTULO

Protozoários do
Sangue e de Tecidos

CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Leishmania
Plasmodium Aplique seu conhecimento
Toxoplasma Resumos dos organismos
Pneumocystis Questões para autoavaliação
Trypanosoma

INTRODUÇÃO O ciclo sexuado é denominado esporogônico, pois são pro-


duzidos esporozoítos (o ciclo esporogônico está representado
Os organismos de importância médica nessa categoria de pro- pela letra C na Figura 52-1), e o ciclo de vida assexuado é deno-
tozoários consistem nos esporozoários Plasmodium e Toxoplas- minado esquizogônico, devido à produção dos esquizontes.
ma e nos flagelados Trypanosoma e Leishmania. Pneumocystis é O ciclo de vida em seres humanos inicia com a introdução
discutido neste livro como um protozoário, pois é considerado de esporozoítos no sangue por meio da saliva do mosquito, ao
como tal do ponto de vista médico. Entretanto, dados molecula- picar. Os esporozoítos são absorvidos pelos hepatócitos em 30
res indicam que Pneumocystis está relacionado a leveduras, como minutos. Essa fase "exoeritrocíticà' (representada pela letra A na
Saccharomyces cerevisiae. A Tabela 51-2 resume as várias caracte- Figura 52-1) consiste na multiplicação e diferenciação da célula
rísticas desses protozoários do sangue e do tecido. em merozoítos. P. vivax e P. ovale produzem uma forma latente
Os estágios de importância médica no ciclo de vida dos pro- (hipnozoíto) no fígado; essa forma é a causa das recidivas obser-
tozoários do sangue e do tecido são descritos na Tabela 52-1. vadas na malária vivax e ovale.
Os merozoítos são liberados das células hepáticas e infectam
as hemácias. Durante a fase eritrocítica (representada pela letra
PLASMODIUM B na Figura 52-1), o organismo diferencia-se em um trofozoíto
Doença em forma de anel (Figuras 52-2A e B, e 52-3). A forma de anel
desenvolve-se em uma forma ameboide e, então, se diferencia
A malária é causada por quatro plasmódios: Plasmodium vi- em um esquizonte repleto de merozoítos (Figura 52-2C). Após
vax, Plasmodium ovale, Plasmodium malariae e Plasmodium a liberação, os merozoítos infectam outros eritrócitos (etapa 6 da
f alciparum. P. vivax e P. f alciparum são causas mais comuns de Figura 52-1). Esse ciclo repete-se em intervalos regulares típicos
malária do que P. ovale e P. malariae. Mundialmente, a malária é para cada espécie. O período de liberação de merozoítos causa os
uma das doenças infecciosas mais comuns e pode levar à morte. característicos sintomas recorrentes de calafrios, febre e sudorese,
observados em pacientes com malária.
Características importantes O ciclo sexuado inicia nas hemácias humanas quando al-
O ciclo de vida de espécies de Plasmodium é apresentado na guns merozoítos se desenvolvem em gametócitos femininos e
Figura 52-1. O vetor e hospedeiro definitivo para os plasmódios é outros em gametócitos masculinos (Figuras 52-2D à F e 52-4, e
a fêmea do mosquito Anopheles (somente a fêmea suga sangue). etapa 7 da Figura 52-1). As hemácias que contêm o gametócito
Existem duas fases no ciclo de vida: o ciclo sexuado, que ocorre são ingeridas pela fêmea do mosquito Anopheles e, no seu intes-
principalmente nos mosquitos, e o ciclo assexuado, que ocorre tino, produzem um macrogameta feminino e oito microgametas
1
nos seres humanos, os hospedeiros intermediários. masculinos. Após a fertilização, o zigoto diploide diferencia-se
em um oocineto móvel que penetra na parede do intestino, onde
1
0 ciclo sexuado é iniciado em seres humanos com a formação do game- se desenvolve em um oocisto, no interior do qual muitos esporo-
tócito no interior das hemácias (gametogonia) e completado nos mos- zoítos haploides são produzidos. Os esporozoítos são liberados
quitos com a fusão dos gametas masculinos e femininos, formação do e migram para as glândulas salivares, prontos para completar o
oocisto e produção de muitos esporozoítos (esporogonia). ciclo assim que o mosquito se alimentar de sangue novamente.
CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e de Tecidos 421

TABELA52·1 Estágios de importância médica no ciclo de vida de protozoários do sangue e do tecido

Estágio em que Estágio(s) mais associaclo(s) à lmportante(s) estágio(s) fora


Organismo Inseto-vetor infecta seres humanos doença em seres humanos de humanos

Plasmodium Mosquito fêmea Esporozoíto na saliva Trofozoítos e merozoítos nas hemácias Mosquito ingere gametócitos ~
(Anopheles) do mosquito fusão para formar o zigoto~
oocineto ~ esporozoítos

Toxoplasma Nenhum Cistos em tecido Trofozoítos que se multiplicam rapi- Gato ingere cistos dos tecidos
(pseudocistos) em damente (taquizoítos) no interior contendo bradizoítos ~
carne malcozida ou de vários tipos de células; os taqui- gametas~ oocineto ~
oocistos em fezes de zoítos podem cruzar a placenta e oocistos nas fezes
gatos infectar o feto; trofozoítos que se
multiplicam lentamente (bradizoí-
tos) em tecidos com cistos

Pneumocystis Nenhum Incerto; provavelmente Cistos Nenhum conhecido


cistos

Trypanosoma Barbeiro Formas tripomastigotas Formas amastigotas no músculo Inseto ingere formas
cruzi (Triatoma) nas fezes do barbeiro cardíaco e nos neurônios tripomastigotas no sangue
humano~ epimastigotas ~
tripomastigotas

Trypanosoma Mosca tsé-tsé Formas tripomastigotas Formas tripomastigotas no sangue e Mosca ingere formas
gambiensee (Glossina) na saliva da mosca no encéfalo tripomastigotas no sangue
T. rhodesiense humano~ epimastigotas ~
tripomastigotas

Leishmania Flebotomíneos Formas promastigotas Formas amastigotas em macrófagos Mosca ingere macrófagos
donovani (Phlebotomus na saliva do mos- no baço, no fígado e na medula contendo amastigotas ~
e Lutzomyia) quito óssea promastigotas

Leishmania tro- Flebotomíneos Formas promastigotas Formas amastigotas em macrófagos Mosca ingere macrófagos
pica e outros (Phlebotomus na saliva do mos- na pele contendo amastigotas ~
e Lutzomyia) quito promastigotas

Uma característica muito importante de P. f alciparum é a O tempo do ciclo de febre é de 72 horas para P. malariae e de
resistência à cloroquina. Linhagens resistentes à cloroquina pre- 48 horas para os outros plasmódios. A doença causada por P. ma-
dominam na maioria das áreas do mundo onde a malária é endê- lariae é chamada de malária quartã, pois a febre ocorre a cada
mica. A resistência à cloroquina é mediada por uma mutação no quatro dias, ao passo que a malária causada pelos outros plas-
gene que codifica o transportador de cloroquina na membrana módios é chamada de malária terçã, pois a febre ocorre a cada
celular do organismo. três dias. A malária terçã é subdivida em maligna, causada por
P. f alciparum, e benigna, causada por P. vivax e P. ovale.
Patogênese e epidemiologia P. f alciparum causa um alto nível de parasitemia, pois pode
A maioria dos achados patológicos da malária resulta da destrui- infectar hemácias em todos os seus estágios. Em contraparti-
ção das hemácias. As hemácias são destruídas tanto pela libe- da, P. vivax infecta somente reticulócitos, e P. malariae infecta
ração dos merozoítos quanto pela ação do baço, que sequestra e apenas hemácias desenvolvidas; entretanto, eles produzem ní-
lisa hemácias infectadas. O aumento característico do baço pela veis mais baixos de parasitas no sangue. Indivíduos com genes
malária é devido à congestão de sinusoides com hemácias, asso- relacionados à anemia falciforme, mas cuja doença não é ativa
ciado à hiperplasia de linfócitos e macrófagos. (heterozigotos), estão protegidos contra malária, pois suas hemá-
A malária causada pelo P. f alciparum é mais grave quando cias possuem baixa atividade da ATPase e não produzem energia
comparada à causada por outros plasmódios. Ela é caracterizada suficiente para suportar o crescimento do parasita. Pessoas com
pela infecção de mais hemácias em comparação com as outras anemia falciforme ativa (homozigotos) também estão protegidos,
espécies de malária e pela oclusão dos capilares com agregados mas raramente sobrevivem o bastante para obter esse benefício.
de hemácias parasitadas. Isso leva a hemorragia e necrose poten- O receptor para P. vivax é o antígeno de grupo sanguíneo
cialmente fatais, particularmente no encéfalo (malária cerebral). Duffy. Indivíduos homozigotos recessivos para o gene que co-
Além disso, pode ocorrer hemólise extensiva e danos aos rins, re- difica essa proteína são resistentes à infecção por P. vivax. Mais
sultando em hemoglobinúria. A cor escura da urina dos pacien- de 90% dos africanos ocidentais e muitos de seus descendentes
tes deu origem ao termo "febre da água negrà: A hemoglobinúria norte-americanos não produzem o antígeno Duffy e são, por isso,
pode levar à insuficiência renal aguda. resistentes à malária vivax.
422 PARTE VI Parasitologia

Malária Célula hepática E) Célula


---.. hepática
(espécies de Plasmodium) infectada

te\ Ruptura
00
Os mosquitos sugam
"'1 do oocisto sangue (injeção Estágios no fígado humano

Liberação dos
de esporozoítos)
e
Ciclo
esporozoítos exoeritrocítico

D Esquizonte

'~(\'- ',,, ... ... 1

'
1
1
' ... ... 1

' ' ...


Estágios no mosquito ' ',

0
Ciclo
l!J Trofozoíto
...iJ!!!!!~.. imaturo
esporogônico (estágio
@oocineto
., _, em anel)
.,. ., ,
., , -
Estágios no sangue humano
Microgameta
penetrando · • €) Trofozoíto
no macro- Ciclo maduro
gametócito eritrocítico
l!J
o
Mosquito suga o
sangue (ingestão
Microgametócito
dos gametócitos)
exflagelado
l!J Esquizonte

LEGENDA P. vivax Gametócitos

D Estágio infectante P. ovale

l!J Estágio de diagnóstico


FIGURA 52-1 Espécies de Plasmodium. Ciclo de vida. O lado direito da figura descreve os estágios no interior de seres humanos (setas roxas).
O ciclo A (à direita, na parte superior) é o estágio exoeritrocítico que ocorre no fígado. O ciclo B (à direita, na parte inferior) é o estágio eritrocítico
que ocorre nas hemácias. Observe que na etapa 6 do ciclo, os merozoítos liberados dos esquizontes rompidos infectam, então, outras hemácias.
A liberação sincronizada de merozoítos causa a febre periódica e os calafrios característicos da malária. O lado esquerdo da figura descreve os
estágios no interior do mosquito (setas vermelhas). Os seres humanos são infectados na etapa 1, quando o mosquito injeta esporozoítos. O mos-
quito é infectado na etapa 8, quando ingere gametócitos presentes no sangue humano. (Fonte: Centers for Disease Control and Prevention/Dr. Alexander
J. da Silva e Melanie Moser.)

Pessoas com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase rasitemia e sintomas brandos; essa condição é conhecida como
(G6PD) também estão protegidas contra os efeitos graves da ma- premonição. Em contrapartida, um indivíduo não imune, como
lária falciparum. A deficiência de G6PD é uma hemoglobinopa- um viajante presente pela primeira vez em uma área onde a ma-
tia ligada ao X encontrada em alta frequência em áreas tropicais lária falciparum é endêmica, está em risco de doença grave e po-
onde a malária é endêmica. Indivíduos dos sexos masculino e tencialmente fatal.
feminino carreadores do gene mutado estão protegidos contra Mais de 200 milhões de pessoas no mundo têm malária
malária. e mais de 1 milhão morrem em decorrência dela a cada ano,
A malária é transmitida principalmente pela picada do o que faz da malária a doença infecciosa letal mais comum.
mosquito, mas também pode ocorrer transmissão por meio da Isso ocorre principalmente em regiões tropicais e subtro-
placenta, por transfusões de sangue e pelo uso de drogas intra- picais, sobretudo na Ásia, na África e nas Américas Central
venosas. e do Sul. A malária nos Estados Unidos é diagnosticada em
A imunidade parcial baseada em anticorpos humorais que norte-americanos que viajam para áreas de infecção endêmica
bloqueiam a invasão das hemácias por merozoítos ocorre em sem quimioprofilaxia adequada e em imigrantes de áreas de
indivíduos infectados. Como resultado, há um baixo nível de pa- infecções endêmicas. A malária não é endêmica nos Estados
CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e de Tecidos 423

A
o

FIGURA 52-2 A: Trofozoíto em anel de sinete de Plasmodium vivax no interior de uma hemácia. B: Trofozoíto ameboide de Plasmodium vivax
no interior de uma hemácia, mostrando os pontos de Schüffner. C: Esquizonte maduro de P/asmodium vivax apresentando merozoítos em seu
interior. D: Microgametócito de Plasmodium vivax. E: Macrogametócito de Plasmodium vivax. F: Gametócito"em forma de banana" de Plasmodium
falciparum associado a uma hemácia-fantasma. G: Trofozoítos de Toxop/asma gondii dentro de macrófagos. H: Cistos de Pneumocystis jiroveci.
(A a G, aumento de 1.200X; H, aumento de 800X.)

Unidos. Determinadas regiões do Sudeste da Ásia, da América Achados clínicos


do Sul e da África Oriental são particularmente afetadas por
A malária apresenta, como primeiros sintomas, febre abrupta e
linhagens resistentes à cloro quina de P. falciparum. Indivíduos
calafrios, acompanhados de dor de cabeça, mialgias e artralgias,
que viveram em ou viajaram para áreas onde ocorre a malária
cerca de duas semanas após a picada do mosquito. A febre pode
devem procurar atendimento médico no caso de doença febril
ser contínua durante a doença; o típico ciclo periódico não se de-
até três anos após a saída das áreas endêmicas.
senvolve por vários dias após os primeiros sintomas. O pico de
febre, que pode chegar a 41 ºC, é frequentemente acompanhado
por calafrios, náusea, vômito e dores abdominais. A febre é segui-
da por sudorese. Os pacientes, em geral, se sentem bem entre os
• episódios febris. A esplenomegalia é observada na maioria dos

FIGURA 52-3 Plasmodium falciparum - trofozoíto em forma de anel.


A seta longa indica uma hemácia contendo um trofozoíto em forma
de anel. A cabeça de seta indica uma hemácia contendo quatro trofo-
zoítos em forma de anel. Observa-se a alta porcentagem de hemácias
contendo forma de anel. Esse alto nível de parasitem ia é mais frequen-
temente observado em infecções de Plasmodium falciparum que em FIGURA 52-4 Plasmodium falciparum - gametócito. A seta indi-
outras infecções de plasmódios. (Figura cortesia do Dr. S. Brown, Public ca um gametócito de Plasmodium falciparum "em forma de banana'~
Health lmage Library, Centers for Disease Control and Prevention.) (Figura cortesia do Dr. S. Brown, Centers for Disease Control and Prevention.)
424 PARTE VI Parasitologia

pacientes e a hepatomegalia ocorre em cerca de um terço deles. geográfica onde a infecção foi adquirida, em vez de por ensaios
A anemia é proeminente. laboratoriais.
A malária não tratada causada por P. falciparum é potencial- A cloroquina é o fármaco de escolha para o tratamento da
mente fatal como resultado de danos extensivos ao encéfalo (ma- malária não complicada, causada por espécies não falciparum em
lária cerebral) e ao rim (febre da água negra). A malária causada áreas que não apresentam resistência à cloroquina. A cloroqui-
pelos outros três plasmódios é geralmente autolimitada, com na mata os merozoítos, reduzindo a parasitemia, mas não afeta
uma baixa taxa de mortalidade. Entretanto, recidivas de malárias os hipnozoítos de P. vivax e P. ovale no fígado. Estes são mortos
causadas por P. vivax e P. ovale podem ocorrer vários anos após a pela primaquina, a qual deve ser utilizada para prevenir recidi-
doença inicial como resultado de hipnozoítos latentes presentes vas. A primaquina pode induzir hemólise grave em indivíduos
no fígado. com deficiência de G6PD, assim, testes para essa enzima devem
ser realizados antes da utilização do fármaco. A primaquina não
Diagnóstico laboratorial deve ser administrada caso o paciente seja gravemente deficiente
em G6PD. Se a primaquina não for administrada, uma aborda-
O diagnóstico baseia-se no exame microscópico do sangue, utili- gem consiste na observação dos sintomas para avaliar se haverá
zando esfregaços em gota espessa e fina, em corante de Giemsa. recorrência e, subsequentemente, é realizado o tratamento com
A gota espessa é utilizada para triar a presença dos organismos a cloroquina.
e a gota fina é utilizada para a identificação das espécies. É im - Infecções não complicadas por P. falciparum resistente à
portante identificar a espécie, pois o tratamento das diferentes cloroquina são tratadas com Coartem (artemeter associado à lu-
espécies pode variar. Os trofozoítos em forma de anel podem ser mefantrina) ou Malarona (atovaquona e proguanil). Nos casos
observados no interior das hemácias infectadas (Figura 52-3). graves e complicados de malária falciparum resistente à cloro-
Os gametócitos de P. falciparum apresentam forma de quarto- quina, é realizada a administração intravenosa de artesunato ou
-crescente ("forma de bananà'), ao passo que os outros plasmó- quinidina.
dios são esféricos (Figura 52-2F). Se mais de 5% das hemácias Fora dos Estados Unidos, as artemisininas, como artesu-
estiverem parasitadas, o diagnóstico é geralmente de malária cau- nato ou arteméter, são amplamente utilizadas em combinação
sada por P. falciparum. com outros fármacos antimaláricos. As artemisininas não são
Se o esfregaço sanguíneo não for suficiente para estabele- caras, têm poucos efeitos colaterais, e a maioria dos plasmó-
cer um diagnóstico, a realização de um ensaio baseado na reação dios não desenvolveu resistência a esses fármacos. No entanto,
em cadeia da polimerase (PCR), para a detecção de ácidos nu- a resistência ao artesunato emergiu em algumas linhagens de
cleicos de Plasmodium, ou um ensaio imunoadsorvente ligado à P. falciparum do Sudeste da Ásia (p. ex., Camboja, Mianmar e
enzima (ELISA), para a detecção de uma proteína específica de Tailândia).
P. f alciparum, pode ser bastante útil.
Prevencão
Tratamento A quimioprofilaxia da malária para viajantes de áreas endêmicas
O tratamento da malária é complicado, e os detalhes encontram- para o P. f alciparum resistente à cloroquina consiste em meflo-
-se fora do escopo deste livro. A Tabela 52-2 apresenta os fár- quina ou doxiciclina. Uma combinação de atovaquona e progua-
macos comumente utilizados nos Estados Unidos. Os principais nil (Malarona), em doses fixas, também pode ser administrada.
critérios utilizados para a escolha de fámacos específicos são: a A cloroquina deve ser utilizada em áreas onde o P. falciparum
gravidade da doença e se o organismo é resistente à cloroqui- é sensível ao fármaco. Viajantes de áreas em que os outros três
na. A resistência à cloroquina é determinada pela localização plasmódios são encontrados devem utilizar a cloroquina duas se-

TABELA 52-2 Fármacos comumente utilizados para o tratamento da malária nos Estados Unidos

Espécies Fármaco(s) Observações

Plasmodium falciparum e Plasmodium Cloroquina Oral


malariae sensíveis à cloroquina

Plasmodium vivax e Plasmodium ovale Cloroquina associada à primaquina Oral


sensíveis à cloroquina Não utilizar a primaquina se o paciente for
deficiente em G6PD

P. falciparum resistente à cloroquina; Coartem (arteméter e lumefantrina) ou Oral


infecção não complicada Malarona (atovaquona e proguanil)
1 2
P. falciparum resistente à cloroquina; Artesunato ou quinidina Intravenoso
infecção grave complicada

G6PD; glicose-6-fosfato desidrogenase.


1
Disponível nos Estados Unidos por meio do Centers for Disease Control and Prevention.
2
Se a quinidina intravenosa for utilizada, deve ser realizado um monitoramento cardíaco.
CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e de Tecidos 425

manas antes da chegada à área endêmica, e essa profilaxia deve A transmissão transplacentária de uma mãe infectada
continuar por seis semanas após a partida. Essa terapia deve ser para o feto também ocorre. A transmissão de pessoa para pessoa,
sucedida por duas semanas de administração de primaquina, com exceção da transmissão transplacentária, não ocorre. Após
caso a exposição tenha sido alta. A primaquina matará os hipno- a infecção do epitélio intestinal, os organismos espalham-se para
zoítos de P. vivax e P. ovale. outros órgãos, sobretudo para o encéfalo, os pulmões, o fígado
Outras medidas preventivas incluem o uso de redes do tipo e os olhos. A progressão da infecção é, em geral, limitada pelo
"mosquiteiro': telas nas janelas, roupas protetoras e repelentes de sistema imune competente. A imunidade celular exerce o prin-
insetos. Os mosquitos alimentam -se do fim do dia ao amanhecer; cipal papel, mas os anticorpos circulantes aumentam a chance
assim, a proteção é particularmente importante durante a noite. de eliminação do organismo. A maioria das infecções iniciais é
Medidas preventivas comuns são direcionadas à redução da po- assintomática. Quando contidos, os organismos persistem como
pulação de mosquitos. Muitos aerossóis inseticidas, como o DDT, cistos no interior dos tecidos. Não há inflamação e o indivíduo
não são duradouros, pois os mosquitos desenvolveram resistên- permanece bem, a menos que uma imunossupressão permita a
cia. A drenagem de água parada em pântanos e valas reduz as ativação dos organismos no interior dos cistos.
áreas de reprodução. Não há vacina. A infecção congênita do feto ocorre somente quando a mãe
é infectada na gravidez. Se ela for infectada antes da gravidez, o
organismo estará na forma de cisto e não haverá nenhum tro-
TOXOPLASMA fozoíto para passar por meio da placenta. A mãe que é reinfec-
tada durante a gravidez, mas que tem imunidade devida a uma
Doença infecção prévia, não irá transmitir o organismo para seu filho.
Toxoplasma gondii causa a toxoplasmose, incluindo a toxoplas- Cerca de um terço das mães infectadas durante a gravidez dá à
mose congênita. luz a crianças infectadas, mas somente 10% dessas crianças são
sintomáticas.
Características importantes A infecção por T. gondii ocorre mundialmente. Pesquisas
sorológicas revelam que nos Estados Unidos anticorpos são en-
O ciclo de vida de T. gondii é apresentado na Figura 52-5. O
contrados em 5 a 50% das pessoas em várias regiões. A infecção é
hospedeiro definitivo é o gato doméstico e outros felinos; seres
geralmente esporádica, mas surtos associados à ingestão de car-
humanos e outros mamíferos são hospedeiros intermediários.
ne crua ou água contaminada ocorrem. Aproximadamente 1%
A infecção dos seres humanos inicia com a ingestão de cistos
dos gatos domésticos nos Estados Unidos dissemina cistos de
presentes na carne malcozida ou pelo contato acidental com eis-
Toxoplasma.
tos presentes em fezes de gatos. No intestino delgado, a ruptu-
ra dos cistos libera formas que invadem a parede do intestino,
onde eles são ingeridos pelos macrófagos e diferenciam-se em
Achados clínicos
trofozoítos com multiplicação rápida (taquizoítos), os quais A maioria das infecções primárias em adultos imunocompe-
matam as células e infectam outras células (Figuras 52-2G e 52- tentes é assintomática, mas algumas se assemelham à mono-
6). A imunidade celular geralmente limita a dispersão dos ta- nucleose infecciosa, com a exceção de que o teste do anticorpo
quizoítos, e os parasitas entram nas células dos hospedeiros no heterófilo é negativo. A infecção congênita pode resultar em
encéfalo, no músculo e em outros tecidos, onde eles se desenvol- aborto, natimorto ou doença neonatal com encefalite, corior-
vem em cistos em que o parasita multiplica-se lentamente. Essas retinite e hepatosplenomegalia. Febre, icterícia e calcificações
formas são chamadas de bradizoítos. Esses cistos teciduais são intracraniais também são observadas. A maioria dos recém-
uma característica importante para o diagnóstico e uma fonte -nascidos infectados é assintomática, mas coriorretinite ou de-
de organismos quando o cisto do tecido se rompe em um pa- ficiência intelectual se desenvolverá em algumas crianças após
ciente imunocomprometido. meses ou anos. A infecção congênita por Toxoplasma é uma das
O ciclo no interior do gato inicia com a ingestão dos cistos principais causas de cegueira em crianças. Em pacientes que
na carne crua (p. ex., ratos). Os bradizoítos são liberados dos eis- apresentam uma imunidade celular reduzida (p. ex., pacientes
tos no intestino delgado, infectam as células mucosas e diferen- com síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]), ocorre
ciam-se em gametócitos masculinos e femininos, cujos gametas doença disseminada que representa risco à vida, principalmente
se fundem para formar os oocistos que são excretados nas fezes encefalite.
do gato. O ciclo é completado quando o solo contaminado com
fezes de gato é acidentalmente ingerido. A infecção humana ge- Diagnóstico laboratorial
ralmente ocorre por meio da alimentação de carne malcozida
Para o diagnóstico das infecções agudas congênitas, um ensaio
(p. ex., cordeiro e porco) de animais que pastaram em solo conta-
de imunofluorescência para anticorpos IgM é realizado. A IgM
minado com fezes de gatos.
é utilizada para diagnosticar a infecção congênita, pois IgG pode
ter uma origem materna. Testes de anticorpo IgG podem ser
Patogênese e epidemiologia utilizados para o diagnóstico de infecções agudas se um aumen-
T. gondii é geralmente contraído pela ingestão de cistos em carne to significativo do título de anticorpos for observado no soro
malcozida ou em fezes de gatos. pareado.
426 PARTE VI Parasitologia

Toxoplasmose
(Toxoplasma gondii)

O oocistos
fecais
D Cistos
teci duais

Oocistos e cistos teciduais transformam-se


em taquizoítos rapidamente após a ingestão.
Os taquizoítos localizam-se nos tecidos
nervoso e muscular e desenvolvem-se
em cistos teciduais do tipo bradizoítos.
Se uma mulher grávida for infectada,
os taquizoítos podem infectar o feto
via corrente sanguínea.

LEGENDA

D
m
Estágio infectante

m Estágio de diagnóstico
Soro,
LCS

m Estágio de diagnóstico

1. Diagnóstico sorológico
ou
2. Identificação direta do parasita do sangue periférico,
líquido amniótico ou cortes dos tecidos

FIGURA 52-5 Toxop/asma gondii. Ciclo de vida. As setas vermelhas na parte superior mostram o ciclo de vida natural da circulação de T. gondii
entre os gatos (#1 ), os quais excretam oocistos nas fezes que são comidas pelo rato, mas também por animais domésticos, como porcos e ove-
lhas. Os cistos formam-se em tecidos, como músculo e encéfalo. O ciclo natural é completado quando gatos comem ratos. Os seres humanos são
hospedeiros acidentais. Eles podem ser infectados pela ingestão de carne de porco ou cordeiro malcozida (seta azul #2) contendo cistos teciduais
no músculo ou pela ingestão de alimentos contaminados por fezes de gatos contendo oocistos (seta azul #3). (Fonte: Centers for Disease Control and
Prevention/Dr. Alexander J. da Silva e Melanie Moser.)

O exame microscópico de preparações com corante de Tratamento


Giemsa mostra trofozoítos em forma de quarto-crescente duran-
A toxoplasmose congênita, sintomática ou assintomática, deve
te as infecções agudas. Os cistos podem ser observados no tecido.
ser tratada com a combinação de sulfadiazina e pirimetamina.
O organismo pode ser cultivado em cultura de célula. A inocula-
Esses fármacos também representam o tratamento de escolha
ção em camundongos pode confirmar o diagnóstico.
para a doença disseminada em pacientes imunocomprometidos.
CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e de Tecidos 427

FIGURA 52-6 Toxop/asma gondii - taquizoítos. A seta aponta para FIGURA 52-7 Pneumocystisjiroveci- a seta aponta para um cisto de
um taquizoíto de T. gondii presente no músculo cardíaco. (Figura cor- P.jiroveci presente no tecido pulmonar. (Figura cortesia do Dr. Edwin Ewing,
tesia do Dr. Edwin Ewing, Jr., Public Health lmage Library, Centers for Disease Jr., Public Health lmage Library, Centers for Disease Control and Prevention.)
Control and Prevention.)

de protozoários (Figuras 52-2H e 52-7). As descobertas de que


A toxoplasmose aguda em um indivíduo imunocompetente é ge- ele não cresce em meios de cultura para fungos e de que fárma-
ralmente autolimitada, mas qualquer paciente com coriorretinite cos antifúngicos não são efetivos têm atrasado a aceitação de sua
deve ser tratado. classificação como fungo.
As espécies de Pneumocystis são encontradas em animais
Prevenção domésticos, como cavalos e ovelhas, e em uma variedade de roe-
A forma mais efetiva de prevenir a toxoplasmose é cozinhar bem dores, mas esses animais não são considerados reservatórios para
as carnes para matar os cistos. Mulheres grávidas devem apresen- infecções humanas. Cada espécie de mamífero possui sua própria
tar um cuidado especial em evitar o consumo de carne malcozida espécie de Pneumocystis.
e o contato com fezes de gatos. Elas devem evitar o manuseio das As espécies de Pneumocystis possuem uma glicoproteína
caixas de areia dos gatos, e estes últimos não devem ser alimen- principal de superfície que exibe uma variação antigénica sig-
tados com carne crua. O fármaco trimetoprima-sulfametoxazol é nificativa, de maneira similar ao que ocorre com Trypanosoma
utilizado na prevenção da encefalite por Toxoplasma em pacien- brucei. As espécies de Pneumocystis têm múltiplos genes codi-
tes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). ficadores dessas proteínas de superfície, mas somente um é ex-
presso em um determinado momento. Esse processo de rearranjo
programado foi primeiramente observado em T. brucei.
PNEUMOCYSTIS
Patogênese e epidemiologia
Doenca
A transmissão ocorre por inalação, e a infecção é predominante
Pneumocystis jiroveci é uma importante causa de pneumonia em nos pulmões. A presença de cistos nos alvéolos induz uma res-
indivíduos imunocomprometidos. Em 2002, taxonomistas reno- posta inflamatória consistindo principalmente em células plas-
mearam as espécies de Pneumocystis que acometem seres huma- máticas, resultando em um exsudato espumoso que bloqueia a
nos como P. jiroveci, e recomendaram que P. carinii seja utilizado troca de oxigênio. (A presença de células plasmáticas dá nome à
somente para descrever as espécies de Pneumocystis que acome- "pneumonia de células plasmáticas,:) O organismo não invade o
tem ratos. tecido pulmonar.
A pneumonia ocorre quando as defesas do hospedeiro
Características importantes (p. ex., o número de células T [auxiliares] CD4-positivas) são
A classificação e o ciclo de vida do Pneumocystis não são claros. reduzidas. Isso explica a proeminência de Pneumocystis em pa-
Muitos aspectos da sua bioquímica indicam que o organismo é cientes com Aids e em crianças prematuras ou debilitadas. Sur-
uma levedura, mas ele também possui várias características de tos hospitalares não ocorrem, e pacientes com pneumonia por
um protozoário. Uma análise de sequências do rRNA, publicada Pneumocystis não são isolados.
em 1988, indica que Pneumocystis deve ser classificado como um P. jiroveci tem distribuição mundial. Estima-se que 70% das
fungo relacionado a leveduras, como Saccharomyces cerevisiae. pessoas tenham sido infectadas. A maioria das crianças com mais
Uma análise subsequente do DNA mitocondrial e de várias enzi- de 5 anos de idade nos Estados Unidos possui anticorpos para
mas suporta a ideia de que Pneumocystis é um fungo. No entanto, esse organismo. As infecções assintomáticas são muito comuns.
ele não apresenta ergosterol em suas membranas, como os fun - Antes do advento da terapia imunossupressora, a pneumonia por
gos. Ele apresenta colesterol. Pneumocystis foi raramente observada nos Estados Unidos. Sua
Clinicamente, o organismo é tratado como um protozoário. incidência tem relação com o aumento da imunossupressão e
No tecido, ele aparece como um cisto que se assemelha a cistos com o número de casos de Aids.
428 PARTE VI Parasitologia

A maioria das infecções de Pneumocystis em pacientes com Características importantes


Aids é recente quando comparada a uma reativação de infec-
O ciclo de vida do T. cruzi é apresentado na Figura 52-8. O ciclo
ções latentes. Essa conclusão é baseada na descoberta de que
de vida envolve o inseto reduviídeo ( Triatoma, barbeiro ou chu-
Pneumocystis obtidos de pacientes com Aids apresentam resis-
pão) como vetor, e animais e seres humanos como hospedeiros
tência a fármacos que o paciente não utilizou.
reservatórios. Os reservatórios animais incluem gatos e cachorros
domésticos e espécies selvagens, como tatu, guaxinim e ratos. O ci-
Achados clínicos clo de vida no barbeiro inicia com a ingestão de tripomastigotas
O aparecimento repentino de febre, tosse, dispneia e taquipneia no sangue do hospedeiro reservatório. No intestino do inseto, eles
é característico de pneumonia por Pneumocystis. Crepitações bi- multiplicam-se e diferenciam-se em epimastigotas e, então, em tri-
laterais e roncos são ouvidos, e uma radiografia do tórax mostra pomastigotas. Quando o inseto pica novamente, o local é contami-
uma pneumonia intersticial difusa com infiltrados bilaterais do nado com fezes contendo tripomastigotas, que penetram no san-
tipo "vidro fosco': Em crianças, a doença geralmente apresenta gue da pessoa (ou outros reservatórios) e formam amastigotas não
um desenvolvimento mais gradual. Infecções extrapulmonares flagelados no interior da célula hospedeira. Muitas células podem
de Pneumocystis ocorrem em estágios tardios de Aids e afetam ser afetadas, mas células do miocárdio, da glia e reticuloendoteliais
principalmente o fígado, o baço, os linfonodos e a medula óssea. são os locais mais frequentes. Para completar o ciclo, amastigotas
A taxa de mortalidade de pneumonia por Pneumocystis sem tra- diferenciam-se em tripomastigotas, os quais penetram no sangue e
tamento aproxima-se de 100%. são adquiridos pelo barbeiro (Figuras 52-9A a C, e 52-10).

Diagnóstico laboratorial Patogênese e epidemiologia


O diagnóstico é realizado pela descoberta de cistos típicos por meio A doença de Chagas ocorre principalmente nas regiões rurais das
do exame microscópico de tecido pulmonar ou fluidos obtidos por Américas Central e do Sul. A doença de Chagas aguda raramente
broncoscopia, lavagem bronquial ou biópsia pulmonar (Figura 52- ocorre nos Estados Unidos, mas a forma crônica, que causa mio-
7). A expectoração geralmente é menos apropriada. Os cistos po- cardite e insuficiência cardíaca congestiva, é observada com pro-
dem ser visualizados com metenamina de prata, Giemsa ou outros gressiva frequência em imigrantes da América Latina. A doença é
corantes de tecidos. A coloração por anticorpos fluorescentes tam - observada principalmente em regiões rurais, onde o barbeiro vive
bém é comumente utilizada para o diagnóstico. Testes baseados em nas paredes de casebres rurais e alimenta-se à noite. O barbeiro pica
PCR que utilizam amostras do trato respiratório também são úteis. preferencialmente ao redor da boca ou dos olhos, por isso a deno-
O organismo não se cora bem com a coloração de Gram. Não há minação em inglês para o inseto é equivalente a "besouro-beijador':
testes sorológicos e o organismo não cresce em cultura. Os amastigotas podem matar as células e causar inflamação,
consistindo principalmente em células mononucleares. O mús-
culo cardíaco é o tecido afetado com mais frequência e gravida-
Tratamento
de. Além disso, o dano neuronal leva à arritmia cardíaca e à perda
O tratamento de escolha é uma combinação do trimetoprima- do tônus no colo (megacolo) e esôfago (megaesôfago). Durante
-sulfametoxazol. A pentamidina e a atovaquona são fármacos a fase aguda, ocorrem tripomastigotas no sangue e amastigotas
alternativos. intracelulares nos tecidos. Na fase crônica, o organismo persiste
na forma amastigota.
Prevencão Nos Estados Unidos, a doença de Chagas ocorreu em re-
ceptores de transfusões de sangue ou de transplantes de órgãos
A trimetoprima-sulfametoxazol ou a pentamidina aerossolizada
oriundos de doadores infectados. O organismo também pode
devem ser utilizadas como quimioprofilaxia em pacientes que
ser transmitido congenitamente da mãe infectada para o feto por
têm contagem de CD4 abaixo de 200.
meio da placenta.

TRYPANOSOMA Achados clínicos


A fase aguda da doença de Chagas consiste em edema facial e nó-
O gênero Trypanosoma inclui três patógenos principais:
dulo (chagoma) próximo ao local da picada, acompanhados por
Trypanosoma cruzi, Trypanosoma gambiense e Trypanosoma
2 febre, linfadenopatia e hepatosplenomegalia. A picada ao redor
rhodesiense.
do olho pode resultar em um inchaço da pálpebra, denominado
sinal de Romana. A fase aguda regride em aproximadamente dois
1. Trypanosoma cruzi meses. A maioria dos indivíduos permanece assintomática, con-
Doença tudo, alguns progridem para a forma crônica, com miocardite e
megacolo. A morte por doença de Chagas crônica muitas vezes é
T. cruzi é o agente causador da doença de Chagas (tripanossomí- decorrente de arritmia e insuficiência cardíaca congestiva.
ase americana).

2
Diagnóstico laboratorial
Taxonomicamente, os dois últimos organismos são espécies morfo-
logicamente idênticas, denominadas T. brucei gambiense e T. brucei A doença aguda é diagnosticada demonstrando-se a presen-
rhodesiense, mas neste livro são utilizados os nomes abreviados. ça de tripomastigotas em esfregaços espessos ou delgados do
CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e de Tecidos 429

Doença de Chagas
(Tripanossomíase americana}
(Trypanosoma cruzi}

O inseto triatomíneo suga sangue

O
(transmite tripomastigota metacíclico nas fezes,
tripomastigotas entram pela ferida da picada 8 Tripomastigotas metacíclicos penetram
ou por membranas mucosas, como a conjuntiva) em diversas células presentes no local
da ferida da picada. No interior das células
D i
1
eles se transformam em amastigotas

''l
1
Tripomastigotas '11
metacíclicos no
1---------' \ Estágios em
intestino grosso ..
o ' ' . ...
.. ,.
' ... ... ...
•1
1
seres humanos

...
' ' ..
... ...
Estágios do
inseto triatomíneo

Os tripomastigotas
A Os amastigotas
, ~ multiplicam-se
, podem infectar outras
, ,, células e se transformarem
por fissão binária
no interior das
o , em amastigotas intracelulares
I

, I células dos tecidos


,, em novos locais de infecção.
infectados
,, Manifestações clínicas
,,
t
podem resultar desse
, I ciclo infeccioso
,,
,,
, ;

'

0 suga
O inseto triatomíneo
sangue (ingestão
Amastigotas intracelulares
transformam-se em tripomastigotas
LEGENDA e, então, rompem a célula e entram
de tripomastigotas)
na corrente sanguínea
D Estágio infectante
l!J Estágio de diagnóstico
FIGURA 52-8 Trypanosoma cruzi. Ciclo de vida. O lado direito da figura descreve os estágios no interior de seres humanos (setas roxas). Os seres
humanos são infectados na etapa 1, quando o triatomíneo (barbeiro) pica o ser humano e defeca próximo à picada. Tripomastigotas nas fezes en-
tram na ferida da picada. Os amastigotas formam-se no interior das células, especialmente no músculo cardíaco e no tecido neuronal. O barbeiro
é infectado na etapa 5, quando ingere tripomastigotas no sangue humano. O lado esquerdo da figura descreve os estágios no interior do barbeiro
(setas vermelhas). (Fonte: Centers for Disease Control and Prevention/Dr. Alexander J. da Silva e Melanie Moser.)

sangue do paciente. Preparações coradas e a fresco devem ser mento também são disponíveis. O diagnóstico da doença crônica
examinadas, sendo as últimas realizadas para detecção de or- é difícil, já que há poucos tripomastigotas no sangue. Xenodiag-
ganismos móveis. Uma vez que os tripomastigotas não são nu- nóstico e testes sorológicos são utilizados.
merosos no sangue, outros métodos de diagnósticos podem ser
necessários, como ( 1) uma preparação corada de um aspirado Tratamento
de medula óssea ou biópsia muscular (que pode revelar amasti-
O fármaco de escolha para a fase aguda é o nifurtimox, que mata
gotas), (2) cultura do organismo em meio especial, e (3) xeno-
tripomastigotas no sangue, embora seja menos eficaz contra
diagnóstico, que consiste na utilização de um barbeiro criado
amastigotas nos tecidos. O benzonidazol é um fármaco alternati-
em laboratório, não infectado, que se alimenta do sangue do pa-
vo. Não há fármaco efetivo para a forma crônica.
ciente. Após algumas semanas, examina-se o intestino do inseto
para detectar o organismo.
Os testes sorológicos também podem ser úteis. O teste de Prevenção
fluorescência indireta com anticorpos é o primeiro a tornar-se A prevenção envolve proteção contra a picada do barbeiro, me-
positivo. Testes de hemaglutinação indireta e fixação de comple- lhoria nas condições de moradia e controle dos insetos. Não há
430 PARTE VI Parasitologia

A B D E

FIGURA 52-9 A: Tripomastigota de Trypanosoma cruzi encontrado no sangue humano (1.200X). B: Amastigotas de T. cruzi encontrados no
músculo cardíaco (8S0X). C: Epimastigota de T. cruzi encontrado no inseto reduviídeo (1.200X). D: Tripomastigota de Trypanosoma brucei
gambiense ou rhodesiense encontrado no sangue humano (1.200X). E: Amastigotas de Leishmania donovani no interior de macrófagos esplênicos
(1.000X). (O círculo com linha pontilhada interna representa uma hemácia.)

fármaco profilático ou vacina. O sangue para transfusão é testado desiense possui reservatórios em animais domésticos (sobretudo o
para a presença de anticorpos para T. cruzi. Sangue contendo an- gado bovino) e animais selvagens (p. ex., antílopes).
ticorpos não deve ser utilizado. O ciclo de vida de três semanas na mosca tsé-tsé inicia pela
ingestão de tripomastigotas em um repasto sanguíneo a partir do
2. Trypanosoma gambiense e hospedeiro reservatório. Multiplicam -se no intestino do inseto e
Trypanosoma rhodesiense migram para as glândulas salivares, onde se transformam em epi-
mastigotas, multiplicam-se novamente e formam tripomastigotas
Doença metacíclicos, que são transmitidos pela picada da mosca tsé-tsé.
Esses organismos causam a doença do sono (tripanossomíase Os organismos na saliva são injetados na pele, onde penetram na
africana). São também conhecidos como Trypanosoma brucei corrente sanguínea, diferenciam-se na forma de tripomastigotas
gambiense e Trypanosoma brucei rhodesiense. sanguíneos e multiplicam-se, completando, assim, o ciclo (Fi-
guras 52-9D e 52-12). Observa-se que essas espécies raramente
são encontradas como amastigotas em tecidos, ao contrário de
Características importantes
T. cruzi e espécies de Leishmania, em que amastigotas são comu-
O ciclo de vida do Trypanosoma brucei é mostrado na mente observados.
Figura 52-11. A morfologia e o ciclo de vida das duas espécies são Esses tripanossomas exibem extraordinária variação anti-
similares. O vetor é a mosca tsé-tsé, Glossina, embora diferentes gênica de suas glicoproteínas de superfície, havendo centenas
espécies de mosca estejam envolvidas para cada organismo. Os se- de tipos antigênicos. Um tipo antigênico revestirá a superfície
res humanos são o reservatório de T. gambiense, enquanto T. rho- dos parasitas por aproximadamente 10 dias, seguido sequen-
cialmente por outros tipos na nova progênie. Essa variação
deve-se ao movimento sequencial dos genes da glicoproteína
para um local preferencial no cromossomo, onde apenas o gene
específico é transcrito em mRNA. Essas variações antigênicas
permitem ao organismo evadir continuamente a resposta imu-
ne do hospedeiro.

Patogênese e epidemiologia
Os tripomastigotas disseminam-se a partir da pele até a corrente
sanguínea, para os linfonodos e o encéfalo. A sonolência típica
(doença do sono) progride ao coma como resultado de uma en-
cefalite desmielinizante.
Na forma aguda, ocorre um pico de febre cíclica (aproxima-
damente a cada duas semanas) relacionado à variação antigênica.
À medida que ocorrem aglutinação mediada por anticorpos e lise
FIGURA 52-1 O Trypanosoma cruzi - amastigotas. A seta indica um dos tripomastigotas, a febre regride. Entretanto, alguns variantes
amastigota (forma não flagelada) no citoplasma. (Figura cortesia do antigênicos sobrevivem, multiplicam-se e causam um novo pico
Dr. A. J. Sulzer, Public Health lmage Library, Centers for Disease Control and febril. Esse ciclo se repete por um longo período. Os anticorpos
Prevention.) líticos são dirigidos contra a glicoproteína de superfície.
CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e de Tecidos 431

Doença do sono
(Tripanossomíase africana)
( Trypanosoma brucei gambiense)
( Trypanosoma brucei rhodesiense) A mosca tsé-tsé
O suga sangue (injeta
tripomastigotas
metacíclicos)
Os epimastigotas se multiplicam na
glândula salivar e transformam-se
em tripomastigotas metacíclicos ~ Tripomastigotas
1
1 ~ metacíclicos injetados
O ,. . __ D 1
'
'1
U transformam-se em
tripomastigotas na
'
1
1
corrente sanguínea,
1 que são carreados
-
... ... - - - - - -
1
1
. para outros locais
...
''
'1
' ' ...
.. "'
'
' ' ' ...
... Estágios em
Estágios na '
seres humanos
mosca tsé-tsé

, ,
Tripomastigotas pró-cíclicos , ,, Tripomastigotas multiplicam-se
deixam o intestino médio e ,, por fissão binária em vários
,,
;
transformam-se em epimastigotas fluidos corporais (p. ex., sangue,
, ,
linfa e líquido espinal)
,, 1

,, ,,
1

,,
, ; ,r
,, '
1
,; ,
1

0
Os tripomastigotas na corrente
sanguínea transformam-se em
om
Tripomastigotas no sangue
tripomastigotas pró-cíclicos no A A mosca tsé-tsé
intestino médio das moscas tsé-tsé. ~ suga sangue
Os tripomastigotas pró-cíclicos .___ __. (tripomastigotas na LEGENDA
multiplicam-se por fissão binária corrente sanguínea
D Estágio infectante
são ingeridos)
m Estágio de diagnóstico

FIGURA 52-11 Trypanosoma brucei. Ciclo de vida. O lado direito da figura descreve os estágios no interior de seres humanos (setas roxas). Seres
humanos são infectados na etapa 1, quando a mosca tsé-tsé pica uma pessoa e injeta tripomastigotas em sua corrente sanguínea. A mosca tsé-
-tsé é infectada na etapa 5, quando esta ingere tripomastigotas presentes no sangue humano. O lado esquerdo da figura descreve os estágios no
interior da mosca tsé-tsé (setas vermelhas). (Fonte: Centers for Disease Control and Prevention/Dr. Alexander J. da Silva e Melanie Moser.)

A doença é endêmica na África Subsaariana, o hábitat natu- A lesão inicial consiste em uma úlcera cutânea endurecida
ral da mosca tsé-tsé. As moscas de ambos os sexos são hematófa- ("cancro tripanossomal,,) no local da picada da mosca. Após
gas e podem transmitir a doença. A mosca é infecciosa ao longo os organismos atingirem o sangue, ocorre febre semanal in-
do seu período de vida, de dois a três meses. T. gambiense é a termitente e linfadenopatia. O inchaço de linfonodos cervicais
espécie que causa doença ao longo dos cursos hídricos da África posteriores (sinal de Winterbottom) é geralmente observado. A
Ocidental, ao passo que T. rhodesiense é encontrado nas regiões encefalite é inicialmente caracterizada por dor de cabeça, insô-
áridas da África Oriental. Ambas as espécies são encontradas na nia e alterações de humor, seguidas por tremores musculares,
África Central. fala arrastada e apatia, progredindo para sonolência e coma.
A doença não tratada é geralmente fatal, sendo resultante de
Achados clínicos pneumonia.

Embora ambas as espécies causem a doença do sono, a progressão


da doença difere. A doença induzida por T. gambiense segue um
Diagnóstico laboratorial
curso crônico de baixo grau por alguns anos, ao passo que T. rhode- Durante os estágios iniciais, o exame microscópico do sangue
siense causa doença mais aguda e de progressão rápida que, quando (preparações a fresco ou esfregaços espessos ou delgados) re-
não tratada, é geralmente fatal no período de alguns meses. vela tripomastigotas (Figura 52-12). Um aspirado do cancro
432 PARTE VI Parasitologia

Características importantes
O ciclo de vida de L. donovani é apresentado na Figura 52-13.
3
O ciclo de vida envolve o mosquito-pólvora como vetor e uma
variedade de mamíferos, como cães, raposas e roedores, como
reservatórios.
Apenas as moscas fêmeas atuam como vetores, uma vez que
somente as fêmeas são hematófagas (um requisito para a matura-
ção dos ovos). Quando o mosquito-pólvora suga o sangue de um
hospedeiro infectado, ingere macrófagos contendo amastigotas
(Figuras 52-9E e 52-14).4
Após a dissolução dos macrófagos, os amastigotas liberados
diferenciam-se em promastigotas no intestino. Eles se multipli-
cam e, então, migram para a faringe e probóscide, onde podem
ser transmitidos na próxima picada. O ciclo no mosquito-pólvo-
ra demanda aproximadamente 1Odias.
Pouco tempo depois de um mosquito-pólvora infectado
FIGURA 52-12 Trypanosoma brucei - tripomastigotas. A seta indica
um tripomastigota (forma não flagelada) no sangue. (Figura cortesia
picar um ser humano, os promastigotas são capturados por
do Dr. M. Melvin, Public Health lmage Library, Centers for Disease Control and macrófagos, onde se transformam em amastigotas (Figura
Prevention.) 52-9E). Os amastigotas podem permanecer no citoplasma de
macrófagos, pois eles podem evitar a fusão de vacúolos com
lisossomos.
As células infectadas morrem e liberam a progênie de amas-
ou de linfonodos aumentados pode também demonstrar os tigotas, os quais infectam outros macrófagos e células reticuloen-
parasitas. A presença de tripomanossomas no líquido espinal, doteliais. O ciclo é completado quando o mosquito ingere macró-
associada a uma alta concentração de proteínas e pleocitose, fagos contendo amastigotas.
indica que o paciente atingiu o estágio tardio e encefalítico.
Testes sorológicos, principalmente ELISA para anticorpos Patogênese e epidemiologia
IgM, podem ser úteis. Na leishmaniose visceral, os órgãos do sistema reticuloendo-
telial (fígado, baço e medula óssea) são os mais gravemente
Tratamento afetados. A redução da atividade da medula óssea, associada
à destruição celular no baço, resulta em anemia, leucopenia e
O tratamento deve ser iniciado antes do desenvolvimento da
encefalite, uma vez que a suramina, o fármaco mais efetivo, não trombocitopenia. Isso leva a infecções secundárias e à tendên-
cia ao sangramento. O acentuado aumento do baço deve-se a
cruza de forma adequada a barreira hematencefálica. A suramina
uma combinação de macrófagos em proliferação e leucócitos
promove a cura quando administrada precocemente. A penta-
sequestrados. O aumento acentuado de IgG não é específico ou
midina é um fármaco alternativo. Havendo sintomas do sistema
nervoso central, suramina (para eliminar a parasitemia) seguida protetor.
O calazar ocorre em três padrões epidemiológicos distin-
de melarsoprol devem ser administrados.
tos. Em uma área que inclui a bacia do Mediterrâneo, o Oriente
Médio, o sul da Rússia e algumas regiões da China, os hospe-
Prevenção deiros reservatórios são principalmente cães e raposas. Na África
A medida preventiva mais importante é a proteção contra a pica- Subsaariana, ratos e pequenos carnívoros (p. ex., gatos-almis-
da da mosca com uso de mosquiteiros e vestimentas protetoras. carados) são os principais reservatórios. Um terceiro padrão é
O desmatamento de áreas ao redor de vilas e o uso de inseticidas observado na Índia e nos países vizinhos (e no Quênia), onde,
são medidas úteis. Não há vacina disponível. aparentemente, os seres humanos são os únicos reservatórios.

Achados clínicos
LEISHMANIA
Os sintomas iniciam com febre intermitente, fraqueza e ema-
O gênero Leishmania inclui quatro patógenos importantes: grecimento. Um aumento maciço do baço é característico. A hi-
Leishmania donovani, Leishmania tropica, Leishmania mexicana perpigmentação cutânea é observada em pacientes de pele clara
e Leishmania braziliensis. (calazar significa febre negra). O curso da doença perdura de

1. Leishmania donovani 3
Espécies de Phlebotomus no Velho Mundo; espécies de Lutzomyia na
América do Sul.
Doença 4
Amastigotas não são flagelados, ao contrário dos promastigotas, que
L. donovani é a causa do calazar (leishmaniose visceral). apresentam flagelo com um característico cinetoplasto anterior.
CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e de Tecidos 433

Leishmaniose
(espécies de Leishmania) O O mosquito-pólvora
suga sangue (injeta
promastigotas na pele) 8 Promastigotas
são fagocitados
Divisão no intestino médio 1 pelos macrófagos
A e migração para a '1 1

' - ' probóscide do inseto 1


1
1
1
1

' 1
1
1
1
1
1
1

'1
1

8 Promastigotas
transformam-se em
amastigotas no interior
dos macrófagos
Estágios no Estágios em
mosquito-pólvora
,,
, seres humanos m
O Amastigotas transformam-se
em promastigotas no
,,
., ;

., ;

intestino médio ,, ,
, ,, 'I

, ,,
;

,,
,
,I
., .,
;

., 1

, .,
1
I
, ., 1

o
Amastigotas multiplicam-se
nas células (incluindo
0 Ingestão de macrófagos) de vários tecidos

LEGENDA
células parasitadas

A O mosquito-pólvora suga
m
D Estágio infectante ç, sangue (ingere macrófagos
infectados com amastigotas)
(!J Estágio de diagnóstico
FIGURA 52-13 Leishmania donovani. Ciclo de vida. O lado direito da figura descreve os estágios no interior de seres humanos (setas roxas). Os
seres humanos são infectados na etapa 1 por meio da picada do mosquito-pólvora, que injeta os promastigotas. O mosquito-pólvora é infectado
na etapa 5, quando ingere macrófagos contendo amastigotas do sangue humano. O lado esquerdo da figura descreve os estágios no interior do
mosquito-pólvora (setas vermelhas). (Fonte: Centers for Disease Control and Prevention/Dr. Alexander J. da Silva e Blaine Mathison.)

meses a anos. No início, o paciente sente-se razoavelmente bem,


apesar da febre persistente. À medida que a anemia, a leucope-
nia e a trombocitopenia se tornam mais acentuadas, ocorrem
fraqueza, infecção e sangramento gastrintestinal. A doença gra-
ve não tratada é quase sempre fatal, como resultado de infecção
secundária.

Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico é, em geral, realizado pela detecção de amastigotas
em uma biópsia de medula óssea, baço ou linfonodo ou por uma
preparação por "toque" (Figura 52-14). Os organismos também
podem ser cultivados. Testes sorológicos (imunofluorescência in-
direta) são positivos na maioria dos pacientes. Embora não diag-
nóstica, uma concentração muito elevada de IgG é indicativa de
FIGURA 52-14 Leishmania donovani- amastigotas. A seta indica um
infecção. Um teste cutâneo utilizando um homogeneizado bruto
amastigota (forma não flagelada) no citoplasma da célula da medula de promastigotas (leishmanina) como antígeno está disponível.
óssea. (Figura cortesia do Dr. Francis Chandler, Public Health lmage Library, O teste cutâneo é negativo durante a doença ativa, mas positivo
Centers for Disease Control and Prevention.) em pacientes recorrentes.
434 PARTE VI Parasitologia

Tratamento A leishmaniose mucocutânea inicia com uma pápula no lo-


cal da picada, porém, em seguida, formam-se lesões metastáticas,
O fármaco de escolha pode ser tanto a anfotericina B lipossomal
geralmente na juncão mucocutânea do nariz e da boca. Lesões
quanto o estibogliconato de sódio. Com a utilização da terapia
ulcerativas, granulomatosas e desfigurantes destroem a cartila-
apropriada, a taxa de mortalidade é reduzida em quase 5%. A re-
gem nasal, mas não os ossos adjacentes. A cicatrização dessas
cuperação resulta em imunidade permanente.
lesões, quando ocorre, é lenta. A morte pode ocorrer por infecção
secundária.
Prevenção
A prevenção envolve proteção contra a picada dos mosquitos- Diagnóstico laboratorial
-pólvora (uso de redes, roupas protetoras e repelentes de insetos) O diagnóstico e, em geral, realizado por microscopia, pela de-
e aplicação de inseticidas. monstração da presença de amastigotas em um esfregaço obtido
a partir da lesão cutânea. O teste cutâneo de leishmanina torna-
2. Leishmania tropica, Leishmania mexicana -se positivo quando surge a úlcera cutânea, e pode ser utilizado
e Leishmania braziliensis no diagnóstico de casos externos à região de infecção endêmica.

Doença Tratamento
L. tropica e L. mexicana causam leishmaniose cutânea; o primei- O estibogluconato de sódio é o fármaco de escolha, porém, os
ro organismo é encontrado no Velho Mundo, ao passo que o úl- resultados são frequentemente insatisfatórios.
timo é encontrado somente nas Américas. L. braziliensis causa
leishmaniose mucocutânea, a qual ocorre somente nas Américas Prevenção
Central e do Sul.
A prevenção envolve proteção contra a picada do mosquito-
-pólvora mediante o uso de mosquiteiros, telas nas janelas, vesti-
Características importantes menta protetora e repelentes de insetos.
Os mosquitos-pólvora são os vetores desses três organismos,
assim como de L. donovani, e roedores silvestres são seus prin-
cipais reservatórios. O ciclo de vida desses parasitas é essencial- APLIQUE SEU CONHECIMENTO
mente o mesmo do de L. donovani. 1. Em relação às espécies de Plasmodium, qual das seguintes opções é
a mais correta?
Patogênese e epidemiologia (A) Esses organismos são transmitidos pela picada de mosquitos
As lesões são limitadas à pele na leishmaniose cutânea, e às mem- Anopheles fêmeas.
(B) A picada do vetor injeta merozoítos no interior da corrente
branas mucosas, às cartilagens e à pele na leishmaniose muco-
sanguínea que, então, infecta as hemácias.
cutânea. Ocorre uma resposta granulomatosa e forma-se uma (C) Tanto o gametófito masculino quanto o feminino são for-
úlcera necrótica no local da picada. As lesões tendem a tornar-se mados no vetor e são injetados no interior do indivíduo no
superinfectadas por bactérias. momento da picada.
A leishmaniose cutânea do Velho Mundo (úlcera orien- (D) Hipnozoítos são produzidos pelo Plasmodium falciparum e
tal, furúnculo de Délhi), causada por L. tropica, é endêmica no podem causar recidiva da malária após o final da fase aguda.
Oriente Médio, na África e na Índia. A leishmaniose cutânea do (E) A malária causada pelo Plasmodium vivax é caracterizada por
Novo Mundo (úlcera dos chicleros, úlcera da baía), causada por uma malária cerebral e febre da água negra mais frequentemen-
L. mexicana, é encontrada nas Américas Central e do Sul. A leish- te se comparada à malária causada pelas outras três espécies.
maniose mucocutânea (espúndia), causada por L. braziliensis, 2. Em relação aos fármacos para tratamento e prevenção de malária,
ocorre principalmente no Brasil e na América Central e é predo- qual das seguintes opções é a mais correta?
minante em trabalhadores florestais e de construção. (A) A combinação de atovaquona e proguanil é útil para o trata-
mento da malária aguda, mas não para prevenção.
(B) A cloroquina é o fármaco de escolha na malária causada pelo
Achados clínicos Plasmodium falciparum, uma vez que a resistência a esse fár-
A lesão inicial da leishmaniose cutânea consiste em uma pápula maco é rara.
vermelha no local da picada, geralmente em uma extremidade (C) A mefloquina é útil para a prevenção de Plasmodium
exposta. Essa pápula aumenta vagarosamente e forma múltiplos falciparum sensível à cloroquina, mas não para linhagens re-
sistentes à cloroquina.
nódulos-satélites que coalescem e ulceram. Em pacientes com sis-
(D) Os derivados de artemisinina, como artesunato e arteméter,
tema imune competente, geralmente ocorre uma única lesão que
são efetivos no tratamento de Plasmodium falciparum multir-
regride de forma espontânea. Entretanto, em certos indivíduos, resistente a fármacos.
quando a imunidade celular não se desenvolve, as lesões podem (E) A primaquina é útil no tratamento de infecções causadas por
disseminar-se e envolver grandes áreas da pele e conter grande Plasmodium falciparum, uma vez que ela mata os hipnozoítos
número de organismos. residentes no fígado.
CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e de Tecidos 435

3. Em relação à T. gondii, qual das seguintes opções é a mais correta? (A) L. donovani.
(A) Uma maneira de prevenir a infecção é aconselhar mulheres (B) P. falciparum.
grávidas a não beber leite não pasteurizado. ( C) T. gondii.
(B) A forma de Toxoplasma encontrada nos cistos de tecidos em (D) T. brucei.
seres humanos é o trofozoíto que se multiplica rapidamente. (E) T. cruzi.
(C) O hospedeiro definitivo mais importante (o hospedeiro no qual 8. Seu paciente é um homem de 25 anos com febre e perda de peso
o ciclo sexuado ocorre) para Toxoplasma é o gato doméstico. nas últimas três semanas. Ele é um soldado das Forças Armadas
(D) A infecção em pessoas com imunidade celular reduzida, como dos Estados Unidos que recentemente retornou de suas atividades
pacientes com Aids, é caracterizada pela persistência de diar- do Oriente Médio. Exames físicos não foram úteis. Testes labora-
reia aquosa (não sanguinolenta). toriais revelaram anemia e leucopenia. Várias culturas do sangue
(E) Se a paciente é uma mulher grávida que tem anticorpos IgM para bactérias e fungos foram negativas, como o teste para o antí-
para Toxoplasma no sangue, então você pode dizer a ela que é geno p24 do HIV. Uma tomografia computadorizada do abdome
improvável que o feto corra risco de infecção. revelou esplenomegalia. Uma biópsia da medula óssea foi rea-
4. Em relação a P. jiroveci, qual das seguintes opções é a mais correta? lizada, e uma amostra corada revelou amastigotas no interior de
células mononucleares. Das seguintes opções, qual é a causa mais
(A) O tratamento de escolha é uma combinação de penicilina G e
provável?
um aminoglicosídeo.
(B) A descoberta de cistos ovais na lavagem bronquial corrobora (A) L. donovani.
um diagnóstico de pneumonia por Pneumocystis. (B) P. falciparum.
(C) Animais domésticos de grande porte, como vacas e ovelhas, ( C) T. gondii.
são um importante reservatório de infecções humanas com (D) T. brucei.
esse organismo. (E) T. cruzi.
(D) Pacientes com contagem de CD4 abaixo de 200 devem receber 9. Seu paciente é um homem de 55 anos com febre e fadiga durante a
a vacina contendo a glicoproteína de superfície como imunó- última semana. Hoje, ele está tão fraco que "não consegue ficar em
geno. pé". Ele trabalhou em Camarões e Chade por dois meses e retornou
(E) A transmissão ocorre pela ingestão de alimento contaminado há duas semanas. Durante o exame, ele estava febril com 40ºC, hi-
com o organismo; após isso, ele entra na corrente sanguínea e potenso e com taquicardia. Um exame laboratorial pertinente reve-
é transportado para os pulmões. lou anemia e trombocitopenia. Um esfregaço do sangue revelou tro-
5. Em relação a T. cruzi, qual das seguintes opções é a mais correta? fozoítos em forma de foice no interior das hemácias. Das seguintes
opções, qual é a causa mais provável?
(A) Seres humanos são o principal reservatório de T. cruzi.
(B) O fármaco de escolha para a fase aguda da doença de Chagas é (A) L. donovani.
a cloroquina. (B) P. falciparum.
(C) O vetor para T. cruzi, a causa da doença de Chagas, é o bar- ( C) T. gondii.
beiro. (D) T. brucei.
(D) A observação de tripomastigotas em uma biópsia muscular (E) T. cruzi.
corrobora o diagnóstico da doença de Chagas. 10. Sua paciente é uma mulher de 35 anos que acaba de ter uma con-
(E) O principal local da doença causada pelo T. cruzi é o músculo vulsão. Uma TC apresentou uma lesão com "reforço em anel" no
esquelético, o que resulta em uma intensa dor muscular. cérebro da paciente. Descobriu-se que ela é usuária de droga intra-
6. Em relação à leishmaniose, qual das seguintes opções é a mais venosa e é HIV-positiva com uma contagem de CD4 de 30. Ensaios
correta? sorológicos confirmaram que a paciente está infectada com T. gon-
dii. Qual das seguintes opções é o melhor fármaco de escolha para o
(A) A mefloquina é efetiva na prevenção da doença causada por
tratamento da sua toxoplasmose cerebral?
L. donovani.
(B) Animais domésticos de grande porte, como o gado bovino, são (A) Arteméter.
os principais reservatórios de L. donovani. (B) Atovaquona.
(C) Ambas as leishmanioses, cutânea e visceral, são transmitidas (C) Mefloquina.
pela picada de mosquitos-pólvora. (D) Metronidazol.
(D) Um aumento acentuado do coração em uma radiografia do (E) Pirimetamina e sulfadiazina.
tórax é típico da leishmaniose visceral. 11. Em relação à paciente da Questão 1O, ela foi tratada e recuperada
(E) Um exame patológico de uma amostra para presença de L. do- sem sequelas. Uma terapia antirretroviral foi instituída. Enquanto
novani deve principalmente observar eosinófilos no sangue sua contagem de CD4 permanecer abaixo de 100, ela deve receber
periférico. quimioprofilaxia para prevenir a recorrência da doença causada por
7. Seu paciente é um homem de 20 anos que, jogando futebol, apresen- T. gondii. Qual das seguintes opções é o melhor fármaco quimiopro-
tou palpitações e tontura e, então, desmaiou. Um eletrocardiogra- filático?
ma apresentou um bloqueio do ramo direito. Um monitoramento (A) Artesunato.
com Holter mostrou eventos múltiplos de taquicardia do ventrículo. (B) Metronidazol.
Uma biópsia do miocárdio do ventrículo foi realizada. O exame mi- (C) Pentamidina.
croscópico mostrou um processo de inflamação linfocítica ao redor (D) Primaquina.
da área contendo amastigotas. O paciente nasceu e cresceu na região (E) Trimetoprima-sulfametoxazol.
rural de El Salvador e foi para os Estados Unidos há dois anos. Das
seguintes opções, qual é a causa mais provável?
436 PARTE VI Parasitologia

RESPOSTAS RESUMOS DOS ORGANISMOS


1. (A) Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam -
2. (D) -se na página 662. Favor consultar esses resumos para uma rápida
3. (C) revisão do material essencial.
4. (B)
5. (C)
6. (C)
7. (E) QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
8. (A)
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
9. (B)
contradas na seção de Parasitologia da Parte XIII: Questões para
10. (E)
Autoavaliação, a partir da página 710. Consulte também a Parte
11. (E)
XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CAPÍTULO

Protozoários Patógenos de
Menor Importância
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Acanthamoeba e Naegleria Microsporídeos


Babesia Aplique seu conhecimento
Balantidium Resumos dos organismos
Cyclospora Questões para autoavaliação
lsospora

Os estágios de importância médica no ciclo de vida de deter- sos tratados. A anfotericina B pode ser efetiva em infecções por
minados protozoários de menor importância são descritos na Naegleria. Pentamidina, cetoconazol ou flucitosina podem ser
Tabela 53-1. efetivos nas infecções por Acanthamoeba.
Acanthamoeba também causa ceratite - uma inflamação da
córnea que ocorre principalmente em indivíduos que fazem uso
ACANTHAMOEBA E NAEGLERIA de lentes de contato. Com o crescente uso de lentes de contato, a
ceratite tornou-se a doença mais comum associada à infecção por
Acanthamoeba castellanii e Naegleria fowleri são amebas de vida Acanthamoeba. As amebas têm sido retiradas de lentes de conta-
livre que causam meningoencefalite. Esses organismos são en-
to, estojos para lentes e soluções desinfetantes para lentes. Água
contrados em lagos de água continental e morna, bem como
de torneira contaminada com amebas é a fonte de infecção para
no solo. Seu ciclo de vida envolve estágios de trofozoíto e cisto.
usuários de lentes.
Os cistos são bastante resistentes e não são mortos por cloração.
Os trofozoítos de Naegleria, em geral, penetram no corpo
através das membranas mucosas enquanto um indivíduo está na-
BABES/A
dando. Eles podem penetrar na mucosa nasal e na placa cribri-
forme, causando meningite purulenta e encefalite, as quais, em Babesia microti causa babesiose - uma zoonose adquirida prin-
geral, são rapidamente fatais (Figura 53-1). Acanthamoeba pode cipalmente nas regiões costeiras e nas ilhas da costa nordeste
atingir a pele ou os olhos durante um traumatismo. Infecções por dos Estados Unidos (p. ex., Ilha Nantucket). Esse esporozoário é
Acanthamoeba ocorrem principalmente em indivíduos imuno- endêmico em roedores, sendo transmitido pela picada do carra-
comprometidos, ao passo que infecções por Naegleria ocorrem pato Ixodes dammini (renomeado como I. scapularis), a mesma
em indivíduos saudáveis, sobretudo crianças. Nos Estados Uni- espécie de carrapato que transmite Borrelia burgdorferi, o agen-
dos, essas infecções raras ocorrem principalmente nos Estados te da doença de Lyme. Babesia infecta hemácias, provocando
do Sul e na Califórnia. sua lise, porém, diferentemente dos plasmódios, não exibe fase
O diagnóstico é realizado pela observação de amebas no exoeritrocítica. Pacientes esplenectomizados são afetados com
líquido espinal. O prognóstico é desfavorável mesmo nos ca- maior gravidade.

TABELA 53-1 Estágios de importância médica no ciclo de vida de certos protozoários de menor importância

Estágio em que Estágio(s) mais associado(s) lmportante(s) estágio(s)


Organismo Inseto-vetor infecta seres humanos à doença em seres humanos fora de seres humanos

Acanthamoeba e Naegleria Nenhum Trofozoíto Trofozoítos nas meninges Cisto

Babesia Carrapato (lxodes) Esporozoíto na saliva Trofozoítos e merozoítos nas Nenhum


do carrapato hemácias
438 PARTE VI Parasitologia

BALANTIDIUM
Balantidium coli é o único protozoário ciliado que causa doença
em seres humanos (i. e., diarreia). É encontrado em escala mun-
dial, mas com pouca frequência nos Estados Unidos. Animais
domésticos, sobretudo porcos, são o principal reservatório do
organismo, sendo os seres humanos infectados após a ingestão
de cistos presentes nos alimentos ou na água contaminados por
fezes animais ou humanas. Os trofozoítos sofrem excistação no
intestino delgado, migram para o colo e causam uma úlcera simi-
lar à de Entamoeba histolytica, devido ao seu íntimo contato com
à parede intestinal. Todavia, diferentemente do quadro associado
ao E. histolytica, não ocorrem lesões extraintestinais.
A maioria dos indivíduos infectados é assintomática; rara-
mente ocorre diarreia. O diagnóstico é realizado pela observa-
FIGURA 53-1 Naegleria fowleri - trofozoíto. As setas indicam dois ção de grandes trofozoítos ciliados, ou grandes cistos com núcleo
trofozoítos em forma de ameba no tecido cerebral. (Figura cortesia de característico em forma de V nas fezes. Não há testes sorológicos.
Public Health lmage Library, Centers for Disease Control and Prevention.) Tetraciclina é o tratamento de escolha. A prevenção consiste em
evitar a contaminação de alimentos e da água por fezes de ani-
mais domésticos.
Sintomas similares à gripe manifestam-se gradualmente,
podendo perdurar por várias semanas. Ocorrem hepa-
tosplenomegalia e anemia. O diagnóstico é realizado pela
CYCLOSPORA
observação de parasitas intraeritrocíticos em forma de anel
em esfregaços de sangue corados por Giemsa. Os trofozoítos Cyclospora cayetanensis é um protozoário intestinal que causa
intraeritrocíticos em forma de anel são frequentemente encon- diarreia aquosa em indivíduos imunocompetentes e imunossu-
1
trados em tétrades, na forma de cruz de Malta (Figura 53-2). primidos. É classificado como um membro de Coccidia.
Diferentemente dos casos envolvendo plasmódios, não há pig- O organismo é adquirido por transmissão fecal-oral, prin-
mentos nas hemácias. O tratamento de escolha para a doença cipalmente a partir de sistema de abastecimento de água conta-
branda à moderada é uma combinação de atovaquona e azitro- minado. Um surto ocorrido nos Estados Unidos foi atribuído à
micina. Pacientes que apresentam doença grave devem rece- ingestão de framboesas contaminadas. Não há evidências de um
ber uma combinação de quinidina e clindamicina. A transfu- reservatório animal.
são de troca também deve ser considerada em pacientes com A diarreia pode ser recorrente e prolongada, especialmente
doença grave. A prevenção envolve a proteção contra picadas em pacientes imunocomprometidos. A infecção ocorre em nível
de carrapatos e, se o indivíduo for picado, remoção imediata mundial. O diagnóstico é realizado microscopicamente pela ob-
do carrapato. servação de oocistos esféricos em uma amostra de fezes subme-
tida a uma coloração acidorresistente modificada. Não há testes
sorológicos. O tratamento de escolha consiste em trimetoprima-
-sulfametoxazol.

ISOSPORA
Isospora belli é um protozoário intestinal que causa diarreia,
sobretudo em pacientes imunocomprometidos (p. ex., aqueles
com síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]). Seu ciclo
de vida é equivalente ao de outros membros de Coccidia. O orga-
nismo é adquirido por transmissão fecal-oral de oocistos a partir
de fontes humanas ou animais. Os oocistos sofrem excistação no
intestino delgado superior e invadem a mucosa, causando des-
truição da "borda em escovà:
J A doença em pacientes imunocomprometidos manifesta-se
na forma de diarreia aquosa, profusa e crônica. A patogênese da
diarreia é desconhecida. O diagnóstico é realizado pela observa-
FIGURA 53-2 Babesia microti - trofozoítos em tétrades. A seta indica ção de oocistos típicos em espécimes fecais. Testes sorológicos
uma hemácia contendo quatro trofozoítos em uma tétrade semelhan-
te à uma "cruz de Malta': (Figura cortesia do Dr. S. Brown, Public Health lma-
1
ge Library, Centers for Disease Control and Prevention.) Coccidia é urna subclasse da classe Sporozoa.
CAPÍTULO 53 Protozoários Patógenos de Menor Importância 439

não estão disponíveis. O tratamento de escolha consiste em tri- 3. Sua paciente é uma menina de 10 anos com febre e dor de cabeça
metoprima-sulfametoxazol. intensa durante os últimos dois dias. Uma história pertinente in-
clui natação em uma lagoa próxima ao seu lar na região rural da
Califórnia em agosto. No exame, foi observada rigidez na nuca e
uma punção lombar foi realizada. A contagem de leucócitos no lí-
MICROSPORÍDEOS quido espinal foi de 12.200 com 80% de neutrófilos. O exame mi-
Os microsporídeos compõem um grupo de protozoários carac- croscópico de amostra a fresco do líquido espinal revelou trofozoí-
terizados por replicação intracelular obrigatória e formação de tos móveis. Das seguintes opções, qual é a causa mais provável?
esporos. Conforme a denominação indica, os esporos são bas- (A) B. microti.
tante pequenos, cerca de 1 a 3 µm, aproximadamente o tamanho (B) Cryptosporidium parvum.
de Escherichia coli. Uma característica exclusiva desses esporos ( C) N. fowleri.
(D) Toxoplasma gondii.
consiste em um "tubo polar': que se enovela no interior do espo-
(E) Trypanosoma cruzi.
ro e se projeta para ligar-se às células humanas durante a infec-
ção. O protoplasma do esporo penetra, então, na célula humana 4. Seu paciente é um homem de 50 anos com febre e calafrios
que esteve de férias por duas semanas em uma ilha na costa de
através do tubo polar.
Massachusetts. O exame microscópico do esfregaço de sangue reve-
Enterocytozoon bieneusi e Encephalitozoon intestinalis são lou trofozoítos em forma de anel em tétrades no interior de hemá-
duas importantes espécies de microsporídeos, responsáveis por cias. Das seguintes opções, qual é a causa mais provável?
diarreia aquosa grave e persistente em pacientes com Aids. Os or-
(A) B. microti.
ganismos são transmitidos de pessoa a pessoa pela rota fecal-oral. (B) Cryptosporidium parvum.
Microsporídeos também estão implicados em infecções do siste- ( C) N. fowleri.
ma nervoso central, do trato urogenital e dos olhos. A existência (D) Toxoplasma gondii.
de um reservatório animal é incerta. O diagnóstico é realizado (E) Trypanosoma cruzi.
pela visualização de esporos em amostras de fezes ou biópsia in-
testinal. O tratamento de escolha é o albendazol.
RESPOSTAS
1. (A)
APLIQUE SEU CONHECIMENTO 2. (E)
1. Em relação a Acanthamoeba e espécies de Naegleria, qual das se- 3. (C)
guintes opções é a mais correta? 4. (A)
(A) Eles são amebas de vida livre que vivem em águas continentais
quentes.
(B) Naegleria é um agente causal bem-conhecido de otite média, RESUMOS DOS ORGANISMOS
principalmente em crianças.
(C) O fármaco de escolha para infecção causada por esses organis- Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
mos é a cloroquina. -se na página 664. Favor consultar esses resumos para uma rápida
(D) Seu principal sintoma clínico é pneumonia adquirida quando revisão do material essencial.
água é aspirada para o pulmão.
2. Em relação a B. microti, qual das seguintes opções é a mais correta?
(A) Ele infecta macrófagos, causando lise. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(B) A doxiciclina é o fármaco de escolha para babesiose.
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
(C) Ele é transmitido pela picada do mosquito Culex.
contradas na seção de Parasitologia da Parte XIII: Questões para
(D) A observação de esporozoítos no interior das hemácias corro-
bora o diagnóstico da babesiose.
Autoavaliação, a partir da página 710. Consulte também a Parte
(E) B. microti causa doença primária na região nordeste dos XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
Estados Unidos.
CAPÍTU L O

54 Cestódeos
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Cestódios de menor importancla


Taenlo Aplique seu conhecimento
Diphyllobothrium Resumos dos organismos
Echlnococcus Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO Características Importantes


Os plate)mintos (plati. chato; helminto, verme) di,•idem.se em O ciclo de vi.da da T. solium é apresentado na Figura 54- 1. A'J: so~
duas dasses: Cestoda (tênias) e Trematod~ (vermes parasitas). lium pode ser identificada por seu escólex. que possui quatro
Os trematódeos são descritos no Capftu1o 55. ventosas e um circulo de ganchos, e por suas proglótides grá-
As tênias são formadas por duas partes principais: uma ca. vidas. que possuem de cinco a 10 ramific.ações uterinas princi-
beça arredondada, denominada escólex, e um corpo p)an~ que pais (Figuras 54-2A. B e 54~3). Ao microscópio, os ovos exibem
consiste em mU1tip1os segmentos. Cada segmento é chamado de o mesmo aspecto que aqueles de T. sagi'naM e de espécies de
proglótlde. O escólex possui mecanismos especializ.ados para Echinococcu., (Figura 54-4A).
Hgar.se à parede intestinal, isto é. ventosas. ganchos ou sulcos de Na teníase, a tênia adulta localiza-se no intestino humano
sucção. O verme cresc.e ao adicionar novas prog}ótides a partir de (Figura 54-1). Isso ocorre quando seres humanos são infectados
seu centro genninativo. próximo ao escólex. As prog)ótides mais pela ingestão de carne de. porco crua ou malcozida contendo as
antigas da extremidade distal estão grávidas e produzem muitos larvas, denominadas clsticercos. (Um cistic.erco ê uma vesícula
ovos.. os quais são excretados nas fezes e transmitidos a diferentes do tamanho de uma erv ilha. preenchida por fiuido e com um
hospedeiros intermediários.. como gado bovino. porcos e peixes. escólex invaginado.) No intestino delgado. as larvas aderem-se
Os seres humanos geralmente adquirem a infecção pela à parede intestinal e crescem por c.erc.a de três meses.. originan-
ingestão de e.ame malcozida ou peixe.s contendo as larvas. Contu. do vennes adultos que medem até 5 m. As proglôtides terminais
do, em duas Unportante.s doenças humanas, cistic.ercose e hidati· grávidas, contendo diversos ovos, desprendem.se diariamente,
dose. os ovos são ingeridos e as larvas re.sultante.s causam a doença. são eliminadas nas fezes e acidentalmente ingeridas por porcos.
Existem quatro cestôdios de importância mêdica: Tê:lenia Observa-se que os porcos são infectados pelos ovos do verme.;
solium, 'Iaenia saginaM. Di'phyllobothrium /atum e Echfoococcus portanto. as larvas (cistic.ercos) são encontradas nos porcos.
gtanulosus. Suas c.aracteristicas são resumidas na Tabela 54· 1, Um embrião com seis ganchos (oncosfera) desenvolve.se a partir
ao passo que os estágios de importância médica do ciclo de vida de. cada ovo no intestino do porco. Os embriões penetram em
desses organismos são descritos na Tabela 54-2. Três c.estódios wn vaso sangu(neo e são transportados a músculos esqueléticos.
de menor importância, Echinoc.occm multilocularis. Hymenolepi·s Desenvolvem.se em cistic.ercos no músculo. onde pennanecem
nana e Dipylidium caninum. são descritos ao fim deste capitulo. até serem ingeridos por um ser humano. Os seres humanos são
os hospedeiros definitivos, ao passo que os porcos são os hospe·
deiros intermediários.
TAENIA Na cisticercose. ocorre uma sequência mais perigosa,
Existem dois importantes patôgenos humanos no gênero Taenia: quando um indivíduo ingere os ovos do verme em alimentos
T. solium (tênia de suínos) e T. sagi'nata (tênia de bovinos). ou água contaminados por fezes humanas (Figura 54-5). Ob-
serva~se que na cisticercose. os seres hwnanos são infectados
1. Taenla sol/um pelos ovos excretados nas fezes humanas. e. mfo pela ingestão
de carne. de porco maJcozida. Além disso, os porcos não con.
Doença têm o verme adulto em seu intestino. de modo que não são a
A forma adulta de J: solium c.ausa teníase. As larvas de 1: solium fon te dos ovos responsáveis pela cisticerc.ose humana. Os ovos
causam cisticercose. edodem no intestino delgado. e as oncosferas penetram atraYés
CAPÍTULO 54 Cestódeos 441

TABELA 54-1 Características de cestódios (tênias) de importância médica

Principais locais
Hospedeiro(s) afetados no corpo
Cestódeo Modo de transmissão intermediário(s) humano Diagnóstico Tratamento

Taenia solium (A) Ingestão de larvas Porcos Intestino Proglótides nas fezes Praziquantel
presentes na carne de
porco malcozida

(B) Ingestão de ovos em Encéfalo e olhos Biópsia, tomografia Praziquantel, albendazol


alimentos ou água (cisticercos) computadorizada ou remoção cirúrgica
contaminados por fezes (TC) dos cisticercos
humanas

Taenia saginata Ingestão de larvas na Gado bovino Intestino Proglótides nas fezes Praziquantel
carne bovina malcozida

Diphyllobothrium Ingestão de larvas em Copépodes e Intestino Ovos operculados Praziquantel


/atum peixe malcozido peixes nas fezes

Echinococcus Ingestão de ovos em ali- Carneiros Fígado, pulmões e Biópsia, tomografia Albendazol ou remoção
granulosus mentas contaminados encéfalo (cistos computadorizada, cirúrgica dos cistos
por fezes caninas hidáticos) sorologia

da parede, atingindo um vaso sanguíneo. Eles podem dissemi- Achados clínicos


nar-se a vários órgãos, principalmente olhos e encéfalo, onde
A maioria dos pacientes com tênias adultas é assintomática, po-
encistam e formam cisticercos (Figura 54-6). Cada cisticerco
dendo, contudo, ocorrer anorexia e diarreia. Alguns indivíduos
contém uma larva.
podem observar proglótides nas fezes. A cisticercose no encéfalo
causa cefaleia, vômitos e convulsões. A cisticercose ocular pode
Patogênese e epidemiologia manifestar-se como uveíte ou retinite, ou as larvas podem ser vi-
A tênia adulta aderida à parede intestinal causa poucos danos. sualizadas flutuando no vítreo. Nódulos subcutâneos contendo
Os cisticercos, por outro lado, podem tornar-se muito volumo- cisticercos ocorrem com frequência. Os cistos também são co-
sos, sobretudo no encéfalo, onde se manifestam como uma lesão mumente encontrados no músculo esquelético.
ocupante de espaço (Figura 54-6). Cisticercos vivos não causam
inflamação, entretanto, quando morrem, podem liberar substân - Diagnóstico laboratorial
cias que provocam uma resposta inflamatória. Por fim, os cisti- A identificacão de T. solium consiste na observação de progló-
cercos calcificam-se. tides grávidas, com entre cinco e 1O ramificacões uterinas prin-
A epidemiologia da teníase e da cisticercose está relacio- cipais nas fezes. Em contrapartida, proglótides de T. saginata
nada ao acesso dos porcos às fezes humanas e ao consumo de apresentam entre 15 e 20 ramificações uterinas principais. Ovos
carne de porco crua ou malcozida. A doença ocorre mundial- são encontrados nas fezes com menor frequência do que nas pro-
mente, porém é endêmica em regiões da Ásia, da América do glótides. O diagnóstico de cisticercose depende da comprovação
Sul e do Leste Europeu. A maioria dos casos nos Estados Unidos da presença do cisto no tecido, geralmente por remoção cirúrgica
é importada. ou tomografia computadorizada (TC). Ensaios sorológicos

TABELA 54-2 Estágios de importância médica no ciclo de vida de cestódeos (tênias)

Estágio em que infecta Estágio(s) mais associado(s) lmportante(s) estágio(s)


Organismo Inseto-vetor seres humanos à doenca em seres humanos fora de seres humanos

Taenia solium Nenhum 1. Larva em carne de porco malcozida Tênia adulta no intestino Larva no músculo de porco
2. Ovos em alimentos ou água conta- Cisticerco, sobretudo no en- Nenhum
minados com fezes humanas céfalo

Taenia saginata Nenhum Larva em carne de gado malcozida Tênia adulta no intestino Larva no músculo de porco

Diphyl/obothrium Nenhum Larva em carne de peixe malcozida Tênia adulta no intestino pode Larva no músculo de peixe
/atum causar deficiência de vita- de água doce
mina B12

Echinococcus Nenhum Ovos em alimentos ou água contami- Cistos hidáticos, principalmen- Tênia adulta no intestino de
granulosus nados com fezes de cachorro te no fígado e nos pulmões cães produz ovos
442 PARTE VI Parasitologia

Teníase
( Taenia solium)
(Taenia saginata)
D Oncosferas desenvolvem-se
em cisticercos no músculo

A Seres humanos infectados pela


A Oncosferas eclodem, V ingestão de carne de porco ou
V penetram na parede do de gado malcozida ou crua
intestino e circulam para
a musculatura

T. saginata T. solium

Gado ( T. saginata) e porcos ( T. solium)


0 torna-se infectados pela ingestão de vegetação
contaminada por ovos ou proglótides grávidas
Escólex aderido ao intestino

m
LEGENDA o Adultos no intestino delgado

D Estágio infectante

m Estágio de diagnóstico Ovos ou proglótides grávidas nas fezes


são transmitidos para o meio ambiente

FIGURA 54-1 Taenia so/ium e Taenia saginata. Ciclo de vida. O lado direito da figura descreve os estágios no interi or d e seres humanos (setas
roxas). Os seres humanos são infectados na etapa 1, quando ingerem carn e d e porco (T. solium) ou d e gado (T. saginata) malcozida contendo
cisticercos (estágio larval). Tênias adultas formam-se no intestino e d epositam ovos. Porcos e gado são infectados quando ingerem ovos ou pro-
glótides presentes em fezes humanas. O lado esquerdo da figura descreve os estágios no interior de porcos e de gado (setas verm elhas). (Fonte:
Pub lic Health lmage Library, Centers for Disease Contrai and Prevention/Dr. Alexander J. da Si lva e Melanie Moser.)

(p. ex., o ensaio imunoadsorvente ligado à enzima [ELISA]) que cose consiste no tratamento dos pacientes para impedir a au-
detectam anticorpos contra antígenos de T solium encontram - toinfecção, além da adoção de medidas higiênicas apropriadas,
-se disponíveis, porém podem ser negativos na neurocisticercose. incluindo lavagem das mãos, a fim de prevenir a contaminação
de alimentos com os ovos.
Tratamento
2. Taenia saginata
Praziquantel é o tratamento de escolha para vermes intestinais.
O tratamento de cisticercose consiste em praziquantel ou alben- Doença
dazol, embora a excisão cirúrgica possa ser necessária. T saginata causa teníase. As larvas de T saginata não causam cis-
ticercose.
Prevenção
A prevenção da teníase envolve o cozimento adequado da carne Características importantes
de porco e o descarte apropriado de dejetos, de modo a impedir T saginata apresenta escólex com quatro ventosas, porém , ao
que os porcos ingiram fezes humanas. A prevenção da cisticer- contrário de T solium, não apresenta ganchos. Suas progló-
CAPÍTULO 54 Cestódeos 443

A e

..
=· .
;:· ... ::
... . .. •.

E F G

FIGURA 54-2 A: Escólex de Taenia solium com ventosas e ganchos (aumento de 1OX). B: Proglótide grávida de Taenia solium. Ela apresenta
menos ramificacões uterinas que a proglótide de Taenia saginata (consultar a Figura D) (aumento de 2X). C: Escólex de T. saginata com ventosas
(1 OX). D: Proglótide grávida de T. saginata (2X). E: Escólex de Diphyl/obothrium /atum com sulcos de sucção (7X). F: Verme adulto completo de
Echinococcus granulosus (7X). G: Escólex adulto de E. granulosus (70X).

A B
FIGURA 54-3 Taenia solium - escólex e várias proglótides. A seta
longa indica uma das quatro ventosas no escólex da Taenia solium. FIGURA 54-4 A: Ovo de Taenia solium contendo embrião de on-
A seta curta indica o círculo do gancho. As proglótides podem ser cosfera. Quatro ganchos são visíveis. Ovos de Taenia saginata e
vistas estendendo-se do escólex em direção ao lado esquerdo da ima- Echinococcus granulosus são muito similares a ovos de Taenia solium,
gem. (Figura cortesia do Dr. M. Melvin, Public Health lmage Library, Centers mas não possuem ganchos. B: Ovo de Diphyl/obothrium /atum conten-
for Disease Control and Prevention.) do um opérculo em sua porção superior (300X).
444 PARTE VI Parasitologia

Cisticercose
( Taenia solium)
Na cisticercose os
Oncosferas seres humanos adquirem a
desenvolvem-se em
D cisticercos nos
músculos de porcos
infecção por meio da ingestão de
ovos presentes em fezes humanas;
os cisticercos podem desenvolver-se
ou de seres humanos em qualquer órgão, porém são
mais comuns no encéfalo,
nos olhos e na pele

A Oncosferas eclodem,
V penetram na parede do Seres humanos adquirem
intestino e circulam para a infecção ao ingerir
a musculatura de porcos carne malcozida de
ou de seres humanos um porco infectado

Ovos embrionados ou proglótides grávidas


Escólex aderido
0 ingeridos pelos porcos (seta vermelha);
ovos embrionados ingeridos por
ao intestino
seres humanos (seta azul)

Adu ltos no intestino delgado

LEGENDA
o
D Estágio infectante
m Estágio de diagnóstico
Ovos ou proglótides grávidas nas fezes
são transmitidos para o meio ambiente

FIGURA 54-5 Taenia so/ium. Ciclo de vida incl uindo o estágio d e cisticercose. O cent ro e o lado esquerd o da figura descrevem o ci clo de T. solium
no interior de seres humanos e de porcos, semelhante à Figura 54-1. Observa-se que existem ago ra setas roxas entre o ovo na parte inferio r q ue
vão para o lado esquerdo da fig ura até o indivíd uo na parte superior d ireit a. Na cisticercose, os seres humanos são infectados q uando ingerem os
ovos d e T. so/ium no alimento contaminado co m fezes humanas. Os ovos d iferenciam-se em cisticercos, princi palm ente no encéfalo, nos o lhos e
na pele. (Font e: Centers for Disease Cont rai and Prevention/Dr. Alexander J. da Silva e Melanie Moser.)

tides grávidas têm entre 15 e 25 ramificacões uterinas princi- sanguíneo, sendo transportados aos músculos esqueléticos. No
pais, ao contrário das proglótides de T. solium, que têm entre músculo, desenvolvem-se em cisticercos. O ciclo é completado
cinco e 1O (Figuras 54-1C e D). Os ovos são morfologicamente quando os cisticercos são ingeridos. Os seres humanos são os hos-
indistinguíveis dos de T. solium. pedeiros definitivos, ao passo que o gado bovino é o hospedeiro
O ciclo de vida da Taenia saginata é apresentado na Figura intermediário. Diferentemente de T. solium, T. saginata não causa
54-1. Os seres hum anos são infectados pela ingestão de carne bo- cisticercose em seres seres humanos.
vina crua ou malcozida contendo larvas (cisticercos). No intestino
delgado, as larvas aderem à parede intestinal, e após cerca de três Patogênese e epidemiologia
meses tornam-se vermes adultos, medindo até 10 m (Figura 54-7). Poucos danos resultam da presença do verme adulto no intestino
As proglótides grávidas, então, desprendem-se, são eliminadas delgado. A epidemiologia da teníase causada por T. saginata está
nas fezes e ingeridas pelo gado bovino. Os embriões (oncosfe- associada ao acesso do gado bovino às fezes humanas e ao con -
ras) saem dos ovos no intestino da vaca e penetram em um vaso sumo de carne bovina crua ou m alcozida. A doença ocorre em
CAPÍTULO 54 Cestódeos 445

Tratamento
O tratamento de escolha é o praziquantel.

Prevenção
A prevenção envolve o cozimento adequado da carne bovina e
o descarte adequado dos dejetos, de modo a impedir que o gado
consuma fezes humanas.

DIPHYLLOBOTHRIUM
Doença
Diphyllobothrium [atum, a tênia de peixes, causa difilobotríase.

FIGURA 54-6 Cisti ce rco de Taenia so/ium no encéfalo - a seta longa


Características importantes
indica uma larva de T. so/ium. A seta curta indica a parede do cisti cerco
(saco) que envolve a larva. (Figura cortesia d e Rhodes B. Holl iman, PhD, Pro- Ao contrário dos demais cestódios, os quais apresentam ventosas,
fessor Emeritus, Virgínia Tech.) o escólex de D. [atum apresenta dois sulcos de sucção alongados,
pelos quais o verme se adere à parede intestinal (Figura 54-2E).
O escólex não apresenta ganchos, diferentemente de T. solium e
nível mundial, entretanto, é endêmica na África, na América do
Echinococcus. As proglótides são mais largas que longas, e o útero
Sul e no Leste Europeu. Nos Estados Unidos, a maioria dos casos
grávido apresenta-se na forma de roseta. Ao contrário dos ovos
é importada. de outras tênias, que são esféricos, os ovos de D. [atum são ovais
e apresent am uma abertura semelhante a uma t ampa (opérculo)
Achados clínicos em uma extremidade (Figura 54-4B). D. [atum é a tênia mais lon-
A maioria dos pacientes com tênias adultas é assintomática, contu- ga, medindo até 13 m.
do, podem ocorrer mal-estar geral e cólicas moderadas. Em alguns Os seres humanos são infectados pela ingestão de peixe cru
casos, surgem proglótides nas fezes, as quais podem até mesmo ou malcozido contendo larvas (denominadas larvas plerocercoi-
projetar-se pelo ânus. As proglótides são móveis e podem causar des ou espárgano). No intestino delgado, as larvas aderem à pare-
prurido à medida que se movem pela pele adjacente ao ânus. de intestinal e desenvolvem -se em vermes adultos. As proglótides
grávidas liberam ovos fertilizados por meio de um poro genital e
eles são eliminados nas fezes. Os ovos imaturos devem ser deposi-
Diagnóstico laboratorial
tados em água doce para que o ciclo de vida prossiga. Os embriões
A identificacão de T. saginata consiste na observação de proglóti- desenvolvem-se a partir dos ovos e são ingeridos por pequenos
des grávidas com 15 a 20 ramificações uterinas nas fezes. Os ovos crustáceos copépodes (primeiros hospedeiros intermediários).
são encontrados com menor frequência nas fezes do que nas pro- Nestes, os embriões diferenciam-se e formam larvas procercoides
glótides. na cavidade corporal. Quando o copépode é ingerido por peixes de
água doce (p. ex., lúcio, truta e percídeos), as larvas diferenciam-
-se em plerocercoides no músculo do peixe (segundo hospedeiro
intermediário). O ciclo é completado quando o peixe cru ou mal-
cozido é ingerido por seres humanos (hospedeiros definitivos).

Patogênese e epidemiologia
A infecção por D. [atum causa poucos danos ao intestino delga-
do. Em alguns indivíduos, ocorre anemia megaloblástica como
resultado da deficiência de vitamina B12 , causada pela captação
preferencial da vitamina pelo verme.
A epidemiologia da infecção por D. [atum está relacionada à
ingestão de peixe cru ou malcozido, assim como à contaminacão
de corpos de água doce com fezes humanas. A doença ocorre em
nível mundial, contudo é endêmica em regiões onde existe o cos-
tume de ingerir peixe cru, como Escandinávia, norte da Rússia,
Japão, Canadá e determinados Estados do Centro-Norte dos
Estados Unidos.
FIGURA 54-7 Taenia saginata - tênia adulta. Observa-se o diminuto
escólex no lado direito da imagem e as proglótides grávidas no lado es-
Achados clínicos
querdo da imagem. A seta branca indica o escólex. A rég ua tem 30,5 cm.
(Figura cortesia de Public Health lmage Library, Centers for Disease Contrai and A maioria dos pacientes é assintomática, porém podem ocorrer
Prevention.) desconforto abdominal e diarreia.
446 PARTE VI Parasitologia

Diagnóstico laboratorial A doença é encontrada principalmente em pastores que vi-


vem na região do Mediterrâneo, no Oriente Médio e na Austrália.
O diagnóstico depende da observação dos ovos característicos
Nos Estados Unidos, os Estados do Oeste relatam o maior núme-
(i.e., dos ovos ovais, marrom-amarelados, com opérculo em uma
ro de casos.
das extremidades, nas fezes). Não há teste sorológico.

Achados clínicos
Tratamento
A maioria dos indivíduos com cistos hidáticos é assintomática,
O tratamento de escolh a é o praziquantel.
entretanto, cistos hepáticos podem causar disfuncão hepática.
Cistos nos pulmões podem erodir, atingindo um brônquio e cau-
Prevenção sando escarro sanguinolento, enquanto cistos cerebrais podem
A prevenção envolve o cozimento adequado de peixes e o descar- causar cefaleia e sinais neurológicos focais. A ruptura do cisto
te apropriado das fezes humanas. pode causar choque anafilático fatal.

Diagnóstico laboratorial
ECHINOCOCCUS O diagnóstico baseia-se no exame microscópico para demonstrar
Doença a presenca de cápsulas prolígeras contendo múltiplos protoes-
cólex ou em testes sorológicos (p. ex., o teste de hemaglutinação
Echinococcus granulosus (tênia do cão) causa a equinococose.
indireto).
A larva de E. granulosus causa a doenca cística hidática unilocular.
A doenca hidática multilocular é causada por E. multilocularis,
patógeno de menor importância discutido a seguir. Tratamento
O tratamento envolve albendazol, acompanhado ou não da re-
Características importantes m oção cirúrgica do cisto. Devem ser adotados cuidados extre-
m os para impedir a liberação dos protoescólex durante a cirur-
E. granulosus é uma das menores tênias, composto por um
gia. Um agente protoscolicida (p. ex., solução salina hipertônica)
escólex e por apenas três proglótides (Figura 54-2F e G). O
deve ser injetado no cisto, a fim de matar os organismos e preve-
escólex apresenta um círculo de ganchos e quatro ventosas, as-
nir a disseminação acidental.
sim como T solium. Os cães são os hospedeiros definitivos mais
importantes. Os hospedeiros intermediários geralmente são
as ovelhas. Os seres humanos são, quase sempre, hospedeiros Prevenção
intermediários terminais. A prevenção da doença em seres humanos envolve não alimentar
O ciclo de vida de E. granulosus é apresentado na Figura cães com vísceras de ovelhas abatidas.
54-8. No ciclo de vida típico, os vermes presentes no intestino
do cão liberam m ilhares de ovos, os quais são ingeridos por ove-
lhas (ou seres humanos) (Figura 54-4). Os embriões presentes CESTÓDEOS DE MENOR IMPORTÂNCIA
na oncosfera desenvolvem-se no intestin o delgado e migram,
em geral, até o fígado, mas também para os pulmões, os ossos 1. Echinococcus multilocularis
e o encéfalo. Os embriões desenvolvem-se em grandes cistos Muitas das características desse organismo são similares às de E.
hidáticos preen ch idos por fluido, cuja camada intern a ger- granulosus, entretanto, os hospedeiros definitivos são principal-
m inativa gera diversos protoescólex no interior de «cápsulas mente raposas, e os hospedeiros intermediários são diferentes
prolígeras': O ciclo de vida é completado quando as vísceras (p. roedores. Os seres humanos são infectados pela ingestão aci-
ex., fígado contendo cistos hidáticos) de ovelhas abatidas são in- dental de alimento contaminado por fezes de raposa. A doença
geridas por cachorros. ocorre principalmente em caçadores, sendo endêmica na Europa
Setentrional, na Sibéria e nas províncias ocidentais do Canadá.
Patogênese e epidemiologia Nos Estados Unidos, ocorre nas Dakotas do Norte e do Sul, no
Minnesota e no Alaska.
E. granulosus geralmente forma um grande cisto preenchido por
No interior do fígado humano, as larvas formam cistos mul-
fluido (unilocular) que contém milh ares de escólex individuais,
tiloculados, contendo poucos protoescólex. Não há formação de
bem como diversos cistos-filhos no interior do grande cisto.
cápsula fibrosa externa, de modo que a proliferação dos cistos
Os escólex individuais situados na base do grande cisto são deno- prossegue, conferindo um aspecto em favo de m el, com cente-
minados ((areia hidáticà: O cisto atua como uma lesão ocupante
nas de pequenas vesículas. O quadro clínico geralmente envolve
de espaço, causando pressão sobre o tecido adjacente. A camada
icterícia e emagrecimento. O prognóstico é desfavorável. O trata-
externa do cisto consiste em tecido espesso e fibroso produzido
mento com albendazol pode ser bem-sucedido em alguns casos.
pelo hospedeiro. O fluido do cisto contém antígenos do parasita,
Remoção cirúrgica pode ser viável.
que podem sensibilizar o hospedeiro. Posteriormente, quando o
cisto se rompe espontaneamente, ou durante trauma ou remo-
ção cirúrgica, pode ocorrer choque anafilático com risco à vida.
2. Hymenolepis nana
A ruptura de um cisto pode também causar ampla disseminação H. nana (tênia anã) é a tênia encontrada com maior frequência
de protoescólex. nos Estados Unidos. Apresenta apenas 3 a 5 cm de comprimento
CAPÍTULO 54 Cestódeos 447

Equinococose
(Echinococcus granulosus)

LEGENDA

D Estágio infectante

m Estágio de diagnóstico Escólex aderido


ao intestino

Adulto no
0 intestino delgado
Protoescólex
do cisto

Ingestão de cistos
(nos órgãos de ol ihas)
Hospedeiro definitivo
(cães e outros canídeos)

Hospedeiro intermediário
(ovelhas, cabritos, porcos, etc.) Ovo embrionado
nas fezes

om

Cisto hidático no fígado, Oncosfera eclode; penetra


nos pulmões, no encéfalo, na parede do intestino
nos ossos, etc.

FIGURA 54-8 Echinococcus granulosus. Ciclo de v ida. O centro e o lado esq uerd o da figura descrevem o ciclo natura l d e E. granulosus no interior
de cães (part e superior) e ovelhas (parte inferior). Os cães são os hospedeiros defin itivos e contêm a tênia adulta no intestino. As ovelhas são um im-
portante hospedeiro intermediário e ingerem ovos das fezes dos cães. Os cistos hidát icos conte ndo larvas se fo rmam na ovelha. Os seres hum anos
são hospedeiros inte rmed iários acidentais quando ingerem alimentos conta minados com fezes de cães co ntendo ovos (#2 na seta roxa à direita).
Os ovos eclodem da o ncosfera embrionada no intesti no de seres humanos (#3 na fig ura humana). Cistos hidáticos fo rmam-se principalmente no fí-
gado, no p ulmão, no encéfalo e nos ossos (#4 na figura humana). (Fonte: Cent ers for Disease Cont rol and Prevent ion/Dr. Alexander J. da Silva e Melanie Moser.)

e difere de outras tênias pelo fato de seus ovos serem diretamente Estados do Sudeste, geralmente em crianças. O diagnóstico é ba-
infecciosos para seres human os (i.e., ovos ingeridos podem de- seado na observação dos ovos nas fezes. A propriedade caracte-
senvolver-se em vermes adultos, sem hospedeiro intermediário). rística dos ovos de H . nana são os oito ou 1O filamentos polares
No interior do duoden o, os ovos rompem-se e diferen ciam-se em situ ados entre a mem brana da larva de seis ganch os e o envoltório
larvas cisticercoides e, em seguida, em vermes adultos. Proglótides extern o. O tratamento consiste na administração de praziqu antel.
grávidas desprendem-se, desintegram -se e liberam ovos fertiliza- A preven ção consiste na adoção de m edidas adequadas de higiene
dos. Os ovos são eliminados nas fezes ou podem reinfectar o intes- pessoal e em evitar a contamin ação fecal dos alimentos e da água.
tino delgado (autoinfecção). Ao contrário da infecção por outras
tênias, em que apenas um verme adulto encontra-se presente, são 3. Dipylidium caninum
encontrados diversos vermes H. nana (às vezes, centen as). D. caninum é a tênia mais comum de cães e gatos. Ocasional-
A infecção causa pou cos danos, e a maioria dos pacientes m ente infecta seres humanos, muitas vezes, crianças pequ en as,
é assintomática. O organismo é encontrado mundialmente, em enquanto brincam com seus animais de estim ação. A in fecção
geral, n os trópicos. Nos Estados Unidos, é mais prevalente n os human a ocorre quando pulgas de cães ou gatos carreando eis-
448 PARTE VI Parasitologia

ticercos são ingeridas. Os cisticercos desenvolvem -se em ténias magnética do encéfalo revelou múltiplas lesões bilaterais. No dia se-
adultas no intestino delgado. A maioria das infecções humanas guinte, ela teve uma convulsão e morreu. Na necropsia, as lesões no
é assintomática, porém diarreia e prurido anal podem ocorrer. encéfalo consistiram em um saco semelhante a um cisto contendo
O diagnóstico nos animais e nos seres humanos é realizado pela uma larva. Das seguintes opções, qual é a causa mais provável?
observação das típicas proglótides "em forma de barril,, nas fezes (A) D. [atum.
ou nas fraldas. Niclosamida é o fármaco de escolha. (B) E. granulosus.
( C) T. saginata.
(D) T. solium.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 6. Seu paciente é um homem de 40 anos com um ocasional descon-
forto abdominal no lado superior direito, mas está aparentemente
1. Em relação à Taenia solium, qual das seguintes opções é a mais bem. No exame, seu fígado está aumentado. A ressonância magnéti-
correta? ca revelou uma massa cística no fígado. Em uma anamnese, ele disse
(A) O escólex de T. solium tem quatro ventosas e um círculo de que nasceu e cresceu na região rural da Argentina em um rancho
ganchos. de ovelhas e veio para os Estados Unidos há 10 anos. Das seguintes
(B) O fármaco de escolha para vermes adultos em seres humanos opções, qual é a causa mais provável?
é o metronidazol. (A) D. [atum.
(C) O cisticerco de T. solium contém os ovos maduros do organismo. (B) E. granulosus.
(D) No laboratório, a identificação de vermes adultos é baseada na
( C) T. saginata.
descoberta do escólex típico nas fezes.
(D) T. solium.
(E) A ingestão de proglótides terminais de T. solium por porcos
resulta em tênias maduras no intestino dos porcos. 7. Sua paciente é uma mulher de 20 anos que é uma imigrante recente
da América Central. No exame de rotina, um teste de fezes de ovos e
2. A cisticercose é comumente adquirida por meio de:
parasitas revelou ovas semelhantes aos de Taenia solium. Em relação
(A) Consumo de água contaminada com fezes de porcos infectados. às seguintes opções, qual a melhor escolha de fármaco para tratar
(B) Consumo de água contaminada com fezes de vacas infectadas. essa paciente?
(C) Consumo de água contaminada com fezes de seres humanos
(A) Ivermectina.
infectados.
(B) Pentamidina.
(D) Ingestão de carne malcozida de porco infectado.
(C) Praziquantel.
(E) Ingestão de carne malcozida de gado bovino infectado.
(D) Pirimetamina e sulfadiazina.
3. Em relação a D. [atum, qual das seguintes opções é a mais correta? (E) Estibogluconato.
(A) O gado é o hospedeiro intermediário mais importante.
(B) A anemia megaloblástica pode ocorrer como resultado da
deficiência de vitamina B12•
(C) O diagnóstico laboratorial depende da descoberta do escólex
RESPOSTAS
com ganchos nas fezes. 1. (A)
(D) A infecção é adquirida pela ingestão de ovos em alimentos e 2. (C)
água contaminados com fezes de seres humanos. 3. (B)
(E) A larva migra do trato gastrintestinal pela circulação portal 4. (B)
para o fígado, onde podem ocorrer abscessos. 5. (D)
4. Em relação a E. granulosus, qual das seguintes opções é a mais 6. (B)
correta? 7. (C)
(A) O fármaco de escolha para infecção por E. granulosus é o me-
tronidazol.
(B) Os cães consistem em uma parte requerida do ciclo de vida do RESUMOS DOS ORGANISMOS
organismo causador.
(C) E. granulosum é uma das mais longas tênias, às vezes medindo Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam -
3m. -se na página 664. Favor consultar esses resumos para uma rápida
(D) A larva de E. granulosus migra geralmente para o músculo es- revisão do material essencial.
quelético, onde causa um abscesso.
(E) O principal modo de transmissão para seres humanos é a in-
gestão de ovos em alimentos e água contaminados com fezes QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
humanas.
5. Sua paciente é uma menina de 15 anos com história de dor de ca- Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
beça de duração de duas semanas e vômito, e a história de três dias contradas na seção de Parasitologia da Parte XIII: Questões para
de confusão e discurso incoerente. Ela nasceu no Equador, mas Autoavaliação, a partir da página 710. Consulte também a Parte
se mudou para os Estados Unidos cinco anos atrás. A ressonância XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CA P Í T ULO

Trematódeos 55
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Aplique seu conhecimento


Schlstosoma Resumos dos organismos
Oonorchis Questões para autoavaliação
Paragonimus
Trematódeos de menor importanda
Fasciola
Fasciofopsis
Hererophyes

INTRODUÇÃO SCHISTOSOMA
Trematoda (trematódeos) e Cestoda (tên.ias) são duas grandes Doença
classes de.parasitas do fiJo Platyhehnillthes. Os trematódeos mais
importantes são as espécies de Schistosoma (vermes do sangue), Schistosoma provoc.a esquistossomose. Schistosoma mansoni e
1
Clonorthis si'nensis (vermes hepáticos) e Patagonfmus westermani Schistosoma japonicum afetam o trato gastr-intestlnal, ao passo
que Schistosoma haematobium afeta o trato urinário.
(vermes pulmonares). Os esquistossomos apresentam o maior
impacto em termos do número de indivíduos infectados. da
morbidade e da mortalidade. As características dos trematódeos Características importantes
de importância médica são resumidas na Tabela 55-1. e os es- O cido de vida das espécies de Schistosoma é apresentado na
tágios de importância médica do ciclo de vida desses organis• Figura 55~1. Ao contrário dos demais trematôdeos, que.são her-
mos são descritos na Tabe)a 55·2. Três trematódeos de menor mafroditas, os esquistossomos adu1tos são de sexos distintos.
importância, Fasciola hepali~. Fasciolopsis ltt.uki e Hetcrophyes mas vivem presos um ao outro, A fêmea aloja•se em um sulco
heterophyes, são desuitos ao fim deste capítulo. do macho, o canal ginecóforo (..esquisto"'), onde o macho coi\ti-
O cido de vida dos trematôdeos de importância médic.a nuamente fer tiliza os ovos da fêmea (Figura 55-2A). As três es-
envo)ve um cid o sexuado em seres humanos (hospedeiros de· pécies podem ser diferenciadas pela aparência de seus ovos ao
f10itivos) e a reprodução as.sexuada em caramujos de água doce microscópio: os ovos de S. mansoni possuem uma espinha late-
(hospedeiros intermediários) (Figura 55-1). A transmissão aos ral proeminente, ao passo que os ovos de S. japom'cum possuem
seres humanos ocorre pe)a penetração na peJe por cercárias de uma espinha lateraJ bem pequena e os ovos de S. haematobium
vida livre dos esquitossomos (Figuras 55.20 e 55-3) ou pela in• possuem uma espinha terminal (Figuras 55-4A e B, 55-5 e 55-6).
gestão de cistos em peixes ou caranguejos malcozidos (crus) na S. mansoni e S. japonicum adultos vivem nas ,·elas mesentéricas.
i1úecção por Clonorchis e Paragonimus, respectivamente. ao passo que S. haematobium vive nas veias de drenagem da be-
Trematódeos que causam doença humana não são endê- xiga urinária. Desse modo, esquistossomos são referidos como
micos nos Estados Unidos. Entretanto, imigrantes de regiões Yermes parasitas do sangue.
tropicais. sobretudo Sudeste. Asiático. são frequentemente. ill·
1
fectados. Schistosoma mekongi também afeta o trato gastrintcstinal.
4S0 PARTE VI Parasitologia

TABELA 55-1 Características de trematódeos (vermes parasitas) de importância médica

Características
Modo de Principais locais Hospedeiro(s) diagnósticas Area(s)
Trematódeo transmissão afetados intermediário(s) dos ovos endêmica(s) Tratamento

Schistosoma Penetração na pele Veias do colo Caramujo Grande espinho África, América Praziquantel
mansoni lateral Latina (Caribe)

Schistosoma Penetração na pele Veias do intestino Caramujo Pequeno espinho Ásia Praziquantel
japonicum delgado, fígado lateral

Schistosoma Penetração na pele Veias da bexiga Caramujo Grande espinho África, Oriente Praziquantel
haematobium urinária terminal Médio

Clonorchis sinensis 1ngestão de peixe cru Fígado Caramujo e peixe Operculado Ásia Praziquantel

Paragonimus Ingestão de caran- Pulmões Caramujo e caran- Operculado Ásia, fndia Praziquantel
westermani guejo cru guejo

Os seres humanos são infectados quando as cercárias de cauda formados em resposta aos antígenos secretados pelos ovos.
bifurcada, de vida livre, penetram na pele (Figuras 55-2D e 55-3). Os hepatócitos, em geral, não são danificados, e os testes de
Elas diferenciam-se em larvas (esquistossômulos), atingem o sangue função hepática permanecem normais. A hipertensão portal leva
e são transportadas pelas veias até a circulação arterial. As que pe- à esplenomegalia.
netram na artéria mesentérica superior cruzam a circulação portal e Os ovos de S. mansoni danificam a parede do colo dis-
atingem o fígado, onde amadurecem em vermes adultos. S. mansoni tal (vênulas mesentéricas inferiores), ao passo que os ovos de
e S. japonicum adultos migram contra o fluxo portal e alojam-se nas S. japonicum danificam as paredes dos intestinos delgado e gros-
vênulas mesentéricas. S. haematobium adultos atingem as veias da so (vênulas mesentéricas superiores e inferiores). O dano é de-
bexiga por meio do plexo venoso entre o reto e a bexiga. corrente da digestão do tecido por enzimas proteolíticas produzi-
Em seu local venoso definitivo, a fêmea libera ovos fertiliza- das pelo ovo, assim como da resposta inflamatória do hospedeiro,
dos, que penetram no endotélio vascular e atingem o lúmen do que forma granulomas nas vênulas. Os ovos de S. haematobium
intestino ou da bexiga, respectivamente. Os ovos são excretados na parede da bexiga induzem granulomas e fibrose, podendo le-
nas fezes ou na urina e devem alcançar a água doce para eclo- var ao carcinoma de bexiga.
dir. Uma vez rompidas, as larvas ciliadas (miracídios) penetram Os esquistossomos desenvolveram um notável processo de
nos caramujos, sofrem um desenvolvimento adicional e multi- evasão das defesas do hospedeiro. Evidências indicam que sua su-
plicam-se, produzindo várias cercárias. (Os três esquistossomos perfície é revestida por antígenos do hospedeiro, limitando, assim,
utilizam diferentes espécies de caramujos como hospedeiros in- a capacidade de o sistema imune reconhecê-los como exógenos.
termediários.) As cercárias deixam os caramujos, chegam à água A epidemiologia da esquistossomose depende da presença de
doce e completam o ciclo ao penetrar na pele humana. caramujos de água doce específicos, que atuam como hospedeiros
intermediários. S. mansoni é encontrado na África e na Améri-
ca Latina (incluindo Porto Rico), ao passo que S. haematobium
Patogênese e epidemiologia é encontrado na África e no Oriente Médio. S. japonicum é en-
A maioria dos achados patológicos é causada pela presença dos contrado apenas na Ásia, e é o único em que animais domésticos
ovos no fígado, no baço ou na parede do intestino ou da bexi- (p. ex., búfalo da água e porcos) funcionam como importantes
ga. Os ovos no fígado induzem granulomas, que levam à fibro- reservatórios. Mais de 150 milhões de indivíduos das regiões tro-
se, à hepatomegalia e à hipertensão portal. Os granulomas são picais da África, da Ásia e da América Latina são afetados.

TABELA 55-2 Estágios de importância médica do ciclo de vida de trematódeos (vermes parasitas)
Estágio em que Estágio(s) mais associado(s) lmportante(s) estágio(s)
Organismo Inseto-vetor infecta seres humanos à doença em seres humanos fora de seres humanos

Schistosoma mansoni, Nenhum Cercárias penetram na Vermes adultos alojados em Miracídios (larvas ciliadas) infectam
Schistosoma pele veias mesentéricas ou da caramujos~ cercárias infectam
haematobium, bexiga liberam ovos que humanos
Schistosoma japonicum causam granulomas

Clonorchis Nenhum Larva em carne de Vermes adultos vivem em Ovos ingeridos por caramujos~
peixe malcozida duetos biliares cercárias infectam peixes

Paragonimus Nenhum Larvas no caranguejo Vermes adultos vivem nos Ovos ingeridos por caramujos~
malcozido pulmões cercárias infectam caranguejos
CAPÍTULO 55 Trematódeos 451

Esquistossomose
A Cercárias liberadas pelo caramujo
(espécies de Schistosoma) V na água infectam seres humanos

D
Esporocistos ~ A Cercárias perdem a cauda
no caramuj o V durante a penetração e
tornam-se esquistossômulos

Penetram
na pele
f)
0
O Circulação
Miracídios
penetram no
tecido do
caram ujo

0
Migram do sangue
para o fígado e maturam
para se tornar ad ultos

Na urina

Ovos eclodem na \
água doce e liberam
miracídios

Vermes adultos pareados migram


para as vênulas mesentéricas
S. mansoni S. japonicum S. haematobium ( S. mansoni e S. japonicum) ou

m m para vênulas da bexiga urinária


( S. haematobium)

LEGENDA
o
D Estágio infectante

m Estágio de diagnóstico
A 1:1 Veias mesentéricas do intestino/reto
(postura de ovos que circulam para

m o fígado e liberação nas fezes)


Plexo venoso da bexiga

FIGURA 55-1 Espécies de Schistosoma. Ciclo de vida. O lado direito da figu ra descreve os estágios no interior de seres humanos (setas roxas).
Os seres humanos são infectados na etapa 2, quando cercárias de vida livre penetram na pele humana. As cercárias se diferencia m em vermes
adultos (dois sexos) que migram para as veias mesenté ricas (Schistosoma mansoni e Schistosoma japonicum) ou para o plexo ve noso da bexi-
ga urinária (Schistosoma haematobium). Os vermes adu ltos botam ovos, os quais aparecem nas fezes (5. mansoni e S. japonicum) ou na uri na
(S. haematobium). Os ovos são conduzidos para a água doce, onde o estágio de miracídio infecta os caramuj os que p roduzem as ce rcárias. O
lado esquerdo da figura descreve os estágios na água doce e no caramuj o (setas vermelhas). (Cont ribuição: Centers for Disease Cont rai and Prevent ion/
Dr. Alexander J. da Si lva e Melanie Moser.)

Achados clínicos
em resposta às larvas migratórias. Esse estágio geralmente regri-
A maioria dos pacientes é assintomática, porém infecções crôni- de espontaneamente.
cas podem tornar-se sintomáticas. O estágio agudo, iniciado logo O estágio crônico pode apresentar morbidade e mortalida-
após a penetração das cercárias, consiste em prurido e dermatite, de significativas. Em pacientes com infecção por S. mansoni ou
seguidos por febre, calafrios, diarreia, linfadenopatia e hepatos- S. japonicum, pode ocorrer hemorragia gastrintestinal, hepato-
plenomegalia após duas a três semanas. A eosinofilia é observada megalia e esplenomegalia intensa. A causa mais comum de morte
452 PARTEVI Parasitologia

FIGURA 55-2 A: Adu ltos machos e fêmeas de 5chistosoma mansoni. A fêmea vive na fenda do macho (apresentada como uma abert ura ventral)
(6 X }. B: Ad ulto de C/onorchis sinensis (6X}. C: Adulto de Paragonimus westermani (0,6 X }. D: Cercá ria de 5. mansoni (300 X }.

o
o
e

- FIGURA 55-4 A: Ovo d e 5chistosoma mansoni apresentando a espi-


FIGURA 55-3 5chistosoma - cercária. A seta indica uma ce rcá ria de
n ha lateral. B: Ovo de 5chistosoma haematobium apresentando a es-
5chistosoma. Observa-se a cauda bifurcada t ípica no lado esquerdo da
pinha term inal. C: Ovo de C/onorchis sinensis ap resentando opérculo.
figu ra. (Figura cortesia de Minnesota Department of Health, R.N. Barr Libra-
D: Ovo d e Paragonimus westermani apresentando opérculo (300X}.
ry; Bibliotecários M. Rethlefson e M. Jones; Prof. W. Wiley, Public health lmage
(Os círcu los representam hemácias.)
Library, Centers for Disease Contrai and Prevention.)

FIGURA 55-5 5chistosoma mansoni - ovo. A seta longa indica um FIGURA 55-6 5chistosoma haematobium - ovo. A seta longa indica
ovo de 5. mansoni. A seta cu rta indica seu grande espinho lateral. um ovo de 5. haematobium. A seta cu rta indica seu espinho termina l.
(Figura cortesia de Publ ic health lmage Library, Centers for Disease Cont rai and (Figura cortesia de Publ ic health lmage Library, Centers for Disease Cont rai and
Prevention.) Prevent ion.)
CAPÍTULO 55 Trematódeos 4S3

é a exsanguinação decorrente da ruptura de varizes esofágicas. indivíduos. A doença é observada nos Estados Unidos entre os
Pacientes infectados por S. haematobium apresentam hematúria imigrantes dessas regiões.
como principal queixa precoce. Infecções bacterianas sobrepos-
tas no trato urinário ocorrem com frequência. Achados clínicos
O "prurido do nadador,: que consiste em pápulas prurigino-
A maioria das infecções é assintomática. Em pacientes com gran -
sas, é um problema frequente em diversos lagos dos Estados Uni-
de carga de vermes, podem ocorrer dor abdominal superior, ano-
dos. As pápulas são uma reação imune à presença de cercárias
rexia, hepatomegalia e eosinofilia.
de esquitossomos não humanos na pele. As pápulas pruriginosas
aparecem dentro de minutos a horas após a exposição, indicando
que estas são resultado de uma reação de hipersensibilidade ime- Diagnóstico laboratorial
diata (mediada pela imunoglobulina [Ig]-E). Esses esquitosso- O diagnóstico é realizado a partir da observação dos típicos
mos não humanos são incapazes de se replicar em seres humanos ovos pequenos, marrons e operculados nas fezes (Figura 55-4C).
e não causam doença disseminada. Testes sorológicos não são úteis.

Diagnóstico laboratorial Tratamento


O diagnóstico depende da observação dos ovos característicos Praziquantel é um fármaco efetivo.
nas fezes ou na urina. O grande espinho lateral de S. mansoni e
o espinho rudimentar de S. japonicum são típicos, assim como o Prevenção
grande espinho terminal de S. haematobium (Figuras 55-4A e B,
A prevenção concentra-se no cozimento adequado de peixes e no
55-5 e 55-6). Testes sorológicos não são úteis. Ocorre eosinofilia
descarte adequado dos dejetos humanos.
moderada.

Tratamento PARAGONIMUS
Praziquantel é o tratamento de escolha para as três espécies.
Doença
Prevenção Paragonimus westermani, um verme parasita dos pulmões, causa
. ,
paragon1m1ase.
A prevenção envolve o descarte adequado dos dejetos humanos
e, quando possível, a erradicação do caramujo hospedeiro. Deve-
-se evitar a natação em regiões de infecção endêmica. Características importantes
Os seres humanos são infectados pela ingestão de carne de caran-
guejo (ou lagostim) crua ou malcozida, contendo larvas encistadas
CLONORCHIS (metacercárias). Após excistação no intestino delgado, os vermes
imaturos penetram na parede intestinal e migram pelo diafragma
Doença até o parênquima pulmonar. Diferenciam-se em adultos herma-
Clonorchis sinensis causa clonorquíase (infecção por parasita he- froditas (Figura 55-lC) e produzem ovos que penetram nos bron-
pático da Ásia). quíolos e são expectorados ou deglutidos (Figura 55-4D). Os ovos
presentes no escarro ou nas fezes que chegam à água doce eclodem
Características importantes na forma de miracídios, que penetram nos caramujos (primeiros
hospedeiros intermediários). Nestes, diferenciam -se inicialmente
Os seres humanos são infectados pela ingestão de peixe cru ou
em larvas (rédias) e, então, em cercárias de vida livre. As cercárias
malcozido, contendo as larvas encistadas (metacercárias). Após
infectam e encistam em caranguejos de água doce (hospedeiros
excistação no duodeno, os vermes parasitas imaturos penetram
intermediários secundários). O ciclo é completado quando caran-
nos duetos biliares e diferenciam-se em adultos (Figura 55-2B).
guejos infectados malcozidos são ingeridos por seres humanos.
Os adultos hermafroditas produzem ovos, os quais são excre-
tados nas fezes (Figura 55-4C). Ao chegar à água doce, os ovos
são ingeridos por caramujos, os primeiros hospedeiros interme- Patogênese e epidemiologia
diários. Os ovos eclodem no interior do intestino e diferenciam - No interior do pulmão, os vermes ocorrem em uma cápsula fi-
-se inicialmente em larvas (rédias) e, então, em diversas cercárias brosa que se comunica com um bronquíolo. Frequentemente
de vida livre. As cercárias encistam sob as escamas de determi- ocorre infecção bacteriana secundária, resultando em escarro
nados peixes de água doce (hospedeiros intermediários secun- sanguinolento. A paragonimíase é endêmica na Ásia e na Índia.
dários), sendo, então, ingeridas por seres humanos. Nos Estados Unidos, ocorre em imigrantes dessas regiões.

Patogênese e epidemiologia Achados clínicos


Em algumas infecções, a resposta inflamatória pode causar O principal sintoma é uma tosse crônica com escarro sanguino-
hiperplasia e fibrose do trato biliar, mas geralmente não há le- lento. São observados também dispneia, dor torácica pleurítica e
sões. A clonorquíase é endêmica na China, no Japão, na Coreia manifestações recorrentes de pneumonia bacteriana. A doença
e na Indochina, onde afeta aproximadamente 20 milhões de pode assemelhar-se à tuberculose.
4S4 PARTE VI Parasitologia

Diagnóstico laboratorial assintomática, mas pode haver ulceração, formação de abscessos


e hemorragia. O diagnóstico é baseado na observação dos ovos
O diagnóstico é realizado a partir da observação dos típicos ovos
típicos nas fezes. Praziquantel é o tratamento de escolha. A pre-
operculados no escarro ou nas fezes (Figura 55-4D). Testes soro-
venção consiste no descarte apropriado do esgoto humano.
lógicos não são úteis.

Heterophyes
Tratamento
Heterophyes heterophyes é um parasita intestinal de indivíduos
Praziquantel é o tratamento de escolha.
que residem na África, no Oriente Médio e na Ásia, que são in -
fectados pela ingestão de peixe cru contendo os cistos. As larvas
Prevenção excistam no intestino delgado, aderem à mucosa e desenvolvem-
O cozimento adequado de caranguejos é o melhor método de -se em adultos. Os ovos são eliminados nas fezes e, ao atingirem
prevenção. água salobra, são ingeridos por caramujos. Após vários estágios
de desenvolvimento, são produzidas cercárias que encistam sob
as escamas de determinados peixes. O ciclo é completado quando
TREMATÕDEOS DE MENOR os peixes contendo cistos infecciosos são ingeridos.
Os achados patológicos devem-se à inflamação do epitélio
IMPORTÂNCIA
intestinal, resultante da presença dos vermes adultos. A maio-
Fasciola ria das infecções é assintomática, embora possam ocorrer dores
abdominais e diarreia não sanguinolenta. O diagnóstico baseia-
Fasciola hepatica, o verme parasita do fígado de ovinos, causa
se na observação dos ovos típicos nas fezes. Praziquantel é o tra-
doença principalmente em ovelhas e em outros animais domés-
tamento de escolha. A prevenção consiste no descarte apropriado
ticos na América Latina, na África, na Europa e na China. Os
do esgoto humano.
seres humanos são infectados pela ingestão de agrião (ou outras
plantas aquáticas) contaminado por larvas (metacercárias) que
excistam no duodeno, penetram na parede intestinal e alcançam
o fígado, onde se tornam adultas. Nos duetos biliares, os adultos APLIQUE SEU CONHECIMENTO
hermafroditas produzem ovos, que são excretados nas fezes. Os 1. Em relação à esquistossomose, qual das seguintes opções é a mais
ovos eclodem na água doce, e os miracídios penetram nos cara- correta?
mujos. Os miracídios desenvolvem-se em cercárias, que, entã,o (A) A aparência visual dos esquistossomos macho e fêmea é a
encistam na vegetação aquática. Ovelhas e seres humanos inge- mesma.
rem as plantas, completando, assim, o ciclo de vida. (B) Os seres humanos são infectados pelos esquistossomos quan-
Os sintomas devem-se principalmente à presença do verme do a cercária penetra na pele.
adulto no trato biliar. Precocemente na infecção, podem ocorrer ( C) A infecção do peixe de água doce é uma etapa necessária para
dor no quadrante superior direito, febre e hepatomegalia, embora o ciclo do esquistossomo.
a maioria das infecções seja assintomática. Após meses ou anos, (D) A patologia da esquistossomose é causada principalmente pela
cercária que entra e mata os hepatócitos.
pode ocorrer icterícia obstrutiva. O halzum é uma faringite dolo-
(E) A infecção esquistossômica não humana pode causar me-
rosa causada pela presença de vermes adultos na parede posterior
ningite em pessoas que nadam em certos lagos nos Estados
da faringe. Os vermes adultos são adquiridos pela ingestão de fí- Unidos.
gado cru de ovelha.
2. Em relação ao S. mansoni, qual das seguintes opções é a mais correta?
O diagnóstico é realizado a partir da identificação dos ovos
nas fezes. Não há teste sorológico. O fármaco de escolha é o tri- (A) O principal local do S. mansoni no corpo humano são as veias
mesentéricas.
clabendazol. Vermes adultos na faringe e na laringe podem ser
(B) A esquistossomose causada por S. mansoni foi erradicada do
removidos cirurgicamente. A prevenção envolve não ingerir ve-
hemisfério ocidental.
getais aquáticos silvestres ou fígado cru de ovelha. (C) O diagnóstico laboratorial do S. mansoni depende da observa-
ção de ovos com um espinho terminal nas fezes.
Fascio/opsis (D) Esquistossomos adultos são eliminados nas fezes, e são obriga-
toriamente ingeridos pelos caramujos de água doce para con-
Fasciolopsis buski é um parasita intestinal de seres humanos e de tinuidade do ciclo de vida.
porcos, endêmico na Ásia e na Índia. Os seres humanos são in- (E) O prurido do nadador ocorre quando os ovos de S. mansoni
fectados pela ingestão de vegetação aquática contendo os cistos. espalham-se do fígado para a pele, onde induzem uma rea-
Após excistação no intestino delgado, os parasitas aderem -se à ção de hipersensibilidade imediata mediada por histamina
mucosa e diferenciam -se em adultos. Os ovos são eliminados nas (tipo 1).
fezes; ao chegar à água doce, diferenciam-se em miracídios. Os 3. Qual das seguintes opções corresponde ao fármaco de escolha para
miracídios ciliados penetram nos caramujos e, após vários está- o tratamento de infecções por S. mansoni e S. haematobium?
gios, desenvolvem-se em cercárias, que encistam na vegetação (A) Albendazol.
aquática. O ciclo é completado quando as plantas contendo os (B) Metronidazol.
cistos são ingeridas. (C) Nifurtimox.
Os achados patológicos devem-se aos danos à mucosa in- (D) Praziquantel.
testinal causados pelos vermes adultos. A maioria das infecções é (E) Estibogluconato
CAPÍTULO 55 Trematódeos 45S

4. Seu paciente é um homem de 30 anos com dor perineal de baixo 3. (D)


grau por várias semanas que teve um episódio de ejaculação com 4. (C)
dor e hematúria pós-relação sexual ontem. Ele está há muito tem-
po em um relacionamento monogâmico. Ele viajou extensivamente
pelo mundo durante os últimos 10 anos. O exame de urina foi ne-
RESUMOS DOS ORGANISMOS
gativo. Um exame citológico das células na urina não revelou célu-
las tumorais. A citoscopia revelou várias lesões poliploides e uma Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
biópsia da lesão foi obtida. O tecido foi examinado em microscópio -se na página 665. Favor consultar esses resumos para uma rápida
óptico e ovos com espinhos laterais foram observados. Das seguin- revisão do material essencial.
tes opções, qual é a causa MAIS provável?
(A) C. sinensis.
(B) P. westermani.
QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(C) S. haematobium.
(D) S. japonicum. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
(E) S. mansoni. contradas na seção de Parasitologia da Parte XIII: Questões para
Autoavaliação, a partir da página 710. Consulte também a Parte
XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
RESPOSTAS
1. (B)
2. (A)
CAPÍTULO

56 Nematódeos
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Loo
NEMATÓDEOS INTESTINAIS Drocunculus
Enterobius NEMATÓDEDS CUJAS LARVAS CAUSAM DDENÇA
Trkhurls Toxocara
Ascarls Ancylostoma
Ancylostomo e Necator Angiostrongylus
Strongyloides Anlsokis
Trkhlnel/o Aplique seu conhecimento
NEMATÓDEOSTECIDUAIS Resumos dos organismos
Wuchererio Questões para autoavaliação
Onchocerca

INTRODUÇÃO Os 11ematódeos descritos anteriormente e.a.usam doença


como resultado da presença de vermes adultos 110 interior do
Nematódeos (também conhecidos como nematelmintos) são corpo. Além disso, divetsas espécies não podem amadurecer para
vermes cilfndricos que possuem trato digestivo comp)eto, in• vermes adultos no tecido humano, porém suas lar'\'as são capazes
duindo boca e ânus, O corpo é envolto por um revestimento ace- de pro,'Ocar doença. A mais grave destas doenças é a larva migrans
)ular altamente resistente. denominado cutícula. Os nematódeos visceral. causada principa1me11te pe)as )arvas do ascarideo do cão,
apresentam sexos distintos; a fêmea é gera)mente maior que o T. canis. A )arva migrans cutâne.a. causada principalmente pe)as
macho. O macho geralmente apresenta cauda espiralada. larvas do ancilóstomo do cão e do gato. Ancylostoma caninum,
Os nematódeos de importância médica podem ser divididos é menos grave. Uma terceira doença, ai.tisaqufase, é causada pela
em duas categorias. de acordo com sua principal Jocalização no ingestão de larvas de Anisakis em frutos do mar crus.
corpo. isto é. neinatódeos intestinais e de tecidos. Em infecções e.a.usadas por determinados nem.atódeos que
( 1) Os nematódeos intestinais induein Enterobius (oxiúro). migrain através dos tecidos (p. ex., Strongyloides. Tn'chfoella.
Trichutis (verme-chicote). Ascaris (loinbriga), Ne~tor e As"41ris e os dois anci)óstoinos. Ancylostoma e Necator). ocorre
Ancylostoma (os dois anci)óstomos). Strongyloides (pequeno ver- um acentuado aumento no número de eosinóftlos (eoslnofllla).
me cilíndrico) e Trichinella. Enterob1'us, Trichuris e Ascaris são Os eosinófiJos não fugocitam os organismoS; em vez disso. ade,..
t.raJtsinitidos pela ingestão de ovos; os demais são transmitidos tem-se à superfície do parasita via IgE e secretam enzimas ci·
pot larvas. Existein duas formas Jan'ais: as Jan<as de primeiro e totóxicas contidas no interior de seus grânulos eosinofilicos.
segundo estágios (rabditlformes) são formas não infecciosas e As defesas do hospedeiro contra os helmintos são estiJnuJadas
que se alimentam; as larvas do terceiro estágio (filarlformes) por interleucinas sintetizadas pelo subconjunto '111·2 de cê)ulasT
são formas i1úecciosas e que não se a1imentain. Quando adultos, auxi1iares (p. ex., a produção de IgE é aumentada pela interleuci•
esses nematódeos VÍ\'em no interior do corpo huinano. exceto na 4, e o número de eosinófilos é aumentado pela interleucina 5)
Sttongyloides. que pode também set enc.onttado no solo. (ver Capítulo 58). Cisteínas proteases produzidas pelos vermes
(2) Os importante.s nematódeos de tecidos, Wuchereria, para faciJitar sua inigração através dos tecidos são o estímulo
Onchocerta e Loa. são denominados "'ft.làrias~ wna vez que produ- para a produção de !L-5.
um embriões móveis. denominados m.icroftlárias., no sangue e nos As características dos nematódeos de importância médica
Hquidos tec-iduais. Esses organismos são transmitidos de pessoa a são resumidas na Tabela 56· 1. Os estágíos de importância médi·
pessoa por mosquitos ou moscas hematófagas. Uma quarta espécie ca do cido de vida dos nematódeos intestinais são descritos na
é o verme-da-guiné, Dracunc"h,s, cujas larvas vivem em pequenos Tabela 56·2, e os estágios dos nematódeos dos tecjdos são descri·
c:tustáceos (copépodes). sendo ingeridas pot me-ioda água potável. tos na Tabela 56· 3.
CAPÍTULO 56 Nematódeos 4S7

TABELA 56-1 Características de nematódeos de importância médica

Localização Denominação Modo de


. ,.
pr1mar1a Espécies comum ou doença transmissão Regiões endêmicas Diagnóstico Tratamento

Intestinos Enterobius Oxiúro 1ngestão de ovos No mundo todo Ovos na pele Mebendazol ou
pamoatode
pirante!
Trichuris Verme-eh icote Ingestão de ovos No mundo todo, Ovos nas fezes Mebendazol
sobretudo nos
trópicos
Ascaris Ascaridíase Ingestão de ovos No mundo todo, Ovos nas fezes Mebendazol ou
sobretudo nos pamoatode
trópicos pirante!
Ancy/ostoma Ancilóstomo Penetração de larvas No mundo todo, Ovos nas fezes Mebendazol ou
e Necator na pele sobretudo nos trópicos pamoatode
(Ancy/ostoma), Estados pirante!
Unidos (Necator)
Strongyloides Estrongiloidíase Penetração de larvas Principalmente nos tró- Larvas nas fezes lvermectina
na pele, também picos
por autoinfecção
Trichinella Triquinose Larvas em carne No mundo todo Larvas encistadas Tiabendazol
malcozida nos músculos; contra vermes
sorologia adultos
Anisakis Anisaquíase Larvas em frutos do Japão, Estados Unidos, Clínico Não há fármaco
mar malcozidos Holanda disponível

Tecido Wuchereria Filariose Picada de mosquito Principalmente nos tró- Esfregaço de Dietilcarbamazina
picos sangue
Onchocerca Oncocercose (ce- Picada da mosca- África, América Central Biópsia de pele lvermectina
gueira dos rios) -negra
Loa Loíase Picada da mosca- África Tropical Esfregaço de Dietilcarbamazina
-do-cervo sangue
Dracuncu/us Verme-da-guiné Ingestão de copé- África Tropical e Ásia Clínico Tiabendazol antes
podes da água da extração do
verme
Toxocara Larva migrans 1ngestão de ovos No mundo todo Clínico e soroló- Albendazol ou
larvae visceral gico mebendazol
Ancy/ostoma Larva migrans Penetração na pele No mundo todo Clínico Tiabendazol
larvae cutânea

TABELA56-2 Estágios de importância médica do ciclo de vida de nematódeos intestinais (vermes cilíndricos)

Inseto- Estágio em que Estágio(s) mais associado(s) lmportante(s) estágio(s)


Organismo -vetor infecta seres humanos à doença em seres humanos fora de seres humanos

Enterobius Nenhum Ovos O verme fêmea migra para fora do ânus e depo- Nenhum
sita ovos na pele perianal, causando prurido

Trichuris Nenhum Ovos Vermes no colo podem causar prolapso retal Os ovos sobrevivem no meio
ambiente

Ascaris Nenhum Ovos Larvas migram para os pulmões, causando Os ovos sobrevivem no meio
pneumonia ambiente

Ancy/ostoma Nenhum Larvas filariformes pene- Vermes no colo causam perda de sangue Ovo---+ larva rabditiforme---+
e Necator tram na pele (anemia) larva filariforme

Strongyloides Nenhum Larvas filariformes pene- Vermes disseminam-se para vários tecidos Ovo---+ larva rabditiforme---+
tram na pele em indivíduos imunocomprometidos larva filariforme; também o
(autoi nfecção) ciclo de "vida livre" no solo

Trichinella Nenhum Larvas na carne ingerida Larvas encistam no músculo, causando mialgia Larvas no músculo de porcos,
ursos e outros animais

Anisakis Nenhum Larvas em peixes ingeridos Larvas na submucosa do trato GI Larvas no músculo do peixe
4S8 PARTE VI Parasitologia

TABELA 56-3 Estágios de importância médica do ciclo de vida de nematódeos de tecidos (vermes cilíndricos)

Estágio em que Estágio(s) mais associado(s) lmportante(s) estágio(s)


Organismo Inseto-vetor infecta seres humanos à doença em seres humanos fora de seres humanos

Wuchereria Mosquito Larvas Vermes adultos no sistema linfático O mosquito ingere microfilárias no
(elefantíase) sangue humano~ larvas

Onchocerca Mosca-negra Larvas Vermes adultos na pele; microfilárias A mosca-negra ingere microfilárias
nos olhos (cegueira} na pele humana larvas

Loa Mosca-do-cervo Larvas Vermes adultos em tecidos (pele, A mosca-do-cervo ingere microfi-
(mosca-da-manga} conjuntivas} lárias larvas

Dracuncu/us Nenhum Larvas em copépodes Vermes fêmeas causam vesículas Copépodes ingerem larvas
são deglutidas na cutâneas; observação da cabeça
água potável do verme

Toxocara Nenhum Ovos nas fezes caninas Larvas em órgãos internos Vermes adultos no intestino do
canis cão~ovos

Ancy/ostoma Nenhum Larvas filariformes Larvas em tecidos subcutâneos Vermes adultos no intestino do
caninum penetram na pele cão~ ovos~ larvas

NEMATÓDEOS INTESTINAIS - - - - - - - - - - - - - - -
ENTEROBIUS Diferentemente dos ovos de outros nematódeos intestinais,
esses ovos não são encontrados nas fezes. Os vermes adultos
Doença pequenos e esbranquiçados podem ser encontrados nas fezes ou
Enterobius vermicularis causa infecção por oxiúros (enterobíase). próximo ao ânus em crianças que usam fraldas. Não há testes so-
rológicos.
Características importantes
Tratamento
O ciclo de vida de E. vermicularis é apresentado na Figura 56-1.
A infecção ocorre apenas em seres humanos; não há reserva- Mebendazol ou pamoato de pirante! são efetivos. Esses fármacos
tório animal ou vetor. A infecção é adquirida pela ingestão dos matam os vermes adultos no colo, mas não os ovos, de modo que
ovos do verme. Os ovos rompem-se no intestino delgado, onde é indicado novo tratamento após duas semanas. A reinfecção é
as larvas se diferenciam em adultos e migram para o colo. Os muito comum.
vermes machos e fêmeas adultos vivem no colo, onde ocorre o
acasalamento (Figura 56-2A). A noite, a fêmea migra para o ânus Prevenção
e libera milhares de ovos fertilizados na pele perianal e no meio
Não há forma de prevenção.
ambiente. Dentro de 6 horas, os ovos se desenvolvem em ovos
embrionados (Figuras 56-3A e 56-4) e tornam-se infecciosos.
A reinfecção pode ocorrer se os ovos forem transportados até a
boca por meio das mãos após se coçar o prurido cutâneo.
TRICHURIS
Doença
Patogênese e achados clínicos
Trichuris trichiura causa infecção por verme-chicote (tricuríase).
O prurido perianal é o sintoma mais marcante. Acredita-se que
ele seja uma reação alérgica à presença da fêmea adulta ou dos
Características importantes
ovos. O ato de coçar predispõe à infecção bacteriana secundária.
Os seres humanos são infectados pela ingestão de ovos do ver-
Epidemiologia me nos alimentos ou na água contaminados por fezes humanas
(ver Figuras 56-3B e 56-5). Os ovos eclodem no intestino del-
Enterobius é encontrado no mundo todo, sendo o helminto mais
gado, onde as larvas se diferenciam em adultos imaturos. Esses
comum nos Estados Unidos. Crianças com menos de 12 anos
adultos imaturos migram para o colo, onde se tornam maduros,
constituem o grupo mais comumente afetado.
acasalam e produzem milhares de ovos fertilizados diariamente,
que são expelidos nas fezes. Ovos depositados no solo quente e
Diagnóstico laboratorial úmido formam embriões. Quando os ovos embrionados são in-
Os ovos são retirados da pele perianal com o uso da técnica da fita geridos, completa-se o ciclo. A Figura 56-2B ilustra o aspecto ca-
adesiva e podem ser observados microscopicamente (Figura 56-4). racterístico similar a um "chicote" do verme adulto.
CAPÍTULO 56 Nemat ódeos 459

Enterobiose
(Enterobius vermicularis)

Penetração e desenvolvimento
na mucosa

do ceco
Larva eclode
no intestino Seres Fêmea adulta migra
humanos para a região perianal

Ingestão

Ovos em dobras perianais

Ovo embrionado (Estágio de diagnóstico)


(estágio infectante)

Meio ambiente externo

FIGURA 56- 1 Enterobius vermicularis. Ciclo de vida. Parte superior: a seta azu l na parte superior esquerda mostra ovos sendo ingeridos. Oxiúros
adultos formam-se no co lo. Fêmea migra para fora do ânus e deposita ovos na pele perianal. Parte inferior: a seta vermelha indica a sobrevivência
dos ovos no meio ambiente. (Figura cort esia Pu blic Health lmage Library Centers for Disease Cont rai and Prevent ion.)

Patogênese e achados clínicos Epidemiologia


Embora os vermes Trichuris adultos enterrem suas extremida- A infecção por verme-chicote ocorre no mundo todo, sobretu-
des anteriores, semelhantes a pelos, na mucosa intestinal, eles do nos trópicos; mais de 500 milhões de indivíduos são afetados.
não causam anemia significativa, ao contrário dos ancilóstomos. Nos Estados Unidos, a infecção ocorre principalmente nos Esta-
Trichuris podem causar diarreia; entretanto, a m aioria das infec- dos do Sul.*
ções é assintom ática.
Trichuris podem também causar prolapso retal em crian -
ças com infecção acentuada. O prolapso resulta do maior pe- *N. de R.T. No Brasil, a infecção por Trichuris está entre as verminoses
ristaltismo que ocorre em um esforço para expelir os vermes. mais prevalentes, alcançando de 19 a 35% de positividade, dependendo
Os vermes esbranquiçados p odem ser observados na mucosa da região. Estados das regiões Norte e Nordeste possuem as maiores taxas
em prolapso. de prevalência.
460 PARTE VI Parasitologia

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FIGURA 56-2 A: Fêmea adulta de Enterobius vermiculoris (6 X). B: Fêmea adulta de Trichuris trichiuro. Observe a extremidade anterior delgada
(similar a um chicote) (6X). C: Fêmea adulta de Ascoris lumbricoides (0,6X). D: Fêmea adulta de Ancy/ostomo duodeno/e (6X). E: Larva filariforme
de Ancy/ostomo duodeno/e (60 X). F: Cabeça com dentes de Ancy/ostomo duodeno/e (25 X). G: Cabeça com p lacas cortantes de Necotor omericonus
(25 X). H: Fêmea adulta de Strongyloides stercorolis (60 X). I: Larva filariforme de Strongyloides stercorolis (60 X). J: Larva rabditiforme de Strongyloi-
des stercorolis (60X). K: Cisto de Trichinello spirolis no músculo, contendo duas larvas (60X).

Diagnóstico laboratorial Características importantes


O diagnóstico é baseado na observação dos ovos típicos (i.e., em O ciclo de vida de A. lumbricoides é apresentado na Figura 56-6.
forma de barril [em forma de limão], com um tampão mucoide Os seres humanos são infectados pela ingestão de ovos do verme
em cada extremidade) nas fezes (Figuras 56-3B e 56-5). em alimentos ou água contaminados por fezes humanas (ver Fi-
guras 56-3C e 56-7). Os ovos eclodem no intestino delgado e as
Tratamento larvas migram através da parede intestinal até a corrente sanguí-
nea e, então, até os pulmões. Elas penetram nos alvéolos, deslo-
Mebendazol é o fármaco de escolha.
cam -se pelos brônquios e pela traqueia e são, então, deglutidas.
Tornam -se adultas no interior do intestino delgado (Figuras 56-
Prevenção
2C e 56-8). Vivem, então, no lúmen, não se aderindo à parede e
O descarte apropriado das fezes previne a transmissão. obtendo seu sustento a partir dos alimentos ingeridos. Os adul-
tos são os maiores nematódeos intestinais, atingindo frequen-
temente 25 cm ou mais. A. lumbricoides é também conhecido
ASCARIS como "nematódeo gigante': Milhares de ovos são depositados
diariamente, são eliminados nas fezes e diferenciam-se em ovos
Doença embrionados no solo quente e úmido (Figura 56-3C). A ingestão
Ascaris lumbricoides causa ascaridíase. dos ovos embrionados completa o ciclo.

B e D

FIGURA 56-3 A: Ovo de Enterobius vermiculoris. B: Ovo de Trichuris trichiuro. C: Ovo de Ascoris lumbricoides. D: Ovo de Ancy/ostomo duodeno/e
ou Necotoromericonus (300X). (Os círculos representam hemácias.)
CAPÍTULO 56 Nematódeos 461

FIGURA 56-4 Enterobius vermicularis - ovos. A seta longa indica um FIGURA 56-5 Trichuris trichiura- ovo. A seta longa indica um ovo de
ovo do oxiúro, Enterobius vermicularis, obtido pelo método da "fita Trichuris trichiura. A seta curta indica um dos dois "plugues" nas extre-
adesiva". A seta curta indica o embrião no interior do ovo. (Figura cor- midades do ovo. (Figura cortesia de Public Health lmage Library, Centers for
tesia Public Health lmage Library, Centers for Disease Control and Prevention.) Disease Control and Prevention.)

Patogênese e achados clínicos ANCYLOSTOMA E NECATOR


O maior dano ocorre durante a migração larval, e não pela pre- Doença
sença do verme adulto no intestino. Os principais locais de rea-
ção tecidual são os pulmões, onde ocorre inflamação com exsu-
Ancylostoma duodenale (ancilóstomo do Velho Mundo) e
Necator americanus (ancilóstomo do Novo Mundo) causam an-
dato eosinofílico em resposta aos antígenos das larvas. Uma vez
que os adultos obtêm sua nutrição a partir do alimento ingerido, cilostomíase.
a presença de uma grande quantidade de vermes pode contribuir
para a má nutrição, principalmente em crianças habitantes de Características importantes
países em desenvolvimento. O ciclo de vida dos ancilóstomos é mostrado na Figura 56-9.
A maioria das infecções é assintomática. Pneumonia por Os seres humanos são infectados quando larvas ftlariformes
Ascaris, com febre, tosse e eosinofilia, pode ocorrer quando há presentes no solo úmido penetram na pele, geralmente nos
grande quantidade de larvas. Dor abdominal e obstrução podem pés ou nas pernas (Figuras 56-2E e 56-10). Elas são carreadas
resultar da presença de vermes adultos no intestino. para o sangue e para os pulmões, migram em direção aos al-
véolos, brônquios e pela traqueia, sendo, então, deglutidas. De-
Epidemiologia senvolvem-se em adultos no intestino delgado, aderindo-se à
parede por meio de lâminas cortantes (Necator) ou dentículos
A infecção por Ascaris é muito comum, sobretudo nos trópicos;
(Ancylostoma) (Figuras 56-2D, F e G, e 56-11). Alimentam-se de
centenas de milhões de indivíduos são infectados. Nos Estados
sangue a partir dos capilares das vilosidades intestinais. Milha-
Unidos, a maioria dos casos ocorre nos Estados do Sul.*
res de ovos são eliminados diariamente nas fezes (Figuras 56-3D
e 56-12). Inicialmente, os ovos desenvolvem-se em larvas não
Diagnóstico laboratorial infecciosas e que se alimentam (rabditiformes) e, em seguida,
O diagnóstico geralmente é realizado por microscopia, a partir em larvas do terceiro estágio, infecciosas e que não se alimentam
da detecção dos ovos nas fezes. O ovo é oval, com superfície irre- (filariformes) (Figura 56-2E), as quais penetram na pele para
gular (Figuras 56-3C e 56-7). Ocasionalmente, o paciente obser- completar o ciclo.
va vermes adultos nas fezes.
Patogênese e achados clínicos
Tratamento O principal dano é decorrente da perda de sangue no local de
Mebendazol e pamoato de pirante! são eficazes. aderência no intestino delgado. Pode haver perda diária de O, 1 a
0,3 mL por verme. O sangue é consumido pelo verme e também
Prevenção extravasa do local em resposta a um anticoagulante produzido
O descarte apropriado das fezes pode prevenir a ascaridíase. por ele. Fraqueza e palidez acompanham a anemia microcítica
causada pela perda sanguínea. Esses sintomas ocorrem em pa-
cientes cujo estado nutricional não é capaz de compensar a per-
*N. de R.T. A ascaridíase é considerada a helmintose mais frequente no
Brasil, com uma prevalência que alcança até 55% de acometimento, de- da sanguínea. A ancilostomose cutânea, uma pápula ou vesícula
pendendo da região geográfica analisada. Não obstante, a melhoria das pruriginosa, pode ocorrer no local de entrada das larvas na pele.
condições fitossanitárias em comunidades menos favorecidas tem ajuda- Pneumonia com eosinofilia pode ser observada durante a migra-
do a diminuir o número de pessoas infectadas nas últimas décadas. ção larval pelos pulmões.
462 PARTE VI Parasitologia

Ascaridíase
(Ascaris lumbricoides) ~ Traqueia

Pulmões Faringe

Circulação Deglutição

'
Larva eclode
Seres
no intestino humanos
Adultos no lúmen
do intestino delgado a
Ingestão

Ovos nas fezes

Ovo embrionado com (Estágio de diagnóstico)


larva no segundo estágio
(estágio infectante) Célula 1
fertilizada

Meio ambiente externo

Clivagem Célula 2
avançada fertilizada

FIGURA 56-6 Ascaris lumbricoides. Ciclo de vida. Parte superior: A seta azul na parte superior esquerda mostra ovos sendo ingeridos. As larvas
emergem no trato intestinal, penetram na corrente sanguínea e migram para os pulmões. Elas, então, entram nos alvéolos, ascendem em direção
aos brônquios e à traqueia, migram para a faringe e são engolidas. VermesAscaris adultos formam-se no intestino delgado. Os ovos são transmiti-
dos pelas fezes de seres humanos. Parte inferior: A seta vermelha indica a maturação dos ovos no solo. (Figura cortesia de Public Health lmage Library,
Centers for Disease Control and Prevention.)

Epidemiologia em exigir que as crianças utilizem calçados para frequentar a


escola.
Ancilóstomos são encontrados no mundo todo, especialmente
em regiões tropicais. Nos Estados Unidos, Necator é endêmico
Diagnóstico laboratorial
nos Estados rurais do Sul.* Andar descalço no solo predispõe
à infecção. Uma importante medida de saúde pública consiste O diagnóstico é realizado microscopicamente a partir da obser-
vação dos ovos nas fezes (Figuras 56-3D e 56-12). É frequente a
presença de sangue oculto nas fezes. Eosinofilia é típico.
*N. de R.T. A ancilostomíase, popularmente conhecida como amarelão,
foi muito prevalente no Brasil, a ponto de ser referenciada na literatura
nacional pelo personagem de Monteiro Lobato, Jeca Tatu. Hoje, no en-
Tratamento
tanto, as taxas de prevalência decresceram enormemente, principalmen- Mebendazol e pamoato de pirantel são eficazes.
te em função da melhoria das condições fitossanitárias. Estima-se que a
prevalência tenha caído de 74%, no início do século XX, para 5,5% no Prevenção
início deste século, na zona rural. Ainda assim, algumas comunidades ru-
rais de Minas Gerais e da região Nordeste apresentam índices de infecção Descarte apropriado de detritos e uso de calçados são medidas de
superiores a 60%. prevenção efetivas.
CAPÍTULO 56 Nemat ódeos 463

STRONGYLOIDES
Doença
Strongyloides stercoralis causa estrongiloidíase.

Características importantes
O ciclo de vida de S. stercoralis é apresentado na Figura 56- 13.
S. stercoralis apresenta dois ciclos de vida distintos, um no in-
terior do corpo humano e outro de vida livre no solo. O ciclo de
vida no corpo humano inicia pela penetração de larvas (filari-
formes) infecciosas (ver Figuras 56-21 e 56-10) na pele, geral-
mente na pele dos pés, e sua migração para os pulmões. As larvas
penetram nos alvéolos, ascendem pelos brônquios e pela tra-
queia, sendo, então, deglutidas. No intestino delgado, as larvas
FIGURA 56-7 Ascaris lumbricoides - ovo. A seta indica um ovo de transformam-se em adultos (Figura 56-2H), que penetram na
Ascaris. Observa-se a típica "curvatura" do ovo. (Fig ura cortesia de Public
mucosa e produzem ovos.
Hea lth lmage Li brary, Cent ers for Disease Control and Prevention.)
Os ovos geralmente eclodem no interior da mucosa, for-
mando larvas rabditiformes (Figura 56-2J) que são elim inadas
nas fezes. Algum as larvas transformam-se em larvas filárias, que
penetram diretamente na parede intestinal sem deixar o hospe-
deiro, e migram até os pulmões (autoinfecção). As larvas fila-
riformes também podem sair do ânus e causar uma reinfecção
através da pele perianal. Em pacientes imunocompetentes, esse
é um evento incomum, sem importância clínica. No entanto, em
pacientes imunocomprometidos (p. ex., aqueles que possuem a
síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids] ou que fazem
uso de altas dosagens de corticosteroides) ou ainda pacientes gra-
vemente desnutridos, a autoinfecção pode conduzir a um a rein-
fecção massiva, com a passagem de larvas a vários órgãos, e com
consequências graves, muitas vezes fatais. A reinfecção também
pode ocorrer em indivíduos infectados pelo vírus linfotrófico de
células T humanas (HTLV), uma vez que sua capacidade de orga-
nizar uma resposta de células T protetora é reduzida.
Quando as larvas são eliminadas nas fezes e atingem o solo
quente e úmido, passam por estágios sucessivos, formando ver-
mes adultos machos e fêmeas. Após o acasalamento, o ciclo com-
pleto de ovo, larva e adulto pode ocorrer no solo. Após diversos
ciclos de vida livre, são formadas larvas filariformes. Quando em
contato com a pele, as larvas penetram nela novamente e iniciam
o ciclo parasitário no interior dos seres humanos.

Patogênese e achados clínicos


A maioria dos pacientes é assintomática, principalmente os com
pequena quantidade de vermes. Vermes fêmeas adultas presentes
na parede do intestino delgado podem causar inflamação, resul-
tando em diarreia aquosa. Na autoinfecção, as larvas penetrantes
podem causar danos significativos à mucosa intestinal, de forma
que pode se desenvolver uma sepse causada por bactérias enté-
ricas, como Escherichia coli e Bacteroides fragilis. Larvas nos pul-
mões podem produzir pneumonite similar à causada por Ascaris.
Pode ocorrer prurido (ancilostomose cutânea) no local de pene-
tração das larvas na pele, como observado com ancilóstomos.

Epidemiologia
FIGURA 56-8 Ascaris lumbricoides - vermes adu ltos. (Figura cortesia A estrongiloidíase ocorre principalmente nos trópicos, sobretu-
de Publ ic Health lmage Libra ry, Centers for Disease Control and Prevention, e do do no Sudeste Asiático. Seu padrão geográfico é similar ao dos
Dr. Henry Bishop.) ancilóstomos, uma vez que o mesm o tipo de solo é necessário.
464 PARTEVI Parasitologia

Infecção pelo ancilóstomo


(Ancylostoma duodenale, Deglutição
Necator americanus)
Faringe Associação ao
intestino delgado

Traqueia

~
Pulmões

Seres
Circulação
humanos

Penetração na pele

Ovos nas fezes

(estágio de diagnóstico)
Larva filariforme
(estágio infectante)

Meio ambiente externo

A larva rabditiforme
eclode

Larva rabditiforme no solo

FIGURA 56-9 Anci lóstomos (Necator e Ancylostoma). Ciclo de vida. Parte superior: A seta azul na parte esquerda mostra a penetração da larva
filariforme na pele. As larvas migram pelo p ulmão e podem causar p neumonia. O ancilóst omo adulto associa-se à m ucosa intestinal e causa
hemorragia e anemia. Os ovos são t ransmiti dos pelas fezes de seres humanos. Parte inferior: A seta vermel ha indica a maturação dos ovos no
solo para forma r a larva rabditiforme e, então, a larva fi lariforme infectante. (Figura cortesia de Public Hea lth lmage Library, Centers for Disease Control
and Prevention.)

Nos Estados Unidos, Strongyloides é endêmico nos Estados do Testes sorológicos são úteis quando as larvas não são visualiza-
sudeste.* das. Um imunoensaio enzimático, que detecta anticorpos contra
antígenos larvais, é disponibilizado pelo CDC, em Atlanta.
Diagnóstico laboratorial
Tratamento
O diagnóstico depende da detecção das larvas, em vez da detec-
ção dos ovos, nas fezes (Figura 56-10). Com o em todas as infec- A ivermectina é o fármaco de escolha. Tiabendazol é um fármaco
ções por nematódeos m igratórios, a eosinofilia pode ser intensa. alternativo.

Prevenção
*N. de R.T. No Brasil, a prevalência da infecção é baixa, e a maior par-
te das notificações ocorre nos Estados de Amapá, Goiás, Minas Gerais A prevenção envolve descarte ap ropriado de esgoto e uso de
e Rondônia. calçados.
CAPÍTULO 56 Nemat ódeos 465


FIGURA 56-1 O Necatore Strongyloides - larvas filariformes. Larva fi lariforme de Necator, à esquerda, e de Strongyloides, à direita. A larva fi larifor-
me é a forma infecciosa que penetra na pele. (Figura cortesia d e Public Health lmage Library, Centers for Disease Contrai and Prevention.)

TRICHINELLA As larvas excistam e tornam-se adultas no interior da mucosa


do intestino delgado. Os ovos eclodem no interior das fêmeas
Doença adultas, sendo as larvas liberadas e disseminadas para vários ór-
Trichinella spiralis causa triquinose. gãos pela corrente sanguínea; entretanto, as larvas desenvolvem-
se apenas em células de músculos estriados. No interior dessas
"células alimentadoras': encistam em uma cápsula fibrosa e po-
Características importantes
dem perm anecer viáveis por vários anos, embora eventualmente
O ciclo de vida de T. spiralis é apresentado na Figura 56- 14. calcifiquem-se (Figura 56-15).
Qualquer mamífero pode ser infectado, mas os porcos são o re- O parasita é mantido na natureza por ciclos no interior
servatório mais importante da doença humana nos Estados Uni- dos hospedeiros reservatórios, principalmente suínos e ratos.
dos (exceto no Alasca, onde ursos são o reservatório). Os seres Os seres humanos são hospedeiros terminais, uma vez que a
humanos são infectados pela ingestão de carne crua ou malco- carne infectada não é consum ida por outros animais.
zida contendo larvas encistadas nos músculos (Figura 56-2K).

FIGURA 56-11 Ancy/ostoma duodeno/e - cabeça do ancilósto- FIGURA 56-12 Necator e Ancy/ostoma (anci lóstomo) - ovo. A seta
mo adulto. As setas indicam os quatro dentes cortantes na boca do indica um ovo de um ancilóstomo. Os ovos de Necator e Ancy/ostoma
Ancy/ostoma. (Figura cortesia d o Dr. M. Melvin, Public Health lmage Library, são indistinguíveis. Observa-se o embrião enrolado no interior do ovo.
Centers for Disease Cont rai and Prevent ion.) (Figura cortesia de Publ ic Hea lt h lmage Libra ry, Centers for Di sease Contrai and
Prevention.)
466 PARTE VI Parasitologia

Estrongiloidíase
( Strongyloides stercoralis)

f) As larvas filariformes entram


e Larvas filariformes
infectantes no solo
no sistema circulatório, são
transportadas para os pulmões,
penetram na pele e penetram nos espaços alveolares;
intacta, iniciando
a infecção D elas são carreadas até a traqueia
e faringe, são engolidas,

0 Larvas rabditiformes
e alcançam o intestino delgado,
onde se tornam vermes adultos
desenvolvem-se em
larvas filariformes
infectantes

Verme fêmea
adu lto no
'q,º intestino
Larvas Autoinfecção:
(JCJ:,
rabditiformes ~ larvas rabditiformes
formam ovos
embrionados ~
.s·S'
no intestino grosso
tornam-se larvas
~ filariformes, penetram
na mucosa intestinal
ou pele perianal e
seguem o ciclo
infectante normal

o
Os ovos são produzidos
pela fertilização dos
vermes fêmeas adultos

Ovos são depositados


Larvas rabditiformes na mucosa do intestino,
no intestino são eclodem e migram
excretadas nas fezes para o lúmen

0 Desenvolvimento
em vermes de
vida Iivre no solo LEGENDA

D Estágio infectante

m Estágio de diagnóstico

FIGURA 56-13 Strongyloides stercoralis. Ciclo de vida. O centro e o lado direito da figura descrevem os estágios no interior de seres humanos
(setas roxas). As larvas filarifo rmes penetram na pele (etapa 1). As larvas migram pelo pulmão e podem causar pneumonia. Vermes Strongyloides
adu ltos formam-se no intestino delgado. Os ovos eclodem na mucosa intestinal e as larvas rabditiformes são excretadas nas fezes humanas, e não
os ovos dos vermes. A seta roxa curvada que parte da etapa 5 e sobe descreve o ciclo de autoinfecção pelo qual se fo rmam as larvas fi lariformes
no t rato GI, infectando através da penetração da mucosa do intestino ou da pele perianal. O lado esquerdo da figu ra descreve a maturação no solo
(setas vermelhas). Observa-se que as etapas 6, 7 e 8 constituem o ciclo de vida liv re no solo. (Figu ra cortesia de Publ ic Health lmage Library, Centers for
Disease Contrai and Prevention/Dr. Alexander J. da Silva e Melanie Moser.)

Patogênese e achados clínicos Epidemiologia


Alguns dias após o consumo de carne malcozida, geralmente car- A triquinose ocorre em todo o mundo, principalmente no Leste
ne de porco, o paciente apresenta diarreia seguida de uma a duas Europeu e na África Ocidental. Nos Estados Unidos, está rela-
semanas depois por febre, dor muscular, edema periorbital e cionada à ingestão de salsichas de preparo caseiro, geralmente
eosinofilia. Hemorragias subconjuntivais são um importante cri- em fazendas onde os porcos são alimentados com lavagem não
tério diagnóstico. Sinais de doenças cardíaca e do sistema nervo- cozida. Carnes de ursos e focas também podem ser fontes de con -
so central são frequentes, uma vez que as larvas migram também taminação. Em vários países, a doença ocorre principalmente em
para esses tecidos. A morte é rara e decorre geralmente de insufi- caçadores que ingerem caça silvestre malcozida.
ciência cardíaca congestiva ou paralisia respiratória.
CAPÍTULO 56 Nematódeos 467

Triquinose
( Trichinella spiralis)
<@na
Larva depositada
mucosa

Larva liberada no
Seres Circulação
intestino delgado humanos

Adultos no Larva encistada na


intestino delgado célula alimentadora no
músculo estriado
Larva liberada no
Larva depositada
intestino delgado
na mucosa

Porcos e outros carnívoros


(p. ex., ursos) Circulação

Ingestão Larva encistada no


músculo estriado
(estágio de diagnóstico)

Larva encistada no
::.;;__:,,;;;;;;;.,.___:....;;:::.;:,:::-=::..._. músculo estriado
(estágio infectante)

Carne
(porco, etc.)

FIGURA 56-14 Trichinella spiralis. Ciclo de vida. Parte superior: A seta azul no lado esquerdo mostra a ingestão de carne (músculo) contendo
a larva de Trichinella encistada. Os vermes adultos no intest ino produzem as larvas que entram na corrente sanguínea e encistam no músculo
humano. Parte inferior: A seta vermelha circular descreve o ciclo natural no qual Trichinella circula entre os porcos e vários carnívoros, como os
ursos. {Figura cortesia de Public Health lmage Library, Centers for Disease Control and Prevention.)
468 PARTEVI Parasitologia

Diagnóstico laboratorial
A biópsia muscular revela larvas no músculo estriado (Figuras
56-2K e 56- 15). Testes sorológicos, sobretudo o teste de flocu-
lação de bentonita, t orn am -se p ositivos três sem anas após a
infecção.

Tratamento
Não há tratamento para triquinose, embora se possa adm inis-
trar esteroides e mebendazol em pacientes com sintom as graves.
Precocemente na infecção, m ebendazol é efetivo contra verm es
intestinais adultos.

Prevenção
FIGURA 56- 15 Trichinel/a spiralis - larvas no m úsculo esquelét ico.
A doen ça pode ser preven ida pela cocção adequada da carne
As três setas indicam larvas de Trichinel/a no interior das "célu las ali-
mentadoras" no músculo esquelét ico. (Cort esia de Pu blic Health lmage de p orco e p ela alimentação de porcos apen as com lavagem
Library, Centers for Disease Contrai and Prevention.) cozida.

NEMATÕDEOS TECIDUAIS - - - - - - - - - - - - - - - -
WUCHERERIA Espécies de Wolbachia são bactérias semelhantes à Rickett-
sia encontradas intracelularmente no interior de nematódeos fi-
Doença lariais, com o Wuchereria e Onchocerca. As células de Wolbachia
1
Wuchereria bancrofti causa filaríase, ou filariose. A elefantíase liberam moléculas sim ilares a endotoxinas e acredita-se que de-
é uma característica m arcante dessa doença. A eosinofilia pul- sempenhem papel na patogênese das infecções por Wuchereria e
monar tropical é um a reação de h ipersensibilidade im ediata a Onchocerca. Evidências desse fato incluem a redução da resposta
W bancrofti que ocorre no pulm ão. inflamatória à infecção pelo nematódeo pelo uso de doxiciclina,
que mata as células de Wolbachia, resultando na redução do nú-
m ero de microfilárias e da resposta inflamatória à infecção pelo
Características importantes
nematódeo.
O ciclo de vida de W bancrofti é apresentado na Figura 56- 16. Os A eosinofilia pulmonar tropical é caracterizada por tosse e
seres humanos são infectados quando o mosquito fêmea (princi- dificuldade respiratória, sobretudo à noite. Os sintomas são cau-
palmente espécies de Anopheles e Culex) deposita larvas infectan- sados por m icrofilárias nos pulmões, que provocam reação de
tes na pele durante a picada. As larvas penetram na pele, atingem hipersensibilidade imediata, caracterizada por alta concentração
um linfonodo e, após um ano, tornam -se adultos que produzem de imunoglobulina E (IgE) e eosinofilia.
microfilárias (Figuras 56-17A e 56-18). Elas circulam no sangue,
principalmente à noite, sendo ingeridas por mosquitos picadores. Epidemiologia
No interior do mosquito, as microfilárias produzem larvas infec-
tantes, que são transferidas na picada seguinte. Os seres humanos A doen ça ocorre em regiões tropicais da África, da Ásia e da
são os únicos hospedeiros definitivos. América Latina. A espécie de mosquito que atua como vetor va-
ria de região para região. No total, 200 a 300 milhões de indiví-
duos são infectados.
Patogênese e achados clínicos
Vermes adultos nos linfonodos causam inflam ação que, even - Diagnóstico laboratorial
tualm ente, obstrui os vasos linfáticos, causando edema. O ede-
ma maciço das pernas é denominado elefantíase (Figura 56- 19). Esfregaços espessos de sangue, coletados do paciente à noite, re-
Observa-se que as microfilárias não causam sintomas. velam as microfilárias (Figura 56- 18). Testes sorológicos não são
Infecções precoces são assintom áticas. Posteriorm ente, úteis.
ocorre febre, linfangite e celulite. De maneira gradual, a obstru-
ção leva a edema e fibrose das pernas e dos órgãos genitais, so- Tratamento
bretudo do escroto. A elefantíase ocorre principalmente em pa- Dietilcarbamazina é efetiva apenas contra microfilárias; não há
cientes que sofreram repetidas infecções durante longo período. terapia com fármacos contra vermes adultos. O tratamento de pa-
Turist as, que, em geral, são infectados apenas uma vez, não são cientes que apresentam infecções por Wuchereria (e Onchocerca)
acometidos por elefantíase. com doxiciclina, que possui com o alvo as bactérias Wolbachia,
resulta em uma redução significativa no número de microfilárias
1
Brugia malayi causa filariose na Malásia. no paciente.
CAPÍTULO 56 Nematódeos 469

Filariose
( Wuchereria bancroft1) A Mosquito suga o sangue
V (larva infectante L3
penetra na pele)

Q Larva infectante
L3 migra para a
probóscide do mosquito
--------
... ...
~="I ', '
o ·-.. . .
'

' ... ...


...
f} Vermes adultos no sistema linfático

Estágios no mosquito Estágios em


seres humanos
0 e....-::~-~.;_-_-_:_->~
Larva L1

e Vermes adultos produzem


microfilárias com envoltório
que migram para os linfonodos
C, Mosquito suga e canais sanguíneos
0 Microfilárias perdem seu o sangue (ingere
envoltório, penetram no intestino microfilárias)
médio do mosquito e migram
para os músculos torácicos --o I
,I
I
I

LEGENDA J
I '
D Estágio infectante

m Estágio de diagnóstico

FIGURA 56- 16 Wuchereria bancrofti. Ciclo de vida. O lado direito da figura descreve os estágios no interior de seres humanos (setas roxas). Os
seres humanos são infectados na etapa 1, quando o mosquito pica o ser humano e as larvas entram na corrente sangu ínea. Vermes adultos de
Wuchereria são formados no sistema linfático. O mosquito é infectado na etapa 4, quando ingere microfilárias no sangue humano. O lado esquer-
do da figura descreve os estágios no interior do mosquito (setas vermelhas). (Figura cortesia de Public Health lmage Library, Centers for Disease Contra i
and Prevention/Dr. Alexander J. da Si lva e Melan ie Moser.)

FIGURA 56- 17 A: Microfilária de Wuchereria bancrofti no sangue. Observa-se que a cauda pontiaguda é desprovida de núcleos (225-300 X
8-1 O µm). B: Microfil ária de Onchocerca volvulus na pele (raramente no sangue) (300-350 X 5-9 µm). C: Microfilária de Loa /oa no sangue. Ob-
serva-se que a cauda pontiaguda contém núcleos (250-300 X 6-9 µ m). (Os círculos representam hemácias.)
470 PARTEVI Parasitologia

Características importantes
Os seres humanos são infectados quando a mosca-negra fêmea,
Simulium, deposita larvas infectantes durante a picada. As larvas

r penetram no ferimento e migram para o tecido subcutâneo, onde
se diferenciam em adultos, geralmente no interior de nódulos
dérmicos. A fêmea produz microfilárias (Figura 56- l 7B) que são
ingeridas por outra mosca-negra durante a picada. As microfilárias
desenvolvem-se em larvas infectantes na mosca, completando o ci-
clo. Os seres humanos são os únicos hospedeiros definitivos.

Patogênese e achados clínicos


Ocorre inflamação no tecido subcutâneo, com a formação de
pápulas e nódulos pruriginosos em resposta às proteínas dos ver-
m es adultos. As microfilárias migram através do tecido subcutâ-
FIGURA 56-18 Wuchereria bancrofti-verme filaria! no sangue. A seta neo, concentrando-se finalmente nos olhos. Nesse local, causam
indica o verme filaria! no esfregaço de san gue. (Cortesia do Dr. M. Melvi n, lesões que podem levar à cegueira. A perda de fibras elásticas
Pub lic Hea lt h lmage Library, Cent ers for Disease Contrai and Prevent ion.)
subcutâneas leva ao enrugamento da pele, denominada «virilha
pendente", quando ocorre na região inguinal. Esp essam ento,
descam ação e ressecamento da pele, acompanhados por prurido
Prevenção intenso, são m anifestações de um a dermatite frequentemente de-
A prevenção envolve o controle de mosquitos com inseticidas e nominada «pele de lagarto':
uso de vestuário de proteção, mosquiteiros e repelentes. O papel de Wolbachia na patogênese da oncocercose foi dis-
cutida anteriormente em '' Wuchereria':

ONCHOCERCA Epidemiologia
Milhões de indivíduos são afetados n a África e n a Am érica
Doença Central. A doença é uma importante causa de cegueira. É deno-
Onchocerca volvulus causa oncocercose. m inada cegueira dos rios, pois as moscas-negras se desenvolvem
nos rios, e indivíduos que vivem ao longo dos rios são afetados.
As taxas de infecção são, em geral, superiores a 80% em regiões
de infecção endêmica.

Diagnóstico laboratorial
A biópsia da pele afetada revela m icrofilárias (Figura 56- l 7B).
O exame do sangue para detecção de microfilárias não é útil, uma
vez que elas não circulam no sangue. A eosinofilia é comum . Tes-
tes sorológicos não são úteis.

Tratamento
Ivermectina é efetiva contra microfilárias, mas não contra adul-
tos. Suramina mata vermes adultos, porém é bastante tóxica, sen -
do utilizada particularmente nos indivíduos com doença ocular.
Nódulos cutâneos podem ser removidos cirurgicam ente, mas
novos nódulos também podem se desenvolver; portanto, uma
cura cirúrgica é improvável em regiões de infecção endêmica.

Prevenção
A prevenção envolve o controle da mosca-negra com inseticidas.
Ivermectina previne a doença.

LOA
FIGURA 56- 19 Wuchereria bancrofti - elefant íase. Observa-se o in-
Doença
chaço maciço das pernas bilateralmente. (Cort esia d e Jay S. Keystone, MD,
FRCPC.) Loa Zoa causa loíase.
CAPÍTULO 56 Nematódeos 471

Características importantes Características importantes


Os seres humanos são infectados pela picada da mosca-do-cervo Seres humanos são infectados quando pequenos crustáceos
(mosca-da-manga), Chrysops, que deposita larvas infectantes na (copépodes) contendo larvas infectantes são deglutidos na água
pele. As larvas penetram através do ferimento da picada, circulam potável. As larvas são liberadas no intestino delgado e migram
pelo corpo e desenvolvem-se em adultos. As fêmeas liberam rnicro- pelo corpo, onde se desenvolvem em adultos. Fêmeas adultas,
filárias (Figura 56-l 7C) que penetram no sangue, particularmente com comprimento na escala de metros, causam ulceração cutâ-
durante o dia. As rnicrofilárias são captadas pela mosca durante um nea, liberando, então, larvas na água doce. Copépodes ingerem as
repasto sanguíneo e diferenciam-se em larvas infectantes, que dão larvas, que se transformam em larvas infectantes. O ciclo é com-
continuidade ao ciclo quando a mosca pica outro indivíduo. pletado quando estas são ingeridas na água.

Patogênese e achados clínicos Patogênese e achados clínicos


Não há resposta inflamatória às rnicrofilárias ou aos indivíduos A fêmea adulta produz urna substância que provoca inflama-
adultos, mas urna reação de hipersensibilidade causa edema sub- ção, formação de vesículas e ulceração da pele, geralmente nas
cutâneo transitório, localizado e não eriternatoso (tumefações de extremidades inferiores. A pápula inflamada provoca ardência e
Calabar). O achado mais crítico consiste em um verme adulto prurido, e a úlcera pode sofrer infecção secundária. O diagnósti-
atravessando a conjuntiva ocular, um evento inofensivo, mas co, em geral, é realizado clinicamente pela detecção do verme na
desconcertante. úlcera cutânea.

Epidemiologia Epidemiologia
A doença é encontrada apenas na África Tropical Central e na A campanha de erradicação global patrocinada pela Organização
África Ocidental, o hábitat do vetor Chrysops. Mundial de Saúde (OMS) reduziu substancialmente o número de
casos. No fim de 2012, foram detectados casos apenas em quatro
Diagnóstico laboratorial países, com apenas 542 casos registrados. Antes da campanha, a
O diagnóstico é realizado pela visualização das rnicrofilárias em doença ocorreu em grandes áreas tropicais da África, do Oriente
um esfregaço de sangue (Figura 56-17C). Não há testes soroló- Médio e da Índia, onde dezenas de milhões de indivíduos foram
gicos úteis. infectados.

Tratamento Diagnóstico laboratorial


Dietilcarbamazina elimina as rnicrofilárias e pode matar os adul- O laboratório, em geral, não contribui para o diagnóstico.
tos. Os vermes nos olhos podem requerer excisão cirúrgica.
Tratamento
Prevenção
O tratamento consagrado pelo uso consiste na extração grada-
O controle da mosca com inseticidas pode prevenir a doença. tiva do verme, enrolando-o em urna haste durante um período
de alguns dias. Tiabendazol ou rnetronidazol facilitam a extração
do verme.
DRACUNCULUS
Doença Prevenção
Dracunculus medinensis (verme da Guiné) causa dracunculíase. A prevenção consiste em filtrar ou ferver a água potável.

NEMATÕDEOS CUJAS LARVAS CAUSAM DOENÇA - - - - - - - -


TOXOCARA intestino delgado. As larvas migram para diversos órgãos, so-
bretudo o fígado, o encéfalo e os olhos. As larvas são, por fim,
Doença encapsuladas e morrem. O ciclo de vida não se completa nos
seres humanos; portanto, os seres humanos são hospedeiros
Toxocara canis é a principal causa de larva migrans visceral.
Toxocara cati e diversos outros nernatódeos relacionados tam- acidentais.
bém provocam essa doença.
Patogênese e achados clínicos
Características importantes A patogênese está relacionada aos granulomas que se formam
O hospedeiro definitivo de T. canis é o cão. A fêmea adulta de ao redor das larvas mortas, como resultado de uma resposta de
T. canis presente no intestino do cão produz ovos que são eli- hipersensibilidade tardia às proteínas larvais. O achado clínico
minados nas fezes e atingem o solo. Os seres humanos ingerem mais grave é a cegueira associada ao comprometimento da retina.
partículas do solo contendo os ovos, que eclodem em larvas no Febre, hepatomegalia e eosinofilia são comuns.
472 PARTE VI Parasitologia

Epidemiologia
Crianças pequenas são as principais afetadas, uma vez que exi-
bem maior probabilidade de ingerir terra contendo os ovos.
T. canis é um parasita comum de cães nos Estados Unidos.

Diagnóstico laboratorial
Testes sorológicos são comumente utilizados; entretanto, um
diagnóstico definitivo depende da visualização das larvas no te-
cido. A presença de hipergamaglobulinemia e eosinofilia funda-
menta o diagnóstico.

Tratamento
O tratamento de escolha consiste em albendazol ou mebendazol,
embora não haja tratamento eficaz comprovado. Diversos pa- FIGURA 56-20 Ancy/ostoma caninum - larva migrans cutânea.
cientes recuperam-se sem tratamento. Observa-se a erupção serpiginosa no pé. (Reproduzida, com permissão,
do Dr. Richard P. Usatine. De Usatine RP: A rash on the feet and buttocks. West J
Med. 170; 334:1999.)
Prevenção
Os cães devem ser vermifugados e deve-se evitar que as crianças
ingiram terra. sumo de peixe malcozido, e Baylisascaris procyonis, uma lom-
briga de guaxinim, é adquirida pela ingestão acidental de fezes
do animal. Esses organismos causam doença mais grave que
ANCYLOSTOMA Angiostrongylus, havendo casos fatais. Albendazol pode ser eficaz
contra Gnathostoma, mas não há tratamento para Baylisascaris.
A larva migrans cutânea é causada pelas larvas filariformes de
A. caninum (ancilóstomo canino) e Ancylostoma braziliense
(ancilóstomo felino), bem como por outros nematódeos. O or-
ANISAKIS
ganismo não é capaz de completar seu ciclo de vida em seres
humanos. As larvas penetram na pele e migram através do te- Anisaquíase é causada pelas larvas do nematódeo Anisakis
cido subcutâneo, causando uma resposta inflamatória. As le- simplex. As larvas são ingeridas em frutos do mar crus e podem
sões ("erupção serpiginosa,,) são extremamente pruriginosas penetrar na submucosa gástrica ou intestinal. Os vermes adultos
(Figura 56-20). A doença ocorre principalmente no Sul dos Esta- vivem no intestino de mamíferos marinhos, como baleias, gol-
dos Unidos em crianças e trabalhadores de construções, expos- finhos e focas. Os ovos produzidos pelos adultos são ingeridos
tos ao solo infectado. O diagnóstico é realizado clinicamente; o por crustáceos e, então, por peixes marinhos, como salmão, ca-
laboratório é de pouca utilidade. Tiabendazol oral ou tópico é, vala e arenque. Gastrenterite, dor abdominal, eosinofilia e sangue
em geral, efetivo. oculto nas fezes normalmente ocorrem. A infecção aguda pode
assemelhar-se à apendicite, enquanto a infecção crônica pode ser
similar ao câncer gastrintestinal.
ANGIOSTRONGYLUS Nos Estados Unidos, a maioria dos casos foi associada ao
consumo de sushi e sashimi (principalmente de salmão e cioba)
As larvas do nematódeo pulmonar de ratos, Angiostrongylus
cantonensis, causam meningite eosinofílica, isto é, meningite ca- em restaurantes japoneses. O diagnóstico pode ser realizado por
racterizada por diversos eosinófilos no líquido cerebrospinal e no endoscopia ou laparotomia. Testes microbiológicos e sorológicos
sangue. Pelo menos 10% dos leucócitos correspondem a eosinó- não são úteis para o diagnóstico. Não há fármacos efetivos. A re-
filos. As larvas geralmente são ingeridas em frutos do mar malco- moção cirúrgica pode ser necessária. A prevenção consiste na
zidos, como caranguejos, camarões e caramujos. A infecção por cacção adequada dos frutos do mar ou no congelamento destes
esse organismo ocorre com maior frequência nos países da Ásia. por 24 horas antes da ingestão.
O diagnóstico é realizado, em geral, com base clínica; contudo, Outro membro da família de nematódeos anisaquídeos é
o laboratório pode, ocasionalmente, detectar a larva no líquido Pseudoterranova decepiens, cujas larvas causam uma forma não
cerebrospinal. Não há tratamento; a maioria dos pacientes recu- invasiva de anisaquíase. As larvas são adquiridas pela ingestão
pera-se de forma espontânea, sem sequelas relevantes. de peixe malcozido e causam vômito e dor abdominal. O diag-
A meningite eosinofílica também é causada pelas larvas de nóstico é realizado pela detecção das larvas no trato intestinal ou
outros dois nematódeos. Gnathostoma spinigerum, um nema- no vômito. Não existem fármacos disponíveis para o tratamento.
tódeo intestinal de gatos e cães, é adquirido por meio do con - As larvas podem ser removidas durante uma endoscopia.
CAPÍTULO 56 Nematódeos 473

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 7. Seu paciente é um homem de 60 anos com dor abdominal, vômito e
perda de peso nos últimos dois meses. Ele tem história de asma que
1. Você é voluntário do grupo Médicos sem Fronteiras na África requer 20 mg de prednisona diariamente para controle. Ele morou
Subsaariana. Em certas vilas, você detecta que um número signi- a maior parte de sua vida em Cuba, mudou-se para a Espanha há
ficativo de crianças apresenta anemia. A presença desse quadro é 10 anos e vive nos Estados Unidos há um ano. O exame abdominal
mais provável devido à infecção por qual dos seguintes agentes? está normal e estudos radiológicos não revelaram nada. Sua conta-
(A) A. duodenale. gem de leucócitos é de 10.900, com 16% de eosinófilos. O exame das
(B) A. lumbricoides. fezes revelou larvas rabditiformes. Das seguintes opções, qual é a
(C) E. vermicularis. causa MAIS provável?
(D) T. spiralis. (A) A. lumbricoides.
(E) W. bancrofti. (B) O. volvulus.
2. Nas mesmas vilas descritas na Questão 1, você observa que alguns ( C) S. stercoralis.
indivíduos fazem consumo de vegetais crus não higienizados. Qual (D) T. canis.
dos seguintes organismos é o mais provável causador da infecção (E) T. spiralis.
nessas pessoas? 8. Em relação ao paciente da Questão 7, qual das seguintes opções é o
(A) A. duodenale. melhor fármaco de escolha para tratar a infecção?
(B) A. lumbricoides. (A) Ivermectina.
(C) E. vermicularis. (B) Metronidazol.
(D) T. spiralis. ( C) Nifurtimox.
(E) W. bancrofti. (D) Pentamidina.
3. Qual dos seguintes nematódeos é transmitido por uma larva filari- (E) Praziquantel.
forme que penetra na pele? 9. Seu paciente é um homem de 40 anos com febre, mialgia e inchaço
(A) A. simplex. facial. A contagem de leucócitos foi de 14.400 com 24% de eosinó-
(B) O. volvulus. filos. Além disso, sua história revelou que ele caçou um urso no Ca-
(C) S. stercoralis. nadá e comeu parte dele cerca de seis semanas atrás. Ele enfatizou
(D) T. canis. que gosta de carne malpassada. Uma biópsia muscular foi realizada
(E) T. trichiura. e uma coloração H&E do tecido mostrou larvas espiraladas no in-
terior do músculo esquelético. Das seguintes opções, qual é a causa
4. Uma das mais importantes medidas de saúde pública nos Estados
mais provável?
Unidos no século XX foi a recomendação para que crianças nas
áreas rurais usassem calçados. Esse esforço foi designado para (A) A. caninum.
prevenir infecções, por meio dos pés, de qual dos seguintes orga- (B) A. simplex.
nismos? ( C) N. americanus.
(D) T. spiralis.
(A) A. lumbricoides.
(E) W. bancrofti.
(B) E. vermicularis.
(C) N. americanus. 10. Sua paciente é uma mulher de 35 anos com intensa dor abdominal
(D) O. volvulus. nas últimas horas. Não ocorre náuseas, vômito ou diarreia. Você
(E) T. trichiura. suspeita que ela pode ter colecistite, pancreatite ou uma víscera per-
furada, mas antes pergunta se ela ingeriu carne de peixe crua recen-
5. A larva de certos nematódeos migra por meio do pulmão e causa
temente. Ela afirma positivamente, e relata o consumo de sashimi
pneumonia caracterizada por tosse ou engasgamento. A infecção
na noite anterior a esta. A endoscopia revelou uma larva na mucosa
causada por qual dos seguintes nematódeos é a provável causa desse
gástrica. Das seguintes opções, qual é a causa mais provável?
quadro clínico?
(A) A. caninum.
(A) A. simplex.
(B) A. duodenale.
(B) A. lumbricoides.
( C) A. simplex.
(C) E. vermicularis.
(D) T. canis.
(D) T. spiralis.
(E) T. trichiura.
(E) T. trichiura.
11. Seu paciente é um garoto de 5 anos que reclama de prurido perianal,
6. Dos seguintes fármacos, qual é o MAIS efetivo em infecções por
principalmente durante a noite. Uma preparação de "fita adesiva"
nematódeos?
revela os ovos de Enterobius no microscópio. Qual das seguintes op-
(A) Albendazol. ções é o melhor fármaco para tratar seu verme?
(B) Cloroquina.
(A) Ivermectina.
(C) Praziquantel.
(B) Mebendazol.
(D) Primaquina.
(C) Pentamidina.
(E) Estibogluconato.
(D) Praziquantel.
(E) Pirimetamina e sulfadiazina.
474 PARTE VI Parasitologia

RESPOSTAS RESUMOS DOS ORGANISMOS


1. (A) Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
2. (B) -se na página 666. Favor consultar esses resumos para uma rápida
3. (C) revisão do material essencial.
4. (C)
5. (B)
6. (A)
7. (C) QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
8. (A) Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
9. (D) contradas na seção de Parasitologia da Parte XIII: Questões para
10. (C)
Autoavaliação, a partir da página 710. Consulte também a Parte
11. (B)
XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CAPÍ T U LO

Imunidade 57
CONTEODO DO CAPITULO

Função do sistema imune 2, Imunidade adaptativa (adquirida)


Especificidade da resposta imune Imunidade ativa e passiva
1, Imunidade celular Antígenos
2, Imunidade mediada por anticorpos Idade e resposta Imune
Imunidade inata e adaptativa Aplique seu conhecimento
1, Imunidade inato Questões para autoavaliação

FUNÇÃO DO SISTEMA IMUNE Uma proteção a1tamente especifica ê provida pelo braço
adaptativo (adquirido) do sistema imune (a terceira linha de de-
A principa1 função do sistema imune e pre,·enir ou limitar infec- fosa), mas vários dias podem ser necessários para que esse braço
ções. fungos e parasitas.. como prot02.0ários e vermes. A primeira do sistema imune se tome tota1mente funcional. Os dois compo-
liJ\ha de defesa contra os microrganismos é a integridade da pele nentes da resposta adaptativa são a imunidade celular e a lmu·
e das membranas mucosas. Se os microrganismos romperem nldade mediada por anticorpos (humoral). Uma visão geral
essa linha de defesa e penetrarem no corp~ então o braço inato das funções e interações entre muitos dos importantes membros
do sistema imune (a segunda linha de defesa) entra em ação para dos braços inato e adaptativo do sistema imune ê apresentada
destruir os invasores. Visto que os componentes do sistema imune na Figura 57. 1, (As caracteristicas das respostas imunes inatas e
inato (Tabela 57· 1) já estão previainente formados e totalmente adaptativas são comparadas na Tabela 57-2.)
ativos. eles podem funcionar imediatainente a partir da entrada O braço mediado por cê)ulas consiste principalmente em
dos microrganismos. A habilidade do braço inato para matar os linfócitos T (p. ex.• células T auxiliares e célu1as T citotóxicas),
microrganismos não é. específica. Por exemp)o. um neutrôftlo ao passo que o braço mediado por anticorpos é composto por
pode ingerir e matar muitos tipos diferentes de bactérias. anticorpos (imunoglobulinas) e llnfócltos B (e células plasmo-

TABELA S7-1 Principais componentes d as respostas imunes inata e adaptativa que co ntribuem para a imunidade
humo ral (mediada por anticorpos) e celular {med iada por células}
lmunklade hu.monl lmunklacle celular
ln.ata Complemento e neutrófilos Maa 6íagos e ~lulasnatural killer

Adaptativa Células 8 e anticorpos (produzidos pot células plasmáticas) Células T auxiliares e células Tcitotóxicas
476 PARTE VII Imunologia

Células B Células T
1

Citocinas (IL-4, IL-5)


'. '~

-- Células T Células T
'~ auxiliares (CD4) citotóxicas (CDB)

-
~

Células plasmáticas
IL-2 ,. IL-2 ,,

Células auxiliares
Células citotóxicas
'. e macrófagos
ativados
ativadas
Anticorpos

+
t '. '.
Neutralizam Inibição de bactérias Matam células
toxinas e vírus intracelulares e fungos infectadas por vírus
Complemento

Neutrófilos

'.
Morte bacteriana

FIGURA 57-1 Introdução às interações e funções dos principais componentes do sistema imune. A esquerda: Imunidade mediada por
anticorpos (humoral). Essa é a principal defesa contra bactérias extracelulares, encapsuladas e piogênicas, como estafilococos e estrepto-
cocos. Anticorpos também são capazes de neutralizar toxinas, como a toxina tetânica, e vírus, como o da hepatite B. A direita: Imunidade
celular. Existem dois componentes distintos. (1) Células T auxiliares e macrófagos correspondem à principal linha de defesa contra bactérias
intracelulares, como Mycobacterium tubercu/osis, e fungos, como Histoplasma capsu/atum. (2) As células T citotóxicas constituem importante
defesa contra vírus e agem por meio da destruição de células infectadas pelos vírus. (IL-4 e IL-5 correspondem à interleucina 4 e interleucina 5,
respectiva mente.)

citoides). Algumas das principais funções das células Te B são (3) elas apresentam fantástica especificidade (i.e., sua atividade
apresentadas na Tabela 57-3. é especificamente direcionada contra o antígeno que iniciou a
As principais funções dos anticorpos são ( 1) neutralizar to- resposta).
xinas e vírus e (2) opsonizar bactérias, tornando-as mais fáceis Os efeitos combinados de certas células (p. ex., células T,
de serem fagocitadas. A opsonização é o processo por meio do células B, neutrófilos e macrófagos) e certas proteínas (p. ex.,
qual anticorpos do tipo imunoglobulina G (IgG) e o componente interleucinas, anticorpos e componentes do sistema do comple-
C3b do sistema do complemento intensificam a fagocitose (ver mento) produzem uma resposta inflamatória, um dos princi-
Figura 8-3). A imunidade celular, por outro lado, inibe orga- pais mecanismos de defesa do organismo. O processo por meio
nismos como fungos, parasitas e certas bactérias intracelulares, do qual esses componentes interagem para causar inflamação é
como a Mycobacterium tuberculosis; ela também mata células in- descrito no Capítulo 8.
fectadas por vírus e células tumorais. Macrófagos e alguns outros tipos de células fagocitárias,
Tanto a resposta celular quanto a resposta mediada por como as células dendríticas, participam tanto do braço ina-
anticorpos são caracterizadas por três importantes aspectos: to quanto do braço adaptativo da resposta imune. Elas são, na
(1) elas apresentam incrível diversidade (i.e., podem respon- verdade, uma ponte entre os dois braços. Como parte do braço
der a milhões de antígenos diferentes); (2) elas apresentam uma inato, elas ingerem e destroem diversos micróbios. Elas também
longa memória (i.e., podem responder muitos anos após a ex- apresentam antígenos para as células T auxiliares, o que consiste
posição inicial, pois células B e T de memória são produzidas); e no primeiro passo essencial para a ativação do braço adaptati-

TABELA 57-2 Importantes características das imunidades inata e adaptativa

Efetiva imediatamente após Torna-se mais eficiente Apresenta


Tipo de imunidade Especificidade exposição ao micróbio após a exposição memória

Inata Não específica Sim - age em poucos minutos Não Não

Adaptativa Altamente específica Não - são necessários vários dias para Sim Sim
que se torne efetiva
CAPÍTULO 57 Imunidade 477

TABELA 57-3 Principais funções das células Te B

Imunidade mediada por anticorpos (células B) Imunidade celular (células T)

1. Defesa do hospedeiro contra infecções (opsonização de 1. Defesa do hospedeiro contra infecções (especialmente M. tubercu/osis,
bactérias, neutralização de toxinas e vírus) fungos e células infectadas por vírus)

2. Alergia (hipersensibilidade) (p. ex., febre do feno - alergia 2. Alergia (hipersensibilidade) (p. ex., alergia ao carvalho-venenoso)
a pólen, choque anafilático)

3. Autoimun idade 3. Rejeição a tumores e transplantes

4. Regulação da resposta por anticorpos (indução e supressão)

vo (ver a seguir). É interessante observar que os neutrófilos, que do trato respiratório. Glicoproteínas do envelope viral surgem
também são fagócitos e possuem excelentes habilidades micro- na superfície da célula infectada em associação com proteínas
bicidas, não apresentam antígenos às células T auxiliares e, por- do MHC de classe 1. Uma célula T citotóxica se liga por meio
tanto, funcionam apenas durante a imunidade inata, mas não na de seu receptor antígeno-específico ao complexo antígeno viral-
imunidade adaptativa. -proteína do MHC de classe I e, por estímulo da interleucina 2
produzida por células T auxiliares, multiplica-se até formar uma
população clonal de células. Essas células T citotóxicas destroem,
ESPECIFICIDADE DA RESPOSTA IMUNE de maneira específica, as células infectadas pelo vírus influenza
(mas não as células que estejam infectadas por outros vírus) após
A imunidade celular e os anticorpos são, ambos, altamente es- o reconhecimento dos complexos antígeno-proteína do MHC de
pecíficos para o organismo invasor. Como esses mecanismos es- classe I na superfície das mesmas e a liberação de perforinas que
pecíficos de proteção são originados? O processo pelo qual essas destroem a membrana citoplasmática das células infectadas.
defesas do hospedeiro são geradas pode ser resumido por três
ações: ( 1) reconhecimento do organismo estranho por células
2. Imunidade mediada por anticorpos
imunes específicas, (2) ativação dessas células imunes para que
gerem uma resposta específica (p. ex., anticorpos), e (3) resposta A síntese de anticorpos geralmente envolve a cooperação de
que alveja especificamente o organismo estranho, causando sua três tipos de células: células apresentadoras de antígenos
destruição. Os exemplos a seguir descrevem brevemente como a (p. ex., células dendríticas e macrófagos), células T auxiliares
imunidade específica contra microrganismos ocorre. Uma visão e células B. Após seu processamento por uma célula apresen-
geral destes processos, no caso de infecções virais, pode ser ob- tadora de antígeno, fragmentos do antígeno aparecem na su-
servada na Figura 57-2. Uma descrição detalhada é apresentada perfície da célula em associação a proteínas do MHC de classe
no Capítulo 58. II. O complexo antígeno-proteína do MHC de classe II liga-se
a receptores na superfície das células T auxiliares específicas
para o antígeno. Esse fenômeno leva à ativação das células T
1. Imunidade celular
auxiliares, que passam a produzir interleucinas, como a inter-
No exemplo a seguir, uma bactéria (p. ex., Mycobacterium leucina 2 (IL-2), IL-4 e IL-5. Essas interleucinas ativam células
tuberculosis) entra no corpo e é ingerida por um macrófago. B, induzindo-as a produzir anticorpos específicos para o antíge-
A bactéria é degradada, e seus fragmentos, denominados antí- no. (Observa-se que as interleucinas não são específicas para o
genos ou epítopos, surgem na superfície do macrófago em asso- antígeno. A especificidade reside nas células T e B, e é mediada
ciação com proteínas do complexo principal de histocompati- pelos receptores de antígenos na superfície dessas células.) As
bilidade (MHC) de classe II. O complexo antígeno-proteína do células B ativadas proliferam-se e diferenciam-se para formar
MHC de classe II interage com um receptor antígeno-específico células plasmocitoides que secretam grandes quantidades de
localizado na superfície de linfócitos T auxiliares. A ativação e imunoglobulinas (anticorpos).
proliferação clona! dessas células T auxiliares antígeno-específi- Embora a formação de anticorpos normalmente envolva a
cas ocorrem como resultado da produção de interleucinas, entre participação de células T auxiliares, certos antígenos (p. ex., po-
as quais as mais importantes são a interleucina 2 (fator de cresci- lissacarídeos bacterianos) podem ativar as células B diretamente,
mento de células T) e o interferon 'Y (que ativa macrófagos). Es- sem a ajuda das células T, e são chamados de antígenos indepen-
sas células T auxiliares ativadas, ajudadas por macrófagos ativa- dentes de células T. Nessa resposta independente de células T,
dos, medeiam um importante componente da imunidade celular apenas anticorpos do tipo IgM são produzidos por células B,
(i.e., uma reação de hipersensibilidade tardia específica contra uma vez que estas requerem IL-4 e IL-5, produzidas pelas célu-
M. tuberculosis). las T auxiliares, para realizarem a "troca de classe de anticorpos,,
Linfócitos T citotóxicos (citolíticos) são também efetores de forma a produzirem IgG, IgA e IgE. No Capítulo 59, há uma
específicos da resposta imune celular, particularmente contra cé- discussão sobre a "troca de classes': processo pelo qual a célula B
lulas infectadas por vírus. Neste exemplo, um vírus (p. ex., o ví- troca o tipo de anticorpo que produz de IgM para um outro tipo
rus influenza) é inalado por um hospedeiro e infecta as células de classe.
478 PARTE VII Imunologia

;V •
APC

APC (célula
apresentadora de
Vírus antígeno) (p. ex.,
(imunógeno) macrófago ou
célula dendrítica)
/
Proteína do
Processamento do antígeno no interior do
MHC de classe li
macrófago; proteínas virais são clivadas
em pequenos peptídeos



APC

Epítopo virai Receptor


~
de células T (TCR)
para o antígeno
Ativação da célula T auxiliar

Receptor de IL-2

Ativação de célula T
citotóxica

J
J)' 1

'r:!'orte celula: /
;e,_ ~
Proteína do l
MHC de Célula
classe 1 infectada
por
vírus
i
~ticorpo

FIGURA 57-2 Visão geral do processo pelo qual a imunidade celular e a imunidade mediada por anticorpos são induzidas após a exposição a
um vírus. Observa-se que a figura apresenta um vírus como imunógeno na parte superior esquerda, mas o mesmo processo ocorre para outros
micróbios, como bactérias ou fungos. IL, interleucina; MHC, complexo principal de histocompatiilidade. (Modificada e reproduzida, com permissão, de
Stites D, Terr A, Parslow T, eds. Basic & Clinicai lmmuno/ogy. 9th ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1997 McGraw-Hill.)

A Figura 57-3 resume as defesas do hospedeiro humano T CDS-positivas, e também pelo receptor de antígeno (IgM) si-
contra células infectadas por vírus e ilustra a íntima interação en- tuado na superfície de células B. As interleucinas, por outro lado,
tre várias células durante a montagem de um ataque coordenado não são específicas.
contra o patógeno. A especificidade da resposta é fornecida pelo Como ilustrado na Figura 57-3, as células B podem execu-
receptor do antígeno (receptor de células T [TCR]) localizado tar duas importantes funções durante o processo de indução da
na superfície tanto de células T CD4-positivas quanto de células resposta imune: (1) elas reconhecem antígenos por meio de suas
CAPITULO 57 Imunidade 479

Macfótago

lgM
â../ Proteína do MHC
~ de classe 1
Epítopo virai
TCR
dasse li
FIGURA 57·3 Indução da imunidade celular e aJ'lticorpos contra uma iníecçt\o virai. A d irtlta: Vírus libec-ado pela c~lula infectada é ingetido
e pr<icessado por uma c~lula ap,eset1tadora de antígeno (APQ (p. ex., um mac,ófago). O epítopo virai ~ apresentado em associação com uma
pr'Oteína do complexo principal de histocompatibilidade de classe li (MHC) ao receptor de ~ lulas T (TOO víruN?specífü:o presente na c~lula CD4.
O macrófogo produzinttrleucina (ll)· 1,que auXilia na ativação da c~lula CD4. A~lula T (04 ativada produz interleucinas (p. ex., IL·2. que ativa a
c~lula T C08 e induz seu ataque contta c~lulas infectadas por vírus. e ll ·4 e IL·S, que ativam a c~ula 8 e induzem a produção de anticofpos pela
mesma). A especiílcidade da (esposta citotóxica montada pela cl!lula coe~ p,ovida pelo seu TCR, que ré<:onhece o epítopoviral apresentado pela
c~lula infectada em associação à proteína do MHC de classe 1. Aesquerda: O vírus liberado por uma c~lula infectada intNage com o receptOf de
antíget1os (monômero lgM), específico para aquele vfrus localizado na superfície de uma c~lula 8. O vírus é internalizado, e as proteínas virais são
degradadas em pequenos peptídeos. Células 8 (assim como os macf6fagos) podem ap(esentar epítop,os virais em asSOdação com a proteína do
MHC de classe li e ativar c~lulas CD4. A c~lula auxiliarC04-positiva produz ll·4 e ll· S, que induzem a c~lula 8 a se diferenciar em ~ lula plasmática,
c.apaz de produZir'anti(()(pos espedflcos contra o vírus.

moléculas lg.~ de superfície. que agem como receptores para ant(. defesas do hospe.deiro como as barreiras físicas aos agentes in·
genos., e (2) eJas apresentam epítopos para as célu1as T auxiliares fecdosos (p. ex.. a pele e as membranas mucosas). determinadas
em associação com protefnas do MHC de dasse U. Cabe saHentar células (p. ex., células natural killer) e certas proteínas (p. ex.. a
que os receptores de antígenos do tipo lgM. nas céJulas B. podem case.ata do complemento e os interferons). Esse tipo de imuni·
reconhecer não apenas prote(nas estranhas ao organismo, mas dade envolve. ainda. processos como a fagocitose e a inflamação
também lipídeos, açúcares, DNA, RNA e outros tipos de molé· (Tabela 57·4). A imunidade inata não apresenta melhora em
cuJas. As proteinas do MHC de classe lI da célula B, no entanto. sua atividade após a exposição ao organismo. ao contrârio da
podem apresentar apenas fragmentos de peptídeos para as céJulas imunidade adaptativa. que assim o faz. Além disso, processos
T auxiliares. Essa distinção será importante quando houver dis. imunes inatos não apresentam memória. ao passo que a imuni·
cussão sobre os haptenos., posteriormente. neste capítulo, A in- dade. adaptativa é caracterizada por uma memória imunológica
crível habilidade de o receptor de antígenos lgM nas céJulas B se de longa duração.
ligar a uma inacreditavelmente ampla gama de moléculas permi· Observe que o braço inato das defesas do hospedeiro apre.
te que. essas células produzam anticorpos contra praticamente senta duas funções principais: destruição dos microrganismos
qualquer molécula conhecida. A forma como as células Bgeram invasores e ativação dos processos imunes adaptativos. AJgu.ns
tamanha diversidade de anticorpos é descrita na pâgina 512. componentes da resposta imune inata. como os neutróftlos, so-
mente matam os micróbios, enquanto outros.. como os mactófa.
gos e as célu1as dendrfticas, executam ambas as funções (i.e., des.
IMUNIDADE INATA EADAPTATIVA troem micróbios e apresentam antlgenos às células T auxiliares.. o
As defesas imunes do hospedeiro podem ser divididas em duas que ativa os processos imunes adaptativos).
Embora a imunidade inata seja frequentemente bem.suce-
categorias principais: inata (natural) e adaptath·a (adquirida).
dida na sua função de eliminação dos microrganismos e na pre~
As características desses dois importantes componentes do siste·
vençlo de doenças infecciosas, esta nao é suficiente para garantir
ma de defesa são comparadas na Tabela 57· 2.
a sobrevivência dos seres humanos. Essa condusão é baseada
na observação de que crianças portadoras de imunodeficiência
1. Imunidade Inata combinada grave (SCID). as quais apresentam a imunidade inata
A imunidade inata é a resistência que existe previamente à intacta, mas nenhuma imunidade adaptativa. padecem de i1úev
exposição ao micróbio (antigeno). Ela não é específica e inclui ções repetidas e potencialmente letais.
480 PARTE VII Imunologia

TABELA 57-4 Importantes componentes da imunidade inata

Fator Modo de ação

1. Fatores que limitam a entrada de microrganismos no corpo


Camada de queratina na pele intacta Age como barreira mecânica
Lisozima na lágrima e outras secreções Degrada peptideoglicanos presentes na parede bacteriana
Cílios respiratórios Deslocam organismos aprisionados no muco do sistema respiratório superior
pH baixo no estômago e na vagina; ácidos graxos na pele Retarda o crescimento microbiano
Fagócitos de superfície (p. ex., macrófagos alveolares) Ingerem e destroem micróbios
Defensinas (peptídeos catiônicos) Criam poros nas membranas microbianas
Microbiota normal da garganta, do colo e da vagina Ocupa receptores, o que previne a colonização por patógenos

li. Fatores que limitam o crescimento de microrganismos no interior do corpo


Células natural killer Matam células infectadas por vírus
Neutrófilos Ingerem e destroem micróbios
Macrófagos e células dendríticas Ingerem e destroem micróbios e apresentam antígenos às células T auxiliares
lnterferons Inibem a replicação virai
Complemento C3b é uma opsonina; o complexo de ataque à membrana cria poros nas
membranas bacterianas
Transferrina e lactoferrina Sequestram ferro necessário ao crescimento bacteriano
Febre Temperaturas elevadas retardam o crescimento microbiano
Resposta inflamatória Limita a disseminação de micróbios no organismo
APOBEC3G (enzima apolipoproteína B editora de RNA) Causa aumento de mutações no DNA e mRNA retrovirais

Diversos componentes do braço inato reconhecem o que é Observa-se que o tipo de defesa montada pelo corpo difere
estranho ao corpo por meio da detecção de certos carboidratos de acordo com o tipo de microrganismo. Por exemplo, uma res-
e lipídeos na superfície dos microrganismos que são diferentes posta humoral (mediada por anticorpos) é produzida contra um
das moléculas presentes nas células humanas. Os componentes certo tipo de bactéria, mas uma resposta celular é gerada em res-
do braço inato possuem receptores, denominados receptores de posta a um tipo diferente de bactéria. O processo que determina
reconhecimento de padrão, que reconhecem padrões molecula- o tipo de resposta gerada depende das citocinas produzidas pelos
res, denominados padrões moleculares associados a patógenos macrófagos, e essa produção, por sua vez, depende de qual "re-
(PAMP), que estão presentes na superfície de muitos micróbios, ceptor de reconhecimento de padrões" é ativado pelo organismo,
porém - isto é muito importante - não estão presentes nas células como descrito adiante.
humanas. Em razão do uso dessa estratégia, esses componentes Quatro importantes exemplos desse tipo de reconhecimento
do braço inato não precisam ter receptores altamente específicos de padrões são apresentados a seguir:
para cada micróbio diferente, mas ainda assim conseguem distin- (1) Endotoxina é um lipopolissacarídeo (LPS) encontrado
guir entre o que é estranho e o que é próprio. na superfície da maioria das bactérias gram-negativas (mas não
Existem duas classes de receptores na superfície celular nas células humanas). A porção "lipídeo X.' do LPS é a causa
(receptores semelhantes ao Toll e lectinas de ligação à manose) mais importante de choque séptico e morte em pacientes hos-
capazes de reconhecer micróbios do lado externo das células, e pitalizados. Quando liberado da superfície bacteriana, o LPS
duas classes de receptores no citoplasma celular (receptores NOD combina-se com uma proteína de ligação ao LPS, um compo-
e receptores do tipo helicase RIG-I) capazes de detectar micró- nente normal do plasma. Essa proteína de ligação transfere o
bios no interior das células. Mutações nos genes que codificam LPS para um receptor específico na superfície dos macrófagos,
esses receptores de padrões resultam na falha em perceber a pre- denominado CD14. O LPS estimula um receptor de reconheci-
sença do patógeno, o que predispõe o organismo a infecções vi- mento de padrões, chamado de receptor semelhante ao Toll 4
rais, bacterianas e fúngicas graves. (TLR4), o qual transmite um sinal químico, por meio de diver-
Os mais importantes entre estes receptores de reconheci- sas moléculas intermediárias, para o núcleo da célula. Isso induz
mento de padrões são os receptores semelhantes ao Toll (TLRs, a produção de citocinas como IL-1, IL-6, IL-8 e o fator de necro-
toll-like receptors). Trata-se de uma família de 10 receptores se tumoral (TNF), e também induz a proteína coestimuladora
encontrados principalmente na superfície de três tipos celulares: B7, que é necessária para a ativação de células T auxiliares e para
macrófagos, células dendríticas e mastócitos. Os TLRs reconhe- a produção de anticorpos. Observa-se que um receptor seme-
cem vários componentes microbianos e, então, ativam fatores de lhante ao Toll diferente, TLR2, sinaliza a presença de bactérias
transcrição que intensificam a síntese de diversas citocinas pró- gram-positivas e leveduras, pois esses microrganismos apre-
-inflamatórias. Esse processo inicia uma resposta imune apropria- sentam diferentes padrões moleculares em sua superfície. Fár-
da para defender o organismo contra aquele tipo de micróbio. macos que modificam a ação destes receptores semelhantes ao
CAPÍTULO 57 Imunidade 481

Toll podem se tornar importantes para a prevenção do choque um tipo de defensina (a-defensinas), ao passo que o tratores-
séptico mediado por endotoxinas, uma das principais causas de piratório produz tipos diferentes de defensinas, denominadas
morte em pacientes hospitalizados. í3-defensinas.
(2) Muitas bactérias e leveduras possuem um polissacarí- As a-defensinas também possuem atividade antivirai. Elas
deo, denominado manana, em sua superfície, o qual não está interferem no vírus da imunodeficiência humana (HIV) ligando-
presente nas células humanas (manana é um polímero consti- -se ao receptor CXCR4 e bloqueando a entrada do vírus na cé-
tuído pelo açúcar manose.) Um receptor de reconhecimento lula. A produção de a-defensinas pode explicar por que alguns
de padrões, chamado de lectina de ligação à manana (MBL, indivíduos infectados com HIV são "não progressores" em longo
mannan-binding lectin) (também conhecido como proteína de prazo.
ligação à manose), se liga à manana presente na superfície de A APOBEC3G (enzima apolipoproteína B editora de
micróbios, o que ativa a cascata do complemento (ver Capítu- RNA) é um importante membro da defesa inata do hospedei-
lo 63) e resulta na morte do micróbio. A MBL também acentua a ro contra infecções retrovirais, particularmente contra o HIV.
fagocitose (agindo como uma opsonina) por meio de receptores É uma enzima que causa hipermutações no DNA retroviral
aos quais se liga na superfície de fagócitos, como os macrófagos. pela desaminação de citosinas tanto do mRNA quanto do DNA
A MBL é uma proteína comum no soro e sua concentração no retroviral, dessa forma inativando essas moléculas e reduzindo
plasma aumenta enormemente durante a fase de resposta aguda a infectividade. O HIV defende-se contra essa defesa inata do
(ver adiante). hospedeiro produzindo Vif (proteína de infectividade virai),
(3) Parte dos peptideoglicanos (parede celular) das bacté- que neutraliza a APOBEC3G, impedindo que as hipermuta-
rias é reconhecida por receptores NOD. Esses receptores estão ções ocorram.
localizados no citoplasma das células humanas (p. ex., macrófa- Os interferons a e p são importantes proteínas antivirais,
gos, células dendríticas e células epiteliais), sendo, portanto, im-
sendo sintetizados precocemente na infecção no interior das cé-
portantes para a resposta inata a bactérias intracelulares, como
lulas infectadas por vírus. Eles deixam a célula, se ligam à superfí-
a Listeria.
cie de uma célula adjacente, e induzem um estado antivirai nesta
(4) Receptores do tipo helicase RIG-I reconhecem o ácido
última célula. O estado antivira! é mediado por uma ribonuclease
nucleico de vírus no citoplasma de células infectadas. Por exem-
e por uma proteína-cinase que, agindo conjuntamente, inibem
plo, membros das famílias ortomixovírus, paramixovírus e rab-
a síntese de proteínas virais. Consultar o Capítulo 33 para mais
dovírus sintetizam RNAs de dupla-fita durante sua replicação, os
informações acerca da ação desses interferons. O interferon 'Y
quais são reconhecidos pelos receptores helicase RIG-I.
é um importante mediador da inflamação. No entanto, apresen -
A fase de resposta aguda, que consiste em um incremento
ta apenas uma moderada atividade antivira!. Ele atua principal-
no nível de várias proteínas plasmáticas (p. ex., proteína C-reativa
mente acentuando a destruição dos microrganismos invasores
e proteína de ligação à manose), também é parte da imunidade
por macrófagos e outros fagócitos, e aumentando a síntese de
inata. Essas proteínas são sintetizadas no fígado e são respos-
tas inespecíficas a microrganismos e a outras formas de lesão proteínas do MHC de classe I e II. Consultar Células T de me-
tecidual. O fígado sintetiza essas proteínas em resposta ao estí- mória e Citocinas que afetam linfócitos no Capítulo 58 para mais
mulo por certas citocinas, como IL-1, IL-6 e TNF, as quais são informações acerca da ação do interferon 'Y.
produzidas por macrófagos após a exposição a microrganismos.
Estas citocinas, IL-1, IL-6 e TNF, são frequentemente chamadas 2. Imunidade adaptativa (adquirida)
de citocinas pró-inflamatórias, pois elas intensificam a respos-
ta inflamatória. O inflamassoma é um complexo multiproteico A imunidade adaptativa ocorre após a exposição a um agente,
com atividade proteolítica que acentua a inflamação por meio da melhora depois de repetidas exposições e é específica. Ela é
produção de IL-1 a partir de suas proteínas precursoras. Citoci- mediada por anticorpos produzidos por linfócitos B e por dois
nas anti-inflamatórias, como a IL-10 e o fator í3 de crescimento tipos de linfócitos T - as células T auxiliares e as células T cito-
transformante (TGF-í3), restauram a homeostase quando ares- tóxicas. As células responsáveis pela imunidade adaptativa pos-
posta inflamatória não é mais necessária. suem memória de longa duração para um antígeno específico.
Algumas proteínas de fase aguda ligam -se à superfície de A imunidade adaptativa pode ser ativa ou passiva. O Capítulo
bactérias e ativam o complemento, o qual é capaz de matar essas 58 descreve como a especificidade e a memória da imunidade
bactérias. A proteína C-reativa, por exemplo, liga-se a um car- adaptativa são geradas.
boidrato na parede celular de Streptococcus pneumoniae e, como Macrófagos e outras células apresentadoras de antígenos,
mencionado anteriormente, a MBL liga-se à manana (manose) como as células dendríticas, possuem um papel importante tan-
na superfície de muitas bactérias. to no braço adaptativo quanto no braço inato do sistema imune
As defensinas são outro importante componente da imuni- (Figura 57-4). Quando elas fagocitam e matam micróbios, essas
dade inata. Defensinas são peptídeos carregados positivamente células funcionam como parte do braço inato, mas quando apre-
(i.e., catiônicos) que criam poros nas membranas de bactérias, sentam antígenos para os linfócitos T auxiliares, elas ativam o
matando-as. Ainda não se sabe como elas fazem distinção entre braço adaptativo, levando à produção de anticorpos e linfócitos T
micróbios e as células humanas. As defensinas estão localizadas citotóxicos. Observa-se que o braço adaptativo do sistema imu-
principalmente nos tratos gastrintestinal e respiratório inferior. ne só pode ser ativado depois que o braço inato interagiu com o
Neutrófilos e as células de Paneth nas criptas intestinais contêm micróbio.
482 PARTE VII Imunologia

Fagocitose de A principal vantagem da imunização passiva é a pronta


micróbios por disponibilidade de grandes quantidades de anticorpos; as des-

!
Macrófagos
vantagens incluem o curto período de "vida,, desses anticorpos
e possíveis reações de hipersensibilidade se globulinas de outras
espécies de hospedeiro forem utilizadas. (Ver doença do soro no
ou células Capítulo 65.)
dendríticas A imunidade passiva-ativa envolve o uso de anticorpos pré-
Imunidade Imunidade -formados (imunoglobulinas), que provêm proteção imediata,
inata adaptativa em conjunto com uma vacina para prover proteção de longa du-
ração. Essas preparações devem ser administradas em diferentes
locais do corpo para impedir que os anticorpos neutralizem os
Destroem micróbios Apresentam antígenos para antígenos que compõem a vacina. Essa abordagem é utilizada na
e secretam citocinas células T auxiliares CD4-positivas prevenção do tétano (ver Capítulos 12 e 17), da raiva (ver Capítu-
FIGURA 57-4 Macrófagos e outras células apresentadoras de an- los 36 e 39) e da hepatite B (ver Capítulos 36 e 41).
tígenos, como as células dendríticas, participam tanto do braço ina-
to quanto do braço adaptativo do sistema imune. Essas células são
consideradas parte do braço inato porque elas fagocitam e matam ANTÍGENOS
muitos tipos de micróbios e também secretam citocinas que causam
inflamação. Elas também fazem parte do braço adaptativo, uma vez Antígenos são moléculas que reagem com anticorpos, ao pas-
que apresentam antígenos em associação com proteínas do com- so que imunógenos são moléculas que induzem uma resposta
plexo principal de histocompatibilidade (MHC) de classe li a células imune. Na maioria das vezes, antígenos são imunógenos, e os
T auxiliares CD4-positivas. (Da mesma forma que todas as demais termos são usados indiscriminadamente. Entretanto, exis-
células nucleadas, elas também podem apresentar antígenos em tem algumas exceções importantes (p. ex., os haptenos). Um
associação com proteínas do MHC de classe Ia células T citotóxicas hapteno é uma molécula que não é por si imunogênica, mas
CDS-positivas.)
que pode reagir com anticorpos específicos. Haptenos são, em
geral, moléculas pequenas, porém alguns ácidos nucleicos de
alto peso molecular também são haptenos. Muitos fármacos (p.
IMUNIDADE ATIVA E PASSIVA ex., a penicilina) são haptenos, assim como o catecol, compo-
A imunidade ativa corresponde a uma resistência induzida após nente do óleo de plantas que causam reações ao carvalho-vene-
o contato com antígenos externos (p. ex., microrganismos). noso e à hera-venenosa.
Esse contato pode ocorrer durante infecções clínicas ou subclí- Haptenos não são imunogênicos porque eles não podem ati-
nicas por meio da imunização por patógenos vivos, inativos ou var as células T auxiliares. A falha dos haptenos em ativar essas
por seus antígenos, ou pela exposição a produtos microbianos células é devida à sua incapacidade de se ligar às proteínas do
(p. ex., toxinas e toxoides). Em todas essas circunstâncias, o hos- MHC; eles não se ligam por não serem polipeptídeos, e apenas
pedeiro produz ativamente uma resposta imune que consiste em polipeptídeos podem ser apresentados por meio das proteínas do
anticorpos e células T auxiliares e citotóxicas ativadas. MHC. Além disso, os haptenos são univalentes e, portanto, não
A principal vantagem da imunidade ativa é a resistência de podem ativar células B por si. (Comparar com a resposta T-in-
longa duração (Tabela 57-5). Sua maior desvantagem é o lento dependente de antígenos multivalentes discutida anteriormente
desenvolvimento, principalmente no caso da resposta primária neste capítulo e no Capítulo 58.)
(ver Capítulo 60). Apesar de os haptenos, por si, não poderem estimular uma
A imunidade passiva é a resistência baseada em anticorpos resposta primária ou secundária, eles o fazem quando covalente-
pré-formados em outro hospedeiro. A administração de anticor- mente ligados a uma proteína "carreadorà' (Figura 57-5). Nesse
pos contra difteria, tétano, botulismo, etc., disponibiliza grandes processo, o hapteno interage com um receptor do tipo IgM na
quantidades de antitoxinas para neutralizar as toxinas. Da mesma superfície da célula B e o complexo hapteno-proteína carreadora
forma, anticorpos pré-formados contra certos vírus (p. ex., raiva é internalizado na célula. Um peptídeo da proteína carreadora é
e vírus das hepatites A e B) podem ser injetados no hospedeiro apresentado em associação com a proteína do MHC de classe II
durante o período de incubação para limitar a multiplicação vi- para as células T auxiliares. A célula T auxiliar ativada, então,
ral. Outras formas de imunidade passiva incluem a passagem de produz interleucinas, as quais estimulam as células B a produzir
IgG da mãe para o feto durante a gravidez e de IgA da mãe para o anticorpos contra o hapteno (ver Capítulo 58, para informações
recém-nascido durante o aleitamento. adicionais).

