Você está na página 1de 42

Cálculo Diferencial

e Integral III
Material Teórico
Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.a Dr.a Ana Lúcia Nogueira Junqueira
Prof. Me. Carlos Henrique de Jesus

Revisão Textual:
Prof.a Me. Luciene Santos
Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

• Introdução;
• Campos Vetoriais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar as noções de campos vetoriais e operadores vetoriais,
como gradiente, rotacional e divergente.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Contextualização
Nesta unidade, nosso foco é o Cálculo Vetorial. Por isso perguntamos: que aplica-
ções temos sobre o tema? Então, veja alguns fenômenos que geram campos vetoriais.
Todos já devem ter visto uma cena como esta, nem que tenha sido na TV, ou
numa foto, ou num filme.

Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images

São raios comuns em dias de temporais. Um raio é uma descarga elétrica de


grande intensidade que ocorre na atmosfera entre regiões eletricamente carregadas,
que pode ser no interior da nuvem, entre nuvens, ou ainda entre nuvem e terra.
O raio costuma vir acompanhado do relâmpago, que é uma intensa emissão de
radiação eletromagnética, também visível, e do trovão (som estrondoso), além de
outros fenômenos.
Como fenômenos de alta energia, os raios manifestam-se, usualmente, como
um trajeto extremamente luminoso que percorre longas distâncias, às vezes, com
ramificações. A grande variação do campo elétrico das descargas na troposfera
pode dar origem a eventos luminosos na alta atmosfera.

Experiência realizada com a Gaiola de Faraday


Homem no interior da Gaiola de Faraday fica livre da ação de campo elétrico
causado por agente externo.
Explor

https://goo.gl/uB6CmY

O avião e o carro também funcionam como uma Gaiola de Faraday, tanto que,
quando atingidos por uma descarga elétrica como um raio, o seu interior fica livre da
ação do campo externo, ou seja, blindado, por isso seus passageiros não são atingidos.

8
Campo Elétrico: Fluxo de Corrente Elétrica

Figura 2
Fonte: efisica.if.usp.br

Quando uma corrente i passa por um condutor, ela produz um campo magné-
tico. O condutor fica situado dentro desse campo magnético produzido pela sua
corrente. Esse campo produz no próprio condutor um fluxo Φ. Se a corrente for
variável, o seu campo é variável e o fluxo também será. E o condutor, sendo atra-
vessado por um fluxo variável, sofre indução eletromagnética.

Campo magnético

Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images

9
9
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Representação do campo magnético

Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images

Figura 5
Fonte: ifserv.fis.unb.br

As primeiras observações de fenômenos magnéticos são muito antigas. Acredi-


ta-se que essas observações foram realizadas pelos gregos, em uma cidade denomi-
nada Magnésia. Eles verificaram que existia um certo tipo de pedra que era capaz
de atrair pedaços de ferro.

Magnésia

Figura 6
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

10
Quando se fala de magnetismo, que é um ramo da ciência que estuda os mate-
riais magnéticos, que possuem a capacidade de atrair ou repelir outros materiais, o
primeiro nome que vem à mente é o de Tales de Mileto, que foi o primeiro a estu-
dar a capacidade que uma substância tem de atrair outra, sem existir contato entre
elas. Contudo, na Antiguidade, os chineses já
possuíam o conhecimento de alguns desses
materiais e os usavam em bússolas para se
orientar quando se deslocavam em missões
militares, uma vez que a bússola se orienta,
segundo o eixo terrestre.

A bússola foi, então, a primeira aplicação


prática dos fenômenos magnéticos. A bússo-
la é constituída de um pequeno ímã em forma
de losango, chamado agulha magnética, que
Figura 7
pode movimentar-se livremente. Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

O Ímã Terra
A Terra se comporta como um grande ímã, cujo polo magnético norte é próximo
ao Polo Sul geográfico e vice-versa. Os polos geográficos e magnéticos da Terra
não coincidem.

Sul
geográfico Norte
geográfico

Sul
geográfico
Norte
geográfico

Figura 8
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

11
11
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Sabemos que o Sol é a estrela do nosso sistema solar e que emite milhões de
partículas por segundo para todas as direções do espaço. Percebemos essas ra-
diações eletromagnéticas, também chamadas de ventos solares, na forma de luz e
calor. A quantidade de radiação que chega a Terra é menor por conta da proteção
exercida pelo campo magnético terrestre, que interage com as radiações eletro-
magnéticas, fazendo tanto que sejam freadas quanto desviadas de sua trajetória
original. Por isso a Terra se comporta como um ímã gigante.
O primeiro a afirmar que a Terra é um ímã gigante
foi o cientista Willian Gilbert, por meio de uma expe-
riência simples que pode, facilmente, ser comprovada:
ao colocar um ímã suspenso livremente pelo seu centro
de gravidade, é possível observar, em repetições diver-
sas do experimento, que o ímã sempre se orientava na
direção norte-sul, concluindo, portanto, que realmente
a Terra era um ímã.

A experiência de Oersted
Em 1820, o físico dinamarquês Hans Christian
Oersted notou que uma corrente elétrica fluindo atra-
vés de um condutor desviava a agulha magnética colo- Figura 9
cada na extremidade. Fonte: Wikimedia Commons
Explor

https://goo.gl/XwmrkH

Substâncias magnéticas:
• Ferromagnéticas: são aquelas cujos imãs ele-
mentares se orientam quando submetidos à ação
do campo magnético gerado por um corpo mag-
nético, como o ferro, níquel, cobalto e algumas
ligas metálicas.
• Diamagnéticas: são aquelas cujos ímãs elementa-
res se orientam em sentido contrário ao do vetor
de indução magnética, sendo, portanto, repelidas Figura 10 – Magnetita:
pelo ímã que criou o campo magnético, como o o ímã natural
bismuto, o cobre, o ouro, a prata, o chumbo etc. Fonte: Wikimedia Commons

12
Força magnética
Se uma carga de prova q estiver em movimento,
ela gera um determinado campo magnético. Toda-
via, se essa mesma carga elétrica estiver se movimen-
tando dentro de uma região de campo magnético,
o campo gerado por ela irá interagir com o campo
existente, ficando a carga q sujeira à ação de uma
força de origem magnética. É o que ocorre quando
aproximamos um ímã de um tubo de raios catódi-
cos, o feixe de elétrons dentro do tubo é desviado
de sua posição original.

