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GESTAÇÃO DURANTE INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA:

ABORDAGEM TERAPÊUTICA DE UMA PACIENTE DEPENDENTE QUÍMICA


Autores: Ana Alice Araújo Ribeiro Cândido¹, Jasmine Truppel Simas², Rafaela Leticia
Ventura³, Luiz Roberto Such Pires⁴, Celso Henrique Vidal Alves⁵.
Acadêmicas do Curso de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina¹²³, Acadêmico do Curso de Medicina da
Fundação Universidade Regional de Blumenau⁴, Residente em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina⁵.

INTRODUÇÃO Para isso, promoveu-se reuniões presenciais entre a gestante, sua


mãe e a assistente social. Em 14/07/2023, após desintoxicação e
Embora a gestação não constitua um fator de risco para a incidência ou
melhora clínica, a paciente recebeu alta, acompanhada pela mãe. Foi
recorrência de distúrbios mentais, estudos indicam uma prevalência
mantida a prescrição medicamentosa, encaminhada para
significativa destes na população gestante. A despeito das
continuidade do pré- natal em UBS e referenciada ao Centro de
comprovações acerca da eficácia e segurança da abordagem
Atendimento Psicossocial (CAPS) do seu município, para
farmacoterápica convencional dos distúrbios psíquicos durante o
acompanhamento psiquiátrico periódico.
período gestacional, ainda é escasso o aprimoramento de métodos que
estabeleçam um cuidado multifatorial que abranja o manejo
DISCUSSÃO
medicamentoso, psicológico e social.
O presente relato de caso evidencia a difícil tarefa do manejo de
RELATO DE CASO distúrbios psiquiátricos no período gestacional. Ademais, à
vulnerabilidade social da paciente aumenta a complexidade do caso,
Mulher, 19 anos, solteira, sem filhos, em situação de rua, deu
uma vez que sem uma abordagem multifatorial, dificilmente teria o
entrada no hospital psiquiátrico em 07/06/2022. Usuária diária de
seguimento adequado da gestação. Contudo, a gestação
cocaína há 1 ano - período em que desenvolveu alucinações visuais
concomitantemente com o uso de medicações psiquiátricas se
e auditivas –, no entanto, relata abstinência há 4 dias. Refere
considera um entrave para o tratamento, já que durante a gestação,
situação de vulnerabilidade social importante, histórico de
o tratamento psiquiátrico requer uma abordagem cuidadosa,
violência na infância e risco de agressão física. Ao exame do estado
considerando os riscos e benefícios de intervenções
mental, a paciente encontrava-se com alteração de
medicamentosas para a mãe e o feto. A psiquiatria perinatal visa
sensopercepção, conduta alucinatória, com agitação psicomotora,
equilibrar a necessidade de gerenciar condições de saúde mental,
desorientada alopsiquicamente, comportamento pueril, humor
como depressão ou ansiedade, com a minimização de possíveis
hipotímico e insight prejudicado. À admissão na emergência, foi
efeitos adversos para o desenvolvimento fetal. A avaliação
administrado Haldol 5mg (intramuscular) IM e Cloridado
individualizada e a colaboração entre profissionais de saúde,
prometazina 50mg IM. Posteriormente, durante a internação na ala
incluindo psiquiatras e obstetras, assistentes sociais são
feminina, foi iniciado teste medicamentoso com a cloropromazina fundamentais para determinar opções terapêuticas seguras e
75mg. Durante internação, paciente obteve titulação da sorologia eficazes, que podem envolver tanto intervenções farmacológicas
não treponêmica (VDRL) de 1:4, com tratamento prévio incerto, quanto terapias não medicamentosas, visando a saúde global da
recebeu 3 doses de Penicilina G benzatina, 2.400.000UI, mãe e do bebê. Diante do exposto, o presente relato de caso reforça
(intramuscular) IM, uma vez por semana. Concomitantemente, foi a necessidade de uma abordagem multiprofissional para o melhor
constatado o exame de hormônio gonadotrofina coriônica humana cuidado das gestantes portadoras de distúrbios psiquiátricos para
(beta HCG) positivo, o que implicou em numa nova na abordagem que assim mãe e bebê tenham seu bem-estar garantido.