TABELA 57-5 Características das imunidades ativa e passiva

Mediadores Vantagens Desvantagens

Imunidade ativa Anticorpos e células T Longa duração (anos) Desenvolvimento lento

Imunidade passiva Somente anticorpos Disponibilidade imediata Curta duração (meses)


CAPÍTULO 57 Imunidade 483

t Proteína carreadora

Hapteno

! Epítopo da -=--t1•
proteína
TCR

Proteína
IL-4 IL-5
lgM carreador do MHC de '
classe li
Célula
B
Célula
B
Célula
B plasmá-
ticas
- YY
Anticorpos
específicos
A parte do hapteno A célula B apresenta A célula T auxiliar ativada produz para o
no conjugado hapteno- o epítopo da proteína interleucinas que estimulam a hapteno
-carreador interage com carreadora para célula célula B a se tornar uma célula
lgM hapteno-específica T auxiliar que possui plasmática que produz anticorpos
na superfície de um TCR específico contra o hapteno
uma célula B para o epítopo

FIGURA 57-5 O conjugado hapteno-carreador induz anticorpos contra o hapteno. Um hapteno covalentemente ligado a uma proteína car-
readora pode induzir a produção de anticorpos contra o hapteno por meio do mecanismo representado na figura. Um hapteno sozinho não
pode induzir anticorpos, uma vez que as células T auxiliares não são ativadas por ele. Embora o hapteno sozinho (sem uma proteína carreadora)
possa se ligar ao receptor lgM na superfície da célula B, as interleucinas essenciais para transformar a célu la Bem uma célula plasmática não são
produzidas. TCR, receptor de célula T.

Outros dois conceitos são necessários para compreender no, uma vez que este pode induzir a produção de IgM por meio
como os haptenos interagem com o sistema imune. O primeiro da resposta independente de células T. Contudo, a adição de uma
é o fato de que muitos haptenos, como fármacos (p. ex., a peni- proteína carreadora provoca o envolvimento de células T auxi-
cilina) e óleos de plantas tóxicas, se ligam às proteínas normais, liares, e grandes quantidades de IgG são produzidas por meio da
para as quais os seres humanos são tolerantes. Nesta circuns- resposta dependente de células T.
tância, a combinação proteína-hapteno torna-se imunogênica A interação entre antígeno e anticorpo é altamente específi-
(i.e., o hapteno modifica a proteína suficientemente para que, ca, e essa característica é, com frequência, utilizada pelos labora-
quando a combinação peptídeo-hapteno for apresentada pelas tórios de diagnóstico para identificar microrganismos. Antígeno
proteínas do MHC, esta passe a ser reconhecida como um antí- e anticorpo ligam-se por meio de interações fracas, como liga-
geno estranho). ções de hidrogênio e ligações de van der Waals, e não por in -
O segundo conceito baseia-se no fato de que, embora quase terações fortes, como as ligações covalentes. A força da ligação
todos os haptenos sejam univalentes, reações de hipersensibili- (afinidade) é proporcional à intensidade do encaixe do antígeno
dade do tipo I, como a anafilaxia (ver Capítulo 65), requerem a ao local de ligação ao anticorpo (i.e., a habilidade de formar mais
ligação cruzada de IgEs adjacentes para ativar a liberação de me- ligações). A afinidade dos anticorpos aumenta após exposições
diadores. Por si só, um hapteno univalente não pode se ligar cru- sucessivas ao antígeno específico (ver Capítulo 60). Outro termo,
zadamente, mas quando muitas moléculas do hapteno se ligam a avidez, é também utilizado para expressar certos aspectos da liga-
uma proteína carreadora, eles arranjam-se de forma que ligações ção antígeno-anticorpo. Este não será utilizado a seguir.
cruzadas possam ocorrer. É assim que um hapteno univalente, As características de moléculas que determinam a sua imu-
como a penicilina, pode causar anafilaxia. Uma quantidade sufi- nogenicidade são descritas a seguir:
ciente de penicilina liga-se a uma das proteínas do ser humano,
de forma a permitir a ligação cruzada à IgE. Um excelente exem- Condição de corpo estranho
plo disso é a peniciloilpolilisina, usada em testes na pele para de-
Em geral, moléculas reconhecidas como "próprias" não são imu-
terminar se um paciente é alérgico à penicilina. Cada lisina da
nogênicas (i.e., os seres humanos são tolerantes aos próprios an-
polilisina possui uma penicilina anexada a ela. Essas penicilinas
tígenos) (ver Capítulo 66). Para serem imunogênicas, proteínas
univalentes formam um arranjo "multivalente" que pode se li-
precisam ser reconhecidas como "não próprias" (i.e., estranhas).
gar cruzadamente a IgEs adjacentes na superfície de mastócitos.
A consequente liberação de mediadores gera urticária na pele de
pacientes alérgicos à penicilina. Tamanho molecular
Outro conceito medicamente importante, relacionado ao Os imunógenos mais potentes são proteínas de alto peso molecu-
modelo de proteínas carreadoras de haptenos, são as vacinas lar (i.e., acima de 100.000). Em geral, proteínas com peso mole-
conjugadas. Estas incluem as vacinas pneumocócicas, menin- cular inferior a 10.000 são fracamente imunogênicas; e as ainda
gocócicas e a vacina contra Haemophilus influenzae. Nessas va- menores (p. ex., um aminoácido) não são imunogênicas. Certas
cinas conjugadas, o polissacarídeo capsular é conjugado a uma moléculas pequenas (p. ex., os haptenos) tornam-se imunogêni-
proteína carreadora. O polissacarídeo capsular não é um hapte- cas apenas quando ligadas a uma proteína carreadora.
484 PARTE VII Imunologia

Complexidade química-estrutural O colostro também possui anticorpos, especialmente IgAs se-


cretoras, que podem proteger o bebê contra várias infecções
Certa quantidade de complexidade é necessária (p. ex., homopo-
respiratórias e intestinais.
límeros de aminoácidos são menos imunogênicos que heteropo-
O feto pode montar uma resposta IgM contra certos antíge-
límeros contendo dois ou três aminoácidos diferentes).
nos (provavelmente por meio de mecanismos independentes de
células T) (p. ex., contra Treponema pallidum, agente causador
Determinantes antigênicos {epítopos) da sífilis e que pode ser adquirido congenitamente). IgG e IgA
Epítopos são pequenos grupos químicos na molécula do antíge- começam a ser produzidas logo após o parto. A resposta contra
no que podem induzir a produção de anticorpos ou reagir com antígenos proteicos é, em geral, satisfatória; assim, a vacina con -
eles. Um antígeno pode ter um ou mais determinantes (epíto- tra hepatite B pode ser administrada logo após o nascimento, e
pos). Na verdade, a maioria dos antígenos apresenta múltiplos a vacina contra poliomielite (do tipo Salk, ou inativada), aos 2
determinantes (i.e., são multivalentes). Em geral, um determi- meses de idade. No entanto, crianças muito novas respondem
nante é constituído por aproximadamente cinco aminoácidos mal a antígenos formados por polissacarídeos, a não ser que estes
ou açúcares, em termos de tamanho. A estrutura tridimensional sejam conjugados a proteínas carreadoras. Por exemplo, a vacina
global da molécula é o principal critério para a especificidade pneumocócica contendo polissacarídeos não conjugados não é
antigénica. capaz de induzir proteção imune quando administrada antes dos
18 meses de idade, mas a vacina contendo polissacarídeos conju-
Dosagem, rota e momento da administração gados a uma proteína carreadora é eficiente até mesmo quando
do antígeno administrada aos 2 meses de idade.
No idoso, a imunidade geralmente diminui. Há resposta
Esses fatores também afetam a imunogenicidade. Além disso, a IgG reduzida contra determinados antígenos, menos células T
constituição genética do hospedeiro (genes de HLA) determina e reduzida hipersensibilidade tardia. Como nos muito jovens,
se uma molécula será imunogênica. Diferentes linhagens de uma a frequência e a gravidade das infecções são altas. A frequência
mesma espécie de animal podem responder de forma diferente a de doenças autoimunes também é alta nos idosos, possivelmente
um mesmo antígeno. em razão de um declínio no número de células T reguladoras, o
que permite que as células T autorreativas proliferem e causem
Adjuvantes doença.
Adjuvantes intensificam a resposta imune a um imunógeno. Eles
não são quimicamente relacionados ao imunógeno e diferem de
uma proteína carreadora, uma vez que o adjuvante não se liga APLIQUE SEU CONHECIMENTO
covalentemente ao imunógeno, ao contrário da proteína carrea- 1. Qual das seguintes opções é um atributo do braço inato, e não do
dora, que o faz. Os adjuvantes podem atuar de diversas formas; adaptativo, do sistema de defesa do hospedeiro?
eles podem provocar uma liberação lenta do imunógeno, prolon-
(A) É altamente específico em sua resposta contra bactérias.
gando o estímulo; podem intensificar a absorção do imunógeno (B) Responde a vírus e fungos, mas não a bactérias.
por células apresentadoras de antígenos; e podem induzir mo- (C) Exibe memória após exposição a bactérias.
léculas coestimuladoras ("sinais secundários,,). (Ver Capítulo 58 (D) É parte do sistema de defesa contra bactérias, mas não contra
para saber mais sobre moléculas coestimuladoras.) Outro meca- fungos.
nismo de ação importante de alguns adjuvantes é a estimulação (E) É tão eficiente na primeira vez que é exposto a uma bactéria,
de receptores semelhantes ao Toll (ver componentes importantes bem como em exposições subsequentes.
da imunidade inata e tipos de células T CD4 e CDS, Capítulos 2. Em relação à imunidade mediada por anticorpos e à imunidade ce-
57 e 58) localizados na superfície de macrófagos, o que resulta lular, qual das seguintes opções é a mais correta?
na produção de citocinas que acentuam a resposta de células T e (A) A imunidade mediada por anticorpos ajuda a prevenir arejei-
B ao imunógeno (antígeno). Algumas vacinas humanas contêm ção de enxertos.
adjuvantes, como o hidróxido de alumínio ou lipídeos. (B) A imunidade mediada por anticorpos protege contra o choque
anafilático.
( C) A imunidade mediada por anticorpos protege contra doenças
IDADE E RESPOSTA IMUNE autoimunes.
(D) A imunidade celular neutraliza vírus extracelulares.
A imunidade é subótima nos dois extremos da vida (i.e., no (E) A imunidade celular protege contra infecções fúngicas.
caso de bebês recém-nascidos e de pessoas idosas). A razão 3. Qual das seguintes opções é a mais provável de induzir a produção
para resposta imune relativamente pobre em recém-nascidos de IgM sem a participação de células T auxiliares?
ainda não é clara, mas os bebês parecem ter as funções de célu-
(A) Toxoide diftérico.
las T menos eficazes do que adultos. Para os recém -nascidos, os (B) Polissacarídeo capsular pneumocócico.
anticorpos são providos basicamente por meio da transferência ( C) Polissacarídeo capsular pneumocócico conjugado ao toxoide
de IgG materna pela placenta. Como os anticorpos maternos diftérico.
decaem com o tempo (resta muito pouco por volta dos 3 aos (D) Toxoide tetânico.
6 meses de idade), o risco de infecções para a criança é alto. (E) Toxina da síndrome do choque tóxico.
CAPÍTULO 57 Imunidade 48S

4. Em relação aos haptenos, qual das seguintes opções é a mais correta? (A) A vacina contendo vírus da hepatite A inativados é melhor
(A) Um hapteno é o local de ligação ao antígeno na região hiperva- porque é capaz de induzir mais anticorpos.
riável da IgG. (B) A vacina contendo vírus da hepatite A inativados é melhor
(B) Um hapteno não pode induzir a produção de anticorpos por si porque provê imunidade de maior duração.
só, mas pode realizar indução quando ligado covalentemente a (C) A preparação de globulinas séricas que contém anticorpos
uma proteína carreadora. contra o vírus é melhor porque proporciona imunidade em
(C) Um hapteno pode se ligar ao receptor antigênico de células T menor espaço de tempo.
CD4-positivas sem que seja processado por um macrófago. (D) A preparação de globulinas séricas que contém anticorpos
(D) Um hapteno é definido por sua habilidade em se ligar ao me- contra o vírus é melhor porque proporciona imunidade de
nor entre os dois polipeptídeos que compõem a proteína do maior duração.
MHC de classe 1.
5. Determinados componentes do nosso sistema imune são caracteri-
zados por dois atributos: serem capazes ( 1) de responder de forma RESPOSTAS
específica aos micróbios e (2) exibirem memória após terem res-
pondido previamente a um microrganismo em particular. Qual das 1. (E)
seguintes opções apresenta tanto especificidade quanto memória? 2. (E)
3. (B)
(A) Células B.
4. (B)
(B) Basófilos.
5. (A)
(C) Células dendríticas.
6. (C)
(D) Macrófagos.
(E) Neutrófilos.
6. Sua paciente afirma que necessita viajar a negócios daqui a três dias
para um país onde a hepatite A é endêmica. Ela leu em um jornal QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
que existem duas formas de se proteger da doença: uma consiste em
uma vacina que contém o vírus morto da hepatite A, e a outra con- Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
siste em uma preparação de globulinas do soro que contém anticor- contradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
pos contra o vírus. A paciente pergunta qual entre as duas opções Autoavaliação, a partir da página 713. Consulte também a Parte
você recomendaria e por qual razão. XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CAPÍTULO

Bases Celulares da
Resposta Imune
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Origem das células do sistema imune Células apresentadoras de antígeno


Origem das células T Macrófagos
Origem das células B Células dendríticas
Origem das células natural killer Resumo da interação de células apresentadoras de antígeno,
Origem dos macrófagos células Te células B

CélulasT Células dendríticas foliculares

Tipos de células T CD4 e CDS Células natural killer

Ativação das células T Neutrófilos

Coestimulação é necessária para ativar célulasT Eosinófilos

Células T reconhecem apenas peptídeos Basófilos e mastócitos

Células T de memória Citocinas importantes

Receptor de células T Citocinas que afetam linfócitos

Efeito dos superantígenos nas células T Citocinas que afetam macrófagos e monócitos

Características das células T Citocinas que afetam os leucócitos polimorfonucleares

Funções efetoras das células T Citocinas que afetam as células-tronco

Funções reguladoras das células T Citocinas produzidas por macrófagos que afetam outras
células
Células B
Citocinas que apresentam outros efeitos
Origem
Aplique seu conhecimento
Seleção clonal
Questões para autoavaliação
Ativação de células B
Funções efetoras das células B/células plasmáticas

ORIGEM DAS CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE tipos de células T: as células T auxiliares e as células T citotó-
xicas. A Tabela 58-1 compara várias características importantes
A capacidade de responder a estímulos imunológicos é fornecida das células B e T. Essas características serão descritas em detalhes
principalmente pelas células linfoides. Durante o desenvolvimen- posteriormente neste capítulo.
to embrionário, células sanguíneas precursoras desenvolvem-
-se no fígado fetal e no saco amniótico; após o nascimento, as
células-tronco localizam-se na medula óssea. As células-tronco Origem das células T
diferenciam-se em séries eritrocíticas, mieloides ou linfoides. Es- Os precursores de células T diferenciam-se em linfócitos T imu-
tas últimas se desenvolvem em duas populações principais de lin- nocompetentes no timo. Antes de adentrar o timo, as células-
fócitos: células Te células B (Figura 58-1 e Tabela 58-1). A for- -tronco não possuem receptores para antígenos, assim como não
mação de células Te B a partir de células-tronco é acentuada pela possuem as proteínas CD3, CD4 e CDS em sua superfície. Duran-
interleucina 7 (IL- 7) produzida pelas células do estroma do timo te a passagem pelo timo, essas células diferenciam -se em linfóci-
e da medula óssea, respectivamente. tos T que expressam tanto os receptores para antígenos quanto as
A razão de células T para células B é de aproximadamen- várias proteínas do tipo CD. As células-tronco, que inicialmente
te 3: 1. A Figura 58-1 descreve a origem das células B e dos dois não expressam CD4 nem CDS (duplo-negativas), primeiramen-
CAPÍTULO 58 Bases Celulares da Resposta Imune 487

Célula T citotóxica
(CDS-positiva)

Timo
---~ Lisede
células-alvo


1
1
1
1
1 IL-2
1
1
1
1
1 Célula T auxiliar
(CD4-positiva)

- - - ~ Hipersensibilidade tardia
Célula-tronco
da medula óssea
1
1
1
1
1
IL-4 IL-5
1 '
1
1 Anticorpos
1
1
t

Bursa equivalente
A
(medula óssea em
seres humanos) Célula B
• Células plasmáticas

FIGURA 58-1 Origem das células Te B. As células-tronco da medula óssea (ou do fígado fetal) são as precursoras dos linfócitos Te B. As células-
-tronco se diferenciam em células T no timo, ao passo que a diferenciação em células B ocorre na medula óssea. No timo, as células tornam-se
CD4-positivas (auxiliares) ou CDS-positivas (citotóxicas). Células B podem diferenciar-se em células plasmáticas que produzem grandes quantida-
des de anticorpos (imunoglobulinas). As linhas pontilhadas indicam interações mediadas por interleucinas. (Modificada e reproduzida, com permis-
são, de Brooks GF et ai. Medical Microbiology. 20th ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1995 McGraw-Hill.)

TABELA 58-1 Comparação entre células Te células B

Característica CélulasT Células B

Receptores de antígenos na superfície Sim Sim

Receptores de antígenos reconhecem apenas peptídeos em associação a proteínas do MHC Sim Não

Receptores de antígenos reconhecem proteínas totais, não processadas, e não necessitam de Não Sim
apresentação pelas proteínas do MHC

lgM na superfície Não Sim

Proteínas CD3 na superfície Sim Não

Expansão clonal após contato com antígeno específico Sim Sim

Síntese de imunoglobulinas Não Sim

Síntese de regulador de anticorpos Sim Não

Síntese de IL-2, IL-4, IL-5 e interferon 'Y Sim Não

Efetor de imunidade celular Sim Não

Maturação no timo Sim Não

Maturação na medula óssea Não Sim

lgM, imunoglobulina M; IL, interleucina; MHC, complexo principal de histocompatibilidade.


488 PARTE VII Imunologia

te se diferenciam para expressar tanto CD4 quanto CDS (duplo- derivados do timo. Os LIEs não podem substituir os linfócitos de-
-positivas) e, então, evoluem para expressar CD4 ou CDS. Uma rivados do timo, uma vez que pacientes portadores da síndrome de
célula duplo-positiva se diferenciará em uma célula CD4-positiva DiGeorge, os quais não possuem timo (ver Capítulo 68), são pro-
caso ela entre em contato com uma célula que possua proteínas do fundamente imunodeficientes e padecem de múltiplas infecções.
complexo principal de histocompatibilidade de classe II; no en- O timo involui no adulto, embora células T continuem a ser
tanto, se diferenciará em uma célula CDS-positiva caso entre em produzidas. Duas explicações têm sido apresentadas para esse
contato com uma célula que carreie proteínas do MHC de classe I. aparente paradoxo. Uma propõe que uma reminiscência do timo
(Camundongos mutantes que não produzem proteínas do MHC permanece funcional por toda a vida, e a outra sugere que locais
de classe II não produzirão células CD4-positivas, o que indica extratímicos substituem funcionalmente o timo involuído. Indi-
que essa interação é necessária para que a diferenciação em célu- víduos em que o timo é removido cirurgicamente ainda são ca-
las simples-positivas possa ocorrer.) As células duplo-negativas e pazes de produzir células T, o que dá suporte à última explicação.
as duplo-positivas localizam-se no córtex do timo, ao passo que
as células simples-positivas estão localizadas na medula, de onde Origem das células B
migram para o sangue e para tecidos extratímicos.
No timo, ocorrem dois processos muito importantes, cha- Precursores de células B diferenciam-se em células B imunocom-
mados de educação tímica: petentes na medula óssea; nenhuma delas passa pelo timo. As cé-
lulas B também sofrem remoção clona! das células portadoras
(1) Células CD4-positivas e células CDS-positivas contendo de receptores de antígenos para proteínas próprias, um processo
receptores antigênicos para proteínas próprias são eliminadas (re- que induz tolerância e reduz a ocorrência de doenças autoimunes
moção clonai) por meio de um processo de morte celular progra- (ver Capítulo 66). Observe que as células B que carreiam um re-
mada, denominado apoptose (Figura 58-2). A remoção das células ceptor de antígenos para uma proteína própria podem escapar da
autorreativas, processo denominado seleção negativa, resulta na deleção clona! por um processo denominado edição de receptor.
tolerância para com as próprias proteínas de seres humanos (i.e., Nesse processo, é produzida uma cadeia leve nova, diferente, que
autotolerância) e previne reações autoimunes (ver Capítulo 66). altera a especificidade do receptor para que este deixe de reco-
Para que a seleção negativa seja eficiente, as células epiteliais nhecer a proteína própria. Estima-se que mais de 50% das célu-
tímicas precisam apresentar um vasto repertório de proteínas las B autorreativas são submetidas à edição de receptor. As células
próprias. Um regulador transcricional, denominado regulador
T não são submetidas à edição de receptor.
autoimune (AIRE), aumenta a síntese desse painel de proteínas
próprias. Mutações no gene que codifica a proteína AIRE resul-
tam no desenvolvimento de uma doença autoimune, chamada de Origem das células natural killer
poliendocrinopatia autoimune. Células natural killer (NK) são linfócitos grandes e granulares que
(2) Células CD4-positivas e CDS-positivas que não reagem não passam pelo timo, não possuem receptores de antígenos e não
com proteínas do MHC próprias (Figura 58-2) também são eli- carreiam proteínas CD4 ou CDS. Elas reconhecem e matam célu-
minadas. Esse processo resulta em uma seleção positiva de célu- las, como células infectadas por vírus e células tumorais, sem que
las T que reagem bem com proteínas do MHC próprias. haja a necessidade de que antígenos sejam apresentados em asso-
ciação a proteínas do MHC de classes I ou II. Em vez disso, células
Esses dois processos produzem células T que são seleciona-
NK eliminam células que não apresentam proteínas do MHC de
das por sua habilidade de reagir tanto com antígenos estranhos,
classe I em sua superfície. Esse processo de detecção é eficiente,
por meio de seus receptores de antígenos, quanto com proteínas
uma vez que muitas células infectadas por vírus perdem sua ca-
do MHC próprias. Ambas as características são necessárias para
pacidade de sintetizar proteínas do MHC de classe I (ver adiante).
uma resposta efetiva pelas células T.
Observa-se que as proteínas do MHC realizam duas funções
essenciais na resposta imune: uma é a seleção positiva de células Origem dos macrófagos
T no timo, como mencionado, e a outra, descrita posteriormente, Ao contrário das células T, células B e células NK, as quais se di-
é a apresentação de antígenos para células T, passo inicial neces- ferenciam a partir de células-tronco linfoides, os macrófagos sur-
sário para ativar essas células. As proteínas do MHC são também gem a partir de precursores mieloides. Macrófagos possuem duas
as proteínas mais importantes a serem reconhecidas no processo importantes funções: fagocitose e apresentação de antígenos. Eles
de rejeição de enxertos (ver Capítulo 62). não passam pelo timo e não possuem receptores de antígenos.
Durante sua passagem pelo timo, cada célula T duplo-posi- Em sua superfície, apresentam proteínas do MHC de classe II, as
tiva sintetiza um receptor de antígeno diferente, altamente espe- quais possuem papel essencial na apresentação de antígenos às
cífico, chamado de receptor de células T (TCR). O rearranjo de células T. Os macrófagos também exibem proteínas do MHC de
genes de variabilidade, diversidade e de ligação (ver Capítulo 59), classe I, da mesma forma que todas as células nucleadas. As pro-
os quais codificam os receptores, ocorre precocemente durante a teínas de superfície que possuem papéis importantes na resposta
diferenciação das células T, e é responsável pela incrível habilida- imune são listadas na Tabela 58-2.
de dessas células reconhecerem milhões de antígenos diferentes.
Algumas células T, talvez até 40% do total, não se desen-
volvem no timo, mas no tecido linfoide associado ao intestino
CÉLULAST
(GALT). Estes linfócitos intraepiteliais (LIEs) supostamente pro-
vêm proteção contra patógenos intestinais. Seus receptores de an- As células T desenvolvem diversas funções importantes, as
tígenos e proteínas de superfície são diferentes dos de linfócitos quais podem ser divididas em duas principais categorias, a
CAPÍTULO 58 Bases Celulares da Resposta Imune 489

Medula
Célula-
óssea
-tronco

Timo

Célula duplo-negativa
(Co4- , coa-);
sem TCR

Célula duplo-positiva
(CD4+, CDS+);
com TCR

Seleção positiva envolve a


Morte de células com
sobrevivência de células com
TCRs que não reagem
TCRs que reagem com proteínas
com proteínas do MHC
do MHC próprias
próprias

/ -- -- -
/
/
I
1 Célula
1
\
morta I
\ /

'' .,. /

-- - -
Seleção negativa envolve a Sobrevivência de células com TCRs
morte de células com TCRs que não reconhecem antígenos
que reconhecem antígenos próprios
próprios

/ -- - - -
/
/
I co4+
1 Célula coa+
1
\
morta I TCR+
\ /

'' /

- - --
Diferenciação da célula duplo-positiva
em uma célula simples-positiva
(CD4+ ou coa+) após contato com
proteínas do MHC de classe li ou
classe 1, respectivamente

FIGURA 58-2 Desenvolvimento de células T. Observam-se as seleções positiva e negativa que ocorrem no timo. MHC, complexo principal de
histocompatibilidade; TCR, receptor de células T.

saber, reguladora e efetora. As funções reguladoras são media- rem anticorpos, sobretudo do tipo IgE; e (3) interferon 'Y, que
das principalmente por células T auxiliares (CD4-positivas), potencializa a morte por ação de macrófagos. As funções efeto-
as quais produzem interleucinas (Tabela 58-3). Por exemplo, ras são conduzidas pelas células T citotóxicas (CDS-positivas),
células T auxiliares produzem (1) interleucina (IL) 2, que ativa as quais matam células infectadas por vírus, células tumorais e
células CD4 e CDS; (2) IL-4, que auxilia as células B a produzi- alo enxertos.
490 PARTE VII Imunologia

TABELA 58-2 Proteínas de superfície celular que As células T são subdivididas em duas amplas categorias, de
1
possuem função importante para a resposta imune acordo com a presença de proteínas CD4 ou CDS em sua super-
fície. Células T maduras têm proteínas CD4 ou CDS, mas não
Tipos de células Proteínas de superfície
ambas.
Células T auxiliares CD4, TCR, CD28 Os linfócitos CD4 realizam as seguintes funções auxilia-
res: ( 1) auxiliam as células B a se desenvolverem em células
Células T citotóxicas CD8,TCR plasmáticas produtoras de anticorpos; (2) ajudam as células T
Células B lgM, B7 CDS a se tornarem células T citotóxicas ativadas; e (3) auxiliam
os macrófagos a participarem do processo de hipersensibilida-
2
Macrófagos MHC de classe li de tardia (p. ex., limitam a infecção pelo M. tuberculosis). Essas
funções são exercidas por duas subpopulações de células CD4:
Células natural killer Receptores para MHC de
classe 1
as células Th-1 auxiliam na ativação de células T citotóxicas por
meio da produção de IL-2, e também ajudam a iniciar respostas
Todas as outras células, com exceção MHC de classe 1 de hipersensibilidade tardia, principalmente por meio da pro-
3
de hemácias maduras dução de IL-2 e interferon -y. Já as células Th-2 exercem papel
lgM, imunoglobulina M; MHC, complexo principal de histocompatibilidade;TCR,
de auxílio às células B por meio da produção de IL-4 e IL-5,
receptor de células T. essencialmente (Figura 58-3). Observa-se que as citocinas pro-
1
Há muitos outros receptores celulares que possuem funções na resposta imune, duzidas pelas células Th-1 (p. ex., o interferon 'Y) induzem as cé-
mas as proteínas listadas nesta tabela são as mais importantes para a compreen-
lulas B a trocarem a classe de anticorpos produzidos para duas
são dos aspectos fundamentais dessa resposta.
2
Macrófagos e outras células apresentadoras de antígeno. subclasses de IgG (IgG 1 e IgG 3) capazes de opsonizar bactérias
3
Hemácias maduras não sintetizam proteínas do MHC de classe I porque elas não com muita eficiência.
apresentam um núcleo funcional. Um importante regulador do balanço entre células Th-1 e
Th-2 é a interleucina 12 (IL-12), que é produzida por macrófa-
gos. A IL-12 induz o aumento do número de células Th-1 e, dessa
Tipos de células T CD4 e CDS forma, intensifica as defesas do organismo contra organismos
No interior do timo, talvez na região cortical mais externa de célu- que são controlados por uma resposta de hipersensibilidade tar-
las epiteliais (denominadas "células alimentadoras"), progenitoras dia (Tabela 58-4). Outro importante regulador é o interferon -y,
de células T diferenciam-se, sob a influência de hormônios tímicos que inibe a produção de células Th-2. As células CD4 constituem
(timosinas e timopoietinas), em subpopulações de células T. Essas cerca de 65% das células T periféricas e predominam na medula
células caracterizam-se pela presença de certas glicoproteínas de tímica, nas tonsilas e no sangue.
superfície (p. ex., CD3, CD4 e CDS). Todas as células T exibem Para que seja montada uma resposta imune protetora con-
proteínas CD3 em sua superfície em associação com receptores de tra um micróbio específico, é necessário que a subpopulação
antígenos (TCR [ver adiante]). O complexo CD3, constituído por apropriada de células (i.e., Th-1 ou Th-2) exerça um papel do-
cinco proteínas transmembrana, está envolvido na transmissão, do minante na resposta. Por exemplo, se um indivíduo for infectado
exterior da célula para o interior, da informação de que o receptor pelo M. tuberculosis e as células Th-2 constituírem as principais
de antígenos está ocupado. Uma das proteínas transmembrana de envolvidas, então a imunidade humoral será estimulada, em vez
CD3, a cadeia~, está ligada a uma tirosina-cinase chamada de fyn, da imunidade celular. A imunidade humoral não é protetora con-
a qual participa da transdução do sinal. O sinal é transmitido por tra o M. tuberculosis e o paciente poderá padecer de tuberculo-
meio de vários mensageiros secundários, os quais estão descritos se grave. De forma similar, se um indivíduo for infectado pelo
na seção que aborda ativação (ver adiante). CD4 é um polipep- Streptococcus pneumoniae e as células Th-1 forem as principais
tídeo transmembrana único, ao passo que CDS consiste em dois envolvidas na resposta, então a imunidade humoral não será es-
polipeptídeos transmembrana. Estes também devem sinalizar por timulada e o paciente será acometido por doença pneumocócica
meio de tirosinas-cinases (uma cinase lck). grave. Ainda não se sabe precisamente qual componente exato de
um micróbio ativa as células Th-1 ou Th-2.
Já se sabe como a resposta apropriada é estimulada contra
TABELA 58-3 Principais funções das células T auxiliares um microrganismo de grande importância médica: o M. tubercu-
losis. Uma lipoproteína dessa bactéria interage com um receptor
Citocinas que
semelhante ao Toll específico na superfície do macrófago, indu-
Principais funções medeiam a função
zindo-o a produzir IL-12. A IL-12 dirige a diferenciação de célu-
Ativa as células T auxiliares antígeno- IL-2 las T auxiliares virgens em linfócitos T auxiliares do tipo Th-1, os
-específicas a produzirem um clone quais são necessários para a montagem de uma resposta celular
dessas células (hipersensibilidade tardia) contra o microrganismo.
Um subgrupo de células CD4, denominadas células Th-17,
Ativa células T citotóxicas IL-2
exercem uma importante função na imunidade de mucosa, so-
Ativa células B IL-4 e IL-5 bretudo na mucosa do trato GI. Essas células caracterizam-se
por produzir IL-17 em vez das citocinas geralmente produzidas
Ativa macrófagos 1nterferon -y
por células Th-1, como interferon -y, e por células Th-2, como
IL, interleucina. IL-4. A IL-17 age no recrutamento de neutrófilos para o local
CAPÍTULO 58 Bases Celulares da Resposta Imune 491

Microrganismos

* Consultar a legenda

auxiliar
virgem
(Th-0)

Célula Célula
Th-1 Th-2

IL-4
IL-5

Célula
Macrófago Célula Células
ativado
coa citotóxica
B plasmáticas
ativada

Imunidade celular Imunidade mediada por anticorpos

FIGURA 58-3 Origem das células Th-1 e Th-2. No lado esquerdo da figura está representada a origem das células Th-1. Microrganismos são
ingeridos por macrófagos e IL-12 é produzida. IL-12 induz a transformação de células Th-0 virgens em células Th-1 que produzem interferon 'Y
e IL-2. Essas interleucinas ativam macrófagos e células T citotóxicas, respectivamente, o que leva ao desenvolvimento da imunidade celular. No
lado direito da figura está representada a origem das células Th-2. Microrganismos são ingeridos por um tipo desconhecido de célu la (consulte
a nota de rodapé, a seguir) e IL-4 é produzida. lL-4 induz a transformação de células Th-0 virgens em células Th-2, que produzem IL-4 e IL-5. Essas
citocinas ativam as células B, que se tornam células plasmáticas produtoras de anticorpos. Não está representado na figura um importante passo
regulador no qual a IL-1O produzida por células Th-2 inibe a produção de IL-12 por macrófagos, o que dirige o sistema para uma resposta baseada
na produção de anticorpos e o afasta da resposta celular.
*A célula humana responsável pela produção de IL-4, que induz célulasT auxiliares virgens a se tornarem célulasTh-2, ainda não foi identificada.

TABELA 58-4 Comparação entre células Th-1 e Th-2 das infecções bacterianas. Um achado clínico relativo às célu-
las Th-17 é o fato de essas células serem seletivamente elimi-
Células Células
nadas pelo HIV. A perda das células Th-17 resulta em alta taxa
Propriedades Th-1 Th-2
de infecções na corrente sanguínea causadas por bactérias do
Produzem IL-2 e interferon 'Y Sim Não colo, como a E. coli. A IL-17 também contribui para a defesa do
organismo contra certas infecções fúngicas, como a candidíase
Produzem IL-4, IL-5, IL-6 e IL-1 O Não Sim
mucocutânea crônica. As principais citocinas produzidas pelos
Intensificam a imunidade celular e a Sim Não subgrupos de células T auxiliares CD4-positivas são descritas
hipersensibilidade tardia na Tabela 58-5.
Os linfócitos CDS executam funções citotóxicas (i.e., ma-
Intensificam a produção de anticorpos Não Sim tam células infectadas por vírus, células tumorais e aloenxertos).
São estimuladas por IL-12 Sim Não Eles matam por meio de um dos seguintes mecanismos: pela libe-
ração de perforinas que destroem membranas celulares, ou pela
São estimuladas por IL-4 Não Sim indução da morte celular programada (apoptose). As células CDS
IL, interleucina.
predominam na medula óssea humana e nos tecidos linfoides do
intestino, e constituem 35% das células T periféricas.
492 PARTE VII Imunologia

TABELA 58-5 Principais citocinas produzidas por Antígenos virais oriundos da célula infectada são, então, apresen-
diferentes subgrupos de células T auxiliares CD4-positivas tados em associação a proteínas do MHC de classe I, um proces-
so denominado apresentação cruzada.
Subgrupo de
De maneira similar, no interior de uma célula infectada por
células T auxiliares Principal
vírus, a qual não é uma APC, os peptídeos virais recém -sinteti-
CD4-positivas citocina Função da citocina
zados associam-se a proteínas do MHC de classe I e o complexo
Células Th-1 lnterferon 'Y Ativação de macrófagos é transportado para a superfície celular, onde o antígeno é apre-
para que matem micró- sentado para o receptor em uma célula citotóxica CDS-positiva.
bios intracelulares Deve-se ter em mente a regra dos oito: células CD4 interagem
Células Th-2 Estimula o desenvolvimen-
com classe II (4 X 2 = 8) e células CDS interagem com classe I
lnterleucina 4
(IL-4) to de células Th-2; induz (8 X 1 = 8).
a troca de classe de anti- Existem muitos alelos diferentes no interior dos genes do
corpos para lgE MHC de classes I e li; assim, existem muitas proteínas de MHC
diferentes. As várias proteínas do MHC ligam-se a diferentes
Células Th-17 lnterleucina 17 Recrutamento de neutrófilos fragmentos de peptídeos. O polimorfismo dos genes do MHC e
(IL-17) para o local de infecção
as proteínas que estes codificam possibilitam a apresentação de
diversos antígenos diferentes ao TCR. Observe que as proteínas
do MHC de classe I e II podem apresentam apenas peptídeos; ou-
Ativação das células T tros tipos de moléculas não se ligam e, dessa forma, não podem
A ativação das células T auxiliares requer que seus TCRs reco- ser apresentadas. Observa-se também que as proteínas do MHC
nheçam um complexo na superfície de células apresentadoras apresentam peptídeos derivados tanto de proteínas próprias
de antígeno (APCs) (p. ex., macrófagos e células dendríticas)1, quanto de proteínas estranhas; portanto, a ocorrência de uma
formado pelo antígeno associado à proteína do MHC de classe resposta imune é determinada pelo fato de a célula T carreando o
II. A ativação de células T citotóxicas requer que seus TCRs re- receptor específico para o peptídeo ter sobrevivido aos processos
conheçam um complexo, na superfície de APCs, que consiste no de seleção positiva e negativa no timo.
antígeno associado à proteína do MHC de classe 1. Observa-se
que isso pode ocorrer uma vez que as APCs apresentam tanto Coestimulação é necessária para
proteínas de classe I quanto de classe II em sua superfície. ativar células T
A ativação das células T auxiliares inicia com a ingestão
da proteína estranha (ou do micróbio) para o interior da APC. Dois sinais são necessários para a ativação de células T. O primei-
No interior do citoplasma da APC, a proteína estranha é degra- ro sinal no processo de ativação é a interação entre o antígeno
dada em pequenos peptídeos que se associam a proteínas do associado à proteína do MHC com o receptor de células T espe-
MHC de classe II. O complexo é transportado para a superfície cífico para o antígeno (Figura 58-4). Observa-se que quando o
do APC, onde o antígeno associado à proteína do MHC de classe receptor de células T interage com o complexo antígeno-prote-
II é apresentado ao receptor da célula auxiliar CD4-positiva. Esse ína do MHC, a proteína CD4 na superfície da célula T auxiliar
evento, somado à ação de coestimuladores (ver adiante), ativa a também interage com a proteína do MHC de classe II. Além da
célula T auxiliar. ligação da proteína CD4 com a proteína do MHC de classe II,
Observe que as APCs (p. ex., células dendríticas) encon- outras proteínas interagem para ajudar a estabilizar o contato en-
tram-se, em geral, sob uma superfície epitelial, ao passo que as tre a célula T e a APC (p. ex., a proteína antígeno 1 associado à
células T são encontradas principalmente nos linfonodos. Como função linfocitária [LFA-1, lymphocyte function-associated anti-
estas duas células se encontram? Após a ingestão do micróbio gen 1]2 de células T [tanto CD4-positivas quanto CDS-positivas]
pela APC, esta produz um receptor para a quimiocina CCR7. liga-se à proteína denominada molécula de adesão intracelular 1
As células T nos linfonodos produzem continuamente CCR7, e a [ICAM-1, intracellular adhesion molecule l] 2 nas APCs).
célula dendrítica migra do epitélio para o linfonodo por meio do Um segundo sinal coestimulador também é necessário
sistema linfático ascendendo o gradiente de CCR7. (i.e., a proteína B7 da APC precisa interagir com a proteína CD28
A ativação das células T citotóxicas pode ocorrer quando a da célula T auxiliar) (Figura 58-4). Se o sinal coestimulador ocor-
própria APC é infectada por um vírus. As proteínas virais são re, IL-2 é produzida pela célula T auxiliar, etapa que é crucial para
sintetizadas e, então, apresentadas na superfície da APC em as- gerar uma célula T auxiliar capaz de executar suas funções regu-
sociação a proteínas do MHC de classe 1. A ativação de células T ladoras, efetoras e de memória. Se, por outro lado, o receptor de
citotóxicas também pode ocorrer quando APCs ingerem partes células T interage com seu antígeno (epítopo) e o sinal coestimu-
de células mortas que foram previamente infectadas por vírus. lador não ocorre, um estado de ausência de resposta, chamado
de anergia, se desenvolve (ver Capítulo 66). O estado anérgico
1
Macrófagos e células dendríticas são as células apresentadoras de antí-
2
geno mais importantes; no entanto, células B e células de Langerhans da 0 antígeno 1 associado à função linfocitária pertence a uma família de
pele também são capazes de apresentar antígenos (i.e., possuem proteí- proteínas de superfície celular, denominadas integrinas, as quais me-
nas de classe II em suas superfícies). Um primeiro passo essencial para deiam a adesão a outras células. Proteínas do tipo integrina estão inse-
certas células apresentadoras de antígeno (como é o caso das células de ridas na membrana citoplasmática e apresentam domínios intracelulares
Langerhans) é a migração do local de infecção na pele para os tecidos e extracelulares. Assim, elas são capazes de interagir com outras células,
linfoides locais, onde células T auxiliares são encontradas. externamente, e com o citoplasma, internamente.
CAPÍTULO 58 Bases Celulares da Resposta Imune 493

MHCde
classe 1
MHC de Antígeno ~2
Célula classe 11 TCR TCR MG
apresentadora
de antígeno
_l__
Célula T Célula T
auxiliar citotóxica
Proteína CD4 Proteína CDB

Proteína Proteína
87 CD28

FIGURA 58-4 Ativação das células T. A esquerda: Uma célula apresentadora de antígeno (APC) apresenta antígenos processados em associa-
ção a proteínas do MHC de classe li. O antígeno é reconhecido pelo receptor da célula T (TCR) específico para o antígeno, e a célula T auxiliar é
ativada para produzir interleucina 2 (IL-2). A IL-2 liga-se ao seu receptor na célula T auxiliar, ativando-a ainda mais. Observa-se que a proteína CD4
da célula T auxiliar se liga à proteína do MHC de classe li da APC, o que estabiliza a interação entre as duas células, e que a proteína B7 da APC
deve interagir com CD28 na célula T auxiliar para que a ativação completa da célula T auxiliar possa ocorrer. Adireita: Uma célula apresentadora
de antígeno (APC) apresenta antígenos processados em associação a proteínas do MHC de classe li. Uma célula infectada por um vírus apresenta
antígenos virais em associação a proteínas do MHC de classe 1. O antígeno virai é reconhecido pelo TCR específico para o antígeno e, com a IL-2
produzida pelas células T auxiliares, a célula T citotóxica é ativada para destruir a célula infectada pelo vírus. A proteína CD8 na superfície da célula
T citotóxica liga-se à proteína do MHC de classe I na célula infectada, o que estabiliza a interação entre as duas células. Observa-se que a proteína
do MHC de classe li é constituída por dois polipeptídeos, ambos codificados por genes no /ocus HLA. A proteína do MHC de classe 1, em contra-
partida, consiste em apenas um polipeptídeo codificado no /ocus HLA e pela 132-microglobulina (13 2 MG), a qual está codificada em outro local.

é específico para determinado epítopo. Outras células T auxilia- IL-2 (Figura 58-5). Isso reconduz a célula T ativada a um estado
res específicas para outros epítopos não são afetadas. A produção quiescente e, dessa forma, desempenha um papel importante na
de proteínas coestimuladoras depende da ativação de receptores homeostase das células T. Células T mutantes, que carecem de
semelhantes ao Toll na superfície da APC. Antígenos estranhos, CTLA-4 e, assim, não podem ser desativadas, causam reações
como as proteínas bacterianas, induzem a proteína B7, ao passo autoimunes. Além disso, a administração de CTLA-4 reduz are-
que antígenos próprios não o fazem. jeição de órgãos em animais experimentalmente transplantados.
Após a ativação da célula T, uma proteína diferente, deno- A importância clínica de CTLA-4 pode ser notavelmente
minada antígeno 4 do linfócito T citotóxico (CTLA-4, cytotoxic ilustrada pela efetividade do abatacepte no tratamento da ar-
T lymphocyte antigen-4), surge na superfície da célula Te liga-se trite reumatoide. O abatacepte é um CTLA-4-IG, ou seja, uma
a B7, desalojando CD28. A interação de B7 com CTLA-4 ini- proteína fusionada composta pelo CTLA-4 e por um fragmen-
be a ativação da célula T por meio do bloqueio da síntese de to do domínio Fc da IgG humana. O fragmento Fc proporciona

MHC de Antígeno MHC de Antígeno


Célula classe li TCR Célula classe li TCR
apresentadora apresentadora
de antígeno de antígeno
Célula T Célula T
auxiliar auxiliar
Proteína CD4 Proteína CD4

Proteína Proteína Proteína Proteína


87 CD28 87 CTLA-4

FIGURA 58-5 Inibição das células T auxiliares ativadas. Quando as células T auxiliares ativadas não são mais necessárias, seu retorno a um es-
tado quiescente acontece quando uma proteína inibidora, denominada CTLA-4, surge na superfície da célula T auxiliar. CTLA-4 liga-se a B7 com
mais afinidade do que CD28, desalojando CD28 de sua interação com B7. Isso inibe a síntese de IL-2, o que induz as células Ta retornarem a um
estado inativado. A esquerda: A ativação das células T auxiliares ocorre porque a proteína B7 é exposta na superfície da célula apresentadora
de antígeno e interage com CD28 presente na célula T auxiliar (esse é o mesmo processo mostrado no lado esquerdo da Figura 58-4). Adireita:
A proteína CTL-4 é exposta na superfície da célula T auxiliar e interage com B7 na célula apresentadora de antígenos. Como resultado, IL-2 não é
mais sintetizada. MHC, complexo principal de histocompatibilidade; TCR, receptor de células T.
494 PARTE VII Imunologia

resistência contra degradação, resultando em níveis plasmáticos clivadas em fragmentos peptídicos no interior do endossomo,
aumentados de CTLA-4 por períodos mais longos do que se o onde esses fragmentos se associam a proteínas do MHC de classe
CTLA-4 estivesse sozinho. O mecanismo de ação do abatacepte é II. Os complexos, então, migram para a superfície celular.
a ligação de CTLA-4 a B7, deslocando CD-2S de sua ligação a B7, Uma proteção adicional que impede que proteínas sinteti-
o que resulta em uma redução da atividade da célula T auxiliar e zadas endogenamente se associem a proteínas do MHC de classe
em uma redução da resposta inflamatória. II é a presença de uma "cadeia invariável,, ligada às proteínas do
A administração de anticorpos contra CTLA-4 pode aumen- MHC de classe II quando estas estão na parte exterior do endos-
tar a intensidade da resposta imune contra alguns tipos de células somo. A cadeia invariável é degradada por proteases no interior
tumorais humanas e induzir a regressão do câncer. Observa-se do endossomo, permitindo que os fragmentos peptídicos se li-
que, nessa circunstância, o anticorpo é um inibidor de uma mo- guem às proteínas do MHC de classe II somente nesse compar-
lécula inibidora (CTLA-4), resultando no aumento da resposta timento.
imune contra as células cancerosas. As células B, por outro lado, podem interagir diretamente
Além de CTLA-4, existe outra proteína inibidora localiza- com antígenos por meio de suas imunoglobulinas de superfície
da na superfície das células T, denominada PD-1 (morte celular (IgM e IgD). Os antígenos não precisam ser apresentados às cé-
programada 1). Quando PD-1 interage com seu ligante (PDL-1) lulas Bem associação com proteínas do MHC de classe II, como
na superfície de APCs, como células dendríticas e macrófagos, a ocorre com as células T. Observa-se que as células B podem apre-
resposta imune é inibida. Anticorpos monoclonais contra PD-1, sentar os antígenos, após sua internalização e seu processamento,
que acentuam a resposta imune, são efetivos como fármacos an- para as células T auxiliares em associação a proteínas do MHC
ticâncer em ensaios clínicos. de classe II localizadas em sua superfície (ver seção sobre células
B, posteriormente). Diferentemente do receptor de antígenos das
Células T reconhecem apenas peptídeos células T, que reconhece apenas peptídeos, o receptor de antíge-
nos das células B (IgM e IgD) reconhece muitos tipos diferentes
As células T reconhecem apenas antígenos polipeptídicos. de moléculas, como peptídeos, polissacarídeos, ácidos nucleicos
Além disso, elas reconhecem esses polipeptídeos apenas quando e pequenas moléculas (p. ex., fármacos como a penicilina).
estes são apresentados em associação a proteínas do MHC. As cé- As diferenças entre células B e células T explicam a relação
lulas T auxiliares reconhecem antígenos associados a proteínas hapteno-proteína carreadora descrita no Capítulo 57. Para esti-
do MHC de classe II, ao passo que as células T citotóxicas re- mular anticorpos específicos para hapteno, este último precisa
conhecem antígenos associados a proteínas do MHC de classe estar covalentemente ligado a uma proteína carreadora. O hap-
I. Isso é chamado de restrição do MHC (i.e., os dois tipos de teno se liga ao receptor de IgM na superfície da célula B. O an-
células T [CD4 auxiliares e CDS citotóxicas] são "restritas': uma ticorpo IgM é específico para o hapteno, e não para a proteína
vez que são capazes de reconhecer antígenos apenas quando estes carreadora. O conjugado hapteno-proteína carreadora é interna-
são apresentados pela classe adequada de proteínas do MHC). lizado, e a proteína é processada em pequenos peptídeos que são
Essa restrição é mediada por locais de ligação específicos pre- apresentados em associação a proteínas do MHC de classe II para
sentes principalmente no receptor de células T, mas também nas uma célula T auxiliar que possui um receptor para o peptídeo.
proteínas CD4 e CDS, as quais se ligam a regiões específicas nas A célula T auxiliar secreta, então, linfocinas que ativam a célula B
proteínas do MHC de classes II e I, respectivamente. a produzir anticorpos contra o hapteno.
De maneira geral, as proteínas do MHC de classe I apresen- Quando o complexo antígeno-proteína do MHC na APC
tam antígenos sintetizados endogenamente (p. ex., proteínas vi- interage com o receptor de células T, um sinal é transmitido pelo
rais), ao passo que as proteínas do MHC de classe II apresentam complexo proteico CD3 por meio de várias vias intracelulares
antígenos de microrganismos extracelulares que foram fagocita- que, por fim, levam a um intenso influxo de cálcio para o interior
dos (p. ex., proteínas de bactérias). Uma importante consequên- da célula. (Os detalhes das vias de transdução de sinal no interior
cia dessas observações é o fato de que vacinas virais inativadas da célula estão além do escopo deste livro, porém sabe-se que o
(compostas por vírus inativados) não ativam células T citotóxicas estímulo do receptor de células T ativa uma série de fosfocinases
(CDS-positivas), já que o vírus não se replica no interior da cé- que, por sua vez, ativam a fosfolipase C, a qual quebra o fosfoino-
lula e, portanto, seus epítopos não são apresentados em associa- sitídeo, formando inositol trifosfato, que, por fim, leva à abertura
ção a proteínas do MHC de classe I. As proteínas do MHC de dos canais de cálcio.) O cálcio ativa a calcineurina, uma serina-
classe I e classe II estão descritas de maneira mais detalhada no -fosfatase que se move para o núcleo e está envolvida na ativação
Capítulo 62. de genes que codificam a IL-2 e o receptor de IL-2. (A função
A distinção entre proteínas sintetizadas endógena ou extra- da calcineurina é bloqueada pela ciclosporina, um dos fármacos
celularmente adquiridas ocorre em razão do processamento das mais eficientes utilizados para prevenir a rejeição de transplantes
proteínas em diferentes compartimentos no citoplasma celular. de órgãos [ver Capítulo 62].)
As proteínas endogenamente sintetizadas (p. ex., proteínas virais) O resultado final dessa série de eventos é a ativação da célula
são clivadas por um proteossomo, e os peptídeos resultantes asso- T auxiliar para a produção de várias linfocinas (p. ex., IL-2), bem
ciam -se a um "transportador do tipo TAP,, que leva os fragmen- como do receptor de IL-2. A IL-2, também conhecida como o
tos proteicos até o interior do retículo endoplasmático rugoso, fator de crescimento de células T, estimula a célula T auxiliar a
onde se associam às proteínas do MHC de classe I. O complexo se multiplicar, gerando clones de células T auxiliares antígeno-
formado pelo fragmento peptídico e a proteína do MHC de classe -específicas. A maioria das células desse clone executa funções
I, então, migra via aparelho de Golgi até a superfície celular. Em efetoras e reguladoras, mas algumas se tornam células de memó-
contrapartida, as proteínas adquiridas do meio extracelular são ria (ver adiante), as quais são capazes de ser rapidamente ativadas
CAPÍTULO 58 Bases Celulares da Resposta Imune 495

quando expostas ao antígeno no futuro. (Células T citotóxicas e Os polipeptídeos do TCR são similares às cadeias pesa-
células B também formam células de memória.) Observa-se que das das imunoglobulinas, pois (1) os genes que os codificam
a IL-2 estimula tanto as células T CDS citotóxicas quanto as cé- são formados por rearranjos de múltiplas regiões do DNA (ver
lulas T CD4 auxiliares. Células T CD4-positivas ativadas tam- Capítulo 59); (2) observam-se os segmentos V (variável), D (di-
bém produzem outra linfocina, denominada interferon 'Y, a versidade), J (do inglês,joining [ligação]) e C (constante) que se
qual incrementa a expressão de proteínas do MHC de classe II rearranjam de forma a prover enorme diversidade, gerando um
nas APCs. Isso aumenta a habilidade das APCs em apresentar número estimado de mais de 100 milhões de diferentes recepto-
antígenos para as células T, regulando positivamente a resposta res proteicos; (3) as regiões variáveis apresentam domínios hi-
imune. (O interferon 'Y também aumenta a atividade microbicida pervariáveis; e (4) os dois genes (RAG-1 e RAG-2), que codificam
de macrófagos.) as enzimas que catalisam os rearranjos gênicos (denominadas
O processo de ativação das células T não funciona como um recombinases ), são semelhantes em células B e células T.
simples botão "liga-desligà: A ligação de um epítopo ao receptor Observa-se que cada célula T tem um receptor de células T
de células T pode resultar em ativação completa do linfócito, ati- único em sua superfície; por isso, há centenas de milhões de cé-
vação parcial, na qual apenas algumas linfocinas são produzidas, lulas T diferentes em cada indivíduo. Células T ativadas, assim
ou nenhuma ativação, dependendo de qual via de transdução de como as células B ativadas, expandem-se clonalmente para gerar
sinal é estimulada pelo epítopo em particular. Essa importante grandes quantidades de células específicas para o antígeno.
observação pode ter implicações profundas para a compreensão Embora TCRs e imunoglobulinas (anticorpos) sejam análo-
sobre como as células T modulam a resposta contra um agente gos no sentido de que ambos interagem com antígenos de uma
infeccioso. maneira altamente específica, o receptor de células T é diferente
Existem três genes no locus que codifica as proteínas de clas- em dois aspectos importantes: (1) ele apresenta duas cadeias poli-
se I (A, B e C) e três genes no locus da classe II (DP, DQ e DR). peptídicas em vez de quatro, e (2) ele apenas reconhece antígenos
Os seres humanos herdam um grupo de genes de classe I e um associados a proteínas do MHC, ao passo que as imunoglobuli-
grupo de genes de classe II de cada um dos pais. Assim, as células nas reconhecem antígenos livres. Observa-se que os receptores
podem expressar até seis proteínas diferentes da classe I e seis da na superfície de células B (IgM ou IgG) reconhecem antígenos
classe II (ver Capítulo 62). Além disso, existem múltiplos alelos diretamente, sem a necessidade de apresentação por proteínas
para cada locus gênico. Cada uma dessas proteínas do MHC pode do MHC. Além disso, as proteínas do TCR encontram-se sempre
apresentar peptídeos com uma sequência de aminoácidos dife- ancoradas na membrana externa das células T. Não há formas
rente. Isso explica, em parte, a habilidade de responder a muitos circulantes, como é o caso de certos anticorpos (p. ex., a IgM mo-
antígenos diferentes. nomérica localiza-se na membrana de células B, mas a IgM pen-
tamérica circula no plasma).
Células T de memória
Efeito dos superantígenos nas células T
Células T (e B) de memória, como o nome indica, conferem ao
sistema de defesa a habilidade de responder rápida e vigorosa- Certas proteínas, particularmente enterotoxinas estafilocócicas
mente por muitos anos após a exposição inicial a um micróbio ou e toxinas da síndrome do choque tóxico, agem como "superan-
a outro antígeno estranho. Essa resposta de memória a um antí- tígenos" (Figura 58-6). Ao contrário dos antígenos típicos (não
geno específico ocorre em razão de diversos aspectos: (1) muitas "super"), que ativam uma célula T auxiliar (ou poucas), superan-
células de memória são produzidas, de forma que uma resposta tígenos recebem essa denominação porque ativam um grande
secundária é mais intensa do que uma resposta primária, quan - número de linfócitos T auxiliares. As toxinas da síndrome do
do apenas algumas células respondem; (2) células de memória choque tóxico, por exemplo, ligam-se diretamente às proteínas
vivem por muitos anos ou têm a capacidade de se reproduzir; do MHC de classe II sem a necessidade do processamento in-
(3) células de memória são ativadas por quantidades menores de tracelular da toxina. Esse complexo é capaz de se ligar à cadeia ~
4
antígenos e requerem menos coestimulação do que as células T (V~) do receptor de células T de muitas células T.
virgens e inativadas; e (4) células de memória ativadas produzem Isso ativa as células T, induzindo a liberação de IL-2 pores-
quantidades maiores de interleucinas do que as células T virgens tas células e IL-1 e TNF por macrófagos. Essas interleucinas são
quando estas são ativadas pela primeira vez. responsáveis por muitas características observadas nas doenças
estafilocócicas mediadas por toxinas. Determinadas proteínas
virais (p. ex., as do vírus do tumor mamário murino [um retroví-
Receptor de células T
rus]) também possuem atividade de superantígeno.
O receptor de células T (TCR, T-cell receptor) para antígenos é
3
formado por duas cadeias polipeptídicas, a e ~' as quais estão
Características das células T
associadas a proteínas CD3.
As células T constituem 65 a 80% do montante total de peque-
3 nos linfócitos recirculantes. No interior dos linfonodos, elas
Alguns TCRs apresentam grupos diferentes de polipeptídeos, denomi-
nados 'Y e Â. Esses TCRs são pouco comuns porque eles não requerem
4
que o antígeno seja apresentado em associação a proteínas do MHC. As Cada superantígeno (p. ex., as diferentes enterotoxinas estafilocóci-
células T -y/Â constituem aproximadamente 10% de todas as células T. cas) interage com diferentes cadeias Vl3. Isso explica porque muitas,
Algumas das células T que exibem estes TCRs estão envolvidas na imuni- mas não todas as células T auxiliares, são ativadas pelos vários supe-
dade celular contra M. tuberculosis. rantígenos.
496 PARTEVII Imunologia

Célula T Funções efetoras das células T


auxiliar Os quatro tipos de células T (tipos de células CD4 Th-1, Th-2, e
Th-17, e células CDS) fazem a mediação de diferentes aspectos
Proteínas CD3
das defesas do hospedeiro. As células Th-1 fazem a mediação das
reações de hipersensibilidade tardias contra organismos intra-
Proteína CD4 celulares. As células Th-2 fazem a mediação da proteção contra
helmintos (vermes). As células Th-17 protegem contra a dissemi-
nação de infecções bacterianas recrutando neutrófilos ao local de
infecção. As células CDS protegem contra infecções virais des-
truindo as células infectadas.

Células Th-1
apresentadora de antígeno
As células Th-1 e os macrófagos são os principais efetores das
reações de hipersensibilidade tardias que protegem contra mi-
Célula T crorganismos intracelulares, incluindo determinados fungos
auxiliar (p. ex., Histoplasma e Coccidioides) e bactérias intracelulares
(p. ex., M. tuberculosis). A interleucina mais importante para
essas reações é o interferon gama, mas outras, como o fator
- - Proteínas CD3 de ativação de macrófagos e o fator de inibição de migração de
macrófagos (MIF), também desempenham um papel essencial.
Proteína CD4
As células Th-1 produzem as interleucinas que ativam os macró-
fagos, e os macrófagos são os efetores finais que efetivam a des-
truição dos organismos. Uma habilidade reduzida em organizar
essa resposta manifesta-se como uma suscetibilidade notória ao
desenvolvimento de doenças causadas por esses microrganismos.
No caso do M. tuberculosis, uma lipoproteína da bactéria es-
Célula
apresentadora de antígeno timula um receptor semelhante ao Toll específico no macrófago,
o qual sinaliza para que a célula passe a sintetizar IL-12. A IL-12,
FIGURA 58-6 Ativação de células T auxiliares por superantígenos. por sua vez, induz a diferenciação das células T auxiliares virgens
Parte superior: A célula T auxiliar é ativada pela apresentação do antí- em células Th-1, que participarão da resposta celular (hipersen-
geno processado associado a proteínas do complexo principal de his- sibilidade tardia).
tocompat ibilidade (MHC) de classe li à porção antígeno-específica do Células Th-1 produzem interferon "/, que é capaz de ati-
receptor de célula T. Observe que o superantígeno não está envolvido
var macrófagos, intensificando sua habilidade de eliminar
e que apenas um ou um número pequeno de células T auxiliares espe-
M. tuberculosis. O eixo IL-12/interferon 'Y é extremamente
cíficas para o antígeno são ativadas. Parte inferior: A célula T auxiliar é
ativada por meio da ligação do superant ígeno à porção Ví3 do recept or
importante para a capacidade de o sistema de defesa controlar
de células T, fora de seu local antígeno-específico e sem a necessida- infecções por patógenos intracelulares, como M. tuberculosis e
de de processamento pela célula apresentadora de antígeno. Devido Listeria monocytogenes.
ao fat o de que a ligação ocorre fora do local antígeno-específico, os
superantígenos podem ativar muitas células T auxiliares. (Modificada e Células Th-2
reproduzida, com permissão, de Pantaleo G et ai. Mechanisms of disease: The
immunopathogenesis of human immunodeficiency vírus infection. N Eng/ J Med.
As células Th-2 e os eosinófilos são os principais efetores de
1993;328:327.) reações que protegem contra helmintos (vermes), como Schisto-
soma e Strongyloides. As interleucinas mais importantes para es-
sas reações são IL-4, que aumenta a produção de IgE, e IL-5, que
estão localizadas na região mais interna, subcortical, não nos ativa eosinófilos. A IgE liga-se à superfície do verme. Em seguida,
centros germinativos (as células B compõem a maioria das cé- os eosinófilos se ligam à cadeia pesada da IgE e secretam enzimas
lulas restantes no grupo de pequenos linfócitos e são encontra- que destroem o agente.
das principalmente nos centros germinativos dos linfonodos).
O tempo de vida das células T é longo: meses ou anos. Elas Células Th-17
podem ser estimuladas a se dividir quando expostas a certos
As células Th-17 realizam a proteção contra a disseminação de
mitógenos (p. ex., fito -hemaglutinina ou lipoconcanavalina A
infecções bacterianas em superfícies mucosas por meio da pro-
[endotoxina, um lipopolissacarídeo encontrado na superfície
dução de IL-17. A IL-17 atrai neutrófilos ao local de infecção,
de bactérias gram-negativas, é um mitógeno para células B,
onde as bactérias são captadas e destruídas.
mas não para células T]). A maioria das células T humanas
apresenta receptores para hemácias de carneiro em sua super-
fície e podem formar "rosetas" com as mesmas; esse achado Células CDS
serve como método para identificar linfócitos Tem uma popu- As células CDS medeiam a resposta citotóxica que está envolvida
lação mista de células. na destruição das células infectadas por vírus e de células turno-
CAPÍTULO 58 Bases Celulares da Resposta Imune 497

