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ORIENTAÇÕES E RECURSOS

PARA O TRABALHO
PEDAGÓGICO COM A
TEMÁTICA INDÍGENA /2024
SEÇÃO DE APOIO À DIVERSIDADE - SEMED PINHAIS

Menina da tribo
indígena Ianomâmi da
Amazônia na fronteira
da Venezuela.

Fonte: artwolfe.photoshelter.com
ENTREVISTACOM ESCRITOR INDÍGENA DANIEL
MUNDURUKU
Dia do Índio é data 'folclórica e preconceituosa'.

"Ao longo da nossa conversa, como o


senhor prefere ser chamado: Daniel ou
Munduruku?", questionou a BBC News
Brasil ao entrevistado.
Pode chamar de Daniel ou de Munduruku. Como preferir.
Só não chama de índio", disse, dando risada, o escritor....

Doutor em educação pela Universidade de São Paulo e


pós-doutor em Linguística pela Universidade Federal
de São Carlos, Daniel Munduruku defende que a
palavra "índio" remonta a preconceitos - por exemplo, a
ideia de que o indígena é selvagem e um ser do passado
- além de "esconder toda a diversidade dos povos
indígenas". Por isso, "quando a gente comemora o Dia do
Índio, estamos comemorando uma ficção", fala
Munduruku, a respeito do 19 de abril. Reflexo disso são
celebrações da data feitas por escolas, com uma
"figura com duas pinturas no rosto e uma pena na
cabeça, que mora em uma oca em forma de triângulo". "É
uma ideia folclórica e preconceituosa."

Fonte: artwolfe.photoshelter.com
A palavra 'indígena' diz muito mais a
nosso respeito do que a palavra 'índio'.
Indígena quer dizer originário, aquele que
está ali antes dos outros", defende
Munduruku, que pertence ao povo indígena de mesmo
nome, hoje situado em regiões do Pará, Amazonas e
Mato Grosso. "Talvez o 19 de abril devesse ser chamado
de Dia da Diversidade Indígena. As pessoas acham que é
só uma questão de ser politicamente correto. Mas, para
quem lida com palavra, sabe a força que a palavra tem",
continua o escritor, autor de mais de 50 livros para
crianças, jovens e educadores.

BBC News Brasil - Qual o problema da palavra "índio"?


Daniel Munduruku - Do meu ponto de vista, a palavra
índio perdeu o seu sentido. É uma palavra que só
desqualifica, remonta a preconceitos. É uma palavra
genérica. Esse generalismo esconde toda a
diversidade, riqueza, humanidade dos povos indígenas.
Quando a gente usa a palavra índio, estamos nos
reportando a duas ideias. Uma é a ideia romântica,
folclórica. É isso que se comemora no dia 19 de abril.
Aquela figura do desenho animado, com duas pinturas
no rosto e uma pena na cabeça, que mora em uma oca
em forma de triângulo. Há a percepção de que essa é

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uma figura que precisamos preservar, um
ser do passado. Mas os indígenas não
são seres do passado, são do presente. A
segunda ideia é ideologizada. A palavra

índio está quase sempre ligada a preguiça, selvageria,


atraso tecnológico, a uma visão de que o índio tem
muita terra e não sabe o que fazer com ela. A ideia de
que o índio acabou virando um empecilho para o
desenvolvimento brasileiro.

BBC News Brasil - Então, deveríamos abandonar a


palavra "índio" e usar "indígena"?
Munduruku - Uma palavra muda tudo? Sim, uma
palavra muda muito. Nos meus vídeos e palestras, eu
tenho sempre feito uma separação fundamental entre
"índio" e "indígena". As pessoas ainda pensam que índio
e indígena é a mesma coisa. Não é. O próprio dicionário
diz isso. A palavra indígena diz muito mais a nosso
respeito do que a palavra índio. A palavra índio gera
uma imagem distorcida. Já indígena quer dizer
originário, aquele que está ali antes dos outros. Ah,
então eu nasci em São Paulo, eu sou indígena? Não,
você é nativo. Para ser originário precisa ter um
pertencimento a um povo ancestral.