terapêutica: início imediato do pré-natal, com a realização da
ultrassonografia, administração do ácido fólico 5mg/dia e do sulfato
REFERÊNCIAS
ferroso 300mg/dia; a reavaliação das prescrições psiquiátricas -
com vistas a reduzir riscos de toxicicidade para o feto -, sendo VAN MULLEM, Chris; TILLETT, Jackie. Psychiatric Disorders in Pregnancy.
Journal Of Perinatal & Neonatal Nursing, [S.L.], v. 23, n. 2, p. 124-130, abr.
substituída a cloropromazina pelo furamato de quetiapina
2009. Ovid Technologies (Wolters Kluwer
50mg/dia; e seguimento do caso na assistência social da instituição. http://dx.doi.org/10.1097/jpn.0b013e3181a4bf3b.Health).
Ao longo dos 48 dias de tratamento, a paciente precisou ser contida
devido a risco de heteroagressão e diversos episódios de agitação PAYNE, Jennifer L.. Psychiatric Medication Use in Pregnancy and
Breastfeeding. Obstetrics And Gynecology Clinics Of North America, [S.L.], v.
psicomotora, situação na qual foram aplicadas as escalas de 48, n. 1, p. 131-149, mar. 2021. Elsevier BV.
Fugulin, Braden e Morse pela equipe de enfermagem. Também foi http://dx.doi.org/10.1016/j.ogc.2020.11.006.
realizada a mediação do acolhimento familiar, com vistas a majorar
PAYNE, Jennifer L.. Psychopharmacology in Pregnancy and Breastfeeding.
as chances de um período gestacional com dignidade, apoio e, Medical Clinics Of North America, [S.L.], v. 103, n. 4, p. 629-650, jul. 2019.
principalmente, sem o uso de substâncias prejudiciais tanto para a Elsevie r BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.mcna.2019.02.0 09.
mãe como para o feto.
ABORDAGEM TERAPÊUTICA DE UM PACIENTE COM
ESQUIZOFRENIA DE INICIO TARDIO: UM RELATO DE CASO
Autores: Ana Alice Araújo Ribeiro Cândido¹, Leticia Bernardo Minatto², Ana Paula Pasqualotto,
Kathuska Aparecida Rempel Todeschini⁴, Dr. Carlo Roberto Hackmann da Cunha⁵.
Acadêmicas do Curso de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina¹²³⁴, Especialista
em Medicina da Família pelo Hospital Nossa Senhora Conceição de Porto Alegre ⁵.

INTRODUÇÃO Em última consulta de acompanhamento, nota-se um grande


medo em se contaminar, isolando-se e referindo incômodo em
A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico crônico e complexo sentar em locais que outras pessoas estiveram. Associado ao
que, majoritariamente, tem sua apresentação inicial ate terceira quadro, paciente suspendeu a Risperidona por conta própria
década de vida. Desde sua primeira aparição na literatura, por alegando não conseguir pegar medicação na rede. Em último
Kraepelin, em 1903, as psicoses paranóides do envelhecimento acompanhamento, suspendeu-se a Quetiapina e Risperidona e foi
têm recebido distintas descrições, dada a sua complexidade. prescrito Olanzapina 2,5 mg, mantendo os demais.
