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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - CAMPUS DE CASCAVEL

CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS E FARMACÊUTICAS


MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

OMEPRAZOL EM PACIENTES DA ALA CIRÚRGICA DE UM HOSPITAL


UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ: PERFIL DE UTILIZAÇÃO E
ASPECTOS FARMACOECONÔMICOS

JAQUELINE MARIA GREGOLIN

CASCAVEL – PR
2020
JAQUELINE MARIA GREGOLIN

OMEPRAZOL EM PACIENTES DA ALA CIRÚRGICA DE UM HOSPITAL


UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ: PERFIL DE UTILIZAÇÃO E
ASPECTOS FARMACOECONÔMICOS

Dissertação apresentada à Universidade


Estadual do Oeste do Paraná, campus de
Cascavel, em cumprimento aos requisitos
para obtenção do título de Mestre em
Ciências Farmacêuticas na linha de pesquisa
Fármacos e medicamentos.

Orientador (a): Andreia Cristina Conegero


Sanches

CASCAVEL – PR
2020
JAQUELINE MARIA GREGOLIN

OMEPRAZOL EM PACIENTES DA ALA CIRÚRGICA DE UM HOSPITAL


UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ: PERFIL DE UTILIZAÇÃO E
ASPECTOS FARMACOECONÔMICOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação stricto sensu em Ciências
Farmacêuticas da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná como pré-requisito para
obtenção do título de Mestre(a) em Ciências na
linha de pesquisa Fármacos e medicamentos.

Orientador: Prof. Dr. Andreia Cristina Conegero


Sanches

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________
Prof. Dr. Andreia Cristina Conegero Sanches
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
UNIOESTE
Orientador

_______________________________
Prof. Dr. Helder Lopes Vasconcelos
Universidade ________
UNIOESTE

_______________________________
Prof. Dr. Fernanda Giacomini Bueno
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
UNIOESTE

Cascavel – PR
2020
BIOGRAFIA RESUMIDA

Jaqueline Maria Gregolin natural de Quedas do Iguaçu, Paraná, Brasil, nascida


em 27 de agosto de 1985, formou-se em Farmácia pela União de Ensino do Sudoeste
do Paraná (UNISEP), campus de Dois Vizinhos em dezembro de 2012. Ingressou no
Programa de Pós-graduação stricto sensu em nível de mestrado em Ciências
Farmacêuticas no ano de 2018. Desenvolve projeto experimental de dissertação junto à
linha de pesquisa de Fármacos e Medicamentos, orientada pela Professora Doutora
Andreia Cristina Conegero Sanches.

ii
“Lembre-se da minha ordem:
SEJA FORTE E CORAJOSO, não fique desanimado, nem tenha medo, porque eu, o
senhor seu Deus, estarei com você em qualquer lugar para onde você for.”

Josué 1-9

iii
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente а Deus, pоr ser essencial еm minha vida autor
do mеυ destino, o socorro presente nаs horas de angústia. Aо mеυ filho João Clair, que
me faz acordar com o dever de ser melhor a cada dia. A minha mãe Dalair pelas orações
dedicadas a mim, que não foram poucas. Ao meu pai Clair por ser meu maior exemplo
de dignidade e caráter. Ao meu irmão Vinícius por ser meu orgulho e minha grande
inspiração. Ao meu esposo Giovani, por há nove anos ter mudado minha história,
colaborando para eu me tornar o que eu sou hoje.

iv
AGRADECIMENTOS

Foram dois anos de mestrado e nesse período algumas pessoas me


acompanharam e foram fundamentais para a realização deste sonho. Por isso, expresso
aqui, através de palavras sinceras, um pouquinho da importância que elas tiveram, e
ainda têm, e a minha sincera gratidão a todas.
Agradeço primeiramente a Deus e a Nossa Senhora por me iluminar, guiar, e me
dar forças para seguir em frente com os meus objetivos não me deixando desanimar
mesmo diante das dificuldades.
Aos meus pais, Dalair e Clair Gregolin, que sempre me motivaram e sempre se
esforçaram ao máximo para que os filhos tivessem uma educação e futuro melhor. São
exemplos de esforço, caráter, humildade e amor.
Ao meu esposo Giovani por toda ajuda principalmente com os cuidados com o
João, pela compreensão e pelo profundo apoio, me incentivando nos momentos difíceis.
Ao meu irmão Vinícius pelo apoio desde o primeiro dia de mestrado que me fez
acreditar que seria só uma fase talvez difícil e desgastante, mas que quando passasse
deixaria saudades e realmente já deixou.
Obrigada família por desejarem sempre o melhor pra mim, e pelo esforço que
fizeram para que eu pudesse superar cada obstáculo no decorrer desse caminho à vcs
serei eternamente grata pelo que sou por tudo que eu consegui conquistar e pela
felicidade que eu tenho.
Agradeço muito a minha orientadora Professora Dr ª Andreia Cristina Conegero
Sanches obrigada por ter acreditado em mim, mostrando sempre estar disposta a me
ajudar, obrigada pelos ensinamentos e principalmente por toda paciência, amizade e
atenção. Agradeço também ao professor Edson Antonio Alves da Silva e a todos os
professores que tive oportunidade de conhecer durante esse meu percurso acadêmico.
Agradeço aos meus colegas de trabalho por entenderem as minhas faltas, muitas
vezes realizarem o meu trabalho, também por todas as caronas que não foram poucas
enfim obrigada por toda ajuda.
E por fim, o meu obrigado a todos que de forma direta ou indireta contribuíram
para a realização desse trabalho e do meu sonho. Desejo a todos sucesso e felicidades.

v
OMEPRAZOL EM PACIENTES DA ALA CIRÚRGICA DE UM HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ: PERFIL DE UTILIZAÇÃO E
ASPECTOS FARMACOECONÔMICOS

Resumo: Drogas para reduzir o ácido gástrico ou a secreção de ácido são amplamente
prescritas para pacientes hospitalizados, porém, muitas vezes são inespecíficas ou
inadequadas. Devido ao constante consumo destes “protetores gástricos” e a seus
efeitos ao longo do tempo, percebeu-se a necessidade de avaliar alguns casos em que
foi usado o medicamento Omeprazol e o custo do uso inadequado para a instituição.
Assim, foram gerados problemas para a segurança do paciente e para a instituição de
saúde. Desta forma, constatou-se a necessidade da realização deste estudo cujo
objetivo é a análise das prescrições dos pacientes que estiveram internados no Hospital
Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) e utilizaram omeprazol em suas diferentes
vias de administração. Foi realizado um estudo observacional a partir de consulta dos
prontuários e no sistema Tasy®, dos pacientes internados entre janeiro e dezembro de
2018, onde os resultados encontrados foram condizentes ao que se esperava o
omeprazol muitas vezes prescrito em excesso ou prescrito sob forma endovenosa
quando o paciente poderia consumir o medicamento por via oral, sendo
economicamente mais favorável à instituição.

Palavras-chave: Protetores gástricos; Prontuários; Estudo observacional.

vi
OMEPRAZOL IN PATIENTS OF THE SURGICAL WARD AT THE WESTERN
PARANÁ UNIVERSITY HOSPITAL: PROFILE OF USE AND
PHARMACOECONOMIC ASPECTS

Abstract: Drugs to reduce gastric acid or acid secretion are widely prescribed for
hospitalized patients, although they are often unspecific or inadequate. Due to the
constant consumption of these “gastric protectors” and their effects over time, there was
a need to evaluate some cases in which the drug Omeprazole was taken as well as the
cost of its inappropriate use for the institution. There were problems for the patient’s
safety and for the health institution. Thus, it was observed this study importance, aiming
at analyzing the patients’ prescriptions hospitalized at the Western Paraná University
Hospital (HUOP), and who have taken omeprazole in its different administration routes.
An observational study was carried out by consulting the medical records and the Tasy®
system of patients hospitalized from January to December, 2018.

