Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
Introdução
1
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Estudos
Lingüísticos. Endereço para correspondência: Rua Via Láctea, 94 – aptº 402, Bairro Santa Lúcia, CEP
30360-270, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. bdecat@uol.com.br
113
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
satélite. Essa relação, discutida por Mann & Thompson (1983) e Mann & Thompson
emergem desse tipo de combinação, permitindo clarear problemas seja com relação à
organização dos textos, ou seja, da maneira como o usuário da língua organiza seu texto
com vistas a estabelecer a coerência entre as partes que o compõem, a RST é uma teoria
partes do texto desde o nível da sua macroestrutura — isto é, o nível discursivo — até o
114
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
maiores de texto. Trata-se de uma relação implícita que constitui, por um lado, a
informação transmitida pelo texto (e construída pelo usuário da língua); e, por outro, é
relação entre essas partes, qualquer que seja a sua natureza. Assim, em (1)
emerge, entre as porções leite com manga e morre, uma proposição relacional de
condição, permitindo uma paráfrase como “Se alguém tomar leite com manga, morre.”
Em (1) não existem duas orações (pelo menos à maneira tradicional de se entender
‘oração’); mesmo assim, a relação de condição está presente entre as duas porções do
enunciado.
emerge necessariamente entre duas orações, ou mesmo entre orações adjacentes, como
(2) no que eu escutei o barulho eu saí... fui até a sala acendi a luz... olhei... né?
a a cortina num tinha ninguém (NDO8F, 30, 1136-1139)
em que a oração destacada mantém uma relação temporal não somente com a oração
adjacente “eu saí” mas com todo o restante do enunciado. Outro fato a destacar — e que
115
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
foi apontado por Mann & Thompson (1988) bem como por Taboada & Mann (2006) —
comprove sua existência, por exemplo, um conectivo, como mostra (3) a seguir, em que
do que formal, uma vez que ela decorre da competência do usuário da língua para fazer
relações, constituindo uma lista de vinte e cinco relações. Essa lista não é, no entanto,
fechada, uma vez que as relações retóricas permeiam todo o texto e, por isso, podem
Várias são as funções textual-discursivas que estão na base do uso das orações
adverbiais. Além de exibirem a relação semântica por meio das proposições relacionais
Uma primeira função a ser destacada — e que pode ser considerada a mais geral
partes com que se combina. Nessa função, ela é a informação necessária à compreensão
116
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
examinados para este trabalho (do português brasileiro, oral e escrito; e do português
europeu escrito), a oração adverbial com função de fundo ocorreu, de modo geral, em
(6) então eh eh...aí nós começamos a trabalhar formamos dois grupos [...]
embora a minha ambição no projeto inicial...era de fazer todo um
trabalho...das das áreas [...] que integrasse todas as disciplinas de
formação específica (NDO6F,6, 220-226)
tendo em vista sua função primeira de fornecer uma moldura para a informação que
precedia.
A oração adverbial muitas vezes constitui também uma forma de avaliação por
parte do usuário da língua sobre o que vem expresso na porção núcleo, em especial
quando vem em posição final em relação a esse núcleo, como pode ser visto em (7)
abaixo:
(7) Já estou mais bem-humorado, pode ficar tranqüila. E deixe de ser chata, pois
você escreveu apenas quatro palavras no último e-mail. EMBORA
ESTIVESSEM EM DESTAQUE!!!! (GF, e-mail de 13/01/08)
117
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
guidepost. Orações que expressam a proposição relacional de tempo são comuns nessa
função (o que não quer dizer que não ocorram orações que materializam outras relações
adverbiais). Nesse caso, por serem ‘guias’, esse tipo de oração tende a ocorrer no início,
em
do fato no contexto.
ela ainda mantém a função de guia para o interlocutor, o que permite dizer que essa
oração pode também projetar para o discurso subseqüente. O exemplo a seguir ilustra
118
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
então, com uma função de reparo (repair). No exemplo (19) dado acima, mesmo
permitirá que se perceba essa função da oração adverbial, que mantém, por isso mesmo,
função essa exercida pelo satélite adverbial em anteposição ao núcleo. Uma vez mais
pode-se tomar o exemplo (9) para ilustrar esse comportamento da oração adverbial.