RELATO DE CASO DISCUSSÃO
Paciente masculino, 50 anos, aposentado, sem comorbidades A esquizofrenia é um transtorno mental com estado psicótico de
prévias, realizou a primeira consulta em UBS com queixa de gravidade relevante, a qual afeta em torno de 24 milhões de
anedonia, irritabilidade, agitação psicomotora, comportamento pessoas no mundo. Ademais, ter em vista o transtorno
antissocial e pensamentos de menos valia. A conduta inicial do esquizoafetivo de início tardio diagnosticado em uma Unidade
caso foi realizar tratamento para quadro de transtorno Básica de Saúde e enumerado pelo CID-10 como F25.8 é lançar
depressivo maior, sendo a medicação prescrita Paroxetina 20 mg, mão de um restrito plano terapêutico gratuito e facilitado aos
Topiramato 100 mg, Amplictil 25mg e Diazepam 10 mg. Após 7 cidadãos. Nesse contexto, o paciente supracitado, após último
meses, compareceu a unidade básica com piora nos sintomas reajuste farmacológico e em uso de Olanzapina 2,5 aguarda para
anteriores, somado a isso, medo excessivo de doenças e remissão dos sintomas, uma vez que os antipsicóticos atípicos
movimentos repetitivos em membros inferiores, relatando são a primeira escolha, mesmo que alternados entre a própria
dificuldade para descansar. Devido a piora do caso, foi classe, para tratar esquizofrenia em população idosa e quadros
recomendado a modificação terapêutica do paciente, contudo, o extrapiramidais e distonia. Anecessidade social do paciente, no
mesmo não aceitou, alegando dificuldades financeiras. Após o entanto, foi dificultada com a prescrição de Olanzapina, sendo
término do atendimento, o médico começou a questionar quadro este um APs de alto custo; é essencial, também, que se mantenha
de esquizofrenia, sendo realizado acolhimentos domiciliares para o acompanhamento via UBS, bem como que estenda a
observação dos sintomas. No processo terapêutico do paciente manutenção do tratamento para o CAPS do município em
foi associado Quetiapina 25mg à noite devido a constante queixa questão, a fim de que o paciente seja inserido em um meio
de sono agitado. Após 1 ano do início do tratamento o médico promotor de terapias dinâmicas e atividades inclusivas
diagnosticou o paciente com transtorno esquizoafetivo de início auxiliando na redução de sua sintomatologia negativa.
tardio - CID F258, sendo modificada a prescrição para Sertralina
100mg/dia, Lítio 600mg/dia, Risperidona 3mg/dia e Diazepam REFERÊNCIAS
10mg/dia. Após 6 meses, paciente retornou à consulta, Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº1.203, de 4 de novembro de 2014. Aprova o
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Transtorno Esquizoafetivo. Diário Oficial
afirmando melhora parcial dos sintomas, entretanto ainda possui
da União, Brasília (DF), 2014 Nov 5 [citado 2023 Outubro 22], Seção 1:36. Disponível em:
traços significativos de cismas infundadas e desconfiança https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jspjornal=1&pagina=36&data=0
extrema. Paciente foi encaminhado novamente ao psiquiatra via 5/11/2014
SISREG, pois o progresso da melhora sintomática foi
Copeli F, Cohen C. Mortality And Medical Comorbidity In Older Adults With
momentânea e queixas como ansiedade, anedonia, sintomas de Schizophrenia: A Literature Review. The American Journal of Geriatric
menos valia, agitação e despertar noturno foram significativos Psychiatry. 2020;28. S137-S138.
novamente. Portanto foi associado novamente a Quetiapina
Cunha I, Santos J, Leitão J, & Silva J. A Esquizofrenia no Componente Especializado
50mg/dia. Seguindo o acompanhamento em UBS trimestral e Farmacêutico: Aspectos clínicos e
embora haja ajustes na medicação, há grande percepção de Farmacoepidemiológicos. Research, Society and Development. 2020. 9.10.33448/rsd-
v9i8.5741.
sintomas residuais, atrapalhando a atividade básica diária.
