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HOSPITAL DOM HELDER CÂMARA

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM CLÍNICA MÉDICA

JOSIVANE MOURA ROCHA MARQUES

Uso inapropriado de Inibidores de Bomba de Prótons em Um Hospital terciário do


Estado do Pernambuco

CABO DE SANTO AGOSTINHO, 2022


INTRODUÇÃO

O uso inapropriado de medicamentos pode levar à ocorrência de eventos


adversos a medicamentos (EAM), elevando as taxas de morbidade e mortalidade, além
de aumentar os custos da assistência à saúde para os sistemas de saúde.(1)
O ambiente hospitalar é mais suscetível aos EAM pela quantidade e pela
variedade de medicamentos utilizados. Estudos mostram que 38% dos eventos adversos
que ocorrem nesse ambiente estão relacionados aos medicamentos.(2,3) Em ambiente
hospitalar, a via intravenosa (IV) é uma grande fonte de EAM, por ser comumente
empregada entre as prescrições destinadas a pacientes internados.(4)
A escolha da via parenteral sem indicação precisa ou justificada representa
obstáculo ao uso racional de medicamentos. Essa via apresenta riscos potenciais, como
infecção, impossibilidade de reversão devido ao efeito farmacológico imediato,
facilidade de intoxicação e possibilidade de eventos tromboembólicos.(5,6) A
necessidade de diluição também é uma fonte de erro. Existem relatos da utilização de
diluentes de forma errônea em preparações IV, como no caso do uso inadvertido de
soluções concentradas de eletrólitos para reconstituição de medicamentos, constituindo
erro grave, com potencial de provocar óbito.(7)
Nesse contexto, uso de inibidores de bombas de prótons é algo bastante comum
na pratica clinica bem como seu uso no âmbito hospitalar. As principais indicações
clínicas aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA) para a administração
dessa classe de medicamentos são o tratamento da esofagite erosiva e sua manutenção;
tratamento do refluxo gastroesofágico; redução do risco de úlcera gástrica associada ao
anti-inflamatório não esteroide (AINE);Helicobacter pylori erradicação; condições
patológicas hipersecretivas, como a síndrome de Zollinger-Ellison; e tratamento da
úlcera duodenal e sua manutenção(8).
Entretanto, as preparações intravenosas (IV), de acordo com estudos recentes,
são reservadas para casos de pacientes com: hipersecreção gástrica associada a
condições neoplásicas e Zollinger-Ellison impossibilitado de receber medicação por via
oral; casos graves de hemorragia digestiva alta não varicosa (HDA); hemorragia
gastrointestinal com risco de sangramento contínuo recorrente; e na profilaxia de úlcera
péptica de estresse em pacientes de alto risco na unidade de terapia intensiva (UTI) sem
acesso à alimentação enteral ou incapazes de receber por via oral, nil per os (NPO)
(9,10).
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde do Brasil e Agência de Vigilância
Sanitária (ANVISA), o omeprazol sódico endovenoso é indicado quando não é possível
o uso da forma farmacêutica de comprimidos. Omeprazol sódico deve ser usado para
tratar: úlcera péptica gástrica ou duodenal; esofagite de refluxo; síndrome de Zollinger-
Ellison; e profilaxia para aspiração de conteúdo gástrico durante anestesia geral em
pacientes de alto risco(11).
Os IBP são frequentemente prescritos por motivos inadequados e por um
período de tempo que muitas vezes ultrapassa o recomendado12. O aumento dramático
do seu uso ao longo dos últimos anos tem levantado preocupações relativas à sua
prescrição desnecessária, ao custo associado e aos riscos potenciais, uma vez que há
uma taxa elevada de uso indevido desses medicamentos(13)de acordo com critérios
estabelecidos pelas sociedades científicas. Os gastos elevados dos serviços de saúde têm
justificado o desenvolvimento de inúmeros estudos e planos de ação destinados a
fomentar o uso racional de medicamentos. Para além do impacto económico, há uma
crescente evidência sobre os efeitos colaterais e o perfil de segurança destes
medicamentos.
Tendo em vista o uso frequente de inibidores de bomba de prótons em âmbito
hospitalar e a presença da literatura indicando erros frequentes no uso de tais
medicações, este estudo se propõe a fazer uma avaliação da prescrição de inibidores de
bomba de prótons no ambiente da Enfermaria do Hospital Dom Helder Câmara. Foram
analisados itens como ausência e/ou doses inapropriadas, indicações com bases nas
patologias descritas em prontuários, além de tempo de uso por paciente.
A partir dos dados obtidos, esperamos poder fornecer subsídios extras para
melhorar a prescrição e cuidados dos pacientes além de redução dos custos hospitalares
associados.
OBJETIVOS

