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PAIXÃO DE CRISTO 2024

A paixão começa da seguinte maneira…

Duas matérias e a Sabedoria. Os três irão narrar todas as cenas da paixão de


Cristo

CENA 1
(fundo musical. A sabedoria no meio das duas matéria começa)

Sabedoria: Na aurora dos tempos, quando a escuridão se desfez diante da luz


da criação, eu, a Sabedoria, fui sussurrada nos ventos primordiais. Em cada fio
do tecido cósmico, minha presença foi entrelaçada, como uma melodia que
ecoava através do vasto silêncio do universo.

Nos primeiros suspiros do cosmos, fui a inspiração divina que guiou cada
movimento. Ao flutuar sobre as águas primordiais, vi a ordem emergir do caos,
cada estrela e galáxia dançando em harmonia cósmica.

Quando a Terra acolheu a vida, estive presente na formação do homem.

Barro: No ato primordial da criação, quando o sopro divino acariciou o vazio, a


Sabedoria divina escolheu moldar o homem a partir do barro, um substrato
terreno que se tornaria o alicerce da existência humana.

Eu, extraído das entranhas da terra, simboliza a origem humilde do homem. Do


solo fértil, onde repousam as sementes da vida, emergiu o material do qual a
humanidade foi formada. O Criador, com mãos divinas, mergulhou nas
profundezas da matéria para esculpir a obra-prima da existência.

Quando eu adquiri a forma perfeita, faltava me o alento da vida. O sopro divino,


como uma melodia suave, deu vida ao homem. O encontro do barro com o
sopro, um casamento sagrado entre o terreno e o divino, inaugurou a jornada
da humanidade na trama cósmica.

Cinzas: Do trono celestial, mergulho o olhar na efemeridade de mim, as cinzas,


onde o pó se mistura com as lágrimas da existência humana. Em mim,
vislumbro o reflexo da narrativa redentora que se desdobra sob o olhar
compassivo da Sabedoria divina.

Eu, símbolo do pó ao qual o homem foi destinado, ecoam a lembrança da


queda. Revelo a fragilidade da carne, a transitoriedade que se insinuou quando
o homem, em sua busca equivocada, desviou-se da orientação divina.

CENA 2

(Jesus entra em cena enquanto conta sua história e encara o povo)


Sabedoria: O princípio e o fim. Alpha e Ômega.
No tecido do tempo, emergiu um homem que transcendia as fronteiras do
ordinário, um ser cuja humanidade era profunda e sublime - Jesus.

Cinza: Na poeira das estradas de Nazaré,


Sua jornada começou, e cada passo era uma pegada marcada pela divindade
que pulsava em Sua humanidade.

Barro: Sua visa fora moldada pelo calor do sol sobre as colinas da Galileia.
Entre o traçado de casas modestas e o som dos martelos na carpintaria, Jesus
cresceu, aprendendo com o toque rude da madeira
e com o sabor dos pães frescos que sua mãe assava. Sua humanidade se
revelava na infância comum, onde o divino estava entrelaçado nas nuances do
cotidiano.

Cena 3

(Os discípulos entram, do meio do povo, um de cada vez e se aproximam de


Jesus)

Cinzas: Ali ele escolheu seus amigos, diferente do que muitos possam
imaginar.
Pessoas comuns, tirados no meio do povo. Ali não existia divindade.

Barro: A escolha dos Doze discípulos por


Jesus ressoa como um cântico complexo, tecido com os fios da Sabedoria
Divina. Cada nome chamado, cada rosto escolhido, representa uma nota na
partitura eterna, traçando uma melodia que transcende o tempo e ecoa nas
esferas mais profundas do conhecimento divino.

Sabedoria: A Sabedoria divina, mestre da harmonia, escolheu os Doze como


notas distintas, cada uma contribuindo para a riqueza do concerto divino.
Pescadores e cobradores de impostos, homens de origens diversas,
convergiram em uma sinfonia de diversidade, representando a amplitude da
criação e a universalidade da mensagem redentora.

Cena 4

Sabedoria: Nas mesmas estradas onde os pés deste homem pisaram,


também existia Maria Madalena. Envolta pelas sombras de seu próprio ser,
encontrou-se um labirinto de sete demônios, uma sinfonia dissonante que
ecoava em sua alma.
Cada demônio representava uma ferida profunda, uma corrente que a
mantinha prisioneira e m um cativeiro emocional.