Keywords: Gastric protector; Medical records; Observational study.

vii
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12
2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 13
2.1 Objetivo geral ................................................................................................. 13
2.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 13
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 14
3.1 Inibidores da bomba de prótons ................................................................... 14
3.2 Características farmacológicas e farmacocinética ..................................... 15
3.3 Posologia e formas de uso ............................................................................ 17
3.4 Efeitos Adversos e interações medicamentosas ........................................ 18
3.5 Omeprazol em Idosos .................................................................................... 19
3.6 Efeitos do uso prolongado ............................................................................ 20
3.7 Farmacoeconomia .......................................................................................... 22
4 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 24
4.1 Tipo de estudo ................................................................................................ 24
4.2 Local do Estudo ............................................................................................. 24
4.3 População de estudo ..................................................................................... 24
4.4 Critérios de avaliação do uso do omeprazol ............................................... 25
4.5 Farmacoeconomia .......................................................................................... 25
4.5.1 Custo direto ................................................................................................ 25
4.6 Análise Estatística .......................................................................................... 26
4.7 Preceitos éticos .............................................................................................. 26
5 RESULTADOS E DISCUSSAO ............................................................................ 27
6 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 35
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 36
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 37

viii
LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 Classificações farmacoeconômicas............................................................... 23


Tabela 1 Prevalência de idade e sexo entre os prontuários avaliados .......................... 27
Tabela 2 Análise e comparação do motivo do internamento ao tempo de utilização prévia
do omeprazol................................................................................................................. 28
Tabela 3 Pacientes que apresentaram ou não hemorragia associados a fatores pré
disponentes como tabagismo e a utilização de anti-inflamatórios de maneira
contínua ........................................................................................................................ 31
Tabela 4 Análise da necessidade de utilização de Omeprazol de acordo com os critérios
FDA, associado a utilização prévia de Omeprazol ........................................................ 31
Tabela 5 Omeprazol administrado VO e via endovenoso associado ao tipo de dieta
utilizada pelos pacientes da ala clínica cirúrgica do HUOP durante o ano de 2018 ...... 32
Tabela 6 Custos da utilização do Omeprazol EV comparado ao VO, considerando a dose
diária de 40mg/dia ......................................................................................................... 33

ix
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Fórmula estrutural do omeprazol ................................................................ 14


Figura 2 Mecanismo de ação do omeprazol.............................................................. 16

x
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AINE Anti-inflamatório Não Esteroidal


ANVISA Agência Nacional de Vigilância sanitária
DGRE Doença do Refluxo Gastroesofágico
EO Esofagite Erosiva
EV Via Endovenosa
FA Frasco-ampola
FDA Food and Drug Administration
HUOP Hospital Universitário do Oeste do Paraná
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBPs Inibidores da Bomba de Prótons
MPIs Medicamentos Potencialmente Inapropriados para Idosos
RAMs Reações Adversas a Medicamentos
RENAME Relação Nacional de Medicamentos Essenciais do Brasil
SGE Sonda gastroenteral
SUS Sistema Único de Saúde
TGI Trato Gastrinstestinal
UD Úlcera Duodenal
UG Ulceração Gástrica
VO Via oral

xi
12

1 INTRODUÇÃO

Com o crescimento da indústria farmacêutica, todos os anos inúmeros


medicamentos chegam às farmácias, prometendo resolver ou amenizar doenças. Com
os IBPs (inibidores de bomba de prótons), isso não é diferente: são fármacos utilizados
de forma crônica e excessiva presentes no nosso cotidiano sendo seu uso até hoje
considerado inerte ao ser humano, justificando assim a ausência de controle de venda,
por vezes realizada sem receituário específico.
Os inibidores da bomba de prótons, popularmente conhecidos por “protetores”
gástricos, encontram-se entre os medicamentos mais prescritos pelos médicos e
utilizados pela população, sendo diariamente crescente o seu consumo.
Incluso nessa classe de medicamentos está o omeprazol um fármaco
amplamente utilizado no manejo terapêutico de doenças do trato gastrointestinal,
pertencente à classe dos antiulcerosos, está entre os principais ou talvez o principal
medicamento prescrito para estas finalidades.
Trata-se de um IBPs, que atua diminuindo a secreção de ácido produzida pelo
estômago, além de realizar a função de protetor gástrico é utilizado no tratamento de
algumas doenças como esofagite de refluxo, gastrite, úlcera gástrica e úlcera duodenal.
Embora haja diferenças farmacocinéticas, todos os integrantes dessa classe apresentam
similaridades entre si, reduzindo em até 95% a produção diária de ácido gástrico.
Mesmo sendo considerado um medicamento seguro, o uso indiscriminado desse
fármaco seja por um período maior do que o realmente necessário, ou então para
sintomas que não precisam ser tratados com IBPs, pode causar danos irreversíveis à
saúde, como a má absorção de minerais e vitaminas, provocando problemas como a
osteoporose, anemia e demência.
13

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Investigar o perfil de utilização de omeprazol em pacientes da ala cirúrgica de um


hospital universitário, de acordo com os protocolos existentes e levantar o custo do uso
indiscriminado destas estratégias terapêuticas.

2.2 Objetivos Específicos

i. Analisar o perfil de pacientes incluídos na pesquisa;


ii. Avaliar o uso de acordo o protocolo de utilização de omeprazol proposto pelo
FDA (Food and Drug Administration).
iii. Identificar possíveis condições que contraindicam o uso do medicamento em
questão na população em estudo;
iv. Relacionar entre as diferentes faixas etárias se o uso do medicamento
durante o internamento está sendo adequado, conforme os critérios do FDA;
v. Identificar possíveis trocas de via de administração de omeprazol EV por VO;
vi. Avaliar a diferença de custos quando a troca de via de administração se fizer
possível.
14

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Inibidores da bomba de prótons

Após inúmeros testes, em 1978 o omeprazol foi sintetizado, entre os anos de 1983
e 1984 iniciaram os estudos em humanos e finalmente em 1989 o medicamento foi aceito
e então aprovado pela agência reguladora norte-americana, Food and Drug
Administration (FDA) (MURAKAMI et al., 2009).
Atualmente cinco subtipos de inibidores da bomba de prótons encontram-se
disponíveis para utilização clínica: omeprazol e seu o lansoprazol, esomeprazol,
pantoprazol e rabeprazol. Estes fármacos diferenciam-se em suas cadeias estruturais,
conservando semelhanças em suas propriedades farmacológicas, todavia o precursor
omeprazol continua sendo o mais prescrito até devido ao menor custo e fácil acesso
(BRUNTON, 2008; HOEFLER; LEITE, 2009; YAMA, 2018).
Os inibidores da bomba de prótons (IBPs) são os medicamentos mais prescritos
na prática da gastrologia. Fazem parte da Relação Nacional de Medicamentos
Essenciais do Brasil (RENAME) e sua comercialização segundo a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), é permitida só sob prescrição, porém a utilização dessa
classe de medicamentos por automedicação ocupa papel de destaque como grande
problema de saúde pública (BRASIL, 2015).
Os IBPs apresentam uma estrutura geral de grupo benzimidazol ligado a um
grupo piridina através de uma porção sulfóxido (LEE, 2014). Quimicamente o omeprazol
é denominado como 5-metoxi-2[(4-metoxi-3,5-dimetil-2-piridil) metil] sulfinil]-3-H-
benzimidazol, sendo uma mistura racêmica de dois enantiômeros (R e S) que são pró-
fármacos, convertidos nas células parietais à molécula ativa. Apresenta peso molecular
igual a 345,42g/mol fórmula molecular C17H19N3O3S, ponto de fusão 155ºC e pouca
solubilidade em água (TESTA 2013).