CORRELAÇÃO ENTRE INTERNAÇÕES PSIQUIÁTRICAS E
ESTRESSORES LABORAIS: UM RELATO DE CASO CLÍNICO
Autores: Luiz Roberto Such Pires¹, Ana Alice Araújo Ribeiro Cândido², Jasmine Truppel Simas³,
Mariana Cristina Coelho⁴, Dr. Celso Henrique Vidal Alves⁵.
Acadêmico do Curso de Medicina da Fundação Universidade Regional de Blumenau¹, Acadêmico do Curso de Medicina
da Universidade do Sul de Santa Catarina²³⁴, Residente em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina⁵.

INTRODUÇÃO Nesse sentido, é possível fazer uma importante correlação entre o


excesso de trabalho, exaustão laboral e o desenvolvimento precoce ou
O termo “Burnout” é atribuído a indivíduos que trabalhavam com
acentuação de quadros depressivos, sobretudo em mulheres. O
serviços humanos e exprime a relação que estes têm com o seu
tratamento da depressão maior é realizado, em sua maioria, em
trabalho e as dificuldades que surgem decorrentes de problemas nessa
ambiente ambulatorial. No entanto, a internação psiquiátrica pode ser
relação. A exaustão é a qualidade central do esgotamento e a principal
manifestação clínica desta síndrome. A etiopatogenia do Burnout está necessária para pacientes com depressão refratária, risco aumentado
embasada na teoria multidimensional que abrange três dimensões de suicidio, episódio misto ou indicação de eletroconvulsoterapia.
centrais da síndrome: a exaustão, o cinismo e a redução do Nesse sentido, faz-se necessário um manejo adequado do ambiente de
desempenho laboral. Essa teoria é medida e descrita pela escala de trabalho com vistas a evitar o desencadeamento dos sintomas do
MBI-Pesquisa de Serviços Humanos (MBI-HSS), um instrumento Burnout, ou ainda, o agravamento de comorbidades psiquiátricas.
utilizado para mensurar o grau de Burnout, especialmente em
trabalhadores dos serviços humanos e assistência médica, ocupações CONCLUSÃO
na qual esses sujeitos interagem extensivamente com outras pessoas.
O relato de caso apresentado destaca a interligação complexa entre o
RELATO DE CASO esgotamento profissional, conhecido como "Burnout," e a depressão,
especialmente nas mulheres. A paciente em questão, que já sofria de
Mulher, 47 anos, história de depressão crônica, foi levada pelo vizinho depressão crônica, experimentou um episódio grave desencadeado
para hospital psiquiátrico, em 01/06/2023, devido a episódio pelo estresse e esgotamento associados ao seu ambiente de trabalho.
depressivo grave com sintomas psicóticos, ideação suicida e transtorno O relato reforça a importância de reconhecer e abordar o Burnout
dissociativo. À anamnese psiquiátrica, referiu que há 3 dias passou a como um fator de risco significativo para o desenvolvimento e
sentir dor precordial, catalepsia intermitente, anorexia, avolia e agravamento de condições psiquiátricas, como a depressão. Além
alucinações visuais e auditivas com insight preservado. Relatou, ainda, disso, a necessidade de um tratamento integrado, que inclua
a recorrência do mesmo episódio há 8 anos, quando foi admitida em um abordagens farmacológicas, psicológicas e sociais, como a promoção
emprego no setor de cobranças no telemarketing e associou seu do acolhimento familiar, é destacada. A depressão continua sendo uma
quadro ao esgotamento provocado pelas condições de trabalho. das principais causas de incapacidade em todo o mundo, e as mulheres
Informou que há 11 meses teve uma “crise” que a paralisou por mais de estão particularmente em risco. Portanto, a gestão adequada do
1 hora ao atender um cliente e que, desde então, permanece afastada ambiente de trabalho é fundamental para prevenir o Burnout e, por