Barro: O primeiro demônio, o Demônio da Culpa, sussurrava incessantemente


em seus ouvidos, recordando-a de erros passados, uma dança de sombras
que a envolvia em remorso constante. A culpa tornou-se uma corrente,
arrastando-a para as profundezas da escuridão

Cinzas: O segundo demônio, o Demônio da Vergonha, cobria Maria com um


manto pesado, obscurecendo sua visão para a própria luz interior. Cada olhar
lançado sobre ela se tornava um julgamento, alimentando a chama da
vergonha que ardia em seu peito.

Sabedoria: O terceiro demônio, o Demônio do Desespero, plantava sementes


de desesperança, fazendo com que Maria duvidasse da possibilidade de
redenção. Seus passos se tornaram mais pesados, carregando o fardo da
desesperança que a envolvia como uma névoa densa.

Barro: O quarto demônio, o Demônio da Solidão, afastava Mariade qualquer


calor humano, isolando-a em uma prisão emocional. A solidão, como um eco
solitário, ressoava em seu coração vazio, tornando cada passo mais penoso.

Cinzas: O quinto demônio, o Demônio do Medo, teceu um véu sombrio ao


redor de Maria, paralisando-a diante das possibilidades do futuro. Cada
escolha parecia encoberta por sombras, gerando um pavor que a consumia
lentamente.

Sabedoria: O sexto demônio, o Demônio da Rejeição, transformava qualquer


gesto de amor ou aceitação em um espelho quebrado. A autoestima de Maria
desmoronava diante da sensação constante de ser rejeitada, uma ferida
profunda que a fazia duvidar de seu próprio valor.

Barro: O sétimo demônio, o Demônio da Perda, a confrontava com a dor da


ausência, cada lembrança perdida se transformando em uma corrente
adicional. Cada perda, seja de entes queridos ou de partes de si mesma,
alimentava a escuridão dentro dela.

Maria Madalena Grita

Sabedoria: A virada na história de Maria Madalena ocorreu quando ela se


deparou com a presença de Jesus.

(com a música de "Canção de Madalena", Maria Madalena está com 7 fios


amarrado em seu corpo e começa a dançar ao som da música. Os 7 demônios
conduzem os movimentos de Madalena fazendo como possessão. Ao longo da
música Jesus entra e vai cortando os fios e libertando Maria Madalena dos
demônios, no final do último demônio ele segura maria madalena e diz: )

Jesus: Maria de Magdala

(apaga luz em Jesus e Maria Madalena)

CENA 5

Sabedoria: Todos aqueles que passaram pelo caminho deste homem, tinham
suas vidas transformadas

Barro: Como no início, aquilo que era um barro seco recebe um sopro de
transformação de vida

Cinzas: Aquilo que era cinza, espalhadas e desprezadas tornam-se sinal de


vida e redenção.
Sabedoria: Aquilo que era improvável, inimaginável, impensável e distante.
Um judeu e uma samaritana.

Barro: Assim como o barro na mão do oleiro é modelado e refeito

Cinzas: Assim como as cinzas que se espalham e alcançam horizontes

Sabedoria: Sim, sim! Este é o Homem que quebra barreiras e alcança o


inalcançável.

(entra boa samaritana, com um jarro na mão ela observa o poço e começa a
cantar - "Tu és")

(Jesus entra na parte que ela canta - "Dai- me de beber)

(Jesus abaixa, toca na água e diz:)

Jesus - Todo o que beber desta água terá cede de novo, mas quem beber da
água que eu darei, nunca mais terá cede, porque a água que eu dará se
tornará nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna

Samaritana - Vinde ver o Messias, vinde ver o Homem! Que me disse tudo o
que eu fiz, não será ele o Cristo?

CENA 6

Sabedoria: Naquele ocaso sagrado, onde a luz suave do entardecer banhava


a sala da última ceia, eu, testemunha privilegiada, respirei o ar impregnado de
significados divinos. O ambiente reverberava com uma energia solene,
enquanto cada olhar trocado entre os discípulos e Jesus parecia carregar o
peso de séculos de história prestes a se desdobrar.

Barro: Naquela atmosfera carregada de antecipação, os discípulos, inebriados


pelo magnetismo de Jesus, reuniam-se em torno da mesa como peregrinos
diante de um portal místico.

Cinzas: As palavras de Jesus, permeadas de uma sabedoria que transcende o


tempo, ressoavam nas paredes da sala. Cada sílaba, carregada de significado
etéreo, penetrava profundamente em suas almas, como se ele estivesse
tecendo o próprio destino em que estávamos imersos.

(DISCÍPULOS E JESUS SE REÚNEM PARA A ÚLTIMA REFEIÇÃO)

Jesus: Em verdade vos digo que um de vós me há de trair.