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O antônimo (contrário) de indígena é
alienígena, aquele que vem de fora.
Então, eu uso indígena para reforçar o
fato de que somos originários.
Além disso, eu não sou um indígena qualquer. Eu tenho
um lugar de pertencimento: Munduruku. É importante
reforçar a identidade dos povos.

BBC News Brasil - No Brasil, ainda é muito raro


tratarmos os povos pelo nome. Por quê?
Munduruku - É muito mais fácil usar uma palavra
genérica do que efetivamente dar aos povos indígenas
o peso da sua identidade. Identificar os diferentes
povos indígenas significa garantir a eles direitos e
políticas específicas, não políticas genéricas. BBC
News Brasil - Você já disse que o Dia do Índio,
comemorado hoje, 19 de abril, é "uma farsa".
Munduruku - Quando a gente comemora o Dia do Índio,
estamos comemorando uma ficção, uma ideia folclórica
e preconceituosa. Por isso, quase sempre as
comemorações desta data feitas nas escolas
reproduzem o estereótipo. Mas, se nós continuamos
tratando isso como ficção, vamos continuar
deseducando nossas crianças.
Talvez a data devesse ser chamada de
Dia da Diversidade Indígena. As
pessoas acham que é só uma questão
de ser politicamente correto.
Mas, para quem lida com palavra, sabe a força que a
palavra tem. Tanto que apelido tem uma força
destruidora - e "índio" é, de certa forma, um apelido. Um
Dia da Diversidade Indígena teria um impacto
semelhante ao Dia da Consciência Negra, que gerou
uma mudança absolutamente significativa.

BBC News Brasil - Então, como deveria ser lembrado o


dia 19 de abril?
Munduruku - A sugestão que eu sempre faço para
escolas é que a gente possa deixar de usar o 19 de abril
como uma data comemorativa. É uma data para a gente
refletir. Deve gerar nas pessoas um desejo de conhecer,
de entrar em contato com essa diversidade dos povos
indígenas.

BBC News Brasil - Ainda há muito estereótipo no 19 de


abril, ou já houve uma mudança?
Munduruku - Houve um avanço muito grande na
sociedade. Mas, sem dúvida nenhuma, hoje ainda se
reproduz muito desse imaginário do "índio". E isso
acontece por causa da escola. A escola é a última
instituição a se atualizar.
O que acabou ajudando na atualização
dos professores foi a lei 11.645, de 2008,
que obrigou que a temática indígena
saísse do 19 de abril e se tornasse parte
de algumas disciplinas escolares. Isso
criou condições para os professores se atualizarem,
porque obrigou os governos a comprarem livros,
oferecerem cursos.

BBC News Brasil - Como foi o seu processo de se


reconhecer como indígena e Munduruku?

Munduruku - Eu nasci em 1964, ano do golpe. Em 1967,


os militares criaram a Funai, que tinha entre suas
prioridades nos tornar civilizados. Isso significava
apagar nossa história, nossa identidade. É nesse
momento que eu fui para escola. Eu sofri muito
bullying, muita violência moral. E isso criou em mim
uma espécie de ojeriza pela minha identidade
Munduruku.

BBC News Brasil - Como era o bullying na escola?


Munduruku - O bullying é uma forma de criar na gente
uma repulsa por aquilo que somos. Na escola, me
chamavam de índio de uma forma pejorativa. Dizendo

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ue índio é bicho, é selvagem. Não
queriam fazer atividade comigo porque
índio não é inteligente.
Parte do ano escolar eu vivia na cidade -
essa era uma das estratégias da Funai
naquela época, tirar a gente do convívio com a
comunidade, para não falar a língua indígena, não
conviver com rituais.
Já nas férias escolares, a gente voltava para a aldeia.
Mas, algumas vezes, a gente nem queria mais ir para
aldeia, com uma certa rejeição à nossa própria cultura.
Quem abriu em mim outra perspectiva foi meu avô. Ele
me fez aceitar minha identidade Munduruku e gostar
de ser quem eu era.