Figura 1 Fórmula estrutural do omeprazol


Fonte: Golon (2014).
15

3.2 Características farmacológicas e farmacocinética

A eficácia clínica de um fármaco não é atribuída apenas à sua atividade


farmacológica intrínseca, fatores relacionados aos processos envolvidos na sua
fabricação, bem como características físico-químicas do fármaco e excipientes que o
compõem podem modificar a absorção de um determinado princípio ativo, alterando
consequentemente, sua biodisponibilidade. A influência destes fatores é crítica,
principalmente, nas formas farmacêuticas sólidas, considerando-se que, nestes casos,
é necessária a liberação do fármaco da formulação, para a sua posterior absorção
(TESTA, 2013).
A absorção do pró-fármaco ocorre no intestino atingindo níveis plasmáticos
rapidamente cerca de 1 à 3,5 horas após ser absorvido, apresentando uma boa
biodisponibilidade de 40 a 65%. Trata-se de um pró-fármaco que após absorvido sua
distribuição sanguínea atinge um único alvo, o interior das células parietais seguindo
para os canalículos, onde ocorre sua ativação e consequentemente a inibição da bomba
de prótons, sua taxa de ligação a proteínas plasmáticas pode chegar a 95% e
permanecer por até 24horas (ARAUJO, 2017).
Recebem um revestimento gastrorresistente, para que sua ativação ocorra
somente após chegar em seu sítio de ligação. A metabolização ocorre pelas enzimas
hepáticas do citocromo P450, o que pode influenciar a biotransformação de outros
medicamentos. Além disso, a alteração da acidez do pH estomacal pode modificar a
absorção de outros fármacos.
16

Figura 2 Mecanismo de ação do omeprazol


Fonte: Golon (2014).

Ali, então é ativado através da formação de uma sulfenamida tetracíclica que o


mantém preso impedindo seu retorno através da membrana canalicular. Esta forma
depois de ativada, liga-se covalentemente com os grupos sulfidrila de cisteínas na H+,
K+-ATPase, tornando irreversivelmente inativa a enzima (BRUNTON, 2008).
A enzima H+/K+ATPase (bomba de prótons), localizada nos canalículos das
células parietais é responsável pela liberação de ácido clorídrico no lúmen estomacal. A
atividade dessas enzimas é desencadeada pela ação de três estímulos distintos:
gastrina, histamina e acetilcolina. A produção ácida ocorre na troca de H+ (hidrogênio)
e K+ (potássio), em um processo que consome ATP (adenosina trifosfato).
Após a síntese e inserção de novas moléculas da enzima H+/K+-ATPase na
membrana apical das células parietais, a secreção ácida retorna ao normal. Sendo
assim, a inibição da secreção ácida persiste após eliminação plasmática das drogas,
cuja meia-vida não é superior a 90 minutos. Sua excreção ocorre rapidamente e é
predominantemente renal (77%) na forma de metabólitos, sendo o restante é eliminado
nas fezes (TESTA 2013; YAMA, 2018).
Esse processo confere alta potência inibitória, levando os fármacos desta classe
a ser a primeira opção terapêutica. Eles interrompem a ação da enzima fundindo-se ao
17

seu receptor por meio da ligação covalente com os resíduos de cisteína, denominados
inibidores irreversíveis, que podem durar de 24 a 48 horas. Após essa reação, a bomba
de prótons não se regenera, e a produção de ácido será realizada somente após a
síntese de uma nova enzima. Após a interrupção do tratamento, o restabelecimento
completo da secreção deve ocorrer em até 5 dias (ROCHE, 2006; BRAGA; SILVA;
ADAMS, 2011; TESTA, 2013).

3.3 Posologia e formas de uso

A concentração do medicamento e a via de administração a ser utilizada irá


depender do paciente e da patologia a ser tratada. O Omeprazol apresenta-se nas
concentrações 10, 20, 40mg, sendo as formas farmacêuticas disponíveis no mercado
comprimidos de desintegração rápida, cápsulas com grânulos com revestimento entérico
de liberação normal e retardada e injetáveis. Fármacos desta classe são instáveis em
meio ácido, sendo assim para evitar a degradação quando em contato com a acidez
gástrica, é necessário que uma cobertura gastrorresistente proteja o fármaco, fazendo
com que esse seja absorvido somente no ambiente alcalino do intestino delgado
(BRAGA; SILVA; ADAMS, 2011).
O uso correto do fármaco garante uma eficácia terapêutica, o omeprazol deve ser
administrado em jejum cerca de meia hora antes da primeira refeição, pois a presença
de alimentos no estômago altera sua absorção (CASTRO; DE PRADOS; MARTINEZ,
2016).
Quando observadas às doses utilizadas, observa-se que a maior parte dos
pacientes portadores de úlcera gástrica, doença do refluxo, úlcera duodenal ativa ou
tratamento de úlcera induzida por Anti-inflamatório Não Esteroidal (AINE) utilizam uma
dose diária de 20mg. Estudos mostram que em casos doença do refluxo gastroesofágico
(DRGE) a maioria dos usuários fazem tratamento com o omeprazol há mais de um ano.
No entanto, o protocolo de tratamento para esses casos o tempo ideal da
terapêutica seria de 4 a 8 semanas. Em de pacientes que não apresentem resposta
totalmente satisfatória ao tratamento com IBP por 8 semanas, é possível ter a terapia
prolongada por mais 4 semanas, antes de se determinar um insucesso terapêutico
(HIPOLITO; ROCHA; OLIVEIRA, 2016).
Em doses habituais (20 a 40mg/dia) o Omeprazol inibe acima de 90% da secreção
ácida por 24 horas na maior parte dos pacientes, tornando estes quase aclorídricos. No
entanto com esta potência terapêutica, reforçam-se as dúvidas sobre a segurança do
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seu uso em longo prazo, já que estes por apresentarem poucos efeitos adversos quando
administrados de forma correta, passaram a não ser usados somente para sintomas
agudos na prática clínica, ainda que sua indicação em longo prazo seja bastante
discutível (YANAGIHARA et al., 2015).