O mesmo fenômeno ocorre quando aproxima-


mos da TV o ímã de um alto-falante. A imagem sofre
uma alteração. Na verdade, a tela da TV é um TRC
– tubo de raios catódicos –, e a imagem é formada Figura 11
por um feixe de elétrons que varre a tela. Fonte: ifserv.fis.unb.br

A representação visual do Campo Magnético é feita através de Linhas de Campo


Magnético, também conhecidas por Linhas de Indução Magnética ou ainda por
Linhas de Fluxo Magnético, que são linhas envoltórias imaginárias.
As linhas de campo magnético são linhas fechadas que saem do pólo norte e
entram no polo sul.

Figura 12
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

13
13
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Explor
O sentido do vetor Densidade de Campo Magnético é sempre o mesmo das linhas de
campo. A figura mostra as linhas de campo magnético usando limalha de ferro e bús-
sulas indicando o ação da força magnética e a direção tangente para o Vetor Densidade
de Campo Magnético: https://goo.gl/3b2TeP

Fluxo magnético
O Fluxo magnético, simbolizado por ϕ, é definido como o conjunto de todas
as linhas de campo que atingem perpendicularmente uma dada área. A unidade
de Fluxo Magnético é o Weber (Wb). Um Weber corresponde a 1x108 linhas do
campo magnético.

O A

N S

Figura 13

Fluxo sanguíneo

Figura 14
Fonte: Adaptado de John E. Hall e Arthur C. Guyton, 2011

O método mais utilizado para medida ou aferição (ou mensuração) da pressão


arterial é baseado nos sons de Korotkov, um médico russo que os observou e des-
creveu em 1905. Esse método baseia-se na ausculta, por meio de um estetoscópio,
de sons produzidos dentro de um vaso sanguíneo. Normalmente, o fluxo de sangue
em um vaso é considerado laminar, o sangue percorre o interior do vaso em ca-
madas sem a produção de ruídos ou sons passíveis de serem auscultados (ouvidos)
através de um estetoscópio. Por outro lado, quando o fluxo de sangue em um vaso
é interrompido, ao ser liberado este fluxo trona-se turbilhonar. Ou seja, o sangue
percorre o interior do vaso produzindo oscilações na direção do fluxo, como ondas
bem agitadas. Este fluxo turbilhonar produz ruídos ou sons passíveis de serem aus-
cultados (ouvidos) através de um estetoscópio.

14
A - LAMINAR

∆ P = V R1

B - TURBULENTO

∆ P = V 2R2

C - TRANSICIONAL

∆ P = V R1 + V 2 R1

Figuras 16
Figuras 15 Fonte: totaleye.org

Figura 17 – Turbulência provocada em virtude de protuberâncias em vasos sanguíneos

Campo Gravitacional
Campo gravitacional é como chamamos a região de perturbação gravitacional
que um corpo gera ao seu redor. Dois corpos que possuem massa interagem devido
ao campo que geram ao seu redor. Em outras palavras, um corpo que possui massa
tem sua atração exercida sobre outros corpos, representada pelo campo vetorial
conhecido como campo gravitacional.

Lei da Gravitação Universal


De acordo com a lei da gravitação universal, a força gravitacional que é sentida
por um corpo é diretamente proporcional ao valor de sua massa gravitacional.

15
15
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Representação do campo gravitacional da Terra

Figura 18
Fonte: mac.edu

Campo gerado por um magnetar

Figura 19
Fonte: eso.org

Usando o Very Large Telescope do ESO, astrônomos europeus demontraram


pela primeira vez que um magnetar – um tipo incomum de estrela de nêutrons com
alto valor de campo magnético – foi formado a partir de uma estrela com, pelo
menos, 40 vezes mais massa que o Sol. O resultado apresenta grandes desafios para
as atuais teorias de como as estrelas evoluem, uma vez que de uma estrela massiva

16
era esperado que se tornasse um buraco negro, não um magnetar. Isso, agora,
levanta uma questão fundamental: quão enorme é que uma estrela, realmente, tem
que ser para se tornar um buraco negro?

Movimento dos fluidos


Dinâmica de fluidos é o ramo da ciência aplicada que se preocupa com o movi-
mento dos líquidos e gases. É um dos dois ramos da mecânica dos fluidos, que é o
estudo de fluidos e como as forças os afetam. O outro ramo é a estática dos fluidos,
que trata dos fluidos em repouso. Cientistas, em vários domínios, estudam a dinâ-
mica de fluidos.
Explor

https://goo.gl/xkX9FQ

A dinâmica de fluidos fornece métodos para o estudo da evolução das estrelas,


correntes oceânicas, padrões climáticos, placas tectônicas e até mesmo a circula-
ção sanguínea.

Algumas importantes aplicações tecnológicas da dinâmica dos fluidos incluem os


motores de foguetes, as turbinas eólicas, os oleodutos e os sistemas de ar condicionado.

Espaço-tempo turbulento gera redemoinhos de gravidade

Figura 20 – Quando dois buracos negros Figura 21 – As ondas gravitacionais


se encontram, podem acontecer coisas muito poderão validar ou não a hipótese
mais dramáticas do que se acreditava dos redemoinhos de gravidade
Fonte: docplayer.org Fonte: phys.org

17
17
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Representação de alguns campos vetoriais


Campos de velocidade
Vetores velocidade ao redor de um escoamento ao redor de um aerofólio em um
túnel de vento. Fumaça de querosene tornam visíveis as linhas do fluxo.

Figura 22

Velocidade do vento registrada em 1978 pelo satélite SEASAT da NASA, em


350 mil tomadas de medidas sobre os oceanos do mundo, onde se nota uma
tempestade na Groenlândia.