rais, mas também têm um papel importante na rejeição de en- as moléculas de classe II estranhas em certas células do enxer-
xertos. Em resposta à presença de células infectadas por vírus, os to (p. ex., macrófagos e linfócitos). As células auxiliares ativadas
linfócitos CDS precisam reconhecer tanto antígenos virais quanto secretam IL-2, e essa citocina estimula as células citotóxicas a
moléculas do MHC de classe I na superfície da célula infectada. formarem um clone de células. As células citotóxicas matam as
Para eliminar a célula infectada, a célula T citotóxica deve ser ati- células presentes no aloenxerto.
vada pela IL-2 produzida por urna célula T auxiliar (CD4-positi-
va). Para que se tornem ativadas e produzam IL-2, as células Tau- Funções reguladoras das células T
xiliares devem reconhecer antígenos virais ligados a moléculas do
As células T possuem um papel central na regulação tanto do
MHC de classe II em urna APC (p. ex., urna célula dendrítica ou
braço humoral (mediado por anticorpos) quanto do braço me-
um rnacrófago). As células T auxiliares ativadas secretam citocinas
diado por células do sistema imune.
corno a IL-2, que estimula células T citotóxicas vírus-específicas a
formarem um clone de células T citotóxicas ativadas.
Produção de anticorpos
Células T citotóxicas ativadas matam as células infectadas
por vírus, principalmente por meio da inserção de perforinas e A produção de anticorpos pelas células B normalmente requer
enzimas destrutivas, chamadas de granzimas, na célula infecta- a participação das células T auxiliares (resposta dependente de
da. As perforinas formam canais através da membrana da célu- células T), porém anticorpos contra certos antígenos (p. ex., ma-
la, de forma que o conteúdo celular se esvai e a célula morre. As crornoléculas poliméricas [multivalentes], como polissacarídeos
granzirnas são proteases que degradam proteínas na membrana da cápsula bacteriana) são independentes de células T. Esses
polissacarídeos são formados por longas cadeias que consistem
celular, o que também leva à perda do conteúdo da célula. Além
disso, granzirnas também ativam caspases (um tipo de protease), em subunidades repetidas de diversos açúcares. As subunidades
repetidas agem como um antígeno multivalente capaz de se li-
que induzem apoptose, resultando na morte da célula infecta-
gar de forma cruzada aos receptores de antígenos do tipo IgM na
da. Durante o processo de morte da célula infectada por vírus,
célula B, ativando-a na ausência da ajuda do auxílio CD4. Outras
a própria célula T citotóxica não se danifica e pode continuar a
macromoléculas, como DNA, RNA e muitos lipídeos, também
eliminar outras células infectadas pelo mesmo tipo de vírus. As
são capazes de gerar urna resposta independente de células T.
células T citotóxicas não afetam vírus livres, mas apenas as célu-
No exemplo a seguir, que ilustra a resposta dependente de
las infectadas por eles.
células T, células B são utilizadas como APCs. Esse processo
Outro mecanismo pelo qual células T citotóxicas eliminam
inicia quando um antígeno se liga ao IgM ou IgD na superfície
células-alvo é a interação entre Fase o ligante de Fas (FasL). Fas
da célula B, é internalizado e, então, fragmentado. Alguns dos
é urna proteína presente na superfície de muitas células. Quan-
fragmentos retornam à superfície em associação a moléculas do
do o receptor de células T citotóxicas reconhece um epítopo na 5
MHC de classe II (Figura 58-7A). Esses complexos interagem
superfície de urna célula-alvo, a produção de FasL é induzida
com o receptor na célula T auxiliar e, se o sinal coestimulador
na célula T citotóxica. Quando Fas e FasL interagem, ocorre a
for fornecido pela proteína B7 da célula B que interage com a
apoptose (morte) da célula-alvo. As células NK também matam
proteína CD28 da célula T auxiliar, esta é estimulada a produ-
células-alvo por meio da apoptose induzida por Fas-FasL. zir interleucinas (p. ex., IL-2, IL-4 e IL-5). IL-4 e IL-5 induzem a
Além da morte direta por ação de células T citotóxicas, célu-
mudança de classe de IgM, que é a primeira classe de irnunoglo-
las infectadas por vírus também podem ser destruídas por meio bulinas a ser produzida, para outras classes, como IgG, IgA e IgE
da combinação de IgG e células fagocitárias. Nesse processo, (ver fim do Capítulo 59). Essas interleucinas estimulam a célula
denominado citotoxicidade celular dependente de anticorpos B a se dividir e se diferenciar em muitas células plasmáticas pro-
(ADCC, antibody-dependent cellular cytotoxicity), anticorpos dutoras de anticorpos.
ligados à superfície da célula infectada são reconhecidos por re- Observe que as interleucinas por si só não são suficientes
ceptores de IgG presentes na superfície de células fagocíticas (p. para a ativação de células B. Uma proteína de membrana nas cé-
ex., rnacrófagos e células NK), e a célula infectada é eliminada. lulas T auxiliares, denominada ligante de CD40 (CD40L), precisa
O processo de ADCC pode também matar helrnintos (vermes). interagir com urna proteína chamada CD40 na superfície das cé-
Nesse caso, IgE é o anticorpo envolvido e os eosinófilos são as lulas B quiescentes para que estas se diferenciem em células plas-
células efetoras. IgE liga-se às proteínas de superfície do verme máticas produtoras de anticorpos (Figura 58-7B). Além disso,
e a superfície dos eosinófilos apresenta receptores para a cadeia outras proteínas na superfície dessas células servem para reforçar
pesada u dessa irnunoglobulina. A proteína básica principal, lo- a interação entre a célula T auxiliar e a célula B apresentadora de
calizada no interior dos grânulos dos eosinófilos, é liberada e da- antígeno (p. ex., CD28 na célula T interage com B7 na célula B, e
nifica a superfície do verme. LFA-1 na célula T interage com ICAM-1 na célula B). (Há tam-
Muitas células turnorais desenvolvem novos antígenos em bém proteínas !CAM na célula T que interagem com proteínas
sua superfície. Esses antígenos ligados a proteínas de classe I são LFA na célula B.)
reconhecidos por células T citotóxicas que são estimuladas a pro- Na resposta dependente de células T, todas as classes de an-
liferar por ação da IL-2. O clone de células T citotóxicas resul- ticorpos são produzidas (IgG, IgM, IgA, etc.), ao passo que, na
tante pode eliminar as células turnorais, fenômeno chamado de
vigilância imune. 5
Observa-se que uma importante diferença entre células B e células T
Em resposta à presença de aloenxertos, células citotóxicas é o fato de que células B reconhecem antígenos livres, ao passo que as
(CDS) reconhecem as moléculas do MHC de classe I na super- células T reconhecem antígenos apenas quando estes estão associados a
fície das células estranhas. Células auxiliares (CD4) reconhecem proteínas do MHC.
498 PARTE VII Imunologia

~~~
-~ ativada

A B

FIGURA 58-7 A: Ativação da célula B por células T auxiliares. Bº é uma célula B quiescente à qual um antígeno multivalente se liga aos seus re-
ceptores de lgM monomérico (Y). O antígeno é internalizado e um fragmento (.à) retorna à superfície em conjunto com uma molécula de classe li
(D). Um receptor em uma célula T ativada reconhece o complexo na superfície da célula B, e a célula T passa a produzir interleucinas que induzem
1 2 3
as células B a formarem células B e B , as quais se d iferenciam em células plasmáticas (PC) produtoras de anticorpos (p. ex., lgM pentamérico).
Células B de memória também são produzidas. B: A p roteína induzível B7 (w) na célula B deve interagir com a proteína CD28 na célula T auxiliar
para que esta seja completamente ativada, e CD40L (ligante de CD40) na célula T auxiliar precisa interagir com CD40 na superfície da célula B para
que esta seja ativada e passe a sintetizar toda a sua gama de anticorpos. (Modificada e reproduzida, com permissão, de Stites DP, Terr A, eds. Basic & Clinicai
lmmunology. 7th ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1991 McGraw-Hill.)

resposta independente de células T, apenas IgM é produzida. Quando há um desequihbrio numérico ou na atividade en-
Isso significa que linfocinas produzidas pela célula T auxiliar são tre células CD4 e CDS, mecanismos imunes celulares são inten-
necessárias para a mudança de classe de anticorpos. A resposta samente bloqueados. Por exemplo, no caso da hanseníase lepro-
dependente de células T gera células B de memória, ao passo que matosa, há a multiplicação incontida de Mycobacterium leprae,
a resposta independente de células T não o faz. Assim, uma res- a falta de hipersensibilidade tardia aos antígenos do M. leprae, a
posta secundária por anticorpos (ver Capítulo 60) não ocorre no falta de imunidade celular a esse microrganismo e o excesso de
último caso. A resposta independente de células T é a principal células CDS nas lesões. A remoção de algumas células CDS pode
resposta aos polissacarídeos das cápsulas bacterianas, pois essas restaurar a imunidade celular nesses pacientes e limitar a multi-
moléculas não são processadas e apresentadas pelas APCs, não plicação do M. leprae. Na síndrome da imunodeficiência adqui-
ativando células T auxiliares. A razão para isso reside no fato de rida (Aids), a proporção normal de células CD4: CDS (>1,5) é
que polissacarídeos não se ligam a proteínas do MHC de classe II, significativamente reduzida. Muitas células CD4 são destruídas
ao passo que antígenos peptídicos se ligam. pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), e o número de
células CDS aument a. Este desequilíbrio (i.e., a perda de ativi-
Imunidade celular dade auxiliar e o aumento da atividade supressora) resulta em
suscetibilidade a infecções oportunistas e certos tumores.
Na resposta celular, os eventos iniciais são similares aos descritos
Uma parte importante da resposta do hospedeiro às infec-
previamente para a produção de anticorpos. O antígeno é pro-
ções é a expressão aumentada das proteínas do MHC de classe I
cessado por macrófagos, e é fragmentado e apresentado em con-
e classe II induzida por várias citocinas, sobretudo os interferons,
junto com moléculas do MHC de classe II na superfície da célula.
como o interferon 'Y· O aumento das quantidades de proteínas
O complexo interage com o receptor da célula T auxiliar, a qual
do MHC leva ao aumento da apresentação de antígenos e a uma
é estimulada e passa a produzir linfocinas, como IL-2 (fator de
resposta imune mais acentuada. No entanto, certos vírus são ca-
crescimento de células T), que estimulam as células T auxiliares e
pazes de reprimir o aumento da expressão de proteínas do MHC,
citotóxicas específicas a crescer.
consequentemente intensificando sua sobrevivência. O vírus da
hepatite B, o adenovírus e o citomegalovírus, por exemplo, po-
Supressão de certas respostas imunes dem impedir o aumento da expressão de proteínas do MHC de
Uma subpopulação de células T, denominada células T regulado- classe I e, por conseguinte, reduzir a resposta de células T citotó-
ras (TR), pode suprimir (inibir) as funções efetoras de células T xicas contra as células infectadas por eles.
auxiliares (CD4) e citotóxicas (CDS). (Essas células são t ambém
chamadas de células T supressoras.) Células TR correspondem a
5 a 10% das células T CD4-positivas e são caracterizadas por pos- CÉLULASB
suir o marcador CD25. Essas células também possuem FoxP3,
As células B executam duas importantes funções: (1) elas diferen-
um regulador da transcrição de vários genes. Uma característica
ciam-se em células plasmáticas e produzem anticorpos, e (2) elas
das células TR que expressam FoxP3 é a síntese da proteína ini-
podem apresentar antígenos às células T auxiliares.
bidora de superfície CTLA-4. Indivíduos nos quais as células TR
não possuem a capacidade de produzir FoxP3 apresentam predis-
posição para a ocorrência de doenças autoimunes, como o lúpus Origem
eritematoso sistêmico e uma rara doença ligada ao cromossomo Durante a embriogênese, os precursores de células B são pri-
X caracterizada por poliendocrinopatia e enteropatia (IPEX). meiramente reconhecidos no fígado fetal. De lá, migram para a
CAPÍTULO 58 Bases Celulares da Resposta Imune 499

medula óssea, que é o seu principal local durante a vida adul- imunogenicamente responsiva apresenta um receptor de superfí-
ta. Diferentemente das células T, as células B não necessitam do cie (IgM ou IgD) que pode reagir com um antígeno (ou um gru-
timo para sua maturação. Células pré-B não possuem imuno- po de antígenos proximamente relacionados) (i.e., existem cerca
globulinas de superfície e nem cadeias leves, mas apresentam de 107 especificidades). Estima-se que existam, pelo menos, 10
cadeias µ pesadas em seu citoplasma. A maturação das células B milhões de especificidades diferentes. Um antígeno deve intera-
tem duas fases: a fase independente de antígenos inclui as células- gir com o linfócito B que apresenta o melhor "encaixe,, em sua
-tronco, células pré-B e células B, ao passo que a fase dependente imunoglobulina receptora de superfície. Depois que o antígeno
de antígenos inclui as células que surgem após a interação de an- se liga, a célula B é estimulada a se proliferar e forma um clone de
tígenos com as células B (p. ex., células B ativadas e células plas- células. As células B selecionadas rapidamente se transformam
máticas) (Figura 58-8). em células plasmáticas e passam a secretar anticorpos específicos
Para a diferenciação de células pré-B em células B, uma para determinado antígeno. Células plasmáticas sintetizam imu-
proteína de transdução de sinal, denominada tirosina-cinase de noglobulinas com a mesma especificidade antigênica (i.e., elas
Bruton, é necessária. Uma mutação no gene que codifica essa apresentam a mesma cadeia pesada e a mesma cadeia leve) que a
proteína causa a agamaglobulinemia ligada ao X, doença na apresentada pela célula B selecionada. A especificidade do anti-
qual não são produzidas imunoglobulinas (p. ex., IgM, IgG) e corpo não se altera quando a troca de classes das cadeias pesadas
existe uma carência de células B. Infecções graves causadas por acontece (ver Capítulo 59).
bactérias piogênicas são observadas nesses pacientes. Observe que a seleção clonal também ocorre para as célu-
Células B apresentam IgM de superfície, que serve como las T. O antígeno interage com um receptor específico localizado
receptor para antígenos. A IgM de superfície é um monômero, na superfície de uma célula T CD4-positiva ou CDS-positiva.
ao contrário da IgM circulante, que é um pentâmero. A IgM mo- Isso seleciona a célula e a ativa para se expandir em um clone de
nomérica na superfície celular apresenta um domínio transmem- células com a mesma especificidade.
brana extra, ausente na forma pentamérica circulante, que ancora
a proteína na membrana celular. A IgD de superfície, em certas Ativação de células B
células B, também pode ser um receptor de antígenos. Células
No exemplo a seguir, a célula B é o APC. Um antígeno multiva-
pré-B são encontradas na medula óssea, ao passo que células B
lente liga-se ao IgM (ou IgD) de superfície e liga-se cruzadamente
circulam na corrente sanguínea.
a moléculas de imunoglobulinas adjacentes. Essas moléculas de
As células B constituem cerca de 30% de todos os pequenos
imunoglobulinas agregam-se, formando "placas,, que eventual-
linfócitos circulantes, e sua vida útil é curta (i.e., dias ou sema-
mente migram para um polo da célula, como uma cobertura.
nas). Aproximadamente 109 células B são produzidas diariamen-
O material componente dessa cobertura é endocitado, o antígeno
te. No interior dos linfonodos, elas localizam-se nos centros ger-
é processado e epítopos associados a proteínas do MHC de classe
minativos; no baço, são encontradas no interior da polpa branca.
II surgem na superfície da célula. Esse complexo é reconhecido
Elas também são encontradas no tecido linfoide associado ao
por uma célula T auxiliar que possui o receptor para o antíge-
intestino (p. ex., nas placas de Peyer).
no apresentado na superfície celular.6 Neste momento, a célula T

Seleção clonal
Como os anticorpos são formados? O antígeno "instrui,, a célula 6
Macrófagos carreando antígenos ligados a proteínas do MHC de classe
B a produzir um anticorpo ou o antígeno "selecionà' uma célula
II também podem apresentar antígenos para as células T, o que resulta na
B dotada com a capacidade prévia de produzir o anticorpo? formação de anticorpos. Em geral, células B não são boas ativadoras de
Parece que a última alternativa (i.e., a seleção clonai) é res- células T virgens em uma resposta primária, uma vez que células B não
ponsável pela formação de anticorpos. Cada indivíduo possui produzem IL-1. No entanto, células B são excelentes ativadoras de células
uma enorme gama de linfócitos B (cerca de 107). Cada célula B T de memória, já que, neste caso, pouco IL-1, ou nenhum, é necessário.

---- - - - - - - Independente de antígeno - - - - - - - - - -1• Dependente de antígeno

Célula-tronco Células pré-B Células B Células plasmáticas

1
y y J-

o~ µ
~0~d~d~ 1
y

1 Imatura Madura Ativada

FIGURA 58-8 Maturação de células B. Células B originam-se de células-tronco e diferenciam-se em células pré-B, que expressam cadeias pesa-
dasµ em seu citoplasma, e, então, em célu las B, que expressam lgM monomérico em sua superfície. Isso ocorre independentemente de antígeno.
A ativação de célu las B e sua d iferenciação em células plasmáticas são dependentes de antígeno. Células à esquerda da linha pontilhada vertical
não possuem lgM em sua superfície, ao passo que as células B, à direita da linha vertical pontilhada, apresentam lgM. µ, cadeias pesadas muno
citoplasma; Y, lgM. (Modificada e reproduzida, com permissão, de Stites DP, Terr A, eds. Basic & Clinicai lmmunology. 7th ed. Publicada originalmente por Appleton
& Lange. Copyright 1991 McGraw-Hill.)
500 PARTEVII Imunologia

passa a produ.z.ir diversas citocinas (IL·2. lL-4 e IL·S) que estimu• TABELA SS--6 características importantes dos macrófagos
1am o crescimento e a diferenciação das célu1as B.
Aativação das célu)as B para que produzam toda a gama de Fu~ Meanllmo1
anticorpos requer duas outras interações a1ém do reconhecimen• Fagocitose Ingestão e morte de mtc,óbios em fagolisos·
to do epltopo pelo receptor de células Te da produção de IL-4 somas. A morte é causada pela ação de
e JL.s pela célu)a T auxi1iar. As interações coestimuJadoras que intermediá1ios reativos de oxig~nio, como
ocorrem entre as proteínas de superfície das cêlu)as Be T são as os superóxidos, intermediáóos (ealivos de
seguintes: ( 1) CD28 na célula T deve interagir com 87 na célula niuog~nio, como o óxido nítfico, e enz.imas
B, e (2) CD40L na célula T deve interagir com CD40 na célula B. lisossomais, como pc'Oteases, nucleases e
A interação C028 -B7 é necessária para a ativação da c:éluJa Te a lisotima.
produção de interleucinas. Jâ a interação CD40L-CO40 é neres. Apresentação Ap(esentaçao de antiget1os em associação a
sária para que ocorra a mudança de lgM para outras classes de de antígeno proteínas do MHC de classe li pa,a OOlulas T
imunoglobulinas, como lgM e lgA. auxiliares C04--positivas. Também apresen-
A s(ndrome de hiper-lgM é caucSada por uma mutação no tam a proteína 87, que age corno uma coesti-
gene que codifica CD40L. Os pacientes apresentam níveis eleva. muladota das OOlulas Tauxiliares.
dos de JgM e níveis muito baixos de JgG, IgA. e lgE. uma vez. Produçàode Síntese e liberaç.3ode citocinas, como IL·1 e
que estes 11ão realizam a ..mudança de classe" de anticorpos. Essa citodnas TNF, e quimiocinas, como ll--8.
síndrome é caracterizada pela ocorrência de infecções piogênicas
graves (ver Capítulo 68). IL,. lnterleuclna: MHC, complexo prlndpal de hlstocompat1bHldade;-TNF, fator de
necrose tumoral

Funções efetoras das células B/


células plasmáticas •positivas. A degradação da prote(na estranha é interrompida
quando os fragmentos se associam a proteínas do MHC de classe
O resultado final do processo de ativação é a produção de mui~
II no citoplasma. O complexo é, então, transportado para a super.
tas células plasmáticas que produzem enormes quantidades de ílcie c.eJular por meio de proteínas de transporte especializadas.
imunoglobulinas e.spedficas para o epftopo. Células plasmáticas (3) Produção de c.itodnas. Os macrôfugos produzem diver-
são c:apazes de sec-retar milhares de moléculas de anticorpos por sas citocinas, e as mais importantes são a lL- 1 e o TNF. Tanto a
segundo durante alguns dias e. então, morrem, A1gumas células B
IL· l (pirógeno endógeno) quanto o ThF são importantes me-
ativadas formam células de memória, as quais podem permane• diadores da inflamação. Além disso, macrôfagos produzem IL·S,
cer quiescentes por longos períodos, sendo capazes de se reativar uma importante quimiocina capaz de atrair neutrófilos e célu1as
rapidamente a partir da reexposição ao antígeno. A maioria das e.é· T para o local de infecção.
lulas Bde memória apresenta moléculas de JgG de superfície que Essas três funções são amplamente intensificadas quando
sen•em e.orno receptores de antígenos, embora algumas retenhan1 um processo denominado ativação dos macrófagos ocorre. Ma-
IgM para essa função. CéJulas T de memória sec.retam intetleuci. ctófagos são inicialmente ativados por substâncias como lipopo-
nas que intensificam a produção de aJltioorpos pelas células Bde lissacaddeos (LPS, endotoxina) bacterianos. peptideoglicanos
memória. A prese,nça dessas células explica o rápido surgimento
bacterianos e por DNA bacteriano. (O DNA humano ê metilado.
de anticorpos durante a resposta se<:.undária (ver Capítulo 60). ao passo que o DNA bacteriano não o é, send~ assim, reconheci-
do como estranho,) Essas substâncias interagem com receptores
semelhantes ao ToU na superfície do macrófago e sinalizam para
C~LULAS APRESENTADORAS a produção de certas citoci.nas. Os macrófagos também são ati·
DE ANTÍGENO vados pelo interferon 'Y produzido por c.éJulas T auxiliares, O in•
terferon 'Y aumenta a síntese de proteínas do MHC de classe II, o
Macrófagos que intensifica a apresentação de antígeno e a atividade microbi-
Os macrôfagos possuem três funções principais: fagocitose, apre- cida dos macrôfagos.
sentação de antfgenos e produção de citocinas (Tabela 58-6), Os macrófagos são derivados de histiócitos da medula óssea
e podem ocorrer tanto na forma livre (p. ex., monócitos) quanto
( 1) Fagocitose. Macrófagos ingerem bactérias, vírus e outras na forma fixa em tecidos (p. ex., células de Kupffer no figado).
partículas estranhas. Eles apresentam receptores Fc de superfície Os macrófagos migram para o local de inflamação. atraídos por
que interagem com a porção Fc da lgG e, assim, intensificam a ill· certos mediadores. sobretudo C5a, uma quüniocina liberada pela
ternaliução de organismos opsonizados. Os macrôfagos também cascata do complemento.
apresentam receptores para C3b. outra importante opsoni11a.
Apôs a ingestão. o fagossomo contendo o micróbio se funde com
um lisossomo. O micróbio é morto no interior da fagolisossoma
Células dendrítlcas
resultante por meio da ação de compostos re:ativos de oxigênio e As c.éJulas dendríticas compreendem um terc.eiro tipo de célu1as
nitrogênio, e também por enzimas lisossomais. que funcionam como apresentadoras de antígenos "profissionais''
(2) Apresentação de antígeno. Material estranho é ingerido (macrófagos e células B são as outras duas) (i.e.• elas expressam
e degradado. e fragmentos do antígeno são apre.sentados na su. proteínas do MHC de classe.JJ e apresentam antígenos para célu·
perílcie do macrófugo (em conjunto com proteínas do MHC de las T CD4-positivas). Elas são particularmente importantes por
classe li) para interação com o TCR de células T auxiliares CD4- serem as prindpals indutoras de respostas primárias por anti~
CAPÍTULO 58 Bases Celulares da Resposta Imune S01

corpos. A denominação "dendríticà' refere-se aos seus prolonga- e (2) produzem interferon -y, o que ativa macrófagos e os induz a
mentos longos e estreitos (lembrando dendritos), que as tornam matar bactérias ingeridas por eles (Tabela 58-7).
eficientes em estabelecer contato com material estranho. As células NK são especialistas em matar células infectadas
As células dendríticas estão localizadas principalmente sob a por vírus e células tumorais por meio da secreção de citotoxinas
pele e nas mucosas (p. ex., células de Langerhans na pele). As cé- (perforinas e granzimas) similares às produzidas por linfócitos
lulas dendríticas migram de sua localização periférica, sob a pele T citotóxicos, e também participam da apoptose mediada por
e nas mucosas, para os linfonodos locais, onde elas apresentam Fas-ligante de Fas. Elas são chamadas de matadoras "naturais,,
antígenos para as células T auxiliares. A migração de células den- (natural killer) porque são ativas mesmo antes da exposição ao
dríticas para os linfonodos é uma resposta à quimiocina CCR7, vírus, sua ação não é intensificada pela exposição e não são es-
produzida pelas células T nos linfonodos. pecíficas para nenhum vírus. Elas podem matar sem o auxílio de
anticorpos, mas os anticorpos (IgG) aumentam sua efetividade,
um processo denominado citotoxicidade celular dependente de
RESUMO DA INTERAÇÃO DE CÉLULAS anticorpos (ADCC) (ver a seção sobre as funções efetoras das cé-
lulas T [anteriormente]). A IL-12 produzida por macrófagos e os
APRESENTADORAS DE ANTÍGENO,
interferons a e í3 produzidos pelas células infectadas são potentes
CÉLULAS T E CÉLULAS B ativadores das células NK. Aproximadamente 5 a 10% dos linfó-
O processo de interação é iniciado pela ingestão de um micró- citos periféricos são células NK.
bio por uma célula apresentadora de antígeno, por exemplo, Células NK são linfócitos que apresentam alguns marca-
a ingestão de uma bactéria por uma célula dendrítica na pele. dores de células T, porém elas não precisam passar pelo timo
A célula dendrítica migra para o linfonodo por meio de vasos para se tornarem maduras. Elas não apresentam memória imu-
linfáticos, atraída por quimiocinas. No linfonodo, a célula den- nológica e, ao contrário das células T citotóxicas, não apresen -
drítica apresenta o antígeno para a célula T carreadora de um re- tam receptor de células T. Além disso, sua ação eliminadora não
ceptor específico para o antígeno. Enquanto esse processo ocorre, requer o reconhecimento de proteínas do MHC. Na verdade,
fragmentos do micróbio circulam para o linfonodo e ligam-se di- células NK possuem receptores que detectam a presença de
retamente ao receptor de antígenos da célula B (IgM de membra- proteínas de MHC de classe I na superfície das células. Se uma
na). O antígeno é internalizado, processado e apresentado para célula apresentar quantidades suficientes de proteína do MHC
células T auxiliares que contenham o receptor correto. Várias de classe I, essa célula não será morta pela célula NK. Muitas cé-
quimiocinas e receptores de quimiocinas (p. ex., CCR7) facilitam lulas infectadas por vírus e células tumorais apresentam quanti-
a migração dessas células para uma área comum do linfonodo, dades reduzidas de proteínas do MHC de classe I, e essas células
onde há elevada probabilidade de que elas interajam entre si. são reconhecidas e eliminadas pelas células NK. Seres humanos
A proximidade da célula B com a célula T auxiliar permite que as que não possuem células NK estão predispostos a infecções gra-
citocinas produzidas pelo linfócito T auxiliar ativem, de maneira ves e potencialmente letais pelo vírus da varicela-zóster e pelo
eficiente, a produção de anticorpos pela célula B. citomegalovírus.
Células NK detectam a presença de células cancerígenas por
meio do reconhecimento de uma proteína chamada de MICA,
que é encontrada na superfície de muitas células cancerígenas,
CÉLULAS DENDRÍTICAS FOLICULARES
Possuem aparência similar às células dendríticas mencionadas,
mas são bastante diferentes delas em relação à sua localização e TABELA 58-7 Características importantes das células
função. As células foliculares dendríticas (CFDs) estão localiza- natural killer (NK)
das nos centros germinativos contendo células B dos folículos do
baço e linfonodos. Elas não apresentam antígenos a células T au- 1. Natureza das células NK
xiliares, uma vez que não produzem proteínas do MHC de classe • Linfócitos grandes e granulosos
II. Em vez disso, elas capturam complexos antígeno-anticorpo • Não possuem receptor de células T, proteínas CD3 e lgM e
por meio de receptores Fc localizados em sua superfície. Os com- lgD de superfície
plexos antígeno-anticorpo são, então, detectados por células B • O timo não é necessário para o seu desenvolvimento
ativadas. Os anticorpos produzidos pelas células B sofrem ma- • Apresentam-se em quantidades normais em pacientes com
turação por afinidade (o que consiste no aumento da afinidade a imunodeficiência combinada grave
de um anticorpo pelo antígeno, decorrente da exposição repe- • Atividade não intensificada por meio da exposição prévia
tida a este antígeno). A maturação por afinidade é descrita no
Capítulo 60. Além disso, células dendríticas foliculares produzem li. Função das células NK
quimiocinas que atraem células B para os folículos do baço e dos • Matam células infectadas por vírus e células cancerígenas
linfonodos. • Ação (morte) não é específica e nem é dependente da apre-
sentação do antígeno estranho pelas proteínas do MHC de
classes I ou li
CÉLULAS NATURAL KILLER • Produzem interferon 'Y, que ativa macrófagos, induzindo-os
a matar bactérias ingeridas
Células NK possuem dois papéis importantes no sistema inato de
defesa do hospedeiro: (1) elas matam células infectadas por vírus, lg, imunoglobulina; MHC, complexo principal de histocompatibilidade.
502 PARTEVI I Imunologia

mas não em células normais. A interação entre MICA e um re- nhecem a porção Fc da cadeia pesada de IgG e IgE. Outra possí-
ceptor na célula NK induz a produção de citocinas pela célula NK vel função dos eosinófilos é a atenuação dos efeitos das reações
e a subsequente morte da célula tumoral. imediatas de hipersensibilidade.
Isso ocorre porque os grânulos dos eosinófilos contêm his-
taminase, uma enzima que degrada a histamina, que é uma im -
NEUTRÓFILOS portante mediadora das reações imediatas. Entretanto, os grânu-
los tam bém contêm leucotrienos e peroxidases, os quais podem
Neutrófilos são importantes componentes do sistema inato de
danificar os tecidos e causar inflamação. Os grânulos contêm,
defesa do hospedeiro, e infecções bacterian as graves ocorrem
ainda, uma proteína básica principal que danifica o epitélio respi-
quando essas células estão presentes em número muito pequeno
ratório e contribui para a patogênese da asma.
(neutropenia) ou apresentam alguma deficiência em sua função,
Os eosinófilos podem fagocitar bactérias, mas o fazem de
o que ocorre n a doença crônica granulomatosa. Essas células
forma tão fraca que não é suficiente para proteger contra infec-
apresentam grânulos que se coram em rosa-claro (neutro) quan -
ções bacterianas piogênicas em pacientes com neutropenia. Em -
do são usados corantes sanguíneos, como o corante de Wright, ao
bora essas células possam fagocit ar, elas não apresentam antíge-
contrário de eosinófilos e basófilos, cujos grânulos se coram de
nos para células T auxiliares. O crescim ento e a diferenciação dos
vermelho e azul, respectivamente. Esses grânulos são lisossomos,
eosinófilos são estimulados pela IL-5.
os quais contêm uma variedade de enzimas degradativas que são
importantes para a ação bactericida dessas células. O processo de
fagocitose e a ação bactericida dos neutrófilos são descritos em
BASÓFILOS E MASTÓCITOS
detalhes no Capítulo 8.
Os neutrófilos possuem receptores para IgG em sua superfí- Os basófilos são leucócitos com grânulos citoplasmáticos que se
cie, assim, IgG é a única im unoglobulina que opsoniza (i.e., torna coram em azul quando tratados com o corante de Wright. A co-
as bactérias mais facilmente fagocitadas). Observe que os neutró- loração azul ocorre em decorrên cia da ligação do corante azul
filos não exibem proteínas do MHC de classe II em sua superfície de metileno, positivamente carregado, com diversas m oléculas
e, assim , não apresentam antígenos a células T auxiliares. Isso re- negativamente carregadas presentes nos grânulos. Os basófilos
presenta um contraste com relação aos macrófagos, que também circulam na corrente sanguínea, ao passo que os mastócitos, si-
são células fagocíticas, mas que apresentam antígenos a células T milares aos basófilos em muitos aspectos, encontram -se fixos nos
auxiliares. tecidos, principalmente sob a pele e na mucosa dos tratos respi-
Os neutrófilos são, muitas vezes, considerados ((facas de dois ratório e gastrintestinal.
gumes': Se por um lado apresentam poderosa ação microbicida, Basófilos e mastócitos apresentam receptores em suas super-
por outro lado podem induzir extenso dano tecidual por ação fícies que se ligam à porção Fc da cadeia pesada de IgE. Quando
de suas enzimas degradativas. Um excelente exemplo desta últi- moléculas adjacentes de IgE estão ligadas cruzadamente por um
ma situação é o dano aos glomérulos durante a glomerulonefrite antígeno, imunomediadores ativos, como a histamina, e enzimas,
pós-estreptocócica. O dano é causado pelas enzimas liberadas como peroxidases e hidrolases, são liberados. Esses elem entos
pelos neutrófilos atraídos para os glomérulos pela presença de causam inflamação e, quando produzidos em grandes quanti-
C5a, a qual foi ativada por complexos antígeno-anticorpo depo- dades, causam reações graves de hipersensibilidade imediata,
sitados nas mem branas glomerulares. como a anafilaxia.
Os m astócitos t ambém possuem um papel importante na
resp osta inat a a vírus e bactérias. A superfície dos m astócitos
EOSINÓFILOS apresenta receptores sem elhantes ao Toll que reconhecem bac-
térias e vírus. Em respost a, os m astócitos liberam citocinas e
Os eosin ófilos são leucócitos que apresentam grânulos cito-
enzimas, contidas em seus grânulos, que m edeiam a inflamação
plasmáticos que se coram em vermelho quando tratados com
e atraem neutrófilos e células dendríticas para o local de infec-
o corante de Wright. A coloração vermelha é resultante da liga-
ção. Células dendríticas são importantes células apresentadoras
ção entre a eosina, negativamente carregada, e a proteína bási-
de antígen os que iniciam a resp osta adaptativa. A função dos
ca prin cipal presente nos grânulos, positivam ente carregada.
m astócitos durante o processo inflamatório foi demonstrada
A contagem de eosinófilos torna-se elevada em duas condições
n a artrite reum atoide. Essas células produzem t anto citocinas
clinicamente relevantes: doenças parasitárias, sobretudo as cau-
inflamatórias quanto enzimas que degradam a cartilagem das
sadas por nematódeos (ver Capítulo 56), e doenças relacionadas
articulações.
à hipersensibilidade, como asm a e doença do soro (ver Capítulo
65). Doenças causadas por protozoários normalmente não cau-
sam eosinofilia.
CITOCINAS IMPORTANTES
A função dos eosinófilos ainda n ão está bem estabeleci-
da. Parece provável que sua principal função é a defesa contra As funções importantes das principais citocinas são descritas na
as larvas migratórias dos n ematódeos, com o Strongyloides e Tabela 58-8. Observa-se que as três citocinas pró-inflamatórias
Trichinella. Essas células ligam -se à superfície das larvas e des- importantes são IL-1, IL-6 e fator de necrose tum oral (TNF).
carregam o conteúdo de seus grânulos, que, por sua vez, danifica O termo pró-inflamatório significa '(estimular ou intensificar
a cutícula componente da superfície da larva. A ligação à larva é a inflam ação': As principais citocinas anti-inflamatórias são a
mediada por receptores na superfície dos eosinófilos que reco- IL-10 e o fator de transformação do crescimento í3.
CAPÍTULO 58 Bases Celulares da Resposta Imune S03

Citocinas que afetam linfócitos (4) A IL-5 é produzida pelas células T auxiliares do tipo
Th-2. Ela estimula a mudança de classe de anticorpos para IgA,
( 1) A IL-1 é produzida principalmente por macrófagos.
aumentando a imunidade de mucosa. Essa citocina também cau-
É uma citocina pró-inflamatória (i.e., juntamente com o fator de
sa o aumento no número e na atividade dos eosinófilos. Eosi-
necrose tumoral [TNF], possui um importante papel na indução
nófilos constituem uma importante defesa do hospedeiro contra
da inflamação). Além disso, a IL-1 é um pirógeno endógeno, muitos helmintos (vermes) (p. ex., Strongyloides) (ver Capítulo
agindo no hipotálamo para causar a febre associada a infecções 56), e encontram-se em níveis elevados durante reações de hiper-
e outras reações inflamatórias. (Um pirógeno exógeno é a endo- sensibilidade (alergias) (ver Capítulo 65).
toxina, um lipopolissacarídeo encontrado na parede celular de (5) A IL-6 é produzida principalmente por macrófagos.
bactérias gram-negativas [ver Capítulo 7].) É uma citocina pró-inflamatória que induz febre por meio de sua
(2) A IL-2 é produzida principalmente por células T auxi- interação com o hipotálamo e induz a produção de proteínas de
liares. Essa citocina estimula tanto o crescimento de células T fase aguda pelo fígado. As proteínas de fase aguda são descritas
auxiliares quanto o de células T citotóxicas. Assim, a IL-2 é um na página 481.
fator de crescimento de células T. Células T quiescentes são esti- (6) A IL-7 é produzida por células do estroma no timo e na
muladas por antígenos (ou outro estimulante) tanto para produ- medula óssea. Esta interleucina é necessária na diferenciação de
zir IL-2 quanto para apresentar o receptor de IL-2 em suas super- células-tronco em células Te B. Uma mutação no gene que codi-
fícies, adquirindo a capacidade de responder à IL-2. A interação fica a cadeia 'Y do receptor de IL-17 resulta em uma imunodefi-
de IL-2 com seu receptor estimula a síntese de DNA, permitindo ciência combinada grave, uma que vez não são formadas células
a ocorrência de divisão celular. TouB.
(3) A IL-4 é produzida pelas células T auxiliares do tipo (7) A IL-10 e a IL-12 regulam a produção de células Th-1, as
Th-2. A IL-4 estimula o desenvolvimento de células Th-2 a partir células que medeiam a hipersensibilidade tardia (Figura 58-3).
de células T que foram ativadas por exposição a um antígeno. Ela A IL-12 é produzida por macrófagos e promove o desenvol-
também induz a troca de classe de anticorpos para IgE. A IL-4 é vimento de células Th-1, ao passo que a IL-10 é produzida por
a citocina "assinaturà' (mais característica) produzida por células células Th-2 e inibe o desenvolvimento de células Th-1. As quan-
Th-2 (Figura 58-3 e Tabela 58-5). tidades relativas de IL-4, IL-10 e IL-12 conduzem a diferenciação

TABELA 58-8 Funções importantes das principais citocinas

Fonte principal Citocina Funções importantes

Macrófagos lnterleucina 1 Citocina pró-inflamatória. Induz febre. Induz a produção de proteínas de fase aguda
pelo fígado.

lnterleucina 6 Citocina pró-inflamatória. Induz febre. Induz a produção de proteínas de fase aguda
pelo fígado.

Fator de necrose Citocina pró-inflamatória. Em baixas concentrações, ativa neutrófilos e aumenta sua
tumoral aderência às células endoteliais. Em altas concentrações, medeia o choque sépti-
co, age como caquetina, causa a necrose de tumores.

lnterleucina 12 Conduz o desenvolvimento de subpopulações de células T do tipo Th-1.

Subpopulação Th-1 de lnterleucina 2 Fator de crescimento de células T. Fator de crescimento de células T. Estimula o cres-
células T auxiliares cimento tanto de célu las T auxiliares (CD4) quanto de célu las T citotóxicas (CD8).

1nterferon 'Y Estimula a fagocitose e a ação microbicida por macrófagos. Aumenta a expressão de
proteínas do MHC de classes I e li. Inibe o crescimento de células Th-2.

Subpopulação Th-2 de lnterleucina 4 Conduz o desenvolvimento de subpopulações de células T do tipo Th-2. Estimula o
células T auxiliares crescimento de células B. Aumenta a mudança de classe de anticorpos para lgA.

lnterleucina 5 Aumenta o número de eosinófilos. Aumenta a mudança de classe de anticorpos


para lgA.

lnterleucina 1O Citocina anti-inflamatória. Inibe o desenvolvimento de subpopulações de células T


do tipo Th-1.

Subpopulação Th-17 de lnterleucina 17 Recruta neutrófilos para o local de infecção. Importante para a imunidade da muco-
célulasT sa do intestino.

Muitas células, incluindo Fator de transformação Citocina anti-inflamatória. Ativação das células T. Aumenta a mudança de classe de
macrófagos, célu las T do crescimento í3 anticorpos para lgA.
e células B

lg, imunoglobulina; MHC, complexo principal de histocompatibilidade.


504 PARTE VII Imunologia

de células Th-1 e Th-2 e, portanto, intensificam a imunidade ce- Aproximadamente 50 quimiocinas já foram identificadas;
lular ou a imunidade humoral, respectivamente. É provável que elas são pequenos polipeptídeos que variam em tamanho de 68
isso tenha importantes consequências médicas, pois a principal a 120 aminoácidos. As quimiocinas-a apresentam duas ciste-
forma de defesa do hospedeiro para determinadas infecções é a ínas adjacentes separadas por outro aminoácido (Cys-X-Cys),
imunidade celular ou a imunidade humoral. Por exemplo, infec- enquanto as quimiocinas-J3 apresentam duas cisteínas adja-
ções causadas por Leishmania em camundongos são letais se uma centes (Cys-Cys) (Tabela 58-9). As quimiocinas-a atraem neu-
resposta humoral predominar, porém são controladas se uma vi- trófilos e são produzidas por células mononucleares ativadas.
gorosa resposta celular ocorrer. A IL-8 é um membro extremamente importante desse grupo.
O eixo IL-12-interferon 'Y é muito importante para a habi- As quimiocinas-J3 atraem macrófagos e monócitos e são produ-
lidade das defesas do hospedeiro para controlar infecções cau- zidas por células T ativadas. RANTES e MCAF são importantes
sadas por patógenos intracelulares, como M. tuberculosis e L. quimiocinas-J3.
monocytogenes. A IL- 12 aumenta o número de células Th-1, e Há receptores de quimiocinas específicos na superfície de
estas produzem o interferon -y, que ativa os macrófagos. Os ma- células, como neutrófilos e monócitos. A interação da quimioci-
crófagos, uma vez ativados, fagocitam e matam os patógenos in- na com seu receptor resulta na alteração das proteínas da super-
tracelulares bacterianos, mencionados anteriormente. fície celular, permitindo que a célula possa se aderir e migrar por
(8) A IL-13 tem sido apontada como a mediadora da doença meio do endotélio para o local de infecção.
alérgica das vias aéreas (asma). É produzida por células Th-2 e li-
ga-se a um receptor que apresenta uma cadeia em comum com o Citocinas que afetam os leucócitos
receptor de IL-4. Em animais, a IL-13 apresentou-se como neces-
polimorfonucleares
sária e suficiente para causar asma. Ela está envolvida na geração
da resposta exagerada observada na asma, mas não no aumento ( 1) O TNF ativa as atividades de fagocitose e eliminação de
da quantidade de IgE. parasitas por neutrófilos, e intensifica a síntese de moléculas de
(9) A principal função do fator de transformação do cres- adesão em células endoteliais. As moléculas de adesão medeiam
cimento J3 (TGF-J3) é inibir o crescimento e a ativação das a ligação de neutrófilos no local de infecção.
células T. É uma citocina "anti-inflamatórià'. Embora seja um (2) Fatores quimiotáticos para neutrófilos, basófilos e eo-
"regulador negativo" da resposta imune, o TGF-J3 estimula a sinófilos atraem seletivamente cada um desses tipos de células.
cicatrização de ferimentos por meio da indução da síntese de A IL-8 e o componente do complemento C5a são importantes
colágeno. Essa citocina é produzida por muitos tipos de células, atraentes de neutrófilos. (Ver a discussão sobre quimiocinas [an-
incluindo células B, células T e macrófagos. Em suma, o papel teriormente) e Tabela 58-9.)
do TGF-J3 é amenizar ou suprimir a resposta imune quando esta (3) O fator inibidor de leucócitos inibe a migração de neu-
não é mais necessária após uma infecção e, também, promover o trófilos de maneira análoga ao fator de inibição da migração
processo de cicatrização. (ver discussão adiante). Sua função é reter as células no local
de infecção.
Citocinas que afetam macrófagos e monócitos (4) A IL-17 produzida por células Th-17 recruta neutrófi-
los para o local de infecção. A IL-17 possui um papel importante
As quimiocinas formam um grupo de citocinas capazes de atrair
na imunidade de mucosa, especialmente no trato gastrintestinal.
tanto macrófagos quanto neutrófilos para o local da infecção. Números reduzidos de células Th-17, como são observados em
O termo quimiocina é uma contração das palavras quimiotático e pacientes infectados pelo vírus HIV, predispõem à sepse causada
citocina. As quimiocinas são produzidas por várias células no lo-
por E. coli e Klebsiella. Mutações nos genes que codificam a IL-17
cal da infecção, como células endoteliais e macrófagos residentes.
e o receptor de IL-17 predispõem a uma mucocandidíase crônica
Os neutrófilos e macrófagos (monócitos) circulantes são atraídos
causada pela Candida albicans.
para o local de infecção por um gradiente crescente de quimioci-
nas e, então, ligam-se a selectinas na superfície das células endo-
teliais. As quimiocinas também ativam integrinas na superfície
Citocinas que afetam as células-tronco
de neutrófilos e macrófagos, as quais se ligam a proteínas !CAM A IL-3 é produzida por células T auxiliares e fornece suporte ao
na superfície de células endoteliais. A interação entre integrina crescimento e à diferenciação de células-tronco da medula óssea.
e !CAM facilita o movimento dos leucócitos para o tecido até a O fator estimulante de colônias granulocíticas e macrofágicas
área infectada. (GM-CSF; sargramostim) é produzido por linfócitos Te macró-

TABELA 58-9 Quimocinas de importância médica

Classe Química Atrai Produzida por Exemplos

Q'. C-X-C Neutrófi los Células mononucleares ativadas lnterleucina 8

C-C Monócitos Células T ativadas RANTES,1 MCAF2


1
RANTES é uma sigla em inglês para regulated upon activation, normal Texpressed and secreted (regulado após ativação, expresso por células T normais e secretado).
2
MCAF é uma sigla em inglês para macrophage chemoattractant and activating factor (fator de quimioatração e ativação de macrófago).
CAPÍTULO 58 Bases Celulares da Resposta Imune SOS

fagos. Essa citocina estimula o crescimento de granulócitos e ma- Citocinas que apresentam outros efeitos
crófagos, e intensifica a atividade antimicrobiana de macrófagos.
( 1) Os interferons são glicoproteínas capazes de induzir o blo-
Ela é utilizada clinicamente para melhorar a regeneração dessas
queio da replicação viral, além de exercer muitas funções imu-
células após o transplante de medula óssea. O fator estimulante
nomoduladoras. O interferon u (produzido em leucócitos) e
de colônias granulocíticas ( G-CSF; filgrastim) é produzido por
o interferon J3 (produzido em fibroblastos) são induzidos por
várias células (p. ex., macrófagos, fibroblastos e células endote-
vírus (ou RNA de dupla-fita). Esses interferons exercem uma
liais). Ele intensifica o desenvolvimento de neutrófilos a partir de
poderosa ação antivira! por meio da indução da síntese de uma
células-tronco e é utilizado clinicamente para prevenir infecções
ribonuclease que degrada o mRNA viral e, portanto, inibe a re-
em pacientes que receberam tratamento quimioterápico contra
plicação do vírus. Eles também ativam células NK, levando-as a
o câncer. O estímulo na produção de neutrófilos por ação de
eliminar as células infectadas por vírus de forma mais eficiente.
G-CSF e GM-CSF resulta no aumento do número dessas células
(Ver Capítulo 33.)
no sangue periférico após uma infecção.
O interferon 'Y é uma linfocina produzida principalmente
por subpopulações Th-1 de células T auxiliares e consiste na ci-
Citocinas produzidas por macrófagos que tocina "assinaturà' envolvida na inflamação mediada por essas
afetam outras células células (Tabela 58-5). É um dos ativadores mais potentes da ativi-
(1) O TNF-u é uma citocina pró-inflamatória produzida dade fagocitária dos macrófagos, células NK e neutrófilos, o que
principalmente por macrófagos. Ela apresenta muitos efeitos im- potencializa a habilidade dessas células em eliminar microrganis-
portantes que diferem de acordo com sua concentração. Em bai- mos e células tumorais. Um bom exemplo é o fato de o interfe-
xas concentrações, a citocina aumenta a síntese de moléculas de ron -y aumentar enormemente a morte de bactérias intracelula-
adesão pelas células endoteliais, o que permite aos neutrófilos sua res, como M. tuberculosis, por ação dos macrófagos. Ele também
aderência aos vasos sanguíneos no local de infecção. Ela também aumenta a síntese de proteínas do MHC de classes I e II em uma
intensifica a atividade respiratória no interior de neutrófilos, o variedade de tipos celulares, o que intensifica a apresentação de
que aumenta o efeito de eliminação dos fagócitos. Também causa antígenos por essas células.
febre. (2) A linfotoxina (também conhecida como TNF-J3) é pro-
Em altas concentrações, essa citocina é um importante me- duzida por linfócitos T ativados e causa efeitos similares aos in-
diador do choque séptico induzido por endotoxina; anticorpos duzidos por TNF-u. Essa citocina liga-se ao mesmo receptor de
contra o TNF-u impedem a ação da endotoxina. (A ação da en- TNF-u e, então, induz os mesmos efeitos desta.
dotoxina é discutida no Capítulo 7.) O TNF medeia o choque
séptico, induzindo febre e provocando hipotensão por meio de
vasodilatação e do incremento da permeabilidade capilar. APLIQUE SEU CONHECIMENTO
O TNF-u é também conhecido como caquetina, porque 1. Uma das células envolvidas em certas doenças autoimunes é des-
inibe a ação da lipase em tecidos adiposos, reduzindo, por- crita como uma célula CD3-positiva, CD4-positiva. Em relação a
tanto, a utilização de ácidos graxos. Esse fenômeno resulta em essa célula, qual das seguintes opções é a mais correta acerca de sua
caquexia. O TNF-u, como o nome indica (fator de necrose tu- função?
moral), causa a morte e necrose de determinados tumores em (A) Produz IgA.
modelos animais. Essa ação pode ser induzida pela formação (B) Produz interleucina 2.
de coágulos intravasculares que causam o infarto do tecido (C) Mata células infectadas por vírus.
tumoral. Observa-se a similaridade desta coagulação intravas- (D) Apresenta antígenos em associação a proteínas do MHC de
cular com a coagulação intravascular disseminada (CID) que classe II.
(E) Reconhece antígenos em associação a proteínas do MHC de
ocorre durante o choque séptico, tendo ambos o TNF-u como
classe 1.
causador.
(2) O óxido nítrico (NO) é um importante mediador pro- 2. Qual entre os seguintes grupos de células pode apresentar antígenos
para as células T auxiliares?
duzido por macrófagos em resposta à presença de endotoxinas,
lipopolissacarídeos presentes na parede celular de bactérias (A) Células B e células dendríticas.
(B) Células B e células T citotóxicas.
gram-negativas. O NO causa vasodilatação, o que contribui
(C) Macrófagos e eosinófilos.
para a hipotensão observada durante o choque séptico. Inibido-
(D) Neutrófilos e células T citotóxicas.
res da NO sintase, enzima que catalisa a síntese de NO a partir
(E) Neutrófilos e células plasmáticas.
de arginina, pode prevenir a hipotensão associada ao choque
3. A ativação de um linfócito T CDS-positivo requer a apresentação de
séptico.
antígeno em associação a:
(3) O fator de inibição da migração de macrófagos (MIF) é
(A) Proteínas do MHC de classe I e a síntese de interleucina 2 por
outro importante mediador em resposta à presença de endotoxi-
linfócitos T CD4.
nas. A função de MIF é reter os macrófagos no local da infecção.
(B) Proteínas do MHC de classe I e a síntese de interferon -y por
Estudos recentes demonstraram que MIF apresenta um papel im- macrófagos.
portante na indução do choque séptico. Anticorpos contra MIF (C) Proteínas do MHC de classe II e a síntese de interleucina 1 por
podem evitar o choque séptico em animais geneticamente inca- macrófagos.
pazes de produzir TNF. No entanto, o mecanismo de ação de MIF (D) Proteínas do MHC de classe II e a síntese de interleucina 4 por
durante o choque séptico ainda é incerto. linfócitos T CD4.
S06 PARTE VII Imunologia

4. Em relação às células Th-1, Th-2 e Th-17, qual das seguintes opções ( C) Quimiocinas atraem neutrófilos para o local de infecção bacte-
é a mais correta? riana, apresentando, portanto, um importante papel na respos-
(A) Células Th-17 produzem interleucina 17, a qual estimula a ta inflamatória.
produção de células Th-2. (D) Quimiocinas induzem a troca de genes em células B, o que au-
(B) A produção de células Th-1 é intensificada pela interleucina 4, menta a quantidade de IgE sintetizada e, dessa forma, predis-
ao passo que a produção de células Th-2 é intensificada pela põe a alergias.
interleucina 2. 8. Sua paciente é uma mulher de 20 anos que apresentou surgimen-
(C) Células Th-2 podem produzir interferon 'Y, que é importante to súbito de febre, vômitos, mialgia e diarreia. Também ocorreu
no controle de infecções causadas por Staphylococcus aureus e hipotensão e o surgimento de manchas na pele, semelhantes a
outras bactérias piogênicas. queimaduras solares, por todo o corpo. Você fez um diagnósti-
(D) Células Th-1 estão envolvidas em reações de hipersensibili- co presuntivo de síndrome do choque tóxico. Qual das seguintes
dade tardia, como as que controlam infecções causadas por opções apresenta a descrição mais correta da patogênese dessa
Mycobacterium tuberculosis. doença?
5. Em relação aos eventos que ocorrem no timo durante a maturação (A) Ela é causada pela liberação de grandes quantidades de hista-
das células T, qual das seguintes opções é a mais correta? mina pelos basófilos.
(A) Células T carreando receptores de antígenos que reconhecem (B) Ela é causada por quantidades insuficientes do inibidor do
antígenos próprios são removidas por meio de um processo componente do complemento Cl.
conhecido como seleção negativa. (C) Ela é causada por um superantígeno que induz a produção
(B) Superantígenos são "super" porque apresentam um papel se- exagerada de citocinas pelas células T auxiliares.
letivo tanto na seleção positiva quanto na seleção negativa que (D) Ela é causada por uma resposta de hipersensibilidade tardia à
ocorrem no timo. procainamida, medicamento que a paciente estava tomando
(C) Células T carreando receptores de antígenos que reconhecem para controlar uma fibrilação atrial.
antígenos em associação a proteínas do MHC estranhas sobre- (E) Ela é causada por uma mutação no gene que codifica ZAP-70,
vivem, processo conhecido como seleção positiva. uma das proteínas de transdução de sinal em células T.
(D) A maioria das células T maduras apresenta tanto proteínas
CD4 quanto CDS em sua superfície, o que garante sua habili-
dade em reagir com antígenos apresentados tanto por proteí- RESPOSTAS
nas do MHC de classe I quanto por de classe II.
1. (B)
6. Em relação às interleucinas, qual das seguintes opções é a mais correta?
2. (A)
(A) A IL-2 é produzida por células B e incrementa a mudança de 3. (A)
classe de IgM para IgG. 4. (D)
(B) A IL-4 é produzida por linfócitos T citotóxicos e medeia a 5. (A)
morte de células infectadas por vírus. 6. (D)
(C) A IL-12 é produzida por eosinófilos e aumenta a produção de 7. (C)
células que medeiam a hipersensibilidade imediata. 8. (C)
(D) O interferon 'Y é produzido por células Th-1 e ativa macrófa-
gos, de forma que estes passem a fagocitar de maneira mais
eficiente.
QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
7. Em relação às quimiocinas, qual das seguintes opções é a mais correta?
(A) Quimiocinas penetram nas membranas de células-alvo duran- Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
te o ataque de células T citotóxicas. contradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
(B) Quimiocinas ligam-se ao receptor de células T em uma posição Autoavaliação, a partir da página 713. Consulte também a Parte
fora do local de ligação ao antígeno e ativam muitas células T. XIII: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CAPÍTULO

Anticorpos
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução lsótipos, alótipos e idiótipos


Anticorpos monoclonais Genes das imunoglobulinas
Estrutura das imunoglobulinas Troca de classe de imunoglobulinas {troca de isótipos)
Classes de imunoglobulinas Exclusão alélica
lgG Anticorpo catalítico
lgA Aplique seu conhecimento
lgM Questões para autoavaliação
lgD
lgE

INTRODUÇÃO em tumores de células plasmáticas [mieloma]) 1 são homogêneos


(i.e., são monoclonais).
Anticorpos são proteínas globulínicas (imunoglobulinas) que Anticorpos monoclonais também podem ser produzidos em
reagem especificamente com o antígeno que estimulou a sua laboratório, por meio da fusão de uma célula de mieloma com
produção. Eles perfazem cerca de 20% do total de proteínas uma célula produtora de anticorpos (Figura 59-1; ver também o
no plasma sanguíneo. O sangue contém três tipos de globuli- quadro "Hibridomas e anticorpos monoclonais"). Os hibridomas
nas a., (3 e -y, de acordo com sua taxa de migração eletroforé- produzem quantidades praticamente ilimitadas de anticorpos
tica. Os anticorpos são globulinas -y. Existem cinco classes de monoclonais, os quais são úteis em testes diagnósticos e em pes-
anticorpos: IgG, IgM, IgA, IgD e IgE. Os anticorpos são dividi- quisas (ver o quadro "Hibridomas e anticorpos monoclonais").
dos nessas classes de acordo com as diferenças em suas cadeias
pesadas.
As funções mais importantes dos anticorpos são neutralizar ESTRUTURA DAS IMUNOGLOBULINAS
toxinas e vírus, opsonizar micróbios para facilitar o processo de
fagocitose, ativar o sistema complemento e prevenir a ligação As imunoglobulinas são glicoproteínas compostas por cadeias
de microrganismos a superfícies mucosas. As classes de anticor- polipeptídicas leves (L, light) e pesadas (H, heavy). Os termos
pos específicas que desempenham essas funções são descritas na leve e pesado referem-se ao peso molecular de cada uma; as ca-
Tabela 59-1. Além dessas funções, anticorpos apresentam uma deias leves apresentam peso molecular de aproximadamente
capacidade catalítica (enzimática), descrita em uma seção sepa-
rada, ao fim deste capítulo. 1
Mieloma múltiplo é uma doença maligna caracterizada pela produção
aumentada de células plasmáticas (células B). Todas as células do mie-
loma em um paciente produzem o mesmo tipo de molécula imuno-
ANTICORPOS MONOCLONAIS globulínica, isto é, todas as células surgiram de uma única progenitora.
Quantidades excessivas de cadeias L K ou À. são sintetizadas e detectadas
Anticorpos que surgem em um animal em resposta a antígenos como dímeros na urina. Estas moléculas são conhecidas como proteínas
típicos são heterogêneos, pois são produzidos por diversos clones de Bence Jones e possuem o atributo pouco comum de se precipitar em
diferentes de células plasmáticas (i.e., eles são policlonais). An- temperaturas entre 50 e 60ºC, mas dissolvendo-se quando a temperatura
ticorpos que são formados por um único clone de células (p. ex., alcança o ponto de ebulição.
S08 PARTE VII Imunologia

TABELA 59-1 Propriedades das imunoglobulinas humanas

Propriedade lgG lgA lgM lgD lgE

Porcentagem em relação ao total de imunoglobulinas 75 15 9 0,2 0,004


no soro (aproximada)

Concentração no soro (mg/dl) (aproximada) 1.000 200 120 3 0,05


1
Coeficiente de sedimentação 75 75ou115 195 75 85
1
Peso molecular ( X 1.000) 150 170 ou 400 900 180 190

Estrutura Monômero Monômeroou Monômeroou Monômero Monômero


dímero pentâmero

Símbolo da cadeia H 'Y µ e

Fixação do complemento + +
Passagem transplacentária +
Mediação de respostas alérgicas +
Encontrada em secreções +
2
Opsonização +
Receptor de antígenos em células B + ?
Forma polimérica contendo cadeia J + +
1
A forma 11 Sé encontrada em secreções (p. ex., saliva, leite e lágrimas) e fluidos dos tratos respiratório, intestinal e genital.
2
lgM opsoniza indiretamente por meio da ativação do complemento. Esse processo gera C3b, que é uma opsonina.

25.000, ao passo que cadeias pesadas possuem peso molecular são unidas por ligações dissulfeto. Uma molécula individual de
de 50.000 a 70.000. A molécula de anticorpo mais simples possui anticorpo sempre consiste em cadeias H idênticas e cadeias L
o formato de um Y (Figura 59-2) e consiste em quatro cadeias idênticas. Isso é resultado principalmente de dois fenômenos: da
polipeptídicas: duas cadeias H e duas cadeias L. As quatro cadeias exclusão alélica (mais adiante neste capítulo) e da regulação no

HIBRIDOMAS E ANTICORPOS MONOCLONAIS

Células oriundas de hibridomas apresentam a incrível capa- Anticorpos monoclonais quiméricos, que consistem em
cidade de produzir grandes quantidades de uma única espé- cadeias variáveis de camundongos e regiões constantes huma-
cie de imunoglobulina. Essas imunoglobulinas, conhecidas nas, estão sendo produzidos para a utilização no tratamento de
como anticorpos monoclonais, são denominadas "monoclo- doenças humanas, como a leucemia. As vantagens das cadeias
nais" porque são produzidas por um clone de células origi- constantes humanas incluem o fato de que o complemento hu-
nado de uma única célula. Entretanto, observa-se que essa mano é ativado (o que não acontece se as regiões constantes
célula única é, na verdade, formada pela fusão de duas células forem derivadas de camundongo), e que anticorpos contra os
diferentes (i.e., é um híbrido), daí o termo hibridoma. Células anticorpos monoclonais não são gerados (ao passo que esses
de hibridoma são produzidas da seguinte maneira: ( 1) Um anticorpos são gerados se as cadeias constantes forem deriva-
animal (p. ex., um camundongo) é imunizado com o antígeno das de camundongos). A vantagem do uso das cadeias variá-
de interesse. (2) As células do baço desse animal são cultiva- veis de camundongo é baseada no fato de que é mais fácil obter
das em uma placa de cultura na presença de células do mie- anticorpos monoclonais contra um antígeno tumoral huma-
loma do camundongo. As células do mieloma possuem dois no, por exemplo, ao inocular um camundongo com células do
atributos importantes: crescem indefinidamente em cultura tumor. Anticorpos quiméricos podem matar células tumorais
e não produzem imunoglobulinas. (3) A fusão das células é tanto por meio da citotoxicidade mediada pelo complemento
estimulada pela adição de determinados compostos quími- quanto pelo carregamento de toxinas (p. ex., a toxina diftérica)
cos (p. ex., o polietilenoglicol). (4) As células são cultivadas especificamente para as células do tumor.
em um meio de cultura especial (meio HAT) que suporta o Anticorpos monoclonais são atualmente utilizados em
crescimento das células híbridas, fusionadas, mas não das cé- uma variedade de situações clínicas, como na imunossupressão
lulas "parentais': (5) Os clones de células resultantes passam relacionada ao transplante de órgãos, no tratamento de doen-
por uma triagem para a avaliação da produção de anticorpos ças autoimunes, no tratamento de cânceres e na prevenção de
contra o antígeno de interesse. doenças infecciosas. A Tabela 62-2 descreve os anticorpos mo-
noclonais, seus alvos celulares e seu uso clínico.
CAPÍTULO 59 Anticorpos S09

Células do baço 00 00 Células de mieloma que


de um animal não produzem nenhuma
imunizado pelo
00 00
imunoglobulina
antígeno de
interesse

As duas populações celulares


são misturadas e adiciona-se o
agente indutor de fusão

i
000 As células fundidas (hibridomas) são
selecionadas em um meio de cultura especial,
e as células não fundidas morrem

i i i Uma única célula do hibridoma é colocada em


uma placa de cultivo (poço) e monitorada para
verificação da produção do anticorpo contra o
antígeno de interesse

FIGURA 59-1 Produção de anticorpos monoclonais.

interior da célula B, o que assegura a síntese das cadeias L kappa (VH) e três constantes (CH). (IgG e IgA possuem três domínios
(K) ou lambda (À), mas não de ambas. CH, ao passo que IgM e IgE possuem quatro.) Cada domínio tem
As cadeias L e H são divididas em regiões variáveis e cons- aproximadamente 11 O aminoácidos. As regiões variáveis tanto
tantes. Essas regiões são compostas por segmentos repetitivos, da cadeia leve quanto da cadeia pesada são responsáveis pela li-
tridimensionalmente dobrados, denominados domínios. Uma gação ao antígeno, ao passo que a região constante da cadeia
cadeia L consiste em um domínio variável (V1 ) e um constante pesada é responsável por diversas funções biológicas (p. ex., a
(C1 ). A maioria das cadeias H consiste em um domínio variável ativação do complemento e a ligação a receptores de superfícies

Extremidade aminoterminal

.o
a,
u.
B
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E
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u.

(') lB Região de dobradiça



(')
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D> oca e: -(f)
a,
LEGENDA:

- ....
::I: !!1.
c,J ll)
:::,
CD
1n J:
e: ü
o
u
-
Ligações S-S

Extremidade carboxiterminal

FIGURA 59-2 Estrutura da imunoglobulina G (lgG). A molécula de lgG, em forma de Y, consiste em duas cadeias leves e duas cadeias pesadas.
Cada cadeia leve consiste em uma região variável e uma região constante. Cada cadeia pesada consiste em uma região variável e uma região
constante que é dividida em três domínios: CH 1, CH2 e CH3. O domínio CH2 contém o local de ligação ao complemento, e o domínio CH3 corres-
ponde ao local de ligação da lgG a receptores na superfície de macrófagos e neutrófilos. O local de ligação ao antígeno é formado pelas regiões
variáveis de ambas as cadeias, leve e pesada. A especificidade do local de ligação ao antígeno é uma função da sequência de aminoácidos das
regiões hipervariáveis (ver Figura 59-3). (Modificada e reproduzida, com permissão, de Brooks GF et ai. Medical Microbiology. 20th ed. Publicada originalmente
por Appleton & Lange. Copyright 1995 McGraw-Hill.)
S10 PARTE VII Imunologia

celulares). Os locais de ligação ao complemento estão localizados A porção aminoterminal de cada cadeia L participa do local
no domínio CH2. A região constante da cadeia leve não possui de ligação ao antígeno. As cadeias H são distintas para cada uma
nenhuma função biológica conhecida. das cinco classes de imunoglobulinas e são designadas"/, o.,µ, e
As regiões variáveis das cadeias L e H apresentam três se- e õ (Tabela 59-2). A porção aminoterminal de cada cadeia H par-
quências de aminoácidos extremamente variáveis (hipervariá- ticipa do local de ligação ao antígeno; a porção carboxiterminal
veis) posicionadas nas extremidades aminoterminais das cadeias, forma o fragmento Fc, o qual apresenta as atividades biológicas
que constituem o local de ligação ao antígeno (Figura 59-3). Ape- descritas anteriormente e na Tabela 59-2.
nas cinco a 1Oaminoácidos em cada região hipervariável formam Se uma molécula de anticorpo for tratada com uma enzima
o local de ligação ao antígeno. A ligação antígeno-anticorpo en- proteolítica, como a papaína, as ligações peptídicas na região da
volve forças eletrostáticas e de van der Waals, além de ligações de "dobradiçà' são quebradas, o que produz dois fragmentos Fab
hidrogênio e ligações hidrofóbicas, em vez de ligações covalentes. idênticos, que carreiam os locais de ligação ao antígeno, e um
A notável especificidade dos anticorpos se deve a essas regiões fragmento Fc, que está envolvido na transferência transplacen-
hipervariáveis (ver a discussão acerca dos idiótipos mais adiante). tária, fixação do complemento, ligação a várias células e outras
As cadeias L podem ser de dois tipos: K (kappa) ou À. (lambda), atividades biológicas (Figura 59-2).
de acordo com a sequência de aminoácidos de suas regiões constan-
tes. Os dois tipos ocorrem em todas as classes de imunoglobulinas
(IgG, IgM, etc.), mas cada imunoglobulina contém apenas um tipo CLASSES DE IMUNOGLOBULINAS
2
de cadeia L.
lgG
Cada molécula de IgG consiste em duas cadeias L e duas ca-
Regiões deias H conectadas por ligações dissulfeto (fórmula molecular
hipervariáveis da
cadeia leve
H2L2). Por apresentar dois locais idênticos de ligação a antíge-
nos, a molécula é chamada de divalente. Existem quatro subclas-
ses, IgG 1 a IgG4, de acordo com diferenças nas cadeias H e com
o número e a posição de ligações dissulfeto. A IgG 1 compõe a
Ligações maior parte (65%) da quantidade total de IgG. Anticorpos IgG2
dissulfeto são direcionados contra antígenos formados por polissacarídeos
e constituem uma importante defesa do hospedeiro contra bac-
térias encapsuladas.

Regiões
hipervariáveis da TABELA 59-2 Funções importantes das imunoglobulinas
o C\I
J:
cadeia pesada
J:
1\) ü lmunoglobulina Principais funções

lgG Principal anticorpo na resposta secundária.


Opsoniza bactérias, tornando-as mais
fáceis de serem fagocitadas. Fixa o comple-
o
J:
C")
J: mento, o que intensifica a morte bacteria-
ú) ü
na. Neutraliza toxinas bacterianas e vírus.
A Cruza a placenta.

Local de ligação ao antígeno lgA A lgA secretora previne a ligação de vírus e


bactérias às membranas mucosas. Não fixa

i lgM
o complemento.

Produzida na resposta primária a um antí-


Regiões <é:+--- f---~ Regiões geno. Fixa o complemento. Não cruza a
hipervariáveis hipervariáveis placenta. É o receptor de antígenos na
da cadeia leve da cadeia pesada superfície de células B.

lgD Função incerta. Encontrada na superfície de


B
muitas células B e também no soro.
FIGURA 59-3 O local de ligação ao antígeno é fo rmado pelas re-
giões hipervariáveis. A: Regiões hipervariáveis na imunoglobulina G lgE Medeia a hipersensibilidade imediata ao
(lgG). B: Visão ampliada do local de ligação ao antígeno. (Modificada induzir a liberação de mediadores de
e reproduzida, com permissão, de Stites D, Terr A, Parslow T, eds. Basic & Clinicai mastócitos e basófilos após a exposição
ao antígeno (alérgeno). Protege contra
lmmunology. 8th ed. Publicada, originalmente, por Appleton & Lange. Copyri-
ght 1994 McGraw-Hill.) infecções por vermes por meio da indução
da liberação de enzimas dos eosinófilos.
Não fixa o complemento. Principal forma
2 de defesa do hospedeiro contra infecções
Em seres humanos, a razão de imunoglobulinas que contêm cadeias K
helmínticas.
para as que contêm cadeias À. é de aproximadamente 2: 1.
CAPÍTULO 59 Anticorpos 511

A IgG é o anticorpo predominante durante a resposta se- forma de pentâmeros compostos por cinco unidades H2L2 mais
cundária e constitui importante defesa contra vírus e bactérias uma molécula de cadeia J (Figura 59-4). A IgM possui cadeias
(Tabela 59-1). A IgG é o único anticorpo que cmza a placenta; ape- pesadas µ. Já que o pentâmero possui 10 locais de ligação a an-
nas a sua porção Fc é capaz de se ligar a receptores na superfície das tígenos, essa é a imunoglobulina mais eficiente para os proces-
células placentárias. Assim, é a imunoglobulina mais abundante sos de aglutinação, fixação do complemento (ativação) e outras
em recém-nascidos. A IgG é um dos dois tipos de anticorpos que reações inerentes aos anticorpos, além de ser importante na defe-
podem ativar o complemento; IgM é o outro (ver Capítulo 63). sa contra bactérias e vírus. Pode ser produzida pelo feto durante
IgG é a imunoglobulina que opsoniza. Ela pode opsonizar certas infecções. Apresenta a maior avidez entre as imunoglobu-
(i.e., aumentar a fagocitose) porque existem receptores para a linas; sua interação ao antígeno pode envolver todos os seus 1O
cadeia -yH na superfície dos fagócitos. IgM não opsoniza dire- locais de ligação antigénica.
tamente, uma vez que não existem receptores na superfície dos
fagócitos para a cadeia µH. No entanto, IgM ativa o complemen- lgD
to, e a C3b resultante consegue opsonizar, uma vez que existem
locais de ligação para C3b na superfície dos fagócitos. Há quatro Essa imunoglobulina não apresenta funções de anticorpo, con-
subclasses de IgG. As subclasses IgGl e IgG3 opsonizam com tudo, pode atuar como um receptor de antígenos; está presente
mais eficiência do que IgG2 e IgG4. na superfície de muitos linfócitos B, é encontrada em pequenas
A IgG contém diversos açúcares ligados às cadeias pesa- quantidades no soro.
das, sobretudo no domínio CH2. A importância médica desses
açúcares está no fato de que eles determinam se a IgG terá um lgE
efeito pró-inflamatório ou anti-inflamatório. Por exemplo, se a A IgE apresenta importância médica com base em duas razões:
molécula de IgG tem uma N-acetilglicosamina terminal, ela será (1) ela medeia a hipersensibilidade imediata (anafilática) (ver Ca-
pró-inflamatória, pois se ligará a ligantes de manose e ativará o pítulo 65), e (2) participa na defesa do hospedeiro contra certos
complemento (ver Capítulo 63 e a Figura 63-1). Em contrapar- parasitas (p. ex., helmintos [vermes]) (ver Capítulo 56). A região
tida, se a IgG contiver uma cadeia lateral de ácido siálico, ela
Fc da IgE liga-se à superfície de mastócitos e basófilos. As IgEs
não se ligará, tornado-se anti-inflamatória. Assim, proteínas IgG
ligadas funcionam como receptores para antígenos (alérgenos).
específicas para um único antígeno, produzidas por uma única Quando os locais de ligação a antígeno de IgEs adjacentes estão
célula plasmática, poderão, em momentos diferentes, apresentar
ligados cruzadamente pelos alérgenos, diversos mediadores são
propriedades diversas dependendo das modificações de açúcares. liberados pelas células, e reações de hipersensibilidade imediata
(anafilática) ocorrem (ver Figura 65-1). Embora a IgE esteja pre-
lgA sente apenas em quantidades mínimas (traços) no soro normal
A IgA é a principal imunoglobulina presente em secreções como (cerca de 0,004% ), pessoas com reatividade alérgica apresentam
colostro, saliva, lágrimas, além de secreções dos tratos respira- quantidades grandemente aumentadas dessa imunoglobulina, e a
tório, intestinal e genital. Essa imunoglobulina impede que mi- IgE pode aparecer em secreções externas. A IgE não fixa o com-
crorganismos (p. ex., vírus e bactérias) se liguem às membranas plemento e não cruza a placenta.
mucosas. Cada molécula de IgA secretora consiste em duas uni- A IgE constitui o principal mecanismo de defesa do hospe-
dades H2L2 mais uma cadeia J3 (do inglês, joining [junção]) e um deiro contra algumas importantes infecções por helmintos (ver-
componente secretor (Figura 59-4). As duas cadeias pesadas da mes), como Strongyloides, Trichinella, Ascaris e os ancilóstomos
IgA são cadeias pesadas o.. Necator e Ancylostoma. O nível sérico de IgE normalmente se
O componente secretor é um polipeptídeo sintetizado por encontra aumentado nessas infecções. Já que vermes são muito
células epiteliais que permite a passagem da IgA para as superfí- grandes para serem fagocitados, eles são mortos por eosinófilos
cies mucosas. Ele também protege a IgA da degradação no tra- que liberam enzimas que afetam esses parasitas. IgEs específicas
to intestinal. No soro, algumas IgAs existem na forma de H2L2 para as proteínas dos vermes se ligam a receptores na superfície
, .
monomer1cos. de eosinófilos, iniciando a resposta de citotoxicidade celular de-
pendente de anticorpos (ADCC).
lgM
A IgM é a principal imunoglobulina produzida precocemente
ISÕTIPOS, ALÕTIPOS E IDIÕTIPOS
durante a resposta primária. Ela está presente na forma de mo-
nômeros na superfície de quase todas as células B, onde funciona Como as imunoglobulinas são proteínas, elas são antigénicas, pro-
4
como receptor de ligação a antígenos. No soro, encontra-se na priedade que permite dividi-las em isótipos, alótipos e idiótipos.

3
( 1) Isótipos são definidos por diferenças antigénicas
Apenas IgA e IgM possuem cadeias J. Apenas essas imunoglobulinas exis- (de aminoácidos) nas regiões constantes dos anticorpos. Embora
tem na forma de multímeros (dímeros e pentâmeros, respectivamente). A
antigenicamente diferentes, todos os isótipos são encontrados em
cadeia J inicia o processo de polimerização e os multímeros são mantidos
todos os seres humanos normais. Por exemplo, IgG e IgM são
conectados por meio de ligações dissulfeto entre suas regiões Fc.
4
Tanto a IgM monomérica de superfície quanto a IgM sérica apresentam
consideradas como dois isótipos diferentes; a região constante
cadeias pesadasµ . No entanto, a cadeia pesada na IgM de superfície pos- de suas cadeias H (-y e µ) é antigenicamente diferente (as cin -
sui uma sequência hidrofóbica que medeia sua ligação com a membrana co classes de imunoglobulinas - IgG, IgM, IgA, IgD e IgE - são
celular, ao passo que a IgM sérica não apresenta essa sequência. isótipos diferentes; suas cadeias H são antigenicamente diferen -
S12 PARTE VII Imunologia

Monômero Dímero
L L
H H

A. lgA sérica

Cadeia J
H H
L L

L
Componente
H
secretor

B. lgA secretora (dímero)

Cadeia J
H
L

C. lgM (pentâmero)

FIGURA 59-4 Estrutura da imunoglobulina (lg) A do soro (A), lgA secretora (B) e lgM (C). Observa-se que tanto lgA quanto lgM apresentam uma
cadeia J, mas que apenas a lgA secretora contém um componente secretor. (Reproduzida, com permissão, de Stites D, Terr A, ParslowT, eds. Basic&Clinical
lmmunology. 8th ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange.Copyright 1994 McGraw-Hill.)

tes). O isótipo IgG é subdividido em quatro subtipos, IgGl, IgG2, (3) Idiótipos correspondem aos determinantes antigênicos
IgG3 e IgG4, com base em diferenças antigênicas nas suas cadeias formados pelos aminoácidos específicos presentes na região hi-
pesadas. De maneira similar, IgAl e IgA2 são isótipos diferentes pervariável.6 Cada idiótipo é único para a imunoglobulina produ-
(a antigenicidade da região constante de suas cadeias H é diferen- zida por um clone específico de células produtoras de anticorpos.
te), e as cadeias K e X. são isótipos diferentes (já que suas regiões Anticorpos anti-idiótipo reagem apenas com a região hipervariá-
constantes também diferem antigenicamente). vel da molécula da imunoglobulina específica que os induziu.
(2) Alótipos, por outro lado, constituem características anti-
gênicas adicionais que variam entre indivíduos. Eles variam por-
que os genes que codificam para as cadeias L e H são polimór- GENES DAS IMUNOGLOBULINAS
ficos, e diferentes indivíduos podem possuir diferentes alelos.
Para produzir o enorme número de moléculas de diferentes
A cadeia 'YH, por exemplo, contém um alótipo denominado Gm,
imunoglobulinas (estimado em até 100 milhões) sem que seja
que, em razão de uma ou duas diferenças em sua sequência de
necessário um número excessivo de genes, mecanismos genéti-
aminoácidos, apresenta uma imunogenicidade diferente. Cada
cos especiais são utilizados (p. ex., rearranjo de DNA e proces-
indivíduo herda diferentes genes alélicos que codificam para um
5 samento do RNA). As recombinações do DNA são operadas por
ou outro aminoácido no local Gm.
recombinases. Dois genes importantes que codificam recom -
binases são RAG-1 e RAG-2 (genes ativadores de recombinação
5
Alótipos relativos a cadeias -yH são chamados de Gm (abreviação para
gamma); alótipos relativos a cadeias KL são chamados de Inv (uma abre-
6
viação do nome de um paciente). Qualquer um dos determinantes antigênicos é chamado de um idiótipo.
CAPÍTULO 59 Anticorpos 51 3

[do inglês, recombination-activating genes]). Mutações nesses A região V de cada cadeia L é codificada por dois segmentos
genes impedem o desenvolvimento de linfócitos e resultam em gênicos (V + J). A região V de cada cadeia H é codificada por
uma imunodeficiência combinada grave (ver Candidíase muco- três segmentos gênicos (V + D + J). Esses vários segmentos são
cutânea crônica, Capítulo 68). unidos em um gene V funcional por meio do rearranjo do DNA.
Cada uma das quatro cadeias da imunoglobulina consiste Cada um desses genes V montados é, então, transcrito com os ge-
em duas regiões distintas: uma região variável (V) e outra cons- nes C apropriados e processados, o que gera um mRNA maduro
tante (C). Para cada tipo de cadeia imunoglobulínica (i.e., cadeia que codifica a cadeia polipeptídica completa. Cadeias L e H são
leve kappa [KL], cadeia leve lambda [ÃL] e as cinco cadeias pesa- sintetizadas separadamente em polissomos e, então, montadas no
das [-yH, uH, µH, eH e ÂH]) existe um conjunto separado de seg- citoplasma por meio da formação de ligações dissulfeto, gerando
7
mentos gênicos localizados em diferentes cromossomos. Cada unidades H2L2. Por fim, um oligossacarídeo é adicionado à re-
conjunto contém um grupo de diferentes segmentos gênicos V gião constante da cadeia pesada e a molécula de imunoglobulina
largamente separados dos segmentos gênicos D (diversidade, é liberada da célula.
encontrado apenas em cadeias H), J (junção) e C (Figura 59-5). O mecanismo de organização gênica apresentado permite a
Na síntese de uma cadeia H, por exemplo, uma região V espe- montagem de um número extremamente amplo de moléculas di-
cífica é translocada para um local próximo a um segmento D, ferentes. A diversidade dos anticorpos depende (1) de múltiplos
vários segmentos J e uma região C. Esses genes são transcritos segmentos gênicos, (2) do seu rearranjo em diferentes sequên-
em mRNA, e todos, com exceção de um dos segmentos J, são cias, (3) da combinação de diferentes cadeias L e H na montagem
removidos por processamento do RNA. Durante a diferenciação de moléculas de imunoglobulinas e (4) de mutações. Um quinto
das células B, a primeira translocação posiciona um gene V H pró- mecanismo, denominado diversidade juncional, aplica-se princi-
ximo de um gene Cµ, levando à formação de IgM, o primeiro palmente à cadeia pesada do anticorpo. A diversidade juncional
anticorpo produzido em uma resposta primária. Observa-se que ocorre por meio da adição de novos nucleotídeos à junção onde
os genes J (junção) não codificam para as cadeias J encontradas ocorre o processamento entre os segmentos V-D e D-J.
em IgM e IgA. Observa-se também que o DNA dos genes V, D e A diversidade dos receptores de antígenos das células T tam-
J não utilizados são descartados, de forma que uma determinada bém é dependente da ligação entre segmentos V, D e J e da com-
célula B está comprometida a fazer anticorpos com apenas uma binação de diferentes cadeias polipeptídicas u e J3. Entretanto, di-
especificidade. ferentemente dos anticorpos, a ocorrência de mutação não possui
um papel importante na diversidade dos receptores de células T.
7
Os genes para KL, -yL e para as cinco cadeias pesadas localizam-se nos Diversos cânceres linfoides manifestam translocação cro-
cromossomos 2, 22 e 14, respectivamente. mossômica envolvendo a região VDJ e um oncogene celular.

Linhagem
germinativa embriogênica

--~--/ 7 /? 1111
a b c x
7/

123456 IVS

DH JH
Rearranjo

l de DNA

Gene da cadeia pesada com DNA rearranjado I rD-0-0-0-- --~-~


VH2 b2 3 4 5 6 IVS Cµ
D J

Processamento
doRNA

mRNAda lgM li
VH DJ Cµ

Tradução

Proteína lgM li
VH DJ Cµ

FIGURA 59-5 Rearranjo gênico para a produção de uma cadeia µ,H. O local de ligação ao antígeno é formado pela seleção randômica de um
dos genes VH, um dos genes DHe um dos genes JH. Após a transcrição e processamento do RNA, o mRNA é traduzido, produzindo uma cadeia
pesada de uma imunog lobulina M (lgM). V, regiões variáveis; D, segmentos de diversidade; J, segmentos de junção; C, região constante; IVS,
sequência interveniente. (Modificada e reproduzida, com permissão, de Stites D, Terr A, ParslowT, eds. Basic&Clinical lmmunology. 8th ed. Publicada originalmente
por Appleton & Lange. Copyright 1994 McGraw-Hill.)
S14 PARTE VII Imunologia

No linfoma de Burkitt, por exemplo, o oncogene c-myc, localiza- tégia, células B maduras podem expressar tanto IgM quanto IgD
do no cromossomo 8, é translocado para uma posição adjacente (ver Figura 59-6, processamento alternativo do RNA). Observa-
à região VDJ de um gene da cadeia pesada. O promotor ativo do -se que a partir do momento em que a célula B trocou de classe
gene da cadeia pesada aumenta a transcrição do oncogene c-myc, para um determinado gene H, ela não pode mais produzir a clas-
o que predispõe à formação da neoplasia maligna. se de cadeia H codificada por genes que estão localizados ante-
riormente ao primeiro, pois as regiões de DNA intervenientes são
removidas e descartadas. A troca de classe acontece apenas para
TROCA DE CLASSE DE IMUNOGLOBULINAS as cadeias pesadas; as cadeias leves não sofrem troca de classe.
(TROCA DE ISÕTIPOS) A recombinase de troca de classe é a enzima que catalisa o rear-
ranjo dos genes VDJ durante a troca de classe.
Inicialmente, todas as células B carreiam IgM específica para um O controle da troca de classe é dependente de, pelo menos,
antígeno e produzem anticorpos IgM em resposta à exposição ao dois fatores. O primeiro é a concentração de várias interleucinas.
antígeno. Em seguida, rearranjos génicos permitem a elaboração Por exemplo, a interleucina (IL) 4 aumenta a produção de IgE, ao
de anticorpos com a mesma especificidade antigénica, mas per- passo que a IL-5 aumenta a produção de IgA (ver Tabela 58-7).
tencente a uma diferente classe de imunoglobulina (Figura 59-6). O segundo é a interação da proteína CD40 na célula B com a
Observa-se que a especificidade antigénica permanece a mesma proteína do ligante de CD40 na célula T auxiliar. Na síndrome de
por toda a vida da célula B ou célula plasmática, pois a especifi- hiper-IgM, uma falha na interação apropriada entre essas proteí-
cidade é determinada pelos genes da região variável (genes V, D nas resulta na incapacidade da célula B de trocar de classe para a
e J na cadeia pesada e genes V e J na cadeia leve), independen- produção de IgA, IgE ou IgG. Portanto, somente IgM é produzida
temente de qual região constante da cadeia pesada esteja sendo (ver Capítulo 68).
utilizada.
Na troca de classe, o mesmo gene V Hmontado pode asso-
ciar-se sequencialmente a diferentes genes CH, de forma que a
EXCLUSÃO ALÉLICA
imunoglobulina produzida (IgG, IgA ou IgE) seja específica para
o mesmo antígeno, como na IgM original, mas possuindo dife- Uma única célula B expressa apenas um gene de cadeia leve
rentes características biológicas. Isso está ilustrado na seção "Tro- (K ou À) e um gene de cadeia pesada. Teoricamente, uma célula B
ca de classe,, da Figura 59-6. Um mecanismo molecular diferente poderia expressar dois grupos de genes de imunoglobulinas, um
envolve a troca de IgM por IgD. Neste caso, um único mRNA grupo proveniente dos cromossomos paternos e outro de cro-
consistindo de VDJ CµCõ é inicialmente transcrito e, então, é mossomos maternos. Mas isso não acontece. Apenas um grupo
processado em mRNAs VDJ Cµ e Cõ separados. Com essa estra- de genes é expresso, ou o materno ou o paterno, e o outro grupo

Sµ Cµ Cõ Cy3 Cy1 C,'2~ C')'2a

Primeiro rearranjo
deDNA

Gene da cadeia pesada


com DNA rearranjado
VDJ Sµ Cµ Cõ Cy3 Cy1 Ce Sa Ca
C,'2~ C')'2a

Processamento Segundo rearranjo do


alternativo do ANA
ou DNA ''Troca de classe"

mRNAs de célula B Sµ Sa ,__, Gene a com


produtora simultânea deµ/~ 1
....._I_I_____. DNA rearranjado
VDJCµ VDJ Ca
1 11 1 Processamento
VDJ Cõ doRNA

1 11 mRNA de célula B produtora de lgA


VDJCa

FIGURA 59-6 Rearranjo gênico para a produção de diferentes classes de imunoglobulinas (lg). A lgM é formada primeiramente porque a região
constanteµ está mais perto do DNA de VDJ. Em seguida, a região constante µ pode ser trocada por uma região constante -y, E ou a para formar as
cadeias pesadas de lgG, lgE ou lgA, respectivamente. Observa-se que a especificidade antigênica da célula B permanece a mesma, uma vez que
o DNA de VDJ se mantém inalterado. V, regiões variáveis; D, segmentos de diversidade; J, segmentos de junção; C, regiões constantes; S, locais
de troca. (Modificada e reproduzida, com permissão, de Stites D, Terr A, ParslowT, eds. Basic & Clinicai lmmunology. 8th ed. Publicada originalmente por Appleton &
Lange. Copyright 1994 McGraw-Hill.)
CAPÍTULO 59 Anticorpos S1S

é silenciado (i.e., excluído). Esse fenômeno é chamado de exclu- (A) IgA e IgM.
são alélica. Cada indivíduo contém uma mistura de células B, (B) IgA e IgG.
algumas expressando os genes paternos e outras expressando os (C) IgG e IgE.
genes maternos. O mecanismo que permite essa exclusão ainda (D) IgD e IgE.
(E) IgM e IgE.
não é conhecido.
4. Em relação às funções das diferentes classes de anticorpos, qual das
seguintes opções é a mais correta?

ANTICORPO CATALÍTICO (A) IgE bloqueia a ligação dos vírus à mucosa do intestino.
(B) IgA funciona como receptor de antígenos na superfície de cé-
Anticorpos podem agir como uma enzima para catalisar a síntese lulas B.
de ozônio (03), o qual apresenta atividade microbicida. O anti- (C) IgD é a mais importante defesa dos seres humanos contra ver-
corpo pode utilizar o oxigênio singlete produzido por neutrófilos mes como os helmintos.
e reagi-lo com água para formar peróxido de hidrogênio e 0 3• (D) IgG pode ativar a via alternativa do complemento, resultando
O 0 3 gerado pode matar, por exemplo, a bactéria Escherichia coli. na produção de C3a, que degrada a parede celular bacteriana.
(E) Existem receptores para a cadeia pesada de IgG na superfície
A função catalítica dos anticorpos é independente de sua espe-
de neutrófilos que medeiam um processo de defesa do hospe-
cificidade antigênica e da necessidade de se ligar a um antígeno.
deiro, denominado opsonização.
A importância dessas observações para o sistema de defesa do
5. Em relação aos genes que codificam os anticorpos, qual das seguin-
hospedeiro ainda não é clara.
tes opções é a mais correta?
(A) Regiões hipervariáveis são codificadas pelos genes tanto da
cadeia pesada quanto da cadeia leve.
APLIQUE SEU CONHECIMENTO (B) Os genes para as cadeias leve e pesada são ligados no mesmo
1. Anticorpo que pertence à primeira classe a aparecer, e sua presença cromossomo e em regiões adjacentes ao locus HLA.
indica infecção ativa, em vez de infecção que ocorreu no passado. (C) Durante a produção de IgG, as cadeias leve e pesada adquirem
Pode fixar complemento, o que constitui uma defesa importante o mesmo local de ligação ao antígeno por meio da transloca-
contra muitas infecções bacterianas. No plasma, é encontrado na ção dos mesmos genes variáveis.
forma de pentâmero. Qual é esse anticorpo? (D) O gene para a região constante da cadeia pesada -y é o primeiro
na sequência de genes que codificam as cadeias pesadas, e, por
(A) IgA.
(B) IgD.
isso, a IgG é produzida em maiores quantidades.
(C) IgE.
(D) IgG.
(E) IgM. RESPOSTAS
2. Em relação à IgG, qual das seguintes opções é a mais correta? 1. (E)
(A) Cada molécula de IgG tem um local de ligação ao antígeno. 2. (E)
(B) É o mais importante receptor de antígenos na superfície de 3. (A)
neutrófilos. 4. (E)
(C) Durante a resposta primária, é produzida em quantidades 5. (A)
maiores que a IgM.
(D) A habilidade da IgG em fixar o complemento reside na região
constante da cadeia leve. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(E) É o único entre os cinco tipos de anticorpos que é transferido
da mãe para o feto no útero. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
3. Se uma pessoa apresentar uma mutação no gene que codifica a ca- contradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
deia J, qual das seguintes classes de anticorpos NÃO poderá ser pro- Autoavaliação, a partir da página 713. Consulte também a Parte
duzida? XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CAPÍTULO

Imunidade Humoral
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Função dos anticorpos


Resposta primária Anticorpos no feto
Resposta secundária Testes para avaliação da imunidade humoral
Resposta a múltiplos antígenos administrados Aplique seu conhecimento
simultaneamente Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO ocorre na resposta secundária. Esse conceito é de grande impor-


tância médica em razão do fato de que a proteção proporciona-
A imunidade humoral (mediada por anticorpos) é direcionada da por uma vacina, na primeira vez em que ela é administrada,
principalmente contra ( 1) doenças mediadas por exotoxinas, é tardia quando comparada à proteção proporcionada por uma
como o tétano e a difteria, (2) infecções nas quais a virulência dose de reforço, quando uma resposta secundária, mais rápida,
está relacionada à presença de cápsulas polissacarídicas (p. ex., ocorre.
pneumocócicas, meningocócicas, Haemophilus influenzae) e
O intervalo de tempo para que a resposta primária ocorra
(3) certas infecções virais. Neste capítulo, a cinética da síntese de
é, em geral, de sete a 1Odias, mas pode ser prolongado, depen-
anticorpos (i.e., as respostas primárias e secundárias) é descrita.
dendo da natureza e da dose do antígeno e da rota de adminis-
As funções das diversas imunoglobulinas estão resumidas neste
tração (p. ex., parenteral ou oral). Um pequeno clone de células
capítulo e estão descritas em detalhes no Capítulo 59.
B e de células plasmáticas específicas para o antígeno é formado.
A concentração sérica dos anticorpos continua a aumentar por
várias semanas e, então, declina, podendo cair a níveis bem bai-
RESPOSTA PRIMÁRIA xos (Figura 60-1). Os primeiros anticorpos a surgirem em uma
A resposta primária ocorre na primeira vez que o antígeno é resposta primária são do tipo IgM, seguidos por anticorpos IgG
encontrado. Na resposta primária, anticorpos são detectados ou IgA. Os níveis de IgM decaem mais precocemente do que os
no soro após um intervalo de tempo mais longo do que o que de IgG.

Segunda exposição ao antígeno


t

35 O
Dias

FIGURA 60-1 Síntese de anticorpos nas respostas primária e secundária. Na resposta primária, a imunoglobulina (lg) M é o p rimeiro tipo de
anticorpo a aparecer. Na resposta secundária, a lgG aparece antes e apresenta um incremento mais rápido, assim como uma concentração final
maior do que na resposta primária. Se no momento da segunda exposição ao antígeno (Ag 1) outro antígeno não relacionado (Ag2) for injetado,
uma resposta primária ao Ag2 ocorrerá enquanto uma resposta secundária ao Ag1 estiver em curso.
CAPÍTULO 60 Imunidade Humoral S17

RESPOSTA SECUNDÁRIA (2) opsonizar microrganismos. A opsonização é o processo por


meio do qual os anticorpos tornam os microrganismos mais facil-
Quando há um segundo encontro com o mesmo antígeno ou mente ingeridos pelas células fagocitárias. Isso pode ocorrer por
outro bastante relacionado (ou que apresenta reação cruzada), uma das seguintes reações: (1) a porção Fc da IgG interage com seu
meses ou anos após a resposta primária, ocorre uma rápida res- receptor na superfície de fagócitos, o que facilita sua ingestão, ou
posta por anticorpos (o intervalo de tempo é de apenas três a (2) IgG ou IgM ativam o complemento e a produção de C3b, que,
cinco dias), alcançando níveis mais elevados do que na resposta por sua vez, interage com seu receptor na superfície dos fagócitos.
primária. Este fenômeno é atribuído à persistência de "células de Os anticorpos podem ser ativamente induzidos no hospe-
memórià' antígeno-específicas, geradas após o primeiro contato. deiro ou podem ser adquiridos passivamente, o que os torna
Essas células de memória proliferam, formando um clone maior imediatamente disponíveis para a defesa. Na medicina, a imu-
de células B e células plasmáticas específicas, as quais medeiam a
nidade passiva é utilizada na neutralização de toxinas diftéricas,
resposta secundária por anticorpos. do tétano e do botulismo, por ação de antitoxinas, e também na
Durante a resposta secundária, a quantidade de IgM produ-
inibição precoce de vírus, como os vírus da raiva e da hepatite A e
zida é similar à gerada após o primeiro contato com o antígeno.
B, durante os seus respectivos períodos de incubação.
Entretanto, uma quantidade muito maior de anticorpos IgG é
produzida, e esses níveis elevados tendem a persistir por muito
mais tempo do que após a resposta primária.
ANTICORPOS NO FETO
A cada exposição consecutiva ao antígeno, os anticorpos
tendem a se ligar ao antígeno mais firmemente. A ligação do an- Anticorpos no feto são essencialmente IgGs adquiridos por
ticorpo melhora, uma vez que ocorrem mutações no DNA que transferência de anticorpos maternos pela placenta. Alguns an -
codifica o local de ligação ao antígeno, processo denominado ticorpos podem ser produzidos pelo feto durante certas infec-
bipermutação somática. Algumas mutações resultam na inser- ções, como é o caso da sífilis congênita. Recém-nascidos podem
ção de aminoácidos diferentes nas regiões hipervariáveis, geran- produzir IgG (e outros isótipos, como IgM e IgA) contra alguns
do um melhor ajuste e proporcionando uma ligação mais forte antígenos proteicos. Por exemplo, a vacina contra hepatite B, que
ao antígeno. A subpopulação de células plasmáticas que contêm contém o antígeno de superfície do vírus da hepatite B, é efetiva
essas regiões hipervariáveis melhoradas é mais intensamente (e quando administrada a recém-nascidos. Após o nascimento, os
mais frequentemente) selecionada pelo antígeno e, portanto, pas- anticorpos maternos decaem e a proteção conferida pelas IgGs
sa a constituir uma parte cada vez maior na população de células maternas é perdida por volta do terceiro ao sexto mês de vida.
produtoras de anticorpos. Esse processo é denominado matura-
ção por afinidade. Um importante efeito das doses de reforço
de uma vacina é a melhora da ligação do anticorpo por meio da TESTES PARA AVALIAÇÃO DA
intensificação do processo de maturação por afinidade.
IMUNIDADE HUMORAL
A maturação por afinidade ocorre nos centros germinativos
dos folículos no baço e nos linfonodos. Células dendríticas foli- A avaliação da imunidade humoral consiste principalmente em
culares capturam complexos antígeno-anticorpo em sua superfí- medir a quantidade de cada uma das três imunoglobulinas im-
cie pela ação de receptores Fc. Os complexos interagem com uma portantes (i.e., IgG, IgM e IgA) no soro do paciente. Essa avalia-
célula B ativada que carreia a imunoglobulina que melhor se liga ção normalmente é realizada por meio da nefelometria. A imu-
ao antígeno, e é a célula B que passa a ser estimulada a formar noeletroforese também pode fornecer informações valiosas.
um clone com muitas células B capazes de sintetizar o anticorpo Essas técnicas são descritas no Capítulo 64.
melhorado.

APLIQUE SEU CONHECIMENTO


RESPOSTA A MÚLTIPLOS ANTÍGENOS
1. Em relação às respostas imunes primária e secundária (anamnésti-
ADMINISTRADOS SIMULTANEAMENTE ca), qual das seguintes opções é a mais correta?
Quando dois ou mais antígenos são administrados ao mesmo (A) A IgM produzida na resposta primária é feita principalmente
tempo, o hospedeiro reage com a produção de anticorpos contra pelas células B de memória.
todos eles. A competição de antígenos por mecanismos de produ- (B) O intervalo de tempo até a produção de anticorpos é mais cur-
ção de anticorpos ocorre experimentalmente, mas parece ter pou- to na resposta primária do que na resposta secundária.
ca significância médica. A imunização combinada é largamente (C) Na resposta primária, células B de memória são produzidas,
utilizada (p. ex., as vacinas contra difteria, tétano e coqueluche mas células T de memória não o são.
(D) A quantidade de IgG produzida na resposta secundária é
[DTP, diphtheria, tetanus e pertussis] e contra sarampo, caxumba e
maior do que a quantidade produzida na resposta primária.
rubéola [MMR, measles, mumps e rubella]).
2. Qual das seguintes opções é uma função da imunidade humoral
(mediada por anticorpos)?
FUNÇÃO DOS ANTICORPOS (A) Neutralizar toxinas bacterianas.
(B) Ativar a via alternativa do complemento.
A função principal dos anticorpos é proteger contra agentes in- ( C) Inibir o crescimento de Mycobacterium tuberculosis.
fecciosos ou seus produtos (ver Tabela 59-2). Os anticorpos exer- (D) Inibir o crescimento de células infectadas por vírus por meio
cem proteção porque eles podem (1) neutralizar toxinas e vírus e da intensificação da produção de perforinas.
518 PARTE VII Imunologia

RESPOSTAS QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


1. (D) Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
2. (A) contradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
Autoavaliação, a partir da página 713. Consulte também a Parte
XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CAPÍTULO

Imunidade Celular
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Papel dos adjuvantes e lipídeos no estabelecimento da


Testes para avaliação da imunidade celular imunidade celular

Testes in vivo para a competência de células linfoides Aplique seu conhecimento


(testes intradérmicos) Questões para autoavaliação
Testes in vitro para a competência de células linfoides

INTRODUÇÃO esses achados baseia-se no fato de que quando o vírus do saram-


po se liga a seus receptores na superfície de macrófagos humanos,
Embora a imunidade humoral (mediada por anticorpos) seja
a produção de IL-12 por esses macrófagos, necessária para que a
um importante componente da defesa do hospedeiro em mui-
imunidade celular ocorra, é suprimida.
tas doenças bacterianas e virais, em muitas outras infecções
Os termos "resposta primária e secundárià' são principal-
bacterianas (sobretudo no caso de infecções intracelulares,
como a tuberculose) e em infecções virais, é o braço da imu- mente associados à formação de anticorpos, como descrito no
nidade celular que confere resistência e auxilia na recuperação. Capítulo 60, mas a distribuição temporal da resposta por células
Além disso, a imunidade celular é importante na defesa contra T também segue o mesmo padrão. Após a exposição inicial ao
fungos, parasitas e cânceres. É também o principal mecanis- antígeno, a célula T específica prolifera e forma um pequeno clo-
mo envolvido na rejeição ao transplante de órgãos. A evidên- ne de células (i.e., a resposta primária ocorre). Então, em exposi-
cia mais forte da importância da imunidade celular provém de ções subsequentes ao antígeno, os pequenos clones expandem-se
situações clínicas em que a sua supressão (por fármacos imu- e um número muito maior de células T específicas é formado.
nossupressores ou doenças [p. ex., a Aids]) resulta em infecções Essas células constituem a resposta secundária.
graves ou tumores. Embora as interações entre diversas células e várias citoci-
Os componentes do sistema imune celular incluem diver- nas sejam complexas, o resultado é relativamente simples: em um
sos tipos celulares: (1) macrófagos, que apresentam antígenos indivíduo que apresenta uma imunidade celular competente, pa-
para as células T, (2) células T auxiliares, que participam do tógenos oportunistas raramente, ou nunca, causam doença, e a
reconhecimento antigênico, além de apresentarem funções re-
disseminação de outros agentes - por exemplo, determinados ví-
guladoras (auxiliar e supressora) (ver Capítulo 58), (3) célu-
rus (p. ex., herpes-vírus) ou tumores (p. ex., sarcoma de Kaposi)
las natural killer (NK), que podem inativar patógenos, e (4)
células T citotóxicas, que podem matar células infectadas por - é limitada. Portanto, a avaliação da competência da imunidade
vírus com ou sem o auxílio de anticorpos. Macrófagos e células celular é extremamente importante.
T auxiliares produzem citocinas que ativam células T citotóxi-
cas e auxiliares, levando à inativação do patógeno ou da célula
tumoral. TESTES PARA AVALIAÇÃO
A infecção por alguns vírus, como o vírus do sarampo e o DA IMUNIDADE CELULAR
citomegalovírus, pode suprimir a imunidade celular contra ou-
tros microrganismos. Particularmente, a infecção pelo vírus do A avaliação da imunocompetência das pessoas depende da
sarampo em indivíduos acometidos por Mycobacterium tubercu- demonstração da hipersensibilidade tardia a antígenos comu-
losis pode resultar em uma perda de reatividade ao teste cutâneo mente presentes (associando a habilidade de resposta à com-
do derivado proteico purificado (PPD), na reativação de organis- petência da imunidade celular) ou da análise laboratorial das
mos latentes e na doença clínica. Uma explicação proposta para células T.
S20 PARTE VII Imunologia

Testes in vivo para a competência de uso de anticorpos monoclonais contra as várias cadeias pesadas.
células linfoides {testes intradérmicos) O número total de células B pode ser contado por meio da utili-
zação de anticorpos marcados por fluoresceínas contra todas as
Testes intradérmicos para a presença de classes de imunoglobulinas. Anticorpos monoclonais específicos
hipersensibilidade tardia direcionados contra marcadores de células T permitem a quanti-
A maioria das pessoas normais responde com reações tardias aos ficação de células T, células CD4 auxiliares, células CDS supres-
antígenos de teste intradérmico provenientes de Candida ou ou- soras e outras. A razão normal entre células CD4 e CDS é de 1,5
tros antígenos. Isso ocorre em razão da exposição pregressa aos ou mais, ao passo que em algumas imunodeficiências (p. ex., na
antígenos. A ausência de reações a muitos dos testes intradérmi- Aids) ela é menor que 1.
cos sugere a deficiência da imunidade celular.

Testes intradérmicos para a habilidade de PAPEL DOS ADJUVANTES E LIPÍDEOS


desenvolver hipersensibilidade tardia NO ESTABELECIMENTO DA IMUNIDADE
A maioria das pessoas imediatamente desenvolve reativida- CELULAR
de a compostos químicos simples (p. ex., dinitroclorobenzeno
[DNCB]) aplicados à sua pele em solventes lipídicos. Quando o Antígenos fracos ou compostos químicos simples tendem a não
mesmo composto é aplicado à mesma área sete a 14 dias depois, gerar hipersensibilidade celular quando administrados sozinhos,
elas respondem por meio de uma reação dérmica de hipersensi- mas eles o fazem quando administrados em uma mistura com
bilidade tardia. Pessoas imunossuprimidas, com imunidade celu- adjuvantes. O papel do adjuvante é intensificar a absorção de an-
lar incompetente, não desenvolvem reações de hipersensibilidade tígenos por células apresentadoras de antígenos (p. ex., macrófa-
tardia. gos) para estimular a expressão de coestimuladores, como B7, e
intensificar a produção de citocinas, como a IL-12, que promove
Testes in vitro para a competência de o desenvolvimento de células Th-1. Um adjuvante experimental
células linfoides comum é composto pela mistura de óleos minerais, lanolina e
micobactérias mortas (adjuvante de Freund), o qual é capaz de
Teste de transformação li nfocitária estimular a formação de granulomas. Seu uso é proibido em seres
Quando linfócitos T sensibilizados são expostos ao antígeno es- humanos.
pecífico, eles transformam-se em células altamente metabólicas
com altas taxas de síntese de DNA, conforme medido pela in-
corporação de timidina tritiada. Esse efeito específico envolve APLIQUE SEU CONHECIMENTO
relativamente poucas células. Um grupo maior de células T sofre
1. A imunidade celular é a principal defesa do hospedeiro contra qual
transformação metabólica inespecífica quando exposto a certos
dos seguintes organismos?
agentes mitogênicos. Os mitógenos fito-hemaglutinina e conca-
navalina A são extratos de plantas que estimulam especificamen- (A) Escherichia coli.
te células T. (A endotoxina bacteriana, um lipopolissacarídeo, (B) Mycobacterium tuberculosis.
estimula especificamente células B.) ( C) Pseudomonas aeruginosa.
(D) Staphylococcus aureus.
(E) Streptococcus pneumoniae.
Fator inibidor da migração de macrófagos
2. A infecção por qual dos seguintes grupos de vírus causa a redução
O fator inibidor da migração de macrófagos é elaborado por cé- da imunidade celular?
lulas T em cultura quando estas são expostas ao antígeno contra
(A) Vírus da hepatite A e vírus da hepatite C.
o qual foram sensibilizadas. Seu efeito pode ser medido por meio (B) Herpes-vírus simples 1 e rotavírus.
da observação da redução da migração de macrófagos na pre- ( C)Vírus influenza e vírus sincicial respiratório.
sença do fator quando comparado com os níveis presentes nos (D) Vírus do sarampo e citomegalovírus.
controles. (E) Parvovírus B19 e vírus da rubéola.

Quantificação de célulasT, células B e


subpopulações RESPOSTAS
O número de cada tipo de célula pode ser contado por meio do 1. (B)
uso de um aparelho denominado citômetro de fluxo (ou separa- 2. (D)
dor celular ativado por fluorescência) ([FACS,fluorescence-acti-
vated cell sorter]) (ver Capítulo 64). Nessa abordagem, células são
marcadas por anticorpos monoclonais conjugados a um corante QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
fluorescente, como a fluoresceína ou a rodamina. Cada célula é
passada por um raio laser e o número de células que apresentam Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
fluorescência é registrado. contradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
Células B (e células plasmáticas) produtoras de diferentes Autoavaliação, a partir da página 713. Consulte também a Parte
classes de imunoglobulinas podem ser detectadas por meio do XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CAPÍTULO
Complexo Principal de
Histocompatibilidade e
Transplantes 62
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Tipagem de HLA no laboratório


Proteínas do MHC O feto é u m aloenxerto não rejeitado
Proteínas do MHC de classe 1 Resultados do transplante de órgãos
Proteínas do MHC de classe li Reação do enxerto versus hospedeiro
lmportincia biológica do MHC Efeito da imunossupressão na rejeição de enxertos
Transplantes Aplique seu conhecimento
Rejeição de aloenxertos Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO ractedsticas das proteínas de classes 1 e II são comparadas na


Tabela 62-1.
O sucesso do transplante de órgãos e tecidos depende dos an- Cada pessoa possui dois haplótlpos (i.e., dois grupos des-
tígenos leuoocltárlos humanos (HLAs, human leukocyte anti- tes genes: um no uomossomo 6 de origem paterna e outro no
gens}do doador e do receptor. os quais são codificados pelos ge• cromossomo homólogo de origem materna). Esses genes são di-
nes do HLA. Essas proteínas são a)oantígenos (i.e .• elas diferem versificados (polimórficos) (i.e., há muitos ale)os dos genes de
entre membros de wna mesma espécie). Se as proteínas do HLA classes 1 e II). Por exemplo, há pelo menos 47 genes do HLA-A,
das célu)as do doador diferirem das proteínas presentes nas cé- 88 genes do HLA-B, 29 genes do HLA-C e mais de 300 genes do
luJas do receptor. o resultado é uma reação imune que ocorrerá HLA-D, mas qualquer indivíduo herda apenas um único ale)o de
no receptor. Os genes que codificam para as proteínas HLA es- cada locus advindo de cada um de seus pais. Assim. cada indivi-
tão agrupados no complexo principal de histocompatibilidade duo não pode produzir mais do que duas proteínas de classes 1 e
(MHC}, localizado no braço c.urto do cromossomo 6. Três des- lI em cada locus gênico. Aexpressão desses genes é codomlnante
tes genes (HLA-A, HLA-B, e HLA-C) codificam proteinas do (i.e.• tanto as proteínas codificadas pelo gene paterno quanto pe)o
MHC de classe L Diversos loci HLA-D determinam proteinas gene materno são produzidas). Cada individuo pode produzir 12
do MHC de classe li (Le., DP, DQ, e DR) (Figura 62-1). As ca- proteínas HLA diferentes: 3 dos loci de classe J e 3 dos loâ de

o- PGM3 GLO HLA Pgs

------i01---
DR e
OP
ºª B A

FIGURA 62·1 Complexo gênico pata os antígenos leucocitárioshumanos (HL.As). A, 8. e C são loô de classe 1. OP, OQ. e OR são lod de elas~
se li. C2 e C4 sao loô do complemento. LT, linfotox1na;TNF, fatot de nectose tu moral. PGM:v GLO e Pg5 são genes adjacentes não telacionados.
(Reproduzida, com permissão. de Stltes OP, Terr A, Parslow T, eds.. 8osk &Clinico/ JmmunoJogy. 9th ed. Publk ada 0<lglnatrnente por Appleton & l ange. Copyright
1997McGraw-H.lll.)
S22 PARTE VII Imunologia

TABELA 62-1 Comparação entre as proteínas do MHC de PROTEÍNAS DO MHC


classe I e classe li
Proteínas do MHC de classe 1
Proteínas Proteínas
doMHC doMHC São glicoproteínas encontradas na superfície de praticamente
Característica de classe 1 de classe li todas as células nucleadas. Aproximadamente 20 proteínas di-
ferentes são codificadas pelos genes alélicos localizados no Zoeus
Apresentam antígenos para células Não Sim A, 40 no Zoeus B e 8 no Zoeus C. A proteína completa de classe I
CD4-positivas
é composta por uma cadeia pesada de peso molecular 45.000
Apresentam antígenos para células Sim Não ligada não covalentemente a uma microglobulina-J32• A cadeia
CDS-positivas pesada é altamente polimórfica e é similar a uma molécula de
imunoglobulina; apresenta regiões hipervariáveis em sua por-
Encontradas na superfície de todas as Sim Não ção N-terminal. O polimorfismo dessas moléculas é importante
célu las nucleadas para o reconhecimento do que é próprio e do que é não pró-
1 prio. Em outras palavras, se essas moléculas fossem mais simi-
Encontradas na superfície de células Sim Sim
apresentadoras de antígenos "pro- lares, a habilidade de aceitar enxertos seria melhorada de forma
fissionais': como células dendríticas, correspondente. A cadeia pesada também contém uma região
macrófagos e células B constante onde a proteína CDS da célula T citotóxica se liga.

Codificadas por genes no Jocus do HLA Sim Sim


Proteínas do MHC de classe 11
Expressão codominante dos genes Sim Sim São glicoproteínas encontradas na superfície de certas células,
incluindo células B, macrófagos, células dendríticas do baço e
Múltiplos alelos em cada Jocus gênico Sim Sim
células de Langerhans na pele. São glicoproteínas altamente poli-
Compostas por dois peptídeos codifi- Não Sim mórficas compostas por dois polipeptídeos ligados não covalen-
cados no Jocus do HLA temente. Como as proteínas de classe I, elas apresentam regiões
hipervariáveis que concentram grande parte de seu polimorfis-
Compostas por um peptídeo codi- Sim Não mo. Diferentemente das proteínas de classe I, que apresentam
ficado no Jocus do HLA e uma í3 2_
apenas uma cadeia codificada no Zoeus do MHC (a J32-micro-
-microglobulina
globulina é codificada no cromossomo 15), as duas cadeias das
1
Observa-se que as proteínas do MHC de classe I são encontradas na superfície proteínas de classe II estão codificadas no Zoeus do MHC. Os dois
de todas as células nucleadas, inclusive nas que também apresentam proteínas peptídeos também apresentam regiões constantes onde as proteí-
do MHC de classe li em sua superfície. Hemácias maduras são células anucleadas;
portanto, elas não sintetizam proteínas do MHC de classe 1.
nas CD4 das células T auxiliares se ligam.

classe II, de ambos os cromossomos. Uma pessoa pode produzir


IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA DO MHC
menos de 12 proteínas do HLA diferentes se ela for homozigota A habilidade das células T em reconhecer antígenos é dependen-
em qualquer um dos seis Zoei (i.e., se ambos os pais possuírem o te da associação entre o antígeno e as proteínas de classe I ou clas-
mesmo alelo de HLA). se II. Por exemplo, células T citotóxicas respondem a antígenos
Além dos antígenos principais, codificados pelos genes do associados a proteínas do MHC de classe 1. Assim, uma célula
HLA, existe um número desconhecido de antígenos menores co- T citotóxica que destrói uma célula infectada por um vírus não
dificados em outros locais além do Zoeus do HLA. Esses antígenos destruirá outra célula infectada pelo mesmo vírus caso esta não
menores podem induzir uma resposta imune fraca que resulta expresse a classe I de proteínas apropriadas. Esse achado foi de-
na lenta rejeição do enxerto. O efeito cumulativo de diversos terminado por meio da mistura de células T citotóxicas que conti-
antígenos menores pode levar a uma rejeição mais rápida. Esses nham certas proteínas do MHC de classe I com células infectadas
antígenos menores incluem várias proteínas normais do corpo por vírus que carreavam proteínas do MHC de classe I diferentes.
que apresentam uma ou mais diferenças na sequência de aminoá- Como resultado, não houve morte das células infectadas. Célu-
cidos entre pessoas diferentes (i.e., eles são "variantes alélicos,,). las T auxiliares reconhecem proteínas de classe II. A atividade
Por apresentarem diferenças em termos de aminoácidos, essas de células auxiliares depende, em geral, do reconhecimento do
proteínas são imunogênicas quando introduzidas como parte dos antígeno nas células apresentadoras de antígeno e da presença de
tecidos de enxerto do doador. Não há testes de laboratório para proteínas do MHC "próprias,, de classe II nessas células. A ne-
análise dos antígenos menores. cessidade de reconhecer antígenos em associação a proteínas do
Entre os Zoei gênicos de classe I e classe II existe um ter- MHC "próprias,, é chamada de restrição do MHC. Observa-se
ceiro Zoeus (Figura 62-1 ), às vezes chamado de classe III. Esse que as células T reconhecem antígenos somente quando estes são
Zoeus contém vários genes imunologicamente importantes que apresentados na superfície das células (em associação a proteínas
codificam duas citocinas (fator de necrose tumoral e linfotoxi- do MHC de classes I ou II), ao passo que as células B não apre-
na) e dois componentes do complemento (C2 e C4), mas não sentam essa necessidade, e podem reconhecer antígenos solúveis
apresenta nenhum gene que codifique antígenos de histocom- no plasma por meio de seus monômeros de IgM em suas superfí-
patibilidade. cies, os quais agem como receptores de antígenos.
CAPÍTULO 62 Complexo Principal de Histocompatibilidade e Transplantes S23

Os genes e as proteínas do MHC também são importantes las T citotóxicas CDS-positivas causam a maior parte da morte
em dois outros contextos médicos. No primeiro deles, muitas celular nas células do aloenxerto.
doenças autoimunes acometem pessoas que carreiam certos ge- Proteínas do MHC estranhas ativam um número muito
nes do MHC (ver Capítulo 66) e, no segundo, o sucesso do trans- maior de células T (i.e., geram uma reação muito mais inten-
plante de órgãos é, em grande parte, determinado pela compati- sa) do que proteínas estranhas que não são proteínas do MHC.
bilidade de genes do MHC entre doador e receptor (ver a seguir). A intensidade da resposta a proteínas do MHC estranhas pode
ser explicada pela observação de que há três processos por
meio dos quais as células imunes do receptor são estimuladas.
TRANSPLANTES Estes processos são os seguintes: ( 1) células apresentadoras de
antígenos (p. ex., macrófagos e células dendríticas) no enxerto
Um autoenxerto (transferência de tecidos do próprio indivíduo podem apresentar proteínas próprias (do doador) em associa-
para outro local no corpo) é sempre permanentemente aceito ção a suas proteínas do MHC de classes I e II e ativar a resposta
(i.e., ele sempre «pegà,). Um enxerto singênico 1 é a transferên- imune do receptor; (2) células apresentadoras de antígenos no
cia de tecidos entre indivíduos geneticamente idênticos (i.e., en- enxerto podem apresentar proteínas do receptor e ativar a res-
tre gêmeos idênticos) e quase sempre «pegà, permanentemente. posta imune dele (uma vez que proteínas do receptor podem
Um xenoenxerto, 1 a transferência de tecidos entre espécies di- ser reconhecidas como estranhas quando apresentadas por
ferentes, é sempre rejeitado por um receptor imunocompetente. uma proteína do MHC estranha); e (3) as proteínas próprias
Um aloenxerto 1 é o enxerto entre membros de uma mes- do doador, assim como suas proteínas do MH C de classes I e
ma espécie que sejam geneticamente diferentes (p. ex., de pessoa II, podem ser liberadas e, subsequentemente, processadas pelas
para pessoa). Os aloenxertos são, em geral, rejeitados, a não ser células apresentadoras de antígenos do receptor, o que ativa a
que fármacos imunossupressores sejam administrados ao orga- resposta imune dele.
nismo receptor. A gravidade e rapidez da rejeição variam, depen- Um enxerto que sobrevive a uma reação aguda ao aloenxer-
dendo da quantidade de diferenças entre doador e receptor nos to pode, ainda assim, tornar-se não funcional como resultado de
locidoMHC. rejeição crônica. Isso pode acontecer meses ou anos após a inser-
ção do enxerto. Os principais achados patológicos em enxertos
Rejeição de aloenxertos que sofrem rejeição crônica incluem a aterosclerose do endotélio
A menos que medidas imunossupressoras sejam tomadas, aloen- vascular. A causa imunológica da rejeição crônica ainda não está
clara, mas a incompatibilidade de antígenos menores de histo-
xertos são rejeitados por um processo chamado de reação ao alo-
enxerto. Em uma reação ao aloenxerto aguda, a vascularização compatibilidade e efeitos colaterais de fármacos imunossupres-
do enxerto é inicialmente normal, mas no período de 11 a 14 dias sores possivelmente contribuem para o fenômeno.
Além dos processos de rejeição aguda e crônica, um tercei-
há uma redução marcante na circulação sanguínea, assim como a
ocorrência de um infiltrado de células mononucleares e, por fim, ro processo, denominado rejeição hiperaguda, pode ocorrer.
A rejeição hiperaguda acontece poucos minutos após a inserção
necrose do tecido. Esse processo é denominado reação primária.
do enxerto, e é causada pela reação de anticorpos anti-ABO pré-
Uma reação mediada por células T é a principal causa de rejei-
-formados do receptor contra os antígenos ABO na superfície do
ção de muitos tipos de tecidos (p. ex., pele), mas os anticorpos
endotélio do enxerto. A rejeição hiperaguda é, com frequência,
contribuem para a rejeição de certos transplantes, sobretudo nos
chamada de reação ao «enxerto branco», uma vez que o enxer-
transplantes de medula óssea. Em modelos animais experimen-
to se torna branco como resultado da perda do fluxo sanguíneo
tais, a rejeição da maioria dos enxertos pode ser transferida por
causada pelo espasmo e pela oclusão dos vasos que irrigam o te-
células, não por soro. Além disso, animais deficientes em células
cido. Devido a essa grave reação de rejeição, os grupos sanguí-
T não rejeitam enxertos, porém animais deficientes em células B
neos ABO dos doadores e dos receptores devem ser compatíveis,
rejeitam. O papel das células T citotóxicas na rejeição de aloen-
e testes de compatibilidade cruzada (ver adiante) precisam ser
xertos é descrito no Capítulo 59.
realizados. Os testes laboratoriais usados para a determinação do
Se um segundo aloenxerto proveniente do mesmo doador
grupo sanguíneo ABO são descritos no Capítulo 64.
for aplicado em um receptor sensibilizado, este é rejeitado em
cinco a seis dias. Essa reação acelerada é causada principalmente
por células T citotóxicas pré-sensibilizadas. Tipagem de HLA no laboratório
A aceitação ou a rejeição de um transplante é determinada, Previamente a uma cirurgia de transplante, testes laboratoriais,
em grande parte, pelas proteínas do MHC de classes I e II nas cé- denominados tipagem de HLA ou tipagem de tecido, são reali-
lulas do doador, sendo que as de classe II apresentam a principal zados para determinar a maior compatibilidade de MHC possível
influência. As proteínas codificadas pelo locus DR são especial- entre o doador e o receptor.
mente importantes. Os aloantígenos ativam células T, tanto au- Há dois métodos comumente utilizados em laboratórios
xiliares quanto citotóxicas, que carreiam receptores de células T para determinar o haplótipo (i.e., os alelos de classe I e classe II
específicas para os aloantígenos. As células T ativadas proliferam em ambos os cromossomos) tanto dos potenciais doadores quan-
e reagem contra os aloantígenos nas células do doador. As célu- to do receptor. Um método é o sequenciamento do DNA por
meio da amplificação por reação em cadeia da polimerase (PCR)
1
Sinônimos previamente utilizados para estes termos incluem isoenxertos e o uso de sondas específicas para detectar os diferentes alelos.
(enxerto singênico), heteroenxerto (xenoenxerto) e homoenxerto (alo- Esse método é altamente específico e sensível, e é o método de es-
enxerto). colha quando disponível. O outro método é baseado em ensaios
S24 PARTE VII Imunologia

sorológicos nos quais células do doador e do receptor são testa- mãe não é exposta aos antígenos fetais. Uma possível explicação é
das contra uma bateria de anticorpos, cada um específico para que a camada de trofoblastos da placenta não permite que células
uma proteína de classe I ou classe II diferente. O complemento é, T da mãe penetrem no feto.
então, adicionado, de forma que qualquer célula contendo uma
proteína do MHC homóloga ao anticorpo testado sofrerá lise. Resultados do transplante de órgãos
Esse método é satisfatório na maioria das circunstâncias, mas
Se o doador e o receptor apresentarem boa compatibilidade, me-
pode falhar em detectar certos alelos que foram detectados pelo dida por meio dos testes de cultura mista de linfócitos e tipagem
sequenciamento de DNA. de antígenos de histocompatibilidade, a possibilidade de sucesso
Quando dados suficientes não puderem ser obtidos por de um enxerto ou transplante, em longo prazo, é alta. Além dis-
meio do sequenciamento de DNA ou dos ensaios sorológicos, in-
so, a chance de sucesso em longo prazo é maior se o doador esti-
formações adicionais em relação à compatibilidade das proteínas
ver vivo e não se tratar de tecido oriundo de um doador falecido.
do MHC de classe II podem ser obtidas por meio do teste da cul-
Em 201 O, a taxa de sucesso em transplantes renais após cinco
tura mista de linfócitos (MLC, mixed lymphocyte culture). Essa anos era de 90%, se o doador estivesse vivo e fosse membro da
técnica é também conhecida como reação mista de linfócitos família, partilhando pelo menos um haplótipo com o receptor.
(MLR, mixed lymphocyte reaction). Nesse teste, linfócitos "esti- Por outro lado, a taxa de sucesso após cinco anos, para trans-
muladores,, provenientes de um doador potencial são primeira-
plantados renais, era de aproximadamente 80% quando o órgão
mente mortos por radiação e, então, misturados com linfócitos era proveniente de um doador falecido (i.e., havia ausência de
"responsivos,, vivos, originados do receptor; a mistura é incu-
compatibilidade de haplótipos). A taxa de sobrevida após cinco
bada em condições de cultura para que seja permitida a síntese anos dos transplantes de coração oriundos de doadores faleci-
de DNA, que é medida por meio da incorporação de timidina dos (i.e., ausência de compatibilidade de haplótipos) é de apro-
tritiada. Quanto maior a quantidade de DNA sintetizado pelas ximadamente 75%. Já os transplantes de córnea apresentam uma
células responsivas, mais estranhas são as proteínas do MHC de elevada taxa de sucesso por uma razão diferente: córneas são
classe II das células do doador. Uma quantidade grande de sínte- avasculares e o suprimento linfático do olho impede que muitos
se de DNA indica uma "compatibilidade,, não satisfatória (i.e., as
antígenos possam iniciar uma resposta imune. Devido ao fato
proteínas do MHC de classe II [HLA-D] do doador e do receptor de transplantes de córnea gerarem fracas respostas de rejeição, a
não são similares e há grande probabilidade de enxerto ser rejei- necessidade de imunossupressão é geralmente mínima. Em con-
tado). Portanto, o melhor doador é o indivíduo cujas células esti- trapartida, a maioria dos outros transplantes de órgãos requer
mulam a incorporação da menor quantidade de timidina tritiada imunossupressão em longo prazo, embora a dose dos fármacos
pelas células receptoras. imunossupressores diminua com o tempo. Em alguns recepto-
Além dos testes utilizados para a combinação entre doador res, um estado de tolerância ocorre e o uso dos fármacos pode
e receptor, anticorpos citotóxicos pré-formados no soro do re- ser descontinuado.
ceptor e que reagem contra o enxerto podem ser detectados por
meio da observação da lise de linfócitos do doador quando estes Reação do enxerto versus hospedeiro
são colocados em contato com o soro do receptor, adicionado
de complemento. Esse teste é chamado de combinação cruza- Transplantes compatíveis de medula óssea podem se estabelecer
da e é realizado para prevenir a ocorrência de rejeição hiperagu- inicialmente em 85% dos receptores, porém, subsequentemente,
da. O doador e o receptor também precisam apresentar grupos uma reação enxerto versus hospedeiro (GVH, graft-versus-host)
2
sanguíneos ABO compatíveis. Os testes laboratoriais utilizados se desenvolve em cerca de dois terços dos receptores.
para a determinação do grupo sanguíneo ABO são descritos no Essa reação ocorre porque células T competentes enxertadas
Capítulo 64. proliferam no hospedeiro irradiado, imunocomprometido, e re-
Entre irmãos de uma única família, há 25% de chance de jeitam as células do hospedeiro com proteínas "estranhas': o que
que ambos os haplótipos sejam comuns, 50% de chance de que resulta em grave disfunção do órgão. As células T citotóxicas do
um haplótipo seja comum e 25% de chance de que nenhum dos doador desempenham um papel crucial na destruição das célu-
haplótipos seja comum. Por exemplo, se o pai possui o haplótipo las enxertadas. Entre os sintomas principais estão o surgimento
AB, a mãe é CD e a criança receptora é AC, há 25% de chance de generalizado de exantema maculopapular, icterícia, hepatosple-
que o irmão seja AC (i.e., uma compatibilidade perfeita dos dois nomegalia e diarreia. Muitas reações do GVH culminam em in -
haplótipos), 50% de chance de que ele seja BC ou AD (i.e., com- fecções generalizadas e morte.
patibilidade de um haplótipo) e 25% de chance de que ele seja BD Existem três pré-requisitos para que uma reação do GVH
(i.e., ausência de compatibilidade de haplótipos). ocorra: (1) o enxerto deve conter células T imunocompetentes,
(2) o hospedeiro precisa estar imunocomprometido, e (3) o recep-
tor deve expressar antígenos (p. ex., proteínas do MHC) estranhos
O feto é um aloenxerto não rejeitado
ao doador (i.e., as células T do doador reconhecem as células do
Um feto possui genes do MHC herdados do pai que são estra- receptor como estranhas). Observa-se que mesmo quando ore-
nhos à mãe. Ainda assim, a rejeição do feto como um aloenxerto ceptor e o doador apresentam proteínas do MHC de classes I e II
não ocorre. Isso é verdadeiro, apesar de muitas gravidezes a par-
tir da mesma combinação pai-mãe gerarem filhos com os mes- 2
Reações do GVH também podem ocorrer em pacientes imunode-
mos haplótipos de MHC. A razão pela qual a mãe não rejeita o ficientes que recebem transfusões sanguíneas, pois há células T imu-
feto ainda não é conhecida. A mãe forma anticorpos contra as nocompetentes no sangue do doador que reagem contra as células do
proteínas do MHC paternas; assim, não é correto afirmar que a receptor.
CAPÍTULO 62 Complexo Principal de Histocompatibilidade e Transplantes S2S

idênticas (i.e., haplótipos idênticos), uma reação do GVH pode multifocal progressiva - uma doença frequentemente fatal (ver
ocorrer em razão das diferenças em antígenos menores. A reação Capítulo 44).
do GVH pode ser reduzida por meio do tratamento do tecido do Anticorpos monoclonais são utilizados em regimes imunos-
doador com globulinas antitimócitos ou com anticorpos mono- supressores, tanto para prevenir a rejeição quanto para tratar epi-
clonais, previamente à inserção do enxerto; esse processo elimina sódios de rejeição. O muromonabe é um anticorpo monoclonal
células T maduras do enxerto. A ciclosporina (ver adiante) tam- contra CD3, e o basiliximabe é um anticorpo monoclonal contra
bém pode ser usada para reduzir a reação do GVH. o receptor de IL-12. A Tabela 62-2 descreve esses anticorpos mo-
noclonais, assim como outros em uso clínico.
A globulina antitimócito (timoglobulina), um anticorpo
EFEITO DA IMUNOSSUPRESSÃO NA policlonal contra timócitos humanos, também é utilizada em te-
REJEIÇÃO DE ENXERTOS rapias imunossupressoras. A timoglobulina contém anticorpos
contra muitos antígenos linfocitários (p. ex., CD3, CD4, CDS,
Para reduzir a rejeição de tecidos transplantados, medidas imu-
CD25 e outros). Como consequência, apresenta um efeito imu-
nossupressoras (p. ex., ciclosporina, tacrolimo, sirolimo [rapa-
nossupressor mais amplo do que os anticorpos monoclonais des-
micina], corticosteroides, azatioprina, anticorpos monoclonais,
critos no parágrafo anterior.
belatacepte e radiação) são utilizadas. A ciclosporina previne a
Belatacepte é uma proteína de fusão que consiste no antí-
ativação de células T por meio da inibição da síntese de inter-
geno-4 de linfócitos T citotóxicos (CTLA-4) fusionado ao frag-
leucina (IL) 2 e do receptor de IL-2. O mecanismo de ação é por
mento Fc da IgG humana. O CTLA-4 inibe a coestimulação de
meio da inibição da calcineurina - uma proteína (uma serina-
células T auxiliares e, portanto, reduz a rejeição ao enxerto. É si-
-fosfatase) - envolvida na ativação da transcrição de genes que
milar estruturalmente e no modo de ação ao abatacepte, utilizado
codificam para IL-2 e para o receptor de IL-2. A ciclosporina é
bem tolerada e é extremamente eficiente na prevenção da rejei- na redução da resposta inflamatória na artrite reumatoide (ver
ção de transplantes. A ciclosporina e o tacrolimo apresentam o Capítulo 66).
mesmo mecanismo de ação; o tacrolimo é mais imunossupres- Infelizmente, a imunossupressão aumenta intensamente a
sivo, porém causa mais efeitos colaterais. A rapamicina também suscetibilidade do receptor às doenças oportunistas e neopla-
inibe a transdução de sinal, mas em um local diferente do da ci- sias. Por exemplo, alguns pacientes em tratamento para esclerose
closporina e do tacrolimo. múltipla, utilizando o anticorpo monoclonal natalizumabe, de-
Os corticosteroides atuam principalmente inibindo a pro- senvolvem leucoencefalopatia multifocal progressiva (ver Capí-
dução de citocinas (p. ex., IL-1 e fator de necrose tumoral) por tulo 44 para uma descrição dessa doença). A incidência de câncer
macrófagos e lisando determinados tipos de células T. Os corti- aumenta em até 100 vezes em receptores de transplante que fo-
costeroides inibem a produção de citocinas bloqueando fatores ram imunossuprimidos por um longo período de tempo. Cânce-
de transcrição, como o NFKB e AP-1, o que impede que o mRNA res comuns nesses pacientes incluem o carcinoma espinocelular
que contém a informação para a produção dessas citocinas seja cutâneo, o adenocarcinoma do colo e do pulmão e o linfoma.
sintetizado. A azatioprina é um inibidor da síntese de DNA e Fármacos imunossupressores (p. ex., a ciclosporina) tam-
bloqueia o crescimento de células T. O micofenolato de mofetil bém reduzem reações do GVH. Observa-se que, embora esses
também inibe a síntese de DNA e possui menos efeitos colaterais fármacos inibam a reação ao aloenxerto, a tolerância ao tecido
do que a azatiprina. Entretanto, alguns usuários do micofeno- enxertado não se desenvolve. Portanto, a maioria dos pacientes
lato adquiriram uma condição denominada leucoencefalopatia necessita consumir esses fármacos para o resto da vida.

TABELA 62-2 Alguns anticorpos monoclonais em uso clínico

Nomenclatura dos
1
Função clínica anticorpos monoclonais Alvo do anticorpo Uso clínico específico

lmunossupressão relacio- 1. Basiliximabe Receptor de interleucina 2 Previne ou trata a rejeição do aloenxerto e a


nada a transplantes rejeição do enxerto versus hospedeiro
2. Muromonabe CD3 em células T

Tratamento de doenças 1. lnfliximabe Fator de necrose tu moral a Trata a artrite reumatoide e a doença de Crohn
autoimunes (ileíte regional)
2. Adalimumabe a-integrina Trata a esclerose múltipla e a doença de Crohn
3. Natalizumabe

Prevenção de doenças 1. Palivizumabe Proteína de fusão do vírus Previne pneumonia em neonatos suscetíveis
infecciosas sincicial respiratório

Tratamento de câncer 1. Rituximabe Proteína CD20 em células B Trata o linfoma não Hodgkin
2. Trastuzumabe Receptor do fator de cresci- Trata o câncer de mama
menta epidérmico
1
Observa-se que a maioria dos nomes terminam em mabe, que é uma abreviação para anticorpos monoclonais (do inglês, monoclonal antibodies).
S26 PARTE VII Imunologia

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 4. Na tabela a seguir, estão listados transplantes entre vários indivíduos
com diversos genótipos e o resultado dos transplantes. Os genótipos
1. Em relação ao transplante de tecidos, qual das seguintes opções é a são designados A e B, para simplificar. Uma pessoa AA ou BB é ho-
mais correta? mozigota, ao passo que uma pessoa AB é heterozigota. Em relação
(A) Um aloenxerto é um enxerto que transfere tecido ou órgão de aos resultados X e Y, qual das seguintes opções é a mais correta?
um membro de uma espécie para um membro de outra espécie.
(B) A mãe ou pai do paciente são normalmente os doadores mais
Genótipo do Genótipo do Resultado do
adequados de um enxerto, uma vez que representam dois ha-
doador receptor transplante
plótipos compatíveis.
(C) Os grupos sanguíneos ABO do doador e do receptor não pre- AA AA Aceito
cisam ser compatíveis, pois não apresentam papel relevante na
rejeição ao aloenxerto. BB BB Aceito
(D) Mesmo quando doador e receptor são compatíveis em relação
AA BB Rejeitado
aos Zoei do MHC de classes I e II, a rejeição pode ocorrer e o
receptor precisa fazer uso de fármacos imunossupressores.
BB AA Rejeitado
(E) Se o mesmo doador é a fonte de tecidos de dois enxertos para
um receptor e o segundo enxerto é aplicado um mês depois AB AA X
que o primeiro foi rejeitado, então o segundo enxerto não será
rejeitado. AA AB y
2. Em relação às proteínas do MHC e aos genes que as codificam, qual
das seguintes opções é a mais correta? (A) X e Y são aceitos.
(B) X é aceito e Y é rejeitado.
(A) Os genes que codificam proteínas do MHC de classe II são
( C) X é rejeitado e Y é aceito.
altamente polimórficos, ao passo que os genes que codificam
(D) X e Y são rejeitados.
proteínas do MHC de classe I não o são.
(B) Os genes que codificam proteínas do MHC de classe I estão
localizados em um cromossomo diferente dos genes que codi-
ficam proteínas do MHC de classe II. RESPOSTAS
(C) Os genes são codominantes e cada indivíduo expressa genes
1. (D)
do MHC de classe I e II herdados da mãe e do pai.
2. (C)
(D) Proteínas do MHC de classe II são encontradas na superfície
3. (B)
de todas as células, ao passo que proteínas do MHC de classe I
4. (C)
são encontradas apenas na superfície de fagócitos.
3. Em relação à reação do enxerto versus hospedeiro, qual das seguin-
tes opções é a mais correta?
QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(A) Ocorre principalmente quando um rim é transplantado.
(B) É causada principalmente por células T maduras presentes no Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
enxerto. contradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
(C) Ocorre principalmente quando os grupos sanguíneos ABO Autoavaliação, a partir da página 713. Consulte também a Parte
são compatíveis. XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
(D) Ocorre principalmente quando o doador é imunocomprome-
tido.
(E) Ocorre principalmente quando os haplótipos do doador e do
receptor são idênticos.
CAPÍTULO

Complemento
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Anafilatoxina
Ativação do complemento Citólise
Regulação do sistema do complemento Aumento da produção de anticorpos
Efeitos biológicos do complemento Aspectos clínicos do complemento
Opsonização Aplique seu conhecimento
Quimiotaxia Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO um alvo para destruição. O C3b tem duas importantes funções:


( 1) combina-se com outros componentes do complemento para
O sistema do complemento consiste em aproximadamente 20 pro- gerar a CS convertase, a enzima que leva à produção do complexo
teínas que estão presentes no soro normal de seres humanos e ou- de ataque à membrana; e (2) opsoniza bactérias, uma vez que os
tros animais. O termo complemento refere-se à habilidade dessas fagócitos têm receptores para C3b em suas superfícies.
proteínas em complementar (i.e., aumentar) os efeitos dos outros
componentes do sistema imune (p. ex., os anticorpos). O comple- (1) Na via clássica, complexos antígeno-anticorpo 1 ativam
2
mento é um importante componente do sistema imune inato. Cl para formar uma protease, a qual cliva C2 e C4 para formar
O complemento apresenta três efeitos principais: ( 1) a lise o complexo C4b,2b. Este último é a C3 convertase, que cliva a
de células, como bactérias, aloenxertos e células tumorais; (2) a molécula de C3 em dois fragmentos, C3a e C3b. C3a é uma ana-
geração de mediadores, que participam da inflamação e atraem filatoxina, e será discutida posteriormente. C3b forma um com-
neutrófilos; e (3) a opsonização (i.e., intensificação da fagocito- plexo com C4b,2b, produzindo uma nova enzima, a CS conver-
se). As proteínas do complemento são sintetizadas principalmen- tase (C4b,2b,3b), que cliva CS formando CSa e CSb. CSa é uma
te no fígado. anafilatoxina e um fator quimiotático (ver adiante). CSb liga-se
a C6 e C7, formando um complexo que interage com C8 e C9,
produzindo o complexo de ataque à membrana (CSb,6,7,8,9),
que provoca citólise. Observa-se que fragmentos "b" seguem a
ATIVAÇÃO DO COMPLEMENTO via principal, ao passo que fragmentos "à' se separam e possuem
Diversos componentes do complemento são pró-enzimas, as outras atividades.
quais precisam ser clivadas para formar enzimas ativas. A ativa- (2) Na via da lectina, a lectina de ligação à manana (MBL,
ção do sistema do complemento pode ser iniciada por complexos mannan-binding lectin) (também conhecida como proteína de
antígeno-anticorpo e também por uma gama variada de molécu- ligação à manose) liga-se à superfície de micróbios contendo ma-
las não imunológicas (p. ex., endotoxina). nana (um polímero do açúcar, a manose). Isso ativa proteases as-
A ativação sequencial de componentes do complemento sociadas à MBL que clivam os componentes do complemento C2
(Figura 63-1) ocorre por meio de uma das três vias seguintes: a
l
via clássica, a via da lectina e a via alternativa (ver posteriormen- Apenas IgM e IgG podem fixar o complemento. Uma única molécula
te). Dessas, as vias da lectina e a alternativa são mais impor- de IgM pode ativar o complemento; entretanto, a ativação por IgG re-
tantes na primeira vez em que um indivíduo é infectado por um quer duas moléculas de IgG ligadas cruzadamente. Cl liga-se a um local
localizado na região Fc da cadeia pesada. Das moléculas de IgG, apenas
microrganismo, pois os anticorpos necessários para ativar a via
as subclasses IgGl, IgG2 e IgG3 fixam o complemento; IgG4 não o faz.
clássica não estão presentes. As vias da lectina e alternativa são, 2
Cl é composto por três proteínas: Clq, Clr e Cls. Clq é um agregado
portanto, participantes do braço inato do sistema imune. de 18 polipeptídeos que se liga à porção Fc de IgM e IgG. É um compos-
Todas as três vias levam à produção de C3b, a molécula to multivalente, capaz de se ligar cruzadamente a diversas moléculas de
central da cascata do complemento. A presença de C3b na su- imunoglobulina. Cls é uma pró-enzima que é clivada para formar uma
perfície de um micróbio o marca como estranho, tornando-o protease ativa. Cálcio é necessário para a ativação de Cl.
S28 PARTE VII Imunologia

Clássica Lectina Alternativa


Complexos Superfícies Superfícies microbianas
antígeno-anticorpo microbianas (ativadores não específicos

! Liga-se l Liga-se
[p. ex., endotoxina])

C1 Lectina de ligação à Liga-se


manana
i
Protease
cliva C4 e C2
D (protease)

C4b,2b ~ c 3 C3 ~ C3b,Bb
(C3 convertase) (C3 convertase)
+
C2a,C4a

C4b,2b,3b ~ C5 ~ C3b,Bb,C3b
(C5 convertase) (C5 convertase)
+ +
C3a C3a

C5a+ C5b

cs---....._ ! ,,,,,,,,-c1
C5b,6,7

ca---....._ ! ,,,,,,,,-cs
CSb,6,7,8,9 (complexo de ataque à membrana)

!
Lise, citotoxicidade

FIGURA 63-1 As vias clássica e alternativa do sistema do complemento.~ indica que ocorreu a clivagem proteolítica da molécula desta-
cada na ponta da seta; uma linha sobreposta sobre um complexo indica que este é enzimaticamente ativo. Observa-se que todos os fragmentos
pequenos estão marcados com "a" e todos os fragmentos grandes estão marcados com "b'~Assim, a C3 convertase é apresentada como C4b,2b.
Observa-se ainda que as proteases associadas à lectina de ligação à manose clivam tanto C4 quanto C2.

e C4 e ativam o restante da via clássica. Observa-se que esse pro- REGULAÇÃO DO SISTEMA DO
cesso desvia a etapa na qual os anticorpos são necessários e, dessa
forma, pode proteger em etapas precoces da infecção, quando
COMPLEMENTO
anticorpos ainda não estão disponíveis. O primeiro passo regulador da via clássica ocorre ao nível do
(3) Na via alternativa, muitas substâncias não relacionadas próprio anticorpo. O local de ligação ao complemento na ca-
na superfície de células (p. ex., lipopolissacarídeos bacterianos deia pesada de IgM e IgG não está disponível ao componente
[endotoxina], paredes celulares fúngicas e envelopes virais) po- Cl do complemento se um antígeno não estiver ligado a es-
dem iniciar o processo por meio da ligação a C3 (H20) e ao ses anticorpos. Isso significa que o complemento não pode
fator B. Esse complexo é clivado por uma protease, fator D, para ser ativado por IgM e IgG, apesar de essas moléculas estarem
produzir C3b,Bb. Ele age como uma C3 convertase para gerar presentes no sangue a qualquer momento. Entretanto, quando
mais C3b. um antígeno se liga a seu anticorpo específico, uma mudança
CAPÍTULO 63 Complemento S29

conformacional ocorre, o que permite a ligação do componen- morte (lise) de muitos tipos de células, incluindo hemácias, bac-
te C 1 e inicia a cascata. térias e células tumorais. A citólise não é um processo enzimá-
Diversas proteínas presentes no soro regulam o sistema do tico; na verdade, observa-se que a inserção do complexo resulta
complemento em diferentes estágios. na perda da integridade da membrana e consequente entrada de
água e eletrólitos na célula.
(1) O inibidor de Cl é um importante regulador da via clás-
sica. Ele inativa a atividade proteolítica de C 1. A ativação da via
clássica prossegue, a partir deste ponto, por meio da geração de Aumento da produção de anticorpos
uma quantidade suficiente de Cl que oprime o inibidor. A ligação de C3b aos seus receptores na superfície de células B
(2) A regulação da via alternativa é mediada pela ligação do ativadas aumenta intensamente a produção de anticorpos em
fator H ao C3b, e a clivagem desse complexo, pelo fator I, uma comparação às células B, que são ativadas apenas pelo antíge-
protease. Esse fenômeno reduz a quantidade de C5 convertase no. A importância clínica disso é que pacientes deficientes para
disponível. A ativação da via alternativa prossegue, a partir deste C3b produzem significativamente menos anticorpos do que
ponto, se uma quantidade suficiente de C3b se liga às membranas os que apresentam quantidades normais de C3b. A baixa con-
celulares. A ligação do C3b às membranas celulares o protege da centração tanto de anticorpos quanto de C3b afeta as defesas
degradação pelos fatores H e I. Outro componente que intensifi- do hospedeiro, resultando em infecções piogênicas múltiplas
ca a ativação da via alternativa é a properdina, que protege o C3b e graves.
e estabiliza a C3 convertase.
(3) A proteção das células humanas contra alise induzida
pelo complexo de ataque às membranas é mediada pelo fator ASPECTOS CLÍNICOS DO
de aceleração do decaimento (DAF, decay-accelerating factor,
COMPLEMENTO
CD55) - uma glicoproteína localizada na superfície das células
humanas. DAF atua por meio de sua ligação a C3b e C4b, limi- ( 1) A deficiência herdada (ou adquirida) de alguns compo-
tando a formação de C3 convertase e C5 convertase. Isso impede nentes do complemento, principalmente C5 a CS, aumenta in-
a formação do complexo de ataque à membrana. tensamente a sensibilidade à bacteriemia por Neisseria ou outras
infecções. A deficiência de MBL também predispõe a graves in-
fecções por Neisseria. A deficiência de C3 leva à sinusite piogêni-
EFEITOS BIOLÓGICOS DO ca e a infecções do trato respiratório graves e recorrentes.
COMPLEMENTO (2) A deficiência herdada do inibidor de Cl esterase resul-
ta em angiedema. Quando a quantidade de inibidor se encontra
Opsonização reduzida, uma produção excessiva de esterase acontece. Isso leva
Micróbios, como bactérias e vírus, são fagocitados com maior ao aumento nas quantidades de anafilatoxinas, causando maior
eficiência na presença de C3b, uma vez que existem receptores permeabilidade vascular e edema.
para C3b na superfície de muitos fagócitos. (3) A deficiência adquirida do fator de aceleração do decai-
mento na superfície das células resulta em aumento da hemóli-
se mediada pelo complemento. Clinicamente, isso manifesta-se
Quimiotaxia
como uma doença denominada hemoglobinúria noturna paro-
C5a e o complexo C5,6,7 atraem neutrófilos. Essas células mi- xística (ver Capítulo 68).
gram de forma especialmente intensa em direção a C5a. C5a (4) Na transfusão não compatível (p. ex., quando sangue do
também aumenta a aderência dos neutrófilos ao endotélio. tipo A é transfundido inadvertidamente a uma pessoa que possui
sangue do tipo B), anticorpos contra o antígeno A no receptor se
Anafilatoxina ligam ao antígeno A presente nas hemácias do doador, o com-
plemento é ativado, e grandes quantidades de anafilatoxinas e
C3a, C4a e C5a causam degranulação dos mastócitos e conse-
complexos de ataque à membrana são gerados. As anafilatoxinas
quente liberação de mediadores (p. ex., histamina), levando ao
causam choque e os complexos de ataque à membrana causam
aumento da permeabilidade vascular e à contração dos músculos
hemólise.
lisos, sobretudo contração dos bronquíolos, o que causa broncos-
(5) Imunocomplexos ligam-se ao complemento e, portanto,
pasmo. As anafilatoxinas podem também se ligar diretamente às
os níveis do complemento são baixos em doenças do imuno-
células musculares lisas dos bronquíolos, gerando broncospas-
complexo (p. ex., glomerulonefrite aguda e lúpus eritematoso
mos. C5a é a mais potente entre essas anafilatoxinas. A anafilaxia
sistémico). A ligação (ativação) ao complemento atrai leucócitos
causada por esses componentes do complemento é menos co-
polimorfonucleares, os quais liberam enzimas que danificam os
mum do que a anafilaxia causada pela hipersensibilidade do tipo
tecidos.
I (mediada por IgE) (ver Capítulo 65).
(6) Pacientes com doença hepática grave (p. ex., cirrose
alcoólica ou hepatite B crônica), os quais apresentam perda sig-
Citólise nificativa da função hepática e, portanto, não podem sintetizar
A inserção do complexo C5b,6,7,8,9 na membrana celular forma proteínas do complemento em quantidades suficientes, são pre-
um "poro" nesta região. Esta abertura na membrana resulta na dispostos a infecções causadas por bactérias piogênicas.
S30 PARTE VII Imunologia

APLIQUE SEU CONHECIMENTO 5. A deficiência de qual dos seguintes componentes do complemento


predispõe à bacteriemia causada por membros do gênero Neisseria?
I. Em relação às vias do complemento, qual das seguintes opções é a (A) CL
mais correta? (B) C3b.
(A) A C3 convertase protege células normais da lise pelo comple- (C) CSa.
mento. (D) CSb.
(B) C3a é um fator de aceleração do decaimento e provoca o rápi- (E) CSb,6,7,8,9.
do decaimento e morte da bactéria. 6. Sua paciente é uma mulher de 20 anos que apresenta inchaço nos
(C) Comumente, bactérias gram-positivas são mais suscetíveis à
braços e nas pernas e uma sensação de enchimento na garganta que
morte pela ação do complemento do que bactérias gram-nega-
dificulta sua respiração. Os inchaços não são avermelhados, quentes
tivas. ou macios ao toque. Você suspeita de que ela possa ter angiedema
(D) O complexo de ataque à membrana é formado como resultado
causado por uma anormalidade do complemento. Das seguintes
da ativação da via clássica, mas não da ativação da via alterna-
opções, qual é a explicação mais provável?
tiva.
(E) Na primeira vez em que uma pessoa é exposta a um micror- (A) Ela apresenta pouco inibidor de Cl.
ganismo, a via alternativa do complemento é mais provável de (B) Ela apresenta muito pouco C3b.
ser ativada do que a via clássica. ( C) Ela apresenta muito pouco fator B.
(D) Ela apresenta muito pouco CSa.
2. Qual dos seguintes componentes do complemento é a opsonina (E) Ela apresenta muito pouco C9.
mais importante?
(A) CL
(B) C3a.
(C) C3b.
RESPOSTAS
(D) CSa. 1. (E)
(E) CSb. 2. (C)
3. Qual dos seguintes componentes do complemento é o mais potente 3. (D)
atraente de neutrófilos ao local de infecção (i.e., agindo como uma 4. (D)
quimiocina)? 5. (E)
6. (A)
(A) CL
(B) C2.
(C) C3b.
(D) CSa. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(E) Lectina de ligação à manose.
Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
4. Qual das seguintes opções é a mais importante função do complexo contradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
formado pelos componentes do complemento CSb,6,7,8,9?
Autoavaliação, a partir da página 713. Consulte também a Parte
(A) Aumentar a produção de anticorpos. XVI: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
(B) Inibir a formação de imunocomplexos.
(C) Opsonizar vírus.
(D) Perfurar a membrana celular das bactérias.
(E) Liberar histamina a partir de mastócitos.
CAPÍTU L O

Reações Antígeno-Anticorpo
no Laboratório 64
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Teste de Coombs


Tipos de testes diagnóstkos Western blot (immunoblot)
Aglutinação Sepa,ação celular ativada por ffuo,escênda (átometria
Preápit açâo (ptecipitina) de fluxo)
Radioimunoensaio (RIE) Reações antígeno-anticorpo envolvendo antfgenos das
hemácias
Ensaio imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA)
Grupos sanguíneos ASO e ,eações de transfusão
lmunofluorescência (antico,po fluorescente)
RH sanguíneo e doença hemolftica do recém-nascido
Fixação do complemento
Aplique seu conhecimento
Testes de neutralização
Questões para autoavaliação
lmunocomplexos
Testes de hemaglutinaçâo

INTRODUÇÃO T IPOS DE TESTES D IAGNÓSTICOS


Reações de antigenos e anticorpos são a1tainente específicas. Muitos tipos de testes diagnósticos são realiz.ados em laboratÓ·
Um anticorpo reagirâ apenas com o antígeno que o induziu ou rios de imuno)ogia. A maioria dos testes pode ser utilizada para
com antigenos proximamente relacionados. Devido a essa grande determinar a presença de um antígeno ou de um anticorpo. Para
especificidade, reações entre antígenos e anticorpos são apropria• tanto, um dos componentes, ou o antlgeno ou o anticorpo. ê CO·
das para identificar um por meio da utilização do outro. Essa e a nhecido e o outro é desconhecido. Por exemp)o. para um antlge.
base das reações sorológicas. Entretanto, reações cruzadas entre no conhecido, como o vírus influenza, o teste pode ser utiliz.ado
antigenos relacionados podem ocorrer. o que pode. eventual- para determinar se anticorpos contra o vírus estão presentes no
mente. Jimitar a utilidade dos testes. soro do paciente. Alternativamente, de posse de um anticorpo
Os resultados de muitos testes imunológicos são expressos conhecido. como um anticorpo contra o herpes.v(rus simples, o
como título. que é definido como a maior diJuição do espécime teste pode determinar se antígenos virais estão presentes em ce.
(p. ex.• o soro) que gera uma reação positiva no teste. Observa.se )ulas obtidas das lesões do paciente.
que o soro de um paciente que apresente um titu)o de anticor.
pos de 1/64, por exemp)o. contém mals aJ\tkorpos (i.e., um título Aglutinação
maior) que um soro que tenha título de 1/4. Ke~e teste. o antígeno é parti.cu.lado (p. ex., bactérias e hemácias)'
A Tabela 64·1 descreve a importância médka dos testes SO· ou está em partku1as inertes (esferas de látex) cobertas com um
ro)ógicos (com base em anticorpos). Os principais usos concen· antlgeno. Por serem diva1entes ou multiva1entes, os anticoipos li·
tram-se no diagnóstico de doenças infecciosas, no diagnóstico de gam de forma cruzada as partículas antigenicamente multivalen.
doenças autoimunes e J\a tipagem de sangue e de tecidos antes de tes, formando um aglomerado. e a geração de grumos (aglutina.
um tra!lsp)ante. ção) pode ser observada. Essa reação pode ser feita em pequenos
Microrganismos e outras célu1as possuem uma variedade de tubos ou recipientes, ou em uma gota de sangue em uma lâmina.
antlgenos e. assim, produzem antissoro contendo muitos anti. Um dos testes de aglutinação mais utilizados é a determinação do
corpos diferentes (i.e., os antissoros são policlonais). Anticorpos grupo sanguíneo ABO de um indivíduo (Figura 64-1; ver seção
monodonais são excelentes na identificação de antígenos. uma sobre grupos sanguíneos ao fün deste capftu1o).
vez que outros anticorpos possivelmente reativos estão ausentes
(i.e., anticorpos monocJonais são altamente específicos). 'Quando hcmâcias são utilizadas. o teste é denominado hcmaglutinaç-ão.
S32 PARTE VII Imunologia

TABELA 65-1 Principais usos dos testes sorológicos (com base em anticorpos)

1. Diagnóstico de doenças infecciosas


• Quando o organismo não pode ser cultivado (p. ex., sífilis e hepatites A, B e C)
• Quando o organismo é muito perigoso para ser cultivado (p. ex., doenças causadas por riquétsias)
• Quando técnicas de cultivo não estão imediatamente disponíveis (p. ex., HIV, EBV)
• Quando o organismo leva tempo demais para crescer (p. ex., Mycop/asma)
Um problema dessa abordagem é o fato de que o anticorpo leva algum tempo para ser produzido (p. ex., de sete a 1O dias na res-
posta primária). Por essa razão, amostras de soro agudo e convalescente são obtidas e um aumento de quatro vezes ou mais no título
do anticorpo é necessário para o diagnóstico ser realizado. Nesse momento, o paciente frequentemente encontra-se recuperado e o
diagnóstico assume caráter retrospectivo.) Se um teste para detecção de lgM no soro do paciente se encontra disponível, este pode ser
usado para obter o diagnóstico de uma doença em curso. Em determinadas doenças infecciosas, um título arbitrário de anticorpos lgG,
de magnitude suficiente, é utilizado para fornecer o diagnóstico.

li. Diagnóstico de doenças autoimunes


• Anticorpos contra diversos componentes normais do corpo são utilizados (p. ex., anticorpos contra DNA no lúpus eritematoso sistê-
mico, anticorpos contra lgG humana [fator reumatoide] na artrite reumatoide)

Ili. Determinação do tipo sanguíneo e do tipo de HLA


• Anticorpos conhecidos são utilizados para determinar os tipos ABO e Rh
• Anticorpos conhecidos são utilizados para determinar proteínas do HLA de classes I e li antes de um transplante, embora o sequencia-
mento de DNA também seja utilizado

EBV, vírus Epstein-Barr; HIV, vírus da imunodeficiência humana; HLA, antígeno leucocitário humano.

.•••....:...••••...r •
••••••
,, . ......:.........
.... .: ...
.... .......
. ..
Q)
e
:::,
E
.. o
A B "O
~
a.
·u
FIGURA 64-1 Teste de aglutinação para determinar o tipo sanguíneo ~
ABO. Na lâmina na parte inferior da figura, uma gota de sangue dopa- a.
Q)
ciente é misturada com anticorpos contra hemácias do tipo A (à esquer- "O
o
1a,
da) ou tipo B (à direita). A aglutinação (formação de grumos) ocorreu na
gota à esquerda, contendo anticorpos contra o tipo A, mas não na gota
át
E
,._
contendo anticorpos contra o tipo B, indicando que o paciente é do gru- ~
po A (i.e., tem antígenos A em suas hemácias). A lâmina na parte superior
da figura mostra que as hemácias (círculos) estão ligadas de forma cruza-
da pelos anticorpos (formas em Y) na gota à esquerda, mas não na gota à Zona de Zona de Zona de
direita. Se a aglutinação também tivesse ocorrido no lado direito, isso in- excesso de equivalência excesso de
anticorpo antígeno
dicaria que o paciente tem antígenos B e A, e seu tipo sanguíneo seria AB.
Concentração crescente de antígenos

Precipitação {precipitina) FIGURA 64-2 Curva de precipitação. Na presença de uma quan-


tidade constante de anticorpos, a quantidade de precipitado imune
Nesse teste, o antígeno está em solução. O anticorpo liga, de formado é plotada em função de uma quantidade crescente de an-
forma cruzada, as moléculas do antígeno em proporções va- tígenos. Na parte superior da figura, está representada a ligação do
riadas, e um agregado (precipitado) forma-se. Na zona de antígeno (•) ao anticorpo (Y) nas três zonas. Nas zonas de excesso de
equivalência, proporções ótimas de antígeno e anticorpos anticorpos e de excesso de antígenos não há formação de aglomera-
combinam-se; uma quantidade máxima de precipitado forma- dos e a precipitação não ocorre, ao passo que na zona de equivalência
-se e o sobrenadante não contém excessos de anticorpos ou de um aglomerado se forma e a precipitação é maximizada. (Modificada
e reproduzida, com permissão, de Stites D, Terr A, Parslow T, eds. Basic & Clinicai
antígenos (Figura 64-2). Na zona de excesso de anticorpo, há
lmmunology. 9th ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright
anticorpo em demasia para que uma aglomeração eficiente se
2 1997 McGraw-Hill.)
forme, e a precipitação não é ótima. Na zona de excesso de

2
0 termo "prozonâ' refere-se à falha na formação do precipitado ou na
antígeno, todo o anticorpo presente combina-se, mas apre-
floculação, pois há muito anticorpo presente. Por exemplo, um teste falso- cipitação é reduzida devido ao fato de que muitos complexos
-negativo para sífilis (VDRL) ocorre ocasionalmente porque o título de an- antígeno-anticorpo são pequenos demais para precipitar (i.e.,
ticorpos é muito alto. A diluição do anticorpo resulta em um teste positivo. permanecem "solúveis,,).
CAPÍTULO 64 Reações Antígeno-Anticorpo no Laboratório S33

Zona de Zona de
Antígeno excesso de Zona de excesso Anticorpo
em poço antígeno equivalência de anticorpo em poço

4 1 A 4V
l>1:::..
1:::.. 1:::.. A
A <l
I AA
1:::.. .Â.4.A
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A i:,,. 4. A A 1:::.. ' y 'y 'y y y y

Placa de ágar

FIGURA 64-3 Difusão dupla em ágar. O antígeno é colocado em um poço à esquerda e o anticorpo é colocado em outro poço à direita. Antíge-
no e anticorpo difundem-se por meio do ágar e formam um precipitado na zona de equivalência. Próximo ao poço que contém antígenos está a
zona de excesso de antígeno, e próximo ao poço que contém anticorpos está a zona de excesso de anticorpo. Nessas zonas, nenhum precipitado
é formado.

Testes de precipitação podem ser realizados em solução ou Difusão simples - Na difusão simples, o anticorpo é incorporado
em um meio semissólido (ágar). ao ágar e o antígeno é adicionado a um poço. A medida que o
antígeno se difunde pelo ágar, com o tempo, anéis de precipitação
Precipitação em solução formam -se, dependendo da concentração do antígeno. Quanto
O conceito de precipitação em solução é utilizado clinicamente maior a quantidade de antígenos, mais distante do poço o anel
para medir a quantidade de imunoglobulinas (IgM, IgG, etc.) no de precipitação será formado. Por meio da calibração do méto-
plasma sanguíneo. O teste de laboratório utilizado para este fim do, esta imunodifusão radial é utilizada na mensuração de IgG,
é chamado de nefelometria, no qual a quantidade de precipitado IgM, componentes do complemento, e outras substâncias pre-
formado é medida por meio da densidade óptica do precipitado. sentes no soro. (IgE não pode ser mensurada, uma vez que sua
Nesse teste, anticorpos específicos para IgM, IgG, IgA ou IgE são concentração é muito baixa.)
misturados com o soro do paciente e a densidade óptica é me- Difusão dupla - Na difusão dupla, antígeno e anticorpo são adi-
dida. O valor obtido é comparado a uma curva-padrão, a qual cionados a poços diferentes no ágar para que ocorra a difusão
apresenta a densidade óptica gerada por quantidades conhecidas e a formação de gradientes de concentração. Nos locais onde
de imunoglobulinas. proporções ótimas ocorrem (ver zona de equivalência, ante-
riormente), linhas de precipitado formam-se (Figura 64-3).
Precipitação em ágar Este método (Ouchterlony) é capaz de indicar se antígenos são
O teste é realizado por difusão simples ou dupla. Também pode idênticos, relacionados mas não idênticos, ou não relacionados
ser realizado na presença de um campo elétrico. (Figura 64-4).

A e

0 0 LEGENDA:
As = Antissoro nos poços
1,2,3,4 = Antígenos nos poços
A B Linhas entre Reação de

0 8 0 8 1e2
2e3
Identidade
Não identidade

t t 3e4 Identidade parcial

Anticorpos Anticorpos
contra A e B contra B

FIGURA 64-4 Reações de precipitação de difusão dupla (Ouchterlony). Nas reações de Ouchterlony, poços são escavados na placa de ágar e
vários antígenos e antissoros são depositados nesses poços. Os antígenos e anticorpos difundem-se por meio do ágar em direção uns aos outros
e uma linha de precipitação forma-se na zona de equivalência. Próximo ao poço contendo o antígeno existe uma zona de excesso de antígeno,
onde nenhum precipitado se forma; próximo ao poço contendo o anticorpo existe uma zona de excesso de anticorpo, onde nenhum precipitado se
forma. Os antígenos A e B não são relacionados (i.e., eles não possuem epítopos em comum). Os antígenos B e C são relacionados (i.e., eles possuem
alguns epítopos em comum enquanto outros são diferentes). Por exemplo, lisozima de galinha (poço B) e lisozima de pato (poço C) apresentam
epítopos em comum, uma vez que ambas são lisozimas. No entanto, também possuem epítopos únicos, uma vez que são originadas de espécies
diferentes. A linha de identidade entre B e C é formada pela reação do anticorpo anti-B com os epítopos comuns aos antígenos B e C. O pico apon-
tando em direção ao poço 4 é gerado pela reação de alguns anticorpos anti-B com os epítopos únicos do antígeno B no poço 3. Essas linhas de iden-
tidade parcial ocorrem porque o anticorpo contra B (lisozima de galinha) é policlonal e possui algumas imunoglobulinas que reagem com epítopos
comuns às lisozimas de galinha e pato, ao passo que outras imunglobulinas reagem somente com os epítopos únicos da lisozima de galinha. (Mo-
dificada e reproduzida, com permissão, de Brooks GF et ai. Medical Microbiology. 19th ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1991 McGraw-Hill.)
S34 PARTE VII Imunologia

Contraimunoeletroforese - Esse método baseia-se no movimento


do antígeno em direção ao cátodo e do anticorpo em direção ao
ânodo durante a passagem de corrente elétrica através do ágar.
O encontro entre antígeno e anticorpo é enormemente acelera-
do por esse método, cujo resultado é visível em 30 a 60 minutos.
A A técnica pode ser utilizada para detecção de polissacarídeos de
fungos e bactérias no líquido cerebrospinal.

Radioimunoensaio {RIE)
Esse método é utilizado para a quantificação de antígenos ou
haptenos que podem ser radiativamente marcados. Ele se baseia
na competição por anticorpo específico entre concentrações de
B materiais marcados (conhecidos) e não marcados (desconheci-
dos). Os complexos que se formam entre antígeno e anticorpo
podem ser separados e a quantidade de radioatividade pode ser
medida. Quanto maior a quantidade de antígeno não marcado
na amostra, menor a medida de radioatividade no complexo. A
concentração do antígeno ou hapteno desconhecidos (não mar-
cados) é determinada pela comparação com padrões estabele-
e cidos. O RIE é um método altamente sensível e é comumente
FIGURA 64-5 lmunoeletroforese. A: Soro humano colocado no poço utilizado para analisar hormônios ou fármacos no soro. O teste
central é separado eletroforeticamente, e as proteínas migram para di- radioalergoabsorvente (RAST) é um RIE especializado utilizado
ferentes regiões (elipses alaranjadas). Antissoro contra soro humano para avaliar a quantidade de anticorpo IgE sérico que reage com
é, então, colocado na cana leta (áreas cinzentas). B: Proteínas séricas um alérgeno (antígeno) conhecido.
humanas e anticorpos difundem-se pelo ágar. C: Arcos de precipitados
(linhas alaranjadas) formam-se no ágar. (Modificada e reproduzida, com
Ensaio imunoadsorvente ligado
permissão, de Stites D, Terr A, ParslowT, eds. Basic & Clinica/ lmmunology. 9th ed.
Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright 1997 McGraw-Hill.) à enzima {ELISA)
Esse método pode ser usado para quantificação tanto de antí-
genos quanto de anticorpos em espécimes do paciente. Ele se
Precipitação em ágar com campo elétrico baseia na ligação covalente de uma enzima a um antígeno ou
lmunoeletroforese- Uma amostra de soro é adicionada a um poço anticorpo conhecidos, na reação do material ligado à enzima
no ágar sobre uma lâmina de vidro (Figura 64-5). Uma corren- ao espécime proveniente do paciente, seguido pela pesquisa da
te elétrica é passada através do ágar e as proteínas movem -se no ação enzimática por meio da adição do substrato para a enzima.
campo elétrico de acordo com sua carga e seu tamanho. Então, O método é quase tão sensível quanto o RIE, com a vantagem de
uma canaleta longitudinal é cortada no ágar e preenchida com que não requer equipamento especial ou marcação radioativa
anticorpos. À medida que antígenos e anticorpos se difundem (Figura 64-6).
em direção uns aos outros, eles formam uma série de arcos de Para a medida de anticorpos, antígenos conhecidos são fi-
precipitados. Isso permite que as proteínas séricas sejam carac- xados em uma superfície (p. ex., no fundo de pequenos poços
terizadas em termos de sua presença, ausência ou algum padrão em uma placa de plástico), incubados com diluições de soro do
pouco comum (p. ex., proteína do mieloma humano). paciente, lavados e, então, reincubados com anticorpos contra

o .....
E EE E EE
JJJ JJJ
1 o~ n 1 1 aaa 1 1 aaa 1 1 aaa 1

Antígeno é Anticorpos no Anticorpos Substrato


fixado ao soro do paciente contra lgG humana para a enzima
fundo do 1igam-se aos ligam-se às lgGs é adicionado
poço antígenos do paciente; os e muda de
anticorpos contra cor quando
lgG humana estão sofre ação
ligados a enzimas da enzima

FIGURA 64-6 Ensaio imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA). O termo "ligado à enzima" refere-se à ligação cova lente (conjugação) de uma
enzima a um anticorpo contra lgG humana. Se o paciente apresenta anticorpos contra um antígeno microbiano ou virai, esses anticorpos se
ligarão aos antígenos microbianos ou virais. O anticorpo contra lgG humana conjugada com a enzima se ligará aos anticorpos do paciente. Então,
quando o substrato for adicionado, este mudará de cor, indicando que o soro do paciente continha anticorpos.
CAPÍTULO 64 Reações Antígeno-Anticorpo no Laboratório S3S

IgG humana marcados com uma enzima (p. ex., peroxidase do A reação consiste nas seguintes etapas (Figura 64-8): (1)
rabanete). A atividade enzimática é medida pela adição de um antígeno e anticorpo (um conhecido e o outro desconhecido;
substrato para a enzima, estimando-se a reação colorimétrica em p. ex., o uso de um antígeno conhecido para determinar se o soro
um espectrofotômetro. A quantidade de anticorpos ligados é pro- do paciente contém anticorpos contra o antígeno) são mistura-
porcional à atividade enzimática. O título de anticorpos no soro dos e uma quantidade determinada de complemento (normal-
do paciente é fornecido pela maior diluição do soro que gera uma mente oriundo de porquinhos-da-índia) é adicionada. Se houver
reação colorimétrica positiva. compatibilidade entre antígeno e anticorpo, eles se combinarão
e usarão (fixarão) todo o complemento. (2) Um sistema indica-
lmunofluorescência {anticorpo fluorescente) dor, composto por hemácias sensibilizadas (i.e., hemácias mais
Corantes fluorescentes (p. ex., fluoresceína e rodamina) podem anticorpos anti-hemácia), é adicionado. Se houver a formação de
ser covalentemente ligados a moléculas de anticorpos e tornar- complexos antígeno-anticorpo na primeira etapa, o complemen-
-se visíveis por ação da luz UV por meio de um microscópio to foi fixado e menor quantidade (ou nenhuma) estará disponível
fluorescente. Estes anticorpos "marcados,, podem ser usados para se ligar às hemácias sensibilizadas. Neste caso, as hemácias
na identificação de antígenos (p. ex., na superfície de bactérias, não são lisadas (i.e., o teste é positivo) porque o soro do paciente
como estreptococos e treponemas, em células provenientes de continha anticorpos para o antígeno. Se os anticorpos no soro do
cortes histológicos, ou em outros espécimes) (Figura 64-7). paciente não forem compatíveis com o antígeno na primeira eta-
A reação de imunofluorescência é direta quando anticorpos pa, há complemento livre para se ligar às hemácias sensibilizadas,
marcados conhecidos se ligam diretamente aos antígenos des- as quais são lisadas (i.e., o teste é negativo).
conhecidos, e indireta quando um processo em dois estágios O complemento precisa ser cuidadosamente padronizado e
é utilizado. Por exemplo, um antígeno conhecido é fixado em o soro do paciente deve ser aquecido a 56ºC por 30 minutos para
uma lâmina, o soro do paciente (não marcado) é adicionado e a inativar a ação do complemento humano. O antígeno também
preparação é lavada. Caso o soro do paciente contenha anticor- precisa ser quantificado. O resultado do teste é expresso como a
pos contra o antígeno, estes permanecerão ligados aos antígenos maior diluição do soro capaz de gerar resultados positivos. Con-
na lâmina e podem ser detectados após adição dos anticorpos troles para determinar se o antígeno ou o antissoro, por si só, fi-
anti-IgG humana seguida do exame em microscópio UV. O tes- xam o complemento são necessários para validar os resultados.
te indireto é, em geral, mais sensível que a imunofluorescência Se o antígeno ou o anticorpo sozinho fixarem o complemento,
direta porque mais anticorpos marcados se aderem a cada local diz-se que são anticomplementares.
antigênico. Além disso, a antiglobulina marcada torna-se um
"reagente universal,, (i.e., ele é independente da natureza do an- Testes de neutralização
tígeno pesquisado, uma vez que o anticorpo anti-IgG reage com Esses testes utilizam a habilidade dos anticorpos em bloquear o
todas as IgGs humanas). efeito de toxinas ou a infectividade de vírus. Eles podem ser uti-
lizados em culturas celulares (p. ex., ensaios de inibição do efeito
Fixação do complemento citopático e de redução de placas) ou em animais experimentais
O sistema do complemento consiste em 20 ou mais proteínas (p. ex., ensaios de proteção em camundongos).
plasmáticas que interagem entre si e com as membranas celula-
res. Cada componente proteico precisa ser ativado sequencial- lmunocomplexos
mente, em condições apropriadas, para que a reação progrida.
Imunocomplexos em tecidos podem ser corados com o uso de
Complexos antígeno-anticorpo estão entre os ativadores do siste-
complemento fluorescente. Imunocomplexos no soro podem ser
ma, e o teste de fixação do complemento pode ser utilizado para a
detectados por meio da ligação a Clq ou pela ligação a certas
identificação de um deles se o outro for conhecido.
células em cultura (p. ex., linfoblastoide Raji).

Luz ultravioleta Testes de hemaglutinação


Luz ultravioleta
Muitos vírus agregam hemácias de uma ou outra espécie (hema-
glutinação ativa). Esse fenômeno pode ser inibido por anticorpos
\\ 1 \\/ \// 1/;
especificamente dirigidos ao vírus (inibição da hemaglutinação ),
r F F /: o que pode ser utilizado para determinar o título dos anticorpos.
\~Jl Hemácias também podem adsorver muitos antígenos e, quando
? ~ misturadas com anticorpos compatíveis, elas se agregarão (o que
é conhecido como hemaglutinação passiva, pois as hemácias são
A. Teste de B. Teste de carreadoras passivas dos antígenos).
imunofluorescência imunofluorescência
direta indireta
Teste de Coombs
FIGURA 64-7 Teste de imunofluorescência. A: No teste de imuno-
fluorescência direta, o corante fluorescente é conjugado diretamente Alguns pacientes com certas doenças (p. ex., doença hemolítica
ao anticorpo que interage com o antígeno (triângulos escuros) na su- do recém-nascido [incompatibilidade de Rh] e anemias hemolí-
perfície da célula. B: No teste de imunofluorescência indireta, o coran- ticas relacionadas a fármacos) tornam-se sensibilizados, porém
te fluorescente é conjugado ao anticorpo contra lgG humana. não apresentam sintomas da doença. Nesses pacientes, anticor-
S36 PARTE VII Imunologia

Reação positiva Reação negativa

Primeiro estágio Primeiro estágio


o o o o
o o o o o o

0 •------- e :-~btJ
Anticorpo no
-----i•• Ag :;,.,.jA-b...
Fixação do
~ + º~ºº ----i••~
~ O ºº
Ausência de
~
Complemento O

00

0
soro do paciente complemento anticorpo no não é fixado
soro do paciente

Segundo estágio Segundo estágio

o o
Não há oº
/
( '\
--
+complemento___. 00 ~l \ I
o
o
' -
....__.,,,
Hemácias Não há lise Hemácias Lise
sensibilizadas sensibilizadas

FIGURA 64-8 Fixação do complemento. Aesquerda: Reação positiva (i.e., o soro do paciente contém anticorpos). Se um antígeno conhecido é
misturado com o soro do paciente contendo anticorpo contra o antígeno, o complemento (círculos sólidos) será fixado. Como não sobra nenhum
complemento após sua fixação, hemácias previamente sensibilizadas não são lisadas. Adireita: Reação negativa. Se um antígeno conhecido é
misturado ao soro de um paciente que não contém anticorpos contra aquele antígeno, o complemento (círculos sólidos) não é fixado. Assim,
restará complemento livre que lisará hemácias sensibilizadas. Ab, anticorpo; Ag, antígeno.

pos contra hemácias são formados e ligam-se à superfície das Separação celular ativada por fluorescência
hemácias sem causar hemólise. Estes anticorpos ligados a célu- {citometria de fluxo)
las podem ser detectados pelo teste direto de Coombs, no qual
um antissoro contra imunoglobulinas humanas é utilizado para Esse teste é comumente utilizado para medir as quantidades dos
aglutinar as hemácias do paciente. Em alguns casos, anticorpos diversos tipos de células sanguíneas imunologicamente ativas
contra as hemácias não estão ligados a estas células, mas estão (Figura 64-10). Por exemplo, é utilizado no caso de pacientes in-
no soro do paciente. Neste caso, o teste indireto de Coombs deve fectados pelo HIV para determinar o número de células T CD4-
ser empregado. No teste indireto, o soro do paciente é misturado -positivas. Nesse teste, as células do paciente são marcadas com
com hemácias normais, e antissoro contra imunoglobulinas hu- anticorpos monoclonais contras proteínas específicas da célula
manas é adicionado. Se anticorpos estiverem presentes no soro de interesse (p. ex., a proteína CD4 se o objetivo é determinar o
do indivíduo, haverá hemaglutinação. número de células T auxiliares). O anticorpo monoclonal é mar-
cado com um corante fluorescente, como a rodamina ou a fluo-
resceína. As células são individualmente passadas por um raio
Western blot {immunoblot)
laser e o número de células que fluorescem é contabilizado por
Esse teste é geralmente utilizado para determinar se um resulta- um aparelho, denominado separador celular ativado por fluores-
do positivo, obtido por um teste imunológico de rastreamento, cência (FACS,fluorescence-activated cell sorter).
é realmente positivo ou poderia ser um resultado falso-positivo.
Por exemplo, pacientes que se apresentam positivos na triagem
por ELISA da infecção pelo vírus da imunodeficiência huma- REAÇÕES ANTÍGENO-ANTICORPO
na (HIV) ou para a doença de Lyme devem realizar um ensaio
ENVOLVENDO ANTÍGENOS
de Western blot. A Figura 64-9 ilustra um teste de Western blot
para detecção de anticorpos contra HIV no soro de um pacien- DAS HEMÁCIAS
te. Nesse teste, proteínas do HIV são separadas por eletroforese Muitos sistemas de grupos sanguíneos diferentes existem nos
em gel, o que resulta na obtenção de bandas específicas para as seres humanos. Cada sistema consiste em um locus gênico que
proteínas virais. Essas proteínas são, então, transferidas do gel especifica antígenos na superfície das hemácias. Os dois grupos
para um filtro de papel (daí o uso da expressão, em inglês, blot sanguíneos mais importantes, ABO e Rh, são descritos a seguir.
[transferir]), e o soro do paciente é adicionado. Se anticorpos
contra o HIV estiverem presentes, eles ligam-se às proteínas vi-
Grupos sanguíneos ABO e
rais (principalmente gp41 e p24) e podem ser detectados pela
adição de anticorpos contra IgG humana marcada com radiati-
reações de transfusão
vidade ou com uma enzima, como a peroxidase do rabanete, o Todas as hemácias humanas contêm aloantígenos (i.e., antígenos
que gera uma mudança de cor visível quando substrato da enzi- que variam entre indivíduos de uma mesma espécie) do grupo
ma é adicionado. ABO. O grupo ABO de uma pessoa é um determinante muito
CAPÍTULO 64 Reações Antígeno-Anticorpo no Laboratório S37

Gel Filtro Filtro Filtro

gp120

gp41

p24
p17

Proteínas do Proteínas virais Soro do paciente Um anticorpo marcado


vírus HIV são são transferidas é adicionado e com enzima anti-lgG
separadas por (blotted) do gel anticorpos humana é adicionado.
eletroforese para o filtro anti-HIV ligam-se O substrato da enzima
em gel de às proteínas é, então, incorporado,
poliacrilamida virais e bandas coloridas
aparecem onde se
encontram as
proteínas virais

FIGURA 64-9 Western blot (ensaio de immunob/ot). Nesse ensaio, proteínas microbianas ou virais são separadas em um gel de poliacrilamida
e, então, transferidas (blotted) para uma membrana. O soro do paciente interage com as proteínas previamente separadas. Se anticorpos estive-
rem presentes no soro do paciente, eles se ligam às proteínas. Os anticorpos são, por fim, detectados pelo uso de anticorpos contra lgG humano
marcados.

importante para o sucesso tanto de transfusões sanguíneas quan- tipo A e, similarmente, as que são homozigotas BB ou heterozi-
to de transplantes de órgãos. gotas BO são do tipo B.
Os genes A e B codificam enzimas que adicionam açúcares Os antígenos A e B são carboidratos que diferem em apenas
específicos ao fim de uma cadeia polissacarídica na superfície de um único açúcar. Apesar dessa pequena diferença, os antígenos A
muitas células, incluindo hemácias (Figura 64-11). Pessoas que e B não reagem cruzadamente. As hemácias apresentam três açú-
não herdam nenhum dos dois genes são do tipo O. Os genes são cares terminais comuns em sua superfície: N-acetilglicosamina,
codominantes, assim, pessoas que herdam ambos os genes são do
tipo AB. Pessoas homozigotas AA ou heterozigotas AO são do
Gal

ó A
Fuc

Um sensor óptico conta


Luz o número de células Gal
ultravioleta fluorescentes

B
F Um colar de carga Fuc

ó - - - adiciona cargas negativas


ou positivas às células
fluorescentes

L _ Placas de deflexão Gal


~ induzem as células
-F r"'" marcadas com cargas H
J b positivas a se moverem
para um tubo diferente
Fuc

l]~ das células marcadas


com carga negativa FIGURA 64-11 Grupos sanguíneos ABO. As estruturas dos açúcares
terminais que determinam os grupos sanguíneos ABO estão apresen-
FIGURA 64-1 O Citometria de fluxo. Na parte superior da figura, uma tadas. Células do grupo sanguíneo O contêm o antígeno H em suas
célula interage com um anticorpo monoclonal marcado com um co- superfícies; células do grupo sanguíneo A apresentam N-acetilgalac-
rante fluorescente. À medida que a célula passa pelo tubo, raios de luz tosamina adicionada ao fim do antígeno H; e células do grupo san-
ultravioleta fazem o corante florescer e um sensor conta a célula. Mais guíneo B apresentam galactosamina adicionada ao fim do antígeno H.
abaixo, ao longo do tubo, uma carga elétrica é adicionada à célula, o (Reproduzida, com permissão, de Stites DP, Stobo JD, Wells JV, eds. Basic & Clinicai
que permite que esta seja defletida para o interior de um tubo e sujeita lmmunology. 6th ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright
a análises adicionais. 1987 McGraw-Hill.)
S38 PARTE VII Imunologia

galactose e fucose. Esses três açúcares formam o antígeno H Doador tipo A Receptor tipo B
(Figura 64-11). Pessoas do grupo O possuem apenas o antígeno
H na superfície de suas hemácias. Pessoas do grupo A possuem
N-acetilgalactosamina adicionada à galactose do antígeno H, ao
passo que pessoas do grupo B têm galactose adicionada à galac-
tose do antígeno H.
Existem quatro combinações dos antígenos A e B: A, B, AB
e O (Tabela 64-2). Um grupo sanguíneo de um indivíduo é deter-
minado por meio da mistura de seu sangue com antissoro contra
o antígeno A em uma extremidade de uma lâmina, e com an-
tissoro contra o antígeno B na outra extremidade (Figura 64-1).
Se ocorrer aglutinação apenas na área contendo antissoro contra
A, então o grupo sanguíneo é A; se ocorrer apenas onde há an-
tissoro contra B, o grupo sanguíneo é B; se ocorrer com os an-
tissoros A e B, o indivíduo é do grupo sanguíneo AB; e se não
ocorrer aglutinação com nenhum dos dois antissoros, então o
grupo sanguíneo é O.
O plasma contém anticorpos contra o antígeno ausente
(i.e., pessoas do grupo A têm anticorpos contra B em seu plas-
ma). Esses anticorpos são formados contra antígenos de bacté-
rias ou alimentos que reagem de forma cruzada com os antígenos
Hemoglobina
sanguíneos. Eles são detectados primeiramente a partir dos três
sendo liberada
aos seis meses de idade e são da classe IgM. As pessoas são tole-
rantes aos seus próprios antígenos de grupo sanguíneo, e, por- FIGURA 64-12 Reação de transfusão. Painel superior: Hemácias
tanto, um indivíduo de grupo sanguíneo A não produz anticor- exibindo o antígeno A são transfundidas a um indivíduo tipo B, que,
pos contra o antígeno A. O resultado final é que o antígeno e seu portanto, possui anticorpos contra o antígeno A. Painel intermediá-
rio: Anticorpos anti-A ligam-se ao antígeno A presente nas hemácias,
anticorpo correspondente não coexistem no sangue do mesmo
causando aglutinação dessas células, o que pode bloquear o movi-
indivíduo. Reações de transfusão ocorrem quando hemácias in-
mento sanguíneo por meio dos capilares, provocando anoxia no teci-
compatíveis são transfundidas (p. ex., quando sangue do grupo A do. Painel inferior: O complemento é ativado pelos complexos antí-
é transfundido em uma pessoa do grupo B [pois anticorpos anti- geno-anticorpo e o complexo de ataque à membrana lisa as hemácias,
-A estão presentes]). Os complexos anticorpo-hemácia ativam o causando hemólise e anemia. (Reproduzida, com permissão, de Cowan MK,
complemento e uma reação que consiste em choque causado por Talaro KP, eds. Microbiology: A Systems Approach. New York: McGraw-Hill; 2009.)
grandes quantidades de C3a e CSa (anafilatoxinas) e também em
hemólise causada por CS, C6, C7, CS e C9 (complexo de ataque à
membrana) ocorre (Figura 64-12). reação. Uma reação clinicamente detectável não ocorre, uma vez
Para evitar reações antígeno-anticorpo que resultem em rea- que os anticorpos do doador são rapidamente diluídos em níveis
ções de transfusão, todo sangue utilizado em transfusões precisa abaixo dos significativos. Pessoas do grupo sanguíneo AB não
ter sua compatibilidade cuidadosamente verificada (i.e., hemá- possuem anticorpos nem contra o antígeno A e nem contra o an-
cias são analisadas para detecção de seus antígenos de superfície tígeno B e são, portanto, receptores universais.
utilizando soros específicos). Como apresentado na Tabela 64-2, Além das hemácias, os antígenos A e B também estão pre-
pessoas do grupo sanguíneo O não possuem antígenos A e nem B sentes em células de diversos tecidos. Além disso, esses antígenos
em suas hemácias e, portanto, são doadores universais (i.e., eles
podem doar sangue para pessoas de todos os quatro grupos san-
TABELA64-3 Compatibilidade das transfusões de
guíneos) (Tabela 64-3). Observe que o tipo sanguíneo O possui 1
sangue entre os grupos sanguíneos ABO
anticorpos A e B. Dessa forma, quando um sangue tipo O é do-
ado a um indivíduo tipo A, B ou AB, espera-se que ocorra uma Receptor

Doador o A B AB
TABELA 64-2 Grupos sanguíneos ABO
o Sim Sim Sim Sim
Antígeno presente Anticorpo presente
Grupo na hemácia no plasma A(AAouAO) Não Sim Não Sim

A A Anti-B B (BB ou BO) Não Não Sim Sim

B B Anti-A AB Não Não Não Sim


1
AB AeB Nem Anti-A e nem anti-B "Sim" indica que uma transfusão de sangue de um doador com aquele grupo
sanguíneo para um receptor com o respectivo grupo sanguíneo é compatível
o Nem A e nem B Anti-A e anti-B (i.e., não haverá hemólise). "Não" indica que a transfusão é incompatível e que a
hemólise das células do doador ocorrerá.
CAPÍTULO 64 Reações Antígeno-Anticorpo no Laboratório S39

podem ser secretados na saliva e em outros líquidos corporais. TABELA 64-4 Status do Rh e doença hemolítica do
A secreção é controlada por um gene secretor. Aproximadamente recém-nascido
85% das pessoas portam a forma dominante do gene, o que per-
StatusdoRh
mite que esse tipo de secreção ocorra.
1
Diferenças no grupo sanguíneo ABO podem levar a uma Pai Mãe Criança Hemólise
icterícia neonatal e anemia, mas os efeitos no feto são, em geral,
menos graves do que os observados na incompatibilidade de Rh + + + ou- Não

(ver próxima seção). Por exemplo, mães que apresentam o grupo + + Não (1 ª criança)
sanguíneo O possuem anticorpos contra os antígenos A e B. Estes
anticorpos IgG podem ser transferidos por meio da placenta e, Sim (2ª criança e crianças subsequentes)
se o feto apresentar o grupo sanguíneo A ou B, estes provocam
+ Não
a lise das hemácias fetais. Mães pertencentes aos grupos A ou B
possuem menores riscos de dar à luz a neonatos com icterícia, + + ou- Não
pois essas mães produzem anticorpos contra antígenos B ou A,
Não
respectivamente, mas estes são principalmente IgM, anticorpo
1
que não passa pela placenta. "Não" indica que a hemólise das hemácias do recém-nascido e a doença hemo-
lítica do recém-nascido não ocorrerão. "Sim" indica que a hemólise das hemácias
do recém-nascido e os sintomas da doença hemolítica do recém-nascido prova-
RH sanguíneo e doença hemolítica velmente ocorrerão.
do recém-nascido
Aproximadamente 85% dos seres humanos possuem hemácias fetal). Essa doença ocorre em razão da passagem de anti-Rh(D)
que expressam o antígeno Rh(D) (i.e., são Rh [D] +). Quando uma IgG materna por meio da placenta, até o feto, com a subsequente
pessoa Rh(D)- é transfundida com sangue Rh(D) +, ou quando lise das hemácias fetais. O teste direto de Coombs é, em geral,
uma mulher Rh(D)- tem um feto Rh(D) + (sendo que o gene D foi positivo (ver descrição do teste de Coombs anteriormente, neste
herdado do pai), o antígeno Rh(D) estimulará o desenvolvimen- capítulo).
to de anticorpos (Tabela 64-4). Isso ocorre mais frequentemente O problema pode ser prevenido por meio da administração
quando o sangue do feto escapa para a circulação materna duran- de imunoglobulinas Rh(D) de altos títulos (Rho-Gam) para a
te o parto do primeiro filho Rh(D) + (Figura 64-13). mãe Rh(D)- com 28 semanas de gestação e imediatamente após
Gravidezes subsequentes envolvendo crianças Rh(D) + serão o parto de uma criança Rh(D) +. Estes anticorpos atacam pronta-
afetadas pelos anticorpos anti-Rh(D) da mãe, frequentemente re- mente as hemácias Rh(D) + e previnem que estas sensibilizem a
sultando na doença hemolítica do recém-nascido (eritroblastose mãe. Essa forma de profilaxia é amplamente utilizada e eficiente.

Posteriormente na segunda Eritroblastos


gravidez de uma criança Rh+ no sangue

Ruptura da
placenta
Fator Rh

4 •

• " r-____Ant1corpo
. . Rh
anti-

Primeiro feto Rh + Segundo feto Rh+

FIGURA 64-13 Doença hemolítica do recém-nascido (eritroblastose fetal). Painel esquerdo: As hemácias fetais (RBCs) portando o antígeno Rh
penetram no sangue materno no momento em que a placenta se separa durante o parto da criança Rh-positiva. Anticorpos lgG contra o antígeno
Rh são produzidos pela mãe. Painel central: Durante uma segunda gravidez de um feto Rh-positivo, anticorpos lgG passam da mãe para o feto
por meio da placenta. Os anticorpos ligam-se às hemácias fetais, o complemento é ativado e o complexo de ataque à membrana lisa as hemácias
do feto. Painel direito: Ocorre anemia e icterícia no feto/recém-nascido. Como resu ltado da anemia, um grande número de eritroblastos é pro-
duzido na medula óssea e podem ser observados no sangue do recém-nascido. (Reproduzida, com permissão, de Cowan MK, Talaro KP, eds. Microbiology:
A Systems Approach. New York: McGraw-Hill; 2009.)
S40 PARTE VII Imunologia

APLIQUE SEU CONHECIMENTO (D) A doença sintomática é mais provável de ocorrer no primeiro
filho do que nos filhos subsequentes.
1. Qual dos seguintes testes de laboratório seria o melhor para deter- (E) A administração de antígeno Rh ao recém-nascido pode pre-
minar o número de células CD4-positivas no sangue de um paciente venir a doença sintomática quando administrado precoce-
infectado com HIV? mente.
(A) Aglutinação. 5. Você suspeita que seu paciente tenha sífilis secundária e solicita um
(B) Fixação do complemento. teste VDRL. O resultado do teste é negativo. Se este for um resulta-
(C) Ensaio imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA). do falso-negativo devido ao fenômeno "prozonâ)> qual das seguintes
(D) Citometria de fluxo. explicações é> provavelmente> a correta?
(E) Imunoeletroforese.
(A) O soro do paciente tem anticorpos demais e a reação está na
2. Você acabou de receber um resultado de laboratório que atesta zona de excesso de anticorpos.
que seu paciente é positivo para anticorpos IgM contra Borrelia (B) O soro do paciente tem antígenos demais e a reação está na
burgdorferi por meio de um ensaio imunoadsorvente ligado à en- zona de excesso de antígenos.
zima (ELISA). Esse resultado corrobora sua avaliação clínica na (C) O soro do paciente tem poucos anticorpos e a reação está na
qual suspeitou que o indivíduo tivesse doença de Lyme. Qual das zona de deficiência de anticorpos.
seguintes opções melhor descreve como o ELISA é realizado? (Por (D) O soro do paciente tem pouco antígeno e a reação está na zona
questões de brevidade> etapas de lavagem não são descritas.) de deficiência de antígenos.
(A) O soro do paciente é misturado com cadeias pesadasµ, huma- (E) O soro do paciente tem quantidade de anticorpos que coloca o
nas para que reajam entre si. A seguir> antígenos da Borrelia> teste na zona de equivalência.
marcados com enzima> são adicionados. Por fim> o substrato 6. Como parte de uma investigação de homicídio> o grupo sanguíneo
da enzima é adicionado e uma mudança de cor é observada. da vítima foi determinado pela análise de anticorpos presentes em
(B) O soro do paciente é misturado com antígenos de Borrelia para seu soro. (Infelizmente> as hemácias da vítima foram perdidas pelo
que reajam entre si. Em seguida> anticorpos contra a cadeia pe- esquadrão criminal> o que justifica a utilização do soro para a aná-
sada µ, humana> marcados com enzima> são adicionados. Por lise.) Nesse teste> hemácias sabidamente pertencentes aos grupos O>
fim> o substrato da enzima é adicionado e uma mudança de A> B ou AB foram misturadas com o soro e a aglutinação foi obser-
cor é observada. vada. Com base nos resultados da tabela a seguir> qual é o grupo
(C) Antígenos de Borrelia são misturados com anticorpos contra a sanguíneo da vítima?
cadeia pesada µ, humana para que reajam entre si. Em seguida>
soro do paciente marcado com enzima é adicionado. Por fim>
o substrato da enzima é adicionado e uma mudança de cor é Aglutinação observada após
observada. Hemácias utilizadas adição do soro da vítima
(D) Antígenos de Borrelia são misturados com anticorpos contra
o Não
a cadeia pesada µ, humana> marcados com enzima> para que
reajam entre si. Em seguida> soro do paciente é adicionado. A Sim
Por fim> o substrato da enzima é adicionado e uma mudança
de cor é observada. B Sim
3. Em relação aos grupos sanguíneos ABO> qual das seguintes opções AB Sim
é a mais correta?
(A) Pessoas do grupo sanguíneo O apresentam o antígeno O na (A) Tipo O.
superfície de suas hemácias. (B) TipoA.
(B) Os antígenos dos grupos sanguíneos A e B estão presentes na (C) Tipo B.
superfície de hemácias> mas não na superfície de outras células. (D) Tipo AB.
(C) As diferenças entre os antígenos dos grupos sanguíneos A e B (E) Ocorreu um erro de laboratório e o teste deve ser repetido.
estão relacionados à presença de diferentes o-aminoácidos na
superfície celular.
(D) Pessoas que pertencem ao grupo sanguíneo O não possuem
anticorpos contra os antígenos dos grupos sanguíneos A e B> RESPOSTAS
portanto> podem receber tanto transfusões com sangue do tipo 1. (D)
A quanto do tipo B. 2. (B)
(E) Os genes que determinam os grupos sanguíneos ABO são co- 3. (E)
dominantes> portanto> uma pessoa do grupo AB expressa am- 4. (B)
bos os genes que codificam a síntese dos antígenos dos grupos 5. (A)
sanguíneos A e B. 6. (A)
4. Em relação à doença hemolítica do recém-nascido (eritroblastose
fetal)> qual das seguintes opções é a mais correta?
(A) Hemácias maternas constituem a fonte do antígeno que induz QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
os anticorpos.
(B) A doença ocorre geralmente quando o pai da criança é Rh- Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
-positivo e a mãe é Rh-negativa. contradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
(C) Anticorpos anti-Rh maternos> do tipo IgM> entram no feto e Autoavaliação) a partir da página 713. Consulte também a Parte
causam dano às suas hemácias. XIV: Questões para Diagnóstico Clínico) a partir da página 731.
CAPÍTULO

Hipersensibilidade
(Alergia)
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Tipo Ili: hipersensibilidade por imunocomplexos


Tipo 1: hipersensibilidade imediata {anafilática) Reação de Arthus
Atopia Doença do soro
Hipersensibilidade a fármacos Doenças causadas por imunocomplexos
Dessensibilização Tipo IV: hipersensibilidade tardia {mediada por células)
Tratamento e prevenção Reações de hipersensibilidade tardia clinicamente
Tipo li: hipersensibilidade citotóxica importantes
Aplique seu conhecimento
Questões para autoavaliação

INTRODUÇÃO do indivíduo com o antígeno o sensibiliza (i.e., induz a produção


de anticorpos) e os contatos subsequentes produzem uma res-
Hipersensibilidade é o termo usado quando uma resposta imu- posta alérgica.
ne resulta em reações exageradas ou inapropriadas, danosas para As reações de hipersensibilidade podem ser divididas em
o organismo. O termo alergia é frequentemente associado à hi- quatro tipos principais. Os tipos I, II e III são mediados por
persensibilidade, porém, seu uso mais exato deve ser limitado a anticorpos, ao passo que o tipo IV é mediado por células
reações mediadas por IgE, discutidas adiante na seção "Tipo I: (Tabela 65-1). As reações do tipo I são mediadas por IgE, ao
hipersensibilidade imediata (anafilática r: passo que as reações dos tipos II e III são mediadas por IgG.
As manifestações clínicas dessas reações são típicas de um As reações imune são resumidas na Tabela 65-1. As manifesta-
determinado indivíduo e ocorrem após contato com o antígeno ções clínicas das reações de hipersensibilidade estão descritas
específico contra o qual ele é hipersensível. O primeiro contato na Tabela 65-2.

TABELA 65-1 Aspectos imunológicos das reações de hipersensibilidade

Mediada por
Tipo anticorpos ou células Reações imunes

1(imediata, anafilática) Anticorpo (lgE) O antígeno (alérgeno) induz anticorpos lgE que se ligam a mastócitos e basófilos. Em uma
nova exposição ao alérgeno, este estabele uma ligação cruzada com a lgE ligada às cé-
lulas, o que causa degranulação e liberação de mediadores (p. ex., histamina).

li (citotóxica) Anticorpo (lgG) Os antígenos presentes em uma superfície celular se combinam com o anticorpo lgG, o
que conduz à lise mediada por complemento dessas células (p. ex., reações transfusio-
nais ou de Rh) ou à anemia hemolítica autoimune.

Ili (imunocomplexo) Anticorpo (lgG) lmunocomplexos antígeno-anticorpo são depositados nos tecidos, o complemento é
ativado e as células polimorfonucleares são atraídas para o local. Elas liberam enzimas
lisossomais, causando dano ao tecido.

IV (tardia) Célula Linfócitos T ativados/sensibilizados por um antígeno liberam linfocinas em um segundo


contato com o mesmo antígeno. As linfocinas induzem inflamação e ativam macrófa-
gos, os quais, por sua vez, liberam vários mediadores inflamatórios.
S42 PARTE VII Imunologia

TABELA 65-2 Manifestações clínicas das reações de hipersensibilidade

Tipo Tempo de início típico Manifestação clínica ou doença

1(imediata, anafilática) Minutos Anafilaxia sistêmica, urticária, asma, febre do feno, rinite alérgica, conjuntivite alérgica,
alergias alimentares (p. ex., nozes, mariscos, ovos), alergias a fármacos, sobretudo peni-
cilina, eczema (dermatite atópica), veneno de abelha, luvas de látex, angiedema

li (citotóxica) Horas a dias Anemia hemolítica, neutropenia, trombocitopenia, reações transfusionais ABO, incom-
patibilidade de Rh (eritroblastose fetal, doença hemolítica do recém-nascido), febre
reumática, síndrome de Goodpasture

Ili (imunocomplexo) 2 a 3 semanas Lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, glomerulonefrite pós-estreptocócica,
nefropatia por lgA, doença do soro, pneumonite de hipersensibilidade (p. ex., pulmão
do fazendeiro)

IV (tardia) 2 a 3 dias Dermatite de contato, veneno de carvalho/urtiga, reação ao teste cutâneo da tuberculi-
na, erupção cutânea medicamentosa, síndrome de Stevens-Johnson, necrólise epidér-
mica tóxica, eritema multiforme

TIPO 1: HIPERSENSIBILIDADE IMEDIATA clínico. No entanto, alguns indivíduos respondem a essas subs-
tâncias com a produção de grandes quantidades de IgE e, como
(ANAFILÃTICA)
resultado, manifestam vários sintomas alérgicos. A elevação de
Uma reação de hipersensibilidade imediata ocorre quando um IgE é o resultado de um aumento na mudança de classe para IgE
antígeno (alérgeno) se liga à IgE na superfície de um mastóci- nas células B, provocada por grandes quantidades de interleuci-
to, seguido pela consequente liberação de diversos mediadores na (IL-4) produzida por células Th-2. Indivíduos não alérgicos
(ver lista de mediadores a seguir) (Figura 65-1). O processo inicia respondem ao mesmo antígeno produzindo IgG, que não causa a
quando um antígeno induz a formação de anticorpos do tipo liberação de mediadores por mastócitos e basófilos. (Não existem
IgE, os quais se ligam firmemente, por meio de sua porção Fc, receptores para IgG nessas células.) Há uma predisposição gené-
a receptores existentes na superfície de mastócitos e basófilos. tica para a ocorrência de reações de hipersensibilidade imediata,
A reexposição ao mesmo antígeno resulta na ligação cruzada o que será discutido na seção '½.topia: posteriormente.
deste aos anticorpos IgE ligados às células, na degranulação e na As manifestações clínicas da hipersensibilidade do tipo I
liberação de mediadores farmacologicamente ativos em poucos podem variar em sua forma (p. ex., urticária, eczema, rinite, con-
minutos (fase imediata). Nucleotídeos cíclicos e cálcio apresen- juntivite e asma). A manifestação clínica que ocorrerá depende,
1
tam um papel essencial na liberação desses mediadores. Sinto- principalmente, da rota de entrada do alérgeno e da localização
mas como eritema e edema (inchaço e vermelhidão*), além de dos mastócitos que carreiam a IgE específica para o alérgeno. Por
coceira, surgem rapidamente, uma vez que esses mediadores exemplo, alguns indivíduos expostos ao pólen no ar desenvolvem
(p. ex., histamina) já se encontram pré-formados. rinites e conjuntivites, ao passo que pessoas que ingerem alér-
A fase tardia da inflamação mediada por IgE ocorre aproxi- genos no alimento apresentam diarreia. Além disso, pessoas que
madamente seis horas após a exposição ao antígeno e é devida à respondem a um alérgeno com o surgimento de urticária apre-
ação de mediadores (p. ex., leucotrienos [SRS-A]) que são sinteti- sentam IgE específica para o alérgeno em mastócitos na pele, ao
zados após a degranulação celular. Esses mediadores causam um passo que os que respondem com rinite apresentam mastócitos
influxo de células inflamatórias, como neutrófilos e eosinófilos, e específicos para o alérgeno na mucosa do nariz.
ocorrem sintomas que incluem eritema e endurecimento do te- A forma mais grave de hipersensibilidade do tipo I é a ana-
cido. Os eosinófilos, por exemplo, possuem um papel preponde- filaxia sistêmica, na qual broncoconstrição grave e hipotensão
rante na reação tardia da asma. (choque) podem ser potencialmente fatais. As causas mais co-
O complemento não está envolvido com as reações imedia- muns da anafilaxia são alimentos, como amendoim e crustáce-
tas ou tardias porque a IgE não ativa o complemento. os, veneno de abelhas e fármacos, como a penicilina. No caso de
Observa-se que os alérgenos envolvidos nas reações de hi- profissionais da área médica, as reações de hipersensibilidade
persensibilidade são substâncias, como pólen, pelos de animais, do tipo I contra luvas de látex são de importância particular, po-
alimentos (sementes, crustáceos) e vários fármacos, contra os dendo manifestar-se na forma de urticária, asma e até anafilaxia
quais a maioria das pessoas não apresenta qualquer sintoma sistémica. A Tabela 65-3 resume alguns aspectos clínicos mais
importantes nas hipersensibilidades imediatas.
1
Um aumento na quantidade de GMP cíclico no interior dessas células Não há um único mediador que seja responsável por todas
aumenta a liberação de mediadores, ao passo que um aumento na quan- as manifestações de reações de hipersensibilidade do tipo I. Al-
tidade de AMP cíclico diminui a liberação. Portanto, fármacos que au- guns mediadores importantes e seus efeitos são descritos a seguir:
mentam o AMP cíclico intracelular, como a epinefrina, são utilizados no
tratamento de reações do tipo 1. A epinefrina também possui atividade (1) A histamina ocorre, em um estado pré-formado, em
simpatomimética, que é útil no tratamento de reações do tipo 1. grânulos de mastócitos e basófilos teciduais. Sua liberação induz
*N. de R.T. Na língua inglesa, estes sintomas são comumente denomina- vasodilatação, aumento na permeabilidade capilar e contração
dos pela expressão "wheal and flare': da musculatura lisa. Clinicamente, manifestações como rinite
CAPÍTULO 65 Hipersensibilidade (Alergia) S43

Receptor para
cadeia pesada e

lgE Alérgeno

Mastócito com lgE ligada à Antígenos ligam-se Mediadores


sua superfície; mediadores cruzadamente à lgE na (p. ex., histamina) são
contidos no interior de superfície do mastócito liberados pelo mastócito
grânulos no citoplasma

FIGURA 65-1 Hipersensibilidade imediata (anafilática).

alérgica, urticária e angiedema podem ocorrer. O broncospasmo, diata. O papel dos eosinófilos nas reações de hipersensibilidade
tão proeminente durante a anafilaxia aguda, resulta, em parte, da do tipo I é incerto, porém, eles são capazes de liberar histaminase
liberação de histamina. Fármacos anti-histamínicos bloqueiam e arilsulfatase, as quais degradam dois importantes mediadores,
os locais receptores de histamina e podem ser relativamente efi- histamina e SRS-A, respectivamente. Os eosinófilos podem, por-
cientes no tratamento de rinites alérgicas, mas não no caso da tanto, reduzir a gravidade da resposta de tipo I.
asma (ver adiante). (4) A serotonina (hidroxitriptamina) encontra-se pré-
(2) A substância de ação lenta da anafilaxia (SRS-A, slow- -formada em mastócitos e plaquetas. Quando liberada durante
-reacting substance of anaphylaxis) consiste em diversos leuco- a anafilaxia, essa substância causa dilatação capilar, aumento da
trienos, os quais não existem em um estado pré-formado, mas permeabilidade vascular e contração da musculatura lisa. Não
são produzidos durante reações de anafilaxia. Esse fenômeno é obstante, tem pouca importância na anafilaxia humana.
responsável pelo progresso lento do efeito da SRS-A. Leucotrie- ( 5) Prostaglandinas e tromboxanos são relacionados aos
nos são produzidos a partir do ácido araquidônico, por meio leucotrienos. Essas substâncias são derivadas do ácido araquidô-
da via da lipoxigenase, e causam aumento na permeabilidade nico a partir da via da cicloxigenase. As prostaglandinas causam
vascular e contração da musculatura lisa. Eles são os principais dilatação e aumento da permeabilidade de vasos capilares, além
mediadores da broncoconstrição observada na asma e não são de broncoconstrição. Tromboxanos agregam plaquetas.
influenciados por anti-histamínicos. ( 6) O fator de ativação plaquetária (PAF) é um fosfolipídeo
(3) O fator quimiotático dos eosinófilos na anafilaxia produzido por mastócitos, capaz de causar broncoconstrição, hi-
(ECF-A, eosinophil chemotactic f actor of anaphylaxis) é um te- potensão e aumento da permeabilidade vascular.
trapeptídeo pré-formado que existe no interior dos grânulos de
Os mediadores mencionados anteriormente são ativos so-
mastócitos. Quando liberado durante a anafilaxia, atrai eosinófi-
mente por alguns minutos após sua liberação; eles são inativados
los que são proeminentes em reações de hipersensibilidade ime-

TABELA 65-3 Aspectos clínicos importantes das hipersensibilidades imediatas

Principal
órgão afetado Doença Principais sintomas Alérgenos típicos Rota de aquisição

Pulmões Asma Chiado, dispneia, taquipneia Pólens, poeira (fezes de ácaros), Inalação
pelos de animais, muitos alér-
genos ocupacionais aéreos

Nariz e olhos Rinite, conjuntivite, "febre Coriza, vermelhidão e coceira Pólens Contato com membranas
do feno" nos olhos mucosas

Pele 1. Eczema (dermatite Lesões vesiculares, prurido Desconhecidos Desconhecida


atópica)
2. Urticária Lesões bolhosas, prurido 1. Diversos alimentos Ingestão
2. Fármacos Vários

Trato intestinal Gastrenteropatia alérgica Vômito, diarreia Diversos alimentos Ingestão

Sistêmica Anafilaxia Choque, hipotensão, chiado 1. Veneno de insetos Picada


(p. ex., veneno de abelha)
2. Fármacos (p. ex., penicilina) Vários
3. Alimentos (p. ex., amendoim) Ingestão
S44 PARTE VII Imunologia

enzimaticamente e ressintetizados de forma lenta. As manifesta- petes) ou em alimentos (p. ex., crustáceos e sementes oleagino-
ções da anafilaxia variam entre diferentes espécies, uma vez que sas). A exposição de indivíduos não atópicos a essas substâncias
os mediadores são liberados em taxas e quantidades diferentes, não gera reação alérgica. Muitos dos indivíduos afetados geram
e os diferentes tecidos apresentam sensibilidades distintas a eles. reações imediatas em testes de pele (injeção, adesivos ou arranha-
Por exemplo, o trato respiratório (broncospasmo, edema de la- dura) que incluam o antígeno alergênico.
ringe) é o principal órgão afetado durante o choque em seres hu- A hipersensibilidade atópica é transferível pelo soro (i.e., é me-
manos, mas o fígado (veias hepáticas) é o órgão que apresenta diada por anticorpos), não por células linfoides. No passado, essa
essa suscetibilidade em cães. observação era utilizada para diagnóstico na reação anafilática cutâ-
Na doença alérgica das vias aéreas (asma), a hiperatividade nea passiva (reação de Prausnitz-Küstner), que consistia em obter o
das vias aéreas parece ser causada pela IL-13. A IL-13 é produ- soro de um paciente e injetá-lo na pele de uma pessoa normal. Al-
zida por células Th-2 e liga-se a um receptor que apresenta uma gumas horas mais tarde, o antígeno-teste injetado no local sensibili-
cadeia em comum com o receptor de IL-4. A IL-13 não induz zado gera uma reação inflamatória imediata. Esse teste é atualmente
o aumento da quantidade de IgE. Lebrikizumabe, um anticorpo impraticável em razão do risco de transmissão de certas infecções
monoclonal contra IL-13, reduz os sintomas em alguns pacientes virais. O teste radioalergoabsorvente (RAST) permite a identifica-
que apresentam asma grave. ção de IgEs específicas contra antígenos potencialmente ofensivos,
Ao contrário das reações anafiláticas, que são mediadas por caso esses antígenos estejam disponíveis para testes in vitro.
IgE, as reações anaftlactoides, que são clinicamente semelhantes Existem evidências de que o início da resposta atópica ocor-
às anafiláticas, não são mediadas por IgE. Nessas reações, o agen- re quando proteases presentes em alérgenos, como os alérgenos
te iniciador, geralmente fármacos ou meios de contraste iodados, fúngicos, pólens e excrementos de ácaros, clivam o fibrinogênio.
induzem diretamente mastócitos e basófilos a liberarem seus me- Os produtos resultantes da clivagem ativam, então, receptores
diadores sem o envolvimento de IgE. semelhantes ao Toll (TLR-4) na superfície de macrófagos, e as
células que revestem as vias aéreas ativam a resposta atópica.
Atopia Diversos genes associados à atopia têm sido identificados.
Mutações no gene que codifica a cadeia o. do receptor de IL-4
Distúrbios atópicos, como rinite, conjuntivite, asma, eczema e
predispõem fortemente à atopia. Essas mutações aumentam a
urticária, são reações de hipersensibilidade imediata que apre-
eficiência de IL-4, resultando em um aumento na síntese de IgE
sentam uma forte predisposição familiar e estão associadas a
altos níveis de IgE. Diversos processos parecem estar associados por células B. Outros genes identificados incluem o próprio gene
à atopia, por exemplo, falha na regulação dos níveis de células T que codifica para IL-4, o gene para o receptor da cadeia pesada
(p. ex., produção exacerbada de IL-4 leva à síntese aumentada de épsilon, e diversos genes do complexo principal de histocompati-
bilidade (MHC) de classe II.
IgE), aumento da aquisição e apresentação de antígenos ambien-
tais e hiper-reatividade dos órgãos-alvo. Os órgãos afetados, em
geral, apresentam quantidades elevadas de células Th-2 e acre- Hipersensibilidade a fármacos
dita-se que estas apresentem um papel primordial na patogênese Alguns fármacos, particularmente agentes antimicrobianos,
das reações atópicas. como a penicilina, estão atualmente entre as causas mais comuns
Estima-se que cerca de 40% das pessoas, nos Estados de reações de hipersensibilidade. Em geral, não é o fármaco in-
Unidos, apresentem distúrbios atópicos em algum momento de tacto que induz a formação de anticorpos. Em vez disso, anticor-
suas vidas.* A ocorrência de doenças alérgicas, como a asma, pos são induzidos por produtos metabólicos do medicamento,
está aumentando consideravelmente em países desenvolvidos da que funcionam como um hapteno, e ligam-se a proteínas do cor-
América do Norte e da Europa. Uma hipótese que tenta expli- po. O anticorpo resultante pode reagir com o hapteno ou com o
car esse aumento é o fato de que a incidência de parasitas nessas fármaco intacto, originando hipersensibilidade do tipo I.
2

populações é baixa. O anticorpo do tipo IgE evoluiu como uma Quando reexpostos ao fármaco, os indivíduos podem exibir
defesa do hospedeiro contra parasitas. Em regiões onde a inci- erupções cutâneas, febre ou anafilaxia local ou sistêmica, de gra-
dência parasitária é alta, a IgE é utilizada para a defesa contra vidade variada. Reações a quantidades muito pequenas do fárma-
esses organismos. No entanto, em regiões mais desenvolvidas, co podem ocorrer (p. ex., por meio de um teste de pele utilizando
onde a incidência de parasitas é baixa, a IgE torna-se disponível o hapteno ). Um exemplo clínico útil é o teste de pele que utiliza a
para causar alergias. Essa é a chamada "hipótese da higiene': a peniciloil polilisina para revelar uma alergia à penicilina.
qual sugere que pessoas vivendo em países com maior incidência
parasitária apresentam menos doenças alérgicas, ao passo que as
que vivem em países com baixa presença de parasitas apresentam
Dessensibilização
mais doenças alérgicas. Intensas manifestações anafiláticas ocorrem quando grandes
Os sintomas desses distúrbios atópicos são induzidos pela quantidades de mediadores são subitamente liberadas como
exposição a alérgenos específicos. Estes antígenos são, em ge- resultado de uma dose massiva de antígenos que se combinam
ral, encontrados no meio ambiente (p. ex., pólens liberados por abruptamente com IgE em muitos mastócitos. Essa é a anafilaxia
plantas e fezes de ácaros encontradas em roupas de cama e car- sistêmica, que é potencialmente fatal. A dessensibilização pode
prevenir a anafilaxia sistêmica.
*N. de R.T. No Brasil, os dados relativos aos distúrbios atópicos são es-
2
cassos, mas a prevalência de dermatites atópicas, uma das manifestações Alguns fármacos estão envolvidos em reações de hipersensibilidade cito-
atópicas mais comuns, varia de 5 a 8%, dependendo da faixa etária. tóxica (tipo II) e em doenças do soro (tipo III).
CAPÍTULO 65 Hipersensibilidade (Alergia) S4S

A dessensibilização aguda envolve a administração de quan- na (ver Capítulo 63), que danifica a membrana celular. O anti-
tidades muito pequenas de antígenos em intervalos de 15 minu- corpo (IgG ou IgM) liga-se ao antígeno por meio de sua porção
tos. Complexos antígeno-IgE são formados em pequena escala, e Fab e funciona como uma ponte para o complemento por meio
a quantidade de mediadores liberados não é suficiente para gerar de sua região Fc. Como resultado, acontece a lise mediada pelo
uma reação intensa. Isso permite a administração de um fármaco complemento observada nas anemias hemolíticas, nas reações de
ou proteína estranha a uma pessoa hipersensível, mas o estado de transfusão associadas ao sistema ABO ou na doença hemolítica
hipersensibilidade retorna, pois IgE continua a ser feita. associada ao Rh. Além da lise, a ativação do complemento atrai
A dessensibilização crônica envolve a administração se- fagócitos ao local, com consequente liberação de enzimas que da-
manal, em longo prazo, do antígeno contra o qual uma pessoa é nificam as membranas celulares.
hipersensível. Isso estimula a produção de anticorpos IgA e IgG Fármacos (p. ex., penicilinas, fenacetina, quinidina) podem
bloqueadores, o que previne que antígenos subsequentes alcan - ligar-se a proteínas na superfície de hemácias e iniciar a formação
cem a IgE presente nos mastócitos, impedindo uma reação alér- de anticorpos. Estes anticorpos autoimunes (IgG) interagem com a
gica. Esse processo também induz células T reguladoras a produ- superfície celular das hemácias, o que resulta em hemólise. O tes-
zirem IL-1 O, que reduz a síntese de IgE. te antiglobulínico direto (teste de Coombs) é, em geral, positivo
nesses casos (ver Capítulo 64). Alguns fármacos (p. ex., quinina)
Tratamento e prevenção podem ligar-se a plaquetas e induzir autoanticorpos que lisam es-
O tratamento de reações anafiláticas inclui o uso de fármacos que sas plaquetas, produzindo trombocitopenia e, consequentemente,
afetam a ação de mediadores, que mantêm a função das vias aé- tendência a sangramentos. Outros (p. ex., hidralazina) podem mo-
reas e que fornecem suporte às funções respiratórias e cardíacas. dificar tecidos do hospedeiro e induzir a produção de anticorpos
Epinefrina, anti-histamínicos, corticosteroides ou cromolina só- direcionados contra o DNA celular. Como resultado, doenças com
dica, tanto individualmente quanto em combinação, devem ser manifestações semelhantes ao lúpus eritematoso podem ocorrer.
administrados. A cromolina sódica impede a liberação de media- Certas infecções (p. ex., infecção por Mycoplasma pneumoniae)
dores (p. ex., histamina) dos grânulos dos mastócitos. A preven- podem induzir autoanticorpos que reagem cruzadamente com an-
ção baseia-se na identificação do alérgeno por meio de testes de tígenos de hemácias, o que resulta em anemia hemolítica. Na febre
pele, e na evitação do alérgeno. reumática, anticorpos contra estreptococos do grupo A reagem
Existem várias abordagens para o tratamento de asma. cruzadamente com o tecido cardíaco. Na síndrome de Goodpastu-
A inalação de broncodilatadores J3-adrenérgicos, como o albute- re, anticorpos contra membranas basais dos rins e pulmões ligam-
rol, é comumente utilizada. Corticosteroides, como a prednisona, -se a estas membranas e ativam o complemento. Danos graves às
também são efetivos. A aminofilina, um broncodilatador, é efi- membranas são provocados por proteases liberadas por leucócitos,
ciente, porém, não comumente utilizado. Um anticorpo mono- atraídos ao local pelo componente C5a do complemento (ver Efei-
clonal anti-IgE (omalizumabe, Xolair) é indicado para pacientes tos biológicos do complemento, Capítulo 63).
com asma grave, nos quais os sintomas não são controlados pelo
uso de corticosteroides. Para a prevenção da asma, inibidores de
receptores de leucotrienos, como o montelucaste (Singulair), e TIPO Ili: HIPERSENSIBILIDADE POR
cromolina sódica são efetivos. IMUNOCOMPLEXOS
O tratamento da rinite alérgica geralmente envolve anti-his-
A hipersensibilidade por imunocomplexos ocorre quando com-
tamínicos aplicados com descongestionantes nasais. Para con-
juntivites alérgicas, o uso de colírios contendo anti-histamínicos plexos antígeno-anticorpo induzem uma reação inflamatória nos
tecidos (Figura 65-3). Em geral, imunocomplexos são logo remo-
ou vasoconstritores é eficiente. Deve-se evitar o contato com o
vidos pelo sistema reticuloendotelial, mas às vezes eles persistem
alérgeno que deflagra a alergia, como o pólen, para auxiliar na
e são depositados nos tecidos, resultando em distúrbios graves.
profilaxia. A dessensibilização também pode ser útil.
Em infecções microbianas ou virais persistentes, imunocomple-
xos são depositados em órgãos (p. ex., nos rins), o que resulta
em dano. Em doenças autoimunes, antígenos "próprios,, podem
TIPO li: HIPERSENSIBILIDADE CITOTÕXICA
induzir a produção de anticorpos que se ligam aos antígenos dos
A hipersensibilidade citotóxica ocorre quando um anticorpo órgãos ou se depositam nestes na forma de complexos, principal-
direcionado a antígenos da membrana celular ativa o comple- mente nas articulações (artrite), nos rins (nefrite) ou nos vasos
mento (Figura 65-2). Isso gera o complexo de ataque à membra- sanguíneos (vasculite).

/
,,,...--- ....
/ '
I
I '\
+ Complemento Morte 1
RBC RBC ----!~
celular
\ I
' /
' /

Hemácias com lgG liga-se ao antígeno O complexo de ataque à


antígenos (.A ) na na membrana membrana do complemento
membrana celular lisa a hemácia

FIGURA 65-2 Hipersensibilidade citotóxica. RBC, hemácia.


S46 PARTE VII Imunologia

À ~f:>.
'v!/
Antígeno
+

'(y
lgG

Complexos lmunocomplexos são Neutrófilos são


antígeno-anticorpo depositados nas atraídos por C5a; eles
formam-se no paredes de vasos liberam enzimas que
sangue sanguíneos, o destroem o endotélio,
complemento é e hemácias escapam
ativado e C3a e C5a dos vasos sanguíneos
são liberados

FIGURA 65-3 Hipersensibilidade por imunocomplexos. RBC, hemácia.

Sempre que imunocomplexos são depositados, eles ativam o Doença do soro


sistema do complemento. Células polimorfonucleares são atraí-
Ao contrário da reação de Arthus, que é uma inflamação loca-
das para o local, culminando em inflamação e lesão do tecido.
lizada, a doença do soro é uma resposta inflamatória sistêmica
Duas típicas reações de hipersensibilidade do tipo III incluem a
à presença de imunocomplexos depositados em muitas áreas do
reação de Arthus e a doença do soro.
corpo. Após a injeção de soro estranho (i.e., soro de outro animal,
como cavalo [ou, mais comumente, exposição a certos fárma-
Reação de Arthus cos]), o antígeno é excretado lentamente. Durante este período,
Reação de Arthus é o nome designado à inflamação causada a produção de anticorpos inicia. A presença simultânea de antí-
pela deposição de imunocomplexos em um determinado lo- geno e anticorpo leva à formação de imunocomplexos, os quais
cal localizado. A doença ganhou esse nome em homenagem ao podem circular ou ser depositados em vários locais.
Dr. Arthus, que primeiramente descreveu a resposta inflama- A doença do soro típica resulta em febre, urticária, artral-
tória que ocorre de acordo com as condições descritas a seguir; gia, linfadenopatia, esplenomegalia e eosinofilia, sintomas que
se um antígeno é fornecido repetidamente a animais até que eles surgem no período de alguns dias até duas semanas após a inje-
3
desenvolvam altos títulos de anticorpos IgG e esse antígeno é, ção do soro estranho ou do fármaco. Embora sejam necessários
então, injetado via subcutânea ou intradérmica, intenso edema vários dias até o surgimento dos sintomas, a doença do soro é
e hemorragia desenvolvem-se, alcançando um pico dentro de classificada como uma reação imediata, pois os sintomas surgem
três a seis horas. imediatamente após a formação dos imunocomplexos. Os sinto-
Antígeno, anticorpo e complemento são depositados nas pa- mas melhoram à medida que o sistema imune remove o antíge-
redes dos vasos; ocorrem infiltração celular por células polimor- no, e desaparecem quando o antígeno é eliminado. Atualmente,
fonucleares e agregação plaquetária intravascular. Essas reações a doença do soro é mais causada por fármacos (p. ex., penicilina)
podem levar à oclusão vascular e à necrose. do que por soros estranhos, já que a utilização de soros estranhos
Uma manifestação clínica da reação de Arthus é a pneu- não é muito frequente. O exantema maculopapular induzido por
monia por hipersensibilidade (alveolite alérgica), associada à fármaco, como a ampicilina, é bastante comum. O uso de globu-
inalação de actinomicetos termófilos ("pulmão de fazendei- linas antitimócitos (timoglobulina), produzidas em cavalos, para
ro,,) que ocorrem em material proveniente de plantas, como o induzir imunossupressão em pacientes transplantados pode cau-
feno. Existem, ainda, muitos outros exemplos de hipersensibi- sar a doença do soro. A antitoxina diftérica, também produzida
lidades ocupacionais, como o "pulmão do queijeiro': "pulmão em cavalos, é conhecida por causar a doença do soro.
do marceneiro,, e o "pulmão do farinheiro': A maioria dessas
doenças é causada pela inalação de microrganismo, bactéria ou Doenças causadas por imunocomplexos
fungo, os quais crescem no material trabalhado. Uma reação de
Muitos distúrbios clínicos associados a imunocomplexos têm
Arthus também pode ocorrer no local onde foram realizadas
sido descritos, embora o antígeno que inicia a doença seja fre-
imunizações contra o tétano, caso essas vacinações tenham sido
quentemente duvidoso. Vários exemplos representativos são des-
administradas num mesmo local, com um intervalo muito cur-
critos a seguir.
to entre as imunizações. (O intervalo mínimo é de geralmente
cinco anos.)
Glomerulonefrite
A glomerulonefrite aguda pós-estreptocócica é uma doença do
3
Em geral, uma quantidade maior de anticorpos é necessária para que imunocomplexo bem-aceita. Ela ocorre várias semanas após uma
uma reação de Arthus ocorra, se comparada à quantidade necessária para infecção por estreptococos í3-hemolíticos do grupo A, particu-
que ocorra uma reação anafilática. larmente na pele, e, em geral, por sorotipos nefritogênicos de
CAPÍTULO 65 Hipersensibilidade (Alergia) S47

Streptococcus pyogenes. Normalmente, os níveis de complemento A


Antígeno
são baixos, sugerindo uma reação antígeno-anticorpo. Depósi- IL-1 , IL-12
+
tos elevados de imunoglobulinas e C3 são observados ao longo
das membranas glomerulares basais, por meio de imunofluores- •

cência, sugerindo a presença de complexos antígeno-anticorpo.
Assume-se que complexos antígeno-anticorpo estreptocócicos,
após serem depositados nos glomérulos, fixam o complemento
e atraem neutrófilos, os quais iniciam um processo inflamatório. Proteína do