3.4 Efeitos Adversos e interações medicamentosas

A prescrição de múltiplas medicações é uma realidade que requer atenção e


cuidado constante. Esse cuidado inclui a revisão das medicações em uso e o
conhecimento extensivo destas, sempre tentando minimizar o número de substâncias
utilizadas, monitorando e valorizando efeitos colaterais e tóxicos. Ao prescrever IBPs o
clínico deve conhecer os possíveis efeitos adversos e garantir que estes sejam utilizados
de maneira correta garantindo que os benefícios sejam nitidamente maiores a qualquer
efeito nocivo (MIYASAKA; ATALLAH, 2003; MORSCHEL; MAFRA; EDUARDO, 2018).
Em geral os IBP são geralmente fármacos bem aceitos e causam notavelmente
poucos efeitos adversos, estes são moderados e temporários. Em aproximadamente 5%
dos pacientes são observados: diarreia, cefaleia, distúrbios gastrintestinais, flatulência e
constipação. Em casos raros, porém tendo papel de destaque, pode aparecer,
pancreatite, hiponatremia, nefrite aguda intersticial, hipopotassemia, hipomagnesemia,
e até mesmo síndrome de Stevens-Johnson. Foram relatadas porem raros a ocorrência
de artralgias, miopatia subaguda, e exantemas cutâneos (FITTON; WISEMAN,1996;
BRAGA; SILVA; ADAMS, 2011; LIMA; NETO, 2014).
Devido a esta alta potência terapêutica, reforçam-se as preocupações sobre a
segurança na utilização do omeprazol a longo prazo. Devido a acides gástrica estar
significativamente diminuída, as células G liberam quantidades elevadas de gastrina,
causando a hipergastrinemia.
A baixa cloridria é compensada por meio da “aceleração da produção” de células
parietais, com excessivo crescimento essas células no estômago. Portanto, quando a
produção ácida deixa de ser inibida pelos IBPs, o mecanismo de produção de ácido
funciona de modo ainda mais intenso. Assim, a utilização em longo prazo de omeprazol
em humanos pode então relacionar-se com a proliferação de células e tumores
carcinoides (BRAGA; SILVA; ADAMS, 2011).
Entre os efeitos adversos menos comum estão inclusos, fraturas por fragilidade,
síndrome de hipersecreção ácida de rebote, nefrite intersticial, pneumonia, distúrbios
eletrolíticos, e infecção entérica (LIMA; NETO, 2014).
19

Entre os eventos adversos raros com evidências destaca-se uma reação


imunomediata que atinge o interstício e os túbulos renais. Esta pode ser induzida por
doenças hematológicas, autoimunes, infecções e uso crônico de medicamentos. A
princípio as células epiteliais tubulares apresentam-se lesionadas, evoluindo para um
infiltrado inflamatório sendo este composto por linfócitos, quase que predominantemente
células T. Com o avanço do filtrado vão se formando cicatrizes, e consequente
diminuição da função renal. Em casos da reação ser de origem medicamentosa, e não
haver regressão do quadro com a interrupção imediata do fármaco suspeito e a utilização
de corticosteroides, pode desencadear lesão renal crônica, caracterizada por fibrose
intersticial com atrofia tubular (MORSCHEL; MAFRA; EDUARDO, 2018)

3.5 Omeprazol em Idosos

Para ser considerado “idoso” um país deve apresentar uma proporção de pessoas
acima de 60 anos superior a 7% da população total. No Brasil entre 2005 e 2015, os
habitantes com mais de 60 anos passaram de 9,8% para 14%. De maneira que em 2050
a perspectiva no número de pessoas idosas no país deve triplicar. Sendo assim, o
envelhecimento populacional e o consequente aumento na prevalência de doenças têm
gerado preocupação frente às possíveis consequências do uso múltiplos medicamentos,
em especial, os potencialmente inapropriados para idosos (OLIVEIRA et al., 2017).
Nas últimas décadas, a população idosa no Brasil, apresentou um grande
aumento, ultrapassando 30 milhões de idosos em 2017, sendo que aproximadamente
56% compreende o sexo feminino, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) no ano de 2018.
Devido ao acometimento de várias doenças a grande maioria da população idosa
utiliza regularmente três ou mais medicamentos. É válido ressaltar que existem
interferências farmacodinâmicas e farmacocinéticas na associação de alguns
medicamentos, sendo de extrema importância o reconhecimento de possíveis
interações, que associadas às complicações fisiopatológicas das doenças e às
alterações do próprio envelhecimento, provocam efeitos colaterais que podem
comprometer ainda mais a funcionalidade do idoso e até mesmo levar ao óbito (MOURA;
ACURCIO; BELO, 2009; SOUZA et al., 2018).
Entende-se por Medicamentos Potencialmente Inapropriados para Idosos (MPIs)
os fármacos que apresentam riscos potenciais de uso maiores que os benefícios ou que
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podem agravar doenças preexistentes, e para os quais existe uma alternativa terapêutica
mais segura disponível (CASSONI, 2014). Com a presença de MPIs aumenta-se o risco
em potencial para o desenvolvimento de reações adversas a medicamentos (RAMs).
Estima-se que no Brasil 33% dos idosos apresentem RAMs, devido a isso, torna-se
imprescindível estudar e identificar essas medicações.
Para a realização desses estudos, foram criados e desenvolvidos instrumentos
que analisam a terapia farmacológica em idosos. Porém, no Brasil, esses instrumentos
ainda são pouco conhecidos ou utilizados por médicos não geriatras (OLIVEIRA et al.,
2017).
Um dos instrumentos criados foi o critério de Beers, publicado em 1991
disponibilizando uma lista de medicamentos considerados inapropriados para em idosos,
sendo sua versão mais recente publicada em 2015 (MANSO; BIFFI; GERARDI, 2015).
Pesquisas revelam que a prescrição de MPIs, assim classificados segundo o critério de
Beers, está relacionada a desfechos negativos, tais como delirium, sangramentos
gastrointestinais, quedas e fraturas (MANSO; BIFFI; GERARDI, 2015).

3.6 Efeitos do uso prolongado

O uso contínuo do omeprazol tem aumentado expressivamente nos últimos anos,


representando risco a saúde pública, já que a sua administração prolongada pode
ocasionar doenças correlacionadas ao uso indiscriminado, tais como: anemias, redução
progressiva da absorção de micronutrientes, perda da massa óssea e osteoporose
(GOMM et al., 2016; PIMENTA et al.,2016).
Sendo relacionada diretamente à redução da absorção de cálcio, devido à
alteração na secreção de ácido gástrico (ARAI; GALLERANI, 2011). A dissolução e
absorção de cálcio é prejudicada devido ao aumento do pH gástrico, o qual só é
absorvido em meio ácido, ocasionando assim reabsorção óssea através da inibição
osteoclástica da bomba de prótons vacuolar (VIANNA et al., 2010).
O uso prolongado de IBPs também pode alterar a absorção de micronutrientes e
assim desenvolver anemias e outras doenças relacionadas à carência de nutrientes.
Pacientes que utilizam omeprazol por mais de três anos consecutivos podem apresentar
diminuição de vitamina B12. Ao reduzirem a acidez estomacal, estes fármacos
impendem à ativação de pepsinogênio a pepsina, utilizada para a liberação e absorção
da vitamina B12. A carência dessa vitamina pode está diretamente relacionada a certas
21