Figura 23
Fonte: Thomas, 2004

18
Campo gradiente

Figura 24
Fonte: Vilches; Corrêa, 2005

Figura 25
Fonte: Vilches; Corrêa, 2005

Campo rotacional

Figura 26
Fonte: Vilches; Corrêa, 2005

19
19
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Campo de vetores divergentes com uma esfera de teste no centro

Figura 27

Ilustramos, aqui, forças magnéticas que geram campos magnéticos de atração


ou repulsão. Também abordamos a Lei de Gravitação Universal de Newton, sob
a qual corpos exercem uma força atrativa sobre suas massas na razão inversa do
quadrado da distância entre eles. A associação de vetores de força com pontos no
espaço é chamada de campo gravitacional. Ideia similar surge no fluxo de fluidos,
submetidos à velocidade de fluição, em cada ponto da camada fluida, o fluido tem
certa velocidade e cuja associação de vetores é chamada de campo de velocidades.

O tema subjacente da unidade é o conceito de fluxo. O que estudaremos tem a


ver com o ramo da Matemática que se preocupa com a análise de vários tipos de
fluxos, como o fluxo de um fluido, ou o fluxo da eletricidade. Vale lembrar que os
primeiros textos de Cálculo de Newton traziam a noção de fluxões e fluentes, que
tem como raiz o termo em latim fluere (fluir).

20
Introdução
Vale lembrar que funções vetoriais associam um vetor a um número real e que
essas funções são úteis para representar curvas, ou movimentos ao longo de uma
curva. Agora, vamos estudar outros tipos de funções vetoriais que associam um
ponto do plano ou do espaço a outro ponto do plano ou espaço. Tais funções se
chamam campos vetoriais e são úteis para representar vários tipos de campos,
como campos de forças, de velocidade, entre outros.

Campos Vetoriais
A figura, a seguir, mostra campos vetoriais de padrões dos ventos na Bahia de
São Francisco, nos Estados Unidos, em março de 2010.

Figura 1
Fonte: Stewart, 2012

Na figura seguinte, uma representação das forças de sustentação da asa de um


avião no ar e o respectivo campo de vetores do movimento do ar.

Figura 2 – a. Fluxo de ar verdadeiro pela asa, mostrando o upwash e o downwash |


b. Direção do movimento do ar em torno de uma asa como vista por um observador em terra
Fonte: Adaptado de sbfisica.org.br

21
21
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Definição 1: Um campo vetorial num plano é uma função que associa a cada
ponto P do plano um único vetor F(P) paralelo ao plano. Analogamente, um cam-
po vetorial no espaço tridimensional é uma função que associa a cada ponto P
do espaço tridimensional um único vetor F(P) do espaço.

Observe que a definição não faz referência a um sistema de coordenadas, entre-


tanto, para fins de cálculo, é usualmente desejável introduzir um sistema de coorde-
nadas, de modo que se possa designar as componentes vetoriais. Especificamente,
se F(P) for um campo vetorial em um sistema de coordenadas cartesianas XY,então
o ponto P terá coordenadas (x, y) e o vetor associado terá componentes neste
mesmo sistema de coordenadas. Assim, o campo F(P) pode ser expresso como
 
F ( P ) = f ( x, y ) i + g ( x, y ) j .

Analogamente, se P tiver coordendas (x, y, z), o vetor F(P) será expresso como
  
F ( P ) = f ( x, y, z ) i + g ( x, y, z ) j + h ( x, y, z ) k .
 
Exemplo 1: Um campo vetorial sobre 2 está definido por F ( x, y ) = −yi + xj .
Esboce alguns de seus vetores.
 
Resolução: Como F (1, 0 ) = j , desenhamos o vetor j com início no ponto

(1, 0). E como F ( 0,1) = − i desenhamos o vetor − i com início no ponto (0,1).
Continuando   este processo alguns pontos do plano, montamos a tabela, onde
( a, b ) = ai + bj .

(x, y) F (x, y) (x, y) F (x, y)


(1, 0) <0, 1> (–1, 0) <0, –1>
(2, 2) <–2, 2> (–2, –2) <2, –2>
(3, 0) <0, 3> (–3, 0) <0, –3>
(0, 1) <–1, 0> (0, –1) <1, 0>
(–2, 2) <–2, –2> (2, –2) <2, 2>
(0, 3) <–3, 0> (0, –3) <3, 0>

A seguir, a figura traz o desenho desses vetores.

y
F (0,3) F (2,2)

F (1,0)
0 x

Figura 3
Fonte: Adaptado de Stewart, 2012

22
Vale observar que o desenho de cada vetor (seta) é tangente à circunferência
com centro na origem.
 Para confirmar isso, vamos 
calcular

o produto escalar do
vetor posição r = xi + yj com o vetor F ( x, y ) = −yi + xj .
   
( )( )
r.F ( x, y ) = xi + yj . − yi + xj = − xy + yx = 0

Isso demonstra que F(x, y) é ortogonal à r e, portanto, é tangente à circunferência


com centro na origem e raio r = x + y . Vale também notar que, neste caso,
2 2

F ( x, y ) = ( −y )
2
+ x 2 = x 2 + y2 = r

De modo que a magnitude (valor escalar) do vetor F(x, y) é igual ao raio da


circunferência naquele ponto. Isso tem importância, porque para desenhar um vetor
em escala, necessitamos do seu comprimento (valor escalar), direção e sentido.

Alguns sistemas algébricos computadorizados são capazes de ilustrar campos


vetoriais em duas ou três dimensões, proporcionando uma representação do campo
vetorial que nem sempre é possível à mão, porque o computador pode trazer um
número bem maior de vetores, mesmo que finito. Mas, nem sempre em escala
real, costuma ser em escala proporcional à magnitude verdadeira, o que permite
ter uma boa ideia de como se comportam esses campos de vetores. Entretanto,
representações gráficas de campos vetoriais requerem uma quantidade grande de
vetores e, portanto, um volume substancial de cálculos, de modo que, em geral, são
gerados por métodos computacionais, como os da figura seguinte.

Figura 4
Fonte: Anton, 2007

O campo vetorial em (a) poderia descrever a velocidade da corrente num córre-


go em várias profundidades: no fundo do córrego, a velocidade é zero, mas a cor-
rente aumenta à medida que a profundidade diminui, sendo que pontos à mesma
profundidade têm a mesma velocidade.

23
23
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

O campo em (b) poderia descrever a velocidade


em pontos de uma roda em movimento: no centro
da roda, a velocidade é nula e aumenta com a dis-
tância do centro, sendo que pontos à mesma distân-
cia do centro têm a mesma velocidade.