MHC de classe li lnterferon y
Lesões similares, com depósitos elevados contendo imuno-
globulinas, e C3 ocorrem na endocardite infecciosa, na doença FIGURA 65-4 Hipersensibilidade tardia (mediada por células). O ma-
do soro e em certas doenças virais (p. ex., hepatite B e febre da crófago captura o antígeno, o processa, e apresenta um epítopo em
dengue hemorrágica). Lesões contendo imunocomplexos tam- sua superfície em associação a uma proteína do complexo principal de
bém ocorrem em doenças autoimunes (p. ex., na nefrite do lúpus histocompatibilidade (MHC) de classe li. A célula T auxiliar (Th-1) é ati-
eritematoso sistémico, em que os depósitos "grumosos,, contêm vada e produz interferon 'Y, que ativa macrófagos. Esses dois tipos de
célu las medeiam a hipersensibilidade tardia. TCR, receptor de célula T.
DNA como antígeno) (ver mais adiante na página 556).
A nefropatia por IgA é uma das formas de glomerulonefrite
associada a imunocomplexos mais comuns em todo o mundo. Em certas hipersensibilidades de contato, como com o car-
A doença é caracterizada por depósitos de IgA nos glomérulos. valho-venenoso, o exantema vesicular pruriginoso é causado por
A causa é desconhecida; nenhum agente infeccioso tem sido as- células T citotóxicas CDS-positivas que atacam células da pele
sociado à doença. O curso dessa doença varia consideravelmente. que apresentam o óleo da planta como antígeno estranho. No
Alguns pacientes são assintomáticos, alguns apresentam sinto- teste dérmico da tuberculina, a pápula endurecida na pele é cau-
mas brandos, e outros progridem rapidamente à falência renal. sada por células T auxiliares CD4-positivas e macrófagos que são
O diagnóstico é fornecido por meio da biópsia renal seguida pela atraídos para o local da injeção. A Tabela 65-4 descreve alguns
demonstração de depósitos de IgA por testes imunológicos. aspectos clínicos importantes das hipersensibilidades tardias.

Artrite reumatoide Reações de hipersensibilidade tardia


A artrite reumatoide é uma doença autoimune crônica e inflama- clinicamente importantes
tória que afeta as articulações e é comumente observada em mu-
lheres jovens. É uma doença sistémica que envolve não apenas as Hipersensibilidade de contato
articulações, mas também outros órgãos, principalmente os pul- Essa manifestação de hipersensibilidade celular acontece após a
mões e o pericárdio. O soro e o líquido sinovial desses pacientes sensibilização por compostos químicos simples (p. ex., níquel,
apresentam o "fator reumatoide,, (i.e., anticorpos IgM e IgG que formaldeído ), materiais oriundos de plantas (p. ex., urtiga, car-
se ligam ao fragmento Fc da IgG humana normal). Depósitos de valho-venenoso), fármacos aplicados topicamente (p. ex., sulfo-
imunocomplexos (contendo IgG normal e fator reumatoide) nas namidas, neomicina), alguns cosméticos, sabões e outras subs-
membranas sinoviais e nos vasos sanguíneos ativam o comple- tâncias. A neomicina na forma de pomada antibacteriana de uso
mento e atraem células polimorfonucleares, causando inflama- tópico é uma causa muito comum.
ção. Os pacientes apresentam altos títulos do fator reumatoide e Em todos os casos, pequenas moléculas funcionando como
baixos títulos de complemento no soro, sobretudo durante perío- haptenos penetram na pele, ligam-se a proteínas corporais e tor-
dos em que a doença é mais ativa (ver Capítulo 66). nam-se antígenos completos. Acredita-se que estas proteínas nor-
mais da pele, para as quais o sistema imune é tolerante, passem
Lúpus eritematoso sistêmico a funcionar como proteínas carreadoras, pois o hapteno altera a
proteína suficientemente para que o sistema imune a reconheça
O lúpus eritematoso sistémico é uma doença autoimune crônica e
como estranha. A hipersensibilidade celular é particularmente
inflamatória que afeta diversos órgãos, principalmente a pele da
induzida na pele. Após novo contato da pele com o agente ofen-
face, as articulações e os rins. Anticorpos são formados contra o
sivo, o indivíduo sensibilizado desenvolve dermatite de contato,
DNA e outros componentes do núcleo das células. Esses anticorpos
caracterizada por eritema, coceira, vesículas, eczema ou necrose
formam imunocomplexos que ativam o complemento. A ativação
da pele dentro de 12 a 48 horas, em razão do ataque de células T
do complemento produz C5a, que atrai neutrófilos, que, por sua
citotóxicas. Testes adesivos em pequenas áreas da pele podem,
vez, liberam enzimas, danificando o tecido (ver Capítulo 63 e 66).
às vezes, identificar o antígeno ofensivo. Evitar o contato subse-
quente com o material pode prevenir recorrências.
TIPO IV: HIPERSENSIBILIDADE TARDIA
Hipersensibilidade do tipo tuberculina
(MEDIADA POR CÉLULAS)
A hipersensibilidade a antígenos de diferentes microrganismos
A hipersensibilidade tardia ocorre em função de linfócitos T, ocorre em muitas doenças infecciosas e tem sido utilizada no au-
não de anticorpos (Figura 65-4). Ela pode ser transferida por cé- xílio para o diagnóstico. Um exemplo típico é a reação à tubercu-
lulas T imunologicamente ativas (sensibilizadas), não pelo soro. lina. Quando um paciente previamente exposto à Mycobacterium
A resposta é "tardià' (i.e., inicia horas [ou dias] após o contato tuberculosis recebe uma injeção intradérmica de uma pequena
com o antígeno e frequentemente dura muitos dias). quantidade de tuberculina (derivado proteico purificado [PPD]),
S48 PARTE VII Imunologia

TABELA 65-4 Aspectos clínicos importantes das hipersensibilidades tardias

Principais células Características


imunes envolvidas Doença importante ou teste de pele patológicas ou clínicas Agentes indutores comuns

Células T CD4 (auxiliares) e 1. Tuberculose, coccidioidomicose Granuloma Constituintes de bactérias ou fungos


macrófagos
2. Testes de pele utilizando tuberculi- Endurecimento Derivado proteico purificado ou cocci-
na ou coccidioidina (ou esferulina) dioidina (ou esferulina)

Células T CDS (citotóxicas) 1. Dermatites de contato Exantema vesicular Óleo do carvalho-venenoso ou da urti-
pruriginoso ga, fármacos tópicos, sabões, metais
pesados (em joias e bijuterias)
2. Eritema multiforme, síndrome de Lesão-alvo Herpes-vírus simples, Mycop/asma
Stevens-Johnson, necrólise epidér- pneumoniae e sulfonamidas
mica tóxica

é observada uma pequena reação nas primeiras horas subsequen- As manifestações clínicas dessas doenças são caracterizadas
tes. De forma gradual, entretanto, inchaço local e vermelhidão por um continuum de sintomas que diferem em gravidade e loca-
desenvolvem -se e alcançam um pico no período de 48 a 72 horas. lização anatômica. O eritema multiforme minar é caracterizado
Um teste de pele positivo indica que o paciente já foi infectado pela presença de relativamente poucas lesões-alvo, localizadas
pelo agente, embora não confirme a presença de doença corrente. na pele, frequentemente envolvendo as extremidades (Figura 65-
No entanto, se o teste de pele converge de negativo para positivo, 5), com envolvimento mínimo das membranas mucosas. A cura
ele sugere que o paciente foi recentemente infectado. Indivíduos dessas lesões inicia em sete dias, mas elas podem reaparecer.
infectados nem sempre apresentam um teste cutâneo positivo, Em contrapartida, o eritema multiforme major apresenta uma
uma vez que a infecção grave, distúrbios que suprimem a imu- quantidade maior de lesões extensivas na pele e envolve as mem -
nidade celular (p. ex., uremia, sarampo, sarcoidose, linfoma e branas mucosas, frequentemente a boca e a conjuntiva.
síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]) ou a adminis-
tração de fármacos imunossupressores (p.ex., corticosteroides,
antineoplásicos) podem causar anergia.
Um teste intradérmico positivo auxilia o diagnóstico e provê
suporte para a quimioprofilaxia ou quimioterapia. Na hansení-
ase, um teste com lepromina positivo indica a presença de han-
seníase tuberculoide associada à imunidade celular competente,
ao passo que um teste com lepromina negativo sugere a presença
de hanseníase lepromatosa associada a uma imunidade celular
comprometida. Em infecções micóticas sistémicas (p. ex., cocci-
dioidomicose e histoplasmose), um teste de pele positivo para o
antígeno específico indica exposição ao microrganismo. A hiper-
sensibilidade celular desenvolve-se em muitas infecções virais;
entretanto, testes sorológicos são mais específicos do que testes
intradérmicos, tanto para o diagnóstico quanto para a avaliação
da imunidade. Em infecções helmínticas e por protozoários, tes-
tes intradérmicos podem ser positivos, mas eles são, em geral,
menos úteis e específicos do que os testes sorológicos.

Eritema multiforme, síndrome de Stevens-Johnson


e necrólise epidérmica tóxica
O eritema multiforme, a síndrome de Stevens-Johnson e a ne-
crólise epidérmica tóxica são doenças cutâneas relacionadas cau-
sadas principalmente pelo ataque de células T citotóxicas sobre
as células da pele (queratinócitos). Os gatilhos mais comuns são
o herpes-vírus simples 1, M. pneumoniae e uma variedade de
fármacos, incluindo sulfonamidas e penicilinas. Diversos alelos FIGURA 65-5 Eritema multiforme. Lesões-alvo na palma da mão.
para o antígeno leucocitário humano (HLA) predispõem a essas (Reproduzida, com permissão, de Goldsmith LA, Katz SI et ai. (eds) . Fitzpatrick's
doenças, principalmente o HLA-DQ3 e HLA-Bl2. Dermatology in General Medicine. 8th ed. NewYork: McGraw-Hill, 2012. Copyright
© 2012 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
CAPÍTULO 65 Hipersensibilidade (Alergia) S49

A síndrome de Stevens-Johnson (SJS) apresenta lesões bolho- ( C) Um dos fármacos ativou a via alternativa do complemento.
sas mais extensas, frequentemente na face e no tronco, com lesões (D) Um dos fármacos ligou-se cruzadamente à IgE nos mastócitos
significativas nas membranas mucosas. Na SJS, menos de 10% da e causou a liberação de histamina.
superfície corporal é envolvida; na necrólise epidérmica tóxica 4. Qual das seguintes doenças seria mais provável de ser causada por
(NET), mais de 10% da superfície corporal é envolvida. A NET é uma reação de hipersensibilidade tardia?
um doença que apresenta risco à vida, sendo recomendado o trata- (A) Anemia hemolítica autoimune.
mento em uma unidade destinada a pessoas queimadas. (B) Dermatite de contato, como pelo carvalho-venenoso.
(C) Doença hemolítica do recém-nascido.
(D) Glomerulonefrite pós-estreptocócica.
(E) Lúpus eritematoso sistêmico.
APLIQUE SEU CONHECIMENTO
5. Indivíduos atópicos (i.e., com predisposição hereditária a reações
1. Seu paciente apresenta episódios de olhos lacrimejantes, vermelhi- de hipersensibilidade imediata) produzem quantidades elevadas de
dão ocular e coriza, que você imagina estarem associados a uma aler- IgE. Qual das seguintes opções é a explicação mais provável para a
gia ao pólen de alguma planta. Você indica um alergologista para o produção elevada de IgE?
paciente e ele realiza testes de pele com vários alérgenos. Uma reação
(A) Grandes quantidades de IL-1 são produzidas por células den-
com inchaço e vermelhidão surge nas costas do paciente, nos locais
dríticas.
onde diversos pólens foram inoculados. Qual é a sequência de even-
(B) Grandes quantidades de IL-2 são produzidas por macrófagos.
tos mais prováveis que gera uma reação de inchaço e vermelhidão?
( C) Grandes quantidades de IL-4 são produzidas por células
(A) O alérgeno liga-se à IgE na superfície de células B e IL-4 é libe- Th-2.
rada. (D) Grandes quantidades de interferon "/ são produzidas por célu-
(B) O alérgeno liga-se à IgE na superfície de mastócitos e histami- las Th-1.
na é liberada. (E) Grandes quantidades de C3a são produzidas pela via alternati-
(C) O alérgeno liga-se à IgE no plasma, o que ativa o complemento va do complemento.
para produzir C3b.
6. Entre os quatro tipos de reações de hipersensibilidade, qual deles
(D) O alérgeno liga-se à IgE no plasma, os complexos alérgeno-IgE
causa a hemólise que ocorre na doença hemolítica do recém-nasci-
ligam-se à superfície de macrófagos e IL-1 é liberada.
do (eritroblastose fetal)?
2. Um importante teste que determina se um paciente foi exposto ao
(A) Tipo I - hipersensibilidade imediata.
Mycobacterium tuberculosis, a bactéria que causa tuberculose, é a
(B) Tipo II - hipersensibilidade citotóxica.
realização do teste de PPD. Nesse teste, o PPD extraído do organis-
( C) Tipo III - hipersensibilidade por imunocomplexos.
mo é injetado intradermicamente. Entre as seguintes opções, qual é
(D) Tipo IV- hipersensibilidade tardia.
a mais provável de ocorrer no local de um PPD positivo?
(A) Células T citotóxicas matam células no local de inoculação.
(B) Macrófagos e células T CD4-positivas infiltram o local de ino-
culação.
RESPOSTAS
(C) Histamina e leucotrienos são liberados de mastócitos no local 1. (B)
de inoculação. 2. (B)
(D) Imunocomplexos consistindo em PPD e IgG são depositados 3. (A)
no local de inoculação. 4. (B)
3. Seu paciente é um homem de 77 anos com endocardite enterocóci- 5. (C)
ca, que foi tratado com penicilina G e gentamicina. Cinco dias após 6. (B)
o início do tratamento, febre e um exantema maculopapular difuso
desenvolvem-se. Não há urticária, hipotensão ou comprometimen-
to respiratório. A análise da urina revelou proteinúria e presença de QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
depósitos granulares. Você suspeita que ele tenha a doença do soro.
Qual dos seguintes mecanismos imunopatogênicos é a causa mais Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
provável da doença? centradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
(A) Um dos fármacos formou imunocomplexos com IgG. Autoavaliação, a partir da página 713. Consulte também a Parte
(B) Um dos fármacos ativou células T CD4-positivas e macrófagos. XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CAPÍTULO

Tolerância e Doença
Autoimune
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Tolerância Fatores ambientais


Tolerância por células T Mecanismos
Tolerância por células B Doenças
Indução da tolerância Tratamento
Doenças autoimunes Aplique seu conhecimento
Fatores genéticos Questões para autoavaliação
Fatores hormonais

TOLERÂNCIA está imunologicamente maduro) são considerados "não próprios,,


e, normalmente, geram uma resposta imune. Embora tanto as cé-
A tolerância é uma falta de resposta imune específica (i.e., ares- lulas T quanto as células B participem da tolerância, é a tolerância
posta imune a um certo antígeno [ou epítopo] não ocorre, embo- por células T que apresenta um papel mais importante.
ra o sistema imune esteja funcionando normalmente). Em geral,
antígenos que estão presentes durante a vida embrionária são
considerados "próprios,, e não estimulam uma resposta imune Tolerância por células T
(i.e., os seres humanos são tolerantes a esses antígenos). A falta de O principal processo pelo qual linfócitos T adquirem a habilida-
resposta imune no feto é causada pela remoção de precursores de de distinguir "próprio,, de "não próprio,, ocorre no timo fetal
autorreativos de células T no timo (Figura 66-1). Por outro lado, (ver Capítulo 58). Este processo, denominado deleção clonai,
antígenos que não estão presentes durante o processo de matura- envolve a morte de células T ("seleção negativa,,) que reagem
ção (i.e., que são primeiramente encontrados quando o corpo já contra antígenos (principalmente proteínas endógenas do com -

/
,,. - '
'
/ \
I A \
I 1
1 1
1 Morte
\
celular /
I

'' ,,. /
' -- --

Duas células T imaturas Ligação do antígeno Morte da célula T


(A e B) com diferentes próprio à célula T "A" autorreativa "A"·
'
receptores de antígenos no timo, mas não à sobrevivência da célula
célula T "B" T "B" que reage contra
um antígeno estranho

FIGURA 66-1 Geração de tolerância por células T no timo.


CAPÍTULO 66 Tolerância e Doença Autoimune SS 1

MHC de Antígeno MHC de Antígeno


classe li TCR classe 11 TCR
Célula 1 Célula 1
apresentadora ,_ ........___ apresentadora,_ ........___
de antígeno - - - .Jt'--\ de antígeno <:tif:> .J--\
Célula T Célula T
auxiliar auxiliar
Proteína CD4 Proteína CD4

Proteína Proteína Proteína


87 CD28 CD28

FIGURA 66-2 Anergia clonal fora do timo. A: A proteína B7 na célula apresentadora de antígeno interage com CD28 na célula T auxiliar, e a
ativação completa da célula T auxiliar acontece. B: A proteína B7 na célula apresentadora de antígeno não é produzida; assim, CD28 na célula T
auxiliar não recebe o sinal coestimulador. A anergia da célula T auxiliar ocorre, apesar da interação do receptor de células T (TCR) com o antígeno.

plexo principal de histocompatibilidade [MHC]) presentes no proteína inibidora CTLA-4, localizada na superfície de células T,
feto naquele determinado momento. (É importante ressaltar pode deslocar CD28 e interagir com B7, resultando em uma falha
que substâncias exógenas injetadas no feto na fase precoce do na ativação de células T. Além disso, B7 é uma proteína induzí-
desenvolvimento são tratadas como endógenas). As células au- vel, e uma falha em quantidades suficientes em sua ativação pode
torreativas morrem por meio de um processo de morte celular conduzir à anergia. Por conseguinte, as proteínas coestimulado-
programada, denominado apoptose. A tolerância ao "próprio': ras CD40, nas células B, e CD40L, nas células T auxiliares, podem
adquirida na parte interna do timo, é chamada de tolerância não interagir apropriadamente.
central, ao passo que a adquirida na parte externa é chamada de A falha dos sinais coestimuladores ocorre com mais fre-
tolerância periférica. quência quando há uma resposta inflamatória insuficiente no
Para que a seleção negativa e a remoção clona! sejam eficien- local de infecção. A presença de micróbios geralmente estimula a
tes, as células epiteliais tímicas precisam apresentar um amplo produção de citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose
repertório de proteínas "próprias': Um regulador transcricional, tumoral (TNF) e IL-1. No entanto, se a resposta inflamatória for
denominado regulador autoimune (AIRE, autoimmune regula- insuficiente (i.e., se o efeito adjuvante das citocinas for inadequa-
tor), intensifica a síntese dessas proteínas próprias. Mutações no do), as células T morrerão, em vez de serem ativadas.
gene que codifica a proteína AIRE resultam no desenvolvimento
de uma doença autoimune, denominada poliendocrinopatia au- Tolerância por células B
toimune. O fator de transcrição AIRE também funciona nos ór- Células B também se tornam tolerantes ao que é próprio por
gãos linfoides periféricos, como no baço e nos linfonodos, onde meio de dois mecanismos: ( 1) remoção clonai, provavelmente
ele contribui para a tolerância periférica. enquanto os precursores de células B se encontram na medula
A tolerância periférica é necessária porque alguns antíge- óssea, e (2) anergia clona! de células B na periferia. Entretanto, a
nos não são expressos no timo e, portanto, algumas células T tolerância em células B é menos completa do que nas células T,
autorreativas não são eliminadas no timo. Existem diversos me- observação baseada no fato de que a maioria das doenças autoi-
canismos envolvidos na tolerância periférica: algumas células T munes é mediada por anticorpos.
autorreativas são mortas, algumas não são ativadas, e outras são Células B que exibem um receptor antigénico para uma pro-
suprimidas pelas células T reguladoras produtoras de citocinas teína endógena podem escapar da deleção clona! (apoptose) por
inibidoras. A anergia clonai é o termo usado para descrever cé- um processo denominado edição de receptor. Nesse processo, é
lulas T autorreativas que não são ativadas, já que uma coestimu- produzida uma cadeia leve nova, diferente, que altera a especi-
lação apropriada não ocorre (Figura 66-2). A ignorância clona! ficidade do receptor para que este passe a não reconhecer mais
refere-se às células T autorreativas que ignoram os antígenos pró- a proteína própria. Isso reduz o risco de doenças autoimunes e
prios. As células T autorreativas são mantidas "ignorantes,, por aumenta o repertório de células B que podem reagir contra pro-
meio de sua separação física dos antígenos-alvo (p. ex., a barreira teínas exógenas. Estima-se que mais de 50% das células B autor-
hematencefálica) ou ignoram autoantígenos porque os antígenos reativas passem pela edição de receptor. As células T não sofrem
estão presentes em quantidades muito pequenas. edição de receptor.
Embora células T derivadas da anergia clona! não sejam
reativas, elas podem se tornar reativas e iniciar uma doença au-
toimune, caso as condições se alterem posteriormente na vida. INDUÇÃO DA TOLERÂNCIA
Os mecanismos da anergia clona! envolvem a apresentação ina-
A condição de um antígeno induzir tolerância em vez de uma
propriada de antígenos, o que leva a uma falha na produção de
resposta imune é amplamente determinada pelo seguinte:
interleucina 2 (IL-2). A apresentação inapropriada deve-se a uma
falha dos "sinais coestimuladores,, (p. ex., produção insuficiente (1) Maturidade imunológica do hospedeiro (p. ex., animais
de IL-1 ou interação inapropriada entre proteínas nas superfícies neonatais são imunologicamente imaturos e não respondem a
celulares, como CD28 em células T e B7 em células B, levando à antígenos estranhos; um exemplo é o fato de que neonatos acei-
falha na transdução de sinais pelas proteínas ras). Por exemplo, a tam transplantes que seriam rejeitados por animais maduros).
S52 PARTE VII Imunologia

(2) Estrutura e dose do antígeno (p. ex., uma molécula muito tâncias, a tolerância pode ser perdida e reações imunes a antíge-
simples induz tolerância mais facilmente do que uma complexa; nos próprios podem se desenvolver, resultando em uma doença
e doses muito altas ou muito baixas de antígenos podem induzir autoimune. A etapa mais importante na geração de uma doença
tolerância, em vez de gerar uma resposta imune). Polissacarídeos autoimune é a ativação de células T auxiliares (CD4-positivas)
ou copolímeros de aminoácidos purificados, injetados em doses autorreativas. Estas células autorreativas Th-1 ou Th-2 podem
muito grandes, resultam em "paralisia imune" - falta de resposta. induzir tanto reações mediadas por células quanto mediadas por
anticorpos, respectivamente. Como descrito na Tabela 66-1, a
Outros aspectos da indução ou manutenção da tolerância maioria das doenças autoimunes é mediada por anticorpos.
estão apresentados a seguir:
(1) Células T tornam-se tolerantes mais facilmente e por Fatores genéticos
mais tempo do que células B. Muitas doenças autoimunes apresentam uma incidência marca-
(2) A administração de um antígeno que reage de forma cru- damente familiar, o que sugere uma predisposição genética para
zada com o antígeno para o qual há tolerância tende a suspender esses distúrbios. Há uma forte associação de algumas doenças
a tolerância. autoimunes com algumas especificidades de certos antígenos
(3) A administração de fármacos imunossupressores inten- leucocitários humanos (HLAs ), principalmente no caso dos ge-
sifica a tolerância (p. ex., em pacientes que receberam transplan- nes de classe II. Por exemplo, a artrite reumatoide ocorre pre-
tes de órgãos). dominantemente em indivíduos que carreiam o gene de HLA-
(4) A tolerância é mais efetivamente mantida se o antígeno -DR4. A espondilite anquilosante é 100 vezes mais prevalente em
para o qual o sistema imune é tolerante continuar a ser apresentado. pessoas que carreiam HLA-B27, um gene de classe I, do que nas
que não possuem esse gene.
Há duas hipóteses para explicar a relação entre certos genes
DOENÇAS AUTOIMUNES do HLA e doenças autoimunes. Uma delas sugere que esses genes
codificam proteínas do MHC de classes I ou II que apresentam
Um indivíduo adulto normalmente apresenta tolerância a antí- autoantígenos com maior eficiência do que proteínas do MHC
genos teciduais apresentados durante a vida fetal, os quais são que não estão associadas a doenças autoimunes. A outra sugere
reconhecidos como "próprios': Entretanto, em certas circuns- que células T autorreativas escapam da seleção negativa no timo

TABELA 66-1 Doenças autoimunes importantes

Tipo de resposta imune Doença autoimune Alvo principal da resposta imune

Anticorpo contra receptores Miastenia grave Receptor de acetilcolina


Doença de Graves TSH receptor
Diabetes resistente à insulina Receptor de insulina
Miastenia de Lambert-Eaton Receptor do cana l de cálcio

Anticorpo contra outros componentes Lúpus eritematoso sistêmico DNA de dupla-fita, histonas
1
celulares que não os receptores Artrite reumatoide Tecido das articulações
Febre reumática Tecidos cardíacos e das articulações
Anemia hemolítica Membrana das hemácias
Púrpura trombocitopênica idiopática Membranas das plaquetas
Síndrome de Goodpasture Membrana basal dos rins e dos pulmões
Anemia perniciosa Fatores intrínsecos e célu las parietais
1
Tireoidite de Hashimoto Tiroglobulina
1
Diabetes melito dependente de insulina Células das ilhotas pancreáticas
Doença de Addison Córtex suprarrenal
Glomerulonefrite aguda Membrana basal g lomerular
Poliarterite (periarterite) nodosa Artérias de pequeno e médio ca libre
Síndrome de Guillain-Barré Proteína mielínica
Granulomatose de Wegener Enzimas citoplasmáticas de neutrófilos
Pênfigo ("fogo selvagem") Desmogleína nos desmossomos epiteliais
Nefropatia por lgA Glomérulos

Mediada por células Encefalomielite alérgica e esclerose múltipla Reação à mielina, levando à desmielinização
dos neurônios cerebrais
Doença celíaca Enterócitos

RBC, hemácia; TSH, hormônio estimulador da tireoide.


1
Estas doenças envolvem tanto uma resposta mediada por células significativa quanto uma resposta mediada por anticorpos.
CAPÍTULO 66 Tolerância e Doença Autoimune S53

porque elas se ligam fracamente às proteínas do MHC de classes TABELA 66-2 Infecções microbianas associadas a
I ou II na superfície do epitélio tímico. doenças autoimunes
Deve-se observar, no entanto, que o desenvolvimento ou
Micróbio Doença autoimune
não de uma doença autoimune é um fenômeno multifatorial, já
que muitas pessoas que carreiam genes do HLA com predispo- Bactérias
sição conhecida para o desenvolvimento de certas doenças au- Streptococcus pyogenes Febre reumática
toimunes ainda assim não desenvolvem a doença (p. ex., muitas Campylobacter jejuni Síndrome de Guillain-Barré
pessoas que carreiam o gene de HLA-DR4 não desenvolvem ar- Escherichia coli Cirrose biliar primária
trite reumatoide). Isso significa que genes do HLA são aparente- Chlamydia trachomatis Síndrome de Reiter
mente necessários, mas não suficientes para causar uma doença Espécies de Shigella Síndrome de Reiter
autoimune. Em geral, doenças relacionadas ao MHC de classe II Yersinia enterocolitica Artrite reativa
(p. ex., atrite reumatoide, doença de Graves [hipertireoidismo] e
Borre/ia burgdorferi Artrite de Lyme
lúpus eritematoso sistémico) ocorrem mais frequentemente em
mulheres, ao passo que doenças associadas ao MHC de classe I Vírus
1
(p. ex., espondilite anquilosante e síndrome de Reiter) ocorrem Vírus da hepatite B Esclerose múltipla
mais comumente em homens. Vírus da hepatite C Crioglobulinemia mista
Vírus do sarampo Encefalite alérgica
Fatores hormonais Vírus de Coxsackie B3
2
Miocardite
3
Vírus de Coxsackie B4 Diabetes melito tipo 1
Aproximadamente 90% de todas as doenças autoimunes ocor-
rem em mulheres. Embora a explicação para esta razão mar- Citomega lovírus Esclerodermia

cadamente desigual entre os gêneros seja desconhecida, há evi- Vírus da leucemia de célulasT Mielopatia associada ao HTLV
humanas (HTLV)
dências obtidas de modelos animais em que o estrogênio pode
alterar o repertório de células B e intensificar a formação de an- 1
Outros vírus, como o vírus Epstein-Barr, o herpes-vírus humano 6, o vírus
ticorpos contra DNA. Clinicamente, a observação de que o lúpus influenza A e o vírus do sarampo, também são relacionados como possíveis cau-
sas da esclerose múltipla. No entanto, nenhum vírus foi definitivamente implica-
eritematoso sistémico surge ou é exacerbado durante a gravidez
do como um iniciador ambiental até o momento.
(ou imediatamente após o parto) suporta a ideia de que hormô- 2
0 vírus de Coxsackie infecta e mata miócitos cardíacos, causando os sintomas
nios possuem um papel importante na predisposição de mulhe- agudos, mas a fase tardia é causada pelo ataque de células T citotóxicas aos mió-
res a doenças autoimunes. citos.
3
Causa diabetes melito em camundongos, mas ainda é incerto se é capaz de cau-
sar a doença em seres humanos.
Fatores ambientais
Existem diversos agentes ambientais que iniciam doenças au- ambiental que inicia uma resposta imune cruzada contra algum
toimunes, sendo a maioria composta por bactérias ou vírus. Por componente normal dos tecidos. Além disso, em razão do fato de
exemplo, a faringite causada por Streptococcus pyogenes predispõe que doenças autoimunes aumentam em número com o avanço da
à febre reumática. Outros exemplos são descritos na Tabela 66-2. idade, outro possível fator predisponente é o declínio no número
Embora seja apenas especulativo até o momento, acredita-se que de células T reguladoras, o que permite que quaisquer células T
membros da microbiota normal do intestino possuam um pa- autorreativas sobreviventes proliferem e causem doença.
pel importante na gênese de doenças inflamatórias do intestino,
como na doença de Crohn e na colite ulcerativa.
Mecanismos
Algumas infecções causam doenças autoimunes em animais
(p. ex., infecções por vírus de Coxsackie em camundongos cau- Os seguintes mecanismos principais para autoimunidade têm
sam diabetes do tipo I nesses animais, embora esta não seja uma sido propostos.
causa estabelecida para a doença em seres humanos). Outros
iniciadores ambientais incluem certos fármacos, como a procai- Mimetismo molecular
namida, capaz de causar lúpus eritematoso sistémico, e certos Várias bactérias e vírus são implicados como a fonte de antígenos
metais pesados, como ouro e mercúrio, os quais causam doenças cruzadamente reativos que iniciam a ativação de células T ou B
autoimunes em animais experimentais. autorreativas. Por exemplo, a síndrome de Reiter ocorre após a
Existem dois mecanismos principais pelos quais os fatores infecção com Shigella ou Chlamydia, e a síndrome de Guillain-
ambientais podem iniciar doenças autoimunes. Um deles é o mi- -Barré ocorre após infecções por Campylobacter. O conceito de
metismo molecular, no qual agentes infecciosos possuem antí- mimetismo molecular é utilizado para explicar esses fenômenos
genos que geram uma resposta imune capaz de reagir de forma (i.e., o iniciador ambiental assemelha-se [mimetiza] suficien-
cruzada com componentes de células humanas. O outro sugere temente a um componente do corpo de forma que uma reação
que a lesão tecidual libera antígenos intracelulares (sequestrados) imune é direcionada de forma cruzada contra esse componente).
que induzem uma resposta imune. Esses mecanismos são descri- Um dos exemplos mais bem-caracterizados de mimetismo mo-
tos em detalhes na próxima seção. lecular é a relação entre a proteína M de S. pyogenes e a miosina
Em suma, no modelo corrente as doenças autoimunes ocor- dos músculos cardíacos. Anticorpos contra certas proteínas M
rem em pessoas ( 1) com uma predisposição genética determina- reagem cruzadamente com a miosina cardíaca, levando à febre
da pelos seus genes do MHC e (2) que são expostas a um agente reumática.
S54 PARTE VII Imunologia

Uma evidência adicional que suporta a hipótese do mime- de doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico, uma
tismo molecular inclui o fato de que existem sequências de ami- vez que eles perdem a função de suas células T reguladoras.
noácidos idênticos entre certas proteínas virais e certas proteínas
humanas. Por exemplo, há uma sequência de seis aminoácidos na Doenças
polimerase do vírus da hepatite B que é idêntica a uma sequência
A Tabela 66-1 descreve diversas doenças autoimunes importantes
presente na proteína básica mielínica humana.
de acordo com o tipo de resposta imune que causa a doença e o
alvo da resposta autoimune. Alguns exemplos de doenças autoi-
Alteração de proteínas normais
munes são descritos com mais detalhes a seguir.
Fármacos podem ligar-se a proteínas normais e torná-las imuno-
gênicas. O lúpus eritematoso sistêmico induzido pela procaina- Doenças que envolvem principalmente um
mida é um exemplo desse mecanismo. tipo de célula ou órgão
1. Encefalite alérgica - Um exemplo clinicamente importante
Liberação de antígenos sequestrados
de encefalite alérgica ocorre quando indivíduos são imunizados
Certos tecidos (p. ex., esperma, sistema nervoso central e as lentes com vacinas contra a raiva produzidas em cérebro de coelhos.
e os tratos uveais oculares) são sequestrados, de forma que seus A resposta imune desencadeada contra a mielina estranha pre-
antígenos não são expostos ao sistema imune. Eles são chamados sente na vacina reage cruzadamente com a mielina humana,
de locais imunologicamente privilegiados. Quando esses antíge- o que leva à inflamação do encéfalo. Embora rara, essa é uma
nos entram acidentalmente na circulação sanguínea (p. ex., após doença grave e a vacina antirrábica produzida em encéfalo de
algum dano), eles geram tanto respostas humorais quanto celula- coelho não é mais utilizada em alguns países, como nos Estados
res, produzindo aspermatogênese, encefalite ou endoftalmite, res- Unidos* ver Capítulo 39). Encefalites alérgicas podem também
pectivamente. O esperma, em particular, precisa estar sequestra- ocorrer após certas infecções virais (p. ex., sarampo ou influenza)
do em um local imunologicamente privilegiado, uma vez que ele ou após imunizações contra essas infecções. Essas reações são ra-
se desenvolve depois que a maturidade imunológica foi alcançada, ras, e as bases da reação autoimune, nestes casos, são incertas. A
e ainda assim não é sujeito à ação do sistema imune. encefalite alérgica pode ser reproduzida em laboratório por meio
Antígenos intracelulares, como o DNA, as histonas e as da injeção da proteína mielínica básica no encéfalo de roedores, o
enzimas mitocondriais, são normalmente sequestrados e não que inicia uma resposta celular que leva à desmielinização.
são expostos ao sistema imune. Entretanto, infecções por vírus
ou bactérias podem danificar as células e causar a liberação dos 2. Esclerose múltipla - Nessa doença, células T autorreativas e
antígenos sequestrados, os quais geram respostas imunes. Uma macrófagos ativados causam a desmielinização da substância
vez que autoanticorpos são formados, a subsequente liberação branca do cérebro. Acredita-se que o iniciador que estimula as
de antígenos sequestrados resulta na formação de imunocom- células T autorreativas seja uma infecção viral. Existem evidên-
plexos e nos sintomas da doença autoimune. Além da infec- cias moleculares que sugerem que a polimerase do vírus Epstein-
ção, radiação e compostos químicos também podem danificar -Barr possa ser o iniciador. Indivíduos que apresentam certos ale-
células e liberar componentes intracelulares sequestrados. Por los na região HLA-DR possuem um risco aumentado de contrair
exemplo, a luz do sol é conhecida por exacerbar o exantema de a esclerose múltipla.
pele em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico. Acredita- Os sinais clínicos na esclerose múltipla são inconstantes e
-se que a radiação UV danifique células, o que libera DNA e afetam tanto as funções sensoriais quanto as motoras. Imagens
histonas normalmente sequestrados, os quais são os antígenos de ressonância magnética (RM) do cérebro revelam a presença
principais nessa doença. de placas na substância branca. Bandas oligoclonais de IgG são
encontradas no líquido cerebrospinal da maioria dos pacientes.
Fármacos imunossupressores (p. ex., prednisona, metotrexato ou
Espalhamento de epítopos
interferon í3) são eficientes na redução da gravidade de alguns
Espalhamento de epítopos é o termo usado para descrever a ex- dos sintomas.
posição de autoantígenos sequestrados como resultado do dano
às células causado por infecções virais. Esses autoantígenos ex- 3. Tireoidite crônica -Quando animais são imunizados com ma-
postos estimulam células T autorreativas e doenças autoimu- terial proveniente da glândula tireoide, eles desenvolvem uma
nes ocorrem. Em um modelo animal, uma doença semelhante imunidade humoral e celular contra antígenos da tireoide e uma
à esclerose múltipla foi causada pela infecção com um vírus da tireoidite crônica. Seres humanos com a tireoidite crônica de
encefalomielite. Neste caso, células T autorreativas foram dire- Hashimoto apresentam anticorpos contra a tiroglobulina, o que
cionadas contra antígenos celulares em vez de antígenos virais. sugere que esses anticorpos provoquem um processo inflamató-
rio que leva à fibrose da glândula.
Falha das células T reguladoras 4. Anemias hemolíticas, trombocitopenias e granulocitopenias -
As células T reguladoras (Tr) suprimem os efeitos pró-inflama- Diversas formas desses distúrbios têm sido atribuídas à ligação
tórios de outras células T. As células Tr são caracterizadas como de anticorpos a superficies celulares e subsequente destruição da
CD4-positivas, CD25-positivas e FoxP3-positivas. Uma função
importante das células Tr é a produção de IL-10, que inibe a ação *N. de T. O Brasil também não utiliza mais a vacina antirrábica produzida
de células Th-1 pró-inflamatórias. Pacientes com mutação no em coelhos. Atualmente, o Ministério da Saúde do Brasil disponibiliza
gene que codifica FoxP3 apresentam um aumento na ocorrência uma vacina produzida em cultivo celular.
CAPÍTULO 66 Tolerância e Doença Autoimune sss
célula. A anemia perniciosa é causada por anticorpos contra o 8. Pênfigo - O pênfigo é uma doença cutânea caracterizada pela
fator intrínseco, uma proteína secretada pelas células parietais presença de bolhas. É causada por autoanticorpos contra a des-
do estômago que facilita a absorção de vitamina B12• A púrpura mogleína, uma proteína dos desmossomos que forma as junções
trombocitopênica idiopática é causada por anticorpos direcio- entre células epiteliais na pele. Quando as junções são destruídas,
nados contra as plaquetas. Plaquetas cobertas de anticorpos são fluidos preenchem os espaços entre as células e formam bolhas.
destruídas no baço ou lisadas pelo complexo de ataque à mem - Uma das formas do pênfigo, denominada pênfigo foliáceo, é en-
brana do complemento. dêmica da América do Sul, o que corrobora que um patógeno
Diversos fármacos que agem como haptenos se ligam às endêmico é o iniciador ambiental para essa doença.
membranas das plaquetas e formam "neoantígenos" que indu-
9. Artrite reativa -A artrite reativa é uma inflamação aguda das
zem a formação de anticorpos citotóxicos, resultando na destrui-
articulações que se segue à infecção por diferentes bactérias, mas
ção das plaquetas. Penicilinas, cefalotinas, tetraciclinas, sulfo-
as articulações permanecem estéreis (i.e., a inflamação é uma
namidas, isoniazidas e rifampinas, assim como alguns fármacos
"reação" à presença de antígenos bacterianos em alguma outra
que não têm ação antimicrobiana, podem apresentar esse efeito.
parte do corpo). A artrite reativa é associada a infecções entéri-
A anemia hemolítica autoimune, causada por penicilinas e cefa-
cas, causadas por Shigella, Campylobacter, Salmonella e Yersinia, e
losporinas, resulta do mesmo mecanismo.
também à uretrite, causada por Chlamydia trachomatis. A artrite
5. Diabetes melito dependente de insulina (IDDM) - Nessa é geralmente oligoarticular e assimétrica. A infecção bacteriana
doença, células T autorreativas destrõem as células das ilhotas precede a artrite por algumas semanas. Indivíduos HLA-B27-
pancreáticas. O principal antígeno contra o qual é direcionado -positivos apresentam risco elevado de desenvolvimento de ar-
o ataque das células T é a enzima descarboxilase do ácido glutâ- trite reativa. Antibióticos direcionados contra o microrganismo
mico, presente nas células das ilhotas. Infecções pelo vírus de Co- não têm efeito na doença. Agentes anti-inflamatórios são nor-
xsackie B4 têm sido consideradas como um iniciador de IDDM malmente utilizados. (A síndrome de Reiter inclui uma artrite
em camundongos, mas ainda não foram confirmadas como causa reativa, mas a síndrome afeta múltiplos órgãos e está descrita na
do diabetes em seres humanos. Há uma sequência de seis ami- próxima seção.)
noácidos que é comum entre uma proteína do vírus de Coxsackie
1 O. Doença celíaca - A doença celíca (também conhecida como
e a descarboxilase ácido glutâmico. Anticorpos contra vários an-
sprue celíaco e enteropatia por glúten) é caracterizada por diar-
tígenos das células í3 também são produzidos, mas o principal
reia, distenção abdominal dolorosa, fezes gordurosas e atrasos
dano é mediado por células T.
de desenvolvimento. Os sintomas são induzidos pela ingestão
6. Diabetes resistente à insulina, miastenia grave e hipertireoi- de gliadina, uma proteína encontrada no trigo, na cevada e no
dismo (doença de Graves) - Nesas doenças, os anticorpos contra centeio. A gliadina é o antígeno que estimula o ataque de células
os receptores desempenham um papel patogênico. No diabetes T citotóxicas aos enterócitos, o que resulta na atrofia das vilosi-
resistente à insulina, demonstrou-se que anticorpos direcio- dades intestinais. Uma dieta livre de glúten normalmente leva à
nados contra os receptores de insulina interferem na ligação à melhora marcante do quadro.
insulina. Na miastenia grave, que é caracterizada por uma fra-
11. Doença inflamatória intestinal (doença de Crohn e colite ulce-
queza muscular intensa, anticorpos contra os receptores de ace-
rativa) - Essas doenças são caracterizadas por diarreia, frequente-
tilcolina das junções neuromusculares são encontrados no soro.
mente sanguinolenta, e dor abdominal inferior tipo cólica. Esses
Fraqueza muscular também ocorre na síndrome de Lambert-
sintomas surgem de uma inflamação crônica, principalmente no
-Eaton, na qual anticorpos contra proteínas dos canais de cálcio
íleo, no caso da doença de Crohn, e no colo, no caso da colite
são formados. Alguns pacientes com a doença de Graves apre-
ulcerativa. Acredita-se que a inflamação crônica seja causada por
sentam anticorpos circulantes contra receptores de tirotropina,
uma resposta imune anormal à presença da microbiota normal
e quando esses anticorpos se ligam aos receptores, de forma
do intestino. Existem evidências de que um tipo de célula Tau-
semelhante à tirotropina, eles estimulam a tireoide a produzir
xiliar, denominada Th-17, e a IL-23 estão envolvidas na patogê-
mais tiroxina.
neses dessas doenças. Natalizumabe, um anticorpo monoclonal
7. Síndrome de Guillain-Barré - Essa doença é a causa mais co- contra u-integrina, é efetivo na indução da remissão da doença
mum de paralisia aguda nos Estados Unidos. Ela se manifesta de Crohn ativa.
após uma variedade de doenças infecciosas, como enfermidades
12. Nefropatia por lga -Essa doença corresponde a um dos tipos
virais (p. ex. infecções do trato respiratório superior, infecção
mais comuns de glomerulonefrite e é caracterizada principal-
pelo vírus da imunodeficiência humana [HIV] e mononucleose
mente por hematúria, contudo podem ser observadas proteinú-
causada pelo vírus Epstein-Barr e citomegalovírus) e diarreia
ria e progressão para doença renal de fase terminal. Imunocom-
causada por Campylobacter jejuni. A infecção pela C. jejuni,
plexos contendo IgA são encontrados cobrindo os glomérulos.
sintomática ou não, é considerada o antecedente mais comum
Os sintomas são temporariamente relacionados a infecções
da síndrome de Guillain-Barré. São formados anticorpos con-
virais, sobretudo faringites, mas nenhum vírus específico foi
tra a proteína mielina, o complemento é ativado, e o complexo
identificado como causador da doença. Nenhum tratamento é
de ataque à membrana destrói a bainha de mielina, resultando
claramente eficiente. Óleo de peixe tem sido experimentado, com
em uma polineuropatia desmilienizante. Os principais sintomas
resultados variáveis.
são os relacionados a uma rápida paralisia ascendente. O tra-
tamento envolve tanto imunoglobulinas intravenosas quanto a A psoríase é uma doença cutânea crônica autoi-
13. Psoríase -
plasmaférese. mune caracterizada por placas eritematosas elevadas com esca-
S56 PARTE VII Imunologia

mas prateadas, frequentemente localizadas nos cotovelos ou nos da por células T, plasmócitos e macrófagos, e o líquido sinovial
joelhos. As lesões cutâneas são as manifestações mais comuns, apresenta altos níveis de citocinas inflamatórias produzidas por
contudo, também pode ser observado um quadro de artrite pso- macrófagos, como TNF, IL-1 e IL-8.
riática. O principal sinal clínico é a inflamação das pequenas articu-
O infiltrado inflamatório nas lesões cutâneas consiste em cé- lações dos pés e das mãos. Outros órgãos, como a pleura, o peri-
lulas dendríticas, macrófagos e células T. Indivíduos que apresen- cárdio e a pele também podem estar envolvidos. A maioria dos
tam a proteína do MHC de classe I HLA-Cw6 são predispostos à sinais clínicos é causada por imunocomplexos que ativam o com -
psoríase. O gatilho ambiental é desconhecido. plemento e, consequentemente, danificam tecidos. O diagnóstico
Existem diversas modalidades de tratamento. Duas moda- da artrite reumatoide baseia-se na detecção do fator reumatoide
lidades comuns são a administração de corticosteroides tópicos no soro. A detecção de anticorpos contra peptídeos citrulinados
e fototerapia UV com psoraleno. Também são utilizados meto- no soro também corrobora o diagnóstico.
trexato, ciclosporina e inibidores de TNF, como o etanercepte e O tratamento da artrite reumatoide geralmente envolve áci-
infliximabe. Existem evidências de que a utilização de anticor- do acetilsalicílico, fármacos anti-inflamatórios não esteroides,
pos monoclonais contra IL-17 ou o seu receptor também seja fármacos imunossupressores (principalmente o metotrexato) ou
efetiva. corticosteroides. Uma terapia anticitocina, consistindo em uma
proteína de fusão do receptor de TNF e o fragmento Fc da IgG
Doenças que envolvem múltiplos órgãos humana (etanercepte, Enbrel) também se encontra disponível.
(doenças sistêmicas) O receptor solúvel de TNF neutraliza o TNF, o qual é um im-
1. Lúpus eritematoso sistêmico - Nessa doença, autoanticorpos portante mediador inflamatório na artrite reumatoide. O etaner-
são formados contra DNA, histonas, proteínas nucleolares e ou- cepte é particularmente efetivo quando combinado com o meto-
tros componentes do núcleo celular. Anticorpos contra DNA de trexato na redução da gravidade da inflamação das articulações
dupla-fita são uma marca registrada do lúpus eritematoso sistê- em pacientes com artrite reumatoide persistente. Os anticorpos
mico. A doença afeta principalmente mulheres com idades entre monoclonais infliximabe (Remicade) e adalimumabe (Humira)
20 e 60 anos. Indivíduos que apresentam os genes HLA-DR2 ou são úteis no tratamento da artrite reumatoide. Esses anticorpos
HLA-DR3 são predispostos ao desenvolvimento do lúpus erite- neutralizam o TNF e diminuem a inflamação das articulações.
matoso sistêmico. O agente que induz estes autoanticorpos é des- A Tabela 62-2 descreve o infliximabe e outros anticorpos mono-
conhecido. Entretanto, dois fármacos - a procainamida e a hidra- clonais que apresentam diferentes usos clínicos.
lazina - são conhecidos por causar o lúpus eritematoso sistêmico. Pacientes que têm uma resposta inadequada aos fármacos
A maioria dos sinais clínicos é causada por imunocomple- anti-TNF apresentam melhora significativa com o uso do abata-
xos que ativam o complemento e, consequentemente, danifi- cepte. O abatacepte é um CTLA-4-IG, ou seja, uma proteína fu-
cam tecidos. Por exemplo, o exantema característico que surge sionada composta pelo CTLA-4 e por um fragmento do domínio
nas bochechas resulta de uma vasculite causada pela deposição Fc da IgG humana. O CTLA-4 liga-se fortemente a B7, deslocan-
de imunocomplexos. A artrite e a glomerulonefrite comumente do CD28 de sua ligação com B7. Isso resulta em uma redução
observada no lúpus eritematoso sistêmico também são causadas da atividade das células T auxiliares e da resposta inflamatória.
por imunocomplexos. Os imunocomplexos encontrados nos glo- 3. Febre reumática - Infecções por estreptococos do grupo A
mérulos contêm anticorpos (IgG, IgM ou IgA) e o componente regularmente precedem o desenvolvimento da febre reumática.
C3 do complemento, mas não fibrinogênio. Entretanto, a anemia,
Anticorpos contra a proteína M dos estreptococos do grupo A
a leucopenia e a trombocitopenia são causadas por anticorpos ci- que reagem cruzadamente com a miosina dos músculos cardía-
totóxicos e não por imunocomplexos. cos e com proteínas das articulações e dos tecidos cerebrais estão
O diagnóstico do lúpus eritematoso sistêmico é baseado tan- envolvidos na patogênese da febre reumática.
to na detecção de anticorpos antinucleares (ANAs), por meio de
testes de anticorpos fluorescentes, quanto na detecção de anticor- 4. Síndrome de Reiter - Essa síndrome é caracterizada pela tríade
pos anti-dupla-fita de DNA por meio do ensaio imunoadsorven- de artrite, conjuntivite e uretrite. Culturas das áreas afetadas não
te ligado à enzima (ELISA). Anticorpos contra diversos outros removem o agente causador. Infecções por um dos patógenos in -
componentes nucleares também são detectados, assim como um testinais (p. ex., Shigella, Campylobacter, Salmonella e Yersinia) e
nível reduzido do complemento. O tratamento do lúpus eritema- também por outros microrganismos, como Chlamydia, predis-
toso sistêmico varia de acordo com a gravidade da doença e os põem à doença. A maioria dos pacientes são homens HLA-B27-
órgãos afetados. Ácido acetilsalicílico, fármacos anti-inflamató- -positivos. A patogênese da doença ainda não é clara, mas imu-
rios não esteroides e corticosteroides são comumente utilizados. nocomplexos podem ter participação.

2. Artrite reumatoide - Nessa doença, são formados autoanticor- 5. Síndrome de Goodpasture - Nessa síndrome, autoanticorpos
pos contra IgG. Esses autoanticorpos são chamados de fatores são formados contra o colágeno presente nas membranas basais
reumatoides e são da classe IgM. A artrite reumatoide afeta prin- dos rins e dos pulmões. A síndrome de Goodpasture (SG) afeta
cipalmente mulheres entre os 30 e 50 anos. Pessoas com os genes principalmente homens jovens, e portadores do gene de HLA-
de HLA-DR4 são predispostas à artrite reumatoide. O agente que -DR2 apresentam maior risco de desenvolver a doença. O agente
induz a produção dos autoanticorpos é desconhecido. No inte- que induz os autoanticorpos é desconhecido, mas a SG frequen-
rior das articulações inflamadas, a membrana sinovial é infiltra- temente se segue a uma infecção viral.
CAPÍTULO 66 Tolerância e Doença Autoimune S57

Os principais sinais clínicos incluem hematúria, proteinúria receptores Fc na superfície de neutrófilos e bloqueiam a ligação
e hemorragia pulmonar. Esses sinais são causados por anticorpos de imunocomplexos que ativariam os neutrófilos. Outra hipó-
citotóxicos que ativam o complemento. Como consequência, CSa tese considera que o excesso de IgG satura os receptores FcRn
é produzido, neutrófilos são atraídos para o local e enzimas são na superfície de células endoteliais vasculares, o que acelera o
liberadas pelos neutrófilos, danificando o tecido renal e o pulmo- catabolismo de IgG e, portanto, reduz os níveis de anticorpos
nar. O diagnóstico da SG é baseado na detecção de anticorpos autorreativos.
e complemento ligados às membranas basais por meio do teste
do anticorpo fluorescente. Como essa é uma doença grave, de
progressão rápida e frequentemente fatal, o tratamento, que in - APLIQUE SEU CONHECIMENTO
clui remoção e reposição de plasma para remover os anticorpos
1. Em relação à tolerância imunológica, qual das seguintes opções é a
e fármacos imunossupressores, deve ser iniciado imediatamente. mais correta?
6. Granulomatose de Wegener - O principal achado patológico (A) A remoção clonal acontece com células T, mas não com célu-
dessa doença é uma vasculite granulomatosa necrosante, que afe- las B.
ta principalmente os tratos respiratórios superior e inferior, bem (B) A tolerância a determinados antígenos próprios ocorre por
como os rins. Os sinais clínicos comuns incluem sinusite, otite meio da seleção negativa de células T imaturas no timo.
(C) A presença de B7 na superfície das células apresentadoras de
média, tosse, produção de catarro e artrite. A glomerulonefrite
antígenos é uma das etapas essenciais necessárias para o esta-
é uma das principais características dessa doença. O diagnóstico
belecimento da tolerância.
é baseado na detecção de anticorpos citoplasmáticos antineutró- (D) A tolerância é mais fácil de ser estabelecida em adultos do que
filos (ANCAs, antineutrophil cytoplasmic antibodies) no soro do em recém-nascidos, uma vez que mais células T autorreativas
paciente. A terapia imunossupressora com ciclofosfamida e pred- sofrem apoptose em adultos do que em recém-nascidos.
nisona é efetiva. (E) Uma vez que a tolerância é estabelecida para um antígeno, ela
é permanente (i.e., o indivíduo não pode mais reagir contra o
7. Outras doenças vasculares do colágeno - Outras doenças nes- antígeno, mesmo se o antígeno não mais estiver presente).
sa categoria incluem a espondilite anquilosante, muito comum
2. Anticorpos contra componentes normais do corpo geralmente
em indivíduos que carreiam o gene HLA-B27, dermatomiosite-
ocorrem em doenças autoimunes. Em quais dos seguintes grupos de
-polimiosite, escleroderma, periarterite nodosa e síndrome de doenças ocorrem anticorpos contra DNA em uma delas e anticor-
Sjõgren. pos contra IgG na outra?
(A) Miastenia grave e lúpus eritematoso sistêmico.
Tratamento (B) Anemia perniciosa e febre reumática.
(C) Febre reumática e miastenia grave.
A base conceitua! para o tratamento de doenças autoimunes é a
(D) Artrite reumatoide e anemia perniciosa.
redução da resposta imune do paciente de forma suficiente para
(E) Lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide.
eliminar os sintomas. Os corticosteroides, como a prednisona,
3. Em relação à patogênese de doenças autoimunes, qual das seguintes
formam o cerne do tratamento, aos quais antimetabólitos como
opções é a mais correta?
a azatioprina e o metotrexato podem ser adicionados. Estes últi-
(A) Na síndrome de Reiter, ocorre neuropatia após uma infecção
mos são análogos de nucleosídeos que inibem a síntese de DNA
viral do trato respiratório.
em células imunes. A terapia imunossupressora deve ser admi-
(B) Na miastenia grave, anticorpos são formados contra a acetilco-
nistrada com cautela devido ao risco do surgimento de infecções
lina nas articulações neuromusculares.
oportunistas. (C) Na síndrome de Goodpasture, anticorpos são formados contra
Duas abordagens terapêuticas que não envolvem a supres- as membranas sinoviais das maiores articulações do corpo.
são sistémica da imunidade incluem anticorpos contra TNF e (D) Na anemia hemolítica autoimune, as hemácias são destruídas
receptores solúveis para TNF que agem como "iscas,, que se- pelo fator de necrose tumoral produzido por macrófagos ati-
questram essa citocina. Infliximabe e adalimumabe (anticor- vados.
pos contra TNF) e etanercepte (receptor de TNF) têm sido ca- (E) Na doença de Graves, anticorpos ligam-se ao receptor do hor-
pazes de induzir uma melhora na inflamação das articulações mônio estimulante da tireoide, o que estimula a tireoide a pro-
na artrite reumatoide e nas lesões de pele durante episódios de duzir excesso de tiroxina.
psoríase. Entretanto, as terapias anti-TNF aumentam o risco 4. Sua paciente é uma mulher de 25 anos que apresenta febre, exan-
de infecções, como a ativação da tuberculose latente, infecções tema malar facial, alopecia e ulcerações nas pontas de dois dedos.
graves, por Legionella e Listeria, e infecções da pele e de teci- O exame de urina demonstrou a ocorrência de proteinúria. Você
suspeita que ela possa ter lúpus eritematoso sistêmico. Qual das se-
dos moles, por bactérias piogênicas. Esses fármacos também
guintes opções é a explicação mais provável para a proteinúria?
aumentam o risco de ativação de infecções fúngicas latentes,
(A) Células T citotóxicas atacam a membrana basal glomerular.
como a histoplasmose.
(B) Uma resposta mediada por IgE libera histaminas e leucotrie-
Certas doenças autoimunes mediadas por anticorpos,
nos que danificam os túbulos.
como a síndrome de Guillain-Barré e a miastenia grave, po- (C) Uma resposta de hipersensibilidade tardia consistindo em ma-
dem ser tratadas por plasmaférese, que remove os anticorpos crófagos e células T CD4-positivas danificam os glomérulos.
autoimunes, ou com altas doses de IgG obtidas de doadores sau- (D) Imunocomplexos são captados pelos glomérulos e ativam o
dáveis. Uma hipótese relativa ao modo de ação da terapia de complemento, de forma que o CSa produzido atrai neutrófilos
alta dose intravenosa de IgG é que esses anticorpos se ligam aos que danificam os glomérulos.
S58 PARTE VII Imunologia

RESPOSTAS QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO


1. (B) Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
2. (E) contradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
3. (E) Autoavaliação, a partir da página 713. Consulte também a Parte
4. (D)
XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
CAPÍTULO

Imunidade a Tumores
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Antígenos associados a tumor Aplique seu conhecimento


Mecanismos de imunidade a tumor Questões para autoavaliação
Antígeno carcinoembriônico e a-fetoproteína

ANTÍGENOS ASSOCIADOS A TUMOR Antígenos tumorais podem, também, estimular o desenvol-


vimento de anticorpos específicos. Alguns desses anticorpos são
Animais que carreiam tumores malignos induzidos por compos- citotóxicos, enquanto outros, chamados de anticorpos de blo-
tos químicos ou infecções virais podem desenvolver uma respos- queio, intensificam o crescimento do tumor, talvez por bloque-
ta imune contra o tumor, causando a sua regressão. No curso
arem o reconhecimento dos antígenos tumorais pelo hospedeiro.
de transformações neoplásicas, novos antígenos, denominados
Tumores humanos que surgem espontaneamente podem apresen-
antígenos associados a tumor (AATs), desenvolvem-se na su-
tar novos antígenos celulares de superfície, contra os quais o hos-
perfície celular e o hospedeiro passa a reconhecer as células como
pedeiro desenvolve tanto anticorpos citotóxicos quanto respostas
"não próprias': Uma resposta imune, então, causa a regressão do
imunes celulares. A intensificação dessas respostas pode conter o
tumor.
Em tumores quimicamente induzidos em animais expe- crescimento de alguns tumores. Por exemplo, a administração da
rimentais, AATs são altamente específicos (i.e., células de um vacina BCG (bacilo de Calmette-Guérin, uma micobactéria bovi-
tumor terão AATs diferentes dos presentes em células de outro na) na superfície de melanomas pode levar à sua regressão parcial.
tumor, mesmo quando os tumores surgirem em um mesmo ani- Imunomoduladores, como interleucinas e interferons, também
mal). Em contrapartida, tumores induzidos por vírus possuem vêm sendo testados em circunstâncias similares. Uma interleuci-
AATs que reagem cruzadamente entre si, desde que induzidos na, o fator de necrose tumoral o. (caquetina), é experimentalmen-
pelo mesmo vírus. AATs em células tumorais induzidas por vírus te efetiva contra uma variedade de tumores sólidos (ver Capítulo
diferentes não reagem cruzadamente. 58). Além disso, linfócitos ativados pela interleucina 2 (células
killer ativadas por linfocina [LAKs, lymphokine-activated killer])
podem ser úteis na imunoterapia do câncer.
MECANISMOS DE IMUNIDADE A TUMOR Além disso, anticorpos monoclonais direcionados contra
CTLA-4 e PD-1 (ver a seção "A coestimulação é necessária para
Reações celulares atacam as células tumorais não próprias e limi-
ativar células T': no Capítulo 58) também são efetivos na elevação
tam sua proliferação. As respostas imunes agem, provavelmente,
da resposta imune contra células cancerígenas. CTLA-4 e PD-1
como um sistema de vigilância que detecta e elimina clones de
em células T são inibidores da resposta coestimuladora, de forma
células neoplásicas recém-surgidas. Em geral, a resposta imune
que anticorpos direcionados contra essas proteínas bloqueiam o
contra células tumorais é fraca e pode ser experimentalmente su-
perada por uma alta dose de células tumorais. Algumas células seu efeito inibidor. Isso acentua a resposta imune contra o tumor.
tumorais conseguem burlar a vigilância por meio da "modulação,, Outra abordagem na imunoterapia do câncer envolve o
(i.e., internalizando o antígeno de superfície, a fim de que este não uso de linfócitos infiltrantes de tumor (TILs, tumor-infiltrating
mais represente um alvo para o ataque imune). lymphocytes). A base para essa abordagem é a observação de que
As respostas imunes celulares que afetam células tumorais alguns cânceres são infiltrados por linfócitos (células NK e célu-
in vitro incluem as células natural killer (NK), que agem sem a las T citotóxicas) que parecem estar tentando destruir as células
presença de anticorpos; células killer (K), que medeiam a citólise cancerígenas. Esses linfócitos são recuperados a partir do cân-
dependente de anticorpos (citotoxicidade celular dependente de cer cirurgicamente removido, cultivados em cultura até que um
anticorpos); células T citotóxicas; e macrófagos ativados. Ainda grande número de células seja obtido, ativados com interleucina
não se sabe se o funcionamento das respostas imunes previne ou 2 e devolvidos ao paciente na expectativa de que os TILs se diri-
controla tumores in vivo. jam especificamente para as células cancerígenas e mate-as.
S60 PARTE VII Imunologia

ANTÍGENO CARCINOEMBRIÔNICO E APLIQUE SEU CONHECIMENTO


a-FETOPROTEÍNA 1. Em relação à imunidade a tumores, qual das seguintes opções é a
mais correta?
Alguns tumores humanos possuem antígenos que normalmente
ocorrem em células fetais, mas não em células de um ser humano (A) Tanto células T citotóxicas quanto anticorpos citotóxicos ata-
cam células cancerígenas.
adulto.
(B) Um nível elevado da a -fetoproteína é um marcador para o
(1) O antígeno carcinoembriônico circula em níveis eleva- câncer de pulmão.
dos no soro de muitos pacientes com carcinoma de colo, pân- ( C) Um nível decrescente de CEA é uma indicação de que o câncer
creas, de mama ou de fígado. O antígeno é encontrado no intesti- de colo do paciente encontra-se em recorrência.
(D) Células cancerígenas quimicamente induzidas apresentam no-
no fetal, no fígado e no pâncreas e em quantidades bem pequenas
vos antígenos em sua superfície, ao passo que células cancerí-
no soro. A detecção desse antígeno (por radioimunoensaio) não
genas induzidas por vírus não.
é útil no diagnóstico, mas pode ser útil na avaliação dos tumores. (E) Células natural killer não participam da resposta celular a tu-
Se os níveis decaírem após uma cirurgia, significa que o tumor mores porque as células não apresentam um receptor antíge-
não está se espalhando. Por outro lado, um aumento dos níveis no-específico em sua superfície.
do antígeno carcinoembriônico em pacientes cujo carcinoma de
colo foi cirurgicamente removido sugere a recorrência ou metás-
tase do tumor. RESPOSTA
(2) A a-fetoproteína encontra-se presente em níveis eleva-
dos no soro de pacientes com hepatoma, sendo utilizada como 1. (A)

um marcador para essa doença. A proteína é produzida no fígado


fetal e é encontrada em pequenas quantidades em alguns soros
normais. Ela é, entretanto, não específica, pois ocorre em diversas QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
outras doenças malignas e não malignas. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en-
Anticorpos monoclonais direcionados contra novos antíge- contradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
nos de superfície em células malignas (p. ex., linfomas de célu- Autoavaliação, a partir da página 713. Consulte também a Parte
las B) podem ser úteis no diagnóstico. Anticorpos monoclonais XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
acoplados a toxinas, como a toxina diftérica ou a ricina, esta última
um produto da planta Ricinus,* podem matar células tumorais in
vitro e, algum dia, podem vir a ser úteis na terapia contra o câncer.

*N. de R.T. Gênero de planta cujo representante mais comum no Brasil


éa mamona.
CAPÍTULO

Imunodeficiência
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução lmunodeficiências adquiridas


lmunodeficiências congênitas Deficiências de células B
Deficiências de células B Deficiências de células T
Deficiências de células T Deficiências do complemento
Deficiências combinadas de células B e T Deficiências de fagócitos
Deficiências do complemento Aplique seu conhecimento
Deficiências de fagócitos Questões para autoavaliação
Deficiência do receptor de reconhecimento de padrão

INTRODUÇÃO em quantidades suficientes para conferir proteção. O tratamen -


to com pools de gamaglobulina reduz o número de infecções.
Imunodeficiências podem ocorrer em qualquer um dos quatro
componentes principais do sistema imune: (1) células B (an- Deficiências seletivas de imunoglobulinas
ticorpos), (2) células T, (3) complemento e (4) fagócitos. Essas
A deficiência de IgA é a mais comum entre as deficiências sele-
deficiências podem ser congênitas ou adquiridas (Tabela 68-1).
tivas; as deficiências de IgG e IgM são mais raras. Pacientes com
Clinicamente, infecções recorrentes ou oportunistas são comu-
uma deficiência de IgA geralmente apresentam infecções recor-
mente observadas. Infecções recorrentes por bactérias piogê- rentes sinusais e nos pulmões. (No entanto, alguns indivíduos
nicas (p. ex., estafilococos) indicam uma deficiência de células
com deficiência de IgA não apresentam infecções recorrentes,
B, ao passo que infecções recorrentes por certos fungos, vírus e possivelmente porque seus níveis de IgG e IgM conferem pro-
protozoários são indicativos de uma deficiência das células T. teção.) A causa da deficiência de IgA pode ser atribuída a uma
falha nos genes que coordenam a troca de cadeia pesada, já que as
quantidades de IgM e IgG são normais. Pacientes com deficiência
IMUNODEFICIÊNCIAS CONGÊNITAS de IgA não devem ser tratados com preparações de gamaglobu-
linas, pois podem formar anticorpos contra a IgA estranha e, por
Deficiências de células B meio de reações cruzadas, diminuir ainda mais o seu nível de
Hipogamaglobulinemia ligada ao X IgA, o qual já é baixo.
(agamaglobulinemia de Bruton) Pacientes com deficiência seletiva de IgM ou deficientes
para uma ou mais subclasses de IgG também apresentam infec-
Níveis muito baixos de todas as imunoglobulinas (IgG, IgA,
ções sinopulmonares recorrentes, causadas por bactérias piogê-
IgM, IgD e IgE) e a possível ausência de células B são encon-
nicas, como Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae
trados em meninos jovens; carreadoras do sexo feminino são
e Staphylococcus aureus.
imunologicamente normais. Células pré-B estão presentes, mas
estas falham na diferenciação em células B. Essa falha é causa-
Deficiências de células T
da por uma mutação no gene codificante para a tirosina-cinase,
uma importante proteína de transdução de sinal. A imunidade Aplasia tímica (síndrome de DiGeorge)
celular é relativamente normal. Clinicamente, infecções recor- Infecções graves causadas por vírus, fungos e protozoários ocor-
rentes por bactérias piogênicas (p. ex., otite média, sinusite e rem em crianças afetadas precocemente em suas vidas, em razão
pneumonia causadas por Streptococcus pneumoniae e Haemo- de deficiência profunda de células T. A pneumonia causada
philus influenzae) ocorrem em crianças com cerca de 6 meses por Pneumocystis jiroveci e a candidíase causada por Candida
de idade, quando anticorpos maternos não estão mais presentes albicans são duas infecções comuns nestes pacientes. A produção
S62 PARTE VII Imunologia

TABELA 68-1 lmunodeficiências congênitas importantes

Componente deficiente
e nome da doença Deficiência específica Defeito molecular Características clínicas

Célula B

Ligada ao X (doença de Ausência de células B; níveis Tirosina-cinase mutante Infecções bacterianas recorrentes,
Bruton) muito baixos de lg principalmente no trato respiratório,
causadas por bactérias piogênicas,
como os pneumococos
lgA seletiva Níveis muito baixos de lgA Falha nos genes que coordenam a Infecções recorrentes, principalmente
troca de cadeia pesada sinusais e dos pulmões, causadas
por bactérias piogênicas

CélulaT

Aplasia tímica (síndrome Ausência de células T Desenvolvimento defeituoso das Infecções por vírus, fungos e protozoá-
de DiGeorge) bolsas faríngeas; não é uma rios; tetania
doença genética
Candidíase mucocutânea Deficiência na resposta de Desconhecido Infecções da pele e de membranas mu-
crônica células Ta Candida cosas por Candida

Células B e T combinadas
Imunodeficiência combi- Deficiência nas funções de Receptor defeituoso para IL-2, Infecções por bactérias, vírus, fungos e
nada grave (SCID) células Te B recombinases defeituosas, ci- protozoários
nases defeituosas, ausência de
proteínas do MHC de classe li ou
deficiência de ADA ou PNP

Complemento
Angiedema hereditário Deficiência do inibidor da Grande quantidade de C3a, C4a e Edema, principalmente edema larín-
C1 protease CSa é gerada geo
C3b C3 insuficiente Desconhecido Infecções piogênicas, principalmente
por Staphy/ococcus aureus
C6,7,8 C6,7,8 insuficiente Desconhecido 1nfecções por Neisseria

Fagócitos
Doença granulomatosa Deficiência na atividade Atividade deficiente de NADPH Infecções piogênicas, principalmente
crônica bactericida em razão oxidase por S. aureus e Aspergillus
da ausência do ataque
oxidativo

ADA, adenosina desaminase; MHC, complexo principal de histocompatibilidade; NADPH, fosfato de dinucleotídeo de nicotinamida e adenina reduzido; PNP, purina
nucleosídeo fosforilase.

de anticorpos pode estar diminuída ou normal. Se diminuída, in- outras funções de células B e T são normais. O tratamento consis-
fecções graves por bactérias piogênicas podem ocorrer. te principalmente em fármacos antifúngicos.
Tanto o timo quanto as glândulas paratireoides deixam
de se desenvolver normalmente, como resultado de um defeito Síndrome de hiper-lgM
na terceira e quarta bolsas faríngeas. O sintoma mais comum é Nessa síndrome, infecções graves e recorrentes por bactérias pio-
a tetania devida à hipocalcemia, causada pelo hipoparatireoi- gênicas, que lembram as observadas na hipogamaglobulinemia
dismo. Outras anormalidades congênitas são comuns. Um trans- ligada ao X, iniciam precocemente durante a vida. Os pacientes
plante de timo fetal pode reconstituir a imunidade celular T. Não apresentam uma alta concentração de IgM, porém, muito pouco
deve ser utilizado o timo de uma criança com idade superior a 14 IgG, IgA e IgE. Eles apresentam números normais de células T
semanas, uma vez que pode ocorrer uma reação enxerto versus e B. Embora as principais manifestações clínicas dessa síndrome
hospedeiro. sejam alterações nos anticorpos, a mutação encontra-se no gene
que codifica para o ligante CD40 presente em células T auxiliares
Candidíase mucocutânea crônica CD4-positivas. Como resultado, as células T auxiliares apresen-
Nessa doença, a pele e as membranas mucosas de crianças são tam um defeito na proteína de superfície (ligante CD40) que inte-
infectadas por C. albicans, que em indivíduos imunocompetentes rage com CD40 presente na superfície da célula B. A falha em in-
é um membro da microbiota normal. Essas crianças apresentam teragir adequadamente com CD40 resulta em uma incapacidade
uma deficiência de células T específica para esse microrganismo; da célula B de alterar a produção de IgM para outras classes de
CAPÍTULO 68 Imunodeficiência S63

anticorpos. O tratamento com pools de gamaglobulina resulta em sina trifosfato (dATP), um inibidor da ribonucleotídeo redutase,
um número menor de infecções. e, consequentemente, em um declínio nos precursores desoxinu-
cleosídeos trifosfatos do DNA. Esse fenômeno reduz a formação
Deficiência no receptor de interleucina 12 de precursores de células B e T na medula óssea. Transplantes de
Pacientes com deficiência de receptores de interleucina (IL) 12 medula óssea podem ser úteis. Injeções de ADA conjugada com
polietilenoglicol reduzem o número e a gravidade das infecções.
apresentam infecções micobacterianas disseminadas. A ausência
desse receptor impede que a IL-12 inicie uma resposta Th-1, o Diversos pacientes deficientes em ADA têm se beneficiado da te-
rapia gênica. Nesta, um retrovírus carreando uma cópia normal
que é necessário para limitar infecções por micobactérias.
do gene ADA é utilizado para infectar as células da medula óssea
do paciente. O gene ADA passa a funcionar no interior de algu-
Deficiências combinadas de células B e T mas dessas células, melhorando a condição imune do paciente.
Doença da imunodeficiência combinada grave (SCID) Pacientes com a síndrome do linfócito nu exibem sinais e
Infecções recorrentes, causadas por bactérias, vírus, fungos e sintomas de SCID e são, com frequência, suscetíveis a infecções
protozoários, ocorrem precocemente na infância (3 meses de virais. Estes pacientes apresentam proteínas do complexo princi-
idade) porque tanto as células B quanto as células T são defi- pal de histocompatibilidade (MHC) de classes I ou II defeituosas,
cientes. Em algumas crianças, as células B e T estão ausentes; em ou ambas. Mutações que resultam na incapacidade de sintetizar
outras, o número de células é normal, mas elas não funcionam mRNAs para as proteínas do MHC da classe II são uma impor-
adequadamente. Os níveis de imunoglobulinas são muito baixos, tante causa para a falha na produção dessas proteínas. Mutações
no gene codificante para a proteína TAP foram identificadas
e tonsilas e linfonodos estão ausentes. A pneumonia por Pneu-
como uma causa da incapacidade da apresentação de antígenos
mocystis é a infecção mais comum nessas crianças. Infecções
em proteínas do MHC de classe I. (A proteína transportadora
causadas por C. albicans e por vírus, como o da varicela-zóster,
TAP é descrita na seção "Células T reconhecem apenas peptí-
o citomegalovírus e o vírus sincicial respiratório, são comuns e
deos': Capítulo 58.)
frequentemente fatais.
Este é um grupo de doenças hereditárias, todas elas devi-
das a um defeito na diferenciação de uma célula-tronco precoce. Síndrome de Wiskott-Aldrich
Existem dois tipos: ligada ao X e autossômica; a forma ligada ao Infecções piogênicas recorrentes, eczema e sangramentos cau-
X constitui cerca de 75% dos casos. Alguns pacientes com SCID sados por uma trombocitopenia caracterizam essa síndrome.
ligada ao X possuem um defeito no receptor de IL-12 em células Esses sintomas surgem, em geral, durante o primeiro ano de
T. Eles não possuem a cadeia -y do receptor de IL-12 que é es- vida. É uma doença ligada ao X e, portanto, ocorre apenas em
sencial para o desenvolvimento de células T. Essa é a forma mais meninos. O defeito mais importante é a incapacidade de mon-
comum de SCID nos Estados Unidos. A cadeia do receptor de tar uma resposta via IgM contra os polissacarídeos capsulares
IL-12 é compartilhada com o receptor de IL-7 e, dessa forma, a de bactérias, como os pneumococos. Os níveis de IgG e IgA são
SCID também pode resultar de uma falha de IL-7 em estimular a normais, mas a imunidade dependente de células é variável.
progressão de células-tronco em células Te B. O defeito parece estar na capacidade das células T em auxiliar
Alguns pacientes que apresentam a forma autossômica pos- as células B. O gene mutante codifica uma proteína envolvida
suem uma mutação no gene que codifica para uma tirosina-ci- na montagem do filamento de actina. O transplante de medula
nase denominada ZAP-70, que desempenha um papel na trans- óssea pode ser útil.
dução de sinal em células T. Outra forma autossômica apresenta
mutações no gene que codifica para uma cinase diferente, deno- Ataxia-telang iectasia
minada Janus-cinase 3. Outros pacientes com a forma autossômi- Nessa doença, ataxia (falta de coordenação motora), telangiec-
ca da SCID apresentam mutações nos genes RAG-1 e RAG-2, que tasia (aumento dos pequenos vasos sanguíneos das conjuntivas
codificam enzimas recombinases que catalisam a recombinação e da pele) e infecções recorrentes surgem por volta dos 2 anos de
do DNA, etapa necessária para gerar os receptores de antígenos idade. É uma doença autossômica recessiva, causada por muta-
das células T e o monômero de IgM das células B, que funcionam ções nos genes que codificam enzimas de reparo do DNA. Linfo-
como receptores de antígenos. penia e deficiência de IgA são comuns. Tratamentos objetivando
Devido ao fato de a imunidade ser tão profundamente de- a correção da imunodeficiência ainda não tiveram sucesso.
primida nessas crianças, elas precisam ser protegidas da exposi-
ção a microrganismos, o que geralmente é feito por meio de seu Deficiências do complemento
enclausuramento em "bolhas,, plásticas. Vacinas vivas e atenua-
das não devem ser administradas. O transplante de medula óssea Angiedema hereditário
pode restaurar a imunidade. É interessante observar que, como as Essa é uma doença autossômica dominante incomum, causada
crianças com SCID não rejeitam aloenxertos, os transplantes de por uma deficiência do inibidor de Cl. Na ausência desse ini-
medula óssea não requerem fármacos imunossupressores. bidor, Cl continua a agir em C4, gerando C4a e componentes
Pacientes com uma ausência hereditária de adenosina de- vasoativos adicionais subsequentes, como C3a e CSa. Isso leva
saminase (ADA) e purina nucleosídeo fosforilase (PNP) po- ao aumento da permeabilidade capilar e a edema em diversos
dem apresentar uma deficiência grave de células B e T, causando órgãos. O edema de laringe pode ser fatal. Fármacos esteroides,
SCID, embora alguns tenham apenas disfunções leves. A ausên- como a oximetolona e o danazol, podem ser úteis para aumentar
cia dessas enzimas resulta em uma acumulação de desoxiadeno- a concentração do inibidor de C 1.
S64 PARTE VII Imunologia

Infecções recorrentes apresenta atividade oxidativa normal, uma vez que o cromosso-
Pacientes com deficiências em CI, C3 ou CS ou nos componentes mo X que contém o gene mutante foi inativado. Já a outra metade
C6, C7 ou CS apresentam suscetibilidade aumentada a infecções não apresenta atividade oxidativa, uma vez que o cromossomo X
bacterianas. Pacientes com deficiência em C3 são particularmen- carreando o gene normal foi inativado.
te suscetíveis à sepse causada por bactérias piogênicas, como O tratamento imediato e agressivo de infecções com o anti-
S. aureus. Pacientes com níveis reduzidos de C6, C7 ou CS são biótico adequado é importante. A quimioprofilaxia utilizando o
frequentemente propensos à bacteriemia, causada por Neisseria trimetoprima-sulfametoxazol pode reduzir o número de infec-
meningitidis ou Neisseria gonorrhoeae. ções. O uso de interferon -y reduz significativamente a frequência
de infecções recorrentes, provavelmente porque ele aumenta a
Doenças autoimunes fagocitose pelos macrófagos.
O nome doença granulomatosa crônica originou-se em ra-
Pacientes com deficiências em C2 e C4 apresentam doenças que
zão dos vários granulomas dispersos encontrados nos pacientes,
se assemelham ao lúpus eritematoso sistêmico ou a outras doen-
mesmo na ausência de doença clínica aparente. Os granulomas
ças autoimunes. A deficiência em C2 é o defeito mais comum do
podem tornar-se grandes o suficiente para causar obstruções do
complemento e é frequentemente assintomática.
estômago, do esôfago ou da bexiga. A causa dos granulomas não
é conhecida.
Hemoglobinúria paroxística noturna
Essa rara doença é caracterizada por episódios de urina escura Síndrome de Chédiak-Higashi
(hemoglobinúria), particularmente ao despertar. A hemoglobi-
Nessa doença autossômica recessiva, infecções piogênicas recor-
núria ocorre em razão da hemólise mediada pelo complemento.
rentes, causadas principalmente por estafilococos e estreptoco-
Isso é observado especialmente à noite, uma vez que a baixa con-
cos, ocorrem. Isso é resultado de uma falha dos lisossomos de
centração de oxigênio (e pH baixo) no sangue durante o sono
neutrófilos que não se fundem com fagossomos. As enzimas dos
aumenta a suscetibilidade das hemácias à lise. A hemólise ocorre
lisossomos, portanto, não são disponibilizadas para matar os
devido à pequena quantidade de fator de aceleração do decai-
microrganismos fagocitados. Grandes inclusões citoplasmáticas
mento (DAF) ligado à superfície das hemácias, o que conduz a
granulares, compostas por lisossomos anormais, podem ser ob-
uma elevada ativação de complemento (ver Capítulo 63). Os pa-
servadas. Além disso, os neutrófilos não funcionam corretamen-
cientes apresentam um defeito nos genes que codificam molé-
te durante a quimiotaxia, em razão de microtúbulos defeituosos.
culas que ancoram DAF e outras proteínas à membrana celular.
O gene mutante nessa doença codifica uma proteína citoplasmá-
Não há tratamento específico. Ferro pode ser administrado para
tica envolvida no transporte de outras proteínas. A formação de
corrigir a anemia, e o uso da prednisona também pode ser útil.
peróxido e superóxido é normal, assim como as funções das cé-
lulas B e T. O tratamento envolve fármacos antimicrobianos. Não
Deficiências de fagócitos há uma terapia eficiente para a correção do defeito na fagocitose.
Doença granulomatosa crônica (DGC)
Síndrome de Job (síndrome de hiper-lgE)
Pacientes com essa doença são muito suscetíveis a infecções
oportunistas por certas bactérias e fungos (p. ex., S. aureus), Pacientes com essa síndrome apresentam abscessos "frios,, 1 re-
bacilos gram-negativos entéricos, principalmente Serratia e correntes, causados por estafilococos, eczema, defeitos do esque-
Burkholderia, e Aspergillus fumigatus. Infecções recorrentes por leto e altos níveis de IgE.
bactérias catalase-positivas, como os estafilococos, são comuns O principal defeito imunológico é uma falha na produção de
nos pacientes, ao passo que infecções por bactérias catalase-nega- interferon -y pelas células T auxiliares, o que reduz a habilidade
tivas, como os estreptococos, são raras. Infecções virais, por pro- dos macrófagos em matar as bactérias. Isso leva a um aumen-
tozoários e as causadas por micobactérias, não são preocupantes. to nas células Th-2 e, consequentemente, a um alto nível de IgE.
Em 60 a 80% dos casos, essa é uma doença ligada ao X que surge O nível elevado de IgE causa liberação de histamina, o que blo-
por volta do segundo ano de vida. (No restante dos pacientes, a queia certos aspectos da resposta inflamatória, daí os abscessos
doença é autossômica.) frios. A histamina também inibe a quimiotaxia dos neutrófilos, o
A DGC ocorre em razão de um defeito na atividade micro- que constitui outra característica dessa síndrome. O tratamento
bicida intracelular de neutrófilos e resulta da falta da atividade consiste no uso de fármacos antimicrobianos.
da enzima NADPH oxidase (ou outra enzima similar). Assim,
o peróxido de hidrogênio ou os superóxidos não são produzidos Síndrome da deficiência da adesão de leucócitos
(i.e., não ocorre o ataque oxidativo), de forma que os microrga- Pacientes com essa síndrome apresentam infecções piogênicas
nismos, embora fagocitados, não são mortos. As funções das cé- graves no início de suas vidas, pois eles possuem proteínas de ade-
lulas B e T são normais. são (LFA-1) defeituosas na superfície de seus fagócitos. Essa é uma
No laboratório, o diagnóstico pode ser confirmado pelo uso doença autossômica recessiva na qual há uma mutação no gene
do teste de redução do corante nitroazul de tetrazólio ou por que codifica a cadeia í3 de uma integrina que medeia a adesão.
meio do teste da diclorofluoresceína (DCF). O teste da DCF é o Como resultado, os neutrófilos aderem-se fracamente à superfície
mais informativo entre os dois, pois a análise é realizada por ci- das células endoteliais e a fagocitose das bactérias é inadequada.
tometria de fluxo, o que provê informações acerca da habilidade
oxidativa de células isoladas. Por exemplo, nas mães de meninos 1
0 termo "frio" refere-se à ausência de inflamação nas lesões (i.e., as le-
com DGC, as quais são carreadoras, metade dos seus neutrófilos sões não são quentes e vermelhas).
CAPÍTULO 68 Imunodeficiência S6S

Neutropenia cíclica Receptores na superfície das células do


Nessa doença autossômica dominante, os pacientes apresentam sistema imune inato
uma contagem de neutrófilos extremamente baixa (menos de A deficiência do receptor semelhante ao Toll- 5 (TLR-5) resul-
200 células/µL) durante três a seis dias de um ciclo de 21 dias. ta em uma falha no reconhecimento da flagelina bacteriana e
Durante o estágio neutropênico, os pacientes estão sujeitos a in- em uma suscetibilidade notória a infecções por Legionella. Essa
fecções bacterianas potencialmente fatais, porém, quando a con- deficiência é bastante comum. A deficiência do ligante de liga-
tagem de neutrófilos é normal, eles não são suscetíveis à infecção. ção à manose (MBL) também é comum, e resulta em uma falha
Mutações no gene que codifica a elastase dos neutrófilos foram na ativação do complemento, conduzindo a infecções graves por
identificadas nos pacientes, mas ainda não está claro como essas bactérias gram-negativas, como Neisseria.
mutações contribuem para a natureza cíclica da doença. Supõe-
-se que a produção irregular do fator estimulante de colônias gra- Receptores no interior das células do
nulocíticas possa ter um papel no aspecto cíclico dessa doença. sistema imune inato
Os receptores NOD no citoplasma reconhecem o peptideoglica-
Deficiência da mieloperoxidase no de bactérias gram-positivas e gram -negativas. A deficiência de
A deficiência da mieloperoxidase (quantidade reduzida ou fun- NOD-2 resulta em um defeito na imunidade intestinal que está
ção reduzida) é bastante comum, mas tem pouca importân- envolvido na patogênese da doença de Crohn. Os receptores RIG
cia clínica. De maneira surpreendente, a maioria dos pacientes helicase reconhecem RNAs virais dupla-fita que são sintetizados
com essa deficiência não apresenta aumento na suscetibilidade durante a replicação no citoplasma. A deficiência desses recep-
a doenças infecciosas. A mieloperoxidase catalisa a produção de tores resulta em uma resposta de interferon reduzida a diversos
hipoclorito, um importante agente antimicrobiano, de forma que vírus (p. ex., vírus influenza).
um aumento no número de infecções era esperado. Entretanto,
outros mecanismos de morte intracelular estão intactos, e devem
ser suficientes para matar os micróbios fagocitados. IMUNODEFICIÊNCIAS ADQUIRIDAS
Deficiências de células B
Deficiência no receptor de i nterferon 'Y
Hipogamaglobulinemia comum variável
Pacientes com essa deficiência apresentam infecções graves por
micobactérias atípicas ou pelo bacilo de Calmette-Guérin (BCG), Pacientes com a doença apresentam infecções recorrentes cau-
sadas por bactérias piogênicas (p. ex., sinusites e pneumo-
a micobactéria atenuada da vacina BCG. Eles possuem uma mu-
nia causadas por bactérias piogênicas, como S. pneumoniae e
tação no gene codificante para o local de ligação ao ligante ou para
H. influenzae). As infecções, em geral, acontecem em indivíduos
a porção de transdução de sinal do receptor para interferon -y.
com idade entre 15 e 35 anos. O número de células B geralmente
Como resultado, macrófagos não são ativados e infecções graves
é normal, mas a habilidade de sintetizar IgG (e outras imunoglo-
por micobactérias ocorrem. Defeitos na produção de IL-12 ou do
bulinas) encontra-se muito reduzida. A imunidade celular é nor-
receptor para IL-12 causam o mesmo quadro clínico.
mal. A causa da falha na produção de IgG é desconhecida, mas
aparentemente deve-se à uma sinalização de células T defectiva.
Deficiência do receptor de reconhecimento A administração mensal de gamaglobulina intravenosa reduz o
de padrão número de infecções.
Mutações nos genes codificantes para receptores de reconheci-
mento de padrão (PRRS) localizados na superfície e no interior Desnutrição
das células do sistema imune inato resultam em suscetibilidade A desnutrição grave pode reduzir o suplemento de aminoácidos
a infecções graves (Tabela 68-2). Para mais informações sobre para as células e, portanto, reduzir a síntese de IgG. Esse quadro
PRRs, ver a seção "Imunidade inatà' no Capítulo 57. predispõe à ocorrência de infecções por bactérias piogênicas.

TABELA 68-2 Deficiências importantes nos receptores de reconhecimento de padrão das células do sistema imune inato

Receptor deficiente Defeito molecular Importância clínica

Receptor na superfície da célula


TLR-5 Falha de reconhecimento da flagelina em bactérias Aumento de infecções por Legionella
MBL Falha na ativação de complemento Aumento de infecções por Neisseria

Receptor no citoplasma da célula


NOD Falha de reconhecimento do peptideoglicano de Imunidade intestinal defectiva e predisposição à
bactérias doença de Crohn
RIG helicase Falha de reconhecimento do RNA virai dupla-fita Resposta de interferon reduzida e suscetibilidade a
vários vírus, como o vírus influenza

MBL, ligante de ligação à manose; TLR-5, receptor semelhante ao Toll 5.


S66 PARTE VII Imunologia

Deficiências de células T (p. ex., depressão e neurose), assim como o uso prolongado de
medicamentos (p. ex., tranquilizantes), precisam ser elimina-
Síndrome da imunodeficiência adquirida das. A causa da SFC é desconhecida; tentativas de isolar algum
Pacientes com a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) microrganismo causador a partir dos pacientes falharam. A hi-
são afetados por infecções oportunistas, causadas por determina- pótese de uma relação entre SFC e a infecção crônica pelo vírus
dos vírus, bactérias, fungos e protozoários (p. ex., Mycobacterium Epstein-Barr permanece sem comprovação.
avium-intracellulare, herpes-vírus, C. albicans e P. jiroveci). O Há uma similaridade entre os sintomas da SFC e os sintomas
quadro é devido a uma grande redução no número de células que ocorrem quando o interferon a ou a IL-2 são administrados
T auxiliares causada pela infecção pelo retrovírus, denominado aos pacientes. Anormalidades em vários componentes do sistema
vírus da imunodeficiência humana (HIV; ver Capítulo 45). Esse imune têm sido documentadas (p. ex., perda da reatividade do
vírus infecta e mata especificamente as células que apresentam a tipo hipersensibilidade tardia em testes de pele e aumento nos
proteína CD4 em sua superfície. A resposta a imunizações espe- níveis de linfócitos T citotóxicos), mas nenhum achado defini-
cíficas é reduzida, o que é atribuído à perda da atividade das cé- tivo surgiu. Não há testes de laboratório específicos para a SFC.
lulas T auxiliares. Pacientes com Aids também apresentam uma A abordagem terapêutica envolve o tratamento dos sintomas.
alta incidência de tumores, como os linfomas, o que pode ser Tratamentos com diversos fármacos antimicrobianos, como aci-
resultante da perda da vigilância imunológica. Consultar o Ca- clovir, cetoconazol e gamaglobulinas, não surtem efeito.
pítulo 45 para informações relativas ao tratamento e à prevenção.

Sarampo APLIQUE SEU CONHECIMENTO


Pacientes com sarampo apresentam uma supressão transiente da 1. Seu paciente é um menino de 2 anos que apresentou diversos episó-
hipersensibilidade tardia, o que pode ser observado por meio da dios de pústulas e linfadenites causadas pelo Staphylococcus aureus.
perda de reatividade do teste PPD na pele. Outro resultado é a ati- Seus níveis de imunoglobulinas e complemento são normais. Um
vação da tuberculose quiescente. Nesses pacientes, a função das cé- teste com o corante nitroazul de tetrazólio revela células defeituosas.
lulas T encontra-se alterada, mas as imunoglobulinas são normais. Qual das seguintes células é mais provável de ser defeituosa?
(A) Linfócitos T CD4-positivos.
Deficiências do complemento (B) Linfócitos T CDS-positivos.
( C)Eosinófilos.
Insuficiência hepática (D) Células natural killer.
A insuficiência hepática causada pela cirrose alcoólica ou hepa- (E) Neutrófilos.
tites B ou C crônicas podem reduzir a síntese das proteínas do 2. Sua paciente é uma mulher de 25 anos que apresentou diversos episó-
complemento pelo fígado até o nível em que infecções piogênicas dios graves de pneumonia bacteriana nos últimos cinco meses. Ante-
graves passam a ocorrer. riormente, ela não havia apresentado nenhum episódio de infecções
frequentes ou pouco comuns. Qual das seguintes opções é a imunode-
ficiência mais provável que predispõe a paciente a essas infecções?
Desnutrição
(A) É provável que ela tenha um defeito em suas células T citotóxicas.
A desnutrição grave pode reduzir o suplemento de aminoácidos (B) É provável que ela tenha níveis reduzidos de imunoglobulinas.
e, assim, reduzir a síntese das proteínas do complemento pelo fí- ( C) É provável que ela tenha uma mutação no gene que codifica a
gado. Esse quadro predispõe à ocorrência de infecções por bac- porção C3a do complemento.
térias piogênicas. (D) É provável que ela tenha uma mutação em um dos genes que
codificam proteínas do MHC de classe 1.
Deficiências de fagócitos 3. Em relação à agamaglobulinemia de Bruton, qual das seguintes
opções é a mais correta?
Neutropenia
(A) Há pouca quantidade de IgG sendo produzida, mas os níveis
Pacientes com neutropenia apresentam infecções graves causadas de IgM e IgA são normais.
por bactérias piogênicas, como S. aureus, S. pneumoniae e bastone- (B) Infecções virais são mais comuns do que infecções por bacté-
tes entéricos gram-negativos. Contagens de neutrófilos inferiores rias piogênicas.
a 500 células/ µL predispõem a essas infecções. As causas mais co- (C) O número de células B é normal, mas elas não se diferenciam
muns da neutropenia incluem o uso de fármacos citotóxicos, como em células plasmáticas.
os utilizados na quimioterapia contra o câncer, leucemias, em que (D) Há uma mutação no gene que codifica para a tirosina-cinase,
a medula óssea se torna "superpovoadà' por células leucêmicas, e a uma importante enzima na via de transdução de sinal em cé-
lulas B.
destruição autoimune dos neutrófilos. A ciprofloxacina é utilizada
para tentar prevenir infecções em pacientes neutropênicos. 4. Qual das seguintes opções é a descrição mais correta do defeito que
ocorre na doença granulomatosa crônica?
Síndrome da fadiga crônica (A) Há incapacidade de produzir um ataque oxidativo.
(B) Há falha na produção de interleucina 2.
O sinal predominante em pacientes que apresentam a síndrome (C) Há deficiência nos componentes de ação tardia do complemento.
da fadiga crônica (SFC) é a fadiga persistente, debilitante, que (D) Há uma proteína-cinase mutante nas vias de transdução de
dura pelo menos seis meses e não melhora com repouso. Como sinal.
a fadiga é um sintoma não específico, todas as outras causas físi- (E) Há uma mutação no gene que codifica uma proteína do MHC
cas (p. ex., câncer, doença autoimune e infecção) e psiquiátricas de classe II.
CAPÍTULO 68 Imunodeficiência S67

5. Qual das seguintes imunodeficiências é mais provável de predispor RESPOSTAS


crianças jovens tanto a infecções por bactérias piogênicas quanto a
infecções virais? 1. (E)
2. (B)
(A) Agamaglobulinemia de Bruton.
3. (D)
(B) Doença granulomatosa crônica.
4. (A)
(C) Síndrome de DiGeorge.
5. (E)
(D) Síndrome de Job.
6. (A)
(E) Doença da imunodeficiência combinada grave.
6. Em relação às imunodeficiências, qual das seguintes opções é a mais
correta?
QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO
(A) Pacientes com deficiência de IgA apresentam alta incidência
de infecções piogênicas sinusais e nos pulmões. Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser en -
(B) A hipogamaglobulinemia comum variável ocorre geralmente contradas na seção de Imunologia da Parte XIII: Questões para
em meninos com idade inferior a 6 meses e resulta da possível Autoavaliação, a partir da página 713. Consulte também a Parte
ausência de células B.
XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731.
(C) Na síndrome de Wiskott-Aldrich, a combinação de deficiên-
cias de anticorpos e de complemento leva a infecções dissemi-
nadas por vírus e fungos.
(D) Pacientes com a síndrome de DiGeorge (aplasia tímica congê-
nita) apresentam números reduzidos tanto de células T quanto
de células B, e desenvolvem infecções graves causadas por bac-
térias piogênicas.
(E) Pacientes incapazes de produzir um ou mais componentes tar-
dios do complemento, como C6, C7, C8 ou C9, apresentam
episódios de angiedema, incluindo o edema de laringe, que
pode ser fatal.
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CAPÍTULO

Ectoparasitas que Causam


Doenças em Seres Humanos

CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução 3.Aranhas
Insetos Ectoparasitas de menor importância médica
1. Piolhos 1.Demodex
2. Moscas 2. Trombicula
3. Percevejos 3. Dermatophagoides
Aracnídeos Aplique seu conhecimento
1. Acaros Resumos dos organismos
2. Carrapatos

INTRODUÇÃO menor importância médica são brevemente descritos ao final


deste capítulo.
Ectoparasitas são organismos encontrados na pele ou nas cama-
das superficiais da pele. Ecto é um prefixo que significa "externo,:
Praticamente todos os ectoparasitas são artrópodes; isto é, eles INSETOS
são invertebrados com um esqueleto de quitina.
Os ectoparasitas que causam doenças em seres humanos se di- 1. Piolhos
videm em duas categorias principais: insetos (artrópodes com seis
patas) e aracnídeos (artrópodes com oito patas). Os ectoparasitas Doença
discutidos neste capítulo incluem insetos, como piolhos, moscas e A pediculose é causada por duas espécies de piolhos: Pediculus
percevejos, e aracnídeos, como ácaros, carrapatos e aranhas. humanus e Phthirus pubis. P. humanus apresenta duas subespé-
Muitos artrópodes são vetores que transmitem os organis- cies: Pediculus humanus capitus (piolho-da-cabeça), que afeta
mos causadores de doenças infecciosas importantes. Um exem- principalmente o couro cabeludo, e Pediculus humanus corporis
plo bem -conhecido é o carrapato Ixodes, que transmite Borrelia (piolho-do-corpo), que afeta principalmente o tronco. Phthirus
burgdorferi, a causa da doença de Lyme. A Tabela XIl-3 descreve pubis (piolho-do-púbis) afeta principalmente a área genital, mas
os vetores de importância médica. Entretanto, neste capítulo, os a axila e as sobrancelhas também podem ser afetadas.
artrópodes são discutidos não como vetores, mas como a causa Observa-se que o piolho-do-corpo é o vetor para vários
das próprias doenças. A Tabela 69-1 resume as características patógenos de seres humanos, sobretudo Rickettsia prowazekii,
comuns das doenças causadas pelos ectoparasitas de importân- a causa de tifo epidêmico, ao passo que o piolho-da-cabeça e o
cia médica que são descritos neste capítulo. Os ectoparasitas de piolho-do-púbis não são vetores de doenças em seres humanos.
S70 PARTE VIII Ectoparasit as

TABELA 69-1 Ectoparasitas importantes que causam doenças em humanos

Nome do organismo Características comuns da doença

Insetos
1. Piolhos Pedicu/us humanus (piolho-da-cabeça ou Prurido do couro cabeludo ou do tronco; lêndeas vistas na haste
piolho-do-corpo) do cabelo ou dos pelos
Phthirus pubis (piolho-do-púbis) Prurido na área púbica; lêndeas visualizadas na haste dos pelos
2. Moscas Dermatobia hominis (berne) Nódulo eritematoso, dolorido e pruriginoso; uma larva pode ser
visualizada emergindo do nódulo
3. Percevejos Cimex lectularius (percevejo comum) Pápula eritematosa e pruriginosa

Aracnídeos
1. Ácaros Sarcoptes scabiei (ácaro-da-sarna) Pápulas pruriginosas eritematosas e marcas lineares
2. Carrapatos Espécies de Dermacentor Paralisia ascendente
3. Aranhas Latrodectus mactans (aranha viúva-negra) Dor intensa e espasmos musculares
Loxosce/es reclusa (aranha-marrom solitária) Úlcera necrótica

Características importantes e podem ser visualizadas a olho nu. Lêndeas dos piolhos-do-cor-
po geralmente se ligam às fibras das roupas.
Os piolhos são facilmente visíveis, possuindo de 2 a 4 mm de
comprimento. Eles possuem seis patas armadas com garras, com
Transmissão
as quais se prendem ao cabelo e à pele (Figura 69-1). Pediculus
possui um corpo alongado, ao passo que Phthirus possui um cor- Piolhos-da-cabeça são transmitidos principalmente por objetos,
po curto e assemelha-se a um caranguejo e, devido a isso, tem o como chapéus, pentes e toalhas, sendo comuns em crianças em
apelido de piolho-caranguejo. Diz-se que pessoas infectadas com idade escolar. Piolhos-do-corpo vivem principalmente em rou-
Phthirus são portadoras de "chato': pas e são transmitidos tanto pelas roupas quanto por contato
Lêndeas são ovos de piolhos e são, na maioria dos casos, en- pessoal. Os piolhos-do-corpo saem das roupas quando necessi-
contradas presas à haste do cabelo (Figura 69-2). Elas são brancas tam alimentar-se de sangue. Piolhos-do-púbis são transmitidos
principalmente por contato sexual.
Infestações difundidas de piolhos-do-corpo ocorrem quan-
do a higiene pessoal é insatisfatória (p. ex., durante períodos de
guerra ou em campos de refugiados lotados).

Patogênese
Piolhos adultos alimentam-se de sangue e, no processo, injetam
saliva na pele, o que induz a reação de hipersensibilidade e, como
consequência, prurido.

FIGURA 69-1 Pediculus corporis - piolho-do-corpo. Observa-se o ab- FIGURA 69-2 Pedicu/us capitis - envoltório do ovo (lêndea). A seta
dome alongado do Pedicu/us corporis. Em contrapartida, o piolho-do- aponta para um envoltório do ovo (também conhecido como lêndea)
-púbis possui um abdome curto do"tipo caranguejo'~ (Figura cortesia do preso à haste do cabelo. Observa-se o embrião no interior do ovo.
Dr. F. Collins, Public Health Library, Centers for Disease Control and Prevention.) (Figura cortesia do Dr. D. Juranek, Public Health Library, Centers for Disease Con-
trol and Prevention.)
CAPÍTULO 69 Ectoparasitas que Ca usam Doenças em Seres Humanos 571

Achados clínicos
Prurido é o principal sintoma. Escoriações podem resultar de
coceiras, e infecções bacterianas secundárias podem ocorrer.
Na pediculose da cabeça, os piolhos adultos são n ormalmente
difíceis de ser visualizados, mas as lêndeas são facilmente ob-
servadas. Na pediculose do corpo, os piolhos adultos estão prin-
cipalmente na roupa, em vez de estar no corpo. Na pediculose
do púbis, os piolhos adultos e as lêndeas podem ser visualizados
presos aos pelos púbicos.

Diagnóstico laboratorial
O laboratório não está envolvido no diagnóstico. As lêndeas
fluorescem sob a luz ultravioleta de uma lâmpada de Wood, que FIGURA 69-3 Dermatobia hominis- miíase. Larva do berne emergin-
pode ser utilizada para triar o cabelo de um grande número de do do cent ro de uma lesão cutânea nodu lar eritematosa. A inserção
pessoas. apresenta uma larva intacta. (Reprod uzida, com permissão, de Gold smith
th
LA, Katz SI et ai. (eds): Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine, 8 ed. New

Tratamento York: McGraw-Hill, 2012. Copyright © 2012 por The McG raw-Hill Companies, lnc.)

A permetrina é o tratamento de escolha, já que é tanto pediculi-


cida quanto ovicida. No entanto, a resistência à permetrina está lábios. E ainda em um outro panorama, a m osca deposita seus
aumentando. A ivermectina também é efetiva e ainda não foi re- ovos na pele íntegra e a larva penetra na pele.
latada resistência a este fármaco. As lêndeas são removidas pela Dermatobia é especialmente interessante porque deposita
utilização de um pente de dentes finos. Pacientes com piolhos seu ovo em um mosquito. Quando o mosquito pica um ser hu-
no corpo normalmente não precisam ser tratados, mas as roupas mano, o calor da pele induz a eclosão do ovo e a larva penetra na
precisam ser descartadas ou tratadas. pele no local da picada do mosquito.

Prevenção Patogênese
Crianças não devem compartilhar artigos de vestimenta. Muitas A presença da larva no tecido induz uma resposta inflamatória.
escolas adotam uma política de que crianças não podem frequen-
tar a escola até que estejam livres de lêndeas, mas a necessidade Achados clínicos
dessa abordagem excludente está sendo revista. Os itens pessoais
de indivíduos afetados, como toalh as, pentes, escovas de cabelo, A lesão característica consiste em uma pápula, eritematosa, dolo-
rosa semelhante a um furúnculo (Figura 69-3). A lesão também
roupas e roupas de cama, devem ser tratados. Parceiros sexuais
pode ser pruriginosa. A larva normalmente pode ser visualizada
de pessoas infestadas com piolho-do-púbis devem ser tratados e
n o interior do poro central. Alguns pacientes descrevem uma
testados para outras doenças sexualmente transmissíveis.
sensação de m ovimento na lesão. Relato de viagens a regiões
tropicais é normalmente obtido. Miíase cutânea é a forma mais
2. Moscas comum, mas formas oculares, intestinais, urogenitais e cerebrais
Doença também ocorrem.
A miíase é causada pela larva de muitas espécies de moscas, mas
a mais conhecida é o berne, Dermatobia hominis. Larvas de mos- Diagnóstico laboratorial
cas também são conhecidas como vermes. Observa-se que ver- O laboratório não está envolvido no diagnóstico, exceto quando
mes são, ocasionalmente, utilizados para limpar ferimentos não a identificação da larva é necessária.
cicatrizados, mas estes vermes não causam m iíase.
Tratamento
Características importantes Remoção cirúrgica da larva é o modo mais comum de tratamen-
As moscas que causam m iíase são encontradas mundialmente e to. Se a larva estiver visível, uma extração manual pode ser reali-
infestam muitos animais e seres humanos. Infestações em seres zada. Se a larva não estiver visível, o poro central pode ser cober-
humanos ocorrem mais frequentemente nas áreas tropicais. Der- to com vaselina, causando anoxia na larva. Isto induz a migração
matobia é comum nas Américas Central e do Sul. da larva para a superfície.

Transmissão Prevenção
A rota exata de transmissão varia, dependendo da espécie de A prevenção envolve limitar a exposição às m oscas, principal-
mosca. Em um cenário, a mosca adulta deposita seus ovos em mente em áreas tropicais. Medidas gerais, como o uso de roupas
uma ferida e o ovo eclode produzindo uma larva. Em outro cená- que cubram as extremidades, redes de mosquitos e repelentes de
rio, a mosca deposita seus ovos nas narinas, na conjuntiva ou nos insetos, são recomendadas.
572 PARTEVIII Ectopa rasitas

FIGURA 69-4 Cimex /enticu/aris - percevejo. Percevejo no p rocesso


de repasto sa ng uíneo na pele. Eles não poss ue m asas, ap rese ntam
u ma coloração marro m-avermelhada e possuem ce rca de 5 m m de
compri ment o. (Figura cortesia da Public Health lmage Library, Centers for
Disease and Prevention.)

3. Percevejos FIGURA 69-6 Sarcoptes scabiei- áca ro-da-sarna. A seta longa apon-
ta pa ra a boca. A seta c urta aponta pa ra uma das oito patas. Esta é
Cimex lectularius é o p ercevejo mais comum encontrado nos uma visão ve nt ral. (Figura cortesia de Publ ic Health lmage Library, Centers for
Estados Unidos. Este possui um corpo oval, de coloração m arrom, Disease Contrai and Prevention, Geneva, Switzerland.)
com cerca de 5 mm de comprimento (Figura 69-4). Os percevejos
residem em colchões e em fendas de camas de m adeira. Durante a
noite, eles emergem para se alimentar de sangue de seres humanos Características importantes
adormecidos. O principal sintoma da picada de um percevejo é
A fêm ea adulta do ácaro Sarcoptes tem aproximadam ente 0,4 m m
o desenvolvimento de uma pápula pruriginosa, causada por uma
de comprimento, com um corp o arredondado e oito patas pe-
reação de hipersensibilidade relacionada à histamina direcion ada
quenas (Figu ra 69-6). Ela é encontrada mundialmente, e estim a-
a proteínas presentes na saliva do inseto (Figura 69-5). Alguns in-
-se que várias centenas de milhões de p essoas sejam afet adas em
divíduos apresentam pequenas reações. Não se conhece transmis-
são de qualquer doença humana pela picada de percevejo. Loção todo o mundo.
de calamina pode ser utilizada para aliviar a coceira. Malationa ou
lindano podem ser utilizados para tratar colchões e camas. Transmissão
Ela é tran smitida por contato pessoal ou por itens com o roupas,
principalmente em con dições n ão higiên icas (p. ex., em m orado-
ARACNÍDEOS
res de rua e du rante períodos de gu erra). Ela não é um vetor para
1. Ácaros outros patógen os humanos.

Doença
Patogênese
A sarna é causada pelo ácaro-da-sarna, Sarcoptes scabiei.
As lesões pruriginosas resultam de u m a reação de hipersensi-
bilidade tardia às fezes do ácaro. O ácaro localiza-se no estrato
córneo da epiderme.

Achados clínicos
As lesões características em pessoas imun ocompetentes são ras-
tros ou pápulas muito pruriginosas (Figura 69-7). Os locais m ais
comuns são as m ãos, os pulsos, as dobras axilares e os órgãos ge-
n itais. Áreas do corpo onde as roupas são apertadas, com o ao
longo da linha da cintu ra, est ão n ormalm ente envolvidas. A co-
ceira é, em geral, pior à noite.
Em indivídu os imunocomprometidos, uma dermatite com
FIGURA 69-5 Picadas de percevejos - diversas urticárias pap ula res
crosta extensa (sarn a n orueguesa) pode ocor rer. Os pacientes p o-
ci rcund adas por eritema nas costas do pacie nte. (Reproduzida, com
permissão, de Goldsmith LA, Katz SI et ai. (eds). Fitzpatrick's Dermatology in Ge- dem estar infestados com milhares de ácaros. Escoriações podem
th
neral Medicine. 8 ed. New York: McGraw Hill, 2012. Copyright © 2012 por The tornar-se infectadas com Staphylococcus aureus ou Streptococcus
McGraw-Hill Compa nies, lnc.) pyogenes, resultando em piodermia.
CAPÍTU LO 69 Ectoparasitas que Causam Doenças em Seres Humanos 573

FIGURA 69-7 Sarcoptes scabiei - lesões. Observam-se três setas


a pontando para lesões lineares do t ipo faixa na mão. (Reproduzida,
com permissão, de Wolff K, Johnson R. Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of Clini-
ca/ Dermatology. 6th ed. New York: McGraw-Hill, 2009. Copyright © 2009 por The
McGraw-Hill Companies, lnc.) FIGURA 69-8 Carrapato Dermacentor. Esse ca rrapato causa paralisia
e é o veto r de tra nsmissão de Rickettsia rickettsiae, o age nte etiológi-
co da feb re macu losa das Monta nhas Rochosas. (Figura cortesia do Dr.
Diagnóstico laboratorial Christopher Padd ock, Public Health lmage Library, Centers for Disease Contrai
and Prevention.)
Exames microscópicos de raspados de pele revelam os ácaros,
seus ovos ou bolos fecais.
cies podem causar paralisia do carrapato. Atualmente, nos Es-
Tratamento tados Unidos, não há casos de paralisia causada por carrapatos
Ixodes; entretanto, há casos relatados em outros países, principal-
Permetrina é o fármaco de escolha. Esteroides tópicos são utiliza- m ente na Austrália.*
dos para aliviar a coceira.

Patogênese
Prevenção
A paralisia é m ediada por uma neurotoxina que bloqueia a libe-
A prevenção envolve o tratamento de pessoas que tenham con- ração de acetilcolina nas junções neuromusculares - uma ação
tato próxim o com o paciente e o tratamento ou descarte de itens similar à da toxina botulínica. A toxina é produzida na glândula
com o roupas e toalhas. salivar do carrapato. O carrapato precisa ficar fixo à pele por pelo
m enos quatro dias antes do início dos sintomas.
2. Carrapatos
Doença Achados clínicos

A paralisia por carrapato é causada por muitas espécies de carra- Uma paralisia ascendente similar à síndrome de Guillain-Barré
patos, das quais as mais comuns nos Estados Unidos são espécies ocorre. Ataxia é um sintoma precoce apresentado. A paralisia é
de Dermacentor. Os carrapatos são vetores para diversas doenças simétrica e pode ascender das pernas até a cabeça no período
de algumas horas. Colapso respiratório e morte podem ocorrer.
humanas, incluindo a doença de Lym e e a febre maculosa das
Montanhas Rochosas, porém, neste capítulo, será discutida ape- A recuperação ocorre, em geral, 24 horas após a remoção do
carrapato.
nas a paralisia do carrapato, causada por uma toxina produzida
O carrapato é normalmente encontrado atrás do pescoço ou
pelo próprio animal.
perto da orelha. Crianças m enores de 8 anos são as mais comu-
m ente afetadas.
Características importantes e transmissão
Carrapatos fêmeas precisam alimentar-se de sangue para que a Diagnóstico laboratorial
maturação de seus ovos aconteça e, portanto, é a fêmea que causa
O laboratório não está envolvido no diagnóstico.
a paralisia do carrapato, assim como serve como vetor de doenças.
Carrapatos são, em geral, encontrados em terrenos com gramíne-
as e são atraídos por dióxido de carbono e calor de seres humanos.
Tratamento
Um carrapato se adere à pele humana por meio de sua probóscide. O tratamento consiste na remoção do carrapato.
Dermacentor andersoni, o carrapato da madeira, é mais co-
mumente encontrado no Oeste dos Estados Unidos, ao passo que *N. de R.T. No Brasil, carrapatos do gênero Amblyomma (cuja larva é
Dermacentor variabilis, o carrapato do cão, é mais comum ente popularmente chamada de "micuim") são os que mais comumente para-
encontrado nos Estados do Leste (Figura 69-8). Ambas as espé- sitam o homem.
574 PARTEVIII Ectopa rasitas

FIGURA 69-9 Latrodectus mactans (ara nha viúva-negra). Observe a


"am pulheta" avermelhada na superfície ventral. (Figura cortesia da Ora.
Paula Sm ith, Public Health lmage Library, Centers for Disease Cont rol and Pre-
vent ion.) FIGURA 69-10 Loxosce/es reclusa (aranha-marrom solitária). Observe
a forma d e um "violino" na superfície d orsal d o tórax. (Figura cortesia do
Dr. Andrew J. Brooks, Public Hea lth lmage Library, Centers for Disease Control
Prevenção and Prevention)

Picadas de carrapatos podem ser evitadas pela aplicação de repe-


lentes de insetos e pelo uso de roupas que cubram as extremida- Doença dermonecrótica
des. Procura e remoção imediata dos carrapatos é uma medida de
A picada da aranha-marrom solitária causa, principalmente, sinto-
prevenção importante.
mas de necrose tecidual. A necrose é devida a enzimas proteolíticas
do veneno. Precocemente após a picada são observados dor e pru-
3. Aranhas rido no local, seguidos pela formação de vesículas e, subsequente-
Duas espécies de aranhas causam a maior parte das doenças nos mente, bolhas hemorrágicas (Figura 69- 11 ). A lesão ulcera, torna-se
Estados Unidos, chamadas de aranha viúva-negra (Latrodectus necrótica, e pode ficar sem curar por semanas a meses. Transplante
mactans) e aranha-marrom solitária (Loxosceles reclusa). A aranha de pele pode ser necessário. Não está disponível nos Estados Unidos
viúva-negra possui cerca de 1 cm de comprimento e apresenta o o antissoro para o veneno da aranha-marrom solitária.**
desenho de uma ampulheta vermelho-alaranjada característica
em sua superfície ventral (Figura 69-9). A aranha-marrom solitá-
ria tam bém possui cerca de 1 cm de comprimento, porém possui ECTOPARASITAS DE MENOR
um padrão em forma de violino característico em sua superfície
IMPORTÂNCIA MÉDICA
dorsal (Figura 69-10). Ela também é chamada de aranha-violino.*
1. Demodex
Doença neurotóxica Os ácaros Demodex também são conhecidos como ácaros do fo-
A picada da aranha viúva- negra causa principalmente sintomas lículo piloso ou de cílios. Eles provocam foliculite, especialmente
neurológicos. No período de uma hora após a picada, dor e en- nos cílios (blefarite) e na face. Esses ácaros bloqueiam o folículo,
torpecimento disseminam-se pelo local. Dor intensa e espasmos causando uma resposta inflamatória e a perda dos cílios. Olhos
nas extremidades e dor abdominal ocorrem. Febre, calafrios, su- ressecados e calázios podem ser observados. São associados a le-
dorese, vômito e outros sintomas podem ocorrer. Ao cont rário sões do tipo rosáceas na face.
da picada da aranha-marrom solitária, necrose de tecidos não Estes ácaros são muito pequenos. Cerca de 25 ácaros já fo-
ocorre. A maior parte dos pacientes recupera-se em poucos dias, ram encontrados em um folículo piloso. O diagnóstico é reali-
mas alguns, na maior parte crianças, morrem. Se disponível, o zado pela observação do ácaro por meio de um biomicroscópio
antissoro contra o veneno da viúva-negra deve ser administrado de lâmpada de fenda. O tratamento envolve um desbridamento
em casos graves. O antissoro é feito em cavalos, ent ão, um teste cuidadoso das áreas afetadas associado à aplicação de uma poma-
para hipersensibilidade a soro de cavalo deve ser realizado. da de óleo tea tree (da árvore do chá).

*N. de R.T. No Brasil, três outros grupos de aranhas também apresentam 2. Trombicu/a
importância médica em razão dos frequentes acidentes com picadas. São
Os ácaros Trombicula também são conhecidos como ácaros de
elas as aranhas-armadeiras (gênero Phoneutria), as tarântulas (gênero
colheita ou chiggers. A picada da larva provoca a formação de
Lycosa) e as caranguejeiras (diversos gêneros). Das três, as armadeiras são
as mais perigosas, em razão de sua agressividade e da potência de seu ve-
neno. Apesar de sua aparência e tamanho assustadores, as caranguejeiras **N. de R.T. No Brasil, soros antiaracnídicos contra Loxosceles, Latrodectus
não são agressivas e acidentes com picadas são raros e sem gravidade. e Phoneutria são disponibilizados por órgãos de saúde pública.
CAPÍTULO 69 Ectoparasitas que Causam Doenças em Seres Humanos 575

APLIQUE SEU CONHECIMENTO


1. Seu paciente é um morador de rua com várias pápulas nas mãos, as
quais são muito pruriginosas. Uma lesão é uma marca linear. Você
suspeita que o paciente possa ter sarna. Qual das seguintes opções é
a mais provável de ser visualizada?
(A) Lêndeas presas ao cabelo.
(B) A inspeção visual revela uma larva nas lesões.
(C) A forma de ninfa de um carrapato é visualizada nas lesões.
(D ) Exame de um raspado da pele no microscópio revela um ácaro.
2. Em relação ao paciente da Questão 1, qual das seguintes opções é o
melhor fármaco de escolha para tratar a infecção?
(A) Albendazol.
(B) lvermectina.
(C) Permetrina.
(D) Praziquantel.
(E) Primaquina.
3. Sua paciente recentemente voltou de uma viagem à América Cent ral
que incluiu uma caminhada de duas semanas na floresta t ropical.
Agora ela tem uma lesão eritemat osa elevada em sua perna, que é
muito dolorida. Um tratamento de sete dias com cefalexina não sur-
tiu efeito. Qual das seguintes opções é a causa mais provável?
(A) C. lenticularis.
(B) D. hominis.
( C) L. mactans.
(D) P. humanus.
(E) P. pubis.
4. Considerando a pediculose, qual das seguintes opções é a mais
corret a?
FIGURA 69-11 Picada da aranha solitária. Observam-se as bolhas he- (A) Lêndeas são ovos do piolho e são normalmente achadas presas
morrágicas circundadas por áreas irregulares de necrose na coxa direita. à haste do cabelo.
(Figura cortesia do Dr. M.A. Parsons e doada pelo Dr. G. Rosenfeld, Chefe do Hos- (B) Praziquantel é o fármaco de escolha para pediculose causada
pital Vital, do Departamento de Fisiopatologia, Brasil; Public Health lmage Libra- t anto por Pediculus quanto por Phthirus.
ry, Centers for Disease Control and Prevention.) (C) Para visualizar o organismo, uma amostra de pele deve ser ob-
servada pela utilização da lente objetiva de 1OX de um micros-
cópio óptico.
pápulas acompanhadas por coceira intensa. As pápulas prurigi- (D ) As lesões causadas pelo piolho-do-corpo são pruriginosas,
nosas são resultantes de uma resposta alérgica a proteínas pre- mas as lesões causadas pelo piolho-do-púbis formam uma
sentes na saliva, que são injetadas na pele no momento da picada. escara negra dolorosa e necrót ica.
As larvas não são sugadoras de sangue, porém obtêm nutrientes
a partir de células da pele dissolvidas. São encontrados na vege-
tação de regiões quentes e úmidas, como nos Estados do Sudeste RESPOSTAS
dos Estados Unidos. 1. (D )
2. (C)
3. Dermatophagoides 3. (B)
4. (A)
Os ácaros Dermatophagoides também são conhecidos como áca-
ros da poeira doméstica. Eles se alimentam de células da pele
humana exfoliadas. Não causam doença nos seres humanos
RESUMOS DOS ORGANISMOS
diretamente. No entanto, proteínas presentes em suas fezes são
alérgenos poderosos para alguns indivíduos. Pequenas partículas Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam-
na poeira doméstica podem ser transmitidas pelo ar, inaladas, in- -se na página 669. Favor consultar esses resumos para uma rápida
duzindo quadros de asma e dermatite atópica. revisão do material essencial.
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
CAPÍTULO

Infecções dos Ossos e das


Articulações
CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Artrite virai (imunocomplexo)


Osteomielite Artrite reativa
Artrite infecciosa (séptica) Febre reumática

INTRODUÇÃO Fisiopatologia
As infecções dos ossos e das articulações são consideradas gra- A forma mais comum pela qual os organismos conseguem alcan-
ves, uma vez que a destruição de tecido ósseo ou da cartilagem çar o osso é por meio da disseminação hematogênica (i.e., bacte-
pode resultar na manifestação de uma deficiência significativa. riemia ou fungemia) a partir de um local distante. A osteomielite
A osteomielite e a artrite infecciosa são causadas principalmente bacteriana aguda frequentemente surge a partir de uma infecção
por bactérias ou fungos. Nessas doenças, os organismos infectam piogênica de pele, como um furúnculo, mas muitas fontes não
diretamente o osso e a articulação. Em contrapartida, a artrite são detectadas. As osteomielites micobacteriana e fúngica comu-
por deposição imunocomplexo, a artrite reativa e a febre reumá- mente surgem a partir de uma infecção pulmonar inicial.
tica são oriundas de reações imunes a bactérias ou vírus, e esses Em crianças, a disseminação hematogênica tende a resul-
organismos não são encontrados nas articulações. tar em osteomielite localizada na extremidade dos ossos longos
O diagnóstico clínico da artrite infecciosa frequentemente (como nas metáfises) que são ricamente dotadas de vasos san -
envolve a análise dos fluidos articulares. Assim, estudos radio- guíneos. Nos adultos, a disseminação hematogênica resulta mais
lógicos das articulações e dos ossos são importantes no forneci- comumente em osteomielite vertebral e discite, e não em osteo-
mento de informações acerca do processo infeccioso. O diagnós- mielite dos ossos longos.
tico microbiológico da osteomielite e da artrite infecciosa é, em A osteomielite também ocorre por extensão direta de um lo-
geral, realizado por meio de cultura de uma amostra de tecido cal adjacente infectado, como uma infecção de pele ou dos tecidos
ósseo ou de fluido proveniente das articulações. A terapia anti- moles. A infecção também pode originar-se após um trauma que
microbiana é geralmente administrada por longos períodos de resulta em uma fratura exposta e contaminação direta do osso.
tempo (i.e., de semanas a meses). A osteomielite crônica tende a incidir sobre a extremidade
inferior, principalmente em indivíduos diabéticos, que muitas
vezes apresentam insuficiência vascular. Estes indivíduos encon-
OSTEOMIELITE tram-se predispostos a infecções de pele e dos tecidos moles que
se estendem para o interior do osso.
Definição
A osteomielite é uma infecção dos ossos. O termo osteo refere-se Manisfestações clínicas
a osso, e o termo mielo refere-se à medula óssea. A osteomielite é As manifestações clínicas mais características são dor óssea e
classificada como aguda ou crônica. sensibilidade localizada no local da infecção. A maioria (mas não
S78 PARTE IX Doenças Infecciosas

FIGURA 70-1 Osteomielite vertebral. A seta indica o local da lesão


vertebral. (Reproduzida, com permissão, de McKean se et ai. Principies and
Practice ofHospital Medicine. New York: McGraw-Hill, 2012. Copyright© 2012 por
The McGraw-Hill Companies, lnc.)

todos) dos pacientes também apresenta sintomas constitucionais,


como febre, sudorese noturna e fadiga. Além disso, é observa-
da uma limitação de movimentos nas extremidades afetadas. Na
osteomielite vertebral, a região lombar é afetada mais frequente- FIGURA 70-2 Osteomielite crônica. A: A seta branca aponta para a
mente do que as regiões cervical ou torácica (Figura 70-1). drenagem da fístula no local da osteomielite crônica. B: A seta branca
aponta para o osso necrótico em decorrência da osteomielite crôni-
Na osteomielite aguda, os sintomas ocorrem de forma
ca. (De Kemp WL, Burns DK, Brown TG: Pathology: The Big Picture. New York,
abrupta e progridem rapidamente, ao passo que na osteomieli-
McGraw-Hill, 2008. Copyright© 2008 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
te crônica, o curso é mais lento. Na osteomielite crônica, ocorre
necrose do osso, e um "sequestro,, (uma parte avascular do osso
infectado) pode se formar no local da lesão (Figura 70-2). As re- TABELA 70-1 Organismos causadores da osteomielite
cidivas tendem a acontecer na osteomielite crônica com mais fre- com vários fatores predisponentes
quência do que na osteomielite aguda, e o desbridamento cirúr-
gico, principalmente com a finalidade de remoção do sequestro, Fator predisponente Organismos comuns
é importante para minimizar o risco de recidivas.
Neonatos Streptococcus aga/actiae (estreptoco-
cos do grupo B)
Patógenos
Crianças e adultos Staphylococcus aureus
O agente bacteriano mais frequentemente associado à osteo-
mielite aguda em crianças e adultos é o Staphylococcus aureus Adultos com osteomie- S. aureus, Mycobacterium tubercu/osis
(Tabela 70-1). No entanto, a osteomielite vertebral em adultos lite vertebral
pode ser ocasionada pelo Mycobacterium tuberculosis (doença Usuários de drogas S. aureus, Pseudomonas aeruginosa,
de Pott). A osteomielite em pacientes com próteses de quadril intravenosas Serratia marcescens, Candida albicans
ou de joelho pode ser causada por Staphylococcus epidermidis
ou por outros organismos provenientes da microbiota da pele. Perfurações do pé P. aeruginosa
Quando a osteomielite acomete um usuário de drogas intrave-
Mordida de gato Pasteurella multocida
nosas, é mais comumente provocada por S. aureus; no entanto,
bastonetes gram -negativos, como Pseudomonas e Serratia, e leve- Anemia falciforme Espécies de Salmonella
duras, como algumas espécies de Candida, configuram-se tam-
Exposição em áreas Coccidioides immitis, Histop/asma
bém como causas importantes. A osteomielite originada após a
endêmicas capsulatum
perfuração de um tênis que desencadeia um ferimento no pé é
CAPÍTULO 70 Infecções dos Ossos e das Articulações S79

com frequência, causada por Pseudomonas aeruginosa, e a oste- A vancomicina é frequentemente utilizada até que os resultados
omielite associada à mordida de gatos é, provavelmente, causada da cultura e a sensibilidade do organismo sejam conhecidos.
por Pasteurella multocida. Pacientes que apresentam anemia fal- A duração do tratamento varia de três a seis semanas ou mais.
ciforme estão predispostos ao desenvolvimento de osteomielite O desbridamento cirúrgico de lesões de osteomielite crônica
desencadeada por espécies de Salmonella. muitas vezes torna-se necessário.
A osteomielite fúngica é frequentemente causada por Coc-
cidioides immitis ou Histoplasma capsulatum. Residir em áreas Prevenção
onde esses fungos são endêmicos é um importante fator de pre-
Não existe vacina eficaz contra as causas comuns da osteomieli-
disposição à infecção. Os vírus não provocam osteomielite.
te, e a quimioprofilaxia normalmente não é utilizada. Cuidados
adequados com os pés em indivíduos diabéticos podem prevenir
Diagnóstico a osteomielite.
Um diagnóstico microbiológico mais consistente da osteomielite
aguda é realizado por meio da cultura de um espécime da lesão
óssea. As hemoculturas são positivas em cerca da metade dos ARTRITE INFECCIOSA (SÉPTICA)
casos.
Uma característica típica da osteomielite aguda observa- Definição
da em ensaios radiológicos é um defeito do osso acompanhado A artrite infecciosa (séptica) é uma infecção das articulações.
por uma elevação periosteal (Figura 70-3). Nas fases iniciais da Os termos infecciosa e séptica são utilizados para distinguir
doença, radiografias e até os exames de tomografia computa- essas infecções das artrites imunomediadas, como a artrite reu-
dorizada (TC) podem ser negativos. As imagens de ressonância matoide. As bactérias, sobretudo S. aureus, são responsáveis pela
magnética (RM) correspondem ao teste radiológico mais sensível grande maioria dos casos de artrite infecciosa (séptica). O envol-
para o diagnóstico da osteomielite. vimento monoarticular de uma grande articulação relacionada
ao suporte de peso, como o quadril ou o joelho, é a apresentação
Tratamento mais comum da infecção.
O tratamento empírico da osteomielite aguda deve incluir fár-
macos bactericidas, de alta penetração no tecido ósseo, e que Análise do líquido sinovial
apresentem cobertura contra S. aureus. A vancomicina, nafcilina A análise do líquido sinovial aspirado de uma articulação edema-
ou cefalexina administradas via parenteral podem ser utilizadas. ciada desempenha um papel importante no diagnóstico da artrite.
A Tabela 70-2 apresenta os resultados obtidos após análise do ma-
terial aspirado de uma articulação infectada, em comparação com
um líquido sinovial normal. O líquido sinovial de uma articulação
infectada, que pode exibir uma aparência turva, apresenta pelo
menos 20.000 neutrófilos/ µL e possui uma baixa concentração de
glicose. A análise do fluido das articulações de indivíduos com ar-
trite reumatoide e daqueles que apresentam uma lesão traumática
da articulação foram incluídos para comparação.

Fisiopatologia
Os organismos, em geral, alcançam as articulações após serem
levados pela corrente sanguínea a partir de um local cutâneo. De
forma menos frequente, os organismos atingem as articulações
em decorrência de um trauma penetrante, procedimentos médi-
cos, como a artroscopia, ou uma osteomielite contígua.
Pacientes com artrite reumatoide de longa duração e aqueles
que possuem quadris e joelhos prostéticos estão predispostos ao
desenvolvimento da artrite infecciosa.

Manifestações clínicas
O início agudo de uma inflamação na articulação, geralmente
uma grande articulação associada ao suporte de peso, como o
quadril ou o joelho, corresponde à manifestação típica da doença
(Figura 70-4). A febre é frequentemente presente. Ao exame físi-
FIGURA 70-3 Elevação periostea l (seta) na osteomielite aguda co, a articulação afetada apresenta-se avermelhada, quente e ede-
da tíbia. (Reproduzida, com permissão, de Longo DL et ai. [eds]: Harrison's maciada, e um derrame articular é normalmente observado. A
Principies of Internai Medicine. 18th ed. New York: McGraw-Hill, 2012. Copyright relutância na utilização de uma articulação específica, sobretudo
© 2012 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.) por crianças, pode ser um sinal da artrite infecciosa.
580 PARTE IX Doenças Infecciosas

TABELA 70•2 Achados de líquido sinovial na artrite

Aparfnda Número de c4Mas tpor flL> Glkose (proporção fluido/sangue)

Nonnal Clara < 200 neu trófUos Aproximadamente 1,0

Infecciosa (séptica) Turva > 20J)OO neutrófilos < 0.25

Artrite reumatoi de Opalescente 2.000-20.000 neutrófilos -0.S-0,8

Trauma Clara 200.2.000 neutrófik>s - 1.0

Patógenos Diagnóstico
Em geral a (ausa mais C'Omum da artrite infecdosa é o S. ai,. A visualização dos organismos por meio da coloração de Gram
rti,s (Tabela 70·3). Em adulto s jovens sexualmente ativos, a do fluido articular é utiliuda na orientação da terapia empírica.
ba(téria Neisuria gonorrl,oeat é a causa ma.is comum da in· Um diagnóstico microbiológico da artrite infe-cdosa é, tm geral
fec:ção. Padentes que apresentam prótese artkular de q uadril realizado por meio da cultura de uma amostra do Ruido articular.
ou de joelho são predispostos à artrite infecdosa causada por As culturas de sangue são positivas tm menos de 30% dos caso~
S. epidermidís. S. auret,s e P. aemgínosa são as causas mais to- O achado radiológico típico da artrite infecciosa correspon-
muns da infttção em usuários de drogas intravenosas. &rrt-lia de ao intumescimento dos te-cidos moles. Evidências de destrui-
burgdorferi, a bacté-ria causadora da doenç.a de Lyme, também ção artkular podem ser observadas caso a infecção progrida.
deve ser mendonada como causa de inflamações nas articu-
lações que se assemelham àquelas obsen•adas em quadros de Tratamento
artrite infecdosa. No entanto. esses organismos não são recu-
perados das articulações afetadas no e.aso da doença de Lyme. A artrite infttdosa não tratada pode le\-a.r à destruição das arti-
culações e à perda d.a mobilidade; assim, o tratamento imediato
com antibióticos é nttessário para uma recuperação ideal. A te-
rapia empírica para a artrite infecciosa de\•e incluir fármacos
como vancomidna. nafdlina ou cefa.wlina, que são bactericidas
contra S. aureus. A ceftriaxona deve ser utUizada em caso de
evidências da infecção por Neísser;a gonorrhMae. A remoçlo
do fl uido articular por meio de artrocentese e/ou drenagem
cirúrgica é um complemento importante para o tratamento
antibiótico.

Prevenção
Não existe uma \'.l.dna eficaz contra as causas comuns da ar-
trite infecdos.a. e a quimioprofllax.ia normalmente não é uti-
lii.ada.

TABELA 70--3 Organismos causadores de artrite


i nfe-cciosa com vários fatores predisponentes

Fator predisponente Organismos comuns

Neonatos Streptococcusagoloctioe(estreptococos
dogrupoB}

Crianças e adultos Stophy/ococcus oureus


Adultos sexualmente Nei~rio gonorrhoeae
ativos

Próteses de quadril e S. aureus, Stophyfococcusepidermidis


FIGURA 70· 4 Art ri te séptica do joclho. Ob ser ve o joclho esq uer• dejoclho
do intumescido e inflamado. (Oa cot,e.çao de slide5 dfnJcos sobre doe-n·
Usuários de d rogas S. aureus e Pseudomonas aeruginoro
ç.as reu.mátkai, 1991, 1995. UtUi?ado, com permlss.ao, de Ameriean College of intravenosas
Aheumatologyl
CAPÍTULO 70 Infecções dos Ossos e das Articulações S81

ARTRITE VIRAL (IMUNOCOMPLEXO) TABELA 70-4 Critérios de Jones para o diagnóstico da


febre reumática aguda
A artrite virai é frequentemente denominada artrite do imu-
nocomplexo, uma vez que os vírus não infectam a articulação, Grandes manifestações Pequenas manifestações
mas desenvolvem imunocomplexos com anticorpos antivirais
Poliartrite Febre
que são depositados nas articulações e induzem uma resposta
inflamatória. Cardite Artralgia
As características clínicas da artrite virai consistem em
Coreia Intervalo P-R prolongado
artralgia (dor nas articulações, mas sem inflamação visível) ou
artrite franca, em que a inflamação é aparente. A maioria dos Eritema marginado Taxa de sedimentação de hemácia
casos de artrite virai é de curta duração e resolve-se espontanea- elevada
mente, no entanto, pode-se desenvolver um quadro de artrite
Nódulos subcutâneos Proteína e-reativa elevada
crônica. As pequenas articulações das mãos são afetadas com
mais frequência, no entanto, as grandes articulações também
podem estar envolvidas.
A artrite virai ocorre durante o curso da infecção por diver- A infecção resulta de faringite causada por Streptococcus pyogenes
sos vírus. O vírus da rubéola, oriundo de uma infecção natural ou (Streptococcus pyogenes í3-hemolítico do grupo A). A doença nor-
de um processo de imunização, é uma causa bem-reconhecida. malmente ocorre em crianças de 5 a 15 anos. Atualmente, é uma
O parvovírus Bl9 também é uma causa importante da infecção enfermidade rara nos Estados Unidos, provavelmente devido ao
tendo em vista que as lesões induzidas por eles assemelham-se fato de a faringite estreptocócica ser tratada de forma rápida.
àquelas observadas na artrite reumatoide. As lesões das articula- A febre reumática, em geral, se inicia com uma poliartrite
ções decorrentes da hepatite C crônica também se assemelham migratória envolvendo as grandes articulações, que aparece apro-
às lesões da artrite reumatoide. A artralgia e a artrite ocorrem no ximadamente de duas a três semanas após a faringite. A cardite
período prodrômico da infecção por hepatite B. Vários arbovírus ocorre com frequência e é o principal componente de risco à vida
também provocam artralgias graves, sendo o mais comum deles o da febre reumática. A cardite é uma pancardite (i.e., manifesta-
vírus da dengue. Não há tratamento antivirai para a artrite virai.* ções de endocardite, miocardite e pericardite, geralmente resul-
tando em insuficiência cardíaca congestiva). A válvula mitral é
a mais frequentemente envolvida. Uma coreia consistindo em
ARTRITE REATIVA movimentos involuntários atetoides também pode ser observada,
porém é uma manifestação rara. O envolvimento cutâneo consis-
Artrite reativa é o termo utilizado para descrever a artrite que
te em eritema marginado e nódulos subcutâneos.
ocorre após a infecção por diversas bactérias que infectam os
Não existe um teste de diagnóstico para a febre reumática.
tratos urogenital ou gastrintestinal. As bactérias não infectam as
articulações. Contrariamente, a artrite é uma consequência da res- A Tabela 70-4 apresenta os critérios de Jones que são utilizados
posta imune à infecção bacteriana. Indivíduos que são HLA-B27- como orientação para o estabelecimento de um diagnóstico.
-positivos são predispostos ao desenvolvimento de artrite reativa. Duas grandes manifestações ou uma manifestação maior e duas
As bactérias normalmente associadas a esse tipo de artrite são menores sugerem o diagnóstico. Além disso, é necessária uma
Campylobacter, Shigella, Salmonella, Yersinia e Chlamydia. evidência laboratorial de infecção prévia por S. pyogenes. Esta é
A principal manifestação clínica é uma artrite assimétrica, constituída por ( 1) uma cultura de garganta positiva ou um teste
do joelho ou do tornozelo, acompanhada de febre. Esta normal- rápido de antígeno estreptocócico positivo ou (2) um título cres-
mente desaparece dentro de alguns dias ou semanas, mas um cente de anticorpos antiestreptolisina O.
quadro de artrite crônica pode se desenvolver. As recorrências O fármaco de escolha para o tratamento é o ácido acetilsa-
são comuns, e a cultura do líquido sinovial é negativa. A artrite licílico a fim de se reduzir a inflamação. Os antibióticos, como a
reativa acompanhada por conjuntivite e uretrite é denominada penicilina G, não apresentam efeito no curso da doença, contu-
síndrome de Reiter. Fármacos anti-inflamatórios não esteroides do, podem ser administrados para se reduzir a presença de es-
são considerados terapia de primeira linha. Os antibióticos não treptococos na faringe. A prevenção da febre reumática envolve
possuem efeito sobre a artrite reativa. um diagnóstico rápido, e o tratamento de infecções de garganta
estreptocócicas é realizado com penicilina G ou penicilina V
oral. Em pacientes com doença cardíaca residual, a prevenção
FEBRE REUMÁTICA de danos adicionais às válvulas cardíacas, impedindo episódios
subsequentes de faringite estreptocócica, é extremamente im -
A febre reumática é uma doença imunomediada, pós-estrepto- portante. Isso é alcançado por meio da administração mensal
cócica, que afeta as articulações, o coração, o encéfalo e a pele. de penicilina G benzatina, uma preparação de depósito. Essa es-
cala de administração deve permanecer até que o paciente atin -
*N. de R.T. As infecções causadas pelo vírus Chikungunya frequentemen- ja, pelo menos, 20 anos de idade ou por 1O anos após o último
te resultam em artrites que podem perdurar por mais de 6 meses. episódio.
CAPÍTULO

Infecções Cardíacas
Contribuição de Brian S. Schwartz, M.D.

CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Miocardite
Teste diagnóstico para infecções cardíacas Pericardite
Endocardite

INTRODUÇÃO ENDOCARDITE
Infecções cardíacas são infecções graves, que representam risco Definição
à vida em muitos dos casos. Todas as válvulas cardíacas (en-
A endocardite é uma infecção das válvulas do coração.
docárdio), miocárdio e pericárdio podem ser infectados. Além
disso, o diagnóstico de infecções de dispositivos cardíacos
(marca-passos, desfibriladores) é cada vez mais frequente, ten- Fisiopatologia
do em vista o aumento do uso desses aparelhos. O diagnóstico Pensa-se que a infecção das válvulas cardíacas é resultado da
da infecção cardíaca pode ser um desafio e, em geral, requer colonização do endotélio valvular danificado por patógenos cir-
uma combinação de testes microbiológicos e de testes de ima- culantes. O dano endotelial pode resultar do fluxo sanguíneo
giologia cardíaca. O tratamento comumente requer terapia an- desordenado em torno da válvula (doença cardíaca congênita
timicrobiana, mas também pode exigir tratamento cirúrgico ou reumática), da lesão direta por corpos estranhos (p. ex., ca-
para a cura. teteres intravenosos) ou de injeções intravenosas repetidas de
partículas em usuários de drogas intravenosas. Os organismos
penetram frequentemente na corrente sanguínea no local de
TESTES DIAGNÓSTICOS PARA uma cirurgia dental, pela inserção de cateteres intravenosos ou
INFECÇÕES CARDÍACAS pelo uso de drogas intravenosas. A adesão das bactérias ao en-
dotélio danificado é reforçada pela sua capacidade de produzir
Eletrocardiograma um glicocálice.
Um eletrocardiograma (ECG) mensura a atividade elétrica no Uma vez que a infecção tenha iniciado, uma combinação
coração por meio de um monitoramento não invasivo que utiliza de organismos e trombos se organizam formando uma vegeta-
eletrodos ligados à pele. As infecções cardíacas podem ocasionar ção (Figura 71-1). A destruição da válvula ocorre em diferentes
alterações específicas da doença no ECG, fato que pode auxiliar proporções dependendo da virulência do organismo. A medida
no diagnóstico. que a válvula é destruída, sintomas de regurgitação valvar po-
dem se desenvolver. Os organismos podem se disseminar para
o miocárdio circundante, resultando na formação de abscessos
Ecocardiograma e destruição do sistema de condução elétrica. A medida que a
A ecocardiografia utiliza um ultrassom com Doppler para a vi- vegetação aumenta na válvula, os fragmentos podem se espalhar
sualização de estruturas e análise do fluxo sanguíneo do coração. pela corrente sanguínea (êmbolos), resultando em efeitos catas-
O teste é muito útil no diagnóstico da maioria dos tipos de infec- tróficos, como acidentes vasculares encefálico (AVE). A infecção
ções cardíacas. Existem dois tipos de ecocardiogramas, o ecocar- prolongada, como pode ser observada na endocardite subaguda,
diograma transtorácico (ETT), em que a sonda é colocada na pa- pode resultar na formação de complexos antígeno-anticorpo.
rede torácica, e o ecocardiograma transesofágico (ETE), em que A deposição desses complexos pode resultar em outras manifes-
a sonda é inserida no esôfago. O ETE, com frequência, produz tações clínicas, como será descrito na seção seguinte. A presença
imagens de alta qualidade, particularmente das válvulas aórtica e de materiais artificiais no interior do coração, como próteses de
mitral, uma vez que a sonda ETE é inserida em uma região mais válvulas cardíacas, marca-passos e desfibriladores, atuam como
, .
prox1ma -
ao coraçao. locais potenciais para o desenvolvimento da infecção.
CAPÍTULO 71 Infecções Cardíacas S83

FIGURA 71-1 Endocardite. Observe as formações vegetativas na


válvula mitral. As setas pretas apontam para as vegetações. (Repro-
duzida, com permissão, de Longo DL et ai. [eds]: Harrison's Principies of Internai
Medicine. 18th ed. New York: McGraw-Hill, 2012, p 1052. Copyright© 2012 por
The McGraw-Hill Companies, lnc.)

FIGURA 71-3 Abscesso encéfalo. A seta vermelha aponta para uma


Manifestações clínicas lesão com reforço em anel característica. As setas azuis apontam para
dois abscessos adicionais. (Reproduzida, com permissão, de Ropper AH,
As manifestações clínicas da endocardite infecciosa podem incluir Samuels MA. Adams and Victor's Principies ofNeurology. 9th ed. New York: McGra-
qualquer uma das características listadas a seguir. Dependendo w-Hill, 2009. Copyright© 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
da virulência do patógeno infectante, o curso temporal da doença
pode ser de dias (endocardite aguda; causada por Staphylococcus
aureus, p. ex.,) ou de semanas a meses (endocardite subaguda; • Deposição de complexos antígeno-anticorpo em uma
causada por estreptococos do grupo viridans, p. ex.,). infecção não controlada: nódulos de Osler (Figura 71-7),
manchas de Roth (Figura 71-8), glomerulonefrite (hema-
• Sintomas constitucionais: febre(> 80% dos casos), calafrios, túria) e/ou artrite.
sudorese noturna, anorexia.
• Consequências da destruição das válvulas do coração e es-
truturas associadas: novo sopro, falência cardíaca, bloqueio
atrioventricular (AV) (prolongamento PR observado no
ECG; Figura 71-2).
• Fenômenos embólicos:
• Endocardite do lado esquerdo: AVCs ou abscesso encéfalo
(Figura 71-3) (novos déficits neurológicos focais), infar-
tos esplênicos ou renais (dor abdominal ou nos flancos) e
deslocamento de êmbolos para outros locais, manifestan-
do-se como hemorragias em estilha (Figura 71-4), lesões
de Janeway (Figura 71-5), hemorragias retinais (Figura
71-6) e hemorragias conjuntivais.
• Endocardite do lado direito: embolia pulmonar séptica
(tosse, dispneia, dor no peito, hemoptise).

FIGURA 71-2 Bloqueio atrioventricular com bradicardia sinusal. FIGURA 71-4 Hemorragia fragmentada. A seta vermelha aponta
(Reproduzida, com permissão, de McKean SC et ai. Principies and Practice of Hos- para uma hemorragia em estilha sob a unha. (Utilizada, com permissão,
pital Medicine. NewYork: McGraw-Hill, 2012. Copyright© 2012 porThe McGraw- de Usatine RP et ai. The Color Atlas of Family Medicine. New York: McGraw-Hill,
-Hill Companies, lnc.) 2009. Copyright© 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
584 PARTE IX Doenças Infecciosas

FIGURA 71 ·5 LesõesdeJaneway. Asetavennelhaaponta para uma


lesão d e Janeway. (Imagem utilizada.com pe,miSsao,de wotff K, Johnson R
(eds]: Fltlpotrick's ColorAtJas &S)Tlops/S ofCNnkOJ Detmotology. 7th ed. New York:
McGraw-Hill, 2013. Copyright O 2013 porThe McGraw,t,1111 Companles, ln,cJ

FIGURA 71· 7 NódulodeOsferna polpadodedãodo pé. Aseta ver•


melha aponta para um nódulo de Osler.Observe também as lesões de
Janeway na sola do pé. Aseta azul aponta para uma lesão de Janeway.
(Oe Usa.tine RP et ai. TheColor Atlo.s of FomJly IMrRdM. New Y0tlc McGraw-H1lt
2009. Utilll.ada, com permlss.ao, de Oavld A. Kasper 00, MBA.,l

FIGURA 71 ·8 Manchas d e Roth.. Ob serve os focos bancos centrais


FIGURA 71 ·6 Hemorragias retinais. A seta azul aponta para uma he· característ icos d as manchas de Roth (seta verme4ha). (De usatlne AP
morragia retina1. (De Usatil'le rtP et ai.: TMCokx Arla.s ofFomllyMedidne, New et al The Colo, Ar.fa.s oi FomJJyMedJdtle. New York: McGraw-HIII. 2009. Utilizada,
York: McGraw--Hill, 2009. UtiJl?ada,com pe-rmissao,de Paul O. Comeau.) com permlss.10, de Paul O. COf"f'tffU.)
CAPÍTULO 71 Infecções Cardíacas S8S

Patógenos Diagnóstico
As bactérias são, de longe, as causas mais comuns de endocar- O diagnóstico definitivo da endocardite requer a realização de
dite, mas leveduras, como espécies de Candida, também podem um exame patológico direto e análise microbiológica da válvu-
estar envolvidas no quadro. A classificação moderna dos pató- la cardíaca. Como na maioria dos casos o tecido da válvula car-
genos que provocam endocardite é dividida naqueles que aco- díaca não encontra-se disponível para avaliação, a maioria dos
metem a válvula natural versus prótese valvar, com subclassifica- médicos utiliza uma combinação de hemoculturas e achados
ções dentro de cada grupo (Tabela 71-1). Entre os pacientes que ecocardiográficos, a fim de se obter o diagnóstico da endocardi-
apresentam endocardite da válvula natural em uma comunidade, te infecciosa. Os critérios de Duke modificados são os critérios
estreptococos do grupo viridans são os patógenos mais comuns, mais frequentemente utilizados na efetivação do diagnóstico da
ao passo que o S. aureus é mais frequentemente encontrado em endocardite (Tabela 71-2) e auxiliam na orientação dos clínicos
pacientes que foram expostos a ambientes de cuidados da saú- na realização de um diagnóstico preciso.
de ou que fizeram uso de drogas intravenosas. Outros patógenos Patógenos infecciosos são mais comumente recuperados por
importantes na endocardite da válvula natural são Streptococcus meio de culturas sanguíneas. Para maximizar a sensibilidade do
bovis (que está associado ao câncer colorretal) e espécies de ensaio, recomenda-se a obtenção de três conjuntos de culturas
Enterococcus. sanguíneas ao longo de pelo menos uma hora. Sempre que pos-
Em pacientes que possuem válvulas prostéticas, marca- sível, as culturas sanguíneas devem ser obtidas antes da admi-
-passos ou desfibriladores inseridos, os patógenos mais comuns nistração de antibióticos. Em alguns casos raros de endocardite,
são os estafilococos coagulase-negativos, como Staphylococcus ocasionados por organismos que não crescem facilmente em
epidermidis e S. aureus. Outros patógenos menos comuns, meios de cultura sanguíneos (espécies de Bartonella), a sorologia
que crescem relativamente bem em meio de cultura de ro- pode ser utilizada no auxílio ao diagnóstico.
tina, incluem os estreptococos J3-hemolíticos, Streptococcus O melhor método de avaliação das válvulas para o diagnós-
pneumoniae, organismos HACEK (Haemophilus aphrophilus e tico de infecção é realizado por meio da ecocardiografia. O ETT
Haemophilus paraphrophilus, Actinobacillus actinomycetemco- possui uma sensibilidade reduzida, quando comparado ao ETE,
mitans, Cardiobacterium hominis, Eikenella corrodens e Kingella
kingae ), e espécies de Candida. Patógenos que não crescem em
meios de cultura sanguíneos de rotina e, dessa forma, exigem TABELA 71-2 Critérios de Duke modificados para o
testes diagnósticos especializados, incluem espécies de Barto- diagnóstico da endocardite infecciosa
nella, Coxiella burnetii, espécies de Brucella e Tropheryma whi- Endocardite infecciosa definitiva
pplei, que são citados como patógenos que causam endocardite
• Critério patológico:
com "cultura negativà'. A causa mais frequente da endocardite
com cultura negativa é o uso de antimicrobianos anteriormente • Presença do microrganismo demonstrada por meio de cu l-
tura ou histologia em uma vegetação, ou em uma vegetação
à obtenção de culturas sanguíneas.
que possui um abscesso embolizado ou intracardíaco
ou
TABELA 71-1 Etiologia da endocardite por categoria • Lesões patológicas, vegetação ou abscesso intracardíaco,
confirmados por histologia apresentando endocardite ativa
Categoria Patógeno
• Critério clínico:
Vá lvu la natural • 2 critérios maiores OU 1 critério maior e 3 critérios menores
Início comunitário Estreptococos do grupo viridans, OU 5 critérios menores
Staphy/ococcus aureus,
Streptococcus bovis, espécies Critérios maiores
de Enterococcus • Hemocultura positiva dos organismos típicos da endocardite
Associada aos cuidados S. aureus, espécies de Enterococcus, infecciosa a partir de duas hemoculturas distintas, ou uma
de saúde Staphy/ococcus epidermidis hemocultura persistentemente positiva, obtida de uma cultura
Usuários de drogas S. aureus, bastonetes gram-ne- única positiva para o ensaio de cu ltivo, ou sorologia compatível
intravenosas gativos, como Pseudomonas, com a infecção por Coxiella burnetii
espécies de Candida • Ecocardiograma positivo para endocardite infecciosa

Vá lvu la prostética • Nova regurgitação valvar

Precoce S. epidermidis, S. aureus Critérios menores


Tardia S. aureus, estreptococos do • Condição cardíaca predisponente ou uso de drogas intravenosas
grupo viridans, espécies de
Enterococcus, S. epidermidis • Febre
• Fenômenos vasculares (embolia arterial, infartos pulmonares
Marca-passo ou desfibrilador S. epidermidis, S. aureus sépticos, aneurisma micótico, etc.)

Cultura negativa Uso precedente de antibióticos, • Fenômenos imunológicos (nódulos de Osler, manchas de Roth,
espécies de Bartonella, Coxiel/a glomerulonefrite, etc.)
burnetii, espécies de Bruce/la, • Evidências microbiológicas que não satisfazem os critérios
Tropheryma whipplei maiores
586 PARTE IX Doenças Infecciosas

va grave. abscessos perivalvares, infecções refratárias ao trata·


mento médico e eventos embóHcos com a presença de grandes
vegetações.

Prevenção
Em pacientes com endocardite prévia, prótese de válvuJa car-
d.faca, ou tipos selecionados de cardiopatia congênita, a profilaxia
com antibiôticos é recomendada antes da realização de determi-
nados procedime11tos. As diretrizes de apoio consistem na admi-
nistração de antibióticos, como a amoxicili11a. a esses pacientes
de alto risco em procedime11tos odontológicos invasivos (não ne-
cessários em limpez.as de rotina), em cirurgias envoh•e11do a mu-
cosa respiratória, ou em cirurgias envolvendo teddos infectados.

MIOCARDITE
Definição
A m.iocardite é uma infecção do músculo cardíaco.
FIGURA 71 ·9 Ecocardiogtama transesofágico na endocardite. úwi·
da de do abscesso segmentada (denominado A) entre o átrio esquec-do
(denominado AE) e a raiz da ao,ta (denominada de RA). A seta ve,me--
Flslopatologla
lha indica a partição que segmenta o abscesso. AO. átrio direito;VSVO, A iJúecção do miocárdio ocorre com mais frequência após a dis•
via de saída do ventrículo d ireito. (Reproduzida, com permlss.fo, de Fuster seminação hematogênica de um v{rus ou outro patógeno para o
Vet al (eds). Hutst's TheHeatt. 13th ed. NewYork:McGraw+im. 2011. Copyright o músculo cardíaco, embora também possa ocorrer a propagaç.ão
2011 porlhe i\~raw-Hitl Compan les, lnc_J
direta a partir de estruturas adjace11tes. A i1úecção e a inflamação
do m.ioclrd.io podem resu1tar em disfunção cardíaca. levando à
falê11da cardíaca.
na avaliação de vegetações e abscessos do mioclrdio. porém é
um teste menos invasivo o ecocardiograma não apenas identifica
novas vegeteções nas válvulas. que são indícios de infecção.. mas Manifestações clínicas
avalia o grau da )esão valvar e demais complicações, como abs. Pacientes com miocatdite apresentam sinais e sintomas de falên·
cessos periva1vares (Figura 71·9). O ECG pode ser utilizado na eia c.ardíaca. Dependendo do patóge110, o ritmo de progressão
detecção de danos ao sistema de condução. O achado clCnico mais da doença pode ser de dias ou semanas. Os pacientes também
comum é o prolongamento PR em pacientes com endocardite da podem aprese11tar sinais e sintomas de uma infecção sistêmica
vâJvula aôrtica e.abscesso perivalvar associado (ver Figura 71·2). (febre. sintomas constitucionais). Os indivíduos com pericard.ite
associada gerahnente exibem dor 110 peito.
Tratamento
Sem tratamento a endocardite é. sempre fatal; assim. wna tera. Patógenos
pia efeth•a imediata é essencial. Fármacos bactericidas devem
ser utilizados. O tratamento da endocardite sempre. inclui uma Patógenos virais são. provavelmente. a causa predominante de
terapia antimicrobiana. e, em alguns casos. também é. indica- miocardite infecciosa, embota muitos c.asos sejam idiopáticos.
da a remoção cirúrgica da vâlvula infectada. Um tratamen- Os vírus de Coxsackie.são a causa mais comum, embota também
to empírico para a endocardite é recomendado nos casos em estejam relacionados o citomegalovirus, o vfrus Epstein-Barr. o
que. o paciente apresenta uma ütstabilidade. hemodinãmica. parvovirus Bl 9 e o v(rus fnjluenza. Outros patógenos incluem
doença grave. e\•idência de doença embólica ou grandes ve. o Trypanosoma cruzi, o agente c.ausador da doença de Chagas, e
getações. A cobertura antimicrobiana empírica deve ser ativa Trichfnella spirafü.
contra S. aureus resistente à metic.ilina, estreptococos do grupo
viridans, enterococos e. organismos HACEK. Regimes empiri- Diagnóstico
cos comuns induem a vancomicina em associação com ceftria.
xona ou gentamicina. A terapia antimicrobiana espedfica deve. Um diagnóstico definitivo requer a biópsia do músculo cardfaco
ser i11stitu(da assim que os resu1tados das hemoculturas e dos revelando inflamação e necrose do mioc.árdio. No entanto, a
testes de se,tsibilidade aos antibióticos sejam conhecidos. A te· maioria dos casos é diagnosticada presuntivamente em um pa·
rapia antimicrobiana para a endocardite requer, em geral. de 4 ciente que apresenta insuficiência cardíaca, disfunção cardíaca
a6semanas. (geralmente global) ao ecoc.ardiograma e elevação das enzimas
O tratamento cirúrgico é indicado. ou deve ser fortemente cardfacas. O ECG pode ser anormal e exibir alterações ST que
considerado. em pacientes com insuficiência cardíaca congesti- simulam um infarto agudo do miocárdio.
CAPÍTULO 71 Infecções Cardíacas S87

Tratamento
Não existe tratamento conhecido para a maioria das causas de
miocardite, sendo o tratamento suporte o mais frequentemente
aplicado. Os pacientes podem, em último caso, necessitar de um
transplante de coração.

Prevenção
Não existe nenhum mecanismo conhecido que previna a mio-
cardite.

PERICARDITE
Definição
A pericardite refere-se a uma inflamação do pericárdio que pode
se desenvolver devido a um processo infeccioso, doenças autoi-
munes, trauma ou oncogênese.

Fisiopatologia FIGURA 71-1 O Ressonância magnética do tórax apresentando es-


pessamento do pericárdio (duas setas pretas) em um paciente com
Os patógenos atingem o pericárdio por meio de disseminação pericardite constritiva. (De 5okolow M, Mcllroy MB. Clinicai Cardiology, 6th
hematogênica, por propagação direta a partir de estruturas in - ed. Publicada originalmente por Appleton & Lange. Copyright © 1993, por The
tratorácicas adjacentes, ou ainda, raramente, diretamente do McGraw-Hill Companies, lnc. Cortesia de C. Higgins.)
miocárdio infectado. A inflamação do pericárdio pode resultar
na formação de efusão pericárdica. Efusões pericárdicas podem
resultar em tamponamento cardíaco. A inflamação também pode Diagnóstico
resultar em uma fisiologia constritiva. Determinadas infecções A cultura de tecido ou do fluido pericárdico pode revelar quais
que provocam pericardite também podem estar associadas a uma bactérias são responsáveis pela infecção. Vírus raramente são
miocardite concomitante (ver seção anterior "Miocardite,,). isolados. Um teste adicional que pode auxiliar no diagnósti-
co da doença é o ECG, que revela alterações nos segmentos PR
Manifestações clínicas
A dor torácica é a manifestação mais comum da pericardite.
A dor geralmente piora com o ato de inspirar ou tossir. Per-
manecer na posição sentada e inclinada para frente comumen-
te ameniza a dor associada à pericardite. Os pacientes podem
apresentar febre e sintomas constitucionais. Por meio de um
exame, um atrito friccionai (que frequentemente consiste em
três fases) pode ser detectado pela auscultação do coração. Este
achado diagnóstico é muito específico da pericardite. A infec-
ção grave pode resultar em tamponamento cardíaco ou fisiolo-
gia cardíaca constritiva. Estes pacientes apresentam, respectiva-
mente, um início sintomatológico agudo ou sub agudo/ crônico
de falência cardíaca.

Patógenos
Os vírus, bactérias, micobactérias e fungos têm sido relatados
como causas da pericardite. Entre as infecções virais, os vírus
de Coxsackie e os ecovírus são mais comuns, embora o vírus da
imunodeficiência humana e o citomegalovírus também possam
ocasionar a doença. Entre as bactérias, S. aureus e S. pneumo-
niae são as mais comuns. Mycobacterium tuberculosis é uma das
causas infecciosas mais comuns de pericardite em todo o mun-
do. A apresentação clínica é, em geral, subaguda e pode resultar FIGURA 71-11 Radiografia do tórax de um paciente com efusão
em um padrão constritivo. Vários fungos, como Histoplasma pericárdica. A seta vermelha indica a borda esquerda do pericárdio
capsulatum e Coccidioides immitis, podem provocar pericardite, dilatado contendo fluido proveniente da efusão. (Reproduzida, com
e esta clinicamente se apresenta de forma semelhante à pericar- permissão, de Kabbani 55, LeWinter M, em Crawford MH et ai. [eds]. Cardiology.
dite tuberculosa. London: Mosby, 2001.)
S88 PARTE IX Doenças Infecciosas

e ST. Caso uma efusão pericárdica significativa esteja presente, le sintomático e cuidados de suporte, ao passo que infecções
o ECG pode apresentar amplitude reduzida em todas as deriva- bacterianas, micobacterianas e fúngicas exigem uma terapia
ções. Um ecocardiograma e/ou exame de ressonância magnética antimicrobiana direcionada. Em pacientes com pericardite
cardíaca geralmente evidenciam uma efusão e/ou espessamento constritiva e tamponamento, a pericardiocentese pode salvar
do pericárdio (Figura 71-10). Além disso, um raio X do tórax pode a vida do indíviduo. A pericardite bacteriana não tratada é ra-
demonstrar um contorno cardíaco aumentado (Figura 71-11) e pidamente fatal.
elevação nas enzimas cardíacas. A recuperação de um patógeno
requer, em geral, uma pericardiocentese ou biópsia do pericárdio. Prevenção
A imunização contra S. pneumoniae pode ser eficaz. O tratamen-
Tratamento to dos estágios precoces ou latentes das infecções (p. ex., tubercu-
O tratamento da pericardite infecciosa depende do patógeno. lose) pode prevenir o desenvolvimento da pericardite em alguns
A maioria das etiologias virais é tratada por meio do contro- casos.
C A P Í T U LO

Infecções do Sistema
Nervoso Central 72
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Abscesso encefálico


Análise do líq uido cerebrospinal Em p iema subdural e epldural
Meningite Encefalopatla
Encefalite

INTRODUÇÃO ANALISE DO LÍQUIDO CEREBROSPINAL


As i1úecções do sistema nervoso centra1 (SNC) frequentemente O exame do liquido cerebrospinal (LCS) é fundamental para o
representam risco à vida e podem deixar seque)as graves. Essas diagnóstico de infecções do SNC. O LCS e obtido por meio da
infecções provocam inflamação e edema dentro da inílexivel re.alização de uma punção lombar no interespaço L3-IA. Ourante
caixa craniana, o que resu1ta em danos ao tecido cerebral e em o processo, a pressão LCS é mensurada e o Uquido obtido é desti-
perda de função. As causas mais comuJtS de infecções do SNC são nado à análise celu)ar (número e tipo de célula. i.e., neutrófilos e
bactérias e vírus, mas fungos. protozoários e hehnintos também Jinfócitos), e à análise de proteCna e glicose. Os resultados da aná-
podem ocasionar essas infecções. Jise do LCS na meningite bacteriana aguda, meningite vi.ral agu-
Além do histórico e do exame flsico. o diagnóstico clínico de da e meningite subaguda encontram-se descritos na Tabela 72- 1.
infecções do SKC requer a análise do Hquido espina1. combinado Embora a análise do LCS seja uma etapa muito importante
com exames de neuroimagem utilizando imagens de ressonãnda no diagnóstico de muitas iJúecções do SNC, a punção lombar
magnética (RM) ou tomografia computadorizada (TC). O diag- mlo deve ser realizada em caso de sinais de aumento da pressão
nóstico microbiológico de infecções bacterianas é realizad~ em intracraniana, como papiledema ou sinais neurológicos focais.
geral, por meio da co)oração de Grame cu1tura do Hquido es- uma vez que a herniação do tronco encefálico e morte podem
pinal e do sangue, Ensaios de reação em cadeia da polimerase ocorrer. A TC deve ser realizada antes da punção lombar. a fim
(PCR) e testes sorológicos também são bastante úteis. A terapia de se determinar se uma Jesão de. massa, como abscesso ence-
antimicrobiana re-quer atividade bactericida dos antibióticos e a fá1ico ou câncer, encontra-se presente. Se uma )esão de massa é.
capacidade de penetração na barreira hematencefálica. A)gumas observada, a punção Jombar não deve ser executada.
i1úecções do SNC. como abscesso encefá1ico, geralmente necessi-
tam de drenagem cirúrgica.

TABELA 72-1 Achados no líquido cerebrospi nal na meningite aguda e subaguda

Etlologla Pnllillo (mm H,O) alulu (µL) Protolna (mg/100 oc) GIICOH (LCS/Nnguo)

NOC'mal < 200 0-5 linfócitos.. o leucócitos polimo(• < 45 >0,6


fonucleares

Bacteriana aguda Elevada 200·5.000; em sua maioria(> 90%) > 100 <0,6
leucócitospolimorfonucleares

Virai aguda L~mente elevada 100-700 linfócitos Levemente elevadas Normal

Subaguda/crônica (T8; fungo) Elevada 25·500 linfócitos > 100 <0,6


LCS, llquldo cerebrosplnaJ; TB, tuberculose.
S90 PARTE IX Doenças Infecciosas

MENINGITE A propagação direta por meio de infecções adjacentes, como a oti-


te média e a sinusite; por meio de neurocirurgia, como um desvio
Definição para aliviar a hidrocefalia; ou por meio de trauma, como uma fra-
A meningite é uma infecção das meninges, das membranas que tura da lâmina crivosa, é observada com uma frequência menor.
revestem o encéfalo e da medula espinal (Figura 72-1). A me- A importância da disseminação hematogênica é enfatizada pelo
ningite pode ser categorizada como aguda, subaguda ou crônica, sucesso das vacinas conjugadas contra S. pneumoniae, N. menin-
dependendo da velocidade da apresentação inicial e da taxa de gitidis e Haemophilus influenzae tipo B, que induzem anticorpos
progressão da doença. A meningite aguda pode ser causada por IgG circulantes que neutralizam as bactérias no sangue.
bactérias piogênicas, como Streptococcus pneumoniae e Neisseria A meningite bacteriana aguda inicia com a colonização na-
meningitidis, ou por vírus, como o de Coxsackie e o herpes-vírus sofaríngea, seguida de invasão local, penetração na corrente san-
simples 2. A meningite viral é, em geral, denominada meningite guínea e invasão das meninges (Figura 72-2). Isso é seguido por
asséptica, uma vez que as culturas de rotina para os patógenos uma resposta inflamatória que causa muitas das manifestações
clínicas, sobretudo o edema, resultando em aumento da pressão
bacterianos são negativas. A meningite subaguda é provocada por
intracraniana, que leva à cefaleia. A vasculite e o infarto cerebral
Mycobacterium tuberculosis e por fungos, como o Cryptococcus.
também podem ocorrer.
Os organismos causadores são frequentemente encontrados no
líquido espinal localizado no espaço subaracnóideo.
Manifestações clínicas
Fisiopatologia Os sintomas precoces incluem febre, cefaleia, rigidez do pes-
coço (rigidez de nuca) e fotofobia. Se não tratada, a meningite
A disseminação hematogênica (i.e., bacteriemia ou viremia) é a
pode evoluir para vômitos, convulsões, déficits neurológicos
rota mais comum pela qual os organismos alcançam as meninges.
focais e estado mental alterado. Diferentes patógenos podem se
apresentar, com diferentes taxas de evolução clínica, de início
agudo e progressão rápida (horas a dias) a um início subagudo
ou crônico e progressão lenta (dias a semanas). A infecção por
N. meningitidis pode ser associada à doença disseminada (me-
ningococcemia) e resultar em erupção petequial, e, em último
caso, púrpura fulminante (Figura 72-3).

Patógenos
Patógenos bacterianos agudos
O agente bacteriano mais comum associado à meningite aguda,
em geral, é S. pneumoniae. No entanto, Streptococcus agalactiae
(estreptococos do grupo B) é predominante em neonatos, e
N. meningitidis é comum em adolescentes e jovens adultos
(Tabela 72-2). H. influenzae tipo B costumava ser uma impor-
tante causa da doença em crianças, porém o uso generalizado da
vacina conjugada de polissacarídeo diminuiu significativamen-
te a sua incidência. A bactéria Listeria monocytogenes é razoa-
velmente comum em indivíduos muito jovens e muito idosos.
Patógenos menos comuns incluem Borrelia burgdorferi (doença
de Lyme) e Treponema pallidum (sífilis).

Patógenos virais agudos


Os agentes virais mais comuns associados à meningite aguda são
os enterovírus, como o vírus de Coxsackie e o ecovírus. A menin-
gite enteroviral ocorre principalmente em crianças pequenas, e o
pico de incidência é observado nas estações de verão e outono. O
herpes-vírus simples 2 (HSV-2) é também uma causa comum de
meningite. Observe que o HSV-2 geralmente provoca meningi-
te, ao passo que o herpes-vírus simples 1 (HSV-1) é associado à
encefalite. Infecções genitais primárias por HSV-2 são mais pro-
pensas a resultar em meningite do que infecções recorrentes pelo
vírus. A infecção primária pelo vírus varicela-zóster (VZV) e a
FIGURA 72-1 Meningite purulenta. Observa-se o filme de pus esver- reativação deste vírus também podem ser associadas à meningite.
deado no espaço subaracnóideo recobrindo o encéfalo. A dura-máter Embora a infeçcão por arbovírus normalmente resulte em ence-
apresenta-se retrovertida e é sustentada pelo fórceps. (Fonte: Centers falite, arbovírus como o vírus do Oeste do Nilo (WNV) e o vírus
for Disease Control and Prevention.) da encefalite de St. Louis também podem ocasionar meningite. O
CAPÍTULO 72 Infecções do Sistema Nervoso Central S91

Invasão do ESA por patógenos das meninges

Multiplicação e lise dos organismos por antibióticos bactericidas

1 Liberação dos componentes da parede celular bacteriana (endotoxina, ácido teicoico) 1

Produção de citocinas inflamatórias

,.
Alteração de permea- Aderência de leucócitos Alterações Produção de amino-
bilidade da barreira às células endoteliais no fluxo ácidos excitatórias
sangue-encéfalo dos capilares cerebrais sanguíneo e espécies reativas
1 cerebral de oxigênio e
nitrogênio

t Permeabilidade dos vasos Migração de leucócitos


'.
sanguíneos com extrava- para o LCS, degranulação
sarnento de proteínas e liberação de metabólitos Lesão e morte
plasmáticas no LCS tóxicos celular
'~

O exsudato no ESA obstrui


a saída e a reabsorção do
- LCS, além de circundar e !
infiltrar-se na vasculatura
cerebral .... Isquemia
cerebral
~ Fluxo
sanguíneo
t Fluxo
sanguíneo
1 1

Edema Hidrocefalia obstrutiva


e comunicativa e Edema citotóxico,
vasogênico
derrame, convulsões
edema intersticial

1
'
t Pressão intracraniana 1
~
1 Coma 1

FIGURA 72-2 Patogênese da meningite bacteriana. LCS, líquido cerebrospinal; ESA, espaço subaracnóideo. (Reproduzida, com permissão, de Longo
DL et ai. [eds]. Harrison's Principies oflnternal Medicine. 18th ed. NewYork: McGraw-Hill, 2012. Copyright © 2012 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)

vírus da caxumba costumava ser uma causa comum de menin- apresentam uma predominância de linfócitos. As infecções bac-
gite, no entanto, o uso disseminado da vacina contra caxumba terianas estão associadas a baixas concentrações de glicose no
reduziu significativamente a incidência da doença. LCS, ao passo que as infecções virais apresentam níveis de gli-
cose normais.
Meningite sugabuda e crônica As meningites subaguda e crônica tendem a apresentar
Os agentes mais comuns associados à meningite subaguda e crô- predominância de linfócitos, com níveis bastante elevados de
nica são M. tuberculosis e fungos, como Cryptococcus, Coccidioides proteína e baixo teor de glicose. As infecções virais são frequen -
e Histoplasma. A meningite criptocócica ocorre mais comumente temente diagnosticadas por meio do ensaio de PCR para a iden-
em pacientes imunocomprometidos, como aqueles com síndrome tificação de DNA ou RNA virai no líquido cerebrospinal, ou
da imunodeficiência adquirida (Aids). por testes sorológicos para anticorpos específicos. A coloração
de Gram e as culturas bacteriológicas de LCS são negativas na
Diagnóstico meningite viral. As infecções fúngicas podem ser diagnostica-
das por meio de cultura ou por testes sorológicos. No caso do
O diagnóstico microbiológico da meningite bacteriana aguda é,
Cryptococcus, os testes da tinta da Índia e do antígeno criptocó-
em geral, realizado por meio da coloração de Gram e cultura do
cico também são úteis.
LCS. A análise do líquido espinal pode distinguir entre a me-
ningite bacteriana aguda e a meningite virai (ver Tabela 72-1).
Embora ambas tendam a apresentar elevação de leucócitos e
Tratamento
proteína no LCS, as infecções bacterianas tendem a exibir uma O tratamento empírico para a meningite bacteriana aguda deve
predominância de neutrófilos, ao passo que as infecções virais incluir fármacos com excelente penetração no LCS, bactericidas e
592 PARTE IX Doenças Infecciosas

TABELA 72-2 Organismos relacionados à meningite e


seus diversos fatores predisponentes

Fator predisponente Organismos comuns

Neonato Streptococcus aga/actiae


(estreptococos do grupo B),
Escherichia co/i, Listeria mo-
nocytogenes

Crianças jovens Streptococcus pneumoniae,


Neisseria meningitidis,
Haemophi/us influenzae;
além dos enterovírus

Ado lescentes e jovens adultos S. pneumoniae, N. meningitidis;


além do herpes-vírus
simples 2

Adultos mais velhos S. pneumoniae, N. meningitidis,


L. monocytogenes

lmunocomprometidos L. monocytogenes, bacilos


gram-negativos aeróbios
(Pseudomonas e K/ebsiel/a)

Gestantes L. monocytogenes

Vazamento de líquido cereb ros- S. pneumoniae


pinal; esplenectomia; anemia
FIGURA 72-3 Púrpura fulm inante causada por Neisseria meningitidis.
fa lciforme
(Imagem util izada, com perm issão, de Wolff K, Johnson R [eds]: Fitzpatrick's Co-
lar Atlas & Synopsis of Clinica/ Dermatology, 6t h ed. New York: McGraw-Hill, 2009. Deficiência de componentes do N. meningitidis
Copyright © 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.) co mplemento de ação tardia;
recrutas militares

Após neurocirurgia Staphylococcus aureus


ativos contra os patógenos mais comuns. Em crianças com idade
mais avançada e em indivíduos adultos, a ceftriaxona ou cefota- Desvio vent riculoperitoneal Staphylococcus epidermidis
xima em associação com a vancomicina correspondem a um re-
lmunocomprometidos (HIV/Aids) Cryptococcus neoformans
gime empírico comum. A ampicilina deve ser adicionada ao tra-
tamento se Listeria for diagnosticado como um agente provável Indivíduos que vivem ou Coccidioides immitis
da infecção. O tratamento empírico para a meningite bacteriana viaj am para o Va le Central da
neonatal inclui ampicilina em associação com ceftriaxona ou ce- Califórnia (zona de habitação
fotaxima. O aciclovir é utilizado no tratamento das infecções por sonora)
HSVe VZV.
Natação/atividades em água doce Naegleria fowleri

Prevenção Picada de mosquito Vírus do Oeste do Nilo; outros


arbovírus
As estratégias de prevenção mais utilizadas incluem a vacina-
ção e a quimioprofilaxia pré e pós-exposição. Diversas vacinas Mordida de ca rrapato Borre/ia burgdorferi
são eficazes na prevenção da meningite bacteriana, principal-
Doença sexualmente tra nsmissí- Treponema pal/idum
mente as vacinas conjugadas contra S. pneumoniae, N. menin- vel (sífilis secundária)
gitidis e H . influenzae tipo B. O imunógeno nessas vacinas é
o polissacarídeo capsular do organismo. A atual vacina pneu- Aids, síndrome da imunodeficiência adqu irida; HIV, vírus da imunodeficiência
humana.
mocócica (Prevnar 13) protege contra os 13 sorotipos mais co-
muns. A atual vacina meningocócica (Menactra) protege con-
tra quatro sorotipos comuns (A, C, Y e W-135); no entanto, ela
não apresenta o polissacarídeo tipo B. A vacina atual contra H. trada. Outra estratégia de prevenção é a quimioprofilaxia pós-
influenzae protege apenas contra o sorotipo do tipo B. -exposição, que visa reduzir a presença nasofaríngea de N. me-
A quimioprofilaxia pré-exposição contra S. agalactiae ningitidis e H. influenzae tipo B. Indivíduos que tenham contato
(estreptococos do grupo B) visa reduzir a presença vaginal do próximo com pacientes com meningite ocasionada por esses or-
agente na mãe. Se as culturas vaginais ou retais forem positivas ganismos devem receber ciprofloxacina para Neisseria ou rifam-
nas 35 a 37 semanas de gestação, a ampicilina deve ser adminis- picina para Haemophilus.
CAPÍTULO 72 Infecções do Sistema Nervoso Central 593

ENCEFALITE
Definição
A encefalite é um a infecção do parênquima encefálico, predomi-
nantemente causada por vírus. Em alguns casos, tanto o encéfalo
quanto as meninges estão envolvidos em uma condição denom i-
nada de meningoencefalite.

Fisiopatologia
Os mecanismos de transmissão dos vírus que causam a encefa-
lite são variados (Tabela 72-3). Os recém-nascidos adquirem o
HSV-2 durante a passagem pelo canal do parto. O HSV-2, em
seguida, atinge o encéfalo por meio de dissem inação hematogê-
nica. As mães com lesões vesiculares visíveis são muito mais pro-
pensas a terem recém-nascidos com infecções graves por HSV-2,
em relação às mães que são portadoras assintomáticas do vírus,
uma vez que a quantidade de vírus presente é significativamente
maior do que no primeiro caso.
Em cont rapartida, o HSV-1 provavelmente atinge o lobo
temporal, deslocando-se de forma descendente pelos neurônios
sensoriais, após a ativação da infecção latente no gânglio trige-
mina! (Figura 72-4). O vírus da raiva também atinge o encéfalo
via transporte axonal a partir do local da mordedura do animal.
Os arbovírus, como o WNV, são adquiridos principalmente
por meio da picada de um mosquito e, em seguida, deslocam-se
para o encéfalo via corrente sanguínea. A incidência da encefalite
arboviral atinge o seu pico no verão e no início do outono, tendo
em vista que este é o período em que os mosquitos encontram-se
mais ativos.
O VZV pode ocasionar encefalite durante a infecção primária
FIGURA 72-4 Encefalite p rovocada pelo herpes-vírus sim ples 1.
(a varicela também é conhecida como catapora) ou durante a rea-
Observe a destruição do lobo tempo ral na porção esquerda da ima-
tivação da infecção (zóster é também conhecido como cobreiro).
gem. (Cortesia d o Dr. John Mill s, Monash University, em Melbourne, Australia,
O VZV também provoca uma encefalomielite pós-infecciosa que e Dr. Kim Erlich, University of Cal ifornia School of Med icine, Sa n Francisco, CA.)
envolve o encéfalo e a medula espinal após a resolução da infecção
primária. O citomegalovírus (CMV) provoca encefalite principal-
mente em indivíduos imunocomprometidos, como em pacientes A encefalite pós-infecção ocorre, em geral, várias semanas
com Aids e aqueles que receberam medicamentos para prevenir a após uma infecção ou imunização. Essa é uma doença desmieli-
rejeição de transplantes. A encefalite causada pelo vírus Epstein- nizante causada por um ataque do sistema imune aos neurônios,
-Barr (EBV) é uma complicação rara da mononucleose infecciosa. principalmente àqueles localizados na substância branca.

TABELA 72-3 Vírus comumente relacionados à encefalite com diversos fatores predisponentes

Fator predisponente Vírus comuns Comentários

Neonato HSV-2 Adquirido no momento do nascimento

Crianças acima d e 1 ano de HSV-1 Afeta principalmente o lobo temporal. Provavelmente alcança o
idade e adu ltos encéfalo por meio de transporte descendente via neurô nio sen-
sorial, após a at ivação da infecção latente no gânglio trigemi nai

Morded ura de animais Raiva Nos Estados Unidos, cães e gatos são reservatórios incomuns.
(p. ex., cão, gato, morcego, Os morcegos são os reservatórios mais comuns; guaxinins são
gambá, guaxinim) reservatórios co muns no leste do Mississippi

Picada de mosquito Vírus do Oeste do Nilo, vírus da ence- O vírus do Oeste d o Nilo é a infecção por arbovírus mais comum
falite equina Oriental e Ocidental, nos Estados Unidos
vírus da encefalite de St. Louis

HSV, herpes-vírus simples.


594 PARTE IX Doenças Infecciosas

Observe que as lesões na encefalite são inflamatórias (con - A raiva pode ser diagnosticada por meio da coloração dire-
têm leucócitos, principalmente linfócitos), ao passo que as lesões ta com anticorpos fluorescentes de uma biópsia de pele da parte
de uma encefalopatia apresentam neurônios em degen eração, posterior do pescoço. Um ensaio de PCR utilizando LCS, saliva
mas sem inflamação e ausência de leucócitos. A encefalopatia é ou tecido também se encontra disponível. O ensaio de PCR tem
discutida posteriormente em uma seção distinta. a vantagem de identificar o reservatório animal e a localização
geográfica do vírus, uma vez que a sequência de bases do genoma
Manifestações clínicas de RNA varia de acordo com essas duas características.
Os achados radiológicos também podem ser úteis. Em parti-
As manifestações clínicas características da encefalite incluem fe- cular, na encefalite por HSV, anormalidades do lobo temporal são
bre, cefaleia e alteração do estado mental, bem como convulsões
frequentemente observadas.
e déficits neurológicos focais.
A encefalite em decorrência da raiva possui duas manifesta-
ções clínicas. A maioria dos casos de raiva (80%) se apresentam
Tratamento
com hiperatividade, agitação, delirium, hidrofobia e convulsões Aciclovir por via intravenosa é o trat amento de escolha para a
(denominada raiva furiosa). Os outros 20% dos casos apresentam encefalite por H SV-1, HSV-2 e VZV. Não existe terapia antivira!
sintomas de paralisia, em que uma paralisia ascendente sem hi- disponível para a encefalite por arbovírus ou pelo vírus da raiva.
peratividade é a característica predominante (denominada raiva
muda). O com a e a morte são as implicações comuns em am bas Prevenção
as formas da doença.
A prevenção da raiva inclui tanto uma profilaxia pré-exposição
(antes da mordedura) quanto pós-exposição (após a m ordedu-
Patógenos ra). A profilaxia pré-exposição com a vacina de vírus inativado
Os vírus são os principais agentes associados à encefalite; no en - deve ser administrada a veterinários e outros indivíduos em risco
t anto, a causa de pelo m enos metade dos casos de en cefalite é de exposição. A profilaxia pós-exposição consiste em uma vaci-
desconhecida. Aproximadamente 15% são causadas pelo HSV- 1. na de vírus inativado e em globulinas hiperimunes que contêm
A encefalite causada pelos vírus H SV- 1 e HSV-2 é muito impor- um título elevado de anticorpos antirraiva. As duas profilaxias
t ante, uma vez que esses vírus constituem a causa mais frequente são inoculadas em locais distintos, de modo que os anticorpos
para a qual há tratam ento antivira! dispon ível, principalm ente não neutralizem o vírus presente na vacina. Este é um exemplo
o aciclovir. Cerca de 5% das infecções são causadas por arboví- importante de imunização passiva-ativa. Não existe vacina dispo-
rus, com o o WNV. O vírus da raiva é um a causa rara n os Esta- nível para HSV- 1, HSV-2 e WNV.
dos Unidos, porém é observado com mais frequência em países A fim de reduzir a transmissão do HSV-2 para o recém -
onde a imun ização de cães não é um a prática comum. VZV, -nascido, as gestantes com lesões ativas na fase tardia da gravi-
CMV e EBV também provocam encefalite. dez devem receber aciclovir, além de serem consideradas para a
O WNV é a causa arboviral m ais comum de encefalite nos cesanana.
Estados Unidos. A maioria das infecções por WNV (80%) são
assintomáticas, ao passo que a maioria das 20% restantes de-
senvolve uma doença febril aguda ((semelhante à gripe': Men os ABSCESSO ENCEFÁLICO
de 1% desenvolvem doença do SNC, dos quais cerca da metade
apresentam encefalite. Outros arbovírus que causam encefalite Definição
com alguma frequência são o vírus da encefalite de St. Louis, o Um abscesso encefálico é um a acumulação de pus localizada,
vírus da encefalite da Califórnia linhagem LaCrosse e o vírus da sem delineamento, circundado por uma cápsula fibrosa. As bac-
encefalite equina Ocidental e Oriental (WEE e EEE, respectiva- térias são as causas mais comuns de abscessos encefálicos, no en-
mente). Todas as enfermidades são transmitidas por m osquitos tanto, fungos e protozoários também podem estar envolvidos. Os
Culex ou Aedes. vírus não provocam abscesso encefálico.
A encefalite pós-infecção ocorre, em geral, após uma imuni-
zação ou infecção por VZV, sarampo e gripe. Fisiopatologia
O abscesso encefálico é uma complicação reconhecida das infec-
Diagnóstico ções piogênicas da cabeça e do pescoço, como a sinusite, a otite
Ao contrário da meningite, os achados no LCS na encefalite são média e as infecções dentárias. A sinusite predispõe a lesões no
mais variáveis. Pode ser observada uma elevação branda no nú- lobo frontal, ao passo que a otite média predispõe a lesões no
mero de linfócitos no LCS, juntamente com uma elevação de pro- lobo temporal. A disseminação hematogênica a partir de um lo-
teínas e uma glicose normal. Um padrão normal no LCS tam bém cal infectado, como um local que apresenta endocardite infeccio-
pode ser observado na encefalite. sa, também pode ocorrer.
Análises do LCS baseadas em ensaios de PCR são utilizadas Com o aumento do uso de fármacos imunossupressores, a
na determinação de uma etiologia específica, como no caso do inserção de cateteres intraven osos e hiperalim entação, os abs-
HSV e VZV. A encefalite por WNV é, em geral, diagnosticada cessos encefálicos fúngicos se tornaram mais comuns. Pacientes
por m eio da identificação de IgMs WNV-específicas no líquido imunodeprimidos, sobretudo aqueles com Aids, também apre-
espinal. sentam abscessos encefálicos causados por Toxoplasma gondii.
CAPÍTULO 72 Infecções do Sistema Nervoso Central 595

Manifestações clínicas
A cefa)eia. por si só, é o si!ltoma mais comum do absc.esso ence.
fálico e, as.sim, frequentemente pode ser identificada no início do
curso da doença. À medida que a lesão se expande, os pacientes
podem desenvolver déficits neurológicos focais e convulsões.

Patógenos
Bactérias
Os estreptococos, aeróbios e anaeróbios.. são os agentes mais co-
mumente isoJados dos abscessos encefálicos bacterianos. Esses
são, em geral, de origem orofar(ngea. como o Streptococcus an-
ginosus e os estreptococos do grupo viridans. sendo nonnaJmen-
te observados em i1úecções mistas juntamente com anaeróbios
orais, como Prevote.lla. Fusobacterium e Bacteroide.s. Infecções
monomicrobianas por Staphylococcus auteus são frequentemente
associadas à endocardite infecciosa.

Fungos
Abscessos fungicos ocorrem principahnente em pacientes imu-
nocomprometidos. Aspergillus famigatus pode se apresentar em FIGURA 72·5 Abscesso encefálico. A seta ver-melh;, ;,ponta para
pacientes com neutropenia, na mucormicose rinocerebral (cau• uma lesão com reforço em anel carictedstica. As setas azuis apontam
sada por espécies de Mucor e Rhizopus) em pacientes diabéticos para dois abscessos adicionais. (Reproduzida, com permlsdo, de Ropper
com cetoacidose, e na i1úecção criptocócica em pacientes com AH. Samuels MA Adoms ond Vkro.r~ P1indp.'e5 oiNturofogy. 9th ed. New York:
HIV/Aids. Espécies de Candida também estão envoh'idas. McGraVN-1111, 2009. Copyright O 2009 porlhe McGraw.Hlll Comparies, lnc.J

Protozoários Tratamento
T. gondH é o principal protozoário associado a abscessos enc.e·
A terapia antimicrobiana empírica para abscessos encefálicos
fálkos. ~ um agente importante em pacientes imunocompro• bacterianos consiste em uma cefalosporina de terceira geração.
metidos, sobretudo aqueles com Aids.. em pacientes recebendo como a ceftriaxona ou cefotaxima, em associação com o metro-
quimioterapia para câncer, ou em pacientes sob uso de fármacos nidazol Este último é destinado a bactérias anaeróbias. O tra.
imunossupressores. utilizados para aumentar a sobrevida dos tamento dos abscessos encefáHcos bacterianos e fúngicos pode
transp)antes.
necessitar de uma terapia cirúrgica. adicionalmente à utiliz.ação
T. gondii pode ser transmitido por meio do transp)ante de
de fármacos antibacterianos ou antifúngicos específicos. O tra.
órgão sólido. sobretudo transplantes de coraçã~ bem como por tamento dos abscessos enc.efálicos por ToxoplMma inclui uma
meio dos mecanismos de transmissão mais comuns.. principal· combinação de pirimetamina e sulfadiazina.
mente pela ingestão de carne crua contendo cistos ou por exposi.
ção a fezes de gatos contendo oócitos. A transmissão transplacen·
tária de 'I: gondii pode resultar em calcificações intracranianas Prevenção
no feto. Kão existem vacinas para a prevenção dos abscessos encefálicos.
O tratamento precoce das infecções odontogênicas e sinusais
Diagnóstico pode impedir o aparecimento dessas c.omplkações. O contro)e
rigoroso da glicemia pode prevenir a mucormicose rinocerebraJ
A Rt\4 é. uma importante modalidade.diagnóstica que fre.quen• em indivíduos diabéticos. O tratamento de pacjentes com Aids
temente revela a presença de uma lesão "com reforço em aneJ'" por meio de uma terapia antirretroviral pode impedir o desen•
(Figura 72· 5}. O diagnóstico microbio)ógico requer a obten• voh•imento de abscessos encefálicos por Toxoplasma, e quando a
ção de pus do abscesso e a realização de wna cultura para a contagem de CD4 for de< 100 células/µ.L, a profilaxia primária
identificação de bactérias e fungos. Em abscessos encefálicos com trimetoprima.sulfametoxazol é recomendada para indiví·
bacterianos, a coloração de Gram frequentemente revela di· duos doentes que são JgG-positivos para TO.xoplasma.
versos tipos de. bactérias que indicam uma infecção mista. A
aspiração de.pus da )esão é um procedimento diagnóstico e te.
rapêutico. tendo em vista a drenagem do abscesso. O diagnós· EMPIEMA SUBDURAL E EPIDURAL
tico microbio)ógico da infecção por Toxoplasma é realizado.
em geral. por meio da identificação de achados radiológicos O empiema subd:uraJ é uma acumulação de pus na superficie inter-
específicos em um hospedeiro de risco (p. ex., HIV/Aids}. com 11a da dura-máter, ao passo que o empie.ma epidural é uma acumu.
lgG positiva para Toxoplasma e uma resposta à terapia antimi· Jação de pus na superflcie externa. Esses empiemas podem se de-
crobiana específica. senvolver adjacente à dura-máte.r do enc.éfa)o ou da medula espinal.
S96 PARTE IX Doenças Infecciosas

A sinusite e a otite média são fatores predisponentes co- como a perda profunda de memória e psicose (demência na
muns, e as bactérias causadoras desses empiemas são aquelas Aids). A demência associada à Aids ocorre mais frequen-
relacionadas a essas infecções, principalmente estreptococos temente quando a contagem de CD4 é inferior a 200/ µL e
aeróbios e anaeróbios, estafilococos, bastonetes gram -negativos quando a carga viral no LCS é alta.
entéricos, como Escherichia coli, e bacilos gram-negativos anae- • Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) e kuru. DCJ é uma das
róbios entéricos, como Prevotella. Infecções mistas são comuns. encefalopatias espongiformes transmissíveis a seres huma-
As características clínicas incluem febre, além de sintomas nos. O termo "espongiforme,, refere-se à aparência esponjo-
relacionados ao aumento da pressão intracraniana, como cefa- sa, semelhante a queijo suíço, do encéfalo de pacientes com
leia, vômitos, déficits neurológicos focais e alteração do estado DCJ. A DCJ é causada por príons, uma proteína dobrada
mental. A RM com contraste de gadolínio revela uma massa ad- incorretamente, na qual a configuração a-helicoidal normal
jacente à dura-máter. O diagnóstico microbiológico envolve a as- foi alterada para uma folha í3-pregueada, alterando a função
piração do pus da lesão, a realização de uma coloração de Gram da proteína e conduzindo à morte dos neurônios. Informa-
e cultura. O tratamento envolve a drenagem cirúrgica do pus em ções adicionais sobre os príons podem ser encontradas no
combinação com antibióticos apropriados para as bactérias isola- Capítulo 44.
das do material aspirado. A DCJ ocorre esporadicamente em todo o mundo a
uma taxa de cerca de um caso por milhão de habitantes.
A DCJ é transmitida iatrogeneticamente por transplante de
ENCEFALOPATIA córnea, eletrodos intracerebrais e enxertos de dura-máter.
A DCJ não possui qualquer relação com a ingestão de qual-
A encefalopatia refere-se a uma função encefálica alterada na
quer alimento, diferentemente da variante DCJ, a qual é dis-
ausência de inflamação. Em geral, pacientes com encefalopatia
cutida abaixo.
não apresentam febre, cefaleia, convulsões, sinais neurológicos
Os principais achados clínicos na DCJ são demência
focais e um aumento do número de leucócitos no sangue e lí-
e mioclonia. A progressão é gradual, porém inexorável, re-
quido espinal, como é observado em pacientes com encefalite.
sultando em coma e morte. O diagnóstico definitivo é rea-
As manifestações mais comuns de encefalopatia incluem confu-
lizado por meio da observação de alterações espongiformes
são, alterações de personalidade, desorientação, afasia, delirium
na biópsia do encéfalo, seguida por coloração histoquímica
e demência.
com anticorpos antipríon. Não existe nenhum tratamento
Existem diversos agentes infecciosos relacionados ao de-
medicamentoso para a DCJ ou vacina.
senvolvimento de encefalopatia (ver descrição abaixo), porém a
A variante DCJ é adquirida por meio da ingestão de
maioria destes não é infecciosa (p. ex., álcool, drogas, chumbo,
carne contendo príon. Essa variante encontra-se em declí-
uremia ou insuficiência hepática).
nio como resultado da proibição da adição de produtos de
Algumas causas infecciosas importantes relacionadas à en-
origem animal à alimentação do gado bovino.
cefalopatia incluem:
Kuru é uma encefalopatia espongiforme encontrada na
• Leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP). A LMP tribo Fore, na Nova Guiné. Atualmente é bastante rara, uma
é causada pelo vírus JC e se desenvolve em pacientes imu- vez que os rituais alimentares que transmitem o agente não
nocomprometidos, notavelmente em indivíduos com Aids. são mais praticados.
A infecção pelo vírus JC ocorre nas fases precoces da vida • Síndrome de Reye. A síndrome de Reye é uma doença pós-
e permanece latente até que o sistema imune se encontre -infecciosa que consiste em uma encefalopatia associada à
comprometido. A LMP foi demonstrada em pacientes em falência hepática. Essa ocorre principalmente após infecções
tratamento contra a esclerose múltipla utilizando o fármaco pelo vírus influenza B e varicela em crianças, e está associa-
natalizumabe, e em indivíduos transplantados sendo tra- da ao uso de ácido acetilsalicílico.
tados com micofenolato. O diagnóstico microbiológico é Após a criança se recuperar da infecção viral, a sín-
realizado por meio da detecção do DNA do vírus JC utili- drome de Reye inicia com vômitos proeminentes, seguidos
zando o ensaio de PCR em amostras cerebrais ou de líquido por alterações encefalopáticas, como letargia e comporta-
espinal. Não existe terapia antivira! ou vacina. Informações mento combativo, progredindo para coma e morte. Ocorre
adicionais podem ser encontradas no Capítulo 44. a degeneração gordurosa do fígado, e as enzimas hepáticas,
• Encefalopatia por HIV incluindo a demência na Aids. como as transaminases, encontram -se elevadas. As vacinas
Outra doença do SNC que é observada em indivíduos infec- contra varicela e gripe, além das campanhas de saúde pú-
tados pelo HIV é a encefalopatia causada pelo próprio vírus. blica destinadas a reduzir o uso do ácido acetilsalicílico em
Ela pode variar apresentando de sintomas brandos, como crianças febris, diminuíram significativamente a incidência
problemas de memória e apatia, a uma doença mais grave, dessa doença.
CAPÍTULO

Infecções do Trato
Gastrintestinal
Contribuição de Peter Chin-Hong, M.D.

CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Apendicite
Esofagite Diverticulite
Gastrite Febres entéricas como a febre tifoide
Diarreia {gastrenterite, enterocolite)

INTRODUÇÃO Patógenos
As infecções ocasionadas por uma variedade de agentes infec- Candida é a etiologia mais comum, particularmente entre
ciosos podem se desenvolver em qualquer parte do trato gas- os pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência hu-
trintestinal (GI), da boca ao canal anal. As infecções podem mana (HIV) e outros hospedeiros imunocomprometidos
variar com relação à gravidade, de autolimitadas àquelas com (Figura 73-1). Agentes patogênicos menos comuns incluem
risco de vida, particularmente se a infecção se dissemina do herpes-vírus, como o citomegalovírus e o herpes-vírus simples.
intestino para outras partes do corpo. As infecções são, em ge- Causas não infecciosas também podem estar relacionadas, como
ral, ocasionadas pela ingestão de patógenos exógenos em quan- o refluxo ácido do estômago e doenças induzidas por medica-
tidades suficientes para evadir-se das defesas do hospedeiro, mentos (p. ex., doxiciclina).
provocando a doença por meio da multiplicação, produção de
toxina ou invasão da mucosa gastrintestinal, alcançando a cor- Diagnóstico
rente sanguínea e outros tecidos. Em outros casos, membros da O diagnóstico pode ser empírico, após uma melhoria provenien-
microbiota normal do trato gastrintestinal podem acarretar o te de uma tentativa de tratamento com fluconazol, presume-se
processo de doença.

ESOFAGITE
Definição
A esofagite é um processo inflamatório que pode danificar o
esôfago.

Fisiopatologia
A inflamação oriunda de uma infecção, geralmente por fungos,
como Candida, ou vírus, como o herpes-vírus simples, desenca-
deia os sintomas da esofagite. A maioria dos casos é observada
em pacientes imunocomprometidos, principalmente naqueles
que apresentam uma imunidade celular reduzida. A extensão dos
danos ao esôfago está intimamente relacionada à gravidade dos
sintomas.
FIGURA 73-1 Esofagite por Candida. Observa-se múltiplas lesões
Manifestações clínicas esbranquiçadas na mucosa esofágica visua lizada na endoscopia.
(Reproduzida, com permissão, de McKean SC et ai. Principies and Practice of Hos-
Odinofagia (dor ao deglutir) e disfagia (dificuldade de degluti- pital Medicine. New York: McGraw-Hill, 2012. Copyright© 2012 por The McGraw-
ção) são as principais manifestações clínicas da esofagite. -Hill Companies, lnc.)
598 PARTE IX Doenças Infecciosas

esofagite por Candida. Se a administração empírica de fluconazol como o citomegalovírus, e fungos, como o Mucor, raramente oca-
não gerar resultados satisfatórios, a endoscopia e a biópsia po- sionam uma úlcera, e quando associados, particularmente apre-
dem ser úteis, principalmente em hospedeiros imunocompro- sentam-se em pacientes imunocomprometidos. Após a ingestão
metidos. Amostras de biópsia devem ser analisadas por meio de de peixe cru, larvas da espécie Anisakis podem incorporar-se à
testes patológicos e microbiológicos. mucosa gástrica e provocar dor abdominal grave. Micobactérias
(tuberculosas e não tuberculosas), Giardia e Strongyloides tam-
Tratamento bém podem causar gastrite. Causas não infecciosas, como álcool
e fármacos (p. ex., anti-inflamatórios não esteroides), também
Em um paciente típico (p. ex., pacientes infectados pelo HIV)
estão implicadas.
apresentando odinofagia e dor retroesternal, o diagnóstico pre-
suntivo de candidíase esofágica é feito e o tratamento com flu-
conazol é instituído. Se esse tratamento não produzir nenhum
Diagnóstico
efeito sobre os sintomas e se a resistência do microrganismo não A endoscopia digestiva superior com biópsia gástrica consiste
for detectada, métodos diagnósticos adicionais, como os des- na estratégia diagnóstica definitiva. Em caso de resultados anor-
critos anteriormente, podem identificar o organismo específico mais, pode ser realizada a análise patológica, além de ensaios di-
relacionado, que poderá, então, ser um alvo para o tratamento. recionados. Para o agente infeccioso mais comum relacionado à
úlcera péptica, a presença do H. pylori associado a úlceras pode
Prevenção ser confirmada utilizando-se um ensaio de urease em uma amos-
tra de biópsia, ou utilizando-se testes não invasivos, como o teste
Uma opção para a prevenção da candidíase esofágica recorrente é
respiratório da ureia e o teste do antígeno fecal.
o estabelecimento de uma profilaxia com fluconazol. No entanto,
isso não é geralmente recomendado devido ao elevado risco de
seleção de Candida resistentes ao fluconazol. A restauração imu-
Tratamento
ne em pacientes infectados pelo HIV pode diminuir a incidência O tratamento é direcionado ao agente patogênico subjacente, le-
de candidíase esofágica e da orofaringe. vando em consideração o estado imune do hospedeiro. Para o
H. pylori, a terapia de combinação com dois antibióticos, como a
ampicilina e a claritromicina, além de um inibidor da bomba de
GASTRITE prótons, como o omeprazol ou bismuto, é utilizada com sucesso
variável.
Definição
A gastrite refere-se à inflamação da mucosa do estômago. Pode
ser erosiva ou não erosiva, dependendo dos achados histológi- DIARREIA ( GASTRENTERITE,
cos e endoscópicos. Uma ruptura na mucosa gástrica e duodenal ENTEROCOLITE}
adjacente caracteriza uma úlcera péptica.
Definição
Fisiopatolog ia É conveniente classificar a diarreia como aguda (duração < 2
semanas) ou crônica (persistência> 4 semanas). Neste capítu-
O mecanismo pelo qual um dos principais agentes patogênicos,
lo, será abordada a diarreia aguda, tendo em vista que a maio-
o Helicobacter pylori, desencadeia a úlcera péptica tem sido am-
ria das etiologias é de natureza infecciosa. Pode-se, ainda, sub-
plamente elucidado. Após a ligação à mucosa gástrica, o H. pylori
provoca danos diretos à mucosa, por meio da combinação da classificar a diarreia aguda como não inflamatória (aquosa, não
sanguinolenta) ou inflamatória (sanguinolenta). A diarreia san-
produção de amônia (pela ação da urease do organismo sobre a
ureia) e da resposta inflamatória do hospedeiro. A capacidade de guinolenta também é conhecida como disenteria. Por exemplo,
a diarreia sanguinolenta causada por Shigella é, frequentemente,
sobrevivência do organismo é reforçada por meio da neutraliza-
denominada disenteria bacilar. A Tabela 73-1 descreve algumas
ção dos ácidos estomacais pela amônia que é produzida.
características cruciais das diarreias aquosa e sanguinolenta, e a
Tabela 73-2 lista organismos importantes associados a elas.
Manifestações clínicas Quadros de diarreia são identificados utilizando-se como
Pacientes com gastrite normalmente queixam-se de dispepsia base as evacuações normais do paciente, no entanto, geralmente
(dor epigástrica, queimação), náuseas e vômitos. No caso da referem-se a quantidades maiores do que três a cinco evacuações
úlcera péptica, a dor epigástrica é o principal sintoma. Alguns por dia. A maioria dos agentes infecciosos que provocam a diar-
pacientes podem relatar alívio da dor após a alimentação, parti- reia atua no intestino delgado (onde a maioria dos fluidos nor-
cularmente aqueles que apresentam úlceras duodenais. A hemor- malmente é absorvida) ou no colo.
ragia gastrintestinal é uma complicação da úlcera péptica. Alguns
pacientes com gastrite podem ser assintomáticos. Fisiopatolog ia
Os patógenos ou suas toxinas associadas interrompem a absorção
Patógenos normal e os processos secretórios no intestino delgado. A diarreia
Etiologias infecciosas e não infecciosas podem estar relacionadas. aguda é, em geral, causada por exotoxinas pré-formadas presen-
Entre as causas infecciosas, H. pylori é a mais importante. Vírus, tes nos alimentos ou pelos agentes infecciosos presentes no trato
CAPÍTULO 73 Infecções do Trato Gastrintestinal 599

TABELA 73-1 Características da diarreia aquosa TABELA 73- 2 Organismos importantes associados à
com~radasàs da diarreia sanguinolenta diarreia aquosa ou sanguinolenta

·-
C.roct.rfstlcn da dlarrola

Aus~cia de hemácias e leu•


c6citos nas fé2es, isto é,
aus~nda de inRamaçáo
C.roct•rfstlcu da dlarrola
u ngulnoJ.nta
Presença típica de ambos, hemá"
das e leucócitos, nas fezes, isto
é, resposta inRamat6'ia
Organismos que caUNm
dla,,.la aquosa

E.scherichio coli entérotoxig~nica


(ETEO
Vibtio choleroe
Organismos que causam
dla,,.la sangulnoJenta
E.scherichio coli produtora de
toxin• Shig• (STEO
Espécies de Shigella
Normalmente sem febre Frequentemente apresenta febre
Staphytococcus oureus Salmonef/o enterica
Normalmente um grande Normalmente um pequeno volu-
volume de diarreia me de diarreia Badllus ceftus CIJmpylobocttrjejurti

A infecç-ão geralmentea«>- A infecção giualmente aeotnete No,ovírus Cfostrldium diffidfe


mete o int~tino delgado o colo
Rotavfrus Ytrsi'rtio enterocofitica

Glardia /amblia Et1tamoeba histolytica


Ctyptosporidium homiriis
intestina) (por ineio da produção de enterotoxina e citotoxina ou
pela invasão da mucosa). Alguns dos patóge11os que produzem
exotoxinas pré-fonnadas são Staphylococcus aureus. Bacillus ce-
frutigranjeiros contaminados ou contato com an.iJUais em jardins
teus e Clostridium perfringens. Outros patógenos que ocasionam
:zoológicos predispõem à doença causada por STEC.
diarreia aguda 11ão i11flaJUatória pela produção de enterotoxina
incJueJU a E.scherichi.a coli enterotoxigênica (ETEC) e Vibrio cho-
leme. O Capítulo 7 descreve o mecanismo de.ação dessas toxinas. Patógenos
Alguns patógenos que desencadeiam diarreia aguda i11íla- A maioria dos casos de diarreia aguda branda. de curta duração.
matória são Salmone.lla. Shige.Ua. CAmpylobacte.r (invasão através é cau'5ada por v(rus. Estes incJueJU noro,1rus, rotavírus, e. menos
da mucosa), E. c-0/i produtora de toxina Shiga (STEC), coJUo a comumente, adenov(rus e astrovlrus. A ETEC é outra causa iJn.
E. coH O157:H7, e C/ostridium difficile (por meio da produção portante.
de citotoxina). O uso de antibióticos predispõe ao desenvoM- A maioria dos casos de diarreia gra,·e. no entanto. é causada
mento de colite pseudomembranosa causada por C. difficile. por bactérias. Patógenos, oomo Sa/monel/a,Shig,lkl, C.mpylobacter,
O Capitulo 18 fornece informações adicionais acerca desses bas- STEC e C. difficile., estão implicados nessa categoria. Adiarreia cau-
tonetes graJU-negativos entéricos, e o Capítu1o 17 discute mais sada por essas bactérias é. em geral. sanguinolenta.
profundamente sobre o C. difficile.. Protoz.oários. c.omo Giatdia. EnMmoe.ba histolytica.
Cryptosporidium e JUicrospoddeos, são causas menos c.omuns de
diarreia, no entanto, tornaJU-se suspeitos em determio.ados cená.
Manifestações clínicas rios (p. ex., em indivíduos retornando de viageos ou em pacientes
A Tabela 73.3 descreve o quadro cJCnico desencadeado por impor- imunocomprometidos). Desses protozoários. a Giardia é a causa
tantes patógenos do trato GJ. Os pacientes queixam-se de diarreia mais comum de diarreia nos f.stados Unidos. A giardfase ocor•
acoJUpanhada de urgência, inchaço abdomina1 e cólicas. No caso re norinaJmente eJU crianças pequenas que frequentaJU creches.
da diarreia aguda inflamatória, é também observado sangue ou em homens homossexuais e em andarilhos que consoJUeJU água
pus nas fezes. e os pacie11tes podeJU estar febris. Se o vômito for não tratada direto do aJUbiente. EJU pacientes i1úectados pelo
uma das principais características do quadro dí11ico, sugere-se HIV, que apresentam contagens de células CD4 muito baixas.
uma intoxicação alimentar por S. aure.us ou gastrenterite viral. Se o Cryptosporid1'um provoca diarreia proloogada e pode causar
os sintomas se iniciarem dentro de 6 horas após a ingestão de ali- doença extraintestinal envolvendo os tratos biliar e respiratório.
me11tos coJU suspeita de conta.mi11ação. sugere--se a presença de
toxina pté-form.ada de S. aure.us ou B. cereus. Ao exame flsi~ os Diagnóstico
pacientes também podem aprese11tar sinais de desidratação com O diagnóstico é, em gera1, fundamentado na dedsão de quando
taquicardia e alterações ortostáticas da pressão arterial e em quais indivíduos devem.se realizar os ensaios diagnósticos
Crianças infectadas com STEC frequentemente apresentam (i.e., na determinação de em que JUOJUento o resultado de um
diarreia sanguinole11ta e o quadro pode evoluir para uJUa síndro- teste diagnóstico pode impactar potencialJUente o desfecho da
me hemolítico-ur~JUica (SHU). A SHU se desenvolve quando a doença). Tendo em vista que muitas das cau,5as da diarreia aguda
toxina Shiga, produzida por STEC, penetra na corrente sanguí- são auto1imitadas. essa é uma questão iJUportante. De um JUodo
nea. Os sintoJUas da SHU induem anemia heJUo1Itica. trombo- geral, procura-se um diagnóstico nos casos de djarreia aquosa
citopenia e fal~ncia renal. Hemácias que apresentam uma forJUa grave, em casos de diarreia sanguinolenta, se o pacie11te encon-
distorc,ida. denominadas esquizócitos. podem ser visualizadas trar-se febril, ou se o individuo doente é idoso ou iJUuuocoJUpto---
em esfre.gaços sanguíneos. A utilização de ciprofloxacina eleva metido. CUituras de fezes de rotina são cruciais na identific.ação
os riscos de SHU. A ingestão de hambúrguer malcozido, horti- de Salmonella. Shigella e Campylobactet. Se a diarreia é sangui·
600 PARTE IX Doenças Infecciosas

TABELA 73-3 Apresentação clínica, diagnóstico e tratamento da diarreia causada por importantes patógenos do
trato gastrintestinal

Patógeno Apresentação clínica Diagnóstko Tratamento Comentários

1. Diarreia não inflamatória aguda (aquosa, fezes não sanguinolentas; normalmente sem febre)
A. Bactérias
Staphylococcus Vômito, dor epi- Clínico. Alimentos e fezes Tratamento suporte Normalmente dentro de 6 horas
aureus gástrica, d iarreia podem ser testados para após o consumo de alimentos
(branda) a presença da toxina infectados (produtos lácteos,
maionese, produtos a base de
carne); recuperação em 1-2 d ias
Bacillus cereus Vômito, dor epigástri- Clínico. Alimentos e fezes Tratamento suporte Normalmente dent ro de 6 horas
ca, diarreia podem ser testados para após o consumo de alimentos
a presença da toxina. infectados (arroz reaquecido)
Escherichia coli Ausência de febre, Coprocultura Ciprofloxacina "Diarreia do viajante"
enterotoxigê- d iarreia aquosa
nica (ETEC)

B. Vírus
Norovírus Ausência de febre, Clínico. PCR disponível para Tratamento suporte Surtos em navio de cruzeiros e
vômito, cefaleia, análise de fezes em casas de repouso
d iarreia
Rotavírus Febre e vômitos pro- Clínico. PCR disponível para Tratamento suporte Comum em crianças
drômicos, seguidos análise de fezes
de diarreia

C. Protozoários
Giardia lamblia Cólicas abdominais, A análise de fezes para a Metronidazol ou t inidazol A diarreia pode persistir por
flatulência, diarreia presença de ovos e para- semanas
(aguda ou crônica); sitas pode revelar cistos
as fezes são gordu- ou trofozoítos.
rosas, malcheirosas O teste de antígenos fecais
e podem flutuar é cada vez mais utilizado
Cryptosporidium Dor e cólicas abdo- Observação de cistos em Nitazoxanida para diarreia Causa de g randes surtos comu-
hominis m inais, diarreia amostras de fezes que grave. nitários oriundos de fontes
aquosa apresentam coloração Terapia ant irretroviral para de água contaminada; impor-
acidorresistente. a restauração do siste- tante causa de diarreia em
ma imune em pacientes pacientes com Aids
com Aids

2. Diarreia inflamatória aguda (as fezes podem ser sanguinolentas; pode haver febre)
A. Bactérias
E. coli produtora Diarreia sanguinolen- A cultura de fezes revela o Nenhum. Os antibióticos Associada à carne moída mal-
de toxina ta, dor abdominal, crescimento de bactérias podem elevar o risco de cozida, hort ifrutigranjeiros
Shiga (STEC) normalmente com E. coli que não fermen- sínd rome hemolít ico- contaminados
ausência de febre tam o sorbitol. -urêmica, sobretudo
Necessidade de testes espe- em crianças
cíficos para a identifica-
ção de linhagens produ-
toras de toxina Shiga
Clostridium Diarreia sanguinolen- Exame de fezes para a iden- Metronidazol o ral (ou Tradicionalmente associada ao
difficile ta, febre tificação de toxinas. intravenoso) ou vanco- uso de antim icrobianos; ele-
A colonoscopia pode reve- m icina oral vação na frequência de casos
lar a existência de placas adquiridos na comunidade,
amareladas caracterís- em pacientes sem fatores de
ticas. risco t radicionais
Shigella Diarreia no rmalmente Coprocultura Ciprofloxacina Pode ocorrer d isseminação inter-
com a presença pessoal; seres humanos são os
de sangue ou pus; reservatórios da bactéria; não
cólicas abdominais; encont rada em animais
pode ser febril

(continua)
CAPÍTULO 73 Infecções do Trato Gastrintestinal 601

TABELA 73-3 Apresentação clínica, diagnóstico e tratamento da diarreia causada por importantes patógenos do
trato gastrintestinal (continuação)

Patógeno Apresentação clínica Diagnóstico Tratamento Comentários

Salmonella A diarreia pode ser Coprocu ltu ra Ciprofloxacina (em caso Adquirida pela ingestão de ovos
sanguinolenta; de doença grave) malcozidos, laticínios não pas-
febre baixa teurizados, vegetais crus, ou
aves domésticas malcozidas.
Também é adquirida pela ex-
posição a cobras e tartarugas
de estimação
Campylobacter Febre, diarreia Exame de fezes em meio Ciprofloxacina ou Associada à síndrome de
jejuni especial azitrom ici na Guillain-Barré
Yersinia Febre, diarreia Exame de fezes em meio Ciprofloxacina (em caso Provoca adenite mesentérica que
enterocolitica especial de doença grave) pode mimetizar a apendicite

B. Protozoários
Entamoeba Diarreia sanguino- A análise de fezes para a Metronidazol ou tinidazol Também pode ocasionar absces-
histolytica lenta, febre e dor presença de ovos e para- para a eliminação de sos hepáticos
abdominal sitas pode revelar cistos trofozoítos teciduais,
ou trofozoítos; sorologia em associação com um
agente luminal, como a
paromomicina

nolenta, faz-se necessária a criação de uma cultura especial para


descartar especificamente a presença de STEC. A cultura especial
é indispensável, uma vez que as linhagens de STEC geralmente
não fermentam o sorbitol. O diagnóstico laboratorial definitivo
de uma linhagem STEC é realizado por meio do teste da reação
em cadeia da polimerase (PCR) ou do imunoensaio para a toxina
Shiga.
Além disso, se a diarreia sanguinolenta está associada ao uso
de antibióticos, ensaios laboratoriais para a presença da toxina de
C. difficile nas fezes devem ser realizados. A colonoscopia pode
revelar placas amareladas, características observadas na colite
pseudomembranosa (Figura 73-2).
O envio de amostras de fezes para análise de ovos e parasitas
(O&P), em geral, não é produtivo, exceto em pacientes imunode-
primidos, pacientes com histórico de viagem recente ao exterior,
ou quando a diarreia é associada a surtos comunitários transmi-
tidos pela água.* As amostras de fezes para os exames de O&P
são enviadas, em geral, em três dias consecutivos, tendo em vista
que alguns parasitas produzem ovos ou cistos nas fezes apenas de
forma intermitente.

Tratamento
FIGURA 73-2 Colite pseudomembranosa causada por C/ostridium
O tratamento essencial da diarreia é a hidratação. Soluções de difficile. Observe as pseudomembranas amareladas visualizadas naco-
reidratação oral contendo água, sal e açúcar têm sido determi- lonoscopia. (Reproduzida, com permissão, de Longo DL et ai. [eds]: Harrison's
nantes na sobrevida dos pacientes em muitas partes do mundo. Principies oflnternal Medicine, 18th ed. New York: McGraw-Hill, 2012. Copyright ©
Em geral, para a maioria dos casos de diarreia adquirida na co- 2012 por The McGraw-Hill Companies, lnc.)

munidade, o tratamento empírico com antibióticos não é favo-


rável. O fármaco de escolha para a colite branda ou moderada Prevenção
causada por C. difficile é o metronidazol. Infecções graves devem
A maioria das estratégias preventivas é direcionada a indivíduos
ser tratadas com vancomicina oral.
que viajam para países em desenvolvimento. Esses são aconselha-
dos a evitar fontes de água potencialmente contaminadas, bem
como frutas e vegetais frescos se não lavados em água fervida.
* N. de R.T. Neste caso, o autor se refere a condições existentes nos Es-
tados Unidos. No caso do Brasil, e principalmente em regiões de baixo Uma abordagem recente consiste no fornecimento de antimicro-
índice de desenvolvimento humano (IOH), a ocorrência de parasitas é bianos aos viajantes, como a ciprofloxacina, que devem ser admi-
frequente. nistrados em caso de um episódio diarreico.
602 PARTE IX Doenças Infecciosas

APENDICITE
Definição
A apendicite é uma inflamação do apêndice vermiforme vesti-
gial. É uma das causas mais comuns de abdome agudo que requer
exploração cirúrgica.

Fisiopato log ia
A obstrução do apêndice por uma entre uma variedade de cau-
sas (p. ex., fecalitos, infecções, como parasitas, tumores) conduz
a uma elevação na pressão luminal e intramural. O crescimento
bacteriano exacerbado é acompanhado de inflamação. Em caso
de necrose, pode ser observada perfuração, seguida de peritoni-
te difusa provocada por bactérias da microbiota normal do colo
(p. ex., E. coli e Bacteroides).

Manifestações clínicas
As manifestações clínicas incluem dor abdominal (principalmen-
te periumbilical que migra para o quadrante inferior direito),
FIGURA 73-3 Diverticulite. Vários divertículos podem ser observados
anorexia, náuseas e vômitos. Os sintomas iniciais podem passar
(setas brancas). A seta branca indica um lúmen estreito em decorrência
despercebidos, uma vez que podem apresentar caráter inespecí- de um espasmo causado pela inflamação, consequência de um diver-
fico (p. ex., indigestão). Uma tomografia computadorizada (TC) tículo perfurado e de seu abscesso resu ltante (seta preta). (Cortesia do
abdominal padrão com contraste é frequentemente utilizada Departamento de Cirurgia da Loyola University of Chicago School of Medicine.)
quando há suspeita de apendicite.

Patógenos Fisiopatologia
No início do curso da doença, os organismos predominantes são Divertículos no colo podem ser observados após anos de uma
anaeróbios. Na doença tardia, predominam organismos mistos. dieta deficiente em fibras.
E. coli, Peptostreptococcus, Bacteroides fragilis e Pseudomonas são
comumente isolados. Yersinia, Campylobacter e Salmonella po- Manifestações clínicas
dem provocar ileíte aguda e adenite mesentérica, as quais podem
Existe uma variedade de sintomas, dependendo do grau de perfu-
mimetizar a apendicite.
ração. Os pacientes, em geral, apresentam -se com dor abdominal
incômoda no quadrante inferior esquerdo, fato que é frequente-
Diagnóstico mente acompanhado por febre baixa, leucocitose, náuseas e vô-
As manifestações clínicas, juntamente com os exames de ima- mitos. Diarreia ou constipação podem ser observadas. Em casos
gem, muitas vezes são utilizadas na orientação do tratamento de de perfuração, os pacientes podem apresentar sinais peritoneais
um paciente e na sua indicação cirúrgica ou não. generalizados, com dor abdominal difusa e choque.

Tratamento Patógenos
A cirurgia é o tratamento definitivo para a apendicite, geralmen- A microbiota intestinal anaeróbia, isto é, B fragilis, e os inte-
te em combinação com antibióticos perioperatórios. Em alguns grantes da família Enterobacteriaceae, como E. coli, geralmente
casos, pode ser utilizada apenas a administração de antibióticos encontra-se envolvida.
(sem cirurgia), no entanto, existe um risco elevado do desenvol-
vimento de uma apendicite recorrente. Diagnóstico
A TC abdominal permite a visualização dos divertículos do colo e
as características associadas de espessamento da parede, infiltração
DIVERTICULITE de gordura, abscessos e gases extraluminais por meio de contraste.
Definição
A diverticulite é a inflamação de uma saliência em forma de Tratamento
saco da parede do colo, geralmente observada no colo sigmoide Os antibióticos orais com excelente atividade anaeróbia (p. ex., amo-
(Figura 73-3). Pode ocorrer a perfuração do divertículo com con- xicilina associada ao clavulanato ou a combinação de ciprofloxacina
sequente formação de abscesso ou peritonite. com metronidazol) são utilizados em casos brandos. Em casos mais
CAPÍTULO 73 Infecções do Trato Gastrintestinal 603

graves, que requerem hospitalização, fluidos intravenosos e antibió- geral, residem na vesícula biliar e são excretados nas fezes, que,
ticos são administrados juntamente com repouso intestinal, confor- por sua vez, atuam como uma fonte de infecção para outros in -
me necessário. Em caso de abscesso abdominal associado ou sinais divíduos.
de peritonite, uma avaliação cirúrgica deve ser realizada.
Patógenos
Prevenção S. typhi e outras espécies de Salmonella, como Salmonella
A prevenção envolve o aumento da quantidade de fibras na dieta. paratyphi A e S. paratyphi B, ocasionam a febre tifoide.

Diagnóstico
FEBRES ENTÉRICAS COMO A
Um histórico de viagem para áreas endêmicas, juntamente com
FEBRE TIFOIDE uma apresentação clínica compatível, são evidências frequente-
mente utilizadas no diagnóstico inicial. Indivíduos em retorno
Definição
de viagem que apresentarem-se febris devem imediatamemente
Febre entérica é uma síndrome clínica composta por sintomas submeter-se a hemoculturas, tendo em vista a suspeita clínica de
constitucionais, como febre, cefaleia, náuseas, vômitos e dor febre entérica. No início da doença, as culturas de sangue são, em
abdominal. Embora a febre entérica possa ser provocada por di- geral, positivas e as culturas de fezes são comumente negativas.
versas espécies de Salmonella, a expressão "febre tifoide" refere-se Na fase tardia da doença e no estado de portador, as culturas de
à febre entérica causada por Salmonella typhi. S. typhi é também fezes são positivas e as culturas de sangue são negativas. As cultu-
conhecida como Salmonella enterica sorovar typhi. A febre tifoide ras de fezes apresentam -se positivas nessa fase da doença devido
é uma importante questão de saúde mundial. ao fato de a bile, oriunda de uma vesícula biliar infectada, carrear
os organismos para as fezes.
Fisiopatologia
Após o consumo de alimentos contaminados, a bactéria Tratamento
Salmonella penetra através do epitélio da mucosa intestinal por A ciprofloxacina oral ou intravenosa é frequentemente utilizada.
transcitose. Os microrganismos, em seguida, se replicam nos A ceftriaxona intravenosa é outra modalidade eficaz de trata-
macrófagos das placas de Peyer, nódulos linfáticos mesentéri- mento. A administração de ciprofloxacina durante quatro sema-
cos e baço. A bacteriemia se desenvolve com a disseminação da nas também pode ser utilizada, a fim de se eliminar o estado de
bactéria para os pulmões, vesícula biliar, rins ou sistema nervoso portador. A colecistectomia deve ser considerada em portadores
central. crônicos que não respondem à terapia antimicrobiana.
Os seres humanos são os únicos reservatórios de S. typhi;
assim, deve-se suspeitar de contaminação dos alimentos ou da Prevenção
água por fezes humanas.
Medidas de higiene visando a proteção dos alimentos e das fon-
tes hídricas da contaminação fecal humana correspondem a uma
Manifestações clínicas importante medida interventiva de saúde pública. A imunização
A fase prodrômica é caracterizada por sintomas constitucio- pode não ser sempre eficiente, mas pode ser considerada em sur-
nais, como mal-estar, associado a dor abdominal, constipação e tos epidêmicos, em indivíduos que viajam para países endêmicos
cefaleia. A febre se eleva ao longo dos próximos dias. Durante e em contatos domésticos de portadores da febre tifoide.
a segunda semana de progressão da doença, uma erupção tran - Duas vacinas contra a febre tifoide encontram-se disponí-
sitória típica de lesões maculopapulares rosadas (manchas ro- veis nos Estados Unidos, ambas fornecendo aproximadamente
sadas) pode ser observada. A esplenomegalia ocorre com mais 50 a 80% de proteção. A vacina contendo o polissacarídeo capsu-
frequência do que a hepatomegalia, contudo, ambas podem se lar Vi de S. typhi apresenta a vantagem de ser administrada uma
manifestar. Bradicardia relativa e leucopenia são frequentemente única vez, por via intramuscular. A outra vacina contém bactérias
observadas. A diarreia é incomum. S. typhi vivas e atenuadas, sendo administrada por via oral. Essa
O estado de portador crônico é observado em aproximada- vacina apresenta a vantagem de estimular a imunidade do intes-
mente 3% dos pacientes com febre tifoide. Os organismos, em tino, interrompendo a cadeia de transmissão.
CA P ÍT U L O

74 Infecções Pélvicas
Contribuição de Peter Chin-Hong, M.D.

CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Doença inflamatória pélvica


Úlcera genital Uretrite
Vaginite Prostatite
Cervicite

INTRODUÇÃO aparecer de forma atípica. Aaparência da úkera, se esta é do)oro-


sa ou não, e a natureza da linfadenopatia associada podem forne·
As infecções nos órgãos péh•icos e estruturas adjacentes for. cer evidências acerca da etiologia da úJcera. A Figura 74· 1 apre-
mam um grupo heterogêneo de doenças. Essas infecções afetam senta várias vesículas no eixo pen.iano. As lesões vesiculares são,
principa1mente mu1heres e homens sexualmente ativos. Muitos em geral. do)orosas. As vesfc.ufas podem progredir. em seguida,
dos patógenos associados são sexua)mente transmissíveis. dessa formando úlceras superficiais. A Figura 74 -2 apresenta o canuo
forma. uma vertente importante da gestão da doença envo)ve a da slfiJis primária. Esta ê uma Jesão indolor, com uma base super-
notificação e o tratamento do parceiro, bem como a educação ficial, de borda endurecida e eJevada. A ]àbela 74~1 descreve as
do paciente acerca de práticas sexuais seguras. Entre as infecções caracteristicas dínicas importantes das lesões de úlcera genital,
sexualmente transmissíveis. as principais sh1dromes que serão os procedimentos diagnósticos e o tratamento.
discutidas são: ú1cera genita1. vaginite. cervicite. doença inflama.
tória pé)vica, uretrite e prostatite. Patógenos
As etiologias infecciosas comuns relacionadas às úlceras ge1ti·
ÜLCERA GENITAL tais induem o HSV-2 (causador do herpes genital), Treponema
pallidum (causador da sífilis primária) e H. ducreyi (causador
Definição do cancroide). Patôgenos menos comuns incluem Chlamydia
A úlcera genital se manifesta como uma ruptura na pele ou ,nu. trachomatJ's sorovares Ll-3 (causadores do linfogranuloma vené·
cosa da genitália, geraJmente causada por uma infecção senta1- reo) e Kleb-sielld granulomatis (causadora do granuloma inguinal,
mente transmissível. Nessas infecções. o herpes-vfrus simples 2 também c.onhecido como donovanose).
(HSV-2) é a origem mais c.omum na maioria das áreas geográfi-
cas., seguido pela sífi1is e pelo canaoide. A causa não infecciosa Diagnóstico
mais importante é a doenç.a de Behçet. Um histórico médico e sexual completo, seguido de um exame flsi-
ro, são dados importantes para o diagnóstico. Embora as caracterfs.
Flslopatologia ricas c11nicas possam ser bastante lueis, frequentemente existe uma
Os mecanismos pelos quais os patógenos produzem úlceras não sobreposição na manife.stação da doença, além da possibilidade
são completamente compre.endidos. além disso. existem diferen- de apresentação conjunta de múltiplas síndromes. Dessa forma. a
tes mecanismos de desenvo)vimento da lesã~ dependendo do rea)ização de testes diagnósticos é altameJlte recomendada. Ensaios
agente patogênico relacionado. Ko cancroide. uma citotoxina destinados à identificação de outras doenças sexualmente trans-
secretada por Haemophilus ducreyi pode ser importante no de. missíveis, induindo o v(rus da imunodeficiência humana (HIV),
senvolvimento de lesão das cé)ulas epiteHais. também são importantes. uma vez que é comumente observada a
cotransmissão de múltiplos agentes patogênicos (ver Iabe)a 74-1).
Manifestações clínicas
Embora as diversas lesões possam apresentar uma aparência Tratamento
c.aracterfstic.a. é importante observar que a epidemio)ogia Jocal O fármaco de. escolha para o tratamento do herpes genital é o
deve ser levada em consideração. uma vez que as )esões podem aciclovir ou um de seus derivados. famciclovir ou valacidovir.