(COMEÇAM A MURMURAR, ALGUNS PERGUNTAM EM VOZ ALTA)

Discípulos: Serei eu Mestre?


• Sou eu Senhor?
• Porventura sou eu, Senhor?
Jesus: O que põe comigo a mão no prato, esse me há de trair. Em verdade o
Filho do homem vai, como acerca dele está escrito, mas ai daquele homem por
quem o Filho do homem é traído! Bom seria para esse homem se não tivesse
nascido.

Judas: Porventura sou eu, Mestre?

Jesus: Tu o disseste, vai, e fazes o que tens de fazer.

(JUDAS OLHA PARA JESUS E SAI)

(JESUS PEGA O PÃO NOVAMENTE, ABENÇOA E O PARTE)

Jesus: Tomai, comei, isto é o meu corpo.

(TODOS COMEM)

(PEGA O CÁLICE)

Jesus: Bebei dele todos; Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo
testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados.

(TODOS BEBEM)

Jesus: E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vida, até
aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai.

Jesus:Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim; porque está escrito:
Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão. Mas, depois de eu
ressuscitar, irei adiante de vós para a Galiléia.

Pedro: Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei.

Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante,
três vezes me negarás.

Pedro: Ainda que seja preciso morrer contigo, não te negarei.

Jesus: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar.

(JESUS SAI)

CENA 7

Cinzas: Ao se afastar dos discípulos, Jesus buscava, em meio à oliveiras


centenárias, uma comunhão íntima com o Pai. Era percebido a interseção de
duas naturezas em conflito: a divina, comprometida com o plano redentor, e a
humana, que experimentava o peso avassalador da antecipação do sofrimento.

Sabedoria: Naquele jardim, à luz trêmula das estrelas, o Filho de Deus,


carregando o fardo da redenção, sentiu a angústia dilacerante de sua
humanidade.

Barro: A sombra pairava como uma testemunha silenciosa, percebendo as


camadas profundas de tormento nos pensamentos de Jesus. Seus olhos,
reflexos do universo divino, enxergavam além do horizonte material,
alcançando os recantos mais sombrios da condição humana.
(Entrada de Diabo)

DIABO: (sussurrando, voz sedutora) Jesus, Filho de Deus, vejo a agonia em


tua alma. O fardo que carregas é pesado demais para qualquer ser humano
suportar.

JESUS: Satanás, tu não entenderás a natureza divina deste caminho.

DIABO: Ah, Jesus, a humanidade te vê como seu Salvador, mas será que
entendem o preço que tu pagas? A dor, a solidão...

DIABO: Veja, aqui está a visão da solidão. Teus seguidores, teus amigos,
todos te abandonarão quando mais precisares. A cruz que te aguarda é uma
carga insuportável, e as lágrimas da humanidade serão tuas lágrimas.

JESUS: As lágrimas são parte do sacrifício pela redenção. A solidão, uma


companheira temporária neste caminho.

DIABO: Jesus, por que suportar tamanha dor? Se és verdadeiramente Filho


de Deus, por que não aliviar este fardo? Prove aos homens tua divindade.
Abandone esta cruz.

JESUS: Não é pela minha glória, mas pela salvação deles. O sofrimento é o
preço da redenção, e o caminho da cruz é o caminho do amor.

JESUS: Parte, Satanás. Meu propósito vai além do sofrimento imediato. É o


renascimento da esperança, a luz em meio à escuridão.

DIABO: Jesus, tua missão é em vão! A humanidade é falha e irredimível.


Abandone esse ideal de redenção.

JESUS: A fé é mais poderosa do que imaginas, Satanás. A redenção é


possível porque o amor supera a imperfeição.

DIABO: Desista, Jesus! O sofrimento não vale a pena!

JESUS: Satanás, teu entendimento é limitado. Este caminho de sofrimento é o


caminho da compaixão, da salvação. Não desistirei.

(Diabos sai)

JESUS: Pai, fortalece-me para enfrentar o que está por vir. Que tua vontade
seja feita.

CENA 8

Sabedoria: Na encruzilhada da história, a traição de Judas desdobrou-se como


uma sombra sinistra nos corredores do divino e humano.

Barro: Judas, entre os discípulos escolhidos, era uma peça no tabuleiro do


destino. A história discernia nas entrelinhas da escolha de Judas uma
complexidade humana que se debate entre a luz e a escuridão. Seus passos
vacilantes em direção à traição ressoavam como ecos de um conflito interior
profundo.

Cinzas: Foi entendido que a traição de Judas não era apenas uma mera
transação monetária. Era um mergulho nas águas turbulentas do ego,
alimentado por um descontentamento não compreendido. A cegueira da
ambição obscurecia sua visão para a verdade que emanava daquele que
chamavam Mestre.