manifestações hematológicas, neurológicas e psiquiátricas e consequentemente ao


declínio cognitivo (THOMSON et al., 2010; MINDIOLA et al., 2017).
Apesar de existir a associação na utilização do Omeprazol e o risco de demência,
em especial o Alzheimer, ainda que não esteja totalmente esclarecido o mecanismo
responsável pelo desenvolvimento, à hipocloridria prolongada parece potenciar um
declínio cognitivo, ainda o aumento dos níveis de β- amiloide no cérebro, após o IBP
atravessar a barreira hematoencefálica levando a degradação e a promoção da
formação de agregados anômalos de proteína TAU, proteínas abundantes no sistema
nervoso central (VIEGAS; NABAIS, 2017).
O uso desses medicamentos pode estar relacionado ao desenvolvimento de
anemias carenciais como a ferropriva devido à diminuição na absorção de ferro
gastrointestinal em associação com a secreção reduzida de ácido gástrico. Após o fim
do tratamento ou a substituição do medicamento podem observar-se melhoras visíveis
no quadro clínico da anemia (HASHIMOTO; MATSUDA; CHONAN, 2014).
Em doses habituais (20 a 40mg/dia) o omeprazol diminui mais de 90% da
secreção ácida de 24 horas na maior parte dos pacientes, fazendo com que a maioria
destes pacientes se torne aclorídricos. Devido a sua grande capacidade terapêutica a
secreção do ácido gástrico, por “feedback”, inibe a secreção endócrina da gastrina pelas
células G, situadas nas glândulas antrais (pilóricas). Devido acidez ser potencialmente
reduzida, as células G secretam quantidades elevadas de gastrina, levando à
hipergastrinemia.
Pelo fato de a gastrina ser um hormônio trófico, o estímulo e a proliferação de
crescimento de células e tecidos pode ser ativada indiretamente pelos IBPs. Devido a
baixa acidez clorídrica ocorre uma compensação por meio da “aceleração da produção”
de células parietais, com crescimento exacerbado dessas células no estômago. Então,
quando a produção de ácida deixa de ser bloqueada pelos IBPs, o mecanismo de
produção de ácido funciona de modo ainda mais intenso. Assim, a utilização em longo
prazo de omeprazol em humanos pode então relacionar-se com a proliferação de células
e tumores carcinoides (LIMA; NETO, 2014).
Há também possibilidades de complicações de nefrite intersticial aguda e
complicações infecciosas (VIANNA et al., 2010). Tais como infecção bacteriana
aspirativa no momento de episódios de refluxo fisiológico, existindo risco aumentado de
infecção para Clostridium difficile em pacientes que já fazem uso de IBP antes da
infecção (MENDES, 2014). Além disso, a indiscriminada utilização do Omeprazol pode
alterar o equilíbrio das bactérias do trato gastrointestinal podendo tornar o paciente mais
22

vulnerável a infecções. Ressalta-se também que, o uso contínuo de determinados


medicamentos, podem causar a tolerância do organismo a determinado composto
levando a redução da ação e do efeito destas substâncias (BRAGA; SILVA; ADAMS,
2011).

3.7 Farmacoeconomia

Os serviços e sistemas de saúde são influenciados por inúmeros fatores, entre


eles estão o aumento da expectativa de vida da população, associado a um maior
número de doenças, relacionadas principalmente a enfermidades crônicas e uma maior
oferta de tecnologias, as quais necessitam cada vez mais recursos financeiros para
adquiri-las, comprometendo a sustentabilidade orçamentaria em setores da saúde
(SILVA; SILVA; PEREIRA, 2016).
No aspecto econômico, os medicamentos ocupam uma grande parte das
despesas causadas pela saúde em um país. No entanto, utilizados corretamente são os
recursos terapêuticos mais custo-efetivos, por serem elementos indispensáveis na
prática clínica, a utilização destes está diretamente relacionada à economia dos serviços
de saúde, principalmente nos hospitais (MARIN et al., 2003).
A aplicação da economia ao estudo dos medicamentos com a melhoria na
utilização de recursos financeiros sem causar diminuição na qualidade do tratamento, é
chamada de farmacoeconomia (GUIMARÃES et al., 2007). Ciência essa que tem em
sua execução três conceitos básicos: a perspectiva do estudo, a determinação dos
benefícios e custos e o tipo de análise (MOTA et al., 2003).
O primeiro elemento deste tipo de estudo é o custo, que engloba elementos
mensuráveis, qualitativa e quantitativamente, porém quando relacionados à qualidade
de vida nem sempre apresentam extrema clareza.
O segundo elemento da análise farmacoeconômica é o resultado ou a
consequência do tratamento, mensurado por intermédio de resultados clínicos,
econômicos ou humanísticos.
De acordo com Guimarães e seus colaboradores (2007) as análises
farmacoeconômicas podem ser:
 Análise de custo-efetividade;
 Análise custo-utilidade;
 Análise de custo-benefício;
 Análise de minimização de custos
23

Quadro 1 Classificações farmacoeconômicas


Unidade de medição de
Metodologia Unidade de medição de desfecho
custo
Análise de minimização de Pressuposta como equivalente em
Unidades monetárias
custos grupos comparáveis
Unidades naturais (anos de vida
Análise de custo-efetividade Unidades monetárias ganhos, pressão sanguínea [mmHg],
glicose no sangue [mMol/L]
Análise de custo- benefício Unidades monetárias Unidades monetárias
Anos de vida ajustados pela qualidade
Análise de custo- utilidade Unidades monetárias
ou outras utilidades
Fonte: Packeiser (2014).

A utilização dessa ciência apresenta-se como uma potente ferramenta capaz de


auxiliar os gestores através de informações onde se torna possível comparar alternativas
encontrando as melhores soluções para as necessidades do serviço de saúde,
equivalendo a racionalização de despesas e eficiência clínica. Além do objetivo da
diminuição dos custos, a farmacoeconomia também analisa os benefícios, que podem
ser tanto econômicos ou não econômicos, tais como efeito aumento na expectativa e na
qualidade de vida, e efeitos na saúde (PACKEISER et al., 2014).
24

4 MATERIAL E MÉTODO

4.1 Tipo de estudo

Foi realizado um estudo observacional retrospectivo e descritivo. Foram


analisados prontuários de pacientes que estiveram internados no Hospital Universitário
do Oeste do Paraná (HUOP) no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2018.
Tratou-se de um estudo qualitativo e retrospectivo de utilização de medicamentos.
Os dados foram coletados a partir das informações dos prontuários de pacientes
e do sistema Tasy®. Uma listagem de prontuários do ano determinado foi utilizada para
a seleção das amostras.
Os prontuários que atenderam aos critérios de inclusão ou exclusão estabelecidos
pela pesquisa foram incluídos, tendo como ponto principal a utilização de Omeprazol na
farmacoterapia. Em casos de mais de uma internação por paciente, o prontuário
analisado foi aquele onde foi utilizado o medicando avaliado. O farmacêutico participante
do estudo foi responsável por avaliar a elegibilidade dos prontuários dos pacientes.

4.2 Local do Estudo

O HUOP foi selecionado para a área de estudo. Trata-se de uma unidade com 31
leitos de enfermaria, com local de arquivamento dos prontuários físicos, disponibilidade
de computadores com acesso á internet e ao serviço de informação hospitalar através
de um sistema de gerenciamento (Tasy®). Dispõe de posto de medicamentos e
materiais médico hospitalar.
O Hospital atende anualmente aproximadamente 13 mil pacientes, e tem um
total de 195 leitos.