CAPÍTULO 74 Infecções Pélvicas 605

O tratamento empírico é, em geral, implementado antes do


resultado dos testes diagnósticos. Como para a maioria das in -
fecções sexualmente transmissíveis, o tratamento de preferência
é aquele que envolve apenas uma dose e que pode ser assistido.

Prevenção
O uso consistente de preservativos é uma medida importante na
prevenção do aparecimento de úlceras genitais. Em alguns casos,
a prevenção primária da infecção por HSV pode ser realizada por
meio do tratamento do parceiro negativo em casais sorodiscor-
dantes com aciclovir ou um de seus derivados. A profilaxia com
esses fármacos pode ser efetiva na prevenção de recorrências de
surtos de HSV em pacientes que apresentam ocorrências fre-
quentes, principalmente entre aqueles indivíduos que são imu-
nossuprimidos. A notificação e o tratamento do parceiro tam-
bém correspondem a importantes estratégias de prevenção.

VAGINITE
Definição
A vaginite é uma inflamação da vagina que pode resultar em cor-
rimento, prurido e dor. As causas mais comuns de vaginite são a
candidíase, tricomoníase e vaginoses bacterianas. Causas não in-
fecciosas incluem o líquen plano e determinados medicamentos
(p. ex., contraceptivos orais).
FIGURA 74-1 Herpes genital causada pelo herpes-vírus simples 2.
Observe o grupo de vesículas no eixo do pênis. (De Wolff K, Johnson R, Fisiopatologia
Saavedra A [eds]: Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of Clinicai Dermatology, 7th
ed. New York: McGraw-Hil, 2013.) A utilização de antibióticos que inibem a microbiota normal da
vagina, sobretudo os lactobacilos, é um fator predisponente ao
desenvolvimento de uma vaginite por Candida. A Candida é um
As sífilis primária e secundária são tratadas com uma penicilina membro da microbiota normal de muitas mulheres. A patogéne-
de longa duração, a penicilina G benzatina. O fármaco de escolha se da vaginose bacteriana é incerta, no entanto, aparentemente
para o cancroide é a azitromicina, ao passo que para o linfogra- esta não é uma doença sexualmente transmissível. A tricomonía-
nuloma venéreo é a doxiciclina (ver Tabela 74-1). se, por outro lado, é uma doença sexualmente transmissível.

Manifestações clínicas
Os pacientes, em geral, sentem-se instigados a procurar atendi-
mento médico, devido à presença de um corrimento anormal.
Este pode ser acompanhado por prurido, dor (incluindo dispa-
reunia) e sintomas de irritação vaginal. A Figura 74-3 demonstra
a aparência branca, semelhante a um "queijo cottage,,, da can-
didíase vaginal. A Figura 74-4 apresenta o colo do útero com
aspecto de "morango,, da tricomoníase. Podem ser observadas
lesões puntiformes, avermelhadas no colo do útero, e um exsu-
dato espumoso pode ser visualizado no orifício cervical. O cor-
rimento vaginal na vaginose bacteriana é ralo e acinzentado, e
possui um odor desagradável, frequentemente descrito como
"odor de peixe': A Tabela 74-2 descreve as características clíni-
cas importantes da vaginite, seus procedimentos diagnósticos e
o tratamento.

FIGURA 74-2 Cancro da sífilis primária provocado pelo microrganis- Patógenos


mo Treponema pallidum. Observe a úlcera superficial, de base limpa e
borda elevada. (Utilizada, com permissão, de Goldsmith LA, et ai. Fitzpatrick's Candida albicans é a causa mais comum de candidíase vaginal.
Dermatology in General Medicine. 8th ed. New York: McGraw-Hill, 2012. Copyright Trichomonas vaginalis é a causa da tricomoníase. O crescimen -
© 2012 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.) to exacerbado de bactérias, como a Gardnerella vaginalis, está
606 PARTE IX Doenças Infecciosas

TABELA 74-1 Úlceras genitais: aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento

Síndrome Patógeno Aparência da úlcera Dor Adenopatia Diagnóstico Tratamento

Herpes genital HSV-2 (mais Úlceras múltiplas, Dolorida Linfadenopatia sen- Ensaio de imunofluo- Aciclovir
frequente pequenas, de base sível rescência direta famciclovir,
do que o eritematosa (IFD) e/ou cultura valaciclovir
HSV-1) virai; amostra cole-
tada a partir da base
da úlcera; esfregaço
de Tzanck apresenta
células gigantes
multinucleadas

Sífilis Treponema Úlcera única (geral- Indolor Linfadenopatia indo- Triagem sorológica Penicilina G
pallidum mente), endureci- lor, regional; linfo- com ensaio não tre- benzatina
da, apresentando nodos "elásticos" ponêmico
uma base limpa; (p. ex., pelo teste de
pode apresentar reagina plasmática
cura espontânea e rápida [RPR] ou pelo
não ser observada Laboratório de Pes-
quisa em Doenças
Venéreas [VDRL]);
ensaio treponêmico
para a confirmação
do diagnóstico
(p. ex., pelo teste
de absorção do
anticorpo trepo-
nêmico fluores-
cente [FTA-ABS]);
realização do exame
de campo escuro da
lesão, se possível

Cancroide Haemophilus úlceras múltiplas, Bastante Linfadenopatia ingui- De difícil diagnóstico; Azitromicina
ducreyi não endurecidas, dolorida nal unilateral, sen- meio de cultura es-
com a presença de sível; os linfonodos pecial, se disponível,
exsudato cinza ou podem se romper ou reação em cadeia
amarelo na base da polimerase (PCR)

Linfogranuloma Chlamydia Úlceras pequenas, Indolor A aparência típica dos Teste de amplificação Doxiciclina
venéreo trachomatis superficiais, que linfonodos é uma de ácidos nucleicos
sorovares apresentam cura característica fun- (TAAN); a sorologia
L1-3 espontânea e não damental; pode ser também pode ser
são comumente bilateral, grande e utilizada
observadas doloroso; se apresen-
ta como"bulbões"
flutuantes e forma-
ção de trato sinusal

Granuloma Klebsiella Úlcera vascular, mar- Indolor Não é a principal De difícil diagnóstico; Doxiciclina
inguinal granulomatis cada, apresentan- característica da PCR se disponível;
(donovanose) do uma coloração doença; podem organismos ovais
avermelhada ocorrer granulomas de coloração es-
semelhante a car- subcutâneos, "pseu- cura (corpos de
ne, com aparência dobulbões" Donovan) podem
granulomatosa e ser observados na
bordas elevadas biópsia

associado à vaginose bacteriana, no entanto, anaeróbios, como menstruação, uso de medicamentos e atividade sexual. O exame
Mobiluncus, também podem estar envolvidos. físico deve incluir um exame microscópico do próprio corrimen-
to vaginal sobre uma lâmina de vidro, utilizando uma gota de so-
Diagnóstico lução salina a 0,9% (para a visualização de tricomonas móveis ou
Pacientes com queixa de corrimento vaginal devem ser subme- células indicadoras), seguido por uma gota de hidróxido de po-
tidas a uma anamnese cuidadosa, incluindo o período da última tássio 10% (para a identificação de Candida). Os tricomonas são
CAPÍTULO 74 Infecções Pélvicas 607

Tratamento
O metronidazol é o fármaco de escolha para a vaginose bacte-
riana e a tricomoníase. Para a candidíase, o fluconazol oral, o
miconazol ou butoconazol administrados por via vaginal são os
fármacos de escolha (ver Tabela 74-2). T. vaginalis é uma infecção
sexualmente transmissível, assim, é preferencial a escolha de um
regime de tratamento único do paciente e do parceiro.

CERVICITE
Definição
A cervicite é uma inflamação do colo uterino. A cervicite agu-
da, em geral, se desenvolve devido a uma infecção sexualmente
FIGURA 74-3 Candidíase vaginal causada pelo microrganismo
transmissível causada por C. trachomatis, Neisseria gonorrhoeae
Candidaa/bicans.Observeasáreasqueapresentamexsudatoesbranqui-
çado, com aparência "semelhante a queijo cottage" na mucosa cervical. ou ambos.
(Figura cortesia de Centers for Disease Control and Prevention.)
Manifestações clínicas
apresentados na Figura 74-5. A Figura 74-6 apresenta as células Uma grande proporção de mulheres que apresentam cervicite é
indicadoras como células epiteliais vaginais grandes, salpicadas assintomática. Em muitos casos, a cervicite é detectada no exame
por bactérias. A coloração de Gram das células indicadoras revela especular (Figura 74-8) e/ou após o exame de rotina, que visa a
a presença de muitos bastonetes gram-variáveis na superfície das identificação de C. trachomatis e N. gonorrhoeae. As mulheres que
células epiteliais. A Figura 74- 7 apresenta a aparência das levedu- apresentam infecção uretral concomitante podem desenvolver di-
ras e pseudo-hifas de Candida. As culturas para Gardnerella não
súria. Ao exame físico, o aumento da friabilidade do tecido cervical
são realizadas, tendo em vista que pelo menos 50% das mulheres
após a inserção de um swab pode representar uma evidência diag-
assintomáticas carreiam o organismo. Ver Tabela 74-2 para obter
nóstica.
informações adicionais.

Patógenos
Os patógenos mais comuns são C. trachomatis sorovares D-K
e/ou N. gonorrhoeae. Outras etiologias menos comuns incluem
HSV e T. vaginalis.

Diagnóstico
Um diagnóstico clínico pode ser realizado baseado no aumento
da friabilidade do colo uterino, com a presença ou ausência de
secreção mucopurulenta. Para a realização de um diagnóstico
laboratorial, testes de amplificação de ácidos nucleicos (TAAN)
para C. trachomatis e N. gonorrhoeae são rotineiramente realiza-
dos em muitos centros. Em caso de indisponibilidade do TAAN,
a coloração de Gram e a cultura podem ser efetivadas.

Tratamento
Em caso de evidência clínica de cervicite, é recomendado um trata-
mento empírico para C. trachomatis e N. gonorrhoeae (ceftriaxona
intramuscular associada à azitromicina via oral), principalmente
se o acompanhamento dos resultados dos testes pelo paciente é
incerto. Os parceiros sexuais dos pacientes com diagnóstico con-
firmado também devem ser notificados e tratados.

FIGURA 74-4 Tricomoníase ocasionada pelo microrganismo Prevenção


Trichomonas vagina/is. Observe a secreção espumosa e as lesões
O uso consistente de preservativos corresponde a uma importan-
puntiformes com aspecto de "morango" no colo do útero. (Cortesia de
Richard P. Usatine, MD; utilizada, com permissão, de Usatine RP et ai. The Color
te medida de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Atlas ofFamily Medicine. New York: McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 por The A notificação e o tratamento do parceiro também são estratégias
McGraw-Hill Companies, lnc.) de prevenção importantes.
TABELA 74-2 Vaginite: aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento

Natureza da secreção
Síndrome Patógeno(s) vaginal pH Microscopia Tratamento Outras observações

Normal Espécies de Pode ser límpida e mucoi- < 4,5


Lactobacil/us de, especialmente no
constituem a mi- meio do ciclo, durante
crobiota normal o ápice do estrogênio,
predominante durante a gravidez as
sercreções podem ser
mais espessas

Vaginose Gardnerella Malcheirosa, de coloração > 4,5 As células indicadoras Metronidazol (via oral Um odor de"peixe':
bacteriana vagina/is; anae- acinzentada, de espes- são células epite- ou gel) ou tinidazol semelhante à ami-
róbios, como sura rala liais recobertas por (via oral) na, ocorre após a
espécies de Mo- bactérias gram-vari- adição de hidróxido
biluncus, também áveis (Figura 74-6) de potássio a 10%
estão envolvidos

Candidíase Candida a/bicans "Queijo cottage"; branca e < 4,5 Leveduras e pseudo- Fluconazol (via oral),
vaginal grumosa -hifas são observa- miconazol (supo-
das em preparações sitório vaginal),
de KOH (hidróxido butoconazol (creme
de potássio a 10%) vaginal) são opções
(Figura 74-7) de dose única

Tricomoníase Trichomonas vagi- Malcheirosa, de coloração > 4,5 Numerosos neutrófilos Metronidazol ou tini- Colo do útero com
na/is verde-amarelada, de dazol (via oral) aspecto de "moran-
espessura rala go" visualizado ao
exame especular
(inflamação e he-
morragia puntual
do colo do útero)
(Figura 74-4)

DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA Fisiopatologia


Quando a barreira do canal endocervical é comprometida, as
Definição
bactérias vaginais podem ascender para o espaço normalmente
A doença inflamatória pélvica (DIP) é uma infecção polimicro- estéril do trato genital superior (útero, trompas de Falópio e ová-
biana de estruturas do trato genital superior, sobretudo do útero, rios). Uma infecção sexualmente transmissível que afeta o colo
das trompas de Falópio e dos ovários. do útero (p. ex., por N. gonorrhoeae e C. trachomatis) pode iniciar
o processo, permitindo que as bactérias anaeróbias da vagina rea-
lizem um movimento ascendente.
O hábito de apresentar múltiplos parceiros sexuais aumenta
o risco de desenvolvimento de DIP. Episódios múltiplos de DIP
resultam na cicatrização das trompas de Falópio e em aumento
do risco de gravidez ectópica e esterilidade.

Manifestações clínicas
Os pacientes podem apresentar uma variedade de sintomas, de
dor lombar à febre, calafrios, dor abdominal inferior, e sensibilida-
de cervical e adnexa. Ao exame físico, dor e sensibilidade na mo-
vimentação do colo do útero são sinais diagnósticos importantes.

Patógenos
A DIP está principalmente associada a N . gonorrhoeae e
C. trachomatis, conjuntamente com bastonetes gram-negativos
entéricos e anaeróbios.
FIGURA 74-5 Trichomonas vagina/is em uma amostra de corrimento
vaginal. Observe os tricomonas (setas) preparados em solução salina e Diagnóstico
visualizados em microscópio óptico. (Cortesia de Richard P. Usatine, MD; uti- Tendo em vista a dificuldade frequente de se obter um diagnósti-
lizada, com permissão, de Usatine RP et ai. The Color Atlas of Family Medicine. New co preciso da DIP (devido aos achados inespecíficos), e uma vez
York: McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
CAPÍTULO 74 Infecções Pélvicas 609

,. ·'


..

FIGURA 74-6 Células indicadoras na vaginose bacteriana. Observe


que a célula epitelial inferior é uma "célula indicadora': pois a sua super-
fície encontra-se recoberta por bactérias. A célula epitelial superior não
é uma "célula indicadora': uma vez que a sua superfície apresenta pou- FIGURA 74-8 Cervicite. Observe o exsudato purulento no orifício
cas bactérias. (Utilizada, com permissão, de Usatine, RP et ai: The Color Atlas of cervical. (Utilizada, com permissão, de Knoop KJ, Stack LB, Storrow AB, Thur-
Family Medicine, New York: McGraw-Hill, 2009. Cortesia de EJ. Mayeaux, Jr., MD.) man RJ: The Atlas of Emergency Medicine, 3rd ed. © 2009 por McGraw-Hill, lnc.,
New York. Colaborador fotográfico: Sue Rist, FNP.)

que as consequências de uma DIP não tratada podem ser graves,


muitas pacientes optam pelo tratamento baseadas em critérios
diagnósticos mínimos, como sensibilidade uterina, adnexa ou
de movimentação cervical. Febre, a presença de leucócitos na
• secreção cervical ou vaginal, proteína C-reativa elevada e evi-
dência laboratorial de infecção cervical por N. gonorrhoeae ou
C. trachomatis podem aumentar a especificidade do diagnóstico.

Tratamento
Se os sintomas forem brandos, as mulheres podem ser tratadas
como pacientes ambulatoriais com cefoxitina ou ceftriaxona
(uma dose) associada à doxiciclina (14 dias). O metronidazol al-
gumas vezes é adicionado ao regime de tratamento. No ambien-
... te hospitalar, a terapia intravenosa é preferencial. A cefoxitina,
cefotetan em combinação com doxiciclina ou clindamicina asso-
ciada à gentamicina são opções iniciais, com a administração de
antibióticos via oral apenas 24 horas após a melhora do paciente.

FIGURA 74-7 Candida visualizada em uma preparação de KOH.


URETRITE
Observe as célu las de levedura (seta vermelha) e as pseudo-hifas (seta
Definição
azul). (Utilizada, com permissão, de Goldsmith LA et ai. Fitzpatrick's Dermatolo-
gy in General Medicine. 8th ed. New York: McGraw-Hill, 2012. Copyright© 2012 A uretrite é a inflamação da uretra. Em geral, é causada por uma
porThe McGraw-Hill Companies, lnc.) infecção sexualmente transmissível, particularmente em homens
610 PARTE IX Doenças Infecciosas

sexualmente ativos. Uma causa não infecciosa é a síndrome de e o tratamento do parceiro também correspondem a importantes
Reiter, uma doença autoimune que inclui quadros de uretrite, estratégias de prevenção.
uveíte e artrite reativa.

Manifestações clínicas PROSTATITE


A disúria é uma queixa comum, além de secreção uretra! (Figura Definição
74-9), prurido e ardor.
A prostatite bacteriana aguda é caracterizada pela presença de
sintomas urinários irritativos típicos (frequência urinária, he-
Patógenos sitação, sensação de esvaziamento miccional incompleto, gote-
N. gonorrhoeae e C. trachomatis são os organismos mais comuns jamento), febre, piúria e culturas de urina positivas. A prosta-
associados à uretrite. Outros organismos incluem Mycoplasma tite bacteriana crônica é caracterizada pelos mesmos sintomas
genitalium e T. vaginalis. miccionais, no entanto, a febre e a piúria geralmentes estão au-
sentes. A prostatite também é discutida no Capítulo 78, sobre
Diagnóstico infecções do trato urinário.

O teste de amplificação de ácidos nucleicos (TAAN) para


C. trachomatis e N. gonorrhoeae é realizado rotineiramente em
Fisiopatologia
muitas unidades. As bactérias se deslocam em direção ascendente na uretra e este
movimento é seguido de refluxo nos duetos prostáticas, onde, de
Tratamento fato, ocorre a infecção.

Em caso de evidência clínica de uretrite, como a presença de


secreção uretral purulenta, é recomendada a instituição de
Manifestações clínicas
um tratamento empírico para N. gonorrhoeae e C. trachomatis Os pacientes acometidos pela prostatite aguda manifestam febre,
(ceftriaxona via intramuscular associada à administração de azi- calafrios, sintomas urinários irritativos e dor pélvica ou perineal.
tromicina via oral). O exame físico pode revelar uma próstata bastante sensibilizada e
aumentada. Os sintomas da prostatite bacteriana crônica podem
Prevenção ser mais sutis. Os pacientes podem apresentar infecções do trato
urinário recorrentes, mas apenas um tratamento prolongado da
O uso consistente de preservativos é uma importante medida de prostatite resultará na cura da doença.
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. A notificação

Patógenos
Os bastonetes gram-negativos, em geral, estão envolvidos no qua-
dro infeccioso, refletindo a variedade de organismos associados à
cistite em homens. Estes organismos incluem Enterobacteriaceae
(p. ex., Escherichia coli, Klebsiella e espécies de Proteus), bem como
Pseudomonas. Em homens sexualmente ativos, N. gonorrhoeae e
C. trachomatis podem causar prostatite, principalmente em asso-
ciação com quadros de uretrite e epididimite.

Diagnóstico
Pacientes com sintomas de prostatite, com próstata edemacia-
da e sensibilizada, são diagnosticados com prostatite bacteriana
aguda. A cultura de urina é realizada, a fim de se identificar o
organismo causador da infecção. A cultura de fluido prostático
não é realizada, uma vez que a massagem da próstata não deve
ser efetivada durante a fase aguda. A massagem prostática pode
ser bastante útil na prostatite crônica.

Tratamento
O fármaco trimetoprima-sulfametoxazol ou uma fluoroquino-
lona, como a ciprofloxacina, podem ser utilizados como terapia
FIGURA 74-9 Secreção uretral na gonorreia. Observe a secreção empírica até que os resultados da cultura sejam obtidos. Esses
uretral espessa e purulenta. (Utilizada, com permissão, de Goldsmith LA et agentes apresentam uma boa penetração na próstata. A terapia
ai. Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine. 8th ed. New York: McGraw-Hill, é prolongada, geralmente administrada durante quatro a seis
2012. Copyright© 2012 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.) semanas.
CAPÍTULO

Infecções do Trato
Respiratório Superior
Contribuição de Peter Chin-Hong, M.D.

CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Resfriado comum


Otite média Crupe {laringotraqueobronquite)
Sinusite Laringite
Faringite Epiglotite

INTRODUÇÃO As informações contidas neste capítulo referem-se à otite média


aguda.
As infecções do trato respiratório superior são uma queixa co-
mum dos pacientes ambulatoriais, resultando em uma grande
Fisiopatologia
proporção de visitas ao consultório médico. Embora a grande
maioria das infecções seja de origem viral e autolimitada, al- Qualquer processo que leve à obstrução da trompa de Eustáquio
gumas podem necessitar de hospitalização, principalmente na pode resultar na retenção de fluidos e infecção concomitante da
população pediátrica. As etiologias bacterianas de algumas das orelha média. Os fatores predisponentes mais comuns são infecções
infecções do trato respiratório superior podem ser primárias ou do trato respiratório superior e rinites alérgicas sazonais. A otite
superinfecções oriundas dos processos virais originais, sendo média é muito comum em crianças com idade inferior a 3 anos,
passíveis de tratamento (Tabela 75-1). uma vez que estas possuem uma pequena abertura da trompa de
Eustáquio, que é facilmente bloqueável pelo processo inflamatório
causado por uma infecção viral ou uma resposta alérgica.
OTITE MÉDIA
Definição Manifestações clínicas
A otite média é uma infecção da orelha média ocasionada por Os pacientes apresentam dor e pressão na orelha, frequentemente
vírus ou bactérias. A otite média pode ser aguda ou crônica. acompanhados por uma infecção do trato respiratório superior.

TABELA 75-1 Infecções comuns do trato respiratório superior

Infecção Patógenos importantes Tratamento

Otite média Streptococcus pneumoniae, Haemophilus Amoxicilina


influenzae, Moraxella catarrhalis

Sinusite aguda S. pneumoniae, H. influenzae, M. catarrhalis Amoxicilina se os sintomas persistirem por mais de 1Odias.

Faringite Streptococcus pyogenes (estreptococos do Penicilina ou amoxicilina em caso de diagnóstico de es-


grupo A), vírus (p. ex., adenovírus) treptococos do grupo A

Resfriado comum Rinovírus, coronavírus e outros Suporte; a administração de zinco pode ser efetiva na re-
dução da duração dos sintomas

Crupe (laringotraqueobronquite) Vírus parainfluenza Suporte; corticosteroides e epinefrina em caso de sinto-


mas brandos ou graves

Laringite Vírus parainfluenza e rinovírus Suporte

Epiglotite H. influenzae tipo B Ceftriaxona


612 PARTE IX Doenças Infecciosas

FIGURA 75-1 A: Membrana timpânica normal em uma criança de 6 anos. B: Otite média em uma criança de 3 anos. Observe a saliência na
membrana timpânica e a perda do reflexo luminoso. (De Tintina Ili JE et ai.: Tintinalli's Emergency Medicine: A Comprehensive Study Guide. 7th ed. New York:
McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc. Cortesia do Dr. Shelagh Cofer, Departamento de Otorrinolaringologia, Mayo Clinic.)

Em crianças, a dor na orelha pode se manifestar como a sensação jugada é efetiva na prevenção da doença invasiva pneumocócica,
de um "puxão de orelhà: Os pacientes também podem se queixar porém, é menos eficaz na prevenção da otite média.
de diminuição da audição e febre. No exame, a membrana timpâ-
nica apresenta-se eritematosa (Figura 75-lA e B) com uma perda
do reflexo luminoso e mobilidade reduzida. Em alguns casos, a SINUSITE
membrana timpânica pode intumescer e, depois, se romper.
Definição
Patógenos Sinusite é a inflamação dos seios paranasais. Pode ser aguda ou
crônica. São consideradas infecções agudas aquelas que apresen-
Bactérias e vírus podem causar otite média. Entre as bactérias,
tam sintomas com duração inferior a quatro semanas. As infor-
Streptococcus pneumoniae é a causa mais comum. Linhagens não
mações contidas neste capítulo referem -se à sinusite aguda.
tipáveis de Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis tam-
bém são causas comuns. Entre os vírus, o vírus sincicial respira-
tório, o coronavírus e o rinovírus estão comumente associados. Fisiopatologia
Uma depuração mucociliar ineficiente, resultado de uma infec-
Diagnóstico ção viral ou rinite alérgica, pode obstruir o orifício do seio. Dessa
A otite média é, em geral, diagnosticada clinicamente. Se a mem- forma, o muco se acumula na cavidade do seio. A estase pode
brana se rompe, uma amostra do exsudato pode ser analisada levar ao crescimento bacteriano excessivo e a uma superinfecção.
por meio da coloração de Gram e cultura. Se houver indicação, A sinusite frequentemente envolve o seio maxilar, uma vez que o
pode ser realizada uma timpanocentese para se aliviar a pressão óstio do seio encontra-se localizado em uma porção superior e a
antes da ruptura timpânica, a fim de se obter uma amostra para drenagem do muco necessariamente precisa ocorrer na direção
cultura. oposta à gravidade. A drenagem dos demais seios é auxiliada pela
ação da gravidade.
Tratamento
Manifestações clínicas
A amoxicilina por via oral é, em geral, o fármaco de escolha, as-
sociada a descongestionantes nasais para a abertura da trompa de As manifestações clínicas incluem secreção nasal purulenta,
Eustáquio. Em casos de resistência bacteriana, pode ser utilizada congestão nasal, dor facial ou sinusal, diminuição do olfato e fe-
a amoxicilina-clavulanato. bre. Cefaleia e uma respiração malcheirosa também podem estar
presentes.
Prevenção
Patógenos
Episódios recorrentes de otite média podem ser suprimidos por
antibióticos profiláticos, como a amoxicilina ou o sulfisoxazol. Muitos casos iniciam com uma infecção viral do trato respi-
Tubos de ventilação podem ser inseridos como uma estratégia de ratório superior. Esta condição é propícia para o desenvol-
prevenção de infecções recorrentes. A vacina pneumocócica con- vimento de superinfecções bacterianas. No caso da sinusite
CAPÍTULO 75 Infecções do Trato Respiratório Superior 613

bacteriana aguda, os organismos comumente relacionados FARINGITE


são S. pneumoniae, H. influenzae e M. catarrhalis, assim como
no caso da otite média aguda. Staphylococcus aureus também Definição
ocasiona quadros de sinusite, porém menos frequentemente. Faringite é uma inflamação da garganta causada principalmen-
Em pacientes imunocomprometidos e diabéticos, podem ser te por vírus. Aproximadamente 10% dos casos de faringite são
observados casos de sinusite ocasionados por fungos, como causados por Streptococcus pyogenes (estreptococos do grupo
Aspergillus ou Mucor. A [SGA]). A faringite estreptocócica (infecção na garganta por
estreptococos) é importante, uma vez que sequelas imunes pós-
Diagnóstico -estreptocócicas, como a febre reumática, podem se manifestar.
A sinusite é, em geral, diagnosticada com base em um conjunto
típico de sintomas e achados clínicos. A tomografia computa-
Manifestações clínicas
dorizada dos seios da face é uma modalidade diagnóstica muito Os pacientes se queixam de um quadro de dor de garganta que
sensível para indicar processos inflamatórios do seio. No entanto, apresenta piora com a deglutição. A febre também pode estar
na ausência de destruição óssea, esses achados são inespecíficos, presente. Os sintomas típicos associados a uma infecção do tra-
no que diz respeito ao diagnóstico da sinusite clinicamente sig- to respiratório superior (rinorreia, sensibilidade do seio, dor de
nificativa, requerendo a instituição de uma terapia antibiótica ouvido, tosse) podem acompanhar a dor de garganta. No exame
(Figura 75-2). clínico é normalmente observada uma inflamação da faringe, das
tonsilas e do palato. Um exsudato acinzentado encontra-se fre-
quentemente presente nas tonsilas. Uma linfadenopatia cervical,
Tratamento
anterior, com presença de sensibilidade, pode ser encontrada.
Se os sintomas são graves, os antibióticos são administrados em Petéquias no palato também podem corresponder a um indício
conjunto com corticosteroides intranasais, assim como com des- diagnóstico para a presença de SGA (Figura 75-3).
congestionantes nasais. O fármaco de escolha para o tratamento
é a amoxicilina, no entanto, caso a resistência a antibióticos seja Patógenos
uma preocupação, é utilizada a associação amoxicilina-clavula-
nato. Nos casos brandos, os antibióticos não são normalmente Bactérias
utilizados, a menos que os sintomas sejam persistentes por um S. pyogenes (SGA) é o agente bacteriano mais importante no
período superior a 1Oa 14 dias. desenvolvimento da faringite. Estreptococos dos grupos C e G
também podem provocar a doença, porém não possuem ante-
cedentes na ocorrência de febre reumática. A faringite causada
Prevenção
por Neisseria gonorrhoeae é provavelmente resultado de ativida-
Não existe nenhuma evidência convincente de que a vacina de sexual, e a ocorrência em crianças é considerada um sinal de
pneumocócica e a vacina para H. influenzae tipo B possuem um abuso infantil. Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae
efeito significativo na redução dos quadros de sinusite provoca- e Arcanobacterium haemolyticum também ocasionam quadros de
dos por esses organismos. faringite. Em alguns países onde a vacina contra a difteria não é

FIGURA 75-3 Faringite causada por Streptococcus pyogenes. Obser-


ve a faringe e as tonsilas inflamadas, bem como as petéquias palatais.
FIGURA 75-2 Sinusite. A seta aponta para o seio maxilar opacificado (Os círculos brancos e as linhas curvas correspondem a um artefato
visua lizado em um exame de tomografia computadorizada da cabe- da iluminação durante a captura da fotografia.) (Cortesia do Dr. Heinz F.
ça. (Reproduzida, com permissão, de Brunicardi FC, Andersen D, Billiar T, et ai.: Eichenwald, Public Health lmage Library, Centers for Disease Control and Pre-
Schwartz's Principies ofSurgery, 8th ed. New York, McGraw-Hill, 2004.) vention.)
614 PARTE IX Doenças Infecciosas

amplamente utilizada, Corynebacterium diphteriae é uma impor- amoxicilina. Em pacientes alérgicos à penicilina, a eritromicina
tante causa de faringite, frequentemente acompanhada pela for- ou a cefalexina podem ser utilizadas. O uso indiscriminado de
mação de uma pseudomembrana. Fusobacterium necrophorum, antibióticos, como a penicilina e os macrolídios, representam um
um anaeróbio gram-negativo, pode provocar faringite acompa- problema nos casos de faringite. Apesar de apenas 10% das dores
nhada por uma tromboflebite séptica (síndrome de Lemierre). de garganta possuírem origem bacteriana, os dados demonstram
Observe que, embora S. pneumoniae e H. influenzae sejam colo- que 60% dessas infecções são tratadas com antibióticos, o que
nizadores da orofaringe, estes não causam faringite. resulta em custos desnecessários, efeitos adversos e seleção de
bactérias resistentes.
Vírus
A maioria dos casos de faringite é causada por vírus respiratórios, Prevenção
como os adenovírus, vírus influenza A e B, vírus parainfluenza, Apesar da existência de uma vacina contra C. diphtheriae e contra o
rinovírus e coronavírus. Outras causas virais incluem o vírus de vírus da gripe, não existe uma estratégia vacinal disponível contra
Coxsackie (herpangina), vírus Epstein-Barr (mononucleose infec- a faringite causada por S. pyogenes ou por qualquer outro agente
ciosa) e o herpes-vírus simples, especialmente do tipo 1. O vírus bacteriano ou viral. Portadores de longo prazo de SGA não devem
da imunodeficiência humana desencadeia uma síndrome retrovi- ser tratados, uma vez que não existem evidências de que esses tra-
ral aguda que possui a faringite como parte da sua sintomatologia. tamentos impedem a disseminação dos organismos às pessoas pró-
ximas ou o desenvolvimento de complicações, como a febre reu-
Diagnóstico mática aguda. É importante ressaltar que crianças que manifestam
A principal estratégia diagnóstica consiste em estabelecer se o qua- a doença cardíaca reumática devem receber penicilina por via oral
dro infeccioso é desencadeado por SGA. Isso se deve ao fato de durante muitos anos para prevenir a infecção por S. pyogenes, o que
que infecções por SGA são tratáveis, e uma intervenção em tempo poderia causar uma intensificação da cardiopatia reumática.
hábil pode prevenir complicações, como a febre reumática aguda.
Os critérios de Centor são critérios que podem ser utilizados para
auxiliar o diagnóstico de SGA. Esses critérios incluem exsudato RESFRIADO COMUM
tonsilar, adenopatia cervical anterior sensível, febre e ausência de
Definição
tosse. Testes rápidos de detecção de antígenos de SGA e cultura de
amostras de garganta são, em geral, utilizados na confirmação do O resfriado comum é uma infecção viral do trato respiratório su-
diagnóstico. A distinção entre uma faringite bacteriana e uma fa- perior, incluindo algumas ou todas as seguintes estruturas: nariz,
ringite viral por meio de um exame de garganta pode ser bastante garganta, seios nasais, trompas de Eustáquio, traqueia e laringe.
difícil. A Figura 75-4 apresenta exsudatos extensos sobre as tonsi-
las na faringite causada pelo vírus Epstein-Barr. A cultura de uma Fisiopatologia
amostra de garganta é o método mais confiável para se determinar
Os vírus que desencadeiam o resfriado comum são transmitidos
se a causa da doença consiste no agente etiológico S. pyogenes.
principalmente por meio de aerossóis gerados por espirros ou
pelo contato direto. O contato direto envolve o contato mão-mão
Tratamento ou mão-superfície de contato. Os vírus não envelopados, como
Se o diagnóstico da doença revela a presença de SGA, o trata- os rinovírus e adenovírus, são particularmente estáveis no meio
mento indicado pode consistir em penicilina G, penicilina V ou ambiente e, em geral, são transmitidos por meio do contato mão-
-superfície de contato.
O resfriado comum e outras infecções respiratórias, como
a gripe, ocorrem com mais frequência nos meses de inverno do
que nos de verão, nos Hemisférios Norte e Sul. A razão para esta
sazonalidade é incerta.

Manifestações clínicas
As manifestações clínicas incluem congestão nasal, diminuição
do olfato, rinorreia (secreção nasal aquosa sem purulência) e es-
pirros. Os pacientes também apresentam queixas de mal-estar
geral e dor de garganta. Em alguns casos, quadros de cefaleia
também podem ser relatados.

Patógenos
Os rinovírus (mais de 100 sorotipos) correspondem à etiologia
FIGURA 75-4 Faringite causada pelo vírus Epstein-Barr. Observe os mais comum (até 50%). Os coronavírus, adenovírus e enteroví-
diversos exsudatos esbranquiçados sobre as tonsilas (seta vermelha). rus, como o vírus de Coxsackie, são outros agentes associados à
(Reproduzida, com permissão, de Kane KSM, Lio P, Stratigos A, Johnson R: Color doença. Vírus como o parainfluenza e o vírus sincicial respira-
Atlas & Synopsis ofPediatric Dermatology, 2nd ed. New York, McGraw-Hill, 201 O.) tório também são possíveis causas do resfriado comum, embora
CAPÍTULO 75 Infecções do Trato Respiratório Superior 61S

inicialmente esses agentes estejam associados a outras doenças


(laringotraqueobronquite e bronquiolite, respectivamente).

Diagnóstico
O resfriado comum é, em geral, diagnosticado clinicamente.
Uma mucosa nasal eritematosa e edematosa é observada ao exa-
me físico. Uma injeção conjuntiva! e faríngea também podem ser
observadas. (Injeção neste contexto refere-se à hiperemia dos pe-
quenos vasos sanguíneos.)

Tratamento
Em geral, é instituída uma terapia sintomática. A utilidade dos sais
de zinco ainda é controversa. A administração de acetato de zinco
em doses superiores a 75 mg/ d pode reduzir a duração dos sinto-
mas. Outras estratégias incluem descongestionantes orais e irriga-
ção nasal com solução salina hipertônica tamponada. Em caso de FIGURA 75-5 Crupe (laringotraqueobronquite). Esta radiografia
utilização por mais de alguns dias, os sprays nasais podem ser asso- apresenta o "sinal do campanário" do crupe em uma criança de 12
ciados a uma congestão rebote após a interrupção do tratamento. anos. A seta vermelha indica a ponta superior do campanário. O cam-
panário representa a constrição originada pela inflamação da laringe e
da traqueia. (Reproduzida, com permissão, de Stone CK, Humphries RL [eds].
Prevenção Current Diagnosis and Treatment ofEmergency Medicine. 7th ed. New York: McGra-
Embora muitas vitaminas e terapias à base de plantas (p. ex., equi- w-Hill. Copyright© 2011 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
nácea) tenham sido avaliadas, não existe qualquer evidência con-
clusiva de que essas terapias sejam efetivas na prevenção da infec-
ção. A vitamina C administrada profilaticamente pode ser eficaz
em populações de atletas de clima frio. No entanto, ensaios que Tratamento
avaliaram a utilização da vitamina C na população em geral (e Os pacientes com sintomas moderados a graves podem ser tra-
não em atletas) revelaram que a capacidade desta substância em tados com corticosteroides, como a dexametasona, com ou sem
prevenir resfriados foi mínima. A lavagem das mãos pode evi- epinefrina. Não existe nenhuma terapia baseada em fármacos
tar a transmissão de vírus respiratórios. Não existe vacina contra antivirais.
qualquer vírus associado ao resfriado comum.

Prevenção
CRUPE (LARINGOTRAQUEOBRONQUITE) Não existe vacina contra o vírus parainfluenza.

Definição
O crupe é uma inflamação da laringe, traqueia e de grandes brôn- LARINGITE
quios (laringotraqueobronquite).
Definição
Manifestações clínicas A laringite é uma inflamação das pregas vocais da laringe.

O estridor inspiratório consiste no principal achado clínico, jun-


tamente com uma tosse forte, semelhante a latido de cachorro, e Manifestações clínicas
uma voz rouca. Os sintomas podem se iniciar de maneira sutil, As manifestações clínicas incluem rouquidão e incapacidade
com irritação e congestão nasal e, em seguida, progredirem rapi- de se comunicar por meio da fala (afonia). A laringite pode ser
damente para o estridor ao longo de um dia. acompanhada ou precedida por uma infecção do trato respira-
tório superior.
Patógenos
Os vírus parainfluenza, principalmente do tipo 1, são a causa
Patógenos
mais comum. O vírus influenza e o vírus sincicial respiratório Os vírus parainfluenza e rinovírus são as causas mais comuns
correspondem a 1 a 10% dos casos. de laringite. Outros vírus respiratórios, como o vírus influenza,
adenovírus e coronavírus foram isolados de pacientes doentes.
Diagnóstico Bactérias, como S. pyogenes, M. catarrhalis e H. influenzae, tam-
bém foram isoladas.
O diagnóstico, em geral, é realizado clinicamente. As radiografias
simples podem apresentar um "sinal do campanário,, (estreita-
mento subglótico traqueal, que resulta em um formato de "V,, Diagnóstico
invertido) (Figura 75-5). O diagnóstico da laringite é principalmente clínico.
616 PARTE IX Doenças Infecciosas

Tratamento
O tratamento inclui hidratação e descanso vocal. Não é necessá-
ria a administração de antibióticos.

Prevenção
Não existe vacina contra os vírus parainfluenza e rinovírus. Não
há nenhuma evidência convincente de que a vacina contra o ví-
rus da gripe e a vacina contra H . influenzae tipo B estejam asso-
ciadas à redução do número de casos de laringite.

EPIGLOTITE
Definição
A epiglotite é uma inflamação da epiglote.

Manifestações clínicas
Os pacientes se apresentam com dor de garganta de progressão
rápida e odinofagia (dor ao engolir) ou disfagia (dificuldade de
deglutição). A dor pode ser desproporcional em relação aos acha-
dos do exame físico. Pode ser observada a obstrução das vias aé- FIGURA 75-6 Epiglotite. Observe a epiglote aumentada (seta bran-
reas em casos graves. A epiglotite em crianças pequenas deve ser ca) em uma visão lateral de uma radiografia de pescoço. (Reproduzida,
com permissão, de Longo DL et ai. [eds]: Harrison's Principies ofInternai Medicine.
tratada como uma emergência médica.
18th ed. New York: McGraw-Hill, 2012. Copyright © 2012 por The McGraw-Hill
Companies, lnc.)
Patógenos
H. influenzae tipo B é, de longe, a causa mais comum da doença,
apesar da utilização generalizada da vacina contra este microrga-
Tratamento
nismo ter reduzido significativamente a incidência da epiglotite.
Agentes patogênicos menos frequentes incluem outros tipos de O tratamento envolve a administração de ceftriaxona intraveno-
H. influenzae, S. pneumoniae, S. pyogenes e S. aureus. sa. Alguns centros adicionam corticosteroides, a fim de reduzir a
inflamação, porém, os seus efeitos não são documentados. Uma
Diagnóstico ventilação adequada das vias aéreas deve ser mantida.

O diagnóstico é realizado por meio da visualização da epiglote.


Prevenção
Em caso de laringoscopia indireta (realizada principalmente em
crianças), é possível a observação de uma epiglote edemaciada A prevenção inclui a imunização contra H. influenzae tipo B e
e eritematosa apresentando coloração "vermelho-cerejà: Nas ra- S. pneumoniae. A administração de rifampicina profilática deve
diografias laterais simples, é observada uma epiglote aumentada ser realizada em familiares próximos ao paciente doente, a fim de
semelhante a um sinal do "polegar,, (Figura 75-6). se reduzir o transporte orofaríngeo do microrganismo.
CAPÍTULO

Infecções do Trato
Respiratório Inferior
Contribuição de Peter Chin-Hong, M.D.

CONTEÚDO DO CAPÍTULO

Introdução Pneumonia
Bronquite Abscesso pulmonar
Bronquiolite

INTRODUÇÃO baixa. O exame físico normalmente revela sibilos expiratórios. No


entanto, se a tosse persistir por mais de cinco dias e a pneumo-
Infecções do trato respiratório inferior correspondem a uma im- nia tiver sido descartada, deve-se suspeitar de bronquite aguda.
portante causa de morbidade e mortalidade mundial em crianças A bronquite é autolimitada e o quadro, em geral, progride para a
e adultos. A pneumonia adquirida em comunidade, por exemplo, cura em uma a duas semanas. Contudo, a tosse pode persistir por
é a doença infecciosa mais mortal nos Estados Unidos. Este capí- várias semanas devido à hiper-reatividade das vias aéreas.
tulo apresenta uma abordagem anatômica das infecções do trato
respiratório inferior, evidenciando, primeiramente, os grandes Patógenos
brônquios (bronquite), após, os pequenos bronquíolos (bron-
quiolite) e, em seguida, os alvéolos, onde ocorre a pneumonia. Os vírus respiratórios são os agentes patogênicos mais comuns
(influenza A e B, vírus parainfluenza, coronavírus, rinovírus, ví-
rus sincicial respiratório [VSR] e metapneumovírus humano).
Acredita-se que os patógenos bacterianos não desempenham um
BRONQUITE
papel significativo na bronquite aguda.
Definição
A bronquite é uma inflamação autolimitada dos brônquios.
Diagnóstico
A bronquite aguda deve ser diferenciada da bronquite crônica, O diagnóstico é realizado sobretudo clinicamente. A apresenta-
em que os pacientes apresentam um quadro de tosse por um ção típica da doença inclui tosse, com ou sem produção de ca-
período superior a três meses. As informações contidas neste ca- tarro, que pode persistir por mais de cinco dias. Os pacientes
pítulo referem -se à bronquite aguda. geralmente não apresentam febre, contudo, podem manifestar
uma febre baixa. As culturas de escarro não são comumente
Fisiopatologia realizadas. Em pacientes com doença cardiorrespiratória crônica,
um teste rápido de antígenos para o vírus influenza pode ser útil,
A tosse, característica intrínseca da bronquite, é uma tentativa de tendo em vista que o fármaco Oseltamivir pode encurtar a dura-
depurar o muco produzido pela resposta inflamatória a uma in- ção e a intensidade dos sintomas.
fecção virai. A bronquite ocorre mais frequentemente nos meses Uma vez que o tratamento das infecções respiratórias e da
de inverno, do que nos meses de verão. O tabagismo é um fator bronquite aguda é principalmente de suporte, estas distinções
predisponente para o desenvolvimento da bronquite (e pneu- possuem um menor significado clínico. O que pode ser mais im-
monia), uma vez que este danifica a porção ciliar dos brônquios, portante clinicamente é se realizar a distinção entre a bronquite
levando a uma incapacidade de depurar de maneira eficiente o aguda (geralmente virai) e a pneumonia (sobretudo bacteriana;
muco do trato respiratório. ver seção sobre pneumonia), que requerem terapia antimicro-
biana. Uma radiografia torácica pode ser realizada, a fim de se
Manifestações clínicas determinar a existência de um quadro de pneumonia.
A tosse é o sintoma mais proeminente da bronquite. Inicialmen-
te, a bronquite apresenta os sintomas de uma infecção do trato Tratamento
respiratório superior, principalmente congestão nasal, dor de O tratamento envolve o alívio dos sintomas com fármacos não es-
garganta (sensação de garganta arranhando) e, talvez, uma febre teroides anti-inflamatórios e/ou um broncodilatador, como o ipra-
618 PARTE IX Doenças Infecciosas

trópio. Em caso de diagnóstico de gripe, o Oseltamivir (Tamiflu) à enzima (ELISA) para a detecção de antígenos do VSR em se-
pode reduzir a duração e a gravidade dos sintomas. Os antibióticos creções respiratórias encontra-se disponível para o diagnóstico
devem ser administrados apenas nos indivíduos para os quais uma em pacientes hospitalizados. Um ensaio de reação em cadeia da
etiologia bacteriana tenha sido claramente confirmada. polimerase (PCR), que detecta o RNA do VSR, também se en-
contra disponível.
Prevenção
A vacina contra a gripe pode prevenir a bronquite e a pneumonia
Tratamento
causadas pelos vírus influenza A e B. O inibidor da neuramini- Tendo em vista que essa é uma doença autolimitada na maioria
dase, Oseltamivir (Tamiflu), deve ser administrado a indivíduos dos casos, medidas gerais de suporte são efetivas. Pacientes com
não imunizados com doença cardiorrespiratória crônica. A lava- dificuldade respiratória moderada ou grave podem necessitar de
gem das mãos é recomendada, a fim de se reduzir o carreamento hospitalização. A administração de ribavirina via aerossol para
de vírus respiratórios. os pulmões é aprovada para a utilização na doença grave causada
pelo VSR, no entanto, seu uso é limitado a crianças hospitaliza-
das. Broncodilatadores inalatórios (albuterol ou epinefrina) tam-
BRONQUIOLITE bém podem ser úteis.
Definição
Prevenção
A bronquiolite é a inflamação dos bronquíolos - as menores vias
aéreas, de diâmetro menor do que 2 mm. A abordagem desta A lavagem das mãos para minimizar a transmissão de agentes pa-
seção será focada na bronquiolite em recém -nascidos e crianças togênicos consiste em uma estratégia importante. Procedimentos
pequenas, em que a etiologia é principalmente infecciosa. de controle de infecções devem ser instituídos em pacientes hos-
pitalizados para se evitar a propagação do vírus a outras pessoas.
O palivizumabe é um anticorpo monoclonal humanizado
Fisiopatologia contra a proteína do envelope F (fusão) do VSR, que pode ser
Principalmente entre crianças menores de 2 anos de idade, os utilizado em determinadas populações para se diminuir o risco
vírus podem danificar diretamente as células epiteliais dos bron- de ocorrência da doença causada pelo vírus em questão. Estas
quíolos terminais, provocando inflamação e obstrução das pe- populações incluem crianças com displasia broncopulmonar,
quenas vias aéreas. A prematuridade é um importante fator pre- cardiopatia congênita e crianças nascidas prematuramente. É re-
disponente. comendada a administração anual de uma vacina contra a gripe
em todos os indivíduos com idade superior a 6 meses. Não existe
Manifestações clínicas vacina viral contra o VSR.
Em geral, as crianças inicialmente apresentam sintomas compa-
tíveis com uma infecção do trato respiratório superior e, poste-
riormente, é observado um aumento no desconforto respiratório. PNEUMONIA
Crianças menores de 2 anos de idade, em particular, podem ma- Definição
nifestar taquipneia, sibilos, ardência nasal e retrações torácicas.
Em casos graves, podem ser observadas hipoxia, apneia e insufi- A pneumonia é uma inflamação do pulmão que afeta os alvéo-
los. A origem da pneumonia, adquirida na comunidade ou no
ciência respiratória. Na maioria dos casos, a recuperação ocorre
ambiente hospitalar, será considerada como uma forma de au-
entre uma a duas semanas.
xiliar na determinação do espectro de patógenos potenciais que
diferem de acordo com o cenário. Ainda mais importante, uma
Patógenos vez que uma terapia empírica é frequentemente instituída na
O VSR é o patógeno mais comum. Outras etiologias incluem o pneumonia, as intervenções terapêuticas diferem de acordo com
vírus influenza, o vírus parainfluenza, adenovírus, coronavírus, ri- as diferentes populações. O foco desta seção será na pneumonia
novírus e o metapneumovírus humano. Em crianças, os vírus são adquirida em comunidade. A pneumonia hospitalar, também
a principal etiologia associada à bronquiolite. As bactérias apa- conhecida como pneumonia nosocomial, é uma doença que se
rentemente não estão envolvidas. Em adultos, as causas são mais manifesta com 48 horas ou mais após a admissão na unidade de
variadas e compreendem os vírus, inalação de produtos químicos saúde e que não estava presente previamente à internação.
tóxicos no local de trabalho e causas idiopáticas. A bronquiolite
causada pelo VSR ocorre principalmente nos meses de inverno. Fisiopatologia
Os alvéolos dos pulmões são continuamente expostos aos mi-
Diagnóstico crorganismos do meio ambiente por meio do trato respiratório
O diagnóstico é fundamentalmente clínico. Sintomas de infecção superior. Nossas defesas do hospedeiro geralmente se mantêm
do trato respiratório superior, seguidos de sinais e sintomas do em alerta com relação aos potenciais agentes patogênicos. No en-
trato respiratório inferior (p. ex., ardência nasal, sibilos) em uma tanto, a doença pode se manifestar na presença de um organismo
criança durante o outono e inverno são indícios muito sugestivos particularmente virulento, quando uma grande carga de organis-
de bronquiolite. A radiografia torácica geralmente apresenta uma mos é inalada do ambiente ou aspirada da orofaringe, ou quando
hiperinflação dos pulmões. Um ensaio imunoadsorvente ligado há um defeito na imunidade do hospedeiro.
CAPÍTULO 76 Infecções do Trato Respiratório Inferior 619

Fatores predisponentes para a pneumonia incluem os ex- TABELA 76-1 Etiologias bacterianas e virais importantes
tremos de idade (os muito jovens e muito idosos), doença pul- relacionadas à pneumonia adquirida na comunidade
monar obstrutiva crônica (DPOC), além de bronquite crônica, classificadas por idade (listadas em ordem de frequência)
diabetes melito, fibrose cística e insuficiência cardíaca congestiva.
Idade Bactérias Vírus
Usuários de drogas injetáveis em overdose, alcóolatras e indiví-
duos com distúrbios convulsivos apresentam um elevado risco Neonatos Estreptococos do grupo B Vírus sincicial respi-
de desenvolverem pneumonia, tendo em vista que eles podem Escherichia coli ratório (VSR)
aspirar organismos para o pulmão quando no estado de incons-
Lactentes Chlamydia trachomatis VSR
ciência. Indivíduos expostos a aerossóis hídricos, principalmen-
Streptococcus pneumoniae Vírus parainfluenza
te oriundos de aparelhos de ar-condicionado, encontram-se em
risco de desenvolvimento de pneumonia causada por Legionella. Crianças S. pneumoniae VSR
Pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva estão Haemophilus influenzae Vírus parainfluenza

em risco de manifestação de pneumonia associada à ventilação Jovens Mycop/asma pneumoniae Diversos vírus res-
mecânica, causada por bacilos gram -negativos, como Escherichia adultos Chlamydophila pneumoniae piratórios (p. ex.,
coli, Pseudomonas e Acinetobacter. S. pneumoniae adenovírus)

Adultos mais S. pneumoniae Vírus influenza


Manifestações clínicas velhos H. influenzae
Os sintomas incluem tosse, que pode ser produtiva com escarro, Legionella pneumophila
febre, calafrios, dor no peito e dispneia. O escarro "oxidado,, é um
achado clínico bem -estabelecido da pneumonia pneumocócica.
O escarro que apresenta uma aparência de "geleia de groselhà' TABELA 76-2 Fatores predisponentes associados a
é observado na pneumonia causada por Klebsiella, uma vez que típicos patógenos causadores de pneumonia adquirida
o organismo é fortemente encapsulado. Os achados clínicos do na comunidade
exame físico incluem taquipneia, estertores e roncos. Se o pul- Fator predisponente Patógeno típico
mão encontra-se consolidado, uma percussão maciça pode ser
detectada. Pacientes intubados e que foram acometidos por uma Alcoolismo Klebsiel/a pneumoniae,
pneumonia nosocomial podem manifestar apenas febre como anaeróbios orais
um sinal de apresentação da doença, que pode ser acompanhada Exposição a aves, sobretudo psitacídeos, Chlamydophila
pelo aumento das secreções respiratórias ou da necessidade de como papagaios (psitacose) psittaci
oxigênio. A pneumonia pode ser agravada por uma infusão pleu-
Doença pulmonar obstrutiva crônica Haemophi/us
ral infectada ou por um empiema pleural. Um empiema pleural (DPOC), incluindo a manifestação rela- influenzae
é uma acumulação de pus, sem delineamento, no espaço pleural. cionada ao tabagismo

Fibrose cística Pseudomonas


Patógenos
aeruginosa
Streptococcus pneumoniae é o agente etiológico mais comum
Lã importada, esporos presentes na lã Bacil/us anthracis
associado a quadros de pneumonia adquirida na comunida-
(doença do classificador de lã)
de. Outros patógenos bacterianos comuns incluem Klebsiella
pneumoniae e Haemophilus influenzae. Observe que são as li- Infecção pelo vírus influenza Staphy/ococcus
nhagens não tipáveis de H. influenzae, e não a linhagem tipo B, aureus
que desencadeiam a pneumonia em pacientes idosos portadores
1
de DPOC. Mycoplasma pneumoniae, espécies de Legionella e lntubação, pós-cirurgia e unidade de tera- Coliformes, P. aerugi-
Chlamydophila pneumoniae são outros patógenos relatados. A pia intensiva (UTI) nosa, S. aureus
infecção por Mycobacterium tuberculosis também pode se mani- Exposição a excrementos de ratos, princi- Hantavírus
festar como uma pneumonia. É interessante ressaltar que em cer- palmente nos Estados do Sudoeste dos
ca de 30% dos adultos que apresentam pneumonia adquirida em Estados Unidos
comunidade, nenhum patógeno, bacteriano ou vira!, é isolado. Exposição a ovelhas, principalmente ao Coxiella burnetii
A Tabela 76-1 apresenta algumas etiologias importantes de tecido placentário (febre Q)
pneumonia adquirida em comunidade em função da idade. Obser-
ve que os patógenos associados à pneumonia em um neonato são Viajar ou residir no Vale Central da Coccidioides immitis
Califórnia, Arizona ou no Novo México
aqueles adquiridos durante a passagem pelo canal do parto. A prin-
cipal causa de pneumonia em crianças, Chlamydia trachomatis, Viajar ou residir em Ohio ou nos va les do Histoplasma
também é adquirida durante a passagem pelo canal do parto, no en- rio Mississippi capsu/atum
tanto, é considerada um patógeno menos agressivo e, dessa forma, Associado à ventilação mecânica, sobretu- Espécies de
a manifestação da doença não é imediata. Observe que M. pneumo- do na UTI Acinetobacter
niae é a causa mais comum de pneumonia em adultos jovens.
Aerossóis hídricos, principalmente oriun- Legionella
A Tabela 76-2 apresenta as causas típicas da pneumonia
dos dos aparelhos de ar-condicionado pneumophila
adquirida na comunidade em função de vários fatores predispo-
1
nentes. Em determinadas populações de pacientes, Pseudomonas Coliformes, como Escherichia coli, Klebsiella, Enterobacter, Serratia e Proteus.
620 PARTE IX Doenças Infecciosas

aeruginosa, outros organismos gram-negativos e Staphylococ-


cus aureus podem ser importantes patógenos associados ao
desenvolvimento de pneumonia. Por exemplo, P. aeruginosa,
Stenotrophomonas e Burkholderia provocam pneumonia em pa-
cientes com fibrose cística, e S. aureus é uma causa bem conhe-
cida de pneumonia em pacientes com gripe. Indivíduos expostos
a determinados animais possuem um risco elevado de desenvol-
verem pneumonia; por exemplo, aqueles expostos a psitacídeos,
como papagaios, apresentam risco de manifestação de psitacose
causada por Chlamydophila psittaci, e os indivíduos expostos a
placentas de ovelhas prenhas encontram -se em risco de serem
acometidos pela febre Q, causada por Coxiella burnetii. Pessoas
expostas a esporos do bacilo causador do antraz, presentes na lã
de ovelhas, podem contrair a "doença do classificador de lâ: uma
pneumonia causada pelo Bacillus anthracis.
Patógenos comuns relacionados à pneumonia hospitalar in -
cluem bastonetes gram-negativos, como E. coli, K. pneumoniae,
P. aeruginosa, espécies de Enterobacter, Serratia marcescens, espécies
de Acinetobacter e cocos gram-positivos, principalmente S. aureus.
A causa viral mais comum de pneumonia é o vírus
influenza. No entanto, outros patógenos virais, como o VSR, o
vírus parainfluenza, adenovírus, metapneumovírus humano e FIGURA 76-1 Pneumonia lobar causada por Streptococcus pneumo-
o coronavírus associado à SARS também podem desencadear niae. A seta aponta para uma área de consolidação no pulmão direito.
quadros de pneumonia. Em pacientes com a imunidade celular (Reproduzida, com permissão, de McKean SC et ai. Principies and Practice of
reduzida, herpes-vírus, como o herpes-vírus simples, varicela- Hospital Medicine. New York: McGraw-Hill, 2012. Copyright© 2012 por The Mc-
zóster e citomegalovírus, podem ocasionar uma pneumonia que Graw-Hill Companies, lnc.)

apresenta risco à vida. Em determinadas áreas geográficas, como


a parte Sudoeste rural dos Estados Unidos, ocorreram surtos de
disponível. A pneumonia causada por Legionella pneumophila é,
pneumonia causada por hantavírus.
em geral, diagnosticada por meio do antígeno urinário. Ensaios
Os fungos, como Coccidioides e Histoplasma, também cau-
de PCR destinados à identificação de vários patógenos respirató-
sam pneumonia. Pneumocystis jiroveci provoca pneumonia,
rios, como M. pneumoniae, vírus influenza e VSR são eficazes em
principalmente em pacientes com síndrome da imunodeficiência
circunstâncias especiais. O teste de aglutinina fria não é recomen-
adquirida (Aids) que apresentam baixas contagens de CD4.
dado para o diagnóstico de pneumonia causada por Mycoplasma.

Diagnóstico
Tratamento
O padrão-ouro para o diagnóstico da pneumonia é a presen-
O tratamento para a pneumonia adquirida em comunidade é es-
ça de um infiltrado em radiografias simples de tórax (Figura
sencialmente empírico, uma vez que as estratégias de diagnóstico
76-1). Os dados clínicos podem auxiliar no diagnóstico, con-
microbiológico são muitas vezes insensíveis. Pacientes ambulato-
tudo, a radiografia torácica é a ferramenta diagnóstica mais
riais são, em geral, tratados com um fármaco macrolídio, como a
importante. A análise do escarro para a coloração de Gram e
azitromicina, uma tetraciclina, como a doxiciclina, ou uma qui-
cultivo, bem como culturas sanguíneas, podem ser efetivas em
nolona respiratória, como a levofloxacina. Pacientes hospitaliza-
pacientes hospitalizados, porém, são metodologias opcionais
dos podem ser tratados com ceftriaxona associada a um macrolí-
em pacientes ambulatoriais, tendo em vista que a terapia para a
dio, ou por meio de uma monoterapia de quinolona respiratória.
pneumonia adquirida na comunidade é principalmente empí-
Pacientes com suspeita de pneumonia adquirida no ambien-
rica. Na pneumonia causada por uma das bactérias piogênicas
te hospitalar devem ser tratados com agentes de amplo espectro,
encapsuladas, como S. pneumoniae, a contagem de leucócitos
como um carbapenem, dependendo da epidemiologia local, ten-
do sangue é, em geral, elevada e o número de neutrófilos é co-
do em vista que muitas infecções hospitalares são resistentes a
mumente aumentado.
múltiplos fármacos. É importante que a administração de anti-
É importante que o catarro (não a saliva) seja enviado ao
bióticos tenha início imediato, uma vez que é observado um au-
laboratório para a coloração de Gram e cultura. Se a amostra con-
mento nas taxas de morbidade e mortalidade após um atraso de
tém muitos neutrófilos e poucas células epiteliais, essa provavel-
mais de 8 horas no tratamento. A drenagem de um empiema ou
mente corresponde a um catarro e será analisada. Se, no entanto,
líquido pleural infectado deve ser realizada.
a amostra apresentar muitas células epiteliais e poucos neutrófi-
los, ela configura-se como saliva e será rejeitada pelo laboratório.
A pneumonia causada por M. tuberculosis é diagnosticada
Prevenção
por meio da coloração acidorresistente de amostras de escarro e A vacina contra o vírus influenza é eficiente na redução da pro-
pela cultura em meio de micobactérias. Um ensaio de PCR reali- babilidade de manifestação da pneumonia. A vacina de polissa-
zado diretamente com amostras de escarro também encontra-se carídeo pneumocócico (não conjugada) disponível para adultos
CAPÍTULO 76 Infecções do Trato Respiratório Inferior 621

de idades mais avançadas é importante na diminuição da bac- Diagnóstico


teriemia e mortalidade associadas à pneumonia, contudo, não
A radiografia de tórax apresenta um infiltrado pulmonar, com uma
reduz a probabilidade da manifestação da doença em si. Como
cavidade geralmente preenchida por ar e fluidos (Figura 76-2).
as linhagens mais comumente relacionadas à pneumonia são
Esse fato pode ser observado quando o abscesso corrói um brôn-
H. influenzae não tipáveis, e não as linhagens do tipo B, a vacina
quio e uma porção do pus presente na cavidade é expelida por
conjugada contra o tipo B não consiste em uma fonte importante
meio da tosse e substituída por ar. O líquido pleural, se presente, e
de proteção. A renúncia ao tabagismo e o tratamento contra o
as culturas sanguíneas podem fornecer importantes dados micro-
abuso de álcool também podem diminuir o risco de pneumonia.
biológicos, contudo, os organismos anaeróbios associados podem
ser de difícil identificação.
ABSCESSO PULMONAR
Tratamento
Definição A clindamicina ou a ampicilina-sulbactam são opções típicas de
tratamento. A duração do tratamento é, em geral, de quatro a seis
O abscesso pulmonar é um processo necrótico, que se desenvolve
semanas. Os pacientes que não respondem à terapia antibiótica
dentro do parênquima pulmonar, e que, frequentemente, resulta
exigem drenagem cirúrgica.
na formação de uma cavidade preenchida por ar e fluidos.

Prevenção
Fisiopatologia
Não existe vacina contra os organismos que causam o abscesso
Os pacientes podem aspirar bactérias da orofaringe para as vias
pulmonar. As medidas preventivas incluem ter boa higiene den-
aéreas e alvéolos inferiores. Isso geralmente ocorre quando o pa-
tal e evitar a perda de consciência causada por overdose de dro-
ciente encontra-se na posição de decúbito e não consegue depu-
gas e abuso de álcool.
rar adequadamente as secreções. Por exemplo, a aspiração pode
ocorrer quando uma pessoa está inconsciente durante uma over-
dose de drogas, após a ingestão excessiva de álcool, ou durante a
anestesia que acompanha uma cirurgia. Uma higiene oral impró-
pria é um fator predisponente comum. Inicialmente, uma pneu-
monite pode se manifestar, contudo, esta pode evoluir para a ne-
crose em uma semana ou mais. Um abscesso pulmonar causado
por S. aureus, oriundo de um local distante de infecção, como a
endocardite do lado direito em um usuário de drogas intraveno-
sas, pode infectar os pulmões por meio da corrente sanguínea.

Manifestações clínicas
Os pacientes apresentam sintomas típicos de pneumonia com
febre e tosse produtiva. O catarro é, em geral, malcheiroso, in-
dicando a presença de microrganismos anaeróbios. Esses sinto-
mas podem se manifestar lentamente e progredir ao longo de um
período de semanas. Sintomas sistêmicos, como suores noturnos,
fadiga e perda de peso também podem estar presentes.

Patógenos
Os organismos mais comuns são anaeróbios ou uma mistu-
ra de aeróbios e anaeróbios que fazem parte da microbriota
oral. Os anaeróbios comumente envolvidos incluem espécies de
Peptostreptococcos, espécies de Prevotella e Fusobacterium nuclea- FIGURA 76-2 Abscesso pulmonar. A seta aponta para a interface
tum. Os aeróbios incluem Streptococcus milleri e S. aureus. (Os mé- ar-fluido no interior do abscesso. (Reproduzida, com permissão, de McKean
dicos utilizam frequentemente o termo "aeróbio,,, em vez de facul- SC et ai. Principies and Practice ofHospital Medicine. New York: McGraw-Hill, 2012.
tativo, para descrever as bactérias que não são anaeróbias.) Copyright© 2012 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
CA P ÍTU L O

Infecções da Pele
77 e dos Tecidos Moles
Contribuição de Brian 5. Schwartz, M.D.

CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Abscessos cutâneos (furúnculo e carbúnculo}


lmpetigo Infecções necrosantes dos tecidos moles (fascefte
Celulite/erisipela necrosante/mioneaose}

Follculite

INTRODUÇÃO dadas por eritema, Subsequentemente. as lesões preenchidas por


fluidos aumentam de tamanho e se rompem. formando crostas
As infecções da pele e dos tecidos moles correspondem a alguns espessas, aderentes, com uma aparência dourada "cor.de. mel"'
dos diagnósticos infecciosos mais comuns e resultam em cente. caracteristica (Figura 77•2). O impetigo bolhoso é simi)ar ao
nas de mi1hares de visitas ao consultório médico e a atendünen• impetigo dássico. porém produz bolhas (Figura 77-3) por meio
tos de emergência a cada ano. Essas i1úecções frequentemente se do meca1tismo descrito anteriormente. O ectima é uma forma
desenvolvem após uma ruptura da integridade norma) da pele. ukerada de impetigo em que a )esão penetra através da epider•
por meio de um trauma ou doença cutânea (p. ex., dermatite me em direção à derme (Figura 77•4). Algumas linhagens de
atópica). A grande maioria dessas infecções e causada por SM· S. pyogenes que causam impetigo têm sido associadas à g)ome•
phy/ococcu., aureus e Streptococcu, pyogenes (1àbela 77-1). Adis- rulonefrite pôs~estreptocócica, dessa forma, os indivíduos aco•
seminação hematogênk.a de organismos pela pe)e também pode metidos devem estar cientes desta complicação em potencial. A
ocorrer, porém ê incomum. A histologia normal da pele pode ser febre reumática ê uma sequela menos comum das infecções de
observada na Figura n . 1. pe)e estreptocódcas.

IMPETIGO
Definição
O impetigo é uma infecção da camada epidérmica da pele.

Flsiopatologla
Existem duas formas de se contrair o impetigo, por meio da in·
fecção primária, que se manifesta na pele íntegra. ou por meio
do impetigo secundário, que ocorre após uma ruptura da inte.
gridade normal da pele. As bactérias invadem a camada epidêr·
mica e provoc.am danos )ocais. O impetigo bo)hoso se desenvol.
ve quando Jinhagens de.S. aureus secretam a toxina esfoHativa.
uma protease que degrada a desmogleína, resultando em perda
de ader~nda da epiderme superfkia1. Essa é a mesma toxina que
desencadeia a síndrome da pele escaldada estafi)ocócica.

Manifestações clínicas
FIGURA 77·1 Camadas de tecido cutâneo e subcutâneo.Observe 3S
Existem três variantes cJhticas do impetigo: (1) o impetigo dás. glândulas sebáceas (em fOXO) e os folículos pilosos apresentando fios
sico, (2) o impetigo bolhoso e (3) o ectima. O impetigo dássko em protrusâo. (Cortesl-a de Mary Slmmons. Wayne State Unlverslty School oi
inicia na forma de pápu)as, que evo)uem para veskulas circun. Medicine, Departamento de Comunicação B!omêdlc.a.)
TABELA 77-1 Infecções da pele e dos tecidos moles: aparência das lesões, camadas cutâneas envolvidas, patógenos comuns e modalidades de tratamento

Camada cutânea
Tipo de infecção Aparência da lesão Descrição da lesão envolvida Patógenos comuns Tratamento

lmpetigo Vesículas com crostas cor-de-mel, Epiderme Staphylococcus aureus Poucas lesões: antibioticoterapia
observadas frequentemente na Streptococcus pyogenes tópica (p. ex., mupirocina);
face de crianças lesões numerosas: terapia
sistêmica (p. ex., cefalexina,
clindamicina)

Erisipela Lesão eritematosa, muito dolo- Derme superficial S. pyogenes, Streptococcus Antibioticoterapia sistêmica
rosa, com bordas regulares agalactiae > S. aureus (p. ex., cefalexina ou cefazolina)
bem-demarcadas e elevadas

Celulite Lesão plana, eritematosa, difusa, Derme profunda Streptococcus pyogenes Antibioticoterapia sistêmica
de borda irregular Streptococcus agalactiae (p. ex., cefalexina ou cefazolina)
> Staphylococcus aureus
n
)>
--e,
-i
Foliculite Pápulas inflamadas, localizadas, Folículo piloso S. aureus, Pseudomonas aeruginosa Os antibióticos frequentemente
e
contendo uma pequena quanti- (associada a banheiras de hidro- não se fazem necessários; com-
5
-....J
-....J
dade de pus massagem) pressas mornas e úmidas são
bastante úteis :::,
(D'
n
..n
Qt
(1)
Abscessos cutâneos Nódulo inflamado, elevado, sen- Derme profunda S. aureus A incisão e a drenagem consistem VI
a.
(furúnculo, também sível, com uma região central nas principais terapias suporte; 0J

conhecido como de purulência; a área de pus os antibióticos são direciona- -e


(1)
(1)
abscesso, carbúnculo) apresenta-se inicialmente firme, dos contra 5. aureus em casos
(1)
porém, em seguida, progride específicos a.
para uma tlutuância (torna-se o
VI

móvel) ,õi
n
a.
Infecções necrosantes Área muito dolorosa de inflama- Fáscia e músculo; 1. Forma monomicrobiana: O desbridamento cirúrgico é o
VI
dos tecidos moles ção, com rápida progressão para vasos sanguíneos S. pyogenes, Clostridium crucial em associação à terapia ~
(fasceíte necrosante) necrose, bolhas, púrpura, anes- locais e nervos perfringens, Vibrio vulnificus; antibiótica sistêmica de amplo o
(1)
VI
tesia e toxicidade sistêmica também estão 2. Forma polimicrobiana: basto- espectro
envolvidos netes gram-negativos entéri-
cos associados a anaeróbios O\
t-J
w
624 PARTE IX Doenças Infecciosas

Patógenos
S. aureus e S. pyogenes são os dois patógenos principais associa-
dos ao impetigo. Em pacientes neutropênicos, uma síndrome
clínica, denominada ectima gangrenoso, se manifesta devido à
infecção disseminada por Pseudomonas aeruginosa. Seus achados
cutâneos são o resultado da disseminação hematogênica de bac-
térias pelos vasos dérmicos, resultando em trombose, isquemia e
necrose focal da pele. Essa não é uma infecção de pele superficial.

Diagnóstico
O diagnóstico do impetigo é realizado clinicamente na maioria
dos casos. A cultura de fluido bolhoso ou pus deve ser conside-
rada quando os pacientes não respondem ao tratamento padrão.
FIGURA 77-3 lmpetigo bolhoso. Observe a lesão bolhosa (set a).
Tratamento (Utilizada, com permissão, de Ma OJ, Cline DM, TintinaIli JE, et ai. Emergency Me-
dicine Manual. 6th ed. © 2004, McGraw-Hill, New York.)
A terapia antibacteriana deve ser direcionada contra S. pyogenes
e S. aureus. A terapia tópica com mupirocina ou retapamulina
consiste no tratamento preferencial quando apenas algumas le- CELULITE/ERISIPELA
sões estão presentes. Em pacientes com doença generalizada, é
preferencial a escolha de um antimicrobiano sistêmico. Se houver Definição
receio em relação à seleção de linhagens de S. aureus resistentes A celulite e a erisipela são infecções da derme.
à meticilina (MRSA, methicillin-resistant Staphylococcus aureus),
é recomendada a utilização de clindamicina; caso contrário, um
Fisiopatolog ia
tratamento à base de cefalexina ou dicloxacilina é considerado
apropriado. Estas infecções se manifestam após uma ruptura da integridade
normal da pele. Tanto a celulite quanto a erisipela envolvem a
Prevenção
A lavagem das mãos e a proteção de lesões drenantes devem ser
realizadas, a fim de se prevenir a propagação de bactérias.

FIGURA 77-2 lmpet igo não bolhoso clássico. Observe as lesões


apresentando uma crosta "cor-de-mel" em torno do nariz e da boca. FIGURA 77-4 Ect ima. Observe a lesão necrótica localizada no nariz.
(Imagem utilizada, com permissão, de Wolff K, Johnson R [eds): Fitzpatrick's Co- (Imagem utilizada, com permissão, de Wolff K, Johnson R [eds): Fitzpatrick's Co-
/or Atlas & Synopsis ofClinical Dermatology. 6th ed. New York: McGraw-Hill, 2009. /or Atlas & Synopsis of Clinica/ Dermatology. 6th ed. New York: McGraw-Hill, 2009.
Copyright © 2009 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.) Copyright © 2009 por The McGraw-Hill Companies, lnc.)
CAPÍTULO 77 Infecções da Pele e dos Tecidos Moles 625

FIGURA 77-6 Celulite. Observe a inflamação difusa na perna direi-


ta, incluindo a pele sobre o tornozelo e o dorso do pé. (Utilizada, com
permissão, de Knoop KJ et ai. The Atlas of Emergency Medicine. 3rd ed. Copyright
© The McGraw-Hill Companies, lnc. Todos os direitos reservados. Contribuição
fotográfica: Lawrence B. Stack, DM.)

pode ser utilizado nos casos de infecções brandas (cefalexina,


dicloxacilina ou clindamicina), mas para infecções graves é re-
FIGURA 77-5 Erisipela. Observe a lesão notoriamente inflamada, comendada a hospitalização e a administração intravenosa de
de bordas claramente demarcadas, na bochecha direita, seguindo ao antibióticos (cefazolina ou vancomicina).
longo do nariz até a bochecha esquerda. (Reproduzida, com permissão,
de Longo DL et ai [eds]. Harrison's Principies of Internai Medicine. 18th ed. New
York: McGraw-Hill, 2012. Copyright© 2012 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.) TABELA 77-2 Patógenos relacionados a infecções da pele
e dos tecidos moles e seus fatores de risco associados
derme, no entanto, a erisipela abrange a camada superior da der- Fator de risco Patógeno
me e os vasos linfáticos superficiais, ao passo que a celulite abran-
Mordedura de animal (cães Pasteurella multocida;
ge a camada mais profunda da derme e a gordura subcutânea.
e gatos) Capnocytophaga canimorsus

Manifestações clínicas Mordedura humana Eikenella corrodens

A celulite e a erisipela se manifestam por meio de eritema, intu- Contato com peixes, caran- Erysipe/othrix rhusiopathiae
mescimento, dor na região afetada, além de febre alta ou baixa. guejos
Contudo, as lesões de erisipela são elevadas acima do nível da pele
Exposição à água doce Aeromonas hydrophila
circundante, e existe uma linha evidente de demarcação entre o
tecido envolvido e o não envolvido (Figura 77-5). Em contraparti- A exposição à água salobra Vibrio vulnificus
da, as lesões da celulite não são significativamente elevadas e apre- ou salgada
sentam uma linha de demarcação irregular (Figura 77-6).
Exposição à água não clo- Pseudomonas aeruginosa
rada em banheiras de
Patógenos hidromassagem
Os estreptococos í3-hemolíticos são os patógenos mais comuns
Uso de drogas injetáveis Staphy/ococcus aureus, bastone-
associados a essas infecções, sendo S. pyogenes e Streptococcus tes gram-negativos entéricos,
agalactiae algumas das espécies mais comumente relacionadas. como Serratia e Pseudomonas,
S. aureus também pode provocar esse tipo de infecção. Outros Clostridium botulinum
patógenos menos comuns são listados por risco de exposição na
Tabela 77 -2. Exposição ao solo provoca- Clostridium perfringens
da por trauma militar ou
acidentes com veículos
Diagnóstico
Cirurgia S. aureus; Streptococcus pyogenes
O diagnóstico é realizado clinicamente, tendo em vista a dificul-
dade de obtenção de culturas cutâneas na ausência de pus. Oca- Crianças pequenas Haemophilus influenzae tipo B
sionalmente, os pacientes apresentarão bacteriemia.
Queimaduras graves P. aeruginosa

Tratamento Úlceras de decúbito e úlce- S. aureus; bastonetes gram-negati-


ras no pé em indivíduos vos entéricos, anaeróbios
O tratamento empírico deve ser direcionado aos estreptococos
diabéticos (frequentemente polimicrobiana)
í3-hemolíticos e S. aureus. Um fármaco oral de ação sistémica
626 PARTE IX Doenças Infecciosas

Prevenção Prevenção
Em pacientes com celulite recorrente, uma estratégia consistindo A lavagem das mãos e a proteção de lesões drenantes devem ser
na administração de antibióticos supressivos crônicos é capaz de realizadas, a fim de se prevenir a disseminação de bactérias. Não
prevenir efetivamente infecções posteriores. é recomendada a utilização de banheiras de hidromassagem não
cloradas.

FOLICULITE
ABSCESSOS CUTÂNEOS
Definição
(FURÚNCULO E CARBÚNCULO)
A foliculite é uma infecção superficial dos folículos pilosos.
Definição
Fisiopatologia Um abscesso cutâneo é uma infecção da derme e das camadas
Bactérias e materiais purulentos se acumulam nos folículos pilo- mais profundas da pele, que se manifesta por meio da presença
sos da camada epidérmica da pele. de material purulento.

Manifestações clínicas Fisiopatologia


A foliculite manifesta-se por meio de um eritema localizado em tor- Os abscessos se desenvolvem por meio da introdução de pató-
no dos folículos pilosos individuais. Uma pequena quantidade de genos por uma ruptura na pele, após um trauma, ou quando es-
purulência pode ser observada (Figura 77-7). A infecção pode se de- ses microrganismos se disseminam a partir de folículos pilosos
senvolver em uma área isolada do corpo ou ao longo de toda a pele. infectados (Figura 77-8). Quando um único folículo é infectado
e dissemina a infecção para as camadas inferiores da derme, de-
Patógenos nomina-se furúnculo ("abscesso,,), e quando vários folículos pilo-
sos infectados se fundem, a condição é denominada carbúnculo.
S. aureus é a causa mais comum de foliculite. P. aeruginosa tam- Ocasionalmente, um abscesso pode se desenvolver após dissemi-
bém pode ocasionar a infecção e está associada à utilização de ba-
nação hematogênica de uma infecção.
nheiras de hidromassagem não tratadas com cloro. Candida e de-
terminados dermatófitos raramente são relacionados à foliculite.
Manifestações clínicas
Diagnóstico Um furúnculo consiste em uma pústula central, geralmente cir-
cundada por uma área de eritema, calor e sensibilidade, com flu-
O diagnóstico é realizado clinicamente, entretanto, na presença
tuância subjacente. Os pacientes acometidos podem apresentar
de material purulento este pode ser cultivado.
diversos furúnculos. Um carbúnculo é uma lesão maior e mais
grave do que um furúnculo, e é composto por vários furúnculos
Tratamento adjacentes que se unem, originando uma lesão inflamada, en-
A foliculite geralmente é autolimitada, sendo desnecessária a ins- durecida, que muitas vezes se estende profundamente no tecido
tituição de uma estratégia de tratamento. Compressas quentes ou subcutâneo. Os carbúnculos são, frequentemente, encontrados na
antibióticos tópicos podem ser considerados em casos específicos. nuca, região em que o colarinho da camisa gera atrito cutâneo em
pessoas que apresentam uma higiene inadequada (Figura 77-9).

FIGURA 77-8 Abscesso. Observe a área de inflamação localizada con-


tendo um núcleo central de pus amarelado (seta) no aspecto medial do
FIGURA 77-7 Foliculite. Observe as múltiplas, pequenas pústulas no pé. Essa lesão se desenvolveu no local de um ferimento provocado por
queixo e no pescoço. (Reproduzida, com permissão, de Wolff K, Goldsmith LA, uma agulha de costura. (Imagem utilizada, com permissão, de Wolff K, Johnson
Katz SI et ai. [eds]: Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine, 7th ed. New York: R [eds]: Fitzpatrick's Color Atlas & Synopsis of Clinicai Dermatology. 6th ed. New York:
McGraw-Hill, 2008, pg 1699. Copyright© 2008 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.) McGraw-Hill, 2009. Copyright© 2009 porThe McGraw-Hill Compan ies, lnc.)
CAPÍTULO 77 In fecções da Pele e dos Tecidos Moles 627

TABELA 77~3 Antibióticos ativos e inativos contra


Staphylococcus aur~us resistentes à meticilina (MRSA)

1Antibióticos atiws Antibióticos inativos


contraMRSA contraMRSA

\lancomk:ina Penicilinas com ou sem inibidor


de fi-,lactamase

Clindamk:ina Cefalosporinas (exceto cefta.


rolina)

Oaptomk ina Ca,bapen-êmicos

Unezolida

Ooxicidina e minoc:iclina

FI GURA 77·9 Carbúnculo. Observe os mUltiplos furúnculos que Trimetoprima-sulfametoxazol


se uniram formando uma g rande área de !e.são inflamatória. (Utilí.Za·
da, com permiuao, de Goldsmlth LA.. et ai. FiUpatffdc's Dtfmorology kl GeM.Yol Ceftarolina
Medkln~. 8th ed New Yotlc McGraw•Hill. 2012, Copyright O 2012 po, The MC·
Gra.w-HiUCompanle$.. rnc.)

agente etiológico da infecção. os regimes orais podem incluir a


cet'alexina e a dicloxaciHna, ao passo que na terapia intravenosa
Os pacientes podem manifestar sinais e sintomas de inftcção sis-
podtm ser utilizadas a naídlina e a tefatolin.a.
têmka, fato que dt\•t servir de alerta aos indivíduos acometidos
para a possibilidade de existência de uma doença mais gr.wt.
Prevenção
Patógenos A la,•agem das mãos e a prott,ção de lesões drenantes devtm ser
realizadas, a fim de se pre\ tnir a disseminação de bactéria~
1

S. nure,u f a causa mais comum de abscessos de pele (ma.is de


75% dos e-as.os). Estrtptococ-os ~-hemoHtkos e bactérias gram-
·ntgativas também são capazes de desencadear esses tipos de in-
fecções. ()(asionalmente, M)'tobattedum t11bern,losis, mkobac- INFECÇÕES NECROSANTES DOS
térias não tuberculosas e fungos, tomo Cocddioides, Candida e TECIDOS MOLES (FASCEITE
Cryptóeoecu.s, podem estar rtladon.ados a quadros de abscessos. NECROSANTE/M IONECROSE)

Diagnóstico Definição
A toloração de Grame a cuhura de material purulento de amos. A t'asceíte necrosante é uma infecção necrótica das estruturas
profundas da pele, incluindo a fásda subjacente. Na mionttrose,
t.ras obtidas de abscessos permitem o estabelecimento de um
o músculo subjacente se torna necrótko.
diagnóstico detivo. tmagtns radiográfkas, como as obtidas por
ultrassom ou tomografia tomputadorizada (TC), podem auxiliar
na definição do tamanho e da extensão de um abscesso. Fisiopatologia
Uma ruptura na pele provocada por trauma ou drurgia permite
Tratamento a passagem de microrganismos para estruturas mais profundas
da pele. tnfttções nas camadas fa.sdais resultam tm trombose do
O prindpal tratamento para os abscessos consiste na indsão e
suprimento vascular e do tecido nervoso adjacente. A destruição
drenagem da lesão. Em situações espttíflcas, a administração de
destas estruturas vitais se manifesta na forma de nt<:rose e anes.
antibióticos pode str fa ..urávd. A prescrição de antibiótkos de\'e
tesia das camadas mais superfidais da ptle.
ser considerada quando o paciente apresenta sinais e sintomas
de infttção sistémica, uma infecção rapidamente progressh•a ou
grave, infecção em uma área do t orpo de difícil drenagem, cxtre·
Manifestações clínicas
mos de idade, em indivíduos imunossuprimidos, ou após a insu. Os pdmeiros sintomas da fascdte necrosante manifestam.
fid~ncia dos procedimentos de indsâo e drenagem prtcedentes .se C'Omo eritema cutâneo. calor e sensibilidade. Os pacientes
no tratamento da infecção. Nos casos em que o s antibiótkos são podem apresentar dor desproporcional aos achados diagnóS·
indicados, o padente de\'e ser tratado com base tm um regime tkos. Frequentemente. essas alterações na pele se disseminam
empírico que apresenta ati\ idade contra MRSA. Esses regimes
1
e progridem muito rapidamente, e são suC'edidas por evidên·
orais inclutm a dindamid na, o trimetoprima-sulíametoxazol e das de hipoperfusão cutânea, exibição de uma coloração azul·
a doxicidina (Tabela 77-3). Terapias intra\'enosas empíricas in- .acitentada, bolhas e anestesia (Figura 77- 10). Uma crepitação
clutm a vancomidna e a daptomkina. Se o ensaio de suscetibi· pode ser sentida. Os padtntes, em geral. demonstram sinais t
lidade a antibiótkos identificar a presença de S. ai,re11.s stnsl\•tis sintomas de infttção sistêmka em progressão para um quadro
à metkilina (MSSA, methidllín-s,uceptible S. ai,reus) como o de sepse grave.
628 PARTE IX Doenças Infecciosas

FIGURA 77-1 O Fasceíte necrosante. Observe duas grandes bolhas


hemorrágicas circundadas por tecido inflamado de coloração verme-
lho escuro. (Reproduzida, com permissão, de Knoop K, Stack L, Storrow A,
Thurman RJ: Atlas ofEmergency Medicine, 3rd ed. © 201 O, McGraw-Hill, New York.
Contribuição fotográfica de Lawrence B. Stack, MD.)

FIGURA 77-11 Gangrena de Fournier. Observe a gangrena da geni-


tá lia e da pele do abdome inferior. (Utilizada, com permissão, de Knoop KJ
Patógenos et ai.Atlas ofEmergencyMedicine. 3rd ed. NewYork: McGraw-Hill, 201 O. Copyright
© 201O porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)
Existem duas classificações para a fasceíte necrosante - a tipo I,
que apresenta um caráter polimicrobiano, e a tipo II, que apre-
senta um caráter monomicrobiano. A infecção do tipo I frequen- contexto. As radiografias simples podem revelar a presença de
temente se desenvolve devido à presença de bactérias aeróbias gás nos tecidos, e a tomografia computadorizada pode realçar o
e anaeróbias, manifestando-se mais comumente após cirurgias plano fascial. A ressonância magnética é o método diagnóstico
intra-abdominais, em diabéticos e em usuários de drogas intra- mais sensível, mas é limitado em sua especificidade.
venosas, além de ser observada no períneo de indivíduos do sexo
masculino, uma doença denominada gangrena de Fournier (Fi-
gura 77 -11). A infecção do tipo II se desenvolve, em geral, devido Tratamento
à infecção por S. pyogenes, contudo, também pode ser causada As infecções necrosantes dos tecidos moles são emergências mé-
por Vibrio vulnificus após trauma em água salobra, por espécies dicas e o tratamento requer uma combinação de desbridamento
de Aeromonas posteriormente a um trauma em água doce, por cirúrgico dos tecidos infectados e antibioticoterapia. A terapia
Clostridium perfringens oriundo de ferimentos contaminados por antibiótica deve ser direcionada a S. pyogenes, MRSA e bastone-
solo, provocados por acidentes com veículos motores/motocicle- tes gram-negativos aeróbios e anaeróbios. Um regime empírico
tas ou estilhaços, e por MRSA adquirido em comunidade. comum deve incluir a clindamicina associada à vancomicina e à
piperacilina-tazobactam.
Diagnóstico
A coloração de Gram e a cultura de uma amostra de tecido des-
Prevenção
bridado pode auxiliar na efetivação de um diagnóstico microbio- A lavagem das mãos e a proteção de lesões drenantes devem ser
lógico. A imagiologia radiográfica pode ser bastante útil nesse realizadas, a fim de se prevenir a disseminação de bactérias.
C A P Í T UL O

Infecções do Trato Urinário


Contribuição de Brian S. Schwartz, M.D. 78
CONTEODO DO CAPITULO

Introdução Pielonefrite
Testes d lagnó stkos para infecções do trato urinário Bacteriúria asslntomátlca
Cistite Prostat ite

INTRODUÇÃO d.ida que a urina passa por meio do terço externo d.a uretra, um
Jimiar numérico de unidades formadoras de co)ônias (UFCs) por
As i1úecções do trato urinâtio fazem parte de um grupo de doen~ mi1ilitro foi estabelecido para se confirmar a i1úecção. Em amos-
ças comuns que ocorrem predominantemente peJa ascensão da tras de jato médio de urina. 2: l x 10$ UFC/mL correspon-
microbiota entérica normal por meio da uretra para a bexiga. f.s . de a uma quantidade consistente com um quadro de infecç.ão.
sas infecções afetam mais frequentemente as mu)hetes. devido a Em amostras coletadas por cateterismo..;?: 1 x 102 UFC/mL é con-
diferenç.as anatômicas cruciais. como a presença de uma uretra sistei\te com um quadro de infecção.
mais curta. O diagnóstico ê realizado por meio da identificação
dos sintomas clhticos relacionados, em combinação com um exa•
me de uroanálise anormal e um crescimento do microrganismo CISTITE
associado em cultura de urina. Os antibióticos, em getal, corres•
pondem a uma terapia efetiva, embora a resistência a esses fár· Definição
macos seja crescente. Acistite é uma i1úecção da bexiga. O termo ..cisto'' refere.se à be-
xiga. e .. ite'' refere-se à inflamação. Um quadro de cistite simples é
definido como a cistite que se manifesta em mulheres saudáveis,
TESTES D IAGNÓSTICOS PARA INFECÇÕES ao passo que a cistite complicada é definida como a cistite que
DO TRATO URINÃRIO se apresenta em todos os demais grupos. como homens, mulhe-
res grávidas. diabéticos. indivíduos com problemas anatômicos
A mkrosoopia de urina consiste na utilização de um micros- e neurológicos e naque)es com infec:ções urinárias recorrei\tes,
cópio para a observação de amostras de uri11a. Por meio desta
a11álise getalme11te é possível a identifkação de quadros de pillria
(leucócitos elevados (GB.s) na urina) e hematúria (hemácias na Flslopatologia
uri11a). e, oc.asiona1mente, a visua1.ização de bactérias em pacien- As bactérias (raramente os fungos) atingem a bexiga por meio da
tes com i1úecções do trato urinâtio, A presenç,a de grupos de GB.s ascensão pe)o canal da uretra, Este movimento ascei\dente é mui·
na urina indica um quadro de pielonefrite. em vez de dstite. A to mais frequen te em mu)heres devido à uretra curta e à estreita
presei\ça de c.éJu)as epiteliais escamosas em abundância em uma aproximação desta em relação à vagina e ao ânus. Em uma i11fec.-
amostra de urina sugere contaminação e que os resultados da ção prévia, a vagina, que é norm.ahnente colonizada por espécies
cu1tura não são confiáveis. de Lactobacillus, toma-se c.olo11izada por organismos entéricos,
Os testes de urina em tiras utiliz.am diferentes reagentes como Escheric.hia c.oli. E. coli é capaz de aderir à mucosa uretra)
químicos impregnados em uma fita, que é imersa no interior de por meio dos piU. Uma vez que as bactérias penetram na bexiga,
uma amostra de urina, para o diagnóstico de doei\ças do trato uri- e).as são e.a.pazes de se reproduzir e desencadear uma resposta in·
nário. A)guns resultados obtidos por esse teste são sugestivos de fiamatória. resultando nos sintomas d.a infecção.
infecção.. principa1mente quando existe positividade para esterase Condições médicas que provocam o e.svaziamento ai\orma1
leuoocitária, nitrito e hemoglobina. O nitrito positivo é observado da bexiga elevam o risco de infecções do trato urinário. Essas
a partir da conversão do nitrato a nitrito pelas Enterobacteriaceae. condições incluem anormalidades anatômicas, como a cistO·
A urocultura permite a identificação do microrganismo ceie. distúrbios neurológicos. como lesões na meduJ.a espinal e.
causador da infecção. A urina na bexiga é normalmente estéril esclerose múltipla, e a presenç,a de corpos estranhos. como a in-
Tendo em vista que as amostras podem ser contaminadas à me- serção de cateteres de Foley. Em crianç,as com idade inferior a 3
630 PARTE IX Doenças Infecciosas

meses e aquelas do sexo masculino que não são circuncidadas zado por meio da implementação de diversas estratégias. Essas
apresentam um risco maior de desenvolverem infecções do trato incluem aprimorar o crescimento da microbiota vaginal normal
urinário do que as do sexo feminino. No entanto, após a infância, (espécies de Lactobacillus), a fim de se evitar a colonização por
os indivíduos do sexo feminino apresentam um maior risco de bastonetes gram-negativos entéricos, como E. coli, a administra-
infecção do que todos os indivíduos do sexo masculino. ção de estrogênio intravaginal em mulheres pós-menopausa e a
não utilização de espermicidas como mecanismo de contracep-
Manifestações clínicas ção. Em mulheres que frequentemente desenvolvem quadros de
cistite após uma relação sexual, a utilização de antibióticos pós-
As manifestações clínicas mais comuns da cistite incluem disúria -relação sexual pode ser benéfica.
(dor ao urinar), micção frequente e de baixo volume, sensibili-
dade suprapúbica e hematúria macroscópica. Os homens podem
apresentar alguma secreção peniana. A maioria dos pacientes
PIELONEFRITE
com cistite não desenvolve febre ou outros sintomas sistêmicos
de infecção, porém quando estes se fazem presentes, deve ser Definição
considerada a existência de uma infecção do trato urinário supe-
A pielonefrite é uma infecção do(s) rim(ns). "Pielo,, refere-se à
rior (pielonefrite).
pelve renal, e "nefrite,, significa inflamação do rim. A pielonefrite
simples é definida como uma pielonefrite em mulheres saudá-
Patógenos veis, ao passo que a pielonefrite complicada é a manifestação da
E. coli é, de longe, a causa mais comum de infecções do trato uriná- doença em todos os outros pacientes.
rio. Outros bastonetes gram-negativos entéricos, como espécies de
Klebsiella e de Proteus, são regularmente relacionados. Pseudomonas Fisiopatologia
aeruginosa também pode ocasionar infecção do trato urinário, con-
A pielonefrite pode se desenvolver pela ascensão de bactérias da
tudo, este microrganismo é mais frequente em infecções associadas
uretra para a bexiga e, em seguida, para o(s) rim(ns), ou, menos
aos cuidados de saúde, em pacientes com anormalidades anatômi-
comumente, por meio da disseminação hematogênica dos mi-
cas/ neurológicas que acometem o trato urinário, ou em pacientes
crorganismos a partir de outros locais de infecção, como um local
demasiadamente expostos a antibióticos. Os patógenos gram-posi-
de endocardite. A presença de pedras nos rins é predisponente ao
tivos relacionados incluem espécies de Enterococcus e Staphylococ-
desenvolvimento da pielonefrite (Figura 78-1). As infecções do
cus saprophyticus. S. saprophyticus é comum em mulheres mais jo-
trato urinário em crianças podem estar associadas a anormalida-
vens. Espécies de Candida podem causar infecção em pacientes que
des anatômicas, assim, a realização de análises clínicas adicionais,
apresentam um histórico de uso de antibióticos excessivo e naqueles
como do refluxo vesicureteral, deve ser considerada.
que possuem cateteres de Foley. Vírus, como o adenovírus, o vírus
BK e o citomegalovírus, raramente provocam quadros de cistite he-
morrágica. Esses vírus ocasionam cistite quase que exclusivamente Manifestações clínicas
em hospedeiros imunocomprometidos, como aqueles que tenham Os pacientes com pielonefrite, em geral, apresentam febre, dor
sido submetidos a transplantes de células-tronco. nos flancos, náuseas e vômitos; e podem, ou não, manifestar

Diagnóstico
O diagnóstico da cistite é realizado pela identificação de um qua-
dro de piúria (por meio da visualização de GBs na microscopia ou
da positividade da esterase leucocitária no teste de urina em tira),
frequentemente acompanhada por uma reação em tira positiva
para nitrito e pela presença de hemácias na urina, além de cultu-
ras de urina positiva e sintomas clínicos de infecção consistentes.

Tratamento
O tratamento da cistite requer a instituição de uma terapia anti-
biótica. Nos casos de cistite simples, a terapia empírica é direcio-
nada contra E. coli, sendo realizada com trimetoprima-sulfame-
toxazol ou nitrofurantoína. O tratamento empírico para a cistite
complicada é, em geral, realizado com uma fluoroquinolona (ci-
profloxacina ou levofloxacina). O alívio sintomático da disúria
pode ser efetivado utilizando-se fenazopiridina.

Prevenção FIGURA 78-1 Pielonefrite. Observe o rim direito dilatado (porção


esquerda da imagem) devido à presença de uma pedra na junção ure-
Não existe nenhum método conhecido para a prevenção da cisti- teropélvica. (Reproduzida, com permissão, de McKean SC et ai. Principies and
te primária. No entanto, a prevenção da cistite em pacientes que Practice of Hospital Medicine. New York: McGraw-Hill, 2012. Copyright© 2012 por
apresentam um histórico de doença recorrente pode ser reali- The McGraw-Hill Companies, lnc.)
CAPÍTULO 78 Infecções do Trato Urinário 631

sinais e sintomas de infecção do trato inferior (disúria, frequên - Tratamento


eia, hematúria, sensibilidade suprapúbica).
Os antibióticos utilizados no tratamento da pielonefrite são aque-
les capazes de atingir concentrações elevadas no parênquima renal
Patógenos e que possuem atividade contra patógenos comuns. Regimes empí-
E. coli é o agente etiológico mais comum associado à pielone- ricos direcionados a infecções adquiridas na comunidade incluem
frite. Outros bastonetes gram-negativos entéricos, como espé- uma fluoroquinolona (ciprofloxacina ou levofloxacina) ou uma ce-
cies de Klebsiella e Proteus, também podem estar envolvidos. falosporina de terceira geração, como a ceftriaxona. Pacientes com
Pseudomonas aeruginosa também pode ocasionar infecção do exposição prévia demasiada a antibióticos, anormalidades anatô-
trato urinário, mas este microrganismo é mais frequente em micas ou exposição a ambientes de cuidados da saúde devem ser
infecções associadas aos cuidados de saúde, em pacientes com tratados com antibióticos que apresentem atividade comprovada
anormalidades anatômicas/neurológicas que acometem o trato contra Pseudomonas, como cefepima, piperacilina ou meropenem.
urinário, ou em pacientes demasiadamente expostos a antibióti- A antibioticoterapia deve ser limitada de acordo com os resultados
cos. Pacientes que apresentam pielonefrite recorrente desencade- dos ensaios de suscetibilidades a esses fármacos.
ada por Proteus devem ser avaliados para a presença de cálculos
renais. O acometimento dos rins após disseminação hematogê- Prevenção
nica da infecção pode envolver essencialmente qualquer orga-
Pacientes que apresentam disfunção da bexiga, um fator predis-
nismo, no entanto, Staphylococcus aureus é o agente mais comu-
ponente ao surgimento de pielonefrite, podem exigir cateterismo
mente observado nesse contexto. A disseminação hematogênica
frequente, a fim de se permitir a drenagem adequada do trato
também pode ser associada à Mycobacterium tuberculosis e a in-
urinário. Mulheres grávidas com bacteriúria assintomática (ver
fecções fúngicas disseminadas.
a seção seguinte) podem se beneficiar da terapia antibiótica na
prevenção da pielonefrite.
Diagnóstico
Os resultados dos testes de urina são similares àqueles encon -
trados na cistite, no entanto, podem ser observados conjuntos BACTERIÚRIA ASSINTOMÃTICA
de leucócitos urinários (Figura 78-2). A contagem de leucóci-
tos é frequentemente elevada, e, ocasionalmente, as culturas Definição
sanguíneas podem apresentar-se positivas. O ultrassom e a to- A bacteriúria assintomática se desenvolve quando há colonização
mografia computadorizada podem revelar processos inflamató- da bexiga por bactérias na ausência de sinais ou sintomas de in-
rios e, eventualmente, são capazes de identificar obstruções ou fecção do trato urinário superior ou inferior.
abscessos perinefríticos (ver Figura 78-1). A imagiologia radio-
gráfica não é rotineiramente recomendada para pacientes que Fisiopatologia
respondem rapidamente ao tratamento com antibióticos e para
A bacteriúria assintomática é comum em muitas populações, in-
indivíduos sem evidência clínica de nefrolitíase ou obstrução
cluindo em indivíduos diabéticos, pacientes com anormalidades
associada. Pacientes com tuberculose renal podem manifestar
anatômicas e neurológicas do trato urinário, em pacientes com
piúria na ausência de culturas positivas (piúria estéril), uma vez
cateter de Foley e em pacientes idosos. As bactérias alcançam a
que M. tuberculosis não apresenta crescimento em meios de cul-
bexiga por meio do movimento ascendente pela uretra, e não por
tura de rotina.
meio da disseminação hematogênica.

Manifestações clínicas
Pacientes com bacteriúria assintomática não apresentam sinais
ou sintomas de infecção do trato urinário superior ou inferior.

Patógenos
Os mesmos organismos normalmente associados à cistite tam-
bém estão relacionados à bacteriúria assintomática. Também
pode ocorrer candidúria assintomática.

Diagnóstico
O diagnóstico da bacteriúria assintomática requer a identificação
de culturas de urina positivas. Os pacientes apresentam piúria em
cerca de 50% dos casos de bacteriúria assintomática.
FIGURA 78-2 Conjuntos de leucócitos. Observe os grupos cilíndri-
cos formados por leucócitos arredondados e refráteis (seta). (Utilizada,
Tratamento
com permissão, de Longo DL et ai. [eds]: Harrison's Principies of Internai Medicine,
18th ed. New York: McGraw-Hill, 2009. Copyright © 2012 por The McGraw-Hill O tratamento da bacteriúria assintomática é indicado em popu-
Companies, lnc.) lações específicas que se encontrem em risco de desenvolver uma
632 PARTE IX Doenças Infecciosas

infecção grave subsequente devido à presença da bacteriúria. Es-


tes grupos de alto risco incluem: (1) mulheres grávidas, (2) adul-
tos que serão submetidos a procedimentos do trato urinário que
podem ocasionar sangramento da mucosa e translocação de bac-
térias para o sangue, e (3) pacientes neutropênicos.

Prevenção
Estratégias destinadas à prevenção da bacteriúria assintomática
não são utilizadas rotineiramente.

PROSTATITE
Definição
A prostatite é uma inflamação da próstata que pode se desenvol- FIGURA 78-3 Prostatite. Observe as áreas verde-amareladas de pus
ver devido a uma infecção ou outras possíveis causas. A prostatite (seta) formando mú ltiplos abscessos na g lândula prostática. (Utilizada,
também é discutida no Capítulo 74 sobre infecções pélvicas. com permissão, de Kemp WL, Burns DK, Brown TG. Pathology: The Big Picture. New
York: McGraw-Hill, 2008. Copyright© 2008 porThe McGraw-Hill Companies, lnc.)

Fisiopatologia
A infecção é adquirida mais frequentemente por meio da uretra, Diagnóstico
e, em seguida, segue até os duetos prostáticas. No entanto, tam-
O diagnóstico da prostatite bacteriana aguda é, em geral, confir-
bém pode ocorrer disseminação hematogênica da infecção a par-
mado pela identificação de uma próstata agudamente sensibiliza-
tir da próstata. Pode ser observada a formação de microabscessos
da ao exame de toque retal. A recuperação do organismo causa-
dentro da glândula (Figura 78-3).
dor da infecção, quando possível, é realizada a partir de culturas
de urina ou sangue. A massagem prostática é contraindicada em
Manifestações clínicas casos de prostatite aguda. Entretanto, na prostatite crônica, a
A prostatite aguda pode se manifestar por meio de um início massagem prostática, seguida de coleta da secreção da glândula,
agudo de febre, disúria, frequência urinária e dor intensa com é recomendada, a fim de se obter um diagnóstico microbiológico.
a palpação da próstata. Os pacientes podem adoecer gravemen-
te e desenvolver um quadro de sepse grave. Contrariamente, a Tratamento
prostatite crônica se apresenta com um início mais subagudo de Para o tratamento da prostatite é recomendada uma terapia anti-
disúria, frequência, hesitação urinária e desconforto pélvico. microbiana que apresente excelente penetração nos tecidos pros-
táticas. As fluoroquinolonas e o trimetoprima-sulfametoxazol
Patógenos são capazes de atingir níveis elevados na próstata. Testes de sus-
cetibilidade a antibióticos devem ser utilizados na orientação do
Em pacientes mais jovens, Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia
tratamento dos patógenos infecciosos.
trachomatis são os agentes etiológicos mais comuns associados à
prostatite. No entanto, em pacientes mais idosos, bactérias enté-
ricas, como E. coli, são os patógenos predominantes. Em casos de Prevenção
disseminação hematogênica, S. aureus é uma das causas comu- O tratamento imediato da prostatite aguda pode reduzir o risco
mente relacionadas. de desenvolvimento de um quadro de prostatite crônica.
RESUMO DAS BACT~RIAS DE IMPORTÃNCIA M~DICA - - - - - - -
COCOS GRAM-POSITIVOS (CAPITULO 15) tes; vancoinici.na para isolados resistentes à nafcilina. Cerca de
85% dos isolados são resistentes à penicilina G. A ~-lac.tamase
Staphy/ococcus aureus codificada por uin p)asmideo medeia a maioria dos casos de re-
Doen{os - Abscessos em diversos órgãos, endocardite, osteomie• sistência A resistência à nafcilina ê causada por inodificações nas
lites. artrites sépticas e impetigo. "làmbém pneumonia hospitalar, proteínas de ligação. Alguns isolados são tolerantes à penici)ina.
infecções de feridas cirúrgicas e sepse. Inclui ainda doenças me· Raras linhagens resistentes à vancomicina surgiram..
diadas por exotoxinas como gastre11terite (intoxicação a1iine11· Prevtnç6o - A cefazo)ina é utilizada na prevenção de infec.ções de
tar), síndrome do choque tóxico e sindrome da pe)e escaldada. feridas cirúrgicas. Não há vacina disponível. A lavagein das mãos
E uma das causas mais comuns de i1úecções humanas. reduz a disseminaç.ão.
Carocterl.sticos - Cocos gram-posith'OS em agrupamentos, Coa•
gula.se-positivos. Cata1ase.positivos. A maioria dos isolados pro• Staphylococcus epidermidis
duz í3.tactamase. Do,nças - Endocardite em válvu)as cardíacas prostéticas.. infec-
Hdbitate tronsmissdo - O principa1 hábitat ê a cavidade nasal hu- ção de articu)ação prostética de quadril. infecção de cateter in-
mana; são também encontcados na pele humana. A ttansmissâo travascular, i1úecção de desvio de líquido c.erebrospinal, sepse
ocorre pe)as mãos. neonatal.
PotogiMH - Abscesso purulento é a Jesão mais comum, São tam• Características - Cocos gram-positivos ein agrupamentos. Coa-
bêm produzidas três exotoxinas. A toxina da s(ndroine do choque gu1ase~negativo. Catalase-positivos.
tóxico é um superantlgeno e causa a síndrome do choque tóxi- Hdbltat e transmissdo- Microbiota nonna1 da pe)e e membranas
co por estimular diversas células T auxi1iares a liberar grandes mucosas de humanos. h provável que as próprias linhagens do
quantidades de )infocinas, especia1mente IL-2. A enterotoxina, paciente causem a i1úecção. embora possa ocorrer transmissão
responsáve) pe)a intoxicaçlo alimentar, é também um superan- interpessoa1 por meio das mãos.
tlgeno. A intoxkação alimentar apresenta período de incubação
curto. uina vez que se encontra pré-formada no alimento. A toxi- Patoglnese - Linhagens produtoras de glicocâlice aderem.se a
na da síndrome da pele escaldada é uma prote.ase que diva a des- corpos estranhos, coino implantes prostéticos e c.atetetes. São
organismos de baixa virulência, que causam doença principa).
mogleína de pequenas âre.as de odusão na pele. A proteína A é
um importante fator de viru)ência, pois se liga à cadeia pesada da mente em pacientes imunocomprometidos e nos que possuem
lgG e impede a ativaç.ão do coinplemento. Fatores predisponen- imp)antes. É a principal causa de infecções hospitalares. Diferen-
tes à infecção induein rupturas na pele, c-orpos estranhos, coino teinente de S. aureus, não foram identificadas exotoxinas.
suturas. concentrações de neutrófi1os abai.'to de 500/µL. uso de Diogn6stico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
fármacos injetáveis (predisposição à endocardite direita) e ucSo de Gram e cultura. Colônias esbranquiçadas e não heinolíticas em
tampões (predisposição à síndrome do choque tóxico). ágar-sangue. h coagulase-negativo. S. epidermid1's ê sensível à
Diagn6stico tabo,atoriol - Esfregaç.o subinetido à co)oraç.ão de novobioci.na, enquanto o outro estafilococo c-oogu)ase~negativo,
Grain e cultura. Co)ônias ainarelas ou douradas em ágar-sangue; Staphylococcus saprophyticus. é resistente a este fármaco. Testes
colônias frequentemente ~-heinolfticas. Staphylococcus aureus ê sorológicos não são úteis.
coagulase-positivo. SMphylococcus epidermidis é coagulase~nega- Trotamento - Vancomicina adicionada à rifainpina ou um aini-
tivo. Testes sorológicos não são úteis. noglicosfdeo. Produz ~-lactamases e é resistente a vários antibió-
Trotamento - Penicilina G para iso1ados sensíveis; penicilinas re-
ticos.
sistentes à ~-lactam.ase, como a nafci)ina, para iso)ados resisten- Prevtnç6o - Não há fármaco ou vacina disponíveis.
634 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

Staphylococcus saprophyticus Características - Cocos gram-positivos em cadeias. Colônias


~-hemolíticas. Catalase-negativo. Resistentes à bacitracina. Es-
Cocos gram -positivos em agrupamentos. Coagulase-negativo.
treptococos ~-hemolíticos são subdivididos nos grupos A, B,
Resistente à novobiocina, ao contrário de S. epidermidis, que é
etc., de acordo com diferenças na antigenicidade do carboidrato
sensível. Causa infecções do trato urinário em mulheres jovens,
da parede celular.
adquiridas na comunidade (no entanto, Escherichia coli é uma
causa muito mais comum). Hábitat e transmissão - O principal hábitat é a vagina humana.
A transmissão ocorre durante o parto.
Streptococcus pyogenes Patogênese - Organismo piogênico. Não foram identificadas
{estreptococo do grupo A) exotoxinas. Fatores predisponentes à infecção neonatal in-
cluem ruptura de membranas mais de 18 horas antes do parto,
Doenças - Doenças supurativas (que produzem pus) (p. ex., parto antes de 37 semanas (criança prematura), ausência de an-
faringite e celulite); doenças não supurativas (imunológicas)
ticorpos maternos e intensa colonização do trato genital pelo
(p. ex., febre reumática e glomerulonefrite aguda).
organismo.
Características- Cocos gram-positivos em cadeias. Colônias ~-he- Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
molíticas. Catalase-negativo. Resistentes à bacitracina. Estreptoco- Gram e cultura. Colônias ~-hemolíticas (zona estreita) em ágar-
cos ~-hemolíticos são subdivididos nos grupos A, B, etc., de acordo sangue, resistentes à bacitracina. Os organismos hidrolisam hipu-
com diferenças na antigenicidade do carboidrato da parede celular. rato e são positivos no teste CAMP.
Hábitat e transmissão - O hábitat é a garganta e a pele humanas. Tratamento - Penicilina G.
A transmissão ocorre por meio de perdigotos.
Prevenção - Não há vacina. A ampicilina deve ser administrada
Patogênese - No caso das infecções supurativas, a hialuronidase à mãe se ocorrer ruptura prolongada de membranas, se a mãe
("fator de disseminação,,) medeia a disseminação subcutânea ob- apresentar febre, ou se o neonato for prematuro.
servada na celulite; a toxina eritrogênica (um superantígeno) causa
a erupção na escarlatina; a proteína M impede a fagocitose. No caso
Enterococcusfaecalls
das doenças não supurativas (imunológicas), a febre reumática é
causada pela reação imunológica cruzada entre o antígeno bacteria- Doenças - Infecções dos tratos urinário e biliar são as mais fre-
no e os tecidos cardíaco e articular humano (i.e., anticorpos contra quentes. A endocardite é rara, porém potencialmente fatal.
a proteína M estreptocócica reagem com a miosina do músculo car- Características - Cocos gram-positivos em cadeias. Catalase-ne-
díaco), e a glomerulonefrite aguda é causada por imunocomplexos gativo.
formados entre antígenos estreptocócicos e anticorpos contra esses
Hábitat e transmissão - O hábitat é o colo humano; a uretra e o
antígenos. Os imunocomplexos são capturados pelos glomérulos, o
trato genital feminino podem ser colonizados. Pode atingir a
complemento é ativado, neutrófilos são atraídos ao sítio por CSa, e
corrente sanguínea durante procedimentos envolvendo os tra-
proteases produzidas por neutrófilos danificam os glomérulos.
tos gastrintestinal (GI) ou urogenital. Pode infectar outros sítios
Diagnóstico laboratorial - O diagnóstico das infecções supurati- (p. ex., endocardite).
vas (p. ex., celulite) difere das doenças imunológicas (p. ex., febre
Patogênese - Não há exotoxinas ou fatores de virulência identi-
reumática). Em infecções supurativas, utiliza-se o esfregaço sub-
ficados.
metido à coloração de Grame cultura. Colônias ~-hemolíticas
em ágar-sangue. (A hemólise deve-se às estreptolisinas O e S.) Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
Quando o isolado é sensível à bacitracina, ele é identificado como Grame cultura. Colônias a.,~ ou não hemolíticas em ágar-san-
Streptococcus pyogenes. Testes rápidos de ELISA para antígenos gue. Crescem em NaCl a 6,5% e hidrolisam a esculina na pre-
estreptocócicos do grupo A em amostras de garganta estão dis- sença de soluções com 40% de bile. Testes sorológicos não são
poníveis. O ensaio de detecção de anticorpos no soro do paciente úteis.
não é realizado em infecções supurativas. No caso de suspeita de Tratamento - A penicilina ou a vancomicina associadas a um
febre reumática, o título de anticorpos antiestreptolisina O (ASO) aminoglicosídeo, como a gentamicina, são bactericidas. O or-
do paciente é testado para determinar se houve exposição prévia ganismo é resistente a cada um dos fármacos se administrados
a S. pyogenes. No caso de suspeita de glomerulonefrite aguda, an- isoladamente, porém, quando administrados em conjunto, pro-
ticorpos contra a DNase B dos estreptococos são utilizados como duzem efeito sinérgico. O aminoglicosídeo administrado de for-
evidência de infecção cutânea prévia por S. pyogenes. ma isolada é ineficaz porque não é capaz de penetrar na célula.
Tratamento- Penicilina G (não há resistência significativa). A penicilina ou a vancomicina enfraquece a parede celular, per-
mitindo a penetração do aminoglicosídeo. Enterococos resisten-
Prevenção - A penicilina é utilizada em pacientes com febre reumá- tes à vancomicina (VREs) são importantes causas de infecções
tica na prevenção da faringite recorrente por S. pyogenes. Esta profi-
nosocomiais (hospitalares). Linezolida pode ser utilizada para o
laxia previne danos adicionais às válvulas cardíacas. Não há vacina.
tratamento dos VREs.
Prevenção - Penicilina e gentamicina devem ser administradas a
Streptococcus agalactiae
pacientes que apresentam danos em válvulas cardíacas antes de
{estreptococo do grupo B) procedimentos no trato intestinal ou urinário. Não há vacina dis-
Doenças - Meningite neonatal e sepse. ponível.
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 635

Streptococcus pneumoniae {pneumococo) Patogênese - A bacteriemia decorrente de procedimentos odonto-


lógicos dissemina o organismo para válvulas cardíacas danificadas.
Doenças - As doenças mais comuns são pneumonia e meningite,
O organismo está protegido das defesas do hospedeiro no interior
em adultos, e otite média e sinusite em crianças.
de vegetações. Não há toxinas conhecidas. O glicocálice composto
Características - Cocos gram -positivos em forma de "lancetà,, por polissacarídeos intensifica a aderência às válvulas cardíacas.
arranjados em pares (diplococos) ou cadeias curtas. Colônias
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
u-hemolíticas. Catalase-negativo. O crescimento é inibido pela
Grame cultura. Colônias u-hemolíticas em ágar-sangue. O cres-
optoquina, ao contrário dos estreptococos viridans, que são resis-
cimento não é inibido por bile ou optoquina, ao contrário dos
tentes. As colônias são solúveis em bile. Cápsula polissacarídica
pneumococos. Os estreptococos viridans são classificados em es-
proeminente. Distribuem-se em 85 sorotipos com base na antige-
pécie por meio de testes bioquímicos variados. Testes sorológicos
nicidade de polissacarídeos presentes na cápsula. É uma das três
não são úteis.
bactérias piogênicas encapsuladas clássicas (Neisseria meningiti-
dis e Haemophilus influenzae são as outras duas). Tratamento - Penicilina G com ou sem um aminoglicosídeo.
Hábitat e transmissão - O hábitat é o trato respiratório superior Prevenção - Uso da penicilina para prevenir a endocardite em pa-
humano. A transmissão ocorre por meio de perdigotos. cientes com válvulas cardíacas danificadas ou prostéticas que são
submetidos a procedimentos odontológicos.
Patogênese - Induz resposta inflamatória. Não há exotoxinas co-
nhecidas. A cápsula polissacarídica retarda a fagocitose. Anticorpos
antipolissacarídeos opsonizam o organismo e conferem imunidade
COCOS GRAM-NEGATIVOS {CAPÍTULO 16)
tipo-específica. A IgA protease degrada a IgA secretora na mucosa
respiratória, permitindo a colonização. Infecção respiratória virai Neisseria meningitidis {meningococo)
predispõe à pneumonia pneumocócica por danificar o elevador
Doenças - Meningite e meningococemia.
mucociliar; a esplenectomia predispõe à sepse. A fratura craniana
com extravasamento nasal de líquido espinal predispõe à meningite. Características - Diplococos gram-negativos em forma de "grãos de
feijão': É oxidase-positivo. Grande cápsula polissacarídica. É uma
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
das três bactérias piogênicas encapsuladas clássicas (Streptococcus
Grame cultura. Colônias u-hemolíticas em ágar-sangue. Cresci-
pneumoniae e Haemophilus influenzae são as outras duas).
mento inibido por bile e optoquina. Ocorre reação de Quellung
(intumescimento da cápsula com antissoro tipo-específico). Tes- Hábitat e transmissão - Seu hábitat é o trato respiratório superior
tes sorológicos para a detecção de anticorpos não são úteis. Testes humano; a transmissão ocorre por meio de perdigotos.
para a detecção do antígeno capsular no fluido espinal e do po- Patogênese - Após a colonização do trato respiratório superior, o
lissacarídeo C na urina podem ser utilizados como diagnóstico. organismo atinge as meninges por meio da corrente sanguínea.
Tratamento - Penicilina G. Altos ou baixos níveis de resistência A endotoxina da parede celular causa os sintomas de choque sép-
são causados por modificações em proteínas de ligação à penici- tico observados na meningococemia. Não possuem exotoxinas
lina. Não há produção de í3-lactamase. conhecidas; produzem protease de IgA. A cápsula é antifagoci-
tária. A deficiência de componentes tardios do complemento
Prevenção- Duas vacinas estão disponíveis. A utilizada em adul-
predispõe a infecções meningocócicas recorrentes.
tos contém polissacarídeos capsulares dos 23 sorotipos que cau-
sam bacteriemia com maior frequência. A outra, utilizada prin- Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
cipalmente em crianças com idade inferior a dois anos, contém Grame cultura. Colônias oxidase-positivas em ágar-chocolate.
polissacarídeos capsulares de 13 sorotipos associados a uma pro- Fermenta maltose, ao contrário dos gonococos. Testes sorológi-
teína carreadora (toxoide diftérico). A penicilina oral é utilizada cos não são úteis.
em crianças imunocomprometidas. Tratamento- Penicilina G (não há resistência significativa).
Prevenção - A vacina contém o polissacarídeo capsular das linha-
Estreptococos do grupo viridans gens A, C, Y e W-135. Uma forma da vacina contém os polissa-
{p. ex., Streptococcus sanguis, carídeos associados a uma proteína carreadora (toxoide diftérico),
Streptococcus mutans) enquanto outra contém apenas os polissacarídeos. Rifampina ou
Doenças - A endocardite é a doença mais importante. Abscessos ciprofloxacina são administradas às pessoas que têm contato próxi-
encefálicos também ocorrem, especialmente em infecções mis- mo para reduzir o número de portadores da parte oral da faringe.
tas com anaeróbios da cavidade oral. S. mutans está envolvido na
cárie dental. Neisseria gonorrhoeae {gonococo)
Características - Cocos gram-positivos em cadeias. Colônias Doenças - Gonorreia. Também conjuntivite neonatal e doença
u-hemolíticas. Catalase-negativo. O crescimento ocorre na pre- inflamatória pélvica.
sença de optoquina, ao contrário dos pneumococos, cujo cresci- Características - Diplococos gram -negativos em forma de "grãos
mento é inibido. As colônias não são solúveis em bile. de feijão': É oxidase-positivo. Cápsula insignificante.
Hábitat e transmissão - O hábitat é a parte oral da faringe huma- Hábitat e transmissão - O hábitat é o trato genital humano.
na. O organismo penetra na corrente sanguínea durante procedi- A transmissão em adultos ocorre por meio do contato sexual.
mentos odontológicos. A transmissão a neonatos ocorre durante o parto.
636 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

Patogênese - O organismo invade as membranas mucosas e causa Hábitat e transmissão - O hábitat são grãos, como o arroz. Os es-
inflamação. Endotoxina está presente, porém mais fraca do que a poros sobrevivem à fervura durante a preparação do arroz e ger-
do meningococo, de forma que a doença é menos grave quando minam quando o arroz é mantido em temperaturas mornas.
ocorre bacteriemia. Não foram identificadas exotoxinas. Protease Patogênese - São produzidas duas enterotoxinas: uma atua como
de IgA e fímbrias são fatores de virulência. a toxina colérica (i.e., há aumento de AMP cíclico no interior de
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de enterócitos) e a outra atua como a enterotoxina estafilocócica
Grame cultura. O organismo é visível intracelularmente em neu- (i.e., é um superantígeno).
trófilos presentes no exsudato uretra!. Colônias oxidase-positivas Diagnóstico laboratorial - Não é realizado.
em meio Thayer-Martin. Os gonococos não fermentam maltose,
diferentemente dos meningococos. Testes sorológicos não são Tratamento - Apenas sintomático.
úteis. O teste de amplificação de ácidos nucleicos (TAAN) é utili- Prevenção - Não há vacina.
zado como um ensaio de triagem em infecções urogenitais.
Tratamento - Ceftriaxona para casos não complicados. Azitromi- Clostridium tetani
cina ou doxiciclina são administradas na uretrite provocada por Doenças - Tétano.
Chlamydia trachomatis. A resistência de alto nível à penicilina é
Características - Bacilos anaeróbios, gram -positivos, formadores
causada por penicilinase codificada por um plasmídeo. A resis-
de esporos. O esporo localiza-se em uma extremidade ("esporo
tência de baixo nível à penicilina é causada por permeabilidade
terminal,,) de modo que o organismo se assemelha a uma raquete
reduzida e proteínas de ligação alteradas.
de tênis.
Prevenção - Não há fármacos ou vacinas. O uso de preservativos
Hábitat e transmissão - O hábitat é o solo. O organismo penetra
oferece proteção. Deve-se identificar e tratar os contatos para in-
por rupturas traumáticas da pele.
terromper a transmissão. É necessário tratar os olhos de recém-
nascidos com pomada de eritromicina ou com nitrato de prata Patogênese - Os esporos germinam em condições anaeróbias no
para prevenir a conjuntivite. ferimento. O organismo produz uma exotoxina que bloqueia a li-
beração de neurotransmissores inibitórios (glicina e ácido r1-ami-
nobutírico [GABA]) pelos neurônios espinais. Os neurônios ex-
BACILOS GRAM-POSITIVOS (CAPÍTULO 17) citatórias não sofrem oposição, resultando em espasmo muscular
extremo (tétano, paralisia espástica). "Trismo,, e "riso sardônico,,
Bacillus anthracis são dois exemplos de espasmos musculares. A toxina tetânica (te-
Doenças - Antraz. tanospasmina) é uma protease que cliva proteínas envolvidas na
liberação de neurotransmissores.
Características - Bacilos aeróbios, gram -positivos, formadores de
esporos. Cápsula composta por poli-o-glutamato. B. anthracis é Diagnóstico laboratorial - O diagnóstico é principalmente clíni-
o único organismo de importância médica que apresenta cápsula co. O organismo é raramente isolado. Testes sorológicos não são
composta por aminoácidos em vez de polissacarídeos. úteis.

Hábitat e transmissão - O hábitat é o solo. A transmissão ocorre Tratamento - Globulina humana hiperimune para neutralizar a
pelo contato com animais infectados ou pela inalação dos espo- toxina. Também se pode usar penicilina G e fármacos espasmolí-
ros presentes no pelo e na lã de animais. ticos. Não há resistência significativa à penicilina.

Patogênese - A toxina do antraz consiste em três proteínas: fator Prevenção - Vacina composta pelo toxoide (o toxoide consiste
de edema, que consiste em uma adenilato-ciclase; fator letal, que na toxina tratada com formaldeído). Geralmente administrada a
mata as células por meio da inibição de uma proteína de transdu- crianças em combinação com o toxoide diftérico e a vacina acelu-
ção de sinal envolvida na divisão celular; e antígeno protetor, que lar contra coqueluche (DTPa). Se o paciente sofreu um ferimento
e não foi imunizado, deve-se administrar globulina hiperimune
medeia a entrada dos outros dois componentes na célula. A cáp-
mais toxoide (imunização passiva-ativa). O ferimento deve ser
sula é antifagocitária.
desbridado. Doses de reforço do toxoide tetânico devem ser ad-
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de ministradas a cada 1Oanos.
Gram e cultura aeróbia em ágar-sangue. B. anthracis é imóvel,
ao contrário de outras espécies de Bacillus. O aumento no título Clostridium botulinum
de anticorpos no teste indireto de hemaglutinação é diagnóstico.
Doenças - Botulismo.
Tratamento- Penicilina G (não há resistência significativa).
Características - Bacilos anaeróbios, gram -positivos, formadores
Prevenção - A vacina que consiste em antígenos protetores é ad- de esporos.
ministrada a indivíduos com ocupações de alto risco.
Hábitat e transmissão - O hábitat é o solo. O organismo e a toxina
botulínica são transmitidos pela ingestão de alimentos conserva-
Bacillus cereus dos inadequadamente.
Doenças - Intoxicação alimentar.
Patogênese - A toxina botulínica é uma protease que cliva as
Características - Bacilos aeróbios, gram -positivos, formadores de proteínas envolvidas na liberação de acetilcolina na junção mio-
esporos. neural, causando paralisia flácida. A esterilização inadequada do
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 637

alimento durante sua preservação permite a sobrevivência dos produção de grandes quantidades de exotoxinas. As exotoxinas A
esporos. Os esporos germinam em ambiente anaeróbio e produ- e B inibem as GTPases, provocando a inibição da transdução de
zem a toxina. A toxina é termolábil; portanto, alimentos consu- sinal e a despolimerização dos filamentos de actina. Isto conduz
midos sem cozimento adequado estão geralmente envolvidos. à apoptose e morte dos enterócitos. As pseudomembranas ob-
Diagnóstico laboratorial - Presença da toxina no soro ou nas fezes servadas no colo são o resultado visível da morte de enterócitos.
do paciente, ou no alimento. A detecção da toxina envolve testes Diagnóstico laboratorial - A presença de exotoxina nas fezes é
sorológicos com a antitoxina ou a reprodução da doença em ca- geralmente detectada por meio da utilização de um anticorpo es-
mundongos. Testes sorológicos para a detecção de anticorpos no pecífico para a toxina em um ensaio de ELISA ou pela reação em
paciente não são úteis. cadeia da polimerase (PCR). A exotoxina nas fezes pode também
Tratamento - Antitoxinas contra tipos A, B e E produzidas em ser detectada por meio da produção de efeito citopático em célu-
cavalos. Suporte respiratório pode ser necessário. las em cultura. A identificação é feita pela neutralização do efeito
citopático com anticorpos conhecidos.
Prevenção - Adoção de técnicas apropriadas de preservação de
alimentos, cozimento de todos os alimentos de envasamento do- Tratamento - Metronidazol. A vancomicina, embora efetiva, não
méstico e descarte de latas estufadas. deve ser utilizada em razão do risco de selecionar enterococos
resistentes à vancomicina.
Clostridium perfringens Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis.
Doenças- Gangrena gasosa (mionecrose) e intoxicação alimentar.
Corynebacterium diphtheriae
Características - Bacilos anaeróbios, gram-positivos, formadores
de esporos. Doenças - Difteria.

Hábitat e transmissão - Os hábitats são o solo e o colo humano. Características - Bacilos gram-positivos em formato de clava dis-
A mionecrose resulta da contaminação de ferimentos com solo postos em uma conformação em V ou L. Os grânulos se coram me-
ou fezes. A intoxicação alimentar é causada pela ingestão de ali- tacromaticamente. Organismo aeróbio, não formador de esporos.
mentos contaminados. Hábitat e transmissão - O hábitat é a garganta humana. A trans-
Patogênese - A gangrena gasosa em ferimentos é causada pela missão ocorre por meio de perdigotos.
germinação de esporos em condições anaeróbias e pela produ- Patogênese - O organismo secreta uma exotoxina que inibe a sín-
ção de vários fatores citotóxicos, especialmente a toxina a., uma tese proteica por meio da adição de ADP-ribose ao fator de elon-
lecitinase que cliva membranas celulares. O gás nos tecidos (CO2 gação 2 (EF-2). A toxina possui dois componentes: a subunidade
e H 2 ) é produzido pelo metabolismo anaeróbio do organismo. A, que apresenta atividade de ADP-ribosilação, e a subunidade
A intoxicação alimentar é causada pela produção da enterotoxina B, que liga a toxina a receptores na superfície celular. A pseudo-
no interior do intestino. A enterotoxina atua como um superantí- membrana observada na garganta é causada pela morte de célu-
geno, similar à de S. aureus. las epiteliais da mucosa.
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
Gram e cultura anaeróbia. Os esporos geralmente não são visuali- Grame cultura. Colônias negras em placa de telurito. A produ-
zados em espécimes clínicos; o organismo encontra-se em cresci- ção de toxina pode ser documentada pelo teste de precipitina ou
mento e não há restrição de nutrientes. A produção de lecitinase pela doença reproduzida em animais de laboratório. Testes soro-
é detectada em ágar gema de ovo e identificada pela inibição en- lógicos não são úteis.
zimática por antissoro específico. Testes sorológicos não são úteis.
Tratamento - A antitoxina produzida em cavalos neutraliza a to-
Tratamento - Penicilina G e desbridação do ferimento na gangre- xina. Penicilina G mata o organismo. Não há resistência signifi-
na gasosa (não há resistência significativa à penicilina). Na ocor- cativa à penicilina.
rência de intoxicação alimentar, é necessário apenas tratamento
sintomático. Prevenção - Vacina composta pelo toxoide (o toxoide é a toxina
tratada com formaldeído ), geralmente administrada às crianças
Prevenção - O desbridamento extenso do ferimento e a adminis- em combinação com o toxoide tetânico e a vacina acelular contra
tração de penicilina reduzem a probabilidade de gangrena gaso- coqueluche (DTPa).
sa. Não há vacina.
Listeria monocytogenes
Clostridium difficile
Doenças - Meningite e sepse em recém-nascidos e em adultos
Doenças - Colite pseudomembranosa. imunocomprometidos. Gastrenterite.
Características - Bacilos anaeróbios, gram-positivos, formadores Características- Pequenos bacilos gram-positivos. Organismo ae-
de esporos. róbio, não formador de esporos.
Hábitat e transmissão - O hábitat é o colo humano. A transmissão Hábitat e transmissão - O organismo coloniza os tratos GI e genital
ocorre pela via fecal-oral. feminino; na natureza, encontra-se amplamente disseminado nos
Patogênese - Antibióticos suprimem a microbiota normal do animais, nas plantas e no solo. A transmissão ocorre através da pla-
colo, permitindo crescimento predominante de C. difficile e a centa ou por contato durante o parto. Surtos de sepse em neonatos
638 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

e gastrenterite na população em geral são relacionados à ingestão Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
de produtos derivados de leite não pasteurizado (p. ex., queijos). Gram e cultura. Colônias fermentadoras de lactose em ágar eosi-
na-azul de metileno (EMB) ou MacConkey. Brilho verde em ágar
Patogénese- A listeriolisina é uma exotoxina que degrada mem-
branas celulares. Uma imunidade celular reduzida e a imaturi- EAM. Em ágar tríplice açúcar ferro (TSI) exibe superfície e fundo
ácido, com a produção de gás, mas sem H 2S. Deve-se diferenciar de
dade imunológica observada em neonatos são fatores predispo-
outros organismos lactose-positivos por meio de reações bioquími-
nentes à infecção. São patógenos intracelulares que se deslocam
célula a célula por meio de um mecanismo denominado "fogue- cas. Em estudos epidemiológicos, classificar o organismo de acordo
com antígenos O e H, utilizando antissoros conhecidos. Testes so-
tes de actinà:
rológicos para anticorpos no soro do paciente não são úteis.
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
Tratamento - Ampicilina ou sulfonamidas para UTis. Cefalospo-
grame cultura. Colônias pequenas, J3-hemolíticas em ágar-san-
rinas de terceira geração para meningite e sepse. A reidratação
gue. Motilidade em cambalhotas. Testes sorológicos não são úteis.
é efetiva na diarreia do viajante, e trimetoprima-sulfametoxazol
Tratamento - Ampicilina associada ou não a gentamicina. pode reduzir a duração dos sintomas. A resistência antibiótica é
Prevenção - Gestantes e pacientes imunocomprometidos não de- mediada por enzimas codificadas por plasmídeos (p. ex., J3-lacta-
vem ingerir produtos lácteos não pasteurizados ou vegetais crus. mase e enzimas modificadoras de aminoglicosídeos).
O trimetoprima-sulfametoxazol, administrado a pacientes imu- Prevenção- A prevenção de ITU envolve a limitação na frequên -
nocomprometidos para prevenir a pneumonia por Pneumocystis, cia e duração da cateterização urinária. A prevenção de sepse
pode também prevenir a listeriose. Não há vacina disponível. envolve a remoção rápida ou alteração de sítios de linhas intra-
venosas. A diarreia do viajante pode ser prevenida pela ingestão
apenas de alimentos cozidos e água fervida em determinados
BACILOS GRAM-NEGATIVOS países. O uso profilático de doxiciclina ou Pepto-Bismol pode
RELACIONADOS AO TRATO INTESTINAL prevenir a diarreia do viajante. Não há vacina para prevenção de
qualquer uma das doenças causas por E. coli.
(CAPÍTULO 18)
Escherichia coli Salmonella typhi
Doenças - Infecção do trato urinário (ITU), sepse, meningite Doença - Febre tifoide.
neonatal e "diarreia do viajante" são as doenças mais comuns.
Características - Bacilos gram-negativos facultativos. Não fer-
Características- Bacilos gram-negativos facultativos; fermentam mentam lactose. Produz H 2S.
lactose. Hábitat e transmissão - O hábitat consiste apenas no colo huma-
Hábitat e transmissão - O hábitat é o colo humano; a bactéria co- no, ao contrário de outras salmonelas, que também são encontra-
loniza a vagina e a uretra. A partir da uretra, ascende e causa ITU. das no colo de animais. A transmissão ocorre pela via fecal-oral.
É adquirida durante o parto na meningite neonatal e pela via fe- Patogénese - Infecta as células do sistema reticuloendotelial, es-
cal-oral na diarreia. pecialmente no fígado e no baço. A endotoxina da parede celular
Patogénese - A endotoxina da parede celular causa choque sép- causa febre. A cápsula (antígeno Vi) é um fator de virulência. Não
tico. Duas enterotoxinas são produzidas por linhagens de E. coli são conhecidas exotoxinas. A diminuição do ácido gástrico, re-
enterotoxigênicas (ETEC). A toxina termolábil estimula a ade- sultante da ingestão de antiácidos ou da gastrectomia, predispõe
nilato-ciclase pela ADP-ribosilação. O aumento de AMP cíclico a infecções por Salmonella. Estado de portador crônico estabele-
causa efluxo de íons cloreto e água, resultando em diarreia. A to- cido na vesícula biliar. A excreção do organismo na bile resulta na
xina termoestável causa diarreia, possivelmente pela estimulação disseminação fecal-oral para outros indivíduos.
de guanilato-ciclase. Os fatores de virulência incluem fímbrias Diagnóstico laboratorial- Esfregaço submetido à coloração de Gram
para adesão às superfícies mucosas e uma cápsula que impede a e cultura. Colônias não fermentadoras de lactose em ágar EAM ou
fagocitose. A toxina Shiga (verotoxina) é uma enterotoxina pro- de MacConkey. Em ágar TSI, exibe superfície alcalina e fundo áci-
duzida por linhagens de E. coli (STEC) apresentando o sorotipo do, sem presença de gás e com pequena quantidade de H2S. Reações
0157:H7. Ela causa diarreia sanguinolenta e síndrome hemolíti- bioquímicas e sorológicas são utilizadas para identificar as espécies.
co-urêmica associadas à ingestão de carne malcozida. A toxina A identidade pode ser determinada com o uso de antissoros conhe-
Shiga (verotoxina) inibe a síntese proteica por meio da remoção cidos contra os antígenos O, H e Vi, em testes de aglutinação. O tes-
de adenina do rRNA 28S de ribossomas humanos. te de Widal detecta anticorpos aglutinantes contra antígenos O e H
Fatores predisponentes de ITU em mulheres incluem a pro- no soro do paciente, embora seu uso seja limitado.
ximidade do ânus em relação à vagina e à uretra, assim como
uma uretra curta. Esses elementos levam à colonização da uretra Tratamento - Ceftriaxona é o fármaco mais efetivo. A ampicilina
e da vagina pela microbiota fecal. Anomalias (p. ex., estreitamen- e o trimetoprima-sulfametoxazol podem ser utilizados em pa-
tos, valvas e cálculos) também são predisponentes. Cateteres uri- cientes que não exibem doença grave. A resistência ao cloranfe-
nários internos e linhas intravenosas predispõem à ITU e à sepse, nicol e à ampicilina é mediada por enzimas de acetilação e J3-lac-
respectivamente. A colonização da vagina leva à meningite neo- tamase, respectivamente, codificadas por plasmídeo.
natal adquirida durante o parto. O principal fator de virulência Prevenção - Medidas de saúde pública (p. ex., descarte de esgo-
para a meningite neonatal é o polissacarídeo capsular Kl. tos, cloração dos suprimentos de água, análise de coproculturas
PARTI X Resumos dos Organismo s de Importância Médica 639

para man.ipu)adores de a1imentos. e a )avagem das mãos antes da Potoginese- Invade a mucosa do ileo e do colo, mas não penetra
manipulação de alimentos). Duas vacinas são comumente usa. além. sendo a sepse. portanto. rara. Endotoxina na parede celu.
das; uma vacina contêm o polissacarfdeo capsu1ar Vi purificado )ar. A dose infectante é muito menor (1 a 10 organismos) do que
como imunógeno. e a outra contém S. typhi viva e atenuada como a de Salmonella. A dose infectame de Shigella é baixa porque o
imunôgeno. organismo ê resistente ao ácido gástrico, Crianças em instituições
mentais e creches podem sofrer surtos de shige)ose. Não há esta-
Salmone//a enterlca (frequentemente do de portador crônico.
denominada Solmone//a enteritldls) Diagnóstico loborotorial -Esfregaço submetido à coloração de
DoeníOS - Enterocolite. Oc.asiona)mente, sepse com abscessos Gram e cu1tura. Co)ônias não fermentadoras de lactose em ágar
metastáticos. EAM ou de MacConkey. Em ágar TS!, exibe superfície alcalina e
fundo ácido. sem presença de gás ou H..s. Identificaç-ão por meio
Corocterfsticos - Bacilos gram.negativos facultativos. Não fer.
de reações bioquhnic.as ou por sorologia usando anticorpo anti·
mentam lactose. Produz H2S. Móvejs., em contraste com Shigella.
-O em testes de ag)utinação. Testes soro)ógicos para anticorpos
Mais de l .S00sorotipos. no soro do paciente não são rea1.izados.
Hdbitot e tronsm;ssão - O hábitat ê o trato intestinal de humanos
Trotamento - Na maioria dos casos. apenas reposição de fluidos
e animais (p. ex., galinhas e animais de criação). A transmissão e e)etrólitos, Em casos gra,•es. utiliza.se a cipro0oxacina. A re.
ocorre pe)a via fecaJ.oral.
sistênda é mediada por enzimas codifk.adas por plasmídeo (p.
Patogénese - O microrganismo invade a mucosa dos intestinos ex., í3·lactamase. que degrada a ampicilina, e um pteroato sintase
grosso e de)gado. Pode atingir a corrente sanguínea, causando mutante, que reduz a sensibilidade a sulfonamidas).
sepse. Adose infect:ante é de peJo menos 100.000 organismos. mui• Prevençdo - Medidas de saude pública (p. ex., descarte de esgo-
to superior à dose i1úe<:tante de Shigella. A dose iltfe<:tante é a1ta tos, doração dos suprimentos de água, aná1ise de coprocu1turas
porque o organismo é inativado pelo ác:ido gástrico. Endotoxina na
para manipuladores de alimentos, e a lavagem das mãos antes da
parede celu)ar; ausênd.a de exotoxina. Fatores predisponentes in·
manipulação de alimentos). Fármacos profiláticos não são utili-
duem a diminuição da acidez gástrica por antiácidos ou gastte<:tO·
zados. Não há vacina disponível.
mia. Aanemia fakifonne predispõe à osteomielite por Salmonella.
Diogn6stico l,aborotoriol -Esfregaç.o submetido à co)oração de V/brio cholerae
Grame cultura. Colônias não fermentadoras de lactose em ágar
EAM ou de MacConkey. Em ágar TSI, exibe superfície alcalina e Doença - Cólera.
fu11do ácido. com a presença de gás e Hi-S. Reações bioquhnicas BaciJos gram-negativos em forma de virguJa.
Caract erísticos -
e soro)ógicas são utilizadas para identificar as espécies. A iden- Oxida.se.positivos. o que os distingue das entetobactérias.
tificação do organismo pode ser feita pelo uso de. antissoros
Hdbitot e transmls.sdo -
Os hábitats são o colo humano e os mo-
conhecidos em ensaios de ag)utinação. O teste de Wida1 detec•
Juscos. A transmissão ocorre peJa via fecal-oral
ta anticorpos contra antlgenos O e H do organismo no soro do
paciente. porém seu uso é limitado. Potogfne.se - Diarreia aquosa intensa. causada por wna ente-
rotoxina que ath•a a adenilato.ciclase por meio da adição de.
Trotam ento - Antibióticos gera)mente não são recomendados
para a enteroco)ite sem comp)icações. Ceftriaxona ou outros ADP-ribose à proteína G estimulador. O awnento de. AMP d-
clico causa efluxo de IoncS cloreto e. água. A toxina possui dois
fármacos são utilizados contra a sepse. dependendo de testes de
sensibilidade. A resistência à ampiciJina e.ao doranfenicol é me. componentes: a subunidade A. que apresenta atividade de ADP-
·ribosilação; e. a subunidade B,, que. liga toxina a receptores na
diada por í3-lactamases e enzimas de acetilaçã~ respectivamente,
superfkie ce)ular. O microrganismo produz mucinase, o que
codificadas por plasmfdeos.
intensifica sua aderência à mucosa intestinal. O papel da endo-
Prevençdo- Medidas de saúde púb)ica (p. ex., descarte de esgotos.. toxina é. incerto. A dose infec.tante é alta (> 107 organismos).
cloração dos suprimentos de água, análise de coproculturas para O estado de portador é. raro.
manipuJadores de aJimentos.. e a Javagem das mãos antes da ma-
nipu1ação de alimentos). Não se deve ingerir carnes ou ovos crus. Diagn6stico loborotorial - E.sfregaço submetido à coloração de
Não há vacina disponível Grame cu)tura. (Durante as epidemias, não ê necessária a reali-
zação de culturas.) A aglutinação do isolado com antissoros co-
nhecidos confirma a identific.ação.
Espécies de Shlgel/a (p. ex., Shlgel/a dysenterlae,
Shlgel/a sonnel) Trotamento - O tratamento de escolha consiste na reposição de
fluidos e e)etrólitos. A tetracidina não ê necessária, porém reduz
Doen{o - E11terocolite (dise11teria). a duração e a condição de portador.
Bacilos gram.ne.gativos facultativos. Não fer.
Corocterfsticos - "'"""'feio - Medidas de saúde pública (p. ex., descarte de esgotos,
me11tam lactose. Não apresentam mobilidade, ao co11trârio de cloração dos suprimentos de água, análise de coprocu1turas para
Sa/monella. manipuladores de alimentos. e a lavagem das mãos antes da ma-
Hdbitat e t ransmlssdo -O hábitat co11siste apenas no colo huma- nipulação de alimentos). A vacina contendo células mortas apre~
no; diferentemente da Sa/monella enterica. não há portadores senta eficácia limitada. A tetrad dina é utilizada para os contatos
animais de Shigella. A transmissão ocorre pela via fecal.oral. próximos do paciente.
640 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

Vibrio parahaemolyticus Klebsiella pneumoniae


Bacilos gram-negativos em forma de vírgula, encontrados em Doenças - Pneumonia, ITU e sepse.
águas marinhas mornas. Causam diarreia aquosa. Adquiridos
Características- Bacilos gram-negativos facultativos, com grande
pela ingestão de frutos do mar crus contaminados. Surtos já cápsula polissacarídica.
ocorreram em cruzeiros pelo Caribe. A diarreia é mediada por
uma enterotoxina similar à toxina colérica. Hábitat e transmissão - O hábitat consiste nos tratos respiratório
superior e intestinal humanos. O organismo é transmitido aos
pulmões pela aspiração a partir do trato respiratório superior e
Vibrio vulnificus
pela inalação de perdigotos. É transmitido ao trato urinário pela
Bacilos gram-negativos em forma de vírgula, encontrados em á- disseminação ascendente da microbiota fecal.
guas marinhas mornas. Causam celulite e sepse potencialmente
Patogénese - A endotoxina causa febre e choque associados à
fatais, com bolhas hemorrágicas. Adquirido por trauma da pele,
sepse. Não há exotoxina conhecida. O organismo possui cápsula
especialmente em manipuladores de moluscos, ou pela ingestão
grande, que impede a fagocitose. Doença pulmonar crônica pre-
de moluscos crus, especialmente em pacientes imunocompro-
dispõe à pneumonia; a cateterização predispõe à ITU.
metidos ou com níveis reduzidos do complemento causado por
dano hepático. Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
Gram e cultura. As colônias mucoides características são uma
Campylobacter jejuni consequência da cápsula polissacarídica abundante do organismo.
Colônias fermentadoras de lactose em ágar de MacConkey. São
Doença - Enterocolite. distinguidas de Enterobacter e Serratia por reações bioquímicas.
Características - Bacilos gram-negativos em forma de vírgula. Tratamento - Cefalosporinas isoladamente ou com aminoglico-
Microaerofílicos. Apresentam bom crescimento a 42ºC. sídeos; no entanto, testes de sensibilidade aos antibióticos devem
Hábitate transmissão- O hábitat são as fezes humanas e de ani- ser realizados. A resistência é mediada por enzimas codificadas
mais. A transmissão ocorre pela via fecal-oral. por plasmídeos, especialmente J3-lactamases.
Patogênese - Invade a mucosa do colo, mas não a penetra; por- Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis. Cateteres
tanto, a sepse raramente ocorre. Não há enterotoxina conhe- urinários e intravenosos devem ser rapidamente removidos.
cida.
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de Enterobacter cloacae
Grame cultura em ágar especial (p. ex., ágar de Skirrow) a 42ºC, Bacilos gram-negativos entéricos similares a K. pneumoniae.
em atmosfera com alto teor de C02 e baixo teor de 0 2 • Testes Causam pneumonia hospitalar, ITU e sepse. Altamente resisten-
sorológicos não são úteis. tes a antibióticos.
Tratamento- Geralmente, apenas tratamento sintomático; utili-
za-se a eritromicina no caso de doença grave. Serratia marcescens
Prevenção - Medidas de saúde pública (p. ex., descarte de esgotos, Bacilos gram-negativos entéricos similares a K. pneumoniae.
cloração dos suprimentos de água, análise de coproculturas para Causam pneumonia hospitalar, ITU e sepse. Colônias de pig-
manipuladores de alimentos, e a lavagem das mãos antes da ma- mentação vermelha. Altamente resistentes a antibióticos.
nipulação de alimentos). Não há vacina ou fármacos preventivos
disponíveis. Espécies de Proteus {p. ex., Proteus vulgaris,
Proteus mirabilis)
He/icobacter pylori
Doenças - ITU e sepse.
Doenças- Gastrite e úlcera péptica. É fator de risco para o carci-
Características - Bacilos gram-negativos facultativos. Não fer-
noma gástrico.
mentam lactose. Altamente móveis. Produzem urease, assim
Características- Bacilos gram-negativos e curvos. como espécies de Morganella e Providencia (ver a seguir). An-
Hábitat e transmissão - O hábitat é o estômago humano. A trans- tígenos de linhagens OX de P. vulgaris reagem de forma cruzada
missão ocorre por ingestão. com diversas riquétsias.

Patogênese - Os organismos sintetizam urease, produzindo amô- Hábitat e transmissão - Os hábitats são o colo humano e o meio
nia que danifica a mucosa gástrica. A amônia também neutraliza ambiente (solo e água). A transmissão ao trato urinário ocorre
o pH ácido do estômago, permitindo que o organismo viva na pela disseminação ascendente da microbiota fecal.
mucosa gástrica. Patogénese - A endotoxina causa febre e choque associados à
Diagnóstico laboratorial - Coloração de Gram e cultura. Teste de sepse. Não são conhecidas exotoxinas. A urease é um fator de
urease positivo. Testes sorológicos para anticorpos e o teste do virulência, uma vez que degrada a ureia, produzindo amônia,
"hálito de ureià' são úteis. a qual eleva o pH. Isso leva à formação de cálculos de "estru-
vità: que podem obstruir o fluxo urinário, danificar o epitélio
Tratamento - Amoxicilina, metronidazol e bismuto.
urinário, e atuar como foco de infecções recorrentes por captu-
Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis. rarem as bactérias no interior do cálculo. O organismo é alta-
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 641

mente móvel, o que pode facilitar sua entrada na bexiga. Fatores tivamente. Linhagens produtoras de glicocálice predominam nas
predisponentes incluem a colonização da vagina, os cateteres infecções crônicas em pacientes com fibrose cística. Linhagens
urinários e anomalias do trato urinário, como estreitamentos, com sistemas de secreção de tipo III são mais virulentas do que
valvas e cálculos. as que não apresentam tal característica. Queimaduras graves e
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
neutropenia são importantes fatores predisponentes.
Gram e cultura. Efeito de "enxame,, (disseminante) em placa de Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
ágar-sangue, como consequência da motilidade ativa do orga- Gram e cultura. Colônias não fermentadoras de lactose em ágar
nismo. Colônias não fermentadoras de lactose em ágar EAM ou EAM ou de MacConkey. Em ágar TSI, exibe superfície alcalina
de MacConkey. Em ágar TSI, exibe superfície alcalina e fundo e fundo alcalino, uma vez que os açúcares não são fermentados.
ácido, com H 2S. O organismo produz urease, enquanto a Sal- É oxidase-positivo. Testes sorológicos não são úteis.
monella, que pode parecer similar em ágar TSI, não produz.
Tratamento - Os antibióticos devem ser escolhidos com base na
Testes sorológicos não são úteis. P. mirabilis é indol-negativo,
sensibilidade ao antibiótico, pois a resistência é comum. Penici-
enquanto P. vulgaris, M. morganii e espécies de Providencia são
linas antipseudomonas e aminoglicosídeos são frequentemente
indol-positivos.
utilizados. A resistência é mediada por uma variedade de enzi-
Tratamento - Trimetoprima-sulfametoxazol ou ampicilina são mas codificadas por plasmídeos (p. ex., í3-lactamases e enzimas
frequentemente utilizados em ITUs sem complicações. No entan- de acetilação).
to, uma cefalosporina de terceira geração deve ser administrada
Prevenção - Desinfecção de equipamentos hospitalares relacio-
no caso de infecções graves. A espécie indol-negativa P. mirabilis
nados à água, lavagem das mãos e rápida remoção de cateteres
apresenta maior probabilidade de ser sensível a antibióticos como
urinários e intravenosos. Não há vacina.
a ampicilina do que as espécies indol-positivas. A sensibilidade a
antibióticos deve ser testada. A resistência é mediada por enzi-
mas codificadas por plasmídeo. Burkholderia cepacia
Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis. A remoção Bacilos gram -negativos que se assemelham a P. aeruginosa. Im-
imediata de cateteres urinários auxilia na prevenção de ITUs. portante causa de infecções crônicas em pacientes com fibrose
cística. Anteriormente denominado Pseudomonas cepacia.
Morganella morganii
Stenotrophomonas maltophilia
Bacilos gram -negativos entéricos, similares a espécies de Pro-
teus. Causam ITUs e sepse. São altamente móveis e produzem Bacilos gram -negativos que se assemelham a P. aeruginosa. Im-
urease. São indol-positivos e mais resistentes a antibióticos do portante causa de infecções crônicas em pacientes com fibrose
que P. mirabilis. cística. Anteriormente denominado Pseudomonas maltophilia.

Providencia rettgeri Bacteroides fragilis


Bacilos gram -negativos entéricos, similares a espécies de Proteus. Doenças - Sepse, peritonite e abscesso abdominal.
Causam ITUs e sepse. São altamente móveis e produzem urea-
Características - Bacilos gram -negativos anaeróbios.
se. São indol-positivos e mais resistentes a antibióticos do que
P. mirabilis. Hábitat e transmissão - O hábitat é o colo humano, onde é a bac-
téria anaeróbia predominante. A transmissão ocorre pela disse-
Pseudomonas aeruginosa minação do colo para a corrente sanguínea ou peritônio.
Doenças - Infecções de ferimentos, ITU, pneumonia e sepse. Patogênese - O lipopolissacarídeo da parede celular é quimica-
É uma das mais importantes causas de infecções hospitalares, es- mente distinto e menos potente que uma endotoxina típica. Não
pecialmente em pacientes queimados e nos com fibrose cística. são conhecidas exotoxinas. A cápsula é antifagocitária e promove
Causa endocardite em usuários de fármacos injetáveis. a formação de abscessos. Fatores predisponentes incluem cirur-
gia intestinal e ferimentos abdominais penetrantes.
Características - Bacilos aeróbios gram-negativos. Não fermen-
tam lactose. Produzem o pigmento piocianina (azul-esverdeado). Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
São oxidase-positivos, o que os distingue de membros da família Gram e cultura anaeróbia. Identificação baseada em reações
Enterobacteriaceae. bioquímicas e cromatografia gasosa. Testes sorológicos não são
úteis.
Hábitat e transmissão - O hábitat inclui fontes ambientais de água
(p. ex., respiradores hospitalares e umidificadores). Também ha- Tratamento - Metronidazol, clindamicina e cefoxitina são efica-
bita a pele, o trato respiratório superior e o colo de aproximada- zes. Os abscessos devem ser cirurgicamente drenados. A resistên-
mente 10% das pessoas. A transmissão ocorre via aerossóis aquo- cia à penicilina G, a algumas cefalosporinas e aminoglicosídeos
sos, aspiração e contaminação fecal. é comum. A í3-lactamase codificada por plasmídeo medeia a re-
sistência à penicilina.
Patogênese - A endotoxina é responsável por febre e choque as-
sociados à sepse. Produz exotoxina A, que atua como a toxina Prevenção - Em cirurgias intestinais, a administração pré-opera-
diftérica (inativa EF-2). As fímbrias e a cápsula são fatores de vi- tória de cefoxitina pode reduzir a frequência de infecções pós-
rulência que medeiam a aderência e inibem a fagocitose, respec- -operatórias. Não há vacina disponível.
642 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

Prevotella melaninogenica Patogênese - A toxina pertússis estimula a adenilato-ciclase por


meio da adição de ADP-ribose à proteína G inibidora. A toxina
Bacilos anaeróbios gram-negativos que se assemelham a
possui dois componentes: a subunidade A, que apresenta ativida-
B. fragilis. É membro da microbiota normal e encontrado princi- de de ADP-ribosilação, e a subunidade B, que liga a toxina are-
palmente acima do diafragma (p. ex., cavidade oral), ao contrário
ceptores na superfície celular. A toxina pertússis causa linfocitose
de B. fragilis, que é encontrado abaixo do diafragma (p. ex., colo). sanguínea por inibir receptores de quimiocinas. A inibição desses
Frequentemente envolvido em abscessos cerebrais e pulmonares. receptores impede a entrada de linfócitos nos tecidos, resultando
Anteriormente denominada Bacteroides melaninogenicus. na retenção de grandes números dessas células no sangue. A inibi-
ção dos receptores de quimiocinas ocorre porque a toxina pertús-
sis ADP-ribosila a proteína G inibidora, impedindo a transdução
BACILOS GRAM-NEGATIVOS de sinal no interior da célula. Além disso, há produção de adenila-
RELACIONADOS AO TRATO to-ciclase extracelular, o que inibe a ação letal dos fagócitos. A ci-
RESPIRATÓRIO (CAPÍTULO 19) totoxina traqueal danifica o epitélio ciliado do trato respiratório.
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de
Haemophilus influenzae Gram e cultura em ágar Bordet-Gengou. A bactéria é identificada
Doenças - Sinusite, otite média e pneumonia são comuns. A epi- por meio de reações bioquímicas e aglutinação em lâmina com
glotite é incomum, contudo, H. influenzae é a causa mais impor- antissoros conhecidos. Testes de PCR, se disponíveis, são sensí-
tante. H. influenzae correspondia à principal causa de meningite, veis e específicos. Testes sorológicos para anticorpos no soro do
mas a vacina reduziu significativamente o número de casos. paciente não são úteis.

Características - Bacilos gram-negativos (cocobacilares) peque- Tratamento - Azitromicina.


nos. Requer os fatores X (hemina) e V (NAD) para o crescimen- Prevenção - A vacina acelular contendo o toxoide pertússis e
to. Dos seis tipos de polissacarídeo capsular, o tipo b é responsá- quatro outras proteínas purificadas é recomendada no lugar da
vel por 95% das doenças invasivas. A cápsula do tipo b consiste vacina inativada, que contém organismos completos. É geral-
em polirribitol fosfato. mente administrada a crianças em combinação com os toxoides
Hábitat e transmissão - O hábitat é o trato respiratório superior. diftérico e tetânico (DTPa). A azitromicina é efetiva em indiví-
A transmissão ocorre por meio de perdigotos. duos não imunizados que se encontram em risco de exposição
ao patógeno.
Patogênese - A cápsula polissacarídica é o mais importante deter-
minante de virulência. Linhagens não capsuladas ("não tipáveis,,) Legionella pneumophila
causam infecções de mucosa, mas não infecções in-vasivas. Uma
protease de IgA é produzida. A maioria dos casos de meningi- Doença - Doença dos legionários (pneumonia "atípicà').
te ocorre em crianças com idade inferior a dois anos, uma vez Características-Bacilos gram-negativos, mas que se coram fraca-
que há redução dos anticorpos maternos e a resposta imune da mente pela coloração de Gram padrão. Requerem maiores quan-
criança aos polissacarídeos capsulares pode ser inadequada. Não tidades de ferro e cisteína para crescimento em cultura. Dezesseis
foram identificadas exotoxinas. sorogrupos; a maioria dos casos é provocada pelo sorogrupo 1.
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de Hábitat e transmissão - O hábitat consiste em fontes ambientais
Gram e cultura em ágar-chocolate. O crescimento requer fatores de água. A transmissão ocorre via aerossóis a partir de fontes de
X e V. A determinação do sorotipo pelo uso de antissoro pode água. A transmissão de pessoa a pessoa não ocorre.
ser feita por meio de vários testes (p. ex., aglutinação de látex). Patogênese - Além da endotoxina, não são conhecidas toxinas,
O antígeno capsular pode ser detectado no soro ou no líquido enzimas ou fatores de virulência. Fatores predisponentes incluem
cerebrospinal. Testes sorológicos para anticorpos no soro dopa- idade acima de 55 anos, tabagismo e elevado consumo de álcool.
ciente não são úteis. Pacientes imunossuprimidos (p. ex., receptores de transplante
Tratamento - A ceftriaxona é o tratamento de escolha para a me- renal) são altamente suscetíveis. O organismo replica-se intra-
ningite. Aproximadamente 25% das linhagens produzem í3-lac- celularmente; portanto, a imunidade mediada por células é uma
tamase. importante defesa do hospedeiro. O fumo danifica macrófagos
alveolares, o que explica a predisposição à pneumonia.
Prevenção - A vacina contendo o polissacarídeo capsular do tipo
b, conjugada ao toxoide diftérico ou a outra proteína, é adminis- Diagnóstico laboratorial - Microscopia com impregnação pela
trada entre os dois e 18 meses de idade. A rifampina pode preve- prata ou uso de anticorpos fluorescentes. Cultura em ágar car-
nir a ocorrência de meningite em contatos próximos. vão-extrato de levedura contendo maiores quantidades de ferro
e cisteína. O antígeno urinário fornece um diagnóstico rápido
apenas para as bactérias do sorogrupo 1. O diagnóstico pode ser
Bordetella pertussis realizado sorologicamente por meio da detecção de um aumento
Doença- Coqueluche (pertússis). no título de anticorpos no soro do paciente.
Características - Bacilos pequenos e gramgram -negativos. Tratamento - Azitromicina ou eritromicina. A rifampina pode ser
Hábitat e transmissão - O hábitat é o trato respiratório humano. adicionada em casos graves.
A transmissão ocorre por meio de perdigotos. Prevenção - Não há vacina ou fármacos profiláticos disponíveis.
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 643

BACILOS GRAM-NEGATIVOS Diogn6stico laboratorial - E.sfregaço submetido à colotação de


Gram e cu1tura.
RELACIONADOS A FONTES ANIMAIS
(ORGANISMOS ZOONÓTICOS) Trotamento - Penicilina G.
(CAPÍTULO 20) Prevtnçdo - A ampicilina deve ser admütistrada a indivíduos que
sofreram mordida de gato. Não há vacina.
Espécies de Bruce/la (p. ex., Bruce/la abortus,
Bruce/la suis, Bruce/la melitensis) Yerslnia pestis
Doen(a - Btuce)ose (febre ondulante). Doenças - Peste bubônica e pneumônica.
Caracterhticas - Bacilos pequenos e gram.11e.gativos. Características - Bacilos pequenos e gram-negativos que exibem
HdbUat e transm;ssão - Os reservatórios são os animais domésti· co)oração bipolar ("'aJfinete de segurança"'). i! um dos organismos
cos. A transmissão ocorre por meio do consumo de leite e queijo mais viru1entos (i.e., 0150 muito baixa).
não pasteurizados ou contato diteto com o animaJ infectado. Hdbitat e transmissdo - O reservatório coitsiste em roedotes siJ-
Patoglnese - Os organismos localizam.se em cé)ulas reticuloen- vestres (p. ex., ratos, cães-de-pradaria e esquilos). A transmissão
doteliais.. especia)mente no fígado e no baço. São capazes de so- ocorre pela picada de pulgas.
breviver e replicar.se intrac.elularmente. Não há exotoxinas. Fato- Potoglnese - Os fatores de virulência incluem endotoxina. uma
res predisponentes incluem o consumo de laticútios e o trabaJho exotoxina, dois antígenos (V e W) e um antígeno do envelope
em abatedouros. (c.apsu)ar) que protege contra a fagocitose. As proteínas V e W
Diagn6stico l,oborotorial - Esfregaç.o submetido à co)oração de pet mitem o crescimento do orga1tismo no interior das cé)u.las.
Gtam e cu1tura em plac.a de ágar.sangue. A bactéria é identifi- O bubão é um linfonodo intumescido e inflamado. getalmente
cada por meio de reações bioquhnic.as e pela aglutinação com l<><:alizado na região da picada da pulga.
antissoro conhecido. O diagnóstico pode ser re.aliz.ado sorologi- Dlagn6stico laboratorial - Esfregaço submetido à co)ora-
camente pe)a detecção de anticorpos no soro do paciente. ção de. Gram. Outros corantes (p. ex.• de Wayson) mostram
Trotamento- TetracicJina e tifampina. o típico aspecto de "'alfinete de segurança"' com mais clareza.
As culturas são petigosas e devem ser reaJizadas somente. em
Prewnçdo - Pasteurização do Jeite; vacinação do gado. Não há
Jaboratórios especialmente equipados. O organismo é identifi-
vacina para humanos disponível. cado por imunofluorescênda. O diagnóstico pode ser realiz.a.
do por testes sorológico.s que detectam anticorpos no soro do
Francisel/a tularensis
paciente.
Doen(a - ]Ularemia.
Trotamento - Estreptomicina em regime linico ou em combina.
Caracterhticas - Bacilos pequenos e gtanHte.gativos. ção com doxiciclina. Quarentena estrita pot 72 horas.
Hdbltot e transmissão - Os reservatórios induem várias espécies Prevençdo - Contro)ar a popu)ação de roedores e evitar contato
de animais silvestres, especialmente coelhos.. cervos e roedores. com roedores mortos. A vacina inativada está disponível para in·
A ttaosmissão ocorre por carrapatos (p. ex... Dermacentor), aeros- divfduos em ocupações de alto risco. Contatos próximos devem
sóis. contato e ingestão. receber tetraciclina.
Potoglnese - Os orgaitismos localizam.se em cé)ulas reticuloen-
doteliais. Kão há exotoxinas. Bartonella hense/ae
Diagnóstico laboratorial- A cultura é raramente re.aliuda, pois são Doenças - Doenç.a da .at ranhadura de gato (CSD) e angiomatose-
necessários meios especiais e há a1to risco de infecção dos profis- bacilar (BA).
sionais do )aboratório. O diagnóstico é geralmente re.alizado por Caracterlsticos - Bacilo granH tegativo pequeno.
testes sorológicos que detectain anticorpos no soro do paciente.
Hdbitote transmissdo - O reservatório é a c.avidade oraJ de gatos,
Trotamento- Estreptomicina. e a doença é traJtSmitid.a pela motdida do ou arranhadura peJo
Prevençdo - Uso de. vacina viva atenuada para indivíduos que animal.
exercem ocupações de a1to risco. Proteção contra carrapatos. Patoglnese - Organismo de baixa viru)êncfa. A CSO é autolimi-
tada em indivíduos imunocompetentes, mas a BA ocorre em pa.
Pasteurel/a multocida cientes imunossuprimidos.
Doen(a - Infecção de ferimentos (p. ex., celu1ite).
Diogn6sti~o laborotoriol - O diagnóstico da CSO é geralmen.
Caracterhticas - BaciJos pequenos e gram.11egativos. te feito por meio de testes soro)ógicos. Biópsias de lesões d.a BA
Hdbitot e transmlssdo - O reservatório é a c.avidade oral de di.
apresentam bacilos pleomórficos quando a co)oração de Wart1\in.
versos animais.. especialmente gatos e cães. A transmissão ocotre ·Starry é utilizada.
pe)a mordida do animal. Trotamento - Não há tratamento para CSO. Doxiciclina ou eritro-
Potogfnese - Dissemina.se rapidaiuente pela pe)e e pe)o tecido micina para BA.
subcutâneo. Kão há exotoxinas. Prevtnçdo - Não há vacina.
644 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

MICOBACTÉRIA (CAPÍTULO 21) cas são também denominadas outras micobactérias outras que
M. tuberculosis (MOTTS).
Mycobacterium tubercu/osis As atípicas são subdivididas em organismos de crescimento
Doença - Tuberculose. lento e de crescimento rápido, o que depende do fato de as co-
lônias serem formadas em mais ou menos de sete dias. (A pro-
Características - Bacilos aeróbios, acidorresistentes. Apresentam dução de pigmentos pelos organismos de crescimento lento não
alto teor lipídico na parede celular, o que impede que os corantes interessa, neste momento.)
utilizados na coloração de Gram corem o organismo. Os lipídeos Importantes organismos de crescimento lento são os seguintes:
incluem ácidos micólicos e cera D. O crescimento é muito lento, o
que requer o uso de fármacos por longos períodos (meses). Pro- (1) O complexo Mycobacterium avium-intracellulare (MAI)
duz catalase, necessária à ativação da isoniazida do fármaco ativo. causa doença similar à tuberculose, especialmente em pacientes
imunocomprometidos, como os com Aids. É altamente resistente
Hábitat e transmissão - O hábitat é o pulmão humano. A trans- a antibióticos.
missão ocorre por meio de perdigotos produzidos pela tosse. (2) Mycobacterium kansasii também causa doença seme-
Patogênese - Granulomas e caseificação mediados pela imu- lhante à tuberculose, embora seja menos resistente a antibióticos
nidade celular (i.e., macrófagos e células T CD4-positivas [hi- doqueMAI.
persensibilidade tardia]). O fator corda (micolato de trealose) é ( 3) Mycobacterium marinum causa "granuloma da piscinà'
correlacionado à virulência. Não há exotoxinas ou endotoxina. ou "granuloma do aquário': lesão cutânea no sítio de abrasão ad-
A imunossupressão aumenta o risco de reativação e disseminação. quirida em piscina ou em aquário.
(4) Mycobacterium scrofulaceum causa escrófula, que se
Diagnóstico laboratorial - Bacilos acidorresistentes observados
manifesta por linfonodos cervicais intumescidos e não sensíveis
pela coloração de Ziehl-Neelsen (ou Kinyoun). Colônias de cresci-
(adenite cervical).
mento lento (três a seis semanas) em meio de Lõwenstein- Jensen.
Os organismos produzem niacina e são catalase-positivos. Testes O complexo Mycobacterium fortuitum-chelonei é importante
sorológicos para anticorpos no soro do paciente não são úteis. uma vez que apresenta crescimento rápido e provoca infecções
de articulações prostéticas e cateteres. Também causam infecções
Teste cutâneo - O teste cutâneo utilizando derivado proteico pu-
cutâneas e de tecidos moles no sítio de ferimentos causados por
rificado (PPD) é considerado positivo caso uma região de endu-
objetos perfurantes. Os organismos são geralmente resistentes à
recimento de 1O mm ou mais se apresentar dentro de 48 horas
maioria dos fármacos antituberculínicos.
após a inoculação do antígeno. O intumescimento é causado por
uma resposta de hipersensibilidade tardia. O teste cutâneo posi-
tivo indica que o indivíduo foi infectado, mas não que apresenta,
Mycobacterium leprae
necessariamente, a doença tuberculose. Doença - Hanseníase.
Tratamento - Terapia de longo prazo (seis a nove meses) com três Características - Bacilos aeróbios, acidorresistentes. Não podem
fármacos, a isoniazida, a rifampina e a pirazinamida. Um quarto ser cultivados in vitro. Crescimento ótimo em temperatura in-
fármaco, o etambutol, é utilizado em casos graves (p. ex., menin- ferior à corporal, de modo que as lesões localizam -se em regiões
gite), em pacientes imunocomprometidos (p. ex., com Aids), e mais frias do corpo, como pele, nariz e nervos superficiais.
quando a possibilidade de organismos resistentes à isoniazida for Hábitat e transmissão - Os seres humanos são o reservatório
alta, como no Sudeste Asiático. A maioria dos pacientes torna-se principal. São também encontrados em tatus. O mais importante
não infectante após duas semanas de terapia adequada. O trata- modo de transmissão é por meio da secreção nasal de pacientes
mento de infecções latentes (assintomáticas) consiste na admi- com a forma lepromatosa. Pacientes com a forma lepromatosa
nistração de isoniazida por seis a nove meses ou de isoniazida apresentam maior probabilidade de transmissão do que os com
mais rifapentina por três meses. Linhagens multirresistentes a a forma tuberculoide, uma vez que apresentam maior número de
fármacos surgiram e requerem outras combinações de fármacos. organismos que os com hanseníase tuberculoide. A exposição
Prevenção- A vacina composta pelo bacilo Calmette-Guérin (BCG) prolongada é geralmente necessária.
contendo organismos Mycobacterium bovis vivos, atenuados, pode Patogênese - As lesões geralmente ocorrem nas regiões mais
prevenir ou limitar a extensão da doença, contudo não previne a frias do corpo (p. ex., pele e nervos periféricos). Na hanseníase
infecção por M. tuberculosis. A vacina é raramente utilizada nos tuberculoide, as lesões destrutivas são decorrentes da resposta ao
Estados Unidos, mas é de amplo uso em regiões da Europa e Ásia.* organismo mediada por células. Os danos aos dedos devem-se a
queimaduras e outros traumas, uma vez que o dano aos nervos
Micobactérias atípicas causa perda de sensibilidade. Na hanseníase lepromatosa, ares-
Essas micobactérias são denominadas atípicas porque diferem posta mediada por células contra M. leprae é perdida, e um gran-
de M. tuberculosis de várias formas. A diferença mais importante de número de organismos surge nas lesões e no sangue. Toxinas
é que as atípicas são encontradas no meio ambiente, enquanto ou fatores de virulência não são conhecidos.
M. tuberculosis é encontrado apenas em seres humanos. As atípi- Diagnóstico laboratorial - Bacilos acidorresistentes são abundan-
tes na hanseníase lepromatosa, mas poucos são observados na
*N. de T. A vacina BCG faz parte do Calendário Nacional de Vacinação forma tuberculoide. Culturas e testes sorológicos não são realiza-
brasileiro, sendo administrada em dose única logo após o nascimento da dos. O teste cutâneo de lepromina é positivo na forma tubercu-
cnança. loide, mas não na forma lepromatosa. Um ensaio sorológico para
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 64S

a detecção de IgM contra o glicolipídeo fenólico -1 é bastante efi- Características - São os menores organismos de vida livre. Não
caz no diagnóstico da hanseníase lepromatosa. podem ser visualizados em esfregaço submetido à coloração de
Gram por não possuírem parede celular, assim, os corantes não
Tratamento - Dapsona com rifampina para a forma tuberculoide.
A clofazimina é adicionada ao regime para a forma lepromatosa, são retidos. As penicilinas e cefalosporinas não são efetivas uma
ou quando o organismo é resistente à dapsona. O tratamento per- vez que estes organismos não são dotados de parede celular (pep-
dura por, pelo menos, dois anos. tidoglicano). São as únicas bactérias que apresentam colesterol
na membrana celular. Podem ser cultivadas in vitro.
Prevenção - Administração de dapsona para os contatos domici-
Hábitat e transmissão - O hábitat é o trato respiratório humano.
liares que são próximos ao indivíduo acometido. Não há vacina
disponível. A transmissão ocorre por meio de perdigotos.
Patogênese - Não são produzidas exotoxinas. Não há endotoxina
em virtude da ausência de parede celular. Produz peróxido de hi-
ACTINOMICETOS (CAPÍTULO 22) drogênio, o que pode danificar o trato respiratório.
Actinomyces israelii Diagnóstico laboratorial - A coloração de Gram não é útil. Podem
Doença-Actinomicose (abscessos com fístulas de drenagem). ser cultivadas em meios bacteriológicos especiais, mas podem
levar até dias para crescer, período muito longo para ser clinica-
Características- Bacilos gram-positivos anaeróbios, filamentosos mente útil. Um ensaio de aglutinina-fria positivo consiste em uma
e ramificados. evidência presuntiva. O teste de fixação do complemento para an-
Hábitat e transmissão - O hábitat é a cavidade oral humana, espe- ticorpos contra Mycoplasma pneumoniae é mais específico.
cialmente em fendas anaeróbias ao redor dos dentes. A transmis- Tratamento - Azitromicina ou doxiciclina.
são para o interior dos tecidos ocorre durante doença ou trauma
dentais. Os organismos são também aspirados até os pulmões, Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis.
causando actinomicose torácica. Dispositivos intrauterinos
(DIUs) retidos predispõem à actinomicose pélvica.
ESPIROQUETAS (CAPÍTULO 24)
Patogênese - Não há toxinas ou fatores de virulência conhecidos.
O organismo forma fístulas de drenagem que se abrem na pele e Treponema pallidum
contêm "grânulos de enxofre': os quais consistem em massas de Doença - Sífilis.
filamentos bacterianos entrelaçados.
Características - Espiroquetas. Não são visualizados em esfrega-
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de ços submetido à coloração de Gram, porque o organismo é muito
Gram e cultura anaeróbia em placa de ágar-sangue. "Grânulos de delgado. Não cultivável in vitro.
enxofre,, são visíveis no pus. Não há testes sorológicos.
Hábitat e transmissão - O hábitat é o trato genital humano.
Tratamento - Penicilina G e drenagem cirúrgica. A transmissão ocorre por meio de contato sexual, e da mãe para
Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis. o feto por meio da placenta.
Patogênese - O organismo multiplica-se no sítio de inoculação
Nocardia asteroides e, então, dissemina-se amplamente pela corrente sanguínea. Di-
Doença - Nocardiose (especialmente abscessos pulmonares e ce- versas características da sífilis são atribuídas ao envolvimento de
rebrais). vasos sanguíneos, causando vasculite. Lesões primárias (cancro)
Características- Bacilos gram-positivos aeróbios, filamentosos e e secundárias curam espontaneamente. Lesões terciárias consis-
ramificados. Fracamente acidorresistentes. tem em gomas (granulomas nos ossos, nos músculos e na pele),
aortite ou inflamação do sistema nervoso central. Não há toxinas
Hábitat e transmissão - O hábitat é o solo. A transmissão ocorre ou fatores de virulência conhecidos.
por meio de partículas suspensas no ar, as quais são inaladas até
os pulmões. Diagnóstico laboratorial - Organismo visualizado por meio de
microscopia de campo escuro ou imunofluorescência. Ensaios
Patogênese - Não há toxinas ou fatores de virulência conhecidos. sorológicos importantes: VDRL e RPR são testes não treponê-
Imunossupressão e câncer predispõem à infecção. micos (inespecíficos) utilizados em procedimentos de triagem;
Diagnóstico laboratorial - Esfregaço submetido à coloração de FTA-ABS é o teste específico mais amplamente utilizado na de-
Gram e coloração de Ziehl-N eelsen modificada. Cultura aeróbia tecção de Treponema pallidum. O antígeno utilizado nos ensaios
em placa de ágar-sangue. Não há testes sorológicos. de VDRL e RPR é a cardiolipina presente no coração bovino; o
antígeno utilizado no ensaio FTA-ABS consiste em T. pallidum
Tratamento - Sulfonamidas.
morto. O VDRL declina com o tratamento, enquanto FTA-ABS
Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis. mantém -se positivo por toda a vida.
Tratamento - A penicilina é efetiva no tratamento de todos os es-
MICOPLASMAS (CAPÍTULO 23) tágios da sífilis. Na sífilis primária e secundária, usa-se a penicili-
na G benzatina ( uma preparação de depósito) porque T. pallidum
Mycoplasma pneumoniae cresce lentamente, de modo que o fármaco deve estar presente
Doença - Pneumonia "atípicà: por um longo período. Não há resistência.
646 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

Prevenção - Penicilina benzatina é administrada aos contatos do Prevenção - A doxiciclina é eficaz para exposição de curto prazo.
paciente. Não há vacina disponível. Vacinação de gado e animais de estimação. Controle de ratos.

Borre/ia burgdorferi Borre/ia recurrentis


Doença - Doença de Lyme. Causa febre recorrente. Transmitido pelo piolho-do-corpo hu-
mano. Organismo bem conhecido por suas rápidas alterações an-
Características - Espiroquetas. A coloração de Gram não é útil. tigênicas que justificam a natureza recidivante da doença. As mu-
Podem ser cultivados in vitro, mas geralmente o procedimento danças antigênicas ocorrem devido a rearranjos programados da
não é realizado. região do DNA bacteriano que codifica proteínas de superfície.
Hábitat e transmissão - O principal reservatório é o camundon-
go-de-pata-branca. A transmissão ocorre por meio da picada de
carrapatos ixodídeos, especialmente em três regiões dos Estados CLAMÍDIAS (CAPÍTULO 25)
Unidos: Nordeste (p. ex., Connecticut), Centro-Oeste (p. ex.,
Chlamydia trachomatis
Wisconsin) e Costa Oeste (p. ex., Califórnia). Oitenta por cento
dos casos ocorrem nos seguintes estados do Nordeste americano: Doenças- Uretrite não gonocócica, cervicite, conjuntivite de in-
Connecticut, Nova Iorque e Nova Jersey. O minúsculo estágio de clusão, linfogranuloma venéreo e tracoma. Também causa pneu-
. .
ninfa do carrapato ixodídeos (carrapato-do-cervo) é o vetor mais mon1a em crianças.
comum. O carrapato deve alimentar-se por pelo menos 24 horas Características - Parasitas intracelulares obrigatórios. Não visuali-
para transmitir uma dose infectante de B. burgdorferi. zado em esfregaço submetido à coloração de Gram. Existe extrace-
Patogênese - O organismo invade a pele, causando uma erupção lularmente como corpúsculo elementar inativo e intracelularmente
denominada eritema migrans. Então, dissemina-se pela corrente como corpúsculo reticulado metabolicamente ativo e em divisão.
sanguínea e envolve principalmente o coração, as articulações e Hábitat e transmissão - O hábitat inclui o trato genital humano e
o sistema nervoso central. Não foram identificados toxinas ou fa- os olhos. A transmissão ocorre por contato sexual e durante a pas-
tores de virulência. sagem do neonato pelo canal de parto. No tracoma, a transmissão
Diagnóstico laboratorial - O diagnóstico é geralmente sorológico ocorre principalmente pelo contato das mãos com os olhos.
(i.e., pela detecção de anticorpos IgM). O teste sorológico positi- Patogênese - Não há toxinas ou fatores de virulência conhecidos.
vo deve ser confirmado por Western blot. Diagnóstico laboratorial- O teste de amplificação de ácidos nuclei-
Tratamento - Doxiciclina nos estágios precoces; penicilina G em cos (TAAN) utilizando uma amostra de urina do paciente é utili-
estágios tardios. zado no diagnóstico de doenças sexualmente transmissíveis desen-
Prevenção- Uma vacina contendo a proteína da membrana ex- cadeadas por clamídias. São observadas inclusões citoplasmáticas
em esfregaços de exsudatos corados pelo Giemsa ou marcados com
terna do organismo estava disponível, mas seu uso foi suspenso.
anticorpos fluorescentes. Ensaios baseados em PCR encontram-se
Deve-se evitar a picada do carrapato. Doxiciclina ou amoxicilina
disponíveis. O organismo cresce em cultura celular e ovos embrio-
podem ser administradas a pessoas picadas por carrapatos em
nados, embora estes não sejam frequentemente utilizados.
áreas endêmicas.
Tratamento - Tetraciclina (p. ex., doxiciclina) ou macrolídio
Leptospira interrogans (p. ex., azitromicina).

Doença - Leptospirose. Prevenção - A eritromicina é efetiva em mães infectadas para pre-


venir a doença neonatal. Não há vacina disponível.
Características - As espiroquetas podem ser visualizadas por
meio da microscopia de campo escuro, mas não pela microscopia Chlamydia pneumoniae
óptica. Podem ser cultivadas in vitro.
Doença - Pneumonia atípica.
Hábitat e transmissão - O hábitat consiste em animais domésticos
e silvestres. A transmissão ocorre por meio da urina do animal. Características - As mesmas apresentadas por C. trachomatis.
Nos Estados Unidos, a transmissão ocorre principalmente por Hábitat e transmissão - O hábitat é o trato respiratório humano.
meio da urina de cães, gado e ratos. A transmissão ocorre via aerossol respiratório.
Patogênese - Há duas fases: uma fase bacteriêmica inicial e uma Patogênese - Não há toxinas ou fatores de virulência conhecidos.
fase imunopatológica subsequente, com meningite. Não há toxi-
Diagnóstico laboratorial - Testes sorológicos para detecção de an-
nas ou fatores de virulência conhecidos.
ticorpos no soro do paciente.
Diagnóstico laboratorial - A microscopia de campo escuro e o Tratamento - Uma tetraciclina, como a doxiciclina.
cultivo in vitro encontram-se disponíveis para o auxílio no diag-
nóstico, porém não são realizados com frequência. O diagnóstico Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis.
é geralmente realizado por meio de testes sorológicos para a de-
tecção de anticorpos no soro do paciente. Chlamydia psittaci
Tratamento- Penicilina G. Não há resistência significativa a an- Doença - Psitacose.
tibióticos. Características - As mesmas apresentadas por C. trachomatis.
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 647

Hábitat e transmissão - O hábitat consiste em aves, tanto psitací- Características - Parasitas intracelulares obrigatórios. Não são
deas quanto outras. A transmissão ocorre por aerossóis contendo bem visualizados em esfregaço submetido à coloração de Gram.
fezes secas de aves. Hábitat e transmissão - O hábitat consiste no gado doméstico.
Patogênese - Não há toxinas ou fatores de virulência conhecidos. A transmissão ocorre por meio da inalação de aerossóis contendo
urina, fezes, líquido amniótico ou tecido placentário. Essa é a úni-
Diagnóstico laboratorial - O diagnóstico é geralmente realiza-
do por meio de testes para detecção de anticorpos no soro do ca riquétsia não transmitida a humanos por um vetor artrópode.
paciente. Há inclusões citoplasmáticas observadas por meio da Patogênese - Não há toxinas ou fatores de virulência conhecidos.
coloração de Giemsa ou marcação com anticorpos fluorescentes. Diagnóstico laboratorial - O diagnóstico é geralmente realizado
O organismo pode ser isolado a partir do escarro, mas esse pro- por meio de testes sorológicos. O teste de Weil-Felix é negativo.
cedimento é raramente realizado. Coloração e cultura estão raramente realizadas.
Tratamento - Tetraciclina.
Tratamento - Tetraciclina.
Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis.
Prevenção - Uso de uma vacina inativada para indivíduos com
ocupações de alto risco. Não há fármaco disponível.
RIQUÉTSIAS (CAPÍTULO 26)
Rickettsia rickettsii PATÕGENOS BACTERIANOS DE MENOR
Doença - Febre maculosa das Montanhas Rochosas. IMPORTÂNCIA (CAPÍTULO 27)
Características - Parasitas intracelulares obrigatórios. Não são Somente os principais patógenos bacterianos entre os de menor
bem visualizados em esfregaço submetido à coloração de Gram. importância estão resumidos nesta seção.
Os antígenos reagem cruzadamente com linhagens OX de Pro-
teus vulgaris (reação de Weil-Felix). Anaplasma phagocytophilum
Hábitat e transmissão - Os carrapatos Dermacentor (de cão) são Membro da família Rickettsia. Causa anaplasmose granulocítica
tanto o vetor quanto o principal reservatório. A transmissão humana. Transmitida dos reservatórios (roedores, cães) para os
ocorre por meio da picada do carrapato. Cães e roedores também seres humanos por meio de carrapatos, especialmente por Ixo-
podem ser reservatórios. des, o carrapato-do-cervo. Endêmica em estados do Nordeste e
Patogênese - O organismo invade o revestimento endotelial de em estados centrais do Norte (p. ex., Connecticut e Wisconsin).
vasos capilares, causando vasculite. Não foram identificados to- Forma mórulas no citoplasma de monócitos. (Uma mórula é um
xinas ou fatores de virulência. corpúsculo de inclusão "com aspecto de amorà' composto por
muitas células de A. phagocytophilum).
Diagnóstico laboratorial - O diagnóstico é realizado por meio da
detecção de anticorpos em testes sorológicos como o teste ELISA. Eikenella corrodens
O teste de Weil-Felix não é mais utilizado. Coloração e cultura
estão raramente realizadas. Bacilo gram-negativo membro da microbiota normal da boca
humana. Provoca infecções cutâneas e dos ossos associadas a
Tratamento - Tetraciclina. mordeduras humanas e lesões de "punho cerrado':
Prevenção - Uso de vestimentas protetoras e a imediata remoção
dos carrapatos. A tetraciclina é efetiva em indivíduos expostos. Ehrlichia chaffeensis
Não há vacina disponível. Membro da família Rickettsia. Causa a erliquiose monocítica
humana. Transmitida do reservatório canino aos humanos por
Rickettsia prowazekii carrapatos, especialmente Dermacentor, o carrapato-do-cão. En-
Doença - Tifo. dêmico nos estados do sul dos Estados Unidos (p. ex., Arkansas).
Forma mórulas no citoplasma de monócitos. (Uma mórula é um
Características - As mesmas apresentadas por R. rickettsii.
corpúsculo de inclusão "com aspecto de amora,, composto por
Hábitat e transmissão - Os seres humanos são o reservatório e a muitas células de E. Chaffeensis).
transmissão ocorre pela picada do piolho-do-corpo humano.
Patogênese - Não há toxinas ou fatores de virulência conhecidos. Fusobacterium nuc/eatum
Diagnóstico laboratorial - Testes sorológicos para detecção de an- Bacilo gram-negativo anaeróbio com extremidades afiladas.
ticorpos no soro do paciente. Membro da microbiota normal da cavidade oral humana, do colo
e do trato genital feminino. Causa abscessos encefálicos, pulmo-
Tratamento - Uma tetraciclina, como a doxiciclina.
nares, abdominais e pélvicos, geralmente em combinação com
Prevenção - Uma vacina inativada é utilizada por militares, mas outras bactérias anaeróbias e facultativas.
não é disponibilizada para uso em civis.
Gardnerella vagina/is
Coxiella burnetii Bacilo gram-variável facultativo. Envolvido na vaginose bacteria-
Doença - Febre Q. na, juntamente com espécies de Mobiluncus, que são anaeróbios.
648 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

Ver "células indicadoras': que consistem em células do epitélio mente em crianças. Também causa bronquite e pneumonia, prin-
vaginal recobertas por células de G. vaginalis. Teste "whiff" posi- cipalmente em idosos com doença pulmonar obstrutiva crônica.
tivo é observado na vaginose bacteriana. É encontrado apenas em seres humanos, sendo transmitido por
aerossol respiratório.
Haemophilus ducreyi
Bacilo gram-negativo pequeno. Causa o cancroide. Doença se- Yersinia enterocolitica
xualmente transmissível, com úlceras dolorosas nos órgãos ge- Bacilos gram-negativos. Causa uma enterocolite similar à causa-
nitais (ao contrário da sífilis, que é indolor). O crescimento em da por Shigella e Salmonella. Também causa adenite mesentérica,
cultura requer o fator X (heme), mas não o fator V (ao contrário que pode mimetizar a apendicite. São encontrados em animais
de H. influenzae, que requer ambos). domésticos e são transmitidos aos seres humanos pela contami-
nação fecal de alimentos.
Moraxella catarrhalis
Pequeno bacilo cocobacilar gram-negativo que se assemelha aos
cocos do gênero Neisseria. Causa otite média e sinusite principal-

RESUMO DOS VÍRUS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA - - - - - - - - -


VÍRUS DE DNA ENVELOPADOS Tratamento - Aciclovir para encefalite e doença disseminada.
O aciclovir não tem efeito sobre o estado latente do vírus. Triflu-
(CAPÍTULO 37) ridina ou aciclovir para ceratite. Infecções primárias e recorrên-
Herpes-vírus simples 1 cias localizadas são autolimitantes.

Doenças - Herpes labial,* ceratite, encefalite. Prevenção - Recorrências podem ser prevenidas evitando-se o
agente ativador específico, como luz solar intensa. Aciclovir, va-
Características - Vírus envelopado com nucleocapsídeo icosaé- laciclovir ou famciclovir são utilizados na redução de recidivas.
drico e DNA linear de dupla-fita. Não há polimerase no vírion. Não há vacina disponível.
Um sorotipo; possui reação cruzada com o herpes-vírus simples
(HSV) 2. O HSV-1 pode ser diferenciado do HSV-2 por meio da
utilização de anticorpos monoclonais contra a glicoproteína G.
Herpes-vírus simples 2
Nenhum antígeno grupo-específico para o vírus. Doenças - Herpes genital, meningite asséptica e infecção neonatal.
Transmissão - Pela saliva ou pelo contato direto com os vírus pro- Características - Vírus envelopado com nucleocapsídeo icosaé-
venientes de vesículas. drico e DNA linear de dupla-fita. Não há polimerase no vírion.
Um sorotipo; reage de forma cruzada com HSV-1. O HSV-2 pode
Patogênese - As lesões vesiculares iniciais ocorrem na boca ou
ser diferenciado do HSV-1 por meio da utilização de anticorpos
na face. O vírus então se desloca pelo axônio e torna-se latente
monoclonais contra a glicoproteína G. Nenhum antígeno grupo-
nos gânglios sensoriais (trigeminais). Ocorrem recorrências na
-específico para o vírus.
pele inervada pelo nervo sensorial afetado, as quais são induzidas
por febre, luz solar, estresse, etc. A disseminação a órgãos inter- Transmissão - Contato sexual em adultos, e pela passagem através
nos ocorre em pacientes que apresentam depressão da imunidade do canal de parto em neonatos.
mediada por células, com consequências potencialmente fatais. A
Patogênese - Lesões vesiculares iniciais ocorrem nos órgãos ge-
encefalite por HSV-1 frequentemente afeta o lobo temporal. nitais. O vírus então se desloca pelo axônio e torna-se latente nos
Diagnóstico laboratorial- O vírus causa efeito citopático (ECP) gânglios sensoriais (lombares ou sacras). As recorrências são me-
em cultura celular. Ele pode ser identificado por meio do teste de nos graves que a infecção primária. As infecções por HSV-2 em
neutralização com anticorpos ou com o uso de anticorpos fluo- neonatos podem ser fatais, pois os neonatos apresentam imuni-
rescentes. O esfregaço de Tzanck, de células da base da vesícula, dade mediada por células reduzida. A eliminação assintomática
revela células gigantes multinucleadas com inclusões intranuclea- de HSV-2 no trato genital feminino é um importante fator contri-
res. Essas células gigantes não são específicas para o HSV-1; são buinte para infecções neonatais.
também observadas nas lesões vesiculares causadas por HSV-2 e Diagnóstico laboratorial - O vírus causa ECP em cultura celular.
pelo vírus da varicela-zóster. Um aumento no título de anticorpos Ele pode ser identificado pelo teste de neutralização com anti-
pode ser utilizado para o diagnóstico de infecção primária, mas corpos ou com o uso de anticorpos fluorescentes. O esfregaço
não de recorrências. A encefalite por HSV pode ser diagnosticada de Tzanck revela células gigantes multinucleadas mas não é es-
pelo uso de PCR para detectar DNA de HSV-1 no líquido espinal. pecífico para HSV-2. Um aumento no título de anticorpos pode
ser utilizado para o diagnóstico de infecção primária, mas não de
A •
recorrenc1as.
*N. de T. Na língua inglesa, são empregados os termos fever blisters e cold
sores, cujas traduções aproximadas são "pústulas febris" e "dores do frio: Tratamento - Aciclovir é útil no tratamento de infecções genitais
para indicar este tipo de infecção. Na língua portuguesa, no entanto, usa- primárias e recorrentes, assim como de infecções neonatais. Não
se apenas o termo "herpes labial". é eficaz para o estado latente.
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 649

Prevenção - A doença primária pode ser prevenida evitando-se a Transmissão - O vírus é encontrado em diversos fluidos corporais
exposição às lesões vesiculares. As recorrências podem ser redu- humanos, incluindo sangue, saliva, sêmen, muco do colo do úte-
zidas pela utilização em longo prazo de aciclovir, valaciclovir ou ro, leite materno e urina. O vírus é transmitido por esses fluidos
famciclovir via oral. A infecção neonatal pode ser prevenida rea- pela placenta ou por transplante de órgãos.
lizando-se cesariana quando a mãe apresentar lesões vesiculares
Patogênese - A infecção inicial geralmente ocorre na parte oral
visíveis no canal de parto. Não há vacina.
da faringe. Em infecções fetais, o vírus dissemina-se para vários
órgãos (p. ex., sistema nervoso central e rins). Em adultos, os lin-
Vírus da varicela-zóster fócitos são frequentemente envolvidos. Um estado latente ocorre
Doenças - Varicela (catapora) em crianças e herpes-zóster (co- em monócitos. A infecção disseminada em pacientes imunocom-
breiro) em adultos. prometidos pode resultar tanto de uma infecção primária quanto
Características - Vírus envelopado com nucleocapsídeo icosaé- da reativação de uma infecção latente.
drico e DNA linear de dupla-fita. Não há polimerase no vírion. Diagnóstico laboratorial - O vírus causa ECP em cultura celular e
Um sorotipo. pode ser identificado por meio do uso de anticorpos fluorescen-
Transmissão - A varicela é transmitida principalmente por meio tes. São observadas inclusões nucleares do tipo "olho de corujà:
de perdigotos. Não há transmissão de zóster; a doença é causada Um aumento de quatro vezes ou mais no título de anticorpos no
pela reativação do vírus latente. soro da fase de convalescença é diagnóstico.
Patogênese - A infecção inicial ocorre na parte oral da faringe. Tratamento - O ganciclovir é benéfico no tratamento de pneumo-
O vírus então se dissemina pela corrente sanguínea até os ór- nia e retinite. O fármaco aciclovir não é efetivo.
gãos internos como fígado e, então, para a pele. Após o episódio Prevenção - Não há vacina disponível. O uso de ganciclovir su-
agudo de varicela, o vírus permanece latente nos gânglios senso- prime a retinite. Não se deve transfundir sangue positivo para
riais, podendo ser reativado e causar herpes-zóster anos depois. anticorpos contra CMV em recém-nascidos ou pacientes imu-
Isso acontece especialmente em indivíduos idosos e imunocom-
nocomprometidos que sejam negativos para anticorpos contra
prometidos.
CMV.
Diagnóstico laboratorial - O vírus causa ECP em cultura celular
e pode ser identificado por meio do uso de anticorpos fluores- Vírus Epstein-Barr
centes. Células gigantes multinucleadas são observadas em es-
Doenças - Mononucleose infecciosa; associado ao linfoma de
fregaços da base das vesículas. Inclusões intranucleares são ob-
servadas em células infectadas. Um aumento de quatro vezes ou Burkitt em crianças da África Oriental.
mais no título de anticorpos no soro da fase de convalescença é Características - Vírus envelopado com nucleocapsídeo icosaé-
diagnóstico. drico e DNA linear de dupla-fita. Não há polimerase no vírion.
Tratamento - Não há indicação de terapia antivira! para varicela Um sorotipo.
ou zóster em pacientes imunocompetentes. No caso de pacientes Transmissão - O vírus é encontrado na parte oral da faringe e
imunocomprometidos, o aciclovir pode prevenir a disseminação. nos linfócitos B humanos. É transmitido principalmente pela
Prevenção - Tanto a vacina contra varicela quanto a vacina contra saliva.
o herpes-zóster contêm vírus da varicela-zóster vivos atenuados.* Patogênese - Na mononucleose infecciosa, a infecção se inicia
Pacientes imunocomprometidos expostos ao vírus devem rece- no epitélio faríngeo, dissemina-se para os linfonodos cervicais,
ber imunização passiva com imunoglobulina contra varicela-zós- e então se desloca pela corrente sanguínea até o fígado e o baço.
ter (VZI G) e aciclovir para prevenir a doença disseminada. O EBV estabelece latência em linfócitos B. No linfoma de Burkitt,
a oncogênese é o resultado de uma translocação do oncogene
Citomegalovírus c-myc a um local adjacente a um promotor de gene de imunoglo-
Doenças - A infecção por esse vírus é a causa mais comum de bulina. Esta translocação aumenta a síntese da proteína c-myc,
anomalias congênitas nos Estados Unidos. Doença da inclusão uma potente oncoproteína.
citomegálica em lactentes. Mononucleose em pacientes recep- Diagnóstico laboratorial- O vírus raramente é isolado. Na mo-
tores de transfusão. Pneumonia e hepatite em pacientes imuno- nonucleose infecciosa é observada linfocitose, incluindo a pre-
comprometidos. Retinite e enterite, especialmente em pacientes sença de linfócitos atípicos. O teste para anticorpos heterofílicos
com Aids. é frequentemente positivo (teste de Monospot). O anticorpo he-
Características - Vírus envelopado com nucleocapsídeo icosaé- terofílico aglutina hemácias de carneiro ou cavalo. Um aumento
drico e DNA linear de dupla-fita. Não há polimerase no vírion. significativo no título de anticorpos EBV-específicos contra o an-
Um sorotipo. tígeno do capsídeo viral é diagnóstico.
Tratamento - Nenhum fármaco eficaz encontra-se disponível
*N. de T. Na verdade, há uma única vacina que protege contra infecções
para o tratamento da mononucleose infecciosa.
pelo vírus da varicela-zóster, já que o mesmo vírus causa as duas manifes-
tações, varicela e herpes-zóster. Prevenção - Não há fármaco ou vacina disponíveis.
6S0 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

Herpes-vírus humano tipo 8 vermelhos). Cepas entéricas causam diarreia. Algumas cepas cau-
sam sarcomas em determinados animais, mas não em humanos.
Causa o sarcoma de Kaposi, especialmente em pacientes com
Aids. Transmitido sexualmente. O diagnóstico é feito por meio Características - Vírus não envelopado com nucleocapsídeo ico-
de exame patológico de biópsia da lesão. São observadas células saédrico e genoma composto por DNA linear de dupla-fita. Não
fusiformes e hemácias extravasadas. A cor púrpura das lesões são há polimerase no vírion. Há 41 sorotipos, alguns associados a
devidas ao acúmulo de sangue venoso. Não há tratamento antivi- doenças específicas.
ra! específico ou vacina. Transmissão - Principalmente por perdigotos; transmissão iatro-
gênica na doença ocular; transmissão fecal-oral no caso das cepas
Vírus da varíola entéricas.
Doença - Varíola. A varíola foi erradicada por meio de vacinação. Patogênese - O vírus infecta preferencialmente o epitélio do tra-
O último caso conhecido ocorreu na Somália, em 1977. to respiratório e olhos. Após a infecção aguda, uma produção
Características - Os poxvírus são os maiores vírus.* Vírus envelo- mínima de vírus, sem a presença de sintomas, pode ocorrer na
pado com genoma composto por DNA linear de dupla-fita. Pos- faringe.
sui uma RNA-polimerase DNA-dependente no vírion. Um tipo Diagnóstico laboratorial - O vírus causa ECP em cultura celular e
sorológico. pode ser identificado por testes com anticorpos fluorescentes ou
Transmissão - Por meio de perdigotos ou por contato direto com de fixação do complemento. O aumento no título de anticorpos
vírus nas lesões cutâneas. no soro da fase de convalescença é diagnóstico.
Patogênese - O vírus infecta as células das mucosas do trato res- Tratamento - Nenhum.
piratório superior, dissemina-se, então, aos linfonodos locais e, Prevenção - Uma vacina viva contra os tipos 3, 4 e 7 é utilizada
por viremia, para o fígado e o baço. Posteriormente, alcança a em militares para prevenir a pneumonia.
pele. As lesões cutâneas progridem na seguinte ordem: mácula,
pápula, vesícula, pústula e crosta.
Papilomavírus humano
Diagnóstico laboratorial - O vírus é identificado pelo ECP em Doenças- Papilomas (verrugas), condilomas acuminados (ver-
cultura celular ou por "pocks" em membranas corioalantoicas.
rugas genitais); associado ao carcinoma do colo do útero e do
A microscopia eletrônica revela partículas típicas; inclusões ci- A •
pen1s.
toplasmáticas são observadas ao microscópio óptico. Antígenos
virais no fluido das vesículas podem ser detectados por testes de Características - Vírus não envelopados com nucleocapsídeo ico-
precipitina. Um aumento de quatro vezes ou mais no título de saédrico e genoma composto por DNA circular de dupla-fita.
anticorpos no soro da fase de convalescença é diagnóstico. Não há polimerase no vírion. Há, pelo menos, 60 tipos, os quais
são determinados pela sequência do DNA e não pela antigeni-
Tratamento - Nenhuma.
cidade. Vários tipos infectam o epitélio e causam papilomas em
Prevenção - A vacina contém vírus vivos e atenuados, o vírus vac- sítios específicos do corpo.
cínia. A vacina não é mais utilizada, exceto por militares, uma vez
Transmissão - Contato direto com lesões cutâneas ou genitais.
que a doença foi erradicada.
Patogênese- Dois genes virais precoces, E6 e E7, codificam pro-
Vírus do molusco contagioso teínas que inibem a atividade das proteínas codificadas por genes
supressores de tumor (p. ex., o gene p53 e o gene do retinoblasto-
Causa o molusco contagioso. São observadas lesões cutâneas pa- ma, respectivamente).
pulares, róseas, com um centro umbilicado. As lesões ocorrem
geralmente na face, especialmente ao redor dos olhos. Transmi- Diagnóstico laboratorial - O diagnóstico é realizado clinicamente
tido por contato direto. O diagnóstico é realizado clinicamente, a partir da observação de coilócitos nas lesões. Testes de hibri-
não havendo envolvimento laboratorial. Não há terapia antivira! dização de DNA estão disponíveis. Isolamento do vírus e testes
estabelecida ou vacina. O cidofovir pode ser útil no tratamento de sorológicos não são realizados.
lesões extensas que ocorrem em pacientes imunocomprometidos. Tratamento - Podofilina ou nitrogênio líquido são os tratamentos
mais comumente utilizados. O interferon a também é disponi-
bilizado.
VÍRUS DE DNA NÃO ENVELOPADOS Prevenção - Há duas vacinas disponíveis: uma contém as proteí-
(CAPÍTULO 38) nas do capsídeo de quatro tipos do HPV (6, 11, 16 e 18), e a outra
Adenovírus contém as proteínas do capsídeo de dois tipos (16 e 18). O trata-
mento varia de acordo com o local das lesões: nitrogênio líquido
Doenças- Doença do trato respiratório superior e inferior, especial- é utilizado nas lesões cutâneas, podofilina, nas lesões genitais e
mente faringite e pneumonia. Também causam conjuntivite (olhos ácido salicílico, nas lesões plantares.

*N. de T. Na verdade, os poxvírus são os maiores vírus que infectam Parvovírus B19
hospedeiros animais. Existem outros vírus, como os mimivírus, que são
maiores que os poxvírus. No entanto, os hospedeiros naturais dos mimi- Doenças - Síndrome da bochecha esbofeteada (eritema infeccio-
vírus são amebas. so), anemia aplástica, artrite e hidropsia fetal.
PARTE X Resumos dos Organismos de Import ância Méd ica 651

Características - Vírus não envelopados de simetria icosaédrica e Prevenção - Há duas vacinas disponíveis: ( 1) uma vacina não
genoma composto por DNA de fita simples. O vírion não contém replicativa (de subunidades) contendo os antígenos HA e NA
polimerase. Há um sorotipo. purificados, e (2) uma contendo uma cepa mutante viva, termos-
sensível, do vírus influenza. O vírus na vacina viva replica-se nas
Transmissão - Por meio de perdigotos e pela via transplacentária.
vias nasais, mais frias, onde induz a IgA secretora, mas não no
Patogênese - O vírus infecta preferencialmente eritroblastos, trato respiratório inferior, mais quente. Ambas as vacinas contêm
causando anem ia aplástica em pacientes com anemias heredi- linhagens de vírus influenza A e B que causam as doenças cor-
tárias; imunocomplexos causam eritema e artrite. O vírus pode rentes no período. A vacina não replicativa não é um imunógeno
infectar o feto e causar anemia grave, levando à insuficiência car- potente, e deve ser administrada anualmente. A vacina contra a
díaca congestiva e ao edema (hidropsia fetal). Anticorpos mater- gripe «comum" contém ou duas linhagens A (H lNl e H3N2) e
nos protegem o feto da infecção. uma linhagem B, ou duas linhagens A e duas linhagens B. A vaci-
Diagnóstico laboratorial - Testes sorológicos. na contra a gripe "suínà' contém apenas a nova linhagem H lNl
de origem suína. A maioria destas vacinas é produzida em ovos,
Tratamento - Nenhum. desta forma indivíduos que apresentam uma resposta anafiláti-
Prevenção - Não há fármaco ou vacina disponíveis. ca grave a proteínas de ovos não devem receber esta vacina. Em
2013, foi disponibilizada uma vacina que não foi produzida em
ovos. O oseltamivir pode ser utilizado como profilático em pes-
VÍRUS DE RNA ENVELOPADOS soas não imunizadas que foram expostas ao vírus.
{CAPÍTULO 39)
Vírus do sarampo
Vírus influenza Doença - Sarampo. A panencefalite esclerosante subaguda é uma
Doenças - Gripe (influenza) . O vírus influenza A é a principal rara complicação tardia.
causa de epidem ias mundiais (pandem ias). Uma pandemia cau- Características - Vírus envelopado com nucleocapsídeo helicoidal
sada por um vírus influenza A, tipo HlNl, de origem suína, ini- e um segmento de RNA de fita simples de polaridade negativa.
ciou-se em 2009. RNA-polimerase presente no vírion. Apresenta um único sorotipo.
Características - Vírus envelopados com nucleocapsídeo helicoi- Transmissão - Por meio de perdigotos.
dal e genoma composto por RNA de fita simples, segmentado,
de polaridade negativa. RNA-polimerase presente no vírion. Patogênese - O sítio inicial da infecção é o trato respiratório su -
Os dois principais antígenos são a hemaglutinina (HA) e a neu- perior. O vírus dissemina-se até os linfonodos locais e, então, pela
raminidase (NA) em espículas superficiais distintas. Uma va- corrente sanguínea, para outros órgãos, incluindo a pele. Pneu-
riação antigênica nestas proteínas, como resultado do rearranjo m onia de células gigantes e encefalite podem ocorrer. A erupção
dos segmentos de RNA, justifica o aparecimento de epidemias maculopapular é devida ao ataque imune mediado por células
das células T citotóxicas às células endoteliais vasculares da pele
de gripe provocadas pelo vírus influenza A . O vírus influenza A
de animais corresponde à fonte dos novos segmentos de RNA. infectadas pelos vírus.
A deriva antigênica decorrente de mutações também contribui. Diagnóstico laboratorial - O vírus raramente é isolado. Testes so-
O vírus apresenta diversos sorotipos em virtude dessas mudan- rológicos são utilizados quando necessário. Ensaios de PCR estão
ças e derivas antigênicas. A antigenicidade da proteína interna do disponíveis.
nucleocapsídeo determina se o vírus influenza é A, B ou C. Tratamento - Não há terapia antivira! disponível.
Transmissão - Por meio de perdigotos, no caso da transmissão Prevenção - A vacina contém vírus vivos atenuados. Geralmente,
entre seres humanos. O sorotipo HSN l é transmitido de pássaros é administrada com as vacinas contra caxumba e rubéola.
para humanos.
Patogênese - A infecção é limitada principalmente ao epitélio do Vírus da caxumba
trato respiratório. Doença - Caxumba. A esterilidade decorrente de orquite bilateral
Diagnóstico laboratorial - Um rápido teste ELISA para detecção é uma complicação rara.
de antígen os do vírus influenza em secreções é frequentemen - Características - Vírus envelopado com nucleocapsídeo helicoidal
te utilizado. O vírus cresce em cultura celular e em ovos em- e um segmento de RNA de fita simples de polaridade negativa.
brionados, podendo ser detectado por hemadsorção ou hema- RNA-polimerase presente no vírion. Apresenta um único sorotipo.
glutinação. É identificado pela inibição da hemaglutinação ou
por fixação do complemento. Um aumento de quatro vezes ou Transmissão - Por meio de perdigotos.
mais no título de anticorpos no soro da fase de convalescença é Patogênese- O sítio inicial da infecção é o trato respiratório su-
diagnóstico. perior. O vírus dissemina-se até os linfonodos locais e, então, pela
Tratamento - O oseltamivir, um inibidor da neuraminidase, é o corrente sanguínea, para outros órgãos, especialmente as glându-
fármaco de escolha. Um outro inibidor da neuraminidase, o za- las parótidas, os testículos, os ovários, as meninges e o pâncreas.
namivir, também está disponível. A amantadina e a rimantadina Diagnóstico laboratorial - O vírus pode ser isolado em cultura ce-
não são mais utilizadas em razão da ampla e dispersa resistência lular e detectado por hemadsorção. O diagnóstico também pode
viral. ser realizado sorologicamente. Ensaios de PCR estão disponíveis.
652 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

Tratamento - Não há terapia antiviral disponível. Vírus sincicial respiratório


Prevenção - A vacina contém vírus vivos atenuados. Geralmente, Doenças - A causa mais importante de bronquiolite e pneumonia
é administrada com as vacinas contra sarampo e rubéola. em lactentes. Também provoca otite média em crianças mais velhas.
Características - Vírus envelopado com nucleocapsídeo helicoidal
Vírus da rubéola e um segmento de RNA de fita simples de polaridade negativa.
Doença - Rubéola. A síndrome da rubéola congênita é caracte- RNA-polimerase presente no vírion. Diferentemente dos outros
rizada por malformações congênitas que afetam especialmente paramixovírus, possui apenas uma proteína de fusão em suas es-
os sistemas cardiovascular e nervoso central, e também por pro- pículas de superfície. Não possui hemaglutinina. Apresenta um
longada excreção de vírus. A incidência de rubéola congênita foi único sorotipo.
significativamente reduzida pelo amplo uso da vacina. Transmissão - Por meio de perdigotos.
Características - Vírus envelopado com nucleocapsídeo icosaé- Patogênese - A infecção envolve principalmente o trato respi-
drico e um segmento de RNA de fita simples de polaridade posi- ratório inferior de crianças, sem disseminação sistêmica. A res-
tiva. Não há polimerase no vírion. Apresenta um único sorotipo. posta imune provavelmente contribui para a patogênese. Células
Transmissão - Por meio de perdigotos e da mãe para o feto, pela multinucleadas gigantes causadas pelas proteínas virais de fusão
placenta. constituem um sinal típico da infecção.

Patogênese - O sítio inicial da infecção é a parte nasal da faringe, Diagnóstico laboratorial- Um imunoensaio enzimático (teste an-
a partir de onde o vírus se dissem ina para os linfonodos locais. tigênico rápido) detecta antígenos do vírus sincicial respiratório
Há, então, disseminação para a pele pela corrente sanguínea. A (RSV) em secreções respiratórias. Isolamento em cultura celular.
erupção é atribuída tanto à replicação viral quanto ao dano imu- Células gigantes multinucleadas são visíveis. A imunofluorescên-
ne. Durante a infecção materna, o vírus replica-se na placenta e cia é utilizada para a identificação. A sorologia não é útil para o
dissemina-se ao tecido fetal. Quando ocorre infecção durante o diagnóstico em crianças. Ensaios de PCR estão disponíveis.
primeiro trimestre, há maior frequência de malformações congê- Tratamento - Ribavirina em aerossol para crianças gravemente
nitas. Anticorpos maternos protegem contra a infecção do feto. doentes.
Diagnóstico laboratorial - O vírus é detectado em ensaios de PCR. Prevenção - A imunização passiva com palivizumabe (anticorpo
Para determinar se uma mulher adulta é imune, utiliza-se um m onoclonal) ou imunoglobulinas em crianças que foram expos-
único espécime de soro para detectar anticorpos IgG pelo teste tas é efetiva. A lavagem das mãos e o uso de luvas podem preve-
de inibição da hemaglutinação. Para detectar se houve infecção nir surtos nosocomiais em berçários.
recente, podem ser utilizados um único espécime de soro para
a detecção de anticorpos IgM, ou um conjunto de soros da fase Coronavírus
aguda e da fase de convalescença para anticorpos IgG.
Doença - Resfriado comum e SARS (síndrome respiratória aguda
Tratamento - Não há terapia antiviral disponível. grave).
Prevenção - A vacina contém vírus vivos atenuados. Geralmente, Características - Vírus envelopado com nucleocapsídeo helicoidal
é administrada com as vacinas contra sarampo e caxumba. e um segmento de RNA de fita simples de polaridade positiva.
Não há polimerase no vírion. Existem dois sorotipos.
Vírus da parainfluenza Transmissão - Por meio de perdigotos. Coronavírus de animais
Doenças - Bronquiolite em bebês, crupe em crianças pequenas e podem ser a fonte da infecção humana.
resfriado comum em adultos. Patogênese - A infecção é frequentemente limitada às células da
Características - Vírus envelopado com nucleocapsídeo helicoidal mucosa do trato respiratório. Pelo menos 50% das infecções são
e um segmento de RNA de fita simples de polaridade negativa. assintomáticas. A imunidade é de curta duração e reinfecções
RNA-polimerase presente no vírion. Diferentemente dos vírus ocorrem.
influenza, a antigenicidade de sua HA e NA é estável. Existem Diagnóstico laboratorial - O diagnóstico é principalmente clínico.
quatro sorotipos. Testes baseados em anticorpos e ensaios de PCR estão disponí-
Transmissão - Por meio de perdigotos. veis, embora não sejam realizados com frequência.
Patogênese - Infecção e morte do epitélio respiratório sem que Tratamento - Nenhum.
ocorra disseminação sistêmica do vírus. Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis.
Diagnóstico laboratorial - O isolamento do vírus em cultura ce-
lular é detectado por hemadsorção. A imunofluorescência é uti- Vírus da raiva
lizada para a identificação. Um aumento de quatro vezes ou mais
Doença - A raiva é uma encefalite.
no título de anticorpos pode ser utilizado para o diagnóstico. En-
saios de PCR estão disponíveis. Características - Vírus envelopado em forma de bala, com nucleo-
capsídeo helicoidal e um segmento de RNA de fita simples de
Tratamento - Nenhum.
polaridade negativa. RNA-polimerase presente no vírion. O vírus
Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis. apresenta um único sorotipo.
PARTE X Resumos dos Organismos de Import ância Méd ica 653

Transmissão - Os principais reservatórios são animais silvestres, reduzida nos Estados Unidos, uma vez que o sangue doado que
como gambás, guaxinins e m orcegos. A transmissão aos seres apresenta anticorpos contra HTLV é descartado.* A infecção pelo
humanos ocorre geralmente por m eio da m ordida do animal, HTLV é endêmica em certas regiões geográficas, como a região
embora o vírus seja também transm itido por aerossóis de saliva do Caribe, incluindo o sul da Flórida, o leste da América do Sul,
de morcego. Nos Estados Unidos, os cães estão raramente envol- o oeste da África e o sul do Japão.
vidos, uma vez que a imunização canina é comum . Já nos países
Patogênese - O HTLV induz a transformação maligna de linfócitos
em desenvolvimento, os cães estão frequentemente envolvidos.
T CD4-positivos por ativar a síntese de IL-2, conforme descrito an-
Patogênese - O receptor viral é o receptor de acetilcolina. A re- teriormente. O vírus também causa mielopatia associada ao HTLV
plicação do vírus ocorre no sítio da mordida, seguida pelo trans- (MAH), uma doença desmielinizante do encéfalo e da medula es-
porte axonal ascendente pelo nervo até o sistema nervoso central. pinal, causada ou por uma reação cruzada autoimune na qual a res-
Após replicar-se no encéfalo, o vírus migra perifericamente até posta imune contra HTLV danifica os neurônios, ou por células T
as glândulas salivares, onde alcança a saliva. Quando o animal citotóxicas que matam os neurônios infectados por HTLV.
está em estado de agitação, como resultado da encefalite, os vírus
Diagnóstico laboratorial - Anticorpos anti-HTLV podem ser de-
presentes na saliva podem ser transmitidos pela mordida.
tectados em amostras de soro de pacientes por meio do ensaio de
Diagnóstico laboratorial - O tecido pode ser corado com anti- ELISA. O ensaio de Western blot é utilizado para conformar um
corpos fluorescentes ou com diversos corantes para detecção de resultado positivo de ELISA. O ensaio de PCR pode detectar a pre-
inclusões citoplasm áticas denom inadas corpúsculos de Negri. sença de RNA ou DNA de HTLV no interior de células infectadas.
O vírus pode ser cultivado em cultura celular, porém o processo é
Tratamento e prevenção - Não há tratamento antiviral específi-
muito dem orado para ser útil na determinação sobre a necessida-
co para a infecção por HTLV e nenhum fármaco antiviral pode
de de vacinação da pessoa ou não. O teste sorológico é útil apenas
curar infecções latentes pelo HTLV. Não há vacina contra HTLV.
para realizar o diagnóstico no paciente clinicamente doente. An-
Medidas preventivas incluem o descarte de sangue doado quando
ticorpos não são formados com rapidez suficiente para auxiliar
anticorpos anti-HTLV estiverem presentes, o uso de preservativos
na decisão sobre imunizar ou não o paciente que foi mordido.
para prevenir a transmissão sexual e a orientação às mulheres que
O teste sorológico é também utilizado para avaliar a resposta de
anticorpos à vacina administrada antes da exposição para pes- têm anticorpos contra HTLV para que evitem a amamentação.
soas que possuem ocupações de alto risco. Ensaios de PCR po-
dem fornecer um diagnóstico rápido.
VÍRUS DE RNA NÃO ENVELOPADOS
Tratamento - Não há terapia antiviral disponível.
{CAPÍTULO 40)
Prevenção - A prevenção pré-exposição à raiva consiste apenas
na vacina. A prevenção pós-exposição consiste em ( 1) lavagem Poliovírus
do ferimento, (2) administração de imunoglobulinas contra raiva Doenças - Poliomielite paralítica e meningite asséptica. A polio-
(imunização passiva) principalmente no ferimento, e (3) admi- m ielite foi erradicada no hemisfério ocidental e em vários outros
nistração da vacina inativada (imunização ativa) produzida em ,
pa1ses.
cultura de células humanas. A decisão quanto à administração de
soro imune e da vacina depende das circunstâncias. A prevenção Características - Vírus de nucleocapsídeo não envelopado, com
da raiva em cães e gatos mediante o uso de uma vacina inativada RNA de fita simples e polaridade positiva. O RNA genômico atua
reduziu significativamente os casos de raiva em humanos. como mRNA e é traduzido em um único grande polipeptídeo,
o qual é clivado pela protease codificada pelo vírus, originando
Vírus linfotrófico de células T humanas proteínas virais funcionais. Não há polimerase no vírion. Existem
três sorotipos.
Doenças - Leucem ia/linfoma de células T do adulto e m ielopa-
tia associada ao vírus linfotrófico de células T humanas (HTLV) Transmissão- Via fecal-oral. Os seres humanos são o reservatório
(também conhecida como paraparesia espástica tropical ou mie- natural.
lopatia crônica progressiva). Patogênese - O vírus replica-se na faringe e n o trato GI. Pode
Características - O HTLV é membro da família Retroviridae. O ví- disseminar-se para os linfonodos locais e, então, pela corrente
rus induz a transformação maligna de células T CD4-positivas sanguínea até o sistema nervoso central. A maioria das infecções
(ao contrário do vírus da imunodeficiência humana [H IV], que é assintomática ou muito branda. A meningite asséptica é mais
provoca a morte destas células). O HTLV possui três genes estru- frequente que a poliomielite paralítica. A paralisia resulta da
turais comuns a todos os retrovírus, denom inados gag, pol e env, morte de neurônios motores, especialmente de células do corno
e dois genes reguladores, tax e rex. A proteína Tax é necessária anterior da medula espinal. A patogênese da síndrom e pós-polio-
para a transformação maligna. Ela ativa a síntese de IL-2 (que m ielite é desconhecida.
é um fator de crescimento de células T) e do receptor de IL-2. Diagnóstico laboratorial - A recuperação do vírus a partir do lí-
A IL-2 promove o rápido crescimento de células T, predispondo quido espinal indica infecção do sistema nervoso central. O iso-
à transformação maligna. lamento do vírus a partir de amostras de fezes é um indicativo
Transmissão - O HTLV é transmitido principalmente pela utili- de infecção, mas não n ecessariamente de doença. O vírus pode
zação de drogas intravenosas, sexualmente, e por meio do alei-
tamento. A transmissão por sangue doado foi significativamente *N. de T. O mesmo procedimento é adotado no Brasil.
6S4 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

ser encontrado no trato GI de portadores assintomáticos. O vírus Transmissão - Gotículas em aerossol e contato mão-nariz.
pode ser detectado em cultura celular pela formação de ECP e Patogênese - A infecção é limitada à mucosa do trato respiratório
identificado pela neutralização com antissoro tipo-específico.
superior e às conjuntivas. O vírus replica-se melhor nas tempera-
Um aumento significativo no título de anticorpos no soro da fase turas mais baixas da cavidade nasal do que a 37ºC, o que explica
de convalescença também é diagnóstico.
sua incapacidade de infectar o trato respiratório inferior.
Tratamento - Não há terapia antivira! disponível. Diagnóstico laboratorial - Testes laboratoriais são raramente utili-
Prevenção - A doença pode ser prevenida tanto com a vacina zados clinicamente. O vírus pode ser recuperado do lavado nasal
inativada (Salk) quanto com a vacina viva atenuada (Sabin); ou da garganta e cultivado em cultura celular. Testes sorológicos
ambas induzem anticorpos humorais que neutralizam os vírus não são úteis.
na corrente sanguínea. Contudo, apenas a vacina oral induz IgA
Tratamento - Não há terapia antivira! disponível.
intestinal, que interrompe a cadeia de transmissão ao impedir a
infecção do trato GI. Por essa razão, por induzir imunidade de Prevenção - Não há vacina disponível, uma vez que há muitos
maior duração e por ser administrada via oral, em vez de inje- sorotipos.
tável, a vacina Sabin tem sido o imunógeno de escolha há vários
anos. Entretanto, têm sido relatados casos de poliomielite para- Norovírus
lítica associados à vacina, causados por poliovírus vacinais que Doença- Gastrenterite (diarreia aquosa).
reverteram a um estado virulento. Diante disso, atualmente reco-
menda-se o uso da vacina inativada nos Estados Unidos.* Características - Vírus não envelopado, de nucleocapsídeo icosaé-
drico e genoma de RNA fita simples, polaridade positiva. Não há
polimerase no vírion. Muitos sorotipos; o número exato é incerto.
Vírus de Coxsackie
Transmissão - Via fecal-oral.
Doenças - Meningite asséptica, herpangina, pleurodinia, miocar-
dite, pericardite e doença de mão-pé-boca são as doenças mais Patogênese - A infecção é frequentemente limitada às células da
importantes. Além disso, o vírus de Coxsackie B4 pode causar mucosa do trato intestinal. Muitas infecções são assintomáticas.
diabetes juvenil, assim como o faz em camundongos. A imunidade é de curta duração e reinfecções ocorrem.
Características - Vírus de nucleocapsídeo não envelopado, com Diagnóstico laboratorial - O diagnóstico é principalmente clínico.
RNA de fita simples e polaridade positiva. Não há polimerase no Um teste com base em PCR está disponível, mas não é realizado
vírion. Os vírus dos grupos A e B são definidos por sua patoge- com frequência.
nicidade diferente em camundongos. Há múltiplos sorotipos em Tratamento - Não há fármacos antivirais disponíveis. A diarreia é
cada grupo. tratada com fluidos e eletrólitos.
Transmissão - Via fecal-oral. Prevenção - Não há vacina ou fármacos disponíveis. A lavagem
Patogênese - O sítio inicial de infecção é a na parte oral da farin- das mãos e a desinfecção de superfícies são estratégias preven -
ge, mas o principal sítio é o trato GI. O vírus dissemina-se pela tivas úteis.
corrente sanguínea a vários órgãos.
Diagnóstico laboratorial - O vírus pode ser detectado pela gera- Rotavírus
ção de ECP em cultura celular e identificado por neutralização. Doença- Os rotavírus causam gastrenterite (diarreia), especial-
Um aumento significativo do título de anticorpos no soro da fase mente em crianças mais jovens.
de convalescença é diagnóstico.
Características - Capsídeo não envelopado formado por camada
Tratamento - Não há terapia antivira! disponível. dupla, com 11 segmentos de RNA de dupla-fita. RNA-polimerase
Prevenção - Não há vacina disponível. presente no vírion. Os rotavírus são resistentes ao ácido gástrico
e, portanto, podem atingir o intestino delgado. Há, pelo menos,
Rinovírus seis sorotipos.

Doença - Resfriado comum. Transmissão- O rotavírus é transmitido pela via fecal-oral.

Características - Vírus de nucleocapsídeo não envelopado, com Patogênese - A infecção por rotavírus é limitada ao trato GI, es-
RNA de fita simples e polaridade positiva. Não há polimerase pecialmente ao intestino delgado.
no vírion. Há mais de 100 sorotipos, fato que explica por que o Diagnóstico laboratorial - Detecção de rotavírus nas fezes por
resfriado é tão comum. Os rinovírus são destruídos pelo ácido ELISA. O isolamento do vírus não é realizado a partir de espé-
gástrico e, portanto, não se replicam no trato GI, ao contrário de cimes clínicos.
outros picornavírus, como poliovírus, vírus de Coxsackie e eco-
Tratamento - Não há fármaco antivira! disponível.
vírus, que são resistentes ao ácido gástrico.
Prevenção - Há duas vacinas contra infecções pelos rotavírus.
*N. de T. No Brasil, o uso da vacina Sabin ainda é mantido. No entanto, Uma delas é uma vacina viva atenuada que contém um único so-
a partir dos anos 2012 e 2013 a vacina Salk foi introduzida em regime rotipo de rotavírus, correspondendo ao mais comum (Gl). A ou-
intercalado com a vacina Sabin, como parte do processo de substituição tra é uma vacina viva rearranjada que contém cinco amostras de
completa da Sabin pela Salk, no futuro. rotavírus.
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 655

VÍRUS DA HEPATITE {CAPÍTULO 41) Diagnóstico laboratorial - O HBV nunca foi cultivado em cul-
tura celular. Três testes sorológicos são comumente utilizados:
Vírus da hepatite A detecção do antígeno de superfície (HBsAg), do anticorpo de
Doença - Hepatite A. superfície (HBsAb) e do anticorpo do cerne (HBcAb). A detec-
ção de HBsAg por mais de seis meses indica estado de portador
Características - Vírus de nucleocapsídeo não envelopado, com crônico. A presença do antígeno e indica um portador crônico
RNA de fita simples e polaridade positiva. Não há polimerase no que está produzindo vírus infecciosos. A presença do antígeno e
vírion. O vírus apresenta um único sorotipo. consiste em um importante indicador de transmissibilidade. Um
Transmissão - Via fecal-oral. Ao contrário do vírus da hepatite B paciente infectado pelo HBV, que não apresenta antígenos HBs
(HBV) e do vírus da hepatite C (HCV), a transmissão sanguínea ou anticorpos anti-HBs detectáveis, está em uma fase de "janela
do vírus da hepatite A (HAV) é incomum, uma vez que a viremia imunológica': O diagnóstico desse paciente é feito por meio da
é breve e apresenta baixos títulos. detecção de anticorpos anticerne de HB. Ver Capítulo 41 para
Patogênese- O vírus replica-se no trato GI e, então, dissemina-se
uma discussão sobre os resultados desses testes.
para o fígado durante um curto período virêmico. O vírus não é Tratamento- Nenhum tratamento é utilizado em casos de hepati-
citopático para hepatócitos. O dano hepatocelular é causado pelo te B aguda. Para a hepatite B crônica, um inibidor de transcripta-
ataque imune de células T citotóxicas. se reversa, como o tenofovir ou entecavir, pode reduzir a inflama-
ção associada à hepatite B crônica, contudo não apresenta uma
Diagnóstico laboratorial - O teste mais útil para diagnosticar a
cura para o estado de portador. Uma combinação de tenofovir e
infecção aguda é a detecção de anticorpos IgM. O isolamento do
emtricitabina também é efetiva.
vírus a partir de espécimes clínicos não é realizado.
Prevenção - Há três abordagens principais: ( 1) a vacina que con-
Tratamento - Não há fármaco antivira! disponível.
tém o HBsAg como imunógeno, (2) globulinas séricas hiperimu-
Prevenção - A vacina contém vírus inativados. A administração nes, obtidas de doadores com altos títulos de HBsAb, e (3) educa-
de imunoglobulinas durante o período de incubação pode impe- ção dos portadores crônicos quanto às precauções. A imunização
dir a ocorrência da doença. passiva-ativa, utilizando vacinas e imunoglobulinas, pode pre-
venir a infecção em neonatos e nos indíviduos que apresentam
Vírus da hepatite B lesões provocadas por agulhas.
Doenças - Hepatite B; implicada como causa de carcinoma he-
patocelular. Vírus da hepatite C
Características- Vírus envelopado com DNA de dupla-fita circu- Doença - Hepatite C; associada ao carcinoma hepatocelular.
lar incompleto (i.e., em uma das fitas há uma porção ausente de O HCV é o patógeno transmitido pelo sangue mais prevalente
aproximadamente um terço, e a outra fita é "cortadà' [não ligada nos Estados Unidos.
covalentemente]). DNA-polimerase presente no vírion. A poli- Características - Vírus envelopado, com um segmento de RNA de