(DISCÍPULOS ENTÃO DORMINDO E OS SOLDADOS SE APROXIMAM COM


JUDAS)

Jesus: Quem vocês estão procurando?

Soldados: Jesus de Nazaré.

Jesus: Sou eu! Quem vocês estão procurando?

Soldados: Jesus de Nazaré.

Jesus: Já lhes disse que sou eu. Se vocês estão procurando por mim, então
deixem estes homens irem embora.

(PEDRO PEGA UMA ESPADA E FERE UM SOLDADO NA ORELHA)

Jesus: Guarde a sua espada! Eu tenho que beber do cálice de sofrimento que
meu Pai me deu.

(JUDAS BEIJA O ROSTO DE JESUS)

Judas: Salve Mestre!

Jesus: Judas, tu trais o Filho do Homem com um beijo?

(SOLDADOS PRENDEM JESUS E OS LEVAM)

CENA 9

Pilatos: Que barulheira é esta? Que quereis vós, e o que vos trazes aqui? De
que acusais este homem?

Caifás: Se este homem não fosse um malfeitor, não te entregaríamos!

Pilatos: Pois bem: tomai-o vós mesmos e julgai-o segundo a vossa lei.

Caifás: Não temos direitos de condenar ninguém à morte, embora saibamos


que este é merecedor. Encontramos este homem, sublevando o povo, e
proibindo de pagar o tributo a Cezar, dizendo dizer ser o Cristo Rei.

Pilatos: (PARA JESUS). És tu o Rei dos Judeus?

Jesus: Tu o dizes, eu sou!

Pilatos: Mas, não encontro neste homem crime algum.

Caifás: Mas, excelência, ele sublevava o povo com falsa doutrina, que veio
ensinando por toda a Judéia, por onde começou até aqui.
Pilatos: Então, este homem é Galileu?

Multidão: Sim.

Pilatos: Então é justo que o leve para o Rei Herodes, pois ele é quem deve
julgá-lo. Tomem este homem e o levem a casa de Herodes. Levem-no!

CENA 10

Barro: Nas sombras da traição, onde o destino se entretece com escolhas


irreversíveis, encontramos Judas, figura atormentada em seu próprio labirinto
de arrependimento. Ele caminha por um caminho ladeado por lágrimas de
prata, uma trilha traçada pela decisão que ecoaria por séculos.

Sabedoria: Judas, em sua agonia, carrega o fardo da consciência pesada,


uma carga insustentável moldada por trinta moedas de prata. Seu lamento
ressoa no silêncio da noite, uma melodia de desespero que se mistura com o
ruído traiçoeiro do beijo que marcaria sua jornada na história.

Através das palavras que reverberam em sua mente, Judas expressa um


desejo ardente de voltar no tempo, desfazer as tramas que o envolveram,
impedir a dança cruel das sombras e da prata que levou à traição. Contudo,
suas súplicas encontram apenas o eco vazio do passado, onde escolhas feitas
tornam-se grilhões inquebráveis.

Cinzas: O arrependimento de Judas é um oceano profundo de angústia, onde


as ondas de remorso quebram incessantemente nas rochas da consciência.
Ele contempla a amizade perdida, agora obscurecida pelo peso da traição, e
seu coração, como um terreno desolado, anseia por uma redenção que parece
escorregar por entre seus dedos.

Em seus momentos finais antes de entregar Jesus, Judas busca algo que a
prata não pode comprar: perdão. Seus olhos refletem a tormenta interior, uma
tempestade de culpa e desespero. Ele enfrenta a realidade de que sua escolha
se tornou um capítulo sombrio na história, uma cicatriz na narrativa da
redenção.

Barro: Nas sombras do seu próprio arrependimento, Judas se torna um


símbolo complexo da natureza humana, capaz de escolhas que transcendem o
entendimento. A traição de Judas é um eco doloroso, uma recordação de que,
mesmo na presença do divino, o livre-arbítrio pode conduzir a desfechos
amargos.

(ENTRA JUDAS EM AGONIA)

Judas: Oh céus, como pude cair tão fundo na escuridão da traição? No


profundo da minha alma, encaro a tempestade que desencadeei. Cada passo
em direção à traição ressoa como um eco interminável, cada moeda que recebi
por meu ato ecoa em minha consciência como um som melancólico.

Cada palavra que pronunciei, cada gesto que executei, conspiraram para selar
o destino daquele que chamava de Mestre. A moeda de prata que queima em
minhas mãos não é apenas a recompensa da traição, mas a venda da minha
própria alma. Na busca por poder, esqueci o valor da verdadeira amizade e da
graça divina que caminhava ao meu lado.