O estudo pretende avaliar a prescrição de IBP nos doentes internados na


Enfermaria de Clinica Medica, Ortopedia e Cardiologia do Hospital Dom Helder
Câmara do Município de Cabo de Santo Agostinho- PE ,determinar se o seu uso na
profilaxia é apropriado e qual o impacto financeiro associado. Do mesmo modo, no caso
de uso justificado, avaliar se a via de administração adotada (endovenosa vs oral) foi a
adequada. Elaborar e implementar uma norma de orientação clínica para a prescrição de
IBP no hospital.
METODOLOGIA

Foi realizado um estudo transversal, prospetivo e observacional, na Enfermaria


de Clinica Medica, Ortopedia e Cardiologia do Hospital Dom Helder Câmara, nos
meses de Outubro, Novembro e Dezembro de 2022. A obtenção de consentimento
informado não foi necessária uma vez que o estudo se baseou apenas na observação do
processo clínico e da terapêutica do doente. Neste período foram analisados todos os
pacientes hospitalizados, com idade acima de18 anos e que iniciaram IBP nas primeiras
72 horas de internamento. Os registos de farmácia foram posteriormente consultados
para determinar a formulação de IBP utilizada (oral vs venosa) e a respetiva duração. O
uso do medicamento foi considerado justificado se estivesse de acordo com guidelines
internacionais do American College of Gastroenterology6e do American Society of
Health-SystemPharmacy7. Foram previamente definidas indicações para o uso
profilático desta classe de medicamentos, com base nas recomendações destas 2
sociedades científicas.
Assim, a profilaxia da doença ulcerosa péptica (DUP)estaria indicada nos
doentes com risco elevado (múltiplos fatores de risco, história prévia de doença ulcerosa
complicada) ou moderado (presença de um ou mais fatores de risco)6:

Risco elevado
• História prévia de doença ulcerosa complicada (principalmente se recente)
• Presença de múltiplos (> 2) fatores de risco
Risco moderado (1-2 fatores de risco)
• Idade > 65 anos
• Dose elevada de AINE
• História prévia de doença ulcerosa não-complicada
• Tratamento com aspirina, corticoide ou anticoagulante concomitante
Por outro lado, as indicações consideradas aceitáveis para a prevenção da úlcera
de stress foram as seguintes7:
Ventilac¸ão mecânica (> 48 horas)
• Acidose respiratória grave
• Coagulopatia
• Insuficiência renal
• Hipoperfusão (sépsis, choque, disfunc¸ão de órgão)
• Uso de corticoides
• Lesão cerebral/medula espinhal
• Queimaduras graves (área superfície corporal > 35%)
Foram selecionados para o estudo os doentes internados no referido serviço, no
período em análise, que realizaram IBP profilaticamente. Os doentes que faziam uso de
IBP por motivos terapêuticos e os que tinham história de DRGE foram excluídos. Os
doentes que receberam IBP para profilaxia e cujo uso foi considerado apropriado foram
subclassificados como tendo (a) indicação para profilaxia de DUP e/ou (b) indicação
para prevenção de úlcera de stress. A análise do custo foi efetuada com base na duração
do uso inapropriado (oral ou endovenoso) e na utilização de formulação venosa não
justificada. Os dados foram analisados e tabulados através do: “A DEFINIR”

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