4.3 População de estudo

A população de estudo foi constituída por pacientes maiores de 18 anos, de


ambos os sexos, internados em uma ala que atualmente possui 31 leitos pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), sendo atendida basicamente por médicos e residentes
universitários. Foram selecionados os pacientes fizeram uso de omeprazol via oral (VO)
e via endovenosa (EV), e que estavam inclusos nos critérios abaixo:
Critérios para inclusão:
25

 Prontuários de pacientes admitido na unidade de estudo no período pré-


determinado;
 Prontuários de pacientes maiores de 18 anos, de ambos os sexos, internados no
hospital em estudo;
 Prontuários de paciente com permanência de no mínimo 72 horas na unidade de
estudo;
 Pacientes que hipoteticamente poderiam trocar a via de administração EV por VO;
Critérios para exclusão:
 Prontuários de pacientes que receberam alta em menos de 72 horas que não foi
possível análise da internação e do período de utilização do medicamento;
 Prontuários de pacientes que não utilizaram o medicamento analisado durante o
período determinado;
 Prontuários incompletos ou ilegíveis que pudessem prejudicar a análise;

4.4 Critérios de avaliação do uso do omeprazol

O uso do omeprazol foi avaliado de acordo com critérios estabelecidos pelo


FDA:
1. Cura da esofagite erosiva (EO);
2. Manutenção de EO curada;
3. Tratamento do refluxo gastro-esofágico (DRGE);
4. Redução do risco de ulceração gástrica (UG) associada a não esteroides uso
anti-inflamatório (AINE);
5. Erradicação da H.Pylori;
6. Condições patológicas hiper-secretoras, síndrome Zollinger-Ellison;
7. Tratamento e manutenção da úlcera duodenal (UD);

4.5 Farmacoeconomia

4.5.1 Custo direto

Foram analisados os custos médicos diretos da utilização do omeprazol, através


do levantamento dos custos do medicamento nas duas formas farmacêuticas,
comprimido e solução EV, e dos insumos utilizados para sua administração. É importante
26

ressaltar que a perspectiva do estudo é como o SUS sendo a fonte pagadora, pois o
hospital em questão é 100% público.
Para os medicamentos e insumos, foram considerados uma média dos valores
pagos nas licitações vigentes durante o ano de 2018, os custos intangíveis e indiretos
não foram analisados. Por esse motivo, despesas com internamento e exames não
foram adicionadas ao estudo, pois se avaliou que independente da via de administração
elas estariam presentes, valores pagos pelo trabalho dos funcionários não foram
incluídos considerando que estes têm remuneração fixa.

4.6 Análise Estatística

Análises através dos testes exatos de Fischer e Wilcoxon, utilizando o programa


estatístico R (softeware livre).

4.7 Preceitos éticos

Este estudo está sendo conduzido em conformidade com a Declaração de


Helsinque e Comitê Internacional de Harmonização boa clínica práticas. E está aprovado
pelo comitê de ética em pesquisa em seres humanos da UNIOESTE sob o parecer n.
5.370.127.
27

5 RESULTADOS

Durante o período de 2018, foram analisados todos os prontuários de pacientes


internados no setor clinica cirúrgica do hospital universitário do Oeste do Paraná.
Preencheram os critérios de inclusão 207 prontuários de pacientes. Na Figura 1
podemos observar que, (66%) dos pacientes eram do sexo masculino e (34%) do sexo
feminino. A média de idade total foi de 57 anos.

Tabela 1 Prevalência de idade e sexo entre os prontuários avaliados


Total n (%) Masculino n (%) Feminino n (%)
Total de pacientes 207 137(66,0) 70(34)
Até 40 anos 39 (18,4) 25 (12,1) 13(6,3)
40 a 60 anos 65(31,6) 45 (21,8) 20(9,7)
Acima de 60 anos 103(50,0) 66(32,0) 37(18,0)
Fonte: Tasy (2018).
*Excluído um paciente por falta de dados.

Do total, 103 (50%) foram considerados idosos, com idade média de 72,4 ± 8,5
anos. Desses 103 idosos 66 (48,5%) eram do sexo masculino e 37 (52,5%) do sexo
feminino. Os idosos do sexo masculino apresentaram idade média de 73,3 ± 8,8 anos e
do sexo feminino 70,8 ± 7,8 anos. Não há diferença significativa entre essas idades (p-
valor=0,1944) pelo teste de soma de pontos de Wilcoxon com correção de continuidade.
Em decorrência da idade avançada da maioria dos pacientes, e
consequentemente a degeneração fisiológica, justifica-se o grande número de
medicamentos prescritos para os idosos. No Brasil, e também em alguns outros países
como México, Canadá e Espanha é comum à prescrição de IBP para prevenir as reações
adversas no trato gastrointestinal devido administração de vários medicamentos
(ABJAUDE, 2015).
Os resultados obtidos mostram que a maioria dos pacientes que utilizaram
omeprazol na ala clínica cirúrgica deste hospital no ano de 2018, eram adultos de ambos
os sexos, com idade em torno de 57 anos.
No mesmo ano, Osama e colaboradores (2018) realizaram um estudo semelhante
a este, onde foram analisados prontuários de 174 pacientes, obtendo- se os seguintes
resultados: 77 (44,2%) eram do sexo masculino e 97 (55,8%) do sexo feminino, em
ambos estudos os resultados relacionados ao sexo foram semelhantes, assim como a
faixa etária com média geral em torno de 50 anos.
28

Esta prática clínica pode justificar o porquê o presente estudo ter identificado o
grande número de idosos em uso de omeprazol uma vez que do total de 207 pacientes,
103 (50%) foram considerados idosos, com idade média de 72,4 ± 8,5 anos.
Em 2015 os IBP foram incluídos nos Critérios de Beers, sob recomendação de
evitar o seu uso prolongado (acima de oito semanas) em função do risco de perda óssea
e fraturas (devido à redução da densidade óssea e redução da absorção do cálcio
intestinal) e também o risco infecção por Clostridium difficile (causado pela redução da
acidez gástrica), seu uso prolongado também pode gerar o desenvolvimento de doença
renal crônica em razão da lesão renal aguda de repetição e hipomagnesemia, bem como
aumento das taxas de pneumonia gerada pela redução da acidez gástrica e aumento da
colonização bacteriana no estômago.
Em 2018 Marques e seus colaborados realizaram uma pesquisa em um hospital
na região centro-oeste do Brasil e identificaram 25,0% do número total da amostra
utilizando essa classe farmacológica, embora problemas associados ao uso de IBP
nessa faixa sejam bastante relatados.
Na tabela 2 observou-se que o tempo de uso do omeprazol é bastante
diversificado, mas parece existir uma possível tendência de haver a utilização do
omeprazol durante todo ou quase todo o tempo que o paciente esteve internado.
O tempo de uso de omeprazol entre os pacientes incluídos no estudo foi
heterogêneo desta forma optou-se por avaliar o uso nos primeiros 30 dias. Nas figuras
2 e 3 se buscou avaliar se o uso prévio de omeprazol e anti-inflamatórios poderiam estar
relacionados aos principais motivos de internamento.

Tabela 2 Análise e comparação do motivo do internamento ao tempo de utilização


prévia do omeprazol
Média dos dias uso Pacientes que Pacientes que já
Motivo de
Pacientes (%) do omeprazol não utilizavam utilizavam
internamento
omeprazol omeprazol

Hemorragia
95(45,9%) 6,0 (3,4) 69(33,3%) 26(12,6%)
Gastrointestinal
Causas diversas e
78(37,7%) 7,0(5,3) 67(32,9%) 1(0,5%)
pré-cirúrgicos**
Trauma ou fratura 23(11,1%) 5,5 (4,5) 22(10,6%) (0,5%)
Problemas
6(2,9%) 7,3(8,5) 6(2,9%) 0
respiratórios
Síndrome os doença
5(2,4%) 6,6(6,1) 5(2,4%) 0
congênita
Fonte: Tasy (2018).
**causas diversas: acidentes domésticos.
29