Se ao menos pudesse voltar no tempo e desfazer o que fiz! Mas as memórias


permanecem como cicatrizes, lembranças dolorosas de uma escolha
irrevogável.

Satanás: Estás arrependido, Judas? Amaldiçoado seja aquele que entrega a


própria alma ao abismo, e tu, carregas agora o fardo de uma maldição auto
imposta.
Cada passo em direção à traição foi um contrato selado com o maligno.
Aqueles que pecam contra sua própria vontade, de livre arbítrio entregue às
trevas, estão destinados a trilhar um caminho que leva diretamente ao meu
domínio. Eis que te encontro, Judas, neste abismo de arrependimento, onde as
sombras dançam ao redor de tua alma perturbada.
Do lado do mal, Judas, do lado que te acolhe quando os pecados se tornam
um fardo insustentável. Este é o teu prêmio, (MOSTRA A CORDA) teu destino
traçado pelas próprias mãos que selaram a traição. A morte, Judas, é a
recompensa para aqueles que entregam suas almas a mim

(ENFORCAMENTO DE JUDAS)

CENA 11

Sabedoria: Na sinfonia da noite escura, onde o som das próprias escolhas


reverbera, encontramos Pedro, uma figura complexa no épico da traição e da
redenção. Seu momento de negação se torna um movimento doloroso nessa
composição, uma nota dissonante que ecoa através dos séculos.

Cinzas: Ao pé da fogueira crepitante, sob o olhar triste da lua, Pedro se


encontra diante do dilema de seu próprio caráter. A tensão no ar é palpável,
uma harmonia distorcida entre a lealdade e o medo. O crepitar das chamas
parece acompanhar o ritmo acelerado de seu coração.

(MULTIDÃO ANDANDO PELO PALCO, PEDRO COM O CORAÇÃO


APERTADO)

Mulher 1: Este homem também estava com Jesus de Nazaré. Vi-o muitas
vezes em sua companhia.
Pedro: Eu? Te enganas mulher! Não conheço tal homem e não sei do que
falas.

Mulher 2: Este homem é amigo de Jesus, o Nazareno. Por acaso, não se


chamas Pedro?
Pedro: Já vos disse, eu não conheço este homem, tão pouco sei do que ele
está sendo julgado.

Mulher 3: Certamente este homem é um deles, pois é Galileu e fala da mesma


língua que Jesus. Estais a mentir, como podes negar isso, pois tua voz te
denuncia?
Pedro: Já disse que não sou amigo de Jesus. Não o conheço, não o
conheço…

(TODOS SAEM RAPIDAMENTE DO PALCO, PEDRO FICA SOZINHO)

Pedro: Oh, meu Deus, a predição tornou-se realidade. Neguei Jesus três
vezes... Como fui capaz de sucumbir ao medo, à fraqueza da carne? Mestre,
meu coração está mergulhado na escuridão da minha própria traição. Antes eu
morra contigo, antes de negar vossa parte... Eu, que ousei acreditar que minha
fé era inabalável, vejo agora que sou feito de barro, moldado pelas mãos da
minha própria fragilidade. Senhor, eu... imploro Tua misericórdia.

Barro: Na sinfonia da negação de Pedro, a complexidade emocional é tecida


em cada nota. O medo, a lealdade fragmentada e a tristeza se entrelaçam,
formando uma tapeçaria de emoções que ecoarão ao longo da narrativa.

Sabedoria: Entretanto, na melodia triste da negação, há uma esperança sutil.


As lágrimas de Pedro, mais do que meras gotas d'água, simbolizam a semente
da redenção. A música, embora carregada de tristeza, sugere que, mesmo nas
notas mais sombrias, pode surgir a possibilidade de perdão e restauração.

Cinzas: Pedro, na sinfonia da negação, torna-se uma figura trágica e, ao


mesmo tempo, humana. Sua história é um eco da fragilidade humana e da
capacidade de transcender a negação por meio do poder do perdão. Assim, a
narrativa de Pedro se entrelaça na tapeçaria mais ampla da jornada espiritual,
onde a redenção emerge das cinzas da negação.

CENA 12

Sabedoria: No teatro da existência, o julgamento de Jesus diante de Herodes


e Caifás desdobrou-se como um momento de profunda ironia e significado. O
tecer das eras era moldado, contemplando do alto esse episódio com um
entendimento que ultrapassava os limites da temporalidade.