das atividades laborais. Diante desse episódio, sugestivo de Burnout, conseguinte, contribuir para a saúde mental e o bem-estar das
teve seu tratamento psiquiátrico prévio ajustado. Ao Escitalopram foi pessoas, especialmente daquelas que trabalham em setores com alto
associado Midazolam, Buspirona, Lítio e Clonazepam, o que, segundo a grau de interação humana. Ademais, o presente relato de caso destaca
paciente, não impediu a piora do seu quadro depressivo e ansioso, a necessidade de intervenções eficazes, não apenas no tratamento da
culminando em sua internação. Durante os 42 dias em que permaneceu depressão, mas também na prevenção do Burnout, com o objetivo de
na instituição psiquiátrica, foi adotada uma abordagem multifatorial, melhorar a qualidade de vida e a saúde mental dos trabalhadores
englobando fatores psicológicos, sociais e farmacológicos. Teve alta em
12/07/2023, após melhora clínica considerável e mediação do REFERÊNCIAS
acolhimento familiar, com prescrição de Olanzapina 10mg/dia, Lítio
Maslach, Christina; Schaufeli, Wilmar B.; Leiter, Michael P. (2001). Job
300mg/dia e Clonazepam 10 gotas 2,5mg/ml (se necessário),
Burnout. Annual Review of Psychology, 52(1), 397–422. doi:
encaminhamento ao Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) e
10.1146/annurev.psych.52.1.397
processo de aposentadoria por invalidez, devido às comorbidades
psiquiátricas, em andamento. Basu, Subhashis; Qayyum, Hasan; Mason, Suzanne (2016). Occupational
stress in the ED: a systematic literature review. Emergency Medicine Journal,
DISCUSSÃO (), emermed-2016-205827–. doi:10.1136/emermed-2016-205827

A depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo. As Striler, Jamie; Shoss, Mindy; Jex, Steve (2020). The relationship between
mulheres têm em média duas vezes mais chance de desenvolver stressors of temporary work and counterproductive work behaviour. Stress
depressão ao longo da vida em relação aos homens. and Health, (), smi.2998–. doi:10.1002/smi.2998
TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR SECUNDÁRIO A DOENÇA
NEOPLÁSICA E CARDÍACA: UM RELATO DE CASO
Autores: Ana Alice Araújo Ribeiro Cândido¹, Sabrina Bianchi de Menezes², Ana Paula Rizzi³,
Tatiane Camargo⁴, Dr. Carlo Roberto Hackmann da Cunha⁵.
Acadêmicas do Curso de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina¹²³⁴, Especialista
em Medicina da Família pelo Hospital Nossa Senhora Conceição de Porto Alegre ⁵.

RELATO DE CASO DISCUSSÃO


Mulher, 53 anos, procedente de Laguna, residente em Tubarão, O caso clínico apresentado demonstra a complexa correlação entre
pescadora, com histórico de HAS, IAM há 3 anos, angioplastia, TAG, TDM, TDM numa paciente com diagnóstico prévio de neoplasia e
CA de mama em tratamento. Compareceu à consulta na UBS com clínico cardiomiopatia. A depressão secundária a essas condições médicas
geral. À anamnese, referiu dor crônica em ombro esquerdo devido a subjacentes requer uma abordagem individualizada e um ajuste
ressecção de linfonodo sentinela, e piora de sintomas depressivos. Foi cuidadoso das medicações, levando em consideração a
prescrito codeína e solicitado encaminhamento via sisreg ao psiquiatra. possibilidade de interações medicamentosas e reações adversas. O
Posteriormente, compareceu novamente a consulta na UBS, 1 mês acompanhamento psiquiátrico contínuo e a colaboração entre
depois, referindo à anamnese anedonia, humor deprimido, ideação
especialistas de diferentes áreas da medicina são essenciais para
suicida sem planejamento, e desejo de consulta com psiquiatra e
alcançar uma melhora significativa na qualidade de vida e no bem-
cardiologista devido a angina atípica. Prescreveu-se sintomáticos,
estar emocional desses pacientes.