A principal causa de internação hospitalar da população estudada foi hemorragia


gastrointestinal com 95(45,9%) pacientes, em segundo lugar com 23 (11,1%) pacientes
que tiveram algum trauma ou fratura, seguido por 5 (2,4%) pacientes que estiveram
internados devido alguma síndrome ou doença congênita, com 6 (2,9%) pacientes com
problemas respiratórios, com 78 (37,7%) motivos diversos, entre eles foram encontrados
pacientes feridos por arma branca, picados por animais entre outras causas.
Dos pacientes que utilizavam omeprazol antes do internamento o motivo mais
frequente de internação foi hemorragia gastrointestinal (26%). Entre as análises dois
pacientes que apresentaram hemorragia gastrointestinal foram excluídos por utilizarem
o omeprazol por períodos superiores há 30 dias.
Estudos mostram que pacientes submetidos a tratamentos com omeprazol
encontram-se mais suscetíveis a desenvolver infecções do trato gastrintestinal (TGI),
devido ao fato da terapia de supressão ácida estar vinculada a mudanças no sistema
imunológico aumentando a possibilidade de ocorrer um crescimento bacteriano no
estômago e viral na mucosa gástrica. A administração de omeprazol por períodos
prolongados também acarretar interações medicamentosas através da via citocromo
P450, via esta onde o omeprazol é metabolizado.
Pacientes acometidos por úlceras de estresse, úlcera duodenal e gástrica,
portadores de artrite reumatoide ou osteoartrite que utilizam AINEs de maneira contínua,
apresentam 15 a 20% a mais chances de desenvolver hemorragias ou sangramentos
gastrintestinais e perfurações ocasionado grandes motivos de ênfase de internação
hospitalar e morte (MUNARI; HART; MORRONE, 2004).
Hemorragia e problemas gastrointestinais foram a maior causa de internação
hospitalar ocupando 45,9% dos prontuários analisados, sendo que destes 12,6% dos
pacientes utilizavam rotineiramente omeprazol. Apesar de hemorragia digestiva ser o
principal motivo de internamento não foi encontrada nenhuma relação estatisticamente
significativa entre estes fatores.
Em 2004 Munari, Hart e Morrone desenvolveram um estudo em um Hospital
Universitário de Porto Alegre onde câncer de esôfago foi a principal causa de internação
hospitalar, demonstrando ser uma doença muito incidente e podendo estar relacionada
ao hábito da população gaúcha de consumir chimarrão rotineiramente, fator que não foi
possível ser avaliado neste estudo por se tratar de um desenho retrospectivo.
Outros casos de internamentos encontrados neste estudo foram de pacientes
hospitalizados devido a incidentes de traumas ou fraturas, por se tratar de um hospital
referência nesta especialidade na região atendida pelo hospital.
30

Gray (2010) e colaboradores fizeram uma análise prospectiva onde foram


incluídas 161.806 mulheres com o objetivo de relacionar o uso de IBPs com o risco de
fraturas ósseas. Os autores conseguiram concluir que existe uma relação entres esta
classe de medicamentos e fraturas clínicas de antebraço, punho e vértebra. Este estudo
corrobora os achados anteriores, demonstrando a relação entre o uso de omeprazol e a
diminuição da densidade mineral óssea, o que pode ser entendido como um sinal
preditor para a ocorrência de fraturas em resposta ao uso em longo prazo de IBPs.
Todavia alguns outros autores defendem que não existe associação do uso
prolongado do IBP com a alteração na densidade mineral óssea ou na resistência óssea
que possa aumentar o risco de fraturas (TARGOWNIK et al., 2012).
Segundo Yanagihara (2014) fraturas ósseas são consideradas um sério problema
de saúde pública mundial, podendo influenciar a qualidade de vida e aumentar o risco
de morte, eventos estes que podem estar relacionados ou não ao uso de IBPs, a autora
afirma após ter realizado um estudo experimental com ratos que receberam diferentes
doses diárias de omeprazol durante 90 dias (300, 200, 40 e 10 moL/Kg/dia). Neste
estudo os resultados demonstraram a influência da dosagem desse medicamento na
densidade mineral óssea, porém não foi possível comprovar alteração nas propriedades
mecânicas do osso.
Dos pacientes analisados 2,9% estiveram internados por problemas respiratórios
sendo que nenhum destes fazia uso prévio de omeprazol, o que faz com que seja
descartado a hipótese do omeprazol ter colaborado com o motivo e internamento destes
pacientes.
Alguns pacientes acabam utilizando o medicamento durante todo o tempo de
internamento, podendo sofrer uma alcalinização do pH estomacal. Esta prática pode
levar a interferência na farmacocinética de alguns medicamentos, na digestão de
alimentos e ainda, em pacientes mais severamente debilitados, gerar uma pneumonia
nosocomial.
Autores relatam que pacientes em tratamento com omeprazol podem apresentar
grande risco de colonização e infecção do trato gastrointestinal superior, devido o
tratamento de supressão de ácido estar diretamente relacionado a alterações no sistema
imunológico, resultando em um crescimento bacteriano no estômago e viral na mucosa
gástrica, o crescimento desses microrganismos estão relacionados a diminuição de
ácido gástrico (MUNARI; HART; MORRONE, 2004).
31

Na Tabela 3 observou-se a relação entre os pacientes tabagistas que faziam ou


não uso de anti-inflamatórios associando estes critérios a presença ou não de
hemorragia.

Tabela 3 Pacientes que apresentaram ou não hemorragia associados a fatores pré


disponentes como tabagismo e a utilização de anti-inflamatórios de maneira contínua
Uso prévio de anti- Sem uso de anti-
Tabagista Não tabagista
inflamatório inflamatório
Paciente com
28 (29,5%) 67(70,5%) 5 (5,3%) 90(94,7%)
hemorragia
Paciente sem
19 (17,0%) 93(83,0%) 1(0,9%) 111(99,1%)
hemorragia
Fonte: Tasy (2018)
Os dados desta tabela são referentes aos 207 pacientes que fizeram uso de omeprazol VO ou EV nos
primeiros 30 dias que estes estiveram internados.

Quando comparados os pacientes que utilizaram omeprazol e apresentaram


hemorragia gastrointestinal observou-se que a minoria era tabagista e fazia uso contínuo
de anti-inflamatórios. Resultado semelhante aos pacientes que não apresentaram
hemorragia gastrointestinal, onde também apenas uma pequena porcentagem era
tabagista e faziam uso contínuo de anti-inflamatórios. O teste exato de Fisher não
demonstrou resultados significativos para caracterizar uma associação entre uso de anti-
inflamatório e ocorrência de hemorragia.
Ao ser indicado um fármaco para tratamento de determinada patologia seus
benefícios devem ser maiores que os riscos que este possa vir a oferecer à saúde de
quem for utiliza-lo.
Baseado nos critérios FDA a Tabela 4 descreve o número de pacientes que
utilizaram omeprazol no período de internamento, atendendo ou não os critérios da FDA.

Tabela 4 Análise da necessidade de utilização de Omeprazol de acordo com os


critérios FDA, associado a utilização prévia de Omeprazol
FDA durante o Utilizavam Omeprazol Não faziam uso prévio
internamento antes do internamento de Omeprazol
Atende os critérios 12,6% 13 (6,3%) 13(6,3%)
Não atende aos
87,4% 25(2,1%) 156 (75,4%)
critérios
Fonte: Tasy (2018).

Dos pacientes atendidos apenas 12,6% dos pacientes atendiam aos critérios
propostos, e 87,4% não se enquadravam aos quesitos em questão.
Na Tabela 4, foram analisadas as prescrições dos pacientes associadas aos
critérios utilizados pelo FDA, com os dados analisados observamos que 87,4% dos
32

pacientes que utilizaram o omeprazol não atenderam os critérios estabelecidos pelo FDA
para a utilização deste medicamento.
Em 2010 o FDA, anunciou que algumas mudanças deveriam ocorrer nas bulas
dos IBPs contendo, por exemplo, a informação de que a utilização dessa classe de
medicamentos poderia potencializar os riscos de fraturas (LIMA; NETO, 2014).
Nas pesquisas de Rossi (2006), os resultados são claramente observados onde
mais de 50% dos pacientes que consumiram IBPs não possuíam qualquer indicação
para a utilização do medicamento, sendo que foram documentados 54,1% prontuários e
destes 45,9% eram pacientes idosos, onde polifarmácia e uso excessivo de medicação
tornam-se preocupantes expondo esta população a um maior risco muito de desenvolver
efeitos colaterais de qualquer medicamento, incluindo IBPs.

