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estereotipos

Publicado em NOVA ESCOLA 27 de Abril | 2021

Prática pedagógica

Educação Infantil: como abordar


a cultura indígena para além dos
estereótipos
Vamos refletir como podemos mudar nossa prática pedagógica para falar
sobre povos indígenas de uma forma mais respeitosa e próxima da
realidade. Confira sugestões:
Evandro Tortora

Crédito: Getty Images

Assim como acontece em outras datas no calendário escolar, o “Dia do Índio” é trabalhado, em muitos
casos, de forma preconceituosa, estereotipada e empobrecida. Reforça-se a imagem do indígena
como aquele que mora numa oca e anda por aí “fantasiado” ou sem roupa pela floresta.

Uma pesquisa rápida nos mostra que essa perspectiva está muito presente nos planejamentos da
Educação Infantil. Se digitarmos “atividades para o dia do índio” no YouTube encontramos sugestões
de cocares para serem confeccionados com cartolina, enfeites de pena e músicas infantis que
reforçam estereótipos. Essas propostas são difundidas há anos e desconsidera a vivência e luta dos
povos indígenas brasileiros.

O que fazer (e o que não fazer) ao abordar os povos indígenas em suas


aulas
Abandonar estereótipos e se informar sobre sua diversidade é compromisso de respeito que
escolas e professores não indígenas podem (e devem) assumir.

APROFUNDE-SE

Não me cabe aqui falar pelos indígenas. Trago essa reflexão como um professor que reconhece os
erros que são cometidos há anos e busca formas de propiciar experiências que apresentem a cultura
indígena de uma maneira respeitosa e realista. Esse trabalho deve ser constante e não apenas
próximo do dia 19 de abril. Pensando nisso, convido você, professor e professora, a vir comigo para
refletir sobre como trabalhamos a temática com as crianças.

Como fica o trabalho com as crianças dentro desta perspectiva

O primeiro passo é olhar para o que dizem os documentos oficiais sobre esse assunto. A Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) ressalta que o planejamento de ações pedagógicas deve assumir
o “[...] compromisso de reverter a situação de exclusão histórica que marginaliza grupos – como os
povos indígenas originários e as populações das comunidades remanescentes de quilombos e demais
afrodescendentes [...]”.

Sendo assim, devemos ter um compromisso de combater visões deturbadas do indígena e abordar
sua cultura de uma maneira mais próxima da realidade. Por isso, devemos desmistificar visões
estereotipadas que temos sobre esses grupos. Atualmente sabemos que os povos indígenas
sofreram um massacre e que, ao longo da história, precisaram resistir à tentativa de extinguir suas
culturas. Também temos conhecimento que existe uma grande diversidade entre os grupos, os quais
falam línguas distintas, usam trajes diferentes e possuem variadas celebrações, ritos e manifestações
culturais. Muitos vivem nas cidades, outros preferem não ter contato com os não-indígenas. Seja qual
for a opção deles, ela deve ser respeitada mantendo seu direito de manter sua própria identidade em
qualquer espaço.

O próximo passo é realizar uma pesquisa sobre essa temática. Procure por livros e materiais que
tragam qualidade para este trabalho. Recentemente, o Nova Escola Box preparou um conjunto de
conteúdos sobre como trabalhar a cultura indígena na Educação Infantil, no qual encontramos
exemplos de brincadeiras e outros elementos da cultura indígena que podem apoiar seu trabalho.

Vá além do 19 de abril: todo dia é dia dos povos indígenas


Conheça estratégias e sugestões de atividades para inserir a cultura indígena no planejamento do
ano inteiro, ressaltando a diversidade dos povos originários brasileiros e a necessidade de evitar
estereótipos

LINK

Para pensar as atividades que serão desenvolvidas, eu sempre digo que o ideal é ouvir pessoas
indígenas e, quando for possível, trazê-los para conversar com as crianças. Nesta oportunidade, seria
muito interessante levantar assuntos e curiosidades sobre o que a turma gostaria de saber sobre a
pessoa que irá visitá-los. Podem preparar juntos uma entrevista para saber um pouco mais sobre
como os descendentes destes povos vivem hoje em dia.

Na impossibilidade desse encontro, devemos parar de repetir práticas como confeccionar ou comprar
cocares de cartolina; pintar os rostos das crianças e as fantasiar; cantar e pular emitindo sons com
mão batendo na boca; apresentar os indígenas como “selvagens” que vivem apenas nas florestas ou
como povos do passado e deixar de salientar que existem grupos indígenas no Brasil
contemporâneo.

No lugar disso, podemos trazer objetos da cultura indígena para que a turma possa conhecê-los;
buscar músicas destes povos para que os pequenos possam conhecê-las e apreciá-las; investigar
brincadeiras e costumes na infância das crianças indígenas; estudar características das diferentes
línguas indígenas de diversos povos brasileiros; apresentar exemplos de indígenas que vivem em
nossa sociedade e trabalham como médicos, fotógrafos, professores, entre outras atividades.

Como podemos perceber, há muitas formas de levar a cultura indígena para as crianças de uma
forma mais respeitosa. Talvez esse seja o mínimo que nós, não-indígenas, possamos fazer para buscar
caminhos que possam se aliar às demandas sociais tão urgentes dos povos indígenas.

E, você, professor e professora, como trabalha a temática com as crianças?

Um abraço carinhoso e até a próxima!

Evandro

Evandro Tortora é professor de Educação Infantil há 7 anos na Prefeitura Municipal de Campinas,


licenciado em Pedagogia e Matemática e doutor em Educação para Ciência pela Universidade Estadual
Paulista (UNESP) de Bauru. Além da docência na Educação Infantil, tem experiência com pesquisas na
área da Educação Infantil e Educação Matemática, bem como desenvolve ações de formação
continuada para professoras e professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental.

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