merase codificada pelo HBV atua como uma transcriptase rever- fita simples e polaridade positiva. Não há polimerase no vírion.
sa, utilizando o mRNA viral como molde para a síntese do DNA O HCV apresenta múltiplos sorotipos.
genômico da progênie. Existem três antígenos importantes: o an-
tígeno de superfície, o antígeno do cerne, e o antígeno <e: Outra Transmissão - A transmissão é principalmente perinatal ou por
proteína, a HBx, inativa a proteína supressora de tumor p53, um meio do sangue. A transmissão sexual é menos frequente.
processo envolvido no desenvolvimento do carcinoma hepatoce- Patogênese - O dano hepatocelular é causado por células T cito-
lular. Em amostras de soro de pacientes, bacilos longos e formas tóxicas. A replicação de HCV por si não mata as células (i.e., não
esféricas compostos unicamente de HBsAg predominam. HBV causa efeito citopático). Mais de 50% das infecções resultam no
apresenta apenas um sorotipo com base no antígeno de superfície. estado de portador crônico. O estado de portador crônico predis-
Transmissão - Transmitido pelo sangue, durante o nascimento e põe à hepatite crônica e ao carcinoma hepatocelular.
por meio de relação sexual. Diagnóstico laboratorial - Testes sorológicos detectam anticorpos
Patogênese - O dano hepatocelular deve-se ao ataque imune contra o HCV. Um ensaio de PCR para a "carga viral" pode ser
por células T (CDS) citotóxicas. O estado de portador crônico é utilizado para avaliar a presença de infecção ativa.
observado em 5% das infecções em adultos, porém em 90% das Tratamento - O tratamento da hepatite C aguda com interferon
infecções neonatais, uma vez que os neonatos apresentam uma alfa peguilado reduz significativamente o número de pacientes
baixa atividade de células T-citotóxicas. O estado de portador que se tornam portadores crônicos. O tratamento da h epatite
crônico pode conduzir à hepatite crônica, cirrose e ao carcinoma C crônica com interferon alfa peguilado associado à ribaviri-
hepatocelular. O carcinoma hepatocelular pode estar relacionado na reduz os efeitos da doença crônica, porém não provoca a
à integração de parte do DNA viral ao DNA do hepatócito* e sín- erradicação do estado de portador. A adição de um inibidor
tese subsequente da proteína HBx. Complexos antígeno-anticor- de protease (p. ex., boceprevir ou telaprevir) aumenta signifi-
po causam artrite, erupções e glomerulonefrite. cativamente a eficácia da terapia e pode reduzir a carga viral a
níveis indetectáveis. A utilização de sofosbuvir, um inibidor da
*N. de T. Na literatura, há indicações de que uma proteína do HBV, deno- RNA-polimerase de HCV é bastante eficiente no tratamento da
minada proteína X, pode agir como uma oncoproteína. hepatite C crônica.
656 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância M édica

Prevençdo - A hepatite pós-transfusionaJ pode ser prevenida pe)o Patogfnese - Vírus transmitido pe)o sangue do loc.al da picada
descarte de sangue doado quando anticorpos contra o HCV são até o cêrebro.
detectados. Não há vacina, e g)obu)inas hiperimunes não estão Dlogn6stico laboratorial - O iso)amento do virus pode ser rea1i-
disponlveis. zado a partir de amostras de sangue, fluido espinal ou cérebro.
O diagnóstico também pode ser realizado por meio da detecção
Vírus da hepatite D de anticorpos no soro dos pacientes. Emaios de PCR encontram-
Doença - Hepatite D (hepatite delta}. se disponíveis.
Corocterfsticos - Vírus defectivo que utiliza o antígeno de superff. Tratamento- Kão existe tratamento antivirai disponível
cie do vírus da hepatite Bcomo sua proteína de enve)ope. O vlrus Prevenç6o - Não há vacina ou fânnacos disponíveis. O sangue
da hepatite D (HDV) se replic.a apenas em cê)ulas previamente utilizado em transfusões ê testado para a presença de anticorpos
infectadas pe)o v(rus HBV (i.e., HBV é um virus auxfüar para o contra o vírus.
HDV). O genoma consiste em um segmento de RNA circular de
fita simples e po)aridade negativa. Kão hâ polunerase no vlrion. Vírus da encefalite equlna orienta l
O HDV apresenta um sorotipo (uma vez que HBV apre.senta um
único sorotipo). Membro da famflia TOgaviridae. Causa encefalite ao Jongo da
costa )este dos Estados Unidos. A encefalite ê grave, porém inco-
Tronsmlssdo - Transmitido pelo sangue, sexuaJmente. e da mãe mum. Transmitido a humanos (e cavalos) por mosquitos que se
para o fdbo. alimentam do sangue de pequenas aves silvestres., como pardais.
Potoglnese-0 dano hepatoce)ular ê provavelmente causado por Humanos e cava1os são hospedeiros "terminais': pois a viremia ê
células T citotóxicas. Hepatite crônica e estado de portador crô- baixa. Não hâ terapia antivirai ou vacina para humanos.
nico ocorrem.
Diagnóstico laboratorial- Testes soro)ógicos detectam antigenos Vlrus da encefallte equina ocidental,
delta ou anticorpos contra antígenos delta. vírus da encefalite de St, Louis e
Tratamento - O interferon o: peguilado ameniza os sintomas. mas vlrus da encefallte da Califórnia
não erradica o estado de portador. A transmissão desses vírus causadores de encefa)ites ê simi)ar
Prevençdo - A prevenção de infecção por HBV por meio do uso (i.e., são transmitidos aos humanos por mosquitos que se a1i-
da vacina contra HBV e.de globulinas hiperimunes contra HBV mentam do sangue de pequenas aves silvestres). Entretanto, eles
previnem também a infecção por HOV. diferem em detalhes (i.e., pertencem a famílias virais distintas e
caucSam doenças em diferentes regiões geográficas). ConsuJtar o
Vírus da hepatite E Capftu1o 42 para informações específicas.
Causa surtos de hepatite. principa1mente nos países em desenvol- Vlrus da febre amarela
vimento. É similar ao v(rus da hepatite A nos seguintes aspectos:
tra1tsmitido peJa via fecal-ora1, não hâ estado de portador crô- Membro da familia Flaviviridae. Causa febre amarela nas regiões
nico., não oc.orre cirrose e nem c.arcinoma hepatoc.elu)ar. Não há tropicais da Áfric.a e América do Sul. A febre amare)a "'silvestre"'
terapia anfü,ifa) e nem vacina. é transmitida dos macacos aos humanos por mosquitos. A febre
amarela ..urbana'' é transmitida entre humanos por mosquitos
Aedes (i.e.• os seres humanos são o reservatório da forma urba-
ARBOVfRUS (CAPITULO 42) na). Os hwnanos não são hospedeiros ..terminais': uma vez que
a viremia ê a1ta. Kão hâ terapia antivirai. Existe uma vacina viva
Todos os arbovirus .são transmitidos por artrópodes, como atenuada para humanos.
mosquitos e carrapatos, do animal si)vestre reservatório aos hu-
manos." Vlrus do dengue
Vírus do Oeste do Nilo Membro da familia Flavh'iridae. Causa dengue na região do
Caribe e em outras áreas tropicais. O dengue é a doença vi-
Doença - Encefalite A maioria das infecções é assintomática. rai transmitida por inseto mais comum no mundo. O virus é
Virus envelopados. de 11udeocapsfdeo icosaêdri-
Coracterfstlcos - tra,tsmitido por mosquitos Ae.tles de um ser hwnano a outro.
co. e genoma de RKA fita simp)es, polaridade positiva. Não há Suspeita-se que. haja wn macaco reservatório."" Episódios se.•
polimerase no vlrion. cundários podem resultar em dengue. hemorrágica. uma com•
Transmiucfo - Pela picada do mosquito Culex. As aves selvagens
são reservatórios. Os humanos são hospedeiros terminais.
~· N. de- T. Estudos rc-cc-ntcs indicam que. ainda que um resc-r\<atório ani·
• N. de T. Xo caso do dengue. considerada atualmente a mais importante ma1 c-.xista. sua importância c-pidemio1ógica é atualmente irrdc-\'antc-, pois
arbo\'irosc- mundi:aJ. o principal resc-r\'atório é o prôprio ser humano. o homem é o principal resc-r\<atório.
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 657

plicação potencialmente fatal. Não há terapia antiviral ou vaci- Vírus da hepatite B


na para humanos.
O HBV causa carcinoma hepatocelular nos portadores crônicos
de HBV. A oncogênese é principalmente uma função da proteína
Hbx que inativa a proteína supressora de tumor p53. Para mais
VÍRUS TUMORAIS (CAPÍTULO 43) informações, consulte o resumo sobre HBV no Capítulo 41, ('Ví-
rus da hepatite':
A. Vírus oncogênicos humanos com
genoma de RNA
Poliomavírus celular de Merkel
Vírus linfotrófico de células T humanas O poliomavírus celular de Merkel (MCPV) ocasiona carcinoma
O HTLV provoca leucemia de células T do adulto. A oncogênese das células de Merkel na pele, frequentemente em áreas expostas
é uma função do gene tax do HTLV. A proteína Tax ativa a síntese ao sol, como a face e o pescoço. O MCPV é um vírus não enve-
de IL-2, também conhecido como fator de crescimento de células lopado que apresenta um genoma de DNA dupla-fita. A proteína
T, e do receptor para IL-2. Para mais informações, consulte o re- do antígeno T de MCPV inibe as proteínas supressoras de tumor,
p53 e RB. A infecção por MCPV é disseminada, porém o qua-
sumo sobre HTLV no Capítulo 39, "Vírus de RNA envelopados':
dro de carcinoma é raro. As células do carcinoma não produzem
partículas virais, sendo assim, não ocorre a transmissão direta de
Vírus da hepatite C pacientes infectados a outros indivíduos. O diagnóstico é reali-
O HCV provoca carcinoma hepatocelular em portadores crôni- zado por meio da análise microscópica de amostras cirúrgicas.
cos do HCV. O m ecanismo de oncogênese do HCV não é claro. Não existem ensaios baseados na detecção do vírus. Não existe
Aparentemente, é uma consequên cia da rápida divisão celular nenhum fármaco antiviral ou vacina disponível.
que se desenvolve na tentativa de substituir os hepatócitos mor-
tos. Não foi indentificado um oncogene no genoma de HCV. Para VÍRUS LENTOS E PRÍONS (CAPÍTULO 44)
mais informações, consulte o resumo sobre HCV no Capítulo 4 1,
((Vírus da hepatite': Poliomavírus JC
Membro da família Papovaviridae.* O poliomavírus JC pertence
8. Vírus oncogênicos humanos com à família Polyomaviridae. Causa leucoencefalopatia multifocal
genoma de DNA progressiva (PML). A infecção pelo poliomavírus JC é ampla-
mente distribuída, mas a PML ocorre somente em pacientes imu-
Papilomavírus humano nocomprometidos, como nos com Aids. É invariavelmente fatal.
Não há terapia antiviral e nem vacina.
O HPV provoca principalmente carcinoma do colo do útero, pê-
nis e ânus. A oncogên ese é uma função dos genes E6 e E7 do
Príons
HPV. As proteínas E6 e E7 inativam as proteínas supressoras de
tumor, p53 e RB, respectivamente. Para mais informações, con- Doenças - Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD), a variante de
sulte o resumo sobre HPV no Capítulo 38, '(Vírus de DNA não CJD e o kuru. São encefalopatias espongiformes transmissíveis.
Existe uma forma hereditária de CJD denominada síndrome de
envelopados':
Gerstmann-Straussler-Scheinker (GSS).

Vírus Epstein-Barr Características - Príons são compostos apenas por proteínas. Não
apresent am ácido nucleico detectável e são altamente resistentes
O EBV ocasiona principalmente linfoma de Burkitt e carcino- à luz UV, ao formaldeído e ao calor. São codificados por um gene
ma nasofaríngeo. A oncogênese é uma função da translocação celular. A forma patogênica aumenta em quantidade ao induzir
do oncogene c-myc a um local adjacente a um promotor de gene mudanças conformacionais na forma normal. A conformação
de imunoglobulina. Esta translocação aumenta a síntese da pro- normal é composta por a-hélices; já a anormal apresenta folhas
teína c-myc, uma oncoproteína potente. Para mais informações, í3-pregueadas. Na síndrome GSS, ocorre uma mutação que au-
consulte o resumo sobre EBV no Capítulo 37, "Vírus de DNA menta a probabilidade de ocorrer modificação conformacional
envelopados': para a forma em folha í3-pregueada.
Transmissão - Na maioria dos casos de CJD, o mecanismo de
Herpes-vírus humano 8 transmissão é desconhecido. A CJD já foi transmitida por meio
de extrat os hipofisários, eletrodos cerebrais e transplantes de
O herpes-vírus humano 8 (HHV-8) provoca sarcoma de Kaposi.
A oncogênese é fundamentalmente uma função de uma proteína
*N. de T. A classificação está incorreta. O grupo Papovaviridae é uma
precoce análoga à proteína E7 de HPV que inativa a proteína su- unidade taxonômica antiga e desatualizada. De acordo com o Comitê
pressora de tumor RB. Para mais informações, consulte o resumo Internacional de Taxonomia Virai, o grupo foi desmembrado em duas
sobre HHV-8 no Capítulo 37, ('Vírus de DNA envelopados': familias: a familia Papillomaviridae e a família Polyomaviridae.
658 PARTE X Resumos dos Organ ismos de Importância Médica

córnea. O kuru já foi transmitido pela ingestão ou inoculação Tratamento - A terapia antirretroviral altamente ativa (HAART)
de tecido cerebral humano. A variante de CJD é provavelmente consiste na administração de vários fármacos combinados em di-
transm itida pela ingestão de tecido cerebral bovino em alimentos versos regimes. Cada regime apresenta os fármacos emtricitabina
malcozidos. e tenofovir, aos quais são adicionados efavirenz, raltegravir, ou
uma combinação de dois inibidores de protease (ou ritonavir as-
Patogênese - Ocorre agregação de filam entos priônicos no inte-
sociado a atazanavir, ou ritonavir associado a darunavir). Ocorre
rior de neurônios, e vacúolos n o interior de neurônios causam
a melhora clínica, mas o vírus persiste.
alterações espongiformes no encéfalo. Não ocorre inflamação ou
Análogos de nucleosídeos, como a zidovudina, lamivudina,
resposta imune.
emtricitabina, tenofovir, e outros impedem a replicação do H IV
Diagnóstico laboratorial - A biópsia cerebral revela alterações es- por meio da inibição da enzima transcriptase reversa. Inibidores
pongiformes. Nenhum teste sorológico é útil. Príons não podem não nucleosídeos da transcriptase reversa, como efavirenz, ne-
ser cultivados em cultura. virapina e outros, também são utilizados. Inibidores de protease
Tratamento - Nenhum. (p. ex., o indinavir, o ritonavir e outros) impedem a clivagem dos
polipeptídeos precursores. In ibidores da integrase, como ral-
Prevenção - Não há fármaco ou vacina disponíveis.
tegravir, dolutegravir e elvitegravir, bloqueiam a integração do
DNA do HIV ao DNA da célula hospedeira por meio da inibição
da enzima integrase do HIV. O enfuvirtida, um "inibidor de fu-
VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA são" que bloqueia a entrada do HIV na célula, e o m araviroque,
{CAPÍTULO 45) que impede a ligação da proteína de envelope do HIV, a gpl20, ao
correceptor celular CCRS, também são usados. O tratamento da
Doença- Síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids).
infecção oportunista depende do organismo.
Características - Vírus envelopados com duas cópias (diploide) de
Prevenção - Avaliação do sangue para detectar a presença de an-
genoma de RNA de fita simples e polaridade positiva. A DNA-poli-
ticorpos antes de transfusões. Prática de "sexo seguro': incluindo
merase RNA-dependente (transcriptase reversa) sintetiza uma cópia
o uso de preservativos. A zidovudina (ZDV, AZT), associada ou
de DNA do genoma, a qual se integra ao DNA da célula hospedeira.
n ão a um inibidor de protease, deve ser administrada às mães
Polipeptídeos precursores devem ser clivados por uma protease co-
infectadas pelo HIV e a seus respectivos recém-nascidos. A ZDV,
dificada pelo vírus para produzir proteínas virais funcionais. O gene
lamivudina e um inibidor de protease também devem ser admi-
tat codifica uma proteína que ativa a transcrição viral. A antigenici-
nistrados após uma lesão por picada de agulh a. Uma combina-
dade da proteína gp l 20 altera-se; portanto, há vários sorotipos.
ção de tenofovir e emtricitabina pode ser utilizada na profilaxia
Transmissão - Transferência de fluidos corporais (p. ex., sangue e pré-exposição em indivíduos que se encontram em alto risco de
sêmen). A transmissão transplacentária e perinatal também ocorre. infecção. Não há vacina.
Patogênese - Dois receptores são necessários para que o HIV pe-
netre nas células hospedeiras. Um dos receptores é a proteína CD4,
encontrada principalmente em células T auxiliares. O HIV infecta PATÓGENOS VIRAIS DE MENOR
e mata as células T auxiliares, predispondo a infecções oportunis- IMPORTÂNCIA {CAPÍTULO 46)
tas. Outras células que apresentam proteínas CD4 em sua superfície
Somente os mais importantes entre os patógenos virais de menor
(p. ex., astrócitos) também são infectadas. O outro receptor para
importância estão resumidos nesta seção.
o HIV é um receptor de quimiocinas,* como o CCRS. A proteína
NEF é um importante fator de virulência. Ela reduz a síntese de
proteínas do MHC de classe I, reduzindo, assim, a capacidade de
Ebolavírus
células T citotóxicas de matar células infectadas pelo HIV. As célu- Membro da familia Filoviridae. Causa febre hemorrágica ebola, a
las T citotóxicas são a principal defesa do hospedeiro contra o HIV. qual apresenta uma elevada taxa de mortalidade. O reservatório
animal e o mecanismo de transmissão aos hum anos são desco-
Diagnóstico laboratorial - O HIV pode ser isolado do sangue ou
nhecidos. A transmissão entre seres humanos, especialmente em
do sêmen, porém esse procedimento não se encontra disponível
ambientes hospitalares, ocorre pelo sangue e por outros líquidos
rotineiramente. O diagnóstico é geralmente realizado por meio
corporais. O diagnóstico é geralmente clínico, m as testes soro-
da detecção de anticorpos, tendo o ELISA como teste de varre-
lógicos se encontram disponíveis. À m icroscopia eletrônica, são
dura e o Western blot como teste confirmatório. A "carga viral"
observados vírus longos, similares a ((fios': O cultivo do vírus é
(i.e., a quantidade de RNA de H IV no plasma) é determinada
muito perigoso e deve ser realizado apenas em laboratórios espe-
por meio de ensaios de PCR. Uma carga viral elevada indica uma
ciais. Não há terapia antivira! nem vacina.
progressão mais rápida para a Aids do que um a carga viral baixa.
Ensaios de PCR podem também detectar RNA viral em células
infectadas, o que é útil para detectar infecções precoces nas quais
Hantavírus (vírus Sin Nombre}
anticorpos ainda não são detectáveis. Membro da família Bunyaviridae. Causa a síndrome pulmo-
nar por hantavírus. O vírus Sin Nombre (SNV) é um robovírus
*N. de T. Na verdade, o receptor de quimiocinas é conhecido como cor- (i.e., um vírus transmitido por roedores). Camundongos-cervo
receptor do HIV, auxiliando no processo de penetração virai. Porém, o são o reservatório, e o vírus é adquirido pela inalação de urina
receptor principal é a molécula CD4. e fezes secas. O diagnóstico é realizado por meio da detecção de
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 6S9

RNA viral no tecido pulmonar ou por testes sorológicos. Não há se alimentam do sangue dos hospedeiros reservatórios, que in -
terapia antivirai e nem vacina. cluem aves e porcos. Não há terapia antivira!. Uma vacina inati-
vada encontra-se disponível.
Vírus da encefalite japonesa
Membro da família Flaviviridae. Causa surtos de encefalite em
países asiáticos. É transmitido aos humanos por mosquitos que

RESUMO DOS FUNGOS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA - - - - - - - -


FUNGOS CAUSADORES DE MICOSES Transmissão - Os esporos do bolor penetram na pele através de
ferimentos perfurantes causados por espinhos de rosas ou outros
CUTÂNEAS E SUBCUTÂNEAS (CAPÍTULO 48) objetos pontiagudos geralmente presentes em jardins.
Dermatófitos {p. ex., espécies de Trichophyton, Patogênese - Abscesso local ou úlcera com nódulos ao longo da
Microsporum e Epidermophyton) circulação linfática.
Doenças - Dermatofitoses (p. ex., tinha do couro cabeludo, tinha Diagnóstico laboratorial - Leveduras em forma de charuto, com
crural e tinha do pé). brotamentos, são visualizadas no pus. A cultura em ágar Sabou-
raud revela morfologia típica.
Características - Esses fungos são bolores que utilizam a quera-
tina como fonte nutricional. Não são dimórficos. O hábitat da Teste cutâneo - Nenhum.
maioria dos dermatófitos que causam doenças em seres humanos Tratamento - Itraconazol.
é a pele humana, com exceção de Microsporum canis, que tam-
bém infecta cães e gatos. Prevenção - A pele deve ser protegida durante atividades de jar-
dinagem.
Transmissão - Contato direto com descamações cutâneas.
Patogênese - Esses fungos crescem apenas na camada superficial
queratinizada da pele. Não invadem o tecido subjacente. As le- FUNGOS CAUSADORES DE MICOSES
sões decorrem da resposta inflamatória ao fungo. A frequência SISTÊMICAS (CAPÍTULO 49)
das infecções é aumentada pela umidade e pelo calor (p. ex., no
interior dos calçados). Uma importante defesa do hospedeiro é Histoplasma capsu/atum
proporcionada pelos ácidos graxos produzidos por glândulas se-
Doença - Histoplasmose.
báceas. A reação "id,, é uma resposta de hipersensibilidade em
uma região da pele (p. ex., dedos) à presença do organismo em Características - Apresenta dimorfismo térmico (i.e., uma leve-
outra localização (p. ex., pés). dura à temperatura corpórea e um bolor no solo à temperatura
ambiente). O bolor cresce preferencialmente em solo enriqueci-
Diagnóstico laboratorial - Raspados de pele devem ser examina- do com excrementos de aves. Endêmico nas regiões dos vales dos
dos microscopicamente em uma preparação contendo KOH para rios Ohio e Mississippi, nos Estados Unidos.*
a detecção de hifas. O organismo é identificado pela aparência
de seu micélio e de seus esporos assexuados em ágar Sabouraud. Transmissão - Inalação de esporos assexuados (microconídeos)
Testes sorológicos não são úteis. transmitidos pelo ar.

Teste cutâneo - O antígeno de Trichophyton pode ser utilizado Patogênese - Os microconídeos penetram nos pulmões e dife-
na determinação da competência da imunidade medida por renciam-se em células leveduriformes. As leveduras são ingeridas
célula de um paciente. Não é utilizado para o diagnóstico da por macrófagos alveolares e multiplicam-se em seu interior. Uma
tinha. resposta imune desenvolve-se e formam-se granulomas. A maio-
ria das infecções é contida neste nível, mas a supressão da imuni-
Tratamento - Agentes tópicos, como o miconazol, o clotrimazol
dade mediada por células pode levar à doença disseminada.
ou tolnaftato, são utilizados. O ácido undecilênico é eficaz contra
tinha do pé. A griseofulvina é o tratamento de escolha para a ti- Diagnóstico laboratorial - Escarro ou tecidos podem ser exami-
nha ungueal e a tinha do couro cabeludo. nados microscopicamente e cultivados em ágar Sabouraud. Leve-
duras são visíveis no interior de macrófagos. A presença de cla-
Prevenção - A pele deve ser mantida seca e fresca. midósporos tuberculados em cultura a 25ºC é diagnóstica. Um
aumento no título de anticorpos é útil no diagnóstico, mas ocorre
Sporothrix schenckii reação cruzada com outros fungos (p. ex., Coccidioides).
Doença - Esporotricose. Teste cutâneo - Histoplasmina, um extrato micelial, é o antígeno.
Características - Apresenta dimorfismo térmico. Bolor no solo, Útil para determinar a incidência de infecção com finalidades
levedura na temperatura corpórea de 37ºC. O hábitat é o solo ou epidemiológicas. Um resultado positivo indica apenas que houve
a vegetação.

*N. de T. Bastante prevalente no Brasil.


660 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

uma infecção; não pode ser utilizado para diagnóstico de doe11ça Diogn6stico hJboratorlal - O exame microscópico do escarro ou
ativa. Uma vez que o teste cutâneo pode i11duzir anticorpos.. tes- de )esões cutâneas é utilizado para observação de Jeveduras com
tes soro)ógkos devem ser re.alizados anteriormente. um brotamento de base Jarga. A cultura em ágar Sabouraud tam-
Trotamento - Anfoterici11a B ou itraconazo) para a doença disse,. bém é utilizada. Testes sorológicos não são Uteis.
minada. itraconazo) para a doença pulmo11ar. Ttste cutdneo- l'em pouco valor.
Prevenç6o - Não há vacina disponível. O itracon.azol pode ser uti- Tratamento- Itraconazol é o fármaco de esco)ha.
lizado para a supressão crô11ica em pacientes com Aids. Prevençdo- Kão há vacina ou fármacos profi1áticos disponíveis.

Coccldioides lmmitis Paracoccldioides brosiliensis


Doença - Coccidioidomicose. Doenço- Paracoccidioidomicos.e.
Corocterfsticos - Apresenta dimorfismo térmico. Ko corpo. a Carocterlsticos - Apresenta dimorfismo térmico. Bolor no so)o.,
37ºC, forma esférulas co11tendo endósporos. A 25ºC. no so)o levedura no corpo a 3rC. A forma em )evedura apresenta mlllti~
ou em cu1tivo laboratorial em ágar. desenvo)ve-se como bolor. plos brotamentos (asseme)ha.se a um timão de navio).
As cé)ulas 11as extremidades d.as hifas desenvolvem.se em espo- Tron.smissdo - lnalação de conídeos veiculados pelo ar.
ros assexuados (artrósporos). O hábitat natural é o so)o de re-
giões áridas (p. ex., va1e de São Joaquim na Califórnia e regiões Patogl.MH - Conídeos inalados diferenciam•se em leveduras 110s
do Arizona e Novo Méxko). pulmões.. Podem disseminar.se para ·vários órgãos..
Tronsm;ssão - Inalação de artrósporos veiculados pe)o ar. Dlogn6stico laboratorial - Leveduras com múltiplos brotamentos
visualizados no pus ou nos tecidos. A cu1tura em ágar Sabouraud
Potogl.nese - Os artrósporos diferenciam-se em esférulas nos revela morfologia típica.
pulmões. As esférulas rompem-se. liberando endósporos que for-
Ttste cutdneo- Kão é útil.
mam novas esféru).as e, assim, disseminando a infecção 110 corpo.
Uma resposta imune mediada por células contém a infecção na Tratamento- Itraconazol.
maioria dos indivíduos. no entanto, os que apresentam imuni- Prtvençdo- Kão há vacina ou fármacos profi1áticos disponíveis..
dade ce)ular reduzida exibem a1to risco de doença disseminada.
Diogn6stico laboratorial - Escarro ou amostras de tecido devem ser
examinados microscopicainente para detecção de esférulas e cuJti. FUNGOS CAUSADORES DE MICOSES
vados em ágat Sabouraud. Um aumento de anticorpos Ig.M (usando OPORTUNISTAS (CAPÍTULO 50)
o teste da precipitina) indica infecção recente. Um awnento no tíru-
Jo de anricorpos IgG (urilizando o teste de fixação do complemento) Candida a/bicans
indica disseminação. um título decrescente indica resposta à terapia. Doenças - Candidfase oral, c.andidfase disseminada e candidíase
mucocutâ.nea crônica.
Teste cutdneo- Tanto a coccidioidina. um extrato mic.eliaJ. quanto
a esferulin.a, um extrato de esferulas. formam os antígenos. h Util Corocterístkas- Candida albicans é uma levedura enqua11to parte
para determinar se o paciente foi iJúectado. Um teste positivo in· da mkrobiota norma) de membranas mucosas, mas fotma pseu-
dica infecção ptévi.a, mas não necessariamente doença ativa. do-hifas e hifas quando invade os tecidos. A forma leveduriforme
produz tubos germinativos quando incubada em soro a 37"C.
Trotamento - Anfoteticin.a Bou itraconazo} para doença dissemi•
Não apresenta dimorfismo térmico.
nada; c.etoconazol para doença pulmonar )imitada.
Transm;ssao- É parte da microbiota normal d.a pe)e, das membra-
Prevençdo - Não há vacina ou fármacos profiláticos disponh•eis. nas mucosas e do trato Gl. Não ocorre transmissão interpessoaJ.
Blastomyces dermatltldis Patogl.nese - Patógeno oportunista. Fatores predisponentes in-
cluem imunidade mediada por cé)ulas reduzida. a1terações de
Doença - Blastomicose. pele e membranas mucosas.. supressão d.a microbiota normal e
Característicos - Apresenta dimorfismo térmico. Bo)or no solo. presença de corpos estranhos. A c.andidfase oral é mais comum
Jevedura na temperatura corpótea de 3rC. A forma de Jevedura em bebês. pacientes imunossuprimidos e indivíduos submetidos
apresenta um único brotamento de base Jarga e parede espessa à terapia antibiótica. Lesões cutâneas ocorrem frequentemente
e refringente. O hábitat natura1 é o so)o rico (p. ex.• próximo a na pe)e danificada pela umidade. I11fecções disseminadas. como
barragens de c.astores). especia1mente na região Centro-oeste su- endocardite e endoftahnite, ocorrem em pacientes imunossupri-
midos e usuários de drogas injetáveis. Acandidíase mucocutànea
perior dos Estados Unidos.
crônica ocorre em crianças que aptesentam um defeito na imu1ti·
Tronsm;ssão - Inalação de esporos (conideos) veiculados pelo ar. dade mediada por c:éJu)as T contra Candida.
Potogfnese - Os coiúdeos inalados difetenciam•se em leveduras. Diogn6stlco laboratorial - O exame microscópico dos tecidos
as quais inicia1mente causam abscessos seguidos pela formação reveJ.a )eveduras e pseudo.hifas. Se apenas leveduras forem en~
de granulomas. A disseminação é rara. porém, quando ocorre, a contrad.as, sugere-se que houve co)onização. A levedura é gram.
pele e os ossos são mais frequentemente acometidos. -positiva. Forma colônias de leveduras em ágar Sabouraud.
PARTI X Resumos dos Organismos de Importância Médica 661

A formação de tubos germinativos e a produção de clamidóspo· Potoglnese - Patógeno oportunista. Em pacientes imunocom.
cos distinguem Cand-ida albicans de praticamente todas as outras premetidos, a doença invasiva pode.ocorrer. O organismo invade
espécies de Cand1'da, Testes sorolôgicos não são úteis. os vasos sangufoeos.. causando trombose e infarto. Uma pessoa
apresentando uma ca,,idade pulmonar (p. ex., em raz.ão de uma
Teste cutdMo - f mais utilizado para determinar a competência
da imunidade mediada por céJu)as do que para diagnosticar uma tubercu)ose) pode desenvo)ver uma "'bola fúngica"' (aspergilo.
doença causada por cândidas. ma}. Um individuo alérgico (hiper<ensiveJ} (p. ex., uma pessoa
asmática) apresenta predisposição à aspergilose broncopu1monar
Tratamento- Infecções cutâneas podem ser tratadas com agentes alérgica mediada por anticorpos IgE.
antifúngicos tópicos como a 1tistatina e o dotrimazol A c.andidfa.
se oral é tratada com fluconazol A candidfase esofâgica pode ser Diogn6stico laboratorlol -Hifas septadas invadindo o tecido são
visíveis m.icroscopicamente. A invasão distingue a doença da co.
tratada com caspofungina. A vaginite pode ser tratada tanto com
dotrimazol intravaginal quanto com fluconazo) oral. A doença Jonização. Forma um micéJio característico quando cultivado em
disseminada pode ser tratada com anfotericina B ou fluconazo1. ágar Sabouraud. Observam-se cadeias de conideos que irradiam
a partir de. um pedúnculo centra1. Testes soro)ógicos detectam
A candidfase mucocutânea crônka é tratada com cetoconazol.
precipitinas JgG em pacientes com aspergilomas e anticorpos IgE
Preven~ào - Fatores predisponentes devem ser reduzidos ou eJi. em pacientes com aspergilose.broncopuhnonar alérgica.
minados. A candidíase oral pode ser prevenida por meio do uso
de pasti)has de clotrimazo) ou por meio do gargarejo com nista. Tf'Ste cutdneo - Nenhum disponível.
tina. O fluconazol ê usado para prevenir a infecção disseminada Trotam,nto -Anfotericina B ou voriconazo) para aspergilose iJl.
em pacientes imunossuprimidos. Kão há vacina. vasiva. Algumas lesões (p. ex., bolas fúngicas) podem ser remo.
vidas cirurgicamente. Corticosteroides associados ao itraconazol
Cryptococcus neoformans são recomendados no tratamento da aspergilose broncopuhno-
nar a1érgica.
Doelt{o - Criptococose. especia1mente meningite aiptocócica.
Prevenç6o - Não há vacina ou fármacos profüáticos disponíveis.
Caraderístkos -Levedura amplamente encapsulada. Kão são di-
mórficos. O hábitat é o so)o. especia1mente quando enriquecido Mucor e espécies de Rhizopus
com excrementos de pombos.
Doença- Muconnicose.
Tronsmindo - Ina1ação de células )eveduriformes veiculadas pelo ar.
Coroct,rfsticos -Bolores com hifas asseptadas que se ramificam
Patogintu - Os organismos causam uma síndrome similar à gri· geralmente em um ãngu)o de 90 graus (ramificação de amplo ân-
pe ou pneumonia. Disseminam.se pela corrente sanguínea até as gu1o). Não são dimórfic.os. O hábitat ê o solo.
meninges. A imunidade mediada por células reduzida predispõe
Tronsmissdo- lnalação de esporos veiculados pe)o ar.
à doença grave, embora alguos casos de meningite criptocócica
ocorram em indivíduos imunocompetentes que ina1aram uma Potoglnese - Patógenos oportunistas. Causam doença principaJ.
grande dose do organismo. mente em pacientes com cetoacidose diabética e em leucêmicos.
Ologn6'tico loborotorlof - Observação da levedura encapsu)a. Os sinus e tecidos adjacentes são frequentemente envolvidos. As
hifas invadem a mucosa e progridem para o tecido subjacente e
da em preparações de fluido espina1 coradas com tinta da fodia.
vasos, levando à necrose e ao infarto destes.
A cultura de escarro ou líquido espinal em ágar Sabouraud produz
colônias de Jeveduras. O teste do antígeno criptocócico (CRAG) Diagnó.stico laboratorial -Exame microscópico de tecidos para
consiste em um ensaio de aglutinação em látex que detecta apre- detectar a presença de hifas asseptadas que se ramificam em an.
sença do antígeno capsular poHssacaddico no 0uido espina1. gu)os amp)os. Forma um micélio característico quando cu1tivado
em ágar Sabouraud. São observados esporos contidos no interior
Teste cutdnto- Kão disponivel.
de um saco denominado esporângio. Testes sorológicos não estão
Tratamento- Anfoterici.na Be 0ucitosina para meningite. disponíveis.
Prev,nçdo - A meningite criptocóci.ca pode ser prevenida em Tf'Ste cutdneo - Nenhum.
pacientes com Aids por meio do uso de fluconawl oral. Não há Trotamento - Anfotericina Be desbridação cirúrgica.
vacina.
Prevençdo - Não há vacina ou fármacos proftláticos disponiveis.
Aspergil/us fumlgatus O controle de doença subjacente (p. ex.• diabetes) tende a preve.
nir a mucormicose.
Doenças - A aspergilose. invasiva é a ptincipa1 doença relacto.
nada a este organismo. A aspergi)ose broncopuhnonar a1érgica PneumocystisJlrovecl
e o aspergi)oma (bola fúngica} também são manifestações im·
portantes. Embora existam evidências moleculares corroborando que Pneu·
mocystis jitoveâ é um fungo. este é descrito nestes breves resumos
Carocterl.stlcos -Bolor com hifas septadas que se ramificam em na seção sobre protoioários que provocam infecções do sangue e
um ângulo em forma de V (ramifkação de pequeno ângulo). Não tecidos (ver Pneumocystis jiro1'«i).
são dimórficos. O hábitat ê o solo.
Tran.smlss6o - inalação de esporos (con(deos) veiculados pelo ar.
662 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

RESUMO DOS PARASITAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA - - - - - - -


PROTOZOÁRIOS CAUSADORES DE Patogênese- Trofozoítos aderem-se à parede do intestino delga-
do, mas não a invadem.
INFECÇÕES INTESTINAIS E UROGENITAIS
(CAPÍTULO 51} Diagnóstico laboratorial- Oocistos são visíveis nas fezes por meio
da coloração acidorresistente.
Entamoeba histolytica
Tratamento - Não há terapia efetiva; entretanto, a paromomicina
Doenças - Disenteria amebiana e abscesso hepático.
pode reduzir os sintomas.
Características- Protozoário intestinal. Ameba móvel (trofozoí-
Prevenção - Nenhuma.
to); forma cistos com quatro núcleos. Ciclo de vida. Os seres hu-
manos ingerem cistos, que formam trofozoítos no intestino del-
gado. Os trofozoítos alcançam o colo e multiplicam-se. Cistos são Trichomonas vagina/is
formados no colo e alcançam, então, as fezes. Doença - Tricomoníase.
Transmissão e epidemiologia - Transmissão fecal-oral de cistos. Características - Protozoário urogenital. Trofozoítos flagelados
Reservatório humano. Ocorre mundialmente, especialmente nos em formato de pera. Não há cistos ou outras formas.
trópicos. Transmissão e epidemiologia - Transmitido sexualmente. Reser-
Patogênese- Os trofozoítos invadem o epitélio do colo e produ- vatório humano. Ocorre em todo o mundo.
zem úlcera em forma de frasco. Podem disseminar-se para o fíga- Patogênese- Trofozoítos aderem-se à parede vaginal, causando
do e causar abscessos amebianos.
inflamação e corrimento.
Diagnóstico laboratorial - Trofozoítos ou cistos são visíveis nas
Diagnóstico laboratorial - Trofozoítos são visíveis em secreções.
fezes. O teste sorológico (teste de hemaglutinação indireto) é po-
sitivo na doença invasiva (p. ex., fígado). Tratamento - Metronidazol para ambos os parceiros sexuais.

Tratamento - Metronidazol ou tinidazol para doença sintomática. Prevenção - O uso de preservativos limita a transmissão.
Iodoquinol ou paromomicina para portadores assintomáticos de
cistos.
PROTOZOÁRIOS CAUSADORES DE
Prevenção - Descarte adequado de dejetos humanos. Purificação
da água. Lavagem das mãos. INFECÇÕES DO SANGUE E TECIDOS
(CAPÍTULO 52)
Giardia lamblia
Espécies de Plasmodium {Plasmodium vivax,
Doença - Giardíase, especialmente diarreia. Plasmodium ovale, Plasmodium malariae e
Características - Protozoário intestinal. Trofozoíto flagelado em Plasmodium falciparum)
formato de pera, forma cistos com quatro núcleos. Ciclo de vida.
Doença - Malária.
Os seres humanos ingerem cistos, que formam trofozoítos no duo-
deno. Os trofozoítos formam cistos que são eliminados nas fezes. Características - Protozoários que infectam hemácias e tecidos
(p. ex., fígado, rins e encéfalo). Ciclo de vida. O ciclo sexual con-
Transmissão e epidemiologia - Transmissão fecal-oral de cistos.
siste em gametogonia (produção de gametas) em seres humanos
Reservatório humano e animal. Ocorre em todo o mundo.
e esporogonia (produção de esporozoítos) nos mosquitos; o ciclo
Patogênese- Os trofozoítos aderem-se à parede, mas não a inva- assexuado (esquizogonia) ocorre em seres humanos. Os esporo-
dem. Interferem na absorção de gorduras e proteínas. zoítos na saliva de fêmeas do mosquito Anopheles penetram na
Diagnóstico laboratorial - Trofozoítos ou cistos são visíveis nas corrente sanguínea humana e rapidamente invadem os hepató-
fezes. O teste do cordão é realizado, quando necessário. citos (fase exoeritrocítica). Neste local, multiplicam-se e formam
merozoítos (Plasmodium vivax e Plasmodium ovale também for-
Tratamento - Metronidazol. mam hipnozoítos, uma forma latente). Os merozoítos deixam
Prevenção - Purificação da água. Lavagem das mãos. os hepatócitos e infectam as hemácias (fase eritrocítica). Nestas
células, eles produzem esquizontes que liberam mais merozoítos,
Cryptosporidium hominis os quais infectam outras hemácias em um padrão sincronizado
(três dias para Plasmodium malariae; dois dias para os demais).
Doenças - Criptosporidiose, especialmente diarreia.
Alguns merozoítos tornam-se gametócitos machos e fêmeas que,
Características - Protozoário intestinal. Ciclo de vida. Os oocistos quando ingeridos pela fêmea do mosquito Anopheles, liberam ga-
liberam esporozoítos; estes formam trofozoítos. Após a formação metas machos e fêmeas. Estes se unem para produzir um zigoto,
de esquizontes e merozoítos, microgametas e macrogametas são que forma um oocisto contendo vários esporozoítos. Estes são
produzidos; estes unem-se para formar um zigoto e, então, um liberados e migram para as glândulas salivares do inseto.
oocisto. Transmissão e epidemiologia - Transmissão pelas fêmeas de mos-
Transmissão e epidemiologia - Transmissão fecal-oral de cistos. quitos Anopheles. Ocorre principalmente nas regiões tropicais da
Reservatório humano e animal. Ocorre em todo o mundo. Ásia, África e América Latina.
PARTI X Resumos dos Organismos de Importância Médica 663

Potogfnese - Os merozoítos destroem as hemácias.. resultando Prevençdo - A carne deve ser cozida. Mulheres grávidas não de.
em anemia. O padrão ddico de febre deve.se à Hberação periódi· vem ter contato com gatos, caixas de dejetos de gatos ou carne
ca de merozoftos. Plasmodium falciparum pode infectar hemácias crua. O trimetoprima.sulfametoxazol é utiJizado na prevenção
de todas as idades, causando agregados de hemácias que ocluem da encefalite provoc.ada por 'foxoplasma em pacientes infectados
os capilares, lsso pode causar anoxia tecidual, especialmente no pelo Ylrus HIV.
cérebro (malária cerebral) e nos rins (febre da água negra). Hip-
nozoftos podem causar recorrências. Pneumocystis jlrovecl
Diogn6stico loborotorlol - Organismos são visíveis em esfre.gaço Doença - Pneumonia.
sanguíneo. O esfregaço de gota espessa é utilizado para detectar a
Características - Patógeno respiratório. Foi reclassificado em 1988
presenç.a do organismo e o esfregaço de gota delgada, pata iden· como uma levedura. com base em evidências molecu1ares; no en.
tificação da espécie. tanto, exibe várias caracteristicas médicas de protozoários. Cido
Trotamento- O organismo apresenta sensibilidade à cloro-quina. de vida: incerto.
Para P. falcipatum resistentes à cloroquina, é indicada a utiliza.
Tronsmissdo e epidtmlologia- Transmitido por inalação. Os seres
ção de Coartem ou Malarone. Primaquina para hipnozoftos de
humanos são o reservatôrio. Ocorre em todo o mundo. A maio--
P. vfrax e P. ovale. Para os c.asos graves. é indicada a utilização
ria das infecções é assintomática.
parenteral de artesunato ou quinidina.
PotoglM.se- Organismos nos alvéo)os causam inflamação. A imu.
Prevençdo- Cloroquina em regiões onde os organismos são sen-
síveis. Para os indivíduos que frequentam áreas que apresentam nossupressão predispõe à doença.
a)to risco de resist~ncia a doroquina, são utiJizados Malarone, Diagn6'tico laboratorial- Organismos são visíveis no tecido pul.
mefloquina ou doxicklina. A Primaquina ê usada na prevenção monar ou fluido de lavagem brônquica submetidos à coloração
de recidivas da doe11ça por P. vi'vax ou P. O't'ale. Proteção co11tra com prata.
picadas. Contro)e de mosquitos com o uso de inseticidas e dre11a• Trotamento -Trimetoprima.sulfametoxazol é o fánnaco de esco.
ge-m da água em áreas de procriação. lha. A pentamidina é um fármaco alternativo.

Toxop/asma gondi/ Prevençdo - Trimetoprima.sulfametoxazol ou pentamidina em


aerosso) para pacientes imunossuprimidos.
Doelt(a - Toxop)asmose, incluindo toxoplasmose congênita.
Características - Protozoários de tecidos. Ciclo de vida. Cistos Trypanosoma cruzi
presentes em fezes de gatos ou na carne de consumo são inge- DO<nça- Doença de Chagas.
ridos pe)os seres humanos e se diferenciam no intestino em for.
mas invasivas. capazes de penetrar na parede do intestino, F.ssas Caracttristica.s -Protozoário do sangue e de tecidos. Ciclo de vida.
formas infectam macrófagos e transformam.se em trofozoftos Os tripomastigotas presentes 110 sangue do hospedefro reservatório
(taqu.i2.oftos), que se multiplicam rapidamente. matando as cé)u. são ingeridos por insetos barl>eitos. formando epimastigotas e sub-
las e infectando outra.s células. Cistos contendo bradizoítos são sequentemente tripomastigotas no U1testino. Quando o inseto pica,
formados posteriormente. O gato ingere dstos na carne crua e os ele defeca e as fez.es contendo tripomastigotas contaminam o feri-
bradizoftos são Uberados, multiplicam.se e formam gametócitos mento. Os organismos penetram no sangue e formam amastigotas
machos e fêmeas. Estes se fundem e formam oocistos no intesti- no interior das célu)as; estes, então, tomam-se tripomastigotas.
no do gato. sendo excretados nas fezes. Tronsmlssdo e epidemiologia - Transmitido por insetos reduvi.
Transmissdo e epidemiologia - Transmitido pe)a ingestão de ds· deos. Seres humanos e diversos animais são reservatórios. Ocorre
tos na carne crua ou em alimentos contaminados por fezes de em áreas rurais da América Latina.
gato. Também transmitido pela passagem transplacentária de Patogfnese- Fonnas amastigotas matam as células. especialmen.
trofozoftos da mãe para o feto. A infecção do feto ocorre apenas te do mUscuJo cardíaco. levando à miocardite. Também ocorre
quando a mãe ê infectada durante a gra,,idez. sendo esta uma pri- dano neuronal )evando ao megaco)o e ao megaesôfago.
moinfec.ção (i.e., eJa não possui anticorpos protetores). O gato ê
Diagn6'tico laboratorial- Tr-ipomastigotas são vis(veis no sangue;
o hospedeiro definitivo; seres humanos e outros mamíferos são
no entanto, biópsia de meduJa óssea, cu1tura in vitro. xenodiag.
hospedeiros intermediários. Ocorre em todo o mundo.
nôstico ou testes soro)ógicos podem ser necessários.
Patogfnese - Os trofozoítos infectam muitos órgãos. espedal·
mente o encéfalo. os olhos e.o fígado. Os dstos persistem nos te- Trotamento - Nifwtimox ou benznidazo) para doença aguda.
cidos, aumentam de tamanho e causam sintomas. Doença grave Kão há fármaco efetivo para a doença crônica.
em pacientes com deficiência na imunidade mediada por célu1as Prevenç6o - Proteção contra picadas. Controle de insetos. Sangue
(p. ex.• encefa)ite em pacientes com Aids). não deve ser utilizado para transfusões se anticorpos contra T.
cruzi estiverem presentes.
Olagn6stlco laboratorial- Testes sorológicos para anticorpos lgM
e JgG são geralmente utilizados. Trofozoftos ou cistos são visíveis
em tecidos. Trypanosoma gamblense e
Tratamento- Sulfadiazina adicionada à pirimetamina para doen- Trypanosoma rhodeslense
ça congênita ou disseminada. Doença- Doença do sono (tripanossomlase africana).
664 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

Características - Protozoário do sangue e de tecidos. Ciclo de Sul. Todos são transmitidos pelo mosquito-pólvora. Roedores
vida. Os tripomastigotas presentes no sangue de seres humanos silvestres são o principal reservatório. O diagnóstico é realizado a
ou animais reservatórios são ingeridos por moscas tsé-tsé. Dife- partir da observação de amastigotas em esfregaço da lesão cutâ-
renciam-se em epimastigotas no intestino do vetor e, então, em nea. O tratamento consiste em estibogluconato de sódio. Não há
tripomastigotas metacíclicos nas glândulas salivares. Quando a forma específica de prevenção.
mosca pica, os tripomastigotas penetram no sangue. Ocorre va-
riação repetida de antígenos de superfície, permitindo ao orga-
nismo evadir a resposta imune. PATÓGENOS PROTOZOÁRIOS DE MENOR
Transmissão e epidemiologia- Transmitidos pela mosca-tsé-tsé. IMPORTÂNCIA (CAPÍTULO 53)
Trypanosoma gambiense possui um reservatório humano e ocor-
re principalmente na África Ocidental. Trypanosoma rhodesiense
Acanthamoeba castellanii
possui um reservatório animal (especialmente antílopes selva- Ameba que causa meningoencefalite. Também causa ceratite em
gens) e ocorre principalmente na África Oriental. usuários de lentes de contato. O ciclo de vida inclui os estágios de
trofozoíto e cisto. Encontrada em lagos de água doce e no solo.
Patogênese- Tripomastigotas infectam o encéfalo, causando en-
Transmitida por meio de traumas na pele ou nos olhos. A doen-
cefalite.
ça ocorre principalmente em pacientes imunocomprometidos.
Diagnóstico laboratorial - Tripomastigotas são visíveis no sangue O diagnóstico é realizado pela observação de amebas no líquido
durante estágios precoces e no líquido cerebrospinal nos estágios cerebrospinal. O tratamento com pentamidina, cetoconazol ou
tardios. Testes sorológicos são úteis. tlucitosina pode ser efetivo. Não há forma específica de prevenção.
Tratamento - Suramina para a doença aguda. Suramina mais me-
larsoprol quando há sintomas de acometimento do sistema ner- Naegleria fowleri
voso central. Ameba que causa meningoencefalite. Encontrada em lagos de
Prevenção - Proteção contra picadas. Controle de insetos. água doce e no solo. O ciclo de vida inclui os estágios de tro-
fozoíto e cisto. Transmitida durante a natação ou em mergulhos
Leishmania donovani em lagos contaminados. A doença ocorre principalmente em
indivíduos sadios. O diagnóstico é realizado pela observação de
Doença - Calazar (leishmaniose visceral).
amebas no líquido cerebrospinal. O tratamento com anfotericina
Características - Protozoário do sangue e de tecidos. Ciclo de B pode ser efetivo. Não há forma específica de prevenção.
vida. Macrófagos humanos contendo formas amastigotas são
ingeridos por mosquitos-pólvora. No intestino do mosquito, os Babesia microti
amastigotas diferenciam-se em promastigotas e migram para a
faringe. Quando o mosquito-pólvora pica um humano, os pro- Esporozoário que causa babesiose. Endêmico em roedores ao
mastigotas penetram em macrófagos sanguíneos e formam longo da costa nordeste dos Estados Unidos. Transmitido aos
amastigotas. Estas podem infectar outras células reticuloendote- humanos por carrapatos do gênero Ixodes. Infectam hemácias,
liais, especialmente no baço e no fígado. causando sua lise, resultando em anemia. Pacientes asplênicos
apresentam doença grave. O diagnóstico é realizado pela obser-
Transmissão e epidemiologia - Transmitido pelo mosquito-pólvora vação do organismo apresentando padrões de tétrades em "cruz
(Phlebotomus ou Lutzomyia). Reservatório animal (principalmen- de Maltà' nas hemácias. O tratamento consiste na utilização de
te cães, pequenos carnívoros e roedores) na África, no Oriente uma combinação de atovaquona e azitromicina para a doença
Médio e em partes da China. Reservatório humano na Índia.* branda. Para a doença grave é utilizada uma combinação de qui-
Patogênese - Formas amastigotas matam células reticuloendote- nina e clindamicina. Não há forma específica de prevenção.
liais, especialmente no fígado, no baço e na medula óssea.
Diagnóstico laboratorial - Formas amastigotas são visíveis em Balantidium coli
esfregaço de medula óssea. Testes sorológicos são úteis. O teste Único protozoário ciliado que causa doença em humanos. Causa
cutâneo indica infecção prévia. diarreia. Adquirido por transmissão fecal-oral a partir de animais
Tratamento - Estibogluconato de sódio. domésticos, especialmente porcos. O diagnóstico é realizado pela
observação de trofozoítos ou cistos nas fezes. Tratamento é rea-
Prevenção - Proteção contra picadas. Controle de insetos.
lizado com tetraciclina. Não há forma específica de prevenção.
Leishmania tropica, Leishmania mexicana e
Leishmania braziliensis Cyc/ospora cayetanensis
Protozoário coccídeo. Causa diarreia, especialmente em pacientes
L. tropica e L. mexicana causam leishmaniose cutânea; L. brazi-
imunocomprometidos (p. ex., Aids). Adquirido por transmissão
liensis causa leishmaniose mucocutânea. L. tropica ocorre prin-
fecal-oral. Não há evidência de reservatório animal. O diagnósti-
cipalmente no Oriente Médio, na Ásia e na Índia, enquanto L.
co é realizado pela observação de oocistos em fezes submetidas à
mexicana e L. braziliensis ocorrem nas Américas Central e do
coloração acidorresistente. O tratamento é realizado com trime-
toprima-sulfametoxazol. Não há forma específica de prevenção.
*N. de T. No Brasil, o principal reservatório é o cão.
PARTI X Resumos dos Organismos de Importância Médica 665

lsospora bel/i cialmente fígado e encéfa)o. As Jarvas formam grandes cistos hidá-
ticos unilocu.lares contendo diversos protoescólex e eistos-filhos.
Protozoário cocddeo. Causa diarreia.• especia1mente em pacientes
imuuocomprometidos (p. ex., Aids). Adquirido por transmissão Transmissdo e epidemiologia- Transmitido pe)a ingestão dos ovos
fecal~otal a partir de fontes humanas ou animais. O diagnóstico ê em alimentos contaminados por fezes de cães. Os cães são os
realizado pela observação de oocistos em feres submetidas à colo· principais hospedeiros def.tnitivoS; carneiros são hospedeiros in-
ração acidorresistente. O tratamento é realizado com trünetopti· termediários; os humanos são hospedeiros incjdentais terminais.
ma-sulfametoxazol. Não há forma específica de prevenção. Endêmico em áre.as que apresentam concentrações de cáação de
carneiros (p. ex., Mediterrâneo. Oriente Médio e aJguns estados
do oeste dos Estados Unidos).
Mlcrosporldeos
Patoglnese - O cisto hidático é uma )esão relacionada ao espaço
Grupo de protozoários intrace)ulares obrigatórios e formadores
que e)a ocupa. A)ém disso. quaJ\do o cisto se rompe. os antígenos
de esporos. Duas espécies importantes são Entetoeyu,won bie-
no 0uido podem causar anafi)ax:ia.
neusi e SepMta intestina/is. Causam diarreia. especialmente em
pacientes imunocomprometidos (p. ex., Aids). Adquiridos por Diogn6'tico laboratorial- Testes sorológicos (p. ex., hemag]ut.ina-
transmissão fecal-otal a partir de fontes humanas. O diagnóstico ção indireta). Exame pato1ógico do cisto excjsado.
é re.aliz.ado peJa observação de esporos int.race)ulares nas fezes ou Tratamento - Albendazol ou remoção cirúrgica do cisto.
em espécimes de biópsia intestinal O tratamento é realizado com
Prevenç6o - Vísceras de carneiro não devem ser fornecidas e.orno
albendazol. Kão há fonna espedfica de prewnção.
alimento para os cães.

CESTÓDEOS (CAPÍTULO 54) Taenla saglnata


Dlphyllobothrlum /atum Doenço-Tenfase.
Doen(a - Difilobotrfase. Corocterlstlcos-Cestódeo (tênia do boi). O escólex possui quatro
ventosas.. mas nenhum gancho. As prog]ótides grávidas apresen-
Caracterhticas -Cestódeo (tênia de peixes). O escólex possui dois tam 15 a 20 ramificações uterinas. Ciclo de vida. Seres humanos
sulcos de sucção alongados; não há ventosas circu)ares ou gan- ingerem carne bovina maJcoz:ida contendo cisticercos. As larvas
chos. O útero grávido forma uma roseta. Os ovos alongados apre- aderem-se à parede intestina) e tomam-se vermes adu1tos com
sentam um opérculo em uma das extremidades. Cic-Jo de vida. prog]ôtides grávidas. Proglótides terminais destac.am-se, são
Humanos ingerem peixe makoz.ido contendo Jarvas sparganum. e)iminadas nas fezes e ingeridas pe)o gado. No intestino bovino.
As larvas aderem-se à parede intestinal e tornam-se adu1tos con- embriões do tipo oncosfera eclodem, penetram nos vasos sanguJ.
tendo proglôtides grá,,idas. Os ovos são eJiminados nas fezes. Ka neos e migram para os múscu1os esque)éticos. onde se desenvo).
água doce, os ovos ec-Jodem e os embriões são ingeridos porco- vem em cisticercos.
pépodes. Quando os U1timos são ingeridos por peixes de água
doe.e, larvas são formadas nos músculos dos peixes. Transmissdo e epidemiologia- Transmitido pela ingestão de carne
bovina crua ou maJcoz:ida. Os seres humanos são os hospedeiros
Tronsm;ssào e epidemiologia- Transmitido pela ingestão de peixe def.tnitivoS; o gado é o hospedeiro intermediário. Ocorre em todo
de água doce cru ou malcozido. Os humanos são hospedeiros de- o mundo. potém, é endêmico em regiões da Ásia, Améric.a Latina
ftnitivos; copépodes são os primeiros hospedeiros intermediários, e Leste Europeu.
e os peixes, o segundo. Ocorre em todo o mundo, mas é endêmico
Patoglnese- A têitia no intestino causa poucos danos. Ao contrá-
na Esc.andinávia, no Japão e no centro-norte dos F.stados Unidos.
rio de TOenia solium, não ocorre cisticercose.
Potoglntse - A tênia no intestino causa poucos danos.
Dio9n6stico laboratorial - Prog]ótides grávidas são visíveis nas fe.
o;agn6stlco laboratorial- Ovos são visíveis nas fezes. zes. Os ovos são observados com menor frequência.
Trotamento- Praziquantel. Tratamento - Praz.iquantel
Prevenção - Cozimento adequado de peixes. Descarte adequado Prevtnç6o- Coz.imento adequado da carne bovina. Desc.arte ade.•
de dejetos humanos. quado de dejetos humanos.

Echlnococcus granulosus Taenla sol/um


Doelt(a - Doença dstica hidática. Doenços -Teníase e cisticercose.
Caracterlstkas- Cestódeo (tênia do cão). O escólex possui quatro Características - Cestódeo (tênia do porco). O escólex possui
ventosas e um círculo dup)o de ganchos. O verme adulto apresenta quatro ventosas e um drcu)o de ganc-J1os. Proglótides grávidas
apenas três proglótides. Ciclo de vida. Os cães tornam-se infecta· apresentam cinco a l Oramificações uterinas. Ciclo de vida. Seres
dos quando ingerem vtsceras de ovelhas (p. ex., fígado) contendo humanos ingerem carne de porco maJcoz-ida contendo cisticer-
c,istos hidáticos. Os vermes adultos desenvolvem-se no intestino e cos. As larvas aderem-se à parede intestinal e desenvolvem-se em
os ovos são eliminados nas fezes. Os ovos são ingeridos por car- vermes adu1tos com proglótides grávidas. Proglótides terminais
neiros (e seres humanos) e liberam larvas hexacantas no intestino, destacam-se, são e)iminadas nas fezes e ingeridas por porcos. No
as quais migram pela corrente sanguínea para vários órgãos. espe. intestino suíno. embriões do tipo oncosfera (hexacantos) pene-
666 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

tram nos vasos sanguíneos e migram aos músculos esqueléticos, Transmissão e epidemiologia - Transmitido por meio da penetração
onde se desenvolvem em cisticercos. Se os seres humanos ingeri- da pele pelas cercárias. Os seres humanos são os hospedeiros defi-
rem ovos de T. solium em alimentos contaminados por fezes hu- nitivos; caramujos são os hospedeiros intermediários. Endêmicos
manas, as oncosferas penetram nos vasos sanguíneos e dissemi- em regiões tropicais: S. mansoni na África e América Latina, S. hae-
nam-se para os órgãos (p. ex., encéfalo, olhos), onde se encistam matobium na África e no Oriente Médio, e S. japonicum na Ásia.
e formam cisticercos. Patogénese - Os ovos nos tecidos induzem inflamação, granulo-
Transmissão e epidemiologia - A teníase é adquirida pela ingestão mas, fibrose e obstrução, especialmente no fígado e no baço. S.
de carne de porco crua ou malcozida. A cisticercose é adquirida mansoni causa danos ao colo (vênulas mesentéricas inferiores),
apenas pela ingestão de ovos em alimentos ou água contamina- S. japonicum causa danos ao intestino delgado (vênulas mesen-
dos por fezes. Os seres humanos são os hospedeiros definitivos; téricas superiores), e S. haematobium danifica a bexiga. O dano à
os porcos ou humanos são hospedeiros intermediários. Ocorre bexiga predispõe ao carcinoma.
em todo o mundo, porém é endêmico em regiões da Ásia, Améri- Diagnóstico laboratorial - Ovos visíveis em amostras de fezes ou
ca Latina e Europa Meridional. urina. Ocorre eosinofilia.
Patogénese - A tênia no intestino causa poucos danos. Os cis- Tratamento - Praziquantel.
ticercos podem expandir-se e causar sintomas relacionados às
Prevenção - Descarte adequado de dejetos humanos. A natação
lesões de massa, especialmente no encéfalo.
em áreas endêmicas deve ser evitada.
Diagnóstico laboratorial- Proglótides grávidas são visíveis nas fe-
zes. Os ovos são observados com menor frequência. Clonorchis sinensis
Tratamento- Praziquantel para vermes intestinais e para cisticer- Doença - Clonorquíase.
cose cerebral.
Características-Trematódeo (verme parasita do fígado). Ciclo de
Prevenção - Cozimento adequado da carne de porco. Descarte vida. Os seres humanos tornam-se infectados após a ingestão de
adequado de dejetos humanos. peixe malcozido contendo larvas encistadas (metacercárias). No
duodeno, vermes imaturos penetram no dueto biliar, tornam-se
Hymenolepis nana adultos e liberam ovos que são eliminados nas fezes. Os ovos são
ingeridos por caramujos; os ovos eclodem e formam miracídios.
A infecção por H. nana é a teníase mais comum nos Estados
Estes multiplicam-se por gerações (rédias) e, então, produzem
Unidos. A infecção é geralmente assintomática. Endêmica nos
várias cercárias livrenadantes, as quais se encistam sob as esca-
estados do Sudeste, principalmente em crianças. É chamada de
mas de peixes e são ingeridas por humanos.
tênia anã em virtude do pequeno tamanho. Também se diferen-
cia de outras tênias porque os ovos são diretamente infecciosos Transmissão e epidemiologia - Transmitido pela ingestão de peixe
para humanos, sem necessidade de um hospedeiro animal inter- de água doce cru ou malcozido. Os seres humanos são os hospedei-
mediário. O diagnóstico é realizado por meio da observação de ros definitivos; caramujos e peixes são hospedeiros intermediários
ovos nas fezes. O tratamento é realizado com praziquantel. Não primários e secundários, respectivamente. Endêmico na Ásia.
há forma específica de prevenção. Patogénese - Inflamação do trato biliar.
Diagnóstico laboratorial - Ovos são visíveis nas fezes.
TREMATÓDEOS (CAPÍTULO 55) Tratamento - Praziquantel.
Schistosoma (Schistosoma mansoni, Schistosoma Prevenção - Cozimento adequado de peixes. Descarte adequado
japonicum e Schistosoma haematobium) de dejetos humanos.

Doença - Esquistossomose. Paragonimus westermani


Características- Trematódeo (verminose sanguínea). Os adultos
Doença - Paragonimíase.
apresentam sexos separados, porém são ligados entre si. Os ovos
são diferenciados por espinhos: Schistosoma mansoni possui um Características - Trematódeo (verme parasita do pulmão). Ciclo
espinho grande e lateral; Schistosoma japonicum possui um es- de vida. Os seres humanos tornam-se infectados após a ingestão
pinho pequeno e lateral; e Schistosoma haematobium possui um de carne de caranguejo de água doce contendo larvas encistadas
espinho terminal. Ciclo de vida. Os seres humanos tornam-se (metacercárias). No intestino, vermes imaturos penetram na
infectados por meio da penetração de cercárias na pele. As cer- cavidade peritoneal, migram pelo diafragma até o parênquima
cárias formam larvas que penetram nos vasos sanguíneos e são pulmonar e tornam-se adultos. Os ovos atingem os bronquíolos
transportadas até o fígado, onde se tornam adultas. Os vermes e são eliminados pela tosse ou deglutidos. Na água doce, os ovos
adultos migram de maneira retrógrada pela veia porta, atingindo eclodem e liberam rniracídios que penetram nos caramujos, mul-
as vênulas mesentéricas (S. mansoni e S. japonicum) ou as vênulas tiplicam-se por gerações (rédias) e, então, formam muitas cer-
da bexiga urinária (S. haematobium). Os ovos penetram na parede cárias que infectam e encistam-se em caranguejos.
do intestino ou da bexiga, são excretados e eclodem na água doce. Transmissão e epidemiologia - Transmitido pela ingestão de carne
As larvas ciliadas (miracídios) penetram em caramujos e multipli- de caranguejo crua ou malcozida. Os seres humanos são os hos-
cam-se por gerações, produzindo muitas cercárias livrenadantes. pedeiros definitivos; caramujos e caranguejos são hospedeiros
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 667

intermediários primários e secundários, respectivamente. Endê- Enterobius vermicularis


mico na Ásia e na Índia.
Doença- Oxiuríase (enterobíase).
Patogênese - Inflamação e infecção bacteriana secundária nos
Características - Nematódeo intestinal. Ciclo de vida. Os seres
pulmões.
humanos ingerem os ovos, que se desenvolvem em formas adul-
Diagnóstico laboratorial- Ovos são visíveis no escarro ou nas fezes. tas no intestino. A noite, fêmeas migram pelo ânus e depositam
Tratamento - Praziquantel. muitos ovos na pele e no meio ambiente. O embrião no interior
do ovo torna-se uma larva infecciosa em quatro a seis horas.
Prevenção - Cozimento adequado de caranguejos. Descarte ade-
A reinfecção é comum.
quado de dejetos humanos.
Transmissão e epidemiologia - Transmitido pela ingestão dos ovos.
Os humanos são os únicos hospedeiros. Ocorre em todo o mundo.
NEMATÕDEOS (CAPÍTULO 56) Patogênese- Vermes e ovos causam prurido perianal.
1. Infecção intestinal Diagnóstico laboratorial - Ovos são visíveis pela técnica de "fita
adesivà: Vermes adultos são encontrados nas fraldas.
Ancy/ostoma duodenale e Necator americanus
Tratamento - Mebendazol ou pamoato de pirantel.
Doença - Ancilostomíase (amarelão).
Prevenção - Nenhuma.
Características - Nematódeo intestinal. Ciclo de vida. As larvas
filariformes penetram na pele, atingem a corrente sanguínea e
migram até os pulmões. Lá elas penetram nos alvéolos, ascen- Strongyloides stercoralis
dem pela traqueia e são, então, deglutidas. Tornam-se adultas no Doença - Estrongiloidíase.
intestino delgado e aderem-se às paredes por meio de dentículos
Características - Nematódeo intestinal. Ciclo de vida. As larvas
(Ancyslostoma) ou lâminas cortantes (Necator). Os ovos são eli-
filariformes penetram na pele, atingem a corrente sanguínea e
minados nas fezes, formam larvas rabditiformes não infecciosas
e, em seguida, larvas filariformes infecciosas no solo. migram para os pulmões. Nos pulmões, elas penetram nos alvéo-
los, ascendem pela traqueia e são deglutidas. Tornam-se adultos
Transmissão e epidemiologia - As larvas filariformes presentes no e penetram na mucosa, onde as fêmeas produzem ovos que eclo-
solo penetram na pele por meio do pé. Os seres humanos são os dem no colo, gerando larvas rabditiformes não infecciosas que são
únicos hospedeiros. Endêmico nos trópicos. frequentemente eliminadas nas fezes. Ocasionalmente, larvas rab-
Patogênese - Anemia decorrente da perda sanguínea no trato GI. ditiformes transformam-se em formas filariformes infecciosas no
intestino, que podem atingir a corrente sanguínea e migrar para os
Diagnóstico laboratorial - Ovos são visíveis nas fezes. Ocorre eo-
pulmões (autoinfecção). As larvas não infecciosas eliminadas nas
sinofilia.
fezes formam larvas filariformes infecciosas no solo. Essas larvas
Tratamento - Mebendazol ou pamoato de pirantel. podem penetrar na pele ou podem gerar adultos. Vermes adul-
Prevenção - Uso de calçados. Descarte adequado de dejetos hu- tos presentes no solo podem passar ciclos de vida inteiros neste
manos. hábitat. Esse ciclo de vida livre pode ser interrompido quando as
larvas filariformes entram em contato com a pele do hospedeiro.
Ascaris lumbricoides Transmissão e epidemiologia - Larvas filariformes no solo pene-
Doença - Ascaridíase. tram na pele. Endêmico nos trópicos.

Características- Nematódeo intestinal. Ciclo de vida. Os seres hu- Patogênese - Pouco efeito em indivíduos imunocompetentes. Em
manos ingerem os ovos, que formam larvas no intestino. As larvas indivíduos imunocomprometidos, pode ocorrer superinfecção
migram pelo sangue até os pulmões, onde penetram nos alvéolos, maciça, acompanhada por infecções bacterianas secundárias.
ascendem pela traqueia e são deglutidas. No intestino, tornam-se Diagnóstico laboratorial - Larvas são visíveis nas fezes. Ocorre
adultos e depositam ovos, que são eliminados nas fezes. Os ovos eosinofilia.
tornam-se embrionados (i.e., tornam-se infectantes) no solo.
Tratamento-A ivermectina é o fármaco de escolha. O tiabenda-
Transmissão e epidemiologia- Transmitido por alimentos conta- zol é uma alternativa.
minados por solo contendo ovos. Os seres humanos são os úni-
Prevenção - Descarte adequado de dejetos humanos.
cos hospedeiros. Endêmico nos trópicos.
Patogênese - Larvas nos pulmões podem causar pneumonia. Trichinella spiralis
Uma grande quantidade de vermes pode causar obstrução intes-
tinal ou desnutrição. Doença - Triquinose.

Diagnóstico laboratorial - Ovos são visíveis nas fezes. Ocorre eo- Características - Nematódeo intestinal que se encista nos teci-
sinofilia. dos. Ciclo de vida. Os seres humanos tornam-se infectados após
a ingestão de carne malcozida contendo larvas encistadas que
Tratamento - Mebendazol ou pamoato de pirantel. amadurecem, se transformando em formas adultas no intestino
Prevenção - Descarte adequado de dejetos humanos. delgado. Vermes fêmeas liberam larvas que penetram na corrente
668 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

sanguínea e migram até os músculos esqueléticos ou até o encé- Prevenção - Purificação da água potável.
falo, onde encistam.
Transmissão e epidemiologia - Transmitido pela ingestão de carne Loaloa
crua ou malcozida, geralmente de porco. Os hospedeiros reserva- Doença - Loíase.
tórios são principalmente porcos e ratos. Os seres humanos são
hospedeiros terminais. Ocorre em todo o mundo, porém é endê- Características - Nematódeo tecidual. Ciclo de vida. A picada de
mico no Leste Europeu e na África Ocidental. uma mosca do cervo (mosca-da-manga) deposita larvas infec-
tantes, que penetram na pele e se desenvolvem em formas adultas
Patogênese - As larvas encistam no interior de células de mús- que migram subcutaneamente. As fêmeas produzem microfi-
culos estriados, denominadas "células alimentadoras': causando
lárias, que penetram na corrente sanguínea. Elas são ingeridas
inflamação muscular. por moscas-do-cervo, onde são formadas larvas infectantes.
Diagnóstico laboratorial- Larvas encistadas são visíveis na biópsia
Transmissão e epidemiologia - Transmitido pela mosca-do-cervo.
de músculos. Ocorre eosinofilia. Testes sorológicos são positivos.
Os seres humanos são os únicos hospedeiros definitivos. Não há
Tratamento - O tiabendazol é efetivo precocemente contra ver- reservatório animal. Endêmico nas Áfricas Central e Ocidental
mes adultos. Para sintomas graves, esteroides e mebendazol po-
Patogênese - A hipersensibilidade aos vermes adultos causa "in-
dem ser testados.
tumescimento" na pele. Vermes adultos já foram visualizados se
Prevenção - Cozimento adequado da carne de porco. movimentando nas conjuntivas.
Diagnóstico laboratorial - Microfilárias são visíveis em esfregaço
Trichuris trichiura sanguíneo.
Doença - Tricocefalíase.
Tratamento - Dietilcarbamazina.
Características - Nematódeo intestinal. Ciclo de vida. Os seres
Prevenção- Controle da mosca-do-cervo.
humanos ingerem os ovos, que se transformam em formas adul-
tas no intestino. Os ovos são eliminados nas fezes e atingem o
solo, onde se tornam embrionados (i.e., tornam-se infecciosos). Onchocerca volvulus
Transmissão e epidemiologia - Transmitido por alimentos ou água Doença-Oncocercose (cegueira dos rios).
contaminados por solo contendo ovos. Os seres humanos são os Características - Nematódeo tecidual. Ciclo de vida. A picada da
únicos hospedeiros. Ocorre em todo o mundo, especialmente fêmea da mosca-negra deposita larvas no tecido subcutâneo, lo-
nos trópicos. cal em que amadurecem em vermes adultos dentro de nódulos
Patogênese - O verme no intestino geralmente causa poucos danos. cutâneos. As fêmeas produzem microfilárias, as quais migram
pelos fluidos intersticiais e são ingeridas por moscas-negras,
Diagnóstico laboratorial - Ovos são visíveis nas fezes.
onde as larvas infectantes são formadas.
Tratamento - Mebendazol.
Transmissão e epidemiologia- Transmitido pelas fêmeas das mos-
Prevenção - Descarte adequado de dejetos humanos. cas-negras. Os humanos são os únicos hospedeiros definitivos.
Não há reservatório animal. Endêmico ao longo de rios da África
2. Infecção de tecidos Tropical e América Central.

Dracuncu/us medinensis Patogênese - As microfilárias nos olhos podem, em último caso,


causar cegueira ("cegueira dos rios"). Vermes adultos induzem
Doença - Dracunculíase.
nódulos inflamatórios na pele. Observa-se uma dermatite desca-
Características - Nematódeo tecidual. Ciclo de vida. Os seres hu- mativa denominada "pele de lagarto': Ocorre também a perda de
manos ingerem copépodes contendo larvas infectantes presen- tecido subcutâneo, gerando uma condição denominada "virilha
tes na água potável. As larvas são liberadas no intestino, migram pendente''.
para a cavidade corporal, amadurecem e acasalam. A fêmea fer-
Diagnóstico laboratorial - Microfilárias são visíveis em biópsia de
tilizada migra para o tecido subcutâneo e forma uma pápula que
pele, mas não no sangue.
ulcera. Larvas móveis são liberadas na água, onde são ingeridas
por copépodes e formam larvas infecciosas. Tratamento - A ivermectina afeta as microfilárias, mas não os
Transmissão e epidemiologia - Transmitido por copépodes na água vermes adultos. Suramina para os vermes adultos.
potável. Os seres humanos são os principais hospedeiros defini- Prevenção- Controle da mosca-negra e ivermectina.
tivos. Vários animais domésticos são hospedeiros reservatórios.
Endêmico na África Tropical, no Oriente Médio e na Índia. Wuchereria bancrofti
Patogênese - Vermes adultos na pele causam inflamação e ulce- Doença - Filariose.
ração.
Características - Nematódeo tecidual. Ciclo de vida. A picada
Diagnóstico laboratorial - Não é útil. da fêmea do mosquito deposita larvas infectantes que pene-
Tratamento - Tiabendazol ou metronidazol. Remoção dos ver- tram pelo local da picada, se desenvolvem em adultos e produ-
mes nas úlceras cutâneas. zem microfilárias. Estas circulam no sangue, principalmente à
PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica 669

noite, e são ingeridas por mosquitos, onde são formadas larvas são hospedeiros definitivos. Os seres humanos são hospedeiros
infectantes. terminais.
Transmissão e epidemiologia - Transmitido por fêmeas de mos- Patogénese - Granulomas são formados ao redor das larvas mor-
quitos de diversos gêneros, especialmente Anopheles e Culex, de- tas. Granulomas na retina podem causar cegueira.
pendendo da região geográfica. Os seres humanos são os únicos
Diagnóstico laboratorial - Larvas são visíveis em tecidos. Testes
hospedeiros definitivos. Endêmico em diversas regiões tropicais.
sorológicos são úteis.
Patogénese - Vermes adultos causam inflamação que bloqueia os
Tratamento - Albendazol ou mebendazol.
vasos linfáticos (elefantíase). Infecções repetidas e crônicas são
necessárias para que os sintomas ocorram. Prevenção - Os cães devem ser vermifugados.

Diagnóstico laboratorial - Microfilárias são visíveis em esfregaço


,
sangu1neo. Ancylostoma caninum e Ancylostoma braziliense
Tratamento - A dietilcarbamazina afeta as microfilárias. Não há As larvas filariformes de A. caninum (ancilóstomo do cão) e
tratamento para vermes adultos. A. braziliense (ancilóstomo do gato) causam larva migrans cutâ-
nea. As larvas no solo penetram através da pele e, então, migram
Prevenção - Controle de mosquitos. pelo tecido subcutâneo, causando um eritema pruriginoso deno-
minado "erupção rastejante" (do inglês creeping eruption). Esses
3. Nematódeos cujas larvas causam doença organismos não podem completar seu ciclo de vida em seres
Toxocara canis humanos. O diagnóstico é realizado clinicamente. O tratamento
com tiabendazol é efetivo.
Doença - Larva migrans visceral.
Características - As larvas do nematódeo provocam a doença. Ci- Anisakis simplex
clo de vida em seres humanos: ovos de Toxocara são eliminados As larvas de A. simplex causam anisaquíase. São ingeridas em
nas fezes de cães e ingeridos por seres humanos. Eles eclodem em frutos do mar crus, como sashimi e sushi, e migram para a sub-
larvas no intestino delgado; as larvas penetram na corrente san- mucosa do trato intestinal. A infecção aguda assemelha-se à
guínea e migram para os órgãos, especialmente fígado, encéfalo e apendicite. O diagnóstico não depende do laboratório clínico.
olhos, onde ficam presas e morrem. Não há quimioterapia efetiva. As larvas podem ser removidas
Transmissão e epidemiologia - Transmitido pela ingestão dos ovos quando visualizadas durante a gastroscopia. A prevenção consis-
em alimentos ou água contaminados por fezes de cães. Os cães te em não ingerir peixe cru.

RESUMO DOS ECTOPARASITAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA - - - - -


ECTOPARASITAS QUE PROVOCAM 2. Moscas
DOENÇAS EM SERES HUMANOS Dermatobia hominis
(CAPÍTULO 69) Doença - Miíase.
1. Piolhos Características - As larvas da mosca (popularmente chamadas de
vermes) causam a doença, não as moscas adultas.
Pediculus humanus e Phthirus pubis
Transmissão - A mosca Dermatobia deposita ovos em mosquitos,
Doença - Pediculose.
e quando os mosquitos picam, os ovos são depositados na pele.
Características - Piolhos são facilmente visualizados. P. humanus O calor da pele induz a eclosão dos ovos e as larvas penetram na
apresenta corpo alongado, ao passo que P. pubis exibe corpo cur-
pele no local da mordida do mosquito.
to, similar a um caranguejo. Lêndeas são os ovos do piolho, fre-
quentemente aderidas ao pedículo piloso ou às vestimentas. Patogénese - A larva induz uma resposta inflamatória.

Transmissão - O piolho-da-cabeça e o piolho-do-corpo são trans- Diagnóstico laboratorial - Não envolvido.


mitidos de um ser humano a outro por contato, especialmente Tratamento - Remoção cirúrgica das larvas.
por meio de fômites como chapéus e pentes. Piolhos-do-púbis
são transmitidos por contato sexual. Prevenção - Limitar a exposição a moscas e mosquitos.

Patogénese - O prurido é causado por uma resposta de hipersen-


sibilidade à saliva do piolho. 3. Ácaros
Diagnóstico laboratorial - Não envolvido. Sarcoptes scabiei
Tratamento - Permetrina. A ivermectina também é efetiva. As lên- Doença - Escabiose.
deas são removidas dos fios de cabelo com o auxílio de um pente. Características - Corpo esférico com oito patas curtas. Muito pe-
Prevenção - Objetos pessoais devem ser tratados ou descartados. queno para ser visualizado a olho nu.
670 PARTE X Resumos dos Organismos de Importância Médica

Transmissão - Contato de pessoa para pessoa ou por meio de fô- Loxosceles reclusa {aranha-marrom solitária)
mites, como roupas.
Doença - Picada de aranha.
Patogênese - O prurido é causado por uma resposta de hipersen-
Características - As aranhas-marrons solitárias apresentam pa-
sibilidade às fezes do ácaro.
drão em forma de violino em sua superfície dorsal.
Diagnóstico laboratorial - O exame ao microscópio revela ácaros
Patogênese - A dermotoxina é uma protease que causa lesões ne-
e suas fezes.
cróticas dolorosas.
Tratamento - Permetrina.
Diagnóstico laboratorial - Não envolvido.
Prevenção - Tratamento dos contatos e descarte de fômites.
Tratamento- O antiveneno (soro) não está disponível nos Esta-
dos Unidos.*
4. Carrapatos
Espécies de Dermacentor
Doença - Paralisia por carrapato.
Características - Determinadas espécies de carrapatos produzem
uma neurotoxina.
Transmissão - Carrapatos habitam regiões campestres e aderem-
se à pele humana.
Patogênese - A fêmea do carrapato requer um repasto sanguí-
neo e a toxina na saliva do carrapato penetra na pele pelo sítio
da picada. A neurotoxina bloqueia a liberação de acetilcolina na
junção neuromuscular. Ação similar à toxina botulínica.
Diagnóstico laboratorial - Não envolvido.
Tratamento - A remoção do carrapato resulta na reversão ime-
diata da paralisia.
Prevenção - Remoção de carrapatos; uso de vestuário protetor.

5. Aranhas
Latrodectus mactans {aranha viúva-negra)
Doença - Picada de aranha.
Características-As aranhas viúvas-negras exibem uma ampulhe-
ta vermelho-alaranjada em sua superfície ventral.
Patogênese - A neurotoxina causa dor nas extremidades e no ab-
dome. Entorpecimento, febre e vômitos também ocorrem.
Diagnóstico laboratorial - Não envolvido.
Tratamento - O antiveneno (soro) deve ser administrado em ca-
sos graves.

*N. de T. No Brasil, o soro antiloxoscélico é disponibilizado pelas secre-


tarias de saúde estaduais.
Estes breves exemplos de c.asos cHn.icos são apresentações caracterfstic.as de doenças infecciosas comuns. O conhecimento dos
organismos causais mais prováveis destes dássicos casos dinicos aprimorará suas capacidades diagnósticas. F.stes casos são apre.
sentados em ordem aleatôria. As Cilracterísticas importantes do e.aso estão destacadas em negrito.

CAS0 1
Uma mulher de 22 anos apresenta faringite grave. Os achados do exame dinko incluem garganta inflamada, linfonodoscervic.ais
intumescidos e baço aumentado. Seu teste de aglutinlna heteroffllca (teste de Monospot) é positivo.
Diagnóstico: Mononucleose infecciosa provoc.ada pelo vírus Epstein- Barr. Outros vírus e bactérias, especialmente Streptococcus
pyogertes, podem causar faringite e lin.fudenopatia cervical; entretanto. baço aumentado e teste de Monospot positivo tornam a
mononucleose infecciosa o diagnóstico mais provável. Ver informações adicionais na página 292.

CAS02
Um me11i110 de cinco anos de. idade com cetoacidose diabética apresenta ptose. 11a pá1pebra direita. edema periorbita1 e uma
lesão c.utã11ea necrôtica e negra sob o o)ho. A biópsia da lesão cutânea revela hifas não s.eptadas com ramificações de grande
angulação.
Diagnóstico: Mucormicose causada por Mucor ou espécies de Rhizopus. A cetoacidose diabética e acidose renal predispõem
à mucorinkose. Esporos fúngicos são inalados até os sinus, resultando em lesões na face. Consulte a seção Transmissão (pági.
na 405) para obter infonnações adicionais.

CAS03
Um homem de 40 anos queixa.se. de diarreia aquosa e fétida ocorrida nas últimas duas semanas. O indivíduo co11sumiu água
não tratada em um acampamento cerca de um mês atrás. Foram visua1izados trofozoítos flagelados em formato de pera nas
fezes..
Dlagnóstlc.o: Giardiase causada por Giardfr~ lambUa. Entre os protozoários causadores de diarreia, Giard1'a e Cryptosporid1'um
causam diarreia aquosa. e Entamoeba. causa diarreia sanguinolenta. Consulte a seção Tratamento (a partir da página 414) para
obter informações adicionais sobre Giardia, sobre Cryptospori'dium. e.Conteúdo do capítulo (página 41O) para informações adi·
cionais sobre Enramoeba.

CAS04
Um homem de 35 anos de idade, soropositivo para o vírus da imunodeficiência humana (HIV), tem apresentado c.efu.leia persis.
tente e febre baixa (temperatura. 38ºC) nas últimas duas semanas. Observam.se leveduras com brotamento e ampla cápsula em
uma preparação de tinta nanqulm do liquido espinal.
Diagnóstico: Meningite causada por Cryptococcus neoformans. O teste de aglutinação de )átex. que detecta o antígeno po)issaca.
ddico capsuJar de Cryptococcus no líquido espinal. é um teste mais se11sível e especifico que o teste com tinta nan.quim. Ver i1úor.
mações adicionais na página 403. Quando badlos addorreslstentes forem observados no líquido espinal, considerar Mycobacu~.
rium tuberculosis. ConsuJte Conteúdo do capftu1o (página 180) para obter informações adicionais.
672 PARTE XI Casos Clínicos

CASOS
Um menino de 12 anos apresenta o braço dolorido, que acredita ter lesionado durante os arremessos em um jogo de beisebol da
Liga Infantil. A dor agravou-se ao longo de um período de duas semanas, e atualmente ele apresenta temperatura de 38ºC. Ara-
diografia do úmero revela elevação do periósteo. O aspirado da lesão revela cocos gram-positivos em agrupamentos.
Diagnóstico: Osteomielite causada por Staphylococcus aureus. Esse organismo é a causa mais comum de osteomielite em crian-
ças. A osteomielite em articulações prostéticas é frequentemente causada por Staphylococcus epidermidis. Consulte Conteúdo do
capítulo (página 109) para obter informações adicionais sobre estafilococos.

CASO6
Uma mulher de 50 anos, submetida à quimioterapia via cateter subclávio para leucemia aguda, apresenta manifestação súbita de
cegueira em seu olho direito. A contagem total de leucócitos da mulher é 120/µL. Nas hemoculturas, houve crescimento de leve-
duras com brotamento que formaram tubos germinativos.
Diagnóstico: Endoftalmite (infecção no interior do olho) causada por Candida albicans. Uma infecção associada ao cateter origi-
nou um êmbolo contendo o organismo, que se deslocou pela corrente sanguínea, atingindo o globo ocular. C. albicans é membro
da microbiota normal da pele e penetra através de uma ruptura na pele no sítio do cateter. Consulte Conteúdo do capítulo (página
400) para obter informações adicionais. Quando a hemocultura origina colônias de cocos gram-positivos em agrupamentos que
são coagulase-negativos, considerar Staphylococcus epidermidis, outro membro da microbiota da pele, que também é uma causa
comum de infecções associadas a cateteres. Consulte Staphylococcus aureus: doenças mediadas por toxinas (página 114) para
obter informações adicionais.

CASO7
Um homem de 60 anos apresentou tosse não produtiva e febre (temperatura de 38,5ºC) por uma semana. Ele foi submetido a um
transplante renal há seis semanas e apresentou um episódio de rejeição que exigiu aumento na administração de prednisona. Não
houve resposta à eritromicina, indicando Legionella e Mycoplasma como causas improváveis. No fluido de lavagem broncoalveo-
lar, foram observados corpos de inclusão em olho de coruja no interior do núcleo das células infectadas.
Diagnóstico: Pneumonia causada por citomegalovírus (CMV). As inclusões intranucleares são achados característicos de infec-
ções por CMV. A imunossupressão predispõe a infecções disseminadas por CMV. Consulte a seção Prevenção (página 289) para
obter informações adicionais.

CASOS
Uma mulher de 45 anos queixa-se de enfraquecimento crescente no braço direito durante os últimos dias. Esta manhã, ela sofreu
convulsão generalizada. Ela passou, recentemente, por sessões de quimioterapia. Uma imagem de ressonância magnética (RM)
do encéfalo revela uma lesão semelhante a um abscesso. A biópsia cerebral revela bacilos gram-positivos em filamentos longos.
O organismo é fracamente acidorresistente.
Diagnóstico: Abscesso cerebral causado por Nocardia asteroides. N. asteroides inicialmente infecta o pulmão, onde pode ou não
causar sintomas em indivíduos imunocompetentes. A disseminação para o encéfalo é comum em pacientes imunocomprometi-
dos. Consulte Nocardia asteroides (página 191) para obter informações adicionais.

CASO9
Um homem de 20 anos apresenta cefaleia intensa e vômitos, manifestados na véspera. Atualmente, ele mostra-se confuso.
Ao exame, apresenta temperatura de 39ºC e rigidez de nuca. O líquido espinal revela ausência de bactérias na coloração de
Gram, 25 linfócitos, proteínas normais e glicose normal. A cultura do líquido espinal em ágar-sangue não revela colônias
bacterianas.
Diagnóstico: Meningite virai, mais frequentemente causada pelo vírus de Coxsackie. É possível isolar o vírus a partir do líqui-
do espinal. Consulte Vírus de Coxsackie (página 325) para obter informações adicionais.

CASO 10
Um homem de 60 anos, com história de tuberculose, atualmente apresenta tosse produtiva com escarro sanguinolento. A radio-
grafia de tórax revela uma massa circular opaca no interior de uma cavidade no lobo superior esquerdo. Na cultura do escarro,
houve o crescimento de um organismo com hifas septadas, com paredes retas e paralelas. As hifas exibem ramificação pouco
angulosa.
Diagnóstico: "Bola fúngicà' causada por Aspergillus fumigatus. Os esporos fúngicos são inalados até os pulmões, onde crescem
no interior de uma cavidade preexistente, causada pela infecção por Mycobacterium tuberculosis. Consulte a seção Tratamento e
prevenção (página 404) para obter informações adicionais.
PARTE XI Casos Clínicos 673

CASO 11
Uma menina de três meses de idade apresenta diarreia aquosa, não sanguinolenta. A coprocultura revela apenas a microbiota
entérica normal.
Diagnóstico: Considera-se que o organismo associado seja o rotavírus, a causa mais comum de diarreia em crianças. O ensaio
imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA), para a detecção do antígeno de rotavírus nas fezes, é positivo, o que confirma o diag-
nóstico. Consulte Patogênese e imunidade (página 328) para obter informações adicionais.

CASO 12
Uma mulher de 30 anos apresenta uma úlcera indolor na língua. Ela é positiva para anticorpos contra HIV e apresenta contagem
de CD4 de 25. Seu soro não é reativo no teste de VDRL. A biópsia da lesão revela leveduras no interior de macrófagos.
Diagnóstico: Histoplasmose disseminada causada por Histoplasma capsulatum. Pacientes com baixa contagem de CD4 exibem
imunidade mediada por células muito reduzida, predispondo à doença disseminada causada por esse fungo dimórfico. Um teste
de VDRL negativo indica que a úlcera não foi causada por Treponema pallidum. Consulte a seção Patogênese e achados clínicos
(página 396) para obter informações adicionais sobre Histoplasma.

CASO 13
Um homem de 20 anos exibe tornozelo edemaciado, vermelho, quente e dolorido, acompanhado de temperatura corporal de 38ºC
há dois dias. Não há história de trauma. São observados diplococos gram-negativos no aspirado de líquido articular. O organis-
mo é oxidase-positivo.
Diagnóstico: artrite causada por Neisseria gonorrhoeae, a causa mais comum de artrite infecciosa em adultos sexualmente
ativos. Testes de fermentação de açúcares foram utilizados para identificar o organismo como N. gonorrhoeae. Consulte a seção
Achados clínicos (página 130) para obter informações adicionais.

CASO 14
Uma mulher de 40 anos apresenta visão turva e fala indistinta. Ela não está febril. A mulher é conhecida no seu bairro por suas
conservas caseiras de vegetais e frutas.
Diagnóstico: Botulismo causado por Clostridium botulinum. A toxina botulínica causa paralisia descendente, que inicia nos ner-
vos cranianos, manifestando-se inicialmente por diplopia. A toxina é uma protease que cliva as proteínas envolvidas na libera-
ção de acetilcolina na junção neuromuscular. Tratar imediatamente com antissoro. Confirmar o diagnóstico com teste de pro-
teção em camundongos, utilizando uma amostra do alimento suspeito de conter a toxina. Ver informações adicionais na página
138. Botulismo de ferimentos ocorre em usuários de heroína (p. ex., usuários de heroína negra), especialmente nos que a utilizam
de maneira injetável. Esporos bacterianos presentes na heroína germinam nas condições anaeróbias do tecido cutâneo necrótico.

CASO 15
Um neonato nasceu com cabeça pequena (microcefalia), icterícia e hepatosplenomegalia. A urina contém células gigantes mul-
tinucleadas com inclusões intranucleares.
Diagnóstico: Infecção por citomegalovírus adquirida no útero. Citomegalovírus é a principal causa de anomalias congênitas.
Para ocorrer infecção fetal, a mãe deve ser infectada pela primeira vez durante a gestação. Desse modo, ela não possuirá anticor-
pos preexistentes para neutralizar o vírus antes de infectar a placenta e o feto. Consulte a seção Prevenção (página 289) para obter
informações adicionais.

CASO 16
Uma menina de 14 anos apresenta erupção eritematosa, dolorosa e de rápida disseminação na perna. A erupção apresenta-se
quente e sensível e sua temperatura corporal é de 38ºC. Cocos gram-positivos em cadeias foram observados em um aspirado da
lesão. Na cultura do aspirado em ágar-sangue desenvolveram-se colônias circundadas por uma zona clara de hemólise (beta).
O crescimento do organismo foi inibido por bacitracina.
Diagnóstico: Celulite causada por Streptococcus pyogenes. A rápida disseminação da celulite causada por S. pyogenes deve-se à
hialuronidase (fator de disseminação) que degrada o ácido hialurônico do tecido subcutâneo. Glomerulonefrite aguda (GNA)
pode ocorrer após as infecções cutâneas causadas por S. pyogenes. GNA é uma doença imunológica causada por complexos antí-
geno-anticorpo. Consulte a seção Prevenção (página 116) para obter informações adicionais.

CASO 17
Um menino de quatro anos acorda à noite em virtude de prurido na região anal. São observados ovos de vermes na preparação
de "fita adesiva':
674 PARTE XI Casos Clínicos

Diagnóstico: Infecção parasitária (enterobíase) causada por Enterobius vermicularis. A infecção por oxiúros é a doença causada
por helmintos mais comum nos Estados Unidos. Consulte a seção Nematódeos intestinais (página 458) para obter informações
adicionais.

CASO 18
Uma mulher de 25 anos apresenta mão edemaciada, inflamada e dolorosa. Ela foi mordida por um gato há cerca de oito horas. São
observados bacilos gram-negativos pequenos no exsudato da lesão.
Diagnóstico: Celulite causada por Pasteurella multocida. O organismo é membro da microbiota oral normal de gatos. Ver in-
formações adicionais na página 177.

CASO 19
Uma menina de sete anos apresenta diarreia sanguinolenta e febre (temperatura de 38ºC), sem náusea ou vômitos. Apenas colô-
nias fermentadoras de lactose são observadas em ágar EAM.
Diagnóstico: Considera-se que o organismo associado seja Campylobacter jejuni ou linhagens êntero-hemorrágicas de Escheri-
chia coli (E. coli O157:H7). Quando Campylobacterfor a causa, são observadas colônias em ágar Campylobacter, contendo bacilos
gram-negativos curvos, e as colônias no ágar EAM provavelmente são E. coli não patogênicos. Se E. coli O157:H7 for a causa, o
organismo nas colônias fermentadoras de lactose no ágar EAM será incapaz de fermentar sorbitol. A ausência de colônias não
fermentadoras de lactose indica que Shigella e Salmonella não são a causa. Consulte a página 159 para obter informações adicio-
nais sobre Campylobacter e a seção Patógenos internos e externos ao trato entérico (página 151) para informações adicionais sobre
E. coli O157:H7.

CASO20
Uma menina de 15 anos apresentou tosse não produtiva e temperatura de 38ºC nos últimos cinco dias. Os sintomas manifesta-
ram-se gradativamente. O exame pulmonar revela poucos estertores dispersos. A radiografia de tórax revela infiltrado dissemina-
do no lobo inferior esquerdo, com ausência de consolidação. O teste de crioaglutininas é positivo.
Diagnóstico: Pneumonia atípica causada por Mycoplasma pneumoniae. Esse organismo é a causa mais comum de pneumonia
atípica em adolescentes e adultos jovens. No teste de crioaglutininas, os anticorpos no soro do paciente aglutinam as hemácias
humanas no frio (4ºC). Esses anticorpos não reagem com Mycoplasma. Consulte Conteúdo do capítulo (página 193) para obter
informações adicionais.

CASO21
Um homem de 45 anos sofreu fratura de crânio em um acidente de automóvel. No dia seguinte, ele observou um fluido claro
sendo secretado pelo nariz, mas não informou aos profissionais do hospital. No dia subsequente, ele apresentou febre de 39ºC e
queixou-se de cefaleia intensa. Ao exame físico, foi observada rigidez de nuca. A análise do fluido espinal revelou uma contagem
de GB de 5.200/µL, sendo que 90% destes eram neutrófilos. A coloração de Gram revelou diplococos gram-positivos.
Diagnóstico: Meningite causada por Streptococcus pneumoniae. Pacientes com fratura de placa cribriforme, que eliminam lí-
quido espinal pelo nariz, são predispostos à meningite por esse organismo. Pneumococos podem colonizar a mucosa nasal e
atingir o espaço subaracnóideo por meio da placa cribriforme fraturada. Ver informações adicionais na página 123.

CASO22
Uma menina de sete anos sentia-se bem até três semanas atrás, quando passou a relatar queixas de estar "sempre cansadà: Ao
exame, sua temperatura é de 38ºC e há sensibilidade abaixo do joelho direito. Hemoglobinas: 10,2; contagem de leucócitos: 9.600
com aumento de neutrófilos. Uma preparação para células falciformes revela tendência moderada à falcização. Bacilos gram-
negativos cresceram na hemocultura.
Diagnóstico: Osteomielite causada por espécies de Salmonella. A anemia falciforme predispõe à osteomielite causada por es-
pécies de Salmonella. As células falciformes de morfologia anormal são capturadas em pequenos capilares do osso e causam mi-
croinfartos. Esses microinfartos aumentam a probabilidade de infecção por Salmonella. Ver informações adicionais na página 153.

CASO23
Um menino de três meses apresenta tosse persistente e respiração ofegante intensa nos últimos dois dias. Ao exame físico, sua
temperatura é de 39ºC, e roncos ásperos são auscultados bilateralmente. A radiografia do tórax revela infiltrados intersticiais bila-
teralmente. O diagnóstico foi realizado por ELISA, que detectou antígenos virais nos lavados nasais.
Diagnóstico: considerar pneumonia causada por vírus sincicial respiratório (RSV), a causa mais comum de pneumonia e bron-
quiolite em crianças. RSV causa células gigantes (sincícios), que podem ser observadas em secreções respiratórias e cultura
celular. Ver informações adicionais na página 313.
PARTE XI Casos Clínicos 67S

CAS024
Um homem de 34 anos exibia estado de saúde normal até a noite passada, quando se sentiu febril, apresentou calafrios e dispneia
em repouso. Temperatura de 39ºC, pressão arterial 110/60, pulso 104, respiração 18. Estertores difusos foram auscultados em
ambas as bases. Um novo murmúrio consistente com insuficiência da valva tricúspide foi auscultado. Marcas de perfurações por
agulhas foram observadas em ambos os antebraços. Cocos gram-positivos em agrupamentos cresceram na hemocultura.
Diagnóstico: Endocardite aguda causada por Staphylococcus aureus. Esse organismo é a causa mais comum de endocardite aguda
em usuários de drogas injetáveis. As valvas do lado direito do coração estão frequentemente envolvidas. Consulte Conteúdo do
capítulo (página 109) para obter informações adicionais.

CAS025
Um bebê de duas semanas de idade apresentava-se saudável ao receber alta do hospital há 10 dias, e assim permaneceu até a úl-
tima noite, quando se mostrou sonolento e ruborizado. Sua pele estava quente ao toque. Ao exame físico, a estimulação do bebê
foi muito difícil, mas não haviam outros achados positivos. Sua temperatura era de 40ºC. A hemocultura revelou crescimento de
cocos gram-positivos em cadeias. Uma pequena zona de hemólise clara (beta) foi observada ao redor das colônias. O teste de
hidrólise de hipurato foi positivo.
Diagnóstico: Sepse neonatal causada por Streptococcus agalactiae (estreptococos do grupo B). Estreptococos do grupo B são a
causa mais comum de sepse neonatal. Considerar Escherichia coli se forem observados bacilos gram-negativos, ou Listeria mo-
nocytogenes se forem observados bacilos gram-positivos. Consulte a seção Achados clínicos (página 120) para obter informações
adicionais sobre estreptococos do grupo B, a seção Patógenos internos e externos ao trato entérico (página 151) para informações
adicionais sobre E. coli, e a seção Tratamento (página 143) para informações adicionais sobre L. monocytogenes.

CAS026
Uma mulher de 70 anos foi submetida a uma cirurgia para colocação de prótese de quadril em virtude de doença articular
degenerativa grave. Ela evoluiu bem até um ano após, quando uma queda resultou em fratura do fêmur e foi necessária a subs-
tituição da prótese. Após três semanas, fluido sanguinolento passou a drenar pelo sítio da ferida. A paciente mostrou-se afebril
e o exame físico não foi significativo. Após dois dias, devido ao aumento da drenagem, a ferida foi desbridada, sendo verificada
a presença de pus. A coloração de Gram do pus foi negativa, embora uma coloração acidorresistente tenha revelado bacilos
vermelhos.
Diagnóstico: Infecção de prótese articular causada pelo complexo Mycobacterium fortuitum-chelonei. Considerar Staphylococcus
epidermidis se forem observados cocos gram-positivos em agrupamentos. Consulte Grupo I (Fotocromógenos, página 186) para
obter informações adicionais sobre o complexo M. fortuitum-chelonei, e Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus saprophyticus
(página 113) para informações adicionais sobre S. epidermidis.

CAS027
Um homem de 80 anos queixa-se de uma erupção dolorosa no lado esquerdo superior da cabeça. A erupção é vesicular e somente
nessa região. Ele encontra-se em tratamento quimioterápico para leucemia. O esfregaço de material da base da vesícula revela
células gigantes multinucleadas com inclusões intranucleares.
Diagnóstico: Herpes-zóster (cabreiro) causado pelo vírus varicela-zóster. A erupção do zóster acompanha o dermátomo do neu-
rônio infectado latentemente. O herpes-vírus simples 1 pode desencadear um quadro similar. Esses vírus podem ser diferenciados
por meio de ensaios utilizando anticorpos fluorescentes. Ver informações adicionais na página 287.

CAS028
Uma mulher de 55 anos apresenta uma úlcera inflamada na mão direita e vários nódulos sensíveis na face interna do braço direito.
Ela é uma ávida jardineira e aprecia especialmente o cultivo de suas rosas. A biópsia da lesão revela leveduras com brotamento.
Diagnóstico: Esporotricose causada por Sporothrix schenckii. O organismo apresenta-se como bolor no solo e como levedura no
corpo (i.e., é dimórfico). A infecção ocorre quando esporos produzidos pelo bolor são introduzidos na pele por um ferimento
penetrante. Consulte a seção Tínea negra (página 391) para obter informações adicionais.

CAS029
Um rapaz de 15 anos sofreu fratura de um dente durante uma luta há várias semanas. Atualmente, ele apresenta uma região infla-
mada na pele sobre o dente fraturado, no centro da qual há uma fístula de drenagem. A coloração de Gram do fluido de drenagem
revela bacilos gram-positivos filamentosos.
Diagnóstico: Actinomicose causada por Actinomyces israelii. São observados "grânulos de enxofre" na fístula de drenagem. Esses
grânulos são partículas compostas por filamentos bacterianos entrelaçados. Consulte Conteúdo do capítulo (página 190) para
obter informações adicionais.
676 PARTE XI Casos Clínicos

CASO30
Uma mulher de 24 anos sofreu manifestação súbita de febre alta, mialgias, vômito e diarreia. Os sinais vitais da mulher eram
os seguintes: temperatura 40ºC, pressão arterial 70/30, pulso 140, respiração 30. Uma erupção similar a uma queimadura solar
surgiu em grande parte de seu corpo. As hemoculturas e coproculturas são negativas. Ela encontra-se em fase de recuperação de
um procedimento cirúrgico nos sínus maxilares e o sangramento foi estancado com tampões nasais. Cocos gram-positivos em
agrupamentos foram observados no sangue aderido ao tampão nasal.
Diagnóstico: Síndrome do choque tóxico causada por Staphylococcus aureus. A toxina da síndrome do choque tóxico é um su-
perantígeno que estimula a liberação de grandes quantidades de citocinas por várias células T auxiliares. Consulte a seção
Transmissão (página 112) para obter informações adicionais.

CASO31
Uma menina de oito anos apresenta erupção pruriginosa na região peitoral. As lesões são redondas ou ovais, com borda inflamada e
região central clara. As lesões contêm pápulas e vesículas. São observadas hifas na preparação com KOH de raspados da lesão.
Diagnóstico: Tinea corporis (micose) causada por um dos organismos dermatófitos, especialmente espécies de Microsporum, Tri-
chophyton ou Epidermophyton. Os dermatófitos utilizam a queratina como fonte de nutrientes, desta forma as lesões são limitadas
à pele. Consulte Conteúdo do capítulo (página 389) para obter informações adicionais.

CASO32
Uma mulher de 25 anos apresenta uma erupção papular no tronco, nos braços e nas palmas das mãos. Ela diz que a erupção não é
pruriginosa. O exame vaginal revela duas lesões planas, úmidas e discretamente elevadas nos lábios do pudendo. Amostras cole-
tadas de uma lesão labial, examinadas em microscopia de campo escuro, revelaram a presença de espiroquetas.
Diagnóstico: Sífilis secundária causada por Treponema pallidum. A erupção nas palmas das mãos, associada às lesões vaginais
(condiloma plano), é compatível com sífilis secundária. Os testes sorológicos, como o teste inespecífico (VDRL) e o teste espe-
cífico (FTA-ABS), foram positivos. Consulte a seção Treponema (página 196) para obter informações adicionais.

CASO33
Uma menina de cinco anos queixa-se de dor de ouvido há dois dias. Ao exame, sua temperatura é de 39ºC, o canal externo direito
contém sangue ressecado, o tímpano encontra-se perfurado e observa-se pequena quantidade de fluido purulento. A coloração
de Gram do pus revelou diplococos gram-positivos. As colônias exibiram hemólise verde (alfa) em ágar-sangue. O crescimento
foi inibido por optoquina.
Diagnóstico: Otite média causada por Streptococcus pneumoniae. Considerar Haemophilus influenzae se forem observados ba-
cilos gram -negativos pequenos. Esses organismos colonizam a parte oral da faringe e penetram na orelha média por meio da
tuba auditiva. Consulte a seção Transmissão (página 123) para obter informações adicionais sobre S. pneumoniae e Conteúdo do
capítulo (página 168) para informações adicionais sobre H. influenzae.

CASO34
Uma mulher de 25 anos encontrava-se saudável até uma súbita manifestação de febre alta (temperatura de 40ºC), acompanhada
por várias lesões cutâneas purpúreas (equimoses purpúreas). As lesões são distribuídas por todo o corpo, exibem forma irregular
e não são elevadas. Sua pressão arterial é 60/10 e sua frequência cardíaca é 140. A hemocultura apresentou crescimento de diplo-
cocos gram-negativos.
Diagnóstico: Meningococcemia causada por Neisseria meningitidis. A endotoxina (lipopolissacarídeo, ou LPS) do organismo
desencadeia a liberação de interleucina 1, fator de necrose tumoral, e óxido nítrico pelos macrófagos. Estes mediadores provocam
febre alta e baixa pressão sanguínea. As lesões purpúreas são uma manifestação de coagulação intravascular disseminada (CID).
A endotoxina ativa a cascata de coagulação, causando CID. O lipídeo A é a porção tóxica do LPS. Consulte Conteúdo do capítulo
(página 127) para obter informações adicionais.

CASO35
Uma mulher de 40 anos encontrava-se saudável até os últimos dois dias, quando apresentou manifestação súbita de febre, calafrios
e sudorese intensa. Hoje ela se queixa de cefaleia e dor abdominal, porém sem náusea, vômitos ou diarreia. Ela não apresenta
rigidez de nuca, erupção ou estado mental alterado. A história de viagens revela que ela retornou há uma semana de uma longa
viagem a vários países da África Central. O esfregaço de sangue revela trofozoítos anelares no interior de hemácias.
Diagnóstico: Malária causada por espécies de Plasmodium. Se forem observados gametócitos em forma de banana no esfregaço
de sangue, considerar Plasmodium falciparum. P. falciparum é a espécie responsável pelas complicações de risco à vida da malária,
como malária cerebral. A febre e os calafrios apresentados pelo paciente coincidem com a liberação de merozoítos pelas hemácias
e ocorrem em padrão terciário ou quaternário. Consulte Conteúdo do capítulo (página 420) para obter informações adicionais.
PARTE XI Casos Clínicos 677

CASO36
Um homem de 35 anos é atendido no pronto-socorro com queixas de cefaleia intensa e vômitos que iniciaram na última noite. Sua
temperatura é de 40ºC. Enquanto encontra-se no pronto-socorro, ele mostra-se progressivamente agressivo e sofre uma convulsão
intensa. Ele está "espumando pela bocà' e não é capaz de ingerir nenhum líquido. A análise do líquido espinal não revela anor-
malidades e não são observados organismos na coloração de Gram. Após dois dias, apesar das medidas de suporte, ele faleceu.
O exame patológico do encéfalo revelou corpos de inclusão eosinofílicos no citoplasma de neurônios.
Diagnóstico: Raiva (uma encefallite) causada pelo virus da raiva. As inclusões são corpúsculos de Negri. O diagnóstico
pode ser confirmado por ensaios com anticorpos fluorescentes. O paciente era fazendeiro e foi mordido por um morcego
cerca de um mês antes da manifestação dos sintomas. Observa-se um longo período de incubação, que pode ser de até seis
meses. Indivíduos que foram mordidos por morcego (ou qualquer animal silvestre) devem receber imunização contra raiva,
consistindo na vacina inativada e imunoglobulinas contra raiva (imunização passiva-ativa). Ver informações adicionais na
página 317.

CASO37
Um homem de 70 anos foi internado no hospital após sofrer extensas queimaduras de terceiro grau. Após três dias, apresentou
febre e havia pus de coloração verde-azulada no curativo. A coloração de Gram do pus revelou bacilos gram-negativos.
Diagnóstico: Infecção de ferimento (queimadura) causada por Pseudomonas aeruginosa. A coloração verde-azulada é causada
pela piocianina, um pigmento produzido pelo organismo. Ver informações adicionais na página 162.

CASO38
Uma mulher de 65 anos relata ter sofrido vários episódios de confusão e perda de memória durante as últimas semanas. Ao exa-
me, ela mostra-se afebril, mas apresenta marcha vacilante e há relato de mioclonia. Nos meses seguintes, sua condição piorou e
ela faleceu. Na autópsia, o exame microscópico do encéfalo revelou diversos vacúolos, mas com ausência de corpos de inclusão
virais.
Diagnóstico: Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) causada por príons. CJD é uma encefalopatia espongiforme. Os vacúolos
conferem ao encéfalo aspecto similar a uma esponja. Consulte Panencefalite esclerosante subaguda (página 361) para obter infor-
mações adicionais.

CASO39
Um homem de 20 anos queixa-se de vários episódios de sangue na urina. Ele não apresenta disúria ou secreção uretra!. Não é
sexualmente ativo. É um estudante universitário, porém foi nascido e criado no Egito. O exame físico não revela lesões penianas.
O exame de urina revela muitas hemácias, ausência de leucócitos e grandes ovos com espinhas terminais.
Diagnóstico: Esquistossomose causada por Schistosoma haematobium. A presença de ovos de esquistossomos nas vênulas da be-
xiga danificam um epitélio desse órgão e causam sangramento. Os ovos são excretados na urina. Consulte Conteúdo do capítulo
(página 449) para obter informações adicionais.

CASO40
Um homem de 35 anos queixa-se de suores noturnos, calafrios e fadiga em intervalos variáveis durante os últimos dois meses.
Esses episódios iniciaram enquanto ele viajava pela América Latina. Quando questionado, informou que queijos, especialmente
as variedades não pasteurizadas, são um de seus alimentos favoritos. Ao exame, sua temperatura é de 39ºC e seu fígado e baço são
palpáveis. Seu hematócrito é 30%, e a contagem de GB é de 5.000. A hemocultura mostrou crescimento de bacilos gram-negati-
vos pequenos.
Diagnóstico: Brucelose causada por espécies de Brucella. Animais domésticos, como vacas e cabras, são o principal reservatório
de Brucella, sendo o organismo frequentemente transmitido por laticínios não pasteurizados. Esse paciente poderia também
estar acometido por febre tifoide causada por Salmonella typhi, contudo, S. typhi é um patógeno apenas de humanos, isto é, não há
reservatório animal. Consulte Conteúdo do capítulo (página 174) para obter informações adicionais sobre espécies de Brucella e
Diagnóstico laboratorial (página 153) para informações adicionais sobre S. typhi.

CASO41
Uma menina de seis anos apresenta uma erupção na face que surgiu no dia anterior. A erupção é eritematosa e localizada sobre
as eminências malares bilateralmente. A erupção é macular; não há pápulas, vesículas ou pústulas. Alguns dias antes do surgi-
mento da erupção, ela apresentava coriza e anorexia.
Diagnóstico: Síndrome das bochechas esbofeteadas causada pelo parvovírus Bl9. Esse vírus também causa anemia aplástica,
uma vez que preferencialmente infecta e mata eritroblastos. Também infecta o feto, causando hidropsia fetal, e provoca artri-
te mediada pelo imunocomplexo, especialmente em mulheres adultas. Ver informações adicionais na página 300.
678 PARTE XI Casos Clínicos

CAS042
Um homem de 20 anos caiu de sua motocicleta e sofreu uma fratura múltipla do fêmur. A fratura foi reduzida cirurgicamente e
o ferimento foi desbridado. Após 48 horas, ele apresentou febre (temperatura de 40ºC) e o ferimento tornou-se necrótico. Foram
observados crepitação e um odor fétido originado do ferimento. Anemia e uma contagem de leucócitos de 22.800 foram encon-
trados. A coloração de Gram do exsudato revelou bacilos gram-positivos grandes. Colônias desenvolveram-se em ágar-sangue
incubado anaeróbia, mas não aerobiamente.
Diagnóstico: Gangrena gasosa (mionecrose) causada por Clostridium perfringens. O principal fator de virulência produzido por
esse organismo é uma exotoxina que consiste em uma lecitinase. Ela causa necrose de tecidos e lise de hemácias (causando
anemia hemolítica). Os esporos do organismo localizam-se no solo e penetram no sítio do ferimento. Um exsudato fétido é carac-
terístico de infecções causadas por bactérias anaeróbias. Ver informações adicionais na página 138.

CAS043
Uma mulher de 30 anos queixa-se de uma sensação de queimação na cavidade oral e dor à deglutição. Sua história sexual revela
tratar-se de uma prostituta que manteve relações vaginais, orais e anais com múltiplos parceiros sem proteção. Ao exame, ob-
servam -se lesões esbranquiçadas na língua, no palato e na faringe. Não são observadas vesículas. O teste para anticorpos contra
HIV é positivo e sua contagem de CD4 é de 65. A coloração de Gram do material das lesões revela leveduras com brotamento e
pseudo-hifas.
Diagnóstico: Candidíase causada por Candida albicans. Esse organismo forma pseudo-hifas quando invade os tecidos. A ausên-
cia de vesículas indica que seus sintomas não são causados por herpes-vírus simples 2. Consulte Conteúdo do capítulo (página
400) para obter informações adicionais.

CAS044
Você é médico de um campo de refugiados na África Subsaariana, quando há ocorrência de um surto de diarreia. Grandes quan-
tidades de fezes aquosas, não sanguinolentas, são produzidas pelos pacientes. Bacilos gram-negativos curvos são observados na
coloração de Gram das fezes.
Diagnóstico: Cólera causado por Vi brio cholerae. Existem três gêneros de bacilos gram-negativos curvos: Vibrio, Campylobacter
e Helicobacter. V. cholerae provoca diarreia aquosa, não sanguinolenta, enquanto Campylobacter jejuni ocasiona geralmente diar-
reia sanguinolenta. Helicobacter pylori causa gastrite e úlcera péptica, não diarreia. Escherichia coli enterotoxigênica causa diarreia
aquosa por produzir uma exotoxina que exibe o mesmo mecanismo de ação que a exotoxina produzida por V. cholerae. Entretan-
to, E. coli é um bacilo gram-negativo reto, e não curvo. Se ocorresse um surto de diarreia sanguinolenta no campo de refugiados,
Shigella dysenteriae seria a causa mais provável. Consulte as páginas seguintes para obter informações adicionais: Vibrio, página
157; Campylobacter, página 159; Helicobacter, página 159; Escherichia, página 151; e Shigella, página 156.

CAS045
Um homem de 40 anos com febre baixa e suores noturnos nas últimas quatro semanas apresenta fadiga crescente e dispneia. Ele
alega ter dificuldade para subir um lance de escadas em seu apartamento. A história passada pertinente inclui febre reumática aos
15 anos de idade e a extração de dois dentes serotinos cerca de três semanas antes do início dos sintomas. Não foi administrada
quimioprofilaxia por ocasião das extrações. Não há história de uso de fármacos injetáveis. Sua temperatura é de 38,5ºC e um
alto murmúrio holossistólico pode ser auscultado sobre o precórdio. Seu baço é palpável. Ele é anêmico, e sua contagem de GB é
13.500. As hemoculturas apresentaram crescimento de cocos gram-positivos em cadeias, que produzem hemólise verde (alfa)
em ágar-sangue. O crescimento não é inibido por optoquina.
Diagnóstico: Endocardite bacteriana subaguda causada por um dos estreptococos do grupo viridans, como Streptococcus sanguis.
Os achados laboratoriais também são compatíveis com Enterococcus f aecalis, porém a história de cirurgia odontológica torna os
estreptococos do grupo viridans uma causa mais provável. A endocardite causada por E. faecalis é associada a cirurgias do trato
gastrintestinal ou do trato urogenital. Consulte Doenças pós-estreptocócicas (não supurativas) (página 121) para obter informa-
ções adicionais sobre os estreptococos do grupo viridans e sobre E. faecalis.

CAS046
Uma mulher de 60 anos mostra-se assintomática, embora um nódulo pulmonar seja observado na radiografia de tórax. A história
passada pertinente inclui tabagismo (dois maços por dia, durante 40 anos). A paciente é arqueóloga, e realiza escavações princi-
palmente no Arizona e Novo México. Diante da preocupação quanto à possibilidade de o nódulo ser maligno, ele foi removido
cirurgicamente. O exame patológico revelou estruturas esféricas grandes (25 µm) com paredes espessas e vários esporos esféri-
cos no interior. Não foram observadas células malignas.
PARTE XI Casos Clínicos 679

Diagnóstico: Coccidioidomicose causada por Coccidioides immitis. Estas estruturas são esférulas, que são patognomônicas para
esta doença. A forma fúngica do organismo é encontrada no solo do sudoeste dos Estados Unidos, e o microrganismo é adquirido
por meio da inalação de artrósporos produzidos pelo fungo. Os artrósporos inalados formam esférulas no pulmão. C. immitis é
dimórfico e forma esférulas a 37ºC. Consulte Conteúdo do capítulo (página 393) para obter informações adicionais.

CASO47
Uma mulher de 20 anos na 30ª semana de gestação foi submetida a uma ultrassonografia que revelou um feto com atraso de de-
senvolvimento, aumento cefálico (indicando hidrocefalia) e calcificações no interior do encéfalo. O sangue umbilical foi cultivado
e houve crescimento de trofozoítos crescentiformes.
Diagnóstico: Toxoplasmose causada por Toxoplasma gondii. A detecção de anticorpos IgM pelo teste do corante de Sabin-Feld-
man também pode ser utilizada para o diagnóstico. Gatos domésticos são o principal reservatório. Animais de fazenda, como
gado bovino, adquirem o organismo pela ingestão acidental de fezes felinas. Gestantes não devem ser expostas aos recipientes de
dejetos de gatos ou ingerir carne malcozida. Ver informações adicionais na página 425.

CASO48
Um neonato de 10 dias apresenta diversas vesículas no couro cabeludo e ao redor dos olhos. Apesar disso, a criança mostra-se sau-
dável, afebril e mama normalmente. Um esfregaço do material da base de uma vesícula submetido à coloração de Giemsa revelou
células gigantes multinucleadas com inclusões intranucleares.
Diagnóstico: Infecção neonatal causada pelo herpes-vírus simples 2. A infecção é adquirida durante a passagem pelo canal de
parto. Encefalite com risco à vida e infecção disseminada do neonato também ocorrem. Consulte a página 284 para obter infor-
mações adicionais.

CASO49
Uma mulher de 40 anos acabou de sofrer uma convulsão intensa. Há história de cefaleias nas últimas semanas e um episódio de
vertigem, mas sem convulsões anteriores. Ela não está febril. Ela é nativa de Honduras, mas reside nos Estados Unidos há cinco
anos. A ressonância magnética nuclear revela uma massa no lobo parietal. A remoção cirúrgica da massa revela uma larva no
interior de um saco similar a um cisto.
Diagnóstico: Cisticercose causada pela larva de Taenia solium. A infecção é adquirida pela ingestão de ovos da tênia, não pela
ingestão de carne de porco malcozida. Esse quadro clínico também pode ser causado por um abscesso cerebral, um granuloma
como um tuberculoma, ou um tumor cerebral. Consulte Conteúdo do capítulo (página 440) para obter informações adicionais.

CASOS0
Um neonato de uma semana apresenta exsudato amarelado nos cantos de ambos os olhos. Apesar disso, a criança mostra-se sau-
dável, afebril e mama normalmente. A coloração de Gram do exsudato não revela diplococos gram-negativos. Um esfregaço do
exsudato submetido à coloração de Giemsa revela uma grande inclusão citoplasmática.
Diagnóstico: Conjuntivite causada por Chlamydia trachomatis. Confirmar o diagnóstico pelo teste direto com anticorpos fluores-
centes. A infecção é adquirida durante a passagem pelo canal de parto. A inclusão contém grande quantidade de formas replican-
tes intracelulares, denominadas corpos reticulados. Consulte a página 204 para obter informações adicionais.
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
Muitas questões podem ser respondidas c.om base no entendi- Tabela Xll-4. Fontes ambientais de. organismos de impor-
mento do significado das i1úonnações epidemiológicas forneci- tância médica
das na descrição do caso. Para tal, o estudante deve conhecer o Tabela Xll-5. Principais localizações geográficas de organis-
reservatório do organismo, seu mecanismo de transmissão. assim mos de importância médica
como a relevância de fatores como viagens.. ocupaç.ão, exposição Tabela XJI-6. Ocupações e atividades de lazer que aumen-
a animais de estimação, a animais de fazenda ou a animais silves- tam a exposição a organismos de importância médica
tres. O conhecimento sobre os micróbios que gera1mente cau-Sam Tabela Xll-7. Eventos hospitalares que predispõem à infec-
doenças em indivíduos com imunodefidências espec(ficas tam- ção por organismos de importância médica
bém será útil. Tabela XJI-8. Organismos que c:omumente causam doenças
F.ssa informação será valiosa para a realização do diagnósti- em pacientes com imuuodeficiências ou defesas comprometidas
co de doenças infecciosas em sua prática clínica. Tabela Xll-9. Fatores importantes que predispõem a infec-
Conceitos-chave são apre.sentados em tabelas intituladas: ções por organismos espedficos
Tabela Xll- 1. Animais de fazenda e animais domésticos Tabela XII-10. lnfecções maternas que põem em risco signi-
como reservatórios de organismos de importância médica ficativo o feto ou o recém-nascido
Tabela XJI-2. Animais silvestres como reservatórios de orga- Tabela XJI-11. Lesões de pele importantes causadas por mi-
nismos de importância médica crorganismos
Tabela XJI-3. Insetos como vetores de organismos de impor-
tância médica
682 PARTE XII Resumo para Diagnóstico de Doenças Infecciosas

TABELA Xll-1 Animais de fazenda e animais domésticos como reservatórios de organismos de importância médica

Animal Modo de transmissão Organismos importantes Doença


1
Gado/vacas 1. 1ngestão de carne 1. Escherichia coli 0157 Enterocolite e síndrome hemolítico-urêmica
2. Salmonella enterica Enterocolite
3. Príons Variante da doença de Creutzfeldt-Jakob
4. Taenia saginata Teníase (tênia intestinal)
5. Toxop/asma gondii Toxoplasmose
2
2. Ingestão de produtos lácteos 1. Listeria monocytogenes Sepse neonatal
2. Espécies de Bruce/la Brucelose
3. Mycobacterium bovis Tuberculose intestinal
3. Contato com peles de animais Bacillus anthracis Antraz

Carneiros Inalação de líquido amniótico Coxiella burnetii FebreQ


2
Cabras Ingestão de produtos lácteos Espécies de Bruce/la Brucelose
1 3
Porcos Ingestão de carne 1. Taenia solium Teníase (tênia intestinal)
2. Trichinella spiralis Triquinose
1
Aves domésticas Ingestão de carne ou ovos 1. 5. enterica Enterocolite
(galinhas; perus)
2. Campylobacter jejuni Enterocolite

Cães 1. Ingestão de fezes caninas 1. Echinococcus granulosus Equinococose


2. Toxocara canis Larva migrans visceral
2. Ingestão de urina canina Leptospira interrogans Leptospirose
3. Mordedura por cães 1. Vírus da raiva Raiva
2. Capnocytophaga canimorsus Sepse
4. Contato direto Microsporum canis Tinha do corpo

Gatos 1. Ingestão de fezes felinas T. gondii Toxoplasmose


2. Mordedura/arranhadura por gatos 1. Pasteurel/a multocida Celulite
2. Bartonella hense/ae Doença da arranhadura de gato; angioma-
tose bacilar
3. Vírus da raiva Raiva
1
Crus ou malcozidos.
2
Não pasteurizados.
3
A ingestão de ovos nas fezes humanas, e não a ingestão de carne de porco, resulta em cisticercose.

TABELA Xll-2 Animais selvagens como reservatórios de organismos de importância médica

Animal Modo de transmissão Organismos importantes Doença

Ratos 1. Mordida de pulga Yersinia pestis Peste


2. Ingestão de urina Leptospira interrogans Leptospirose

Ratos 1. Mordida de carrapato Borre/ia burgdorferi Doença de Lyme


2. Inalação de aerossóis prove- Hantavírus Hantavírus
nientes de excrementos
Síndrome pulmonar por hantavírus

Morcegos, gambás, guaxinins e Mordedura Vírus da raiva Raiva


raposas

Coelhos Contato Francisel/a tularensis Tu la remia

Civetas, morcegos Inalação de aerossol Coronavírus - SARS Pneumonia

Macacos Picada de mosquito Vírus da febre amarela Febre amarela

(continua)
PARTE XII Resumo para Diagnóstico de Doenças Infecciosas 683

TABELA Xll-2 Animais selvagens como reservatórios de organismos de importância médica (continuação)

Animal Modo de transmissão Organismos importantes Doença

Aves
1. Psitacídeos (p. ex., papagaios) Inalação de aerossol Chlamydia psittaci Psitacose
2. Galinhas Inalação de aerossol Vírus influenza Gripe
3. Pombos Inalação de aerossol Cryptococcus neoformans Meningite, pneumonia
4. Estorninho Inalação de aerossol Histop/asma capsulatum H istoplasmose
5. Pardais Picada de mosquito Vírus da encefalite (p. ex., Encefalite
vírus do Oeste do Nilo)

Cobras, tartarugas Fecal-oral Salmonella enterica Enterocolite

Castor Fecal-oral Giardia lamblia Giardíase


1
Peixes Ingestão de peixes Anisakis simplex Anisaquíase
Diphyl/obothrium /atum Difi lobotríase

SARS, síndrome respiratória aguda severa.


1
Crus ou malcozidos.

TABELA Xll-3 Insetos como vetores de organismos de importância médica

Insetos Organismos importantes Reservatório Doença

Carrapatos
1. lxodes (carrapatodo cervo) 1. Borre/ia burgdorferi Ratos Doença de Lyme
2. Babesia microti Ratos Babesiose
2. Dermacentor (carrapato do cão) 1. Rickettsia rickettsii Roedores, cães Febre maculosa das Montanhas Rochosas
2. Ehrlichia chaffeensis Cães Erliquiose
3. Anap/asma phagocytophilum Roedores, cães Anaplasmose

Piolhos Rickettsia prowazekii Humanos Tifo

Mosquitos
1. Anophe/es P/asmodium falciparum, P. vivax, Humanos Malária
P. ovale, P. malariae
2. Aedes Vírus da febre amarela Humanos e macacos Febre amarela
3. Aedes Vírus da dengue Humanos Dengue
4. Cu/ex Vírus da encefalite, como vírus Aves Encefalite
do Oeste do Nilo
5. Anophe/es e Cu/ex Wuchereria bancrofti Humanos Filariose, especialmente elefantíase

Pulgas
Pulgas-do-rato Yersinia pestis Ratos Peste

Moscas
1. Flebotomíneos Leishmania donovani Vários animais Leishmaniose
2. Mosca tsé-tsé Trypanosoma brucei Humanos e vários animais Doença do sono
3. Mosca-negra Onchocerca volvulus Humanos Oncocercose

Percevejos
Barbeiro Trypanosoma cruzi Vários animais Doença de Chagas
684 PARTE XII Resumo para Diagnóstico de Doenças Infecciosas

TABELA Xll-4 Fontes ambientais de organismos de importância médica

Fonte ambiental Organismos importantes Modo de transmissão Doença

Água 1. Legionella pneumophila Inalação de aerossol Pneumonia


2. Pseudomonas aeruginosa Inalação de aerossol ou contato direto Pneumonia, infecções de quei-
maduras e ferimentos
3. Mycobacterium marinum Abrasão cutânea Granuloma de piscina
4. Vibrio vulnificus Abrasão cutânea Celulite
5. Schistosoma mansoni, S. hematobium Penetração de cercá rias na pele Esquitossomose
6. Naegleria fowleri Penetração de amebas no nariz durante a Meningoencefalite
natação

Solo 1. Clostridium tetani Os esporos no solo penetram no ferimento Tétano


2. Clostridium botulinum Esporos do solo contaminam alimentos Botulismo
envasados inadequadamente
3. Clostridium perfringens Os esporos no solo penetram no ferimento Gangrena gasosa
4. Bacil/us anthracis Os esporos no solo penetram no ferimento Antraz
5. Micobactérias atípicas (p. ex., M. Inalação de aerossol Doença similar à tuberculose
avium-intracel/ulare)
6. Nocardia asteroides Inalação de aerossol Nocardiose
7. Cryptococcus neoformans Inalação de leveduras em aerossóis asso- Meningite, pneumonia
dados a pombos
8. Histop/asma capsulatum Inalação de esporos em aerossóis associa- Histoplasmose
dos a estorninhos
9. Coccidioides immitis Inalação de esporos em aerossóis de poei- Coccidioidom icose
ra do solo
1o. Sporothrix schenckii Os esporos no solo penetram no ferimento Esporotricose
11 . Ancy/ostoma duodeno/e e Necator Larvas filariformes penetram na pele Ancilostomose, especialmente
americanus anemia
12. Strongyloides stercoralis Larvas filariformes penetram na pele Estrongiloidíase
13. Ancy/ostoma caninum Larvas filariformes penetram na pele Larva migrans cutânea

TABELA Xll-5 Principal localização geográfica dos organismos de importância médica

Principal localização geográfica Organismo importante Doença

Nos Estados Unidos


1. Estados do centro-sul (p. ex., Carolina do Norte e Virgínia) Rickettsia rickettsii Febre maculosa das Montanhas Rochosas
2. Estados do nordeste (p. ex., Connecticut, Nova Iorque e Nova Jersey) Borre/ia burgdorferi Doença de Lyme
3. Estados do centro-oeste nos vales dos rios Ohio e Mississippi Histop/asma capsulatum Histoplasmose
(p. ex., Missouri e Illinois)
4. Estados do sudoeste (p. ex., Califórnia e Arizona) Coccidioides immitis Coccidioidomicose

Fora dos Estados Unidos


1. Regiões tropicais da África, da Ásia e da América do Sul Espécies de Plasmodium Malária
2. América Central Trypanosoma cruzi Doença de Chagas
3. Ilhas do Caribe e África Vírus do dengue Dengue
4. África Ocidental vírus Ebola Febre hemorrágica ebola
5. Áreas tropicais da África e da América do Sul Vírus da febre amarela Febre amarela
6. África Subsaariana Neisseria meningitidis Meningite meningocócica
7. África Central Trypanosoma brucei Doença do sono africana
8. Oriente Médio, África e Índia Leishmania donovani Leishmaniose visceral (calazar)
9. Oriente Médio, África e Índia Leishmania tropica Leishmaniose cutânea
1o. América Central e do Sul Leishmania braziliensis Leishmaniose mucocutânea
PARTE XII Resumo para Diagnóstico de Doenças Infecciosas 68S

TABELA Xll-6 Profissões e ocupações que aumentam a exposição a organismos de importância médica

Ocupação/atividade de lazer Fator predisponente Organismo importante Doença

Caminhadas/acampamento Exposição a carrapatos Borre/ia burgdorferi Doença de Lyme

Trabalhador de ranchos/fazendas Ferimento na pele contaminada pelo solo Bacil/us anthracis Antraz

Trabalhador de redes de esgoto Exposição à urina de rato Leptospira interrogans Leptospirose

Explorador de cavernas (espeleólogo) Exposição a aerossol de saliva do morcego Vírus da raiva Raiva
infestadas por morcegos

Explorador de cavernas (espeleólogo) Exposição a aerossol de guano de morcego Histop/asma capsulatum Histoplasmose
ou construtor

Arqueólogo ou construtor responsável Exposição à poeira do solo contendo esporos Coccidioides immitis Coccidioidomicose
por escavações no solo

Criador de pombos Exposição a aerossol de guano de aves Cryptococcus neoformans Criptococose

Caçador de ursos no Alasca Ingestão de carne de urso Trichinella spiralis Triquinose

Trabalhadores de aquários e piscinas Abrasão cutânea Mycobacterium marinum "Granuloma de piscina"

TABELA Xll-7 Eventos associados a hospitais que predispõem a infecções por organismos de importância médica

Evento hospitalar Organismo importante Doença

Cirurgia Staphy/ococcus aureus Infecção da ferida

Cateter urinário 1. Principalmente Escherichia coli, mas também Infecção do trato urinário
outros bacilos gram-negativos entéricos
(p. ex., Proteus, Serratia e Pseudomonas)
2. Enterococcus faecalis Infecção do trato urinário

Cateter intravenoso Staphy/ococcus epidermidis, Candida a/bicans Infecção associada ao cateter, bacteriemia

Dispositivo prostético (p. ex., prótese de 1. 5. epidermidis Osteomielite ou endocardite


quadril ou válvula cardíaca)
2. Mycobacterium fortuitum-chelonei Osteomielite

Terapia respiratória Pseudomonas aeruginosa Pneumonia

Terapia para queimaduras P. aeruginosa 1nfecção da ferida

Eletrodos intracerebrais Príon Doença de Creutzfeldt-Jakob

Lesão por agulha 1. HBV, HCV Hepatites B ou C


2. HIV Aids

Berçário de prematuros Vírus sincicial respiratório Bronquiolite ou pneumonia

Aids, síndrome da imunodeficiência adquirida; HBV, vírus da hepatite B; HCV, vírus da hepatite C; HIV, vírus da imunodeficiência humana.
686 PARTE XII Resumo para Diagnóstico de Doenças Infecciosas

TABELA Xll-8 Organismos que frequentemente provocam doenças em pacientes que apresentam imunodeficiências
ou defesas do hospedeiro reduzidas

Imunodeficiência ou defesa comprometida Organismos

Diminuição de anticorpos (p. ex., agamaglobulinemia e Bactérias encapsuladas (p. ex., 5treptococcus pneumoniae, Haemophi/us influenzae
deficiência de lgA) tipo b)

Redução da fagocitose (p. ex., doença granulomatosa 5taphy/ococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Aspergillus fumigatus
crônica, quimioterapia para câncer [neutropenia])

Redução do complemento
1. C3b 5. pneumoniae, H. influenzae tipo b, 5. aureus
2. C6,7,8,9 (complexo de ataque a membrana) Neisseria meningitidis

Redução da imunidade mediada por células


1. Aplasia tímica (síndrome de DiGeorge) Candida a/bicans, Pneumocystis jiroveci
2. Infecção pelo vírus HIV (Aids), corticosteroides Bactérias intracelulares (p. ex., Mycobacterium tubercu/osis, MAi, Listeria, 5almonella)
Fungos oportunistas (p. ex., Candida, Cryptococcus)
Herpes-vírus (p. ex., herpes-vírus simples, vírus da varicela-zóster, citomegalovírus)
Protozoários (p. ex., Toxop/asma, Cryptosporidium)
Pneumocystis

Ruptura da superfície epitelial (p. ex., queimaduras) P. aeruginosa

Esplenectomia 5. pneumoniae, Babesia microti

Diabetes melito 5. aureus, espécies de Mucor, P. aeruginosa

Aids, síndrome da imunodeficiência adquirida; HIV, vírus da imunodeficiência humana; lgA, imunoglobulina A; MAi, complexo Mycobacterium avium-intracellulare.

TABELA Xll-9 Fatores importantes que predispõem a infecções por organismos específicos

Fator predisponente Organismo Doença Mecanismo patogênico

Fibrose cística Pseudomonas aeruginosa Pneumonia Muco aderente aprisiona as bactérias nas vias aéreas

Anemia falciforme 5almonella enterica Osteomielite Hemácias de morfologia anormal bloqueiam vasos
sanguíneos dos ossos e aprisionam as bactérias
5treptococcus pneumoniae Sepse Hemácias de morfologia anormal bloqueiam vasos
sanguíneos do baço, causando infarto do órgão

Uso de drogas injetáveis 5taphy/ococcus aureus Endocardite direita Microbiota cutânea penetra no sangue venoso no sítio
da agulha

Uso de antibióticos C/ostridium difficile Colite pseudomem- Antibióticos suprimem a microbiota intestinal normal,
bra nosa permitindo o crescimento de C. difficile
1
Aneurisma de aorta 5. enterica Infecção de enxerto Desconhecido
vascular

Uso de tampão (vaginal 5. aureus Síndrome do choque O tampão bloqueia o fluxo de sangue, permitindo o
ou nasal) tóxico crescimento de 5. aureus e a produção de toxina

Cirurgia odontológica Estreptococos do grupo viridans Endocardite Essas bactérias são membros da microbiota oral normal
e penetram no sangue no sítio da ferida cirúrgica

Acidente motociclístico Clostridium perfringens Gangrena gasosa Esporos do solo penetram no sítio dos ferimentos
(mionecrose)

Lentes de contato P. aeruginosa, Acanthamoeba Ceratite Abrasões causadas pelas lentes proporcionam um sítio
castellani de entrada para os organismos
1
Especialmente 5. enterica sorotipo Choleraesuis e sorotipo Dublin.
PARTE XII Resumo para Diagnóst ico de Doenças Infecciosas 687

TABELA Xll-1 O Infecções maternas que representam um risco significativo para o feto ou para o neonato

Transmissão transplacentária
Micróbio ou perinatal para o feto Comentários

A. Vírus
Citomega lovírus Transplacentária A principal causa de anomalias congênitas
Parvovírus B19 Transplacentária Importante causa de anomalias congênitas, incluindo hidropsia fetal
Vírus da ru béola Transplacentária Vacinação reduz significativa mente a incidência de infecção fetal
Vírus da imunodeficiência Perinatal A maioria é perinatal ou transplacentária e tam bém pode ocorrer via
humana leite materno
Vírus da hepatite B (HBV) Perinatal Infecção HBV neonatal aumenta significativamente o risco de estado de
portador crônico
Vírus da hepatite C (HCV) Perinatal Infecção HCV neonatal aumenta significat ivamente o risco de estado de
portador crônico
Herpes-vírus simples 2 Perinatal Importante causa de encefalite

B. Bactéria
Treponema pal/idum Transplacentária Causa sífilis congênita
Neisseria gonorrhoeae Perinatal Importante causa de conjunt ivite (oftalmia neonatal)
Chlamydia trachomatis Perinatal Importante causa de conjuntivite e p neumonia
Streptococcus aga/actiae Perinatal Importante causa de meningite e septicemia
(estreptococos do grupo B)
Escherichia coli Perinatal Importante causa de meningite e septicemia
Listeria monocytogenes Perinatal Importante causa de meningite e septicemia

C. Levedura
Candida a/bicans Perinatal Causa candidíase da parte oral da faringe

D. Protozoário
Toxop/asma gondii Transplacentária Importante causa de anormalidades congênitas, especialmente dos
olhos e do encéfalo

TABELA Xll-11 Lesões cutâneas importantes causadas por microrganismos

Nome ou tipo de lesão Organismo causador Descrição da lesão Comentários

A. Lesões simples ou localizadas


Escara p reta de antraz Bacil/us anthracis Crosta sobre uma úlcera necrótica Causada por uma toxina letal de
8. anthracis
Carbúnculo Staphylococcus aureus Grupo de fu rúnculos (ver a seguir), Higiene pessoal insatisfatória é fator
geralmente no pescoço predisponente
Celulite Streptococcus pyogenes Forma irregular vermelha, quente, Hialuronidase é o "fator de dispersão"
sensível e de dispersão rápida
Cancro da sífilis primária Treponema pallidum Úlcera indolor, úmida e rasa Microscopia de campo escuro most ra
espiroquetas móveis
Larva migrans cutânea Ancy/ostoma caninum Trilha pruriginosa, normalmente nos A larva do ancilóstomo de cão migra
pés para a pele
Ectima gangrenosa Com mais frequência, Úlcera necrótica com escara preta Predisposição à neutropenia
Pseudomonas aeruginosa
Erisipela S. pyogenes Crescida, vermelha, sensível, com Progressão rápida (minutos a horas);
borda defi nida predisposição ao diabetes
1
Eritema crônico migrans Borre/ia burgdorferi Mácula eritematosa que se expande Lesão no local da picada do carrapato
(ECM) da doença de Lyme

(continua)
688 PARTE XII Resumo para Diagnóstico de Doenças Infecciosas

TABELA Xll-11 Lesões cutâneas importantes causadas por microrganismos (continuação)

Nome ou tipo de lesão Organismo causador Descrição da lesão Comentários


1
Furúnculo (foliculite) A. 5. aureus Pústula pequena no folículo capilar A. Contém neutrófilos e cocos gram-
-positivos
B. P. aeruginosa B. Causa foliculite de"banheira de
hidromassagem"
1
lmpetigo 5. pyogenes e 5. aureus Vesículas com crostas cor de mel Infecções cutâneas por 5. pyogenes pre-
dispõem à glomerulonefrite aguda
Otite externa maligna P. aeruginosa Lesão necrótica no pavilhão auricular Predisposição a diabetes
1
Papiloma (verruga) Papilomavírus humano Pá pulas crescidas, secas e não infla- Tumores benignos, exceto HPV 16 e
(HPV) madas 18, que causam carcinoma do colo
do útero
Micose Trichophyton, Epidermo- Borda oval, inflamada e pruriginosa Ver hifa em preparação de KOH
phyton, Microsporum com centro claro
1
Sarna 5arcoptes scabiei Pá pula ou linha pruriginosa 5. scabiei é conhecido como "ácaro da
coceira"
Síndrome da bochecha Parvovírus 819 Erupção eritematosa, macular, não
esbofeteada sensível nas bochechas
1
Herpes-zóster Vírus da varicela-zóster Vesículas indolores ao longo do ner- Reativação da infecção latente do
(VZV) vo sensitivo vzv
B. Lesões múltiplas ou disseminadas
Infecção gonocócica disse- Neisseria gonorrhoeae Pústulas dispersas e tendões inflama-
minada (IGD) dos, especialmente dos pulsos e
dedos (tenossinovite)
Eritema nodoso Fungos sistêmicos (p. ex., Nódulos eritematosos sensíveis na Resposta imune para circulação do
Coccidioides) e Mico- pele sobre a tíbia ou ulna antígeno; nenhum organismo na
bactérias (p. ex., Myco- lesão
bacterium tubercu/osis e
Mycobacterium leprae)
Doença de mão-pé-boca Vírus de Coxsackie Vesículas nas mãos, nos pés e na boca
Sarampo Vírus do sarampo Mancha maculopapular (morbilifor- Observar as manchas de Koplik na
me), especialmente na cabeça e mucosa bucal; erupção cutânea
no tronco causada pelo ataque de linfócitos
T citotóxicos em células infectadas
pelo vírus
Hemorragia petequial Muitas bactérias (p. ex., Pequena área hemorrágica na pele Um sinal da coagulação intravascular
Neisseria meningitidis) e disseminada (CID) que ocorre na
vírus (p. ex., Vírus Ebola) sepse; pode aumentar para formar
lesões púrpuras (equimótica)
Febre maculosa das Rickettsia rickettsiae Hemorragia petequial, incluindo pal- Rickettsia infecta e mata o endotélio
Montanhas Rochosas ma das mãos e plantas dos pés vascular, resultando em hemorra-
gia na pele
Rubéola Vírus da rubéola Erupção maculopapular, não con- Doença mais branda que o sarampo
fluente, na face e no tronco
Síndrome da pele escaldada 5. aureus Descamação em grandes áreas do Protease que cliva desmogleína e
corpo causa descamação
Escarlatina 5.pyogenes Erupção difusa, macular e vermelha, Causada por linhagens de 5. pyogenes
também "língua de morango" e que produzem toxina eritrogênica,
palor circum-oral que é um superantígeno
Sífilis secundária Treponema pallidum Erupção macupapular no tronco, nas
palmas das mãos e plantas dos pés
Hemorragia fragmentada Estreptococos do grupo vi- Fragmentos negros lineares sob as Sinal de embolia da vegetação na
ridans, 5. aureus e outras unhas válvula do coração
causas de endocardite
Síndrome do choque tóxico 5. aureus Erupção macular"semelhante ao pôr A toxina da síndrome do choque tóxi-
do sol" que descama tardiamente co (TSST) é um superantígeno
Varicela (catapora) vzv Vesículas pruriginosas na face e no
tronco
1
Descrição de determinadas lesões cutâneas importantes: Mácula é uma lesão eritematosa plana. Pá pula é uma lesão eritematosa elevada, sem fluido visível em seu interior;
semelhante a uma picada de mosquito. Vesícula é uma lesão eritematosa elevada, com fluido amarelado (semelhante ao plasma) em seu interior; aproximadamente do
mesmo tamanho de uma pápula. Pústula é uma lesão eritematosa elevada, com um fluido turvo (pus) em seu interior; geralmente maior do que uma pápula ou uma vesícula.
As questões para estudo que seguem são apresentadas no for- contidas no Questões para Diagnóstico Clínico são apresentadas
mato de múltipla escolha. Todas as questões são do tipo "A ME- no formato UMA MELHOR RESPOSTA, e questões do tipo EX-
LHOR RESPOSTX: Não existem questões do tipo "EXCETO,, CETO não são utilizadas.
ou "MENOS PRECISX' nas quais você é instigado a determinar Após as questões relacionadas às áreas específicas contidas
qual a única resposta incorreta. Com a finalidade de melhor au- no livro, isto é, bacteriologia, virologia, micologia, parasitologia
xiliar o estudo, as questões citadas são excelentes ferramentas de e imunologia, há duas seções adicionais, uma contendo questões
aprendizagem, uma vez que fornecem várias afirmações corretas no formato estendido de associação e outra contendo questões
e apenas uma alternativa incorreta, em vez de várias incorretas. com base em casos de doenças infecciosas. As questões possuem
Tendo em vista esta vantagem de aprendizagem, muitas questões de 4 a 1Oopções de resposta. As questões desta seção foram pro-
para autoavaliação na Parte XIII deste livro são do tipo EXCE- jetadas para serem uma ferramenta de maximização do tempo
TO ou MENOS PRECISA. No entanto, na Parte XIV, as questões altamente efetiva para transmitir a informação importante.

BACTERIOLOGIA BÁSICA
INSTRUÇÕES (Questões 1 a 39): Selecione a resposta MAIS ADEQUA- 3. As seguintes opções em relação aos esporos bacterianos estão cor-
DA para cada questão. retas, EXCETO:
1. As seguintes opções em relação à estrutura da superfície das bacté- (A) Sua capacidade de sobrevivência é baseada na sua elevada ati-
rias estão corretas, EXCETO: vidade metabólica.
(A) Os pili fazem a mediação da interação da bactéria com a mu- (B) São formados por bacilos gram-positivos.
cosa do epitélio. (C) Eles podem ser mortos se forem aquecidos a 121 ºC por 15
(B) Cápsulas polissacarídicas retardam a fagocitose. minutos.
( C) Bacilos e cocos gram-negativos possuem lipopolissacarídeo (D) São formados principalmente quando os nutrientes são limi-
("endotoxiná') em sua parede celular. tados.
(D) Flagelos bacterianos são não antigênicos em humanos porque 4. Qual das seguintes opções consiste na comparação MAIS correta
eles se assemelham muito a flagelos humanos em sua compo- entre células humanas, bacterianas e fúngicas?
. - , .
s1çao qu1m1ca.
(A) As células humanas sofrem mitose, enquanto as células bacte-
2. As seguintes opções em relação ao peptideoglicano estão corretas, rianas e fúngicas não o fazem.
EXCETO: (B) Células humanas e de fungos possuem uma parede celular
(A) Ele tem uma estrutura composta por unidades alternadas de semelhante, ao contrário das bactérias, cuja parede celular
ácido murâmico e acetilglucosamina. contém peptideoglicano.
(B) As ligações cruzadas entre os tetrapeptídeos envolvem a D-ala- (C) Células humanas e bacterianas possuem plasmídeos, enquan-
nma. to células fúngicas não.
(C) É mais fmo nas células gram-positivas do que nas gram-nega- (D) Células humanas e fúngicas possuem ribossomos semelhan-
tivas. tes, enquanto os ribossomos de bactérias são significativa-
(D) Pode ser degradado pela lisozima. mente diferentes.
690 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

5. Qual opção é a MAIS correta em relação ao fármaco mostrado no 11. As seguintes opções em relação ao mecanismo de ação de fármacos
diagrama? antimicrobianos estão corretas, EXCETO:
R, (A) A vancomicina atua inibindo a síntese de peptideoglicano.
1
(B) Quinolonas, como ciprofloxacina, agem inibindo a DNA-girase
HC - NCR2
--o de bactérias.
(C) Eritromicina é um fármaco bactericida que destrói membra-
nas celulares por uma ação parecida com a de detergentes.
(D) Aminoglicosídeos, como estreptomicina, são fármacos bacte-
ricidas que inibem a síntese proteica.
12. As seguintes opções em relação à resistência de bactérias aos fár-
o
macos antimicrobianos estão corretas, EXCETO:
(A) A resistência ao cloranfenicol é devida a uma enzima que ace-
tila o fármaco.
(B) A resistência à penicilina é devida a uma afinidade reduzida
OH
das transpeptidases.
(A) Inibe a síntese de DNA. (C) A resistência à penicilina é devida à clivagem por í3-lactamases.
(B) É bacteriostático. (D) A resistência à tetraciclina é devida a uma enzima que hidro-
(C) Liga-se aos ribossomos 30S. lisa a ligação éster.
(D) Previne a formação de ácido fálico.
13. Das seguintes opções, a função MAIS importante dos anticorpos
6. As seguintes opções em relação à ação seletiva dos antibióticos nas na defesa do hospedeiro contra bactérias é:
bactérias estão corretas, EXCETO:
(A) Ativação de lisozima que degrada a parede celular
(A) Cloranfenicol afeta a subunidade maior do ribossomo bacteria- (B) Aceleração da proteólise de exotoxinas
no, que é diferente da subunidade maior do ribossomo humano. (C) Facilitação da fagocitose
(B) Isoniazida afeta a DNA-polimerase das bactérias, mas não a
(D) Inibição da síntese proteica bacteriana
das células humanas.
(C) Sulfonamidas afetam a síntese de ácido fálico em bactérias, 14. Qual dos seguintes eventos é MAIS provável de ocorrer devido à
uma via que não existe em células humanas. conjugação bacteriana?
(D) Penicilina afeta bactérias e não células humanas porque as (A) Uma linhagem de Corynebacterium diphtheriae produzir uma
bactérias possuem uma parede celular, enquanto células hu- toxina codificada por um prófago.
manas não. (B) Uma linhagem de Pseudomonas aeruginosa produzir í3-lac-
7. As seguintes opções em relação às endotoxinas estão corretas, tamase codificada por um plasmídeo similar a um plasmídeo
EXCETO: de outro organismo gram-negativo.
(C) Uma linhagem encapsulada de Streptococcus pneumoniae ter
(A) Elas são menos tóxicas (i.e., menos ativas em um mesmo
adquirido o gene para formação de cápsula a partir de um
peso) do que exotoxinas.
extrato de DNA de outra linhagem encapsulada.
(B) São mais estáveis ao calor do que as exotoxinas.
(D) Um gene codificando resistência à gentamicina no cromosso-
(C) Ligam-se a receptores celulares específicos, enquanto as exo-
mo de Escherichia coli aparecer no genoma de um bacterió-
toxinas não.
fago que infectou E. coli.
(D) Elas são parte da parede celular bacteriana, enquanto exotoxi-
nas não são. 15. Qual das seguintes opções MELHOR descreve o modo de ação das
endotoxinas?
8. A PRINCIPAL defesa do hospedeiro contra as exotoxinas bacteria-
nas é: (A) Degrada a lecitina nas membranas celulares.
(A) Macrófagos ativados secretores de proteases (B) Inativa o fator-2 de elongação.
(C) Bloqueia a liberação de acetilcolina.
(B) Anticorpos IgG e IgM
(C) Células T auxiliares (D) Provoca a liberação do fator de necrose tumoral.
(D) Modulação dos receptores celulares do hospedeiro em res- 16. A identificação de bactérias por testes sorológicos é baseada na
posta a toxina presença de antígenos específicos. Qual dos seguintes componen-
9. Qual dos seguintes processos envolve um pilus sexual? tes bacterianos é MENOS provável de conter antígenos úteis?

(A) Transdução de um gene cromossômico (A) Cápsula


(B) Transposição de um elemento genético móvel (B) Flagelo
(C) Integração de um bacteriófago temperado (C) Exotoxinas
(D) Conjugação resultando na transferência de um fator R (resis- (D) Ribossomos
tência) 17. As seguintes opções em relação aos esporos bacterianos estão cor-
1O. As seguintes opções em relação à microbiota normal estão corretas, retas, EXCETO:
EXCETO: (A) Esporos são formados em condições ambientais adversas
(A) O organismo mais comum encontrado na pele é Staphylococ- como a falta de uma fonte de carbono.
cus epidermidis. (B) Os esporos são resistentes à fervura.
(B) Escherichia coli é um membro proeminente da microbiota (C) Esporos são metabolicamente inativos e contêm ácido dipico-
normal da garganta. línico, um quelante de cálcio.
(C) O principal local onde Bacteroides fragilis é encontrado é no (D) Os esporos são formados principalmente por organismos do
colo. gênero Neisseria.
(D) Um dos locais mais comuns onde Staphylococcus aureus é en-
contrado é no nariz.
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 691

18. As seguintes opções em relação ao mecanismo de ação de fármacos (C) Ativação da cascata de coagulação
antibacterianos está correta, EXCETO: (D) Hipotensão
(A) Cefalosporinas são fármacos bactericidas que inibem a rea- 26. Estruturas de superfície bacterianas que mostram diversidade anti-
ção de transpeptidase e impedem a síntese de parede celular. gênica incluem cada uma das seguintes opções, EXCETO:
(B) Tetraciclinas são fármacos bacteriostáticos que inibem a sín- (A) Pili
tese proteica, bloqueando a ligação de tRNA. (B) Cápsulas
(C) Aminoglicosídeos são fármacos bacteriostáticos que inibem a (C) Flagelos
síntese proteica ativando uma ribonuclease, que degrada mRNA. (D) Peptideoglicano
(D) Eritromicina é um fármaco bacteriostático que inibe a síntese 27. Os efeitos dos anticorpos nas bactérias incluem cada uma das se-
proteica, bloqueando a translocação do polipeptídeo. guintes opções, EXCETO:
19. Em cada uma das seguintes opções há uma propriedade caracterís- (A) Lise de bactérias gram-negativas em conjunção com o com-
tica dos anaeróbios obrigatórios, EXCETO: plemento
(A) Eles geram energia utilizando o sistema dos citocromos. (B) Aumento da fagocitose
(B) Eles crescem melhor na ausência de ar. (C) Aumento na frequência de lisogenia
(C) Eles não possuem superóxido dismutase. (D) Inibição da aderência de bactérias às superficies mucosas
(D) Eles não possuem catalase. 28. As seguintes opções em relação às exotoxinas estão corretas, EXCETO:
20. As seguintes opções em relação à coloração de Gram estão corretas, (A) Quando tratadas quimicamente, algumas exotoxinas perdem
EXCETO: sua toxicidade e podem ser utilizadas como imunógenos em
(A) Escherichia coli cora-se de rosa porque possui uma fina cama- vacmas.
da de peptideoglicano. (B) Algumas exotoxinas são capazes de causar doença em sua for-
(B) Streptococcus pyogenes cora-se de azul porque possui uma es- ma purificada, livre de qualquer bactéria.
pessa camada de peptideoglicano. (C) Algumas exotoxinas atuam no trato gastrintestinal causando
(C) Mycobacterium tuberculosis cora-se de azul porque possui diarreia.
(D) Algumas exotoxinas contêm lipopolissacarídeos como com-
uma espessa bicamada lipídica.
ponente tóxico.
(D) Mycoplasma pneumoniae não é visível na coloração de Gram
porque não possui uma parede celular. 29. As seguintes opções em relação às células humanas e bacterianas
estão corretas, EXCETO:
21. As seguintes opções em relação à morte de bactérias estão corretas,
EXCETO: (A) Bactérias são procarióticas (i.e., elas possuem uma molécula
de DNA, são haploides e não possuem membrana nuclear),
(A) A lisozima presente nas lágrimas pode hidrolisar a parede ce-
enquanto células humanas são eucarióticas (i.e., elas possuem
lular bacteriana.
múltiplos cromossomos, são diploides e possuem uma mem-
(B) Nitrato de prata pode inativar enzimas bacterianas.
brana nuclear).
(C) Detergentes podem destruir membranas celulares bacterianas.
(B) Bactérias obtêm sua energia por fosforilação oxidativa no inte-
(D) A luz ultravioleta pode degradar cápsulas bacterianas. rior de mitocôndrias de maneira similar às células humanas.
22. Na coloração de Gram, a descoloração de bactérias gram-negativas (C) Ribossomos bacterianos e humanos são de tamanhos e com-
pelo álcool está MAIS relacionada a: posição química diferentes.
(A) Proteínas codificadas por plasmídeos F (D) As células bacterianas possuem peptideoglicano, enquanto as
(B) Lipídeos da parede celular células humanas não possuem.
( C) Ribossomos 70S 30. As seguintes opções em relação à penicilina estão corretas, EXCETO:
(D) Polissacarídeos ramificados na cápsula (A) Um anel í3-lactâmico intacto na penicilina é necessário para
23. A modificação química da benzilpenicilina (penicilina G) resultou sua atividade.
em várias mudanças benéficas no uso clínico desse fármaco. Qual (B) A estrutura da penicilina assemelha-se à de um dipeptídeo de
das seguintes opções NÃO é uma das mudanças benéficas? alanina, que é um componente do peptideoglicano.
(C) A penicilina é um fármaco bacteriostático porque enzimas
(A) Frequência reduzida de anafilaxia
autolíticas não são ativadas.
(B) Aumento da atividade contra bacilos gram-negativos
(D) A penicilina inibe as transpeptidases, que são necessárias na
(C) Aumento da resistência aos ácidos estomacais
realização das ligações cruzadas do peptideoglicano.
(D) Clivagem reduzida pela penicilinase
31. As seguintes opções em relação aos mecanismos de resistência a
24. As seguintes opções em relação à resistência a antibióticos estão
fármacos antimicrobianos estão corretas, EXCETO:
corretas, EXCETO:
(A) Fatores R são plasmídeos que carregam os genes para enzimas
(A) A resistência a aminoglicosídeos pode ser devida a enzimas que modificam um ou mais fármacos.
fosforiladoras codificadas por plasmídeos R. (B) A resistência contra alguns fármacos é devida a uma mutação
(B) A resistência a sulfonamidas pode ser devida a enzimas que cromossômica que altera o receptor para o medicamento.
hidrolisam a estrutura de anel. (C) A resistência a alguns fármacos se deve a genes de transpo-
( C) A resistência a penicilinas pode ser devida a alterações em sons que codificam enzimas que inativam esses fármacos.
proteínas ligantes da membrana celular. (D) Genes de resistência raramente são transferidos por conjugação.
(D) A resistência a cefalosporinas pode ser devida à clivagem do
32. As seguintes opções em relação às endotoxinas estão corretas,
anel í3-lactâmico.
EXCETO:
25. Os efeitos da endotoxina incluem cada uma das seguintes opções, (A) A toxicidade de endotoxinas é devida à parte lipídica da mo-
EXCETO: lécula.
(A) Opsonização (B) As endotoxinas são encontradas na maioria das bactérias
(B) Febre gram-positivas.
692 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

( C) As endotoxinas estão localizadas externamente ao peptideo- (C) Bacteroides fragilis é encontrado em maior quantidade do que
glicano da parede celular. Escherichia coli no colo.
(D) A antigenicidade do antígeno somático (O) é devida a (D) Candida albicans é parte da microbiota normal de homens e
oligossacarídeos repetidos. de mulheres.
33. As seguintes opções em relação às exotoxinas estão corretas, 39. As seguintes opções em relação à toxina do cólera estão corretas,
EXCETO: EXCETO:
(A) Exotoxinas são polipeptídeos. (A) A toxina do cólera inibe o fator-2 de elongação no epitélio da
(B) As exotoxinas são mais facilmente inativadas pelo calor do mucosa.
que as endotoxinas. (B) A ligação da toxina do cólera ao epitélio de mucosas ocorre
( C) As exotoxinas são menos tóxicas do que a mesma quantidade via interação da subunidade B da toxina com um glangliosí-
de endotoxina. deo da membrana celular.
(D) As exotoxinas podem ser convertidas em toxoides. (C) A toxina do cólera atua adicionando ADP-ribose à proteína G.
(D) A toxina do cólera ativa a enzima adenilato ciclase no enterócito.
34. As seguintes opções em relação à morte de bactérias estão corretas,
EXCETO: Respostas (Questões 1 a 39)
(A) Uma solução de etanol a 70% mata de maneira mais eficiente 1. (D) 9. (D) 17. (D) 25. (A) 33. (C)
do que etanol absoluto ( 100%). 2. (C) 10. (B) 18. (C) 26. (D) 34. (D)
(B) Uma autoclave usa vapor sob pressão para atingir a tempera- 3. (A) 11. (C) 19. (A) 27. (C) 35. (A)
tura letal de 121 ºC. 4. (D) 12. (D) 20. (C) 28. (D)
( C) A pasteurização do leite mata patógenos, mas permite que 36. (C)
5. (C) 13. (C) 21. (D) 29. (B)
muitos organismos e esporos sobrevivam. 6. (B) 14. (B) 22. (B) 30. (C) 37. (D)
(D) O iodo mata, causando a formação de dímeros de timina no 7. (C) 15. (D) 23. (A) 31. (D) 38. (B)
DNA bacteriano. 8. (B) 16. (D) 24. (B) 32. (B) 39. (A)
35. As seguintes opções em relação ao fármaco mostrado no diagrama
estão corretas, EXCETO: INSTRUÇÕES (Questões 40 a 51): Selecione uma ÚNICA resposta que
é MAIS corretamente associada a cada um dos itens numerados. Cada
. o opção marcada por letra pode ser selecionada uma vez, mais de uma vez,
N = N\ li S
A N - CH2 - C - NH - HC - HC ...,. ' CH2 N- N ou nenhuma vez.
1

N_/
//C1 - e Nr e
' e,. . . C1 - CH - S
2
JlºJL
s CH
3
Questões 40 a 43
o 1 (A) Penicilinas
COOH (B) Aminoglicosídeos
(A) O fármaco é bacteriostático. (C) Cloranfenicol
(B) O fármaco inibe a síntese de parede celular. (D) Rifampina
(C) O fármaco é produzido por fungos. (E) Sulfonamidas
(D) A porção da molécula necessária para atividade está marcada 40. Inibe(m) a RNA-polimerase bacteriana.
comB.
41. Inibe(m) as ligações cruzadas do peptideoglicano.
36. As seguintes opções em relação à microbiota normal estão corretas,
42. Inibe(m) a síntese proteica ligando-se à subunidade ribossomal 30S.
EXCETO:
43. Inibe(m) a síntese de ácido fólico.
(A) A microbiota normal do colo é composta predominantemen-
te por bactérias anaeróbias. Questões 44 a 46
(B) A presença da microbiota normal impede certos patógenos de (A) Transdução
colonizarem o trato respiratório superior. (B) Conjugação
(C) Fungos (i.e., leveduras) não são membros da microbiota (C) Transformação de DNA
normal. (D) Transposição
(D) Organismos da microbiota normal são residentes permanen- 44. Durante um surto de doença gastrintestinal causado por uma li-
tes das superfícies corporais. nhagem de Escherichia coli sensível a ampicilina, tetraciclina e clo-
3 7. As seguintes opções em relação à estrutura e à composição química ranfenicol, uma amostra de fezes de um paciente mostra E. coli do
das bactérias estão corretas, EXCETO: mesmo sorotipo resistente aos três antibióticos.
(A) Alguns cocos gram-positivos contêm ácido teicóico externa- 45. Uma linhagem celular com ausência de um gene para timidina-
mente ao peptideoglicano. -cinase foi exposta a uma preparação de DNA de células normais;
(B) Alguns bacilos gram-positivos produzem esporos que são re- sob condições de crescimento apropriadas, uma colônia de células
sistentes à fervura. capaz de produzir timidina-cinase foi isolada.
(C) Alguns bacilos gram-negativos contêm lipídeo A em sua 46. Um retrovírus sem um oncogene não induz leucemia em camun-
membrana celular externa. dongos; depois de passagens seriadas em camundongos, vírus re-
(D) Alguns micoplasmas contêm pentaglicina em seu peptideo- cuperados de um tumor eram altamente oncogênicos e continham
glicano. um gene novo.
38. As seguintes opções em relação à microbiota normal estão corretas, Questões 47 a 51
EXCETO: (A) Toxina diftérica
(A) Streptococcus mutans é encontrado na boca e contribui para a (B) Toxina tetânica
formação de cáries dentais. (C) Toxina botulínica
(B) Os organismos predominantes nos alvéolos são os estrepto- (D) Toxina da síndrome do choque tóxico
cocos do grupo viridans. (E) Toxina colérica
PARTE XII I Questões para Autoavaliação 693

47. Causa paralisia bloqueando a liberação de acetilcolina. Respostas (Questões 40 a 51)


48. Inibe a síntese proteica bloqueando o fator-2 de elongação. 40. (D) 46. (A)
49. Estimula células Ta produzirem citocinas. 41. (A) 47. (C)
42. (B) 48. (A)
50. Estimula a produção de AMP cíclico, adicionando ribose-ADP em
43. (E) 49. (D)
uma proteína G.
44. (B) 50. (E)
51. Inibe a liberação de neurotransmissores inibidores, causando es- 45. (C) 51. (B)
pasmos musculares.

BACTERIOLOGIA CLÍNICA
INSTRUÇÕES (Questões 52 a 136): Selecione a resposta MAIS ADE- (C) M. tuberculosis é visto como um bacilo avermelhado em
QUADA para cada questão. amostras coradas pelo Gram.
52. Uma epidemia de sepse causada por Staphylococcus aureus ocor- (D) M. tuberculosis aparece como um bacilo vermelho em amos-
reu na ala dos recém-nascidos. Você é chamado para investigar. De tras coradas por coloração acidorresistente.
acordo com o seu conhecimento da microbiota normal, qual é a 58. Um morador de rua alcoólatra de 50 anos teve febre e está tossindo
fonte MAIS provável do organismo? o equivalente a um copo de catarro verde e de mau cheiro por dia.
(A) Colo Você suspeita que ele possa ter abscessos pulmonares. Qual dos se-
(B) Nariz guintes pares de organismos são a causa MAIS provável?
(C) Garganta (A) Listeria monocytogenes e Legionella pneumophila
(D) Vagina (B) Nocardia asteroides e Mycoplasma pneumoniae
53. As opções sobre a classificação de estreptococos estão corretas, (C) Fusobacterium nucleatum e Peptostreptococcus intermedius
EXCETO: (D) Clostridium perfringens e Chlamydia psittaci
(A) Os pneumococos (Streptococcus pneumoniae) são a-hemolí- 59. Qual das seguintes doenças é MAIS BEM diagnosticada por meios
ticos e podem ser sorotipados com base em sua cápsula polis- sorológicos?
sacarídica. (A) Febre Q
(B) Enterococos são estreptococos do grupo D e podem ser clas- (B) Tuberculose pulmonar
sificados por sua capacidade de crescer em cloreto de sódio a (C) Gonorreia
6,5%. (D) Actinomicose
(C) Apesar de os pneumococos e estreptococos viridans serem a- 60. Seu paciente tem endocardite subaguda bacteriana causada por um
-hemolíticos, eles podem ser diferenciados pelo teste de solu- membro do grupo viridans dos estreptococos. Qual dos seguintes
bilidade em bile e por sua suscetibilidade à optoquina. locais é a fonte MAIS provável do organismo?
(D) Estreptococos viridans são identificados pelo agrupamento
(A) Pele
de Lancefield, que é baseado no carboidrato C da parede
(B) Colo
celular.
(C) Orofaringe
54. Os seguintes agentes são causas reconhecidas de diarreia, EXCETO: (D) Uretra
(A) Clostridium perfringens 61. Uma cultura das lesões de pele de um paciente com piodermia
(B) Enterococcus faecalis (impetigo) mostrou numerosas colônias cercadas por uma zona de
(C) Escherichia coli 13-hemólise em uma placa de ágar-sangue. Um esfregaço corado
(D) Vibrio cholerae pelo Gram mostrou a presença de cocos gram-positivos. Se você
55. Os seguintes organismos são causas importantes de infecções do descobrir que o teste de catalase é negativo, qual dos seguintes or-
trato urinário, EXCETO: ganismos provavelmente foi isolado?
(A) Escherichia coli (A) Streptococcus pyogenes
(B) Proteus mirabilis (B) Staphylococcus aureus
(C) Klebsiella pneumoniae (C) Staphylococcus epidermidis
(D) Bacteroides fragilis (D) Streptococcus pneumoniae
56. Sua paciente é uma mulher de 30 anos com diarreia não sangui- 62. O teste de coagulase, no qual bactérias causam a coagulação do
nolenta nas últimas 14 horas. Qual dos seguintes organismos é plasma, é usado para distinguir:
MENOS provável de causar essa doença? (A) Streptococcus pyogenes de Enterococcus faecalis
(A) Clostridium difficile (B) Streptococcus pyogenes de Staphylococcus aureus
(B) Streptococcus pyogenes (C) Staphylococcus aureus de Staphylococcus epidermidis
(C) Shigella dysenteriae (D) Staphylococcus epidermidis de Neisseria meningitidis
(D) Salmonella enteritidis 63. Qual das seguintes opções é um fator de virulência para Staphylo-
57. As seguintes opções em relação à Mycobacterium tuberculosis estão coccus aureus?
corretas, EXCETO: (A) Uma toxina termolábil que inibe a liberação de glicina no
(A) Depois de ser corado com carbolfucsina, M. tuberculosis re- neurônio internuncial.
siste à descoloração acidorresistente. (B) Uma hemolisina oxigênio-lábil
(B) M. tuberculosis tem uma grande quantidade de ácido micóli- (C) Resistência a novobiocina
co em sua parede celular. (D) Proteína A que se liga à porção Fc de IgG.
694 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

64. Qual dos seguintes mecanismos de defesa do hospedeiro é o MAIS (C) Chlamydia trachomatis possui múltiplos sorotipos que po-
importante para evitar disenteria causada por Salmonella? dem provocar diferentes doenças.
(A) Ácido gástrico (D) A maioria das clamídias é transmitida por artrópodes.
(B) Enzimas salivares 73. Para qual das seguintes vacinas bacterianas os efeitos colaterais tó-
(C) Microbiota normal da boca xicos são uma preocupação importante?
(D) Interferon alfa (A) A vacina contendo polissacarídeo pneumocócico.
65. A função protetora MAIS importante dos anticorpos estimulados (B) A vacina contendo o agente Bordetella pertussis morto.
pela imunização contra tétano é: (C) A vacina contendo toxoide tetânico.
(A) Opsonização do patógeno (Clostridium tetani) (D) A vacina contendo toxoide diftérico.
(B) Prevenir o crescimento do patógeno. 74. As seguintes opções em relação a Staphylococcus aureus estão cor-
(C) Prevenir a aderência do patógeno. retas, EXCETO:
(D) Neutralizar a toxina do patógeno. (A) Cocos gram-positivos agrupados em formato de "cachos de
66. Cinco horas após comer arroz reaquecido em um restaurante, uma uvâ' são visualizados nos esfregaços corados pelo Gram.
mulher de 24 anos e seu marido desenvolveram náusea, vômitos e (B) O teste de coagulase é positivo.
diarreia. Qual dos seguintes organismos é o MAIS provável de estar (C) O tratamento deve incluir uma penicilina 13-lactamase-resis-
envolvido? tente.
(A) Clostridium perfringens (D) A endotoxina é um importante fator patogenético.
(B) Escherichia coli enterotoxigênica 75. Seu paciente é um homem de 70 anos que passou por cirurgia in-
(C) Bacillus cereus testinal para retirada de câncer do colo três dias atrás. Ele agora
(D) Salmonella typhi está com febre e dor abdominal. Você está preocupado, pois acre-
67. Qual das seguintes bactérias tem a MENOR dose infecciosa de 50% dita que ele possa estar com peritonite. Qual dos seguintes pares de
(Diso)? organismos são a causa MAIS provável?

(A) Shigella sonnei (A) Bacteroides fragilis e Klebsiella pneumoniae


(B) Vibrio cholerae (B) Bordetella pertussis e Salmonella enteritidis
(C) Salmonella typhi ( C) Actinomyces israelii e Campylobacter jejuni
(D) Campylobacter jejuni (D) Clostridium botulinum e Shigella dysenteriae
68. Para qual das doenças entéricas abaixo o estado de portador crôni- 76. Um homem de 65 anos desenvolve disúria e hematúria. Uma co-
co é MAIS provável de se desenvolver? loração de Gram de uma amostra de urina mostra bacilos gram-
-negativos. Cultura da urina em ágar EAM revela colônias lactose-
(A) Enterocolite por Campylobacter -negativas sem evidência de movimento em enxame. Qual dos
(B) Enterocolite por Shigella
seguintes organismos é MAIS provável de ser a causa da infecção
(C) Cólera
do trato urinário?
(D) Febre tifoide
(A) Enterococcus faecalis
69. Qual das seguintes doenças zoonóticas NÃO tem um vetor artrópode?
(B) Pseudomonas aeruginosa
(A) Peste (C) Pro teus vulgaris
(B) Doença de Lyme (D) Escherichia coli
(C) Brucelose
77. Um homem de 25 anos reclama de corrimento uretral. Você realiza
(D) Tifo epidêmico
uma coloração de Gram em uma amostra do corrimento e obser-
70. Qual dos seguintes organismos infecta principalmente células vas- va neutrófilos, mas nenhuma bactéria. Dos organismos listados, o
culares endoteliais? MAIS provável de estar causando o corrimento é:
(A) Salmonella typhi (A) Treponema pallidum
(B) Rickettsia rickettsii (B) Chlamydia trachomatis
( C) Haemophilus influenzae ( C) Candida albicans
(D) Coxiella burnetii (D) Coxiella burnetii
71. Qual das seguintes opções mostra MAIS corretamente a capacida- 78. Duas horas após um delicioso jantar de Ação de Graças com sopa
de de o organismo ser cultivado em laboratório? de cevada, peru assado com recheio, batata doce, feijões verdes,
(A) Treponema pallidum de um cancro pode ser cultivado em um molho de framboesa e torta de abóbora coberta com creme batido,
meio artificial especial suplementado com colesterol. a família Smith sofreu vômito e diarreia. Qual dos seguintes orga-
(B) Mycobacterium leprae pode ser cultivado em tatus e no coxim nismos é a causa MAIS provável dos sintomas?
de camundongos, mas não em meios artificiais. (A) Shigella flexneri
( C) Mycobacterium tuberculosis pode ser cultivado em meio artifi- (B) Campylobacter jejuni
cial enriquecido e produz colônias visíveis entre 48 e 96 horas. ( C) Staphylococcus aureus
(D) Micobactérias atípicas são encontradas amplamente no solo e (D) Salmonella enteritidis
na água, mas não podem ser cultivadas em meio artificial no
79. Seu paciente tem um abscesso cerebral que foi detectado um mês
laboratório.
depois de uma extração dental. Qual dos seguintes organismos é
72. As seguintes opções em relação às clamídias estão corretas, EXCETO: MAIS provável de estar envolvido?
(A) As clamídias são parasitas intracelulares obrigatórios, uma (A) Estreptococos anaeróbios
vez que não conseguem sintetizar trifosfato de adenosina (B) Mycobacterium smegmatis
(ATP) em quantidades suficientes. ( C) Lactobacillus acidophilus
(B) Clamídias possuem tanto DNA quanto RNA e estão cercadas (D) Mycoplasma pneumoniae
por uma parede celular.
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 695

80. A contribuição MAIS importante da cápsula de Streptococcus pneu- 87. As seguintes opções em relação a Bacteroides fragilis estão corretas,
moniae para virulência é: EXCETO:
(A) Prevenir a desidratação dos organismos em superfícies mu- (A) B. fragilis é um bacilo gram-negativo que faz parte da micro-
cosas. biota normal do colo.
(B) Retardar a fagocitose por leucócitos polimorfonucleares. (B) B. fragilis forma endosporos, os quais permitem que sobrevi-
(C) Inibir a quimiotaxia de leucócitos polimorfonucleares. va no solo.
(D) Acelerar a invasão tecidual por meio de sua atividade seme- (C) A cápsula de B. fragilis é um importante fator de virulência.
lhante à colagenase. (D) As infecções por B. fragilis são caracterizadas pela presença de
81. A forma MAIS importante de o hospedeiro combater a função da pus malcheiroso.
cápsula de polissacarídeos pneumocócica é via: 88. As seguintes opções em relação aos estaftlococos estão corretas,
(A) Linfócitos T sensibilizados contra antígenos polissacarídicos. EXCETO:
(B) Enzimas que degradam polissacarídeo. (A) S. aureus é diferenciado de S. epidermidis pela produção de
(C) Anticorpo anticapsular coagulase.
(D) Macrófagos ativados (B) As infecções por S. aureus são frequentemente associadas à
82. A patogênese de qual dos seguintes organismos é MAIS provável formação de abscessos.
de envolver invasão da mucosa intestinal? (C) A maioria dos isolados clínicos de S. aureus produz penicili-
nase; portanto, penicilina G não deve ser usada para terapia
(A) Vibrio cholerae
por antibióticos em infecções por S. aureus.
(B) Shigella sonnei
(D) A síndrome da pele escaldada causada por S. aureus é devida
( C) Escherichia coli enterotoxigênica
à degradação enzimática de desmossomos epidérmicos pela
(D) Clostridium botulinum
catalase.
83. Qual dos seguintes organismos que infectam o trato gastrintestinal
89. Glomerulonefrite aguda é uma complicação não supurativa que
é a causa MAIS frequente de bacteriemia?
segue a infecção por qual dos seguintes organismos?
(A) Shigella flexneri
(A) Enterococcus faecalis
(B) Campylobacter jejuni
(B) Streptococcus pyogenes
( C) Vibrio cholerae
( C) Streptococcus pneumoniae
(D) Salmonella typhi (D) Streptococcus agalactiae
84. Uma mulher de 30 anos com lúpus eritematoso sistêmico des-
90. As seguintes opções em relação aos bacilos gram-negativos estão
cobre que é positiva em um teste sorológico para sífilis (teste de
corretas, EXCETO:
VDRL). Ela nega ter tido contato sexual com um parceiro que
tivesse sintomas de doenças venéreas. O próximo passo mais ade- (A) Escherichia coli é parte da microbiota normal do colo; portan-
quado seria: to, ela não causa diarreia.
(B) E. coli fermenta lactose, enquanto os patógenos entéricos Shi-
(A) Confortá-la com o fato de que o resultado é uma reação falso-
gella e Salmonella não o fazem.
-positiva relacionada com seu transtorno autoimune.
( C) Klebsiella pneumoniae, apesar de ser uma causa de pneumo-
(B) Rastrear seus contatos sexuais para a realização de testes soro-
nia, é parte da microbiota normal do colo.
lógicos.
(D) Espécies de Proteus são organismos com alta motilidade que
(C) Tratá-la com penicilina.
são encontrados no colo humano e causam infecções do trato
(D) Realizar um teste de absorção de anticorpos treponêmicos . , .
unnano.
fluorescentes (FTA-ABS) em uma amostra de seu soro.
91. Um homem de 70 anos descobre que tem uma massa dura em sua
85. As seguintes opções em relação a Treponema estão corretas,
próstata que é suspeita de ser um carcinoma. Vinte e quatro horas
EXCETO:
depois da remoção cirúrgica da massa, ele desenvolve uma febre
(A) T. pallidum produz uma exotoxina que estimula a adenilato de 39ºC e tem vários calafrios. Dos organismos listados, qual é o
ciclase. MENOS provável de estar envolvido?
(B) T. pallidum não pode ser cultivado em meios de cultura con-
(A) Escherichia coli
vencionais.
(B) Enterococcus faecalis
( C) Treponemas são membros da microbiota normal da parte
( C) Klebsiella pneumoniae
oral da faringe humana.
(D) Legionella pneumophila
(D) Pacientes infectados com T. pallidum produzem anticorpos
que reagem com cardiolipina de coração de boi. 92. Cinco dias atrás uma mulher de 65 anos com uma infecção no
trato urinário inferior começou a tomar ampicilina. Ela agora está
86. As seguintes opções em relação aos clostrídios estão corretas,
com febre e diarreia grave. Dos organismos listados, qual é a causa
EXCETO:
MAIS provável da diarreia?
(A) Clostrídios patogênicos são encontrados tanto no solo quanto
(A) Clostridium difficile
na microbiota normal do colo.
(B) Bacteroides fragilis
(B) Colite associada a antibióticos (pseudomembranosa) é devida
(C) Pro teus mirabilis
a uma toxina produzida por Clostridium difficile.
(D) Bordetella pertussis
( C) Condições anaeróbias no local do ferimento não são neces-
sárias para causar tétano, porque esporos serão formados na 93. A patogênese de qual das seguintes doenças NÃO envolve exotoxinas?
presença de oxigênio. (A) Escarlatina
(D) Botulismo, que é causado por ingestão de toxina pré-for- (B) Febre tifoide
mada, pode ser evitado se o alimento for fervido antes da (C) Síndrome do choque tóxico
ingestão. (D) Botulismo
696 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

94. Considerando o efeito da benzilpenicilina (penicilina G) em bac- (C) Endotoxina


térias, qual dos seguintes organismos é o MENOS provável de ser (D) 13-Lactamase
resistente? 103. Diarreia causada por qual dos seguintes agentes é caracterizada
(A) Staphylococcus aureus pela presença de leucócitos fecais?
(B) Enterococcus f aecalis (A) Campylobacter jejuni
(C) Streptococcus pyogenes (B) Rotavírus
(D) Neisseria gonorrhoeae (C) Clostridium perfringens
95. Qual dos seguintes organismos é MAIS provável de ser a causa de (D) Escherichia coli enterotoxigênica
pneumonia em um adulto jovem imunocompetente? 104. As seguintes opções em relação à Chlamydia trachomatis estão cor-
(A) Nocardia asteroides retas, EXCETO:
(B) Serratia marcescens (A) É uma importante causa de uretrite não gonocócica.
(C) Mycoplasma pneumoniae (B) É a causa do linfogranuloma venéreo.
(D) Legionella pneumophila (C) É uma importante causa de endocardite bacteriana suba-
96. As seguintes opções em relação a infecções do trato genital por ela- guda.
mídias estão corretas, EXCETO: (D) É uma importante causa de conjuntivite.
(A) A infecção pode ser diagnosticada pela descoberta de anticor- 105. As seguintes opções em relação à Actinomyces e Nocardia estão cor-
pos anticlamídia em uma amostra de soro. retas, EXCETO:
(B) A infecção pode persistir após a administração de penicilina. (A) A. israelii é um bacilo anaeróbio encontrado como parte da
(C) Infecções sintomáticas podem ser associadas a corrimento ure- microbiota normal da boca.
trai ou cervical contendo muitos leucócitos polimorfonucleares. (B) Actinomyces e Nocardia são bacilos filamentosos ramificados.
(D) Não existe vacina contra estas infecções. (C) N. asteroides causa infecções principalmente em pacientes
97. Qual das seguintes doenças NÃO é uma zoonose? imunocomprometidos.
(A) Febre tifoide (D) Infecções são normalmente diagnosticadas pela detecção de
(B) Febre Q aumento significativo no título de anticorpos.
(C) Tularemia 106. Qual dos seguintes tipos de organismos NÃO é um parasita in-
(D) Febre maculosa das Montanhas Rochosas tracelular obrigatório e, portanto, pode replicar-se em meio bacte-
98. Qual das seguintes opções NÃO é uma característica dos estafilo- riológico?
cocos associados à síndrome do choque tóxico? (A) Chlamydia
(A) Liberação de um superantígeno. (B) Mycoplasma
(B) Produção de coagulase. (C) Adenovírus
(C) Visualização do organismo em agrupamentos com formato (D) Rickettsia
de "cachos de uvâ' em esfregaços corados pelo Gram. 107. Enzimas que degradam tecidos desempenham um papel importan-
(D) Reação catalase-negativa te na patogênese de diversas bactérias. Qual das seguintes opções
99. Qual das seguintes opções NÃO é uma característica importante NÃO está envolvida em dano tecidual ou celular?
tanto de Neisseria gonorrhoeae quanto de Neisseria meningitidis? (A) Lecitinase de Clostridium perfringens
(A) Cápsula polissacarídica (B) Hialuronidase de Streptococcus pyogenes
(B) Protease de IgA (C) Proteína M de Streptococcus pneumoniae
(C) ProteínaM (D) Leucocidina de Staphylococcus aureus
(D) Pili 108. O solo é o hábitat natural de determinados microrganismos de
100. Qual das seguintes opções NÃO é uma característica importante de importância médica. Qual dos seguintes é o MENOS provável de
Streptococcus pyogenes? residir no solo?
(A) Proteína A (A) Clostridium tetani
(B) Proteína M (B) Mycobacterium avium-intracellulare
( C) Beta-hemolisina (C) Bacillus anthracis
(D) Polissacarídeo de substância grupo-específica (D) Chlamydia trachomatis
101. Cada uma das seguintes opções está associada com os estreptoco- 109. Qual dos organismos abaixo é a causa bacteriana MAIS frequente
cos do grupo B de Lancefield (S. agalactiae), EXCETO: de faringite?

(A) Pioderma (impetigo) (A) Staphylococcus aureus


(B) Presença vaginal em 5 a 25% das mulheres normais em idade (B) Streptococcus pneumoniae
reprodutiva. (C) Streptococcus pyogenes
( C) Sepse neonatal e meningite (D) Neisseria meningitidis
(D) Beta-hemólise 110. Diversos patógenos são transmitidos durante a gestação ou no
102. Três organismos, Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis ato do nascimento. Qual dos seguintes é MENOS provável de ser
e Haemophilus influenzae, causam a grande maioria de casos de transmitido nesses momentos?
meningites bacterianas. Qual é o componente patogênico MAIS (A) Haemophilus influenzae
importante que eles compartilham? (B) Treponema pallidum
(A) Proteína A (C) Neisseria gonorrhoeae
(B) Cápsula (D) Chlamydia trachomatis
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 697

111. As seguintes opções em relação às exotoxinas estão corretas, 117. As seguintes opções em relação à peste estão corretas, EXCETO:
EXCETO: (A) A peste é causada por um bacilo gram-negativo que pode ser
(A) Algumas linhagens de Escherichia coli produzem uma entero- cultivado em ágar-sangue.
toxina que causa diarreia. (B) A peste é transmitida do animal reservatório para um huma-
(B) A toxina colérica atua estimulando a adenilato ciclase. no por uma mordida de pulga.
(C) Difteria é causada por uma exotoxina que inibe a síntese pro- (C) Os principais reservatórios na natureza são pequenos roe-
teica pela inativação de um fator de elongação. dores.
(D) Botulismo é causado por uma toxina que hidrolisa lecitina (D) A peste é preocupante em muitos países subdesenvolvidos,
(lecitinase), destruindo, assim, células nervosas. mas não ocorre nos Estados Unidos desde 1968.
112. As seguintes opções em relação ao ensaio de VDRL para sífilis es- 118. Qual das seguintes opções em relação aos organismos causadores
tão corretas, EXCETO: da brucelose está CORRETA?
(A) O antígeno é composto por Treponema pallidum inativado. (A) As brucelas são transmitidas principalmente por picada de
(B) O teste é normalmente positivo em sífilis secundária. carrapato.
(C) Resultados falso-positivos são obtidos mais frequentemente (B) Os principais reservatórios de brucela são os pequenos roe-
do que com o teste de anticorpo treponêmico fluorescente-ad- dores.
sorvido (FTA-ABS). (C) Brucelas infectam células reticuloendoteliais do fígado, do
(D) O título de anticorpos declina com a terapia apropriada. baço e da medula óssea.
113. As seguintes opções em relação ao teste de absorção de anticorpos (D) Brucelas são parasitas intracelulares obrigatórios que são nor-
treponêmicos fluorescentes (FTA-ABS) para sífilis estão corretas, malmente identificados por crescimento em cultivo de células
EXCETO: humanas.

(A) O teste é específico para Treponema pallidum. 119. As seguintes opções em relação ao tifo epidêmico estão corretas,
(B) O soro do paciente é absorvido com treponemas saprofíticos. EXCETO:
(C) Uma vez positivo, o teste permanece assim, mesmo com tera- (A) A doença é caracterizada por uma erupção.
pia adequada. (B) O teste de Weil-Felix pode auxiliar no diagnóstico da doença.
(D) O teste é raramente positivo em sífilis primária. (C) A doença é causada por uma Rickettsia.
114. As seguintes opções em relação à Corynebacterium diphtheriae es- (D) O organismo causador é transmitido de roedores para huma-
tão corretas, EXCETO: nos por um carrapato.

(A) C. diphtheriae é um bacilo gram-positivo que não forma es- 120. Qual dos seguintes organismos causa diarreia, produzindo uma
poros. enterotoxina que aumenta a atividade de adenilato-ciclase nos en-
(B) A produção de toxina depende da lisogenização do organis- terócitos?
mo por um bacteriófago. (A) Escherichia coli
(C) Toxoide diftérico não deve ser administrado a crianças menores (B) Bacteroides fragilis
de três anos porque a incidência de complicações é muito alta. (C) Staphylococcus aureus
(D) Antitoxina deve ser utilizada para tratar pacientes com dif- (D) Enterococcus f aecalis
teria. 121. As seguintes opções em relação à febre maculosa das Montanhas
115. As seguintes opções em relação a determinados bacilos gram-nega- Rochosas estão corretas, EXCETO:
tivos estão corretas, EXCETO: (A) O organismo causador forma colônias 13-hemolíticas em
,
(A) Pseudomonas aeruginosa causa infecções de ferimentos que agar-sangue.
são caracterizadas por pus verde-azulado como resultado de (B) Dor de cabeça, febre e erupção são sintomas característicos da
produção de piocianina. doença.
(B) Em indivíduos não imunizados, doença invasiva causada por (C) Nos Estados Unidos, a doença ocorre principalmente no leste
Haemophilus influenzae é mais comum por linhagens conten- do Mississippi.
do uma cápsula polissacarídica do tipo b. (D) A doença é causada por uma Rickettsia.
(C) Infecções por Legionella pneumophila são adquiridas por ina- 122. As seguintes opções em relação a Clostridium perfringens estão cor-
lação de aerossóis de fontes ambientais de água. retas, EXCETO:
(D) Cresce a incidência de tosse convulsa, que é causada por Bor-
(A) Causa gangrena gasosa.
detella pertussis, porque a mudança de antigenicidade do or-
(B) Causa envenenamento alimentar.
ganismo tornou a vacina relativamente ineficiente.
(C) Ele produz uma exotoxina que degrada lecitina e causa necro~
116. As seguintes opções em relação às enterotoxinas estão corretas, se e hemólise.
EXCETO: (D) Ele é um bacilo gram-negativo que não fermenta lactose.
(A) Enterotoxinas normalmente causam diarreia sanguinolenta 123. As seguintes opções em relação a Clostridium tetani estão corretas,
com leucócitos nas fezes. EXCETO:
(B) Staphylococcus aureus produz uma enterotoxina que causa
(A) É um bacilo gram-positivo, formador de esporos.
vômitos e diarreia.
(B) Sua patogênese é devida à produção de uma exotoxina que
( C) Vibrio cholerae causa cólera, produzindo uma enterotoxina
bloqueia neurotransmissores inibidores.
que aumenta a atividade de adenilato-ciclase no interior dos
(C) É um organismo facultativo; ele crescerá em uma placa de
enterócitos.
ágar-sangue na presença de ar ambiente.
(D) Enterotoxinas de Escherichia coli medeiam a ribosilação de
(D) Seu hábitat natural é principalmente o solo.
ADP em uma proteína G.
698 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

124. As seguintes opções em relação às espiroquetas estão corretas, 130. As seguintes opções em relação às infecções de ferimentos por
EXCETO: Clostridium perfringens estão corretas, EXCETO:
(A) Espécies de Treponema são parte da microbiota normal da (A) Uma exotoxina desempenha um papel na patogênese.
boca. (B) Bacilos gram-positivos são encontrados no exsudato.
(B) Espécies de Borrelia causam uma doença transmitida por car- (C) O organismo cresce apenas em cultivo de células humanas.
rapato chamada febre recidiva. (D) Cultivo anaeróbio do local do ferimento deve ser solicitado.
( C) As espécies de Leptospira que causam leptospirose crescem 131. As seguintes opções em relação à infecção por Chlamydia psittaci
principalmente em humanos e são normalmente transmitidas estão corretas, EXCETO:
por contato entre humanos.
(A) C. psittaci pode ser isolado pelo crescimento em cultivo de
(D) Espécies de Treponema causam sífilis e bouba.
células e não crescerá em ágar-sangue.
125. As seguintes opções em relação à gonorreia estão corretas, EXCETO: (B) O organismo aparece roxo em preparações de escarro coradas
(A) Infecções em homens são mais frequentemente sintomáticas por Gram.
do que em mulheres. (C) A infecção é mais prontamente diagnosticada por testes soro-
(B) Um diagnóstico presuntivo pode ser realizado encontrando lógicos do que por isolamento do organismo.
diplococos gram-negativos em forma de feijões no interior de (D) A infecção é mais comumente adquirida de uma fonte não
neutrófilos do corrimento uretral. humana do que de outro humano.
(C) O diagnóstico definitivo pode ser realizado detectando anti- 132. Os carrapatos são vetores na transmissão das seguintes doenças,
corpos para Neisseria gonorrhoeae no soro do paciente. EXCETO:
(D) Conjuntivite gonocócica do recém-nascido raramente ocorre
(A) Febre maculosa das Montanhsa Rochosas
nos Estados Unidos, porque nitrato de prata ou eritromicina (B) Tifo epidêmico
são comumente utilizados como profilaxia. (C) Tularemia
126. As seguintes opções em relação à Mycobacterium tuberculosis estão (D) Doença de Lyme
corretas, EXCETO: 133. As seguintes opções em relação à pneumonia causada por Myco-
(A) Algumas linhagens de M. tuberculosis isoladas de pacientes plasma pneumoniae estão corretas, EXCETO:
exibem resistência a múltiplos fármacos (i.e., elas são resis- (A) Pneumonia causada por M. pneumoniae está associada a um
tentes tanto à isoniazida quanto à rifampina). aumento do título de crioaglutininas.
(B) M. tuberculosis contém uma pequena quantidade de lipídeo (B) Pneumonia causada por M. pneumoniae ocorre principal-
em sua parede celular e, portanto, cora-se pouco com a colo- mente em indivíduos imunocompetentes.
ração de Gram. (C) Pneumonia causada por M. pneumoniae é uma pneumonia
( C) M. tuberculosis cresce lentamente, e em geral precisa de três a "atípicâ'.
seis semanas até que colônias apareçam. (D) M. pneumoniae não pode ser cultivado in vitro porque não
(D) O antígeno do teste de pele da tuberculina é uma proteína apresenta parede celular.
extraída do organismo.
134. As seguintes opções em relação à Neisseria meningitidis estão cor-
127. Qual das seguintes opções em relação à imunização contra doenças retas, EXCETO:
causadas por clostrídios está CORRETA?
(A) É um diplococo gram-negativo, oxidase-positivo.
(A) Antitoxina contra tétano também protege contra botulismo, (B) Contém uma endotoxina em sua parede celular.
porque as duas toxinas compartilham regiões antigênicas. (C) Produz uma exotoxina que estimula adenilato-ciclase.
(B) Vacinas contendo toxina a (lecitinase) são eficientes na prote- (D) Tem uma cápsula polissacarídica que é antifagocitária.
ção contra gangrena gasosa.
135. As seguintes opções em relação à febre Q estão corretas, EXCETO:
( C) A vacina toxoide contra infecção por Clostridium difficile
deve ser administrada em pacientes imunocomprometidos. (A) Erupção é uma característica proeminente.
(D) Imunização com o toxoide tetânico induz proteção efetiva (B) É transmitida por aerossóis respiratórios.
contra a toxina tetânica. ( C) Animais de fazenda consistem em um reservatório impor-
tante.
128. As seguintes opções em relação às neissérias estão corretas, EXCETO:
(D) É causada por Coxiella burnetii.
(A) São diplococos gram-negativos.
136. As seguintes opções em relação à Mycobacterium leprae estão cor-
(B) Elas produzem protease IgA como fator de virulência. retas, EXCETO:
( C) São oxidase-positivas.
(D) Crescem melhor em condições anaeróbias. (A) Na hanseníase lepromatosa, grandes quantidades de organis-
mos são normalmente visualizadas em raspados corados por
129. Qual das seguintes opções em relação à Legionella pneumophila coloração acidorresistente.
está CORRETA? (B) O organismo crescerá em meio bacteriológico em três a seis
(A) É parte da microbiota normal do colo. semanas.
(B) Não pode ser cultivada em meio laboratorial. (C) Terapia prolongada (nove meses ou mais) é necessária para
( C) Não possui parede celular. impedir recorrência.
(D) Causa pneumonia atípica, especialmente em indivíduos com (D) Perda de sensação devido a dano nervoso é normalmente ob-
imunidade celular reduzida. servada na hanseníase.
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 699

Respostas (Questões 52 a 136) Questões 144 a 147


52. (B) 81. (C) 110. (A) (A) Corynebacterium diphtheriae
53. (D) 82. (B) 111. (D) (B) Listeria monocytogenes
54. (B) 83. (D) 112. (A) (C) Bacillus anthracis
55. (D) 84. (D) 113. (D) (D) Clostridium botulinum
56. (B) 85. (A) 114. (C) 144. Causa lesões cutâneas e uma pneumonia grave.
57. (C) 86. (C) 115. (D)
145. Causa paralisia flácida.
58. (C) 87. (B) 116. (A)
59. (A) 88. (D) 117. (D) 146. Causa uma pseudomembrana na garganta, que pode ocasionar
60. (C) 89. (B) 118. (C) obstrução do trato respiratório.
61. (A) 90. (A) 119. (D) 147. Causa meningite em neonatos e em indíviduos imunossuprimidos.
62. (C) 91. (D) 120. (A)
63. (D) 92. (A) 121. (A) Questões 148 a 150
64. (A) 93. (B) 122. (D) (A) Escherichia coli
65. (D) 94. (C) 123. (C) (B) Klebsiella pneumoniae
66. (C) 95. (C) 124. (C) (C) Salmonella enteritidis
67. (A) 96. (A) 125. (C) (D) Pro teus mirabilis
68. (D) 97. (A) 126. (B) 148. Está frequentemente implicado em infecções nosocomiais, é uma
69. (C) 98. (D) 127. (D) causa importante de pneumonia adquirida da comunidade em
70. (B) 99. (C) 128. (D) adultos, e tem uma cápsula espessa e mucoide.
71. (B) 100. (A) 129. (D)
149. É a causa mais comum de infecções do trato urinário.
72. (D) 101. (A) 130. (C)
73. (B) 102. (B) 131. (B) 150. Patogenicidade associada principalmente a infecções do trato uri-
74. (D) 103. (A) 132. (B) nário; produz urease.
75. (A) 104. (C) 133. (D) Questões 151 a 154
76. (B) 105. (D) 134. (C)
77. (B) 106. (B) 135. (A) (A) Staphylococcus aureus
78. (C) 107. (C) 136. (B) (B) Streptococcus pyogenes
79. (A) 108. (D) (C) Enterococcus f aecalis
80. (B) 109. (C) (D) Streptococcus pneumoniae
151. Cresce em cloreto de sódio 6,5%.
INSTRUÇÕES (Questões 137 a 158): Selecione uma úNICA resposta 152. É solúvel em bile.
que é MAIS corretamente associada a cada um dos itens numerados.
153. Produz enterotoxina.
Cada opção marcada por letra pode ser selecionada uma vez, mais de
uma vez, ou nenhuma vez. 154. É associado à febre reumática.

Questões 13 7 a 140 Questões 155 a 158

(A) Mycobacterium avium-intracellulare (A) Bacteroides fragilis


(B) Treponema pallidum (B) Haemophilus influenzae
(C) Rickettsia prowazekii (C) Pseudomonas aeruginosa
(D) Mycoplasma pneumoniae (D) Chlamydia pneumoniae
137. É um parasita intracelular obrigatório. 155. Bacilo cocobacilar gram-negativo que causa meningite em crianças
pequenas.
138. É encontrado principalmente no solo.
156. Bacilo gram-negativo, oxidase-positivo, que é uma causa impor-
139. Não possui parede cellular.
tante de infecções de ferimentos e queimaduras.
140. É um bacilo acidorresistente.
157. Causa pneumonia atípica em adultos imunocompetentes.
Questões 141 a 143 158. Bacilo gram-negativo anaeróbio que é uma causa importante de
(A) Borrelia burgdorferi peritonite.
(B) Helicobacter pylori
(C) Pasteurella multocida Respostas (Questões 137 a 158)
(D) Brucella melitensis 137. (C) 143. (A) 149. (A) 155. (B)
141. Úlcera péptica em um comerciante de 45 anos de idade. 138. (A) 144. (C) 150. (D) 156. (C)
142. Celulite da mão após uma mordedura de gato. 139. (D) 145. (D) 151. (C) 157. (D)
140. (A) 146. (A) 152. (D) 158. (A)
143. Erupção vermelha em formato de "olho de boi': expansível, em (B) (B) (A)
141. 147. 153.
um menino de seis anos de idade, após uma viagem de acampa- 142. (C) 148. (B) 154. (B)
mento.
700 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

VIROLOGIA BÁSICA
INSTRUÇÕES (Questões 159 a 192): Selecione a resposta MAIS ADE- 165. Qual das seguintes formas de imunidade contra vírus é MENOS
QUADA para cada questão. provável de ser duradoura?

159. Os vírus penetram nas células pela adsorção a locals específicos (A) Imunidade passiva
localizados na membrana externa das células. As seguintes opções (B) Imunidade passiva-ativa
em relação a esse evento estão corretas, EXCETO: (C) Imunidade ativa
(D) Imunidade mediada por célula
(A) A interação determina os órgãos que são alvos específicos
para a infecção. 166. Qual das seguintes opções em relação aos interferons alfa, beta e
(B) A interação determina se o genoma purificado de um vírus é gama é MENOS precisa?
infeccioso. (A) Os interferons inibem um amplo espectro de vírus, não ape-
( C) A interação pode ser evitada por anticorpos neutralizantes. nas aqueles que induzem a produção do interferon.
(D) Se os locais estiverem ocupados, ocorrerá interferência na in- (B) Os interferons são sintetizados apenas por células infectadas
,
fecção viral. por VIrus.
160. Muitos vírus amadurecem por meio do brotamento pela membra- ( C) Os interferons induzem a síntese de uma proteína cinase
na externa da célula hospedeira. As seguintes opções em relação a que fosforila um fator de elongação, inativando a síntese
estes vírus estão corretas, EXCETO: proteica.
(D) Interferons induzem a síntese de uma ribonuclease que de-
(A) Alguns desses vírus causam a formação de células multinucle-
grada mRNA viral.
adas gigantes.
(B) Alguns novos antígenos virais aparecem na superfície da cé- 167. Você isolou um vírus das fezes de um paciente com diarreia e mos-
lula hospedeira. trou que seu genoma é composto por múltiplos pedaços de RNA de
( C) Alguns desses vírus contêm lipídeos da célula hospedeira. dupla-fita. Qual das seguintes opções é MENOS PROVÁVEL de ser
(D) Alguns desses vírus não possuem um envelope. verdadeira?
161. A análise bioquímica de um vírus revela que o genoma é com- (A) Cada pedaço de RNA codifica uma proteína diferente.
posto por oito pedaços de RNA de fita simples de tamanhos (B) O vírus codifica uma RNA-polimerase dirigida por RNA.
diferentes, cada um complementar ao mRNA viral de células (C) O vírion contém uma RNA-polimerase.
infectadas. Qual das seguintes opções é IMPROVÁVEL de estar (D) O genoma se integra ao cromossomo do hospedeiro.
correta? 168. Um bacteriófago temperado foi induzido a partir de uma nova
(A) Proteínas diferentes são codificadas por cada segmento do linhagem patogênica de Escherichia coli que produz uma toxina.
genoma viral. Qual das seguintes opções é a forma MAIS convincente de mostrar
(B) A partícula viral contém uma enzima codificada pelo ví- que o fago codifica a toxina?
rus que pode copiar o genoma, formando fitas comple- (A) Realizar a conjugação da linhagem patogênica com uma li-
mentares. nhagem não patogênica.
(C) O RNA purificado extraído da partícula viral é infeccioso. (B) Realizar a infecção de um animal experimental com o fago.
(D) O vírus pode adquirir novos antígenos via rearranjo de seus (C) Lisogenizar uma linhagem não patogênica com o fago.
segmentos de RNA. (D) Procurar por elementos de transposição no DNA do fago.
162. A latência é uma consequência particularmente característica de 169. As seguintes opções em relação aos retrovírus estão corretas,
qual dos grupos virais a seguir? EXCETO:
(A) Poliovírus (A) O vírion carrega uma DNA-polimerase direcionada por RNA
(B) Herpes-vírus codificada pelo genoma viral.
(C) Rinovírus (B) O genoma viral consiste em três segmentos de RNA de dupla-
(D) Vírus influenza -fita.
163. As seguintes opções em relação aos sorotipos virais estão corretas, (C) O vírion é envelopado e entra na célula via interação com re-
EXCETO: ceptores específicos da célula hospedeira.
(D) Durante a infecção, o vírus sintetiza uma cópia de DNA de
(A) Em um vírus de nucleocapsídeo nu, o sorotipo é normalmen-
seu RNA, e esse DNA torna-se covalentemente integrado no
te determinado pelas proteínas externas do capsídeo.
DNA da célula hospedeira.
(B) Em vírus envelopados, o sorotipo é normalmente determina-
do pelas proteínas externas do envelope, principalmente as 170. Um estoque de partículas virais foi descrito por microscopia ele-
8
proteínas das espículas. trônica como contendo 10 partículas/mL, mas um ensaio de placa
5
(C) Alguns vírus possuem múltiplos sorotipos. revelou apenas 10 unidades formadoras de placa/mL. A MELHOR
(D) Alguns vírus possuem uma RNA-polimerase que determina o interpretação desses resultados é:
sorotipo. (A) Apenas uma partícula em 1.000 é infecciosa.
164. A capacidade de os vírus produzirem doença pode resultar de uma (B) Uma linhagem celular não permissiva foi utilizada no ensaio
variedade de mecanismos. Qual dos seguintes mecanismos é o de placa.
MENOS provável? (C) Vários tipos de vírus estavam presentes no estoque.
(D) O vírus é um mutante sensível à temperatura.
(A) Efeito citopático nas células infectadas.
(B) Transformação maligna nas células infectadas. 171. Mecanismos razoáveis para a persistência viral em indivíduos in-
( C) Resposta imune a antígenos induzidos pelo vírus na superfí- fectados incluem todas as opções seguintes, EXCETO:
cie de células infectadas. (A) Geração de partículas interferentes defectivas.
(D) Produção de uma exotoxina que ativa adenilato ciclase. (B) Inibição mediada pelo vírus da síntese de DNA do hospedeiro.
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 701

(C) Integração de um pró-virus no genoma do hospedeiro. (C) Alguns vírus contêm envelopes lipoproteicos derivados da
(D) Tolerância do hospedeiro a antígenos virais. membrana plasmática da célula hospedeira.
172. As seguintes opções em relação às proteínas de superfície virais es- (D) O ácido nucleico de alguns vírus é composto por DNA de fita
tão corretas, EXCETO: simples e o de outros é composto por RNA de dupla-fita.
(A) Elas induzem anticorpos que neutralizam a infectividade do 179. Qual das seguintes opções em relação à estrutura e montagem do
, vírion está CORRETA:
VlfUS.
(B) Elas determinam a espécie-especificidade da interação entre (A) A maioria dos vírus adquire glicoproteínas de superfície bro-
o vírus e a célula. tando através da membrana nuclear.
(C) Elas participam do transporte ativo de nutrientes através da (B) Nucleocapsídeos helicoidais são encontrados principalmente
membrana do envelope viral. em vírus de DNA.
(D) Protegem o material genético contra a ação de nucleases. (C) A simetria das partículas virais impede a inclusão de qualquer
173. As seguintes opções em relação às vacinas virais estão corretas, proteína não estrutural, como enzimas.
EXCETO: (D) Vírus envelopados utilizam uma proteína de matriz para me-
diar interação entre glicoproteínas virais na membrana plas-
(A) Em vacinas vivas atenuadas, o vírus perdeu sua capacidade de
mática e proteínas estruturais no nucleocapsídeo.
causar doença, mas manteve sua capacidade de induzir anti-
corpos neutralizantes. 180. As seguintes opções em relação aos vírus estão corretas, EXCETO:
(B) Em vacinas vivas atenuadas, a possibilidade de reversão à vi- (A) Os vírus podem se replicar somente no interior de células.
rulência é preocupante. (B) As proteínas da superfície do vírus medeiam a entrada do ví-
( C) Com vacinas inativadas, a imunidade de mucosas por IgA é rus na célula hospedeira.
normalmente induzida. (C) O anticorpo neutralizante é direcionado contra proteínas da
(D) Com vacinas inativadas, a imunidade protetora é devida prin- superfície do vírus.
cipalmente à produção de IgG. (D) Os vírus se replicam por fissão binária.
174. A principal barreira para o controle das infecções do trato respira- 181. Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios. As seguintes
tório superior causadas por rinovírus por meio da imunização é: opções em relação a esse fato estão corretas, EXCETO:
(A) As respostas imunes locais e sistêmicas ruins para esses vírus. (A) Os vírus não podem gerar energia fora das células.
(B) O amplo número de sorotipos dos rinovírus (B) Os vírus não podem sintetizar proteínas fora das células.
( C) Os efeitos colaterais da vacina (C) Vírus precisam degradar o DNA da célula hospedeira para
(D) A incapacidade desses vírus crescerem em cultura de células. obter nucleotídeos.
175. A característica do genoma do vírus influenza que MAIS contribui (D) Vírus envelopados necessitam de membranas da célula hos-
para a variação antigênica do vírus é: pedeira para obter seus envelopes.
(A) Um alto conteúdo G + C, que melhora a ligação das nucleo- 182. As seguintes opções em relação à lisogenia estão corretas, EXCETO:
proteínas. (A) Os genes virais se replicam independentemente dos genes
(B) Regiões repetidas invertidas, que criam "extremidades adesivas': bacterianos.
( C) Ácido nucleico segmentado (B) Os genes virais responsáveis pela lise são reprimidos.
(D) Bases metiladas exclusivas (C) O DNA viral é integrado ao DNA bacteriano.
176. Qual das seguintes opções é a MELHOR explicação para a ação (D) Alguns bacteriófagos lisogênicos codificam toxinas que cau-
seletiva de aciclovir (acicloguanosina) em células infectadas pelo sam doenças em seres humanos.
herpes-vírus simples (HSV)? 183. As seguintes opções de vírus possuem um envelope externo lipo-
(A) O aciclovir liga-se especificamente a receptores virais apenas proteico, EXCETO:
na superfície de células infectadas por HSV. (A) Vírus varicela-zóster
(B) O aciclovir é fosforilado por uma fosfocinase codificada pelo (B) Papilomavírus
vírus apenas no interior de células infectadas por HSV. (C) Vírus influenza
(C) O aciclovir inibe seletivamente a RNA-polimerase no vírion (D) Vírus da imunodeficiência humana
doHSV.
(D) O aciclovir bloqueia especificamente a proteína de matriz do 184. Qual dos vírus a seguir possui um genoma de RNA fita simples que
é infeccioso quando purificado?
HSV, desta forma impedindo a liberação da progênie do HSV.
(A) Vírus influenza
177. As seguintes opções em relação ao interferon estão corretas, EXCETO:
(B) Rotavírus
(A) O interferon inibe o crescimento tanto de vírus de DNA (C) Vírus do sarampo
quanto de RNA. (D) Poliovírus
(B) O interferon é induzido por RNA dupla-fita.
(C) O interferon produzido por células de uma espécie age mais 185. As seguintes opções de vírus possuem uma RNA-polimerase no
vírion, EXCETO:
efetivamente em células desta espécie do que em células de
outra espécie. (A) Vírus da hepatite A
(D) O interferon age impedindo que vírus entrem na célula. (B) Vírus da varíola
178. As seguintes opções em relação aos vírus que infectam seres huma- (C) Vírus da caxumba
nos estão corretas, EXCETO: (D) Rotavírus

(A) Apenas vírus com genoma de RNA de polaridade negativa 186. As seguintes opções de vírus possuem uma DNA-polimerase no
tem uma polimerase no vírion. vírion, EXCETO:
(B) O ácido nucleico purificado de alguns vírus é infeccioso, mas (A) Vírus da imunodeficiência humana
de maneira menos eficiente do que os vírions intactos. (B) Vírus linfotrófico de células T humanas
702 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

( C) Vírus Epstein-Barr INSTRUÇÕES (Questões 193 a 211): Selecione uma úNICA resposta
(D) Vírus da hepatite B que seja MAIS corretamente associada aos itens numerados. Cada opção
187. As seguintes opções de vírus possuem um genoma de ácido nuclei- marcada por letra pode ser selecionada uma vez, mais de uma vez, ou
co dupla-fita, EXCETO: nenhuma vez.

(A) Vírus de Coxsackie Questões 193 a 196


(B) Herpes-vírus simples (A) Vírus de DNA envelopado
(C) Rotavírus (B) Vírus de DNA não envelopado
(D) Adenovírus (C) Vírus de RNA envelopado
188. Com relação aos viroides, qual das opções a seguir é a MAIS (D) Vírus de RNA não envelopado
precisa? 193. Herpes-vírus simples
(A) Eles são vírus defectivos sem o DNA que codifica para a pro- 194. Vírus linfotrófico de células T humanas
teína de matriz.
195. Papilomavírus humano
(B) Eles consistem em RNAs sem cobertura proteica ou lipopro-
teica. 196. Rotavírus
( C) Causam tumores em animais experimentais.
Questões 197 a 201
(D) Eles requerem uma RNA-polimerase na partícula para que a
replicação ocorra. (A) Ligação e penetração do vírion
(B) Síntese de mRNA viral
189. As seguintes opções sobre o vírus do sarampo e o vírus da rubéola
(C) Síntese proteica viral
estão corretas, EXCETO:
(D) Síntese de DNA do genoma viral
(A) São vírus de RNA envelopados. (E) Montagem e liberação da progênie viral
(B) Seus vírions contêm uma RNA-polimerase.
197. Local principal de ação do aciclovir
( C) Possuem um único tipo antigênico.
(D) São transmitidos por aerossóis respiratórios. 198. Local principal de ação da amantadina

190. As seguintes opções sobre vírus influenza e vírus da raiva estão cor- 199. Função da polimerase do vírion do vírus influenza
retas, EXCETO: 200. Local principal de ação do anticorpo antivira!
(A) São vírus de RNA envelopados. 201. Etapa na qual o brotamento ocorre
(B) Seus vírions contêm uma RNA-polimerase.
Questões 202 a 206
( C) Uma vacina inativada está disponível para os dois vírus.
(D) Possuem um único tipo antigênico. (A) Poliovírus
(B) Vírus Epstein-Barr
191. As seguintes opções em relação aos poliovírus e rinovírus estão
(C) Príons
corretas, EXCETO:
(D) Vírus da hepatite B
(A) São vírus de RNA não envelopados. (E) Vírus sincicial respiratório
(B) Possuem múltiplos tipos antigênicos.
202. Parte do genoma de DNA é sintetizado pela polimerase do vírion.
(C) Seus vírions contêm uma RNA-polimerase.
(D) Eles não integram seu genoma no DNA da célula hospedeira. 203. O produto da tradução do mRNA viral é uma poliproteína que é
clivada para formar as proteínas estruturais do vírion.
192. As seguintes opções em relação ao vírus da imunodeficiência hu-
mana (HIV) estão corretas, EXCETO: 204. É extremamente resistente a luz ultravioleta.
(A) O HIV é um vírus de RNA envelopado. 205. Causa infecção latente de células B.
(B) Seu vírion contém uma DNA-polimerase RNA-dependente. 206. Uma proteína do envelope induz a formação de células gigantes.
(C) Uma cópia de DNA do genoma do HIV integra-se no DNA
da célula hospedeira. Questões 207 a 211
(D) O aciclovir inibe a replicação do HIV. (A) Vírus da hepatite A
(B) Vírus da hepatite B
Respostas (Questões 159 a 192) (C) Vírus da hepatite C
159. (B) 176. (B) (D) Vírus da hepatite D
160. (D) 177. (D) 207. Vírus de DNA envelopado transmitido pelo sangue.
161. (C) 178. (A) 208. Vírus de RNA envelopado que possui o antígeno de superfície de
162. (B) 179. (D) outro vírus.
163. (D) 180. (D)
209. Vírus de RNA envelopado que é a causa mais comum de hepatite
164. (D) 181. (C)
não A, não B.
165. (A) 182. (A)
166. (B) 183. (B) 21 O. Vírus de RNA não envelopado transmitido pela via fecal-oral.
167. (D) 184. (D) 211. A proteína de superfície purificada deste vírus consiste no imunó-
168. (C) 185. (A) geno de uma vacina.
169. (B) 186. (C)
170. (A) 187. (A) Respostas (Questões 193 a 211)
171. (B) 188. (B)
(C) (B) 193. (A) 197. (D) 201. (E) 205. (B) 209. (C)
172. 189.
(C) (D) 194. (C) 198. (A) 202. (D) 206. (E) 210. (A)
173. 190.
(B) (C) 195. (B) 199. (B) 203. (A) 207. (B) 211. (B)
174. 191.
(C) (D) 196. (D) 200. (A) 204. (C) 208. (D)
175. 192.
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 703

VIROLOGIA CLÍNICA
INSTRUÇÕES (Questões 212 a 275): Selecione a resposta MAIS ADE- 219. As seguintes opções em relação à gripe estão corretas, EXCETO:
QUADA para cada questão. (A) Grandes epidemias da doença são causadas pelo vírus in-
212. Qual dos seguintes resultados acontece MAIS comumente após fluenza A, em vez dos vírus influenza B e C.
uma infecção primária por herpes-vírus simples? (B) Fontes prováveis de novos antígenos para vírus influenza A
(A) Completa erradicação do vírus e das células infectadas são os vírus que causam influenza em animais.
(B) Viremia assintomática persistente (C) Grandes mudanças antigênicas das proteínas de superfície vi-
(C) Estabelecimento de uma infecção latente rais são observadas principalmente em vírus influenza A em
(D) Efeito citopático persistente nas células infectadas vez de vírus influenza B e C.
(D) As mudanças antigênicas que ocorrem com a troca antigênica
213. As seguintes opções de patógenos são prováveis de estabelecerem
são consequência de rearranjo dos múltiplos pedaços do ge-
uma infecção crônica ou latente, EXCETO:
noma do vírus influenza.
(A) Citomegalovírus
220. As seguintes opções em relação à prevenção e ao tratamento de in-
(B) Vírus da hepatite A
fluenza estão corretas, EXCETO:
( C) Vírus da hepatite B
(D) Herpes-vírus simples (A) A vacina de influenza inativada contém o vírus HlNl, en-
quanto a vacina de influenza viva atenuada contém o vírus
214. As seguintes opções relacionadas aos poliovírus e sua vacina estão
H3N2.
corretas, EXCETO:
(B) A administração da vacina é recomendada anualmente por-
(A) Os poliovírus são transmitidos pela via fecal-oral. que a antigenicidade do vírus varia.
(B) A patogênese por poliovírus envolve principalmente a morte (C) Oseltamivir (Tamiflu) é eficiente contra vírus influenza A e B.
de neurônios sensoriais. (D) O principal antígeno da vacina que induz anticorpos proteto-
(C) A vacina viva atenuada contém todos os três sorotipos de po- res é a hemaglutinina.
liovírus.
221. Uma criança de seis meses de idade desenvolve uma tosse persis-
(D) Um adulto não imunizado que viaje para países onde há um
tente e febre. Exame físico e radiografia do tórax sugerem pneumo-
risco conhecido de ser infectado com poliovírus deverá rece-
nia. Qual dos seguintes organismos é MENOS provável de causar
ber a vacina inativada.
essa infecção?
215. Qual das seguintes estratégias é MAIS provável de induzir imuni-
(A) Vírus sincicial respiratório
dade duradoura na mucosa intestinal contra poliovírus?
(B) Adenovírus
(A) Imunização parenteral (intramuscular) com vacina inativada (C) Vírus parainfluenza
(B) Administração oral de imunoglobulina de poliovírus (D) Rotavírus
( C) Imunização parenteral com vacina viva
222. Um homem de 45 anos foi atacado por um lince e mordido re-
(D) Imunização oral com vacina viva
petidamente na face e no pescoço. O animal foi morto por um
216. As seguintes opções de síndromes clínicas estão associadas à infec- companheiro e trazido de volta para autoridades de saúde públi-
ção pelos picornavírus, EXCETO: ca. Após você decidir imunizar contra o vírus da raiva, como você
(A) Miocardite/pericardite procederia?
(B) Hepatite (A) Utilizaria apenas soro hiperimune.
( C) Mononucleose (B) Utilizaria apenas imunização ativa.
(D) Meningite (C) Utilizaria soro hiperimune e imunização ativa.
217. As seguintes opções em relação à vacina de rubéola estão corretas, (D) Utilizaria imunização ativa e seguiria com soro hiperimune se
EXCETO: títulos de anticorpos adequados não fossem obtidos do soro
(A) A vacina impede reinfecção, limitando, assim, a disseminação do paciente.
do vírus virulento. 223. As seguintes opções em relação à caxumba estão corretas, EXCETO:
(B) O imunógeno da vacina é o vírus da rubéola inativado. (A) O vírus da caxumba é um paramixovírus e, portanto, possui
(C) A vacina induz anticorpos que impedem a disseminação do genoma de RNA de fita simples.
vírus, neutralizando-o durante o estágio virêmico. (B) A meningite é uma complicação reconhecida da caxumba.
(D) A incidência de rubéola infantil e da síndrome congênita de (C) Orquite por caxumba em crianças antes da puberdade nor-
rubéola diminuiu significativamente desde o surgimento da malmente causa esterilidade.
vacina. (D) Durante a caxumba, o vírus dissemina-se pela corrente san-
218. As seguintes opções em relação à vacina da raiva para uso em hu- guínea (viremia) para vários órgãos internos.
manos estão corretas, EXCETO: 224. As seguintes opções em relação ao vírus sincicial respiratório
(A) A vacina contém o vírus da raiva vivo, atenuado. (RSV) estão corretas, EXCETO:
(B) Se o paciente tiver sido mordido por um animal selvagem (p. (A) O RSV possui um genoma de RNA fita simples.
ex., um gambá), a vacina para raiva deve ser administrada. (B) O RSV induz a formação de células gigantes multinucleadas.
(C) Quando a vacina é administrada para profilaxia pós-exposi- (C) O RSV causa pneumonia principalmente em crianças.
ção, imunoglobulina contra raiva também deve ser fornecida. (D) Infecções por RSV podem ser tratadas com aciclovir de ma-
(D) O vírus da vacina é multiplicado em cultivo de células huma- neira eficiente.
nas, diminuindo, assim, o risco de encefalomielite alérgica.
704 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

225. O principal reservatório para as variantes de mudança antigênica 232. A doença viral lenta que MAIS claramente tem imunossupressão
do vírus influenza parecem ser: como um fator importante em sua patogênese é:
(A) Indivíduos em comunidades isoladas, como o Ártico (A) Leucoencefalopatia multifocal progressiva
(B) Animais, especificamente porcos, cavalos e aves (B) Panencefalite esclerosante subaguda
(C) Solo, especialmente nos trópicos (C) Doença de Creutzfeldt-Jakob
(D) Esgoto (D) Kuru
226. O papel de um agente infeccioso na patogênese de kuru foi MAIS 233. Um homem de 30 anos de idade desenvolve febre e icterícia. Ele
BEM demonstrado por qual das seguintes observações? consulta um médico, que descobre que testes de sangue para o an-
(A) Foi observado um aumento de 16 vezes no título de anticor- tígeno HBs e para anticorpo anti-HBs são negativos. Qual dos se-
guintes testes adicionais é MAIS útil para estabelecer que a hepatite
pos contra o agente.
(B) O genoma viral foi isolado de neurônios infectados. era, na verdade, devida ao vírus da hepatite B?
( C) Micrografias eletrônicas dos encéfalos de indivíduos infec- (A) Antígeno HBe
tados demonstraram estruturas intracelulares semelhantes a (B) Anticorpo anti-HBc
nucleocapsídeos de paramixovírus. (C) Anticorpo anti-HBe
(D) A doença foi transmitida em série para animais experimen- (D) Antígeno Delta
tais. 234. Qual das seguintes opções é a explicação MAIS razoável para a ca-
227. Um homem de 64 anos com leucemia linfática crônica desenvolve pacidade de o vírus da hepatite B causar infecção crônica?
deterioração progressiva de funções mentais e neuromusculares. A (A) A infecção não estimula a produção de anticorpos.
autopsia de seu encéfalo revela oligodendrócitos aumentados cujos (B) O fígado é um local "imunologicamente protegido'.
núcleos contêm partículas virais icosaédricas nuas. O diagnóstico (C) O DNA viral pode persistir dentro da célula hospedeira.
MAIS provável é: (D) Muitos seres humanos são imunologicamente tolerantes ao
(A) Encefalite herpética antígeno HBs.
(B) Doença de Creutzfeldt-Jakob 235. A triagem de rotina para o antígeno HBs do sangue utilizado em
(C) Panencefalite esclerosante subaguda transfusões não eliminou o problema da hepatite pós-transfusio-
(D) Leucoencefalopatia multifocal progressiva nal. Para qual dos seguintes vírus o rastreamento eliminou grande
(E) Raiva quantidade de casos de hepatite pós-transfusão?
228. Um homem de 20 anos, que por muitos anos recebeu injeções (A) Vírus da hepatite A
diárias de hormônio do crescimento preparado a partir de hipófise (B) Vírus da hepatite C
humana, desenvolve ataxia, fala arrastada e demência. A necropsia (C) Citomegalovírus
do encéfalo mostra degeneração neuronal difundida, uma aparên- (D) Vírus Epstein-Barr
cia esponjosa devida a muitos vacúolos entre as células, nenhuma 236. Um homem de 36 anos viciado em drogas intravenosas foi por-
inflamação e nenhuma evidência de partículas virais. O diagnósti- tador de antígeno HBs por 1O anos. Ele desenvolveu subitamente
co MAIS provável é: hepatite fulminante e morreu dentro de 10 dias. Qual dos seguintes
(A) Encefalite herpética testes laboratoriais MAIS contribuiria para o diagnóstico?
(B) Doença de Creutzfeldt-Jakob (A) Anticorpos anti-HBs
( C) Panencefalite esclerosante subaguda (B) Antígeno HBe
(D) Leucoencefalopatia multifocal progressiva (C) Anticorpos anti-HBc
(E) Raiva (D) Anticorpos antideltavírus
229. Uma mulher de 24 anos teve febre e dor de garganta na última se- 237. Qual das seguintes opções é a MELHOR evidência para basear um
mana. Faringite moderadamente grave e linfadenopatia cervical diagnóstico decisivo de doença aguda por caxumba?
bilateral são observados em exame físico. Qual dos seguintes vírus
(A) Um teste cutâneo positivo
é MENOS provável de causar esse quadro?
(B) Um aumento de quatro vezes no título de anticorpos contra o
(A) Norovírus antígeno da caxumba
(B) Adenovírus (C) História de exposição a uma criança com caxumba
( C) Vírus de Coxsackie (D) Orquite no homem adulto jovem
(D) VírusEpstein-Barr
238. O vírus varicela-zóster e o herpes-vírus simples compartilham
230. Scrapie e kuru apresentam todas as características a seguir, EXCETO: muitas características. Qual das seguintes características NÃO é
(A) Um quadro histológico de encefalopatia espongiforme compartilhada?
(B) Transmissibilidade a animais associada a um período de in- (A) É comum a doença inaparente, que se manifesta apenas pela
cubação longo. excreção viral.
( C) Deterioração progressiva lenta da função cerebral (B) Persistência de vírus latente após a recuperação da doença
(D) Inclusões intranucleares proeminentes nos oligodendrócitos aguda.
231. As seguintes opções em relação à panencefalite esclerosante suba- (C) Erupção vesicular
guda estão corretas, EXCETO: (D) Genoma de DNA linear, dupla-fita

(A) A imunossupressão é um fator predisponente frequente. 239. O herpes-vírus simples e o citomegalovírus compartilham muitas
(B) Agregados de nucleocapsídeos helicoidais são encontrados características. Qual das seguintes características é MENOS prová-
em células infectadas. vel de ser compartilhada?
(C) Altos títulos de anticorpo antissarampo são encontrados no (A) Causa importante de morbidade e mortalidade em recém-
líquido cerebrospinal. -nascidos
(D) Ocorre uma deterioração progressiva gradual da função cere- (B) Anormalidades congênitas devido à transmissão transplacen-
bral. tária
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 705

(C) Importante causa de doença grave em indivíduos imunossu- 247. O herpes-vírus simples 1 (HSV-1) é distinto do HSV-2 de várias
primidos maneiras diferentes. Qual das seguintes opções é a afirmação ME-
(D) Infecção branda ou inaparente NOS correta?
240. A erradicação da varíola foi facilitada por diversas características (A) HHV-1 causa lesões acima do umbigo mais frequentemente
do vírus. Qual das seguintes opções MENOS contribuiu para a er- do que o HHV-2.
radicação? (B) Infecção por HHV-1 não está associada a nenhum tumor em
(A) O vírus possui um único tipo antigênico. humanos.
(B) A infecção inaparente é rara. (C) Antissoro contra HHV-1 neutraliza HHV-1 de maneira mais
( C) A administração de uma vacina viva induz uma imunidade eficiente do que HHV-2.
segura. (D) HHV-1 causa recorrências frequentes, enquanto a infecção
(D) Ele multiplica-se no citoplasma de células infectadas. por HHV-2 raramente reaparece.
241. Qual das seguintes opções em relação à mononucleose infecciosa é 248. Qual das seguintes opções sobre o gene src e a proteína src do vírus
a MAIS precisa? do sarcoma de Rous está INCORRETA?
(A) Células gigantes multinucleadas são encontradas nas lesões (A) A proteína src inativa uma proteína codificada pelo p53, um
cutâneas. gene supressor de tumor.
(B) Linfócitos T infectados são abundantes no sangue periférico. (B) A proteína src é uma proteína-cinase que preferencialmente
(C) Isolamento do vírus é necessário para confirmar o diagnóstico. fosforila tirosinas em proteínas celulares.
(D) Mononucleose infecciosa é transmitida pelo vírus na saliva. (C) A proteína src é necessária para manter transformação neo-
242. Qual das seguintes opções em relação à herpes genital é a MENOS plástica de células infectadas.
precisa? (D) O gene viral src é derivado de um gene celular encontrado em
(A) O aciclovir reduz o número de episódios recorrentes da muitas espécies de vertebrados.
doença, erradicando células infectadas latentemente. 249. As seguintes opções apoiam a ideia de que proto-oncogenes celula-
(B) Herpes genital pode ser transmitido na ausência de lesões res participam da carcinogênese humana, EXCETO:
aparentes.
(A) O gene c-abl é rearranjado no cromossomo Philadelphia em
(C) Células gigantes multinucleadas com inclusões intranucleares
leucemias mieloides e codifica uma proteína com atividade de
são encontradas nas lesões.
tirosina-cinase aumentada.
(D) Episódios iniciais da doença são geralmente mais graves do
(B) O gene N-myc é amplificado em até 100 vezes em muitos ca-
que episódios recorrentes.
sos avançados de neuroblastoma.
243. Diversas vacinas contra a gripe são administradas nos Estados (C) O receptor para o fator de crescimento derivado de plaquetas
Unidos. Em relação a essas vacinas, qual das seguintes opções é é uma proteína transmembrana que exibe atividade de tirosi-
MENOS correta? na-c1nase.
(A) Uma das vacinas contém subunidades peptídicas purificadas (D) O gene c-Ha-ras é mutado em códons específicos em vários
de neuraminidase produzidas em leveduras. tipos de cânceres humanos.
(B) Uma das vacinas é uma vacina inativada composta por ví-
250. As seguintes opções em relação ao vírus da imunodeficiência hu-
rions de influenza tratados com formaldeído.
mana (HIV) estão corretas, EXCETO:
( C) Uma das vacinas contém um mutante sensível à temperatura
de vírus influenza que replica no nariz, mas não nos pulmões. (A) Testes de rastreamento para anticorpos são úteis para impedir
(D) Vacinas de influenza contêm as linhagens A e B, mas não a a transmissão de HIV por meio de transfusão de sangue.
linhagem C. (B) As infecções oportunistas observadas na Aids são, principal-
mente, o resultado da perda da imunidade celular.
244. Qual dos patógenos seguintes é o MAIS comumente encontrado
no trato respiratório inferior de crianças? (C) A zidovudina (azidotimidina) inibe a DNA-polimerase RNA-
-dependente.
(A) Vírus sincicial respiratório
(D) A presença de anticorpos circulantes que neutralizam o HIV
(B) Adenovírus
é evidência de que um indivíduo está protegido contra a
(C) Rinovírus
doença causada por HIV.
(D) Vírus de Coxsackie
251. Qual das seguintes opções em relação à meningite viral e à encefa-
245. Qual das seguintes condições é a MENOS provável de ser causada
lite viral está CORRETA?
pelo adenovírus?
(A) Conjuntivite (A) Herpes-vírus simples 2 é a causa dominante de meningites
(B) Pneumonia virais.
(C) Faringite (B) Herpes-vírus simples 1 é uma causa importante de encefalite
(D) Glomerulonefrite viral.
(C) Proteínas do líquido espinal estão normalmente diminuídas
246. Com relação ao diagnóstico sorológico da mononucleose infeccio-
em meningites virais.
sa, qual das seguintes opções está CORRETA?
(D) O diagnóstico de meningites virais pode ser realizado usando
(A) Um anticorpo heterófilo é formado e este reage com uma coloração por nanquim em uma amostra do líquido espinal.
proteína do capsídeo do vírus Epstein-Barr.
252. As seguintes opções estão corretas, EXCETO:
(B) Um anticorpo heterófilo que aglutina hemácias de ovelhas ou
cavalos é formado. (A) Vírus de Coxsackie são enterovírus e podem replicar-se nos
(C) Um antígeno heterófilo com reatividade cruzada com linha- tratos respiratório e gastrintestinal.
gens OXl 9 de Proteus ocorre. (B) Vírus influenza possuem múltiplos sorotipos baseados nas
(D) Um antígeno heterófilo ocorre após infecções com citomega- proteínas hemaglutinina e neuraminidase localizadas na su-
lovírus. perfície do envelope.
706 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

(C) Flavivírus são vírus de RNA envelopados que se replicam em (C) Nos Estados Unidos, cães são o reservatório mais comum.
animais e humanos. (D) O período de incubação é normalmente longo (várias sema-
(D) Adenovírus são vírus de RNA envelopados que são uma causa nas) em vez de curto (vários dias).
importante de doenças sexualmente transmissíveis. 259. As seguintes opções em relação aos arbovírus estão corretas,
253. Qual das seguintes opções em relação à prevenção de doenças vi- EXCETO:
rais está CORRETA? (A) A patogênese da síndrome do choque hemorrágico do den-
(A) A vacina contra adenovírus contém fibras pentatônicas puri- gue está associada à resposta heterotípica anamnésica.
ficadas, e é normalmente administrada em crianças em con- (B) Aves selvagens são o reservatório para vírus da encefalite, mas
junto com a vacina contra poliomielite. não para o vírus da febre amarela.
(B) A vacina contra vírus de Coxsackie contém vírus vivo que in- (C) Carrapatos são o principal modo de transmissão do vírus da
duz IgA, o que impede reinfecção por sorotipos homólogos. encefalite e do vírus da febre amarela.
(C) Imunização contra flavivírus consiste em soro superimune (D) Existe uma vacina viva atenuada que, de maneira eficiente,
mais uma vacina que consiste em subunidades da glicopro- previne febre amarela.
teína de superfície.
260. As seguintes opções em relação aos rinovírus estão corretas,
(D) Uma das vacinas contra vírus influenza contém vírus inati-
EXCETO:
vados que induzem anticorpos neutralizantes direcionados
contra a hemaglutinina. (A) Rinovírus são picornavírus (i.e., vírus pequenos não envelo-
pados com um genoma de RNA).
254. As seguintes opções em relação ao vírus da hepatite C (HCV) e
(B) Rinovírus são uma causa importante de infecção do trato res-
vírus da hepatite D (HDV) estão corretas, EXCETO:
piratório inferior, principalmente em pacientes com doença
(A) O HCV é um vírus de RNA que causa hepatite pós-transfu- pulmonar obstrutiva crônica.
sional. (C) Rinovírus não infectam o trato gastrintestinal porque são ina-
(B) O HDV é um vírus defectivo que pode se replicar apenas em tivados pelo pH ácido do estômago.
uma célula que também esteja infectada com o vírus da hepa- (D) Não há vacina contra os rinovírus porque eles apresentam
tite B. muitos tipos antigênicos.
(C) O HDV é transmitido principalmente pela via fecal-oral.
(D) Pessoas infectadas com HCV comumente se tornam portado- 261. As seguintes opções em relação ao herpes-vírus simples 2 (HSV-2)
ras crônicas de HCV e têm predisposição a carcinoma hepa- estão corretas, EXCETO:
tocelular. (A) Infecções primárias com HSV-2 não conferem imunidade
255. As seguintes opções em relação ao vírus do sarampo estão corretas, contra infecções primárias por HSV-1.
EXCETO: (B) HSV-2 causa lesões vesiculares, geralmente na região genital.
(C) HSV-2 pode causar alterações na membrana celular, levando
(A) O vírus do sarampo é um vírus envelopado com um genoma
à fusão de células e à formação de células gigantes multinucle-
de RNA de fita simples.
adas.
(B) Uma das complicações importantes do sarampo é a encefalite.
(D) Episódios de doença recorrente devidos à reativação de
(C) O local inicial da replicação do vírus do sarampo é o trato
HSV-2 latente são normalmente mais graves do que o episó-
respiratório superior, pelo qual ele se dissemina por meio do
dio primário.
sangue para a pele.
(D) Infecção latente pelo vírus do sarampo pode ser explicada 262. As seguintes opções em relação ao vírus Epstein-Barr estão corre-