Cinzas: Diante de Herodes, a futilidade da busca de entendimento em um rei


terreno. Com sua pompa e autoridade, era uma marionete da vaidade, incapaz
de discernir a verdade que estava diante dele. O lamento da superficialidade do
julgamento era nítido, onde a verdade divina se confrontava com a
superficialidade mundana.

Barro: Ao encarar Caifás, foi discernidos nas palavras acusatórias uma trama
de interesses políticos e religiosos. As acusações ecoaram como um sinistro
eco de uma justiça distorcida. Contudo, esse julgamento terreno não
determinaria o destino cósmico de Jesus, mas era parte de uma narrativa mais
ampla, onde a redenção se desenhava nas entrelinhas do sofrimento.

Herodes: Silêncio! Como ousam vocês, perturbar-me em minha casa? Que


desejam vocês?

Caifás: Este homem é Jesus de Nazaré!

Herodes: Este homem é Jesus de Nazaré? Até que enfim eis aí o homem que
faz milagres. Há muito que o desejava conhece-lo.
Quero ver se realmente faz milagres. Gostaria que me fizesse um milagre!

Caifás: Majestade, este homem é um impostor, sublevava o povo com falsa


doutrina, dizendo-se o Cristo prometido. Exigimos que o condene.

Herodes: Mas não vejo nisto crime algum. Desejo apenas que ele me faça um
milagre. Um milagre feito e eu o libertarei.

(PARA JESUS). Deve ser para ti muito simples. Já ouvi falar dos teus milagres.
Não foste tu, que deu vista aos cegos? Curou os leprosos? Transformou água
em vinho nas Bodas de Canaã e até ressuscitou mortos? Quero apenas que
me faça um milagre. (PEGA UM VASO). Estais vendo este vaso? Transforme-o
em ouro! Transforme-o! Eu ordeno que faças! (SILÊNCIO). Não fazes? (JOGA
O VASO NO CHÃO). Não queres ser libertado? Tragam-me um vaso com
água. (UMA SERVA LHE ENTREGA UM VASO COM ÁGUA). Quero que
transforme esta água em vinho como naquela festa em Canaã. Eu sou o Rei,
por isso te ordeno que faças! (DAR UMA ORDEM). Faças! (SILÊNCIO.
HERODES PROVA DA ÁGUA DO VASO, JOGA NO ROSTO DE JESUS). É
água! Estou indignado, pois não ousas fazer o milagre que te peço. Fala
homem, tu és o Cristo, filho de Deus? (SILÊNCIO). Então, tu és um impostor.
Não ousas falar. Te enviarei novamente a Pilatos. Ele te condenará, pois eu
não tenho poder para tal e nem para matar ninguém.
Levai-o a Pilatos.

CENA 13

Cinzas: O julgamento de Jesus diante de Pôncio Pilatos. Um momento crucial


no palco da história, como uma encruzilhada onde as forças divinas e humanas
se entrelaçavam de maneira intricada. Pilatos, uma figura de poder e
autoridade, tornou-se o cenário para uma lição transcendental que ecoaria
através das eras.

Pilatos: Vós apresentastes este homem como perturbador do povo. Eis que o
interrogando diante de vós, não encontre nele culpa alguma daquilo que o
acusam; nem tão pouco Herodes achou motivos para condenar, pois foi este
enviado a ele, e eis que ele está aqui de volta. Por tanto, soltá-lo-ei depois de
castigá-lo

Multidão: Crucifica-o, crucifica-o!!

Pilatos: Responda-me homem: tu és o Rei dos Judeus?

Jesus: (DE CABEÇA BAIXA) Tu dizes isto de ti mesmo, ou foram os outros


que te disseram isto de mim?

Pilatos: Porventura sou eu judeu? A tua nação e os Pontífices são os que te


acusam e te interrogam nas minhas mãos. Que fizeste tu? (JESUS NADA
RESPONDE) Logo tu, és Rei? Jesus: Tu o dizes, eu sou. Nasci e vim a este
mundo para dá testemunho da verdade e quem está pela verdade, ouve minha
voz. Pilatos: Donde, pois és tu? (SILÊNCIO). Não encontro neste homem crime
algum!

Caifás: Se não condenas este homem, tu não és amigo de Cezar!!

Pilatos: É de costume que pela ocasião da páscoa, se liberte um prisioneiro.

(UM SOLDADO SAI E APRESENTA BARRABÁS AO POVO)

Pilatos: Quem querei que vos solte: Barrabás ou Jesus de Nazaré?

Multidão: Que vos solte Barrabás e crucifique Jesus de Nazaré!!