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COMO ABORDAR HISTÓRIA E CULTURA
INDÍGENAS EM SALA DE AULA?

O texto da Revista Nova Escola, subtítulo análogo:


“Para além do Dia do Índio: como abordar história e
cultura indígenas em sala de aula?”, nos traz
importantes reflexões a respeito dos estereótipos que
a escola reproduz em relação à cultura e a história dos
povos indígenas, demonstrando a necessidade de
revisão dos modos de pensar e de fazer da escola em
relação ao ensino desta temática, de forma a “valorizar
os saberes indígenas e trabalhar com questões
contemporâneas e de forma crítica durante todo o ano”.
Segundo Cláudio Gomes da Victória, diretor da
Faculdade de Educação da Universidade Federal do
Amazonas (UFAM), desde 2008, quando a Lei 11.645 foi
sancionada, em que o estudo da história e da cultura
dos povos indígenas se tornou obrigatório nas escolas
“houve um avanço por conta dessa obrigatoriedade de
inserir o tema no currículo. É possível enxergar,
inclusive nos livros didáticos, alguma coisa nesse
sentido. Mas percebemos ainda o espaço Muito tímido

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geralmente apenas em projetos ou em datas
específicas”, comenta o pesquisador, lembrando que
muitas vezes esse assunto é abordado apenas no “Dia
do Índio”.

SEM ESTEREÓTIPOS
Conheça 4 formas de não retratar os povos indígenas
para os educandos:
1. O indígena do passado
Um dos grandes estereótipos quando o assunto são os
povos indígenas é retratá-los como sujeitos parados no
tempo, estudando apenas as populações dos séculos 16
e 17.
“Ser indígena hoje significa fazer uso de outros
elementos culturais que não faziam parte da cultura
deles, mas que hoje fazem”, diz Cláudio. Raimundo
lembra que é importante os estudantes saberem que os
indígenas atualmente não vivem isolados e, em geral,
não utilizam as vestes de penas que as escolas
costumam associar a eles.
2. indígenas são todos iguais
De acordo com o último Censo, de 2010, existem 305
etnias e 274 línguas indígenas no Brasil. Isso mostra a
diversidade dos povos indígenas. Retratá-los como
sendo todos iguais, portanto, é um erro que diminui sua
história e cultura.

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3. Festa vazia
Muitas vezes, as escolas abordam a temática indígena
apenas no Dia do Índio, realizando festas nas quais os
alunos se vestem com cocares e saias de penas.
Esse estereótipo reduz a cultura indígena e faz com que
o tema seja abordado de forma rasa e vazia. Se
elementos como a pintura corporal forem utilizados, é
necessário que as atividades venham acompanhadas de
reflexão sobre o tema, sem a apropriação da cultura
indígena.
4. Preguiçoso ou guerreiro
Geralmente os indígenas são retratados como povos
preguiçosos ou como sujeitos extremamente guerreiros.
Mais uma vez, isso acaba criando um imaginário
deturpado da história e da cultura indígena real.

A temática em todos os componentes curriculares


De acordo com a Lei 11.645, o estudo da história e da
cultura indígena deve ser “ministrado no âmbito de
todo o currículo escolar”, ou seja, abordado de forma
transversal em todos os componentes curriculares.
“O grande problema é que nossas escolas são
formatadas a partir de uma concepção de
conhecimento ocidental, do conhecimento dito
superior, e tudo aquilo que se coloca ‘abaixo’ disso não
seria conhecimento”, afirma Cláudio.