pela integração do pró-vírus no DNA da célula hospedeira. tas, EXCETO:
256. As seguintes opções em relação à vacina para o sarampo estão cor- (A) Muitas infecções são brandas ou inaparentes.
retas, EXCETO: (B) Quanto mais cedo na vida a infecção primária for adquirida,
(A) A vacina contém vírus vivo, atenuado. mais probabilidade há de manifestar-se o quadro característi-
(B) A vacina não deve ser administrada ao mesmo tempo em que co de mononucleose.
a vacina contra caxumba porque o sistema imune não pode (C) Linfócitos latentemente infectados regularmente persistem
responder a dois antígenos virais ao mesmo tempo. após um episódio agudo de infecção.
(C) O vírus da vacina contém apenas um sorotipo. (D) Uma infecção confere imunidade contra episódios secundá-
(D) A vacina não deve ser administrada antes dos 15 meses de rios de mononucleose infecciosa.
idade porque anticorpos maternos podem impedir uma res- 263. As seguintes opções em relação aos rotavírus estão corretas,
posta imune. EXCETO:
257. As seguintes opções em relação à rubéola estão corretas, EXCETO: (A) A vacina contra o rotavírus contém uma RNA-polimerase re-
(A) Anormalidades congênitas ocorrem principalmente quando combinante como imunógeno.
uma mulher grávida é infectada no primeiro trimestre. (B) Rotavírus são a causa dominante de diarreia em crianças pe-
(B) Mulheres que dizem nunca ter tido rubéola podem, mesmo quenas.
assim, possuir anticorpos neutralizantes no soro. (C) Rotavírus são transmitidos principalmente pela via fecal-oral.
( C) Em uma criança de seis anos de idade, rubéola é uma doença (D) Rotavírus pertencem à família dos reovírus, que possuem um
branda autolimitante com poucas complicações. genoma de RNA de dupla-fita segmentado.
(D) Aciclovir é eficiente no tratamento da síndrome da rubéola 264. As seguintes opções em relação à antigenicidade do vírus influenza
congênita. A estão corretas, EXCETO:
258. As seguintes opções em relação à raiva e ao vírus da raiva estão (A) Trocas antigênicas, que representam grandes mudanças na
corretas, EXCETO: antigenicidade, ocorrem com pouca frequência e são devidas
(A) O vírus tem um envelope lipoproteico e RNA de fita simples a rearranjos dos segmentos do genoma viral.
como genoma. (B) Trocas antigênicas afetam tanto a hemaglutinina quanto a
(B) O vírus tem um único tipo antigênico (sorotipo). neuraminidase.
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 707

( C) As epidemias globais causadas pelo vírus influenza A são de- 271. Qual das seguintes opções em relação à caxumba está CORRETA?
vidas às trocas antigênicas. (A) Apesar de as glândulas salivares serem os locais mais óbvios
(D) A proteína envolvida na deriva antigênica é principalmente a de infecção, os testículos, os ovários e o pâncreas também es-
ribonucleoproteína interna. tão envolvidos.
265. As seguintes opções em relação aos adenovírus estão corretas, (B) Como não há vacina contra caxumba, imunização passiva é o
EXCETO: único meio de evitar a doença.
(A) Os adenovírus são compostos por um genoma de DNA de (C) O diagnóstico da caxumba é feito com base em dados clínicos
dupla-fita e um capsídeo sem um envelope. porque o vírus não pode crescer em cultivo celular e os testes
(B) Os adenovírus causam dor de garganta e pneumonia. sorológicos são imprecisos.
( C) Os adenovírus possuem apenas um único tipo sorológico. (D) Episódios secundários de caxumba podem ocorrer porque
(D) Os adenovírus estão relacionados como causa de tumores em existem dois sorotipos do vírus e a proteção é tipo-especí-
animais, mas não em humanos. fica.

266. As seguintes opções em relação à prevenção de doenças virais do 272. Muitos retrovírus oncogênicos carregam oncogenes muito si-
trato respiratório estão corretas, EXCETO: milares a genes normais celulares, chamados proto-oncogenes.
Qual das seguintes opções em relação aos proto-oncogenes está
(A) Para evitar doenças causadas por adenovírus, uma vacina viva
INCORRETA?
que causa infecção entérica assintomática é utilizada por mili-
tares. (A) Vários proto-oncogenes foram encontrados em uma forma
(B) Para evitar doenças causadas pelo vírus influenza A, uma va- mutante em cânceres humanos sem evidência de etiologia
cina inativada está disponível para a população civil. viral.
( C) Não há vacina contra o vírus sincicial respiratório. (B) Vários oncogenes virais e seus proto-oncogenes progenitores
(D) Para evitar doenças causadas por rinovírus, uma vacina con- codificam proteínas-cinases específicas para tirosina.
tendo proteínas do capsídeo purificadas é utilizada. (C) Alguns proto-oncogenes codificam fatores de crescimento
celular e receptores para fatores de crescimento.
267. As seguintes opções em relação à latência dos herpes-vírus estão
(D) Proto-oncogenes são muito similares a transposons encontra-
corretas, EXCETO:
dos em bactérias.
(A) Estímulos exógenos podem causar reativação da replicação
273. As seguintes opções em relação ao vírus da imunodeficiência hu-
dos herpes-vírus em células infectadas latentemente.
mana estão corretas, EXCETO:
(B) Durante a latência, anticorpos antivirais não são encontrados
no soro de indivíduos infectados. (A) A proteína CD4 na superfície de células T é um dos recepto-
,
(C) Reativação de herpes-vírus latentes é mais comum em pa- res para o VIrus.
cientes com problemas na imunidade celular do que em pa- (B) Existe uma diversidade antigênica considerável na glicopro-
cientes imunocompetentes. teína de envelope do vírus.
(D) O DNA do genoma de herpes-vírus persiste em células infec- (C) Um dos genes virais codifica para uma proteína que melhora
tadas latentemente. a atividade do promotor viral transcricional.
(D) Um grave problema com testes para anticorpos contra o vírus
268. As seguintes opções em relação aos rinovírus estão corretas, EXCETO:
é a reatividade cruzada com o vírus do linfoma de células T
(A) Os rinovírus são a causa mais frequente do resfriado comum. humanas do tipo 1.
(B) Os rinovírus crescem melhor a 33ºC do que a 37ºC; portanto,
274. As seguintes opções em relação ao vírus da imunodeficiência hu-
eles tendem a causar doenças do trato respiratório superior
mana (HIV) estão corretas, EXCETO:
em vez do trato respiratório inferior.
( C) Os rinovírus são membros da família dos picornavírus e, por- (A) Pacientes infectados com HIV normalmente formam anti-
tanto, assemelham-se aos poliovírus em sua estrutura e repli- corpos contra as glicoproteínas do envelope (gp120 e gp41) e
cação. contra o antígeno interno grupo-específico (p24).
(D) A imunidade fornecida pela vacina contra rinovírus é exce- (B) O HIV provavelmente surgiu como um vírus endógeno de
lente, pois existe apenas um sorotipo. humanos porque o DNA pró-viral do HIV é encontrado no
DNA de certas células humanas normais.
269. Qual das seguintes opções em relação à infecção pelos poliovírus
(C) A transmissão do HIV ocorre principalmente pela transfe-
está CORRETA?
rência de sangue ou sêmen em adultos, e recém-nascidos po-
(A) A infecção congênita do feto é uma complicação importante. dem ser infectados no momento do nascimento.
(B) O vírus replica-se extensivamente no trato gastrintestinal. (D) O teste de Western blot é mais específico para a infecção por
(C) Um teste cutâneo está disponível para determinar exposição HIV do que o teste ELISA.
, . ,
preVIa ao VIrus.
275. As seguintes opções em relação ao vírus da hepatite A (HAV) estão
(D) A amantadina é um agente preventivo efetivo.
corretas, EXCETO:
270. As seguintes opções em relação à febre amarela estão corretas,
(A) a vacina contra hepatite A contém HAV inativado como imu-
EXCETO:
nógeno.
(A) O vírus da febre amarela é transmitido pelo mosquito Aedes (B) O HAV comumente ocasiona infecção assintomática em
aegypti na forma urbana da febre amarela. crianças.
(B) A infecção pelo vírus da febre amarela causa dano significati- (C) O diagnóstico da hepatite A é normalmente feito pelo isola-
vo a hepatócitos. mento do HAV em cultura.
(C) Primatas não humanos na selva são o principal reservatório (D) Gamaglobulina é usada para prevenir hepatite A em pessoas
do vírus da febre amarela. expostas.
(D) Aciclovir é um tratamento eficiente para febre amarela.
708 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

Respostas (Questões 212 a 275) (D) Cobreiro


212. (C) 234. (C) 256. (B) (E) Panencefalite esclerosante subaguda
213. (B) 235. (B) 257. (D) 280. Adenovírus
214. (B) 236. (D) 258. (C) 281. Vírus do sarampo
215. (D) 237. (B) 259. (C)
282. Vírus sincicial respiratório
216. (C) 238. (A) 260. (B)
217. (B) 239. (B) 261. (D) 283. Vírus de Coxsackie
218. (A) 240. (D) 262. (B) 284. Vírus da varicela-zóster
219. (D) 241. (D) 263. (A)
220. (A) 242. (A) 264. (D) Questões 285 a 289
221. (D) 243. (A) 265. (C) (A) Adenovírus
222. (C) 244. (A) 266. (D) (B) Vírus parainfluenza
223. (C) 245. (D) 267. (B) (C) Rinovírus
224. (D) 246. (B) 268. (D) (D) Vírus de Coxsackie
225. (B) 247. (D) 269. (B) (E) Vírus Epstein-Barr
226. (D) 248. (A) 270. (D) 285. Causa miocardite e pleurodinia.
227. (D) 249. (C) 271. (A)
286. Cresce melhor a 33ºC do que a 37ºC.
228. (B) 250. (D) 272. (D)
229. (A) 251. (B) 273. (D) 287. Causa tumor em roedores de laboratório.
230. (D) 252. (D) 274. (B) 288. Causa crupe em crianças pequenas.
231. (A) 253. (D) 275. (C) 289. Causa mononucleose infecciosa
232. (A) 254. (C)
233. (B) 255. (D) Questões 290 a 294
(A) Vírus da hepatite C
INSTRUÇÕES (Questões 276 a 294): Selecione uma úNICA resposta (B) Citomegalovírus
que é MAIS corretamente associada a cada um dos itens numerados. (C) Papilomavírus humano
Cada opção marcada por letra pode ser selecionada uma vez, mais de (D) Vírus do dengue
uma vez, ou nenhuma vez. (E) Vírus da encefalite de St. Louis
Questões 276 a 279 290. É associado como a causa do carcinoma do colo do útero.
(A) Vírus da febre amarela 291. Aves selvagens são reservatórios importantes.
(B) Vírus da raiva
292. É uma causa importante de pneumonia em pacientes imunocom-
(C) Rotavírus
prometidos.
(D) Vírus da rubéola
(E) Rinovírus 293. Sangue proveniente de doação contendo anticorpos contra este ví-
rus de RNA não deve ser utilizado para transfusão.
276. Diarreia
294. Causa uma febre hemorrágica que pode apresentar risco à vida.
277. Icterícia
278. Anormalidades congênitas Respostas (Questões 276 a 294)
279. Encefalite 276. (C) 281. (E) 286. (C) 291. (E)
Questões 280 a 284 277. (A) 282. (A) 287. (A) 292. (B)
(A) Bronquiolite 278. (D) 283. (B) 288. (B) 293. (A)
(B) Meningite 279. (B) 284. (D) 289. (E) 294. (D)
(C) Faringite 280. (C) 285. (D) 290. (C)

MICOLOGIA
INSTRUÇÕES (Questões 295 a 317): Selecione a resposta MAIS ADE- (C) O laboratório clínico pode usar a formação de tubos germina-
QUADA para cada questão. tivos para identificar o isolado como C. albicans.
295. Qual dos seguintes fungos é MAIS provável de ser encontrado no (D) Antibióticos predispõem à vaginite por Candida, matando os
interior de células reticuloendoteliais? lactobacilos da microbiota normal que mantêm o pH da vagi-
na baixo.
(A) Histoplasma capsulatum
(B) Candida albicans 297. Você realizou um diagnóstico clínico de meningite em uma mulher
( C) Cryptococcus neoformans imunocomprometida de 50 anos de idade. Um teste de aglutinação
(D) Sporothrix schenckii do látex a partir do líquido espinal para o antígeno capsular po-
lissacarídico resultou positivo. Dos seguintes organismos, qual é a
296. Sua paciente é uma mulher apresentando corrimento vaginal. Você
causa MAIS provável?
suspeita, com base em dados clínicos, que possa ser devido a Candida
albicans. Qual das seguintes opções é MENOS correta ou apropriada? (A) Histoplasma capsulatum
(B) Cryptococcus neoformans
(A) Uma coloração de Gram do corrimento deve revelar levedu-
(C) Aspergillus fumigatus
ras em brotamento.
(D) Candida albicans
(B) Cultivo do corrimento em ágar Sabouraud deve produzir um
micélio branco com conídeos aéreos.
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 709

298. Os fungos frequentemente colonizam }e.sões provenientes de outras (C) Lc\<'Cduras no tecido
causas. Qual dos seguintes é o ME.NOS provãvc1 de estar presente (D) fase micdial no solo
como colonizador? 307. As seguintes opções cm rd ação à mucormico.sc estão -corretas.
(A) Aspergitlus EXCETO,
(B) Mi,cor (A} O.s fungos que causam mucormicosc são transmitidos pores-
(C) Spcrot};rix poros assc.xuais aéreos.
(D) Candida (B) Secções do tecido de um paciente com mucormicosc mos-
299. A sua paciente se queixa de uma •erupção que coça" cm seu abdome. tram leveduras em brotamento.
Ao exame, você de.seobre que as lesões são ,•ermclhas, drcularcs. com (C) Hifas normalmente invadem ,•asos sanguineos e causam ne-
uma borda vcsicubda e com uma área central em processo de dcatri· crose do tecido.
zação. Você swpcita de tinha do corpo. Das seguintes opçõc.s.. o pro- (D) Cctoacidosc cm pacientes com diabetes Cum fato r de prcdis-
ccdimc-nto Jabora:oriaJ MAIS apropriado para fazer o diagnóstico é: posiç-ão para mucormicosc.
(A) Preparações de raspados cutàncos com hidróxido de potássio 308. As seguintes opções cm relaç-ãoaos fungos estão corretas. EXCETO:
(B} Coloração por Giemsa das cClulas gigantes multinucleadas (A} Lc\<'Cduras são fungos que se reproduzem por brotamento.
{C) Coloração por anti-corpo fluorescente do íluido ,-esicular (8) Bolores são fungos que possuem filamentos alongados cha-
(D) Aumento de quatro vc.zcs no titulo de anticorpos contra o or- mados hifas.
ganismo (C) fungos tcrmicamcntc dimórficos existem como leveduras a
300. As seguintes opções cm relação à Cryptococcus neofomians estão 37°C e como bolores a 25'' C.
corretas, EXCETO: (D) Tanto leveduras quanto bolores possuem uma parcdc-cdu1ar
(A) Seu hâbitat naturaJ é o solo. principalmente associado a fozcs de pcptideoglicano.
de pombos. 309. As .seguintes opções cm relação às lc\•00.uras estão corretas. EXCETO:
{B} A patogêncsc é principalmente relacionada à produção de (A} Leveduras possuem quitina cm .sua parede celular e crgostcrol
cxotoxina A. cm suas membranas celulares.
(C} Leveduras cm brotamento são encontradas nas lesões. (B) Leveduras formam ascó.sporos quando invadem o tecido.
(D} O local inicial de infecção é normalmente o pulmão. (C) Lc\<'Cduras possuem núcleos cucarióticos e contêm mitocôn-
301. Uma mulher que furou o dedo enquanto podava algumas rosas de- drias cm seu citoplasma.
scm-0!1,-cu uma pústula local que progrediu para uma Ulcera Yârios (D) Lc\<'Cduras não produzem cndotoxinas ou exotox.inas.
nódulos se desenvolveram ao longo da drenagem linfãtica local. 310. As .seguintes opções cm relação aos fungos e protozoários estão
O agente MAlS provãvd C; corretas. EXCETO:
(A) ('ryplococrns ntoformans (A} fungos e protozoários são organismos cucarióticos.
(B} Candida a/biums (B) fungos possuem uma parede celular, enquanto protozoários
(C} Spcro:J;rix s.chenckii não.
(D} Aspergi/Jus funu'gatus (C) Tanto fungos quanto protoroârios usam flagelos como órgãos
302. Diversos fungos são associados a doenças cm pacientes imuno- de motilidade.
compromctidos. Qual dos seguintes é o MENOS írcqucntcmcntc (D) Tanto fungos quanto protoroârios geram energia nas mito-
associado? côndrias.
(A) l'ryptococrns neoformans 311. Voei suspeita que a doença do seu paciente possa ser causada por
(B} Aspergillus funu'gatus Cryptococrns ntoformam. Qual dos seguintes achados seria MAIS
(C} Malassaia furfur li.til para estabelecer o diagnóstico?
(D} Espécies de Mucor (A} Teste de agtutinação hctcrófilo positivo para a presença do
303. Células fúngkas que se reproduzcm por brotamento são observa- anti'gcno.
das no tecido infectado de pacientes com: (B) História de viagem recente para a região do vale do Rio Mis-
(A) Candidfase, criptococose e csporotricose sissippi. nos Estados Unidos.
(B} Mkctoma, candidíasc e mucormicosc (C) Encontro de células encapsuladas cm brotamento no U'quido
(C} ·nnta corporis, tinta ung1lium e tinta versicolor espinal.
(D) Recuperação de um organismo acidorrcsistcntc a partir do
(D} Esporotricose, micctoma e aspcrgi!osc
catarro do paciente.
304. A infecção por um dcrmatófrto CMAlS frequentemente associada a:
312. As .seguintes opções em relação à Umdida albi«ms estão corretas.
(A) Abuso de drogas intravenosas EXCETO,
(B} lna1aç-ão do organismo a partir de fezes de a1,-cs contaminadas
(A} C. albfrans é uma le,,-cdura cm brotamento que forma pscu-
(C} Aderência do organismo à uanspiraç-ão da pele úmida
(D} Transmissão focal-oral do-hifas quando in\'adc tecidos.
(B) C. a/bicam é transmitida principalmente por aerossóis rcspi·
305. A aspcrgilosc Creconhecida no tecido pda presença de: rat6rios.
(A) Cétu1as cm brotamento (C) C. albicans cau..sa-candidía.sc.
(B} Hifas scptadas (D) lmunidadc c.ctular com problemas C um fator de predisposi-
(C} Grânulos mctacromáticos ção importante para a doença.
(D} Pscudo-hifas 313. As seguintes opções cm relação à C-,oc.cidioides immitis estão corre-
306. Qual das seguintes opções NÃO Cuma caractcristica da histoplas- tas, EXCETO:
mosc? (A} A fase de micélio do organismo cresce principalmente no
(A) Transmissão intcrpcssoa1 solo. que é .seu hábitat natural.
(B} Distribuição geográfica especifica (B) No corpo. esfcrulas contendo cnd6sporos são formadas.
710 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

( C) Um aumento no título do anticorpo fixador do complemento INSTRUÇÕES (Questões 318 a 325): Selecione uma úNICA resposta
indica doença disseminada. que é MAIS corretamente associada a cada um dos itens numerados.
(D) A maioria das infecções são sintomáticas e necessitam de tra- Cada opção marcada por letra pode ser selecionada uma vez, mais de
tamento com anfotericina B. uma vez, ou nenhuma vez.
314. As seguintes opções em relação a Histoplasma capsulatum estão Questões 318 a 321
corretas, EXCETO:
(A) Histoplasma capsulatum
(A) O hábitat natural de H. capsulatum é o solo, onde ele cresce (B) Candida albicans
como bolor. (C) Aspergillus fumigatus
(B) H. capsulatum é transmitido por conídeos aéreos, e seu local (D) Sporothrix schenckii
inicial de infecção é o pulmão.
318. Levedura de brotamento membro da microbiota normal da vagina
(C) No corpo, H. capsulatum cresce intracelularmente no interior
de macrófagos. 319. Organismo dimórfico transmitido por meiode um trauma na pele.
(D) A imunidade passiva na forma de altos títulos de anticorpos 320. Fungo dimórfico geralmente adquirido por inalação de esporos as-
deve ser administrada a indivíduos que forem expostos. sexuados.
315. As seguintes opções em relação à infecção causada por Coccidioides 321. Fungo que causa pneumonia em pacientes imunocomprometidos.
immitis estão corretas, EXCETO:
(A) C. immitis é um fungo dimórfico. Questões 322 a 325
(B) C. immitis é adquirido pela inalação de artrósporos. (A) Coccidioides immitis
(C) Mais de 50% dos isolados clínicos são resistentes à anfoterici- (B) Rhizopus nigricans
na B. (C) Blastomyces dermatitidis
(D) Infecções ocorrem principalmente nos estados norte-ameri- (D) Cryptococcus neoformans
canos do Sudoeste e na Califórnia. 322. Uma levedura adquirida por inalação que causa meningite princi-
316. As seguintes opções em relação a Blastomyces dermatitidis estão palmente em pacientes imunocomprometidos.
corretas, EXCETO: 323. Um fungo que invade os vasos sanguíneos principalmente em pa-
(A) B. dermatitidis cresce como bolor no solo da América do Norte. cientes com cetoacidose diabética.
(B) B. dermatitidis é um fungo dimórfico que forma células leve- 324. É um fungo dimórfico adquirido por inalação por pessoas que vi-
duriformes no tecido. vem em certas áreas dos estados do sudoeste dos Estados Unidos.
( C) A infecção por B. dermatitidis é comumente diagnosticada
325. Um fungo dimórfico que causa lesões cutâneas granulomatosas em
por testes sorológicos porque ele não cresce em cultura.
indivíduos que vivem na América do Norte.
(D) B. dermatitidis causa lesões cutâneas granulomatosas.
317. Aspergillus fumigatus pode estar envolvido em uma variedade de Respostas (Questões 318 a 325)
condições clínicas. Qual das seguintes opções é MENOS provável
de ocorrer? 318. (B)
319. (D)
(A) Invasão tecidual em hospedeiro imunocomprometido
320. (A)
(B) Alergia como consequência da inalação de partículas aéreas 321. (C)
do fungo
322. (D)
( C) Colonização das cavidades tuberculosas no pulmão
323. (B)
(D) Candidíase
324. (A)
325. (C)
Respostas (Questões 295 a 317)
295. (A) 300. (B) 305. (B) 310. (C) 315. (C)
296. (B) 301. (C) 306. (A) 311. (C) 316. (C)
297. (B) 302. (C) 307. (B) 312. (B) 317. (D)
298. (C) 303. (A) 308. (D) 313. (D)
299. (A) 304. (C) 309. (B) 314. (D)

PARASITOLOGIA
INSTRUÇÕES (Questões 326 a 352): Selecione a resposta MAIS ADE- (C) Túbulos renais
QUADA para cada questão. (D) Medula óssea
326. Crianças em creches nos Estados Unidos possuem uma alta taxa de 328. Na malária, a forma de plasmódio que é transmitida do mosquito
infecção com qual das seguintes opções? para humanos é:
(A) Ascaris lumbricoides (A) Esporozoíto
(B) Entamoeba histolytica (B) Gametócito
(C) Enterobius vermicularis (C) Merozoíto
(D) Necator americanus (D) Hipnozoíto
327. A principal localização anatômica dos vermes adultos de Schistoso- 329. Qual dos seguintes protozoários infecta fundamentalmente macró-
ma mansoni é: fagos?
(A) Alvéolos pulmonares (A) Plasmodium vivax
(B) Vênulas intestinais (B) Leishmania donovani
PARTE XII I Questões para Autoavaliação 711

(C) Trypanosoma cruzi 339. As seguintes opções em relação à malária estão corretas, EXCETO:
(D) Trichomonas vaginalis (A) A fêmea do mosquito Anopheles é o vetor.
330. Os seguintes parasitas têm um hospedeiro intermediário como (B) Precocemente na infecção, os esporozoítos penetram nos he-
parte de seu ciclo de vida, EXCETO: patócitos.
(A) Trichomonas vaginalis (C) A liberação de merozoítos das hemácias causa febres periódi-
(B) Taenia solium cas e calafrios.
(C) Echinococcus granulosus (D) O principal local de formação de gametócitos é o trato gas-
(D) Toxoplasma gondii
trintestinal humano.
340. As seguintes opções em relação a Trichomonas vaginalis estão cor-
331. Os seguintes parasitas passam pelo pulmão durante a infecção em
retas, EXCETO:
seres humanos, EXCETO:
(A) T. vaginalis é transmitido sexualmente.
(A) Strongyloides stercoralis
(B) T. vaginalis pode ser diagnosticado pela visualização do trofo-
(B) Necator americanus
zoíto.
(C) Wuchereria bancrofti
(C) T. vaginalis pode ser tratado de maneira eficiente com metro-
(D) Ascaris lumbricoides
nidazol.
332. Os seguintes parasitas são transmitidos por moscas, EXCETO: (D) T. vaginalis causa diarreia sanguinolenta.
(A) Schistosoma mansoni 341. Qual dos agentes seguintes pode ser utilizado na prevenção da
(B) Onchocerca volvulus malária?
(C) Trypanosoma gambiense (A) Mebendazol
(D) Loa loa (B) Cloroquina
333. Os seguintes parasitas são transmitidos por mosquitos, EXCETO: (C) Vacina inativada
(A) Leishmania donovani (D) Praziquantel
(B) Wuchereria bancrofti 342. As seguintes opções em relação a Pneumocystis carinii estão corre-
(C) Plasmodium vivax tas, EXCETO:
(D) Plasmodium falciparum (A) Infecções por P. carinii envolvem principalmente o trato res-
334. Porcos ou cachorros são a fonte de infecções humanas pelos se- piratório.
guintes parasitas, EXCETO: (B) P. carinii pode ser diagnosticado pela visualização de cistos no
(A) Echinococcus granulosus tecido.
(B) Taenia solium (C) Infecções por P. carinii são sintomáticas principalmente em
pacientes imunocomprometidos.
(C) Ascaris lumbricoides
(D) Infecções sintomáticas por P. carinii podem ser prevenidas
(D) Trichinella spiralis
pela administração de penicilina oral.
335. Os seguintes parasitas são transmitidos pela ingestão de frutos do
343. As seguintes opções em relação à Trypanosoma cruzi estão corre-
mar ou peixes preparados de forma inadequada, EXCETO:
tas, EXCETO:
(A) Diphyllobothrium latum
(A) T. cruzi é transmitido pelo barbeiro.
(B) Ancylostoma duodenale
(B) T. cruzi é encontrado principalmente na África tropical.
(C) Paragonimus westermani
(C) T. cruzi pode ser diagnosticado pela visualização de amastigo-
(D) Clonorchis sinensis
tas em aspirados de medula óssea.
336. O diagnóstico laboratorial de um paciente com suspeita de absces- (D) T. cruzi geralmente afeta o músculo cardíaco, levando à insu-
sos hepáticos causados por Entamoeba histolytica deve incluir: ficiência cardíaca.
(A) Exame de fezes e teste de hemaglutinação indireta 344. As seguintes opções em relação à doença do sono estão corretas,
(B) Exame de fezes e esfregaço sanguíneo EXCETO:
(C) Teste de hemaglutinação indireta e teste cutâneo (A) A doença do sono é causada por um tripanossoma.
(D) Xenodiagnóstico e teste de corda (B) A doença do sono é transmitida por moscas tsé-tsé.
337. As seguintes opções em relação à Toxoplasma gondii estão corretas, (C) A doença do sono pode ser diagnosticada se forem encontra-
EXCETO: dos ovos nas fezes.
(A) T. gondii pode ser transmitido pela placenta para o feto. (D) A doença do sono ocorre principalmente na África tropical.
(B) T. gondii pode ser transmitido por fezes de gato. 345. As seguintes opções em relação a calazar estão corretas EXCETO:
(C) T. gondii pode causar encefalite em pacientes imunocompro- (A) Calazar é causado por Leishmania donovani.
metidos. (B) O calazar é transmitido pela picada de flebotomíneos.
(D) T. gondii pode ser diagnosticado se houver trofozoítos nas (C) Calazar ocorre principalmente em regiões rurais da América
fezes. Latina.
338. As seguintes opções em relação a Giardia lamblia estão corretas, (D) O calazar pode ser diagnosticado pela visualização de amasti-
EXCETO: gotas na medula óssea.
(A) G. lamblia tem um estágio de trofozoíto e um de cisto em seu 346. As seguintes opções em relação a Diphyllobothrium latum estão
ciclo de vida. corretas, EXCETO:
(B) G. lamblia é transmitido pela via fecal-oral a partir de fontes (A) D. latum é transmitido pelo consumo de peixe malcozido.
humanas ou animais. (B) D. latum possui ovos operculados.
(C) G. lamblia causa anemia hemolítica. (C) D. latum causa anemia megaloblástica devida à deficiência de
(D) G. lamblia pode ser diagnosticado pelo teste do barbante, no vitamina B12 •
qual um barbante é engolido e passa pelo trato gastrintestinal (D) D. latum é um cestódeo que possui um escólice com um cír-
superior. culo de ganchos.
712 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

347. As seguintes opções em relação à doença do cisto hidiático estão INSTRUÇÕES (Questões 353 a 386): Selecione uma úNICA resposta
corretas, EXCETO: que é MAIS corretamente associada a cada um dos itens numerados.
(A) A doença é causada por Echinococcus granulosus. Cada opção marcada por letra pode ser selecionada uma vez, mais de
(B) O cisto se desenvolve principalmente no fígado. uma vez, ou nenhuma vez.
(C) A doença é causada por um parasita cuja forma adulta vive Questões 353 a 360
nos intestinos de cães.
(A) Dracunculus medinensis
(D) A doença ocorre principalmente na África tropical.
(B) Loa Zoa
348. As seguintes opções em relação à Schistosoma haematobium estão (C) Onchocerca volvulus
corretas, EXCETO: (D) Wuchereria bancrofti
(A) S. haematobium é adquirido por humanos quando cercárias (E) Toxocara canis
penetram na pele. 353. Causa oncocercose (cegueira dos rios).
(B) Os caramujos são hospedeiros intermediários de S. haemato-
354. Transmitido por mosquitos.
bium.
(C) Os ovos de S. haematobium não possuem espinha. 355. Adquirido pelo consumo de água contaminada.
(D) A infecção por S. haematobium predispõe ao carcinoma de 356. O tratamento consiste na extração do verme da úlcera cutânea.
bexiga.
357. Trasmitido pela mosca do cervo ou pela mosca da manga.
349. As seguintes opções em relação à ancilostomíase estão corretas,
358. Causa larva migrans visceral.
EXCETO:
359. Causa filariose.
(A) A ancilostomíase pode causar anemia.
(B) Infecções por ancilóstomos são adquiridas por humanos 360. Adquirido pela ingestão de ovos dos vermes.
quando larvas filariformes penetram na pele. Questões 361 a 372
( C) A ancilostomíase é causada por Necator americanus.
(A) Giardia lamblia
(D) Infecções por ancilóstomos podem ser diagnosticadas pela
(B) Plasmodium vivax
visualização de trofozoítos nas fezes.
(C) Taenia saginata
350. As seguintes opções em relação àAscaris lumbricoides estão corretas, (D) Clonorchis sinensis
EXCETO: (E) Enterobius vermicularis
(A) A. lumbricoides é um dos maiores nematódeos. 361. Um trematódeo (fascíola) adquirido pelo consumo de peixe malco-
(B) A. lumbricoides é transmitido pela ingestão de ovos.
zido.
(C) Tanto cachorros quanto gatos são hospedeiros intermediários
362. Um cestódeo (tênia) adquirido pelo consumo de carne malcozida.
de A. lumbricoides.
(D) A. lumbricoides pode causar pneumonia. 363. Um nematódeo (lombriga) transmitido principalmente de criança
351. As seguintes opções em relação a Strongyloides stercoralis estão cor- para criança.
retas, EXCETO: 364. Um protozoário transmitido por mosquitos.
(A) S. stercoralis é adquirido pela ingestão de ovos. 365. Um protozoário transmitido pela via fecal-oral.
(B) S. stercoralis passa por um ciclo de vida livre no solo. 366. Afeta principalmente os duetos biliares.
( C) Larvas migratórias de S. stercoralis induzem uma eosinofilia
367. Causa diarreia como sintoma mais proeminente.
marcante.
(D) S. stercoralis produz larvas filariformes. 368. Causa coceira perianal como sintoma mais proeminente.
352. As seguintes opções em relação à triquinose estão corretas, EXCETO: 369. Causa febre, calafrios e anemia.
(A) A triquinose é adquirida pelo consumo de carne de porco 370. Pode ser tratado com metronidazol.
malcozida. 371. Pode ser tratado com mebendazol ou pamoato de pirante!.
(B) A triquinose é causada por um protozoário que tem um está-
372. Pode ser tratado com cloroquina e primaquina.
gio de trofozoíto e um estágio de cisto em seu ciclo de vida.
( C) A triquinose pode ser diagnosticada pela visualização de eis- Questões 373 a 386
tos em amostras de biópsia de músculos. (A) Entamoeba histolytica
(D) A eosinofilia é um achado importante. (B) Plasmodium falciparum
(C) Taenia solium
Respostas (Questões 326 a 3S2) (D) Paragonimus westermani
326. (C) 335. (B) 344. (C) (E) Strongyloides stercoralis
327. (B) 336. (A) 345. (C) 373. Um cestódeo (tênia) adquirido pelo consumo de carne de porco
328. (A) 337. (D) 346. (D) malcozida.
329. (B) 338. (C) 347. (D)
374. Um nematódeo (lombriga) adiquirido quando a larva ftlariforme
330. (A) 339. (D) 348. (C)
penetra na pele.
331. (C) 340. (D) 349. (D)
332. (A) 341. (B) 350. (C) 375. Um protozário transmitido pela via fecal-oral.
333. (A) 342. (D) 351. (A) 376. Um trematódeo (fascíola) adquirido pelo consumo de carne de ca-
334. (C) 343. (B) 352. (B) ranguejo malcozida.
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 713

377. Um protozoário que infecta as células vermelhas do sangue. Respostas (Questões 353 a 386)
378. Diagnóstico laboratorial baseado na observação de ovos em amos- 353. (C) 365. (A) 377. (B)
tras de escarro. 354. (D) 366. (D) 378. (D)
379. Causa cisticercose em seres humanos. 355. (A) 367. (A) 379. (C)
356. (A) 368. (E) 380. (B)
380. Ocorrem linhagens resistentes a cloroquina.
357. (B) 369. (B) 381. (E)
381. Autoinfecção entre os seres humanos, especialmente em pacientes 358. (E) 370. (A) 382. (B)
imunocomprometidos. 359. (D) 371. (E) 383. (A)
382. Causa febre blackwater. 360. (E) 372. (B) 384. (B)
383. Causa diarreia sanguinolenta e abscessos hepáticos.
361. (D) 373. (C) 385. (A)
362. (C) 374. (E) 386. (C)
384. Produz gametócitos em "formato de banana". 363. (E) 375. (A)
385. Produz cistos com quatro núcleos. 364. (B) 376. (D)
386. Possui um escólex com ventosas e um círculo de ganchos.

IMUNOLOGIA
INSTRUÇÕES (Questões 387 a 474): Selecione a resposta MAIS ADE- 392. Um paciente com asma grave não se sente aliviado com o uso de
QUADA para cada questão. anti-h istamínicos. Os sintomas são provavelmente causados por:
387. Qual categoria de hipersensibilidade MELHOR descreve a doença (A) Interleucina 2
hemolítica do recém-nascido causada por incompatibilidade de Rh? (B) Substância A de reação lenta (leucotrienos)
(A) Atópica ou anafilática (C) Serotonina
(B) Citotóxica (D) Bradiquinina
(C) Imunocomplexo 393. As hipersensibilidades à penicilina e ao veneno de carvalho são:
(D) Tardia (A) Mediadas por anticorpo IgE
388. A principal diferença entre a hipersensibilidade citotóxica (tipo II) (B) Mediadas por anticorpos IgG e IgM
e por imunocomplexo (tipo III) é: (C) Iniciadas por haptenos
(A) A classe (isotipo) do anticorpo (D) Iniciadas por células Th-2
(B) Se o anticorpo reage com o antígeno na célula ou se reage com 394. O receptor de um rim de dois haplótipos MHC correspondentes,
o antígeno antes de ele interagir com a célula. recebido de um familiar, ainda necessita de imunossupressão para
(C) A participação de complemento prevenir a rejeição ao enxerto porque:
(D) A participação de células T (A) A doença do enxerto versus hospedeiro é um problema.
389. Uma criança picada por uma abelha passa por problemas respira- (B) Os antígenos do MHC de classe II não serão correspondentes.
tórios dentro de minutos e cai inconsciente. Essa reação é provavel- (C) Os antígenos secundários de histocompatibilidade não serão
mente mediada por: correspondentes.
(A) Anticorpo IgE (D) Os componentes do complemento não serão correspondentes.
(B) Anticorpo IgG 395. O transplante de medula óssea em pacientes imunocomprometidos
(C) Células T sensibilizadas apresenta qual problema principal?
(D) Complemento (A) Doença do enxerto versus hospedeiro potencialmente letal
(E) Anticorpo IgM (B) Risco elevado de leucemia de células T
390. Um paciente com febre reumática desenvolve dor de garganta, a (C) Incapacidade de utilizar um doador vivo
partir da qual estreptococos hemolíticos são cultivados. O paciente (D) Hipersensibilidade tardia
começou o tratamento com penicilina, e a dor de garganta foi cura- 396. Qual é o papel das proteínas do MHC de classe II em células do
da em alguns dias. Entretanto, sete dias depois do início da terapia doador na rejeição de transplantes?
com penicilina, o paciente desenvolveu febre de 39,4ºC, erupção
(A) Elas são receptores para interleucina 2, que é produzida por
generalizada e proteinúria. É PROVÁVEL que isso seja resultado de:
macrófagos quando eles atacam as células doadoras.
(A) Recorrência da febre reumática (B) Elas são reconhecidas por células T auxiliares, que ativam cé-
(B) Um doença infecciosa diferente lulas T citotóxicas para matar células doadoras.
(C) Uma resposta de IgE a penicilina (C) Elas induzem a produção de anticorpos bloqueadores que
(D) Uma resposta IgG-IgM a penicilina protegem o enxerto.
(E) Uma reação de hipersensibilidade tardia a penicilina (D) Elas induzem IgE, que faz a mediação da rejeição ao enxerto.
391. Uma amostra de biópsia renal retirada de um paciente com glome- 397. Enxertos entre indivíduos geneticamente idênticos (i.e., gêmeos
rulonefrite aguda e corada com anticorpo anti-IgG humano conju- idênticos):
gado à fluoresceína provavelmente apresentará:
(A) São lentamente rejeitados como resultado dos antígenos se-
(A) Nenhuma fluorescência cundários de histocompatibilidade.
(B) Fluorescência uniforme da membrana basal glomerular (B) Estão sujeitos à rejeição hiperaguda.
(C) Fluorescência irregular, desigual, da membrana basal glome- (C) Não são rejeitados, mesmo sem imunossupressão.
rular (D) Não são rejeitados se um rim for transplantado, mas enxertos
(D) Células B fluorescentes de pele são rejeitados.
(E) Macrófagos fluorescentes
714 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

398. Penicilina i: um haptcno tanto cm humanas quanto cm ratos. Para (C) fagocitose de bactérias revestidas por lgE.
explorar a relação entre haptcno e carrcador, um camundongo re- (D) Agrega,;lo de C'A e C2
cebeu uma injeção com penicilina co\'alcntcmcntc ligada à albumi- 406. Os neutrófilos são atraídos ate uma área infectada por:
na si:rka bovina e, ao mesmo tempo, com aJbumina de ovo, à qua1
(A) lgM
nenhuma penicilina estava ligada. Das .seguintes opções, qua1 irá (B) Ct
induzir uma resposta secundária à penicilina quando injetada no (C) C5a
camundongo um mês depois? (D) C8
(A) Penicilina
407. A fixação de complemento rcfere· sc a:
(B) Penicilina ligada à aJbwnina deº''º
(C} Albumina de O\"O (A) Ingestão de bactérias revestidas por C3b por maa6fagos.
(D} Albumina de soro bo\ino (B} Oestruiç-ão do complemento do soro por aquecimento a 56°C
por 30 minutos
399. A Aids i: causada por um retro\tirus humano que mata: (C) Ligação de componentes do complemento por complexos
(A) Linfócitos B antígcno·anticorpo
(B) Ci:lulas-tron-co de linfócitos (D) Interação de Clb com mastócitos
(C} Linfócitos T CD4-positivos 408. A \'i:a dãsska do complemento Ciniciada pela interação de CI ao(s}:
(D) Linfócitos T CDS-positivos
(A) Antígeno
400. lllmores induzidos quimicamente possuem antígenos de trans- (B} fator D
plante associados aos tumores que: (C) C..omp!exos antígcno-lgG
(A) São sempre os mesmos para um determinado carcinógcno. (D) Upopolissacarídcos bacterianos
(B) São diferentes para dois tumores de tipos histoJógicos dife. 409. Pacientes que exibem ní,·cis gnwcmcntc reduzidos de C3 tendem a
rentes mesmo se induzidos pdo mesmo carcinógeno. apresentar:
(C} São antigcnos muito potentes. (A) NU.meros cle1,-ados de infecções \irais graves
(D} Não induzem uma resposta imune. (B} NU.meros clc,,-ados de infecções bacterianas gra,·cs
401. O poliomavfrus (um vírus de ONA) causa tumores cm «camun· ( C) Baixos níveis de gama globulina
dongos nudc'" (camundongos nudc não possuem um timo devido (D) Episódios frequentes de anemia hcmolitica
a um defeito gcnêtico), mas não cm camundongos normais. A ME· 410. Indivíduos que apre.sentam uma deficiéncia gcnCtka de C6 possuem:
LHOR interpretação é:
(A) Resistência reduzida a infecções \irais
(A) São necessários macrófagos para a rejeição de tumores indu· (B} Um aumento nas reações de hipersensibilidade
zidos pdos poHoma,•írus. (C) Uma aumento na frequência de câncer
(B) Célu)as natural kiUer podem rejeitar tumores induzidos por (D) Resistência reduzida a bacteriemia por Ntisseria
poliomavirus sem ajuda de linfócitos T. 41 l. As cé.h.das natural killtr são:
(C} Linfócitos T exercem um papel importante na rejeição de tu·
mores induzidos por po!iomavi!Us. (A) ('..élulas B que possuem a capacidade de matar na ausência de
(D} Os linfócitos B desempenham um papel na rejeição dos tu· complemento.
(B} ('..élulas T citotóxicas
mores induzidos pelos poliomavírus.
(C) E.Jevadas por meio de imuni:tação.
402. CJ é di1,-ado para formar C3a e CJb pela cnz.ima Cl com·ertase. (D) Capazes de matar cClulas infectadas por virus sem uma sensi·
CJb está envohido cm todas as seguintes opções. EXCETO: brnução prévia.
(A) Aumento da permeabilidade 1,.ucular 412. Um teste cutâneo de tubcrculina posith'O (uma reação de hipcrsen·
(B) Promoção da fagocitose sibrndadc tardia} indica que:
(C} Formação de C3 convcrtase da via alternatr,a
(A) Ocorreu wna resposta imune humoral.
(D} Formação de C5 con\-crtasc
(B} Ocorreu uma resposta imune mediada por células.
403. Após se ligar a seu ant(geno especifico. um linfócito B pode trocar (C) Ambas os sistemas de células Te Dsão funcionais.
o seu (sua): (D) Apenas o sistema de célula B é funcional.
(A) lsotipo de cadeia lC"t·c de imunoglobulina 413. A reação à hera venenosa ou ao can"3lho venenoso é:
(B) Jsotipo de cadeia pesada de imunog!obulina (A) Uma resposta mediada por lgG.
(C} Região •lariâ'lcl da cadeia pesada da imunoglobulina (B} Uma resposta mediada por lgE..
(D} Região constante da cadeia leve da imunoglobulina (C) Uma resposta mediada por célula.
404. A diversidade C uma caractcriStica importante do sistema imune. (D) Uma reação de Arthus
Qua1 das seguintes opções sobre isso está INCORRETA? 414. Uma criança perturba um ninho de vespas, é picada repetidamente
(A) Humanos podem produzir anticorpos com aproximadamente e ent.ra cm choque dentro de minutos. manifestando insuficiéncia
10*combinações diferentes de V N X v,., respiratória e colapso ,·ascular. ls.so Cpro,·avclmcntc de\ido a:
(B) Uma únka célula pode sintetizar anticorpo lgM e. então. tro- (A) Anafüaxia sistêmica
car para anticorpo lgA. (B} Doença do soro
(C} A cé.lula·tronco hematopoié.tica carrega o potencial genético (C) Uma rea,;ão de Arthus
1
para criar mais de l0 genes de imunoglobulinas. (D) Hipersensibilidade citotóxica
(D) Um li.nico linfócito Dpode produzir anticorpos com muitas di· 415. A "mudança de isotipo" das classes de imunoglobulinas por cClulas
fcrentes especificidades. mas uma ccluJa plasmática é específica. Denvolve:
405. CJa e C5a podem causar: (A) Inserção simultânea de genes VN adjacentes a cada gene Cw
(A) Li.se bacteriana (B} Inserção succssh•a de um gene V" adjacente a diferentes genes
(B) Permeabilidade \tascular e,,.
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 71S

( C) Ativação de genes homólogos no cromossomo 6. 424. O MELHOR método para demonstrar IgG na membrana basal glo-
(D) Mudança de tipos de cadeia leve (kappa e lambda) merular de uma secção de tecido de um rim é o:
416. Qual dos seguintes pares de genes está associado a um único cro- (A) Teste de precipitina
mossomo? (B) Teste de fixação de complemento
(A) Gene V para a cadeia e gene C para a cadeia (C) Teste de aglutinação
(B) Gene C para a cadeia e gene C para a cadeia (D) Teste de anticorpo fluorescente indireto
( C) Gene V para a cadeia e gene V para a cadeia pesada 425. Uma mulher apresentou febre alta, hipotensão e uma erupção
(D) Gene C para a cadeia e gene C para a cadeia macular difusa. Após todas as culturas não terem mostrado
417. Determinantes idiotípicos estão localizados dentro de: crescimento bacteriano, um diagnóstico de síndrome do cho-
que tóxico foi realizado. Considerando o mecanismo pelo qual
(A) Regiões hipervariáveis das cadeias pesada e leve
a toxina causa essa doença, qual das seguintes opções é MENOS
(B) Regiões constantes da cadeia leve
correta?
( C) Regiões constantes da cadeia pesada
(D) Região de dobradiça (A) A toxina não é processada no interior do macrófago.
(B) A toxina liga-se tanto a proteínas do MHC de classe II quanto
418. Uma resposta imune primária em um humano adulto requer apro-
ao receptor de células T.
ximadamente quanto tempo para produzir níveis detectáveis de (C) A toxina ativa muitas células T CD4-positivas, e grandes
anticorpos no sangue?
quantidades de interleucinas são liberadas.
(A) 12 horas (D) A toxina possui uma estrutura de subunidades A-B - a subu-
(B) Três dias nidade B liga-se a um receptor, e a subunidade A entra nas
( C) Uma semana células e ativa-as.
(D) Três semanas
426. Um paciente com um distúrbio do sistema nervoso central é trata-
419. As imunoglobulinas IgM e IgD de membrana presentes na superfí- do com o fármaco metildopa. Uma anemia hemolítica desenvolve-
cie de uma célula B individual: -se, e cura-se logo depois que o fármaco é retirado. Isso é provavel-
(A) Possuem cadeias pesadas idênticas, mas cadeias leves dis- mente um exemplo de:
tintas. (A) Hipersensibilidade atópica
(B) São idênticas, com exceção das suas regiões CH. (B) Hipersensibilidade citotóxica
( C) São idênticas, com exceção das suas regiões V H· (C) Hipersensibilidade por imunocomplexo
(D) Possuem regiões VHe V1 distintas. (D) Hipersensibilidade mediada por célula
420. Durante a maturação de um linfócito B, a primeira cadeia pesada 427. Qual das seguintes substâncias NÃO é liberada por células T auxi-
de imunoglobulina sintetizada é a: liares ativadas?
(A) Cadeia Mu (A) Interferon alfa
(B) Cadeia gamma (B) Interferon gamma
( C) Cadeia épsilon (C) Interleucina 2
(D) Cadeia alfa (D) Interleucina 4
421. Na resposta imune a um conjugado hapteno-proteína, a fim de se 428. Uma reação de hipersensibilidade tardia é caracterizada por:
obter anticorpos anti-hapteno, é essencial que: (A) Edema sem a presença de um infiltrado celular
(A) O hapteno seja reconhecido por células T auxiliares. (B) Um infiltrado composto por neutrófilos.
(B) A proteína seja reconhecida por células T auxiliares. (C) Um infiltrado composto por células T auxiliares e macró-
( C) A proteína seja reconhecida por células B. fagos.
(D) O hapteno seja reconhecido por células T supressoras. (D) Um infiltrado composto por eosinófilos.
422. Na determinação de níveis de insulina no soro por radioimunoen- 429. Duas linhagens consanguíneas de camundongos diferentes, A e
saio, qual das seguintes opções NÃO é necessária? B, são cruzadas para gerar uma linhagem híbrida Fi> AB. Se uma
(A) Insulina marcada com isótopo. grande dose de células do baço de um camundongo adulto A for
(B) Anticorpo anti-insulina produzido em cabras. injetada em um camundongo adulto AB, qual das seguintes opções
(C) Gamaglobulina anticabra produzida em coelhos. a seguir é MAIS provável de acontecer? (Uma explicação para a
(D) Anticorpo anti-insulina marcado com isótopo produzido em resposta desta questão é fornecida na página 720.)
cabras. (A) As células do baço serão destruídas.
423. Qual das seguintes sequências é apropriada para testar um paciente (B) As células do baço sobreviverão e não exercerão nenhum efei-
para anticorpos contra o vírus da Aids usando o procedimento de to no receptor.
ELISA? (O ensaio é realizado em uma placa de plástico com uma (C) As células do baço induzirão uma reação do enxerto versus
etapa de incubação e uma de lavagem depois de cada adição, exceto hospedeiro no receptor.
a final.) (D) As células do baço sobreviverão e induzirão tolerância a en-
xertos da linhagem A no receptor.
(A) Soro do paciente/substrato da enzima/antígeno do HIV/anti-
corpo contra HIV conjugado com enzima. 430. Esta questão é baseada nas mesmas linhagens de camundongos
(B) Antígeno do HIV/soro do paciente/anticorpo conjugado com descritas na questão anterior. Se células de baço de um adulto AB
enzima contra gamaglobulina humana/substrato da enzima. forem injetadas em um camundongo B recém-nascido, qual das
(C) Anticorpo conjugado com enzima contra gamaglobulina seguintes opções é MAIS provável de acontecer? (Uma explicação
humana/soro do paciente/antígeno do HIV/substrato da en- para a resposta desta questão é fornecida na página 720.)
zima. (A) As células do baço serão destruídas.
(D) Anticorpo conjugado com enzima contra HIV/antígeno do (B) As células do baço sobreviverão sem nenhum efeito para o
HIV/soro do paciente/substrato da enzima. receptor.
716 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

( C) As células do baço induzirão uma reação do enxerto versus (C) Regiões hipervariáveis das cadeias H
hospedeiro no receptor. (D) Regiões variáveis das cadeias H
(D) As células do baço sobreviverão e induzirão tolerância a en- (E) Regiões variáveis das cadeias L
xertos da linhagem A no receptor. 439. A classe de imunoglobulina presente em maior concentração no
431. Os antígenos secundários de histocompatibilidade nas células: sangue de um recém-nascido humano é:
(A) São detectados por uma reação com anticorpos e complemento. (A) IgG
(B) São controlados por diversos genes no complexo principal de (B) IgM
histocompatibilidade. (C) IgA
( C) Não são importantes em transplantes em seres humanos. (D) IgD
(D) Induzem reações que podem cumulativamente levar a uma (E) IgE
resposta forte de rejeição. 440. Indivíduos que possuem tipo de grupo sanguíneo AB:
432. Qual das opções seguintes NÃO é correta em relação aos antígenos (A) São Rh(D)-negativos.
do MHC de classe I? (B) São "receptores universais" de transfusões.
(A) Eles podem ser testados por um teste citotóxico que usa anti- (C) Possuem anticorpos anti-A e anti-B circulantes.
corpos e complemento. (D) Possuem o mesmo haplótipo.
(B) Uma de suas duas cadeias polipeptídicas é uma beta-2 micro-
441. Células T citotóxicas induzidas por uma infecção pelo vírus Ades-
globulina. truirão as células alvo:
( C) Eles são codificados por pelo menos três Zoei gênicos do com-
(A) Do mesmo hospedeiro infectadas com qualquer vírus.
plexo de histocompatibilidade principal.
(D) Eles são encontrados principalmente em células B, macrófa- (B) Infectadas pelo vírus A e idênticas nos Zoei do MHC de classe
gos e células T ativadas. I em relação às células T citotóxicas.
(C) Infectadas pelo vírus A e idênticas nos Zoei do MHC de classe
433. Um antígeno encontrado em concentração relativamente alta no
II em relação às células T citotóxicas.
plasma de fetos normais e em proporção alta em pacientes com (D) Infectadas por um vírus diferente e idênticas nos Zoei do
carcinoma de colo progressivo é: MHC de classe I com as células T citotóxicas.
(A) Antígeno viral (E) Infectadas por um vírus diferente e idênticas nos Zoei do
(B) Antígeno carcinoembrionário MHC de classe II com as células T citotóxicas.
(C) a-Fetoproteína
442. Células apresentadoras de antígenos que ativam células T auxi-
(D) Antígeno heterófilo
liares devem expressar qual das seguintes opções em sua super-
434. Um anticorpo direcionado contra determinantes idiotípicos de um fície?
anticorpo IgG humano reagiria com:
(A) IgE
(A) A porção Fc da IgG (B) Interferon gamma
(B) Um anticorpo IgM produzido pela mesma célula plasmática (C) Antígenos do MHC de classe I
que produziu a IgG. (D) Antígenos do MHC de classe II
( C) Todas as cadeias kappa humanas
443. Qual das opções seguintes NÃO apresenta C3b?
(D) Todas as cadeias gamma humanas
(A) CS convertase da via clássica
435. Qual das seguintes opções sobre os segmentos gênicos que se com-
(B) CS convertase da via alternativa
binam para fazer um gene de cadeia pesada NÃO é verdadeira?
(C) C3 convertase da via clássica
(A) Muitos segmentos da região V estão disponíveis. (D) C3 convertase da via alternativa
(B) Vários segmentos J e vários segmentos D estão disponíveis.
444. Qual das opções seguintes NÃO é verdadeira em relação à via alter-
(C) Segmentos V, D e J combinam-se para codificar o local de li-
nativa do complemento?
gação ao antígeno.
(D) Um segmento V e um segmento J são pré-selecionados por (A) Ela pode ser desencadeada por agentes infecciosos na ausên-
um antígeno para constituir a porção variável do gene. cia de anticorpos.
(B) Não requer Cl, C2 ou C4.
436. Quando imunocomplexos do soro são depositados na membrana
(C) Não pode ser iniciada a menos que fragmentos de C3b já es-
basal glomerular, dano à membrana é causado principalmente por:
tejam presentes.
(A) Interferon gamma (D) Ela tem a mesma sequência final de eventos da via clássica.
(B) Fagocitose
445. Na montagem de um teste de fixação do complemento para de-
(C) Células T citotóxicas
tectar anticorpos no soro de um paciente, os reagentes devem ser
(D) Enzimas liberadas por células polimorfonucleares.
adicionados em qual sequência? (Ag, antígeno; C, complemento;
437. Se um indivíduo for geneticamente incapaz de produzir cadeias J, EA, hemácias indicadoras cobertas por anticorpos.)
qual(is) imunoglobulina(s) será(ão) afetada(s)?
(A) Ag + EA + C/espera/ + soro do paciente
(A) IgG (B) C + soro do paciente + EA/ espera/ + Ag
(B) IgM (C) Ag + soro do paciente + EA/ espera/ + C
(C) IgA (D) Ag + soro do paciente + C/ espera/ + EA
(D) IgG e IgM
446. Proteínas de duas amostras de sangue animal, A e B, foram testa-
(E) IgM eigA
das pelo teste de difusão dupla (Ouchterlony) em ágar contra an-
438. O local de ligação do anticorpo é formado principalmente por: ticorpos para albumina bovina. Qual(is) amostra(s) contém(êm)
(A) Regiões constantes das cadeias H e L sangue de cavalo? (Uma explicação para a resposta desta questão é
(B) Regiões hipervariáveis das cadeias H e L fornecida na página 721.)
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 717

453. A doença hemolítica do recém-nascido causada por incompatibi-


lidade do grupo sanguíneo Rh requer que os anticorpos maternos
entrem na corrente sanguínea do feto. Portanto, o mediador dessa
Albumina Albumina doença é:
bovina de cavalo (A) Anticorpo IgE
(B) Anticorpo IgG
(C) Anticorpo IgM
(D) Anticorpo IgA
antibovina
454. Uma mulher Rh-negativa casada com um homem heterozigoto
(A) Amostra A Rh-positivo possui três filhos. A probabilidade de todos os três fi-
(B) Amostra B lhos serem Rh-positivos é:
( C) Ambas as amostras (A) 1:2
(D) Nenhuma das amostras (B) 1:4
447. O complemento lisa as células por meio de: (C) 1:8
(D) Zero
(A) Digestão enzimática da membrana celular
(B) Ativação de adenilato ciclase 455. Qual das seguintes opções MELHOR explica a relação entre infla-
(C) Inserção de proteínas do complemento no interior da mem- mação do coração (cardite) e infecção com estreptococos hemolíti-
brana celular cos do grupo A?
(D) Inibição do fator-2 de elongação (A) Antígenos estreptocócicos induzem anticorpos que possuem
448. A rejeição de enxertos e tumores é mediada principalmente por: reatividade cruzada com o tecido cardíaco.
(B) Os estreptococos são ativadores policlonais de células B.
(A) Anticorpos não fixadores de complemento
(C) Antígenos dos estreptococos ligam-se à IgE da superfície do
(B) Células fagocíticas
tecido cardíaco e histamina é liberada.
(C) Células T auxiliares
(D) Estreptococos são ingeridos por neutrófilos que liberam pro-
(D) Células T citotóxicas
teases que danificam o tecido cardíaco.
449. Qual das seguintes propriedades dos anticorpos NÃO é dependen-
456. O seu paciente adoeceu há 1O dias com uma enfermidade de ori-
te da estrutura da região constante da cadeia pesada?
gem viral. Exame de laboratório revela que os anticorpos dopa-
(A) Capacidade de cruzar a placenta ciente contra o vírus têm uma razão alta de IgM para IgG. Qual é
(B) Isotipo (classe) sua conclusão?
(C) Habilidade em fixar complemento
(A) É improvável que o paciente tenha encontrado o vírus antes.
(D) Afinidade pelo antígeno
(B) O paciente apresenta predisposição a reações de hipersensibi-
450. Em qual das seguintes situações uma reação do enxerto versus hos- lidade mediadas por IgE.
pedeiro é MAIS provável de acontecer? (Linhagens de camundon- (C) A informação fornecida é irrelevante em relação à exposição
gos A e B são altamente consanguíneas; AB é um híbrido F1 entre
antigênica prévia.
as linhagens A e B.)
(D) É provável que o paciente possua uma doença autoimune.
(A) Células de baço de um recém-nascido da linhagem A injeta-
457. Se você mede a capacidade de células T citotóxicas de uma pessoa
das em um adulto da linhagem B. HLA-B27 matarem células-alvo infectadas com um vírus X, qual
(B) Células do baço de um adulto da linhagem A irradiadas por
das seguintes opções é CORRETA?
raio X injetadas em um adulto da linhagem B.
( C) Células do baço de um adulto da linhagem A injetadas em um (A) Qualquer célula-alvo infectada pelo vírus X será morta.
adulto da linhagem AB irradiado por raio X. (B) Apenas células infectadas pelo vírus X do tipo HLA-B27 serão
(D) Células do baço de um adulto da linhagem AB injetadas em mortas.
um recém-nascido da linhagem A. (C) Qualquer célula HLA-B27 será morta.
(D) Nenhuma célula HLA-B27 será morta.
451. Em uma cultura mista de linfócitos, linfócitos da pessoa X, que é
homozigota para o alelo HLA-Dw7, são irradiados e, então, cul- 458. Você tem um paciente que produz autoanticorpos contra suas pró-
tivados com linfócitos da pessoa Z. Descobre-se que a síntese de prias hemácias, levando à hemólise. Qual dos seguintes mecanis-
DNA não é estimulada. A conclusão apropriada é que: mos é MAIS provável para explicar a hemólise?
(A) A pessoa Z é homozigota para HLA-Dw7. (A) Perforinas derivadas de células T citotóxicas lisam as hemácias.
(B) A pessoa Zé homozigota ou heterozigota para HLA-Dw7. (B) Neutrófilos liberam proteases que lisam as hemácias.
(C) A pessoa Zé heterozigota para HLA-Dw7. (C) Interleucina 2 liga-se ao seu receptor em hemácias, o que re-
(D) A pessoa Z não carreia o alelo HLA-Dw7. sulta na lise das hemácias.
(D) O complemento é ativado, e complexos de ataque à membra-
452. Um paciente testado pela via cutânea com derivado proteico puri-
ficado (PPD) para determinar exposição prévia a Mycobacterium na lisam as hemácias.
tuberculosis desenvolve enduração no local do teste cutâneo 48 459. O seu paciente é uma criança que não possui células T ou B detec-
horas depois. Histologicamente, o local da reação provavelmente táveis. Esta imunodeficiência é provavelmente o resultado de um
mostrará: defeito:
(A) Eosinófilos (A) Notimo
(B) Neutrófilos (B) No complexo de ataque a membrana do complemento
(C) Células T auxiliares e macrófagos (C) Na interação célula T-células B
(D) Células B (D) Nas células-tronco originadas na medula óssea
718 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

460. O papel do macrófago durante uma resposta mediada por anticor- (C) Remoção de células T maduras do enxerto
pos é: (D) Remoção de células pré-B do enxerto
(A) Produzir anticorpos. 468. Em relação às células Th-1 e Th-2, qual das opções seguintes é a
(B) Lisar células-alvo infectadas por vírus. MENOS precisa?
( C) Ativar células T citotóxicas. (A) As células Th-1 produzem interferon gamma e promovem
(D) Processar antígenos e apresentá-los. imunidade celular.
461. A base estrutural da especificidade antigênica dos grupos sanguí- (B) As células Th-2 produzem interleucina 4 e 5 e promovem
neos A e B é: imunidade mediada por anticorpos.
(A) Um único resíduo de açúcar terminal (C) Tanto células Th-1 quanto Th-2 possuem proteínas CD3 e
(B) Um único aminoácido terminal CD4 em sua membrana celular externa.
(C) Múltiplas diferenças na porção carboidrato (D) Antes que células Th virgens se diferenciem em células Th-1
(D) Múltiplas diferenças na porção proteica ou Th-2, elas são duplo-positivas (i.e., elas produzem tanto
interferon gamma quanto interleucina 4).
462. O complemento pode melhorar a fagocitose devido à presença de
receptores nos macrófagos e neutrófilos para: 469. As seguintes opções em relação às regiões variáveis de cadeias pe-
sadas e as regiões variáveis de cadeias leves em certa molécula de
(A) Fator D
anticorpo estão corretas, EXCETO:
(B) C3b
(C) C6 (A) Possuem a mesma sequência de aminoácidos.
(D) C9 (B) Estas definem a especificidade para o antígeno.
(C) São codificadas em diferentes cromossomos.
463. A principal vantagem da imunização passiva em relação à imuniza-
(D) Contêm as regiões hipervariáveis.
ção ativa é:
470. As seguintes opções em relação às proteínas do MHC de classe II
(A) Esta pode ser administrada por via oral.
estão corretas, EXCETO:
(B) Esta induz a produção de anticorpos mais rapidamente.
( C) Os anticorpos persistem por um período maior de tempo. (A) Elas são encontradas na superfície de células B e T.
(D) Apresenta principalmente IgM. (B) Elas possuem um grau elevado de polimorfismo.
(C) Elas estão envolvidas na apresentação de antígenos por ma-
464. No dia 15 de janeiro, uma paciente desenvolveu uma doença que
crófagos.
sugeria influenza, que durou por uma semana. No dia 20 de fe-
(D) Elas possuem um local de ligação para proteínas CD4.
vereiro, ela teve uma doença similar. Ela não recebeu imunização
para influenza durante esse período. Seu título de inibição da he- 471. Qual das seguintes opções em relação aos alótipos de imunoglobu-
maglutinação contra vírus influenza A foi de 10 em 18 de janeiro, linas está CORRETA?
40 em 30 de janeiro, e 320 em 20 de fevereiro. Qual das seguintes (A) Os alótipos são encontrados apenas nas cadeias pesadas.
opções é a interpretação MAIS apropriada? (B) Os alótipos são determinados por genes do MHC de classe 1.
(A) A paciente estava doente com influenza A no dia 15 de janeiro. (C) Os alótipos são restritos às regiões variáveis.
(B) A paciente estava doente com influenza A no dia 20 de fevereiro. (D) Os alótipos são devidos ao polimorfismo genético dentro de
, .
(C) A paciente não estava infectada pelo vírus influenza. uma espec1e.
(D) A paciente possui uma doença autoimune. 472. As seguintes opções em relação à tolerência imunológica estão cor-
465. Um indivíduo que é heterozigoto para alótipos Gm contém duas retas, EXCETO:
formas alélicas de IgG no soro, mas linfócitos individuais produ- (A) A tolerância não é antígeno-específica (i.e., paralisia das célu-
zem apenas uma das duas formas. Esse fenômeno, conhecido como las imunes resulta em incapacidade de produzir uma resposta
"exclusão alélicá: é consistente com: contra muitos antígenos).
(A) Um rearranjo do gene da cadeia pesada em apenas um cro- (B) A tolerância é mais facilmente induzida em células T do que
mossomo no linfócito. em células B.
(B) Rearranjos de genes da cadeia pesada em ambos os cromosso- (C) A tolerância é mais facilmente induzida em neonatos do que
mos no linfócito. em indivíduos adultos.
(C) Um rearranjo do gene da cadeia leve em apenas um cromos- (D) A tolerância é mais facilmente induzida por moléculas sim-
somo no linfócito. ples do que por moléculas complexas.
(D) Rearranjos de genes da cadeia leve em ambos os cromosso- 473. As seguintes opções em relação à uma célula de hibridoma estão
mos no linfócito. corretas, EXCETO:
466. As seguintes opções em relação às proteínas do MHC de classe I (A) O componente celular do baço fornece a capacidade de pro-
estão corretas, EXCETO: duzir anticorpos.
(A) São proteínas de superfície celular em praticamente todas as (B) O componente celular do mieloma fornece a capacidade de
células. crescer indefinidamente.
(B) São elementos de reconhecimento para células T citotóxicas. (C) O anticorpo produzido por uma célula de hibridoma é IgM,
( C) São expressas de forma codominante. porque a troca de cadeias pesadas não ocorre.
(D) Elas são importantes na resposta do teste cutâneo para Myco- (D) O anticorpo produzido por uma célula de hibridoma é homo-
bacterium tuberculosis. gêneo (i.e., ele é direcionado contra um único epítopo).
467. Qual das seguintes opções é o MELHOR método para reduzir o 474. As seguintes opções em relação aos haptenos estão corretas,
efeito da doença do enxerto versus hospedeiro em um receptor de EXCETO:
medula óssea? (A) Um hapteno pode se combinar (se ligar) a um anticorpo.
(A) Compatibilizar os componentes do complemento do doador (B) Um hapteno não induz um anticorpo sozinho: ele precisa es-
e do receptor. tar ligado a uma proteína carreadora para ser capaz de indu-
(B) Administração de interferon alfa zir anticorpo.
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 719

(C) Em anafilaxia induzida por penicilina e em hera venenosa, os 487. Indivíduos que apresentam este tipo são chamados de "doadores
. . ,,
alérgenos são haptenos. universais .
(D) Os haptenos precisam ser processados por células CDS+ para 488. Indivíduos que apresentam este tipo são chamados de "receptores
se tornarem imunogênicos. . . ,,
universais .

Respostas (Questões 387 a 474) Questões 489 a 494


387. (B) 405. (B) 423. (B) 441. (B) 459. (D) (A) Região variável da cadeia leve
388. (B) 406. (C) 424. (D) 442. (D) 460. (D) (B) Região variável da cadeia pesada
389. (A) 407. (C) 425. (D) 443. (C) 461. (A) (C) Regiões variáveis das cadeias leve e pesada
390. (D) 408. (C) 426. (B) 444. (C) 462. (B) (D) Região constante da cadeia pesada
391. (C) 409. (B) 427. (A) 445. (D) 463. (B) (E) Regiões constantes das cadeias leve e pesada
392. (B) 410. (D) 428. (C) 446. (B) 464. (A) 489. Determina as classes de imunoglobulinas.
393. (C) 411. (D) 429. (C) 447. (C) 465. (A)
490. Determina os alótipos.
394. (C) 412. (B) 430. (D) 448. (D) 466. (D)
395. (A) 413. (C) 431. (D) 449. (D) 467. (C) 491. Determina os idiotipos.
396. (B) 414. (A) 432. (D) 450. (C) 468. (D) 492. Ligação de IgG a macrófagos.
397. (C) 415. (B) 433. (B) 451. (B) 469. (A) 493. Fixação de complemento por IgG.
398. (D) 416. (D) 434. (B) 452. (C) 470. (A)
(C) (A) (D) (B) (D) 494. Local de ligação ao antígeno.
399. 417. 435. 453. 471.
400. (B) 418. (C) 436. (D) 454. (C) 472. (A) Questões 495 a 498
401. (C) 419. (B) 437. (E) 455. (A) 473. (C)
A placa de imunodifusão dupla a seguir contém anticorpos preparados
402. (A) 420. (A) 438. (B) 456. (A) 474. (D)
contra soro humano total no poço do centro. Identifique os conteúdos de
403. (B) 421. (B) 439. (A) 457. (B)
cada poço periférico da lista a seguir (cada poço deve ser usado uma vez).
404. (D) 422. (D) 440. (B) 458. (D)
(Uma explicação para a resposta desta questão é fornecida na página 721.)

INSTRUÇÕES (Questões 475 a 535): Selecione uma úNICA resposta


que é MAIS corretamente associada a cada um dos itens numerados.
Cada opção marcada por letra pode ser selecionada uma vez, mais de
AO
uma vez, ou nenhuma vez.
Questões 475 a 480 B D
(A) Células T o o
(B) Células B
( C) Macrófagos
(D) Células B e macrófagos co
(E) Células T, células B e macrófagos
475. Principal fonte de interleucina 1
476. Afetado por interleucina 1 495. Soro humano total

477. Principal fonte de interleucina 2 496. IgG humana


497. IgG de babuíno
478. Expressa marcadores do MHC de classe 1.
498. Transferrina humana
479. Expressa marcadores do MHC de classe II.
480. Expressa imunoglobulinas de superfície. Questões 499 a 501
Questões 481 a 484 (A) Hipersensibilidade imediata
(B) Hipersensibilidade citotóxica
(A) Resposta primária de anticorpos
(C) Hipersensibilidade por imunocomplexo
(B) Resposta secundária de anticorpos
(D) Hipersensibilidade tardia
481. Aparece mais rapidamente e persiste por um período maior de
499. Deposição irregular de IgG ao longo da membrana basal glomerular
tempo.
500. Envolve mastócitos e basófilos.
482. Relativamente mais rica em IgG
501. Envolve macrófagos e células T auxiliares.
483. Relativamente mais rica em IgM
484. Normalmente leva de sete a 10 dias para o aparecimento dos anti- Questões 502 a 505
corpos. (A) IgM
Questões 485 a 488 (B) IgG
(C) IgA
(A) Grupo sanguíneo A
(D) IgE
(B) Grupo sanguíneo O
(C) Grupos sanguíneos A e O 502. Cruza a placenta.
(D) Grupo sanguíneo AB 503. Pode conter uma cadeia polipeptídica não sintetizada por um lin-
485. Indivíduos que apresentam este tipo possuem anticorpos anti-A fócito B.
circulantes. 504. Encontrada no leite de mulheres lactantes.
486. Indivíduos que apresentam este tipo possuem anticorpos anti-B 505. Liga-se firmemente a mastócitos e dispara o mecanismo de anafi-
circulantes. laxia.
720 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

Questões 506 a 509 524. Contém um local de ligação ao complemento.


(A) Aglutinação 525. É cristalizável.
(B) Teste de precipitina
Questões 526 a 530
( C) Imunofluorescência
(D) Imunoensaio enzimático (A) Imunodeficiência combinada grave (SCID)
(B) Hipogamaglobulinemia ligada ao X
506. Concentração de IgG no soro
(C) Aplasia do timo
507. IgM de superfície em células presentes em um esfregaço de medula (D) Doença granulomatosa crônica
,
ossea. (E) Angiedema hereditário
508. Hormônio de crescimento no soro 526. Causada por um defeito na capacidade dos neutrófilos de matar
. .
509. Antígeno do grupo sanguíneo A em hemácias m1crorgan1smos.

Questões 510 a 513 527. Causada por um defeito de desenvolvimento que resulta em uma
perda profunda de células T.
(A) IgA
(B) IgE 528. Causada por uma deficiência em um inibidor do componente Cl
(C) IgG do complemento.
(D) IgM 529. Causada por uma deficiência acentuada de células B.
510. Presente em altas concentrações no soro. 530. Causada por uma ausência virtual de células B e T.
511. Presente em altas concentrações em secreções. Questões 531 a 535
512. Presente em baixas concentrações no soro. (A) Lúpus eritematoso sistêmico
513. Contém 10 cadeias pesadas e 10 cadeias leves. (B) Artrite reumatoide
(C) Febre reumática
Questões 514 a 517 (D) Doença de Graves
Neste teste de dupla difusão (Ouchterlony), o poço do centro contém an- (E) Miastenia grave
ticorpos contra soro humano total. Cada um dos poços periféricos (nu- 531. Associada a anticorpos para o receptor do hormônio estimulante
merados) contém uma das seguintes proteínas: da tireoide (TSH).
532. Associada a anticorpos para IgG.
10 533. Associada a anticorpos para o receptor da acetilcolina.

2 r
534. Associada a anticorpos para DNA.
o o o 535. Associada a anticorpos para estreptococos.
4
.
Respostas (Questões 475 a 535)
o 475. (C) 488. (D) 501. (D) 514. (B) 527. (C)
3
476. (A) 489. (D) 502. (B) 515. (A)
528. (E)
477. (A) 490. (E) 503. (C) 516. (D)
(A) Albumina de soro humano em baixa concentração 478. (E) 491. (C) 504. (C) 517. (C) 529. (B)
(B) Albumina de soro humano em alta concentração 479. (D) 492. (D) 505. (D) 518. (B)
(C) Transferrina de soro humano 530. (A)
480. (B) 493. (D) 506. (D) 519. (A)
(D) Albumina de soro ovino 481. (B) 494. (C) 507. (C) 520. (B) 531. (D)
514. Qual proteína está presente no poço nº 1? 482. (B) 495. (D) 508. (D) 521. (A)
532. (B)
483. (A) 496. (C) 509. (A) 522. (A)
515. Qual proteína está presente no poço nº 2?
484. (A) 497. (A) 510. (C) 523. (A) 533. (E)
516. Qual proteína está presente no poço nº 3? 485. (B) 498. (B) 511. (A) 524. (B)
534. (A)
517. Qual proteína está presente no poço nº 4? (Uma explicação para a 486. (C) 499. (C) 512. (B) 525. (B)
resposta desta questão é fornecida na página 721.) 487. (B) 500. (A) 513. (D) 526. (D) 535. (C)
Questões 518 a 521
(A) Proteínas do MHC de classe I
(B) Proteínas do MHC de classe II Explicação para a Questão 429: células do baço do doador adulto A
518. Envolvidas na apresentação de antígenos a células CD4-positivas. irão reconhecer o antígeno B das células do receptor como estranhas.
Células do baço do doador adulto irão conter células CD4 e CDS ma-
519. Envolvidas na apresentação de antígenos a células CDS-positivas.
duras que irão atacar as células do receptor, causando uma reação do
520. Envolvidas nas respostas de anticorpos a antígenos T-dependentes. enxerto versus hospedeiro; portanto, a resposta C é a correta. Como o
521. Envolvidas no reconhecimento da célula-alvo por células T citotó- receptor é tolerante ao antígeno A, as células do baço do doador A não
xicas. serão destruídas; portanto, a resposta A é incorreta. A resposta B é in-
correta porque apesar de as células do doador sobreviverem, elas terão
Questões 522 a 525 efeito no receptor. A resposta D é incorreta porque o receptor já é tole-
(A) Fragmento Fab de IgG rante ao antígeno A.
(B) Fragmento Fc de IgG
Explicação para a Questão 430: como as células do baço do doador
522. Contém um local de combinação ao antígeno. AB não encontrarão nenhum antígeno estranho no receptor, nenhuma
523. Contém regiões hipervariáveis. reação do enxerto versus hospedeiro irá ocorrer; portanto, a resposta C
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 721

é incorreta. As céJulas imunes do camundongo recém-nascido não têm mano total porque existem mli.ltiplas linhas representando algumas das
capacidade de matar as células do doador; portanto, a resposta A é ln-cor- muitas proteínas do soro humano. Existe uma linha de identidade entre
reta. A resposta O é mais corrcta do que a resposta B porque as céluJas o poço C e uma proteína do soro humano total e uma linha de idcntida·
do doador ir-lo sobrcvi\-cr e induzir tolerância ao antígeno A no receptor de parcial entre a mesma proteína e o poço A. lsso indica que o poço C
recém-nascido. contém lgG humana e o poço A contém lgG de babuíno. O conceito de
identidade parcia1 foi e.xplicado anteriormente. na discussão da questão
Explic.ação para a Questão 446: existe uma linha de identidade entre
a amostra A e a albumin a bo,•ina; portanto. a amostra A é albumina 446. Hã uma linha de não identidade entre os poços B e C: portanto, o
bovina Existe uma linha de identidade entre a amostra B e a albumina poço B contém transfcrrin a humana, uma protcina imunologicamcnte
cquina; portanto, a amostra B é albumina cquina. A resposta da ques- distinta da lgG humana.
tão é, portanto. B. Obscr\'c que hâ uma junção formada entre os poços Explicação para as Questõcs514a 5 17: existe uma linha deidentida·
contendo a amosua A e albumina cquin a e entre os poços contendo a de entre os poços I e 2; portanto, c-1es contêm albumina sérica humana
amostra B e aJbumina bovin a. Essa junção indica identidade patcia1 en- (HSA). Obscr\'c que a Hnha do imunopredpitado é muito próxima do
tre as duas protdnas. Identidade parcia1 significa que existem epítopos poço 2. Essa linha não se formaria se o poço 2 possuísse alta concen·
compartilhados entre as duas albuminas. mas que, como são de espécies tração de HSA, porque seria uma zona de excesso de antígeno e a linha
diferentes, também existem cpftopos exdusi\•os para cada protcina. A só se forma cm uma zona de equivalência. Portanto, o poço 2 contém
jun ção é formada pela interação de um subconjunto de anticorpos do baixa concentraçio e o poço l contém alta concentração de HSA. Exis·
soro antibovino com cpitopos cxdusiYos na albumina bovina. As outras
te uma linha de identidade parcial e ntre os poços 2 e 3: portanto, o
linhas são formadas pela interação de um subconjunto de anticorpos do poço 3 contém albumina sérica de O\•dhas (SSA). Existe uma Hnha de
soro antibo\ino com os epítopos compartilhados pelas duas albuminas.
não identidade entre os poços l e 4 e entre os poços 3 e 4; portanto, o
Explicação para as Questões 495 a 498: o poço central contem anticor· poço 4 contem transforrina humana. que é imunologicamente distin ta
pos contra soro humano total; portanto, o poço O deve conter soro hu· deHSA eSSA.

QUESTÕES ADICIONAIS
INSTRUÇÕES (Questões 536 a 593): Cada conjunto de questões de (D) Toxina co1érka
correspondência nesta scçio consiste cm uma lista de opções marcadas (E) Coagulasc
por letras seguidas de \'lirios itens numerados. Para cada item numerado, (I·') Toxina botulinica
selecione uma ÚNICA opç-lo marcada pela 1ctra que estâ MAIS associada (G} Toxina alfa de C. ~rfringens
com de. Cada opção marcada por letra pode ser selecionada uma vez, (H} Protdna M
mais de uma vez. ou nenhuma vez, (1) Endotoxina
(A) <',ap,ula O) Verotoxina
{B} Espaço pcriplasmático 541. B!oqueia a liberação de acctilcolina.
(C} Pcptidcoglicano S42. Seu componente lipídico causa febre e choque por meio da induç-lo
(D) Lipfdco A do fator de necrose tumoraJ (TNF).
(E} Subunidade ribos.soma1 30.'>
543. Causa febre e choque por meio da ligação ao receptor de célula T.
(F} Protcina G
(G) Pilus S44. Inibe a sintcsc proteica pela ribosilaçio do AOP do fator-2 de don·
(H) Enzima de ribosilação do ADP gaçâo.
(1) Mesos.soma 545. Aumenta o A~1P d dico pela ADP-ribosi1ação de uma proteína G.
(1) Hagdo (A) Ampicilina
(K) Transposon (B) Nafcrnna
536. f. o loca) de ação da lisozima. (C) Clindamicina
537. faz.a mediação da aderência da bactéria às membranas mucosas. (D) Gentamkina
(E) Tctracidina
538. f. o componente tóxico da endotoxina.
(F) Anfotericina B
(A) Pck (G) Ciprofloxacina
(B) Colo (H) Rifampina
(C} Nariz (1) Sulfonamida
(D) listõmago 0) Eritromicina
(E) Vagina
5-46. Inibe síntese proteica bloqueando a formação do complexo de ini·
{F} Boca
dação para que nenhum polissomo se forme.
(G} Terço externo da urctra
(H) Sulco scng;val 547. lnibcaONA·girasc.
(1) farinsc 548. Inibe a síntese de âcido fóHco; análogo do ácido paraminobenwico.
539. Localização anatómica onde Bacteroides fragilis é mais comumente S49. Inibe a .síntese de pcptidcoglkano; resistente à '3-lactamasc.
encontrado. 550. Inibe a R:',\A+poHmerasc.
540. Localização anatómica onde ,tctinomyr-ts i.sraelii é mais comumen· (A} Streptococms pneumoniae
te encontrado. (8) Strtptococms pyoget1es
(A) Toxina da slndrome do choque t6x:ico (C) Haemophilus hifluenzae
{B} Toxina tetânica (D) Salmonefla typhi
{C} Toxina difterica (E) Stap}1ylocor-cus aure.s,s
722 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

(F) Enterococcus f aecalis 568. Patógeno respiratório que não possui parede celular.
(G) Clostridium tetani (A) Vírus influenza
(H) Bordetella pertussis (B) Adenovírus
(I) Escherichia coli (C) Vírus da hepatite A
(J) Streptococcus agalactiae (D) Vírus da hepatite B
(K) Staphylococcus epidermidis (E) Herpes-vírus simples
(L) Streptococcus mutans (F) Vírus do sarampo
551. A vacina contém um único sorotipo de um polissacarídeo capsular (G) Vírus da imunodeficiência humana
associado a um carreador proteico. (H) Vírus da raiva
552. O imunógeno na vacina é um toxoide. (I) Rotavírus
553. Causa glomerulonefrite aguda; é 13-hemolítico. 569. Vírus não envelopados com genoma de RNA fita simples, polarida-
de positiva.
554. Causa infecções do trato urinário; cresce em NaCl 6,5%.
570. Vírus envelopados que apresentam duas fitas de RNA idênticas de
555. Causa meningite neonatal; é resistente à bacitracina.
polaridade positiva.
556. Causa meningite em adultos; é a-hemolítico e sensível à opto-
571. Vírus envelopados que apresentam DNA dupla-fita e DNA-poli-
qwna. , .
merase no v1non.
557. Causa envenenamento alimentar; é coagulase-positivo.
572. Vírus envelopados com genoma de RNA segmentado, fita simples,
(A) Escherichia coli polaridade negativa.
(B) Shigella sonnei
(C) 573. Vírus não envelopados com genoma de RNA segmentado, dupla-
Salmonella typhi
(D) -fita.
Salmonella enteritidis
(E) Proteus mirabilis (A) Herpes-vírus simples 1
(F) Pseudomonas aeruginosa (B) Vírus da raiva
(G) Vibrio cholerae (C) Vírus varicela-zóster
(H) Campylobacter jejuni (D) Vírus do sarampo
(I) Helicobacter pylori (E) Vírus Epstein-Barr
(J) Bacteroides fragilis (F) Vírus influenza
558. Causa gastrite e úlcera péptica; produz urease. (G) Vírus da rubéola
(H) Herpes-vírus simples 2
559. Causa diarreia sanguinolenta; não fermenta lactose e não produz
(I) Vírus da caxumba
H 2 S.
(J) Citomegalovírus
560. Causa peritonite; é um anaeróbio obrigatório. (K) Vírus parainfluenza
561. Causa infecções de feridas com pus de coloração azul-esverdeada; (L) Vírus sincicial respiratório
é oxidase- positivo. 574. Principal causa de malformações congênitas; sem vacina disponível.
562. Bacilo em forma de vírgula; causa diarreia aquosa de alto volume. 575. Causa uma erupção vesicular dolorosa ao longo do curso do nervo
(A) Legionella pneumophila torácico.
(B) Yersinia pestis 576. Causa encefalite; vacina de microrganismo morto disponível.
(C) Haemophilus influenzae
577. Causa faringite, linfadenopatia e um teste heterófilo positivo.
(D) Corynebacterium diphtheriae
(E) Pasteurella multocida 578. Causa retinite e pneumonia em pacientes deficientes em células T
(F) Bordetella pertussis auxiliares.
(G) Brucella melitensis 579. Causa encefalite, especialmente no lobo temporal.
(H) Listeria monocytogenes
580. Causa pneumonia principalmente em crianças; induz células gi-
(I) Clostridium perfringens
gantes.
(J) Neisseria gonorrhoeae
581. Causa orquite que pode resultar em esterilidade.
563. Bacilo gram-positivo formador de esporos que causa mionecrose.
(A) Papilomavírus humano
564. Bacilo gram-negativo transmitido por mordedura de gato.
(B) Vírus da hepatite A
565. Bacilo gram-negativo que causa tosse e linfocitose. (C) Rotavírus
(A) Mycobacterium tuberculosis (D) Adenovírus
(B) Borrelia burgdorferi (E) Vírus da hepatite delta (HDV)
(C) Nocardia asteroides (F) Parvovírus B19
(D) Treponema pallidum (G) Vírus da imunodeficiência humana
(E) Coxiella burnetii (H) Vírus da hepatite B
(F) Mycoplasma pneumoniae (I) Vírus Sin Nombre (Hantavírus)
(G) Mycobacterium leprae (J) Vírus linfotrófico de células T humanas
(H) Chlamydia trachomatis (K) Príon
(I) Rickettsia rickettsii (L) Vírus da hepatite C
(J) Leptospira interrogans 582. Causa mais importante de diarreia em crianças
566. Espiroqueta que não possui um reservatório animal. 583. Uma vacina contendo proteínas virais purificadas encontra-se dis-
567. Parasita intracelular obrigatório que forma corpos elementares. ponível.
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 723

584. Vírus defectivo com um genoma de RNA (D) Taenia solium


(A) Coccidioides immitis (E) Necator americanus
(B) Cryptococcus neoformans (F) Enterobius vermicularis
(C) Blastomyces dermatitidis (G) Schistosoma haematobium
(D) Sporothrix schenckii (H) Wuchereria bancrofti
(E) Aspergillus fumigatus (I) Trichinella spiralis
(F) Candida albicans (J) Taenia saginata
(G) Histoplasma capsulatum 591. A infecção predispõe ao carcinoma de bexiga.
(H) Espécies de Mucor 592. A ingestão de ovos pode causar cisticercose.
(I) Microsporum canis
593. Adquirida pela penetração de larvas através do pé; causa anemia.
585. Fungo dimórfico que penetra no corpo através de feridas causadas
por perfurações na pele. Respostas (Questões 536 a 593)
586. Bolor não septado que invade tecidos, especialmente em pacientes 536. (C) 556. (A) 576. (B)
acidóticos. 537. (G) 557. (E) 577. (E)
587. Leveduras que formam pseudo-hifas quando invadem tecidos. 538. (D) 558. (I) 578. (J)
(A) Giardia lamblia 539. (B) 559. (B) 579. (A)
(B) Plasmodium vivax 540. (H) 560. (J) 580. (L)
(C) Leishmania donovani 541. (F) 561. (F) 581. (I)
(D) Entamoeba histolytica 542. (I) 562. (G) 582. (C)
(E) Toxoplasma gondii 543. (A) 563. (I) 583. (H)
(F) Trypanosoma cruzi 544. (C) 564. (E) 584. (E)
(G) Pneumocystis carinii 545. (D) 565. (F) 585. (D)
(H) Plasmodium falciparum 546. (D) 566. (D) 586. (H)
(I) Naegleria fowleri 547. (G) 567. (H) 587. (F)
(J) Trichomonas vaginalis 548. (I) 568. (F) 588. (I)
549. (B) 569. (C) 589. (F)
588. Adquirida durante a natação; causa meningite. 550. (H) 570. (G) 590. (C)
589. Transmitido por triatomíneos, invade o músculo cardíaco. 551. (C) 571. (D) 591. (G)
590. Amastigotas encontradas no interior de macrófagos. 552. (G) 572. (A) 592. (D)
553. (B) 573. (I) 593. (E)
(A) Echinococcus granulosus
554. (F) 574. (J)
(B) Clonorchis sinensis
555. (J) 575. (C)
(C) Strongyloides stercoralis

QUESTÕES DE CASOS CLÍNICOS


INSTRUÇÕES (Questões 594 a 654): Selecione a resposta MAIS ADE- CASO 2. Seu paciente é um homem de 70 anos com uma longa história de
QUADA para cada questão. tabagismo que agora tem febre e tosse, produzindo escarro esverdeado. Você
CASO 1. Sua paciente é uma mulher de 20 anos de idade que apresentou suspeita de pneumonia, e uma radiografia do tórax confirma sua suspeita.
aparecimento súbito de febre a 40ºC e uma cefaleia grave. Exame físi- 596. Se uma coloração de Gram do catarro revelar bacilos gram-negati-
co revela rigidez da nuca. Você suspeita de meningite e faz uma punção vos muito pequenos e não houver crescimento em ágar-sangue, mas
lombar. Coloração de Gram do líquido espinal revela muitos neutrófilos colônias crescerem em ágar-chocolate suplementado com NAD e
e muitos diplococos gram-negativos. heme, qual das seguintes bactérias seria a causa MAIS provável?
594. Das bactérias seguintes, qual delas é a MAIS provável de ser a causa (A) Chlamydia pneumoniae
da doença? (B) Legionella pneumophila
(A) Haemophilus influenzae (C) Mycoplasma pneumoniae
(B) Neisseria meningitidis (D) Haemophilus influenzae
(C) Streptococcus pneumoniae CASO 3. Sua paciente é uma mulher de 50 anos que voltou ontem de
(D) Pseudomonas aeruginosa férias do Peru, onde estava havendo uma epidemia de cólera. Ela agora
595. Um histórico adicional revelou que a mulher apresentou previa- apresenta vários episódios de diarreia.
mente várias infecções graves desencadeadas por este organismo. 597. Das opções seguintes, qual delas é a MAIS compatível com o cólera?
Com base nisso, qual das seguintes opções é o fator de predisposi- (A) Diarreia aquosa sem sangue, sem polis nas fezes e crescimen-
ção MAIS provável? to de bacilos gram-negativos curvados na cultura do sangue.
(A) Ela é soropositiva para HIV. (B) Diarreia aquosa sem sangue, sem polis nas fezes e nenhum
(B) Ela é deficiente em células T CDS-positivas. organismo na cultura do sangue.
(C) Ela é deficiente em um dos componentes do complemento (C) Diarreia com sangue, polis nas fezes e crescimento de bacilos
que agem tardiamente. gram-negativos curvados na cultura do sangue.
(D) Ela é deficiente em apresentação de antígenos por seus ma- (D) Diarreia com sangue, polis nas fezes e nenhum organismo na
crófagos. cultura do sangue.
724 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

CASO 4. Seu paciente é um homem de 55 anos de idade que apresenta (B) Ele provavelmente vive em uma fazenda e teve contato com
tosse com expectoração de coloração esverdeada contendo resíduos de uma ovelha grávida.
sangue. Nas últimas duas semanas, ele teve febre e sudorese noturna. Ele (C) Ele provavelmente tem uma doença sexualmente transmissí-
acha que perdeu por volta de 4 kg. Em exame físico, são detectadas crepi- vel comum.
tações no topo de seu pulmão direito, e uma radiografia do tórax mostra (D) Ele provavelmente estava acampando e foi picado por um car-
uma cavidade neste local. rapato.
598. Das opções seguintes, qual delas consiste no achado MENOS pro- CASO 8. A sua paciente é uma mulher de 70 anos de idade que realizou
vável? uma histerectomia para retirada de um carcinoma uterino há três dias.
(A) Coloração de Gram do catarro não mostrando nenhum orga- Ela tem um cateter urinário interno colocado e agora está com febre de
nismo predominante. 39ºC, e a urina no saco coletor está turva. Uma coloração de Gram da
(B) Cultivo do catarro em ágar-sangue não mostrando nenhum amostra da urina mostrou muitos neutrófilos e cocos gram-positivos em
organismo predominante. cadeias. Você também solicita um exame de urina.
(C) Cultivo do catarro em meio Lowenstein-Jensen mostrando 603. Qual dos seguintes é o conjunto de achados MAIS prováveis do
colônias escuras depois de incubação por quatro semanas. exame de urina?
(D) Um teste rápido de reagina plasmática revelando o organismo (A) Colônias 13-hemolíticas sensíveis a bacitracina
causador. (B) Colônias a-hemolíticas sensíveis a optoquina
CASO 5. Sua paciente é uma criança de cinco anos de idade que apresen- ( C) Colônias não hemolíticas que apresentam crescimento em
ta diarreia sanguinolenta, sem vômitos. Não há história de viagem para cloreto de sódio a 6,5%.
fora de sua cidade, São Francisco (EUA). Cultivo das fezes mostra tanto (D) Colônias não hemolíticas que apresentam crescimento apenas
colônias lactose-positivas quanto lactose-negativas em ágar EAM. anaeróbio.
599. Dos seguintes organismos, qual deles é o MAIS provável de ser a CASO 9. Sua paciente é uma mulher de 27 anos de idade que foi tratada
causa da doença? com ampicilina via oral para celulite causada por Streptococcus pyogenes.
(A) Shigella sonnei Vários dias depois, ela desenvolveu diarreia sanguinolenta. Você suspeita
(B) Salmonella typhi que ela possa ter colite pseudomembranosa.
( C) Campylobacter jejuni 604. Considerando o organismo causador da colite pseudomembrano-
(D) Helicobacter pylori sa, qual das seguintes opções é a MAIS correta?
CASO 6. Sua paciente é uma mulher de 25 anos de idade com início (A) É um bacilo gram-positivo anaeróbio que produz exotoxinas.
agudo de dor no quadrante inferior esquerdo. Em exame pélvico, há (B) É um bacilo gram-negativo em forma de vírgula que cresce
um exsudato no colo do útero e sensibilidade na adnexa esquerda. Você melhor a 41 ºC.
conclui que ela tem doença inflamatória pélvica (DIP) e pede testes la- (C) É um parasita intracelular obrigatório que cresce em cultivo
boratoriais. de células, mas não em ágar-sangue.
600. Das opções seguintes, qual delas corresponde ao resultado labora- (D) É uma levedura que forma túbulos germinativos quando in-
torial MENOS informativo? cubada com soro humano a 37ºC.
(A) Coloração de Gram do exsudato pélvico mostra diplococos CASO 1O. Sua paciente é uma criança de 1O anos de idade que tem apre-
gram-negativos no interior de polis. sentado dor no braço esquerdo pelos últimos cinco dias. Ao exame físico,
(B) Cultivo do exsudato pélvico em ágar Thayer-Martin mostra a temperatura é de 38ºC, e há sensibilidade no úmero próximo ao del-
colônias oxidase-positivas. toide. Na radiografia do úmero, uma área de periósteo elevado e erosão
(C) O teste de anticorpos fluorescentes mostra inclusões citoplas- óssea são observadas. Você solicita uma hemocultura.
máticas. 605. Qual das opções seguintes corresponde ao conjunto de resultados
(D) Teste de fixação do complemento mostra um aumento no tí- MAIS próvavel?
tulo de anticorpos.
(A) Bacilos gram-negativos que crescem em ágar EAM, forman-
CASO 7. Seu paciente é um homem de 22 anos de idade que apresenta do colônias roxas com brilho esverdeado.
febre, fadiga e um novo sopro diastólico. Você suspeita de endocardite e (B) Cocos gram-positivos que crescem em ágar-sangue, causando
faz uma cultura do sangue. uma zona clara de hemólise e são coagulase-positivos.
601. Qual das opções seguintes é a MENOS precisa? (C) Bacilos gram-positivos que crescem apenas anaerobiamente e
(A) Se ele passou por cirurgia dental recentemente, um dos or- formam uma dupla zona de hemólise em ágar-sangue.
ganismos mais prováveis de crescer será um estreptococo do (D) Diplococos gram-negativos que crescem em ágar-sangue, são
grupo viridans. oxidase-positivos e fermentam maltose.
(B) Se ele for usuário de drogas intravenosas, um dos organismos CASO 11. Seu paciente é um homem de 30 anos de idade, soropositivo
mais prováveis de crescer será Candida albicans. para HIV, que possui um histórico de pneumonia por Pneumocystis diag-
(C) Se ele passou por cirurgia de colo recentemente, um dos orga- nosticada há dois anos. Ele agora está com uma lesão ulcerativa no lado
nismos mais prováveis de crescer será Enterococcus faecalis. de sua língua. Uma coloração de Giemsa de uma amostra de biópsia mos-
(D) Se ele tiver uma válvula aórtica prostética, um dos organis- tra leveduras em brotamento no interior de macrófagos. Em um cultivo
mos mais prováveis de crescer será Streptococcus agalactiae. da amostra cresce um organismo que é uma levedura em brotamento a
De fato, nenhum dos organismos acima cresceu na cultura 37ºC, mas que produz hifas a 25ºC.
sanguínea. Foi detectado crescimento de cocos gram-positi- 606. Das seguintes opções, qual delas representa o organismo MAIS
vos organizados em grupos. Quando subcultivadas em ágar- provável de ser a causa desta infecção?
-sangue, as colônias foram cercadas por uma zona clara de
(A) Coccidioides immitis
hemólise, e o teste da coagulase foi positivo.
(B) Aspergillus fumigatus
602. Em vista disso, qual das opções seguintes é a MAIS precisa? ( C) Histoplasma capsulatum
(A) Ele provavelmente é um usuário de drogas intravenosas. (D) Cryptococcus neoformans
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 725

CASO 12. Seu paciente é um garoto de 10 anos de idade que está re- CASO 16. Seu paciente é um homem de 25 anos de idade, soropositivo
cebendo quimioterapia para leucemia aguda. Ele desenvolve febre, dor para HIV, e que possui uma contagem de CD4 de 120 células (normal,
de cabeça e rigidez no pescoço, e você faz um diagnóstico presuntivo de 1.000-1.500). Ele vem sentindo dor de cabeça branda na última semana
meningite e uma punção lombar. Uma coloração de Gram revela bacilos e vomitou uma vez ontem. Ao exame físico, ele tem temperatura de 38ºC
gram-positivos pequenos, e na cultura do líquido espinal crescem colô- e rigidez branda na nuca, mas não tem papiledema. O resto do exame
nias 13-hemolíticas em ágar-sangue. físico foi negativo.
607. Em relação a este organismo, qual das opções seguintes é a MAIS 611. Das seguintes opções, qual é MAIS provável de ser encontrada no
precisa? exame do líquido espinal?
(A) Possui mais do que 100 tipos sorológicos. (A) Linfócitos e cocos gram-positivos semelhantes à Streptococcus
(B) Produz uma exotoxina que inibe o fator-2 de elongação. pneumoniae.
(C) Ele é comumente adquirido pela ingestão de produtos lácteos (B) Linfócitos e leveduras em brotamento semelhantes à Crypto-
não pasteurizados. coccus neoformans.
(D) Existe uma vacina toxoide disponível contra esse organismo. (C) Polimorfonucleares e bastonetes anaeróbios gram-negativos
CASO 13. A Sra. Jones liga para dizer que ela, seu marido e seu filho semelhantes à Bacteroides fragilis.
estão com náuseas e vomitando há uma hora, aproximadamente. Eles (D) Polimorfonucleares e hifas septadas semelhantes à Aspergillus
também estão com diarreia sem sangue. Você pergunta quando foi a últi- fumigatus.
ma refeição que eles fizeram juntos, e ela diz que eles almoçaram em um CASO 17. Sua paciente é uma mulher de 25 anos de idade que apresenta
piquenique no parque por volta de três horas atrás. Eles não têm febre. dor de garganta desde o dia anterior. Ao exame físico, sua garganta está
608. Qual das seguintes opções é o achado mais provável? vermelha, mas nenhum exsudato é visualizado. Dois linfonodos cervicais
(A) Uma coloração de Gram da comida restante iria mostrar mui- sensíveis e aumentados são percebidos. Sua temperatura é de 38,3ºC. Um
tos cocos gram-positivos agrupados. cultivo da garganta não revela colônias 13-hemolíticas. Depois de receber
(B) Uma coloração de Gram das fezes iria mostrar muitos diplo- esse resultado, você faz outro exame físico, que revela um aumento do
cocos gram-negativos. baço. Um teste de anticorpos heterófilos mostra que hemácias de ovelhas
(C) Uma preparação com KOH da comida restante iria mostrar são aglutinadas pelo soro da paciente.
muitas leveduras em brotamento. 612. Qual das seguintes opções é a mais provável causa dessa doença?
(D) Uma coloração acidorresistente das fezes iria mostrar muitos (A) Streptococcus pyogenes
bacilos acidorresistentes. (B) Corynebacterium diphtheriae
CASO 14. Seu paciente é um garoto de nove anos de idade que foi libera- (C) Vírus Epstein-Barr
do da escola porque a sua professora detectou um comportamento estra- (D) Vírus influenza
nho no aluno. Nesta manhã, ele desmaiou e foi levado para o hospital. Ao
CASO 18. Seu paciente é um adolescente de 15 anos de idade que apre-
exame físico, sua temperatura era de 40ºC e ele não tinha rigidez na nuca.
senta poliartrite migratória, febre e um novo sopro cardíaco alto. Você faz
A tomografia computadorizada (TC) apresenta resultados normais. Uma
um diagnóstico clínico de febre reumática.
punção lombar foi feita e o líquido espinal continha níveis normais de
proteína e glicose. Uma coloração de Gram do líquido espinal não reve- 613. Qual dos seguintes resultados de laboratório é MAIS provável de
lou nenhum organismo nem polis. Ele foi tratado com vários antibióticos, ser encontrado neste paciente?
mas entrou em coma e morreu dois dias depois. Nos cultivos do sangue (A) Uma hemocultura é positiva para Streptococcus pyogenes nes-
e do líquido espinal não apareceram nenhuma bactéria nem fungo. Na te momento.
necropsia do encéfalo, corpúsculos de inclusão eosinófilos foram visuali- (B) Um cultivo da garganta é positivo para Streptococcus pyogenes
zados no citoplasma de neurônios. neste momento.
609. Das seguintes opções, qual é a causa MAIS provável? (C) Uma coloração de Gram do fluido das articulações mostra
cocos gram-positivos em cadeias neste momento.
(A) Príons
(D) Um ensaio antiestreptolisina O é positivo neste momento.
(B) Vírus JC
( C) Vírus da raiva 614. Qual dos seguintes modos de patogênese é MAIS compatível com
(D) Herpes-vírus simples 1 o diagnóstico de febre reumática?
CASO 15. Seu paciente é um homem de 20 anos que se envolveu em uma (A) A bactéria liga-se ao tecido das articulações e do coração via
briga, quebrou a mandíbula e perdeu dois dentes. Várias semanas depois, pili, invade e causa inflamação.
ele desenvolveu um abscesso no local do trauma que se infiltrou até a (B) A bactéria secreta exotoxinas que circulam via sangue para as
superfície da pele, e grânulos amarelos foram visualizados no pus. articulações e coração.
(C) Antígenos da bactéria induzem anticorpos que reagem de
610. Em relação a esta doença, qual das opções seguintes é a MAIS
forma cruzada com as articulações e com o tecido cardíaco.
precisa?
(D) Endotoxina bacteriana induz interleucina 1 e fator de necrose
(A) O organismo causador é um bacilo gram-positivo que forma tumoral, que causam inflamação nas articulações e no tecido
longos filamentos. cardíaco.
(B) O organismo causador é um bacilo gram-negativo em forma
de vírgula que produz uma exotoxina que aumenta o AMP 615. Qual das seguintes abordagens é MAIS provável de impedir endo-
cíclico. cardite em pacientes com febre reumática?
(C) O organismo causador não pode ser visualizado na coloração (A) Eles devem tomar a vacina polissacarídica estreptocócica.
de Gram, mas pode ser visualizado em uma coloração acidor- (B) Eles devem tomar penicilina se passarem por cirurgia dental.
resistente. (C) Eles devem tomar a vacina toxoide a cada cinco anos.
(D) Uma combinação de cocos gram-negativos e espiroquetas (D) Eles devem tomar rifampina se passarem por cirurgia abdo-
causam a doença. minal.
726 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

CASO 19. Sua paciente é uma criança de 10 anos de idade que possui (A) Cultura do fluido espinal para o crescimento do organismo
leucemia e está recebendo quimioterapia por meio de um cateter venoso (B) Coloração para corpúsculos de inclusão nos linfócitos do lí-
permanente. Ela está agora com febre de 39ºC, mas é assintomática para quido espinal
outras doenças. Você solicita hemocultura, e o laboratório informa cres- (C) Teste para anticorpos no líquido espinal que reajam com car-
cimento de Staphylococcus epidermidis. diolipina.
616. Qual dos seguintes resultados é MENOS provável de ser encontra- (D) ELISA para a detecção do antígeno no fluido espinal
do pelo laboratório clínico? CASO 24. Seu paciente é um homem de 65 anos de idade que possuía um
(A) Cocos gram-positivos em grupos foram visualizados na colo- adenocarcinoma de pâncreas que foi removido cirurgicamente. Várias
ração de Gram da hemocultura. transfusões de sangue foram fornecidas, e ele ficou bem até duas semanas
(B) Subcultivo da hemocultura em ágar-sangue revelou colônias depois, quando febre, vômitos e diarreia iniciaram. Culturas do sangue e
não hemolíticas. fezes foram negativas, e os testes para Clostridium difficile e para antígeno
( C) Um teste de coagulase das colônias foi negativo. de superfície de hepatite B foram negativos. Uma necropsia do fígado re-
(D) Um teste de catalase das colônias foi negativo. velou corpúsculos de inclusão intranucleares.

CASO 20. Sua paciente é uma mulher de 25 anos de idade que apresenta 622. Das seguintes opções, qual é a causa MAIS provável?
diversas áreas purpúricas indicativas de sangramento na pele. Seus sinais (A) Adenovírus
vitais são os seguintes: temperatura, 38ºC; pressão arterial, 70/40; pulso, (B) Citomegalovírus
140; frequência respiratória, 24. Você acha que ela tem um choque séptico (C) Vírus da hepatite A
e solicita hemocultura. (D) Rotavírus
617. Qual dos seguintes organismos é MENOS provável de ser a causa CASO 25. Sua paciente é uma criança de três anos de idade que apresenta
do choque séptico? febre e dor na orelha direita. Ao exame físico, o tímpano estava perfurado,
(A) Corynebacterium diphtheriae e um exsudato sanguinolento foi visualizado. Uma coloração de Gram do
(B) Neisseria meningitidis exsudato revelou diplococos gram-positivos.
( C) Clostridium perfringens 623. Das seguintes opções, qual é a causa MAIS provável?
(D) Escherichia coli (A) Streptococcus pyogenes
618. Dos seguintes mecanismos, qual é o MENOS provável de estar en- (B) Staphylococcus aureus
volvido com a patogênese do choque séptico? (C) Corynebacterium diphtheriae
(A) Quantidade elevada de interleucina 1 (D) Streptococcus pneumoniae
(B) Ativação da via alternativa do complemento CASO 26. Seu paciente é um homem de 70 anos de idade que apresenta
(C) Quantidade elevada de fator de necrose tumoral febre de 40ºC e uma celulite bastante dolorosa na nádega direita. A pele
(D) Quantidade elevada de complexos antígeno-anticorpo parece necrótica, e há várias bolhas cheias de fluido. Crepitações podem
CASO 21. Seu paciente é um homem de 55 anos de idade que apresenta ser sentidas, indicando gás no tecido. Uma coloração de Gram do exsu-
celulite grave na perna esquerda, febre alta e um calafrio de "bater os den- dato revela bacilos grandes gram-positivos.
tes". Ele é um pescador que estava trabalhando em seu barco na costa do 624. Das seguintes opções, qual é a causa MAIS provável?
Texas, Estados Unidos, ontem. (A) Clostridium perfringens
619. Qual dos seguintes organismos é MAIS provável de ser a causa da (B) Bacillus anthracis
doença? (C) Corynebacterium diphtheriae
(A) Yersinia pestis (D) Actinomyces israelii
(B) Vibrio vulnificus CASO 27. Sua paciente é uma mulher de 45 anos de idade que possui um
( C) Pasteurella multocida transplante renal de doador falecido que está sendo rejeitado apesar da
(D) Brucella melitensis terapia imunossupressora. Ela agora está com insuficiência renal com um
CASO 22. Sua paciente é uma mulher de 30 anos de idade que apresenta pH do sangue de 7,32. Nesta manhã, ela acordou com dor próxima ao seu
paralisia do nervo facial. Ela também tem febre e dor de cabeça, mas sua olho direito. Ao exame físico, sua temperatura é de 38ºC, e a pele próxima
nuca não está rígida. Ao exame físico, ela tem uma erupção circular, eri- ao seu olho está necrótica. Uma amostra de biópsia da lesão contém hifas
tematosa e macular na parte anterior da coxa. Você suspeita que ela tenha não septadas invadindo os vasos sanguíneos.
doença de Lyme. 625. Das seguintes opções, qual é a causa MAIS provável?
620. Dos testes a seguir, qual é o MAIS apropriado para confirmar o (A) Histoplasma capsulatum
diagnóstico de doença de Lyme? (B) Aspergillus fumigatus
(A) Cultura sanguínea para o crescimento do organismo (C) Cryptococcus neoformans
(B) Coloração para corpúsculos de inclusão no interior das célu- (D) Espécies de Mucor
las envolvidas com a erupção. CASO 28. Seu paciente é um homem de 35 anos de idade, soropositivo
( C) Ensaio para a detecção de anticorpos no soro contra o orga- para HIV, que possui uma contagem de CD4 de 85 células. Ele recente-
nismo mente teve uma convulsão, e um escaneamento por ressonância magné-
(D) Microscopia de campo escuro tica (RM) indicou uma lesão no lobo temporal. Uma amostra de biópsia
CASO 23. Seu paciente é um homem de 60 anos de idade que tem apre- do encéfalo revelou células gigantes multinucleadas com inclusões intra-
sentado um estado de confusão pelos últimos dois meses. Ele não tem nucleares.
história de febre nem de rigidez na nuca. Ao exame físico, ele estava atá- 626. Das seguintes opções, qual é a causa MAIS provável?
xico e sua coordenação foi anormal. Um diagnóstico de sífilis terciária foi (A) Herpes-vírus simples 1
realizado pelo laboratório. (B) Parvovírus B19
621. Dos testes a seguir, qual é o MAIS apropriado para fazer um diag- (C) Vírus de Coxsackie
nóstico de sífilis terciária? (D) Vírus da encefalite equina Ocidental
PARTE XIII Questões para Autoavaliação 727

CASO 29, Sua paciente C uma mulher de -10 anos com um ataque grave (C) Vibrio cltolerae
de diarreia que começou no avião enquanto ela •,olta1,-a de uma \·iagcm (D) Campylobacter jejutli. Uma cultura de fezes não rew1ou apre-
ao Oriente Médio. Ela teve mUhip1os episódios de diarreia aquosa sem sença de colônias lactose-negativas no ágar EM.ll
sangue e um pouco de .,-õmito. Ela não está febril. Uma cultura das fezes 634, Das opções seguintes, quaJ delas corresponde ao organ.iS11'.o MAIS
revela apenas colônias fermentadoras de lactose cm ágar EAJ\.1.. pro.,-ãvd de ser a causa desta infecção?
627. Das seguintes opções, qual é a causa MAIS pro\tâ1,·cl? (A} Shigella dysenteriae
(A) Shigella smmti (8) Salmone.fla etlteritidis
(B} Htlkobacter p)'lori (C) Vibrio c.holerae
(C) Esc.herichia coli (D) Campy(obacter jejimi
{D) Pstudomonas aeruginosa
CASO 33. Seu paciente é um homem de 78 anos de idade que apresentou
CASO 30. O seu paciente é um homem de 20 anos de idade que tem um episódio de retcnç-.io urinâria ag-..ida e precisou ser catctcrilado. Ele
apresentado dor de garganta pdos Ultimas três dias. Ao exame füico. sua então passou por citoscopia para determinara causa da retenção. Dois dias
temperatura é de 38°C, sua faringe está vermelha, e 1,-ários nodos subma- depois, de descnvoh-cu febre e dor suprapli.bka. A uroanãlisc revelou 50
xilares scnsivcis são palpáveis. cétu1as brancas do sangue e l OcClulas vermelhas do sangue por campo de
628. Das opções seguintes-. qual delas corresponde ao organism o MAIS alta poténcia. () exame de urina rc,,.dou um filme fino de crescimento bac-
pro\tâ1,""Cl de ser a causa desta infecção? teriano sobre toda a placa de ágar-sanguc. e o teste de urcasc foi positi\-o.
(A) Streptoc.oc.cus agalnctiae (Stnpt««cus do grupo B) 635. Das opções seguintes, quaJ delas corresponde ao organismo MAIS
(B} Streptoccccus sangslis (Strtptocom,s do grupo viridrms) pro.,íw) de ser a causa desta infecção?
(C) Par\-O\titus 819 (A} Escheridiia colJ
(D) Vlru.s Epstein-Ba.rr (8) Prottus mirabilis
Você faz uma cultura da garganta, e muitas colónias pequenas e translú- (C) Streptocom,s/atea/is
cidas que são fl-hemoliticas crescem cm ãgar-sangue. Uma coloração de (D) Bratiliamtlla (Moraxella) catarrlialis
Cram dessas colônias rc,,.c!a cocos gram-positi,,.os cm cadeias. CASO 34. Seu paciente é um homem de -10 anos de idade que apresenta
629. Das opções seguintes.. qual delas corresponde ao organismo MAlS uma lesão despigmentada cm seu peito que apareceu há cerca de um mês.
A pele da lesão cstâ mais grossa e perdeu sensibilidade. E!c viveu a maior
pro\tâ'ld de ser a causa desta infecção?
parte de sua ,·ida na área rural de Louisiana, ~tados Unidos..
(A) Streptoccccus ptieumoniae
636. Dos testes a seguir, quaJ eo MAlS apropriado para rC'\o·elar a causa a
(B} Streptoccccus pyog,ents
(C) Streptoc.oc.cus agalactiae (Stnpt««cus do grupo B) doença?
{D) Espécies de Peptos.treptococcus (A} Realizar uma biópsia da lesão e fazer uma coloração acidorrc-
CASO 31. Sua paciente é uma mulher de 55 anos de idade com um linfo- sistentc.
ma, que cstà recebendo quimioterapia por meio de um catétcr intra,,.cno- (8) fazer um cultivo cm âgar Sabouraud e procurar por tubos
so. Ela subitamente dcscm-oh•c febre, calafrios e hipotcnsio. germinativos.
(C) fazer um cultivo cm âgar-sanguc anaerobiamcntc e fazer uma
630. Das opções seguintes, quaJ delas corresponde ao organismo ME-- coloração de Gram.
NOS prov-,h·d de ser a causa desta infecção?
(D) Obtcnç-lo de soro para um teste de aglutinação de Weil-fclix
(A) Streptoccccus ptieumoniae
CASO 35. Seu paciente é um homem de -10 anos de idade que apresenta
(B} Klebsidla pneumoniae
queimaduras de terceiro grau cm uma grande área das costas e da per-
(C) Mycoplasma pne11moniae
na esquerda. Nesta manhã, de apareceu com uma fobrc de -t0"C e tc\·c
(D) Protes,s mimbilú
dois episódios de calafrios.. Em uma cultura do sang-..ic cresceram bacilos
631. Se cm hcmocultura tirada da paciente do Caso 31 crescer um baci- gram-negativos que são oxidasc-positi\'Os e produzem pigmentos azul-
lo gram-ncgativo, quaJ dos seguintes organismos é o ME!\OS pro- ·CS't""Crdeados.
v-,h•d de estar causando a infecção?
637. Das opções seguintes, quaJ delas corresponde ao organ.iS11'.o MAIS
(A) Bordetdla J'('rtussis pro.,-ã\-c) de ser a causa desta infecção?
(B} Esdu:ricltia coU
(A} Prevotella mekminogetlica
(C) Pstudomonas aeruginosa
(8) Psei,domonas aeruginosa
(D) &rratia marcescetis
(C) Proteus mirabilis
632. Dos fatores de virulência a seguir, qua1 é o MAIS prm-ãvel de estar (D) Haemophilus hifluenzae
causando a febre e hipotensão descritas no Caso Jl? CASO 36. Seu paciente eum motorista de .,.m de viagens, de 32 anos de
(A) Pilus idade, que vive cm St. Louis. E1c chegou cm São Francisco. tambem nos
(B) <',ápsula Estados Unidos, aproximadamente 10 dias atrâs depois de pegar móveis
(C) Lccitinasc cm Litclc Rock. Da1las, Albuquerque e Phoenix. Ele agora está com uma
{D) Upopolissacarídco tosse persistente e febre de 38.Jo-C, e sente-se maJ. Ao exame f'Lsico, cre-
CASO 32. Sua paciente é uma mulher de 30 anos de idade que fazia parte pitações são escutadas cm seu 1obo pulmonar inferior esquerdo, e uma
de um grupo de turismo cm visita à um país da América Central. Um dia radiografia do tórax rc.,""Cla um inftltrado nesta região.
antes de irem embora, ,·árias membros do grupo desen,'Olvcram febre, 638. Das opções seguintes. quaJ delas corresponde à afümação MHNOS
cólicas abdominais e diarreia sanguinolenta. precisa?
633. Das opções seguintes, quaJ delas corresponde ao organismo ME· (A} Ele pro\,avdmcntc tem esféru1as contendo endósporos cm
NOS provãvd de ser a causa desta infecção? seu pulmão.
(A) ShigeUa dysenteriat (8) Se ocorrer disseminação para os ossos, isso indicaria um pro·
(B} Salmonella tnteritidú b!cma cm sua imunidade celular.
728 PARTE XIII Questões para Autoavaliação

(C) Ele provavelmente adquiriu esta doença inalando art rós· C::ASO 41 . Sua paciente é uma menina de l0anos com leucemia aguda
poros.. que respondeu bem ao primeiro tratamento de quimioterapia, mas não
(D} O organismo causador desta doença existe como Jc·.,·cdu.ra no ao mais recente. Entã~ ela foz um transplante de medula óssea e está cm
solo. regime de imunossuprcssorcs. Ela está bastante granu1ocitopênica. Dc-z.
CASO 37. O seu paciente eum homem de 25 anos de idade que apre.senta dias depois do transplante, ela tem uma febre e tosse com escarro pu 4

uma lesão ulcerada cm seu pênis que não edolorosa. Você suspeita que rulcnto e com sangue. A radiografia do tórax mostra pneumonia. Uma
possa ser um cancro. preparação Umida do escarro mostra hifas scptadas com ramificações
dicotómicas (cm forma de Y).
639. Qua1 dos testes a seguir é MAIS apropriado para ser realizado com
o material da lesão? 644. Qual dos organismos seguintes é a causa ~1AJS provável desta
doença?
(A) Microscopia de campo escuro
(B) Coloração de C ram (A) Hi.stoplasma capsulawm
(B) Aspergiflus funu'gatu.s
(C} Coloração acidorrcsistcntc
(D) Cultura cm ágar Tha~r-1'.tartin (C) Rhizopus nigricans
(D) Candida a/biums
640. Qual dos testes a seguir é MAlS apropriado de ser realizado com o
sangue do paciente? CASO 42. Seu paciente é um homem de 30 anos com início agudo de
febre de 40°C e um nodo direito femora1 muito scns(~l e inchado. Sua
(A) Cultura cm ágar-sanguc pressão artcria1 é de 90/50 e .seu pulso é 110. Enquanto você o examina,
(B) Ensaio para anticorpos que reagem com a cardiolipina. de tem um calafrio. E1c ,,.oltou de uma \iagcm de acampamento no dcscr 4

(C} Ensaio para anticorpos ncutrali:zantcs cm cuJtura de célula to do sul da Calif6rnia, Estados Unidos, dois dias atrás.
humana
645. Em rdaç-ão à esta doença, qual das afirmações .seguintes é a MAJS
(D) lCstc de anticorpo hctcrófilo
precisa?
CASO 38. Seu paciente é um garoto de seis anos de idade que aprcsen·
(A) Um aspirado do nodo irã rc\•elar bacilos gram·ncgath-os pc·
ta lesões cutâneas papularcs e pustularcs cm sua face. Um fluido "cor de
qucnos com coloração bipolar (aparecem como um alfinete
md" seroso exsuda das lesões. Você suspeita de impctigo. Uma colora·
ção de Gram do pus rc,·d a muitos neutrófilos e cocos gram·posith•os cm de segurança).
(B) ú organismo foi pro\tavclmcntc adquirido pela ingestão de
cadeias.
alimento contaminado com excrementos de roedores.
641. Se \ 0Cê fizer um cultivo do pus cm ãgar•sanguc, qual das seguintes
1
(C) Um aspirado do nodo deve .ser cuhh-ado cm âgar Lõwcnstcin-
opções \'OCê PROVAVELME-?-."TE irâ \isualizar? •Jcnscn e uma coloração acidorrcsistcntc de\'c ser feita.
(A) Colónias pequenas P-hcmoliticas contendo bactérias sensí· (D) ú organismo causa a doença principalmente cm pessoas com
veis à bacitracina. imunidade celular comprometida.
(B) Colónias pequenas a-hcmolitkas contendo bactérias que são CASO 43. Sua paciente é uma mulher de 62 anos com história de carci-
resistentes à optoquina. noma do colo sigmoide que foi rcmo,•ido cinco dias atrás. A cirurgia foi
(C) Colónias grandes não hcmoliticas contendo bactérias oxida· complicada pdo escape de conteúdos do intestino para a ca\idadc perito·
se-positivas. ncal. Ela agora está com febre e dor no pcrinco e na nâdcga esquerda. Ao
(D) Colónias pequenas não hemoliticas contendo bactérias que exame füic~ sua temperatura é de 39"C e mionccrosc com um corrimen-
crescem cm NaCl a 6,59',. to malcheiroso é encontrada. Uma co!oraçlo de Gram do cxsudato rc~la
CASO 39. Sua paciente é uma mulher de 66 anos de idade que cstâ rece- bacilos gram-ncgativos.
bendo um tratamento quimiotcrápico para linfoma. Ela dcscm-olvc febre 646. Das opções seguintes, qua1 delas corresponde ao organismo MAlS
de 38°-C e uma tosse não produth-a. Uma radiografia do tórax rC'\o·cla um provâ.,·cl de .ser a causa desta infocç-ão?
inftltrado. Voei trata-a empiricamente com um antibiótico apropriado. (A) Helic.obacter pylori
No dia seguinte, ,·árias vesículas aparecem no peito dela.
(B) Bacteroides fragilú
642. Qual dos .,í.rus seguintes é a causa ~1AlS pfO\,-ávd da doença da sua (C) Sa/montl/o typhi
paciente? (D) Vibrio parahnemolyticus
(A) VCrus do sarampo CASO 44. Sua paciente é uma mulher de 18 anos de idade que apresenta
(B) Vtnls sincicial respiratório inchaço no tornozelo esquerdo. Dois dias atrás, quando seu tornozelo co·
(C) Vú-us varicd:a zóstcr
4
mcçou a inchar, da disse que poderia ter torcido enquanto joga,·a futebol.
(D) Vtnls da rubéola Entretanto. hoje ela está com febre de 38°C, e o tornozelo tornou-se nota-
CASO 40. Sua paciente é uma mulher de 40 anos com 11.ipus critcmatoso damente mais inchado, quente e vermelho. Suas outras articulações estão
sistêmico que está .sendo tratada com uma alta dose de prcdnisona duran· assintomãticas. Você aspira fluido do tornozelo.
te uma crise de sua doença. Ela dcscnvol~ uma febre de l8"C e uma tosse 647. Usando o fluido do tornozelo, qual dos seguintes procedimentos é
produz.indo uma pequena quantidade de escarro esverdeado. Ao exame MAJS pro\tâvcl de fo rnecer informações para o diagnóstico?
fl'sico, 1,-oct: escuta sons ásperos de respiraç-ão cm seu lobo pulmonar infe- (A) Coloração acidorrcsistcntc e cultura cm meio L&,.·cnstcin·
rior esquerdo. A radiografia do tórax rc1,·d a um infiltrado naquda região.
-Jcnscn
Coloraç-ão de Gram do csc.arro rc~Ja longos filamentos de bacilos gram· (B) Coloração de Gram e cuhura cm âgar chocolate
-positivos. (C) Mkroscopia de campo escuro e teste VDRL
643. Qual dos organismos seguintes é a causa MAIS pro,·ávc1 desta (D) Coloraç-ão com nanquim e cultivo cm ágar Sabouraud
doença? CASO 45. Seu paciente é um garoto de seis anos de idade que possui um
(A) Myc.obacterii,m k(Umuii histórico de di~rsos episódios de pneumonia. Um teste do suor revela
(B) L.üteria monocytogmes uma quantidade aumentada de cloreto, indicando que de tem fibrose ds-
(C) Nocardia nstnoides tica. Ele agora cstâ com febre e tossindo um escarro grosso e cS\·crdcado.
(D) Myccplasma pntumoniae Uma coloração de Gram do escarro rc~Ja bacilos gram-ncgati..,os.
PARTE XII I Questões para Autoavaliação 729

648. Das opções seguintes, qual delas corresponde ao organismo MAIS CASO 49. Sua paciente é uma mulher de 20 anos de idade que apresenta
provável de ser a causa desta infecção? uma erupção que se iniciou na manhã do presente dia. Ela vem se senti-
(A) Pseudomonas aeruginosa do febril e anoréxica nos últimos dias. Ao exame físico, há uma erupção
(B) Haemophilus influenzae papular bilateral em seu peito, abdome e em extremidades superiores,
(C) Legionella pneumophila incluindo as mãos. Não há vesículas e nem petéquias. Linfonodos cervi-
(D) Bordetella pertussis cais e axilares estão palpáveis. Sua temperatura é de 38ºC. A contagem de
leucócitos é de 9.000 com um diferencial normal.
CASO 46. Seu paciente é um garoto de sete anos de idade que apresenta
febre, dois episódios de vômito e uma cefaleia grave que se iniciou na 652. Das opções seguintes, qual delas corresponde ao organismo MAIS
manhã do presente dia. Ele não tem diarreia. Ao exame físico, sua tem- provável de ser a causa desta doença?
peratura é de 39ºC, e rigidez da nuca é notada. Exame do líquido espinal (A) Histoplasma capsulatum
revelou uma contagem de leucócitos de 800, dos quais 90% eram linfóci- (B) Coxiella burnetii
tos, e uma concentração normal de proteínas e glicose. Uma coloração de (C) Neisseria meningitidis
Gram do líquido espinal não revelou nenhuma bactéria. (D) Treponema pallidum
649. Das opções seguintes, qual delas corresponde ao organismo MAIS CASO 50. Seu paciente é um menino de 10 anos que caiu, feriu a pele
provável de ser a causa desta infecção? da coxa e desenvolveu celulite (i.e., sua pele estava vermelha, quente e
(A) Chlamydia trachomatis sensível). Vários dias depois, a infecção foi tratada com uma preparação
(B) Mycobacterium avium-intracellulare tópica de antibióticos, e a celulite gradualmente se curou. Entretanto,
(C) Vírus de Coxsackie duas semanas depois, ele disse para sua mãe que sua urina estava turva
(D) Adenovírus e avermelhada, e ela notou que sua face estava inchada. Você suspeita de
glomerulonefrite.
CASO 47. Seu paciente é um homem de 22 anos que esteve em uma via-
gem de baixo custo para a índia, onde comeu muitos alimentos locais. Ele 653. Considerando o organismo causador, qual é a aparência MAIS pro-
tem febre baixa, anorexia e dor abdominal suave há aproximadamente vável de uma coloração de Gram da infecção cutânea?
um mês. Você suspeita de que ele possa ter febre tifoide. (A) Cocos gram-positivos agrupados em formato de "cacho de uva':
650. Se ele tiver febre tifoide, qual dos seguintes é o achado laboratorial (B) Cocos gram-positivos em cadeias
MENOS provável? (C) Diplococos gram-positivos
(D) Diplococos gram-negativos
(A) A cultura sanguínea revelou a presença de bastonetes gram-
-negativos. 654. Qual é a patogênese da urina turva e do edema facial?
(B) Em cultivo das fezes, crescem colônias lactose-negativas em (A) Mediada por toxina.
ágarEAM. (B) Invasão direta pela bactéria associada
(C) Seu soro contém anticorpos que aglutinam Salmonella typhi. (C) Mediada por imunocomplexo.
(D) Seu soro contém anticorpos que causam uma reação de Weil- (D) Imunidade celular (hipersensibilidade tardia).
-Felix positiva.
CASO 48. O seu paciente é um homem de 30 anos de idade, soropositivo Respostas (Questões 594 a 654)
para HIV, que apresentou dois episódios de pneumonia por Pneumocys-
594. (B) 607. (C) 620. (C) 633. (C) 646. (B)
tis. Ele agora reclama de dor em sua boca e tem dificuldade para engolir.
595. (C) 608. (A) 621. (C) 634. (D) 647. (B)
Ao exame físico, você encontra várias placas esbranquiçadas em sua mu-
596. (D) 609. (C) 622. (B) 635. (B) 648. (A)
cosa da parte oral da faringe.
597. (B) 610. (A) 623. (D) 636. (A) 649. (C)
651. Considerando o organismo causador mais provável, qual das se- 598. (D) 611. (B) 624. (A) 637. (B) 650. (D)
guintes opções é a MAIS correta? 599. (A) 612. (C) 625. (D) 638. (D) 651. (C)
(A) É um bacilo gram-positivo filamentoso que faz parte da mi- 600. (D) 613. (D) 626. (A) 639. (A) 652. (D)
crobiota normal da boca. 601. (D) 614. (C) 627. (C) 640. (B) 653. (B)
(B) É um bacilo gram-negativo anaeróbio que faz parte da micro- 602. (A) 615. (B) 628. (D) 641. (A) 654. (C)
biota normal do colo. 603. (C) 616. (D) 629. (B) 642. (C)
(C) É uma levedura que forma pseudo-hifas quando invade te- 604. (A) 617. (A) 630. (C) 643. (C)
cidos. 605. (B) 618. (D) 631. (A) 644. (B)
(D) É um espiroqueta que cresce apenas em cultivo de células. 606. (C) 619. (B) 632. (D) 645. (A)
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
Este teste consiste em dois blocos, e.ada um contendo 40 questões (C) O genoma de RNA esegmentado.
de microbiologia e imunologia. Você deve ser capaz de completar (D) Um DXA füa.simplcs é sintetizado durante a replicação.
cada bloco em 50 minutos. As questões estão distribuídas alea- (E) O genoma de Ri.\iA codifica um polipcptídeo precursor que
toriamente (i.e., não e.stão agrupadas de ac-ordo com o assunto de\-c ser clh--a.do por uma proteasc.
tratado}. 3. Um homem de 25 anos tem história de quatro episódios de futún·
Todas as questões possuem entre quatro e 10 opções de es- culos no ultimo ano. Furúnculos sã.o abscessos causados por Sta·
p}1ylococcus aW\'!lS. Qual das seguintes opções é o MAIS pro,,-ávd
colha e uma única resposta •MAIS ADEQUADA:'; não há ques-
fato r imunológico que o predispõe a esses múltiplos episódios de
tõe.s do tipo ..EXCETO': As escolhas de resposta estão listadas em
íurUnculos?
ordem alfabética ou na ordem do tamanho da resposta. O gabari·
(A} Uma quantidade deficiente do componente do complemento
to está 1oca1izado ao fim de cada bloco.
CS cm seu plasma.
(B) Uma incapacidade de seus macrófagos apresentarem antfgc·
nos cm associação a proteínas do ~1HC de dasse 1.
QUESTÕES (C) Uma falha na liberação de granzimas pelas suascCJulas T cito·
tóxkas.
BLOCO UM (D) Uma quantidade insuficiente de lgG em seu plasma.
4. Voei' estã lendo um artigo que diz que otite média enormalmente
Instruções (Questõrs Ia 40): Selecione a ÚNICA e MAIS ADEQUADA
causada por linhagens não encapsuladas de Haemophili,s hif(uen-
resposta para cada questão. zae. VocC fica surpreso com o fato de linhagens não encapsuladas
1. Uma menina de nove anos csta,·a jogando futebol quando come· causarem doença. Qual das seguintes opções MELHOR explica por
çou a mancar. Ela apresentou dor na perna e apontou pata a par· que sua surpresa ejustificâ,,-el?
te superior de sua coxa quando perguntada onde doía. Sua tem· (A} Linhagens não encapsuladas não apresentam cndotoxina
pcratura era de 38,Jº'C. Uma radiografia do fcmur revelou que o (B) Linhagens não encapsuladas não sccrctam exotoxina A.
pcriósteo csta,,.a erodido. Vo«: pede uma hemocuhura. Qual das
(C) Linhagens não encapsuladas de~tiam ser facilmente fagoci-
scg-..iintes opções seria o achado MAIS pro't"áwl da hcmocuhura? tadas.
(A) Bacilos gram•ncgath'Os que crescem cm ágar EAM, forman· (D) Linhagens não encapsuladas dC"t·eriam ser rapidamente mot·
do colónias roxas com brilho cs,·erdcado. tas por luz ultta,,.ioleta
(B} Cocos gtam·positi\-OS que crescem cm âgar•sanguc, causando (E) Linhagens não encapsuladas deveriam ser susceÜ\•cis à morte
uma w na clara de hcmólisc, e são coagu1asc-positivns. por células T citot6x:icas.
(C} Bacilos gram-positivos que crescem apenas anacrobiamentc e 5. Um homem de 35 anos de idade é HIV-posith-o e possui uma con·
formam uma dupla zona de hemólisc em âgar-sangue. tagcm de CD-1 de 50/µ. L (norma1, 1.000- 1.500). ele 1,·em aprescn·
(D} Oiplococos gram•negativos que crescem cm ágat·chocolatc, tando febre de 38,J"C há algumas semanas e "se sente cansado o
são oxidas.e·positivos e fe rmentam maltose. tempo todo': E1c não apresenta outros sintomas.. e achados cm exa·
(E} Cocos gram·posith-os que crescem cm âgar•sanguc, causando mes ffsicos são normais. Contagem completa de cClulas sangufoc.as..
uma wna ,·erdc de hcmólise, e não são inibidos por optoqui· ex.ame de urina e radiografia do tórax estão normais. Culturas de
nacbilc. sangue, fezes e urina não apresentam crescimento. Uma biópsia
2. Seu projeto de pesquisa é estudar os \titus que causam infecções do da medula óssea revdou granulomas, e uma cultura resultou cm
trato respiratório superior. Você isolou um vírus da garganta de um um organismo que é uma lc,,.-edura a 37"C, mas que produz hifas a
paciente e descobriu que seu genoma ede RNA. Além disso. vo«: 25ºC. Das seguintes opções.. qual ea causa MAIS ptoV'ávd?
descobriu que o genoma é o complemento do mRNA \tital do in· (A} Asp,ergifü,sfumigat11s
terior da cClu!a infectada. Das seguintes opções, qua1 é a conclusão (8) Cryptoc.occus t1eoformam
MAIS apropriada à quaJ 'loci' pode chegar? (C) Espécies de Muc.or
(A) ú ,,-lfion contém uma polimerase. (D) Histoplasma capsidatum
(B} ú genoma de JU'I/A purificado é infeccioso. (E) Coccidioidrs immitis
732 PARTE XIV Questões para Diagnóstico Clínico

6. Uma mulher de 70 anos sofreu queimaduras de terceiro grau em 11. Mycobacterium tuberculosis (MTB) e Mycobacterium aviumcom-
uma área significativa de seu corpo. Apesar de cuidados apropria- plex (MAC) são importantes causas de doenças, especialmente
dos para queimaduras no hospital, ela apresentou uma febre de em pacientes imunocomprometidos. (MAC também é conhecido
39ºC, e a enfermeira notou pus verde-azulado no curativo que co- como Mycobacterium avium-intracellulare.) Considerando MTB e
bria a área queimada. Uma coloração de Gram do pus revelou baci- MAC, qual das seguintes opções é a MAIS correta?
los gram-negativos, e testes de sensibilidade a antibióticos mostrou (A) Imunidade celular é o mecanismo de defesa mais importante
resistência à maior parte dos antibióticos. Qual dos seguintes orga- do hospedeiro contra MTB, enquanto imunidade mediada
nismos é a causa MAIS provável da doença? por anticorpos é o mecanismo de defesa mais importante
(A) Nocardia asteroides contraMAC.
(B) Vibrio vulnificus (B) No laboratório clínico, MAC pode ser distinguido de MTB
( C) Bacteroides fragilis pelo fato de MAC formar colônias em sete dias, enquanto
(D) Haemophilus influenzae MTB não o faz.
(C) Linhagens multirresistentes a fármacos de MAC são muito
(E) Pseudomonas aeruginosa
menos comuns do que linhagens multirresistentes a fármacos
7. Uma mulher de 20 anos manifestou vários episódios de febre alta, deMTB.
calafrios e dor de cabeça intensa. Ela apresenta hematócrito de (D) MAC é encontrado no ambiente, mas não é transmitido de
30%. Ela recentemente voltou da África, onde havia sido volun- pessoa para pessoa, enquanto MTB é encontrado em huma-
tária do Corpo da Paz. Qual das seguintes opções é a MAIS pro- nos e é transmitido de pessoa para pessoa.
vável de ser visualizada em amostras de esfregaço sanguíneo da
12. Em um laboratório, uma virologista estava estudando as proprie-
paciente? dades dos vírus mutantes. Quando ela infectava as células com o
(A) Bacilos acidorresistentes vírus mutante # 1, nenhuma progênie viral era produzida. Quando
(B) Gametócitos em forma de banana ela infectava as células com o vírus mutante #2, nenhuma progênie
( C) Hifas não septadas viral era produzida. Porém, quando ela infectava as células com
(D) Esférulas ambos os vírus mutantes #1 e #2, progênies virais de ambos os ví-
(E) Taquizoítos rus #1 e #2 eram produzidas. Qual dos termos abaixo MELHOR
descreve este fenômeno?
8. Determinados microrganismos, como o protozoário Trypanosoma
e a bactéria Neisseria gonorrhoeae, podem alterar seus antígenos (A) Mistura fenotípica
de superfície com bastante frequência. Isso permite ao organismo (B) Complementação
evadir as respostas de defesa. Qual das seguintes opções MELHOR (C) Rearranjo
explica como essa mudança frequente de antigenicidade ocorre? (D) Recombinação

(A) Ela é devida à transposição de genes existentes em um local 13. Sua paciente está sendo tratada para endocardite com penicilina G
ativo de expressão. há duas semanas. Ela agora apresenta febre e erupções maculopa-
(B) Ela é devida à aquisição de novos plasmídeos de fertilidade pulares eritematosas em seu peito e abdome. Um exame de urina
por transdução. revelou quantidades significativas de proteína na urina. Se a febre,
erupção e proteinúria são de origem imunológica, qual das seguin-
(C) Ela é devida à conjugação, durante a qual o receptor obtém
tes opções é a MAIS provável de estar envolvida?
novos genes cromossômicos.
(D) Ela é devida a novas mutações que ocorrem em "pontos quen- (A) IgG e complemento
tes" do genoma. (B) IgE e histamina
(C) IL-2 e células T citotóxicas
9. Uma mulher de 60 anos teve um adenocarcinoma de colo que foi
(D) Interferon gama e macrófagos
removido cirurgicamente. Várias transfusões de sangue foram rea-
lizadas, e ela estava bem até três semanas depois da cirurgia, quan- 14. Endotoxina é uma causa fundamental de choque séptico e morte,
principalmente em pacientes hospitalizados. Considerando a en-
do febre, vômitos e diarreia começaram. Culturas de sangue e fezes
dotoxina, qual das seguintes opções é a MAIS correta?
foram negativas para bactérias, e os testes para Clostridium di.fficile
e antígeno de superfície de hepatite B foram negativos. Uma ne- (A) Ela atua por meio da fosforilação da proteína estimulatória G.
cropsia do fígado revelou corpúsculos de inclusão intranucleares. (B) É um polipeptídeo com uma configuração subunidade A-B.
Qual das seguintes opções é a causa MAIS provável? (C) Induz a síntese de fator de necrose tumoral.
(D) É encontrada principalmente em bacilos gram-positivos.
(A) Citomegalovírus
(E) Ela pode ser tratada com formaldeído para formar uma efi-
(B) Vírus do dengue
ciente vacina toxoide.
( C) Vírus da hepatite A
(D) Rotavírus 15. Uma garota de 12 anos teve um desmaio esta manhã e foi levada
para o hospital. Ao exame, sua temperatura era de 40ºC, e ela não
(E) Vírus da febre amarela
apresentou rigidez na nuca. Uma tomografia computadorizada
10. Qual das imunoglobulinas abaixo MELHOR se encaixa nades- (TC) revelou uma anormalidade. Uma punção lombar foi reali-
crição a seguir: É encontrada no plasma, na forma de um dímero zada, e proteínas e glicose estavam normais. Coloração de Gram
contendo uma cadeia J. À medida que esta imunoglobulina passa do líquido espinal não mostrou organismos ou polis. Ela foi tratada
através das células de mucosa, adquire uma porção secretória que a com vários antibióticos, mas entrou em coma e morreu dois dias
protege da degradação por proteases. depois. Nas culturas de rotina de sangue e líquido espinal não cres-
(A) IgM ceram nenhum organismo. Na necropsia do encéfalo, corpúsculos
(B) IgG de inclusão eosinófilos foram visualizados no citoplasma dos neu-
(C) IgA rônios. Das seguintes opções, qual é a causa MAIS provável?
(D) IgD (A) Príons
(E) IgE (B) Vírus JC
PARTE XIV Questões para Diagnóstico Clínico 733

(C) Vírus da raiva 22. Considerando o modo de ação dos fármacos antivirais, qual das
(D) Parvovírus B19 seguintes opções é a MAIS correta?
(E) Herpes-vírus simples 1 (A) A amantadina inibe o vírus influenza A, inibindo a RNA-
16. Uma mulher de 70 anos apresenta surgimento rápido de febre de -polimerase carregada pelo vírion.
39ºC e uma tosse produzindo escarro esverdeado. Ela não está (B) O foscarnet inibe o vírus da varicela-zóster, inibindo a RNA-
hospitalizada e nem é imunocomprometida. Uma radiografia do -polimerase carregada pelo vírion.
tórax revela um infiltrado no lobo inferior esquerdo. Das seguintes (C) A ação do aciclovir é maior em células infectadas por herpes-
opções, qual conjunto de achados descreve o organismo causador -vírus do que em células não infectadas, pois as células infec-
MAIS provável de ser encontrado na cultura de escarro? tadas por herpes-vírus contêm uma enzima que fosforila o
(A) Diplococos gram-positivos que formam colônias a-hemolíticas. aciclovir de maneira muito eficiente.
(B) Diplococos gram-negativos que formam colônias oxidase- (D) A azidotimidina inibe o vírus da imunodeficiência humana
-positivas. (HIV), inibindo a síntese de mRNA virai de maneira mais efi-
(C) Bacilos gram-positivos que formam colônias 13-hemolíticas. ciente do que a síntese de mRNA celular.
(D) Bacilos gram-negativos que formam colônias oxidase-positivas. (E) O indinavir bloqueia a replicação do HIV, inibindo a protease
(E) Cocos gram-negativos que crescem apenas anaerobiamente. necessária para que a proteína de envelope gp120 se ligue à
proteína CDS na superfície de células T.
17. Considerando a função das quimiocinas nas defesas do hospedei-
ro, qual das seguintes opções é a MAIS correta? 23. Qual das seguintes doenças é MAIS provável de ser causada por
uma reação de hipersensibilidade tardia?
(A) As quimiocinas ligam-se ao receptor de células T fora do local
de ligação ao antígeno e ativam muitas células T. (A) Doença do soro
(B) Glomerulonefrite pós-estreptocócica
(B) As quimiocinas induzem troca gênica em células B que au-
menta a quantidade de IgE sintetizada, predispondo a alergias. (C) Lúpus eritematoso sistêmico
(C) As quimiocinas penetram nas membranas das células-alvo (D) Doença hemolítica do recém-nascido
durante o ataque por células T citotóxicas. (E) Dermatite de contato
(D) As quimiocinas atraem neutrófilos para o local de infecção 24. Membros do gênero Mycobacterium são mais bem corados com
bacteriana, contribuindo para a resposta inflamatória. coloração acidorresistente do que por coloração de Gram. Qual das
18. Qual das seguintes opções apresenta AMBAS as bactérias que pro- seguintes opções é a MELHOR explicação para esse achado?
<luzem exotoxinas que agem pela ribosilação de ADP? (A) Eles não possuem uma parede celular; portanto, eles não con-
(A) Salmonella typhi e Vibrio cholerae seguem absorver o cristal violeta.
(B) Eles possuem uma parede celular muito fina que não retém o
(B) Vibrio cholerae e Corynebacterium diphtheriae
(C) Salmonella typhi e Clostridium perfringens cristal violeta.
(D) (C) Eles possuem uma grossa cápsula polissacarídica que impede
Corynebacterium diphtheriae e Staphylococcus aureus
(E) Clostridium perfringens e Streptococcus pyogenes a entrada da solução de iodo.
(D) Eles possuem uma grande quantidade de lipídeo em sua pare-
19. Considerando os vírus da hepatite C (HCV) e o da hepatite D de celular que impede a entrada do cristal violeta.
(HDV), qual das seguintes opções é a MAIS correta?
25. Um homem de 50 anos com um transplante de rim cadavérico está
(A) O HCV é transmissível pelo sangue, contudo o HDV não é. rejeitando o transplante, apesar dos fármacos imunossupressores.
(B) Mais da metade das infecções por HCV resulta em um estado
Ele está agora com insuficiência renal e um pH do sangue de 7,31.
crônico portador. Ontem ele desenvolveu uma dor próxima ao seu olho esquerdo que
(C) Existe uma vacina eficiente contra HCV, mas não contra se tornou progressivamente mais grave. Ao exame, sua temperatura
HDV. é de 37,5ºC, e a pele perto do seu olho está inchada e necrótica.
(D) Tanto HCV quanto HDV são vírus de RNA defectivos e ne- Exame microscópico de uma biópsia da lesão revelou hifas não
cessitam de infecções concomitantes de HBV para replicar-se. septadas com um padrão de árvore em brotamento. Qual dos se-
20. Qual das seguintes opções é a MAIS provável de induzir uma guintes organismos é a causa MAIS provável?
resposta de anticorpos IgM sem a participação de células T auxi- (A) Candida albicans
liares? (B) Coccidioides immitis
(A) Polissacarídeo capsular bacteriano (C) Cryptococcus neoformans
(B) Toxina da síndrome do choque tóxico (D) Histoplasma capsulatum
(C) Penicilina-complexo de albumina de soro bovino (BSA) (E) Espécies de Mucor
(D) Toxoide tetânico 26. Uma mulher de 60 anos fez cirurgia para carcinoma de ovário qua-
21. Uma mulher de 25 anos, grávida, no terceiro trimestre, vai à sala de tro dias atrás e tem um cateter urinário interno colocado. Ela ago-
emergência dizendo que aproximadamente 12 horas atrás começou ra apresenta febre de 39ºC e sua urina no tubo coletor está turva.
a se sentir fraca e com febre. Ao exame, ela apresenta uma tempe- Coloração de Gram da urina mostra muitas polis e cocos gram-
ratura de 40ºC, mas nenhum outro achado pertinente. Uma hemo- -positivos em cadeias. Qual das seguintes opções seria o achado
cultura resulta no crescimento de pequenos bacilos gram-positivos MAIS provável no exame de urina?
que causam 13-hemólise em uma placa de ágar-sangue incubada à (A) Colônias a-hemolíticas em ágar-sangue que são sensíveis à
temperatura ambiente. Qual das seguintes bactérias é a causa MAIS optoquina.
provável? (B) Colônias 13-hemolíticas em ágar-sangue que são sensíveis à
(A) Clostridium perfringens bacitracina.
(B) Streptococcus pyogenes (C) Colônias 13-hemolíticas em ágar-sangue que hidrolisam o hi-
( C) Bacillus cereus purato.
(D) Listeria monocytogenes (D) Colônias não hemolíticas em placa de ágar-sangue que cres-
(E) Brucella abortus cem em NaCl a 6,5%.
734 PARTE XIV Questões para Diagnóstico Clínico

27. O seu paciente é um homem de 40 anos de idade com histórico 32. Considerando as defesas do hospedeiro contra os vírus, qual das
de confusão mental nos últimos dois dias e que apresentou uma seguintes opções é a MAIS correta?
crise convulsiva grande mal na manhã do presente dia. Ele é so- (A) IgA exerce seu efeito antivira! principal melhorando o efeito
ropositivo para HIV e possui uma contagem de CD4 de 100/µ,L. citopático de células natural killer - um processo chamado
Ao exame clínico, apresentou temperatura de 37,5ºC, e os demais citotoxicidade celular dependente de anticorpos.
achados do exame se apresentaram dentro dos limites normais. (B) IgG possui um papel importante na neutralização da infecti-
Imagens de ressonância magnética (RM) revelaram diversas lesões vidade viral durante a infecção primária.
cerebrais cavitárias com "reforço em anel': Ele não viajou para fora (C) Complexos de vírus e IgE são a causa da artrite inflamatória
dos Estados Unidos, tem o emprego de gerente de um supermer- observada em várias infecções virais, como hepatite B e rubéola.
cado, é vegetariano estrito, e possui vários animais domésticos: um (D) Os interferons alfa e beta exercem sua atividade antivira! in-
cachorro, um gato, um papagaio e uma tartaruga. Qual dos seguin- duzindo uma ribonuclease que degrada o mRNA viral e uma
tes organismos é a causa MAIS provável? proteína cinase que inativa a síntese proteica.
(A) Toxocara canis (E) Os interferons alfa e beta possuem efeito antivira! contra vírus de
(B) Toxoplasma gondii genoma de RNA, mas não contra os vírus de genoma de DNA.
( C) Taenia saginata 33. A rinite alérgica é caracterizada por espirros, rinorreia, congestão
(D) Trichinella spiralis nasal e coceira dos olhos e do nariz. Pessoas com rinite alérgica
(E) Trypanosoma cruzi possuem um "X" que se liga a receptores de alta afinidade do "Y':
28. A emergência de bactérias resistentes a antibióticos, principalmen- Em uma reexposição ao antígeno, o "Y" dos pacientes com rinite
te bacilos gram-negativos entéricos, é um fenômeno extremamente alérgica degranula, liberando "Z" e outros mediadores. Qual das
importante. A aquisição de resistência comumente ocorre por um seguintes opções MELHOR descreve X, Y e Z?
processo que envolve um pilus sexual e a subsequente transferência (A) X é IgE, Y são macrófagos, e Z é o fator de necrose tumoral.
de plasmídeos carregando um ou mais transposons. Qual dos se- (B) X é IgE, Y são basófilos, e Z é histamina.
guintes nomes MELHOR descreve esse processo? (C) X é IgG, Y são eosinófilos, e Zé histamina.
(A) Conjugação (D) X é IgG, Y são neutrófilos, e Zé o fator de necrose tumoral.
(B) Combinação (E) X é IgA, Y são eosinófilos, e Z é interleucina 5.
( C) Transformação 34. Um surto de infecções de feridas pós-cirúrgicas causado por Sta-
(D) Transdução phylococcus aureus ocorreu. A equipe de controle de infecções foi
(E) Translocação acionada para investigar a existência de um possível portador. Usan-
29. Considerando o diagnóstico, o tratamento e a prevenção de HIV, do seu conhecimento sobre a microbiota normal, qual das seguintes
qual das seguintes opções é a MAIS correta? regiões do corpo é a localização MAIS provável do organismo?
(A) O fármaco zidovudina (AZT) é "terminador de cadeiâ'; isto é, (A) Colo
inibe a cadeia polipeptídica crescente causando leitura errô- (B) Sulco gengival
nea do mRNA viral. (C) Nariz
(B) O fármaco lamivudina (3TC) age por meio da ligação à in- (D) Garganta
tegrase, o que impede a integração do DNA viral no DNA (E) Vagina
celular. 35. Um homem de 35 anos de idade, soropositivo para HIV, e com
(C) Na triagem para avaliação da infecção pelo HIV, o ensaio uma contagem de CD4 de 30 diz: "Não consigo me lembrar das
imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA) detecta a presença coisas mais simples:' Você acha que pode ser demência. Uma res-
do anticorpo para a proteína p24 do HIV. sonância magnética indica várias lesões espalhadas pelo encéfalo.
(D) Uma grande limitação para a capacidade de produzir uma Nos quatro meses seguintes, ele desenvolveu defeitos no campo
vacina contra HIV é que existem muitos tipos sorológicos da visual, tornou-se paralisado e morreu. Uma necropsia revelou que
proteína p24 viral. muitos neurônios cerebrais haviam perdido mielina e continham
30. Considerando os haptenos, qual das seguintes opções é a MAIS inclusões intranucleares. Microscopia eletrônica revelou que as in-
correta? clusões continham vírus não envelopados. Qual dos seguintes vírus
(A) Eles são polipeptídeos típicos resistentes à clivagem proteolí- é a causa MAIS provável?
tica no interior da célula apresentadora de antígenos. (A) Adenovírus
(B) Eles ligam-se a proteínas do MHC de classe II, mas não a (B) Citomegalovírus
proteínas do MHC de classe 1. (C) Herpes-vírus simples
(C) Eles não induzem anticorpos se não estiverem ligados a uma (D) Vírus JC
proteína carreadora. (E) Vírus de Coxsackie
(D) Eles ativam o complemento por meio da ligação à porção Fc 36. Um homem de 75 anos com dor no peito abaixo do esterno foi
da cadeia pesada de IgG. diagnosticado com angina de peito causada por aortite sifilítica que
31. Seu paciente é um homem de 20 anos que apresenta corrimento afetou suas artérias coronárias. Das seguintes opções, qual é a for-
uretral. A coloração de Gram do pus revelou diversos neutrófilos, ma MAIS provável pela qual o diagnóstico de sífilis foi realizado?
mas nenhuma bactéria. Qual dos seguintes organismos é a causa (A) Cultura sanguínea
MAIS provável? (B) Cultura em meio Thayer-Martin (ágar-chocolate com anti-
(A) Treponema pallidum bióticos)
(B) Haemophilus ducreyi (C) Detecção de anticorpos direcionados contra a cardiolipina
( C) Mycobacterium marinum em seu sangue
(D) Candida albicans (D) Detecção de antígenos treponêmicos em seu sangue
(E) Chlamydia trachomatis (E) Ensaio de Western blot
PARTE XIV Questões para Diagnóstico Clínico 735

37. Uma mulher de 22 anos tem uma erupção eritematosa na região BLOCO DOIS
malar da face que piora quando ela se expõe ao sol. Ela perdeu
aproximadamente 4 kg e sente-se cansada a maior parte do tempo. 1. Uma menina de quatro anos de idade tem lesões papulares e pustu-
Ela mediu a própria temperatura algumas vezes e viu que era de lares na face. As lesões estão exsudando um fluido sérico com cor
37,2ºC. Um exame físico foi normal, exceto pela erupção. Testes de mel. Você faz um diagnóstico clínico de impetigo. Uma colora-
laboratoriais revelaram hemoglobina de 11 e uma contagem de leu- ção de Gram do exsudato revela cocos gram-positivos em cadeias,
cócitos de 5.500. O exame da urina revelou albumina na urina, mas e uma cultura revela colônias 13-hemolíticas em ágar-sangue. Para
não hemácias, leucócitos ou bactérias. Qual das seguintes opções é qual das seguintes sequelas ela está em MAIOR risco?
o achado laboratorial MAIS provável nesta doença? (A) Diarreia sanguinolenta
(A) Redução do número de células T auxiliares (CD4-positivas) (B) Visão embaçada
(B) Nível elevado de anticorpos direcionados contra DNA dupla- (C) Paralisia do nervo facial (paralisia de Bell).
-fita (D) Hemácias e albumina na urina.
(C) Número elevado de células T citotóxicas (CDS-positivas) (E) Escarro cor de ferrugem.
(D) Nível baixo de inibidor de Cl 2. O genoma purificado de certos vírus de RNA pode entrar em uma cé-
(E) Baixa atividade microbicida de neutrófilos lula e iniciar a produção de progênie viral (i.e., o genoma é infeccioso).
38. Considerando fármacos antimicrobianos que agem inibindo a sín- Considerando estes vírus, qual das seguintes opções é a MAIS correta?
tese de ácido nucleico em bactérias, qual das seguintes opções é a (A) Possuem um genoma segmentado.
MAIS correta? (B) Possuem uma polimerase no vírion.
(A) Quinolonas, como ciprofoxacina, inibem a RNA-polimerase (C) Seu genoma de RNA é dupla-fita.
em bactérias, agindo como análogos de ácidos nucleicos. (D) Eles codificam uma protease que cliva um polipeptídeo pre-
(B) Rifampina inibe a RNA-polimerase em bactérias, ligando-se à cursor.
enzima e inibindo a síntese de RNA mensageiro. (E) Seu genoma de RNA possui a mesma sequência de bases do
(C) Sulfonamidas inibem a DNA-polimerase em bactérias, cau- queomRNA.
sando terminação de cadeia da fita em crescimento. 3. Um homem de 77 anos com endocardite por enterococos precisou
(D) Trimetoprima inibe a DNA-polimerase em bactérias, impe- ser tratado com penicilina G, mas possuía história de reação grave
dindo o desenovelamento de DNA de dupla-fita. à penicilina. Ele foi, portanto, submetido a teste cutâneo usando
39. Considerando o parvovírus B19, qual das seguintes opções é a peniciloil-polisina como antígeno. Qual das seguintes opções é a
MAIS correta? MAIS provável de ocorrer em um teste positivo?
(A) O parvovírus B19 possui um genoma de DNA de dupla-fita, (A) O antígeno forma imunocomplexos com IgG.
mas requer uma DNA-polimerase do vírion porque se replica (B) O antígeno ativa células T CD4-positivas e macrófagos.
no citoplasma. (C) O antígeno ativa a via alternativa do complemento.
(B) O parvovírus B19 é transmitido principalmente por meio da (D) O antígeno ativa células T CDS-positivas por meio da ligação
relação sexual. a proteínas do MHC de classe 1.
(C) O parvovírus B19 causa anemia grave porque preferencial- (E) O antígeno liga IgE em mastócitos e causa a liberação de his-
mente infecta precursores de hemácias. tamina.
(D) Pacientes infectados com parvovírus B19 podem ser diagnos- 4. Considerando a coloração de Gram, qual das seguintes opções é a
ticados no laboratório usando o teste de crioaglutinação. MAIS correta?
(E) Pacientes com doença disseminada causada por parvovírus
(A) Depois de adicionar o cristal violeta e o iodo de Gram, tan-
B19 podem ser tratados com aciclovir.
to bactérias gram-positivas quanto bactérias gram-negativas
40. Qual dos seguintes testes laboratoriais seria o MELHOR para ser irão aparecer azuis.
solicitado a fim de determinar o número de células CD4-positivas (B) Se você esquecer-se de corar com o corante vermelho (safra-
em um paciente infectado com HIV? nina ou fucsina básica), tanto bactérias gram-positivas quan-
(A) Aglutinação to bactérias gram-negativas irão aparecer azuis.
(B) Ensaio imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA) (C) Se você esquecer-se de fixar pelo calor, tanto bactérias gram-
(C) Citometria de fluxo -positivas quanto bactérias gram-negativas irão aparecer azuis.
(D) Imunoeletroforese (D) As bactérias apresentam cores diferentes após essa coloração
(E) Ensaio em gel de Ouchterlony porque bactérias gram-positivas possuem lipídeos em sua
membrana, enquanto bactérias gram-negativas não possuem.
5. Um homem de 35 anos com uma contagem de CD4 de 50 apre-
senta um nódulo na pele de seu peito. O nódulo tem aproximada-
RESPOSTAS PARA O BLOCO UM mente 3 cm de diâmetro e não é vermelho, nem quente, nem mole.
1. (B) 11. (D) 21. (D) 31. (E) Ele diz que o nódulo vem crescendo lentamente durante as últimas
2. (A) 12. (B) 22. (C) 32. (D) três semanas. Você faz uma biópsia do nódulo, e o patologista o
3. (D) 13. (A) 23. (E) 33. (B) informa que o paciente apresenta criptococose disseminada. Qual
4. (C) 14. (C) 24. (D) 34. (C) das seguintes opções é a MELHOR descrição do que o patologista
5. (D) 15. (C) 25. (E) 35. (D) observou na amostra de biópsia?
6. (E) 16. (A) 26. (D) 36. (C) (A) Esférulas
7. (B) 17. (D) 27. (B) 37. (B) (B) Hifas não septadas
8. (A) 18. (B) 28. (A) 38. (B) (C) Tubos germinativos
9. (A) 19. (B) 29. (C) 39. (C) (D) Leveduras em brotamento com uma cápsula espessa.
10. (C) 20. (A) 30. (C) 40. (C) (E) Hifas septadas com ramificação em ângulo baixo.
736 PARTE XIV Questões para Diagnóstico Clínico

6. Uma mulher de 22 anos reclama de uma tosse não produtiva fre- (C) IgG liga-se à superfície bacteriana e torna a bactéria mais fácil
quente e de uma febre de 38,3ºC que apareceu lentamente nos úl- de ser ingerida por fagócitos.
timos quatro dias. Exame físico revela alguns estertores na base do (D) IgM defende contra vermes parasitas, como o ancilóstomo.
pulmão esquerdo. Um infiltrado desigual é visualizado na radiogra- (E) IgE bloqueia a ligação de vírus à mucosa intestinal.
fia do tórax. Ela trabalha como secretária em um escritório de ad- 11. Um menino de seis anos caiu e sofreu um ferimento profundo cau-
vocacia e não viajou recentemente. Ela não está imunocomprome- sado por um prego enferrujado que penetrou em sua coxa. Sua mãe
tida e não foi hospitalizada recentemente. Uma amostra de seu soro removeu o prego e lavou o ferimento com água e sabão. Na manhã
aglutina hemácias a 4ºC, mas não a 37ºC. Qual das seguintes opções seguinte, ele apresentou uma temperatura de 38,8ºC, e sua coxa es-
MELHOR descreve o organismo que é a provável causa da doença? tava muito dolorida e inchada. Na sala de emergência, crepitus (gás
(A) Uma bactéria muito pequena sem parede celular. no tecido) foi notado. Uma coloração de Gram do exsudato da área
(B) Um diplococo gram-negativo com uma cápsula grande. do ferimento revelou grandes bacilos gram-positivos. Qual das se-
(C) Um bacilo acidorresistente que forma colônias em sete dias. guintes opções é a causa MAIS provável?
(D) Um bacilo gram-positivo filamentoso que é fracamente aci- (A) Actinomyces israelii
dor resistente. (B) Clostridium perfringens
(E) Um espiroqueta que nunca foi cultivado em ágar-sangue. (C) Clostridium tetani
7. A mãe de uma criança de quatro anos de idade notou que sua filha (D) Listeria monocytogenes
está dormindo mal e coçando sua área anal. Você suspeita que a (E) Complexo Mycobacterium fortuitum-chelonei
criança possa ter oxiúros. Qual das seguintes opções é o MELHOR (F) Nocardia asteroides
método para realizar o diagnóstico? (G) Pseudomonas aeruginosa
(A) Examinar as fezes para a presença de cistos. 12. As duas formas mais comuns de vacinas virais são vacinas inativa-
(B) Examinar as fezes para a presença de trofozoítos. das e vacinas vivas atenuadas. Considerando essas vacinas, qual das
(C) Examinar um esfregaço de sangue para a presença de micro- seguintes opções é a MAIS correta?
filárias. (A) Vacinas inativadas induzem uma resposta mais duradoura do
(D) Determinar o título de anticorpos IgE contra o organismo. que as vacinas vivas atenuadas.
(E) Examinar uma fita adesiva transparente para a presença de ovos. (B) Vacinas inativadas não são mais utilizadas nos Estados Uni-
8. Considerando os esporos bacterianos, qual das seguintes opções é dos porque elas não induzem IgA secretora.
a MAIS correta? (C) Vacinas inativadas induzem uma maior gama de respostas
(A) Um esporo germina para formar uma bactéria. imunes do que as vacinas vivas atenuadas.
(B) Eles são produzidos principalmente no interior de hemácias (D) Vacinas inativadas são mais seguras de ser administradas
de humanos. para pacientes imunocomprometidos do que as vacinas vivas
(C) Eles são mortos por fervura ao nível do mar, mas não em uma atenuadas.
altitude elevada. 13. Considerando as hipersensibilidades anafilática (tipo I) e por
(D) Eles são produzidos por anaeróbios apenas na presença de imunocomplexo (tipo III), qual das seguintes opções é a MAIS
. "
oxigen10. correta?
(E) Eles contêm endotoxina, o que responde pela sua capacidade (A) IgE está envolvida nas hipersensibilidades anaftlática e por
de causar doença. imunocomplexo.
9. Uma mulher de 22 anos teve febre de 37,7ºC e anorexia nos últimos (B) O complemento está envolvido nas hipersensibilidades anafi-
dois dias, e esta manhã apareceu com icterícia. Ao exame, o fígado lática e por imunocomplexo.
dela estava aumentado e mole. Ela tem um total de bilirrubina de 5 (C) Menor quantidade de antígenos é normalmente necessária
mg/dL (normal,< 1) e transaminases elevadas. A mulher recebeu o para desencadear uma reação anafilática do que uma reação
curso completo da vacina contra a hepatite B há dois anos, mas não por imunocomplexo.
foi imunizada contra a hepatite A. Os resultados de seus testes so- (D) Neutrófilos têm um papel muito mais importante nas reações
rológicos de hepatite foram os seguintes: HAV-IgM negativo, HAV- anafiláticas do que nas reações por imunocomplexo.
-IgG positivo, HBsAg negativo, HBsAb positivo, HBcAb negativo, 14. A doença causada por qual das seguintes bactérias pode ser preve-
HCV-Ab positivo. Qual das seguintes opções é a MAIS provável? nida por uma vacina toxoide?
(A) Provavelmente, a mulher atualmente apresenta hepatite (A) Actinomyces israelii
A, possivelmente não foi infectada pelo vírus da hepatite B (B) Bacteroides fragilis
(HBV), e provavelmente teve hepatite C no passado. (C) Borrelia burgdorferi
(B) Ela provavelmente tem hepatite A agora, provavelmente foi (D) Corynebacterium diphtheriae
infectada com o HBV no passado, e provavelmente teve hepa- (E) Haemophilus influenzae
tite C no passado. (F) Listeria monocytogenes
(C) Ela foi infectada pelo vírus da hepatite A no passado (HAV), (G) Neisseria meningitidis
possivelmente não foi infectada pelo HBV, e provavelmente (H) Salmonella typhi
possui hepatite C atualmente. (I) Streptococcus pneumoniae
(D) Ela foi infectada com HAV no passado, provavelmente tem (J) Yersinia pestis
hepatite B agora, e provavelmente teve hepatite C no passado.
15. Uma mulher de 50 anos teve um gradual início de dores de ca-
10. Em relação às funções das diferentes classes de anticorpos, qual das beça que se tornaram progressivamente mais intensas durante as
seguintes opções é a mais correta? últimas três semanas. Ao exame, ela estava confusa em relação
(A) IgA age como um receptor de antígenos na superfície de célu- ao tempo, lugar e pessoas, e febril com 39ºC. Seu líquido espi-
las B. nal revelou glicose normal, proteínas normais e 17 células, todas
(B) IgG ativa a via alternativa do complemento, resultando na linfócitos. Coloração de Gram do líquido espinal não revelou ne-
produção de C3a que degrada a parede celular bacteriana. nhum organismo. Uma ressonância magnética revelou uma lesão
PARTE XIV Questões para Diagnóstico Clínico 737

radioluzente de 2 cm em seu lobo temporal. Uma biópsia da lesão (A) Candida albicans
cerebral foi realizada. Uma coloração de Giemsa do tecido mos- (B) Vírus Epstein-Barr
trou células gigantes multinucleadas com corpúsculos de inclusão (C) Parvovírus B19
intranucleares. Qual das seguintes opções é o organismo causador (D) Pneumocystis carinii
MAIS provável? (E) Poliovírus
(A) Adenovírus (F) Serratia marcescens
(B) Vírus de Coxsackie (G) Streptococcus mutans
(C) Citomegalovírus (H) Streptococcus pneumoniae
(D) Herpes-vírus simples 1 (I) Streptococcus pyogenes
(E) Vírus influenza (J) Strongyloides stercoralis
(F) Vírus do sarampo 20. Considerando a via do complemento, qual das seguintes opções é a
(G) Parvovírus B19 MAIS correta?
(H) Poliovírus (A) CSa medeia quimiotaxia e atrai neutrófilos para o local da in-
(I) Príon fecção.
(J) Vírus da raiva (B) CSb tem um papel importante na opsonização de bactérias
16. Um homem de 80 anos teve um carcinoma de colo removido três gram-negativas.
dias atrás. Ele estava bem até esta manhã, quando apresentou uma (C) C3a é um fator de aceleração do decaimento que causa a de-
febre de 39ºC e reclamou de dor abdominal intensa. Exames reve- gradação rápida e morte de bactérias.
laram um abdome em "forma de tábuâ', indicativo de peritonite. (D) Cl liga-se à superfície de bactérias gram-positivas, o que ini-
Ele foi levado para a sala de cirurgia, onde se descobriu que sua cia a via clássica.
anastomose se rompeu e conteúdos do intestino chegaram até a (E) O complexo de ataque à membrana é produzido na via clássi-
cavidade peritoneal. Um exsudato com mau cheiro foi observado. ca, mas não na via alternativa.
Uma coloração de Gram do exsudato peritoneal revelou muitos ba- 21. Uma mulher de 65 anos teve sintomas de demência. Uma resso-
cilos gram-negativos. Qual dos seguintes conjuntos de bactérias é a nância magnética revelou significativa atrofia cortical. Foi determi-
causa MAIS provável de infecção? nado que sua pressão intraventricular estava muito alta, e um des-
(A) Escherichia coli e Brucella melitensis vio ventriculoperitoneal (a partir do encéfalo, passando por baixo
(B) Enterobacter cloacae e Salmonella enteritidis da pele até a cavidade peritoneal) foi feito para aliviar a pressão.
( C)Fusobacterium nueleatum e Bacteroides fragilis Três semanas depois, ela desenvolveu uma febre de 38ºC, indispo-
(D) Haemophilus influenzae e Actinomyces israelii sição e anorexia, mas não outros sintomas. Das seguintes opções,
(E) Shigella dysenteriae e Serratia marcescens qual MELHOR descreve o organismo MAIS provável de estar cau-
17. Considerando as respostas primária e secundária de anticorpos, sando os sintomas atuais?
qual das seguintes opções é a MAIS correta? (A) Um coco gram-positivo que não coagula o plasma.
(A) A IgM produzida na resposta primária é composta principal- (B) Um bacilo gram-negativo curvo que produz urease.
mente por células B de memória. (C) Um bacilo acidorresistente que não cresce em meio bacterio-
(B) A fase "lag" é mais curta na resposta primária do que na res- lógico.
posta secundária. (D) Um parasita intracelular obrigatório que forma corpúsculos
(C) Na resposta primária, células B de memória são produzidas, de inclusão citoplasmáticos.
mas células T de memória não são. (E) Um espiroqueta que induz um anticorpo que aglutina lipí-
(D) Antígenos devem ser processados e apresentados na resposta deos do coração de uma vaca.
primária, mas não na resposta secundária. 22. Dois mutantes de poliovírus, um mutado no gene X e outro mu-
(E) A quantidade de IgG produzida na resposta secundária é tado no gene Y, foram isolados. Se uma célula for infectada com
maior do que a quantidade produzida na resposta primária. cada mutante sozinho, nenhum vírus é produzido. Se uma célula
18. Um homem de 70 anos que está recebendo quimioterapia para for infectada com os dois mutantes, qual das seguintes opções é a
leucemia desenvolve uma febre de 40ºC, tem dois episódios de ca- MAIS provável de acontecer?
lafrios com ranger de dentes, e sua pressão arterial cai para 80/20 (A) Complementação entre os produtos gênicos dos mutantes
mmHg. Das seguintes opções, qual é a MAIS provável de ser a cau- pode ocorrer e, se esse for o caso, tanto progênie do vírus X
sa da febre, dos calafrios e da hipotensão? quanto do vírus Y será produzida.
(A) Coagulase (B) Mistura fenotípica pode ocorrer e, se esse for o caso, tanto
(B) Ácido dipicolínico progênie do vírus X quanto do vírus Y será produzida.
( C) Glicocálice (C) Rearranjo dos segmentos do genoma pode ocorrer e, se esse
(D) Lipídeo A for o caso, tanto progênie do vírus X quanto do vírus Y será
(E) Ácido micólico produzida.
(F) Pili (D) O genoma pode ser transcrito em DNA, e, se esse for o caso,
( G) Cápsula polissacarídica tanto vírus X quanto Y serão produzidos.

19. Uma mulher de 22 anos aparece com "a pior dor de garganta que já 23. Uma mulher de 40 anos tem história de inflamação crônica das ar-
tive". Ela também reclama de fadiga e anorexia. Ela não está imu- ticulações das mãos bilateralmente. Você suspeita de artrite reuma-
nocomprometida e não foi hospitalizada recentemente. Ao exame, toide. Qual das seguintes opções é a MAIS correta, considerando a
ela está com febre de 38ºC, sua faringe está inflamada, e existem patogênese da doença?
alguns nodos cervicais macios bilateralmente. Não há lesões bran- (A) Ela é causada por linfócitos T CD4-positivos sensibilizados e
cas na língua nem na faringe. Em um cultivo da garganta crescem por macrófagos que invadem as articulações.
colônias a -hemolíticas em ágar-sangue que são resistentes à opto- (B) Ela é causada por anticorpos contra imunocomplexos huma-
quina. Das seguintes opções, qual é a causa MAIS provável? nos formados por IgG no interior das articulações.
738 PARTE XIV Questões para Diagnóstico Clínico

(C} Ela é causada pela liberação de mediadores de mastócitos 28. Uma mulher de 30 anos com história anterior de febre rcumátka
quando agentes ambientais ligam lgfs adjacentes no interior apresenta feb re há duas semanas. Exame fisico re\•clou um no,•o
das articulações. ruido cardíaco. Você suspeita de endocardite e realiza uma hemo·
(D} Ela é causada por supcrantígcnos que induzem a liberação de cultura para estreptococos do grupo viridans, e posteriormente
grandes quantidades de linfocinas de CCluJas T au.xfüarcs no identifica Strtptococrns sanguis. D~ seguintes locais do corpo. qual
interior das articulações. é a fonte MAIS prov-ávc1 de.ssc organismo?
24. Estão listadas a seguir cinco bactCrias associadas a um modo de (A) {',o!o
transmissão. QuaJ dos pares é o MAIS correto? (B) Boca
(A) Bomiia burgdorferi - picada de mosquito (C) Pdc
(B) Coxietla burnttii - guano de morcego (D) Estômago
(C} Haemophilus influenzae- fcrimc ntopcnctrantc contaminado (E) Vagina
com solo 29. Considerando o po!io\'lrus. qual das seguintes opções i: a ~1AJS
(D) Rickttt.sfü riOO'ttsU - alimentos contaminados correta?
(E} }t'rsinia ptstis - picada de pulga (A) Os polio,•írus mantêm-se latentes nos gânglios sensoriais. e
2S. Um homem de 70 anos com leucemia inicialmente respondia à reati\·ação ocorre principalmente cm pacientes imunocom-
quimioterapia, mas agora esta refratário. Ele. portanto, passou por promctidos.
um transplante de medula e agora cstã recebendo ahas doses de (B) Quando o \irus vh-o atenuado da \'adna oral se replica, rever-
cidosporina A e prcdnisona. TrCS semanas após o transplante, ele são de mutantes pode ocorrer e causar poliomielite paralitica.
tornou-se fobril com 3~C e começou a tossir catarro puru.Jcnto. (C) O uso difundido da \tadna inafü·ada cm países das Américas
Uma radiografia do tórax revelou pneumonia. Uma coloração de do Norte e do SuJ lc,-ou à quase total eliminação da poliomie-
Cram do catarro não revelou um organismo predominante, mas lite paralítica nessas áreas.
uma preparação com KOH do catarro rc\'dou hifas septadas com (D) A recomendação atuaJ i: administrar a vacina viva atenuada
pal'C'dcs paralelas e brotamento. Dos seguintes organismos, qual é o nas três primeiras imunizações para impedir que a criança aja
causador MAIS prm-á\-cl da pneumonia? como um reser,-at6rio, seguida de reforços utiliz.ando a \tad·
(A) Asptrgillusfumigatus na inativada.
(B) CAndida albicans 3-0. Considerando os tipos sanguíneos ABO e Rh, qual das seguintes
(C) C,occidioides immitis opções ê a MAJS correta?
(D) Cryptoc.oc.cus m:cformans
(A) Pessoas com sangue tipo O são chamadas de receptores uni-
(E) Rhizopus nrgriams
versais porque elas possuem anticorpos contra a substância
26. Sua paciente é uma mulher de 20 anos com diarreia grave que CO· H. mas não contra os antígenos A e B.
mcçou ontem. Ela acabou de 1,-oltar de uma ,•iagcm de três sema- (B) Se o pai i: Rh-posith-o e a mãe é Rh-ncgatr,a, doença hcmo-
nas para o Peru, onde comeu alguns mariscos crus cm sua festa litka do roci:m-nascido ocorre apenas se a criança for Rh-
de despedida. E.la agora cstà com diarreia aquosa, com tatwz. 20 ·ncgath-a.
mo\imentos intestinais por dia, e cstã sentindo-se bem cansada e (C) Pessoas que são Rh-negati\•as normalmente têm anticorpos
w nta. Sua coprocu.Jtura resultou ncgath'll para presença de sangue para o antígeno Rh porque das são expostas ao antígeno com
oculto. Uma coloração de Gram das fc.zcs mostrou a presença de reatividade cruzada loc.alizado cm bactérias do colo.
bacilos gram-negativos cun-os. Dos seguintes organismos. qual é o (D) Se um sangue tipo Ai: transferido para uma pessoa com san-
causador MAIS prm-ã.\-cl de sua diarreia? gue tipo B, o complemento será ath-ado. e o complexo de ata·
(A) Bacttroides fmgilis que à membrana irâ causar lise das hcmâcias do tipo A.
(B) Cam_pyiobacter jtjuni 31. Um homem de 25 anos teve um acidente de motocicleta três dias
(C) faitamoeba histolytica atrás. no qual sofreu trauma gra\'c na cabeça. Líquido espinal
(D) Helicolmcta pylori tem vazado pdo seu nariz desde o acidente. e agora ele desen-
(E) Shigclln d)•senteriae volveu uma dor de cabeça grave. Sua temperatura ê de 39°C, e ao
(F) Vibrio cl1oleme exame você acha rigidcr. da nuca. Você faz uma punç-.ão lombar e
(G) }t'rsinJa entt>roc.olitica descobre que o líquido espinal esta tun-o e conti:m 5.000 leucó-
21. Um homem de 50 anos tem tido dores de cabeça leves e persisten- citos/µ.L, 90% dos quais são polis. Das seguintes opções, qual é
tes há ,·ários meses. Nos úhimos dias, náusea, 1,-õmito e visão tur\<a o resultado MAJS prová\•d observado na análise laboratorial do
ocorreram. Uma rcssonància magnética revelou várias lesões se- liquido espinal?
mdhantes a cistos no parênquima cnccfâlico. () paciente viveu por (A) Bacilos gram-negati\'o s que cresceram apenas anacrobia-
muitos anos cm uma das pequenas ilhas caribcnhas. C..om base cm mcnte.
um teste sorológico posith-o. um diagnóstico de ncurocisticcrcosc (B) Um cspiroqucta com motilidade que forma colónias P,-hcmo-
foi feito. Oas seguintes opções. qual foi o modo MAIS provável pelo liticas cm âgar-sangue.
qual essa doença foi adquirida? (C) Cocos gram-positivos que formam colónias n-hcmoliticas
(A) Picada do mosquito-póh-ora cm âgar-sanguc.
(B) Picada de mosquito (D) Cocos gram-positivos que crescem apenas na presença de
(C) Relação sexual NaCla6.S96.
(D) Ingestão de lan.u do organismo cm peixe cru (E) Bacilos gram-posith-os que crescem apenas cm ãgar-chocola·
(E) Ingestão de ovos do organismo cm alimento contaminado te suplementado com fatores Xe V.
(F) Penetração da pele pelo organismo ao caminhar descalço (F) Nenhum organismo foi visualizado por coloração de Gram,
(G) Penetração na pele pelo organismo enquanto o paciente se mas colorações de tecido rc\-elaram corpU.SCulos de inclusão
banha\,a cm água fresca. citoplasmáticos.
PARTE XIV Questões para Diagnóstico Clínico 739

32. Considerando príons e doenças causadas por príons, qual das se- (D) Pulgas são o principal modo de transmissão do organismo
guintes opções é a MAIS correta? causador.
(A) Príons são altamente resistentes à luz ultravioleta e à fervura, (E) O diagnóstico em laboratório clínico é normalmente reali-
mas são inativados por hipoclorito. zado por meio do cultivo do organismo em ágar-chocolate.
(B) Príons são partículas contendo proteínas cercadas por um en- 37. Considerando a agamaglobulinemia, qual das seguintes opções é a
velope lipoproteico com uma DNA-polimerase no envelope. MAIS correta?
(C) O diagnóstico das doenças causadas por príons, como a (A) A troca de genes VDJ não ocorre.
doença de Creutzfeldt- Jakob, é realizado normalmente por (B) Existe pouca quantidade de IgG, mas níveis de IgM e IgA são
meio da observação do efeito citopático em cultura celular. normais.
(D) A doença de Creutzfeldt-Jakob ocorre principalmente em (C) A quantidade de células B é normal, mas elas não conseguem
crianças menores de dois anos, porque elas não conseguem se diferenciar em células plasmáticas.
formar uma resposta imune adequada contra as proteínas do (D) Existe um defeito em uma tirosina-cinase, uma das enzimas
,
pnon. na via de transdução de sinal.
33. Um menino de dois anos de idade teve infecções graves nos sínus e (E) Infecções virais são mais comuns em pacientes com essa
pulmões e está sendo avaliado para determinar se tem doença gra- doença do que infecções por bactérias piogênicas.
nulomatosa crônica. Considerando essa doença, qual das seguintes 38. Uma mulher de 20 anos apresenta história de corrimento vaginal
opções é a MAIS correta? nos últimos três dias. Em exame pélvico, você vê um exsudato pu-
(A) Existe uma deficiência na atividade de oxidase do NADPH. rulento na abertura do colo do útero, e há sensação de fragilidade
(B) O problema é principalmente em células apresentadoras de ao apalpar a tuba uterina direita. Você faz uma coloração de Gram
antígenos, como os macrófagos. e cultivo do corrimento do colo do útero. O cultivo é feito em meio
( C) Infecções por Pneumocystis carinii são comuns em pacientes Thayer-Martin, que é um ágar-chocolate contendo antibióticos para
que apresentam esta doença. inibir o crescimento da microbiota normal. Das seguintes opções,
(D) O diagnóstico é realizado principalmente por ELISA, no quais achados são os MAIS prováveis de serem encontrados?
qual anticorpos contra o componente celular afetado são de-
(A) A coloração de Gram revela muitos neutrófilos e espiroque-
tectados.
tas, e o cultivo em meio Thayer-Martin não revela nenhuma
34. Considerando Chlamydiae, qual das seguintes opções é a MAIS colônia.
correta? (B) A coloração de Gram revela muitos neutrófilos e bacilos
(A) Elas são bacilos gram-positivos que não formam esporos. gram-variáveis, e o cultivo em meio Thayer-Martin revela co-
(B) Elas exibem mobilidade do tipo enxame em uma placa de lônias 13-hemolíticas.
ágar-sangue. (C) A coloração de Gram revela muitos neutrófilos e diplococos
(C) Seu ciclo de vida consiste em uma partícula metabolicamente gram-negativos, e o cultivo em meio Thayer-Martin revela
inativa na fase extracelular. colônias oxidase-positivas.
(D) Elas só podem se replicar no interior de células porque não (D) A coloração de Gram revela muitos neutrófilos, mas nenhum
têm a capacidade de produzir certos mRNAs essenciais. diplococo gram-negativo é visualizado, e o cultivo em meio
(E) Elas replicam-se no núcleo de células infectadas, onde for- Thayer-Martin revela colônias coagulase-positivas.
mam inclusões que são úteis para o diagnóstico. 39. Considerando o vírus da imunodeficiência humana (HIV), qual
35. Considerando o papilomavírus humano (HPV), qual das seguintes das seguintes opções é a MAIS correta?
opções é a MAIS correta? (A) O termo carga virai refere-se à concentração de RNA de HIV
(A) Sangue e produtos sanguíneos são um modo importante de no plasma do sangue de pacientes.
transmissão do HPV. (B) Tanto zidovudina quanto lamivudina bloqueiam replicação
(B) O HPV é um vírus envelopado com um genoma composto do HIV, inibindo a clivagem do polipeptídeo precursor pela
por RNA de dupla-fita. protease codificada pelo vírion.
( C) A amantadina é um fármaco terminador de cadeia que ini- (C) A antigenicidade da proteína GAG do HIV é altamente variá-
be a replicação de HPV por meio do bloqueio da síntese de vel, o que é um impedimento significativo para o desenvolvi-
DNA. mento de uma vacina contra HIV.
(D) O HPV induz a formação de coilócitos na pele, que consti- (D) O teste de Western blot para anticorpos do HIV tem mais re-
tuem uma característica importante para o diagnóstico de sultados falso-positivos do que o teste ELISA.
infecções por HPV. 40. Considerando células Th-1 e Th-2, qual das seguintes opções é a
(E) A proteína do capsídeo P2 do HPV ativa o oncogene e-sare MAIS correta?
em células humanas, processo pelo qual o HPV predispõe à
(A) Células Th-1 produzem interferon "/ e promovem imunidade
malignidade.
celular.
36. Considerando a doença de Lyme, qual das seguintes opções é a (B) Células Th-2 produzem interleucina 12, que inibe a formação
MAIS correta? de células Th-1.
(A) O organismo causador é um bacilo gram-positivo. (C) Tanto células Th-1 quanto Th-2 possuem proteínas do MHC
(B) Camundongos são o principal reservatório do organismo de classe II em sua membrana celular externa.
causador. (D) Antes de se diferenciarem em células Th-1 ou Th-2, células
(C) A vacina contra doença de Lyme contém toxoide como imu- Th virgens são duplo-positivas (i.e., elas produzem tanto in-
nógeno. terferon "/ quanto interleucina 4).
740 PARTE XIV Questões para Diagnóstico Clínico

RESPOSTAS PARA O BLOCO DOIS 16. (C) 21. (A) 26. (F) 31. (C) 36. (B)
17. (E) 22. (A) 27. (E) 32. (A) 37. (D)
1. (D) 4. (A) 7. (E) 10. (C) 13. (C) 18. (D) 23. (B) 28. (B) 33. (A) 38. (C)
2. (E) 5. (D) 8. (A) 11. (B) 14. (D) 19. (B) 24. (E) 29. (B) 34. (C) 39. (A)
3. (E) 6. (A) 9. (C) 12. (D) 15. (D) 20. (A) 25. (A) 30. (D) 35. (D) 40. (A)
,
lodice
Nota: os números de página seguidos de/e t indicam figuras e tabe)as, respectivamente; aqueles seguidos de q e n indicam quadros e
notas. respectivamente; aqueles seguidos der indicam resumos; e aqueles em ne.g rito indicam os pontos principais.

A Abuso de fármacos .!.cido(s) nuc-lc-ioo(s)


botulismo e. 138 de micróbios. 2. 21
Abacavir (ABC. Ziagco). 265r-266t. 269-270.
Candido albica,u e. 400. 402 infeccioso. 2?7-228. 230
373. )73!
E'rwinia e. 215 modifi~ção de. desinfecção por. 101
Abataccpt (Ormcia). 494. 556
P$eUdOmtm.<U aen,ginO.fOC-. 164 s!mcsc de. fármacos que inibem. 78-80. 181
ABC (abac-a\'ir). 265t-266r, 269-270. 373. 373,
Staphyloccccu.t aia~u$ e. 686t vital, 220, 222/. 224q. \~r tamblm Vírus.
Abdome~ \~, lnfcoçõcs intra-abdominais
tétano e. 137 DNA: Wtrd. RNA
Abiormfia, 213
Abuso de fármacos intra\'C-no!iOS. \~r Abuso de dc(ccção de. 263. 263q
Abordasc-m bactcriotógka para diagnóstico.
61,62-66. 67q. \~rtambl,n ripo.tdecultim1
fármacos inibidores de s!mcsc de. 265-270. 2661.
Abuso ck. substância. \~r Abuso de fármacos 273q
espec(f":os Aca,uharnoeba, 4 11, .!.cidos micólicos
Abordagens imunológica.,; P<lt3 diagnóstioo. 61. Acamhamoeba castellanü. 437. 4371. 664.665,- cm Mycobacrerium ruben:ulosis, 181
65-66. 67q. \~r rambl,n resre.t espec.(fl(:O.t
íatorc.s de prcdisposi,ção para. 686t na parcdcec-lular bac(criana. 6
Abordagc.ns sorológkas para diagnóstico. 61. 65-
Ácaro Dcmodc.x. 574-575 sfmcsc de. fármacos que inibem. 81
66. 67q. \~r ramblm te.ftes espec(ficos Ácaros. 570,. 572-573. 572f-573j. 669-670, .!.cidos nuelcicos virais. dc~ccção de, 263, 263q
ABPA (a.'-pcrgilor.c broncopulmooar alérgica}. 405 transmissão de riquc(siose por. 208 .!.cidos teiooioos. na pru-cdecclalar bacteriana. 9
Abscesso cutâneo. 62"3r. 62-fr627. 626/ Ácaros da poeira doméstica. 574.575 de Sraphyloco<:etd OUl'eU.f, 111
Absccsso(s)
Ácaros de cílios. 574-575 pr.cumocócicos, 123
abdominal. 28 Ácaros de oolhdta. 574-575 .!.cidos(s)
ci.tre-ptococos ~-iridan.s causador de. 121 Ácaros Dennamphagoide.t, 574.575 desinfecção utili.7.ando. 101
pcptocs.rcptocócicos. 121 Ácaros do folículo piloso. 574-575 produção oelular reduzida de, vira)
Arochnia propitmica, 214
Ácaros Trombicula. 574-575 id«uitkação por. 261
da~- Bacteroide,fragilis., 165 Aec-tato de zinoo. usos dfnicos de. 615 Adnetobacter. 213
da mandlbota. 28 Aeetiloolina. toxina boullfnica e. 138 Adnetobacter baumannii, 80. 213
dental. Porphymrnmias. 216 Achromobacter. 213 Aeoo.216
do encéfalo. 594-595. 595/ Acidovir (acic-loguanosina. Zovirax). 265-268, Actinobacillus. 213
Bactemidesfragili.t, 165 265,. 266,, 267/. 268.f. 211.zn,.606, Actinobacillusacrino,nycetemcomitan.t, 213. 216
cstre-ptococos ~-iridan..r causador de. 121 mc~nismo de ~lk> de. 285 Actinom.icctos. 190-191. l9CV, 1911, 645r
Nocatdia asteroides, casoclínko. 672-673 para doença da úlocra genital. 605 Actinom.icosc. 190. 191/
pcptocs.rcptocócica. 121 para cncdalicc-. 594 ea.~oclfnico. 675-676
Toxopla.wna gmidii. naAid~. 3711 para infecções pe-lo berpcs-vfrus simples 1. Actinomyce.$
do ffgado. amcbiana. 411-412 287 da.~siftcaçãodc., 106-1071
do pulmão. 28 profilátioo, para o v(rus variec.la-7.Óstc:r. 288 como mi-ccobiota normal. 27-28,
Bactemide.fjragili.t, 165 Acidc-ntcs motociclfsticos. como fator de Actinomyce.$ israelii., 190. 191t, 645r
farfngco. Bacumidesfragilis, 165 pcc:disposiçào para Clo.nridium perfri'ngens, ca~oclfnico. 675-676
organismoscaui:sdorcs. 65-66 686, como mkrobiota normal. 28
pélvioo Ácido 6·aminopc-nicilãnico. 7 1. 7 lf doença causada por. \~r Actinomioose
Bacumide.fjragili.t, 165 Ácido acctilsalicmco infecções gcagiva.is devido à, fatores de
pcptocs.rcptocócica. 121 ação anti-inflamatória ck. 55n predisposição para. 53,
PeptOStl'eptOCOtXltS., 216 sfnd:romcde Re)'CC. 307 propriedades de~ 190
peritonsilar. Streptt>e()(X1t.S pyogene.t, 120 Ácido clavulflnico. 88·89 ADA. \~r Adcnina dcsaminase: Adc-nosina
rctrofarfngco. StreptOC()(XlfS pyogene.t, 120 Ácido desoxiniboouclcko. \~r DNA de.~aminac:e
Sui.ph)·foc()(X1t.S aureus. 109. l09f. 112. 114 Ácido dipioolfnioo. 11 Adalimumabe (Humira)
drcnagc.m de.. 115 Ácido Jipotc.iooico. 9 para doenças autoimuncs. 556. 551
Abscessos pulmonarc.s. 621. 62lf de Sraphylococcu.t aiue,.s, 111 rejeição a cnxc-rtos e. 525t
Bacreroide,frogilis. 164 de StNptococc1d pne1uno,iiae. 124 ADCC {citotox:icidade oc.lular dependente de
Nocardia, 191 Ácido nalidfxioo. Camp)1obacter i,uesrinali.t, anticorpos). 497. 511-512
PtnV)!el/o, 164 resistência a. 158-159 Adcfovir (Hcpscra). 265,. 2661, 270
Absidio. 405 Ácido nuckico infeccioso. 227-228. 230 Adcnilato-cicla.~
Absorventes internos. como fatores de Ácido p·aminobc-nzói-co (PABA). 78 Bacillu.t a,uilrad.s, 135
predisposição para S1aph)'f«()(X1fS aureu.f, 6861 Ácido ribonuc-lc-ioo. Ver R:-lA Bordetello pertu.t.ris., 170
742 Índice

estimulação de Agamaglobulinemia ligada ao X, 498-499 demência e, 596


,
por colerágeno, 156-157 Agar, precipitação em, 533, 533f histoplasmose em, 396
por toxina termolábil, 151 com campo elétrico, 534, 534f infecção por citomegalovírus em, 290
,
Adenina arabinosídeo (vidarabina), 265t, 266t, Agar Bordet-Gengou, 63-64t, 170 infecção por Penicillium mameffei em, 405-
,
268-269 Agar EMB (eosina azul de metileno), 63-64t, 64, 406
Adenina desaminase (ADA), gene defectivo para, 149, 153, 155-56, 161 infecções oportunistas em, 565-566
,
terapia gênica para imunodeficiência resultante Agar eosina azul de metileno (EMB), 63-64t, 64, pneumonia por Pneumocystisjiroveci em, 371,
de,239 149, 153, 155-156, 161 427-428
Adenite, mesentérica, Yersinia, 148t, 218 Ágar gema de ovo, 63-64t sarcoma de Kaposi em, 292-293, 293f
Adenite mesentérica ,
Clostridium perfringens e, 139 AIRE (regulador autoimune), 488,551
Yersinia, 148t Agar Lõwenstein-Jensen, 63-64t, 101 Alcaligenes, 213
Yersinia enterocolitica, 218 Ágar MacConkey, 63-64t, 64, 149, 153, 155-156, Alcaligenes faecalis, 213
Yersinia pseudotuberculosis, 218 ,
158,161 Álcalis, utilizado na desinfecção, 101
Adenosina desaminase (ADA), deficiência Agar Sabouraud (para fungos), 386 Alce, doença debilitante crônica em, 363
,
hereditária de, 563-564 Ágar Skirrow, para diagnóstico de Alcool, como antisséptico, 99-1 O1
Adenovírus, 229t, 242-243t, 242-245, 279, 280t, Campylobacter jejuni, 64 Alérgenos, 542
,
297-298, 304t, 323t, 650-651r Agar telurito-taurocolato-gelatina, Vibrio reações atópicas e, 544
achados clínicos em, 297t, 298 ,
cholerae e, 158n Alfavírus, 245
animal, 358 Agar tiossulfato-citrato-sais biliares, Vibrio Alimentos reaquecidos
complementaridade em, 233t ,
cholerae e, 158n envenenamento alimentar por Bacillus cereus
doenças causadas por, 297 Agar tríplice açúcar ferro (TSI), 63-64t causado por, 136
evasão imune por, 250-251 Enterobacteriaceae e, 149, 149t transmissão de Clostridium perfringens e, 139
mecanismo, 250-251t no coléra, 158 Aloenxerto(s), 523
forma e tamanho de, 220-221! para bastonetes gram-negativos, 150q feto como, 524
portal de entrada para, 249t Salmonella e, 64, 155 rejeição de, 523
replicação genômica em, 232t ,
Shigella e, 64,
,
156 Alótipos, 51 1-512
Adesinas, 34-37 Agar TSI. Ver Agar tríplice açúcar ferro Altabax (retapamulina), 624
Adjuvantes, 484 Ágarureia mecanismo de ação de, 78
na imunidade celular, 520 Enterobacteriaceae e, 149 usos clínicos de, 75t, 78
ADP-ribosilação, 39-41, 40-42t para bastonetes gram-negativos, 150q Alteração antigênica, do vírus influenza, 305,
,
catálise por toxina termolábil, 151 Agar-chocolate, 63-64t 306!, 307
, .
do fator 2 de elongação, por Agar-chocolate Thayer-Martm, 63-64t Altos títulos de imunoglobulinas Rh(D)
Corynebacterium diphtheriae, 141 ,
para culturas do trato genital, 65-66 (Rho-Gam), 539
Adultos mais velhos. Ver Idosos Agar-sangue, 61-62, 63-64t Alveolite, alérgica, 546
Aeróbios, obrigatórios, 16, 180 Campylobacter e, 158-159 Alveolite alérgica, 546
Aeróbios obrigatórios, 16, 180 Clostridium perfringens e, 139 Amantadina (Symmetrel), 265, 265-266t, 267!,
Aeromonas, 213 em infecções por Listeria monocytogenes, 144 271-272t, 308
Aeromonas hydrophila, 213 Enterobacteriaceae e, 149, 149t Amastigotas, 409
Aerossóis (gotículas de ar) Escherichia coli e, 153 Leishmania donovani, 432, 433f
doenças causadas por, 312 na difteria, 142 Trypanosoma cruzi, 428, 430f
resfriado comum, 614 Agenerase (amprenavir), 265t, 270-271, 373t, Amebas, 409,437, 437t. Ver também Sarcodina
transmissão adenoviral via, 297 374 Entamoeba histolytica, 410, 413f
transmissão da febre Q por, 208,210 Agentes ambientais, distúrbios autoimunes e, Amebíase, 41 1t, 413f
transmissão de Bordetella pertussis por, 170 553,553t Amebomas, Entamoeba histolytica, 41 1
transmissão de Chlamydia psittaci por, 683t Agentes de transdução, como retrovírus, 350 Amicacina, usos clínicos de, 75t
transmissão de Corynebacterium diphtheria Aglutinina(s) fria(s), em infecções por Amiloide, proteínas do príon e, 224
por, 141 Mycoplasma pneumoniae, 193 Aminoglicosídeos. Ver também aminoglicosídeos
transmissão de Cryptococcus neoformans por, Agrião, transmissão de Fasciola hepatica por, específicos
403,683t ,
454 mecanismo de ação de, 74t, 75-76, 75f
transmissão de Histoplasma capsulatum por, Agua, transmissão por, 33 resistência, 87t, 88t-89
683t de Bacillus cereus, 35-36t terapia de combinação utilizando, 9 1-92
transmissão de Mycoplasma pneumoniae por, de Dracunculus medinensis, 471 usos clínicos de, 74-75, 75t
193 de Escherichia coli, 150 para infecções por Enterobacter cloacae,
transmissão de Neisseria meningitidis por, 129 de Legionella pneumophila, 171, 684t 161
transmissão de Pneumocystis jiroveci por, 427 de Listeria monocytogenes, 35-36t para infecções por Escherichia coli, 153
transmissão do vírus da raiva por, 3 17 de Mycobacterium marinum, 684t para infecções por estreptococos do grupo
transmissão do vírus da rubéola por, 315 de Naegleriafowleri, 684t D, 118
transmissão do vírus de Coxsackie por, 325 de Pseudomonas, 163, 684t para infecções por Klebsiella pneumoniae,
transmissão do vírus do sarampo por, 31 O de Schistosoma, 684t 161
transmissão do vírus influenza por, 307, 683t de Vibrio cholerae, 156-157 para infecções por Serratia marcescens,
transmissão do vírus parainfluenza por, 314 de Vibrio vulnificus, 684t 161
, ,
transmissão do vírus sincicial respiratório por, Agua de consumo. Ver Agua, transmissão por para Streptococcus agalactiae, 122
313 a-hemólise, em ágar-sangue, causada por Amniocentese, detecção do vírus da rubéola por,
transmissão do vírus varicela-zóster por, 287 Streptococci, 116-1 18 3 16
Aflatoxinas, 385 Aids, 360t, 361. Ver também HIV (vírus da Amoxicilina, 61 1t
Agamaglobulinemia, 685t imunodeficiência humana) atividade contra bastonetes gram-negativos, 7 1
de Bruton, 561, 562-563t achados clínicos em, 371, 371t uso quimioprofilático de, 82t
Agamaglobulinemia de Bruton, 561, 562-563t câncer em, 565-566 usos clínicos de, 72!, 122, 612-614
Índice 743

para prevenção da endocardite, 82, 82t, 122 estrutura de, 80, 80f classes de, 510-512, 514. Ver também
AMP (monofosfato de adenosina), reações de mecanismo de ação de, 80, 80f, 386t imunoglobulinas específicas
hipersensibilidade e, 543n Angiedema mudança de, 514f
Ampicilina, 598 deficiência do inibidor de esterase Cl e, 529 diversidade de, 513
atividade contra bastonetes gram-negativos, 71 hereditário, 562-563t, 563-564 doenças autoimunes e, 552
colite pseudomembranosa devido a, 140 Angiedema hereditário, 562-563t, 563-564 estrutura de, 507-510, 509!, 510t
profilático, para sepse neonatal, 123 Angina de Vincent. Ver Boca de trincheira exclusão alélica e, 514-515
resistência a, 87t Angiomatose, bacilar, 214 fu nções de, 476,507, 510t, 517
uso quimioprofilático de, 82t Angiomatose bacilar, 178, 178!, 214 genes para, 511-514, 513f
usos clínicos de, 72f, 592 Angiostrongylus cantonensis, 472 idiótipos, 51 1-512
para infecções por Escherichia coli, 153 Anidulafungina, 74 indução ativa de, 517
para infecções por Listeria monocytogenes, Animais de fazenda. Ver animais específicos indução passiva de, 517
144 Animais domésticos. Ver também animais e interações com antígenos. Ver Reações
para infecções por Proteus mirabilis, 162 organismos específicos antígeno-anticorpo
para Streptococcus agalactiae, 122 como reservatórios, 34-37t isótipos, 51 1-512
Amplificação gênica, tumorigênese e, 352 Animais silvestres. Ver também animais monoclonal. Ver Anticorpos monoclonais;
Amprenavir (Agenerase), 265t, 270-271 , 373t, específicos anticorpos monoclonais específicos
374 como reservatórios, 682t-683t na difteria, 142
Anaeróbios facu ltativos, 16 Animal(is). Ver também animais específicos policlonal, 507
Anaeróbios obrigatórios, 16 como reservatórios, 34-37, 34-37t, 682t-683t pré-formados, 259
Anafilatoxina, complemento e, 527, 529 para Campylobacter, 158-159 produção de
Anafilaxia cutânea, 544 para cólera, 156-157 células Te, 497-498, 498J
Análise de sequências de ácidos nucleicos, 66 para Escherichia coli, 151 complemento e, 529
análise do LCS (líquido cerebrospinal), 589 para febre Q, 210 produção de célula B de, 479
Análise do líquido cerebrospinal (CSF), 589 para Listeria monocytogenes, 143 propriedades de, 508t
Análise do líquido sinovial, 579, 580t para Salmonella, 155 reduzidos, 685t
Anaplasma phagocytophilum, 213, 647r, 683t doenças lentas de, 363 regulação do sistema complemento e, 528-
Anaplasmose, 2 13 mordeduras de, transmissão do vírus da raiva 529
ANAs (anticorpos antinucleares), no lúpus por, 317 rejeição de aloenxerto anti-ABO, pré-formada,
eritematoso sistémico, 556 Anisakis, 456, 457t, 598 e,523
Ancilóstomos, 457t. Ver tambémAncylostoma; Anisakis simplex, 472-473, 668-669r soro, com antígenos conhecidos, identificação
Necator reservatórios para, 683t de, 66
cão,472 Anisaquíase, 456, 457t, 472-473 soroconversão e, 262
gato, 456, 472 Anitcorpos policlonais, 507 título de, 262, 262n
Ancylostoma, 409,456, 457t Anormalidades congênitas Anticorpos anti-ABO, pré-formados, aloenxerto
defesas do hospedeiro contra, 511-512 citomegalovírus e, 34-35t, 289 rejeição e, 523
Ancylostoma braziliense, 472, 668-669r vírus da rubeóla e, 315 Anticorpos antinucleares (ANAs), no lúpus
Ancylostoma caninum, 456, 458t, 472, 472!, Antagonistas, de proteínas repressoras, replicação eritematoso sistémico, 556
668-669r viral e, 235, 236f Anticorpos bloqueadores, 559
fonte ambiental de, 684t Antagonistas de correceptores, para HIV, 373t, Anticorpos catalíticos, 507, 515
lesões cutâneas causadas por, 687t 374 Anticorpos heterófilos, vírus Epstein-Barr e, 291
Ancylostoma duodenale, 461-462, 464f-465f, Antibiótico(s). Ver também fármacos específicos Anticorpos monoclonais, 507, 508q, 509f Ver
666-667,; 684t e tipos de fármacos também anticorpos monoclonais específicos
Anemia amplo espectro, 69 para artrite reumatoide, 556
aplástica, parvovírus B 19 e, 301 Candida e, 605, 607-608 para câncer, 559, 560
caso clínico, 677-678 como fator de predisposição para Clostridium quiméricos, 508q
célula falciforme. Ver Anemia falciforme dif.ficile, 686t rejeição a enxertos e, 525, 525t
hemolítica, 552t, 555 curto espectro, 69 Anticorpos monoclonais quiméricos, 508q
em infecções por Mycoplasma pneumoniae, para Staphylococcus aureus resistentes à Anticorpos pré-formados, 259
194 meticilina, 627t Antígeno capsular
na febre tifoide, 155 resistência a. Ver Resistência a antibióticos Cryptococcus neoformans, 404
perniciosa, 552t, 555 síndrome hemolítica-urêmica e, 152 de Enterobacteriaceae, 149
Anemia aplástica, parvovírus B 19 e, 301 supressão da microbiota normal por, 28 Antígeno carcinoembrionário, 560
caso clínico, 677-678 terapia de combinação utilizando, 91-92, 91- Antígeno de parede celular, de
Anemia falciforme 92! Enterobacteriaceae, 149
infecção por Salmonella em, 154, 674-675, vaginite por Candida e, 401, 605, 607-608 Antígeno de superfície
686t Antibióticos de amplo espectro, 69 do vírus da hepatite B, 333
infecção por Streptococcus pneumoniae em, Antibióticos de curto espectro, 69 do vírus da hepatite D , 339
686t Anticorpo de reação cruzada, vírus da dengue, em células cancerosas, 349
Anemia hemolítica, 552t, 555 346 Antígeno de superfície da hepatite B(HBsAg),
em infecções por Mycoplasma pneumoniae, Anticorpos, 57, 477, 507-515, 510!, 552t. 245, 333-335, 335!, 336t
194 Ver também anticorpos específicos e Antígeno de transplante tumor-específico
Anemia perniciosa, 552t, 555 imunoglobulinas (TSTA), 353
Anergia, 402, 493 a tumores, 559 Antígeno do capsídeo viral (VCA), vírus Epstein-
clonal, 55 1, 55 lf alótipos, 511-512 Barr, 290, 291
Anergia clonal, 55 1, 551f baixos níveis de, na hipogamaglobulinemia Antígeno do cerne, hepatite B, 333
Anfotericina B (Fungizona), 386 ligada ao X, 561, 562-563t Antígeno do cerne da hepatite B (HBcAg), 333,
efeitos adversos de, 80, 386t catalítica, 507, 515 335!, 336t
744 Índice

Antígeno e, hepatite B, 333 gastrintestinal, 134-135 análise do fluido sinovial em, 579, 580t
Antígeno e da hepatite B (HBeAg), 333,336 pulmonar (inalatório), 135-136 diagnóstico de, 580
Antígeno p24, do HIV, 368 Antraz cutâneo, 134-135, 135f fisiopatologia de, 579
Antígeno polissacarídico K, de Antraz gastrintestinal, 134-135 manifestações clínicas, 579-580
Enterobacteriaceae, 149 Antraz por inalação, 135-136 Neisseria gonorrhoeae causadora de, 131
Antígeno protetor, de Bacillus anthracis, 43-44, Antraz pulmonar, 135-136 patogênese de, 580, 580t
135-136 Aparência espongiforme, príons e, 224 prevenção, 580
Antígeno somático, de Enterobacteriaceae, 149 APCs (células apresentadoras de antígenos), Staphylococcus aureus causadora de, 114
Antígeno(s), 477, 482-484, 483f 477, 499-501. Ver também Células dendríticas; tratamento, 580
Borrelia, 201 Macrófago(s) Artrite viral, 581
codificado por genes HLA, 521-522 interação com células B e células T, 501 Artrópodes, 569-575, 570t. Ver também
conhecidos anticorpos do soro com, Apendicite, 601-602 Aracnídeos; Insetos; artr6podes específicos
identificação com, 66 Aplasia tímica, 561-563, 562-563t, 686t transmissão de Borrelia por, 199
de Enterobacteriaceae, 149 APOBEC3G (enzima de edição do RNA para transmissão de riquetsiose por, 208-210, 209t
do vírus influenza, 306-307 apolipoproteína B), 257, 366, 481 Artrósporos,384,384!
independente de célula T, 477-478 Apoptose, 258,488, 489!, 550 Coccidioides immitis, 394, 394f
interações com anticorpos. Ver Reações Apresentação cruzada, 492 Ascaridíase, 457t, 460-461
antígeno-anticorpo Apresentação de antígenos Ascaris, 409, 456, 457t
ligação de, 508 células B e, 494 defesas do hospedeiro contra, 511-512
multivalente, 497 células T e, 488 Áscaris. Ver Strongyloides
proteínas virais como, 220-221, 223 macrófagos e, 499-501, 499-500t Ascaris lumbricoides, 460-461, 462!, 463!,
protetor, de Bacillus anthracis, 135-136 Aptivus (tipranavir), 265t, 270-271, 373t, 374 666-667r
rearranjos programados e, 19 Ara-A (vidarabina), 265t-266t, 268-269 Ascósporos, 384
reconhecimento de célula T de, 494-495 Arachnia, 213-214 Asma, 543t
reconhecimento por células B, 479 Aracnídeos, 570t, 572-574-575. Ver também tratamento de, 545
sequestrados, liberação de, doenças aracnídeos específicos Aspergillus, 400t, 404-405, 613
autoimunes e, 554 Aranha reclusa marrom, 570t, 574-575, 574J, alergia a, 385
transplante tumor-específico, 353 669-670r fármacos efetivos contra, 7 4, 81
Viral Aranha viúva-negra, 570t, 574, 574!, 669-670r microconídios de, 384f
detecção viral de, 262, 263q Aranhas, 570t, 574-575, 574!, 669-670r teste da galactomanana para, 405
tolerância a, 258 Arbovírus, 342-347, 656-657,: Ver também transmissão e localização geográfica de, 385t
Antígeno-4 de linfócitos T citotóxicos (CTLA-4), arbovírus específicos Aspergillus fumigatus, 404-405, 660-662r
493-494, 493! achados clínicos e epidemiologia de, 344 caso clínico, 672-673
anergia clonal e, 493,551 causadores de doenças fora dos Estados com imunodeficiências ou defesas do
para câncer, 559 Unidos, 345-347, 346t hospedeiro reduzidas, 685t
Antígenos associados a tumores (TAAs), 559 causadores de doenças nos Estados Unidos, condições predisponentes para infecções por,
Antígenos de hemácias, reações antígeno- 344-346 57-58t
anticorpo envolvendo, 536-539 classificação de, 342, 343t doenças causadas por, 595
grupos sanguíneos ABO e reações de propriedades de, 342, 343t Aspergilose, broncopulmonar, alérgica, 405
transfusão e, 536-539, 536-538!, 538t transmissão de, 342-343, 343! Aspergilose broncopulmonar, alérgica, 405
tipo sanguíneo Rh e doença hemolítica do ARC (complexo relacionado à Aids), 371 Aspergilose broncopulmonar alérgica (ABPA),
recém-nascido e, 539, 539!, 539t Arcanobacterium haemolyticum, 214,613 405
Antígenos grupo-específicos, dos vírus influenza, Arenavírus, 220-221!, 230, 232t, 245 Assaduras, Candida albicans, 400, 402, 402f
305 Arizona, 214 Astrovírus,377-378
Antígenos H Arizona hinshawii, 214 Ataque imune, morte de células infectadas por
de Enterobacteriaceae, 149 Arritmia cardíaca, em infecções por Mycoplasma vírus por, 249
de Salmonella, 153 pneumoniae, 194 Ataxia-telangiectasia, 563-564
Antígenos independentes de células T, 477-478 Arroz, frito, reaquecido, envenenamento Atazanavir (Reyataz), 265t, 270-271, 373t, 374
Antígenos O alimentar por Bacillus cereus causado por, 136 Atividade bactericida, 69, 70!, 83q
de Enterobacteriaceae, 149 Arroz frito, reaquecido, intoxicação alimentar por Atividade bactericida do soro, 91-92
de Proteus, 161 Bacillus cereus causada por, 136 Atividade bacteriostática, 69, 70!, 83q
de Salmonella, 153 Artemeter/lumefantrina (coartem), 424t Atividades, exposição elevada a organismos de
Antígenos T, 353 Artralgias, em infecções por Mycoplasma importância médica, 685t
Antígenos tipo-específico, dos vírus influenza, 305 pneumoniae, 194 Atovaquona/proguanil (Malarone), 424-425,
Antígenos Vi, de Salmonella, 153-154 gonocócica, 131 424t
Antioncogenes,352 na doença de Lyme, 201 Atrito de fricção, na pericardite, 587
Antissépticos, 99-100 na febre reumática, 121 Autoclavagem, 1O1
Antissoro, conhecido, identificação de na hepatite B, 335 Autoenxertos, 523
organismos com, 65-66 parvovírus B 19 e, 301 Autoinfecção, Strongyloides, 463
Antitoxina botulínica, 97, 138 Staphylococcus aureus e, 114 Aves. Ver também aves específicas
Antitoxina diftérica, 97, 143 Staphylococcus epidermidis e, 114 como reservatórios
Antitoxinatetânica,97, 138 vírus da rubéola e, 316 para arbovírus, 344-346, 344t,
Antitoxinas, 39-40, 97. Ver também Artrite infecciosa (séptica), 579-580 para Chlamydia psittaci, 34-37t, 683t
Imunoglobulinas (IGs, globulinas imunes do Artrite por imunocomplexo, 581 para Cryptococcus neoformans, 683t
soro); antitoxinas específicas Artrite reativa, 555. Ver também Síndrome de para Histoplasma capsulatum, 683t
Antraz, 134-136. Ver também Bacillus anthracis Reiter para o vírus influenza, 683t
cutâneo, 134-135, 135f Artrite reumatoide, 547, 552t, 556 para vírus de encefalite, 683t
escara negra de, 135!, 136, 687t Artrite séptica, 579-580 excrementos de
Índice 745

transmissão de Cryptococcus neoformans filamentosos, caso clínico, 675-676 fármacos que inibem a síntese de, 70-74
por, 403 formadores de esporos, 25t patogênese da infecção por determinantes de,
transmissão de Histoplasma capsulatum grandes, caso clínico, 677-678 33-48, 49-50q
por, 395 não formadores de esporos, 25t estágios de, 32-33
influenza aviária e, 308-309 Bacilos gram-positivos formadores de esporos, patogênica, classificação de, 105-107, 106-
transmissão de Chlamydia psittaci por, 204, 134-141. Ver também Bacillus anthracis; 107 t
207 Bacillus cereus pili de, 6t, 11
transmissão do vírus influenza por, 306 Bacilos gram-positivos não formadores plasmídeos de, 6t, 9-1 O
Aves domésticas.Ver também Frango(s) de esporos, 141 -144, 141t. Ver também ribossomos de, 6t, 9
como reservatórios Corynebacterium diphtheriae; Listeria sistema de secreção de, 40-41
para Campylobacter jejuni, 682t monocytogenes sobrevivência intracelular de, 38-39
para Salmonella, 34-37t, 155, 682t Bacitracina tamanho de, 4, 5J, 12q
Avidez, 483 caso clínico, 673-674 tipos de infecções causadas por, 32
Azidotimidina (zidovudina), 265t-266t, 2671, mecanismo de ação de, 74 Bactéria acidorresistente, 180, 180f
269,270-271,372-373,373t Baço, alargamento do, na leishmaniose visceral, bacilos, 105
Azitromicina, 77, 122, 132, 170-171, 172, 206, 432 caso clínico, 671-672, 675-676
600t, 605, 606t, 620 Bactéria. Ver também bactérias específicas caso clínico, 672-673
Azóis acidorresistente. Ver Bactérias paredes celulares de, 6
efeitos adversos de, 386t acidorresistentes Bactéria gram-negativa
estrutura de, 81, 8 lf aderência a superfícies celulares, 34-37, 49- bastonetes. Ver Bastonetes gram-negativos
mecanismo de ação de, 81, 386t 50q classificação de, 25t
usos clínicos de, 81, 82t, 140-141 anaeróbia. Ver Bactéria anaeróbia coco, 25t, 105, 106-107t, 127-132, 635r-636r.
AZT (zidovudina), 265t-266t, 2671, 269-271, características essenciais de, 2t Ver também Neisseria gonorrhoeae;
372-373, 373t causadora de faringite, 613-614 Neisseria meningitidis; Neisseria
Aztreonam, 73, 73f ciclo de crescimento de, 15, 15f de menor importância médica, 213t
citoplasma de, 9-1O fatores de virulência de superfície de, 38-
classificação de, 24-25, 25t 39t
B conversão lisogênica e, 233, 235f diplococo, caso clínico, 676-677
Babesia microti, 41 lt, 437-438, 4381, 664-665r distúrbios autoimunes e, 553, 553t efetividade da penicilina contra, 71
com imunodeficiências ou defesas do DNA de, 9-10, lOJ, 13q exotoxinas produzidas por, 43-45, 44-45f
hospedeiro reduzidas, 686t síntese de, fármacos inibindo, 79, 79f paredes celulares de, 5-6, 6t, 7f
vetores para, 683t esporos de, 6t, 11, 121, 12t, 13q Bactéria gram-positiva
Babesiose, 41 l t, 437-438 morte, 101 bacilos. Ver Bacilos gram-positivos
transmissão de, 33, 437 estrutura de, 5, 5f, 6t classificação de, 25t
Bacillus, 4, 4f, 134-136, 134t estruturas fora da parede celular de, 10-11, 13q coco, 25t, 105, 106-107t, 109-125, 633r-635r
classificação de, 106-107 t fímbrias de, 6t, 11 de importância médica. Ver Staphylococcus;
esporos de, 11 flagelos de, 11 Staphylococcus aureus; Streptococcus
forma de, 4f forma de, 4, 4f, 12q pyogenes; Streptococcus; Streptococcus
Bacillus anthracis, 134-136, 636r fungos comparados a, 383t pneumonzae
atividades que elevam a exposição a, 685t genética de, 18-22 de menor importância médica, 213t
doença causada por, 134-136, 135f mutações e, 18-19 em cachos, caso clínico, 671-672, 674-675
exotoxinas de, 40-43t, 43-44 recombinação e, 22 em cadeias, caso clínico, 673-675, 678-
fatores de virulência de superfície de, 38-39t transferência de DNA entre células e, 19- 679
fonte ambiental de, 684t 22, 20t exotoxinas de, 40-43t
lesões cutâneas causadas por, 687t transferência de DNA no interior das fatores de virulência de superfície de, 38-
pneumonia causada por, 620 células e, 19, 20f 39t
propriedades de, 134-135, 135f glicocálice (camada limosa) de, 6t, 11 ilhas de patogenicidade de, 38-39
reservatórios para, 682t gram-negativa. Ver Bactéria gram-negativa; diplococo, caso clínico, 676-677
transmissão de, 34-37t, 135 bactérias gram-negativas específicas efetividade da penicilina contra, 71
Bacillus cereus, 136, 599, 599t-600t, 636r gram-positiva. Ver Bactéria gram-positiva; fármacos efetivos contra, 74
doença causada por, 136 bactérias gram-positivas específicas paredes celulares de, 5-6, 6t, 7f
toxinas produzidas por, 42-43t, 44-45 grânulos no citoplasma de, 6t, 9 Bactérias anaeróbias, 106-107
transmissão de, 35-36t, 135t, 136 ingestão de, na fagocitose, 55-56, 55f caso clínico, 677-678
Bacilo Calmette-Guérin (BCG), atípico, 565-566 invasiva, enzimas secretadas por, 34-37 de interesse médico, 106-107, 107 t
Bacilos de Koch-Weeks, 216 lisogenia em, latência em células humanas facultativo, 16
Bacilos gram-positivos, 105, 106-107t, 134-144, versus, 235-236 fármacos efetivos contra, 81
636r-638r membrana citoplasmática de, 9 obrigatório, 16
de importância médica, 134, 134t rnRNA de Bactérias oxidase-positivas
formadores de esporos, 134-141. Ver fármacos que inibem a síntese de, 79-80 como Neisseriae, 127, 129f
também Bacillus anthracis; Bacillus leitura incorreta de, aminoglicosídeos e, 74 como Pseudomonas, 163-164
cereus nomes de, 3 Bactérias pleomórficas, 4
não formadores de esporos, 141-144, 141t. nucleoides de, 6t, 9 Bacteriemia
Ver também Corynebacterium diphtheriae; opsonização de, 4 7 6 Bacteroides fragilis, 165
Listeria monocytogenes oxidase-positi va na febre tifoide, 602-603
de menor importância médica, 213t caso clínico, 673-674 Salmonella, 155
em filamentos longos, caso clínico, 672-673 Neisseriae como, 127, 129f Staphylococcus aureus, 114
exotoxinas de, 40-43t Pseudomonas como, 163, 164 Streptococcus bovis, 121
fatores de virulência de superfície de, 38-39t parede celular de, 4-9, 5f, 6t, 12q-13q Streptococcus pneumoniae, 123
746 Índice

Bacteriemia gram-positiva, efeitos Baylisascaris procyonis, 472 propriedades de, 170


patofisiológicos semelhantes à endotoxina em, BCG (Bacilo Calmette-Guérin), atípico, 565-566 Borrelia, forma de, 4f
46-47 Bebê(s) Borrelia burgdorferi, 195t, 199-201, 646r
Bacteriocinas, 1O cloranfenicol em, 77 atividades que aumentam a exposição a, 685t
Bacteriófago CTX, 158 infecção pelo vírus sincicial respiratório em, doença causada por. Ver doença de Lyme
Bacteriófago mutador, 19 313 lesões cutâneas causadas por, 687t
Bacteriófagos caso clínico, 674-675 localização geográfica de, 684t
CTX, 158 pertússis em, 170 propriedades de, 199
ligação de, 227 recém-nascido. Ver Neonatos reservatórios para, 682t
transdução e, 20-21, 20t, 22f transmissão vertical e, 33, 34-35t, 248 transmissão de, 34-37t, 569, 683t
Bacterioterapia fecal, para colite Bedaquilina, 185 Borrelia hermsii, 201
pseudomembranosa, 141 Bejel, 199 Borrelia recurrentis, 195t, 201, 646r
Bacteriúria assintomática, 631-632 Belatacept (Nulojix), 525 rearranjos programados em, 19
Bacteroides, 164-165 Benzilpenicilina, 72, 122 transmissão de, 34-37t
classificação de, 106-107t Benzodiazepínicos, para tétano, 138 Borreliose, Lyme. Ver Doença de Lyme
como microbiota normal, 26t, 27-28t Beme, 570t, 571, 571f Botox, 138
doenças causadas por, 153, 164-165 f3-Glucano, 74 Botulismo, 107, 138
propriedades de, 164 f3-Hemólise, caso clínico, 673-675 caso clínico, 673-674
Bacteroides corrodens, 164 Bifidobacterium, como microbiota normal, 28t infantil, 138
Bacteroidesfragilis, 164, 601-603, 641r-642r Bifidobacterium eriksonii, 2 14 transmissão de, 35-36t, 138
achados clínicos em infecções por, 165 Biofilmes, 34-37 Botulismo infantil, 138
como microbiota normal, 27-28t Bismuto, 598 Bouba, 199
fármacos efetivos contra, 77 f3-Lactamases, 88-89 Bradiquinina, resposta inflamatória e, 53-54
identificação de, 65-66 defesas contra, 72 Bradizoítos, Toxoplasma gondii, 425
propriedades de, 164 detecção de, 9 1-92 Bradyrhizobium, 2 14
requerimento de oxigênio de, 106-107, 107 t inativação da penicilina por, 7 1-72 Bradyrhizobium enterica, 214
Bacteroides melaninogenicus. Ver Prevotella produção por Staphylococcus aureus, 115 Branhamella catarrhalis. Ver Moraxella
melaninogenica f3-lactamases de espectro estendido (ESBLs), 89 catarrhalis
Balantidium coli, 41 1t, 438, 664-665 r Blastomicose, 397 Brilho esverdeado, produzido por Escherichia
Baraclude (entecavir), 265t, 266t, 270 Blastomicose da América do Sul, 397-398 coli em ágar MacConkey, 153
Barreira sangue-encéfalo, 38-40 Blastomicose norte-americana, 397 Bronquiolite, 304t, 618
Bartonella bacilliformis, 2 14 Blastomyces, transmissão e localização vírus parainfluenza, 313
Bartonella henselae, 177-178, 643r geográfica de, 385t vírus sincicial respiratório, 313
doenças causadas por, 33t, 177 Blastomyces dermatitidis, 393t, 397, 397!, 403, Bronquite
transmissão de, 34-37t, 682t 659-661r adenoviral, 298
Bartonella quintana, 214 Blastósporos, 384, 384! aguda, 617-618
Basidiósporos, 384 Blefarite Chlamydia pneumoniae, 205
Basiliximabe, rejeição de enxerto e, 525, 525t Moraxella nonliquefaciens, 2 16 coronavírus, 315
Basófilos, 502-503 Staphylococcus aureus, 216 Moraxella catarrhalis, 216
Bastonete(s), 4f Boca vírus parainfluenza, 314
gram-negativos. Ver Bastonetes gram- doença periodontal por Capnocytophaga vírus sincicial respiratório, 313, 674-675
-negativos gingivalis e, 2 14 Brotamento, viral, 233, 234f
hepatite B, 333, 334f infecções de Candida da. Ver Candidíase Broto(s)
Bastonetes gram-negativos, 25t, 105, 106-107t microbiota normal de, 27-28t, 28, 164, 2 13- base ampla, Blastomyces dermatitidis, 397,
caso clínico, 674-677 2 17 397!
curvos, casos clínicos, 674-675, 678-679 Boca de trincheira, 215 Candida albicans, 400, 401f-402f
de menor importância médica, 2 13t Bocavírus humano (HBoV), 379 múltiplo, Paracoccidioides brasiliensis, 398,
efetividade da penicilina contra, 72, 72t Boceprevir (Victrelis), 265t, 270-271 398f
entéricos, 105, 106-107t, 146-165, 147t "Bola fúngica," 405 Brucella, 174-175, 643r
no interior e no exterior do trato entérico, caso clínico, 672-673 caso clínico, 677-678
151-156 Bolhas, 687t cassificação de, 106-107t
principalmente no exterior do trato entérico, Staphylococcus aureus, 112 doença causada por. Ver Brucelose
160-165 Bolores propriedades de, 174
principalmente no interior do trato entérico, Aspergillus, 404-405, 404f reservatórios para, 682t
156-160 Coccidioides immitis, 393, 394f sobrevivência intracelular de, 38-39
exotoxinas de, 40-43t estrutura de, 384 transmissão de, 35-37t
fatores de virulência de superfície de, 38-39t Histoplasma capsulatum, 395 Brucella abortus, 174
não curvos, caso clínico, 678-679 mucormicose devido a, 405 achados clínicos em, 17 5
pequenos, caso clínico, 673-674, 677-678 Bomba (MDR) de resistência a múltiplos Brucella melitensis, 174
relacionados a fontes animais, 643r fármacos, 86 Brucelose, 174-175
relacionados ao trato entérico, 638r-642r Bombas de "efluxo", 86 achados clínicos em, 17 5
relacionados ao trato respiratório, 642r Bombas MDR (resistência a múltiplos fármacos), caso clínico, 677-678
respiratório, 105, 106-107t, 168-172, 168t 86 diagnóstico de, 66
zoonóticos, 105, 106-107t, 174-178, 174t Boostrix, 171 diagnóstico laboratorial de, 175
Bastonetes gram-negativos zoonóticos, 105, Bordetella, classificação de, 106-107t patogênese e epidemiologia de, 174-17 5
106-107t, 174-178, 174t. Ver também Bartonella Bordetella pertussis, 168t, 170-171, 642r prevenção de, 17 5
henselae; Brucella; Francisella tularensis; doença causada por, 106-107t, 170-171 transmissão de, 35-36t
Pasteurella multocida; Yersinia pestis exotoxina de, 40-42t, 41-42, 44-45, 170-171 tratamento de, 17 5
Índice 747

BSE (encefalopatia espongiforme bovina), 360, achados clínicos em, 158-159 resistência, 598
3601, 363 diagnóstico laboratorial de, 15 8-159 teste cutâneo com, 384
Bubões epidemiologia de, 158-159 transmissão e localização geográfica de, 385t
na peste bubônica, 176 patogénese de, 156-157t, 158-159 Candida albicans, 400-403, 400t, 608t, 609!,
no cancroide, 216 prevenção de, 158-159 660-66lr
Buniavírus, 220-2211, 230, 245, 343t, 345-346 tratamento de, 158-159 candidíase devido a, na aplasia tímica, 561
Burkholderia aeruginosa. Ver Pseudomonas identificação de, 64 candidíase mucocutânea crônica devido a, 400,
aerugznosa propriedades de, 158-159 402, 562-563, 562-563t
Burkholderia cepacia, 53n, 162, 641 r requerimento de oxigênio de, 107t candidíase vaginal e, 606, 607-608!
Burkholderia pseudomallei, 217 reservatórios para, 682t caso clínico, 672-673, 677-678
Butoconazol, 607-608, 608t síndrome de Guillain-Barré e, 147, 158-159, clamidospóros de, 384, 384f
555 com imunodeficiências ou defesas do
e síndrome de Reiter associada a, 158-159
transmissão de, 35-37t
hospedeiro reduzidas, 686t
como microbiota normal, 26t, 27-28
C3b Camundongos condições predisponentes ao desenvolvimento
produção de, 527, 528f como reservatórios de infecções por, 57-58t
regulação do sistema complemento e, 529 para Babesia microti, 683t crescimento excessivo de, 28, 385
Cabras para Borrelia burgdorferi, 34-37t, 682t-683t distinção de outras espécies de Candida, 401,
como reservatórios de Brucella, 682t para hantavírus, 682t 40 lf -402f
como reservatórios de Coxiella burnetii, 210 para o vírus da coriomeningite linfocítica, doenças causadas por, 400, 578t, 585
Cadeia de transmissão, 33 380-381 eventos relacionados a hospitais que
Cadeia invariante, 494 nocaute, príons em, 223 predispõem a infecções por, 685t
Cadeia(s), bacteriana(s), 4f Canal do parto, transmissão dentro do, 33, 34-35t na Aids, 371t
Cadeias J, 511-5121, 511-5 12 Câncer. Ver também Vírus tumorais; cânceres pseudo-hifas de, 384, 384f
Cadeias L Kappa, em imunoglobulinas, 51O específicos supressão da microbiota normal e, 53-54
Cadeias L Lambda, em imunoglobulinas, 51O adenovírus e, 297 tetraciclinas e, 7 6
Cadeias polipeptídicas, em imunoglobulinas, associação com o vírus Epstein-Barr, 292 transmissão de, 34-35t, 687t
507-510, 509f-510f herpes-vírus e, 283-284 Candida esophagitis, 597-598, 597J
Cadeias polipeptídicas leves, em imunidade tumoral e, 559-560 Candida glabrata, 401
imunoglobulinas, 507-510, 5091, 5l0f antígeno carcinoembrionário e, 560 Candida krusei, 401
Cadeias polipeptídicas pesadas, em antígenos associados a tumores e, 559 Candida parapsilosis, 401-402
imunoglobulinas, 507-510, 5091, 5l0f fetoproteína a e, 560 Candida tropicalis, 401 -402
Cães de pradaria, como reservatórios, para mecanismo de, 559 Candida vaginitis, 28,605, 607-608
Yersinia pestis, 34-37t infecções bacterianas associadas a, 47-48 Candidemia, 400
Calazar, 411t, 432-434 linfoide, translocações cromossômicas em, Candidíase, 401, 402f
Calcificações, intracraniana, Toxoplasma gondii 513-514 caso clínico, 677-678
e, 425 na Aids, 565-566 diagnóstico de, 62
Calcificações intracranianas, Toxoplasma gondii neoplasia intraepitelial e, 299 na Aids, 371t
e, 425 oncogenes celulares na tumorigênese e, 350- na aplasia tímica, 561
Cálculos renais, 162 352, 35 l t neonatal, transmissão de, 34-35t
Calicivírus, 242-245, 327-328. Ver também Vírus papilomavírus e, 298 Candidíase, mucocutânea, crônica, 400, 402,
Norwalk papilomavírus humano e, 299 562-563, 562-563t
Calor septicemia por Salmonella em, 154 Candidíase, vaginal, 605-606, 607-608!
esterilização utilizando, 10 1 vacinas contra, 356-357 Candidíase mucocutânea crônica (CMC), 400,
resistência a, de esporos, 11 vírus da leucemia de células T humanas tipo 1 402, 562-563,562-563!
Calymmatobacterium granulomatis, 214 e, 318-320 Candidíase orofaríngea, 598
Camada limosa, bacteriana, 6t, 11 vírus SV40 e, 325 Candidíase vaginal, 605, 607-608!, 608t
Camarão, como reservatórios, para cólera, 156- Cânceres linfoides. Ver também cânceres Cão(es)
157 específicos ancilostorníase de, 472
Campylobacter, 158-159, 599, 601-602 translocações cromossômicas em, 513-514 como hospedeiro definitive para Toxocara
artrite reativa e, 555 Cancidas (caspofungina), 74, 386, 386t canis, 4 71-4 72
classificação de, 105, 106-107t Cancro, 687t como reservatórios
doença causada por, 158-159 na sífilis, 196-197 para Anaplasma phagocytophilum, 683t
doenças autoimunes e, 147 Cancro mole, 216 para Campylobacter, 158-159
frequência de, 147, 14 7 t Cancro tripanossômico, 431 para Echinococcus granulosus, 682t
identificação de, 64 Cancroide, 216, 604-605, 604!, 606t para Ehrlichia chaffeensis, 34-37t, 683t
propriedades de, 158-159 fármacos efetivos contra, 78 para Leptospira interrogans, 34-37t, 682t
síndrome de Guillain-B arré após infecções Candida, 605-608 para Microsporum canis, 682t
por, 553 com imunodeficiências ou defesas do para Rickettsia rickettsii, 34-37t, 683t
síndrome de Reitere, 557 hospedeiro reduzidas, 686t para Toxocara canis, 682t
Campylobacter fetus, 158-159n condições predisponentes ao desenvolvimento mordeduras de, 65-66
Campylobacter intestina/is, 158-159 de infecções por, 57-58t infecções por Capnocytophaga canimorsus
doença causada por, 158-159 doenças causadas por, 579 devido a, 214
Campylobacter jejuni, 106-107, 599t-600t, 640r esofagite causada por, 597 infecções por Pasteurella multocida devido
artrite reativa associada a, 158- 159 fármacos efetivos contra, 74, 80-81 a, 177
câncer associado a, 47-48 identificação de, 62 transmissão de Capnocytophaga
caso clínico, 674-675, 678-679 infecções do trato urinário devido a, na canimorsus por, 682t
doença causada por, 158-159 diabetes melito, 57 transmissão do vírus da raiva por, 317, 682t
748 Índice

tênia de, 448 Trichinella, 465 Cavidade oral. Ver Portas de entrada dentais;
Capnocytophaga canimorsus, 214 Carne de caranguejo, Paragonimus westermani Boca
reservatórios para, 682t transmissão por, 453 Caxumba, 258, 281t, 312
Capnocytophaga gingivalis, 214 Carne de porco CCR5, 367, 368
infecções orais devido a, fatores Taenia solium transmitida por, 441 CCR7, 492
predisponentes para, 53t Toxoplasma transmitida por, 425 CD55, 529
Capsídeos Trichinella transmitida por, 466 Cefalexina, 73t, 624-625
de retrovírus, 357 Carrapato(s), 570t, 573-574, 5731, 669-670r. Ver Cefalosporinas, 63 1. Ver também 13-Lactârnico(s);
virai, 220, 227 também Carrapatos Dermacentor; Carrapatos fármacos específicos
Cápsulas, 6t, 10-11, 34-37 Ixodes estrutura de, 72, 72f
como fator antifagocítico, 34-37, 38-39t como vetores, 683t gerações de, 72, 73t
Cryptococcus neoformans, 403, 403f paralisia do carrapato e, 573-574, 573f hipersensibilidade a, 72
Escherichia coli, 152 transmissão de Anaplasma phagocytophilum mecanismo de ação de, 72, 72f, 73t
Cápsulas polissacarídicas por, 213 resistência a, 88-89, 88t
de Cryptococcus, 403 transmissão de arbovírus por, 342 usos clínicos de, 72, 73t, 153, 161-162
de Haemophilus influenzae, 168 transmissão de Babesia microti por, 437 Cefazolina, 625
de Klebsiella pneumoniae, 160 transmissão de Borrelia por, 33, 199-200, uso quimioprofilático de, 82, 82t, 116
de Neisseria meningitidis, 127, 129t, 130-131 l 99f-200f, 202 usos clínicos de, 73t
de Staphylococcus aureus, 111- 112 transmissão de erliquiose por, 33 Cefipima, 73t
de Streptococcus pneumoniae, 124 transmissão de febre recorrente por, 33 Cefotaxima, 153, 161-162
pneumocócica, 123 transmissão de Francisella tularensis por, 33, Cefotetan, 609
Caquetina, 504-505 175 Cefoxitina, 73t, 128t, 609
Caramujos transmissão de riquetsiose por, 33, 208-209, Ceftarolina, 73t
como hospedeiros intermediários de 209t Ceftazidima, 73t
esquistossomas, 450 transmissão do vírus da febre do carrapato do Ceftriaxona, 609, 611 t, 631
como hospedeiros intermediários de Colorado por, 345-346 uso quimioprofilático de, 82t
trematódeos, 449, 45 lf Carrapato-do-cão, 573, 573f usos clínicos de, 73t, 124, 128t, 169, 616
Carbapenem, 620 transmissão da febre maculosa das Montanhas Cefuroxima, 73t
Carbapenemases, 89 Rochosas por, 209 Cegueira
Carbapenêmicos Carrapato-do-mato, 573, 573f Chlamydia trachomatis, 205
mecanismo de ação de, 72-73 transmissão da febre maculosa das Montanhas citomegalovírus, 290
resistência a, 89 Rochosas por, 209n herpes-vírus simples, 285
Carboidrato C, 117 Carrapatos Dermacentor, 570t, 573, 5731, 669- na oncocercose, 470
Carbúnculos, 626-627, 6271, 687t 670r Cegueira dos rios, 457t, 470
Staphylococcus aureus, 113, 113f transmissão de Anaplasma phagocytophilum Célula(s)
Carcinoma, do colo do útero, 242-245 por, 683t ácidos nucleicos de, 2, 2t
Carcinoma anal, papilomavírus e, 298 transmissão de Ehrlichia chaffeensis por, 34- bacteriana. Ver também Bactéria
Carcinoma cervical, 242-245, 298-299 37t, 683t classificação de, 24-25, 25t
Carcinoma de bexiga, esquistossomose e, 450 transmissão de Francisella tularensis por, 34- diploide, 18
Carcinoma gástrico, Helicobacter pylori 37t, 175 estrutura de, 1, 2t
infecção associada a, 47-48 transmissão de riquetsiose por, 34-37t, 209, eucariótica versus procariótica, lt, 2-3, 2t
Carcinoma hepatocelular (HCC, hepatoma) 209n, 345-346,683t flexível, de parede fina, 25t
hepatite B e, 334, 356 Carrapatos Ixodes haploide, 18
hepatite C e, 337-338, 355 transmissão de Babesia microti por, 437, 683t infecção virai em, 247 -248
Carcinoma nasofaríngeo, vírus Epstein-Barr e, transmissão de Borrelia burgdoiferi por, 34- invasão por bactéria, 38-39, 49-50q
292,356 37t, 199-200, l99f-200f, 569, 683t morte, diminuição na produção de ácido por,
Carcinoma peniano transmissão de doença por, 33 261
papilomavírus e, 298 transmissão de Ehrlichia cha.ffeensis por, 34- propriedades de, alteração de, na
papilomavírus humano e, 299 37t transformação maligna, 348, 349t
Carcinoma tímico, associação com o vírus Carvalho venenoso, 547-548 replicação de, 2, 2t
Epstein-Barr, 292 Caspofungina (Cancidas), 74, 386, 386t rígida, de parede espessa, 25t
Cardiobacterium hominis, 214, 216 Castores, como reservatórios de Giardia lamblia, sem parede, 25t
Cardiolipina (difosfatidilglicerol), 66, 198 683t transformação maligna por vírus tumorais,
Carga virai, definição de, 263 Catalase, 16 348-349, 349t, 352-354, 353t-354t
na infecção por HBV, 336 estafilocócico, 109 alteração das propriedades bioquímicas e,
na infecção por HCV, 338 inibição do crescimento anaeróbio por, 106- 349, 349t
na infecção por HIV, 370-371 107 alteração das propriedades celulares e, 349,
Cárie dental, 28 Catapora. Ver Varicela 349t
estreptococos viridans e, 118 Catarro alteração morfológica e, 348, 349t
Carne, organismos transmitidos por coloração acidorresistente de, 184-185, 620 alteração no controle de crescimento e, 349,
Bacillus anthracis, 135 coloração de Gram de, 63-64 349t
Campylobacter, 158-159 culturas de, 63-64 papel dos vírus tumorais em, 349
Escherichia coli, 151 "enferrujado" e pneumonia pneumocócica, vírus comparados a, 219, 219t
Listeria, 143 124 Célula(s) T (linfócitos T), 4761, 489-499, 490t
Salmonella, 155 "geleia de groselha" e Klebsiella, 161 ativação de, coestimulação e, 492-494, 493f
Taenia saginata, 444 Cateteres intravenosos características de, 496
Taenia solium, 440 infecção por Staphylococcus aureus e, 112 CD4. Ver Células T auxiliares
Toxoplasma, 425 infecção por Staphylococcus epidermidis e, 114 CDS. Ver Células T citotóxicas
Índice 749

células B comparadas a, 487t Células de Paneth, defensinas em, 53 Células T reguladoras (TRs), 498-498-499
deficiência combinada de células B e T e, Células de recombinação de alta frequência(Hfr), Células Th-1, 490-491, 491!, 49lt, 496
congênita, 562-564, 562-563t 20,21f funções de, 502-503t
deficiência de Células dendríticas, 477, 501 regulação de citocinas, 502-503
adquirida, 565-566 foliculares, 501 Células Th-17, 490-491, 497
congênita, 561-563, 562-563t resposta inflamatória e, 55 alvo do HIV, 369
efeitos de superantígenos em, 495-496, 496f Células dendríticas foliculares (CFDs), 501 doença inflamatória intestinal e, 555
enumeração de, 520 Células diploides, 18 funções de, 502-503t
funções de, 4 77t "Células enfermeiras," na triquinose, 465, 468f Células Th-2, 490-491, 491!, 49lt, 496
funções efetoras de, 496-497 Células epiteliais, de membranas mucosas e dos citocinas produzidas por, 502-504
células T citotóxicas, 497 pulmões, infecção por Chlamydia de, 205 funções de, 502-503t
Th-1, 496 Células ganglionares sensoriais, herpes-vírus reações atópicas e, 544
Th-2, 496 simples latente em, 285 Células tumorais
Th-17, 497 Células gigantes morte de, 476
funções reguladoras de, 497-499 citomegalovírus, 289 resposta citotóxica e, 497
imunidade celular e, 498 multinucleadas. Ver Células gigantes Células-guia, na vaginose bacteriana, 215, 606,
produção de anticorpos e, 497-498, 498f multinucleadas 609f
supressão de respostas imunes e, 498-499 vírus sincicial respiratório e, caso clínico, 674- Células-tronco, citocinas que afetam, 504-505
imunidade celular e. Ver Imunidade celular 675 Celulite, 623t, 624-625, 687t
interação com células B e células Células gigantes de Langhans, em lesões por Haemophilus influenzae, 169
apresentadoras de antígenos, 501 Mycobacterium tuberculosis, 182 Pasteurella multocida, caso clínico, 673-674
memória, 495, 499-500 Células gigantes multinucleadas, 247 Pseudomonas, 162, 162f
na imunidade adquirida, 57-58 com inclusões intranucleares, casos clínicos, Pseudomonas aeruginosa, 162, 162f
origem de, 486, 487!, 488 673-676, 678-679 Staphylococcus aureus, 109
para a deleção de precursores autorreativos, herpes-vírus simples, 247, 283, 283!, 285 Streptococcus agalactiae, 121
550, 550f vírus do sarampo, 31O Streptococcuspyogenes, 34-37, 116, 117!, 120
proteínas CD3 na superfície de, 490 vírus indutor de, 283 caso clínico, 673-674
reconhecimento de antígenos por, 494-495, vírus sincicial respiratório, 313 Vibrio vulnificus, 158
522-523 caso clínico, 674-675 Cephalosporium, 72
reguladoras, falha de, doenças autoimunes e, vírus varicela-zóster, 283, 287 Ceratite
554 Células haploides, 18 Acanthamoeba, 437
Th-1, 490-491, 491!, 49lt Células Hfr (recombinação de alta frequência), Fusarium solani, 405-406
funções de, 502-503t 20,21f herpes-vírus simples-!, 284
regulação de citocinas, 502-503 Células infectadas por vírus Ceratoconjuntivite
Th-17, 490-491 células natural killer e, 501 adenoviral, 297-298
doença inflamatória intestinal e, 555 resposta citotóxica e, 497 herpes-vírus simples 1, 284-285
funções de, 502-503t Células linfoides, testes para a competência de, Cercárias, 452f
Th-2, 490-491, 491!, 49lt 520 Schistosoma, 449-450
citocinas produzidas por, 502-504 Células natural killer (NK), 501-502, 501t, 519 Cervarix, 300
funções de, 502-503t efeitos antivirais de, 257 Cervicite, 607-608, 609f
reações atópicas e, 544 origem de, 488 Chlamydia trachomatis, 206, 607-608
tolerância e, 550-55 1, 550f-55lf Células NK (natural killer), 501-502, 501t, 519 não gonocócica, diagnóstico de, 65-66
Células apresentadoras de antígenos (APCs), efeitos antivirais de, 257 Cervo
477, 499-501. Ver também Células dendríticas; origem de, 488 doença debilitante crônica em, 363
Macrófago(s) Células T auxiliares (CD4) autorreativas, 552 transmissão de Francisella tularensis por, 175
interação com células B e células T, 501 Células T auxiliares (células T CD4, linfócitos T Cestódeos (Cestoda), 409, 440-448, 44lt, 664-
Células B (linfócitos B), 476!, 477, 492n, 498-500 auxiliares), 477, 490-492, 519 666r
apresentação de antígenos e, 494 ativação de, 492 de menor importância, 446-448
ativação de, 499-500 autorreativas, 552 Cetoacidose diabética, mucormicose em, 405
células T comparadas a, 487t células T reguladoras e, 498-499 Cetoconazol, 81, 386t
deficiência combinada de células B e T e, enumeração de, 520 CFDs (células foliculares dendríticas), 501
congênita, 562-564, 562-563t hipersensibilidade tardia e, 547, 547t Chagoma, 428
deficiência de infecção por HIV e, 365, 371, 566 Chamariz de citocinas, 250-25 1
adquirida, 565-566 superantígenos liberam citocinas de, caso Chiggers, 574-575
congênita, 561, 562-563t clínico, 675-676 transmissão de riquetsiose por, 21 O
enumeração de, 520 Th-1, Th-2, e Th-17, 490-491, 491!, 491t Chlamydia, 204-207, 646r-647r
funções de, 4 77t Células T CD4. Ver Células T auxiliares classificação de, 105, 106-107t
funções efetoras de, 499-500 Células T CD8. Ver Células T citotóxicas coloração de Gram e, 8t
imunidade mediada por anticorpos e, 476 Células T citotóxicas (células T CD8, linfócitos T como parasita intracelular obrigatório, 31
infecção pelo vírus Epstein-Barr de, 290 citotóxicos), 258,477, 490-492, 497,519 infecções genitais por, número de casos de
interação com células T e células ativação de, 492 106-107, 106-107t
apresentadoras de antígenos, 501 Células T reguladoras e, 498-499 propriedades de, 204, 205f-206f
memória, 499-500 enumeração de, 520 síndrome de Reitere, 553, 557
origem de, 487!, 488, 498-499, 498-499! hipersensibilidade tardia e, 547, 547t Chlamydia pneumoniae, 613, 646r
seleção clonai e, 498-499 HIV e, 370 doenças causadas por, 205-206, 205t
tolerância e, 55 1 Imunidade a vírus e, 257-258 fármacos efetivos contra, 77
Células B de memória, 499-500 rejeição de aloenxerto e, 523 propriedades de, 204
Células de Langerhans, 492n Células T de memória, 495, 499-500 reclassificação de, 204
750 Índice

Chlamydia psittaci, 646-647 r Ciliados (Ciliata), 409 caso clínico, 672-673


doença causada por, 205-207, 205t. Ver Cimex lectularius, 570t, 571-572, 572f células gigantes multinucleadas e, 283
também Psitacose Ciprofloxacina, 79, 79f, 600t, 609-610, 630, 631 com imunodeficiências ou defesas do
propriedades de, 204 uso profilático de, 82t hospedeiro reduzidas, 686t
reclassificação de, 204 para antraz, 136 doenças causadas por, 289
reservatórios para, 683t para infecções por Escherichia coli, 153 esofagite causada por, 597
transmissão de, 34-37t para Neisseria meningitidis, 130-131 evasão imune por, 250-251
Chlamydia trachomatis, 606t, 609-610, 646r usos clínicos de mecanismo, 250-251t
artrite reativa e, 555 para antraz, 136 latente, 283, 289
caso clínico, 679 para diarreia, 601 -602 Lesão do tipo "blueberry muffin", 289
cervicite, 607-608 para febre tifo ide, 603 lisogenia em, 235
coinfecção por Neisseria gonorrhoeae e, 205 para infecções por Campylobacter jejuni, na Aids, 371t
coloração de Gram e, 8t 158-159 porta de entrada para, 249t
diagnóstico laboratorial de, 206 para Neisseria gonorrhoeae, 132 portadores crônicos de, 252
doença da úlcera genital, 604 para shigelose, 156 transmissão de, 34-35t, 250-251t, 289, 687t
doença inflamatória pélvica, 608-609 para Staphylococcus saprophyticus, 115 tratamento de, 270-271 , 290
doenças causadas por, 114, 204 Circuncisão Citometria de fluxo, 536, 536-537!
epidemiologia de, 205 efeitos antivirais de, 257 Citoplasma de bactéria, 9-1 O
identificação de, 65-66 prevenção do papilomavírus humano por, 300 Citotoxicidade celular dependente de anticorpos
patogénese e achados clínicos em, 205-206, Cirrose, infecção por Vibrio vulnificus em, 158 (ADCC), 497, 511-512
206f Cirurgia Citotoxina traqueal, Bordetella pertussis e, 170
prevenção de, 207 dental. Ver Procedimentos dentais Citotoxinas, 43-44
propriedades de, 204 ortopédica, quimioprofilaxia para, 82 Citrobacter, 214
prostatite causada por, 632 Cirurgia ortopédica, quimioprofilaxia para, 82 CJD (doença de Creutzfeldt-Jakob), 223, 252,
transmissão de, 34-35t, 204-205, 687t Cisticerco, 440-441, 445f 360, 361-363, 361t, 596
tratamento de, 206 Cisticercose, 440-442 caso clínico, 677-678
fármacos efetivos para, 77 caso clínico, 679 transmissão iatrogênica de, 360, 362
Chlamydophila psittaci, pneumonia causada por, Cistite, 629-630 variante, 360, 361t, 362-363
620 definição de, 153 Clados, do HIV, 366
Choque. Ver também Síndrome do choque diagnóstico de, 64 Cladosporium, 391
tóxico Escherichia coli causadora de, 153 Cladosporium werneckii, 391
hemorrágico hemorrágica, adenoviral, 297-298 Clamidósporos, 384, 384f
infecção por Streptococcus suis em, 217 Staphylococcus saprophyticus, 113 Candida albicans, 402
na febre da dengue, 346 Cistite hemorrágica, adenoviral, 297-298 Claritromicina, 598
séptico. Ver Choque séptico Cisto(s) Classificação de Runyon de micobactérias
Choque séptico Entamoeba coli, 414 atípicas, 186t
Escherichia coli causadora de, 151 Entamoeba histolytica, 410, 413!, 414, 414f Claviceps purpurae, 385
induzido por endotoxina, 44-47, 45-46t Giardia lamblia, 414, 415f Clindamicina, 609, 621, 624, 627
fator ex de necrose tumoral e, 504-505 hidático, Echinococcus granulosus, 446 colite pseudomembranosa devido a, 77
Klebsiella causadora de, 161 protozoário, 409 mecanismo de ação de, 74t, 77
Staphylococcus aureus causador de, 114 Toxoplasma gondii, ingestão de, 425 usos clínicos de, 75t, 115, 122
Streptococcus pneumoniae causador de, 124 Cistos hidáticos, Echinococcus granulosus, 446 Clonorchis, 450t
Yersinia pestis causadora de, 176 Citocina(s), 502-505. Ver também citocinas Clonorchis sinensis, 450t, 452!, 453, 666-667 r
Choque séptico induzido por endotoxina, fator de espec(ficas Clonorquíase, 453
necrose tumoral ex e, 504-505 afeta células-tronco, 504-505 Cloranfenicol
Chromobacterium violaceum, 214 afeta leucócitos polimorfonucleares, 504 estrutura de, 76, 76f
Chryseobacterium, 214 afeta macrófagos e monócitos, 504, 504t mecanismo de ação de, 74t, 76-77
