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do país exportador, como ele agora é menos abundante no país, visto que é
exportado mais caro. Pelo seu lado, os produtores do bem no país importa-
dor também sofrem porque vêem o bem mais barato do vizinho roubar-lhe
os clientes.
Assim, em cada um dos dois países há quem ganhe e quem perca. Nós
sabemos, pelo raciocínio que vimos acima que, no total, os dois países ficam
melhor devido à troca. Isso quer dizer que, no país exportador o que os
vendedores ganham é mais do que os compradores de leite perdem e, igual-
mente, no país importador o que os compradores ganham é mais do que os
vendedores perdem.
Mas aqui nasce um problema muito curioso de escolha política que,
como vimos na secção anterior, pode ser analisado pela Teoria Económica.
Trata-se de uma situação onde a «autoridade», o funcionamento do sis-
tema político, influencia o «mercado». E, além disso, os mecanismos de
funcionamento do poder político podem ser elucidados com recurso aos
princípios económicos.
Em qualquer país, os produtores do bem são normalmente poucos,
conhecem-se e podem organizar-se. Pelo seu lado, os consumidores do
bem confundem-se com a população em geral; além disso, a multidão de
pessoas que consome o bem tem muito mais preocupações para além do
preço de um bem particular, enquanto que, para os produtores do produto,
esse preço é crucial. Assim, é de esperar que os produtores tenham inte-
resse e facilidade em se organizar, e façam todos os esforços possíveis para
defender os seus interesses, afectados por uma variação pequena do preço
do bem. Pelo seu lado, nunca devemos encontrar motivação suficiente para
que a miríade de consumidores se manifeste para garantir ou contrariar a
mesma alteração no preço do bem.
E este facto de organização política é verdade, quer no país exportador
quer no país importador. Assim, no país exportador, os produtores irão
fazer toda a força possível para garantir as suas exportações para o vizinho,
enquanto os seus compatriotas consumidores, que perdem pela subida
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falta dele nos consumidores – que em todos os países vemos sempre subsí-
dios à exportação e barreiras à importação, mesmo que isso seja contra os
interesses do país todo.
E não se diga que isto só se passa nos países democráticos. É ver-
dade que, numa sociedade como a ocidental em que há liberdade e meios
para cada um exprimir os seus interesses e procurar influenciar o poder,
este fenómeno é mais saliente. Mas desde o Egipto antigo, passando pelos
fenícios e atenienses, pelo Império Romano e pela Idade Média, até aos
navegadores de 500 e os «mercantilistas» de 700, este fenómeno foi uma
constante. O «proteccionismo», assim se chama ao esforço de combater as
importações, já era um monstro secular quando a Economia saiu do berço.
Assim se vê a razão porque se colocam barreiras ao comércio. No
entanto é essencial ter consciência de que, mais do que um sinal de má
vizinhança, as barreiras às trocas, quer internas quer internacionais, são
sempre uma má ideia para o próprio país que as impõe.
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