(OS SOLDADOS SAEM COM BARRABÁS)

Pilatos: Então o castigá-lo-ei. Levem-no para o castigo!

Multidão: Queremos que o crucifique-o, crucifica, crucifica!!!


(PILATOS CONVERSA COM CLÁUDIA)

Cláudia: Meu amado marido... Sejais justos, pois este homem é um homem
justo. Não há nada que ele não tenha feito que mereça castigo. Esta noite, fui
atormentada em sonhos, vi grandes sofrimentos para mim e para ti. Eu o
procurei outro dia para curar o pé aleijado de nosso filho Pillo...e ele estar
sendo curado, meu marido, por Jesus... Ele realiza grandes feitos por toda
Galileia… Ele é de fato o filho de Deus!! Rogo-te, sejais justo... porque este
homem é justo.

Pilatos: Mulher, não vês a fúria do povo? Toda esta multidão pede-me a
condenação deste homem. Se não os atender, até nós corremos perigo.

Multidão: Que seja crucificado! Crucifica-o, crucifica-o!

Pilatos: Teu povo é quem te desmente como rei. Por isso decreto que,
conforme o antigo costume dos reis piedosos, sejas primeiro flagelado e depois
crucificado na cruz no horto onde foste preso. E Dimas e Gestas...ambos
malfeitores, serão também crucificados juntamente contigo. (SILENCIO POR
UM INSTANTE).
Não serei responsável pelo derramamento do sangue deste justo. (LAVANDO
AS MÃOS). Lavo minhas mãos em sinal de que nada tenho com o sangue
deste homem. Isto é lá com vocês. Tomai-o por vocês mesmos e crucifiquem-
no, pois, eu, nada vejo nele que mereça condenação.

Sabedoria: Enquanto as portas do tribunal se fechavam atrás de Jesus,


percebi que, apesar da condenação terrena, uma sentença mais sublime
estava sendo proferida nos planos celestiais. O julgamento de Pilatos, aos
meus olhos, tornou-se um capítulo onde as decisões humanas colidiam com os
desígnios divinos, revelando que mesmo em momentos de aparente derrota
terrena, a vitória eterna da verdade divina se desenhava.

CENA 14
Barro: Na sala sombria e impregnada de tensão, onde ecoavam os suspiros de
sofrimento, a flagelação de Jesus desdobrou-se como um ato cru e visceral. As
testemunhas de tal ato, imersa na atmosfera carregada de dor, contemplou o
horror que se desenrolava diante dela.

Sabedoria: Os algozes, agentes da brutalidade romana, encaravam Jesus


como um mero prisioneiro, desprovido de dignidade. Chicotes, entrelaçados
com fragmentos de ossos e metal, eram erguidos com crueldade, prometendo
infligir dor indizível. Eu, porém, enxergava além das aparências, entendendo
que cada chicotada era mais do que uma agressão física; era um golpe contra
a própria humanidade, contra o símbolo da redenção.

(FLAGELAÇÃO)

Cinzas: Na flagelação de Jesus, o povo experimentava não apenas a


brutalidade física, mas o choque existencial de testemunhar o Filho de Deus
submetido a tal humilhação. Cada ferida, cada gota de sangue, tornava-se um
testemunho silencioso da profundidade do amor divino, um amor que suportaria
o peso da humanidade, inclusive a crueldade que ela mesma infligiria ao seu
Redentor.

Segunda Estação - Jesus toma a cruz aos ombros


(DUAS FILAS COM O ELENCO, TODOS DE MÃOS DADAS, SEGUIMOS
COM JESUS NO MEIO CARREGANDO A CRUZ)

Terceira Estação - Jesus cai pela primeira vez


(APÓS ALGUNS SEGUNDOS OS SOLDADOS LEVANTAM JESUS)

Quarta Estação - Jesus encontra a sua mãe


(MARIA CORRE AO ENCONTRO DE JESUS)
Maria: Meu filho, o que estão fazendo com você? Eu te amo meu filho, eu te
amo…
Quinta Estação - Jesus é ajudado por Simão de Cirene
(SOLDADOS CHAMAM ALGUÉM DO PÚBLICO PARA REPRESENTAR
SIMÃO DE CIRENE, ESTE AJUDA JESUS A CARREGAR A CRUZ POR
ALGUNS MINUTOS)

Sexta Estação - Verônica enxuga o rosto de Jesus


(A MULHER DO FLUXO DE SANGUE, COM UM PANO, VAI AO ENCONTRO
DE JESUS, SECA SEU ROSTO E CANTA)
Verônica: “Oh vós todos que estais, nos caminhos desta vida, olhai e vede,
olhai e vede, se existe uma dor tão grande quanto a minha dor, dor, dor, a
minha dor. Dor, dor, a minha dor”.
Sétima Estação - Jesus cai pela segunda vez
(APÓS ALGUNS SEGUNDOS OS SOLDADOS LEVANTAM JESUS)