Chryseobacterium meningosepticum, 214 afeta os linfócitos, 502-504 resistência a, 88t, 89
Chrysops, Loa Zoa transmitido por, 471 anti-inflamatório, 481 síndrome do "bebê cinzento" e, 77
Ciclo de crescimento funções de, 502-503, 502-503t usos clínicos de, 75t, 76
viral. Ver Ciclo de crescimento viral liberação de superantígeno de, caso clínico, Cloreto de benzalcônio, como antisséptico, 99-
Ciclo de crescimento, bacteriano, 15, 15f 675-676 101
Ciclo de crescimento viral, 227-233, 227t, 228!, produção de Clorexidina, como antisséptico, 99-1 O1, 115
236q-237q endotoxinas e, 46-47 Cloro, como desinfetante, 99-1O1
desnudamento e, 227 por macrófagos, 499-500, 499-500t, 504- Cloroquina, 424
expressão gênica e replicação genômica em, 505 resistência a, 421, 424-425, 424t
227-232, 229!, 229t-233t, 232f por subconjuntos de células T CD4, 490, Clostridium, 134, 134t, 136-141, 137!, 137t
inibidores de, 273q 492t classificação de, 106-107 t
ligação em, 227 pró-inflamatórios, 53-54, 481 como microbiota normal, 26t, 28, 28t
penetração, 227 tolerância de célula Te, 551 esporos de, 11
Ciclo de Krebs, 16 Citocinas "pró-inflamatórias", 53-54, 481 Clostridium botulinum, 107, 137t, 138, 636-637r
Ciclo lisogênico, 233 Citocinas anti-inflamatórias, 481 defesas do hospedeiro contra, 57-58t
Cicloserina, mecanismo de ação de, 74 Citólise, complementoe, 527, 529 doença causada por, 138. Ver também
Ciclosporíase, 41 1t Citomegalovírus (CMV), 232t, 242-243t, 242- Botulismo
Ciclosporina, rejeição a enxertos e, 525-526 245, 289-290, 290!, 304t, 649-650r esporos de, morte, 101
Cidofovir (HPMPC, anormalidades congênitas causadas por, caso exotoxina de, 40-43t
hidroxifosfonilmetoxipropilcitosina, Vistide), clínico, 673-674 fonte ambiental de, 684t
265-266t, 268 características de, 283t, 289-290 transmissão de, 35-36t
índice 7S1

Clostridium dijficile, 599, 599t-600t, 601-602, Coccidioidomicose, 393-395, 394! Complementaridade, na replicação do genoma
601-602!, 637r caso clínico, 678-679 viral, 23 1, 233t
crescimento excessivo de, 28, 77 "Coceira do nadador," 453 Complemento, 527-529
doença causada por, 28, 42-43, 140-141, 140f Cocos, 4, 4f. Ver também Bactéria gram-negativa, anafilotoxina e, 529
exotoxinas de, 40-41t, 42-43, 42-43t cocos; Bactéria gram-positiva, cocos aspectos clínicos de, 529
fármacos efetivos contra, 80 Coeficiente fenólico, 99-1 O1 ativação de, 507, 527-528, 528f
fatores predisponentes para, 686t Coelhos, como reservatórios para Francisella incompatibilidades de transfusões e, 529
probióticos e, 83 tularensis, 34-37t, 175, 682t citólise e, 527, 529
supressão da microbiota normal e, 53-54 Coilócitos, 299 componentes de ação tardia, Neisseria
transmissão de, 137t, 140-141 Colagenase, 34-37 meningitidis, 130-131
Clostridium histolyticum Cólera, 156-158, 156-157t deficiência de, 685t
doença causada por, 138 caso clínico, 678-679 adquirida,566
requerimento de oxigênio de, 106-107, 107t epidemias de, 156-157 congênita, 562-563t, 563-565
Clostridium novyi, doença causada por, 139 transmissão de, 34-35t efeitos biológicos de, 529
Clostridium perfringens, 107, 137!, 138-140, vacina contra, 97 opsonização e, 527, 529
599,637r Colerágeno. Ver Toxina colérica produção de anticorpos e, 529
caso clínico, 677-678 Colesterol, na membrana bacteriana de quimiotaxia e, 529
como microbiota normal, 28t Mycoplasma pneumoniae, 193 regulação de, 528-529
doenças causadas por, 138-140, 139f Colicinas, 1O Complexo do vírus Tacaribe, 382
exotoxinas de, 40-43t, 43-44 Coliformes, 29 Complexo MAi (Mycobacterium avium-
fármacos efetivos contra, 77 como microbiota normal, 28t -intracellulare), 87t, 181t, 186, 186t
fatores predisponentes para, 686t no abastecimento público de água, 150 com imunodeficiências ou defesas do
fonte ambiental de, 684t Colite. Ver também Enterocolite hospedeiro reduzidas, 686t
identificação de, 65-66 cordão, causador Bradyrhizobium, 214 fármacos efetivos contra, 77, 80
requerimento de oxigênio de, 106-107 hemorrágica, Escherichia coli O157:H7, Complexo Mycobacterium avium-intracellulare
transmissão de, 35-36t transmissão de, 35-36t (MAi), 87t, 181t, 186, 186t
Clostridium septicum, doença causada por, 138 pseudomembranosa, Clostridium dijficile com imunodeficiências ou defesas do
Clostridium sordellii, doenças causadas por, associado a antibióticos e, 27-28, 42-43 hospedeiro reduzidas, 686t
139 pseudomembranas em, 39-40, 140, 140! fármacos efetivos contra, 77, 80
Clostridium tetani, 136-138, 137t, 636r ulcerativa, 555-556 Complexo Mycobacterium fortuitum-chelonei,
crescimento de, 16 Colite em corda, 214 181t, 186, 186t
defesas do hospedeiro contra, 57-58t Colite pseudomembranosa, 27-28, 39-40, 42-43, caso clínico, 675-676
doença causada por, 136-138. Ver também 77, 140, 140!, 601-602! eventos relacionados a hospitais como fatores
Tétano Colite ulcerativa, 555-556 predisponentes a infecções por, 685t
exotoxina de, 40-43t Colo Complexo relacionado à Aids (ARC), 371
fonte ambiental de, 684t carcinoma de, Streptococcus bovis e, 121 Complexo(s) imune(s), 535
tétano e, 107 microbiota normal de, 27-28t, 28, 29q, 118- ligação de complemento por, 529
toxina de. Ver Toxina tetânica 119, 139, 164,215-217 Complexos antígeno-anticorpo
transmissão de, 34-35t bacterioterapia fecal utilizando, 141 caso clínico, 673-674
Clotrimazol supressão antibiótica de, colite glomerulonefrite aguda e, 121
uso profilático de, 82t pseudomembranosa devido a, 28, 42-43, Complexos de ataque à membrana, 527, 685t
usos clínicos de, 81 77, 140, 140f Complexos de Ghon, em infecções por
CMC (candidíase mucocutânea crônica), 400, Colônias pigmentadas de vermelho, de Serratia Mycobacterium tuberculosis, 182
402,562-563,562-563t marcescens, 160, l 60f Compostos de amônio quaternário, como
CMV. Ver Citomegalovírus Colonização, 26-28, 32 antissépticos,99-10 1
Coagulação intravascular disseminada (DIC) Coloração acidorresistente, de Mycobacterium Concentração bactericida mínima (MBC), 90-91
endotoxinas e, 45-46, 45-46t tuberculosis, 183-184, 620 Concentração inibidora mínima (MIC), 90, 9 1f
na meningococcemia, caso clínico, 676-677 Coloração acidorresistente Kinyoun, 184-185 Condiloma acuminado, 299, 299!
Coagulase, 34-37 Coloração de azul de metileno tratamento de, 270-271
Staphylococcus aureus, 109, 11 lf, 111-113 de leucócitos fecais, 156 Condiloma plano, na sífilis, 196-197, 196f
Coartem (arteméter/lumefantrina), 424t na difteria, 142 Conídio, Aspergillus, 405
Cobreiro, 252, 287-288, 288!, 304t, 688t Coloração de Gram, 8q, 8t, 13q Conídios transportados pelo ar, transmissão de
caso clínico, 675-676 bactérias que não podem ser visualizadas pela, Aspergillus por, 405
na Aids, 371t 8q, 8t Conjugação, 19-20, 20t, 2lf
vacina contra, 289 em infecções por Listeria monocytogenes, Conjuntivite
Coccidioides 143 adenoviral, 297-298
defesas do hospedeiro contra, 57-58 limitações da, 63-64 alérgica, 542, 543t
lesões cutâneas causadas por, 688t na difteria, 142 Chlamydia trachomatis, 114, 204
pneumonia causada por, 620 Coloração de Ziehl-Neelsen (acidorresistente), caso clínico, 679
transmissão e localização geográfica de, 385t 184 neonatal, 34-35t, 206
Coccidioides immitis, 393-395, 394!, 659-660r Coloração metacromática, de Corynebacterium gonocócica, 114
artrósporos de, 384, 384f diphtheriae, 141-142 Haemophilus aegyptius, 216
atividades que aumentam a exposição a, 685t Coloração PAS (ácido periódico de Schift), de Haemophilus influenzae, 114, 168-169
caso clínico, 678-679 Tropheryma, 217 hemorrágica
doenças causadas por, 578t, 579,587 Coloração pelo ácido periódico de Schiff (PAS), enterovírus, 70, 326
fonte ambiental de, 684t de Tropheryma, 217 vírus de Coxsackie, 325
localização geográfica de, 684t Comensais, 26. Ver também Microbiota normal Neisseria gonorrhoeae, 127, 128f
transmissão de, 34-35t Complementação, viral, 239, 239f adulto, 131
752 Índice

neonatal, 127, 129!, 131 Coxiella burnetii, 647r fonte ambiental de, 684t
Staphylococcus aureus, 114 doença causada por, 208, 209t, 210 identificação de, 64-66
Streptococcus pneumoniae, 114 reservatórios para, 682t na Aids, 371t
Conjuntos de leucócitos, 631, 63 lf transmissão de, 34-37t, 208 reservatórios para, 683t
Contaminação de carne Coxiella burnetii, pneumonia causada por, 620 Cryptosporidium, 412t
doença de Creutzfeldt-Jakob e, 362 Crescimento, 15-17, 16q- 17 q ciclo de vida de, 412t
Escherichia coli transmitida por, 151 aeróbio versus anaeróbio, 15-16 com imunodeficiências ou defesas do
Taenia saginata transmitida por, 444 ciclo de crescimento e, 15, 15f hospedeiro reduzidas, 686t
Contraimunoeletroforese, 66, 534, 534f controle alterado de, na transformação Cryptosporidium hominis, 411t, 416-417, 416!,
Controladores de elite, 369 maligna, 349, 349t 417!, 599t-600t, 661-663r
Controle de crescimento, oncogenes e, 351 de fungos, 383-384, 383t, 384!, 386q-387q ciclo de vida de, 416f
Conversão lisogênica, 20 fermentação de açúcares e, 16 na Aids, 371t
Copépodes, Dracunculus medinensis metabolismo do ferro e, 16 transmissão de, 35-36t
transmissão por, 471 virai, curva de crescimento virai e, 226-227, CSD (doença da arranhadura do gato), 33t, 34-
Coqueluche, 170-171 226!, 236q 37t, 177-178, 178f
Corantes, como antissépticos, 101 Crescimento aeróbio, 15-16 CTLA-4 (antígeno-4 de linfócito T citotóxico),
"Corcova de búfalo," com inibidores de protease, Crescimento anaeróbio, 15-16 493-494, 493f
374, 374f Crianças anergia clonai e, 493, 551
Coriorretinite, Toxoplasma gondii, 425 bronquiolite em, 618 para câncer, 559
Corno anterior, poliovírus e, 323 casos reduzidos de HIV em, 375 CTLA-4-IG, para artrite reumatoide, 556
Coronavírus, 245, 304t, 314-315, 61 lt, 652-653r coqueluche em, 170-171 Cubicin (daptomicina)
doenças causadas por, 314 distúrbios congênitos em. Ver Portas de mecanismo de ação de, 80
forma e tamanho de, 220-22 lf entrada congênitas usos clínicos de, 80, 115, 122
proteases de, 233t gastrenterite em, adenoviral, 298 Cultura celular, identificação virai em, 263q
reservatórios para, 682t infecção pelo vírus parainfluenza em, 313 Cultura linfocítica mista (MLC), 524
Corpos de inclusão, 247 infecção pelo vírus sincicial respiratório em, Culturas de abscessos, 65-66
Chlamydia causadora de, 204 313 Culturas de ferimentos, 65-66
Ehrlichia causadora de, 215 infecção por Haemophilus aegyptius em, 216 Culturas de garganta, 62-64
olho de coruja de CMV, 247, 290, 290f infecção por Haemophilus influenzae em, Culturas de líquido espinal, 63-64
caso clínico, 672-673 168-169 Culturas de urina, 64, 629
vírus da raiva causador de, 317 infecção por rotavírus em, 329 Culturas do trato genital, 65-66
caso clínico, 676-677 infecção por Salmonella em, 154 Culturas sanguíneas, 62
Corpos de inclusão eosinofílicos, no citoplasma meningite em, Haemophilus influenzae, 168, Curva de crescimento virai, 226-227, 226!, 236q
de neurônios, caso clínico, 676-677 168t, 169 CWD (doença debilitante crônica), 363
Corpos elementares, de Chlamydia, 204, 205f mononucleose infecciosa em, 291 CXCR4, 367-368
Corpos estranhos. Ver também Cateteres otite média em, 611, 612f Cyclospora cayetanensis, 41 lt, 438, 664-665r
intravenosos; Suturas panencefalite esclerosante subaguda em, 360t, Cytovene (ganciclovir), 265t-266t, 267!, 268,
aderência bacteriana a, 34-37 361 271-272t
infecção por Staphylococcus aureus e, 112 shigelose em, 156
organismos causadores de infecções em, 57- síndrome da bochecha esbofeteada em, 300-
58t 301, 300!, 677-678 D
Corpos reticulados, de Chlamydia, 204, 205f caso clínico, 688t d4T (estavudina), 265t-266t, 269, 372, 373t
caso clínico, 679 síndrome de Reye em, 307 DAF (fator de aceleração do decaimento), 529
Corpúsculos de Negri, 247, 317, 317f síndrome hemolítica-urêmica em, 152 deficiência de, 529, 564-565
caso clínico, 676-677 vacinas recomendadas para, 95-96, 96t, 125, Dapsona (diarninodifenilsulfona), 188
Corticosteroides 169, 276t, 289 Daptomicina (Cubicin)
infecções virais e, 257 Criptococose, 403-404 mecanismo de ação de, 80
rej eição a enxertos e, 525 Criptosporidiose, 41 1t, 416-417, 416f-417f usos clínicos de, 80, 115, 122
Corynebacterium, 134, 134t Cristal violeta, 10 1 Darunavir (Prezista), 265t, 270-27 1, 373t, 374
classificação de, 106-107 t Critérios de Duke modificados, 585, 585t ddl (didanosina), 265t-266t, 269, 372, 373t
como microbiota normal, 26t Critérios de Jones, 581, 581t D-dímeros, 46-47
doenças causadas por, 141 Crixivan (indinavir), 265t, 270-271, 271-272t, Defensinas, 53, 48 1
forma de, 4f 373t, 374 a-Defensinas
Corynebacteriumdiphtheriae, 141-143, 613, Cromomicose, 391 efeitos antivirais de, 257
637r Cromossomo Filadélfia, 35 1 HIV e, 370
defesas do hospedeiro contra, 57-58t Crupe, 304t, 313-314, 61 l t, 615, 615f Defesas do hospedeiro, 52-60, 255-260. Ver
diagnóstico de doenças causadas por, 62 Crustáceos. Ver também crustáceos especificas também Sistema imune; Imunidade
doença causada por, 141-143, 141t, 142f transmissão de Dracunculus medinensis por, 471 contra bactérias, 52-60, 53f
diagnóstico de, 142 Cryptococcus essencial, 57-58, 57-58t
exotoxina de, 40-41t, 41-42, 42-43t com imunodeficiências ou defesas do fagocitose em, 56-57, 56t
ADP-ribosilação por, 39-41, 40-41!, 41-42, hospedeiro reduzidas, 686t falha de, predisposição à infecção e, 57-58,
42-43t meningite e, 590, 591 57-58t
é necessário fago 13, 141 transmissão e localização geográfica de, 385t resposta granulomatosa e, 52
mecanismo de ação de, 41-42, 42-43f Cryptococcus gattii, 403 resposta piogênica e, 52
grânulos metacromáticos de, 9 Cryptococcus neoformans, 400t, 403-404, 403!, contra helmintos, 456-457
propriedades de, 141-142, 142f 660-661r contra vírus, 255-260
Corynebacteriumjeikeium, 214-215 atividades que aumentam a exposição a, 685t específico, 257-259, 260q
Corynebacterium minutissimum, 215 caso clínico, 671-672 evasão virai de, 250-25 1
índice 7S3

fatores modificadores, 257 DGis (infecções gonocócicas disseminadas), transmissão de, 35-36t
não específico, 255-257, 259q-260q 131, 688t Cryptosporidium parvum
evasão de esquistossoma de, 450 DHPG (ganciclovir), 265t-266t, 267!, 268, 271- naAids, 371t
mecanismos pelos quais os vírus evadem, 250- 272t transmissão de, 35-36t
251 t Dl50 (dose infecciosa 50%), 31 diagnóstico, 600t
membranas mucosas como, 475 para Shigella, 156 enterovírus, 7 1, 326
pele como, 475 Diabetes melito, 686t Escherichia coli, 148t
fungos e, 385 defeito nas defesas do hospedeiro em, 57 aquosa, 151
reduzidas, 60q doenças associadas a, 57 enteropática, 148t
organismos causadores de doença com, infecção por Pseudomonas aeruginosa em, prevenção de, 153
685t-686t 162 sanguinolenta, 151-152
respiratório, fungos e, 385 infecção por Staphylococcus aureus em, 112 transmissão de, 35-36t
Defesas do hospedeiro. Ver também Sistema infecção por Streptococcus agalactiae em, 121 tratamento de, 15 3
imune; Imunidade insulina-dependente, 552t, 555 Giardia lamblia, 415
contra bactérias insulina-resistente, 552t, 555 naAids, 371t
imunidade e. Ver Imunidade adquirida; vírus de Coxsackie e, 326 transmissão de, 35-36t
Imunidade inata Diabetes melito dependente de insulina (IDDM), Isospora belli, 438-439
Deficiência de C2, 563-564 555 Listeria monocytogenes, transmissão de, 35-36t
Deficiência de C3, 562-563t, 563-564, 685t Diagnóstico. Ver também Diagnóstico naAids, 371t
Deficiência de C4, 563-564 laboratorial norovírus, transmissão de, 35-36t, 328
Deficiência de C5-C8, 529 postulados de Koch e, 47-50 organismos causadores de, 64,599, 599t-600t
Deficiência de C6, 562-563t, 563-564, 685t Diagnóstico laboratorial, 61-67, 261-263 apresentação clínica, 600t
Deficiência de C7, 562-563t, 563-564, 685t de doenças bacterianas, 61-67 diagnóstico, 600t
Deficiência de C8, 562-563t, 563-564, 685t abordagem bacteriológica para, 61-66, 67q. rotaviral, 242-245
Deficiência de C9, 685t Ver também tipos específicos de culturas Salmonella, 148t, 154-155
Deficiência de G-6-PD (glicose-6-fosfato abordagem geral para, 61-62, 62t-64t naAids, 371t
desidrogenase), malária e, 422 abordagem imunológica (sorológica) transmissão de, 35-36t
Deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase para, 61, 65-66, 67q. Ver também testes Salmonella enteritidis, 35-36t
(G-6-PD), malária e, 422 específicos sanguinolenta, 32, 598-602
Deficiência de mieloperoxidase, 565-566 infecções aeróbicas e, 107 Campylobacter, 158-159
Deficiência intelectual métodos baseados em ácidos nucleicos em, comparada à aquosa, 598t
citomegalovírus e, 289 66,67q Escherichia coli, 151-152
Toxoplasma e, 425 de doenças fúngicas, 385-386 organismos causadores de, 599t
vírus da rubéola e, 316 de doenças virais, 261-263 Shigella, 155. Ver também Shigelose
vírus do sarampo e, 311 de doenças fúngicas, 386 toxina Shiga e, 44-45
Deficiência no inibidor de esterase C l , 529 detecção de ácido nucleico virai e, 262, Shigella, 148t, 156
Deficiência no receptor de interferon 'Y, 565-566 263q na Aids, 371t
Deficiência no receptor de interleucina 12, 562- detecção de antígeno virai e, 262, 263q transmissão de, 35-36t
563 identificação em cultura celular e, 263q tratamento, 600t
Delavirdina (Rescriptor), 265t-266t, 270, 373, 373t identificação microscópica e, 262, 263q Vibrio cholerae, 148t, 156-157
Deleção clonai, 488, 550 procedimentos sorológicos para, 262, transmissão de, 35-36t
Deltavírus (vírus da hepatite D), 242-244t, 245, 263q Vibrio parahaemolyticus, transmissão de, 35-
249t, 332t, 339, 339!, 655-657r Diaminodifenilsulfona (dapsona), 188 36t
Dente. Ver Portas de entrada dentais Diapedese, 55 Yersinia enterocolitica, transmissão de, 35-36t
Dente. Ver Portas de entrada dentais Diarreia. Ver também Disenteria Diarreia aguda, 598
Depuração mucociliar, efeitos antivirais de, 257 adenoviral, 298 inflamatória, 598-602, 600t
Dermatobia hominis, 570t, 571, 571!, 669-670r Aeromonas hydrophila, 213 patógenos causadores, 600t
Dermatófitos, 81, 658-659r apresentação clínica, 600t não inflamatória, 598-602, 600t
Dermatofitoses, 80, 81, 389-391, 390-391! aquosa,32,598-602 patógenos causadores, 599, 600t
Desequilíbrio eletrolítico, no cólera, 158 Campylobacter, 158-159 Diarreia do viajante, 151-152, 600t
Desidratação, no cólera, 158 caso clínico, 678-679 DIC (coagulação intravascular disseminada)
Desinfecção, 99-101, 102q comparada à sanguinolenta, 598t endotoxinas e, 45-46, 45-46t
agentes químicos para, 99-1 O1 Cryptosporidium parvum, 417 na meningococcemia, caso clínico, 676-677
definição de, 99-100 Cyclospora cayetanesis, 438 Dicloxacilina, usos clínicos de, 72t
taxa de morte e, 99-1 O1 enterotoxina termolábil e, 43-44 Didanosina (ddl, didesoxinosina, Videx), 265t,
usos clínicos de, 99-1 OOt Escherichia coli, 151-152 266t, 269, 372, 373t
Desnutrição,565-566 na giardíase, 415 Dide-hidrodideoxitimidina (estavudina),
Dessensibilização, para hipersensibilidade, 544 no cólera, 158 265t-266t, 269, 372, 373t
Dessensibilização aguda, para hipersensibilidade, organismos causadores de, 599t Didesoxinosina (didanosina), 265t-266t, 269,
544 rotavírus, caso clínico, 672-673 372, 373t
Dessensibilização crônica, para Vibrio parahaemolyticus, 158 Didesoxitiacitidina (lamivudina), 265t-266t, 269,
hipersensibilidade, 544 Bacillus cereus, transmissão de, 35-36t 271-272t, 372, 373t
Detergentes, como desinfetantes, 99-1 O1 Balantidium coli, 438 Dificid (fidaxomicina), 80, 141
Dexametasona, 615 Campylobacter jejuni, 148t Difilobotríase, 445-446
DGC (doença granulomatosa crônica), 562-563t, transmissão de, 35-36t Difosfatidilglicerol (cardiolipina), 66, 198
564-565, 685t citomegalovírus, naAids, 371t Difteria, 141-143, 141t, 142!
defeito fagocítico e, 56-57 Clostridium difficile, 140 diagnóstico de, 62, 142
infecção por Staphylococcus aureus em, 112 Clostridium perfringens, 139 pseudomembranas em, 39-40
7S4 Índice

Difteria cutânea, 142 Doença da úlcera péptica Doenças lentas, 359-363


Difteroide, 143 Helicobacter pylori e, 598 causadas por príons, 252, 359-360, 360!, 361-
como microbiota normal, 29 sangramento gastrintestinal em, 598 363, 361t
Di-hidrofolato redutase, inibição pelo Doença de "Wool-sorter", 136, 620 causadas por vírus convencionais, 360-361
trimetoprima, 78, 78t Doença de Addison, 552t de animais, 363
Di-hidroxipropoximetilguanina (ganciclovir), Doença de Behçet, 604 Doenças parasitárias. Ver também doenças
265t-266t, 267!, 268, 271-272t Doença de Bornholm, 326 específicas
Dímeros Gal-Gal, 152 Doença de Brill-Zinsser, 210 eosinófilos em, 502
Dimicolato de trealose, Mycobacterium Doença de Carrión, 214 Doenças por imunocomplexo, pós-
tuberculosis e, 181 Doença de Chagas, 41 l t, 428-430 estreptocócicas, 546-547
Diphyllobothrium [atum, 44 lt, 445-446, 664- Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD), 223,252, Doenças pós-estreptocócicas, 121
665,; 683t 360, 361-363, 361t, 596 Doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Ver
Diplococos, 4 caso clínico, 677-678 também Aids; HIV (vírus da imunodeficiência
gram-negativo, caso clínico, 673-674 transmissão iatrogênica de, 360, 362 humana)
pneumocócico, 123 variante, 360, 361t, 362-363 Calymmatobacterium granulomatis, 214
Dipylidium caninum, 448 Doença de Crohn, 555-556 Chlamydia trachomatis, 204-205
Disenteria, 598. Ver também Diarreia, doença de Graves, 552t, 555 como tricomoníase, 417
sanguinolenta Doença de Hansen. Ver Hanseníase como verrugas genitais, 299
Balantidium coli, 41 lt Doença de Kawasaki (KD), 109, 114 doença da úlcera genital, 604
Entamoeba histolytica, 41 1 Doença de Lemierre, 215 gonorreia. Ver Gonorreia
Shigella, 78, 148t, 154, 156-157 Doença de Lyme, 199-201, 200f Haemophilus ducreyi, 216
transmissão de, 35-36t eritema migrans crônico de, 687t herpes-vírus simples 2,285
Shigella dysenteriae, transmissão de, 34-35t número de casos de, 106-107, 106-107t sífilis. Ver Sífilis
transmissão de, 33t transmissão de, 33, 33t, 199-200, 199!, 569 uretrite, 609-61 O
Disenteria bacilar, 78, 148t, 154, 156-157, 598 Doença de Marek, herpes-vírus animal e, 358 Doenças transmitidas por alimentos. Ver também
transmissão de, 34-36t Doença de Pott, 183 tipos específicos de alimentos
Disfagia, na esofagite, 597 Doença de Whipple, 217 Arizona hinshawii, 214
Dispepsia, gastrite e, 598 Doença debilitante crônica (CWD), 363 Bacillus cereus, 135t, 136
Disseminação de epítopo, doenças autoimunes Doença do legionário (legionelose), 171-172 Clostridium perfringens, 138-140
e,554 transmissão de, 33t, 35-36t cólera, 156-157
Distúrbios atópicos, 544 Doença do sono, 411t, 430-432 Listeria monocytogenes, 143-144
distúrbios específicos Doença do sono africana, 41 l t, 430-432 Staphylococcus aureus, 35-36t, 114
Distúrbios genéticos, na fagocitose, 56 Doença do soro, 546 Yersinia, 217-218
Distúrbios linfoproliferativos pós-transplante Doença granulomatosa crônica (DGC), 562-563t, Doenças zoonóticas, 34-37, 34-37t
(PTLD), 292 564-565, 685t Dolutegravir, 270, 374
Diversidade juncional, 513 defeito fagocítico e, 56-57 Donovanose (granuloma inguinal), 214, 606t
Diverticulite, 601-603, 602-603! infecção por Staphylococcus aureus em, 112 Dose infecciosa 50% (0150), 31
Divertículo colônico, 602-603 Doença hemolítica do recém-nascido, 539, 539!, para Shigella, 156
DL50 ( dose letal 50%), 31 539t Dose letal 50% (DL50), 31
DNA (ácido desoxirribonucleico) Doença hepática DOT (terapia diretamente observada), para
bacteriano, 9-10, lOf, 13q infecção por Vibrio vulnificus em, 158 tuberculose, 185
síntese de, fármacos inibidores, 79 sistema do complemento em, 529 Doxiciclina, 76, 605, 606t, 609, 627
danos ao, mutações causadas por, 18-19 Doença inflamatória intestinal, 555-556 para pneumonia, 620
fúngico, síntese de, fármacos inibidores,79 Doença inflamatória pélvica (PID), 607-609 profilática
inserção de uma cópia próxima a um Chlamydia trachomatis, 206 para antraz, 136
oncogene,352 Neisseria gonorrhoeae, 127, 131 para infecções por Escherichia coli, 153
pró-viral, integração ao DNA celular, 352 Doença maligna. Ver Câncer; cânceres usos clínicos de, 128t, 132, 136, 158
transferência de específicos Dracunculíase, 471
entre células bacterianas, 19-22, 20t Doença periodontal Dracunculus, 456, 457t-458t
no interior de células bacterianas, 19, 20f Capnocytophaga gingivalis, 214 Dracunculus medinensis, 471, 667-668r
transposons e, 1O, 1Of Prevotella intermedia, 165 Dreno de elétrons, o metronidazol age como, 81
viral, integração ao DNA celular, 235 Doença pulmonar, cavitária, Rhodococcus equi, Drotrecogina ex (proteína C ativada), para choque
DNA-polimerase 217 séptico, 46-47
DNA-dependente, do vírus da hepatite B, 333 Doença vascular do colágeno, 557 DSTs. Ver Doenças sexualmente transmissíveis
herpes-vírus simples, 284-285 Doenças autoimunes, 552-557, 552t. Ver também Duetos biliares, invasão de Clonorchis sinensis,
DNase, de Streptococcus pyogenes, 118-119 Artrite reativa; Síndrome de Reiter 453
Doador universal, transfusões, 538 deficiências de complemento e, 563-564 Dupla difusão com precipitação em ágar, 533,
Doença celíaca, 552t, 555 envolvimento de múltiplos órgãos, 556-557 533f
Doença da "vaca louca", 360, 360f envolvimento principal de um tipo de célula ou
Doença da arranhadura do gato (CSD), 33t-37t, órgão, 554-556
177-178, 178f fatores ambientais em, 553, 553t E
Doença da cadeia ex, 47-48 fatores genéticos em, 552-553 E. coli produtora de toxina Shiga (STEC), 599,
Doença da inclusão citomegálica, 289 fatores hormonais em, 553 600t
Doença da mão-pé-boca infecções patogênicas entéricas e, 147 Ebolavírus, 242-244t, 245, 377-379, 377-378!,
enterovírus 71 e, 326 mecanismos de, 553-554 381, 658-659r
lesões cutâneas de, 688t tratamento de, 557 evasão imune por, 250-251
vírus de Coxsackie e, 326 Doenças autoimunes mediadas por células, 552t lesões cutâneas causadas por, 688t
Doença da úlcera genital, 604-605, 606t Doenças infecciosas, estágios das, 47-49, 50q localização geográfica de, 684t
Índice 755

patogênese por, 249 Mycobacterium tuberculosis, 183, 183f caso clínico, 672-673
replicação do genoma em, 232t na coccidioidomicose, 395 Endometrite
EBV. Ver Vírus Epstein-Barr na hanseníase, 188 Clostridium perfringens causador de, 139
ECF-A (fator quimiotático de eosinófilos na na histoplasmose, 396 Streptococcus agalactiae, 121
anafilaxia), 543 Encefalite, 593-594, 593!, 593t, 676-677 Streptococcus pyogenes, 120
ECG (eletrocardiograma), para infecções alérgica, 554 Endósporos, Coccidioides immitis, 394, 394f
cardíacas, 582 arbovírus, 344. Ver também Encefalite da Endotoxina(s), 8, 32, 44-47, 50q. Ver também
Echinococcus granulosus, 44lt, 446, 447!, 664- Califórnia; Vírus da febre do carrapato Lipopolissacarídeo (LPS); endotoxinas
666r do Colorado; Encefalite equina Oriental; específicas
reservatórios para, 682t Encefalite equina de St. Louis; Vírus do Oeste efeitos de, 44-47, 45-47t
Echinococcus multilocularis, 446-447 do Nilo Escherichia coli, 152
ECM (eritema migrans crônico), na doença de enterovírus 71, 326 exotoxinas versus, 39-40t
Lyme, 200, 200!, 687t herpes-vírus simples 1,284,286 mecanismo de ação de, 44-45, 45-46!
Ecocardiograma, 587 herpes-vírus simples 2, 286, 593 na parede celular bacteriana gram-negativa, 6
para infecções cardíacas, 582 neonatal, herpes-vírus simples 2, 284 Neisseria, 127
Ecocardiograma transesofágico (IBE), 582, 585- sarampo e, 311 Neisseria gonorrhoeae, 131
586, 586f vírus da raiva, 317, 317f Neisseria meningitidis, 130-131
Ecovírus, 242-245, 280t, 322t-323t, 326 Encefalite alérgica, 554 Pseudomonas aeruginosa, 163
ECP (efeito citopático), 227, 247 Encefalite da raiva, 594 receptores semelhantes ao Toll e, 480-481
identificação viral por, 261, 316 Encefalite epidêmica, vírus da encefalite japonesa Yersinia pestis, 176
Ectima, 622, 624f e,380 Endurant (rilpivirina), 265t-266t, 270, 373t
Ectima gangrenoso, Pseudomonas aeruginosa, Encéfalo, abscesso de, 594-595, 595f Endurecimento, teste cutâneo da tuberculina e,
164 na endocardite, 583, 583f 182
Ectoparasitas, 569-575, 570t, 669-670r Nocardia asteroides, caso clínico, 672-673 Enfuvirtida (Fuzeon), 264, 265-266t, 373t, 374
aracnídeos como, 570t, 572-575 Encefalomielite alérgica, 552t Enriquecimento frio, Yersinia enterocolitica e,
doença causada por, 569, 570t Encefalopatia, 596 218
importância médica de, 574-575 HIV e, 596 Ensaio da luciferase, 184
insetos como, 569-572, 570t Encefalopatia, espongiforme, transmissível, 359- Ensaio de anticorpo fluorescente, 66,535, 535f
Eczema, nas reações de hipersensibilidade, 542, 360, 361-363, 361t Ensaio de anticorpo fluorescente, identificação
543t Encefalopatia espongiforme, 596 viral por, 262
Eczema herpético, 286 caso clínico, 677-678 Ensaio de hemaglutinação do Treponema
Edema Encefalopatia espongiforme bovina (BSE), 360, pallidum (TPHA), 198
angiedema, 529 360!, 363 Ensaio de liberação de interferon 'Y (IGRA), 184
na filaríase, 468 Encefalopatias espongiformes transmissíveis Ensaio immunoblot recombinante (RIBA), em
no antraz, 136 (TSEs), 223, 359-360, 361-363, 361t. Ver infecções pelo vírus da hepatite B, 338
periorbital na glomerulonefrite aguda, 121 também Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) Ensaio imunoadsorvente ligado à enzima
periorbital na triquinose, 466 Encephalitozoon intestinalis, 439 (ELISA), 66, 534-535, 534f
Edema periorbital Endarterite, 196 Clostridium difficile e, 140
na glomerulonefrite aguda, 121 Endocardite, 582-586 detecção viral por, de HIV, 372
na triquinose, 466 bacteriana. Ver Endocardite bacteriana identificação viral por, 262
Edição do receptor, 488,551 Candida, 585 para diagnóstico de Chlamydia trachomatis,
Educação tímica, 488, 489f Candida albicans, 400, 402 65-66
Edwardsiella, 215 diagnóstico de, 585-586, 585t Entamoeba, ciclo de vida de, 412t, 413f
EF-2 (fator 2 de elongação), ADP-ribosilação de, do lado direito, 583 Entamoeba dispar, 414
por Corynebacterium diphtheriae, 141 do lado esquerdo, 583 Entamoeba histolytica, 410-414, 4llt-412t, 413!,
Efavirenz (Sustiva), 265t-s266t, 270, 373-374, 373t etiologia, 585t 414!, 599t, 600t, 661-662r
Efeito citopático (ECP), 227, 247 fisiopatologia de, 582 doenças causadas por, 410
identificação viral por, 261, 316 manifestações clínicas de, 583 Entecavir (Baraclude), 265t, 266t, 270, 336
Ehrlichia chaffeensis, 213, 215, 647,; 683t prevenção, 586 Enterobacter, 160-161
transmissão de, 34-37t tratamento, 586 antibiótico-resistente, 89
Ehrlichia equi. Ver Anaplasma phagocytophilum vegetações em, 582, 583f classificação de, 106-107t
Eikenella corrodens, 215, 647r Endocardite bacteriana, 582-586 como microbiota normal, 28
como microbiota normal, 28 Actinobacillus actinomycetemcomitans, 213 diagnóstico laboratorial de, 149t
elPV (vacina contra a pólio reforçada), 324 Cardiobacterium hominis, 214 identificação de, 64
Elefantíase, 468, 470f Enterococcus faecalis, 116 no abastecimento público de água, 150
Eletrocardiograma (ECG), para infecções enterocócica, 121 ,585 Enterobacter cloacae, 160-161, 640r
cardíacas, 582 estreptococos viridans causadores de, 28, 116, Klebsiella pneumoniae diferenciada de, 150
Elevação periosteal, naosteomielite, 579, 579f 117!, 121-122 Enterobacter cloacae diferenciada de, 150
Elevador ciliar, 52 Kingella kingae, 216 identificação de, 150q
ELISA. Ver Ensaio imunoadsorvente ligado à prevenção de, 122 propriedades de, 161
enzima Serratia marcescens, 161 Enterobacteriaceae, 147-150, 148t. Ver também
Elvitegravir, 270, 374 Staphylococcus aureus, 114,585, 674-675 organismos específicos
Empiema epidural, 595-596 Staphylococcus epidermidis, 109, 585 antibiótico-resistente, 87t, 89
Empiema subdural, 595-596 Streptococcus agalactiae, 121 antígenos de, 149
Emtricitabina (Emtriva, FfC), 265t-266t, 269, Streptococcus bovis, 116, 121, 585 bastonetes gram-negativos não fermentadores
372, 373t subaguda, caso clínico, 678-679 distintos de, 147
EN (eritema nodoso), 688t Endoftalmite, Candida albicans, 400,402 características comuns de, 147
756 lodice

diagnóstico laboratoriaJ de. 149-150. J49t autolftka. 70 candidfase. 402


pa,ogê.nc,i;e por. l 49 dcgradativa. produzida por heudomo,1a.t, 10 octulice. 116
produ:or decarbapcne-masc.• fánl1acos efetivos rclaciooada à iol1amação. deSueprococc,t.r condiloma acuminado. 299
contra. 80 pyogene.t, 118-119 cor.d:iloma plano. 196
sslldc pCiblka e. 150 soccctada por bactéria in\'asi-..'3, 34-37 cctima gangrc.noso. 164
terapia amibióti~ e. 150 Sraphylccor:cus aureus. 112-113 eritema migran.tctôoico da docn~ de L)'me.•
Entcrobíasc. 457r, 458 vital. 230 200
caso d !nioo. 673-674 Enzimas autolfticas. 70 critema nodoso. 18"3
Enrerobius. 456. 457r, 458 Eosiootilia eritema,osa. na síndrome das bochechas
Enre1obi1d vermic1dari.t, 458, 459/. 460/. 666- infecções por ncmatódcos causadoras de.. 456 e.~bofcteada.~. caso clínico. 677-678
668, na filarfase. 468 impctigo. 113. 116
caso c-l!nico. 673-674 na uiquinose. 466 induzida por fármacos. 544,546
Enrerococcct.t, 585 Eosinótilo(s). 502 mancha.~ rosadas na febre tifoide. 155
das...,ifi~çãodc. 106-1001 oé1ula~ Th-2 e. 496 na caodidfase (assaduras). 402
como m.icrobiota normal. 28, Epide-m.ia(s). 32 na dccmatite de contato. 547-548
docf!ça.Hausadas por, 121 de oótcra. 156- 157 nadoc-~ada mão. pée boca. 326
\'8ncom.icina-rcsistcme. 89. 122 de i,if11tt'l1ta. 301 na doe~a de Lymc. 200
Enterococcct.t faecalis, 634-635r F.pidermophyl0,1, 389. 390-391, na e.~quistossomosc. (dccmatite occcarial). 453
anu'biótioo-rcsistcme. 87. 811. 89 lesões cut!U'!cas causada.~ por. 688, na febre escarlatina. 120
caso c.lfnico. 678-679 Epiglotite. 611 r. 6 16. 616/ na febre maculosa das ).fomanhas RochoS!ls.
como m.icrobiota normal. 26r, 28. 28r Epiglotite, Haemopltilus injf1'en.t,tJe, 168-l(f) 209
docf!ça..., causadas por. 116 Epitélio vascular. e-r.dotox.inas e. 46-47 na banscofase.. l ln-188
C,\'Ctuos relacionados a bospitaiscomo fatoccit Epítopo(s). 477 na hctpangina. 326
prcdispoocntcs à iniocçllo por. 685r apresentação de célula B. 479 na iofcc~o gonocócica disseminada. 131
fármacos C-ÍCÓYOSCOOtra. 77. 80 imunos.e-nicidadc e., 484 na iofcc~o pelo Ebolavfrus. 377-378
idcmi ticação de. 64 Epivir (lamivud.ina). 265r-266t, 269. 271-272,, na infcc~o pelo hcrpcs-\'Crus simpte.~ 1 e 2.
patogê.nci.e por. 118-1191 372. 373, 285-286
terapia combinada de antibióticos para. 91-92 Equinoc.andioa.~. 3861 na iofcc~o pelo vírus HIV. 370
Enrerococc1t.tfaed1tm., 80. 118 Equinooocose. 446 namet1ingooococmia. l30-131
cntcrocooos rc.sistc-ntcs à vancomicina (VRE). 77. Ergosmol. 386 na ros6ola. 3 79
89.118.122 anfo:cridna B e., 80 na rubéola. 315
Enterocolite-. 593-602. 599 s!me.~e de. inibi~o por azóis. 80 na sffilis. 196
AriZonO hi.nJhawii, 214 Ergotismo. 385 na síndrome da pele e.~caldada. 114
Campyfob,we,; 158-159 Erisipela. 623,, 624-625. 625/ na síndrome da.~ bochtthas csbofc~cadas. 300
diagnóstico de. 64 Erisipc.la, Streptocorx1t.r ,ryogene.t, 120. 1201 na síndrome do choque tóxico. t l 4
Ed'4'<ltdsiella. 215 Erisipc.loidc., 215 na tir.ca ,·crsico!or. 3<.K>-391
cm cria~as. septiocmia por Salmonella cm. Erite-ma gangrc.noso. 61nt na varioc.Ua. 287
154 Eri,e-ma infoccioso. 242-245. 300-301 na varíola. 294
organismos causadores de., 64 Erite-ma ,,u·granscr&ico (EO,f). na docn~ de. no amraz (escara negra. pllstula maligna). 136
Salmonella. 1481, 153-154 Lymc. 200. 200/. 687t no car,'albo vc-ncnoso. 547
achados clfnicoscm. 155 Erice-ma muhifom,e, 194. 547-549, 547-548j no hlpus eri,e-matoso sistêmico. 556
Shigella. \~r Shigdosc. herpes-vírus simples. 284. 286-287 no molusco contagioso. 294
Yersinia. 1481 .',fycopla.wna pnemrwliae. 286 no sarampo. 310-31 l. 31 lf
Yet.rinia ememcoli1ica. 217-218 pdr.cipaJ. 'kr S!ndrorne de Ste,\'Ct'ls-Johosoo no tifo. 210
EntettX)'lOt,00,1 bieneusi. 4111. 439 sulfonamida.~ causadoras de-. 78 no 1.óster. 288
Enteropatia. gh1teo. 555 vírus da hepatite B. 286 \1ctrugas. 299
Enteropatia por ghlten. 555 vfrusda hepatite e. 286 \'C.~icular. bcrpcs-vírus simples. 21B
Enterotoxioa cstafilocócica. 43.44 Eri,e-ma nodoso(&'\'), 688, Erupções por fármacos. 544. 546
Enterotoxioa tcnnolábil. 43-44 Mycobacted~m 11tberr:ulosi.s., 183, 183/ Erwfoia. 215
Enterotoxioa.~. \~r 1amhlm enreroroxiJuu na ooccidioidomkosc. 395 Erysipelmhri:,: Yhu.fiopathiae, 215
espec{ftcas na haosct1!asc. 188 transmissão de. 34.37,
8adll1t.r cereus. 136 na h.istopla.~mose. 396 ESBL.~ (~·lsctamascs de. espectro estendido). 89
Clo.nridium perfdngens, 139 Eritrasma. 215 Escara. negra. no antraz. 135/. 136
&d1eJ'idtiacoli, 151-152 Eritroblasto(s). infecção por parvovírus 819 de.. Escara negra. de antrai.. 135/. 136. 6871
Staphylococcu.raitte1d, 112 JOO Esd1erichia
Vibrio cholerae. 156- 157 Eritroblastosc. fetal. 539 antibiótico-rcsistetue. 89
Enterovírus 70-72. 280. 2801, 322. 323-326. Eritrom..icina classificaç!lode. 106-1071
'kr tamblm Wrrd da hepatite A: emnovlflt.r mccanismodea~o de. 14t, 77 diagn&.tico laboratorial ck. 1491
espec{firxu resistência a. 88t, 89 doc-r~ascausadaspor. 147. 1471- 1481
Entrega. Listeria mom'Jf: )'togenes uso ptofiládco de. 82, Esd1erichiar:oli., 146f.151-153.1521,638r
transmiss!lodurante. l 43 usos clínicos de. 75,, 77,122.124. 143, 158- antibiótico-rcsistetue. 87. 89
En\'e-lopc. vital. 220. 222-22:3. 224q 159. 206-207 e.ar.o clínico. 675-676. 678--679
Enx.amcamcmo Etliquiose. U"ansmis.~ão de, 33,215 causando apcodkite. 601 -602
de bastooc~cs gram-negativos. 161. 16lf ErUquiose granulocítica humana (HGE). 213 causando diw-nkulite. 602-ó03
de Proteus, 150 Erliquiose rnonoc.ftica humana (HME). 215 cistitc causada por. 629. 630
Enxertos singê.nieos. 523 Erupção \'arioolifocme de Kaposi. 286 cistos de. 414
Enzi.ma(s) Erupções colkinas produzidas por. 10
Índice 757

como microbiota normal, 26t, 27-28t, 28 Espectro de hospedeiro, viral, 227 Esteróis
condições predisponentes a infecções por, 57- Espinha, lateral, de ovos de esquistossoma, 449, na membrana celular eucariótica, 3
58t 452f na membrana citoplasmática de Mycoplasma, 9
crescimento de, 15-16 Espinhos de rosa, esporotricose e, 391 Estorninhos, como reservatórios para
curli de, 34-37 Espiroquetas, 4, 4f, 25t, 195-202, 195t, Histoplasma capsulatum, 683t
doenças causadas por, 47-48, 47-48t, 147, 151- 645r-646,; 676-677. Ver também espiroquetas Estreptocinase, de Streptococcus pyogenes,
153 específicas 118-119
êntero-hemorrágica. Ver Escherichia coli Esplenectomia, 686t Estreptococos a-hemolíticos, 116, 117/, 118. Ver
êntero-hemorrágica; Escherichia coli 0157 e babesiose severa, 437 também Streptococcus mutans; Streptococcus
enteropática, 64, 151 prediposição a infecções pneumocócicas e, pneumoniae; Streptococcus sanguis, caso
enterotoxigênica, 151-152 124 clínico; Estreptococos Viridans
eventos relacionados a hospitais como fatores prediposição à sepse e, 57 Estreptococos a-hemolíticos, 116, 117/, 118. Ver
predisponentes à infecção por, 685t sepse por Haemophilus influenzae e, 169 também Streptococcus mutans; Streptococcus
exotoxinas de, 32, 40-42t Esplenomegalia pneumoniae; Streptococcus sanguis;
mecanismo de ação de, 4 l-42t na Aids, 37lt estreptococos viridans
termoestável, 43-44 na babesiose, 438 Estreptococos ~-hemolíticos, 116-118, 117.f. 118f
termolábil, 43-44 na brucelose, 175 grupo A. Ver Streptococcus pyogenes
fármacos efetivos contra, 78 na doença de Chagas, 428 grupo B. Ver Streptococcus agalactiae
fatores de virulência de superfície de, 34-37, na esquistossomose, 450 grupo D, 118. Ver também Enterococcus
38-39t na febre tifoide, 155 faecalis; Enterococcus faecium;
flagelo de, 11 na malária, 424 Streptococcus bovis
identificação de, 62, 64 na mononucleose infecciosa, 291 grupos de Lancefield, 118
ilhas de patogenicidade de, 38-39, 47-48, 47-49! no calazar, 432 Estreptococos ~-hemolíticos, 116-118, 117f-118f
infecções do trato urinário devido a, na Esporangiósporos, 384, 384f grupo A. Ver Streptococcus pyogenes
diabetes melito, 57 Esporo(s) grupo B. Ver Streptococcus agalactiae
injectossomos de, 40-41 bacterianos, 6t, 11, 12!, 12t, 13q grupo D, 118. Ver também Enterococcus
ligação de bacteriófago à, 227 Bacillus anthracis, em produtos de origem faecalis; Enterococcus faecium;
material genético de, 18 animal, 135 Streptococcus bovis
propriedades de, 151 Clostridium botulinum, 138 grupos de Lancefield, 118
prostatite causada por, 632 Clostridium perfringens, 139 Estreptococos ~-hemolíticos do grupo A,
requerimento de oxigênio de, 106-107, 107t Clostridium tetani, 137 identificação de, 63-64
Salmonella distinta de, 16, 151 morte, 101 Estreptococos do grupo A. Ver Streptococcus
Shigella distinta de, 16, 151 fúngica pyogenes
teste de qualidade da água e, 150 Coccidioides immitis, 394 Estreptococos do grupo B. Ver Streptococcus
toxigênica, identificação de, 64 Histoplasma capsulatum, 395-396, 395f agalactiae
transmissão de, 34-36t, 687t micoses sitêmicas causadas por, 393 Estreptococos do grupo D, 118. Ver também
uropática, 152 Paracoccidioides brasiliensis, inalação de, Enterococcus faecalis; Enterococcus faecium;
Escherichia coli êntero-hemorrágica, 151-152 398,398! Streptococcus bovis
Escherichia coli enterotoxigênica (EIBC), 599, resistência a raios X, 102 antibiótico-resistente, 118
599t-600t Esporogônia, Plasmodium, 420 doenças causadas por, diagnóstico laboratorial
Escherichia coli 0157, 151-152, 599 Esporos terminais, de Clostridium tetani, 138 de, 122
caso clínico, 674-675 Esporotricose, 391, 39lf Estreptococos não ~-hemolíticos, 118
exotoxina de, 42-43t caso clínico, 675-676 Estreptococos viridans, 118, 121, 635r. Ver
identificação de, 64 Esporozoíto, na malária, 420 também Streptococcus mutans; Streptococcus
reservatórios para, 682t Esquistócitos, 152 sanguis
toxina Shiga de, 44-45 Esquistossomose, 449-453 como flora normal, 26t-28t, 28, 118
transmissão de, 35-37t caso clínico, 677-678 doenças causadas por, 116, 117.f. 121-122, 595
Esclerose múltipla, 552t, 554 Esquizogônia, Plasmodium, 420 endocardite causada por, 53n
Escólex, de tênias, 440 Estado de latência, 32 fatores predisponentes para, 53t, 686t
Escotocromógenos, 185-186, l 86t Estado de portador glicocálice de, 34-37
Escrófula, 183, 186 bacteriano infecções orofaríngeas devido a, 53t
Esferas, hepatite B, 333, 334f crônico,32,47-49,602-603 lesões cutâneas causadas por, 688t
Esférulas definição de, 26 patogênese por, 118-119t, 120
caso clínico, 678-679 na febre tifoide, 154-155 Estreptodornase, de Streptococcus pyogenes,
Coccidioides immitis, 393-394, 394f viral 118-119
Esfregaço de Tzanck, 283, 287 crônica, 252 Estreptograminas, 74t
Esgoto, poluição dos sistemas de abastecimentos na hepatite B, 334 mecanismo de ação de, 77
públicos de água por, 150 na hepatite C, 338 usos clínicos de, 75t, 77
Esofagite, 597-598 Estado de portador crônico, 602-603 Estreptolisina O, de Streptococcus pyogenes,
Candida albicans, 400, 402 bacteriano, 32, 47-49 118-119
citomegalovírus, oral, 37lt viral, 252 Estreptolisina S, de Streptococcus pyogenes,
herpes-vírus simples 1, 286 Estafiloxantina, produzida por Staphylococcus 118-119
oral, 37lt aureus, 111 Estreptomicina, 75t
Espaço periplasmático, 5, 6t Estavudina (d4T, dide-hidrodideoxitimidina, Estridor inspiratório, no crupe, 615
Espasmos musculares, no tétano, 137, 137f Zerit), 265t-266t, 269, 372, 373t Estrongiloidíase, 457t, 462-464
Espécies hospedeiras, especificidade do Esterilização, 101-102, 102q Estrutura de subunidade A-B, de exotoxinas,
interferon para, 255 definição de, 99-100 39-40
Especificidade, da ligação do vírion, 227 usos clínicos de, 99-1 OOt Bacillus anthracis, 135
758 Índice

Etambutol Fagocitose, 53-56, 55f, 56t. Ver também inibidores da síntese de proteínas virais, 270-
mecanismo de ação de, 81 Opsonização 271, 273q
resistência a, 90 efeitos antivirais de, 257 inibidores de integrase, 270, 273q
usos clínicos de, 81, 184 eosinófilos em, 502 inibidores de protease, 270-271, 273q
Etanercepte, 557 macrófagos e, 499-500, 499-500t inibidores de retrovírus, 269-270, 271-272q
Etanol, como antisséptico, 99-1 01 passos na, 55-56 não nucleosídeos, 269, 271-272q
Etoxinaftamidopenicilina. Ver Nafcilina reduzida, 685t nucleosídeos, 269, 271-272q
Etravirina (lntelence), 265t-266t, 270, 373, 373t Fagos inibidores do vírus da hepatite B, 270, 273q
Eubacterium, 215 CTX, 158 inibidores do vírus da hepatite C, 270, 273q
como microbiota normal, 28t fago 13 e toxina diftérica, 41-42, 141 inibidores dos herpes-vírus, 265-269, 271-
Eucariotos. Ver também Fungos; Bolores; ligação de, 227 272q
Levedura(s);.fungos especfjicos transdução e, 20-21, 20t, 22f não nucleosídeos, 269, 271-272q
como células diploides, 18 Fagossomos, 55 nucleosídeos, 265-269, 271-272q
procariotos versus, lt, 2-3, 2t Famciclovir (Famvir), 265t-266t, 268, 605, 606t limitações de, 265t-266t
transferência de DNA entre células em, 20t, Faringite, 61 lt, 613-614 uso quimioprofilático de, 271-272, 271-272t
21-22 adenoviral, 242-245, 297-298, 304t Fármacos bactericidas, 90-91
Evasão imune, virai, 250-251 Arcanobacterium haemolyticum, 214 Fármacos 13-lactâmicos, 71. Ver também
Exantema súbito, 379 causas bacterianas, 613-614 Cefalosporinas; Penicilina(s); fármacos
Exclusão alélica, 514-515 causas virais, 614 específicos
Exfoliatina, 43-44, 112 diagnóstico de, 62 resistência a, 87 t
Exoenzimas, de Pseudomonas aeruginosa, 163 estreptocócica Fasceíte necrosante, 138, 627-628
Exotoxina A de Pseudomonas, ADP-ribosilação diagnóstico laboratorial de, 121 -122 Bacteroides fragilis, 165
por, 39-40 Streptococcus pyogenes, 116, 116!, 120 características clínicas de, 627
Exotoxina A pirogênica, de Streptococcus gonocócica, diagnóstico de, 62 classificações de, 627-628
pyogenes, 120 na difteria, 141 Clostridium perfringens, 138, 139!, 628
Exotoxina B, de Streptococcus pyogenes, 120 na mononucleose infecciosa, 291 Streptococcus pyogenes, 120, 627-628
Exotoxina(s), 32, 39-45, 40-41t, 50q. Ver também vírus parainfluenza, 314 Fasciola hepatica, 449, 454
exotoxinas especificas Faringite bacteriana, 613-614 Fascíola hepática, 450t, 452!, 453, 666-667 r
Bacillus cereus, 599 Faringite estreptocócica, 613 Fascíola pulmonar, 450t, 452!, 453-454, 666-
Bordetella pertussis, 170-171 Faringite virai, 614, 614f 667 r
Clostridium botulinum, 138 Fármaco(s). Ver também fármacos especfjicos e Fascíolas. Ver Clonorchis sinensis; Paragonimus
Clostridium difficile, 140 tipos de fármacos westermani; Schistosoma; Trematódeos
Clostridium perfringens, 139, 599 erupções induzidas por, 544, 546 Fascíolas sanguíneos. Ver Schistosoma;
Clostridium tetani, 137 reações de hipersensibilidade a, 544 Esquistossomose
Corynebacterium diphtheriae, 141 Fármacos antifúngicos, 81, 386, 386t, 387q. Ver Fasciolopsis buski, 449, 454
de Bacillus anthracis, 135 também fármacos especfjicos Fase de janela, do vírus da hepatite B, 336
de bacteria gram-negativa, 43-45, 44-45f Fármacos antimicrobianos, 69-84. Ver Fase de morte, do ciclo de crescimento
de bactéria gram-positiva, 41-44 também Antibiótico(s); Resistência a bacteriano, 15
diarreia aguda causada por, 599 antibiótico; Fármacos antifúngicos;fármacos Fase estacionária, do ciclo de crescimento
endotoxinas versus, 39-40t antimicrobianos especfjicos bacteriano, 15
Escherichia coli, 151-152, 599 atividade bactericida de, 69, 70f, 83q Fase exponencial, do ciclo de crescimento
estrutura de, 39-41, 40-41f atividade bacteriostática de, 69, 70f, 83q bacteriano, 15, 15f
mecanismo de ação de, 40-42, 42-43t mecanismo de ação de, 70-81, 83q-84q Fase Lag, do ciclo de crescimento bacteriano,
principal localização dos sintomas das doenças alteração da fu nção da membrana celular 15, 15f
causadas por, 42-43t como, 80-81, 84q Fase Log, do ciclo de crescimento bacteriano,
síntese de, lisogenia e, 233 antibacteriano, 81 , 8 lf 15, 15f
Staphylococcus aureus, 112, 599 antifú ngico, 81 Fator 2 de elongação (EF-2), ADP-ribosilação de,
Streptococcus pyogenes, 118-120 inibição da síntese da parede celular como, por Corynebacterium diphtheriae, 141
toxicidade de, 39-40 70-74, 83q Fator ex de necrose tumoral (TNF-cx), 504-505
Vibrio cholerae, 156-157, 599 inibição da síntese de ácidos nucleicos Fator ativador de plaquetas (PAF), em reações de
Explosão respiratória, 55-56 como, 78-80, 78t, 84q hipersensibilidade, 543
Expressão de genes codominantes, 521 inibição da síntese de proteínas como, 74- Fator 13 de necrose tumoral (TNF-13), 504-505
Expressão gênica, virai, 227-232, 229!, 78, 74t, 75t, 83q-84q Fator corda, Mycobacterium tuberculosis e, 181
229t-230t, 23lt-233t, 232f princípios da terapia com, 69, 70t Fator de aceleração do decaimento (DAF), 529
transformação maligna e, 351 probióticos, 82-83 deficiência de, 529, 564-565
Exsudato eosinofílico, na ascaridíase, 461 quimioprofilaxia utilizando, 82, 82t, 84q, 130- Fator de crescimento de células T, 495, 502-503
Extrato de levedura de carvão vegetal, 63-64t, 131 Fator de crescimento transformante 13 (TGF-13),
172 toxicidade seletiva de, 69, 70t, 83q células T e, 504
Fármacos antiretrovirais, 372-375, 373t Fator de disseminação, de Streptococcus
Fármacos antivirais, 265t. Ver também fármacos pyogenes, 118-119
F especfjicos Fator de edema, de Bacillus anthracis, 135
Fácies leonina, na hanseníase lepromatosa, 187- antirretroviral, 372-375, 373t Fator de necrose tumoral (TNF), 504
188, 188f inibição da síntese de ácidos nucleicos por, anticorpo contra, para doenças autoimunes,
Fago 13 e toxina diftérica, 41-42, 141 265-270, 266t 557
Fagócitos, deficiência de inibição de evento precoce por, 264-265, 267!, efeitos benéficos e prejudiciais de, 45-47, 46-
adquirida, 566 271-272q 47t
congênita, 562-563t, 564-566 inibidores da liberação virai, 270-271, 273q produção de, endotoxinas e, 46-47
Índice 759

r,,.--ccptor sohivc.l para. para doença.,; Fclirt Q. 208. 2091, 2 10. 620. Vt'r mmbbn Fluorocitosina (Oucitosina). 78,. 79. 386r
autoimur1es. 557 Cw:Iella ~ ,rnt'tll Fluoroquinolonas. 630-632. l'co-r /(J,nbú,1
resposta infl amatória e:. 5.J-54 Fclirt qucbra-os..,;os. 346 /Jrmat:(}$ t'SJ>tt/fit:M
F:uor cs1imulador de colônias de Ftbrt rccomnte. transmissão de. 33 colite pscudomcmbra1l0sa de\'ido a. 140
lll3Crófagos-g,anulóci1o.s (GM-CSF. Ftbre reumitica. 5521. 55&.557 da1l0s ao osso e à canilagcm em crescin-.cnto
sargra1nos.1im). 504-505 aguda. póHS.ttept:ocócka. 121 devido a. 79
Fator cs1imulador de col& ias de granulóci1os pr...--vmção de. 122 eSIJUIUra de. 79. 79/
(filgrn.,;fim. G -CSF). 504-505 Strep10C'Ott1a JfytJgt'ne.t. 120 mecanismo de ação <k. 79
Fator inibidor & leuicóci1os. soa Fclire 1ifoidc. 1481, 153-155. 60Ui03 sCndromc hcmolftica-urêmics e. 152
Fator inibidor de mig~ d;,- macrófagos (Mlf). diagnósLic ode. 66 usosc!fnicosde. 78t, 79. 124. 156. 609-6 10
504-505. 520 uansmiss!lo de. 34-36r Fogu::tes de actins.. 38-39
F:uor letal. de Badl/usanthrads. 135 'i'tlCinas conua. 96 de Listuia nJ{)rlOC,·tt>gent'S, 143
Fator quimio!.á1ico de eosinófil o na anafilaxia Fttlol(is). como desinfets me. 99-10 1 Folkulite. 623.r. 626. 626/. 687,
(ECF-A). 543 Fttlômc1l0 de Raynaud. tnl inf~ s por banheira de hidJOm:a,;sagem. 164-. 6811
Fator V. crescimento de Haemophlltd lnjluen~ ,"1.w:oplasma pr,e11mtmlM. 19-& P.tt'1.dt,nrr>r1as Mrugi11osa. 164. 6811
cm meio labor.uoriaJ e. 168 Fttlômc1l0 embólioo. na endocardite. S&3 Sm11hyl«tx.-eusm,m1.t. 109. I IQ/. 6871
Fator X. crescimento de HMmr>philtd lnjl11M:Ju Fttmcmaç!lo. de açtkarcs. 16 Folicufüe da b:1t1hcita dt hidroma.,;s3gem. 164.
cm meio labor.uoriaJ e. 168 Fttmcmaç!lo dt lactose 687,
Fatores de crescimento. onoogcncs com aus~ia em Sa/mont'lla. 153 P.tt'1.dt,nrr>r1as MrugiMsa. tr.msm.issão de. 35-
s,,_--quências de ba,;cs s:imilares aos g.roes 1>3m. Emerolxlcicriace-ac e. 149. 1491 3(w
351
por E.tCMrichitJ Ct>I,. 151 Fômites. 33. 331
F:uores de resislfncia. 87-88. SSt 881 Fttro. erescimcmo tiac,eria1l0 e. 16 Fomi\'itstn (ViuaveDC). 265,. 270-271
Fatores de vinller1da. 31-32. 34-37. )8..39t. Vu Feto. \~r tanibim Gravidez: Trans:missão FonseMt>a. 391
mmbln1 Er1do1oxi:na(s): Exocoxina(s) transplacemária Força próto1..roo1h-a. 11
Fatores quimiotátioos. soa anticorpos cm. 5 17 Fonnalde fdo. 1O1
COl'llO a!Otl'IXcttO. 524 Fonova!IC (saquinavit). 2651, 270-27 1. 3131. 374
F:uores R. 87-88. &8f. 881
dOtt1ça da inctusão citomcgá!ica cm. 289 Fos~unptena\'it(L.-xh'tl). 270--271. 373,. 374
Favus. 390-391
S-FC ( Jl ucitosina). 78t, 79. 3861 hidropisia fetal em. 300-301 Foscamct (Fosc.a"ir. fosfooofomlatocrissddico).
Fc:br;,- caso clínico. 677-678 266,. 267/. 269
i.nfecção pelo ,·frus do sarampo cm. 311 Fos!o1l0formato trissódico (foscnmec). 2661.
tfcitos :uui vir.iis de. 257
i.nfecç!o por Ll'.tterla m,>r1,X.-_\Wgt'tln em. 143 267/. 269
tm infecções por Vi'l>rlo paMhtJett1t>l)'tlc1,s.
i.nfecções ma.temas que reprcscmam risco à. Fotocronl6geoo.s.. 1&5-186. 1861
158
6117r Fotosscns:ibilidnde
cOOOlox.inas e. 44-47. 45-46r
infecções pelo pa.t\'Ovfrus B19. 300-301 dox.icic1ina causadora de. 76
Febre amare.la sil,'Cstrc.. 346
Fctopro1ctna u. 560 sulfonamida.,; causadoras de. 78
Febre da mordeduta dt 1'310
Fezes FrngmcmoFc.5 10
S1nrlllum mlnt>r. 202. 217
água-dc--arroz. 158 Frngmcmos Fab. 510
S1rt'ptobadll1a mr>nilifcmnl.t. 2 17 cuJ1uras bacterianas dt. 64 F'Mnd.tdla, cJas.,;iflC'OÇAo de. 106- 1011
Febre das lrir1cheita.,;. 2 14 FrtJnd.tt'lla rulareriJls. 17S-176. 643,
teste <k ovos e p:irasitss das.. 409
Febre& Oroya. 214 tox.ina de CIMm'd,u,n diffk'llt' nas. 140 doc1)Ç'tl cnus3da por. \'co-r Tulnrcmia
Febre& Ponti3C, 172
Fezes água-&--arroz. oo cólera. 158 propriedades dt. 175
"febre do feno." 542. 543.r Fibrose d'stica. Puud,>monas Mri,gln,,sa e, 162. rescr"ru:órios 1>3ra. 682,
"febre do \'ak... 395 163.68(11 transmissão de. 35-37,
Febre cmérica. 602-603 Ficonlicosc. ,,..., MüCOmli,.-osc Frn..ngo(s)
Arkooa hinshtJ~-11. 2 14 coroo rcstr.'tltórios
Fidaxonlicina (Dificid). 80. 14 1
Salm,>r1elltJ. 153-154
Fígado. na febre tifoide. 155 para CtJmp_\fobocter jt'junl. 6821
Febrecscatlati.na. 120. 6881 Filamento axiaJ. 11 para o \'Írus 1'nfl11~nZ11-. 6&lt
Febre faringooonjunth'tll. adeoovirnJ. 298 Filamentos. bep:11i1e B. 333. 334/ paro Sa/mtmdla mt~ritMls. 6821
Febre bcmorrá.gica Filal1'asc. 4511, 468-470 ovos de. Vu 0.·0(s). doo.".1)Ç11 de ~farc.k 1l0
arbo,·úus. 344 Filgra.,;1im (fru:or dt estimul~o de colônias de frango tnl. 358
romplcx.o ,·irai da Ilibo Tacaribt. 382 granulócitos). 50,a.505 Frutos do mar. l'co-r JtJmblm t1j>0s t'SJ>tt/fit:M de
C0/'('31)0. 379 Filovfrus.. 220-221/. 245 fr11msdomar
tbolavfrus. Vt'r Ebola\'CruS Filtrnção. I02 ttans:mis.s!lo de Anl.takl.t slmpla por. 472-4 73
,·frus da dengue. 346 F(mbria. bacteriana. 6r. 11 transmissão de C/t)n(Jtdi/s por. 453
\'ÍNS La.,;sa. 245. 380 Fis.s5o biniria.. 15 transmissão de D1j,h_\l/obothrlum por. 445
,·frus Lujo. 380 Flagelados. 409 transmissão de Puragonl11u,s por. 453
,·frus M.arburg. 242-2441, 245. 381 Flagelo. OOC1criano. 61. 11 transmissão de \.11,l'H) choluM por. 156· 15 7
,•Crus Whitcwru:er Arroyo. 382 Flagyl (metronida2:ol). 600.i. (,01-Wl. 008.r. 609 transmissão de \.11,rki /HJl'úhüt'l,1t>/)1,c1,s por.
Febre bc morrá.gica coreana. 379 m.oc-anisroo dt aç!lo dt. 8 1 158
Febre bcmorrá.gica da dengue. 346 UfiOSCICnicosdt.8 1. 138, 140-141. 607-(,00 transmissão de \.11mo 1•1tlniflct.s por. 158
Febre maculo.saa. Momanhas Rochosas. 208-209 Fla\'ivfrus. 231. 242-U5, 3431 transmissão do \'ÚUS d.a hcpru:i1e A por. 332
Febre maculos.a das ~1oot:mhas Rochosas. 208- proi:ea,;es de. 233, FTC (emtricitabina). 2651-2661, 269. 372. 373,
209. '209/. 209,. 21 1 FltJl•obat:lerlum. lh Chry·seob{rt:1u1'u,n Fungi.1.ona (snfocericina 8). 386
lesões cu1!r1cas de. 6&81 Flublok. 308 efeitos adversos de. 80. 386r
trans:missãodt. 33. 34-35, Ftuci1osi:na (5-·FC, Ouorocitosina). 78,. 79. 386, eSIJUIUra de. 80. 8Q/
Febreor1dulantc. l'co-r Bructlose f lucon:uol. 81. 8 1.f. 82,. 386r. 597-598. 607.(,()8.. mecanismo de ação de. 80. 80/. 386r
Febre puctpttal. 120 60'1r Fungo. 3&3-408, 658.U2r. \~r tamblm Bolores.:
Febre purpárics brasileira. 2 16 Flumadina (rimant.adina). 265. 265!. '266r. 308 Ltveduta(s)
760 Índice

bactéria comparada a, 383t para hipogamaglobulinemia comum variável, Gene E7, dos papilomavírus, 298
características essenciais de, 2t 565-566 Gene env
causador de micoses cutâneas e subcutâneas, para hipogamaglobulinemia ligada ao X, 561 de HIV, 365, 367t
658-660r Gambá, mordedura de, transmissão do vírus da de retrovírus animal, 357
causador de micoses oportunistas, 660-662r raiva por, 682t Genegag
causador de micoses sistémicas, 659-661 r Gametócitos de retrovírus animal, 357
crescimento excessivo de, 385 formato de banana, 424 do HIV, 365, 367t
de DNA, síntese de, fármacos que inibem, caso clínico, 676-677 Gene HLA -B27, síndrome de Reitere, 557
79 formato de lua crescente, de Plasmodium Gene HLA -DR2, síndrome de Goodpasture e, 557
diagnóstico laboratorial de, 385-386, 387q falciparum, 423!, 424 Gene HLA -DR4, artrite reumatoide e, 556
dimórfico, 384 Ganciclovir (Citovene, DHPG, Gene nef, do HIV, 365, 367t
estrutura e crescimento de, 383-384, 383t, di-hidroxipropoximetilguanina), 265t-266t, 267!, Gene Nramp, 183
384!, 386q-387q 268, 271 -272t. Ver também. Fasceíte necrosante Gene p53, tumorigênese e, 352
oportunista, com imunodeficiências ou defesas Gânglio da raiz dorsal, vírus varicela-zóster Genepol
do hospedeiro reduzidas, 686t latente em, 287 de retrovírus animal, 357
paredes celulares de, fármacos que inibem a Gânglio lombar, herpes simples 2 latente em, do HIV, 365-366, 367t
síntese de, 74 285 Gene RAG-1, na imunodeficiência combinada
patogénese por, 384-385, 385t, 387q Gânglio sacral, herpes simples 2 latente em, 285 grave, 563-564
reações alérgicas a, 385, 387q Gânglio trigémeo, herpes simples 1 latente em, Gene RAG-2, na imunodeficiência combinada
reprodução por, 383-384 285 grave, 563-564
terapia antifúngica e, 386, 386t, 387q Gangrena gasosa, 138, 139f Ver também Fasceíte Gene rev, do HIV, 365-366, 367t
toxinas de, 385, 387q necrosante Gene rex, 355
Fungo dimórfico, 384, 391, 393, 394f Gardnerella vaginalis, 215, 606-608, 608t, 647r Gene src, de retrovírus animal, 357
Blastomyces dermatitidis como, 397 como microbiota normal, 26t Gene tat, do HIV, 365-366, 367t
Coccidioides immitis como, 393 Garganta, microbiota normal da, 27-28t, 28 Gene tax, 355
Histoplasma capsulatum como, 395 "Garra do Diabo", 326 Gene vif, do HIV, 365-366, 367t
Paracoccidioides brasiliensis como, 398 Gastrenterite, 598-602 Gene vpr, do HIV, 365, 367t
Fungo endêmico adenoviral, 297, 298 Gene vpu, do HIV, 365, 367t
Blastomyces dermatitidis como, 397 febril, Listeria monocytogenes, 143-144 Gene(s). Ver também genes específicos
Coccidioides immitis como, 393 Listeria monocytogenes, 143-144 carreados por plasmídeos, 1O
Histoplasma capsulatum como, 395 Plesiomonas shigelloides, 216 em príons, 223
Fungos dermatiáceos, 391 rotaviral, 329 imunoglobulina, 51 1-514, 513f
Fungos imperfeitos, 384 Staphylococcus aureus, 114 "salto" 10 lO)j
' '
Furúnculos,626-627 transmitida por alimentos. Ver Doenças silencioso, 19
Pseudomonas aeruginosa, 687t transmitidas por alimentos supressor de tumor, na tumorigênese, 352
Staphylococcus aureus, 112, 113, 687t vírus Norwalk, 327 transposon, 10, lOJ
Fusarium solani, 405-406 Gastrenteropatia, alérgica, 543t Genes do prófago, integrados, 233
Fusobacterium, 215 Gastrite, 598 Genes HLA, 521-522
como mocrobiota normal, 27-28t, 28 Gastrite, Helicobacter pylori, 158-160 Genes polimórficos, 521
doenças causadas por, 153 Gato(s) Genes reguladores, do HIV, 365, 367t
forma de, 4f ancilostomíase de, 456, 472 " Genes saltadores," 10, l OJ
Fusobacterium necrophorum, 215,614 arranhões de, Bartonella henselae Genes silenciosos, 19
Fusobacterium nucleatum, 215, 647r transmissão por, 34-37t, 177 Genes supressores de tumor, na tumorigênese,
Fuzeon (enfuvirtida), 265, 265t-266t, 373t, 374 civetas, como reservatórios de coronavírus, 352
682t Genética, 18-22, 238-241
como hospedeiro definitivo, para Toxoplasma bacteriana, 18-22, 22q
G gondii,425 mutações e, 18-19
Gado e vacas como reservatórios, para Toxoplasma gondii, recombinação e, 22
como reservatórios 682t transferência de DNA entre células e, 19-
para Bacillus anthracis, 682t microbiota normal de, caso clínico, 673-674 22, 20t
para Coxiella burnetii, 210 mordeduras de, 65-66 transferência de DNA no interior das
para Escherichia coli, 34-37t, 151, 682t transmissão de Bartonella henselae por, células e, 19, 20f
para Mycobacterium bovis, 34-37t 682t resistência a antibióticos e, 86-88, 93q
para príons, 682t transmissão de Pasteurella multocida por, resistência mediada por plasmídeo e, 87-88,
para Salmonella enteritidis, 34-37t 34-37t, 177, 682t 88f, 88t
para Sporothrix schenckii, 682t transmissão do vírus da raiva por, 682t resistência mediada por transposon e, 88
para Taenia saginata, 682t ténia de, 448 resistência relacionada ao cromossomo e,
para Toxoplasma gondii, 682t toxoplasmose e, 682t 87
encefalopatia espongiforme bovina em, 363 caso clínico, 678-679 virai, 238-241, 239-241q
leite de Gatos civetas, como reservatórios, para Gengivite, Porphyromonas, 216
transmissão de Brucella por, 174, 682t coronavírus, 682t Gengivoestomatite, herpes-vírus simples, 283t,
transmissão de Liste ria monocytogenes por, G-CSF (fator estimulador de colônia de 284,285,304t
682t granulócitos), 504-505 Genoma de polaridade negativa
transmissão de Mycobacterium bovis por, Gene c-myc do vírus da raiva, 317
34-37t, 682t no linfoma de Burkitt, 514 do vírus influenza, 305
GALT (tecido linfoide associado ao intestino), translocação no linfoma de Burkitt, 356 dos paramixovírus, 31 O
488 Gene de suscetibilidade ao retinoblastoma, 352 Gentamicina, 609
Gamaglobulina Gene E6, dos papilomavírus, 298 terapia de combinação utilizando, 91 -92
Índice 761

usos clínicos de, 75t, 115, 118, 144, 153, Listeria monocytogenes em, 143-144 reservatórios para, 250-25 1t, 682t
161 parvovírus B 19 em, 301 Haplótipos, 521
Giardia, 412t, 598 sarampo em, 311 Haptenos, 482-483, 4831, 494
ciclo de vida de, 412t, 415f sífilis congênita, 197 HAV. Ver Vírus da hepatite A
fármacos efetivos contra, 81 toxoplasmose em, caso clínico, 425, 678-679 HBcAg (antígeno do cerne da hepatite B), 333,
Giardia lamblia, 41 lt, 414-415, 4151, 599-600t, tratamento para HIV em, 3741, 375 3351, 336t
661-662r vírus da rubéola em, 316 HBeAg (antígeno e da hepatite B), 333, 336
caso clínico, 671-672 Gravidez ectópica HBIG (imunoglobulina da hepatite B), 276,
na Aids, 371t Chlamydia trachomatis, 206 336-337
reservatórios para, 683t Neisseria gonorrhoeae, 131 HBoV (bocavírus humano), 379
transmissão de, 35-36t Griseofulvina HBsAg (antígeno de superfície da hepatite B),
Giardíase, 41 lt, 414-415, 415f efeitos adversos de, 386t 245, 333-335, 3351, 336t
caso clínico, 671-672 mecanismo de ação de, 81, 386t HBV. Ver Vírus da hepatite B
Glândulas paratireoides, na aplasia do timo, usos clínicos de, 81 HCC (carcinoma hepatocelular)
562-563 Grupo HACEK, 215-216 hepatite B e, 334, 356
Glicocálices, 6t, 11, 34-37 Grupo Streptococcus anginosus-milleri, 118 hepatite C e, 337-338, 355
Glicoproteínas do envelope, tipo-específica, de Grupos de Lancefield, 118 HCV. Ver Vírus da hepatite C
HIV, 366-367 Grupos sanguíneos ABO, reações de transfusão e, HDV (vírus da hepatite D), 242-244t, 245, 249t,
Glicoproteínas do envelope tipo-específicas, do 536-539, 536-5381, 538t 332t, 339, 3391, 655-657r
HIV, 366-367 GS (síndrome de Goodpasture), 545, 552t, 557 Helicobacter
Glomerulonefrite, 121, 546-547 Guaxinins, mordedura de, transmissão do vírus classificação de, 106-107 t
aguda,552t da raiva por, 682t fármacos efetivos contra, 77
caso clínico, 673-674 Helicobacter pylori, 158-160, 640r
na endocardite, 583, 584f câncer associado a, 4 7 -48
Glomerulonefrite aguda (GNA) H caso clínico, 678-679
caso clínico, 673-674 HAART (terapia antirretroviral altamente ativa), doenças causadas por, 156-157t, 158-160, 598
pós-estreptocócico, 121 183, 372-375, 403 Helmintos, 409, 409f
Streptococcus pyogenes, 120 Haemophilus características essenciais de, 2t
13-Glucano, 74 classificação de, 106-107 t células Th-2 e, 496
Glutaraldeído, 101 como microbiota normal, 26t ciclo de vida de, 409
GM-CSF (fator estimulador de colônias de Haemophilus aegyptius, 216 defesas do hospedeiro contra, 511-512
macrófagos-granulócitos), 504-505 Haemophilus aphrophilus, 215-216 Hemácia(s)
GNA. Ver Glomerulonefrite aguda Haemophilus ducreyi, 216, 604, 606t, 648-649r destruição de, na malária, 421
Gnathostoma spinigerum, 472 Haemophilus influenzae, 168-169, 61 l t, 612, no teste de fixação de complemento, 535
Gomas, na sífilis, 197 619,642r Hemadsorção, identificação viral por, 261
Gonococos. Ver Neisseria gonorrhoeae antibiótico-resistente, 87t Hemaglutinação passiva, 535
Gonorreia, 127, 1281, 607-608, 609-610! caso clínico, 676-677 Hemaglutinina, do vírus influenza, 305-306
diagnóstico de, 65-66 defesas do hospedeiro contra, 57-58t Heme, crescimento de Haemophilus influenzae
epidemiologia de, 130-131 doenças causadas por, 114, 168 em meio laboratorial e, 168
número de casos de, 106-107, 106-107t fármacos efetivos contra, 76, 78-79 Hemoglobinúria, noturna, paroxística, 564-565
transmissão de, 33t-35t fatores de virulência de superfície de, 34-37, Hemoglobinúria paroxística noturna, 564-565
Gordura, má absorção de, na giardíase, 415 38-39t Hemólise clara, caso clínico, 673-675
Gotículas respiratórias . Ver Aerossóis identificação de, 63-66 Hemólise esverdeada, em ágar-sangue, caso
Gotículas transportadas pelo ar. Ver Aerossóis nas deficiências seletivas de imunoglobulinas, clínico, 676-679
gp120, do HIV, 366-367 561 Hemorragia intestinal, na febre tifoide, 155
bloqueio da ligação de, 374 propriedades de, 168, 169f Hemorragia petequial, 688t
gp41, do HIV, 366, 367 redução fagocítica e, 56t Hemorragia pulmonar, enterovírus 71 e, 326
Gram, Christian, 8q sorotipos de, 168 Hemorragia(s)
Granulocitopenia, 555 tipo B, 168,616 conjuntiva!, 583, 584f
Granuloma de piscina, 186 com imunodeficiências ou defesas do em lasca, 583, 5831, 688t
Granuloma do tanque de peixes, 186 hospedeiro reduzidas, 685t intestinal, na febre tifoide, 155
Granuloma inguinal (donovanose), 214, 606t transmissão de, 34-35t, 169 petequial, 688t
Granuloma(s) Haemophilus influenzae biogrupo aegyptius, subconjuntival, na triquinose, 466
infecções fúngicas e, 384 216 Hemorragias conjuntivais
Mycobacterium tuberculosis, 182 Haemophilus parainfluenzae, 169 na endocardite, 583, 584f
na sífilis, 197 Haemophilus paraphrophilus, 216 Hemorragias em lasca, 688t
Granulomatose de Wegener, 552t, 557 Hafnia, 216 na endocardite, 121,583, 583f
Grânulos, no citoplasma bacteriano, 6t, 9 HAM (mielopatia associada ao HTLV), 319-320 Hepadnavírus, 220-2211, 242-243t, 242-245, 334
Grânulos de enxofre Hanseníase, 186-188, 1871, 187t, 188f Hepatite
na actinomicose, 190 hipersensibilidade tipo tuberculínica e, 547- citomegalovírus, 290
no trato sinusal, caso clínico, 675-676 548 Coxiella, 21 O
Grânulos metacromáticos, 9 lepromatosa, 187, 187t, 498 Leptospira, 201
Granzimas, 258,497 lesões cutâneas em, 688t Treponema, 197
Gravidez. Ver também Feto; Transmissão tuberculoide, 187, 187t vírus de hepatites causadores de, 322
transplacentária Hanseníase lepromatosa, 187, 187 t, 498 vírus Epstein-Barr, 291
infecção por citomegalovírus em, 289 Hantavírus, 242-244t, 245, 379, 658-659r Hepatite não A, não B, 337. Ver também Vírus
infecções maternas que apresentam risco ao porta de entrada para, 249t da hepatite C; Vírus da hepatite D ; Vírus da
feto e ao neonato e, 687t replicação genômica em, 232t hepatite E
762 Índice

Hepatoma. Ver Carcinoma hepatocelular transmissão de, 34-35t, 250-251!, 285, 687t Hipersensibilidade mediada por células, 541-
Hepevírus, 242-245, 280, 280t Herpes-vírus simples 6, 379 542t, 547-549, 547!, 547t
Hepsera (adefovir), 265t, 266t, 270 Herpes-vírus simples 8 (HHV-8), 292-293, 293!, importante clinicamente, 547-549
Hera venenosa, 547-548 649-650,; 657-658r Hipersensibilidade por contato, 547-548
Herpangina, 304t, 326 câncer associado a, 283-284, 356 Hipersensibilidade por imunocomplexo, 541-
enterovírus 71, 326 características de, 283t 542t, 545-547, 546f
vírus de Coxsackie causador de, 326 naAids, 371t doença do soro e, 546
Herpes B vírus, 379 tratamento de, 270-271 doenças por imunocomplexo e, 546-547
Herpes do gladiador, 286 Heterophyes heterophyes, 449, 454 reação de Arthus e, 545-546
Herpes genital, 283t HEV (vírus da hepatite E), 242-244t, 242-245, Hipertireoidismo, 552t, 555
herpes simples 2 causador de, 286 280, 280t, 332t, 339-340, 656-657r Hipnozoítos, Plasmodium, 420
Herpes genital, 286, 286!, 604-605, 604f Hexaclorofeno, como desinfetante, 99-101 Hipogamaglobulinemia, ligada ao X, 561, 562-
Herpes labial, 284 HGE (erliquiose granulocítica humana), 213 563t
Herpes labial, 284-285, 285f HGV (vírus da hepatite G), 340 Hipogamaglobulinemia ligada ao X, 561, 562-
Herpes-vírus, 229t, 242-243t, 242-245, 279, 280t, HHV-8. Ver Herpes-vírus simples 8 563t
282-293, 282!, 283t-284t. Ver também herpes- Hialuronidase, 34-37 Hipogamaglobulinemia variável comum, 565-
vírus específicos de Streptococcus pyogenes, 118-119 566
animal, doenças causadas por, 358 Hibridomas, 507, 508q Hipotensão, 45-46. Ver também Choque
brotamento de, 233 Hidrazida do ácido isonicotínico. Ver Isoniazida Hipótese da "higiene" de reações de
características clínicas de, 284t Hidrofobia, na raiva, 318 hipersensibilidade, 544
categorias de, 283 Hidrólise da esculina, por estreptococos do grupo Histamina
causador de câncer, 283-284 D, 122 em reações de hipersensibilidade, 542
complementaridade em, 233t Hidrólise do hipurato, por estreptococos do grupo resposta inflamatória e, 53-54
estrutura de, 282, 282! B, 122 Histoplasma
forma e tamanho de, 220-221! Hidropsia fetal, 34-35t, 300-301 defesas do hospedeiro contra, 57-58
infecções latentes e, 235-236, 252, 282-283, caso clínico, 677-678 pneumonia causada por, 620
285 Hidroxifosfo-nilmetoxipropilcitosina (cidofovir), sobrevivência intracelular de, 38-39
inibidores de, 265-269, 271-272q 265t-266t, 268 transmissão e localização geográfica de, 385t
não nucleosídeo, 269, 271-272q Hifa septada, 384 Histoplasma capsulatum, 393t, 395-396, 395!,
nucleosídeo, 265-269, 271-272q Aspergillus, 405 396!, 659-660r
produção de células gigantes multinucleadas e, Hifas, 384 atividades que aumentam a exposição a, 685t
247 na preparação de KOH, caso clínico, 675-676 caso clínico, 673-674
replicação genômica em, 232t não septadas doenças causadas por, 578t, 579, 587
Herpes-vírus associado ao sarcoma de Kaposi caso clínico, 671-672 fonte ambiental de, 684t
(KSHV). Ver Herpes-vírus simples 8 Mucor, 404!, 405 localização geográfica de, 684t
Herpes-vírus símio, 379 septadas naAids, 371t
Herpes-vírus simples (HSV), 232t, 284-287, caso clínico, 672-673 reservatórios para, 683t
284t, 606t ramificadas, Aspergillus, 404, 404!, 405 transmissão de, 34-35t
com imunodeficiências ou defesas do Hifas não septadas, 384 Histoplasma duboisii, 396
hospedeiro reduzidas, 686t Hiperimunoglobulinas (RespiGam), 3 13 Histoplasmose, 395-396
diagnóstico laboratorial de, 287 Bipermutação somática, 517 disseminada, caso clínico, 673-674
esofagite causada por, 597 Hiperpigmentação, na leishmaniose visceral, 432 transmissão de, 34-35t
estrutura de, 282! Hipersensibilidade, 541-549 HIV (vírus da imunodeficiência humana), 230t,
evasão imune por, 250-251 a cefalosporinas, 72 242-244t, 245, 280, 280t-281t, 365-375, 657-
mecanismo, 250-251! a fungos, 385, 387q 659,; 686t
imunidade a, 285 a penicilinas, 72 achados clínicos em, 370-371, 370!, 371t
tipo 1, 242-243t, 242-245, 283t, 284, 287, citotóxica (tipo II), 541-542t, 545, 545f anticorposcontra,370
304t, 648-649r contato, 547-548 atividade de transcriptase reversa de, 230, 23 lt
células gigantes multinucleadas e, 283 do tipo tuberculina, 547-548 controladores de elite e, 369
disseminação sistêmica de, 248 eosinófilos em, 502 diagnóstico laboratorial de, 371-372
doenças causadas por, 284, 284t, 285-286, imediata (anafilática, tipo 1), 541-545, 541- doença causada por. Ver Aids
285f 542t, 543!, 543t epidemiologia de, 369
infecções latentes com, 252 basófilos e mastócitos em, 502 esofagite causada por, 597
na Aids, 371t eosinófilos em, 502 evasão imune por, 250-251
porta de entrada para, 249t l gE em, 511-512, 541-542, 544 mecanismo, 250-251t
tipo 2, 242-243t, 242-245, 283t, 284-285, 287, imunocomplexo (tipo III), 541-542t, 545-547, eventos relacionados a hospitais como fatores
604-605, 604!, 606t, 648-649r 545! predisponentes a infecções por, 685t
caso clínico, 678-679 tardia (mediada por células, tipo IV), 541- genoma de, 365, 366f
células gigantes multinucleadas e, 283, 542t, 547-549, 547!, 547t infecção por Salmonella em, 155
283f importante clinicamente, 547-549 patogênese e imunidade a, 369-370
circuncisão na prevenção de infecções por, Hipersensibilidade anafilática, 541-545, 541-543t porta de entrada para, 249t
257 atopia e, 544 prevenção de, 257,375
disseminação sistêmica de, 248 dessensibilização e, 544 propriedades de, 365-367, 365f-366f, 367t
doenças causadas por, 284, 284t, 286, 286f hipersensibilidade a fármacos e, 544 proteases de, 233t
encefalite, 593, 593f lgE em, 511-512 replicação de, 367-368, 368f
infecções latentes com, 252 tratamento e prevenção de, 545 replicação genômica em, 232t
meningite, 590 Hipersensibilidade citotóxica, 541-542t-542t, 545 teste para, 536, 536-537!
porta de entrada para, 249t Hipersensibilidade do tipo tuberculínica, 547-548 tipo 2,367
índice 763

transmissão de. 34·351, 250· 25 1r. 368-'369. lgD (imunoglobulina D}. 5~r. 510.,, SJ J-51.2 oc.Jular. \'ê.r lmunidadc ce-lular
6871 JgE (imunoglobulina E). 5081. 5101., S11-512 cokti-...--s (comunidade). 259. 277. 277q
tratamenio de. 2661. 372-375. 373, c:m reações anafiláüc:as. 511-512. 541-542. cspccffica. \~r imunidade. adquirida
com hcpa.ite B. 335 541 -542,. 544 humocal. \i>r Imunidade mediada por
com hcpatitcC. 339 na síndrome de hipcr-JgE. 564-565 anticorpos
fármacos ami.rrcum irais para.. 372-375,
1 JgG. 'kr lmunogtobulina G inata. \i>r Imunidade inata
313t JgM. \'i>r lmunoglobalina M mediada por antic:ocpos. l'i>r lmunidade
inibidores de c-nttada para. 37.lt, 374 lgnorâr.c:iac:-1onal. 551 mediada por anticorpos
inibidores de imc.grar.e para. 373,. 374 IGRA ( ensaio de liberação de intc:rferon y ). 184 mucosa. 490
inibidores de protca.~c para. 270-271. 270- Il· l (intcrlcocinal). 502-503 não cspccffica. \~r Imunidade inata
271/. 373,. 374. 374/ febre e. 57 passiva. 95. 482. 482.t
inibidorci. não nuclcosfdcos die transcriptase produção de. cndotox.inas e. 46.,t7 a bactérias. 57
tC,\ 'Ctsa para. 373-374. 3731 rcsposts inflamatóriac. 53.54 a vírus. 259
inibidores nuclcos!dcos de transcriptase Il- 10 (interlcocina 10). 502.-503 vacinas bacterianas e. 97. 91q
íC\'«'Sa para, 373-374. 3731 Il- 12-(interlcocina 12}. 502-504 m1crflncia e. 550-557
síndrome da ··reconstillliçilo imune" e. 335. balanço de oélulas Th· 1 e Th--2 e. 490 c:élula B. 551
375. eixo IL- 12--intcrfcron y e. 496. 504 célula T. 550-551. 550f551f
HME(crliqufose moooc1'tka humana). 215 ll· 13 (interlcocina 13). 504 central. 550-551
Hordéolo. Staphyloroccu.t a1ti"e1a, 113 Il- 17 (interlcocina 17). 486. 504 doença.~ aucoimune.~ e. Ver Doc-nças
Honnõafos. distúrbios autoimuncs e. 553 IL-2-(intcrlcocina 2}. 495. 502-503 autoimunc.s: doenças aitroün1uu~s
Hospedeiro definitivo. de para.~ita.~. 409 lL-23 (inte-rlcocina 23}. doco~ inflamatória espec(fica.,
Hospedeiro imcrmcdiá.rio. de parasitai;, 409 ime.~ünaJ e. 555 indução de. 551-552
Hospedeiro não compc~c-nte lL-3 (intcrlcocina 3). 5~-505 pcciférica. 55 l
de arbovfrus. 343 Il-4 (intcrlcocina 4}. 502-503 lmunidadc-adaptUi\1a. \~r l munidade adquirida:
de francisella rultuensi.t, 175 Il-5 (intcrlcocina 5}. 502-503 Imunidade mediada por antkOt"pOs: Imunidade
Hospedeiros tinais. seres humanos como. para ll -6 (intcrlcocina 6). 53-54. 502-503 c:clular
7richinella spitalis. 465-466 ll-7 (intcrlcocina 7). 486. 502-503 lmunidade adquirida, '32. 52. 57-S8, 57-581, 58·
Hospital. twemos que prccfü;põcm à infecção cm. Ilhas de patogcnicidadc.. 38-39 60q. 475-476. 475,. 4761. 481. 482/
61151 tipos de doc-nças causada.~ por E. co/i e. 47-48. a vírus. 257-258
HPMPC (ddofovir). 265r-2661., 268 47-49/ ativa. 57-58. 95. 482. 482r
HPV. \'i>rPapilomavírus hum.ano lmipcnem. 73. 73/. 161 a vírus. 257-258
HSV. \'i>r Herpes-vírus simples lrnod:ium(topccamida). 153 \'8cinas bacterianas e. 95.97. 96r, 91q
HTI..V. \~r Vírus da kuocmfa ck.c:élulas T lmpctigo. 622. 623r, 624. 688.r ,-acinas virais e., 274-275. 2741, 211q
humanas: Vírus 1inf00'6fico de odula.~ T pa,óse-nos de. 622 mediada por antic:ocpos. \'i>r Imunidade
humanas Sraph)1occccu.ta1tre1d. 109. llOf. 113 mediada por anticorpos
HTI..V-a~sociado à mie-lopatia (HA~t}. '319-320 Srreptccoccuspyog~1e.t, 116. 120 mediada por células. \~r lmunidadc celular
Humira (adalimumabc) variantes clíni~s de. 622 pas1tiva. 57. 95. 482. 482.t
pata doe-nça~ au:oimunes. 556--557 lmpctigo bolhoso. 622. 624/ a vírus. 257-258. 275
rejeição a cnxenos e. 525, lmpctigo dássico. 622. 624/ antitoxina tetânica e toxoidc te-tânko e.
HUS (síndrome hcmolfti~·utêmica). J SJ. 600/ lmpu.lso antigêflico. do vírus inf/11.en111. 305, 307 138
toxina Shiga e. 4445. 151- 152 lmunidack. 475--484 re.~posta primária cm. 57
transmissão de. '33r a caxumba. 312 resposta scC'llndária cm (anamnésti~}. 57
Hy~nolepi.~nana. 447-448. 665~666, a rubéola. 315 lmunidadcativa. 57-58. 95. 274-275. 482. 482.r
a sífilis. 198 a vírus. 257-258, 275
a tumoces. 559-560 vacina~ bacterianas e. 95-97. 961. 97q
adaptativa.Ver lmunidadc-adquirida: vacina~ vitais e. 274-215. 274r, 277q
ICAM (rnolécu1a de adesão intcroelular) imunidade mediada por anticorpos: lmunidadeoe-lular. 32. 57-58r, 476/. 519-S20
proteínas. na fagocicose. 55 lmunidade celular a Toxoplasma go,1dii. 425
Idade. 'kr rambim Criar..ças: Idosos: lkbê(s}: adquirida. Vu Imunidade adquirida a tumores. 559
Neooatos antkocpos e. \'i>r Anticorpos adju,'8nte.~ cm. 520
infocç&-~ vira.i1t e. 257 ao sarampo.310-311 ao herpes-vírus s.impks. 285
resposta imune e-. 484 ati-...--s. 482. 482r oélulas Te. 476. 498
IDDM (diabetes rncfüo depcnde-ntc de insuli.na}. ausência. a pcfons. 224 constituintes de. 5 l9
s.s.s. ba.~e celular ck. 486--505 di\'CCSidadc de-. 476
Jde-ntifi~ção presunth'8. ,·irai. 261 ba!i61ilose. 502-503 especificidade de. 476-4 77
Jde-ntifi~ção vital microsc6pi~. 262. 263q cétula~ apresentadoras de anúgeaos e. 477. Legi<mellapneumophilac. 111
ldiótipos. 511-512. 511 -512.n 499-501,499-5001. \~rramblmCélulas lipfdcos c:m. 520
Idosos de-r..d:rítica~: ~faccófago(s) mcrnóriadc.476
iníocçilo pclo vírus sinc:icial rcspitiuórioc:m. célula~ Be. \~rCétula.~ 8 Mycobacrerl'1,1m 11tbm :·u!0Jis e. 182
313 célula.~ naw:ral killer e, 257. 501-502. 501r supressão de
pncuw.onia cm. Haemophil1,1s inf/11.en1,ae, 169 célula~ Te. \~, ctlula(s) T infecções virais e. 258
shigdosc e-m. 156 citocinas. 502-505, 502-5031. \~r ramblm U.ue.ria monocyrogenese. 143
\ 1acina.~ recomendada.~ para. 96. 125. 289 Citocin:a(s): dmcb,a.t e.rpec(fica., oa aplas.ia tfmica. 6861
Jdoxuridina (lDU. iododcsoxiuridina. lUDR). oosinófilos e. 502 pc-lo HIV. 369. 6861
266r, 269 mas.6citos e. 502-503 por infecções pe-lo vírus do sarampo. 31l
IDU (idoxuridina). 2661. 269 neutrófilos e. S-3-54. 502 testes pata a\1aliação. 5 19· 520
JG(s). Vu Imunogtobulinas origem das células imunes e. 486. 487/. lmunidadccokti-...--s. 259. 259/. m. 211q
lgA. \~r Pona~ dec:mrada da imunoglobulina A 4811., 488. 489/. 4<.X>r lmunidadc.comunit.ária. 259. 259/. 277. 277q
764 Índice

Imunidade de mucosa, 490 Imunofluorescência indireta, 535 para hepatite B, 336-337


HIV e, 369 Imunogenicidade, características moleculares que para poliovírus, 325
Imunidade específica. Ver Imunidade adquirida determinam, 483-484 para profilaxia de rubéola, 316
Imunidade humoral. Ver Imunidade mediada por Imunogloblulinas divalentes, 51 O Imunoglobulinas contra Vaccinia (VIG), 277,
anticorpos ImunoglobulinaA (IgA), 508t, 510t, 511-512, 294
Imunidade inata, 32, 52-57, 58-59q, 475, 51 1-5 12! Imunoglobulinas do soro. Ver Imunoglobulinas
475t-476t, 479-481, 480t deficiência de, 561, 562-563t, 685t Imunopatogênese, 34-37, 46-48
febre e, 57 imunidade contra vírus e, 258 de infecções pelo vírus sincicial respiratório,
membranas mucosas e, 52-54, 53t nefropatia por IgA e, 552t, 556 313
pele e, 52, 53t transferência no colostro, 259 vírus da coriomeningite linfocítica e, 381
resposta inflamatória e fagocitose e, 53-57, 53- Imunoglobulina D (IgD), 508t, 510t, 511-512 Imunossupressão
55!, 56t Imunoglobulina da hepatite A, 277 infecções oportunistas e, 525
Imunidade inespecífica. Ver Imunidade inata Imunoglobulina da hepatite B (HBIG), 276, rejeição a enxertos e, 525-526, 525t
Imunidade mediada por anticorpos, 32, 57-58t, 336-337 Imunoterapia, para câncer, 559
476!, 516-517 Imunoglobulina da raiva (RIG), 276 Inalação, transmissão por. Ver Aerossóis
administração simultânea de múltiplos Imunoglobulina do sarampo, 277 Incivek (telaprevir), 265t, 270-271
antígenos e, 517 Imunoglobulina E (IgE), 508t, 510t, 511-512 Inclusões citoplasmáticas, clamidiais, 206
anticorpos fetais e, 517 em reações anafiláticas, 51 1-512, 541-542, caso clínico, 679
diversidade de, 476 541-542t, 544 Inclusões intranucleares, células gigantes
ensaios para avaliação, 517 na síndrome de hiper-IgE, 564-565 multinucleadas com, caso clínicos, 673-676,
especificidade de, 476-479, 479! Imunoglobulina G (IgG), 57, 508t, 510-512, 678-679
funçõesdosanticorpose,517 5 10t Inclusões olho de coruja, 247,290, 290f
linfócitos B e, 476 deficiência de, congênita, 561 caso clínico, 672-673
memória de, 476 hipersensibilidade citotóxica e, 541-542t, 545 Incompatibilidades transfusionais, ativação de
resposta primária em, 516, 516f hipersensibilidade por imunocomplexo e, 541- complemento e, 529
resposta secundária em, 517 542t, 546, 546f Indinavir (Crixivan), 265t, 270-271, 271-272t,
Imunidade passiva, 95, 275-277, 482, 482t imunidade contra vírus e, 258 373t, 374
para vírus, 259 para doenças autoimunes, 557 Indivíduos imunocomprometidos. Ver também
vacinas bacterianas e, 97, 97q produção na resposta secundária, 517 Aids
vacinas virais e, 275-277, 277q síntese de criptosporidiose em, 416
Imunidade passiva-ativa, 95, 97, 97q, 482 desnutrição e, 565-566 defeito na ade nina desaminase e, terapia
antitoxina tetânica e toxoide do tétano e, 138 na hipogamaglobulinemia comum variável, gênica para, 239
para vírus, 257-258, 275 565-566 esofagite em, 597
Imunidade tumoral, 559-560 transferência transplacentária de, 259 infecção pelo herpes-vírus simples 1 em, 286
Imunização passiva, para hepatite A, 333 ImunoglobulinaM (IgM), 508t, 510t, 51 1-5 12!, infecção pelo vírus Epstein-Barr em, 291, 291f
Imunização passiva-ativa 511-512 infecção por Acinetobacter em, 213
para hepatite A, 33 3 deficiência de, congênita, 561 infecção por Aeromonas hydrophila em, 214
para hepatite B, 337 detecção do vírus da rubéola e, 316 infecção por Capnocytophaga gingivalis em,
Imunodeficiência, 32, 561-566. Ver também ensaio de imunofluorescência para, 214
imunodeficiências específicas Toxoplasma gondii e, 425 infecção por citomegalovírus em, 290
adquirida,565-566 identificação viral utilizando, 262 infecção por Citrobacter em, 214
célula B, 565-566 na hepatite A, 333 infecção por Corynebacterium jeikeium em,
célula T, 565-566 na síndrome de hiper-IgM e, 562-563 214-215
complemento, 566 na síndrome de Wiskott-Aldrich, 563-564 infecção por Isospora belli em, 438-439
fagócito, 566 produção de, nas respostas independentes de infecção por Plesiomonas shigelloides em, 216
congênita, 561-566, 562-563t. Ver também células T, 498 infecção por Pseudallescheria boydii em, 405-
distúrbios específicos Imunoglobulina varicela-zóster (VZIG), 277, 406
célula B, 561, 562-563t 289 infecção por Rhodococcus equi em, 217
célula T, 561-563, 562-563t Imunoglobulina(s), 510.f. Ver também Anticorpos; infecção por Vibrio vulnificus em, 158
combinadas de células B e células T, 562- Imunoglobulinas; imunoglobulinas específicas micoses oportunistas em, 400-406
564, 562-563t alótipos, 511-512 Aspergillus, 400t, 404-405
complemento, 562-563t, 563-565 classes de, 510-512, 514. Ver também classes Candida, 400-403, 400t
fagócito, 562-563t, 564-566 específicas de imunoglobulinas Cryptococcus, 400t, 403-404
receptores de reconhecimento-padrão, 565- alteração, 514! Fusarium solani, 405-406
566, 565-566t estrutura de, 507-510, 509!, 510t Mucor, 400t, 405
organismos causadores de doença em, genes, 511-514, 513f Penicillium mameffei, 405-406
685t-686t alteração alélica e, 514-515 Pneumocystis, 405-406
Imunodeficiência combinada severa (SCID), 562- idiótipos, 51 1-512 Pseudallescheria boydii, 405-406
564, 562-563t isótipos, 51 1-512 Rhizopus, 400t, 405
Imunodeficiência combinada severa autossômica, Imunoglobulinas (IGs, imunoglobulinas do organismos causadores de infecção em, 57-58t
563-564 soro), 95,277. Ver também Antitoxinas; pneumonia por Pneumocystis jiroveci em, 427-
Imunodeficiência combinada severa ligada ao X, Imunoglobulina(s); antitoxinas específicas; 428
563-564 imunoglobulinas específicas prevenção de, 144
Imunodeficiência congênita. Ver imunidade passiva virai e, 259 prevenção de infecções por Listeria
Imunodeficiência, congênita; para a doença de Kawasaki, 114 monocytogenes em, 144
Imunodifusão radial, 533 para a síndrome de Guillain-Barré, 555 vacinas recomendadas para, 125
Imunoeletroforese, 534, 534f para exposição à raiva, 318 Infecção
Imunofluorescência direta, 535 para hepatite A, 333 cardíaca, 582-588
Índice 765

definição de, 32 Infecções do trato respiratório superior doença inflamatória pélvica, 607-609
do sistema nervoso central, 589-596 adenovírus,298 enterocócica, 121
dos ossos e articulações, 577-581 rinovírus, 327 prostatite, 609-610
Infecção do trato respiratório inferior, 617-621 vírus da caxumba e, 312 uretrite, 609-610
adenovírus, 298 vírus de Coxsackie , 326 vaginite, 605-608, 608t
vírus parainfluenza, 314 vírus parainjluenw, 314 Infecções por cateteres intravenosos interiores
vírus sincicial respiratório e, 313 Infecções do trato urinário, 629-632 Acinetobacter, 213
Infecção por fascíola hepática asiática, 453 Acinetobacter, 213 Candida causadora de, 400
Infecções adquiridas em hospitais Enterobacter cloacae, l 48t, 160-161 Corynebacterium jeikeium, 215
Escherichia coli, 153 enterocócica, 121 Staphylococci causador de, 114
Klebsiella-Enterobacter-Serratia, 160 Enterococcus faecalis, 116 Infecções subclínicas, 32, 47-49
Pseudomonas aeruginosa, 163 Escherichia coli, 148t, 152-153 Inflamação. Ver Resposta inflamatória
resitência a antibióticos, 87 fármacos efetivos contra, 79 Inflamação granulomatosa, 34-37
Staphylococcus aureus, 109, 114 Klebsiella pneumoniae, 148t, 160-161 Inflamação piogênica, 34-37
Infecções aeróbias mistas, 118 Morganella, 161-162 Streptococcus pyogenes e, 118-119
Infecções articulares, 577 -581 na diabetes melito, 57 Inflamassomas,53-54,481
articulações naturais na prostatite bacteriana crônica, 609-610 Infliximabe (Remicade)
Neisseria gonorrhoeae, 131 Proteus, 161 -162 para doenças autoimunes, 556-557
Staphylococcus aureus, 114 Proteus mirabilis, 148t para tuberculose, 183
articulações prostéticas Providencia, 161-162 rejeição a enxertos e, 525t
Mycobacteriumfortuitum-cheloae, 186 Pseudomonas aeruginosa, l 48t, 162-163 INH. Ver Isoniazida
Staphylococcus epidermidis, 114 Serratia marcescens, 148t, 160-161 Inibição por contato, perda da, transformação
artrite infecciosa (séptica), 579-580 Staphylococcus saprophyticus, 29, 109, 113, maligna e, 349
artrite reativa, 581 115 Inibição seletiva, viral, por interferons, 256
artrite virai, 581 teste diagnóstico para, 629 autorreconhecimento de, 522
febre reumática, 581 Infecções endêmicas, 32 reconhecimento de células T de, 550
osteomielite, 577-579, 578f Infecções estafilocócicas "frias", na síndrome de Inibidor C I, 529
Infecções assintomáticas, 32 hiper-IgE, 564-565 deficiência de, 563-564
Infecções cardíacas, 582-588 Infecções gonocócicas disseminadas (DGis), no angiedema hereditário, 563-564
miocardite, 586-587 131, 688t Inibidores de entrada, para HIV, 373t, 374
pericardite, 587-588 Infecções inaparentes, 32 Inibidores de fusão, 373t, 374
teste diagnóstico, 582 Infecções intra-abdominais, 28 Inibidores de integrase, 270, 273q, 373t, 374
Infecções comunicáveis, 32 Bacteroides fragilis, 165 Inibidores de neuraminidase, 307-308
Infecções congênitas. Ver também Feto; enterocócicas, 121 Inibidores de protease (Pis), 231, 265t, 270-271,
Gravidez; Transmissão transplacentária estreptococos viridans, 121 270-271!, 373t, 374, 374f
Toxoplasma gondii, 425 peptoestreptocócicas, 121 Inibidores não nucleosídeos de transcriptase
Infecções contagiosas, 32 Infecções latentes, 47-49 reversa (NNRTis), 270, 373, 373t
Infecções córneas citomegalovírus, 283, 289 Inibidores nucleosídeos da transcriptase
herpes-vírus simples I causador de, 285 herpes-vírus, 235-236, 252, 282-283, 285 reversa(NRTis), 372-373, 373t
Pseudomonas aeruginosa, 164 Mycobacterium tuberculosis, 184 Injectossomos, 40-41
Infecções da pele e dos tecidos moles, 622-628, sífilis, 197 Inoculação, direta, transmissão de adenovírus
623t vírus Epstein-Barr, 291 por, 297
causas de, 625t vírus varicela-zóster, 252, 287 Inseto beijador, transmissão de Trypanosoma
fatores de risco associados, 625t Infecções maternas. Ver Gravidez; Transmissão cruzi por, 428, 429!, 683t
Infecções de ferimentos, 65-66 transplacentária; infecções específicas Inseto com nariz em formato de cone,
Aeromonas hydrophila, 213 Infecções necróticas dos tecidos moles, 623t, Trypanosoma cruzi
Bacillus anthracis, 136 627-628 transmissão por, 428, 429!, 683t
Chromobacterium violaceum, 214 pele e. Ver Infecções da pele e dos tecidos moles Insetos
cirúrgicas, 114 Infecções nosocomiais (adquiridas no hospital) como vetores de Trypanosoma cruzi, 428,
Clostridium botulinum, 138 Escherichia coli, 153 429!, 683t
Clostridium perfringens, 139 Klebsiella-Enterobacter-Serratia, 160 percevejos, 570t, 571-572, 572!
Clostridium tetani, 136-138, 137f Pseudomonas aeruginosa, 163 Insetos, 569-572. Ver também insetos específicos
Edwardsiella, 215 resistência a antibióticos, 87 como ectoparasitas, 569-572, 570t
Eikenella corrodens, 215 Staphylococcus aureus, 114 como vetores, 683t
Erysipelothrix, 215 Infecções oculares. Ver Conjuntivite, Ceratite, Insônia, familiar, fatal, 361t, 362
Pasteurella multocida, 177 Ceratoconjuntivite Insônia familiar fatal, 361t, 362
Pseudomonas, 162 Infecções oportunistas Integrase, HIV, 366, 368
Pseudomonas aeruginosa, 162-163 imunossupressão e, 525 Integrinas, 492n
Sporothrix schenckii, 391 Kingella kingae, 216 na fagocitose, 55
Staphylococcus aureus, 109, 114 Lactobacillus, 216 Intelence (etravirina), 265t-266t, 270, 373, 373t
Vibrio vulnificus, 158 micóticas, 389t, 400-406 Interação do ligante Fas-Fas (FasL), 497
Infecções de implantes prostéticos na HIV/Aids, 365, 371, 371t, 565-566 Interação entre fármacos, 91-92!
Mycobacterium fortuitum-chelonei, caso prevenção de, 375 antagonística, 91-92, 91-92!
clínico, 675-676 Infecções ósseas, 581-585. Ver também Infecções sinergística, 78-79, 91-92
Staphylococcus epidermidis, 109, 113-115 das articulações Interação medicamentosa antagônica, 91-92,
Infecções de válvulas cardíacas prostéticas Infecções pélvicas, 604-610 91-92!
Corynebacterium jeikeium, 215 cervicite, 607-608, 609f Interação sinérgica de fármacos, 78-79, 91-92,
Staphylococcus epidermidis, 113-114 doença da úlcera genital, 604-605, 606t 91-92!
766 Índice

Interferência, identificação virai por, 261 mecanismo de ação de, 81 Laringotraqueobronquite, vírus parainjluenza,
lnterferon a, 481 resistência a, 87t, 89-90, 184-185 313-314
aplicações terapêuticas de, 256 usos clínicos de, 81, 82t, 184-185 Larva, de nematódeos intestinais
para infecções pelo vírus da hepatite C, 338 Isospora belli, 41 lt, 438-439, 664-665r filariforme, 456,461,463
recombinante, 270-271 lsosporíase, 411 t rabditiforme, 456
lnterferon ~. 481 lsótipos, 511-512 Larva filariforme, 456
lnterferon 'Y, 477,481,495, 504-505 mudança de, 514, 514f Larva migrans
aplicações terapêuticas de, 256 ltraconazol cutânea, 456, 457t, 472, 472!, 687t
deficiência no receptor de interferon 'Y e, 565- efeitos adversos de, 386t visceral, 456, 457t, 471
566 mecanismo de ação de, 386t Larva migrans cutânea, 456, 457t, 472, 472!, 687t
eixo interferon "{-IL-12 e, 496,504 usos clínicos de, 81 Larva migrans visceral, 456, 457t, 471
resposta inflamatória e, 53-54 IUDR (idoxuridina), 266t, 269 Larva rabditiforme, 456
lnterferon(s), 255-256, 256!, 259q, 265t, 504-505 lvermectina (Sklice), 571 Latrodectus mactans, 570t, 574, 574f, 669-670r
a, 481 LATS (transcritos associados à latência), 236,
aplicações terapêuticas de, 256 283
para infecções pelo vírus da hepatite C, 338
J herpes-vírus simples, 285
recombinante, 270-271 Janus-cinase 3, na imunodeficiência combinada
Lebrikizumabe, 543
ação de, 256 grave, 563-564 Lecitina de ligação à manana (MBL), 481
aplicações terapêuticas de, 256, 559 JCV (vírus Jamestown Canyon), 380 Lecitinases, 43-44
~,481 de Clostridium perfringens, 139
"1· Ver lnterferon 'Y K Legionella
indução de, 255-256 Kaletra (lopinavir/ritonavir), 270-271, 373t, 374 classificação de, 106-107t
mecanismo de ação de, 270-271 Kerion, 390-391 fármacos efetivos contra, 77
peguilado,270-271 Ketek (telitromicina), 74t-75t, 77 sobrevivência intracelular de, 38-39
para infecções pelo vírus da hepatite C, 338 Kingella kingae, 216 Legionella bozemanii, 171
Interferon-a recombinante, 270-271 Klebsiella Legionella micdadei, 171
Interferon-peg (Pegasys, interferon peguilado), antibiótico-resistente, 89 Legionellapneumophila, 168t, 171-172, 642r
270-271 classificação de, 106-107t coloração de Gram e, 8t
para infecções pelo vírus da hepatite B, 336 diagnóstico laboratorial de, 149t defesas do hospedeiro contra, 57-58t
para infecções pelo vírus da hepatite C, 338 doenças causadas por, 148t doença causada por. Ver Doença do legionário;
lnterleucina 1 (IL-1), 502-503 no abastecimento público de água, 150 Pneumonia, Legionella pneumophila
febre e, 57 Klebsiella granulomatis, 214,604, 606t fonte ambiental de, 684t
produção de, endotoxinas e, 46-47 Klebsiella ol,llenae, 161 identificação de, 63-64
resposta inflamatória e, 53-54 Klebsiella pneumoniae, 160-161, 640r propriedades de, 171
Interleucina 10 (IL-10), 502-503 fatores de virulência de superfície de, 38-39t transmissão de, 35-36t
lnterleucina 12 (IL-12), 502-504 identificação de, 62-64 Leishmania, 409, 432-434
balanço celular Th-1 e Th-2 e, 490 Klebsiella rhinoscleromatis, 161 Leishmania braziliensis, 4llt-412t, 434, 663-
eixo IL-12-interferon 'Y e, 496,504 KS. Ver Sarcoma de Kaposi; Síndrome de 664,; 684t
Interleucina 13 (IL-13), 504 Kawasaki Leishmania donovani, 4llt-412t, 421t, 432-434,
Interleucina 17 (IL-17), 504 KSHV (herpes-vírus associado ao sarcoma de 433!, 663-664r
lnterleucina 2 (IL-2), 495, 502-503 Kaposi). Ver Herpes-vírus simples 8 localização geográfica de, 684t
Interleucina 23, doença inflamatória intestinal Kuru, 252, 360, 361, 361t, 596 vetores para, 683t
e,555 Leishmania mexicana, 4llt-412t, 434, 663-664r
Interleucina 3 (IL-3), 504-505 Leishmania tropica, 4llt-412t, 421t, 434, 663-
Interleucina 4 (IL-4), 502-503 L 664,; 684t
lnterleucina 5 (IL-5), 502-503 ~-Lactamases, 88-89 Leishmaniose, 411 t, 432-434
Interleucina 6 (IL-6), 53-54, 502-503 defesas contra, 72 cutânea, 411t, 434
Interleucina 7 (IL-7), 486, 502-503 detecção de, 91-92 mucocutânea, 411t, 434
Interleucina(s), 477. Ver também tipos inativação da penicilina por, 71-72 visceral, 41 lt, 432-434
específicos produzidas por Staphylococcus aureus, 115 Leishmaniose cutânea, 411 t, 434
mudança de classe e, 514 ~-Lactâmico(s), 71. Ver também Cefalosporinas; Leishmaniose mucocutânea, 411 t, 434
para câncer, 559 Penicilina(s); fármacos específicos Leishmaniose visceral, 411 t, 432-434
Intermediários reativos de nitrogênio, 55 resistência a, 87t Leite
Intermediários reativos de oxigênio, 55 Lactobacillus, 216, 608t ser humano
Invasão, 32, 34-37, 49-50q como mocrobiota normal, 26t, 27-28t, 28, 28t transmissão bacteriana por, 33, 34-35t
lnvasinas, 38-39 crescimento de Candida e, 401 transmissão virai por, 248, 250-251t, 259
Invirase (saquinavir), 265t, 270-271, 373t, 374 supressão por tetraciclinas, 76 vaca
lodina, como antisséptico, 99-101 Lactobacillus rhamnosus, 83 transmissão de Brucella por, 174, 682t
lododesoxiuridina (idoxuridina), 266t, 269 Lâmina crivosa, fratura de, com vazamento de transmissão de Listeria monocytogenes por,
lodóforos, como antissépticos, 99-101 líquido espinal, caso clínico, 674-675 682t
Íons hipoclorito, na fagocitose, 56 Lamínulas de vidro, 290 transmissão de Mycobacterium bovis por,
lpratrópio, 617 Lamivudina (didesoxitiacitidina, Epivir, 3TC), 34-37t, 682t
IRIS. Ver Síndrome inflamatória de 265t-266t, 269, 271-272t, 372, 373t Leite de vaca
reconstituição imune Laringite, 61 lt, 615-616 transmissão de Brucella por, 174, 682t
lsentress (raltegravir), 265t, 270, 373t, 374 organismos causadores de, 615 transmissão de Listeria monocytogenes por,
lsoniazida (hidrazida do ácido isonicotínico, rinovírus, 615 682t
INH), 181 vírus parainfluenza, 615 transmissão de Mycobacterium bovis por, 34-
estrutura de, 81, 81f Laringite, vírus parainfluenlJl, 313-314 37t, 682t
Índice 767

Leite materno Lexiva (fosamprenavir), 270-271, 373t, 374 em células humanas versus bacterianas, 235-
transmissão bacteriana por, 33, 34-35t Ligação de anticorpos, 517 236
transmissão viral por, 248, 250-25lt, 259 Ligante de ligação à manose (MBL), 565-566, Lisossomos, na síndrome de Chédiak-Higashi,
hepatite B, 334 565-566t 564-565
Lentes de contato, como fator predisponente Linezolida (Zyvox) Lisozima, nas lágrimas e no muco, 8, 52
para Pseudomonas aeruginosa e Acanthamoeba mecanismo de ação de, 74t, 77 Listeria, 134, 134t
castellani, 686t usos clínicos de, 75t, 122 classificação de, 106-107t
Lentivírus, 245 Linfadenopatia com imunodeficiências ou defesas do
Leptospira, classificação de, 105, 106-107t na doença da arranhadura do gato, 177 hospedeiro reduzidas, 686t
Leptospira interrogans, 195t, 201-202, 646r na doença de Chagas, 428 sobrevivência intracelular de, 38-39
atividades que aumentam a exposição a, 685t na filaríase, 468 Listeria monocytogenes, 143-144, 637r-638r
reservatórios para, 682t na mononucleose infecciosa, 291 caso clínico, 675-676
transmissão de, 34-37t na peste (bulbão), 176 defesas do hospedeiro contra, 57-58t
Leptospirose, 35-36t, 66, 201-202 na sífilis, 197 doenças causadas por, 143-144
Lesão com "reforço em anel", em abscessos na tularemia, 175 reservatórios para, 682t
encefálicos, 595 no cancroide, 216 resposta granulomatosa e, 52
Lesão do tipo "Blueberry muffin", 289 Linfangite transmissão de, 34-37t, 687t
Lesão por picada de agulha Staphylococcus aureus, 113 Listeriolisina, 143
eHBV, 336 Streptococcus pyogenes, 120 Listeriose, 143-144
e HIV, 375 Linfócito(s). Ver também Células B; Célula(s) T Loa, 456, 457t-458t
Lesões de "punho cerrado", 28 atípica, na mononucleose infecciosa, 292, 292f Loaloa, 411,661-669r
Lesões de Janeway, na endocardite, 121, 583, Linfócitos infiltrantes de tumores (TILs), 559 Locais imunologicamente privilegiados, 554
584f Linfócitos T citolíticos. Ver Células T citotóxicas Loíase, 457t, 471
Lesões de punho cerrado, infecções por Eikenella Linfocitose, em pertússis, 44-45, 170 Loperarnida (Imodium), 153
corrodens e, 215 Linfogranuloma venéreo, 605, 606t Lopinavir, 265t
Lesões exsudativas, Mycobacterium tuberculosis, Chlamydia trachomatis, 204, 206 Lopinavir/ritonavir (Kaletra), 270-271, 373t,
182 Linfoma de Burkitt, 356 374
Lesões nas mãos, 28 associação com o vírus Epstein-Barr, 292 LOS (lipo-oligossacarídeo), 131. Ver também
Leucemia, mucormicose em, 405 translocações cromossômicas em, 514 Exotoxina(s)
Leucemia mieloide crônica, 351 Linfoma de tecido linfoide associado à mucosa na endotoxina deNeisseria, 127
Leucemia/linfoma de células T do adulto (LTA), gástrica (MALT), 47-48, 158-160 Loxosceles reclusa, 570t, 574, 574!, 669-670r
318-320 Linfoma MALT (tecido linfóide associado à LPS. Ver Lipopolissacarídeo
Leucocidina de Panton-Valentine (P-V), 43-44, mucosa gástrica), 47-48, 158-160 LT (toxina termolábil), Escherichia coli, 151
112, 113 Linfomas LTA (leucemia/linfoma de células T do adulto),
Leucocidina P-V (Panton-Valentine), 43-44, associação com o vírus Epstein-Barr, 292 318-320
112-113 de Burkitt, 356 Lúpus eritematoso sistêmico, 547, 552t, 556
Leucocidinas, 34-37 associação com o vírus Epstein-Barr, 292 Luz ultravioleta (UV)
Leucócitos polimorfonucleares, citocinas que translocações cromossômicas em, 514 morte de microrganismos utilizando, 102
afetam, 504 herpes-vírus animais e, 358 mutações causadas por, 19
Leucoencefalopatia multifocal progressiva leucemia/linfoma de células T do adulto, 319- Luz UV (ultravioleta)
(PML), 252, 360-361, 360t, 596 320 morte de microrganismos utilizando, 102
na Aids, 37 lt tecido linfoide associado à mucosa gástrica, mutações causadas por, 19
Leucopenia, na febre tifoide, 155 47-48, 158-160
Leucoplaquia, pilosa, na Aids, 37 lt Linfotoxina, 504-505
Leucoplasia pilosa, 291, 291f Língua de "morango", na febre escarlatina, 120 M
na Aids, 37 lt Linhagem TWAR. Ver Chlamydia pneumoniae Macaco(s)
Leucotrienos Linhagens de Neisseria gonorrhoeae produtoras como reservatórios do vírus da dengue, 347
em reações de hipersensibilidade, 542-543 de penicilinase, 132 como reservatórios do vírus da febre
resposta inflamatória e, 53-54 Lipídeo A, no lipopolissacarídeo, 45-46 amarela, 346, 346t, 682t-683t
Levedura(s) Lipídeo(s), na imunidade celular, 520 vírus da varíola do macaco, 382
Blastomyces, 397 Lipodistrofia, com inibidores de protease, 270- vírus do macaco B, 379
brotamento 271, 374, 374f Macroconídios tuberculados, Histoplasma
caso clínico, 677-678 Lipo-oligossacarídeos (LOS), 131. Ver também capsulatum, 395, 395f
com cápsula extensa, caso clínico, 671-672 Endotoxina(s) Macrófago(s), 477, 499-501, 499-500t, 519
tubos germinativos formados por, caso na endotoxina de Neisseria, 127 ativação de, 499-501
clínico, 672-673 Lipopolissacarídeo (LPS), 32. Ver também células de levedura dentro de, Histoplasma
Candida albicans, 400 Endotoxina(s) capsulatum, 396, 396f
como microbiota normal, 28 da parede celular bacteriana, 8-9, 9f células Th-1 e, 496
Cryptococcus neoformans, 403, 403f estrutura de, 8-9, 9f, 45-46 citocinas produzidas por, que afetam outras
diferenciação em esporos, 393 nas endotoxinas de bacilos gram-negativos células, 504-505
Histoplasma capsulatum, 395-396, 396f entéricos, 127 citocinas que afetam, 504, 504t
no interior de macrófagos, caso clínico, 672- Lipoproteínas, envelope viral como, 222 funções de, 502-503t
673 Líquen plano, na vaginite, 605 Mycobacterium tuberculosis em, 181
nomes de, 3 Lise, de células infectadas por vírus, 258 origem de, 488
Paracoccidiodes, 397 Lisogenia, 233-235, 234f-236f, 237q resposta inflamatória e, 53-55
Sporothrix, 391 como modelo de integração de vírus tumorais, Macrolídeos, 77, 77f
Levofloxacina,124,620,630-631 353, 354t Madurella, 391
768 Índice

Malária, 411 t, 420-425. Ver também portas de ecoviral, 326 transmissão de, 35-36t
entrada de Plasmodium enterovírus 71, 326 poliovírus causador de, 324
caso clínico, 676-677 herpes-vírus simples 2, 284, 286 Meningomieloencefalite, 324
transmissão de, 34-35t na doença de Lyme, 200-201 Mensageiros secundários, controle do
Malarone (atovaquone/proguanil), 424-425, na sífilis secundária, 197 crescimento e, 351
424t, vírus de Coxsackie, 326, 590 Merbromin (Mercurocromo), 101
Malasseziafu,fur, 390-391, 390-39lt vírus varicela-zóster, 590 Mercúrio, como antisséptico, 101
Manchas de Koplik, 311 Baylisascaris procyonis, 472 Merozoítos, Plasmodium, 420
Manchas de Roth na endocardite, 583, 584f Chryseobacterium meningosepticum, 214 Merthiolate (timerosal), 101
Manchas rosadas, na febre tifoide, 155 Coccidiodes immitis, 395 Mesossomo, 6t
Mandíbula, abscessos de, 28 Cryptococcus, 590,591 Metais pesados, como antissépticos, 101
Manifestações neurológicas, em infecções por Cryptococcus neoformans, 403 Metapneumovírus humano, 380
Mycoplasma pneumoniae, 194 caso clínico, 671-672 Metazoários. Ver também Cestódeos; Helmintos;
MAPK (proteína cinase ativada por mitógeno) na Aids, 37 lt Nematódeos; Platelmintos; Trematódeos;
via de transdução de sinal, 135 diagnóstico de, 64, 591 metazoários específicos
Maraviroque (Selzentry), 265, 265t-266t, 373t, ecoviral, 326 classificação de, 409
374 enterovírus 71, 326 Meticilina, resistência à, 87t
Mariscos, contaminados eosinofilico N-Metilisatina-~-tiosemicarbazona (metisazona),
transmissão de Paragonimus por, 453 Angiostrongylus cantonensis, 472 265t
transmissão de Vibrio cholerae por, 156-157 Baylisascaris procyonis, 472 Metisazona (N-metilisatina-~-tiosemicarbazona),
transmissão de Vibrio parahaemolyticus por, Gnathostoma spinigerum, 472 265t
158 Escherichia coli, 148t, 151, 153 Metronidazol (Flagyl), 600t, 601-602, 608t, 609
transmissão do vírus da hepatite A por, 332 fatores predisponentes, 592t mecanismo de ação de, 81
Mastigófora, 409 Gnathostoma spinigerum, 472 usos clínicos de, 81, 138, 140-141, 607-608
Mastoidite Haemophilus injluenzae, 34-35t, 168-169, 168t, MHA-TP, 66, 198
Streptococcus pneumoniae, 123-124 hemorrágica, no antraz pulmonar, 136 Mialgia
Streptococcus pyogenes, 120 herpes-vírus simples 2, 284, 286, 590 epidemia, vírus de Coxsackie causador de, 326
Matócitos, 502-503, 542 Listeria monocytogenes, 143-144 na gripe, 307
Maturação, afinidade e somática, 517 Mycobacterium tuberculosis, 590 na malária, 424
Maturação de afinidade, 517 na doença de Lyme, 200-201 na peste, 176
MBC (concentração bactericida mínima), 90-91 na sífilis, 197 na triquinose, 466
MBL. Ver Lecitina de ligação à manana; Ligante na sífilis secundária, 197 Mialgia epidêmica, 326
de ligação à manose Naegleria, 4llt Miastenia de Lambert-Eaton, 552t, 555
MCP-1 (proteína 1 quimioatrativa de monócitos), Neisseria meningitidis, 34-35t, 129, 590, 592f Miastenia grave, 552t, 555
resposta inflamatória e, 53-54 neonatal MIC (concentração inibidora mínima), 90, 9lf
MCPV (poliomavírus celular de Merkel), 301, Escherichia coli, 148t, 151, 153 Micafungina (Mycamine), 74, 386t
356, 657-658r Streptococcus agalactiae, 116, 120 Micetoma, 391
MCV (vírus do molusco contagioso), 242-243t, transmissão de, 34-35t Micobactéria atípica. Ver Micobactéria, atípica;
242-245, 294-295, 294f, 650-65lr organismos causadores de, 63-64 complexo Mycobacterium avium intracellulare
Mebendazol, 457t patogênese, 590-591, 59lf (MAI); Complexo Mycobacteriumfortuitum-
Mediastinite, hemorrágica, no antraz pulmonar, poliovírus, 280 chelonei; Mycobacterium kansasii
136 prevenção, 592 Micobactéria de crescimento rápido, 186, l 86t
Mediastinite hemorrágica, no antraz pulmonar, purulento, 590f Micofenolato de mofetil, 525
136 Streptococcus agalactiae, 116, 120 Micologia. Ver Fungos; Bolores; Levedura(s);
Medula óssea, células B em, 498-499 Streptococcus pneumoniae, 123, 129, 590 organismos específicos
Mefloquina, 425 caso clínico, 674-675 Miconazol, 81, 607-608, 608t
Megacolo, na doença de Chagas, 428 Streptococcus pyogenes, 120 Micose, 390-391, 390-39lf, 688t
Megaesôfago, na doença de Chagas, 428 subaguda e crônica, 591 caso clínico, 675-676
Meio ambiente, como hábitat fúngico, 3 84 tratamento de, 91-92, 592 Micoses, 390-408
Meio de Loeffler, na difteria, 142 tuberculosa, 183 cutâneas, 389-391, 389t
Meio de Skirrow, 158-159n vacinas contra, 95t, 96 oportunistas, 389t, 400-406
Mel, botulismo infantil e, 138 vírus da caxumba e, 304t, 312 sistêmicas, 389t, 393-398
Melioidose, 217 vírus da coriomeningite linfocítica, 380 subcutâneas, 389t-39 lt, 391
Membrana celular vírus de Coxsackie, 326 Micoses cutâneas, 389-391, 389t
fúngica, 384 caso clínico, 672-673 Micoses sistêmicas, 389t, 393-398
hipersensibilidade citotóxica e, 545, 545f Meningite asséptica. Ver Meningite, asséptica Micoses subcutâneas, 389t-39lt, 391
perturbação da, desinfecção por, 99-1 O1 Meningite hemorrágica, no antraz pulmonar, 136 Micotoxicoses, 385
Membrana citoplasmática, bacteriana, 9 Meningite purulenta, 590f Microbioma, humano, 26
Membrana nuclear, viral, brotamento e, 233 Meningite tuberculosa, 183 Microbioma humano, 26
Membrana plasmática, 6t Meningite viral. Ver Meningite, asséptica Micróbios. Ver Microrganismos; organismos
Membranas mucosas, como defesas do Meningococcemia específicos e tipos de microrganismos
hospedeiro, 52-54, 53t, 475 coloração de Gram em, 8q Microbiota normal, 26-29, 29q, 32
Menactra, 592 Neisseria meningitidis, 127, 128f, 130-131, cavidade oral, 190
Meningite, 590-592 676-677 conceito de, 26-28, 26t-28t
Acanthamoeba, 411 t Meningococos. Ver Neisseria meningitidis da boca do gato, caso clínico, 673-674
achados do líquido espinal, 589t Meningoencefalite da pele, 27-28, 27-28t, 118-119, 216
Angiostrongylus cantonensis, 472 Acanthamoeba castellanii, 437 do trato gastrintestinal, 27-28t-28t, 28, 29q,
asséptica, 590 Naegleriafowleri, 437 118-119, 214,400
Índice 769

supressão antibiótica de, colite proteínas, na fagocitose, 55 transmissão do vírus da dengue por, 346t, 347,
pseudomembranosa devido a, 28, 42-43, Moléculas, características determinantes da 683t
77, 140, 140f imunogenicidade, 483-484 transmissão do vírus da encefalite da
do trato geniturinário, 27-28t, 28-29 Monobactâmicos, mecanismo de ação de, 73, Califórnia por, 345-346
vaginal, 76, 118-119, 139, 164, 216-217, 400 73f transmissão do vírus da encefalite equina
estreptococos como, 118 Monócito(s), citocinas que afetam, 504, 504t Oriental por, 344
nasal, 27-28, 27-28t Mononucleosa infecciosa, 242-245, 283t, 291, transmissão do vírus da febre amarela por,
no colo, 139, 141, 215-217 304t 346, 346t, 683t
no colo, 164 caso clínico, 671-672 transmissão do vírus Jamestown Canyon por,
oral, 27-28t, 28, 164, 213-217 diagnóstico de, 262 380
orofaríngea, 118-119, 2 16 diagnóstico laboratorial de, 292, 292! transmissão do vírus LaCrosse por, 345-346
respiratória, 27-28, 27-28t, 214,400 transmissão de, 34-35t transmissão do vírus Zika por, 382
supressão antibiótica de, 28, 42-43, 53-54, 77, Mononucleose Mosquitos AnopheZes, 683t
140, 140f citomegalovírus heterófilo-negativo causador transmissão de PZasmodium por, 420, 421, 683t
Micrococcus, 216 de,290 transmissão de Wuchereria bancrofti por, 468,
Microconídio, HistopZasma capsuZatum, 395, 395f ToxopZasma causador de, 425 683t
Microfilária vírus Epstein-Barr heterófilo-positivo transmissão do vírus Cache Valley por, 377-
de nematódeos, 456 (mononucleose infecciosa) causador de, 291 378
Onchocerca voZvuZus, 470 Mononucleose heterófila-negativa, Mosquitos CuZex
Wuchereria bancrofti, 468, 469f-470f citomegalovírus e, 290 transmissão de Wuchereria bancrofti por, 468,
Microrganismos. Ver organismos específicos e Moraxella, 2 16 683t
tipos de microrganismos Moraxella catarrhalis, 127, 216, 611 t, 612, transmissão do vírus da encefalite por, 345-
como microbiota normal, 26-29 648-649r 346, 380, 683t
eucariotos versus procariotos, lt, 2-3, 2t Moraxella nonZiquefaciens, 216 transmissão do vírus do Oeste do Nilo por,
opsonização de, 517 Morcegos 345-346
taxa de morte de, 99-1O1 caso clínico, 676-677 Mosquitos CuZiseta
terminologia para, 3 como reservatórios de coronavírus, 682t transmissão do vírus Cache Valley por, 377-
Microrganismos extracelulares, 52 mordeduras de, transmissão do vírus da raiva 378
antígenos de, apresentação de MHC de classe por, 317, 682t transmissão do vírus da encefalite equina
II, 494 Mordeduras Oriental por, 344
Microscopia animal. Ver Animal(is), mordeduras de; Mosquitos Haemagogus, vírus da febre amarela
campo escuro, espiroquetas em, 197 animais específicos transmissão por, 346, 346t
identificação viral utilizando, 262, 263q artrópode. Ver Artrópodes; artrópodes Motilidade
imunoeletrônica, identificação viral por, 262 específicos de bastonetes gram-negativos, 161, 161f
Microscopia de campo escuro, espiroquetas na, ser humano, 28, 65-66, 2 15 de Enterobacteriaceae, 150
197 Morfologia, alteração de, na transformação de micróbios, 3
Microscopia de urina, 629 maligna, 348, 349t mRNA
Microscopia imunoeletrônica, identificação viral Morganella, 161-162 bacteriano
por, 262 classificação de, 106-107 t fármacos que inibem a síntese de, 79-80
Microsporídeos, 439, 664-665r Morganella morganii, 162, 641r leitura incorreta de, aminoglicosídeos e, 74
Microsporidiose, 41 1t Morte celular, programada, 258, 488, 489!, 550 viral, 23 1q
Microsporum, 389-391, 390-391t Morte celular programada, 258, 488, 489!, 494, inibição da tradução por interferon de, 256
lesões cutâneas causadas por, 688t 550,559 tradução de, 23 1
micro e macroconídios de, 384f Mórula, 213, 215 MRSA (StaphyZococcus aureus resistente à
Microsporum canis, reservatórios para, 682t Mosca-da-manga, transmissão de Loa Zoa por, meticilina), 43-44, 89, 111
Mieloma múltiplo, 507n 471 antibióticos para, 627t
Mielopatia, associada ao HTLV, 319-320 Moscas, 570t, 571 , 571!, 669-670r doenças causadas por, 113-114
Mielopatia progressiva crônica, 318 transmissão de Loa Zoa por, 471 tratamento de, 115
Mieloperoxidase, na fagocitose, 56 transmissão de Onchocerca voZvuZus por, 470, fármacos efetivos contra, 77-78
MIF (fator inibidor de migração de macrófagos), 683t MRSE (StaphyZococcus epidermidis resistente à
504-505, 520 transmissão de Trypanosoma brucei por, 683t meticilina/nafcilina), 115
Miíase, 571, 571f Moscas negras, transmissão de Onchocerca MSSE (StaphyZococcus epidermidis sensível à
Mimetismo molecular, distúrbios autoimunes e, voZvuZus por, 470, 683t meticilina), 115
553-554 Moscas tsé-tsé, transmissão de Trypanosoma Mucopeptídeo. Ver Peptidogicano
Miocardite, 586-587 bruceipor,430,683t Mucor, 400t, 405, 405!, 613, 661-662r
na difteria, 142 Moscas-de-cervo, transmissão de Loa Zoa por, com imunodeficiências ou defesas do
na doença de Lyme, 200 471 hospedeiro reduzidas, 686t
vírus de Coxsackie, 304t, 326 Mosquito-pólvora, transmissão de Leishmania esporangiósporos de, 384, 384f
Mionecrose, 138 por, 432, 433!, 434, 683t na diabetes melito, 57
caso clínico, 677-678 Mosquitos. Ver também Mosquitos Aedes; Mucormicose, 405,405!
CZostridium perfringens, 138, 139f Mosquitos AnopheZes; Mosquitos CuZex; caso clínico, 671-672
MIP (proteína inibidora de macrófagos), resposta Mosquitos CuZiseta; Mosquitos Haemagogus na diabetes melito, 57
inflamatória e, 53-54 transmissão de arbovírus por, 342, 344t rinocerebral, 405
Miracídeos, esquistossoma, 450 Mosquitos Aedes, 683t Mucormicose rinocerebral, 405
Mistura fenotípica, viral, 239, 240f transmissão do vírus Cache Valley por, 377- Mucosite, Capnocytophaga gingivalis, 2 14
Mixovírus. Ver Vírus influenza 378 Mudança de classe, 514, 514f
Mobiluncus, 215, 606 transmissão do vírus chikungunya por, 377- Mupirocina, para a infecção por StaphyZococcus
Molécula de adesão intercelular (ICAM) 378 aureus, 115
770 fndice

~furdna. \h Pcpidcog,lktmo distinção de Rh,>drX:(>Ct:W eqm'. 217 Necrose ca,;cosa. cm infecçôcs por
~1uromonabe (OKT3). rejeição a cnxenos e. 525. doc1'11i3causd por. \hTubctcu!ose. M)'t.'O.bot:lerlum t1Wt!rr11J,,ds. 182
5251 M,w:obaclt!rlum wbt!wultub Nefclonlttria. 533
~hisculo doc1'11i3S causds por, 578. 57&,, 587 Ncftopooia. lgA. 556
~nça causada por cxôloxina.,; cm. 42-431 fármacos efetivos comr3. 81 Nei.t.tLrla. 127•132
estriado. ttiquinos..- e. 465. 468. 468/ hip.-tscDSibilidade do lipo 1ubcrculfnica e. 54 7- b3Ctericmia c-ausada por. s.uscctibi!idadc à.
~hisculo cardíaco. na doença de Chagas. 428 548 529
~futaçãodt uoc-a de scmido. JS identificação de. 64 class:ificaç!lode. 1~ 1071
~futaç!lodc 11oc-a d.- sen1ido. JS. 19 1csôcs cutâneas causada..:; por. 6&8r como microbiôla 1'.IOmlal. 26t. 28
~futação(es). 18-19. 238-239 meningite e. 590 forma de. 4/
ag.cn1cscaus3dorcs. 18--19 na Aids. 371, propricd3dcsde. 127. 129/. 129,
de oocog.cocs ctluJ.ues. 352 pneu,nonia causada por. 620 Nei.f.tLrla g,>ti,>rrli,>e-M., li. 130- 132. 609--610.
de ttoC3 de sentido. 18 rcsistencia a NaOH. 10 1 635,...636r
letal coOOicioooJ. 19 resposta gr.mulom:uo,,s;a c. 52 a.ntibió1ictrresis1cme. 87. 811. 89
mudança & fa~ de lcinua.. 18. 19 tmnsmiss3o de. 3-4-35, e-a.~ clfnioo. 673-674
sem scmido. JS vírus do sarampo e. 3 11 c-ausadora de fari.ngite, 6 13
1ipos de ahcraç-&s que provocam. 18 ;\f}'t:r)J>ltJSmtJ, 193-19-1. 645r ccrvicite. 607-(,00
vital, 238-239 ClaSSiÍIC$Ção de. 105. 106-107t coinfecção de Chlamyd1tJ tl'út:homo.tl.t e. 205
~futaçôes ru:enuad:tS., produção d;,- vacina e. 238 csteróis na membra.na citoplasm.áLic a de. 9 distinta deNd.rurlamenmgit1'/l$. l6. 130-.131
~futaçôes letais co1'.ldiciooais . 19 . 238 fármacos cfcti\'os comra. 77 docoça innama1ória ~Mca. 608-609
~futaçôes sem scmido. 18 idcn1ificação de. 63-64 docoçascausadaspor.127.128/-129.f. 1281,
~1uta.nti.' por dc.leção. ,·itt1.I. 238 t311Utllbo de. 4. 5.f. 193 130-132. 580. 580r
~futa.ntcs famlacorresistentts. virai. 238 Myt:r)JHMtna g4'nlto.lfom. 609-610 epidemiolog,ia de. 130-131
,!.f.w:·obac1ui1.11n. 180-188. 598. 644r-645r Myt:r)JHMtna Mmlnl.r.. 194 ía1orcsdc virulfncia de supcrfkie de, 34-37
atípico. 180. 18 11. 185- 186. l86r. 565- Myt:r)JHMtna 1meutn0nltN'.. 193-194. 6 13. 645r idcntific-a(ião de. 65-66
566. 644t. 6841. \h 1an1him complexo coloração de Gmm e. &r infccç-&s disseminada..:; coo.l. 131
Mycobat:urlum tm'1,m-lntmttlfulall (MAi ): doc1'11i3S causds por, 286. Vu um1l>ln1 lesões cut1r1cas causadas pot, 6881
complexo Myt:oba<:1erlumfor1m'1um-cht'lond: Pncumooia. M)'t.'O.pla.tmo. 1me1m1,>tuae linhagens de produtoras de pcnicilinasc. 132
Myt:obat:1erlum l:nn.ttuü idcn1ificação de. 66 patog.êr1cse por. 130-.131
class:ificaç!lodt. 185-186. 186, propricd3dcs de. 127
defesas do hospedeiro conua. 51 •58t prost31itc causada por, 632
cJa..:;sific-aç!to de. 105. 106- 107, N rearranjos progmmadoscm. 19
colora,;ão de Gram c. 8t NAAT (lCSle de amplifi~o de :icidos transmissão de. 34-35,. 687,
coodil;&s predisponentes a infCCÇ'&'s por. 57- nucllicos). 66. 606.t Nei.fSLrla nienlngltidu, 129-131. 592/. 635r
S&r ccrviciLC. 607-608 e-a.~ clfnioo. 676-677
de impon1lr1cia médica. 180-.1&8. 180.f. para ,\f.w:obnt_•uriloo mbt!wultui.t. 184 coloração de Grame. 8q
1811. ¼-r tamhhn ;\f.w:obactt!rl1m1 ILp~: umrite. 609-610 com im~ficifocias ou defesas do
M)'t:O.bot:lerlum 11Wt!tr11fosts NAD. crescimento de HMmr>phi/u$ lnjl1,en:,tJe bospcdeito reduzidas. 6851
fármbooscfctivoscoo1ra. 81 cm meio laboratorial e. 168 como microbiôla 1'.IOmlal. 28
lesôcs cutâneas C3Usadas por. 688, NADPH ox.ida.,;c. docr1ça granuloma.tosa erônka coodiçôcs pr,,_--disponcmes a infecçôc:s por. 57-
p:tredcscclulal\"S de. 6 c. 564·565 58,
sobrcvh'ência int1'3Celular de. 38-39 NMglLrlo..41lt defesas do hospedeiro conua. 57-58,
M,w:obactuium 0Mff.r..t11.t. 186 NMglLrlo.fawlLrl, 437. 4.37,. 438/. 664·665r dis1inta de ;\b.ut!rla gonorr~o.e. 16. 130-
M,w:obaclt!rium IHn-i.t, 1811 fonLC ambiental de. 6841 131
~nçascausada..:; por. 181. 183 transmissão de. 35-36.t docoças causadas por. 114. 127. 128/. 128,.
reservatórios p:lta. 6821 Nafcitina. 7 1/ 130-13 1
uansmiss!iode. 35-371 rcsistencia à. 87,. 111. 115 cpidemiolog,ia de. 129
M,w:obaclt!riumktm.ttJSil. 18lt, 186. 186, usos cUnicos de. 72,. 115 fimlacos cfcth·os conua.. 76. 79
M,w:obaclt!rium ILJlrot!, 180. 18 11, 186-188. Nãoc:ro,nogêllico.s. l &S-186.186.t ía1orcsdc virulfncia de. 130- 13 1
644r-645r Não próprio. reconhecimento de proLCfna..:; do fa1orcsdc viru~ncia de supcrtJcic de, 34-37.
~nça causada por. l'co-r Hanscnfa,;c MHC de elas.se I e. 521 38-39,
lcsôcs cutâneas C3Usadas por. 688, clluJa T. 550 idcn1if~ de. 63-66
M,w:obac1uiumn1tJri.rmn1, 18 11. 186.186.t Nariz lesões cut1r1cas causada.~ pot. 6881
atividades que aumentam a exposição a. 685, coloni.1.ação de Staph)'lt>t:0tt11.t o.11n!1a. 112 localinç!lo geográfica de. 684,
fome ambiental de. 6841 mic-tobio!a norma) de. 27-28. 27-28.r mcningi1c c. 590
M,w:obaclt!rium scmfi,lattum. 1&3. 186. 186, N31.açào. ua.ns:miss!lo de NMglLrla fo.t,dLrl e. 437 patog.êr1cse por. 129-.131
M,w:obactuium u,~,n(llf.t, 29. 186 N31.ali:7.umabc. rejeição acnxcrtose. 525,. 556 propricd3dcsde. 127. 129/. 129,
M,\'t:t>IMt:terfJ1mllWt!f't*1"1l.r.. 180-185. 1811. 644r Náuso rcdu,;ão fagocftic-a e. 56,
antibiólioo-rcsis.temc. 87. 871. 89-90. 1S 1. 184- cm infccç-ôcs por Vibri',>pa.,r,Jt.Mmo/}'tlt:w. tr.mml.issãode. 34-35,
1&5 158 Ndfinavir (Viraccpi). 265t. 270-27 1. 3731, 374
C3SO díniro. 6 7 J--672 gastrite e. 598 Ncnl31ódcos (NcmaLC!mintos). 409. 4564 73.
célulasTh-1 cTh-2c. 490 NDM·I (Nova Ddhi n'll.'talo-P-laccamasc). 89 4571-458,. 666-669r
colora,;ão de Gram c. 8t N~t:a10r. 409. 456. 4511.5 11 -512 cujas lar,'a.~ causam. docDÇa.s.. 47 1--473. 668-
com imunodeíiciências ou defesas do N~t:a10r o.nieri't:an.w, 461--162. 464/. 465/. 666- 669,
hosl","dciro rcdu:ddas. 686r 667,; 6841 illLCSLinais. 456. 457t, 458-468, (i66-668r
crcscin'll.'ntode. 15. 16 Nccrólisc cpidémlica tóxica. 547-549 1ccidlsais. 456-457. 4511. 468-471. 667·669r
defesa..:; do hos~iro coo1ra. 57-58. 57-58, su!fonamidas causadoras de, 78 Ncorukina. 15t
índice 771

Neonatos doença causada por, 328 de micróbios, 476,507


doença da inclusão citomegálica em, 289 transmissão de, 35-36t, 327-328 lgG e, 510-512
doença hemolítica de, 539, 539!, 539t Norvir (ritonavir), 265t, 270-271, 373t, 374 OraQuick, detecção do HIV por, 372
imunoglobulinas em, 51 O Nova Delhi metalo-!3-lactamase (NDM-1), 89 Orencia (Abatacept), 494, 556
infecção pelo herpes-vírus simples 1 em, 286 NRSA (Staphylococcus aureus resistente à Organelas, eucarióticas, 2
infecção pelo herpes-vírus simples 2 em, 286 nafcilina), 111, 115 Organismos halofílicos, 156-157
caso clínico, 678-679 NRTis (inibidores nucleosídeos da transcriptase Organismos intracelulares, 52
infecção por Listeria monocytogenes em, 143- reversa), 372-373, 373t células Th-1 e, 496
144 Núcleo Organismos marinhos, Vibrio, 156-157
infecção por Staphylococcus epidermidis em, Entamoeba histolytica, 413!, 414 Organismos microaerofílicos, Campylobacter
114 eucarióticos, 2 como, 158-159
infecções maternas que apresentam risco a, Nucleocapsídeos, 220, 222! Organismos resistentes a múltiplos fármacos,
687t do vírus influenza, 305f 181, 185. Ver também organismos específicos
prematuro, infecção por Chryseobacterium Nucleocapsídeos helicoidais, 220, 222! Organismos sensíveis à temperatura, 19
meningosepticum em, 214 do vírus influenza, 305f mutantes virais, 238
Neoplasia intraepitelial, papilomavírus humano Nucleocapsídeos icosaédricos, 220, 222!, 297 para vacinas, 274
e,299 do vírus da rubéola, 315 Organismos zoonóticos, 643r
Neuralgia pós-herpética, 288, 288f dos papilomavírus, 298 Orofaringe, microbiota normal de, 29q, 118-119,
Neuralgia pós-zóster, 288, 288f dos picornavírus, 322 216
Neuraminidase, do vírus influenza, 305 Nucleoides Orquite, caxumba e, 312
Neurônios motores, poliovírus e, 323 bacterianos, 6t, 9 Ortomixovírus, 245, 303-309. Ver também Vírus
Neuropatias cranianas, asséptica, 201 procarióticos, 2 influenza
Neuropatias periféricas, na doença de Lyme, 201 Núcleos, de cistos de Entamoeba histolytica, forma e tamanho de, 220-221!
Neuropraxia, na difteria, 142 410 Oseltamivir (Tamiflu), 265t, 270-271, 307-309,
Neurotoxinas, 41-42, 42-43t Nulojix (belatacept), 525 617-618
Neutralização, identificação virai por, 262 resistência a, 308
Neutrófilos, 502 Osteocondrite, do pé, Pseudomonas aeruginosa,
defensinas em, 53
o 164
resposta inflamatória e, 53-54 O&P (ovos e parasitas), para diagnóstico Osteomielite, 577-579
Neutrófilos polimorfonucleares (PMNs) laboratorial de infecções parasitárias, 409 diagnóstico de, 579, 579!
infecção por Neisseria gonorrhoeae e, 131 Ocupações, exposição elevada a organismos de fisiopatologia, 577
resposta inflamatória e, 53-55 importância médica, 685t manifestações clínicas, 578
Neutropenia, 57, 566 Ocupações, que aumentam a exposição a na anemia falciforme, Salmonella, 154, 674-
cíclica, 564-566 organismos de importância médica, 685t 675
Neutropenia cíclica, 564-566 Odinofagia, na esofagite, 597 na coccidioidomicose, 395
Nevirapina (Viramune), 265t-266t, 270, 271- Oftalmia neonatal, 127, 129! na diabetes melito, 57
272t, 373-374, 373t Neisseria gonorrhoeae, 131 patogênese de, 578-579, 578t
NGU (uretrite não gonocócica), Chlamydia OKT3 (muromonabe), rejeição a enxertos e, 525, prevenção, 579
trachomatis, 65-66, 205-206, 206f 525t Staphylococcus aureus, 114
Niacina, produção de Mycobacterium Olho, Loa Zoa em, 471 caso clínico, 672-673
tuberculosis, 184 Olho vermelho. Ver Conjuntivite Streptococcus agalactiae, 121
Nistatina, 80, 386t 2,5-oligo A sintase, 256 tratamento, 579
Nitazoxanida, 600t Omeprazol, 598 tuberculoso, 183
Nitrato de prata, 1O1 Onchocerca, 456, 457t-458t Osteomielite aguda, 578
Nitrofurantoína, profilática, para infecções por Wolbachia e, 217,468 Osteomielite crônica, 577, 578f
Escherichia coli, 153 Onchocerca volvulus, 470, 668-669r, 683t Osteomielite tuberculosa, 183
NNRTis (inibidores não nucleosídeos de Oncocercose, 457t, 470 Osteomielite vertebral, 578f
transcriptase reversa), 270, 373, 373t Oncogenes, 350-352 Ostras
NO (óxido nítrico), 504-505 celulares transmissão de Vibrio cholerae por, 156-157
efeito de endotoxina, 45-46 papel na tumorigênese, 350-352, 351t transmissão de Vibrio parahaemolyticus por, 158
na fagocitose, 55-56 superexpressão de 351-352 transmissão do vírus da hepatite A por, 332
Nocardia, 106-107t, 391 virais, 353, 353t Otite externa, maligna, Pseudomonas aeruginosa,
Nocardia asteroides, 180, 191, 191t, 645r diversidade de, 350 57,162,164
caso clínico, 672-673 Oncogenes celulares Otite externa maligna, 688t
doença causada por, 78, 191 expressão excessiva de, 351-352 Otite média, 611-612, 61 lt
fonte ambiental de, 684t papel na tumorigênese, 350-352, 351t em crianças, 611
propriedades de, 191 Oncogenes virais, 353, 353t Haemophilus influenzae, 168-169
Nocardiose, 78, 191 diversidade de, 350 Moraxella catarrhalis, 216
Nódulos Oncosferas, Taenia saginata, 444 no empiema subdural, 595
dérmicos, na oncocercose, 470 Oncovírus, 245 sarampo e, 31 1
eritema nodoso, 395 Opérculo, em ovos de Streptococcus pneumoniae, 123-124, 676-677
na hanseníase, 188 Clonorchis, 453 Streptococcus pyogenes, 120
na histoplasmose, 396 Diphylobothrium, 445 vírus parainfluenza, 314
na tuberculose, 183 Paragonimus, 454 vírus sincicial respiratório, 313
subcutâneos, na Aids, 37 lt Opistótono, no tétano, 137, 137f Ovelhas
Nódulos de Osler, na endocardite, 583, 584! Opsoninas, 55 como reservatórios de Coxiella burnetii, 34-
Norovírus, 242-244t, 242-245, 280, 280t, 323t, Opsonização, 34-37, 55, 55!, 517 37t, 210, 682t
327-328, 599t-600t, 654-655r complemento e, 527, 529 scrapie em, 363
772 Índice

visna em, 363 Paracoccidioides brasiliensis, 397-398, 398!, transmissão de, 34-37t
Ovo(s) 660-661r Pasteurização, 101
esquistossoma, 437, 438f-439f Paracoccidioidomicose, 393t, 397-398 Patogênese, 31-50, 247-253
caso clínico, 677-678 Paragonimíase, 453-454 bacteriana
frango Paragonimus, 450t aderência a superfícies celulares e, 34-37,
como reservatório, para Salmonella, 34-37t, Paragonimus westermani, 450t, 452!, 453-454, 49-50q
155 666-667r de infecções associadas ao câncer, 47-48
reação anafilática a, 275 Paralisia doenças diferentes produzidas pela mesma
verme, na preparação de "fita adesiva", caso enterovúus 71 e, 326 bactéria e, 47-48, 47-48t, 47-49!
clínico, 673-674 espástica, no tétano, 137 estágio de, 32-33
Ovos e parasitas (O&P), para o diagnóstico flácida, no botulismo, 137 imunopatogênesee, 46-48
laboratorial de infecções parasitárias, 409 na difteria, 142 invasão, inflamação, e sobrevivência
Óxido de etileno, 1O1 poliovúus e. Ver Poliovírus intracelular e, 34-40, 38-39t, 49-50q
Óxido nítrico (NO), 504-505 Paralisia espástica, no tétano, 137 produção de toxina e, 39-47, 39-40t. Ver
na fagocitose, 55-56 Paramixovúus, 245, 310-314, 310t. Ver também também Endotoxina(s); Exotoxina(s)
Oxiúros. Ver Enterobius Vírus do sarampo; Vírus da caxumba; Vírus transmissão e, 33, 33t-37t, 34-37
Ozônio, síntese de, catálise de anticorpos de, 515 parainfluenza; Vúus sincicial respiratório diagnóstico e, 47-50
produção de células gigantes multinucleadas e, estágios das doenças infecciosas e, 47-49, 50q
p 247 princípios de, 31
propriedades de, 304t tipos de infecção e, 32
PABA (ácido p-aminobenzoico), 78 tamanho e forma de, 220-221! virulência e, 32
Pacientes geriátricos. Ver Idosos Paraparesia espástica tropical, 318 Patógeno(s), 1. Ver também Bactérias; Fungos;
Padrões moleculares associados a patógenos Parasilia do carrapato, 573-574, 573f Helmintos; Protozoários; Vúus; patógenos
(PAMP), 480 Parasilia do nervo facial, na doença de Lyme, 201 específicos
PAF (fator ativador de plaquetas), em reações de Parasilia flácida, no botulismo, 137 bacterianos, 647r-649r
hipersensibilidade, 543 na poliomielite, 324 classificação de, 105-107, 106-107t
Palivizumabe (Synagis), 265, 265t-266t, 271- Parasitas, 409-476, 409!, 661-669r. Ver características de, 1-2, 2t
272t, 618 também Cestódeos; Helmintos; Nematódeos; definição de, 31
para profilaxia do vúus sincicial respiratório, Protozoários; Trematódeos; parasitas específicos dose infecciosa de, 31
313 bacterianos, 31 extracelular, 52
rejeição a enxertos e, 525t definição de, 31 intracelular, 52
Pamoato de pirantel facultativos, 31 número de, 32
para ancilostomíase, 462 intracelulares, obrigatórios, 31 oportunistas, 31
para ascaridíase, 461 que causam infecções do sangue e de tecidos, relação biológica de, 1, 1t
para oxiúros, 458 662-664r virulência de, 31, 32
PAMP (padrões moleculares associados a que causam infecções intestinais e urogenitais, Patógenos oportunistas, 31
patógenos), 480 661-663r PBPs (proteínas ligadoras de penicilina), 70, 89
Panarício herpético, herpes-vírus simples 1, 286 Parasitas f acutativos, 31 PCR (proteína C-reativa)
Pandemia,32 Parasitas intracelulares obrigatórios resposta inflamatória e, 53-54
influenza,303,305,307 bacterianos, 31 Streptococcus pneumoniae e, 123-124
Panencefalite esclerosante subaguda (SSPE), 252, Chlamydia como, 204 PCR. Ver Reação em cadeia da polimerase
311, 360t, 361 Rickettsia como, 208 PD-1, 494
Papagaios, como reservatórios de Chlamydia virais, 219 Pé
psittaci, 683t Pardais, como reservatórios de vírus de infecções do, na diabetes melito, 57
Papilomas, 242-245, 298, 688t encefalite, 683t osteocondrite de, Pseudomonas aeruginosa,
Papilomavúus, 229t, 242-243t, 242-245, Parede celular 164
279, 280t, 298-300, 355-356. Ver também bacteriana, 4-9, 5f, 6t, 12q-13q Pecado antigênico original, 258
Papilomavúus humano fármacos que inibem a síntese de, 70-7 4 Pediculus humanus, 569, 570!, 570t, 669-670r
doenças causadas por, 298 fúngica, fármacos que inibem a síntese de, 7 4 Peixe, como reservatórios
Papilomavúus humano (HPV), 242-243t, 242- Paromomicina, 414,417, 600t para Anisakis simplex, 683t
245, 298-300, 650-651,; 656-657r Paroníquia, Staphylococcus aureus, 113 para Clonorchis sinensis, 453
circuncisão para a prevenção de infecções por, Parotite, 304t para Diphyllobothrium !atum, 683t
257 Partículas interferentes defectivas, 238-239 para Erysipelothrix rhusiopathiae, 34-37t
como vírus tumoral, 355-356 Parvovírus, 242-243t, 242-245. Ver também para Heterophyes heterophyes, 454
doença causada por, 270-271, 297t, 298, 688t Parvovúus B 19 Pele. Ver também portas de entrada cutâneas
inativação do gene supressor de tumor e, 352 tamanho e forma de, 220-221! colonização por Staphylococcus aureus de, 112
patogênese por, 299 Parvovírus B19, 229t, 242-243t, 242-245, 279, como barreira física, 52, 53t, 385, 475
porta de entrada para, 249t 280t, 300-301, 650-65 1r como porta de entrada
replicação de, 297 caso clínico, 677-678 bacteriana, 34-35t
replicação genômica em, 232t complementaridade em, 233t virai, 249t
transmissão de, 34-35t, 250-251t, 299 doenças causadas por, 297t, 300, 300!, 688t desinfecção de. Ver Desinfecção
vacinas contra, 276t, 299-300 transmissão de, 34-35t, 250-251t, 687t doença causada por exotoxinas em, 42-43t
Papovavúus Pasteurella, classificação de, 106-107 t erupções e. Ver Erupções
animal, 357-358 Pasteurella multocida, 177, 643r histologia normal da, 624f
complementaridade em, 233t caso clínico, 673-674 infecção por Bacillus anthracis através da,
tamanho e forma de, 220-221! doenças causadas por, 177, 578t, 579 174
Paracoccidioides, transmissão e localização identificação de, 65-66 infecções de. Ver também Infecções da pele e
geográfica de, 385t reservatórios para, 682t dos tecidos moles
índice 773

Dermatobia causador de, 571, 571f para infecções por Streptococcus Phialophora, 391
Leishmania causador de, 434 pneumoniae, 124 Phthirus pubis, 569-570, 570!, 570t, 669-670r
Mycobacterium leprae causador de, 187- para sífilis, 198 Picomavírus, 220-221!, 233t, 242-244t, 242-245,
188 Penicillium mameffei, 405-406 322-327, 322t-323t. Ver também picornavírus
na diabetes melito, 57 Pentâmeros, como lgM, 511-512 específicos
Onchocerca causador de, 470 Pentamidina, 81 PID (doença inflamatória pélvica), 607-609
papilomavírus humano causador de, 299 uso profilático de, 82t Chlamydia trachomatis, 206
Pseudomonas aeruginosa causadora de, Peptideoglicano,procariótico,2-3 Neisseria gonorrhoeae, 127, 131
163 da parede celular bacteriana, 5-8, 7f Pielonefrite, 630-631, 630f
Sporothrix causador de, 391 de Staphylococcus aureus, 112 definição de, 153
Staphylococcus aureus causador de, 113- estrutura de, 6, 7f diagnóstico de, 64
114, 113f Peptidiltransferase, cloranfenicol Pigmento(s)
Streptococcus pyogenes causador de, 120 bloqueia a ação de, 76 de Pseudomonas aeruginosa, 163
lesões da, 687t-688t Pepto-Bismol, profilático, para infecções por de Serratia marcescens, 160, 160f
microbiota normal da, 27-28, 27-28t, 29q, Escherichia coli, 153 hiperpigmentação na leishmaniose visceral e,
118-1 19, 216 Peptococcus, 216 432
penetração como microbiota normal, 27-28 Pili, 34-37
por Ancylostoma e Necator (ancilóstomos), Peptostreptococcus, 118-119, 216, 601-602 aderência de Escherichia coli e, 151
461 como microbiota normal, 28 bacteriano, 6t, 11
por cercárias, 449 doenças causadas por, 121-122 Neisseria gonorrhoeae, 131
por Strongyloides, 463 Peptostreptococcus anaerobius, 118-1 19 Pilina, 19
verrugas na, 298-299, 299! Peptostreptococcus magnus, 118 Pilus sexual, 11, 19
"Pele de lagarto," na oncocercose, 4 70 Percevejos, 570t, 571-572, 572! Pinta, 199
Penciclovir, 265t, 266t, 268 Perforinas,258,497 Piocianina
Pênfigo, 552t, 555 Perfuração intestinal, na febre tifoide, 155 caso clínico, 676-677
Penicilina G, 71!, 605, 606t, 614 Periarterite nodosa, 552t de Pseudomonas aeruginosa, 163, 163f
aquosa, 71 Pericardiocentese, 588 Piocinas, 1O, 164n
benzatina,72, 122 Pericardite, 587-588 Piógeno(s)
desvantagens de, 72 Streptococcus pneumoniae causador de, 124 encapsulado, como Haemophilus influenzae,
inativação por 13-lactamases, 72 vírus de Coxsackie, 326 168
procaína, 72 Período de convalescência, 4 7-49 filtração para remoção de soluções, 102
profilática, para sepse neonatal, 123 Período de eclipse, da curva de crescimento virai, Piolho, 569-571, 669-670r
resistência à, 87t, 115 226 propriedades de, 569-570, 570f
usos clínicos de, 72t Período de incubação transmissão da febre das trincheiras por, 214
na terapia de combinação, 91-92 bacteriano, 47-48 transmissão de Borrelia recurrentis por, 34-
paraActinomyces israelii, 190 virai, 248, 343 37 t
para difteria, 143 Período de incubação extrínseca, para arbovírus, transmissão de Rickettsia prowazekii por, 34-
para infecções estreptocócicas, 122 343 37t
para infecções peptoestreptocócicas, 122 Período de latência, da curva de crescimento transmissão de riquetsiose por, 208, 210, 683t
para infecções por Clostridium perfringens, virai, 226 Piolho corporal, 569-570, 570!, 570t
139 Período de recuperação, 47-49 transmissão de Borrelia recurrentis por, 201
para infecções por Fusobacterium, 215 de infecções virais, 248 Piolho da cabeça, 569-570, 570!, 570t
para infecções por Neisseria meningitidis, Período específico da doença, 47-49 Piolho púbico, 569-570, 570t
128t, 130-131 de infecções virais, 248 Piolho-caranguejo, 570, 570!, 570t
para Streptococcus agalactiae, 122 Período prodrômico Pioverdina, de Pseudomonas aeruginosa, 163
para Streptococcus bovis, 122 de infecções bacterianas, 47-48 Piperacilina, 72t, 631
para Streptococcus pneumoniae, 124 de infecções virais, 248 Pirazinamida (PZA), 81, 90, 184
para tétano, 138 Peritonite, 153 Pirimetamina, para toxoplasmose, 426
Penicilina G aquosa, 71 Bacteroides fragilis, 165 Pirógeno, endógeno. Ver Interleucina 1
Penicilina G bentazina, 72, 122 Escherichia coli, 153 Pirógeno endógeno. Ver Interleucina 1
Penicilina G procaína, 72 Staphylococcus epidermidis, 114 Pls (inibidores de protease), 231, 265t, 270-271,
Penicilina V, 614 Permetrina,571,573 270-271!, 373t, 374, 374f
para infecções estreptocócicas, 122 Peróxido de hidrogênio, como antisséptico, 101 Pitiríase versicolor, 390-391
para infecções por Streptococcus pneumoniae, como produto da explosão respiratória, 55 Placa dental
124 Pertússis, 106-107t, 170-171 estreptococos viridans e, 118
Penicilina(s), 61 lt. Ver também Betalactâmicos; Perus, como reservatórios Streptococcus mutans e, 28
penicilinas específicas para Campylobacter jejuni, 682t Placas de telurito, 63-64t, 142
hipersensibilidade a, 72 para Salmonella enterica, 682t Placenta. Ver também Transmissão
mecanismo de ação de, 70-72, 71!, 72t Peste, 148t, 176-177 transplacentária
resistência a, 88-89, 88t bubônica, 34-37, 17 6 cruzamento de lgG, 51 O
uso profilático de, 82t diagnóstico de, 66, 176-177 Plantas, como reservatórios, para Listeria
para infecções por Clostridium perfringens, pneumônica, 176 monocytogenes, 143
139 vacina contra, 95t, 97 Plasmídeo F (fertilidade), 19-20, 21f
usos clínicos de, 71, 72t Peste bubônica. Ver Peste Plasmídeo(s ), bacteriano, 6t, 9-1 O
para endocardite, 122 Peste negra. Ver Peste Plasmídeos de resistência, 87-88, 88!, 88t
para infecções por Escherichia coli, 153 Peste penumônica. Ver Peste Plasmócitos
para infecções por estreptococos do grupo Petéquia, 613, 613f enumeração de, 520
D, 118 Petriellidium, 391 funções efetoras de, 499-500
774 Índice

Plasmodium, 41 lt, 420-425, 421t, 422f-423f transmissão de, 33t, 35-36t Poliproteína Pol, HIV, 368
doença causada por. Ver Malária Moraxella catarrhalis, 216 Polissacarídeo C, pneumocócico, 123
localização geográfica de, 684t Mycoplasma pneumoniae, 193-194 Pombos, como reservatórios de Cryptococcus
vetores para, 683t achados clínicos em, 193-194 neoformans,683t
Plasmodiumfalciparum, 412t, 421-422, 424-425, caso clínico, 674-675 Ponto de ajuste, na infecção pelo HIV, 370-371
424t, 662-663,; 683t diagnóstico laboratorial de, 194 Porco(s)
Plasmodium malariae, 412t, 421, 424t, 662-663,; patogênese e epidemiologia de, 193 como reservatórios de Taenia solium, 682t
683t tratamento de, 194 como reservatórios de Trichinella spiralis,
Plasmodium ovale, 412t, 420-421, 424, 424t, na peste, 17 6 465, 682t
662-663,; 683t neonatal, transmissão de, 34-35t influenza suína e, 309
Plasmodium vivax, 34-35t, 412t, 420-421, 424, nosocomial, Chryseobacterium Porphyromonas endodontalis, 216
424t, 662-663r, 683t meningosepticum, 214 Porphyromonas gingivalis, 216
Platelmintos, 409 Pneumocystis jiroveci, 41 lt, 427-428, 620 Portas de entrada
Platelmintos, 409 com imunodeficiências ou defesas do bacterianas, 33, 34-35t
Plesiomonas shigelloides, 216 hospedeiro reduzidas, 686t virais, 248, 249t
Pleurodinia, 304t fármacos efetivos contra, 78-79, 81 Porteínas precoces, viral, 230
vírus de Coxsackie, 326 naAids, 371t, 427-428 Posaconazol
Pleuromutilina, 78 na aplasia do timo, 561 efeitos adversos de, 386t
PML (leucoencefalopatia multifocal progressiva), Pseudomonas aeruginosa, 162-163 mecanismo de ação de, 386t
252, 360-361, 360t, 596 Rhodococcus equi, 217 usos clínicos de, 81
na Aids, 371t sarampo e, 31 1 Postulados de Koch, 47-50
PMNs (neutrófilos polimorfonucleares) SARS. Ver Síndrome respiratória aguda grave Poxvírus, 228, 230, 242-243t, 242-245, 279, 293-
infecção por Neisseria gonorrhoeae e, 131 Serratia, 148t, 160-161 295. Ver também Vírus do molusco contagioso;
resposta inflamatória e, 53-55 Streptococcus agalactiae, 121 Vírus da varíola
Pneumococo. Ver Streptococcus pneumoniae Streptococcus pneumoniae, 123 animal, 358, 381
Pneumocystis, 412t, 421t, 427-428, 686t achados clínicos em, 124 complementaridade em, 233t
Pneumocystis jiroveci, 405-406, 41 lt, 427-428, transmissão de, 34-35t tamanho e forma de, 220-221!
661-664r vírus parainfluenza, 313-314 Prata, como antisséptico, 1O1
pneumonia causada por. Ver Pneumonia, vírus sincicial respiratório, 313 Praziquantel
Pneumocystis jiroveci caso clínico, 674-675 para infecções por cestódeos, 442, 445-446
Pneumonia Pneumonia adquirida na comunidade. Ver para infecções por trematódeos, 453, 454
Acinetobacter, 213 Pneumonia, adquirida na comunidade Precursores das hemácias, infecção por
adenoviral, 297, 304t Pneumonia associada à ventilação mecânica parvovírus B 19 de, 300
adquirida na comunidade, 618-620 Acinetobacter causador de, 213 Predisposição genética, a distúrbios autoimunes,
fatores de predisposição associados a Pseudomonas causadora de, 163 552-553
patógenos causadores de, 619t Staphylococcus aureus causador de, 114 Prednisona
na diabetes melito, 57 Pneumonia nosocomial, 618 para asma, 545
organismos causadores de, 63-64 Pneumonite, hipersensibilidade, 546 para doenças autoimunes, 557
patógenos de, 619-620, 619t Pneumonite de hipersensibilidade, 546 Premunição, na malária, 422
Staphylococcus aureus, 57, 114 PNP (purina nucleosídeo fosforilase), deficiência Preparação com tinta da Índia, de Cryptococcus
Streptococcus pneumoniae, 57,619, 620f hereditária de, 563-564 neoformans, 403-404, 403f
adquirida no hospital, 618, 620 Poliendocrinopatia, autoimune, 551 Prevnar 13, 592
organismos causadores de, 63-64 Poliendocrinopatia autoimune, 551 Prevotella, 164-165, 165f
Alcaligenes faecalis, 213 Polimixinas, 80 como microbiota normal, 28
Ascaris lumbricoides, 461 Polimorfismo, de proteínas do MHC, 522 doenças causadas por, 164-165
associada à ventilação mecânica, 619 Poliomavírus, 242-243t, 242-245, 301, 357 Prevotella intermedia, 165
Acinetobacter, 213 Poliomavírus celular de Merkel (MCPV), 301, Prevotella melaninogenica, 164-165, 642r
Pseudomonas, 162 355t,356,657-658r Prezista (darunavir), 265t, 270-271, 373t, 374
atípica, 172. Ver também Pneumonia, Poliovírus, 227-228, 230-231, 230t, 242-244t, Primaquina, 4 24t
Legionella pneumophila 242-245, 280, 280t, 322t-324t, 323-325, 653- Príons, 223-224, 223t, 224q, 657-658r
adenoviral, 298 654r definição de, 359
Mycoplasma pneumoniae, 193-194 atenuado, 250-251 doenças lentas causadas por, 252, 359-360,
Chlamydia pneumoniae, 205, 205t reversão da virulência, 325 360!, 361-363, 361t, 677-678
Chlamydia psittaci, 204-207, 205t complementaridade em, 231, 233t eventos relacionados a hospitais como fatores
Chlamydia trachomatis, 204 derivado de vacina, 325 predisponentes a infecções por, 685t
Chlamydophila pneumoniae, 204 infecção sistêmica por, 248, 250-25 lf inativação de, 223
citomegalovírus, 290, 304t mRNA de, 231q reservatórios para, 682t
caso clínico, 672-673 paralisia causada por, 324 transmissível, hereditária, e esporádica, 360
na Aids, 371t patogênese por, 248-249, 323-324 Probióticos, 82-83
diagnóstico de, 63-64 porta de entrada para, 249t Procariotos. Ver também Bactérias; bactérias
e bronquite, 617 proteases de, 233t específicas
Enterobacter, 148t, 160-161 replicação genômica em, 232t eucariotos versus, lt-2t, 2-3
herpes-vírus simples 1, 286 sorotipos de, 222, 323 transferência de DNA entre células em, 19-22,
hipersensibilidade, 546 transmissão de, 34-35t, 323 20t, 21f-22f
Klebsiella, 148t, 160-161 Poliovírus derivado vacinai (VDPV), 325 Procedimentos dentais
Legionella bozemanii, 171 Polipeptídeo(s), tradução do mRNA viral em, abscessos encefálicos subsequentes, 121
Legionella micdadei, 171 231 como fator de predisposição para
Legionella pneumophila, 171-172 Poliproteína Gag, HIV, 368 estreptococos do grupo viridans, 121, 686t
Índice 775

cOOOCardi1.esubso._--qUCtl1e. 121 Pnxcfna de ligaç!lo à ma1l0sc. rcsposu impon!r1cia biológica de. 522-523
p!'C\'CDÇão 00. 82. 122 inflam:uória e. 53-54 tipos de. 492
ProcLitc Pnxcfna FAS. ath'SÇAo de. 258 Protcfüas do ~fHC. \~r Protd'nas do complexo
Chlam)dla trúehomatl.t causadora de. 206 Pnxeína inibidora d..- macrófagos (MIP). resposta prir1cipal de hisiocompatibilidade
Nei.uerlo. gonorrhoMec-ausadorndc. 13 1 inflam:uória e. 53-54 Protd'nas estruturais. vitais. 230
Prófago(s). 235 Pnxcfna ligadora de cndocoxina.. resposta Protd'nas externa.,; de Ye,slma (Yops). 38-39. 176
Profilaxia pó,s-t'xposição (PEP). 375 inflam:uória e. 53-54 Protd'nas G.conuolc docrescimcmoc. 351
Profilaxia prN.'xposição. 375 Pnxcfna ligadora de liJ')OJM)lissacarídco. resposta Protd'nas HLA. \ ~r Pnxcfna,;: do andgeno
Prog.lótidc. de 1&\ia~. 440. 443/ inflam:uória e. 53-54 lcucocitário humano
Prol3pso maJ. Trichuri.r 1richuro causador de. PnxeJna NS 1. vinMr1cia do vírus lnj1Jr~n:a e. Protd'nas lig,ador.is d..- penicilina (PBPs). 70. 89
459 306 Protd'nas M. 34-37. 117-119
Proma1.tigoias:. 409 PnxeJna rcpciiti\l".l cxpon.ada. de Mycvbocterfom docr1ça,;: pós~str,,_'P[ocócica.,:; e. 121
Pn>,n,mlbacterú,m, COO.lo microbiota oonnaJ. n1Mrc11fosu., 182 Protd'nas porin3S. da par,,_--de celular bacteriana. 6
27-28 PnxeJna virai nlo capsídica. 323 Proteína.,:; repressoras.. replic~!lo vira) e. 134-. 236/
Pn>,n,mlbacterfom áCnt!S, 2 16 PnxeJna(s). \~r 1amllffl1 prmeíntJs dp«/jka.t Protd'nas tardias. virais. 230
como nora normal. 26,. 27-28 liberação de acctikolina e. caso clínico. 673- Protd'nas ,·irais. 220--223. 224.q, 227. 230
Propriedades bioquímica~. alteração de. na 674 infccç!lo a ntvcl celular e. 247-248
ttansfor,naçSo maligna. 348. 349, lig ~ de fámlacos 3. doença.,; autoimuncs e. síntese dc. i.nibidorcs d..-. 270-27 1. 273q
Pros.1aglandinas 554 tradução de. bloqueio <k. por intcrfcrons. 255
m:á absorção de. na giardía.,;c. 4 15 Protd'nas-cin:tSCs
tm rcaç,õcs de hipc1Stt1sibilidade. 543
resposta infl amatória e. 5.J-54 modificaç!lo de. d.-s.:in fccção por. 99-.1O1 codific3das por oocogcocs virais.. 350
Pros.1:uite. 632.. 632/ na p:trede ttlularde Staph~il>Mt:t:usmut>I'-'. virais. sfotc:sc de. inibiç!lo por i.ntcrfcf'Ol'I de.
bac1eriana aguda. 609-610 11 1 256
s ínLCsc oo. fánnacos que inibem. 74-78. 74'-75, Pmu.,,.,_, 161-162. 16 1/. 63 1. 640r-64 Ir
bac1eriana crônica. 60'>-610
Chlam)dfo Jrút:homatl.t causadora de, 206 ação na subunidad..- 30s. 74.76 amibiótico-rcs.istcme. 89
ação na subunidade 50s. 76-78 classifkaçãodc. 106-107,
Pros.1:uitc b3Cltriana aguda. 609-610
Pros.1:u itl.' bac1eriana crônica. 609-61 O soro. rcgu~ do sistema complemento e. 529 dfagr1óstico 1:tborn.torial dc. 1491. ISOq. 162
Protca.,:;e
Pnxcfna-ci.na,;c ativada por mitóg.coo.s (l1APK) distimo dl.' So.lm,melltJ. 64
via 00 transdução de sinal. 135 do.,:i)liaHaus3das por. 148.t. 16 1-162
coogu)a.,;c, Su,plt~IM0tt11s ª""'ª produtor de.
PnxeJnas C03. cm células T. 490 Jlagclode. li
109. Ili
Pnxcfnas citoplasmáticas. conuole do idc,nificaç!lo de. 64
do HIV.366
crescimcmo e. 351 Pmu.us morgtJml. \~r Mort,;tJ11el/a 111,>rgo.nU
do vírus da bc~lite C. 338
Pnxcfnas dc clas!oC I do coruplcxo principal de Pmu.,,_, rmgerL \ ~r P,rm'detJCttJ rmgerJ
cdivagcmde lgA histOCoo.lpaiibilidade (lfH C). 4TI. 492. 512 Proto-oocogencs. 350
Hae,noplu'lu l,,fl11m:.tJe produtor dl.'. 169
antígenos aprcstntados por. 494-495 Protoplastos. 90
Neissen'a k(WlrrhM~ ptodu1or de. 131
ati~ de células T auxiliares e. 492 Protozoário intcs.1inal. -11o.ia 17. 411,
Nei.uufo menlngltMLt produtor de. 130-
na s índrome do linfócito nu. 563-564 Protozoários. 409. 409/. 6001. 664-665,: \~r
13 1 Pnxcínas d..- d 3Sl,IC li do complexo princip:tJ d..- tamblm Cili3dos: Ma.,:;tigófora: S:ucodina:
StrqHtX'<>ttAl.t pnellmtmiM produtor de. 124 histOCoo.lpatibilidadc (~fH C). 4TI. 492. 512 Esporozoários: prrHo:.""1rlM e,fl"'-C{fo:os
na ,·ia do complemento. 527 antígenos aprcstntados por. 494-495 caracicl1's1icas essCDCiais de. 2,
toxina bo!ulCnka coroo. 42--43. 138
ati~ de células T auxiliares e. 492 ciclo de vida de. 409
toxina tetânica coroo. 4 1-42. 137 exibição de macnSfagos. 488 ciliados. 438
Protcast da imunoglobulinaA Og,A). 34-37. na s:fndrome do linfócito nu. 563-564 classificaçlo dc. 409
130--131 rejeição ou acci1ação de ato.:nxcnos e. 523 com imur1odefic~ncia.,;: ou defesas do
Protca.,:;e viral. HIV. 368 hospedeiro r,,_"'ffl!zidas.. 686r
Proteínas d..- fusão. do vírus sincicfal respiratório.
Protcfoo I quimioou·:.1ivade moo6ci1os (lfCP-1).
313 fármacos efetivos comr.i. 81
resposta infla.nl316ria e. 53-54 intestinais. 410--4 17. 41 lt
Pnxcínas do antígeno lcucocitário humano
Protcfoo A. 34-37 (HLA). 521-522. 521/ sangue e tecidos. 420-434. 421,
Protd'oa C ativada(drotrccogina na a Xigris). elas.,;..- 1 urogenitais. 4 17-4 18
1>3ra choque séptico. 4~7 caracccr(stica.,:; de. 522, Protozoários do sangu..- e de tecidos.. 420-43-1.
Protd'oa ca.rrcadora gcocs HLA codiflCllnLCs P3r.l. 521-522. 421,
na ,,aci.oo para Htum,>Jfflllus l.njlJren:tJe. 169 521/ Protozoários urogenitais. 417-418
na ,11ci.oa para Neluerfo menlngttldLt. 130-131 elas.,;..- li Pro,,a cruzada. 524
na ,,aci.oo para s,~ptl>Mt:t:us pneu,ncnla~. 125 caracccr{stica.,:; <k. 522, Pm1-idenda. 161-162
Proteína C028. ancrgia clona) e. 551 gcocs HLA codiflCllnlCS 1>3ra. 521-522. classificação de. 106-107,
Protefoo CD4. 227 521/ do.,:i)Çtt causada po,. 161-162
Proteína C'D40 Pnxcfnas do coo.lplcxo prir1cipGI de Pm1-idencia~11gui, 162. 641r
ancrg.ia clooal e. 551 hÍSIOCOO.lpalibilidade (lfH C). 521-523 Pro,·Crus. 350
mudança de clas.,:;e e. 514 elas.,;..- l. 4TI. 522 ..Prozona." 531-532.n
na slndroo.'11.' de hipcr-lgM. 562-563 3rufgc1)0S 3J)tCSCllladOS por. 494-495 Prurido
Proteína C'D40L. ancrgiaclonal e. 551 31fração <k cllubs T auxiliares e. 492 na ar1cilos1om.fasc. 461
Protefoo C-rc-aLiv a (PCR) na síndrorue do linfócito nu. 563-564 na candidfas..- vuJvo,11ginal. 401
resposta infl amatória e. 53--54 elas.,;..- 11 477. 522 na dcmlalitc de coot:uo. 547
Stnptc)(:t)(:t:uS pn~u,ncnltJe e. 123· 124 aceitação ou rcjciç!lo de alocn.xcnos e. 523 na S31'll3. 572. 573/
Proteína da matriz 3rufgc1)0S 3J)tCSCllladOS por. 494-495 na vWcla. 288
do en.,-clopc vita.J. 222 31ivação de clluJas T auxiliares e. 492 na.,;: dcmlatofitoscs (micose). 390-391
protcfna M2 do vírus lnflue~. 305 na síndrorue do linfócito nu. 563-564 pcrianal. &umbiJ1.t \·~rmkultJrl.s e. 458
,·ir.ti. brotamento e, 233 exibição d..- macnSfagos. 488 piolhos caUS3dorcs dc. 570. 570r
776 lodice

Pse1«fallescheria boydii. 405-406 cüfcrenci81jão de cspocos e-m. 393 Raltcgravir (lscmrcss). 265r. 270. 373r, :374
Pscud~hifa...;.• 384. 384/ migração de Pa.ragonimus wesrennani para. Raposa.~. mordedura de., transmissão do vírus da
Candida albica,u. 400. 40lf402/ 453 rai\'8 por. 6821
caoo d fnioo. 677-678 na ascaridfase. 461 RAST (te.~te radioo!ecgosor\1«1te). 534. 544
Pscudomcmbranai. Pu.-r.ção tombar. 589 Rato. \1-rCamur.dongo
oa cand:idfase. 40 l Purina nuc.Jcosfdco fosforila.~c (Pt"-iP). ddiciência Rato(s). como reservatórios
oacolitc-pscOOomembranosa. 3940. 140. 140/ bcreditáriade. 563·564 para úprospira inrermga,1s, 34-:37t, 201. 6821
na difteria. 39-40. 142 Púrpura. trombocitopê.nica. idiopiúica. 552r. 555 para Ri<:Urtsia .rickemii, 34.37,
Pse1«10,1umas. 162-164. 163/, 601-602 Púrpura trombodtopênka. idiopática. 5521. 555 para Yer.rinia pe.uis, 176
antibiótioo-rcsistcmc.•89. 164 Púrpura trombocitopênka idiopática. 5521, 555 Reaçãodea!oenxcno. 523
biofilmcs de.• 34.37 Pus RcaçãodeAnhus. 545·546
c-Jas...;ifica~o de. 106- 100, av.iJ. e-m infecções poc heudor,w1as Reaçãode imunoíluore.~oência. S35. 535/
diagnóstico laboratoriaJ de. 1491 aetuginosa. 163 Reação de intumescimento capsular. 65·66
doeaça...; caU:St1das por, 579 azu).csvctdcado, casoclfnko. 676--677 Reação de Jarisch·Herxhe-imer. 198
enzimas dcg:radativas produzidait por. 10 re.~posta piogênica e. 52 Reaçãode Prausnitt·Ktlstncr. 544
ilhas de patogcnkidadc de. 38-39 Pus azulado. e-m infecções poc he1tdomo,1as Reação de precipitaç-ão de Ouchtcrlooy. 533.
Pse1«forn011a.taerrq:i,wsa, Mlr aerugi,wsa. 163 5J3/
antibiótioo-rcsistcmc. 87. 87, Pus azul-1!$-..'t"rdeado. e-m infecções poc ReaçãodeQooUung. l l. 65-66. 12-3
caoo d fnioo. 676-677 Ps.eudomo,uu aerugino.ta,. 16:3 Reação cm cadeia da polimeca.~ (PCR)
cistitc causada por. 630 ca.~oclfnico. 676-677 Clo.ttridiltm dijficile e. 140
com imunoddiciê-ncia..; ou de.resas do Piistulas. malignas. no antraz. 135/. 136 de-tocçilodo HIV por, 372
hospede-iro reduzidas. 685r-686r Piistulas maligna~. no antraz. 135/. 136 nadiftccia. 142
como m.icrobiota r.ormal. 261., 27-28 P'ZA(pirazinamida).81.<x>.184 no amraz. l 36
dcfo•as do hCk>pcdeiro comra. 5 7-5&r papilomavfrus humano e. 299
doct'!ça.Hausadaspor. 162- 163. 162.f. 578t. Reação enxerto ,·emt.r hospedeiro (GVH). 524+
579-580. 5801 Q 525
Entcrobactcriaccoo distintas de. 147 Quantiferon·TB (QFT). para tuberculose. 185 RcaçãoGVH (enxerto vers1d hospedeiro). 524+
twcmos relacionados a hospitais que Queijo. 9,,.,.cella melite,uis e-m. 175 525
predispõem a iníccçõci. poc. 6851 Lisreria montX')'togenes cm. 143 Reação linfocítica mista (MLR). 524
fármacos e.fetivoscootra. 80 Queimaduras. 686r Reaçõc-~ "ID". 390-:391
fatoccs predisponentei. para. 53t, 6861 infecções por Ps.eudomcnas. 162 Rcaçõc.s a?écgica.~. 'kr Hipersensibilidade
fome ambic-ntal de. 684t muoormicosc e-m. 405 Rcaçõc-~ anafilac(oidc.s. 543.544
glicocálice de. 1l Queratina. como fonte de nutriente.~ de Reaçõc-~ anafilática.~ (anafilaxia)
identificação de. 62·64 decmatótitos. ca.~od fnico. 675-676 aO\'OS, 275
infooçõcs cutâneas devido a. fatores de Quimioe-ina(s). 50 l • 504. 5041 basófilos e mastócitos cm. 502
prcdis~ição para. 53r re.~posta inflamatócia e. 53-54 causada poc penicilina. 72
infooçõcs respiratórias devido a. fatores de Quimioprofilaxia cutânea. 544
prcdis~ição para. 53r antivirai. 271-272.271-2-nr. 313 sistêmica. 542. 543t
injcc(ossomos de. 4041 da malária. 424425 Reações antfgcno-amicocpo. 483. 531-539
lcsõcscu,ãncascausadas por. 6871 fármac:os antimicrobianos para. 82. 821. 84q, ensaios diagn6slioosc.. 531-539, 531-5321
metabolismo de. 16 130-131 reações cn\'olvcndo antígenos de critrócitos e.
na diabc-tcs melito. 57 Quimiotaxia. 11 536-539
pioci.na~ produzidas poc. 10 oomp!cmc,uo e. 529 tipos de. 531·536
propriedades de. 163 Quimioterapia para c!lnecc. 6851 Reações autoimu.11C1>. infecção pelo vfrui. da
redução fagocftica e. 56t colite pseudomembranosa e. 140 hepatite. e e. 338
requcrime-ntodeox.igêniode.106· 100. l07t Quinidina. para malária. 424. 4241 Rcaçõc-~ de.alocnxenos ace-lcrada.~. 523
transmissão ck. 35+:l6t Quinolonas.. resistência a. 89 RcaçõC$ de alocnxcnos de primeira inst!lncia.
Pse1tdomo110.t ctpacia. \1-r Bu.rk}wlderia cepada Quinta doença. 300-301. 300/. 688.r 523
Pse1tdo,1u:111a.t malropltilia. Wr Stenorrophomcnru ca.~oclfnico. 677-678 Rcaçõc-~ de aloeaxenos primária.~. 523
malmphilia Quinupristina-da1fopristina (Synercid). 115 Rcaçõc-~ de alocf!xcnos secundá.ria.~. 523
Pse1tdomo,ias pseudomal/ei. 217 Quitina. íúngica. 383 Rcaçõc-~ de hipcri;e.nsibilidadc tardia. 4 77, 541-
Pse1tdmerra,ww1 dttepie,u, 473 QMrum u 11si,1J;. 34-:37 5421. 5421. 547-549. 547/, 5411
Pscud()(ipos. 239 te.~r.C$ para a presença de. 520
Pscudovfriooi.. 223 te.~r.C$ para a\'8liação da capacidade de
Psit.ad dcos. como re.~t\1a:óriode Chlamydia R dc.~covolvi.mcmo. 520
psirraci. 683r Rabdcwfrus. 245. 317-318. Wr tambhn Vfru.s da Rcaçfu~ dcrmatoffticas. 390-391
Psitacose. 204·20'7. 2051. 620. 6831 rai\1a Rcaçõc-~ mediadas por célu.lac: T. 523
Psorfasc. 556 forma de. 220-221/ Reaçõc-~ transíusiooais. grupoi. sanguíneos ADO
PlLD (disnirbio linfoprolifecati-..'O pós· <amanho de. 220-22 1/ e. 536-539. 536-538/. 538r
transplante). 292 Radiação. moctc de microrganismos utilizando. Rearranjo. virai. 2:39. :305
Putga.~ 102 Rearranjo de DNA. e-m imunoglobulina.~. 511 •
transmissão de riqucisiose por. 208. 2 10 Radioi.munocnsaio (RIA). S34 513,513/
transmissão de Ye1.ti11ia pesti.t por. 34-371. 176. identificação vira) por, 262 Rearranjos programados. 19. 2CV, 22.q
683! Raios X Recém-nascidos. \~r Nconatos
Pulga.~ de ra,o. transmisi.ão de Yeninia pesris poc. moctc de microrganismos u:ili.7.ando. 102 Receptor de acctiloolina. vírus da raiva
34-:37t, 176. 6821. 683, mu,açõcscausadas por. 19 ligaçãoa.317
Pu!milo(cs). 'kr Pneumonia Raiva furiosa. 594 Receptor de ll.-2 (intcrlcucina 2). 495
abscessos de. 28 Rai.,'8 muda. 594 Receptor scmelhamc ao Toll 4 (TI..R4). 480481
índice 777

Receptor semelhante ao Toll 5 (TLR-5), 565-566, rinovírus, 304t, 327 idade e, 484
565-566t rinovírus, 614 Resposta inflamatória (inflamação), 32, 34-40,
Receptor universal, transfusões, 538 transmissão de, 34-35t, 614 49-50q, 53-56, 53-55!, 56t, 476-477
Receptores vírus de Coxsackie, 325 ausência, a príons, 224
lecitina de ligação à manana, 481 vírus parainfluenza, 313-314, 614-615 doença do soro e, 546
lecitina de ligação à manose, 565-566, 565- vírus sincicial respiratório, 313, 614-615 endotoxinas e, 45-46t, 46-47
566t Resistência a antibióticos, 86-93 fagocitose em, 53-56, 55!, 56t
NOD, 481, 565-566, 565-566t alto nível, 87 granulomatosa, 34-37
para vírus, 227 de Streptococcus pneumoniae, 124 na difteria, 14 2
reconhecimento de padrão, 480, 565-566, 565- bactérias de importância médica exibindo, 87, piogênica, 34-37
566t 87t reação de Arthus e, 545-546
RIG helicase, 565-566, 565-566t baixo nível, 87 Resposta piogênica, 52
RIG-1 helicase, 481 bases genéticas de, 86-88, 93q Resposta primária, lgM e, 5 11-512
semelhante ao toll, 480, 565-566, 565-566t resistência mediada por plasmídeo e, 87-88, Respostas dependentes de células T, 497-498, 498!
Receptores de células T (fCRs), 488,495 88!, 88t Respostas independentes de células T, 497-498,
Receptores de quimiocinas, replicação do HIV resistência mediada por transposon e, 88 498f
e,367 resistência relacionada ao cromossomo e, Restrição do MHC, 494, 522
Receptores de reconhecimento de padrão, 480, 87 Retapamulina (Altabax), 624
565-566, 565-566t bases não genéticas de, 90, 93q mecanismo de ação de, 78
Receptores de RIG helicase, 565-566, 565-566t combinações de antibióticos e, 91-92, 9 1-92!, usos clínicos de, 75t, 78
Receptores de RIG-1 helicase, 48 1 93q Retinite, citomegalovírus, 290
Receptores NOD, 481, 565-566, 565-566t de bastonetes gram-negativos entéricos, 150 naAids, 371t
Receptores semelhantes ao Toll (TLRs), 480,490 de Morganella morganii, 162 Retrovir (zidovudina), 265t-266t, 267!, 269, 270-
Recombinação, 22 de Mycobacterium tuberculosis, 181, 185 271, 372, 373t
homóloga, 22 de Proteus vulgaris, 162 Retrovírus, 230, 245, 318-320. Ver também HIV
viral, 239 de Providencia rettgeri, 162 (vírus da imunodeficiência humana); vírus da
Recombinação homóloga, 22 de Pseudomonas aeruginosa, 164 leucemia de células T humanas
Recombinação não homóloga, 22 enterococos resistentes à vancomicina e, 77, animal, 357
Recombinases, 511-512 89, 118, 122 como agentes de transdução, 350
Recombivax, 3 36 mecanismos de, 86, 86t como vetores, 239
Reconhecimento mecanismos específicos de, 88-90, 93q complementaridade em, 231-232, 233t
de antígenos por células B, 479 organismos resistentes a múltiplos fármacos e, endógeno,354
de organismos exógenos, 477 181, 185. Ver também organismos específicos forma de, 220-221!
"Reconstituição imune," com tratamento para para artesunato, 424, 424t inibidores de
HIV, 335, 375 resistente à meticilina/nafcilina não nucleosídeos, 269-270, 271-272q
Regiões ambissenso, 230 Staphylococcus epidennidis e, 115 nucleosídeos, 269, 271-272q
Regiões constantes, nas cadeias polipeptídicas da Staphylococcus aureus resistente à meticilina proteases de, 233t
imunoglobulina,508-509,513 e, 43-44, 89, 111 tamanho de, 220-221!
Regiões hipervariáveis, nas cadeias polipeptídicas doenças causadas por, 113-115 Retrovírus animal, 357
das imunoglobulinas, 509-510, 510f fármacos efetivos contra, 77-78 "Reumatismo do deserto", 395
Regiões variáveis, nas cadeias polipeptídicas de Staphylococcus aureus resistente à nafcilina e, Reyataz (atazanavir), 265t, 270-271, 373t, 374
imunoglobulinas, 508-5 10, 5 10!, 513 111,1 15 Rhizopus, 400t, 405, 661-662r
Regulador autoimune (AIRE), 488, 551 Staphylococcus aureus resistentes à na diabetes melito, 57
Reidratação oral na diarreia, 601-602 vancomicina e, 111, 115 Rhizopus oryzae, 405
Reinfecção, massiva, Strongyloides, 463 teste de sensibilidade e, 90-92, 93q Rhodococcus equi, 217
Rejeição, de aloenxertos, 523 atividade bactericida do soro e, 91-92 Rho-Gam ( altos títulos de imunoglobulinas Rh
Rejeição a enxerto, resposta citotóxica em, 497 concentração bactericida mínima e, 90-91, (D)), 539
Rejeição de aloenxertos crônica, 523 91f RIA (radioimunoensaio), 534
Rejeição de aloenxertos hiperaguda, 523 concentração inibidora mínima e, 90, 9 1f identificação viral por, 262
Relenza (zanamivir), 265t, 270-271, 307-309 produção de 13-lactamase e, 91-92 RIBA (ensaio immunoblotrecombinante), em
Remicade (infliximabe) uso excessivo e incorreto de antibióticos e, 90 infecções pelo vírus da hepatite B, 338
para doenças autoimunes, 556-557 Resistência a antibióticos cromossômica, 87 Ribavirina (Virazole), 265t-266t, 267!, 270, 313,
para tuberculose, 183 Resistência a antibióticos mediada por plasmídeo, 6 18
rejeição a enxertos e, 525t 87-88, 88!, 88t Ribonucleases, virais, síntese de, inibição por
Reovírus,242-245,328-329,343t,345-346. Ver Resistência à colonização, 27-28 interferon de, 256
também Rotavírus Resistência ao artesunato, 424, 424t Ribossomos, bacterianos, 6t, 9
disseminação sistêmica de, 248 Resistência mediada por transposons, 88 Rickettsia, 208-211, 647r
mRNA de, 23 l q RespiGam (globulinas hiperimunes), 313 classificação de, 105, 106-107t
tamanho e forma de, 220-221! Resposta citotóxica, 497 coloração de Gram e, 8t
Repetições invertidas, de transposons, 1O, 1Of Resposta de fase aguda, 53-54, 481 como parasita intracelular obrigatório, 31
Replicases, 230 Resposta do hospedeiro, a Corynebacterium de menor importância médica, 213t
Rescriptor (delavirdina), 265t-266t, 270, 373, 373t diphtheriae, 142 Rickettsia akari, 208, 209t
Resfriado comum, 245,248, 250-251, 611t, Resposta granulomatosa, 52 Rickettsia prowazekii, 647r
614-615 Resposta imune, 4 77 doença causada por, 208, 209t, 2 10-211
adenoviral, 297 especificidade de, 477-479, 478f reservatório para, 34-37t
coronavírus, 304t, 314 imunidade celular e, 477 vetores para, 208-209, 569, 683t
imunidade a, 258 imunidade mediada por anticorpos e, 477- Rickettsia rickettsii, 208-211, 647r
organismos causadores, 614-615 479, 479! doença causada por, 208-209, 209!, 209t
778 Índice

lesões cutâneas causadas por, 688t pulgas de, transmissão de Yersinia pestis por, transmissão de, 154-155
localização geográfica de, 684t 34-37t, 176, 682t, 683t Salmonelose, número de casos de, 106-107,
porta de entrada para, 34-35t Roséola infantil, 379 106-107t
reservatório para, 34-37t, 208-209, 209t Rotarix, 329 Salpingite, Neisseria gonorrhoeae, 131
transmissão de, 208-209, 209t Rotashield, 329 Chlamydia trachomatiis, 206
vetores para, 34-37t, 208-209, 209t, 683t Rotateq, 329 Sangramento gastrintestinal, na doença da úlcera
Rickettsia tsutsugamushi, doença causada por, Rotavírus, 230, 230t, 242-244t, 242-245, 280, péptica,598
208, 209t, 210 280t, 323t, 328-329, 599t-600t, 654-655r Sangue
Rickettsia typhi, doença causada por, 208, 209t, caso clínico, 672-673 como porta de entrada virai de, 249t
210 complementaridade em, 231, 233t transmissão do HIV via, 368-369
Rickettsialpox, 208, 209t patogênese por, 249, 328-329 transmissão do vírus da hepatite C via, 337
Rifabutina porta de entrada para, 249t Vírus da leucemia de células T humanas tipo 1
mecanismo de ação de, 80 replicação genômica em, 232t transmissão por, 355
usos clínicos de, 80 RSV (vírus sincicial respiratório), 313, 652-653r Saquinavir (Fortovase, Invirase), 265t, 270-271,
Rifampicina características clínicas de, 305t, 313 373t, 374
mecanismo de ação de, 80 espículas do envelope de, 31Ot Sarampo, 28 1t, 304t, 310-311, 31 1f
resistência a, 87t, 89 Rubéola. Ver Vacina para rubéola; Vírus da características clínicas de, 305t
uso profilático de, 82t, 130-131 rubéola deficiência de células T em, 566
usos clínicos de, 78t, 79-80, 184, 616 Rubivírus, 245 imunidade a, 258
RIG (imunoglobulina da raiva), 276 lesões cutâneas de, 688t
Rilpivirina (Endurant), 265t-266t, 270, 373t, 374 Sarcina, 217
Rim
s Sarcodina, 409
carcinoma, em sapos, herpes-vírus e, 358 Saccharomyces boulardii, 83 Sarcoma de Kaposi (KS)
falência na síndrome hemolítica-urêmica, 152 Salmonella, l47t, 153-156, 154t, 599, 600t, herpes-vírus simples 8 e, 356
glomerulonefrite aguda, 121 601-603 na Aids, 292-293, 293!, 371t
Rimantadina (Flumadina), 265, 265t-266t, 308 artrite reativa e, 555 Sarcoma(s)
Rinite, alérgica, 542 classificação de, 106-107 t adenovírus e, 297
Rinite alérgica, 543t com imunodeficiências ou defesas do de Kaposi
tratamento da, 545 hospedeiro reduzidas, 686t herpes-vírus simples 8 e, 356
Rinovírus, 242-244t, 242-245, 248, 280, 280t, curli de, 34-37 na Aids, 292-293, 293!, 371t
304t, 322, 322t, 326-327, 61 lt, 654-655r diagnóstico laboratorial de, 149-150, 149t Sarcoptes scabiei, 570t, 572, 572f-573f, 669-670r
causa do resfriado comum, 614 distinta de Proteus, 64 lesões cutâneas causadas por, 688t
evasão imune por, 250-251 distinta de Shigella, 64 Sargramostim (fator estimulador de colônias de
porta de entrada para, 249t doenças autoimunese, 147 macrófagos-granulócitos), 504-505
proteases de, 233t doenças causadas por, 148t, 154-155, 578t, Sarna, 570t, 572, 572f-573f, 688t
tipos sorológicos de, 326 579 SARS (síndrome respiratória severa aguda), 245,
transmissão de, 34-35t, 326-327 dose infecciosa de, 31 250-25lt, 304t, 314
Riquetsioses. Ver também riquetsioses endotoxinas de, 45-46 Saúde pública, coliformes e, 150
específicas Escherichia coli distinta de, 16, 151 Schistosoma, 409, 449-453, 451!, 452!, 665-667r
diagnóstico de, 66 flagelo de, 11 Schistosoma haematobium, 450t, 452!, 453,
Riso sardônico, no tétano, 137 forma de, 4f 665-667r
Ritonavir (Norvir), 265t, 270, 373t, 374 identificação de, 64-66 caso clínico, 677-678
Rituximabe, rejeição a enxertos e, 525t ilhas de patogenicidade de, 38-39 Schistosoma hematobium, 449, 684t
RNA (ácido ribonucleico) injectossomos de, 40-41 Schistosomajaponicum, 449, 450t, 451,453,
dupla-fita, como indutor de interferons alfa e na Aids, 371t 665-667r
beta, 255 nomeação de, 154 Schistosoma mansoni, 449, 450t, 451, 452!, 453,
genoma de RNA de dupla-fita, 230 osteomielitee, na anemia falciforme, caso 665-667r
genoma de RNA de fita simples, 230 clínico, 674-675 fonte ambiental de, 684t
genomaviral ambissenso, 230 propriedades de, 153-154 transmissão de, 35-36t
splicing na síntese de imunoglobulinas, 511- Shigella comparada a, 154, 154t Schistosoma mekongi, 449n
513 síndrome de Reitere, 557 SCID (imunodeficiência combinada severa), 562-
RNA mensageiro. Ver também mRNA transmissão de, 35-36t 564, 562-563t
síntese de mRNA virai, 228-229 Salmonella choleraesuis, 154-155 Scrapie, 223, 363
RNA-polimerase Salmonella dublin, 154 Secreção(s), em lgA, 51 1-512
de rotavírus, 328 Salmonella enterica. Ver Salmonella enteritidis Segundos mensageiros, lgG in, 51 O
do vírus da raiva, 317 Salmonella enteritidis, 154, 599t, 602-603, 639r Seleção clonai
do vírus influenza, 305 fatores predisponentes para, 686t células B e, 498-499
Robovírus,342,379 reservatórios para, 682t-683t células T e, 498-499
Roedores. Ver também roedores específicos transmissão de, 35-36t, 34-37t Seleção negativa, 488
como reservatórios Salmonella hirschfeldii, 155 Seleção positiva, 488, 489f
para Anaplasma phagocytophilum, 683t Salmonella paratyphi, 154, 602-603 Selectinas, na fagocitose, 55
para Borre/ia burgdorferi, 199 Salmonella schottmuelleri, 155 Selzentri (maraviroc), 265, 265t-266t, 373t, 374
para o vírus da encefalite da Califórnia, Salmonella typhi, 34-36t, 602-603 Sepse
345-346 Salmonella typhimurium, 638r-639r Acinetobacter, 213
para o vírus da febre do carrapato do doença causada por. Ver Febre tifoide Aeromonas hydrophila, 213
Colorado, 345-346 fármacos efetivos contra, 76 Alcaligenes faecalis, 213
para o vírus da febre Lassa, 380 fatores de virulência de superfície de, 38-39t Bacteroides fragilis, 463
para Rickettsia rickettsii, 683t propriedades de, 153-154 Capnocytophaga gingivalis, 214
Índice 779

Cht;,seobae1erium mem'ngoseptkum. 214 i<kmificação de. 64-66 Síndtome de hipcr-lgE. 564-565


Citrobocter. '214 ilhas de patogcnicid3dc de. 38-39 Síndtome de hipcr-lg,M. 499-500. 561-563
Cor:,nebacleri'um)etkdJ11n, 215 i.njooossomos de. 40-4 1 Síndtome de Job. 564--565
Ethard.tlella. 215 naAids.3711 Síndtome de Rei ter, 557. 609-610. \~r tMil>fm
EseMrkhlaeoU. 15 1. 463 propriedades. 156 Artritl.' reru:iva
Espk 00.-100.l ia e. 51 So.lmtmeollo. comparada a. 154. 1541 infccç!lo por Campyl<>btJeur]ejuni t, 158-159
fftJem,>Jlhflw l.nflJ~n:.ae. 169 sfodromc de Reitere. 553. 551 infecção por Chlamydw trochomarl.te. 20I, 206
cm criança.,;. 168-169 uansmiss!lo de. 35-36t infccç!lo por Yeor.rlm'a e. 218
LJ.weri'a m,'11tX')Wge11es. 35-361. 143- 144 Shlge/fo d)SC'nterla"'· 156 infccçôts p:uog.~ica.s tt1t&icas e. 147
m:ucma. u,urla tnt'JnOc')'tt>genes. tr.ms:missão tox.ina produzida por. 44-45 mimetismo molecular e. 553
dt. 35-36, uansmiss!lo de. 34-35! Síndrome de Rcyc. 288. 307. 596
nconataJ Shlge/fo .tonnd, 156 Síndrome de Sjõgren. 551
E.tckrlchJtJ et>/1, 153 Shigclost. 7&.79. 106-1071, 1481. 154. 156-157 Síndrome de S1tvt ns-JohnMn. 54 7.549
lbterla m,>IN'Jc')'t<>gtt1d, U'3nsmiss!lo de. uansmiss!lo de. 35-36t em illfccçõts por M)'M(llasmo 1me1m1()rllae.
35-3(11 Sidtróforos. 16 19-a. 287
prevtDÇãodc. 122-123 Sífilis. 196--198. 604. 6061, 616-617. *'
tamblm fármacos c:wsadores d..-. 78. '210. 314
StrqH,>t:0t.'t:A1.togalat:1Iae, 116. 120-121 Trt-1x>rlen10. pallid1m1 Síndrome de Wru:etboust-Fridcricbscn. 130-.131
transmissão de. 34-35, coogfoi1.a. 331-351. 197 Síndrome de Wiskou-Aldrich. 563-56-1
Ptemiomfmo.s aeruglmua, 162 diagnóstico de. 65-66 Síndrome do "lx:bê cini.cnto", 77
Sroph)'lt>t.'ót:t:IU (JüMAS, 114 epidemiologia de. 196 Síndrome do "homem vcnnctbo". 74
Sto/lhJlr>t:oct1a epi'Jumidls. 114 imu.nidadt a. 198 Síndrome do eboquc tóx iro (TSS). 109
s,~ptc)Ct>et'td (/J,,.~lik-'fl~ l'.100001.81. caso la1tt1te, 197 Cltutridlum Síln.idlú, 139
dCniro. 675-676 lcsôts cut!Dca.s de. 6811-6&8.t exo1ox.i.na A pirogêtlica e. 120
V1'l>r1" mlnlf1e11s.1ransmis5aão d.-. 35-36.t, 158 ndmcrodeca!iOSde, 106-107.106-1071
1l':SÕCs cutâneas de. 6881
&1Hata In1es1Inall.t. 4 11t p:uog~scc :lCbadosc!!nicosem. 196- 197. parogênesc de. 112
Scpiiccmia 196/ Sm11hyl«t>eeusaJ,re1,s. 28, 114
St1lmÓ'Flel/(I, 153-155 primária. 196. 196/. 604-605. (-IJ.&f. 6811 caf.O clínico, 675-676
S,aphJlt>t:MtlU tJüreuS, 109. J 14 reação de Jarisch-Herxbcimet na 198 StrqH,)('O(.'t'Al.f pyogen.~s. 120
V1'l>r1" 11dnlf1e11s. 158 scruodária. 196- 197. 19({. 605. 6881
1ra1amen1ode.1 15
Scquenci~unento de DNA. p:ua 1ipagem HLA. terciária. 197 Síndrome do linfócito nu, 563-564
523-524 uansmiss!lode. 331-35!, 196
Síndromc Gtrs.1mann-StrlltJs.,;kr-Scheinker
Sequências dc insttção. 10. 18 Sífilis laicntc. 197 (GSS). 3611, 362
Seres humano(s) Sífilis prirOOria. 604-605. 604/
Síndrome GSS (G.-rsmuum-StrSussler-
como rcscr\1'316rios Sífilis scc-undária. 605
JXl(3 B,>rrdw. 1W:11rrentl.t. 34-371 Sum,Jmm, tmnsmiss3o de Ont:l.úttrco. l'"'' ulus.
·Schei.nker). 361,. 362
Síndrome bcmolftica~urêmka (HUS). 151. 600.i
paraE$t'/krlchlo.roll. 151 por.470
toxinaShiga..-. 44-45. 15 1-152
p.vs ,l,fy«>bactulum 11,~rt:ul,,sis. 181 Sinais cocstimuladores. ru:i~o de célula T t .
p.vs Ont:l.úttrco. w,I, ulus., 6831 492-49,:1, 493/ tmnsmi:wkl de. 331
Sinal de Roma.Aa. 428 Síndrome inflamatória da recoos.tiiuição imur1e
para PfosmrMlum. 6ltlt
p.vs Ru.-ú1ula pm..'á:_ekii, J.4-311. 6831 Sina) de W imtrbOIIOll.'I. 43 1 (l RJS). com mu.amemo para HIV. 375
para ShlgC"lfo, 156 Sinckio. \~r Cllu)a.,; gigantes multilludeadas na h..-pru:iLC B. 335
p.vs Tí'}',X,n(U()nJO. br11tti', 6831 Sfodron'K' da bochecha esbofeteada. 30().301 . na infccç!lo criptococ6cica. 403
p.vs vírus da dengu..-. 6831 3CMV, 6881 natubetculos..-. 183
para vírus da febre ama..rda. 6ltlt caso clCnioo. 67l-678 Síndtome linfoprolifctru:iva ligad.a .ao X.
mooruu.,cloosc infecciosa cm. 291
p.vs "\,cheonorla bü11crr>ftl. 6ltlt Sfodron'K' da deficiência d..- 3dcsllo lcucociLária.
mordeduras de. 28. 65-66. 215 56-1-5<15 Síndrome pós.-pólio. 324
··Seringas moleculares." 40-41 Síndrome pulmonar por h.ama,•frus. 2811. 379
Sfodron'K' da disfu1)Çlto imune da fadiga cl'Ôl'lka.
SetOIOflina. em !C*-ÕCS de hipcrseDS.ibilidadc-. 543 5(,6 Síndrome rcspira1ória agud.a se~\'.r.t (SARS). 245.
Setpentes. corno rcservru:órios de Salmtmc-Ua Sfndron'K' da fadiga cl'Ôl'lica (SFC). 566 250-25 11, 3041. 314
lll.tC'l'lt:á. 683.t Sfodron'K' da i:muoodtf.cifocia adquirida (Aids). Síntese de DNA. RNA--depcndentc. do vírus da
&rro.tla. 160-161 \~rAids hqxuitl.' B. 334
class:ificaç!lode. 1~ 1071 Sfodron'K' da pc1ccsca!d3da. 109. I ICV, 114 Sinusite. 612. 6 13/
doeoças causadas por, 1481. 519 lcsôts tut1Dc3S de. 6881 .aguda. 6 1l t
&rro.tlamtJrtt.fc'en.t. 160-161. 160f.640r p:uog~sc de. 112 Mpuglll1,s, 613
doeoças causadas por, 5181 Sfodron'K' da resposta iníl:munória sist~mica H~mopltilus l'nfh,M~ 168- 169. 612
Sexo(s). de csquistossoma.,;. 449 (SIRS). 46-47 A,lt)1tuel/a NJtar,ha.U.t. 2 16,612
SFC (sfüdromc da fadiga crônica). 566 Sfndron'K' da rubéola congênita. 316 Mi,oor.613
Shlgdla. 156-157. 599. 5991-600.i, 639r Sfodron'K' de Cbédial:-Higa.,;hi. 56-51, 564,-565 oo cmpicma subdural 595
a..rtriic reativa e. 555 Sfndron'K' de DiGeorgc. 561-563. 562-5631, 686.t SttJJffl)'l«t>eeüS m1re11.t. 6 13
class:ificnç!lode. 1~ 107, Sfodron'K' de Goodpas.iurc(GS). 545. 5521, 551 StrqH()('«t.'A1.t pr,c-11mtmlae, 123-124, 6 12
diagnóscioo laboratorial de. 149-.150. 14 91 Sfndron'K' de Guillain-Barré, 5521. 555 S/rqH<X.'Ot.'é'Al.t p)'Ogt'M$, 120
diarreia sanguiookma. 598 após "3cinaMenactta.130-.131 Sinusite aguda. 61 lt
distinia d..- Safm()rle/ltJ. 64 dia1Tcia cm. (,00., Sirolimus. 525
doeoças autoimur1cs e. 147 cm inftcç&-:s por M.w:01>l0Jma p,t"-1""-<Ntlae. 19" SIRS (sfrldron'K' da rcspos.1a inO:mui1ória
doeoçascausadaspor.147. 1471- 148.t, 156. \h i.nfecç!o por CMl/f)'loba,:ur jeoj1mlt. 147, sis.t~m.ica). 46-47
tamblm Shigclosc 158--159 Sistem:.a d..- secreção do tipo Ili. 40-41
dose infecciosa de. 31 m.im(jismo molecu)a..r e, 553 cm Pse1ttfom<mtJs, 163
EseMrldrlaet)/ldistiniade. 16. 151 vacina para lnftuen.:a e, 308 Sistem:.a imur1e
780 Índice

braço adaptativo (adquirido) do, 475-476, coagulase-negativo, 109, 111, 114. Ver Staphylococcus epidermidis, 111, 111 t, 585,
475t, 476t. Ver também Imunidade mediada também Staphylococcus epidermidis; 633r
por anticorpos; Imunidade celular Staphylococcus saprophyticus caso clínico, 672-673, 675-676
braço inato do, 475, 475t-476t. Ver também forma de, 4f como microbiota normal, 26t-28t, 27-29
Imunidade inata infecções devido a condições predisponentes a infecções por, 53t,
função do, 475-477, 475t-477t, 476f achados clínicos em, 113-115, 113t 57-58t
Sistema nervoso central (CNS) da pele, transmissão de, 33t doenças causadas por, 109, 114-115, 578, 580,
abscesso encefálico por Nocardia asteroides e, diagnóstico laboratorial de, 115 580t
caso clínico, 672-673 "frio," na síndrome de hiper-lgE, 564-565 eventos relacionados a hospitais como fatores
doenças lentas e, 359 patogênese de, 112-113 de predisposição a infecções por, 685t
infecções do, 589-596 tratamento de, 115 fármacos efetivos contra, 74, 77, 80
infecções neonatais do, transmissão de, 34-35t propriedades de, 109-1 12, 1 lOf, 11 lf, 11 lt glicocálice de, 11, 34-37
Sistema reticuloendotelial tolerância em, 115 identificação de, 62
localização de Brucella em, 174 transmissão de, 112 patogênese por, 113, l 13t
na leishmaniose visceral, 432 Staphylococcus aureus, 111 , 11lt, 585, 599, resistente à meticilina/nafcilina, 115
Sistemas de secreção, bacterianos, 40-41 599t-600t, 613, 633r sensível à meticilina, 115
SIV (vírus da imunodeficiência símia), 367 abscesso cutâneo causado por, 626 transmissão de, 112
Sklice (ivermectina), 571 abscessos pulmonares causados por, 621 Staphylococcus epidermidis resistente à
SNC (sistema nervoso central) antibiótico-resistente, 87, 87t, 89 meticilina/nafcilina (MRSE), 115
abscesso encefálico por Nocardia asteroides e, caso clínico, 672-676 Staphylococcus epidermidis sensível à meticilina
caso clínico, 672-673 colonização vaginal por, 29 (MSSE), 115
doenças lentas e, 359 com imunodeficiências ou defesas do Staphylococcus saprophyticus, 111 , 111 t, 634-
infecções de, 589-596 hospedeiro reduzidas, 685t-686t 635r
infecções neonatais de, transmissão de, 34-35t como microbiota normal, 26t-28t, 27-28 cistite causada por, 630
defesas do hospedeiro contra, 57-58t como microbiota normal, 29
Sobrevivência intracelular, 34-39, 49-50q
SOD (superóxido dismutase), 16 doenças causadas por, 47-48, 47-48t, 109, doenças causadas por, 109, 115
109f-110f, 216, 578-580, 578t-580t patogênese por, 113, 113t
inibição do crescimento anaeróbio por, 106-
mediado por toxina, 114 transmissão de, 112
107
piogênico, 113-1 14, 113f STEC (E. coli produtora de toxina Shiga), 599,
Sodoku,217
tratamento de, 115 600t
S-OIV (vírus influenza de origem suína), 309
eventos relacionados a hospitais como fatores Stenotrophomonas maltophilia, 53n, 163, 64lr
Solo
de predisposição a infecções por, 685t Streptobacillus moniliformis, 202, 217
como fontes de organismos de importância
exotoxina de, 40-43t, 43-44 Streptococcus, 4, 116-123, 116t, 117f
médica, 684t
fármacos efetivos contra, 74, 77, 80 a-hemolítico, 116, 117!, 118. Ver também
formas de bolores em, inalação de esporos
fatores de virulência de superfície de, 34-37, Streptococcus mutans; Streptococcus
formados por, 393
38-39t pneumoniae; Streptococcus sanguis;
micoses cutâneas e, 391
fatores predisponentes para infecções por, 53t, Estreptococos viridans
transmissão de Clostridium peifringens e,
57-58t, 686t 13-hemolítico, 116-117, 117f-118f
139
foliculite causada por, 626 grupo A , 634-635r. Ver também
transmissão de Cryptococcus neoformans e,
identificação de, 62-66 Streptococcus pyogenes
403
infecções de pele devido a grupo B, 634-635r. Ver também
transmissão de Listeria monocytogenes e, 143
fatores predisponentes para, 53t Streptococcus agalactiae
Sondas de ácidos nucleicos, 66
lesões causadas por, 687t-688t grupo D, 118. Ver também Enterococcus
Sondas de DNA, para o diagnóstico de na diabetes melito, 57 faecalis; Enterococcus faecium;
Chlamydia trachomatis, 65-66 nas deficiências seletivas de imunoglobulinas, Streptococcus bovis
Sorbitol, incapacidade das colônias em fermentar,
561 classificação de, 106-107 t
caso clínico, 674-675 parede celular de, 7, 34-37, 111-1 12 como microbiota normal, 27-28t, 28
Soro patogênesepor, 112-113, 113t de importância médica, 116-123, 1 l 6t. Ver
título de anticorpos no, 531-532 prostatite causada por, 632 também Enterococcus faecalis; Streptococcus
transferência de hipersensibilidade atópica em, redução fagocítica e, 56t agalactiae; Enterococcus faecium;
544 resistente à meticilina, 43-44, 77-78, 89, 111 , Streptococcus pneumoniae; Streptococcus
Soroconversão, 262 113-114, 115 pyogenes; Estreptococos viridans
Sorotipo(s), viral, 222-223, 250-251 resposta piogênica e, 52 doenças causadas por, 116-123, l 16f-1 17f,
Sorovar, 154 tolerância a antibióticos em, 89 118-119t, 120f
Spirillum minar, 202, 217 transmissão de, 34-36t, 112 doenças pós-estreptocócicas e, 121
Splicing de RNA, em imunoglobulinas, 511-513 transpeptidação em, 70 forma de, 4f
Sporothrix schenckii, 390-39lt, 391, 659-660r Staphylococcus aureus intermediário para grupo A
fonte ambiental de, 684t vancomicina (VISA), 111 , 115 faringite, 613-614
Sporozoa (esporozoários), 409 Staphylococcus aureus resistente à meticilina invasiva, número de casos de, 106-107t
Spumavírus, 245, 382 (MRSA), 43-44, 89, 111 identificação de, 66
SRS-A (substância de reação lenta da anafilaxia), antibióticos para, 627t não 13-hemolíticos, 118
542-543 doenças causadas por, 113-114 não hemolíticos, 117
SSPE (panencefalite esclerosante subaguda), 252, tratamento de, 115 como microbiota normal, 29
31 1, 360t, 361 fármacos efetivos contra, 77-78 viridans. Ver Estreptococos viridans
ST (toxina termoestável), 43-44 Staphylococcus aureus resistente à vancomicina Streptococcus agalactiae, 118, 634-635r
Escherichia coli, 151 (VRSA), 111, 115 caso clínico, 675-676
Staphylococcus, 4, 109-116 Staphylococcus aureus resistentes à nafcilina como microbiota normal, 27-28t, 118-119
classificação de, 106-107 t (NRSA), 111, 115 doenças causadas por, 116, 120-122, 578t, 580t
índice 781

patogênese por, 118-119t, 120 Strongyloides, 409,456, 457t, 511-512, 598 viral, 222
transmissão de, 34-35t, 687t Strongyloides stercoralis, 462-464, 465f-466f, Telaprevir (lncivek), 265t, 270-271
Streptococcus anginosus, 595 667-668,; 684t Telavancina, 7 4
Streptococcus bovis Substância C, pneumocócica, 123 Telbivudina (Tyzeka), 265t-266t, 270
doenças causadas por, 116, 121-122, 585 Substância de reação lenta da anafilaxia (SRS-A), Telitromicina (Ketek), 74t-75t, 77
patogênese de, 118-119t 542-543 Tênia anã, 447-448
Streptococcus intermedius, 118 Substituição de base, 18 Tênia canina, 446, 447!
Streptococcus mutans Substituição de sorotipo, 96, 125 Tênia suína, 440-442, 441t, 442f-445f
como microbiota normal, 27-28t, 28 Subunidades repetidas, viral, 220 Tênias. Ver Cestódeos; tênias específicas
glicocálice de, 11 Suco de mirtilo, profilático, para infecções por Teníase, 440-442, 442!
Streptococcus pneumoniae, 123-125, 61 lt, 612, Escherichia coli, 153 Tenofovir (Viread), 265t-266t, 269, 373t
634-635r Sulbactam, 88-89 Tenossinovite, gonocócica, 131
antibiótico-resistente, 87, 87t, 89 Sulfadiazina, 426 Terapia antirretroviral, 600t
caso clínico, 674-677 Sulfadiazina de prata, 1O1 Terapia antirretroviral altamente ativa (HAART),
com imunodeficiências ou defesas do Sulfisoxazol, 612 183, 372-375, 403
hospedeiro reduzidas, 685t, 686t Sulfonamidas Terapia de múltiplos fármacos, para tuberculose
como microbiota normal, 118 mecanismo de ação de, 78, 78t por Mycobacterium tuberculosis, 184
defesas do hospedeiro contra, 57-58t resistência a, 88t, 89, 130-131 Terapia diretamente observada (DOf), para
doenças causadas por, 114, 123, 129 usos clínicos de, 78, 78t tuberculose, 185
fármacos efetivos contra, 76-78 Superantígenos,43-44,495-496,496! Terapia gênica, 238,239
fatores de virulência de superfície de, 34-37, caso clínico, 675-676 Teratógeno, como o vírus da rubéola, 316
38-39t efeitos em células T, 495-496, 496f Terbinafina, 80, 386t
fatores predisponentes para infecções por, 57- na síndrome do choque tóxico, 112 Terminação da cadeia, aciclovir e, 266
58t, 686t toxina eritrogênica como, 118-119 Teste antiglobulina, 535-536
forma de, 4f toxina pirogênica como, 118-119 Teste CAMP, 122
identificação de, 62-66 vírus produtores de, 222 Teste cutâneo da lepromina, 187
ilhas de patogenicidade de, 38-39 Superfície epitelial, corrompida, 686t Teste cutâneo da tuberculina, 181-185, 182!
ligação da proteína e-reativa com, 53-54 Superóxido dismutase (SOD), 16 Teste cutâneo de derivado proteico purificado
meningite e, 590 inibição do crescimento anaeróbio por, 106- (PPD), 181-182, 184-185
na diabetes melito, 57 107 Teste cutâneo de hipersensibilidade tardia, para
nas deficiências seletivas de imunoglobulinas, Sustiva (efavirenz), 265t-266t, 270, 373, 373t infecções fúngicas, 384
561 Suturas, infecção por Staphylococcus aureus e, Teste cutâneo PPD (derivado de proteína
patogênese por, 118-119t, 120, 124 112 purificada), 181-182, 184-185
pneumonia causada por, 619, 620f Symmetrel (amantadina), 265, 265t-266t, 267!, Teste da aglutinina fria, 66
prevenção de, 124-125 271-272!, 308 caso clínico, 674-675
propriedades de, 123-124, 123! Synagis (palivizumabe), 265, 265t-266t, 271-272t, Teste da lepromina, 547-548
redução fagocítica e, 56t 618 Teste da optoquina, 123-124, 123f
terapia de combinação de antibióticos para, para profilaxia do vírus sincicial respiratório, caso clínico, 676-677
91-92 313 Teste da oxidase, 129!
transmissão de, 34-35t, 124 rejeição a enxertos e, 525t Teste da urease, 598
Streptococcus pneumoniae vaccine, 11, 95t, 96 Synercid (quinupristina-dalfopristina), 115 Teste DCF (diclorofluoresceína), 564-565
Streptococcus pyogenes, 118, 61 lt, 634-635r Teste de "Whiff ", na vaginose bacteriana, 215
antibiótico-resistente, 122 Teste de absorção de anticorpo treponêmico
caso clínico, 673-674 T fluorescente (FTA-ABS), 65-66, 198
como microbiota normal, 28, 118-119 TAAs (antígenos associados a tumores), 559 caso clínico, 676-677
defesas do hospedeiro contra, 57-58t Tacrolimus, rejeição a enxertos e, 525 Teste de aglutinação com partículas de látex
doenças causadas por, 47-48, 47-48t, 116, Taenia saginata, 44 lt, 442-445, 442!, 445!, 665- para Cryptococcus neoformans, 404
116f-117f, 120!, 120-122 666,; 682t Streptococcus pneumoniae, 124
doenças pós-estreptocócicas e, 121 Taenia solium, 440-442, 44 lt, 442f-445f, 665- Teste de aglutinação em lâmina, 65-66
exotoxina de, 40-43t, 43-44 666r Shigella e, 156
faringite, 613-614, 613f caso clínico, 679 Teste de aglutinação em látex, 65-66
fármacos efetivos contra, 77-78, 80 reservatórios para, 682t Teste de aglutinação em tubo, 66
fatores de virulência de superfície de, 34-37, Tamiflu (oseltamivir), 265t, 270-271, 307-309, Teste de amplificação de ácidos nucleicos
38-39t 617-618 (NAAT), 66, 606t
glomerulonefrite devido a, 546 resistência a, 308 cervicite, 607-608
identificação de, 62, 65-66 Taquizoítos, Toxoplasma gondii, 425, 427f para Mycobacterium tuberculosis, 184
lesões cutâneas causadas por, 687t-688t Tartarugas, como reservatórios de Salmonella uretrite, 609-61O
nefritogênico, 118 enterica, 683t Teste de anticorpo fluorescente direto (DFA),
patogênese por, 118-120, 118-119t TCRs (receptores de células T), 488, 495 606t
propriedades de, 118 Tecido linfóide associado ao intestino (GALT), 488 na sífilis, 197
proteína da parede celular de, 34-37 Tecido mole, doença causada por exotoxinas em, no antraz, 136
resposta piogênica e, 52 42-43t Teste de CF (fixação de complemento), 535,
reumatogênico, 118 Técnica da fita adesiva, para detecção de 536f
Streptococcus pyogenes nefritogênico, 118 Enterobius vermicularis, 458, 461f identificação viral por, 262
Streptococcus pyogenes reumatogênico, 118 TEE (ecocardiograma transesofágico), 582, 585- para Histoplasma capsulatum, 396
Streptococcus sanguis, caso clínico, 678-679 586, 586f Teste de citotoxicidade, Clostridium difficile e,
Streptococcus suis, 217 Tegumento 140-141
Streptomyces, 72 dos vírions de herpes-vírus, 282 Teste de complementação, 239
782 Índice

Teste de Coombs, 535-536 na sífilis, 198 Tiras reagentes de urina, 629


Teste de fixação de complemento (CP), 535, Testes de neutralização, 535 Tireoidite de Hashimoto, 552t
536f Testes de suscetibilidade, para Mycobacterium Tiroidite
identificação viral por, 262 tuberculosis, 184 crônica, 554-555
para Histoplasma capsulatum, 396 Testes in vitro, para competência de células de Hashimoto, 552t
Teste de hidrólise do hipurato, Streptococcus linfoides, 520 Tirosina-cinase, controle do crescimento e, 351
agalactiae, neonatal, caso clínico, 674-675 Testes in vivo, para competência de células Tirosina-cinase de Bruton, 498-499
Teste de imunodifusão (ID) linfoides, 520 Título
para Histoplasma capsulatum, 396 Testes não treponêmicos, 66 de anticorpo, 262, 262n
radial, 533 na sífilis, 198 do espécime, 531-532
Teste de precipitação (precipitina), 531-534, Testes rápidos, para faringite estreptocócica , Títulos ASO, elevados, após infecções
531-532! 122 estreptocócicas, 122
precipitação em ágar e, 533, 533f Testes sorológicos, 531-539 TLR-4 (receptor semelhante ao Toll 4), 480-481
com campo elétrico, 534, 534f identificação virai por, 262, 263q TLR-5 (receptor semelhante ao Toll 5), 565-566,
precipitação em solução e, 531-533 para Entamoeba histolytica, 4 14 565-566t
Teste de proteção de camundongos, caso clínico, para tipagem HLA, 524 TLRs (receptores semelhante ao Toll), 480, 490
673-674 principais usos de, 531-532, 531-532t TNF. Ver Fator de necrose tumoral
Teste de redução do corante nitroazul de reações envolvendo antígenos de hemácias e, TNF-ex (fator ex de necrose tumoral), 504-505
tetrazólio, na doença granulomatosa crônica, 536-539 TNF-13 (fator 13 de necrose tumoral), 504-505
564-565 tipos de, 531-536 Tobramicina, usos clínicos de, 75t
Teste de Schick, 142 Testes treponêmicos, 65-66 Togavírus, 220-221!, 233t, 245, 315-316, 343t.
Teste de sepração de células ativadas por Tetania, na aplasia tímica, 562-563 Ver também Vírus da rubéola
fluorescência, 536, 536-537! Tétano, 33t-35t, 107, 136-138, 137f Tolerância, 488, 550-557, 551f
Teste de Weil-Felix, 161-162, 208, 210 Tetanospasmina. Ver Toxina tetânica à penicilina, 70
Teste de Widal, 155 Tetraciclinas. Ver também fármacos específicos célula B, 551
Teste DFA (anticorpo fluorescente direto), 606t estrutura de, 76, 76f célula T, 550-551, 550f
na sífilis, 197 mecanismo de ação de, 74t, 7 6 central, 550-551
no antraz, 136 resistência a, 88t, 89 doenças autoimunes e, 552-557, 552t
Teste diclorofluoresceína (DCF), 564-565 usos clínicos de, 75t, 158 indução de, 551-552
Teste do anticorpo heterófilo, 262 na terapia de combinação, 91 -92 periférica, 551
na mononucleose infecciosa, 291 quimioprofiláticas, 82t, 158 Tolerância central, 550-551
Teste do barbante, para Giardia lamblia, 415 TGF-13 (fator de crescimento transformante 13), Tolerância periférica, 551
Teste do laboratório de pesquisa em doenças células T e, 504 Tolnaftato, 386t
venéreas (VDRL), 65-66, 66, 198, 676-677 Ticarcilina, usos clínicos de, 72t Tombamento, de Listeria monocytogenes, 143
Teste FLU OIA, 307 Tifo Toxina ex
Teste FTA-ABS (absorção de anticorpo endêmica, 208, 209t, 21 O Clostridium perfringens, 43-44, 139
treponêmico fulorescente), 65-66, 198 epidêmica, 208, 209t, 21 O Staphylococcus aureus, 112
caso clínico, 676-677 fluvial, 208, 209t, 2 10 Toxina botulínica, 137-138
Teste 1D (imunodifusão) murina, 210 mecanismo de ação de, 42-43
para Histoplasma capsulatum, 396 Tigeciclina (Tygacil), 75t, 76 síntese de, 233
radial, 533 TILs (linfócitos infiltrantes de tumores), 559 Toxina colérica (colerágeno), 40-41t
Teste immunoblot, 536, 536-537! Timerosal (Merthiolate), 101 ADP-ribosilação por, 39-42, 42-43t
detecção de HIV por, 372 Timidina-cinase mecanismo de ação de, 42-43t
Teste Monospot, 262 codificada pelo vírus, 268 síntese de, 233
caso clínico, 671-672 herpes-vírus simples, 285 Toxina da síndrome do choque tóxico (TSST),
Teste para influenza QuickVue, 307 Timidina-cinase codificada por vírus, 268 43-44
Teste radioalergosorvente (RAST), 534, 544 Timo Staphylococcus aureus, 112
Teste rápido de reagina plasmática (RPR), 65-66 desenvolvimento de células T no, 487!, 488, Toxina de Escherichia coli, ADP-ribosilação por,
Teste respiratório da ureia, para Helicobacter 489! 39-42, 42-43t
pylori, 160 tolerância de células T no, 550, 550f Toxina diftérica, 4 1-42, 42-43t
Teste RPR (reagina plasmática rápida), 65-66 Timoglobulina, 525 ADP-ribosilação por, 39-41, 40-41!, 4 1-42,
Teste VDRL (Laboratório de pesquisa em Tinea capitis, 390-391, 391f 42-43t
doenças venéreas), 65-66, 198, 676-677 Tinea corporis, 390-391 mecanismo de ação de, 41-42, 42-43!
Teste Western blot, 372, 536, 536-537! caso clínico, 675-676 síntese de, 233
Teste ZSTATFLU, 307 Tinea cruris, 390-391 Toxina eritrogênica, 43-44, 233
Testes cutâneos Tinea nigra, 391 de Streptococcus pyogenes, 118-119
para Candida albicans, 402 Tinea pedis, 34-35t, 390-391 Toxina lábil, mecanismo de ação de, 42-43t
para Coccidioides immitis, 394-395 Tinea versicolor, 390-391 Toxina pertússis, 40-43t, 41-42, 44-45, 170-171
para competência de células linfoides, 520 Tinidazol, 600t, 608t Toxina Shiga (toxina do tipo Shiga)
para Histoplasma capsulatum, 396 Tintura de iodo, como antisséptico, 99-101 Escherichia coli 0157, 44-45
Testes de aglutinação, 531-532, 531-532! Tipagem tecidual, 523-524 Shigella, 156
no cólera, 158 Tipo sanguíneo Rh, doença hemolítica do recém- síndrome hemolítica-urêmica e, 44-45, 151-
para Salmonella, 64, 150 nascido e, 539, 539!, 539t 152
para Shigella, 64, 150 Tipos antigénicos Toxina termoestável (ST), 43-44
Testes de anticorpos EBV-específicos, 292 de poliovírus, 323 Escherichia coli, 151
Testes de fermentação de açúcares, 16, 144 virai, múltiplos, 250-251 Toxina termolábil (LT), Escherichia coli, 151
Testes de hemaglutinação, 535 Tipos sanguíneos, correspondência, 538 Toxina tetânica, 41-43, 137
identificação viral por, 261 Tipranavir (Aptivus), 265t, 270-271, 373t, 374 Toxinas, 34-37
Índice 783

bacterianas, 32. Ver também Endotoxina(s); cadeia de, 33 infecções de, 597-603
Exotoxina(s); toxinas específicas de doenças zoonóticas, 34-37, 34-37t apendicite, 601-602
fúngicas, 385, 387q horizontal e vertical, 33, 34-35t, 248 diarreia, 598-602
neutralização de, 476,507,5 17 modos de, 33, 33t, 34-37 diverticulite, 601-603, 602-603!
Toxinas do antraz, 40-43t, 43-44 portas de entrada e enterocolite, 598-602
Toxinas do cogumelo Amanita, 385 bacterianas, 33, 34-35t esofagite 597-598
Toxocara,409,457t virais, 248, 249t febre entérica, 602-603
Toxocara canis, 456, 458t, 471-472, 668-669,; Transmissão fecal, de Giardia lamblia, 414 febre tifoide, 602-603
682t Transmissão fecal-oral gastrenterite, 598-602
Toxoide diftérico, 143 de adenovírus, 297-298 microbiota normal de, 27-28t, 28, 29q, 118-
Toxoide pertússis, 96 de Campylobacter, 158-159 119, 214,400
Toxoide tetânico, 96, 138 de Cryptosporidium parvum, 4 17 no colo, 139, 14 1, 164,214, 216-217
Toxoide(s), 39-40. Ver também toxoides de ecovírus, 326 supressão antibiótica de, colite
específicos de Entamoeba histolytica, 41 1 pseudomembranosa devido à, 28, 42-43,
Toxoplasma, 4 l 2t, 42lt, 425-427 de Giardia lamblia, 414 77, 140, 140f
com imunodeficiências ou defesas do de poliovírus, 323 transmissão de Clostridium difficile e, 140
hospedeiro reduzidas, 686t de rotavírus, 328 Trato genital. Ver também Trato geniturinário
Toxoplasma gondii, 41 l t, 425-427, 426f-427f, de Shigella, 156 fêmea. Ver também Carcinoma cervical;
662-663,; 678-679 do vírus da hepatite A, 332 Vagina; Vaginite; Vaginose
doenças causadas por, 594-595 do vírus de Coxsackie, 325 microbiota normal de, 2 16, 400
na Aids, 371t Transmissão horizontal, 33, 248 infecções por Chlamydia trachomatis, 204-
reservatórios para, 682t de vírus tumorais, 354 206, 205t, 206f
transmissão de, 34-35t, 687t Transmissão iatrogênica, da doença de Trato intestinal. Ver Trato gastrintestinal
Toxoplasmose, 4 1 l t, 425-427, 429f Creutzfeldt-Jakob, 360, 362 Trato respiratório. Ver também distúrbios
caso clínico, 678-679 Transmissão perinatal, organismos transmitidos específicos
fármacos efetivos contra, 78 por, 687t bastonetes gram-negativos relacionados
Tpagem HLA, 523-524 Transmissão pessoa a pessoa, de Campylobacter, a, 105, 106-107t, 168-172, 168t. Ver
TPHA (ensaio de hemaglutinação do Treponema 158-159 também Bordetella pertussis; Haemophilus
pallidum), 198 Transmissão sexual influenzae; Legionella pneumophila
Tracoma, 205, 205t da hepatite B, 334 como porta de entrada
cegueira e, 205 do HIV, 368 bacteriana, 34-35t
Chlamydia trachomatis, 204 do vírus da leucemia de células T humanas virai, 249t
Transcrescimento, para cultura do trato genital, tipo 1, 355 defesas do hospedeiro não específicas em, 52
65-66 Transmissão transplacentária, 33, 34-35t, 687t doença causada por exotoxinas em, 42-43t
Transcriptase reversa de citomegalovírus, 289 epitélio da mucosa de, infecções por
do HIV, 366, 368 de IgG materna, 517 adenovírus e, 298
retrovírus e, 357 de Listeria monocytogenes, 143 infecções virais de
vírus da hepatite B e, 230, 231t, 334 de Plasmodium, 422 características de, 304t
vírus da imunodeficiência humana e, 23 1t de Toxoplasma gondii, 425 imunidade a, 258
Transcritos associados à latência (LATS), 236, 283 de Treponema pallidum, l 96 inferior
herpes-vírus simples, 285 de vírus, 248, 249t, 250-25 l t infecções de, 617-621
Transdução, 20-21, 20t, 22q, 22f, 233, 235f hepatite B, 334 infecções por adenovírus, 242-245, 298
generalizada e especializada, 20-21 do parvovírus B 19, 300 infecções por Pseudomonas aeruginosa,
Transdução especializada, 2 1 do vírus da rubéola, 315 162
Transdução generalizada, 20-21 Transmissão vertical, 33, 34-35t, 248 microbiota normal de, 27-28, 27-28t, 400
Transfecção, 21 de vírus tumorais, 354 papilomas de, papilomavírus humano e, 299
Transformação, 20t, 21 -22, 22q Transpeptidases, inibição de, 70 supen or
Transformação blástica de linfócitos, 520 Transplantação, 523-525 infecções de, 611-616, 61 l t
Transformação maligna, 348-349 imunossupressão e rejeição de enxertos e, 525- infecções pelo vírus de Coxsackie, 326
alteração das propriedades bioquímicas e, 349, 526, 525t infecções por adenovírus, 242-245, 298
349t proteínas do MHC e, 523 infecções por Haemophilus influenzae,
alteração das propriedades celulares e, 349, reação enxerto versus hospedeiro e, 524-525 168
349t rej eição de aloenxerto, 523 infecções por Streptococcus pneumoniae,
alteração do controle de crescimento e, 349, Transplante de órgão, 523-525 123
349t imunossupressão e rejeição de enxertos e, microbiota normal de, 2 14
alteração morfológica e, 348, 349t 525-526, 525t Trato sinusal, na actinomicose, 190, 191f
infecção virai e, 247-248, 349, 349t, 352-354, reação enxerto versus hospedeiro e, 524-525 Trato urogenital. Ver também Infecções do trato
353t-354t Transportador TAP, 494 urinário
papel dos vírus tumorais em, 349 Transposon(s), 10, l 0f, 18-19 como porta de entrada
Transfusões de sangue Trastuzumabe, 525t bacteriana, 34-35t
doadores universais de, 538, 538t Trato gastrintestinal. Ver também Colo virai, 249t
grupos sanguíneos ABO e reações de como porta de entrada microbiota normal de, 27-28t, 28-29
transfusão e, 536-539, 536-538!, 538t bacteriana, 34-35t Trauma
receptores universais de, 538, 538t virai, 249t micoses subcutâneas devido à, 391
Translocações, tumorigênese e, 351 defesa do hospedeiro não específica em, 53 transmissão deAcanthamoeba e, 437
Transmissão, 33-37, 49-50q. Ver também doença causada por exotoxinas em, 42-43t Trematódeos (Trematoda), 409, 449-454, 450t,
organismos específicos, doenças e rotas de epitélio da mucosa de, adenovírus 451!, 452!, 665-667r
transmissão infecções e, 298 de menor importância, 454
784 lodice

Twponerna. 106-107, o.ase-lados. caoo clfnico. 67 1-672 diagnóstico de.•66. 175


c-Jas...;ifica~o de. 105 Gia.rdia lantblia. 414. 416/ transmissão de. 1"3. 15-361
forma dc, 4/ Plasmodium. 420, 423/ \ acina contra. 951. 96. 177
1

Twponerna caroreum, 199 Tridtomonasvagbtalü, 417. 418/ Tumocigêncsc. oocogcoe.~cc.lularcs cm. 350+152.
Twponema pallidum, 1951, 196-198. 604, 604/. Trombocitopcoia. 555 151!
606:. 645,: 676-677 Ebolavfrus causador de. 377-378 "Turista." 151- 152
coloração de Grame. 81 na h.istopta.~mose~396 Twinrix. 333. 336
doeaça causada por. Vu S ífilis na sfndrome de Wiskott·Aldrich. 563-564 Tygadl (tigcciclioa). 751, 76
identificação de-. 65-66 na síndrome hcrnolftka-urêmica. 152 Tyi.cka (tc.lbivudina). 2651-2661, 270
lcsõcscuiãncascausadas por. 6871-6881 nocalazar. 432
propriedades de, 196 no h1pus erilCmatoso sistê-m.ico. 556
transmissão de.. 34-35,, 6..~7, parvovírus 8 19 caussdor de., 301 u
triagem sanguínea para. 33 Tromboxanas. e-m r~çõcs de hipersensibilidade. Úkerapépti~. 158-160
3TC (lamivudina). 265r-266r, W . 27 1-272t. 543 Úlce-ra(s)
372.373, Troph.tl)'ma whipplei,, 217 cutânea
Triatom.a. como .,.ctor de 7 ,:,pa,wsorna cn~ti, idcntificaçilodc-. 66 cancro. 196.43 1
428. 429f. 683, TRs (células T rcg_u!adoca.~}. 498499 chiclete. 434
Triatomfncos. transmissão de Trypa,wsoma cruti Tl)pano.f<»na brucei, 430-432. 431/-432/. 6831, na diftcriacuzllr.ca. 142
por. 428. 429/. 6831 6841 na dracuocu1fa.~c. 471
Tribos Forc da Nova C"1.'1iné, 361 Tl)·panosoma cru-ti. 4 11 r-4121, 4211. 428-430. na csporouioosc. 391
Trfr:hinella. 456, 457r 429/ -430/. 663-664, na lcishmaniosc. 434
ckfc:.asdo hospodeirocootra.511 -512 localização geográfica de. 6841 na sífilis. 196
Trich inella spiralü,. 465-468. 467/-468/. 586, na mioaudite. 586 noamrai.. 136
667-668r vetores paro. 6831 no caoccoide. 216
atividades que aumc-ntam a c.xpo.,;ição a. 6851 Tl)·panosoma gambie,ue. 4 1II-4121. 4211. 430- oral. na Aids. 3711, 396
rcscrvatócios para. 682, 432. 663-664, trato intestinal
transmissão de.. 34<l5r Trypanosoma rhodesieMe, 4 111-4121. 4211. 430- colite ukcrativa. 555-556
Trichom,onas, 81. 412r 432. 431/. 432t 663-664, ...cm forma de frasco." cm infecções por
Trichomona.r vagina/is, 41 l r. 417-418. 4 18/. 606- TSEs (cncda!o-patia.~cspongifocmcs Emamoeba hfrmlyrica. 411, 414/
600. 600-&J8f. <i08r. 609-610. 662-663, transmissfvd s). 223. 359-363. 3611. Wr 1amblnt úloeca péptica e Helif:obacter. 158-160
Trichophyton, 385. 390-39 1. 390-3911. 6881 Doença de Creutzfc.ld t-Jakob (CJD) Única difusão e-m precipitação cm ágar. 533
Tridtop/ry1on rubrum, 34-351, 390-39 1 TSS. \~r SCr..dromc do choque tóxico Ureaplasma ureal)'licmn. 194
Trichophywn schoenleinii. 390-39 1 TSST (toxina da sfr..dromcdo choque tóxico). Urca.~e
Trichop/ryton m,uura,u. 390-39 1 43.44 de ba.~tonctcs gram-ncgath"OS. 16 1
Trichurü. 4:56. 4571 S1aph)'/OCOCC1dOUrtUS, 112 de HeUcoba.crer. 158-159
Trichuris trichfara, 458-460, 461.f. 667~668r TSTA (antfge.no de transplante tumoc-e.~pcdfico). de Pro.teia, 161
Tricornonfase-. 215. 4 1lt. 417-418. 605-606. (ll]. 353 de Ureaplasma. 194
600/. 6081 Tubé« utos. cm lesões de Mycoba.cterüint Uretra. mkcobiota noema! de. 27-281, 29. 29q
Tricurfasc. 457r, 458-460 rubel'C'Ufosis. 182 Urettitc. 609-610
Trifluridina (triftooroómidina. Viroptic). 266r. Tuberculose Chlamydia trachomatiscausadoca de. 65-66,
267/. 269 diagnóstico de. 63-64 204. 206. 206/
Trime-toprima. 78-79. 181. 79/ Mycoba.ctedum bo,·is. 181 não gonocócka. 205-206
rcsistê-ncia à.. 89 ga.~trimcstinal. 35-361, 183 Neisseria gonorrhoeaecausadoca de. 131
Trimctoprima -sulfarnctoxazol. 627. 632 Mycoba.cterium 11tberr:ulosis. 180·185 síndrome de Reiter. 206. 557
rnc~ nisrno de açilodc.. 78--79 achadoo clínicos cm. 183. 183/ transmissão de. 34-351
quimiopcofi lático. 821, 153 a.~simomátka. 18"3 Uretritc-não gooocóci~ (NGU). Chlamydia
usos clfnicosck. 79. 115. 144. 153. 156, 6(1-). diagn&.tko laboratorial de. 183· 184 trachoma1i.~. 65-66. 205-206, 206/
6 10 epidemiologia de~ 18 1 Urina. cxc«ção de kptospira na. 20 l
Tripaoosomfar.e. 4 11,. 428-432 ga.~.rimcstinal. 183 Urticária.. 542. 5431
aftkaoa. 4 111. 4:30-432 imunidadeehipcrscnsibilidadc c. 182. 182/ Urticária.. cm reações de hipcrsc-nsibilidadc. 542.
ame-ricana.. 41 lt. 428-430 latcrstc. 184 543r
Tripaoossoma. 4:09. 428-432 miliar. 183
~ranjos programados cm. 19 oa Aid~.37 1,
Tripaoossomfase africana. 4111. 430-432 orofatfngca.. 183 V
Tripaoossomfase americar..a. 4111, 428-430 pa,ogêoe.~ de.. 181-182 Vaca(s). Ver Gado e vacas: LC-ice de \'aca
Tripomastig()(as, 409 prcv~oção de, 185 Vacina BCG (Bacilo Calmctte-Guérin). 95r, 96.
1'rypanosomo brucei, 430, 432/ renal 183 185
Trypanosomo cruzj, 428. 43(V rcsiste-nte a mõhip!Ck> fármacos. 18 1 paradocci. 559
Triquina. 409 transm.issilode.34+351. 181 tc.~tc cutâneo de tubcrculina e. 182
TriquinCk>e, 457r, 465-468 tratamento e resistência de.. 184-185 Vacina contra a enoc.falitcjaponc.sa. 276!
·1nsrno," 42-43. Ver tantbbn Tétano nó.mero decas(k. ck. 106-1071 Vacina contra Coxiella b:i-rne1ii. 951, 97
Trofo1.0ítos. 4:09 vacina cocura. 96 Vacina contra hepatite A. 2761
Babe.t ia micmri. 438. 438/ Tubcccu!ose ga.~trimcstinal. 183 Vacina contra hepiitite B. 2761, 333. 336
cm fonnato de anel. no interior das hemácia.~. Tubcccuklse miliar. 183 Vacina contra M)'r:obacreri1un bovis (BCG). 95t,
casoclfnko. 676--677 Tubeccu!or.eorofarfns~. 183 96.185
cm fonnato de lua crcscc-ntc, caoo clínico. 678- Tubcccu!ose rc-nal. 183 paradocci. 559
679 Tubos serminaii-..'OS. Ca,1dida albicans. 401.f. 4:02- tcste cu,ãnco da tubcrculina e. 182
R,uanweba hi.uoly,ica. 4 l O. 4: l 3/. 4 14 Tularemia. 175·176 Vacina contra Nei.ueria mehfogi1idú. 951. 96
Índice 785

Vacina contra o vírus da hepatite B, 334 antitoxinas como, 97 Vegetação aquática, transmissão por Fasciolopsis
Vacina contra Rickettsia prowazekii, 95t morta, 97 buski, 454
Vacina contra Rickettsia rickettsii, 97 polisscarídeo capsular, 11, 96 Vegetações, na endocardite, 121, 582, 583f
Vacina contra Salmonella typhi, 95t, 96 proteína purificada, 96 Veillonella parvula, 217
Vacina contra varicela (Varivax), 276t, 289 toxoide, 96 Veis mesentéricas, Schistosomiasis japonicum
Vacina contra Yersinia pestis, 95t, 97 viva, atenuada, 96-97 em, 449
Vacina da febre amarela, 276t, 346 Vacinas bacterianas mortas, 97 Verde malaquita, 101
Vacina de bacilo Calmette-Guérin (BCG), 95t, Vacinas bacterianas vivas, atenuadas, 96-97 Verme chicote. Ver Tricuríase; Trichuris
96,185 Vacinas conjugadas, 483 Verme da Guiné. Ver Dranunculus
para câncer, 559 Vacinas contra o vírus varicela-zóster, 289 Vermes. Ver também Helmintos; Loa;
teste cutâneo da tuberculina e, 182 Vacinas contra rotavírus, 276t, 329 Onchocerca; Wuchereria
Vacina de pólio reforçada (elPV), 324 Vacinas de DNA, 275 ovos de, na preparação de "fita adesiva", caso
Vacina diftérica, 95t, 96 Vacinas de polissacarídeos capsulares, 11 , 96 clínico, 673-674
Vacina DTaP (toxoide diftérico, toxoide tetânico Vacinas de toxoides, 96 Vermes filariais. Ver Loa; Onchocerca; Wucheria
e pertússis acelular), 96t, 143, 171 Vacinas para adenovírus, 276t, 298 Verotoxina. Ver Toxina Shiga
Vacina Gardasil, 299 Vacinas para influenza, 276t, 308, 620 Verruga peruana, 2 14
Vacina Menactra, 130-131 Vacinas para pólio, 276t, 324-325, 324t Verrugas. Ver Portas de entrada de condilomas;
Vacina MenAfrivac, 130-131 Vacinas pertússis, 171 Papilomas
Vacina meningocócica, 96t, 130-131, 483 acelular, 171 Verrugas genitais, 299, 299!
Vacina Menomune, 130-131 morta, 171 transmissão de, 34-35t
Vacina Menveo, 130-131 Vacinas proteicas purificadas, 96 Vesículas
Vacina MMR (sarampo, caxumba, e rubéola), Vacinas recombinantes, 239-241 herpes-vírus simples causador de, 285
276t, 280, 312 vírus de Coxsackie causador de, 326
vetores virais em, 238
Vacina para a doença de Lyme, 201 Vacinas virais, 274-277 vírus varicela-zóster causador de, 287
Vacina para antraz, 95t, 96 DNA, 275 Vetores, 34-37
Vacina para Bacillus anthracis, 95t, 96 imunidade ativa e, 274-275, 274t, 277q vírus como, 238
Vacina para Bordetella pertussis, 95t, 96
imunidade passiva e, 275-277, 277q Via alternativa da ativação do complemento, 527-
Vacina para caxumba, 312
subunidade, 274, 274t 528, 528f
Vacina para Clostridium tetani, 95t, 96
vírus mortos, 274-275, 274t, Via clássica de ativação do complemento, 527, 528f
Vacina para cólera, 95t, 158
vírus vivos atenuados, 275 Via da lecitina de ativação do complemento, 527-
Vacina para coqueluche, 95t
Vacúolos, no encéfalo, caso clínico, 677-678 528, 528f
Vacina para Corynebacterium diphtheriae, 95t, 96
Vagina Vibrio, 156-158
Vacina para febre Q, 95t, 97
colonização de Staphylococcus aureus, 112 classificação de, 106-107 t
Vacina para febre tifoide, 95t, 96
microbiota normal de, 27-28t, 28, 29q, 118- doenças causadas por, 147 , 147t, 156-157,
Vacina para Francisella tularensis, 95t, 96
119, 139,164, 217 156-157t
Vacina para Haemophilus influenzae tipo b, 95t,
Vaginite, 605-608, 608t forma de, 4f
96, 96t, 169, 483
Candida albicans, causadora de, 400 Vibrio cholerae, 146!, 156-158, 599, 599t, 639r
Vacina para o sarampo, 276t, 311
transmissão de, 34-35t caso clínico, 678-679
Vacina para o tétano, 95t
Trichomonas causador de, 417 doença causada por. Ver Cólera
Vacina para pneumonia, 95t
Vaginose, bacteriana enterotoxinas produzidas por, 44-45, 44-45f
Vacina para raiva, 276t, 318
Gardnerella vaginalis, 215 exotoxina de, 39-40, 40-42t, 4 1-42, 233
Vacina para rubéola, 27 6t, 316
Mobiluncus, 2 15 grupos de, 156-157
Vacina para sarampo, caxumba, e rubéola
(MMR), 276t, 280, 312 Vaginose bacteriana, 605-608, 608t, 609f ilhas de patogenicidade de, 38-39
Valaciclovir (Valtrex), 265t-266t, 268, 605, 606t transmissão de, 34-36t
Vacina para tifo, 95t, 97,211
Vacina para tuberculose, 95t Valganciclovir, 265t-266t, 268 Vibrio parahaemolyticus distinto de, 158
Valtrex (valaciclovir), 265t-266t, 268, 605, 606t Vibrio parahaemolyticus, 158, 640r
Vacina para varíola, 293
Vacina para Vibrio cholerae, 95t, 97 Vancomicina, 600t, 601-602, 625 doença causada por, 156-158, 156-157t
Vacina para zóster (Zostavax), 289 mecanismo de ação de, 73-74 identificação de, 64
Vacina pneumocócica, 96, 96t, 125, 483,612,620 resistência à, 87t, 89 propriedades de, 156-157
Vacina polissacarídica, 125 síndrome do "homem vermelho" e, 74 transmissão de, 35-36t
Vacina Sabin, 324, 324t usos clínicos de, 115, 118, 124, 141, 214, 579 Vibrio cholerae distinto de, 158
Vacina Salk, 324, 324t Variação antigênica Vibrio vulnificus, 158, 640r
Vacina toxoide diftérico, toxoide tetânico e de em Neisseria gonorrhoeae, 127 doenças causadas por, 156-158, 156-157t
pertússis acelular (DTaP), 96t, 143, 171 emTrypanosoma brucei, 430 fonte ambiental de, 684t
Vacina(s), 612. Ver também vacinas espec(ficas virai, 238 propriedades de, 156-157
bacterianas. Ver Vacinas bacterianas de HIV, 366-367 transmissão de, 35-36t
conjugadas, 483 Varicela, 252, 28 lt, 283t, 287, 288!, 304t Victrelis (boceprevir), 265t, 270-271
contra câncer, 356-357 imunidade à, 257 Vidarabina (adenina arabinosídeo, ara-A), 265t,
mutações atenuadas e, 238 lesões cutâneas de, 688t 266t, 268-269
para febre tifoide, 603 síndrome de Reye e, 288 Videx (didanosina), 265t-266t, 269, 372, 373t
pneumocócica, 612 Varivax (vacina para varicella), 276t, 289 VIG (imunoglobulinas contra vaccinia), 277,294
recombinante, 238-241 Vasculite, por riquétsia, 209 Vigilância, imunidade tumoral e, 559
toxoide, 39-40 Vazamento de líquido espinal, prediposição a Vigilância imune, 497
virais. Ver Vacinas virais infecções pneumocócicas e, 124 Violeta genciana, 101
vírus atenuados para, 250-25 1 VCA (antígeno do capsídeo virai), vírus Epstein- Viracept (nelfinavir), 265t, 270-271 , 373t, 374
Vacinas bacterianas, 95-97, 95t. Ver também Barr, 290-291 Viramune (nevirapina), 265t-266t, 270, 271-272t,
vacinas espec(ficas VDPV (poliovírus derivado vacinai), 325 373-374, 373t
786 Índice

Virazole (ribavirina), 265t-266t, 267!, 270,3 13, patogênese a nível celular e, 247-248, 252q Vírus da encefalite da Califórnia (CE), 242-244t,
618 patogênese em nível de paciente e, 248-253, 28 l t, 344t, 345-346, 656-657r
Viread (tenofovir), 265t-266t, 270, 373t 249t-25 1t, 252q-253q Vírus da encefalite de St. Louis (SLE), 242-245,
"Virilha pendente" na oncocercose, 470 evasão das defesas do hospedeiro e, 250- 344t, 345-346, 656-657 r
Vírions, 226, 333f 251 Vírus da encefalite equina Ocidental (WEE),
do vírus influenza, desnudamento de, 305 imunopatogênese e, 248-25 1 233t, 344, 344t, 656-657r
dos retrovírus, 357 infecções localizadas versus disseminadas Vírus da encefalite equina Oriental (EEE), 344,
envelopados, do vírus da hepatite B, 333 e, 248, 250-25 1! 656-657r
Viroides, 223 infecções persistentes e, 250-252, 253q epidemiologia de, 344t
Viroptic (trifluridina), 266t, 267!, 269 virulência e, 250-251 proteases de, 233t
Viroquinas, 250-251 príons versus, 223, 223t Vírus da encefalite j aponesa, 242-245, 380, 658-
Virulência receptores de superfície celular para, 227 659r
bacteriana, 32 recombinação de, 239 Vírus da febre amarela, 242-244t, 242-245, 346,
virai, 250-251 replicação de, 226-237 346t, 656-657r
Vírus, 600t, 648-659r. Ver também vírus ciclo de crescimento e. Ver Ciclo de localização geográfica de, 684t
específicos crescimento virai porta de entrada para, 249t
atenuados, 250-25 1 curva de crescimento virai e, 226-227, 226!, proteases de, 233t
bacterianos. Ver Bacteriófagos 236q-237q reservatórios para, 250-25 l t, 682t
capsídeos de, 220, 227 estágio inibido por fármacos antivirais, 265, vetores para, 683t
características comuns de, 219 265t Vírus da febre de Lassa, 245, 380
características essenciais de, 2t lisogenia e, 233-235, 234f-236f, 237q Vírus da febre do carrapato do Colorado (CTF),
categorização de, 279-281, 280t RNA, 230t, 242-244t 344t, 345-346
causadores de faringite, 614 dupla-fita, 230 Vírus da hepatite A (HAV), 242-244t, 242-245,
células comparadas a, 219, 219t envelopado, 242-245, 279-280, 280t, 303- 280, 280t, 322t, 323t, 331-333, 654-655r
células infectadas por 320, 650-654r. Ver também vírus de RNA achados clínicos em, 332-333, 332t
defesas do hospedeiro contra, 478-479, envelopados específicos diagnóstico laboratorial de, 333
479J estrutura de, 220, 220-221! epidemiologia de, 281t, 332
morte de, 476 fita simples, 230 imunopatogênese por, 249-25 1
classificação de, 242-246, 245q-246q helicoidal, envelopado, 242-245 porta de entrada para, 249t
como indutores de interferons alfa e beta, 255 icosaédrico, envelopado, 242-245 prevenção de, 333
como vetores, 238 não envelopado, 280, 280t, 322-329, propriedades de, 332, 332t
complementação de, 239, 239J 653-655r. Ver também vírus de RNA não proteases de, 233t
de menor importância médica, 377-382, 377- envelopados específicos replicação de, 332
378t replicação de, 228-232, 230t-233t, 232!, replicação genômica em, 232t
defectivos, 223, 239, 242-244 306-307 resposta imune a, 332
distúrbios autoimunes e, 553, 553t tumoral, animal, 355t, 357 transmissão de, 34-35t, 332
DNA, 229t, 242-245. Ver também vírus de síndrome de Reye e, 307 tratamento de, 333
DNA específicos sorotipos de, 222-223 Vírus da hepatite A;
envelopados, 242-244, 279, 280t, 282- superantígenos de 222 Vírus da hepatite B (HBV), 229t, 242-243t, 242-
295, 648-65lr. Ver também vírus de DNA tamanho de, 4, 5f, 220, 220-221!, 224q 245, 279, 333-337, 655-658r
envelopados específicos transmissão de, envelope e, 222 achados clínicos em, 332t, 335
estrutura de, 220, 220-221! virulência de, 250-251 câncer associado a, 334, 356
icosaédricos, envelopados, 242-244 Vírus atenuados, 250-251 como possível vírus tumoral humano, 356
não envelopados, 279, 280t, 297-301, Vírus bacterianos complementaridade em, 232, 233t
650-65lr. Ver também vírus de DNA não CTX, 158 diagnóstico laboratorial de, 335-336, 335!, 336t
envelopados específicos ligação de, 227 doença causada por
replicação de, 228-229, 228!, 229t transdução e, 20-21, 20t, 22f crônica, 252
tumoral, animal, 355t, 357-358 Vírus BK, 242-243t, 242-245, 30 1, 377-378 infecção por HIV com, tratamento de, 335
doença causada por, mais comuns, 281, 28lt Vírus Borna, 377-378 neonatal, transmissão de, 34-35t
doenças lentas com, 252 Vírus Bunyamwera, 245 replicação do vírus da hepatite D e, 254
envelope de, 220, 222-223, 224q Vírus Cache Valley, 377-378 tratamento de, 270-271, 336
formas de, 220, 220-221!, 224q Vírus CE (encefalite da Califórnia), 242-244t, epidemiologia de, 28lt, 334
genética de, 238-241, 239-24lq 28lt, 344t, 345-346, 656-657r eventos relacionados a hospitais como fatores
infecções de portadores crônicos com, 252 Vírus Chikungunya, 377-378 predisponentes a infecções por, 685t
infecções latentes com, 252, 287 Vírus CTF (febre do carrapato do Colorado), imunidade a, 334-335
infecções persistentes com, 250-252 344t, 345-346 imunopatogênese por, 249-25 1
instabilidade de, 222 Vírus da caxumba, 242-244t, 245, 280, 280t, inibidores de, 270, 273q
lesões cutâneas causadas por, 688t 304t, 31 0t, 312, 65 l-652r patogênese de, 334-335
lise de células infectadas por vírus e, 258 porta de entrada para, 249t porta de entrada para, 249t
mistura fenotípica de, 239, 240f Vírus da coriomeningite linfocítica (LCM), 242- prevenção de, 336-337
mRNA de, 231q 244t, 245,249,258, 380-381 propriedades de, 332t, 333-334, 334f
mutações causadas por, 19 Vírus da dengue, 242-244t, 242-245, 346-347, replicação de, 334
mutações em, 238-239 346t, 656-657r replicação genômica em, 232t
neutralização de, 258, 476 localização geográfica de, 684t transcriptase reversa e, 230, 231t, 334
nomes de, 3 porta de entrada para, 249t transmissão de, 34-35t, 250-25 1t, 334, 687t
nu, icosaédrico proteases de, 233t Vírus da hepatite C (HCV), 242-244t, 242-245,
DNA, 242-244 reservatório para, 250-25 1t 280, 280t, 337-339, 655-657r
RNA, 242-245 vetores para, 683t câncer associado a, 337, 338, 355
índice 787

diagnóstico laboratorial de, 338 replicação genômica em, 232t doenças causadas por, 290, 291!, 356. Ver
doença causada por, 281t Vírus da varíola bovina, 38 1 também Mononucleose infecciosa
achados clínicos em, 332t, 338 Vírus da varíola do macaco, 382 encefalite e, 593
crônica, 252 Vírus de Coxsackie, 242-245, 280, 280t, 304t, evasão imune por, 250-25 1
infecção por HIV com, tratamento de, 339 322t-323t, 325-326, 653-655r mecanismo, 250-251t
tratamento de, 270-271, 338 caso clínico, 672-673 latente, 291
epidemiologia de, 337 lesões cutâneas causadas por, 688t ligação de, 227
eventos relacionados a hospitais como fatores meningite e, 590 naAids, 371t
predisponentes a infecções por, 685t na miocardite, 586 porta de entrada para, 249t
imunopatogênese por, 249-251 proteases de, 233t transmissão de, 34-35t, 291
inibidores de, 270-271 Vírus de DNA. Ver Vírus, DNA Vírus fibroma-mixoma, 358
patogênese de, 337-338 Vírus de encefalites. Ver também vírus específicos Vírus Hantaan, 379
porta de entrada para, 249t de encefalites Vírus Heartland, 379
prevenção de, 338-339 reservatórios para, 250-251t, 683t Vírus Hendra, 379
propriedades de, 332t, 337 vetores para, 683t Vírus influenza, 230, 230t, 242-244t, 245, 248,
proteases de, 233t Vírus de hepatites, 331-340. Ver também vírus de 279, 280t, 303-309, 304t, 305t, 650-652r
replicação genômica em, 232t hepatites específicos comparação com outros vírus que afetam o
resposta imune a, 337-338 marcadores sorológicos para, 3 31t trato respiratório, 304t
transmissão de, 250-251t, 337, 687t não A, não B, 337. Ver também Vírus da complementaridade em, 231, 233t
Vírus da hepatite D (HDV, vírus da hepatite hepatite C; Vírus da hepatite D; Vírus da evasão imune por, 250-251
delta), 232t, 242-244t, 245, 249t, 332t, 339, hepatite E mecanismo, 250-251t
339!, 655-657r propriedades de, 332t fármacos efetivos contra, 266t, 270-271
Vírus da hepatite E (HEV), 242-244t, 242-245, Vírus de RNA. Ver Vírus, RNA forma e tamanho de, 303
280, 280t, 332t, 339-340, 656-657r Vírus defectivos, 223 H3N2, 308-309
Vírus da hepatite G (HGV), 340 replicação de, 239 H5Nl, 308-309
Vírus da imunodeficiência humana. Ver HIV
Vírus diploides, 230
H7N9, 309
(vírus da imunodeficiência humana) mRNA de, 23 lq
HIV como, 365
Vírus da imunodeficiência símia (SIV), 367 nomenclatura para, 306
Vírus do macaco B, 379
Vírus da influenza aviária, 250-251 t, 308-309 pneumonia causada por, 619t, 620
Vírus do molusco contagioso (MCV), 242-243t,
vacina contra, 309 porta de entrada para, 249t
242-245, 294-295, 294!, 650-65 1r
Vírus da leucemia, 245 replicação genômica em, 232t
Vírus do Oeste do Nilo (WNV), 242-244t, 242-
Vírus da leucemia de células T humanas (HTLV), reservatórios para, 683t
245, 281t, 344t, 345-346, 656-657r
230t, 242-244t, 245, 280, 280t, 318-320 transmissão de, 34-35t
Vírus do sarampo, 230, 230t, 242-244t, 245,280,
como vírus tumoral, 354-355 tratamento de, 270-271
280t, 304t, 310-311, 310t, 651-652r
diagnóstico laboratorial de, 320 vírus influenza A, 303, 304t, 305!, 306-309,
complementaridade em, 231, 233t
porta de entrada para, 249t 306f
doença causada por. Ver Sarampo
proteases de, 233t aviário, 308-309
evasão imune por, 250-251
replicação genômica em, 232t H5N l , 303
mecanismo, 250-251t
tipo 1, aquisição exógena de, 354-355 pandemias causadas por, 303-305
panencefalite esclerosante subaguda e, 360t,
tipo 2, 318, 320, 354-355 suíno (Hl N l , S-OIV), 303,309
361
transmissão de, 34-35t, 250-251t vírus influenza B, 303, 304t, 305-306
porta de entrada para, 249t
Vírus da raiva, 230, 230t, 242-244t, 245, 280, vírus influenza C, 303, 304t
replicação genômica em, 232t
280t, 317-318, 3 17!, 652-654r Vírus influenza de origem suína (S-OIV), 309
atividades que aumentam a exposição a, 685t sorotipo de, 222 Vírus influenza H l Nl, 250-251t, 308. Ver
características clínicas de, 305t Vírus do sarcoma, 245
também Vírus influenza aviário
caso clínico, 676-677 Vírus do sarcoma de Rous, 350 Vírus influenza H5Nl, 308-309. Ver também
complementaridade em, 231, 233t Vírus do tumor do macaco de Yaba, 358 Vírus influenza aviário
disseminação sistêmica de, 248 Vírus EEE (encefalite equina Oriental), 344, Vírus influenza H7N9, 309. Ver também Vírus
ligação de, 227 656-657r influenza aviário
porta de entrada para, 249t epidemiologia de, 344t Vírus Jamestown Canyon (JCV), 380
replicação genômica em, 232t proteases de, 233t Vírus JC, 242-243t, 242-245, 301, 657-658r
reservatórios para, 250-251t, 682t Vírus envelopados doenças causadas por, 358, 360, 360t
transmissão de, 34-35t, 317 DNA, 279, 280t, 282-295, 648-651,: na Aids, 371t
Vírus da rubéola, 242-244t, 245, 280, 280t, 304t, Ver também vírus de DNA envelopados Vírus Junin, 382
315-316, 316!, 651-653r específicos Vírus La Crosse, 345-346
doenças causadas por, 305t, 315 icosaédrico, 242-244 Vírus LCM (coriomeningite linfocítica), 242-
imunidade a, 258 helicoidal, 242-245 244t, 245, 249, 258, 380-381
lesões cutâneas de, 688t icosaédrico, 242-245 Vírus lentos, 657-658r
porta de entrada para, 249t RNA, 279-280, 280t, 303-320, 650-654,: Vírus linfotrófico de células T humanas (HTLV),
portadores crônicos de, 252 Ver também vírus de RNA envelopados 653-654r, 656-657r
proteases de, 233t específicos Vírus Lujo, 380
replicação genômica em, 232t Vírus Epstein-Barr (EBV), 232t, 242-243t, Vírus Machupo, 382
tolerância a antígenos de, 258 242-245, 290-293, 304t, 614, 614!, 649-650,; Vírus Marburg, 242-244t, 245,381
transmissão de, 250-251t, 3 15, 687t 656-658r Vírus Mu, 19
Vírus da varíola, 229t, 242-243t, 242-245, 276t, associação com câncer, 283-284, 290-291, 292 Vírus não envelopados
293-294,381,649-651r características de, 283t, 290 DNA, 279, 280t, 297-301, 650-65 l r. Ver
doença causada por, 293 como possível vírus tumoral humano, 356 também vírus de DNA não envelopados
erradicação da, 293-294 diagnóstico laboratorial de, 292, 292f específicos
788 lodice

RNA. 280. 280t, 322-329, 653-655r. \~r vaci.nacocura c!lnoec e. 356-357 X


tambbn vl11d de RNA ndo em·elopados Vírus tumoraiscm animais. 355r, 357-358 Xantlto1no,1as maltopllilia. \~r S1tno1mplwmm1a.t
espedfico.t c!lnoec humano e.• 356--35"7 maltopllilia
Víruit Kipah. 381 DNA. 355r, "357-358 Xenodiagóstico. 429
Vírui. Korwal.k. \tr Norovírus RNA. 3551, 357 Xcnocnxenos. 523
Vírus nus. ioosn&!:rkos Vírus \.bccfoia. 229r, 294 Xigris (proteína C-afü'tlda). para choque séptico.
DNA. 242-244 evasão imune por. 25~251 4647
RNA. 242-245 mecanismo. 250-25lt
Víruit Orf. 381 lig~!ío de. 227
Víruit pami,ifli•em.a. 245. 279. 280/, 3041. 313- Vírus \1arice-la-zóster(VZV). 2321. 242-2431. 242- y
314. 61 Ir. 615, 652-65:Jr 245, 287-289. 304!, 648--650, Yet.finia, 601-602
doct1ça.,; causadas por. 313 carac:tcrfsticas de. 283, dassificaçãode.106+107r
e,,;pfculas do cnvdope. 3 JOl ca.<;od ínico. 675-676 doençascaumt.ss por. 147. 1471-1481. 555.
tipo 1. 615 células gigantes multinudeadas e-. 283. 287 557
Vírus Pseu.docowpcx. 381 com imunodc.ficiências ou dc.fcsa<; do Yer,finia e,ueror:olitica, 35-371, 64. 217-218.
Vírus re.,;piratórios. 248,279, 28(k \~rtamblm h~pcdc.iro reduz.idas. 6861 599r-600r. 648-M9r
\'{rus es.pedficos russe-minaçào sistêmica de. 248 Yet.finia pes1i.t, 176-177. 643r
Vírus Sabia. 382 doença,; causadas por. \~, Varicela: Zóstc1 doença causada por. 'kt Peste
VírusSin Nombre. 245. 342. 379. 658-659r latente-. 252. 287 fatores de virulência de supc:rffcie de, 34-37.
VfrussinciciaJ re.,;piratório (RSV). 242-2441, 245. lesões cut!lnca.<; causada.<; por. 688r 38-39!
279. 280/, 313, 652-653r na Aids. 3"71r injcc:t(k.somos de. 40-41
bronqufofüc. por. 6 l 8 porta de-entrada pt1ra. 249r resc,.,.atótios para. 682.r
caractcrlsticas clfnk~!t de, 305r, 3 13 Vírus Visna. 245 transmissão de. 34.37,
csp!culas do cnvdope de. 3 HN Vírus Wh.itewatcr Arroyo. 342. 382 \'C~orcs para 683r
C,\ '«IIOS relacionados a hospitais como fatoccit Vírus Zika. 382 Yet.fbiia p.feudm1tbtrr:ul0Jis. 217-218
prcdispoocntcs a iniccçõcs por. 685r VJSA (Srapl1ylococc1d aullu.t intemicdiário à Yops (protefnascxtema.<; de Yer.tinia). 38-39, 176
fármacos c.foti-..-oscootra. 2661 \'tlncomicina). 111. 115
pneumonia causada poc.6191
ponadectnrada para. 2491
Visna. 363
Vistide (cidofo\·i..r). 265,-2661', 268
z
Zalci,abina. 269
replicação gcnômka c-m. 2321 Vitra\'cne (fomivirscn). 2651. 270-271
Zanamivir (Rek-nza). 265r, 270-271. 307-309
Vírus SLE (c-ncefalitedeSt. Louis). 242-245, Votutina. 9
Vômito ZAP· 70. na imunodcficifoda combinada severa.
3441. 345-346. 656-657r 563,564
Vírus SV40, 301. 357 cm i.níccçõcs por Vibdo parallatnwlyricu.t. 158
z«it(cs,avudina). 2651-266!. 269. 372. 3731
comam.inação da \1acina de poliovírus com. gastrite e. 598
Ziase-n (abacavir). 265t+266r, 269. 372. 373r
325 Voriconazol. 81
cfcit~ ad\•ersos de. 3861' Zidovudina (azidotimidina. AZT. Rcu-ovir).
inativar;ão do gene supprcs!iOr de tumor e. 352·
265r-266r, 267/. 269. 271-mr. 372. 373r
353 mocanismodeação de. 3861
VRE(eamooocos re.<Qstcmcs à 1,--aocomkina). 77. Zigomicose. 'kr Mococmicose
Vírus tumorais. 348-358
89, 118. 122 Zigósporos. 384
animais. 3551. 357-358
Zonadecqui\'aU!f!cia. 531 -532
com genoma de DNA. 656--658r VRSA (Srapltylococr:us aitte1t.1 rcsistentc.s à
Zona de excesso de antioorpo. 531 -532
com genoma de R.'l"A. 656-657r \'tlncomici.n:a). 111. 115
de,<;fecho da infecção por. 352-354. 3531-3541 Zona de excesso de antígeno. 531-532
Vulvo\1aginite. por clindida. no diabc-tes me.füo.
Zosta\'8X (\'acina para zós.er). 289
endógenos. 354 57
Zóstcr. 252. 287-288. 288.f. 3041. 6881
genes ccMarcs de mi<:ro-RNAs e. 352 VZJG (imunoglobulina cootra va.rkcla-1.óstcr).
genes supressores de tumor oelulare.<; e. 352 m.289 caso clfnico. 675-676
VZV. \~, Vírus varice-la-1.óstcr naAids. 3711
humanos. C'Vidê-ncia para. 354-356
Zovirax (aci<:-Jovir). 265-268. 2651-2661,
ind\1.7.e-m a rt-plicação. 354
oocogeoe..<; e. 350-352 267/-268/. 271-2721. 606r
provírus e. 350
w mecanismo de a,;-ão de., 285
transformação maligna de células e. 247-249, WEE (vírus da cnce.falite cquina Ocidental) . 2331, para doença da tiloeca genital. 605
349!, 352-354. 3531-3541 344. 344,. 65-6-6571' para cnoc-falite. 594
WNV (vftus do Oeste do Kilo). 242-2441, 242· para infecções pelo herpes-vírus simples l.
alteração das propriedades bioquímicas e.
349.~9, 245, 28lr, 344,. 345-346. 656-6571' 287
'M)/bacltio. 217. 468 profilático. para o v(rus varkcla-1.óstcr. 288
alteração das propriedades celulares e. 349. 2)'\'0X (linczolida)
Witd1eYeda, 456. 451t458t
3491
infecções por \fülbacllia e. 217 mecanismo de a,;-ão de. 741. 77
alteração do controle decccscime-ntoe. 349.
i½ta1eYen·a bancmfti, 468-410, 469/-470/. 668- usos clínicos de. 751. 122
3491
669,
alteração morfológica e. ~8. ~9,
pape.} dos \'Í!US tumorais c-m. 349 vetores para. 6831
\fulbadlia e. 468
transmissão de. 354

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