O campo vetorial em (c) poderia descrever a força


de repulsão de uma corrente elétrica, quanto mais
perto da carga, maior a força repulsora.

Já a figura (d) mostra um campo vetorial no espa-


ço tridimensional. Tais figuras tendem a ser confusas
e, portanto, de menor valor que representações grá-
ficas de campos vetoriais no espaço bidimensional.
Note que os vetores de (b) e (c) estão fora de escala,
seus comprimentos foram reduzidos para maior cla- Figura 5
reza. Normalmente, esse é o recurso adotado. Fonte: Anton, 2007

Exemplo 2: Esboçar o campo vetorial sobre R3 dado por F ( x, y, z ) = zk .

Resolução: Observe que todos os vetores são verticais, apontam para cima
para pontos acima do plano XY e, para baixo, para pontos abaixo do plano XY. A
magnitude dos vetores aumenta com a distância do ponto ao plano XY. Confira a
representação gráfica na figura que segue.

y
x

Figura 6
Fonte: Stewart, 2012

Esboçar esse campo vetorial à mão é possível, até porque sua fórmula é bastante
simples. Entretanto, para os três campos vetoriais seguintes, que são tridimensionais,
é necessário recorrer a um sistema computacional.

24
Figura 7
Fonte: Stewart, 2012

Exemplo 3: Vamos esboçar alguns vetores do campo vetorial dado por


 
F ( x, y ) = 2 xi + yj .

Resolução: Para este campo vetorial, os vetores de igual comprimento estão


sobre a curva dada por F ( x, y ) = (2x )
2
+ y2 = c ⇒ 4 x2 + y2 = c , que são elipses.
 
Para c = 1 desenhamos vários vetores 2xi + yj com magnitude 1 em pontos da
elipse 4x2 + y2 = 1.
 
Para c = 2, desenhamos vários vetores 2xi + yj com magnitude 2 em pontos
da elipse 4x2 + y2 = 4.

Veja a figura a seguir. Nesse caso, não é conveniente sobrepor muitos vetores,
como por exemplo, desenhar os vetores com ponto de aplicação em mais uma
elipse além destas duas. Isto tornaria confusa a representação do campo. O esboço
é importante para termos uma ideia de como o campo se comporta.

Campo vectorial:
F (x, y) = 2xi + yj
Figura 8
Fonte: Larson; Edwards, 2010

25
25
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Exemplo 4: Esboçar alguns vetores do campo de velocidade dado por:



v ( x, y, z ) = (16 − x2 − y2 ) k

Onde x2 + y2 ≤ 16.

Resolução: Podemos imaginar que v descreve a velocidade de um fluido através


de um tubo de raio 4. Os vetores próximos ao eixo Z são maiores do que os
que estão próximos da borda  do tubo. Por exemplo, no ponto (0,0,0) o vetor 
velocidade é v ( 0, 3,0 ) = 16k . No ponto (0,3,0), o vetor velocidade é v ( 0, 3,0 ) = 7k .
O esboço está na figura a seguir.

Campo de velocidades:
v(x, y, z) = (16 – x2 – y2)k
Figura 9
Fonte: Larson; Edwards, 2010

Uma classe importante de campos vetoriais surge no processo de calcular gradientes.

Definição 2: Campos gradientes.

Se f é uma função de três variáveis, então o gradiente de f é definido como:

∂f  ∂f  ∂f 
∇f ( x, y, z ) = ( x, y, z ) i + ( x, y, z ) j + ( x, y, z ) k
∂x ∂y ∂z

Essa fórmula define um campo vetorial no espaço tridimensional, denominado


campo gradiente de f. Analogamente, uma função de duas variáveis define um
campo gradiente no plano.

26
Vale ressaltar que, em cada ponto, em que o gradiente não for nulo, o vetor
aponta na direção em que é máxima a taxa de crescimento de f.

Em notação sintética, o operador diferencial gradiente é:

 ∂   ∂   ∂  
∇ =   i +   j +  k
 ∂x   ∂y   ∂z 

Exemplo 5: Encontre o campo gradiente de f(x, y, z) = xyz.

Isto é simples, pois já trabalhamos com o vetor gradiente e vamos encontrar o


gradiente através da definição, calculando as derivadas parciais, assim:
∂f  ∂f  ∂f 
Definição: ∇f ( x, y, z ) = ( x, y, z ) i + ( x, y, z ) j + ( x, y, z ) k
∂x ∂y ∂z

Cálculo das derivadas parciais:

∂ → ∂ → ∂ → → → →
∇f ( x, y, z) = ( xyz) i + ( xyz) j + ( xyz) k ⇒ yz i + xz j + xy k
∂x ∂y ∂z
  
Então, temos que o campo gradiente de f é ∇f ( x, y, z ) = yzi + xzj + xyk .

Exemplo 6: Esboçar o campo gradiente de f(x, y) = x + y.


 
O gradiente de f é ∇f ( x, y ) = i + j . Dessa forma, todos os vetores (com ponto de
aplicação em cada ponto do plano) têm mesma direção e sentido, com magnitude
 
i + j = 12 + 11 = 2 .

Já vimos que o gradiente de uma função é ortogonal às curvas de nível da


função, no caso, x + y = k, k constante, que consiste em uma família de retas com
declividade m = –1, cada uma delas cruzando o eixo Y no ponto (0,k). Segue uma
representação desse campo gradiente.

2
x
2 4 6

Figura 10
Fonte: Adaptado de Anton, 2007

27
27
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Definição 3: Campos vetoriais conservativos.

Um campo vetorial se diz conservativo se existe uma função diferenciável f tal


que F = ∇f .

A função f se chama função potencial para F.

Exemplo 7: O campo vetorial do exemplo 3 é conservativo. Para comprovar,


1 2
seja a função f ( x, y ) = x2 + y .
2
Cálculo das derivadas parciais:

∂ 2 1 2 → ∂ 2 1 2 → → 1 → → →
∇f ( x, y ) = (x + y ) i + ( x + y ) j ⇒ 2 x i + .2y j ⇒ 2 x i + y j ⇒
∂x 2 ∂y 2 2
 
Assim, ∇f = 2 xi + yj , então o campo é conservativo.