Tabela 5 Omeprazol administrado VO e via endovenoso associado ao tipo de dieta


utilizada pelos pacientes da ala clínica cirúrgica do HUOP durante o ano de 2018
Tipo de Dieta Total de pacientes Omeprazol Via Oral Omeprazol Endovenoso
Dieta Oral n (%) 180(90,0%) 5(2,8%) 175 (97,2%)
VSNE* n (%) 17 (8,2%) 1(5,9%) 16 (94,1%)
Enteral n (%) 6(2,9%) 0 6(100%)
NPT** 4(1,9%) 0 4(100%)
Fonte: Tasy (2018).
*Via Sonda Nasoenteral
**Nutrição Parenteral

De acordo com a Tabela 5, 90% dos pacientes utilizaram dieta VO e 97,2% destes
utilizaram omeprazol por EV. Considerando que pacientes que utilizam a VO para sua
alimentação tem condições fisiológicas de fazer o uso desta mesma via para utilizar
medicamentos podemos analisar os custos das diferentes vias de administração deste
mesmo fármaco (Tabela 6).
Nos hospitais, costuma ocorrer o uso desnecessariamente prolongado da EV
durante o tratamento com protetores gástricos, isso pode levar a um aumento no custo
das internações e elevar os riscos das infecções hospitalares.
33

Tabela 6 Custos da utilização do Omeprazol EV comparado ao VO, considerando a


dose diária de 40mg/dia
Materiais e medicamentos Preço unitário (R$) Consumo diário Valor Diário (R$)
Omeprazol EV 1 FA*
Omeprazol 40mg EV 5,50
Equipo Macrogotas 1,30
Seringa 20 ml 0,26
Agulha 25x8 0,27
Soro fisiológico 100 ml 1,60
Total 8,93 1 FA 8,93
Omeprazol VO
Omeprazol 20 mg VO 0,06 2 0,12
*Frasco Ampola
Os valores se referem ao custo médio pago por unidade pelo hospital durante o período de estudo.
Fonte: Tasy, 2018

Nos prontuários analisados. 175 pacientes (97,2%), a maioria possuía indicação


de dieta oral e apenas cinco deles (2,8%) fizeram uso de omeprazol VO.
De acordo com os valores calculados baseados na última licitação vigente no
hospital para estes produtos relacionados, verificou-se que o valor diário gasto com
omeprazol endovenoso para um dia de tratamento com 40mg deste medicamento uma
vez ao dia é 74 vezes maior quando comparado a VO.
Em 2018, Moreira e alguns colaboradores realizaram um estudo em um hospital
universitário vinculado a uma Universidade Federal no extremo Sul do Brasil, cujo
objetivo principal era identificar o perfil dos medicamentos mais utilizados prescritos VO
e via SGE (Sonda Gastroenteral). Surpreendentemente o omeprazol destacou-se como
o medicamento mais utilizado por VO.
Já no presente estudo, os 175 pacientes que utilizaram omeprazol EV preenchiam
os critérios para uso VO. O custo do uso do omeprazol EV para este total de pacientes
foi de R$ 1.562,75 ao dia. Todavia, se os mesmos pacientes tivessem feito uso do
mesmo medicamento por VO, o custo seria de R$21,00. Desta forma, o valor gasto com
este medicamento por EV foi 74 vezes maior do que o custo caso a escolha fosse a VO.
No ano de 2014, Taguti em sua revisão analisou custos na utilização de linezolida.
E, embora haja diferenças entre os estudos tanto como nos comparadores, o objetivo de
ambos os trabalhos está relacionado à diminuição de gastos a partir da substituição de
medicamentos ou da via de administração a ser escolhida (TAGUTI, 2014) e também
encontrou dados semelhantes. Isso mostra que a prática do uso de medicamentos VO,
por maior que seja o benefício financeiro para a instituição e sem prejuízo clínico para o
paciente, é pouco utilizada.
34

A maioria das indicações para o uso de omeprazol EV é justificável, embora o


tempo de uso seja excessivo em alguns casos, como epigastralgia, enterorragia e
profilaxia para úlcera de estresse e epigastralgia. Em relação à prevenção da úlcera
estresse, apenas pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (não era o
caso dos pacientes estudados), que sofrem algum tipo de coagulopatia ou precisa de
ventilação mecânica por mais de 48 horas, deveriam receber omeprazol como opção
profilática. Nos casos de enterorragia, é necessária a realização de uma endoscopia
para que se visualize o local de sangramento e então entrar com a medicação adequada,
caso seja necessária (MUNARI; HART; MORRONE, 2004).
35

6 CONCLUSÕES

De acordo com os resultados deste estudo, conseguimos observar que o fármaco


omeprazol, independente da via de administração, está sendo usado de maneira
indiscriminada e que, em muitos casos, poderia ser evitado ou substituído por outro
medicamento. Mas, não se pode negar a relevância medicamentosa, a eficácia nem a
segurança na utilização dos IBPs.
Cada equipe tem uma prática clínica, que inclui tempo de utilização, forma
farmacêutica utilizada e motivos para o uso. É necessário garantir o uso correto,
seguindo as diretrizes terapêuticas e realizando a análise precisa dos benefícios. Além
disso, é necessário que haja a interrupção na utilização sempre que esses não sejam
mais necessários. Em resumo, muito do uso excessivo dos medicamentos está na falta
de um protocolo que direcione o uso desse medicamento de forma racional.
36

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso demasiado do omeprazol está relacionado às fortes evidências que


sustentam a sua eficácia e consequentemente seu sucesso terapêutico, e a falta de
informação relacionada ao seu uso e a não adesão à terapia ou prolongamento da
mesma sem uma reavaliação por profissionais da saúde.
Através dos estudos observados conclui-se, que o uso profilático inadequado e
desnecessário do omeprazol assim como a sua utilização crônica pode acarretar efeitos
indesejáveis consideráveis, que podem variar desde deficiências nutricionais a
neoplasias. Porém ainda existem controvérsias, onde há necessidade de analises mais
especificas e aprofundadas.
Através do estudo de custo-minimização, comprovamos que hipotética troca da
via de administração do omeprazol EV por omeprazol VO mostra-se extremamente
relevante, uma vez que contribui com o melhor uso dessa alternativa terapêutica seja no
campo clínico ou econômico.
A economia de recursos seria de R$ 1.562,75 ao longo do ano analisado, caso
houvesse a troca da via de administração. Espera-se que os resultados aqui citados
possam contribuir para a utilização racional desse medicamento tanto na instituição
utilizada para pesquisa quanto em outras instituições de saúde, com ênfase na utilização
moderada do medicamento assim como a economia de recursos pode proporcionar aos
sistemas de saúde, sem que a qualidade do tratamento do paciente seja prejudicada.
37

REFERÊNCIAS

ABJAUDE, S. A. R. Avaliação do uso profilático de omeprazol em pacientes


internados no hospital estadual Américo Brasiliense. 2015. 149 f. Dissertação
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