encaminhamento ao cardiologista e psiquiatra via sisreg, e orientação
sobre procurar CAPS se necessário. Após 4 dias em espera, consultou-se
CONCLUSÃO
com psiquiatra, relatando que há 1 ano teve Câncer de mama e durante
a quimioterapia sofreu ainda um IAM. Refere ainda que estava A associação entre câncer, quadros depressivos e outros transtornos
desmotivada e fazendo uso de vários medicamentos como Duloxetina e do humor é frequente e pode estar relacionada a menor adesão ao
Clonazepam, porém sem apresentar melhoras. Deu-se início ao tratamento, pior evolução clínica e má qualidade de vida das
tratamento com Sertralina 50mg (2cp) e Amitriptilina 25mg, devido à pacientes. Os tratamentos oncológicos melhoram a sobrevida de
quadro depressivo secundário à doença neoplásica e cardíaca - CID pacientes, porém muitas continuam a sofrer com efeitos adversos
F338. Solicitou-se ainda retorno em 45 dias. Após 2 meses, à anamnese como fadiga, depressão e ansiedade, fatores estes associados a uma
psiquiátrica, a paciente apresentou-se com quadro instável, dificuldade pior qualidade de vida. Como forma de manejar os efeitos adversos da
para dormir e reação adversa a amitriptilina. Refere ainda tonturas e neoplasia de mama e de seus diversos tratamentos, a realização de
mal-estar resultante de interação das inúmeras medicações em exercício físico tem sido identificada como terapia que promove alívio
decorrência das múltiplas comorbidades. Prescreveu-se Sertralina dos sintomas da depressão, fadiga, ansiedade e dor. Estudos
50mg (2cp), Clonazepam 2mg, Trazodona 50mg e retorno em 45 dias. Em demonstram que oncologistas podem ter dificuldades em identificar
nova consulta, 3 meses depois, paciente mostrou-se inconformada e morbidades psiquiátricas, pois o diagnóstico de ansiedade, em geral, é
esgotada perante aos múltiplos tratamentos (psiquiátrico, cardiológico feito por médicos de atendimento primário (45%) e profissionais de
e oncológico), os quais na sua visão não resultaram em grande melhora saúde mental (27%), sendo apenas 1% por oncologistas. O que afirma a
de seu quadro. Recomendou-se uma troca de medicações, com Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia é que esse atendimento
Fluoxetina 20mg (2cp), Amitriptilina 75mg e Clonazepam 2mg, com deveria ser multidisciplinar, sabendo que não se trata de uma doença
retorno em 45 dias. Após 3 meses, à anamnese psiquiátrica apresentou única e sim um conjunto de patologias diversas.
boa resposta ao tratamento, entretanto com a presença das mesmas
comorbidades. Acrescentou-se ao tratamento, ciclobenzaprina 10mg e REFERÊNCIAS
Codeína 30mg (2x). Com novo retorno depois de 3 meses, relatou
desânimo, falta de apetite e anedonia, não havendo mudança no plano BINGEL, Marilia; REIS, Andréa; AGULAR, Letícia; GARCIA, João. Ansiedade,
Depressão, Dor e Fadiga em Pacientes com Câncer de Mama que Realizaram
terapêutico. Em nova consulta, 2 meses depois, à anamnese psiquiátrica Treinamento Combinado. Ansiedade, Depressão, Dor e Fadiga em Pacientes
queixou-se de insônia e dor no estômago com uso de amitriptilina 75mg com Câncer de Mama que Realizaram Treinamento Combinado, Revista
e boa resposta ao uso de amitriptilina 25mg. Com 3 meses de intervalo, Brasileira de Cancerologia, v. 23, n. 34, p. 1-11, 17 maio 2022.
em novo encontro relatou presença de ansiedade, insônia e alguns dias
DEMARQUE, Renata; JUNIOR, Joel; RIBEIRO, Hewdy; VALADARES, Gislene;
com piora importante de seu quadro depressivo. Houve mudança na CANTILINO, Amauri; RIBEIRO, Jerônimo. DEPRESSÃO E CÂNCER DE MAMA.
posologia da amitriptilina para 25mg 2 vezes no dia e retorno em 45 dias. DEPRESSÃO E CÂNCER DE MAMA, Revista Debates em Psiquiatria, ano 1, v. 6, p.