Exemplo 8: Os campos gravitacionais são definidos pela Lei de Gravidade


de Newton, que estabelece que a força de atração exercida em uma partícula de
massa m1 localizada no ponto (x, y, z), por uma partícula de massa m2, localizada
em (0,0,0), é dada por:

−Gm1m2
F ( x, y, z ) = u
x + y 2 + z2
2

Onde G é a constante gravitacional e u é o vetor unitário na direção da origem


ao ponto (x, y, z). Na figura a seguir, pode-se ver um campo gravitacional, em que
todo vetor F(x, y, z) é radial apontando para a origem e cuja magnitude é a mesma
em todos os pontos equidistantes da origem. Um campo vetorial com essas duas
propriedades se chama campo de forças centrais.

Figura 11
Fonte: Larson; Edwards, 2010

28
  
Utilizando o vetor posição r = xi + yj + zk para o ponto (x, y, z), podemos
expressar o campo gravitacional F como:

−Gm1m2  r  −Gm1m2
F ( x, y, z ) = 2   = 2
u
r r r

Os campos de forças elétricas definidos pela Lei de Coulomb, em expressão


semelhante:

−Gq1 q2  r  −Gq1 q2
F ( x, y, z ) = 2   = 2
u
r r r

Tanto os campos gravitacionais, quanto de forças elétricas podem ser escritos de


forma simplificada, sendo k uma constante:

k
F= 2
u
r

Tal campo de forças se chama um campo quadrático inverso.

Além disso, campos quadráticos inversos são conservativos, uma vez que
−k
F ( x, y, z ) = ∇f ( x, y, z ) para a função f ( x, y, z ) = para (x, y, z) ≠ (0,0,0).
x 2 + y 2 + z2
Verifique!

Teorema 1: Critério para campos vetoriais conservativos no plano.

Sejam M e N duas funções com derivadas  parciais


 primeiras contínuas em um
disco aberto D. O campo vetorial F ( x, y ) = Mi + Nj é conservativo se, e somente se,

∂N ∂M
=
∂x ∂y

Demonstração: Vamos mostrar que essa é uma condição necessária. En-


tão, suponhamos F conservativo,
 
isto implica que existe uma função f tal que
F ( x, y ) = ∇f ( x, y ) = Mi + Nj . Então, temos:

∂M
fx ( x, y ) = M ⇒ fxy ( x, y ) =
∂y

∂N
fy ( x, y ) = N ⇒ fyx ( x, y ) =
∂x

Como as derivadas parciais primeiras são contínuas, temos:

∂N ∂M
fxy ( x, y ) = fyx ( x, y ) ⇒ =
∂x ∂y

29
29
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Vamos mostrar que a condição é suficiente mais à frente, quando estudarmos o


Teorema de Green.

Exemplo 9: Verifique se os campos vetoriais são conservativos ou não.


 
1. F ( x, y ) = x2 yi + xyj
 
2. F ( x, y ) = 2 xi + yj

Resolução:
   M = x2 y M = x
2

1. F ( x, y ) = x2 yi + xyj ⇒  ⇒ y ⇒ M y ≠ N x ⇒ F portanto,
N = xy N x = y
não é um campo conservativo.

  M = 2 x My = 0
2. ( x, y ) = 2 xi + yj ⇒  ⇒ ⇒ M y = N x ⇒ F portanto, é um
N = y N x = 0
campo conservativo.

Importante! Importante!

O Teorema 1 permite decidir se um campo é conservativo ou se não é. Entretanto, não


nos diz como encontrar uma função potencial de F. Às vezes, podemos encontrar uma
função potencial por simples inspeção, como no caso do exemplo 3, no qual a função
1  
f ( x , y ) = x + y tem a propriedade de ∇f ( x , y ) = 2xi + yj .
2 2

 
Exemplo 10: Encontrar uma função potencial para F ( x, y ) = 2 xyi + ( x2 − y ) j .

Resolução: Vamos primeiro verificar se F é conservativo.

∂ ∂
[2xy] = 2x e  x2 − y  = 2x . Logo, F é conservativo.
∂y ∂x
 
Se f é uma função potencial de F, então ∇f ( x, y ) = F ( x, y ) = 2 xyi + ( x − y ) j
2

Isto implica que: fx(x,y) = 2xy e fy(x,y) = x2 – y.

Para reconstruir a função f destas derivadas parciais, vamos integrar fx(x,y)com


relação à x e fy(x,y) com relação à y, como segue:

f ( x, y ) = ∫ fx ( x, y ) dx = ∫ 2 xy dx = x2 y + g( y )

y2
f ( x, y ) = ∫ fy ( x, y ) dy = ∫ (x − y ) dy = x2 y − + h( x)
2

30
Note que g(y) é constante em relação à x e h(x) é constante em relação à y. Para
encontrarmos uma só expressão que represente f(x,y) seja:

y2
g (y) = − e h(x) = k (constante)
2
y2
Então, podemos escrever: f ( x, y ) = x2 y + g( y ) + k ⇒ x2 y − +k
2
Para verificar, é só formar o gradiente de f e você mesmo pode verificar que é
igual ao gradiente original.

Definição 4: Rotacional de um campo vetorial.


  
O rotacional de F ( x, y, z ) = Mi + Nj + Pk é:

 ∂P ∂N    ∂P ∂M    ∂N ∂M  
rot F ( x, y, z ) = ∇ × F ( x, y, z ) =  − i − − j + − k
 ∂y ∂z   ∂x ∂z   ∂x ∂y 

Nota: Se rot F = 0, então dizemos que F é um campo irrotacional.

A notação de produto vetorial usada no rotacional provém de ver o gradiente ∆f


como resultado do operador diferencial ∇ que atua sobre a função f. Nesse contex-
to, utilizamos a seguinte forma de determinante como ajuda mnemotécnica para
recordar a fórmula do rotacional.

i j k
∂ ∂ ∂  ∂P ∂N    ∂P ∂M    ∂N ∂M  
rot F ( x, y, z ) = ∇ × F ( x, y, z ) = = − i − − j + − k
∂x ∂y ∂z  ∂y ∂z   ∂x ∂z   ∂x ∂y 
M N P

Exemplo 11: Encontre o rotacional do seguinte campo de vetores:


  
F ( x, y, z ) = 2 xyi + ( x2 + z2 ) j + 2yzk . E ainda responda:F é irrotacional?