(10) Foi necessário que a categoria, ao longo desses anos, buscasse sua
afirmação profissional, determinando seu lugar no sistema educacional
brasileiro a partir desse confronto, o que a obrigou a explicitar e reorientar o
seu trabalho. Ao fazer esse movimento, a categoria retoma, em alguns
momentos, os pressupostos teóricos que a sustentam, e explicita as
possibilidades da superação de sua própria história profissional. (DE4F, 25)
119
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
texto.
tópico, a oração adverbial, nesse caso, constitui o ponto de partida para a estruturação
maneira apontada por Matthiessen & Thompson (1988). Como ‘tópico’, a oração
determinar a ocorrência das orações adverbiais no início e com função de tópico. Dentre
elas estão as relações de motivo (causa, justificativa, razão) e tempo, como pode ser
120
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
argumentação, etc. São razões pragmáticas que levam o usuário a atribuir foco a uma
determinada parte do enunciado, dando-a como a informação mais saliente num dado
dizendo, a posição inicial ou final será uma decorrência da maneira como se quer dar
(15) Mineiro só deixa de acender uma vela pra Deus e outra pro diabo, quando
acendem quatro pra ele. (Dirceu)
(16) Quando o orador tira uma papelada do bolso, a platéia é que dorme de
improviso. (Dirceu)
(17) Para ilustrar a aula sobre poluição, o professor abriu a janela. (Dirceu)
121
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
adição de alguma outra informação. Sobre essa e também outras funções haverá
relacional como uma relação implícita, que prescinde de qualquer marca no texto para
que se tem, em português, além das orações adverbiais iniciadas por um conectivo
conectivo não está presente e, mesmo assim, é possível detectar-se a relação existente
entre a combinação de orações. Os exemplos abaixo, todos de língua oral, mostram esse
aspecto:
(22) e o Buscopan é o seguinte se você toma ele... eh::...a dor é aliviada quase
que imediatamente aTÉ a drágea...pode ter até uma dor forte ela é
aliviada (NDO7M, 6, 212-216)
(23) a minha impressão a respeito do trabalho é que foi bom pra mim pra minha
formação me obrigou a escrever que é uma coisa muito difícil...né? me
fez ler muita coisa...me fez engolir muito sapo (NDO9M, 12, 429-433)
condição, da mesma forma que em (22), em que há um sintagma nominal tópico (“aTÉ
122
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
Também na língua escrita tais ocorrências não só são comuns como muito
(24) SEDEX
Mandou, chegou.
coordenações”, como poderiam vir a ser considerados os casos vistos em (24) e (25),
como coordenadas assindéticas, sem se atentar para a relação hipotática adverbial que
condicional. Todavia, é preciso deixar claro que o modo verbal, tomado isoladamente, é
insuficiente para apontar a relação semântica ali existente; ele apenas a sugere.
Observando-se uma outra ocorrência com o verbo também no modo subjuntivo, como
(26),
(26) Enfim, não tenho dúvidas, quero este filho custe o que custar.
(NE4F,2,41-42)
percebe-se que a proposição relacional ali emergida difere da que foi detectada em (21),
123
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
é o objetivo da presente análise, motivo pelo qual maiores considerações a esse respeito
usuário da língua para a organização de seu discurso. Isso vem corroborar a idéia de que
forma e função têm de ser vistas conjuntamente, uma vez que não só pressões internas
decorre da postulação de que os usos é que dão forma ao sistema. Dentro da perspectiva
hipotática (mas não só hipotática) em que a oração adverbial se realiza solta, isolada,
materialização de orações que, tidas como subordinadas, ocorrem sem a oração matriz
124
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
Essa ocorrência “desgarrada” das orações adverbiais vai estar a serviço de várias
funções textual-discursivas (como as vistas acima). Dentre essas funções, a mais geral, e
que mais se destaca, é a função de foco, dado o seu alto poder na construção da
(não sendo, porém, as únicas) são as que exibem relações concessivas (exemplos 27 e
28) e causais (29 e 30), como mostram os dados abaixo, do português brasileiro (PB)
oral e escrito:
(29) você já imaginou que para fazer a peça Hair quanta gente que não foi...éh
éh:: não foi éh:: preparada ali... porque o grupo que trabalha em Hair é
enorme né? (DID-SP-234:246-249)
(30) Estar entre as melhores empresas para se trabalhar [...] é motivo de orgulho
para qualquer empresa. Para nós, da AmBev, é um motivo de comemoração.
Porque comemorar é nossa especialidade.
(Revista ÉPOCA, 27/08/07, p. 84)
2
Cumpre esclarecer que, no presente trabalho, está-se considerando somente o reconhecimento auditivo,
para o caso das estruturas de língua oral. A análise dos dados orais com o auxílio de um programa mais
apurado, como o PRAAT, já está sendo realizada mas não será discutida aqui. De qualquer forma, os
dados submetidos até agora a esse tipo de ferramenta de análise já confirmam muito do que se percebeu
apenas auditivamente.