Oitava Estação - Jesus encontra as mulheres de Jerusalém


Jesus: Mulheres de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por vós
mesmas e pelos vossos filhos. Pois os dias virão em que se dirá: "Felizes as
estéreis, as entranhas que não tiveram filhos e os peitos que não
amamentaram". Nessa altura, começarão a dizer aos montes: "Caí sobre nós",
e às colinas: "Encobri-nos". Porque se fazem assim no madeiro verde, que será
no madeiro seco?"

Nona Estação - Jesus cai pela terceira vez


(APÓS ALGUNS SEGUNDOS OS SOLDADOS LEVANTAM JESUS)

Décima Estação - Jesus é despojado das suas vestes


(ÚLTIMA ESTAÇÃO ANTES DO RETORNO A IGREJA, OS SOLDADOS
RASGAM A VESTE DE JESUS E JOGAM PARA O POVO)

Décima Primeira Estação - Jesus é pregado na cruz


(UM LADRÃO À DIREITA, OUTRO À ESQUERDA)
(SOLDADOS PREGAM JESUS NA CRUZ)
Ladrão 1: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós.
Ladrão 2: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?
Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.
Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso. (JESUS
CANTA)

Décima Segunda Estação - Jesus morre na cruz


Jesus: Mulher, eis aí o teu filho.
(OLHA PARA MARIA, JOÃO E PARA TODOS QUE ESTÃO PRESENTES)
Jesus: Eis aí tua mãe.
(OLHA PARA JOÃO E PARA MARIA)
Jesus: Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem.
Jesus: Pai, tudo está consumado. Em tuas mãos eu entrego o meu espírito.
(JESUS MORRE) (SILÊNCIO)

Décima Terceira Estação - Jesus é descido da cruz


(Jesus é colocado no colo de Maria)

Maria: Vejo-me agora diante de vocês, com o coração dilacerado pela perda
irreparável. Meu filho, meu doce filho, foi levado de mim de uma maneira que
vai além da compreensão humana. O Calvário, aquele lugar sinistro, agora se
tornou o palco da minha mais profunda tristeza, onde a cruz se ergue como um
testemunho silencioso do sacrifício que meu filho suportou por todos nós.
Cada gota de sangue derramada, cada gemido ecoando no ar, ressoa em mim
como uma sinfonia trágica. Testemunhei a agonia de meu filho, e as palavras
parecem tão impotentes diante da magnitude deste sofrimento. É como se a
própria terra estivesse chorando em solidariedade com a perda que carrego em
meu peito. Mas haverá um tempo, em que todo esse sacrifício será lembrado,
como um ato de amor e para a salvação de todos os povos.

Sabedoria: Maria, em sua dor profunda, encontrava força na promessa divina.


Ela se agarrava à esperança de que esse sofrimento teria um propósito maior,
de que a morte não teria a última palavra. Mesmo na agonia do momento
presente, sua fé a sustentava, pois sabia que o sacrifício de Jesus abriria as
portas da redenção para todos os que acreditavam.
Cinzas: Enquanto o sol se punha no horizonte, lançando sombras sobre o
Calvário, Maria permanecia ali, testemunhando o ápice da tragédia humana e,
ao mesmo tempo, a promessa da salvação divina. Seu coração, quebrantado,
batia em compasso com o plano divino, aguardando o amanhecer da
ressurreição que transformaria a dor em alegria eterna.
Barro: A multidão ao redor, por outro lado, mesclando curiosidade, indiferença
e dor, era como uma galeria de personagens na epopeia do sacrifício. Era
discernido nas expressões daqueles que observavam uma mistura complexa
de incompreensão, arrependimento e, ocasionalmente, a centelha da fé
nascendo em meio à escuridão.
Cinzas: Enquanto a vida de Jesus pendia numa balança frágil, foi possível ver
as trevas cobrirem a terra, uma resposta à morte do Salvador. Naquele
instante, a sabedoria entendia que, na aparente derrota da crucificação, tecia-
se o tapete de uma vitória eterna.
Sabedoria: Quando o corpo de Jesus foi retirado da cruz, houve a quietude da
terra, o eco da redenção realizada. Cada gota de sangue derramada era uma
assinatura na aliança divina, selando a promessa da ressurreição e a redenção
da humanidade, revelando que, na trama cósmica, a cruz era o portal para a
vida eterna.

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