Resolução: O rotacional de F é dado por:

rot F ( x, y, z ) = ∇ × F ( x, y, z )
i j k i j k
∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ 
∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂  
= = = ∂y ∂z i − ∂x ∂y j + ∂x ∂y k
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
x2 + z2 2yz 2 xy 2yz 2 xy x2 + z2
M N P 2
2 xy x + z 2yz 2

     
= ( 2z − 2z ) i + ( 0 − 0 ) j + ( 2 x − 2 x ) k = 0 i + 0 j + 0k = 0

Como rot F = 0, F é irrotacional.

31
31
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Explor
Qual o significado físico e geométrico do rotacional?
O significado físico está ligado às forças conservativas. Por exemplo, se o rotacional de uma
força for nulo, podemos calculá-lo por meio do gradiente da energia potencial associada a
essa força. Calculando em seguida o trabalho dessa força num caminho fechado, veremos
que o mesmo é nulo, ou seja, não depende do caminho, o que é uma característica de forças
conservativas. Vamos falar sobre o trabalho realizado por uma força mais à frente. Um
exemplo importante é o rotacional do campo magnético, que é diferente de zero, ou seja,
não conservativo e que nos conduz à lei de Ampère. Logo, não existe uma energia potencial
magnética nesses moldes.
O significado geométrico está ligado a uma curvatura dos campos, isto é, a uma medida
de quanto, os campos de força, por exemplo, se desviam do seu fluxo principal. Seja, por
exemplo, um fluxo de linhas de campo. Se neste campo, todas as linhas seguem seu fluxo
principal sem se desviar, o rotacional é nulo (campo de força central – força elétrica). Agora,
por exemplo, se algumas linhas formam pequenos redemoinhos ao longo de seu fluxo, o
rotacional será diferente de zero (campo de força não central – força magnética).

O uso primário do rotacional está na seguinte prova para campos vetoriais


conservativos no espaço. O seguinte critério estabelece que, para campos vetoriais,
cujo domínio seja todo espaço tridimensional ou um conjunto aberto do espaço
tridimensional (como uma esfera aberta), o rotacional é nulo em cada ponto do
domínio se, e somente se, o campo F for conservativo.

Teorema 2: Critério para campos vetoriais conservativos no espaço.

Suponhamos que M, N, P tenham derivadas parciais contínuas numa esfera


  
aberta Q no espaço. O campo dado por F ( x, y, z ) = Mi + Nj + Pk é conservativo
se, e somente se, rot F (x,y,z) = 0.

Em outras palavras, F é conservativo se, e somente se:

∂P ∂N ∂P ∂M ∂N ∂M
= , = e =
∂y ∂z ∂x ∂z ∂x ∂y

O Teorema 2 é válido para domínios simplesmente conexos do espaço. Um domínio sim-


Explor

plesmente conexo no plano ou no espaço é um domínio D para o qual cada curva simples
fechada em D pode ser reduzida a um ponto em D sem sair de D: https://goo.gl/erbo2y

  
Exemplo 12: Verifique se o campo F ( x, y, z ) = ( x 3 2
y z ) i + ( x 2
z ) j + ( x 2
y ) k é con-
servativo ou não.

Resolução: Vamos encontrar o rot F.

32
i j k
∂ ∂ ∂ ∂  ∂ ∂ 
∂ ∂ ∂ 
rot F = = ∂y ∂z i − ∂x ∂z j + ∂x ∂y k
∂x ∂y ∂z 3 2 2
3 2 2 2
2
x z x y 2
x y z x y x y z x2 z
3 2

x y z x z x y
  
= ( x2 − x2 ) i − ( 2 xy − x3 y2 ) j + ( 2 xz − 2 x3 yz ) k
 
= ( x3 y2 − 2 xz ) j + ( 2 xz − 2 x3 yz ) k ≠ 0

Portanto, o campo de vetores F não é conservativo.

Para os campos vetoriais no espaço que satisfazem o critério do Teorema 2 e,


portanto, são conservativos, pode-se encontrar uma função potencial, seguindo
o mesmo modelo utilizado para campos conservativos do plano, como vimos no
exemplo 10.
  
Exemplo 13: Vimos que o campo F ( x, y, z ) = 2 xyi + ( x + z ) j + 2yzk é irrota-
2 2

cional (exemplo 11), portanto, pelo Teorema 2, esse campo é conservativo. Assim
sendo, encontre uma função potencial f tal que F ( x, y, z ) = ∇f ( x, y, z ) .

Resolução: Sabemos que existe uma função potencial de F, suponhamos f uma


função tal que F ( x, y, z ) = ∇f ( x, y, z ) Isso garante que:

fx(x,y,z) = 2xy, fy(x,y,z) = x2 + z2 e fz(x,y,z) = 2yz

Podemos, então, integrar f em relação a x, y e z e, assim, obtemos:

f ( x, y, z ) = ∫ M dx = ∫ 2 xy dx = x2 y + g ( y, z )
f ( x, y, z ) = ∫ N dy = ∫ ( x + z ) dy = x y + yz + h ( x, z )
2 2 2 2

f ( x, y, z ) = ∫ P dz = ∫ 2yz dz = yz + k ( x, y )
2

Comparando as três equações, podemos concluir que:

g(y,z) = yz2 + k h(x,z) = C k(x,y) = x2y

Assim: f(x,y,z) = x2y + yz2 + C, C constante


  
Conferindo: ∇f ( x, y, z ) = 2 xyi + ( x2 + z2 ) j + 2yzk .

Observação: Para encontrar a função potencial, pode-se também integrar uma


derivada parcial e depois derivar em relação as outras duas variáveis e acertar as
contantes. Dessa forma, nesse caso, poderíamos também resolver assim:

Integrando f em relação a x obtemos: f ( x, y, z ) = ∫ M dx = ∫ 2 xy dx = x y + g ( y, z )


2

33
33
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Agora, derivando em relação a y, temos:

fy(x,y,z) = x2 + gy(x,y) = N ⇒ gy(x,y) = z2 ⇒ g(y,z) = yz2 + h(z)

Portanto, f(x,y,z) = x2y + yz2 + h(z) e, agora, derivando em relação a z temos:

fz(x,y,z) = 2yz + h’(z) = P ⇒ h(z) = C = constante

Logo: (x,y,z) = x2y + yz2 + C, C constante.