125
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
como já mostrado por Decat (2001) e Decat (2004) para orações relativas apositivas —,
(31) Levantar cedo, acordar os filhos, seguir para o trabalho, fazer compras, ir
buscar os filhos, fazer o jantar, sorrir ao marido. Sempre com boa
disposição. Mesmo sabendo que, amanhã, vai ser tudo igual, igual,
igual... (VISÃO, nº. 343, 7-13/10/99, p. 79 – Português europeu)
uma oração “desgarrada” na língua falada. No caso das orações causais e concessivas,
(independente) na escrita mostram que orações como essas têm a função de adendo,
conteúdos novos, ou mesmo novos argumentos para o que está dito no núcleo da relação
núcleo-satélite. Em (29) acima, por exemplo, a oração causal — “porque o grupo que
precedida de uma pausa, a exemplo do que ocorre na língua escrita, como evidencia o
exemplo 30, em que a oração causal também vem depois de uma pausa marcada pelo
ponto final. Pode-se dizer que essa possibilidade de constituir ‘adendo’ seja decorrente
do caráter remático que tanto as concessivas quanto as causais têm. Em outras palavras,
o fato de propiciar uma informação nova faz com que a oração constitua um ‘adendo’ e
possa, por isso, vir “desgarrada”. E aí também se revela a função focal dada a essas
orações, uma vez que nelas se destaca algo de novo, reforçando, assim, sua natureza
argumentativa.
126
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
vinha sendo desenvolvido, uma retomada do ‘fio da meada’, do ‘fio temático’. E isso
ocorre, em muitos casos, após a pausa no final da oração “desgarrada” e a sua curva
entonacional descendente (no caso da língua oral). Nos exemplos a seguir — de orações
da oração em destaque, houve uma mudança de tópico, o que indica que a oração
não, é exibida também por orações adverbiais que veiculam vários outros tipos de
ambas com função de foco. A diferença entre elas é que a primeira — “para serem
127
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
oração de finalidade tem uma função focal mais forte que a da primeira, e que isso
decorre do fato de ela estar “desgarrada”. Essa mesma força de foco não existiria numa
que uma simples coordenação colocaria as duas orações no mesmo nível com relação à
Uma outra estratégia para colocar em destaque, dar ênfase a uma oração de
finalidade é colocá-la anteposta a seu núcleo, estando ela desgarrada ou não, como
propagandístico:
(35) Para em caso de emergência só ter que carregar numa única tecla. O
Sistema de Protecção Activa da Prosegur é muito mais do que um
sofisticado sistema de alarme para a sua casa ou estabelecimento. (VISÃO,
nº. 342, 30/09/99, p.115 – Português europeu)
finalidade serve mais à função textual-discursiva de fundo do que de foco, como mostra
(36):
(36) Alguma coisa em mim sempre lutou para que fosse vida e não morte
(NE4F, 2, 53-54)
(34), que, tendo um nível de focalização mais fraco que o da segunda oração, serve mais
“desgarrada” é a de antítese, na relação tese-antítese. Tal como proposto por Mann &
128
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
Thompson (1983) e (1988), nos estudos da RST, nessa relação, além de núcleo e satélite
estarem em contraste, é possível que se instaure, nesse último, uma atitude não positiva
Em outras palavras, o falante focaliza e destaca aquilo que ele não aceita tanto — que é
o que está no satélite, a antítese. Uma das formas de materializar esse foco na antítese é
mostra (37) a seguir, em que a oração “desgarrada” vem iniciando um outro parágrafo,
mas mantendo uma relação semântica com o que foi dito no parágrafo anterior:
Por outro lado, a idéia de contraste muitas vezes trazida pela presença da forma
(38) [...] Pode-se dizer que enunciações como vá na boa hora, vá embora, vá
muito embora, (sic) são formulações feitas da posição de um senso comum
que mantinha, ainda, traços da instituição dos oráculos. Estando o locutor
determinado por esta posição. (E. Guimarães, Enunciação, língua,
memória, REVISTA DA ANPOLL, nº. 2, p. 27-33, 1996)
sem verbo em sua forma nominal (gerúndio), mas com a presença de conectores
129
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
Considerações finais
materializa em português, oral ou escrito, bem como sobre as diversas funções textual-
organização textual.
Referências bibliográficas
CHAFE, Wallace L. Linking intonation units in spoken English. IN: HAIMAN, John;
THOMPSON, Sandra A. (eds.) Clause combining in grammar and discourse.
Amsterdam: John Benjamins Publishing, 1988, p. 1-27.
130
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 41 – Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional cultural.
TABOADA, Maite; MANN, William C. Rhetorical Structure Theory: looking back and
moving ahead. Discourse studies 8(3): 423-459, 2006.
THOMPSON, Sandra A.: LONGACRE, Ronald E. Adverbial clauses. IN: SHOPEN, T.
(ed.) Language typology and syntactic description. Cambridge: Cambridge University
Press, 1985 (vol. II – Complex Constructions).
131