Fonte: artwolfe.photoshelter.com
“A dificuldade, então, é dialogar com outros tipos de
conhecimento. Elementos da cultura indígena poderiam
estar transversalizados em todos os conteúdos”,
completa. Desta forma, valorizar esses saberes
indígenas é essencial para que o tema apareça em
todos os componentes curriculares.
Em Língua Portuguesa, por exemplo, é possível estudar
palavras que foram herdadas dos indígenas ou até as
diferenças entre dicionários de português e de línguas
indígenas. Em Matemática, dá para explorar a forma
como diferentes povos lidam com a numeração.
Em Ciências, a relação entre os povos indígenas e os
elementos da natureza são uma opção de trabalho. Em
História e Geografia, contextos e economias locais
podem ser abordados. Em Arte, podem aparecer os
artesanatos indígenas.
“As possibilidades são diversas se o professor tiver em
mente que é necessário dialogar com os saberes
indígenas”, comenta Cláudio. “É necessário fazer esse
diálogo entre aquilo que é científico e aquilo que não é
considerado científico, mas que também é um saber.”

COUTINHO, Dimítria. Para além do Dia do Índio: como abordar história e cultura indígenas em
sala de aula. Nova Escola, Sao Paulo, ano 2022, 11 abr. 2022. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/21185/para-alem-do-dia-do-indio-como-abordar-historia-e-
cultura-indigenas-em-sala-de-aula?
utm_source=pushalert&utm_medium=push_notification&utm_campaign=pushalert_campaign.
Acesso em 15/03/2024.

T Fonte: artwolfe.photoshelter.com
PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR (PPP) E
SUGESTÕES DE MATERIAIS PEDAGÓGICOS
SOBRE A TEMÁTICA INDÍGENA

CAMPOS DA EXPERIÊNCIA

O eu, o outro e o nós;


EDUCAÇÃO Corpo, gestos e movimentos;
Traços, sons, cores e formas;
INFANTIL Escuta, fala, pensamento e imaginação;
Espaços, tempos, quantidades, relações e
transformações.

ÁREAS DO
CONHECIMENTO
ENSINO Linguagens;
Matemática; Ensino Religioso;
FUNDAMENTAL Ciências Humanas; TDIC´s
Ciências da Natureza;
PPC

ÁREAS DO
CONHECIMENTO
Lingua Portuguesa;
EJA Matemática;
TDIC´s

Ciências Sociais e da
Natureza;

EIXOS

Saúde e bem-estar ;
Linguagem e comunicação
ENSINO INTEGRAL Formação cidadã ;
Desenvolvimento artístico e cultural
Orientacao Pedagogica para estudos .

Com base na PPC do Município de Pinhais e as


orientações necessárias para o trabalho Pedagógico
com a temática indígena, sugerimos alguns materiais
de apoio ao professor, destinados para seu subsídio
e/ou utilização com os educandos.

Fonte: artwolfe.photoshelter.com
MATERIAL
IMPRESSO/EBOOK

Minidicionário Indígena

Brasil Indígena - senso IBGE

Encarte senso IBGE

A História dos povos indígenas


brasileiros

Direitos e deveres dos povos


indígenas

Jogos e Brincadeiras
Indígenas

Madikauku os dez dedos das mãos :


matemática e os povos indigenas no
Brasil
CARTILHA DE
DIREITOS INDÍGENAS

ário Indígena Fonte: artwolfe.photoshelter.com


Cartilha de direitos indígenas

SOS Yanomami

Encarte senso IBGE

Catálogo de instrumentos
musicais do povo YUDJA

Direitos e deveres dos povos


indígenas

Jogos e Brincadeiras
Indígenas

Madikauku os dez dedos das mãos :


matemática e os povos indigenas no
Brasil

ário Indígena Fonte: artwolfe.photoshelter.com


inhais e as
Pedagógico
ns materiais
ubsídio e/ou
o IBGE

MATERIAL
IMPRESSO/EBOOK

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