Vimos aqui o rotacional de um campo vetorial. Outra função importante definida


num campo vetorial é a divergência, que é uma função escalar.

Definição 5: Divergência de um campo vetorial


 
A divergência de F ( x, y ) = Mi + Nj é assim definida:

∂M ∂N
div F ( x, y ) = +
∂x ∂y
  
A divergência de F ( x, y, z ) = Mi + Nj + Pk é assim definida:

∂M ∂N ∂P
div F ( x, y, z ) = + +
∂x ∂y ∂z

Se div F = 0, dizemos que F tem divergência nula.

Também para a divergência temos uma expressão que usa a notação do produto
escalar entre o operador diferencial ∇ e o campo F, a saber:

Em notação sintética: div F = ∇ ⋅ F

rot F (x,y,z) = ∇ × F (x,y,z)


div F (x,y,z) = ∇ ⋅ F (x,y,z)

Exemplo 14: Calcular a divergência do campo vetorial


  
F ( x, y, z ) = x2yi + 2y3zj + 3zk .

Resolução: Pela definição, identificamos M = x2y, N = 2y3z e P = 3z.

Então: div F = 2xy + 6y2z + 3

34
Explor
A divergência pode ser vista como um tipo de derivadas de um campo vetorial F, uma vez
que para campos de velocidades de partículas mede o ritmo e fluxos de partícula por uni-
dade de volume em um ponto. Em hidrodinâmica, que é o estudo do movimento dos flui-
dos, um campo de velocidades de divergência nula se chama incompressível. No estudo de
eletricidade e magnetismo, um campo vetorial de divergência nula se chama soleinodal.

Observe que tanto o div F quanto o rot F dependem do ponto em que estão
sendo calculados e, portanto, são escritos mais apropriadamente div F (x,y,z) e rot
F (x,y,z). Entretanto, mesmo que estas funções sejam escritas em termos de x, y,
z, pode-se provar que seus valores dependem do ponto, mas não do sistema coor-
denado selecionado. Isso tem importância nas aplicações, pois pemite a físicos e
engenheiros calcular o rotacional e a divergência de campos vetoriais em qualquer
sistema de coordenadas conveniente.

Exemplo 15: Mostre que é nula a divergência do campo de quadrado inverso


a seguir:
  
F ( x, y, z ) =
c
3 ( xi + yj + zk )
(x 2
+ y2 + z )
2 2

Resolução: Os cálculos podem ser obtidos mais facilmente se usarmos coorde-


1

nadas cilíndricas, ou seja, r = ( x2 + y2 + z2 ) 2 e expressando o campo assim:


  
cxi + cyj + czk cx  cy  cz 
F ( x, y, z ) = 3
= i + 3 j+ 3k
r3 r r
(x 2
+ y2 + z )
2 2

∂r x ∂r z ∂r y
=
Portanto, temos que ∂x = r , ∂y r e ∂z = r e, portanto:

 ∂  x  ∂  y  ∂  z 
div F = c   3  +  3  +  3  
 ∂x  r  ∂y  r  ∂z  r  

Mas, pela regra da cadeia, temos:

x
1.r 3 − x ( 3r 2 )  
∂ x  r  = 1 − 3x
2

 3=
(r 3 )
2
∂x  r  r3 r5

Pela similaridade das equações:

∂  y  1 3y 2 ∂  z  1 3 z2
  = − e  = − 5
∂y  r 3  r 3 r5 ∂z  r 3  r 3 r

35
35
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Substituindo na expressão da divergência:

 3 3 x 2 + 3 y 2 + 3 z2   3 3r 2 
div F = c  3 − 5  = c 3 − 5  = 0
r r  r r 

Teorema 3: Relação entre divergência e rotacional:


  
Se F ( x, y, z ) = Mi + Nj + Pk é um campo vetorial e M, N, P tem segundas deri-
vadas parciais contínuas, então:

div (rot F) = 0

Demonstração: Já sabemos que dado um campo vetorial G, div G = ∇ ⋅ G,


portanto: div (rot F) = ∇ ⋅ (rot F). Também sabemos que:

 ∂P ∂N    ∂P ∂M    ∂N ∂M  
rot F =  − i − − j + − k
 ∂y ∂z   ∂x ∂z   ∂x ∂y 
 ∂   ∂   ∂  
∇ =   i +   j +  k
 ∂x   ∂y   ∂z 

Portanto, o produto escalar do operador diferencial ∇ pelo campo vetorial rot F é:

∂  ∂P ∂N  ∂  ∂P ∂M 
∇ ⋅ ( rot F ) =
 − −  − 
∂x  ∂y ∂z  ∂y  ∂x ∂y 
∂2 P ∂2 N ∂2 P ∂2 M ∂2 N ∂2 M
= − − + + −
∂x∂y ∂x∂z ∂y∂x ∂y∂z ∂z∂x ∂z∂y
 ∂2 P ∂2 P   ∂2 N ∂2 N   ∂2 M ∂2 M 
= −  + − + + −  = 0+0+0 =0
 ∂x∂y ∂y∂x   ∂x∂z ∂z∂x   ∂y∂z ∂z∂y 

Esta última igualdade se justifica porque M, N, P sendo funções escalares de três


variáveis com derivadas parciais segundas contínuas, então suas derivadas parciais
segundas mistas são iguais. E, assim, demonstramos o teorema.