Após 5 meses, em seu retorno, apresentou-se com queixa de sonolência, 1-4, 29 fev. 2016.
vontade de retornar a sua casa em Laguna e sensação de afastamento Veit, M. T., & de Carvalho, V. A. . (2010). Psico-Oncologia: um novo olhar para o
de seus pensamentos. Acrescentou-se levomepromazina 25mg 2cp, câncer: DOI: 10.15343/0104-7809.20104526530. O Mundo Da Saúde, 34(4),
retirou amitriptilina, com retorno em 45 dias para seguimento do 526–530
acompanhamento.
TRANSTORNO DELIRANTE INDUZIDO - FOLLIE À DEUX:
UM RELATO DE CASO CLÍNICO
Autores: Jasmine Truppel Simas¹, Ana Alice Araújo Ribeiro Cândido²,
Luiz Roberto Such Pires³, Bruna Gonçalves⁴, Diogo Almeida Carneiro⁵.
Acadêmicas do curso de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina¹²⁴, acadêmico do curso de Medicina da
Fundação Universidade Regional de Blumenau³, residente em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina⁵.

RELATO DE CASO A paciente também menciona ataques de raiva nos quais tem vontade
INTRODUÇÃO
de “matar alguem”, sendo que já deu uma facada no ex-marido da
S., mulher, 43 anos, divorciada, sem filhos, evangélica, aposentada
irmã, pois este a agredia verbalmente e fisicamente: “eu queria
há 2 anos pelo DETRAN, mora com a mãe e irmã G. há X anos desde o
defender a minha irmã”. Ao último exame do estado mental
falecimento do pai. Diagnóstico de F20 e F41, refere três internações apresentava-se normoprosexica, sem alterações de sensopercepção,
psiquiátricas prévias, está em uso de Clozapina 100mg (0-2-6), Acido hipertímica, hipomodulada, pensamento lógico, agregado, sem
Valproico 500mg (1-0-1), Fluoxetina 20 mg (1-0-0) e Clonazepam 30 alteração de curso, sem ideação suicida, juízo crítico e insight
gotas. Ao último exame do estado mental, apresentava-se orientada preservados, conduta colaborativa e normolalica.
globalmente, hipervigil, hipotenaz, delírios de perseguição e
referência, eutímica, afeto ansioso, logorreica, pensamento acelerado DISCUSSÃO
com fio associativo frouxo, discurso com pressão de fala, juízo crítico
Em relação ao diagnóstico, a CID-10 descreve que somente uma das
parcial e insight preservado. A paciente relata um relacionamento
pessoas envolvidas sofre de um transtorno psicótico genuíno, e que os
ruim com a irmã antes da morte do progenitor, pois dizia serem
demais pacientes possuem apenas delírios induzidos, que, geralmente,
“diferentes demais”. No entanto, hoje, possuem uma relação desaparecem quando o indutor e induzido são separados. Além disso, é
simbiótica desde 2008 - refere que dormem “de conchinha” todos os preciso que haja evidências temporais ou contextuais de que o delírio
dias, por vezes trocam as medicações entre si e fazem todas as foi induzido por contato com o sujeito primário. O que tange ao
atividades diárias juntas, inclusive ir a consulta psiquiátrica -, ano do tratamento, dados recentes sugerem que a separação por si só pode
último surto psicótico de S. a qual foi internada no hospital ser insuficiente ou ainda, pode agravar a condição, fazendo-se
psiquiátrico. No mesmo período, a paciente descreveu a ocorrência necessário acrescentar ao tratamento de ambos os indivíduos
do primeiro delírio compartilhado com a irmã: “Fomos ver o jornal antipsicóticos, antidepressivos e/ou estabilizadores de humor. Sabe-se
pela televisão, aí eu surtei no meu quarto e a minha irmã escutou do também que o início da medicação indica a gravidade da condição dos