Propriedades envolvendo esses operadores e campos vetoriais:

Sejam F e G campos vetoriais e f uma função escalar. Então, supondo as deri-


vadas parciais requeridas contínuas, valem:
1. rot(F + G) = rot F + rot G
2. rot(∇f) = ∇ × (∇f) = 0
3. div(F + G) = div F + div G
4. div(F × G) = (rot F) ⋅ G – F ⋅ (rot G)
5. ∇ × [∇f + (∇ × F)] = ∇ × (∇ × F)
6. ∇ × (fF) = f(∇ × F) + (∇f) × F
7. div(fF) = f div F + ∇f ⋅ F
8. div(rot F) = 0 (Teorema 3)

36
Explor
O Laplaciano ∇2
O operador que resulta aplicando-se o operador “del” sobre si mesmo, denotado por ∇2 , é
chamado operador Laplaciano e tem a forma:
∂2 ∂2 ∂2
∇2 = ∇ ⋅ ∇ = + +
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2

Quando aplicado a F, o operador laplaciano produz a função:


∂2F ∂2F ∂2F
∇2 F = + +
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2

Note que ∇2F também pode ser expresso como div(∇F). A equação ∇2F = 0, conhecida
como equação de Laplace, pode ser expressa assim:
∂2F ∂2F ∂2F
+ + =0
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2

Essa equação diferencial parcial desempenha importante papel numa variedade de aplicações,
resultante do fato de ser satisfeita pela função potencial do campo de quadrado inverso.

Pierre Simon Laplace, matemático e físico francês, é


referido, às vezes, como o Isaac Newton francês, por
causa de seu trabalho em Mecânica Celeste, no qual
resolveu problemas extremamente difíceis, envolvendo
interações gravitacionais entre planetas. Em particu-
lar, foi capaz de demonstrar que nosso sistema solar é
estável e não está sujeito ao colapso catastrófico como
resultado dessas interações. Esse problema era crucial
na época porque a órbita de Júpiter parecia estar en-
colhendo e a de Saturno expandindo. Laplace mostrou
que essas eram anomalias periódicas esperadas. Além
do exitoso trabalho em Mecânica Celeste, Laplace fun-
dou a Teoria da Probabilidade moderna, mostrou junto
com Lavoisier que a respiração é um tipo de combustão
e desenvolveu métodos que desbravaram muitos ra-
mos da matemática pura. É classificado como um dos Pierre Simon Laplace (1749-1827)
matemáticos mais influentes da história. Fonte: Wikimedia Commons

37
37
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Cálculo (George B.Thomas Junior, vol.2)
Outra indicação: Capítulo 16 do livro Cálculo (George B.Thomas Junior, vol.2), de
Maurice D.Weir, Joel Hass, Frank R. Giordano São Paulo: Addison Wesley, 2009.

Vídeos
Univesp – Cálculo III – Aula 08 – Campos em R³, Gradiente, Divergente, Rotacional (parte 1)
https://youtu.be/Cfbtycn1nWs
Univesp – Cálculo III – Aula 09 – Campos em R³, Gradiente, Divergente, Rotacional (parte 2)
https://youtu.be/Vx9KK5YqrY0
Univesp – Cálculo III – Aula 13 – Campos conservativos (parte 1)
https://youtu.be/qhH-JcFqnqA
Univesp – Cálculo II – Aula 20 – Campos Vetoriais
https://youtu.be/1s7Fh86dOM0
omatematico.com – Prof.Grings – Vetor Gradiente – Aula 8
https://youtu.be/hDVjvMG0DLo
omatematico.com – Prof.Grings – Gráfico de um campo vetorial – Aula 10
https://youtu.be/-JOb4akerSc
omatematico.com – Prof.Grings – Determinação da função potencial – Campos Conservativos - Aula 14
https://youtu.be/C_UW9P9ZpAo
Me Salva! VET06 – Como desenhar um campo vetorial
https://youtu.be/ppGUiMMuOiM
Me Salva! DEP14 – Vetor Gradiente
https://youtu.be/JphpwL7PAKc
Me Salva! DEP14 – Vetor Gradiente – Exemplo 1
https://youtu.be/3oGj0pTddgE
Somatize – Vetor gradiente – exemplo 1
https://youtu.be/M8xkQdDi5eg
Somatize – Vetor gradiente – exemplo 2
https://youtu.be/vCi3PdxpdGk
Somatize – Rotacional de uma Função Vetorial
https://youtu.be/1NHlaTGsiIg

38
PET Engenharia Química UFC – Isabela – Monitoria de Cálculo
Vetorial – Campo Vetorial, Gradiente, Rotacional e Divergente
https://youtu.be/Syg-EY1RbT4
Prof.Artur Fassoni – Cálculo III – 2.3 – Campos Vetoriais – Teoria e Exemplos
https://youtu.be/TnEc7_Qxcts

39
39
UNIDADE Cálculo Vetorial: Campos Vetoriais

Referências
ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. 8. ed. Porto Alegre: Bookman,
2007, v.2.

BARBONI, A.; PAULETTE, W. Fundamentos de matemática: cálculo e análise:


cálculo diferencial e integral. Rio de Janeiro: LTC, 2007.

BOULOS, P.; ABUD, Z. I. Cálculo diferencial e integral. 2. ed. São Paulo:


Pearson Education do Brasil, 2002.

BUFFONI, S. S. O. Cálculo Vetorial Aplicado. Rio de Janeiro: Câmara Brasileira


de Jovens Escritores. ISBN 8590456315, 2004. v. 1. 98p.

FLEMMING, D. M.; GONCALVES, M. B. Cálculo: funções, Limite, derivação,


integração. 6. ed. São Paulo: Makron Books do Brasil, 2007.

LARSON, R.; EDWARDS, B. H. Cálculo 2 – varias variables. 9. ed. Santa Fé-


México: McGraw-Hill/Interamericana, 2010.

LEITHOLD, L. O cálculo com geometria analítica. 3. ed. São Paulo: Harbra, 1994.

SIMMONS, G. F. Cálculo com geometria analítica. Sao Paulo: Pearson Makron


Books, 2010. v.1.

STEWART, J. Cálculo de varias variables. Transcendentes tempranas. 7. ed.


Santa Fé, México: Cengage Learning Editores, 2012.

SWOKOWSKI, E. W. Cálculo com geometria analítica. 2. ed. São Paulo: Makron


Books do Brasil, 1995.

THOMAS JUNIOR, G. B. Cálculo. v.2, 10. ed. São Paulo: Addison-Wesley, 2004.

VILCHES, M. A.; CORRÊA, M. L. Cálculo: Volume III. Departamento de Análise.


Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2005.

40

Você também pode gostar