outro cômodo. Eu tive a sensação de que a televisão estava falando sujeitos secundários e a prevalência de sintomas residuais futuros. A
comigo e que todos os canais da RBS estavam me filmando e eles etiopatogenia envolve componentes tanto ambientais, quanto
queriam que eu participasse do Big Brother Brasil porque a minha biológicos. Nesse sentido, o indivíduo secundariamente psicótico
história era muito interessante. Aí a minha irmã veio até o meu quarto apresenta uma certa suscetibilidade para o desenvolvimento desses
e eu contei para ela o que estava acontecendo e, com isso, ela ‘entrou sintomas, sendo o isolamento social associado ao contato prolongado,
em tudo’, via e ouvia o mesmo que eu. O meu marido veio ver se o principal fator de risco ambiental. A falta de insight acerca dos
estávamos bem e começamos a achar que ele era o diretor do delírios contribui para uma subestimação da ocorrência real do
programa. Quando a gente foi dormir, sabíamos que não ia dar ibope transtorno, sendo estes geralmente encaminhados para tratamento
e audiência, aí tapamos a televisão, as janelas, tiramos as lâmpadas e psiquiátrico após um episódio grave decorrente dos delírios, como por
colocamos esparadrapo na câmera do celular. Nós tínhamos que exemplo colocar a própria vida ou a vida de outros em risco.
fazer piadinhas e pegar frutinhas das árvores que pareciam os órgãos
genitais para eles rirem da gente porque éramos muito engraçadas.
REFERÊNCIAS
Eu dei um mergulho no chão também e fiquei com o olho roxo. Nós GUIVARCH, J.; PIERCECCHI-MARTI, M.D.; POINSO, F.. Folie à deux and homicide:
literature review and study of a complex clinical case. International Journal Of Law And
sofremos por uns 4 dias com essa história.” Após, foram ao Hospital Psychiatry, [S.L.], v. 61, p. 30-39, nov. 2018. Elsevier BV.
Regional de São José, onde foram medicadas com Haloperidol e http://dx.doi.org/10.1016/j.ijlp.2018.10.001.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30454559/
Alprazolam, apresentando melhora do episódio agudo.
VIGO, Laura; ILZARBE, Daniel; BAEZA, Inmaculada; BANERJEA, Partha; KYRIAKOPOULOS,
G., mulher, 51 anos, divorciada, uma filha, advogada e ex-professora Marinos. Shared psychotic disorder in children and young people: a systematic review.
universitária com mestrado e doutorado incompleto, aposentada por European Child & Adolescent Psychiatry, [S.L.], v. 28, n. 12, p. 1555-1566, 17 out. 2018.
Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1007/s00787-018-1236-
invalidez. Diagnóstico de F60.3 e F31, está em uso de Olanzapina 5 mg 7.
(1-0-1), Fluoxetina 20 mg (2-0-0), Rivotril 30 gotas. Refere três https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30328525/

internações psiquiátricas prévias por tentativa de suicidio e SARAGIH, Munawir; AMIN, Mustafa Mahmud; HUSADA, Muhammad Surya. Shared
Psychotic Disorder (Folie À Deux): a rare case with dissociative trance disorder that can
automutilação e que a doença iniciou há 16 anos após traição do be induced. Open Access Macedonian Journal Of Medical Sciences, [S.L.], v. 7, n. 16, p.
marido com a aluna, decidindo por se demitir e abandonar o 2701-2704, 20 ago. 2019. Scientific Foundation SPIROSKI.
http://dx.doi.org/10.3889/oamjms.2019.821.
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